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Alexandre Charifo Ali Lições de Manutenção Industrial DEMA – FEUEM

4. Organização das Operações da Manutenção


4.1. Substituição de Componentes, Máquinas ou Equipamentos

A maior parte das máquinas ou equipamentos industriais necessitam de


substituição depois de um determinado tempo de operação. A análise da substituição
lida com a substituição de itens devida a redução na eficiência, falha ou avaria. Este
problema surge por várias razões, a saber: certos itens requerem manutenção, facto
que os torna caros com o tempo; outros itens falham devidos os factores físicos
repentinos, danos acidentais, disponibilidade de novas versões no mercado, etc.

Devidas as razões acima mencionadas, a eficiência dos itens reduz-se com o


tempo e, como resultado, regista-se o aumento dos custos de operação e a redução do
valor residual dos itens. Deste modo, existe a necessidade de decidir a melhor política
que permita determinar o momento em que a substituição é mais económica.

4.1.1. Falha dos Itens

Em geral, falha significa redução da eficiência. Na vida real, existem dois tipos de
falhas, a saber:

i. Falhas repentinas – São aquelas que ocorrem repentinamente depois do uso


do item por algum tempo. Alguns exemplos de itens com falhas repentinas
são os seguintes: Lâmpadas, correias, certos tipos de componentes. O
período entre a instalação de um item e a sua falha é incerto, mas pode ser
estimado através de distribuição de frequências que podem ser: progressivas,
retrocessivas ou aleatórias pela natureza.

• Falhas progressivas – nestas a probabilidade de falha aumenta com o


aumento de vida de funcionamento do item. Por exemplo, lâmpadas,
pneus, etc.

• Falhas retrocessivas – estas são aquelas em que a habilidade de


sobrevivência do item no estágio inicial de funcionamento aumenta a
esperança da vida. Por exemplo, motores eléctricos, turbinas, etc.

• Falhas aleatórias – nestas existe uma constante probabilidade de


falha associada ao item por várias razões, como choques físicos, má
utilização, sobre carregamento, etc.

ii. Falhas graduais – são aquelas que ocorrem progressivamente. Nestas, a


eficiência reduz com o tempo e consequentemente:
• Aumentam os custos de operação;
• Reduz a produtividade do item; e
• Reduz o valor residual do item.

Os itens com falhas graduais são caracterizados por serem muito caros e
exigirem manutenção. Por exemplo, veículos, máquinas, caldeiras, etc.

4.1.2 Substituição de Itens de Falha Repentina

Geralmente, estes elementos são baratos, mas os custos resultantes das suas
falhas e/ou os custos envolvidos na sua substituição são consideráveis. Desta forma,
é necessário estimar os vários custos envolvidos e escolher a posição mais barata.
Existem 3 categorias de custos:
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• Custo de substituição do item. Usualmente, é o custo de aquisição no


momento da substituição.
• Custos resultantes da falha. Estes podem ser insignificantes, por exemplo
se for uma lâmpada a falhar, como podem ser muito significantes se um
pequeno componente, como uma correia, falhar e causar a paralisação da
linha de produção;
• Custos envolvidos na substituição do item. Devida a localização e/ou ao
problema da acessibilidade é frequentemente preferível fazer uma
substituição em massa em determinados intervalos.

A previsão de que um determinado item falhará num determinado tempo é muito


incerta. Porém a incerteza da falha de um dado item pode ser determinada através do
conceito da mortalidade do abaixo. O problema da morte e sobrevivência pode ser
apresentado através do teorema da mortalidade que diz o seguinte:

“Toda população está sujeita a uma dada lei de mortalidade para um longo
período de tempo. De acordo com esta lei, todas as mortes são imediatamente
substituídas por nascimentos e não existem outras entradas nem saídas. Assim, a
distribuição das idades torna-se estável e o número de mortes, por unidade de tempo,
torna-se constante e igual ao tamanho da população dividido pela média das idades no
momento da morte”.

4.1.2.1. Política de Substituição Individual

Assumindo que a morte (falha) ocorre pouco antes de um determinado tempo


t=k, onde k é um número inteiro, e nenhum membro da população permanece vivo
mais que k+1 unidades de tempo. Seja f (t ) o número de nascimentos (substituições)
no momento t e P (x) a probabilidade da morte (falha) pouco antes da idade x + 1 , de
k
modo equivalente na idade x e ∑ P( x) = 1 .
x =0
Então, f (t − x) denotará o número de

nascimentos no momento (t − x) , t = k , k + 1, k + 2, ... . Daqui, o número esperado de


morte dentre os sobreviventes no momento t será P ( x) ⋅ f (t − x) . Por isso, o número
total de mortes no momento t será dado por:

∑ P( x) ⋅ f (t − x) , t = k , k + 1, k + 2,...
x =0

Além disso, o número total de nascimentos no momento (t + 1) será f (t + 1) .


Dado que todos todas as mortes que ocorrem no momento t são imediatamente
substituídas pelos nascimentos no momento (t + 1) . Então, o número de nascimentos
no momento (t + 1) será:

k
f (t + 1) = ∑ P ( x) ⋅ f (t − x) , t = k , k + 1, k + 2, ...
x =0

A vida média do componente (Vmc) é dada pela seguinte fórmula:

l
Vmc = ∑ nP (n) (4.1)
n =1

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Onde: Vmc – é a vida média do componente;

n – é o período de tempo da falha do componente;

P(n) – é a probabilidade de falha do componente no período n;

l – é o tempo máximo de sobrevivência do componente (longevidade).

O número médio de substituições (Nms), ao fim de um determinado período, deve


ser sempre arredondado por excesso e é dado pela seguinte fórmula:

N0
N ms = (4.2)
Vmc

Onde: Nms – é o número médio de substituições ao fim de um certo período;

N0 – é o número total de componente em uso;

Vmc – é a vida média do componente.

O custo médio de substituição individual (Cmsi) é dado pela seguinte fórmula:

Cmsi = Csic × N ms (4.3)

Onde: Cmsi – é o custo médio de substituição individual;

Csic – é o custo de substituição individual do componente.

Nms – é o número médio de substituições ao fim de um certo período.

4.1.2.2. Política de Substituição em Massa

A substituição em massa deve ser feita no fim de um determinado período de


tempo t, se o custo de substituição individual, para o mesmo período, for maior que o
custo médio, por unidade de tempo, até ao fim do período.

A substituição em massa não é recomendável no fim do período t se custo da


substituição individual no fim do período (t − 1) for menor que o custo médio, por
unidade de tempo, até ao fim do período.

Dado o número total e inicial de componentes em uso ( N 0 ) e as probabilidades


de falha do componente ao fim do período i ( Pi ), pode-se determinar o número de
substituições no fim do i-ésimo período ( N i ), da seguinte forma:

• Substituições do 1º período: N1 = N 0 P1 ;

• Substituições do 2º período: N 2 = N 0 P2 + N1P1 ;

• Substituições do 3º período: N 3 = N 0 P3 + N1P2 + N 2 P1 ;

• Substituições do i-ésimo período: N i = N 0 Pi + N1Pi −1 + N 2 Pi − 2 + ... + N i −1P1 .

A esperança média de vida do componente é dada pela seguinte fórmula 4.1.

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O melhor período para a substituição em massa é o que corresponde aos custos


médios mais baixos e é determinado de acordo com o procedimento dado no quadro
abaixo.

Quadro 4.1. Determinação do melhor período para substituição em massa


Fim do Período i Custo Total de Substituição em Massa Custos Médios
C1
1 C1 = N1Csic + N 0Csm
1
C2
2 C2 = ( N1 + N 2 )Csic + N 0Csm
2
C3
3 C3 = ( N1 + N 2 + N 3 )Csic + N 0Csm
3
… … …
Ci
i Ci = ( N1 + N 2 + N 3 + ... + N i )Csic + N 0Csm
i

4.1.3. Substituição de Itens que se Deterioram

Um dado equipamento industrial pode ser mantido em funcionamento por


relativamente longos períodos, mas isto implica o aumento dos serviços de
manutenção. Por isso, são necessárias considerações cuidadosas e análise de custos,
de formas a se escolher o período de substituição mais económica. E existem dois
custos consequentes a serem considerados:
• A perda anual de capital; e
• Os custos de manutenção.

Os dois custos são acumulados e determinadas as suas médias anuais. O


período óptimo de substituição é o que corresponde a média anual mais baixa.

Assumindo que deve-se substituir uma máquina ou outro equipamento e que:


• A – É o preço de aquisição;
• Ci – São os custos de operação no ano i (manutenção + custos de avarias); e

• Ri - O valor residual no ano i ;

Pode-se calcular o custo total médio por unidade de tempo (calendário de operação),
designado por Cu de seguintes modos:

a) Sem tomar em conta a inflação:

A + ∑ Ci − Ri
Cu = (4.4)
i

Se não se considerar o valor residual a fórmula toma o seguinte aspecto:

A + ∑ Ci
Cu = (4.5)
i

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b) Tomando em conta a inflação: se a taxa de inflação for r , então o custo total


médio por ano será:

A × (1 + r ) + ∑ Ci × (1 + r ) − Ri
i i −1

Cu = (4.6)
i

É de notar que ao comparar os custos das possíveis máquinas, não devemos


esquecer que todos os custos devem ser expresso em quantias dos mesmos períodos.
Assim, se a taxa de inflação for r o custo Cu (i ) no ano i é equivalente a:

C u (i )
C u (0) = , no ano zero (0) do calendário de operação da máquina.
(1 + r ) i

4.2. A análise "ABC"

O economista, matemático e físico italiano, Vilfredo Pareto fez um estudo sobre a


distribuição de riqueza em Milão. Na altura Pareto observou que 20% de pessoas
controlava 80% da riqueza, enquanto os restantes 20% da riqueza estava dividida
entre os restantes 80% de pessoas. Mais tarde, verificou-se que a observação do
Pareto era verdadeira para todo País e foi estendida para as outras áreas do saber.
Assim, a observação do Pareto passou a ser designada: Regra 80:20 ou Lei do Pareto.

Em geral, em qualquer actividade, envolvendo esforço humano, 20% do esforço


alcança 80% de resultados e 80% do esforço é requerido para alcançar o balanço. A
Regra 80:20 pode ser usada para a organização dos trabalhos de manutenção.

Os serviços de manutenção quase sempre têm muitas tarefas por executar e, por
vezes, debatem-se com o problema de reduzido número de pessoal. Além disso, os
métodos mais desenvolvidos de manutenção são bastante caros e, por isso, não devem
ser usados indiscriminadamente. Sendo assim, as operações da manutenção devem
ser organizadas de formas que os serviços possam ser prestados com a máxima
eficiência possível, e, para tal, a análise "ABC" é um instrumento bastante útil.

Em manutenção industrial a análise “ABC” baseia-se na classificação das falhas


ou avarias, em termos de custos, de formas a possibilitar que se dê uma ordem de
prioridade as diferentes acções a serem tomadas. Por exemplo, assumindo que o
sistema a ser mantido é constituído por um grupo de máquinas, podem ser feitas
observações dos números de falhas de cada máquina e serem apresentados os custos
delas resultantes, em termos de tempo de paragem.

O método da análise “ABC” resume-se em alistar as máquinas em ordem


decrescente dos custos das falhas, com o número de falhas de cada máquina, e formar
os somatórios dos custos acumulados das falhas e dos seus números
correspondentes. Os resultados deste processo são apresentados graficamente de
formas que os custos acumulados das falhas são relacionados com as somas
acumuladas dos correspondentes números de falhas. Disto resulta uma curva,
denominada por Curva de Pareto, que apresenta três zonas A, B e C, que resumem a
experiência comum segundo a qual:

• Zona A - cerca de 20% das falhas provocam cerca de 80% dos custos. Por isso, as
falhas desta zona devem ser as mais prioritárias;

• Zona B - cerca de 30% das falhas causam cerca de 15% dos custos. Esta zona
forma a segunda prioridade; e
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• Zona C - os restantes 50% das falhas causam apenas 5% dos custos, e esta é a
zona da última prioridade.

Os cálculos para a determinação da Curva de Pareto são baseados numa tabela


que contempla as seguintes colunas:
• M i – (máquinas nº i = 1, 2, …, n) alistadas em ordem decrescente dos custos
das suas falhas;
• Ci – Custo total (exemplo: em tempo de paragem) da falha da máquina M i ;

• ∑C i – Soma acumulada dos custos Ci ;

Ci
• ∑C – Custos acumulados como percentagem do custo total;
T

• Fi – Número de falhas da máquina M i durante o período de observação;

• ∑F i – Número acumulado de falhas Fi ;

Fi
• ∑F – Número acumulado de falhas como percentagem do total das falhas.
T

A figura 4.1 apresenta a representação da Curva de Pareto.


Custos

100%
95%

80%

A B C

20% 50% 100% Falhas

Figura 4.1 – Curva de Pareto

4.3. Controle de Stock

Para se fazer um bom controlo de stock é necessário que se seja capaz de prever
o número de itens que devem ser encomendados e quando é que os novos
fornecimentos são necessários. Isto deve ser feito de formas a minimizar os custos
totais da operação de aquisição, que incluem:
• Preço de compra.

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• Custo de aquisição - custo de manuseamento da encomenda, seguros, etc.

• Custo de posse de stock – custo de armazenagem, e a desvalorização do


capital empatado.

Assim, a equação geral do custo de stock fica:

Custo total = Preço de compra + custo de aquisição + custo de posse

Este custo depende dos seguintes elementos:

• K - A demanda anual prevista (número de itens);

• Q - Quantidade encomendada por reposição;

• N - Número de encomendas por ano;

• Pu - Preço unitário do item;

• Ca - Custo de aquisição por encomenda;

• i - Taxa de juros aplicada ao valor médio anual do stock possuído.

Pode-se notar claramente que demanda anual prevista é dada por: K = Q × N e o,


custo total de aquisição por ano ( CaT ) é:

K
CaT = Ca × N = Ca × (4.7)
Q

A quantidade encomendada por reposição é Q = K / N ; e se assumir que a


reposição é feita em intervalos regulares e que a taxa de consumo do item é constante,
então o tamanho médio do stock será 12 Q ; o seu valor médio será 12 Q × Pu e o valor
anual de juros será: 1
2 Q × Pu × i .

O custo anual total da posse de stock deve considerar todos os custos e é dado
pela seguinte fórmula:

K 1
CT = KPu + × Ca + × Q × Pu × i (4.8)
Q 2

Desta equação determina-se a quantidade óptima de encomenda de itens para


reposição de stock (quantidade económica de encomenda) dada pela fórmula de
Wilson:

2 ⋅ K ⋅ Ca
Qe = (4.9)
Pu ⋅ i
K
O número de encomendas feitas por ano será: N =
Qe

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Qe
E os intervalos de reposição podem ser determinados a partir de: Te =
K

Quantidade em stock
Q

Stock médio

Ss≠0, Stock
Ss de segurança

T1 T2 T3 Tempo

Figura 4.2 – Gráfico de Dente de Serra

4.3.1. Métodos de gestão de stock

Os métodos de gestão de stock mais usados dividem-se em quatro classes


principais, a saber:

• Stock por Nível de Advertência

• Stock por Intervalo Fixo

• Stock por Programa Fixo

• Stock Especial de Itens Essenciais

As características essenciais de cada um dos métodos de gestão de stock são


dadas na Tabela 4.1.

Tabela 4.1 – Características dos métodos de gestão de stock


Método Quantidade da Encomenda Intervalo de Reposição

Stock por Nível de Advertência Fixa Variável

Stock por Intervalo Fixo Variável Fixo

Stock por Programa Fixo Fixa Fixo

Stock Especial de Itens Essenciais Variável Variável

4.3.1.1. Stock por nível de advertência

Neste método de gestão de stock, faz-se a encomenda de uma quantidade


económica do item para a reposição do stock quando este atinge um determinado nível
de advertência.

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Quantidade em stock
Q

Stock de nível de
advertência (Sw)

Ss

Tempo
d
T1 T2

Figura 4.3 – Stock de Nível de Advertência

A determinação do stock de nível de advertência ( S w ) dependerá da variação da


demanda de reposição do item com o tempo e obedece a lei de distribuição normal. Se
existe um nível de stock de segurança ( S s ) e um consumo médio ( Cd ) durante o
período de espera entre o processamento de encomenda e a recepção do item ( d ) já
conhecidos, então o stock de advertência é dado por:

S w = S s + Cd (4.10)

Considerando um (1) mês como a unidade de tempo e assumindo que o consumo


médio de stock por mês é C e o desvio padrão é σ , então:

Sw = C ⋅ d + k ⋅σ ⋅ d (4.11)

Onde k é escolhido de tal forma que a probabilidade do stock atingir um nível inferior
ao nível de segurança durante o período d seja suficientemente baixa.
Freqência de Q

Probabilidade do
Stock esgotar

Q
k
Cd

Figura 4.4 – Probabilidade do stock esgotar

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4.3.1.2. Stock por Intervalo Fixo

Neste caso, as datas em que as encomendas devem ser feitas são previamente
fixas, mas as quantidades a serem encomendadas variam de acordo com as
necessidades.

A determinação dos intervalos de reposição de stock a partir das fórmulas de


Wilson não considera o período de espera entre o processamento da encomenda e a
recepção do material ( d ). Contudo, na prática deve-se ter em conta o período d e, por
isso, deve-se adicionar à Qe a quantidade média de itens consumidos durante este
período.

Além disso, devem ser considerados os itens não consumidos e que continuam
em stock, na altura em que se faz a encomenda, designados por R. Assim, os
intervalos de reposição são dados pela seguinte fórmula:

2Ca
Te = (4.12)
K × Pu × i

E a quantidade encomendada é dada pela seguinte fórmula:

Q e = C × (d + T e ) − R (4.13)

Onde todos os tempos são dados em meses.

A vantagem deste método é a de simplificar as compras e armazenagem. E a


grande desvantagem é que este método abre o risco do stock se esgotar se houver uma
subida repentina no consumo do item.

4.3.1.3. Stock por Programa Fixo

Neste caso, tanto os períodos como as quantidades de encomendas são fixos.


Neste método, existe um maior risco de stock se esgotar dependendo dos intervalos de
reposição. Este método é mais usado para itens não muito importantes.

4.3.1.4. Stock Especial Para Itens Essenciais

Este método aplica-se para itens cuja importância é tão grande que o risco destes
não existirem quando são necessários deve ser muito baixo ou mesmo nulo. Para estes
casos devem ser feitos estudos especiais. Por exemplo, pode-se analisar a situação
com base nos diagramas de causa efeito.

4.3.2. O Óptimo Stock de Segurança

Se assumir-se que os custos da falha e da posse de um determinado item em


stock podem ser encontrados, e que a lei de distribuição das falhas é conhecida, então
pode-se determinar o melhor stock de segurança do item. Isto pode ser facilmente feito
quando as falhas obedecem a lei de distribuição de Poison.

Se stock de segurança for S s e o número médio de falhas durante o tempo entre


o processamento da encomenda e a recepção do item para substituição for m , a
esperança matemática do número de falhas durante o período em que o item ainda é
disponível ( EFR ) é:
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Ss
e−m ⋅ m x
EFR = ∑ (S s − x ) (4.14)
x=0 x!

Onde x é o número de falhas (aleatório). A esperança de número de falhas que não


podem ser reparadas por falta de stock ( EFNR ) é:


e−m ⋅ m x
EFNR = ∑ (x
x = S s +1
− Ss)
x!
(4.15)

Nestas duas fórmulas toma-se em consideração a probabilidade de ocorrência de


um dado número de falhas durante um determinado período de tempo, segundo a Lei
de Poisson dada por:

e−m ⋅ m x
Pr( x ) = (4.16)
x!

Assim, se C p for o custo por item e por unidade de tempo de posse desse item; e
C f o custo da falha deste item, então o custo total esperado por unidade de tempo
será dado pela seguinte fórmula:
Ss ∞
CT = C P ∑ (S s − x ) Pr ( x ) + Cf ∑ (x − S ) Pr (x )
s (4.17)
x =0 x = S s +1

E a partir desta fórmula pode-se tirar o valor de stock de segurança ( S s ) para o


qual o custo total ( CT ) é o mínimo. Este é o óptimo S s .

4.3.3. O Registo dos Itens em Stock

Em qualquer empresa devem existir registos informativos do inventário para


assegurar que as peças e outros materiais para a manutenção de rotina, reparações,
etc. estejam sempre disponíveis. Nestes registos, tanto para os sistemas manuais,
como para os sistemas computarizados os ficheiros são constituídos por um sistema
de fichas de registo do inventário que apresentam a informação necessária relativa aos
itens, como:

• O número da peça;

• A descrição da peça;

• O número do desenho da peça;

• Os fornecedores;

• A informação sobre a utilização;

• Outras informações.

As fichas de registo devem mostrar também os balanços de entrada e saída dos


itens, de modo que se possa identificar visivelmente:

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• Quando é que o stock está a se tornar perigosamente baixo;

• Quando é que é necessário fazer novas encomendas; e

• Quando é que o stock é excessivo.

Peça nº: Descrição: Desenho nº:


Especificações:
Qtd. Económica: Ut. Anual: Inv. Máximo: Inv. Mínimo:
INFORMAÇÃO DO FORNECEDOR
Fornecedor Peça nº Desenho nº Preço Data OBS

ENTRADAS SAÍDAS QUANTIDADE


Enc. Data Qtd CÓD. Enc. Data Qtd DISPONÍVEL LOCALIZAÇÃO

Figura 4.5 – Ficha de Registo do inventário

Em geral, dois ou mais diferentes fornecedores do mesmo material, têm


diferentes números de identificação das peças. Por isso, estes fornecedores e os
respectivos números de identificação das peças devem ser claramente identificados na
ficha de registo, e as peças devem ser armazenadas no mesmo lugar para evitar a
duplicação de stock.

Na aquisição de peças é usual se dar preferência ao fornecedor original do


equipamento. Isto porque este fornecedor pode assegurar o envio de componentes com
a mesma qualidade que a do equipamento e, geralmente, isto garante um bom serviço
de manutenção.

4.4. Investigação das causas das falhas por métodos estatísticas


4.4.1. Correlação entre variáveis

Na indústria, permanentemente pretende-se encontrar formas para melhorar a


fiabilidade dos sistemas de produção. Por isso, relativamente a ocorrência de falhas no
equipamento industrial, torna-se natural que ocorram questões como as que se
seguem:

i. Existiria alguma relação entre o número de falhas e a extensão do tempo em


que o equipamento está em uso?

ii. Será que as falhas são relacionadas com a carga do equipamento?

iii. Será que as paragens ocorrem por causa da variedade dos processos de
produção?

Se for possível encontrar respostas para estas questões faz-se, naturalmente,


grandes progressos no sentido de melhorar a manutenibilidade dos sistemas de
produção, e o de correlações entre variáveis é uma das ferramentas mais valiosas.

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O coeficiente de correlação (ρ) entre duas variáveis estatísticas x e y é dado pela


seguinte fórmula:

E [( x − E ( x ))( y − E ( y ))]
ρ= (4.18)
γ xγ y

O valor numérico de ρ indica o grau de relacionamento das variáveis x , y se


estas forem distribuídas de acordo com a Lei Normal. É importante realçar que se as
variáveis não forem normalmente distribuídas, o ρ não tem nenhum sentido. E na
prática, os dados consistem em pares de valores de x e y , isto é, ( xi , yi ) , onde
i = 1, 2, ..., n .

Deste modo, o valor estimado do coeficiente de correlação (r) é dado por:

S xy
r= (4.19)
S xx ⋅ S yy

onde:
n
S xy = ∑ ( xi − x )× ( yi − y ) (4.20)
i =1

n 2

S xx = ∑ ( xi − x ) (4.21)
i =1

n 2

S yy = ∑ ( yi − y ) (4.22)
i =1

O valor estimado do coeficiente de correlação (r) fica no intervalo [-1; +1]. Neste
caso, os sinais positivo (+) e negativo (–), indicam uma linha de correlação com
inclinação positiva ou negativa, respectivamente. E se:

• r ≈ 1 , indica a existência de uma forte relação entre as variáveis x e y ; e

• r ≈ 0 , então x e y não são relacionadas.

É importante sublinhar que é necessário que se tenha muito cuidado na


interpretação física do valor estimado do coeficiente de correlação ( r ). Por isso, é
recomendável a utilização de outros métodos estatísticos de verificação, por exemplo:

• O coeficiente de determinação ( r 2 ) – que expressa a proporção da variação


total nos valores da variável y que pode ser explicada pela relação com os
valores de x ;

• Teste de hipóteses.

4.4.2. O Coeficiente de Spearman

O coeficiente de Spearman mede o grau de relacionamento entre duas variáveis x


e y independentemente de elas serem ou não normalmente distribuídas, contínuas ou
discretas.
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Para determinar o relacionamento entre duas variáveis x e y, segue-se a seguinte


metodologia:
i. Atribuir ordem 1 ao maior valor de x; ordem 2 ao segundo maior, e assim
sucessivamente, fazendo o mesmo procedimento para o y. Se dois ou mais
valores forem iguais, eles recebem a média das ordens que deveriam receber
em condições normais. Por exemplo, se certos valores deveriam receber
ordens 3; 4; 5; 6, recebem todos a ordem 4.5, forem numericamente iguais;

ii. Calcular as diferenças das ordens ( d i ) para cada par ( xi , yi ) sem considerar o
sinal;

iii. Calcular o valor do coeficiente de Spearman ( ρ S ) pela seguinte fórmula:


n
6∑ d i2
ρS = 1 − i =1
(4.23)
n −n
3

O valor de ρ S fica no intervalo [-1; +1], e se:

• ρ S ≈ 0 ⇒ Não existe relação entre x e y;

• ρ S ≈ 1 ⇒ Existe uma forte relação directa, isto é, o crescimento de uma variável


implica o crescimento da outra; e

• ρ S ≈ −1 ⇒ Existe uma forte relação inversa, isto é, quando uma variável cresce
a outra decresce.

É de notar que é necessário fazer o teste de significância de ρ S , para verificar se


o valor calculado não foi casual. Para isto, pode-se aplicar o teste de Student, se o
número de pares ( xi , yi ) for maior que 10. A quantidade abaixo apresentada, obedece
a Distribuição de Student com n − 2 graus de liberdade.

t0 =
(n − 2 )ρ S2 (4.24)
1 − ρ S2

Assim, se α for um nível de probabilidade escolhido, a hipótese de ρ S = 0 ser


rejeitada ao nível α é:

t0 > t (n − 2;1 − α ) (4.25)

4.4.3. Teste de Hipóteses nos Parâmetros do Processo


4.4.3.1. Generalidades Sobre Teste de Hipóteses em Manutenção

Uma hipótese estatística representa uma inferência sobre os valores dos


parâmetros com uma certa probabilidade de distribuição. Por exemplo, supondo que o
diâmetro médio de um veio é igual a 30 mm, esta afirmação pode ser
matematicamente expressa da seguinte maneira:
H 0 : µ = 30 mm ; Hipótese nula;
H1 : µ ≠ 30 mm ; Hipótese alternativa.
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No nosso exemplo, H1 especifica os valores médios do diâmetro do veio, que pode


ser, maior que (>) ou menor que (<) 30 mm e é chamada hipótese alternativa bilateral.

Na prática, para se testar uma hipótese toma-se uma amostra aleatória da


população em estudo e calcula-se o teste estatístico apropriado. Depois deste
procedimento, rejeita-se ou aceita-se a hipótese nula.

Ao conjunto de valores do teste estatístico que levam á rejeição da hipótese nula


(H0) chama-se região crítica ou região de rejeição. E ao se proceder o teste de hipótese
podem ser cometidos dois tipos de erros, a saber:

• Erro do I Tipo, que ocorre quando se rejeita a H0 quando esta é verdadeira; e

• Erro do II Tipo, que ocorre quando se aceita a H0 quando esta é falsa.

As probabilidades de ocorrência de cada um dos dois erros são denotadas por:

• α = p (erro do I tipo) = p (rejeitar H0/H0 é verdadeira);

• β = P (erro do II tipo) = P (aceitar H0/H0 é falsa)

Em manutenção de máquinas e equipamento, os problemas de teste de hipótese


frequentemente encontrados são das seguintes naturezas:

• Comparação de médias quando variância é conhecida;

• Comparação de médias quando a variância é desconhecida.

4.4.3.2. Teste de Médias, Variâncias Conhecidas

Se x for uma variável aleatória com uma média µ desconhecida e uma variância
θ conhecida. O teste de hipótese que a média é igual a um valor padronizado µ0 ,
2

pode ser formulado como:


H 0 : µ = µ0

H1 : µ ≠ µ 0

O procedimento para o teste de hipótese de uma amostra com n observações da


variável x , resume-se em calcular o teste estatístico:

x − µ0
Z0 = (4.26)
σ
n

A seguir usa-se o procedimento resumindo na Tabela 4.2:

43
Alexandre Charifo Ali Lições de Manutenção Industrial DEMA – FEUEM

Tabela 4.2 – Critérios de rejeição de H 0 para teste de média com variância conhecida
Hipóteses Critério de rejeição da H 0
H 0 : µ = µ0
H1 : µ ≠ µ 0 Rejeitar H 0 se Z 0 > Z α
2

H 0 : µ = µ0 Rejeitar H 0 se Z 0 < − Zα
H1 : µ < µ 0

H 0 : µ = µ0
Rejeitar H 0 se Z 0 > Zα
H1 : µ > µ 0

Supondo que existem duas populações com médias desconhecidas µ1 e µ 2 , com


variâncias conhecidas δ12 e δ 22 , o teste de hipóteses pode ser formulado como se
segue:
H 0 : µ1 = µ 2
H1 : µ1 ≠ µ 2

O procedimento resume-se em calcular o z0 , conforme se segue:

x1 − x2
Z0 = (4.27)
σ 12 σ 22
+
n1 n2

A seguir usa-se o procedimento resumido na Tabela 4.3:

Tabela 4.3 – Critérios de rejeição de H 0 para teste de 2 médias com variâncias


conhecidas
Hipóteses Critério de rejeição da H 0
H 0 : µ1 = µ 2
H1 : µ1 ≠ µ 2 Rejeitar H 0 se Z 0 > Z α
2

H 0 : µ1 = µ 2
Rejeitar H 0 se Z 0 < − Zα
H1 : µ1 < µ 2
H 0 : µ1 = µ 2
Rejeitar H 0 se Z 0 > Zα
H1 : µ1 > µ 2

4.4.3.3. Teste de Médias, Variâncias Desconhecidas

Supondo que x é uma variável aleatória normal com a média µ e variância δ 2


desconhecidas. Se pretendermos testar a hipótese de que a média é igual a um valor
padronizado µ0 , isto é:

44
Alexandre Charifo Ali Lições de Manutenção Industrial DEMA – FEUEM

H 0 : µ = µ0
H1 : µ ≠ µ 0

O problema torna-se semelhante ao analisado na secção 4.4.3.1, com a excepção


da variância desconhecida. Dado que a variância é desconhecida, deve-se assumir que
a variável é normalmente distribuída para se desenvolver o teste estatístico, sem
afectar seriamente os seus resultados.

Uma vez que δ 2 é desconhecida, esta deve ser estimada pela variância da
amostra S 2 . E se substituirmos o desvio padrão δ pelo desvio da amostra S , o teste
estatístico fica:
n

x − µ0 ∑ (x − x )
i
2

t0 = onde S = i =1
(4.28)
S n −1
n

E segue-se o procedimento do teste resumido na Tabela 4.4:

Tabela 4.4 – Critérios de rejeição de H 0 para teste de média com variância


desconhecida
Hipóteses Critério de rejeição da H 0
H 0 : µ = µ0
H1 : µ ≠ µ0 Rejeitar H 0 , se t0 > tα
; n−1
2

H 0 : µ = µ0
Rejeitar H 0 , se t0 < −tα ; n −1
H1 : µ < µ0

H 0 : µ = µ0
Rejeitar H 0 , se t0 > tα ; n −1
H1 : µ > µ0

Supondo que existem duas populações normais com médias µ1 e µ 2 , com


variâncias δ12 e δ 22 desconhecidas, o teste de hipótese que as duas médias são iguais
será:
H 0 : µ1 = µ 2
H1 : µ1 ≠ µ 2

Procedimento a usar é dependente da igualdade, ou não, das suas variâncias.


Assim, se as variâncias das populações forem consideradas iguais δ12 = δ 22 , pode-se ( )
calcular a variância comum das amostras pela fórmula:

Sp =
(n1 − 1)S12 + (n2 − 1)S 22 (4.29)
n1 + n2 − 2

E o valor de graus de liberdade (ν ) é dado por: ν = n1 + n2 − 2 .

Neste caso, o teste estatístico é dado por:


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Alexandre Charifo Ali Lições de Manutenção Industrial DEMA – FEUEM

x1 − x2
t0 = (4.30)
1 1
Sp +
n1 n2

( )
Caso não se possa assumir que as variâncias são iguais, isto é: δ12 ≠ δ 22 , então o
teste estatístico fica modificado para a seguinte fórmula:

x1 − x2
t0 = (4.31)
S12 S 22
+
n1 n2

E o número de grau de liberdade neste caso é dado pela seguinte fórmula:

2
 S12 S 22 
 + 
n n
ν =  12 2  2 (4.32)
 S12   S 22 
   
 n1  +  n2 
n1 − 1 n2 − 1

E segue-se o procedimento do teste estatístico resumido na Tabela 4.5.

Tabela 4.5 – Critérios de rejeição de H 0 para teste de 2 médias com variâncias


desconhecidas
Hipóteses Critério de rejeição da H 0
H 0 : µ1 = µ 2
H 0 : µ1 ≠ µ 2 Rejeitar H 0 , se t0 > tα

2

H 0 : µ1 = µ 2
Rejeitar H 0 , se t0 < −tα ;ν
H 0 : µ1 < µ2

H 0 : µ1 = µ 2
Rejeitar H 0 , se t0 > tα ;ν
H 0 : µ1 > µ 2

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