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AULA 3

TEORIAS DA APRENDIZAGEM
(PIAGET, VYGOTSKY, WALLON,
AUSUBEL, COMPORTAMENTAL
COGNITIVA)

Profª Wiviany Mattozo de Araujo


CONVERSA INICIAL

Bem-vindo à aula 3 da disciplina de Teorias da Aprendizagem! Nesta aula,


vamos discutir sobre a dimensão construtivista em Jean Piaget e suas
contribuições no processo de ensino-aprendizagem. Os temas estão divididos
para conhecermos a trajetória deste teórico e para que suas ideias sejam
assimiladas. No tema 1, falaremos sobre a definição de cognição, e de como esse
processo constante permeia nossas vidas, além de analisarmos os fatores que
desencadeiam esse movimento. No tema 2, abordaremos quem foi Jean Piaget,
o modo como este teórico iniciou suas pesquisas e desenvolveu suas ideias e de
que forma suas contribuições são relevantes até os dias atuais. No tema 3,
trataremos sobre o sujeito epistêmico de Piaget, teoria esta que investiga a origem
do conhecimento, ou seja, a forma como se aprende desde o início até o fim da
vida num processo de interação com os objetos. No tema 4, abordaremos os
estágios para a aprendizagem, referindo-nos do nascimento à vida adulta. No
tema 5, vamos associar o conteúdo com os processos existentes na escola.
Por fim, nesta aula, vamos explorar o que é o educar e aprender para
Piaget, pois este é um ato composto por diferentes estímulos em que a criança,
ou o aluno, deve ser vista não pelo que ela é, mas sim pelo que pode se
transformar, vir a ser.

CONTEXTUALIZANDO

Ao falar sobre práticas construtivistas, devemos pensar na relação aluno-


professor-conhecimento. Sob essa ótica, podemos provocar estímulos em busca
de respostas que o sujeito seja capaz de dar, assim como é preciso compreender
que a aprendizagem ocorre de modo diferente para cada um.
O indivíduo está sempre em busca de respostas frente a uma situação e
suas atitudes são essenciais para o desenvolvimento da aprendizagem.
Pensando na atuação docente, como age um professor numa prática baseada em
teoria construtivista?
No primeiro exemplo, um professor de matemática vai explicar um
conteúdo sobre números racionais, dirige-se ao quadro e explica o conteúdo
citando exemplos, pede a participação dos alunos e passa exercícios de fixação,
corrigindo-os ao final. No segundo exemplo, o conteúdo é o mesmo, mas, durante
a aula, a professora usou calculadoras e uma folha de atividades que os alunos

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deveriam resolver em duplas e trios. Na realização da atividade, a professora foi
respondendo as dúvidas que surgiam e, por fim, os alunos explicaram as
respostas a que chegaram e tentaram usar exemplos do dia a dia para ilustrar a
situação.
Qual a diferença entre os exemplos? Nota-se que são práticas diferentes,
não é mesmo? No primeiro caso, há a explicação do conteúdo e a busca pela
correta resolução dos exercícios. No segundo, a professora propôs situações e
atividades visando uma melhor comunicação entre os alunos e si própria,
atendendo individualmente, em equipe e a turma toda, anotando os principais
elementos no quadro.
Por fim, com esses exemplos, vamos pensar nas práticas docentes com
que temos contato? Lembrando que toda forma de conhecimento é válida e que
o planejamento docente é essencial para o pleno desenvolvimento das atividades.

TEMA 1 – DEFINIÇÃO DE COGNIÇÃO

Estudos que envolvem o desenvolvimento do ser humano compõem um


espectro sobre relações e complexidades em todos os seus aspectos, sejam da
relação com o mundo, com a vida em sociedade, em diferentes fases da vida. A
cognição é vista com o um processo por meio do qual conhecemos e atribuímos
significado à realidade a partir de experiências sensoriais, representações,
pensamentos, lembranças, dentre outros.
Com base no dicionário Aurélio (2017), cognição é “função da inteligência
ao adquirir conhecimento”, no entanto, essa definição é rasa e superficial quando
pensamos em tudo que este termo pode significar. Desse modo, a aprendizagem
pode ser idealizada como a aquisição de novas informações e sua relação com o
conhecimento pré-existente, contudo, o ato de aprender não é delimitado a
adquirir estas novas informações, e sim tem o propósito de aumentar, aprofundar,
organizar e até mesmo corrigir conhecimentos já existentes, associando o novo
ao existente.
Para pensar em teorias cognitivas é necessário entender que estas, num
primeiro momento, consistem em um conjunto de proposições que visam explicar
o processo de construção do conhecimento humano e o seu desenvolvimento. Em
um segundo momento, essas teorias buscam gerar informações que nos levem a
conhecer como se processa interiormente a aprendizagem. Portanto, a

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aprendizagem não pode ser considerada dissociada dos processos mentais,
como atenção, percepção, memória, raciocínio etc.
Assim, nesse processo de reflexão, a consciência do que somos, fazemos,
escutamos, falamos e lembramos pode nos render processos para os quais não
dispomos de todas as respostas, mas conseguimos estabelecer conexões
relevantes a cada ser, o que gera resultados e leituras únicas, pois os processos
cognitivos são internos e não observáveis diretamente.
Processos cognitivos podem ser de modo pessoal e envolver expectativas,
pensamentos, desejos, crenças individuais, dentre outros. Estes processos
também podem ser influenciados por questões ambientais, utilizando-se de
recursos materiais existentes, da ideia do mundo físico. Por fim, os processos
cognitivos dependem de atos individuais, de escolhas, de elementos que
envolvem o comportamento.
Outros fatores relevantes para o processo de desenvolvimento da
inteligência e da aprendizagem que devemos levar em consideração são: a ideia
do nível de desenvolvimento das atividades; quais são os processos de maturação
e a fase em que este sujeito se encontra; quais são os conhecimentos prévios
existentes; a linguagem estabelecida para a comunicação verbal e/ou não verbal;
o nível de interação social; e a descoberta da afetividade.

TEMA 2 – A IMPORTÂNCIA DE JEAN PIAGET

“Os neurônios não raciocinam” (Piaget, 1967, p.32, apud Nogueira, 2015).
É por meio dessa citação que iniciamos nossa discussão sobre um dos mais
importantes teóricos do processo de aprendizagem. O biólogo suíço Jean Piaget
(1896-1980) investigou o desenvolvimento da inteligência e como este processo
ocorria em diferentes fases da vida. Para ele, o sujeito constrói seu conhecimento,
sua aprendizagem, por meio da interação com o meio, seja ele físico ou social.
Especula-se que a teoria desenvolvida por Piaget é a mais abrangente e,
mesmo que em alguns aspectos ela tenha sido questionada ou refutada, é
inegável sua preponderância e influência em teorias mais modernas. O autor
propõe que a inteligência envolve ações biológicas de adaptação ao meio físico e
às organizações onde se inserem, e esse processo exige um constante equilíbrio.
Portanto, o desenvolvimento intelectual seria uma ação similar ao sistema
biológico humano.

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Para entender Piaget é preciso compreender que sua curiosidade e seu
interesse pelo conhecimento consistiam em suas principais características. Tanto
que, aos 19 anos, se graduou em Ciências Naturais e, aos 22, finalizou sua tese
de doutorado, na qual teve contato com a teoria da evolução das espécies de
Charles Darwin.
Piaget afirmava que todos temos potencial para realizar operações como
observar, classificar, explicar, organizar, fazer conexões, abstrair, concluir, dentre
outras. Estas ações nos diferenciam e permitem que relações sejam
estabelecidas. Um exemplo que podemos citar é o fato de os Beduínos (povo
nômade do deserto) conseguirem se localizar, reconhecer e se deslocar na
paisagem em que estão inseridos; assim como a população Quéchua e Aimará
(povos tradicionais dos Andes) sabem se deslocar pelas montanhas em
segurança. Ambos os exemplos são capazes de reconhecer seu espaço
geográfico e classificá-lo.
Ao iniciar os estudos sobre o desenvolvimento cognitivo, Piaget percebeu
que existia uma evolução gradativa com o passar da idade da criança, e o que
mais lhe chamou a atenção foram as respostas erradas dadas pelas crianças. Ele
propunha que, para entender a inteligência, era preciso uma investigação dupla,
primeiro observando o desempenho da pessoa em questão, e depois buscando
entender por que motivos a pessoa desempenhava aquele determinado papel,
englobando os pensamentos envoltos às ações.
Consequentemente, Piaget dizia que os pesquisadores estavam
aprendendo independentemente de o resultado esperado ter sido alcançado, ou
seja, tanto fazia se a resposta dada fosse certa ou errada, o objetivo era entender,
com base nas observações, como as crianças construíam seus sistemas lógicos
de raciocínio. Ele se utilizou de crianças, principalmente seus filhos, para concluir
que as crianças possuem formas coerentes de pensamento, diferentemente dos
adultos, portanto, o que pode ser uma resposta errada, talvez no raciocínio de
uma criança pareça certo.
Assim, para o sujeito que aprende, é uma relação constante de
sobreposição de níveis de conhecimento do menor para o maior, desse modo,
cada processo de aprendizagem envolve o conhecimento pré-existente para o
novo, revendo o que já se sabe, podendo ser a confirmação ou a mudança de
uma ideia.
Os princípios que fundamentam a teoria piagetiana envolvem a ideia do
construtivismo, em que o conhecimento resulta da ação do sujeito que pensa,
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produz, reflete, sobre os objetos do conhecimento. Outra importante ideia é o
interacionismo, em que o sujeito resulta de trocas realizadas com o meio ou com
os objetos de conhecimento, retomando, aqui, o que envolve a cognição, como a
relação direta com os sentimentos, valores, crenças e ideias.

TEMA 3 – EPISTEMOLOGIA GENÉTICA

Para falarmos sobre a teoria desenvolvida por Piaget é necessário pensar


na ideia do sujeito epistêmico, que executa papel de centralidade, lembrando que
vimos, nos temas anteriores, que a proposta é entender como os mecanismos e
processos de pensamento ocorrem em diferentes fases da vida. Vale ressaltar
também a compreensão sobre a formação do pensamento lógico e matemático.
Com base na relação entre o sujeito e o objeto, sendo essa a relação entre
meio físico e social, postulando que há relações contínuas entre si, em que um
constitui o outro mutuamente, podemos dizer que a origem do conhecimento se
encontra no próprio sujeito, sendo o pensamento lógico uma construção da
interação homem-objeto, que difere completamente da ideia de empirismo em que
o pensamento lógico seria inato ou uma resposta a estímulos externos. A
interação entre o sujeito e os objetos pode ser ativada pela ação dos seres com
estes objetos no meio físico e social. E tanto as experiências sensoriais e motoras
quanto o raciocínio servem de base para a inteligência, ou para a formação do
pensamento lógico.
O homem possui condições biológicas para desenvolver o conhecimento,
mas isso só ocorre a partir do momento que há a interação com o objeto. Todavia,
só a relação com o objeto também não é suficiente, pois é preciso o exercício do
raciocínio, do pensar. Sendo o pensamento lógico o resultado de um processo de
reflexão interna, os mecanismos que envolvem estes processos complexos e
relacionados entre si apresentam inúmeros fatores entrelaçados.
Assim, na epistemologia genética, o processo de construção do
conhecimento engloba o processo desde o nascimento à vida adulta, mas o
enfoque é no desenvolvimento infantil. Com a percepção dos “erros” em respostas
infantis, Piaget percebeu que estas eram consideradas erradas, pois estavam
baseadas numa forma de raciocíonio do adulto.
Nesse contexto, o conceito de equilibração ou adaptação se torna
essencial. Com base em fatores considerados invariantes, que nada mais são do
que suas estruturas biológicas, envolvendo elementos sensoriais e neurais que

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permanecerão ao longo da vida do indivíduo, é como uma espécie de herança
genética que possibilita o surgimento das estruturas mentais iniciais. Já os fatores
variáveis são elementos que se transformam com a interação com o meio,
buscando a adaptação a situações reais que o cercam. Os fatores variantes são
representados por meio de esquemas.
Com tais características entre os fatores variantes e invariantes, o conceito
de equilíbrio é permeado pela irregularidade e pelos desajustes no organismo, o
que exige uma constante adaptação a ser restabelecida. Posto que sempre
surgem novos desafios na relação entre sujeito e meio, o desequilíbrio se instaura.
Para recuperar o equilíbrio, o indivíduo precisa acionar dois mecanismos de
inteligência, distintos e indissociáveis, que se complementam: a assimilação e a
acomomodação (Nogueira, 2015, p.127).
A adaptação resulta do equilíbrio existente entre o processo de assimilação
e acomodação, em que a interação entre os dois modifica e/ou cria novos
esquemas mentais, permitindo que o sujeito possa interagir de melhor forma com
o meio em que está inserido (Nogueira, 2015, p.128).
O mecanismo de assimilação corresponde à ação do sujeito sobre o objeto,
integrando-o a uma estrutura já existente, portanto, nesse momento, não há
alteração nas estruturas de conhecimento. Esse processo é contínuo pela
tentativa do indivíduo de interpretar e compreender a realidade em que se insere,
tendo que se adaptar a ela constantemente.
Já o mecanismo de acomodação consiste na transformação e/ou mudança
das estruturas do sujeito por força da ação do objeto, para que a assimilação
possa se realizar. É quase impossível pensar em uma situação em que ocorra
assimilação sem acomodação, pois, em raras exceções, um objeto é igual ao
outro ou uma situação é exatamente igual a uma já vivenciada.
Como supracitado, a relação entre estes mecanismos visa permitir maiores
condições de o indivíduo interagir com o mundo. Desse modo, a aprendizagem
contínua e a maturação crescente do indivíduo, em conjunto com os processos
de assimilação, acomodação e busca pelo equilíbrio, proporcionam a adaptação
necessária para as interações.
Para Piaget, o principal objetivo da inteligência é contribuir com a
adaptação ao meio, e esses processos de adaptação formam uma tendência que
permeiam diferentes meios, como reflexos, costumes e hábitos, que permitem a
convivência. Por meio da inteligência construímos representações mentais
complexas, símbolos, dentre outros elementos que nos proporcionam um
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desenvolvimento cognitivo capaz de dar respostas cada vez mais complexas ao
ambiente.

TEMA 4 – A APRENDIZAGEM EM ESTÁGIOS: DA INFÂNCIA À VIDA ADULTA

O processo de aprendizagem, para Piaget, era composto por uma série de


equilíbrios e adaptações. A noção de esquemas de ação foi um grande avanço
proposto, principalmente pelo entendimento sobre a primeira infância, pois, até
então, o processo de aprendizagem infantil era baseado nas estruturas mentais
de um adulto. Entendeu-se que estes processos ocorrem em fases ou etapas, e
o resultado, na atualidade, era uma educação infantil com atividades criadas e
voltadas para as diferentes fases, além de propiciarem às crianças vivências,
interações, experiências, ampliando o nível de desenvolvimento cognitivo.
Para relembrar, existem fatores e interações necessários para o pleno
desenvolvimento, que é a maturação ou o desenvolvimento orgânico e
psicomotor, as experiências ativas ou as experiências com os objetos, as
interações sociais baseadas nas relações de troca e a ideia que discutimos no
tema anterior, a equilibração, que consiste nos mecanismos que promovem a
modificação e a criação de esquemas motores ou mentais.
Ao pensarmos o desenvolvimento da inteligência em estágios, podemos
citar muitos exemplos. Ao nascer, o ato de chorar, sugar, puxar e prender é
comum; conforme a criança vai crescendo, outros esquemas de ação passam a
fazer parte do seu dia a dia, como imitar, representar, classificar. Com o fim da
primeira infância, esquemas mentais para ordenar, relacionar e abstrair marcam
essa passagem, e também quando aprendem argumentar, deduzir, inferir.
Cada uma dessas fases recebe uma denominação: sensório-motor, pré-
operatório, operacional concreto e operacional formal. Essas fases marcam os
avanços intelectuais na infância até a juventude. Cabe ressaltar que Piaget propôs
uma faixa de idade, mas os marcos de passagem podem variar, nem sempre
correspondendo à idade cronológica de nascimento. No entanto,
independentemente do ritmo, a criança vai passar e superar tais períodos, levando
em consideração as questões familiares, sociais, culturais e biológicas em que
vive.
Podemos pensar nas crianças que vivem próximas a nós. Aquelas que
convivem todo o tempo com outras crianças, que convivem com familiares
próximos, como irmãos, primos, tios, avós, que frequentam o ambiente escolar,

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dentre outros aspectos, aprendem a manipular e interagir com os objetos com
base nessas interações sociais, sendo estas extremamente importantes para o
desenvolvimento intelectual, racional, moral e linguístico. Inicialmente, essas
experiências se baseiam no empirismo, nas relações concretas, até a evolução e
desenvolvimento do pensamento formal, abstrato.
Piaget considerou quatro fases, dividas em faixas etárias, de acordo com
as características de desenvolvimento, principalmente por aquilo que o sujeito
consegue fazer melhor (Furtado, 1999). As fases são:

1. Estágio sensório-motor;
2. Estágio pré-operatório;
3. Estágio operacional-concreto;
4. Estágio operacional-formal.

Estágio sensório-motor (de 0 a 2 anos): O primeiro estágio começa com


o nascimento da criança e seus reflexos sensório-motores, herdados e instintivos,
para suprir o impulso básico da sobrevivência, e as funções mentais limitam-se
ao exercício dos aparelhos reflexos inatos. Aos poucos, a criança vai
aperfeiçoando seus movimentos e reflexos, passa a adquirir habilidades, sendo
um período marcado por expressivas e rápidas transformações mentais. É nessa
fase que as funções psicológicas básicas se estabelecem em relação à
percepção, aos avanços motores, ao intelectual, ao afetivo e ao social.
No início desse período, a criança explora seu corpo, coloca tudo na boca,
traz tudo para si e com o auxílio do corpo ele os explora, se apropriando, aos
poucos, desse mundo exterior desconhecido, tanto no sentido físico como nas
relações sociais. É sabido que a inteligência aparece aos primeiros sinais de
interação, mas não é expressa por meio da linguagem simbólica, portanto, os
esquemas de ação se constroem com base na percepção e em movimentos que
se tornam organizados. Além do mais, a noção de espaço é também construída
nesse período, partindo da noção do próprio corpo para a consciência externa, e
a noção de tempo é o aqui e o agora para a criança.
Estágio pré-operatório (dos 2 aos 7 anos): A passagem do estágio
sensório-motor para o pré-operatório é marcada pelo aparecimento da linguagem.
Já sabemos que a inteligência é anterior a esse processo, mas o desenvolvimento
dessa função simbólica depende da evolução da inteligência, dos processos
cognitivos.

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Por meio da linguagem, as mudanças são profundas, tanto intelectual como
afetivamente. A criança passa a ser capaz de se socializar por meio dessa função
simbólica, construindo novos conceitos e uma noção de pensamento coletivo. A
visão ainda parte do eu para o mundo, no entanto, “a linguagem possibilitará a
troca e a comunicação entre a criança e seu meio sociocultural, pois permitirá a
ela representar o que se encontra ausente e se comunicar com o ambiente social”
(Nogueira, 2015, p.133).
É nessa fase que o adulto consegue constituir uma relação de troca efetiva
com a criança, na qual suas ações passam a ser copiadas por serem fortes e
grandes. Também é preciso ressaltar que o pensamento da criança pré-operatória
é egocêntrico, por isso, nessa fase, é normal ver a criança falando consigo mesma
como num monólogo, pois ela ainda não consegue criar esquemas para
argumentar com o outro. Além disso, a função simbólica que envolve desenho,
jogos e imitação se desenvolvem, transformando a forma de pensar individual e
coletiva.
Quem já conviveu com crianças nesse estágio vai se lembrar de uma
questão bem comum, a fase dos porquês, que chegam a ser infinitos por um
período! Isso ocorre devido ao pensamento egocêntrico da criança, que não
consegue enxergar uma realidade além daquela conhecida, ou do seu próprio
ponto de vista. Outro ponto a ser considerado envolve a utilização da intuição por
parte da criança para resolver seus problemas, portanto, as ações são baseadas
numa inteligência prática que resulta do prolongamento das ações não verbais da
fase sensório-motora, e que será muito útil na vida adulta. Além do que, é durante
essa fase que a criança aprende a marcar o tempo passado e futuro (do jeito dela).
Estágio operacional-concreto (dos 7 aos 12 anos): Neste estágio, a
mudança é marcada pelos avanços mentais em relação a novas construções
mentais. A criança passa a estabelecer relações entre os objetos e o seu estado,
e as ações são executadas mentalmente, independentemente do manuseio dos
objetos. “Por exemplo, nessa fase se perguntarmos qual é a vareta maior, entre
várias, a criança será capaz de responder acertadamente comparando-as
mediante a ação mental, ou seja, sem precisar medi-las usando a ação física”
(Laurindo, 2014).
Nessa fase, a criança aprende a se concentrar trabalhando sozinha. Por
outro lado, há uma maior facilidade de se estabelecer trabalhos em equipe,
principalmente na aplicação de jogos que tenham regras estabelecidas. Portanto,

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a mudança intelectual e social da fase anterior é substituída pelas relações de
opiniões diferentes.
Outro ponto é a substituição da ludicidade, tão utilizada durante a educação
infantil, por uma visão mais crítica e lógicas das ideias e ações. Assim, mesmo
que a criança raciocine adequadamente, os esquemas mentais e de ações
executadas mentalmente representam objetos e situações imaginadas de modo
concreto. Nesse momento, também surgem as noções de peso, volume,
velocidade, espaço e tempo. Portanto, a realidade passa a ser vista com base na
razão, na qual pensamento e ação são operações mentais importantes.
Estágio operacional-formal (12 anos em diante): Neste estágio, se
ampliam as capacidades de raciocinar, formando esquemas conceituais
abstratos, os quais tornam possível a execução de operações mentais dentro de
uma lógica formal. Esse pensamento abstrato também pode ser chamado de
pensamento hipopético-dedutivo. Essa fase, marcada pelo início da adolescência,
envolve a capacidade de propor novos modos de pensar, novas condutas que
desencadeiam discussões entre os adolescentes, seus pais e professores, e que
são importantes para que a criança adquira autonomia.
Essa fase também pode ser chamada de idade da razão, que combina com
o período da adolescência, onde podem surgir “interesses pelas causas sociais,
a capacidade de abstração, teorização, experimentação, e o conhecimento e
compreensão sobre doutrinas e teorias filosóficas” (Nogueira, 2015, p.137).
O padrão intelectual alcançado nesse momento persistirá pela vida adulta
e se desenvolve com o tempo, pois o desenvolvimento da inteligência nunca
acaba, considerando que estamos constantemente aprendendo. Portanto, uma
ampliação do conhecimento em extensão e profundidade pode ocorrer. Aqui,
podemos usar como exemplo um conteúdo que aprendemos no Ensino
Fundamental, como os tipos de clima em geografia ou operações de matemática
básica, depois, no Ensino Médio, em que serão expostos os mesmos temas, mas
as abordagens passam a ser diferentes, pois não há a aquisição de novos
esquemas mentais, mas sim um aprofundamento do conteúdo.

TEMA 5 – O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET NA ESCOLA

O construtivismo na escola pode ser visto como um método de ensino ou


uma ferramenta de planejamento, no entanto, esse não era o objetivo de Piaget,
sendo assim, essa teoria não apresenta uma preocupação didática, mas a ideia

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de que a observação dos alunos nos permite entender que a assimilação dos
conteúdos ocorre de modo diferente e nem sempre ao mesmo tempo. Além, é
claro, da proposta, que consiste em entender como a inteligência é construída,
principalmente na infância, buscando mais do que esperar respostas prontas.
Os objetivos educacionais são estabelecidos com mais clareza, pois a
teoria psicogenética propõe parâmetros sobre o processo de pensamento da
criança relacionados aos estágios do desenvolvimento.
O construtivismo na sala de aula deve levar em consideração o
desenvolvimento do educando, contextualizando o mundo físico e social em que
a escola está inserida. Em relação à aprendizagem, é necessário entender os
processos dinâmicos e sociais de caráter ativo, bem como a ideia de que a
aprendizagem ocorre num movimento espiralado, considerando o conhecimento
prévio dos alunos e respeitando que este conhecimento é uma construção pessoal
e ativa do educando.
Na teoria comportamental, o erro é associado a um processo negativo no
processo de aprendizagem. Já no construtivismo, os erros passam a ser
entendidos como estratégias usadas pelo aluno na sua tentativa de aprendizagem
de novos conhecimentos (Brasil, 1998).
O processo de ensino-aprendizagem com base construtivista vê o aluno
como um sujeito ativo na construção do seu próprio conhecimento e na apreensão
dos conteúdos. A representação pessoal da realidade e dos objetos deve ser
considerada, pois este fator é individual e influencia diretamente no processo,
além das experiências, interesses e, já supracitado, os conhecimentos prévios.
Todos esses elementos possibilitam a compreensão e a integração do novo
conhecimento em construção.
O professor tem um papel decisivo como agente mediador da construção
do conhecimento, e deve considerar a reflexão, a discussão, a criatividade e a
participação, dentre outros aspectos que poderíamos citar. É por meio do
professor que as dinâmicas e atividades são estabelecidas dentro da escola,
sendo esta uma comunidade de discussão com objetivos claros, e um
planejamento e formação permanente com todos os envolvidos. Sendo assim, a
escola se torna um ambiente de compartilhamento que visa facilitar a
aprendizagem e convivência dos alunos.
A escola, em associação com a família, cria o ambiente para que o
processo de ensino-aprendizagem seja mais efetivo, pois a capacidade de
aprender se relaciona diretamente com oportunidades de troca e interação entre
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indivíduos, sejam estes da mesma idade ou não. Sendo esses estímulos
essenciais, podemos observar no ambiente escolar a diferença dos níveis de
aprendizagem em crianças que são estimuladas e que possuem mais facilidade
em aprender. Um exemplo que podemos citar é a criança que tem contato com
livros desde cedo e chega à escola mais familiarizada, apresentando facilidade no
processo de letramento e alfabetização, diferente das crianças que não possuem
esse contato. No entanto, o próprio autor propõe que essa diferença pode ser
temporária a depender dos estímulos a serem recebidos.

FINALIZANDO

Nesta aula, discutimos sobre processos cognitivos pelos quais damos


significado à realidade, com base em nossas experiências sensório-motoras, as
representações têmporo-espaciais, aos nossos pensamentos e lembranças.
Com base nesses processos cognitivos, relembramos que existem teorias
que formam um conjunto de proposições para explicar o conhecimento humano,
o desenvolvimento da inteligência, e, principalmente, que buscam entender como
as informações são processadas internamente envolvendo processos mentais,
como o uso da memória, da percepção, da atenção e do raciocínio.
Nesta aula, abordamos a teoria cognitiva baseada em Jean Piaget,
importante e conhecido teórico que preconizava que todos possuem potencial
para a aprendizagem, realizando atos como explicar, organizar, fazer conexões,
abstrair, concluir, dentre outros. E, principalmente, que independentemente do
resultado, certo ou errado, estamos constantemente aprendendo.
A percepção deste autor foi voltada para diferentes fases da vida, mas o
desenvolvimento infantil foi para onde se deram as principais contribuições.
Lembrando que este autor percebeu que as crianças respondem de maneira
errada em determinadas situações com base num pensamento adulto, mas, para
elas, a resposta está correta.
Sugerimos que exemplos sejam sempre utilizados, como é o caso de um
copo de tamanhos diferentes e com água pela metade. Um adulto sabe dizer que
a diferença na altura da água dentro dos recipientes se deve pelas proporções
dos copos, no entanto, para uma criança, essa é uma resposta difícil dependendo
da idade. O copo menor dará a impressão de estar mais cheio. Por isso, sempre
devemos entender em qual estágio da aprendizagem a criança se encontra para
compreender sua resposta.

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Desse modo, as crianças gradualmente aprendem e se inserem nas regras,
valores e símbolos, sendo estes elementos resultado da maturidade psicológica.
Isto ocorre com base em mecanismos mentais de assimilação e acomodação.
Vimos que a assimilação consiste na ideia de incorporar objetos aos esquemas
mentais já existentes e a acomodação envolve as modificações dos sistemas de
assimilação. A busca constante por equilíbrio e readaptação desses esquemas
mentais proporcionam maior e melhor qualidade de vida ao sujeito. E, como
supracitado, é essencial compreender o estágio de desenvolvimento da criança e
respeitar seu processo de aprendizagem.
Outra questão que devemos pensar com base nessa teoria é que, na
procura por respostas diante de uma situação complicada, a aprendizagem ocorre
envolvendo o que os meios físico e social oferecem, sendo assim, os desafios,
sejam eles quais forem, funcionam como um estopim para a busca de novas
soluções.

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REFERÊNCIAS

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