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FUTEBOL, TREINAMENTOS E RESULTADOS.

Mais uma vez vou lhes contar uma discussão interessante e que pode ser
comparada com alguns problemas profissionais, relacionados a Treinamento,
Equipe, Produtividade, Planejamento, etc...
 
Esses dias após o Carnaval e início de 2005 (na verdade o ano se iniciou dia
14/02), alguns fatos interessantes aconteceram e incentivaram muita discussão
em um encontro com dois amigos antigos Carlos Alberto e Zézinho, do tempo
em que eu ainda conseguia jogar bola. Faz algum tempo sim, antes que pensem
baixo ou exclamem alguma coisa!
 
Assumimos o compromisso de não falar no Flamengo, por motivos óbvios,
para preservar nossa amizade e não estragar o encontro.
 
Primeiro discutimos a derrota do São Caetano, que estava vencendo o São Paulo
por 3 x 1 até os 40 min do segundo tempo e perdeu o jogo por 4 x 3.
 
O que será que aconteceu?
 
Provavelmente uma sensação de superioridade, de vaidade, de vitória garantida,
sucesso e descuido em planejar e administrar o que fazer até o final do jogo,
deve ter incorporado nos jogadores e técnico. Tá bom, o São Caetano estava
com menos dois. E daí? Poderia ter feito muita coisa nesses minutos finais.
 
Lembram do Tevez dançando no jogo da Argentina contra Brasil,
 onde fomos campeões sul-americanos?
Os argentinos acharam que já eram campeões. Que lembrança agradável.
Garçom, mais um chopp, por favor para comemorar o campeonato!
 
Nesse momento, Zézinho soltou a famosa frase: "Em time que está ganhando
não se mexe". O que gerou um protesto geral porque nós discordamos e fizemos
uma analogia com as empresas que acham que são as melhores do mercado,
vendem mais, não se preocupam com as melhorias, com o treinamento das
equipes, em novas tecnologias e em um determinado dia acordam como
segunda ou terceira do mercado. Algumas prorrogam projetos e investimentos,
alegando que estão passando por uma reestruturação no momento e param no
tempo.
 
A empresa que deixar de se reestruturar continuamente, diariamente, com
certeza acabará fechando porque vai perder o rumo e ficar fora da realidade, se
tornando obsoleta e sendo ultrapassada.
 
Simplesmente porque as outras foram mais rápidas e planejaram melhor.
Não deixaram de investir.
 
Carlos Alberto, o outro amigo aproveitou para lembrar o Washington Oliveto na
resenha esportiva quando lhe perguntaram como funcionava a "Democracia
Corinthiana". Ele disse que todos tinham uma filosofia de trabalho única, eram
amigos, não havia hierarquia nas reuniões, todos participavam e eram ouvidos.
Por isso deu certo!
 
Na mesma resenha, W. Oliveto aproveitou e contou sobre uma viagem que fez
com sua esposa para uma cidade na França e quando estavam no restaurante,
entrou um negro muito alto e forte, com um vistoso casaco de pele,
acompanhado de uma mulher muito bonita e também cheia de peles e jóias, além
de vários acompanhantes trajados da mesma forma. Ao reconhecer o negro
como Evander Holifeld (acho que é assim que se escreve), disse a sua esposa
que na próxima luta ele perderia por nocaute, pois estava muito vaidoso,
arrogante e provavelmente tinha se descuidado dos treinamentos para manter o
título de Campeão Mundial dos Pesos Pesados.
 
Não deu outra, ele perdeu a luta e o título dois meses depois!
 
Zézinho resolveu tripudiar e perguntou o que tinha isso tudo a ver com futebol,
empresa, equipe, treinamento e resultados.
 
Entrei em defesa Carlos Alberto, apesar dele ser vascaíno, e disse que nessas
horas deve se fazer uma análise crítica detalhada da situação e do
futuro, determinando metas, objetivos, planejando e organizando os passos
seguintes, do contrário não se consegue sair do lugar. Não pode haver nenhum
descuido.
 
Aproveitei para falar da notícia que saiu nos jornais, informando que a produção
industrial do Brasil tinha batido recordes, atingindo 83% da capacidade instalada
e com perspectivas para melhorar ainda mais nos próximos meses.
 
As empresas,  se não fizerem uma análise crítica e deixarem a vaidade de lado,
achando que estão muito bem, poderão ser surpreendidas rapidamente.
 
Como isso pode acontecer? Perguntou Zézinho, curioso.
 
Muito simples, basta descuidarem do treinamento das equipes, da manutenção
de seus equipamentos por falta de tempo porque a produção está a todo vapor,
do planejamento e organização dos trabalhos, que logo as perdas aparecem, os
equipamentos começam a deteriorar e os problemas, quando menos se
espera, voltam para prejudicar a produtividade, a disponibilidade e o custo
operacional.
 
Não basta treinar apenas um ou dois funcionários da equipe que os resultados
não aparecem por mágica. É necessário definir uma filosofia de trabalho bem
consolidada para que os resultados comecem a surgir.
 
Seja mais claro, solicitou Zézinho! Dê exemplos.
 
1. Exemplo: Vamos analisar o estardalhaço que o Corinthians fez com a
contratação do Tevez. Será que apenas com essa contratação se tornou um time
excepcional? Somente com um jogador?
 
Conclusão: Apenas um bom jogador, por melhor que seja, não muda um time
inteiro, sem filosofia, sem equipe treinada e qualificada. Precisará de muito
tempo para chegar ao ideal, de planejamento, de tática, de organização, de um
técnico bom e inconformado procurando sempre melhorar. Muitas vezes as
equipes são boas mas o Técnico não é experiente para torna-la vencedora,
mesmo sendo cobrado pelos Dirigentes, diariamente.
 
2. Exemplo: Dia 16/02/2005 foi um dia especial para a humanidade porque os
países signatários do Tratado de Kioto começaram a colocar em prática o
planejamento e as ações determinadas em conjunto, que só trarão resultados
concretos daqui a 100 anos. Nenhum de nós vai usufruir dessas melhorias, mas
elas são importantes para haver continuidade e um mundo melhor. Talvez
nossos netos consigam usufruir desse compromisso.
 
Conclusão: Se houver egoísmo, imediatismo, falta de visão, falta de investimento
a médio e longo prazos, poderemos acabar com tudo e não projetarmos nada
para os outros, independente do tempo que determinarmos como referência. Os
resultados não aparecem de uma hora para outra e os problemas se tornam
repetitivos.
 
3. Exemplo: Quando jogávamos Futsal predominavam os especialistas e quando
o "Pivô" jogava mal o time perdia porque ele era responsável em fazer os gols.
Hoje o Futsal é muito diferente, até o goleiro faz gol e pode sair da área tocando
apenas com os pés na bola, o que não era possível antes. Houve uma grande
evolução e a equipe hoje, não depende mais de apenas um ou dois especialistas
e sim do conjunto.
 
Conclusão: As empresas que ainda possuem muitos especialistas em suas
equipes, muitas vezes ficam na mão desses profissionais, alguns sem
treinamento mas conhecedores de todos os "Gatilhos e Gambiarras" do
passado. Se tornam dependentes deles, independente da estrutura hierárquica
que possuem com profissionais altamente qualificados, com MBA, etc... Quem
faz realmente acontecer são esses especialistas!
 
Não concordo, falou Carlos Alberto. Não é bem assim, você está redondamente
enganado.
 
Nesse momento tocou o seu celular, interrompendo o seu protesto. Era da
fábrica, informando que estavam com o segundo turno todo parado porque a
máquina de corte estava com defeito e não tinham localizado o Mecânico
Epaminondas, pois só ele conhecia aquela máquina velha, sem manual, sem
diagramas, sem histórico. Já tinham mandado até um carro na casa dele mas
não o encontraram, por isso estavam ligando para o Carlos Alberto para
comunica-lo (o Epaminondas foi procurado primeiro).
 
Nesse momento o Carlos Alberto se lembrou que era o Diretor Industrial de
uma grande empresa que dependia do Epaminondas para poder produzir......
Pediu para fechar a conta e foi embora, tentar localizar o Epaminondas a
qualquer custo.
 
Reflitam sobre tudo isso e decidam onde querem chegar. Se continuarão usando
como desculpa a reestruturação natural e contínua, para reduzir os
investimentos e parar com os projetos ou se colocarão em prática todas as
ações necessárias para sair de onde estão e subir mais um degrau,
acompanhando a evolução natural e necessária desse mundo globalizado. Sem
parar de investir em projetos, treinamentos e esquecendo de pensar no futuro,
dependentes do Epaminondas.
 
Espero que o relato dessa discussão possa ajudar na reflexão e tomada de
decisão.
 
Um abraço,
 

Marcio Cotrim
 

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