A Licenciatura em Educação do Campo da Faculdade de Educação na Universidade
Federal de Minas Gerais oferta cursos de formação docente direcionados a educação do campo em modelo de alternância, onde os alunos têm aulas presenciais em período integral durante 4 ou 5 semanas em Belo Horizonte duas vezes no ano, chamado de Tempo Escola (TE) e cerca de 100 dias posteriores ao TE de atividades na comunidade, o Tempo Comunidade (TC). Os cursos são divididos em áreas, sendo elas Ciências Sociais e Humanidades (CSH),Ciências da Vida e da Natureza (CVN), Língua, Artes e Literatura (LAL) e Matemática. Os cursos, com exceção da Matemática, possuem mais de uma área de conhecimento, sendo assim os discentes se formam em mais de uma disciplina, por exemplo, os alunos de Ciências Sociais e Humanidades serão professores das áreas de História, Geografia, Sociologia e Filosofia sendo assim eles terão mais opções de trabalho e mais oportunidades, além de ter aulas específicas para compreender a Educação do Campo e o seu movimento, as disciplinas do eixo. A organização do curso conta com um docente coordenador para cada área de habilitação, com duração de dois anos em exercício, sendo substituído após esse período. Onde a função se relaciona em dar suporte para a turma respectiva em várias dimensões, como auxílio em atividades como saraus e serões, em demandas gerais relativas ao curso. Há também uma coordenação geral do curso composta por coordenador e vice-coordenador, com duração de dois anos também, no qual exerce função em demandas administrativas, e representativas em ações referentes ao colegiado e organicidade da Licenciatura. No LECampo, a organicidade é coletiva e os alunos realizam místicas, saraus e as plenárias, onde discutimos pontos importantes do TE e planejamos o TC e a jornada socioterritorial. Democratizando e construindo juntos os percursos pedagógicos de todo LECampo. As místicas são apresentações, exposições ou outras atividades que trabalham com as nossas características de camponeses, trazem para a nossa formação aquilo que nos pertence, nossos saberes tradicionais, nossos costumes e nossa realidade de modo geral. Somos todos camponeses e lutamos juntos por uma educação de qualidade, de modo que nós enquanto educadores do campo, estaremos não somente participando do processo de escolarização dos alunos, mas também de sua formação social. No momento que começamos a compreender o funcionamento da educação do campo podemos perceber o quão importante é essa metodologia de ensino, transmitir para os alunos como o seu local de morada é importante na sociedade faz com que eles se sintam especiais e compreendam que não existe necessidade de sair do campo para buscar melhorias, porque o mesmo fornece tudo isso. A forma que a educação do campo trabalha com a realidade dos alunos mostra-nos que os pensamentos de que só se tem sucesso morando na zona urbana não é real. O curso de Licenciatura em Educação do Campo possui os Grupos de Trabalho - GTs. Temos o GT de Mística, que é formado pelos alunos que ficam a frente na elaboração das místicas, o GT de Cuidados que é responsável por receber as demandas de saúde física, mental e emocional de nossos participantes e também de outras questões relacionadas ao bem estar. Temos o GT de Registro e Memória que é responsável por registrar e armazenar nossas atividades, o que estamos fazendo, o andamento do curso e tudo o que queremos divulgar para que mais pessoas possam ver. Sendo responsáveis também pelas publicações nas redes sociais do curso na intenção de preservar os registros e dar visibilidade ao curso. E os, GT de Finanças que é responsável por cuidar de nossas demandas e posicionamentos a respeito da nossa situação financeira e o GT de moradia que ajuda na organização da nossa moradia durante o período de TE, tanto nas moradias da Fump (Fundação Universitária Mendes Pimentel), quanto caso necessite de aporte financeiro para locar outros espaços. O LECampo, luta e está em movimento por uma educação para os campesinos, de modo que valorize sua cultura, suas especificidades e que realmente promova mudanças na comunidade, nos indivíduos e não seja algo que esteja somente nas ideias e que não se torne realidade. Pois ele nasce da mobilização dos trabalhadores(as) do campo e toma força a partir da luta social, cada pessoa que compõe o processo educativo se reconfigura, alcançando todos os aspectos de construção e ressignificação da identidade desses sujeitos. Lutamos, todos juntos por direitos, mas também estamos ativos em nossos deveres, vemos a possibilidade de mudança, quando ela começa a partir de nós mesmos e o que fazemos em nosso dia a dia é fundamental dentro dessas organizações. A produção do conhecimento é coletiva no LEcampo e todos nós, professores, estudantes, apoiadores, movimentos sociais e etc. Estamos alinhados na mesma luta e esperançando as mesmas transformações sociais, transformações que nos ajude a conquistar cada vez mais o nosso lugar, o respeito e o reconhecimento de quem é campesino. A Licenciatura tem como origem os resultados das lutas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e parcerias, que com a demanda de uma educação para os membros dos movimentos, e dos povos campesinos, buscaram a construção de um curso que contemplasse os camponeses, e consequentemente alcançaram a concretização com a formação da turma Pedagogia da Terra no ano de 2005 na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi um impulso para que os movimentos sociais com a luta por direitos fossem fortalecidos constantemente, sendo a conquista do curso apenas parte dos frutos que se almejam alcançar. Por essa razão, um dos objetivos do curso é buscar a inserção, o envolvimento e valorização dos discentes aos movimentos sociais voltados à luta camponesa, no sentido fortalecer as ações dessas ONGs, e reconhecer o sujeito do Campo, como protagonista de sua própria história. Entendemos que a nossa presença na faculdade vai muito além de nos formarmos professores. Mas de formarmos cidadãos conscientes e comprometidos com uma educação universal, inclusiva e contextualizada para os diferentes sujeitos e espaços. Assim, o curso da Licenciatura em Educação do Campo (LECampo) FaE/UFMG, faz esse elo de valorização entre os saberes produzidos na academia, e os saberes produzidos nos nossos espaços e territórios, ressaltando nossas práxis e o nosso empirismo. O curso apresenta o princípio da coletividade, que é de extrema importância para o desenvolvimento das atividades tanto acadêmicas quanto de saúde, diversão, etc. Essa coletividade se dá pelo fato do conceito da alternância, uma vez que ficamos na capital de Belo Horizonte somente por um mês, e dessa forma o tempo é muito curto e precisamos sempre contar com a ajuda do próximo para conseguirmos seguir da melhor forma possível. O mesmo também tem como objetivo a troca de saberes, dialogando os saberes acadêmicos com os saberes populares/culturais, assim os professores aprendem com os alunos e vice-versa. Nesse sentido para a formação dos futuros educadores, os professores trabalham de forma em que a partir dos conhecimentos prévios dos discentes eles possam construir novos conhecimentos ao deslumbrar as realidades dos alunos do campo, fazendo com que os mesmos ampliem suas visões ao dialogarem suas realidades nos seus espaços com o mundo. É de extrema importância ressaltar, que esse trabalho coletivo, não é somente envolvendo os alunos. Nós estudantes temos um importante papel em nossas mãos, que é o cuidado, pois sabemos que em cidade grande pode acontecer diversas coisas. Por isso, o cuidado é fundamental ao entrar e ao sair do local de moradia. Os professores também desempenham um papel valioso nesse processo. Estão sempre antenados, preocupados e dedicados em buscar sempre o melhor para todos que estão presente no curso. O LECampo é um curso que abre espaço de fala aos seus alunos, então somos todos nós responsáveis pelo nosso ensino e também pelo de nossas comunidades, afinal estamos nos formando para trazer mudanças para a nossa realidade e trabalharmos a partir daquilo que já possuímos de experiência do nosso dia a dia. Um grande movimento que fazemos todo início de semestre é o nosso café campesino, que é nosso primeiro café da manhã juntos, onde cada um leva algo de sua realidade, do que come ou bebe em seu dia a dia e partilhamos estes alimentos, proporcionando assim que nossos colegas conheçam alimentos de diferentes lugares. Este café coletivo é também um momento de aprendizagem pois, com alunos de cidades muito distantes, de outros estados, de diferentes realidades conhecemos também as diferenças entre as comunidades e os espaços onde elas estão localizadas, afinal um local produz um alimento que outros não tem, é possível assim fazer que conheçamos sobre o bioma daquele local, se ele é mais seco ou se é mais úmido e muitas outras características. Outra troca que fazemos de maneira natural é com relação aos costumes culturais. As festas, crenças, modo de vestir e inúmeras características que carregamos em nosso interior. Uma festa realizada todos os anos pelos Lecampinos é a festa junina, onde todos se vestem a caráter, com calça rasgada, blusa xadrez chapéu de palha e vestidos coloridos, durante a festa todos dançam quadrilha e se divertem com as brincadeiras, a festa junina faz parte do lecampo por fazer parte da cultura dos povos do campo e ser uma tradição que traz alguns aspectos que envolvem o camponês, como as comidas típicas que são servidas durante a festa e as vestimentas e os acessórios que fazem parte do cotidiano do camponês como o chapéu de palha, que é usado para o trabalho nas lavouras. No LECampo a aprendizagem se constitui como princípio estruturante, tendo em vista que o paradigma da Educação do Campo, principal orientação do curso, considera a auto organização como uma das principais estratégias para efetivação do protagonismo no contexto educacional e social mais amplo. Sendo assim, buscou-se elaborar uma experiência sistematizada em torno da prática da organicidade no âmbito do curso, visando criar procedimentos metodológicos e dialogar com princípios teóricos que pudessem ampliar e fortalecer as atividades que já eram desenvolvidas pelos estudantes. Contudo podemos concluir que o curso de Licenciatura em Educação do Campo é de suma importância para nós, tendo em vista que a sua organicidade e suas práticas são totalmente voltadas para nossa realidade como camponeses, provocando-nos a assumirmos verdadeiramente nosso lugar na sociedade, buscando lutar sempre pelos nossos direitos e pelos direitos dos demais, além de nos preparar para que possamos começar ou continuar a prática de uma Educação do Campo digna em nossas respectivas comunidades.
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