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Sétima entrevista, da série Perfil Bully, para conhecer melhor os criadores que são destaque
no Brasil. Apresentamos: Marco Ude – Ude Bullies’ by MAG
01) Como conheceu o American Bully e qual foi o primeiro impacto com a raça?
Um cão com uma aparência robusta, forte, mas com uma docilidade incrível. Essa
docilidade foi o que me chamou mais a atenção naquele momento.
Por outro lado, quando fui pesquisar valores nos melhores canis da época, me assustei.
Não estava acostumado a escutar valores como 5 a 10 mil dólares por um filhote, então
como naquele momento meu foco era outro, acabei não adquirindo meu primeiro American
Bully. Mas continuei acompanhando e pesquisando sobre a raça.
02) Você sempre foi um representante da Daxline no Brasil, sempre com muito orgulho
dessa linha de sangue, mas em algum momento da sua criação você sofreu pressão para
adicionar outras linhas de sangue que vinham se destacando e influenciando o movimento
bully?
De fato, sou muito grato ao velho Ed Shepherd (R.I.P.) e ao Gottyline’s Dax por tudo que
fizeram pela raça e pelo meu canil. Tive a honra de conhecê-los pessoalmente e estar com
ambos por mais de uma vez.
Na primeira vez que me sentei na sala de estar da casa do Ed e ele sentado em sua
poltrona com o Dax deitado ao lado, eu achei que estava sonhando. Talvez muitos que
começaram na raça mais recentemente não irão entender bem, mas naquela época (sete
anos atrás), eu estava diante do cão mais falado da raça – sem sombra de dúvidas o
Gottyline’s Dax era o Rei dos American Bullies.
Escutei muitas histórias, conselhos do que fazer ou não fazer, algumas dicas sobre a
linhagem Gottyline e foi depois de algumas horas de conversa que decidi que esse era o
caminho que gostaria de seguir.
Comprei três filhas do Dax (Coco Chanel, Daxi e La Blanca) e duas montas dele. A partir
deste momento, o Mag Bully surgiu como um representante da linha Daxline no Brasil.
Sobre usar outras linhas de sangue em nossos projetos, nunca tivemos o menor problema
com isso. Sou adepto do que é bom e do que me agrada.
Não sigo modismo, crio o que gosto e sempre respeitando a raça. Tanto é que
posteriormente importei matrizes como a Isis (Mikeland), Mia (filha do Miagi), Cous Cous
(Dax x Miagi) e outras.
03) O que você pode falar sobre o finado Ed Shepherd e o Gottyline’s Dax? Qual a
importância do trabalho dele para a raça American Bully?
Ed Shepherd tem meu respeito e acredito que tem o respeito da grande maioria dos
criadores da raça. Um cara que conseguiu fazer com que sua linhagem seja conhecida
mundialmente e que fez de um cão o Rei dos American Bullies.
Dax foi um divisor de aguas na raça American Bully e o velho Ed foi seu mentor. Um
dependia do outro, tanto que logo após o Dax nos deixar, o velho Ed acabou indo a seu
encontro.
In Memorian
Características marcantes de cães Daxline, podemos citar: massa muscular, um cupim bem
rodado e aparente, ombros largos e um peito amplo e de boa profundidade.
Dax era um cão Standard Extreme (categoria), uma frente muito forte e pesada, muito
bonito de se ver, mas porem com alguns defeitos ou falhas visíveis; como por exemplo, ser
um cão com uma linha de dorso longa e outra curiosidade: ele também tinha a mordida
prognata.
Esse tamanho (altura) e até mesmo seu comprimento são características notáveis na linha
de sangue. Muitos de seus descendentes trazem consigo estas características.
Indo meio que contra estas características, eu busquei sempre selecionar cadelas menores
e mais curtas para trabalhar. Talvez devido a isso conseguimos atingir um resultado
interessante em curto prazo e até mesmo produzir filhos e netos dele que se enquadram na
categoria mini ou micro.
Dax não era um cão perfeito no quesito fenótipo, mas é indiscutível que ele foi um
verdadeiro raçador.
05) No Brasil quando iniciaram os shows de conformação diziam que o American Bully para
pista não era um verdadeiro exemplar da raça, mas você é um representante Daxline e
sempre esteve em pistas, no Brasil e nos Estados Unidos, levando muitos títulos. Você
acredita que dá pra conciliar a correção de um cão de pista, com o volume e o conjunto que
se espera de um American Bully?
Bom, sinceramente eu nunca escutei falar que o American Bully não é um cão para shows
de conformação. Muito menos que o cão de pista não representa a raça. É até cômico isso,
porque alguém falar isso mostra toda sua ignorância para com a raça e suas raízes.
A ABKC é a “associação mãe” do American Bully e há anos promove a raça mundo a fora
justamente com seus eventos e competições. A cada ano que passa consolida sua força e
mais eventos são adicionados no seu calendário anual.
Então onde será que está o erro: no American Bully que está capacitado para representar a
raça em frente a um juiz oficial ou será aquele “Cão X” que o modismo comercial criou
visando lucros, mas que tem tantas falhas de fenótipo que não pode ser quer entrar em uma
pista para ser avaliado porque certamente irá perder ou até mesmo ser desclassificado da
pista?
O American Bully bem-criado e selecionado pode ser um cão completo, basta haver
dedicação, conhecimento e trabalhar respeitando o padrão da raça.
06) Você foi um dos pioneiros do American Bully variedade Micro no Brasil – uma versão
em miniatura do que se espera do padrão da raça. Anos depois como você enxerga a
“explosão” desses cães pequenos e o rumo exótico que levaram? Você acredita que há
uma diferença entre um American Bully Micro e um Exotic Bully Micro?
Meu primeiro American Bully Miniatura foi produzido em nosso canil há uns seis anos. Filho
e neto do Dax, nasceu nosso Barney (Dax x Daxi), um verdadeiro mini monstro.
Depois disso vieram seus sucessores, como o CH. Bam Bam (Campeão American Bully
Mini pela IBC), CH. Diamantina (Campeã American Bully Mini pela IBC), Cupcake, Top
Model, Minnie, Catatau, Peanut, Trooper, Kong, Bella e outros.
A cada dia que passa mais e mais cães com inúmeros problemas genéticos são despejados
no mercado e quem irá pagar a conta disso amanhã será seus donos e não os vendedores
de cães.
Pesquisar é importante: um cão Mini ou Micro tem que se movimentar bem, tem que
respirar bem, tem que ser capaz de viver uma vida normal; não ser um bibelô criado apenas
dentro de casa porque não consegue fazer mais nada além de comer e dormir. Isso está
errado.
American Bully (categoria Miniatura) é uma raça, Exotic Bully (categoria Micro) é outra raça.
São raças diferentes e com suas características distintas.
07) Como um criador como você, com resultados conciliando cães baixos, corretos e dentro
do padrão American Bully, enxerga os criadores/clientes que buscam um micro bully, mas
os desejam com características totalmente exóticos e abulldogados?
Há quem busca o American Bully (miniatura) e há quem quer o Exotic Bully (micro). Vai do
gosto pessoal de cada um.
Quando falamos de American Bully e principalmente Exotic Bully, ambas são raças muito
novas. Raças estas que sofreram mudanças genéticas fortes nos últimos anos e com isso o
banco genético ainda não é consolidado. Há muito a ser melhorado, principalmente muito a
ser selecionado. Só a constante seleção dos melhores indivíduos irá nos levar para um
futuro mais promissor para estas raças.
Em relação aos problemas mais comuns que tenho visto nesses últimos sete anos, posso
destacar:
Outra doença dos infernos é a Leishmaniose, nos últimos anos tem virado uma epidemia
nacional. Presente em quase todos os estados brasileiros. É de difícil controle porque a
vacina é cara e a grande maioria da população não tem acesso fácil. Com isso, os casos só
aumentam e o mosquito palha (transmissor) faz mais e mais vítimas. Ele pode picar um dog
contaminado há 4 km da sua casa e depois vir pela corrente de ar e picar e contaminar seu
cachorro de forma inesperada. Há alguns tipos de coleiras para proteção e a vacina que
pode ser administrada após os 4 a 5 meses de vida.
08) Já produziu algum cão que é a personificação do seu objetivo na raça ou ainda
pretende chegar lá?
Idealizamos algo e trabalhamos para chegar o mais próximo disso. Agora esse conceito de
perfeição pode mudar com o passar do tempo. As coisas mudam e o bom criador também
deve se adequar ao momento atual, mas sempre respeitando suas raízes e conceitos.
Já produzimos vários cães que nos encheram de orgulho. Não vou citar o nome de um ou
outro para não ser injusto com os outros. Mas produzimos vários vencedores e campeões
de shows, ou mesmo cães que nunca estiveram em um evento, mas que são resultados
brilhantes do que almejávamos.
09) Qual o seu entendimento atual sobre o plantel nacional e como estamos em relação aos
americanos?
Honestamente o que vejo nos dias atuais no Brasil é um total descontrole em todos os
aspectos referente à raça American Bully. Inúmeras pessoas pulando de cabeça no mundo
bully sem o menor conhecimento de nada: zero!
A pessoa compra dois cães e já se intitula criador da raça. Ai esse tal criador nunca nem se
quer leu o padrão da tal raça que ele diz criar. Experiência com manejo de canil, pior ainda.
Todo dia é cachorro morrendo disso e daquilo. Ninhadas sendo perdidas por falta de
conhecimento básico de criação.
Um bando de gente correndo atrás do “modismo bully”, mas nem se deram ao trabalho de
ler, pesquisar, estudar. Fazer o mínimo para adquirir conhecimento antes de embarcar
nessa viagem.
Ser criador é para poucos. Envolve muita dedicação, tempo, investimento financeiro,
estudo, conhecimento da raça, da cinofilia em geral e do manejo diário. A rotina de um canil
pode ser muito desgastante e poucos sabem lidar com isso.
Infelizmente no Brasil, mais da metade dos “proprietários” de bully, não sabem realmente
definir se o cão dele é um American Bully ou um Exotic Bully, qual a categoria correta dele e
por fim, se ele está dentro do padrão da raça ou não.
Acredito que nos próximos cinco anos muita coisa irá mudar e muitos aventureiros irão sair
do jogo. E o ponto crucial para isso: saúde animal, aguardem.
Não há como comparar o mundo bully nos Estados Unidos com o Brasil. Independente se
dentro do American Bully ou Exotic Bully. Aqui nos Estados Unidos tudo gira muito mais
rápido, tudo acontece e há inúmeras opções ao seu alcance.
Aqui também há muitos problemas, também tem muita gente que não dá a mínima para
buscar conhecimento e só visam o lucro imediato, mas independente disso, aqui é o berço
de ambas as raças.
Não há como comparar e acredito que nunca estaremos (Brasil) no mesmo nível. Talvez um
ou outro criador sim, mas de forma geral é uma comparação desleal.
10) Deixe uma mensagem final, um conselho, para quem está lendo essa entrevista.
Antes de qualquer coisa, busque conhecimento. Não interessa se você é ou quer ser um
criador, ou se você apenas quer ter um bully como companhia.
Leia sobre a raça que você curte: seja um American Bully ou o Exotic Bully. Ambas são
raças adoráveis e cães muito amáveis. Quanto mais você souber sobre a raça, sobre
manejo e sobre a cinofilia em geral, menores as chances de você ser enganado e menor
serão as margens para erros bobos.
Não siga o modismo porque você acha mais lucrativo hoje. Siga o seu coração, siga o que
você acredita e gosta de verdade, porque seu maior lucro será o prazer que você terá
amanhã.