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por
Wagner Campana
Wagner Campana
Dezembro de 2008
II
APLICAÇÃO DO CONCEITO DE LEAN MANUFACTURING
PARA DESENVOLVIMENTO DE CÉLULA PARA MONTAR
MECANISMO LIMPADOR DE PARA-BRISA
Wagner Campana
III
A vida não é uma peça de teatro que permite
ensaios, por isso cante, dance, ria, chore e viva
intensamente cada momento de sua vida...antes
que a cortina se feche e a peça termine sem
aplausos.
(Charles Chaplin)
IV
SUMÁRIO
V
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
JIT Just-in-time
MP Manutenção Periódica
PETG Policarbonato
IT Instrução de Trabalho
VI
LISTA DE FIGURAS
VII
RESUMO
VIII
ABSTRACT
IX
1. INTRODUÇÃO
1
1.1 Organização Lean (enxuta)
O termo "lean" foi originalmente tirado do livro "A Máquina que Mudou o
Mundo" (The Machine that Changed the World) de (Womack e Jones, 1992).
Trata-se de um abrangente estudo sobre a indústria automobilística mundial
realizada pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology). A produção lean
elevou também a competitividade de muitas empresas de manufatura e o valor
que elas entregam aos seus clientes. Mais do que isso, notícias estimulantes
surgem de todas as empresas que abraçaram os fundamentos lean e os dirigem
para áreas não produtivas, como desenvolvimento de produtos, compras,
logística e engenharia.
2
A figura 1 mostra a distribuição de tempo para os tipos de atividade em
uma Organização de Manufatura Lean e na figura 2 é possível ver a
distribuição de tempo para os tipos de atividade em uma Organização de
Serviços.
3
extremamente habilidosas na produção de certos bens, e passaram a produzir
conforme solicitação e especificações apresentadas por terceiros. Surgiam
então os primeiros artesãos e a primeira forma de produção organizada, já que
os artesãos estabeleciam prazos de entrega, consequentemente estabelecendo
prioridades, atendiam especificações preestabelecidas e fixavam preços para
suas encomendas. A produção artesanal também evoluiu. Os artesãos, em face
do grande número de encomendas, começaram a contratar ajudantes, que
inicialmente faziam apenas os trabalhos mais grosseiros e de menor
responsabilidade. À medida que aprendiam o ofício, entretanto, esses ajudantes
se tornavam novos artesãos. A produção artesanal começou a entrar em
decadência com o advento da Revolução Industrial. Com a descoberta da
máquina a vapor em 1764 por James Watt, teve início o processo de
substituição da força humana pela força da máquina. Os artesãos, que até então
trabalhavam em suas próprias oficinas, começaram a ser agrupado nas
primeiras fábricas. Essa verdadeira revolução na maneira como os produtos
eram fabricados trouxe consigo algumas exigências, entre as quais:
Muitos dos conceitos que hoje parecem óbvio não eram na época, como o
conceito de padronização de componentes introduzido por Eli Whitney em 1790,
quando conduziu a produção de mosquetões com peças intercambiáveis,
fornecendo uma grande vantagem operacional aos exércitos. Teve início o
registro, através de desenhos e croquis, dos produtos e processos fabris,
surgindo a função de projeto de produto, de processos, de instalações, de
equipamentos etc. No fim do século XIX surgiram nos Estados Unidos os
trabalhos de Frederick W. Taylor, considerado o pai da Administração científica.
4
E com os trabalhos de Taylor surge a sistematização do conceito de
produtividade, isto é, a procura incessante por melhores métodos de trabalho e
processos de produção, com o objetivo de se obter melhoria da produtividade
com o menor custo possível. Essa procura ainda hoje é o tema central em todas
as empresas, mudando-se apenas as técnicas utilizadas. A análise da relação
entre a saída (output), em outros termos, uma medida quantitativa do que foi
produzido, como quantidade ou valor das receitas provenientes da venda dos
produtos ou serviços finais, e a entrada (input), em outros termos, uma medida
quantitativa dos insumos, como quantidade ou valor das matérias-primas, mão-
de-obra, energia elétrica, capital, instalações prediais etc, permite quantificar a
produtividade, que sempre foi o grande indicador do sucesso ou fracasso das
empresas (Laugeni, 2006).
• Linha de montagem;
• Posto de trabalho;
• Estoques intermediários;
• Monotonia do trabalho;
• Arranjo físico;
• Balanceamento de linha;
• Produtos em processo;
• Motivação;
• Sindicatos;
5
• Manutenção preventiva;
• Fluxogramas de processos.
• Just-in-time;
• Engenharia simultânea;
• Tecnologia de grupo;
• Consórcio modular;
• Células de produção;
6
Manufacturing onde todos os setores são separados dificultando a comunicação,
como mostra a figura 3.
7
1.3 Estabilidade básica para sustentar a implementação do
sistema de Manufatura Enxuta ou Lean Manufacturing
1.3.1 Os 4M’s.
8
Métodos de Trabalho e Relações do Trabalho (Hall, 1988). Cada componente
era um curso de dez horas que ensinava habilidades práticas de supervisão.
A Instrução de Trabalho ensinava aos supervisores como planejar os
recursos corretos que precisariam na produção, como desdobrar as tarefas e
como ensinar às pessoas de maneira segura, correta e consciente. Os Métodos
de Trabalho ensinavam como analisar tarefas e como fazer melhorias simples
dentro do seu domínio de controle.
Máquinas: Não são necessários equipamentos com disponibilidades
perfeitas, mas é preciso conhecer a demanda dos clientes, a capacidade do
processo e a média real de produção.
Com a implantação do conceito de Manufatura Enxuta ou Lean
Manufacturing, tem que se acompanhar os indicadores para medir o verdadeiro
potencial de produção de um processo durante um turno típico. Se existe
capacidade teórica, assim como uma capacidade demonstrada para suprir a
demanda, então não há problemas. Instabilidades relacionadas a máquinas
ocorrem apenas quando não há capacidade de produção demonstrada para
suprir a demanda.
Materiais: Em geral, o objetivo lean é reduzir o desperdício e
diminuir o tempo compreendido entre o recebimento de um pedido até sua
entrega. Normalmente, isto requer a redução dos estoques no fluxo de valor. Se
existe instabilidade básica, entretanto, talvez seja necessário aumentar um
pouco os estoques em determinados pontos do fluxo de valor, quando for o
caso.
O motivo é que em alguns processos se pode fazer fluxo de uma
peça ou de pequenos lotes. Porém, para um processo em grandes lotes, uma
quantidade de peças em estoque é necessária para cobrir o tempo em que
outras peças estão rodando ou ferramentas estão sendo trocadas.
Métodos: Para se obter a estabilidade básica precisa-se de métodos
"padrão" para a manufatura. O ponto chave deste indicador é a definição do que
é um "padrão". A definição normal de padrão é uma regra ou método definido
para se fazer qualquer tipo de coisas.
9
2. EMBASAMENTO TEÓRICO
30%
10%
Figura 5 – Círculo de movimentos dos operadores (Eaton, 1998)
10
2.1.1 Os principais tipos de desperdício (mudas).
Não qualidade;
Excesso de produção;
Espera;
Transportes;
Estoques;
Movimentos desnecessários;
Excesso de processo.
Não Qualidade: pode-se dizer que este item está entre os piores fatores de
desperdício, pois os mesmos podem gerar retrabalho, custo de recuperação ou
mesmo a perda total do esforço e material. Outro ponto importante a ser
considerado é o elevadíssimo risco de perder clientes. Os produtos devem ser
manufaturados de forma correta, logo na primeira vez; caso contrário, serão
adicionadas tarefas desnecessárias para sua finalização, dentre as quais pode-
se citar energia, tempo de equipamento, mão-de-obra e outros que
acrescentarão custos desnecessários para a correção do defeito encontrado.
Muitas vezes um problema é corrigido, porém não tem sua "causa raiz"
devidamente eliminada, o que significa a possibilidade de problemas futuros
dentro da própria planta, com operações subseqüentes, assim como risco de
falhas no cliente final, o que ocasionaria maior risco de perdas. Essa é a razão
pela qual esse desperdício deve ser tratado com elevado grau de importância.
11
problemas de qualidade, longos tempos de preparação de máquina para troca
de produtos e falta de confiabilidade de equipamentos.
• Falta de componentes;
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• Excesso de trocas;
• Intervenções externas.
• Falta de organização;
• Retornos vazios.
• Falta de abastecimento;
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• Segurança;
• Lotes incompletos.
• Ajustes desnecessários;
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• Movimentos técnicos em excesso (Posicionar, segurar, ferramentas que
chegam a parte, expulsão de peças, gavetas ou o pegar e colocar de
produto).
• Falta de Capacidades;
• Retrabalho;
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2.2 Sistema Enxuto (Lean System)
16
1 Eliminar
SEIRI
2 Arrumar
5 Respeitar
SEITON
SHITSUKE
4 Padronizar 3 Limpar
SEIKETSU
SEISO
A prática dessa fase deve ser feita por meio da escolha de um local de
trabalho para uma experiência de descarte. Fotos devem ser tiradas, com a
finalidade de se caracterizar a condição encontrada, antes da implementação da
sistemática, e um grupo deve ser devidamente instruído, no que diz respeito às
responsabilidades para a execução das atividades. Tudo o que fizer parte do
ambiente deve ser analisado e, o que for considerado como desnecessário,
deverá ser devidamente identificado e ter um destino, como descarte, alocação
em outro setor, conserto ou venda (Valeo, 2002). É importante que, antes do
descarte, pessoas de outro setor sejam convidadas a avaliar o material, pois
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pode haver alguma coisa de seu interesse. A figura 7 mostra um ambiente
desorganizado tudo fora do lugar ou seja, está na hora de fazer eliminação do
que não é necessário.
Seiton - (Arrumar) - cada coisa tem o seu único e exclusivo lugar. Cada
coisa, após ser usada, deve estar em seu lugar. Tudo deve estar sempre
disponível e próximo do local de trabalho, o qual deve ter tudo o que é
necessário, na quantidade certa, na qualidade certa, na hora e no lugar certo, o
que propiciará vantagens no ambiente de trabalho. A figura 8 mostra que nesta
fase está na hora de demarcar as áreas a serem arrumadas.
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Seiso - (Limpar) - todos devem estar conscientes da importância de estar
em um ambiente limpo e da necessidade de manter essa limpeza. Dentre as
vantagens de se trabalhar em ambientes de trabalho limpos são citadas:
19
Figura 10- Ambiente na fase4 padronizar “Seiketsu”.(Valeo 2002)
20
2.4 Just-In-Time - JIT
• Zero defeito;
• Estoque zero;
• Movimentação zero;
• Quebra zero;
O lay out do processo das linhas de produção deve ser em celulas tipo
“U”, dividindo-se os componentes produzidos em famílias, o que promove maior
produtividade.
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O planejamento da produção deve garantir uma carga de trabalho diária
estável, que possibilite o estabelecimento de um fluxo contínuo de material. O
sistema de programação e controle de produção está baseado no uso de
cartões (Kanban), para a transmissão de informações entre os centros
produtivos.
critérios competitivos:
22
projeto adequado à montagem, permite, em muitos casos, entregar os produtos
em prazos mais curtos.
23
O WCM visa à eliminação das causas das quebras e dos defeitos, para
evitar surpresas desagradáveis na hora de produzir. Aumenta a eficácia dos
equipamentos com a participação de todos os funcionários. Baseado no
comportamento humano e no aumento da disponibilidade.
24
O objetivo do pilar de melhoria focada é: Reduzir o nº de quebras e
aumentar a eficiência global do equipamento, como mostra a figura 14 os 6
passos do pilar de melhoria focada.
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O pilar da Manutenção da Qualidade: irá sustentar as mudanças e
focar zero defeito. Seu principal foco é “ZERO DEFEITO”.
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O pilar de “Supply Chain” é responsável por controlar toda a cadeia de
fornecimento tanto de peças e serviços para a manufatura como de matéria-
prima utilizada na produção ou de qualquer outro componente suplementar. É
neste pilar onde trabalha fortemente a redução dos custos de fornecimento.
27
3. EXEMPLO PRÁTICO
• apresentação do produto;
28
Qualidade: apresentar indíce de PPM (partes por milhão) da linha atual.
29
3.3 Linha de mecanismo antes da implantação do Sistema Lean.
• três operadores;
• três postos;
• área de 24m².
30
3.4 Definição do fluxo de processo.
31
FLUXO DE PROCESSO DA OPERAÇÃO DO 2º POSTO
32
FLUXO DE PROCESSO DA OPERAÇÃO DO 3º POSTO
Como podemos verificar nos fluxos dos três postos, temos poucas
atividades que geram valor agregado ao produto, num total de 6 etapas que
geram valor agregado somando-se os três postos. Também podemos
verificar que nos postos 1 e 3 o operador fica parado aguardando enquanto o
posto realiza a operação automática (T.M.A.). Outro detalhe importanto a ser
levantado é que temos estoques de peças entre os postos (bandeja de sub-
conjuntos acabados). Conforme verificado, o posto 2 é o gargalo da linha,
sendo assim acabamos tendo acúmulo de peças entre os postos 1 e 2,
enquanto que o posto 3 fica parado aguardando peças vindas do posto 2.
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No intuito de manter o fluxo peça-a-peça e reduzir o número de
operações que não agregam valor, decidiu-se que os operadores deveriam
acompanhar o produto até o final da sua montagem, ou seja, ao invés de
ficarem parados nos postos, eles iriam passar por todos os postos
acompanhando o produto até que estivesse pronto. Com isso o fluxo de
processo proposto ficou da seguinte forma:
CONTINUA
34
CONTINUAÇÃO
3 Final da operação
ma
m
Materiais MOD Depreciação Outros custos ar
Fase 2 ge
m
m
Materiais MOD Depreciação Outros ar
Fase 3 Implantação do Lean ge
custos m
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Qualidade: Inicialmente neste indicador foi possível identificar se o novo
conceito de produção Lean Manufacturing, pode afetar diretamente a
qualidade do produto, e também alguns critérios foram definidos:
• cada defeito deve ser agregado na máquina onde ele foi criado;
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Eficiência: O indíce de parada da atual linha de montagem de
mecanismos é muito alto devido a muitas micro-paradas e paradas
constantes para manutenção, fazendo com que a linha chegue a ter uma
ineficiência de 25%, ou seja, dentro de um turno de 8 horas de trabalho, a
linha fica parada o equivalente a duas horas, que seriam suficientes para
produzir aproximadamente 192 mecanismos.
1500pçs x 37,5s
TRS = X 100 = 65.10%
24 x 3600
Paradas Programadas:
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Exemplo: cálculo do TRP de uma linha que fabricou 1500 peças boas em
12 horas de produção, com uma parada programada de 1 hora para
refeição e com uma cadência calculada de 150 peças/hora.
1500pçs x 24 seg
TRP = X 100 = 90,9%
12 horas de produção – 1 hora de refeição X 3600
Micro paradas
Quebra Quebra
Temp
Tempo de funcionamento
MTBF =
Número de paradas
Figura 22 - Localização do MTBF, entre uma quebra e micro parada
(Eaton, 1998).
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Micro paradas
Quebra Quebra
Temp
Tipos de paradas:
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• Todos os postos devem possuir IHM para indicar, dentre outras coisas, o
motivo da parada;
• Todos os armários elétricos devem possuir uma tomada na sua porta com
a indicação da voltagem;
• Todos os finais de curso dos cilíndros pneumáticos devem ser com fusos
de ajuste fino e amortecedores hidráulicos;
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3.6 Construção do Mock-up (modelo para teste):
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Pelo fato dos Mock-up’s serem feitos de papelão e serem construídos
para uma análise preliminar do processo, durante a simulação de montagem
dos produto, ele pode ser alterado conforme a necessidade. Algumas regras
para a construção dos Mock-up’s são:
• Ter uma área igual ou maior a que a célula será montada para realização
das simulações;
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Figura 26 - Mock-up do posto 2 concluído (Valeo 2007)
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Após as simulações realizadas nos mock up’s, verificou-se a possibilidade
de chegar a uma produção de aproximadamente 60 peças/hora com 1 operador ou
120 peças/hora com 2 operadores. Podemos considerar que teremos inicialmente
18,7 horas da produção, sendo que das 24 horas do dia, 2 horas são para as
refeições do 1º, 2º e 3º turno (40 minutos cada refeição) e uma eficiência de
aproximadamente 85% (reuniões, limpeza, ginástica laboral, período de
aprendizagem dos operadores, etc).
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4. RESULTADOS OBTIDOS APÓS A IMPLEMENTAÇÃO DO LEAN
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Com esse novo conceito de célula de montagem, o tempo operacional
padrão (TOP) reduziu de 112,5s para 60s, tendo redução de 46,7%. Conseguiu-
se também, com a adequação dos novos postos e a implantação de IHM’s,
reduzir o tempo de troca de série (Set-up), que reduziu para 5 minutos, não
precisando mais ajustar os dispositvos a cada troca de referência como era
realizado na antiga linha de montagem.
Se levarmos em conta a produção de peças/hora/operador, vemos que a
evolução foi de 32 peças/hora/operador (na linha de montagem) para 60
peças/hora/operador (na célula de montagem), o que representa uma elevação
de 87,5% na produtividade
Na figura 29 podemos ver a nova disposição dos postos em “U”, formando
uma célula de montagem. O corredor interno formado pela disposição dos postos
tem 1,25m de largura e a distância de centro-a-centro entre os postos é de no
máximo 1 metro. Tudo isso para possibilitar ao operador alcançar todos os postos
com o mínimo de movimentação possível.
Posto 2
Abastecedor Tambor
de graxa
Unidade hidráulica
Painel
elétrico
Abastecedor Op. 1
Abastecedor
Abastecedor
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De acordo com a capacidade produtiva verificada de 60
peças/hora/operador e considerando que podemos utilizar até 3 turnos da célula
de montagem com até dois operadores por turno, podemos ter uma variação de
até seis diferentes capacidades produtivas (takt times) por dia , variando apenas a
quantidade de operadores e de turnos, conforme tabela abaixo.
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Bibliografia
WOMACK, J P; JONES, D. T., A máquina que mudou o mundo. 2. ed. Rio de
Janeiro: Campus, 1992.
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