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POS-DESENVOLVIMENTO DEBATE ALTERNATIVO

(Prof. DR. Aurélio Guterres, PhD)

1. Desenvolvimento alternativo
A abordagem de desenvolvimento alternativo surgiu devido à atuação de uma série de fatores
convergentes, no final dos anos 70, incluindo:

a. Críticas por cientistas sociais à natureza tecnocêntrica e descendente do topo para a


base das abordagens modernistas;
b. a reafirmação dos sentimentos populistas em termos de protestos populares e de
movimentos de desenvolvimento das bases, e
c. o estilo de pesquisa participativa defendido por institutos para a pesquisa agrária
(Blaikie 2002).

Os teóricos de desenvolvimento alternativo defendem que o desenvolvimento é sobre a


capacitação de grupos excluídos, dando-lhes a oportunidade de ter um maior controlo sobre as
suas vidas e bem-estar. Valorizam o conhecimento e capacidades indígenas, e tentam uma
fundação em recursos locais, tanto culturais como físicos (Friedmann 1992).

As abordagens de desenvolvimento alternativo focam-se assim nas pessoas em contextos


locais e em estratégias de pequena escala, da base para o topo (bottom-up), para o seu
desenvolvimento. Em vez de dedicar tempo a desconstruir e a criticar o discurso e a prática do
desenvolvimento, como os teóricos de pós-desenvolvimento que consideraremos no tópico
seguinte, os teóricos de desenvolvimento alternativo procuram as formas de desenvolvimento
adequadas para melhorar o bem-estar das comunidades locais. Estes sentimentos são
expressos por Brohman (1996) em relação a uma abordagem alternativa ao desenvolvimento
do turismo, que é centrado nas comunidades:

Um desenvolvimento do turismo com base na comunidade pretenderia fortalecer as


instituições concebidas para melhorar a participação local e promover o bem-estar
económico, social e cultural da maioria popular. Iria também procurar obter uma
abordagem equilibrada e harmoniosa para o desenvolvimento que destacasse as
preocupações como a compatibilidade de várias formas de turismo com outros
componentes da economia local; a qualidade do desenvolvimento, tanto cultural
como ambientalmente; e as necessidades divergentes, os interesses e os potenciais da
comunidade e dos seus habitantes.

Um grande contributo do desenvolvimento alternativo é a forma como destaca a importância


da sociedade civil, em vez de assumir que o desenvolvimento deve ser liderado pelo mercado
e, de diversas formas, controlado ou apoiado pelo estado:

Interesse renovado na sociedade civil - comunidades, movimentos populares e redes


sociais [permite] a possibilidade de visões alternativas de bases, participativas,
subalternas de desenvolvimento fora do horizonte tanto do estado como do mercado
(Watts 2000).

Os teóricos de desenvolvimento alternativo argumentam que o poder do povo implícito na


sociedade civil é essencial para uma forma de desenvolvimento autodeterminada e portanto
assim as suas estratégias focam-se frequentemente no trabalho com as Organizações Não

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Governamentais (Non Government Organization (NGO), Organizações Baseadas na
Comunidade (Community Base Organizations-CBO) e organizações voluntárias. Imagem a
seguir resume os principais aspectos do pensamento de desenvolvimento alternativo.

Aspectos do desenvolvimento alternativo

Com base nos


contextos
locais
De base para De pequena
o topo escala

Realça os
Desenvolvimento Flexível
papéis na
Alternativo
sociedade
civil

Capacita os Culturalment
pobres e sensível
Participativo

2. Impacto do desenvolvimento alternativo na prática do desenvolvimento


Uma das características distintas do desenvolvimento alternativo é a forma como muitas das
suas ideias surgiram da problematização da prática do desenvolvimento e da observação que
as teorias e práticas de desenvolvimento estabelecidas, muitas surgindo do paradigma de
modernização, não estavam a cumprir os objectivos principais, tais como alívio da pobreza,
estavam a negligenciar seções importantes da população-alvo, como as mulheres, ou tinham
grandes consequências secundárias, como os danos ambientais. Assim, várias pessoas que
estavam envolvidas na prática do desenvolvimento, como Robert Chambers ou Michael
Lipton, ou observadores críticos, tais como Barbara Rogers ou Michael Fledclift, realçaram as
deficiências na prática convencional de desenvolvimento e começaram a sugerir formas em
que a prática futura seria melhor servida por princípios alternativos, como ir ao encontro de
necessidades básicas, lutar pela equidade social ou conservar o ambiente. Michael Edwards
(1989) também realçou a aparente irrelevância das teorias do desenvolvimento para
pressionar necessidades de desenvolvimento.

As preocupações dos especialistas foram, em primeiro lugar, fundamentar a prática do


desenvolvimento em vez de alargarem os grandes debates teóricos, apesar de alguns se terem
baseado em mudanças teóricas mais abrangentes, e contribuído para elas. Além disso,

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tentaram-se focar nestes grupos anteriormente negligenciados por muitas vezes alguns
argumentariam que foram até ignorados em programas de desenvolvimento.

Ao contrário dos grandes debates ideológicos, podemos observar que estes autores de
desenvolvimento alternativo pareceram ter impacto na prática de desenvolvimento. Os
organismos de assistência, como o Banco Mundial e agências para o Desenvolvimento
Internacional, adoptaram princípios como manter uma abordagem para o desenvolvimento
sensível às questões de, proteger o meio ambiente e a subsistência dos que dependem dele, ou
assegurar a participação da população alvo na concepção e operação do projeto. Poder-se-ia
argumentar que isto é mais uma questão de recorrer ao jargão politicamente correto do que
uma mudança fundamental na filosofia do desenvolvimento, mas de facto demonstra que a
teoria pode revelar uma mudança na prática.

3. Participação
A participação e o empowerment são talvez os dois lemas do desenvolvimento alternativo.
Pegue em qualquer texto recente no âmbito do extenso domínio dos estudos de
desenvolvimento e não deve passar muito tempo até encontrar estas palavras. Estes termos
inegavelmente populares fazem parte do discurso atual sobre o desenvolvimento, embora os
seus significados tenham sido frequentemente contestados. Alguns sugerem que por terem
sido utilizados por tantas organizações e indivíduos diferentes em contextos variados,
tornaram-se parte de uma linguagem de desenvolvimento apelativa porém sem sentido
(Goldsmith 1991). Rahnema (1992), por exemplo, afirma que, enquanto os termos
participação e participativo são agora usados na política e prática do desenvolvimento,
perderam grande parte do seu valor. Participação como um meio, é utilizar ferramentas de
Partipatory Rural Apraisal pode melhorar os resultados de um projeto ou de um programa, ao
aproveitar capacidades locais, conhecimento e mão-de-obra, e aumentando a probabilidade de
ter apoio local para uma intervenção. Participação como um fim em si própria, é a
participação tem como alvo os grupos marginalizados, para que intervenham efetivamente nas
estruturas políticas, económicas e sociais, e partilhem os benefícios.

Não é a participação per se mas a natureza desta participação que se tornou fundamental no
diálogo relativo ao desenvolvimento. Mowforth e Munt explicam isto em relação ao
envolvimento da comunidade no desenvolvimento do turismo:

O debate atualmente não é se as comunidades locais devem ser envolvidas no


desenvolvimento do turismo nas suas zonas, mas como devem ser envolvidas e se o
envolvimento significa controlo (Mowforth e Munt 1998).

Uma ferramenta útil para determinar a natureza da participação é a tipologia da participação


de Pretty (1995) onde identifica sete níveis, com a participação manipulativa num lado do
espectro e auto-mobilização noutro.

Tipologia de Participação

Auto-mobilização As pessoas participam ao tomar iniciativas independentemente das


instituições externas para mudar sistemas. Esta mobilização auto-
iniciada e ação colectiva pode ou pode não desafiar as distribuições
injustas existentes de riqueza e poder.

Participação As pessoas participam em análises conjuntas, que conduzem a planos

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interativa de ação e à formação de novos grupos locais ou ao fortalecimento dos
existentes. A participação interativa tende a envolver metodologias
interdisciplinares que procuram múltiplas perspectivas e utilizam
processos de aprendizagem sistemáticos e estruturados. Estes grupos
controlam as decisões locais, para que as pessoas tenham um interesse
investido na manutenção das estruturas ou práticas.

Participação As pessoas participam ao formar grupos que vão ao encontro de


funcional objectivos pré-determinados relativos ao projeto, que podem envolver
o desenvolvimento ou promoção de uma organização social
externamente iniciada. Este envolvimento não tende a ser nas fases
iniciais dos ciclos do projeto ou de planeamento, mas sim após terem
sido tomadas decisões importantes. Estas instituições tendem a ser
dependentes de impulsionadores e facilitadores externos, mas podem
tornar-se autossuficientes.

Participação para As pessoas participam ao fornecer recursos, por exemplo mão-de-obra,


incentivos em troca de comida, dinheiro ou outros incentivos materiais. Grande
materiais parte da pesquisa in situ e bioprospecção recai nesta categoria, à
medida que as pessoas rurais fornecem os recursos mas não são
envolvidas na experimentação ou processo de aprendizagem. É muito
comum ver esta dita participação, embora as pessoas não tenham
qualquer interesse em prolongar as atividades quando os incentivos
acabam.

Participação por As pessoas participam ao serem consultadas, e os agentes externos


consulta ouvem as opiniões. Estes agentes externos definem os problemas e as
soluções, e podem alterá-los à luz das respostas das pessoas. É um
processo consultivo não proporciona qualquer participação na tomada
de decisões e os profissionais não têm qualquer obrigação em acatar as
opiniões das pessoas.

Participação A população participa ao responder a questões colocadas por


através do investigadores e gestores de projeto utilizando questionários ou
fornecimento de abordagens semelhantes. As pessoas não têm oportunidade para
informações influenciar os processos, dado que os resultados da pesquisa ou da
concepção do projeto não são partilhados nem é verificada a sua
exatidão

Participação As pessoas participam ao ser-lhes dito o que vai acontecer ou o que já


passiva aconteceu. É uma comunicação unilateral por uma administração ou
gestão de projeto; as respostas das pessoas não são consideradas. A
informação a ser partilhada pertence apenas aos profissionais externos.

Uma dicotomia simplificada que surge da tipologia de Pretty é a participação passiva versus
ativa. Recorrendo, novamente, ao exemplo do envolvimento da comunidade no turismo,

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quando as comunidades são participantes passivas num processo de desenvolvimento, podem
receber apenas alguns trabalhos servis num resort turístico ou ter uma percentagem nas
entradas de um parque natural, não exercendo qualquer controlo na natureza do
desenvolvimento do turismo ou qualquer envolvimento no mesmo. A participação ativa, em
alternativa, deve significar que as comunidades têm acesso à informação sobre os prós e
contras do desenvolvimento do turismo, e que estão diretamente envolvidas no planeamento e
gestão do turismo, em consonância com os seus próprios interesses e recursos.

Enquanto a participação ativa é um ideal, pô-la em prática não é de forma alguma um


processo simples. Koch (1997) identificou uma série de constrangimentos na participação de
comunidades locais em projetos turísticos na África do Sul, e os seus pontos são aplicáveis a
uma grande variedade de contextos.

Constrangimentos à participação ativa das comunidades nos projetos turísticos

1. As comunidades não têm, frequentemente, qualquer propriedade sobre a terra e recursos


naturais, logo a participação no turismo é limitada à cooptação em iniciativas controladas por
outros.

2. As capacidades, o conhecimento e os recursos adequados para o desenvolvimento de


projetos de turismo são frequentemente escassos ao nível da comunidade.

3. As comunidades pobres consideram ser difícil acumular ou atrair o capital necessário para
desenvolver instalações ou atrações turísticas.

4. As comunidades são frequentemente heterogéneas, compreendendo uma série de grupos de


interesse diferentes que podem chegar a ser concorrentes relativamente ao desenvolvimento
de um empreendimento turístico potencialmente lucrativo.

Fonte: Koch (1997)

Embora os pontos de Koch tenham sido elaborados com relação ao sector do turismo,
aplicam-se igualmente a muitos outros aspectos do desenvolvimento. Conforme definido no
primeiro ponto de Koch, apenas se pode esperar que as comunidades participem ativamente
num projeto se tiverem um sentido de propriedade em relação a ele (Guevera 1997). É por
isso que as políticas dos governos do Zimbabué e da Namíbia de permitir que as comunidades
giram a vida selvagem das suas terras comuns oferecem-lhes uma excelente oportunidade
para descobrir formas de envolvimento de forma igualitária em iniciativas de
desenvolvimento. Relativamente ao segundo ponto, muitas comunidades, tanto urbanas como
rurais, não têm capacidades, experiência, redes ou recursos para participar de forma efetiva
nas iniciativas de desenvolvimento. Isto sugere que as abordagens alternativas destinadas ao
aumento de consciencialização e formação de capacidades têm um importante papel em
permitir que as comunidades participem de forma mais ativa nas iniciativas de
desenvolvimento, devendo assim ser implementadas numa fase inicial.

O terceiro ponto de Koch chama a atenção para a falta de recursos financeiros que as
comunidades podem angariar para o investimento no desenvolvimento. O controlo local é
certamente mais difícil de alcançar quando as comunidades se endividam a entidades de
crédito ou estão envolvidas em parcerias com interesses externos de maior poder de forma a
reunir capital para iniciar um projeto de desenvolvimento. O quarto ponto de Koch foi

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enfatizado por muitos autores que abordam os constrangimentos à participação: as
comunidades são compostas por diversos grupos de interesse, sugerindo que os grupos
marginalizados dentro das comunidades terão especiais dificuldades especiais em serem
participantes ativos nos processos de desenvolvimento. Como De Kadt (1990) adverte, os
apelos à participação da sociedade disfarçam a conhecida tendência das elites locais em
apropriarem-se dos órgãos de participação para benefício próprio. As elites dentro das
comunidades tornam-se frequentemente mais ricas do que as outras simplesmente porque têm
poder e confiança para lidar com terceiros e asseguram-se que as oportunidades de
desenvolvimento permitem ganhos específicos para si e para as suas famílias (De Kadt 1990).
Logo:

A menos que sejam tomadas medidas específicas para incentivar a participação


significativa na tomada de decisão da comunidade por membros de sectores da
população, incluindo grupos tradicionalmente descriminados, o aumento da
participação local pode simplesmente transferir o controlo do desenvolvimento de
um grupo de elite para outro (Brohman, 1996).

Adicionalmente, como France (l997) observa, A escala (...) irá afectar a intensidade e a
natureza da participação. É muito mais fácil para as comunidades tomarem um papel de
controlo nas iniciativas de pequena escala do que em iniciativas grandes e de grande capital.
Da mesma forma, os grupos menos influentes na sociedade terão mais oportunidades em
participar em empresas de pequena escala.

A teoria de desenvolvimento alternativa sugere que as comunidades locais devem ser centrais
ao planeamento e gestão do desenvolvimento, e incentiva que as vozes dos mais afectados
pelo desenvolvimento sejam ouvidas. Este incentivo poderá tomar a forma de sistemas
formalizados do planeamento a nível local, que envolva ativamente comunidades locais ou,
no outro extremo, poderá resultar em protestos por parte de sectores da comunidade
insatisfeitos com a forma como o turismo tem impacto na sua sociedade e ambiente. Milne
(1998) refere-se a estas alternativas quando discerne uma diferença entre participação
sancionada, na qual os governos ou as organizações não-governamentais estabelecem e
dirigem um processo que incentiva o envolvimento local na tomada de decisões, e
organização política independente, em que grupos distintos tentam exercer controlo sobre o
desenvolvimento, por vezes através de meios não-conflituosos, incluindo trabalho de
sensibilização, mas por outras vezes através do protesto direto. As sugestões de Milne são
semelhantes à noção de espaços de participação de convidado versus reclamado de Cornwall
(2002).

4. Desenvolvimento da base para o topo (bottom-up)


A participação ativa no desenvolvimento é frequentemente defendida por aqueles que optam
por uma abordagem “da base para o topo” para o desenvolvimento. A maior parte do
planeamento de desenvolvimento ainda advém de cima, através de planos e departamentos
governamentais, assistência e agentes externos. A fundamentação para esta abordagem é que
existe uma necessidade em monitorizar, controlar e coordenar a utilização de recursos
escassos. Consideram que a população local não tem conhecimento, recursos e visão geral
sobre os assuntos para poderem cuidar do seu próprio desenvolvimento. Os especialistas
sabem o que é melhor. Como poderá ver na Imagem abaixo, isto resulta num processo de
desenvolvimento no qual a maioria das fases: identificação, planeamento, implementação e
avaliação são controlados superiormente e com a utilização de muitos recursos externos. A

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alienação do processo conduz normalmente à falta de participação das pessoas. Os
planeadores culpam a ignorância ou apatia das pessoas mas os esquemas falham com
frequência porque as pessoas são alheadas dos processos de planeamento e desenho do
projeto mas é esperado que os façam funcionar. Quando os políticos e doadores de ajuda
chegam à cerimónia de inauguração, cortam a fita, tiram as fotografias e saem, as
comunidades são deixadas entregues aos seus próprios mecanismos para fazerem funcionar
um projeto que poderá não ser realmente o que desejavam, que não vai ao encontro das suas
necessidades, em cuja construção não estiveram envolvidas ou que não têm capacidades para
operar mas que frequentemente é expectável que paguem! Deve ser pouco surpreendente que
estes esquemas falhem muitas vezes.

Ao observar este fracasso, muitos praticantes e planeadores apelaram ao desenvolvimento das


bases para o topo (Stohr e Taylor 1981) onde existe uma participação muito maior das
populações que são alvo de um projeto de desenvolvimento. Os principais elementos desta
abordagem incluem:

a. As pessoas identificam os seus próprios problemas e necessidades, e não os


especialistas externos tenha em atenção que as abordagens do modo de vida
sustentável e pós-desenvolvimentistas, a serem consideradas mais à frente neste
curso, muitas vezes dão a volta a esta ideia e começam por pedir a pessoas locais que
identifiquem os seus pontos fortes, recursos e bens.
b. As pessoas sugerem soluções para estes problemas e necessidades, ou pelo menos são
envolvidas em debates sobre possíveis soluções. Se necessário, podem requerer
assistência externa com os recursos.
c. Primariamente, existe o uso de mão-de-obra e recursos locais que são de baixo custo,
tecnologicamente simples acarretam menos peso na dívida.
d. As próprias comunidades avaliam o esquema, talvez em conjunto com quaisquer
doadores externos, e reavaliam os seus problemas e necessidades.

Esta participação resulta num aumento de motivação e envolvimento. As pessoas terão um


interesse próprio no sucesso do projeto se estiverem envolvidas em todas as fases de um
projeto e tiverem um sentido de propriedade sobre ele. É uma filosofia de autoajuda. A
consulta e a participação são fulcrais e o processo é por vezes designado por planeamento
participativo.

Isto pode parecer bem na teoria mas pô-lo em prática poderá não ser fácil (Rahnema 1992).
Esta abordagem participada pode deparar-se com alguns problemas:

a. Existe a questão de quem representa as pessoas. Nas sociedades que são desiguais ou
heterogéneas dividido por género, idade ou casta, os grupos diferentes podem não ser
devidamente representados pelos líderes tradicionais. O desenvolvimento terá assim
de se focar exatamente no grupo-alvo (por exemplo, nas mulheres rurais em vez de
apenas habitantes rurais) e assegurar a sua participação, apesar de esta situação poder,
por sua vez, conduzir a um conflito com outros grupos nesta sociedade (por exemplo,
líderes homens).
b. As pessoas podem precisar de ter confiança em falar e lidar com estrangeiros. Os
pobres têm habitualmente menos poderes na sociedade e pouca experiência na
articulação das suas necessidades. O desenvolvimento precisa de centrar-se no
empowerment, capacitando esses grupos para que expressem as suas opiniões e para

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responderem às suas iniciativas. Este empowerment pode ser assim um fim muito
importante do desenvolvimento por si só, ao invés de representar apenas um meio
para a implementação de um projeto.
c. Existe a questão de ver a madeira e não as árvores. As pessoas podem conseguir
identificar os seus problemas imediatos e assim tentar resolvê-los sem observar os
motivos subjacentes à sua situação. Quaisquer resultados irão meramente tratar o
sintoma em vez de atacar a causa. O conhecimento mais alargado do mundo e um
sentido de consciência crítica são necessários.

Modelos de desenvolvimento

A. Desenvolvimento “do topo para a base”

FINANCIADOR

Identificação Desenho Implementação Avaliação


(necessidades) (meios) (recursos)
(julgamento)

BENEFICIÁRIOS

B. Desenvolvimento “de base”

FINANCIADOR

Identificação Desenho Implementação Avaliação


(necessidades) (meios) (recursos)
(julgamento)

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FACILITADOR

PARTICIPANTES PRIMÁRIOS

Para lidar com estas dificuldades, existe ainda uma função para uma agência ou indivíduo
externos. Não é tanto um especialista mas um facilitador e um defensor articulado e
informado. O facilitador pode formar o terceiro vértice de um triângulo que envolve as
pessoas e o governo ou agência externa. Nesta função pode encaixar-se alguém que tenha
horizontes e aptidões mais abrangentes e alguém habituado a lidar com burocracias. A
empatia com as pessoas locais e com as suas necessidades é também um pré-requisito. Pode
ser uma função para um membro formado da comunidade ou pode ser uma pessoa externa.
Esta pessoa tem a função difícil de obter opiniões locais, de as representar perante o governo
ou qualquer outra entidade e conduzir o projeto no interesse das pessoas. Mais uma vez, isto
nem sempre é linear, dado que a população local poderá suspeitar das pessoas externas e dos
seus motivos. Também poderá evoluir para uma mentalidade messiânica, onde o facilitador é
visto como um deus e desenvolvem-se expectativas irrealistas (Rahnema 1992). Por isso, a
participação parece ser um pré-requisito necessário para o sucesso do desenvolvimento, mas
não irá assegurá-lo, e pode ser bastante difícil implementá-la na prática.

5. Empowerment
Conforme acima indicado, a participação pode ser na verdade deveras passiva na prática e
pode funcionar em condições de opressão, coerção e exploração. O empowerment envolve
algo mais, o envolvimento ativo das pessoas que lhes dá a capacidade - o poder - para mudar
as suas próprias vidas para melhor. Antes de podermos compreender totalmente o
empowerment, temos de ser claros sobre o significado do seu termo basilar: power (poder).
Segundo Rowlands (1997), poder é frequentemente considerado como um conceito binário e
hierárquico, segundo o qual o poder é sinónimo de domínio. Este é o poder sobre e é
instrumental, no sentido em que é compreendido como meio de influenciar os outros para a
própria vantagem. No entanto, os teóricos dos estudos de desenvolvimento geralmente
preferem ver o poder como uma força motriz e produtiva que pode ser adoptada individual ou
colectivamente: poder para, poder com e poder de dentro. Com estas últimas percepções de
poder, torna-se evidente que uma agência de desenvolvimento não pode realmente empossar
alguém que seja oprimido, marginalizado ou, de outra forma, desfavorecido; no entanto pode
promover empowerment.

O conceito de empowerment foi trazido para a linha da frente do pensamento de


desenvolvimento por teóricos do desenvolvimento alternativo que apoiaram a participação
das bases e o desenvolvimento a nível local. Para os pobres, os descriminados e os excluídos,
o empowerment representa um desafio significativo às estruturas atuais de poder. Pode assim

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ser visto como essencial a qualquer grupo que pretenda desafiar os sistemas de opressão que
tenham restringido as suas oportunidades de vida. O empowerment é um processo através do
qual os indivíduos, famílias, grupos locais, comunidades, regiões e nações moldam as suas
próprias vidas e o tipo de sociedade onde querem viver (France 1997).

O termo tem ligações estreitas ao trabalho de Paulo Freire (1972). Freire acreditava que a
educação ou consciencialização das pessoas sobre as estruturas e processos da sua opressão
devia ser o primeiro passo crítico para a sua libertação. Assim que as pessoas se tornassem
conscientes da sua condição, estas tomariam os passos para se libertarem da exploração e da
subordinação.

No entanto, o empowerment não entrou na corrente do discurso do desenvolvimento até à


publicação do livro Empowerment: The Politics of Alternative Development de John
Friedmann, em 1992. Friedmann compreendeu o empowerment como um fenómeno
complexo que envolvia dimensões psicológicas, sociais e políticas. Centrou-se no nível das
famílias como o locus para uma abordagem alternativa ao desenvolvimento, sugerindo que o
desenvolvimento poderia ser melhor alcançado por uma cidadania auto-capacitada,
mobilizadora de recursos.

O trabalho de Friedmann inspirou apoiantes de um desenvolvimento alternativo que


defendiam formas de desenvolvimento de base e participativas. Estas abraçaram o
empowerment por ser considerado como central às possibilidades para o desenvolvimento das
pessoas oprimidas e excluídas, e através do seu reconhecimento das políticas, para a
autodeterminação. Desta forma, não é surpreendente que se encontre muita matéria sobre o
empowerment entre os interessados nos direitos e conhecimento das pessoas indígenas,
especialmente em relação às questões sobre propriedade e utilização de terras e de outros
recursos naturais.

Neste sentido, o empowerment é um processo intensamente político porque tenta quebrar o


estatuto das relações de poder político e de opressão e dar poder aos grupos pobres e
marginalizados na sociedade. O estudo de caso na seguir apresenta um bom exemplo da
natureza política do empowerment. Este não procura necessariamente um fim definido em
termos de um modelo de desenvolvimento mas considera crítico o processo de empowerment
e de libertação como meio para as populações determinarem os seus próprios objectivos de
desenvolvimento. Este processo põe bastante ênfase no desenvolvimento comunitário, nas
organizações civis e nas NGO.

Existem preocupações que, tal como a participação, o empowerment seja frequentemente


utilizado de forma deveras experimental, como meio pelo qual as pessoas desfavorecidas
podem ser efetivamente aproveitadas para alcançar determinados objectivos organizacionais
ou institucionais definidos de cima para baixo. Desta forma, a noção que o empowerment tem
como objectivo melhorar o bem-estar dos indivíduos ou das comunidades, tal como é
depreendido no discurso de desenvolvimento, vai contra a utilização do termo no mundo
empresarial onde é associado com a atribuição de maior responsabilidade a trabalhadores que
serão então mais eficientes, prestarão melhor serviço ao cliente ou, por outro lado melhorarão
os interesses da empresa de qualquer outra forma.

Como por exemplo, empowerment através da consciencialização na Tanzânia, o programa de


género e de desenvolvimento de uma NGO gerida pelos Maasai de nome CORDS
(Community Organisation for Research and Development) desenvolve a consciencialização e

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formação em 14 grupos de mulheres do povo Maasai no Norte da Tanzânia. Em 2006, no
distrito de Kiteto, esta formação inspirou as mulheres a unirem-se numa tentativa de expulsar
ocupantes ilegais que estavam a fazer plantações em terrenos que eram anteriormente de
pastagem de gado. Havia uma suspeita em como os líderes homens na área, que não fizeram
qualquer tentativa para desafiar os ocupantes, tinham recebido subornos por parte destes. O
conluio dos seus próprios líderes dificultou bastante que outros homens Maasai agissem para
retirar os ocupantes. No entanto, as mulheres não estavam dispostas a ser complacentes, em
especial quando viram que as crianças Maasai estavam constantemente a ser espancadas pelos
ocupantes quando o seu gado deambulava para as terras recém-cultivadas. Armadas com o
novo conhecimento sobre direitos sobre as terras e direitos das mulheres, fornecido pela
CORDS, estas mulheres decidiram agir, primeiro batendo às portas das entidades oficiais do
distrito para apresentarem queixa. Como isto não surtiu qualquer efeito, decidiram enviar uma
delegação de um homem e de uma mulher a Dodoma, para falar com o Primeiro-Ministro. O
Primeiro-Ministro teve uma reunião breve com eles, e ordenou posteriormente uma comissão
de inquérito sobre a ocupação de terras a ocorrer. Como resultado: a) o Comissário Distrital
de Kiteto foi demitido, e b) os ocupantes ilegais foram notificados com ordens de despejo.
Dado que estavam ainda a tentar resistir ao despejo, as mulheres do distrito de Kiteto
mantinham-se inflexíveis em continuar a assegurar que têm terra para deixar aos seus filhos.
Estas mulheres desejam que a formação da CORDS continue:

Queremos mais formação porque é assim que iremos obter força e conhecimento. Se
não tivéssemos tido formação, teríamos ficado nas nossas casas até que os intrusos
entrassem e as queimassem (Membro do grupo de mulheres de Irpopongi (Regina Scheyvens
2006)

Enquanto alguns autores defendem uma distinção clara entre empowerment como processo e
como objectivo de desenvolvimento, os dois estão estritamente ligados na prática. Para o
concretizar, defensores do mapeamento comunitário, em que grupos de pessoas são
capacitadas para mapear a sua comunidade, incluindo recursos, bens e informação social,
sugerem que esta pode ser uma experiência de capacitação de duas formas para os
participantes. Em primeiro lugar, o processo de reunião e de envolvimento numa ação
colectiva pode permitir que as pessoas descubram que têm interesses e aspirações em comum
com aqueles que vivem à sua volta, e que juntos podem trabalhar para realizar mudanças
positivas nas suas comunidades. Em segundo lugar, o mapeamento comunitário pode fazer
com que as pessoas tenham um maior controlo sobre os recursos. Ao definir as fronteiras das
suas terras comunitárias, passam a ter um documento que podem usar para impedir a invasão
das suas terras pela parte de ocupantes que não sejam naturais da zona. Num ponto conexo, as
comunidades urbanas têm frequentemente elaborado mapas comunitários em resposta às
tentativas das autoridades governamentais, para os expulsar de ocupações ilegais, mas o
processo de desenvolver mapas revelou uma melhor comunicação entre as autoridades e os
ocupantes de construções ilegais e, por vezes, resultou em programas para os ajudar a
melhorar as suas instalações.

 Caso de estudo: Empowerment aplicado ao turismo


Em 1999, Prof. Regina Scheyvens concebeu um enquadramento que poderia ser utilizado
para compreender se as comunidades estavam a ser capacitadas, ou incapacitadas, para a
participação no turismo. Quatro dimensões de empowerment - económica, social, psicológica
e política - são utilizadas neste enquadramento para o reconhecimento da natureza

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multidimensional do desenvolvimento (Scheyvens 1999). Este enquadramento poderia
igualmente ser aplicado a vários outros tipos de desenvolvimento:

Moldura para avaliar a extensão do empowerment das comunidades envolvidas no turismo

Sinais de Capacitação Sinais de Incapacitação

Capacitação O turismo traz ganhos económicos O turismo resulta meramente em ganhos


económica duradouros para uma comunidade monetários pequenos e espasmódicos para
local. uma comunidade local.

O dinheiro ganho é partilhado entre A maioria dos lucros vai para elites locais,
as várias famílias na comunidade. operadores externos, agências
governamentais, etc.
Existem sinais visíveis de melhorias
realizadas pelo dinheiro que é ganho Apenas alguns indivíduos ou famílias
(por exemplo, as casas são obtêm benefícios financeiros do turismo,
construídas com materiais mais enquanto outros não conseguem encontrar
duradouros; mais crianças podem ir à uma forma de partilhar estes benefícios
escola). económicos, porque não têm capital,
experiência ou capacidades adequadas.

Capacitação A autoestima de muitos membros da Os que interagem com turistas ficam com
psicológica comunidade é melhorada devido ao a sensação que a sua cultura e forma de
reconhecimento externo da vida é inferior.
singularidade e valor da sua cultura,
dos seus recursos naturais e do seu Muitas pessoas não partilham os
conhecimento tradicional. benefícios do turismo e por isso sentem-se
confusas, frustradas, desinteressadas ou
O acesso ao emprego e ao dinheiro desiludidas com a iniciativa.
conduz a um aumento de estatuto
para as faixas tradicionalmente de
baixo estatuto da sociedade, por
exemplo, jovens, pobres.

Capacitação social O turismo mantém ou melhora o Desarmonia e declínio social. Muitos


equilíbrio da comunidade local. membros da comunidade adoptam valores
externos e perdem o respeito pela cultura
A coesão da comunidade é tradicional e pelos seus antepassados.
melhorada à medida que os
indivíduos e as famílias trabalham Os grupos desfavorecidos (por exemplo,
juntos para construir um as mulheres) sofrem as consequências dos
empreendimento turístico bem problemas associados à iniciativa do
sucedido. turismo e não conseguem partilhar de
forma equitativa os seus benefícios.
Alguns fundos angariados são
utilizados para fins de Em vez de colaborar, as famílias/ grupos
desenvolvimento da comunidade, por étnicos ou socioeconómicos competem
exemplo, para construir escolas ou mutuamente pelos benefícios oriundos do
melhorar o fornecimento de água. turismo.

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O ressentimento e a inveja são habituais.

Capacitação A estrutura política da comunidade A comunidade tem uma liderança


política representa de forma justa as autocrática e/ou de interesse próprio. As
necessidades e interesses para todos agências que iniciam ou implementam o
os grupos da comunidade. As empreendimento de turismo não
agências que iniciam ou envolvem a comunidade local na tomada
implementam o empreendimento de decisões, por isso a maioria dos
turístico procuram obter as opiniões membros da comunidade sente que pouco
dos vários grupos (incluindo grupos ou nada tem a dizer sobre o
de interesse como as mulheres, os funcionamento da iniciativa de turismo ou
jovens e outros grupos socialmente sobre a forma como funciona.
desfavorecidos) e dão oportunidades
para que estes sejam representados
em organismos de tomada de
decisões, por exemplo, o Conselho
do Parque de Vida Selvagem ou a
associação de turismo regional.

Fonte: Scheyvens (1999) Estrutura parcialmente baseada em Friedmann (1992).

O empowerment pode também ser aplicado ao processo de investigação. A maior parte da


investigação no mundo em desenvolvimento é realizado por académicos, muitos de países
ocidentais, que adquirem a informação das populações de forma a organizar a sua pesquisa e
avançar as suas carreiras!. As pessoas são fontes passivas de informação e normalmente
ganham pouco ou nada e por vezes têm até alguns transtornos com a pesquisa e com os seus
resultados. A abordagem de capacitação apela a algo diferente: para que as pessoas sejam
uma parte integral da investigação ao estarem totalmente cientes do que a pesquisa e o
investigador pretendem, ao ajudar a definir os objectivos de pesquisa identificando e
articulando as suas próprias necessidades e ao serem completamente informados dos
resultados da pesquisa. Isto é frequentemente denominado investigação participativa e pode
envolver uma ampla variedade de metodologias de pesquisa, tais como o diagnóstico rural
participativo (Chambers 1997), pesquisa-ação ou observação participante.

6. Desenvolvimento alternativo aplicado ao turismo

Turismo alternativo (Brown 1998).

a. Oferece oportunidades significativas para o envolvimento e benefícios ativos locais.


b. Oferece educação mútua de turistas e aqueles nas áreas de destino.
c. É desenvolvida numa escala e num ritmo que vai ao encontro dos interesses locais.
d. Baseia-se profundamente nas capacidades, recursos e gestão locais.
e. Evita os impactos ambientais e sociais adverso

O desenvolvimento alternativo procura muitos dos mesmos objectivos finais do


desenvolvimento principal, mas através de meios diferentes, particularmente na ênfase na
participação e no desenvolvimento centrado nas pessoas. Em termos gerais, é um

13
desenvolvimento mais imparcial, sustentável e participativo. De acordo com Brohman (1996),
o que une as abordagens alternativas ao desenvolvimento reside na...

criação do desenvolvimento adequado às necessidades e interesses da maioria


popular nos países do Terceiro Mundo. (...) Para isso é necessário retirar os
condicionamentos conceptuais e imposições metodológicas do pensamento
convencional a favor de uma visão de desenvolvimento mais abrangente e flexível
capaz de ir ao encontro de diversas realidades do Terceiro Mundo.

Aqui, como com o pensamento do pós-desenvolvimento, existe uma rejeição das englobantes
grandes teorias do desenvolvimento. Ainda assim, o discurso é mais reformista do que
rejecionista: os desenvolvimentistas alternativos ainda preveem frequentemente uma função
para o Estado, para as instituições de desenvolvimento e para o conhecimento externo, mas a
teoria e prática do desenvolvimento devem ser tornadas mais relevantes para usar o termo de
Edwards se for para melhorar as vidas daqueles que procuram servir. Este discurso foi uma
reação ao que muitos consideram uma crise no desenvolvimento e no capitalismo global.
Apela a uma maior flexibilidade na teoria e prática do desenvolvimento, e para que esta
estejam mais fundamentadas na experiência real das bases: Brohman (1996) lista as
necessidades das bases como distribuição de receitas relativamente equitativa, provisões de
necessidades básicas, desenvolvimento de recursos humanos, participação e democratização
popular, crescimento equilibrado social e espacialmente, e sustentabilidade cultural e
ambiental.

Poderá ser difícil argumentar que o desenvolvimento alternativo representa uma contra-teoria
ao desenvolvimento principal apesar de existirem alguns que o façam. Em vez disso consiste
numa recolha fragmentada de críticas que partilham uma preocupação pela forma como o
desenvolvimento é teorizado e praticado, e pelo impacto do desenvolvimento nas relações
sociais, na equidade e no ambiente. Desta forma, o pensamento de desenvolvimento
alternativo está mais preocupado com a observação do impacto do desenvolvimento nas
populações do que em desenvolver um tratado coerente e de teorias convincentes sobre o
desenvolvimento. Ainda assim, certamente que representa um desafio significativo ao atual
pensamento do desenvolvimento, apesar de fracturado entre várias tradições diferentes
(ambientais, feministas, populistas, etc.).

Juntamente com a sua natureza reformista, outros destacaram problemas com a


operacionalização do desenvolvimento alternativo. Apesar de todos os sentimentos nobres das
abordagens de desenvolvimento alternativo, a intervenção local nem sempre será suficiente
para desafiar os modelos de desenvolvimento prevalecentes defendidos por atores estatais e
de mercado poderosos, em nome dos seus próprios interesses (France 1997). Os governos do
Terceiro Mundo, por exemplo, poderão atuar para facilitar a penetração do capital
internacional para interesse próprio das elites a nível nacional, em vez de servir os interesses
da maioria dos cidadãos (Parnwell 1998). Outras questões são observadas na caixa a seguir.

Questões sobre as abordagens alternativas de desenvolvimento

Uma necessidade de ver para além do local

A glorificação da escala local nos fóruns de desenvolvimento alternativo tem significado que
a importância de estruturas económicas e políticas opressivas a nível nacional e internacional
tem sido negligenciada com frequência. Para que ocorra um desenvolvimento exaustivo,

14
existe a necessidade de mudar em todos os níveis, não apenas nas bases; por exemplo, uma
pequena cooperativa local da África do Sul não pode mudar as regras da OMC.

Idealizar comunidades

As comunidades não são homogéneas, são diversificadas e complexas na prática. Como De


Kadt (1990) adverte, os apelos à participação da sociedade disfarçam a conhecida tendência
das elites locais em apropriarem-se dos órgãos de participação para benefício próprio. As
relações de poder e as desigualdades evidentes à escala local podem configurar um
impedimento à participação e capacitação em termos práticos.

Apenas as NGO mais resistentes irão sobreviver

A ênfase na sociedade civil pode conduzir à competição entre ONG, de forma a comprometer
as organizações mais fracas. Também as chamadas parcerias entre as ONG do Norte e do Sul
são tipicamente equilibradas a favor das primeiras.

Os processos participativos poderão não resultar numa melhoria de bem-estar

Apesar dos seus esforços, as pessoas poderão não estar aptas a alcançar benefícios tangíveis
devido a estruturas políticas e culturais; por exemplo, que influência têm as pessoas sobre as
instituições?

As abordagens de desenvolvimento alternativo apresentaram um importante desafio às visões


convencionais e modernistas do desenvolvimento. O seu ponto forte reside em recentrar a
atenção nos “alvos” do desenvolvimento, isto é, os pobres e os desfavorecidos, e encontrar
formas de trabalhar que promovem a participação ativa nos processos de desenvolvimento.

O discurso de desenvolvimento alternativo é bastante diversificado e não oferece um ponto de


vista ideológico simples. No entanto, existem elementos comuns e uma filosofia partilhada de
desenvolvimento. Juntando-os, podemos começar a compreender algumas implicações
importantes na forma como o desenvolvimento deve ser praticado:

 Existe uma suspeita das teorias principais, tanto da economia de desenvolvimento


convencional ocidental como do neo-marxismo; a primeira porque propõe um modelo
de desenvolvimento inadequado e inatingível e o último porque oferece pouco em
termos de soluções práticas.
 Exige um desenvolvimento de pequena-escala, focado localmente, participativo, de
baixo para cima e de autoajuda que vai ao encontro das necessidades dos que mais
precisam (os pobres, as mulheres, populações rurais, etc.).
 A maioria prevê um papel para as organizações não-governamentais e facilitadoras
mas tendem a opor-se ao envolvimento aprofundado dos organismos governamentais
e abordagens de cima para baixo.
 A pesquisa baseia-se nas necessidades e no bem-estar da população, que se torna
plenamente envolvida no processo de investigação.

A capacitação e a participação são dois conceitos importantes que foram adoptados por
praticantes de desenvolvimento alternativo. Para os grupos sociais que estão em desvantagem
em relação a fenómenos como o género, etnia, classe, idade e religião, a capacitação e a
participação são idealmente parte do processo de desenvolvimento e também um objectivo de

15
desenvolvimento. A capacitação e a participação podem permitir que as pessoas em
desvantagem ou marginalizadas tenham um papel importante na sociedade, influenciem a
tomada de decisões e acedam a recursos de acordo com as suas necessidades
autodeterminadas.

No entanto, em vez de se deixarem levar pela versatilidade destes conceitos, temos de analisar
a abordagem adoptada, em especial porque devemos estar alerta para aqueles que adoptam
uma visão instrumentalista onde a participação e a capacitação são estreitamente vistas como
recursos que podem ser aproveitados para alcançar alguns objectivos organizacionais e
institucionais definidos de cima. Isto é relativamente comum quando a lógica neoliberal está a
ser utilizada, por exemplo, as pessoas devem ser capacitadas para tomar mais
responsabilidade pelas suas próprias vidas, etc., para que o Estado já não sinta obrigação de
cuidar delas. Esta é uma noção debatida na próxima secção. É a natureza da participação no
desenvolvimento, se as comunidades conseguirem ver os benefícios no seu bem-estar e
condição de vida. A participação ativa, pela qual as comunidades têm um determinado grau
de controlo sobre o desenvolvimento e partilham equitativamente os seus benefícios, irá mais
provavelmente conduzir à capacitação do que as formas passivas de participação.

Concluímos agora a discussão sobre o desenvolvimento alternativo e passamos para o pós-


desenvolvimento, que se foca nas alternativas ao desenvolvimento. Porém, a nossa conversa
sobre a capacitação não termina por aqui. Observe que o capítulo Vse chama
Desenvolvimento como Empowerment.

7. Pós-desenvolvimento
O pensamento de pós-desenvolvimento surgiu amplamente nos anos 90 no seguimento do
descontentamento com as teorias de desenvolvimento anteriores, mas é importante realçar que
os defensores do pós-desenvolvimento expandem-se ao longo de um contínuo ideológico
deveras alargado, variando entre aqueles que optaram por uma posição forte
antidesenvolvimento - defendendo que o desenvolvimento falhou redondamente e por isso é
necessário que desmantelemos a sua indústria – àqueles que têm mais esperança sobre a
existência de alternativas positivas ao desenvolvimento do passado. O pós-desenvolvimento é
essencialmente um termo abrangente que engloba os aspectos de outros pós, que serão
também debatidos abaixo: pós-estruturalismo, pós-modernismo e pós-colonialismo. O pós-
desenvolvimento pode ser definido como um termo dado a uma escola de pensamento
diversa, cujos apoiantes se dedicam, em níveis diferentes, ao questionamento de longo
alcance dos processos e dos objectivos finais do desenvolvimento. Grande parte do trabalho
de desenvolvimento envolve a análise e a crítica de conhecimentos, linguagens e significados
dentro das indústrias de desenvolvimento, focando especialmente a forma como podem servir
para moldar ou perpetuar as relações de poder. Como alternativas ao desenvolvimento, os
teóricos de pós-desenvolvimento promovem movimentos sociais e abordagens a partir das
bases, derivadas localmente, para a organização social (Development Resource Centre, 2008:
Guide to International Development Terms and Acronyms).

As perspectivas de pós-desenvolvimento enfatizam bastante a rejeição ou abandono do


Projeto de Desenvolvimento (McMichael 2008) a favor da cultura e valores locais indígenas,
normalmente representados na forma de novos movimentos sociais ou na ideologia de
resistência. Estas novas ideias exigem uma percepção bastante diferente sobre o
desenvolvimento do que o apresentado pelas teorias principais. Porém, as novas ideias não
são completamente intocadas ou independentes das teorias marxista ou liberal. Em vez disso,

16
podem ser vistas como transversais ao espectro e permitindo novas dimensões aos debates de
desenvolvimento, especialmente trazendo para o debate críticas pós-estruturalistas e pós-
modernas, e uma análise mais rigorosa sobre o papel poderoso que o discurso tem na
construção e admissão das nossas percepções do Terceiro Mundo e no governo e
desculpabilização das nossas ações. As discussões do pós-desenvolvimento levantam
questões fora do nível principalmente político-económico do debate esquerda-direita, e
focam-se frequentemente nas questões de nível micro tais como as necessidades do indivíduo
ou a dinâmica da família em vez da análise de nível macro predominante do pensamento
liberal e radical. Representam um conjunto de ideias empolgantes e desafiantes e poderia
sugerir-se que derrubaram o espectro esquerda-direita como palco principal do interesse da
teoria do desenvolvimento.

Cientes da natureza exclusiva de alguns artigos de pós-desenvolvimento, e do facto de que


este capítulo está a introduzir ainda mais terminologia de desenvolvimento nova, parece-nos
justo fornecer-lhe um glossário de termos relacionadas com o pós-desenvolvimento. Se
estiver confuso, este glossário poderá ajudar:

a. Desconstrução: Uma análise das derivações, contextos e usos da linguagem ou


discurso realizada para desmontar as suas relações de poder implícitas e agendas
escondidas (Parpart et al. 2000).
b. Dicotomia: Refere-se à ordem de conceitos em pares binários, opostos, pelo qual o
primeiro termo é superior ao segundo (Marchand e Parpart 1995).
c. Discurso: Uma estrutura de declarações, termos, categorias e crenças histórica, social
e institucionalmente específica. É considerado o local onde os significados são
contestados e as relações de poder determinadas. (Marchand e Parpart 1995).
d. Práticas discursivas: Produção e reprodução de enquadramentos sobre o mundo de
forma a torná-lo coerente, compreensível e identificável (Marchand e Parpart 1995).
e. Iluminismo (pensamento): É um termo abreviado para descrever as principais
características do conhecimento e filosofia ocidentais desde o século XVIII. É
normalmente associado com a crença no progresso ou modernidade, pensamento dual
ou dicotómico, fazendo uma distinção precisa entre a realidade objectiva e a
interpretação subjetiva, e a procura por uma teoria principal única que possa ser
utilizada para explicar o mundo (Marchand e Parpart 1995).
f. Essencialismo: Reunir uma variedade de categorias em uma, ignorando diferenças e
enfatizando as semelhanças, apesar das poucas evidências para esta generalização
(Parpart et al. 2000).
g. Eurocentrismo: Os meios pelos quais as teorias e estratégias de desenvolvimento
eurocêntricas e limitadas acabaram por dominar o discurso e a prática do
desenvolvimento, obstruindo assim as possibilidades de formas de desenvolvimento
indígenas (Brohman 1995).
h. Teorias principais ou meta-narrativas: As grandes teorias, tais como os
enquadramentos liberais e marxistas, alegam validade universal e assim capacidade
para explicar as realidades globais numa diversidade alargada de contextos (Parpart
et al 2000).
i. Modernidade: É um termo estreitamente relacionado com o pensamento iluminista.
Reflete o estado que é normalmente contrastado com as sociedades tradicionais,
supostamente sobrecarregadas de superstição e de falta de individualidade. Por sua

17
vez, a modernidade é caracterizada pela racionalidade, individualismo, uma
orientação positivista ou científica e valores democráticos (Marchand e Parpart 1995).
j. Pós-modernismo: A pós-modernidade refere-se à era histórica atual e ao seu espírito
de cepticismo em relação aos conceitos iluministas de progresso perpétuo, verdade
absoluta e superioridade da ciência a outras formas de conhecimento, assim como
uma atitude de abertura para uma integração cultural global, novas tecnologias e
ambiguidade social. As críticas pós-modernistas são os sistemas de conhecimento
ocidental, a construção social de interpretações dominantes, a racionalidade e
relacionam-se com as formas de resistência e vozes silenciadas (Marchand e Parpart
1995).
k. Pós-estruturalismo: É um movimento no seio das ciências sociais e da literatura
linguística, crítico dos pressupostos inerentes ao pensamento iluminista. Tem
paralelismos e interliga-se frequentemente com o pós-modernismo, que teve origem
nas artes e na arquitetura. Entre outras coisas, os pós-estruturalistas rejeitam uma
visão racionalista do mundo que resida em dicotomias, assuma uma realidade
objectiva e que se proponha a desenvolver uma teoria principal (Marchand e Parpart
1995).

8. Herança intelectual do pós-desenvolvimento


O pós-desenvolvimento assenta numa série de perspectivas sobre o desenvolvimento que
surgiram nas décadas recentes, e simultaneamente, apresenta uma crítica radical do
pensamento de desenvolvimento principal e aponta pontos fracos nas abordagens alternativas,
como o desenvolvimento participativo. Os teóricos do pós-desenvolvimento rejeitam os
paradigmas do desenvolvimento principal que procura uma verdade universal, preferindo
procurar vozes diversas e defendendo que o significado de desenvolvimento é contestado
(Blaikie 2000).

Além de uma posição de crítica radical, é difícil identificar o que caracteriza o pensamento do
pós-desenvolvimento. Não é um movimento coeso e o discurso do pós-desenvolvimento varia
largamente no âmbito, objectivo e posição intelectual e ideológica. Em vez de referir-se ao
pós-desenvolvimento como um movimento ou escola de pensamento, é mais correto referir-se
a este como um debate. No entanto, estes debates partilham uma herança intelectual e um
grupo de questões nucleares.

As principais questões dos debates de pós-desenvolvimento contêm bastantes semelhanças


com as questões nucleares que regem as abordagens de desenvolvimento alternativo.

a. Em primeiro lugar e em destaque está a questão de que as abordagens de


desenvolvimento principais falharam até agora, na medida em que ficaram aquém dos
objectivos para a redução da desigualdade global e obtenção de maior justiça social.
b. Uma segunda questão fulcral é a necessidade de se focar no desenvolvimento pró-
local, que coloca os valores, necessidades e ética das comunidades locais no centro do
pensamento e prática do desenvolvimento. Tal como os debates de participação,
capacitação e igualdade dos géneros, os teóricos do pós-desenvolvimento
permanecem concentrados na ideia em como o desenvolvimento deve ser construído
para melhorar a vida das pessoas.

É na herança intelectual do pós-desenvolvimento que nós podemos começar a ver uma quebra
radical com outras abordagens alternativas. O termo pós insere-se no pós-desenvolvimento de

18
forma a identificar uma contestação fundamental aos preceitos das ideias de desenvolvimento
existentes, e para indicar a grande influência do pós-modernismo, pós-colonialismo e pós-
estruturalismo no surgimento deste novo debate. Estas abordagens surgiram todas a partir da
crítica das teorias principais dos dois séculos passados.

a. A influência do pós-modernismo
Um factor por trás das recentes mudanças teóricas nos estudos de desenvolvimento foi um
corpo teórico nas ciências sociais conhecido por pós-modernismo. Não nos ocupamos
diretamente com o pós-modernismo neste curso, mas devemos atentar no seu efeito.

Um dos princípios fundamentais do pós-modernismo é a sua suspeita das grandes teorias e


explanações universais para o comportamento humano. Opõe abordagens, com origem no
Iluminismo europeu no século dezoito, que professam o poder da razão e o progresso da
racionalidade. Desta forma, opõe-se a teorias que procuram explicações exaustivas - uma
teoria totalizante, quer seja marxismo ou modernização. Ao invés disso, coloca ênfase na
diferença: a aceitação da diversidade da experiência. Não devemos procurar tanto o normal ou
mediano ou típico mas sim apreciar e obter um melhor entendimento da complexidade do
quotidiano dos indivíduos.

Isto tem implicações claras para a teoria do desenvolvimento. O pós-modernismo leva-nos a


suspeitar das grandes teorias ao longo do espectro ideológico, bem como de conceitos como
progresso, racionalidade ou mesmo desenvolvimento. Faz-nos perceber que as supostas
explicações e processos universais não irão traduzir-se na melhoria das vidas das pessoas em
diferentes partes do mundo. Isto inclui uma visão crítica das sociedades europeias e norte-
americanas do Ocidente que dominaram a corrente principal do pensamento de
desenvolvimento. O pós-modernismo está focado na desconstrução destes discursos
principais e apresenta uma viragem cultural para os discursos que foram deixados para trás –
tais como opiniões indígenas, a inclusão dos valores culturais e sociais nas explanações de
desenvolvimento. As abordagens devem incluir os grupos oficiais e não-oficiais, formais e
informais, dominantes e subordinados, centrais e marginais (Simon 2008). É uma grande
mudança das ideias e enquadramentos que literalmente, pós-modernismo significa um período
que se segue ao modernismo. A economia moderna da produção em massa e comércio
competitivo nos mercados globais é contrastada com a ênfase na ética e nos benefícios da
propriedade de pequena escala e do microfinanciamento, mercados locais e comércio justo
global.

b. A influência do pós-colonialismo
O pós-colonialismo aborda as formas nas quais a dinâmica de poder global da era colonial
continua a ter impacto no período pós-colonial atual poderá querer referir aqui as secções do
Capítulo I sobre colonialismo e imperialismo e a sua influência no desenvolvimento). O pós-
colonialismo surgiu nos anos 80 e 90. É uma abordagem, que outros poderão designar por
movimento, da teoria crítica e cultural, liderada por académicos como Edward Said
especialmente no seu livro sobre o orientalismo (1979) e Gayatri Spivak. Cheryl McEwan
(2009) defende que o pós-colonialismo tem dois significados principais, referindo-se tanto a
consequências temporais – um período de tempo após o colonialismo, ou a consequências
críticas – culturas, discursos e críticas que ultrapassam o colonialismo, mas que são
estreitamente influenciadas por ele. Portanto, o pós-colonialismo pode ser referido como uma
noção de tempo, uma condição, uma teoria política ou literal, ou apenas como

19
anticolonialismo que critica todas as formas de poder colonial. As perguntas feitas neste
contexto são:

 De que forma a experiência da colonização afecta tanto as sociedades colonizadas


como as colonizadoras?
 Quais são os traços da era colonial nas sociedades contemporâneas, incluindo na
dinâmica cultural, política, social e económica?
 Que novas formas de colonização e imperialismo estão agora a surgir?

Um ponto central da teoria pós-colonial é a continuação do domínio dos descolonizados pelas


antigas potências coloniais. Os apologistas argumentam que os processos políticos e
económicos que se seguiram à descolonização formal são agora continuados e fundamentados
por novas relações mundiais de poder.

Como no pós-modernismo, os autores pós-coloniais destacam e criticam discursos


dominantes de autores europeus e norte-americanos nas ciências sociais. Estas abordagens
principais são consideradas problemáticas porque são unilaterais e não incluem nem
respeitam valores, práticas e opiniões de culturas além das opiniões dominantes. Os autores
pós-coloniais identificam problemas de poder sobre consulte as secções sobre
Desenvolvimento Alternativo ao delinear a forma como os Europeus ou o Ocidente se
distancia do Outro - o Terceiro Mundo. Os discursos dominantes assentam no colonialismo e
refletem as contínuas relações de poder pós-colonial, revelando as sociedades ocidentais
como desenvolvidas e avançadas e as do Terceiro Mundo como atrasadas. O poder sobre é
praticado de forma explícita pelo domínio da narrativa ocidental e implicitamente pela
produção de distância – tanto espacial como histórica. Os pós-colonialistas estão preocupados
com (McEwan 2008):

 Uma necessidade de desestabilizar os discursos dominantes da Europa imperial por


exemplo, história, filosofia, linguística, desenvolvimento, que são inconscientemente
etnocêntricos, baseados nas culturas europeias e refletem uma visão do mundo
predominantemente ocidental.
 Um afastamento das relações binárias e de uma visão homogénea do Terceiro
Mundo como outro no contexto de um pensamento de nós e eles, onde nós é o próprio
e eles é o outro, e em vez disso ver o Terceiro Mundo como uma parte integrada no
desenvolvimento ocidental o outro é aqui, reconhecendo os contributos do Terceiro
Mundo para a riqueza do desenvolvimento ocidental sob a forma de mão-de-obra e
exploração económica.
 Recuperar as vozes dos marginalizados, dos oprimidos e dos dominados através de
uma reconstrução radical da história e produção de conhecimento.

Assim, existem várias semelhanças e familiaridades com o radicalismo e as visões estruturais


das abordagens marxistas e neo-marxistas. Porém, até mesmo estas são criticadas dado que os
pós-colonialistas rejeitam as agendas estabelecidas das teorias principais.

Um dos termos centrais frequentemente utilizado no discurso pós-colonial é subalterno. Este


termo tem as suas origens nas expressões militares de subordinado e é utilizado nos debates
teóricos para descrever grupos de indivíduos em posições subordinadas ou inferiores, tais
como pessoas anteriormente colonizadas. A criação de grupos subalternos é obtida através de
um processo de hegemonização, um termo gramsciano que se refere a um grupo que domina

20
outro grupo como dentro de sistemas de classe ou sociedade. No contexto do pós-
colonialismo, subalterno refere-se a todos aqueles que são marginalizados ou excluídos e que
não estão em posição de falar por eles próprios (McEwan 2009).

Portanto, os contributos pós-coloniais enfatizam bastante a necessidade da inclusão de vozes e


práticas daqueles que não têm voz, como os grupos marginalizados ou indígenas. Esta
abordagem, semelhante ao que será debatido nas secções seguintes sobre o pós-
desenvolvimento, também enfatiza a ação e a diversidade. Defende que o verdadeiro
desenvolvimento não é apenas uma máquina coesa, mas um contexto fragmentado com uma
diversidade de tipos de organizações e contextos políticos. Aplicar abordagens pós-coloniais
na prática pode ser desafiante, e devem ser colocadas questões como:

 Que tipo de parceria está a ser aplicada dentro do desenvolvimento?


 Como podemos aceder ao conhecimento de grupos marginalizados ou indígenas sem
interferências?
 Em que medida estão as questões de identidade incluídas nas abordagens de
desenvolvimento?

O pós-colonialismo continua a desafiar a forma como abordamos o desenvolvimento com este


tipo de questões persistentes e como tal continua a ter uma grande influência para o pós-
desenvolvimento, e sobrepõe-se a ele.

A partir do pós-colonialismo, os académicos do pós-desenvolvimento analisaram as formas


nas quais as ideias de desenvolvimento emergiram da era colonial, e continuam presentes nas
estruturas de poder colonial. Argumentam que o desenvolvimento poderia ser considerado
uma organização neocolonial, por exemplo, em relação à imposição das fundamentações
económicas e formas culturais e políticas ocidentais, e um mecanismo para ganhar poder
sobre o Terceiro Mundo (Escobar 1997; e Esteva e Prakash 1998). As análises pós-coloniais
dentro do pós-desenvolvimento podem então revelar de que forma os conhecimentos, as
condições de vida e as economias do Terceiro Mundo são deslegitimados, desvalorizados,
roubados e sujeitos ao domínio do Ocidente (McKinnon 2007).

A questão é então – como poderiam os subalternos ou os marginalizados ser incluídos num


desenvolvimento que não seja determinado por perspectivas ocidentais e pensamento pré-
concebido? Neste contexto, os autores John Briggs e Joanne Sharp (2004) debatem
criticamente o modo como o conhecimento indígena tem sido até então incluído de forma
muito limitada no desenvolvimento comunitário. Os autores sugerem então o que deve ser
feito para alcançar melhores resultados. Defendem que não incluir outras formas de entender
o desenvolvimento depreendido faz com que o desenvolvimento alternativo falhe. Sintonizar
as vozes indígenas, e assim ouvir e incluir os marginalizados, implica uma conversa genuína
para uma troca real entre o conhecimento indígena e as noções ocidentais de
desenvolvimento. Este não é um processo fácil e representa mais do que incorporar – deve
significar uma abertura à mudança. Os autores alertam que é importante não considerar o
conhecimento indígena como um artefacto, algo que deva ser preservado, ou
institucionalizado como foi tentado pelo Banco Mundial, ou utilizado de forma acrítica na
prática do desenvolvimento. É necessário sim que vejamos o conhecimento indígena como
algo inerente ao processo de desenvolvimento.

c. A influência do pós-estruturalismo

21
Conforme debatido no capítulo anterior, o estruturalismo tenta compreender o motivo pelo
qual as sociedades, culturas e indivíduos são o que são ao revelar os sistemas, ou estruturas,
subjacentes que os explicam. Já vimos no capítulo anterior que, dentro do desenvolvimento,
os estruturalistas distinguem entre as estruturas do centro e da periferia e que também
enfatizam a importância das estruturas históricas subjacentes de países diferentes. Os
estruturalistas acreditam que através da razão, lógica e investigação científica podemos
chegar a uma compreensão correta das causas subjacentes para as estruturas internas e
externas das sociedades. O pensamento estruturalista é assim um exemplo do pensamento de
grande teoria (Johnston et al., 2000), porque o estruturalismo constrói o capitalismo como
uma força unitária e hegemónica (…) que funciona de forma independente da sociedade
(Curry 2003).

Por sua vez, o pós-estruturalismo não apoia a perspectiva que as grandes teorias oferecem
verdades científicas ou explicações objectivas e neutras de como o mundo funciona. Pelo
contrário, teorias como a modernização e a dependência são vistas como explicações
localizadas histórica e culturalmente que são profundamente enraizadas em relações de poder
complexas. Por exemplo, as teorias de modernização foram uma ferramenta de política
externa dos EUA ao longo da Guerra Fria e as ideias neoliberais de mercado livre são
tentativas para sustentar a hegemonia ocidental através da causa do comércio livre. Assim,
podemos contestar a representação das grandes teorias sociais como científicas e sugerir que
essa utilização da teoria equivale a abuso moral e ético. Adicionalmente, estas teorias
surgiram da elite da sociedade ocidental, no entanto pretenderam propor uma grande teoria
para todas as nações, culturas e povos.

Os pós-estruturalistas são bastante influenciados pelas teorias do linguista Saussure, que


defendeu que o nosso conhecimento e compreensão do mundo são mediados pela linguagem,
e a linguagem é inerentemente arbitrária e instável, dificultando a representação correta da
verdade. A influência de Saussure fez com que fosse dada muita relevância à forma como a
linguagem atua no nosso mundo para constituir normas sociais, políticas e económicas –
observando a forma na qual a narrativa como falamos sobre o mundo cria/molda as nossas
realidades.

Nos Estudos de Desenvolvimento, os pós-estruturalistas:

a. Criticam a noção de que o desenvolvimento é um processo que foi lançado pelo


discurso de Truman de 1949.
b. Utilizam a análise de discurso para mostrar como as relações de poder estão
implícitas na linguagem do desenvolvimento, por exemplo, ajudar os receptores ou
beneficiários.
c. Baseiam-se profundamente no filósofo francês Foucault: o destaque do poder ajudou
a demonstrar que a prática supostamente neutra de entregar desenvolvimento aos
pobres era na realidade bastante política.
d. Criticam os impactos normalizantes do discurso do desenvolvimento.

A influência do pós-estruturalismo e o seu foco na função da linguagem é evidente nas


discussões de Escobar, Esteva, Yapa e outros, sobre a importância do discurso de
desenvolvimento para determinar os problemas e perspectivas contemporâneos.
Adicionalmente, o pós-estruturalismo foi crucial para a perspectiva anti-essencialista dos
teóricos do pós-desenvolvimento. Assim, a maioria do discurso de pós-desenvolvimento está

22
imbuída de uma forte desconfiança de qualquer grande teoria que alegue descrever
objectivamente a realidade ou prescreva um programa fixo para a mudança.

Com base no pensamento pós-moderno, pós-colonial e pós-estrutural, pode considerar-se que


o pós-desenvolvimento oferece dois contributos fulcrais e complementares para teoria de
desenvolvimento contemporânea.

a. O pós-desenvolvimento propõe uma crítica às abordagens de desenvolvimento


existentes.
b. Um contributo mais recente é uma experimentação com as novas abordagens de
desenvolvimento que possam surgir dessa crítica.

Terminamos esta análise do pós-desenvolvimento ao observá-lo no contexto do amplo exame


do debate do pós-desenvolvimento. A próxima secção começa por debater a crítica de pós-
desenvolvimento, enquanto a secção seguinte irá analisar as outras duas abordagens que
também surgiram.

9. A crítica do pós-desenvolvimento: Desenvolvimento como Neoimperialismo


O pós-desenvolvimento propõe uma crítica extensa das origens e evolução do pensamento,
discurso e prática do desenvolvimento. Grande parte do poder das posições do pós-
desenvolvimento reside na sua crítica histórica das origens e discurso do desenvolvimento -
tanto na teoria como na prática. Ao procurar uma arqueologia do desenvolvimento, os autores
do pós-desenvolvimento situam firmemente as origens do desenvolvimento na crítica pós-
moderna da modernidade e consequentes noções de progresso, racionalidade e
individualismo. Também apresentam uma crítica forte à relação desigual entre conhecimento
e poder, tal como se aplica à forma como o desenvolvimento é conceptualizado e praticado a
um nível global/institucional. Para autores como Cowen e Shenton (1996), o desenvolvimento
foi inventado de forma a promover o controlo das mais naturais bases de mudança: os estados
ocidentais procuraram, na rápida evolução de mudança acarretada pela Revolução Industrial,
controlar e orientar a mudança – promovendo ostensivamente a hegemonia do Estado e dos
interesses coloniais – e daí surgiram as Doutrinas de Desenvolvimento. Outros autores
enfatizam os tempos mais recentes, com a afirmação do Programa IV de Truman. Aqui, no
momento em que o termo sub-desenvolvimento foi pela primeira vez amplamente
consagrado, os Estados Unidos tentaram assertar a sua função global e hegemonia no período
do pós-guerra. O desenvolvimento substituiu simplesmente o colonialismo como razão de ser
da intervenção ocidental no mundo não ocidental (Rist 1997). Os teóricos do pós-
desenvolvimento tentaram assim demonstrar as formas nas quais o desenvolvimento assenta
nas relações de poder pré-existentes e desiguais entre o Primeiro e Terceiro Mundo, assim
como ajudam a sustentar estas relações desiguais de poder.

As análises pós-estruturais e críticas ao desenvolvimento apresentam uma forte crítica aos


efeitos do controlo e domínio que o desenvolvimento produz (Escobar 1995a; Esteva e
Prakesh 1998; Ferguson 1990; Sachs 1992). Estes teóricos realçam as formas como o
desenvolvimento, como prática e paradigma, funciona como uma tecnologia de controlo e
governo, permitindo o exercício de poder sobre comunidades individuais e o Terceiro Mundo
em grande escala.

Por exemplo, Arturo Escobar, um antropólogo colombiano, e professor na Universidade da


Carolina do Norte, defendeu que o desenvolvimento é sobretudo um mecanismo de poder e
controlo através do qual o Primeiro Mundo implementa o seu domínio sobre o Terceiro

23
Mundo. Escobar é um dos mais conhecidos teóricos de pós-desenvolvimento e utiliza os
conceitos de Foucault sobre poder e governamentalidade para a análise crítica dos discursos
de desenvolvimento.

Escobar realça o modo como os discursos dominantes de desenvolvimento económico são


embutidos de uma racionalidade particular, evocam o Terceiro Mundo como uma entidade
deficiente e atrasada em contraste com o Primeiro Mundo e transformam a assistência num
instrumento de poder e controlo. A questão de quem pode falar e com que autoridade, de
acordo com Escobar, é estabelecida dentro de um imaginário geopolítico que distribuiu o
poder de forma desigual entre o Primeiro e Terceiro Mundo. Escobar defende que não só o
discurso do desenvolvimento imprimiu superioridade económica, cultural, moral, política e
intelectual ao Primeiro Mundo, como ao fazê-lo também criou o seu oposto, o Terceiro
Mundo, como deficiente e em falta. Argumenta que os discursos do desenvolvimento, em
particular o desenvolvimento económico, criaram um aparato extremamente eficaz para a
produção de conhecimento e para o exercício de poder sobre o Terceiro Mundo (1995). Na
análise de Escobar, o discurso dominante de desenvolvimento não só constrói um Terceiro
Mundo deficiente e atrasado que precisa de ajuda, mas constrói também um sujeito deficiente
e atrasado – a população-alvo à qual a assistência é direcionada. O desenvolvimento tem
assim recorrido eficazmente a um regime de governo sobre o Terceiro Mundo, um espaço
para povos-alvo, para assegurar o controlo sobre o mesmo (1995). Longe de procurar dirigir-
se a problemas pré-existentes, o desenvolvimento procedeu à criação de anormalidades tais
como os iletrados, os sub-desenvolvidos, os malnutridos, pequenos agricultores ou
camponeses sem terra que em seguida seriam tratados e reformados (1995).

Em suma, os primeiros autores inspirados pela análise pós-colonial e pós-estrutural


expressaram perspectivas em que:

a. O desenvolvimento não é neutro, benigno ou inocente. O desenvolvimento procura


intervir, transformar e regular. Incorpora uma geopolítica, na medida em que as suas
origens são vinculadas ao poder e estratégia do Ocidente para o Terceiro Mundo,
onde as agências, caridades e consultores ocidentais dominam frequentemente as
agendas (Sidaway 2008).
b. As narrativas dominantes do desenvolvimento consideram o Terceiro Mundo como
deficiente e atrasado (Escobar 1995).
c. Estes discursos sugerem que o conhecimento, competência e recursos ocidentais são
necessários para resolver os problemas do Terceiro Mundo, em vez de considerar a
forma como o Ocidente é cúmplice na criação de estados de sub-desenvolvimento por
todo o mundo.
d. O desenvolvimento desvaloriza os sistemas de conhecimento não ocidental e as suas
abordagens ao desenvolvimento.

A sua conclusão era que o desenvolvimento falhou, não elevou a maioria dos pobres – de
facto, perpetua relações de poder desiguais. Assim, vários autores sugeriram que temos de
abandonar o desenvolvimento tal como é atualmente constituído: o que é necessário é
destronar o desenvolvimento e deixá-lo para trás na busca de perspectivas radicalmente
alternativas para a vida social (O'Connor e Arnoux 1993 em Matthews 2003).

Enquanto o trabalho de pós-desenvolvimento inicial de Escobar e de outros atraiu uma grande


diversidade de atenção académica e popular e reavivou a investigação e a prática que

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explorou os problemas das relações de poder dentro da esfera internacional de forma mais
geral, não era o único sítio onde os paradigmas de desenvolvimento dominantes eram
criticados. Dois outros, que podemos designar genericamente por orientado para os atores e
antipolítica, são particularmente meritórios de atenção devido à natureza dos problemas que
levantam, em relação a ambos os paradigmas dominantes, e a grande parte do trabalho inicial
dentro do pós-desenvolvimento. Em muitos aspectos, permitem uma base teórica para mais
debates aplicados sobre conhecimento tradicional, empowerment, participação, bases,
abordagens de baixo para cima e sobre o papel das ONG no desenvolvimento.

10. Recentrar as pessoas: abordagens orientadas para os atores


A abordagem orientada para os atores foi articulada, pela primeira vez, por Norman Long, um
sociólogo de desenvolvimento que trabalha na Universidade de Wageningen na Holanda. Esta
abordagem origina numa profunda insatisfação com os modelos de desenvolvimento
estruturais: modernização e dependência, em grande parte porque não dão espaço para que as
pessoas tenham uma função na direção das suas próprias vidas - são modelos deterministas. A
abordagem de Long com base na teoria de estruturação de Giddens e na noção de habitus de
Bourdieu foca-se na interação entre as estruturas sociais tais como classe, normas culturais,
pressões económicas, coerção do estado, escolaridade, religião, género, etnia, geografia, e na
ação. As estruturas tanto limitam como permitem formas particulares da ação humana: isto é,
elas condicionam o que as pessoas podem fazer.

A relação entre estruturas e ação é fulcral – as estruturas orientam, contêm e restringem a


capacidade dos indivíduos de agirem frequentemente de forma inconsciente em determinadas
formas e através deste comportamento, reproduzem e reforçam estas estruturas societais. No
entanto, também apresentam as condições que permitem que os agentes indivíduos atuem
intencionalmente em formas que podem transformar as normas e valores societais e,
consequentemente, as condições para a ação futura.

Uma abordagem orientada para os atores coloca ênfase na ação no âmbito destas definições
estruturais. Ação é outro termo contestado nas ciências sociais, mas aqui podemos utilizá-lo
para representar a capacidade dos indivíduos de agirem de forma independente e a fazerem as
suas próprias escolhas livres, dentro dos limites estabelecidos pelo conhecimento e a sua
capacidade de agir. O trabalho de Long realçou as formas em que a ação é culturalmente
constituída e praticada. As formas nas quais os indivíduos são sujeitos a pressões sociais para
pensar e comportar-se de formas específicas - as suas formas de saber e capacidade em agir -
são claramente relacionadas com contextos culturais específicos. Desta forma, as noções de
identidade e conhecimento/relações de poder irão variar em função do contexto, e têm
necessidade em ser compreendidas nos termos em como afectam a relação com forças
societais mais abrangentes.

Long desenvolveu o conceito de interface do desenvolvimento para explicar como os


processos de desenvolvimento se desenrolam em termos destas tensões estrutura-ação. A
interface aqui é o espaço no qual o discurso culturalmente codificado, o poder, as agendas e
as prioridades de diferentes atores de desenvolvimento se cruzam, e cujos resultados serão
uma mistura complexa de consequências desejadas e indesejadas do agir humano (Long
1992). A perspectiva orientada para os atores e a interface de desenvolvimento foram a base
para um largo número de estudos e de trabalhos aplicados que reforçaram a sua utilidade.
Trabalhos no cenário mineiro da Papua Nova Guiné, por exemplo – onde as representações
populares iriam opor as poderosas empresas mineiras globais contra as tribos primitivas locais

25
sem poder – demonstram que isto é bastante mais compreendido em termos de uma
abordagem orientada para o ator. A diversidade de estruturas que condicionam os encontros
de desenvolvimento em torno destas minas é complexa e dinâmica – procura mundial de
minérios, abordagens e políticas empresariais, política nacional e capacidade do governo,
hábitos e culturas locais, regimes de propriedade e afinidade, localizações, geologia e
micropolítica. A interface aqui abrange então uma diversidade de encontros em espaços desde
escritórios empresariais, reuniões sociais, trocas planeadas deliberadas, reuniões de
representantes e reuniões fortuitas na rua, sendo que todas inflectem os resultados que
ocorrem.

A interface de desenvolvimento centra-se na forma na qual as relações de poder e categorias


discursivas têm lugar, na prática de encontros de desenvolvimento. Permite que os
investigadores explorem os factores que condicionam estas interações, e as formas nas quais a
ação de indivíduos e grupos podem trabalhar para reproduzir e transformar estas condições.
Esta abordagem permite capturar a dinâmica para o processo de desenvolvimento que falta
em outras explicações estruturais. O desenvolvimento torna-se então contingente, com os
resultados dependentes da influência variável de uma grande diversidade de factores ou
sobre-determinado, conforme é designado na literatura e explica o motivo pelo qual as
iniciativas de desenvolvimento têm frequentemente um resultado diferente do que seria
previsto. Como Long (1992) o descreve: uma análise orientada para os atores fornece, pelo
menos, meios rigorosos para compreender as complexidades envolvidas nos campos de
batalha da vida quotidiana, tanto no campo como nos corredores do poder e da tomada de
decisões. Isto é, permite uma compreensão da natureza entrelaçada das ações sociais,
impulsionada por interesses sociais, representações e consciências divergentes. Também torna
possível identificar o espaço para mudar ou espaço de manobra para os interesses e ações
específicas.

11. Quando o desenvolvimento falha, o que acontece realmente? Desenvolvimento


como uma máquina antipolítica?

A noção de desenvolvimento como uma máquina antipolítica foi apresentada em primeiro


lugar por James Ferguson, um antropólogo que realizou pesquisa num projeto canadiano de
desenvolvimento rural integrado no Lesotho, no sul de África, no início dos anos 80.
Confrontado com a falha abjecta do projeto, apesar da vontade da população local e das
melhores intenções dos financiadores e do Estado, Ferguson começou a interrogar a noção de
fracasso. O que acontece, perguntou, se em vez de nos focarmos na falha, analisarmos o que o
projeto realmente fez...? Por outras palavras, que legado deixou o projeto falhado, e de forma
mais abrangente, porque é que os projetos e programas de desenvolvimento continuam a
falhar, e mesmo assim todos financiadores, estados e locais continuam a investir nos recursos,
e há esperança neles?

Ferguson, como Escobar, baseou a sua abordagem em Foucault (1926-1984), o filósofo


francês, sociólogo e historiador, e especificamente nos seus textos sobre poder e
governamentalidade. Ferguson defendeu que a falha do projeto em trazer um crescimento
significativo na produção agrícola e pecuária ou melhorias nas condições de vida não era o
seu efeito real. Em vez disso, defendeu que o projeto teve dois efeitos instrumentais
essenciais – que eram efeitos secundários sistemáticos desses projetos. Em primeiro lugar,
representou a expansão do poder burocrático e institucional do Estado na vida das pessoas.
Novas estradas, um novo centro de distrito, presença policial e prisão representavam um

26
maior acesso e controlo do Estado sobre a região anteriormente isolada: o Estado tornou-se
uma parte muito mais imediata da vida das pessoas na área. Em segundo lugar, e relacionado
com o primeiro, o projeto também consagrou o desenvolvimento como antipolítico. Na sua
essência, Ferguson defendeu que não só os projetos ou programas de desenvolvimento evitam
tratar de questões políticas, como tornam as questões de pobreza, desenvolvimento e até
mesmo do Estado em questões técnicas, em vez de questões políticas:

A resposta rápida à questão do que o aparato do "desenvolvimento’ no Lesotho faz é


então encontrado no título do livro: é uma "máquina antipolítica", despolitizando
tudo o que toca, a agitar as realidades políticas em todo o lado, enquanto
desempenha, embora sub-repticiamente, a sua própria operação preeminentemente
política de expansão do poder do Estado burocrático (Ferguson, 1990).

O trabalho de Ferguson tem sido adoptado, refinado e aprofundado por vários autores numa
diversidade de cenários que inclui ONG na área do desenvolvimento (Fisher 1997),
conhecimento ecológico tradicional (Nadasdy 2005), extensão agrícola no México (Nuijtens
2005), e agricultura urbana em África (Page 2002). O relato de Tania Murray Li (2007) de
várias iniciativas históricas e contemporâneas de desenvolvimento em Sulawesi, Indonésia,
por exemplo, abre com um debate das aspirações e intenções de longa data de terceiros – ou
Mandatários, como ela os chama, baseando-se na linguagem de Cowen e Shenton - para
melhorar as vidas dos pobres rurais na região. Argumenta que esta vontade em melhorar
traduz-se em programas de desenvolvimento através de três práticas obrigatórias para o
desenvolvimento:

a. Problematização: isto é, definir o problema de forma a certificar que requer que os


especialistas externos lidem com ele;
b. Viragem técnica: ou fazer com que o problema possa ser resolvido tornando-o
técnico. Observa que este é tipicamente um projeto contínuo, à medida que os
receptores tentam e negociam os limites do problema, especialmente quando envolve
participação alargada; e
c. Antipolítica: o desenho de programas para limitar as mudanças ao status quo
novamente, numa um processo completo e incontestado e por isso, que não
enfrentam, por exemplo, as políticas de pobreza ou desigualdade.

Da mesma forma, Bram Büscher (2010) baseia-se na noção de desenvolvimento como


antipolítica numa forma diferente no contexto de um projeto de conservação transfronteiriço
no Sul de África incluindo, acidentalmente, mais uma vez o Lesotho, para afirmar não só que
os próprios projetos de desenvolvimento se apresentam como apolíticos em ambientes
altamente politizados, como também que o neoliberalismo é especialmente adequado como
ideologia política para o acionamento da antipolítica. Também identificou nas negações
complexas à volta do projeto, uma forma local a que chamou antipolítica pragmática onde
perante a intervenção, os locais disfarçaram as suas prioridades políticas de forma a utilizar o
projeto para alargar as suas opções de subsistência, isto é, os locais estavam preparados para
ocultar os seus interesses, agendas e conflitos - para o jogo de antipolítica - de forma a aceder
aos benefícios do projeto.

Um exemplo final e talvez mais radical dos artigos antipolíticos recentes é o trabalho de
Pieter de Vries, um antropólogo que trabalha na Universidade de Wageningen na Holanda. O
argumento de de Vries (2007) é simples e desafiador: defende que a ideia de desenvolvimento

27
assenta na produção de desejos – e de esperança – que o desenvolvimento por si não pode
alcançar. A indústria do desenvolvimento é autoimpulsionadora no sentido em que gera forças
motrizes motivacionais sobre as quais a indústria é parasita em termos de aspirações dos
participantes (os pobres) que cria. Aos dois efeitos instrumentais de desenvolvimento de
Ferguson, de Vries adiciona então um terceiro: a geração e banalização da vontade do
desenvolvimento, ele vê então o desenvolvimento como uma máquina de geração de
esperança.

De Vries baseia-se no conceito de participação como um exemplo alargando os debates


referidos anteriormente neste módulo, defendendo que o que começou nos anos 70 como uma
ferramenta que resultaria em controlo local sobre o desenvolvimento para os pobres, tornou-
se agora apenas uma ferramenta de legitimatização - um processo que rotula como
banalização do desenvolvimento. A abordagem de Vries é confrontadora, magistral e de certa
forma depressiva, mas defende veementemente que o que requer é uma mudança de atitude
em relação ao desenvolvimento: não devemos comprometer os desejos de desenvolvimento
que vêm do mundo em desenvolvimento. Em vez disso:

Se é verdade que o aparato do desenvolvimento sustenta a sua hegemonia através da


geração e banalização da esperança, então não comprometer a sua vontade significa
recusar aceitar a traição do desenvolvimento pela máquina antipolítica. Isto é uma
ética de sustentação da capacidade de desejar, de pedir o que o aparato do
desenvolvimento promete mas que não é capaz de realizar. É uma ética que exige a
concretização do impossível através da sua insistência na coisa "real", uma ética que
acredita na existência de milagres. Porque, aos olhos dos aldeões andinos, não existe
nada tão excessivo e milagroso como o próprio desenvolvimento (de Vries, 2007).

Considerando as abordagens antipolíticas e orientadas para os atores, estas podem ser


resumidas pela relação com:

a. O que acontece dentro do desenvolvimento é uma questão que se expande para fora
dos limites das teorias estruturais da modernização e dependência.
b. As relações de poder dentro do desenvolvimento não são tão simples como o trabalho
anterior de pós-desenvolvimento pode sugerir.
c. A verdade do desenvolvimento não é frequentemente o que parece. – Existe uma
necessidade de aprofundar a análise dos discursos, significados e práticas, e os seus
efeitos secundários aparentes.
d. A centralidade da ação, capacidade das pessoas e dos grupos em conquistar espaços
para as suas condições de vida e desenvolvimento, mesmo em ambientes sociais,
económicos e políticos muito difíceis.

12. Experimentação com novas práticas de pósdesenvolvimento

Saindo da crítica rigorosa do desenvolvimento, os académicos do pós-desenvolvimento estão


a fazer experiências com novas abordagens. Como vimos nas discussões anteriores, ao longo
dos anos 90 muitos dos artigos do pós-desenvolvimento focaram-se primariamente nas
críticas ao discurso e prática do desenvolvimento. Devido a esta ênfase na crítica, o pós-

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desenvolvimento ganhou uma reputação de afirmar que todo o desenvolvimento é mau, não
oferecendo alternativas ou soluções reais. Isto é válido para alguns críticos do pós-
desenvolvimento e é uma avaliação correta para os trabalhos iniciais de autores como Escobar
apesar de não ser certamente o caso para Ferguson e Long.

Mais recentemente, Escobar e outros que se dedicaram a divulgar uma crítica do


desenvolvimento ao longo dos anos 90 começaram a explorar a questão: o que se segue?
Como podemos passar das críticas ao pensamento sobre como concretizar novas formas de
desenvolvimento? Uma vertente dos textos de pós-desenvolvimento é então o foco no desafio
de seguir em frente – como continuar um projeto de assistência, e transformação positiva -
enquanto se é plenamente consciente das complexidades políticas do desenvolvimento. Um
conjunto crescente de pessoas inspirou uma posição optimista que vislumbra as possibilidades
do desenvolvimento para contribuir para uma justiça e emancipação social: as pessoas cujas
vidas foram traumatizadas pelas mudanças do desenvolvimento não recusam aceitar a
mudança. Porém, o que procuram é de uma natureza bastante diferente. Querem o que lhes
permita florescer a partir de um botão de flor (...) que poderia libertá-los para mudar as regras
e os contextos de mudança, de acordo com as suas próprias éticas e aspirações culturalmente
definidas (Rahnema 1997).

Não surgiu qualquer conjunto de princípios coeso destes esforços, na verdade, é mais
provável que os pensadores do pós-desenvolvimento rejeitem qualquer esforço em codificar
ou prescrever abordagens específicas. No entanto, muitos destes esforços partilham os
mesmos princípios básicos:

a. Em primeiro lugar, um compromisso para com o desenvolvimento pró-local focado


na comunidade, semelhante às abordagens de desenvolvimento alternativo.
b. Em segundo lugar, um esforço em adoptar a contingência dos processos de
desenvolvimento. Por outras palavras, ver os esforços do desenvolvimento como uma
parte de um processo contínuo e em constante adaptação e mudança, que é altamente
dependente da mudança de circunstâncias políticas, sociais e económicas.
c. Em terceiro lugar, existe uma consciência de que todo o desenvolvimento está
relacionado com relações de poder e lutas ideológicas. Por isso, qualquer intervenção
ou programa deve realçar a sua própria posição ideológica e agir com um
conhecimento de como se relaciona com os processos políticos tanto formais como
informais.

Um exemplo de uma tentativa em instituir um programa de pós-desenvolvimento é o trabalho


de Gibson-Graham nas Filipinas. Os autores argumentam que os planos de desenvolvimento
de favelas Barangay produziram tradicionalmente mapas de necessidades que incluem dados
sobre alojamento, fornecimento de água e assim por diante. No processo de mapeamento das
falhas e carências regionais o processo de planificação do desenvolvimento participativo e
potencialmente inspirador dos Barangay favela produziu o objecto do desenvolvimento - a
localidade como inferior, residual, não produtiva e ignorante (Gibson-Graham 2005).

O trabalho de Gibson-Graham nas Filipinas é em parte uma operacionalização da sociologia


das ausências de Sousa Santos (2004). O objectivo do autor era desviar o destaque das
ausências para, pelo contrário, realçar as presenças e recursos: assim era pedido às
comunidades que identificassem os seus recursos e pontos fortes em vez de começar numa

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posição de necessidade. Por exemplo, uma comunidade poderia ser pobre em dinheiro, mas
mesmo assim ter uma economia viva e diversificada, incluindo: transações comerciais e não-
comerciais; mão-de-obra não paga, com pagamento alternativo ou com salário; empresas não
capitalistas, de capitalismo alternativo e capitalistas. Entretanto uma cidade como Jagna, no
estudo de Gibson-Graham, seria, sob uma abordagem de desenvolvimento principal,
aconselhada a lidar com as suas lacunas pela exportação de mais mão-de-obra ou promovendo
o abandono da produção de cocos e copra em favor de uma mercadoria agrícola de exportação
mais viável, de uma perspectiva da economia comunitária, é rica em certos bens e as opções
abrem-se em muitas direções diferentes (Gibson-Graham 2005).

Como um projeto de pós-desenvolvimento, Gibson-Graham vêm o seu trabalho como parte de


um pós-desenvolvimento emergente ou como um modo de pensamento e de prática que é
geradora, experimental, incerta, optimista e mesmo assim totalmente assente numa
compreensão da violência material e discursiva e de promessas de um longo historial de
intervenções de desenvolvimento (Gibson-Graham 2005).

Se pretender saber mais como o pós-desenvolvimento nos permite ver as possibilidades de


desenvolvimento de novas formas, Curry (2003) conduziu a investigação entre pequenos
proprietários produtores de óleo de palma na Papua Nova Guiné. Sob a perspectiva
estruturalista, seria lógico assumir que através do colonialismo e do capitalismo, a PNG seria
integrada na economia global e as estruturas sociais indígenas seriam comprometidas e
substituídas por formas capitalistas. A troca de bens é uma dessas estruturas sociais indígenas
na PNG. Como Curry explica, a capacidade das pessoas em envolverem-se na troca de bens é
crítica nas relações sociais e de identidade, e é um determinante importante da qualidade de
vida (2003). No entanto, a troca de bens não foi comprometida pelo capitalismo na PNG, e na
verdade, o capitalismo fortaleceu esta tradição! Por exemplo, muitas pessoas poderão apenas
envolver-se na produção de óleo de palma quando existe um grande evento na comunidade,
como um casamento, no horizonte. O desenvolvimento capitalista pode servir fins não-
capitalistas. Os pequenos proprietários de óleo de palma são assim motivados não tanto pelo
dinheiro, mas pela troca com base na afinidade (Curry 2003). Isto pode desafiar as noções de
homem económico e tomada de decisões racionais (Curry 2003); simultaneamente, não existe
qualquer dúvida que a troca de bens contribui consideravelmente para o bem-estar da
comunidade geral. A exploração de práticas de pós-desenvolvimento de McGregor (2007) em
Timor-Leste explora a margem dos financiadores em envolverem-se em trabalho semelhante.
Outros autores de pós-desenvolvimento baseiam a sua inspiração no aparecimento dos novos
movimentos sociais, em que os sentimentos populares que se opõem aos que estão no poder
podem ser expressos de modo a conduzir a novas possibilidades para as pessoas envolvidas:

Estamos a testemunhar um aumento na prática política de múltiplas identidades,


lealdades e soberanias divergentes associadas à política localizada e
desenvolvimento em locais específicos. Estes acordos políticos alternativos
desafiam a função hegemónica do Estado-nação para definir as identidades
políticas dos povos (Kindon 1999).

Esteva e Prakash (1998) apresentam na discussão bastante interessante de um dos novos


movimentos sociais mais famosos do mundo, o EZLN, que controla a zona de Chiapas no
México. A revolta em Chiapas não ocorreu devido a uma falta de desenvolvimento na sua
área – por exemplo, não estavam a pedir uma melhor infraestrutura, serviços de saúde e
educação ou apoio para a agricultura – pelo contrário, uniram-se para resistir ao tipo de

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desenvolvimento imposto pelo Estado e pelo mercado, que acreditavam ter comprometido o
seu bem-estar.

13. Virar o mundo do avesso!

Algumas das mais interessantes possibilidades que surgiram do pós-desenvolvimento são os


espaços que proporcionam para imaginar o desenvolvimento em formas diferentes – não
como um projeto de interesses e instituições ocidentais, modernidade ou esclarecimento.
Como Sidaway (2008) observa, o reconhecimento em como o desenvolvimento é apenas uma
das formas de ver o mundo e uma que implica determinadas consequências e assunções que
pode abrir outras perspectivas. O poder do pós-desenvolvimento reside assim na sua
capacidade em virar compreensões do mundo consideradas como garantidas do avesso:

 E se em vez de considerar África como o continente mais pobre do mundo,


estrangulado pela corrupção e pela falta de recursos, considerarmos África como um
continente rico nas suas culturas, história e povos?
 E se em vez de considerarmos o Japão, a Europa e os EUA como países ricos,
reconhecermos as desigualdades massivas que existem entre ricos e pobres nestes
estados e começarmos a imaginar estratégias para superar a pobreza que incluam os
pobres de todas as partes do mundo?
 E se decidirmos que a melhor forma de criar um ambiente onde os pobres poderiam
transformar as suas próprias vidas, fosse incentivar as agências de desenvolvimento a
procurar formas de incapacitar os ricos e poderosos?

Nos projetos emergentes como os dos trabalhos de Gibson-Graham, Curry e McGregor,


podemos ver uma exploração das possibilidades de pós-desenvolvimento em vez de uma
rejeição completa do desenvolvimento como uma abordagem adequada ou válida para a
mudança social positiva. Estas experiências baseiam-se na análise crítica do desenvolvimento
que surgiu nos anos 90, sustentado pelo pós-modernismo, pós-colonialismo e pós-
estruturalismo. Procuram integrar novas perspectivas no poder do discurso e prática
discursiva tanto na reprodução como na criação de realidades sociais e políticas. Mas
enquanto alguns autores de pós-desenvolvimento adoptam uma perspectiva
antidesenvolvimento, outros permanecem fortemente críticos dos conceitos de
desenvolvimento, no entanto recusam rejeitar a ideia de um projeto de desenvolvimento
altruísta e a esperança que apresenta para a criação de um mundo melhor.

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