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Fonética do Português

Aula 1
Thaïs Cristófaro Silva
- Quando ouvimos a voz de alguém no telefone, podemos
identificar facilmente o sexo e, até certo ponto, a idade do
interlocutor, já pelo tom (mais grave ou mais agudo), já pelo
timbre da voz. Atentando às escolhas lexicais e aos usos
morfossintáticos, podemos avaliar também, em alguma medida,
o grau de instrução formal do falante com quem nos
relacionamos.

- Finalmente, através desses sinais linguísticos, bem como pelo


que chamamos vulgarmente de “sotaque”, podemos avaliar a
origem geográfica do interlocutor: se trata-se de um falante
nativo empregando a língua materna (e, nesse caso, podemos
tentar identificar a variante regional que ele(a) emprega) ou se
trata-se de um falante estrangeiro fazendo uso de uma segunda
língua (e, nesse caso, podemos tentar identificar sua origem
observando os traços linguísticos, sobretudo de pronúncia, que
o falante emprega inadequadamente, tomando de empréstimo
inadvertidamente de sua língua materna).
TOM SEXO
VOZ
TIMBRE FAIXA ETÁRIA

ESCOLHAS LEXICAIS Grau de


USOS MORFOSSINTÁTICOS instrução

SOTAQUE Origem geográfica

Falante estrangeiro Segunda língua


Falante nativo Língua materna

(variante regional)
- Para procedermos a uma análise linguística (por exemplo, fonética) de uma
língua ou de um dialeto, devemos começar por: 1) identificar uma
comunidade de fala homogênea, ou seja, um grupo de falantes que
compartilham um conjunto específico de princípios subjacentes ao
comportamento linguístico; e 2) coletar os dados linguísticos que formarão o
corpus a ser analisado.

- Falantes de qualquer língua tendem a prestigiar ou marginalizar diferentes


variantes regionais, ou, pelo menos, são capazes de identificá-las como
sendo variantes de prestígio ou estigmatizadas. Uma determinada variante
dialetal pode ser também identificada como padrão ou não padrão. Alguns
autores falam, alternativamente, em dialeto culto, embora, talvez, devamos
evitar esse tipo de expressão em vista da carga ideológica que contém, se
aceitarmos que o uso delas implica em juízos de valor. O que diferencia a
variante padrão das demais variantes não são fatores puramente linguísticos,
mas o maior prestígio social da localidade ou classe que a domina, ou o
maior grau de educação formal dos falantes que a empregam.
- As escolhas particulares que um indivíduo faz recorrentemente,
conscientemente ou não, ao performar um discurso linguístico, determinam
as formas de seu estilo pessoal e de seu idioleto.
Para analisar uma língua ou dialeto:

• Identificar uma comunidade de fala homogênea


• Coletar um corpus de dados linguísticos

VARIANTES

Padrão Não padrão

De prestígio Estigmatizada

(dialeto culto?)

Estilo pessoal e idioleto


Variantes dialetais, de estilo ou registro que aparecem na expressão da língua:
- Variante de sexo:
- “Olha que gracinha aquele vestidinho amarelo! Que fofo!” → Fala feminina.
As marcas da variante de sexo em português se manifestam em termos de
frequência, sendo, portanto, estilística e não dialetal; em japonês, porém, tem-se
um dialeto masculino e outro feminino, isto é, cada expressão linguística,
individualmente tomada, pode ser destinada ao uso de homens (variante
masculina), mulheres (variante feminina) ou de ambos (variante neutra).
- Variante etária:
- Observe as seguintes gírias: “Bacana, uma brasa!”; “massa!”; “irado, top!”. Elas
correspondem a 3 gerações diferentes de falantes brasileiros, cronologicamente
ordenadas.
- Variante formal e informal:
- Uso de gírias, etc. A situação social condiciona o uso de uma variante ou da outra,
e não o grupo social a que o falante pertence.
- Variante regional:
- “Arre égua!”; “esmoléu”; “rebolar no mato”; “arrodear o balão”; “acolá”; etc.
- Variante de classe social ou grau de instrução
- “Mano”; “muié”; “procrastinar”; certos estrangeirismos como “kitsch”, “blasé”,
etc.
Variações dialetais, de estilo ou registro:

• Variante de sexo:
✓ “Olha que gracinha aquele vestidinho amarelo!
Que fofo!” .
Fala feminina (infantil?).

• Variante etária:
- Observe as seguintes gírias:
✓ “Bacana, uma brasa!”;
✓ “massa!”;
✓ “irado, top!”.
• Variante formal e informal:
Uso de gírias, etc. A situação social condiciona o uso de
uma variante ou da outra, e não o grupo social a que o
falante pertence: registro.

• Variante regional:
“Arre égua!”; “esmoléu”; “rebolar no mato”;
“arrodear o balão”; “acolá”; etc.

• Variante de classe social ou grau de instrução


“Mano”; “muié”; “procrastinar”;
certos estrangeirismos como “kitsch”, “blasé”, etc.
Há sempre um acordo tácito acerca dos princípios sociais e linguísticos
convencionalmente compartilhados por indivíduos falantes de uma dada
língua, numa determinada situação social. As formas desse acordo estão
sujeitas a mudanças e cada indivíduo deve valer-se de sua intuição linguística
para fazer suas escolhas conforme a conveniência decorrente da situação em
que os enunciados estão sendo formulados.
DISCUSSÃO

IDENTIFICAR VARIAÇÕES
NO LÉXICO OU NA PRONÚNCIA
DO PORTUGUÊSQUE DEPENDAM DE:

✓ FAIXA ETÁRIA
✓ REGIÃO
✓ PRESTÍGIO OU FORMALIDADE
SAUSSURE
Gramática normativa X Gramática descritiva

Linguística diacrônica X Linguística sincrônica

Fala x Língua

Corpus de dados X Sistema abstrato subjacente


Individual Social
Acidental Essencial
❑ Saussure: “a língua não está completa em nenhum
[indivíduo], e só na massa ela existe de modo completo.
Com o separar a língua da fala, separa-se ao mesmo
tempo: 1º, o que é social do que é individual; 2º o que é
essencial do que é acessório e mais ou menos
acidental”.

❑ Chomsky observa que a intuição do falante de uma


língua permiti-lhe criar ou compreender enunciados
novos, nunca dantes formulados, distinguindo-os com
facilidade de enunciados “impossíveis” de serem
formulados, ou meros erros.
- O escopo da linguística é a construção da gramática de uma determinada
língua, ou seja, é preciso formular um conjunto de regras que explicam como é
possível falar e, também, como não é, em conformidade com um código
compartilhado e aceito por uma comunidade de falantes.
- A gramática normativa ou prescritiva ensina a fazer análises morfossintáticas,
bem como descreve em detalhes um padrão linguístico socialmente aceito
como sendo o oficial. O conjunto real das regras que explicam os usos de
linguagem é não apenas maior e mais complexo, como também mais dinâmico,
podendo modificar-se ao longo da história, ou diante de circunstâncias
específicas, e inclui regras não obrigatórias, como as de estilo.

- A gramática descritiva não é um livro de poder, ou um código normativo


socialmente estabelecido, como é, por exemplo, a Constituição de um país; ela
é um conhecimento que se expressa num conjunto de regras obtidas através da
observação, em conformidade com um método científico, e de acordo com
uma teoria estabelecida a partir de um conjunto básico de conceitos.
- Em seu livro “Curso de Linguística Geral”, de 1916, Saussure (ou seus
alunos) estabelece a diferença entre a linguística diacrônica e a sincrônica:
a primeira estuda as modificações que ocorrem num dado sistema
linguístico ao longo do tempo, trabalhando com um modelo de língua
dinâmico e inacabado; ao passo que a outra opera um recorte no tempo,
elege um momento histórico como objeto de estudos e descreve a língua
como um sistema orgânico, fechado e estático.

- A dicotomia entre língua e fala foi proposta por Saussure. Dentro dessa
perspectiva, a fala se constitui como performance linguística passível de
ser empiricamente verificada e analisada; já a língua trata-se de um
sistema abstrato e compartilhado por uma comunidade de falantes. Assim,
parte-se da coleta de um corpus de enunciados de diferentes falantes e
determina-se as características dos sons que esses falantes produzem
quando se expressam numa determinada língua; quando , depois,
procede-se a uma análise estrutural do material coletado e chega-se à
descrição do sistema linguístico que está por trás das manifestações
individuais registradas.
Saussure → Fala/ Língua Chomsky → Desempenho/ Competência
Língua -> Sistema linguístico Competência -> Conhecimento subjacente
compartilhado e internalizado
- Saussure: “a língua não está completa em nenhum [indivíduo], e só na massa ela
existe de modo completo. Com o separar a língua da fala, separa-se ao mesmo
tempo: 1º, o que é social do que é individual; 2º o que é essencial do que é
acessório e mais ou menos acidental”.
- Chomsky observa que a intuição do falante de uma língua permiti-lhe criar ou
compreender enunciados novos, nunca dantes formulados, distinguindo-os com
facilidade de enunciados “impossíveis” de serem formulados, ou meros erros.
→ Note-se que:
1) Quando se observa um fenômeno linguístico (ou outro qualquer) é importante
definir primeiro os pressupostos teóricos e os conceitos que estão sendo
tomados como relevantes no estudo do material analisado, evitando ao
máximo qualquer tipo de confusão entre teorias antagônicas ou rivais.
2) O confronto de uma teoria com dados observados que pareçam contradizer
alguns dos princípios ou pressupostos dessa teoria ou ultrapassar o campo de
possibilidades previsto inicialmente pode levar a uma reformulação mais
aperfeiçoada do paradigma teórico, ou a uma sua complementação.
Fronteiras linguísticas são bastante indefinidas do ponto de vista de uma
geografia física. A diferença entre língua e dialeto não encontra, tampouco,
suporte em evidência gramatical tangível. A conclusão é que, embora fatores
históricos e pragmáticos passíveis de observação científica possam contribuir
para a identificação da existência de um código linguístico individualizado, para
circunscrever gramaticalmente e geograficamente uma língua, fatores políticos e
ideológicos são essenciais.
VIBRAÇÃO

SOM

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