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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ

IFCE CAMPUS IGUATU


BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL

TALITA DE FREITAS LIMA

É IMPOSSÍVEL SER FELIZ SOZINHO:


UM OLHAR ACERCA DAS POLÍTICAS DE PROTEÇÃO AOS ANIMAIS EM
SITUAÇÃO DE ABANDONO NO MUNICÍPIO DE IGUATU-CEARÁ.

IGUATU - CE
2021
TALITA DE FREITAS LIMA

É IMPOSSÍVEL SER FELIZ SOZINHO:


UM OLHAR ACERCA DAS POLÍTICAS DE PROTEÇÃO AOS ANIMAIS EM
SITUAÇÃO DE ABANDONO NO MUNICÍPIO DE IGUATU-CEARÁ.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


curso de Bacharelado em Serviço Social do
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará (IFCE) - Campus Iguatu,
como requisito parcial para obtenção do Título de
Bacharel em Serviço Social.

Orientador: Profa. Dra. Adriana Alves da Silva.

IGUATU - CE
2021
TALITA DE FREITAS LIMA

É IMPOSSÍVEL SER FELIZ SOZINHO:


UM OLHAR ACERCA DAS POLÍTICAS DE PROTEÇÃO AOS ANIMAIS EM
SITUAÇÃO DE ABANDONO NO MUNICÍPIO DE IGUATU-CEARÁ.

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado ao Curso de Bacharelado em
Serviço Social do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
(IFCE) – Campus Iguatu, como requisito
parcial para obtenção do Título de Bacharel
em Serviço Social.

Aprovado (a) com nota máxima em: 10 / 06 / 2021.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________
Profa. Dra. Adriana Alves da Silva (Orientadora)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) – Campus Iguatu.

_________________________________________________________
Prof. Dr. Leandro de Castro Lima
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) - Campus Iguatu.

_________________________________________________________
Assistente Social Esp. Maria Mayara Rufino de Souza
Centro de Referência a Mulher de Iguatu (CRMI)
Aos meus “filhos” do coração, Mia (in
memoriam), Lobão (in memoriam), Aquiles,
Max (in memoriam), Nina, Luck, Megg (in
memoriam), Rita e Sophia. A todos os animais
que foram covardemente abandonados e/ou
maltratados.
AGRADECIMENTOS

A Deus, ao universo, aos seres espirituais e a tudo aquilo ao qual acreditei e pedi
auxílio espiritual nos momentos de medo e angústia. Agradeço pela vida, não só a minha, mas
a de todos aqueles que fizeram parte da minha caminhada até aqui. Reconheço que me
concederam a coragem, a garra e a fé que não me permitiram desistir.
À minha mãe, Antonia Freitas, por me ensinar os valores que carrego. Por me
incentivar desde cedo a estudar, por me fazer acreditar que eu sou capaz. Agradeço por ter
sido esta mulher forte e corajosa que sempre enfrentou o mundo para nos dar o melhor que
estava ao seu alcance. Sei que nunca foi fácil, obrigada por não desistir. Obrigada por me
mostrar que a vida não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si, é sobre saber que em
algum lugar alguém zela por ti. Eu amo você!
Aos meus irmãos, Tácio e Tamara, por me mostrarem que quando existe amor, não
importa há quantos quilômetros de distância a gente esteja; não importa quantas vezes nos
desentendemos por pensarmos diferente sobre várias coisas da vida, sempre poderemos contar
uns com os outros. Ao meu “afilhinho”, Miguel, que me fez perceber que eu não preciso ser
mãe para entender o que significa o amor incondicional. Hoje você não lê e mesmo que eu te
fale ainda não entenderá, mas um dia saberá como sou grata por tê-lo em minha vida.
Às minhas primas, Andréa e Luana, por me ouvirem quando precisei, pela força
quando desanimei, por aguentarem meus desabafos no momento em que mais precisei. À
Thalia, por sua companhia e alegria, tão importantes para mim nos últimos meses.
À minha gêmea de coração, Talita Alves, que mesmo longe sempre esteve ao meu
lado. Obrigada pelas palavras de encorajamento, apoio, e também puxões de orelhas. Somos
as pessoas mais diferentes e mais parecidas que conheço (risos).
Agradeço com todo meu coração, a Lara Giló e Tatiane Souza, as minhas “sofredoras
de Marx”, por me acompanharem e auxiliarem nesse processo tão complicado, pela amizade,
pelo carinho, as conversas, as risadas, os deboches, o que esperar de duas cápricas e uma
canceriana, juntas!? (risos). À Laís Layanne, minha “bruguela”, minha dupla em provas,
trabalhos e nos rolês, a minha amiga mais estressada e mais sentimental, o meu ombro amigo,
não consigo descrever quanto sou grata por te conhecer. À Yanka, minha “libriana”,
companheira de vinhos e papos filosóficos ao som de Belchior, das poucas coisas que temos
em comum. Se me perguntarem como duas pessoas tão diferentes se tornaram tão
companheiras? Eu faria das palavras de Chicó as minhas: “Eu não sei! só sei que foi assim”
(risos). Como eu amo vocês! À Cilânia Roseno, Matheus Cardoso, Lívia Alves, Bárbara
Brandão e Walex Brendo; as conversas aleatórias, os papos existencialistas, os desabafos e
risadas que compartilhamos durante essa etapa tão desafiadora da vida fizeram toda diferença.
A todxs vocês, minha eterna gratidão, nunca me esquecerei das nossas tardes de estudos, sem
tanto estudo, mas com as melhores notas, quanta saudade daquelas gargalhadas! À Lelé
Fantim, que alegrava e adoçava nossas noites, com suas risadas, seus vídeos/áudios e mimos,
aquele que sempre topou e incentivou nossas ideias. A minha turma 2016.1, conseguimos!
Entre erros, acertos e tropeços, e mesmo sendo a própria “materialização do funaré”,
chegamos aqui juntos, nem sempre fortes, nem sempre bem, mas nessa turma ninguém soltou
a mão de ninguém! Agradeço cada momento, cada vivência. Vocês contribuíram
valiosamente para que eu chegasse até aqui.
Agradeço ao meu namorado, Carlos Mattos, que antes e apesar de tudo, tem sido um
grande amigo. Obrigada por toda atenção, pelo amor, por aguentar meu estresse e a ansiedade
durante esse processo, pela força, pelo incentivo e por todo apoio, mas principalmente por me
mostrar que se fazer presente na vida de alguém vai muito além de estar presente. Você
entendeu que sou pequenina e também gigante, viu o melhor e o pior de mim, e não teve
medo de arriscar e mergulhar no meu infinito particular.
À todxs xs amigxs próximos e/ou distantes, aos familiares e a todxs que de alguma
forma fizeram parte dessa fase da minha vida. A Rafael e família, pessoas cоm as quais
convivi e fizeram parte dessa jornada, que por muitos anos me auxiliaram e encorajaram a não
desistir, vocês certamente tiveram impacto na minha formação.
À Adriana Alves, minha orientadora, sem a qual não teria conseguido concluir esta
difícil tarefa. Que palavras eu posso usar para gritar o quanto sou grata por ter concordado em
caminhar ao meu lado na produção deste trabalho? Só consigo dizer que reconheço seu
esforço, sua dedicação e a orientação incansável, obrigada pela confiança que tornaram
possível a realização desse sonho. Agradeço a Adriana também, como professora, como
amiga e pela oportunidade de fazer parte do Grupo de Estudos e Pesquisa em Criança e
Adolescente. À Myrla, minha psicóloga amada, por sua paciência, atenção e amizade.
Obrigada por me ajudar a me reencontrar, entender que nem tudo está sob o nosso controle e
compreender que antes de amar alguém é preciso que eu me ame primeiro. Grata a todos os
membros do GEPCA, as tardes em que nos encontrávamos eram certamente de grande alívio,
tantos risos, debates e comidinhas.
Ao professor, Antonio Nunes, pela oportunidade de fazer parte do Grupo de Pesquisa
e Estudo em Educação, Linguística e Letras (GEPEL). As professoras Juliana Maranhão e
Renata Lígia, pela compreensão e palavras de apoio de vocês nas etapas em que mais precisei.
A professora Moíza Sibéria, pela atenção dedicada a todxs nós como coordenadora, amiga e
incentivadora, apesar de mesmo sem intenção, ter me metido medo no dia em que escolhi o
tema para minha pesquisa (risos). Às professoras Aparecida Higino e Samilly Alexandre por
tornarem as noites em sala de aula mais leves. À professora Cinthya Studart, grande
profissional e excelente supervisora na disciplina de estágio, obrigada pelas reflexões e
análises compartilhadas. Ao professor Leandro Lima, obrigada pelo interesse e
disponibilidade a fazer parte da banca examinadora. A todxs docentes do curso de Serviço
Social, pelas orientações e ensinamentos que proporcionaram grande aprendizagem e um
melhor desempenho no meu processo de desenvolvimento ao longo do curso.
A todxs profissionais do IFCE – Campus Iguatu, que contribuíram de alguma forma,
para que eu chegasse até aqui. Estivesse você trabalhando no refeitório, na limpeza, no
almoxarifado, na coordenação, na secretaria, você faz parte desse momento. A você, que
preparava aquele cafezinho à tarde e/ou à noite, meu muito obrigada; aquele café era recebido
por nós como um abraço apertado.
À minha maravilhosa supervisora de estágio, Mayara Rufino, obrigada por cada
minuto de conversa e de orientação, por sua amizade, pelas tardes de alegria, pelos conselhos
e tudo mais. Agradeço a todas vocês do Centro de Referência a Mulher de Iguatu - CRMI,
Mayara Rufino, Aline Simplício, Tatiana Abreu e Jezada Lima, com quem tive oportunidade
de compartilhar conhecimento e que me mostraram que um pouco de diversão também é
necessária mesmo quando lidamos com situações tão difíceis. Sempre serei a “cobra criada
de vocês”! (risos)
À todxs que colaboraram para que este trabalho fosse possível. Obrigada
principalmente a vocês que são protetores dos animais, que enfrentam todas as dificuldades
imagináveis e inimagináveis para resgatar, cuidar e encontrar um lar para eles. O que seria do
mundo sem vocês?
Por último, não por serem menos importantes, mas por serem protagonistas nesta
pesquisa. Dediquei este trabalho aos meus bebês, estejam presentes ou in memoriam,
agradeço de todo coração, pela companhia, pela dedicação e amor verdadeiro. Adotá-los, sem
sombra de dúvidas foi a melhor escolha que já fiz na vida, a minha única dúvida é, fui eu
realmente quem os adotei ou fui escolhida por vocês? Aos que continuam comigo, agradeço
por tornarem os meus dias mais fáceis e alegres. Aqueles que, por razões que me são alheias,
já não estão neste mundo, agradeço pelo tempo que me foi concedido para desfrutar de suas
companhias.
Faço uso das palavras do Prof. Marcel Camargo para descrever meus sentimentos e
encerrar os agradecimentos: "Perder um animal de estimação dói, machuca fundo, porque se
trata de uma relação em que o amor é verdadeiro, recíproco e incondicional. Amar os
animais é ter sentimento de volta, é retorno afetivo, transparência, verdade e inteireza. Eles
nos esperam, todo dia, sempre, sem se cansarem de nos olhar com admiração e respeito; e
tenho certeza de que eles, depois de partirem daqui, ainda nos esperarão. Ah, nosso
reencontro com esses bichinhos que tanto amamos será uma das festas mais lindas que o céu
testemunhará.".
“Os animais do mundo existem por suas
próprias razões. Não foram feitos para os seres
humanos, do mesmo modo que os negros não
foram feitos para os brancos, nem as mulheres
para os homens.”

Alice Walker
RESUMO

A proteção animal envolve para além de garantir o bem estar, o dever de salvaguardar a
garantia de direitos dos animais não humanos. No que se refere ao conceito de bem estar
animal, entende-se que este tem como princípio o dever do homem de cuidar bem dos animais
e este compromisso está respaldado pela ética, moral ou mesmo pela religião; deste modo
nenhum indivíduo deve causar dor e sofrimento desnecessário aos animais. Ante isto o
objetivo do presente estudo foi discutir a proteção aos animais em situação de abandono e
investigar como essa proteção tem se materializado no município de Iguatu – Ceará Trata- se
de uma pesquisa qualitativa, empregando as técnicas de pesquisa bibliográfica, documental e
entrevista. Teve como lócus a cidade de Iguatu - CE. Foram sujeitos dessa pesquisa gestores,
representantes do poder legislativo e líderes que possuem envolvimento com a causa animal.
Dos resultados foi possível constar que cada vez mais pessoas têm feito parte do rol dos
defensores dos animais, isso porque, já se entende que a vida digna é algo que não é direito
apenas do homem, mas de todo ser vivo; que o maior desafio enfrentado tanto pelo poder
público municipal, quanto para as entidades da sociedade civil, é o (des)controle populacional
dos animais e a falta de conscientização das pessoas para proteção. Concluiu-se que para que
haja a real concretização das políticas públicas existentes no município faz-se necessário a
implantação e implementação de novos serviços a serem desenvolvidas pelo poder públicos
para proteção animal. Para sua concretização, uma proposta de minuta de Projeto de Lei foi
elaborada, tratando-se, pois, de uma iniciativa popular que posteriormente poderá ser enviado
para apreciação da Câmara Municipal de Iguatu-Ce e assim os animais possam ter uma
proteção adequada e uma convivência digna com os humanos.

Palavras-chave: Proteção Animal. Animais Domésticos. Abandono. Adoção. Iguatu – CE.


ABSTRACT

Animal protection involves, in addition to guaranteeing the well-being, the duty to safeguard
the guarantee of the rights of non-human animals. With regard to the concept of animal
welfare, it is understood that this has as a principle the duty of man to take good care of
animals and this commitment is supported by ethics, morals or even by religion; in this way
no individual should cause unnecessary pain and suffering to animals. In view of this, the aim
of this study was to discuss the protection of abandoned animals and investigate how this
protection has materialized in the municipality of Iguatu – Ceará. Its locus was the city of
Iguatu - CE. The subjects of this research were managers, representatives of the legislative
power and leaders who have involvement with the animal cause. The results showed thatmore
and more people have been part of the role of animal defenders, because it is understood that
a dignified life is something that is not only a right for man, but for every living being; that
the biggest challenge faced by both the municipal government and civil society entities is
the(dis) population control of animals and lack of awareness of people for protection. It was
concluded that for the real implementation of theexisting public policiesin the municipality it
is necessary to implement and implement new services to be developed by the public
authorities for animal protection. For its implementation, a draft draft Bill was prepared,
which is therefore a popular initiative that can later be sent for consideration by the
Municipality of Iguatu-Ce so that animals can have adequate protection and a dignified
coexistence with humans.

Key words: Animal protection. Domestic animals. Abandonment. Adoption. Iguatu – CE.
LISTA DE SIGLAS

AAA Atividade Assistida por Animais

ABINPET Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação

CBEA Centro de Bem-Estar Animal

CCZ Centro de Controle de Zoonoses

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

COMPAN Conselho Municipal de Proteção aos Animais

COSAP Coordenadoria da Saúde e Proteção ao Animal Doméstico

CPA Centro de Proteção Animal

DEPAMA Delegacia de Proteção Animal e Meio Ambiente

DUDA Declaração Universal dos Direitos dos Animais

HSI Humane Society International

HUMV Hospital Universitário de Medicina Veterinária

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

OMS Organização Mundial da Saúde

ONG Organização Não Governamental

PI Projeto de Indicação

PL Projeto de Lei

SC Santa Catariana

SEMASPA Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal

SUBEM Subsecretaria de Bem Estar Animal

SVB Sociedade Vegetariana Brasileira

UFIRMI Unidade Fiscal De Referência do Município de Iguatu

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

TAA Terapia Assistida por Animais


TCC Trabalho de Conclusão de Curso

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13
2 PERCURSO METODOLÓGICO – DESVELANDO A PROTEÇÃO AOS ANIMAIS
EM SITUAÇÃO DE ABANDONO NO MUNICÍPIO DE IGUATU-CEARÁ ................. 16
2.1 Justificativa, Delimitação e Problematização do Objeto de Pesquisa ................................ 16
2.2 Percurso Metodológico ....................................................................................................... 19
3 ANIMAIS DOMÉSTICOS E DE ESTIMAÇÃO – SENSIBILIDADE E CIVILIDADE
.................................................................................................................................................. 23
3.1 ANIMAIS DOMÉSTICOS – sensível adaptação para o convívio em sociedade .............. 23
3.2 ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO - proteção animal e consequências do abandono ............... 29
4 A RESPONSABILIDADE DA SOCIEDADE E DO PODER PÚBLICO NA
PROTEÇÃO AOS ANIMAIS DOMÉSTICOS ................................................................... 35
4.1 DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS - A conquista de
direitos ...................................................................................................................................... 35
4.2 POLÍTICAS PÚBLICAS – Conceitos, aplicabilidade e proteção aos animais domésticos
.................................................................................................................................................. 40
5 POLÍTICAS DE PROTEÇÃO AOS ANIMAIS EM SITUAÇÃO DE ABANDONO –
UM OLHAR SOBRE A SOCIEDADE DE IGUATU-CEARÁ. ........................................ 49
5.1 Proteção e defesa dos animais no município de Iguatu – CE – As normatizações e ação do
poder publico e sociedade civil ................................................................................................ 49
5.1.1 Leis Municipais ........................................................................................................ 49
5.1.2 Atuação do Poder Executivo .................................................................................... 50
5.1.3 Atuação do Poder Legislativo .................................................................................. 58
5.1.4 Ações e posicionamentos das ONGS e Protetores ................................................... 61
5.2 Animais domésticos e de estimação: estratégias para proteção aplicadas, o exemplo de
outros países ............................................................................................................................. 67
5.3 Recomendações e estratégias para proteção no município de Iguatu – Ceará ................... 70
5.3.1 Programas e Projetos: justificativas para a implantação no município .................... 70
5.3.2 Proposta de Lei para implantação das estratégias .................................................... 82
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 90
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 93
APÊNDICES ........................................................................................................................... 99
APÊNDICE A – ENTREVISTAS SEMI ESTRUTURADAS ................................................ 99
APÊNDICE B – FORMULÁRIO .......................................................................................... 101
ANEXOS ............................................................................................................................... 103
ANEXO A — TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .................... 103
ANEXO B — LEI 431/1996 .................................................................................................. 106
ANEXO C — LEI 2505/2017 ................................................................................................ 116
ANEXO D — LEI 2652/2019 ................................................................................................ 118
ANEXO E — LEI 2840/2021 ................................................................................................ 122
ANEXO F — PROJETO DE INDICAÇÃO Nº 009/15 ......................................................... 132
ANEXO G — PROJETO DE INDICAÇÃO Nº 004/18 ........................................................ 136
ANEXO H — REQUERIMENTO 2020 ................................................................................ 139
ANEXO I — PROJETO DE LEI Nº 001/2021 ...................................................................... 140
ANEXO J — PROJETO INDICATIVO 08/2020 .................................................................. 177
ANEXO K — ONG ADOTA IGUATU (DENÚNCIAS)...................................................... 178
ANEXO L — ONG ADOTA IGUATU (CARTAZES) ........................................................ 180
ANEXO M — ONG VIRA LATA DE RAÇA (TERMO DE ADOÇÃO) ........................... 181
ANEXO N — SEDE DA ONG VIRA LATA DE RAÇA ..................................................... 182
13

1 INTRODUÇÃO

O abandono de animais no Brasil é um problema que tem chamado a atenção da


sociedade não apenas pelo crescente número, mas também pela ausência de compreensão do
ser humano como parte de um todo maior, que coabita os espaço com uma diversidade de
espécies não humanas e não racionais que carecem de solidariedade e dignidade e portanto, de
proteção.
Marcada pela superioridade da espécie humana em relação às demais espécies, a
relação entre humanos e não humanos tem esquecido os direitos que compõe a vida, o descaso
em relação à senciência animal, abrindo margem para maus tratos e até mesmo violência,
negligenciando a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada pela UNESCO
(1978), que diz em seu Artigo 1° que: “Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm
os mesmos direitos à existência”.
Por se autoproclamarem superiores, os seres humanos mantêm com os animais uma
relação de domínio como se estes fossem “coisas” e “existências descartáveis que lhes
servem, apenas, como objeto”. Como nos lembra Boff (1999, p. 46) a relação entre humanos e
natureza não é uma relação “sujeito-objeto, mas sujeito-sujeito”.
Os animais considerados de estimação são em sua maioria cães e gatos. De acordo
com a Abinpet, o Brasil era até 2018 o quarto maior país em população total de animais de
estimação. Ratificando esse dado o Instituto PET Brasil (2019), ratifica que a população de
PETs no Brasil é de cerca de 140 milhões, onde a maioria são cachorros (54,2 milhões) e
gatos (23,9 milhões), num total de 78,1 milhões de animais. Desses, 5% são Animais em
Condição de Vulnerabilidade (ACV), e cerca de 30 milhões de animais estão em situação de
rua. Isso porque, nem todos os animais que estão na rua são de fato animais abandonados,
alguns possuem residência fixa, outros estão perdidos, e existe ainda a parcela dos
abandonados que procuram abrigo em locais difíceis de ser acessados. Já os Animais em
Condição de Vulnerabilidade são aqueles que vivem sob tutela das famílias classificadas
abaixo da linha de pobreza, ou que vivem nas ruas, mas recebem cuidados de pessoas.
Não existem dados totais oficiais, há apenas estimativas, no entanto é consenso de
que o Brasil seja um dos países que mais abandona animais. Situação que nos leva a inferir
que carece ao ser humano compreender que ao cuidar da natureza e do bem estar das demais
espécies cuidará, também, da sua própria existência. Nesse sentido, discutir e garantir a
proteção animal na sociedade é urgente e necessário (BARROS; ARAÙJO, 2020).
14

Por proteção animal compreendemos para além de acolher e assegurar o bem estar,
entendemos ser o dever de salvaguardar a garantia de direitos dos animais não humanos. No
tocante ao conceito de bem estar animal, entende-se que este tem como princípio o dever do
homem de cuidar bem dos animais e este compromisso está respaldado pela ética, moral ou
mesmo pela religião; deste modo nenhum indivíduo deve causar dor e sofrimento
desnecessário aos animais.
Apesar de haver pouca literatura nacional que discorra sobre os fatores associados à
proteção de animais em situação de abandono, esse tema é de grande importância para a
sociedade na atualidade, que precisa se empenhar e problematizar as relações entre o animal
humano e o animal não humano.
É nesta perspectiva que justificamos a realização da presente pesquisa que tem como
principal objetivo discutir a proteção aos animais em situação de abandono e investigar como
essa proteção tem se materializado no município de Iguatu – Ceará.
Na busca de alcance deste objetivo, fez-se necessário categorizar os animais
domésticos, caracterizando as relações com o ser humano; identificar os desafios postos as
organizações da sociedade civil e ao Poder Público para proteção aos animais domésticos em
situação de abandono; conhecer os fatores que dificultam ou facilitam a existência de politicas
públicas para proteção aos animais em situação de abandono; e como contribuição, buscamos
delinear estratégias de materialização de políticas públicas para proteção a estes animais no
município de Iguatu.
Para maior compreensão do leitor o TCC encontra-se estruturado em quatro capítulos
descritos a seguir:
O primeiro capítulo foi intitulado de Percurso Metodológico – Desvelando a proteção
aos animais em situação de abandono no município de Iguatu-Ceará, é nele onde se
encontram descritas a justificativa, a delimitação e a problematização do objeto da pesquisa,
assim como, o percurso metodológico.
No segundo capítulo procuramos apresentar aspectos da relação humano-animal, bem
como o percurso seguido desde a dominação animal até o momento em que este deixa de ser
considerado objeto e passa a ser animal de companhia e/ou membro da família. Para este
capítulo demos o título de Animais Domésticos e de Estimação – Sensibilidade e Civilidade.
O terceiro capítulo, A Responsabilidade da Sociedade e do Poder Público na Proteção
aos Animais Domésticos, aborda a Declaração Universal dos Direitos dos Animais
destacando sua importância para a elaboração das leis existentes hoje, analisamos ainda, como
se deu a conquista dos direitos dos animais não humanos.
15

No último capítulo deste TCC são abordadas e apresentadas as leis existentes na


cidade de Iguatu em prol a proteção animal. Este recebeu o nome de Políticas de Proteção aos
Animais em Situação de Abandono – um olhar sobre a sociedade de Iguatu-Ceará, mostra
também as ações e dos poderes executivos e legislativos, assim como das ONGs existentes no
município. Neste capítulo apresentamos ainda, recomendações e estratégias para a efetiva
proteção e bem estar dos animais deste município.
Por fim apresentamos as considerações finais com as reflexões sobre a busca e alcance
dos objetivos, explicitando os desafios que se apresentaram no percurso, a que conclusões
chegamos através da pesquisa, como também enfatizamos recomendações para a sociedade e
para as instituições gestoras sobre a proteção animal no município de Iguatu por meio da
criação do Centro de Referência em Assistência Especializada em Bem Estar e Proteção
Animal onde para sua concretização, elaboramos uma proposta de minuta de Projeto de Lei,
tratando-se, pois, de uma iniciativa popular que posteriormente será enviado para apreciação
da Câmara Municipal de Iguatu-Ce.
Embora seja uma luta árdua, os movimentos em prol a proteção dos animais tem
buscado a concretização dos direitos fundamentais de igualdade, pois, assim como as criaturas
humanas estes animais tem direito a vida digna.
Deseja-se que os resultados alcançados venham a contribuir para a ampliação do
entendimento sobre a causa animal, a luta pela elaboração de mais políticas de proteção, e a
efetivação das políticas já existentes. Esperamos ainda, que haja uma sensibilização do poder
público municipal para discussão sobre e para implantação de politicas de proteção animal.
16

2 PERCURSO METODOLÓGICO – DESVELANDO A PROTEÇÃO AOS ANIMAIS


EM SITUAÇÃO DE ABANDONO NO MUNICÍPIO DE IGUATU-CEARÁ

2.1 Justificativa, Delimitação e Problematização do Objeto de Pesquisa

Historicamente o homem foi reconhecido pela lógica antropocêntrica e visto como


centro do universo. Assim, considera-se que o mundo deve ser compreendido a partir da
relação entre os seres humanos e, portanto, tudo mais que há no planeta, existe para servi-lo.
No entanto, é inaceitável que em pleno século XXI ainda haja a predominância dessa
visão antropocêntrica em detrimento dos animais, é inconcebível que o homem seja
considerado um ser superior em consequência de valores como linguagem, comunicação e
razão, visto que, assim como o homem, os animais sofrem, sentem dor, fome, frio e mesmo
que não se compreenda totalmente sua linguagem, estes tem capacidade de exprimir
sentimentos.
Assim sendo, é preciso entender que o direito a vida digna é intrínseco não somente ao
homem, mas de todo ser vivo. Faz-se necessário a adoção de uma visão voltada ao
biocentrismo, onde todas as formas de vida são igualmente importantes, não sendo a
humanidade o centro da existência, os animais não humanos também coabitam a sociedade e
necessitam de proteção do Poder Público não somente como forma de trazer benefícios ao
homem, mas para a proteção efetiva desses. Aprofundar esta discussão é basilar reconhecer
que o homem é também uma espécie animal e, logo, é vital que se proporcione através do
direito juntamente com a moral e a ética, instrumentos para proteção de todos os animais.
Discutir a proteção animal é importante, pois a situação de abandono é uma realidade
comum no dia a dia das cidades. Os animais são deixados em praças, estradas, portas de pet
shops e entidades de proteção animal. Existem ainda, aqueles que levam seus bichinhos
doentes ao veterinário, e não voltam mais para buscá-los (GIOVANELLI, 2017)
O Brasil em 2018 era o 4º maior do mundo em população total de animais de
estimação de acordo com os dados da ABINPET, entre os quais, segundo o IBGE, 52,2
milhões são cães e 22,1 milhões de gatos, essa era a estimativa da população desses animais
em domicílios brasileiros no ano de 2013. Acredita-se que a quantidade de animais de
estimação no país é ainda maior, visto que a pesquisa do IBGE não considera os animais em
situação de abandono. A OMS estima que só de animais em situação de rua o Brasil possua
aproximadamente 30 milhões (GARCIA, 2020).
17

A problemática da proteção animal se amplia quando observamos que os animais além


de abandonados também servem para usufruto humano com fins como colecionar e
comercializar, situação que denota a supremacia humana e coisificação da vida, negando a
senciência animal e as sensações e impressões que desenvolvem sobre aquilo que os cerca.
Constata-se, portanto, que a temática do abandono animal é bem mais complicada do
que podemos imaginar, pois envolve o olhar de sensibilidade da sociedade como um todo para
com o tema. Esses animais encontram-se, de alguma forma, fazendo parte da parcela da
sociedade que sofre com as desigualdades sociais, afinal em um mundo onde a presença de
crianças nas ruas tornou-se algo corriqueiro, sensibilizar pessoas para as questões que
envolvem a proteção e a garantia dos direitos dos animais não é uma tarefa simples. Partindo
desse princípio, é inegável a necessidade de se desenvolver políticas públicas, que visem dar
proteção a estes animais abandonados nas ruas.
As políticas públicas devem chegar à sociedade como um todo, sem que haja distinção
de raça, sexo ou classe social. Sua função é promover o bem estar social. Assim, a qualidade
de vida deverá ser contemplada por inteiro. O governo no intuito de alcançar resultados
satisfatórios nas mais diversas áreas faz uso das políticas públicas com base nesse princípio. A
elaboração destas políticas consiste na fase em que os governos democráticos manifestam
suas intenções e propostas eleitorais, que resultarão em projetos e ações que farão mudanças
em âmbito regional, nacional ou até mesmo internacional.
Pontes (2012) argumenta que o desenvolvimento de políticas públicas voltadas aos
direitos dos animais tem um caminhar lento em seus primeiros andares, mas que é firme e
consistente em sua direção. Entendendo que política pública é uma diretriz voltada para
resolução de um problema público, muitos são os modos como o poder público pode intervir
na problemática do abandono animal. Hoje, alguns municípios brasileiros possuem suas
próprias leis e diretrizes voltadas à proteção do animal doméstico, principalmente daqueles
que se encontram em situação de abandono, um exemplo é cidade Bagé-RS, São Paulo-SP e
Rio de Janeiro, RJ. Assim é desejo nosso que os resultados dessa pesquisa possam sensibilizar
gestores, para discussão e implementação de politicas de proteção animal não apenas no
município de Iguatu, mas também da região.
O interesse em desenvolver a presente pesquisa surgiu a partir de minhas experiências
pessoais. Tenho em casa alguns animais que adotei e por manter um convívio diário com eles
não consigo descrever o amor que lhes tenho, são meus filhos, e esse talvez tenha sido o meu
maior motivo. Porém, não é o único, ao fazermos uma curta caminhada pelas ruas da cidade é
perceptível a enorme quantidade de animais domésticos em situação de rua, chega a ser cruel.
18

E justamente por isso, me questionei muitas vezes, como e porque alguém pode abandonar
seres tão indefesos, qual a causa do abandono, porque o governo municipal nada faz para
mudar essa situação, de que forma posso contribuir para que a sociedade tome conhecimento
desse assunto.
Inicialmente uma pesquisa com essa temática me parecia impraticável dentro do curso
de Serviço Social. No entanto, levando em conta que o assistente social trabalha com as várias
expressões da questão social, atuando diretamente em auxiliar os sujeitos no alcance de sua
cidadania, e que inúmeras famílias sustentam vínculos através da relação que possuem com os
seus animais de estimação, além da percepção de que cuidando dos animais também se está
promovendo a saúde de todos em geral, pude enxergar a importância que o assistente social
tem em realizar ações que possam a vir a auxiliar as famílias e aos animais, contribuindo com
a sua intervenção profissional em prol do zelo a essas criaturas, mas também para a criação de
políticas públicas de proteção a estes, pois entendemos que, o bem estar destes está
diretamente ligado ao bem estar de seus tutores.
O profissional de Serviço Social trabalha diretamente com o sujeito e as várias
expressões da questão social, na realização de trabalhos preventivos com o usuário e por
vezes restaurador, que podem determinar o rumo histórico dele, de seus familiares e da
comunidade envolvida. Assim, como dito anteriormente, ao entender que os animais não
humanos agora fazem parte como membro da família, a luta pelos direitos destes deve ser tão
ferrenha quanto a luta pelos direitos dos humanos.
Válido referir que pouco se fala da atuação do Assistente Social no tocante aos direitos
dos animais, mas já existem profissionais atuando nesse campo em alguns estados brasileiros,
como são os casos de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, que ofertam o Serviço Social
especializado em atendimento em hospitais veterinários na política de proteção animal, mas a
atuação do Assistente Social frente a defesa e proteção animal vai além, podendo ligar-se as
políticas de saúde no caso dos Centros de Zoonoses ou de Assistência Social no caso do
CRAS. Este caso específico ainda é uma área pouco estudada pela Assistência Social, mas de
grande importância na atualidade, principalmente no tocante as políticas públicas. Essa área
profissional objetiva o atendimento dos usuários que se encontram desprovidos de renda e que
não tenham condições materiais para cuidar de seus animais de estimação quando estes
necessitarem de atendimento seja por motivo de doença ou por algum trauma sofrido. Este
trabalho possibilita a atuação intersetorial, onde o profissional do Serviço Social pode atuar
em parceria com profissionais da medicina veterinária e ONGs que auxiliem as famílias e os
animais neste caso específico, visto que, inúmeras famílias mantêm seus vínculos através da
19

relação que tem com seus animais, assim é importante que o assistente social encontre nesse
campo a melhor maneira de atuar junto a este usuário.
Cabe destacar que não é objetivo deste trabalho trazer a discursão ampla acerca da
atuação do profissional do Serviço Social, mas levantar o debate acerca da contribuição deste
profissional para que se possam implantar as políticas de proteção aos animais nos
municípios. Não há como negar que a luta por estes direitos devem fazer parte dessa atuação,
já que o assistente social tem seu papel indispensável na articulação entre Estado e sociedade
civil, atuando na gestão, execução e planejamento de políticas, programas e projetos.
Ante o exposto, o que buscamos através dessa pesquisa foi compreender de que forma
o município, na figura do Poder Público, está realizando ou venha realizar o enfrentamento do
abandono animal, promovendo assim a garantia dos direitos e a proteção dos animais não
humanos que se encontram abandonados nas ruas, visto ser essa realidade identificada na
cidade.
A pesquisa tem objeto delimitado nos “animais de companhia”, popularmente
denominados “animais de estimação”, haja vista que são os mais presentes nas vias urbanas.
Partindo da existência de inúmeros fatores de risco nesse ambiente, que resultam em
processos de adoecimento do animal; é necessário haver ações eficazes que objetivem, além
de sua proteção e retiradas das ruas, a prevenção do abandono.
É com base no que foi apresentado, que a pesquisa procurou identificar as ações de
promoção contra o abandono realizadas no município e analisar como o abandono desses
animais se reflete no cotidiano da sociedade.
A problemática do abandono deve ser enfrentada como algo sério e que envolve
diversos fatores: respeito à vida, controle das doenças transmitidas por e aos animais, e ainda
o reconhecimento da importância que animais domésticos desempenham na comunidade.
Tratando-se de animais domésticos, nós, temos o compromisso ético de garantir todos os
direitos já conquistados por eles e vigiar para que não venha a acontecer o descumprimento
destes direitos, o que acarretaria em transtornos para a sociedade num todo; sociedade esta
que já padece diante de tantas adversidades resultantes do descaso para com o sistema do qual
fazemos parte. Neste sentido, preservar a vida é dever de todos.

2.2 Percurso Metodológico

No desenvolvimento desta pesquisa nos referenciamos no método materialista


histórico-dialético que de acordo com Pires (1997, p. 87)
20

[...] caracteriza-se pelo movimento do pensamento através da materialidade histórica


da vida dos homens em sociedade”, trata-se, portanto, de desvendar “(pelo
movimento do pensamento) as leis fundamentais que definem a forma organizativa
dos homens durante a história da humanidade (PIRES, 1997, p. 87).

Quanto a abordagem a presente pesquisa caracteriza-se como qualitativa. Conforme


Vieira e Zouain (2005) a pesquisa qualitativa confere importância essencial aos depoimentos
dos atores sociais envolvidos, aos discursos e aos significados transmitidos por eles. Assim
sendo, esse tipo de pesquisa preza por descrever detalhadamente os fenômenos e os elementos
que o envolvem. Para GODOY (1995, p. 21)

Algumas características básicas identificam os estudos denominados “qualitativos".


Segundo esta perspectiva, um fenômeno pode ser melhor compreendido no contexto
em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisado numa perspectiva integrada.
Para tanto, o pesquisador vai a campo buscando “captar" o fenômeno em estudo a
partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas, considerando todos os pontos de
vista relevantes. Vários tipos de dados são coletados e analisados para que se
entenda a dinâmica do fenômeno.

Quanto aos objetivos à pesquisa teve um enfoque exploratório, Godoy (1995), traz que
o pesquisador pretendendo desenvolver um estudo de caso deve estar acessível a novas
descobertas; ainda que o trabalho tenha início a partir de algum esquema teórico, deve
manter-se aberto a novos elementos e dimensões que poderão aparecer no transcorrer do
trabalho. Ainda segundo Godoy (2005), “O pesquisador deve também preocupar-se em
mostrar a multiplicidade de dimensões presentes numa determinada situação, uma vez que a
realidade é sempre complexa.”.
A pesquisa teve como lócus a cidade de Iguatu, município brasileiro do Estado do
Ceará que fica localizado na Região Centro-Sul do Estado, e caracteriza-se como o principal
polo econômico da região. Iguatu é berço do músico Eleazar de Carvalho e do compositor
Humberto Teixeira. É a cidade que mais possui cursos de graduação no Centro-Sul.
Iguatu dispõe atualmente, ao que concerne a proteção animal, de uma Secretaria de
Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal, um Centro de Controle de Zoonoses,
um Conselho Municipal de Proteção Animal e duas Organizações Não Governamentais. O
município hoje tem um grande número de animais em situação de abandono, mas conta com a
colaboração das ONGs Vira Lata de Raça e a Adota Iguatu.
Foram sujeitos dessa pesquisa, 2 representantes das ONGs de proteção animal do
município e seus protetores, 1 representante do Poder Executivo locado na Secretaria de Meio
21

Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal, e 2 representantes do Poder Legislativo


Municipal.
Para que o estudo fosse possível, os procedimentos utilizados na pesquisa, foram:
levantamento bibliográfico, pesquisa documental e entrevista. A primeira fase desta pesquisa
buscou realizar levantamento bibliográfico sobre o abandono de animais domésticos e as
politicas públicas de proteção aos animais, a partir de autores de referência nacional.
. A pesquisa documental engloba “todos os materiais, ainda não elaborados, escritos
ou não, que podem servir como fonte de informação para a pesquisa científica” (MARCONI;
LAKATOS, 2011, p. 43), e a pesquisa bibliográfica “trata-se do levantamento de toda a
bibliografia já publicada em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita.
Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre
determinado assunto [...]” (MARCONI; LAKATOS, 2011, p. 43-44).
Além disso, fizemos uma análise de documentos, sites, revistas, jornais, leis, estatutos,
entre outros que configuram uma pesquisa documental (MORETTI, 2021). Dentre eles a
Declaração Universal dos Direitos dos Animais, Leis federais e estaduais como o Decreto nº
24.645/34, a Lei nº 16.667/18, bem como as Leis municipais como a Lei Nº 2652/2019. E
também de artigos de sites como Jus Brasil, Viva o Bicho, A Humane World, também
realizamos a coleta de dados direto nas redes sociais das entidades envolvidas.
Na segunda fase realizamos entrevista, que para Moretti (2021) “é uma das principais
técnicas de coleta de dados no trabalho de conclusão de curso”, isso porque as informações
são obtidas através de diálogo com os entrevistados ou ainda, através de anotações e
gravações, para isso deve-se seguir um roteiro. Para a realização desta pesquisa aplicamos
entrevistas semiestruturadas, para que fosse possível um maior aprofundamento e melhor
captura do tema analisado (MONTEIRO, 2014).
Deste modo para responder a questão-problema e alcance dos objetivos, entramos em
contato com os sujeitos e deixamos a disposição meios possíveis de realizarmos essas
entrevistas (via WhatsApp, Google Meet e presencial). Os entrevistados decidiram que
acontecesse por WhatsApp, uma vez que diante do cenário de pandemia em que estamos
vivendo, não havia a possibilidade de entrevista presencial; além disso a entrevista via Meet
acabaria sendo mais difícil para eles já que para sua realização seria preciso uma data e
horário exclusivos para sua realização e parte dos sujeitos não estava disponível.
Decidiu-se então que um questionário seria enviado por WhatsApp em formato PDF e
os entrevistados deveriam responde-lo através de áudios. Também receberam em formato
22

PDF o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e um link que os direcionava ao


Formulário Google (APÊNCE B) que serviu naquela ocasião como assinatura do TCLE.
Este estudo basear-se-á na Resolução do Conselho Nacional de Saúde de número
466/121, que aborda a pesquisa com humanos,

Considerando o respeito pela dignidade humana e pela especial proteção devida aos
participantes das pesquisas científicas envolvendo seres humanos; Considerando o
desenvolvimento e o engajamento ético, que é inerente ao desenvolvimento
científico e tecnológico; Considerando o progresso da ciência e da tecnologia, que
desvendou outra percepção da vida, dos modos de vida, com reflexos não apenas na
concepção e no prolongamento da vida humana, como nos hábitos, na cultura, no
comportamento do ser humano nos meios reais e virtuais disponíveis e que se
alteram e inovam em ritmo acelerado e contínuo; Considerando o progresso da
ciência e da tecnologia, que deve implicar em benefícios, atuais e potenciais para o
ser humano, para a comunidade na qual está inserido e para a sociedade, nacional e
universal, possibilitando a promoção do bem-estar e da qualidade de vida e
promovendo a defesa e preservação do meio ambiente, para as presentes e futuras
gerações; Considerando as questões de ordem ética suscitadas pelo progresso e pelo
avanço da ciência e da tecnologia, enraizados em todas as áreas do conhecimento
humano; Considerando que todo o progresso e seu avanço devem, sempre, respeitar
a dignidade, a liberdade e a autonomia do ser humano; [...]. (CNS nº 466, 2012)

Faz-se, portanto, necessário analisar as respostas do Estado frente a essa expressão da


Questão Social, políticas, programas e os esforços do governo municipal para trazer soluções
que possam sanar com a problemática, de tal modo que assegure os direitos dos animais não
humanos em situação de abandono.

1
Publicada no DOU nº 12 – quinta-feira, 13 de junho de 2013 – Seção 1 – Página 59. Disponível em:
<http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf >
23

3 ANIMAIS DOMÉSTICOS E DE ESTIMAÇÃO – SENSIBILIDADE E CIVILIDADE

O apego entre nós humanos e os animais é cada vez mais intenso e ainda é complicado
compreender como essa ligação emocional acontece. No entanto, não é de hoje que os
animais vêm deixando de ser uma simples companhia e passam a fazer parte de nossas vidas
como componentes essenciais da família. Trata-se de sentimentos que a ciência ainda não foi
capaz de desvendar totalmente, e é provável que esse seja o motivo que tem despertado
interesse por parte da população em defendê-los.
Referenciando-nos nesta assertiva, neste capítulo, apresentamos alguns aspectos da
relação entre os homens e os animais, descrevendo o percurso desde a dominação destes seres
pelos homens nas antigas civilizações para seu próprio benefício, perpassando sua adaptação
ao convívio humano, saindo de mero objeto de trabalho e fonte de alimentação humana até
tornar-se um animal de companhia e membro da família.

3.1 ANIMAIS DOMÉSTICOS – sensível adaptação para o convívio em sociedade

“Alguma coisa, no amor sem egoísmo e abnegado de um animal,


atinge a alma dos que já experimentaram o erro, a fragilidade, a
fidelidade de afeição do simples homem.”
Edgar Allan Poe

Animais domésticos são aqueles que convivem e estão acostumados com a presença
humana, como os cães, gatos, cavalos, entre outros. Segundo o site Perito Animal (2020),
"trata-se de um grupo de animais que ao longo história foi natural e geneticamente
selecionado pelo seu convívio com humanos e possuem algumas características comuns”.
Conforme o mesmo site, mesmo quando um animal é considerado doméstico não quer dizer
que este possa viver em uma casa e ser considerado de estimação, haja vista que

Animais domésticos, na verdade, são animais que foram domesticados pelo ser
humano, o que é diferente de domados. São todas aquelas raças e espécies
selecionadas ao longo da história que foram natural ou geneticamente adaptadas para
conviver com o ser humano. De acordo com estudo publicado pelo Programa
Brasileiro de Conservação de Recursos Genéticos Animais, muitas das raças de
animais domésticos no Brasil se desenvolveram a partir de espécies e raças que
foram trazidas pelos invasores colonizadores portugueses e após um processo de
seleção natural foram aperfeiçoando características adaptadas ao ambiente.
(PERITO ANIMAL, 2020)
24

Vale ressaltar que, quando falamos de animais domésticos de maneira geral, nessa
denominação estão inclusos cavalos, coelhos, vacas, aves e uma variedade de outros animais.
Destacamos ainda, que animais domésticos não precisam estar abrigados diretamente no
interior da casa, mas no ambiente doméstico (chácaras, fazendas, etc.).
Os animais domésticos há muito tempo convivem com os seres humanos, contudo não
tinham a atenção e dispêndio de tempo de seus donos, só recentemente passando a serem
vistos de formas diferentes, pois passaram a ocupar um lugar de estima, diversão, de afeto e
não mais servindo como mão de obra e auxilio nas tarefas laborais e domésticas (THOMAS,
2010 apud SILVA, 2016, p.6-7).

Há também indícios desde o século XVII da importância dos animais na


socialização do homem. Essa mudança de comportamento acabou aproximando
ainda mais o animal do homem. Os animais migraram das fazendas para os quintais
e finalmente para dentro de suas residências (DOTTI, 2005 apud CAETANO, 2010,
p.16).

Entretanto, a relação homem-animal nem sempre foi pacífica, uma vez que existe
historicamente uma ótica antropocêntrica acerca do homem, e este sempre foi visto como
centro do universo. Assim, considerava-se que o mundo deveria ser compreendido a partir da
relação com o ser humano e, portanto, tudo mais que há no planeta, existe para servir ao
homem.

No início da modernidade o mundo era considerado como feito para a espécie


humana, e todas as outras espécies como subordinadas a seus desejos. Essa visão
ainda permanece nos dias atuais. Os séculos XVII e XVIII presenciaram uma
ruptura fundamental com os pressupostos do passado. Ao invés de perceber a
Natureza apenas em semelhanças e comparações com o humano, naturalistas
começaram a estudá-la em si própria. Não que não houvesse diferenças em relação
aos usos, com relação à Natureza, mas não faziam desses usos o centro de suas
percepções. Não obstante, conquanto os/as naturalistas agora descartassem muitos
dos “pressupostos antropomórficos” do passado, era difícil para outros homens
deixar de ver o mundo natural como um “reflexo de si próprio”. (THOMAS, 2010
apud SILVA, 2016, p. 17-18)

Desde a sua gênese, os seres humanos realizaram explorações particularmente atentas


e interessantes de outras formas de vida animal na Terra, explorando o ambiente natural. A
primeira forma de expressão humana na arte gráfica é representada por animais. O progresso
da humanidade e os eventos históricos que marcam o destino da humanidade geralmente
implicam a existência determinante do animal (CHIEPPA, 2002). No entanto, é inaceitável
que em pleno século XXI ainda haja a predominância dessa visão antropocêntrica; é
inconcebível que o homem seja considerado um ser superior em consequência de valores
25

como linguagem, comunicação e razão, visto que, assim como o homem, os animais sofrem,
sentem dor, fome, frio e mesmo que não se compreenda totalmente sua linguagem, estes tem
capacidade de exprimir sentimentos.

[…] a espécie humana deve modificar seu pensamento atual e renunciar ao


antropocentrismo, como a todo comportamento zoolátrico, para enfim adotar uma
conduta e uma moral centradas na defesa da vida, e dar prioridade ao biocentrismo.
É nisso que a Declaração Universal dos Direitos dos Animais constitui uma etapa
importante na história da inteligência humana e da moral. (FONDATION DROIT
ANIMAL ÉTHIQUE E SCIENCES apud ÂMBITO JURÍDICO).

É preciso entender que o direito a vida digna é intrínseco não somente ao homem,
mas de todo ser vivo. Assim sendo, faz-se necessário a adoção de uma visão voltada ao
biocentrismo, onde todas as formas de vida são igualmente importantes, não sendo a
humanidade o centro da existência, pois os animais não humanos também necessitam de
proteção do Poder Público não somente como forma de trazer benefícios ao homem, mas para
a proteção efetiva desses.
Em verdade, o apego entre nós humanos e os animais é de enorme complexidade,
também é cada vez mais intenso, embora complicado compreender como essa ligação
emocional acontece, o que se sabe é que com o passar dos anos os seres humanos e os animais
não humanos aprenderam a conviver uns com os outros e esse convívio trouxe inúmeras
vantagens. Tornaram-se companheiros e a relação entre os humanos e os animais, passou a ser
uma relação especial de cumplicidade e respeito. (CAETANO, 2010, p.16).

Sobre o início do convívio do homem com o animal, Levinson, (1969) colocou ser
impossível demarcar quando o homem começou a domesticar os animais e a usá-los
como animais de estimação. Acredita-se desde um período de 8.000-20.000 anos
atrás. As evidências de DNA quanto à domesticação sugerem que os cães se
originaram há aproximadamente 135.000 anos e que ocorreram retrocruzamentos
ocasionais. Foram encontradas evidências de existência de cães na caverna
Palegawra, no Iraque, datando de 10.000-12.000 anos atrás. Em Ein Mallaha, no
norte de Israel, cientistas escavaram um túmulo que datava de 9.350 – 9.750 anos
a.C., que continha restos mortais de um humano idoso, provavelmente uma mulher,
e um cãozinho de 3-5 meses de idade (Beaver, 1999). Acredita ser a era glacial –
aproximadamente há dez mil anos, como o período em que o homem
verdadeiramente começou a interferir no seu ambiente e a destruí-lo.
Significativamente, o povo que era, então, mais avançado na modificação do
ambiente, os Natufienses da Palestina, que viveram no que é a localização presente
de Jericó, tinham domesticado o cachorro e, possivelmente, a cabra a
aproximadamente 6300 a.C. A domesticação dos cães selvagens se deu pelo fato de
o homem alimentá-los quando eles invadiam a área de seus acampamentos. O
mesmo autor acredita que as razões para adoção de animais também podem ser
simbióticas e indubitavelmente o cão é o simbionte mais antigo em nossa história.
Com isso também se restabelecia o laço com aquela omnisciência inconsciente por
nós chamada de natureza e o animal funciona como um instrumento para o retorno
desse contato mais próximo. (FUCK, E. J. et al., 2006 apud SOS ANIMAL, 2008)
26

Ressalta Faraco (2004 apud ALMEIDA; ALMEIDA; BRAGA, 2009, p.1), que a
criação de animais de estimação é uma característica comum da sociedade humana. A relação
entre humanos e estes animais é uma entidade complexa, originada no início da história da
humanidade e mantida desde o começo da domesticação de animais até hoje, graças a seus
sentimentos peculiares.

Ter um animal de estimação em casa é ter a garantia de um afeto transbordante que


remete os humanos a um lugar existencial mais seguro, afinal, eles oferecem uma
segurança inexistente em seu mundo. Assim é que, ao mesmo tempo em que se
processaria uma “humanização” dos animais de companhia, reconhece-se neles um
elemento que inexiste no mundo humano, sendo por isso, principalmente, que se
deseja que eles coabitem a intimidade no espaço doméstico. Esse elemento do
mundo animal elegido pelos donos que têm animais de companhia é a
incondicionalidade do amor, inexistente no “mundo humano”, cheio de fissuras,
fraturas, mundo em que há o torto. (PASTORI; MATOS, 2015, p.118)

O hábito de domesticar animais é antigo, existiram e existem diversos motivos, desde


usá-los para trabalhos rurais, para a caça, reproduzi-los para venda, companhia e muitos
outros. Observamos que o costume do homem de usar animais para beneficiar-se continua até
os dias de hoje. Apesar disso, nas últimas décadas é possível perceber que o olhar sobre os
animais tem mudado.

A atual e emergente mudança de paradigma se baseia nas novas idéias protetivas dos
animais advindas tanto de ponderáveis posicionamentos de grandes homens, como
os do líder pacifista indiano Mahatma Gandhi, das lutas das entidades protetoras dos
animais ao redor do mundo, quanto de sólidos estudos oriundos de especialistas
vinculados, ou não, a instituições científicas e universidades que passaram a
defender uma nova postura ética do ser humano diante dos animais. (SANTANA;
OLIVEIRA, 2006, apud TINOCO; CORREIA, 2010, p. 173).

Embora haja pouca literatura nacional que discorra sobre os fatores associados à
relação animal humano e animal não humano, é possível encontrar trabalhos que façam esta
relação. E como traz Silva (2016, p. 8) dentre os trabalhos que podem ser encontrados, em sua
maioria “tratam de uma forma geral sobre os benefícios e malefícios advindos dessa relação
sob uma ótica humana e utilitária, que podemos dividir aqui em três grandes grupos; Terapia
Assistida por Animais, Zoonoses e Medicina Veterinária”.
Quando falamos nos benefícios do convívio entre humano e animais não humanos,
ainda se tem uma visão de que os animais servem aos humanos, mas de uma maneira menos
agressiva e menos objetificada que antigamente, visto que há uma preocupação com o bem
estar do animal.
27

Os benefícios, estão na maior parte dos casos descritos e vinculados às pesquisas


sobre “Terapia Assistida por Animais”. Em sua revisão sobre o tema Juciana Miguel
Silva (2011), define a zooterapia como um recurso que utiliza animais como
“instrumento para promover o bem estar e saúde do homem” envolvendo no
tratamento de diversas enfermidades “principalmente a Cinoterapia (cães), a
Equoterapia (cavalos) e a Delfinoterapia (golfinhos)” (SILVA, 2016, p. 8).

Caetano (2010), em concordância com Silva (2016) argumenta que os benefícios vêm
se multiplicando, vindo o animal a contribuir na terapia e reabilitação de crianças com
deficiências e de idosos com doenças senis, dentre outros benefícios para adolescentes e
adultos:

Leal e Natalie (2007) consideram que as intervenções que utilizam a participação de


animais como a AAA2 e a TAA possuem objetivos diretos de promover atividades
que contribuam para a saúde e o bem-estar dos indivíduos, tanto com função
motivacional, educacional, lúdica ou terapêutica, assim como o de melhorar o
funcionamento físico, social, emocional e cognitivo. (CAETANO, 2010, p.23).

Dentre os animais domésticos, o cão é o mais utilizado pelos profissionais para a


realização de terapia, estes são os cães de serviço. De acordo com Clerici (2009, p. 16) “os
cães de serviços são conhecidos por vários nomes diferentes, tais como, cães de assistência,
cães-guia, cães de alerta, cães para deficientes auditivos, entre outros”. É perceptível como a
presença dos animais nos trazem benefícios como evidencia o trecho a seguir:

Ter um cão de estimação diminui o nosso estresse, baixa a frequência cardíaca, a


pressão arterial e até o colesterol. Pessoas que têm um cão de estimação fazem
menos visitas médicas, permanecem menos tempo no hospital e possuem maior
facilidade de adaptação a uma nova rotina de recuperação depois de uma doença. O
aspecto físico do relacionamento com um animal serve de estímulo até mesmo para
exercícios. (BECKER, 2003 apud CLERICI, 2009, p. 19)

Para além dos benefícios terapêuticos, a interação entre humanos e animais não
humanos, traz inúmeros beneficies para aqueles que desfrutam de seu convívio. Como
apresenta Berzins (2000 apud MARTINS, 2013, p. 26) “o convívio com o animal de
estimação pode resultar em alívio para situação tensa, disponibilidade ininterrupta de afeto,
motivo de risadas, companhia constante, amizade incondicional, contato físico, proteção e
segurança e ocupação do tempo”. Assim, “O animal passa a fazer parte da dinâmica familiar,
sendo considerado um “indivíduo” que apesar da inferioridade biológica participa, de alguma

2
AAA - Atividade Assistida por Animais. Ver mais em: http://ateac.org.br/tag/atividade-assistida-por-animais/
28

forma, da vida emocional de pelo menos um dos integrantes da família” como podemos
observar a percepção de Staling (2009 apud Martins 2013, p.25).
A psicóloga Thaiana Brotto, do blog Psicólogo e Terapia cita alguns benefícios da
presença dos animais de estimação para a saúde mental, dentre eles estão a cura da solidão,
restauração do amor próprio, diminuição do estresse e da depressão, motivação e melhoria da
vida social, desenvolvendo a responsabilidade e trazendo felicidade. “Seja levando o seu
animal para um passeio, treiná-lo, ou simplesmente curtir a sua companhia, todas elas são
formas saudáveis da mente estar ocupada e em contato direto com estas funções” (BROTTO,
2020). Para ela esses benefícios são fundamentais para que se tenha boa saúde mental e
emocional, além da corporal.

Os benefícios dos animais de estimação se estendem para as pessoas que precisam


alterar o seu padrão comportamental, no processo de terapia, e também para as
crianças e idosos. O envelhecimento saudável proporcionado pela companhia de
animais de estimação estimula a vitalidade e o fortalecimento do sistema
imunológico. (BROTTO, 2020)

Por outro lado, Silva (2016, p. 8) argumenta que “para as pesquisadoras Kitagawa e
Coutinho (2004), em suas avaliações, apesar dos benefícios possíveis advindos dessas
relações, a saúde do animal deve ser uma preocupação, pois pode tornar-se um malefício, com
a transmissão de zoonoses”. Portanto, o cuidado com estes animais a princípio não se dá
exclusivamente por seu bem estar, mas também por receio de que esta convivência possa
causar malefícios aos humanos. Estes surgem em sua maioria como consequência de maus-
tratos e abandono.
Conforme Alves (et al, 2013) no Brasil e na América Latina o abandono animal é
frequente, e a presença destes em locais públicos sem que recebam cuidados veterinários e
sem qualquer supervisão, trazem diversas consequências negativas. O referido autor explica
ainda que, o abandono destes animais é apontado como uma potencial ameaça “nas áreas de
saúde pública (devido as zoonoses), social (desconforto com relação ao comportamento
animal), ecológico (principalmente, no que se refere ao impacto ambiental) e econômico
(custos com a estratégia de controle populacional)”.
Dado o exposto, compreende-se que a domesticação partiu de uma necessidade
humana de convivência com outras espécies da natureza, trazendo a relação humana com o
animal inúmeros benefícios, pois o ser humano passa a se refletir como ser de relações, e o
convívio dos animais em ambiente doméstico traz uma garantia de afeto e segurança
inexistentes nas relações exclusivamente humanas, isso porque os animais oferecem
29

companhia, atenção e afeto sem que pra isso exijam nada de nós, eles oferecem um amor
incondicional pelos seus tutores. Portanto, é necessário que entendamos que os animais não
humanos são também merecedores de cuidados e proteção, abandoná-los além de cruel, é um
ato de irresponsabilidade.

3.2 ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO - proteção animal e consequências do abandono

"Que tudo que tem vida seja libertado do sofrimento" Buda

De acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde só de animais em


situação de rua, o Brasil possui aproximadamente 30 milhões. Dados da Associação Brasileira
da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (ABINPET), trazem que o Brasil em
2018 era o 4º maior do mundo em população total de animais de estimação. Dentre os quais,
segundo o IBGE, 52,2 milhões são cães e 22,1 milhões de gatos, essa era a estimativa da
população desses animais em domicílios brasileiros no ano de 2013. Acredita-se que a
quantidade de animais de estimação no país é ainda maior, visto que a pesquisa do IBGE não
considera os animais em situação de abandono.
A maioria dos animais abandonados já teve um lar e acabou abandonado pelo seus
responsáveis, apesar das inúmeras pesquisas publicadas, profissionais que lidam com essa
problemática relatam que não há como existir dados estatísticos oficiais a respeito da
quantidade de animais nas ruas, visto que seria impossível calcular exatamente quantos cães e
gatos encontram-se em tal situação. Isso porque, os animais encontrados nas ruas não são
apenas os que estão em situação de abandono, alguns possuem acesso à rua, mesmo tendo
residência fixa, alguns estão perdidos, e há ainda os abandonados que se abrigam em locais de
difícil acesso.
Na Declaração dos Direitos dos Animais, o abandono animal é considerado um ato
cruel e degradante a qual nem um animal deve ser submetido. Parte da sociedade considera
seus animais de estimação não mais como bichos, mas como integrantes da família,
contraditoriamente, existem pessoas que ainda os enxergam apenas como objetos e/ou
mercadoria que se não os traz “lucro” pode ser descartada.
As causas de abandono animal vão desde a falta de espaço nos domicílios, problemas
comportamentais do animal, até declarações absurdas como as do tipo “vou mudar de cidade e
30

não posso levar”, “estou grávida e meu bebê pode ser alérgico”, entre outros. Luísa Mell3,
uma das maiores ativistas de proteção animal no Brasil, declara que os períodos de férias
escolares e as festas de fim de ano são épocas recordistas de abandono, isso porque os
“proprietários” viajam e alegam não ter com quem deixar ou não querem ter gastos com
hotéis para hospedagem de animais, e acabam por optar pelo descarte.
Vale ressaltar que os animais sem raça definida não são as únicas vítimas de abandono,
aqueles comprados em pet shops com pedigree ou de raça (como são comumente conhecidos),
também acabam sendo rejeitados. O abandono animal ocorre constantemente e acabou
tornando-se comum em todo o mundo, mas é preciso que como sociedade, percebamos que a
proteção desses animais também é de nossa responsabilidade. É perceptível o aumento na
quantidade de leis relacionadas ao bem estar dos animais, tanto nas três esferas do poder
público, e a maioria delas ocorreu devido a pressão exercida pelos diversos âmbitos da
sociedade.
Animais em situação de rua são em sua maioria itinerantes, pois estão sempre
mudando de um lugar para outro em busca de abrigo, comida e até mesmo de afeto. Estes
animais acabam muitas vezes contraindo zoonoses e parasitas, podem ocasionar acidentes,
vindo a sofrer atropelamentos. Por se encontrarem assustados e como frequentemente sofrem
maus tratos, acabam se tornando agressivos e esse agravo acaba causando receio em
moradores, fazendo com que estes reproduzam ainda mais as violações dos direitos desses
animais.
A sociedade precisa entender que abandonar um animal a mercê da própria sorte
acarretará problemas para si mesmos, pois o abandono cria uma problemática enorme no que
se refere à saúde pública. A população de cães e gatos quando não recebem os cuidados
necessários podem contrair para si, e transmitir ao humano, doenças como a leishmaniose e a
raiva e isso é divulgado incessantemente nas mídias. Além disso, temos o fato do qual as
pessoas não possuem conhecimento, os animais não trazem apenas riscos à saúde, em contra
partida, quando acolhidos e recebem carinho trazem benefícios indescritíveis. Extinguir o
abandono animal é ainda um grande desafio, é preciso de início que esta problemática seja ao
menos reduzida o que já é um desafio enorme com resultados em longo prazo.
Apesar de ser uma luta árdua, os movimentos em prol da proteção dos animais tem
buscado a efetivação dos direitos basilares de igualdade, haja vista que, assim como os seres
humanos estes animais têm direito a vida digna.

3
Luísa Mell é formada em direito, é apresentadora e uma das ativistas/defensora pró-animais mais conhecida do
país. Ver mais em: https://luisamell.com.br/ Acesso em: 31 jun. 2021
31

Por proteção são dadas diversas definições, porém as que dão significado ao sentido
que será abordado neste trabalho estão no dicionário online Michaelis4, apresentadas como: 1
- Ato ou efeito de proteger. 2 - Ato de proteger alguém ou algo de um perigo, de um mal etc.
Entendendo ser a proteção aos animais exercício dos seres humanos, cabe destacar que
apego aos animais é de enorme complexidade, sendo também cada vez mais intenso e difícil
compreender como essa ligação emocional acontece. No entanto, não é de hoje que os
animais vêm deixando de ser uma simples companhia e passam a fazer parte de nossas vidas
como partes essenciais da família. Trata-se de sentimentos que a ciência ainda não foi capaz
de desvendar totalmente, e é provável que esse seja o motivo que tem despertado interesse por
parte da população em defendê-los.
O problema é que algumas pessoas se deixam levar pela empolgação, e acabam
adquirindo animais simplesmente por acharem bonitos, por desejarem um cão ou gato de uma
determina raça ou ainda, por terem ganhado de presente. Não há um planejamento para criar
um animal e por isso muitas vezes os tutores não tem ideia da responsabilidade que a tutela
deste animal exige e por não conseguirem despertar uma ligação de afeto com o animal
acabam os abandonando, como argumenta Santana:

A falta de um planejamento, pelas pessoas, orientado sob os princípios da posse


responsável, acarreta vários fatores como a compra de animais, pelo mero impulso
de consumir, situação esta estimulada por muitos comerciantes que, desejosos em
maximizar seus lucros, os expõe, sob precárias condições, em vitrines e gaiolas para
que consumidores mais impulsivos se sintam seduzidos por aquela “mercadoria” ou
“objeto descartável”. O problema é que essa relação de consumo não desperta,
muitas vezes, o vinculo afetivo que deve nortear a relação entre homem e animal,
fazendo com que as pessoas acabem descartando seus “animais de estimação”, por
ficarem desinteressantes depois da empolgação inicial. (SANTANA, 2004, p.547)

Mesmo assim a tutela de animais de estimação no Brasil é bastante alta. Uma pesquisa
divulgada pelo IBGE em 2015 aponta que:

Em 2013, 44,3% dos domicílios do país possuíam pelo menos um cachorro, o


equivalente a 28,9 milhões de unidades domiciliares. A região Sul apresentou a
maior proporção (58,6%) e a Nordeste, a menor (36,4%). Na área rural, a proporção
de domicílios com algum cachorro (65,0%) era superior à da urbana (41,0%). A
população de cachorros em domicílios brasileiros foi estimada em 52,2 milhões, o
que indicou uma média de 1,8 cachorro por domicílio, considerando-se o conjunto
de domicílios com este animal. Em relação à presença de gatos, 17,7% dos
domicílios possuíam pelo menos um, o equivalente a 11,5 milhões de unidades
domiciliares. As regiões Norte (22,7%) e Nordeste (23,6%) apresentaram os maiores
resultados, e as regiões Sudeste (13,5%) e Centro-Oeste (14,3%), os menores. A
área urbana (14,2%) apresentou proporção inferior à rural (39,4%). A população de

4
Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/
32

gatos em domicílios brasileiros foi estimada em 22,1 milhões, o que representa


aproximadamente 1,9 gatos por domicílio com este animal.

Observar estes dados torna a declaração dada pela Organização Mundial da Saúde um
tanto alarmante, pois segundo a OMS - estima-se que somente no Brasil mais de 10 milhões
de gatos e 20 milhões de cães estejam em situação de abandonado, ou seja, mais de 30
milhões de animais abandonados. Para aqueles que trabalham de algum modo com a proteção
animal, é difícil perceber quão grande é a quantidade de animais “esquecidos” nas ruas. As
pessoas parecem não lembrar que a partir do instante em que trazem o animal para conviver
junto a si, estão assumindo deveres morais para com estes. Como dito antes, o animal de
companhia estabelece laços de afetividade em relação ao grupo familiar ao qual foi
introduzido e, portanto, são dignos de uma vida descente.
A preocupação com o bem estar animal não vem de hoje, diversos são os escritores e
filósofos ao longo da história que defenderam esta ideia. Para Schopenhauer, aquele que é
cruel com os animais não pode ser um bom homem, pois para ele a compaixão pelos animais
está intimamente ligada a bondade de caráter. Nietzsche dizia que as mentes mais profundas
de todos os tempos sentiram compaixão pelos animais. Kant compartilhava da mesma ideia,
pois para ele se o homem não deve reprimir seus sentimentos, terá então que praticar a
amabilidade com os animais, já que aquele que é cruel com os animais se torna rude em seu
trato com os homens. Pode-se julgar o coração de um homem pelo tratamento dado aos
animais. Voltaire considerava inacreditável e vergonhoso que nem virtuosos nem moralistas
elevassem sua voz contra os abusos aos animais. Reflexões como estas influenciaram e ainda
influenciam pensadores e amantes da vida animal.
Paradoxalmente, o homem numa visão antropocêntrica e desatualizada ainda é visto
como centro do universo, considerando-se superior as demais espécies de animais acreditando
que tudo mais que habita o planeta existe para servi-lo. No entanto, Regan (2006) nos traz
algumas interrogações e nos faz refletir sobre elas: Existem entre os bilhões de animais não
humanos aqueles conscientes do mundo e do que acontece a eles? Caso a resposta seja
positiva, ele traz uma nova interrogação: o que acontece a estes é importante, mesmo que
ninguém mais se preocupe com isso? Então, se existem animais que atendam a esta condição,
estes são sujeitos de uma vida e, portanto, são dignos de direitos assim como nós, animais
humanos.
Em seu livro intitulado Jaulas Vazias, Regan (2006) afirma que: ser bondoso com os
animais e evitar a crueldade para com estes, não é suficiente. Afirma ainda que independente
33

de os explorarmos para a nossa alimentação, abrigo, diversão ou aprendizado, a verdade dos


direitos dos animais demanda jaulas vazias e não jaulas mais espaçosas.

Historicamente, os humanos traíram os animais que domesticaram. No início o


animal seguia o humano em suas atividades pela floresta, nos campos e nas viagens.
Seguia fisicamente livre, como o fazia seu “amo e senhor”. O humano obtinha
vantagens da companhia do cão que o protegia dos assaltantes, ou que encontrava
para ele algum animal perdido e ferido, na floresta. Em troca, o animal recebia o
calor da presença física do humano que, por sua vez, o protegia de predadores.
Havia realmente uma troca. Naquela troca inicial o animal não perdia nada, nem
física nem mentalmente. Podia expressar sua natureza, canina ou felina, plenamente,
caçando. Sem jaula alguma, sem corrente alguma, sem muralha ou grade alguma, o
cão foi ficando na companhia dos humanos e assim deixou-se humanizar. Fim da
história idílica (FELIPE, 2013 apud AGOSTINI, 2014, p. 34).

Desfavorável a esta concepção Agostini (2014, p. 34) afirma que a aproximação entre
humanos e animais de companhia não foi vantajosa para os cães e os gatos, isto porque se
tornaram dependentes, perdendo o instinto de sobrevivência autônoma. Assim, acabam
impossibilitados de sobreviver por conta própria, ainda mais considerando que os animais em
situação de abandono vivem em sua maioria na zona urbana e “o ambiente urbano, com suas
especificidades, também não colabora para a superação das dificuldades encontradas em viver
pelas ruas”.
Na Declaração Universal dos Direitos dos Animais, o abandono animal é considerado
um ato cruel e degradante ao qual nenhum animal deve ser submetido, estando esta afirmativa
expressa no Art. 6. Entendendo-se por abandono, como já expresso e conforme o dicionário
Michaelis, 1- Ação ou efeito de abandonar. 2 - Ato ou efeito de desistir, renunciar, deixar para
trás; afastamento, desistência, renúncia.
Na atualidade constatamos a existência de diversos órgãos de proteção animal. Estes
em sua maioria são organizações sem fins lucrativos, que se mantêm ativos através de
doações, com atendimento em primazia a animais em situação de rua, pois estão entre os que
recebem menor proteção pelas ações do governo, que em virtude da crescente expansão dos
movimentos em defesa dos animais contrariamente foi irresponsabilizando-se do
acompanhamento e cooperação para com estas instituições ao tempo que também fugia de
suas responsabilidade enquanto poder publico para com estes seres.
Em verdade, essa desresponsabilização não está somente a cargo do poder público,
mas também da sociedade em geral e das ciências sociais, como podemos ver em argumento
de Lewgoy, Sordi e Pinto (2015, p.82),
34

Embora seja bastante notório o complexo fenômeno de pessoas que, individual e


coletivamente, ajudam animais por meio de acolhimento, alimentação, denúncia ou
outras formas de ativismo, é surpreendente o pouco interesse que as Ciências Sociais
têm demonstrado sobre esse objeto.

Cabe aqui esclarecer que enquanto estivermos preocupados em encontrar o culpado


dos problemas atuais, a busca por uma solução avançará em passos lentos. O governo é sim
responsável pela garantia de direitos e nós, como comunidade, temos dever de lutar por esta
garantia de proteção, evidente que não se pode esperar apenas pelo poder público, mas a
intervenção do governo é fundamental.

É natural que em uma civilização amadurecida as suas leis reflitam uma


preocupação com os menos capazes, para reconhecer as necessidades dos outros e
com o aumento da riqueza sócio-econômica poder dedicar algum nível de recursos
para as condições dos seres incapazes de falar por si próprios. Nesse contexto, existe
considerável esperança em se obter uma maior consideração com as péssimas
condições de muitos animais. (FAVRE, 2014, p.35)

A proteção animal abrange tanto assegurar o bem estar, quanto a garantia de direitos
dos animais não humanos. Existe entre os conceitos de bem estar animal e direitos animais
uma diferença determinante, pois o bem estar animal tem como princípio que o homem tem a
obrigação de cuidar bem dos animais e este dever estar respaldado pela ética, moral ou
mesmo pela religião; assim nenhum indivíduo deve causar dor e sofrimento desnecessário aos
animais. Já os Direitos dos animais tem uma argumentação diferente, onde os animais são
vistos como seres que possuem status ético e moral como os animais humanos, portanto, estes
não devem ter apenas a proteção do seu direito de bem estar, devem sim, ser reconhecidos
como parte do sistema legal e possuir seus próprios direitos.

De todas as maneiras de salvaguardar animal, nenhuma mais promissora do que a


educação. Os pais e os professores podem influenciar decisivamente na formação do
caráter de uma criança, ensinando-lhes os valores supremos da vida, em que se
inclui o respeito pelas plantas e pelos animais. Não há outro jeito de mudar nossa
caótica realidade social se não por meio de um processo de aprendizado de valores e
princípios verdadeiramente compassivos. Infelizmente, a falta de senso moral
continua sendo uma das principais causas da violência contra os animais. (LEVAI,
2009 apud SPAREMBERGER; LACERDA, 2016, p. 190)

Os benefícios do convívio com os animais são diversos, passando da diversão, à


terapia, à evolução do ser humano como civilização, por isso a sociedade precisa ser educada
e orientada sobre o quão é essencial à guarda responsável destes animais, uma vez que este
seria o primeiro e grande passo para que a população de cães e gatos desamparados fosse
inicialmente reduzida, para mais tarde não mais existir.
35

4 A RESPONSABILIDADE DA SOCIEDADE E DO PODER PÚBLICO NA


PROTEÇÃO AOS ANIMAIS DOMÉSTICOS

Neste capítulo discutimos os direitos dos animais a partir da Declaração Universal dos
Direitos dos Animais, enfatizando como este documento foi primordial para a criação das
legislações vigentes. Também resgatamos a visão de estudiosos que há anos afirmavam que
os animais não são meros objetos. Por fim, analisamos como se deu a conquista dos direitos
desses animais não humanos e refletimos sobre as políticas de proteção existentes.

4.1 DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS - A conquista de


direitos

“Se todo animal inspira ternura, o que houve,


então, com os homens?" Guimarães Rosa

Observando a história da humanidade constatamos que os animais já eram adorados


desde a antiguidade; os gatos, por exemplo, se tornaram animais de estimação possivelmente
há cerca de 4.000 anos, no Egito. Pinturas e uma série de hieróglifos foram criadas para
representar gatos domésticos nessa época. Na Índia há a adoração de diversos animais, tanto é
que alguns de seus deuses são representados em parte animais, em parte humanos.
Antes de adentrarmos em uma exposição mais aprofundada sobre os diferentes
conteúdos acerca dos direitos dos animais, faz-se necessário ressaltar que assim como Da
Vinci, importantes pensadores ao longo da história já discutiam e questionavam sobre
aspectos da questão animal. Bianca Pontes (2012) afirma em seu trabalho sobre um escrito do
filósofo Jeremy Bentham que foi citado por Singer em sua obra Libertação Animal:

Talvez chegue o dia em que o restante da criação animal venha a adquirir os direitos
que jamais poderiam ter-lhe sido negados, a não ser pela mão da tirania. Os
franceses já descobriram que o escuro da pele não é razão para que um ser humano
seja irremediavelmente abandonado aos caprichos de um torturador. É possível que
um dia se reconheça que o número de pernas, a vilosidade da pele ou a terminação
do osso sacro são razões igualmente insuficientes para abandonar um ser senciente
ao mesmo destino. O que mais deveria traçar a linha intransponível? A faculdade da
razão, ou, talvez, a capacidade da linguagem? Mas um cavalo ou um cão adultos são
incomparavelmente mais racionais e comunicativos do que um bebê de um dia, de
uma semana, ou até mesmo de um mês. Supondo, porém, que as coisas não fossem
assim, que importância teria tal fato? A questão não é ‘Eles são capazes de
raciocinar?’, nem ‘São capazes de falar?’, mas, sim, ‘Eles são capazes de sofrer?'
36

Diversos são aqueles que criticam os defensores dos direitos dos animais, usando
como argumento a ideia de que a energia e o dinheiro gastos com animais poderiam ser
transformados em atenção a pessoas carentes. No entanto, é um argumento fácil de rebater
visto que, não há nenhuma garantia de que aqueles que usam seu dinheiro e seu tempo para a
proteção animal, o fariam em defesa de outras causas. Outro aspecto a respeito da crítica é
que defender o direito dos animais não quer dizer que seja contra o direito humano, isso
porque como dizia Darwin: “Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas
suas faculdades mentais. Os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor,
felicidade e sofrimento.”. Assim,

Estender os princípios básicos de igualdade de um grupo para o outro não implica


que devamos tratar os dois grupos exatamente da mesma maneira, nem que
procuremos assegurar exatamente os mesmos direitos a ambos os grupos. A
conveniência de fazê-lo ou não depende da natureza dos membros dos dois grupos.
O preceito básico da igualdade não requer tratamento igual ou idêntico; ele requer
igual consideração. A igual consideração com seres diferentes pode levar a
tratamentos diferenciados e direitos diferenciados. (SINGER, 2002 apud
SANTANA; OLIVEIRA, 2006, p.24)

A proteção aos animais também foi preocupação do Chefe Seattle da Tribo Duwamsh,
que no ano de 1854 escreveu uma carta ao então presidente americano Franklin Pierce, e em
um determinado trecho dela dizia que:

O homem branco deverá tratar os animais como seus irmãos. Sou selvagem e não
compreendo outro modo de vida. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo nas
pradarias, mortos a tiros pelo homem branco da janela de um comboio em
andamento. Sou selvagem e não compreendo como uma máquina fumegante pode
ser mais importante que o bisão que nós só matamos para sobreviver. O que seria do
homem sem os animais? Se todos os animais desaparecessem, os homens morreriam
de uma grande solidão de espírito. Pois tudo o que acontece aos animais, logo
acontecerá com o homem. Tudo está ligado.

Os direitos dos animais não humanos estão expressos na Declaração Universal dos
Direitos dos Animais, tida como um dos documentos mais importantes quando se trata de
direitos dos animais, em seu preâmbulo encontramos as considerações a cerca dessa
problemática.

 Considerando que todo o animal possui direitos,


 Considerando que o desconhecimento e o desprezo destes direitos têm levado
e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza,
 Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à
existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das
outras espécies no mundo,
 Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o perigo
de continuar a perpetrar outros.
37

 Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao


respeito dos homens pelo seu semelhante,
 Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a
compreender, a respeitar e a amar os animais. (UNESCO, 1978)

A Declaração Universal dos Direitos dos Animais apesar de bastante difundida não se
trata, infelizmente, de um documento legitimamente reconhecido por nenhuma organização
em caráter oficial.

O texto, após diversas críticas, mais uma vez passou por revisão e grandes
alterações. A Declaração, contudo, nunca foi adotada por nenhuma organização
internacional de caráter oficial, o que lhe conferiria maior difusão e força moral
(NEUMAN, 2012, p. 387).

Com relação ao frequente equívoco de se atribuir a proclamação da D.U.D.A à


UNESCO, a Fundação Direito Animal, ética e ciências esclareceu, via e-mail, que a
Declaração foi proclamada na UNESCO, e não pela UNESCO (NOUËT, 2017); a
intenção era realizar uma proclamação oficial solene em um órgão e local de
prestígio (NEUMAN, 2012, p. 374). Compreendida melhor a origem, há outro ponto
importante a ser elucidado acerca da Declaração Universal dos Direitos dos
Animais. (DE SOUZA PORTO; PACCAGNELLA, 2017).

Mesmo não reconhecida como deveria, a DUDA dá respaldo as diversas Leis, decretos
e ementas que tratam da defesa animal além de credibilidade no âmbito do Direito na espera
de superar a ética antropocêntrica em prol da biocêntrica que é uma perspectiva pautada no
valor da vida e em seus aspectos. Nessa perspectiva,

O homem é retirado da posição central do universo e as outras formas viventes são


dignas de respeito. Não deve haver desigualdade de tratamento entre animais e seres
humanos e a natureza passa a titularizar direitos (BARATELA, 2014, p.82 apud DE
SOUZA PORTO; PACCAGNELLA, 2017).

A Declaração Universal dos Direitos dos Animais por ter sido usada como base para
livros e artigos publicados nacionalmente acerca do assunto tem sido base para diversos
dispositivos legais no Brasil.

Nos anos seguintes ao advento da Declaração, sobrevieram diversos dispositivos


legais brasileiros tratando de questões referentes à tutela da fauna. Apesar de,
seguramente, a Declaração não ser a única responsável por esta mudança de
mentalidade, sua influência é inegável, tornando possível verificar na legislação
brasileira a internalização de valores expressos na Declaração. (DE SOUZA PORTO;
PACCAGNELLA, 2017).

No que diz respeito aos direitos dos animais no sistema jurídico brasileiro, este veio
evoluindo de maneira mais acentuadamente na segunda metade do século XX aprimorando o
Decreto nº 24.645/34 que já trazia:
38

O Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, usando


das atribuições que lhe confere o artigo 1º do decreto n. 19.398, de 11 de novembro
de 1930,
Decreta:
Art. 1º Todos os animais existentes no País são tutelados do Estado.
Art. 2º Aquele que, em lugar público ou privado, aplicar ou fizer aplicar maus tratos
aos animais, incorrerá em multa de 20$000 a 500$000 e na pena de prisão celular de
2 a 15 dias, quer o delinquênte seja ou não o respectivo proprietário, sem prejuízo da
ação civil que possa caber. (BRASIL, 1930)

No entanto, Moreira Filho (2015, p 55) traz que este decreto não deveria ser
mencionado “para dar sustentação a qualquer procedimento visando à proteção aos animais
ou à penalização pela ocorrência de maus-tratos aos animais”, uma vez que esta teria sido
revogada por ato normativo presidencial de janeiro de 1991, mas

[...] outros autores divergem dessa posição, já que, como o referido decreto possui
natureza de lei (Decreto-lei), o mesmo não poderia ter sido revogado pelo Decreto
11/91, visto que este constitui-se apenas em Decreto, não possuindo natureza de lei.
E pela hierarquia do sistema escalonado adotado pelo ordenamento jurídico
brasileiro, um decreto não pode revogar uma lei (ou revogar um decreto com
natureza de lei). (MOREIRA FILHO 2015, p 55)

De acordo com Levai (2004 apud MOREIRA FILHO, 2015, p 55), o Decreto
24645/34 não foi revogado e, portanto, “as situações de maus-tratos ali contempladas possam
ser definidas, atualmente, sob a ótica de crime ambiental”. No Art. 3º do mesmo Decreto
encontram-se relacionados os itens que caracterizam o que vem a ser maus tratos. A D.U.D.A
também trata em seu Art. 3º que nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos
cruéis. O Art. 6º desta mesma declaração traz que o abandono de um animal é um ato cruel e
degradante e ainda que, todo o animal que o homem escolheu para seu companheiro tem
direito a uma duração de vida conforme a sua longevidade natural. O abandono é crime
previsto no Art. 32 da Lei Federal 9605 de 12 de Fevereiro de 1998. Esta lei

Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades


lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em
animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos
alternativos.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.
39

Mesmo diante das disposições legais citadas, o tema Direitos dos Animais, talvez,
nunca tenha sido tão discutido e estado tão presente nas agendas da sociedade brasileira, seja
na esfera institucional, dos movimentos sociais e principalmente na vida cotidiana.

Na atualidade, observam-se legislações específicas tratando da guarda responsável,


como é o caso do Município de São Paulo, que, através da Lei Municipal nº 13.131,
de 18 de abril de 2001, conhecida como Lei Trípoli, dispõe sobre o registro,
vacinação, guarda, apreensão e destinação de animais, além de prever o controle
reprodutivo de cães e gatos e a educação para a guarda responsável; devendo-se
ressaltar que o infrator dessas normas está, também, sujeito a sanções
administrativas sob a forma de multa. (SANTANA; OLIVEIRA, 2006, p.20)

Destarte, o direito brasileiro tem acompanhado o espírito universal que proclama e


reconhece o direito dos animais. Vale aqui ressaltar que apesar das semelhanças entre a
legislação brasileira e a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, ainda existe uma
enorme diferença entre elas, que é o modo como se percebe a titularidade do direito. Como
trazem as autoras De Souza Porto; Paccagnella, (2017):

A Constituição Federal e a legislação brasileira consideram os animais bens


ambientais (e até mesmo mera propriedade, bens semoventes, no caso do Código
Civil); ainda meros objetos, não sendo reconhecidos como titulares de seus direitos.
Sendo assim, os sujeitos dos direitos acima mencionados se referem à coletividade
social. Já a Declaração caminha um passo à frente, reconhecendo, por diversas vezes,
os animais como sujeitos de seus próprios direitos.

Significa dizer que mesmo com os avanços que as leis brasileiras de proteção e defesa
animal, porém ainda lenta, é necessário que esse despertar tardio esteja acompanhado de
ações efetivas por parte do Poder Público, sobretudo daqueles que tem suas ações voltadas a
seara jurídica, pois a estes cabe o dever de se fazer valer definitivamente os direitos dos
animais não humanos. É indispensável frisar que enquanto indivíduos dotados de direitos e
deveres, temos a responsabilidade de conhecer e estudar nossas legislações, assim poderemos
participar de maneira satisfatória na elaboração de novas leis. É preciso lutar e exigir que
sejam abertos espaços de formulações, críticas e opiniões sobre o que deve ser estabelecido, já
que é a sociedade como um todo que está inserida neste contexto.
40

4.2 POLÍTICAS PÚBLICAS – Conceitos, aplicabilidade e proteção aos animais


domésticos

“Haverá um dia em que o homem conhecerá o íntimo dos animais.


Neste dia, um crime contra um animal será considerado um crime
contra a própria humanidade”. Leonardo Da Vinci

Observando a epigrafe acima, atribuída ao pintor Renascentista, Leonardo Da Vinci,


constata-se que há muito tempo as pessoas se manifestam em favor dos direitos dos animais
não humanos. Assim como Da Vinci, muitos outros estudiosos eram otimistas quando a causa
animal, como foi o caso do Dr. Albert Schweitzer, autor da frase “Um homem é
verdadeiramente ético, apenas quando obedece sua compulsão para ajudar toda a vida que ele
é capaz de assistir e, evita ferir toda coisa que viva”5.
Sabemos que mesmo hoje, momento em que a luta pelos direitos dos animais está
constantemente em pauta, a proteção aos animais ainda é um tanto esquecida e pouco
discutida em algumas áreas de conhecimento. “Talvez o homem ainda nem mesmo tenha
alcançado este nirvana de sensibilidade, mas enfim se deu conta de que não era mais cabível
explorar, maltratar e dizimar as mesmas criaturas que sustentaram sua sobrevivência ao longo
de milhares de anos” (VIVA BICHO, 2011).
A proteção aos animais, assim como a proteção aos humanos tem nas políticas
públicas a sua responsabilidade e função para promover o bem-estar da sociedade.
As politicas públicas relacionam-se ao bem-estar social em áreas como saúde,
educação, habitação, lazer, transporte, segurança, meio ambiente, assistência social, dentre
outras, sendo sua materialização no Estado por meio dos governos federal, estadual ou
municipal ou ainda pela iniciativa privada.
Segundo Souza (2002) não existe uma única, nem melhor, definição sobre o que seja
política pública. Assim, podemos encontrar diversas definições do que venha a ser esta.

Mead (1995) a define como um campo dentro do estudo da política que analisa o
governo à luz de grandes questões públicas. Lynn (1980) a define como um conjunto
específico de ações do governo que irão produzir efeitos específicos. Peters (1986)
segue o mesmo veio: política pública é a soma das atividades dos governos, que
agem diretamente ou através de delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos.
Dye (1984) sintetiza a definição de política pública como “o que o governo escolhe
fazer ou não fazer”. (SOUZA, 2002, p.5)

5
Ver mais em: http://dicocitations.lemonde.fr/pensamentos/citacao-autor-albert_schweitzer-0.php. Acesso em:
27 dez 2020.
41

Depreende-se assim que as Políticas Públicas são ações que visam solucionar um
problema público ou beneficiar uma determinada população com ações que preservem seus
direitos no que se refere à integridade física e psicológica e elevem a sua qualidade de vida.
No Brasil as garantias de direitos estão expressas na Carta Constitucional de 1988,
nesta o Artigo 225, declara que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações”. No paragrafo primeiro do referido artigo item VII a carta constitucional ainda
reitera que para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público, “VII -
proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua
função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”.
Do exposto conclui-se que a Constituição Federal assegura a garantia de uma
qualidade de vida não apenas aos humanos, mas também para a fauna (animais) e a flora
(vegetais) brasileiros. Na direção desse direito, a defesa dos animais principalmente os
domésticos se faz imprescindível, uma vez que são seres com capacidade de sentir prazer, dor
e demonstrar afeto, estabelecendo relações de companheirismo, afetividade, lazer, segurança,
terapia e etc.
O direito dos animais e consequentemente políticas públicas voltadas para este público
ainda são restritas em nossa sociedade. Há, no entanto, muitas propostas de formulação de
políticas de proteção (algumas até já postas em prática em determinados estados brasileiros) e
já existe intervenção pública quando se refere a problemas relacionados às zoonoses. A cidade
de Bagé no Estado do Rio Grande do Sul é um dos maiores e melhores exemplos de
município onde as políticas públicas para animais domésticos funcionam. Bortoluzzi e Duarte
(2016) apresentam a política desenvolvida em Bagé, em pesquisa realizada que resultou na
identificação de inúmeras “ações no que se refere a animais domésticos abandonados ou não,
confirmando o empenho na resolução do problema por parte do governo municipal de Bagé,
através da Coordenadoria de Bem Estar Animal em convênio com o NBPA, Núcleo Bageense
de Proteção aos Animais”.

O Centro de Controle de Zoonoses e Saúde Animal realiza castrações gratuita e


diariamente, e também dispõe de uma Unidade Móvel de Castração, que percorre os
bairros para prestar o serviço. Anais do VII Salão Internacional de Ensino, Pesquisa
e Extensão – Universidade Federal do Pampa Também realiza atendimentos de
urgência, e à tarde duas veterinárias se deslocam aos bairros para dar atendimento
42

clínico veterinário. O serviço do Centro é prestado gratuitamente e para famílias de


até três salários mínimos. (BORTOLUZZI; DUARTE, 2016, p.1)

A precisão de implantar, conservar e tornar viável as políticas públicas que estão


voltadas a tratar, realocar, proteger e garantir o bem estar dos animais por parte poder público
é assunto em débito, e já deveria ter sido elencado pelos governantes dos municípios
brasileiros, tendo em vista que “a relação de convívio entre humanos e animais é uma
realidade muito antiga. Considera-se que a origem da inserção dos animais nas relações do
homem com seu meio confundem-se, senão com o próprio surgimento da humanidade”
(DIAS, 2000 apud MENEZES FILHO, 2013, p.2).
Em verdade e de acordo com Decreto 24645/346 todo animal é tutelado pelo Estado.
Nesse sentido está sumariamente determinado que seja o governo o responsável por proteger
e criar condições apropriadas de vida a eles, abrigando-os em centros de recuperação e
tratamento, e, garantindo-os o direito à vida digna.
Cabe reiterar que, o dever de proteger os animais sempre que estes estejam em uma
situação de vulnerabilidade ao humano, é uma responsabilidade apresentada com
embasamentos éticos, contudo, que se projeta na esfera do Direito, desse modo, tratando-se
não de uma simples obrigação jurídica, mas de um dever, assumindo contornos não de um
mero dever jurídico, mas de um autêntico dever essencial legitimado pela Constituição
Federal Brasileira.
A temática do abandono animal é bem mais complicada do que podemos imaginar,
pois envolve o olhar de sensibilidade da sociedade como um todo para com o tema. Esses
animais encontram-se, de alguma forma, fazendo parte da parcela da sociedade que sofre com
as desigualdades sociais. Em um mundo onde a presença de infantes nas ruas tornou-se algo
corriqueiro, observa-se a complexidade de um avanço nas questões que envolvem a proteção
e a garantia de direito dos animais. Partindo desse princípio, é inegável a necessidade de se
desenvolver políticas públicas, que visem dar proteção a estes animais abandonados nas ruas.
As políticas públicas devem chegar à sociedade como um todo, sem que haja distinção
de raça, sexo ou classe social. Sua função é promover o bem estar social. Assim, a qualidade
de vida deverá ser contemplada por inteiro. O governo no intuito de alcançar resultados
satisfatórios nas mais diversas áreas faz uso das políticas públicas com base nesse princípio. A
elaboração destas políticas consiste na fase em que os governos democráticos manifestam

6
Legislação Informatizada - DECRETO Nº 24.645, DE 10 DE JULHO DE 1934 - Publicação Original. Ver mais
em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-24645-10-julho-1934-516837-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 07 abr. 2020
43

suas intenções e propostas eleitorais, que resultarão em projetos e ações que farão mudanças
em âmbito regional, nacional ou até mesmo internacional.
De acordo com Santana (2004, p. 536), anteriormente as políticas públicas estavam
mais voltadas para o combate à disseminação de doenças e aos acidentes provocados pelos
animais. Foi a partir de 1990, quando houve a conclusão de que a presença de animais nas
ruas tinha sua origem, sobretudo do excesso de nascimentos, as autoridades passaram a se
preocupar com a questão da superpopulação e consequente abandono. Ainda segundo Santana
(2004, p. 536) As políticas até então adotadas podem ser divididas em duas etapas bem
delineadas que as caracterizam: a primeira etapa, que pode ser intitulada como fase da captura
e extermínio; e a segunda etapa, que poderia ser descrita como fase da prevenção ao abandono.
É sabido que no Brasil por décadas o controle de animais, principalmente os cães, em
situação de rua ou que apresentassem alguma zoonose era realizado pelo Centro de Controle
de Zoonoses (CCZ), no entanto esse controle era (e ainda acontece em algumas localidades)
feito de maneira indiscriminada. Os animais eram recolhidos das ruas e levados para sede do
CCZ sem que houvesse qualquer averiguação que determinasse que o animal fosse realmente
de rua ou se estava na rua por algum outro motivo. Os animais que ali se encontravam,
quando não adotados, eram exterminados. Ocorrências assim eram frequentes e acreditou-se
por muito tempo que esta fosse a melhor forma de se combater o aumento da população
desses animais. Essa ideia equivoca de extermínio em massa partiu da OMS, que sustentava o
pensamento de que com o recolhimento continuado dos animais que estavam nas ruas não só
diminuiria essa população como também, promoveria uma diminuição ou ao menos o controle
de algumas das zoonoses como a raiva e o calazar.
Atualmente, é notório que esse “controle” de nada adiantava, trata-se apenas de mais
uma crueldade a qual os animais estavam sujeitos. O que de fato pode e deve ser feito é um
controle humanista, que já é realizado em determinadas regiões do Brasil e do mundo.
Pontes (2012) traz que o desenvolvimento de políticas públicas voltadas aos direitos
dos animais tem um caminhar lento em seus primeiros andares, mas que é firme e consistente
em sua direção. Entendendo que política pública é uma diretriz voltada para resolução de um
problema público, muitos são os modos como o poder público pode intervir nessa
problemática. Hoje, alguns municípios brasileiros possuem suas próprias leis e diretrizes
voltadas à proteção do animal doméstico, principalmente daqueles que se encontram em
situação de abandono.
Faz- se indispensável trazer alguns dados que nos norteiem sobre o rápido ciclo de
reprodução de caninos e felinos. Segundo o site SOS Bichos de rua, uma cadela não castrada,
44

estará prenha e parindo os filhotes em qualquer lugar duas vezes por ano. Esses filhotes darão
início a uma sobrevida na rua, e os filhotes do sexo feminino em 6 meses, estarão gerando
novas ninhadas. A cria de uma única cadela cresce numa curva exponencial. Em 10 anos ela
pode ter mais de 80 milhões de filhos, netos e bisnetos. Na mesma situação, uma gata e seus
filhotes até 67 mil em 6 anos.
A fim de evitar a procriação sem controle, o governo de algumas cidades do país junto
com órgãos de proteção animal, criaram políticas de intervenção sobre esta problemática a em
âmbito municipal e incentivam a realização de castração desses animais. Como acontece nos
municípios de Bagé e Porto Alegre.
Para que se possa ter um controle eficaz e sem que para isso seja necessário causar
sofrimento aos animais, faz-se mister conhecer a população de rua, já que ela é consequência
do abandono de animais. Segundo Vasconcelos (2014), existe um software que foi
desenvolvido por um grupo de pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da
USP. Este software tem como finalidade estimar o tamanho da população de cães e gatos
existentes em cidades brasileiras, o propósito é que este venha a ser utilizado por órgãos
públicos para que haja uma prevenção de abandono, manejo reprodutivo e que se possa
controlar o fluxo migratório desses animais. Isso porque o controle da reprodução e a
ampliação da taxa de animais imunizados são comprovadamente ações mais efetivas que o
extermínio.

A técnica mais confiável para dimensionar e classificar a população canina de rua


foi criada pelo Instituto Pasteur em 2002 e indica que esses animais representam
cerca de 5% dos indivíduos que têm dono. “Assim, sabendo quantos cães
supervisionados vivem numa determinada região, é possível estimar quantos existem
nas ruas desse mesmo lugar”, diz Ferreira. “Já que existe uma relação direta entre
essas duas populações, as estratégias de controle de cães abandonados passam pelo
controle reprodutivo dos animais domiciliados” [...]. (VASCONCELOS, 2014, p.68)

No Ceará, o debate a partir do poder público, sobre a defesa de animais domésticos


começa a tomar maiores proporções. Atualmente podemos observar nas redes sociais que as
lutas começam a chegar ao legislativo principalmente na figura do deputado eleito, Célio
Studart7. Uma de suas ações neste sentido foi requerer a criação de uma Coordenadoria de
Bem-Estar e Proteção Animal, este equipamento tem como objetivo elaborar e executar
políticas públicas direcionadas ao cuidado com os animais de Fortaleza.

7
Deputado Federal pelo Ceará – Cearense, Ambientalista, Defensor dos animais, advogado e Fundador do
Instituto Politizar (ONG de Educação Política sem fins partidários ou ideológicos).
45

Há no Estado a Lei nº 16.667/18 que foi criada a partir do projeto de lei nº 213/20188,
com o intuito de sensibilizar a população sobre os maus-tratos a animais, esta Lei institui 4 de
outubro (data que integra o Calendário Oficial de Eventos do Estado do Ceará) como dia
estadual de combate a essa prática. Ainda em 2018, o Ceará ganhou sua primeira delegacia
especializada em Proteção ao Meio Ambiente (DPMA)9, a unidade fica situada em Fortaleza e
funciona no bairro Aeroporto, no Complexo de Delegacias Especializadas da Polícia Civil.
Essa conquista veio a partir da reivindicação que protetores de animais fazem há anos.
Compreende-se que a luta em defesa da proteção animal ainda é motivo de tabu para
muitos, pois parte da população acredita que aqueles que se empenham nessa luta estão
esquecendo a defesa dos direitos humanos, quando na verdade não se trata de desfavorecer a
vida humana, mas de ampliar a justiça aos seres que também tem o direito de existir sem
sofrer.

O defensor dos direitos dos animais ou da vida em termos gerais é antes de qualquer
coisa também um defensor dos direitos humanos, já que as consagrações,
respectivas, dos direitos humanos e dos direitos dos animais tratam-se de etapas
evolutivas cumulativas de um mesmo caminhar humano rumo a um horizonte moral
e cultural em permanente construção. (FENSTERSEIFER, 2008 apud
SPAREMBERGER; LACERDA, 2016, p. 188).

Os animais abandonados são submetidos em sua maioria a uma vida dura, cheia de dor
e solidão. Precisamos compreender que o direito a vida digna é intrínseco não somente ao
homem, mas de todo ser vivo. Faz-se necessário a adoção de uma visão voltada ao
biocentrismo, onde todas as formas de vida são igualmente importantes, não sendo a
humanidade o centro da existência, os animais não humanos necessitam de proteção do Poder
Público não somente como forma de trazer benefícios ao homem, mas para a proteção efetiva
desses. Para esta discussão é basilar reconhecer que o homem é também uma espécie animal e,
logo, é vital que se proporcione através do direito juntamente com a moral e a ética,
instrumentos para proteção dos animais.
Menezes Filho (2015, p 50), garante que a discussão acerca do “uso de animais e a
legitimidade sobre a existência de direitos morais para animais ainda está em aberto”, mas que

8
Projeto de lei nº 213/2018, de autoria do deputado Bruno Pedrosa (PP). O projeto tem como objetivo instituir o
Dia Estadual de combate a maus tratos de animais por meio da sensibilização da sociedade para a necessidade de
proteger e prevenir a vida animal.
9
A circunscrição da unidade é Fortaleza e Região Metropolitana (RMF), com atribuição em apurar as infrações
penais previstas na lei 9605/98 (Lei dos Crimes Ambientais). Dentre outras demandas, deve investigar maus-
tratos a animais, desmatamento ilegal, uso irregular do solo e comercialização de animais silvestres. (nota do site
O Povo online).
46

apesar de haverem visões desfavoráveis, “algo perto de uma univocidade ética acerca da
questão está se consolidando”. E dá continuidade

os animais são seres senscientes, capazes de sentirem dor e sofrimento, e o


sofrimento é algo eticamente inaceitável, sob todas as formas em que se manifeste.
É bem verdade que os interesses humanos e o hábito antropocêntrico constituem
aspectos culturais, mas certamente não são uma realidade "naturalizada" e
incorrigível. O que a análise dos direitos dos animais como questão ética nos ensina
é que, ao menos, o caminho para diminuir o sofrimento daqueles que pouco ou nada
podem lutar em causa própria deve ser almejado, pela responsabilidade moral dos
humanos enquanto seres ditos "racionais". Possivelmente abolir diversas práticas
triviais que colocam em risco ou tiram a vida de diversos animais, geralmente com
sofrimento. Quiçá, abolir, senão todas, o máximo de práticas possíveis, até mesmo
as consideradas vitais para a humanidade, em nome de ações mais éticas e menos
dominantes. (MENEZES FILHO, 2015, p 50)

Quando observamos o trecho da citação acima, sobre as “práticas triviais que colocam
em risco ou tiram a vida de vários animais”, estamos falando de coisas como os testes
realizados em animais pelas indústrias de cosméticos, alimentícias e tantas outras.
Recentemente a Humane Society International lançou a animação Save Ralph10, que expõe
várias torturas às quais os animais são submetidos. A animação trata de um documentário
realizado com o personagem principal é Ralph, um coelho que “trabalha” em um laboratório
onde ele e outros, são submetidos a testes como o que é mostrado na cena em que um líquido
é aplicado diretamente em seu olho para testar sua reação.
No curta-metragem Ralph mostra um pouco de como é o cotidiano dos animais
submetidos a esses testes, traz falas bastante comoventes e impactantes como “O meu pai
também era um coelho de testes, a minha mãe, os meus irmãos, irmãs, os meus filhos, todos
para testes, e todos morreram a fazer o seu trabalho, como eu também vou morrer”,
evidenciando quão cruel o ser humano pode ser, mostrando que uma família inteira foi usada,
sacrificada para que nós humanos possamos usar estes produtos com “menos riscos”. Em
outro momento podemos ver Ralph em frente ao espelho enquanto se prepara para mais um
dia e ele diz “Rasparam meu pelo e tenho queimaduras químicas nas minhas costas, arde um
pouco, mas não é nada de especial, só dói quando respiro ou me mexo [...] Mas ao fim do dia,
quer dizer, está tudo bem. Afinal, estamos fazendo isto pelos humanos, certo? São muito
superiores a nós, animais, eles até já foram ao espaço. Já viram alguma vez um coelho num
foguete? Acho que não.”.
De acordo com a Humane Society International (2021) o teste de cosméticos em
animais é um negócio horrível. O site mostra que em todo o mundo, milhares de animais

10
Save Ralph - A short film with Taika Waititi. Ver mais em: https://www.youtube.com/watch?v=G393z8s8nFY
47

sofrem sem necessidade para testar batons, shampoos e diversos outros itens. Muito embora já
existam formas de produção de produtos de beleza livres de crueldade animal e que são até
mais seguros. HSI além da animação, lançou também uma petição em seu site onde qualquer
pessoa pode assinar. “Assine nosso petição Be Cruelty-Free hoje e diga não aos testes de
cosméticos em animais em seu país e no mundo todo” 11.
No Brasil, a ONG Te Protejo, lançou um abaixo-assinado 12 para pressionar as
autoridades federais brasileiras no site Charge.org, essa petição foi criada pela ONG junto há
Humane Society International. Em trecho extraído da campanha afirma-se que no Brasil, a
HSI e seus parceiros já asseguraram que em alguns estados fossem proibidos a realização de
testes cosméticos em animais, como é ocaso de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Mato Grosso do Sul, Pará, Amazonas, Pernambuco e Paraná. Acontece que, líderes do
Congresso Nacional e alguns ministros mostram-se resistentes em avançar na discussão,
adiando a adoção de medidas legais cruciais há mais de 5 anos.
Podemos observar que, como aponta Silva (apud LOPES, 2016)

Considerando a dignidade dos animais de estimação e a tutela dos mesmos,


encontra-se justamente na própria administração pública uma barreira: a do descaso.
A própria administração pública, a qual deveria adotar políticas de proteção,
incluindo, aqui, o intervencionismo com relação à natalidade e à mortalidade dos
animais, detém-se diante da adoção de medidas solucionadoras desses problemas,
fugindo à própria ética, vez que desvia-se do objetivo mor da fundamentação ética –
bom modo de viver, o que seria, em termos populares, qualidade de vida –
implicando, assim, no total esquecimento do mais considerado no presente trabalho:
a dignidade animal (SILVA, 2012, apud LOPES, 2016, p 68-69, grifo do autor)

Muitos são aqueles que lutam pelo bem estar animal, essa luta vai além das indústrias
de cosméticos citadas anteriormente. Diversas pessoas, órgãos e instituições vêm viabilizando
um maior conhecimento e divulgação de situações onde é possível diminuir e até mesmo
banir o uso de animais, como é o caso da Sociedade Vegetariana Brasileira, que é uma
organização sem fins lucrativos que promove a alimentação vegetariana como uma escolha
ética, saudável, sustentável e socialmente justa.

No pensamento moral da nossa história, apenas os seres humanos, por estarem de


posse da razão, são dignos de atenção moral. Todos os outros seres da Terra têm
apenas um valor intrumental e são, segundo essa visão, objetos a serem explorados a
bem da conveniência humana. Tal perspectiva moral é típica de uma racionalidade

11
HSI - Campanha Seja Cruelty-Free! Ver mais em: https://www.hsi.org/ Acesso em: 19 abr 2021.
12
Brasil: sem mais atrasos – proíba os testes cosméticos em animais já! Ver mais em:
https://www.change.org/p/autoridades-federais-brasileiras-brasil-sem-mais-atrasos-pro%C3%ADba-os-testes-
cosm%C3%A9ticos-em-animais-j%C3%A1?signed=true Acesso em: 19 abr 2021
48

escravocrata, fundada na ideia de que há criaturas “superiores” que podem fazer com
as “inferiores” tudo o que bem entenderem. (SVB, 2017?)

A ética é o pilar fundamental que sustenta o vegetarianismo. Os animais que


consumimos são seres sencientes, isto é, seres capazes de sofrer e experimentar
contentamento e outros sentimentos, e que, assim, merecem respeito e consideração moral
(SVB, 2017?). Ainda de acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira, “esses animais são
capazes de tomar conta de si mesmos, de escolherem o que querem para si. Nessa perspectiva,
tais animais possuem valor intrínseco, ou seja, devem ser considerados como fins em si
mesmos – e não como meros objetos para satisfazer os interesses humanos” (2017?).
49

5 POLÍTICAS DE PROTEÇÃO AOS ANIMAIS EM SITUAÇÃO DE ABANDONO –


UM OLHAR SOBRE A SOCIEDADE DE IGUATU-CEARÁ.

[...] Mas eu não humanizo os bichos, acho que é uma ofensa – há de


respeitar-lhes a natura – eu é que me animalizo [...]. Clarice
Lispector

Neste capítulo, apresentamos, na primeira seção, as leis existentes e vigentes no


município de Iguatu-Ce que abordam a temática da proteção animal. Identificamos também a
atuação e ações dos poderes executivos, legislativos e ainda das ONGs na proteção dos
animais. Na terceira seção, apresentamos recomendações e estratégias para proteção destes
animais no município de Iguatu – Ceará, dentre estas a inserção do profissional do Serviço
Social dentro da área ambiental, evidenciando as ações que podem ser realizadas por este,
nesse âmbito.

5.1 Proteção e defesa dos animais no município de Iguatu – CE – As normatizações e


ação do poder publico e sociedade civil

Contam os mais antigos que a preocupação com o bem estar dos animais pelos
gestores do município de Iguatu – Ceará data de muitos anos. Existe uma historia oral de que
o Prefeito Municipal Dr. Manoel Carlos de Gouveia, nos idos dos anos de 1940, sancionou
um decreto em que proibia os carroceiros de chicotearem seus burros. Infelizmente não
pudemos conferir a veracidade desta história, pois com o advento da pandemia medidas de
isolamento e fechamento de instituições foram tomadas, não nos possibilitando fazer uma
averiguação nos documentos da Câmara de Vereadores Municipal.
Não obstante, conforme pode ser observado nas sessões que se seguem, existem
legislações que demonstram a preocupação com a proteção animal, porém estas como as
demais politicas públicas no município carecem de um olhar mais sensível para que o que está
escrito seja materializado e com êxito.

5.1.1 Leis Municipais


50

Como já expresso Iguatu tem demonstrado uma preocupação com a proteção animal,
sabe-se que muito se dá pela pressão da sociedade, haja vista, a quantidade de animais em
situação de abandono nas ruas. Existem hoje no município, quatro leis que abordam a
temática dos animais urbanos. São elas:
Lei Nº 431/1996: Dispõe sobre o controle de populações animais, bem como sobre a
prevenção e o controle de zoonoses, no Município de Iguatu e adota outras providências.
(IGUATU - CE), 1996)
Lei Nº 2505/2017: Dispõe sobre autorização para ONG's utilizarem o centro cirúrgico do
Centro de Controle de Zoonoses de Iguatu e adota outras providências. (IGUATU (CE), 2017)
Lei Nº 2652/2019: Estabelece no âmbito do município de Iguatu, sanções e penalidades
administrativas para aqueles que praticarem maus tratos aos animais e dá outras providências.
(IGUATU (CE), 2019)
Lei Nº 2840/2021. Institui o Conselho Municipal de Proteção aos Animais e o Fundo
Municipal De Proteção Aos Animais no âmbito da Secretaria de Meio Ambiente,
Sustentabilidade e Proteção Animal - SEMASPA, e da outras providências. (IGUATU (CE),
2021)

5.1.2 Atuação do Poder Executivo

Como observado 04 leis regulamentam a proteção animal no município, fruto da


grande cobrança por parte da população e por esse motivo as autoridades municipais vêm se
movimentando para atender essas demandas.
Cabe destacar que as leis mais antigas tinham como intenção maior, não a proteção ou
preocupação com os animais, mas sim com o controle das zoonoses, uma vez que o
importante era a proteção da saúde dos seres humanos. Como mostra a Lei Nº 431/1996 em
seu Art. 4º que traz o seguinte texto:

- Constituem objetivos básicos das ações de prevenção e controle de ZOONOSES:


1 - Prevenir, reduzir e eliminar a morbidade e mortalidade, bem como os
sofrimentos humanos causados pelas zoonoses urbanas prevalentes;
II - Preservar a saúde da população, mediante o, emprego dos conhecimentos
especializados e experiência de Saúde Pública Veterinária.

Percebe-se que na época em que esta lei entrou em vigor, ainda se tinha uma visão de
que o animal era na verdade um objeto, que possui dono e caso não, poderia ser facilmente
51

descartado. Para tanto se tentou criar um cadastro, como se pode observar nesta mesma Lei no
Capítulo II que trata da Identificação ou Cadastramento desses animais.

Art. 5º - Fica instituído o cadastro municipal de animais domésticos, das famílias


dos canídeos, felídeos e equídeos.
§ 1º - O cadastro possuirá as seguintes informações:
I - nome do animal;
II- raça;
III- data de nascimento;
IV - porte;
V- pelagem;
VI - data da última vacinação anti- rábica e contra leptospirose, com apresentação
dos respectivos atestados de vacinação emitidos por médico-veterinário, inscrito no
Conselho Regional de Medicina Veterinária(CRMV) e na Prefeitura Municipal de
Iguatu, constando os números de inscrição destes junto aos órgãos acima referidos;
VII- nome do proprietário com endereço completo.
§ 2º - O cadastramento de que trata o caput deste artigo, será feito no Setor de
Veterinária da Secretaria Municipal de Saúde e nas clínicas veterinárias
devidamente inscritas no CRMV e na PMI, que solicitarem o seu credenciamento ao
Setor de Veterinária da SEMUS. (IGUATU - CE, 1996)

No entanto, esse cadastramento nunca foi realizado, isso porque o município aprovou
a lei, mas não esclareceu e nem determinou como esses cadastros deveriam ser realizados,
uma vez que os munícipes não tinham informações sobre esta. Esta iniciativa objetifica os
animais e evidencia também, o quanto a população acaba sendo culpabilizada, quando na
verdade, o governo municipal é quem é, e sempre foi responsável pelo controle e cuidados
com os animais.
Também na Lei 431/96, podemos observar ainda que mesmo quando o poder público
tenta minimamente trazer um posicionamento sobre a questão do abandono, acaba
amenizando o descaso com os animais, como no Artigo 14 que trata da proibição de abandono
de animais em qualquer área pública ou privada, mas em seguida em seu paragrafo único trata
com normalidade o fato do responsável pelo animal, citado como proprietário, simplesmente
decidir não o querer, assim podendo abandoná-lo e este ser encaminhado ao órgão sanitário
responsável, ou seja, o Centro de Zoonoses de Iguatu, que como já foi dito tinha o papel de
proteger os humanos. No entanto, cabe destacar que este órgão, não observava que muitas
vezes as zoonoses adquiridas pelos animais eram oriundas das práticas irresponsáveis de
alguns tutores, ou da falta de conhecimento ou até mesmo de baixa condição financeira, já que
parte dos “donos” desses animais se encontram em situação de vulnerabilidade social.
Conforme legislação referida os animais recolhidos pelo CCZ poderiam sofrer as
seguintes destinações: resgate, leilão, adoção, doação e sacrifício. Sabe-se que por muito
52

tempo o papel do Centro de Zoonoses foi de extermínio de animais lá encarcerados, pois o


governo municipal nunca destinou nenhum lugar para o cuidado destes.
Outra Lei existente no município é a de número 2505/2017 que, como dito, dispõe
sobre autorização para que as organizações não governamentais de proteção animal de Iguatu
pudessem utilizar o centro cirúrgico do CCZ para castração de animais nos finais de semana.
Esta Lei foi aprovada a partir da PL Nº 062/17 proposta pelo vereador Mário Rodrigues.
Apesar de parecer algo vantajoso para as ONG’s, a lei limitou a permissão para algumas
Organizações e o que é mais contraditório nem todas as citadas na própria Lei tomaram
conhecimento desta autorização. Além desse aspecto, observa-se também que mais uma vez o
município se desresponsabiliza e se desonera de quaisquer participações nessa prestação de
serviços como mostra o Art. 2º desta lei. (IGUATU (CE), 2017)
Embora as leis editadas no município de número 431/1996 e 2505/2017
demonstrassem indícios de que em determinado momento a proteção animal realmente faria
parte das obrigações do governo municipal, uma vez que a pauta animal já vinha sendo
debatida em todo o país e no mundo, constata-se que as mesmas concebiam os animais como
objetos animados sem qualquer sinal de senciência.
O Centro de Controle de Zoonoses de Iguatu encontrava-se em estado lamentável, sua
estrutura física mais parecia um prédio abandonado, assim como os animais que lá deveriam
ser cuidados. As ações de que se tinham notícias, realizadas pelo CCZ municipal, eram as de
vacinação antirrábica que acontecem anualmente. No entanto, no início do ano de 2021, o
Centro de Zoonoses voltou a funcionar, com campanha de vacinação, de castração e até com a
realização de limpeza da área interna da sede do CCZ13.
A Coordenadora do Centro de Zoonoses de Iguatu tem usado as redes sociais para
divulgar as ações recentes dessa unidade, como é o caso do Projeto Zoonoses nos Bairros14.
No dia 27 de maio, Maria Lizandra esteve em reunião com o chefe de gabinete, “onde
tratamos de assuntos relacionados ao Projeto Zoonoses nos Bairros, logo estaremos lançando
o projeto, onde iremos levar uma melhor qualidade de vida aos animais, em específico aos
animais de rua”.
Acontece que o CCZ municipal voltou também a realizar a eutanásia de animais
diagnosticados com Leishmaniose, uma prática ultrapassada, que gera gastos, dor e não

13
Estas informações foram coletadas na página de Facebook do CCZ de Iguatu. Ver mais em:
<https://www.facebook.com/zoonoses.iguatu.3> Acesso em: maio de 2021.
14
Até esse momento o projeto não havia sido divulgado em íntegra, apenas divulgado na página do Facebook.
53

acarreta nenhuma solução, pois como bem se sabe, a solução é a esterilização dos animais,
mas também a prevenção, pois é sabido que

O uso de coleira parasiticida que contenha ativos indicados e cientificamente


comprovados para repelir e matar o mosquito-palha é o método mais recomendado e
eficaz para o controle das picadas e para reduzir bastante a transmissão da
Leishmaniose para os cães. Além da coleira, a vacina também é importante, porém a
vacina não evita que os mosquitos piquem ou que a doença seja transmitida: sua
atuação é evitar que o animal desenvolva a doença. No caso da impossibilidade de
se realizar a vacinação e efetuar ao mesmo tempo o uso permanente da coleira, e que
seja necessário optar por uma das medidas, o uso da coleira é a medida mais
recomendada. (LIVRE DE PICADA, 202?)

Ainda de acordo com o site Livre de Picada, o Ministério da Agricultura, Pecuária e


Abastecimento (Mapa) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam a
Deltametrina como princípio-ativo para combater o mosquito transmissor da doença. Essa
substância está presente nas coleiras parasiticida, o princípio- ativo atua como repelente e
inseticida do mosquito-palha, transmissor da Leishmaniose.
Discutindo a proteção animal Barros e Araújo (2020) nos chama a atenção para a
coisificação dos animais, que segundo os autores é desconsiderar pesquisas e avanços
científicos, como os desenvolvidos pela Universidade de Cambridge, que culminaram com a
publicação da Declaração de Cambridge Sobre a Consciência Animal e que comprovam que
os animais não humanos experimentam estados afetivos e que possuem substratos que
provocam os estados de consciência, possuindo, portanto a capacidade de sofrimento, que nos
leva cada vez mais ratificar a necessidades que estes serem tem de proteção.
Em 2019 a concepção de objetificação de animal demonstra mudança, pois neste ano a
Câmara Municipal de Iguatu no uso de suas atribuições legais aprovou, e o então prefeito,
Ednaldo de Lavor Couras, sancionou e promulgou a Lei de Nº. 2652/19. Esta traz em seu 1º
artigo a proibição de práticas de maus-tratos contra animais neste município.
O Art. 2º expõe detalhadamente do que se trata esse termo, “entende-se por maus-
tratos contra animais toda e qualquer ação decorrente de imprudência, imperícia ou ato
voluntário e intencional, que atente contra sua saúde e necessidades naturais, físicas e
mentais”:

I - Mantê-los sem abrigo ou em lugares em condições inadequadas ao seu porte e


espécie ou que lhes ocasionem desconforto fisico ou mental;
II - Privá-los de necessidades básicas, tais como alimento adequado à espécie e
água;
III - Lesar ou agredir os animais (por espancamento, lapidação, por instrumentos
cortantes, contundentes, por substâncias químicas, escaldantes, tóxicas, por fogo ou
54

outros), sujeitando-os a qualquer experiência que infrinja prática ou atividade capaz


de causar-lhes sofrimento, dano fisico, mental ou morte;
IV - Abandoná-los em quaisquer circunstâncias;
V - Obriga-los a trabalhos excessivos ou superiores as suas forças e a todo ato que
resulte em sofrimento, para deles obter esforços ou comportamento que não se
alcançaria, senão sob coerção;
VI - Castigá-los, física ou mentalmente, ainda que para aprendizagem ou
adestramento;
VII - Criá-los, mantê-los ou expô-los em recintos desprovidos de limpeza e
desinfecção;
VIII - Utilizá-los em confronto ou lutas, entre animais da mesma espécie ou de
espécies diferentes;
IX - Provocar-lhes envenenamento, podendo causar-lhe morte ou não;
X - Eliminação de cães e gatos, como método de controle de dinâmica populacional;
XI - Não propiciar morte rápida e indolor a todo animal, cuja eutanásia seja
necessária;
XII - Exercitá-los ou conduzi-los presos a veiculo motorizado em movimento;
XIII - Abusá-los sexualmente;
XIV - Enclausurá-los com outros que os molestem;
XV - Promover distúrbio psicológico e comportamental;
XVI - Outras práticas que possam ser consideradas e constatadas como maus-tratos
pela autoridade ambiental, sanitária, policial, judicial ou outra qualquer com esta
competência. (IGUATU (CE), 2019)

Entende-se como animal para aplicação da Lei 2652/19, todo ser vivo do Reino
Animal, com exceção do ser humano. Assim, esta abrange desde a “fauna urbana não
domiciliada, nativa ou exótica; fauna domesticada e domiciliada, de estimação ou companhia,
nativa ou exótica; fauna nativa ou exótica que companha planteis particulares para qualquer
finalidade”, como traz o Art. 3º da citada lei (IGUATU (CE), 2019).
De acordo com a Lei 2652/19, toda ação ou omissão que venha a violar as regras
judiciais desta lei será considerada infração administrativa ambiental e terão como punição as
sanções previstas, estas sanções vão desde advertência por escrito, multa, até as sanções
restritivas de direito, como apresentado no Art. 4º da referida lei.

Toda ação ou omissão que viole as regras judiciais desta lei é considerada infração
administrativa ambiental e será punida com as sanções aqui previstas, sem prejuizo
de outras sanções civis ou penais previstas em legislação.
§ 1o - As infrações administrativas serão punidas com as seguintes sanções:
I - Advertência por escrito; II - Multa simples; III - Multa diária; IV - apreensão de
instrumentos, apetrechos ou equipamentos de qualquer natureza utilizados na
infração; V - destruição ou inutilização de produtos; VI - suspensão parcial ou total
das atividades; VII - sanções restritivas de direito.
§ 2o - Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou mais infrações, ser-lhe-ão
aplicadas, cumulativamente, as sanções a elas cominadas.
§ 3o - A advertência será aplicada pela inobservância das disposições da legislação
em vigor, sem prejuízo das demais sanções previstas neste artigo
§ 4°- A multa simples será aplicada sempre que o agente infrator, por negligência ou
dolo:
I - advertido por irregularidade que tenha sido praticada, deixar de saná-la, no prazo
estabelecido pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente; II - opuser embaraço aos
agentes de fiscalização ambiental; III - deixar de cumprir a legislação ambiental ou
55

determinação expressa da Secretaria Municipal do Meio Ambiente; IV - Deixar de


cumprir auto de embargo ou de suspensão de atividade.
§5 - A multa diária poderá e será aplicada quando o cometimento da infração se
estender ao longo do tempo, até a sua efetiva cessação.
§ 6-As sanções restritivas de direito são:
I - suspensão de registro, licença, permissão, autorização ou alvará; II - cassação de
registro, licença, permissão, autorização ou alvará.

Embora a lei seja clara, sua materialização encontra muitos empecilhos para aplicação
, pois não há uma fiscalização efetiva, as denúncias normalmente são feitas por populares às
ONG’s e/ou protetoras e estas recorrem à delegacia para abertura de Boletim de Ocorrência,
mas por falta de um órgão de fiscalização efetivo quase sempre os autores de maus-tratos
acabam sendo soltos sem que haja nenhum tipo de punição sobre seu ato.
A Lei 2840 foi sancionada no mês de abril de 2021, é uma lei bem recente que trata da
criação do Conselho Municipal de Proteção aos Animais - COMPAN no âmbito da Secretaria
Municipal de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal deste município. O
Conselho visa a participação da sociedade civil na formulação das políticas públicas de
proteção e defesa de animais, para isso 02 membros escolhidos pelas entidades da sociedade
civil farão parte do Conselho, sendo estes escolhidos através de assembleia convocada para
esta finalidade.
De acordo com o documento a COMPAN tem muitos objetivos no que tange a
temática da proteção animal, dentre esses podemos citar: a promoção da integração entre
órgãos e entidades de defesa e proteção animal, e a população; promover o levantamento,
registro, a integração e a participação de entidades, grupos de protetores e protetores
independentes que atuam no município; incentivar a guarda responsável; realizar o
levantamento da quantidade de animais em situação de abandono; promover, organizar e
auxiliar na coordenação de eventos voltados a esta temática, entre outros.
O Art. 3º desta mesma lei trata das competências do COMPAN, que estão listadas no
item XIII, dentre essas compete a este conselho, elaborar e acompanhar a execução do PADA
- Plano Anual de Defesa dos Animais do Município de Iguatu; propor e avaliar projetos e
propostas, no âmbito do Poder Público, relacionados às condições dos animais neste
município; acionar os órgãos competentes para atuar em situações relativas ao bem-estar
animal; denunciar e cobrar providências cabíveis à Procuradoria-Geral de Iguatu; atuar junto a
SEMASPA, cooperando na implementação de políticas públicas de proteção, defesa, saúde,
bem-estar, controle populacional, prevenção de zoonoses e demais moléstias; e outros.
Apesar da criação do Conselho Municipal de Proteção aos Animais em Iguatu, as
ações realizadas ainda estão focadas em competências que devem ser de outros órgãos, como
56

o Centro de Zoonoses, como é o caso das castrações. Ao contatarmos a SEMASPA em


nenhum momento foi citado o PADA, nem a atuação do COMPAN. De acordo com fala do
PROTETOR 2021, a maioria dos protetores se quer tem conhecimento desse conselho e/ou
das leis existentes no município, isso quer dizer que, não há comunicação entre o poder
público e as entidades da sociedade civil. Também não se tem conhecimento de propostas de
projetos feitas por este Conselho. Além disso, dentre as competências do COMPAN é citado
“acionar os órgãos competentes para atuar em situações relativas ao bem-estar animal”, quais
organizações seriam essas? Visto que Iguatu ainda não conta com nenhum órgão fiscalizador
além do Centro de Zoonoses, entidade essa que não deveria ter o papel de fiscalizar denúncias
de maus-tratos e/ou abando, isso porque o CCZ

É um órgão criado pelo governo para garantir o bem-estar das populações humana e
animal, promovendo boa interação de forma que uma não agrida a outra. Ele é
responsável pelo controle das zoonoses e pela redução do risco de epidemias, entre
outras coisas, diminuindo a quantidade de animais não vermifugados, não vacinados
e que ofereçam risco às pessoas. (ZOLINA, 2017))

Portanto, para que o Conselho possa exercer suas atribuições faz-se necessária que o
município conte com órgãos que possam receber as denúncias e agir de acordo com as
legislações vigentes, ou seja, é preciso a implantação de uma instituição que se responsabilize
por receber as denúncias e agir de acordo com as leis.
Atualmente as ações realizadas em prol da proteção e defesa dos animais no município
de Iguatu são oriundas da Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal.
Esta vem realizando um cadastro junto as ONGs e os protetores, de acordo com a SEMASPA
hoje já estão cadastrados junto a esta secretaria, 02 ONGs e cerca de 70 protetores15. Ainda
não se sabe a quantidade de animais em situação de abandono, mas espera-se que a partir
deste cadastro, os protetores possam trazer os primeiros dados com a quantidade de animais
que são alimentados e recebem cuidados através destes.
Segundo a SEMASPA não existia anteriormente nenhum projeto que visasse os
cuidados e atenção a estes animais em situação de abandono, até o momento da criação da Lei
2840/2021, para tanto a primeira medida tomada por esta secretaria foi a de junto ao CCZ
municipal, implantar o programa de castração. Este programa oferece a castração de forma
gratuita para os animais que estão sob os cuidados das ONGs e dos protetores. Estas

15
Protetor: "Aquele que atua na Proteção Animal, o faz, por saber, que os animais em certas situações, não têm
como se defenderem sozinhos e pedirem ajuda, dependem do ser humano para ajudá-los e protegê-los, por isso,
mesmo diante do estresse e da dificuldade, o Protetor persiste em ajudar os animais.". Ver mais em:
<https://afolhatorres.com.br/colunas/quem-sao-os-protetores-de-animais/> Acesso em: 01 jun. 2021
57

castrações aconteciam inicialmente nas quartas e sextas-feiras, no entanto devido a enorme


demanda, passaram a serem realizadas também nas segundas.
De acordo com a SEMASPA já foram realizadas mais de 100 castrações. Por se tratar
de um programa recente, estão acontecendo cerca de 30 castrações semanais, mas a intenção é
de que esse número possa aumentar. A previsão, segundo a secretaria, é que esse número
passe dos 150 animais castrados mensalmente, dentre eles felinos e caninos. A projeção anual
de castração de animais é, portanto da ordem de 1.800, o que representa um aumento de
aproximadamente 400 animais castrados por ano.
Cabe ressaltar que no desenvolvimento desta ação, a secretaria vem enfrentando
dificuldades na compra de insumos para a realização dos procedimentos cirúrgicos: “a
secretaria iniciou do zero, nós estamos tendo dificuldade na compra de equipamentos que a
gente tá precisando, estamos fazendo licitação, por exemplo, de material cirúrgico para a
castração das cadelas. O plano é castrar aproximadamente em torno de 150 animais mês. Essa
é a primeira medida, para evitar a fase da reprodução” (GESTÃO, 2021).
Segundo a secretaria outras ações vêm sendo planejadas, como o projeto de instalação
de um castra-móvel16; no projeto de arrecadação para o custeio de manutenção e alimentação
dos animais junto aos protetores. Existe ainda, uma ideia de conscientização nas escolas e
comunidades, uma vez que a falta de conscientização da população iguatuense foi citada
como um dos maiores desafios.

Nós temos uma luta pela frente, principalmente no trabalho de conscientização das
pessoas em não soltar os animais que pegam muitas vezes para criar e quando
adoece ou acontece alguma coisa as pessoas querem abandonar né. Então a gente tá
trabalhando essa parte aí educacional das pessoas, nós estamos montando um projeto
para que a gente tenha principalmente nas escolas, nas entidades, nos órgãos. Temos
um trabalho já maciço nas redes sociais. [...] realmente é uma realidade muito dura,
não só no Iguatu, mas em todos os locais. Mas aqui a gente sente de perto a
quantidade de animais abandonados na cidade né, e o que a gente pode fazer é isso,
tentar nesse primeiro momento fazer esse trabalho de conscientização acompanhado
das castrações para evitar a reprodução. É um desafio muito grande a gente trabalhar
com essa parte da proteção por conta disso, porque a gente tem que trabalhar a
consciência das pessoas para que valorizem mais aqueles animais indefesos que eles
têm lá, que não abandone e que cuide realmente de todos esses pequenos animais.
(GESTÃO, 2021)

De acordo com representantes da secretaria, uma grande dificuldade surge também da


falta de projetos nesta área, como dito anteriormente, a SEMASPAS começa seu trabalho de
proteção e defesa dos animais em situação de rua “do zero”. Por este motivo há a dificuldade

16
Trata-se de uma unidade móvel de Saúde Médica Veterinária. Com um centro cirúrgico adaptado para a
realização da esterilização de cães e gatos.
58

de se conseguir comprar material, uma vez que as empresas em sua maioria não tem a
documentação exigida para que possa fornecer os insumos.
Em face do exposto, onde constata-se ações do poder legislativo representada por
publicação de leis, do executivo com a existência de instituições como o Centro de Controle
de Zoonoses e a Secretaria do Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal e
realização de ações em articulação com ONGs, observar-se que existe no município de Iguatu
a intenção de realizar mais ações voltadas á proteção e defesa animal. As atividades realizadas
até o momento foram poucas, mas trazem resultados em longo prazo, como é o caso da
castração dos felinos. Entretanto, ainda está bem distante de chegar à solução da problemática
existente, pois nem mesmo a quantidade de animais no município sem tutor é possível ter
certeza. É notório que, além da falta de recursos financeiros, existe a falta de um maior
conhecimento sobre o assunto, além de maior quantidade de pessoas com disposição e
disponibilidade para atuar nesta temática exclusivamente, o que nos leva a inferir na
necessidade de maior conscientização da sociedade e empenho do poder publico para que de
fato a proteção animal possa se concretizar.

5.1.3 Atuação do Poder Legislativo

A atuação do poder legislativo no que se refere a proteção animal tem se dado a partir
de requerimentos, projetos de lei e/ou projetos de indicação. Segundo a Constituição Federal,
os legisladores não podem apresentar projetos de lei que impliquem custos para o Poder
Executivo.

Por isso, quando têm alguma ideia para melhorar a cidade – mas que não pode ser
apresentada em forma de projeto –, eles fazem uma indicação, ou seja, uma sugestão
para a Prefeitura. [...] Os requerimentos são os pedidos verbais ou escritos feitos
pelos vereadores ou por comissões. Podem ser votos de congratulações, a criação de
uma comissão especial, a realização de uma sessão solene, a convocação de
secretários municipais para prestar informações e solicitação de informações à
Prefeitura. (NOVA HAMBURGO, 202?)

Deste modo, alguns vereadores do município têm participado ativamente, trazendo


para a cidade de Iguatu, ideias que visam à melhoria de vida dos animais. Por meio de
pesquisas, pudemos verificar a existência de 04 documentos, dentre eles: um requerimento e
três projetos de indicação.
O primeiro documento ao qual tivemos acesso foi o Projeto de Indicação Nº 009/15,
Aprovado pela Câmara Municipal de Iguatu na data de 02 de setembro de 2015, este PI
59

intitulado “Castra Móvel de Iguatu” trata sobre o controle da população de cães e gatos a ser
realizado por uma unidade móvel de esterilização e de educação. Este projeto indicativo
infelizmente, ainda não virou Lei.
É certo que a aprovação do projeto “Castra Móvel Iguatu” iria colaborar e muito com
os trabalhos das ONGs e dos protetores. De acordo com o Art. 1º no inciso número 4, a meta
inicial deste projeto é a castração de dez animais por semana, número este que poderia ser
ampliado de acordo com a disponibilidade de recursos orçamentários. Para além da castração,
o projeto tem como objetivo “a conscientização da população sobre a guarda responsável,
prevenção de zoonoses e saúde pública” 17.
O PI Nº 009/15 tem um texto bem detalhado, apresenta cada passo a ser seguindo para
a implantação do serviço e para o seu funcionamento. Podemos observar que houve um
cuidado ao elaborar este documento, pois nele constatamos a descrição detalhada dos
procedimentos, do material necessário, da mão de obra, de local de melhor acesso para a
população, mas principalmente a preocupação em atender às famílias de baixa renda, uma vez
que estas raramente tem condições financeiras de castrar seus animais. Além disso, o projeto
contaria com o trabalho de conscientização dos responsáveis pelos animais, como mostra o
Art. 4º:

Paralelamente às cirurgias de castração será realizado seminário de Guarda


Responsável e de Bem-Estar Animal.
§ 1º. A população será conscientizada da importância da esterilização, da vacinação,
da prevenção de doenças, da posse responsável, das necessidades básicas do animal,
como: alimentação, água, bem-estar e será esclarecida sobre as suas principais
dúvidas.
$2º. Serão distribuídos panfletos educativos, ministradas palestras, apresentados
slides, vídeos e o que for necessário para a conscientização da população sobre a
posse e guarda responsável.
$ 3º. A unidade móvel deverá estar equipada com os instrumentos e materiais
indispensáveis para a realização do seminário. (IGUATU (CE), 2015)

Outra proposta de PI, de numero 004/18 é a indicação para criação de um


“Cachorródromo” que seria um espaço público para cães no município de Iguatu. A PI tem
como objetivo a oferta de um espaço físico na cidade de uso exclusivo para a recreação de
cães; estimular a prática de hábitos saudáveis desses animais; propiciar o bem-estar desde e
ainda, possibilitar a interação entre os cães e seus respectivos tutores.
De acordo com o documento, para que se possa atingir esses objetivos, as medidas que
poderiam ser adotadas são: “I – instalação de “cachorródromo” em áreas públicas ou privadas; II –

17
Projeto de Indicação Nº 009/15. Documento completo no Anexo F deste trabalho.
60

promoção de eventos para incentivar a adoção responsável de animais; e III – parcerias entre Poder
Público e iniciativa privada” 18. Este “cachorródromo” seria uma “área cercada destinada ao lazer de
cachorros e seus donos, com ou sem equipamentos de recreação específicos para tais atividades”. Este
projeto foi votado e aprovado pela Câmara Municipal, mas até hoje não virou lei.
O terceiro documento do qual tomamos conhecimento do poder legislativo sobre a
proteção animal, trata-se de um Requerimento aprovado pela Câmara Municipal de Iguatu,
que sugere a criação de uma Secretaria de Proteção, Cuidado e Saúde Animal nesta cidade.
Segundo o entrevistado Legislativo 1 esta proposta

[...] visa os cuidados a saúde animal, pois isso significa também cuidar da saúde da
população. Animais atuam como vetores de algumas doenças que podem trazer risco
aos humanos. Precisamos agir efetivamente neste tema, com a aprovação deste
requerimento avançamos nesse sentido, por dar a gestão municipal um sinal positivo
da câmara para que a idéia seja colocada em prática através de políticas públicas
direcionadas atender essa área. Com a criação da Secretaria há a possibilidade de
mais adiante construir equipamentos, como a construção de um hospital veterinário
e a utilização de Vetmóveis, oferecendo vacinação e castração de animais de
pequeno e médio porte em diferentes pontos da cidade.

Este requerimento impulsionou para que a Secretaria de Meio Ambiente e


Sustentabilidade da cidade de Iguatu passasse também a ser Secretaria de Proteção Animal.
Esta reestruturação da Secretaria foi aprovada pela Câmara deste município a partir do Projeto
de Lei Nº 001/202119 de 18 DE JANEIRO DE 2021. Dentre suas competências, expostas no
Art. 19º desta PL, inclui-se: “XXV – Desenvolver políticas públicas voltadas a proteção e ao
bem estar animal”. Para que esta seja viabilizada, foi criada o Conselho Municipal de
Proteção aos Animais – COMPAN. Apesar da criação do COMPAN ser um avanço, mesmo
que pequeno, na proteção animal em Iguatu; não faz jus ao que foi requerido, umas vez que
no requerimento havia o pedido de criação de uma secretaria própria.
Por fim o quarto documento é o Projeto “Cavalo de Ferro”, que foi aprovado por
unanimidade na Câmara Municipal de Iguatu na data de 04 de agosto de 202020. A PI 08/2020
propõe a que o Poder Executivo deste município celebre convênios com entidades
interessadas, para que possa equipar catadores e carroceiros com bicicletas de carga.
Apesar de este projeto ser interessante para a causa animal, percebe-se que ainda há
receio quanto à decisão, uma vez que no parágrafo único do Art. 1º desta PI observamos o
seguinte texto: “a substituição do uso animal em carroça pela bicicleta de carga, que trata o

18
Projeto de Indicação Nº 004/18. Ver documento no ANEXO G deste trabalho.
19
Projeto de Lei Nº 001/2021. Ver documento no ANEXO I deste trabalho.
20
Informação coletada em rede social. Disponível em:
https://www.instagram.com/p/CDffhRGApwL/?utm_medium=copy_link. Acesso em: 15 abr. 2021.
61

caput desse artigo, é opcional” 21. Percebe-se que não há o entendimento de que essa seria
sim, a melhor solução para a problemática de uso de animais para trabalho de carga.
Ainda que alguns legisladores se posicionem a favor da causa animal, este número é
bem pequeno dado a grandiosidade dessa temática e, como afirma Caroline Scandiuzzi
(2016), “embora a legislação brasileira possua respaldos e proteção para os animais, estes
acabam sendo ‘desmerecidos’ porque o direito mais utilizado é aquele que beneficia o
homem”. Ainda em concordância com Scandiuzzi (2016), é preciso fazer com que as leis
sejam empregadas com mais rigidez, para que sejam aplicadas de tal modo que venham a
beneficiar tanto aos animais humanos quanto aos não humanos.
O entrevistado Legislativo 2, afirma que existem grandes desafios a serem
enfrentados, pela sociedade civil, assim como pelo poder público, segundo ele, o maior é a
falta de controle da procriação dos animais que sobrevivem nas ruas, assim como a falta de
locais adequados onde os animais doentes e abandonados possam ser cuidados. Para ele, o
que dificulta a existência de políticas públicas é o desafio enfrentado para captação de
recursos para ações em prol da causa”.
E como bem citou o deputado Eliseu Padilha

O combate aos maus tratos reflete o efetivo e eficaz cumprimento de um dever poder
intransferível e inadiável, a que se conjuga a cooperação da sociedade civil, dos
operadores do direito, o Poder Público e, principalmente, dos legisladores que
devem estar atentos aos anseios da sociedade. (2012, p. 23, grifo nosso)

Assim, sendo o Poder Legislativo do município formado por cidadãos que foram
eleitos pelo povo, tendo, portanto a função de representa-lo, os vereadores tem papel
fundamental na proteção animal, uma vez que são eles os responsáveis pela indicação da
maior parte das leis municipais.

5.1.4 Ações e posicionamentos das ONGS e Protetores

Por falta de políticas públicas efetivas por parte do governo municipal de Iguatu no
que remetam a proteção dos animais urbanos, ONGs e protetores assumem responsabilidades
que deveriam ser do poder público. As ONGs são “Organizações não governamentais atuam
em áreas vulneráveis, ou seja, que não recebem o apoio devido (ou não recebem apoio algum)
dos governos” (PORFÍRIO, [201-]).

21
Projeto Indicativo 08/2020. Ver documento no Anexo J deste trabalho.
62

Na cidade de Iguatu, existem hoje duas ONGs de proteção animal, são elas: a ONG
Vira Lata de Raça e a ONG Adota Iguatu. Além delas, o município conta com dezenas de
protetores espalhados pela cidade22.
A ONG Adota Iguatu é a mais antiga da cidade, ela está registrada em cartório desde
11 de novembro de 2014, recebeu no dia 12 de dezembro de 2016 um título de utilidade
pública através de um projeto de lei de autoria do vereador Mário Rodrigues. O projeto foi
aprovado pelos vereadores e transformou a ONG em Associação dos Amigos dos Animais de
Iguatu – Adota Iguatu23.
Conforme representantes da ONG Associação dos Amigos dos Animais de Iguatu –
Adota Iguatu

Somos uma associação civil, sem fins lucrativos, não fazendo distinção de sexo,
orientação sexual, cor, faixa etária, raça, filosofia político partidária , religião. A
ONG é legalmente registrada desde 11 de novembro de 2014 e rigorosamente
acompanhada por consultoria contábil quanto as declarações tributárias obrigatórias.
Diante o crescimento de casos relacionados a proteção animal e do ganho de
credibilidade da ONG Adota Iguatu na nossa cidade de Iguatu, região e estado,
novos amigos, membros de equipe, voluntários e parceiros começaram a surgir de
maneira a acrescentar, incentivar e colaborar com esta causa tão nobre e grandiosa.
Hoje contamos com um crescente número de voluntários, aonde diariamente pessoas
vem se sensibilizando e despertando o amor e cuidado aos animais. (ONG ADOTA
IGUATU, 2014?)

Temos como objetivos a criação de gatis e canis para abrigar alguns animais que se
encontram em situações de risco ‘’vitimas de maus tratos’’, o encaminhamento para
adoção dos mesmos devidamente vacinados e castrados, a criação de salas (de
atendimento veterinário e cirurgia) e principalmente campanhas de EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO, propagando o amor, respeito e a posse responsável dos
animais. Nascemos e continuamos com esse trabalho VOLUNTARIO, pois amamos
e temos compaixão pelos seres viventes, que são inocentes, frágeis e que
infelizmente sofrem o descaso de algumas pessoas. (ONG ADOTA IGUATU, 2016)

A ONG Adota Iguatu tem feito junto à sociedade civil várias denúncias de maus tratos
e de descaso do governo municipal com a causa animal. Todos os resgates, manifestações e
ações realizadas por ela podem ser encontrados em suas redes sociais24.
Dentre todas as denúncias realizadas, uma das mais “chocantes” foi certamente a que
mostrou a crueldade e desprezo com o qual o Poder Público deste município tratava os
animais. Em 2015 a ONG denunciou a eutanásia de mais de mil animais no CCZ de Iguatu.

22
Ainda não se tem um número total de protetores. Segundo a SEMASPA um levantamento e cadastramento
estão sendo realizados com esse intuito.
23
Dados colhidos do blog da referida ONG, durante nossa pesquisa não conseguimos encontrar o documento do
projeto citado. Disponível em: http://ongadota.blogspot.com/?m=1. Acesso em: 26 abr 2021.
24
Redes Sociais da ONG Adota Iguatu: Facebook - https://pt-br.facebook.com/ongadotaiguatu/ Instagram -
https://www.instagram.com/ongadotaiguatu/?hl=pt-br
63

Na época a realização da eutanásia era permitida, caso o animal fosse diagnosticado com
leishmaniose, acontece que, de acordo com documentos postados pela própria ONG o total de
animais levados a óbito foi absurdamente maior que os diagnosticados com a doença25.
Devido a essa atrocidade e diversos outros casos de maus tratos no município a ONG
Adota Iguatu foi a Câmara Municipal exigir que o Projeto de implantação do Castra-Móvel,
citado anteriormente, fosse aprovado e efetivado. Também foram as ruas com cartazes 26
pedindo além da aprovação do projeto, melhorias para o CCZ.

vamos dar a voz a quem não tem, chega de tanto abandono e mortes, queremos uma
cidade viva e saudável! A situação preocupa não só pela qualidade de vida dos
animais, mas por ser uma questão de saúde pública, o crescimento da população de
animais de rua também promove o surgimento exponencial de doenças entre estes
animais, que não recebem vacinas ou cuidados. Situação que pode se estender aos
humanos, como a transmissão da raiva, uma doença crônica e que leva a morte.
Alguns municípios do Brasil já perceberam que investir em precauções também
diminui nos custo com a saúde do município. Alguns acham que a eutanásia é a
melhor forma de manter sobre controle a população animal nas ruas, contudo, esse
só é um meio 'desumano' de se livrar temporariamente do problema, os animais tem
seus direitos, são seres como a gente, sentem dor, medo, podemos evitar que
milhares de animais venham a nascer para presenciarem tanto sofrimento. A solução
realmente é desenvolver a cultura de esterilização. (ONG ADOTA IGUATU, 2016)

Outros trabalhos desenvolvidos pela Adota Iguatu são as feiras de adoção, as


campanhas de castração a baixo custo e os bazares para arrecadação de dinheiro para compra
de medicamentos e ração para os animais resgatados. Ações essas também realizadas pela
ONG Vira Lata de Raça.
Fundada em 01 de março de 2016, a ONG Vira Lata de Raça está registrada como
Organização não governamental Vira Lata “Vida”, hoje tem sede própria que fica localizada
no Sítio Córrego. A Vira Lara de Raça é uma entidade sem fins lucrativos e depende
financeiramente da arrecadação feita através de rifas, bazares e das doações feitas por
populares que sempre ajudam, principalmente quando são casos de extrema urgência.
Atualmente a ONG abriga e alimenta em sua sede mais de 130 animais entre felinos e
caninos, sendo que sua capacidade é para 100 animais. Nas casas dos protetores sempre ficam
os filhotes, pois no abrigo os animais maiores podem acabar os machucando já que há o
problema da superpopulação.

[...] a gente só resgata animais de rua que estão doentes. A gente sabe que dentro do
município de Iguatu e outras regiões também, tem muitos animais nas ruas

25
Ver imagens no ANEXO K deste trabalho. As imagens e postagens também podem ser encontradas no
Instagram da ONG.
26
Ver imagens no ANEXO L deste trabalho. As imagens e postagens também podem ser encontradas no
Instagram da ONG.
64

abandonados alguns não estão doentes nasceram na rua né, de cadelas ou gatas que
procriam na rua mesmo. Esses aí a gente não resgata, claro que tem muitos filhotes,
tem muitos que precisam ser resgatados, mas a gente não resgata por não ter onde
colocar esses animais. Então hoje a ONG resgata apenas animais doentes e quando
nós conseguimos alguém que nos dê lar temporário, porque o abrigo hoje se
encontra lotado não cabe mais animais [...] (PROTETOR 2021).

De acordo com a ONG, hoje são necessários mensalmente cerca de 10 pacotes de


ração de 25 kg para cães e 10 pacotes de 20 kg para felinos, eles também precisam de
produtos de higiene e limpeza (shampoos, sabonetes, toalhas para o banho dos pets; e sabão
em pó/líquido, água sanitária, detergente, desinfetantes, rodos, vassouras, etc.) para a limpeza
do local. Além disso, ainda tem os gastos com a areia sanitária para os felinos e com
medicamentos e muitas outras coisas que são necessárias para manter o cuidado. Infelizmente,
a ONG não consegue recolher todos os animais que sobrevivem nas ruas, mas a ONG junto
com os voluntários tentam minimizar o sofrimento de muitos animais, medicando e
alimentando mesmo aqueles que continuam nas ruas. Animais são cuidados e alimentados na
calçada, gatas e cadelas que acabam parindo na rua, são muitas vezes abrigadas em terrenos
baldios, pois não há um local para onde leva-las.
Dentre os vários trabalhos realizados pela ONG estão a castração de baixo custo ou até
mesmo a realização de castração gratuita para protetores (estas são pagas através de doações
realizadas à ONG ou com dinheiro arrecadado através de rifas e bazar) e realizadas por meio
de ações do poder público através da SEMASPA, como já informado anteriormente. Não há
informações sobre um total exato da quantidade de animais já recolhidos e tratados pela Vira
Lata de Raça, mas segundo a ONG, mais de quatro mil animais já tiveram sua castração
garantida através deles.
Quanto à adoção, a ONG informa que têm registradas cerca de duas mil; para registro
é usado o Termo de Adoção e Posse Responsável27. Além destes há um número imenso de
animais que são adotados através da ONG, mas que não são do abrigo, como é o caso dos
animais que são divulgados nas redes sociais da Vira Lata de Raça. A maior parte dos animais
que conseguem um novo lar são filhotes, animais adultos quase nunca conseguem adotantes,
assim, eles ficam em posse dos protetores e dependendo do caso, na sede da ONG.

No processo de adoção desses animais que são da ONG né, em que a ONG é
responsável. A gente tem o termo de adoção para pessoa assinar e é feito a
entrevista, e eles tem a castração garantida pela ONG quando o animal não é ainda
castrado. Quando ele é adotado bebezinho ele tem a sua castração garantida pela

27
Ver documento no ANEXO M deste trabalho.
65

ONG, onde a gente vai correr atrás para pagar o veterinário e fazer quando ele
estiver na idade certa. (PROTETOR,)

A parceria da Vira Lata de Raça, com órgãos municipais é bem recente e se deu com
a “criação” da SEMASPA e cooperação com o CCZ do município, ofertando vagas para a
esterilização de animais acolhidos pela ONG e outros protetores.

O projeto da Secretaria do Meio Ambiente que é Secretaria de Proteção Animal foi


iniciado o mês passado com castrações. Castrações estas que serão beneficiados de
início os animais de rua que as protetoras alimentam e cuidam, e de protetores que
tem mais de 10 animais em sua casa. Porque a Prefeitura não dispõe de um local
onde possa recolher o animal da rua, castrar e cuidar do pós-operatório para que
depois eles devolvam né. Então os protetores que alimentam esses de rua e que já
tem sua casa, eles levam o animal e eles mesmos estão cuidando do pós-operatório.
Então a gente torce e tenta que esse projeto se estenda para os animais de rua que
não tem quem cuide, mas para isso a prefeitura precisa ter um local para tá
colocando esse animal durante os 10 dias do pós-operatório e por enquanto não tem.
(PROTETOR, 2021)

De acordo com a ONG Vira Lata de Raça, o maior desafio enfrentado pelas entidades
de proteção, a sociedade civil e o Poder Público, tem sido o descontrole populacional dos
animais em situação de abandono. Uma vez que nem sempre os animais em situação de
abandono são de rua, pois vários tem casas, mas aqueles que deveriam ser seus tutores
acabam os abandonando.
Outro desafio posto a ONG se refere ao controle populacional, de difícil realização,
uma vez que no município não existem políticas públicas efetivas para a realização desse
controle. Como citado, existe hoje o trabalho das ONGs e dos protetores em relação à
esterilização, mas a quantidade de animais atendidos é bem pequenas em relação à quantidade
de animais soltos na rua, ou até mesmo animais que vivem com seus responsáveis, mas que
por não estarem castrados acabam procriando, e na maior parte das vezes, esses filhotes
acabam sendo abandonados.
Para a ONG, o motivo que mais traz dificuldades para a implantação e efetivação de
políticas públicas no município é a falta de interesse do Poder Público.

O fator que mais dificulta é a falta de interesse do Poder Público em executar,


porque se o Poder Público tivesse realmente interesse na causa animal, muita coisa
poderia ser feita. Porque os protetores em si já fazem o trabalho do Poder Público,
sem ganhar nada, fazem por amor. Imagina se o Poder Público tivesse interesse em
ajudar nessa causa. A falta de interesse deles é o que dificulta tudo. (PROTETOR,
2021)
66

Percebe-se a partir dos dados coletados, que muito tem sido os desafios e dificuldade
no município de Iguatu para que se tenham políticas de proteção animal efetivas e
principalmente para que haja uma redução eficaz dos animais abandonados e/ou em situação
de rua. As ONGs representam uma grande contribuição no processo de proteção animal, no
entanto, se sustentam de doações, carecem de recursos e sem a participação efetiva do Poder
Público Municipal essa tarefa acaba tendo resultados lentos.
No Brasil, diversas ONGs desempenham esse mesmo papel, o de cuidar dos animais
que vivem em situação de vulnerabilidade. As maiores ONGs brasileiras ficam localizadas
nos estados do Rio de Janeiro e em São Paulo, dentre ela podemos citar: A Sociedade União
Internacional Protetora dos Animais, fica localizada na cidade do Rio de Janeiro – RJ e foi
fundada em 1943. A SUIPA28 realiza resgate de animais e, além disso, possuem uma clínica
veterinária que oferece atendimento a preços populares. Também localizada no Rio de Janeiro
e fundada em 2010, a ONG Focinhos de Luz29 presta serviço voluntário de reabilitação de
animais em situação de risco (MATOS, 2020?).
Em São Paulo existe ainda a Ampara Animal30, fundada no ano de 2010, não possui
abrigo para animais, ela é na verdade uma “ONG mãe”, não dispõem de recursos próprios,
mas trabalham na captação de recursos e repassam à ONGs de proteção animal cadastradas,
por todo o país. O Instituto Luísa Mell 31, também localizado em SP, foi criado em 2015,
abriga cerca de 300 animais. O Instituto participa de grandes resgates, casos em que os
animais estão sendo usados para reprodução contínua sem que haja os cuidados necessários e
outros. Em São Paulo podemos citar ainda a Amigos de São Francisco 32, esta ONG além de
cães, também abrigam felinos, fica localizada na cidade de Ibiúna. A Gatópoles33, fundada
em 2013, é uma ONG que realiza resgate, acolhimento e doação responsável de gatos na
cidade de São Paulo; eles possuem abrigo próprio e para que consigam realizar seu trabalho,
fazem campanhas de apadrinhamento e realizam eventos (MATOS, 2020?).
Além destas, outras ONGs pelo país também fazem o trabalho de acolhida, cuidado e
dão abrigo aos animais recolhidos, mas nem todas concordam com essa estrutura, como é o
caso da Pro Anima que não mantém abrigo, mas

28
SUIPA – Ver mais em: https://www.suipa.org.br
29
FUCINHOS DE LUZ: Ver mais em: www.focinhosdeluz.com
30
AMPARA ANIMAL: Ver mais em: https://amparanimal.org.br/
31
INSTITUTO LUÍSA MELL: Ver mais em: http://ilm.org.br/
32
AMIGOS DE SÃO FRANCISCO: Ver mais em: http://amigosdesaofrancisco.com.br/
33
GATÓPOLES: Ver mais em: http://gatopoles.com.br/
67

Embora não mantenha abrigo, a ProAnima desenvolveu o Programa Pelos Amigos


com o objetivo de promover a adoção responsável de animais domésticos vítimas de
abandono e maus-tratos e fruto de apreensões por autoridades policiais do DF.
Durante muito tempo, centenas de cães e gatos foram acolhidos pela ProAnima,
encaminhados para lares temporários, tratados, vacinados, vermifugados, castrados,
socializados, encaminhados para novos lares e acompanhados após a adoção. Os
lares temporários são simplesmente casas particulares de voluntários ou de pessoas
da comunidade selecionada que atendem a uma série de requisitos para poder
abrigar, por um tempo, animais que necessitam de proteção, alimentação e carinho.
São espaços mais apropriados para cuidar de animais de companhia. Ao contrário do
que teriam na vida em um abrigo, cães e gatos têm socialização, vida em grupo,
convivência familiar, carinho, atenção diária e despesas veterinárias e com
alimentação custeadas pela ProAnima. Contudo, devido ao custo financeiro, a
indisponibilidade de pessoal e de organização para atender aos animais que
eventualmente possam ser acolhidos, o Programa Pelos Amigos foi repensado e
deixou de ser uma atividade fim da ProAnima. A ProAnima, ainda hoje, tem animais
domésticos sob sua responsabilidade em lares temporários (chamados de
proanimados). Muitos deles não conseguiram ser doados, são idosos, requerem
cuidado veterinário periódico (PROANIMA, 201-?).

Desse modo, a ProAnima decidiu por não mais ficar responsável de forma direta pelos
animais resgatados, entretanto
considerando sua disponibilidade financeira e de outros recursos, colabora com
iniciativas sérias e responsáveis de assistência a animais, doando a quem possa
acolhê-los medicação, alimento, encaminhando para tratamento veterinário e
castração; apoiando as ações da fiscalização e apreensão de animais que sofrem
maus-tratos; custeando tratamento e castração de animais apreendidos; apoiando as
ações de protetores que se preocupam com animais do Centro de Controle de
Zoonoses, animais comunitários e de colônias. (PROANIMA, 201-?)

Percebe-se, portanto, que várias são as formas que os protetores encontram para a
proteção animal, o que nos leva a entender que, se a sociedade civil com toda sua dificuldade
consegue, o Poder Público com certeza poderia fazer mais em prol da causa animal. Na
subseção seguinte, apresentaremos algumas recomendações e estratégias para a melhoria e
ampliação da proteção animal, trazendo alguns exemplos de políticas e leis de cidades,
Estados e/ou países que conseguiram erradicar ou diminuir exponencialmente a população de
animais de rua.

5.2 Animais domésticos e de estimação: estratégias para proteção aplicadas, o exemplo


de outros países

A situação da proteção animal no mundo não difere da situação do Brasil. Estima-se


que até 2016 aproximadamente 600 milhões de cães sobreviviam em situação de rua no
mundo. Trata-se de um número alarmante, e foi pensando em mudar isso que a Holanda
68

tornou-se o primeiro país do mundo a erradicar a problemática de cães em situação de rua.


(HYPENESS, 2016).
A solução holandesa, segundo Lucas Lustoza (2018), baseou-se em campanhas
voltadas a conscientização da população em relação ao abandono e sobre maus tratos aos
animais. O país investiu em campanhas de esterilização gratuita de todos os cães, não apenas
os que sobreviviam nas ruas, mas também aqueles que viviam com seus responsáveis. Além
disso, aumentou os impostos sobre a compra de cães de raça, o que promoveu a adoção de
vários animais que estavam em situação de abando. Implantou ainda, a “Lei de Saúde e Bem
estar animal. Sendo uma punição exemplar e severa, com multa de 17 mil euros e 3 anos de
prisão a pessoas que abandonem ou maltratem um animal de estimação”. (LUSTOZA, 2018).
Outro país que vem sendo exemplo quanto à proteção animal e punição aos maus
tratos são os Estados Unidos, desde 2016 o FBI (Federal Bureau of Investigation ou Agência
Federal de Investigação) passou a investigar os crimes de maus tratos contra animais.

A iniciativa foi anunciada no primeiro dia de janeiro e é a primeira do tipo a ser


colocada em prática nos Estados Unidos. A decisão foi tomada a partir da crença do
governo americano de que a crueldade contra os animais é um indicador de violência
criminosa. Os crimes serão divididos em categorias como maus tratos e abuso sexual
de animais. (MOREIRA, 2016)

Wayne Pacelle, presidente da Humane Society of the United States - HSUS publicou
nota ainda em 2014 sobre esse assunto, no site da instituição Pallece diz que Jhon Thompson
da National Sheriff’s Association, informando que o então diretor do FBI, James Comey,
havia aprovado a inclusão de crimes de crueldade contra animais no Relatório de Crimes
Uniforme, e que agências locais também fariam o rastreio e reportariam ao FBI.

Os casos extremamente violentos não serão mais incluídos na categoria de “outros


crimes” simplesmente porque as vítimas eram animais. Assim como o FBI rastreia
crimes de ódio e outras categorias importantes, agora teremos dados essenciais sobre
a crueldade contra os animais. A HSUS tem pressionado por essa mudança de
política há anos, junto com nossos afiliados, o Humane Society Legislative Fund e
Doris Day Animal League. (PACELLE, 2014, tradução nossa)

Ainda nos Estados Unidos foi apresentado pelo senador Richard Durbin, D-III; e pelos
representantes Brian Fitzpatrick, R-Pa; Charlie Crist, D-Fla; Guy Reschenthaler, R-Pa. e Jim
McGovern, D-Mass, o Puppy Protection Act - um projeto que afirma que melhorará a maneira
como os cães postos a venda no comércio, assim como as cadelas que pocriam repetidamente
até a exaustão (BLOCK; AMUNDSON, 2021).
69

A Lei de Proteção ao Filhote de cachorro alteraria a Lei de Bem-Estar Animal para


exigir melhorias significativas nos padrões de cuidado exigidos para criadores de
cães licenciados. Os criadores de cães comerciais em grande escala que vendem para
lojas de animais, corretores ou visitantes on-line são obrigados a obter uma licença
do USDA (United States Department of Agriculture ou Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos), passar por inspeções regulares e cumprir os
padrões de cuidado definidos no Animal Welfare Act - mas sob os padrões mínimos
em vigor , os criadores podem manter os cães em gaiolas apertadas sem proteção
contra o frio intenso ou o calor escaldante. Eles podem criar cadelas repetidas vezes
até que seus corpos se esgotem, mesmo que os cães tenham defeitos congênitos que
possam transmitir aos filhotes, geração após geração; depois de esgotados, essas
cadelas podem ser mortas ou vendidas em leilão. (BLOCK; AMUNDSON, 2021,
tradução e grifo nosso)

Vanguarda na proteção animal, os Estados Unidos, conforme divulgado em jornal


brasileiro Correio Braziliense em matéria publicada em 2018, informou que segundo a
organização Animal Legal Defense Fund, além de existir uma lei federal de aplicação em todo
o país, cerca de 50 estados tem suas próprias legislações para direcionar a atuação em relação
a maus tratos contra os animais, “[...] em seis estados; Alabama, Carolina do Sul, Geórgia,
Louisiana, Vermont e Virginia; a pena para quem maltrata animais pode chegar a 10 anos de
cadeia. Já no Texas, os agressores podem ficar 20 anos na cadeia, em caso de reincidência”
(CORREIO BRAZILIENSE, 2018).
Outros países efetuam suas estratégias de proteção de formas diversas, criação e
aplicação de Leis mais rígidas, cobrança de multas sobre aqueles que praticam maus tratos,
aumento de impostos para aqueles que vendem ou compram animais de raça, entre outros. A
proteção animal internacional, assim como no Brasil, é efetivada não apenas pelo Poder
Público e muitas entidades e indivíduos trabalham com essa temática.
A iniciativa de entidades e indivíduos decorre da ausência de políticas públicas
eficazes e de controle quanto à aplicação das mesmas provocando uma acrescente procura da
população para que as entidades protetoras dos animais assumam o papel que seria do Poder
Público, situação que ratificamos Silva e Massuquetti (2014, p.23) quando afirmam que o fato
causa , “uma atitude equivocada na população que, ao invés de ajudar a solucionar o problema
existente no município, é conivente, às vezes inconscientemente, com a ampliação do
mesmo”.
A partir disso e, de toda a análise realizada desde os documentos de Lei, as entrevistas,
páginas de sites e redes sociais observadas apontamos na próxima subseção, recomendações e
estratégias que podem vir a ser aplicadas no município de Iguatu com a convicção de que sua
implantação e efetivação trarão melhorias consideráveis à causa animal. Válido referer que
70

para cada proposta traremos exemplos concretos e aplicados em outros Estados e/ou cidades
brasileiras, assim como em outros países, como os citados anteriormente.

5.3 Recomendações e estratégias para proteção no município de Iguatu – Ceará

Como trouxemos no capítulo 3, a educação é a forma mais adequada e promissora de


defender os direitos dos animais e protegê-los, para tanto, o Poder Público precisa assumir de
fato a sua responsabilidade ao que tange a proteção animal. Pensando nisso, entendemos que a
criação e inserção de programas e projetos de conscientização à população são de
fundamental importância.
Diante do exposto, nos propomos a apresentar sugestões e indicações de ações de que
sejam instituídos no município de Iguatu por meio de serviços públicos permanentes para
proteção animal. Também ousamos a criação de uma minuta de lei como sugestão a câmara
de Vereadores de Iguatu para efetivar a proteção animal. Para isso recomenda-se:

1. Criação do Centro de Referência em Assistência Especializada em Bem Estar e


Proteção Animal;
2. Contratação e capacitação de profissionais para trabalhar na área de proteção animal
com destaque à contratação de profissionais da área de Serviço Social.
3. Programas e Projetos de conscientização nas escolas
4. Criação de cartilha com orientações;
5. Implantação da Delegacia Especializada.

5.3.1 Programas e Projetos: justificativas para a implantação no município

5.3.1.1 Criação do Centro de Referência em Assistência Especializada em Bem Estar e


Proteção Animal

A criação de Centros de Proteção Animal é de grande importância uma vez que


realizam um trabalho diferente dos Centros de Zoonoses, uma vez que estes não mais
recolhem os animais nas ruas para dar-lhes abrigo, os CCZs hoje atuam diagnosticando e
recolhendo animais acometidos de doenças tidas como sem cura, para depois realizar a
eutanásia.
71

[...] além de não resolverem o problema, procedimentos de captura e extermínio


costumam ocasionar reações contrárias, e algumas vezes muito enfáticas, de uma
parcela significativa da população que não concorda com esses métodos
(BORTOLOTI; D’AGOSTINO, 2007), considerando-os cruéis. (OLIVEIRA, 2018,
p. 21)

Hoje, município de Iguatu conta com uma Secretaria de Proteção Animal, no entanto
esta está vinculada à Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade. A união dessas
secretarias proporciona redução de gastos, mas ao mesmo tempo faz com que a política de
proteção animal se perca em meio a tantas demandas que envolvem os projetos para com o
meio ambiente e a sustentabilidade.
A pauta principal de uma entidade de proteção animal deve ser a de deliberar
estratégias eficazes de concretização de politicas públicas para proteção aos animais, e é por
esse motivo que esta pesquisa recomenda como estratégia inicial a implantação de um Centro
Especializado no município de Iguatu que tratará das estratégias em conjunto, que envolvem o
Poder Público do município e entidades da sociedade civil.
Estados e cidades por todo o país têm implantado Centros de Proteção aos Animais, e
para embasar nossa indicação, mostraremos exemplos, como o Centro de Bem-Estar Animal
de Joinville que incentiva a adoção responsável, o CBEA – Joinville/SC “socorre animais sem
tutor e com problemas graves de saúde, ou que passaram por maus tratos. Depois de todo
tratamento necessário, incluindo vermifugação, castração, vacinação e microchipagem, os
animais estão prontos para ir para um novo lar” (PORTAL JOINVILLE, 2020).
No Rio Grande do Sul, o Centro de Bem-Estar Animal de Canoas, é atualmente
referência para os demais municípios do Estado. Isso por que

[...] após passar por uma reforma completa em sua estrutura, realizou 8530
atendimentos (3533 consultas, 1984 emergências e 3013 castrações), entre o período
de maio de 2018 e dezembro de 2019. A diretora do CBEA, Mari Cancelli dos
Santos, garante que o crescimento de mais de 63% no número de atendimentos,
comparados os 3235 de 2018 com os 5295 de 2019, mostra o sucesso do trabalho
que é prestado pelos profissionais do Centro de Bem-Estar Animal aos animais
resgatados em decorrência de maus-tratos ou situação de vulnerabilidade.
(CANOAS (RS), 2020)

O CBEA – Canoas é um local para atendimento e castração de animais em situação de


rua, os comunitários e aqueles que estão sob a responsabilidade de famílias de baixa renda. O
Centro de Canoas é um dos poucos que oferecem abrigo apenas para os animais que ali
chegam em virtude de maus tratos.
Em Goiânia, capital do Estado de Goiás, o Centro de Saúde e Bem-Estar Animal
realiza atendimento de animais domésticos encaminhados pelas ONGs e por pessoas de baixa
72

renda, “A unidade é a única no Centro-Oeste a oferecer serviços veterinários gratuitamente e


tem capacidade para atender 30 animais por dia” (GOIÂNIA. 2021)
O Centro de Bem Estar Animal da cidade de Mogi das Cruzes em SP é um dos
Centros mais completos, ou aquele que mais oferece serviços, e foi nele que nos guiamos para
as sugestões de implantação do CRABEPA em Iguatu-Ce. O CBEA – Mogi das Cruzes,
oferta atendimento clínico e também cirúrgico para cães e gatos, seus serviços são voltados
para animais sob responsabilidade de moradores da cidade, dando prioridade para a população
carente e/ou inclusas em programas sociais, e ainda, aos animais recolhidos pelo CCZ, que
comprovadamente não tenham um responsável (MOGI DAS CRUZES, 2018).

5.3.1.2 Contratação e capacitação de profissionais para trabalhar na área de proteção


animal com destaque à contratação de profissionais da área de Serviço Social

A equipe multidisciplinar no campo da proteção animal deverá ser formada por


profissionais de áreas diversas e que possuem habilidades técnicas diferentes, conhecimentos
e experiências distintas entre si. No entanto, esses profissionais atuarão em prol de um mesmo
propósito que é o bem estar animal e sua defesa.
O principal objetivo da atuação de uma equipe multiprofissional no Centro de
Referência em Assistência Especializada em Bem Estar e Proteção Animal é tornar o
atendimento ao usuário mais humanizado, uma vez que o trabalho em conjunto entre os
profissionais de Medicina Veterinária, Serviço Social e Psicologia tiraria o foco apenas no
animal, levando este atendimento à família e/ou ao indivíduo responsável por ele. A equipe
deverá funcionar sem que um profissional interfira diretamente na atuação e atribuições do
outro.
A importância do Médico Veterinário no que concerne a proteção animal é inegável,
no entanto, pouco se fala sobre a atuação desse profissional como agente capaz de identificar
famílias em situação de vulnerabilidade, bem como a participação do Assistente Social no
âmbito da proteção animal. Para justificar suas contratações e o trabalho em conjunto,
mostraremos de maneira sucinta, estudos realizados que comprovam a eficácia do trabalho em
equipe desses profissionais.
Barrero et. al (2017a, p. 87) afirma que é responsabilidade do médico veterinário a
promoção de saúde para animais humanos e não humanos, além de trabalhar como agente na
proteção e garantia de bem-estar destes; assegura ainda que “o seu papel na identificação dos
73

problemas socioeconômicos não tem sido suficientemente abordado” (BARRERO et al.


2017a, p. 87).
A pesquisa realizada no Estado do Paraná “avaliou o papel dos médicos-veterinários
na detecção de famílias vulneráveis”; o estudo identificou quatro tipos de vulnerabilidades:
“econômica; violência na família, incluindo autonegligência; fragilização de vínculos
familiares; e abuso de substâncias” (BARRERO et al. 2017a, p. 88).

Perguntas demográficas foram incluídas nas fiscalizações de maus-tratos aos cães e


gatos realizadas pelos médicos-veterinários da Seção de Defesa e Proteção Animal
(Sedea), no município de Pinhais, estado do Paraná, Brasil. Os casos foram
categorizados como família vulnerável ou não vulnerável. O tipo de vulnerabilidade
e os motivos que contribuíram para a classificação do caso foram registrados. Os
dados foram repassados à Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) que
posteriormente realizou uma visita domiciliar para confirmar a existência da
vulnerabilidade. Os casos também foram confirmados com as informações contidas
nas bases de dados da Semas. [...] Os indicadores que contribuíram para a
identificação de pessoas vulneráveis estiveram baseados no relato dos membros da
família ou da comunidade e na visualização do ambiente familiar. (BARRERO et al.
2017a, p. 88)

O estudo concluiu que a inserção do médico veterinário nas ações intersetoriais de


abordagem das expressões da Questão Social tem papel importante, pois se trata de um agente
habilitado para realizar a identificação de vulnerabilidades. “Igualmente os resultados
respaldam a necessidade da inserção dos animais de companhia como vítimas da
vulnerabilidade de seus tutores nos programas sociais”, afirma Barrero et. al (2017a, p. 88).
Na mesma revista, Barrero et al (2017b, p. 88) publicaram um outro estudo que dessa
vez identificou quais eram “os desafios a serem superados e quais as oportunidades existentes
para a realização de uma ação intersetorial em casos de famílias em situação de
vulnerabilidade social e maus-tratos aos animais”. Como método foi usado a pesquisa
qualitativa

[...] tendo como instrumento de coleta de dados a pesquisa participativa na


implementação de um trabalho intersetorial entre a Secretaria Municipal de
Assistência Social (Semas) e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) do
município de Pinhais, estado do Paraná, Brasil. Essa parceria resultou na criação de
um fluxo de encaminhamento de casos de famílias multiespécie em situação de
vulnerabilidade entre os setores. (BARRERO et al. 2017b, p. 88)

A pesquisa concluiu que apesar das dificuldades, com uma formação adequada,
capacitação de forma contínua e o empenho dos profissionais envolvidos com as expressões
74

da Questão Social que envolve as famílias multiespécies34, há sim a possibilidade de auxiliar


pessoas em situações de vulnerabilidade, assim como aos seus animais que sofrem maus-
tratos.
Barreto. et al (2017b, p. 88) concorda que “Os problemas socioeconômicos que
limitam a qualidade de vida das pessoas e dos animais são multidimensionais e necessitam de
uma abordagem intersetorial para a sua resolução”. Assim, mostrando que tanto quanto a
inserção do médico veterinário na assistência faz-se necessária a atuação do profissional do
Serviço Social em prol a proteção animal.

Em se tratando de meio ambiente ao profissional de serviço ambiental, refere-se ao


contexto social, que é tudo o que faz parte da vida, tudo que nos rodeia, tendo como
ponto principal de intervenção a realidade. Pois o profissional trabalha com a
realidade social, e sua intervenção é baseada na investigação e compreensão da
realidade. (FEITOSA; OLIVEIRA, 2018, p. 5)

Desse modo, como afirma Carmona (2017, p. 6) os Assistentes Sociais “são chamados
a atuar na esfera da formulação e avaliação de políticas e do planejamento, gestão e
monitoramento, inscritos em equipes multiprofissionais”.

Um papel fundamental do Serviço Social em seu agir profissional, é seguir seu


trabalho de acordo com o Código de Ética Profissional de 13 de março de 1993,
seguindo os princípios fundamentais, os direito e responsabilidades profissionais;
constituindo assim, como direito do Assistente Social, que descreve no Artigo 2º
deste Código:
a. Garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de
Regulamentação da Profissão, e dos princípios firmados neste Código;
b. Livre exercício das atividades inerentes à Profissão;
c. Participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na formulação
e implementação de programas sociais;
d. Inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação,
garantindo o sigilo profissional;
e. Desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;
f. Aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos
princípios deste Código;
g. Pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se tratar de
assuntos de interesse da população;
h. Ampla autonomia no exercício da profissão, não sendo obrigado a prestar serviços
profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou funções;
i. Liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos de
participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos. (FEITOSA;
OLIVEIRA, 2018, p. 5)

34
A família multiespécie é conceituada como aquela lastreada essencialmente na afetividade inerente na relação
humano-animal, tendo em vista que modernamente os animais são considerados como seres sencientes, portanto,
dotados dos mais variados sentimentos. Ver mais em: Instituto Brasileiro de direito da Família, Disponível em:
<https://cutt.ly/AnbjyA8>.
75

Carmona (2017, p. 6) evidencia ainda que o Serviço Social “só pode ser desvendado
em sua inserção na sociedade”, ou nas palavras de Yazbek (2009 apud CARMONA, 2017, p.
6), “no contexto de relações mais amplas que constituem a sociedade capitalista,
particularmente, no âmbito das respostas que esta sociedade e o Estado constroem, frente à
questão social e às suas manifestações, em múltiplas dimensões”.
O Assistente Social dentro da política de proteção animal não trabalhará diretamente
com os animais, nem fará uma função assistencialista. Irá atuar junto às famílias usuárias do
serviço. Como acontece no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais,
onde o AS, realiza o estudo socioeconômico dos tutores e/ou responsáveis dos animais ( LIMA;
FERREIRA, 2019, p. 7). Que de acordo com o CFESS

O estudo socioeconômico é um instrumento técnico operativo do Assistente Social


que é utilizado como um meio aproximativo da realidade da população. O estudo
socioeconômico tem como objetivo ser um meio que possibilite o acesso da
população aos serviços, bem como possibilitar a formulação de estratégias de
intervenção por meio da situação socioeconômica dos usuários dos serviços, além de
subsidiar programas e projetos da Instituição. (2013 apud LIMA; FERREIRA,
2019, p. 7)

Assim como na UFMG, outros hospitais veterinários contam com a atuação do


profissional do Serviço Social, como é o caso do Hospital Universitário de Medicina
Veterinária da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, dentro do HUMV da UFRB
existe um setor responsável que realiza o atendimento dos usuários responsáveis pelos
animais. O atendimento acontece a partir de um profissional do Serviço Social e é através
desse atendimento que os responsáveis pelos animais que “apresentam alguma situação de
vulnerabilidade social que dificulte realizar o tratamento do seu animal, são ouvidos em suas
demandas, recebem orientações e por meio de uma avaliação socioeconômica são
direcionados para tarifas sociais acessíveis” (UFRB, [202?]).
Na Universidade Federal de Uberlândia o Assistente Social também realiza o trabalho
de atendimento/acolhimento das famílias que necessitam do atendimento veterinário para os
seus animais, realizando o estudo socioeconômico destas. (UFU, [202?]).
O Assistente Social também está inserido do quadro de funcionários do primeiro
hospital veterinário gratuito que fica em São Paulo, de acordo com Zaccaro (2017), o
profissional é responsável pela triagem. A triagem acontece para que os serviços sejam
realmente ofertados àqueles que não têm condições de pagar, assim, ao chegar ao hospital os
usuários são submetidos a uma entrevista.
76

Já no Rio de Janeiro, através de uma parceria entre as secretarias de Assistência Social


e de Proteção Animal, a Prefeitura irá cuidar dos bichos de estimação dos cidadãos em
situação de rua que estejam em abrigos. “O projeto “Acolhimento Animal” na Fazenda
Modelo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro”. (LIMA, 2021)
A partir dos exemplos citados, compreende-se que o Assistente Social dentro das suas
atribuições pode e deve ser incluído na política de proteção animal, assim realiza monitoraria
da influência mútua das “situações de risco social e desenvolve suas atribuições em
consonâncias com a Lei de Regulamentação da profissão 8.662/93, artigo 5º, inciso VI, em
ações educativas”, essas ações podem acontecer através de “palestras na conscientização do
meio ambiente, riscos e impactos ambientais e os consequentes agravos à saúde,
esclarecimentos aos usuários, profissionais e à empresa”. (FEITOSA; OLIVEIRA, 2018, p.
9). Para Carmona

Superar as múltiplas contradições postas para a intervenção profissional do


assistente social requer competência ético-política, teórico-metodológica e técnico-
operativa, além de uma rigorosa capacidade de mediação frente à correlação de
forças existentes nas instituições que ainda teimam em não garantir direitos, e sim,
perpetuar velhas práticas assistencialistas ou clientelistas. (2017, p. 6)

Como elucidado, na área ambiental, vários são os campos de atuação do Serviço


Social, pois se constitui um “campo de trabalho muito amplo, diversas empresas públicas e
privadas inserem esse profissional em sua equipe multidisciplinar” como apontam Feitosa e
Oliveira (2018, p. 9).

5.3.1.3 Programas e Projetos de conscientização nas escolas

Vários estados brasileiros têm implantado projetos de conscientização sobre a proteção


animal principalmente nas escolas de ensino fundamental, isso porque como se sabe, o
indivíduo tem sua formação de caráter ainda na infância.

Na infância se estabelecem os primeiros níveis da formação da personalidade do


indivíduo. Leontiev (1978) afirma que este é o período espontâneo do
desenvolvimento deste sistema. É nos primeiros anos de vida que a criança aprende
valores, normas de conduta e capacidades especificamente humanas e torna se capaz
de expressar-se de maneira singular diante do mundo: ela forma uma consciência
cada vez mais complexa sobre os objetos e seu conhecimento, sobre as relações
humanas e, sobretudo, sobre si mesma (a autoconsciência). (BISSOLI, 2014, p. 590)

Ainda conforme Bissoli (2014, p.590) citando Duarte (2013)


77

O desenvolvimento da personalidade dos indivíduos está condicionado pelo


desenvolvimento já alcançado pela sociedade da qual ele faz parte, uma vez que o
psiquismo humano é histórico e social. O autor destaca que é o processo de o sujeito
se apropriar da cultura de forma ativa o elemento propulsor do domínio das
capacidades próprias à dinâmica social e, também, do domínio da conduta,
atribuindo ao processo educativo uma importância fundamental: a ampliação do
capital cultural, efetivada na escola, sofistica as formas de compreensão dos sujeitos
sobre a sociedade e sobre si mesmos, possibilitando a transformação qualitativa da
sua consciência e, com ela, de suas formas de atuação e da personalidade.

Pensando assim, diversas escolas por todo o país entenderam a importância da


proteção animal e por este motivo em parceria com órgãos públicos ou entidades da sociedade
civil implantaram projetos de conscientização às crianças. Um exemplo disso é o projeto
“Bichinho de Estimação”, uma parceria da Subsecretaria de Bem Estar Animal (SUBEM) e a
Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, este programa educativo aborda a
conscientização e educação sobre maus-tratos, abandono e guarda responsável. O projeto
propôs que uma equipe da SUBEM percorresse as escolas da cidade com palestras e
atividades pedagógicas tratando sobre os cuidados necessários aos animais de estimação e os
comunitários (MAGALHÃES, 2019).
Magalhães (2019) no artigo publicada no site O Dia, trouxe citações de representantes
responsáveis pelo projeto. O subsecretário da SUBEM, Roberto de Paula declarou que
“precisamos combater a desinformação em relação ao abandono e maus-tratos de animais em
nossa cidade, e só conseguiremos isso através da educação”. Já a secretária de educação do
município declarou que “a educação é a base do conhecimento e trabalhamos sob diversos
prismas para tornar nossos alunos cidadãos cada vez mais plenos e conscientes. Os cuidados
com todos os seres vivos são importantes".
Conforme descreveu Magalhães (2019) o projeto seria efetivado de da seguinte forma

Os alunos do Ensino Fundamental I participarão de atividades lúdicas, com imagens,


vídeos e desenhos sobre os cuidados com os animais. Após esse conteúdo, eles
desenvolverão trabalhos de artes, como desenhos e colagens, demonstrando o que
observaram em suas casas e comunidades.
Já os do Ensino Fundamental II participarão de um debate sobre bem-estar e direitos
dos animais, onde serão exibidos vídeos, fotos e conteúdos legislativos sobre a Lei
6435/2018. Após esse conteúdo, eles farão redações com os temas "Como vivem os
animais do meu bairro?" e "O que podemos fazer para melhorar a qualidade de vida
deles?".
78

O projeto ainda contaria com visita dos estudantes ao Centro de Proteção Animal, o
CPA abriga centenas de animais vítimas de maus-tratos e abandono, para que possam ter
contato com esses animais.
Outro exemplo que pode ser seguido pelo Poder Público de Iguatu é o do projeto
criado pela COSAP - Coordenadoria de Saúde e Proteção ao Animal Doméstico da cidade de
São Paulo, “o projeto Escola Amiga dos Animais tem como objetivo principal conscientizar
crianças e estimular as escolas atuarem como multiplicadoras deste tema de tamanha
relevância social”. O programa é trabalhado em três módulos com duração média de duas
horas. O 1º módulo, trabalha a conscientização sobre a adoção e a guarda responsável; o
módulo 2, trata-se da apresentação do Centro Municipal de Adoção; já o 3º módulo, são
realizadas atividades de interação com os animais, dentre eles, cães, gatos e ainda animais de
fazenda, como porcos e cavalos. (SÃO PAULO, 2020)
De acordo com a publicação, o projeto tem mostrado resultados promissores. “As
crianças interagem, questionam, aprendem e o que é ainda melhor: terminam a atividade
engajados na construção de uma sociedade mais justa, onde haja empatia e compaixão
também pelos animais” (SÃO PAULO, 2020).

Com o objetivo de ensinar os pequenos sobre o comportamento dos animais, em


especial os alojados aqui à espera de adoção, a atividade promove ainda a
socialização de cães e gatos (que antes não tinham contato com o público mirim),
desenvolve a empatia da criança pelo animal escolhido para a atividade e ainda,
estimula a leitura. O projeto leitura impacta as crianças, encanta os professores e
acalma os animais. A escola recebe com antecedência fotos e histórico dos animais
que participarão das atividades para que as crianças possam se familiarizar. No dia
da atividade a criança já sabe para quem vai ler e conhece um pouco a história desse
animal antes de chegar aqui. Embora sejam oferecidos livros infantis para leitura,
muitas crianças acabam escrevendo uma história personalizada para esse dia tão
especial. Atividade é dividida em três etapas, com duração de 1h30
Fase 1 – Palestra “Comportamento Animal – Entenda o que são cão ou gato quer
dizer”. Fase 2 – Atividade Interativa – Leitura. Fase 3 – Interação com os animais
(cães, gatos e animais de fazenda). (SÃO PAULO, 2020)

A prefeitura de São Paulo disponibilizou ainda um e-mail para que as escolas


interessadas em participar do programa entrem em contato com Coordenadoria de Saúde e
Proteção ao Animal Doméstico, para que possam receber as informações necessárias e fazer
agendamento.
Percebe-se, portanto, que essas atividades podem ser facilmente implantadas em
escolas de outros municípios brasileiras. Além disso, cartilhas com informações sobre a
temática podem ser trabalhadas dentro do projeto.
79

5.3.1.4 Criação de cartilha com orientações;

As cartilhas devem ser produzidas a fim de reunir conhecimento no que diz respeito ao
bem estar, defesa e proteção animal. Nelas devem estar contidas definições sobre os principais
pontos abordados nessa temática, como: a diferença entre animais domésticos, de estimação,
silvestres, entre outros; definição de maus tratos, proteção, os órgãos de proteção, canais de
denúncia e etc. Estas devem ser elaboradas de acordo com o ambiente onde será trabalhada.
Sendo assim, uma cartilha que será usada no ambiente escolar, deverá considerar a faixa
etária dos estudantes, por exemplo.
Na internet pudemos encontrar diversos formatos de cartilhas sobre maus tratos,
proteção e defesa dos animais. Citadas aqui servem como exemplo para a criação de novas,
além de trazer informações dos mais variados tipos e temas no âmbito da proteção animal.
A OAB de Curitiba no Estado do Paraná lançou em 2020 a Cartilha de Proteção
Animal35, a cartilha trata desde o que é o bem estar animal, perpassando pelos direitos, aborda
preconceito, vegetarianismo e traz ao final curiosidades e dicas de filmes e comentários, além
de contatos úteis.
No Rio Grande do Sul, o COMUPA – Comitê Municipal de Proteção Animal da
cidade de Pelotas publicou a Cartilha36 de proteção Animal em 2018. Nela é possível entender
o que é o COMUPA; entender alguns conceitos como: o que são zoonoses, animais
domésticos e outros; aborda ações humanas que comprometem a proteção e o bem-estar
animal; posse responsável; a legislação, as atribuições da Prefeitura e órgãos públicos e muito
mais.
Uma cartilha bem completa também foi publicada pelo LABEA, que é o Laboratório
de Bem-estar Animal da Universidade Federal do Paraná, a Cartilha Maus-tratos. O que São?
Como identificar? Como denunciar?37, a cartilha foi produzida através do projeto Fauna Legal
e aborda a definição de maus-tratos e ainda, traz um passo-a-passo de como reconhecer
quando um animal estiver em situação de maus-tratos.

35
CARTILHA DE PROTEÇÃO ANIMAL. Direito Animal Curitiba - OABPR Comissão De Direito Ambiental
da OABPR. Ver mais em: https://wp.ufpel.edu.br/direitosdosanimais/files/2020/09/cartilha-gt-direito-dos-
animais-oab.pdf
36
CARTILHA DE PROTEÇÃO ANIMAL – COMUPA, Pelotas – RS. Ver mais em:
https://wp.ufpel.edu.br/direitosdosanimais/files/2018/12/Cartilha-e-Folder_COMUPA_vers%C3%A3o-
digital.pdf
37
CARTILHA MAUS-TRATOS. O QUE SÃO? COMO IDENTIFICAR? COMO DENUNCIAR? – LABEA –
UFP. Ver mais em: https://drive.google.com/file/d/1hLO6Au_dRHN4EFP37gh7NBL6gjX_I4fw/view
80

O Grupo Especial de Defesa dos Direitos dos Animais – GEDDA em parceria com o
Ministério Público de santa Catarina criou a Cartilha de Proteção e Bem-Estar Animal 38 .
Trata-se de uma cartilha de fácil leitura, aborda também os principais assuntos sobre a
temática.
A Cartilha de Defesa Animal39, lançada pelo Ministério Público de São Paulo é de
autoria da promotora de justiça, Eloisa Balizardo, A cartilha segundo Belizardo “tem por
objetivo informar ao cidadão as formas de levar ao conhecimento dos órgãos públicos
denúncias de maus-tratos e de buscar junto a eles a proteção aos animais”.
A Diretoria do Bem-Estar Animal – DIBEA juntamente com a Prefeitura da cidade
São José em Santa Catarina lançou em 2017, a Cartilha Educativa - Bem-Estar Animal40. De
forma simples, divertida e colorida, a cartilha conversa diretamente com a criança. De
maneira lúdica informa sobre os tipos de alimentos que os animais podem ou não ingerir; os
benefícios da castração; sobre adoção; sobre abandono e maus-tratos e traz dicas de como a
criança pode cuidar da saúde do seu animal e da sua família.
Entendemos, portanto, que educação e a conscientização sobre os assuntos abordados
nas cartilhas são essenciais para a proteção dos animais. O trabalho com as cartilhas é uma
chance para contribuir de forma significativa para conscientização da população e levar-lhes
conhecimento acerca dos assuntos abordados, além de poder encontrar nelas os números para
contatar e realizar denúncias, seja aos canais especializados ou às delegacias de proteção
animal.

5.3.1.5 Implantação da Delegacia Especializada;

As denúncias de maus-tratos estão legitimadas pela Lei Federal de Crimes Ambientais


Nº 9.605/98 que deixa claro em seu Art. 32 que “Praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou
mutilar animais silvestres, domésticos, nativos ou exóticos [...]”. (BRASIL, 1998)
Desse modo, uma das propostas de estratégias de proteção aos animais nesse
município é a implantação de uma Delegacia Especializada. Como nas recomendações
anteriores, para respaldar nossas recomendações mostramos exemplos de Estados que já
realizaram e tiveram sucesso em sua implantação.

38
CARTILHA DE PROTEÇÃO E BEM-ESTAR ANIMAL – GEDDA, SC. Ver mais em:
https://documentos.mpsc.mp.br/portal/manager/resourcesDB.aspx?path=5327
39
CARTILHA DE DEFESA ANIMAL – MPSP. Ver mais em: https://www.mppi.mp.br/internet/wp-
content/uploads//2016/05/defesa_animal_2015_06_11_dg.pdf
40
CARTILHA EDUCATIVA - BEM-ESTAR ANIMAL – DIBEA-SC. Ver mais em:
https://www.saojose.sc.gov.br/images/uploads/geral/cartilha_educativa-bem_estar_animal.pdf
81

Como o Estado do Rio de Janeiro que em fevereiro de 2020 criou a Delegacia de


Defesa Contra os Maus-Tratos a Animais Domésticos. Para sua implantação o governo
decidiu usar estruturas já existentes na Polícia Civil, e com a delegacia não gerou novos
custos aos cofres públicos (FERNADES, 2020). Mas como sabemos, não basta apenas que
uma delegacia seja criada, é preciso que haja treinamento para que se possa agir de forma
correta, como sintetizou o presidente da Comissão de Proteção e Defesa dos Animais da
OAB-RJ, Reynaldo Velloso:

a nova lei contempla uma vontade já antiga e pode ser vista como um progresso
sobre o assunto. Porém, paralelamente, disse que é necessário um enfrentamento
mais apropriado ao problema, com treinamento para que os policiais atuem de
maneira correta e haja punições mais corretas por parte do Poder Judiciário
(FERNADES, 2020).

Na cidade de Aracaju em Sergipe (SE), também conta com uma Delegacia de Proteção
Animal e Meio Ambiente, de acordo com o Portal G1-SE (2021), a delegada Georlize Teles
que é titular da DEPAMA esclareceu que “a criação da delegacia atende o pleito da sociedade
e acompanha as mudanças legislativas que aumentaram as penas para os autores de crimes
contra os cães e os gatos”. Ainda de acordo com o G1-SE (2021) a delegada ressaltou que ao
se criar a unidade policial de proteção animal houve também, o aumento de canais de
denúncias dos crimes contra os animais no estado.
Já os Estados de Goiás (GO) e São Paulo (SP) contam com Delegacia Eletrônica de
Proteção Animal - DEPA. Em Goiás, o projeto de implantação da delegacia virtual é do
deputado estadual Delegado Eduardo Prado. De acordo com Portal do Estado de GO, Prado
declarou que

[...] o objetivo é proporcionar agilidade das denúncias e das averiguações dos crimes
contra animais, tais como: tráfico, comércio, criadores clandestinos, abatedouros
ilegais, empresas/laboratórios que fazem testes em animais, espancamento,
abandono, atropelamento, negligência, envenenamento, bem como todo e qualquer
fato previsto em lei tipificado como ilícito penal. (GOIÁS, 2019)

O deputado Eduardo Prado, acredita que a criação do ambiente virtual acarretará uma
diminuição na quantidade de registros realizados de forma presencial nas delegacias, o que de
acordo com ele, dará uma maior agilidade para os cidadãos ao fazer a denúncia. (GOIÁS,
2019)
Assim como na DEPA de Goiás, a Delegacia Eletrônica de Proteção Animal do estado
de São Paulo, o serviço acontece via internet e está a disposição da população do Estado para
82

as denúncias de crimes ocorridos contra os animais. Para realizar a denúncia é necessário


fazer a identificação, mas “o sigilo dos dados serão preservados se optar pela privacidade no
momento do cadastro da denúncia”. (SÃO PAULO, 2016).
No site da DEPA-SP, existem dois “botões”, no primeiro, o usuário poderá realizar a
denúncia e no segundo, o denunciante poderá acompanhar quais as providências tomadas pela
delegacia. O acompanhamento acontece “através do número de protocolo gerado após a
efetivação da denúncia, juntamente com o número do CPF do denunciante informado” (SÃO
PAULO, 2016).
Existe ainda a possibilidade dos canais de atendimento direto, na cidade de
Teresópolis-RJ, a prefeitura possui um aplicativo da ouvidoria do município, o eOuve, através
dele os cidadãos conseguem ter acesso direto com os serviços da prefeitura. “O eOuve garante
rapidez no atendimento e facilita o acesso do cidadão aos serviços da administração
municipal. Baixe o eOuve no Google Play ou App Store, escolha Teresópolis, cadastre-se e
pronto! A cidade está na palma da sua mão!” (TERESÓPOLIS, 2020?)
Propõe-se a princípio que o município de Iguatu crie um canal de comunicação com a
sociedade dentro do Centro de Referência Especializada em Assistência em Bem Estar e
proteção Animal, além de uma Ouvidoria Especial no município, que atenderá apenas as
ligações oriundas de denúncias que abranjam a temática de maus tratos aos animais.
Na subseção a seguir, transformamos nossas recomendações em uma proposta de Lei
municipal, para isso criamos uma Minuta de Projeto de Lei, que futuramente será submetida a
aprovação do Poder Público Municipal.

5.3.2 Proposta de Lei para implantação das estratégias

Minuta de PROJETO DE LEI MUNICIPAL Nº ____ DE 2021


AUTORA: TALITA DE FREITAS LIMA

Dispõe sobre a criação de Centro de Referência em


Assistência Especializada em Bem Estar e Proteção
Animal no município de Iguatu e dá outras
providências.

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
83

Artigo 1º: Fica instituído o Centro de Referência em Assistência Especializada em Bem Estar
e Proteção Animal no município de Iguatu (CRABEPA), atendendo-se aos princípios de bem-
estar animal e segurança pública.

§ 1º Bem-estar animal é a garantia de atendimento às necessidades físicas, mentais e naturais


dos animais, devendo estar livres de fome, sede e de nutrição deficiente; desconforto; dor,
lesões e doenças; medo e estresse; e, por fim, livres para expressar seu comportamento natural
ou normal.

§ 2º O CRABEPA deverá funcionar de forma descentralizada, mas em parceria com a


Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal assim como, com o
Conselho Municipal de Proteção aos Animais41.

§ 3º A Prefeitura Municipal deverá ampliar e reformar a estrutura física do CCZ localizado no


Bairro Fomento, para a instalação do CRABEPA ou disponibilizar outro local.

CAPÍTULO II
DAS FINALIDADES

Artigo 2º: O Centro de Referência em Assistência Especializada em Bem Estar e Proteção


Animal tem as seguintes finalidades:

I - Elaborar e implantar Plano de Controle de Natalidade de Animais Domésticos e Bem Estar


Animal;

a) Organizar e efetivar programa de registro, cadastramento e identificação de animais


domésticos;
1) Criar e disponibilizar sistema de informática para cadastro geral e registro via internet;
2) Desenvolver campanhas de estímulo ao registro voluntário de animais; campanhas volantes
de registro e microchipagem;

41
Esta minuta não propõe a criação do Conselho Municipal de Proteção aos Animais, uma vez que esta já foi
instituída na Lei Nº 2840/2021.
84

3) Definir protocolo técnico para a realização da microchipagem; para isso firmar parceria e
convênios com ONG’s, entidades de proteção animal, lojas Petshops e Clínicas Veterinárias;
b) Promover campanhas educativas para incentivo à castração voluntária;
c) Deliberar critérios técnicos para as ações volantes de castração de animais;
d) Determinar as metas anuais do serviço de castração;
e) Realizar atividades de reinserção de animais abandonados ou recolhidos.

II - Planejar, coordenar e monitorar as atividades de promoção e defesa dos animais, no


âmbito do Município de Iguatu-Ce;

III - Regulamentar o comércio de animais de Iguatu;

a) Constituir a regulamentação dos critérios mínimos admissíveis para a atividade;


b) Efetivar a fiscalização e controle sobre os criadores, Petshops e pontos de vendas;
c) Promover campanhas educativas orientando a população a adquirir os animais em locais
autorizados.

IV - Ampliar a fiscalização contra maus tratos;

a) Criar Ouvidoria Especial;


1) O Ouvidor será designado pelo Secretário da Saúde e pelo Secretário da Proteção Animal.
2) A Ouvidoria manterá sigilo da fonte, sempre que esta solicitar.
b) Promover Campanhas Educativas de Posse Responsável e Bem Estar Animal;
c) Criar campanhas educativas de orientação e estímulo às denúncias de maus tratos;

V - Elaborar e implantar Projeto de Educação Ambiental em Bem Estar Animal;

a) Incluir o tema Bem Estar Animal na educação ambiental transversal da Educação


Básica;
b) Organizar cartilha informativa contendo as leis municipais, os direitos e as necessidades
básicas dos animais;
c) Elaborar Campanhas Educativas sobre Bem Estar Animal.

VI – Discutir, elaborar e executar Programa de Atenção ao Animal;


85

a) Implantação do pronto-socorro veterinário;


1) Atendimento gratuito no período diurno;
2) Atendimento a baixo custo no período noturno.
b) Criar e disponibilizar Canal de Comunicação próprio para atendimento dos usuários e
comunicação direta com a sociedade;
1) Requerer castração de animal doméstico;
2) Requerer microchipagem de animal doméstico;
3) Solicitar socorro a animal doméstico de rua doente ou ferido;
4) Marcar atendimento para animais domésticos comunitários, com tutores ou responsável;
5) Adotar animal doméstico sem tutor abrigado no CRABEPA.

VII - Implantar Grupo Multidisciplinar de Apoio às famílias responsáveis pelos animais;

a) Realizar visita domiciliar quando necessário;


b) Realizar acolhimento do responsável pelo animal levado ao abrigo;
c) Realizar cadastro da família.

VII – Criar os mecanismos necessários para execução de projetos no âmbito municipal,


buscando recursos junto a SEMASPA e nos órgãos estaduais e federais;

VIII - Estabelecer relacionamento entre instituições do âmbito Estadual e Federal, tendo em


vista o aperfeiçoamento de políticas voltadas à defesa e proteção animal;

IX – Implantar Grupo de Fiscalização e aplicação das Leis municipais, estaduais e federais de


Proteção Animal;

a) Firmar parceria com Secretaria de Proteção Animal, Conselho Municipal de Proteção dos
Animais, Delegacia Civil, Ministério Público, Secretaria de Saúde, ONG’s, entre outros;
b) Regulamentar o limite máximo de animais nos imóveis urbanos;
c) Disponibilizar aos órgãos de fiscalização urbana os equipamentos de leitura dos
microchips.
86

Artigo 3º: O Centro de Referência em Assistência Especializada em Bem Estar e Proteção


Animal deverá implantar e estruturar uma Rede Municipal de Bem Estar Animal.

I – Criar, instalar e estruturar no município de Iguatu um programa de cadastramento de


dados que será compartilhado entre os órgãos inseridos na Rede;
II – Promover a capacitação continuada dos servidores

Parágrafo único: A Rede que descreve esse artigo será constituída pela Secretaria de Meio
Ambiente e Proteção Animal, Conselho Municipal de Proteção aos Animais, Secretaria de
Saúde, Vigilância Sanitária e Secretaria de Assistência Social, Direitos Humanos e Cidadania.

CAPÍTULO III
DA ESTRUTURA

Artigo 4º: Integram o Centro de Referência em Assistência Especializada em Bem Estar e


Proteção Animal no município de Iguatu:

I – Médico Veterinário (dois);


II – Biólogo (um);
III – Psicólogo (um);
IV – Assistente Social (dois);
V – Auxiliar em Veterinária (um);
VI – Assistente Administrativo (um);
VII – Auxiliar Administrativo (dois);
VII – Segurança (um);
VIII – Motorista (um);
IX – Cuidador (dois).

Artigo 5º: A sede do CRABEPA terá a seguinte estrutura física:

I – Recepção (uma);
II – Coordenação (uma);
III – Sala de atendimento (uma) - Médico Veterinário;
IV – Sala de atendimento (uma) – Assistente Social;
87

V – Sala de atendimento (uma) – Psicólogo;


VI – Sala de exames diagnósticos / Raios-X (uma);
VII – Sala de esterilização de materiais
VIII – Centro cirúrgico (um);
IX – Sala de repouso (uma);
X – Canil e Gatil para a alocação dos animais a espera de adoção (um);
XI – Cozinha para preparação da alimentação dos animais (uma);
XII – Almoxarifado (um);
XIII – Copa para alimentação dos profissionais (uma);
XIV – Banheiros (três);
XV – Canis e Gatis - com solários, depósito de materiais de limpeza e depósito de ração.

CAPÍTULO IV
DAS RECEITAS

Artigo 6º: Constituirão receitas do Centro de Referência em Assistência Especializada em


Bem Estar e Proteção Animal:

I - dotações orçamentárias do Município, bem como o Fundo Municipal de Proteção à Vida


Animal42, instituído na Lei Nº 2840/2021;
II – doações, auxílios, contribuições de terceiros, sejam, pessoas físicas ou jurídicas;
III - recursos financeiros procedentes dos Governos Estadual e Federal e de outros órgãos
públicos, recebidos de forma direta ou por meio de convênios;
IV - recursos financeiros provenientes de organismos e entidades nacionais ou internacionais,
recebidos diretamente ou através de convênios;
V - outros recursos oriundos de fontes aqui não explicitadas.

Parágrafo único: Serão depositadas, obrigatoriamente, as receitas aqui descritas, em conta


específica a ser aberta e mantida em agência de estabelecimento bancário vinculada
diretamente ao órgão gestor da Política de Proteção Animal do Município de Iguatu.

CAPÍTULO V

42
Esta minuta não propõe a criação de um Fundo Municipal voltado à causa animal, uma vez que este já foi
instituído na Lei Nº 2840/2021.
88

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Artigo 8º: O Poder Executivo Municipal regulamentará esta Lei no prazo de _____ dias de
sua publicação, encaminhando as alterações que se fizerem necessárias.

Artigo 9º: Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Parágrafo único - É proibido o uso das indicações de que trata este documento por partidos
políticos, órgãos ou entidades públicas sejam estas estaduais ou municipais, organizações
internacionais ou nacionais e/ou qualquer outro, sem conhecimento e autorização prévia da
autora.

IGUATU, ___ DE MAIO DE 2021.

_____________________________________
TALITA DE FREITAS LIMA

JUSTIFICATIVA

Dirijo-me a Vossas Excelências para encaminhar o Projeto de Lei que dispõe sobre a criação
do “Centro de Referência em Assistência Especializada em Bem Estar e Proteção Animal no
município de Iguatu e dá outras providências”, com devida justificativa.

Em Lei decretada neste município, o Poder Executivo Municipal optou pela unificação das
Secretarias de Proteção Animal e Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Com o
intuito provável de gerar economia aos cofres públicos, sem para tanto, a intenção de causar
prejuízo ao atendimento dos munícipes, que diariamente busca os serviços das secretarias
citadas para serem atendidos nos programas e projetos existentes e para a realização de
denúncias ao que tange as políticas públicas por elas aplicadas.
No entanto, como é sabido, a demanda de casos voltados à promoção, defesa e proteção
animal, tem sido crescente. Sendo assim, com a unificação é improvável que uma secretaria
única consiga atender a tal procura, uma vez que o quadro de funcionários que atuam nessa
89

área é insuficiente para atender a demanda do município, assim como a estrutura fornecida
para esta secretaria.

Deste modo, o presente projeto propõe que a estrutura do Centro de Controle de Zoonoses do
município, passe por melhorias consideráveis e ampliação, para que posso alocar o Centro de
Referência em Assistência Especializada em Bem Estar e Proteção Animal, com a oferta de
condições melhores de trabalho e atendimento aos animais e seus respectivos responsáveis.

Esta proposta dispõe das condições e colabora no processo de concretização de uma política
pública permanente para a promoção, defesa e proteção dos animais na cidade de Iguatu,
Ceará.

Deste modo, apresento este projeto contando com o apoio de Vossas Excelências, solicito
apreciação e votação nos termos do Regimento Interno desta Casa de Leis.

Sala de sessões, em ____ de Maio de 2021.

TALITA DE FREITAS LIMA


90

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nosso objetivo maior ao iniciar esta pesquisa foi discutir a situação de abandono dos
animais domésticos, identificando estratégias de materialização de políticas públicas voltadas
à causa animal no município de Iguatu. Ao finalizar esse estudo foi possível refletir sobre os
inúmeros problemas levantados e que foi base para o início dessa pesquisa. A concretização
desse trabalho é a superação de um desafio imposto a pesquisadora durante o curso, isso
porque trata-se de um tema ainda pouco trabalhada na área do Serviço Social.
A realização desse trabalho diante do cenário pandêmico em que vivemos, com todas
as limitações de contato para realização de pesquisa, acarretou uma grande dificuldade na
coleta de dados, isso porque, para que se possa ter acesso aos projetos de lei submetidos no
município é necessário contato direto com os legisladores e/ou ir até a Câmara Municipal, que
estava funcionando em horário reduzido e com menor quantidade de atendentes.
Além disso, as entrevistas não puderam acontecer pessoalmente e dada a
indisponibilidade dos entrevistados em participar de reunião online fizemos uso de
ferramentas como WhatApp e Instagram. O contato via redes sociais apesar de facilitador,
também faz com que a pesquisa perca um pouco da sua formalidade.
É inegável que a convivência entre humano-animal perpassa aquele antiga ideia de
que os animais são apenas objetos ou seres de posse, hoje a relação vai muito além. Mas é
fato é ainda se trata de uma relação dicotômica, uma vez que esse convívio pode ser benéfico
e/ou prejudicial para ambos.
Percebe-se que com o passar dos anos a lógica antropocêntrica vem perdendo espaço,
uma vez que a ideia de se ter o ser humano como centro do universo está defasada. Antes se
considerava que tudo que existe no planeta, existia para servir ao homem. No entanto, cada
vez mais pessoas têm feito parte do rol dos defensores dos animais, isso porque, já se entende
que a vida digna é algo que não é direito apenas do homem, mas de todo ser vivo.
Entretanto, como citado no texto, Kitagawa e Coutinho (2004 apud Silva 2016, p. 8),
apesar dos benefícios que podem surgir dessa relação, a observação quanto ao bem estar do
animal deve ser levado em conta, pois o convívio com os animais podem se tornar malefícios
quando há risco de transmissão de zoonoses. Percebemos, pois, que os primeiros cuidados
com os animais surgiram não de uma preocupação direta em relação aos cuidados dos
animais, mas por precaução à saúde do ser humano.
Assim como a domesticação surgiu da necessidade humana de conviver com outras
espécies, as primeiras políticas que envolvem a temática emergiram da preocupação com a
91

vida humana e/ou com a utilização dos animais em beneficio do homem. Dada à vontade de
uma relação multiespécies, os animais até então domesticados passam a fazer parte dos lares,
assim passaram a ser considerados animais de estimação.
Contudo, nem todos aqueles que decidem ter um animal de estimação em casa sabem
das responsabilidades que essa decisão acarreta, e como resultado disso, a população de
animais abandonados cresce velozmente. Enquanto isso, as ações em prol à causa animal,
principalmente as que tangem a proteção e defesa dos animais abandonados caminham a
passos lentos.
Entre as dificuldades relatadas pelos representantes do poder público está: a falta de
projetos na área, isso porque a Secretaria de Meio Ambiente e Proteção Animal iniciou seus
trabalhos sem que houvesse nem ao menos um trabalho sendo executado sobre a perspectiva
de proteção aos animais em situação de abandono; as complicações para conseguir adquirir
material, que seria usado na campanha de castração e vacinação. Outra dificuldade
mencionada foi a dificuldade em captar recursos para ações em prol da causa.
Para as ONGs e protetores, o maior desafio é a responsabilidade imposta sobre eles, já
que eles acabam por assumir as responsabilidades que cabem ao poder público. A maior
dificuldade para os protetores é de fato a falta de interesse do Poder Público em implantar
políticas públicas e de realizarem a aplicação das leis existentes no município.
A partir da análise das entrevistas realizadas com representantes do poder público e as
organizações da sociedade civil, de todos os problemas observados e das informações obtidas,
o maior desafio enfrentado por ambos tem sido o (des)controle populacional e a falta de
conscientização das pessoas.
É imprescindível que haja uma comunicação melhor entre o poder público e a
população municipal, visto que, não há divulgação das leis voltadas a proteção animal
existentes em Iguatu. Essa desinformação faz com que as pessoas não saibam como agir ao
presenciar situações de abandono e/ou maus-tratos.
Mesmo com toda a bibliografia aqui apresentada, pudemos perceber que sua grande
maioria trata de estudos desenvolvidos na área do direito e a psicologia. Os estudos sobre a
inserção do assistente social na política de proteção animal ainda é escasso. Até mesmo após
avanços consideráveis no que concerne a política de proteção animal em âmbito nacional, o
que pudemos observar é que ao que diz respeito as políticas municipais, estas têm sido usadas
como política de governo, isso porque tem uma visão imediatista e na maior parte das vezes
são simplesmente usadas como fins eleitorais.
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Consideramos que os objetivos propostos para que essa pesquisa pudesse ser realizada,
assim como a pergunta de partida que a norteou, foram obtidos e contemplados, no entanto, as
possibilidades de compreensão quanto ao tema não foram esgotadas. Além disso, a
observação da necessidade de inserção do profissional de Serviço Social no âmbito da
proteção animal abre lacuna para que futuramente possam surgir estudos mais detalhados.
Logo que conseguimos conhecer, identificar e categorizar essas informações, pudemos
delinear estratégias para que haja a materialização de fato das políticas públicas existentes,
assim como, propomos novas implantações e implementações de serviços. Desse modo,
propusemos e indicamos ações para que sejam instituídos no município de Iguatu por meio de
serviços públicos permanentes para proteção animal, como a Criação do Centro de Referência
em Assistência Especializada em Bem Estar e Proteção Animal; a contratação e capacitação
de profissionais para trabalhar na área de proteção animal com destaque à contratação de
profissionais da área de Serviço Social; a implantação de programas e projetos de
conscientização nas escolas; a criação de cartilha com orientações; e ainda a implantação da
Delegacia Especializada.
E dada à importância do assunto, ousamos criar uma minuta de lei como sugestão à
Câmara Municipal de Vereadores de Iguatu para efetivar a proteção animal no município.
Pretendemos submeter o Projeto de Lei à para apreciação da Câmara deste município,
exercendo como direito, pois a Constituição Federal prevê a iniciativa popular de leis,
permitindo aos cidadãos apresentar projeto de lei, desde que cumpram as exigências
estabelecidas no §2º do art. 61.
No artigo 16, § 2º consta que, “a iniciativa popular pode ser exercida pela
apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por
cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de
três décimos por cento dos eleitores de cada um deles”. Assim logo que o processo de
conclusão do curso se encerre, buscaremos maneiras concretas e eficazes de coleta dessas
assinaturas.
Espera-se que os resultados obtidos nesta pesquisa possam contribuir para a ampliação
do entendimento sobre a causa animal e a luta pela implementação de mais políticas de
proteção, e a efetivação das políticas já existentes. Desse modo desejamos que os resultados e
considerações dessa pesquisa possam sensibilizar gestores, para discussão e implantação de
politicas de proteção animal não apenas no município de Iguatu, mas que possa abranger
também a região.
93

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SPAREMBERGER, Raquel Fabiana Lopes; LACERDA, Juliana. Os animais no direito brasileiro: Desafios e
perspectivas. Amicus Curiae, v. 12, n. 2, p. 183-202, 2016.
98

TERESÓPOLIS. Sistema de Ouvidoria – eOuve. Ouvidoria Municipal. Secretaria de Governo e Coordenação.


2020?. Rio de Janeiro. Disponível em: <https://teresopolis.rj.gov.br/estrutura/governo-e-
coordenacao/ouvidoria/> Acesso em: 21 maio 2021

TINOCO, Isis Alexandra Pincella; CORREIA, Mary Lúcia Andrade. Análise crítica sobre a declaração universal
dos direitos dos animais. Revista Brasileira de Direito Animal, v. 5, n. 7, 2010. Disponível em:
<https://cienciasmedicasbiologicas.ufba.br/index.php/RBDA/article/viewFile/11043/7964> Acesso em: 10 out.
2019

UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Serviço Social. Hospital Universitário de Medicina
Veterinária. Disponível em: <https://ufrb.edu.br/humv/servico-social> Acesso em: 04 jun. 2021

UFU – Universidade Federal de Uberlândia. Serviço de Assistência Social. Hospital Veterinário. Disponível
em: <http://www.hospitalveterinario.ufu.br/node/98> Acesso em: 04 jun. 2021

UNESCO. Declaração Universal dos Direitos dos Animais. Bruxelas, Bélgica, 1978. Disponível em:
http://www.urca.br/ceua/arquivos/Os%20direitos%20 dos%20animais%20 UNESCO.pdf. Acesso em: 31 mai.
2021.

VASCONCELOS, Yure. VIRA-LATAS SOB CONTROLE. Revista Pesquisa FAPESP. Edição 223. Set 2014.
Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br /wp-content/uploads/2014/09/068-069_caes-egatos_223.pdf.
Acesso em: 05 ago. 2018

VIEIRA, Marcelo Milano Falcão; ZOUAIN, Deborah Moraes. Pesquisa qualitativa em administração-Teoria
e prática. FGV Editora, 2005.

VIVA O BICHO. A Declaração dos Direitos Animais é ignorada pela maior parte da humanidade!. Animais
ainda sem voz. Disponível em: <https://vivabicho.org/2011/03/31/animais-ainda-sem-voz/> Acesso em: 31 mar
2011

ZACCARO, Nathalia. Primeiro hospital veterinário público já tem lotação máxima. Veja. São Paulo, 2017.
Disponível em <https://vejasp.abril.com.br/cidades/hospital-veterinario-publico/> Acesso em: 04 jun. 2021
99

APÊNDICES

APÊNDICE A – ENTREVISTAS SEMI ESTRUTURADAS

QUESTIONÁRIO 1

1- Nome e função na entidade.


1.1 – O que te o levou a criar/participar da ONG? Já tinha alguma aproximação com a
temática?
1.2 – Como e onde funciona a ONG atualmente?
1.3 – Quantos animais vivem na ONG atualmente?
1.4 - De que forma a ONG se mantém?
1.5 – Quantos animais foram recolhidos, tratados e postos para adoção através da ONG?
1.6 – Como acontece o processo de doação/adoção?
2- Tem conhecimento de em que ano a Secretaria de Meio Ambiente do município, passou a
ser também Secretaria de Proteção Animal?
3 – Existe alguma parceria com esta secretaria? De que forma acontece essa parceria?
4 – Existe alguma parceria com outros órgãos da prefeitura municipal (Secretaria de saúde,
Centro de Zoonoses, etc)
5 – Existe algum estudo/pesquisa sobre a quantidade de animais abandonados/vivendo nas
ruas?
6 – Em sua opinião quais medidas a Secretaria vem tomando para mudar a situação de
abandono desses?
7 – Tem conhecimento de Leis/Decretos de proteção aos animais existentes hoje no
município?
8 – Quais os desafios enfrentados pela sociedade civil e pelo poder público para proteção aos
animais domésticos em situação de abandono no município?
9 – Quais fatores dificultam e/ou facilitam a existência de politicas públicas para proteção aos
animais em situação de abandono em Iguatu/Ce?

QUESTIONÁRIO 3

1- Nome e profissão, ou cargo que ocupa.


100

2- Tem conhecimento de em que ano a Secretaria de Meio Ambiente do município, passou a


ser também Secretaria de Proteção Animal?
3 – Existe alguma parceria com esta secretaria? De que forma acontece essa parceria?
4 - Tem conhecimento sobre algum estudo/pesquisa sobre a quantidade de animais
abandonados/vivendo nas ruas?
5 – Existe algum projeto sobre a temática de sua autoria? Qual (is)?
6 – Tem conhecimento de outros Decretos/ Leis de proteção aos animais existentes hoje no
município?
7- Você tem conhecimento sobre quais medidas a Secretaria de Proteção Animal do
município vem tomando para mudar a situação de abandono desses?
8 – Em sua opinião, quais os desafios enfrentados pela sociedade civil e pelo poder público
para proteção aos animais domésticos em situação de abandono no município?
9 – Quais fatores dificultam e/ou facilitam a existência de politicas públicas para proteção aos
animais em situação de abandono em Iguatu/Ce?
101

APÊNDICE B – FORMULÁRIO
102
103

ANEXOS

ANEXO A — TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


104
105
106

ANEXO B — LEI 431/1996


107
108
109
110
111
112
113
114
115
116

ANEXO C — LEI 2505/2017


117
118

ANEXO D — LEI 2652/2019


119
120
121
122

ANEXO E — LEI 2840/2021


123
124
125
126
127
128
129
130
131
132

ANEXO F — PROJETO DE INDICAÇÃO Nº 009/15


133
134
135
136

ANEXO G — PROJETO DE INDICAÇÃO Nº 004/18


137
138
139

ANEXO H — REQUERIMENTO 2020

Fonte: Instagram @rubenildocadeira_


140

ANEXO I — PROJETO DE LEI Nº 001/2021


141
142
143
144
145
146
147
148
149
150
151
152
153
154
155
156
157
158
159
160
161
162
163
164
165
166
167
168
169
170
171
172
173
174
175
176
177

ANEXO J — PROJETO INDICATIVO 08/2020

Fonte: Instagram @rubenildocadeira_


178

ANEXO K — ONG ADOTA IGUATU (DENÚNCIAS)


179

Planilha de acompanhamento mensal – Leishmaniose. Fonte: Facebook da ONG.

Imagem de jornal com manchete sobre ações do CCZ Iguatu – Fonte: Facebook da ONG.
180

ANEXO L — ONG ADOTA IGUATU (CARTAZES)


181

ANEXO M — ONG VIRA LATA DE RAÇA (TERMO DE ADOÇÃO)


182

ANEXO N — SEDE DA ONG VIRA LATA DE RAÇA

Sede da ONG. Fonte: Facebook da ONG.

Imagem do gatil e do canil. Fonte: Facebook da ONG.

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