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PROGRAMA Módulo:

Atenção à saúde
DE EDUCAÇÃO
da criança:
PERMANENTE crescimento e
EM SAÚDE desenvolvimento
DA FAMÍLIA

UNIDADE 1
O crescimento e
desenvolvimento:
Políticas Públicas
para a primeira
infância

Nadja De Sá P. D. Rocha
Maria de Lourdes Magalhães
José Adailton da Silva
O crescimento e desenvolvimento:
políticas públicas para a primeira infância
Os primeiros anos de vida são reconhecidamente aqueles em que melhor se pode estimular
o desenvolvimento global do indivíduo. É um ciclo de grande promessa e ao mesmo tempo
de ameaças consideráveis (BRASIL, 2016a).

Alguns dos grandes desafios que iremos trabalhar neste módulo são o cuidado à criança e
o enfrentamento da mortalidade infantil. Mesmo com declínio importante, numa evolução
histórica, são incompatíveis com o nível de desenvolvimento econômico do Brasil. Ressalta-
-se também que 70% das causas desses óbitos infantis ocorrem no período neonatal e com
maior concentração em grupos em situação de vulnerabilidades, como crianças indígenas,
quilombolas, com deficiências, filhas de mulheres privadas de liberdade e em situação de
rua e de violências. Nossa pequena Helena, da situação-problema, poderia ser uma vítima
nessa estatística, não acha?

No período entre 1990 e 2012, o País obteve diminuição expressiva na mortalidade infantil
(< de 1 ano), de 47,1 óbitos por mil nascidos vivos em 1990 para 14,9 em 2012, uma dimi-
nuição de 68,3%. Essa queda ocorreu em todas as regiões do país, especialmente na região
Nordeste. Em relação à taxa de mortalidade na infância (< de 5 anos), houve diminuição de
53,7 em 1990 para 17,3 em 2012, queda de 67,7%. A Meta 4 estabelecida nos Objetivos do
Desenvolvimento do Milênio (ODM) era de 15,7 para menores de 1 ano e de 17,9 para até os
5 anos, até 2015 (ALMEIDA; MAGALHÃES, 2016; BRASIL, 2016a).

As principais estratégias que contribuíram para a redução da mortalidade foram a amplia-


ção do acesso à vacinação, das taxas de aleitamento materno, do nível de escolaridade
da mãe, da cobertura da atenção básica à saúde/saúde da família e, na última década, do
Programa Bolsa Família, levando à diminuição da pobreza e, com suas condicionalidades,
induzindo maior utilização da atenção básica à saúde pelas famílias, entre outras (ALMEIDA;
MAGALHÃES, 2016).

Por um lado, novos investimentos têm sido feitos, como a Rede Cegonha, em 2011, e o pro-
grama intersetorial Brasil Carinhoso, em 2012, a fim de enfrentar as iniquidades nas condi-
ções de saúde e universalizar esses avanços para grupos que vivem em situação de maior
vulnerabilidade. Por outro lado, crescem a prevalência da obesidade na infância, a medicali-
zação da vida, as doenças crônicas, além do aumento repentino de crianças com deficiências
devido à infecção pelo Zika vírus, bem como dos óbitos evitáveis por causas externas:os
acidentes e as violências (ALMEIDA; MAGALHÃES, 2016; BRASIL, 2016a).

O desafio que se apresenta à sociedade brasileira para esse público é plural, tanto em
função das condições de vida e das limitações de oportunidades para as crianças e suas
famílias, especialmente na primeira infância, quanto em relação às demandas por serviços
públicos. Iremos discutir, no âmbito do seu território, o perfil de saúde da criança e as princi-
pais políticas, ações e serviços de saúde necessários para consolidar os atributos essenciais
da Atenção Primária em Saúde: acesso, atenção contínua, vínculo, integralidade e coordena-
ção do cuidado e intersetorialidade. (BRASIL, 2013; SILVA, 2014; STARFIELD, 2004).
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Aula 1: Políticas públicas para a primeira
infância

É importante compreendermos um pouco sobre as Políticas Públicas de Saúde voltadas


para a primeira infância, para podermos ajudar Helena e sua mãe em uma situação tão
comum em nosso País. Que tal começarmos refletindo?

Vamos refletir...

• O que é a primeira infância?

• Quais as políticas voltadas para a primeira infância?

Agora, vamos nos localizar temporalmente para podermos compreender melhor como éra-
mos e como estamos em relação a tais políticas. Para isso, veja o Infográfico 1 que está no
AVASUS sobre Políticas para a Primeira Infância. Vamos lá?

Infográfico 1

Como se deu a evolução histórica das políticas de saúde


da criança?
O período correspondente ao século XX foi marcado por inúmeras experiências de modelos
assistenciais em saúde em todo o mundo, que serviram como base para o estabelecimento
dos princípios e das diretrizes propostos na Declaração de Alma-Ata, formulada em 1978,
na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde e na Convenção sobre os
Diretos da Criança (1989), da qual o Brasil é signatário.

No período de 1970 e 1980, que antecedeu a Constituição Federal de 1988, foram adota-
das importantes iniciativas para a redução da mortalidade infantil (0 a 1 ano) e na infância
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(0 a 5 anos). Nos anos 1970, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), com a ampliação da
cobertura vacinal para as crianças e, nos anos 1980, o Programa Nacional de Incentivo ao
Aleitamento Materno (MAGALHÃES, 2011).

A monitorização do crescimento foi recomendada desde a década de 1970, na Conferência


de Alma-Ata, realizada no Cazaquistão, em 1978. No Brasil, embora o relatório da V Confe-
rência Nacional de Saúde, realizada nessa mesma década, tenha incorporado a vigilância
do crescimento, o tema somente ganhou relevância em 1984, com a criação do “Programa
de Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC)” pelo Ministério da Saúde.

Conceito de políticas públicas – Existem várias definições sobre


o que seja política pública, a exemplo de: são decisões de caráter
geral, voltadas para a coletividade, destinadas a tornar públicas as
intenções do governo, visando orientar o planejamento de ações,
podendo ter como desdobramento a elaboração de programas e
projetos (BRASIL, 1999). Outras definições: um conjunto de ações do
governo que irão produzir efeitos específicos sobre os indivíduos;
a soma de atividades do governo que influenciam a vida dos cida-
dãos; a escolha de um governo na adoção de medidas específicas.
Em síntese, uma política pública pode beneficiar ou não a população
ou os grupos (MAGALHÃES, 2011).

A Atenção Primária em Saúde (APS) é uma das principais estratégias para um sistema de
saúde e, quando fortalecida, permite reduzir as iniquidades e melhorar a saúde dos indi-
víduos e comunidades. A Estratégia Saúde da Família (ESF) é o modelo adotado pelo MS
e alguns municípios do Estado de São Paulo como prioritário para a estruturação da APS
no Brasil. Embasada na noção de vigilância à saúde e no fortalecimento do vínculo profis-
sional-população, prevê cuidados integrais e continuados de saúde a indivíduos e famílias,
acompanhando-os ao longo do tempo e monitorando a referência e contrarreferência para
outros níveis do sistema de saúde.

Em 1988, as políticas públicas ganham relevo com a Constituição Brasileira (CF), que deli-
neou em suas diretrizes, o acesso universal ao sistema de saúde, os direitos da criança e
do adolescente, reafirmados no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), Lei nº 8.069 de
13 de julho de 1990.
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O ECA regulamenta o artigo 227 da CF/1988: que é dever da família, da sociedade e do Esta-
do assegurar à criança e ao adolescente o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. O ECA de 1990 destaca ainda a “condição peculiar
da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento”. Nesse sentido, a condição
peculiar de desenvolvimento impõe prioridade na garantia de direitos e proteção integral.
As políticas públicas são regulamentadas e a criança passa a ser percebida sob uma visão holís-
tica, como ser humano em desenvolvimento, abrangendo diversas áreas da infância (BRASIL,
2015a; SILVA, 2014; GOMES, 2010). Certamente, o ECA é fundamental para que possamos
nortear nossas ações em situações como a que vimos no início deste módulo, do caso Helena.

Para a efetivação desses direitos, o poder público deve, por meio das políticas sociais,
ofertar serviços de promoção, proteção e recuperação, em qualquer circunstância, dando
a precedência no atendimento e a preferência na formulação e na execução das políti-
cas, bem como destinação de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção
à infância (BRASIL, 1990).

Nesse sentido, o Estatuto que dispõe sobre a proteção integral delega às políticas sociais
básicas promover os diretos fundamentais à saúde, à educação e à convivência familiar
e comunitária, entre outros.

Em 2010, foi divulgado o Plano Nacional pela Primeira Infância, por meio do qual são resga-
tados os direitos fundamentais, como o direito à vida, à saúde, à alimentação, à família e à
convivência familiar e comunitária, ao brincar, à cultura, à educação própria dos anos iniciais
da vida, ao meio ambiente saudável (BRASIL, 2010).

Em 2011, foi lançada pelo Ministério da Saúde (MS) a Rede Cegonha (Portaria 1.459, de 24
de junho de 2011), a qual envolve uma rede de cuidados que vislumbra a garantia do aces-
so seguro e de qualidade na atenção à mulher em todo seu ciclo reprodutivo, bem como
garantir à criança o acesso, a segurança e o cuidado integral ao nascimento, crescimento e
desenvolvimento. Ela traz um conjunto de iniciativas que envolvem mudanças no modelo de
cuidado à gravidez, ao parto/nascimento e à atenção integral à saúde da criança, com foco
nos primeiros dois anos e em especial no período neonatal (BRASL, 2011a).

Em 2013, após amplo debate no Congresso Nacional com a participação de seguimentos


da sociedade civil organizada, foi sancionada a Lei nº 13.010, de 26 de junho de 2013, que
altera dispositivos do ECA e declara de forma contundente que crianças e adolescentes, pes-
soas em condição peculiar de desenvolvimento, não podem sofrer castigos corporais como
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, por qualquer pessoa
encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los (BRASIL, 2013a).

Em 2015, e de forma pioneira, é criada a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da


Criança (PNAISC), aprovada no Conselho Nacional de Saúde (CNS), no Conselho Nacional dos
Direitos da Criança (CONANDA) e pactuada na Comissão Intergestores Tripartite, definindo
um eixo estratégico de Promoção e acompanhamento do crescimento e do Desenvolvimen-
to na Primeira Infância (DPI)., reconhecendo todas as etapas do desenvolvimento da criança.
Somando-se aos demais eixos da Política e às iniciativas e diretrizes das políticas públicas
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universais desenvolvidas pelo SUS para a promoção da saúde, prevenção de doenças e agra-
vos, assistência e reabilitação à saúde, no sentido da defesa dos direitos à vida e à saúde da
criança. (BRASIL, 2015b; SOUSA; ERDMANN; MOCHEL, 2011).

A PNAISC tem como objetivo promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento mater-
no, mediante a atenção e os cuidados integrais e integrados da gestação aos 9 (nove) anos
de vida, com especial atenção à primeira infância e às populações de maior vulnerabilidade,
visando à redução da morbimortalidade e a um ambiente facilitador à vida com condições
dignas de existência e pleno desenvolvimento (BRASIL, 2015b; BRASIL, 2016a).

São estratégias e iniciativas do DPI:

a disponibilização da “Caderneta de Saúde da Criança”, com atualização


periódica de seu conteúdo; a qualificação doacompanhamento do cres-
cimento e desenvolvimento da primeirainfância pela Atenção Básica à
Saúde; o Comitê de Especialistas e de Mobilização Social para o Desen-
volvimento Integral da PrimeiraInfância, no âmbito do Sistema Único de
Saúde (SUS); e o apoio à implementação do Plano Nacional pela Primeira
Infância.” (BRASIL, 2015b, p. 38).

A PNAISC se estrutura em 7 (sete) eixos estratégicos, com a finalidade de orientar e qualificar


as ações e serviços de saúde da criança no território nacional, considerando os determinan-
tes sociais e condicionantes. Veja no Infográfico 2 que está no AVASUS.

Infográfico 2

Em 2016, foi publicada a Lei nº 13. 257, em 8 de março de 2016, conhecida como Marco
Legal da Primeira Infância. Essa lei dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infân-
cia e altera a Lei no. 8.069, de 13 de julho de 1990, entre outras normativas, consagrando a
proteção integral de crianças e adolescentes; e aprimorando os dispositivos do Estatuto da
Criança e do Adolescente – ECA, especialmente no que se refere à primeira infância.

As definições de faixas etárias nunca foram consenso entre as políticas públicas no país, vis-
to que cada uma delas tem sua finalidade. O ECA, por exemplo, considera a criança a pessoa
até doze anos incompletos e o adolescente a pessoa entre doze e dezoito anos. A Conven-
ção sobre os diretos da Criança (CDC), por sua vez, considera a criança todo ser humano
com menos de dezoito anos de idade. Já a PNAISC considera a criança a pessoa de zero a
9 anos, ou seja, de zero a 120 meses; e aprimeira infância: pessoa na faixa etária de 0 a 5
anos (72 meses) (MAGALHÃES, 2011; BRASIL, 2015b; BRASIL, 2016b).

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Atos normativos Faixa etária da criança Abrangência/orientação
CDC Menor de 18 anos Todas as políticas
ECA 0 a 12 anos incompleto Todas as políticas
PNAISC 0 a 5 anos (72 meses) Saúde
Marco Legal da Primeira Infância 0 a 6 anos (72 meses) Todas as políticas
Quadro 1 - Resumo das definições de faixa etária da criança de acordo com os atos normativos, com
especificação da abrangência.

Quer saber mais sobre a Lei nº 13. 257? Acesse o link a seguir: <http://
www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm>

Segundo o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) do MS, nascem, a cada
ano, cerca de três milhões de crianças. De acordo com o Censo Demográfico de 2010, rea-
lizado pelo IBGE, aproximadamente 29 milhões de crianças de 0 a 9 anos viviam no Brasil,
sendo a metade delas menores de 5 anos (MAGALHÃES, 2011). Veja o quadro a seguir.

Sexo/Faixa etária 0 a 9 anos < 1 ano 1 a 4 anos 5 a 9 anos


Masculino 14.641.131 1.378.532 5.638.455 7.624.144
(9,4%) (38,6%) (52%)
Feminino 14.124.403 1.334.712 5.444.460 7.345.231
(9,5%) (38,5%) (52%)
Total 28.765.534 2.713.244 11.082.915 14.969.375
(9,4%) (38,6%) (52%)
Quadro 2 - População residente de crianças de 0 a 9 anos, segundo o sexo e a faixa etária – Brasil,
2010.

Fonte: Magalhães (2011).

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Helena é mais uma entre os mais de 14 milhões de meninas em nosso país. Neste módulo,
adotaremos a faixa etária da primeira infância, de zero a cinco anos (< 6 anos), por constituir
a fase fundamental do desenvolvimento infantil, na detecção das principais vulnerabilida-
des e potencialidades. Somada às recomendações de prioridade, do Ministério da Saúde
(MS), da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Marco Legal pela Primeira Infância e do
Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade (PMAQ), este último presente nas unidades de
saúde da família do Brasil, e que será trabalhado nesta oferta pedagógica para o monitora-
mento e avaliação (BRASIL, 2012, 2015b).

Continuaremos nosso aprendizado sobre o crescimento e desenvolvimento, e a importância


da caderneta de saúde da criança, na próxima aula. Vamos lá?

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