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Alexandre Charifo Ali Lições de Gestão da Produção DEMA – FEUEM

3. Gestão do Aprovisionamento
3.1. Introdução

Os materiais formam a maior parte dos custos de uma indústria. Pois,


geralmente cerca de 60% dos custos de qualquer produto é atribuída aos materiais.
Além disso, assume-se que cada unidade monetária poupada em materiais é
equivalente a dez unidades monetárias adicionais no lucro. Por isso, as empresas
necessitam de ter uma gestão efetiva dos materiais para assegurar que os custos de
produção sejam minimizados, resultando no aumento da rentabilidade da
organização.

Qualquer organização necessita de manter certos níveis de inventários, não só,


produtos acabados, como também, da matéria-prima, produtos em curso de
fabricação, peças, componentes e materiais subsidiários comprados de fontes
externas à organização. Entretanto, a aquisição e a posse do inventário
representam custos. Por isso, é importante que o gestor da produção saiba o que,
quanto e quando adquirir materiais para o inventário de modo que os custos sejam
reduzidos.

3.2. Gestão do Material

A gestão do material é definida como sendo a planificação, a aquisição, a


movimentação, o armazenamento e o controle dos materiais com vista a otimizar a
utilização dos meios, do pessoal e do capital e a prover serviços aos utentes de
acordo com os objetivos da organização. Neste processo, são envolvidas três
funções, a saber:

i. Planificação e controle dos materiais – esta função consiste na previsão


dos requisitos em materiais, baseada na previsão da demanda e dos planos
de produção. Esta função consiste, ainda, na preparação dos orçamentos
para a aquisição dos materiais, previsão de níveis de inventários,
programação das encomendas e monitoria do progresso relativamente à
produção e as vendas.

ii. Aquisição dos materiais – Esta função inclui a seleção das fontes de
fornecimento dos materiais, fixação dos ternos e condições de compra,
encomendas e pagamentos aos fornecedores. Refira-se que as fontes devem
ser fiáveis e capazes de fornecer em quantidades e qualidades desejadas.

iii. Armazenagem e controle do inventário – A armazenagem dos materiais


requer cuidados especiais. Por isso, os métodos de armazenagem devem
assegurar a preservação dos materiais armazenados. A danificação,
depreciação ou obsolência devem ser minimizados através de inventariação
conveniente e manuseamento eficiente dos materiais armazenados. Deve ser
mantido um registo apropriado dos itens armazenados. Isto inclui registo dos
itens na receção e no despacho, preço, origem dos materiais etc. Os materiais
armazenados devem ser localizados adequadamente, de modo a reduzir o
manuseamento ao mínimo. Deve ser feita a verificação periódica dos
materiais em armazém.

O controlo do inventário inclui a fixação dos níveis de inventário e de stock de


segurança que devem ser mantidos e a análise dos tempos entre a encomenda e a
receção dos materiais para stocks.

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Neste contexto, gestão do material tem por objetivo a provisão do material em


quantidade certa, de quantidade certa, ao preço certo, em tempo certo e a partir de
uma fonte certa.

3.2.1. Objetivos da gestão do material


Os principais objetivos que os sectores responsáveis pela gestão de materiais
numa unidade produtiva devem alcançar, através da correta gestão do material,
são:

i. Baixo custo de aquisição e de posse – Aquisição de materiais ao preço mais


baixo possível, mas mantendo requisitos tais como qualidade, datas de
entrega etc. Os descontos conseguidos através de aquisição de grandes
quantidades de materiais devem ser convenientemente ponderados tomando-
se em conta os custos envolvidos na posse de grandes quantidades de
materiais em stock. Os custos de armazenamento devem ser os mais baixos
possíveis. Isto implica o estabelecimento de políticas que permitam que os
materiais de alto valor de utilização não sejam posto em stock em excesso de
tal modo que os seus custos globais de aquisição e de armazenagem sejam
muito altos.

ii. Alta rotação do inventário – Garantia de alta rotação do inventário, para


reduzir os custos de posse e de depreciação ou obsolência do material em
stock.

iii. Continuidade no fornecimento – Os fornecedores devem ser selecionados


de tal modo que se possa assegurar a manutenção do fornecimento de
materiais. Este fator é particularmente importante quando os materiais são
importados. Pois, neste caso fatores como acordos comerciais entre países,
redução de taxas aduaneiras, etc., são determinantes para a manutenção do
fornecimento de materiais.

iv. Qualidade consistente – Todo material adquirido deve ter qualidade


consistente para evitar flutuação de qualidade nos produtos.

v. Baixos custos de manuseamento e armazenagem – A ótima utilização do


pessoal e equipamento empregue nas funções de armazenagem e de
manuseamento dos materiais contribui para a redução dos custos totais da
gestão dos materiais.

vi. Relações favoráveis com os fornecedores – Devem ser mantidas relações


favoráveis entre a empresa e os seus fornecedores de modo que ambos
procurem ganhar através do relacionamento mútuo. As organizações devem
entender os problemas dos seus fornecedores e procurarem ajudar a estes
últimos a melhorarem a qualidade dos serviços prestados.

vii. Manutenção de registos adequados – Deve ser mantido um sistema de


registo de dados, relativos a gestão do material, corretos e atualizados. Pois,
isto facilita a realização das previsões em necessidades de materiais para o
futuro e auxilia a realização de análises de políticas de stocks.

Os outros objetivos que os sectores responsáveis pela gestão de materiais


numa unidade produtiva devem alcançar, através da correta gestão do material,
são:

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i. Novos materiais, processos e produtos – Os gestores de materiais devem


manter a atenção relativamente ao surgimento de novos materiais ou
produtos que possam substituir os materiais e produtos existentes
proporcionando vantagens. Eles devem manter atenção, também, de
surgimento de novos meios ou processos que podem facilitar os processos de
fabricação existentes.

ii. Estandardização – Os materiais devem ser estandardizados. Este processo


contribui para a redução das dificuldades de manuseamento e de controlo de
níveis de inventário e facilita os processos de aquisição dos materiais.

iii. Melhoramento dos produtos – Este é um objetivo secundário muito


importante para a gestão dos materiais. Pois, desde que o gestor dos
materiais está em contacto com os clientes através de fornecimento de
produtos, então ele pode obter infirmações muito importantes, relativamente
aos materiais usados na fabricação, que podem contribuir para a melhoria
da qualidade dos produtos.

iv. Decisões inerentes a produzir ou comprar – Os gestores dos materiais


devem ser capazes de avaliar opções para tomada de decisões relativamente a
produção ou compra de materiais. As decisões devem ser baseadas nos
requisitos em quantidade e qualidade dos materiais, tendo sempre em
consideração o elemento custo. Importa notar que produzir implica custos
fixos e variáveis. E, por sua vez, comprar pode implicar termos de
pagamentos que se estendem ao longo de todo período de existência da
empresa. Geralmente, se localmente não existirem fornecedores capazes de
prover materiais em quantidade e qualidade necessárias, pode-se decidir a
favor de produzir. Além disso, as empresas podem decidir desenvolver as
suas próprias capacidades de produção dos materiais que necessitam, por
vezes, com vista a proteger os secretos industriais. Contudo, é geralmente
mais barato comprar materiais do que produzir.

3.2.2. Gestão de stocks

Geralmente, o capital em forma de stock representa a maior parte dos ativos


correntes das firmas. A falta de produtos em stock pode representar prejuízos
provocados pelas vendas não efetuadas, perda de clientes, etc. Em casos de firmas
industriais, a falta de stock da matéria-prima pode resultar em paralisação da
fábrica. Ao mesmo tempo, stock em excesso aumenta o custo da posse do stock.
Pois, a posse do stock representa dinheiro empatado, custo de armazenagem,
deterioração, obsolência, segurança, etc. Assim, é importante que os gestores de
stocks entendam as implicações da posse de stocks e que façam a gestão de stocks
corretamente e de forma mais económica.

Qualquer que seja recurso, com valor económico e que esteja ocioso,
representa stock. Pode ser em forma de matéria-prima, produtos em curso de
fabricação ou produtos acabados.

Entretanto, o stock ajuda a suavizar irregularidades na cadeia de


fornecimento. Por exemplo, em Moçambique a castanha de caju é colhida uma vez
por ano, mas a produção da amêndoa de caju se estende para todo ano. Este facto,
é possível apenas porque a castanha é comprada em quantidade suficiente ao
durante a campanha de comercialização da castanha e posta em stock para o seu
processamento ao longo do ano. Caso contrário, as empresas teriam que parar de
produzir, por causa de falta de matéria-prima.
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Além disso, o stock pode ser usado como meio de suprimento da mão-de-obra.
Isto pode parecer ocasional, mas dado o carácter sazonal do consumo de
determinados produtos, este método é usado regularmente na indústria. Por
exemplo, o consumo de cerveja e de refrigerantes aumenta consideravelmente na
época festiva. Este aumento repentino da demanda, geralmente, é satisfeito através
do stock produzido e acumulado durante a época baixa da procura daqueles
produtos. Isto permite suavizar o uso de recursos em termos de mão-de-obra ou da
capacidade das máquinas e equipamentos para a produção. Isto indica que a
produção, razoavelmente constante de stock na época baixa, pode ajudar a
satisfazer a demanda durante a época alta. Deste modo, os gestores de stock devem
duas questões básicas, para cada item em stock, para assegurar a eficácia e a
eficiência na gestão do stock. Estas são:

i. Que quantidade deverá ser encomendada, para um determinado item, na


altura que seu inventário deverá ser reabastecido?

ii. Quando é que o inventário de um determinado item deverá ser


reabastecido?

3.3. Modelos determinísticos do inventário

Nos modelos determinísticos do inventário assume-se que a demanda para o


produto é conhecida com certeza. Neste caso, o custo total associado com a política
do inventário é expresso na forma de equações matemáticas com vista a seleção da
ótima política do inventário, que minimiza os custos totais. Alguns dos modelos
determinísticos do inventário são os seguintes:

 Modelo para quantidade económica da encomenda (QEE) simples;

 Modelo para taxa de produção finita;

 Modelo para produção instantânea com custo de indisponibilidade finita;

 Modelo para quantidade económica da encomenda com descontos.

3.3.1. Modelo para quantidade económica da encomenda simples

Supondo que:

 D é a demanda por unidade de tempo;

 S é o custo de aquisição;
 i é o custo da posse do inventário por unidade de tempo;

 Q é o tamanho do lote; e

 t é o tempo entre dois cursos de produção consecutivos.

O estado do inventário pode ser descrito como na Figura 3.1. O nível máximo
de inventário é Q. O stock cai para zero (0) no intervalo de tempo t, quando o novo
stock está a ser adquirido ou produzido e o nível de stock volta a subir novamente
para Q.

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Nível de inventário
A

B
O t t t
Tempo
Figura 3.1 – Nível do inventário versus tempo

Desde que a indisponibilidade não é permitida, os únicos custos a serem


considerados são os custos da posse do inventário e os custos de aquisição. O custo
da posse do inventário é dado pelo produto do nível do inventário, o período de
tempo em o inventário é mantido e o custo da posse do inventário por unidade e por
período. Dado que o nível de inventário não é constante, o custo da posse do
inventário é dado pelo produto da área do triângulo AOB e i, o custo da posse do
inventário por unidade e por período. Assim, tem-se:
 Custo da posse do inventário por ciclo igual a área do triângulo AOBi
1
 Qt i;
2
 Custo de aquisição por ciclo  S ;
1
 Custo total por ciclo  Qt i  S ;
2
1 S
 Custo total por unidade de tempo, C  Qi  ;
2 t
Q
Sabe-se que Q  t  D , donde t  . Substituindo o t na equação do custo
D
total tem-se:

Q D dC i D
C  i  S  , o valor de C será mínimo se  0 ou seja  S  2  0 .
2 Q dQ 2 Q

Resolvendo esta última equação em ordem a Q , tem-se a fórmula para a


determinação da quantidade económica de encomenda (QEE) que é a seguinte:

2 DS
Q (3.1)
i
O tempo entre dois cursos de produção consecutivos será dado pela seguinte
fórmula:

Q 2S
t  (3.2)
D iD
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3.3.2. Modelo para taxa de produção finita

O modelo para a taxa de produção finita é similar ao modelo discutido na


secção anterior. A única diferença é que, neste caso, a taxa de produção é assumida
como sendo finita. O nível de stock não muda, instantaneamente, de zero (0) a Q ,
mas sim é construído a uma taxa finita. Supondo que:
 D é a demanda por unidade de tempo;
 R é a taxa de produção por unidade de tempo;
 S é o custo de aquisição por ciclo;
 i é o custo da posse do inventário por unidade de tempo;
 Q é o tamanho do lote;

 t1 é a duração de um decurso de produção,


 q é o nível de inventário no fim de um decurso da produção;
 t é a duração do ciclo de produção.

A variação do nível do inventário, com o tempo, pode ser esquematicamente


descrita conforme a Figura 3.2.
Nível de Inventário

B
q

A C
t1 t2 t1 t2 Tempo

Figura 3.2 – Nível do inventário versus tempo para o modelo da Quantidade


Económica da Encomenda com a taxa de produção finita

Durante o decurso da produção, os itens são produzidos a uma taxa R e


consumidos a taxa de D . O declive do segmento AB é, por isso, dado por R  D  .
Para o tempo t1 a durante do decurso da produção o inventário cresce na taxa
R  D  .
Deste modo, no fim da produção o nível do inventário será q (o nível
máximo do inventário). Para o resto do ciclo, o inventário é consumido a taxa D . O
ciclo termina quando todo inventário se esgota e começa o próximo decurso da
produção.

O custo da posse do stock por ciclo é igual a área do triângulo ABC


1
multiplicado por i . Isto é  t qi
2

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Tomando em consideração o custo de aquisição por ciclo S , tem-se o custo


total por ciclo dado pela relação abaixo.
1
Custo total por ciclo   t  q  i  S
2

O custo total por unidade de tempo ( C ) será dado pela seguinte relação:
1 S
C qi  (3.3)
2 t

Expressando o nível de inventário no fim de um decurso da produção ( q ) e a


duração do ciclo de produção ( t ) em termos do tamanho do lote ( Q ). Desde que
R  D é o declive do segmento AB, tem-se: q  R  D   t1 , donde se obtém a
seguinte relação:
q
t1  (3.4)
RD

O nível do inventário máximo q é a diferença entre a produção total e o


consumo durante o decurso da produção t1 , isto é: q  Q  D  t1 . Desta última
relação e substituindo o valor de t1 dado pela fórmula 3.3 e depois de algumas
transformações matemáticas obtém-se o valor do nível de inventário no fim de um
decurso da produção.
 D
q  1    Q (3.5)
 R

Desde que a taxa da demanda para o período t  t1  t2 é alcançada através da


produção total do lote Q , tem-se Q  D  t , donde se tira o período total do ciclo da
produção.
Q
t (3.6)
D

Substituindo os valores de q e de t dados, respetivamente, pelas fórmulas 3.5


e 3.6 na fórmula 3.3, tem-se a equação dos custos totais que é a seguinte:
1  D SD
C  1    Q  i 
2  R Q

dC
Os custos totais ( C ) serão mínimos se  0 . Por isso, tem-se:
dQ
1  D SD
 1    i   0 . Desta última relação obtém-se o tamanho do lote para a
2  R Q2
produção ( Q ).

2 DS
Q (3.7)
 D
i  1  
 R

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3.3.3. Modelo para produção instantânea com custo de indisponibilidade finito

Quando o custo da indisponibilidade é finito a política de inventário pode ser


desenhada de tal modo que algumas demandas não satisfeitas são mantidas por
algum tempo e são satisfeitas quando a nova remessa de produtos está disponível
depois da produção ou aquisição. Neste caso, o gráfico de inventário versus o tempo
será como o apresentado na Figura 3.3.
Nível de inventário

q
Q

B C Y
X
Tempo
t1 t2 D
Figura 3.3 – Nível do inventário versus tempo

No gráfico da Figura 3.3 o nível de inventário é zero (0) no ponto X, mas o novo
stock é recebido no ponto B. A demanda entre os pontos X e B é tida como pedidos
não atendidos que serão satisfeitos no ponto B. O tamanho do lote é Q , mas depois
da satisfação dos pedidos não atendidos apenas q unidades vão para o armazém
para a satisfação da demanda entre os períodos B e C. Novamente, existirão
pedidos não atendidos no período entre os pontos C e Y. E esta demanda será
satisfeita apenas quando aparece o novo stock.

Assumindo que:
 D é a demanda por unidade de tempo;
 Q é o tamanho do lote;

 S é o custo de aquisição por ciclo;


 i é o custo da posse do inventário por unidade de tempo;
 h é o custo da indisponibilidade por período;
 t1 é o período de tempo em que o nível de inventário é positivo;
 t 2 é o período de tempo em que o nível de inventário é negativo;
 q é o nível de inventário após a satisfação dos pedidos não atendidos;
 t é a duração do ciclo ( t1  t2 ) .

O custo da posse do inventário por ciclo é igual a área do triângulo ABC i .


Isto é:
1
  q  t1  i
2

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O custo da indisponibilidade do inventário por ciclo é igual a área do triângulo

CDY h . Isto é:   Q  q   t2  h .
1
2

O custo total por ciclo, incluindo o custo de aquisição, será dado por:

  q  t1  i   Q  q   t2  h  S
1 1
2 2

O custo total por unidade de tempo será:


1 1 
C    q  t1  i   Q  q   t2  h  S 
1
t2 2 

Agora é necessário expressar t1 , t 2 e t em relação a Q , sabendo que o declive


AD é a demanda D . Por isso, tem-se:
q Qq Q
t1  e t2  , donde se tira t  t1  t2  .
D D D

Substituindo os valores de t1 , t 2 e t na equação dos custos totais tem-se:

C
1 2
q i
1
Q  q 2 h  SD
2Q 2Q Q

O C é uma função de duas variáveis Q e q . O seu valor será mínimo se as


suas derivadas parciais em ordem a Q e q forem ambas nulas. Assim,
C q
 i
Q  q  h  0 . Donde se obtém o valor de q dado pela seguinte fórmula:
q Q Q
h
q Q (3.8)
ih
C q 2i h  Q  q  2QQ  q   SD
2
Além disso,   2      2 0,
 Q donde
Q 2Q 2 Q2 Q2 
substituindo o valor do q dado pela fórmula 3.8 e fazendo algumas manipulações
matemáticas, obtém-se o valor do tamanho do lote dado pela seguinte fórmula:

i  h 2S  D
Q  (3.9)
h i

3.3.4. Modelo para quantidade económica da encomenda com descontos

Nos modelos discutidos nas secções anteriores, o preço de compra do item ( p )


foi considerado constante durante o ciclo e, portanto, não afeta o tamanho
económico do lote. Porém, em determinadas situações, o fornecedor pode dar certos
descontos quando a encomenda excede uma certa quantidade para incrementar as
suas vendas. Em geral, os descontos são oferecidos em uma das seguintes formas:
 Descontos em todas unidades; ou
 Descontos crescentes em função da quantidade.

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Neste caso assunção feita é similar a da secção 3.3.1.1, exceptuando o preço


unitário constante. Desde que o preço de compra dos itens é variável, então esta
variação deve ser considerada no custo total do material adquirido para o
inventário.

Deste modo, supondo que existem certas quebras no preço, isto é: 0, b1, b2 ,...,bn
nas quantidades encomendadas e a quantidade Q fica compreendida nos intervalos
de descontos bk 1  Q  bk e o custo unitário correspondente a Q  unidades é pk
onde pk  pk 1 então o custo anual total no período de desconto é dado por:

S  D Qk
CT Qk   D  pk    p k i (3.10)
Qk 2

Neste caso, a fórmula básica para o cálculo da quantidade económica da


encomenda (QEE) é a fórmula de Wilson, que é a seguinte:

2 D S
Qk  (3.11)
pk  i

Onde:
 Qk é a quantidade económica de encomenda em função do preço pk ;
 pk é o preço unitário do produto dependendo da quantidade Qk ; e
 i é o custo da posse do inventário por unidade do produto;

3.3.4.1. Quantidade económica da encomenda com um desconto

Supondo que um fornecedor oferece desconto para uma certa quantidade b1 ,


isto é:

Quantidade Preço por unidade


0  Q1  b1 p1
b1 Q 2 p2  p2  p1 

Neste caso, para determinar a ótima aquisição, usa-se o seguinte algoritmo:

1º Passo: Considerar o preço mais baixo ( p 2 ) e determinar Q2 , usando a fórmula


básica para o cálculo da quantidade económica da encomenda (QEE).
Se b1 Q 2 então, Q 2 é o tamanho do lote a ser adquirido e determina-se
o custo associado a Q 2 .

2º Passo: Se Q2 b1 , então deve-se calcular Q1 com o preço p1 e o


correspondente custo total CT (Q1 ) . Depois, deve-se comparar os custos
CT (Q1 ) e CT (b1 ) . Se CT (b1 )  CT (Q1 ) , então adquire-se Q1 unidades,
caso contrário, adquire-se b1 .

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3.3.4.2. Quantidade económica da encomenda com dois descontos

Supondo que um fornecedor oferece descontos para determinadas


quantidades b1 e b2 , isto é:

Quantidade Preço por unidade


0  Q1  b1 p1
b1  Q2  b2 p2
b2 Q3 p3

Sendo p1  p2  p3 , para determinar o ótimo tamanho do lote, seguem-se os


seguintes passos:

1º Passo: Considerar o preço mais baixo ( p3 ) e determinar Q3 , usando a fórmula


básica para o cálculo da QEE. Se Q3  b2 então, [ Q3, CT (Q3 ) ] é a solução
ótima. Se Q3  b2 , então deve-se ir para o 2º Passo.

2º Passo: Determinar Q2 com o preço de compra p 2 . Se b1  Q2  b2 , então


comparam-se os custos totais CT (Q2 ) e CT (b2 ) . Se CT (Q2 )  CT (b2 ) ,
então [ b 2 , CT (b2 ) ] é a solução ótima. Caso contrário, [ Q 2 , CT (Q2 ) ] é a
solução ótima. Se Q2  b1 e Q2  b2 , então, deve-se ir ao 3º Passo.

3º Passo: Determinar Q1 , com o preço unitário p1 . Comparar os custos CT (b1 ) ,


CT (b2 ) e CT (Q1 ) para encontrar a ótima QEE. A quantidade com o
menor custo será a solução ótima.

3.3.4.3. Quantidade económica da encomenda com vários descontos

Em geral, se existirem n descontos, para a determinação da ótima quantidade


económica de encomenda, usa-se o seguinte procedimento:

1º Passo: Calculara quantidade Qn . Se Qn  bn 1 a ótima quantidade por adquirir


fica decidida;

2º Passo: Se Qn  bn 1 , determinar Qn 1 . Se Qn 1  bn 1 , proceder como se tratasse


de um caso de QEE com uma quebra no preço;

3º Passo: Se Qn 1  bn  2 , determinar Qn2 . Se Qn2  bn2 , proceder como se


tratasse de um caso de QEE com duas quebra no preço;

4º Passo: Se Qn 2  bn 2 , determinar Qn3 . Se Qn 3  bn 3 , então deve-se comparar


CT (Qn 3 ) com CT (bn 3 ) , CT (bn2 ) e CT (bn 1 ) ;

5º Passo: Continuar com os passos até que Qn  j  bn  ( j 1) , e então comparar


CT (Qn  j ) com CT (bn  j 1 ) , CT (bn  j  2 ) , … , CT (bn 1 ) ;

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3.3.5. Modelos de inventário com restrições

Nas secções anteriores foram considerados e discutidos modelos para


determinados sistemas de inventário que lidam com um único item. Entretanto, em
geral, na indústria os sistemas de inventário aprovisionam vários itens.

Além disso, os modelos apresentados nas secções anteriores estudam os itens


individualmente, considerando que não existem interações entre os vários itens.
Porém, na prática existem várias formas de interações entre os itens
aprovisionados. Por exemplo, a capacidade do armazém pode ser limitada e os itens
competem pelo espaço; pode existir um limite superior do número de itens a serem
adquiridos; ou, ainda, pode existir um limite superior de investimento a ser
efetuado para o inventário. Esta secção discute modelos de inventário com este tipo
de restrições.

Supondo que existem n itens a serem armazenadas num dado sistema de


inventário. Seja:
 D j a demanda para j -ésimo item;

 A j o custo de reabastecimento para j -ésimo item;

 p j o preço de compra do j -ésimo item;

 i j é o custo da posse do inventário por unidade, por ano para j -ésimo


item;
 Q j quantidade de encomenda para j -ésimo item (decisão disponível).
 j  1, 2, ..., n .

Então, o custo anual médio, por unidade de tempo para todos itens é dado
por:

n  A D 
CT  CT Q j , j  1, 2, ..., n     p j  i j  Q j  j j 
1
(3.12)

j 1  2 Q j 

Neste caso, o ótimo tamanho do lote, para j -ésimo item, é dado pela seguinte
fórmula:

2  Aj  D j
Q jo  , j  1, 2, ..., n (3.13)
pj i

O custo total mínimo para o sistema de inventário será:

n
CTo   2  p j  i j  Aj  D j (3.14)
j 1

3.3.5.1. Quantidade económica de encomenda com restrições de espaço

Supondo que existe um limite máximo de espaço (f) de metros quadrados de


armazém e j -ésimo item requer fi metro quadrados de espaço, então é necessário
que tenha:
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f
j 1
j  Qj  f (3.15)

Se Q jo ( j  1, 2,..., n) , dada pela equação 3.13, satisfaz a relação 3.15, então as


quantidades Q jo ( j  1, 2,..., n) são ótimas e o custo total mínimo para o sistema de
inventário será dado pala equação 3.14, por um lado.

n
Por outro lado, se f
j 1
j  Q j  f , então as quantidades Q jo ( j  1, 2,..., n) , dada

pela equação 3.13, não são ótimas. Por isso, é necessário minimizar o custo médio
anual, por unidade de tempo, dadas pela equação 3.14 sujeita as restrições dadas
pela relação 3.15 e Q j  0 para todos j . Neste caso, é necessário construir uma
função Lagrangiana não negativa dada pela expressão abaixo.

 n 
LQ j ,    CT     fiQi  f  (3.16)
 j 1 

Onde  é o multiplicador de Langrange e deve ser um valor não negativo.

O  indica o custo adicional relacionado com o espaço usado por cada unidade
dos itens. Então, as condições de Kuhn-Tucker necessárias para que o L seja
minimizado são;

L 2  Aj  D j
  0 , que resulta EM: Q j  (3.17)
Q j pj  ij  2    f j

L n
 e

 0 resulta em: f
j 1
j  Qj  f (3.18)

Na prática, usa-se o método de tentativa e erro para a determinação dos


valores ótimos de .

3.3.5.2. Quantidade económica de encomenda com restrições de inventário

Qj
Sabe-se que o número médio de itens em inventário é dado por . Assim,
2
supondo que o número médio de itens em inventário não deve exceder um dado
valor M, é necessário considerar a seguinte expressão:

1 n
Qj  M
2 j 1
(3.19)

Neste caso, é necessário minimizar a expressão dos custos totais dada pela
equação 3.12, sujeita as restrições 3.19 e Q j  0 para todos j. Similarmente ao caso
anterior, é necessário a função de Lagrange, dada por:

1 n 
LQ,    CT      Q j  M  (3.20)
 2 j 1 
47
Alexandre Charifo Ali Lições de Gestão da Produção DEMA – FEUEM

As condições necessárias para que o L seja minimizado são:

L 2  Aj  D j
  0 , que resulta em: Q j  (3.21)
Q j pj  ij  

L 1 n
 e  0 que resulta em:  Q j  M (3.22)
 2 j 1

Similarmente ao caso anterior, na prática, usa-se o método de tentativa e erro


para a determinação dos valores ótimos de .

3.3.5.3. Quantidade económica de encomenda com restrições de investimento

Geralmente, as empresas definem um limite máximo do investimento a ser


feito para diferentes itens. Assim, supondo que uma firma decidiu investir a
quantia K no inventário. Neste caso é necessário que:
n

p
j 1
j  Qj  K (3.23)

Dado que é necessário minimizar o custo total do sistema do inventário, dado


pela equação 3.12, sujeita as restrições 3.23 e Q j  0 para todos j , recorre-se aos
procedimentos dos casos anteriores para determinação das seguintes relações:

2  Aj  D j
 Qj  (3.24)
pj ij  2  λ  pj
n
 p
j 1
j  Qj  K (3.25)

3.5. Previsão da demanda


3.5.1. Introdução

A previsão para um produto é a estimativa da demanda futura desse produto.


Contudo a previsão não é equivalente ao vaticínio. Um vaticínio pode ser uma
suposição, feita por um gestor, baseada em considerações subjetivas. Enquanto
uma previsão é baseada na análise científica de dados do passado, se existirem, ou
por outras técnicas. Na indústria, os gestores da produção necessitam de planificar,
organizar e controlar os sistemas de produção e as suas tarefas podem se tornar
mais simples se eles tiverem uma previsão precisa.

O horizonte temporal de uma previsão pode ser curto ou longo. As previsões


de curto termo são mais usadas para o controlo da produção, controlo do inventário
ou atividades similares a estas últimas. Enquanto as previsões de longo termo são
mais usadas para tomada de decisões relativas a projeção de capacidades,
planificação do investimento para implantação de fábricas ou outras decisões
similares a estas últimas.

Existem várias técnicas de previsão, podendo ser quantitativas ou qualitativas.


Infelizmente nenhumas das técnicas disponíveis podem assegurar resultados exatos
em todas as situações.

48
Alexandre Charifo Ali Lições de Gestão da Produção DEMA – FEUEM

As técnicas qualitativas são desenvolvidas com base nos julgamentos


baseados na experiência passada e nos estudos das tendências futuras. Dado que
este tipo de técnicas é baseado em julgamentos individuais os erros humanos
geralmente afetam a exatidão dos resultados da previsão. De facto, as técnicas de
previsão não são muito científicas e dependem grandemente de julgamentos
individuais. Entretanto, as técnicas de previsão constituem a única ferramenta que
se pode usar quando dados do passado não estão disponíveis ou, quando estão
disponíveis, não podem ser usados para a previsão pois se antevê que o futuro será
drasticamente diferente do passado.

Em geral, a demanda de um produto inclui flutuações que se sobrepõem a


demanda básica. O objetivo das técnicas quantitativas é o de analisar os dados do
passado para identificar o padrão da demanda básica. O padrão da demanda básica
pode consistir de demanda estável com flutuações sobreposta ou demanda com
tendência crescente ou decrescente. A demanda pode ser também sazonal com ou
sem tendências. A Figura 3.4 ilustra vários padrões de demanda.

As técnicas quantitativas tendem a fazer a previsão através da análise dos


dados passados. Este método é baseado em dados estatísticos para prognosticar o
futuro. As técnicas quantitativas são geralmente classificadas em duas categorias:

i. Análise de séries temporais – que considera a demanda passada de um


determinado produto, assume que o mesmo padrão de demanda ocorrerá
também no futuro e faz a previsão através da análise dos dados do
passado.

ii. Métodos casuais – estes também fazem a previsão através da análise dos
dados do passado, baseiam-se nas relações “causa - efeito” de
determinados fatores para chegar a uma decisão apropriada.
Demanda
Demanda

200 200

150 150

100 a) Demanda uniforme 100 c) Demanda sazonal

50 50

1 2 3 4 5 Tempo
1 2 3 4 5 Tempo
Demanda
Demanda

200
200
150
150 d) Demanda sazonal com
b) Demanda com 100
100
tendência crescente
tendência crescente
50
50

1 2 3 4 5 Tempo
1 2 3 4 5 Tempo

Figura 3.4 – Padrões de demanda

3.5.2. Análise de séries temporais

A análise de séries temporais baseia-se na análise de dados do passado para


prever a demanda futura. A assunção por detrás desta técnica é que, no futuro, o
padrão da demanda será similar ao padrão da demanda do passado. Algumas das
técnicas da previsão da demanda baseadas na análise de séries temporais são as
seguintes:
 Média móvel simples;
 Média móvel ponderada;

49
Alexandre Charifo Ali Lições de Gestão da Produção DEMA – FEUEM

 Suavização exponencial simples;


 Regressão linear simples;
 Correlação.

O método mais provável de dar os melhores resultados, numa situação


particular, depende do padrão da demanda e do horizonte temporal da planificação.

3.5.2.1. Média móvel simples

O método da média móvel simples tende fazer a previsão da demanda para


qualquer período através do cálculo da média de k períodos antecedentes. Neste
caso, assume que o ruído, positivo ou negativo, é eliminado com igual probabilidade
quando é calculada a média das demandas passadas de um determinado número
de períodos. Assim, a demanda esperada para k+1 períodos pode ser determinada
pela seguinte fórmula:

 D1  D2  D3  ... Dk 
1
Ek 1  (3.34)
k

Onde: D1, D2 ,..., Dk são as demandas de k períodos passados.

Exemplo 3.1: A Tabela 3.1 apresenta a demanda de um certo produto durante 20


períodos passados e exemplos de determinação da previsão da demanda usando o
método da média móvel simples. Para uma questão de comparação dos resultados,
são apresentadas previsões feitas com base na determinação de médias de dois (2) e
de quatro (4) períodos.

Tabela 3.1 – Previsão por método da média móvel simples


Média Móvel Média Móvel
Períodos Demanda
(2 períodos) (4 períodos)
1 121
2 125
3 124 123
4 118 125
5 134 121 122
6 127 126 125
7 124 130 126
8 141 126 126
9 133 133 131
10 135 137 131
11 141 134 133
12 139 138 138
13 144 140 137
14 152 141 140
15 142 148 144
16 149 147 144
17 145 145 146
18 140 147 147
19 132 143 144
20 130 136 141

A Figura 3.5 apresenta os gráficos da demanda real e das previsões pelo


método da Média Móvel Simples.
50
Alexandre Charifo Ali Lições de Gestão da Produção DEMA – FEUEM

160

140

120

100

Demanda
Demanda
80
MM 2 períodos
60 MM 4 períodos

40

20

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Períodos

Figura 3.5 – Comparação da demanda real e as previsões por média móvel simples
considerando 2 e 4 períodos

Da Figura 3.5 pode-se observar que quando a demanda tem uma tendência
crescente, a previsão é, usualmente, inferior a demanda. E quando a demanda tem
uma tendência decrescente, a previsão excede a demanda. Em geral, a previsão é
desfasada da demanda. O desfasamento é mais predominante quando se usa um
grande número de períodos para determinar a média da demanda. Mas quando a
previsão é feita através do cálculo da média de um pequeno número de períodos as
perturbações na demanda não podem ser filtradas e pode resultar numa previsão
inexata.

Exemplo 3.2: A demanda de um produto nos últimos 10 meses é dada na tabela


abaixo. Faça a previsão para o 11º mês pelo método de média móvel simples,
considerando os dados dos últimos três meses.

Meses 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º
Demanda 55 58 60 52 62 65 68 63 67 70

Resolução:

 63  67  70   66,67  E11  67 unidades


1
Previsão para o 11º mês: E11 
3
Resposta: A previsão da demanda do produto para o 11º mês será de 67 unidades.

3.5.2.2. Média Móvel Ponderada

O método da média móvel simples faz a previsão da demanda através do


cálculo da média das demandas de poucos períodos passados. O processo da
determinação da média dá igual importância as mais recentes demandas e as de
um certo número de períodos passados. Como resultado, o método da média móvel
simples ignora qualquer tendência nos períodos sobre os quais as médias dos dados
são calculadas. Por esta razão, deve atribuir pesos às demandas, antes de
determinar as respetivas médias. Neste processo, os maiores pesos devem ser
atribuídos às demandas mais recentes.

Assumindo que:
 Di é a demanda do período passado i ;
 wi é o peso a ser atribuído a demanda Di ; e

51
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 k é o número de períodos a serem considerados.


A previsão da demanda esperada para o próximo período será dada por:
E  w1  D1  w2  D2 ... wk  Dk (3.35)

Onde: w1  w2 ... wk  1

Exemplo 3.3: A demanda de um produto nos últimos 10 meses é dada na tabela


abaixo. Faça a previsão para o 11º mês pelo método de média móvel ponderada,
considerando os dados dos últimos três meses e atribuindo os pesos de 0,2, 0,3 e
0,5, respetivamente.

Meses 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º
Demanda 55 58 60 52 62 65 68 63 67 70

Resolução:
Previsão para o 11º mês: E11  0,2  63  0,3  67  0,5  70  67,7  E11  68 unidades

Resposta: A previsão da demanda do produto para o 11º mês será de 68 unidades.

3.5.2.3. Suavização Exponencial Simples

A suavização exponencial simples é aplicada quando a demanda não mostra


tendência, nem sazonalidade. Neste caso, assume-se que a demanda flutua em
torno de uma determinada base. Esta flutuação aleatória, em torno de uma base, se
deve ao ruído que não pode ser analisado, nem predito. Contudo, o ruído se deve a
uma determinada causa que, similarmente, não pode ser analisada.

Por exemplo, supondo que a previsão da demanda, para um determinado


produto, foi de 120 unidades, mas a demanda real foi de 140 unidades. A diferença
entre a demanda real e a prevista (20 unidades) deveu-se a um ruído que não pode
ser analisado. Porém, sabe-se esta diferença ocorreu por causa um dado cenário no
ambiente que, pode, ou não, ser transportado para o período subsequente. Se todos
os fatores que contribuem para o ruído forem levados para o período subsequente,
a demanda esperada será de 140 unidades, sobre a qual o ruído será sobreposto
para dar a demanda real.

Entretanto, para ser realístico, assume-se que a parte dos fatores que
contribuem para o desvio da previsão e da demanda real, num determinado
período, e sempre levada para o período subsequente. Por isso, se a base para o
próximo período é de 120 unidades e a demanda real é de 140 unidades, o fator do
ruído contribui para 20 unidades; e se 50% deste fator for levado para o período
subsequente, a demanda esperada no próximo período será de 130 unidades. Esta
é a nova base sobre a qual a demanda futura provavelmente irá oscilar.

Em geral, Assumindo que:


 Si é a base para o período i ;
 Di é a demanda para o período i ;

A base para qualquer período pode ser expressa segundo a fórmula abaixo.

Si  Si 1   Di  Si 1  (3.36)
52
Alexandre Charifo Ali Lições de Gestão da Produção DEMA – FEUEM

Onde  é constante (0<<1).

A equação 3.28 pode ser também expressa da seguinte maneira:

Si  Di  1   Si 1 (3.37)

A base para o corrente período pode ser expresso da seguinte forma:

Base Corrente  Base Passada    Demanda Corrente  Base Passada 

É provável que demanda para o período subsequente oscile em torno da


corrente base. Assim, a previsão para o período i+1 (Fi+1) da seguinte maneira:

Fi 1  Si  Di  1   Fi (3.38)

Por sua vez, a previsão do atual período é dada por:

Fi  Di 1  1   Fi 1 (3.39)

Substituindo a previsão do período passado (Fi-1), a partir da equação 3.38, na


equação 3.39 e tomando em consideração vários períodos passados, obtém-se:

Fi 1  Di  1     Di  1   Fi 1 


 Di   1   Di 1  1    Fi 1
2

 Di   1   Di 1  1     Di  2  1   Fi  3 


2

 Di   1   Di 1   1    Di  2  1    Fi  3
2 3

 Di   1   Di 1   1    Di  2   1    Di  3   1    Di  4  ...


2 3 4

Desta última expressão, pode-se ver que a suavização exponencial simples é


uma versão da média móvel ponderada onde a demanda de k períodos passados é
dada o peso (1-)k. Desde que (1-) é uma fração própria, os pesos irão
decrescendo a medida que k for crescendo.

Deste modo, na suavização exponencial simples avaliam-se os pesos médios


de todos dados disponíveis, dando maiores pesos aos dados mais recentes e
reduzindo, continuamente, os pesos dos dados passados. O valor de  fica situado
no intervalo de zero (0) a um (1). Assim, os valores mais altos de  atribuem maior
importância aos dados mais recentes, enquanto os mais baixos dão mais
importância à história e ao padrão da demanda. Os valores mais baixos de , geram
previsões mais suaves, mas a mudança no padrão da demanda é mais lenta.

3.5.3. Regressão Linear Simples

A Regressão Linear é uma técnica estatística que estabelece a relação entre


uma variável dependente e um conjunto de variáveis independentes.

Sendo x1, x2 ,..., xn um conjunto de variáveis que determinam o valor de uma


variável dependente y . A variável y pode ser expressa de acordo com a relação
abaixo:

53
Alexandre Charifo Ali Lições de Gestão da Produção DEMA – FEUEM

y  b0  b1x1  b2 x2 ... bn xn (3.40)

Onde: b0 , b1, b3 ,..., bn são constantes.

A forma mais simples da relação acima apresentada é a seguinte:

y  a  bx (3.41)

Onde a e b são constantes determinadas pelas seguintes fórmulas:

n xi  yi    xi    yi  y by
b e a i i

n x   xi 
2 2
i
n

Exemplo 3.4: A tabela abaixo dá os valores de y para determinados valores de x .


Determine a equação da regressão linear que descreve a relação entre x e y e
estime os valores de y para x  22 e x  24 .

x 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
y 13 17 24 27 28 33 35 41 43 51

Resolução: Para resolver este problema é necessário compor a seguinte tabela:

Nº x y x2 y2 xy
1 2 13 4 169 26
2 4 17 16 289 68
3 6 24 36 576 144
4 8 27 64 729 216
5 10 28 100 784 280
6 12 33 144 1089 396
7 14 35 196 1225 490
8 16 41 256 1681 656
9 18 43 324 1849 774
10 20 51 400 2601 1020
Total 110 312 1540 10992 4070

Agora podem ser calculados os valore das constantes a e b.


n xi  yi    xi   yi  10  4070  110  312 
b   1,93
n xi2   xi  10  1540  110 2
2

a
yi  b   xi 312  1,93  110
  9,97
n 10
Assim, a equação da regressão será a seguinte: y  9,97  1,93 x
Para x  22 tem-se y  52,43  y  52

Para x  24 tem-se y  56.29  y  56

3.5.4. Correlação

54
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Correlação é uma técnica estatística que permite estimar valores de uma


variável dependente de uma ou várias variáveis. A diferença básica entre a
regressão linear, analisada na secção anterior e a correlação é que enquanto a
regressão linear é usada para estudar séries temporais, na correlação os períodos
de tempo são tomados como variáveis independentes e as respetivas demandas
como variáveis dependentes.

Na correlação, a relação é estabelecida entre a demanda e o tempo. E as


demandas futuras são estimadas a partir desta última relação. Contudo, o tempo
não necessita de ser a única variável da qual depende a demanda para um
determinado produto. Por exemplo, a venda de cerveja de uma determinada marca
num mercado pode ser correlacionada com a venda de todas as marcas de cerveja
naquele mercado. Assim, a venda de Manica num mercado pode ser estimada a
partir da demanda de cerveja de todas as marcas.

Na correlação, a relação entre as variáveis X e Y pode ser expressa pela


equação:

Y  a0  a1 X (3.42)

Onde os valores de a0 e a1 podem ser estimados resolvendo o seguinte


sistema de equações.
 N  a0   X  a1  Y
 (3.43)
 X a 0  X  a1   XY
2

O coeficiente de determinação ( r 2 ), que expressa a proporção da variação total


nos valores da variável Y que pode ser explicada pela relação com os valores de X
, é dado pela fórmula abaixo. E, pela regra, a porção de variação não explicada não
deve exceder 25% para a validade da relação da correlação.

E  Y 
1 
2

r 2
(3.44)
 Y  Y 
2

Onde:
 r 2 é o coeficiente de determinação; e

 E são os valores de Y estimados a partir da fórmula 3.16.

Exemplo 3.5: Numa banca localizada no mercado do Museu fez um estudo de


vendas de cerveja nos últimos 8 meses. A tabela abaixo apresenta os números de
caixas de cerveja de todas as marcas vendidas e os números de caixas de cerveja
Manica. Pretende-se determinar a equação da correlação que descreve a relação entre
a quantidade da cerveja de todas as marcas vendidas naquela banca e a quantidade
de cerveja Manica. Além disso, pretende-se determinar qual será o valor estimado de
vendas da cerveja Manica para o corrente mês, sabendo que as vendas de cerveja de
todas as marcas são de 1250 caixas.

Todas marcas 1100 1200 1150 950 920 850 1000 1170
Manica 105 117 110 101 97 92 104 125

55
Alexandre Charifo Ali Lições de Gestão da Produção DEMA – FEUEM

Para resolver este problema, é necessário estimar os valores de a0 e a1 resolvendo


o sistema de equações 3.15. Para tal tem-se a seguinte tabela:

Nº X Y X2 XY
1 1100 105 1210000 115500
2 1200 117 1440000 140400
3 1150 110 1322500 126500
4 950 101 902500 95950
5 920 97 846400 89240
6 850 92 722500 78200
7 1000 104 1000000 104000
8 1170 125 1368900 146250
Total 8340 851 8812800 896040

Desta tabela tem-se: N=8,  X  8340 , Y  851 ,  X 2  8812800 e  XY  896040 . Assim


tem-se o seguinte sistema de equações:

 8a0  8340a1  851



8340a0 8812800 a1  896040

Após a resolução deste sistema de equações, obtêm-se os seguintes valores:


a0  28,188 e a1 0,075 . Deste modo, a equação da correlação será a seguinte:
Y  28,188  0,075 X Para determinar o coeficiente de determinação da correlação é
necessário calcular os valores esperados da demanda da cerveja Manica (variável Y),
para os atuais valores da demanda de todas as marcas (variável X). Além disso, é
necessário determinar o valor médio de Y para se poder compor a tabela abaixo.
Para tal, tem-se: Y  106,375 .

Nº X Y E E Y E  Y 2 Y Y Y  Y 
2

1 1100 105 110,69 5,69 32,376 -1,375 1,89


2 1200 117 118,19 1,19 1,416 10,625 112,89
3 1150 110 114,44 4,44 19,714 3,625 13,14
4 950 101 99,44 -1,56 2,434 -5,375 28,89
5 920 97 97,19 0,19 0,036 -9,375 87,89
6 850 92 91,94 -0,06 0,004 -14,375 206,64
7 1000 104 103,19 -0,81 0,656 -2,375 5.64
8 1170 125 115,94 -9,06 82,084 18,625 346,89
Total 138,72 803,87

O coeficiente de determinação será: r 2  1   E  Y 2  1  138,72  0,827  83%


2

 Y  Y  803,87

Assim, 83% da variação do Y é explicada pela variação de X e os restantes 17%


constituem a variação não explicada. Pela regra, a porção de variação não explicada
não deve exceder 25% para a validade da relação da correlação. Por isso, neste caso
a variação da demanda da cerveja Manica (Y) pode ser estimada através da variação
da demanda de todas marcas de cerveja (X). Sendo assim, como as vendas de todas
marcas de cerveja no corrente mês são de 1250 caixas, então a venda da cerveja
Manica será de:

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Alexandre Charifo Ali Lições de Gestão da Produção DEMA – FEUEM

Venda de Manica  28,188  0,075  1250  121,94  122 caixas .

57

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