Você está na página 1de 5

0

Dasdores José Nhamirre

Isabel Tatiana Gonçalves

Suheib Ismael Fat Wen

Resolução do Caso Prático

UNIVERSIDADE CIENCIAS ALBERTO CHIPANDE

Beira

2021
1

Dasdores José Nhamirre

Isabel Tatiana Gonçalves

Suheib Ismael Fat Wen

Resolução do Caso Prático

Trabalho de investigação científica a ser


apresentado na cadeira de Direito
Constitucional II para efeito avaliativo.

Docente: Rosa Mendes

Docente: dr. Óscar Sitoe

UNIVERSIDADE CIENCIAS ALBERTO CHIPANDE

Beira

2021
2

Constituição da Republica Popular de Moçambique (CPRM) de 1975

Breves considerações

O Estado Moçambicano erguido da descolonização em 1975, à semelhança de outros


Estados dos anos 60 e 70, adoptou a doutrina marxista e abandonou a estratégia
políticoadministrativa e o Direito Colonial Português. HESPANHA (ob.cit., p. 59)

A República de Moçambique, apos a proclamação da sua independência do


colonialismo português, no dia 25 de Junho de 1975, o país assentou num autêntico
Estadualíssimo Jurídico, com contornos do positivismo, sendo apenas o Estado
reconhecido o papel de criador de direito, e os Tribunais Populares e os Grupos
Dinamizadores – que eram novas estruturas políticoadministrativas criadas ao nível da
base - detinham a função de resolução de litígios. Foi uma experiência em torno do
advento de justiça popular. HENRIQUES (ob.cit, p.60)

Em suma nasce um Estado de ideologia e estrutura marxista-leninista, no qual o Direito


se confundia com o Estado e o Estado com o Direito. Criou-se um sistema unitário e um
monismo jurídico.

Em Moçambique, a justiça popular emerge da desconstrução e desmantelamento do


sistema da justiça que vigorou no Estado Colonial, neste prisma, a Constituição da
República de 1975 definiu como um dos grandes objectivos da Revolução: “a
eliminação das estruturas de opressão e exploração coloniais e tradicionais e da
mentalidade que lhes está subjacente”. E no capítulo dos tribunais, o Legislador
Constituinte atribuiu aos Tribunais a função judicial, a ser levada a cabo através do
Tribunal Popular Supremo e dos “demais Tribunais determinados na lei da Organização
Judiciária. (Cfr. art. 62º da CRPM /1975)

O Direito Costumeiro ou Tradicional outrora reconhecido pelo Estado colonial deixou


de ser reconhecido, ou seja, foi revogado, ao abrigo do art. 71º da Constituição da
República Popular de Moçambique de 1975. O legislador de então passou a reconhecer
um único regime de jurisdição, este, de acordo com o artigo 63º da Constituição de
Moçambique de 1975 ao dispor que “o Tribunal Popular Supremo promoverá a
aplicação uniforme da Lei para todos os tribunais ao serviço dos interesses do povo
moçambicano” e suprime todas as outras jurisdições coexistentes na sociedade.
3

Quanto ao Direito Tradicional ou Costumeiro de facto, contrariamente ao que se podia


esperar, partindo do pressuposto de que o Direito Tradicional e Costumeiro deixaria de
existir e de ter valor jurídico perante o Estado. As suas instituições já não mais podiam
ser reconhecidas como instituições sociais pelo Estado, porém, foram sempre seguidas
clandestinamente de jure à margem do Estado Socialista.

Resolução do Caso Prático

Importa referir que, a pesar da Constituição de 1975 visar a paz, estabilizar o governo e
os direitos humanos e as garantias do cidadão. Essa realidade parecia utópica, pois, nos
Títulos I e II desta Constituição, constava de forma dispersa e limitada um conjunto de
direitos que contemplavam os seguintes postulados:

Igualdade de direitos e deveres de homens e mulheres em todos os domínios, segundo o


(artigo17º); Igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (artigo
26º); a inviolabilidade de domicilio e de correspondência (artigo 33º), de opinião, de
associação e reunião (artigo 27); o direito à defesa e do devido processo legal (artigo
35º).

A Constituição não incluía, no entanto, os direitos individuais mais básicos que


justificam a existência de todos outros direitos: o direito à vida; à integridade física; o
direito a não ser torturado; o direito a não ser submetido a tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes.

Na nossa óptica, a não inclusão dos direitos acima mencionados, pode ter sido
motivação para à morte por fuzilamento dos cidadãos: Uria Simango, Lazaro
Nkavandame, Mateus Ngwegere, Julio Razão, Joana Simiao e Paulo Gumane. Pois,
analisando pelos objectivos fundamentais estatuídos no artigo 4º do Titulo I, o facto da
Constituicao ter surgido como culminar da luta que visava o estabelecimento de um
Estado independente, a questão da defesa do território, da unificação do povo na
diversidade, da eliminação do colonialismo e imperialismo, em nossa analise,
constituíam os elementos angulares de auto-afirmação do Estado, o cidadão na sua
singularidade não foi tomado como questão de primeiro plano.

O acento estava posto na colectividade, razão pela qual o individuo não constava nas
prioridades legais 1a Republica de Moçambique, podendo por isso ser sacrificado ate
com actos de tortura e morte, porque a noção de dignidade humana estava ate certo
4

ponto, diluída com a própria guerra que levou a independência e a guerra civil que
surgiu logo a seguir a independência e que teve como uma das conseqüências a
degeneração total do tecido humano, com a introdução nas leis ordinárias de penas
degradantes (de morte em 1979 e de chicotada em 1980). Os princípios básicos da
dignidade humana, que conforme a interpretação do artigo 5º da Carta Africana (1991)
significa o direito a não ser torturado, violentado, espancado, chicoteado ou vergastado,
não foram devidamente inseridos ou mesmo, observados na Constituição da Republica
Popular de Moçambique de 1975.

Você também pode gostar