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ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL

Inovação do Pacote Anticrime, mas já regulamentado pela Resolução 181/2017 CNMP (sem lei,
havia muitos questionamentos sobre a validade/constitucionalidade, ante o princípio da
obrigatoriedade).

O acordo de não persecução penal é um negócio jurídico ou ajuste obrigacional


extraprocessual e bilateral, com efeitos penais, celebrado entre o titular da ação penal e o
investigado, sempre assistido por advogado, por meio do qual as partes manifestam um
interesse mútuo de que o caso não seja submetido ao Judiciário e requerem a homologação,
de natureza meramente declaratória, pelo juiz competente. Trata-se de medida
despenalizadora, cuja oferta depende de uma escolha político-criminal do órgão acusatório,
que fará um juízo de necessidade e suficiência da realização do acordo para a reprovação
(finalidade retributiva da pena) e prevenção do crime (finalidade preventiva – geral e
especial – da pena), tendo em conta os interesses estatais e os interesses da vítima lesada
pelo delito. Sua aceitação pelo investigado implica a assunção de responsabilidade (confissão)
e a concordância em cumprir condições alternativas extrapenais e menos severas que a pena
– esta restrita à reserva de jurisdição – correspondente ao delito praticado. De outro lado, a
acusação deixa de instaurar a persecutio criminis in judicio, abre mão de ofertar denúncia, e
passa a fiscalizar o cumprimento do pacto perante o juízo das execuções, até que, ao final,
seja decretada pelo magistrado a extinção da punibilidade do agente. b) Os acordos de não
persecução e as negociações sobre a imposição de penas tem registros de surgimento em
diversos ordenamentos jurídicos, sendo citados pela doutrina os exemplos do direito norte-
americano, denominada Plea Bargaining, podendo-se citar também o Absprache, na
Alemanha, e o patteggiamento, na Itália. No Brasil, a justiça negociada ganhou força com a Lei
n.º 9.099/95, prevendo os institutos da transação penal e da suspensão condicional do
processual, evoluindo em outros diplomas normativos, modalidades de acordos e aplicação
em outros crimes médio e maior potencial ofensivo. Houve regulamentação do tema pelo
CNMP, pela Res. 181/2017 e posterior regulação legal pela Lei n 13.964/19. Mais
recentemente, a Corte Europeia de Direitos Humanos entendeu que os acordos não ofendem
o contraditório e o devido processo legal (caso Natsvlishvili e Togonidze vs. Georgia13). c) O
modelo consensual de solução de conflitos aplicado ao processo penal representa uma
mitigação ao princípio da obrigatoriedade da ação penal pública incondicionada, que, impõe a
persecução compulsória de crimes desta modalidade de delitos. Via de regra, o Ministério
Público tem o dever de buscar a condenação judicial de todos os culpados, desde que
presentes os pressupostos processuais e uma vez verificada a presença de provas de
materialidade delitiva e indícios suficientes de sua autoria. Conforme Aury Lopes Jr., “O dever
de agir faz com que não exista margem de atuação entre denunciar, pedir diligências
complementares ou postular arquivamento”25. O Ministério Público não pode, sem justa
causa, deixar de oferecer uma resposta aos fatos que lhe forem apresentados após uma
investigação. Este dever começou a ser amenizado com a criação do instituto da transação
penal, que inaugurou o que alguns autores denominam de “discricionariedade regrada ou
moderada”, pela qual o órgão acusatório passou a ter maior liberdade de dispor da ação
penal, nas hipóteses legais cabíveis27. Hoje, a prática dos acordos atenua ainda mais esta
imposição e privilegia a aplicação de critérios de oportunidade, conveniência e
disponibilidade28, corrigindo distorções no processo de seleção das causas penais29, como
reflexo de uma nova política criminal30, pautada pela intervenção mínima31. Fonte: O
ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL COMO FERRAMENTA POLÍTICOCRIMINAL DE
DESPENALIZAÇÃO DOS CRIMES DE MÉDIO POTENCIAL OFENSIVO, Carlo Velho Masi, Revista da
Defensoria Pública do RS). d) CNPG – ENUNCIADO 23 (ART. 28-A, § 2º) - É cabível o acordo de
não persecução penal nos crimes culposos com resultado violento, uma vez que nos delitos
desta natureza a conduta consiste na violação de um dever de cuidado objetivo por
negligência, imperícia ou imprudência, cujo resultado é involuntário, não desejado e nem
aceito pela agente, apesar de previsível ((BRASILEIRO DE LIMA, Renato. Manual de Processo
Penal. 8 ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Editora Jus Podvim, 2020. p. 280.)

CONSENSO NO PROCESSO PENAL

Modelo Consensual ou Negocial do Processo Penal

Tenta contrabalancear o modelo tradicional de conflito do Processo Penal, mediante um


sistema de justiça multiportas. Não exclui, complementa. Regime jurídicos diferenciados
para casos diferenciados.

Há espaço para o consenso no processo penal? Questiona-se ante tradicional o princípio da


obrigatoriedade da ação penal pública (art. 129, I, CF c/c art. 24 CPP e art. 100, § 1º CP:
falam sobre a titularidade do MP). Atualmente há uma remodelação/mitigação da
obrigatoriedade. É uma transição do autoritarismo para o consenso democrático e com
viés de racionalidade sistêmica/efetividade, reduzindo a burocracia do sistema da
obrigatoriedade e focando na criminalidade de maior vulto. Isso por insculpido no art. 98, I,
CF (JECRIM – transação penal). Portanto, sim. Frisa-se que não há afastamento da
obrigatoriedade, pela sua relevância ao interesse público e cumprimento de deveres
funcionais, mas essa não deve ser a única forma de expressão do poder punitivo do Estado.

Histórico: CF já previa JECRIM e Lei 9099/95 já iniciou o sistema da consensualidade. Lei


12.850/2013 (ORCRIM e colaboração premiada) potencializou esse processo. Mas ganhou
ainda mais relevância com o Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019 - ANPP), que aprimorou o
Microssistema da Colaboração Premiada. No âmbito do MP, o marco é a Res. 161.

Direito Comparado: Brasil não está inovando, já é uma realidade internacional. Nos EUA o
consenso já é uma característica marcante do sistema.

Precedente da CEDH sobre o Modelo Consensual (2014 - Caso NATSVLISHVILI AND


TOGONIDZE v. GEORGIA): CEDH entendeu pela legitimidade dos acordos e compatibilidade
com a CEDH, desde que respeitadas algumas salvaguardas do devido processo legal: defesa
técnica e controle jurisdicional sobre as balizas legais deste acordo. Legislação brasileira
está adequada (intepretação cosmopolita).

PLEA BARGANING

O ANPP é instituto que se aproxima do plea barganing, no formato do guilty plea (assumir
a culpa), na medida em que se permite uma negociação entre a acusação e a defesa, na qual
o prosecutor, em troca de concordância do réu em reconhecer-se culpado, bem como a sua
sujeição ao cumprimento de determinadas condições, lhe oferece vantagens como a
promessa de não formalizar a acusação e ao final do cumprimento das condições ajustadas a
extinção da punibilidade. Mas existe importantes distinções. O Plea Bargaining consiste em
uma negociação entre acusador e acusado dentro do processo-crime, no qual o órgão de
acusação oferece uma proposta de acordo que pode reduzir a pena pleiteada, modificar o
tipo de crime ou mesmo reduzir o número de crimes imputados na denúncia (charge
bargaining), bem como a possibilidade de negociar aspectos ligados diretamente a uma
sentença a ser recomendada ao juiz - como o tipo de pena a ser aplicada, atenuantes a
serem reconhecidas e local da pena a ser cumprida – ou de não se opor ao requerimento de
sentença feito pela defesa (sentence bargaining), com a condição de que o acusado se
declare culpado, seja por meio da confissão da pratica do crime (guilty plea), seja pela não
contestação da ação penal (plea of nolo ou nolo contedere). Verifica-se, portanto, que o
ANPP é muita mais restrita e limitada que o sistema do plea bargaining norteamericano .
No Brasil, o MP não possui tanta discricionariedade para realizar as negociais, já que as
hipóteses autorizadoras do acordo estão taxativamente previstas em lei. Por isso, há
doutrinadores que entendem que o ANPP representa mais uma ampliação do instituto da
transação penal, levando a aplicação deste instituto para fora das hipóteses de crimes de
menor potencial ofensivo, do que de um genuíno Plea Bargaining que envolve, em sua
essência, penas privativas de liberdade e acordos realizados com maior autonomia de
negociação entre as partes.

De que modo o consenso deve ser aplicado para ser legítimo (Pilares)? (a) Boa-fé; (b)
Autonomia da vontade; (c) Devido processo legal  devido processo consensual, que
contem a (1) liberdade de manifestação de vontade; (2) direito à defesa técnica; (3)
salvaguardas para legitimação do consenso no processo penal (expressão da CEDH):
observância de garantias constitucionais da ampla defesa e contraditório.

Estruturas diferenciadas:

(1) Redução dos Poderes do juiz: no modelo tradicional, a atuação do


juiz é mais expressiva, pois preside a audiência e sentencia. No
modelo consensual, prepondera a atuação da parte investigada e
do MP. Juiz apenas homologa, cingindo-se a apreciação da
legalidade.

(2) Aumento da Atuação das Partes.

(3) Ausência de conflito: lógica adversarial é substituída pelo


consenso.

(4) Possibilidade de renúncia ao direito de recorrer: pois o modelo


consensual é pautado na boa-fé e vedação ao comportamento
contraditório. Há inafastabilidade da justiça em termos de
ilegalidade.

Juiz pode imiscuir no acordo [controvérsia do art. 28-A § 5º e 581, XXV]: Afrontas ao
Sistema Acusatório e ao Modelo Consensual: (1) Juiz aprecia inadequação, insuficiência ou
abusividade do acordo para fins de homologação (vai além de um juízo de legalidade; (2)
Cabimento de RESE em caso de não homologação, de modo que a decisão final caberá ao
Judiciário e não ao MP.
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições
dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério
Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com concordância do
investigado e seu defensor.

Solução? Autocontenção do Judiciário (cingir-se à legalidade), alteração legislativa ou


declaração de inconstitucionalidade. Fala-se em aplicação do art. 28 (ao PGJ/R) por analogia,
mas não há omissão legislativa a demandar integração da lei.

INTRODUÇÃO: O acordo de não persecução penal, no Brasil, surgiu por inciativa do Conselho Nacional
do Ministério Público – CNMP, que editou a Resolução nº 181, de 07 de agosto de 2017, alterada pela
resolução 183, de 24 de janeiro de 2018. Amparou-se na necessidade de buscar soluções alternativas
no Processo Penal para proporcionar celeridade na resolução de casos menos graves, priorizando
recursos do Ministério Público e do Poder Judiciário para processamento e julgamento de casos mais
graves.
Com a promulgação da lei 13.964/19, porém, não subsistem mais dúvidas, o acordo de não
persecução penal passa a integrar efetivamente o ordenamento jurídico brasileiro, mitigando o
princípio da obrigatoriedade da ação penal pública e ampliando sobremaneira as hipóteses em que
o investigado - antes do oferecimento da denúncia - pode celebrar acordo com o Ministério Público.

DEFINIÇÃO E NATUREZA JURÍDICA:


Opção de política criminal. Processo penal negocial, mais célere e menos burocrático, que
substitui sanções penais por obrigações não imperativas. É uma perspectiva funcionalista do
Direito Penal, que deve escolher prioridades.
 Perspectiva Funcionalista não é nova, já existe desde a Lei 9099/95: composição dos danos
civis, transação e suspensão condicional do processo.

A QUESTÃO DA ÚLTIMA PALAVRA:


O que ocorre quando alguém preenche os requisitos e o MP não oferece proposta? O juiz
pode entender ser um direito do agente e ele mesmo implementar? Ou não, o MP tem a
última palavra? Em relação à transação e suspensão condicional do processo, já se definiu
como um poder-dever do Ministério Público – um mecanismo de discricionariedade regrada;
e NÃO (isso interessa) como um direito subjetivo do agente a ser apreciado pelo Judiciário.
Súmula 696/STF - Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo,
mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao
Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.
Enunciado nº 19 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Estados e da União – CNPG e do
Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal – GNCCRIM: o ANPP “é faculdade do
Ministério Público, que avaliará, inclusive em última análise (§ 14), se o instrumento é necessário e
suficiente para a reprovação e prevenção do crime no caso concreto”.

A OBRIGAÇÃO NEGOCIAL É PENA?


É um equivalente funcional da pena. Para Fischer e Pacelli o ANPP implica a aplicação de uma
pena criminal, no entanto, a maioria da doutrina/Enunciado refuta.

Enunciado 25 do CNPG/GNCCRIM: O acordo de não persecução penal não impõe penas, mas
somente estabelece direitos e obrigações de natureza negocial e as medidas acordadas
voluntariamente pelas partes não produzirão quaisquer efeitos daí decorrentes, incluindo a
reincidência.

REQUISITOS CUMULATIVOS DO ANPP:


Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e
circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena
mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não
persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime,
mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:
1) PENA MÍNIMA INFERIOR A 4 ANOS: em geral, o condenado a pena de 4 anos não será
preso. Não pode ser igual (3a,11m e 30d). Cabe para furto, receptação, estelionato,
contrabando, descaminho. Serão consideradas as causas de aumento e diminuição
(art. 28-A, § 1º): é o entendimento para outros institutos, como transação/suspensão
condicional do processo (Súmulas 243 STJ e 723 STF) e Enunciado 29 CNPG/GNCCRIM).
Outros institutos que usam este patamar:
✓ regime de cumprimento de pena (art. 33, § 2º, ‘c’, CP);
✓ substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (art. 44, I, CP);
✓ suspensão condicional da pena para idosos (art. 77, § 2º, CP);
✓ possibilidade de fiança pelo delegado (art. 322, CPP);
✓ admissibilidade da prisão preventiva (art. 313, I, CPP);
✓ eleição de procedimentos (art. 394, § 1º, I, CPP).

2) SEM VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA. A pessoa. Pode ser real, imprópria e presumida.
Qual tipo de violência? Dolosa ou culposa também? Violência deve estar na conduta,
não no resultado:
Enunciado 23 do CNPG/GNCCRIM: É cabível o acordo de não persecução penal nos crimes
culposos com resultado violento, uma vez que nos delitos desta natureza a conduta consiste
na violação de um dever de cuidado objetivo por negligência, imperícia ou imprudência, cujo
resultado é involuntário, não desejado e nem aceito pela agente, apesar de previsível.
Existe posicionamento contrário, porque o legislador não expressou a exceção.

3) NÃO SER O CASO DE ARQUIVAMENTO. ANPP não é atalho para conclusão. Deve
existir a aparência de prática de um crime, legitimidade de parte, punibilidade
concreta e justa causa. Dentro desse requisito está o requisito de existência de uma
investigação/procedimento formal, para que haja controle de legalidade do ANPP.

4) NECESSIDADE E SUFICIÊNCIA DO ANPP. Requisito relativamente aberto (subjetivo).


Por isso, é preciso objetivar para dar segurança jurídica, sendo recomendável a
utilização das circunstâncias judiciais (art. 59 CP):
Orientação Conjunta nº 03/2018 (revisada de março de 2020), das 2ª, 4ª e 5ª Câmaras de
Coordenação e Revisão do MPF, item 2, ‘h’: ser a celebração do acordo suficiente à
reprovação e à prevenção do crime, tendo em vista a culpabilidade, os antecedentes, a
conduta social e a personalidade do autor do fato, bem como os motivos e as
circunstâncias do crime (artigo 44, inciso III, do Código Penal).
A Resolução 181 CNMP impedia ANPP em caso de “dano causado for superior a vinte
salários mínimos ou a parâmetro econômico diverso definido pelo respectivo órgão de
revisão, nos termos da regulamentação local” (art. 18 § 1º II). Não foi reproduzido
pelo Pacote Anticrime, pois, como a reparação do dano é condicional obrigatória.
Nesse ponto, será de fundamental importância o exame cuidadoso da culpabilidade do agente, as
circunstâncias e a danosidade do fato, já a ser examinada concretamente. A reiteração de fatos da
mesma natureza – ou até mesmo de outra – deverá ser levada em conta, bem como a primariedade e
ausência de antecedentes do agente. Relembre-se que há previsão de impossibilidade do acordo para
investigados reincidentes ou em conduta criminal habitual, reiterada ou profissional (art. 28-A, § 2º,
II). De fato, são inúmeros os crimes assim qualificados, incluindo simplesmente todos os crimes contra
a Administração Pública, os de organização criminosa (integrar ou participar de organização criminosa)
e os de lavagem de dinheiro, delitos portadores de maior censura pública.

5) CONFISSÃO FORMAL E CIRCUNSTANCIADA: no momento do acordo.


Orientação Conjunta nº 03/2018 (revisada em março de 2020), das 2ª, 4ª e 5ª Câmaras de Coordenação e Revisão
do MPF, item 12: O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e firmado pelo membro do
MPF, pelo investigado e por seu defensor, devendo a confissão ser preferencialmente registrada em meio
audiovisual
o Caso haja homologação e cumprimento das condições impostas no ANPP,
ocorrerá extinção da punibilidade (§ 13, art. 28- A, CPP), restando sem reflexos
a ‘confissão’.
o Essa confissão não implica em culpa, que depende de devido processo legal:
§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não
constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no
inciso III do § 2º deste artigo.
o Essa confissão poderá ser usada como elemento de prova? SIM. Atualmente
está suspenso, mas o art. 3º-C § 3º diz que o juiz de julgamento sequer terá
acesso.
Em caso de descumprimento do acordo poderá ser usada: i) como
corroborador das provas produzidas em contraditório (CPP, art. 155); ii) como
fonte de informação para busca de novos elementos probatórios e fontes de
prova e iii) como elemento de contraste em relação a eventuais depoimentos
aparentemente falsos prestados no processo penal, caso, obviamente, ocorra
o descumprimento. Isso porque, uma das finalidades da confissão é
precisamente essa, oferecer uma contrapartida ao Estado por ele ter aberto
mão do exercício da ação penal. Do contrário, não haveria consequência pelo
descumprimento do acordo, só atrapalhado persecução.
Enunciado 28 do CNPG/GNCCRIM: Havendo descumprimento dos termos do
acordo, a denúncia a ser oferecida poderá utilizar como suporte probatório a
confissão formal e circunstanciada do investigado (prestada voluntariamente na
celebração do acordo)
Portanto, a confissão (judicial ou extra) sozinha não é suficiente para
condenar ninguém. A confissão no ANPP, por si só, igualdade. Mas há valor
probatório relativo.

VEDAÇÕES/CAUSAS IMPEDITIVAS (§ 2º):


I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos
termos da lei;
Há uma ordem de preferência: 1º - TRANSAÇÃO (fase prematura, cabível para IMPO com pena
mínima até 2 anos)  2º - ANPP (conclusão das investigações, pena mínima inferior a 4 anos)
 3º - SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (oferecimento da denúncia).
§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado
também poderá ser utilizado pelo Ministério Público como justificativa para o
eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo

II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem


conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações
penais pretéritas;
Cabe ANPP se a reiteração for em crime de outra espécie? SIM. Habitualidade e reiteração
devem se referir ao mesmo delito ou a delitos da mesma espécie.

Cabe ANPP para quem já responde processo em curso ou é (já foi) investigado em inquéritos
policiais? SIM. É primária. Presunção de inocência. Reincidente é quem tem condenação
definitiva.
 Diferente da suspensão condicional do processo, que é mais restritiva, vedando sursis
processual a quem esteja sendo processado.
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da
infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do
processo; e
Igual para o benefício da transação penal, aplicada analogicamente para a suspensão
condicional do processo (STJ). Para a contagem, vale a data de homologação do benefício
anterior.

IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados


contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.

Cabe ANPP para crimes hediondos? Lei não proibiu. Mas há divergência. Tanto a Res. 181 do
CNMP quanto o Enunciado 22 CNPG/GNCCRIM vedam para hediondos e equiparados, mas a
lei não repetiu. Mas, se a lei não proibiu, não é um requisito objetivo, devendo o crime
incorrer em outra vedação (até porque a maioria é violenta), só sobram três hipóteses: (i)
posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido; (ii) organização criminosa; (iii) tentativa
de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de criança ou
adolescente ou de vulnerável, que muito raramente será suficiente o ANPP (considerando que,
ao final, com tais penas mínimas, sequer haverá prisão).

Cabe ANPP para crimes militares? Res. 181 CNMP vedava aos crimes militares que afetassem
a hierarquia e disciplina. Lei silenciou, gerando divergência que vai da aplicação a todos até a
não aplicação a todos, porque houve alterações no CPPM no Pacote Anticrime, sem levar o
ANPP (silêncio eloquente).

CONDIÇÕES IMPOSTAS:
Há divergência sobre natureza das condições.
Enunciado 25 do CNPG/GNCCRIM: O acordo de não persecução penal não impõe penas, mas
somente estabelece direitos e obrigações de natureza negocial e as medidas acordadas
voluntariamente pelas partes não produzirão quaisquer efeitos daí decorrentes, incluindo a
reincidência.

Art. 28-A mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:


I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como
instrumentos, produto ou proveito do crime;
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à
pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado
pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal);

IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº


2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a
ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger
bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde
que proporcional e compatível com a infração penal imputada.

1) REPARAÇÃO DO DANO:
Orientação Conjunta nº 03/2018 (revisada em março de 2020), das 2ª, 4ª e 5ª Câmaras de
Coordenação e Revisão do MPF:
14. A impossibilidade econômico-financeira de reparar o dano deverá ser demonstrada pelo
interessado com base em documentos, tais como, extratos de conta corrente, conta de luz,
imposto de renda ou outros documentos, sem prejuízo de consulta à ASSPA. 15. A reparação
do dano não terá, necessariamente, de ser integral, quando aplicada em conjunto com
outras condições.

2) RENÚNCIA DE BENS E DIREITOS (CONFISCO AQUIESCIDO): Com parâmetro na


condenação de confisco (art. 91, II). Poderão ser outros equivalentes por aplicação
analógica bem como confisco alargado do art. 91-A, do CPP, com as condições ali
previstas.
Art. 91 § 1º Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do
crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior.
§ 2º Na hipótese do § 1º, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão
abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda.

3) PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS COMUNITÁRIOS: Com parâmetro no art. 46 CP. Mas, aquilo


que era uma pena restritiva virou condição necessária para o ANPP. Não se cogita
prisão em caso de descumprimento.
Qual o tempo de prestação? Depende do crime. O inc. III diz que é por período
correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços. É
vantajoso, porque se condenado, seria equivalente a pena imposta (1 hora por 1 dia).
Quem fixa o local? O juiz da execução (execução do ANPP dá-se perante juízo da
execução – art. 28-A § 6º).

4) ECUNIÁRIA (ALTERNATIVA A OUTRA CONDIÇÃO): Parâmetro no art. 45 do CP: “É


pagamento em dinheiro à vítima, dependentes ou entidade pública ou privada com
destinação social, de importância fixada pelo juiz (pelo MP no ANPP) entre 1 a 360 SM.
Será deduzido da reparação civil, se coincidentes os beneficiários. Se houver aceitação
do beneficiário, pode consistir em prestação de outra natureza. Como no ANPP é
condição, não pena, não cabe pagamento à vítima/dependentes. A destinação é
definida pelo juízo da execução penal.

5) CONDIÇÃO ALTERNATIVA GENÉRICA: Como a renúncia ou exoneração de cargo;


compromisso de não se candidatar ou não exercer determinada atividade; submeter-
se a tratamento ambulatorial e não frequentar lugares; suspensão total ou parcial de
atividades, interdição temporária; compromisso de não contratação; compromisso de
publicação de notícia ou retirada de conteúdo.
De todo modo:
Res 181 (NÃO INCLUÍDO NO CPP) § 8º É dever do investigado comunicar ao Ministério Público eventual
mudança de endereço, número de telefone ou e-mail, e comprovar mensalmente o cumprimento das
condições, independentemente de notificação ou aviso prévio, devendo ele, quando for o caso, por
iniciativa própria, apresentar imediatamente e de forma documentada eventual justificativa para o não
cumprimento do acordo.
Recomendação 26 do CNPG/GNCCRIM: Deverá constar expressamente no termo de acordo de não
persecução penal as consequências para o descumprimento das condições acordadas, bem como o
compromisso do investigado em comprovar o cumprimento das condições, independentemente de
notificação ou aviso prévio, devendo apresentar, imediatamente e de forma documentada, eventual
justificativa para o não cumprimento de qualquer condição, sob pena de imediata rescisão e
oferecimento da denúncia em caso de inércia (§10º).

APLICAÇÃO DO ANPP:
RETROAGE?
ANPP é norma híbrida, com conteúdo processual e material (extinção de punibilidade).
Portanto, pode ser aplicada a fatos ocorridos antes da vigência da LEI 13.964/2019 (STF aplicou
para as normas da Lei 9099/95 – ADI 1719).
O debate é até qual momento ou fase do processo essa retroatividade deve incidir: quatro
correntes.
1) Até o recebimento da denúncia. Se é um acordo de “não persecução”, só pode ser
celebrado até o início da persecução.
a. Enunciado 20 do Encontro Nacional de PGJ (CNPG/GNCCRIM)
b. Enunciado 30 da PGJ e da Corregedoria do MPSP
c. 5ª Turma do STJ (AgRg no REsp 1826584/SC– 2020)
d. Renato Brasileiro
Importante!!!
O acordo de não persecução penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei
nº 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia
A Lei nº 13.964/2019 (“Pacote Anticrime”) inseriu o art. 28-A ao CPP, criando, no
ordenamento jurídico pátrio, o instituto do acordo de não persecução penal (ANPP).
A Lei nº 13.964/2019, no ponto em que institui o ANPP, é considerada lei penal de
natureza híbrida, admitindo conformação entre a retroatividade penal benéfica e o
tempus regit actum. O ANPP se esgota na etapa pré-processual, sobretudo porque
a consequência da sua recusa, sua não homologação ou seu descumprimento é
inaugurar a fase de oferecimento e de recebimento da denúncia. O recebimento da
denúncia encerra a etapa pré-processual, devendo ser considerados válidos os atos
praticados em conformidade com a lei então vigente. Dessa forma, a retroatividade
penal benéfica incide para permitir que o ANPP seja viabilizado a fatos anteriores à
Lei nº 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. Assim, mostra-se
impossível realizar o ANPP quando já recebida a denúncia em data anterior à
entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019.
STJ. 5ª Turma. HC 607.003-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2020 (Info
683).
STF. 1ª Turma. HC 191464 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/11/2020.

2) Até o início da instrução penal


a. MPMG (posição antes do Pacote)
3) Até a sentença:
a. MPSC
b. MPMG (Portaria Conjunta 20/2020)
c. Andrey Borges de Mendonça
4) Até o trânsito em julgado: para benefícios similares, o STJ já fixou ser aplicável
inclusive em fase de sentença, quando houver desclassificação ou procedência parcial
da acusação. “Tese nº 5 STJ: É inadmissível o pleito de suspensão condicional do
processo após prolação de sentença, ressalvadas as hipóteses de desclassificação ou
procedência parcial da pretensão punitiva estatal.”
a. MPF:
ENUNCIADO 98 2 CCR – 2020
É CABÍVEL O OFERECIMENTO DE ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL NO CURSO DE AÇÃO
PENAL, ISTO É, ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO, DESDE QUE PREENCHIDOS OS
REQUISITOS LEGAIS, DEVENDO O INTEGRANTE DO MPF OFICIANTE ASSEGURAR QUE SEJA
OFERECIDA AO ACUSADO A OPORTUNIDADE DE CONFESSAR FORMAL E
CIRCUNSTANCIALMENTE A PRÁTICA DE INFRAÇÃO PENAL, NOS TERMOS DO ART. 28-A DA
LEI 13964/2019, QUANDO SE TRATAR DE PROCESSOS QUE ESTAVAM EM CURSO QUANDO DA
INTRODUÇÃO DA LEI 13964/2019, CONFORME PRECEDENTES, PODENDO O MEMBRO OFICIANTE
ANALISAR SE EVENTUAL SENTENÇA OU ACÓRDÃO PROFERIDO NOS AUTOS CONFIGURA MEDIDA
MAIS ADEQUADA E PROPORCIONAL AO DESLINDE DOS FATOS DO QUE A CELEBRAÇÃO DO ANPP.
NÃO É CABÍVEL ACORDO PARA PROCESSOS COM SENTENÇA OU ACORDÃO APÓS A VIGÊNCIA
DA LEI 13964/2019 , UMA VEZ QUE OFERECIDO O ANPP E RECUSADO PELA DEFESA, QUANDO
HAVERÁ PRECLUSÃO.
b. 6ª Turma do STJ (AgRg no HC 575.395/RN – 2020)
i. Mas no AgRg no AREsp 1683890/SC (2020) decidiu que a matéria não
poderia ser veiculada a qualquer momento se representasse inovação
recursal
c. Marcos Paulo Dutra
d. Guilherme Madeira Dezem
e. Luciano Anderson de Souza

Resposta? STF (Afetou o tema no HC 185.913/DF).

HOMOLOGAÇÃO E CONTROLE JURISDICIONAL:


§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência na
qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na
presença do seu defensor, e sua legalidade.
 O MP deve estar presente na audiência de homologação? Lei não exige. Mas para
alguns autores, há interesse processual direto, o que justifica sua presença.

Qual é a natureza da sentença que homologa o ANPP? Não equivale a uma sentença
condenatória. É mero ato homologatório, de natureza integrativa do negócio jurídico
(condição de eficácia), sem força de coisa julgada material e que tem a função de garantia da
legalidade e legitimidade da avença, permitindo que ela passe a surtir seus efeitos jurídicos
(cumprimento, suspensão da prescrição, termo a quo para contagem do prazo de 5 anos par
anovo ANPP; intimação da vítima).

Quais são os limites do controle jurisdicional? O juiz pode avaliar as condições e o conteúdo
delas?
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no
acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja
reformulada a proposta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor.
§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou
quando não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo.
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise
da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia.
A lei fala em avaliação das condições. Para o MP, é mera constatação adequação à legalidade,
não imiscuindo na discricionariedade regrada atribuída pela Lei ao MP:
Enunciado 24 do Conselho Nacional de ProcuradoresGerais/GNCCRIM: A homologação do acordo de
não persecução penal, a ser realizada pelo juiz competente, é ato judicial de natureza declaratória,
cujo conteúdo analisará apenas a voluntariedade e a legalidade da medida, não cabendo ao
magistrado proceder a um juízo quanto ao mérito/conteúdo do acordo, sob pena de afronta ao
princípio da imparcialidade, atributo que lhe é indispensável no sistema acusatório.
O juiz não pode se tornar protagonista do acordo, mas havendo inadequação, insuficiência ou
abusividade, poderá agir tão somente para recusar e remeter (não atendimento dos requisitos
legais) ou remeter ao MP (reformulação condições).
 Não concordando com a recusa do juiz, caberá RESE (art. 581, XXV)

E se o acusado preenche os requisitos da lei e o MP não propõe o ANPP?


§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não
persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na
forma do art. 28 deste Código.
O juiz pode fazer alguma coisa? A lei é omissa. Alguns entendem pelo silêncio eloquente e, no
máximo, o juiz pode provocar o acusado para manifestar-se. Outros entendem que o ANPP é
um direito público subjetivo do acusado, a ser tutelado pelo juiz. Para isso, PACELLI sugere a
rejeição da denúncia pelo juiz por ausência de justa causa (necessidade) para persecução
penal. Outros entendem que o juiz poderia submeter a questão à instância revisora do próprio
MP (opção da jurisprudência no sursis processual – ubi eadem ratio ibi idem jus):
Súmula 696/STF - Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo,
mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao
Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.
 Freios e contrapesos: Se o parquet julga, o juiz poderá ser fiscal do parquet. Não é
razoável deixar isso na mão de um promotor de 1ª instância e um acusado sem
advogado. Não viola sistema acusatório porque a palavra final continua com o MP.

Portanto:
a) Quanto ao ANPP proposto e suas condições: última palavra é do Judiciário
b) Quanto ao ANPP não proposto: última palavra é do MP

ADIMPLEMENTO E COMPETÊNCIA:
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos
ao Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal. 
§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu
descumprimento
Orientação Conjunta nº 03/2018 (revisada em março de 2020), das 2ª, 4ª e 5ª Câmaras de
Coordenação e Revisão do MPF, item 20, vai em sentido contrário: O membro oficiante determinará
a intimação da vítima sobre a homologação do acordo de não persecução penal, bem como de seu
descumprimento, preferencialmente por meio eletrônico ou telefone. Quando a vítima for entidade
de direito público, a intimação será endereçada a seu órgão de representação judicial.
Cumprido o acordo:
§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente
decretará a extinção de punibilidade
Descumprido o acordo:
§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução
penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior
oferecimento de denúncia.
 Decisão judicial terá natureza constitutiva negativa e deve ser submetida ao
contraditório e ampla defesa.

Qual o juiz competente para extinguir a punibilidade ou rescindir o ANPP?


 Posição 1 (MAJORITÁRIA): Juízo da EXECUÇÃO. Cabível agravo em execução nos casos
em que o juiz indefere o pedido de rescisão do ANPP. MP deve requerer a devolução
dos autos à Vara de Origem para oferecimento da denúncia. Foi uma decisão
pragmática (eficiência – art. 37 CF) de aproveitar as Varas das Execuções penais, que
já é quem indica o local de cumprindo dos serviços à comunidade (art. 28-A, III) e a
entidade pública destinatária da prestação pecuniária (art. 28-A, IV). Assim, quem
pode mais (executar), pode menos (avaliar cumprimento).
Orientação Conjunta nº 03/2018 (revisada em março de 2020), das 2ª, 4ª e 5ª Câmaras de
Coordenação e Revisão do MPF, item 21: Após o cumprimento das condições acordadas, e
sua certificação nos autos pelo serventuário da justiça, o membro oficiante requererá a
extinção da punibilidade perante o juízo de execução.

 Posição 2: Juízo competente para HOMOLOGAÇÃO.


Enunciado 28 do CNPG/GNCCRIM: Caberá ao juízo competente para a homologação
rescindir o acordo de não persecução penal, a requerimento do Ministério Público, por
eventual descumprimento das condições pactuadas, e decretar a extinção da punibilidade
em razão do cumprimento integral do acordo de não persecução penal

É cabível “novação” no ANPP? Sim. Trata-se de operação jurídica típica do Direito das
obrigações, criando uma nova obrigação, substituindo e extinguindo a obrigação anterior e
originária. Pode evitar rescisão. Sua eficácia dependerá de homologação judicial.
É cabível “detração” da “pena” do ANPP da pena que vier a ser cumprida em caso de
descumprimento? Não. Condições não são impostas, mas sim pactuadas (não são sanções). A
perda do referido tempo é consequência natural do descumprimento, desídia e deslealdade do
investigado.

DECISÕES E ENTENDIMENTOS RECENTES:


Enunciado 3 da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ
A inexistência de confissão do investigado antes da formação da opinio delicti do Ministério
Público não pode ser interpretada como desinteresse em entabular eventual acordo de não
persecução penal.
CRÍTICAS AO ANPP:

1. Inconstitucionalidade da Exigência de Confissão: alega-se violação o princípio da presunção


de inocência e o princípio de que ninguém será obrigado a produzir prova contra si mesmo. A
exigência de que tenha “o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de
infração penal”, em tese, viola frontalmente a garantia constitucional de que “o preso será
informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado” (CF/88, art. 5º, LXIII), bem
como o enunciado supralegal contido na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, Pacto
de São José da Costa Rica (8º, 2, g), o qual prevê que “toda pessoa acusada de delito tem
direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa.
Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias
mínimas: g) direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada. 2.
Possibilidade de o MP estabelecer outras condições: há críticas também no sentido de que a
previsão legal de o MP estabelecer “outras condições, desde que proporcional e compatível
com a infração penal imputada”, utiliza-se de terminologias vagas e imprecisas, abrindo espaço
para condições abusivas. 3. Termos de adesão: outra crítica feita é que, na realidade prática,
não existe espaço para negociação, funcionando esses acordos como verdadeiras imposições
ou termos de adesão por parte do MP.

JUIZ DAS GARANTIAS


Introduzido pela Lei 13.964/2019 (art. 3ºB a 3ºF, CPP). O que se busca é evitar uma espécie de
‘contaminação’ do julgador que teve acesso aos elementos de informação produzidos numa
investigação. Sua previsão serve ao aprofundamento do princípio acusatório de justiça
criminal e à garantia da presunção de inocência, a partir do direito a um julgamento justo,
realizado por um juiz ou tribunal objetivamente e subjetivamente imparcial. O juiz das
garantias torna-se impedido, enquanto na regra anterior o juiz da investigação torna-se
prevento. Com isso, operar-se-ia uma efetiva distinção entre os elementos informativos
colhidos na investigação (de forma unilateral, em sua maioria) e as provas produzidas no
processo (com contraditório e ampla defesa).

Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação
criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à
autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente:
I - receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do inciso LXII do caput do art. 5º da Constituição
Federal;
II - receber o auto da prisão em flagrante para o controle da legalidade da prisão, observado o disposto no art.
310 deste Código;
III - zelar pela observância dos direitos do preso, podendo determinar que este seja conduzido à sua presença, a
qualquer tempo;
IV - ser informado sobre a instauração de qualquer investigação criminal;
V - decidir sobre o requerimento de prisão provisória ou outra medida cautelar, observado o disposto no § 1º
deste artigo;
VI - prorrogar a prisão provisória ou outra medida cautelar, bem como substituí-las ou revogá-las, assegurado,
no primeiro caso, o exercício do contraditório em audiência pública e oral, na forma do disposto neste Código ou
em legislação especial pertinente;
VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não repetíveis,
assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral;
VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o investigado preso, em vista das razões apresentadas
pela autoridade policial e observado o disposto no § 2º deste artigo;
IX - determinar o trancamento do inquérito policial quando não houver fundamento razoável para sua
instauração ou prosseguimento;
X - requisitar documentos, laudos e informações ao delegado de polícia sobre o andamento da investigação;
XI - decidir sobre os requerimentos de: a) interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em sistemas de
informática e telemática ou de outras formas de comunicação; b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de
dados e telefônico; c) busca e apreensão domiciliar; d) acesso a informações sigilosas; e) outros meios de
obtenção da prova que restrinjam direitos fundamentais do investigado;
XII - julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da denúncia;
XIII - determinar a instauração de incidente de insanidade mental;
XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste Código;
XV - assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito outorgado ao investigado e ao seu defensor de
acesso a todos os elementos informativos e provas produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo no que
concerne, estritamente, às diligências em andamento;
XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da perícia;
XVII - decidir sobre a homologação de acordo de não persecução penal ou os de colaboração premiada, quando
formalizados durante a investigação;
XVIII - outras matérias inerentes às atribuições definidas no caput deste artigo.

§ 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da


autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do
inquérito por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for
concluída, a prisão será imediatamente relaxada.
Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as
de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na forma
do art. 399 deste Código.
§ 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas pelo juiz da
instrução e julgamento. § 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o
juiz da instrução e julgamento, que, após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá
reexaminar a necessidade das medidas cautelares em curso, no prazo máximo de 10 (dez)
dias.
§ 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão
acautelados na secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não
serão apensados aos autos do processo enviados ao juiz da instrução e julgamento,
ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis, medidas de obtenção de provas
ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para apensamento em apartado. §
4º Fica assegurado às partes o amplo acesso aos autos acautelados na secretaria do juízo
das garantias.
Art. 3º-D. O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato incluído nas
competências dos arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido de funcionar no processo.
Parágrafo único. Nas comarcas em que funcionar apenas um juiz, os tribunais criarão um
sistema de rodízio de magistrados, a fim de atender às disposições deste Capítulo.
Art. 3º-E. O juiz das garantias será designado conforme as normas de organização judiciária
da União, dos Estados e do Distrito Federal, observando critérios objetivos a serem
periodicamente divulgados pelo respectivo tribunal.
Art. 3º-F. O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o
tratamento dos presos, impedindo o acordo ou ajuste de qualquer autoridade com órgãos
da imprensa para explorar a imagem da pessoa submetida à prisão, sob pena de
responsabilidade civil, administrativa e penal. Parágrafo único. Por meio de regulamento, as
autoridades deverão disciplinar, em 180 (cento e oitenta) dias, o modo pelo qual as
informações sobre a realização da prisão e a identidade do preso serão, de modo
padronizado e respeitada a programação normativa aludida no caput deste artigo,
transmitidas à imprensa, assegurados a efetividade da persecução penal, o direito à
informação e a dignidade da pessoa submetida à prisão. (Lei nº 13.964, de 2019)
 Cria uma divisão entre juízes: não é inédito, pois já o juiz do julgamento/execução;
togado/leigos no Júri.
 Não é inédito, pois a CF alberga o TPI, em que há juízo de garantias (“seção de
instrução”); na Justiça Militar Paulista também há essa divisão.
 Direito Comparado: Alemanha, Itália, Portugal, Chile, Colômbia, Honduras, Uruguai, El
Salvador, Equador, Paraguai e Peru e EUA.
 ADI 6298: TODAS as disposições que tratam da implantação do juiz de garantias e
seus consectários estão com a eficácia suspensa.

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