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Elementos chave de Paisagismo: marcos visuais,

eixos, escalas, visadas e sensorialidade


12:00 - 5 Março, 2018

por Matheus Pereira

Eixos visuais e marco visual. Image © Matheus Pereira


Assim como os elementos arquitetônicos que compõem e conformam o espaço construído
– piso, paredes e teto, os elementos vegetais também são capazes de conformar os espaços
livres em áreas de grande, média e pequena escala, de parques a jardins residenciais,
atuando como estruturadores espaciais. Segundo Benedito Abbud, “O paisagismo é a
única expressão artística em que participam os cinco sentidos do ser humano. Enquanto
a arquitetura, a pintura, a escultura e as demais artes plásticas usam e abusam apenas da
visão, o paisagismo envolve também o olfato, a audição, o paladar e o tato, o que
proporciona uma rica vivência sensorial, ao somar as mais diversas e completas
experiências perceptivas. Quanto mais um jardim consegue aguçar todos os sentidos,
melhor cumpre seu papel” [1],
Nesta segunda parte de nossa série buscaremos exemplificar de maneira prática a
conceituação e utilização dos marcos visuais, eixos, escalas, visadas e sensorialidade em
um projeto paisagístico.
Marcos visuais e conformação de eixos
Nas etapas iniciais que regem o projeto paisagístico, junto à definição dos cheios e vazios
(maciços e clareiras), a correta definição de eixos é fundamental. Existem duas principais
categorias – percurso principal e secundário. O primeiro diz respeito àquele em destaque,
com maior dimensão e responsável como por conectar os caminhos secundários, agindo
como ramais. Neste, a aplicação de árvores é a principal responsável por transmitir a ideia
da ordem de importância e hierarquia do espaço. Imagine um parque, com certeza você
já se atentou como as árvores são dispostas linearmente uma ao lado das outras
conformando duas linhas laterais e uma área caminhável central.

Eixo visual. Image © Matheus Pereira


Atente-se também à relação entre a estatura da espécie adotada junto à largura dos
caminhos. Árvores muito altas em caminhos com pequenas larguras tendem a criar a
sensação de confinamento, enquanto caminhos mais largos junto a árvores de maior porte
tendem a criar a correta relação entre o pedestre, o eixo visual e o flanar pelo espaço.
Caso haja caminhos principais com largura reduzida, opte por árvores de menor estatura,
mas com folhagens ou características diferentes das demais, capazes de propiciar ao leigo
o total entendimento da hierarquia dos caminhos.
Destaca-se o uso de palmeiras neste tipo de conformação, uma vez que pela estatura,
denotam imponência e pela copa com pequena dimensão e troncos esguios, permite
visadas ao horizonte. O emprego de árvores destacadas das outras, com altura elevada,
cores ou espécies populares, como o bambu, por exemplo, são capazes de ser avistadas
de longe ou identificadas por leigos, sendo assim, são exímios mecanismos, servindo
como ponto de encontro ou referência.

Escalas e visadas
Parafraseando Benedito Abbud, em seu livro Criando Paisagens – Guia de Trabalho em
Arquitetura Paisagística, “[...] a vegetação poderia ser bem mais utilizada para corrigir e
melhorar proporções e escalas – frequentemente desumanas – dos espaços urbanos, em
geral formados por massas de construções descontínuas, enorme quantidade de postes,
muros, semáforos, fiações, outdoors e tanta poluição visual”. [2] Sendo assim, tomemos
como situação os centros urbanos, quase sempre cenários bastante desordenados e
caóticos, resquícios paisagísticos são empregados na maioria dos casos de modo
desvalido, em canteiros estreitos, árvores em áreas permeáveis mínimas. Contanto, o que
devemos entender como lição é que espécies vegetais, quando aplicadas e selecionadas
corretamente podem oferecer excelentes opções como sistemas transitórios entre as
diferentes escalas.
Escalas e visadas. Image © Matheus Pereira
Vale ressaltar que este artigo não visa exemplificar espécies vegetais (para isso temos esse
artigo), mas sim, debater brevemente como a correta aplicação dos usos dos componentes
vegetais podem propiciar potenciais espacialidades. A transição da escala do pedestre, ou
melhor, dizendo, de seu ponto de vista aos objetos construídos podem acarretar amplas
problemáticas, de forma que edifícios tendem a configurar “paredões” urbanos. Se
aplicadas árvores de diferentes estaturas, considerando a altura do olho do observador e
distanciamento deste às construções adjacentes, torna-se passível o desenvolvimento de
projetos capazes de escalonar tal passagem entre os planos do espaço.
Escalas e visadas. Image © Matheus Pereira
Caso opte-se por espécies muito altas ou copas muito largas, em determinados casos isso
tende a intensificar as barreiras visuais preexistentes. Portanto, ao projetar, não devemos
desenvolver tais estudos apenas a partir da seção horizontal (plantas), mas principalmente
do ponto de vista vertical (cortes e elevações).

Sensorialidade
"Quanto mais um jardim consegue aguçar todos os sentidos, melhor cumpre seu papel”
[2]. Podemos sintetizar a visão de Abbud dizendo que cada um dos elementos vegetais
que compõe o projeto paisagístico é disposto de modo a despertar experiências aos
usuários através dos cinco diferentes sentidos do seu humano pela estruturação espacial.

Seja pela visão que avista os diferentes planos e linhas, quando o pedestre está em
constante movimento, quando se encontra repousado sobre a grama, ou mesmo
apreciando a paisagem a partir de um ponto elevado, como por janelas no alto de um
edifício, por exemplo, as percepções são despertadas.
Sensorialiedade. Image © Matheus Pereira
A partir da visão também devemos considerar as diferentes texturas, uma vez que quanto
mais perto, melhor se avista e compreendem os diferentes desenhos, cores e texturas das
diferentes espécies vegetais utilizadas na conformação.

Junto ao vento e água, elementos naturais que junto ao ambiente vegetal asseguram
memórias afetivas e experienciais, o correto emprego dos componentes vegetais pode
assegurar tal percepção – da maior à menor escala.

Já o paladar pode ser trabalhado empregando espécies frutíferas, flores comestíveis,


ervas, condimentos ou ainda legumes e verduras, caso haja área dedicada a uma horta no
projeto. Já o olfato pode ser despertado pela presença de espécies aromáticas – plantas,
flores e árvores.

O cair das águas sobre as pedras pela cascata ou o canto dos pássaros, são alguns
exemplos práticos de como a audição se manifesta pelo paisagismo, seja em pequenos
jardins ou extensos perímetros verdes. Muitos dos sons transmitidos vêm da natureza,
mas outros podem ser criados na construção do espaço.
Concluindo este quesito, vale ressaltar que corretas escolhas vegetais e disposição destas
pelo espaço podem ser usadas com uma função educativa. Tomando como exemplo
escolas, casas de repouso, hospitais e institutos dedicados a pessoas com mobilidade
reduzida ou perda de visão, percebemos que a apropriação de espécies vegetais com
diferença na textura das folhas, flores, ramagens, forma dos arbustos, forrações
pisoteáveis, variação de cores e aromas tem a finalidade de aguçar os sentidos.

Notas
[1] ABBUD, 2006, p. 15
[2] ABBUD, 2006, p.27

Referências Bibliográficas
ABBUD, Benedito. Criando Paisagens – guia de Trabalho em Arquitetura paisagística.
São Paulo: Editora Senac, 2006.
 

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