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Resumo

Inês casa-se contra os conselhos da Mãe, com Brás da Mata, um pretendente apresentado por
dois judeus casamenteiros, e que, aparentemente, era tudo o que Inês queria: era discreto,
falava bem, sabia tocar viola, era escudeiro, tinha um Moço ao seu serviço. Mas Inês Pereira
incapaz de ver para além das aparências, escolhe-lho como marido.
Mas depressa Inês descobre ter feito a escolha errada. Brás da Mata revela-se um marido
ciumento e tirano: maltrata-a e proíbe-a de sair de casa, de falar com quem quer que seja e,
ainda por cima, obriga-a a trabalhar, sempre vigiada pelo criado, proibia Inês de cantar dentro
de casa, pois queria uma mulher obediente e discreta. Chegava a pregar as janelas para que
Inês não olhasse para a rua. Justifica-se dizendo ser ela um «tesouro» que um homem
«discreto» como ele deve saber guardar, esconder.
A vida de escrava regressou… Inês lamenta amargamente a sua sorte, o seu engano. Mas Brás
da Mata parte para a guerra…Três meses após a sua partida, Inês recebe a notícia de que o seu
marido fora morto por um «mouro pastor», enquanto fugia da batalha, no Norte de África.
Inês rejubila e decide encontrar novo marido – em tudo diferente do anterior: a lição foi
aprendida!
Caracterização
Inês
Inês Pereira é a figura central da peça, é fantasiosa não gosta da vida modesta e calma que
leva, antes aspirando a uma vida mais divertida e com mais destaque social. Por isso deseja
casar com alguém que lhe permita realizar esta fantasia. É uma jovem Preguiçosa, leviana,
fantasiosa, inconsciente e idealista. Torna-se no entanto materialista, calculista e vingativa no
final da peça. Revela-se rebelde e determinada, despreza Pero Marques e mantem-se firme na
decisão de casar com o homem que idealizou. Inês representa todas as jovens da época:
ambiciosas e que tudo fazem para arranjar um marido que lhes permita mudar de vida.
Sentem-se presas em casa e desejam uma ascensão social e, por isso, são muitas vezes
imprudentes, não ouvindo conselhos dos mais experientes.
Escudeiro
Brás da Mata, vindo da baixa nobreza arruinada, é um escudeiro, isto
é, homem das armas que auxiliava os cavaleiros fidalgos, bem-falante, suposto tocador de
viola, fazendo-se passar por quem não é – tem até um criado que lhe dá um pretenso estatuto
social –, é o homem discreto por quem Inês anseia apesar das desconfianças de sua mãe,
representa o triunfo das aparências, um simulacro de elegância, boa-educação e bem-estar
social, que acredita no casamento como solução para as suas dificuldades financeiras.

Moço
É a voz que critica e denuncia a pobreza do Escudeiro, a fome que o faz passar, as promessas
nunca cumpridas de pagar o que lhe deve… Apesar de maltratado, lamenta a morte do
Escudeiro em contraste com Inês Pereira, que com ela rejubila.
Dimensão Satírica
A sátira, estreitamente ligada ao cómico, ao riso recai principalmente sobre as personagens de
Inês Pereira e Brás da Mata. Inês Pereira é alvo do riso do espetador porque: se apresenta
como revoltada contra os trabalhos domésticos; pretende libertar-se através de casamento
desigual; tem uma noção idealizada do casamento, muito longe da realidade; pretende um
marido que seja bem-falante, tocador de viola, sedutor, mesmo que nada tenha de comer,
causa do riso do espetador perante Brás da Mata deve-se: ao reconhecimento, quando da sua
entrada em cena, acompanhado pelo Moço, de uma figura velha conhecida: o escudeiro
pelintra, fanfarrão, pretensioso; às palavras do Moço, que, direta ou indiretamente, em vários
partes, castiga o amo ao lembrar-lhe a pobreza esfomeada e descalça em que vive, ou se
espanta com as manias de grandeza de quem até a viola tem de pedir emprestada…; às
respostas do Escudeiro aos pedidos do Moço, a indicar caminhos de mentira e de
dissimulação, ou a propor-lhe o roubo para se alimentar; à notícia do modo como morreu:
fugindo covardemente da luta
A causa do riso do espetador perante o Moço deve-se:
denúncia do verdadeiro caráter do seu amo: a pelintrice, as manias das grandezas, as
privações e o sonho de atingir uma situação económica confortável através do casamento com
Inês.
Cómicos
Cómico de caracter- A Inês representa um cómico de caracter pois é um personagem que não
se adapta a sua própria realidade, causando contraste com o resto dos personagens e
causando o riso. A ascensão social da mulher através do casamento e adultério feminino serve-
se do cómico ( de caracter , situação, linguagem) de forma a provocar o riso nos espectadores,
expondo ao ridículo esses comportamentos e costumes
Brás de mata usa a leitura da carta que anuncia a sua morte às mãos de um mouro pastor
para provocar o riso, acentuando a fraqueza desta personagem( cómico de caracter)
Cómico de situação- A discussão entre o escudeiro e o moço é um cómico de situação pois
causa o riso por ser uma situação inesperada .
Críticas na sociedade atual

Nesta farsa estão presentes várias personagens, cada uma com os seus objetivos (Inês Pereira,
escudeiro, Pero Marques, Lianor Vaz, a mãe, ermitão, os judeus casamenteiros, o moço e as
moças).
 De facto, as atitudes de cada personagem preveem interesses, por exemplo:
Inês Pereira pretendia arranjar um marido só para ser livre, fugir à vida que tinha para poder
viver alegre, também crescer socialmente. Para o alcançar, Inês tem de ser maliciosa,
materialista, interesseira e mentirosa. Estas características verificam-se hoje-em-dia, pois
existem pessoas que estão dispostas a sacrifícios para conseguirem o que querem. Por
exemplo, podemos comparar a necessidade de Inês querer casar com um homem afortunado
com exemplos de jovens que, hoje-em-dia, estão dispostos a casa com pessoas com grande
diferença de idade, só pelo facto de serem ricos.
 Na nossa opinião, este comportamento é uma falta de respeito perante o companheiro,
porque, de facto, não há um sentimento de amor correspondido, só amor material, e isso é
visto como uma traição.

O escudeiro
No início da obra "Farsa de Inês Pereira" composta por Gil Vicente, o Escudeiro é uma
personagem que nos ilude em relação aos seus comportamentos, porque em casa ele tem
comportamentos agressivos e de um homem dominador, que não tem medo de nada.
Estes comportamentos desaparecem quando o Escudeiro parte para a guerra. Durante este
tempo em Arzila o escudeiro revela-se uma pessoa covarde e medricas, pois ele morre de uma
forma pouco honrada ao tentar fugir da guerra onde é morto por um mero pastor mouro.
Atualmente, na nossa sociedade, ainda existem pessoas assim como o escudeiro, por exemplo
nos relacionamentos quando o homem não deixa a mulher ir a lado nenhum nem se vestir de
certas maneiras, vê sempre com quem está a falar no telefone mesmo que a parceira não
queira. Dá assim ideias que é um homem dominador sem medo de nada, mas quando alguém
lhe faz frente para lhe dizer que não pode tratar a parceira daquela maneira ele fica com medo
e abandona de imediato o local.
Infelizmente ainda existem muitas pessoas como o escudeiro.

Significado da cantiga de Inês


Essa cantiga traduz o estado de espírito de Inês Pereira depois da desilusão com o marido que
escolhera, quando tinha a possibilidade de casar-se com Pero Marques: responsável pela
opção que fizera, agora não pode reclamar. 

Interdições do escudeiro e reação de Inês


Este excerto da Farsa de Inês Pereira constitui o momento em que, após o casamento, Inês fica
a viver independente com o Escudeiro.
O Escudeiro zanga-se muito com o facto de Inês estar a cantar enquanto trabalha. Brás da
Mata acusa a sua mulher de só pensar em festas e proíbe-a, em tom ameaçador, de voltar a
cantar: "Se vos eu vejo cantar, / eu vos farei assoviar.... Deste modo, o Escudeiro transforma- -
se num marido cruel, autoritário e prepotente, que exerce o seu domínio sobre a mulher.
Concluindo, esta atitude de Brás da Mata reflete o conflito de género e a crise do casamento,
temas ainda hoje atuais. Após a advertência do marido, Inês mostra-se submissa e resignada à
sua condição de esposa obediente.
Antes de casar, o Escudeiro era sedutor e lisonjeiro na forma como tratava Inês. Depois do
casamento, revela-se autoritário e ríspido, não a autorizando nem a cantar nem a emitir
opiniões: "Será bem que vos caleis"
Em suma, Inês neste excerto está desapontada e incrédula com a mudança de atitude do
marido após o casamento.

Violência
Inês Pereira, apesar de ser vitima da repressão de Brás de Mata, seu marido, conforma-se:«
Quem bem tem e mal escolhe/ por mal que lhe venha nem s’anoje»(vv.862-863). Vários seculos
depois, esta situação ainda se verifica em muitos lares e ainda são escassos aqueles que a
denunciam. Esta temática continua muito atual porque são inúmeros os casos de violência
doméstica relatos diariamente e que abrangem todos os estratos sociais.
A perda da dignidade humana leva muitas vezes a destruição e ao aparecimento de
sentimentos negativos como o desejo de vingança que nasce da revolta acumulada que é o
caso da Inês que orgulhosa e desgostosa se resigna mostrando reconhecer que errou e
aguarda o momento de poder vingar-se e reconstruir a sua vida com Pero Marques que a leva
depois de ter sido derrubada pelo “ cavalo” que era escudeiro. A Farsa de Inês pereira apesar
de ter sido escrita a mais de 600 anos a criticar a sociedade da época, podemos verificar que
essas criticas continuam atuais e que pouco ou nada mudou desde então.

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