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Apostila Qualidade da Madeira

Larissa Carvalho Santos


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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.........................................................................................................4
1. ESTRUTURA MACROSCÓPICA DO TRONCO................................................5

1.1. Medula.............................................................................................................6
1.2. Xilema..............................................................................................................7
1.3. Câmbio...........................................................................................................10
1.4. Casca.............................................................................................................10
1.5. Anéis de Crescimento....................................................................................10
1.6. Crescimento do Tronco..................................................................................12

2. ESTRUTURA ANATÔMICA DA MADEIRA......................................................15

2.1. Anatomia de Coníferas..................................................................................16


2.2. Anatomia de Folhosas...................................................................................20
2.3. Relação entre a estrutura anatômica da madeira e suas propriedades e
comportamento tecnológico........................................................................................25

3. ESTRUTURA DA PAREDE CELULAR.............................................................32


4. COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA MADEIRA.........................................................37

4.1. Composição Elementar..................................................................................37


4.2. Composição Estrutural...................................................................................37

5. PROPRIEDADES FÍSICAS DA MADEIRA.......................................................41

5.1. Relação Água-madeira..................................................................................41


5.2. Teor de Umidade...........................................................................................44
5.3. Anisotropia.....................................................................................................47
5.4. Retratibilidade................................................................................................50
5.5. Densidade Básica e Aparente.......................................................................52

6. VARIABILIDADE DA MADEIRA........................................................................53

6.1. Fatores que Influenciam a Densidade Básica da Madeira............................53

7. DEFEITOS DA MADEIRA.................................................................................62

7.1. Alterações de Cor..........................................................................................62


7.2. Bifurcação......................................................................................................62
7.3. Conicidade Acentuada...................................................................................63
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7.4. Crescimento Excêntrico.................................................................................63


7.5. Lenho de Reação...........................................................................................64
7.6. Falha de Compressão....................................................................................67
7.7. Nós.................................................................................................................68
7.8. Rachaduras....................................................................................................68
7.9. Sapopemas....................................................................................................69
7.10. Sulcos.........................................................................................................70
7.11. Tecido de Cicatrização...............................................................................71
7.12. Tortuosidade...............................................................................................71

8. QUALIDADE E USO DA MADEIRA..................................................................73

8.1. Celulose e Papel............................................................................................73

9. NOÇÕES DE AMOSTRAGEM E ANÁLISES...................................................75

9.1. Análise das Propriedades Químicas..............................................................75


9.2. Análise das Propriedades Térmicas..............................................................84
9.3. Análise das Propriedades Físicas.................................................................88

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................95
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APRESENTAÇÃO

A madeira é um material biológico complexo, heterogêneo, versátil e renovável.


Ela está presente no cotidiano das pessoas e é utilizada de várias formas, que vão
desde a fabricação de móveis e estruturas, papéis, carvão vegetal, até a fabricação
de tecidos (viscose), fibras ópticas e cápsulas de medicamentos. As possibilidades
de uso da madeira são inúmeras em virtude de suas propriedades e características,
tais como: beleza, grande resistência mecânica em relação ao peso, facilidade de
uso, baixa condutibilidade térmica e baixa demanda de energia para sua conversão
em produtos acabados.
Durante o processo de formação da madeira, fatores de ordem interna e
externa da árvore levam à variação do tipo, número, tamanho, forma, estrutura física
e composição química dos elementos da madeira. A qualidade da madeira está
relacionada a um somatório de características e propriedades desse material, que
permite seu uso para determinados fins ou como matéria-prima para alguns
produtos. Uma vez que a madeira é um material variável, até dentro de uma mesma
árvore ou tora, em razão de sua localização, da floresta em que se encontra, de seu
material genético e idade, a investigação de sua qualidade é complexa, mas
fundamental para a avaliação de seu potencial econômico e seu uso racional.
Neste contexto, serão abordados nesta apostila, desde o processo de
formação da madeira e da estrutura do lenho, e as principais propriedades da
madeira (anatômicas, físicas e químicas), até o conhecimento das características e
fatores que podem influenciar na utilização deste material, com o objetivo de
fornecer uma base literária para estudantes de tecnologia e qualidade da madeira e
profissionais do setor florestal.
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1. ESTRUTURA MACROSCÓPICA DO TRONCO

A anatomia da madeira pode ser melhor descrita por meio de observações em


três seções ou superfícies fundamentais de observação (Figura 1):
- Seção transversal ou de topo: plano de corte da madeira perpendicular aos
elementos axiais ou ao eixo maior do caule. Esta é a seção onde se observa com
maior facilidade as várias disposições dos tecidos do lenho das eudicotiledôneas
para fins de identificação;
- Seção longitudinal-tangencial: plano de corte da madeira no sentido axial,
paralelo ao eixo maior do caule em ângulo reto ou perpendicular aos raios da
madeira e, ainda, tangencial às camadas ou anéis de crescimento;
- Seção longitudinal-radial: plano de corte no sentido axial, passando pelo eixo
maior do tronco, paralelamente aos raios da madeira e, ainda, perpendicular às
camadas de crescimento.

Figura 1. Diagrama esquemático do caule ilustrando os três planos da


madeira.

Ao observar a seção transversal, notam-se do centro para periferia as


seguintes regiões do caule: medula, cerne, alburno e casca. Entre a casca e o
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alburno encontra-se uma região denominada câmbio, visível somente ao


microscópio (Figura 2).

Figura 2. Diagrama esquemático do caule em seção transversal.

1.1. Medula

A medula é um tecido parenquimático, meristemático e contínuo, localizado no


centro do caule. Sua função é armazenar substâncias nutritivas para a planta. O
tamanho, coloração e forma são muito variáveis, principalmente nas angiospermas.
Por ser um tecido parenquimático, é muito susceptível ao ataque de microrganismos
xilófagos e por isso encontram-se toras com medula já deteriorada quando abatidas
(toras ocas).
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1.2. Xilema

O xilema é um tecido estrutural e funcionalmente complexo, composto por


células de forma e função diferenciadas, e é o principal tecido condutor de água nas
plantas vasculares. É constituído por dois tecidos: cerne e alburno.

1.2.2. Alburno

É o tecido lenhoso que se localiza na região abaixo da casca, geralmente de


coloração clara, constituído de células vivas (fisiologicamente ativas), não
obstruídas, por onde circulam as substâncias nutritivas da planta, razão pela qual é
facilmente atacado pelos agentes deterioradores da madeira, principalmente por
fungos e insetos xilófagos. É exatamente esta região que deve receber produtos
preservativos nos processos de tratamento da madeira. No caso de se usar uma
peça de madeira inteiramente de alburno ou parte dele, essa peça deverá ser
adequadamente tratada, a fim de garantir sua longevidade.

1.2.3. Cerne

É a região que se situa abaixo do alburno, geralmente de cor mais escura que
este (no caso de angiospermas), constituído de células sem atividade vegetativa ou
fisiologicamente mortas. A região do cerne é constituída de material de maior
durabilidade natural; os poros geralmente estão obstruídos por extrativos e tilos, daí
a dificuldade em tratá-la com produtos preservativos, já que praticamente não ocorre
absorção dos produtos, mesmo nos tratamentos sob pressão em autoclaves.
Geralmente, as madeiras que apresentam um cerne durável são conhecidas como
“madeiras de lei”, termo remanescente do Brasil Colônia, quando determinadas
madeiras, sabidamente mais duráveis e de maior interesse comercial, eram
proibidas de serem usadas no comércio interno, ficando restritas ao uso pela Coroa
Portuguesa, que as utilizava para construção naval. O termo “madeira de lei” é
usado até hoje para designar madeiras que possuem boas propriedades físico-
mecânicas, grande durabilidade natural e tenham várias opções de uso (Figura 3).
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Figura 3. Corte transversal da madeira ilustrando localização do cerne e


alburno.

O caule de uma planta jovem é constituído inteiramente de células vivas e


funcionalmente ativas, responsáveis pela condução da seiva bruta (água e sais
minerais) e outras atividades vitais associadas ao armazenamento de substâncias
nutritivas. Até essa fase de formação do vegetal, diz-se que o caule é constituído
exclusivamente de alburno; a transformação do alburno em cerne deve-se à
produção de novas células no câmbio, próximo à casca. À medida que ocorre a
produção de novas camadas de células, o interior do caule vai se distanciando
progressivamente do câmbio, ou seja, as células estão mais velhas quanto mais se
localizam na parte central. A partir de um determinado período, que depende da
espécie e das condições de crescimento do vegetal, ocorre a morte do protoplasma
das células centrais do caule, dando origem à formação do cerne.
Com a perda da atividade fisiológica, a parte mais interna do alburno se
transforma em cerne. Essa transformação é acompanhada pela formação de várias
substâncias orgânicas, conhecidas genericamente como extrativos; em algumas
angiospermas, essa transformação pode ocorrer como decorrência da formação de
tiloses nos vasos, provocando a obstrução parcial ou total dos lumes das células. Os
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extrativos e infiltrações promovem o escurecimento do tecido do cerne, contrastando


com a coloração mais clara do alburno; em algumas madeiras, não se percebe a
diferença de coloração entre cerne e alburno, devido à ausência de corantes fortes e
escuros.
É conveniente ressaltar que as mudanças que ocorrem no alburno para cerne
são, principalmente, a nível químico; estrutural e anatomicamente, o cerne e o
alburno são semelhantes. Por ser um tecido fisiologicamente morto e apresentar
extrativos geralmente tóxicos (compostos polifenólicos), o cerne apresenta uma
resistência natural ao apodrecimento e ao ataque de organismos xilófagos, baixa
permeabilidade e densidade mais elevada que o alburno. A riqueza de materiais
nutritivos, principalmente carboidratos e amido, faz com que o alburno seja muito
atacado por organismos xilófagos, principalmente quando as condições ambientais
são favoráveis.
O cerne, quando comparado ao alburno, apresenta diferenças marcantes, que
podem ser vantajosas ou não, dependendo da utilização da madeira. Algumas das
diferenças mais importantes são: o cerne contém mais compostos fenólicos e ácidos
e menos amido que o alburno; a lignina do cerne apresenta-se mais condensada e
com maior massa molecular; o cerne de coníferas contém mais extrativos e menos
lignina e celulose. Em folhosas, essa última diferença não é consistente.
Como a formação do cerne está associada ao acúmulo de produtos
fotossintetizados nos tecidos mais internos do tronco, isso torna o cerne menos
permeável que o alburno e com concentração de extrativos. Assim, as proporções
de cerne e de alburno nas árvores destinadas ao setor de celulose têm impacto
econômico, uma vez que a maior quantidade de cerne exige alta carga alcalina em
virtude dos teores de extrativos e lignina contidos nessa região. Em árvores de idade
avançada, esse ponto negativo é mais acentuado, além da existência de outros,
como as dificuldades na picagem dos cavacos e no branqueamento e a resistência
físico-mecânica inferior do papel.
A perda no rendimento em celulose Kraft foi observada em E. grandis por
Sacco, Ferreira e Sansígolo (2002) e associada à maior relação cerne/alburno (C/A).
Para a produção de celulose, a maior proporção de alburno contribui positivamente,
uma vez que os cavacos oriundos desta porção têm maior permeabilidade e, por
serem mais claros, são facilmente impregnados dos reagentes no digestor, o que
facilita a polpação e o branqueamento.
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Ocorre uma variabilidade no rendimento de polpa celulósica para E. globulus


em regiões de cerne e de alburno. Os menores rendimentos no cerne ocorrem por
ser uma região de difícil deslignificação, pela presença de lignina residual. Já as
polpas oriundas do alburno podem ser mais leves, e as taxas de reação, mais
rápidas, em comparação ao cerne.

1.3. Câmbio

Entre o alburno (xilema) e a casca interna (floema) encontra-se uma camada


de células denominada câmbio ou região cambial. Este também é conhecido por
câmbio vascular e é constituído por uma faixa de células meristemáticas
secundárias que são responsáveis pela formação das chamadas células-mãe do
xilema (lenho) e do floema (casca). O câmbio é o responsável pelo crescimento
secundário das plantas, ou crescimento em diâmetro.

1.4. Casca

A casca é constituída de duas camadas, sendo uma delas mais interna, fina,
fisiologicamente ativa, de cor clara, que conduz a seiva elaborada, denominada
casca interna ou floema. A mais externa, composta de tecido morto, denominada
casca externa ou ritidoma, tem a função de proteger os tecidos vivos da árvore
contra o ressecamento, ataque de microrganismos e insetos, injúrias mecânicas e
variações climáticas.

1.5. Anéis de Crescimento

Em regiões onde as estações do ano são bem definidas, as árvores


apresentam, nas estações da primavera e verão, onde normalmente existe bastante
luz, calor e água, um rápido crescimento que pode diminuir ou cessar nas estações
do outono e inverno, quando ocorre frio intenso e pouca luz. Isso faz com que o
câmbio tenha atividades periódicas, dando origem aos anéis de crescimento, que
são bem distintos nas madeiras de gimnospermas (Figura 4).
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Figura 4. Anéis de crescimento com os respectivos lenhos de início de estação


e de fim de estação.

Esses anéis ou camadas apresentam aspecto concêntrico quando observados


no plano transversal e em forma de cones superpostos quando vistos no plano
longitudinal-tangencial. O crescimento do anel começa na primavera indo até um ou
dois meses antes do outono, assim, no decurso da estação de crescimento, uma
completa camada de lenho novo é acrescentada entre a casca e o lenho
anteriormente formado. Em um anel, a madeira inicialmente formada recebe o nome
de lenho inicial ou primaveril ou precoce. A madeira que se formou no fim do período
de crescimento é denominada de lenho tardio, de verão ou estival.
O lenho inicial é caracterizado por células com paredes delgadas, diâmetro
maior e comprimento relativamente menor do que as do lenho tardio, sendo assim
menos denso que o tardio.
Nas regiões de clima tropical, onde as estações não são bem definidas, os
anéis que se formam no caule podem não corresponder aos períodos anuais de
crescimento, como também pode ocorrer o aparecimento de mais de um anel de
crescimento durante o ano. Pode-se avaliar, com certa precisão, a idade de uma
árvore do grupo das gimnospermas, pela contagem dos anéis de crescimento, mas
nas madeiras de angiospermas, de regiões tropicais, a contagem dos anéis de
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crescimento é muito difícil ou até impossível e, geralmente, não corresponde à idade


da árvore.

1.6. Crescimento do Tronco

O crescimento das árvores é devido a presença de tecidos designados


meristemas (do grego meristos: divisível), dotados da capacidade de produzir novas
células. Existem dois tipos principais de meristemas, os apicais e os laterais. O
meristema apical é o responsável pelo crescimento em altura da planta e se localiza
nos ápices de caules e raízes, e esse tipo de crescimento é chamado de
crescimento primário. Por meio de sucessivas divisões celulares, novas células são
acrescentadas para baixo, enquanto o tecido meristemático vai sendo deslocado
para cima. As células produzidas pelo meristema apical vão constituir os tecidos
primários, como a medula, o córtex, a epiderme, etc. Nas plantas jovens, há uma
predominância de crescimento apical, o que explica a forma cônica de muitas
espécies como o pinheiro do paraná (Araucaria angustifolia) enquanto jovens.
Todas as plantas têm crescimento primário, no entanto vamos ressaltar neste
trabalho apenas plantas que também apresentam crescimento secundário.
O crescimento em diâmetro deve-se ao meristema lateral (meristema cambial),
tecido constituído por uma camada de células eu se localiza entre o floema (casca
interna) e o alburno. É o câmbio o formador dos tecidos secundários do vegetal,
entre os quais se destaca o lenho ou xilema secundário, objeto de estudo da
anatomia da madeira. Distinguem-se no câmbio dois tipos de células (Figura 5):
- Iniciais fusiformes, que originam todos os elementos celulares axiais do lenho;
- Iniciais radiais, que produzem os elementos celulares transversais do lenho.
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Figura 5. Iniciais fusiformes e radiais que compõem o câmbio vascular.

A formação de novas células dá-se da seguinte maneira: em uma célula do


câmbio (célula-mãe ou inicial) surge uma parede num plano tangencial (periclinal),
originando duas células mais estreitas, absolutamente idênticas no início. Uma das
duas células mantem seu caráter embrionário e sofre um aumento de tamanho
tornando-se uma célula-mãe original. A outra célula se diferenciará em um elemento
constituinte ou do lenho (xilema) ou do floema (casca). Se a célula que mantem seu
caráter embrionário é a mais externa das duas, a outra célula contigua irá constituir
o lenho. Se for a mais interna, a outra célula irá formar o floema. Uma vez formada,
a nova célula xilemática irá sofrer um processo de diferenciação que envolve
modificações na forma e tamanho, até se constituinte num dos elementos do lenho
em questão, conforme determinação do código genético que a originou.
Em consequência da produção contínua de novas células para o interior do
tronco, resulta em um aumento em periferia, tornando-se também necessário um
acréscimo de células no sentido tangencial. Para isso surgem paredes divisórias
num plano radial (anticlinal) nas células cambiais (Figura 6).
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Figura 6. Divisão anticlinal e periclinal das células do câmbio.


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2. ESTRUTURA ANATÔMICA DA MADEIRA

A Anatomia da Madeira é o ramo da ciência botânica que se ocupa do estudo


das variadas células que compõem o lenho, bem como sua organização, função e
relação com a atividade biológica do vegetal. A anatomia constitui-se de elemento
fundamental para qualquer emprego industrial que se pretenda destinar à madeira.
O comportamento mecânico da madeira (secagem, colagem de peças,
trabalhabilidade e outros) está intimamente associado à sua estrutura celular.
As árvores produtoras de madeira são divididas em dois grupos, por
apresentarem marcantes diferenças estruturais, as gimnospermas (coníferas) e
angiospermas (folhosas). Nas primeiras estão incluídas as árvores que apresentam
estróbilos unissexuais (cones), enquanto que das angiospermas fazem parte as
plantas que apresentam flores comuns e sementes dentro de frutos. Além das
diferenças botânicas existentes entre coníferas e folhosas, a estrutura anatômica de
suas madeiras é também distinta.
Do ponto de vista anatômico, a madeira é um tecido perene que resulta do
crescimento secundário do tronco, ramos e raízes de árvores e arbustos. Este tecido
é constituído de tal forma a suprir as necessidades naturais da árvore, e consiste,
consequentemente, em células de sustentação mecânica, condução,
armazenamento e de secreção, como apresentado no Quadro a seguir.

Função
Madeira
Mecânica Condução Armazenagem Secreção
Traqueóides do
Parênquima Células epiteliais
Conífera Traqueóides do lenho inicial
radial e (canais
s lenho tardio Traqueóides
longitudinal resiníferos)
radiais
Fibras
Vasos
Libriformes Parênquima Células epiteliais
Folhosas radial e (canais
Traquóides
Fibrotraqueóides longitudinal gomíferos)
vasculares
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2.1. Anatomia de Coníferas

Madeiras de gimnospermas, também conhecidas como coníferas, resinosas,


não porosas, ou softwoods, são produzidas por espécies da ordem das Coniferales.
Dentro do reino vegetal, as gimnospermas são exemplares primitivos, apresentando
a sua madeira constituição anatômica bem mais simples e menos especializada do
que as angiospermas, apresentando uma composição volumétrica de seu lenho de
93 % de traqueídes, 6 % de raios lenhosos e 1 % de canais de resina. De modo
geral apresentam menor densidade, dureza e resistência em comparação com as
folhosas. Os principais elementos encontrados no lenho das coníferas serão
descritos a seguir.

2.1.1. Traqueídes

São células alongadas e estreitas, mais ou menos pontiagudas, que ocupam


até 95% do volume da madeira. Uma vez formados pelo câmbio, estes elementos
celulares têm uma longevidade muito curta, perdem o conteúdo celular tornando-se
tubos ocos de paredes lignificadas, que desempenham as funções de condução e
sustentação no lenho. Para que realizem a circulação de líquidos extraídos do solo
pelas raízes nas regiões periféricas do alburno, as paredes destas células
apresentam pontuações areoladas, pelas quais os líquidos passam de célula para
célula.
Os traqueídes correspondentes ao início do período vegetativo apresentam
lumes grandes e dotados de paredes finas com numerosas pontuações areoladas,
com função preponderantemente de condução. Os traqueídes do lenho tardio, que
exercem mais acentuadamente a função de sustentação, apresentam lumes
pequenos, paredes espessas com poucas pontuações (Figura 7).
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Figura 7. Traqueídes de lenho inicial e tardio. A) Pontuações areoladas entre


traqueídes; B) Pontuações areoladas entre traqueíde axial e radial; C) Pontuações
pinóides entre traqueíde e raio parenquimático.

Em geral o comprimento médio dos traqueídes axiais em coníferas varia de 2 a


5 mm. O comprimento, de forma grosseira, é cerca de 100 vezes sua largura. Além
de variar conforme a espécie, o comprimento também varia de acordo com a idade
da árvore e com a localização da célula no tronco.

2.1.2. Canais de resina

Nos gêneros Pinus, Picea, Larix e Pseudotsuga, os raios heterogêneos, além


de células parenquimáticas comuns e traqueídes radiais, podem apresentar canais
resiníferos, delimitados por células parenquimáticas epiteliais produtoras de resina.
Neste caso são mais alargados, recebendo o nome especial de raios fusiformes.
Os canais de resina são canais intercelulares presentes no lenho das árvores
de coníferas e que contêm resina, constituindo o complexo axial de canal de resina,
compondo a estrutura: o canal, as células do epitélio e as células subsidiárias
(parênquima subsidiário e traqueídes, se presentes), derivadas de uma ou mais
células fusiformes iniciais que sofreram divisão mitótica (Figura 8).
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Figura 8. Seção transversal do lenho de Pinus contorta. A) Canal de resina; B)


Células epiteliais com contraste escuro; C) Células subsidiárias com contraste
escuro; D) Complexo de canal de resina com contraste escuro. As células do
parênquima radial não estão inclusas. Barra escala = 25 mm.

Os canais de resina radiais estão localizados nos raios fusiformes do lenho das
árvores, constituídos por células de parênquima radial dispostas nas regiões
superior e inferior dos dutos de resina. As células epiteliais (3 ou 4 células) de forma
triangular ou retangular alinham-se em cada duto radial de resina, sendo facilmente
distinguidas do parênquima radial (menores e arredondadas). Os canais de resina
radiais encontram-se, normalmente, localizados próximos dos dutos de resina
longitudinais, possibilitando a sua intercomunicação.
Menos de 20 % dos raios presentes no lenho de árvores de pinus são do tipo
fusiformes e possuem canais de resina radiais. Os canais de resina estão,
normalmente, isolados no lenho inicial e tardio dos anéis de crescimento, podendo,
porém, ser observados pares de canais de resina, apresentando diâmetro variando
de 60-300 μm. No lenho de árvores de Pinus halepensis os canais de resina
longitudinais têm aproximadamente 4-10 cm de comprimento, sendo mais curtos nos
ramos, podendo ter maior diâmetro no lenho de árvores de idade avançada (Figura
9).
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Figura 9. Seção longitudinal tangencial do lenho de Pinus strobus


evidenciando raios unisseriados e os raios fusiformes com canais de resina.

2.1.3. Parênquima radial

São faixas de células parenquimáticas de altura, largura e comprimento


variáveis, que se estendem radialmente no lenho, em sentido perpendicular ao dos
traqueídes axiais, cuja função é armazenar, transformar e conduzir transversalmente
substâncias nutritivas. Células parenquimáticas caracterizam-se por apresentar
paredes relativamente finas, na maioria dos casos não lignificadas, e pontuações
simples. Os raios das gimnospermas podem ser constituídos unicamente de células
parenquimáticas, sendo denominados raios homogêneos, ou apresentar traqueídes
radiais, geralmente em suas margens, quando são denominados raios
heterogêneos.
Os raios de coníferas geralmente são finos, normalmente unisseriados, isto é,
possuem apenas uma fiada de células quando vistos em seção tangencial, e menos
frequentemente bi ou trisseriados.

2.2. Anatomia de Folhosas

As madeiras de angiospermas são também chamadas de folhosas, porosas ou


hardwoods, e são vegetais mais evoluídos e correspondentemente a sua
composição anatômica é bem mais especializada e complexa do que a das
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gimnospermas, oferecendo um número bem maior de caracteres para a sua


identificação.
Produzem árvores com folhas de diferentes formatos, renovadas
periodicamente, e constituem a quase totalidade das espécies das florestas
tropicais. No Brasil, diversas essências das eudicotiledôneas são consagradas no
mercado madeireiro, mencionando-se algumas delas: Aroeira do Sertão (Astronium
urundeuva), Peroba Rosa (Aspidosperma polyneuron), Ipê (Tabebuia serratifolia),
Mogno (Swietenia macrophylla), Cedro (Cedrella fissilis), Imbuia (Ocotea porosa).
A composição celular da madeira de folhosas é muito variável e heterogênea,
constituindo-se de vasos (7 a 55 %); fibras (6 a 56 %); parênquima radial (5 a 25 %)
e parênquima axial (0 a 23 %).
Compondo o lenho das angiospermas eudicotiledôneas são encontrados,
principalmente, os seguintes elementos estruturais:

2.2.1. Fibras

As fibras são células alongadas, com até 1,5 mm de comprimento, seção


transversal vazada e arredondada, paredes de espessura superior à dos vasos. As
fibras são elementos fechados, não possuindo comunicação através das
extremidades. Podem constituir, dependendo da espécie, até 50 % da madeira das
eudicotiledôneas, sendo responsáveis por sua resistência mecânica.
As fibras são células alongadas e estreitas, de extremidades afiladas que
parecem ligeiramente com os traqueídes de lenho tardio, deles se diferenciam por
serem mais curtos, pontiagudos e com poucas pontuações (Figura 10). As fibras são
classificadas em fibrotraqueídes e fibras libriformes, sendo as pontuações a base de
distinção entre elas: as fibrotraqueídes possuem pontuações distintamente
areoladas e relativamente grandes (4-9 µm), enquanto que as fibras libriformes
possuem pontuações pequenas (2-4 µm), inconspicuamente areoladas, sendo
também normalmente menores em comprimento e diâmetro.
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Figura 10. A) Fibras, traqueídes e elementos de vasos.

Os fibrotraqueídes e as fibras libriformes variam grandemente em diâmetro,


em comprimento, na espessura da parede celular e no volume que representam na
estrutura da madeira. Essas variações ocorrem não apenas em diferentes espécies,
mais também em diferentes madeiras de uma mesma espécie e mesmo em
diferentes regiões de uma mesma espécie. As fibras em madeiras de folhosas
variam desde 0,1 mm até mais de 1 mm de comprimento. Em linhas gerais
considera-se como comprimento médio 0,9 a 1,6 mm.
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2.2.2. Vasos

São estruturas que ocorrem, salvo raras exceções, em todas as angiospermas,


e constituem por isso, o principal elemento de diferenciação entre estas e as
gimnospermas e representam uma grande evolução biológica dos vegetais no
sentido de transporte de seiva. Os vasos são estruturas formadas por uma junção de
células perfuradas, chamadas de elementos de vaso, que se comunicam entre si,
formando longos dutos que conduzem a água e nutrientes das raízes para a copa
das árvores, onde as células são mais curtas (até 1 mm de comprimento), de maior
diâmetro e com muitas pontuações nas paredes horizontais.
Para permitir a comunicação entre os elementos de vasos, estes possuem
extremidades perfuradas denominadas placas de perfuração, que podem do tipo
simples, ou múltiplas (escalariforme, reticulada e foraminada). Além da placa de
perfuração, os vasos apresentam pontuações em suas paredes laterais, para
comunicação com as células vizinhas, cuja disposição, aspecto, tamanho e forma
são características de algumas madeiras e constituem importante elemento para a
identificação.

2.2.3. Parênquima radial

Os raios são responsáveis pelo armazenamento, transformação e condução


transversal de substâncias nutritivas, mas se apresentam com uma riqueza
morfológica bem maior, variando em tipo, número e tamanho de célula, e constituem
com o parênquima axial os mais eficazes elementos de distinção entre espécies. Os
raios podem ser:
Homogêneos: formados por células parenquimáticas de um único formato,
referindo-se normalmente o termo homogêneos aos raios cujo tecido é constituído
apenas por células procumbentes (deitadas ou horizontais), quando vistos em seção
radial. Exemplos: carvalho (Quercus sp.) e eucalipto (Eucalyptus sp.)
Heterogêneos: incluem células de mais de um formato, procumbentes,
quadradas e eretas nas mais diversas combinações. Exemplos: pau-marfim e
umbuzeiro.
Os raios homogêneos e heterogêneos podem ser tanto unisseriados,
constituídos por apenas uma fileira de células na seção tangencial, como bi e
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multisseriados, quando formado por duas ou mais fileiras de células nesta seção
(Figura 11).

Figura 11. Células de raio. A) Unisseriado heterogêneo e B) Multisseriado


homogêneo.

2.2.4. Parênquima axial

O parênquima axial, que desempenha a função de armazenamento no lenho, é


normalmente bem mais abundante nas folhosas do que nas coníferas. As células de
parênquima axial podem estar dispersas entre fibras em fileiras tangencias ou
envolvendo os poros formando diferentes arranjos conforme a espécie. As células
de parênquima axial, geralmente são de cor mais clara do que a parte fibrosa do
lenho e se destacam das demais por apresentarem paredes delgadas (paredes finas
não lignificadas), pontuações simples e por sua forma retangular ou fusiforme nos
planos longitudinais. Seu arranjo é observado em secção transversal e pode ser
dividido em dois tipos de distribuição de acordo com sua relação espacial com os
vasos.

2.2.5. Caracteres anatômicos especiais

Além dos elementos estruturais do lenho, podem ocorrer certos elementos


essenciais em algumas madeiras que são úteis no processo de identificação e são
importantes do ponto de vista tecnológico.
24

2.2.6. Tilos ou tiloses

Em determinadas Angiospermas, associada à formação do cerne, observa-se a


ocorrência de tilose, como um conjunto de proliferações semelhantes a bolas que
penetram nos vasos a partir das células do parênquima adjacente, através dos pares
de pontuações. Os tilos obstruem o lume dos vasos (Figura 12).
O processo de formação da tilose é atribuído às diferenças de pressão entre os
vasos e as células de parênquimas contíguas. Os vasos conduzem os fluidos
ativamente e as pressões dentro das células são mais ou menos idênticas, tanto dos
vasos como das células de parênquima. Se houver diminuição da intensidade do
fluxo de líquidos dos vasos, a pressão no interior das células parenquimáticas se
torna bem maior e, em consequência, a fina parede primária das pontuações do
parênquima se distende, penetrando na cavidade dos vasos. Ferimentos externos
podem estimular a formação de tilos, visando bloquear a penetração de ar na coluna
de líquidos em circulação; às vezes, o surgimento de tilos é decorrente da
degradação enzimática das membranas das pontuações por fungos xilófagos.

Figura 12. Tiloses invadindo os vasos.

Em alguns gêneros, como: Platanus, Prunus, Quercus, Robinia, Populus,


Carya, Castanea, Lecythis, Astronium etc., e em espécies como tatajuba (Bagassa
guianensis) e assacu (Hura crepitans) os tilos são muito importantes na identificação
de madeiras porque eles aparecem macroscopicamente como membranas
25

transparentes brilhantes, dentro dos vasos. Situação diferente é o caso das


Meliáceas em que os tilos são praticamente ausentes. O aparecimento dos tilos
depende de dimensões das pontuações das paredes dos vasos, podendo estes se
desenvolver somente em madeiras em que as pontuações das paredes dos vasos
forem maiores que 7 mm²; excepcionalmente, os tilos podem ser observados em
fibras com pontuações grandes, como em alguns gêneros de Lauráceas e
Magnoliáceas. Os tilos são também encontrados em algumas Gimnospermas,
ocorrendo nos traqueídes longitudinais das espécies que apresentam pontuações do
campo de cruzamento, do tipo fenestriforme, como consequência de injúrias
mecânicas, infecções ou estímulo químico.
Quanto à utilização da madeira, os tilos dificultam a secagem e a sua
impregnação com substâncias preservativas, porque obstruem as vias normais de
circulação dos líquidos. Os tilos, por outro lado, apresentam-se como barreiras
físicas que se antepõem à penetração de fungos xilófagos, aumentando a
durabilidade natural da madeira. Os tilos são também grandes responsáveis pela
excelente qualidade da madeira de carvalho (Quercus rubra) para a fabricação de
barris para o armazenamento de bebidas alcoólicas.

2.2.7. Canais celulares e intercelulares

À semelhança dos canais resiníferos nas Gimnospermas, algumas


Angiospermas podem apresentar canais que contêm substâncias diversas, como
resinas, gomas, bálsamos, taninos, látex etc., muito peculiares em algumas famílias,
como as Anacardiáceas (canais radiais), Moráceas (tubos laticíferos), Rutáceas
(canais traumáticos), Miristicáceas (tubos taniníferos) etc. Os canais podem ocupar
posições verticais (canais axiais) e horizontais (canais radiais ou transversais), estes
últimos sempre ocorrendo dentro de um raio, como no caso das Gimnospermas.

2.3. Relação entre a estrutura anatômica da madeira e suas


propriedades e comportamento tecnológico

Uma das grandes limitações práticas da madeira é a sua heterogeneidade,


anisotropia e variabilidade. Nem mesmo dois pedaços de madeira de uma mesma
26

árvore são iguais. Estas diferenças podem ser atribuídas às condições ecológicas do
local onde o vegetal cresce, a localização das amostras no tronco, aos defeitos da
madeira etc.
A composição do lenho, a estrutura e organização de seus elementos
constituintes são os fatores que determinam as propriedades físicas da madeira e
sua aptidão para o uso comercial.

2.3.1. Densidade e resistência mecânica

A densidade é uma das principais características tecnológicas da madeira e


tem sido um índice de qualidade importante para variados fins. É um parâmetro
quantitativo, resultante das características anatômicas e da composição química da
madeira.
A densidade da madeira é afetada pela dimensão das fibras, espessura de
parede celular, pelo volume de vasos e parênquima, pelo arranjo dos elementos
anatômicos e pela quantidade de componentes extratáveis (dito por alguns autores
em algumas circunstâncias).
A densidade reflete a composição química lenhosa por peso. Ë talvez a
característica tecnológica mais importante da madeira, pois dela dependem
estreitamente outras propriedades, tais como: a resistência mecânica, o grau de
instabilidade dimensional pela perda ou absorção de água etc.
A densidade do material lenhosos, denominada densidade real, oscila entre
1,4 a 1,62 g/cm3, entretanto, devido a variações nas dimensões e proporções dos
tecidos lenhosos, a densidade das madeiras variam entre 0,13 e 1,4g/cm 3. O grau
de resistência mecânica que se pode deduzir da massa específica é, no entanto,
altamente modificado pela estrutura histológica, que se manifesta no comprimento e
espessura das membranas, quantidade de pontuação nas paredes etc.
Há uma estreita relação entre volume de fibras, densidade e resistência
mecânica.
Os vasos, devido à sua grande dimensão e as paredes delgadas, são
estruturas fracas, e sua abundância, distribuição e dimensão influem na resistência
mecânica da madeira. O lenho com porosidade em anel (poros grandes acumulados
no início do período vegetativo) é menos resistente a determinados esforços do que
27

o lenho com porosidade difusa (poros distribuídos uniformemente ao longo do anel


de crescimento).
O parênquima axial é também um tecido fraco, cuja abundância (23-100% do
volume total do lenho em eudicotiledôneas) e distribuição, principalmente quando se
apresenta formando amplas faixas contínuas podem reduzir consideravelmente a
resistência mecânica da madeira. A relação entre os raios (parênquima radial) e a
resistência mecânica do lenho é mais complexa pelo fato de que os lenhos com
maior volume deste tecido são muitos especializados e contém um grande volume
de fibras com paredes espessas, o que lhes conferem elevada densidade. A
fragilidade do tecido parenquimático dos raios é comprovada pelas rachaduras
radiais que surgem no tronco com tensões internas de secagem.
Nas gimnospermas, o lenho tardio é geralmente mais resistente, devido ao
maior volume de material lenhoso nas paredes de suas células. A densidade e a
resistência mecânica são afetadas pela percentagem de lenho tardio no anel e pela
regularidade na largura dos anéis de crescimento.
A própria estrutura submicroscópica da parede celular reflete na resistência
mecânica. Quanto mais vertical for a orientação das microfibrilas de celulose, maior
será a resistência à tração; quanto mais horizontal o seu grau de inclinação, maior
será a resistência a esforços de compressão.

2.3.2. Durabilidade Natural

Por durabilidade ou resistência natural entende-se o grau de suscetibilidade da


madeira ao ataque de agentes destruidores, como fungos, insetos, brocas marinhas
etc.
Em geral, as madeiras mais densas por apresentarem uma estrutura mais
fechada e frequentemente elevado teor de substancias especiais impregnando as
paredes de suas células, são mais resistentes a ação destes agentes. A presença
de tais materiais (sílica, alcaloides, taninos e outros), normalmente de ocorrência
mais acentuada no cerne dos troncos, aumenta a durabilidade natural da madeira,
devido ao efeito tóxico que frequentemente apresentam sobre os agentes xilófagos.
A sílica atribui-se acentuada durabilidade natural de certas madeiras utilizadas em
28

contato com água do mar, uso considerado como o que apresenta as condições
mais drásticas e severas.
Usualmente, a presença de substâncias especiais no lenho produz na
madeira uma coloração acentuada, e é pó isso que as madeiras escuras são em
geral mais duráveis, fenômeno também observado no cerne, que é a parte mais
escura do tronco.
A grande abundância de tecido parenquimático (raios e parênquima axial)
proporciona baixa durabilidade natural à madeira, uma vez que se trata de tecido
macio e de fácil penetração e, sobretudo por atrair os agentes destruidores em
virtude dos conteúdos nutritivos armazenados em suas células (amidos, açúcar,
proteínas, etc.). A localização do parênquima no lenho também pode favorecer o
desenvolvimento de certos insetos xilófagos. No caso de parênquima axial
paratraqueal, as larvas, assim que eclodem dos ovos depositados nas cavidades
dos vasos, encontram logo ao seu alcance os nutrientes necessários ao seu
desenvolvimento.

2.3.3. Permeabilidade

É uma característica importante sob o aspecto da secagem, preservação de


madeiras e fabricação de polpa e papel. Em geral, madeiras mais densas são mais
difíceis de serem secadas e impregnadas com soluções preservativas por
apresentarem volume menor de espaços vazios para circulação de fluidos.
A maior penetração ou eliminação de líquidos nas madeiras se dá,
obviamente, sobretudo, por meio dos elementos estruturais que desempenham a
função de condução no lenho: os vasos nas angiospermas, os traqueídes nas
gimnospermas e os raios em ambas.
Nas angiospermas, o tamanho, abundância, distribuição dos poros e a
presença ou ausência de substâncias obstrutoras influem no grau de
permeabilidade. O lenho inicial de espécies com porosidade em anel é mais
permeável que o lenho tardio. O parênquima axial é mais permeável que as fibras e
quanto mais presente no lenho aumenta a permeabilidade. Nas gimnospermas as
pontuações areoladas das paredes dos traqueídes facilitam a passagem de líquidos
de célula. Dentro do anel de crescimento, o lenho inicial com elementos celulares de
29

lumes grandes e muitas pontuações areoladas é mais permeável que o lenho tardio.
A presença de substâncias especiais como gomas, resinas, látex etc. e canais
intercelulares e celulares podem afetar a penetração de preservativos e a secagem
de madeiras por se liquefazerem, obstruindo assim a passagem dos fluidos.

2.3.4. Trabalhabilidade

O termo trabalhabilidade refere-se ao grau de facilidade de se processar a


madeira com instrumentos. Em primeiro lugar, a grã da madeira fornece uma ideia
da facilidade de se conseguir um bom acabamento superficial das peças.
Madeiras com grã reta não apresentam dificuldades neste sentido. Porém
aquelas com grã irregular apresentam superfície áspera nas regiões nas quais o
instrumento passa em sentido contrário à direção normal dos tecidos. O desvio pode
se apresentar como vantagem para efeitos decorativos.
Madeiras macias (baixa densidade) são difíceis de serem trabalhadas para
obtenção de superfícies lisas, pelo arranjamento de células dos tecidos frágeis,
resultando numa superfície aveludada. Por outro lado, madeiras com alta densidade
são difíceis de serem trabalhadas por provocarem desgastes nas ferramentas.
Madeiras ricas em sílica também provocam desgaste nas ferramentas. Em alguns
casos, a sílica fica inserida na parede, assumindo a forma de elemento celular.
Substâncias especiais (canais intercelulares, celulares e células oleíferas) causam
dificuldades no processamento e desdobro por serem prejudiciais ao operador ou
aderirem às serras ou facas dos equipamentos.

2.3.5. Estabilidade Dimensional

A madeira é um material higroscópico e apresenta fenômenos de contração e


inchamento pela perda ou absorção de umidade. A entrada de água entre as
moléculas de celulose da parede celular provoca o inchamento, ou o afastamento
dessas moléculas. A concentração da madeira é resultado da aproximação das
moléculas de celulose. Como a contração e o inchamento ocorrem pela entrada e
saída de água das paredes celulares, as madeiras de alta densidade (parede mais
espessas) apresentam esse fenômeno em grau mais acentuado. A anisotropia no
30

que diz respeito à sua alteração dimensional devido a secagem é um fato conhecido,
entretanto, se a peça considerada apresentar desvios de grã, a sua retração fugirá
aos padrões normais previstos, além de provocar de formações na mesma.

2.3.6. Comportamento em face a colagem e aplicação de revestimentos


superficiais:

A textura da madeira tem grande importância sob esse aspecto. Madeiras com
textura grosseira absorvem grande quantidade de substâncias que lhe são
aplicadas. No caso de pinturas, são necessárias várias demãos para um bom
acabamento. Sob o ponto de vista da colagem, a excessiva absorção do adesivo por
uma superfície porosa pode causar uma má aderência, além do perigo de
ultrapassagem da cola até a outra face (por ex. compensado), prejudicando sua
aparência. Ao contrário, em madeiras de estrutura muito fechada e superfícies lisas,
haverá deficiência de penetração do adesivo, reduzindo a área de colagem e
acarretando consequentemente uma linha de cola fraca.
A presença de substâncias especiais (canais secretores, células oleíferas,
conteúdo nos vasos) pode em muitos casos dificultar os processos de colagem e a
aplicação de revestimentos superficiais como pinturas, vernizes etc. Pois essas
substâncias, espalhando-se sobre a superfície das peças, impedem a aderência dos
adesivos ou agem como inibidoras do processo químico de ligamento da cola (cura
de cola).

2.3.7. Fabricação de polpa e papel

Células de grande comprimento são preferidas para produção de polpa e papel


pelas propriedades de resistência, principalmente resistência ao rasgo. As coníferas
são preferidas pelo alto comprimento de fibra e pouco tecido parenquimático (células
curtas). Madeiras com alta porcentagem de células com paredes espessas e rijas
originam papéis grosseiros, porosos, volumosos, alta capacidade de absorção e
elevada elasticidade sob pressão. Madeira de baixa densidade origina papel de
maior resistência mecânica, menos opaco e poroso e com maior resistência ao
estouro.
31

Nas coníferas, a porcentagem de lenho inicial e tardio no anel de crescimento


influência nas características do papel. Madeira de alta densidade consome mais
energia e desgasta mais os equipamentos. A faixa ideal de densidade está entre
0,4-0,6 g/cm3.
Nas coníferas, o lume dos traqueídes axiais e pontuações e a sua
organização desempenham papel importante na difusão das substâncias químicas.
Alguns indicadores (fatores e coeficientes) expressam relações entre
características anatômicas das células:

Fator de Runkel
(R) = 2e/d, em que e = espessura da parede celular; d = diâmetro interno das
células. Quanto maior o valor de R, menos apta a madeira. O ideal é menor que 1.

Coeficiente de rigidez (Fração parede)


CR = d/D x 100%, em que d = diâmetro interno da célula; D = diâmetro externo
da célula. Quanto maior CR, melhor amoldamento da célula.

Coeficiente de flexibilidade de Peteri


P = L/D, em que L = comprimento da célula; D = diâmetro externo da célula.

A presença de canais secretores e conteúdo como gomas, resinas, látex,


causam problemas no cozimento e se depositam nas peneiras, filtros e superfícies
metálicas. Madeiras de cores escuras comprometem a aparência final do produto e
encarece o branqueamento.
32

3. ESTRUTURA DA PAREDE CELULAR

Uma das mais significativas características da célula vegetal é a presença da


parede que envolve externamente a membrana plasmática e o conteúdo celular.
Células sem paredes são raras e ocorrem, por exemplo, durante a formação das
células do endosperma de algumas monocotiledôneas e de embriões de
gimnosperma. A estrutura fundamental da parede celular é formada por microfibrilas
de celulose, imersas em uma matriz contendo polissacarídeos não celulósicos:
hemiceluloses e pectinas (Figura 13).

Figura 13. Composição da parede celular. A armação fundamental da parede


celular é representada por microfibrilas de celulose, a qual é interpenetrada por uma
matriz contendo polissacarídeos não-celulósicos: hemiceluloses e pectinas.

Nesta ordem de magnitude os componentes são subdivididos em:


• Componente estrutural → CELULOSE.
• Componentes subestruturais → POLIOSES (hemiceluloses);
→ LIGNINA.
33

A microfibrila de celulose é uma estrutura filamentosa que tem cerca de 10 a 25


nm de diâmetro e comprimento indeterminado; é composta de 30 a 100 moléculas
de celulose, que se unem paralelamente por meio de ligações hidrogênio. Nas
microfibrilas, em certas porções, as moléculas de celulose mostram um arranjo
ordenado (estrutura micelar), que é responsável por sua propriedade cristalina. A
Figura 14, ilustra de forma esquemática a formação da fibra de celulose e da parede
celular.

Figura 14. Estrutura da parede celular. As paredes primária e secundária são


constituídas por macrofibrilas, que por sua vez são formadas por microfibrilas. As
microfibrilas são compostas de moléculas de celulose, que em determinados pontos
mostram um arranjo organizado (estrutura micelar), o que lhes confere propriedade
cristalina.
Várias centenas de microfibrilas podem ser alinhadas juntas, em unidades
discretas, conhecidas como macrofibrilas, visíveis ao microscópio como estriações
da parede celular. As microfibrilas são organizadas lateralmente como lamelas e
certo número destas, por sua vez, compõe a parede celular. A parede celular de um
traqueíde (conífera) ou de um vaso ou fibra (folhosa) é formada por camadas
individuais, dispostas segundo um arranjo concêntrico. As paredes das células
vegetais são compostas por três camadas bem distintas (Figura 15):
- Lamela média;
- Parede primária;
34

- Parede secundária (S1, S2 E S3).

Figura 15. Modelo da estrutura celular de traqueídes de coníferas e fibras


libriformes de folhosas.

Entre as células individuais há uma fina camada a lamela média, a qual une
(cola) as células entre si, formando o tecido. Embora fibrilas simples possam cruzar
a lamela média, esta camada é em princípio livre de celulose. A transição da lamela
média para a camada adjacente da parede celular não é muito clara, de tal forma,
que para a lamela média e a camada adjacente parede primária) é usado o termo
lamela média composta.
A lamela média é altamente lignificada, apresentando substâncias pécticas
principalmente no estágio inicial de formação. Sua espessura com exceção dos
cantos das células é de 0,2 a 1,0 μm.
Na Parede Primária (P) as fibrilas de celulose são arranjadas em delgadas
camadas que se cruzam formando um aspecto de redes. A parede primária é a
primeira camada depositada durante o desenvolvimento da célula, este sistema
permite uma expansão (crescimento) da célula jovem. Por consequência, a
orientação das fibrilas na camada mais externa é mais oblíqua. Ressalta-se que a
35

quantidade de celulose na Parede Primária é muito limitada, contém também


polioses (hemiceluloses), pectina e proteínas imersos numa matriz de lignina, sua
espessura varia de 0,1 a 0,2 μm.
A Parede Secundária, é a camada espessante da célula, depositada sobre a
parede primária após seu crescimento superficial ter-se completado. Consiste de
três camadas: externa - S1; média - S2; interna - S3.
Observação: Morfologicamente as camadas S1 e S3 não são consideradas
constituintes da parede secundária, mas unidades morfológicas separadas. Assim,
pode-se encontrar a S1 definida como camada de transição e a camada S3 como
parede terciária.
O espessamento da parede secundária é considerável, podendo variar de 1 a
10 μm. A porcentagem de celulose podendo chegar a 90% ou mais, resultando num
arranjo denso e paralelo dependendo das fibrilas. Na camada S1, com espessura de
0,2 a 0,3 μm, as fibrilas de celulose se apresentam em orientação helicoidal suave.
Existem várias subcamadas extremamente finas que se sobrepõe. Sendo as lamelas
muito finas, o arranjo helicoidal (espiral) das fibrilas pode ser visível como um arranjo
cruzado em certas espécies. O ângulo formado entre as fibrilas em relação ao eixo
da célula considerada pode variar entre 50 e 70º. É mais lignificada, assemelhando-
se neste sentido mais à parede primária, sendo também mais resistente ao ataque
de fungos que a S2.
A camada S2 é a mais espessa da parede celular, forma a porção principal da
célula, com espessamento variando de 1 a 9 μm. Nesta camada as fibrilas estão
dispostas num ângulo praticamente reto em relação ao eixo da célula, podendo
variar entre 10 e 30º, diminuindo com o aumento do comprimento da célula.
A variação do ângulo formado pelas fibrilas de celulose em relação ao eixo
axial das células é o resultado de um número de influências internas e externas, as
quais são difíceis de identificar. Porém de maneira geral as variações existem dentro
de um anel de crescimento onde o ângulo decresce do início do lenho inicial ao fim
do lenho tardio, no sentido radial. Em anéis anuais sucessivos o ângulo decresce
continuamente da medula para a casca, até um estado em que permanece
constante, ou apenas sujeito a pequenas mudanças.
A camada interna S3, considerada recentemente por alguns autores como
parede terciária, por apresentar-se diferente das camadas S3 de células
parenquimáticas (também fibras de monocotiledôneas, como bambus, que podem
36

ter ainda quatro ou mais camadas). As fibrilas de celulose são arranjadas numa
inclinação suave, porém não numa forma estritamente paralela. Possui uma
concentração maior de substâncias não estruturais, o que confere a superfície do
lume uma aparência mais ou menos lisa.
Finalmente, os traqueídes de coníferas e as fibras libriformes de folhosas mais
primitivas apresentam quase sempre uma camada ou zona verrugosa (warts), que é
uma membrana delgada e amorfa, localizada na superfície interna da camada S3 ou
parede terciária. É constituída de material semelhante a lignina em conjunto com
pequenas quantidades de hidratos de carbono e substâncias pécticas. Em conjunto,
o sistema de arranjo e disposição das fibrilas de celulose, em combinação com as
substâncias solidificantes não estruturais conferem às células da madeira uma
sólida, mas não inflexível constituição, a qual resiste a uma grande gama de forças
que nela atuam.
Devido a pequena inclinação das fibrilas a camada S2 é provida de resistência
à tração, enquanto que a S1, na qual as fibrilas encontram-se inclinadas conferem
resistência à compressão, ambas ao longo do eixo da célula.
37

4. COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA MADEIRA

4.1. Composição Elementar

Em relação a composição química elementar da madeira, pode-se afirmar que


não há diferenças consideráveis, levando-se em conta as madeiras de diversas
espécies.
Os principais elementos existentes são o Carbono (C), o Hidrogênio (H), o
Oxigênio (O) e o Nitrogênio (N), este em pequenas quantidades. Na Tabela 1, a
análise da composição química elementar da madeira de diversas espécies,
coníferas e folhosas, demonstram a seguinte composição percentual, em relação ao
peso seco da madeira:

Tabela 1. Composição química elementar da madeira de diversas espécies

Elemento Porcentagem

Carbono 49 - 50

Hidrogênio 6

Oxigênio 44 - 45

Nitrogênio 0,1 - 1

Além destes elementos encontram-se pequenas quantidades de Cálcio (Ca),


Potássio (K), Magnésio (Mg) e outros, constituindo as substâncias minerais
existentes na madeira.
38

4.2. Composição Estrutural

Do ponto de vista da análise dos componentes da madeira, uma distinção


precisa ser feita entre os principais componentes macromoleculares constituintes da
parede celular:
• Celulose;
• Polioses (hemiceluloses);
• Lignina.
Estes componentes estão presentes em todas as madeiras, e os componentes
minoritários de baixo peso molecular, extrativos e substâncias minerais, os quais são
geralmente mais relacionados a madeira de certas espécies, no tipo e quantidade.
As proporções e composição química da lignina e polioses diferem em coníferas e
folhosas, enquanto que a celulose é um componente uniforme da madeira (Tabela
2). A Tabela 2 e a Figura 16 apresentam uma curta introdução à composição
química da madeira:

Tabela 2. Composição Média de Madeiras de Coníferas e Folhosas

Constituinte Coníferas Folhosas

Celulose 42 + 2% 45 + 2%

Polioses 27 + 2% 30 + 5%

Lignina 28 + 2% 20 + 4%

Extrativos 5 + 3% 3 + 2%
39

Figura 16. Esquema da composição química da madeira.

Em madeiras oriundas de zonas temperadas, as porções dos constituintes alto


poliméricos da parede celular, somam cerca de 97~99% do material madeira. Para
madeiras tropicais este valor pode decrescer para um valor médio de 90%. A
madeira é constituída de cerca de 65 a 75% de polissacarídeos.

4.2.1. Celulose

É o componente majoritário, perfazendo aproximadamente a metade das


madeiras tanto de coníferas, como de folhosas. Pode ser brevemente caracterizada
como um polímero linear de alto peso molecular, constituído exclusivamente de β-D-
glucose. Devido a suas propriedades químicas e físicas, bem como à sua estrutura
supra molecular, preenche sua função como o principal componente da parede
celular dos vegetais.

4.2.2. Hemicelulose

Estão em estreita associação com a celulose na parede celular. Cinco


açucares neutros, as hexoses: glucoses, manose e galactose; e as pentoses: xilose
e arabinose, são os principais constituintes das polioses. Algumas polioses contém
adicionalmente ácidos urônicos. As cadeias moleculares são muito mais curtas que
a de celulose, podendo existir grupos laterais e ramificações em alguns casos. As
folhosas, de maneira geral, contém maior teor de polioses que as coníferas, e a
composição é diferenciada.
40

4.2.3. Lignina

É a terceira substância macromolecular componente da madeira. As moléculas


de lignina são formadas completamente diferente dos polissacarídeos, pois são
constituídas por um sistema aromático composto de unidades de fenilpropano. Há
maior teor de lignina em coníferas do que em folhosas, e existem algumas
diferenças estruturais entre a lignina encontrada nas coníferas e nas folhosas.
Do ponto de vista morfológico a lignina é uma substância amorfa localizada na
lamela média composta, bem como na parede secundária. Durante o
desenvolvimento das células, a lignina é incorporada como o último componente na
parede, interpenetrando as fibrilas e assim fortalecendo, enrijecendo as paredes
celulares.

4.2.4. Substâncias de baixo peso molecular

Junto com os componentes da parede celular existem numerosas substâncias


que são chamadas de materiais acidentais ou estranhos da madeira. Estes materiais
são responsáveis muitas vezes por certas propriedades da madeira como: cheiro,
gosto, cor, etc. Embora estes componentes contribuem somente com uma pequena
porcentagem da massa da madeira, podem apresentar uma grande influência nas
propriedades e na qualidade de processamento das madeiras. Alguns componentes,
tais como os íons de certos metais são mesmo essenciais para a árvore viva.
As substâncias de baixo peso molecular pertencem a classes muito diferentes
em termos de composição química e, portanto, há dificuldades em se encontrar um
sistema claro e compreensivo de classificação.
Uma classificação simples pode ser feita dividindo-se estas substâncias em
material orgânico e inorgânico. O material orgânico é comumente chamado de
extrativos, e a parte inorgânica é sumariamente obtida como cinzas.
41

5. PROPRIEDADES FÍSICAS DA MADEIRA

5.1. Relação Água-madeira

A água pode existir na madeira como água higroscópica, no interior das células
ou, na forma de líquido ou vapor, no interior das cavidades celulares. A água na
forma líquida é normalmente denominada “água livre”, uma vez que a energia
necessária para sua remoção é aproximadamente igual à energia necessária para
evaporar uma determinada massa de água contida num recipiente aberto para a
atmosfera. A água contida no interior das paredes celulares requer uma quantidade
maior de energia para a sua remoção, pois as moléculas de água se encontram
ligadas por ligações hidrogênio aos grupos hidroxilas da cadeia celulósica. A
característica higroscópica da madeira é função da capacidade que os sítios
higroscópicos da parede celular têm de se ligarem a moléculas de água, através das
pontes de hidrogênio.
A água na madeira pode ser encontrada sob três formas diferentes:

5.1.1. Água livre ou capilar

A água capilar, como a própria denominação se refere, movimenta-se de


acordo com os fenômenos de capilaridade. As fibras da madeira são unidas entre si
através de aberturas denominadas pontuações e, a madeira se comporta como um
feixe de capilares no que diz respeito à retirada da água. O maior obstáculo para
retirada da água capilar é a permeabilidade da madeira, quando as pontuações das
fibras e os vasos estão obstruídos ou são de tamanhos muito reduzidos, impedindo
a passagem do líquido. A água capilar ou água livre ocupa as cavidades celulares e,
num processo de secagem, á a água mais facilmente retirada da madeira verde. A
retirada dessa água não implica em maiores efeitos na variação dimensional da
madeira, nem em suas propriedades mecânicas.

5.1.2. Água de adesão

A segunda forma de ocorrência de água na madeira é a água adsorvida na


parede celular. A água de adsorção está unida à estrutura celulósica da madeira por
42

forças em sua superfície. Quando toda a água capilar da célula for retirada, mas a
sua parede permanecer saturada ocorrerá o ponto de saturação das fibras (PSF).
Este termo se refere à umidade das paredes de uma célula a não à peça de
madeira. O ponto de saturação das fibras varia muito entre as espécies, em função
da estrutura e da composição química das madeiras envolvidas. Assim é comum se
perceber que:
- Madeiras de folhosas, de porosidade difusa, sem cerne distinto, apresentam o
PSF variando entre 32 a 35%;
- Madeiras de folhosas, de porosidade em anel ou anéis semi-porosos, com
cerne distinto, apresentam o PSF variando de 22 a 24%;
- Madeiras de coníferas, com cerne indistinto, apresentam o PSF variando de
30 a 40%;
- Madeiras de coníferas, com cerne distinto e alto teor de resina, apresentam o
PSF variando de 26 a 28%;
- Madeiras de raízes extremamente leves, com poros muito finos, podem
apresentar PSF até de 50%.
Em função da variabilidade, pode-se admitir um valor numérico de 30% para o
PSF de todas as espécies. O PSF é extremamente importante nos aspectos
tecnológicos que envolvem a utilização da madeira. É a partir dos pontos de
saturação das fibras até a completa secagem das fibras que ocorrem alterações
significativas nas propriedades físicas e mecânicas da madeira; em virtude da
umidade removida abaixo desse ponto ser proveniente da parede celular, o PSF é o
nível de umidade que a madeira começa a se contrair. Removendo-se a umidade, as
unidades estruturais se aproximam, aumentando significativamente a quantidade de
ligações hidrogênio. A partir do PSF é necessária mais energia para evaporar a
água porque a atração entre a madeira e a água tem de ser vencida.
3) Água de constituição: a água de constituição é a água mais firmemente
presa à madeira e não é removida durante a secagem natural. Ela não é realmente
água até que todo o material celulósico seja aquecido em condições drásticas, onde
degradações térmicas ocorram, resultando na quebra de grupos hidroxílicos para
formar água. A água de constituição participa da natureza orgânica da parede
celular e não é removida durante a secagem porque faz parte da madeira. Para
retirá-la é necessário quebrar a estrutura ou carbonizar a madeira. A mesma não
desempenha papel importante nas propriedades físicas e mecânicas da madeira.
43

- Umidade relativa do ar e Umidade de equilíbrio da madeira:


A madeira é um material higroscópico, isto é, possui a habilidade de tomar ou
ceder umidade em forma de vapor; assim, quando a madeira está úmida, perde
vapor d’água para a atmosfera, e, quando está seca, absorve vapor d’água do
ambiente que a rodeia. Existe, no entanto, uma situação em que a madeira não
perde, nem absorve água do ar, ou seja, quando a umidade da madeira está e
equilíbrio com a umidade relativa do ar. Este ponto é o denominado de umidade de
equilíbrio da madeira (UEM) ou umidade de equilíbrio higroscópico (UEH). Torna-se
necessário, pois, conhecer as variações climáticas da região onde a madeira será
utilizada, principalmente para usos mais nobres, tais como móveis, esquadrias,
assoalhos, instrumentos musicais, carrocerias de caminhão e outros nos quais a
madeira deva ser usinada, unida com cola, prego ou parafuso, ter acabamento
superficial e estabilidade dimensional. Com os valores médios de umidade relativa e
temperatura do ar é bem possível determinar-se a umidade de equilíbrio da madeira
em tabelas.
A umidade relativa do ar (UR) é definida como sendo a relação percentual
entre a pressão parcial de vapor de água (P) e a pressão de saturação (Ps) à uma
mesma temperatura:

UR = (P/Ps) x 100

De posse da umidade relativa do ambiente, pode-se, por meio de isotermas,


prever a umidade de equilíbrio da madeira para um determinado local:
44

Figura 17. Relação entre a umidade de equilíbrio da madeira e a umidade


relativa para várias temperaturas.

Como orientação prática, a UEM (%) pode ser fornecida, com valores próximos
ao real, através da seguinte expressão:

UEM = UR/5

Essa expressão fornece bons resultados para a umidade relativa variando


entre 20 e 80% e para a temperatura variando entre 20 e 30%. Como exemplo, se
uma determinada região apresenta valores médios de umidade relativa de 60% e
temperatura do ar de 25 °C, a umidade de equilíbrio da madeira será de
aproximadamente 12%.

5.2. Teor de Umidade

Durante o seu ciclo de vida, as árvores continuamente absorvem a água do


solo que circula pelos seus constituintes celulares, especialmente os vasos e
traqueídes, deslocando-se até as folhas, para que seja possível a fotossíntese e
garanta a própria sobrevivência do vegetal. A madeira de uma árvore recém abatida
contém uma considerável quantidade de água que, para a maioria dos casos de
utilização, deve ser substancialmente removida. Embora não se possa considerar a
45

umidade como uma característica intrínseca da madeira, a determinação do seu teor


é indispensável por se tratar de um parâmetro que afeta o comportamento do
material durante as fases de trabalhabilidade, secagem, preservação, durabilidade e
combustibilidade. As fases de manuseio, transporte e beneficiamento da madeira
também são afetadas pelo seu teor de umidade. A variação no teor de umidade
afeta a geometria das peças em serviço, em virtude da intumescência e retração,
influenciando significativamente nas características de resistência mecânica dos
elementos estruturais.
Existem inúmeras exceções, mas a maioria dos trabalhos realizados leva a
conclusão que: i) O teor de umidade, principalmente nas coníferas, aumenta no
sentido base-topo; ii) O teor de umidade, principalmente nas folhosas, aumenta no
sentido medula/casca; e iii) O teor de umidade do alburno é significativamente
superior ao do cerne.

- Métodos de determinação do teor de umidade:


O teor de umidade da madeira é normalmente definido como a quantidade de
água da madeira, expressa em porcentagem, baseada na massa da madeira seca
em estufa a 103±2 °C de temperatura. O método universalmente aceito para a
determinação do teor de umidade é o da secagem em estufa, tornando-se como
base o teor de umidade a partir das massas obtidas das peças antes e após terem
sido completamente secas em estufa. Normalmente, os corpos de prova utilizados
apresentam as dimensões nominais de 2 x 2 x 3cm.
Embora muito simples, o conceito de teor de umidade da madeira poderá, em
alguns casos, ser incorretamente interpretado, uma vez que este conceito pode ser
expresso sob duas formas distintas:
1) Teor de umidade em relação à massa de madeira completamente seca
(Base seca): Muito utilizado na área de tecnologia de transformação da madeira
sólida (serraria, carvão etc.) – e é definido como:

UBS (%) = {[mu – ms] / ms} x 100


Onde:
UBS = Teor de umidade base seca (%);
mu = massa da amostra de madeira úmida (g);
46

ms = massa da amostra de madeira completamente seca em estufa a 103±2


°C até peso constante (g).

2) Teor de umidade em relação à madeira úmida (Base úmida): Normalmente


usado na indústria de celulose e papel – e é obtido através da relação entre a massa
de água existente na madeira e a massa total de madeira mais água. A expressão
que descreve matematicamente tal conceito é:

UBU (%) = {[mu – ms] / mu} x 100


Onde:
UBU = Teor de umidade base úmida (%);
PU = massa da amostra de madeira úmida (g);
PS = massa da amostra de madeira completamente seca em estufa a 103±2 ºC
até peso constante (g).

Os dois conceitos de teor de umidade (base seca e base úmida) podem se


relacionados através da seguinte expressão:

UBU (%) = 1- [UBS/ (100 + UBS)] x 100


Onde:
UBU = teor de umidade base úmida (%)
UBS = teor de umidade na base seca (%)

- Outros métodos de determinação:


1) Métodos da destilação: O teor de umidade é determinado volumetricamente,
utilizando-se produtos químicos específicos como xileno ou tolueno, que atuam
como extratores por não se misturarem com a água contida na madeira. São mais
indicados para madeiras que contenham extrativos voláteis.
2) Medidores elétricos: São aparelhos de grande utilidade por determinarem a
umidade imediata da madeira. Seu princípio está baseado na resistência a
passagem de corrente elétrica que varia inversamente com a umidade da madeira.
São muito práticos e rápidos não sendo necessário cortar a madeira. Possuem
agulhas q são introduzidas na madeira fornecendo a leitura analógica ou digital,
dependendo do aparelho utilizado, através de um mostrador. São mais precisos
47

dentro de uma faixa de umidade que varia entre 7 e 30%. São influenciados pelo tipo
de espécie (densidade) e pela temperatura ambiente, com isso a maioria dos
aparelhos elétricos precisam ser ajustados para cada tipo de madeira e local (curvas
internas).
3) Método de Karl Fischer: fundamenta-se na determinação iodométrica da
água que é removida da madeira por destilação.
4) Método Higrométrico: A umidade da madeira é determinada introduzindo-se
um higrômetro em um orifício previamente aberto na madeira. Sela-se este orifício e
após a umidade da madeira entrar em equilíbrio com o ar contido no seu interior, o
teor de umidade da madeira é obtida.
5) Método da Radiação Nuclear: Utiliza um gerador de nêutrons de alta
velocidade, os quais são dirigidos para a madeira. Parte destes nêutrons tem sua
velocidade diminuída pelas moléculas de hidrogênio presentes nas moléculas de
água, e a sua contagem é efetuada através de um detector. Como o teor de
umidade é avaliado em função do peso da madeira, a sua densidade deve ser
medida, sendo efetuada através de radiação gama. Para isso, um feixe de raios
gama é dirigido para a madeira e a intensidade de radiação refletida através do
material, que é inversamente proporcional a sua densidade, é medida por um
detector. Os dados dos dois detectores combinados fornecem o teor de umidade da
madeira.
6) Micro-ondas: O sistema mede o teor de umidade por meio de micro-ondas.
Todo o conteúdo de água do material é captado. O sistema usa um método pelo
qual o teor de água é determinado pelos desvios de ressonância, e não por
aquecimento.

5.3. Anisotropia

Além do fato da variação do teor de umidade da madeira causar alterações em


suas dimensões, estas alterações se dão em proporções diferentes segundo os três
sentidos anatômicos da madeira, o que a caracteriza um material anisotrópico.
Assim, o controle do teor de umidade da madeira é indispensável para que
possamos utilizá-la de forma adequada, evitando o desenvolvimento de defeitos
como empenamentos, arqueamentos, torções, etc. Estes defeitos são comumente
48

observados em artigos de madeira confeccionados antes da madeira entrar em


equilíbrio higroscópico com as variáveis do ambiente (temperatura e umidade
relativa do ar) em que estes artigos serão mantidos em uso.
O teor de umidade da madeira também está relacionado com as propriedades
de resistência da madeira (propriedades mecânicas), com a maior ou menor
facilidade em trabalhar com este material (trabalhabilidade), com seu poder
calorífico, sua susceptibilidade a fungos, entre outras propriedades de importância.
A maioria das propriedades da madeira independe do seu teor de umidade,
enquanto este se situa acima do PSF. No entanto elas passam a ser bem
relacionadas com o teor de umidade quando este se encontra abaixo do PSF, pois a
partir daí, até 0% de umidade, a madeira se contrairá e, de forma geral, se tornará
mais resistente. A retirada da água livre pouco altera a madeira além de seu peso
próprio, pois somente esvazia os seus lumes e espaços intercelulares.
A mudança de volume da madeira verificada entre 0%U e o PSF (água
higroscópica), devido aos processos de dessorção ou de adsorção, é considerada
uma de suas propriedades físicas mais importantes, afetando e limitando
consideravelmente o seu uso industrial em vários ramos de utilização.
O aumento de volume (inchamento) deve-se principalmente à inclusão de
moléculas de água nos espaços submicroscópicos da parede celular, entre as
micelas (feixes formados por moléculas de celulose) e nas suas regiões amorfas,
afastando-as e, consequentemente, alterando as dimensões da madeira. Da mesma
forma, a diminuição do volume (contração) deve-se à retirada das moléculas de
água dos espaços submicroscópicos mencionados, ocasionando a aproximação das
micelas e das moléculas que as constituem e a consequente retração da madeira.
A anisotropia traz como consequência diferentes valores para o inchamento e
para a contração nos três sentidos de orientação da madeira. Esta diferença se deve
a estrutura anatômica da madeira. A maior alteração dimensional se manifesta no
sentido tangencial, depois no sentido radial e finalmente no longitudinal, que por ser
tão baixa, é normalmente negligenciada na prática. As relações entre as contrações
verificadas nos diferentes sentidos indicam: 10 (tangencial): 5 (radial): 0,1
(longitudinal).
A pequena alteração no sentido longitudinal explica-se por estar a maioria dos
elementos estruturais constituintes da madeira organizados verticalmente, o que faz
com que o número de paredes por cm2 seja bem menor neste sentido. Além disso,
49

cada fibra de madeira tende muito pouco a se contrair axialmente devido a


inclinação das microfibrilas de celulose constituintes da parede celular propiciarem a
contração da célula em sua seção, e não na direção do seu comprimento. Algumas
vezes podem mesmo ocorrer contrações negativas ao longo da grã, isto é, a
madeira pode ter dimensão axial um pouco maior na condição seca que verde. Na
Figura 18, pode-se observar o comportamento físico sofrido pela madeira devido a
anisotropia após a secagem.

Figura 18. Comportamento anisotrópico da madeira

A anisotropia de contração é a relação entre a contração máxima tangencial e


a contração máxima radial. O coeficiente de anisotropia para as madeiras mais
estáveis varia de 1,3 a 1,4, mas para madeiras de eucalipto, principalmente aquelas
provenientes de árvores jovens e de rápido crescimento, os índices podem chegar a
3, tornando-as extremamente instáveis dimensionalmente. Existe um critério de
classificação quanto ao fator anisotrópico: madeiras com fatores menores que 1,5
são consideradas madeiras muito estáveis, ocorrendo em madeira de cedro,
sucupira e mogno; fatores entre 1,6 a 2,0 são consideradas madeiras de média a
baixa estabilidade, ocorrendo em ipê, pinus, araucária, peroba-rosa e teca; fatores
50

entre 2,0 a 2,5 são consideradas madeiras de média a alta estabilidade; e fatores
acima de 2,6 são consideradas madeiras muito instáveis, ocorrendo em araucária,
imbuia, jatobá e eucalipto.

5.4. Retratibilidade

A retratibilidade é o fenômeno da variação dimensional que ocorre na madeira


quando ocorre uma redução no seu teor de umidade abaixo do ponto de saturação
das fibras.
A razão entre a contração tangencial e a radial é considerada um índice muito
importante no estudo da retratibilidade, uma vez que, quanto maior esta relação,
maior será a tendência de fendilhamento e empenamento da madeira. As
contrações no sentido radial e tangencial são maiores porque a água de
impregnação se encontra infiltrada nos espaços existentes e nas espirais
constituídas de grandes cristais (fibrilas) e, quando a madeira perde essa água,
deixa espaços que tendem a se aproximar, devido à força de coesão, segundo as
direções normais ao eixo longitudinal das células.
Precauções especiais devem ser tomadas nas situações em que se exige a
estabilidade da madeira. Em edificações, pisos, esquadrias, portas e móveis em
geral, podem ocorrer sérios prejuízos, chegando, mesmo, a inviabilizar o produto
final se não se faz a correta secagem até a umidade de equilíbrio das condições de
uso.
Existem várias explicações sobre a causa do aumento da contração com a
temperatura. Uma das razões poderia ser a diminuição do teor de umidade de
equilíbrio, mas tal fator causaria um aumento de contração menor que 1% e, na
realidade, o aumento de contração é muito maior que esse valor. Outros fatores
podem contribuir para explicar a contração da madeira:
- presença do colapso da parede celular, devido às forças capilares que
excedem a resistência à compressão da madeira no sentido perpendicular às fibras;
- uma parte da contração é, na realidade, um compressão residual resultante
das tensões desenvolvidas durante a secagem;
- há uma degradação térmica parcial do material.
51

Apesar de a retratibilidade volumétrica expressar a variação total ocorrida na


variação higroscópica, as contrações lineares que ocorrem ao longo dos planos de
orientação da madeira são, na maioria das vezes, mais importantes e, por serem
diferentes, tornam a madeira um material anisotrópico. Atenção maior deve ser dada
à movimentação transversal das madeiras, uma vez que estas se diferem conforme
as direções tangencial ou radial, sendo a primeira maior que a segunda. Os valores
da contração tangencial oscilam em torno do dobro dos valores encontrados na
contração radial, podendo chegar ao triplo, em casos extremos, como no caso da
madeira de eucalipto, e são vinte vezes maior que os detectados no sentido
longitudinal ou axial. A contração da madeira deixa de observar as regras normais
de anisotropia quando a temperatura aumenta. Segundo tais autores, nem sempre a
contração tangencial é sempre maior que a contração radial; com o aumento da
temperatura, a contração em espessura é sempre maior do que em largura,
independentemente da orientação (radial ou tangencial). Esse fenômeno se baseia
no fato de que as células da superfície de um corpo submetido à secagem ficam
restritas a contrair em largura pelas células do interior (que estão com um teor de
umidade acima do PSF), enquanto a contração em espessura se processa
livremente.
Os valores de retratibilidade obtidos na direção axial ou longitudinal são muito
pequenos e dificilmente ultrapassam 1% para as madeiras comuns, inclusive o
eucalipto. A retratibilidade longitudinal da madeira de algumas espécies de eucalipto
apresenta os seguintes valores: Eucalyptus paniculata (0,9), E. urophylla (1,1), E.
tereticornis (0,9), Corymbia citriodora (0,8) e E. cloeziana (0,6%). Os valores médios
para contração longitudinal total estão entre 0,1 e 0,2% para a maioria das espécies.
Valores mais elevados podem ser esperados quando se encontra madeira anormal,
como lenho de reação, lenho juvenil e de grã revessa. Tais alterações na contração
são devidas ao ângulo microfibrilar que aumenta proporcionalmente aos seus
valores. A madeira de Eucalyptus grandis, de povoamentos jovens, possui baixa
estabilidade dimensional.
A madeira de eucalipto, por ser de crescimento rápido, está ligada a contrações
excessivas, com o aparecimento de defeitos de secagem, como empenamentos e
fendilhamentos, que tendem a ser maiores em madeira de densidade mais baixa.
Existem diversas maneiras para se melhorar a estabilidade dimensional da madeira.
Dentre os métodos mais simples, destacam-se a proteção das superfícies da
52

madeira com a aplicação de ceras, vernizes, lacas, tintas, parafina e breu, entre
outros produtos. Esses produtos devem ser utilizados somente quando a madeira se
encontra com a umidade de utilização ou umidade de equilíbrio local, dificultando a
absorção de umidade, tendendo minorar os problemas causados pela variação
dimensional. Tais produtos atuam somente como protetores superficiais, atuando
apenas como paliativo para proteger a madeira contra movimentação da umidade.
As características de retração da madeira diferem muito de espécie para
espécie, dependendo, em grande parte, das características intrínsecas da madeira e
de como se conduzir o processo de secagem. Para diminuir os efeitos da contração
da madeira após o processamento, a madeira deve ser seca no teor de umidade que
corresponda ao da sua aplicação e à do ambiente em que será utilizada, ou seja, no
teor de umidade de equilíbrio da madeira.

5.5. Densidade Básica e Aparente

A densidade da madeira é o resultado de uma complexa combinação dos seus


constituintes internos. É uma propriedade muito importante e fornece inúmeras
informações sobre as características da madeira, devido a sua íntima relação com
várias outras propriedades, tornando-se um parâmetro muito utilizado para qualificar
a madeira, nos diversos segmentos da atividade industrial.
A densidade é influenciada pelo tamanho das células e espessura de suas
paredes, proporção de madeira de lenho inicial e lenho tardio, quantidade de células
radiais, tamanho e quantidade dos vasos, quantidade proporcional de diferentes
tipos de células (fibras, traqueídes, vasos, dutos de resina e parênquima), teor de
umidade da peça de madeira, teor de extrativos, entre outros.
Nas folhosas pode ocorrer a presença de algumas substâncias minerais, como
cristais de oxalato de cálcio e sílica, que contribuem para o aumento da massa
específica da madeira. A presença de tilos (expansões vasculares de células
parenquimáticas que penetram no lume dos vasos, através das pontuações) causa
dificuldade na secagem e na preservação da madeira, obstruindo os caminhos
normais dos líquidos e aumentando consideravelmente a densidade da madeira.
No setor florestal comumente são usados os termos densidade básica e
aparente. A densidade básica é a relação entre a massa de madeira completamente
53

seca sobre seu volume completamente saturado e é utilizada em processos


termoquímicos, principalmente, nos setores de celulose e papel e carvão vegetal. Já
a densidade aparente é a relação entre massa e volume a um mesmo teor de
umidade, sendo estabelecido como referência os teores de umidade de 12% a 15%,
que correspondem ao equilíbrio higroscópico da madeira em condições do ambiente.
A densidade aparente é utilizada para madeira sólida, principalmente, para usos
como madeira serrada, marcenaria, movelaria e construção civil.
Densidade básica = Mseca/Vsat (g/cm3 ou kg/m³), em que Mseca é a massa
seca a 0% de umidade; Vsat é o volume saturado acima do PSF.
Densidade aparente12 = m12 / V12 (g/cm3 ou kg/m³), em que M 12 é a massa da
madeira ao teor de umidade de 12%; V12 é o volume da madeira ao teor de
umidade de 12%.
54

6. VARIABILIDADE DA MADEIRA

O conhecimento e a compreensão da variabilidade da madeira e das suas


relações com as propriedades têm grande importância porque fornecem subsídios
para as diversas áreas da ciência florestal, como o melhoramento, a silvicultura e os
diversos campos do setor industrial de base florestal. As informações geradas
poderão ser utilizadas para se melhorar a qualidade da madeira na floresta, como a
obtenção de matéria-prima mais homogênea e com características desejáveis para
uma utilização determinada.
O conhecimento das correlações entre as propriedades químicas, anatômicas e
físico-mecânicas e das variáveis que as afetam são de grande importância para uma
correta interpretação das variações que ocorrem na madeira, visando facilitar o
desenvolvimento de técnicas adequadas para a obtenção de uma matéria-prima
mais homogênea e com características desejáveis para um determinado produto
final.
A madeira é um material de extrema variabilidade, pois é originária de um
sistema biológico complexo. Suas propriedades anatômicas, química, física e
mecânica, variam significativamente entre espécies, entre árvores de uma mesma
espécie e, mesmo, entre diferentes partes de uma mesma árvore.
Dentro de uma mesma árvore, a variabilidade geralmente é ocorrida por causa
das mudanças sofridas pelo câmbio durante o envelhecimento e modificações
impostas pelas condições ambientais.

6.1. Fatores que Influenciam a Densidade Básica da Madeira

6.1.1. Influências internas (inerentes à madeira)

Algumas das principais causas determinantes das variações da densidade da


madeira são:

a) Espécie florestal:

Conhecendo-se a grande variabilidade da estrutura interna do lenho, é fácil


compreender que cada espécie possui uma densidade característica. O mesmo
também ocorre dentro de uma mesma espécie de madeira.
55

Como consequência da existência de variações na madeira, portanto, ao se


citar a densidade deste material, na verdade cita-se um valor médio para uma
espécie em particular ou seus valores mínimos e máximos. A lista de espécies de
madeira e de suas respectivas densidades, apresentadas na tabela a seguir, mostra
perfeitamente a variação natural da massa específica média entre espécies,
incluindo a madeira mais leve (balsa) e a mais pesada (Guaiaco) do mundo. O valor
mínimo e máximo da massa específica a 0%U (0,13 e 1,40 g/cm 3) constituem os
limites biológicos desta característica da madeira, não existindo massas específicas
mais altas ou mais baixas.

b) Umidade:

A um mesmo teor de umidade, a quantidade de água presente na madeira de


alta densidade será maior que a encontrada nas madeiras de menor densidade.
Como consequência disto, o tempo de secagem aumenta com a densidade.

c) Lenhos inicial e tardio:

As paredes delgadas das células da madeira do lenho inicial e as paredes


espessas das células do lenho tardio, principalmente nas coníferas, determinam
consideráveis diferenças na densidade dentro de uma mesma peça de madeira.
Nas folhosas, a diferença entre as densidades das madeiras de lenho inicial e
lenho tardio é bem menos pronunciada que nas coníferas. Exemplo: Fraxinus
excelcior - madeira com porosidade em anel: Massa específica do lenho inicial =
0,57 g/cm3; Massa específica do lenho tardio = 0,75 g/cm3.

d) Largura dos anéis de crescimento:

A largura dos anéis de crescimento não é uma referência segura para


avaliação das propriedades da madeira, porém, para a maioria das coníferas e
folhosas com porosidade difusa, quanto mais largos os anéis de crescimento, maior
será a proporção de lenho inicial e menor será a massa específica da madeira.
56

Desta forma, a densidade aparente da madeira de coníferas e de folhosas com


porosidade difusa aumenta com a diminuição da largura dos anéis de crescimento.
Em folhosas com porosidade em anel se dá ao contrário, pois os poros de grandes
diâmetros se localizam apenas no início do lenho inicial (região com massa
específica mais baixa deste lenho). Assim, quanto mais largo o anel, menor será a
proporção de madeira com mais porosidade dentro do lenho inicial do mesmo anel
de crescimento, enquanto o volume e massa do restante do lenho inicial e do lenho
tardio permanecem inalterados.
A variação em densidade do lenho inicial em folhosas com porosidade em anel
se explica pelo fato do lenho inicial se dividir em duas partes distintas, a saber: a) a
muito porosa, desenvolvida imediatamente a seguir do lenho tardio do anel
adjacente anterior, limitando-se apenas a alguns vasos em largura e; b) a sem
nenhum vaso desenvolvido imediatamente a seguir, com maior massa específica em
relação ao lenho inicial poroso. Assim sendo, independente da largura do lenho
tardio dentro de um anel de crescimento, quanto maior for a largura do lenho inicial,
maior será a densidade deste lenho e do anel de crescimento, pois menor será a
proporção de madeira porosa dentro do lenho inicial do mesmo anel.
Por outro lado, folhosas com porosidade difusa quase não mostram variação
neste sentido, devido à distribuição e aos tamanhos dos vasos se darem de forma
homogênea dentro dos anéis de crescimento.

e) Idade:

Neste tópico, será abordado o efeito da idade das árvores sobre as


propriedades físicas, anatômicas, químicas e energéticas da madeira, visto que esse
é um fator que modifica consideravelmente as propriedades do material de origem,
em função das alterações marcantes que ocorrem na madeira ao longo dos anos,
até atingir sua maturidade.
O crescimento das árvores ocorre mediante sucessivas divisões celulares nos
meristemas apical e cambial. O meristema apical, ou primário, tem a função
primordial do crescimento em altura, enquanto o câmbio, ou meristema secundário,
responde pelo crescimento em diâmetro da árvore. O câmbio está localizado entre o
lenho e a casca e consiste em dois sistemas de células que se interpenetram, as
57

iniciais fusiformes (eixo longitudinal) e as iniciais radiais (eixo transversal). À medida


que os anos avançam e o crescimento das árvores progride, modificações ocorrem
na porcentagem de madeira juvenil presente no lenho, o que interfere incontestável
e diretamente nas propriedades da madeira.
De maneira geral, as empresas de base florestal estipulam uma idade de corte
com base na produtividade volumétrica do povoamento, desconsiderando a variação
da qualidade da madeira que ocorre também em função da idade da floresta.
Portanto, vale ressaltar que o conhecimento aprofundado sobre o efeito da idade
nas propriedades da madeira de eucalipto torna possível determinar a época ideal
de corte, com base nas características e na qualidade desejada para o uso ao qual
será destinada a madeira colhida.
Pesquisar o efeito da idade nas propriedades da madeira é uma experiência
desafiadora. O desafio começa em campo, na condução das parcelas
experimentais. Ressalta-se a importância de manter os mesmos critérios, protocolos
e metodologias no que diz respeito tanto ao manejo em campo quanto às análises
das amostras de madeira nas diferentes idades. Os critérios de seleção das árvores
em campo, a coleta desses indivíduos e a identificação das amostras são pontos
relevantes para esse tipo de estudo. Algumas questões devem ser consideradas: a
mesma equipe conduziu as avaliações durante todos os anos? Os critérios de
condução das árvores em campo foram modificados? A amostragem das árvores foi
igual? A evolução dos dados de altura e diâmetro das árvores é plausível entre as
idades?
O planejamento a longo prazo é imprescindível no estudo da influência da
idade nas propriedades da madeira. Na maioria dos casos, são as empresas
privadas que detêm as parcelas experimentais e que fornecem o material para
pesquisa. Porém, muitas vezes, as prioridades das empresas são alteradas, o que
interfere na alocação de recursos para manutenção dos experimentos e
consequentemente na disponibilidade de amostras para as análises, o que pode
alterar o objetivo final da pesquisa.
Desta forma, o ideal é iniciar o estudo e as análises do material apenas quando
as amostras de todas as idades estiverem coletadas e disponíveis e utilizar sempre
a mesma forma de amostragem. As tensões de crescimento e de secagem da
madeira de eucalipto podem provocar rachaduras e outros defeitos nas amostras, e
58

isso tem que ser considerado na definição da melhor forma de estocagem do


material.
Outro desafio é a reduzida quantidade de informações disponíveis a respeito
das mudanças nas propriedades da madeira de eucalipto de idade mais avançada
plantado no Brasil, uma vez que o melhoramento genético das espécies está focado
nos setores de celulose e carvão vegetal, que utilizam a madeira oriunda de
plantações de curta rotação.
O setor de madeira serrada, que emprega madeira de eucalipto para produtos
sólidos, é carente de pesquisas, o que dificulta a disponibilidade de informações da
influência da idade nas propriedades da madeira de eucalipto em idades superiores
a 10 anos.
A densidade básica, resultante da interação entre características anatômicas e
propriedades químicas da madeira, é uma propriedade física frequentemente
estudada, por ter efeito direto sobre o desempenho operacional e financeiro de
produção fabril e sobre o consumo específico de madeira, por responder às práticas
de manejo, tratos silviculturais e condições ambientais e por correlacionar-se com
outras propriedades da madeira.
A densidade da madeira apresenta incremento quantitativo ao longo dos anos.
Tal propriedade é influenciada pelo número e tamanho de células diversas,
pela espessura da parede celular, bem como pela quantidade de extrativos
presentes na madeira. O progredir dos anos traz como consequência à madeira o
aumento do comprimento e da espessura da parede das fibras, além do acúmulo de
substâncias extratáveis no lume e nas paredes celulares, o que contribui para o
incremento nos valores de densidade da madeira de eucalipto.
É esperado que a densidade básica da madeira aumente com maior
intensidade nas fases mais jovens do material genético, enquanto os menores
incrementos serão alcançados em idades superiores aos 4 ou 5 anos, e tenda à
estabilização em idades mais avançadas.
Em razão da associação dos elementos anatômicos a outras propriedades da
madeira, o conhecimento da forma, da dimensão e da organização das células que
compõem o lenho é fundamental na definição do uso específico do material.
Tratando-se da madeira de folhosas, este entendimento torna-se ainda mais
básico, vistas a diversidade e a complexidade de sua estrutura.
59

A maior porção do lenho é constituída por fibras, que são responsáveis pela
rigidez e pela resistência da madeira. A morfologia desse elemento anatômico varia
tanto entre as árvores quanto dentro delas e pode ser influenciada por fatores
genéticos e silviculturais, bem como pela idade de corte da madeira.
No decorrer da vida da árvore, as fibras da madeira se alongam em
consequência do aumento do comprimento das células que as originam,
denominadas iniciais fusiformes.
Contudo, este comprimento se manterá constante após as células do câmbio
atingirem o incremento máximo, o que corresponde ao início da formação do lenho
adulto.
A espessura da parede celular, por sua vez, está ligada a fatores genéticos e
ambientais, assim como à idade da árvore e à densidade da madeira. Quanto maior
a espessura da parede celular das fibras, maior também será a densidade, em
função dos menores espaços vazios na estrutura da madeira.
Os vasos correspondem à soma de vários elementos de 0,02 a 0,5 milímetros.
Assim como as fibras, eles compõem as principais células que formam a madeira,
sendo responsáveis pelo transporte de água e nutrientes na árvore. As dimensões e
frequência dessas células são, em geral, influenciadas por idade, material genético e
local de crescimento.
As características anatômicas dos vasos no lenho das árvores de eucalipto
influenciam diretamente os processos fisiológicos de transporte de seiva e as
propriedades da madeira, o que afeta sua aplicabilidade nos diversos ramos da
indústria, como no da produção de polpa celulósica e papel, em que exercem
expressiva importância no processo de penetração do licor, na densidade e na
qualidade final dos papéis de impressão, além de no setor de preservação de
madeira, em que as dimensões e a ausência de obstruções nos vasos são
fundamentais para a penetração dos produtos químicos.
Ao se considerar o aspecto fisiológico, as alterações no diâmetro e na
frequência dos vasos ocorrem devido à necessidade das plantas de aumentarem
sua capacidade de condução de água e sais minerais de acordo com seu
crescimento. Em relação ao aspecto tecnológico, essas modificações interferem nas
propriedades físico-mecânicas, na secagem e no processo de polpação e
preservação da madeira, por exemplo.
60

Mediante as diferenças de idade entre os estudos supracitados, pode-se inferir


que, nas idades mais jovens, a variação das dimensões dos vasos é maior e tende a
diminuir com o decorrer dos anos, devido à estabilização dos elementos anatômicos
da madeira na fase adulta. Ou seja, em idades mais jovens, com predomínio de
lenho juvenil no diâmetro das árvores, os vasos são mais frequentes e com menores
diâmetros tangenciais, e, à medida que a idade avança e ocorre o incremento
diamétrico, uma rápida redução da frequência e o aumento proporcional do diâmetro
dos vasos podem ser percebidos até a idade ou a região de transição, o que causa
uma alta variação nos valores dessas características. Após a transição do lenho
juvenil para o adulto, ocorre uma estabilização na frequência e no diâmetro
tangencial dos vasos, que agora são menor e maior, respectivamente, em relação
ao lenho mais próximo da medula da árvore. Porém, as variações com a idade, após
a transição, são diminuídas.
A madeira apresenta uma composição química complexa, caracterizada pela
presença dos componentes elementares (carbono, hidrogênio, oxigênio e
nitrogênio), macromoleculares (holocelulose e lignina) e acidentais (extrativos e
cinzas). A concentração desses componentes químicos também é influenciada pela
idade das árvores.
A lignina é o segundo constituinte mais abundante nas plantas e desempenha
um importante papel no suporte mecânico (resistência e rigidez) e na defesa contra
microrganismos. Este polímero confere, ainda, hidrofobicidade às paredes celulares,
o que auxilia na redução das alterações dimensionais da madeira.
A deposição da lignina na parede celular é regulada de forma espaçotemporal
e pode ser desencadeada tanto por estresses bióticos quanto abióticos. Para a
indústria de polpa celulósica e papel, a lignina é o componente presente na madeira
menos desejável, visto que seu alto teor implica um maior gasto de reagentes. Já
para a produção de energia e carvão vegetal, a lignina, por apresentar alto poder
calorífico e resistência à degradação térmica, contribui significativa e positivamente.
O aumento do teor de lignina com a maturidade das árvores ocorre pela
incorporação de unidades hidroxifenila e guaiacila nas fases de deposição, Foi
observada ainda redução da relação siringila/guaiacila, o que significa aumento na
quantidade do grupo guaiacil da lignina com o avanço da idade.
Os extrativos, também conhecidos como componentes acidentais, secundários
e/ou estranhos da madeira, estão presentes em pequena quantidade e não integram
61

a parte estrutural da parede celular ou lamela média. Resultantes das alterações que
ocorreram com os carboidratos durante o processo fisiológico da árvore, os
extrativos influenciam na densidade básica da madeira, como também nas
propriedades energéticas, na durabilidade, cor e permeabilidade, e podem variar em
quantidade e composição, dependendo dos fatores: espécie, localidade e idade da
árvore.
O elevado teor de extrativos na madeira é indesejável para a produção tanto de
carvão vegetal quanto de celulose. A degradação dos extrativos acontece ainda em
baixas temperaturas de carbonização, reduzindo assim o rendimento gravimétrico do
carvão. A presença dessas substâncias pode também potencializar a formação de
aglomerados de pitch nos equipamentos da indústria de polpa celulósica e papel,
além de exigir maiores quantidades de reagentes químicos durante o processo de
cozimento e afetar o potencial de absorção de líquidos do papel.
O elevado teor de extrativos na madeira é indesejável para a produção tanto de
carvão vegetal quanto de celulose. A degradação dos extrativos acontece ainda em
baixas temperaturas de carbonização, reduzindo assim o rendimento gravimétrico do
carvão. A presença dessas substâncias pode também potencializar a formação de
aglomerados de pitch nos equipamentos da indústria de polpa celulósica e papel,
além de exigir maiores quantidades de reagentes químicos durante o processo de
cozimento e afetar o potencial de absorção de líquidos do papel.
As características anatômicas dos vasos no lenho das árvores de eucalipto
influenciam diretamente os processos fisiológicos de transporte de seiva e as
propriedades da madeira, o que afeta sua aplicabilidade nos diversos ramos da
indústria, como no da produção de polpa celulósica e papel, em que exercem
expressiva importância no processo de penetração do licor, na densidade e na
qualidade final dos papéis de impressão, além de no setor de preservação de
madeira, em que as dimensões e a ausência de obstruções nos vasos são
fundamentais para a penetração dos produtos químicos.
Ao se considerar o aspecto fisiológico, as alterações no diâmetro e na
frequência dos vasos ocorrem devido à necessidade das plantas de aumentarem
sua capacidade de condução de água e sais minerais de acordo com seu
crescimento. Em relação ao aspecto tecnológico, essas modificações interferem nas
propriedades físico-mecânicas, na secagem e no processo de polpação e
preservação da madeira, por exemplo.
62

Para a indústria de polpa celulósica e papel, a lignina é o componente presente


na madeira menos desejável, visto que seu alto teor implica um maior gasto de
reagentes.

6.1.2. Influências externas

Entre as principais influências do ambiente sobre as árvores, temos:


a) Local de crescimento:
Clima, solo (umidade e nutrientes), altitude, declividade, vento, espaçamento,
associação de espécies, etc., todas são variáveis que influenciam na taxa de
crescimento das árvores ou em suas formas de desenvolvimento. Por consequência,
de forma direta ou indireta estes fatores afetam a densidade da madeira em
formação.
Como exemplo da influência do local de plantio, podem-se citar as
propriedades modificadas da madeira de reação: Segundo a literatura a massa
específica do lenho de compressão (em coníferas) ultrapassa o da madeira normal
em 13 a 14 %, e a do lenho de tração (em folhosas) é cerca de 12 % mais alta que a
de madeira normal. Fenômeno semelhante ocorre na base dos ramos, onde também
se forma este tipo de lenho anormal.

b) Métodos silviculturais:
Similarmente ao subitem anterior, práticas de adubação, poda, desbaste,
composição de espécies, etc., também afetam a densidade, por influenciarem
diretamente na taxa de crescimento das árvores e na forma de desenvolvimento do
xilema de seus fustes.
63

7. DEFEITOS DA MADEIRA

7.1. Alterações de Cor

A morte prematura das células parenquimáticas do alburno, em consequência


de ferimentos e temperaturas extremas, pode ser um dos motivos para o surgimento
de anomalias da cor que depreciam ou, em certos casos, valorizam a madeira.
Fungos e bactérias também são causadores de manchas e alterações da coloração
natural. Muitas madeiras, especialmente as de cor clara, são suscetíveis, após o
abate, ao aparecimento de manchas azuladas de origem fúngica.

7.2. Bifurcação

Constitui defeito sobretudo sob o aspecto econômico, por reduzir o volume


aproveitável das toras. Na árvore viva, a bifurcação é uma parte suscetível a
apodrecimentos devido à ferimentos na casca, rachaduras e acúmulo de água que
frequentemente ocorrem nesta região (Figura 19). Os principais responsáveis por
esta formação são desenvolvimentos apicais próximos, perda repetida da gema
terminal por roeduras, ataques de insetos, geadas tardias e predisposição natural a
esta formação. Desenhos ornamentais especiais surgidos nas zonas de bifurcação
em decorrência do desvio dos tecidos são muitas vezes especialmente procurados
para fins decorativos.
64

Figura 19. Bifurcação em árvores vivas.

7.3. Conicidade Acentuada

A forma ideal do tronco é a cilíndrica, mas a conicidade é uma característica


normal em certas árvores, devido à própria natureza do seu crescimento. Quando o
adelgaçamento do fuste é abrupto, torna-se menor o aproveitamento possível da
madeira. Na prática, a conicidade é considerada defeito quando a partir do segundo
metro, medido até a copa, o diâmetro diminui mais de um centímetro por metro de
comprimento.
Peças de madeira provenientes de árvores com acentuada conicidade
apresentam grã oblíqua. A origem deste defeito pode ser atribuída a vários fatores:
características próprias da espécie; idade da planta; influências externas, que façam
com que a árvore desenvolva de forma acentuada a base do tronco para melhor
resistir à injúria; copa de grandes dimensões; etc.
Árvores que crescem isoladas são mais cônicas do que as que se
desenvolvem em povoamentos. Este defeito pode ser em parte controlado por
medidas silviculturais adequadas, como podas, espaçamento, etc.

7.4. Crescimento Excêntrico

Caracteriza-se por uma medula acentuadamente deslocada do centro do


tronco (Figura 20). Os anéis de crescimento apresentam largura variável e as zonas
65

de lenho inicial e tardio são pouco diferenciadas. Pode ser provocado pelo vento,
pela ação da gravidade em árvores que crescem obliquamente, forte insolação
lateral, crescimento unilateral da copa, etc.
As desvantagens decorrem das propriedades desiguais da madeira, bem como
do lenho de reação que frequentemente acompanha este defeito.

Figura 20. Crescimento excêntrico do tronco, denotando a medula deslocada.

7.5. Lenho de Reação

Árvores que se desenvolvem sob o efeito de esforços externos contínuos


formam tipos especiais de lenho, provavelmente devido a um estímulo assimétrico
de hormônios de crescimento, visando compensar o esforço imposto.
Este tipo especial de lenho tem o nome genérico de lenho de reação. Nas
gimnospermas, o lenho de reação surge sempre na porção sujeita à compressão:
lenho de compressão; enquanto nas angiospermas eudicotiledôneas este se localiza
na zona tracionada: lenho de tração.
É comum a ocorrência deste defeito em árvores que apresentam troncos
curvos, por exemplo, por crescerem em encostas acentuadamente inclinadas, ou na
base de ramos. Entretanto, nem sempre sua presença pode ser detectada em
árvores vivas, pois muitas vezes está presente em indivíduos que apresentam,
externamente, troncos cilíndricos e verticais.
É importante a designação correta da madeira de reação, em tracionada ou em
oposta, uma vez que as propriedades deste tipo de lenho são distintas daquelas da
66

madeira normal. Dependendo de sua proporção no tecido lenhoso, a madeira de


tração modifica as propriedades do lenho por causa da presença de fibras
gelatinosas, que na maioria dos casos apresentam espessura de parede, teor de
celulose cristalina e diâmetro maiores e frequência e diâmetro dos vasos, teor de
lignina e ângulo microfibrilar menores. Porém estudos encontraram exceções destas
características anatômicas e químicas, principalmente entre as madeiras de tração e
oposta, como os desenvolvidos com Populus euramericana, espécies tropicais,
Eucalyptus globulus e com o híbrido de E. grandis x E. urophylla.

Figura 21. Esquema representativo da região onde se desenvolve o lenho de


tração (em folhosas) e de compressão (em coníferas).

7.5.1. Lenho de compressão

Caracteriza-se macroscopicamente pela presença de crescimento excêntrico,


transição quase indistinta entre lenho inicial e tardio, devido ao fato de as células do
67

primeiro apresentarem paredes mais espessas que o normal, aparência sem brilho e
cor mais forte que o tecido são.
Microscopicamente, os traqueídes do lenho de compressão revelam um
contorno arredondado, deixando consequentemente entre eles espaços
intercelulares. Em seção longitudinal observam-se rachaduras oblíquas em suas
paredes, que afetam enormemente a resistência mecânica. Este tipo de lenho
possui consequentemente propriedades bem distintas do lenho normal, com
importantes consequências para as qualidades e utilização da madeira.
As principais características do lenho de compressão são: excessiva dureza;
elevado conteúdo de lignina; baixo conteúdo de celulose; orientação espiralada da
estrutura fibrilar submicroscópica; ausência da camada S3 da parede celular.
As consequências destas características são: comportamento desigual da
madeira; a madeira apresenta elevada instabilidade dimensional; madeira
quebradiça; madeira com baixa qualidade de trabalhabilidade; propensa a
empenamentos por ocasião da secagem; madeira com coloração atípica, que pode
diminuir seu valor; madeira apresenta maior resistência à compressão axial e
perpendicular.

7.5.2. Lenho de tração

Conforme descrito pelo Committee on Nomenclature (1964) da International


Association of Wood Anatomists (IAWA), a madeira de tração é designada pela
presença de camada gelatinosa no interior da parede das fibras, o que altera a
composição química da madeira. A camada gelatinosa, ou camada G, é descrita
como contendo maior teor de celulose cristalina e menor ângulo microfibrila.
Assim como lenho de compressão, este tipo de lenho é geralmente associado
ao crescimento excêntrico, mas é bem mais difícil de ser constatado
macroscopicamente. Normalmente apresenta uma coloração distinta, mais clara
(branco-prateada) que o lenho normal, e a superfície da madeira apresenta-se
sedosa.
Com frequência só é detectado microscopicamente pela presença de fibras
com um anormal espessamento de duas paredes internas, conhecidas por fibras
gelatinosas, que o caracterizam e conferem à madeira o brilho especial. As paredes
68

destas células possuem elevado conteúdo de celulose, enquanto a lignina é quase


ausente.
Uma das características da madeira tracionada é seu maior teor de
holocelulose, celulose e hemiceluloses e, consequentemente, o baixo conteúdo de
lignina quando comparada à madeira normal. A presença de madeira de tração
aumenta paralelamente à quantidade de celulose, e a lignina é praticamente ausente
na camada gelatinosa em si. Análises químicas em fibras gelatinosas evidenciaram
que a camada gelatinosa continha 98,5 % de celulose e 1,5 % de xilose, ou seja,
estava isenta de lignina.
O maior teor de holocelulose na madeira tracionada em alguns casos pode ser
explicado pelo maior teor de hemiceluloses, especificamente as xilanas. Esta
característica foi comprovada na madeira de E. globulus, cujas xilanas foram de 9 %
a 34 % mais elevadas em madeira tracionada do que na oposta.
Estruturalmente, a lignina da madeira tracionada de E. globulus é menos
condensada, se comparada com a da madeira oposta, apresentando maior
quantidade de unidades siringilas (32 % a mais), o que favorece o aumento de
quantidade de ligações β-O-4. Tal característica é um fator positivo para a qualidade
da madeira voltada à indústria de polpa celulósica no contexto de deslignificação,
uma vez que este tipo de ligação e as unidades siringilas são mais instáveis e
reativas ao álcali de cozimento e reagentes de branqueamento da polpa Kraft.
As principais consequências da presença do lenho de tração são: difícil
trabalhabilidade – as superfícies das peças apresentam-se ásperas, oferecem
dificuldades na aplicação de pregos e outras ferragens; grande instabilidade
dimensional com tendência ao aparecimento de colapso; valor comprometido pela
coloração anormal; elevada resistência a esforços de tração; baixa resistência à
compressão e flexão; surgimento de compensados empenados, corrugados e
rachados; dificuldades nas operações de cozimento para a fabricação de papel,
originando produto de baixa qualidade.

7.6. Falha de Compressão

É um rompimento interno do tecido lenhoso, às vezes só perceptível ao


microscópio, que surge nas peças serradas como linhas quebradas, de cor clara,
69

dispostas perpendicularmente à grã, defeito bastante comum em madeiras de


guapuruvu e angelim pedra.
Algumas vezes observa-se uma mancha de tonalidade mais escura envolvendo
o tecido ofendido, em consequência de um afluxo anormal de goma ou resina.
Quando a lesão é muito extensa, o calo cicatricial poderá aparecer externamente no
fuste sob a forma de rugas ou protuberâncias.
Estas falhas resultam de deformações permanentes das paredes celulares,
provenientes de compressão acima do limite elástico, causadas por traumatismos
produzidos pelo vento, peso da neve, queda de árvores sobre outras vizinhas por
ocasião do abate, ou esforços que acarretem acentuada curvatura do tronco sem
que ele se quebre.
As falhas de compressão constituem um sério defeito, por afetarem
profundamente as propriedades mecânicas da madeira, fazendo com que esta se
quebre inesperadamente.

7.7. Nós

Nó é a porção basal de um ramo que se encontra embebida no tronco ou peça


de madeira, provocando na sua vizinhança, desvios ou a descontinuidade dos
tecidos lenhosos. Quanto à aderência, o nó pode ser vivo, morto ou solto.
O nó é vivo quando corresponde à uma época em que o ramo esteve
fisiologicamente ativo na árvore, havendo perfeita continuidade dos seus tecidos
lenhosos com os do tronco. Esta íntima ligação o integra perfeitamente ao lenho do
fuste.
O nó morto corresponde à um galho que morreu e deixou de participar do
desenvolvimento do tronco. Não há mais continuidade estrutural e a sua fixação
depende apenas da compressão periférica exercida pelo crescimento diametral do
fuste. Os nós, ao morrerem, podem sofrer transformações tais como acúmulo de
resinas ou outros materiais que lhes conferem acentuada dureza. A presença destes
nós pode prejudicar enormemente a trabalhabilidade da madeira.
O nó morto pode ser solto quando corresponde à um galho seco que se
separou da peça de madeira deixando uma cavidade ou olhal, o que muito prejudica
a aparência e propriedades físico-mecânicas das tábuas.
70

7.8. Rachaduras

Rachaduras podem ser causadas por condições climáticas, injúrias mecânicas


e tensões internas de crescimento, e coincidem normalmente com regiões de maior
fragilidade no tronco, tais como raios, anel de crescimento mais largo, etc.
É frequente a presença de tensões internas de crescimento na árvore viva, que
são liberadas por ocasião do abate, provocando o surgimento de rachaduras.
As rachaduras radiais são as que surgem no sentido radial, normalmente
coincidindo com os raios; a rachadura tipo anel é uma fenda circular que ocorre no
interior do tronco, correspondendo geralmente à uma zona de fragilidade, devido a
um espaçamento brusco e exagerado entre os anéis de crescimento. Injúrias
mecânicas externas ou tensões de crescimento ocasionam esta fenda interna, que
pode inutilizar completamente a madeira.
Quando este espaço oco é preenchido por resina ou goma têm-se as
chamadas bolsas de resina ou de goma, que resultam de fendas tangenciais
praticadas no câmbio por esforços mecânicos. Este defeito afeta não só a aparência
das superfícies das peças, mas também suas propriedades mecânicas.

7.9. Sapopemas

São saliências verticais, mais ou menos estreitas e achatadas, que ocorrem na


periferia de troncos de certas espécies, como prolongamento das raízes laterais,
podendo estender-se até grande altura no fuste (Figura 22). A secção transversal
nessa região mostra um contorno irregular.
A presença das sapopemas causa sérias dificuldades no abate e acarreta
grande volume de desperdício. Constitui uma característica de determinadas
espécies, como sumaúma. Ocasionalmente, alguns fatores mecânicos e culturais
podem favorecer a formação de uma base mais avantajada para compensar o
esforço (por exemplo, assimetria da copa).
71

Figura 22. Presença de sapopemas em troncos de árvores adultas.

7.10. Sulcos

Quando muito profundos, conferem à periferia do fuste um contorno irregular e


cheio de reentrâncias (Figura 23), muitas vezes impedindo a conversão das toras
em madeira serrada. Por este motivo, os troncos de muitas espécies que
apresentam esta característica são empregados inteiros em construções,
principalmente como pilares rústicos decorativos.

Figura 23. Esquema e detalhe de tronco sulcado.


72

7.11. Tecido de Cicatrização

A própria natureza se encarrega de recobri ferimentos causados por injúrias


mecânicas externas, formando tecidos especiais de cicatrização (calos) (Figura 24).
Normalmente, este inclui muito parênquima axial e, em certas espécies, surgem
canais resiníferos traumáticos. Ocorre um desvio das camadas de crescimento
durante muitos anos, até que o mesmo seja completamente envolvido. Este tecido
anormal provoca uma heterogeneidade no material, afeta suas propriedades físicas
e mecânicas e prejudica a aparência das peças, embora em alguns casos também
possa valorizá-la.

Figura 24. Tecido de cicatrização pós corte de galho.

7.12. Tortuosidade

Constituem defeitos, principalmente de ordem econômica, por não permitirem


um aproveitamento do volume total das toras. Peças de madeiras oriundas de
troncos tortuosos apresentarão grãs irregulares que comprometem a resistência
73

mecânica, causam dificuldades de acabamento e provocam deformações de


secagem.
As principais causas desses defeitos são hereditariedade, condições de
crescimento, inclinação do terreno, ação de ventos fortes, fototropismo,
concorrência, etc.

Figura 25. Floresta com indivíduos de tronco tortuosos desenvolvidos pós


incêndio.
74

8. QUALIDADE E USO DA MADEIRA

8.1. Celulose e Papel

A caracterização da madeira, apesar de dispendiosa, é de fundamental


importância e de grande utilidade em programas de melhoramento genético florestal.
Na etapa de seleção de clones potenciais para produção de polpa celulósica são
recomendados os estudos de densidade básica, de constituição química, das
características estruturais anatômicas e inevitavelmente, de transformação da
madeira em polpa celulósica.
As principais características observadas na madeira destinada à produção de
celulose são a densidade, composição química, constituição anatômica e cor. De
modo geral, a indústria prefere madeira de coloração mais clara porque reduz o
consumo de produtos químicos no branqueamento. A densidade da madeira afeta a
produtividade e a qualidade do papel. O volume do digestor é fixo, e o emprego de
madeira de baixa densidade pode reduzir sua produtividade, uma vez que a massa
de madeira a ser colocada no digestor é inversamente proporcional à sua
densidade. Entretanto, madeira muito densa é mais difícil de ser polpeada e, como
ocorre menos colapso das fibras de madeira mais densa, a resistência do papel vai
ser afetada de forma negativa. Os fabricantes de celulose trabalham, normalmente,
com madeira com densidade compreendida entre 0,40 e 0,58 g/cm³.
O objetivo da polpação é separar os elementos anatômicos que constituem as
madeiras, para isso, é necessário solubilizar a lignina. Madeira mais lignificada
consome mais reagente e demanda mais tempo no digestor. Além disso, a lignina
residual na polpa celulósica destinada à produção de papel para escrita e papel
sanitário deve ser eliminada durante o branqueamento, o que reduz o rendimento de
celulose. Por isso, a indústria prefere madeira com menor teor de lignina possível.
Outra característica importante da madeira destinada à produção de celulose é
a composição anatômica. No caso das coníferas, prefere-se madeira com mais
traqueídes e, no de folhosas, madeira contendo mais fibras.
Madeiras com menor densidade são favoráveis, pois necessitam de uma
menor quantidade de álcali para o cozimento, e consequentemente, apresentam
maior rendimento depurado, proporcionando a formação de polpa com maior
viscosidade, resultando em licor residual com menor teor de sólidos e uma melhor
75

branqueabilidade da polpa, requerendo menos reagentes químicos. Porém, por


outro lado, também apresentam desvantagens, como maior consumo específico de
madeira e menor massa de madeira no digestor, o que poderá afetar
desfavoravelmente o custo e a produtividade industrial.
Com relação a madeiras de maior densidade, destaca-se, de maneira geral,
que há menor consumo específico de madeira na fábrica, mas por outro lado,
dificulta o processo de picagem, assim como a impregnação e penetração dos
licores de cozimento, podendo gerar mais rejeitos, cavacos pouco uniformes e
refletir no grau de deslignificação e rendimento depurado da polpa.
76

9. NOÇÕES DE AMOSTRAGEM E ANÁLISES

Nos tempos modernos, o acelerado desenvolvimento tecnológico tem,


necessariamente, de estar associado ao compromisso com o controle de produtos e
processos produtivos, tanto para garantir os parâmetros de qualidade de tais
produtos, quanto para evitar que os processos utilizados gerem impactos negativos
sobre o meio ambiente.
A alta heterogeneidade e a consequente elevada complexidade química da
biomassa vegetal tornaram-na matéria-prima para vários produtos finais, como
energia, alimentos, produtos químicos, fármaco-químicos e materiais. Cada
biomassa utilizada pela indústria possui características estruturais e particularidades,
as quais estão diretamente relacionadas com a tecnologia analítica e melhor
abordagem técnica a serem aplicadas durante as análises.
Técnicas e métodos analíticos dão suporte para a implantação de legislações
reguladoras de mercado e ambientais, garantindo, assim, a qualidade das matérias-
primas e o rendimento dos processos produtivos, além de viabilizar o
desenvolvimento de novos produtos e materiais que agreguem valor à biomassa. As
análises desempenham papel importante na exploração da biomassa, sendo vistas
como tecnologias de suporte para todas as etapas de processamento das cadeias
produtivas, especialmente da cadeia de celulose e papel.

9.1. Análise das Propriedades Químicas

A análise química, de um modo genérico, pode ser considerada como o uso de


conceitos da química analítica e de suas técnicas e métodos analíticos na
investigação e na solução de problemas reais, de variável complexidade, em
diferentes áreas científicas ou tecnológicas A análise química pode gerar informação
tanto de caráter qualitativo quanto de caráter quantitativo.

9.1.1. Composição química elementar

A composição química elementar constitui a base para a análise dos processos


de combustão, tais como cálculo do volume de ar, gases e entalpia, determinando o
77

poder calorífico do combustível. As porcentagens destes elementos apresentam


relação com o conteúdo percentual de materiais voláteis, carbono fixo, cinzas e a
umidade e podem ser expressos em diferentes bases.
A análise da composição elementar quantifica os elementos químicos, em
porcentagem, presentes nos materiais combustíveis, responsáveis pelo
fornecimento de energia. Dentre estes, o carbono e o hidrogênio são os principais
elementos. O enxofre também libera energia durante a queima, embora seja um
inconveniente devido à corrosão das caldeiras e a formação de gases poluentes. De
Sena (2005) comenta que quanto maior os teores de carbono e hidrogênio maior
será a eficiência na liberação da energia durante a combustão.
Além destes elementos, também podem estar presentes o oxigênio e,
dependendo da natureza do material, outros elementos como o nitrogênio. O
oxigênio é encontrado na biomassa em grandes quantidades comparado a
combustíveis fósseis convencionais.
O nitrogênio e o oxigênio não fornecem energia e contribuem negativamente
para processo de combustão. O nitrogênio compete com o carbono para formar os
compostos nitrogenados oxidados diminuindo a contribuição energética do carbono.
A Tabela 4 apresentada a composição química de diferentes biomassas para
fins energéticos.

Tabela 4. Composição elementar de diferentes tipos de biomassa

Composição elementar (%)


Tipo de Biomassa
C H O N S

Eucalipto 49,00 4,87 43,79 0,30 0,01

Pinus 49,29 4,99 44,36 0,06 0,03

Casca de arroz 40,96 4,30 34,86 0,40 0,02

Bagaço de cana 44,80 4,35 39,55 0,38 0,01


78

Casca de coco 48,23 4,23 33,19 2,98 0,12

Sabugo de milho 46,58 4,87 44,46 0,47 0,01

Ramas de algodão 47,05 4,35 40,97 0,65 0,21

A celulose presente na madeira de eucalipto apresenta em sua composição


45% de carbono e a lignina tem entre 61% e 67% desse componente.

9.1.2. Análise química imediata

A análise química imediata determina as características químicas do material


como o teor de cinzas, o teor de materiais voláteis, o teor de carbono fixo em função
da umidade do material. A umidade presente no material pode resultar em ignição
ruim, problemas com a liberação de materiais voláteis, além da perda de qualidade
energética do combustível durante a combustão.
Os materiais voláteis têm papel importante durante a ignição e as etapas de
combustão da biomassa. Os materiais voláteis compreendem a parte do combustível
que se desprende na forma de gases quando o material é aquecido em
determinadas temperaturas. Após a evaporação, os materiais voláteis agora na
forma gasosa, se misturam com o oxigênio do ar ocorrendo às reações típicas da
combustão. Nos combustíveis de biomassa, como a madeira, a quantidade de
material volátil varia entre 76 a 86% em base seca e são responsáveis pela maior
parte da geração de calor na combustão.
A biomassa possui um baixo teor de carbono fixo, sendo este parâmetro mais
importante no processo de carbonização para fabricação de carvão. Entretanto, os
materiais voláteis se queimam rapidamente e o carbono fixo se queima mais
lentamente e refere-se à fração de material que se queima no estado sólido. O teor
de carbono fixo possui um elevado índice de correlação com o poder calorífico.
Além dos componentes citados anteriormente, a biomassa possui também
compostos inorgânicos, comumente conhecidos como cinzas. As cinzas geradas na
queima correspondem à porcentagem de material que não produz calor e pode
79

afetar na contribuição energética do material. Estes materiais utilizam energia


fornecida durante a queima para se manterem aquecidos. O teor de cinzas gerado
durante a combustão de materiais lignocelulósicos pode variar bastante e depende
da composição química do material.
Normalmente os materiais inorgânicos estão associados aos compostos
orgânicos onde tem função fisiológica. Os mais comuns são o cálcio, magnésio,
potássio, sódio, fósforo, silício, ferro, cobre e manganês na forma de carbonatos,
cloretos, oxalatos, fosfatos e silicatos.
As cinzas são mais abundantes na casca e podem acarretar alguns problemas
durante a utilização da biomassa, uma vez que contribuem negativamente para o
poder calorífico, causam trincas e fissuras no ferro gusa (principalmente o enxofre e
o fósforo) quando da utilização do carvão vegetal, além de aumentar a quantidade
de resíduo sólido, tanto nos cinzeiros das fornalhas, quanto no volume de escoria da
produção do ferro gusa, por exemplo. Além disso, a presença de inorgânicos
ocasionam desgastes de refratários e demais equipamentos utilizados para a
queima da biomassa.
Por outro lado, dependendo da natureza das cinzas geradas, as mesmas
podem ser aproveitadas como corretor de acidez e nutrientes de solos de áreas
onde o cultivo intenso e contínuo acarreta um desequilíbrio na fertilidade das áreas
agricultáveis. No entanto, a aplicação de cinzas deve ser criteriosa e dependendo da
concentração dos metais presentes pode ocorrer toxicidade para as plantas e causar
efeitos indesejáveis no solo.

9.1.3. Análise química estrutural

O tipo de amostragem e preparação da amostra depende de vários fatores e do


objetivo da análise. Se toda a madeira de uma espécie é analisada, é importante
selecionar uma amostra representativa desta espécie. Isto requer uma seleção ao
acaso de uma ou mais árvores representativas, bem como a seleção de uma porção
média e normal do tronco, isto é, sem lenho de reação, bolsas de resina, acúmulo de
nós, etc.
Métodos normatizados são definidos principalmente quando relacionados à
produção de celulose e papel, mas também para outras aplicações. Atualmente as
80

normas brasileiras (NBR) da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas já


dispõem sobre vários métodos aplicados a determinações da composição química
quantitativa da madeira.
De forma geral, para propósito de análise química a madeira precisa ser
desintegrada, isto é, moída, para se conseguir uma completa penetração dos
reagentes e para se assegurar reações uniformes.
O primeiro passo é a transformação da madeira em cavacos, ou operações
semelhantes com serras ou outras que transformem a madeira em partículas
pequenas.
Redução posterior pode ser obtida por moagem em equipamentos apropriados
como moinhos de martelo, de disco, etc. O aquecimento deve ser evitado, bem
como a produção de partículas muito finas.
Como o tamanho das partículas após a moagem, normalmente, não é
homogêneo, a mesma deverá ser peneirada (classificada) para eliminar o material
muito fino, que pode causar problemas de entupimento de filtros muito finos, ou até
passar por filtros mais grossos.

- Extrativos: Os extrativos da madeira são de uma grande gama de compostos


químicos embora representem apenas uma pequena parte da madeira. Os extrativos
de uma amostra de madeira podem ser isolados com o propósito de um exame
detalhado da estrutura e composição de um ou mais dos seus componentes.
Em geral, na análise da madeira, somente a quantidade é determinada após o
isolamento. Por este método, madeira livre de extrativos é obtida, como material
para o isolamento e análise dos componentes macromoleculares das paredes
celulares.
O isolamento dos extrativos é realizado por extração com solventes neutros
e/ou misturas destes, em sucessão. Frações voláteis contendo, por exemplo,
terpenos, como no caso de coníferas, são isoladas principalmente por destilação a
vapor. As extrações com solventes podem ser realizadas com diferentes solventes
tais como: éter, acetona, benzeno, etanol, diclorometano, ou misturas destes. Ácidos
graxos, ácidos resinosos, ceras, taninos e pigmentos coloridos, são as substâncias
mais importantes extraíveis por solventes.
Os principais componentes da fração solúvel em água, consistem em
carboidratos, proteínas e sais inorgânicos. A distinção entre os componentes
81

extraíveis, derivados de etapas individuais de extração não é precisa em nenhum


caso. Por exemplo, os taninos são principalmente solúveis em água quente, mas
também são encontrados em extratos alcoólicos.
A preparação da madeira para análises químicas, geralmente inclui a remoção
de extrativos, se o procedimento da extração não interferir com as análises
subsequentes. Por exemplo, as cinzas são normalmente determinadas em amostras
que não sofreram extração, porque componentes inorgânicos podem ser removidos
durante uma etapa de extração com água.
Um procedimento padronizado que é utilizado frequentemente para a
preparação da madeira livre de extrativos, é uma extração com álcool-tolueno (1:2)
por 4 horas, seguido por extração com álcool 95% por 4 horas em extrator soxlet, e
uma extração final com água quente para remover os resíduos dos solventes.

- Métodos de deslignificação (Preparação da Holocelulose): O termo


holocelulose é usado para designar o produto obtido após a remoção da lignina da
madeira.
Uma deslignificação ideal deveria resultar na remoção total da lignina sem
ataque químico dos polissacarídeos, porém não há procedimento de deslignificação
que satisfaça este requerimento.
Três critérios importantes podem ser definidos para a holocelulose: i) baixo
conteúdo de lignina residual; ii) mínima perda de polissacarídeos, e; iii) mínima
degradação oxidativa e hidrolítica da celulose.
Dois métodos comuns são aplicados na preparação de holocelulose em escala
laboratorial:
a) Cloração alternando extrações com soluções alcoólicas quentes de bases
orgânicas;
b) Deslignificação com solução acidificada de cloreto de sódio.
Uma porcentagem de lignina residual geralmente permanece na holocelulose.
Porções desta lignina residual são alteradas durante a deslignificação, tornando-se
solúvel durante a determinação da lignina residual insolúvel em ácido por hidrólise
ácida da holocelulose. Esta lignina solúvel em ácido pode causar erros de até 9% na
análise somativa da madeira. Assim, somente se ambas forem determinadas a
análise somativa chegará próximo a 100%.
82

- Isolamento e determinação da celulose: Há três principais tipos de métodos


para isolamento e ou, determinação da celulose:
a) Separação da principal fração de polioses e lignina residual da holocelulose:
método mais comum, é feita extração sob nitrogênio em 2 etapas com 5 e 24% de
hidróxido de potássio, o que resulta em celulose contendo ainda considerável % de
polioses e lignina residual, com tratamentos repetidos podem ser reduzidos,
simultaneamente o grau de polimerização e a quantidade de celulose decrescem;
b) Isolamento direto da celulose da madeira, incluindo processos de
purificação: trata-se a madeira com ácido nítrico em etanol, com pré aplicacão de
hidróxido de potássio a 25%, o tempo é reduzido a 1 hora. A celulose resultante é
relativamente pura mas degrada por efeito hidrolítico;
c) Determinação do conteúdo de celulose pela hidrólise total da madeira,
holocelulose ou alfa-celulose com subsequente determinação dos açucares
resultantes: os métodos de determinação sem isolamento, por hidrólise e
subsequente determinação de açucares pode ser aplicado à madeira, bem como à
holocelulose ou alfa-celulose. Um procedimento geral é a hidrólise com ácidos
concentrados e etapas subsequentes com diluição da solução (hidrólise secundária).
O H2SO4 é frequentemente utilizado, começando com 72% de concentração na 1ª
etapa.
Em qualquer método de isolamento, a celulose não pode ser obtida em estado
puro, mas somente como uma preparação mais ou menos bruta, a qual é
geralmente chamada alfa-celulose, este termo foi dado por Cross e Bevan (1912)
para a celulose de madeira que é insolúvel numa solução concentrada de NaOH. A
porção que é solúvel no meio alcalino, mas precipitável na solução neutralizada é
chamada de beta-celulose. Gama-celulose é o nome da porção que permanece
solúvel mesmo na solução neutralizada.

- Isolamento e determinação de polioses: as polioses diferem da celulose


analiticamente pela sua solubilidade em álcali. Algumas polioses são mesmo
solúveis em água (ex.: arabinogalactanas). Assim, a distinção entre polioses
solúveis em água (ex.: taninos, material péctico) é algumas vezes difícil se a
madeira é pré-tratada com água.
Uma parte das polioses solúveis em álcali podem adicionalmente tornar-se
solúveis durante extração com água quente.
83

Durante a análise geral da madeira, a maioria das polioses são extraídas da


holocelulose com soluções alcalinas aquosas de diferentes concentrações.
Um procedimento padrão para isolamento e determinação é a extração com
5% e 24% de KOH sucessivamente. As soluções alcalinas de polioses são
neutralizadas com ácido acético e tratada com excesso de etanol. A fração que
precipita é chamada Poliose A (do extrato de 5% de KOH, e Poliose B (do extrato de
24% KOH). Após determinação das cinzas, a soma das duas frações representa a
maior parte das polioses, sem se ter a quantidade exata da amostra. Isto é causado
pela perda de pentosanas durante a deslignificação e pelas polioses residuais
remanescentes na alfa-celulose e pelo fato de que nem toda a porção das polioses
dissolvidas precipitam da solução alcoólica.
Um valor característico, especialmente para polpas celulósicas é o chamado
conteúdo de pentosanas, que estima a quantidade total de pentosanas sem a
determinação dos açucares componentes individuais. O princípio do método é a
conversão das pentosanas em furfural com ácido clorídrico ou brômico.
Tratando-se a madeira ou polpa, com NaOH a 1% a quente, algumas polioses
solúveis são extraídas juntamente com celulose degradada. Este valor indica o grau
de deterioração por fungos ou outras reações de degradação durante a polpação ou
branqueamento de polpas.

- Isolamento e determinação da lignina: devido as propriedades resultantes da


estrutura molecular da lignina e de sua localização dentro da parede celular, seu
isolamento de uma forma inalterada e exata não foram possíveis até agora.
Todos os métodos de isolamento tem a desvantagem de alterar a estrutura
nativa da lignina ou liberar somente partes relativamente não alteradas.
De modo geral, os métodos de isolamento da lignina podem ser divididos em
dois grandes grupos:
a) métodos que produzem lignina como resíduo;
b) métodos pelos quais a lignina é dissolvida sem reagir com o solvente
utilizado para a extração ou formando derivados solúveis.
Os extrativos devem ser previamente removidos para se evitar a formação da
condensação de produtos com a lignina durante os procedimentos de isolamento.
Também, qualquer ácido ou solvente como álcool, acetona, etc., devem ser
totalmente removidos da amostra de madeira.
84

No primeiro grupo de métodos de isolamento da lignina, obtém-se as


chamadas ligninas ácidas, pela aplicação de ácido sulfúrico ou clorídrico, ou mistura
de ambos, ou ainda outros ácidos mineiras.
No caso do H2SO4, concentrações entre 68 e 78% (principalmente 72%) são
utilizadas no primeiro estágio da hidrólise, seguido por etapas com diluição da
concentração para se obter hidrólise completa dos polissacarídeos.
As ligninas ácidas obtidas com HCl super concentrado são menos
concentradas que a obtida com H2SO4.
As ligninas obtidas por hidrólise ácida não são utilizadas para determinação da
sua estrutura, porque a estrutura e propriedades são alteradas predominantemente
por reações de condensação, e contém também consideráveis quantidades de S
(enxofre) e Cl (cloro), são porém aplicadas na estimativa do conteúdo de lignina na
madeira.
Entre o grupo de métodos que dissolvem a lignina, o mais importante método
para se obter lignina relativamente não alterada é o MWL (milled wood lignin), lignina
de madeira triturada, onde a madeira é triturada, classificada, e tratada com dioxano
aquoso.
Modificação do método tem sido tentada com tratamentos enzimáticos, com
celulases, seguidos por extração com o dioxano aquoso, produzindo ligninas
enzimáticas.
A determinação do conteúdo de lignina é importante para análise da madeira,
bem como para a caracterização de polpas celulósicas.
Os métodos quantitativos podem ser divididos em:
- diretos – lignina como resíduo;
- indiretos – conteúdo calculado após a determinação dos polissacarídeos;
– métodos espectofotométricos;
– reações da lignina com agentes oxidantes.
O método direto mais firmemente estabelecido é a determinação de acordo
com Klason, lignina de Klason. Onde a hidrólise é realizada tratando-se amostras de
madeira livre de extrativos, ou polpa não branqueada com H 2SO4 a 72% e uma
etapa final com H2SO4 a 3% sob condições definidas.
Os métodos indiretos são utilizados principalmente para determinação da
lignina residual em polpas celulósicas, onde os resultados são expressos em termos
de grau de deslignificação, grau de cozimento, dureza, branqueabilidade, etc.
85

São métodos geralmente restritos à polpas com rendimentos inferiores a 70%.


Os dois principais métodos são:
- Número de Permanganato (nº Kappa) – oxidação da lignina residual com
permanganato de sódio, em solução acidificada.
- Número ROE – reações de oxidação e substituição causadas pelo consumo
de cloro gasoso.

9.2. Análise das Propriedades Térmicas

As técnicas termo analíticas são métodos com os quais se mede a variação de


uma determinada propriedade física de uma amostra em função do tempo ou da
temperatura (CAVALHEIRO et al., 1995). A análise térmica é uma ferramenta
simples, que permite analisar e compreender problemas que envolvem reações
químicas ou físicas e seus mecanismos em função da temperatura (PINHEIRO et
al., 2005).

9.2.1. Poder calorífico

O poder calorífico determina a quantidade de energia que está disponível no


combustível por unidade de massa que é liberada na câmera de combustão através
de uma reação química. O poder calorífico (PC) é dividido em poder calorífico
inferior (PCI) e o poder calorífico superior (PCS), sendo que a diferença entre os
dois consiste na quantidade de energia requerida para evaporar a água contida nos
gases de exaustão. O poder calorífico inferior não considera o calor latente de
condensação da água dos produtos da combustão.
O poder calorifico é determinado a partir de fórmulas empíricas baseadas na
composição elementar, bomba calorimétrica (PCS) e Fórmula de Goutal, baseada
na Análise Química Imediata. Abaixo seguem algumas expressões para cálculo do
poder calorifico.
PCI = PCS − [600(9H/100)]
PCU = [PCI(1 − u)] − (600u)
Onde: H – Hidrogênio (%); u – Umidade (%), PCI – Poder calorífico inferior
(Kcal/kg).
86

O poder calorífico pode ser afetado por diversas características do material,


como o teor de cinzas, a umidade, a composição elementar, a constituição química
molecular entre outras.
O teor de umidade contribui negativamente para o poder calorífico. Valores de
umidade acima de 65%, limite autotérmico para a maioria das biomassas
combustíveis, gera energia insuficiente durante combustão para satisfazer a
evaporação da água e a produção de energia na forma de calor. A evaporação da
água é fortemente endotérmica enquanto a reação de combustão é exotérmica.

Figura 26. Curva de variação PCI pela umidade da madeira-base seca

A presença de carbono e hidrogênio contribuem positivamente para o poder


calorífico e o conteúdo de oxigênio negativamente, entretanto o conteúdo de
hidrogênio também pode influenciar negativamente os resultados devido à formação
de água.

9.2.2. Análise termogravimétrica (TGA)


87

A análise termogravimétrica é uma técnica que permite o registro constante da


perda de massa de uma amostra submetida a uma variação de temperatura. Com
base nessa técnica é possível interpretar como é o comportamento da amostra
durante a sua decomposição térmica, além de fornecer informações sobre quais
faixas de temperatura a decomposição é mais pronunciada. Normalmente uma
substância perde massa com o aquecimento, devido à perda de umidade, materiais
voláteis, reações de pirólise e combustão.
A perda de massa do material durante a sua conversão térmica pode ser
realizada na presença de ar atmosférico ou em atmosfera controlada que utiliza
como comburente oxigênio ou ar (atmosfera oxidante) ou nitrogênio (atmosfera
inerte). O perfil termogravimétrico contribui para desenvolver as condições ótimas de
operação e o melhor entendimento do processo de conversão térmica de uma
determinada amostra. A termogravimetria é um método para determinação da taxa
de decomposição de substâncias.
Com base na análise termogravimétrica, é possível interpretar o
comportamento da biomassa durante a sua decomposição térmica, além de fornecer
informações, sobre em quais faixas de temperatura a decomposição é mais
pronunciada. Essa técnica permite comparar o comportamento térmico da amostra,
evidenciando a influência de diferentes biomassas sobre a cinética de reação,
apesar de fornecer apenas informações gerais sobre as reações de pirólise.
É possível, através da utilização da análise termogravimétrica, verificar em que
temperatura é iniciada a decomposição térmica e, ainda, em que faixa de
temperatura a decomposição térmica é mais pronunciada.
O aparelho utilizado para a técnica é chamado “termobalança” e para obtenção
de resultados, é preciso que se originem produtos de decomposição térmica, ou que
ocorra incorporação de átomos ou moléculas, provenientes dos gases da atmosfera
do forno, respectivamente, aumentando ou diminuindo a massa original da amostra.
Como resultado do fornecimento de temperaturas crescentes ao longo do
tempo durante o qual é realizada a análise termogravimétrica, há, geralmente, o
decréscimo da massa da amostra, pois desse fato resulta a perda de umidade e de
materiais voláteis, além da ocorrência de reações químicas. A análise pode ser
realizada sob atmosfera oxidante (ar ou oxigênio) ou sob atmosfera inerte (N 2 e
CO2).
88

Assim, cada componente químico da biomassa se decompõe mais


intensamente em distintas faixas de temperatura, sendo variáveis, conforme faixas
citadas por diversos autores. Cada fração dos componentes da madeira tem uma
cinética de decomposição térmica bem diferenciada. Os autores afirmam que as
hemiceluloses sofrem maiores picos de degradação entre 200 °C e 300 °C, a
celulose entre 240 °C e 350 °C e a lignina entre 350 °C e 500 °C.
De maneira geral, nas curvas termogravimétricas da madeira de Eucalyptus
grandis, observa-se que a degradação térmica tem início a 150 °C de temperatura,
sendo mais pronunciada na faixa entre 250 °C e 450 °C, com redução de 68,52% da
massa inicial.
Estudando a degradação térmica dos componentes estruturais da madeira,
observa-se a perda em massa da celulose, hemiceluloses e lignina em diferentes
faixas de temperatura. Os resultados da análise podem ser observados na Figura
27. Os maiores picos de decomposição ocorreram nas faixas de temperaturas
correspondentes a 380 °C e 400 °C, aproximadamente.

Figura 27. Massas finais dos componentes da madeira versus temperatura de


carbonização.
89

Ao estudar a influência dos parâmetros do processo de pirólise sobre o


comportamento térmico da madeira de eucalipto e dos seus componentes principais,
por meio da termogravimetria, observa-se uma faixa de maior degradação térmica
da madeira entre 250 °C e 400 °C. Constatou-se que a madeira apresentou faixa
mais extensa de degradação, quando comparada àquelas correspondentes aos
seus componentes, e inferiu que esse fato corresponde à sobreposição das faixas
de maior reação de seus componentes hemicelulósicos e celulósicos.

9.2.3. Análise térmica diferencial (DTA) e Análise diferencial calorimétrica


(DSC):

A análise térmica diferencial (DTA) é uma técnica na qual uma amostra e uma
referência são submetidas à uma variação de temperatura controlada e programada.
A diferença de energia necessária para variar a temperatura da amostra em relação
ao material de referência é medida através de um termopar. A referência pode ser
alumina em pó ou simplesmente a cápsula vazia.
A calorimetria diferencial é uma técnica procedente do DTA, na qual é medida
a diferença de energia fornecida à substância e a um material de referência em
função da temperatura. O DSC foi desenvolvido com o intuito de evitar as
dificuldades encontradas no DTA ou compensá-las, criando um equipamento capaz
de quantificar a energia envolvida nos processos. As curvas de DSC apresentam
forma semelhante às descritas para a DTA, entretanto quando ocorre um processo
de absorção de calor surge um pico positivo (já que o aquecedor da amostra deve
dissipar calor para manter a temperatura igual à da referência). Já num processo em
que ocorre liberação de calor, exotérmico, o pico é negativo, e menos energia deve
ser liberada para o aquecedor da amostra em relação ao da referência. Isto torna
necessário indicar o sentido dos processos no gráfico.
O DSC possui a finalidade de medir a variação de entalpia em diferentes
regimes de reação. A entalpia é uma função de estado termodinâmica que à pressão
constante, as variações de energia na forma de calor correspondem à variação de
entalpia. Quando o sistema libera energia (diminuição de entalpia) o processo é
chamado exotérmico e, quando o sistema absorve energia (aumento da entalpia) o
processo é chamado endotérmico.
90

O termo “diferencial” é usado uma vez que a temperatura da amostra é medida


em função de um material de referência termicamente estável ao fluxo de calor. Esta
curva consiste em um gráfico do fluxo diferencial de calor entre a amostra e a
referência em função da temperatura. Qualquer mudança física ou química que
ocorra com a amostra e que envolva a liberação ou absorção de calor causará uma
diferença de temperatura temporária da amostra em relação à referência, originando
um sinal que representa um evento exotérmico ou endotérmico.

9.3. Análise das Propriedades Físicas

9.3.1. Densidade

Para a determinação da densidade básica da madeira utilizam-se os métodos


destrutivos e os não-destrutivos.
Os métodos destrutivos envolvem a derrubada da árvore e consistem na
retirada de amostras na forma de discos, cunhas ou cavacos. Os métodos não-
destrutivos consistem no uso da sonda Pressler e outros equipamentos; a grande
vantagem do método não-destrutivo é a preservação do indivíduo no campo e a
possibilidade de se fazer futuras avaliações do mesmo indivíduo.
Desejando-se conhecer a densidade básica de uma dada espécie, a melhor
alternativa seria a sua expansão a nível de árvore; como é praticamente inviável o
processamento da árvore, a nível de laboratório, deve-se proceder a uma
amostragem que seja suficiente para permitir um respaldo estatístico aos valores
encontrados. Segundo a maioria dos pesquisadores, as amostras devem ser
coletadas de, pelo menos, cinco árvores de pontos diferentes e representativos do
povoamento para se determinar a densidade básica média. Quanto maior for a
heterogeneidade do material, maior a necessidade de se utilizarem mais indivíduos
a fim de que os que serão escolhidos como amostras sejam realmente
representativos da população em estudo.
O método mais comumente utilizado de amostragem consistente em se retirar
vários discos ao longo do tronco, com espessura aproximada de 2,5 cm, conforme
Figura 28. Esses discos podem ser retirados de forma equidistante, ou seja, de
metro a metro, dois em dois metros, ou a uma porcentagem fixa do fuste principal,
91

como a 0, 25, 50, 75 e 100%; além disso, é comum retirar-se, ainda, um disco extra
à altura do DAP (diâmetro a altura do peito).

Figura 28. Método de amostragem para determinação da densidade média da


árvore.

Alguns autores propuseram a determinação da densidade básica através de


um único ponto fixo da árvore e consideraram o DAP, medido por convenção a
1,30m do solo e como padrão internacional usado em silvicultura, o ponto mais
representativo da árvore. A determinação da densidade pode ser feita utilizando-se
uma fração dele. Caso a opção seja apenas pela utilização parcial do disco, os
cortes deverão ser feitos no sentido radial, obtendo-se o formato de uma cunha,
devendo a aresta interna situar-se na posição de ocorrência da medula. A fração do
disco escolhida deverá estar isenta de nós ou de quaisquer outros defeitos.

- Métodos da determinação da densidade básica:


Embora alguns autores afirmem que os métodos gravimétricos tradicionais de
determinação de densidade apresentem limitações com respeito a dimensão mínima
da amostra e por fornecerem apenas os valores médios de densidade, inúmeros
outros autores recomendam esses métodos, em função da precisão relativamente
alta, da facilidade operacional e custo muito reduzido. A massa seca da madeira é
obtida quando as amostras são colocadas numa estufa aquecida a 103±2 °C até
atingir massa constante; admite-se que a madeira tenha atingido massa constante
92

quando a alteração do peso for inferior a 0,05%, o que se consegue, dependendo


das dimensões da amostra, num intervalo entre 24 e 48 horas.
A determinação do volume é mais difícil e as diferenças entre as diversas
técnicas de determinação da densidade básica são provenientes das diversas
maneiras de se determinar o volume; em todas as situações, o volume é sempre
determinado com teores de umidade acima do ponto de saturação das fibras; por
isso é conveniente usar amostras de madeira recém-cortada, verde.
Quando isso não é possível o usa da madeira verde, ou seja, o teor de
umidade está abaixo do ponto de saturação das fibras, as amostras devem ser
colocadas imersas em um dessecador e submetidas a vácuo intermitente, até que
não mais flutuem. Os métodos de determinação da densidade básica são vários e a
precisão de seus resultados depende da metodologia, dos equipamentos e do tipo
de material utilizado. Os principais métodos são os seguintes:

a) Método de imersão:

Nos método de imersão, o volume é determinado pela variação de peso


ocasionada pela submersão da amostra de madeira em um líquido que pode ser o
mercúrio ou, o mais usado, a água. O princípio geral baseia-se no enunciado de
Arquimedes: “A perda aparente de peso de um corpo imerso em um líquido é igual
ao peso do líquido deslocado”. Através do método de imersão, é bem possível se
determinar, de maneira precisa, o volume de amostras de formato irregular. A
determinação do volume pelo método de imersão pode ser realizada de duas formas
diferentes: pela variação de peso do líquido, em virtude da imersão da amostra, e
pela variação de peso da amostra, quando imersa no líquido.
O método, também conhecido como método da balança hidrostática, é o mais
comumente utilizado para a determinação da densidade básica da madeira, na
forma de discos e cunhas. O procedimento é extremamente simples, conforme
representado na Figura 29.
93

Figura 29. Ensaio de densidade básica pelo método de imersão

9.3.2. Teor de Umidade

É de grande importância para a determinação do teor de umidade, a


metodologia de seleção de corpos-de-prova, para que efetivamente represente o
tipo de peças de madeira que constituem o lote amostrado.
A Norma COPANT 30.1-003 regulamenta a metodologia de amostragem e as
dimensões dos corpos-de-prova, com as seguintes observações: para a execução
das medições, a norma recomenda o uso do formulário 1, apresentado a seguir,
para o método de determinação por pesagem. O conteúdo de umidade no alburno
de algumas espécies varia apreciavelmente em relação ao cerne. Por essa razão, as
proporções das madeiras de alburno e de cerne nos corpos-de-prova devem ser
equivalentes ao do lote de madeira amostrado.
Os corpos-de-prova não devem ser retirados da camada superficial ou das
extremidades das peças, pois estas são normalmente mais secas, não
representando o conteúdo de umidade interior de uma peça de madeira em todo seu
comprimento. Pela mesma razão eles não devem ser retirados do interior das peças,
pois terão mais umidade que a correspondente às das peças como um todo.
A umidade dentro de uma peça é normalmente representada por uma
distribuição parabólica, especialmente após a secagem. Portanto, para se obter um
94

valor médio do teor de umidade de uma peça de madeira, as amostras deverão ser
retiradas a uma distância da superfície de 0,2 a 0,3 vezes à sua espessura,
conforme Figura 30.

Figura 30. Representação da curva e distribuição da umidade dentro de uma


peça de madeira seca, e de pontos representativos para a sua determinação.

Eletrodos também são utilizados para determinação do teor de umidade. As


amostras de madeira não devem ter nós, pois apesar de ainda ser desconhecida a
sua influência sobre o teor de umidade, este material constitui um tipo especial de
lenho, não representando a madeira normal. No caso de utilizarmos aparelhos
elétricos, o tipo de eletrodo deve ser adequado à classe de espessura da madeira,
para que as leituras efetuadas realmente correspondam aos teores de umidade
médios das peças avaliadas.

- Métodos de determinação do teor de umidade:


O teor de umidade da madeira é normalmente definido como a quantidade de
água da madeira, expressa em porcentagem, baseada na massa da madeira seca
em estufa a 103±2 °C de temperatura. O método universalmente aceito para a
determinação do teor de umidade é o da secagem em estufa, tornando-se como
base o teor de umidade a partir das massas obtidas das peças antes e após terem
sido completamente secas em estufa. Normalmente, os corpos de prova utilizados
apresentam as dimensões nominais de 2 x 2 x 3 cm.
95

Embora muito simples, o conceito de teor de umidade da madeira


poderá, em alguns casos, ser incorretamente interpretado, uma vez que este
conceito pode ser expresso sob duas formas distintas:
a) Teor de umidade em relação à massa de madeira completamente seca
(Base seca): Muito utilizado na área de tecnologia de transformação da madeira
sólida (serraria, carvão, etc.) – e é definido como:
UBS (%) = {[mu – ms] / ms} x 100
Onde:
UBS = Teor de umidade base seca (%);
mu = massa da amostra de madeira úmida (g);
ms = massa da amostra de madeira completamente seca em estufa a 103±2
°C até peso constante (g).
b) Teor de umidade em relação à madeira úmida (Base úmida): Normalmente
usado na indústria de celulose e papel e é obtido através da relação entre a massa
de água existente na madeira e a massa total de madeira mais água. A expressão
que descreve matematicamente tal conceito é:
UBU (%) = {[mu – ms] / mu} x 100
Onde:
UBU = Teor de umidade base úmida (%);
mu = massa da amostra de madeira úmida (g);
ms = massa da amostra de madeira completamente seca em estufa a 103±2
°C até peso constante (g).
Os dois conceitos de teor de umidade (base seca e base úmida)
podem se relacionados através da seguinte expressão:
UBU (%) = 1- [UBS/ (100 + UBS)] x 100
Onde:
UBU = teor de umidade base úmida (%)
UBS = teor de umidade na base seca (%)
96

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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