Você está na página 1de 6

Este projeto de extensão denominado “O que o corpo pode?

Encontros de potências em arte”


representa a nova versão do projeto que vem sendo realizado desde 2020, intitulado “O QUE
O CORPO PODE? Oficinas temáticas de expressão”. No ano que passou, fomos obrigados -
devido a pandemia do coronavírus que provoca a doença covid-19 -, a desenvolver o trabalho
extensionista no modo virtual, alterando de maneira significativa sua realização. Ou seja, as
ações previstas para serem realizadas presencialmente foram adaptadas para a realização de
modo remoto, impactando assim, nas interações dos saberes, nas formas de trabalho, nas
relações afetivas e sociais e, também, na produção estética expressa pelas diversas formas de
arte (música, teatro, dança e artes tecnológicas), definidas na metodologia. Portanto, para este
momento de olhos nas telas e telas nos poros, elegemos alguns conceitos de Gilles Deleuze
(filosofia da diferença), como: imagem-percepção; imagem afecção e imagem ação, bem como
imagem-movimento, conceito bergsoniano. A perspectiva é de refletir sobre o impacto
causado na sensibilidade humana, na movimentação corporal, na construção de novas
imagens-pensamentos e pensamentos-imagens e, também, na sensibilidade ainda não
elucidada do período pós-pandemia que recheou de luzes, cores, sentidos dissabores nossa
relação com o mundo digital. Por isso é preciso produzir artes, artes tecnológicas a partir de
oficinas e encontros semanais/mensais (com convidados) e, com a participação de estudantes
e universitários, bem como a comunidade virtual. Este entrelaçamento de saberes,
conhecimentos e expressões do corpo nas ações propostas para todos, contribui com a tríade
ensino-pesquisa-extensão, a partir da interseccionalidade escola-universidade-comunidade, na
qual as relações hierarquizadas presentes no sistema, pode vir a conformar ou a libertar este
corpo da opressão, da dominação e da discriminação produzindo arte para todos!

Justificativa

Para 2021, optamos por encontros de potências em arte, considerando o envolvimento efetivo
de estudantes da rede escolar estadual (Catalão, Ipameri e Caldas Novas) para que possamos
(re)conhecer a arte em nossas vidas como um elemento de grande impacto no
desenvolvimento de todos os seres humanos, em função da sensibilidade estética, da
produção de sentidos, das trocas potentes de saberes e histórias dos participantes envolvidos.
Como Equipe Executora (EEx), além do protagonismo da monitoria do projeto nas ações
planejadas e nos produtos previstos, contamos com a participação de professorartistas
(conceito criado pelo projeto, baseado em autores da dança e da filosofia da diferença) de
diversas lugares, seja como colaborador, ministrante de oficinas, instrutor-supervisor ou
convidado para encontros remotos com temas biográficos (histórias de artistas). No campo das
referências que articulam o ensino, a pesquisa e a prática extensionista, temos como tema
principal do “o que o corpo pode” (fundamentado na filosofia de Espinosa e de Gilles Deleuze),
as possibilidades de compreender a expressão humana na produção do fazer, vivenciar e
conversar sobre os fluxo decorrentes das artes privilegiadas pelo projeto (música, o teatro, a
dança e artes tecnológicas). Em função da realidade colocada pela pandemia, que nos obrigou
a ficar em casa, interagindo pelas telas digitais, provocando bastante inquietação, além de
sensações de ansiedade, isolamento social (o físico está evidenciado), angústia e insegurança,
tais elementos nos levou a reflexão sobre o impacto das tecnologias digitais em nossas vidas.
Acessamos, criamos e usufruímos de produções artísticas digitais a partir de canais da internet,
da televisão e da gratuidade de material presente na rede digital, gerando inquietações e
novas reflexões a partir dos tipos e dos modos de produção poética digital (produções
estéticas digitais também produzida pelos participantes em 2020), decorrentes deste
momento inédito em nossas vidas. Acreditamos que até o findar do projeto em julho de 2022,
poderemos encontrar novas fissuras, estando a par de acontecimentos que podem embalar
novos fluxos com novas potências de vida em arte.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O projeto está pautado nos estudos da filosofia da diferença (Gilles Deleuze, diversas obras),
na qual a não-representação e o reconhecimento da potência do pensamento humano em sua
imanência, nos torna seres de expressão contínua e humanos capazes de produzir sentidos
pela via da arte e dos afetos, possibilitando a inclusão social (Barreiro; Carvalho; Furlan, 2018).
A sociedade rotulada pelas identidades de cada grupo homogeneizados pelas suas tradições
ou culturalizados pelas tradições alheias, é potente de criação, de diversidade e de
afetividades que ignora, que despreza o corpo produzindo para si o mesmo, o igual e o menos
potente de criação. A produção para a existência, para a permanência do ser em sociedade ou
para o interesse da sobrevivência da relação com o outro, tem na arte um ponto de partida
instável, pois é na arte que todo povo cria e se perpetua por meio das suas histórias, dos seus
rituais e de outros elementos culturais. Paradoxalmente, esta arte que também produz fluxos,
imanências e possibilita críticas e reflexões mais profundas ao se apresentar por imagens ou
por telas nos poros. Essa expressividade intensa e, também, padronizada pelas telas de
novelas na tv, nos instiga a refletir que tipo de ser humano pode vir a nascer a partir do
impacto das telas digitais presentes, excessivamente, em novas vidas? Quais expressões
humanas serão elaboradas no corpo que vive intensa e densamente as telas digitais? Haverá
retorno? Surgirão novos modos de viver no mundo e, simultaneamente, teremos novas formas
de expressividade? São questões que nos provocam para o diálogo com escolares e
universitários, em busca da reflexão, da experimentação e da produção estética a partir de
quem somos e o que nosso corpo pode. O que esse corpo pode, material e digitalmente,
concretizar na sociedade atual. Assim, pensar, dialogar e produzir novos sentidos nos modos
de vida remota, nos fez indagar sobre como a sensibilidade, resultante da expressões
humanas, vem sendo afetada pelo mundo digital? Neste sentido, decidimos que em 2021,
iniciaríamos com estudos específicos sobre conceitos, como: imagem-pensamento; imagem-
tempo (estudos bergsonianos); imagem-percepção; imagem-movimento; imagem-afecção
(estudos deleuzianos). Tais conceitos tratados nas principais obras de Gilles Deleuze quando
investigou o cinema mundial, não na perspectiva de sua história, mas sim, na possibilidade de
expandir o pensamento impactado pelas telas do cinema e do papel de seus diretores ao optar
por determinados planos-imagem. Pelo fato de toda a sociedade ter que se adaptar de
qualquer modo e, em qualquer condição, seja para o trabalho, seja para o estudo, sem
reconhecer como seria afetada em toda a sua forma de organização afetiva e social, optamos
por avançar neste segundo momento no desenvolvimento do projeto, com o objetivo de
dialogar com estudantes (escolares e universitários) sobre o modo de ser afetado pelo ensino
remoto e pelas relações “afetivodigitais” disparadas/surgidas/exigidas durante esse momento
pandêmico.

METODOLOGIA
1ª Etapa: apresentação do projeto, planejamento das ações e organização do trabalho da
Equipe Executora; elaboração do convite aos estudantes de Ensino Médio das escolas de
Catalão e região (a partir dos participantes já presentes no projeto); “convitemail” aos
estudantes da UFCAT, e outros universitários já presentes no projeto;

2ª Etapa: encontro virtual (Ev) em setembro/2021 para apresentação do projeto aos


estudantes e escolares interessados (efetivação da inscrição no projeto, via formulário
Google); apresentação do cronograma 2021-2022; informações sobre direitos autorais e
orientações sobre procedimentos de realização de lives institucionais; apresentação de
documento “Autorização de uso de imagem e voz”;

3ª Etapa: encontros semanais do grupo de estudos (EEx e interessados), às 2ª feiras (14h00 às


15h30); (setembro; outubro; novembro; dezembro; fevereiro; março; abril; maio), visando a
reflexão, a criação e oferta de: a) encontros com convidados e, b) oficinas temáticas (última
semana do mês, respeitando cada área: música, teatro, dança e artes tecnológicas);

4ª Etapa: oficina temática (periodicidade mensal) para a comunidade inscrita (cronograma


2021-2022);

5ª Etapa: encontro virtual com convidados nas respectivas áreas do projeto (mínimo de 3
convidados/semestre);

6ª Etapa: organização, apoio e realização de evento cultural (festival, mostra ou espetáculo),


considerando o corpo como obra de arte; inscrição dos participantes do projeto para
apresentação de suas produções artísticas digitais, fundamentadas nas potências criativas, nos
estudos conceituais e nas conversas de fluxos derivadas dos espaços de partilhas do projeto;
ampliação do convite para inscrição de trabalhos das escolas da região, dos estudantes da
UFCAT e intressados que acessarem o material de divulgação nas redes sociais;

7ª Etapa: produção de material acadêmico-cultural (ebook do projeto; resumos para


comunicação oral; artigos para publicação; participação em eventos);

8ª Etapa: avaliação final (presencial em conversa de fluxos com os participantes e, por meio de
formulário, via Google, para a comunidade externa), a partir de critérios técnicos (organização;
desenvolvimento do cronograma; metodologia adotada) e critérios qualitativos (conceitos
desenvolvidos; referenciais adotados; didáticas para o processo ensino-aprendizagem; produto
final elaborado – ebook; artigos; apresentação de trabalhos em eventos; evento cultural
realizado, etc).

ADORNO, Theodor W. Introdução à Sociologia da Música: doze preleções teóricas.

Tradução: Fernando R.de Moraes Barros. São Paulo. Editora UNESP, 2011.

ÁVILA, Mayna Yaçanã Borges de, FERLA, Alcindo Antônio. O que pode o corpo? Corpografias de
resistência. In: Interface. Comunicação, Saúde e Educação, 2017; 21(62)731-48. DOI:
10.1590/1807-57622016.0898.
BARREIRO, M.F.; CARVALHO, A.B.; FURLAN, M.R. A arte e o afeto na inclusão escoar: potência
e o pensamento não representativo. In: Childhood & Philosophy. Rrio de Janeiro: v. 14, n. 30,
maio-ago. 2018, pp. 517-534.

CUPANI, Alberto. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques. In: Scientiae Studia,
São Paulo, v.2, n.4, p 493-518, 2004.

DELEUZE, Giles. Conversações. Tradução Peter Pál Pelbart. São Paulo: Ed.34, 1992.

__________. Cinema 1 – A imagem-movimento. Trad. Stella Senra. São Paulo: Editora 34,
2018.

__________ e GUATTARI, Félix. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. Trad. Aurélio Guerra
Neto e Celia Pinto Costa. Vol.1. São Paulo: Ed.34, 1995.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 9ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

GALLO, Sílvio. Pedagogia Libertária - Anarquistas, Anarquismos e Educação. São Paulo:


Imaginário: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007.

__________. Deleuze & a Educação. 2.ed. Belo Horizonte: Autência, 2008.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.

HARARI, Yuval Noah. Homo Deus – uma breve história do amanhã. Trad. Paulo Geiger. São
Paulo: Companhia das Letras, 2016. 18ª reimpressão.

LABAN, Rudolf. Dança Educativa Moderna. São Paulo: Ícone, 1990.

LINS, Daniel. Nietszche e Deleuze: que pode o corpo. São Paulo: Editora Relume Dumará, 2002.

MATEIRO, Tereza; ILARI, Beatriz (org.) Pedagogias em educação musical. Curitiba: Ibpex: 2011.
(Série Educação Musical).

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Da periferia ao centro: pedaços & trajetos. In: Revista de
Antropologia. São Paulo: USP, 1992, v.35, p.191-203.

MARQUES, Isabel. Dançando na escola. São Paulo: Cortez, 2003.

MORAES, Ana Luiza Coiro. A análise cultural: um método de procedimentos em pesquisas. In:
Questões Transversais – Revista de Epistemologias da Comunicação. Vol.4, nº7, janeiro-
junho/2016.

RESOLUÇÃO Nº 7, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2018. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. CONSELHO


NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira.

TOLSTÓI, Leon. O que é arte? Trad. Bete Torii. Apresentação Marcelo Backes. 4ª ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2019.

VERGOPOLAN, Roseli. Oficinas Temáticas: proposta para organização do trabalho pedagógico


do supervisor bolsista do PIBID. In: IX Congresso Nacional de Educação-EDUCERE; II Seminário
Internacional de Representações Sociais, Subjetividades e Educação-SIRSSE; IV Seminário
Internacional Profissionalização Docente-SIPD/CÁTEDRA UNESCO. Curitiba: Pontifícia
Universidade Católica do Paraná-PUC/PR, 23 a 26/09/2013.

Objetivos gerais:

Desenvolver oficinas temáticas e encontros de potências em arte (com convidados), visando


problematizar o que o corpo pode, a partir de vivências de expressões do corpo (teatro;
música; dança; artes tecnológicas). Estimular e ampliar a cultura do movimento corporal, por
meio de vivências que potencializem fluxos, multipliquem os códigos (a-)significantes
(semiótica), territorializando e desterritorializando o corpo, tendo como fundamento principal
a filosofia da diferença e a pedagogia libertária. Oportunizar aos participantes (escolares,
universitários e a comunidade) envolvidos, via atuação da monitoria do curso de Educação
Física, a busca da compreensão do movimento corporal como dispositivo de poder.

Objetivos específicos:

- estimular a reflexão sobre a importância das artes (música, teatro, dança e artes
tecnológicas) na produção estética e sensível da vida humana;

- incentivar a participação nos espaços de oficina, grupo de estudos e encontros virtuais com
convidados, numa troca de fluxos de potências para a vida em arte, bem como na
interseccionalidade escola-universidade-comunidade;

- integrar saberes, conhecimentos e potências criativas a partir de temáticas sociais, como:


diferenças e diversidade; preconceito e superação; lazer e cultura antirracista, entre outros
temas que surgirem;

- promover espaços de partilhas de conhecimentos (via grupos de estudos), trocas de saberes


e fazeres em arte (vias subjetividades dos participantes), para apoiar as produções (estéticas,
acadêmicas e de divulgação científica) decorrentes do projeto;

- estimular reflexão e a produção artística digital, capaz de potencializar fluxos, sensibilizar a


vida e produzir arte crítica e criativa;

- organizar e realizar um evento cultural que fortaleça o vínculo escola-universidade-


comunidade.

RESULTADOS ESPERADOS

A expectativa é que possamos produzir juntos, não apenas por caminhos conceituais regidos
pela ciência, mas sim, a partir de uma estética do sensível pela via da arte crítica, criativa e
possível, privilegiando o agir ético de um bom encontro na frente ou atrás das telas nessa pós-
pandemia, cuja imagem-movimento sequer, imaginamos. Acreditamos que até o findar do
projeto em julho de 2022, poderemos encontrar novas fissuras, estando a par de
acontecimentos que podem embalar novos fluxos de potências singular e coletiva, seja pela via
da arte, da educação e/ou da ciência que ainda não produzimos. Temos como pretensão, a
partir da organização de um festival escolar com o tema do que o corpo pode, consigamos
estabelecer novas multiplicidades na educação e na arte. O ganho é da sociedade! Por fim, o
retorno esperado pelos cursos e pela sociedade ao lidar com potências de vida em arte amplia
o desejo de preservação da existência humana, frente aos desafios imprevisíveis que alteram o
modo de vida em sociedade, vida como obra de arte!

Você também pode gostar