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INTRODUÇÃO
O Relatório do Desenvolvimento Humano 2003 (PNUD, 2003) revela que o Brasil obteve
avanços sociais durante os anos 90, mas ainda enfrenta muitos desafios para atingir, até
2015, as metas de desenvolvimento apresentadas pela ONU na Declaração do MilênioI.
Com um índice de 0,777, o Brasil subiu quatro posições no ranking do IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) de 2000 para 2001, chegando à 65ª posição entre 175 países.
Os progressos mais significativos ocorreram na área de educação e igualdade entre os
sexos. A pobreza também foi reduzida: o IPH (Índice de Pobreza Humana) brasileiro
decaiu de 15,8% da população, em 1997, para 11,4%, em 2001. No entanto este país
continua sendo uma das nações mais desiguais do planeta, com um índice de GiniII de
0,61. De acordo com o relatório citado, os 10% mais ricos têm um rendimento 70 vezes
superior ao dos 10% mais pobres. Além disso, 9,9% dos brasileiros possuem renda
inferior a US$ 1 por dia.
Estes dados indicam que o quadro de iniqüidades sociais no Brasil, embora tenha
apresentado melhoras, é ainda alarmante e necessita de atenção e ações efetivas para
sua superação, isto é, ainda enfrentamos o desafio de buscar caminhos que promovam o
desenvolvimento efetivo do país. É neste contexto que ações de responsabilidade social
corporativa e parcerias intersetoriais ganham relevância.
Embora as raízes dos problemas sociais brasileiros coincidam com a própria colonização
do país, apenas nas últimas décadas do século XX começa a haver uma efetiva
articulação entre Estado, Mercado e Terceiro Setor para agir no sentido do
desenvolvimento social.
Nas décadas de 1960 e 1970 acreditava-se que o desenvolvimento viria com o aumento
da produção industrial; era sinônimo de crescimento urbano-industrial focado em metas
macro-econômicas. Por não estarem, na maioria das vezes, vinculadas às necessidades
sociais e ambientais de cada localidade e de sua população, essa visão resultou em
urbanização acelerada, migrações desestruturantes, exploração irracional de recursos
naturais e em baixos padrões de vida de amplas camadas da população, mostrando-se
1 Artigo apresentado na IV Conferencia Regional de América y del Caribe de ISTR. Costa Rica, Outubro/2003.
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realizou a Reforma do Marco Legal do Terceiro Setor, que influenciou na legitimação das
organizações do Terceiro Setor, principalmente através da instituição de novas leis.
METODOLOGIA DA PESQUISA
Este artigo apresenta alguns dos principais resultados obtidos na pesquisa “Alianças
Estratégicas Intersetoriais para Atuação Social”, desenvolvida pelo CEATS, com apoio da
Ford Foundation, entre 2001 e 2002. A partir destes resultados busca-se aprofundar a
compreensão sobre como são estabelecidas e gerenciadas as alianças estratégicas
intersetoriais para atuação social no Brasil, seus principais aspectos e peculiaridades, e
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Na etapa descritiva da pesquisa foi realizado um survey com uma amostra intencional
composta por 2085 empresas para as quais foi enviado um questionário. A amostra
abrangeu empresas que, a partir de listas e pesquisas, indicaram já possuir práticas de
atuação social. Da amostra inicial foram recebidos 385 questionários válidos.
Numa segunda etapa, foi realizada uma pesquisa qualitativa que abrangeu 60 empresas
selecionadas a partir do universo de participantes da primeira fase do estudo. O critério
utilizado para a seleção destas empresas foi a existência de alianças intersetoriais para
atuação social há mais de 3 anos, dando-se preferência a alianças que se caracterizavam
pela intersetorialidade e, portanto, correspondiam ao escopo da pesquisa. Do contato com
estas empresas foi selecionada uma amostra adicional de 41 organizações parceiras em
seus projetos de atuação social, citadas pelas empresas, composta por órgãos
governamentais, de terceiro setor e mesmo outras empresas.
que caracterizaram o movimento inicial das empresas frente à questão social. Este
movimento pôde ser observado no estudo realizado, a partir de duas análises
complementares: Entre as empresas participantes da pesquisa, 20% encontram-se em
um estágio caracterizado por ações sociais esporádicas, realizadas na maior partes dos
casos (61%) com pouco ou nenhum estabelecimento de parcerias. Por outro lado, 48%
das participantes realizam projetos de atuação social continuadamente há mais de cinco
anos e, entre estas, 67% possuem alianças intersetoriais para a realização destes
projetos.
A opção por formas mais colaborativas de atuação social, entretanto, é caracterizada por
uma diversidade de combinações, como pode ser observado no gráfico abaixo. Enquanto
um pequeno percentual das empresas pesquisadas (15%) ainda atua apenas
isoladamente em uma ponta, um percentual igual de empresas atua unicamente através
de alianças na outra ponta. Os 70% restantes já começam a adotar alianças, sendo 37%
de maneira mais intensiva que os demais.
Preponderantemente
sem alianças
33%
Preponderantemente
com alianças
37%
Estado
(55.5%)
5,7%
17,4% 4,2%
28.2%
5,3%
Porém, como os próprios percentuais indicam, na maioria das vezes estas alianças não
são estabelecidas, exclusivamente, com organizações de apenas um setor, pois:
• 28,2% das empresas estabelecem alianças com organizações dos três setores,
configurando o espaço nuclear da figura, no qual se dão as relações de alianças mais
complexas, mas que são também, aquelas com maior potencialidade de efetivar seus
objetivos.
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De acordo com Austin (2001), tais mudanças já estão ocorrendo, e o dinâmico panorama
das alianças é rico em variedade, com organizações com e sem fins lucrativos
descobrindo novas formas de trabalhar em conjunto no sentido de atingir seus objetivos e
contribuir para a sociedade. Essas alianças não exigem planos estratégicos grandiosos;
paciência e perseverança costumam bastar para transformar pequenos começos em
alianças estratégicas importantes.
Quando não se pode prosseguir sozinho e ter sucesso, a cooperação torna-se um pré-
requisito para a eficácia. Além disso, também surge a necessidade de uma visão mais
ampla e estratégica da combinação de recursos, tanto das organizações do terceiro setor,
quanto das empresas. Assim, as alianças intersetoriais tendem a se confirmar como uma
maneira mais eficaz de implementar projetos sociais do que a prática individual de
organizações isoladas.
Neste sentido, as alianças podem trazer uma série de benefícios, tanto para os aliados,
quanto para a comunidade atingida diretamente pelos programas e ações sociais
desenvolvidas por estas formas de colaboração intersetorial.
Com base em pesquisas realizadas nos Estados Unidos, Austin (2001:26) identificou que
“os executivos de empresas percebem as cooperações intersetoriais como algo que gera
importantes benefícios em quatro áreas: enriquecimento estratégico, gerenciamento de
recursos humanos, construção de cultura e geração de novos negócios.”
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Além destes potenciais benefícios para empresas que optam pela atuação social através
de alianças intersetoriais, as organizações aliadas também reconhecem uma série de
vantagens oriundas da aliança para a realização de suas atividades. Para as
organizações de terceiro setor, o relacionamento com empresas assume grande
importância quando fortalece seu papel institucional e lhe oferece recursos diversos para
executar, ampliar e aperfeiçoar as ações que justificam sua existência. Algumas destas
organizações já aprenderam a buscar parcerias junto às empresas e aos órgãos de
governo, outras ainda estão desenvolvendo estas competências, mas todas já
perceberam a importância das alianças para a obtenção de recursos e para a legitimação
e o fortalecimento de suas atividades. Austin (2001:24) afirma que “dentre os benefícios
da formação de parcerias que podem ser colhidos pelas organizações do terceiro setor
estão a economia de custos, as economias de escala e de escopo, as sinergias e o
aumento de receita.”
Para que isto efetivamente ocorra, tanto empresas quanto organizações do terceiro setor
precisam assumir novas posturas e gerar novas respostas na solução dos problemas
sociais, como destaca Salamon (1998:11). Segundo este autor, as organizações do
terceiro setor conquistaram seu espaço no cenário mundial e têm sido extremamente
bem-sucedidas em suas atividades junto aos grupos ou comunidades locais. No entanto
estas entidades ainda necessitam fortalecer sua capacidade institucional, condição básica
para que possam contribuir efetivamente na solução dos macro-problemas sociais. A
“replicabilidade limitada dos projetos, a falta de capacidade técnica e o isolamento de
considerações políticas mais amplas” são fatores que precisam ser pensados e
reformulados por estas organizações, o que se vincula diretamente à questão do
treinamento e capacitação técnica, potenciais benefícios das alianças intersetoriais. Para
tanto, “aqueles que contribuem com estas organizações terão de ir além da ‘filantropia
apenas para sentir-se bem consigo mesmo’ e do financiamento de projetos de curto
prazo, para o ‘suporte institucional’ de longo prazo”.
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Eficiência 73,8%
Visibilidade 21,2%
A forma como é feita a escolha dos parceiros reforça as razões que levam as empresas a
realizarem projetos de atuação social através de alianças intersetoriais. Ao definir uma
área foco para o desenvolvimento dos projetos, as empresas passam a buscar
organizações que sejam reconhecidas e tenham experiência dentro desta área, refletindo
a busca de eficiência e know-how que as motiva a buscar alianças.
A pesquisa qualitativa revelou que a escolha dos parceiros tem sido freqüentemente
pautada na decisão da empresa em desenvolver projetos sociais em determinada área,
com um público específico ou a partir do envolvimento pessoal de funcionários com
alguma entidade. A maior parte das organizações parceiras entrevistadas afirmou que foi
selecionada pelas empresas, citando como principal fator da decisão empresarial a
credibilidade da instituição e o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido.
Por seu lado, algumas organizações de terceiro setor, que participaram da pesquisa
qualitativa, afirmaram possuir critérios de escolha com relação às empresas para
estabelecer parceiras. Estes critérios são, na verdade, restrições sobre quais empresas
desejam ter como parceira e quais não aceitam. Em alguns casos relatados, o grande
receio da organização não é a empresa em si, mas a postura assumida por ela em
relação aos propósitos que devem fazer parte do acordo.
Este quadro captado pela pesquisa qualitativa é indicativo de que as alianças são
instituídas mais em função do movimento exercido pela empresa, do que da atividade de
busca das organizações da sociedade civil, caracterizando um certo desequilíbrio inicial.
O equilíbrio do relacionamento parece estabelecer-se quando os projetos compartilhados
se consolidam e o intercâmbio entre as diferentes organizações aliadas propicia um
aprendizado mútuo sobre a gestão das ações sociais.
Toda relação envolve uma troca de valor entre os participantes. Portanto, quando se
pensa em parceria, uma questão de extrema relevância é o valor desta cooperação para
cada um dos parceiros envolvidos. A geração e a manutenção do valor em uma parceria
são fatores determinantes para a continuidade desta relação. Ou seja, para que uma
aliança intersetorial se sustente é necessário que ocorra uma contínua geração de valor.
É necessário que exista uma boa administração da interação pelos parceiros, pois uma
aliança não é um negócio comercial, é um relacionamento que precisa de cuidados com
relação à organização, confiança, comunicação, responsabilidade e aprendizado.
Neste sentido, é importante que os parceiros sejam claros com relação aos seus objetivos
mútuos no tocante à cooperação. Eles devem identificar os múltiplos benefícios que cada
parte poderá obter. É importante também avaliar os benefícios para a sociedade como um
todo e para a comunidade-alvo. O valor gerado pela cooperação variará bastante em
função do propósito social e será de particular interesse o valor social, incremental ou
diferenciado, criado pela cooperação em comparação com o valor criado pelos parceiros
individualmente.
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Um ponto bastante enfatizado por Austin (2001) para o sucesso da aliança reside no
estabelecimento prévio, pelos parceiros, dos objetivos almejados pela cooperação, as
estratégias para seu alcance e como as ações nesta direção influenciarão o projeto e o
público atendido. No entanto, apesar desta percepção ter sido comprovada nas pesquisas
do autor norte-americano, não foram sempre verificadas nas entrevistas realizadas na
pesquisa qualitativa. Na realidade brasileira, de acordo com as declarações das
organizações da sociedade civil e empresas entrevistadas, as alianças se integram ao
longo do processo colaborativo, ou seja, o planejamento e análise detalhada da
viabilidade da colaboração não ocorrem antes do estabelecimento da parceria. Muitas
vezes, nem mesmo as expectativas, capacidades e atribuições de cada participante ficam
claramente estabelecidas. Isto não significa que os parceiros desconheçam seus objetivos
e a finalidade da parceria, ao contrário, é isto que os move. A dificuldade reside na
definição prévia e clara de papéis e responsabilidades.
Esta dinâmica resulta em alianças cujos papéis desempenhados muitas vezes são
definidos de acordo com as necessidades do momento, fortemente pautados nos valores
e crenças de cada parceiro. Neste contexto, não é raro se verificar que as empresas
privadas realizam papéis de provimento de recursos e as organizações parceiras, de
execução de atividades.
A constatação de que grande parte das empresas e organizações do terceiro setor ainda
atribuem às primeiras o papel de provisão de recursos, pode servir para alimentar o
questionamento sobre a falta de amadurecimento de ambas em relação ao trabalho em
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parceria. Neste sentido, é possível observar que a forma como os papéis são
estabelecidos e desempenhados não são fruto de reflexões prévias ou de padrões de
relacionamento consolidados. Provavelmente esta predominância deste tipo de relação
seja decorrente, em muitos casos, da forma como a parceria é buscada e estabelecida.
Se por um lado, algumas empresas não possuem uma idéia muito clara sobre as
possibilidades de sua atuação social, além do repasse de recursos que viabilizam projetos
de outras organizações, por outro lado, estas organizações acabam se colocando numa
posição de receptoras daquilo que pode ser dado, não tomando a frente de uma
discussão sobre as suas reais expectativas quanto ao parceiro.
Estas constatações também foram observadas nos resultados obtidos na fase descritiva
da pesquisa. Como pode ser observado no gráfico 4, as doações de “recursos
financeiros” (63,1%) e “não-financeiros” (75,4%) ainda permanecem em primeiro lugar, o
que representa, como discutido acima, um reflexo da principal forma de exercer a atuação
social empresarial que predominou até poucos anos, isto é, através da simples relação
entre doador e donatário.
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Outros 2,2%
propósitos e missões que são diversas e, ás vezes, até opostas entre si. Muitas vezes
os problemas sociais, suas causas e possíveis soluções são concebidos a partir de
pressupostos diferentes, ainda que possam compartilhar propostas de ação. A
identificação desses aspectos são de grande valia para aprimorar o relacionamento entre
os componentes de alianças já existentes e para o desenvolvimento de novas alianças.
Isto também vem de encontro ao que foi constatado por Austin (2001) em suas pesquisas.
De acordo com o autor, na medida em que os parceiros forem capazes de fundir suas
capacidades de forma sinérgica para gerar atividades e desdobramentos diferenciados, a
síntese de valor da cooperação, provindo unicamente da aliança e não sendo atingível
separadamente ou por meio de outras parcerias, terá passado para um nível mais alto.
desenvolvido porque o seu planejamento nunca acaba, que a burocracia vai contra a
sua necessidade de responder rapidamente ao seu publico beneficiário.
Outra categoria de aliança que surgiu algumas vezes durante as entrevistas é a parceria
que se estabelece entre empresas para atuação social conjunta. Este relacionamento não
caracteriza propriamente uma aliança intersetorial, mas demonstra uma forma inovadora
de atuar socialmente. Um caso comum de parcerias entre empresas observado na
pesquisa inclui também organizações governamentais e/ou não-governamentais, as quais
contribuem com suas competências específicas na área de atuação social escolhida pelas
empresas parceiras.
O envolvimento das organizações de terceiro setor com mais de uma empresa possui
muitos aspectos positivos, como apontado pelos entrevistados. Quase um terço das
empresas considera que, quando a organização parceira já possui experiência em outras
parcerias, o processo do estabelecimento e manutenção da aliança se torna mais fácil,
pois as empresas acreditam que as organizações já estão mais abertas e preparadas
para lidar com as diferenças existentes entre as organizações com e sem fins lucrativos.
Algumas empresas também vislumbram a possibilidade do estabelecimento de redes com
os outros parceiros da organização, além de pensar na sustentabilidade do projeto, caso
a empresa tenha que sair da parceria.
Como enfatizado anteriormente, a visão mais comum que as empresas têm sobre seus
parceiros está relacionada à falta de preparação para o gerenciamento, citada por grande
parte das empresas entrevistadas. Porém, esta fraqueza, quando ambas estão dispostas
a ampliar a parceria, pode tornar-se um fator de aproximação entre as partes, pois a
empresa pode levar para a organização os conhecimentos de gestão e organização.
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Como é possível perceber, trabalhar em parceria não é simples, exige uma grande
disposição para aprender, ensinar e trocar experiências entre os participantes. As
diferenças de linguagem e de lógica de trabalho podem dificultar o processo, mas as
decisões e ações conjuntas e a otimização de competências podem facilitá-lo. Para que
se consiga um balanço positivo é preciso colocar o foco nos resultados e impactos
esperados com a aliança. Dessa forma, será possível encarar os desafios da parceria
como etapas de crescimento em direção à sinergia e vislumbrar os benefícios concretos
para a sociedade.
De acordo com estes autores, os desafios de governança das alianças são caracterizados
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Vencer estes desafios é uma tarefa que exige um alto grau de cooperação entre as
organizações que atuam através de alianças, mas que é capaz de fazer com que todas as
ações dos parceiros gerem resultados benéficos para a aliança como um todo, não
restritos a cada um dos participantes isoladamente. Ainda segundo os autores, este tipo
de resultado é atingido quando se consegue construir a diversidade, atrair e sustentar o
envolvimento do participante, construir novas competências e lidar com o poder.
Diante disso, a pesquisa brasileira procurou também observar quais os principais desafios
enfrentados pelas empresas no estabelecimento e na manutenção de suas alianças no
contexto brasileiro. O gráfico abaixo ilustra as principais características das parcerias
existentes nas empresas respondentes, quanto à gestão, operacionalização e
relacionamento.
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De acordo com Austin (2001), quanto mais personalizado se torna o relacionamento, mais
coesa torna-se a aliança, e essa coesão é fundamental para o processo de
institucionalização. Os parceiros devem ter expectativas similares, confiar que cada um
fará sua parte e que serão capazes de mensurar e reportar os resultados. Alianças fortes
são construídas sobre uma base de altas expectativas mútuas. Neste sentido, o
compartilhamento de propósitos, objetivos e metas é fundamental para o sucesso das
alianças. Quando isto ocorre, a avaliação positiva do relacionamento é facilmente obtida,
o que foi verificado em grande parte das empresas entrevistadas na pesquisa qualitativa.
Esta visão também está presente nas organizações da sociedade civil: a maior parte das
entrevistadas consideram o relacionamento com a parceira bom. Os principais fatores que
contribuem para este relacionamento são a troca, o comprometimento do parceiro e a
valorização do trabalho desenvolvido.
A comunicação, tanto interna quanto externa, é outro fator que se coloca como um
desafio para as alianças intersetoriais. O envolvimento dos funcionários e,
consequentemente, a real integração da atuação social à filosofia da empresa, é
fundamental para que a aliança se constitua em um componente da responsabilidade
social corporativa, tornando-se um elemento de motivação e orgulho para os funcionários,
especialmente quando estes podem participar dos projetos desenvolvidos. Saber
comunicar adequadamente sobre a parceria, evitando vieses e interpretações errôneas, é
o primeiro passo neste sentido. As empresas pesquisadas na fase descritiva demonstram
ter esta preocupação: 80% afirmam que seus funcionários estão informados sobre as
alianças existentes. No entanto a comunicação a clientes e fornecedores ocorre em
apenas 50% dos casos, o que representa uma baixa utilização de uma prática que pode
vir a trazer benefícios para a imagem institucional da empresa, bem como para o
fortalecimento da própria aliança. Mesmo que estes ganhos não ocorram, a divulgação da
parceria contém em si um potencial de multiplicação de valores voltados para a
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preocupação e para a ação, frente aos problemas sociais, que é um dos desafios
colocados para a atuação social através de alianças: potencializar e replicar as
experiências bem sucedidas.
Neste sentido, conforme afirma Austin (2001), as alianças são veículos para a realização
da missão de cada participante, de modo que a parceria deve ser considerada parte
integrante da estratégia de qualquer organização com ou sem fins lucrativos. Ou seja,
quanto mais fundamental for o propósito da parceria para as missões, estratégias e
valores dos parceiros, mais importante tenderá a ser a relação.
Para as empresas, antes de avaliar a importância estratégica das parcerias para projetos
sociais, é necessário entender qual a relevância, em termos estratégicos, da execução de
políticas sociais, já que tais organizações, ao contrário das entidades do terceiro setor,
não possuem a atuação social como parte de sua natureza enquanto organização.
A relação entre a atuação social e o planejamento estratégico foi citada por grande parte
das empresas entrevistadas na pesquisa qualitativa, porém é preciso analisar as
diferentes formas que esta relação assume.
Há também aquelas empresas que não incluem a atuação social em suas discussões
estratégicas, às vezes por não a considerarem vinculada ao assunto, outras por deixar
esta discussão a cargo do planejamento do Instituto ou Fundação vinculado à empresa.
Austin (2001) também ressalta a importância deste fator nas pesquisas em que realizou.
Segundo este autor, todas as alianças estratégicas de sucesso tiveram apoio significativo
e envolvimento direto dos líderes e dirigentes das organizações parceiras. A ausência
desse envolvimento da liderança é prova de que o relacionamento não alcançou o nível
de importância estratégica e, portanto, tem grande chance de não se desenvolver ou
fracassar. Por outro lado, quando há o envolvimento dos líderes, é mais fácil para os
outros níveis organizacionais aderirem ao projeto, porque está sinalizada para toda a
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Avaliar projetos sociais, medir seus resultados e impactos não são tarefas simples e
exigem o desenvolvimento de competências que, na maioria das vezes nem a empresa,
nem a organização parceira possuem, mas que devem ser definidas e desenvolvidas.
CONCLUSÕES
Com base nas informações da pesquisa Alianças Estratégias Intersetoriais para Atuação
Social, é possível perceber que, no processo dinâmico de desenvolvimento de parcerias,
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as empresas que atuam socialmente no Brasil estão começando uma longa caminhada
que poderá levá-las a alianças mais efetivas e duradouras, tanto para os parceiros quanto
para a sociedade.
Muitas alianças têm sido bem sucedidas, caracterizadas por relacionamentos duradouros
e por benefícios reconhecidos por todos os participantes, sejam organizações privadas,
da sociedade civil ou governamentais. A otimização de competências complementares, a
potencialização dos resultados sociais dos projetos desenvolvidos e a melhoria da
imagem institucional são os principais resultados reconhecidos por estas organizações.
No entanto, o monitoramento e a avaliação de projetos e resultados ainda são pouco
desenvolvidos, o que dificulta a mensuração dos reais impactos destas ações, o que se
coloca como um grande desafio a ser enfrentado pelas alianças ao longo de sua
consolidação.
As empresas, privadas ou públicas, ainda são os principais atores nas alianças. São elas
que têm a iniciativa de buscar e escolher as entidades do terceiro setor que serão suas
parceiras e, em geral, são as financiadoras dos projetos, enquanto seus parceiros são
responsáveis pelas atividades de execução e implementação. Este contexto abre espaço
para a adoção de uma postura mais pró-ativa por parte das organizações da sociedade
civil, que permita o estabelecimento de relacionamentos mais equilibrados, tanto na
distribuição de papéis e responsabilidades, quanto no compartilhamento de filosofias,
interesses e objetivos, rompendo com relação doador/donatário que ainda permeia estas
iniciativas.
A revisão dos pressupostos que norteiam as ações sociais das organizações envolvidas
em uma aliança é um ponto crítico para superar estes desafios. É necessário aprender a
trabalhar de formas diferentes e a desenvolver a capacidade de compreender e integrar
diferentes lógicas e culturas. Enquanto muitas empresas alegam que a falta de
competência gerencial é um dos principais dificultadores para o estabelecimento de
parcerias, as organizações do terceiro setor referem-se às diferenças de formas de
trabalho como um dos obstáculos que se coloca neste tipo de relacionamento. Se vistos
como oportunidade de aperfeiçoamento, tais fatores podem, e devem, ser tratados como
situações de aprendizagem em que as primeiras podem contribuir com seus
conhecimentos no campo da gestão, e as segundas podem ampliar a visão empresarial
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Os exemplos deste estudo indicam que as organizações têm buscado diversos caminhos
para contemplar estas dimensões e, principalmente, que estão buscando com empenho
uma soma de esforços e competências que traga resultados efetivos para o
desenvolvimento social, através da ampliação das possibilidades do trabalho em parceria
e superação de seus desafios.
NOTAS
I “As Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM) surgem da Declaração do Milênio das Nações
Unidas, adotada pelos 189 estados membros no dia 8 de setembro de 2000. Criada em um esforço
para sintetizar acordos internacionais alcançados em várias cúpulas mundiais ao longo dos anos
90, a Declaração traz uma série de compromissos concretos que, se cumpridos nos prazos
fixados, segundo os indicadores quantitativos que os acompanham, deverão melhorar o destino da
humanidade neste século.” Fonte: PNUD, 2003a:1
II
O índice de Gini é uma medida da desigualdade de renda na qual o valor "0" corresponde à
igualdade perfeita e o valor "1" à desigualdade absoluta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: