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PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
Palavras-Chave
Direito de propriedade. Propriedade privada. Função social. Preservação am-
biental. Equilíbrio ecológico.
Abstract
This article aims to analyze the institution of private property under the current
legislation, with changes and innovations introduced by the Federal Constitution
of 1988, notably with regard to the principle of social function of property, facing
the question of environmental preservation. We will analyze the constitutional
principles that guarantee, on one hand, the right to private property and on the
other, the right to an ecologically balanced and common usage of the people
belonging to the community. What is proposed is to demonstrate that the
property right has not been mitigated by the right to an ecologically balanced
environment because the rules surrounding the first are always resave the need
to fulfill the social function of property so that we can achieve the preservation
of our resources natural and ecological balance so desired.
Keywords
Property rights. Social Function. Environmental Preservation.
Sumário
Introdução. 1. Direito de propriedade. 1.1 A propriedade privada no ordena-
mento jurídico brasileiro. 1.2. Função social e socioambiental da propriedade.
1.3. Limitações ao direito de propriedade. 2. Direito Ambiental. 2.1. Direito
constitucional ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 2.2. Preservação
ambiental e desenvolvimento sustentável. 2.3. Espaços territoriais especialmen-
te protegidos – Áreas de Preservação Permanente. 3. A responsabilidade do pro-
prietário. 3.1. Dano ambiental e a responsabilidade objetiva do causador. 3.2.
Reparação do dano ambiental. Conclusão
150 Elissandra Roberta Tórtola
INTRODUÇÃO
O presente trabalho analisa os preceitos constitucionais que garantem, de
um lado, o direito de propriedade ao particular e, de outro, o direito ao meio am-
biente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, ou seja, perten-
cente à coletividade.
A preocupação da sociedade com a preservação do meio ambiente tem sido
demonstrada por meio de várias campanhas e projetos que buscam despertar a todos
para a necessidade de preservação de nossos bens naturais. Quanto à comunidade
internacional, vários acordos e convenções foram assinados por diversos Estados a
fim de colocar em prática ações governamentais que visam à implementação da
proteção ambiental.
Essa preocupação encontra fundamento na degradação e destruição das for-
mas de vegetação nativas, poluição das águas e da atmosfera, que causam o dese-
quilíbrio ecológico e o desaparecimento de espécies animais e vegetais que não
resistem à ação danosa do ser humano.
No Brasil, existe rica legislação ambiental que busca impedir ou ao menos res-
tringir a intervenção humana em áreas que devem ser preservadas, no intuito de barrar
a degradação ao meio ambiente e promover a preservação de todas as formas de vida.
Resta a busca pelo efetivo cumprimento de tais normas para que elas real-
mente sejam observadas e atinjam a finalidade para a qual foram criadas.
Assim, este artigo tem a proposta de analisar a efetividade das normas am-
bientais e a garantia ao meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presen-
tes e futuras gerações, prevista pela Lei Maior, em face do direito à propriedade,
também garantido constitucionalmente.
Na primeira seção é feita uma análise do direito de propriedade, sobre como
é tratado pela legislação nacional e os limites que seu livre exercício encontra, os
quais são impostos, principalmente, pela exigência de cumprimento da função so-
cial e socioambiental da propriedade.
Já a segunda seção trata do direito constitucionalmente previsto a um meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem como traz a ideia de que um país de-
senvolvido nas áreas de tecnologia, ciências, economia e finanças deve primar por
uma evolução ou, como se diz, desenvolvimento sustentável, para que possa crescer
hoje, mas sem esquecer do futuro. Trata ainda das áreas que, devido a suas peculia-
ridades, merecem ser especialmente protegidas.
Por fim, a terceira seção fala do dano ambiental e da responsabilidade pela
sua reparação, que no âmbito civil é objetiva, e busca reconduzir o meio ambiente a
seu status quo, livre das lesões que o atingiram, o que, na maioria das vezes, chega
a ser utopia.
Desta forma, diante do atual cenário calamitoso de degradação ambiental
assistido por todos nós, não só no Brasil, mas no mundo todo, o presente trabalho é
de importância e interesse inegáveis a todos os aplicadores do direito.
O DIREITO DE PROPRIEDADE EM FACE DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 151
O tema não poderia ser mais atual e interessante, de suma importância para
a moderna sociedade capitalista e gerações em formação, as quais constituirão as
“futuras gerações” preditas pela Carta Constitucional de 1988.
1. DIREITO DE PROPRIEDADE
1.1. A propriedade privada no ordenamento jurídico brasileiro
(…) o direito de propriedade é aquele que uma pessoa singular ou coletiva efe-
tivamente exerce numa coisa determinada em regra perpetuamente, de modo
normalmente absoluto, sempre exclusivo, e que todas as outras pessoas são
obrigadas a respeitar.
1. MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. Atualizada por Carlos Alberto Dabus Maluf, 37
ed., São Paulo: Saraiva, 2003, v. 3, p. 83.
2. GONÇALVES, Luis da Cunha. Da propriedade e da posse. Tratado de Direito Civil. 2 ed., São Paulo: Max
Limonad, s.d., v. XI, t. I, p. 1646.
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E não é apenas a Magna Carta que garante esse direito. Também nosso Códi-
go Civil assegura, nos artigos 1.228 e seguintes, o exercício do direito de proprieda-
de, que confere ao seu detentor a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, além
de poder reavê-la do poder de quem quer que injustamente a detenha.
O Direito Civil sempre se ocupou, sob o enfoque do direito privado, do trata-
mento do instituto da propriedade, classificando-a como direito real por excelência.
Atualmente, porém, não há mais como conceber o direito de propriedade
como um mero direito real, instituto de direito privado.
De fato, por meio da leitura do § 1° do artigo 1.228 do Código Civil facil-
mente se percebe que o exercício da propriedade depende do cumprimento de
suas finalidades econômicas e sociais. Daí se denota a importância da propriedade
também para o direito público, e por que deve ser tutelada por ele.
Como explica Carlos Roberto Gonçalves3:
Nessa consonância, o conceito de propriedade, embora não aberto, há de ser
necessariamente dinâmico. Deve-se reconhecer, nesse passo, que a garantia
constitucional da propriedade está submetida a um intenso processo de rela-
tivização, sendo interpretada, fundamentalmente, de acordo com parâmetros
fixados pela legislação ordinária.
Não por outra razão o direito de propriedade é limitado, por exemplo, pelo
Direito Administrativo, com particular referência ao instituto da desapropriação.
Assim é que, o direito de propriedade, diga-se o mais importante instituto
jurídico do capitalismo, apesar de direito ilimitado e absoluto, garantido em lei, é
limitável, relativizado em prol do interesse geral da sociedade, que deve prevalecer
sobre o interesse particular de cada indivíduo.
3. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Revista, 4 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, v. 5, p. 208.
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4. FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. A propriedade no direito ambiental. Revista, atualizada e am-
pliada, 3ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 83.
5. Idem
6. GOMES, Orlando. Direitos reais. Atualizada e notas de Humberto Theodoro Júnior, Rio de Janeiro: Foren-
se, 1999, p. 107.
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7. FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. A Propriedade no Direito Ambiental. Revista, atualizada e am-
pliada, 3ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 93-94.
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8. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. Revista, atualizada e ampliada, 17ª ed.,
São Paulo: Malheiros, 2009, p. 127.
156 Elissandra Roberta Tórtola
9. GRAU, Eros Roberto. Enciclopédia Saraiva de Direito, Função Social da Propriedade. São Paulo: Saraiva,
1977, v. 39.
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princípios hoje estampados nos artigos 5°; 170, inciso VI; 184, § 2°; 186, inciso II, e
225, todos da Constituição Federal.
A propriedade privada, nos moldes da Lei Maior vigente, abandona, de vez,
sua configuração essencialmente individualista para ingressar em uma nova fase,
mais civilizada e comedida, onde se submete a uma ordem pública ambiental: essa
a principal repercussão dos dispositivos constitucionais acima referidos.
É por isso que o Estado pode e deve, já que se encontra constitucionalmente
obrigado, restringir a utilização da propriedade, determinando a interdição de ativi-
dades e destruição ou demolição de obras que estejam em desconformidade com a
regulamentação ambiental, inexistindo qualquer dever de compensar o proprietário-
-infrator.
Também é por isso que aquele que possua propriedade localizada em área
de preservação permanente deve abster-se de modificá-la. As intervenções antró-
picas em áreas de especial proteção causam sérios riscos a toda coletividade, pois
tais locais são necessários à preservação dos recursos e das paisagens naturais e à
salvaguarda do equilíbrio ecológico, garantindo, consequentemente, a manutenção
da sadia qualidade de vida buscada pela Constituição Cidadã.
Por tal razão diz-se que as áreas de preservação permanente são áreas non
aedificandi, sendo vedada nelas a supressão da floresta e das demais formas de ve-
getação, bem como sua exploração ou destruição.
Dessa forma, deve-se afirmar que as restrições ao direito de propriedade, que
não mais pode ser considerado como direito individual, alicerçam-se no princípio
da função social da propriedade e buscam sempre alcançar o bem-estar da coleti-
vidade.
2. DIREITO AMBIENTAL
2.1. Direito constitucional ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
A Constituição Federal de 1988 é instrumento de incontestável valor para
a proteção e defesa do meio ambiente e trouxe inovações no quadro legislativo
nacional.
De fato, nenhuma de nossas constituições anteriores tratou em capítulo es-
pecífico acerca do assunto, e é nela que a expressão “meio ambiente” é utilizada
pela primeira vez.
Isso não significa que o meio ambiente não fosse tutelado pelo ordenamento
jurídico anterior. Ao contrário, o meio ambiente sempre esteve positivado em nosso
ordenamento jurídico e é razoavelmente extensa a produção legislativa sobre o tema
mesmo antes da chegada da Constituição Cidadã.
O fato, porém, de ser garantido constitucionalmente o direito ao meio am-
biente ecologicamente equilibrado dá um novo ânimo à questão da proteção am-
biental no país.
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10. FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. A Propriedade no Direito Ambiental. Revista, atualizada e
ampliada, 3ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 28.
11. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 2 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 123
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12. SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. Revista e atualizada, 28ª ed., São Paulo:
Malheiros, 2007, p. 847-848.
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13. FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. A propriedade no direito ambiental. Revista, atualizada e am-
pliada, 3ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 32.
14. MACHADO. Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. Revista, atualizada e ampliada, 17ª ed.,
São Paulo: Malheiros, 2009, p. 127.
O DIREITO DE PROPRIEDADE EM FACE DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 161
15. FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. A propriedade no direito ambiental. Revista, atualizada e am-
pliada, 3ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 29.
16. O que é desenvolvimento sustentável? WWF-Brasil. Disponível em: http://www.wwf.org.br/informaco-
es/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/. Acesso em: 1º nov. 2010.
17. Gabcikovo-Nagymaros Project (Hungary/Slovakia), Judgement. www. Icj-cij.org. Internacional Court of
Justice. September 25, 1997.
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efetuar qualquer alteração nessas áreas, o que dificulta a ação lesiva do homem em
locais que merecem maior atenção, seja devido a sua finalidade, ou simplesmente
a sua localização.
Dessa forma, não pode o executivo, utilizando-se de decretos ou mesmo por-
tarias ou resoluções administrativas, determinar ou autorizar qualquer intervenção
em área de preservação permanente, haja vista que é área de interesse social ou de
utilidade pública, e que, por isso, não pode ser modificada ao bel-prazer de quem
quer que seja.
Assim determina o artigo 225, § 1º, inciso III, da Constituição Federal, quan-
do estabelece que, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente eco-
logicamente equilibrado, incumbe ao Poder Público “definir, em todas as unidades
da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente pro-
tegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção.”
Nas palavras de Paulo Affonso Leme Machado18:
O Poder Legislativo precisa discutir sobre um bem que está caracterizado
como ‘permanente’. Uma floresta de preservação permanente não é para ser
suprimida ou alterada precipitadamente, a todo momento ou ao sabor do inte-
resse somente de um partido político que administre o meio ambiente.
18. MACHADO. Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. Revista, atualizada e ampliada, 17ª ed.,
São Paulo: Malheiros, 2009, p. 744.
164 Elissandra Roberta Tórtola
3. A RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO
3.1. Dano ambiental e a responsabilidade objetiva do causador
O objetivo da lei e da sociedade como um todo é a proteção e consequente
preservação do meio ambiente.
Ocorre que nem sempre esse objetivo é alcançado e áreas que deveriam ser
protegidas acabam sendo indevidamente utilizadas e danificadas.
Para essas hipóteses, prevê a lei a responsabilidade do causador pela repara-
ção do dano, que pode se dar tanto no âmbito penal ou civil quanto no administra-
tivo, conforme determina a Constituição Federal no artigo 225, § 3º.
No tocante à responsabilidade civil por dano ambiental, é ela objetiva, ou
seja, independe da demonstração de culpa. Basta a comprovação do dano e a exis-
tência de nexo causal que o ligue ao causador para que ocorra a obrigatoriedade
de indenizar.
É esse o conteúdo do artigo 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81, in verbis:
§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o po-
luidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua
atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para
propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio
ambiente. (grifo nosso)
19. MACHADO. Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. Revista, atualizada e ampliada, 17ª ed.,
São Paulo: Malheiros, 2009, p. 351.
166 Elissandra Roberta Tórtola
que seria degradação ambiental e poluição (artigo 3º, incisos II e III, respectivamente).
Assim, a legislação ambiental fornece apenas elementos indicativos do que
seria dano ambiental, deixando sua definição à cargo de estudos doutrinários e ju-
risprudenciais.
Uma definição aceitável é a lançada por Édis Milaré20, que caracteriza o
dano ambiental como sendo “a lesão aos recursos ambientais, com a consequente
degradação – alteração adversa ou in pejus – do equilíbrio ecológico e da qualidade
ambiental”.
Também pode ser mencionada a conceituação elaborada por José Rubens
Morato Leite21, para quem
o dano ambiental deve ser compreendido como toda lesão intolerável causada
por qualquer ação humana (culposa ou não ao meio ambiente), diretamente
como macrobem de interesse da coletividade, em uma concepção totalizante,
e indiretamente a terceiros, tendo em vista interesses próprios individualizá-
veis e que se refletem no macrobem.
20. MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 2ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 421-422.
21. LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental: Do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 2002. p 56.
22. Sentença proferida pelo MM. Juiz Federal Marcos César Romeira Moraes nos autos do processo n°
2000.70.10.001518-0, o qual tramitou perante a Seção Judiciária do Paraná, Vara Federal de Campo Mourão.
O DIREITO DE PROPRIEDADE EM FACE DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 167
A Carta Magna, no artigo 225, § 2°, também prevê que “aquele que explorar
recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado”.
Portanto, note-se que o dever de reparação do dano ambiental está positiva-
do no ordenamento jurídico nacional, que prevê duas formas de ressarcimento do
dano ambiental: primeiramente, busca a reparação ou substituição do bem ambien-
tal lesado; após, subsidiariamente, a compensação monetária da vítima, por meio
do pagamento de indenização pecuniária, que funciona como uma compensação
ecológica.
Consoante Édis Milaré23, a reparação ao dano ambiental é a reconstituição
do meio ambiente agredido, cessando-se a atividade lesiva e revertendo-se a degra-
23. MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 2ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 425.
168 Elissandra Roberta Tórtola
dação ambiental. Apenas quando essa recuperação não for viável é que se admite
indenização em dinheiro.
Há diversas formas de reparação do dano ambiental. Inicialmente deve-se
tentar a restauração ecológica. Nos casos em que ela seja inadequada ou inviável,
a lei prevê a composição ecológica, que consiste em substituir o bem lesado por
outro equivalente, desde que o patrimônio natural permaneça inalterado qualitativa
e quantitativamente.
A reparação do dano deve ser efetuada pelo seu causador. No caso de ocor-
rer o dano em propriedade particular, a responsabilidade é do respectivo proprietá-
rio. Tal obrigação é do tipo que adere permanentemente à coisa, acompanhando-a
independentemente de quem seja o seu titular. É o que se convencionou chamar
de obrigação propter rem. Deve ser entendida como acessória ao direito real e, por
isso, dever do proprietário.
Por tal razão, aquele que adquire propriedade que tenha sofrido algum dano
ambiental, mesmo que não seja o causador direto desse dano, não pode furtar-se
ao cumprimento da lei ambiental e também carrega a responsabilidade de repará-
-lo, pois, de uma forma ou de outra, contribui para a manutenção da situação de
desequilíbrio ambiental.
Assim, o ideal é a prevenção, a fim de que o dano seja evitado. Não sendo
possível evitá-lo, no entanto, a ninguém é dado eximir-se da obrigação de reparação.
Uma vez provado o dano e o nexo de causalidade que o liga ao agente,
nasce a responsabilidade nas esferas civil, penal e administrativa, e o causador res-
ponderá pelos prejuízos que causar, não só ao meio ambiente, mas também, indi-
retamente, a ele mesmo e a toda a coletividade, representada tanto pela presente
quanto pelas futuras gerações.
CONCLUSÃO
Como restou demonstrado, o direito de propriedade não foi mitigado pelo di-
reito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Os dois coexistem em harmo-
nia e devem ser aplicados de maneira proporcional, sempre com vista ao interesse
maior, que é o da coletividade.
A propriedade privada só pode existir e ser protegida se cumprir sua função
social, o que se dá, entre outros requisitos, com a proteção e especial cuidado do
meio ambiente, bem de indiscutível preciosidade.
A qualidade ambiental é extremamente necessária para possibilitar, como
consequência lógica, uma sadia qualidade de vida para as presentes gerações e a
viabilidade de existência das futuras.
O tempo urge e não podemos esperar a boa-fé de terceiros em tomar alguma
providência para minorar os efeitos devastadores das intervenções antrópicas lesivas
ao meio ambiente.
O DIREITO DE PROPRIEDADE EM FACE DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 169
REFERÊNCIAS
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