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M. Duarte Naia
1. Mudanças Legislativas
Por que razão a Comissão europeia (EC – European Comission) decidiu atualizar a antiga
regulamentação sobre dispositivos médicos (MDR – Medical Devices Regulation)?
1.1 Mudanças
A s regra aplicáveis ao mundo dos Dispositivos Médicos na União Europeia (EU – European
Union) está atualmente em transição. Esta é uma boa notícia para alguns e muito ruim para os
outros. De fato, o resultado dessa mudança (ver figura 1) poderá parecer que estamos a reduzir
3 diretivas a apenas dois regulamentos.
Estas alterações aumentam os requisitos para a utilização dos dispositivos médicos em toda a
EU. A aplicação dos novos regulamentos permitirá garantir dois objetivos:
Como?
Isso pode ser assegurado pelo aumento da transparência através do relatório de vigilância pós-
venda do fabricante e aumentando a rastreabilidade do produto com a implementação do
sistema de Identificação Única do Dispositivo (UDI – Unique Device Identification) e a introdução
do EuDaMeD (European Database of Medical Devices).
Existirão mais requisitos para a utilização dos dispositivos, mas que permitirão um controlo
muito maior das autoridades reguladoras nacionais e simultaneamente melhor
harmonização dos critérios utilizados por cada uma das autoridades.
Quais são as mudanças principais?
1- As regras são mais estritas. São mais orientadas para a evidência clínica e o
desempenho do dispositivo será continuamente verificável;
2- Na nova legislação copiou-se algo da industria farmacêutica, definindo-se o
conteúdo da informação técnica;
3- Mais fiscalização;
4- Alteração da vigilância pós-venda e fiscalização;
5- Introdução da Base de Dados Europeia de Dispositivos Médicos (EuDaMeD);
6- Atualização dos requisitos para Importadores e Distribuidores.
1.2 Enquadramento
A regulamentação dos dispositivos médicos era na prática a mesma dos anos 90 do século
passado. As novas tecnologias que, entretanto, apareceram (Impressão 3D, Apps Médicas,
robots, etc., …) e também alguns escândalos forçaram o regulador a uma atualização legislativa.
Um dos escândalos mais noticiados foi dos implantes mamários da empresa francesa PIP. Este
fabricante mudou intencionalmente o gel de enchimento do implante, aprovado para o uso
humano, para um gel industrial, mais barato e cancerígeno). A companhia e os funcionários
intencionalmente esconderam essa alteração de todos (distribuidores, prestadores de médicos,
reguladores e pacientes), seguindo as instruções do CEO…
O mais curioso neste caso, foi o Corpo Notificado (Notified Body) ter sido julgado culpado e ser
obrigado a pagar os danos, custos e indeminizações. Este facto mudou completamente a visão
sobre o papel e responsabilidade do Corpo Notificado (entidade creditada para a certificação
dos dispositivos).
• O MDR terá um período de transição de três anos. Assim, só será efetivo a partir de 25
de maio de 2020;
• O IVDR tem um período de transição mais longo, 5 anos. Tornar-se-á efetivo a partir de
25 de maio de 2022.
No entanto a implementação é um pouco mais complicada, como se pode observar pela análise
da figura 2. Todavia é claro que a partir de 25 de maio de 2024 não será permitida qualquer
certificação com base nas diretivas MDD e IVDD.
Por outro lado, é certo que durante o período de transição será disponibilizada muita
informação e algumas das novidades ainda terão a ser aperfeiçoadas. Por exemplo, a EuDaMeD
ainda não está em funcionamento.
2. Operadores económicos
Se não está familiarizado com o conceito de operadores económicos poderá perceber quais os
seus papéis e responsabilidades no mercado do dos dispositivos médicos. As mudanças em curso
trazem muitas atualizações e novidades nesta parte.
Quais são então as partes com que teremos de lidar no campo dos dispositivos médicos?
Depois estão os Corpos Nofiticados (Notified Body) que são entes reconhecidos pelas
Autoridades de designação (Desiganting Authority) do estado membro para avaliar as
atividades de conformidade de acordo com os requisitos legais desse estado. Em muitos estados
da EU as autoridades que fazem a designação é a mesma agência que é a autoridade
competente. Em Portugal esses papeis são do InFarMed (Instituto da Farmácia e do
medicamento).
O principal é o fabricante (manufacturer) que é o ente que comercializa o dispositivo com o seu
nome ou com uma marca registada.
Pelo menos uma pessoa, indicada pelo fabricante, deve responsável pela conformidade com os
regulamentos (PRRC – person responsabile for regulatory conformity). Esta pessoa deve ter as
competências técnicas na área dos dispositivos médicos exigidos no regulamento e será
responsável por assegurar:
Uma vez reconhecido o dispositivo médico como produto, torna-se necessário falar como são
classificados pelo novo regulamento. Os dispositivos são divididos em quatro classes de risco.
Essa classificação de risco é definida pela MDR, no seu anexo VIII, com base em:
• Utilização pretendida;
• Tipo de dispositivo;
• Exposição do utilizador/exposição;
• Duração do uso;
• Grau de invasão;
• Severidade o dano/Nível de risco.
A determinação da classe do produto é feita seguindo uma série de 22 regras. Isto significa que
existem mais 4 regras do que na anterior diretiva MDD (Medical Device Directive 93/42/EC)
Regras de Classificação
1 Dispositivos não invasivos
2 Dispositivos não invasivos destinados a canalizar ou armazenar (o que inclui
não invasivos
Dispositivos
células)
3 Dispositivos não invasivos que modificam a composição biológica ou química do
sangue, líquidos corporais, outros líquidos e células
4 Dispositivos não invasivos em contato com pele lesada ou mucosa
5 Dispositivos invasivos nos orifícios corporais
6 Dispositivos cirurgicamente invasivos para uso transitório
Dispositivos
Alguns destas classes devem ser certificadas por um Corpo Notificado, outras não. A figura 4
mostra quais e dá exemplo de produtos de todas as classes.
Esta parte do regulamento exige uma grande atualização relativamente à legislação anterior. Ela
exige uma revisão integral da informação que atualmente é exigida e disponibilizada e poderá
implicar refazer alguns testes aos produtos, no caso da classificação do produto mudar.
Na antiga legislação, Medical Device Directive 93/42/EC, os dispositivos de risco mais baixo
exigiam a apresentação de relatórios de avaliação clínica (CER - Clinical Evaluation Report) e os
dispositivos de risco mais alto o fabricante tinha de compilar os dados clínicos.
No novo regulamento, MDR EC/2017/745, a avaliação clínica deve ser conduzida de acordo com
Artigo 61 e a Parte A do Anexo XIV, que ainda exige o CER. Porém, para alguma categoria de
produtos, agora exige-se também um resumo público da segurança e do desempenho clínico
(Artigo 32).
Esta é uma novidade do regulamento que poderá ser uma ajuda valedoura. Como o
Regulamento farmacêutico, agora o regulamento dos dispositivos médicos também contém um
guia para a construção dos chamados ficheiros técnicos (Technical Files).
O suporte da IMDRF (International Medical Device Regulators Forum Forum , a antiga GHTK -
Global Harmonization Task Force, ver www.imdrf.org) disponibilizou um guia no formato STED
(Summary Technical Documentation) para demostrar a confirmar os princípios de segurança e
desempenho dos dispositivos médicos para diagnóstico in-vitro. Esse guia mais voluntário do
que obrigatório, serviu de modelo para o procedimento definido agora pelo MDR.
O regulamento define os conteúdos que a Documentação Técnica que devem ser reunidos para
cada dispositivo médico (Anexo II). Na pática essa documentação é uma compilação dos aspetos
de desenho e projeto, fabrico, instalação e aplicabilidade do dispositivo.
O período de arquivo dos ficheiros técnicos, na diretiva MDD era de cinco anos, após o fabrico
do último dispositivo e no caso de ser um implante esse período era de quinze anos. Com a novo
regulamento MDR o período para os dispositivos é alargado para dez anos, mantendo-se os
quinze anos para implantes.
A vigilância pós-venda engloba todas as ações para de forma proactiva recolher e analisar a
experiência ganha com a utilização do dispositivo. Isto inclui a recolha e utilização da informação
ligada à utilização do dispositivo, a saber:
Os resultados da vigilância pós-venda são utilizados como entra do sistema de gestão de risco
durante o ciclo de vida do dispositivo:
• UDI-DI
- Identificador primário do modelo de um dispositivo;
- Link para a base-de-dados para os dispositivos médicos
- Referencia de certificados relevantes e declaração de conformidade.
• UDI-PI
- Código numérico e alfanumérico que identifica a unidade fabricada
- Número de série, número de lote, software de identificação e/ou a data de
fabrico e de validade;
A EU está a criar um base -de-dados onde cada UDI ficará registado e todos os operadores
poderão rastear o dispositivo.
6. Para terminar.
Para uma companhia que pretenda adotar o novo regulamento MDR esta informação pode ser
crucial para um planeamento eficiente das tarefas.