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Farsa de Inês

Pereira:
Dimensão satírica
Nome autores
Objetivos da sátira

Sátira
É na sátira que Gil Vicente encontra a resposta
à desordem e à confusão que reinam, muitas vezes,
na sociedade, na Igreja e no mundo.

Em Portugal, como geralmente em toda a Europa


do tempo, a sátira era admitida pelos reis e pelos
príncipes. Era uma necessidade, uma espécie
de «medicina» autorizada pelo Monarca.

Obra crítica
[…] Com e jocosa
exceção do Monarca e dos seus
parentes próximos, todos os habitantes
do reino estarão expostos à sátira.
(provoca o riso através da troça)
Paul Teyssier, Gil Vicente – o autor e a obra,
Lisboa, ICLP, 1982, pp. 149-150 (adaptado).

Pieter Brueghel, Provérbios flamengos, 1559 (pormenor).


Objetivos da sátira

Farsa de Inês Pereira

Crítica dos vícios e dos costumes de todas as classes


da sociedade portuguesa da primeira metade do século XVI

Troçando dela
(de acordo com o lema latino ridendo castigat mores – a rir se corrigem os costumes)

Para promover a reforma da sociedade


Objetivos da sátira

Objetivos da
Farsa de Inês Pereira

Refletir sobre a realidade social portuguesa da época

Analisar criticamente grupos e instituições da sociedade

Denunciar vícios e erros recorrendo ao humor


(função moralizadora do cómico)

Corrigir comportamentos condenáveis / reformar


(função edificante da crítica)
Objetivos da sátira

O que é satirizado?
Os temas da obra

A decadência de costumes A duplicidade e a falsidade

O casamento A condição da mulher


Alvos da sátira

São os tipos sociais, sobretudo, o objeto das atenções satíricas de Gil Vicente.
Todos são atingidos pela sátira. Mesmo o povo miúdo é visado. Muitos tipos
femininos populares servem de alvo: criadas de língua destravada, feiticeiras
ou alcoviteiras de negócios escuros.
Um pouco acima na escala social apresentam-se, pretensiosos e famélicos, os
escudeiros versejadores de «trovas», tocadores de viola e cantores de serenatas.

Frades, clérigos em geral, membros do alto clero, até cardeais e o


papa são impiedosamente fustigados. Os vários ermitões que aparecem nos
autos são mais imaginários do que reais, mas contribuem para degradar a imagem
do religioso, pois são foliões e debochados.

Paul Teyssier, Gil Vicente – o autor e a obra,


Lisboa, ICLP, 1982, pp. 151-154 (adaptado e com supressões).
Alvos da sátira

Quem é satirizado?
As personagens

As jovens casadoiras Os alcoviteiros Os religiosos

Os rústicos Os escudeiros
Alvos da sátira

As jovens casadoiras

Na figura de Inês
«Mais quero
Jovem sonhadora,
asno que
ambiciosa
me leve que
(vê o casamento
cavalo que mecomo
derrube.»
um meio de se
emancipar e de ascender socialmente),
dissimulada,
(provérbio que éleviana e adúltera;
o mote da farsa)

Recusa a submissão à mãe e ao segundo


marido.
Prefiro um marido tolo que eu possa
controlar a um marido galante e sedutor
que me maltrate.

Sátira da vida doméstica:


crítica à visão leviana do casamento
como forma de ascensão social
Alvos da sátira

Os alcoviteiros
Nas figuras de Lianor Vaz
e dos Judeus casamenteiros,
Latão e Vidal

Falsos, materialistas e gananciosos;


casamenteiros – veem o casamento
(que é um sacramento) como um
negócio.

Interesseiros, fingem preocupar-se


com a felicidade de Inês, mas
pretendem apenas a compensação
financeira que terão pelo casamento.
Alvos da sátira

Os religiosos
Nas figuras do Ermitão, amante de Inês,
e do Clérigo que seduzira Lianor.

Religiosos devassos e imorais:


envolvem-se com mulheres,
violando o dever de abstinência.

Além disso, sendo amante de Inês,


o Ermitão promove o adultério.
Alvos da sátira

O tipo mais insistentemente observado e satirizado por Gil


Vicente é sem dúvida o clérigo, e especialmente o frade, presente em
todos os setores da vida portuguesa, na corte e no povo, na cidade e na
aldeia. Gil Vicente censura nele a desconformidade entre os atos e os ideais,
pois, em lugar de praticar a austeridade, a pobreza e a renúncia ao mundo,
busca as riquezas e os prazeres, é espadachim, blasfema, tem mulher e
prole, ambiciona honras e cargos […].

A. J. Saraiva e Óscar Lopes, História da literatura portuguesa,


13.ª edição, Porto, Porto Editora, 1985, p. 204.
Alvos da sátira

Os rústicos

Na figura de Pero Marques

Lavrador grosseiro, ignorando


as regras de convivência social.

Marido ingénuo, acedendo a todos os


desejos de Inês (carrega-a literalmente às
costas), e enganado (frequentemente
criticado por Gil Vicente).
Alvos da sátira

Os escudeiros

Na figura do Escudeiro Brás da Mata

Galante fanfarrão, dissimulado e hipócrita;


fidalgo da baixa nobreza decadente e faminta.

Vê no casamento a solução para as suas dificuldades


financeiras.

Tirano e prepotente com os mais fracos:


com Inês, após o casamento, e com o Moço que o serve.

Cobarde, tendo desertado de uma batalha.


Estratégias da sátira

Como se constrói a sátira?


Personagens-tipo Caricatura Comicidade

O cómico (das situações, do carácter


Quase todas as personagens O exagero dos traços distintivos das personagens e do discurso) torna
representam grupos sociais, das personagens evidencia os a denúncia social mais acutilante e
o que dá profundidade à crítica defeitos que se pretende contribui paramoralizar – ridendo
social. satirizar. castigat mores (a rir se corrigem os
costumes).

Ironia e sarcasmo (cómico de linguagem) Diálogo

A ironia (em que se afirma o contrário do que se É sobretudo nas falas que as
pretende dizer) e o sarcasmo (ironia amarga e personagens se retratam a si e
provocatória) – figuras de estilo frequentes na sátira aos outros, de forma direta ou
– destacam os aspetos a satirizar, tornando a crítica indireta.
mais corrosiva e acutilante.
Sátira

Consolida
Sátira

1. Seleciona a opção que completa cada afirmação.

A Na Farsa de Inês Pereira, como na obra vicentina em geral, o autor pretende


documentar os costumes e características de diversos grupos sociais e provocar o riso.

enaltecer os costumes e as características de diversos grupos sociais e divertir o público.

fazer uma crítica social, recorrendo ao humor, para promover uma reforma da sociedade.

B O lema latino ridendo castigat mores significa que


a rir se castigam os maiores.

a rir se castigam os costumes.

mais vale rir do que castigar.

C Com a personagem de Inês, é feita uma crítica


às mulheres que não são submissas e obedientes no casamento.

à visão do casamento como forma de emancipação e ascensão social.


Solução
aos casamentos arranjados por alcoviteiros, apesar de bem intencionados.
Sátira

1. Seleciona a opção que completa cada afirmação.

D Com Lianor Vaz e os Judeus Latão e Vidal, é feita uma crítica


aos que se servem do casamento para fazer um negócio.

ao ócio e à ignorância.

as duas opções anteriores são verdadeiras.

E A crítica ao clero devasso e promíscuo surge nas figuras


do Clérigo, amante de Inês, e do Ermitão que seduzira Lianor.

do Ermitão, amante de Inês, e do Clérigo que seduzira Lianor.

do Ermitão, do Clérigo e dos Judeus Latão e Vidal.

F Brás da Mata e Pero Marques são caricaturas, respetivamente,


do rústico lavrador que ignora as regras de convivência na cidade e do nobre arruinado
que vê no casamento a saída da pobreza.
do fidalgo decadente e faminto que usa o casamento para melhorar financeiramente e do Solução
rústico ignorante e marido ingénuo, traído pela mulher.
nenhuma das opções anteriores é verdadeira.
Sátira

Explicita a crítica realizada neste excerto do início da Farsa de Inês Pereira,


2. quando Lianor chega a casa da Mãe e de Inês.

Lianor Vinha agora por ali Irmã eu te assolverei


ò redor da minha vinha c’o breviairo de Braga.
e um clérigo mana minha Que breviairo ou que praga2
pardeos lançou mão de mi1. que nam quero. Áque del rei.
Nam me podia valer Quando viu revolta a voda3
diz que havia de saber foi e esfarrapou-me toda
se era eu fêmea se macho. o cabeção da camisa.
[…]
Quando o vi pegar comigo
que me achei naquele perigo
assolverei nam assolverás
tomarei nam tomarás
Jesu homem que hás contigo?

Lianor conta que, no caminho, foi assediada por um clérigo. Estamos perante uma crítica
(muito frequente em Gil Vicente) aos elementos do clero que não respeitavam os votos de
Solução
castidade.

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