ESTUDO DIRIGIDO PARA PRODUÇÃO INDIVIDUAL DE TEXTO (opcional)
1. O medo propicia o contrato social e a legitimidade de um governo absoluto nas
mãos de um monarca estável, estatal; a lei se torna, assim, garantia de proteção pessoal contra a violência dos outros, e a ameaça à paz como valor absoluto é lembrada constantemente pela incitação ao medo de perde-la para a violência; tudo isso se conferirmos, com Thomas Hobbes, uma natureza humana marcadamente conflituosa (entre o ataque e a defesa “cegos”) e aberta à possibilidade de uma sociedade unicamente dada à troca da liberdade pela segurança civil. O Leviatã – representante de Deus na Terra sob a forma de um homem ou de uma assembleia de homens – assume, segundo Hobbes, a imensa tarefa de um contrato social com um povo nascente e já assujeitado pela lei. Pense, com Hobbes, o caráter dessa lei – imediatamente ofertada pela autoridade de um Estado pessoal. Reflita e argumente sua legitimidade, sua singular abstenção da livre condição do exercício civil e a também legítima(?) medida de proteção individual. Recoloque a política, nos termos de Hobbes, nas instâncias mediadas e contrapostas da lei e da liberdade. 2. O emprirismo de John Locke tem como alvo especulativo uma natureza humana cujo princípio é ter tido apenas, como “bagagem”, direitos naturais. Os principais deles são: razão e propriedade privada. O contrato social lockeano, portanto, nada mais é do que uma associação entre sujeitos empíricos racionais e proprietários que faça valer, sob a égide da lei civil, a garantia de manutenção desses direitos. Para essa manutenção, a pena capital é legítima; o trabalho como exploração da natureza é legítimo; a desapropriação mediante o não trabalho aplicado é legítima; a polícia civil e privada é legítima. Comente a legalidade (o “legítimo”) no contratualismo de Locke, e explore argumentativamente, o que muda e o que permanece do estado de natureza para a sociedade civil liberalista. 3. Jean-Jacques Rousseau é dos expoentes mais expressivos do que hoje conhecemos como democracia moderna. Tal como os jacobinos que, anos depois, levantaram a bandeira da revolução na França com os ideais iluministas da igualdade, da liberdade e da fraternidade como que convocando sempre à revolução os mortos e o passado, Rousseau evoca decisivamente o passado à feitura de um contrato social; e o faz em nome da transparência e das paixões de um estado de natureza para sempre perdido. Esboce o estado de natureza rousseauniano, o seu “homem natural” e procure nele as paixões naturais que possibilitaram, a Rousseau, pensar uma segunda natureza pela soberania popular. Qual é a “origem da desigualdade entre os homens” (título de seu Segundo Discurso) e como se perde com ela também a liberdade e a compaixão? Em que sentido e como as paixões naturais se corrompem no coração do homem? Como surge em seu lugar uma vontade geral – condição dada ao contrato e à possibilidade da lei civil? O que de Rousseau fica à democracia e à psicologia (em sentido lato) em diálogo (uma com a outra) indissociável? 4. A filosofia em Immanuel Kant, por sua fase crítica, se vale de três questões fundamentais: o que pode o homem conhecer?; como ele deve agir em sociedade e consigo mesmo?; o que ele pode, o que nós podemos esperar mediante juízos?. Vimos na sua primeira crítica (Crítica da razão pura) que, tal como as ciências nascentes se valem de juízos analíticos a priori e sintéticos a posteriori para conhecer o mundo enquanto fenômeno, a razão como entendimento, que também conhece os fenômenos, é habilitada ao empuxo no avanço desse conhecimento, só que por meio de juízos sintéticos a priori capazes de legislar tanto pelo mundo (filosofia transcendental) quanto por si mesma (autonomia de um sujeito transcendental moral). Comece por explicitar a tarefa crítica da filosofia kantiana, explicando-lhe o sentido da ‘crítica’ nessa empreitada. Depois, percorra os caminhos transcendentais da razão a fim de compreender melhor o caráter moral do ser humano, sua faculdade legisladora e universalizadora sobre a ação – a ética e a política que decorrem dela –, e como, mesmo sendo a priori, ela se reconhece em sociedade e para a sociedade. Comente, ainda, como a razão, então moral, se endereça à pessoa do outro e à minha própria pessoa pelo arsenal da lei. Como lei e liberdade se articulam numa mesma instância racional, em Kant? 5. Jacques Derrida, filósofo franco-argelino do nosso tempo (1930 - 2004), apresenta à história da filosofia no Ocidente um trabalho diferenciado do pensamento e que evidencia a diferença no interior daquilo que a razão como entendimento (como queria Kant, por exemplo) pretendia como universalizante, trabalho esse que ficou conhecido como Desconstrução. Em seu livro Força de lei, Derrida desconstrói o direito pela justiça, entendendo por “desconstruir” justamente aquilo que a razão pode perceber como aporético. Entenda a noção de aporia em Derrida, percorrendo, se quiser, o caminho dado em Força de lei de um Direito carente de fundamento mas rico em fazer valer a lei e, por outro lado, uma Justiça carente de efetividade mas que é o único fundamento e a única inspiração incondicionais para um Direito que se queira justo. 6. Ainda com Derrida, visite o seu livro Da Hospitalidade e revisite o texto de Immanuel Kant Sobre um suposto direito de mentir por amor à humanidade. Investigue a noção de Lei – no caso, de hospitalidade – segundo a desconstrução, o que Derrida propõe fazer sobre o dever racional e universal de dizer a verdade, em Kant, em contrapartida ao direito à verdade e ao segredo que Derrida nos faz ver segundo a singularidade absoluta do outro que bate à minha porta e o direito inalienável de acolhida a ele. Percorra, nessa questão e nesse embate entre autores, as condições das leis de hospitalidade frente à Lei incondicional em receber sem reservas (vide pág. 69 do livro, ou pág. 71 do arquivo). E, então, voltando à questão de número 1 desse roteiro, como fica o medo social (tão presente no contrato social hobbesiano) frente a um acolhimento incondicional do outro ao mesmo tempo que possível apenas se submetido às condições do Direito (aporia)?