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Programa de Educação

Continuada a Distância

Curso
REFORMA ORTOGRÁFICA DA
LÍNGUA PORTUGUESA

Aluno:

EAD - Educação a Distância


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Curso
REFORMA ORTOGRÁFICA DA
LÍNGUA PORTUGUESA

MÓDULO I

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os
créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia
Consultada.

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SUMÁRIO

MÓDULO I

• Introdução;

• A importância da língua portuguesa no mundo;

• Questões importantes;

• Alguns mitos a respeito do acordo ortográfico da língua portuguesa;

• Perguntas frequentes a respeito do acordo e da língua portuguesa:

MÓDULO II

• Introdução;

• História da Língua Portuguesa;

• Mas porque surgiu o latim vulgar?

• Curiosidades;

• Do latim vulgar ao galego-português (século XII ao século XIV);

• O português europeu (século XIV aos dias atuais);

• O português brasileiro;

• O português na Ásia;

• O português na África;

• História da Ortografia do Português;

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• Algumas curiosidades a respeito dos acordos anteriores;

• Opinião de alguns especialistas a respeito do acordo ortográfico;

MÓDULO III

• Objetivos oficiais da reforma ortográfica;

• O acordo ortográfico;

• Trema;

• Alfabeto;

• Grafia de algumas palavras (somente em Portugal);

• Regras gerais de acentuação (não alteradas pelo acordo);

• Acento diferencial;

• Acento circunflexo;

• Acento agudo;

• Uso do hífen;

MÓDULO IV

• Como o acordo irá facilitar a aprendizagem?

• Como ensinar o Acordo Ortográfico às criancinhas?

• Discussões a respeito das mudanças no uso do hífen;

• Por que é que algumas regras de uso do hífen foram mudadas então?

• Observações importantes;

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MÓDULO I

INTRODUÇÃO

Caro aluno, este curso foi desenvolvido com o intuito de permitir, em


primeiro lugar, que se tenha contato com as novas mudanças propostas pelo acordo
ortográfico da Língua Portuguesa, mas, além disso, busca-se apresentar a
importância da língua na vida em sociedade, o percurso histórico da Língua
Portuguesa, as tentativas de outros acordos ortográficos, bem como a simplificação
de algumas regras, não alteradas pelo acordo, mas que auxiliarão na discussão das
alterações.

Dessa forma, o objetivo deste curso é permitir não somente o conhecimento


das novas regras, mas também a percepção de algumas motivações que originaram
o acordo ortográfico. Motivações financeiras e econômicas, que visam à diminuição
de custos para os países lusófonos e motivações fonológicas, que visam à
diminuição das regras ortográficas da Língua Portuguesa, com a eliminação das
formas que não eram mais necessárias.

O curso foi dividido em quatro módulos, conforme apresentamos abaixo:

Módulo I – Apresenta-se no primeiro módulo a importância da língua


portuguesa no mundo, os falantes da língua portuguesa, a importância da língua
escrita e a influência da variação linguística na língua escrita.

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Módulo II – Será apresentada a história da língua portuguesa, com as
influências sofridas pela língua interna e externamente e a história dos acordos ou
das tentativas de acordo anteriormente feitas.

Módulo III – No terceiro módulo, apresentam-se as finalidades pretendidas


pelos países que assinaram o acordo, uma pausa no acordo, para a simplificação de
algumas regras não alteradas pelo acordo, o acordo ortográfico da língua
portuguesa e a versão simplificada do texto.

Módulo IV – O último módulo evidencia um resumo com as principais regras


do acordo, alguns detalhes do acordo e algumas considerações a respeito do uso do
hífen, com a retomada das principais regras de seu uso.

Conforme você observou, não será aqui apenas apresentado o acordo


ortográfico, busca-se, além disso, um posicionamento crítico a respeito da mudança
e também a respeito da língua portuguesa.

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Leiamos o texto abaixo, para início de nossa reflexão a respeito da
linguagem humana:

A língua(gem) e a sociedade

Uma língua, seja ela qual for, tem a função de permitir a comunicação entre
os indivíduos. Essa é sua função primordial. Há uma relação direta e indissolúvel
entre sociedade e língua ou língua e sociedade, que não permite que se pense em
indivíduos vivendo conjuntamente sem o estabelecimento de comunicação entre si
e, da mesma forma, não é possível a comunicação sem que haja uma convenção
social a respeito dessa comunicação, o que chamamos de língua. Língua nada mais
é que um conjunto de convenções sociais historicamente constituídas, que permite
que os seres humanos se comuniquem entre si. Somente os seres humanos têm
essa capacidade, uma capacidade relacionada talvez com algum dispositivo
biológico, que permite que se formule e se entenda um conjunto de sons e a eles se
associe um sentido.

É possível que outros seres vivos se comuniquem como é o caso, por


exemplo, das abelhas, que, com um conjunto de movimentos (danças) são capazes
de transmitir informações a respeito da localização de alimento ou mesmo do risco
iminente à colmeia, porém não se pode confundir esse tipo de comunicação, de
propósito restrito, com linguagem ou mesmo língua. Da mesma forma, observam-se
alguns pássaros que são capazes de produzir um conjunto de sons muito parecidos
com os sons produzidos pelos seres humanos, o que não permite às aves, porém,
dialogar com seres humanos ou entre si, estabelecendo um raciocínio a respeito dos
sons produzidos e produzindo, como os seres humanos, outros conjuntos de sons,
como resposta. Os macacos, animais que guardam grande semelhança com o

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homem, também não possuem um mecanismo capaz de estabelecer comunicação
por meio da língua, ainda que seu raciocínio beire o raciocínio humano.

A linguagem e a comunicação por meio de uma língua são, portanto,


atividades estritamente humanas.

A facilidade com que uma criança adquire sua língua materna é algo quase
inexplicável, levando em consideração a complexidade de uma língua. Em
aproximadamente três anos, adquire-se um conjunto razoavelmente grande de
palavras, aliado às regras de uso da língua, as chamadas regras da gramática dos
usuários de uma língua, algo que permite que se estruturem frases coesas e
coerentes, ou seja, que permite que se diga “O bebê está com fome” em vez de
“Fome bebê com está”, uma operação que parece simples, mas que possui uma
grande complexidade, mesmo para adultos que tentam adquirir uma segunda língua.
Além dessa facilidade na apreensão das estruturas e do léxico (palavras), some-se a
isso a estruturação, por parte da criança, de frases nunca ouvidas, demonstrando
sua capacidade criativa e não somente reprodutiva, provando que o ser humano
possui uma estrutura em seu cérebro capaz de criar e modificar a língua.

É essa capacidade única que coloca o homem como espécie central do


planeta terra, essa capacidade de se organizar em sociedade e se comunicar que
faz do ser humano um animal capaz de exercer dominação sobre outras espécies e
permite-lhe, dentre outras coisas, o desenvolvimento e a manipulação de objetos, o
que o torna tão diferente das demais espécies. O que permite a esse ser alterar seu
meio e traçar o seu destino, mas, por outro lado, o que lhe permite galgar a própria
destruição.

A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO

A língua portuguesa é a oitava língua mais falada no mundo. Parece pouco,


mas há, atualmente, 6.000 línguas diferentes em todo o planeta. Se considerarmos

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apenas o mundo ocidental, a língua portuguesa passa a ocupar o terceiro lugar entre
as línguas mais faladas, perdendo apenas para o inglês e o castelhano.

A comunidade dos países lusófonos (em que se fala português) tem entre
190 e 220 milhões de falantes e conta com oito países em que se têm a língua
portuguesa como oficial, são eles:

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Mapa 1: África e Ilhas próximas

• Angola (10,9 milhões de habitantes)


• Cabo Verde (415 mil)
• Guiné Bissau (1,4 milhão)
• Moçambique (18,8 milhões)
• São Tomé e Príncipe (182 mil)

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Mapa 2: América do Sul

• Brasil (185 milhões)

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Mapa 3: Europa

• Portugal (10,5 milhões)

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Mapa 4: Ásia

• Timor-Leste (800 mil).

Fonte: censos locais e projeções populacionais para os próximos anos

Além desses países, há comunidades lusófonas em outros, como por


exemplo, Macau, na China, porém, nesses locais, a língua portuguesa não é oficial,
portanto o acordo não se estende a essas comunidades.

Você deve estar se perguntando:

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☻Por que essas nações que não fazem fronteira entre si falam a língua
portuguesa?

Comparemos os mapas a seguir:

Mapa 5: As grandes navegações

Fonte:http://www.algosobre.com.br/historia/grandes-navegacoes-as.html

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Mapa 6: Países lusófonos

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/archive

O Mapa 5 traz a rota das grandes navegações, inclusive as grandes


navegações portuguesas (em azul, amarelo e vermelho), empreendidas a partir do
século XV, com o intuito de encontrar novas terras para colonização. E foi isso
mesmo que aconteceu. Ao aventurar-se no Oceano Atlântico, Portugal foi o pioneiro
das grandes “descobertas”, atingindo diversos pontos ainda “desconhecidos” ou não
conhecidos pelas nações civilizadas, já que esses locais nessa época já eram
habitados por outros povos, menos desenvolvidos.

Ao compararmos os Mapas 5 e 6, podemos notar que os países em


destaque no segundo Mapa (em vermelho) estão exatamente na rota das grandes
navegações portuguesas, ou seja, os países onde hoje se fala a língua portuguesa,

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apesar de se encontrarem distantes uns dos outros, têm algo em comum, estarem
no caminho das grandes navegações.

Os portugueses, ao passarem por esses locais, estabeleceram o domínio


das terras e sobre todos esses povos, interferindo na sociedade local e impondo,
dentre muitas outras coisas, a língua portuguesa. A imposição, obviamente, não
suplantou de imediato a língua falada por estes povos, mas, ao longo do tempo, a
língua portuguesa foi se tornando a língua oficial dessas nações. Trataremos da
história da língua portuguesa mais adiante.

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☻Mas hoje essas nações são independentes, por que ainda falamos
português?

Hoje essas nações são todas independentes, não possuindo mais o status
de colônia portuguesa, mas um resquício da dominação portuguesa ainda
permanece: a língua portuguesa. Que é a língua oficial desses países, como já
ressaltamos.

A língua portuguesa desses países, devido a influências das culturas e da


língua local, não é exatamente a mesma falada em Portugal, como se percebe até
mesmo no Brasil. A língua do Brasil sofre influência das línguas indígenas que já
estavam presentes antes mesmo da “descoberta” do Brasil pelos portugueses.
Somada a essa influência, tem-se também a influência das línguas africanas,
trazidas pelos escravos, a influência de povos holandeses, franceses, alemães, etc.
que também invadiram o Brasil durante os primeiros séculos de colonização. Isso
tudo fez com que a língua portuguesa do Brasil, assim como de outros países
colonizados por Portugal, apresentasse características diferentes da língua
portuguesa de Portugal.

☺Diante de todas essas diferenças entre as línguas faladas nos países


lusófonos, é possível falar em acordo e uniformização?

Como falar em unidade ou em unificação, referindo-se a países que já se


encontram separados de diversas formas, seja geograficamente, seja culturalmente,
ou mesmo economicamente.

A diferença entre a realidade oral da língua, caracterizada por uma grande


variação social, geográfica e estilística, e a uniformidade do sistema ortográfico é
facilmente observada.

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O sistema escrito, de certa forma, busca retratar o sistema oral, porém,
quando se trata da oralidade, nunca há correspondência exata entre as pronúncias
de falantes diferentes, ou de um mesmo falante em situações diferentes, o que faz
com que língua falada e língua escrita sejam diferentes. Existem fenômenos da
língua oral que não são transcritos para a escrita, como as pausas, as hesitações, as
repetições, etc.

Chegamos então à primeira questão importante de nosso curso:


quando se fala em acordo ortográfico, somente estão se considerando a língua
escrita e a padronização da modalidade escrita, pois seria impossível propor uma
padronização da língua falada, mesmo dentro do território brasileiro.

A ortografia oficial de uma língua é a forma considerada padrão dentro de


uma nação e a forma que deve ser usada em todos os textos formais produzidos
dentro dessa nação. Por isso, as normas ortográficas são propostas por uma
comissão de especialistas em gramática normativa e aprovadas pelo Congresso
Nacional, entrando em vigor por ato do poder executivo federal (assinatura do
presidente da república).

As mudanças ortográficas são oficializadas e passam a entrar em vigor logo


em seguida, com um prazo, é claro, para adaptação. Essas mudanças, porém, não
têm nenhuma relação com a língua falada e com os falantes da língua. A unificação
da ortografia nada tem a ver com uniformização da língua falada.

As línguas são como são em virtude do uso que seus falantes fazem dela
(sic), e não de acordos de grupos ou de decretos de governo.

(Escrevendo pela nova ortografia: como usar as regras do novo acordo


ortográfico da língua portuguesa. Instituto Antônio Houaiss. Coord. e assist. José
Carlos Azeredo. São Paulo: Publifolha, 2008, p. 13.)

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A importância da língua escrita:

Há aproximadamente 4 mil anos, o homem percebeu que a conversa, ou


seja, a língua falada, não dava conta de todas as necessidades de comunicação.
Surgiu então, por “genialidade” de algum antepassado nosso, algo parecido com um
desenho (pictograma), uma marca na pedra que era capaz de representar alguma
ideia. Daí para cá, muitas foram as evoluções dessa rudimentar técnica, que passou
a ser representada de forma alfabética, passando anteriormente pelos chamados
ideogramas.

FASE
PICTÓRICA


FASE
IDEOGRÁFICA


FLOR

FASE
ALFABÉTICA

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A criação da escrita proporcionou uma ferramenta poderosa para alguns
povos, pois a escrita, diferente da fala, atravessa o tempo e, dessa forma, podemos
saber hoje o que se escreveu há muitos anos atrás. Podemos citar, como exemplo,
os escritos sagrados da bíblia, que como se sabe, mudaram o rumo de toda a
história (e ainda mudam). Seria possível que houvesse o mesmo impacto que o
cristianismo causou se não tivéssemos os registros escritos da vida de Jesus Cristo
na terra.

Além de atravessar o tempo, a escrita transpõe o espaço, pois uma carta ou


uma mensagem pode percorrer o mundo todo para chegar a seu destino. É certo
que, a partir do século XIX, com o aumento tecnológico, foi possível propagar a
distâncias maiores e até por todo o mundo a língua falada, além das imagens, mas,
em épocas anteriores, somente por meio da escrita isso era possível.

O que se conclui é que a grande vantagem da escrita como afirma FARACO


& TEZZA (2003), é a PERMANÊNCIA.

Como afirmamos, a escrita é uma arma tão poderosa, que, até a década de
50, somente pessoas das classes mais abastadas tinham acesso a ela. Isso só foi
alterado recentemente, com a “democratização” do ensino público ou a chamada
“escola para todos”, que proporcionou, com o ensino obrigatório, a inclusão das
classes sociais mais baixas na escola.

Antes disso, no fim da Idade Média, além de ser privilégio para poucos, a
escrita era vigiada e os que escreviam algo que estivesse em desacordo com o que
pregavam os governantes ou a igreja eram punidos com a morte, na conhecida
fogueira da Inquisição.

O fato é que hoje a escrita se popularizou e tem as mais variadas funções,


eis algumas delas: dar recados (Papai, fui ao baile com o Carlinhos.), transmitir
avisos (Proibido estacionar, sujeito a guinchamento), fazer um pedido (Gostaria que
você me mandasse seus documentos na terça-feira), transmitir uma receita (Chá
para espantar a preguiça: uma colher de pó de guaraná, duas colheres de pó de
café e uma xícara de água quente), para contar uma história (Era uma vez uma
menininha que vivia na floresta...), para protestar (A situação de miserabilidade de

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nosso país não pode permanecer assim, sugira que protestemos junto aos órgãos
públicos...).

O fato é que:

O nosso alegre e criativo inventor


que esculpiu a primeira letra na
pedra, hoje teria de ir para a
escola aprender gramática, como
se grafa certo, que palavras
devem levar acento, o que é a
crase e até mesmo escrever
redações sem assunto com o
único objetivo de passar de ano.
É até possível que diante de
tantas regras, horários,
chateações, cópias, ele desistisse
da caneta e voltasse ao tacape,
resmungando: não, essa
invenção não vai dar certo!
(FARACO & TEZZA, 2003, p. 11)

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Chegamos a questões importantes:

Não seria mais fácil se escrevêssemos as palavras como falamos?

É importante saber ortografia?

Vamos responder uma questão de cada vez.

A primeira questão coloca em cheque algo que não faz parte da realidade da
língua, pois não há uma forma única de pronunciar as palavras, ou seja, temos
pronúncias das formas mais variadas possíveis. Teríamos, por exemplo, um carioca
escrevendo a palavra mais dessa forma, maixxx, pois sua pronúncia termina em
uma chiante, teríamos um indivíduo do interior do estado de São Paulo, grafando
todos os verbos sem o ‘r’ final (cantá, falá, pegá, apartá, apeá), pois esse ‘r’ não é
pronunciado nessa região. Em algumas regiões de Minas Gerais, os verbos no
gerúndio seriam grafados sem o ‘d’ na última sílaba (comeno, falano, estudano,
almoçano), porque lá é comum essa pronúncia. Perceba como seria complicado. É
possível que não houvesse mais entendimento pela escrita. Lembre-se que a
escrita, diferente da fala, não tem o auxílio de gestos e de contexto para transmitir
seu conteúdo, tudo deve ser evidenciado ali, no texto.

A partir da discussão da primeira questão, é possível pensarmos no segundo


questionamento: a importância de conhecer a ortografia.

A ortografia é algo relativamente recente, pois há trezentos anos não havia


ortografia oficial para línguas como o francês ou o espanhol. Para o português,
somente neste século é que se fixaram normas ortográficas para Brasil e Portugal.

Temos na ortografia uma forma de, além de unificar, consolidar diferentes


maneiras de falar em uma mesma língua, um mesmo código, para que a
comunicação seja mais eficiente e facilitada. Como já afirmado, na escrita, não há
recursos de recuperação da situacionalidade, recursos como gestos, prosódia,
contexto, assim, sem uma forma única, comum a todos que usam a língua, a
comunicação através da escrita seria muito difícil.

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Uma possível justificativa para o acordo: facilitar ainda mais o
entendimento de textos escritos por parte de todos os usuários da língua
portuguesa:

A busca de uma unificação facilitaria um pouco mais o entendimento da


escrita de regiões geograficamente diferentes e com variedades de língua falada tão
diferente. Como exemplo, podemos citar a enorme diferença em se entender um
texto em português de Portugal (o que não seria tão complicado) e se entender um
legítimo português contando uma história (ou a contar uma história, como diriam lá).

Atenção

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Alguns mitos a respeito do acordo ortográfico da língua portuguesa:

O acordo ortográfico irá mudar a pronúncia de algumas palavras?

NÃO

A pronúncia não será alterada, somente a escrita será alterada e essa


mudança não irá se refletir de forma alguma na língua falada. Nenhuma das
reformas ortográficas anteriores, nem a atual, proposta inicialmente em 1990, tem
como alvo a alteração da pronúncia das palavras.

O acordo ortográfico vai eliminar algumas palavras da língua


portuguesa?

NÃO

Não será eliminada nenhuma palavra da língua. O próprio usuário da língua,


por uma série de motivos, é que deixa de usar um vocábulo, valendo-se de outro
semelhante tanto na fala quanto na escrita. Assim a palavra cai em desuso e aos
poucos não vai sendo mais encontrada em textos orais e escritos, não sendo
também mais apresentada no dicionário. É claro que esse processo é longo e
complexo.

Algumas letras que são pronunciadas antes do acordo serão


eliminadas com o acordo?

NÃO

De forma alguma letras pronunciadas serão eliminadas, somente algumas


letras que aparecem na escrita, mas que já não são mais pronunciadas pelos

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falantes, serão eliminadas. Essa eliminição diz respeito somente a Portugal,
conforme trataremos mais adiante.

Há alguma mudança proposta para a sintaxe da língua, que é a parte da


gramática que trata do modo como as palavras se combinam?

NÃO

A sintaxe da língua não será alterada, assim, regras, por exemplo como da
colocação pronominal, não serão alteradas.

Para os países em que a língua portuguesa é a língua oficial, ter-se-á


com o acordo apenas uma única norma?

SIM

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O acordo busca, na medida do possível, a redução máxima das formas
divergentes entre a língua, restando alguns poucos casos de palavras com acento
agudo ou circunflexo em um ou outro país. Vejamos, no quadro que se segue,
alguns exemplos:

académico acadêmico

ingénuo ingênuo

sénior sênior

cómico cômico

vómito vômito

fémur fêmur

abdómen abdômen

bónus bônus

bebé bebê

Perguntas frequentes a respeito do acordo e da língua portuguesa:

Por que fazer um acordo ortográfico? Por que não deixar tudo como
está?

O português é a língua oficial de oito países soberanos e tem duas


ortografias consideradas corretas, a brasileira e a portuguesa. O peso ou a
importância da língua será maior se houver a unificação. Para certas relações, sejam
elas culturais, comerciais, ou mesmo informacionais, há um obstáculo quando a
forma escrita é utilizada. De quatro línguas tidas como importantes para as relações

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internacionais ocidentais (inglês, espanhol, francês e português), a língua
portuguesa é a única que possui duas grafias diferentes.

Por que existiam até então duas grafias? Quando isso se inciou?

Quando se implantou a República de Portugal, houve a primeira Reforma


Oficial da Ortografia Portuguesa, estabelecendo uma ortografia mais simples,
implantada também em texto oficiais de ensino. A mesma reforma não foi proposta
no Brasil e, a partir daí, iniciou-se a divergência entre a ortografias.

Por que Timor-Leste não estava presente na primeira iniciativa do


acordo, em 1990?

Nessa data, Timor-Leste não havia ainda reconquistado sua independência,


por isso não era considerado um país oficialmente lusófono.

Qual foi o critério ou quais foram os critérios para o desenvolvimento


do acordo ortográfico?

Como afirmado no próprio acordo, o critério principal foi fonético, ou seja, a


alteração tem o intuito de aproximação da forma escrita com a forma falada (o que
será visto, por exemplo, com a eliminação de algumas consoantes mudas). Uma
outra questão é a diminuição das regras ortográficas, que têm como consequência a
facilitação da aprendizagem.

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E no Brasil, o acordo já foi confirmado
oficialmente ou ainda deve passar por alguma
aprovação?
No dia 29 de setembro de 2008, o presidente
Luís Inácio Lula da Silva tornou oficial a introdução
da reforma ortográfica no Brasil.

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