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SÍNTESES

ESTRUTURA TRIPARTIDA
Embora não apresente divisões cénicas, a obra pode ser dividida em três
momentos:
• Exposição
Inês é uma jovem solteira, ambiciosa e que recusa a vida submissa e reclusa a que
está sujeita e quer casar-se com um homem “discreto”. Lianor Vaz, uma alcoviteira,
propõe-lhe como marido Pero Marques, um camponês rico, mas acaba por recusá-lo
por ser rústico e simples.

• Conflito
Inês aceita casar com o pretendente trazido pelos judeus casamenteiros, Brás da
Mata. Após o casamento, este revela-se um marido tirano e prepotente, fechando Inês
dentro de casa e maltratando-a. O escudeiro parte para a guerra e encarrega o Moço
de vigiar a sua esposa. Inês lamenta a sua sorte.

• Desenlace
Inês recebe uma carta que a informa da morte do marido. Motivada por Lianor Vaz,
casa com Pero Marques. Às costas do marido, Inês vai encontrar-se com um Ermitão.
SÍNTESE

Pero Marques Inês Ermitão

• Rico mas ingénuo • Casa com Pero • Lamenta-se a Inês


• Bondoso Marques • Recorda a sua
• Compreensivo • Alcança a liberdade juventude
• Facilmente enganado desejada • Revela que ainda
• Não percebe que • É infiel ao marido a ama
Inês teve um encontro • Mostra ser leviana
amoroso • Convence o marido
Crítica aos elementos
• É uma vítima da a carregá-la até à
do clero que não têm
vingança de Inês ermida
vocação:
• É dominado pela • Diverte-se
• vida mundana
esposa
• assédio às mulheres
• Obediente
Conclusão: • incumprimento do
A experiência negativa voto de castidade
O asno que carrega Inês do primeiro casamento
ensinou-a a ser astuta
Sequência de episódios unicamente
ligados pela personagem central: Inês

Inês Inês Inês quite


fantasiosa malmaridada e desforrada

Apresentação A proposta do Escudeiro, Nova proposta


das ambições Brás da Mata, de Pero Marques
e sonhos de Inês corresponde
(casar com um homem às suas expectativas O casamento
avisado) (quer afidalgar-se traz-lhe liberdade
através do casamento) e conforto
Proposta de Pero
Marques, que Inês Desilusão com a vida
Aventuras
considera desinteressante matrimonial agressiva
extraconjugais
com o ermitão
Liberdade: morte do marido
Recusa da proposta
de Pero Marques
O tempo e o espaço

Apenas uma referência concreta:


Tempo o Moço refere que o Escudeiro partira há três meses
para o norte de África quando Inês recebe a carta

«Inês «Inês «Inês quite


fantasiosa» Malmaridada» e desforrada»

Espaço interior: Espaços interiores: Espaço interior:


casa de Inês casa de Inês residência
e residência do Escudeiro Espaço exterior:
peregrinação até à ermida

Confinamento de Inês Liberdade de


à área doméstica movimentos
Questões sociais
da época de Gil Vicente

Duplicidade e aparências
As personagens aparentam ser algo que não são:
• o Escudeiro finge ser galanteador, distinto e valente (revela
ser autoritário, arrogante e cobarde)
• o clérigo e o Ermitão fingem ser celibatários (revelam-se
licenciosos)

Dissolução dos costumes


Ambição sem escrúpulos;
Valorização excessiva do dinheiro;
Imoralidade do clero;
Decadência dos comportamentos: Inês torna-se adúltera;
O casamento encarado como um negócio.
Casamento
Projeto de vida de Inês:
• ter um marido «discreto»;
• ascender na escala social;
• libertar-se da condição em que vivia;
• tornar-se independente.
Primeiro casamento: ilusão e desilusão com a violência a que é sujeita;
Segundo casamento: pragmatismo, liberdade e adultério.

Relação mãe-filha
Relação condicionada pelas regras sociais da época;

Inês vive na dependência e sob autoridade da Mãe;

Relação com momentos de tensão e conflito: Inês não cumpre as suas tarefas;

Relação com momentos de afeto e proteção: conselhos que a Mãe dá à filha


sobre o pretendente a escolher.
A sociedade do séc. XVI aparece satirizada

Inês Pereira: Não é uma personagem-tipo, mas o seu comportamento tem traços do
estereótipo da jovem sonhadora e ambiciosa, desejosa de libertação através do
casamento, que lhe assegure a ascensão social e o contacto com um ambiente de
cultura cortês. - Sátira à conceção do casamento como forma de emancipação.

Pero Marques: Representa o rústico lavrador; a sua linguagem, ignorância,


simplicidade, ingenuidade e postura ridícula transformam-no numa caricatura.

Escudeiro: Crítica à pequena nobreza decadente e sem recursos próprios; crítica às


suas dependências, à parasitagem, à cobardia. - Sátira à pelintrice disfarçada de
fidalguia.

Lianor Vaz: Representa os alcoviteiros: promove casamentos de conveniência a troco


de dinheiro. - Sátira ao materialismo
Mãe: Crítica ao casamento por interesse, quando a mãe aconselha Inês
a casar com um homem de posses.

Judeus casamenteiros: Crítica à avareza e à mentira; representam os


alcoviteiros: promovem casamentos a troco de dinheiro.- Sátira ao
materialismo

Ermitão: Crítica à imoralidade do clero; crítica à hipocrisia com que os


membros do clero encaram a sua vocação. - Sátira à subversão dos
valores morais
Estilo e linguagem

Língua em transição Presença de arcaísmos medievais e inovações


renascentistas.

Registos de língua
variados

Linguagem dos lavradores rústicos: Pero Marques não respeita a


estrutura frásica.
Linguagem dos judeus casamenteiros: introdução de fórmulas
hebraicas no discurso.
Linguagem familiar: o registo popular que a Mãe e Lianor Vaz
partilham.

Linguagem cortês do Escudeiro: discurso elaborado, utiliza fórmulas


corteses, mostrando o seu estatuto social.
Alguns exemplos de cómico

Cómico de situação Cómico de carácter Cómico de linguagem

Pero Marques senta-se na Pero Marques, deslocado Linguagem de


cadeira ao contrário e de no contexto em que é Pero Marques
costas para Inês e sua Mãe colocado
Discurso repetitivo
As interrupções e repetições O Escudeiro, dissimulado, de Vidal e Latão
constantes de Vidal e Latão, com o seu discurso elaborado
com a pressa de persuadirem e o seu talento para cantar Ironia do Moço que serve
Inês e tocar o Escudeiro

Pero Marques, descalço,


transporta Inês às costas
para o encontro amoroso
desta com o Ermitão
e canta enquanto o faz
«Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube.»

marido ingénuo e simples que aceda marido violento e orgulhoso


(Pero Marques) às suas vontades (Escudeiro Brás da Mata)
(Inês)

Comédia de costumes

Crítica à leviandade das raparigas que desejam


ascender socialmente através do casamento
A representação do quotidiano
Com um olhar mais atento, podemos detetar exemplos que espelham o modo de vida
quotidiano da sociedade da época, num tempo em que se vivia uma transição entre a Idade Média e o
Renascimento. Entre eles contam-se os seguintes:

• a prática religiosa (ida à missa);


• o hábito de recorrer a casamenteiros (Lianor Vaz e os Judeus);
• a falta de liberdade da rapariga solteira, confinada à casa da mãe e a viver sob o jugo desta;
• a ocupação da mulher solteira em tarefas domésticas (bordar, coser);
• o casamento como meio de sobrevivência e de fuga à submissão da mãe;
• o conflito de valores retratado num conjunto de diálogos entre novos e velhos (Inês Pereira e
sua mãe);
• os judeus, classe associada ao materialismo;
• a tradição da cerimónia do casamento, seguida de banquete;
• na mulher instintiva e ardilosa (manhas de discurso e de comportamento em Lianor Vaz e Inês
Pereira);
• a submissão ao marido da mulher casada e o seu «aprisionamento» em casa;
• o escudeiro pelintra que cultiva as aparências;
• a inércia da nova burguesia que nada fazia para adquirir mais cultura;
• a decadência da nobreza que procurava enriquecer através do casamento e buscava o
prestígio perdido na luta contra os mouros;
• a devassidão do clero; a corrupção moral de mulheres que se deixavam seduzir por elementos
do clero;
• o adultério.

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