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CURITIBA
2000
MARISTELA HEIDEMANN IAROZINSKI
CURITIBA
2000
ii
Ao meu esposo Alfredo, cujo
incentivo, apoio e compreensão
foram decisivos para a conclusão
deste trabalho.
iii
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Mathias (in memoriam) e Inocência, cujos ensinamentos nunca serão
esquecidos.
Agradeço intensamente aos Colegas do Mestrado, assim como também aos Professores e
Funcionários do PPGTE. Por algumas amizades inesquecíveis onde a paciência e a
compreensão nos momentos mais difíceis fizeram com que a comunicação entre nós se
tornasse num exercício permanente de aprendizagem.
À CAPES, pela concessão de bolsa de estudos que tornou possível o desenvolvimento deste
trabalho.
À minha irmã, Claudia, por sua ajuda na estruturação final desse trabalho.
A todos aqueles que dedicam suas vidas a uma educação tecnológica, mais comunicativa e
emancipatória.
iv
O Constante Diálogo
Há muitos diálogos
O diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado
o diálogo contigo mesmo
com a noite
com os astros
os mortos
as idéias
o sonho
o passado
o futuro
Escolhe teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio dialogamos.
v
SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................................................... VII
ABSTRACT.................................................................................................................................................VIII
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................ 1
JÜRGEN HABERMAS................................................................................................................................. 10
vi
RESUMO
vii
ABSTRACT
This work aims at exploring the possible contributions of The Theory of the
Communicative Action developed by the philosopher and sociologist Jürgen Habermas, in
an attempt to build a new practice of technological education. In order to do so, the
author’s main ideas were analyzed and the concepts of technological education were
studied in more depth. Based on the bibliography, we proposed the development of the
basis for a pedagogical action within the field of technological education, as follows: 1)
knowledge aiming at a communicative rationality, in which knowledge is obtained through
a rationality focused on communication, where language performs a fundamental role; 2) a
pedagogical practice based on the Habermas philosophy, where the different instances of
the educational process demand, from those involved, a constant critical attitude towards
their practices taking into consideration the educator-leaner relationship, the classroom
environment, the curriculum, the evaluation process, and the interdisciplinarity; 3) a
technological education focused on emancipation, characterized by a critical and reflexive
dialogical reasoning. Based on the Habermas theory, we concluded that a technological
education working under the presuppositions of the communication paradigm, will provide
enough tools to raise subjects' reflective and critical consciousness about technologies'
different dimensions and their effects on society as a whole.
viii
1
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
por grupos dominantes e regida segundo seus próprios interesses. A tecnologia atinge os
diversos segmentos da sociedade de uma maneira exógena e muitas vezes distante das reais
necessidades destes segmentos. Assim, na maioria das vezes a tecnologia não tem sido um
sociedade.
política econômica onde o lema era « vamos fazer crescer o bolo para depois dividi-lo », a
política tecnológica do país foi orientada em benefício de uma classe dominante detentora
somos capazes de lançar foguetes, fabricar aviões, construir grandes usinas hidrelétricas,
etc, mas ao mesmo tempo não conseguimos resolver os problemas de educação e saúde da
continente, que segundo dados do IBGE, em 1997, o número de analfabetos no Brasil era
escola por falta de vagas ou pela necessidade de trabalhar, impostas pela situação
econômica lastimável de grande parte das famílias. Além disso, milhares de pessoas
2
subdesenvolvimento. Esta situação ilustra bem a inutilidade da tecnologia para uma imensa
desenvolvimento. Mas, para que a tecnologia torne-se útil efetivamente para o conjunto da
maneira como os sujeitos irão utilizar a tecnologia. Neste sentido, a educação tecnológica
pode contribuir para a apropriação da tecnologia pelo sujeito de modo que ela possa ser
utilidade da tecnologia.
pelo contrário, seu processo de maturação foi lento e gradual. No primeiro ano de mestrado
sobremaneira (mesmo que de forma bastante prematura), sobre o tema aqui apresentado.
conhecimento (IAROZINSKI, 1999)”, que com o passar do tempo, culminou, sem dúvida,
De certa maneira, sempre tive grande interesse e inquietações por temas tais como:
tecnologia para quê e para quem?, comunicação, relação entre os sujeitos e as questões que
envolvem o conhecimento. Foi, então, a partir das discussões feitas por ocasião das
disciplinas cursadas, bem como do convívio com os professores e colegas, que as idéias
foram amadurecendo e ganhando corpo para se chegar ao tema atual. Estas discussões me
conduziram sem dúvida, a uma visão mais ampla e profunda no âmbito da educação
Meu encontro com o Habermas (ainda que apenas pelas traduções) foi decisivo
tecnológica mais comprometida com o sujeito e a sociedade, tem como razão principal a
do grupo social, ao invés de agir como um elemento perturbador imposto pelo meio
exterior. Para isso é preciso estabelecer uma parceria entre a educação e a tecnologia. A
tecnologia será mais útil (verdadeira para o grupo) quanto maior for sua adequação às reais
necessidades dos sujeitos. Neste sentido, a tecnologia pode contribuir para o processo de
contribuir para uma educação tecnológica mais adequada às reais necessidades do sujeito,
com vistas a inserção do sujeito no futuro mercado de trabalho, não havendo um trabalho
A educação tecnológica em suas práticas, muitas vezes, prepara os sujeitos para o mercado
e para exercer tarefas divididas e fragmentadas, privilegiando assim, uma postura adequada
Esta visão estreita leva ao uso instrumental da tecnologia, que é vista como solução
1
O Taylorismo surgiu nos EUA no início deste século e pode ser entendido como uma abordagem da gestão
de empresas caracterizada pela aplicação dos princípios científicos cartesianos, ou seja, os problemas são
divididos em partes e cada uma das partes deve ser otimizada independente do todo. O Taylorismo considera
os sujeitos (operários) como máquinas sem sentimentos das quais é preciso extrair o máximo de sua
capacidade de trabalho.
5
contribuindo em muito com o conhecimento na formação dos sujeitos, sendo que a mesma
tecnológico, vemos a necessidade de constantes reformulações das ações por parte dos
educadores em sua prática pedagógica. Ações estas que possam privilegiar a razão
solidariedades e de socializar as novas gerações, necessita ser concebida por seus agentes
como uma ação comunicativa”. Neste sentido, a educação tecnológica por sua vez, com
suas características próprias que privilegiam uma ação crítica e reflexiva constante, frente à
construção do saber e que inevitavelmente envolve a tecnologia, nos parece o campo ideal
socialmente construído, para dele fazer elemento de ensino, pesquisa e extensão, numa
dimensão que ultrapasse os limites das simples aplicações técnicas, como instrumento de
6
das teorias que falam sobre a ação comunicativa. Neste sentido, suas obras nos mostram a
Em sua obra “Teoria da Ação Comunicativa”, Habermas trata das condições onde
os sujeitos a partir de uma situação ideal de fala, buscam resolver seus impasses utilizando-
capazes de emancipação.
tecnológica.
7
Teoria da Ação Comunicativa do filósofo Jürgen Habermas com vistas a construir uma
específicos:
filosofia de Jürgen Habermas para que possa servir de base para a formação de
principais textos disponíveis sobre o assunto. Ela teve seu início com uma revisão de
realizarmos uma análise crítica dos livros e pesquisas realizadas, relacionado às questões
educação tecnológica.
pedagógicas. Esta foi a etapa em que exigiu conseqüentemente um maior prazo para o
trabalho de reflexão e sua futura construção, estando aberta para futuras discussões.
futuros. Como afirmado anteriormente, nosso trabalho, no entanto, trata de uma pesquisa
procedimentos metodológicos.
O Capítulo II visa buscar uma maior compreensão dos conceitos fundamentais que
capítulo, trata dos pressupostos que se fazem necessários e que estão em jogo quando dois
tecnologia”.
emancipação.
bibliográficas.
10
CAPÍTULO II
ainda como crítico extraordinário frente a todas as práticas sociais. A chamada “Escola de
no qual participaram Lukács, Pollock, Korsch, Wittfogel que nasceu a idéia de uma
Zurique e Bonn.
Concluiu sua tese de doutorado (1954) sobre o filósofo alemão Schelling (1775-
Sua carreira acadêmica foi particularmente brilhante. Entre 1955 e 1959, foi
patrocínio lhe foi negado anteriormente tanto por T. W. Adorno como por Max
Escola de Frankfurt.
ano de 1971.
Estrutural da Vida Pública (1962), Teoria e Prática (1963), Lógica das Ciências Sociais
12
(1967), Técnica e Ciência como Ideologia (1968), Conhecimento e Interesse (1973), Teoria
da Ação Comunicativa v.1 e v.2 (1981), Consciência Moral e Agir Comunicativo (1983),
habermasiano.
dos efeitos do positivismo nas sociedades modernas, onde impera uma razão técnica e
Nas palavras de HABERMAS (1987a, T.1, p.390)3, “[...] eu mostrarei que uma
tarefa que foi interrompida (grifo do autor) com a crítica da razão instrumental. Esta
2
A razão instrumental é uma razão metódica, individualista e subjetiva, que se materializa pelas relações
entre o sujeito e o objeto, voltada para o aspecto cognitivo e instrumental visando ao domínio e ao êxito sobre
a natureza e os homens.
3
As traduções para o português de obras em língua francesa e espanhola que aparecem neste trabalho são de
responsabilidade da autora.
13
mudança de paradigma nos permite retomar as tarefas, desde então negligenciadas, de uma
sua mais profunda dimensão, na busca de uma maior compreensão, possibilidades e limites
da racionalidade.
Chamo ação comunicativa (grifo do autor) àquela forma de interação social em que os
planos de ação dos diversos atores ficam coordenados pelo intercâmbio de atos
comunicativos, fazendo, para isso, uma utilização da linguagem (ou das correspondentes
manifestações extraverbais) orientada ao entendimento. À medida em que a comunicação
serve ao entendimento (e não só ao exercício das influências recíprocas) pode adotar para
as interações o papel de um mecanismo de coordenação da ação e com isso fazer possível a
ação comunicativa.
mais sujeitos, os mesmos buscam entender-se sobre determinado assunto ou objeto, a fim
de compreendê-lo.
interesses numa discussão. É exatamente neste ponto, que o fundamento de uma ética da
racionalidade passa a ser vista como uma fonte inspiradora nas ações humanas, visando à
Podemos considerar a linguagem, como toda e qualquer forma de comunicação que pode
14
transmite (ou que você capta do meio) e que nos influencia de alguma maneira.
[...] O que nos eleva acima da natureza é a única coisa cuja natureza podemos conhecer –
“a linguagem”. Pela sua estrutura, a autonomia e a responsabilidade nos são dadas. Nossa
primeira frase expressa de forma inequívoca a intenção de um consenso universal e sem
limites... só numa sociedade emancipada, realizadas a autonomia e a responsabilidade dos
seus membros, a comunicação poderia desenvolver-se no diálogo não autoritário e
universalmente prático do qual derivam sempre, implicitamente, tanto nosso modelo de
ego-identidade, reciprocamente constituído, como nossa idéia de um consenso autêntico.
Nessa medida a verdade das proposições se baseia na antecipação da boa vida.
Habermas.
15
consciência, nossa mente) com os objetos, onde através desta autoconsciência solitária o
mesmo poderia obter pleno conhecimento dos objetos, da sociedade e do mundo que o
cerca. Neste paradigma, o sujeito, dotado de uma razão monológica, estabelece uma
comunicativa.
linguagem, onde os sujeitos atuam numa relação de reciprocidade e que juntas buscam um
entendimento.
competentes [...]. Os processos de entendimento têm como meta um acordo que satisfaça
para tornar a razão mais humana, mais crítica e social, possibilitando desta maneira uma
Para termos uma maior compreensão do processo pelo qual a racionalidade foi
filosofia da consciência. Inicia-se então, a partir desse momento (década de setenta), uma
busca intensa em suas pesquisas, para explicar o que é paradigmático para a racionalidade
comunicativa, “[...] não é mais a relação do sujeito isolado com algo no mundo objetivo,
que se instaura entre os sujeitos capazes de falar e de agir, assim que eles se entendem
Podemos notar, neste sentido, que o grande avanço ou o grande salto paradigmático
proposto por Habermas em relação ao paradigma anterior, é que ele não apenas criticou de
modo radical o pensamento moderno, mas foi além, propôs e construiu toda uma teoria
Vejamos a seguir alguns itens inscritos e/ou presentes nos diferentes paradigmas:
Tabela 1 – Os Paradigmas
ao modo como o conhecimento poderá ser construído e/ou adquirido. Porém, este
dos sujeitos.
trataremos a seguir.
sistema complexo do qual fazemos parte. Assim, apesar desta abrangência, iremos
Ação Comunicativa.
Mas, afinal, o que poderíamos conceituar como sendo razão? Que expressões
evolução social” sendo que, em seguida, a mesma autora afirma que “a razão não é
(1996, p.21).
19
linguagem na relação intersubjetiva, para uma maior compreensão, onde seu poder
que se concretiza pela relação entre os sujeitos que estabelecem uma discussão.
A razão, para WEBER (1999) envolve a crença em ações baseadas numa dimensão
de acordo com a nova proposta de Habermas, em uma nova forma de razão: concreta,
de compreensão.
para a razão comunicativa. As bases estão lançadas para a construção da teoria crítica ou a
crítica da sociedade”.
A racionalidade possui uma relação muito estreita com o saber, e ao fato de sermos
pessoas que podem ser mais ou menos racionais, de acordo com suas atitudes e ações pois
incorporam um saber. HABERMAS (1987a, T.1, p.24) nos diz que “podemos nomear
de guerra, [...] mas não o mau tempo, uma doença ou um ganho na loteria”.
BASTOS (1998, p. 61), nos diz que “a racionalidade não é abstrata, mas é história
A racionalidade não tem tanto a ver com a posse do saber do que com o modo como os
sujeitos capazes de falar e de agir empregam o saber. Ora, tanto as atividades não-
lingüísticas como as ações de fala encarnam um saber proposicional; contudo, o modo
específico de empregar o saber decide o sentido da racionalidade, que serve como medida
para o sucesso da ação. Se tomarmos como ponto de partida o uso não-comunicativo do
saber proposicional em ações teleológicas, iremos detectar a idéia da racionalidade
orientada para um fim (Zweckrationalität) tal como foi elaborada na teoria da escolha
racional. E se partirmos do uso comunicativo do saber proposicional em atos de fala,
descobriremos a idéia da racionalidade orientada para o entendimento
(Verständigungsrationalität), que numa teoria do significado pode explicitar apoiando-se
nas condições para a aceitabilidade de ações de fala.
21
lógico, a razão com um processo de construção, pois segundo PRESTES (1996, p.14), “a
interage com o objeto. Quanto maior for a interação entre sujeito-objeto, mais rapidamente
através das “leituras” das informações ali presentes. Poderíamos dizer que seria um
pensante deveria se constituir a partir de todo um contexto (bem mais amplo), envolvendo
Habermas, no entanto, situa-se num nível mais social, com sua filosofia da
comunicação, que parte do princípio de que os sujeitos são capazes de ação, e para tanto
entendimento acerca de algo. A razão para Habermas, neste caso, envolveria não apenas a
coletiva e dialógica.
séculos XVI e XVII, sendo entendida como a base unificadora da explicação dos
“[...] tem a conotação de uma auto-afirmação com êxito no mundo objetivo, possibilitada
distanciamento entre o sujeito e o objeto, por um sujeito tipicamente solitário, que visa a
operação lógica dos conhecimentos, numa atitude calculista e metódica. Neste sentido,
A razão instrumental reduz a riqueza dos fenômenos aos seus conceitos, regras e
relações pré-estabelecidas, ou seja, ela elimina da realidade aquilo que não se ajusta a seus
23
universais tidos como imutáveis e verdadeiros, não havendo espaços para questionamentos
A razão instrumental leva a considerar o educando não como um sujeito, mas como
Limita às condições que o sujeito deverá realizar a fim de alcançar e realizar seu
objetivo último. Ações estas que são fundamentadas nas intervenções que realizam num
mundo de coisas existentes. Elas são dirigidas para um objetivo específico e manipuladas
visando ao sucesso.
o método na conduta da vida é o objetivo principal. Estas ações normalmente estão ligadas
ao poder, controle, estrutura, etc. O sujeito age solitariamente sendo o único a se beneficiar
de seus cálculos e a questão dos contratos sociais, da partilha do poder de decisão são
descartadas.
das ações calcadas numa educação metódica e calculista. Fica evidente o argumento
encontrar a razão no mundo da vida, partilhadas nas práticas cotidianas. Sendo assim, a
razão é trazida por Habermas para o mundo da vida, onde a comunicação não é um
sujeitos.
consciência, inicia então uma busca intensa em suas pesquisas para explicar o que é
de agir, assim que eles se entendem entre si sobre alguma coisa” (HABERMAS, 1987a,
T.1, p.395).
relação intersubjetiva entre os sujeitos, num discurso sem violência, permitindo desta
compreensão e no aprendizado, o que permite desta forma uma socialização sem repressão
e que conduz a um livre reconhecimento (dos objetos e fatos) por parte dos sujeitos
envolvidos.
A razão comunicativa faz parte do mundo vivido, o qual é formado por símbolos
que nascem das interações e vivências entre os sujeitos, e que são transmitidos de gerações
O mundo do sistema pode ser considerado como o mundo formal, das regras, das
leis, das normas, etc... ou seja, um mundo “artificial” criado pelo próprio homem visando
O mundo do sistema tenta controlar o mundo da vida. Isso gera muitas vezes um
vida (necessidades reais dos sujeitos, seus sentimentos e percepções), gerando problemas
O mundo da vida conforme Sérgio Paulo Rouanet, “é o lugar das relações sociais
espontâneas, das certezas pré-reflexivas, dos vínculos que nunca foram postos em dúvida”
Segundo PRESTES (1996, p.84), “na teoria de Habermas há, por um lado, o mundo
da vida dos grupos sociais em que as ações são coordenadas pelo entendimento e, por
outro, o mundo do sistema que se regula a si mesmo através das ações em relação a fins.
De acordo com o próprio HABERMAS (1997, p.489), “ o mundo da vida pode ser
conceituado como sendo aquilo onde os participantes da interação iniciam e discutem suas
operações interpretativas”.
Num contexto mais social, segundo MARAUN, citado por KUNZ (1991, p.86), “o
mundo da vida é a instância em que o sentido material se faz presente na história individual
[...] que envolve de uma ou de outra forma todas as suas ações – independente se isto
Podemos perceber que o mundo da vida é um conceito que faz parte e completa a
ação comunicativa. É o espaço onde se constrói a razão comunicativa, a partir das relações
intersubjetivas entre os sujeitos. HABERMAS (1990b, p.278) nos diz que “enquanto o
falante e o ouvinte se entendem frontalmente acerca de algo num mundo, eles movem-se
dentro do horizonte do seu mundo de vida comum e este continua a ser para os
indesmembrável e holístico.
Neste sentido, é evidente que o mundo da vida funciona realmente como um pano
ou seja, seria uma base de sustentação para que ocorra uma verdadeira ação comunicativa
entre os atores. Estes possuem no seu mundo da vida todo uma tradição cultural, um saber
O mundo da vida (lebenswelt) nos ensina muitas coisas, pois são através das
interações que estabelecemos com os outros que iremos direcionar nossas ações de modo
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mais ou menos racional. Poderíamos dizer que é no mundo da vida que interagimos e
dimensão da prática social, prevalece uma ação comunicativa, isto é, “uma interação
reconhecidas, pelo menos, por dois sujeitos agentes” (HABERMAS, citado por
nos diz que “pela interação aprendemos, nos expressamos, confrontamos nossas
experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos ser aceitos, acolhidos pela
agir durante suas vidas, estão diretamente ligados ao fato de os mesmos serem capazes de
julgar e responder por suas ações no mundo da vida. Neste sentido o mundo da vida
fornecerá subsídios, normas e regras para que os mesmos tenham uma base sólida para
oferece segurança às novas situações que surgem na dimensão do tempo histórico, e são
149), envolve todo um contexto em que “[...] os atores comunicativos situam e datam seus
Assim, pode-se inferir que o mundo da vida seja o espaço onde estão presentes
nossas emoções, expectativas e ações do nosso cotidiano. Espaço este, onde os atores
partilham suas experiências, falando sinceramente sobre acontecimentos que são próprios
da sua cultura. É o mundo da vida, como diz BOUFLEUER (1997, p.43), “que faz com
que um ato de fala seja familiar, permite apreender o seu sentido e antecipar as condições
de sua aceitabilidade”.
semelhante e ao mesmo tempo o saber cultural é particular daquele grupo, o mundo da vida
visando a um entendimento sobre algo no mundo, seja ele: objetivo, social ou subjetivo;
trata do ser humano, enquanto sujeitos ou atores dotados de linguagem e que são movidos
para a compreensão dos fatos através dos três mundos, quais sejam: o mundo objetivo
codificadas por regras); e o mundo subjetivo ( como o conjunto das experiências vividas às
Neste sentido, é evidente que a ação comunicativa abrange os três mundos a que se
referem os atos da fala cotidiana: objetivo (das coisas externas), social (normas e
num sistema de referências composto exatamente desses três mundos. Mesmo que, não na
mesma intensidade, esses três mundos se relacionam de uma maneira muito estreita frente
entendimento sobre estes três mundos a que se referem um ato de fala. Estes
CAPÍTULO III
A EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA
prática devem estar vinculadas visando desenvolver uma relação de não dominação entre
os sujeitos, fornecendo desta maneira subsídios, para que os mesmos possam construir um
reconstrução permanente dos sujeitos pelo qual todos passam. A educação, nesta
enriquecer esta caminhada. Ou como diria (PRESTES, 1996, p.73), a educação não deveria
33
se preocupar apenas com a “formação de sujeitos com capacidade moral e intelectual, mas
Trata-se “do ato de educar, orientar, acompanhar, nortear, mas também o de trazer de
Potencialidades estas que muitas vezes estão intrínsecas nos sujeitos e que na maioria das
Neste sentido, concordamos com BASTOS (1998), que a educação não deve ser
Conhecimento este, visto não apenas como a dissecação de um saber, mas para
em conta a palavra do homem. “Ao dizer a sua palavra, pois, o homem assume
conscientemente sua essencial condição humana. (...) A educação reproduz, assim, em seu
criatividade, impedindo o saber, porque nega o dinamismo da busca. Através dela somente
o professor educa, sabe, pensa, diz a palavra, disciplina a classe, prescreve sua opção, atua,
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pois nega que “o pensar do educador somente ganha autencidade do pensar dos educandos,
assim tem sentido, se tem sua fonte geradora na ação sobre o mundo, o qual mediatiza as
consciências em comunicação, não será possível a superposição dos homens aos homens”
pela educação bancária, e ao assumir o diálogo, torna o educador não apenas aquele que
educa, “mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser
crescem juntos e em que os argumentos de autoridade já não valem. Em que, para ser-se,
nega o homem abstrato e desligado do mundo e nega o mundo como algo ausente do
homem, pois a reflexão é feita a respeito dos homens em suas relações com o mundo,
criticamente. É uma educação que, ao invés de assistencializar, criticiza à medida que “se
realidade, responde à sua vocação, como seres que não podem autenticar-se fora da busca e
e aos homens. Para FREIRE (1987), é pelo diálogo que se dá a pronúncia do mundo, que é
antes de encontrar-se frente a frente com eles, não uma fé ingênua, já que o homem
dialógico é crítico.
Para que o diálogo seja verdadeiro, é necessário que exista um pensar verdadeiro,
um pensar crítico, que não aceite separação entre o homem e o mundo mas uma firme
solidariedade entre eles. Sem o diálogo crítico também não há comunicação. Pois é pela
o mundo.
No Brasil, a educação não é vista como prioridade, aliás está longe de o ser. No
entanto, os discursos em prol de uma educação para todos visando a uma sociedade mais
os sujeitos das classes sociais menos favorecidas. A escola que ora se apresenta reproduz o
36
atual sistema social, que exclui, desvincula, classifica, seleciona, rotula e marginaliza
grande parte da população. O que se confirma nas palavras de PRESTES (1996, p.57), que
“[...] os cursos e os conhecimentos trabalhados pela escola perdem seu vínculo com as
poder”.
pois, o sujeito individualista é aquele que visa a dominação e manipulação, sendo este
Face a este quadro, Habermas nos fornece margens para interpretarmos, em sua
Teoria da Ação Comunicativa, que seria possível construirmos uma nova e democrática
estrutura nos atuais sistemas de ensino, buscando basicamente uma conciliação entre os
dois mundos: o mundo do sistema e o mundo da vida, onde a teoria e a prática estariam
Quando os pais querem educar os seus filhos, quando as gerações que vivem hoje querem
se apropriar do saber transmitido pelas gerações passadas, quando os indivíduos e os
grupos querem cooperar entre si, isto é, viver pacificamente com o mínimo de emprego de
força, são obrigados a agir comunicativamente (HABERMAS, 1993, p.105).
habermasiano é contrário a qualquer tipo de repressão dos direitos à liberdade dos sujeitos.
coações, para que juntos se comuniquem a respeito de suas experiências pessoais, seus
37
conhecimentos tácitos, na busca de uma nova aprendizagem. Ou, como afirma (BASTOS,
1998), as teorias e as práticas da ação educativa passam pelas ações entre sujeitos –
experiências compartilhadas entre todos que ali estão, não para ensinar e aprender, mas
À educação cabem algumas funções básicas. Qualquer que seja sua função, a
mesma deverá ter o cuidado para não reduzir a razão dos sujeitos no sentido individual e
monológico.
A escola, por sua própria natureza, exerce um papel fundamental na transmissão cultural,
na socialização e na construção da personalidade individual, isto é, na reprodução das
estruturas simbólicas do mundo da vida e, portanto, para o seu bom funcionamento, ela
deve ser regulada pelos processos de ação comunicativa com vistas a alcançar o
entendimento (PINTO, 1996, p.152).
intercâmbios, pois quando o transferimos para uma outra realidade, temos um outro
exigem novas posturas dos atores sociais envolvidos. Nos locais de trabalho (empresas,
escolas, fábricas, universidades, etc), exige-se uma visão mais sistêmica4 e menos
Falar em tecnologia, nos remete também a considerar a técnica, haja visto que a
tecnologia muitas vezes se confundem, dada a sua proximidade, sendo desta maneira
utilizados de forma a não expressar seu real significado. Dentre as técnicas existentes e
disponíveis, podemos dizer que algumas são mais simples, outras mais complexas. No
entanto, todas trazem em seu bojo um conhecimento tácito que é próprio dos sujeitos.
quando afirma que “a técnica não é concebida como pura realidade objetiva, mas como
Também com muita propriedade, José Ruy Ribeiro nos descreve o seu
entendimento de técnica como sendo “a habilidade que o homem tem para executar
determinada operação ou tarefa, habilidade que pode ser uma destreza motora ou
4
Visão sistêmica – é uma abordagem que contempla o todo e as partes de um fenômeno, sem privilegiar
apenas o todo ou apenas as partes. A compreensão do fenômeno é obtida observando-se as inter-relações
recíprocas entre partes e o todo. A visão sistêmica pretende ter uma visão global dos fenômenos.
39
Nesse contexto, é oportuno lembrar as palavras de Milton Vargas, quando nos diz
que:
[...] A técnica, no sentido geral, é tão antiga quanto o homem; pois aparece com a
fabricação de instrumentos. E, de acordo com a Antropologia, não há homem sem
instrumentos, por mais rudimentares que sejam. A fabricação da pedra lascada e o
aparecimento do homem seriam fatos simultâneos. E a essa fabricação já corresponderia
um saber fazer: uma técnica. [...] Desta forma a técnica é originalmente um saber fazer que
caracteriza a presença de uma cultura humana (VARGAS, 1994, p.18-19).
aperfeiçoamento dessas técnicas e reflexões mais profundas sobre sua real dimensão no
sistemático dos instrumentos, das ferramentas e das máquinas empregadas nos diversos
ramos da técnica, dos gestos e dos tempos de trabalho e de custos, dos materiais e da
energia empregada”.
Segundo ROCHA NETO (1996), a tecnologia pode ser entendida como uma
cultura (formada pela simbiose da ciência com a técnica) e assim ela representa mais que
conhecimentos.
5
Visão cartesiana – é um abordagem onde o todo é decomposto em partes e cada parte é analisada ou
estudada isoladamente. A compreensão do fenômeno é obtida a partir do conhecimento de cada uma das
40
aspecto, é oportuno resgatar o pensamento de Marc J. De Vries que salienta este fato:
Neste sentido, seria ingênuo pensarmos a neutralidade da tecnologia, pois ela traz
consigo valores embutidos que servem tanto para a dominação (destruição) como para a
tecnologia, como não é neutra, seguirá o rumo que lhe for dado – boa ou má, amiga ou
inimiga do homem. Neil Postman oportunamente nos coloca esta não neutralidade da
tecnologia:
Primeiro, a tecnologia é uma amiga. Torna a vida mais fácil, mais limpa e mais longa. Pode
alguém pedir mais de um amigo? Segundo, por causa de seu relacionamento longo, íntimo
e inevitável com a cultura, a tecnologia não convida a um exame rigoroso de suas próprias
conseqüências. É o tipo de amigo que pede confiança e obediência, que a maioria das
pessoas está inclinada a dar porque suas dádivas são verdadeiramente generosas. Mas é
claro, há o lado nebuloso desse amigo. Suas dádivas têm um pesado custo. Exposto nos
termos mais dramáticos, pode-se fazer a acusação de que o crescimento descontrolado da
tecnologia destrói as fontes vitais de nossa humanidade. Cria uma cultura sem uma base
moral. Mina certos processos mentais e relações sociais que tornam a vida humana digna
de ser vivida. Em suma, a tecnologia tanto é amiga como inimiga [...] (POSTMAN, 1994,
p.12).
benefícios que a mesma tem trazido para a sociedade como um todo nos últimos anos. No
entanto, precisamos estar atentos para os conteúdos políticos e sociais que permeiam todo
última geração, se para a grande parcela da população lhes é negado este acesso. O
Frente ao exposto, acreditamos que a tecnologia, não só pode como deve ser
trabalhada ao longo de todo o processo educacional, fazendo com que desde a pré-escola
até os graus mais elevados de ensino os educandos sejam levados a construírem uma visão
A ponte de “Long Island”, construída em Nova York possui altura máxima, nos vãos de
sustentação construídos sobre a pista, de apenas 2,70 metros, é muito baixa e impede a
passagem de ônibus e caminhões. Só passam carros de passeio. Por mais estranho que
pareça, não se trata de erro de projeto ou limitação da tecnologia existente na época. Robert
Moses, o engenheiro responsável pela solução “técnica”, tinha como objetivo deliberado
impedir que as pessoas negras e pobres que viajavam de ônibus chegassem aos locais de
recreação dos brancos ricos ou de classe média que tinham, evidentemente, carros de
passeio. Um “efeito social” premeditado – a discriminação de negros e pobres – foi fator
determinante neste obra de engenharia civil (MONSERRAT NETO, 1997, p.3).
Como percebemos, a tecnologia pode ser vista como algo que poderá ser usada para
consigo benefícios e malefícios, onde os benefícios nem sempre são obtidos por todos.
Dessa forma, a educação tecnológica deverá ter entre os seus princípios a busca do
rapidamente, muitas vezes não respeitando suas conexões com o meio ambiente, com o
42
meio educacional, com a cultura, etc. Temos aí, neste caso, uma tecnologia profundamente
apenas aspectos parciais. Assim, muitas vezes as soluções tecnológicas são obtidas sem
uma reflexão mais abrangente, ocasionando outros problemas. Precisamos ter o cuidado
para não sermos guiados por ela, ou como assevera BASTOS (1997, p.10), precisamos ter
nas mãos o poder de “controlar a tecnologia em vez de ser controlado por ela, eis a grande
questão”.
econômico e cultural. A nós educadores e educandos, cabe uma pergunta: de que adiantaria
características, visando desta maneira condições de vida humana digna de ser vivida por
todos. Isto implicaria numa reavaliação dos caminhos percorridos e a percorrer pela
tecnologia, cabendo à educação tecnológica esta árdua e, ao mesmo tempo, feliz tarefa a
priorizar.
[...] a tecnologia, apesar de seu enorme poder, em última instância pode e deve ser
controlada e usada com fins pacíficos e socialmente proveitosos. Isto só é possível se a
tecnologia estiver nas mãos de pessoas verdadeiramente educadas – homens e mulheres
cuja moral e capacidade intelectual tenham sido desenvolvidas ao máximo. Na nossa
opinião, esta idéia resume, com autoridade, o grande objetivo da Educação Tecnológica
(REIS, 1995, p.116 e 117).
construção dos conhecimentos tecnológicos, será o aspecto que trataremos a seguir quando
que as instituições de ensino tenham uma visão ampla de educação tecnológica, onde as
tecnologias não se tornem algo que lhes possa transmitir “medo” ou “insegurança”, mas
que consigam perceber ao longo do processo suas tendências e os valores que permeiam
cada uma delas na sua mais profunda dimensão. Fato este que servirá de estímulo para
futuras mudanças nas práticas conservadoras, até então muito presentes nos
estabelecimentos de ensino.
desenvolvidas em sala de aula estão diretamente voltadas para este objetivo. Muito embora
estas práticas sejam realizadas com freqüência nos estabelecimentos de ensino tecnológico
como finalidade última, efetiva-se ali, naquele momento, uma educação puramente técnica
conhecimentos técnicos aplicados nas práticas escolares no ambiente das escolas técnicas e
da rede de formação profissional. A educação tecnológica, por sua vez, tem por
práticas escolares.
Alguns autores entendem a educação tecnológica apenas como uma adaptação dos
tecnológica apenas aos sujeitos de determinada área específica. Do nosso ponto de vista,
este entendimento restrito deve ser associado ao ensino tecnológico e não a educação
tecnológica que tem uma abordagem mais ampla. Neste sentido, alguns destes mesmos
autores, no decorrer de suas colocações, posicionam-se com uma visão mais ampla no que
mudança tecnológica”.
sujeitos, não apenas fornecendo subsídios para que os mesmos saibam programar o seu
Sua preocupação não concerne única e exclusivamente a um ensino técnico, visando a uma
boa escolha de sua futura profissão, ou ainda, limitando o acesso de todos a uma educação
tecnológica. Mas esta educação deve ser orientada para que os sujeitos adquiram uma boa
escolhas.
livresco, formal e repetitivo, onde a forma adquire uma importância maior que os próprios
conteúdos, boicotam nos educandos a construção do saber que está em jogo conduzindo
desta maneira à redução dos conhecimentos, limitando-se apenas aos conhecimentos das
rever suas concepções e fundamentos no que diz respeito às tecnologias, não apenas
desigualdades sociais.
das tecnologias”.
Ainda para o mesmo autor, BASTOS (1997), a educação tecnológica deve ser
trabalhada desde a pré-escola, não adjetivada, mas numa relação intersubjetiva; onde ela
não seja nem simples transmissora, nem simples aplicadora, mas intérprete das tecnologias,
num processo constante de pesquisa, proporcionando subsídios para que o próprio sujeito
organize sua vida. Nesta perspectiva, a educação tecnológica, por nascer da educação,
mesmos.
Nesse contexto, REIS (1995, p.49), faz interessante análise quando aponta as
Portugal e na Inglaterra:
ser técnico em alguma coisa, mas prepará-lo como um todo para a vida. Que este sujeito
não dependa única e exclusivamente de uma profissão ou formação acadêmica para ser
47
feliz, mas que construa uma vida na escola que lhes dê subsídios para que possa continuar
A educação tecnológica não se pode confundir, então, quer com a preparação para o
exercício de uma profissão, quer com a manipulação de materiais ou a mera fabricação de
objetos técnicos, quer ainda com uma “receita pedagógica” específica para alunos com
dificuldades de aprendizagem, oriundos de meios sócioeconômicos mais desfavorecidos e
mais ligados à produção.
possibilita que o estoque de saber acumulado seja difundido e ampliado o que facilitará ou
estruturas provocadas pelo avanço contínuo dos novos conhecimentos e novas tecnologias.
indivíduos que conheçam, saibam fazer e tenham condições de responder a novos desafios.
48
profissionais somente para o fazer, já que este fazer não mais se reveste da posição de uma
partir da reflexão que integre o saber e o agir profissional, por meio de uma perspectiva de
A educação tecnológica deve colocar como base de suas ações a criatividade, pois o
avanço da tecnologia exige criatividade que torna-se essencial e que se dá por meio da
modificações das exigências do meio. Por isso “deve formar elementos dotados de
curiosidade pelo saber, a disponibilidade para mudar, o desafio de criar novas respostas às
uma visão ampla dos diferentes aspectos e contextos que compõem a tecnologia. Trata-se
de fornecer subsídios aos cidadãos não apenas para exercer bem uma profissão, mas para
que possam atuar bem em diferentes profissões; e o mais importante, uma educação que
lhes proporcione uma formação para se construir a verdadeira cidadania como indivíduos
emancipados com vistas à plena realização ao longo da vida. Este é um desafio para a
não se limita à elaboração de uma atividade. Faz-se necessário que os educandos tenham
uma maior compreensão sobre as dimensões que envolvem as tecnologias, no seu contexto
seus reflexos e conseqüências, permanecendo assim nos moldes de uma visão cartesiana,
soluções para os problemas que surgem na perspectiva de encontrarem respostas para suas
seus impactos e suas funções (de construção ou destruição dos sujeitos). Nesta perspectiva,
50
consideramos que, “além dos conhecimentos, os profissionais que formamos devem ter
ética e noção dos reflexos de sua ação profissional [...]” (RIBEIRO, 1995, p.265).
observadores das atividades que realizam. Os sujeitos não podem ser considerados simples
executores de ações (prática pela prática), mas precisam realizar estas ações de forma
comunicativa com os outros sujeitos, garantindo desta maneira uma construção efetiva
tecnologia, não de maneira restrita, local, mas com uma visão mais totalizante e global.
entender seu processo histórico de concepção, elaboração, inovação e difusão; ter plena
consciência de como se faz, para quem, do porquê se faz assim e não de outra maneira,
aprender, uma vez que educação, ciência e tecnologia são decisivos para as mudanças dos
tempos atuais.
Segundo DEMO,
O aprender a aprender indica uma visão didática composta de dois horizontes entrelaçados,
pervadidos pela competência fundamental do ser humano, que é a competência de
construir a competência (grifo do autor), em contato com o mundo, com a sociedade, num
51
constrói a teoria e a prática e intervém na realidade. Não combina com ofertas extensivas e
reproduzidas por professores que ensinam mas não pesquisam nem detêm a capacdidade de
conhecimento, por um professor que imita, coloca o aluno na atitude passiva, receptiva,
desafio está em saber pensar, cultivar o espírito crítico e questionador (DEMO, 1997).
tecnológicas que vêm ocorrendo, desde os tempos mais antigos até o momento
representavam para a sua época e com isso perceber as inovações e difusões que foram
relação sujeito-tecnologia seja próxima e não distante, para perceber o valor das
devem ser gerados e inacabados, o conhecimento deve ser coletivo, pois quanto mais se
entre os atores envolvidos e a meta para quem ensina e para quem aprende não seja
não podem ou não deveriam estar atrelados a nenhum interesse do mundo do sistema, pois
trata-se de um processo emancipador baseado nas relações intersubjetivas, onde neste local
todos, construiriam gradativamente um saber e sua história pessoal. Este é o desafio que
53
pedagógicas.
54
CAPÍTULO IV
trabalhar num processo conjunto entre teoria e prática, para perceber as tensões entre o
mundo da vida e o mundo do sistema numa dinâmica conjunta que envolve a educação
tecnológica.
para todos e em todos os níveis, onde o conhecimento tecnológico vai sendo aos poucos
tecnológica numa dimensão que ultrapasse as simples aplicações técnicas, onde a relação
relação sujeito-sujeito como ponto de referência para trabalhar a formação dos sujeitos
numa prática pedagógica que vise a um maior entendimento das tecnologias na sua mais
Nada do que iremos apresentar ou propor se coloca como produto final. Para ser
válida, a verdade não é de ninguém, não só pode, como deve ser sempre rediscutida,
55
(1998, p.53), “ninguém é dono da verdade, nem mesmo Jürgen Habermas. Entretanto, suas
mensagens não são apenas filosóficas, são econômico-sociais e têm muito a ver com as
tecnológica, que deve ser crítica, reflexiva e comunicativa, tendo como fundamento a
questão.
as razões mais profundas que permeiam cada um dos paradigmas, tornam-se evidentes as
comunicação o esforço não consistirá em saber como o sujeito pode conhecer e dominar
objetos ou situações, mas como ele pode chegar a um entendimento com outros sujeitos
Neste sentido, a Teoria da Ação Comunicativa, que tem como um dos objetivos
estudar a razão na sua mais profunda dimensão, visando a um projeto emancipador, mostra
fundamental.
partir da base de validez da fala, um conceito não reduzido de razão (grifo do autor)”.
homem na sociedade em geral. Neste sentido, Habermas leva a pensar numa educação
sujeito em relação com os outros sujeitos é gerador de sua própria história, preocupado
instrumental e selvagem tão criticada por Habermas, racionalidade esta presente nas
para os educandos, pois estes são considerados na sua grande maioria como meros
recipientes vazios, onde neste caso o educador, detentor da verdade absoluta, transmitiria
para estes recipientes vazios (os educandos) os conteúdos pré-selecionados, muitas vezes
abstratos e sem relação com a práxis da vida cotidiana, como sendo os mais importantes e
e científicos. Tal visão remonta às bases positivistas [...], que professam a neutralidade dos
Neste aspecto, temos uma passagem de Habermas que nos leva a refletir na relação
educador x educando que ocorrem no interior da sala de aula, onde a verdade não é de
ninguém, onde o conhecimento não é pura transmissão nem repasse de informação, mas
tecnologias em seu contexto social, político, e cultural. Para o referido autor, quanto mais
conhecimento. Com muita propriedade, BASTOS (1998, p.85) nos diz que: “o laboratório
todos partícipes de um saber compartilhado e feito das histórias de cada um”. E ainda,
corroboramos a afirmativa de BAZZO (1998, p.110) de que, os alunos neste ambiente “são
A interação que ocorre neste processo é fundamental. Poderíamos dizer que ela faz
com que ocorra uma verdadeira aprendizagem. Neste processo não existe um
seguido, mas, aos poucos, todos os envolvidos vão construindo os conhecimentos numa
reduz a um ato cognitivo que é transmitido pelo educador, mas são dadas as condições
“o conhecimento tem uma estreita relação com a racionalidade, já que esta se traduz como
solidária com a pluralidade das vozes que ali se encontram, baseada em ações
pelo contrário, os conteúdos vão sendo elaborados aos poucos por todos no laboratório de
conhecimento (que seria a sala de aula). Neste local todos sabem, todos trazem consigo
experiências do mundo vivido que são próprias dos sujeitos. Experiências estas que devem
ser partilhadas, para se chegar a um conhecimento que nunca será completo e finito, mas
(1998, p.298-299), de que o conhecimento pode ser visto sob dois aspectos, quando
escreve que:
‘conservado’ por uma comunidade [...]. Na visão que defendemos, todo saber pode
ser questionado, ou pelo menos, deve ser visto na sua relatividade à situação de
enunciação: momento histórico social, local geográfico, enunciadores,
intencionalidade, tipo de discurso [...]. Uma vez aceito tal princípio, a única atitude
possível, da parte do professor, na situação pedagógica de orientação dialógico-
discursiva, será a de aceitar tal pluralidade e não querer reduzir tudo a uma única
leitura, a um único ponto de vista, a um único padrão: o seu ou o do livro didático.
Isso não significa ‘anarquizar’ as estruturas, romper definitivamente com as
convenções sociais [aqui talvez as convenções acadêmicas sejam as mais
dogmáticas e enraizadas], culturais e textuais vigentes, mas ajudar o aluno a
assumir aquele aspecto convencionalizado, conceito ou conhecimento, não como
uma verdade absoluta e universal, mas em toda a sua relatividade, como algo que
pode ser mudado.
racionalidade que não seja a cognitivo-instrumental que reduz a razão a ações vinculadas à
obtenção de determinados fins, tão fortemente presente nas práticas pedagógicas; mas uma
ações que incentivem as interações entre os sujeitos, na busca de um discurso voltado para
violência que uns exercem contra os outros (de forma mais ou menos sublimada, de forma
Nas interações que ocorrem entre os sujeitos, ficam evidentes para os atores
estratégica e a ação comunicativa são introduzidas, portanto, como dois tipos autênticos de
interação. [...] os atores mesmos, em cada fase de uma interação, ainda que só seja de
forma vaga e intuitiva, podem saber se, de frente aos demais participantes, estão adotando
estratégicamente, quer dizer os sujeitos que pensam de antemão em agir com más
Podemos perceber, portanto, que no nosso cotidiano são comuns ações voltadas ao
a sala de aula torna-se um espaço privilegiado de interações. Neste aspecto nos parece
possíveis ações que poderiam ocorrer no contexto de uma sala de aula e ou da escola.
Ações estas que podem impedir ou favorecer uma visão mais ampla sobre os efeitos sociais
dimensões da tecnologia, seria a forma ideal para combatermos a visão de que a tecnologia
beneficiar as camadas sociais marginalizadas que sofrem ou que foram manipuladas, com
implantou.
62
trabalho que trará modificações, exigindo uma constante postura crítica dos atores
entendimento entre os sujeitos, respeitando os vários pontos de vista dos diferentes atores
envolvidos, enriquecidos pela prática do mundo vivido. As diferenças não serão ameaçadas
ou postas em xeque, mas serão estimuladas e incitadas. Segundo BAZZO (1998, p.66) “é
respeitar o interesse particular de cada um, extrair seus mundos da vida, questionar as
contradições, num debate dialético, não apenas em relação aos processos e produtos
desenvolvidos.
verdadeiros ou sinceros, para expressar seus diferentes pontos de vista, seus sentimentos e
seus desejos. Assim como podem aceitar ou opor-se aos demais participantes numa crítica
construtiva e não a que oprima, de modo que ninguém saia prejudicado, num ambiente
Praticar o exercício do consenso na sala de aula e que tenha como apoio a filosofia
habermasiana, que é uma prática extremamente democrática, poderia ser um bom começo.
Porém, bem sabemos que este processo é lento e gradual, tornando-se assim necessário que
gradativamente aptos a fazer “contratos pedagógicos” (na escolha dos conteúdos e/ou
Tudo isso num processo de discussão crítica, num exercício de argumentar e contra-
argumentar, para que as ações que irão nortear o processo de ensino-aprendizagem sejam
64
comunicação geral e pública, que se ocupa das questões práticas: de como os homens
imensamente ampliada”.
onde os educandos aceitam passivamente, mas farão parte de um processo ativo e dinâmico
falíveis. Segundo DEMO (1994, p.22) “a verdade não é de ninguém e pode sempre ser
Mesmo que este exercício do consenso pareça ser complicado e gere a maior
partes, numa visão não fragmentada, sistêmica do processo. A “polêmica”, que a princípio
possa parecer oriunda deste exercício, vai aos poucos transformando-se na sua maior
Adotando o mesmo raciocínio, BAZZO (1998, p.108) diz que não podemos ficar
também configura-se como importante, pois caso contrário “as aulas expositivas
silenciosas, bem organizadas, que permitam a atuação neutra dos indivíduos dela
65
pedagógica, pois bem sabemos que as ações muitas vezes comunicam mais que as próprias
aprendizagem de forma verbal é uma coisa, porém sua prática concreta no cotidiano nem
conservadora, quase sempre individualista, elitizante e autoritária, parece ser “uma luz no
Comunicativa, poderá utilizar-se do diálogo para romper com esta prática tradicional, em
conhecimento em base sólida, digno do desafio pelo qual se defrontarão nos diferentes
caminhos que irão percorrer. Este conhecimento é fruto de uma aprendizagem que se
66
vínculos não questionados, das certezas pré-reflexivas. Nessa abordagem, o mundo da vida
especificamente, na sala de aula onde o mundo vivido está presente, é fundamental que
forma muito interessante que, “na teoria de Habermas há, por um lado, o mundo da vida
dos grupos sociais em que as ações são coordenadas pelo entendimento e, por outro, o
mundo do sistema que se regula a si mesmo através das ações em relação a fins.
onde o mundo do sistema não apenas respeite, mas valorize e dê oportunidades para que o
a participação dos sujeitos numa interação que vise algum tipo de entendimento. Esta
postura faz com que o mundo do sistema sufoque o mundo da vida, ou ainda, conforme
HABERMAS (1987a, T.2, p.409) estas atitudes são “uma ameaça à liberdade pedagógica e
tradicionalmente impera absoluto sobre o mundo da vida, ocorrendo desta forma o que
menospreza o mundo da vida e valoriza o sistema. Para que o mundo da vida não seja
colonizado pelo mundo do sistema, a situação pedagógica que ocorre na sala de aula não
precisa nem deve desprender-se do sistema, mas torna-se fundamental neste processo que
sistema.
O ensino tecnológico não se esgota num trabalho realizado em sala de aula, muitas
vezes limitado a conteúdos que perderam o nexo entre a escola e o mundo vivido.
trabalho de sintonia, nem de trocas que correspondam aos interesses e necessidades dos
68
se preocupa com estas questões, quando afirma que, “com base nesses aspectos, não se
pode apenas apostar em técnicas didáticas esporádicas, que na realidade constituem uma
pedagogia ingênua e ineficaz, mas sim num aperfeiçoamento profundo dos conteúdos
O mundo da vida é um pano de fundo que fornece subsídios para que educadores e
raciocínio, BASTOS (1998, p.70) é muito feliz ao descrever as profundezas que envolvem
o mundo da vida quando diz que “[...] o fundamental no mundo da vida é o entendimento
puramente verbal, mas existencial, pois resguarda a unidade na multiplicidade das vozes”.
educandos trazem para a sala de aula (seus mundos vividos), considerando estes como um
escola (mundo do sistema) como um todo. Pois bem, sabemos que, em cada sala de aula
mundo vivido ao cotidiano de sua prática, para que a sala de aula se torne realmente um
espaço de vida. Com efeito, para HABERMAS (1997, p.495) “como recurso, o mundo da
consigo experiências e vivências que lhes são próprias, o educador deve extrair dos
educandos seus mundos da vida, seu interior, para juntos orientarem suas ações de forma
chegar à sala de aula. A interação do professor com seus alunos dentro de uma sala de aula
comunicativas, que BOUFLEUER (1997, p.83) conceitua muito bem, como sendo “ aquela
que, da parte de seus proponentes ou participantes, vem marcada por uma atitude
Quando educadores e educandos se referem a atos de fala propriamente dito, este abrange
simultaneamente os três mundos: objetivo (das coisas externas), social (normas e regras) e
No entanto, HABERMAS (1997, p.458) diz que: “eu prefiro introduzir o conceito
compartilhada por essas estruturas que são: a cultura (as tradições culturais), a sociedade
resgatará o mundo vivido dos educandos, para que numa relação pedagógica possam
A ação comunicativa para ser educativa, deve explorar nas ações de ensino-
válido para um determinado grupo social. Estas normas, regulamentos e princípios que
orientam o que deve ser lecionado, estimulam nos educandos a aceitarem passivamente e a
necessário, portanto, uma reflexão que, à luz da Teoria da Ação Comunicativa, proponha
aspectos técnicos da construção curricular, mas tão somente uma concepção que
sociedade e/ou da escola que o elaborou. Neste sentido, um currículo circunscrito a uma
voltados para a competição, o êxito e o domínio dos sujeitos sobre os objetos, na busca da
inovar, tão importante nos cursos tecnológicos, bem como perda de responsabilidade e
72
burocrático que impera nas escolas, efetivado através de normas e regras que normalmente
são impostas, sem que se leve em conta as pessoas envolvidas, suas necessidades e
Assim, Habermas, na seqüência de sua defesa por uma escola mais comunicativa e
democrática, descreve que a saída para esta condição passa por “[...] desburocratizar o
Elaborar uma programação curricular para o ensino tecnológico, tendo como base
administração.
73
A programação curricular parte da premissa de que tudo poderia também ser diferente,
tentando assumir para si o que era tarefa essencial da tradição, ou seja, realizar uma
escolha legítima na massa do patrimônio tradicional. Ao precisar os objetivos didáticos, ao
justificar a escolha dos mesmos, ao concretizar suas conexões e ao indicar os trâmites
operativos singulares, a programação curricular reforça a coerção que impõe ser legitimada
[...]. Para esse fim, exige-se aquela comunicação criadora de normas e de valores, que se
inicia agora entre pais, professores e estudantes [...] (HABERMAS, 1990c, p.102).
Acreditamos que esta concepção de currículo, além de ser elaborada por todos os
prática estão dissociadas, numa perspectiva pedagógica que não socializa os saberes.
pois quanto maior forem as interações dos sujeitos envolvidos no processo, mais profundas
Bem sabemos que o currículo tem o poder de especificar os conteúdos que serão
importante é que o educador não permaneça atrelado somente aos conteúdos curriculares,
74
mas que extrapole para outras áreas outros conteúdos, num enriquecimento dos princípios
e das práticas, estabelecendo, desta forma, condições para que o processo de ensino se dê
próximos da realidade dos educandos. Assim, um dos princípios básicos a ser empregado
Um dos eixos das mudanças na educação tecnológica (grifo nosso) passa pela
transformação da educação em um processo de comunicação autêntica, aberta entre
professores e alunos, principalmente, mas também incluindo administradores e a
comunidade (todos os envolvidos no processo organizacional). Só vale a pena ser
educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial (grifo
do autor). Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar
dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a
curto prazo – os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos –
mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos.
Desse modo, renunciar à cidadania significa perder sua própria identidade pela
prática de uma ação não comunicativa. Entretanto, bem se sabe que uma educação que se
Portanto, precisamos mais do que nunca, refletir sobre o ensino tecnológico onde a
prática pedagógica se insira num contexto onde a ação comunicativa seja fator
envolvida, que se questione e reflita sobre a formação do homem que deve estar implícita
Esta formação deverá fornecer subsídios para que o mesmo seja capaz de viver
comunicação é um processo natural, e como tal, a comunidade em geral deverá fazer dela
democrática.
busca de verdades”.
seguinte.
76
mundo cheio de indagações devido a sua complexidade. No entanto, o mesmo só pode ser
visto como um todo, pois faz parte do processo de ensino-aprendizagem, numa relação
estrutura social condizente com as sociedades modernas capitalistas, imposta pelo mundo
considerado como algo contínuo, inserido num espaço democrático, resgatando o mundo
educandos em aptos e não-aptos. Segundo este ponto de vista, a lógica está impregnada de
habilidades mínimas para atuar no futuro mercado de trabalho. Agindo nestes moldes, a
que os sujeitos, numa interação intersubjetiva, terão maior capacidade de agir através de
psicomotores.
Existem diferentes maneiras que o sistema disponibiliza para que o educador possa
medir o desempenho dos educandos, dentre elas podemos citar: selecionar em conceitos A,
avaliação repetitiva e mecânica, onde premiar o acerto e castigar o erro é uma constante
nas práticas avaliativas. Todas estas formas ou critérios utilizados para avaliar a
comparada a uma fotografia sua num determinado momento (dia, hora e local).
educandos o que ele deseja, de acordo com o resultado final das atividades. Mais do que
processo, tomando o educando como o próprio centro de referência para perceber em que
como protagonista (sujeito) do processo de ação e não apenas como mero objeto.
educando, impedindo desta forma um trabalho que desenvolva e valorize o discurso com a
do conhecimento.
de avaliação:
sistema de exame (provas escritas), o famoso “vestibulinho”, para medir o desempenho das
T.2, p.153-154) quando diz que “as ações comunicativas não são somente processos de
mundo da vida, pois acreditamos, concordando com Habermas, que não precisamos
abdicar do mundo do sistema, mas faz-se necessário que este também envolva e abranja o
são exigências estipuladas pelo MEC, ou pelos órgãos reguladores que definem as
Quando dois ou mais sujeitos interagem, juntos eles podem avaliar. A avaliação da
valorizando a reflexão dialógica e as aptidões de cada educando num diálogo franco, para
Conforme KOURGANOFF, citado por BAZZO (1998, p.46), “este princípio supõe
que o professor ame e conheça o seu ofício, cuja principal preocupação deve ser o êxito de
seus alunos em todos os sentidos e que, longe de se deixar desencorajar pela ‘má qualidade
das matérias-primas’, tenha orgulho e prazer com que os alunos, tal como são, progridam”.
Católica do Rio Grande do Sul sobre a construção de um processo avaliativo pela via da
Podemos concluir que, tal como acontece hoje, o processo de avaliação é uma
estrutura de poder, e neste caso o educador poderá utilizar-se destes instrumentos como
meio para atingir “o seu” objetivo final, numa prática muitas vezes em que o mestre
proclama e os alunos ouvem. As provas escritas podem ser um bom exemplo desta relação,
pois ao educando que não alcançou a média “x”, normalmente é dada uma segunda chance
para que o mesmo possa completar a média desejada. Este tipo de avaliação, com o
percebido como um trabalho extra para que os mesmos possam enriquecer o processo de
um processo.
razão comunicativa, que se efetiva pelo processo de argumentação apoiado em atos de fala,
do diálogo, os sujeitos irão questionar as verdades, que podem ser acatadas ou não pela
força da argumentação. Desde o início, o educador deve deixar bem claro como será este
educando.
Nesse sentido, BASTOS (1998, p.76-77) conclui: “na prática, isso significa,
experiências escolares”.
fundamental importância, haja visto que nos dias atuais a mesma se faz necessária para os
profissionais das mais diferentes áreas e níveis de conhecimento. No intuito de romper com
precisamos pensar em ações pedagógicas baseadas numa maior interação, não apenas entre
uma consciência crítica e interativa, os sujeitos podem abordar não apenas os problemas
tecnológicos, mas preocupar-se também com aqueles que afetam a sociedade em geral.
visão reducionista de racionalidade, temos que nos utilizar da reflexão e da crítica para que
o conhecimento não como definitivo e acabado, mas provisório e inacabado, em que nesta
entre as ciências, onde a verdade passa a ser construída pela multiplicidade das vozes num
formações, portanto de diferentes disciplinas, com seus conceitos, razões, mundos vividos
às transformações tecnológicas.
entendimento.
83
amplo de razão, onde os sujeitos das mais diferentes áreas formam parcerias, numa atitude
Nesse contexto, a subjetividade dos sujeitos não será deixada de lado, fato que
necessário que haja ligações afetivas e uma comunicação verdadeira e sincera onde todos
por Habermas. O educador que está disposto a trabalhar de forma interdisciplinar, traz em
grupo interdisciplinar. Desta forma, o educador, sobre as bases de uma discussão racional,
uma educação tecnológica voltada para a autonomia e emancipação dos sujeitos. Assunto
homem como um todo e sua conscientização, numa relação dialética entre teoria e prática,
Dessa forma, não podemos pensar numa educação tecnológica que continue a
trabalhar numa atitude passiva dos educandos, numa visão limitada pelas técnicas, mas sim
buscar um ensino que valorize as relações entre os sujeitos, o diálogo, a reflexão, a crítica e
educandos, opondo-se à mera repetição e cópia dos conteúdos, onde a linguagem torna-se
tornando-se uma constante no ambiente escolar para deles fazer a apropriação crítica dos
mesmos. É necessário que os educandos desenvolvam esta capacidade discursiva, para dela
fundamentalmente com os processos interativos, uma vez que os mesmos produzem novas
experiências dos educandos sejam ouvidas e onde a comunicação se faça presente. Desta
alcançar. Conhecimento este que também contribuirá para que os educandos consigam
transmitem, mas aproveitar este conhecimento e fazer dele um diálogo, uma troca, nas
parcerias entre os educandos, para desenvolver suas capacidades e atuar de forma crítica e
A mudança dessas práticas implica num novo modo de agir e pensar dos
educadores e educandos, para que juntos possam caminhar rumo às práticas de ensino-
aprendizagem diferenciadas através de uma razão que dialoga. É preciso resgatar a função
da educação tecnológica no que diz respeito à formação dos sujeitos, sob o ponto de vista
econômico, ético, político, cultural e social das tecnologias. Esta mudança significa não
existir mais um sujeito que age “sobre o outro”, mas um sujeito que age “com o outro”,
processo que normalmente acontecem na sala de aula. Ou, como diria BOUFLEUER,
cada sujeito como um “outro”, distinto e livre, possuidor de seu próprio horizonte de
sentido”.
frente à educação tecnológica, onde todos possam ter acesso às informações e aos
significa continuar deixando nas mãos dos grupos dominantes uma educação para a
tecnologia que não acontece, voltada a atender aos interesses restritos a estes grupos ou
Não são, entretanto, novas tecnologias que demarcam o caminho do progresso de uma
formação social nas etapas progressivas de reflexão; por seu intermédio se suprime o
caráter dogmático de formas de dominação e de ideologias superadas, a pressão do quadro
institucional é sublimada e o agir próprio à comunicação libera-se como (um) agir que
promove a comunicação propriamente dita. Com isso antecipa-se o objetivo de tal
dinâmica, a saber: a organização da sociedade exclusivamente sobre a base de uma
discussão livre de qualquer forma de dominação repressiva.
acreditamos, precisamos tomar como ponto de partida o diálogo para sua real implantação.
mesmo que intuitivamente, é oportuno ressaltar que este tipo de trabalho vem sendo
realizado por alguns educadores em suas salas de aula. Talvez eles não conheçam
Nossa intenção é a de que este tipo de trabalho venha aos poucos ganhando adeptos para
que, mais tarde, não apenas os estabelecimentos de ensino tecnológico trabalhem desta
forma, mas que gradativamente vá abrangendo todo o sistema educacional na sua mais
ampla dimensão.
Bem sabemos que este processo é lento e gradual. No entanto, para que esta meta
pois o educador que conhece mais profundamente as razões que embasam sua prática
CAPÍTULO V
CONSIDERAÇÕES FINAIS
trabalhos que abordam o tema dentro de uma visão restrita, no que diz respeito a sua
A partir de uma análise crítica percebemos claramente que esta visão mais restrita,
reducionista e instrumental.. Dessa forma, para ampliar esta visão foi preciso buscar outro
paradigma que servisse de base a uma reflexão mais profunda da educação tecnológica.
comunicativa.
sujeito cognoscente , solitário, procura obter o domínio dos objetos e do mundo que o
isto é, na interação entre dois ou mais sujeitos, onde os mesmos buscam chegar a um
A partir dos princípios filosóficos da razão comunicativa nos foi possível um maior
(para todos e em todos os níveis) de maneira comunicativa, que vise a facilitar o acesso a
entender seu processo histórico de concepção, elaboração, inovação e difusão; ter plena
consciência de como se faz, para quem, do porquê assim se faz e não de outra maneira,
proposta por Jürgen Habermas, tem como um dos princípios básicos a construção do
construído por uma razão dialógica baseada na força da argumentação, estabelecida a partir
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fundamental.
razão instrumental através de suas regras e leis formais. No mundo da vida estão os
vida e o mundo do sistema que a ação comunicativa deve ser estabelecida, aproximando
estes dois mundos. Este diálogo frutuoso conduz à autonomia e à emancipação dos
sujeitos.
sociedade, nosso trabalho baseou-se nas principais idéias de Habermas para dar uma
relacionado com a Teoria da Ação Comunicativa. Esta síntese tornou-se importante para
fundamentar o estudo como um todo, podendo oportunamente servir como subsídio para
aqueles que pretendem desenvolver pesquisas tendo como base conceitual essa Teoria.
comunicativa.
neste processo. Os conhecimentos não são meras transmissões, onde os educandos aceitam
passivamente, mas fazem parte de um processo ativo e dinâmico que se concretiza através
A sala de aula, fruto de muitas interações, será o lugar apropriado para resgatarmos
mundo do sistema impera absoluto sobre o mundo da vida, cabendo ao educador neste
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momento buscar, por uma prática pedagógica de diálogo do mundo do sistema com os
comunicativa.
expressando uma postura de conservação ou de transformação das ações por parte de quem
o elaborou, que deverá refletir, não apenas sobre a programação dos conteúdos, mas sobre
elaboração, não se limite apenas aos especialistas da área, mas que leve em conta também
existe nas escolas, cedam lugar para a concretização de uma escola mais comunicativa e
democrática.
que nos conduz a explorar valores e medidas qualitativas. Neste sentido, avaliar o processo
de aprendizagem na educação tecnológica, nos remete a refletir num processo que envolva
os dois mundos propostos por Habermas, o que significa estimular o mundo do sistema, a
interdisciplinar, tomando por base a ação dialógica na busca da construção coletiva de uma
será deixada de lado, mas pelo contrário, será partilhada visando à unidade do
conhecimento.
Para finalizar este referencial para a ação pedagógica, propomos uma educação
tecnológica voltada para a emancipação, que é caracterizada pela valorização das relações
entre os sujeitos, da reflexão e da crítica. Uma educação tecnológica que sirva não apenas
para educar para as tecnologias, mas que estimule o pensamento crítico, para que os
à emancipação.
não sendo o objetivo principal de nossa pesquisa, a aplicação prática não deixa de ser rica
que precisará ser realizado, mas que demandará tempo e esforços de vários pesquisadores.
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devemos buscar vários pontos de vista, ou seja, a continuidade deste trabalho passa
também pela busca de um horizonte de entendimento mais amplo dentro dos trabalhos do
próprio Habermas e de outros autores que buscam as bases de um novo paradigma onde a
No entanto, estas dificuldades não nos impedem de buscar caminhos que possam nos
habermasiana.
realmente ser refletido a longo prazo, mas nem por isso iremos desistir de buscar uma
educação tecnológica baseada na ação, onde teoria e prática possam convergir para os
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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