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Farsa de Inês Pereira – Pero Marques

Pero Marques: “ Asno” ( Burro, Ingénuo)


Homônimo do seu falecido pai, herdou uma fazenda de mil cruzados e muito
do seu gado – é abastado e trabalhador ( povo); Ingénuo, rústico, simplório,
ignora as regras de convivência social – não se sabe vestir bem, falar em
público, sentar- se numa cadeira; Apaixonado e bem intencionado, pretende
casar com Inês e preocupa- se com a reputação da mesma; Ridicularizado,
humilhado e rejeitado por Inês; Respeitador, apesar de magoado, promete só
casar quando ela desejar; Condescendente, casado em segundas núpcias
com Inês, a quem concede liberdade total e satisfaz as vontades e caprichos
da mesma; Enganando descaradamente por Inês; Ingénuo carrega
literalmente a mulher às costas numa “romaria” ( viagem para festa popular)
até ao Ermitão.

Inês Pereira: A casadoira


Solteira: Habitante de uma vila ou burgo rural; instruída ( pequena burguesia);
ociosa, detesta as tarefas domésticas ( costurar, bordar); alegre e galhofeira,
quer divertir-se mas a mãe não deixa; desejosa de se casar para se libertar
do jugo materno; sonhadora e idealista: quer casar com um homem que,
ainda que pobre ou feio, seja discreto e tenha boas maneiras, para fugir à
vida que tem e ascender socialmente; trocista e irônica para com o primeiro
pretendente ( Pero Marques), rejeita-o.

Casada e Viúva: Ingénua, não adivinha o verdadeiro caráter e intenções do


Escudeiro; submissa e infeliz perante os maus tratos domésticos que sofre;
arrependida, lamenta ter casado com Brás da Mata e rejeitado Pero;
vingativa, quando o Escudeiro parte para Marrocos, deseja a sua morte e jura
que casará com uma segunda vez com um marido que lhe seja obediente;
hipócrita, comporta-se como socialmente é esperado ao chorar pelo marido
morto, quando, na verdade, se sente feliz e livre; inteligente, aprende que a
experiência é a grande mestra da vida.

Casada em segundas núpcias: Pragmática e calculista, opta por casar com


Pero; livre e feliz, canta e sai de casa com o consentimento do marido;
libertina e adúltera, inicia um relacionamento com o Ermitão de Cupido, seu
antigo apaixonado; desrespeitosa, abusa da bondade do marido e pede-lhe
para a acompanhar á ermida do amante; satisfeita e realizada: conseguiu um
marido abastado, honrado e obediente, bem como um amante galanteador.
Mãe: A matriarca
Cristã, frequenta a missa; preocupada com a educação da filha, no sentido de
se tornar uma esposa recatada e prendada; autoritária e exigente com Inês:
obriga-a a realizar as tarefas domésticas e não a deixa sair de casa;
conselheira do matrimônio da filha: a favor do pretende Pero Marques e
contra Brás da Mata; atormentada com o conflito geracional; conformada,
consente o casamento com Brás da Mata, generosa, oferece a casa aos
noivos e vai para uma casinha humilde; ausente; depois do primeiro
casamento não aparece mais em cena.

Lianor Vaz: A alcoviteira


Amiga da Mãe, a quem cabe a função de arranjar um marido para Inês;
casada, no entanto, revela um encontro com um clérigo num misto de
indignação e prazer; aparenta ser honesta e desinteressada pelo dinheiro,
apenas movida pela amizade à família de Inês; conselheira ponderada, avisa
Inês dos perigos do seu ideal de marido e tenta persuadi-la a fazer a escolha
mais prudente – casar com Pero Marques; persistente, depois de Inês
enviuvar, conduz ela ao matrimónio com Pero Marques.

Ermitão: O amante de Inês ( religioso)


Castelhano e antigo apaixonado de Inês, ter-se-á tornado ermita devido ao
amor frustrado por Inês; ermitão de Cupido, porque a este serve, vive
mendigando, solitário e triste; galante orador, cujo discurso de cariz amoroso
se aproxima do sacrilégio e que em nada se coaduna com o seu estatuto de
eremita; transgressor do dever de abstinência ( dupla infração neste
relacionamento: da lei do celibato e dos votos matrimoniais); amante de Inês,
corresponde ao seu ideal de homem discreto.

Objetivos da Sátira
A dimensão satírica está associada aos temas da peça: a dissolução de
costumes, a dissimulação, o casamento e a condição feminina.
Refletir sobre a realidade social portuguesa da época de Gil Vicente, analisar
criticamente os grupos e as instituições de uma sociedade, denunciar os
vícios e os erros em tom humorístico, corrigir os comportamentos
condenáveis.

Alvos da crítica da Farsa de Inês Pereira


Jovens casadoiras: Como outras jovens casadoiras, a sonhadora Inês vê o
casamento como um meio de ganhar independência e ascender socialmente,
os seus planos saem frustrados no primeiro casamento, porém no segundo,
alcança o seu objetivo de ser senhora do seu destino.
Alcoviteiros: São materialistas e fazem do sacramento do matrimônio um
negócio; Lianor Vaz e os Judeus casamenteiros simulam preocupar-se com a
felicidade de Inês, mas o que os move, no caso dos Judeus é o dinheiro que
irão receber.
Figuras Religiosas: As figuras religiosas destacam-se por serem devassas e
por não cumprirem as suas obrigações, tanto o clérigo que terá tentado
seduzir Lianor como o Ermitão quebram os votos que tinham feito.
Rústicos: Pero Marques representa o rústico ingénuo, que não está preparado
para as manhas do meio urbano e fica exposto ao engano e ao ridículo.
Escudeiro: Brás da Mata, com algum estatuto social, revela-se dissimulado e
hipócrita, pois faz-se passar por homem elegante, mas é um pelintra e um
cobarde que trata com desdém os de condição social inferior.

Estratégias da sátira
Personagens-tipo: A maioria dos personagens da farsa representa o grupo
social a que pertencem bem como as práticas criticáveis deste grupo.
Caricatura: Consiste na representação exagerada dos traços de um
personagem, de forma a expor as suas deformações.
Comicidade: O cómico é uma estratégia ao serviço da função moralizante da
peça– rimos dos erros para os corrigirmos.
Ironia e Sarcasmo: Estratégias usadas para a crítica mais mordaz e incisiva,
pois desmontam as aparências e apontam as verdades.
Diálogo: Nos diálogos, uma personagem denuncia-se e mostra o que é e
expõe os vícios e erros das demais.

Representação do quotidiano
A mulher: Vida doméstica, liberdade restringida pela mãe e pelo marido,
casamento com meio de liberdade, adultério.
Costumes: Casamentos arranjados- casamenteiros; cerimônia de casamento
com festa- canto e dança; prática religiosa- a missa.
Classes sociais: Decadência da nobreza- Brás da Mata; desconsideração da
vida popular- Pero Marques; Devassidão do clero- clérigo e Ermitão.

Tipos de cómicos: de caráter ( associado à personalidade e às características


dos personagens); de situação ( produzido por uma circunstância que causa
riso); de linguagem ( relacionado com o discurso da personagem).

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