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Segurança do Trabalho

Introdução à Portaria 3.214/1978 e à Lei


6.514/1977, definição, estrutura e hierarquia da
legislação vigente
Os aspectos relativos a saúde, segurança no trabalho e higiene ocupacional
ainda são recentes no Brasil e estão em constante alteração e adaptação.

As normas relativas ao tema começaram a ganhar destaque apenas em 1967,


com a publicação do Decreto-Lei n.º 229, que altera o Capítulo V da CLT
(Consolidação das Leis do Trabalho) e introduz requisitos sobre o assunto.

Apenas dez anos depois, é finalmente publicada a Lei 6.514/1977, que altera
novamente o capítulo referido da CLT e serve de embasamento para, no ano seguinte,
a instituição das normas regulamentadoras (NRs), apresentando a obrigatoriedade
quanto à criação de normas mais específicas a determinadas atividades e
determinados segmentos.

Em 1978, foram instituídas as primeiras 28 NRs por meio da Portaria n.º 3.214,
de 8 de junho do referido ano, as quais, ao longo do tempo, foram passando por
atualizações. Além disso, novas NRs foram incluídas.

Para entender melhor as normas relativas à saúde e à segurança do trabalho, é


necessário entender a hierarquia delas e a forma como se reportam às leis maiores.

Juridicamente, a hierarquia ocorre quando uma norma é subordinada a uma fonte


geradora superior. Por exemplo, na pirâmide a seguir pode-se observar a organização
das normas. Todas as leis são hierarquicamente inferiores à Constituição Federal
(figura 1).

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Figura 1 – Pirâmide da hierarquia das leis


Fonte: <http://www.sstdireitoparatodos.com/2018/02/hierarquia-das-normas-
juridicas15.html>.

Sendo assim, nenhuma lei, seja de caráter federal, estadual ou municipal ou que
esteja relacionada a direitos ou deveres dos cidadãos, pode contrariar aquilo que está
disposto na Constituição Federal.

Inclusive, uma norma só pode ser revogada por outra de igual ou superior
hierarquia, e, em geral, normas inferiores são criadas para detalhar e dar mais foco a
temas abordados nas leis imediatamente superiores, como uma construção vertical de

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aprofundamentos de temas mais específicos.

Isso quer dizer que se inicia com uma norma geral; após, mais abaixo, normas
detalharão a anterior; e, ainda mais abaixo, normas tratarão especificamente dos
temas das anteriores e que haviam sido citados superficialmente na primeira.

Conhecer a hierarquia das normas é fundamental para entender como ocorre o


processo de criação das leis e como pesquisá-las corretamente.

Leis, decretos, resoluções, portarias, instruções


normativas, súmulas do Técnico em Segurança do
Trabalho e outros
Veja a seguir conceitos e alguns exemplos de normativas aplicáveis à área de
saúde e segurança do trabalho.

Leis são normas jurídicas estabelecidas por autoridade competente que


estabelecem diretrizes, focando no bem comum. A Constituição Federal, no artigo 5.º,
inciso II, determina que ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa, senão em virtude da lei.

As leis têm o objetivo de limitar a conduta dos seres humanos, para que estes
tenham um bom convívio em sociedade, e são o principal controle do Estado.

Ademais, as leis são consideradas a fonte principal do direito e apresentam as


seguintes características:

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Generalidade: devem ser cumpridas por todos, sem exceção.

Obrigatoriedade: pelo caráter imperativo-atributivo, por um lado


outorgam deveres jurídicos e, por outro, direitos.

Permanência: quando promulgadas, não têm data de vencimento, ou


seja, são válidas por duração indefinida até que um órgão competente
determine o cancelamento.

Abstração e impessoalidade: não são criadas para um caso em


particular, e sim para englobar genericamente todos os casos.

Conhecimento: são de conhecimento geral (todos têm acesso e


conhecimento e, por isso, não podem alegar o não cumprimento delas).

Algumas leis relevantes sobre saúde e segurança do trabalho são:

Lei n.º 6.514, de 22 de dezembro de 1977 – Altera o disposto na CLT e serve


como base para a implementação das NRs.

Lei n.º 5.161, de 21 de outubro de 1966 – Autoriza a instituição da Fundação


Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), com o
objetivo principal e genérico de realizar estudos e pesquisas pertinentes aos
problemas de segurança, higiene e medicina do trabalho.

Lei n.º 7.410, de 27 de novembro de 1985 – Dispõe sobre a especialização de


engenheiros e arquitetos em Engenharia de Segurança do Trabalho e sobre a
profissão de técnico em segurança do trabalho.

Lei n.º 11.901, de 12 de janeiro de 2009 – Dispõe sobre a profissão de bombeiro


civil.

Decretos são a decisão de uma autoridade sobre matéria de competência desta.


Em geral, são atos administrativos impostos pelo Poder Executivo e estão abaixo das
leis. Ainda, a natureza dos decretos pode variar de acordo com a legislação. Por
exemplo, existem os decretos-lei (decretos de necessidade e urgência), que são
publicados pelo Poder Executivo e têm caráter de lei; e os decretos legislativos, que
regulam as matérias exclusivamente do Poder Legislativo.

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Um dos objetivos do decreto é regulamentar a lei, ou seja, detalhar pontos


específicos, criando meios de viabilizar as leis. Sendo assim, decretos nunca poderão
contrariá-las.

Alguns exemplos de decretos são:

Decreto-Lei n.º 229, de 28 de fevereiro de 1967 – Altera o texto da CLT e inclui


vários tópicos sobre segurança do trabalho e higiene ocupacional.

Decreto n.º 92.530, de 9 de abril de 1986 – Regulamenta a Lei 7.410/1985, que


trata da especialização de engenheiros e arquitetos em Engenharia de Segurança do
Trabalho, bem como da profissão de técnico em segurança do trabalho.

Resoluções são atos normativos hierarquicamente submetidos ao decreto e


expedidos por autoridades do Poder Executivo, tendo por objetivo explicar
regulamentos ou fazer complementações. As resoluções referem-se à deliberação ou
à determinação por meio da qual uma autoridade ou um poder público toma uma
decisão, impõe uma ordem ou estabelece medidas.

Um exemplo de resolução vinculada à área de saúde e segurança do trabalho é a


Resolução n.º 6, de 21 de dezembro de 1988, que estabelece normas técnicas de
radioproteção.

Portarias são documentos de ato administrativo de uma autoridade pública que


trazem instruções sobre a aplicação de leis ou regulamentos.

Observe algumas portarias relevantes sobre saúde e segurança do trabalho:

Portaria n.º 3.214, de 8 de junho de 1978 – Aprova as NRs.

Portaria Interministerial n.º 3, de 28 de abril de 1982 – Limita a utilização do


benzeno em função de sua toxicidade e de riscos associados.

Portaria n.º 1.274, de 25 de agosto de 2003 – Submete ao controle do


Departamento de Polícia Federal uma série de produtos químicos considerados
perigosos, dispostos em listas nessa mesma portaria.

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Portaria SEPRT n.º 915, de 30 de julho de 2019 – Institui um novo texto da NR-
1 e revoga alguns itens de outras NRs.

Portaria Interministerial n.º 3.195, de 10 de agosto de 1988 – Institui a


Campanha Interna de Prevenção da Aids, tendo em vista a gravidade do problema
gerado pelo aumento incessante do número de casos de aids.

Portaria n.º 3.275, de 21 de setembro de 1989 – Dispõe sobre as atividades do


técnico em segurança do trabalho.

Portaria n.º 26, de 29 de dezembro de 1994 – Classifica cremes protetores


como equipamento de proteção individual (EPI) e os inclui na NR-6.

Portaria n.º 34, de 20 de dezembro de 2001 – Publica protocolo visando a


determinar os procedimentos para a utilização de indicador biológico de exposição
ocupacional ao benzeno.

Instruções normativas são atos puramente administrativos que objetivam


complementar o que já está determinado em uma portaria ou em um decreto. Sendo
assim, elas nunca trarão ordens controversas às leis ou aos decretos em geral.

Alguns exemplos de instruções normativas são:

Instrução Normativa n.º 1, de 11 de abril de 1994 – Determina que o


empregador deverá adotar um conjunto de medidas com a finalidade de adequar a
utilização dos equipamentos de proteção respiratória (EPRs), quando necessário, para
complementar as medidas de proteção coletiva implementadas.

Instrução Normativa n.º 1, de 20 de dezembro de 1995 – Considerando que o


benzeno é uma substância reconhecidamente carcinogênica, aprova o texto que
dispõe sobre a “avaliação das concentrações de benzeno em ambientes de trabalho”,
referente ao Anexo 13-A Benzeno da NR-15.

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Súmulas são como pronunciamentos proferidos pelos tribunais do país e buscam


delimitar o entendimento e a interpretação de leis que tratam sobre determinado
assunto. Pode-se dizer que as súmulas são o consenso de várias decisões de um
mesmo tribunal e têm idêntica interpretação sobre um tema.

Observe a seguir algumas súmulas do Tribunal Superior do Trabalho:

Súmula n.º 39 – Os empregados que operam em bomba de gasolina têm direito


ao adicional de periculosidade.

Súmula n.º 47 – O trabalho executado em condições insalubres, em caráter


intermitente, não afasta, só por essa circunstância, o direito à percepção do respectivo
adicional.

Súmula n.º 80 – A eliminação da insalubridade mediante fornecimento de


aparelhos protetores aprovados pelo órgão competente do Poder Executivo exclui a
percepção do respectivo adicional.

Súmula n.º 132 – O adicional de periculosidade, pago em caráter permanente,


integra o cálculo de indenização e de horas extras. Durante as horas de sobreaviso, o
empregado não se encontra em condições de risco, razão pela qual é incabível a
integração do adicional de periculosidade sobre as mencionadas horas.

Súmula n.º 191 – O adicional de periculosidade incide apenas sobre o salário


básico e não sobre este acrescido de outros adicionais.

Súmula n.º 248 – A reclassificação ou a descaracterização da insalubridade, por


ato da autoridade competente, repercute na satisfação do respectivo adicional, sem
ofensa a direito adquirido ou ao princípio da irredutibilidade salarial.

Súmula n.º 289 – O simples fornecimento do aparelho de proteção pelo


empregador não o exime do pagamento do adicional de insalubridade. Cabe-lhe tomar
as medidas que conduzam à diminuição ou à eliminação da nocividade, entre as quais
as relativas ao uso efetivo do equipamento pelo empregado.

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Súmula n.º 339 – O suplente da CIPA goza da garantia de emprego.

Súmula n.º 361 – O trabalho exercido em condições perigosas, embora de forma


intermitente, dá direito ao empregado a receber o adicional de periculosidade de forma
integral, porque a Lei n.º 7.369, de 20.09.1985, não estabeleceu nenhuma
proporcionalidade em relação ao seu pagamento.

Súmula n.º 378 – É constitucional o artigo 118 da Lei n.º 8.213/1991 que
assegura o direito à estabilidade provisória por período de 12 meses após a cessação
do auxílio-doença ao empregado acidentado. São pressupostos para a concessão da
estabilidade o afastamento superior a 15 dias e a consequente percepção do auxílio-
doença acidentário, salvo se constatada, após a despedida, doença profissional que
guarde relação de causalidade com a execução do contrato de emprego. O
empregado submetido a contrato de trabalho por tempo determinado goza da garantia
provisória de emprego decorrente de acidente de trabalho prevista no artigo 118 da Lei
n.º 8.213/91.

As leis, os decretos, as portarias, as instruções normativas e as súmulas citadas


são apenas algumas das normativas relacionadas à saúde e à segurança do trabalho.
Há uma série de outras normas complementares e que estão em constante
atualização, necessitando de atenção quase diária.

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