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APOSTILA DE ECONOMIA E NEGÓCIOS

1.Dez princípios básicos1

A economia é o estudo do modo pela qual a sociedade pode empregar


recursos escassos de forma a maximizar os seus benefícios. Não há mistério na
definição de um “sistema econômico”. Em se tratando de uma empresa, de uma país,
ou do mundo inteiro, um sistema econômico pode ser definido como a interação de um
grupo de pessoas com a finalidade de garantir a sua própria sobrevivência. De acordo
com Mankiw (2001), podemos apontar dez princípios básicos que norteiam a vida
econômica.

#1: As pessoas devem escolher entre alternativas mutuamente


excludentes (tradeoffs)

A ideia aqui é de que para obtermos algo que desejamos, devemos


abdicar de outra coisa que também almejamos. Considere um médico que deve
decidir como empregar um recurso escasso – o seu tempo. Caso ele se decida a
clinicar, por exemplo, estará abrindo mão de realizar outra atividade. Cada hora de
trabalho implica em abrir mão de tempo para a realização de outras atividades.

Do ponto de vista coletivo, um tradeoff relevante é aquele que antepõe


eficiência e equidade. Eficiência significa obter o maior retorno possível por conta do
emprego de recursos limitados. Equidade implica numa justa distribuição dos
benefícios gerados pelo emprego de recursos. Como muitas vezes o emprego de
soluções eficientes não implica necessariamente numa distribuição equânime dos
resultados da adoção dessas alternativas, a escolha entre eficiência e equidade se
torna relevante.

1
A idéia de que a Economia teria 10 princípios básicos não é uma noção que a literatura econômica
consagre. Porém, Manki (2001) a utiliza para sistematizar a uma excelente.
Assim, as opções que fazemos, individualmente ou em sociedade,
implicam em escolher diferentes alternativas. Reconhecer que as escolhas também
implicam em renúncias é importante porque as pessoas só tomam decisões racionais
se tiverem pleno conhecimento das opções disponíveis.

#2: O custo de algo é equivalente ao custo do que se renuncia para


obtê-lo

Este princípio surge como decorrência lógica do primeiro. O médico do


exemplo anterior se encontra frente a seguinte alternativa: caso ele se decida a
atender pacientes no seu consultório, será remunerado por isso. Porém, caso ele se
decida, alternativamente, a participar de atividades de lazer, estará abrindo mão do
rendimento que obteria clinicando. Para o médico, o custo do investimento em lazer
equivale a remuneração ao qual ele renunciou para poder se dedicar a outra atividade.

Desse modo, podemos definir como custo de oportunidade, o preço da


renúncia de um bem de modo a se obter outro bem.

#3: AS pessoas racionais pensam na margem

Considere que, no Brasil, a taxa de inflação dos últimos 12 meses tenha


sido de 4%. Porém, considere que a inflação seja ascendente e que no último mês a
taxa tenha atingido 2%. Você acha relevante considerar apenas a taxa acumulada, ou
a média mensal do último ano? Parece um tanto ingênuo pensar na média ou na
acumulação quando a variação na margem é muito diversa.

Os economistas adotam a expressão “alterações marginais” para indicar


pequenos ajustes incrementais em uma dada situação. O que está em pauta aí são as
mais recentes alterações ocorridas. Racionar „na margem‟ significa verificar o que
ocorreu por último.

#4: As pessoas reagem a incentivos

Comparar a relação custo-benefício de uma dada iniciativa é um


procedimento que as pessoas adotam frente ao processo de tomada de decisão.
Quando o custo ou o benefício de uma dada iniciativa se altera, o comportamento das
pessoas pode mudar. Se o preço da tarifa de taxi aumenta, por exemplo, as pessoas
consideram o uso de transportes alternativos, como metrô ou o ônibus, porque o custo
de andar de taxi está maior. Isto é, as pessoas reagem a incentivos.
Quando os formuladores de políticas públicas não consideram como suas
decisões impactam os incentivos, acabam produzindo resultados não-desejados.
Considere, por exemplo, que o prefeito de uma cidade turística, preocupado em
aumentar a arrecadação municipal, decida aumentar as taxas cobradas dos
proprietários de postos de gasolina. Caso os postos de gasolina decidam aumentar os
preços dos combustíveis em relação ao novo custo, o efeito pode ser uma diminuição
do fluxo de turistas motorizados. Com isso, a receita municipal proveniente dos
impostos cobrados sobre serviços de hospedagem pode diminuir, cancelando o ganho
da nova taxa.

Assim, ao se analisar qualquer política, é necessário levar em conta não só


os efeitos diretos, mas também, os impactos indiretos decorrentes da aplicação de
incentivos. Se a política modificar os incentivos, as pessoas reagirão, alterando o seu
comportamento.

#5: O comércio pode beneficiar a todos

À primeira vista, o comércio é uma atividade econômica que pressupõe


ganhadores e perdedores. Empresas competem com empresas na conquista de
consumidores (e, assim, pressionam os preços), consumidores competem com
consumidores na busca por produtos (e, assim, pressionam os preços) e
trabalhadores competem com trabalhadores na procura por emprego (e, assim,
pressionam os salários) e assim por diante. Entretanto, visto no conjunto, o comércio
não se assemelha, necessariamente, a um jogo do tipo ganha-ou-perde. Na verdade,
o comércio pode melhorar a situação de todos.

Apesar da competição entre os agentes econômicos, ninguém estaria


melhor caso se isolasse. Se o fizesse teria que produzir todos os bens necessários a
sua própria existência. Por outro lado, graças ao comércio, cada agente pode se
especializar na atividade em que é mais capaz, e utilizar o produto do seu trabalho
para trocar bens. O comércio possibilita aos agentes comprar uma variedade maior de
produtos e fazê-los a um custo menor do que se produzissem isoladamente. Isso
ocorre porque os agentes podem se especializar nas atividades as quais usufruem de
maior aptidão, beneficiando, assim, com a troca.

Os países também podem se beneficiar do comércio. Se especializando na


produção dos bens na qual a sua produtividade é maior, os países ontem vantagens
ao comercializar esses bens com outros países. Isto é o que se chama de vantagens
comparativas.

#6: O mercado te sido, em geral, a forma mais eficaz de organização


da produção.

A queda do comunismo na União Soviética e na Europa Oriental e a


guinada econômica da China deixaram para trás as experiências de planificação
econômica. Nos países comunistas o governo definia metas de produção e preços a
partir de decisões administrativas. Esses países adotavam a premissa de que o
planejamento centralizado da economia era a forma mais eficaz de produzir bens e
gerar bem-estar econômico.

Em uma economia de mercado as decisões relativas à alocação de


recursos são tomadas por milhões de famílias e empresas isoladamente. As empresas
decidem o que produzir, visando maximizar seus lucros. As famílias decidem o que
consumir, visando alcançar seus objetivos. Essas empresas e famílias interagem no
mercado, buscando alcançar seus objetivos. Os preços orientam as tomadas de
decisões.

A ideia subjacente é a de que os agentes reagem aos preços, ajustando


continuamente as suas decisões de produção e consumo. Aumentos de preços
incentivam a produção e desestimulam o consumo. Reduções de preços incentivam o
consumo e desestimulam a produção. De forma muito simplificada, essa é a dinâmica
que explica o comportamento dos agentes interagindo no mercado.

Apesar de o mercado ser um mecanismo através do qual os agentes


econômicos buscam o interesse próprio, esse sistema tem sido relativamente bem
sucedido em promover o crescimento econômico e o bem estar social.

#7: A atuação do governo pode corrigir problemas do mercado

Por vezes o mercado por si só não consegue empregar recursos de forma


eficiente. O conceito de falha de mercado se refere a esse tipo de situação. Quando
isso ocorre, sustentam alguns economistas, os governos deveriam intervir na
economia de modo a corrigir os problemas que impedem o mercado de promover a
eficiência e equidade.
Os economistas identificam duas causas principais para a ocorrência de
falhas de mercado. Em primeiro lugar, a presença de externalidades. O termo serve
para designar o impacto das ações de alguém sobre o bem-estar dos demais (ou dos
que estão próximos). Um exemplo muito utilizado é o da poluição. Se uma siderúrgica
não arca com todo o custo da poluição que gera, estará transferindo o custo dos
efeitos da poluição para terceiros. Nesse caso, o governo pode corrigir essa
externalidade através da imposição de normas mais rígidas de controle ambiental.

Mankiw (2001: 11) também cita como causa de falha de mercado o poder
de mercado das empresas. Poder de mercado é o conceito que designa a capacidade
de um agente econômico de influenciar de forma indevida os preços de mercado. O
monopólio da oferta de um bem essencial, por exemplo, confere ao monopolista poder
de mercado. Nesse caso, a regulamentação do preço pode aumentar a eficiência
econômica, como veremos adiante.

#8: O crescimento da renda média de um país depende de sua


capacidade de produzir bens e serviços

Como é sabido, a renda média do americano é muito superior ao do


brasileiro. Este, por sua vez, tem uma renda média superior ao do indiano. As
diferenças na renda média geralmente se traduzem em indicadores de bem-estar
social. Indivíduos de países com rendas mais altas têm, em média, mais anos de
estudo, melhores padrões nutricionais e maior expectativa de vida.

A explicação para essas diferenças de renda entre países reside em


diferenças na produtividade dos países. Produtividade é um conceito que indica a
quantidade de bens e serviços produzida por hora de trabalho. Quanto maior for a
produtividade de um país, maior será a sua renda média. Assim, a taxa de
crescimento da produtividade em um país define a taxa de crescimento da renda
média.

#9: A emissão imoderada de moeda provoca aumento nos preços

Alguns países passaram por processos inflacionários que fizeram com que
os preços se multiplicassem várias vezes em um curto período de tempo. A Alemanha
da década de 20 e o Brasil da década de 80 são exemplos disso. Em ambos os casos,
o período de alta inflação coincidiu com uma fase de baixo crescimento econômico.
Como a inflação implica em vários custos, a estabilidade de preços é um importante
objetivo de política econômica.

A inflação é um processo de aumento generalizado e persistente de


preços. Se alguns poucos bens sofrem aumento de preços, isso não significa,
necessariamente, que o índice geral de preços – o medidor de inflação – irá subir. O
índice de inflação traduz uma média de aumento de preços, com base em uma
hipotética cesta de bens e serviços. Portanto, para que haja inflação é necessário que
o os aumentos de preços sejam disseminados para toda a economia e que esses
aumentos se mantenham de forma mais permanente.

Qual é a causa da inflação? Que fator(es) podem gerar os problemas


apontados? A resposta a essa pergunta tem gerado controvérsias entre os
economistas. Enquanto alguns apontam a emissão exagerada de moeda como a
causa fundamental, outros apontam, por vezes, pressões de demanda ou de custos
como a origem do processo. Entretanto, evidências empíricas têm apontado para uma
forte correlação entre o crescimento excessivo da oferta de moeda e a emergência de
processos inflacionários.

Mankiw (2001:14) registra que na Alemanha da década de 1920, quando


os preços, em média, triplicavam a cada três meses, a quantidade de moeda também
triplicava nesse período. A história econômica recente dos EUA também corrobora o
argumento que associa a emissão de moeda e inflação. Ela mostra que no período de
inflação mais alta, como a década de 70, coincidiu com uma oferta maior de moeda e
que um período de inflação mais baixa, como a década de 90, está associado com um
menor crescimento da quantidade de moeda.

#10: A política econômica deve escolher entre uma das duas


alternativas de curto prazo: inflação ou desemprego

Se a inflação é causada pelo crescimento da oferta de moeda, por que os


governos tem dificuldade de resolver o problema? Os economistas apontam para o
fato de que o combate a inflação parece estar associado a um aumento temporário do
desemprego. A Curva de Philips é um modelo que os economistas utilizam para
descrever esse tradeoff entre inflação e desemprego.

A ideia subjacente ao modelo é que as políticas de combate à inflação, ao


reduzirem a oferta de moeda na economia, geram uma diminuição no consumo de
bens, fazendo com que as empresas diminuam a produção. Essa retração, por sua
vez, leva as empresas a demitir trabalhadores, causando desemprego. Sendo assim, o
combate à inflação não pode ser feito de forma indolor. O governo teria que fazer uma
difícil escolha em ser mais leniente com a alta de preços, poupando o trabalhador ou,
alternativamente, ser mais duro no enfrentamento da alta de preço, sacrificando o
emprego.

Como o governo pode lidar com esse problema através de instrumentos de


forte impacto socioeconômico – aumentando ou diminuindo o nível de impostos,
aumentando ou diminuindo o seu montante de gastos, expandindo ou contraindo a
política monetária – a maioria de utilizá-los desperta acirrados debates.

2. Teoria do Consumidor

2.1 Conceito

Os fundamentos da análise da demanda têm por base o conceito subjetivo


de utilidade. O conceito utilidade, em economia, designa o grau de satisfação que o
consumidor atribui aos bens e serviços que podem ser adquiridos no mercado.
Utilidade, portanto, é um atributo que os bens econômicos possuem de satisfazer o
consumidor.

A origem do conceito reside nos trabalhos seminais de Jevons e Walras,


cuja Teoria do Valor-Utilidade pressupõe que o valor de um bem se forma a partir da
sua demanda. Isto é, o valor de um bem é determinado a partir da satisfação que esse
bem representa para o consumidor. O estudo da demanda, objeto desta seção,
baseia-se nessa teoria.
A teoria utilitarista considera que a utilidade total de um bem tende a
aumentar a medida que aumenta a quantidade consumida desse bem. Entretanto, a
utilidade marginal - que é a satisfação que o consumidor obtém ao adquirir uma
unidade adicional de um bem - é decrescente uma vez que a satisfação do
consumidor decresce a medida que ele adquire unidades adicionais do bem.
O exemplo clássico que ilustra o conceito é o chamado paradoxo da água
e do diamante. Por que a água, um bem essencial, é tão barata, e o diamante, um
bem supérfluo, é tão caro? A resposta é que a água tem elevada utilidade total, mas
reduzida utilidade marginal (por ser abundante), e o diamante, por ser escasso, tem
elevada utilidade marginal e total.

2.2 Lei da Demanda

A demanda ou procura pode ser definida como a quantidade de um


determinado bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir em um
determinado período de tempo.

A demanda por um bem não depende só do preço do bem, mas também


de outras variáveis que influenciam a escolha do consumidor. São elas: o preço dos
outros bens, a renda do consumidor e os gostos e preferências do consumidor. A
hipótese coeteris paribus é o recurso que se utiliza para se estudar a influência dessas
variáveis, ou seja, considera-se que enquanto uma variável atua, as demais
permanecem constantes.

2.2.1 Relação entre quantidade demandada e preço do bem

Há uma relação inversa entre o preço do bem e a quantidade demandada,


coeteris paribus. Isso porque, quando o preço de um bem cai, este fica mais barato em
relação a seus concorrentes, fazendo com que os consumidores fiquem mais
propensos a adquirí-lo. Essa relação pode ser observada a partir da construção da
curva de procura do bem. A curva de procura abaixo mostra a relação entre a procura
de um bem e o preço desse mesmo bem.

Matematicamente, a relação pode ser descrita pela chamada função demanda:


Qd = f(P); onde:

Qd = quantidade procurada de um determinado bem ou serviço, por período de tempo;

P = preço do bem ou serviço.


A expressão acima significa que a quantidade demandada é uma função f do preço P.

2.2.2 Elasticidade-preço da demanda

É a forma com que se expressa, em economia a sensibilidade da demanda


a variações nos preços. Em outras palavras, é a variação percentual na quantidade
procurada de um bem X, em resposta a uma variação percentual em seu preço,
coeteris paribus.

-Demanda elástica: caso em que a variação percentual da quantidade


demandada é maior do que a variação percentual do preço.

-Demanda inelástica: caso em que a variação percentual no preço acarreta


uma variação percentual relativamente menor na quantidade procurada.

2.3 Oferta de mercado

A oferta pode ser definida como a quantidade de um bem ou serviço que


os produtores desejam vender por unidade de tempo. Do mesmo modo que a
demanda, a oferta depende de vários fatores, além do preço do produto. Dentre eles,
citamos: os demais preços, o preço dos fatores de produção e a tecnologia.

A chamada Lei Geral da Oferta mostra que há uma relação direta entre
quantidade ofertada e o nível de preços, coeteris paribus. Seguindo a lei, podemos
indicar uma escala de oferta de um bem X. Ou seja, dada uma série de preços, quais
senam as quantidades ofertadas a cada preço:

Preço Quantidad
1,00 e ofertada 1.000

3,00 5.000
6,00 9.000
8,00 11.000
10,00 13.000
A escala também pode ser expressa graficamente como a seguir:

Matematicamente, a função da oferta pode ser expressa da seguinte


forma:
Qo = !(P); onde:

Q» = quantidade ofertada de um bem ou serviço, por período de tempo;


P = preço do bem ou serviço
A relação direta entre a quantidade ofertada de um bem e o preço desse
bem é devido ao fato de que, coeteris paribus, um aumento no preço do bem incentiva
as empresas a aumentar sua produção, de modo a aumentar sua receita.

2.4 Equilíbrio de mercado

A interseção das curvas de oferta e de demanda determina o preço e a


quantidade de equilíbrio de um bem ou serviço no mercado. Ou seja, na interseção
das duas curvas temos o preço e a quantidade que atendem às aspirações dos
produtores e dos consumidores simultaneamente.
Se a quantidade ofertada se encontrar abaixo daquela indicada pelo ponto
de equilíbrio E, ocorrerá uma situação que pode ser descrita como escassez de oferta
ou excesso de demanda. Nesse caso, as quantidades ofertadas serão inferiores as
quantidades procuradas. Isso acarretará uma competição dos consumidores pelos
produtos, o que provocará uma elevação dos preços. Esse movimento vai se estender
até que o equilíbrio seja restabelecido.

De forma análoga, se a quantidade ofertada se situar acima do ponto de


equilíbrio, haverá uma situação de excesso de oferta. Isso acarretará a formação de
estoques não planejados por parte dos produtores, que reagirão diminuindo preços.
Também nesse caso o movimento nos preços se estenderá até que o equilíbrio seja
restabelecido.

Assim, não havendo impedimentos para a livre movimentação dos preços,


haverá uma tendência natural para que o sistema volte ao ponto de equilíbrio. No
entanto, para que isso ocorra, é necessário que não haja interferência nem do governo
nem de setores com poder de mercado, que geralmente dificultam o livre movimento
das forças de mercado.

3. Teoria da Produção

3.1 Conceitos básicos

3.1.1 Produção

É o processo de transformação dos fatores de produção utilizados pela


empresa em produtos a serem comercializados no mercado. Nesse processo são
combinados diferentes fatores de produção de modo a se produzir o bem ou produto
final. As formas através das quais as empresas combinam os fatores constituem os
chamados métodos de produção.

A escolha de um dado método de produção vai depender de sua eficiência.


Um método é tecnicamente eficiente se, comparado a outros métodos, utiliza menor
quantidade de fatores para produzir uma quantidade equivalente do produto.

4.1.2 Função de Produção

A função de produção identifica a forma de resolver os problemas técnicos


da produção, por meio da apresentação das combinações de fatores que podem ser
utilizados para o desenvolvimento do processo produtivo. Ela pode ser conceituada
como a relação que mostra a quantidade obtida do produto, a partir da quantidade
utilizada dos fatores de produção.

É importante sublinhar que, a função de produção assim definida admite


sempre que o empresário esteja utilizando a maneira mais eficiente de combinar os
fatores e, consequentemente, obterá maior quantidade produzida do produto. Ou seja,
a questão da melhor técnica passa ao largo do debate econômico, supondo-se já
resolvida pela área de engenharia.

A função de produção pode ser expressa analiticamente da seguinte


maneira:

q = f {xi, X2, X3, ... , x-}

Onde:

q é a quantidade produzida do bem ou serviço, num determinado período de tempo; xi,


x2, x3, ... , xn, identificam as quantidades utilizadas de diversos fatores de produção; f
indica que q é uma função da quantidade de insumos utilizados.

Fatores Fixos e Fatores Variáveis de Produção - Curto prazo e Longo prazo

- Fatores variáveis- São aqueles cujas quantidades utilizadas variam a medida que a
quantidade produzida varia. Exemplos: matérias-primas e mão-de-obra;

- Fatores fixos- São aqueles cujas quantidades não variam quando a produção varia.

Exemplo: o tamanho (a planta industrial) da empresa.


-Curto Prazo- É definido como o período de tempo em que ao menos um fator se
mantém fixo;

-Longo prazo- É o período de tempo em que todos os fatores podem sofrer variação.

3.2 Análise de curto prazo

Suponhamos uma função de produção simplificada, com apenas dois


fatores (um fixo e um variável):

q = f(N, K)

onde:

q=quantidade;

N = mão-de-obra (fator variável)

K = capital fixo (fator fixo).

Nesse caso, para que a quantidade produzida possa variar, é necessário


que haja variação na quantidade utilizada do fator variável. Assim, a função de
produção pode ser expressa como:

q = f(N)

Assim observada, a função de produção ajuda a entender alguns conceitos


básicos da Teoria da Produção aplicáveis a análise da firma, São eles:

-Produto Total: É a quantidade do produto obtida a partir da utilização do


fator variável, mantendo-se fixa a quantidade dos demais fatores.

-Produtividade média do fator: É o resultado do quociente da quantidade


total produzida pela quantidade utilizada do fator.

-Produtividade marginal do fator: É a relação entre as variações do produto


total e as variações da quantidade utilizada do fator.

3.3 A análise de longo prazo

A análise de longo prazo pressupõe que todos os fatores de produção são


variáveis.
Assim, a possibilidade de que o tamanho da empresa também possa
variar, dá origem ao conceito de economia de escala.

4.3.1 Economia de escala ou rendimento de escala

O conceito de economia de escala diz respeito à queda do custo total


médio em resposta a um aumento da produção. Pode-se apontar como causa
geradora das economias de escala a maior especialização no trabalho quando a
empresa cresce. O caso da fábrica de alfinetes apontado por Adam Smith é o exemplo
clássico de como a especialização gera rendimentos de escala.

As economias de escala ocorrem quando a variação na quantidade do


produto total é mais do que proporcional à variação da quantidade utilizada dos fatores
de produção. Por exemplo, elevando-se a utilização dos fatores em 20%, a produção
total aumenta 30%.

3.4 Custos de produção

O objetivo básico de uma firma é maximizar seus resultados na realização


de sua atividade produtiva. Assim sendo, a firma buscará sempre conseguir a máxima
produção possível quando da utilização de determinada combinação de fatores.

A otimização dos resultados da firma poderá ser alcançada quando for


possível resolver um dos dois problemas seguintes: a) maximizar a produção para um
dado custo total; ou b)minimizar o custo total para um dado nível de produção. Nesses
dois casos a firma estará maximizando seus resultados e estará, assim, em uma
situação que a teoria econômica chama de Equilíbrio da Firma.

3.4.1 Custos totais de produção

Sendo conhecidos os preços dos fatores de produção, é fácil determinar o


custo total de produção ótimo para cada nível de produção. Assim, é possível definir o
custo total como o total das despesas realizadas pela firma com a utilização da
combinação mais econômica dos fatores, por meio da qual é obtida uma determinada
quantidade do produto.

Os custos totais de produção (CT) são genericamente classificados em


dois tipos: custos fixos totais (CFT) e custos variáveis totais (CVT)

CT= CFT+ CVT


CFT - Correspondem à parcela dos custos totais que independem da produção.
Decorrem dos gastos com fatores fixos de produção. Aluguéis, seguros e gastos
administrativos são exemplos desse tipo de custo.

CVT - Correspondem à parcela dos custos totais que dependem da produção e


mudam conforme a variação do volume de produção. Representam as despesas
incorridas com os fatores variáveis de produção. Por exemplo: gastos com matéria-
prima, folha de pagamentos etc.

Dadas as características de cada um dos dois tipos de custos, a análise


também é dividida em curto e longo prazos:

3.4.2 Custos médios e marginais

- Custo total médio (CTMe) - É calculado por meio do quociente entre o custo total e a
quantidade produzida:

CTME = CT/q = custo total/total produzido

Também é chamado de custo unitário por ser o custo por unidade produzida

-Custo variável médio (CVMe) - É obtido por meio do quociente entre o custo variável
total e a quantidade produzida:

CVMe=CVT/q

-Custo fixo médio (CFMe). - É o quociente entre o custo fixo médio e a quantidade
produzida

CFME = CFT/q

-Custo marginal (CMg) - Corresponde a variação do custo total em resposta a uma


variação da quantidade produzida

CMg = variação do custo total/acréscimo de 1 unidade na produção.

Como as variações da produção não impactam o custo fixo total, no curto prazo, o
custo marginal é determinado apenas pela variação do custo variável total.
Curvas de custos

a) Custos totais

b) Custos médios e marginais

Como pode ser observado nos gráficos, com o aumento da quantidade


produzida, os custos totais, com exceção dos custos fixos, necessariamente
crescerão. Os custos médio e marginal, entretanto, tendem a ser decrescentes
durante uma cera etapa do processo produtivo.

O gráfico acima indica que o custo variável médio, o custo total médio e o
custo marginal têm o formato em U Ou seja, eles primeiro decrescem, para depois
crescerem. Isso porque, no início do processo de produção, a empresa trabalha com
uma reserva de capacidade produtiva. Assim, os custos totais crescem menos que a
produção, fazendo com que os custos médios e marginais decresçam.

Após um determinado nível de produção, os custos totais passam a


crescer mais do que o aumento da produção, e os custos médios e marginais passam
a ser crescentes.

3.5 A maximização dos lucros

A chamada Teoria Neoclássica parte da suposição de que as empresas


têm por principal objetivo a maximização de lucros. A diferença entre a receita total de
uma empresa e o seu custo total define o seu lucro.

LT=RT-CT

Onde:

LT = lucro total;

RT = Receia total

CT = Custo total de produção

De modo a maximizar o lucro, a empresa escolherá o nível de produção


em que a diferença entre RT e CT seja a maior possível.

A receita que a empresa obtém pela venda de uma unidade adicional de


produto é chamada de receita marginal. O custo marginal de uma empresa, como já
visto, é o acréscimo no custo total de produção decorrente da produção de uma
unidade de seu produto. A empresa maximiza lucros no nível de produção em que
consegue igualar a sua receita marginal ao seu custo marginal. Senão, vejamos:

Suponhamos que uma empresa esteja operando num nível de produção


em que a receita marginal supere o custo marginal (Rmg > Cmg). Nesse caso, a
empresa terá interesse em aumentar a produção, o que aumentará seu lucro, já que a
venda de uma unidade adicional do seu produto superará o custo marginal desse
mesmo produto.

Suponhamos, agora, que a empresa esteja operando num nível de


produção em que o custo marginal supere a receita marginal (Cmg>RMg). Nesse
caso, a empresa certamente optará por reduzir a sua produção, pois cada unidade
adicional que deixar de produzir, estará contribuindo para maximizar os seus lucros.
Fica claro, portanto, que a empresa deve escolher o nível de produção em que a sua
receita marginal se iguala ao seu custo marginal de modo a maximizar seu lucro.

4. Estruturas de mercado

A Teoria Neoclássica supõe que o mercado tende a encontrar o equilíbrio.


Essa suposição traz implícita a noção de que os mercados são competitivos, não
havendo interferências que impeçam a livre movimentação de preços. Entretanto,
formas diversas dos ambientes de competição são encontradas no mercado.

Este capítulo discute as formas que o mercado pode assumir com vistas à
organização da concorrência. Essas formas ou estruturas de mercado dependem
basicamente de três fatores:

a) Do número de empresas que participam do mercado

b) Do tipo de produto (similares ou diferenciados)

c) Da existência de barreiras à entrada no mercado

Apresentaremos, a seguir, as estruturas de mercado que a teoria tem


focalizado como objeto de análise.

4.1 Concorrência Pura ou Perfeita

É o tipo de estrutura em que um número muito grande de empresas atua


de tal maneira que a oferta encontra-se muito pulverizada e que, por isso, nenhuma
empresa isoladamente consegue modificar os níveis de oferta e, consequentemente, o
preço de equilíbrio.

Nesse tipo de mercado devem prevalecer, ainda, as seguintes premissas:

-Produtos homogêneos: não existe diferenciação entre produtos ofertados pelas


empresas concorrentes;

-É livre a entrada de empresas no mercado

-Há pleno conhecimento das informações relativas ao mercado (nível de oferta,


preços, etc)
Uma característica fundamental dessa estrutura é que, no longo prazo, não
existem lucros extraordinários (em que as receitas superam os custos), mas apenas
os chamados lucros normais, que correspondem ao custo de oportunidade do
emprego do capital.

Em concorrência perfeita, como há pleno conhecimento de informações, e


como não existem bloqueios à entrada de concorrentes, se existirem lucros
extraordinários, isso atrairá novas empresas para o mercado. Com o aumento do
número de empresas, haverá um aumento na oferta de mercado, o que fará os preços
recuarem. Dessa forma, será restabelecida a situação de lucro normal, cessando a
entrada de novas empresas no mercado.

Esquema de empresa em concorrência perfeita

Receita Custo Receita Custo


Lucro
Quantidade Total Total Marqinal Marqinal
O O 3 -3 6 2
1 6 5 1 6 3
2 12 8 4 6 4
3 18 12 6 6 5
4 24 17 7 6 6
5 30 23 7 6 7
6 36 30 6 6 8
7 42 38 4 6 9
8 48 47 1 6
Curva de uma empresa em concorrência perfeita

A empresa maximiza
o lucro ao produzir a
quantidade para qual
Custos o custo marginal é
e igual à receita CMg
marginal
Receitas

CMg2

CTM
P= RMg1= P= RM= RMg
RMg2 CVM

CMg1

0 Q Q max Q Quantidade
1 2

4.2 Monopólio
É a estrutura de mercado onde apenas uma empresa detém a totalidade
da oferta de mercado. Neste caso, portanto, não há concorrência. O produto da
empresa monopolista não se defronta com produtos substitutos próximos. Assim, ou
os consumidores aceitam as condições impostas pelo produtor ou deixam de consumir
o produto.
Como o monopolista não enfrenta a concorrência de outras empresas,
podendo regular a oferta total de mercado, ele tem grande influência sobre o preço.
Assim, a sua marcação de preço possibilita que a sua receita marginal supere o seu
custo marginal, garantindo lucros extraordinários. A capacidade de gerar lucros extras
decorre do poder de mercado que a empresa detém.
Para que o monopolista permaneça com a exclusividade da oferta de
mercado, é necessário que haja barreiras intransponíveis à entrada de potenciais
concorrentes. As principais fontes de barreiras à entrada são as seguintes:
-Monopólio natural: ocorre quando o mercado, por suas próprias características, impõe
a instalação de grandes unidades produtivas, que operam com elevadíssimas
economias de escala. Nessa situação a empresa pode operar com preços
relativamente baixos, inviabilizando a entrada de concorrentes. Exemplo: empresa
fornecedora de água encanada; empresa fornecedora de gás encanado.
-Patentes ou legislação restritiva: restrições decorrentes de legislação estabelecem
fortes bloqueios à entrada de novos participantes. Exemplo: patentes farmacêuticas
-Controle de fonte de matéria-prima: a empresa detém o fornecimento exclusivo da
matéria-prima necessária a produção.

Demanda do Monopolista

Pm

Demanda de
mercado (=demanda
Pm’ para a firma)

Qm Qm’ Q
RMg
4.2.1 Discriminação de preços

O monopolista usufrui do poder de marcar preços diferentes em diferentes


segmentos de mercado. Aproveitando-se do fato de ser o único ofertante, o
monopolista pode verificar aqueles segmentos de mercado em que a elasticidade -
preço da demanda é menor, para então ali praticar preços mais elevados.

4.3 Oligopólio

É a estrutura em que um número reduzido de empresas detém parcela


expressiva da oferta de mercado.
O setor produtivo brasileiro é altamente oligopolizado, havendo vários
exemplos de grupos nacionais e estrangeiros que dominam indústrias inteiras. Os
setores automobilísticos, químico, farmacêutico, de papel e celulose, de bebidas, de
cigarros, siderúrgico, bancário, de transporte aéreo e rodoviário, e vários outros,
compõem a lista de exemplos.
A existência de economias de escala é um dos principais fatores que
possibilita a formação de oligopólios. As empresas oligopolistas, por regularem a
oferta de mercado, têm expressivo poder de mercado, conseguindo interferir na
formação de preços. Como a curva de demanda do oligopólio é negativamente
inclinada, as empresas podem restringir a oferta de mercado, de modo a aumentar
seus preços.

Esquema de um duopólio sem coordenação


Quantidade Preço (R$) Lucro (R$
O 120 O
10 110 1100
20 100 2000
30 90 2700
40 80 3200
50 70 3500
60 60 3600
70 50 3500
80 40 3200
90 30 2700
100 20 2000
110 10 1100
120 O O
4.3.1 Coordenação de preços

As empresas oligopolistas buscam, por vezes, coordenar suas estratégias


de modo a conseguir exercer maior influência sobre os preços. Apesar da legislação
dos países coibir esse tipo de coordenação, as empresas se utilizam de métodos
tácitos de coordenação. A coordenação, se bem sucedida, pode garantir a obtenção
de lucros de monopólio para o conjunto das empresas.
A coordenação de preços pode ser feita de forma explícita ou de forma
tácita. O cartel dos produtores de petróleo, por exemplo, por ser um instituto
supranacional, constituído por governos nacionais, não enfrenta restrições de ordem
legal. Já a atuação de empresas com vistas à formação de cartéis é, regra geral,
considerada prática ilegal pela legislação dos países.

A literatura econômica considera que a coordenação de preços implícita ou


tácita é prática não incomum das empresas oligopolistas. As principais estratégias de
coordenação tácita são as seguintes:

-Liderança de preços: a empresa líder adota um preço que garante lucros extra-
normais e este preço é seguido pelas demais
-Liderança barométrica: a empresa com os custos médios mais “representativos do
conjunto das empresas do setor define o preço a ser praticado pelo oligopólio”.
-Mark-up padrão: as empresas utilizam um mesmo fator multiplicador dos custos para
definir seus preços.

Na verdade, em oligopólio, mesmo sem coordenação, as empresas podem


praticar preços que lhes garantam lucros extraordinários, pois as barreiras à entrada
limitam a concorrência.

Alguns fatores, além da legislação, podem dificultar a coordenação das


empresas oligopolistas. São eles:
- Heterogeneidade de produtos
- Grande número de concorrentes
- Estruturas de custos
- Mudanças nas condições de mercado (necessidade de "aprendizagem" do preço
comum)
- Encomendas maciças e infrequentes
- Baixa concentração
Nessa estrutura de mercado, existem fortes barreiras à entrada de novas
empresas.
As empresas estabelecidas se utilizam de várias estratégias de forma a
evitar a entrada de novos concorrentes. Uma estratégia muito comum é a prática do
chamado preço-limite. Através da prática de um preço que não representa um atrativo
para os concorrentes, por só maximizar os lucros do produtor no longo prazo, os
oligopolistas mantêm eventuais concorrentes afastados.
Por fim, é importante ressaltar que a concorrência via preços é muito
reduzida em oligopólio. As empresas oligopolistas evitam se confrontar em batalhas de
preço, preferindo preservar suas margens de lucro. Os embates se concentram na
esfera da publicidade.

4.3.2 Barreiras à entrada

a) Barreiras estruturais:
Podemos distinguir 5 elementos presentes na estrutura da indústria que
podem se constituir em fontes de barreiras à entrada. São elas:
1-Vantagens absolutas de custo
2-Preferências do consumidor
3-Economias de escala
4-Altos investimentos requeridos
5-Presença de custos irrecuperáveis (aumento da capacidade instalada e publicidade)

b) Barreiras estratégicas

Podemos apontar, basicamente, duas modalidades de estratégias que as


empresas podem adotar de modo a afastar a presença de concorrentes:

1- Estratégia do preço-limite

A estratégia do preço-limite se constitui em uma prática comercial da


empresa e está respaldada em vantagens de custos. Através da prática de um preço
que não representa um atrativo para os concorrentes, por só maximizar os lucros do
produtor no longo prazo, os oligopolistas mantêm eventuais concorrentes afastados.
2) Investimento em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) como barreira estratégica

As empresas também podem intensificar seus investimentos na área de


Pesquisa e Desenvolvimento de modo a estabelecer uma vantagem sobre seus
concorrentes. O investimento pode resultar na criação de uma vantagem tecnológica
em relação aos seus concorrentes. A vantagem pode se configurar tanto em termos de
custos (processo) como em termos de diferenciação (produto)

4.4 Concorrência monopolística


Concorrência monopolística é um conceito que, a primeira vista, parece ser
um paradoxo. Concorrência, de um lado, e monopólio, de outro, sugerem ambientes
empresariais diametralmente opostos. Entretanto, sendo a diferenciação de produtos o
conceito central dessa estrutura, fica mais fácil se entender a dinâmica de
funcionamento da mesma.
Trata-se de uma estrutura com um número relativamente elevado de
empresas. Nessa situação, o poder de mercado do produtor fica comprometido pela
presença de produtos que são substitutos próximos. Contudo, como os produtores
ofertam um produto que embute a diferenciação, a curva de demanda dos seus
produtos é negativamente inclinada.
A diferenciação de produto, que confere algum poder de mercado ao
produtor, não se revela somente através de características funcionais do bem.
Aspectos tais corno: marca, embalagem e conceituação do produto também são
relevantes corno atributos concorrenciais.

5. Economia do Setor Público

5.1 Orçamento Público

O orçamento público é o instrumento legal e a ferramenta operacional que


serve ao planejamento e execução das Finanças Públicas. Ele consiste na estimativa
das receitas públicas e na fixação das despesas públicas.
5.2 Resultado Fiscal

- Resultado Primário: É a diferença entre a receita apurada e a despesa


incorrida, excluindo-se as despesas financeiras. Diz-se superávit primário ou fiscal,
quando a receita excede a despesa. Quando a despesa é maior do que a receita
registra-se um déficit primário ou fiscal. Não se inclui no Resultado Fiscal o valor
relativo aos juros pagos pelo governo por conta do serviço da dívida pública.

- Resultado Nominal: Compreende o Resultado Fiscal e o valor dos juros


da dívida pública. É o resultado mais abrangente das contas do governo. Pode ser
expresso por um superávit ou por um déficit nominal.

5.3 Financiamento do Setor Público

O pagamento do déficit público pode ser viabilizado através do recurso à


duas fontes de financiamento: a emissão de moeda e a contratação de dívida pública.
Ou seja, o governo pode cobrir seus déficits orçamentários a partir da colocação de
moeda no mercado ou a partir da venda de títulos públicos para investidores.

5.3.1 Emissão monetária

- Criação de moeda com aumento do meio circulante. O aumento do estoque de


moeda em proporção maior do que o aumento da quantidade de bens e serviços é
causa da inflação.

5.3.2 Emissão de títulos públicos

- Venda de títulos da dívida pública interna no mercado financeiro. Um título


público é um compromisso financeiro assumido pelo Estado. É o instrumento através
qual o Estado se compromete a resgatar o compromisso financeiro nele indicado,
respeitando o valor, a forma de reajuste desse valor e o prazo de pagamento nele
determinado. A venda de títulos públicos é feita através de leilões públicos, conforme
indicado abaixo.
- Leilão de títulos públicos
i) Mercado primário
- Mercado que funciona sob a forma de leilão, no qual os títulos públicos são
negociados pela primeira vez. No leilão primário apenas o Banco Central atua,
oferecendo títulos públicos que são vendidos pela primeira vez aos eventuais
interessados. É a chamada emissão primária de títulos públicos.

ii) Mercado aberto


- Mercado que funciona sob a forma de leilão, no qual os títulos públicos, já
emitidos anteriormente, são vendidos e comprados por diferentes agentes
econômicos. É a principal instância de negociação de títulos, regulando a oferta de
moeda na economia e definindo a taxa de juros de curto prazo.
- Operações overnight
- São operações de compra e venda de títulos públicos, financiados
diariamente por instituições financeiras compradoras dos títulos.
- Modalidades de títulos: por tipo de reajuste
- Títulos com reajuste pré-fixado: títulos cujas taxas de juros são fixadas por
ocasião da emissão.
- Títulos com reajuste pós-fixado: títulos cujo reajuste depende da variação de
outro indicador.

5.4 Dívida Pública Interna

- É o estoque de títulos públicos domésticos em mãos do mercado.


-Rolagem da dívida
É a venda primária de títulos públicos realizada com o objetivo de financiar o
pagamento de títulos a vencer.
- Serviço da dívida:
É o montante de juros pagos pelo Estado por conta da aplicação de uma taxa
de juros ao estoque da dívida pública.

5.5 Política fiscal

A política fiscal é a política através da qual o governo define uma dada


estratégia em termos de alocação de recursos públicos. A política fiscal diz respeito
tanto à relação quantitativa entre despesas e receitas públicas como ao
direcionamento que o gasto público deve ter. Por exemplo, se, e em quanto, o gasto
público deve exceder a receita (ou o inverso), e que setores, programas e projetos
devem receber recursos orçamentários.
Atualmente, no Brasil, o governo está comprometido (voluntariamente)
com uma política fiscal de obtenção de superávits primários. Ou seja, o governo
busca, através da condução de sua política fiscal, obter receitas fiscais em proporção
maior do que o seu gasto fiscal, resultado esse que exclui os pagamentos dos juros da
dívida pública. O objetivo é gerar uma "poupança" suficiente para reduzir a relação
dívida pública / PIB, e assim diminuir a percepção de risco do mercado em relação ao
pagamento da dívida.

6. Moedas e Bancos

6.1 Moeda

6.1.1 Histórico

A divisão do trabalho acompanhada da troca de mercadorias é um aspecto


central da vida em sociedade. A troca possibilita aos indivíduos obter bens que
eventualmente não produzem, abrindo espaço à especialização. Graças à
especialização, aumenta a produtividade e a eficiência econômica e, em decorrência
disso, maiores níveis de bem estar são alcançados. A moeda é um bem que possibilita
a troca, dispensando a presença de outros bens. A moeda, portanto, é um elemento
que favorece o aumento do bem estar. Ao potencializar a troca, possibilitando a
especialização, a moeda impulsiona a eficiência, gerando bem estar.
Sal, conchas, metais nobres, entre outros bens, já fizeram, em épocas
passadas, o papel de moeda. Durabilidade, divisibilidade, portabilidade,
homogeneidade e fácil reconhecimento são atributos que moldaram a aceitação de
diferentes moedas.
O ouro, a prata e outros metais, por apresentarem essas qualidades, são
elementos que, ao longo da história, se destacaram fazendo o papel de moeda.
Recibos de depósito feitos em ouro no Tesouro, por sua intensa circulação, também
se prestaram ao uso como moeda. Esses recibos, cujo lastro era o metal precioso que
ele representava, é o precursor das notas de dinheiro, tal qual hoje as conhecemos.
O dinheiro atualmente não possui lastro em metais preciosos. A moeda,
hoje, tem valor devido às suas características fiduciárias. É a confiabilidade de quem
as emite que lhes empresta valor.

6.1.2 Funções da moeda

Uma "boa" moeda é aquela que desempenha a contento três funções:


meio de troca, unidade de conta e reserva de valor. Quanto melhor o desempenho
dessas funções, maior é a aceitação da moeda.

6.2 Bancos

6.2.1 Sistema bancário


Os bancos são instituições que, basicamente, captam depósitos do público
e emprestam fundos para indivíduos e empresas. Eles são os intermediários
financeiros entre os agentes superavitários e os agentes deficitários.
O sistema bancário é constituído pelo conjunto das instituições financeiras
que operam a captação e o empréstimo de fundos financeiros. Ele funciona de modo
que essas instituições também trocam fundos entre si. Este mercado - o chamado
mercado interbancário - estabelece diariamente o custo do dinheiro - o valor da taxa
de juros - a partir da oscilação nos movimentos de oferta e demanda por moeda. Em
vista disso, os bancos só aceitam captar recursos pagando taxas abaixo daquelas
praticada no mercado interbancário. Da mesma forma, os bancos buscam aplicar
fundos recebendo urna taxa de remuneração superior aquela praticada no mercado
interbancário. Sendo assim, a taxa de juros do mercado interbancário tende a ser a
taxa de juros básica da economia.

6.2.2 Efeito multiplicador


Os bancos, ao captarem recursos do público e emprestarem esses
recursos à terceiros, multiplicam o total de moeda da economia. Isso porque a
atividade bancária faz operar o seguinte mecanismo: os bancos, após reservarem
parte dos valores captados do público - o chamado encaixe bancário -, emprestam aos
demandantes de crédito os recursos depositados. O público, por sua vez, utiliza
apenas parte dos recursos recebidos, retomando a outra parte aos bancos. Isso é feito
sob a forma de novos depósitos. Na sequência, esses depósitos, por se constituírem
em urna nova captação, são emprestados ao público, que, mais uma vez, deposita
parte desses empréstimos nos bancos. Assim, a atividade bancária, ao disponibilizar,
através do crédito, recursos financeiros para o público, multiplica a quantidade de
moeda emitida pelo governo, fazendo aumentar a oferta de moeda na economia.
Matematicamente, podemos descrever o efeito multiplicador da seguinte forma:
EF = 1/r; onde;
EF = Efeito multiplicador
R = taxa de encaixe

6.3 Política monetária

Ao regular a quantidade de moeda na economia, o. Banco Central impacta


diretamente a demanda agregada, afetando os preços. A política monetária dispõe,
basicamente, de três instrumentos para regular a taxa de juros da economia. São eles:

6.3.1 Open Market

O open market, ou o chamado mercado aberto, é a instância do mercado


financeiro onde são negociados os títulos da dívida pública. Se o governo buscar
aumentar a quantidade de moeda na economia, ele irá recomprar seus próprios títulos,
expandindo, assim, o meio circulante. Caso ele se decida a reduzir a oferta de moeda
na economia, ele irá vender títulos representativos da sua dívida, enxugando a liquidez
do mercado de moeda. Esses movimentos de compra e venda de títulos, portanto,
regulam a quantidade de moeda na economia, impactando a taxa de juros.

6.3.2 Encaixe compulsório

O encaixe compulsório é a parcela dos depósitos bancários que os bancos


têm que obrigatoriamente recolher aos cofres do Banco Central. Como visto
anteriormente, o encaixe, ao estabelecer a proporção dos depósitos que pode ser
utilizada para empréstimos, define a magnitude do efeito multiplicador. Dessa forma, o
encaixe afeta diretamente a oferta de moeda, impactando a taxa de juros.

6.3.3 Taxa de redesconto

A taxa de redesconto é a taxa cobrada dos bancos por conta do uso de


recursos do Banco Central quando estes não conseguem cumprir o encaixe
compulsório. A taxa de redes conto normalmente é uma taxa punitiva de modo que os
bancos evitem utilizar esse mecanismo ao invés de recorrerem ao mercado
interbancário.

7. Inflação

Inflação é a alta contínua e generalizada dos preços. Na Alemanha, em


janeiro de 1921, um jornal custava alguns poucos marcos. Menos de dois anos
depois, o mesmo jornal custava algumas dezenas de milhões de marcos. Todos os
demais preços da economia haviam aumentado da mesma forma. O episódio é um
dos mais espetaculares exemplos históricos de inflação, um aumento no nível geral de
preços na economia.
O que provoca a inflação? Nos casos de inflação persistente, a causa é
quase sempre a mesma: o aumento na oferta de moeda. Quando um governo emite
moeda de forma imoderada, seu valor cai. Na Alemanha da década de 1920, a alta de
preços acompanhou o aumento na emissão de moeda. Nos EUA da década de 1990,
uma taxa de inflação relativamente mais baixa esteve associada a um crescimento
lento da quantidade de moeda.
Para efeito da compreensão do fenômeno inflacionário, é importante
distinguir entre o aumento generalizado e persistente do nível de preços e uma
mudança de preços relativos. No segundo caso, alguns preços sobem ao mesmo
tempo em que alguns preços caem, sem haver necessariamente mudanças nos níveis
de preços. Ocorre, portanto, uma variação relativa de preços, o que é bastante
diferente de inflação.
7.1 Teorias

A inflação é um fenômeno cuja explicação implicou a formulação de


diferentes teorias. Apontamos, em seguida, algumas delas:

a) A inflação como fenômeno monetário.


A chamada Teoria Quantitativa da Moeda descreve a inflação como um
fenômeno meramente monetário. Para a teoria, a relação entre os preços e a
quantidade de moeda pode ser descrita a partir da equação:
MV=PT, onde;

M = Estoque de moeda,
V = Velocidade-renda de circulação da moeda, P = Nível de preços,
T = Quantidade de bens e serviços,
Assim, havendo aumento do estoque de moeda (emissão monetária) em
proporção maior do que o aumento na quantidade produzida de bens e serviços, e
mantida inalterada a velocidade-renda de circulação da moeda, haverá,
necessariamente, aumento do nível de preços.

b) A visão estruturalista
A visão estruturalista entende que a inflação é um fenômeno que reflete
condições estruturais da economia. Assim, problemas relacionados à hiatos de
produto, conflitos distributivos e distorções nos preços relativos seriam responsáveis
pela eclosão de processos inflacionários.

c) Inflação de demanda
A emergência de um processo de alta de preços como resultado de um
descasamento entre oferta e demanda dá origem a essa teoria. A noção aqui é de que
a demanda, premida por um fator exógeno - por exemplo, um aumento de renda
determinado institucionalmente -, pode superar a oferta, pressionando os preços.
A alta do salário mínimo por ocasião da decretação do Plano Cruzado, por
exemplo, pode ser apontada como um dos fatores responsáveis pelo excessivo
aquecimento da demanda à época, o que pressionou os preços, contribuindo para o
fracasso do congelamento de preços.
d) Inflação de custos
A ocorrência de um choque de custos - um aumento abrupto nos preços de
um insumo (o petróleo, por exemplo) que tenha importância estratégica na formação
dos demais preços da economia - pode desencadear uma alta de preços, culminando
na eclosão de um processo inflacionário.
Exemplos de choques de custos, as altas expressivas no preço do
petróleo, em 1973 e em 1979, provocaram aumento da inflação em vários países.

e) Inflação inercial
A presença de mecanismos de indexação de preços e salários na economia é
vista como um fator que pode replicar uma alta de preços ocorrida no passado. Assim,
mecanismos de reajustes automáticos de preços podem se constituir em fatores
reprodutores da alta de preços, contribuindo para a persistência (e aceleração) do
processo inflacionário.
O reajuste mensal de salários, mecanismo em vigor até a instituição do Plano
Real, pode ser apontado como exemplo de dispositivo que replicava a alta de preços
ocorrida no passado, e que contribuía para a manutenção da inflação.

7.2 Políticas de estabilização

7.2.1 Ortodoxas

As políticas ortodoxas de combate à inflação visam, basicamente, atuar


sobre o chamado hiato do produto. A estratégia visa provocar uma recessão na
atividade econômica de modo a que o nível da demanda agregada evolua, ao menos
temporariamente, abaixo do nível da oferta agregada. Busca-se, assim, reduzir a
pressão da demanda sobre os preços. Um dos principais instrumentos utilizados para
isso é a regulação da taxa de juros. Através da fixação de uma taxa de juros elevada,
a autoridade monetária procura desestimular o consumo, desencorajando assim
aumentos de preços.
A condução da política monetária no Brasil no período imediatamente
posterior à implantação do Plano Real é um exemplo de política ortodoxa de
estabilização. Nos meses posteriores a edição do plano, a taxa de juros foi mantida
em níveis muito elevados (em tomo de 20% ao ano), buscando-se inibir o consumo. O
objetivo era barrar movimentos de altas de preços, evitando a volta da inflação.
7.2.2 Heterodoxas

As políticas heterodoxas têm como foco principal eliminar o componente


inercial da inflação. Essas políticas se utilizam basicamente de mecanismos de
desindexação compulsória (como o congelamento de preços) de modo a promover a
eliminação da inércia inflacionária. Outros instrumentos, como tablitas, bloqueio de
ativos financeiros e reformas monetárias também são utilizados.
O Plano Cruzado, cujo arcabouço de medidas incluía o congelamento de
preços e o uso de uma tablita, é um exemplo de política heterodoxa de estabilização.

7.3 Sistema de metas de inflação

O regime de metas de inflação é a estratégia atualmente estabelecida pelo


governo de modo a manter uma política de permanente combate à inflação. Pelo seu
papel central na condução da política econômica nos últimos dez anos, vejamos mais
detidamente os fundamentos que sustentam o arcabouço do regime de metas de
inflação.
O modus operandi do regime se caracteriza, basicamente, pela presença
de três elementos.
1) O regime de IT (inflation targeting) é um modelo de política
macroeconômica em que a autoridade monetária reconhece que a estabilidade de
preços é o principal objetivo de longo prazo da política monetária. Anúncios públicos
de metas de inflação são divulgados, servindo como principais referências de
condução dessa política.
Credibilidade, flexibilidade e legitimidade são atributos que devem,
necessariamente, estar presentes na estruturação do regime de IT. A credibilidade é
um atributo essencial, pois a estrutura do regime deve sinalizar confiança para os
agentes econômicos, pois, não havendo confiança, os agentes não considerarão as
metas na composição das suas expectativas, o que poderá comprometer o alcance
das metas. A flexibilidade é imprescindível, pois a estrutura do regime deve permitir à
política monetária uma ação preventiva, e, assim, evitar choques não previstos.
Havendo rigidez na política, choques adversos não poderão ser considerados na
formulação das metas. Por fim, a legitimidade é necessária, pois ela é capaz de fazer
com que a política monetária possa ser mantida mesmo diante de eventuais pressões
contrárias.
2) o regime de IT, o principal instrumento da política macroeconômica é a
política monetária. A política fiscal não é reputada como um instrumento
macroeconômico eficiente, pois a política monetária é vista como a política dominante,
conduzindo a uma subordinação da política fiscal.
3) A política monetária deve ser conduzida por um banco central
independente.
Através de uma operacionalização independente da política monetária
evitam-se as chamadas inconsistências intertemporais.
Com relação à estrutura operacional do regime de IT, também há
importantes aspectos a considerar. Primeiramente, sobressai a questão da definição
das metas de inflação. A autoridade monetária deve estabelecer uma meta pontual, ou
um intervalo de valores, e definir um período de tempo durante o qual a meta deve ser
alcançada.
Em segundo lugar, o horizonte da meta deve, necessariamente,
corresponder ao horizonte de controle da política monetária. Por isso deve ser levado
em consideração o hiato temporal entre a tomada de decisão e a geração de efeitos
da política.
O terceiro aspecto a considerar é que a escolha de uma faixa, ao invés de
um ponto, para as metas, proporciona maior flexibilidade, tanto em termos de
estabilidade do produto como em termos de acomodação frente à grandes flutuações
do câmbio.
Um quarto aspecto diz respeito ao fato de que o regime também pede a
definição de um modelo que forneça informações sobre a inflação futura, isto é, a
previsão da inflação é uma peça importante na engrenagem do regime.
Essa discussão remete à outro importante aspecto operacional, e que se
refere à questão das leis monetárias. De acordo com a regra de Taylor, os bancos
centrais devem "sobre-reagir" à eventuais sinais de desvio da inflação com relação às
metas propostas. Segundo a regra, os bancos centrais devem reagir a um aumento da
inflação esperada através de um aumento na taxa de juros nominal em proporção
superior ao aumento da inflação esperada. A expectativa é de isso provoque um
avanço na taxa de juros real, ajudando a debelar a inflação.

A taxa de juros é vista, portanto, como o principal instrumento de política


monetária. É através da regulação da taxa de juros que a autoridade monetária
consegue impactar a demanda agregada, buscando, assim, afetar o movimento dos
preços.
8. Finanças Internacionais

8.1 Balanço de Pagamentos


O balanço de pagamento é a ferramenta que contabiliza as operações de
entrada e saída de divisas de um país em relação ao resto do mundo. O balanço é
constituído de quatro grandes contas: balança comercial, balança de serviços,
transferências unilaterais e movimento de capital ou conta de capital.

8.1.1 Balança comercial


A Balança Comercial é o instrumento de registro das operações de
importação e de exportação de mercadorias de um país, por período de tempo. Ela
indica os valores relativos as transações comerciais entre o país e o exterior.
Superávits comerciais indicam que as exportações superam as importações. Déficits
comerciais indicam que a importações superam as exportações.

8.1.2 Balança de serviços


A Balança de Serviços compreende um conjunto de contas que não se
referem ao trânsito de mercadorias, mas, basicamente, a contas de natureza
financeira. As principais contas são da Balança de Serviços são: transportes, seguros,
viagens internacionais, royalties (corno pagamento pelo uso de marcas e patentes),
despesas administrativas, aluguel, projetos, rendas de capitais (juros, lucros e
dividendos).
A legislação brasileira, acompanhando uma tendência internacional,
permite que as empresas instaladas no Brasil que possuem matriz no exterior façam
transferências de lucros, quando dispõem de capital fechado, e dividendos, quando
operam com capital aberto (Silva, 2002). Essa regra tem por objetivo estimular a
atração de capitais para investimentos produtivos no Brasil.

A conta “juros” refere-se à parcela de juros que incide sobre o estoque de


empréstimos e financiamentos realizados no exterior. No caso do Brasil, esta conta,
tem apresentado uma tradição de resultados negativos, assim como todas as demais
contas de serviço (Silva, 2002).
8.1.3 Transferências unilaterais
Na conta Transferências Unilaterais são registradas todas as
transferências que não envolvem contrapartida de mercadorias ou serviço, como, por
exemplo, remessas de emigrantes, bolsas de estudos pagas para estudantes que
realizam cursos no exterior, doações a organizações e despesas do governo com
embaixadas no exterior.

8.1.4 Conta de capital

Na Conta de Capital, onde são registrados os investimentos de longo


prazo ou capital de risco, empréstimos, financiamentos e amortizações recebidas,
menos os valores enviados ao exterior em operações da mesma natureza das
supracitadas.
A obtenção de superávit na conta de capital deve ser analisada com
atenção, dado que no futuro os recursos recebidos terão que ser devolvidos (caso dos
empréstimos e financiamentos), ou parcialmente repatriado (caso dos investimentos
onde ocorre a possibilidade de remessa de lucros e dividendos à matriz no exterior).
A conta de capital registra as operações anuais. O estoque de dívida
acumulada de exercícios anteriores, quando existente, recebe registro na autoridade
monetária. É sobre este estoque que incidem os juros pagos na conta "renda de
capitais" do balanço de serviços.

8.2 Sistemas monetários internacionais

8.2.1 Padrão-ouro

Na sua forma ortodoxa, o padrão ouro consiste no estabelecimento, pelo Banco


Central, de uma relação fixa entre a quantidade de ouro em mãos do governo e o valor
de moeda em circulação. O modelo mais usado na descrição do mecanismo do
padrão ouro ainda é o modelo de fluxo de moedas metálicas, de D. Hume (séc. XVIII).
O modelo se baseia em um sistema onde circulariam apenas moedas de ouro. Sob tal
sistema, superávits e déficits nos balanços de pagamentos (BP) implicariam na
transferência de moedas entre os países, impactando os preços internos e conduzindo
a um reequilíbrio do BP.
No sistema de padrão ouro em que circulasse papel-moeda, os fluxos de ouro
também financiariam os desequilíbrios nos BPs de cada país. Se houvesse déficit no
BP de um país, este deveria exportar ouro. Se um país tivesse superávit no seu BP,
ele deveria importar ouro. A importação de ouro levaria o país a expandir a sua base
monetária, acarretando um aumento de preços e uma perda de competitividade de
seus produtos, o que o tornaria deficitário. Analogamente, a exportação de ouro levaria
o país a contrair sua base monetária, acarretando uma baixa nos seus preços e um
aumento na competitividade dos seus produtos, o que o tornaria superavitário.

8.2.2 Padrão-dólar

O padrão-dólar viria a substituir o padrão-ouro a partir do estabelecimento


do Acordo de Bretton Woods (1944). O novo padrão consistia na fixação do valor do
dólar em US$ 35 a onça-troy de ouro. As demais regras seriam as seguintes:

- Paridade fixa das demais moedas em relação ao dólar: poderia haver variação de até
+/- 1 % em relação ao dólar
- Variação cambial até 10%: deveriam ser previamente comunicadas ao FMI
- Variação cambial > 10%: deveriam ser previamente autorizadas pelo FM

8.2.3 O sistema de taxas flutuantes


A partir dos persistentes déficits comerciais dos EUA, na década de 1960,
e com a eclosão da crise do petróleo, em 1973, o dólar passou a sofrer forte pressão
vendedora nos mercados cambiais. Movimentos especulativos levaram a uma
desvalorização da moeda norte-americana em 1973/1974, de cerca de 10%. Em vista
de um quadro de volatilidade que ameaçava as reservas norte-americanas de ouro, o
governo norte-americano decidiu, em 1973, suspender a conversibilidade do dólar. A
partir daquela data, a cotação das moedas dependeria de um sistema de taxas
flutuantes, isto é, as forças de mercado passariam a definir livremente a cotação das
taxas de câmbio dos países.
A despeito de uma maior liberdade monetária, a livre flutuação das taxas
de câmbio passou a gerar um aumento na volatilidade dos ativos negociados
internacionalmente. Essa maior volatilidade ampliou o risco embutido nas transações
que incluíam compromissos cambiais, elevando o grau de incerteza dos agentes
econômicos - países e empresas - envolvidos em transações internacionais. Maior
incerteza e maior risco se constituíram, assim, nas principais consequências do novo
regime cambial.

8.3 Os regimes cambiais

A taxa cambial pode ser determinada, basicamente, de duas maneiras. A


primeira delas consiste na adoção de um regime de câmbio fixo, no qual o banco
central mantém a taxa do câmbio em um patamar previamente definido. Isso é
conseguido por meio da administração das reservas internacionais. O governo utiliza
divisas para estabelecer a cotação escolhida. A segunda maneira consiste na adoção
de um regime de câmbio flutuante, caso em que o mercado determina a taxa de
câmbio, através da oferta e demanda por divisas. Regimes intermediários combinam
elementos dos dois casos extremos.

8.3.1 A classificação dos regimes cambiais segundo o FMI

Abaixo estão descritos os principais regimes cambiais, apresentados de


acordo com a classificação do FMI, em ordem decrescente de rigidez monetária.

8.3.1.1 União monetária


As uniões monetárias são as formações de blocos que utilizam a mesma
moeda como meio de pagamento, unidade de medida e reserva de valor, mantendo
uma autoridade monetária centralizada, um banco central regional, como é o caso da
União Europeia.

8.3.1.2 Dolarização
A dolarização ocorre quando os residentes de um país utilizam de forma
extensiva o dólar em detrimento da moeda nacional. A dolarização pode ser dividida
em extra-oficial, em que os indivíduos mantêm depósitos bancários ou títulos em
moeda estrangeira para proteger-se das oscilações da moeda doméstica; em
dolarização semioficial na qual há duas moedas de curso legal dentro do país; e em
dolarização oficial na qual o governo adota a moeda estrangeira (dólar) como moeda
oficial e de curso legal.
8.3.1.3 Currency Board

O arranjo do tipo currency board é um compromisso para ofertar ou


demandar moeda a uma taxa de câmbio fixa. Isso acarreta que as reservas
monetárias devem ser iguais ao total de moeda em circulação na economia. Sob esse
regime, a política monetária é inteiramente subordinada ao regime de taxa de câmbio;
e os aumentos ou reduções na oferta de moeda são determinados pelo câmbio
estrangeiro. O compromisso do arranjo cambial de currency board deve ser crível, pois
o país deve ser capaz de converter a moeda doméstica na moeda externa, devendo
submeter a sua política monetária à quantidade de reservas internacionais que o país
possui.

8.3.1.4 Fixo convencional


Neste caso, o Banco Central vende e compra moeda estrangeira, de forma
a manter uma dada taxa de câmbio. A taxa a ser mantida deve ser aquela anunciada
pelo próprio Banco Central. Neste sistema o banco central se compromete a ofertar
moeda ao nível que assegure que a taxa de câmbio de equilíbrio se igualará à taxa de
câmbio anunciada. Isso significa que a oferta de moeda se ajustará automaticamente,
ao nível necessário que garanta o equilíbrio. Por causa disso diz se que a política
monetária torna-se passiva.

8.3.1.5 Bandas cambiais


O regime de bandas cambiais é caracterizado como um regime de
ancoragem, dotado de uma faixa de variação cambial estreita. As bandas são
ajustáveis, porém as autoridades só podem intervir na taxa de câmbio dentro de uma
faixa de variação muito pequena. Um exemplo desse regime é o sistema que foi
adotado no âmbito do Acordo de Bretton-Woods, que vigorou de 1944 a 1973. Neste o
regime cambial as taxas de câmbio eram fixas, porém com uma faixa de variação de
mais ou menos 1 %, até 1971, e mais ou menos 2,25% até 1973.

8.3.1.6 Flutuação Administrada


Este tipo de regime é também conhecido como flutuação suja. Podemos
dizer que esse regime foi adotado pelos países industrializado a partir da dissolução
do Sistema Monetário de Bretton Woods. Neste regime as autoridades
governamentais podem intervir para prevenir agudas flutuações de curto prazo.
Ocorrem intervenções no mercado cambial de forma esporádica e não anunciada.

8.3.1.7 Flutuação pura


O regime de taxas de câmbio flutuantes é aquele que não utiliza nenhuma
política cambial. A defesa desse regime é influenciada por Milton Friedman, segundo o
qual, dada a intensidade de mudanças nas transações internacionais, tanto por meio
de choques reais como nominais, é fundamental a adoção de regimes de taxas de
câmbio flexíveis. A liberdade cambial permitiria ao mercado traduzir, através dos sinais
emitidos pelos preços, as reais condições de oferta e demanda. Decorrência disso é a
ausência do governo do mercado cambial.

8.4 Crises cambiais

No início de 1997, o processo de liberalização comercial e financeira global


havia elevado à níveis sem precedentes os volumes de capital envolvidos no comércio
internacional e nas transferências financeiras entre países. Desde o início da década
de 1990, com a liberalização das contas de capital dos países asiáticos, capitais
financeiros passaram a migrar para as chamadas economias asiáticas emergentes,
aproveitando os diferenciais de taxas de juros entre as economias desenvolvidas e
aquelas primeiras. Em vista de uma taxa de câmbio claramente desvalorizada nos
países asiáticos, e do fato de esses países manterem, em sua maioria, regimes de
câmbio controlado, aqueles capitais se aproveitaram do menor risco cambial
representado por essa condição, investindo em títulos financeiros de curto prazo
nesses países, e também em seus mercados acionários. Em 1996, os fluxos de capital
para a Ásia alcançaram um ingresso de US$ 96 bilhões.
Não obstante a manutenção de um regime de câmbio controlado, os
índices de preços desses países acumularam variações positivas relativamente
maiores do que aquelas verificadas nos EUA e nos países europeus, principalmente
no período 1995-97. O efeito mais evidente desse movimento foi uma persistente
valorização das moedas dos países do Sudeste Asiático, com reflexo sobre a balança
comercial desses países. Em função disso, déficits em conta corrente da ordem de até
12% do PIB se tornaram frequentes, passando a ser financiados via conta de capital.
Frente a esse contexto de vulnerabilidade financeira externa, o fluxo de capitais se
inverteu, em 1997, mudando para uma forte saída. No biênio 1997-1998, a evasão na
Coréia do Sul foi de US$ 49 bilhões, na Tailândia, de US$ 27 bilhões, e na Indonésia,
de US$ 28 bilhões.
Diante dessa brusca inversão nos fluxos de capital, as autoridades
monetárias desses países se defrontaram com a necessidade de vender reservas, de
modo a manter a paridade cambial.

Dado o insucesso da tentativa, que drenou boa parte das reservas desses países, a
alternativa foi a adoção de um regime de câmbio flutuante. Essa opção, no entanto,
acarretaria em acentuada desvalorização da moeda desses países, bem corno em
drástica retração nos preços dos ativos negociados nos mercados acionários.

O resultado da fuga de capitais, em quase todos os países da região, foi,


além da desvalorização cambial, uma forte queda do PIB. Coréia do Sul, Tailândia e
Indonésia recorreram ao auxílio do FMI, e tiveram que adotar políticas
macroeconômicas fortemente contracionistas. Como consequência da saída de
capitais, uma crise de crédito se estabeleceu nos países da região, reduzindo a
atividade produtiva, restringindo os investimentos e comprometendo a continuidade do
crescimento.

Guardadas as devidas particularidades de cada caso, Rússia (1998), Brasil


(1999), e Argentina (2001) também viriam a sofrer corridas cambiais que tiveram
origem nos mesmos esquemas especulativos que haviam produzido estragos nos
mercados asiáticos. O desfecho da crise nesses países também foi uma forte
desvalorização cambial.
Bibliografia

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