Você está na página 1de 1

B(4'*4;)4(2 3=(-',-';==

!"#í$"%&'()"*"+

!"##"$ %&'!"##"$()*

!"#$%&'()ç*+,-*')./)-*0+1
2*'1+341#'(-1+5*
4*6*5/)-*7

+,-í.,/*'01,2," 3.4'567'86&9 · &9':,-')(;2

Texto originalmente postado no meu blog,


Hryun, no dia 01/04/2010.

Tendo como pano de fundo a cena macabra da


violência no Brasil, os meios de comunicação
de massa começaram a divulgar, no dia 30 de
outubro de 2006, uma segunda-feira, a história
de uma mãe assassina, logo tachada de
“monstro da mamadeira”. Mas desde o início
era possível perceber, nas entrelinhas das
notícias, que algo não era coerente nesta
história.

Setores da mídia, da polícia civil, do Ministério


Público, da Justiça e, neste caso, do corpo
médico de um hospital e de um pronto-socorro
literalmente “jogaram a mãe às feras”. Isto é,
com estardalhaço, promoveram na mídia uma
campanha pela sua condenação a priori por ter
matado a filha com uma overdose de cocaína
na mamadeira e “soltaram-na” em uma cadeia
feminina, a Cadeia Pública de
Pindamonhagaba, praticamente incentivando e
promovendo os atos de espancamento das
outras presas. Insufladas por programas
sensacionalistas de televisão e de rádio a
ficarem indignadas com o suposto crime, as
presas jogaram-se contra o “bicho da
mamadeira”, uma vingança cega que costuma
acontecer, tolerada, quando não promovida
pelas autoridades. O resultado era previsível e
era isso que pretendiam estes setores ligados
direta ou indiretamente ao Estado. Mais tarde,
quando pôde falar aos jornalistas, a mãe
contou que enfiaram uma caneta pela metade
no seu ouvido e espancaram-na por horas, sem
que as autoridades da prisão fizessem alguma
coisa para estancar esta selvageria, causando
danos irreversíveis aos ouvidos, à capacidade
de visão e fratura do maxilar da mãe acusada.
Tudo aconteceu como se fosse um complô
orquestrado por vários setores institucionais
contra uma pobre moça, mãe solteira.

A história aconteceu com Daniele Toledo do


Prado, então com 21 anos, mãe de duas
crianças, moradora da cidade de Taubaté
(interior do Estado de São Paulo). Ela estudou
até completar o segundo grau, foi recepcionista
em um consultório de psicóloga e atendente do
Pronto-Atendimento de Tremembé, mas parou
de trabalhar por causa dos problemas de saúde
de sua filha menor, que tendo nascido
prematura, sempre teve convulsões e desmaios.
Morava com o pai, a mãe, dois irmãos de 17 e
19 anos e os dois filhos, mas tinha planos de
casamento com o pai do filho mais velho, de 3
anos.

Em 30 de setembro de 2006 ela internou sua


filha menor, Victória Maria Iori Carvalho, de 1
ano e 3 meses, no Hospital Universitário de
Taubaté (da UNITAU, universidade privada),
com sintomas de convulsões e vômito. No dia 8
de outubro, com sua filha ainda internada,
Daniele foi estuprada dentro do hospital por
um médico residente, estudante do 5º ano de
medicina dessa instituição, cujo nome as
notícias da imprensa nunca revelaram.
Segundo o relato de Daniele, sua filha teria
sido ameaçada caso ela não consentisse em ter
relações sexuais.

No dia seguinte ao estupro, 9 de outubro,


Daniele fez a denúncia do caso na Delegacia de
Investigações Gerais (DIG), de Taubaté. O
delegado titular, Paulo Roberto Rodrigues,
ficou responsável pelas investigações do caso.
Daniele prestou depoimento e reconheceu o
estudante de medicina através de uma
fotografia. Este também prestou depoimento
no dia 16 de outubro e negou veementemente
ter mantido qualquer tipo de relação com
Daniele. A Universidade divulgou uma nota à
imprensa sobre o caso, informando ter aberto
uma sindicância. No processo de investigação,
a polícia recolheu amostra do sêmen do
estudante para realizar um exame de DNA,
informou que o exame seria enviado para São
Paulo, e que possivelmente seu resultado sairia
no final da primeira quinzena de novembro de
2006. Daniele, seguindo as orientações das
autoridades policiais, fez exame de corpo de
delito no IML (Instituto Médico Legal), que
confirmou o estupro.

Mas o enredo da cocaína começou, na verdade,


bem antes da morte de Victória. Depois da
denúncia de estupro, porém antes da morte da
filha, Daniele foi novamente chamada à
delegacia no dia 19 de outubro pois os médicos
denunciaram ter encontrado um pó branco
suspeito de ser cocaína no pescoço de sua filha.
Sem a autorização da mãe foram recolhidas
amostras de sangue e de urina da criança. O
resultado desse exame deu negativo: dessa vez
ainda não era a cocaína com a qual buscavam
incriminar Daniele e desqualificar sua
denúncia de estupro contra o quintanista de
medicina.

Durante a internação os médicos investigaram


na menina um quadro de má formação
cerebral, problemas de metabolismo, epilepsia,
amidalite aguda, infecção do trato urinário e
convulsões. Apesar desse quadro, deram-lhe
alta em 25 de outubro porque, argumentaram
depois, a menina estava bem, corada,
hidratada e poderia continuar o tratamento em
casa. Mas – detalhe importante nesta história –
na ocasião da alta o corpo médico enviou um
ofício ao Conselho Tutelar informando a
necessidade de acompanhamento da mãe em
razão de um “possível trauma psicológico”.

No dia 28 de outubro, um sábado, o drama se


repetiu: a criança mais uma vez passou mal,
seu quadro era de convulsões, vômito e
desmaios. Em primeiro lugar Daniele tentou
voltar ao Hospital Universitário, já que tinha
uma carta assinada por duas médicas,
autorizando-a a voltar a internar a filha caso
houvesse algum problema. Mas o hospital
recusou-a. Levou então sua filha até Pronto-
Socorro Municipal de Taubaté, onde chegou às
20h30. No entanto, embora desmaiada, a
menina só foi atendida às 4h25 da madrugada
de domingo, momento em que recebeu glicose
em soro. Foi nesse instante que foi coletada
uma substância branca da língua da criança, na
procura incessante da cocaína que iria
incriminar a mãe. Às 10h40 de domingo, dia 29
de outubro, Victória morria depois da terceira
parada cardiorespiratória.

Como contou Daniele aos jornalistas, quando


foi liberada da prisão, após a morte de sua
filha, antes mesmo de ela tomar consciência
plena do que estava acontecendo, foi arrastada
pelo braço pela médica plantonista do Pronto-
Socorro, Dra. Érica Serrano Skamarakas, até
a sala onde estava o corpo de Victória e ouviu-a
acusar: “Olha o que você fez, sua assassina.
Encara o que você fez, monstro”. Qual é o código
médico que permite a uma profissional, em
momento tão doloroso para uma mãe, fazer
uma acusação dessas sem nenhuma prova? Fica
transparente a intenção, já demonstrada
anteriormente à morte da criança, de
incriminar Daniele para desqualificar sua
denúncia de estupro.

A partir dessa acusação, endossada pelo corpo


médico, as coisas se precipitaram. Teria sido
feito pelo Instituto de Criminalística de Taubaté
um exame toxicológico preliminar (mais tarde
especificado como sendo um exame rotineiro, o
Blue Test) e o resultado deu positivo para a
presença de cocaína. Foi o que declarou o Dr.
Paulo Roberto Rodrigues, da Delegacia de
Investigações Gerais (DIG) de Taubaté, o
mesmo que estaria investigando o estupro
sofrido por Daniele. Sem mandato de busca e
apreensão, pois segundo esse mesmo delegado,
“a suspeita autorizou a busca”, os policiais
foram até a casa de Daniele. Ao entrarem para
a vistoria, só estava o filho mais velho de
Daniele, um menino de três anos. Lá os
policiais recolheram uma mamadeira com o tal
pó branco, que também foi analisado e também
deu resultado positivo. Daniele foi presa em
flagrante e encaminhada à noite para a Cadeia
Pública de Pindamonhagaba. Pela manhã as
presas já haviam visto os noticiários televisivos
e jogaram-se contra aquele suposto “monstro
da mamadeira” para liberar suas mágoas
recalcadas. As autoridades fizeram sua parte na
culpabilização imediata, sem investigação e
nem julgamento, da suposta “mãe assassina”.

O delegado titular da Delegacia de


Investigações Gerais (DIG), Paulo Roberto
Rodrigues, fez declarações lapidares para
tentar explicar e tornar natural o crime da mãe.
“Foi um homicídio doloso (com intenção ou
noção de risco). A mãe ministrava cocaína na
mamadeira da criança. Ela morreu de overdose.
(…) No inquérito, ela não soube explicar o que
aconteceu. Ela diz que tem lampejos de memória
e que não sabe o que faz. Não pode dizer que
ministrou, mas também não pode negar. (…) Ela
diz que foi usuária durante cinco anos, mas que
está há quatro anos e oito meses sem usar
cocaína”. Disse também: “Por analogia é bem
provável que essa intoxicação da criança viesse
ocorrendo há algum tempo”. A mãe já fora
transformada em uma cocainômana
irresponsável e desmemoriada.

Na Cadeia Pública de Pindamonhagaba Daniele


foi espancada por 19 presas durante horas,
mais precisamente, das 3hs às 7hs, teve fratura
do maxilar e apresentava hematomas por toda
a cabeça. Ao final do dia 30 de outubro, uma
segunda-feira, foi levada para o Pronto Socorro
da Santa Casa de Pinhamonhagaba.
Permaneceu desacordada e a Santa Casa
chegou a cogitar de seu envio para uma UTI
(Unidade de Terapia Intensiva). Durante esse
tempo não pôde ter a visita de sua advogada,
Dra. Gladiva de Almeida Ribeiro, e nem de seus
pais, que sequer tiveram o direito de ter
notícias sobre seu estado de saúde. Sua mãe só
conseguiu vê-la depois de 15 dias dos
acontecimentos. No hospital esteve sempre
escoltada por policiais. Com um quadro de
traumatismo craniano e lesão neurocerebral,
surpreendentemente ela teve alta depois de
três dias e foi encaminhada, em 2 de novembro,
para a Cadeia Pública de Caçapava. Foi preciso
que a advogada, Dra. Gladiva, conseguisse uma
autorização para levar sua cliente ao Pronto-
Socorro de Caçapava.

Situação da investigação: No que se refere à


punição do suposto crime da mãe, a Justiça foi
célere e expeditiva. Ainda na semana iniciada
dia 6 de novembro a Promotoria do Júri de
Taubaté ofereceu denúncia do caso à Justiça. O
promotor, João Carlos Maia, pedia a
condenação de Daniele pelo crime de
homicídio duplamente qualificado, por motivo
fútil e emprego de meios cruéis, com
agravantes em relação à idade da vítima e ao
parentesco. Com presteza o juiz Marco Antonio
Montemor, da Vara do Júri da Comarca de
Taubaté, aceitou a denúncia. Segundo o
promotor acima citado, a denúncia foi recebida
pela Justiça dia 9 de novembro.

Quanto ao espancamento de Daniele na Cadeia


Pública de Pindamonhagaba, ele também é
objeto de um inquérito. Para tanto, no dia 13
de novembro, ela foi ouvida em depoimento,
durante duas horas, na Penitenciária Feminina
de Tremembé (para onde havia sido
transferida) pelo delegado seccional assistente
de Taubaté. Nesse depoimento, na presença de
sua advogada, Daniele relatou o que sofreu e
identificou as presas agressoras.

Por outro lado, o processo relativo ao estupro


de Daniele chegou a um ponto morto. Como já
se disse, o IML atestou que ela foi violentada.
Ela reconheceu seu agressor diante da polícia e
ele se dispôs a fazer um exame de DNA. No
entanto esse exame não foi possível. O
delegado seccional, Roberto Martins de Barros,
quando a mãe já tinha sido solta, declarou que
o laudo deu negativo porque não havia
material no órgão genital de Daniele: “O
estupro houve, ficou comprovado em exame feito
pelos peritos do IML, mas não tem material para
fazer o confronto com o exame de sangue do
estudante apontado como autor pela vítima.” O
estuprador usou preservativo e por isso foi tão
prestativo em oferecer-se para que o seu DNA
fosse examinado. Segundo Milton Peres, do
Hospital da UNITAU, o acusado foi afastado por
30 dias da universidade. Na sindicância aberta,
negou qualquer relação com Daniele e por isso,
depois desses 30 dias, retomou as atividades
normalmente.

Durante esse tempo em que Daniele ficou


presa, sua advogada, Dra. Gladiva de Almeida
Ribeiro, sempre chamou a atenção para o fato
de que sua cliente não era usuária de cocaína e
de que apenas tinha dado à sua filha um
comprimido anticonvulsivo. Por outro lado
sempre também chamou a atenção para o fato
de que o atestado de óbito de Victória apontava
como desconhecida a causa da morte. Nesse
período ela chegou a protocolar um pedido de
habeas corpus para sua cliente.

Finalmente em 5 de dezembro foi divulgado o


laudo definitivo do Instituto de Criminalística
de São Paulo, que excluiu a presença de
cocaína tanto do material colhido na
mamadeira de Victória, quanto do colhido na
boca da criança. O pó branco era o remédio
anticonvulsivo. O “monstro da mamadeira” era
uma invenção montada por um conjunto de
autoridades para mascarar o crime de estupro.
Usando de todos os seus preconceitos contra
pobres e mães solteiras, eles quiseram tornar
“natural” a morte de Victória como um
infanticídio. O laudo que excluía a presença de
cocaína havia sido assinado em 22 de
novembro pela perita Mônica Marcondes
Felgueiras, de S. José dos Campos, mas só foi
divulgado 13 dias depois. É que a Justiça é
rápida em prender, porém lenta em divulgar os
laudos que inocentam.

Diante do desmascaramento da “prova” que


serviu de peça de acusação contra Daniele, a
Polícia Civil declarou que ainda aguardava os
laudos do sangue, das vísceras e da urina da
criança para determinar a causa da morte. Face
a essa evidência o juiz da Vara do Júri de
Taubaté, Marco Antonio Montemor, o mesmo
que havia acolhido a denúncia do promotor,
expediu o alvará de soltura de Daniele. Foram
37 dias de prisão, iniciada com um brutal
espancamento de responsabilidade das
autoridades policiais, judiciais e carcerárias.

<;-,(#('2(="*,4;'>#")(*'-"'4ú:/#"'2('*/;'>,#?;':")4;7';=ó*
5@'2,;*'=)(*;',-A/*4;:(-4(

Ao sair da Penitenciária Feminina de


Tremembé, Daniele abraçou seus familiares e
sua advogada, chorou muito e pôde,
finalmente, dar a sua versão dos fatos aos
jornalistas. Depois disso pediu para ir ver pela
primeira o túmulo da filha onde depositou
flores.

Só depois de Daniele ter sido liberada é que sua


advogada, Dra. Gladiwa de Almeida Ribeiro,
contou que nos momentos em que sua cliente
estava incomunicável e podendo sofrer novas
agressões, dia 31 de outubro, ela dirigiu um
telegrama ao Ministro da Justiça, Márcio
Tomaz Bastos, solicitando a intervenção da
Polícia Federal para proteger a integridade
física de sua cliente, nos termos do artigo 122,
parágrafo 1º, da Constituição. Mas não recebeu
nenhuma resposta, apesar de ter o registro de
recebimento pela autoridade competente.

A Justiça de Taubaté concedeu a Daniele


“liberdade provisória”. O juiz considerou que
outros laudos não iriam mudar o que já estava
esclarecido, ou seja, a ausência de cocaína.
Apesar disso o promotor, João Carlos Maia,
autor da denúncia, reafirmou que não pediria a
liberdade da mãe, declarando: “A prisão dela
não foi fundamentada somente pelo exame que
mostrou cocaína. O comportamento dela e o
depoimento de testemunhas são suficientes
para mantê-la presa. Aconteceram, por
exemplo, várias reincidências de internações,
que podem ser indícios de maus tratos”.
Esqueceu de dizer se “indícios de maus tratos”
justificam um indiciamento por homicídio
qualificado, tal como havia feito.

À argumentação desse promotor pode ser


contraposto tudo o que Daniele contou de sua
vida nos dias seguintes à sua liberação, em
diversas entrevistas. Quanto à reincidência de
internações, ela explicou que ela própria havia
tido na adolescência ataques de epilepsia. Esses
ataques voltaram a aparecer durante a gravidez
de Victória, que foi muito tumultuada, tendo a
menina nascida prematura. Aos dois meses
também começou a ter convulsões. A jornalista
Laura Capriglione, da Folha de S. Paulo,
constatou ainda que quinze dias antes de
morrer a menina passou por uma consulta no
Instituto da Criança do Hospital das Clínicas,
de São Paulo. Lá se aventou o diagnóstico de
uma vasculite cerebral que a deixava
inconsciente por várias horas. O diretor do
Pronto-Socorro Municipal de Taubaté, também
professor da UNITAU, Ciro João Bertoli, tinha
conhecimento dessa suspeita e considerava que
os medicamentos indicados poderiam estar
piorando o quadro clínico da menina. Ele
estava presente no momento da morte de
Victória mas, ao que tudo indica, não se
manifestou sobre o assunto. Perguntado sobre
a médica que imediatamente caracterizou o pó
branco como cocaína, não quis se manifestar. A
Secretaria Municipal de Saúde também se
esforçou ao máximo para preservar a
identidade da Dra. Érica Serrano
Skamarakas.

Quanto ao seu primeiro depoimento, Daniele


pôde esclarecer que a polícia a pressionou para
assumir o crime, que a impediu de ligar para a
sua advogada e que ela sequer leu o
depoimento. Depois da divulgação do laudo
que a inocentava, o delegado seccional de
Taubaté, Roberto Martins de Barros, justificou
a atuação da polícia, declarando que a
advogada dela não foi encontrada e que foi
chamado outro advogado para acompanhá-la.

A disparidade de resultados entre o primeiro


teste de verificação de cocaína e o laudo
definitivo também provocou polêmica entes os
profissionais que trabalham nas diversas
unidades do Instituto de Criminalística do
Estado de São Paulo, que se perguntavam se o
Blue Test tem poder para enviar alguém preso
em flagrante, como aconteceu com Daniele. A
utilização desse teste um ano antes, em
Taubaté, levou à prisão uma bióloga por porte
de cocaína, quando na verdade ela tinha
apenas comprimidos antidepressivos. E há
notícia de mais um caso de engano.

Por tudo isso a Corregedoria da Polícia Civil


abriu um procedimento administrativo para
analisar a conduta da polícia de Taubaté e a
razão da divergência entre os laudos.
Entretanto o delegado seccional de Taubaté,
Roberto Martins de Barros, continuou
justificando a prisão em flagrante de Daniele:
“Por lei, posso pedir a prisão com base no laudo
preliminar”. No entanto designou o delegado
assistente Pedro de Oliveira Campos Neto para
investigar a atuação da polícia. Mas também
pediu um novo teste, de contraprova do laudo
definitivo. O resultado dessa contraprova saiu
em meados de janeiro de 2007 e confirmou a
ausência de cocaína no material recolhido.

No meio do seu calvário, enquanto Daniele


estava presa, o Conselho Tutelar de Taubaté
retirou-lhe, em 29 de outubro, a guarda de seu
filho maior, de três anos, e entregou-a ao pai.
Mas depois de esclarecida sua inocência essa
situação jurídica tendia a se regularizar, uma
vez que o pai só entrou com o pedido de guarda
para evitar que a criança fosse colocada em um
abrigo. Pai e mãe estavam, juntos, tentando
fazer a criança se adaptar à perda da
irmãzinha.

A advogada de defesa, Gladiva de Almeida


Ribeiro, iria pedir o arquivamento do processo
mas esperava a conclusão de todos os laudos.
Posteriormente pretendia também ingressar
com uma ação indenizatória contra o governo
do Estado. Até o início de março ela ainda não
tinha ingressado com estas ações. No início de
2007 a Polícia Civil de Taubaté, de posse dos
resultados dos exames toxicológico (urina e
sangue) e anátomo-patológico (vísceras),
realizados pelo Instituto Médico-Legal de São
Paulo, descartou oficialmente a hipótese de
overdose de cocaína. As análises identificaram
a presença de substâncias encontradas em
remédios tranqülizantes e anticonvulsivos.

Esse caso de flagrante injustiça com graves


conseqüências físicas e psicológicas para a
vítima chamou a atenção da opinião pública.
Um leitor da Folha de S. Paulo, Mário Henrique
Ditticio, declarou: “Mais uma vez foi explosivo o
resultado da combinação entre uma sociedade
apavorada que ignora os mais básicos princípios
democráticos, um sistema de persecução penal
falido e uma imprensa preocupada sobretudo em
faturar com a tragédia alheia. (…) Estado e
imprensa praticamente destruíram a vida de

Você também pode gostar