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Escola Superior de Educação do Porto

Mestrado de Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico e de 2º Ciclo de Português e História


e Geografia de Portugal.

Docente: Elisama Oliveira


Discente: Manuela Maria Tavares – 3190090

Porto
2019/2020

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Mia Couto: A Biologia das Palavras


O poder mágico das palavras, associado aos mitos e sonhos, são os caminhos
trilhados nas narrativas de Mia Couto. O nome literário surge não só pelo autor gostar de
gatos, mas também pela dificuldade que o seu irmão tinha em silabar o seu nome.
Nativo de Moçambique, da cidade da Beira, da província de Sofala este escritor,
conhecido por recriar a língua, aos catorze anos inicia a sua vida profissional aquando viu
alguns dos seus poemas publicados no jornal “Notícias da Beira”. O seu percurso
académico iniciou na área da medicina, mas no terceiro ano acabaria por desistir, para
iniciar o jornalismo após o 25 de abril de 1974, chegando mesmo a exercer o cargo de
diretor da Agência de Informação de Moçambique e de coordenador da revista semanal
Tempo e do jornal de Notícias de Maputo. Durante algum tempo a sua vida esteve ligada
ao jornalismo o que lhe confere uma maior destreza na escrita.
Aos vinte e oito anos, em 1983, este nobre escritor lança o seu primeiro livro de
poesia “Raiz de Orvalho”. O comportamento literário deste livro retrata a estreita ligação
que o autor tem com a tradição e memoria cultural africana, forma encontrada de resistir
à morte das tradições, sendo evidenciado ao longo da obra o regionalismo, por estar bem
patente a cultura africana, visíveis como refere pelos traços em
Segundo Secco, C. (2006, p.72) “Grande parte das narrativas de Mia Couto utiliza
o insólito como meio de criticar o real opressor e de subverter os cânones da racionalidade
européia.”, isto porque os seus textos brotam o imaginário cultural e popular do seu país
e continente natal, como forma de criticar o real opressor do período colonial.
Pode-se caracterizar Mia Couto, conforme refere Rothwell Phillip (p.8), como
“um escritor branco que representa Moçambique não só como figura internacional, mas
como aquele que literariamente cartografou o país e o reescreveu na sua complexidade.”
Contudo e sendo natural de terras quentes, Mia Couto regressa à universidade e
forma-se em Biologia, pela Universidade Eduardo Mondlane, especializando-se em
ecologia. Desde então, exerce funções de biólogo, professor e escritor.

“O que mais me admira na Biologia é o relato da mais fascinante


narrativa que há, a História da vida. A literatura é uma celebração
desse fascínio que em nós provoca a vida e o fato de estarmos vivos. A
ciência tem uma aproximação mais redutora e simplificadora da vida.

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A arte pode dar conta dessa complexidade imprevisível que são os


fenómenos da vida.” Mia Couto

De acordo com o escritor, esta associação relaciona-se com a forma como ele
descreve os problemas cotidianos da sua terra natal e ainda com a criatividade poética
que este tem na criação de novas palavras, como faz referência Fernanda Cavacas,
especialista em Linguística, ao referir que Mia Couto recria a língua com um profundo
conhecimento da língua portuguesa e com uma aplicação cuidadosa e criteriosa das
normas da língua, associando a criatividade com a capacidade de usar a língua portuguesa
e outras línguas moçambicanas.
No livro “Brincriação” o autor recria algumas palavras indo buscar, a forma, a
palavras portuguesas, nomeadamente verbos, para criar novas palavras a partir de outras
raízes, como exemplo “nenecar”.
A história por mim escolhida, “O Beijo da Palavrinha”, destina-se ao público
infantojuvenil, sendo visível a ligação entre a tradição moçambicana e a tradição literária
ocidental. De acordo com Guerreiro, C., in La lengua Portuguesa “alguns autores
intitulam Mia Couto de “escritor da terra” precisamente porque na sua expressão única
e original, descreve as próprias raízes do mundo, explorando a natureza humana e a sua
relação umbilical com a terra.” (p. 636).
O início da narrativa é marcado pelo despertar de sentimentos de tristeza, pela
pobreza em que a personagem principal, bem como os seus familiares viviam, ligação
pretendida por Mia Couto, já que este tencionava mostrar aos leitores atentos a fragilidade
com que se vivia no seu país natal, que muitos dos seus habitantes, dada a condição
geográfica e extensão territorial, nunca viram o mar. No entanto, o autor também pretende
passar a mensagem de Amor que existe ao longo da obra, de forma a que as crianças
percebam que o Amor é um sentimento de uma grandeza inigualável, dado que, Maria
Poeirinha não tinha mais nada, a não ser o Amor daqueles que a rodeavam e que com
Amor a personagem principal da historia ganha proteção, liberdade e é o Amor que a
conduz na viagem até ao segundo plano, a morte.
Assim, salienta-se que é o verdadeiro Amor, que a faz sair do espacinho em que
vivia “miserável”, sem recursos, quer materiais quer monetários, para fazer uma viagem
evocada pelos seus familiares de forma a que o mar venha até ela e, lhe traga a paz tão
ansiada.

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No que concerne à análise da narrativa importa salientar o conceito de narrador já


que este “deve partir da distinção inequívoca relativamente ao conceito de autor (…). Se
o autor corresponde a uma entidade real e empírica, o narrador será entendido
fundamentalmente como autor textual, entidade fictícia a quem, no cenário da ficção,
cabe a tarefa de enunciar o discurso, como protagonista da comunicação narrativa.” Reis,
C., Lopes, A. C.M. (2011, p.257). Deste modo estamos perante de um narrador
heterodiegético, uma vez que fala na terceira pessoa e que não se integra como
personagem, como é possível analisar através dos seguintes excertos: “Era uma vez uma
menina que nunca vira o mar.” (Pág.6); “Todos se aproximaram da cabeceira e ali ficavam
sem saber o que fazer, sem saber o que dizer. A mãe pegou nas mãos da menina e entoou
as velhas melodias de embalar.” (pág. 14). Contudo quanto à ciência o “(...) narrador faz
uso de uma capacidade de conhecimento praticamente ilimitada, podendo, por isso,
facultar as informações que entender (…).” Reis, C., Lopes, A. C.M. (2011, p.174) logo
neste conto, estamos presente de um narrador omnisciente já que ele fala dos sonhos de
Maria Poeirinha, pois permite deduzir que conhece toda a história, de acordo com o
excerto apresentado, “Às vezes sonhava que ela se convertia em rio e seguia com passo
lento, como a princesa de um distinto livro, arrastando um manto feito de remoinhos,
remendos e retalhos.” (pág. 8) e ou perceber a manipulação e controlo dos eventos
relatados, no que respeita ao movimento das personagens, como conferem os excertos
citados “Até Poeirinha tinha sonhos pequenos, mais de areia do que castelos.” (pág. 6) e
“A fome, a solidão, a palermice do Zeca, tudo isso o tio atribuía a uma única carência: a
falta de maresia.” (pág. 10).
O autor ao longo da narrativa mostra-nos um discurso interveniente, de acordo
com Reis, C., Lopes, A. C.M., (p. 207, 208), “(...) designa, de um modo geral, toda a
manifestação da subjetividade do narrador, projetada no enunciado (…). Não se trata,
pois, simplesmente de registar a presença do narrador no discurso, (…) trata-se mais do
que isso, de apreender, nos planos ideológico e afetivo, essa presença como algo que, de
certo modo, pode aparecer como excessivo e inusitado(…)”, o que claramente é visível a
subjetividade discursiva, pois Mia Couto profere algumas pequenas orientações
ideológicas, como se pode verificar nos seguintes passagens, “(...) Ela e a sua família
eram pobres, viviam numa aldeia tão interior que acreditavam que o rio que ali passava
não tinha nem fim nem foz. (...)” (pág. 6), “(...) Cabeça sempre no ar, ideias lhe voavam
como balões em final de festa. (…)” (pág. 6).

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De acordo com Reis, C., Lopes, A. C. o narratário pode surgir no interior da


narrativa de forma implícita, como uma entidade fictícia e assinalado na segunda pessoa.
Na Obra, O Beijo da Palavrinha, a existência do narratário é implícita e extratextual, pelo
facto do narrador dirigir-se somente ao leitor de forma indireta, como é possível de
verificar segundo o exemplo, “Era uma vez uma menina que nunca vira o mar. Chamava-
se Maria Poeirinha. Ela e a sua família eram pobres, viviam numa aldeia tão interior que
acreditavam que o rio que ali passava não tinha nem fim nem foz. Poeirinha só ganhara
um irmão, o Zeca Zonzo, que era desprovido de juízo. (...)” (pág. 6).
Quanto ao relevo e no seguimento de ibidem (p.314), a personagem principal é
aquela que está em “torno do qual gira a acção e em função do qual se organiza a
economia da narrativa. Trata-se de considerar que a narrativa existe e desenvolve-se em
função de uma figura central, protagonista qualificado em que por essa condição se
destaca das restantes figuras que povoam a história.”, que nesta história é a Maria
Poeirinha, como nos refere o autor ao citar “Era uma vez uma menina que nunca vira o
mar. Chamava-se Maria Poeirinha. Ela e a sua família eram pobres, viviam numa aldeia
(…) Poeirinha só ganhara um irmão, o Zeca Zonzo (…).” (pág. 3), “Ainda hoje, tantos
anos passados, Zeca Zonzo, apontando o rosto da sua irmãzinha na fotografia, clama e
reclama:
- Eis a minha mana Poeirinha que foi beijada pelo mar. e se afogou numa
palavrinha.” (pág. 28).
No que toca ao plano da história, tendo em conta a composição das personagens,
Maria Poeirinha, embora seja a personagem principal, figura-se como uma personagem
plana, pois, segundo Idem, (p.3229) “É acentuadamente estática: uma vez caraterizada,
ela reincide (por vezes com efeitos cómicos) nos mesmos gestos e comportamentos,
enuncia discursos que pouco variam, repete “tiques”, (…).”, dado que o autor apresenta
a personagem como sendo sonhadora, sensível, leve e algo imaterial.
O seu irmão Zeca Zonzo é uma personagem secundária, já que embora participe
na ação não apresenta um papel decisivo na mesma, contudo esta personagem é figurada
como personagem redonda, pois no final do conto, a personagem surpreende com a ideia
de mostrar o mar à sua irmã através da palavra escrita por extenso.
O Tio Jaime Litorânio é uma personagem secundária, caracterizada por ser crente,
esperançoso, saudoso da presença do mar e sensível ao longo da diegese, logo é uma
personagem plana, pois o seu papel é estático, mas para o autor é de grande importância,
uma vez que pretende referenciar o valor que é dado a uma pessoa mais velha, dado que

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no seu país esta é considerada como um sábio, pela experiência vivida, respeitado por
todos. Contudo Mia Couto pretende que este seja visto como o ancião, aquele que faz o
elo de ligação entre os vivos e os mortos.
Já a mãe de Maria Poeirinha é caracterizada por um personagem tipo, pois de
acordo com Idem, (p.411), “ (…) pode ser entendido como personagem-síntese entre o
individual e o colectivo, entre o concreto e o abstracto, tendo em vista o intuito de ilustrar
de uma forma representativa certas dominantes (profissionais, psicológicas, culturais,
económicas) do universo diegético em que se desenrola a acção (…).”. Esta personagem
é tão plana que chega a ser tipo, é descrita como uma presença constante no apoio à
menina, que está sempre preocupada como mãe. O pai de Maria Poeirinha é uma
personagem figurante que ao longo da narrativa só é referida como enquadramento e
apenas uma vez na seguinte transcrição: “Os pais chamaram o moço à razão (…)” (pág.
9).
Relativamente à caracterização existente na narrativa, importa referir a existência
de caracterização direta, que segundo Reis, C. Lopes, A.C.M. (2011, p. 52), são “atributos
da personagem, consumada num fragmento discursivo expressamente consagrado a tal
finalidade; a sua execução pode caber quer à própria personagem (autocaracterização),
quer a outra entidade, seja ela o narrador ou outra personagem (heterocaracterização)
(…)” e tendo em conta a importância da caracterização o Mia Couto, caracteriza física e
diretamente Maria Poeirinha “Certa vez, a menina adoeceu gravemente.” (pág.6); ou
simplesmente quando refere ao leitor a fragilidade e debilidade da menina “(…) a menina
estava tão fraca (…)” (pág.7). No entanto, refiro que o autor retrata ainda através da
imagem “negra” análoga à ilustração da figura (p.7). Tendo em conta a caracterização
indireta, o autor fê-la ao irmão de personagem principal Zeca Zonzo, irmão mais novo
dela, quando refere ao leitor “Poeirinha só ganhara um irmão (…)” (pág. 3).

Partindo dos elementos paratextuais é importante


iniciar pela estrutura exterior, ou seja, capa, ilustrações e
ainda o título.
No que concerne às ilustrações, estas ilustram bem o
estilo de Danuta Wojciechowska, já que este pretende
através do estilo e das cores criar dimensões centrais da
narrativa, brindando o publico com um universo mais
realista e outro mais fantástico e metafórico.
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Ao longo da narrativa estão disponíveis maravilhosas ilustrações, que de acordo


com Jesús Diaz Armas, (2008, p.45), a relação existente entre texto-ilustração é de
dependência por redundância, já que a imagem ajuda ao leitor inexperiente a compreender
melhor as características que não se contextualizam com o seu núcleo familiar e o meio
social em que está inserido, por exemplo o significado da aldeia, (p.6) torna-se mais
percetível com a ajuda da imagem, assim como, a imagem que retrata a condição social
de Maria Poeirinha (p.7), torna mais notável a pobreza e falta de recursos existentes,
associada à ideia que o autor quer passar da sua terra, cujo verde predomina as paisagens
tropicais, porém, devido às elevadas temperaturas, a terra argilosa é fissurada pela falta
de água existente.
Relativamente ao título a interpretação do mesmo é de alguma forma percetível
após a leitura da narrativa, dado que no final da história a menina é beijada pela palavra
“mar”, deixando posteriormente a vida na terra.
Para Piaget (2009), as crianças do 4º Ano, do 1º Ciclo do Ensino Básico
encontram-se no Estádio das Operações Concretas, (3º Estádio do Desenvolvimento
Cognitivo), o que lhes limita o pensamento lógico, já que as crianças nesta faixa etária
partem de assuntos gerais para chegarem a uma conclusão. A análise que elas fazem tem
uma flexibilidade crescente pois analisam o ponto de vista, descartando a ideia de um
padrão único, dando sim muita importância às vivencias familiares e socio culturais, logo
a criatividade e imaginação são determinantes na inferição do conto.
Nesta fase, a criança para figurar e imaginar a história tem que previamente
conhecer alguns contextos, o facto de estar no estádio das operações concretas é-lhe difícil
perceber algo abstrato, pois só assim poderá imaginá-la segundo a criação de Mia Couto,
como por exemplo quando o autor infere a localização geográfica “Era uma vez uma
menina que nunca tinha visto o mar.”(Couto. M., 2008. p.6), este está a tentar fazer a
relação de tamanho de países, como por exemplo Moçambique e Portugal, cuja extensão
geográfica difere imenso de um país para outro, pois ele quer dar a conhecer às crianças
do mundo ocidental o seu país do continente africano.
Quando a palavra aldeia é referida, é preciso ter em conta que nem todas as
crianças de um país ocidental e que viva principalmente no extremo litoral sabem o que
é, pois talvez nunca tenham visitado uma aldeia e claramente aos nove anos de idade
estando no estádio das operações concretas, só conseguirá visualizar mentalmente uma
aldeia apenas se já tiver visto uma. Caso saiba o seu significado, o autor pretende fazê-
las chegar às aldeias de Moçambique, cuja distância geográfica condiciona a chegada dos

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recursos, logo o autor pretende talvez mostrar que as aldeias no nosso país, não são assim
tão distantes dos espaços urbanos e que estão melhor posicionadas geograficamente,
tendo em conta a distância entre os espaços mais citadinos. Contudo, é normal que seja
mais difícil para uma criança cujo contexto lhe seja desconhecido, já que o pensamento
concreto ao qual está preso, limita-lhe a compreensão de significados abstratos, como por
exemplo “(…) numa aldeia tão interior que acreditavam que o rio que ali passava não
tinha fim nem foz.” (Couto. M., 2008. p.6), logo o papel do professor é fundamental na
ajuda da compreensão do significado daquilo que lhe é abstrato.
Tendo em conta as dificuldades sentidas pela compreensão de situações abstratas,
o ilustrador, ajuda através das imagens a dar-lhe significados. Neste caso Danuta
Wojciechowska através das imagens de dependência por redundância, imagem da aldeia
(p.9) e da pobreza (p.10), ajuda o leitor inexperiente a compreender um pouco melhor as
características que não estão diretamente ligadas ao seu contexto social e ou núcleo
familiar. Também é possível observarmos algumas imagens de estranheza, já que estas
contêm mais informação do que as palavras contidas no texto, pois retrata a passagem de
Maria Poeirinha para mudança de vida, a passagem para o novo ciclo, a morte (p.26 e
27). Claramente que leva algum tempo até que a criança se aproprie e compreenda o relato
das imagens.
Por outro lado, ao longo do texto, a criança pode recorrer à memória textual para
perceber melhor a história, por exemplo “(...), pois seus pés descalços escaldavam na
areia quente.”(Couto, M., 2008, p.8), com esta passagem o autor permite à criança
associar a praia à imaginação presente na sua memória, dos verões quentes, quando
caminha na areia. Sem a criança se aperceber o autor está mais uma vez a levar a criança,
através de inferências a conhecer um pouco do seu país, cujo clima é bastante tropical,
pois quase não chove e por isso a terra é seca e fissurada.
Tendo em conta a dimensão estética, o texto no seu todo é constituído por uma
linguagem simbólica representativa do contexto social, da vulnerabilidade de um povo
cujos recursos linguísticos tornam-no mais belo, como pode ser comprovado através do
uso de comparações, enumerações, personificações, metáforas e adjetivações
promovendo à criança a capacidade de criar imagens visuais do conto, articulando a
imaginação e figuração.
Ao nível do vocabulário a narrativa apresenta palavras simples e de fácil
compreensão e do conhecimento das crianças, exceto algumas que poderão suscitar
alguma incompreensão, tais como os nomes próprios das personagens: Maria Poeirinha,

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cujo significado está a relativizar a pobreza em que a menina vivia; Zeca Zonzo permite
a um leitor mais experiente perceber que o autor está fazer uso de brincadeiras com as
palavras, ao caracterizar Zonzo como um adjetivo ou atribuindo-lhe como nome próprio,
Litorânio e Maresia.
No que concerne à importância da participação e construção é importante que as
crianças ao longo do texto sintam-no, para tal é necessário que estejam no estádio Pré-
Convencional, pois como refere Piaget (2009) esta fase despoleta nas crianças os
sentimentos que as personagens podem provocar nelas, como por exemplo a tristeza, pela
pobreza que a menina vivia, bem como a sua família; a solidariedade; a esperança, pelo
facto de Maria Poeirinha não deixar de sonhar; o carinho, camaradagem e surpresa que
leva o leitor a perceber que o irmão de Maria Poeirinha não era assim tão “tonto” e a
amizade e alegria, na apresentação de soluções, que na fase da moralidade representa
fazer algo certo.
Assim, esta obra destaca uma articulação intertextual com outras áreas do saber,
já que existe uma ligação direta com o Estudo do Meio, ligando a geografia à história e à
Cidadania, uma vez que ao longo do texto o autor pretende passar a importância dos
valores e do património imaterial e claramente à Área das Expressões recorrendo ao uso
das formas e das cores.

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Referências Bibliográficas

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Consultado a 2-05-2020 em: https://core.ac.uk/download/pdf/62496618.pdf

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Couto, Mia – O Beijo da Palavrinha (6ª Edição), Lisboa: Caminho, 2008.

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Reis, Carlos, et al. - Dicionário de narratologia (7º Edição), Coimbra: Livraria


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Rothwell, P., Leituras de Mia Couto. Consultado a 2-05-2020


(https://books.google.pt/books?id=PZ_IBgAAQBAJ&pg=PT308&lpg=PT308&dq=Col
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