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METODOLOGIA DA PESQUISA

O PROBLEMA CIENTÍFICO: A ESCOLHA DO


TEMA E IMPORTÂNCIA DE SUA
DELIMITAÇÃO

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Reconhecer que a escolha de um tema para pesquisa não deve ser ao acaso;

2. Identificar os critérios que auxiliam a delimitação do tema;

3. Escolher o tema para o trabalho de conclusão de curso e elaborar seu mapa conceitual.

Como começar uma pesquisa?

Inicia-se uma pesquisa pela escolha do tema. Para tanto é preciso uma série de cuidados e, nesse sentido, é

importante observar que independente da área de saber, todos enfrentam desafios parecidos: escolher um tema

para pesquisar não é fácil!

O tema representa o objeto da pesquisa. Por objeto, entende-se aquilo que é pensado, que será investigado

(LALANDE, 1993). Assim, deve ser mais restrito que o assunto, faz parte dele. Isso mostra que o assunto é mais

amplo e abrangente que o tema (LEITE, 2008, p. 190). Acrescente-se, também, que o tema precisa ser específico

para que as respostas, ao final da pesquisa, sejam igualmente específicas.

Por isso, costuma-se dizer que a primeira e fundamental fase de qualquer pesquisa é a definição do que vai ser

pesquisado. Logo, a escolha do tema não deve ser apressada (SANTOS; MOLINA; DIAS, 2007). Nesta tarefa

requer-se habilidade teórico-crítica, ou seja, conhecer e dominar os conceitos, as abordagens e os autores

relevantes para a pesquisa como um pressuposto importante para a escolha do tema. Há uma recomendação

neste caso:

Ler tanto quanto o tempo permita sobre o seu tema pode-lhe dar ideias não somente sobre a pesquisa que

outros têm feito, mas também sobre sua abordagem e seus métodos (BELL, 2008, p. 57).

Do tema ao objeto de pesquisa!

Quando se pretende construir um objeto de pesquisa, deve-se transformar o assunto em tema e este num objeto

de investigação delimitado e preciso.

Se por hipótese, um pesquisador desejar investigar o assunto violência. Deve-se indagar a que tipo de violência

se refere, pois há muitas possibilidades. Poderá investigar tal assunto sob o enfoque teórico, mas deverá escolher

as teorias, os autores, por exemplo.

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Podemos investigá-la sob o ponto de vista social, jurídico, psicológico, filosófico etc. Se preferir direcionar sua

pesquisa para um estudo empírico precisará delimitar a um caso concreto, descrevendo-o minuciosamente.

Assim, conseguirá transformar um tema em um verdadeiro objeto de pesquisa.

Poderá pesquisar, por exemplo, os aspectos da violência doméstica contra adolescentes na realidade fluminense

e suas relações com as condições sociais e econômicas das famílias moradoras nas comunidades carentes. Temos

aqui um tipo específico de violência: a violência doméstica. Acrescente-se que a pesquisa pretende focalizar

adolescentes na realidade fluminense e, em comunidades carentes. A partir de um tema específico poderemos

alcançar respostas específicas.

Imagine que um pesquisador pretende investigar o tema liderança. Para tanto, deverá transformá-lo num objeto

de pesquisa, porque falar tudo o que sabe sobre liderança não caracteriza seu trabalho como um trabalho

científico. E mais. O tema é muito amplo e fatalmente haverá omissões.

Após as leituras necessárias poderá investigar como a liderança autoritária compromete a motivação dos

funcionários da Empresa XYZ. Observe que delimitou a um tipo específico de liderança e sua influência em

determinada empresa.

A partir de agora pense no assunto que você gostaria de pesquisar. Lembre-se: originalidade não é pré-requisito.

E que critérios devem ser considerados para a escolha do tema?

• O tema deve ser ESPECÍFICO!

O autor do tema deve ser, nas palavras de Umberto Eco, “a maior autoridade assunto escolhido, pois um

tema mal delimitado eliminará qualquer possibilidade de uma contribuição inovadora.

Segundo Welber Oliveira Barral (2010, p. 38), com um tema muito amplo, o pesquisador fará, no

máximo, a revisão bibliográfica do tema, ou seja, um “fichamento”: uma listagem aborrecida de “fulano

disse”, “beltrano falou” que não trará novidade à matéria.

Não se esqueça!

- Um tema amplo possibilita omissões;

- Um tema específico dará mais segurança ao pesquisador;

• O tema deve ser ACESSÍVEL!

Um tema acessível significa que as fontes devem ser examinadas pelo pesquisador. Como sugestão,

observamos que: “(a) não se pode fazer uma pesquisa sobre tema cujas fontes primárias estejam em

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idioma estrangeiro; (b) se a pesquisa for sobre a obra de um autor estrangeiro, deve-se ler no original;

(c) algumas disciplinas dependem mais da literatura estrangeira na revisão bibliográfica” (BARRAL,

2010, p. 39-40).

Imagine que alguém resolva fazer uma pesquisa original sobre a estrutura familiar entre os ianomâmis.

Provavelmente, não encontrará literatura disponível sobre o assunto. Neste caso, vale indagar: teria

disponibilidade para viver algum tempo numa reserva indígena? Que resposta daria?

E se um pesquisador decidir realizar uma pesquisa sobre o novo código civil húngaro. Teremos aqui um

grande problema: ele não domina a língua húngara.

Certamente, não terá acesso às fontes primárias mais importantes para desenvolver seu tema.

• A necessidade de que o tema seja EXEQUÍVEL no prazo estipulado!

Um erro comum é acreditar que um trabalho inovador poderá ser feito em poucos dias. Um trabalho

científico exige tempo para pesquisar as fontes, ler a bibliografia, refletir, escrever, revisar, corrigir.

Nesse sentido, o pesquisador deve estar atento ao prazo determinado por sua instituição de ensino e

“não ceder à tentação de mudar de tema ao longo da pesquisa” (BARRAL, 2010, p. 39-40).

• A escolha do tema também deve considerar as EXIGÊNCIAS INSTITUCIONAIS!

O curso pode ter linhas de pesquisa específicas, dentro das quais devem se encaixar os trabalhos

realizados pelos alunos. Esse direcionamento temático é relevante porque reflete na disponibilidade de

um orientador, ou seja, um professor que domine o tema, e possa, assim, auxiliá-lo ao longo da pesquisa

(BARRAL, 2010, p. 39-40)

• Sugere-se que o tema seja ATUAL e CONTROVERTIDO!

Um tema histórico pode ser interessante se há a necessidade de se esclarecer um problema atual. O

conhecimento das experiências passadas, certamente, contribui para a compreensão da atualidade, bem

como poderá minimizar eventuais erros. Todavia, há algumas dificuldades num tema histórico,

principalmente no que tange ao acesso às fontes.

A escolha de um tema do momento — também traz riscos e dificuldades.

Algumas recomendações podem ser feitas também para se identificar temas atuais: conversas com o

orientador e outros pesquisadores, participação em congressos na área de interesse e leitura de

periódicos atualizados (BARRAL, 2010, p. 43)

• A aptidão para o tema, o interesse pessoal e a maturidade intelectual!

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Entende-se por aptidão, a facilidade de aprendizado de uma determinada área de conhecimento. E neste

ponto, é bom recomendar que “será mais fácil ao estudante dedicar-se a uma área de conhecimento para

a qual tenha aptidão, para a qual demonstre facilidade de aprendizado e entusiasmo para conhecer

mais”. Deve-se tomar muito cuidado para não ser seduzido pela simpatia a professores, palestrantes, e

não a temas (BARRAL, 2010. p. 43)

Possivelmente, o trabalho será árduo se o estudante não tiver maturidade intelectual para enfrentar os

desafios do tema escolhido. Essa maturidade se adquire com o tempo e com horas de leitura e análise.

Não se pode aguardar a inspiração chegar, pois não há atalhos ou fórmulas mágicas para elaboração de

um trabalho.

A recomendação é a seguinte: o estudante deve se esforçar para compatibilizar o tema escolhido com o

seu interesse pessoal. Segundo Antônio Carlos Gil (2010, p.1), há razões de ordem intelectual e de ordem

prática que determinam uma pesquisa.

Welber Oliveira Barral )2010, p.43), ilustra, com muita propriedade, o critério de maturidade intelectual, a partir

de um exemplo interessante:

Imagine um pesquisador que apresentou um excelente projeto, sobre a caracterização de um crime na obra de

Michel Foucault, sobre quem havia lido apenas um artigo. Ora, Foucault é um autor difícil, com obras

extremamente densas, que demandam prévias leituras, para conhecer termos e conceitos criados pelo próprio

autor. E isso não era possível no prazo que o pesquisador tinha à disposição, e que não lhe permitiria

desenvolver a maturidade necessária à compreensão do tema.

De um modo geral, os autores em metodologia da pesquisa observam que o envolvimento com a pesquisa exige a

disposição para a aprendizagem de conceito e teorias da área de saber escolhida pelo estudante. À medida que

o estudante se insere nessa tarefa, vai adquirindo mais autonomia intelectual para produzir uma pesquisa.

Representação mental de um objeto abstrato ou concreto, que se mostra como um instrumento fundamental do

pensamento em sua tarefa de identificar, descrever e classificar os diferentes elementos e aspectos da realidade”

(Dicionário HOUAISS)

Uma série de proposições abstratas inter-relacionadas sobre as questões humanas e o mundo social que

explicam suas regularidades e relacionamentos” (BREWER, 2000, p. 192 apud BELL, 2008, p. 90). “Um conjunto

de constructos (conceitos) inter-relacionados, definições e proposições, que apresenta uma concepção

sistemática dos fenômenos mediante a especificação de relações entre variáveis, com o propósito de explicá-los e

prevê-los” (KERLINGER, 1973 apud CERVO; BERVIAN; SILVA, 2006, p. 2)

Vamos ver um exemplo?

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Observe que o tema central é Tempos Modernos. Na tentativa de delimitar o tema, o pesquisador relacionou o

conceito aos termos: filme, crescimento populacional, violência etc. Usou palavras de ligação tais como: facilitou,

aumenta, ampliou, modifica etc. Siga este exemplo! Sempre que se inicia uma pesquisa, há muitas informações

que precisam ser selecionadas, organizadas e classificadas. É preciso pensar nas questões-chave que envolvem o

seu tema, as principais teorias, como foram aplicadas e desenvolvidas, bem como as principais críticas que foram

elaboradas em relação ao tema escolhido. Com o mapa conceitual você terá um quadro contendo os pontos

centrais que envolvem o seu tema, ou seja, elabora um esboço de estrutura teórica com os aspectos principais a

serem estudados.

O que vem na próxima aula


•A realização da pesquisa bibliográfica e sua discussão.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Estudou os critérios que auxiliam na escolha cuidadosa do tema da pesquisa;
• Compreendeu a importância de sua delimitação;
• Aprendeu a elaborar um mapa conceitual.

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Referências
BELL, Judith. Projeto de pesquisa: guia para pesquisadores iniciantes em educação, saúde e ciências sociais. 4. ed.

Porto Alegre: Artmed, 2008.

BOAVENTURA, E. M. Metodologia da pesquisa. São Paulo: Atlas, 2009.

CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A.; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson

Prentice Hall, 2007.

MARQUES, Cláudia de Lima. Pesquisa de iniciação científica: da inquietude ao sucesso! Palavra do orientador.

Disponível em: www.ufrgs.br/propesq/informativo/ic04/orientador.htm

RAMPAZZO, Lino. Metodologia científica: para alunos dos cursos de pós-graduação e pós-graduação. 3. ed. São

Paulo: Loyola, 2005.

SANTOS, A. R. Metodologia científica. A construção do conhecimento. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.

SANTOS, G. do R. C. M.; MOLINA; N. L.; DIAS, V. F. Orientações e dicas práticas para trabalhos acadêmicos.

Curitiba: IBPEX, 2007.

SEVERINO, Antônio J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2007.

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