Você está na página 1de 2

SETUP X JIT OU JIP

 
Desde que resolvi trabalhar como Consultor Industrial, há 13 anos, tenho o hábito, quando estou no
escritório, de estudar no mínimo uma hora por dia, lendo artigos, consultando livros técnicos, pesquisando
novas metodologias e exemplos de casos, enfim, me atualizando e reciclando. Essa prática é acelerada
quando estou organizando algum treinamento, pois entendo que ler um artigo ou livro várias vezes em
tempos diversos, sempre nos faz entender cada vez melhor o que o autor escreveu.
 
Outro dia assisti a uma reportagem na TV sobre fórmula 1 onde mostravam o treinamento das equipes
para o Pit Stop e me despertou a curiosidade para ler alguma coisa sobre SETUP.
 
A leitura sobre o assunto me criou alguma dúvidas com as empresas que implantam o JIT daquela cidade
distante e fria do texto anterior chamada Mirtowisc, e resolvi pesquisar para saber como fazem o setup de
suas ferramentas/moldes e/ou troca de processo, cores, etc... Entrei em contato com o engenheiro que
escreveu o artigo e conhece bem as empresas e marcamos uma conversa.
 
Claro que li um pouco sobre o assunto para entender melhor a metodologia utilizada na Troca Rápida de
Ferramenta - TRF ou Troca de Ferramentas em um único Toque - OTED - One-touch Exchance of
Die ou SMED - Single Minute Exchance of Die.
 
Fiquei impressionado ao ler alguns capítulos do livro de Shigeo Shingo, onde ele afirma que qualquer
setup pode ser executado em menos de 10 min. Quanto tempo será que as empresas que implantam o
JIT demoram?
 
Mas o que é mesmo SETUP?
 
Todo equipamento utilizado para fabricar diferentes produtos, está sujeito a perdas devido a ajustes,
preparação e regulagens, a fim de atender aos requerimentos do outro produto. Durante esta preparação
se produzem perdas devido aos tempos mortos e produtos defeituosos como conseqüência da regulagem
e devido à troca de rebolos, brocas, cortadores, pontas, ferramentas, estampos de corte, limpeza de
tubulações e outros dispositivos que sofram desgaste de vida útil destes componentes.
 
Para relembrar o conceito, chamamos de setup o tempo decorrido entre a última unidade boa de um lote
e a primeira unidade boa de outro lote em velocidade normal, após todas as regulagens e alterações
necessárias terem sido realizadas.
 
O tempo de Setup pode ser classificado em três funções básicas:
 PREPARATIVOS E LIBERAÇÃO: Matéria-Prima, Dispositivos, Controles, locais
de espera e fornecimento. ( 30% )

 TROCA DE FERRAMENTAL: Desinstalação do ferramental que foi utilizado e


instalação do que será utilizado no outro lote ou peça. ( 20% )

 AJUSTES: Operações de ajustes, regulagens, testes de máquinas, medição,


ajustes de parâmetros – velocidade, pressão, temperatura, vazão - e qualidade. (
50% )
Para iniciar a conversa perguntei se as empresas planejavam com antecedência o Setup e o engenheiro,
autor do texto sobre as empresas daquela cidade, me informou que sim, apesar das constantes
mudanças de programação de produção.
 
Ousei um pouco mais nas minhas perguntas e fui bem objetivo ao perguntar como faziam, quais os
problemas que tinham e em quanto tempo realizavam a troca de um molde. Ele me respondeu o seguinte:
 
1. Apesar de planejarem o setup, o quadro de Trocadores de Molde é pequeno e os Operadores não
costumam participar ajudando porque são deslocados para outras máquinas ou não são treinados, com
isso, o planejamento costumava falhar e as trocas são demoram às vezes mais do que 2,0 h. Mas
informou que o tempo de setup, por ser uma parada planejada não era computado como perda, em
algumas empresas, o que não interferia muito na eficiência do equipamento que continuava boa.
 
2. As constantes mudanças do programa de produção exigem uma grande quantidade de setup e como
as máquinas e moldes não estão padronizados, não existe flexibilidade operacional. É comum moldes
dedicados a uma máquina porque não conseguem fixação em outras.
 
3. O tempo varia para cada máquina, molde e/ou turno de trabalho, pois depende da habilidade dos
Trocadores de Molde, dos Operadores, do Planejamento e da Ferramentaria. Às vezes o molde a ser
trocado não está disponível e necessita de alguns ajustes, limpeza, etc.... e até de localização porque a
armazenagem não está bem endereçada e nem sempre o molde se encontra no lugar que deveria estar.
Com isso, a máquina fica parada esperando o Trocador de Molde localizar e pegar o molde a ser trocado
e todas as ferramentas necessárias para o setup.
 
4.  A etapa de ajuste demora um pouco mais porque alguns moldes e máquinas não possuem histórico,
outros já ultrapassaram a vida útil e estão cheios de "jeitinhos técnicos" que prejudicam a qualidade do
produto, a refrigeração também apresenta problemas porque existem cavidades adaptadas e canais de
refrigeração modificados e até fora da especificação, além da temperatura da água que varia muito.
 
Diante de tudo que ele me disse, nem perguntei sobre Operações Internas e Externas, resolvi interromper
a conversa porque achei que ele estava ficando um pouco desconfortável com tantos
problemas, principalmente por ter dito que praticavam JIT e que os equipamentos estavam trabalhando
eficientemente. Não pergutei também sobre MTTR, MTBF e Disponibilidade, deixei para outra
oportunidade.
 
Depois que ele foi embora fiquei pensando:
 
1. Quanto tempo será que perdem por setup em um mês em cada máquina?
2. Quanto essa perda representa na redução da Disponibilidade da máquina?
3. E a Eficiência Global, como deve estar?
4. Será que a soma dessas perdas pode justificar a compra de alguma máquina?
 
Espero que o assunto abordado acima ajude principalmente a reflexão.

Atenciosamente,
 
Marcio Cotrim
MC CONSULTORES LTDA

Você também pode gostar