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IGUATU - CE
2021
TALITA DE FREITAS LIMA
IGUATU - CE
2021
TALITA DE FREITAS LIMA
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________
Profa. Dra. Adriana Alves da Silva (Orientadora)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) – Campus Iguatu.
_________________________________________________________
Prof. Dr. Leandro de Castro Lima
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) - Campus Iguatu.
_________________________________________________________
Assistente Social Esp. Maria Mayara Rufino de Souza
Centro de Referência a Mulher de Iguatu (CRMI)
Aos meus “filhos” do coração, Mia (in
memoriam), Lobão (in memoriam), Aquiles,
Max (in memoriam), Nina, Luck, Megg (in
memoriam), Rita e Sophia. A todos os animais
que foram covardemente abandonados e/ou
maltratados.
AGRADECIMENTOS
A Deus, ao universo, aos seres espirituais e a tudo aquilo ao qual acreditei e pedi
auxílio espiritual nos momentos de medo e angústia. Agradeço pela vida, não só a minha, mas
a de todos aqueles que fizeram parte da minha caminhada até aqui. Reconheço que me
concederam a coragem, a garra e a fé que não me permitiram desistir.
À minha mãe, Antonia Freitas, por me ensinar os valores que carrego. Por me
incentivar desde cedo a estudar, por me fazer acreditar que eu sou capaz. Agradeço por ter
sido esta mulher forte e corajosa que sempre enfrentou o mundo para nos dar o melhor que
estava ao seu alcance. Sei que nunca foi fácil, obrigada por não desistir. Obrigada por me
mostrar que a vida não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si, é sobre saber que em
algum lugar alguém zela por ti. Eu amo você!
Aos meus irmãos, Tácio e Tamara, por me mostrarem que quando existe amor, não
importa há quantos quilômetros de distância a gente esteja; não importa quantas vezes nos
desentendemos por pensarmos diferente sobre várias coisas da vida, sempre poderemos contar
uns com os outros. Ao meu “afilhinho”, Miguel, que me fez perceber que eu não preciso ser
mãe para entender o que significa o amor incondicional. Hoje você não lê e mesmo que eu te
fale ainda não entenderá, mas um dia saberá como sou grata por tê-lo em minha vida.
Às minhas primas, Andréa e Luana, por me ouvirem quando precisei, pela força
quando desanimei, por aguentarem meus desabafos no momento em que mais precisei. À
Thalia, por sua companhia e alegria, tão importantes para mim nos últimos meses.
À minha gêmea de coração, Talita Alves, que mesmo longe sempre esteve ao meu
lado. Obrigada pelas palavras de encorajamento, apoio, e também puxões de orelhas. Somos
as pessoas mais diferentes e mais parecidas que conheço (risos).
Agradeço com todo meu coração, a Lara Giló e Tatiane Souza, as minhas “sofredoras
de Marx”, por me acompanharem e auxiliarem nesse processo tão complicado, pela amizade,
pelo carinho, as conversas, as risadas, os deboches, o que esperar de duas cápricas e uma
canceriana, juntas!? (risos). À Laís Layanne, minha “bruguela”, minha dupla em provas,
trabalhos e nos rolês, a minha amiga mais estressada e mais sentimental, o meu ombro amigo,
não consigo descrever quanto sou grata por te conhecer. À Yanka, minha “libriana”,
companheira de vinhos e papos filosóficos ao som de Belchior, das poucas coisas que temos
em comum. Se me perguntarem como duas pessoas tão diferentes se tornaram tão
companheiras? Eu faria das palavras de Chicó as minhas: “Eu não sei! só sei que foi assim”
(risos). Como eu amo vocês! À Cilânia Roseno, Matheus Cardoso, Lívia Alves, Bárbara
Brandão e Walex Brendo; as conversas aleatórias, os papos existencialistas, os desabafos e
risadas que compartilhamos durante essa etapa tão desafiadora da vida fizeram toda diferença.
A todxs vocês, minha eterna gratidão, nunca me esquecerei das nossas tardes de estudos, sem
tanto estudo, mas com as melhores notas, quanta saudade daquelas gargalhadas! À Lelé
Fantim, que alegrava e adoçava nossas noites, com suas risadas, seus vídeos/áudios e mimos,
aquele que sempre topou e incentivou nossas ideias. A minha turma 2016.1, conseguimos!
Entre erros, acertos e tropeços, e mesmo sendo a própria “materialização do funaré”,
chegamos aqui juntos, nem sempre fortes, nem sempre bem, mas nessa turma ninguém soltou
a mão de ninguém! Agradeço cada momento, cada vivência. Vocês contribuíram
valiosamente para que eu chegasse até aqui.
Agradeço ao meu namorado, Carlos Mattos, que antes e apesar de tudo, tem sido um
grande amigo. Obrigada por toda atenção, pelo amor, por aguentar meu estresse e a ansiedade
durante esse processo, pela força, pelo incentivo e por todo apoio, mas principalmente por me
mostrar que se fazer presente na vida de alguém vai muito além de estar presente. Você
entendeu que sou pequenina e também gigante, viu o melhor e o pior de mim, e não teve
medo de arriscar e mergulhar no meu infinito particular.
À todxs xs amigxs próximos e/ou distantes, aos familiares e a todxs que de alguma
forma fizeram parte dessa fase da minha vida. A Rafael e família, pessoas cоm as quais
convivi e fizeram parte dessa jornada, que por muitos anos me auxiliaram e encorajaram a não
desistir, vocês certamente tiveram impacto na minha formação.
À Adriana Alves, minha orientadora, sem a qual não teria conseguido concluir esta
difícil tarefa. Que palavras eu posso usar para gritar o quanto sou grata por ter concordado em
caminhar ao meu lado na produção deste trabalho? Só consigo dizer que reconheço seu
esforço, sua dedicação e a orientação incansável, obrigada pela confiança que tornaram
possível a realização desse sonho. Agradeço a Adriana também, como professora, como
amiga e pela oportunidade de fazer parte do Grupo de Estudos e Pesquisa em Criança e
Adolescente. À Myrla, minha psicóloga amada, por sua paciência, atenção e amizade.
Obrigada por me ajudar a me reencontrar, entender que nem tudo está sob o nosso controle e
compreender que antes de amar alguém é preciso que eu me ame primeiro. Grata a todos os
membros do GEPCA, as tardes em que nos encontrávamos eram certamente de grande alívio,
tantos risos, debates e comidinhas.
Ao professor, Antonio Nunes, pela oportunidade de fazer parte do Grupo de Pesquisa
e Estudo em Educação, Linguística e Letras (GEPEL). As professoras Juliana Maranhão e
Renata Lígia, pela compreensão e palavras de apoio de vocês nas etapas em que mais precisei.
A professora Moíza Sibéria, pela atenção dedicada a todxs nós como coordenadora, amiga e
incentivadora, apesar de mesmo sem intenção, ter me metido medo no dia em que escolhi o
tema para minha pesquisa (risos). Às professoras Aparecida Higino e Samilly Alexandre por
tornarem as noites em sala de aula mais leves. À professora Cinthya Studart, grande
profissional e excelente supervisora na disciplina de estágio, obrigada pelas reflexões e
análises compartilhadas. Ao professor Leandro Lima, obrigada pelo interesse e
disponibilidade a fazer parte da banca examinadora. A todxs docentes do curso de Serviço
Social, pelas orientações e ensinamentos que proporcionaram grande aprendizagem e um
melhor desempenho no meu processo de desenvolvimento ao longo do curso.
A todxs profissionais do IFCE – Campus Iguatu, que contribuíram de alguma forma,
para que eu chegasse até aqui. Estivesse você trabalhando no refeitório, na limpeza, no
almoxarifado, na coordenação, na secretaria, você faz parte desse momento. A você, que
preparava aquele cafezinho à tarde e/ou à noite, meu muito obrigada; aquele café era recebido
por nós como um abraço apertado.
À minha maravilhosa supervisora de estágio, Mayara Rufino, obrigada por cada
minuto de conversa e de orientação, por sua amizade, pelas tardes de alegria, pelos conselhos
e tudo mais. Agradeço a todas vocês do Centro de Referência a Mulher de Iguatu - CRMI,
Mayara Rufino, Aline Simplício, Tatiana Abreu e Jezada Lima, com quem tive oportunidade
de compartilhar conhecimento e que me mostraram que um pouco de diversão também é
necessária mesmo quando lidamos com situações tão difíceis. Sempre serei a “cobra criada
de vocês”! (risos)
À todxs que colaboraram para que este trabalho fosse possível. Obrigada
principalmente a vocês que são protetores dos animais, que enfrentam todas as dificuldades
imagináveis e inimagináveis para resgatar, cuidar e encontrar um lar para eles. O que seria do
mundo sem vocês?
Por último, não por serem menos importantes, mas por serem protagonistas nesta
pesquisa. Dediquei este trabalho aos meus bebês, estejam presentes ou in memoriam,
agradeço de todo coração, pela companhia, pela dedicação e amor verdadeiro. Adotá-los, sem
sombra de dúvidas foi a melhor escolha que já fiz na vida, a minha única dúvida é, fui eu
realmente quem os adotei ou fui escolhida por vocês? Aos que continuam comigo, agradeço
por tornarem os meus dias mais fáceis e alegres. Aqueles que, por razões que me são alheias,
já não estão neste mundo, agradeço pelo tempo que me foi concedido para desfrutar de suas
companhias.
Faço uso das palavras do Prof. Marcel Camargo para descrever meus sentimentos e
encerrar os agradecimentos: "Perder um animal de estimação dói, machuca fundo, porque se
trata de uma relação em que o amor é verdadeiro, recíproco e incondicional. Amar os
animais é ter sentimento de volta, é retorno afetivo, transparência, verdade e inteireza. Eles
nos esperam, todo dia, sempre, sem se cansarem de nos olhar com admiração e respeito; e
tenho certeza de que eles, depois de partirem daqui, ainda nos esperarão. Ah, nosso
reencontro com esses bichinhos que tanto amamos será uma das festas mais lindas que o céu
testemunhará.".
“Os animais do mundo existem por suas
próprias razões. Não foram feitos para os seres
humanos, do mesmo modo que os negros não
foram feitos para os brancos, nem as mulheres
para os homens.”
Alice Walker
RESUMO
A proteção animal envolve para além de garantir o bem estar, o dever de salvaguardar a
garantia de direitos dos animais não humanos. No que se refere ao conceito de bem estar
animal, entende-se que este tem como princípio o dever do homem de cuidar bem dos animais
e este compromisso está respaldado pela ética, moral ou mesmo pela religião; deste modo
nenhum indivíduo deve causar dor e sofrimento desnecessário aos animais. Ante isto o
objetivo do presente estudo foi discutir a proteção aos animais em situação de abandono e
investigar como essa proteção tem se materializado no município de Iguatu – Ceará Trata- se
de uma pesquisa qualitativa, empregando as técnicas de pesquisa bibliográfica, documental e
entrevista. Teve como lócus a cidade de Iguatu - CE. Foram sujeitos dessa pesquisa gestores,
representantes do poder legislativo e líderes que possuem envolvimento com a causa animal.
Dos resultados foi possível constar que cada vez mais pessoas têm feito parte do rol dos
defensores dos animais, isso porque, já se entende que a vida digna é algo que não é direito
apenas do homem, mas de todo ser vivo; que o maior desafio enfrentado tanto pelo poder
público municipal, quanto para as entidades da sociedade civil, é o (des)controle populacional
dos animais e a falta de conscientização das pessoas para proteção. Concluiu-se que para que
haja a real concretização das políticas públicas existentes no município faz-se necessário a
implantação e implementação de novos serviços a serem desenvolvidas pelo poder públicos
para proteção animal. Para sua concretização, uma proposta de minuta de Projeto de Lei foi
elaborada, tratando-se, pois, de uma iniciativa popular que posteriormente poderá ser enviado
para apreciação da Câmara Municipal de Iguatu-Ce e assim os animais possam ter uma
proteção adequada e uma convivência digna com os humanos.
Animal protection involves, in addition to guaranteeing the well-being, the duty to safeguard
the guarantee of the rights of non-human animals. With regard to the concept of animal
welfare, it is understood that this has as a principle the duty of man to take good care of
animals and this commitment is supported by ethics, morals or even by religion; in this way
no individual should cause unnecessary pain and suffering to animals. In view of this, the aim
of this study was to discuss the protection of abandoned animals and investigate how this
protection has materialized in the municipality of Iguatu – Ceará. Its locus was the city of
Iguatu - CE. The subjects of this research were managers, representatives of the legislative
power and leaders who have involvement with the animal cause. The results showed thatmore
and more people have been part of the role of animal defenders, because it is understood that
a dignified life is something that is not only a right for man, but for every living being; that
the biggest challenge faced by both the municipal government and civil society entities is
the(dis) population control of animals and lack of awareness of people for protection. It was
concluded that for the real implementation of theexisting public policiesin the municipality it
is necessary to implement and implement new services to be developed by the public
authorities for animal protection. For its implementation, a draft draft Bill was prepared,
which is therefore a popular initiative that can later be sent for consideration by the
Municipality of Iguatu-Ce so that animals can have adequate protection and a dignified
coexistence with humans.
Key words: Animal protection. Domestic animals. Abandonment. Adoption. Iguatu – CE.
LISTA DE SIGLAS
PI Projeto de Indicação
PL Projeto de Lei
SC Santa Catariana
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13
2 PERCURSO METODOLÓGICO – DESVELANDO A PROTEÇÃO AOS ANIMAIS
EM SITUAÇÃO DE ABANDONO NO MUNICÍPIO DE IGUATU-CEARÁ ................. 16
2.1 Justificativa, Delimitação e Problematização do Objeto de Pesquisa ................................ 16
2.2 Percurso Metodológico ....................................................................................................... 19
3 ANIMAIS DOMÉSTICOS E DE ESTIMAÇÃO – SENSIBILIDADE E CIVILIDADE
.................................................................................................................................................. 23
3.1 ANIMAIS DOMÉSTICOS – sensível adaptação para o convívio em sociedade .............. 23
3.2 ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO - proteção animal e consequências do abandono ............... 29
4 A RESPONSABILIDADE DA SOCIEDADE E DO PODER PÚBLICO NA
PROTEÇÃO AOS ANIMAIS DOMÉSTICOS ................................................................... 35
4.1 DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS - A conquista de
direitos ...................................................................................................................................... 35
4.2 POLÍTICAS PÚBLICAS – Conceitos, aplicabilidade e proteção aos animais domésticos
.................................................................................................................................................. 40
5 POLÍTICAS DE PROTEÇÃO AOS ANIMAIS EM SITUAÇÃO DE ABANDONO –
UM OLHAR SOBRE A SOCIEDADE DE IGUATU-CEARÁ. ........................................ 49
5.1 Proteção e defesa dos animais no município de Iguatu – CE – As normatizações e ação do
poder publico e sociedade civil ................................................................................................ 49
5.1.1 Leis Municipais ........................................................................................................ 49
5.1.2 Atuação do Poder Executivo .................................................................................... 50
5.1.3 Atuação do Poder Legislativo .................................................................................. 58
5.1.4 Ações e posicionamentos das ONGS e Protetores ................................................... 61
5.2 Animais domésticos e de estimação: estratégias para proteção aplicadas, o exemplo de
outros países ............................................................................................................................. 67
5.3 Recomendações e estratégias para proteção no município de Iguatu – Ceará ................... 70
5.3.1 Programas e Projetos: justificativas para a implantação no município .................... 70
5.3.2 Proposta de Lei para implantação das estratégias .................................................... 82
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 90
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 93
APÊNDICES ........................................................................................................................... 99
APÊNDICE A – ENTREVISTAS SEMI ESTRUTURADAS ................................................ 99
APÊNDICE B – FORMULÁRIO .......................................................................................... 101
ANEXOS ............................................................................................................................... 103
ANEXO A — TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .................... 103
ANEXO B — LEI 431/1996 .................................................................................................. 106
ANEXO C — LEI 2505/2017 ................................................................................................ 116
ANEXO D — LEI 2652/2019 ................................................................................................ 118
ANEXO E — LEI 2840/2021 ................................................................................................ 122
ANEXO F — PROJETO DE INDICAÇÃO Nº 009/15 ......................................................... 132
ANEXO G — PROJETO DE INDICAÇÃO Nº 004/18 ........................................................ 136
ANEXO H — REQUERIMENTO 2020 ................................................................................ 139
ANEXO I — PROJETO DE LEI Nº 001/2021 ...................................................................... 140
ANEXO J — PROJETO INDICATIVO 08/2020 .................................................................. 177
ANEXO K — ONG ADOTA IGUATU (DENÚNCIAS)...................................................... 178
ANEXO L — ONG ADOTA IGUATU (CARTAZES) ........................................................ 180
ANEXO M — ONG VIRA LATA DE RAÇA (TERMO DE ADOÇÃO) ........................... 181
ANEXO N — SEDE DA ONG VIRA LATA DE RAÇA ..................................................... 182
13
1 INTRODUÇÃO
Por proteção animal compreendemos para além de acolher e assegurar o bem estar,
entendemos ser o dever de salvaguardar a garantia de direitos dos animais não humanos. No
tocante ao conceito de bem estar animal, entende-se que este tem como princípio o dever do
homem de cuidar bem dos animais e este compromisso está respaldado pela ética, moral ou
mesmo pela religião; deste modo nenhum indivíduo deve causar dor e sofrimento
desnecessário aos animais.
Apesar de haver pouca literatura nacional que discorra sobre os fatores associados à
proteção de animais em situação de abandono, esse tema é de grande importância para a
sociedade na atualidade, que precisa se empenhar e problematizar as relações entre o animal
humano e o animal não humano.
É nesta perspectiva que justificamos a realização da presente pesquisa que tem como
principal objetivo discutir a proteção aos animais em situação de abandono e investigar como
essa proteção tem se materializado no município de Iguatu – Ceará.
Na busca de alcance deste objetivo, fez-se necessário categorizar os animais
domésticos, caracterizando as relações com o ser humano; identificar os desafios postos as
organizações da sociedade civil e ao Poder Público para proteção aos animais domésticos em
situação de abandono; conhecer os fatores que dificultam ou facilitam a existência de politicas
públicas para proteção aos animais em situação de abandono; e como contribuição, buscamos
delinear estratégias de materialização de políticas públicas para proteção a estes animais no
município de Iguatu.
Para maior compreensão do leitor o TCC encontra-se estruturado em quatro capítulos
descritos a seguir:
O primeiro capítulo foi intitulado de Percurso Metodológico – Desvelando a proteção
aos animais em situação de abandono no município de Iguatu-Ceará, é nele onde se
encontram descritas a justificativa, a delimitação e a problematização do objeto da pesquisa,
assim como, o percurso metodológico.
No segundo capítulo procuramos apresentar aspectos da relação humano-animal, bem
como o percurso seguido desde a dominação animal até o momento em que este deixa de ser
considerado objeto e passa a ser animal de companhia e/ou membro da família. Para este
capítulo demos o título de Animais Domésticos e de Estimação – Sensibilidade e Civilidade.
O terceiro capítulo, A Responsabilidade da Sociedade e do Poder Público na Proteção
aos Animais Domésticos, aborda a Declaração Universal dos Direitos dos Animais
destacando sua importância para a elaboração das leis existentes hoje, analisamos ainda, como
se deu a conquista dos direitos dos animais não humanos.
15
E justamente por isso, me questionei muitas vezes, como e porque alguém pode abandonar
seres tão indefesos, qual a causa do abandono, porque o governo municipal nada faz para
mudar essa situação, de que forma posso contribuir para que a sociedade tome conhecimento
desse assunto.
Inicialmente uma pesquisa com essa temática me parecia impraticável dentro do curso
de Serviço Social. No entanto, levando em conta que o assistente social trabalha com as várias
expressões da questão social, atuando diretamente em auxiliar os sujeitos no alcance de sua
cidadania, e que inúmeras famílias sustentam vínculos através da relação que possuem com os
seus animais de estimação, além da percepção de que cuidando dos animais também se está
promovendo a saúde de todos em geral, pude enxergar a importância que o assistente social
tem em realizar ações que possam a vir a auxiliar as famílias e aos animais, contribuindo com
a sua intervenção profissional em prol do zelo a essas criaturas, mas também para a criação de
políticas públicas de proteção a estes, pois entendemos que, o bem estar destes está
diretamente ligado ao bem estar de seus tutores.
O profissional de Serviço Social trabalha diretamente com o sujeito e as várias
expressões da questão social, na realização de trabalhos preventivos com o usuário e por
vezes restaurador, que podem determinar o rumo histórico dele, de seus familiares e da
comunidade envolvida. Assim, como dito anteriormente, ao entender que os animais não
humanos agora fazem parte como membro da família, a luta pelos direitos destes deve ser tão
ferrenha quanto a luta pelos direitos dos humanos.
Válido referir que pouco se fala da atuação do Assistente Social no tocante aos direitos
dos animais, mas já existem profissionais atuando nesse campo em alguns estados brasileiros,
como são os casos de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, que ofertam o Serviço Social
especializado em atendimento em hospitais veterinários na política de proteção animal, mas a
atuação do Assistente Social frente a defesa e proteção animal vai além, podendo ligar-se as
políticas de saúde no caso dos Centros de Zoonoses ou de Assistência Social no caso do
CRAS. Este caso específico ainda é uma área pouco estudada pela Assistência Social, mas de
grande importância na atualidade, principalmente no tocante as políticas públicas. Essa área
profissional objetiva o atendimento dos usuários que se encontram desprovidos de renda e que
não tenham condições materiais para cuidar de seus animais de estimação quando estes
necessitarem de atendimento seja por motivo de doença ou por algum trauma sofrido. Este
trabalho possibilita a atuação intersetorial, onde o profissional do Serviço Social pode atuar
em parceria com profissionais da medicina veterinária e ONGs que auxiliem as famílias e os
animais neste caso específico, visto que, inúmeras famílias mantêm seus vínculos através da
19
relação que tem com seus animais, assim é importante que o assistente social encontre nesse
campo a melhor maneira de atuar junto a este usuário.
Cabe destacar que não é objetivo deste trabalho trazer a discursão ampla acerca da
atuação do profissional do Serviço Social, mas levantar o debate acerca da contribuição deste
profissional para que se possam implantar as políticas de proteção aos animais nos
municípios. Não há como negar que a luta por estes direitos devem fazer parte dessa atuação,
já que o assistente social tem seu papel indispensável na articulação entre Estado e sociedade
civil, atuando na gestão, execução e planejamento de políticas, programas e projetos.
Ante o exposto, o que buscamos através dessa pesquisa foi compreender de que forma
o município, na figura do Poder Público, está realizando ou venha realizar o enfrentamento do
abandono animal, promovendo assim a garantia dos direitos e a proteção dos animais não
humanos que se encontram abandonados nas ruas, visto ser essa realidade identificada na
cidade.
A pesquisa tem objeto delimitado nos “animais de companhia”, popularmente
denominados “animais de estimação”, haja vista que são os mais presentes nas vias urbanas.
Partindo da existência de inúmeros fatores de risco nesse ambiente, que resultam em
processos de adoecimento do animal; é necessário haver ações eficazes que objetivem, além
de sua proteção e retiradas das ruas, a prevenção do abandono.
É com base no que foi apresentado, que a pesquisa procurou identificar as ações de
promoção contra o abandono realizadas no município e analisar como o abandono desses
animais se reflete no cotidiano da sociedade.
A problemática do abandono deve ser enfrentada como algo sério e que envolve
diversos fatores: respeito à vida, controle das doenças transmitidas por e aos animais, e ainda
o reconhecimento da importância que animais domésticos desempenham na comunidade.
Tratando-se de animais domésticos, nós, temos o compromisso ético de garantir todos os
direitos já conquistados por eles e vigiar para que não venha a acontecer o descumprimento
destes direitos, o que acarretaria em transtornos para a sociedade num todo; sociedade esta
que já padece diante de tantas adversidades resultantes do descaso para com o sistema do qual
fazemos parte. Neste sentido, preservar a vida é dever de todos.
Quanto aos objetivos à pesquisa teve um enfoque exploratório, Godoy (1995), traz que
o pesquisador pretendendo desenvolver um estudo de caso deve estar acessível a novas
descobertas; ainda que o trabalho tenha início a partir de algum esquema teórico, deve
manter-se aberto a novos elementos e dimensões que poderão aparecer no transcorrer do
trabalho. Ainda segundo Godoy (2005), “O pesquisador deve também preocupar-se em
mostrar a multiplicidade de dimensões presentes numa determinada situação, uma vez que a
realidade é sempre complexa.”.
A pesquisa teve como lócus a cidade de Iguatu, município brasileiro do Estado do
Ceará que fica localizado na Região Centro-Sul do Estado, e caracteriza-se como o principal
polo econômico da região. Iguatu é berço do músico Eleazar de Carvalho e do compositor
Humberto Teixeira. É a cidade que mais possui cursos de graduação no Centro-Sul.
Iguatu dispõe atualmente, ao que concerne a proteção animal, de uma Secretaria de
Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal, um Centro de Controle de Zoonoses,
um Conselho Municipal de Proteção Animal e duas Organizações Não Governamentais. O
município hoje tem um grande número de animais em situação de abandono, mas conta com a
colaboração das ONGs Vira Lata de Raça e a Adota Iguatu.
Foram sujeitos dessa pesquisa, 2 representantes das ONGs de proteção animal do
município e seus protetores, 1 representante do Poder Executivo locado na Secretaria de Meio
21
Considerando o respeito pela dignidade humana e pela especial proteção devida aos
participantes das pesquisas científicas envolvendo seres humanos; Considerando o
desenvolvimento e o engajamento ético, que é inerente ao desenvolvimento
científico e tecnológico; Considerando o progresso da ciência e da tecnologia, que
desvendou outra percepção da vida, dos modos de vida, com reflexos não apenas na
concepção e no prolongamento da vida humana, como nos hábitos, na cultura, no
comportamento do ser humano nos meios reais e virtuais disponíveis e que se
alteram e inovam em ritmo acelerado e contínuo; Considerando o progresso da
ciência e da tecnologia, que deve implicar em benefícios, atuais e potenciais para o
ser humano, para a comunidade na qual está inserido e para a sociedade, nacional e
universal, possibilitando a promoção do bem-estar e da qualidade de vida e
promovendo a defesa e preservação do meio ambiente, para as presentes e futuras
gerações; Considerando as questões de ordem ética suscitadas pelo progresso e pelo
avanço da ciência e da tecnologia, enraizados em todas as áreas do conhecimento
humano; Considerando que todo o progresso e seu avanço devem, sempre, respeitar
a dignidade, a liberdade e a autonomia do ser humano; [...]. (CNS nº 466, 2012)
1
Publicada no DOU nº 12 – quinta-feira, 13 de junho de 2013 – Seção 1 – Página 59. Disponível em:
<http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf >
23
O apego entre nós humanos e os animais é cada vez mais intenso e ainda é complicado
compreender como essa ligação emocional acontece. No entanto, não é de hoje que os
animais vêm deixando de ser uma simples companhia e passam a fazer parte de nossas vidas
como componentes essenciais da família. Trata-se de sentimentos que a ciência ainda não foi
capaz de desvendar totalmente, e é provável que esse seja o motivo que tem despertado
interesse por parte da população em defendê-los.
Referenciando-nos nesta assertiva, neste capítulo, apresentamos alguns aspectos da
relação entre os homens e os animais, descrevendo o percurso desde a dominação destes seres
pelos homens nas antigas civilizações para seu próprio benefício, perpassando sua adaptação
ao convívio humano, saindo de mero objeto de trabalho e fonte de alimentação humana até
tornar-se um animal de companhia e membro da família.
Animais domésticos são aqueles que convivem e estão acostumados com a presença
humana, como os cães, gatos, cavalos, entre outros. Segundo o site Perito Animal (2020),
"trata-se de um grupo de animais que ao longo história foi natural e geneticamente
selecionado pelo seu convívio com humanos e possuem algumas características comuns”.
Conforme o mesmo site, mesmo quando um animal é considerado doméstico não quer dizer
que este possa viver em uma casa e ser considerado de estimação, haja vista que
Animais domésticos, na verdade, são animais que foram domesticados pelo ser
humano, o que é diferente de domados. São todas aquelas raças e espécies
selecionadas ao longo da história que foram natural ou geneticamente adaptadas para
conviver com o ser humano. De acordo com estudo publicado pelo Programa
Brasileiro de Conservação de Recursos Genéticos Animais, muitas das raças de
animais domésticos no Brasil se desenvolveram a partir de espécies e raças que
foram trazidas pelos invasores colonizadores portugueses e após um processo de
seleção natural foram aperfeiçoando características adaptadas ao ambiente.
(PERITO ANIMAL, 2020)
24
Vale ressaltar que, quando falamos de animais domésticos de maneira geral, nessa
denominação estão inclusos cavalos, coelhos, vacas, aves e uma variedade de outros animais.
Destacamos ainda, que animais domésticos não precisam estar abrigados diretamente no
interior da casa, mas no ambiente doméstico (chácaras, fazendas, etc.).
Os animais domésticos há muito tempo convivem com os seres humanos, contudo não
tinham a atenção e dispêndio de tempo de seus donos, só recentemente passando a serem
vistos de formas diferentes, pois passaram a ocupar um lugar de estima, diversão, de afeto e
não mais servindo como mão de obra e auxilio nas tarefas laborais e domésticas (THOMAS,
2010 apud SILVA, 2016, p.6-7).
Entretanto, a relação homem-animal nem sempre foi pacífica, uma vez que existe
historicamente uma ótica antropocêntrica acerca do homem, e este sempre foi visto como
centro do universo. Assim, considerava-se que o mundo deveria ser compreendido a partir da
relação com o ser humano e, portanto, tudo mais que há no planeta, existe para servir ao
homem.
como linguagem, comunicação e razão, visto que, assim como o homem, os animais sofrem,
sentem dor, fome, frio e mesmo que não se compreenda totalmente sua linguagem, estes tem
capacidade de exprimir sentimentos.
É preciso entender que o direito a vida digna é intrínseco não somente ao homem,
mas de todo ser vivo. Assim sendo, faz-se necessário a adoção de uma visão voltada ao
biocentrismo, onde todas as formas de vida são igualmente importantes, não sendo a
humanidade o centro da existência, pois os animais não humanos também necessitam de
proteção do Poder Público não somente como forma de trazer benefícios ao homem, mas para
a proteção efetiva desses.
Em verdade, o apego entre nós humanos e os animais é de enorme complexidade,
também é cada vez mais intenso, embora complicado compreender como essa ligação
emocional acontece, o que se sabe é que com o passar dos anos os seres humanos e os animais
não humanos aprenderam a conviver uns com os outros e esse convívio trouxe inúmeras
vantagens. Tornaram-se companheiros e a relação entre os humanos e os animais, passou a ser
uma relação especial de cumplicidade e respeito. (CAETANO, 2010, p.16).
Sobre o início do convívio do homem com o animal, Levinson, (1969) colocou ser
impossível demarcar quando o homem começou a domesticar os animais e a usá-los
como animais de estimação. Acredita-se desde um período de 8.000-20.000 anos
atrás. As evidências de DNA quanto à domesticação sugerem que os cães se
originaram há aproximadamente 135.000 anos e que ocorreram retrocruzamentos
ocasionais. Foram encontradas evidências de existência de cães na caverna
Palegawra, no Iraque, datando de 10.000-12.000 anos atrás. Em Ein Mallaha, no
norte de Israel, cientistas escavaram um túmulo que datava de 9.350 – 9.750 anos
a.C., que continha restos mortais de um humano idoso, provavelmente uma mulher,
e um cãozinho de 3-5 meses de idade (Beaver, 1999). Acredita ser a era glacial –
aproximadamente há dez mil anos, como o período em que o homem
verdadeiramente começou a interferir no seu ambiente e a destruí-lo.
Significativamente, o povo que era, então, mais avançado na modificação do
ambiente, os Natufienses da Palestina, que viveram no que é a localização presente
de Jericó, tinham domesticado o cachorro e, possivelmente, a cabra a
aproximadamente 6300 a.C. A domesticação dos cães selvagens se deu pelo fato de
o homem alimentá-los quando eles invadiam a área de seus acampamentos. O
mesmo autor acredita que as razões para adoção de animais também podem ser
simbióticas e indubitavelmente o cão é o simbionte mais antigo em nossa história.
Com isso também se restabelecia o laço com aquela omnisciência inconsciente por
nós chamada de natureza e o animal funciona como um instrumento para o retorno
desse contato mais próximo. (FUCK, E. J. et al., 2006 apud SOS ANIMAL, 2008)
26
Ressalta Faraco (2004 apud ALMEIDA; ALMEIDA; BRAGA, 2009, p.1), que a
criação de animais de estimação é uma característica comum da sociedade humana. A relação
entre humanos e estes animais é uma entidade complexa, originada no início da história da
humanidade e mantida desde o começo da domesticação de animais até hoje, graças a seus
sentimentos peculiares.
A atual e emergente mudança de paradigma se baseia nas novas idéias protetivas dos
animais advindas tanto de ponderáveis posicionamentos de grandes homens, como
os do líder pacifista indiano Mahatma Gandhi, das lutas das entidades protetoras dos
animais ao redor do mundo, quanto de sólidos estudos oriundos de especialistas
vinculados, ou não, a instituições científicas e universidades que passaram a
defender uma nova postura ética do ser humano diante dos animais. (SANTANA;
OLIVEIRA, 2006, apud TINOCO; CORREIA, 2010, p. 173).
Embora haja pouca literatura nacional que discorra sobre os fatores associados à
relação animal humano e animal não humano, é possível encontrar trabalhos que façam esta
relação. E como traz Silva (2016, p. 8) dentre os trabalhos que podem ser encontrados, em sua
maioria “tratam de uma forma geral sobre os benefícios e malefícios advindos dessa relação
sob uma ótica humana e utilitária, que podemos dividir aqui em três grandes grupos; Terapia
Assistida por Animais, Zoonoses e Medicina Veterinária”.
Quando falamos nos benefícios do convívio entre humano e animais não humanos,
ainda se tem uma visão de que os animais servem aos humanos, mas de uma maneira menos
agressiva e menos objetificada que antigamente, visto que há uma preocupação com o bem
estar do animal.
27
Caetano (2010), em concordância com Silva (2016) argumenta que os benefícios vêm
se multiplicando, vindo o animal a contribuir na terapia e reabilitação de crianças com
deficiências e de idosos com doenças senis, dentre outros benefícios para adolescentes e
adultos:
Para além dos benefícios terapêuticos, a interação entre humanos e animais não
humanos, traz inúmeros beneficies para aqueles que desfrutam de seu convívio. Como
apresenta Berzins (2000 apud MARTINS, 2013, p. 26) “o convívio com o animal de
estimação pode resultar em alívio para situação tensa, disponibilidade ininterrupta de afeto,
motivo de risadas, companhia constante, amizade incondicional, contato físico, proteção e
segurança e ocupação do tempo”. Assim, “O animal passa a fazer parte da dinâmica familiar,
sendo considerado um “indivíduo” que apesar da inferioridade biológica participa, de alguma
2
AAA - Atividade Assistida por Animais. Ver mais em: http://ateac.org.br/tag/atividade-assistida-por-animais/
28
forma, da vida emocional de pelo menos um dos integrantes da família” como podemos
observar a percepção de Staling (2009 apud Martins 2013, p.25).
A psicóloga Thaiana Brotto, do blog Psicólogo e Terapia cita alguns benefícios da
presença dos animais de estimação para a saúde mental, dentre eles estão a cura da solidão,
restauração do amor próprio, diminuição do estresse e da depressão, motivação e melhoria da
vida social, desenvolvendo a responsabilidade e trazendo felicidade. “Seja levando o seu
animal para um passeio, treiná-lo, ou simplesmente curtir a sua companhia, todas elas são
formas saudáveis da mente estar ocupada e em contato direto com estas funções” (BROTTO,
2020). Para ela esses benefícios são fundamentais para que se tenha boa saúde mental e
emocional, além da corporal.
Por outro lado, Silva (2016, p. 8) argumenta que “para as pesquisadoras Kitagawa e
Coutinho (2004), em suas avaliações, apesar dos benefícios possíveis advindos dessas
relações, a saúde do animal deve ser uma preocupação, pois pode tornar-se um malefício, com
a transmissão de zoonoses”. Portanto, o cuidado com estes animais a princípio não se dá
exclusivamente por seu bem estar, mas também por receio de que esta convivência possa
causar malefícios aos humanos. Estes surgem em sua maioria como consequência de maus-
tratos e abandono.
Conforme Alves (et al, 2013) no Brasil e na América Latina o abandono animal é
frequente, e a presença destes em locais públicos sem que recebam cuidados veterinários e
sem qualquer supervisão, trazem diversas consequências negativas. O referido autor explica
ainda que, o abandono destes animais é apontado como uma potencial ameaça “nas áreas de
saúde pública (devido as zoonoses), social (desconforto com relação ao comportamento
animal), ecológico (principalmente, no que se refere ao impacto ambiental) e econômico
(custos com a estratégia de controle populacional)”.
Dado o exposto, compreende-se que a domesticação partiu de uma necessidade
humana de convivência com outras espécies da natureza, trazendo a relação humana com o
animal inúmeros benefícios, pois o ser humano passa a se refletir como ser de relações, e o
convívio dos animais em ambiente doméstico traz uma garantia de afeto e segurança
inexistentes nas relações exclusivamente humanas, isso porque os animais oferecem
29
companhia, atenção e afeto sem que pra isso exijam nada de nós, eles oferecem um amor
incondicional pelos seus tutores. Portanto, é necessário que entendamos que os animais não
humanos são também merecedores de cuidados e proteção, abandoná-los além de cruel, é um
ato de irresponsabilidade.
não posso levar”, “estou grávida e meu bebê pode ser alérgico”, entre outros. Luísa Mell3,
uma das maiores ativistas de proteção animal no Brasil, declara que os períodos de férias
escolares e as festas de fim de ano são épocas recordistas de abandono, isso porque os
“proprietários” viajam e alegam não ter com quem deixar ou não querem ter gastos com
hotéis para hospedagem de animais, e acabam por optar pelo descarte.
Vale ressaltar que os animais sem raça definida não são as únicas vítimas de abandono,
aqueles comprados em pet shops com pedigree ou de raça (como são comumente conhecidos),
também acabam sendo rejeitados. O abandono animal ocorre constantemente e acabou
tornando-se comum em todo o mundo, mas é preciso que como sociedade, percebamos que a
proteção desses animais também é de nossa responsabilidade. É perceptível o aumento na
quantidade de leis relacionadas ao bem estar dos animais, tanto nas três esferas do poder
público, e a maioria delas ocorreu devido a pressão exercida pelos diversos âmbitos da
sociedade.
Animais em situação de rua são em sua maioria itinerantes, pois estão sempre
mudando de um lugar para outro em busca de abrigo, comida e até mesmo de afeto. Estes
animais acabam muitas vezes contraindo zoonoses e parasitas, podem ocasionar acidentes,
vindo a sofrer atropelamentos. Por se encontrarem assustados e como frequentemente sofrem
maus tratos, acabam se tornando agressivos e esse agravo acaba causando receio em
moradores, fazendo com que estes reproduzam ainda mais as violações dos direitos desses
animais.
A sociedade precisa entender que abandonar um animal a mercê da própria sorte
acarretará problemas para si mesmos, pois o abandono cria uma problemática enorme no que
se refere à saúde pública. A população de cães e gatos quando não recebem os cuidados
necessários podem contrair para si, e transmitir ao humano, doenças como a leishmaniose e a
raiva e isso é divulgado incessantemente nas mídias. Além disso, temos o fato do qual as
pessoas não possuem conhecimento, os animais não trazem apenas riscos à saúde, em contra
partida, quando acolhidos e recebem carinho trazem benefícios indescritíveis. Extinguir o
abandono animal é ainda um grande desafio, é preciso de início que esta problemática seja ao
menos reduzida o que já é um desafio enorme com resultados em longo prazo.
Apesar de ser uma luta árdua, os movimentos em prol da proteção dos animais tem
buscado a efetivação dos direitos basilares de igualdade, haja vista que, assim como os seres
humanos estes animais têm direito a vida digna.
3
Luísa Mell é formada em direito, é apresentadora e uma das ativistas/defensora pró-animais mais conhecida do
país. Ver mais em: https://luisamell.com.br/ Acesso em: 31 jun. 2021
31
Por proteção são dadas diversas definições, porém as que dão significado ao sentido
que será abordado neste trabalho estão no dicionário online Michaelis4, apresentadas como: 1
- Ato ou efeito de proteger. 2 - Ato de proteger alguém ou algo de um perigo, de um mal etc.
Entendendo ser a proteção aos animais exercício dos seres humanos, cabe destacar que
apego aos animais é de enorme complexidade, sendo também cada vez mais intenso e difícil
compreender como essa ligação emocional acontece. No entanto, não é de hoje que os
animais vêm deixando de ser uma simples companhia e passam a fazer parte de nossas vidas
como partes essenciais da família. Trata-se de sentimentos que a ciência ainda não foi capaz
de desvendar totalmente, e é provável que esse seja o motivo que tem despertado interesse por
parte da população em defendê-los.
O problema é que algumas pessoas se deixam levar pela empolgação, e acabam
adquirindo animais simplesmente por acharem bonitos, por desejarem um cão ou gato de uma
determina raça ou ainda, por terem ganhado de presente. Não há um planejamento para criar
um animal e por isso muitas vezes os tutores não tem ideia da responsabilidade que a tutela
deste animal exige e por não conseguirem despertar uma ligação de afeto com o animal
acabam os abandonando, como argumenta Santana:
Mesmo assim a tutela de animais de estimação no Brasil é bastante alta. Uma pesquisa
divulgada pelo IBGE em 2015 aponta que:
4
Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/
32
Observar estes dados torna a declaração dada pela Organização Mundial da Saúde um
tanto alarmante, pois segundo a OMS - estima-se que somente no Brasil mais de 10 milhões
de gatos e 20 milhões de cães estejam em situação de abandonado, ou seja, mais de 30
milhões de animais abandonados. Para aqueles que trabalham de algum modo com a proteção
animal, é difícil perceber quão grande é a quantidade de animais “esquecidos” nas ruas. As
pessoas parecem não lembrar que a partir do instante em que trazem o animal para conviver
junto a si, estão assumindo deveres morais para com estes. Como dito antes, o animal de
companhia estabelece laços de afetividade em relação ao grupo familiar ao qual foi
introduzido e, portanto, são dignos de uma vida descente.
A preocupação com o bem estar animal não vem de hoje, diversos são os escritores e
filósofos ao longo da história que defenderam esta ideia. Para Schopenhauer, aquele que é
cruel com os animais não pode ser um bom homem, pois para ele a compaixão pelos animais
está intimamente ligada a bondade de caráter. Nietzsche dizia que as mentes mais profundas
de todos os tempos sentiram compaixão pelos animais. Kant compartilhava da mesma ideia,
pois para ele se o homem não deve reprimir seus sentimentos, terá então que praticar a
amabilidade com os animais, já que aquele que é cruel com os animais se torna rude em seu
trato com os homens. Pode-se julgar o coração de um homem pelo tratamento dado aos
animais. Voltaire considerava inacreditável e vergonhoso que nem virtuosos nem moralistas
elevassem sua voz contra os abusos aos animais. Reflexões como estas influenciaram e ainda
influenciam pensadores e amantes da vida animal.
Paradoxalmente, o homem numa visão antropocêntrica e desatualizada ainda é visto
como centro do universo, considerando-se superior as demais espécies de animais acreditando
que tudo mais que habita o planeta existe para servi-lo. No entanto, Regan (2006) nos traz
algumas interrogações e nos faz refletir sobre elas: Existem entre os bilhões de animais não
humanos aqueles conscientes do mundo e do que acontece a eles? Caso a resposta seja
positiva, ele traz uma nova interrogação: o que acontece a estes é importante, mesmo que
ninguém mais se preocupe com isso? Então, se existem animais que atendam a esta condição,
estes são sujeitos de uma vida e, portanto, são dignos de direitos assim como nós, animais
humanos.
Em seu livro intitulado Jaulas Vazias, Regan (2006) afirma que: ser bondoso com os
animais e evitar a crueldade para com estes, não é suficiente. Afirma ainda que independente
33
Desfavorável a esta concepção Agostini (2014, p. 34) afirma que a aproximação entre
humanos e animais de companhia não foi vantajosa para os cães e os gatos, isto porque se
tornaram dependentes, perdendo o instinto de sobrevivência autônoma. Assim, acabam
impossibilitados de sobreviver por conta própria, ainda mais considerando que os animais em
situação de abandono vivem em sua maioria na zona urbana e “o ambiente urbano, com suas
especificidades, também não colabora para a superação das dificuldades encontradas em viver
pelas ruas”.
Na Declaração Universal dos Direitos dos Animais, o abandono animal é considerado
um ato cruel e degradante ao qual nenhum animal deve ser submetido, estando esta afirmativa
expressa no Art. 6. Entendendo-se por abandono, como já expresso e conforme o dicionário
Michaelis, 1- Ação ou efeito de abandonar. 2 - Ato ou efeito de desistir, renunciar, deixar para
trás; afastamento, desistência, renúncia.
Na atualidade constatamos a existência de diversos órgãos de proteção animal. Estes
em sua maioria são organizações sem fins lucrativos, que se mantêm ativos através de
doações, com atendimento em primazia a animais em situação de rua, pois estão entre os que
recebem menor proteção pelas ações do governo, que em virtude da crescente expansão dos
movimentos em defesa dos animais contrariamente foi irresponsabilizando-se do
acompanhamento e cooperação para com estas instituições ao tempo que também fugia de
suas responsabilidade enquanto poder publico para com estes seres.
Em verdade, essa desresponsabilização não está somente a cargo do poder público,
mas também da sociedade em geral e das ciências sociais, como podemos ver em argumento
de Lewgoy, Sordi e Pinto (2015, p.82),
34
A proteção animal abrange tanto assegurar o bem estar, quanto a garantia de direitos
dos animais não humanos. Existe entre os conceitos de bem estar animal e direitos animais
uma diferença determinante, pois o bem estar animal tem como princípio que o homem tem a
obrigação de cuidar bem dos animais e este dever estar respaldado pela ética, moral ou
mesmo pela religião; assim nenhum indivíduo deve causar dor e sofrimento desnecessário aos
animais. Já os Direitos dos animais tem uma argumentação diferente, onde os animais são
vistos como seres que possuem status ético e moral como os animais humanos, portanto, estes
não devem ter apenas a proteção do seu direito de bem estar, devem sim, ser reconhecidos
como parte do sistema legal e possuir seus próprios direitos.
Neste capítulo discutimos os direitos dos animais a partir da Declaração Universal dos
Direitos dos Animais, enfatizando como este documento foi primordial para a criação das
legislações vigentes. Também resgatamos a visão de estudiosos que há anos afirmavam que
os animais não são meros objetos. Por fim, analisamos como se deu a conquista dos direitos
desses animais não humanos e refletimos sobre as políticas de proteção existentes.
Talvez chegue o dia em que o restante da criação animal venha a adquirir os direitos
que jamais poderiam ter-lhe sido negados, a não ser pela mão da tirania. Os
franceses já descobriram que o escuro da pele não é razão para que um ser humano
seja irremediavelmente abandonado aos caprichos de um torturador. É possível que
um dia se reconheça que o número de pernas, a vilosidade da pele ou a terminação
do osso sacro são razões igualmente insuficientes para abandonar um ser senciente
ao mesmo destino. O que mais deveria traçar a linha intransponível? A faculdade da
razão, ou, talvez, a capacidade da linguagem? Mas um cavalo ou um cão adultos são
incomparavelmente mais racionais e comunicativos do que um bebê de um dia, de
uma semana, ou até mesmo de um mês. Supondo, porém, que as coisas não fossem
assim, que importância teria tal fato? A questão não é ‘Eles são capazes de
raciocinar?’, nem ‘São capazes de falar?’, mas, sim, ‘Eles são capazes de sofrer?'
36
Diversos são aqueles que criticam os defensores dos direitos dos animais, usando
como argumento a ideia de que a energia e o dinheiro gastos com animais poderiam ser
transformados em atenção a pessoas carentes. No entanto, é um argumento fácil de rebater
visto que, não há nenhuma garantia de que aqueles que usam seu dinheiro e seu tempo para a
proteção animal, o fariam em defesa de outras causas. Outro aspecto a respeito da crítica é
que defender o direito dos animais não quer dizer que seja contra o direito humano, isso
porque como dizia Darwin: “Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas
suas faculdades mentais. Os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor,
felicidade e sofrimento.”. Assim,
A proteção aos animais também foi preocupação do Chefe Seattle da Tribo Duwamsh,
que no ano de 1854 escreveu uma carta ao então presidente americano Franklin Pierce, e em
um determinado trecho dela dizia que:
O homem branco deverá tratar os animais como seus irmãos. Sou selvagem e não
compreendo outro modo de vida. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo nas
pradarias, mortos a tiros pelo homem branco da janela de um comboio em
andamento. Sou selvagem e não compreendo como uma máquina fumegante pode
ser mais importante que o bisão que nós só matamos para sobreviver. O que seria do
homem sem os animais? Se todos os animais desaparecessem, os homens morreriam
de uma grande solidão de espírito. Pois tudo o que acontece aos animais, logo
acontecerá com o homem. Tudo está ligado.
Os direitos dos animais não humanos estão expressos na Declaração Universal dos
Direitos dos Animais, tida como um dos documentos mais importantes quando se trata de
direitos dos animais, em seu preâmbulo encontramos as considerações a cerca dessa
problemática.
A Declaração Universal dos Direitos dos Animais apesar de bastante difundida não se
trata, infelizmente, de um documento legitimamente reconhecido por nenhuma organização
em caráter oficial.
O texto, após diversas críticas, mais uma vez passou por revisão e grandes
alterações. A Declaração, contudo, nunca foi adotada por nenhuma organização
internacional de caráter oficial, o que lhe conferiria maior difusão e força moral
(NEUMAN, 2012, p. 387).
Mesmo não reconhecida como deveria, a DUDA dá respaldo as diversas Leis, decretos
e ementas que tratam da defesa animal além de credibilidade no âmbito do Direito na espera
de superar a ética antropocêntrica em prol da biocêntrica que é uma perspectiva pautada no
valor da vida e em seus aspectos. Nessa perspectiva,
A Declaração Universal dos Direitos dos Animais por ter sido usada como base para
livros e artigos publicados nacionalmente acerca do assunto tem sido base para diversos
dispositivos legais no Brasil.
No que diz respeito aos direitos dos animais no sistema jurídico brasileiro, este veio
evoluindo de maneira mais acentuadamente na segunda metade do século XX aprimorando o
Decreto nº 24.645/34 que já trazia:
38
No entanto, Moreira Filho (2015, p 55) traz que este decreto não deveria ser
mencionado “para dar sustentação a qualquer procedimento visando à proteção aos animais
ou à penalização pela ocorrência de maus-tratos aos animais”, uma vez que esta teria sido
revogada por ato normativo presidencial de janeiro de 1991, mas
[...] outros autores divergem dessa posição, já que, como o referido decreto possui
natureza de lei (Decreto-lei), o mesmo não poderia ter sido revogado pelo Decreto
11/91, visto que este constitui-se apenas em Decreto, não possuindo natureza de lei.
E pela hierarquia do sistema escalonado adotado pelo ordenamento jurídico
brasileiro, um decreto não pode revogar uma lei (ou revogar um decreto com
natureza de lei). (MOREIRA FILHO 2015, p 55)
De acordo com Levai (2004 apud MOREIRA FILHO, 2015, p 55), o Decreto
24645/34 não foi revogado e, portanto, “as situações de maus-tratos ali contempladas possam
ser definidas, atualmente, sob a ótica de crime ambiental”. No Art. 3º do mesmo Decreto
encontram-se relacionados os itens que caracterizam o que vem a ser maus tratos. A D.U.D.A
também trata em seu Art. 3º que nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos
cruéis. O Art. 6º desta mesma declaração traz que o abandono de um animal é um ato cruel e
degradante e ainda que, todo o animal que o homem escolheu para seu companheiro tem
direito a uma duração de vida conforme a sua longevidade natural. O abandono é crime
previsto no Art. 32 da Lei Federal 9605 de 12 de Fevereiro de 1998. Esta lei
Mesmo diante das disposições legais citadas, o tema Direitos dos Animais, talvez,
nunca tenha sido tão discutido e estado tão presente nas agendas da sociedade brasileira, seja
na esfera institucional, dos movimentos sociais e principalmente na vida cotidiana.
Significa dizer que mesmo com os avanços que as leis brasileiras de proteção e defesa
animal, porém ainda lenta, é necessário que esse despertar tardio esteja acompanhado de
ações efetivas por parte do Poder Público, sobretudo daqueles que tem suas ações voltadas a
seara jurídica, pois a estes cabe o dever de se fazer valer definitivamente os direitos dos
animais não humanos. É indispensável frisar que enquanto indivíduos dotados de direitos e
deveres, temos a responsabilidade de conhecer e estudar nossas legislações, assim poderemos
participar de maneira satisfatória na elaboração de novas leis. É preciso lutar e exigir que
sejam abertos espaços de formulações, críticas e opiniões sobre o que deve ser estabelecido, já
que é a sociedade como um todo que está inserida neste contexto.
40
Mead (1995) a define como um campo dentro do estudo da política que analisa o
governo à luz de grandes questões públicas. Lynn (1980) a define como um conjunto
específico de ações do governo que irão produzir efeitos específicos. Peters (1986)
segue o mesmo veio: política pública é a soma das atividades dos governos, que
agem diretamente ou através de delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos.
Dye (1984) sintetiza a definição de política pública como “o que o governo escolhe
fazer ou não fazer”. (SOUZA, 2002, p.5)
5
Ver mais em: http://dicocitations.lemonde.fr/pensamentos/citacao-autor-albert_schweitzer-0.php. Acesso em:
27 dez 2020.
41
Depreende-se assim que as Políticas Públicas são ações que visam solucionar um
problema público ou beneficiar uma determinada população com ações que preservem seus
direitos no que se refere à integridade física e psicológica e elevem a sua qualidade de vida.
No Brasil as garantias de direitos estão expressas na Carta Constitucional de 1988,
nesta o Artigo 225, declara que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações”. No paragrafo primeiro do referido artigo item VII a carta constitucional ainda
reitera que para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público, “VII -
proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua
função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”.
Do exposto conclui-se que a Constituição Federal assegura a garantia de uma
qualidade de vida não apenas aos humanos, mas também para a fauna (animais) e a flora
(vegetais) brasileiros. Na direção desse direito, a defesa dos animais principalmente os
domésticos se faz imprescindível, uma vez que são seres com capacidade de sentir prazer, dor
e demonstrar afeto, estabelecendo relações de companheirismo, afetividade, lazer, segurança,
terapia e etc.
O direito dos animais e consequentemente políticas públicas voltadas para este público
ainda são restritas em nossa sociedade. Há, no entanto, muitas propostas de formulação de
políticas de proteção (algumas até já postas em prática em determinados estados brasileiros) e
já existe intervenção pública quando se refere a problemas relacionados às zoonoses. A cidade
de Bagé no Estado do Rio Grande do Sul é um dos maiores e melhores exemplos de
município onde as políticas públicas para animais domésticos funcionam. Bortoluzzi e Duarte
(2016) apresentam a política desenvolvida em Bagé, em pesquisa realizada que resultou na
identificação de inúmeras “ações no que se refere a animais domésticos abandonados ou não,
confirmando o empenho na resolução do problema por parte do governo municipal de Bagé,
através da Coordenadoria de Bem Estar Animal em convênio com o NBPA, Núcleo Bageense
de Proteção aos Animais”.
6
Legislação Informatizada - DECRETO Nº 24.645, DE 10 DE JULHO DE 1934 - Publicação Original. Ver mais
em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-24645-10-julho-1934-516837-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 07 abr. 2020
43
suas intenções e propostas eleitorais, que resultarão em projetos e ações que farão mudanças
em âmbito regional, nacional ou até mesmo internacional.
De acordo com Santana (2004, p. 536), anteriormente as políticas públicas estavam
mais voltadas para o combate à disseminação de doenças e aos acidentes provocados pelos
animais. Foi a partir de 1990, quando houve a conclusão de que a presença de animais nas
ruas tinha sua origem, sobretudo do excesso de nascimentos, as autoridades passaram a se
preocupar com a questão da superpopulação e consequente abandono. Ainda segundo Santana
(2004, p. 536) As políticas até então adotadas podem ser divididas em duas etapas bem
delineadas que as caracterizam: a primeira etapa, que pode ser intitulada como fase da captura
e extermínio; e a segunda etapa, que poderia ser descrita como fase da prevenção ao abandono.
É sabido que no Brasil por décadas o controle de animais, principalmente os cães, em
situação de rua ou que apresentassem alguma zoonose era realizado pelo Centro de Controle
de Zoonoses (CCZ), no entanto esse controle era (e ainda acontece em algumas localidades)
feito de maneira indiscriminada. Os animais eram recolhidos das ruas e levados para sede do
CCZ sem que houvesse qualquer averiguação que determinasse que o animal fosse realmente
de rua ou se estava na rua por algum outro motivo. Os animais que ali se encontravam,
quando não adotados, eram exterminados. Ocorrências assim eram frequentes e acreditou-se
por muito tempo que esta fosse a melhor forma de se combater o aumento da população
desses animais. Essa ideia equivoca de extermínio em massa partiu da OMS, que sustentava o
pensamento de que com o recolhimento continuado dos animais que estavam nas ruas não só
diminuiria essa população como também, promoveria uma diminuição ou ao menos o controle
de algumas das zoonoses como a raiva e o calazar.
Atualmente, é notório que esse “controle” de nada adiantava, trata-se apenas de mais
uma crueldade a qual os animais estavam sujeitos. O que de fato pode e deve ser feito é um
controle humanista, que já é realizado em determinadas regiões do Brasil e do mundo.
Pontes (2012) traz que o desenvolvimento de políticas públicas voltadas aos direitos
dos animais tem um caminhar lento em seus primeiros andares, mas que é firme e consistente
em sua direção. Entendendo que política pública é uma diretriz voltada para resolução de um
problema público, muitos são os modos como o poder público pode intervir nessa
problemática. Hoje, alguns municípios brasileiros possuem suas próprias leis e diretrizes
voltadas à proteção do animal doméstico, principalmente daqueles que se encontram em
situação de abandono.
Faz- se indispensável trazer alguns dados que nos norteiem sobre o rápido ciclo de
reprodução de caninos e felinos. Segundo o site SOS Bichos de rua, uma cadela não castrada,
44
estará prenha e parindo os filhotes em qualquer lugar duas vezes por ano. Esses filhotes darão
início a uma sobrevida na rua, e os filhotes do sexo feminino em 6 meses, estarão gerando
novas ninhadas. A cria de uma única cadela cresce numa curva exponencial. Em 10 anos ela
pode ter mais de 80 milhões de filhos, netos e bisnetos. Na mesma situação, uma gata e seus
filhotes até 67 mil em 6 anos.
A fim de evitar a procriação sem controle, o governo de algumas cidades do país junto
com órgãos de proteção animal, criaram políticas de intervenção sobre esta problemática a em
âmbito municipal e incentivam a realização de castração desses animais. Como acontece nos
municípios de Bagé e Porto Alegre.
Para que se possa ter um controle eficaz e sem que para isso seja necessário causar
sofrimento aos animais, faz-se mister conhecer a população de rua, já que ela é consequência
do abandono de animais. Segundo Vasconcelos (2014), existe um software que foi
desenvolvido por um grupo de pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da
USP. Este software tem como finalidade estimar o tamanho da população de cães e gatos
existentes em cidades brasileiras, o propósito é que este venha a ser utilizado por órgãos
públicos para que haja uma prevenção de abandono, manejo reprodutivo e que se possa
controlar o fluxo migratório desses animais. Isso porque o controle da reprodução e a
ampliação da taxa de animais imunizados são comprovadamente ações mais efetivas que o
extermínio.
7
Deputado Federal pelo Ceará – Cearense, Ambientalista, Defensor dos animais, advogado e Fundador do
Instituto Politizar (ONG de Educação Política sem fins partidários ou ideológicos).
45
Há no Estado a Lei nº 16.667/18 que foi criada a partir do projeto de lei nº 213/20188,
com o intuito de sensibilizar a população sobre os maus-tratos a animais, esta Lei institui 4 de
outubro (data que integra o Calendário Oficial de Eventos do Estado do Ceará) como dia
estadual de combate a essa prática. Ainda em 2018, o Ceará ganhou sua primeira delegacia
especializada em Proteção ao Meio Ambiente (DPMA)9, a unidade fica situada em Fortaleza e
funciona no bairro Aeroporto, no Complexo de Delegacias Especializadas da Polícia Civil.
Essa conquista veio a partir da reivindicação que protetores de animais fazem há anos.
Compreende-se que a luta em defesa da proteção animal ainda é motivo de tabu para
muitos, pois parte da população acredita que aqueles que se empenham nessa luta estão
esquecendo a defesa dos direitos humanos, quando na verdade não se trata de desfavorecer a
vida humana, mas de ampliar a justiça aos seres que também tem o direito de existir sem
sofrer.
O defensor dos direitos dos animais ou da vida em termos gerais é antes de qualquer
coisa também um defensor dos direitos humanos, já que as consagrações,
respectivas, dos direitos humanos e dos direitos dos animais tratam-se de etapas
evolutivas cumulativas de um mesmo caminhar humano rumo a um horizonte moral
e cultural em permanente construção. (FENSTERSEIFER, 2008 apud
SPAREMBERGER; LACERDA, 2016, p. 188).
Os animais abandonados são submetidos em sua maioria a uma vida dura, cheia de dor
e solidão. Precisamos compreender que o direito a vida digna é intrínseco não somente ao
homem, mas de todo ser vivo. Faz-se necessário a adoção de uma visão voltada ao
biocentrismo, onde todas as formas de vida são igualmente importantes, não sendo a
humanidade o centro da existência, os animais não humanos necessitam de proteção do Poder
Público não somente como forma de trazer benefícios ao homem, mas para a proteção efetiva
desses. Para esta discussão é basilar reconhecer que o homem é também uma espécie animal e,
logo, é vital que se proporcione através do direito juntamente com a moral e a ética,
instrumentos para proteção dos animais.
Menezes Filho (2015, p 50), garante que a discussão acerca do “uso de animais e a
legitimidade sobre a existência de direitos morais para animais ainda está em aberto”, mas que
8
Projeto de lei nº 213/2018, de autoria do deputado Bruno Pedrosa (PP). O projeto tem como objetivo instituir o
Dia Estadual de combate a maus tratos de animais por meio da sensibilização da sociedade para a necessidade de
proteger e prevenir a vida animal.
9
A circunscrição da unidade é Fortaleza e Região Metropolitana (RMF), com atribuição em apurar as infrações
penais previstas na lei 9605/98 (Lei dos Crimes Ambientais). Dentre outras demandas, deve investigar maus-
tratos a animais, desmatamento ilegal, uso irregular do solo e comercialização de animais silvestres. (nota do site
O Povo online).
46
apesar de haverem visões desfavoráveis, “algo perto de uma univocidade ética acerca da
questão está se consolidando”. E dá continuidade
Quando observamos o trecho da citação acima, sobre as “práticas triviais que colocam
em risco ou tiram a vida de vários animais”, estamos falando de coisas como os testes
realizados em animais pelas indústrias de cosméticos, alimentícias e tantas outras.
Recentemente a Humane Society International lançou a animação Save Ralph10, que expõe
várias torturas às quais os animais são submetidos. A animação trata de um documentário
realizado com o personagem principal é Ralph, um coelho que “trabalha” em um laboratório
onde ele e outros, são submetidos a testes como o que é mostrado na cena em que um líquido
é aplicado diretamente em seu olho para testar sua reação.
No curta-metragem Ralph mostra um pouco de como é o cotidiano dos animais
submetidos a esses testes, traz falas bastante comoventes e impactantes como “O meu pai
também era um coelho de testes, a minha mãe, os meus irmãos, irmãs, os meus filhos, todos
para testes, e todos morreram a fazer o seu trabalho, como eu também vou morrer”,
evidenciando quão cruel o ser humano pode ser, mostrando que uma família inteira foi usada,
sacrificada para que nós humanos possamos usar estes produtos com “menos riscos”. Em
outro momento podemos ver Ralph em frente ao espelho enquanto se prepara para mais um
dia e ele diz “Rasparam meu pelo e tenho queimaduras químicas nas minhas costas, arde um
pouco, mas não é nada de especial, só dói quando respiro ou me mexo [...] Mas ao fim do dia,
quer dizer, está tudo bem. Afinal, estamos fazendo isto pelos humanos, certo? São muito
superiores a nós, animais, eles até já foram ao espaço. Já viram alguma vez um coelho num
foguete? Acho que não.”.
De acordo com a Humane Society International (2021) o teste de cosméticos em
animais é um negócio horrível. O site mostra que em todo o mundo, milhares de animais
10
Save Ralph - A short film with Taika Waititi. Ver mais em: https://www.youtube.com/watch?v=G393z8s8nFY
47
sofrem sem necessidade para testar batons, shampoos e diversos outros itens. Muito embora já
existam formas de produção de produtos de beleza livres de crueldade animal e que são até
mais seguros. HSI além da animação, lançou também uma petição em seu site onde qualquer
pessoa pode assinar. “Assine nosso petição Be Cruelty-Free hoje e diga não aos testes de
cosméticos em animais em seu país e no mundo todo” 11.
No Brasil, a ONG Te Protejo, lançou um abaixo-assinado 12 para pressionar as
autoridades federais brasileiras no site Charge.org, essa petição foi criada pela ONG junto há
Humane Society International. Em trecho extraído da campanha afirma-se que no Brasil, a
HSI e seus parceiros já asseguraram que em alguns estados fossem proibidos a realização de
testes cosméticos em animais, como é ocaso de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Mato Grosso do Sul, Pará, Amazonas, Pernambuco e Paraná. Acontece que, líderes do
Congresso Nacional e alguns ministros mostram-se resistentes em avançar na discussão,
adiando a adoção de medidas legais cruciais há mais de 5 anos.
Podemos observar que, como aponta Silva (apud LOPES, 2016)
Muitos são aqueles que lutam pelo bem estar animal, essa luta vai além das indústrias
de cosméticos citadas anteriormente. Diversas pessoas, órgãos e instituições vêm viabilizando
um maior conhecimento e divulgação de situações onde é possível diminuir e até mesmo
banir o uso de animais, como é o caso da Sociedade Vegetariana Brasileira, que é uma
organização sem fins lucrativos que promove a alimentação vegetariana como uma escolha
ética, saudável, sustentável e socialmente justa.
11
HSI - Campanha Seja Cruelty-Free! Ver mais em: https://www.hsi.org/ Acesso em: 19 abr 2021.
12
Brasil: sem mais atrasos – proíba os testes cosméticos em animais já! Ver mais em:
https://www.change.org/p/autoridades-federais-brasileiras-brasil-sem-mais-atrasos-pro%C3%ADba-os-testes-
cosm%C3%A9ticos-em-animais-j%C3%A1?signed=true Acesso em: 19 abr 2021
48
escravocrata, fundada na ideia de que há criaturas “superiores” que podem fazer com
as “inferiores” tudo o que bem entenderem. (SVB, 2017?)
Contam os mais antigos que a preocupação com o bem estar dos animais pelos
gestores do município de Iguatu – Ceará data de muitos anos. Existe uma historia oral de que
o Prefeito Municipal Dr. Manoel Carlos de Gouveia, nos idos dos anos de 1940, sancionou
um decreto em que proibia os carroceiros de chicotearem seus burros. Infelizmente não
pudemos conferir a veracidade desta história, pois com o advento da pandemia medidas de
isolamento e fechamento de instituições foram tomadas, não nos possibilitando fazer uma
averiguação nos documentos da Câmara de Vereadores Municipal.
Não obstante, conforme pode ser observado nas sessões que se seguem, existem
legislações que demonstram a preocupação com a proteção animal, porém estas como as
demais politicas públicas no município carecem de um olhar mais sensível para que o que está
escrito seja materializado e com êxito.
Como já expresso Iguatu tem demonstrado uma preocupação com a proteção animal,
sabe-se que muito se dá pela pressão da sociedade, haja vista, a quantidade de animais em
situação de abandono nas ruas. Existem hoje no município, quatro leis que abordam a
temática dos animais urbanos. São elas:
Lei Nº 431/1996: Dispõe sobre o controle de populações animais, bem como sobre a
prevenção e o controle de zoonoses, no Município de Iguatu e adota outras providências.
(IGUATU - CE), 1996)
Lei Nº 2505/2017: Dispõe sobre autorização para ONG's utilizarem o centro cirúrgico do
Centro de Controle de Zoonoses de Iguatu e adota outras providências. (IGUATU (CE), 2017)
Lei Nº 2652/2019: Estabelece no âmbito do município de Iguatu, sanções e penalidades
administrativas para aqueles que praticarem maus tratos aos animais e dá outras providências.
(IGUATU (CE), 2019)
Lei Nº 2840/2021. Institui o Conselho Municipal de Proteção aos Animais e o Fundo
Municipal De Proteção Aos Animais no âmbito da Secretaria de Meio Ambiente,
Sustentabilidade e Proteção Animal - SEMASPA, e da outras providências. (IGUATU (CE),
2021)
Percebe-se que na época em que esta lei entrou em vigor, ainda se tinha uma visão de
que o animal era na verdade um objeto, que possui dono e caso não, poderia ser facilmente
51
descartado. Para tanto se tentou criar um cadastro, como se pode observar nesta mesma Lei no
Capítulo II que trata da Identificação ou Cadastramento desses animais.
No entanto, esse cadastramento nunca foi realizado, isso porque o município aprovou
a lei, mas não esclareceu e nem determinou como esses cadastros deveriam ser realizados,
uma vez que os munícipes não tinham informações sobre esta. Esta iniciativa objetifica os
animais e evidencia também, o quanto a população acaba sendo culpabilizada, quando na
verdade, o governo municipal é quem é, e sempre foi responsável pelo controle e cuidados
com os animais.
Também na Lei 431/96, podemos observar ainda que mesmo quando o poder público
tenta minimamente trazer um posicionamento sobre a questão do abandono, acaba
amenizando o descaso com os animais, como no Artigo 14 que trata da proibição de abandono
de animais em qualquer área pública ou privada, mas em seguida em seu paragrafo único trata
com normalidade o fato do responsável pelo animal, citado como proprietário, simplesmente
decidir não o querer, assim podendo abandoná-lo e este ser encaminhado ao órgão sanitário
responsável, ou seja, o Centro de Zoonoses de Iguatu, que como já foi dito tinha o papel de
proteger os humanos. No entanto, cabe destacar que este órgão, não observava que muitas
vezes as zoonoses adquiridas pelos animais eram oriundas das práticas irresponsáveis de
alguns tutores, ou da falta de conhecimento ou até mesmo de baixa condição financeira, já que
parte dos “donos” desses animais se encontram em situação de vulnerabilidade social.
Conforme legislação referida os animais recolhidos pelo CCZ poderiam sofrer as
seguintes destinações: resgate, leilão, adoção, doação e sacrifício. Sabe-se que por muito
52
13
Estas informações foram coletadas na página de Facebook do CCZ de Iguatu. Ver mais em:
<https://www.facebook.com/zoonoses.iguatu.3> Acesso em: maio de 2021.
14
Até esse momento o projeto não havia sido divulgado em íntegra, apenas divulgado na página do Facebook.
53
acarreta nenhuma solução, pois como bem se sabe, a solução é a esterilização dos animais,
mas também a prevenção, pois é sabido que
Entende-se como animal para aplicação da Lei 2652/19, todo ser vivo do Reino
Animal, com exceção do ser humano. Assim, esta abrange desde a “fauna urbana não
domiciliada, nativa ou exótica; fauna domesticada e domiciliada, de estimação ou companhia,
nativa ou exótica; fauna nativa ou exótica que companha planteis particulares para qualquer
finalidade”, como traz o Art. 3º da citada lei (IGUATU (CE), 2019).
De acordo com a Lei 2652/19, toda ação ou omissão que venha a violar as regras
judiciais desta lei será considerada infração administrativa ambiental e terão como punição as
sanções previstas, estas sanções vão desde advertência por escrito, multa, até as sanções
restritivas de direito, como apresentado no Art. 4º da referida lei.
Toda ação ou omissão que viole as regras judiciais desta lei é considerada infração
administrativa ambiental e será punida com as sanções aqui previstas, sem prejuizo
de outras sanções civis ou penais previstas em legislação.
§ 1o - As infrações administrativas serão punidas com as seguintes sanções:
I - Advertência por escrito; II - Multa simples; III - Multa diária; IV - apreensão de
instrumentos, apetrechos ou equipamentos de qualquer natureza utilizados na
infração; V - destruição ou inutilização de produtos; VI - suspensão parcial ou total
das atividades; VII - sanções restritivas de direito.
§ 2o - Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou mais infrações, ser-lhe-ão
aplicadas, cumulativamente, as sanções a elas cominadas.
§ 3o - A advertência será aplicada pela inobservância das disposições da legislação
em vigor, sem prejuízo das demais sanções previstas neste artigo
§ 4°- A multa simples será aplicada sempre que o agente infrator, por negligência ou
dolo:
I - advertido por irregularidade que tenha sido praticada, deixar de saná-la, no prazo
estabelecido pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente; II - opuser embaraço aos
agentes de fiscalização ambiental; III - deixar de cumprir a legislação ambiental ou
55
Embora a lei seja clara, sua materialização encontra muitos empecilhos para aplicação
, pois não há uma fiscalização efetiva, as denúncias normalmente são feitas por populares às
ONG’s e/ou protetoras e estas recorrem à delegacia para abertura de Boletim de Ocorrência,
mas por falta de um órgão de fiscalização efetivo quase sempre os autores de maus-tratos
acabam sendo soltos sem que haja nenhum tipo de punição sobre seu ato.
A Lei 2840 foi sancionada no mês de abril de 2021, é uma lei bem recente que trata da
criação do Conselho Municipal de Proteção aos Animais - COMPAN no âmbito da Secretaria
Municipal de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal deste município. O
Conselho visa a participação da sociedade civil na formulação das políticas públicas de
proteção e defesa de animais, para isso 02 membros escolhidos pelas entidades da sociedade
civil farão parte do Conselho, sendo estes escolhidos através de assembleia convocada para
esta finalidade.
De acordo com o documento a COMPAN tem muitos objetivos no que tange a
temática da proteção animal, dentre esses podemos citar: a promoção da integração entre
órgãos e entidades de defesa e proteção animal, e a população; promover o levantamento,
registro, a integração e a participação de entidades, grupos de protetores e protetores
independentes que atuam no município; incentivar a guarda responsável; realizar o
levantamento da quantidade de animais em situação de abandono; promover, organizar e
auxiliar na coordenação de eventos voltados a esta temática, entre outros.
O Art. 3º desta mesma lei trata das competências do COMPAN, que estão listadas no
item XIII, dentre essas compete a este conselho, elaborar e acompanhar a execução do PADA
- Plano Anual de Defesa dos Animais do Município de Iguatu; propor e avaliar projetos e
propostas, no âmbito do Poder Público, relacionados às condições dos animais neste
município; acionar os órgãos competentes para atuar em situações relativas ao bem-estar
animal; denunciar e cobrar providências cabíveis à Procuradoria-Geral de Iguatu; atuar junto a
SEMASPA, cooperando na implementação de políticas públicas de proteção, defesa, saúde,
bem-estar, controle populacional, prevenção de zoonoses e demais moléstias; e outros.
Apesar da criação do Conselho Municipal de Proteção aos Animais em Iguatu, as
ações realizadas ainda estão focadas em competências que devem ser de outros órgãos, como
56
É um órgão criado pelo governo para garantir o bem-estar das populações humana e
animal, promovendo boa interação de forma que uma não agrida a outra. Ele é
responsável pelo controle das zoonoses e pela redução do risco de epidemias, entre
outras coisas, diminuindo a quantidade de animais não vermifugados, não vacinados
e que ofereçam risco às pessoas. (ZOLINA, 2017))
Portanto, para que o Conselho possa exercer suas atribuições faz-se necessária que o
município conte com órgãos que possam receber as denúncias e agir de acordo com as
legislações vigentes, ou seja, é preciso a implantação de uma instituição que se responsabilize
por receber as denúncias e agir de acordo com as leis.
Atualmente as ações realizadas em prol da proteção e defesa dos animais no município
de Iguatu são oriundas da Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal.
Esta vem realizando um cadastro junto as ONGs e os protetores, de acordo com a SEMASPA
hoje já estão cadastrados junto a esta secretaria, 02 ONGs e cerca de 70 protetores15. Ainda
não se sabe a quantidade de animais em situação de abandono, mas espera-se que a partir
deste cadastro, os protetores possam trazer os primeiros dados com a quantidade de animais
que são alimentados e recebem cuidados através destes.
Segundo a SEMASPA não existia anteriormente nenhum projeto que visasse os
cuidados e atenção a estes animais em situação de abandono, até o momento da criação da Lei
2840/2021, para tanto a primeira medida tomada por esta secretaria foi a de junto ao CCZ
municipal, implantar o programa de castração. Este programa oferece a castração de forma
gratuita para os animais que estão sob os cuidados das ONGs e dos protetores. Estas
15
Protetor: "Aquele que atua na Proteção Animal, o faz, por saber, que os animais em certas situações, não têm
como se defenderem sozinhos e pedirem ajuda, dependem do ser humano para ajudá-los e protegê-los, por isso,
mesmo diante do estresse e da dificuldade, o Protetor persiste em ajudar os animais.". Ver mais em:
<https://afolhatorres.com.br/colunas/quem-sao-os-protetores-de-animais/> Acesso em: 01 jun. 2021
57
Nós temos uma luta pela frente, principalmente no trabalho de conscientização das
pessoas em não soltar os animais que pegam muitas vezes para criar e quando
adoece ou acontece alguma coisa as pessoas querem abandonar né. Então a gente tá
trabalhando essa parte aí educacional das pessoas, nós estamos montando um projeto
para que a gente tenha principalmente nas escolas, nas entidades, nos órgãos. Temos
um trabalho já maciço nas redes sociais. [...] realmente é uma realidade muito dura,
não só no Iguatu, mas em todos os locais. Mas aqui a gente sente de perto a
quantidade de animais abandonados na cidade né, e o que a gente pode fazer é isso,
tentar nesse primeiro momento fazer esse trabalho de conscientização acompanhado
das castrações para evitar a reprodução. É um desafio muito grande a gente trabalhar
com essa parte da proteção por conta disso, porque a gente tem que trabalhar a
consciência das pessoas para que valorizem mais aqueles animais indefesos que eles
têm lá, que não abandone e que cuide realmente de todos esses pequenos animais.
(GESTÃO, 2021)
16
Trata-se de uma unidade móvel de Saúde Médica Veterinária. Com um centro cirúrgico adaptado para a
realização da esterilização de cães e gatos.
58
de se conseguir comprar material, uma vez que as empresas em sua maioria não tem a
documentação exigida para que possa fornecer os insumos.
Em face do exposto, onde constata-se ações do poder legislativo representada por
publicação de leis, do executivo com a existência de instituições como o Centro de Controle
de Zoonoses e a Secretaria do Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal e
realização de ações em articulação com ONGs, observar-se que existe no município de Iguatu
a intenção de realizar mais ações voltadas á proteção e defesa animal. As atividades realizadas
até o momento foram poucas, mas trazem resultados em longo prazo, como é o caso da
castração dos felinos. Entretanto, ainda está bem distante de chegar à solução da problemática
existente, pois nem mesmo a quantidade de animais no município sem tutor é possível ter
certeza. É notório que, além da falta de recursos financeiros, existe a falta de um maior
conhecimento sobre o assunto, além de maior quantidade de pessoas com disposição e
disponibilidade para atuar nesta temática exclusivamente, o que nos leva a inferir na
necessidade de maior conscientização da sociedade e empenho do poder publico para que de
fato a proteção animal possa se concretizar.
A atuação do poder legislativo no que se refere a proteção animal tem se dado a partir
de requerimentos, projetos de lei e/ou projetos de indicação. Segundo a Constituição Federal,
os legisladores não podem apresentar projetos de lei que impliquem custos para o Poder
Executivo.
Por isso, quando têm alguma ideia para melhorar a cidade – mas que não pode ser
apresentada em forma de projeto –, eles fazem uma indicação, ou seja, uma sugestão
para a Prefeitura. [...] Os requerimentos são os pedidos verbais ou escritos feitos
pelos vereadores ou por comissões. Podem ser votos de congratulações, a criação de
uma comissão especial, a realização de uma sessão solene, a convocação de
secretários municipais para prestar informações e solicitação de informações à
Prefeitura. (NOVA HAMBURGO, 202?)
intitulado “Castra Móvel de Iguatu” trata sobre o controle da população de cães e gatos a ser
realizado por uma unidade móvel de esterilização e de educação. Este projeto indicativo
infelizmente, ainda não virou Lei.
É certo que a aprovação do projeto “Castra Móvel Iguatu” iria colaborar e muito com
os trabalhos das ONGs e dos protetores. De acordo com o Art. 1º no inciso número 4, a meta
inicial deste projeto é a castração de dez animais por semana, número este que poderia ser
ampliado de acordo com a disponibilidade de recursos orçamentários. Para além da castração,
o projeto tem como objetivo “a conscientização da população sobre a guarda responsável,
prevenção de zoonoses e saúde pública” 17.
O PI Nº 009/15 tem um texto bem detalhado, apresenta cada passo a ser seguindo para
a implantação do serviço e para o seu funcionamento. Podemos observar que houve um
cuidado ao elaborar este documento, pois nele constatamos a descrição detalhada dos
procedimentos, do material necessário, da mão de obra, de local de melhor acesso para a
população, mas principalmente a preocupação em atender às famílias de baixa renda, uma vez
que estas raramente tem condições financeiras de castrar seus animais. Além disso, o projeto
contaria com o trabalho de conscientização dos responsáveis pelos animais, como mostra o
Art. 4º:
17
Projeto de Indicação Nº 009/15. Documento completo no Anexo F deste trabalho.
60
promoção de eventos para incentivar a adoção responsável de animais; e III – parcerias entre Poder
Público e iniciativa privada” 18. Este “cachorródromo” seria uma “área cercada destinada ao lazer de
cachorros e seus donos, com ou sem equipamentos de recreação específicos para tais atividades”. Este
projeto foi votado e aprovado pela Câmara Municipal, mas até hoje não virou lei.
O terceiro documento do qual tomamos conhecimento do poder legislativo sobre a
proteção animal, trata-se de um Requerimento aprovado pela Câmara Municipal de Iguatu,
que sugere a criação de uma Secretaria de Proteção, Cuidado e Saúde Animal nesta cidade.
Segundo o entrevistado Legislativo 1 esta proposta
[...] visa os cuidados a saúde animal, pois isso significa também cuidar da saúde da
população. Animais atuam como vetores de algumas doenças que podem trazer risco
aos humanos. Precisamos agir efetivamente neste tema, com a aprovação deste
requerimento avançamos nesse sentido, por dar a gestão municipal um sinal positivo
da câmara para que a idéia seja colocada em prática através de políticas públicas
direcionadas atender essa área. Com a criação da Secretaria há a possibilidade de
mais adiante construir equipamentos, como a construção de um hospital veterinário
e a utilização de Vetmóveis, oferecendo vacinação e castração de animais de
pequeno e médio porte em diferentes pontos da cidade.
18
Projeto de Indicação Nº 004/18. Ver documento no ANEXO G deste trabalho.
19
Projeto de Lei Nº 001/2021. Ver documento no ANEXO I deste trabalho.
20
Informação coletada em rede social. Disponível em:
https://www.instagram.com/p/CDffhRGApwL/?utm_medium=copy_link. Acesso em: 15 abr. 2021.
61
caput desse artigo, é opcional” 21. Percebe-se que não há o entendimento de que essa seria
sim, a melhor solução para a problemática de uso de animais para trabalho de carga.
Ainda que alguns legisladores se posicionem a favor da causa animal, este número é
bem pequeno dado a grandiosidade dessa temática e, como afirma Caroline Scandiuzzi
(2016), “embora a legislação brasileira possua respaldos e proteção para os animais, estes
acabam sendo ‘desmerecidos’ porque o direito mais utilizado é aquele que beneficia o
homem”. Ainda em concordância com Scandiuzzi (2016), é preciso fazer com que as leis
sejam empregadas com mais rigidez, para que sejam aplicadas de tal modo que venham a
beneficiar tanto aos animais humanos quanto aos não humanos.
O entrevistado Legislativo 2, afirma que existem grandes desafios a serem
enfrentados, pela sociedade civil, assim como pelo poder público, segundo ele, o maior é a
falta de controle da procriação dos animais que sobrevivem nas ruas, assim como a falta de
locais adequados onde os animais doentes e abandonados possam ser cuidados. Para ele, o
que dificulta a existência de políticas públicas é o desafio enfrentado para captação de
recursos para ações em prol da causa”.
E como bem citou o deputado Eliseu Padilha
O combate aos maus tratos reflete o efetivo e eficaz cumprimento de um dever poder
intransferível e inadiável, a que se conjuga a cooperação da sociedade civil, dos
operadores do direito, o Poder Público e, principalmente, dos legisladores que
devem estar atentos aos anseios da sociedade. (2012, p. 23, grifo nosso)
Assim, sendo o Poder Legislativo do município formado por cidadãos que foram
eleitos pelo povo, tendo, portanto a função de representa-lo, os vereadores tem papel
fundamental na proteção animal, uma vez que são eles os responsáveis pela indicação da
maior parte das leis municipais.
Por falta de políticas públicas efetivas por parte do governo municipal de Iguatu no
que remetam a proteção dos animais urbanos, ONGs e protetores assumem responsabilidades
que deveriam ser do poder público. As ONGs são “Organizações não governamentais atuam
em áreas vulneráveis, ou seja, que não recebem o apoio devido (ou não recebem apoio algum)
dos governos” (PORFÍRIO, [201-]).
21
Projeto Indicativo 08/2020. Ver documento no Anexo J deste trabalho.
62
Na cidade de Iguatu, existem hoje duas ONGs de proteção animal, são elas: a ONG
Vira Lata de Raça e a ONG Adota Iguatu. Além delas, o município conta com dezenas de
protetores espalhados pela cidade22.
A ONG Adota Iguatu é a mais antiga da cidade, ela está registrada em cartório desde
11 de novembro de 2014, recebeu no dia 12 de dezembro de 2016 um título de utilidade
pública através de um projeto de lei de autoria do vereador Mário Rodrigues. O projeto foi
aprovado pelos vereadores e transformou a ONG em Associação dos Amigos dos Animais de
Iguatu – Adota Iguatu23.
Conforme representantes da ONG Associação dos Amigos dos Animais de Iguatu –
Adota Iguatu
Somos uma associação civil, sem fins lucrativos, não fazendo distinção de sexo,
orientação sexual, cor, faixa etária, raça, filosofia político partidária , religião. A
ONG é legalmente registrada desde 11 de novembro de 2014 e rigorosamente
acompanhada por consultoria contábil quanto as declarações tributárias obrigatórias.
Diante o crescimento de casos relacionados a proteção animal e do ganho de
credibilidade da ONG Adota Iguatu na nossa cidade de Iguatu, região e estado,
novos amigos, membros de equipe, voluntários e parceiros começaram a surgir de
maneira a acrescentar, incentivar e colaborar com esta causa tão nobre e grandiosa.
Hoje contamos com um crescente número de voluntários, aonde diariamente pessoas
vem se sensibilizando e despertando o amor e cuidado aos animais. (ONG ADOTA
IGUATU, 2014?)
Temos como objetivos a criação de gatis e canis para abrigar alguns animais que se
encontram em situações de risco ‘’vitimas de maus tratos’’, o encaminhamento para
adoção dos mesmos devidamente vacinados e castrados, a criação de salas (de
atendimento veterinário e cirurgia) e principalmente campanhas de EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO, propagando o amor, respeito e a posse responsável dos
animais. Nascemos e continuamos com esse trabalho VOLUNTARIO, pois amamos
e temos compaixão pelos seres viventes, que são inocentes, frágeis e que
infelizmente sofrem o descaso de algumas pessoas. (ONG ADOTA IGUATU, 2016)
A ONG Adota Iguatu tem feito junto à sociedade civil várias denúncias de maus tratos
e de descaso do governo municipal com a causa animal. Todos os resgates, manifestações e
ações realizadas por ela podem ser encontrados em suas redes sociais24.
Dentre todas as denúncias realizadas, uma das mais “chocantes” foi certamente a que
mostrou a crueldade e desprezo com o qual o Poder Público deste município tratava os
animais. Em 2015 a ONG denunciou a eutanásia de mais de mil animais no CCZ de Iguatu.
22
Ainda não se tem um número total de protetores. Segundo a SEMASPA um levantamento e cadastramento
estão sendo realizados com esse intuito.
23
Dados colhidos do blog da referida ONG, durante nossa pesquisa não conseguimos encontrar o documento do
projeto citado. Disponível em: http://ongadota.blogspot.com/?m=1. Acesso em: 26 abr 2021.
24
Redes Sociais da ONG Adota Iguatu: Facebook - https://pt-br.facebook.com/ongadotaiguatu/ Instagram -
https://www.instagram.com/ongadotaiguatu/?hl=pt-br
63
Na época a realização da eutanásia era permitida, caso o animal fosse diagnosticado com
leishmaniose, acontece que, de acordo com documentos postados pela própria ONG o total de
animais levados a óbito foi absurdamente maior que os diagnosticados com a doença25.
Devido a essa atrocidade e diversos outros casos de maus tratos no município a ONG
Adota Iguatu foi a Câmara Municipal exigir que o Projeto de implantação do Castra-Móvel,
citado anteriormente, fosse aprovado e efetivado. Também foram as ruas com cartazes 26
pedindo além da aprovação do projeto, melhorias para o CCZ.
vamos dar a voz a quem não tem, chega de tanto abandono e mortes, queremos uma
cidade viva e saudável! A situação preocupa não só pela qualidade de vida dos
animais, mas por ser uma questão de saúde pública, o crescimento da população de
animais de rua também promove o surgimento exponencial de doenças entre estes
animais, que não recebem vacinas ou cuidados. Situação que pode se estender aos
humanos, como a transmissão da raiva, uma doença crônica e que leva a morte.
Alguns municípios do Brasil já perceberam que investir em precauções também
diminui nos custo com a saúde do município. Alguns acham que a eutanásia é a
melhor forma de manter sobre controle a população animal nas ruas, contudo, esse
só é um meio 'desumano' de se livrar temporariamente do problema, os animais tem
seus direitos, são seres como a gente, sentem dor, medo, podemos evitar que
milhares de animais venham a nascer para presenciarem tanto sofrimento. A solução
realmente é desenvolver a cultura de esterilização. (ONG ADOTA IGUATU, 2016)
[...] a gente só resgata animais de rua que estão doentes. A gente sabe que dentro do
município de Iguatu e outras regiões também, tem muitos animais nas ruas
25
Ver imagens no ANEXO K deste trabalho. As imagens e postagens também podem ser encontradas no
Instagram da ONG.
26
Ver imagens no ANEXO L deste trabalho. As imagens e postagens também podem ser encontradas no
Instagram da ONG.
64
abandonados alguns não estão doentes nasceram na rua né, de cadelas ou gatas que
procriam na rua mesmo. Esses aí a gente não resgata, claro que tem muitos filhotes,
tem muitos que precisam ser resgatados, mas a gente não resgata por não ter onde
colocar esses animais. Então hoje a ONG resgata apenas animais doentes e quando
nós conseguimos alguém que nos dê lar temporário, porque o abrigo hoje se
encontra lotado não cabe mais animais [...] (PROTETOR 2021).
No processo de adoção desses animais que são da ONG né, em que a ONG é
responsável. A gente tem o termo de adoção para pessoa assinar e é feito a
entrevista, e eles tem a castração garantida pela ONG quando o animal não é ainda
castrado. Quando ele é adotado bebezinho ele tem a sua castração garantida pela
27
Ver documento no ANEXO M deste trabalho.
65
ONG, onde a gente vai correr atrás para pagar o veterinário e fazer quando ele
estiver na idade certa. (PROTETOR,)
A parceria da Vira Lata de Raça, com órgãos municipais é bem recente e se deu com
a “criação” da SEMASPA e cooperação com o CCZ do município, ofertando vagas para a
esterilização de animais acolhidos pela ONG e outros protetores.
De acordo com a ONG Vira Lata de Raça, o maior desafio enfrentado pelas entidades
de proteção, a sociedade civil e o Poder Público, tem sido o descontrole populacional dos
animais em situação de abandono. Uma vez que nem sempre os animais em situação de
abandono são de rua, pois vários tem casas, mas aqueles que deveriam ser seus tutores
acabam os abandonando.
Outro desafio posto a ONG se refere ao controle populacional, de difícil realização,
uma vez que no município não existem políticas públicas efetivas para a realização desse
controle. Como citado, existe hoje o trabalho das ONGs e dos protetores em relação à
esterilização, mas a quantidade de animais atendidos é bem pequenas em relação à quantidade
de animais soltos na rua, ou até mesmo animais que vivem com seus responsáveis, mas que
por não estarem castrados acabam procriando, e na maior parte das vezes, esses filhotes
acabam sendo abandonados.
Para a ONG, o motivo que mais traz dificuldades para a implantação e efetivação de
políticas públicas no município é a falta de interesse do Poder Público.
Percebe-se a partir dos dados coletados, que muito tem sido os desafios e dificuldade
no município de Iguatu para que se tenham políticas de proteção animal efetivas e
principalmente para que haja uma redução eficaz dos animais abandonados e/ou em situação
de rua. As ONGs representam uma grande contribuição no processo de proteção animal, no
entanto, se sustentam de doações, carecem de recursos e sem a participação efetiva do Poder
Público Municipal essa tarefa acaba tendo resultados lentos.
No Brasil, diversas ONGs desempenham esse mesmo papel, o de cuidar dos animais
que vivem em situação de vulnerabilidade. As maiores ONGs brasileiras ficam localizadas
nos estados do Rio de Janeiro e em São Paulo, dentre ela podemos citar: A Sociedade União
Internacional Protetora dos Animais, fica localizada na cidade do Rio de Janeiro – RJ e foi
fundada em 1943. A SUIPA28 realiza resgate de animais e, além disso, possuem uma clínica
veterinária que oferece atendimento a preços populares. Também localizada no Rio de Janeiro
e fundada em 2010, a ONG Focinhos de Luz29 presta serviço voluntário de reabilitação de
animais em situação de risco (MATOS, 2020?).
Em São Paulo existe ainda a Ampara Animal30, fundada no ano de 2010, não possui
abrigo para animais, ela é na verdade uma “ONG mãe”, não dispõem de recursos próprios,
mas trabalham na captação de recursos e repassam à ONGs de proteção animal cadastradas,
por todo o país. O Instituto Luísa Mell 31, também localizado em SP, foi criado em 2015,
abriga cerca de 300 animais. O Instituto participa de grandes resgates, casos em que os
animais estão sendo usados para reprodução contínua sem que haja os cuidados necessários e
outros. Em São Paulo podemos citar ainda a Amigos de São Francisco 32, esta ONG além de
cães, também abrigam felinos, fica localizada na cidade de Ibiúna. A Gatópoles33, fundada
em 2013, é uma ONG que realiza resgate, acolhimento e doação responsável de gatos na
cidade de São Paulo; eles possuem abrigo próprio e para que consigam realizar seu trabalho,
fazem campanhas de apadrinhamento e realizam eventos (MATOS, 2020?).
Além destas, outras ONGs pelo país também fazem o trabalho de acolhida, cuidado e
dão abrigo aos animais recolhidos, mas nem todas concordam com essa estrutura, como é o
caso da Pro Anima que não mantém abrigo, mas
28
SUIPA – Ver mais em: https://www.suipa.org.br
29
FUCINHOS DE LUZ: Ver mais em: www.focinhosdeluz.com
30
AMPARA ANIMAL: Ver mais em: https://amparanimal.org.br/
31
INSTITUTO LUÍSA MELL: Ver mais em: http://ilm.org.br/
32
AMIGOS DE SÃO FRANCISCO: Ver mais em: http://amigosdesaofrancisco.com.br/
33
GATÓPOLES: Ver mais em: http://gatopoles.com.br/
67
Desse modo, a ProAnima decidiu por não mais ficar responsável de forma direta pelos
animais resgatados, entretanto
considerando sua disponibilidade financeira e de outros recursos, colabora com
iniciativas sérias e responsáveis de assistência a animais, doando a quem possa
acolhê-los medicação, alimento, encaminhando para tratamento veterinário e
castração; apoiando as ações da fiscalização e apreensão de animais que sofrem
maus-tratos; custeando tratamento e castração de animais apreendidos; apoiando as
ações de protetores que se preocupam com animais do Centro de Controle de
Zoonoses, animais comunitários e de colônias. (PROANIMA, 201-?)
Percebe-se, portanto, que várias são as formas que os protetores encontram para a
proteção animal, o que nos leva a entender que, se a sociedade civil com toda sua dificuldade
consegue, o Poder Público com certeza poderia fazer mais em prol da causa animal. Na
subseção seguinte, apresentaremos algumas recomendações e estratégias para a melhoria e
ampliação da proteção animal, trazendo alguns exemplos de políticas e leis de cidades,
Estados e/ou países que conseguiram erradicar ou diminuir exponencialmente a população de
animais de rua.
Wayne Pacelle, presidente da Humane Society of the United States - HSUS publicou
nota ainda em 2014 sobre esse assunto, no site da instituição Pallece diz que Jhon Thompson
da National Sheriff’s Association, informando que o então diretor do FBI, James Comey,
havia aprovado a inclusão de crimes de crueldade contra animais no Relatório de Crimes
Uniforme, e que agências locais também fariam o rastreio e reportariam ao FBI.
Ainda nos Estados Unidos foi apresentado pelo senador Richard Durbin, D-III; e pelos
representantes Brian Fitzpatrick, R-Pa; Charlie Crist, D-Fla; Guy Reschenthaler, R-Pa. e Jim
McGovern, D-Mass, o Puppy Protection Act - um projeto que afirma que melhorará a maneira
como os cães postos a venda no comércio, assim como as cadelas que pocriam repetidamente
até a exaustão (BLOCK; AMUNDSON, 2021).
69
para cada proposta traremos exemplos concretos e aplicados em outros Estados e/ou cidades
brasileiras, assim como em outros países, como os citados anteriormente.
Hoje, município de Iguatu conta com uma Secretaria de Proteção Animal, no entanto
esta está vinculada à Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade. A união dessas
secretarias proporciona redução de gastos, mas ao mesmo tempo faz com que a política de
proteção animal se perca em meio a tantas demandas que envolvem os projetos para com o
meio ambiente e a sustentabilidade.
A pauta principal de uma entidade de proteção animal deve ser a de deliberar
estratégias eficazes de concretização de politicas públicas para proteção aos animais, e é por
esse motivo que esta pesquisa recomenda como estratégia inicial a implantação de um Centro
Especializado no município de Iguatu que tratará das estratégias em conjunto, que envolvem o
Poder Público do município e entidades da sociedade civil.
Estados e cidades por todo o país têm implantado Centros de Proteção aos Animais, e
para embasar nossa indicação, mostraremos exemplos, como o Centro de Bem-Estar Animal
de Joinville que incentiva a adoção responsável, o CBEA – Joinville/SC “socorre animais sem
tutor e com problemas graves de saúde, ou que passaram por maus tratos. Depois de todo
tratamento necessário, incluindo vermifugação, castração, vacinação e microchipagem, os
animais estão prontos para ir para um novo lar” (PORTAL JOINVILLE, 2020).
No Rio Grande do Sul, o Centro de Bem-Estar Animal de Canoas, é atualmente
referência para os demais municípios do Estado. Isso por que
[...] após passar por uma reforma completa em sua estrutura, realizou 8530
atendimentos (3533 consultas, 1984 emergências e 3013 castrações), entre o período
de maio de 2018 e dezembro de 2019. A diretora do CBEA, Mari Cancelli dos
Santos, garante que o crescimento de mais de 63% no número de atendimentos,
comparados os 3235 de 2018 com os 5295 de 2019, mostra o sucesso do trabalho
que é prestado pelos profissionais do Centro de Bem-Estar Animal aos animais
resgatados em decorrência de maus-tratos ou situação de vulnerabilidade.
(CANOAS (RS), 2020)
A pesquisa concluiu que apesar das dificuldades, com uma formação adequada,
capacitação de forma contínua e o empenho dos profissionais envolvidos com as expressões
74
Desse modo, como afirma Carmona (2017, p. 6) os Assistentes Sociais “são chamados
a atuar na esfera da formulação e avaliação de políticas e do planejamento, gestão e
monitoramento, inscritos em equipes multiprofissionais”.
34
A família multiespécie é conceituada como aquela lastreada essencialmente na afetividade inerente na relação
humano-animal, tendo em vista que modernamente os animais são considerados como seres sencientes, portanto,
dotados dos mais variados sentimentos. Ver mais em: Instituto Brasileiro de direito da Família, Disponível em:
<https://cutt.ly/AnbjyA8>.
75
Carmona (2017, p. 6) evidencia ainda que o Serviço Social “só pode ser desvendado
em sua inserção na sociedade”, ou nas palavras de Yazbek (2009 apud CARMONA, 2017, p.
6), “no contexto de relações mais amplas que constituem a sociedade capitalista,
particularmente, no âmbito das respostas que esta sociedade e o Estado constroem, frente à
questão social e às suas manifestações, em múltiplas dimensões”.
O Assistente Social dentro da política de proteção animal não trabalhará diretamente
com os animais, nem fará uma função assistencialista. Irá atuar junto às famílias usuárias do
serviço. Como acontece no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais,
onde o AS, realiza o estudo socioeconômico dos tutores e/ou responsáveis dos animais ( LIMA;
FERREIRA, 2019, p. 7). Que de acordo com o CFESS
O projeto ainda contaria com visita dos estudantes ao Centro de Proteção Animal, o
CPA abriga centenas de animais vítimas de maus-tratos e abandono, para que possam ter
contato com esses animais.
Outro exemplo que pode ser seguido pelo Poder Público de Iguatu é o do projeto
criado pela COSAP - Coordenadoria de Saúde e Proteção ao Animal Doméstico da cidade de
São Paulo, “o projeto Escola Amiga dos Animais tem como objetivo principal conscientizar
crianças e estimular as escolas atuarem como multiplicadoras deste tema de tamanha
relevância social”. O programa é trabalhado em três módulos com duração média de duas
horas. O 1º módulo, trabalha a conscientização sobre a adoção e a guarda responsável; o
módulo 2, trata-se da apresentação do Centro Municipal de Adoção; já o 3º módulo, são
realizadas atividades de interação com os animais, dentre eles, cães, gatos e ainda animais de
fazenda, como porcos e cavalos. (SÃO PAULO, 2020)
De acordo com a publicação, o projeto tem mostrado resultados promissores. “As
crianças interagem, questionam, aprendem e o que é ainda melhor: terminam a atividade
engajados na construção de uma sociedade mais justa, onde haja empatia e compaixão
também pelos animais” (SÃO PAULO, 2020).
As cartilhas devem ser produzidas a fim de reunir conhecimento no que diz respeito ao
bem estar, defesa e proteção animal. Nelas devem estar contidas definições sobre os principais
pontos abordados nessa temática, como: a diferença entre animais domésticos, de estimação,
silvestres, entre outros; definição de maus tratos, proteção, os órgãos de proteção, canais de
denúncia e etc. Estas devem ser elaboradas de acordo com o ambiente onde será trabalhada.
Sendo assim, uma cartilha que será usada no ambiente escolar, deverá considerar a faixa
etária dos estudantes, por exemplo.
Na internet pudemos encontrar diversos formatos de cartilhas sobre maus tratos,
proteção e defesa dos animais. Citadas aqui servem como exemplo para a criação de novas,
além de trazer informações dos mais variados tipos e temas no âmbito da proteção animal.
A OAB de Curitiba no Estado do Paraná lançou em 2020 a Cartilha de Proteção
Animal35, a cartilha trata desde o que é o bem estar animal, perpassando pelos direitos, aborda
preconceito, vegetarianismo e traz ao final curiosidades e dicas de filmes e comentários, além
de contatos úteis.
No Rio Grande do Sul, o COMUPA – Comitê Municipal de Proteção Animal da
cidade de Pelotas publicou a Cartilha36 de proteção Animal em 2018. Nela é possível entender
o que é o COMUPA; entender alguns conceitos como: o que são zoonoses, animais
domésticos e outros; aborda ações humanas que comprometem a proteção e o bem-estar
animal; posse responsável; a legislação, as atribuições da Prefeitura e órgãos públicos e muito
mais.
Uma cartilha bem completa também foi publicada pelo LABEA, que é o Laboratório
de Bem-estar Animal da Universidade Federal do Paraná, a Cartilha Maus-tratos. O que São?
Como identificar? Como denunciar?37, a cartilha foi produzida através do projeto Fauna Legal
e aborda a definição de maus-tratos e ainda, traz um passo-a-passo de como reconhecer
quando um animal estiver em situação de maus-tratos.
35
CARTILHA DE PROTEÇÃO ANIMAL. Direito Animal Curitiba - OABPR Comissão De Direito Ambiental
da OABPR. Ver mais em: https://wp.ufpel.edu.br/direitosdosanimais/files/2020/09/cartilha-gt-direito-dos-
animais-oab.pdf
36
CARTILHA DE PROTEÇÃO ANIMAL – COMUPA, Pelotas – RS. Ver mais em:
https://wp.ufpel.edu.br/direitosdosanimais/files/2018/12/Cartilha-e-Folder_COMUPA_vers%C3%A3o-
digital.pdf
37
CARTILHA MAUS-TRATOS. O QUE SÃO? COMO IDENTIFICAR? COMO DENUNCIAR? – LABEA –
UFP. Ver mais em: https://drive.google.com/file/d/1hLO6Au_dRHN4EFP37gh7NBL6gjX_I4fw/view
80
O Grupo Especial de Defesa dos Direitos dos Animais – GEDDA em parceria com o
Ministério Público de santa Catarina criou a Cartilha de Proteção e Bem-Estar Animal 38 .
Trata-se de uma cartilha de fácil leitura, aborda também os principais assuntos sobre a
temática.
A Cartilha de Defesa Animal39, lançada pelo Ministério Público de São Paulo é de
autoria da promotora de justiça, Eloisa Balizardo, A cartilha segundo Belizardo “tem por
objetivo informar ao cidadão as formas de levar ao conhecimento dos órgãos públicos
denúncias de maus-tratos e de buscar junto a eles a proteção aos animais”.
A Diretoria do Bem-Estar Animal – DIBEA juntamente com a Prefeitura da cidade
São José em Santa Catarina lançou em 2017, a Cartilha Educativa - Bem-Estar Animal40. De
forma simples, divertida e colorida, a cartilha conversa diretamente com a criança. De
maneira lúdica informa sobre os tipos de alimentos que os animais podem ou não ingerir; os
benefícios da castração; sobre adoção; sobre abandono e maus-tratos e traz dicas de como a
criança pode cuidar da saúde do seu animal e da sua família.
Entendemos, portanto, que educação e a conscientização sobre os assuntos abordados
nas cartilhas são essenciais para a proteção dos animais. O trabalho com as cartilhas é uma
chance para contribuir de forma significativa para conscientização da população e levar-lhes
conhecimento acerca dos assuntos abordados, além de poder encontrar nelas os números para
contatar e realizar denúncias, seja aos canais especializados ou às delegacias de proteção
animal.
38
CARTILHA DE PROTEÇÃO E BEM-ESTAR ANIMAL – GEDDA, SC. Ver mais em:
https://documentos.mpsc.mp.br/portal/manager/resourcesDB.aspx?path=5327
39
CARTILHA DE DEFESA ANIMAL – MPSP. Ver mais em: https://www.mppi.mp.br/internet/wp-
content/uploads//2016/05/defesa_animal_2015_06_11_dg.pdf
40
CARTILHA EDUCATIVA - BEM-ESTAR ANIMAL – DIBEA-SC. Ver mais em:
https://www.saojose.sc.gov.br/images/uploads/geral/cartilha_educativa-bem_estar_animal.pdf
81
a nova lei contempla uma vontade já antiga e pode ser vista como um progresso
sobre o assunto. Porém, paralelamente, disse que é necessário um enfrentamento
mais apropriado ao problema, com treinamento para que os policiais atuem de
maneira correta e haja punições mais corretas por parte do Poder Judiciário
(FERNADES, 2020).
Na cidade de Aracaju em Sergipe (SE), também conta com uma Delegacia de Proteção
Animal e Meio Ambiente, de acordo com o Portal G1-SE (2021), a delegada Georlize Teles
que é titular da DEPAMA esclareceu que “a criação da delegacia atende o pleito da sociedade
e acompanha as mudanças legislativas que aumentaram as penas para os autores de crimes
contra os cães e os gatos”. Ainda de acordo com o G1-SE (2021) a delegada ressaltou que ao
se criar a unidade policial de proteção animal houve também, o aumento de canais de
denúncias dos crimes contra os animais no estado.
Já os Estados de Goiás (GO) e São Paulo (SP) contam com Delegacia Eletrônica de
Proteção Animal - DEPA. Em Goiás, o projeto de implantação da delegacia virtual é do
deputado estadual Delegado Eduardo Prado. De acordo com Portal do Estado de GO, Prado
declarou que
[...] o objetivo é proporcionar agilidade das denúncias e das averiguações dos crimes
contra animais, tais como: tráfico, comércio, criadores clandestinos, abatedouros
ilegais, empresas/laboratórios que fazem testes em animais, espancamento,
abandono, atropelamento, negligência, envenenamento, bem como todo e qualquer
fato previsto em lei tipificado como ilícito penal. (GOIÁS, 2019)
O deputado Eduardo Prado, acredita que a criação do ambiente virtual acarretará uma
diminuição na quantidade de registros realizados de forma presencial nas delegacias, o que de
acordo com ele, dará uma maior agilidade para os cidadãos ao fazer a denúncia. (GOIÁS,
2019)
Assim como na DEPA de Goiás, a Delegacia Eletrônica de Proteção Animal do estado
de São Paulo, o serviço acontece via internet e está a disposição da população do Estado para
82
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
83
Artigo 1º: Fica instituído o Centro de Referência em Assistência Especializada em Bem Estar
e Proteção Animal no município de Iguatu (CRABEPA), atendendo-se aos princípios de bem-
estar animal e segurança pública.
CAPÍTULO II
DAS FINALIDADES
41
Esta minuta não propõe a criação do Conselho Municipal de Proteção aos Animais, uma vez que esta já foi
instituída na Lei Nº 2840/2021.
84
3) Definir protocolo técnico para a realização da microchipagem; para isso firmar parceria e
convênios com ONG’s, entidades de proteção animal, lojas Petshops e Clínicas Veterinárias;
b) Promover campanhas educativas para incentivo à castração voluntária;
c) Deliberar critérios técnicos para as ações volantes de castração de animais;
d) Determinar as metas anuais do serviço de castração;
e) Realizar atividades de reinserção de animais abandonados ou recolhidos.
a) Firmar parceria com Secretaria de Proteção Animal, Conselho Municipal de Proteção dos
Animais, Delegacia Civil, Ministério Público, Secretaria de Saúde, ONG’s, entre outros;
b) Regulamentar o limite máximo de animais nos imóveis urbanos;
c) Disponibilizar aos órgãos de fiscalização urbana os equipamentos de leitura dos
microchips.
86
Parágrafo único: A Rede que descreve esse artigo será constituída pela Secretaria de Meio
Ambiente e Proteção Animal, Conselho Municipal de Proteção aos Animais, Secretaria de
Saúde, Vigilância Sanitária e Secretaria de Assistência Social, Direitos Humanos e Cidadania.
CAPÍTULO III
DA ESTRUTURA
I – Recepção (uma);
II – Coordenação (uma);
III – Sala de atendimento (uma) - Médico Veterinário;
IV – Sala de atendimento (uma) – Assistente Social;
87
CAPÍTULO IV
DAS RECEITAS
CAPÍTULO V
42
Esta minuta não propõe a criação de um Fundo Municipal voltado à causa animal, uma vez que este já foi
instituído na Lei Nº 2840/2021.
88
Artigo 8º: O Poder Executivo Municipal regulamentará esta Lei no prazo de _____ dias de
sua publicação, encaminhando as alterações que se fizerem necessárias.
Parágrafo único - É proibido o uso das indicações de que trata este documento por partidos
políticos, órgãos ou entidades públicas sejam estas estaduais ou municipais, organizações
internacionais ou nacionais e/ou qualquer outro, sem conhecimento e autorização prévia da
autora.
_____________________________________
TALITA DE FREITAS LIMA
JUSTIFICATIVA
Dirijo-me a Vossas Excelências para encaminhar o Projeto de Lei que dispõe sobre a criação
do “Centro de Referência em Assistência Especializada em Bem Estar e Proteção Animal no
município de Iguatu e dá outras providências”, com devida justificativa.
Em Lei decretada neste município, o Poder Executivo Municipal optou pela unificação das
Secretarias de Proteção Animal e Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Com o
intuito provável de gerar economia aos cofres públicos, sem para tanto, a intenção de causar
prejuízo ao atendimento dos munícipes, que diariamente busca os serviços das secretarias
citadas para serem atendidos nos programas e projetos existentes e para a realização de
denúncias ao que tange as políticas públicas por elas aplicadas.
No entanto, como é sabido, a demanda de casos voltados à promoção, defesa e proteção
animal, tem sido crescente. Sendo assim, com a unificação é improvável que uma secretaria
única consiga atender a tal procura, uma vez que o quadro de funcionários que atuam nessa
89
área é insuficiente para atender a demanda do município, assim como a estrutura fornecida
para esta secretaria.
Deste modo, o presente projeto propõe que a estrutura do Centro de Controle de Zoonoses do
município, passe por melhorias consideráveis e ampliação, para que posso alocar o Centro de
Referência em Assistência Especializada em Bem Estar e Proteção Animal, com a oferta de
condições melhores de trabalho e atendimento aos animais e seus respectivos responsáveis.
Esta proposta dispõe das condições e colabora no processo de concretização de uma política
pública permanente para a promoção, defesa e proteção dos animais na cidade de Iguatu,
Ceará.
Deste modo, apresento este projeto contando com o apoio de Vossas Excelências, solicito
apreciação e votação nos termos do Regimento Interno desta Casa de Leis.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso objetivo maior ao iniciar esta pesquisa foi discutir a situação de abandono dos
animais domésticos, identificando estratégias de materialização de políticas públicas voltadas
à causa animal no município de Iguatu. Ao finalizar esse estudo foi possível refletir sobre os
inúmeros problemas levantados e que foi base para o início dessa pesquisa. A concretização
desse trabalho é a superação de um desafio imposto a pesquisadora durante o curso, isso
porque trata-se de um tema ainda pouco trabalhada na área do Serviço Social.
A realização desse trabalho diante do cenário pandêmico em que vivemos, com todas
as limitações de contato para realização de pesquisa, acarretou uma grande dificuldade na
coleta de dados, isso porque, para que se possa ter acesso aos projetos de lei submetidos no
município é necessário contato direto com os legisladores e/ou ir até a Câmara Municipal, que
estava funcionando em horário reduzido e com menor quantidade de atendentes.
Além disso, as entrevistas não puderam acontecer pessoalmente e dada a
indisponibilidade dos entrevistados em participar de reunião online fizemos uso de
ferramentas como WhatApp e Instagram. O contato via redes sociais apesar de facilitador,
também faz com que a pesquisa perca um pouco da sua formalidade.
É inegável que a convivência entre humano-animal perpassa aquele antiga ideia de
que os animais são apenas objetos ou seres de posse, hoje a relação vai muito além. Mas é
fato é ainda se trata de uma relação dicotômica, uma vez que esse convívio pode ser benéfico
e/ou prejudicial para ambos.
Percebe-se que com o passar dos anos a lógica antropocêntrica vem perdendo espaço,
uma vez que a ideia de se ter o ser humano como centro do universo está defasada. Antes se
considerava que tudo que existe no planeta, existia para servir ao homem. No entanto, cada
vez mais pessoas têm feito parte do rol dos defensores dos animais, isso porque, já se entende
que a vida digna é algo que não é direito apenas do homem, mas de todo ser vivo.
Entretanto, como citado no texto, Kitagawa e Coutinho (2004 apud Silva 2016, p. 8),
apesar dos benefícios que podem surgir dessa relação, a observação quanto ao bem estar do
animal deve ser levado em conta, pois o convívio com os animais podem se tornar malefícios
quando há risco de transmissão de zoonoses. Percebemos, pois, que os primeiros cuidados
com os animais surgiram não de uma preocupação direta em relação aos cuidados dos
animais, mas por precaução à saúde do ser humano.
Assim como a domesticação surgiu da necessidade humana de conviver com outras
espécies, as primeiras políticas que envolvem a temática emergiram da preocupação com a
91
vida humana e/ou com a utilização dos animais em beneficio do homem. Dada à vontade de
uma relação multiespécies, os animais até então domesticados passam a fazer parte dos lares,
assim passaram a ser considerados animais de estimação.
Contudo, nem todos aqueles que decidem ter um animal de estimação em casa sabem
das responsabilidades que essa decisão acarreta, e como resultado disso, a população de
animais abandonados cresce velozmente. Enquanto isso, as ações em prol à causa animal,
principalmente as que tangem a proteção e defesa dos animais abandonados caminham a
passos lentos.
Entre as dificuldades relatadas pelos representantes do poder público está: a falta de
projetos na área, isso porque a Secretaria de Meio Ambiente e Proteção Animal iniciou seus
trabalhos sem que houvesse nem ao menos um trabalho sendo executado sobre a perspectiva
de proteção aos animais em situação de abandono; as complicações para conseguir adquirir
material, que seria usado na campanha de castração e vacinação. Outra dificuldade
mencionada foi a dificuldade em captar recursos para ações em prol da causa.
Para as ONGs e protetores, o maior desafio é a responsabilidade imposta sobre eles, já
que eles acabam por assumir as responsabilidades que cabem ao poder público. A maior
dificuldade para os protetores é de fato a falta de interesse do Poder Público em implantar
políticas públicas e de realizarem a aplicação das leis existentes no município.
A partir da análise das entrevistas realizadas com representantes do poder público e as
organizações da sociedade civil, de todos os problemas observados e das informações obtidas,
o maior desafio enfrentado por ambos tem sido o (des)controle populacional e a falta de
conscientização das pessoas.
É imprescindível que haja uma comunicação melhor entre o poder público e a
população municipal, visto que, não há divulgação das leis voltadas a proteção animal
existentes em Iguatu. Essa desinformação faz com que as pessoas não saibam como agir ao
presenciar situações de abandono e/ou maus-tratos.
Mesmo com toda a bibliografia aqui apresentada, pudemos perceber que sua grande
maioria trata de estudos desenvolvidos na área do direito e a psicologia. Os estudos sobre a
inserção do assistente social na política de proteção animal ainda é escasso. Até mesmo após
avanços consideráveis no que concerne a política de proteção animal em âmbito nacional, o
que pudemos observar é que ao que diz respeito as políticas municipais, estas têm sido usadas
como política de governo, isso porque tem uma visão imediatista e na maior parte das vezes
são simplesmente usadas como fins eleitorais.
92
Consideramos que os objetivos propostos para que essa pesquisa pudesse ser realizada,
assim como a pergunta de partida que a norteou, foram obtidos e contemplados, no entanto, as
possibilidades de compreensão quanto ao tema não foram esgotadas. Além disso, a
observação da necessidade de inserção do profissional de Serviço Social no âmbito da
proteção animal abre lacuna para que futuramente possam surgir estudos mais detalhados.
Logo que conseguimos conhecer, identificar e categorizar essas informações, pudemos
delinear estratégias para que haja a materialização de fato das políticas públicas existentes,
assim como, propomos novas implantações e implementações de serviços. Desse modo,
propusemos e indicamos ações para que sejam instituídos no município de Iguatu por meio de
serviços públicos permanentes para proteção animal, como a Criação do Centro de Referência
em Assistência Especializada em Bem Estar e Proteção Animal; a contratação e capacitação
de profissionais para trabalhar na área de proteção animal com destaque à contratação de
profissionais da área de Serviço Social; a implantação de programas e projetos de
conscientização nas escolas; a criação de cartilha com orientações; e ainda a implantação da
Delegacia Especializada.
E dada à importância do assunto, ousamos criar uma minuta de lei como sugestão à
Câmara Municipal de Vereadores de Iguatu para efetivar a proteção animal no município.
Pretendemos submeter o Projeto de Lei à para apreciação da Câmara deste município,
exercendo como direito, pois a Constituição Federal prevê a iniciativa popular de leis,
permitindo aos cidadãos apresentar projeto de lei, desde que cumpram as exigências
estabelecidas no §2º do art. 61.
No artigo 16, § 2º consta que, “a iniciativa popular pode ser exercida pela
apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por
cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de
três décimos por cento dos eleitores de cada um deles”. Assim logo que o processo de
conclusão do curso se encerre, buscaremos maneiras concretas e eficazes de coleta dessas
assinaturas.
Espera-se que os resultados obtidos nesta pesquisa possam contribuir para a ampliação
do entendimento sobre a causa animal e a luta pela implementação de mais políticas de
proteção, e a efetivação das políticas já existentes. Desse modo desejamos que os resultados e
considerações dessa pesquisa possam sensibilizar gestores, para discussão e implantação de
politicas de proteção animal não apenas no município de Iguatu, mas que possa abranger
também a região.
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99
APÊNDICES
QUESTIONÁRIO 1
QUESTIONÁRIO 3
APÊNDICE B – FORMULÁRIO
102
103
ANEXOS
Imagem de jornal com manchete sobre ações do CCZ Iguatu – Fonte: Facebook da ONG.
180