Você está na página 1de 1

Inicio !

Artigos

“Ensinando a
transgredir: A
educação como prática
da liberdade”, de Bell
Hooks
28 de fevereiro de 2015 & 2

Curtir 464

Por Gabriel Ambrósio, Por dentro da


África

O livro “Ensinando a Transgredir:


a educação como prática da
liberdade” é um ensaio que relata as
experiências da Bell Hooks como professora
nos Estados Unidos, e o sistema
educacional num sentido globalizado da
tradição da educação do Ocidente. A
pedagogia crítica e a educação de liberdade
são as bases desse ensaio que demonstra a
importância da educação como prática
social humanista. A realidade educacional
no mundo ocidental, por vezes, desinforma.
A falta do compromisso, a repressão que a
educação impõe é visível, mas, nem
sempre, os alunos ou estudantes
conseguem reconhecer a repressão. Uma
boa parte dos sistemas educacionais são
excludentes, principalmente no país como
Brasil, que herda os padrões europeu e
norte-americano que menosprezam os
negros. [… A sala de aula não é lugar de
para as estrelas, é um lugar de
aprendizado…] HOOKS, pág. 216.

Na obra, Hooks investigou a sala de aula


como fonte de constrangimento, mas
também uma fonte potencial de libertação.
Ela argumentou que os professores que têm
usado o controle e o poder sobre os
alunos, sentem-se oprimidos e precisam de
entusiasmo. “É preciso distinguir e dar
crédito às especificidades de cada aluno e
ao seu papel para a abordagem de linha de
montagem para a aprendizagem”. Ela
defendeu que as universidades incentivam
alunos e professores a transgredir, e
procurou maneiras de usar a colaboração
para tornar o aprendizado mais relaxante e
emocionante. Ela descreve o ensino como
“um catalisador que convida todos a se
tornarem mais engajados”.

O livro tem 14 capítulos, e cada um deles


têm os seus verdadeiros contextos, mas
sem fugir do tema. Em todos esses
capítulos, ela questiona as pedagogias e
propõe a pedagogia engajada e
comunitária dando ênfase à pedagogia
feminista como sendo uma alternativa. Ela
tem vários pontos com digna importância
para todos os professores brancos ou
negros. Nos apontamentos que ela diz:

[… Os professores universitários podem


distribuir o material quanto o quiserem,
mas se as pessoas ou estudantes não
estiverem dispostos, sairão vazios daquela
informação, por mais que agente sinta que
realmente cumpriu o dever… é preciso
saber o estado de humor, da classe, a
estação do ano, o clima da sala e perguntar
sempre se está bem, ou está acontecendo
algo. ] HOOKS, 2013. pag.211.

Essa é uma realidade em muitos países,


inclusive, no Brasil. Não basta cumprir os
programas se os alunos não
acompanharem, não entenderem. E as
universidades têm de repensar os métodos
avaliativos, citando: “ a nota é algo que os
alunos podem controlar por meio do seu
trabalho em sala de aula” HOOKS, pág.
210. Vamos navegar nas universidades, e
perguntar como pensam e como vêem a
educação. “ as universidades têm de
começar a reconhecer que a educação de
um aluno não se resume ao tempo passado
na sala de aula” Hooks. 2013.p, 219.

Alguns professores não ouvem as


experiências dos seus alunos,
principalmente quando se trata de questões
étnicas ou apenas da negra. Muitas vezes,
as crianças negras não têm apoio dos seus
professores e isso faz com que muitos
alunos negros desistam de estudar, e os
que aguentam continuam com a auto-
estima baixa. Ela ensina que é preciso
auto-atualização dos próprios
professores. “ As vozes dos alunos nem
sempre são ouvidas” para isso, a
consciência crítica ajuda bastante. A
educação libertária quando todos tomam a
posse do conhecimento como se fosse este
uma plantação em que todos temos de
trabalhar”, pág. 26.

Bell constata, como professora de carreira,


que o que muitos professores têm feito é
apenas estafar os alunos, enchendo com os
estigmas e conservando o machismo, o
sexismo e o racismo dentro das escolas. A
forma como as mulheres são tratadas é
questionável, não apenas no contexto
educacional, mas no geral. Porque os
homens pensam que detêm todo o poder
(visão machista) é condenável pela Bell
Hooks.

Por que esses professores não querem abrir


as mentes para a mudança? Por que
muitos acreditam que a academia é apenas
um lugar por onde os professores passam
e no final do mês, o salário entra na conta?
A academia é muito mais que isso. E
citando:

[… A academia não é o paraíso, mas o


aprendizado, é um lugar onde o paraíso
pode ser criado. A sala de aula com todas
suas limitações continua sendo ambiente de
possibilidades. Nesse campo de
possibilidades, temos a oportunidade de
trabalhar pela liberdade, exigir de nós e de
nossos camaradas uma abertura da mente
e do coração que nos permite encarar a
realidade ao mesmo tempo em que,
coletivamente, imaginemos esquemas para
cruzar fronteiras, para transgredir. Isso é a
educação como prática da liberdade…]
HOOKS, 2013.pág. 273.

Por que muitos alunos não conseguem falar,


por que os alunos negros nos colégios não
são vistos, por que as mulheres sempre
estão nas últimas carteiras? Muitos
professores brancos e negros não
conseguem tratar ou, pelo menos,
conversar com os alunos. Não se pode
excluir os alunos pela sua condição social
ou étnica. A escola não é lugar de opressão,
e todos os alunos deveriam ter garantido o
direito à voz, o que nunca acontece. Porém,
nos séculos XX e XXI, muita coisa está
sendo recriada e o aparecimento de
movimento feminista é uma característica
que tem ajudado o combate à opressão.
O movimento feminista das afro-
americanas e as afrodescendentes tem o
marco importante para o sistema
educacional porque elas sempre lutam
contra o racismo, o preconceito e outras
desigualdades nos países. Por isso que Bell
procura incutir a pedagogia libertadora e
transgressora da nossa sociedade.

Alguns pontos precisam de profundas


análises como o comodismo, a falta de
compromisso e a conservação dos métodos
pedagógicos arcaicos, que devem ser
combatidos. Com isso, reafirmo que o
ensino transgressor é uma receita para as
sociedades preconceituosas como a
brasileira. Ensinando a transgredir é um
livro abrangente, e verifica como os negros
são vistos. Sabemos que o Ocidente tem
padronizado tudo, sobre os estigmas
velados pelo véu do racismo, sexismo,
sobre a imagem dos homens negros,
apenas adquirindo a liberdade de ter
contato com brancas, visão estereotipada
que deveria ser uma luta pública pela
igualdade racial e a política privada. pag
127.

Como está supracitada a questão da pele,


ou seja, a luta branco x negro, pois o status
de branco ganhava os poderes mesmo
sendo pobre. Os brancos viam ( vêem) as
negras como objetos de sujeição e
abuso. (Hooks, p. 131). Isso, sem dúvida
no Brasil é bem representado. As negras só
servem para “ ficar” como se tem dito
coloquialmente. Tenho pensado bastante
nisso e não consigo entender o porquê de
não respeitarem as mulheres negras. Se
toda a mulher merece o respeito, as
mulheres negras precisam e devem ser
respeitadas. Outra coisa que faz falta para
o respeito das negras é porque os brancos
aproveitam a história escrita por homens e
mulheres brancas, que só personifica os
heróis brancos. Há necessidades urgentes
para quebrar essas tradições conservadoras
nas escolas do Ocidente.

Para transgredir, é preciso conhecer as


muitas mulheres negras que têm trabalhos
brilhantes, como Bell Hooks. A literatura
afro-americana desconstruiu várias visões
que, até então, não se discutia, e nem se
falava. Afirmo outra vez que a educação
excludente não pode prevalecer na cultura
acadêmica. Como bem fala Bell Hooks;

“Crítica literária é o ambiente que melhor


tem permitido as mulheres negras afirmar a
voz feminista. Boa parte da escrita
desmascaram formas de exploração da
opressão sexual da vida dos negros, e
recebeu atenção e ariscos falar criticamente
sobre ela…” (Hooks, 2013, 169).

As negras feministas trabalham para a


cultura acadêmica seja mais aberta e
abrangente, e as guerras entre a tradição
conservadora e a transgressão, possa ter
reconhecimento e o mérito dessas
pensadoras. E sobre a cultura padronizado
e machista dizia ela;

“ O patriarcado escrevera que Bell crescera


nesta cultura do uso da coerção punição
violenta e assédio verbal. Os homens
negros tinham mais poder e autoridade que
as mulheres negras! Mas, na faculdade, os
homens teriam sido castrados, pelo trauma
da escravidão, e impedidos do direito de
privilégios e poderes masculinos.” Hooks,
2013, 161.

Insisto em dizer que não adianta


menosprezar o feminismo porque os
estudos dessas mulheres demonstravam o
crescimento dos alunos negros e sua
presença em universidades nos Estados
Unidos. É preciso dar créditos para
as feministas negras como Celestine Ware,
Toni Cade, Bambara, Michele Wallace e
Angela Davis. Temos que reconhecer que a
educação precisa de diversos métodos e
estilos para o ensino, e os estímulos para
aprendizagem partindo de exemplos.

A educação promove mudanças de


mentalidade e essas mudanças mexem na
estrutura política. Os políticos não querem
cidadãos que pensam, que critiquem. A
última questão no livro é sobre a língua, um
instrumento de poder e opressão. A obra de
Bell Hooks destaca a língua padronizada
pela elite e a influência da língua dos alunos
que vêm da periferia com linguagens que
os professores precisam entender.

Porém, esse livro me fez refletir sobre como


os sistemas educacionais têm levado os
casos de conservação da cultura de um
modo geral. A pedagogia critica, a educação
de liberdade e o pensamento critico são
bases desse ensaio. Métodos que ensinam
os estudantes a transgredir preconceito,
machismo, racismo, sexismo (em particular,
contra as mulheres negras que, muitas
vezes, são obrigados a alisar os cabelos).
Ele demonstra a importância da educação
como prática social humanista, que precisa
do empenho e de muito trabalho por parte
dos educadores. A mudança dos
profissionais é importante. “Estudar é um
dever revolucionário”, lema proposto pelo
primeiro presidente angolano, Antônio
Agostinho Neto. Temos que abraçar a
mudança, e fazendo-a podemos viver num
mundo onde a liberdade seja para todos.

Referência

HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a


Educação como prática de
liberdade. Tradução de Marcelo Brandão
Cipolla- São Paulo. 2013. Editora Martins
Fontes, 2013.

Retirados
no http://en.wikipedia.org/wiki/Bell_hooks .
Acesso em 20 de junho de 2014.

[1] Licenciado em Letras, pela Pontifícia


Universidade Católica de Goiás. é poeta,
cronista e contista, pesquisador voluntário
da PUC na área de literatura Angolana e
Moçambicana,( Mia Couto e Pepetela).
Membro do programa e de estudo e
extensão afro-brasileiros (PROAFRO PUC
GOIÁS. com pseudônimo literário Mavenda
Nuni ya África.

[2] Fonte no
blog http://mardehistorias.wordpress.com/
2009/03/07/bell-hooks-uma-grande-
mulher-em-letras-minusculas/ , acesso em
10 de junho 2014.

[3] Retirados
no http://en.wikipedia.org/wiki/Bell_hooks .
acesso em 10 de junho de 2014.

Curtir 464

TAGS HOOKS

Curtir 464

Por Dentro da África


http://www.pordentrodaafrica.com/

Por dentro da África é um site dedicado ao


continente africano com notícias, pesquisas,
teses e coberturas exclusivas desenvolvido pela
jornalista Natalia da Luz.

" # $ %

ARTIGOS RELACIONADOS MAIS DO AUTOR

Nova temporada do ‘Cine


África’ apresentará 12 8lmes
Cultura do continente africano

África em Verso: ‘Doce


Setembro’, por Morgado
Artigos Mbalate

Togo é o primeiro país


africano a acabar com a
Ciência doença do sono

( '

2 COMENTÁRIOS

Sandra Ortega
20 de setembro de 2018 At 9:29

A resenha do livro é muito boa.


Permite saber sobre o que é o livro
e desperta o interesse em lê-lo.
Faça login para fazer um comentário

Sandra Martins
6 de novembro de 2015 At 21:22

Gostei muito da forma como vocês


disponibilizam o texto, remetendo-o
ao pdf devidamente identificado.
Muito legal. Excelente resenha.
Faça login para fazer um comentário

DEIXE UMA RESPOSTA

FAÇA LOGIN PARA FAZER UM


COMENTÁRIO

Facebook

Por dentro da África


524.476 curtidas

Curtir Página Cadastre-se

Seja a primeira pessoa entre seus amigos a curtir


isso.

Instagram

Carregar Mais... Seguir no Instagram

Carregando mapa...

Quer Saber
como Captar
Alunos?
plataforma.saseducacao.com.br

E-book: Campanha de
Matrículas
SAS Plataforma de
Educação montou um
Material completo para te
ajudar. Saiba Mais.

ABRIR

Parceiros

Vídeos

Paulina Chiziane: "O mu…

Receba nossa Newsletter

E-mail*

Nome*

Sobrenome

Enviar

Search

Home Reportagens Exclusivas Notícias


Artigos e Pesquisas Mídias Podcast Quem somos

© Copyright 2013-2015 | Por Dentro Da África

Você também pode gostar