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Relações Humanas

e Sociais

Ana Céli Pavão


Clarice da Luz Kernkamp
Sergio de Goes Barboza
© 2015 por Editora e Distribuidora Educacional S.A

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Barboza, Sergio de Goes


B239r Relações humanas e sociais / Sergio de Goes
Barboza, Clarice da Luz Kernkamp; Ana Celi Pavão. –
Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2015.
192 p.

ISBN 978-85-8482-106-8

1. Influências Ambientais. 2. Comportamento. 3.


Comunicação. I. Kernkamp, Clarice da Luz. II. Pavão, Ana
Céli. III. Título.

CDD 156
Sumário

Unidade 1 | Relação entre os indivíduos e a sociedade 7


Seção 1 - O homem e a sociedade 11

Seção 2 - Estado, indivíduo e sociedade 17

Seção 3 - Desigualdade e direitos humanos 29

Unidade 2 | Fatores sociais e ambientais que influenciam no


desenvolvimento das Relações Humanas 57
Seção 1 - Fatores ambientais 61

Seção 2 - Influências dos fatores ambientais e as patologias 75

Seção 3 - Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável 85

Seção 4 - Sociologia ambiental e suas relações sociais 93

Unidade 3 | O significado do trabalho e relações humanas


Seção 1 - O significado do trabalho para o ser humano
em sua individualidade e coletividade
1.1 | Trabalho e sociedade no cenário atual

Seção 2 - Relações humanas, aspectos do desenvolvimento


humano e interação.
2.1 | As contribuições da Psicologia Social

Unidade 4 | A compreensão do comportamento humano e


comunicação
Seção 1 - Comportamento humano, contribuições da psico-
logia e a interação humana em grupo
1.1 | Comportamento humano em grupo

Seção 2 - Comportamento humano, contribuições da


psicologia e a interação humana em grupo
2.1 | Habilidades de comunicação: o feedback
Apresentação

Olá, pessoal! É com prazer que apresentamos neste livro alguns temas relevantes
para que você possa ter uma dimensão atual da realidade. Na primeira unidade,
perpassaremos pela relação Indivíduo e Sociedade, buscando compreender
as formas de interação das pessoas com o corpo social, isto é, a sociabilidade
e a socialização. Uma das propostas é demonstrar as formas transfiguradas dos
serviços sociais e as contradições do mundo do trabalho. Neste contexto, as
consequências da ação política delinearão uma relação de causa e efeito.

Na segunda unidade, perpassaremos pelos fatores sociais que influenciam no


desenvolvimento das relações sociais. No âmbito da Sociologia, o que se pretende
é demonstrar a quebra de paradigmas intermediada pelas consequências surgidas
da relação homem e natureza. Neste sentido, dá-se ênfase às dimensões de
sustentabilidade, principalmente a social e a ambiental.

Estas referências teóricas complementam o entendimento das relações humanas


e sociais, proporcionando uma reflexão crítica da realidade socioambiental.

Diante de uma perspectiva psicossocial, na terceira unidade, perpassaremos


por uma reflexão sobre as transformações ocorridas no mundo do trabalho e a
inter-relação entre individualidade e coletividade. Seguindo esta linha de raciocínio,
complementaremos, na quarta unidade, algumas reflexões importantes sobre
alguns fenômenos da vida humana, considerando os aspectos da dinamicidade.

O nosso objetivo explícito é levar o aluno a ter uma reflexão crítica da realidade,
buscando ao máximo desenvolver uma opinião mais elaborada e realista, fugindo,
assim, do senso comum.

A linguagem foi elaborada de uma forma simplificada, tornando-se um texto de


fácil leitura para a compreensão do aluno, estando voltada para as áreas humanas
e especialmente sociológicas. Dentro dessa temática, o que os autores deste livro
alvitram, portanto, é ampliar os conhecimentos relacionados às mais diversas
termologias dentro do tema proposto, assim como a sua devida aplicação.
Desejamos um excelente estudo aos nossos estudantes e leitores.

Sergio de Goes Barboza


Unidade 1

RELAÇÃO ENTRE OS
INDIVÍDUOS E A SOCIEDADE

Sergio de Goes Barboza

Objetivos de aprendizagem: Esta unidade tem como objetivo levar


as pessoas a compreenderem sua importância enquanto ser coletivo,
mostrando o quanto o homem necessita de seus semelhantes para
sobreviver, e a exacerbarem um pensamento crítico da própria realidade
em seu cotidiano. Neste estudo, você poderá refletir sobre as questões da
violência e da crise na sociedade moderna, mostrando as contradições que
caminham do lado oposto da necessidade do homem em socializar-se.

Seção 1 | O Homem e a Sociedade

Você será levado a refletir sobre a relação Indivíduo e Sociedade e


as diversas situações que a caracteriza como estado patológico. Neste
sentido, entre o estado normal e o patológico, perpassaremos pela
sociabilidade e socialização, formas através das quais o indivíduo se
entrega ao grupo.

Seção 2 | Estado, Indivíduo e Sociedade

Proporemos uma discussão sobre a divisão do trabalho e o seu caráter


social. Portanto, você será levado a refletir a relação entre Estado, Indivíduo
e Sociedade e as formas transfiguradas de serviços sociais. Mostraremos
U1

também a necessidade de respeito aos Direitos Humanos independente


da coerção aplicada pelo Estado.

Seção 3 | Desigualdade e Direitos Humanos


Nesta seção, levaremos você a pensar sobre a pobreza e as
consequências da ação política. Neste sentido, refletiremos sobre a
relação de causa e efeito e o distante consenso entre a teoria e a prática.

10 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Introdução à unidade

Considerando que a visão dicotômica entre indivíduo e sociedade é fundamental


para uma reflexão crítica da realidade, nesta unidade propomos uma reflexão
dentro de um processo de análise que perpassa por três eixos principais: o primeiro
eixo intitulamos “Homem e Sociedade”, cujo objetivo é buscar compreender que
todas as relações sociais estão conectadas, formando um todo social, ou seja,
a sociedade. Entende-se nesta perspectiva, como se dá esta relação indivíduo
e sociedade, considerando a sociedade como algo dinâmico, complexo e em
mudança constante. Neste contexto, de acordo com Durkheim, a sociedade
prevalece sobre o indivíduo, daí adentraremos na reflexão, de um lado, sobre
anomia social, e de outro, dos fatores que levam uma sociedade a se manter
integrada. Uma das indagações é entender as consequências da delinquência
política e da ação dos homens em sociedade.

No segundo eixo, o nosso estudo se passa entre “Estado, Indivíduo e Sociedade”,


no qual trabalharemos a divisão do trabalho e seu caráter social. A proposta desta
perspectiva é mostrar a expressão de uma atividade humana dentro da alienação
da vida; e refletir os valores criados pela classe trabalhadora, apropriados pelo
Estado e pelas classes dominantes e, consequentemente, a sua transfiguração na
devolução à sociedade como benefícios sociais.

Outra perspectiva quanto ao estudo que se propõe nesta unidade é


compreender os direitos humanos, não tendo a coerção do Estado como sendo o
único instrumento para a sua efetivação, mas a importância deste respeito mesmo
na ausência de qualquer tipo de repressão.

No terceiro eixo, “Desigualdade e Direitos Humanos”, procuraremos aprofundar


este assunto apontado na relação causa e efeito e o distante consenso entre a
teoria e a prática (o que está escrito e o que se pratica).

Relação entre os indivíduos e a sociedade 11


U1

12 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Seção 1

O homem e a sociedade

O homem não consegue viver sozinho, portanto, é um animal social. Ele


vive em grupos sociais nas cidades, nas comunidades e na sociedade de modo
geral, misturando a vida humana e a sociedade nesta relação. É certo dizer que o
homem não pode viver sem a sociedade, e que ele é biológico e psicologicamente
preparado para viver em grupos. É na sociedade que os homens demonstram suas
existências, ou seja, é uma condição essencial para a continuação da raça humana.

O homem depende de todo o corpo social. É na sociedade que os indivíduos


criam a cultura e vivenciam seus valores, que, consequentemente, se tornarão uma
força social. É na sociedade, mais uma vez, que ele tem que estar em conformidade
com as normas, ocupando status e tornando-se membro de grupos.

A Sociedade e a Consciência Coletiva

Você já pensou como seria sua vida se vivesse de forma individual e isolada sem
contato com outros indivíduos? Como seria seu comportamento depois de viver
uma grande parte de sua vida em uma selva, como a história que conhecemos de
um menino que foi encontrado numa região da França, chamada Aveyron?

O menino selvagem de Aveyron:


<http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/cinema/dossier/
meninoselvagem.pdf>

Certamente, você iria estranhar e perceber a grande diferença em viver numa


nova sociedade. A sua realização enquanto ser social só seria possível nessa nova
sociedade se conseguisse integrar-se a essa nova estrutura. Para Durkheim (1973),

Relação entre os indivíduos e a sociedade 13


U1

a sociedade prevalece sobre o indivíduo e, assim como a consciência coletiva, é


uma entidade moral.

Para viver em sociedade, há a necessidade de certo consenso e, ao mesmo


tempo, de solidariedade entre seus membros. Da mesma forma que a sociedade
vai se desenvolvendo, se tornando mais complexa, paralelamente a solidariedade
também vai variando segundo o grau de modernidade. É a partir dessa concepção
que Durkheim (1973) vai enfatizar a passagem da solidariedade mecânica para
a solidariedade orgânica. A partir dessa complexidade, a moral se torna norma
jurídica, considerando a necessidade de definir as regras de cooperação.

CONSCIÊNCIA COLETIVA - não se baseia na consciência de indivíduos


singulares ou de grupos específicos, mas está espalhada por toda a sociedade,
revelando o “tipo psíquico da sociedade”, que se imporia aos indivíduos e perduraria
através das gerações.

A consciência coletiva é a forma moral vigente na sociedade. Ela aparece


como um conjunto de regras estabelecidas que atribuem valor e delimitam os
atos individuais, define o que, numa sociedade, é considerado “moral”, “reprovável”
ou “criminoso”.

Indivíduo ou sociedade?

Vamos começar por um exemplo simples que nos ajude a entender o conceito
de fato social. Se um professor chegasse à instituição de ensino fora do horário, ou
faltasse constantemente, não aplicasse os conteúdos como estipulado no plano
de ensino, e ainda fosse embora antes do término das aulas, certamente ficaria
numa situação muito desconfortável, pois a direção provavelmente o chamaria
para conversar sobre suas atitudes, já que na instituição, existem normas e regras
que são comuns a todos os professores, alunos e funcionários, e não apenas
para este ou aquele. Neste caso, identificamos a característica de generalidade.
As normas e as regras não estão nos indivíduos, e sim na coletividade. Quando o
professor chegou à instituição, já existiam as normas e regras, portanto, deveria
cumpri-las independente de suas vontades. Assim, temos a característica de
exterioridade. Caso isso não ocorra, haverá uma coerção, ou seja, uma punição
sobre o indivíduo por não cumprir as determinações decididas pelo grupo, pelo
coletivo. Dessa forma, finalmente constatamos a característica de coercitividade.

Existe um modo de agir que é comum, que todos seguem dentro de uma
instituição. Isso não é estabelecido pelo indivíduo ao se introduzir no grupo.
Quando ele entrou, já existia tal norma e, quando ele sair, a norma provavelmente
permanecerá. Quer a pessoa goste ou não, vê-se obrigada a seguir o costume

14 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

geral. O modo de agir é um fato social, assim como o modo de se vestir, a língua,
o sistema monetário, a religião, as leis e uma infinidade de outros fenômenos do
mesmo tipo.

Para Durkheim (1973), os fatos sociais são os modos de pensar, sentir e agir de
um grupo social. Embora os fatos sociais sejam exteriores, eles são introjetados
pelo indivíduo e exercem sobre ele um poder coercitivo.

Veja reportagem completa no site a seguir, na qual podemos observar


as três características dos fatos sociais: generalidade, exterioridade e
coercitividade.
<http://estilo.uol.com.br/moda/ultnot/2007/02/07/ult3803u4.jhtm>

Durkheim vai dizer ainda que é o coletivo que predomina sobre o


comportamento do indivíduo. A sociedade está o tempo todo pressionando as
nossas condutas, sejam no modo de ser, de pensar, de sentir, de se vestir etc. Em
virtude dessas características, para Durkheim (1973), os fatos sociais podem ser
estudados objetivamente, como “coisas”. Da mesma maneira que a Biologia e a
Física estudam os fatos da natureza, a Sociologia pode fazer o mesmo com os
fatos sociais. Sobre a predominância da sociedade sobre o indivíduo, Durkheim
(apud TOMAZI, 2000, p. 17) diz:

Para o Sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), a


sociedade prevalece sobre o indivíduo. A sociedade é, para esse
autor, um conjunto de normas de ação, pensamento e sentimento
que não existem apenas na consciência dos indivíduos, mas que
são construídas exteriormente, isto é, fora das consciências
individuais. Em outras palavras, na vida em sociedade o homem
defronta com regras de conduta que não foram diretamente
criadas por eles, mas que existem e são aceitas na vida em
sociedade, devendo ser seguidas por todos. Sem essas regras,
a sociedade não existiria, e é por isso que os indivíduos devem
obedecer a elas.

Relação entre os indivíduos e a sociedade 15


U1

Quando se questiona sobre a existência da sociedade, segue-se uma analogia


sobre os parâmetros de uma sociedade coesa, cuja harmonia refere-se à dignidade
humana. O cidadão tem direito de viver livre, em segurança, mas o que se vê
na atualidade é ele cada vez mais prisioneiro da irresponsabilidade daqueles que
governam o país.

Berço da violência e da criminalidade

O descaso do poder político, as guerras políticas, o individualismo, as


desigualdades sociais etc. são frutos do poder e do capitalismo, e as consequências
são as crises que percebemos nos grandes centros urbanos.

Não se pode contestar que hoje há uma banalização da violência urbana,


a educação não é profundamente valorizada e priorizada pelos governos, o
individualismo da sociedade, a desigualdade social, a falta de regras eficientes,
entre outras, propiciam a desordem e a violência nas cidades.

Muitas das grandes cidades brasileiras, cuja violência está fora do controle, nos
remetem ao século XVIII, quando surgem a Revolução Industrial e a Revolução
Francesa. As cidades passavam por um vertiginoso crescimento demográfico, sem
possuir, no entanto, estrutura de moradias, serviços sanitários, saúde etc.

O mundo capitalista ganha com os problemas alheios, daí as dificuldades para


se resolver. É a corrupção no meio da justiça em geral, da polícia, dos órgãos de
segurança pública, enfim, a desordem ocorre porque a sociedade está abandonada
e o individualismo está em alta. As normas e as regras não são adequadas ou
cumpridas, sendo a lei do mais forte que reina.

É este estado que Durkheim (1973) vai chamar de anômico ou fato social
patológico, doentio, situação em que a sociedade encontra-se fora dos limites
permitidos pela ordem social e pela moral vigente. Se os Fatos Sociais Patológicos
estão em evidência, a sociedade encontra-se em crise, o que Durkheim chama de
"anomia", que é a ausência de regras ou fatos sociais suficientemente fortes para
que a sociedade se mantenha integrada.

Diante deste quadro, o que se pode observar é que a sociedade se estabelece


como uma escola para a nova geração, infelizmente, em muitas situações, uma
escola negativa.

O que se pode observar também é que todos os direitos que constam na


Constituição não se estabelecem na prática. Milhões de crianças vivem em
condições subumanas, e as soluções praticadas pelos governos são simplesmente
de efeito político, elas não buscam resolver estas questões nas raízes dos problemas.

16 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Considerando que a violência não se resume apenas à forma


como conhecemos, o desrespeito às leis ou a toda uma ação
que transgrida as leis estabelecidas por uma autoridade política
não seria também um desrespeito aos Direitos Humanos?

De acordo com Giddens (2005, p. 564):

Para o Sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), a


sociedade prevalece sobre o indivíduo. A sociedade é, para esse
autor, um conjunto de normas de ação, pensamento e sentimento
que não existem apenas na consciência dos indivíduos, mas que
são construídas exteriormente, isto é, fora das consciências
individuais. Em outras palavras, na vida em sociedade o homem
defronta com regras de conduta que não foram diretamente
criadas por eles, mas que existem e são aceitas na vida em
sociedade, devendo ser seguidas por todos. Sem essas regras,
a sociedade não existiria, e é por isso que os indivíduos devem
obedecer a elas.

Sociabilidade e socialização

Não conseguiríamos viver sozinhos, isolados, pois viver em grupo é uma


experiência da natureza humana. O homem necessita de seus semelhantes para
sobreviver, perpetuar a espécie e também para se realizar plenamente como
pessoa.

A sociabilidade desenvolve-se pelo processo de socialização. É por ela que o


indivíduo se integra ao grupo em que nasceu, assimilando o conjunto de hábitos e
costumes característicos dele.

É participando da vida em sociedade, aprendendo suas normas, seus valores e


costumes, que o indivíduo se socializa. Quanto mais adequada for a socialização
do indivíduo, mais sociável ele poderá se tornar.

Relação entre os indivíduos e a sociedade 17


U1

Algumas formas de sociabilidade são realmente


inovadoras, libertadoras ou deslumbrantes. Abrem
novas possibilidades de emancipação individual e
coletiva, permitindo outras formas de criação também
individuais e coletivas. Florescem ideias filosóficas,
científicas e artísticas, ao mesmo tempo em que se
criam distintas condições sociais de individualização,
mobilidade social, organização de movimentos sociais
e correntes de opinião pública. Também os movimentos
artísticos podem dispor de outras condições de
emergência, desenvolvimento e generalização.
A multiplicação dos meios de comunicação e as
possibilidades de circulação das coisas, gentes e ideias,
em âmbito nacional, regional e mundial, abrem outros
horizontes para indivíduos e coletividades (IANNE, 1995
apud ALVES, 1999, p. 173).

1. Segundo Durkheim (1973), o que são fatos sociais?

2. Explique sobre Sociabilidade e Socialização.

18 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Seção 2

Estado, indivíduo e sociedade

Nesta Seção, iremos trabalhar a divisão do trabalho e o seu caráter social,


perpassando pelos enfrentamentos sociais em que determinados problemas
transcendem o âmbito do indivíduo e que os serviços em sua realidade substancial
não são mais do que uma forma transfigurada de porção de valor criado pelos
trabalhadores e apropriado pelos capitalistas e pelo Estado, que devolve para a
sociedade sob a forma transfigurada de serviços sociais. Mostraremos também que,
embora a coerção do Estado seja um instrumento efetivo dos Direitos Humanos, o
ideal seria que as pessoas respeitassem os Direitos Humanos mesmo na ausência
de coerção.

A divisão do trabalho

De acordo com Iamamoto (1997), ao produzir os meios de vida, os homens


produzem sua vida material. O modo de produzir os meios de vida se refere não
somente à produção física dos indivíduos, mas à reprodução de determinada
maneira de vida. A produção da própria vida através do trabalho e da procriação se
dá em uma dupla relação natural e social; social porque compreende a cooperação
de muitos indivíduos. Portanto, um determinado modo de produzir supõe também
um determinado modo de cooperação entre os agentes envolvidos, e determinadas
relações sociais estabelecidas no ato de produzir, as quais se referem ao cotidiano
na vida na sociedade.

Na produção social da própria vida, os homens contraem


relações determinadas, necessárias e independentes de sua
vontade, relações de produção estas que correspondem a
uma etapa determinada de desenvolvimento das suas forças
produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção
forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a
qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual

Relação entre os indivíduos e a sociedade 19


U1

correspondem formas sociais determinadas de consciências. O


modo de produção da vida material condiciona o processo em
geral de vida social, político e espiritual. Não é a consciência dos
homens que determina seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social
que determina sua consciência (MARX, 1996, p. 52, tradução nossa).

O grau de desenvolvimento da divisão social do trabalho expressa o grau de


desenvolvimento das forças produtivas sociais do trabalho.

A divisão do trabalho e da propriedade são expressões idênticas

Figura 1.1 | Divisão do trabalho e da propriedade

Fonte: Do autor.

Assim, cada fase da divisão do trabalho corresponde a uma forma de


propriedade, ou cada etapa de desenvolvimento das forças produtivas do trabalho
social corresponde a uma forma de apropriação do trabalho.

20 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Sendo que o trabalho não é mais do que a expressão de uma


atividade humana dentro da alienação, da manifestação da
vida como a alienação da vida, podemos também decidir que
a divisão do trabalho não é outra coisa que o estabelecimento
mentalmente da alienação da atividade humana como uma
atividade genérica real ou como a atividade do homem
enquanto ser genérico (MARX, 1975 apud IAMAMOTO, 1997,
p. 52, tradução nossa).

No mundo dominado pelo valor de troca, o indivíduo produz para si ao produzir


para a sociedade, pela qual cada membro trabalha para outra esfera. O trabalho
e o que foi produzido por ele não tem valor de uso para si, mas para os outros.
Quando o trabalho não for de caráter social, a sua produção também não o será.

O caráter social da produção e do trabalho

Quando podemos observar o caráter social da produção e do trabalho? Vamos


exemplificar da seguinte maneira:

Você tem uma chácara e na sua propriedade tem uma pequena plantação de
feijão, além de algumas vacas leiteiras. Tanto o feijão quanto o leite são para sua
subsistência. Essa produção não tem valor de troca, considerando que você planta
ou produz para si mesmo, ou seja, você não vende para terceiros. Se você planta e
produz para a sua própria subsistência, esta produção não tem valor de troca, logo,
não tem valor social e, consequentemente, não tem caráter social.

Agora, vamos fazer diferente: você vende o feijão que planta e também o leite,
então esta produção não é para sua subsistência, mas para outras pessoas que vão
consumir o seu produto. Ao produzir para as necessidades dos demais, você estará
submetido a uma dependência social. Neste caso, o seu trabalho tem caráter
social, no entanto, não tem valor de uso para quem produz somente valor de troca
(terá valor de uso apenas para o comprador).

Quando a produção de caráter social (o que tem valor de troca) se converte em


meio de subsistência para o produtor?

Esta produção só se converterá em meio de subsistência para o produtor


depois de convertido em dinheiro. Assim, o produtor poderá utilizar o dinheiro
para comprar algo que tenha valor de uso para si.

Relação entre os indivíduos e a sociedade 21


U1

Esse caráter privado da produção é um produto


histórico: se cada indivíduo se encontra isolado e
autônomo no centro do processo de produção é
devido à divisão social do trabalho, que por sua vez se
baseia em uma série de condições econômicas que
determinam o lugar dos indivíduos entre os restantes
e o conjunto de modalidade de sua existência (MARX,
1972 apud IAMAMOTO, 1997, p. 55, tradução nossa).

Em síntese, pode-se afirmar que a divisão do trabalho resume as condições


sociais nas quais os indivíduos, na qualidade de pessoas autônomas e privadas,
produzem valores de troca.

A distinção entre uma questão individual e pública

Podemos chamar de questões sociais, conforme diz Tomazi (2000, p. 27):

[...] determinados problemas que transcendem


o âmbito do indivíduo, da sua vida privada. São
problemas oriundos de relações que se dão num plano
mais amplo. Essas formulações podem ser muito bem
exemplificadas com o que o sociólogo norte-americano
C. Wright Mills (1915- 1962) escreveu em sem livro A
imaginação sociológica. Mills considera que, se, numa
cidade de 100 mil habitantes, somente um homem está
sem emprego, isso é seu problema pessoal, entretanto,
se, em uma nação com 50 milhões de trabalhadores,
15 milhões não encontram emprego, configura uma
questão pública, que não pode ser resolvida da mesma
forma como se resolve um problema individual.

Percebem-se as novas determinações das questões sociais nas bases da


consolidação do capitalismo monopolista na sociedade brasileira e na constituição
do Estado, verifica-se, porém, as derivações do serviço social que origina e
os requisitos prévios para compreender o significado das novas demandas
apresentadas para os assistentes sociais.

22 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Procuramos relacionar como se situa e o significado do serviço social na


reprodução das relações sociais, segundo Iamamoto (1997):

• Situa-se como um dos elementos que participam da reprodução das


relações de classes e relação contraditória entre elas.

• Configura um tipo de especialização do trabalho coletivo dentro da divisão


social do trabalho peculiar da sociedade industrial.

• A expansão dos serviços sociais no século XX está estreitamente relacionada


ao desenvolvimento da noção de cidadania.

• Os serviços sociais são, portanto, uma expressão concreta dos direitos


sociais de cidadão.

• Situa-se em processo de reprodução das relações sociais, fundamentalmente


como atividade auxiliar e subsidiária em seu exercício e controle social.

A moderna sociedade burguesa, emergente do naufrágio da sociedade feudal,


não aboliu os antagonismos de classes. Ela apenas colocou novas classes, novas
condições de opressão, novas estruturas de luta no lugar das antigas. As lutas
políticas das classes operárias têm sido importantes para reivindicar aquilo que é
produzido e criado por eles mesmos.

Diante das extremas estratégias do Estado e da classe dominante, temos que


refletir uma importante questão:

Os benefícios sociais, ao assumir esta forma (como benefícios), são realmente


uma dádiva do Poder Público?

Vejamos o que diz Iamamoto (1997, p. 107, tradução nossa, grifo nosso):

Assim, parte do valor criado pelas classes trabalhadoras


e apropriado pelo Estado e pelas classes dominantes é
redistribuída à população sob a forma de serviços, entre os
quais se encontram os serviços assistenciais, de provisão e
‘sociais’ em sentido amplo. É assim que tais serviços em sua
realidade sustencial, não são mais que uma forma transfigurada
de porção de valor criado pelos trabalhadores e apropriado
pelos capitalistas e pelo Estado que devolve para a sociedade
(e em especial aos trabalhadores, que mais fazem uso) sob
a forma transfigurada de serviços sociais reafirmando tais

Relação entre os indivíduos e a sociedade 23


U1

serviços, públicos ou privados, não são mais que a devolução


às classes trabalhadoras de porção mínima do produto criado
por elas, porém não apropriado, sob uma nova roupagem:
a dos serviços os benefícios sociais. No entanto, ao assumir
esta forma, aparecem como foram sanados e oferecidos ao
trabalhador pelo poder político diretamente e pelo capital
como expressão da fase humanitária do estado e da empresa
privada. Dos diversos serviços sociais previstos em políticas
sociais específicas são a expressão de conquistas das classes
trabalhadoras em sua luta por maiores condições de trabalhos
e de vida, que são consubstanciadas e ratificadas através da
legislação social e laboral.

A questão da relação entre o indivíduo e a sociedade é o ponto de partida de


muitas discussões. Ela está intimamente ligada à questão da relação do homem e
da sociedade. O contato social é a base da vida social, é o primeiro passo para que
ocorra qualquer associação humana.

É a reciprocidade de ações entre indivíduos, por meio das


quais as pessoas se aproximam ou se afastam se associam
ou se dissociam. O aspecto mais importante da interação
social é que ela modifica o comportamento dos indivíduos
envolvidos, como resultado do contato e da comunicação que
se estabelece entre eles. Por exemplo, se alguém senta ao lado
de outra pessoa num ônibus, mas ambos não conversam, não
está havendo interação social (OLIVEIRA, 2002, p. 30).

Coerção do estado

A coerção do Estado pode ser um instrumento efetivo dos direitos humanos. O


ideal seria que as pessoas respeitassem os direitos humanos mesmo na ausência
de coerção. Como comenta Vieira e Dupree (2014, p. 1): “Vamos imaginar, por
exemplo, que a ameaça de uma multa fosse a única razão pela qual as pessoas
não ultrapassam sinais vermelhos. Razão muito mais forte é o instinto de evitar um
acidente, associado à compreensão de que infringir a regra pode causar um”.

Veja que as pessoas respeitam as regras não pela consciência de que infringi-las
pode causar um acidente e, consequentemente, desrespeitar o direito à vida de

24 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

outras pessoas, mas o respeito ocorre pela questão da multa.

Quando Durkheim fala de fatos patológicos, está se referindo a uma sociedade


em crise, o que ele denomina “anomia”, que é a ausência de regras ou fatos sociais
suficientemente fortes para que a sociedade se mantenha integrada. No entanto,
regras podem até existir, o grande problema são as ações de concretizá-las, ou
seja, fazer com que se cumpram.

Mas qual é a justificativa da existência do Estado? A sua existência se dá pela


manutenção e aplicação do direito na busca pela ordem social. Sociedade, Estado
e direito têm as suas particularidades, porém, deve o Estado assegurar a ordem e o
cumprimento das leis. No entanto, grande parte dos problemas enfrentados na sociedade
ocorre porque o próprio Estado tem sido o pior violador dos direitos humanos, o que
deveria ser reforçado à sua responsabilidade e aos limites de sua autoridade.

Vamos lembrar?
Democracia é um sistema político no qual a soberania emana do
povo. A democracia moderna se caracteriza também pelo respeito às
liberdades individuais e coletivas, pelo respeito aos direitos humanos,
pela divisão do poder do Estado em três poderes (Executivo, Legislativo,
e Judiciário), pela igualdade de todos perante a lei e pela existência de
formas de controle das autoridades pelos cidadãos (CHAUI; OLIVEIRA,
2007, p. 183).

O contrato social segundo Thomas Hobbes


Têm-se aqui a relação entre os indivíduos, e entre esses e o Estado que os
governa. O contrato social pode-se entender como a consolidação da vida em
sociedade.

Neste contexto, é necessário um Estado suficientemente forte e organizado


para garantir a ordem através das normas, regras e leis. Fora disso, só a desconfiança
impera entre os homens, pois, se comparado à convivência humana no estado de
natureza, todos viviam limitados tão somente a uma atitude de defesa.

Quando Émile Durkheim (1858-1917) afirma que a sociedade só pode existir se


esta obedecer às normas e às regras, ele não está se referindo apenas à sociedade
governada, mas incluem-se aqui governantes e governados, ou seja, a sociedade
como um todo. Conforme comenta Tomazi (2000, p. 17):

Relação entre os indivíduos e a sociedade 25


U1

Para o Sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917),


a sociedade prevalece sobre o indivíduo. A sociedade
é, para esse autor, um conjunto de normas de ação,
pensamento e sentimento que não existem apenas na
consciência dos indivíduos, mas que são construídas
exteriormente, isto é, fora das consciências individuais.
Em outras palavras, na vida em sociedade o homem
defronta com regras de conduta que não foram
diretamente criadas por eles, mas que existem e são
aceitas na vida em sociedade, devendo ser seguidas por
todos. Sem essas regras, a sociedade não existiria, e é
por isso que os indivíduos devem obedecer a elas.

Quando se questiona sobre a existência da sociedade, segue-se uma analogia


sobre os parâmetros de uma sociedade coesa, cuja harmonia refere-se à dignidade
humana. O cidadão tem direito de viver livre, em segurança, mas o que se vê
na atualidade, são os cidadãos cada vez mais prisioneiros da irresponsabilidade
daqueles que governam o país.

Quando Durkheim diz que as normas e as regras devem ser seguidas por todos,
incluem-se aqui governantes e governados.

Se por um lado a sociedade prevalece sobre os indivíduos em linhas gerais, por


outro, existem muitos indivíduos que não seguem as regras coletivas.

Vamos entender uma situação atual no Brasil com relação, por exemplo, ao
sistema Cantareira em São Paulo. O Cantareira é responsável por levar água para
oito milhões de pessoas na Grande São Paulo. Com a seca, pode-se chegar a
um colapso, podendo ocorrer, segundo os especialistas, um desastre ambiental e
trazer grandes problemas para a sociedade local. Com o reservatório diminuindo
cada vez mais, ainda é possível ver moradores desperdiçando água, lavando
calçadas, por exemplo. A sociedade não se conscientiza da gravidade que está por
vir, pois, a partir da falta de água, virá, em consequência, o problema da energia
elétrica. Dentro de uma reflexão mais pessimista, concretizando-se este problema,
grandes indústrias teriam que sair da região de São Paulo, assim como os próprios
moradores, o que impediria o crescimento e o desenvolvimento da região de São
Paulo. O título de uma das cidades mais importantes do mundo poderia, nessas
perspectivas, deixar de existir se a conscientização por parte de governantes e
governados continuar inexistente. A cidade se encontraria em um caos, pois, a
partir destes problemas, outros certamente surgiriam.

26 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Figura 1.2 | Crise da água

Fonte: Disponível em: <http://www.rbj.com.br/file/2014/10/2obrolhf4uontjqnxkgyw88o2.jpg>. Acesso em: 07


nov. 2014.

Cumprir normas e regras é um fato que geralmente está ausente no sistema


político e no campo da justiça. Esses vícios se deparam constantemente nos
termos: “foros privilegiados”, “brechas na lei”, “lentidão da justiça”, “sistema de
recursos”, “julgamento em liberdade” etc.

Pergunta-se: Um candidato que tem uma sentença condenatória, com


trânsito em julgado, em ação de improbidade administrativa, que já provou não ter
nenhuma responsabilidade com o que é público e com a sociedade, que não sabe
diferenciar o público do privado, merece ser reeleito?

Entende-se que a sociedade, de forma geral, está nesta


relação entre Indivíduos e Estado ou Estado e Sociedade
Civil. Sobre a forma como o Estado se comporta em meio a
tantas corrupções, privilégios, egoísmos etc., não estaria ele
se comportando na mesma essência do estado de natureza,
no qual prevalece a lei do mais forte, dos mais poderosos?

Portanto, enquanto a sociedade estiver desprovida de um poder comum,


cujo objetivo é manter o respeito dentro dos respectivos limites, os homens se
encontrarão no estado ao qual denominam guerra.

Relação entre os indivíduos e a sociedade 27


U1

Na concepção hobbesiana, a guerra não é entendida tão


somente no ato de lutar, mas também na disposição de
espírito para tanto. É guerra de todos contra todos, posto
que, quando há a ausência de autoridade civil para conter
o ímpeto egoísta tipicamente próprio da espécie humana,
cada um é juiz de si mesmo e executarão os atos visando
satisfazer sua ambição, levados por sua própria força e
invenção. Nesse tipo de convivência, não há lugar para o
desenvolvimento da sociedade. Todos terão o justo receio
de empregar seus esforços em vão, haja vista o perigo
iminente de ataques por parte dos outros, seus semelhantes.
Assim é que, em estado de natureza, não há o cultivo da
terra, não há a realização e execução de projetos, não há
construção nem comércio; não há sociedade, e sim o que
se verifica é o constante temor de destruição e o perigo de
morte (RODRIGUES, 2010, p. 1).

A nossa sociedade convive constantemente com as individualidades políticas, o


egoísmo parlamentar e uma representatividade inexistente, assim, é contraditória
e conflitante a teoria política, daí as crises também constantes, em que a noção
de coletividade no interior de uma nação é destituída. As regras e as normas são
intensas dentro de uma noção global. Há contradição e muitas brechas nas leis,
motivando questões importantes para serem refletidas: ou seus legisladores as fazem
propositalmente, ou não têm nenhuma noção de unidade na elaboração delas.

A lei que puni é a mesma que absolve sem cumpri-la totalmente. Se a


desorganização ocorre na administração de um Estado, na esfera jurídica
ou política, não se pode esperar uma sociedade coesa. Se a sociedade é um
conjunto de normas de ação, pensamento e sentimento, que não existe apenas na
consciência dos indivíduos, mas que é construído exteriormente, na coletividade, e
considerando os parâmetros já citados, fica a indagação se realmente ela é possível.

Veremos a análise de Carvalho (2006, p. 80)

Diante da crise da sociedade contemporânea, a sociologia


se vê às voltas com questões de simples e fáceis formulações
e de difíceis respostas, entre as quais se destacam: o que é

28 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

sociedade? É possível a sociedade? São questões que exigem


uma imersão em aspectos que atravessam o nosso cotidiano
e rompem os limites dos valores sob os quais se funda esta
sociedade. Este rompimento não é apenas um esgotamento
do conceito de sociedade, em que a sociologia foi fundada.
Estamos diante de uma perda, a da noção de sociedade. O
pressuposto básico para responder às questões iniciais é o de
que estamos diante de uma sociedade em crise. Se estivermos
de acordo com a ideia de crise dessa sociedade assim
formulada, cabem à Sociologia, duas tarefas: a primeira é a de
desvendar ou compreender a crise que permeia a sociedade
atual e, a segunda, deve a Sociologia propor, novamente, a
possibilidade de "explicação de mundo" ou a interpretação
crítica da sociedade.

A questão é que não pode haver uma sociedade “ideal” quando os seus dirigentes
governam não para todos, mas para si.

A sociedade, enquanto sociedade, não pode conviver com um método de


administração cujos interesses não estão direcionados à população.

Mesmo aqueles partidos que até então eram oposição e criticavam os


governantes anteriores, hoje são os que estão no poder e, no entanto, suas atuações
são contraditórias como suas próprias ideologias passadas. Justifica-se aí o fato de a
ideologia estar ligada ao poder, como comenta Giddens (2005, p. 569):

Ideologia são ideias ou convicções compartilhadas que servem para


justificar os interesses de grupos dominantes. As ideologias estão
presentes em todas as sociedades que possuem desigualdades
sistemáticas e enraizadas entre os grupos. O conceito de ideologia
está intimamente ligado ao poder, uma vez que os sistemas
ideológicos servem para legitimar o poder diferencial exercido
pelos grupos.

Como os interesses mudam de tempo em tempo, de acordo com as necessidades


daqueles que estão no poder, a ideologia é flexível e muda de lado constantemente. Isso
justifica os partidos oposicionistas que têm uma forma de pensar diferente se comparada
com a sua atuação quando estão no poder. Os interesses mudam de rumo.

Relação entre os indivíduos e a sociedade 29


U1

A ideologia da classe dominante é, também, uma maneira de enganar a classe


dominada, sendo suas ideias as mais corretas e necessárias para ela.

O sociólogo Mannheim (1972) afirmava que todas as ideias políticas e sociais


são inspiradas pela situação social dos pensadores na sociedade. Segundo ele, cada
fase da humanidade é dominada por um estilo de pensamento. E em cada fase
surgem tendências para a conservação ou para a mudança. A conservação produz
ideologias; a mudança leva a utopias. Para ele, portanto, as ideologias se destinam
a justificar a situação social existente, enquanto as utopias pretendem, ao contrário,
justificar uma desejada modificação da estrutura social.

Figura 1.3 | Ideologias e utopias

IDEIAS
POLÍTICAS
E SOCIAIS

Situação
social dos
pensadores
CONSERVAÇÃO MUDANÇAS

IDEOLOGIAS UTOPIAS

Fonte: Do autor (2014).

1. Qual o significado dos termos: “ignorância pluralística” e


“difusão da responsabilidade”?

2. O que é democracia, segundo Chauí e Oliveira?

30 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Seção 3

Desigualdade e direitos humanos

Nesta Seção, iremos estudar que a delinquência não é fruto da pobreza, mas
sim da delinquência política. O propósito é refletir que, em se tratando de política,
ao eliminar as causas, estariam eliminando a si mesmos. Portanto, refletiremos a
relação causa e efeito, e demonstraremos o distante consenso entre a teoria e a
prática (o que está escrito e o que se pratica).

Políticas públicas x desigualdades, pobreza e exclusão

O destino não estava traçado e o caminho não era único,


ainda que o passado tenha o seu peso no presente. O Brasil
foi fundado sobre o signo da desigualdade, da injustiça, da
exclusão: capitanias hereditárias, sesmarias, latifúndio, Lei
de Terras de 1850 (proibia o acesso à terra por aqueles que
não detinham grandes quantias de dinheiro), escravidão,
genocídio de índios, importação subsidiada de trabalhadores
europeus miseráveis, autoritarismo e ideologia antipopular
e racista das elites nacionais. Nenhuma preocupação com a
democracia social, econômica e política. Toda resistência ao
reconhecimento de direitos individuais e coletivos (GARCIA,
2003, p. 9).

A delinquência não é fruto da pobreza, mas sim da delinquência política,


uma política sem responsabilidade, fraudulenta, que não tem respeito com a
sociedade e com o cidadão. Os cidadãos estão distantes dos mínimos direitos
que constam na nossa constituição, mas que são apenas belas teorias. Na prática,
pouca coisa acontece ou quase nada. Na teoria, o salário mínimo é um grande
sonho, contemplando os direitos de cada cidadão: saúde, educação, habitação,
alimentação e lazer. Será que os nossos parlamentares, quando da elaboração
da Constituição, lembraram-se dos velhos tempos de escola, que nos trabalhos

Relação entre os indivíduos e a sociedade 31


U1

“copiavam e colavam” e assim o fizeram com alguma Constituição de primeiro


mundo? Ou a questão não é interpretar a Constituição como os direitos e deveres
dos cidadãos, mas sim contemplar algum escritor poético?

Sobre a delinquência, de acordo com Coelho (2008, p. 3):

A pobreza não serve de justificativa para


a delinquência. A maioria dos jovens
pobres do nosso país está junto com suas
famílias, lutando honestamente por sua
sobrevivência, muitas vezes em ambientes
absolutamente desfavoráveis. São jovens
que desafiam as probabilidades. Mantêm-se
íntegros a despeitos de todas as privações e
adversidades vivenciadas. São verdadeiros
guerreiros. Porém, num país permeado por
diferenças sociais, como o Brasil, o que
se pode observar são milhões de crianças
vivendo em condições subumanas e muito
distantes dos mínimos direitos de cada
cidadão, ou seja, saúde, educação, habitação,
alimentação e lazer. Não há dúvidas que
privações intensas sejam facilitadoras do
desenvolvimento da violência. Os estudos
demonstram que há uma maior reação de
agressividade em crianças pobres, quando
comparadas às demais. O filme Cidade
de Deus é bastante ilustrativo e ajuda a
compreender esse processo.

Não adianta tirar os meninos e as meninas das ruas sem mexer na raiz do problema.
Trata-se aqui de uma questão de “causa e efeito”, pois, ao tirá-los da rua, estarão apenas
desocupando o espaço para que outros venham ocupar o mesmo ambiente.

Enquanto a prática não corresponder ao que está na teoria, viveremos num


estado patológico, numa anomia constante.

Observa-se que os programas de governos, as denominadas “Políticas Sociais”,


não passam de programas provisórios que não visam eliminar as causas, mas sim
apenas os efeitos.

32 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Tratando-se de política, ao eliminar as causas, não estariam


eliminando a si mesmos?

Observa-se na Constituição Federal:

Art. 5º “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes” (BRASIL, 1988).

Não vamos chegar a lugar nenhum, pois, sem trabalho, sem moradia e uma
educação de qualidade será difícil se deparar com a “igualdade entre os povos”,
com a liberdade e, consequentemente, com a segurança.

Umas das principais situações que é preponderante desta realidade é a própria


corrupção, que, como já foi citado anteriormente, o Brasil deixa de arrecadar por
ano bilhões de reais. Conforme mencionado por Barbosa (2008, p. A3):

[...] A persistência da pobreza, entretanto, é ainda o maior


desafio da atualidade e compromete decisivamente a eterna
aspiração por um mundo melhor. A pobreza afeta um terço
da população mundial – e a atual crise financeira ameaça
aumentar ainda mais esse contingente. Existe uma correlação
direta entre pobreza e violação dos direitos humanos; entre
menos recursos e oportunidades e igualdade de direitos
e dignidade. Os pobres são privados dos padrões de vida
adequados, sobretudo em relação à saúde, à assistência
médica, à alimentação e à moradia. Frequentemente são
privados do direito à educação (especialmente educação de
qualidade), a chave para um futuro melhor. São vítimas de
um ciclo perverso: não têm seus direitos respeitados porque
são pobres e continuam pobres porque seus direitos são
sistematicamente violados. Portanto, a luta contra a pobreza é
a luta em prol dos direitos humanos. A melhoria dessa situação
exige esforços contínuos e de todos. É errado imaginar que
é uma tarefa isolada de Estados ou governos. É uma luta de
indivíduos, da sociedade civil, dos Estados e dos governos e,
evidentemente, das agências intergovernamentais.

Relação entre os indivíduos e a sociedade 33


U1

Neste sentido, como uma situação se depara na outra, faz-se necessário refletir
o que é cidadania e o que é ser cidadão.

Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade para


melhorar suas vidas e de outras pessoas. Ser cidadão é nunca se esquecer
das pessoas que mais necessitam. Adquira mais conhecimentos
acessando os links abaixo:

CIDADANIA:
• <http://www.webciencia.com/18_cidadania.htm>

DESIGUALDADE SOCIAL:
• <http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001576/157625m.pdf>

No Brasil, a palavra cidadania encontra-se em ênfase na teoria política. No dia a


dia das pessoas, o termo na prática é quase inexistente. Obedecemos mesmo sem
aceitar a encenação política dos legisladores. Por outro lado, a própria ignorância
da população justifica e favorece os propósitos dos políticos.

O brasileiro não tem o hábito de protestar no


cotidiano. A corrupção dos políticos, o aumento de
impostos, o descaso nos hospitais, as filas imensas
nos bancos e a violência diária só levam a população
às ruas em circunstâncias excepcionais. Por que isso
acontece? A resposta a tanta passividade pode estar
em um estudo de Fábio Iglesias, doutor em Psicologia
e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB).
Segundo ele, o brasileiro é protagonista do fenômeno
“ignorância pluralística”, termo cunhado pela primeira
vez em 1924 pelo americano Floyd Alport, pioneiro
da psicologia social moderna. “Esse comportamento
ocorre quando um cidadão age de acordo com aquilo
que os outros pensam, e não por aquilo que ele acha
correto fazer. Essas pessoas pensam assim: se o outro
não faz, por que eu vou fazer?”, diz Iglesias. O problema

34 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

é que, se ninguém diz nada e consequentemente nada


é feito, o desejo coletivo é sufocado. O brasileiro, de
acordo com Iglesias, tem necessidade de pertencer
a um grupo. “Ele não fala sobre si mesmo sem falar
do grupo a que pertence”. Iglesias dá outro exemplo
comum de ignorância pluralística: “Quando, na sala de
aula, o professor pergunta se todos entenderam, é raro
alguém levantar a mão dizendo que está com dúvidas”,
afirma. Ninguém quer se destacar, ocorrendo o que se
chama “difusão da responsabilidade”, o que leva à inércia
(MENDONÇA; FREITAS, 2007, p. 1).

Se o povo perder o direito de opinar, não tiver participação ativa na administração


do poder, então não lhe é dado o direito de cidadania. O governo manipula a
opinião pública, prevalecendo a opinião da classe dominante. O termo “cidadania”
aparece quase sempre como uma forma de linguagem puramente política, para
enriquecer a plataforma de governo.

É a união do povo soberano que constrói a cidadania e, se não lutarmos por ela,
certamente teremos problemas em usufruí-la.

A construção da cidadania no Brasil esteve


constantemente atrelada aos projetos e
interesse das elites socioeconômicas e
políticas; raramente vinculou-se a um projeto
coletivo com ampla participação social e
inclusão. Dessa forma, os direitos, de um
modo geral, sempre foram pensados como
concessões paternalistas ofertadas pelos
grupos dominantes ao restante da população
(SANTOS, 2007, p. 40).

No Dicionário do Pensamento Social do Século XX, Brubakrer (1992 apud


OUTHWAITE; BOTTOMORE, 1996, p. 73-74) comenta sobre a moderna concepção
de cidadania:

Relação entre os indivíduos e a sociedade 35


U1

[...] possui um caráter próprio. Primeiro, a cidadania


formal é hoje quase universalmente definida como
a condição de membro de um estado nação. Em
segundo lugar, porém, a cidadania substantiva,
definida como a posse de um corpo de civis (leis),
políticos e especialmente sociais, tem-se tornado
cada vez mais importante. Em ambos esses
aspectos, houve um processo de desenvolvimento
durante o século XX, e mais marcadamente a partir
da Segunda Guerra Mundial, que coloca algumas
questões novas. A cidadania formal tornou-se uma
questão mais importante, em consequência da
maciça imigração, no pós-guerra, para a Europa
Ocidental e a América do Norte, o que resultou
numa nova política de cidadania.

Quando o assunto é cidadania, duas são as questões a considerar: os direitos


e os deveres.

Na Europa ocidental, as ditaduras comunistas restringiram gravemente os


direitos civis e políticos, ao mesmo tempo em que proporcionavam um âmbito
considerável de importantes direitos sociais. Os movimentos de oposição que
finalmente provocaram a queda desses regimes, na verdade enfatizaram muito
fortemente a ideia de cidadania como incorporando direitos básicos, civis e
políticos, e também a concepção correlata de uma necessária independência das
instituições da sociedade civil em relação ao Estado.

Outra questão geral diz respeito à relação entre direitos e deveres dos
cidadãos. A autodisciplina, o patriotismo e a preocupação com o bem comum
são importantes para o novo desenvolvimento da cidadania no século XX, com
o “patriotismo” possivelmente se transformando na ideia de maior participação
popular nos negócios do governo, não apenas de uma comunidade nacional, mas
também de associações do aumento dos direitos sociais, para proporcionar um
nível geral suficiente de bem-estar econômico, lazer e educação e, sem dúvida,
também de novas formulações do que venha a ser o “bem comum” (OUTHWAITE;
BOTTOMORE, 1996).

O discurso político usa truques para ganhar os corações e mentes dos eleitores.
No Brasil, frequentemente se assistem a golpes desferidos contra a população.
Corrupção parlamentar, leis que dão imunidades aos parlamentares, que os
impedem de ser julgados pelos seus crimes contra os cofres públicos e contra

36 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

a população. Enquanto isso, o povo brasileiro sofre as consequências da falta de


uma administração pública séria e realista.

No folclore de muitas sociedades, é conhecida a lenda de uma


sereia que, com o seu belo canto afinado e beleza sem igual,
ganha a atenção dos homens e, muitas vezes, leva os à ruína.
No Brasil, essa figura é representada por Iara, que habitava
uma região do norte do território banhada pelo rio Amazonas.
Já na política, o canto pode ser, numa analogia, comparado ao
discurso político, que tem o objetivo de ganhar os corações
e mentes dos eleitores e levar o voto de cada pessoa para
o seu mar ou rio partidário na hora da urna. Porém, o que
muitas pessoas não sabem é que esse discurso é construído
meticulosamente para ser o mais eficiente possível. Pode-se
dizer que o que você assiste e escuta durante o período que
antecede as eleições e, por que não, durante a candidatura
sendo exercida no seu dia-a-dia, é um teatro cujo roteiro é
reescrito de acordo com interesses envolvidos ora numa
aprovação de uma lei ou acordo, ou na apresentação de um
plano de governo. A encenação é na maioria das vezes, um
grande espetáculo que, ao invés de palmas, recebe o voto
como homenagem da população. E, assim, a democracia
agradece e se fortalece (GALLI, 2007, p. 35).

Hoje, segundo o IBGE, 77 milhões de brasileiros sofrem de insegurança alimentar


(BRUM, 2007). A sociedade civil está vivendo dentro de suas próprias casas como
prisioneiros, enquanto os criminosos estão em liberdade. A situação é de barbárie,
de violação dos direitos da pessoa.

Onde está a constituição?

Vemos na Constituição do Brasil o distante consenso entre a teoria e a prática,


muitas vezes uma utopia. Certamente, Platão os criticariam "[...] como simples
imitadores das aparências da virtude e dos outros assuntos de que tratam, mas
que não atingem a verdade" (PLATÃO, 1997, p. 328). Provavelmente, Auguste
Comte classificaria a literatura das leis e da política brasileira, na teoria, no estado
positivo (pois é uma boa e avançada teoria), mas na prática, no estado teológico
e metafísico, conforme a sua célebre lei dos três estados (neste caso, uma prática
inexistente, sonhadora).

Relação entre os indivíduos e a sociedade 37


U1

A violência e a barbárie já foram tratadas


conceitualmente por alguns filósofos. Por
exemplo, segundo Karl Marx, o homem interage
intensamente com o meio. Assim, é possível
pensar que os membros da sociedade, quando
em meio à barbárie generalizada, comportam-se
como bárbaros. Isso porque o homem é forjado
e influenciado conforme o meio em que vive
(ANDRADE, 2007, p. 19).

Ao analisarmos o pensamento de Karl Marx, vamos entender os grandes festivais


de violência e criminalidade que ocorrem nos grandes centros urbanos, como São
Paulo e Rio de Janeiro.

Há um distante consenso sobre igualdade e o discurso que não se encaixa nos


manuais práticos das instituições.

Diante da crescente falta de moral, do aumento da


violência urbana e da iminência de um colapso social,
os direitos humanos são rotineiramente abordados
na mídia, no convívio familiar, profissional e no
botequim. Mas muitos fazem mau uso das teorias
acerca deles: a cada novo noticiário que choca as
nações, movimentos nacionais e internacionais
tentam impor regras de conduta cuja finalidade é
regida por interesses duvidosos. Há, certamente,
quem se aproveite da comoção gerada por essas
notícias, já que não há uma ideia muito clara do que
sejam os tais direitos e de que noção de justiça ou
causa e efeito, estão incorporadas a sua definição
(GOYANO, 2007, p. 5).

Direitos humanos: uma das utopias mais intensas da modernidade. A sua teoria
enfeita qualquer discurso político, na sua literatura a igualdade é para todos, no
entanto, na prática, há diferenciação, seja na conta bancária, nos prestígios, nos
interesses políticos etc. Tais regras vêm à tona apenas quando algum acontecimento
grave afeta direta ou indiretamente os órgãos públicos ou privados, e a vítima

38 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

geralmente fica em segundo plano, o que caracteriza os direitos humanos como


um conjunto de privilégios oferecidos aos criminosos e demais transgressores dos
códigos de conduta legitimados.

O único consenso entre seus defensores e promotores é a


ideia de universalidade. Por ela entende-se a que todas as
pessoas, independentemente de sua condição étnico-racial,
econômica, social, de gênero, criminal são sujeitas e detentoras
dos direitos humanos. Mas será que é a partir de suas violências,
isto é, justamente por sua ausência, é que os direitos humanos
podem ser definidos? Somente ao serem negados é que eles
são exigidos? Essa é uma das problematizações colocadas à
Sociologia (SANTOS, 2007, p. 35).

Os direitos humanos, de acordo com Santos (2007), são subdivididos


historicamente por analistas e militantes em três gerações, que denotam as etapas
histórico-sociais da sua construção, sempre em processo de incorporação de
novas dimensões e de complexidade.

Liberdade, igualdade e fraternidade

PRIMEIRA GERAÇÃO: engloba os direitos civis e políticos e se articula às ideias


liberais de democracia, consolidadas no século XIX.

“Liberdade”
As liberdades clássicas nascem como reação ao absolutismo, protegendo a
esfera de autonomia individual, que o Estado deve respeitar.

Fruto do liberalismo, os direitos humanos de primeira geração enfatizam o


livre-arbítrio.

A aquisição das liberdades civis intensifica a demanda por participação na


vida política, com a progressiva ampliação do direito do voto.

Seus principais marcos são a Constituição americana (1787), que enfatiza a


livre escolha, e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que, na
Revolução Francesa (1789), consagra o princípio da cidadania e dos direitos
inalienáveis (NINIO, 2008c, p. A12).

Relação entre os indivíduos e a sociedade 39


U1

SEGUNDA GERAÇÃO: relaciona-se aos direitos econômicos e sociais e se atrela


ao mundo do trabalho, por isso se vincula às lutas dos trabalhadores, ressaltando
sempre o ideal da igualdade; expressa a defesa de um estado de bem-estar social,
que ganha força nas décadas posteriores à Segunda Guerra.

“Igualdade”
A noção de direitos sociais surge no século 19 e se consolida no século
20. Essa segunda geração de direitos humanos resulta das conquistas dos
trabalhadores e de concessões políticas de governos. Requer intervenção
ativa do Estado, ao qual cabe assegurar condições materiais para sua
efetivação.

Embora posteriores às liberdades clássicas, esses direitos foram os primeiros


a ter reconhecimento internacional. Criada em 1919, a OIT (Organização
Internacional do Trabalho) antecede a Declaração dos Direitos Humanos
(1948) (NINIO, 2008b, p. A12).

A TERCEIRA GERAÇÃO: refere-se ao direito de autodeterminação dos povos e


inclui o direito ao desenvolvimento, à preservação do meio ambiente e ao usufruto
dos bens comuns da humanidade, incorporando-se às preocupações que ganham
espaço no conjunto dos movimentos sociais e de muitos Estados nas últimas
décadas do século XX e início do XXI.

“Fraternidade”
Conjunto de direitos que emergem no século 20, com ênfase na qualidade
de vida dos povos. Engloba o direito à paz, à autodeterminação, ao ambiente
e todos os chamados direitos culturais – tratados pela ONU no âmbito da
UNESCO (Organizações das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura).

São direitos coletivos, ou direitos difusos. Seus titulares não são os indivíduos,
mas grupos humanos, como os povos, a nação, os grupos étnicos e regionais
(NINIO, 2008a, p. A12).

40 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Como reação às violações ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial,


a Assembleia Geral da ONU proclamou, em 1948, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, incluindo direitos civis, políticos e sociais.

São 30 artigos e um preâmbulo, reconhecendo a “dignidade inerente e os


direitos iguais e inalienáveis para todos os seres humanos”.

Declaração universal dos direitos humanos

A ASSEMBLEIA GERAL PROCLAMA

A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como ideal


comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o
objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre
em mente esta Declaração, se esforcem, através do ensino e da educação,
por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de
medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar
o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto
entre os povos dos próprios Estados-Membros quanto entre os povos dos
territórios sob sua jurisdição.

Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e


direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas
às outras com espírito de fraternidade.

Artigo II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as


liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer
espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra
natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer
outra condição.

Artigo III - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança


pessoal.

Artigo IV - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a


escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo V - Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou


castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo VI - Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares,


reconhecida como pessoa perante a lei.

Relação entre os indivíduos e a sociedade 41


U1

Artigo VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer
distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra
qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer
incitamento a tal discriminação.

Artigo VIII - Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais
competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos
fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo IX - Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo X - Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência


justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para
decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação
criminal contra ele.

Artigo XI - 1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de


ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de
acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas
todas as garantias necessárias à sua defesa. 2. Ninguém poderá ser culpado
por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito
perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena
mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato
delituoso.

Artigo XII - Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada,


na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua
honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais
interferências ou ataques.

Artigo XIII - 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e


residência dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Toda pessoa tem o direito
de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo XIV - 1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de


procurar e de gozar asilo em outros países. 2. Este direito não pode ser
invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes
de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das
Nações Unidas.

Artigo XV - 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém


será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar
de nacionalidade.

42 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Artigo XVI - 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição


de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e
fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua
duração e sua dissolução. 2. O casamento não será válido senão com o livre
e pleno consentimento dos nubentes.

Artigo XVII - 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade


com outros. 2.Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII - Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento,


consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou
crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela
prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público
ou em particular.

Artigo XIX - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão;


este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de
procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e
independentemente de fronteiras.

Artigo XX - 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação


pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo XXI - 1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de sue
país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 3.
A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será
expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto
secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo XXII - Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito


à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação
internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos
direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao
livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo XXIII - 1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de


emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra
o desemprego. 2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual
remuneração por igual trabalho. 3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma
remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família,
uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão,
se necessário, outros meios de proteção social. 4. Toda pessoa tem direito a
organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses.

Relação entre os indivíduos e a sociedade 43


U1

Artigo XXIV - Toda pessoa tem direito ao repouso e lazer, inclusive à


limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas.

Artigo XXV - 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz


de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação,
vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e
direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice
ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais.
Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma
proteção social.

Artigo XXVI - 1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será


gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução
elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a
todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. 2. A instrução
será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana
e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades
fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade
entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades
das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 3. Os pais têm prioridade
de direito n escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo XXVII - 1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida


cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico
e de seus benefícios. 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses
morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou
artística da qual seja autor.

Artigo XVIII - Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional
em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam
ser plenamente realizados.

Artigo XXIV - 1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em


que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível. 2. No
exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às
limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o
devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de
satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de
uma sociedade democrática. 3. Esses direitos e liberdades não podem, em
hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das
Nações Unidas.

44 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Artigo XXX - Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser


interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa,
do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à
destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

Fonte: (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS 2009)

A cidadania plena é condição indispensável para a realização dos direitos


humanos:

A construção da cidadania no Brasil esteve


constantemente atrelada aos projetos e
interesses das elites socioeconômicas e
políticas; raramente vinculou-se a um projeto
coletivo com ampla participação social e
inclusa. Dessa forma, os direitos, de um
modo geral, sempre foram pensados como
concessões paternalistas ofertadas pelos
grupos dominantes ao restante da população.
A cidadania plena é condição indispensável
para a realização dos direitos humanos, pois
opera como uma espécie de alicerce social
no qual eles se constroem e se reproduzem.
Tal condição não se constata no Brasil. Os
defensores dos direitos humanos deparam-se,
nesse cenário, com um árduo caminho para
incorporá-los à vida política, cultural e social
do país (SANTOS, 2007, p. 37).

O exemplo americano: o descaso com a vida humana

Vamos perceber claramente nas políticas neoliberais que há mudanças


nas relações internacionais (a chamada "globalização", "mundialização",
"neoimperialismo"), nas quais os países centrais têm como objetivo aumentar a
transferência de lucro dos países pobres para os ricos.

Relação entre os indivíduos e a sociedade 45


U1

Os Estados Unidos são o principal arquiteto e beneficiado


com este processo. Sua política ofensiva (bem como sua
tentativa de implantação da Aliança do Livre Comércio das
Américas - ALCA) e as guerras fazem parte da especificidade
do capitalismo norte-americano, no qual a indústria
bélica tem um papel proeminente. Uma crise nesse setor
provocaria um colapso na economia do país e tal indústria
funciona como qualquer outra empresa capitalista: visa ao
lucro e aumenta constantemente a produção para elevar
o faturamento. O problema é que não existe mercado
consumidor para armas, e o Estado norte-americano, mesmo
por meio de endividamento estatal, para evitar a instabilidade
econômica, é o principal comprador. Por essa razão, precisa
produzir guerras e destruir armas, para renovar o consumo
e a produção de armamentos, em como justificar e legitimar
os investimentos nesta esfera (VIANA, 2006, p. 19).

Vemos nos dois exemplos, no do Brasil e no dos Estados Unidos, a ênfase


ideológica da classe dominante.

No livro A Ideologia Alemã, Marx e Engels apresentam


três elementos básicos que caracterizam sua
compreensão da sociedade capitalista e sua
definição de ideologia, eles afirmam que as ideias
dominantes de uma época são as ideias da classe
dominante. Poderíamos deduzir, a partir desse
pressuposto, que, para manter sua dominação,
interessa à classe fazer que os seus próprios valores
sejam aceitos como certos por todas as demais
classes sociais (TOMAZI, 2000 apud BARBOZA,
2007, p. 37).

Nesse contexto, vamos entender algumas atitudes políticas, conforme já


destacamos no exemplo americano e outros; o Estado será responsável por tentar
fazer com que o ponto de vista da classe dominante (que domina o próprio Estado)
apareça para todos como universal:

46 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

O problema é que não existe mercado


consumidor para armas, e o Estado norte-
americano, mesmo por meio de endividamento
estatal, para evitar a instabilidade econômica, é
o principal comprador. Por essa razão, precisa
produzir guerras e destruir armas, para renovar
o consumo e a produção de armamentos, em
como justificar e legitimar os investimentos
nesta esfera (VIANA, 2006, p. 19).

O Estado se impõe na condição de comunidade dos homens, está sempre


vinculado à classe dominante e constitui o seu órgão de dominação.

Segundo Tomazi (2000, p. 182): “[...] a ideologia vinculada pelo Estado, oferece
a esta sociedade uma imagem que anula a luta, a divisão e a contradição; uma
imagem da sociedade como idêntica, homogênea e harmoniosa”.

Para Chauí (apud TOMAZI, 2000, p. 182):

A ideia de que o Estado representa toda a


sociedade e de que todos os cidadãos estão
representados nele é uma das grandes forças
para legitimar a dominação dos dominantes
(isto é, para fazer com que essa dominação
seja aceita como normal, legal, justa).

A política e as políticas

A POLÍTICA - temos aqui a referência ao poder político, à esfera da Política


Institucional.

AS POLÍTICAS – Manifestam-se de um modo diverso. Quando falamos da


política da igreja, isto não se refere apenas às relações entre a igreja e as instituições
políticas, mas uma política que se expressa em relação a certas questões, como a
miséria, a violência etc. Aqui são as ações, os propósitos, os objetivos da instituição
ou dos indivíduos transformados em ação. Um exemplo prático de acordo com
Maar (2006, p. 10):

Relação entre os indivíduos e a sociedade 47


U1

Do mesmo modo, a política dos sindicatos não se


refere unicamente à política sindical, desenvolvida
pelo governo para os sindicatos, mas às questões
que dizem respeito à própria atividade do sindicato
em relação aos seus filiados e aos restantes da
sociedade. A política feminista não se refere apenas
ao Estado, mas aos homens e às mulheres em
geral. As empresas têm políticas para realizarem.
Determinadas metas no relacionamento com
outras empresas, ou com os seus empregados.

As pessoas, no seu relacionamento cotidiano, desenvolvem políticas para alcançar


seus objetivos nas relações de trabalho, de amor, de lazer. Quando dizemos “sou
apolítico”, na verdade estamos sendo políticos, ou seja, podemos não entender nada
de política, mas tudo o que fazemos têm um profundo sentido político.

As estratégias, as artimanhas, enfim, as nossas ações, são as nossas políticas em


que desenvolvemos os nossos propósitos, os nossos objetivos.

Para Maar (2006, p. 12, grifo do autor): “interessa perceber que, apesar de haver
um significado predominante, que se impõe em determinadas situações, e que
aparece como sendo “a” política, o que existe na verdade são políticas”.

Ao representarmos a busca pelo poder, apresentaremos os gráficos a seguir:

Gráfico 1.1 | Inversão do discurso na busca pelo poder

Fonte: Do autor (2014).

48 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Conforme podemos observar nos gráficos, os candidatos, quando estão na


disputa pelo poder, utilizam políticas de cunho social, as quais são mais atrativas
para a obtenção de votos. No entanto, quando se instalam no poder, as políticas
de cunho social cedem espaço para as de cunho econômico. Geralmente, não há
verbas para a solução dos problemas sociais, que quase sempre é realizada de forma
superficial. O foco principal é o econômico – o caminho que induz com frequência
à corrupção.

Em uma pesquisa realizada pelos alunos do curso EAD de Serviço Social, pesquisa
realizada em todo o Brasil, constando como uma das atividades da disciplina de
Sociologia, foi utilizada a seguinte pergunta: O Sr.(a) gosta de política? Se a resposta
fosse negativa, o aluno perguntava o motivo. A grande maioria dos entrevistados
relacionava política com as atitudes de corrupções dos políticos, por isso a maioria
dos brasileiros dizia não gostar de política. A partir daí entendemos por que as pessoas
geralmente dizem não gostar de política e por que constantemente relacionam os
políticos como gente desonesta. Os políticos que nada fazem para aqueles que os
colocaram no poder, dizem.

A isso Bobbio (2000) atribuiu um nome: apatia política. A política (partidária, de


gestão pública, de representação comum) é, portanto, tratada como uma espécie
de setor de menor interesse para o qual se projeta uma espécie de desprezo
decepcionado. Temos, neste ponto, que fazer uma separação entre o que é política
e comportamento do político.

A política é uma arte, a arte de governar. Todos nós fazemos política.


Constantemente, em nossas ações, planejamos estratégias, formulamos as maneiras
pelas quais iremos fazer isso ou aquilo. Estamos diariamente construindo no presente
o nosso futuro, analisando os prós e os contras de nossas ações.

Se estivermos em condições de indivíduo, pensamos de forma individual, mas


quando interagimos com outros indivíduos ou grupos, então as nossas ações
acontecem não mais de forma individual, mas de forma coletiva.

Notamos, porém, que a política em si é uma arte essencial na vida em sociedade,


é na política que se encontram os mecanismos para o controle e a base de qualquer
estrutura.

Quando dizemos “não gosto de política”, consequentemente estamos acionando


uma pronúncia equivocada.

Estamos sempre lutando pelos nossos ideais, mas qualquer ação que não visa
ao bem comum quando devemos pensar de forma coletiva, caracteriza aqui, uma
política egoísta, impura, contaminada, mais precisamente o que vamos chamar de
politicagem. É uma encenação visando enganar o outro. Por isso, não devemos
confundir política com “política encenada” ou “politicagem”.

Relação entre os indivíduos e a sociedade 49


U1

Se imaginarmos uma peça de teatro, qual seria o papel da plateia? Seria o de


interpretar as mensagens, unir as partes e entender o todo, observar o conjunto
de ações praticadas pelos atores, para que assim pudessem entender a história. Os
atores, por sua vez, têm que viver os personagens que lhes foram passados, para que
a mensagem seja transmitida de forma pura e correta a fim de que, de forma geral, o
receptor da mensagem se satisfaça com a referida história (ou estória).

É certo que cada pessoa tem uma percepção diferente de captar uma história,
ou uma imagem, porém, a essência do que quer se passar não deve ser perdida.
Gostando ou não de uma determinada história, temos que ter uma visão crítica
acompanhada de uma percepção aguçada para interpretar o óbvio, o essencial.

Conclui um estudioso da matéria que também


uma das armas da propaganda é a desinformação,
uma técnica altamente desenvolvida de influir na
opinião pública pela supressão de informações. Tal
supressão leva os cidadãos a - inconscientemente
- caírem em erros, concluindo com base em
informações mutiladas, parciais, propositadamente
incompletas ou enganosas, sofismas muito bem
arquitetados e textos redigidos com todas as
técnicas de redação subliminar infligindo o artigo
19 da declaração Universal dos Direitos Humanos,
em que se proclama o direito de todo homem a
receber informações (corretas) (VASCONCELOS,
2002, p. 89).

1. O que é ser cidadão?

2. Diferencie o termo “A Política” de “As Políticas”.

50 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Esta unidade começa com um questionamento: o que é


sociedade? E se esta é possível em relação à atual crise,
considerando-a em todos os setores da sociedade.

Uma das situações mais críticas refletida neste estudo refere-


se à esfera jurídica e política, em que suas más atuações são
transferidas para o comportamento social, podendo ver hoje
uma banalização da violência urbana.

O texto traz uma comparação entre a teoria e a prática, o que


está escrito nos artigos da Constituição e a realidade brasileira.

A partir desta reflexão, fica uma indagação: o que é cidadania?


Ela é realmente praticada?

Se por um lado temos uma deficiência em relação à esfera


política e jurídica, por outro a população é protagonista do
fenômeno “Ignorância pluralística” – “este comportamento
ocorre quando um cidadão age de acordo com aquilo que os
outros pensam, e não por aquilo que ele acha correto fazer”
(MENDONÇA; FREITAS, 2007). O brasileiro não tem o hábito
de protestar no cotidiano, por este motivo depara-se com os
grandes festivais de violência e criminalidade que ocorrem
nos grandes centros urbanos.

Uma população passiva significa um Estado corrupto,


livre para aplicar sua ideologia. Daí é observar os grandes
temas de discussão como “cidadania” - “Direitos Humanos”
-, em que suas teorias são infimamente mal aplicadas e,
consequentemente, abre-se ala para a corrupção.

Diante desse quadro, deparamo-nos com os mesmos


problemas do século XVIII e XIX. A grande diferença é que
naquele período tudo era novo, a sociedade não estava
preparada para a grande explosão de acontecimentos.

Na idade contemporânea, as raízes dos problemas somaram-


se a outros, o da corrupção, da falta de boas administrações
e de responsabilidade política etc. E as consequências todos
já conhecem.

Relação entre os indivíduos e a sociedade 51


U1

A ciência destrói a inversão que a ideologia produz,


desmascarando a ideologia da classe dominante, explicando
porque a Sociologia foi e continua sendo perseguida.

Para a compreensão da vida social, o homem necessita de seus


semelhantes para sobreviver, perpetuar a espécie e também
para se realizar plenamente como pessoa. A sociabilidade
desenvolve-se pelo processo de socialização. É por esta que
o indivíduo se integra ao grupo em que nasceu, assimilando o
conjunto de hábitos e costumes característicos daquele grupo.

O contato social é a base da vida social. É o primeiro passo


para que ocorra qualquer associação humana. A forma que a
interação assume chama-se Relação Social.

Podemos observar o caráter social da produção e do trabalho


quando a produção tem valor de uso não para quem a produz,
mas para outros. O valor de troca só se converte em meio de
subsistência para seu proprietário depois de haver revestido em
dinheiro (através do qual pode realizar em qualquer trabalho de
outro qualitativamente distinto). Implica uma forma específica
da divisão do trabalho, cuja condição fundamental é o sujeito
criar produtos por um elemento social do valor de troca.

Os benefícios sociais ao assumir esta forma (como benefícios)


não são uma dádiva do poder público, e sim do próprio
trabalhador. Segundo Iamamoto (1997), não são mais que
a devolução às classes trabalhadoras de porção mínima do
produto criado por elas, porém não apropriado, sob uma nova
roupagem: a dos serviços, os benefícios sociais.

52 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

Esta unidade teve como objetivo a reflexão das principais


questões sociais existentes, como criminalidade, desigualdade
social, Direitos Humanos, entre outras, para que se manifeste
o senso crítico e que fujamos da forma como vemos no senso
comum os diferentes fenômenos sociais.

Estar a par dos acontecimentos cotidianos para que possamos


abordar os problemas de forma metódica e organizada, e não
se satisfazer com a primeira impressão que causa determinado
fenômeno.

Como exercício devemos ter como costume conhecer os


direitos e os deveres e cobrar por aquilo que foi estabelecido
em sociedade. Mas não devemos esquecer, temos que
cumprir primeiramente com a nossa parte, valendo lembrar
que nenhuma ação deve ser realizada de forma isolada, mas
sempre de forma conjunta.

1. O homem é biológico e psicologicamente preparado


para viver:
(a) Sozinho.
(b) Em grupos.
(c) Apenas em família.
(d) Na religiosidade.
(e) No campo.

2. De acordo com Durkheim, os Fatos Sociais têm as


seguintes características:

I. GENERALIDADE: o fato social é comum aos membros de


um grupo.

Relação entre os indivíduos e a sociedade 53


U1

II. EXTERIORIDADE: o fato social é externo ao indivíduo, existe


independentemente de sua vontade.
III. COERCITIVIDADE: os indivíduos se sentem obrigados a
seguir o comportamento estabelecido.
IV. PROBABILIDADE: os fatos são apenas prováveis.
Assinale a alternativa CORRETA:

(a) A afirmativa I está correta e a afirmativa II está incorreta.


(b) A afirmativa II está correta e a afirmativa III está incorreta.
(c) As afirmativas I, II e III estão corretas.
(d) Apenas as afirmativas II e IV estão corretas.
(e) As afirmativas I, II, III e IV estão corretas.

3. De acordo com o Sociólogo francês Émile Durkheim (1858-


1917), analise as afirmativas a seguir:

I. A sociedade prevalece sobre o indivíduo.


II. A sociedade é, para esse autor, um conjunto de normas
de ação, pensamento e sentimento que não existe apenas na
consciência dos indivíduos, mas que é construído exteriormente.
III. Em outras palavras, na vida em sociedade o homem
defronta-se com regras de conduta que não foram diretamente
criadas por eles, mas que existem e são aceitas na vida em
sociedade, devendo ser seguidas por todos.
IV. Sem essas regras, a sociedade não existiria, e é por isso
que os indivíduos devem obedecer a elas.

Assinale a alternativa CORRETA:

(a) A afirmativa I está correta e a afirmativa II está incorreta.


(b) A afirmativa II está correta e a afirmativa III incorreta.
(c) A afirmativa III está correta e a afirmativa IV incorreta.
(d) Apenas as afirmativas I e III estão incorretas.
(e) As afirmativas I, II, III e IV estão corretas.

54 Relação entre os indivíduos e a sociedade


U1

4. Durkheim chama de___________________ que é a


ausência de regras ou fatos sociais suficientemente fortes para
que a sociedade se mantenha integrada.

(a) Anomia.
(b) Ação social.
(c) Luta de classe.
(d) Tese.
(e) Dialética.

5. Sobre a delinquência, de acordo com Coelho (2008), analise


as afirmativas a seguir:

I. A pobreza não serve de justificativa para a delinquência.


II. A maioria dos jovens pobres do nosso país está junto
com suas famílias, lutando honestamente por sua sobrevivência,
muitas vezes em ambientes absolutamente desfavoráveis.
III. São jovens que desafiam as probabilidades. Mantêm-
se íntegros a despeitos de todas as privações e adversidades
vivenciadas.
IV. São verdadeiros guerreiros, porém, num país permeado
por diferenças sociais, como o Brasil, o que se pode observar
são milhões de crianças vivendo em condições subumanas.

Assinale a alternativa CORRETA:

(a) A afirmativa I está correta e a afirmativa II está incorreta.


(b) A afirmativa II está correta e a afirmativa III está incorreta.
(c) A afirmativa III está correta e a afirmativa IV está incorreta.
(d) Apenas as afirmativas I e III estão incorretas.
(e) As afirmativas I, II, III e IV estão corretas.

Relação entre os indivíduos e a sociedade 55


U1

56 Relação entre os indivíduos e a sociedade


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Unidade 2

FATORES SOCIAIS
E AMBIENTAIS QUE
INFLUENCIAM NO
DESENVOLVIMENTO DAS
RELAÇÕES HUMANAS
Clarice da Luz Kernkamp

Objetivos de aprendizagem: Esta unidade tem como objetivo estudar


os fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das
relações humanas, e o posicionamento da sociologia perante os aspectos
socioambientais.

Seção 1 | Fatores ambientais


Nesta seção, o propósito é realizar o estudo do meio ambiente,
visando buscar romper com a visão local e pensar de forma global,
diante da preocupação de problemas como efeito estufa, aquecimento
global, extinção de alguns recursos naturais - os quais, até pouco tempo,
pensava-se ser infinitos, hoje, compreende-se que eles já estão em
escassez, podendo ser finitos – etc.

Seção 2 | Influências dos fatores ambientais e as patologias


Nesta seção, estudaremos os principais fatores ambientais, como o
calor, o frio, a umidade do ar, a pressão atmosférica, os microrganismos,
os compostos químicos, os eletropoluentes de campos magnéticos,
que podem influenciar e desevolver doenças, ocasionando mortes
individuais, bem como risco de epidemias e pandemias com graves riscos
à sociedade e à população em geral.
U2

Seção 3 | Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável

Nesta seção, vamos aprender sobre a sustentabilidade como fator


determinante para a manutenção do planeta, o que se torna fundamental
à sensibilização para a educação da sociedade diante da consciência
ambiental.

Seção 4 | Sociologia ambiental e suas relações sociais

Essa seção procura proporcionar uma reflexão sobre a inclusão


social e o ecológico, e vice-versa, diante da proposta de educação
ambiental, política e social com o formato intervencionista na direção
de uma sociedade justa e sustentável. Assim, entende-se que a essência
da Sociologia ambiental está na relação social diante dos problemas
ambientais, na busca de ações interdisciplinares.

60 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

Introdução à unidade

Esta unidade se destina à possibilitadade concreta de análise crítica sobre


alguns pontos relevantes na problemática acerca da sustentabilidade perante
suas pendências e assimilações e seus significados e implicações políticas.

A problemática ambiental tem instigado preocupações no mundo todo,


principalmente àquele que busca a construção de uma sociedade sustentável.

O conceito de desenvolvimento sustentável está situado no processo da


construção histórica, que propaga e condensa a correspondência de forças
presentes na sociedade e na hegemonia liberal.

A questão ambiental e o desenvovimento sustentável direcionam-nos ao


compromisso ético, politico e social na busca da construção de uma sociedade
justa, diante das questões ambientais, sociais, políticas e econômicas, com o
propósito da manutenção e sobrevivência futura da humanidade.

A proposta do desenvolviemento sustentável requer desafiar a sociedade


com conceito intrínseco de consumo, aliado ao fator que é cada vez maior, o
número de habitantes no planeta, que nos faz questionar: Como gerenciar os
recursos limitados? Como criar mecanismos que renovem os recursos ilimitados
diante da exploração da natureza com as mãos humanas?

O inventário estadual de resíduos sólidos domiciliares aprecia que 34 municípios


da região metropolitania de São Paulo direcionam mais de 16 mil toneladas de
resíduos sólidos domicilaires, e só a capital é responsável por 11 mil toneladas.

Como assegurar a utilização dos recursos naturais de maneira sustentável


para a sobrevivência em longo prazo, de modo a atender as necessidades das
futuras gerações?

Nosso desafio está na mudança de comportamento. A cultura brasileira de


desperdícios está com os dias contados, e entende-se que somente com os
administradores públicos e a sociedade civil direcionados a ações de educação
continuada de concentização da sociedade, frente ao processo de cuidar, manter
e controlar o que hoje torna-se um problema coletivo, a situação se resolverá.

No Brasil, convivemos, na região Nordeste, com o castigo da seca que, por

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 61


U2

consequência, acarreta no alto índice de vulnerabilidade social, com a maior taxa


de pobreza e miséria dos países, e também com a falta de comprometimento
governamental com políticas públicas sociais básicas, como educação, saúde,
saneamento básico etc.

Como entender que, no Brasil, concentra-se 12% do reservatório de água do


planeta e mesmo assim depara-se com a seca que, atualmente, vem acometendo
a cidade de São Paulo e regiões metropolitanas?

Deparamo-nos com a falta de chuva, provocando o racionamento de água


na rota São Paulo e regiões metropolitanas. Considerada a seca mais severa dos
últimos 50 anos, provocou a redução de 15% da capacidade do maior sistema de
abastecimento de água de São Paulo – o Reservatório Cantareira.

Há décadas os brasileiros pensavem que a crise da seca concentrava-se


somente no Nordeste, e hoje deparamo-nos com a maior crise no principal polo
econômico do país, a cidade de Sao Paulo, o que evidencia um crescimento
populacional e industrial sem planejamento urbano diante da crescente demanda.

Esta unidade complementa a referência da disciplina Relações Humanas e


Sociais, proporcionando, diante dos fatores sociais e ambientais, reflexões sobre
o progresso das relações sociais, e a análise da Sociologia diante das perspectivas
socioambientais.

Abordaremos, na primeira seção desta unidade, os fatores ambientais; a seguir,


na seção dois, a análise das influências dos fatores ambientais e as patologias; na
terceira seção, a questão da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável;
e encerraremos, com a seção Sociologia ambiental e suas relações sociais, com
uma reflexão relacionada à importância das contribuições da Sociologia para o
meio ambiente diante dos problemas sociais.

62 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

Seção 1

Fatores ambientais

Atravessamos um período no qual o meio ambiente tem adquirido relevada


importância, e passa por diversas transições, as quais podem defini-las como
decorrentes do efeito estufa, do aumento da poluição atmosférica, do uso de
agrotóxicos, da perda da biodiversidade etc.

O meio ambiente, nos últimos anos, tem um desafio significativo devido às


preocupações com as lutas travadas espaços globais do planeta, tais como efeito
estufa, buraco da camada de ozônio, poluição atmosférica e, consequentemente,
o dano à biodiversidade, que nos remete a inquietações com os problemas
ambientais locais, como a degradação da água, do ar, do solo, do ambiente e do
trabalho, o que suscita impactos expressivos à saúde humana.

Meio ambiente refere-se a todas as coisas vivas e não vivas encontradas no


sistema global, e pode ser considerado como um conjunto de identidades
ecológicas que trabalham com um regulamento natural, mesmo com uma massiva
intervenção humana e de outras espécies do planeta, incluindo toda a vegetação,
animais, microrganismos, solo, rochas, atmosfera, e fenômenos naturais e físicos,
que podem ocorrer em seus limites. “[...] Valores coletivos consagram o direito que
todos temos a um meio ambiente saudável e igualmente ético, moral e politico
para a presenvação das futuras gerações” (CONSUMO SUSTENTÁVEL, 2005, p. 6).

Os fatores ambientais que ocorrem devido aos processos ecológicos na natureza


estão correlacionados direta ou indiretamente com os seres vivos e, mediante
suas relações, sobrevivem por meio da cadeia alimentar, permitindo o fluxo de
energia em matéria. Compreende-se que as concepções vegetais, como florestas,
campos naturais, matas, reservas florestais, entre outras, requerem a manutenção
do equilíbrio ecológico e climático do planeta (CONSUMO SUSTENTÁVEL, 2005).

Manifestam-se como principais fatores ambientais:

Luz: representa uma demonstração de energia, cuja fundamental fonte está


no sol, considerado indispensável para o desenvolvimento do ecossistema do
planeta. Os vegetais geram a matéria de que seu organismo é formado através
de um procedimento chamado de fotossíntese, partindo da captação de energia
luminosa, emanada da luz solar.

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 63


U2

Temperatura: a natureza determina um linear de sobrevivência com um alcance


de temperatura, o que destaca a temperatura como um fator de relevância para
a sobrevivência, considerando que cada espécie tem um patamar determinado
entre o limite da temperatura para suas atividades vitais e sua reprodução. Algumas
plantas podem sofrer alterações de acordo com as variações climáticas, assim
como os animais, que proporcionam características oportunas de adequações aos
diferentes níveis de temperatura, como aqueles que vivem em zonas muito frias,
que geralmente apresentam pelagem extensa e uma camada de gordura sob a pele.

1. animais que não têm facilidade em realizar grandes deslocações


como, por exemplo, lagartixas, reduzem as suas atividades vitais
para valores mínimos, ficando num estado de vida latente;
2. animais que podem deslocar com facilidade como, por
exemplo, as andorinhas, migram, ou seja, partem em determinada
época do ano para outras regiões com temperaturas favoráveis
(RAMOS, 2011, p. 1).

Umidade: A umidade, de acordo com Nascimento (2012, p. 1):

A umidade relativa do ar é a relação entre a


quantidade de água existente no ar (umidade
absoluta) e a quantidade máxima que poderia
haver na mesma temperatura (ponto de
saturação). Ela é um dos indicadores usados na
meteorologia para se saber como o tempo se
comportará (fazer previsões).
Essa umidade presente no ar é decorrente de
uma das fases do ciclo hidrológico, o processo
de evaporação da água. O vapor de água sobe
para a atmosfera e se acumula em forma de
nuvens, mas uma parte passa a compor o ar que
circula na atmosfera.

64 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

Solo: representa todo o plano terrestre exposto, podendo ter classificadores com
diferenças de acordo com as regiões geográficas, com diferentes temperaturas,
umidades, ventos, entre outros fatores que reproduzem a decomposição das rochas.

Quando o solo, produto do processo de decomposição,


permanece no próprio local onde se deu o fenômeno, ele se
chama residual. Quando, depois de decomposto, é carregado
pela água das enxurradas ou rios, pelo vento, pela gravidade
– ou por vários destes fatores simultaneamente – ele é dito
transportado. Existem ainda outros tipos de solos, entre os quais
aqueles que contêm elementos de decomposição orgânica que
se misturam ao solo transportado (LIMA, 2014, p. 1).

Água: de acordo com a Declaração Universal dos Direitos da Água, de 22 de


março de 1992:

1. A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente,


cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é
plenamente responsável aos olhos de todos.
2. A água é a seiva de nosso planeta. Ela é condição essencial
de vida de todo vegetal, animal ou ser humano. Sem ela,
não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a
vegetação, a cultura ou a agricultura.
3. Os recursos naturais de transformação da água em água
potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água
deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.
4. O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da
preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer
intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade
da vida sobre a Terra. Esse equilíbrio depende em particular da
preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam.
5. A água não é somente herança de nossos predecessores; ela é,
sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção
constitui uma necessidade vital, assim como a obrigação moral
do homem para com as gerações presentes e futuras.
6. A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 65


U2

valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara


e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer
região do mundo.
7. A água não deve ser desperdiçada nem poluída, nem
envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com
consciência e discernimento para que não se chegue a uma
situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das
reservas atualmente disponíveis.
8. A utilização da água implica respeito à lei. Sua proteção
constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo
social que a utiliza. Essa questão não deve ser ignorada nem pelo
homem nem 
pelo Estado.
9. A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de
sua proteção e as necessidades 
de ordem econômica, sanitária
e social.
10. O planejamento da gestão da água deve levar em conta a
solidariedade e o consenso em razão de sua 
distribuição desigual
sobre a Terra (CONSUMO SUSTENTÁVEL, 2005, p. 40).

Enfrentamos um período critico no que se refere à água do planeta. Mais da


metade dos rios do mundo reduziram o fluxo de água, e ainda encontram-se
contaminados com graves ameaças à saúde do homem.

Nos últimos 15 anos, o sistema vem recebendo menos água


dos rios da sua bacia, e não consegue se recuperar. Entretanto,
depois que a crise passa, todo mundo esquece. Quando
começa a chover, o risco de desabastecimento é posto de lado
e todos voltam a gastar água de forma inconsequente. Marcelo
Nakagawa, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper),
ressalta que estamos acostumados com o uso da água em
abundância porque pagamos pouco por ela. Toda mudança
de hábito só ocorre a partir de uma crise aguda. Para evitar o
trauma numa conjuntura de complicações climáticas crescentes,
o consumo deveria ser reduzido em até 50%, induzido por
campanhas de mídia e por uma legislação que aplicasse multas
para desperdício. A mentalidade de que o Brasil é um país com
fontes naturais inesgo táveis precisa ser mudada, pois a ampliação
permanente da oferta e a água tratada custam caro. A última

66 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

grande ampliação do abastecimento em São Paulo foi feita em


1993, com a implantação dos reservatórios do Sistema Alto Tietê.
A próxima, a do Sistema São Lourenço, só estará pronta 25 anos
depois, em 2018, e custará R$ 2,2 bilhões (CORREIA JUNIOR;
ARNT; 2014, p. 1).

Decorrente desse momento, temos o exemplo da seca, que está assolando as


regiões de São Paulo e Minas Gerais.

Ao menos 67 municípios de São Paulo e Minas têm sofrido


interrupção de abastecimento de água nas últimas semanas. A
escassez forma uma espécie de "cinturão da seca", que vai da
Grande São Paulo ao sul de Minas e ao Triângulo Mineiro e remete
ao "polígono da seca" nordestino (SÃO PAULO…, 2014, p. 1)

Os problemas tendem a se agravar e as previsões não são nada agradáveis, tais


como:

• Na Grande São Paulo, com 20 milhões de habitantes, um dos


principais motivos pela crise foi a histórica queda do nível do
sistema Cantareira, que nesta segunda (20) chegou a 3,5% da
capacidade.
• Para contornar o problema, a Sabesp adotou algumas medidas,
como bônus por economia e uso do volume morto e de águas
de outras bacias.
• A empresa esperava que, com isso e a volta das chuvas, os
reservatórios atingissem níveis confortáveis de novo, mas a
situação se agravou.
• Logo, cidades da Grande São Paulo como Suzano e Ferraz
de Vasconcelos, abastecidos pelo Alto-Tietê, passaram a ter
cortes, dizem moradores. Guarulhos, segunda maior cidade
paulista, está ao menos desde fevereiro sob rodízio (SÃO
PAULO…, 2014, p. 1).

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 67


U2

Realize a leitura e acesse o vídeo na integra da reportagem: “Flagrantes


mostram sofrimento dos moradores com a seca que atinge SP: na
semana mais quente da história de São Paulo, ter água está cada vez
mais difícil. Nível do Sistema Cantareira diminui a cada dia”. Programa
Fantástico - Rede Globo, de 23/10/2014. Disponivel em: <http://
g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/10/flagrantes-mostram-
sofrimento-dos-moradores-com-seca-que-atinge-sp.html>. Acesso
em: 23 out. 2014.

Constantemente, ouve-se que a Amazônia representa o pulmão do mundo, e


que todo oxigênio produzido por essa floresta é consumido nela. Assim, define-se a
fauna brasileira como:


A fauna brasileira é uma das mais ricas do mundo com 10% das
espécies de répteis (400 espécies) e mamíferos (600 espécies),
17% das espécies de aves (1.580 espécies) a maior diversidade
de primatas do planeta e anfíbios (330 espécies); além de
100.000 espécies de invertebrados.
Algumas espécies da fauna brasileira se encontram extintas
e muitas outras correm o risco. De acordo com o IBGE há
pelo menos 330 espécies e subespécies ameaçadas de
extinção, sendo 34 espécies de insetos, 22 de répteis, 148
de aves e 84 de mamíferos. As principais causas da extinção
das espécies faunísticas são a destruição de hábitats, a caça
e pesca predatórias, a introdução de espécies estranhas a um
determinado ambiente e a poluição.
O tráfico de animais silvestres movimenta cerca de 10 bilhões
de dólares/ano, sendo que 10% corresponde ao mercado
brasileiro, com perda de 38 milhões de espécimes (BRAGA,
2002, p.32).

Nutrientes: para a manutenção da vida, são necessários os nutrientes, os quais


se obtêm por meio dos alimentos, que têm como finalidade suprir a necessidade
do organismo vivo. Hoje, deparamo-nos com uma alimentação precária da maioria
das pessoas, seja por uma educação alimentar errada, seja por precárias condições
econômicas.

68 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

A alimentação é um dos direitos humanos básicos, fundamentais e essenciais


à dignidade de vida, cabendo ao Estado o combate à fome. A promulgação
da Emenda Constitucional nº 64, da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, inclui a alimentação entre os direitos sociais, fixados no artigo
6º da Constituição Federal. “Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição” (BRASIL, 2010).

O tema vem tomando corpo nos últimos anos, porém a fome não é um
problema recente, associa-se com a questão da pobreza e com as desigualdades
sociais, porém, da década de 1930 a 1950, a miséria era compreendida com
resultados da moral humana e não como resultado do acesso desigual de
riqueza socialmente produzida; os auxílios sociais contribuem para reduzir a
miséria, e eram vistos como desestímulos ao interesse do trabalhador e gerando
acomodações, causando risco à sociedade e ao mercado.

A insegurança alimentar pode ser definida como a limitação ou a incerteza de


ter acesso a alimentos adequados, em qualidade e quantidade suficientes, sem
que essa restrição tenha, necessariamente, afetado suas condições biológicas,
como o desenvolvimento físico da pessoa (BICKEL et al., 2000).

Como fatores ambientais e sua influência na sobrevivência dos seres vivos


encontram-se a distribuição geográfica das espécies, a densidade das populações
e o surgimento de modificações adaptativas.

Para compreender o ambiente, faz-se necessário estabelecer fundamentos


básicos para sermos capazes de produzir e interagir com as transformações diante
da consciência socioambiental, a qual nos capacita a construir uma sociedade
consciente e digna para interagir com o meio no qual estamos inseridos, diante
de um olhar critico, reflexivo perante o acesso às informações e aos valores
construídos pelo homem.

Discorrer sobre os principais problemas ambientais nos remete a pensar não


somente em áreas de preservação ambientais, e sim em tudo que nos cerca,
como água, ar, solo, flora, fauna, relações sociais e ambientais.

Segundo Reigota (2009, p.12), integra-se o social e o ecológico:

As ciências sociais informam-nos que a complexidade social


não é fragmentada nem se apresenta atomizada; ao contrario, é
diferenciada, multicausal, interdependente, global e integradora.

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 69


U2

Atualmente, apesar dos acontecimentos por empreendimentos e por empresas


preocupadas com sua responsabilidade, novas leis são sancionadas e são feitos
acordos internacionais.

As relações políticas, geralmente, demostram ser isentas de julgamento ético,


porém, isso não é real, pois as definições políticas com compromisso moral,
mesmo diante de particularidades de foro íntimo, entre outros que repercutem em
instabilidades do planeta, como o ecossistema e a sustentabilidade, são avaliadas
como um todo e não são definidas como instâncias de comportamento neutro.

A história evolui com exigência de regras nos espaços públicos. Os direitos


humanos determinam o eixo central da ética internacional. O padrão de conduta
política diante da sustentabilidade do planeta tem ênfase com a Declaração dos
Direitos Humanos de 1948.

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a


todos os membros da família humana e de seus direitos iguais
e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz
no mundo (UNESCO, 1998, p. 1).

A fauna brasileira é considerada como uma das mais ricas do mundo, entretanto,
atualmente, depara-se com algumas espécies raras extintas e outras com riscos de
extinção, devido a diversos fatores que ocasionam essa situação, sendo uma das
mais sérias o tráfico de animais silvestres, que movimenta cerca de 10 milhões de
dólares ao ano (BRAGA, 2002).

Outra referência constantemente divulgada nos meios de comunicação é


a denominada guerra do petróleo. Dados indicam que a maior concentração de
petróleo está localizada no Golfo Pérsico, entretanto, isso está sendo uma arma de
manipulação de domínios econômicos e guerra, com reflexo no mundo todo.

Para saber mais o que é o petróleo e suas propriedades, sugiro a leitura:


Disputa por petróleo leva a estado de guerra permanente. Folha de
São Paulo. 27 out. 2005. Disponível em: <http://www.biodieselbr.com/
noticias/biodiesel/disputa-por-petroleo-leva-a-estado-de-guerra-
permanente-05.htm>. Acesso em: 27 out. 2014.

70 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

Por que o lixo, na atualidade, é considerado um problema


ambiental?

Lixo: O desafio atual em âmbito mundial é a questão do lixo. Preocupa-se com


o consumo e seus desdobramentos, pois é evidente que não dá para tratar dos
principais problemas ambientais isoladamente, pois entende-se que falar do lixo
interliga a problemática da água, que se relaciona com a totalidade denominada
meio ambiente.

Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais


Renováveis – IBAMA, o problema do lixo reflete na poluição visual, do solo, da água,
do ar, afetando o ser humano com as contaminações que ocasionam doenças
transmissíveis, sobre as quais que vamos discorrer na segunda seção dessa unidade.

O lixo está classificado como:

Residencial: é o lixo produzido em nossa casa - restos de


alimentos, sacos e embalagens plásticas, garrafas, latas, papéis,
entulho etc.

Industrial: lixo que tem origem nas fábricas - produtos químicos,
metais, óleo, plásticos, embalagens, papéis, borracha etc.

Hospitalar: lixo proveniente de hospitais, ambulatórios,
consultórios, clínicas veterinárias, farmácias e laboratórios de
análises clínicas - produtos químicos, seringas, embalagens de
remédios, plásticos, curativos, partes de membros amputados,
órgãos humanos etc.

Comercial: lixo produzido por lojas, hotéis, escritórios,
restaurantes, escolas, supermercados, oficinas - peças
metálicas, papéis, papelão, sacos plásticos, embalagens, restos
de alimentos etc.
Radioativo: lixo de usinas nucleares - aparelhos radioativos,
subprodutos nucleares, resíduos da geração de energia nuclear
etc. (IBAMA, 2014, p. 1).

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 71


U2

Aprofunde seus conhecimentos com a leitura na íntegra do artigo:


Desafios do lixo em nossa sociedade. Revista Brasileira de Ciências
Ambientais, n. 16, jun. 2010.
Disponível em: <http://www.rbciamb.com.br/images/online/RBCIAMB-
N16-Jun-2010-Materia07_artigos239.pdf>. Acesso em: 28 out. 2014.

Outra questão oportuna a pontuar é o o acesso e a distribuição de terra no Brasil.


O processo de urbanismo desenvolveu-se em dois aspectos, aquele que se define
como cidades oficiais, ou seja, legalizadas em órgãos municipais, e paralelo ao
desenvolvimento das cidades ocorrem as cidades não oficiais, como as ocupações
ilegaisl, nas quais incide o não planejamento do meio ambiente, o que não quer
dizer que todas as cidades legais realizam esse planejamento.

Todavia, a legislação do desenvolvimento das cidades aplica-se a áreas urbanas


legais, assim, regiões não legalizadas se encontram em grandes riscos sociais
e ambientais, o que geralmente correlaciona ocupações irregulares frente à
disparidade social e econômica do país. Essa relação das moradias que estão em
áreas consideradas frágeis e de riscos ambientais, tais como beira de rios, córregos,
reservatórios, encostas, mangues, valas e esgotos céu abertos, como proximidades
com reservas de proteção ambientais.

Diante desse processo de ocupações irregulares, torna-se cada vez mais comum:
enchentes, assoreamento dos cursos de água devido ao desmatamento, ocupação
das margens, desaparecimento de áreas verdes, desmoronamento de encostas,
comprometimento dos cursos de água que viraram depósitos de lixo e canais de
esgoto etc. Esses fatores ainda são agravados pelo ressurgimento de epidemias,
como dengue, febre amarela e leptospirose (MEIRELLES, 2000).

Conheça as discusões sobre: Debate sobre ocupação irregular do solo


pode voltar à pauta. Disponível em:
<http://cd.jusbrasil.com.br/noticias/2557571/debate-sobre-ocupacao-
irregular-do-solo-pode-voltar-a-pauta>. Acesso em: 23 out. 2014.

72 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

Segundo o IBGE de 2010, são definidos como aglomerados subnormais:

a) Ocupação ilegal da terra, ou seja, construção em terrenos de


propriedade alheia (pública ou particular) no momento atual
ou em período recente (obtenção do título de propriedade do
terreno há dez anos ou menos);
b) Possuir pelo menos uma das seguintes características:
• urbanização fora dos padrões vigentes - refletido por vias
de circulação estreitas e de alinhamento irregular, lotes de
tamanhos e formas desiguais e construções não regularizadas
por órgãos públicos;
• precariedade de serviços públicos essenciais (IBGE, 2010, p. 3).

Para o IBGE, conforme o Censo de 2010, na referência de “Aglomerados


subnormais: Informações Territoriais”:

[…] o Brasil tinha 15.868 setores em aglomerados subnormais


(cerca de 5% do total de setores censitários), que somavam
uma área de 169,2 mil hectares e comportavam 3,2 milhões
de domicílios particulares permanentes ocupados nos 6.329
aglomerados subnormais identificados. Para ampliar o
conhecimento da diversidade dos aglomerados subnormais
do país, foi realizado no Censo Demográfico 2010, pela
primeira vez, o Levantamento de Informações Territoriais (LIT).
O conhecimento dos aspectos territoriais dos aglomerados
subnormais é importante complemento a caracterização
socioeconômica dessas áreas. O LIT mostrou que 52,5% dos
domicílios em aglomerados subnormais do país estavam
localizados em áreas predominantemente planas (1.692.567
domicílios), 51,8% tinham acessibilidade predominante por
ruas (1.670.618 domicílios), 72,6% não possuíam espaçamento
entre si (2.342.558) e 64,6% tinham predominantemente um
pavimento (2.081.977) (IBGE, 2010, p. 1).

A desigualdade social, reflexo da má distribuição de renda, se direciona para uma


parcela da população à margem das condições de sobrevivência, a qual acaba por
falta de opções ocupando áreas vulneráveis e de riscos ambientais. Assim, pode-se
afirmar que essas ocupações estão correlacionadas com a pobreza e indigência

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 73


U2

no país, determinando espaços territorias de vulnerabilidade, onde as familias estão


expostas a riscos constantes nos períodos de chuva, como avalanches em terrenos
inclintes nas encostas, destruições ambientais, econômicas e socais etc.

Segundo Irigalba (2009), a preocupação para as Ciências Sociais deve estar


em ponderar as preocupações, com destaque no estudo e nas intervenções em
questões ambientais, pois, ao longo da história, o movimento em prol da ecologia
foi acusado de preocupar-se mais com o meio ambiente do que com o ser humano.

Considera-se esse um momento-chave para integrar o social e o ambiental, bem


como trabalhar com propostas de envolvimento da comunidade em problemas de
ordem ambiental e social, com propostas que visem procurar soluções para elas
por meio de práticas sistematizadas diante da responsabilidade e sustentabilidade,
tais como: a prática educacional de concientização ambiental; a disseminação de
projetos de responsabilidade socioambiental com a geração de renda; trabalhar
a responsabilidade educacional na concepção empresarial e na organização da
sociedade civil diante da reponsabilidade social sobre gestão, responsabilidade,
educação e sustentabilidade; bem como a efetiva participação do Estado como
responsável pela educação para a diversidade, multiplicando as informações sobre
as questões referentes à responsabilidade social, responsabilidade socioambiental e
seus desdobramentos na vida do homem.

Faça a leitura na íntegra do artigo: O meio ambiente e o futuro, de Werner


E. Zulauf. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v14n39/
v14a39a09.pdf> Acesso em: 23 out. 2014.

Por que estamos passando por essa falta de água em algumas


regiões do Brasil?

74 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

1. Os fatores ambientes que ocorrem devido aos processos


ecológicos na natureza estão correlacionados direta ou
indiretamente com os seres vivos e mediantes suas relações,
o que é comum ocorrer por:

a) Meio de cadeia alimentar, permitindo o fluxo de energia em


matéria.
b) Meio de ecossistema ecológico.
c) Meio sustentação equilibrada.
d) Meio de controle ambiental.

2. Quais são os principais fatores ambientais?


I. Luz, temperatura, unidade, solo.
II. Solo, agua, nutrientes.
III. Nutrientes, patologias, crosta terrestre.

Está correto afirmar:


a) Somente as alternativas I e III estão corretas.
b) Somente a alternativa II está correta.
c) Somente as alternativas I e II estão corretas.
d) Somente a alternativa I está correta.

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 75


U2

76 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

Seção 2

Influências dos fatores ambientais e as


patologias

As doenças que expõem o homem e o meio ambiente são acrescidas dos fatores
sociais, econômicos, culturais e comportamentais, que influenciam a ocorrência
de doenças, causando, em algumas situações, fatores de risco à sociedade.

Das patologias e dos fatores ambientais, 25% das doenças registradas em todo
o mundo são causadas por fatores ambientais evitáveis, os quais são responsáveis
por 13 milhões de mortes ao ano no mundo (PRESSE, 2006).

Os fatores ambientais podem contribuir para o surgimento e as manifestações


de patologias, os quais são representados como modelos ecológicos de
desenvolvimento da doença, como:

Modelo socioecológico: reconhece uma interligação entre o indivíduo e o seu ambiente.

Modelo biopsicossocial: vê a doença como interação entre o ambiente, fatores


físicos, comportamentais, psicológicos e sociais.

Fatores ambientais climáticos que influenciam o desenvolvimento de patologias


e os tipos de patologias que favorecem:

Calor: a exposição a temperaturas ambientais elevadas ao longo de um período


de tempo prolongado pode provocar, sobretudo em pessoas pouco habituadas,
insuficiências nos mecanismos responsáveis pelo controle da temperatura do
corpo e originar graves problemas.

Intensidade leve: exantema cutâneo, síncope, cãibras.

Intensidade grave: exaustão, lesões, choque térmico ou insolação.

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 77


U2

Fatores que favorecem as lesões provocadas pelo calor:

Fatores ambientais:

• Temperatura ambiental elevada.

• Umidade ambiental elevada.

• Ausência de correntes de ar.

Fatores individuais:

• Falta de adaptação às temperaturas elevadas.

• Obesidade.

• Prática de atividade física intensa.

• Desidratação.

• Bebês e idosos.

• Doenças que alteram os mecanismos termorreguladores (diabetes, insuficiência


cardíaca e doenças respiratórias).

As mortalidades por doenças provocadas pelo calor (CARTER; CHEUVRON;


SAWKA, 2007):

1980: 1700 pessoas morreram durante a onda de calor nos EUA.

1995: 700 pessoas morreram por uma onde de calor em Chicago.

1995 – 2001: 21 jogadores de futebol americano morreram de insolação nos EUA.

1979 – 2002: 4780 mortes foram atribuídas à exposição ao calor extremo nos EUA.

2000 – 2005: hospitalizações por insolação aumentaram cinco vezes nos EUA.

250 a 400 pessoas morrem anualmente por causa da insolação nos EUA.

Sinais e sintomas de alerta das doenças provocadas pelo calor, segundo o


Ministério do Exército e Aeronáutica (2003):

• Temperatura retal <40,0°C.

78 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

• Cefaleia/tontura/desmaio.

• Náuseas/vômitos.

• Marcha instável.

• Fraqueza/cãibras musculares.

• Calafrios, tremores.

• Pulso fraco e rápido.

• Confusão/desorientação/agitação/agressividade.

• Apatia/convulsões.

• Pele quente e úmida ou pele seca.

• Vômitos/evacuações involuntárias.

• Hiperventilação.

FRIO:

Quando a temperatura cai, as pessoas tendem a ficar mais


próximas, muitas vezes em lugares cheios. Nós temos vontade
de fechar todas as portas, todas as janelas, para deixar o
ambiente mais quente, mas os médicos dizem que isso favorece
a disseminação de vírus e bactérias. (DONATO, 2012, p.1).

No inverno, há um aumento importante na incidência de doenças respiratórias.

Doenças que chegam com o frio

Inflamatórias:

• Amigdalite.

• Dor de garganta.

• Asma.

• Bronquite.

• Otite.

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 79


U2

• Rinite.

• Sinusite.

Virais

• Gripes.

• Resfriados.

• Pneumonias.

Os principais fatores que desencadeiam ou agravam os problemas respiratórios


no frio são referentes às variações bruscas de temperatura e à poluição atmosférica.

Incidência de patologias provocadas pelas baixas temperaturas:

• Aumento de 30 a 40% de doenças respiratórias.

• Aumento de 20 a 25% de casos enfermidades cardiovasculares.

• Em 2012, no Leste do continente europeu, houve 480 mortes causadas pelo


frio (hipotermia).

• O Brasil tem cerca de 2 milhões de casos de pneumonia por ano, e uma média
de 30 mil mortes.

• 2010: 5 casos de óbitos por hipotermia no Rio Grande do Sul.

UMIDADE DO AR:

A umidade relativa do ar pode ter implicações diretas e indiretas na saúde e no


bem-estar físico.

Durante os meses de inverno, as baixas temperaturas e a baixa umidade criam


condições para o surgimento ou agravamento de doenças respiratórias e oculares.

No inverno acarretam as piores qualidades de dispersão, levando à ampliação


dos graus de poluentes, como material particulado e dióxido de enxofre, que
aumentam a ocorrência de doenças respiratórias e cardiovasculares, entre outros
efeitos, podendo ter ação sinérgica com a baixa umidade do ar (SÃO PAULO, 2012).

Patologias provocadas pela umidade do ar:

80 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

Baixa umidade do ar:

• Diminuição da atividade mucociliar.

• Inflamação das vias aéreas superiores.

• Secura, ressecamento, sangramento e obstrução nasal.

• Dificuldade para respirar, tosse, crises de asma e rinite.

• Piora da sintomatologia de doenças respiratórias.

• Irritação ocular.

• Maior susceptibilidade a conjuntivites alérgicas.

• Ressecamento e irritação da pele.

• Dermatite tópica.

Elevada umidade do ar: as intensidades efetuadas em locais alagados ou


encharcados, com umidades excessivas, pode ocasionar doenças do aparelho
respiratório, quedas, doenças de pele, doenças circulatórias, entre outras.

Incidência de patologias provocadas pela umidade do ar:

Baixa umidade do ar:

• Aumento de 20% a 30% de dor, desconforto e irritação ocular.

• Aumento de 25% dos efeitos causados pelos poluentes atmosféricos.

• Aumento de 10 % na piora de sintomas da síndrome do olho seco.

A pressão ambiental e da atmosfera limitam com a exposição a pressões anormais,


podendo originar a ruptura do tímpano e, quando o aumento de pressão for severo,
pode ter liberação de nitrogênio nos tecidos e vasos sanguíneos e morte.

Baixa pressão atmosférica, como a que os astronautas são expostos no


espaço, levam ao desenvolvimento de osteoporose e perda de massa muscular.

Os microrganismos estão presentes em todo o planeta. Estima-se que a massa


microbiana total seja 25 vezes superior à massa total da vida animal.

O corpo humano apresenta aproximadamente 10 bilhões de células e 100


milhões de microrganismos. Dos milhares de microrganismos conhecidos, apenas

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 81


U2

um número reduzido causam doenças.

Os principais tipos de microrganismos são vírus, bactérias, fungos e protozoários.

Doenças e microrganismos da água: entre as doenças que ocorrem por ingestão


de água, tem-se: diarreias, cólera, giardíase e muitas outras.

Doenças e microrganismos do solo: no solo também podem ser encontrados


microrganismos que, quando entram no nosso organismo, podem causar doenças
(tétano, esquistossomose, ancilostomose, teníase etc.).

Doenças e microrganismos do ar: os microrganismos, como bactérias e vírus,


presentes no ar também podem causar várias doenças, como tuberculose, meningite
meningocócica, gripe, caxumba, poliomielite, sarampo, entre outras.

Doenças e microrganismos dos alimentos: normalmente, os microrganismos


presentes nos alimentos não têm quaisquer efeitos visíveis, sendo estes consumidos
sem quaisquer objeções e consequências. Em outros acontecimentos, dependendo
do tipo de microrganismos, a sua presença torna-se perceptível, causando sintomas
do tipo:

• Náuseas.

• Vômitos.

• Diarreia ou febre.

De acordo com Silva (2010) o homem é infectado por mais de 100 tipos de
parasitas, que geram infecções causadoras de mais de 1 milhão de mortes por ano.
As doenças infecciosas e parasitárias estão entre as cinco principais causas de óbitos
no Brasil. No entanto, estudos mostram que a taxa de prevalência e óbitos por essas
doenças vem diminuindo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, e
mantendo-se estáveis no Sul e Sudeste.

QUAIS SÃO OS COMPOSTOS QUÍMICOS PRESENTES NO AMBIENTE E O


DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS?

É importante a realização da leitura do artigo “A Saúde e seus


Determinantes Sociais”, de Paulo Marchiori Buss e Alberto Pellegrini Filho.
Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/physis/v17n1/v17n1a06.pdf> Acesso em: 28 out. 2014.

82 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

A quantidade de agressores químicos (produtos) dentro de casa é de 8 a 10 vezes


mais importante do que a poluição externa, como fonte de doenças crônicas em
pessoas suscetíveis.

• Pesticidas.

• Produtos para combustão.

• Produtos de construção.

• Solventes orgânicos.

• Cosméticos e produtos de toalete.

• Medicamentos.

• Plásticos.

• Produtos de limpeza.

• Material usado para confecção.

Para que os compostos químicos presentes no ambiente desencadeiem alguma doença:

• Toxicidade.

• Inalados, ingeridos ou absorvidos pela pele.

Sintomas comuns gerados:

• Depressão, fadiga, memória diminuída, falta de concentração, dor de cabeça,


tonturas, confusão mental, irritação nos olhos, garganta, laringite, tosse crônica,
palpitações, erupções da pele.

• Deficiência de vitaminas, minerais, aminoácidos e ácidos graxos essenciais.

Alguns compostos químicos presentes no ambiente de origem tóxica/radioativa/


farmacológica são também responsáveis, muitas veze, pelo desenvolvimento
de doenças genéticas, neoplasias e malformações congênitas, que apresentam
incidência variável em todo o mundo.

Eletropoluição dos campos magnéticos: convivemos com um ambiente


elétrico do qual pendemos, seja para as tarefas familiares, seja para nosso trabalho
da eletricidade.

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 83


U2

Bioefeitos dos campos eletromagnéticos:

• Alteram neurotransmissores.

• Alteram o fluxo do íon cálcio na ação reguladora da atividade de crescimento


da célula normal.

• Inibem a melatonina, que é um hormônio que regula o ciclo circadiano.

Estudos epidemiológicos mostram a grande incidência de neoplasias geradas por


campos eletromagnéticos, em pessoas que residem em áreas próximas a geradores
de energia de alta tensão. Para escapar da área de intensidade lesiva, é necessário
estar a pelo menos 1.500 metros de distância desses geradores.

O aquecimento dos alimentos no microondas resulta numa perda de nutrientes


maior do que aquela com a utilização de outros meios.

O consumo regular de alimentos aquecidos/cozidos em microondas leva a varias


alterações hematológicas:

• Leite ou vegetais: declínio de hemoglobina em vários níveis, anemia que pode


levar ao reumatismo, à febre e à insuficiência da tireoide.

• Vegetais: queda brusca dos linfócitos.

• Níveis de colesterol aumentam significativamente após o consumo de vegetais


preparados no microondas.

• Os níveis de radiação dos emissores leves de bactéria são mais altos naqueles
que consumem alimentos preparados no microondas, sugerindo que a energia
liberada pelo aparelho pode ser transferida do alimento para o indivíduo.

As mudanças do meio ambiente, associadas ao processo de urbanização


populacional, têm provocado o reaparecimento de doenças originalmente rurais e
de novas, como as infecciosas e parasitárias, as genéticas/Imunológicas psíquicas.

As modificações ambientais, tanto no nível macro como no micro, têm afetado


a distribuição das doenças infecciosas. Os vínculos entre crescimento econômico,
condições ambientais e de saúde são muito estreitos, pois as condições para
a transmissão de várias doenças são propiciadas pela forma com que são
desempenhadas as intervenções humanas no ambiente. A falta de políticas públicas
agregadas e a ausência de uma priorização das medidas voltadas à promoção da
saúde humana, na qual são incluídas as condições ambientais, oportunizam uma
perspectiva um tanto sombria neste início de milênio (PIGNATTI, 2003).

84 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

Conheça o material na íntegra: Poluição eletromagnética. Saúde pública,


meio ambiente, consumidor e cidadania: impactos das radiações das
antenas e dos aparelhos celulares. Ano 3,vol. 6, n. 2, abr/jun. 2004.
Disponível em: <http://www.mpce.mp.br/orgaos/CAOMACE/pdf/artigos/
Livro.Poluicao.Eletromagnetica-ESMP.SP.pdf>. Acesso em: 28 out. 2014.

Como os microrganismos presentes no ambiente contribuem


para o surgimento e as manifestações de patologias?

1. Os fatores ambientais podem contribuir para o surgimento e


as manifestações de patologias, as quais são representadas como
modelos ecológicos de desenvolvimento da doença, como:

a) Modelo de sustentação e modelo de desenvolvimento.


b) Modelo socioecológico e modelo biopsicossocial.
c) Modelo de controle ambiental e modelo residual.
d) Modelo de equilíbrio e modelo biopsicossocial.

2. No período de frio, quando a temperatura cai, as pessoas tendem


a ficar mais próximas, muitas vezes em lugares cheios e, geralmente,
tem-se o hábito de fechar todas as portas e janelas, para deixar o
ambiente mais quente, mas isso favorece a disseminação:

a) de fungos e aquecimento.
b) de gripes e pneumonias.
c) de vírus e bactérias.
d) de doenças nos idosos e mortes precárias.

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 85


U2

86 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

Seção 3

Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável

Para definir sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, cabe uma reflexão


inicial: por que se torna sustentável?

Os cidadões brasileiros têm o direito de viver com qualidade de vida, porém


necessita de conciência urgente e disposição para mudanças radicais com quebra de
paradigma, pois até então a humanidade apresenta um padrão de comportamento
de consumir recursos naturais como se fossem infinitos, porém, diante do contexo
que atualmente nos deparamos para a sobrevivência da humanidade, exige-se uma
mudança de comportamento, o que compete a cada indivíduo a preocupação com
os valores coletivos plenos e democráticos, o que nos remete ao compromisso com
o meio ambiente sustentável diante do apelo de valores morais, éticos, políticos de
preservação para o presente e o futuro da humanidade.

Assim, define-se como ato de cidadania o compromisso da sociedade civil e


do Estado estabelecer como prioridade as definições de políticas ambientais de
sustentabilidade.

Tais políticas direcionam para a proposta de “educação ambiental” das crianças,


determinada nas diretrizes curriculares do ensino fundamental, dos jovens, adultos
e idosos. A educação ambiental para a sustentabilidade ambiental está respaudada
nas Naçoes Unidas, através da Resolução nº 57/254, que declara a educação para
o desenvolvimetno sustentável para aplicação efetiva de 2005 a 2015.

[…] o Ministério da Educação, como gestor e indutor de


políticas públicas criou a Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade - SECAD, que tem como uma de
suas respon- sabilidades garantir o fortalecimento de políticas
e a criação de instrumentos de gestão para a afirmação cidadã,
valorizando a riqueza de nossa diversidade étnica, ambiental e
cultural. Na Secad se insere a Coordenação-Geral de Educação
Ambiental (CONSUMO SUSTENTAVEL, 2005, p. 8).

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 87


U2

Conheça na íntegra o Manual de Educação para o Consumo Sustentavel.


Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao8.
pdf>. Acesso em: 30 out 2014.

A definição de sustentabilidade, para Boff (2008), tem origem nas ciências


comprometidas com a vida, como a Biologia e a Ecologia.

A sustentabilidade significa que no processo evolucionário e


na dinâmica da natureza vigoram interdependências, redes
de relações inclusivas, mutualidades e lógicas de cooperação
que permitem que todos os seres vivos convivam, coevoluem
e se ajudem mutuamente para manterem-se vivos e garantir a
biodeversidade. A sustentabilidade vive do equilíbrio dinâmico,
aberto a novas incorporações, e da capacidade de transformer
o caos gerador de novas ordens (BOFF, 2008, p. 5).

A sustentabilidade está na busca do equilíbrio do meio ambiente diante dos


recursos naturais limitados, possibilitando estratégias de uso e controle ou a
reposição contínua, ou mesmo o não uso, na busca de novas alternativas, bem
como os recursos que antes eram definidos como ilimitados, hoje trazem grandes
preocupações, pois nos deparamos com a urgência de programas e alternativas
tanto do Estado como da sociedade civil na busca do controle do uso.

O termo “desenvolvimento”, conforme aponta Maszaros (2007),


diz respeito as condições de reprodução do sistema capitalista,
à sua logica de acumulação, fundada no produtivismo. [...]
está logica responde pela progressiva exaustão dos recursos
naturais, depredação dos ecossistemas e extinção de numero
de espécies (SILVA, 2010, p. 181, grifo do autor).

Para Silva (2010), trabalhar o conceito de desenvolvimento sustentável consiste


em focalizar perante uma visão tridimensional de desenvolvimento, no qual assenta
o efeito econômico condicionado à justiça social e à prudência ecológica. Logo, o

88 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

desenvolvimento sustentável receberia expressão com o modelo “[...] socialmente


includente, ambientalmente sustentável e economicamente sustentado” (SACHS,
2008, p. 96).

“Economia ambiental” e os da “Economia ecológica” é


revelador das alternativas apontados para o enfrentamento
da problemática ambiental, sob a ótica da reprodução do
capital e vai se manifestar na disputa em torno do conceito de
sustentabilidade , ou da construção de um modelo que lhe dê
“efetividade” (SILVA, 2010, p. 176, grifo do autor).

Silva (2010) trabalha com a definição dos conceitos da economia ambiental e


da economia ecológica.

Para economia ambiental:

[...] a privatização dos recursos naturais é a estratégia


privilegiada para protegê-los pela via da introdução destes
no circuito mercantil, tanto pela valorização econômica de
degradação, através, da internalização das externalidades,
quanto pela atribuição de valor econômico aos recursos não
mercantis. Nestes termos, o gerenciamento adequado dos
recursos naturais dar-se-ia pelas mãos do mercado (SILVA,
2010, p. 176).

Para economia ecológica:

[...] o sistema econômico não pode ser considerado hermético,


como totalidade, visto que mantém intercâmbio com o
conjunto dos ecossistemas, o que remete aos limites físicos
do planeta. Em fase dessa realidade, a economia ecológica
defende politicas voltadas para a utilização mais eficiente dos
recursos ambientais e o investimento em recursos renováveis
e a implementação de medidas de prevenção e de combate a
poluição (SILVA, 2010, p. 176).

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 89


U2

Compreender que a sustentabilidade passa a adquirir conotação diferente


quando se trata do ponto de vista do mercado, o que apresenta uma dicotomia da
relação sustentabilidade e desenvolvimento do capital.

O artigo 3º da Lei nº 10, de 21 de abril de 1998 define como resíduos urbanos


ou municipais.

[...] os gerados nos domicílios particulares, comércios,


escritórios e serviços, assim como todos aqueles que não
tenham a qualificação de perigos e que, por sua natureza ou
composição, possam ser assimilados aos produzidos nos
lugares ou atividades anteriores.
Serão igualmente considerados resíduos urbanos os seguinte:
Residuos procedentes da limpeza de vias públicas, áreas verdes,
áreas de lazer e praias.
Animais domésticos mortos, assim como móveis, utensílios e
veículos abandonados.
Resíduos e entulhos procedentes de obras menores de
construção e reparos domiciliar [...] (COTO, 2009, p.125).

Para a economia ecológica, uma de suas estratégias principais está na


reciclagem de resíduos sólidos.

A Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, institui a Política Nacional de Resíduos


Sólidos, alterando a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e dá outras providências.

A Lei nº 12.305, no Artigo 7º, estabelece como objetivos:

I - proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;


II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento
dos resíduos sólidos;
III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e
consumo de bens e serviços;
IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias
limpas como forma de minimizar impactos ambientais;
V - redução do volume e da periculosidade dos resíduos
perigosos;
VI - incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista
fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de

90 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

materiais recicláveis e reciclados;


VII - gestão integrada de resíduos sólidos;
VIII - articulação entre as diferentes esferas do poder público, e
destas com o setor empresarial;
IX - capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;
X - regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização
da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e de
manejo de resíduos sólidos;
XI - prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, para:
a) produtos reciclados e recicláveis;
b) bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis
com padrões de consumo social e ambientalmente sustentáveis;
XII - integração dos catadores de materiais reutilizáveis
e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
XIII - estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do
produto;
XIV - incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão
ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos processos
produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluídos
a recuperação e o aproveitamento energético;
XV - estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável
(BRASIL, 2010).

O que determina o desenvolvimento sustentável?

O aumento no consumo de energia, água, minerais e elementos


da biodiversidade vem causando sérios problemas ambientais,
como a poluição da água e do ar, a contaminação e o desgaste
do solo, o desapa- recimento de espécies animais e vegetais e
as mudanças climáticas.
Os bens, em todas as culturas, funcionam como manifestação
concreta dos valores e da posição social de seus usuários. Na
atividade de consumo se desenvolvem as identidades sociais e
sentimos que perten- cemos a um grupo e que fazemos parte de
redes sociais. O consumo envolve também coesão social,

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 91


U2

produção e reprodução de valores. Desta forma, não é uma


atividade neutra, individual e despolitizada. Ao contrário, trata-
se de uma atividade que envolve a tomada de decisões políticas
e morais praticamente todos os dias. Quando consumimos, de
certa forma manifestamos a forma como vemos o mundo. Há,
portanto, uma conexão entre valores éticos, escolhas políticas,
visões sobre a natureza e comporta- mentos relacionados às
atividades de consumo. (CONSUMO SUSTENTÁVEL, 2005, p. 14).

Como proporcionar a educação ambiental?

Conheça a proposta na íntegra da Politica Nacional de Resíduos Sólidos.


Fonte: BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Política nacional
de resíduos sólidos. Brasília, 2012. Disponível em: <http://fld.com.br/
catadores/pdf/politica_residuos_solidos.pdf>. Acesso em: 28 out. 2014.

1. Os cidadãos têm como direito viver com qualidade de vida,


porém, se não estiverem dispostos urgentemente a mudanças
e quebras de paradigma, já que até então a humanidade
apresentou um padrão de comportamento de consumir
recursos naturais como se fossem infinitos, diante do contexto
que atualmente nos deparamos para a sobrevivência da
humanidade, será exigido(a):

92 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

I. Uma mudança de comportamento, o que compete a cada


indivíduo a preocupação com os valores coletivos plenos e
democráticos.
II. Compromisso com o controle social participativo que
contribua para as decisões serem tomadas no coletivo.
III. Compromisso com o meio ambiente sustentável diante do
apelo de valores morais, éticos, políticos de preservação para
o presente e o futuro da humanidade.

Está correto afirmar:


a) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
d) Somente a I está correta.

2. A educação ambiental para a sustentabilidade ambiental


está respaudada na referência das Nações Unidas, através
da Resolução nº 57/254, que declara a educação para o
desenvolvimetno sustentável para aplicação efetiva de 2005
a 2015. O Ministério da Educação, como gestor e indutor de
políticas públicas, criou a Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade - SECAD, que tem como uma de
suas responsabilidades:
a) Garantir o fortalecimento de políticas e a criação de
instrumentos de gestão para a afirmação cidadã, valorizando
a riqueza de nossa diversidade étnica, ambiental e cultural.
b) Prioridade nas aquisições e contratações governamentais
para os produtos reciclados e recicláveis.
c) Bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis
com padrões de consumo social e ambientalmente
sustentáveis.
d) Proteção da saúde pública e da qualidade ambiental.

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 93


U2

94 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

Seção 4

Sociologia ambiental e suas relações sociais

Para incluir o social no mundo ecológico, e vice-versa, torna-se essencial para o


desenvolvimento da perspectiva de educação ambiental, como educação política,
de intervenção, participação e voltada à construção de uma sociedade justa e
sustentável. (REIGOTA, 2009)

Falar de Sociologia e meio ambiente é como um novo desafio, porque ela é antiga,
já tendo sido apresentado o relacionamento entre a sociedade humana e o meio
ambiente por Marx, Weber e Durkheim, porém, a terminologia Sociologia ambiental
é recente, vem da transição da década de 1970 para 1980, e foi em “[...] 1990 que a
Sociedade Internacional de Sociologia formou o seu primeiro grupo com interesse
específico em sociologia do meio ambiente” (MCREYNOLDS, 1999, p. 181).

A essência a da Sociologia ambiental está na relação da vida social com a


resolução dos problemas ambientais

Hoje em dia, a sociologia do meio ambiente procura


incorporar mais variáveis científicas naturais, perspectivas
e até paradigmas em seus métodos, teorias e literatura. O
aumento do crescimento e do interesse em perspectivas
multi e interdisciplinares também acrescentou em amplitude
para o aprofundamento da sociologia do meio ambiente.
Esta expansão fez da sociologia ambiental um emaranhado
de disciplinas com bases crescentes na biologia, ecologia,
ciência política, antropologia, psicologia, feminismo e outras
(MCREYNOLDS, 1999, p. 8).

A Sociologia ambiental tem o propósito de recuperação e revelação da


materialidade diante da vida social, com a união da natureza física e das estruturas
sociais da natureza durável.

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 95


U2

Ele nota que hoje em dia a essência da sociologia do meio


ambiente tem sido de recuperar e revelar a materialidade
da estrutura e vida social, e o faz de maneira a produzir
entendimentos relevantes de modo a resolver problemas
ambientais. Esta definição reconhece ao mesmo tempo a
centralização da verdadeira natureza física do meio ambiente
e o papel representado pelas construções sociais da natureza
(MCREYNOLDS, 1999, p. 8).

Para Irigalba (2009), cabe análise e interpretação perante o método de


intervenção, assim entende-se que o papel do cientista social está na relação de
mediação entre o ecológico e o social, o que oportuniza criar novas pontes de
ligações entre o ser humano e seu hábitat, entre o cidadão e a sociedade. Define-
se como conceito de meio, ao meio biofísico, fundamento da vida, bioesfera o
meio habitado pelo ser humano.

A Sociologia Ambiental, com importantes conseqüências


no modo de lidar com os problemas ambientais, e envolvem
pressupostos sobre as relações entre sociedade e natureza,
entre ciências sociais e ciências naturais e entre leigos e peritos
(GUIVANT, 2002, p.72).

A relação entre sociedade e natureza nos remete a um desenvolvimento


cultural que poderá direcionar como meio de partida a educaçao ambiental e a
participação sócia, direcionando ações possiveis para a crise ambiental.

Sociologia Ambiental tem sido estudado particularmente


o papel da incerteza na análise dos riscos ambientais e
tecnológicos. Sem negar a existência de uma realidade objetiva
nem o poder causal independente dos fenômenos naturais,
levanta-se a necessidade de entender os conflitos que não
só atravessam as relações entre peritos e leigos, mas também
dividem a própria comunidade científica, pelo fato de que, por
exemplo, a definição de um incidente de poluição, um padrão
de qualidade ambiental ou um alimento seguro depende de
julgamentos sociais em combinação com evidências científicas
(GUIVANT, 2002, p. 72).

96 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

Para efetivar a mudança de cultura no processo educacional da relação social


e ecológica, cabe evidenciar os atores sociais diante de seu contexto cultural,
institucional e ecológico. “[…] A Sociologia Ambiental deixa de ser entendida
como uma subárea para passar a ocupar um papel-chave para a compreensão da
contemporaneidade” (GUIVANT, 2002, p. 75).

Irigalba (2009, p.20) apresenta duas subdivisões na ecologia no que refere ao


ser humano e seu meio.

A ecologia “superficial”, que defende a preservação do meio


ambiente por razões centradas no homano, e a “profunda”
(ecolatria), que defende que o mundo natural não humano
tem direito a existit independente dos beneficios que poderia
representar.

Cabe aqui o equilíbrio, porque o radicalismo na defesa do meio ambiente pode


excluir o homem do processo natural de sustentação, como a falta de controle das
ações humanas acarreta desequilíbrios ambientais sérios.

Estudar os aspectos da ecologia e do social cabe entender a dinâmica da


sociedade, que se apresenta complexa e multicausal no meio ecológico e social.A
sociologia ambiental pode contribuir no desenvolvimento sustentável e participativo.

Para aprofundar o conhecimento, acesse o site “Fundação Brasileira


para o Desenvolvimento Sustentavel”. Disponível em: <http://www.
fbds.org.br>

Para obter mudanças, é preciso que se densenvolva:

• A consciência do valor da pessoa, com seus direitos e deveres, com seus


compromissos e responsabilidades com o meio ambiente.

• A tolerância para aceitarmos uns aos outros.

• A cooperação, a ajuda e colaboração com o objetivo de alcançar e estabelecer


metas comuns e individuais.

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 97


U2

• O respeito à terra, pela vida, pela diversidade cultural.

• A solidariedade trazida em práticas de apoio, cooperação, comunicação e diálogo.

• A justiça.

• A equidade para eliminar as desigualdades mediante a democratização das


oportunidades a satisfação das necessidades humans de gerações no presente e futuro.

• A precaução, para prever e tomar atitudes, causando o menor dano e


minimizando todo impacto possível.

• A paz e segurança, não como ausência de violência, mas como equilíbrio nas
relaçoes humanas e destas com a natureza (IRIGALBA, 2009, p. 31).

A Sociologia preocupa-se com o problema na sua amplitude mundial, o qual


vem apresentando um declínio do meio ambiente, as preocupações em torno do
aquecimento global e as mudanças no meio ambiente mundial, cabe à construção
social da natureza, o que nos remete a assumir nossas responsabilidades. O que
nem sempre é comum, convive-se com uma certa tendência de transferências de
responsabilidade.

A partir da contribuição da Sociologia ambiental, apresentam-se apresentar


alguns desafios, tais como: análise da problemática da sociedade como um todo;
o reflexo das forças socioambientais atuais, como fatores econômicos, políticos,
sociais, culturais etc., que imperra o desenvolvimento sustentável; aprofundar
o papel do binômio do meio ambiente X qualidade de vida; proposcionar o
aperfeiçoamento de experiências de geração de renda e empregabilidade
relacionadas ao meio ambiente.

Aguayo (2007) apresenta alguns aspectos sociopolíticos diante da atuação do


assistente social com relação ao meio ambiente. Vamos correlacioná-los diante da
possibilidade da Sociologia como atuação em tais direções.

• Condicionar a atividade humana à capacidade de aceitação total do planeta.

• Garantir a equidade sociopolítica e econômica em um processo de transição


para uma sociedade mais sustentável.

• Incorporar aos processos políticos de tomada de decisões as preocupações


ambientais de forma mais direta.

• Assegurar o incremento da população afetada e a interpretação e


implementação dos conceitos associados a essa ideia de desenvolvimento
sustentável.

98 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas


U2

• Estabelecer um procedimento aberto e acessivel para aproximar a tomada de


decisões governamentais da população.

• Garantir que a população possa participar de forma criativa e direta nos


sistemas econômicos e políticos.

• Assegurar um nível mínimo de igualdade e justiça social mediante um sistema


legal, justo e aberto (AGUAYO, 2007, p. 61).

Considera esses princípios para a inserção da variável ambiental nas políticas e


intervenções sociais.

1. Reconhecer que os recursos socioambientais são limitados.

2. Garantir o equilíbrio entre a dimensão sociopolítica e ecológica, direcionando


para uma sociedade sustentável.

3. Incorporar esse discurso nos espaços de poder e tomada de decisão.

4. Garantir a participação ativa da população.

5. Desenvolver um conceito mais amplo de justiça social que incorpore o equilíbrio


ecológico como um meio para obter a equidade social (AGUAYO, 2007, p. 62)

Como já apresentado, é uma área antiga da Sociologia, já sendo possível


responder sobre a importância do meio ambiente para a Sociologia, a qual busca
a estudar a ecologia social com bases teóricas que direcionam à decodificação da
relação homem x natureza.

Segundo a Sociologia, o homem sempre foi objeto de curiosidade humana,


iniciando a relação do homem e da natureza e seu propósito de extrair meios de sua
sobrevivência. Com o passar do tempo, foi desenvolvendo habilidades de transformar
a natureza e suprir suas necessidades, assim, o homem começa a evoluir e, com o
processo de evolução, desperta para novas formas de necessidade.

Diante da sociedade contemporânea, os fenômenos sociais estão relacionados


aos fatos sociais e culturais no cenário do ambiente natural, o qual estabelece o
fenômeno de relação entre natureza e soluções para os problemas da sobrevivência
do homem, o que pode ser inverso, sobrevivência do homem e agressão à natureza.

O que é a Sociologia do meio ambiente?

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 99


U2

1. A essência da Sociologia ambiental está na relação da vida


social com a resolução dos problemas ambientais. Atualmente,
a Sociologia do meio ambiente procura:
I. Incorporar mais variáveis científicas naturais na perspectiva e
até paradigmas em seus métodos, teorias e literatura.
II. O aumento do crescimento e do interesse em perspectivas
multi e interdisciplinares também acrescentou em amplitude
para o aprofundamento da Sociologia do meio ambiente.
III. Esta expansão fez da Sociologia ambiental um emaranhado
de disciplinas com bases crescentes na biologia, ecologia,
ciência política, antropologia, psicologia, feminismo e outras.
Está correto afirmar:
a) Somente a afirmativa I está correta.
b) Somente a afirmativa II está correta.
c) As afirmativas I, II e III estão corretas.
d) Somente a afirmativa III está correta.

2. Para Inigalba (2009), cabe análise e interpretação perante


o método de intervenção, assim, entende-se que o papel do
cientista social está na relação de mediação entre:
a) O ecológico e o social.
b) O econômico e o ecológico.
c) O social e o político.
d O ecológico e o politico.

100 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas
U2

A unidade abordou um estudo da disciplina Relações


Humanas e Sociais com o proposito de oportunizar uma
reflexão sobre o meio ambiente e o meio social diante dos
problemas que o mundo vem enfrentando. Nosso estudo
fiscaliza os principais problemas decorrentes no Brasil, bem
como fatores ambientais que podem influenciar e desenvolver
doenças, ocasionando mortes individuais, bem como há
o risco de epidemias e pandemias com graves riscos à
sociedade em geral. O compromisso da Sociologia ambiental
é buscar harmonizar uma reflexão entre a inclusão social e
o ecológico, e vice-versa, perante a proposta de educação
ambiental, política, social com o formato intervencionista na
direção de uma sociedade justa e sustentável.

Concluímos essa unidade destacando a importância da


criação de fórmulas para melhor gerenciar os recursos
naturais, e da relação existente entre o homem e a natureza,
bem como medidas de controle e concientização do uso
controlado de recursos naturais que antes pareciam infinitos,
mas hoje deparamo-nos com a falta de tais recursos,
trazendo preocupações com a sobrevivência da humanidade.
Os escassos recursos não apenas desaparecem ao serem
extraídos, como também podem ser prejudicados.

Cabe o controle de reaproveitar o aproveitado, como


controlar o efeito de nossas atividades no meio para favorecer
a conservação dos recursos disponíveis. Tais procedimentos
de transformação da educação precisam ser analisados em
um eixo para a constituição de um modelo de sustenbilidade.

A educação ambiental direciona a promoção de saúde ao


planeta com mudanças para garantir melhora para todos.

Acredita-se que todos estão dispostos a melhorar o meio

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 101
U2

ambiente e terem uma qualidade de vida saudável e


sustentável, mas quanto estão dispostos a pagar por isso?

Tais melhorias implicam profundas mudanças na sociedade


de consumo diante dos apectos econômicos e de interesses
políticos e pessoais.

Esse estudo nos direciona a concluir que a consciência cidadã


é essencial e determinante, e a importância da concientização
individual na resolução dos problemas, partindo de medidas
individuais, avançando para a totalidade.

1. Os fatores ambientais, nos últimos anos, têm um desafio


significativo devido às preocupações da luta travada nos
espaços globais do planeta, tais como o efeito estufa, o
buraco da camada de ozônio, a poluição atmosférica e,
consequentemente, o dano da biodiversidade, que nos remete
a inquietações com os problemas ambientais locais, como:

I. A degradação da água, do ar e do solo.


II. O ambiente de trabalho, o que suscita impactos
expressivos a saúde humana
III. Aumento da economia solidária e retorno financeiro aos
municípios.

É correto afirmar:

a) Somente as alternativas I e III estão corretas.


b) Somente as alternativas I e II estão corretas.
c) Todas as alternativas estão corretas.
d) Somente a alternativa III está correta.

102 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas
U2

2. No frio, é comum nos depararmos com algumas doenças


consideradas inflamatória e virais, tais como:

I. Amigdalite, dor de garganta, asma, bronquite, otite, rinite e


sinusite.
II. Náuseas, vômitos, diarreia efebre.
III. Gripes e resfriados.

É correto afirmar:

a) Somente as alternativas I e III estão corretas.


b) Somente as alternativas I e II estão corretas.
c) Todas as alternativas estão corretas.
d) Somente a alternativa III está correta.

3. A elevada umidade do ar em locais alagados ou


encharcadas, com umidades excessivas, pode:

a) Condicionar a atividade humana à capacidade de


aceitação total do planeta.
b) Provocar doenças do aparelho respiratório, quedas,
doenças de pele, doenças circulatórias, entre outras.
c) Garantir a equidade sociopolítica e econômica em um
processo de transição para uma sociedade mais sustentável.
d) Incorporar aos processos políticos de tomada de decisões
as preocupações ambientais de forma mais direta.

4. Para Boff (2008), a sustentabilidade significa:

a) Que no processo evolucionário e na dinâmica da natureza


vigoram, interdependentes, redes de relações inclusivas,
mutualidades e lógicas de cooperação que

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 103
U2

permitem que todos os seres vivos convivam, coevoluem e


se ajudem mutuamente para se manterem vivos e garantir
a biodiversidade.
b) A consciência do valor da pessoa, com seus direitos
e deveres, com seus compromissos e responsabilidades
com o meio ambiente.
c) A tolerância para aceitarmos uns aos outros.
d) A cooperação ajuda na colaboração, com o objetivo de
alcançar e estabelecer metas comuns e individuais.

5. Para Silva (2010), a definição dos conceitos de economia


ambiental representa:

a) Bens, serviços e obras que considerem critérios


compatíveis com padrões de consumo social e
ambientalmente sustentáveis.
b) A privatização dos recursos naturais é a estratégia
privilegiada para protegê-los pela via da introdução deles
no circuito mercantil, tanto pela valorização econômica de
degradação, através, da internalização das externalidades,
quanto pela atribuição de valor econômico aos recursos
não mercantis. Nestes termos, o gerenciamento adequado
dos recursos naturais dar-se-ia pelas mãos do mercado
c) Integração dos catadores de materiais reutilizáveis e
recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.
d) Incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão
ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos
processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos
sólidos, incluídos a recuperação e o aproveitamento
energético.

104 Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas
U2

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SÃO PAULO e Minas têm ‘cinturão da seca’. Folha de São Paulo, 21 out. 2014.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/191709-sao-paulo-e-
minas-tem-cinturao-da-seca.shtml>. Acesso em: 05 nov. 2014

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um desafio ético-politico do serviço social. São Paulo: Cortez, 2010.

UNESCO. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Adotada e proclamada


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dezembro de 1948. Brasília: UNESCO, 1998. Disponível em: <http://unesdoc.
unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2014.

Fatores sociais e ambientais que influenciam no desenvolvimento das Relações Humanas 107
Unidade 3

O SIGNIFICADO DO
TRABALHO E RELAÇÕES
HUMANAS

Ana Céli Pavão

Objetivos de aprendizagem: Nesta Unidade, você será levado a refletir


temas relevantes sobre o significado do trabalho para o homem, enquanto
ser singular e social, bem como as transformações ocorridas no mundo do
trabalho, que estão diretamente relacionadas à construção da subjetividade
humana. Além disso, você conhecerá os aspectos do desenvolvimento
humano, compreendendo a importância do estabelecimento das relações
humanas para a constituição do homem em sociedade. Por fim, você será
estimulado a refletir sobre as contribuições da Psicologia Social enquanto
importante área do conhecimento.

Seção 1 | O Significado do Trabalho para o ser humano em


sua individualidade e coletividade

Esta seção traz a importância do trabalho no processo de criação do


próprio homem e da constituição de sua história, sendo este fenômeno
considerado fonte de significados e papel fundamental na constituição da
identidade, bem como na produção da subjetividade humana. Perceba
o quanto as transformações sociais e culturais e o novo formato de
sociedade baseada no consumo impactaram na concepção, organização
e gestão do trabalho.
Seção 2 | Relações Humanas, aspectos do desenvolvimento
humano e interação

Nesta seção, verificaremos que a compreensão do desenvolvimento


humano pode contribuir para entender o comportamento das pessoas,
por isso, conheceremos alguns aspectos do desenvolvimento humano
e os fatores que interferem neste processo. Logo após, analisaremos a
complexidade e dinamicidade das relações humanas, refletindo sobre
algumas das aptidões necessárias para viver com os outros e, ainda,
as táticas de influência social. Ao final da seção, discutiremos a ciência
Psicologia e as contribuições valiosas da Psicologia Social, que nos ajuda
a compreender o homem em sua dimensão social e histórica.
U3

Introdução à unidade

Olhe para você! Provavelmente, um aluno do curso de Sociologia que


tem uma história de vida, que viveu experiências passadas que marcaram seu
desenvolvimento, que estabeleceu relações ao longo de sua existência, enfim,
um ser humano! Certamente, você sabe que a experiência humana só pode ser
realizada através dos nossos semelhantes, em contato com as outras pessoas;
apenas na interação com o outro é possível nos construirmos como humanos
de fato. E há muitos fenômenos próprios da condição humana que precisam ser
compreendidos para que se possa refletir a respeito do próprio humano, como
o trabalho, as relações humanas e o processo de interação. Também há meios
adequados para se adquirir este conhecimento, como os diferentes campos da
ciência, destacando-se a Psicologia. Convido você a refletir sobre essas questões
a partir de agora.

Iniciaremos essa unidade, portanto, com a Seção 1, intitulada “O significado


do trabalho para o ser humano em sua individualidade e coletividade”, por meio
da qual refletiremos a busca do significado do trabalho e sua relevância na
construção da subjetividade humana, bem como os impactos individuais e sociais
das transformações no mundo do trabalho e da nova configuração de sociedade,
a qual estamos vivendo nos dias atuais.

Na Seção 2, “Relações Humanas, aspectos do desenvolvimento humano e


interação”, por sua vez, conheceremos brevemente os aspectos do desenvolvimento
humano e também os fatores que interferem neste processo. Em seguida,
analisaremos a importância das relações humanas e as aptidões necessárias para
compreender o outro e conviver com ele. Além disso, refletiremos a respeito
do fenômeno da influência social e, por fim, discutiremos as contribuições da
Psicologia Social e seu olhar sobre o humano em sua individualidade e coletividade.

Ao final da unidade, você poderá validar seu aprendizado através das atividades
disponíveis. Espero que goste do conteúdo que será apresentado!

Boa leitura!

O significado do trabalho e relações humanas 111


U3

112 O significado do trabalho e relações humanas


U3

Seção 1

O significado do trabalho para o ser humano


em sua individualidade e coletividade
Certamente, você está lendo este livro com o objetivo de aprofundar seu
conhecimento para aplicá-lo em seu trabalho, seja ele qual for. O trabalho está
presente em nossa vida desde a tenra idade, no cotidiano de nossa família e
amigos, nas instituições as quais fazemos parte e/ou conhecemos, nos meios de
comunicação, enfim, em todo lugar. Isso nos leva a refletir que a constituição da
humanidade se deu, em grande parte, pela existência do trabalho.

Você já parou para pensar sobre a importância que o trabalho


exerce na sua vida e na sociedade como um todo?

Antunes (2004), ao citar um texto de Friedrich Engels (um importante teórico


colaborador de Karl Marx), publicado em 1896, relata que o trabalho foi responsável
por criar o próprio homem.

Para entendermos melhor esta relação entre humanidade e trabalho, não


podemos negar a extraordinária contribuição dos pensamentos de Karl Marx (1818-
1883).

Sant' Anna (1997), organizador de um livro sobre a vida e obra de Marx, conta-
nos que o núcleo de seus pensamentos é sua interpretação do homem, cujo
início é marcado pela necessidade humana. A história da humanidade, portanto,
começa com o próprio homem que luta com a natureza para buscar satisfazer
suas necessidades e, nesse movimento, descobre-se como ser ativo e produtivo,
passando a ter consciência de si mesmo e do mundo à sua volta. Assim, “a história
é o processo de criação do homem pelo trabalho humano” (p. 26, grifo nosso).

O significado do trabalho e relações humanas 113


U3

Vamos conhecer um pouco a respeito deste grande pensador: Heinrich


Karl Marx nasceu em Tréveris, no Renânia alemã, no dia 5 de maio
de 1818. Ele era o mais velho dos filhos varões e o segundo nascido
na numerosa família. Já na juventude foi possível reconhecer seus
extraordinários dotes mentais, que os pais procuraram estimular. Na
fase adulta, Marx conheceu, em Paris, Friedrich Engels que, dois anos
mais jovem do que ele, se converteu em discípulo, colaborador e, mais
tarde, em editor de sua obra póstuma (SANT’ANNA, 1997).

Segundo Antunes (2004), a transição do macaco em homem, dentre tantos


processos graduais de evolução, consistiu na adaptação das mãos, cujas funções,
durante os milhares e milhares de anos, só puderam ser, a princípio, funções
sumamente simples.

Mas já havia sido dado o passo decisivo: a mão era livre e podia
agora adquirir cada vez mais destreza e habilidade; e essa maior
flexibilidade adquirida transmitia-se por herança e aumentava de
geração em geração.
Vemos, pois, que a mão não é apenas o órgão do trabalho;
é também produto dele. Unicamente pelo trabalho, pela
adaptação a novas e novas funções, pela transmissão hereditária
do aperfeiçoamento especial assim adquirido pelos músculos
e ligamentos e, num período mais amplo, também pelos ossos;
unicamente pela aplicação sempre renovada dessas habilidades
transmitidas a funções novas e cada vez mais complexas foi que a
mão do homem atingiu esse grau de perfeição que pôde dar vida,
como por artes de magia, aos quadros de Rafael, às estátuas de
Thorwaldsen e à música de Paganini (ANTUNES, 2004, p. 13-14).

Para conferir o encanto de uma das obras de Rafael, acesse o link:


Disponível em <http://virusdaarte.net/rafael-sanzio-madona-sistina/>.
(acesso em: 07 nov. 2014). Você verá a “Madona Sistina” e conhecerá
um pouco da história desta bela obra de arte, concebida no ato do
trabalho.

114 O significado do trabalho e relações humanas


U3

É claro que as mãos não são parte isolada do corpo humano e todas as
funções do nosso corpo apresentam uma conectividade e formam um organismo
extremamente complexo; em todos esses processos de evolução, o homem foi se
transformando e se desenvolvendo de forma constante.

Por meio do trabalho, conforme Antunes (2004), o homem foi capaz de ampliar
seus horizontes, o que o levou a descobrir continuamente em cada objeto que
manuseava novos elementos que, até aquele momento, eram desconhecidos,
estimulando assim sua capacidade de criar, produzir, simbolizar. Diante disso,
um dos fatores que diferencia o homem dos outros animais é que ele é dotado
de consciência, uma vez que concebe de forma simbólica o desenho e a forma
que quer dar ao objeto de seu trabalho. O autor traz uma ilustração de Marx para
explicar o quão relevante e admirável é essa constatação:

Uma aranha executa operações semelhantes às do


tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto
humano com a construção dos favos de sua colmeia. Mas
o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor
abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes
de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho,
obtém-se um resultado que já no início deste existiu
na imaginação do trabalhador e, portanto, idealmente
(ANTUNES, 2004, p. 30).

É possível perceber, a partir destas reflexões, que o trabalho é uma atividade


essencialmente humana. O trabalho não proporcionou apenas a criação de
instrumentos que visavam satisfazer as necessidades dos homens e, num grau
mais elevado, proporcionar o estímulo dos sentidos por meio da arte; o trabalho
produziu relações humanas!
Pense, neste momento, nas pessoas que estão ao seu redor e o quanto elas
contribuem todos os dias para o seu desenvolvimento enquanto pessoa e para o
seu aprendizado. Para Antunes (2004), o trabalho é essencial na vida humana, pois
é condição para sua existência social e, ao refletir Marx, afirma que:

[…] ao mesmo tempo em que os indivíduos transformam


a natureza externa, tem também alterada sua própria
natureza humana, num processo de transformação
recíproca que converte o trabalho social num elemento
central do desenvolvimento da sociabilidade humana
(ANTUNES, 2004, p. 08).

O significado do trabalho e relações humanas 115


U3

Também Netto (1994), ao contribuir para o esclarecimento de alguns


pressupostos do marxismo, aponta este mesmo pensamento de que, para Marx, o
ser humano é um ser social, que produz a si mesmo através das suas objetivações,
sendo o trabalho a mais privilegiada delas, ao passo que organiza as suas relações
com os outros homens e com a natureza, reproduzindo-se a si mesmo.

Sendo assim, no processo de evolução, o desenvolvimento das ações de


trabalho culminou na ajuda mútua entre os seres humanos, revelando as vantagens
destas ações realizadas no coletivo, o que contribuiu para agrupá-los ainda mais.
E todo esse processo proporcionou o desenvolvimento de uma das ferramentas
mais importantes para a vida humana: a linguagem (ANTUNES, 2004; BOCK;
FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

Conheça um pouco mais a respeito da concepção de trabalho na


perspectiva filosófica, em especial em Marx. Acesse o link abaixo: Disponível
em <http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/42/trabalho-
como-conceito-filosofico-nas-paginas-dos-manuscritos-economico-
filosoficos-290788-1.asp>. Acesso em: 07 nov. 2014.

Confira, por meio da explicação de Antunes (2004), o avanço que o aparecimento


da palavra, vinculada ao trabalho, promoveu para o nosso desenvolvimento:

Primeiro o trabalho e, depois dele e com ele, a palavra articulada,


foram os dois estímulos principais sob cuja influência o cérebro do
macaco foi se transformando gradualmente em cérebro humano –
que, apesar de toda sua semelhança, supera-o consideravelmente
em tamanho e em perfeição. E à medida que se desenvolvia o
cérebro, desenvolviam-se também seus instrumentos mais
imediatos: os órgãos dos sentidos. Da mesma maneira que o
desenvolvimento gradual da linguagem está necessariamente
acompanhado do correspondente aperfeiçoamento do órgão
do ouvido, assim também o desenvolvimento geral do cérebro
está ligado ao aperfeiçoamento de todos os órgãos dos sentidos
(ANTUNES, 2004, p. 16).

Continua o autor sobre o desenvolvimento humano:

116 O significado do trabalho e relações humanas


U3

O desenvolvimento do cérebro e dos sentidos a seu serviço, a


crescente clareza de consciência, a capacidade de abstração
e de discernimento cada vez maiores, reagiram por sua vez
sobre o trabalho e a palavra, estimulando mais e mais o seu
desenvolvimento (ANTUNES, 2004, p. 17).

Desse modo, Bock, Furtado e Teixeira (2008), guiados pela perspectiva da


Psicologia sócio-histórica, asseguram que a linguagem facilitou muito a vida coletiva
do ser humano, o que contribuiu sobremaneira para o surgimento da sociedade,
este conjunto de relações do qual fazemos parte hoje. Em conformidade com
esta perspectiva, o trabalho só pode acontecer em sociedade, caracterizando-se
como um processo pelo qual o homem estabelece relação com a natureza e, ao
mesmo tempo, com outros homens, sendo a linguagem o instrumento básico
para que essa relação aconteça. Isso nos leva a crer que “(…) o trabalho só pode ser
entendido dentro de relações sociais determinadas” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA,
2008, p. 79).

Estes mesmos autores nos fazem pensar que, com o passar do tempo, o
trabalho foi sendo constituído como fator preponderante para o desenvolvimento
intelectual e emocional dos seres humanos, sendo considerado extremamente
relevante na vida das pessoas e de fundamental importância na formação da
identidade. No que diz respeito ao conceito de identidade, podemos reconhecê-
lo quando uma pessoa se aproxima de outra e, ao buscar saber mais a respeito
dela, possivelmente pergunte o nome, a formação, a profissão e a atividade laboral
que desenvolve. O que se busca é a identificação do outro, ou seja, diferenciá-lo
dos demais, personalizá-lo. Assim, entendemos que a identidade é formada por
um conjunto de características próprias e exclusivas, um único exemplar de um
determinado indivíduo, o que o torna um ser ímpar. Além disso, o que identifica a
pessoa em nossa sociedade, geralmente está ligado às atividades que desempenha
ao longo de sua história de vida (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

A identidade permite tomar consciência de si mesmo e diferenciar-se do outro,


possibilitando que o indivíduo se perceba como ser único. “Assim, o termo identidade
aplica-se à delimitação que permite a distinção de uma unidade e a relação com os
outros, propiciando o reconhecimento de si” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008,
p. 208). Trata-se, portanto, da denominação dada às representações e sentimentos
que o indivíduo desenvolve a respeito de si mesmo, a partir do conjunto de suas
vivências e experiências.

Neste sentido, a relação do indivíduo com o seu trabalho e o papel que exerce
em sua atividade profissional também é considerado fator essencial na constituição

O significado do trabalho e relações humanas 117


U3

da identidade, uma vez que o trabalho ocupa posição central na vida de qualquer
ser humano, além de ser um instrumento de sobrevivência pessoal, é uma atividade
que se compõe no substrato da identidade pessoal e que vai contribuindo para
modelar um jeito próprio de ser (ONESTI; MARCHI, 2001).

A partir de uma ótica social, é possível dizer que o trabalho é o principal


regulador da vida humana, pois ele orienta os horários, os hábitos, os grupos ao
qual o indivíduo pertence e, até mesmo, as atividades pessoais. Isso fica ainda
mais evidente quando pensamos nas pessoas que perderam seus empregos;
quantas delas se viram numa situação de desorientação, sentindo-se inúteis,
potencializando, dessa forma, o adoecimento, ou ainda o enfrentamento,
fazendo com que passem a procurar outras coisas para preencher o espaço
antes ocupado pelo trabalho. Codo (apud JACQUES, 2003, p. 108) afirma que o
trabalho “[…] constitui-se como principal fonte de significados na constituição na
vida de todos. As pessoas articulam-se ao redor das atividades laborativas” e, apesar
das dificuldades e barreiras que todos os profissionais encontram no cotidiano
do trabalho, seja qual for a área de atuação, segmento ou posição hierárquica, é
notório que o trabalho tem um valor de construção social na vida do indivíduo.

Pense no trabalho que você realiza todos os dias (não precisa


ser um trabalho formal, pode ser uma atividade que você
desempenhe com regularidade): qual o significado que este
trabalho representa na sua vida?

Em uma tentativa de definir o que é trabalho, o psicólogo Wanderley Codo


(2006) busca na filosofia e na economia a ajuda de importantes teóricos, como
Henri Bergson, que traz a seguinte definição: “O trabalho humano consiste em
criar utilidade” (FRIEDMAN et al., 1962 apud CODO, 2006, p. 80), e também Karl
Marx, cujo conceito de trabalho já refletimos.

Por meio de suas pesquisas, Codo (2006) faz uma análise da dimensão do trabalho
e chega à seguinte conclusão: “Trabalho é uma relação de dupla transformação
entre o homem e a natureza, geradora de significado” (p. 80, grifo nosso). Perceba
que esta definição vem ao encontro da linha de pensamento de Marx de que não só
o homem transforma a natureza à sua volta por meio do trabalho, mas ele também
é transformado nesta ação. E não para por aí! Para que esta ação seja considerada
trabalho, deve se abrir para uma nova perspectiva: a de gerar significado.

Gerar significado é transcender, é algo que se torna eterno, é levar a ação para
além de si, uma vez que o trabalho a imortaliza. Assim, podemos pensar em tantos

118 O significado do trabalho e relações humanas


U3

exemplos, como no caso do professor que ensina um novo tema ao seu aluno,
fazendo-o refletir e aprender; ou, até mesmo, o marceneiro que produz um novo
móvel para um jovem casal que acabara de se mudar para sua nova casa; são ações
que geram significado, transcendem àquele que produz e permanece mesmo que
o produtor não esteja mais presente.

Retomamos a reflexão: qual o significado que o seu trabalho gera? Você já


parou para pensar sobre isto? Qual o sentido que a atividade que você realiza
todos os dias produz na sua vida e na vida das pessoas que estão à sua volta?

Ao relacionar trabalho e o conceito de identidade, o mesmo autor afirma que o


trabalho é uma atividade humana por excelência, agora entendida como o modo
pelo qual transmitimos significado à natureza; a identidade demanda significados
para se estabelecer, comparecendo o trabalho, então, como um dos elementos
essenciais na constituição da identidade, embora não seja o único. De acordo com
essa lógica, o processo de gerar significado torna o trabalho um ato de prazer e,
consequentemente, quando esse processo é quebrado, ou seja, quando o circuito
que gera significado é rompido, o resultado pode ser o oposto: gerar sofrimento,
que pode acarretar em adoecimento e consequências negativas para o indivíduo.

Para tornarmos nossa reflexão mais completa, vamos acrescentar um tema


bastante importante, que é considerado o objeto de estudo da ciência Psicologia:
a Subjetividade. Você já ouviu falar a respeito deste conceito?

Para começar a decifrá-lo, utilizaremos o pensamento de Faye (1991), citado


por Davel e Vergara (2001 apud RAMPAZZO; RICIERI, 2009), que afirma ser a
subjetividade a interioridade das pessoas, a espontaneidade do eu, ou seja, tudo
aquilo que constitui a singularidade humana e que sedimenta todo e qualquer
conhecimento possível.

Assim, a Subjetividade diz respeito ao homem em todas as suas manifestações e


expressões, tanto as visíveis, que é o próprio comportamento, quanto as invisíveis,
como os pensamentos, os sentimentos, as emoções e os afetos; também se
refere às expressões singulares, o porquê de sermos quem somos (incluindo a
identidade), e as genéricas, o porquê das semelhanças entre os indivíduos. O termo
subjetividade, portanto, sintetiza o todo do ser humano, inclusive sua relação com
o trabalho (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

Os autores explicam a subjetividade como sendo,

[…] a síntese singular e individual que cada um de nós vai


constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando
as experiências da vida social e cultural; é uma síntese que de um
lado nos identifica, por ser única; e de outro nos iguala, na medida

O significado do trabalho e relações humanas 119


U3

em que os elementos que a constituem são experienciados


no campo comum da objetividade social (BOCK; FURTADO;
TEIXEIRA, 2008, p. 22-23).

Utilizando ainda as reflexões dos mesmos autores, podemos definir a


subjetividade como a maneira de sentir, amar, fantasiar, pensar, comportar-se,
sonhar de cada um de nós, constituindo o nosso jeito de ser. É o mundo de
ideias, sentidos, significados e emoções que é construído internamente pelo ser
humano a partir de suas vivências, relações sociais e também de sua constituição
biológica; é a fonte de suas expressões e manifestações, tanto afetivas quanto
comportamentais. Neste sentido, é por meio do mundo social e cultural,
experienciado por cada um de nós, que se torna possível a construção de um
mundo muito pessoal e particular. Essas experiências vão fazendo sentido para
nossas vidas e, assim, vamos nos constituindo a cada dia.

Estas definições nos levam a entender que a subjetividade é constantemente


construída e essa construção depende da relação que estabelecemos com
os outros. Assim, há um ponto fundamental neste conceito: a subjetividade é
instituída socialmente, ou seja, é constituída na sociedade, da mesma forma que a
linguagem, as regras de parentesco, os valores ou os métodos de trabalho. Toda
sociedade, para sobreviver, necessita produzir modos de aculturação eficazes,
capazes de transformar os homens em membros daquele grupo, aptos a funcionar
segundo suas regras e, posteriormente, transmiti-las às gerações seguintes,
institucionalizando-as e mantendo a sociedade em funcionamento. Assim sendo, o
homem constrói a subjetividade aos poucos, na medida em se apropria do material
do mundo social e cultural, sendo ativo em sua construção (MEZAN, 2002; BOCK;
FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

Neste sentido, a subjetividade não é inata, ou seja, não nasce com o indivíduo,
mas é construída aos poucos, conforme o indivíduo vai se apropriando dos dados
do mundo social e cultural. Esse movimento é dinâmico, pois, ao mesmo tempo
em que o indivíduo recebe informações do mundo externo, ele também contribui
e transforma esse mundo, e assim, ele constrói e transforma a sua subjetividade.

Além disso, estudiosos do tema, como Codo (2006), mostram que a subjetividade
não se reconhece somente como um “eu” singular, mas também em um “nós” e
em uma intersubjetividade, entendendo que é somente por meio das relações que
estabelecemos ao longo da vida que a subjetividade pode se constituir.

González Rey (2005) traz uma definição de subjetividade que completa todas
as nossas reflexões. Segundo ele, a subjetividade é um processo em constante
desenvolvimento, plurideterminado e sensível à qualidade de seus momentos

120 O significado do trabalho e relações humanas


U3

atuais, sendo que a subjetividade individual é determinada no social, por meio


de um processo de constituição que integra, simultaneamente, as subjetividades
individual e social.

Seguindo esta linha de pensamento, podemos dizer que buscar desvendar a


subjetividade nos tempos de hoje é tentar compreender a produção de novos
modos de ser, não esquecendo que a produção dessas subjetividades é social,
cultural e histórica. Entender essas novas subjetividades é revelar “[...] as relações
do cultural, do político, do econômico e do histórico na produção do mais íntimo
e do mais observável no ser humano – aquilo que o captura, submete ou mobiliza
para pensar e agir sobre os efeitos das formas de submissão da subjetividade”
(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 23).

Por fim, compreendendo que o trabalho exerce papel fundamental na vida do


ser humano, conforme discutimos no início desta seção, podemos afirmar que
este fenômeno influencia significativamente na construção da subjetividade, ao
mesmo tempo que ela é constituída pelas relações que são criadas no interior do
espaço de trabalho.

1.1 Trabalho e sociedade no cenário atual

Ao responder à pergunta “o que é trabalho?”, Codo (2006) apresenta um


exemplo interessante que nos faz refletir sobre o trabalho e o contexto que o
envolve:

Imaginem uma dona de casa, daquelas que orgulhavam nossas


avós e humilham nossos coetâneos.
Levanta-se da cama muito cedo, prepara o café da manhã para
os filhos e o marido; assim que eles saem trata do almoço, da
roupa, da limpeza, das compras. É uma usina inteira concentrada
em uma pessoa só, cada milímetro do seu corpo, do seu cérebro,
do seu afeto realiza funções que ocupariam toda uma empresa
com vários especialistas; caso algum aluno de um curso de
administração resolvesse planejá-la, pobre da suposta empresa,
dificilmente conseguiria os níveis de competência da “dona
Maria”, esposa de fulano e mãe de dois ou três sicraninhos.
Nossa dona de casa trabalha. E muito.
Se alguém perguntar a Dona Maria qual é sua profissão,
provavelmente a resposta seria: “eu não trabalho”. Se
perguntarmos ao seu marido, a resposta certamente será a
mesma (CODO, 2006, p. 76).

O significado do trabalho e relações humanas 121


U3

E você, também acredita que a Dona Maria, personagem do exemplo do autor,


não trabalha? E por que a tendência é considerarmos que esta dona de casa,
como qualquer outra dona de casa que conhecemos, que realiza tantas atividades
durante o seu dia, não é considerada trabalhadora?

O próprio autor nos explica: “Nossa ‘dona Maria’ não é considerada trabalhadora
porque não produz nenhuma mercadoria vendável no mercado, não recebe
salário, não contribui com a previdência, não assina carteira” (CODO, 2006, p. 76).

Certamente, como nos orienta o autor, é preciso compreender a existência do


homem, em toda sua historicidade, ou seja, em todas as épocas, nações, sistemas
sociais e culturais para definir e diferenciar o que é trabalho em cada um desses
momentos.

Para analisarmos a concepção do trabalho nos dias de hoje, faz-se necessário


recorrermos a alguns aspectos da história, sendo um dos marcos na história do
desenvolvimento do trabalho o surgimento e consolidação do sistema capitalista;
sistema que rege nossa economia até hoje. Segundo Bock, Furtado e Teixeira
(2008, p. 249), “o sistema capitalista revolucionou as relações de trabalho, quando
comparado aos modos de produção anteriores, porque transformou o próprio
trabalho em mercadoria”.

O Capitalismo é um sistema econômico, cujo objetivo maior é a


obtenção do lucro e no qual os meios de produção e distribuição são
de propriedade privada. Este sistema é dominante no mundo ocidental
desde o fim do sistema feudalista. A lógica do capitalismo é a de que
seu pleno funcionamento se dá quando há meios sociais e tecnológicos
para garantir o consumo das pessoas e acumular cada vez mais capital.

Com o advento do capitalismo, surgiu uma nova relação de trabalho: o dono do


capital (a burguesia) versus o trabalhador (o proletariado); este último, detentor de um
único bem, sua força de trabalho. Assim, “o trabalhador vende sua força de trabalho a
um proprietário dos bens de produção” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 249).

A teoria social de Marx traz uma análise profunda dos efeitos de um mundo
novo que despontava, como nos explica Netto (1994, p. 11):

Um mundo absolutamente novo: ele engendra uma cultura


inédita e uma arte peculiar; confere ao conhecimento científico

122 O significado do trabalho e relações humanas


U3

da natureza funções outrora desconhecidas, relacionando-o


estreitamente à produção. Sobretudo, nele a economia e a
sociedade são organizadas de modo particular, submetidas ambas a
uma estratégia global (a da burguesia) e a uma lógica específica (a da
valorização do capital). Configura-se assim um novo padrão de vida
social, aquele centralizado na civilização urbano-industrial.

Marx (apud BORGES; YAMAMOTO, 2004) entendia a lógica do sistema capitalista


como favorecedora da exploração do trabalhador em prol dos rendimentos do
detentor do capital. “Assim, a exploração, antes de ser uma distorção do capitalismo,
é uma característica inerente a ele” (BORGES; YAMAMOTO, 2004, p. 33).

Estes autores, Borges e Yamamoto (2004), importantes nomes da Psicologia


Social e dos temas relacionados ao trabalho, lembram-nos que o século XIX é
marcado por um conjunto de fatos socioeconômicos e políticos que acaba por
favorecer novas formas de gerenciar o trabalho e as organizações pautadas na
sustentação científica. Daí advém o modelo conhecido como taylorismo, criado
por Frederick Taylor (1856-1915), cujo objetivo era obter dos trabalhadores a
máxima eficiência e produtividade. Os próprios autores explicam:

Taylor propõe assim a substituição dos métodos tradicionais


[…] pelos científicos, com a adoção do método dos tempos e
movimentos para eliminar movimentos desnecessários e substituir
os movimentos lentos e ineficientes por rápidos. Acredita que há
sempre um método mais rápido e um instrumento melhor. Para
tanto, é necessária a máxima decomposição de cada tarefa em
suas operações mínimas e a cronometragem de cada movimento
do operário na execução das operações (BORGES; YAMAMOTO,
2004, p. 35).

Com este pensamento, Taylor propôs a separação entre o planejamento


do trabalho e a sua execução, deixando a cargo dos gerentes a concepção do
trabalho e eximindo o trabalhador de qualquer necessidade de pensar para que
pudesse executar o trabalho de forma cada vez mais veloz.

Assim, a visão taylorista levava em consideração os objetivos da produção e


o ser humano era concebido como uma peça da engrenagem industrial. Seus
princípios estavam organizados no planejamento, preparação dos trabalhadores,
controle e execução (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 250).

O significado do trabalho e relações humanas 123


U3

Outro movimento que surgiu de forma paralela e independente da administração


de Taylor, mas que manteve a mesma linha de pensamento, foi o fordismo, liderado
por Henry Ford (1863-1947). Neste modelo, considerou-se que houve um avanço
ao ser inserida no processo de produção a linha de montagem, estabelecendo o
controle do ritmo do trabalho pelo compasso da máquina. Para Neto (1989), o
fordismo deve ser entendido como desenvolvimento da proposta taylorista, pois
busca o auxílio de elementos objetivos do processo de trabalho, no caso a esteira
rolante, para objetivar e padronizar cada vez mais o trabalho humano.

Um filme clássico, que ilustra de forma magnífica e bem humorada o


movimento repetitivo das máquinas e a consequência deste modelo de
gestão e organização do trabalho para o trabalhador, é Tempos Modernos,
de Charles Chaplin. Vale a pena assistir uma de suas cenas. Acesse o link:
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=XFXg7nEa7vQ>

Numa reflexão mais profunda sobre estes modelos de administração do


trabalho, segundo Borges e Yamamoto (2004), seus pressupostos acabam por
favorecer e até intensificar o processo de exploração do trabalhador, pois, entre
outros fatores, radicaliza a monotonia e a cisão entre o planejamento (pensamento
sobre o trabalho) e a simples execução, reafirmando a concepção capitalista
tradicional do trabalho, negando os antagonismos de classe que a análise fundada
nas obras de Marx indicava.

E nos dias de hoje? Como está estruturado o trabalho? Quais


mudanças percebemos no atual mundo do trabalho?

Com as acentuadas transformações que marcaram o mundo do trabalho, o modelo


taylorista-fordista demonstrou esgotamento. Estas transformações evidenciaram-se
nas condições materiais e na estruturação social das organizações, além de aspectos
da situação socioeconômica que se articularam ao intenso dinamismo do mercado
de trabalho. Dentre as mudanças de maior impacto, podemos listar a adoção de
novas tecnologias, o surgimento de novos estilos de gestão nas organizações e a
revolução nos meios de comunicação (BORGES; YAMAMOTO, 2004).

124 O significado do trabalho e relações humanas


U3

Bock, Furtado e Teixeira (2008) recordam o advento de um novo modelo


de gestão do trabalho: o toyotismo, criado por Taiichi Ohno (1912-1990), que
se iniciou no Japão, sendo disseminado para o Ocidente na década de 1970. A
premissa deste novo modelo é o aumento da produtividade e eficiência, evitando
ao máximo o desperdício, como o tempo de espera, a superprodução, os gargalos
de transporte etc. O termo just-in-time, que quer dizer “no tempo exato”, refere-
se justamente a este objetivo, cujo controle do sistema de produção se realiza
durante o próprio processo e não no final dele.

Com esse novo formato, as exigências com relação ao perfil do trabalhador


passaram a ser outras. Agora, o trabalhador precisa ser flexível, possuir conhecimentos
mais genéricos e também conhecer e saber operar equipamentos mais sofisticados.
Vejamos a explicação dos próprios autores com relação ao toyotismo:

O toyotismo se tornou possível pelas características já


mencionadas: equipamentos informatizados, trabalhador
mais qualificado, flexibilidade na operação do equipamento
e possibilidade de mudança rápida do que é produzido.
Do ponto de vista da logística da produção, o sistema
de fornecimento também foi alterado […]. Essa logística
é necessária porque, agora, a produção passa a ser feita a
partir da demanda do consumidor (just-in-time) evitando
a estocagem. O trabalhador utiliza mais sua capacidade
criativa, na medida em que não será mais mera extensão da
máquina, mas alguém que planeja o que será produzido por
ele (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 255).

O que parece é que o trabalhador agora será mais valorizado e poderá resgatar
o sentido do seu trabalho, pois começa a participar do planejamento de suas
atividades e não mais apenas de sua execução. No entanto, os mesmos autores
alertam que o sistema toyotista, embora tenha sido considerado um grande avanço
em relação ao modelo taylorista-fordista, manteve inalterada a tensão entre capital
e trabalho, que passou a ser mais complexa e mais diluída. Este novo cenário,
segundo os autores, traz novas consequências ao trabalhador. “Do ponto de vista
psicológico, a pressão subjetiva exercida pelo novo sistema origina efeito danoso
à saúde do trabalhador, e passamos a conviver com termos como Síndrome de
Burnout, LER, Dort e assédio moral” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 255).

Sendo assim, nos dias de hoje, impulsionada pela globalização e pelo avanço
cada vez mais crescente de tecnologias, uma nova dinâmica emerge fazendo com
que as organizações e as pessoas precisem se adaptar.

O significado do trabalho e relações humanas 125


U3

Na sociedade atual, vemos uma forte competitividade nos negócios, tornando


os ambientes mais instáveis e a experiência do trabalho se tornou mais complexa,
pois deixa de estar alocada em um ambiente estável e visível, cujo controle era
mais presente, para ser transferida para qualquer lugar onde o trabalhador esteja (de
preferência, com seu notebook à mão) e no qual o controle passa a ser internalizado,
ou seja, o próprio trabalhador passa a se autocontrolar. “Se o controle é exercido
pelo próprio trabalhador e pelos seus colegas, isso produzirá consequências para
aqueles que se sentirem mais exigidos. O controle deixa de ser objetivo e ganha
forma subjetiva” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 256). Além disso, exige-se do
trabalhador que utilize muito mais seu domínio cognitivo frente às tarefas múltiplas
e aos contextos diferenciados. Dessa forma, percebemos que o mundo do trabalho
é gerido num ambiente de ambiguidades, imprevisibilidades e incertezas.

Um fenômeno que tem contribuído significativamente para o avanço e


disseminação de todas estas mudanças no mundo do trabalho é a globalização. Mas
você sabe o que ela significa e qual o seu impacto para o trabalho e os trabalhadores?

A Síndrome de Burnout refere-se ao esgotamento nervoso, em geral


produzido pelo estresse, e que pode levar à depressão. A LER (lesão causada
pelo esforço repetitivo) e a Dort (distúrbios osteomusculares relacionados
ao trabalho) acarretam uma série de sintomas de que são acometidos
trabalhadores obrigados a realizar esforços repetitivos. Já o assédio moral
não é considerado uma doença ocupacional, mas é uma forma de pressão
que passa a ser exercida, em geral, por aqueles que ocupam cargos de
hierarquia mais alta (ex.: um superior que passa a assediar seu funcionário,
desautorizando-o publicamente, ridicularizando-o por características
físicas ou psicológicas etc.). São inúmeras as formas de desgaste que
sofrem os trabalhadores acuados pelo assédio moral e as consequências
podem ser devastadoras (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

Malvezzi (2000 apud BORGES; YAMAMOTO, 2004) identifica alguns postos-


chave desse impacto: alta circulação do capital financeiro e tecnológico,
aumentando significativamente e ampliando em nível global a competição entre
as empresas, e aumento da imprevisibilidade dos acontecimentos tanto políticos
quanto sociais e culturais, tornando mais difícil a atividade de planejamento das
empresas. O autor destaca, ainda, que o processo de internacionalização das
empresas se intensifica e com ele, a diversidade cultural presente nas organizações.

A essa nova era globalizada que estamos vivendo alguns autores dão o nome de
pós-modernidade; outros ainda mantêm o termo modernidade. Seja um ou outro

126 O significado do trabalho e relações humanas


U3

termo, o fato é que há um novo modelo de sociedade, com novas características,


novas condições e até mesmo novos valores, que têm influenciado as organizações
e a forma de se conceber o trabalho.

A partir de agora, iremos trazer as contribuições de um sociólogo da atualidade


que nos faz refletir de forma analítica e bastante crítica a respeito desse novo
panorama a que estamos submetidos nos dias de hoje: Zygmunt Bauman.

Zygmunt Bauman é um grande pensador da modernidade e perspicaz


analista dos fatos cotidianos. Ele nasceu na Polônia, no ano de
1925, e mora na Inglaterra desde 1971. Atualmente, é professor
emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia e tem,
aproximadamente, trinta livros publicados no Brasil com grande
sucesso de público.

Para Bauman (1999), a globalização é a bola da vez! É uma palavra que está na
moda e que tem acarretado efeitos bastante alarmantes, mas que não conseguimos
definir exatamente o que é. O fato é que a globalização é o destino inevitável do
mundo e é um processo que afeta a todos nós.

O alerta do autor é o de que o fenômeno da globalização traz elementos que,


muitas vezes, não conseguimos enxergar a olho nu e, portanto, precisamos de
uma análise crítica e cuidadosa para conseguirmos compreender seus resultados
no mundo e suas consequências na sociedade. “O significado mais profundo
transmitido pela ideia da globalização é o do caráter indeterminado, indisciplinado
e de autopropulsão dos assuntos mundiais; a ausência de um centro, de um painel
de controle […]” (BAUMAN, 1999, p. 67).

De acordo com Bauman (1999), com o fenômeno da globalização, a tarefa do


Estado de promover e assegurar o bem-estar da população está cada vez mais
enfraquecida, o que favorece a livre circulação do capital, representada pelos
mercados mundiais e grandes empresas privadas. Nas palavras do autor:

Devido à total e inexorável disseminação das regras de livre


mercado e, sobretudo, ao livre movimento do capital e das
finanças, a “economia” é progressivamente isentada do
controle político; com efeito, o significado primordial do
termo “economia” é o de “área não política”. O que quer que

O significado do trabalho e relações humanas 127


U3

restou da política, espera-se, deve ser tratado pelo Estado […],


mas o Estado não deve tocar em coisa alguma relacionada à vida
econômica: qualquer tentativa nesse sentido enfrentaria imediata
e furiosa punição dos mercados mundiais (BAUMAN, 1999, p. 74).

As palavras que descrevem este atual momento global, para o autor, são: liberalização,
desregulamentação, flexibilidade, fluidez. Esta nova condição causa um sentimento de
ansiedade provocada pela dolorosa experiência da incerteza. “A incerteza e a angústia
[…] são produtos básicos da globalização” (BAUMAN, 2005, p. 84).

Você já deve ter percebido que a forma de pensar deste autor é bem enérgica
e radical, com mensagens éticas fortes, fazendo-nos refletir sobre fatores que,
muitas vezes, estão ocultos e camuflados, e por isso não percebemos, mas que
induzem nossos pensamentos e ações, e interferem na sociedade e nas condições
de trabalho.

Em suas obras, Bauman (1999; 2001; 2005) utiliza o termo “líquido” para designar
o estado atual da sociedade, no qual tudo é efêmero, temporário, fluido.

Vamos entender essa metáfora do autor: convido você a imaginar um


recipiente vazio prestes a ser preenchido com líquido. Seja qual for o formato
deste recipiente, o líquido toma a sua forma e, ao ser esvaziado, o líquido logo
se vai, sem deixar qualquer vestígio. É esta a metáfora que, para o autor, explica a
condição da sociedade nesta nova era.

‘Fluidez’ é a qualidade de líquidos e gases. O que os distingue


dos sólidos […] é que eles ‘não podem suportar uma força
tangencial ou deformante quando imóveis’ e assim ‘sofrem
uma constante mudança de forma quando submetidos a tal
tensão’ (BAUMAN, 2001, p. 07).

Em uma entrevista com Bauman, Pallares-Burke (2004) relata as mensagens


do próprio sociólogo de que, diferente da sociedade moderna de antigamente,
chamada por ele de “modernidade sólida”, hoje estamos vivendo uma
“modernidade líquida”, na qual tudo está sendo permanentemente desmontado e
sem perspectiva de permanência; em que tudo é temporário, comparando-se ao
líquido por caracterizar-se pela incapacidade de manter a forma. Nesta lógica, as
instituições das quais fazemos parte, os quadros de referência, os estilos de vida,
as crenças, os valores e as convicções mudam antes que tenham tempo de se
solidificar em costumes, hábitos e verdades.

128 O significado do trabalho e relações humanas


U3

Uma das características marcantes dessa sociedade moderna (ou pós-moderna)


é a sua relação com o consumo. Fontenelle (2008) relata que Bauman, ao tentar
definir a atual sociedade, explica que se trata de uma sociedade de consumo em
um sentido bastante especial, uma vez que esta sociedade molda seus membros
para exercerem o papel de consumidores.

Você já parou para pensar quantos shoppings existem na


sua região, em seu Estado? Também já analisou a estrutura
dos shoppings (lojas, praças de alimentação, áreas de lazer)?
Pense em uma experiência que viveu ao ir ao shopping.

De acordo com Santos (1993), o shopping é o templo desta nova sociedade.


Perceba que toda estrutura e funcionamento dos shoppings são próprios para
o consumo, e as pessoas que lá frequentam são, antes de tudo, consumidores.
Isso não quer dizer que antigamente não havia consumo. É claro que havia! O
consumo de antigamente, do início da era moderna, porém, referia-se à satisfação
das necessidades humanas, ou seja, comer para não ter fome, vestir para se
proteger do frio e para cumprir as normas da vida em sociedade, os sapatos para
não machucar os pés, a casa para dar segurança, entre outros exemplos.

Nos dias atuais, segundo Bauman (2001), o consumo é guiado pelo “querer”,
pelo desejo de possuir, que se tornaram estimulantes poderosos no ato de comprar.
Os produtos que são ofertados hoje atendem os mais variados tipos de públicos e
são personalizados.

Pense, por exemplo, em quantas marcas diferentes de shampoo encontramos


nas prateleiras dos supermercados e estabelecimentos comerciais; uma marca
para cada tipo específico de cabelo. Ou ainda, em quantos tipos de sapatos, roupas,
acessórios temos à disposição. Os eletroeletrônicos, por sua vez, são destaque em
inovação por oferecer funções cada vez mais diversificadas em aparelhos cada
vez menores. Automóveis, cujos novos modelos, cada vez mais sofisticados e
funcionais, são lançados ano a ano.

Para modelar o desejo dos consumidores, estratégias de marketing são criadas,


tornando a imagem e a fantasia mais interessantes do que a própria realidade.
Com isso, percebemos que “[…] as campanhas de marketing […] reforçam o nível
e a intensidade dos ambientes e do comportamento individual de consumo, em
qualquer tempo e o tempo todo” (FONTENELLE, 2008, p. 86).

O significado do trabalho e relações humanas 129


U3

Vamos assistir a um comercial de TV, entre tantos outros, cuja finalidade


não é apenas a venda de um produto para satisfazer uma necessidade,
mas sim transmitir a imagem de beleza, encantamento, felicidade e
sonho. Acesso o link: Disponível em <https://www.youtube.com/
watch?v=BAAKj8FtvpQ>.

Assim como analisa Bauman (2001), a vida organizada em torno do consumo é


orientada pela sedução, por desejos sempre crescentes e quereres inconstantes,
reforçando ainda mais a ideia por ele introduzida de liquidez e fluidez.

Estas novas demandas sociais e estes novos estilos de vida na sociedade


atual também interferem no significado do trabalho e no seu formato de gestão
dentro das organizações. Por isso, o trabalho deve ser compreendido em todo
seu entorno, não sendo considerado um fator isolado, mas sim um fenômeno
que recebe influências dos aspectos sociais, econômicos e culturais, que também
atuam sobre este cenário.

1. Qual a relação do conceito de Subjetividade com o Trabalho,


considerando o novo cenário social no qual estamos vivendo?

2. O sociólogo Zygmunt Bauman utiliza em suas obras o


termo “líquido” para se referir às condições da sociedade na
atualidade. De acordo com as contribuições deste autor, o
que quer dizer o termo “líquido”? e culturais, que também
atuam sobre este cenário.

130 O significado do trabalho e relações humanas


U3

Seção 2

Relações humanas, aspectos do


desenvolvimento humano e interação
Somos seres humanos e convivemos com os nossos semelhantes desde a mais
tenra idade e durante todo o tempo. Sabemos que as relações que estabelecemos
com as pessoas com as quais compartilhamos os momentos de nossas vidas são
cruciais para nos construirmos enquanto humanos de fato. Além disso, as relações
humanas estão emaranhadas no processo de desenvolvimento humano. Mas,
como nos desenvolvemos? Você já parou para analisar o quanto a compreensão
do desenvolvimento humano pode nos ajudar a entender os comportamentos das
crianças, dos jovens e dos adultos?

A Psicologia é um campo do conhecimento que estuda o desenvolvimento


humano, apresentando várias perspectivas teóricas sobre o tema, que foram
construídas com base em observações, pesquisas com indivíduos de diversas faixas
etárias e culturas, estudos de casos clínicos, entre outras técnicas (BOCK; FURTADO;
TEIXEIRA, 2008). Contaremos com esta importante ciência para nos auxiliar a
compreender um pouco a respeito deste assunto tão complexo e relevante.

Você se recorda da sua infância? O que vem à sua memória? Que


aspectos da sua infância você mantém até hoje na idade adulta?

Para Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 116),

O desenvolvimento é um processo contínuo e ininterrupto


em que os aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais se
interconectam, se influenciam reciprocamente, produzindo
indivíduos com um modo de pensar, sentir e estar no mundo
absolutamente singulares e únicos.

O significado do trabalho e relações humanas 131


U3

Os mesmos autores afirmam que estudar o desenvolvimento humano é


compreender o crescimento orgânico e também o desenvolvimento gradativo de
estruturas mentais, o que permite conhecer as características comuns de cada
faixa etária, reconhecendo as singularidades e aquilo que nos torna mais aptos
para observar e interpretar os comportamentos humanos.

Vamos aprender, através do quadro abaixo, quais são os fatores que, de forma
interconectada e em constante interação, afetam os aspectos do desenvolvimento
humano:

Quadro 3.1 | Fatores que interferem no desenvolvimento humano

Crescimento Maturação
Hereditariedade Meio
orgânico neurofisiológica
Diz respeito ao Conjunto de
aspecto físico. O influências
aumento de altura e estímulos
e a estabilização do ambientais que
esqueleto permitem altera os padrões
Carga genética ao indivíduo Torna possível de comportamento
que estabelece comportamentos determinado padrão do indivíduo, como
o potencial do e também um de comportamento, uma criança de 3
indivíduo, podendo domínio de como a anos que recebe
se desenvolver ou mundo. Imagine alfabetização das estimulação verbal
não. uma criança crianças. intensa e apresenta
que engatinha e um repertório
depois começa verbal muito maior
a andar, quantas do que a média
possibilidades de das crianças de sua
descoberta. idade.
Fonte: Adaptado de Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 117-118).

No que diz respeito aos aspectos do desenvolvimento humano, os autores


alertam que eles devem ser entendidos de forma global e não isolada, pois todos
os aspectos se relacionam permanentemente. No entanto, para fins didáticos,
conheceremos, separadamente, quatro aspectos básicos do desenvolvimento
humano, utilizando as explicações de Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 118-119,
grifos dos autores):

Aspecto físico-motor – refere-se ao crescimento orgânico, à maturação


neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercício do
próprio corpo. Exemplo: uma criança leva a chupeta à boca ou consegue tomar
a mamadeira sozinha, por volta dos 7 meses, porque já coordena os movimentos
das mãos.

132 O significado do trabalho e relações humanas


U3

Aspecto intelectual – é a capacidade de pensamento, raciocínio. Por exemplo,


uma criança de 2 anos que usa um cabo de vassoura para puxar um brinquedo
que está embaixo de um móvel ou um jovem que planeja seus gastos a partir de
sua mesada ou salário.

Aspecto afetivo-emocional – é o modo particular de o indivíduo integrar as


suas experiências. É o sentir. A sexualidade faz parte desse aspecto. Exemplos: a
vergonha que sentimos em algumas situações, o medo em outras, a alegria de
rever um amigo querido.

Aspecto social – é a maneira como o indivíduo reage diante das situações que
envolvem outras pessoas. Por exemplo, em um grupo de crianças, no parque,
é possível observar que algumas buscam espontaneamente outras para brincar,
enquanto algumas permanecem sozinhas.

Dentre as teorias do desenvolvimento humano, há uma que apresenta um


enfoque bastante interessante, contribuindo com proposições inovadoras para a
psicologia. Trata-se do enfoque interacionista proposto por Vygotsky.

Lev Semenovich Vygotsky nasceu no ano de 1896, na Bielorrússia,


e faleceu muito jovem, aos 37 anos, vítima de tuberculose. Ele foi
ignorado no Ocidente e na ex-União Soviética, e a publicação de suas
obras foi suspensa entre 1936 e 1956. Atualmente, seu trabalho vem
sendo estudado e reconhecido em todo o mundo (BOCK; FURTADO;
TEIXEIRA, 2008).

Vygotsky foi um dos primeiros nomes da Psicologia a pensar dialeticamente


fatores que antes eram divididos, como sociedade e indivíduo, corpo e mente,
afetivo e cognitivo. Apoiou-se no materialismo dialético e nos pensamentos de
Marx, acreditando que o homem é um ser histórico e social que transforma o
mundo à sua volta, sendo também ativo neste processo. Para isso, as relações
sociais são determinantes na vida humana.

Para Bock, Furtado e Teixeira (2008), um pressuposto básico da obra de


Vygotsky é que as origens das formas superiores de comportamento consciente,
chamadas por ele de funções complexas superiores (pensamento, memória,
atenção, linguagem etc.) devem ser buscadas nas relações sociais estabelecidas
pelos homens. Assim, sua teoria do desenvolvimento infantil é compreendida a
partir de três aspectos. Vamos conhecê-los?

O significado do trabalho e relações humanas 133


U3

O primeiro é o aspecto instrumental, que diz respeito à natureza mediadora das


funções psicológicas complexas, como quando amarramos uma fita no dedo para
lembrarmos de fazer algo. Este laço no dedo adquire um sentido para o homem
por causa de sua função mediadora. O segundo é o aspecto cultural, que se refere
aos meios socialmente estruturados pelos quais a sociedade organiza as atividades
da criança, sendo um dos instrumentos básicos criados pela humanidade e de
fundamental importância, a linguagem. O último é o aspecto histórico que se
funde com o cultural, uma vez que os instrumentos criados ao longo da história
da humanidade pelos homens para dominar seu ambiente e seu comportamento
foram sendo modificados no decorrer desta história. Os instrumentos culturais
expandiram os poderes dos homens e estruturaram seu pensamento (BOCK;
FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

Como nos explica os mesmos autores, de acordo com a teoria de Vygotsky,


primeiro os processos são interpsíquicos, ou seja, funcionam externamente,
durante a interação da criança com o adulto. Em um momento da etapa do
desenvolvimento humano, pensamento e linguagem se unem e os processos
tornam-se intrapsíquicos, ou seja, acontecem dentro da própria criança, como a
fala interior, que apresenta a função de organizar e planejar nossas ações. Sendo
assim, Vygotsky considera as relações sociais como constitutivas das funções
complexas superiores.

Você consegue identificar os elementos da cultura do


lugar onde você está inserido? Consegue fazer a relação
destes elementos com aspectos da história do seu próprio
desenvolvimento?

Refletimos que as relações estabelecidas ao longo da vida são essenciais para


o desenvolvimento humano. Agora é a vez de falarmos das relações humanas,
propriamente ditas.

Minicucci (2008) ensina-nos que o relacionamento entre as pessoas,


chamado relacionamento interpessoal, diz respeito às relações humanas. Esse
relacionamento pode ocorrer de várias maneiras: uma pessoa e outra, como no
caso de marido e mulher, professor e aluno; entre membros de um grupo, como
pessoas na família, pessoas na organização, pessoas em uma sala de aula; entre
grupos em uma organização ou instituição, como os grupos de estudo em uma
classe e os grupos de trabalho em uma empresa.

134 O significado do trabalho e relações humanas


U3

As relações humanas também se referem ao diálogo que estabelecemos


conosco, evento que chamamos de relação intrapessoal.

Ao nos relacionarmos com as outras pessoas, é necessário que haja certas


habilidades em compreender as necessidades do outro e também as nossas
próprias necessidades. A compreensão dos outros é a aptidão para nos colocarmos
no lugar do outro e tentarmos fazer o exercício de sentir o que os outros estão
sentindo. Essa aptidão é chamada por Minicucci (2008) de empatia ou sensibilidade
social. Vamos conhecer as ideias do próprio autor:

Entenda-se que empatia é diferente de simpatia, de antipatia


ou de apatia. Simpatia você sente em relação ao outro, junto
a ele. Se tenho simpatia por Maria, sinto-me alegre se ela está
alegre, triste se está triste e vibro com seus sucessos.
Na atitude empática (sensibilidade social), compreendo
como Maria se sente (alegre ou triste) e sua maneira de agir
em função desses sentimentos, mas não me envolvo neles.
Sou capaz de compreendê-la, mas não de sentir o que ela
sente (simpatia) (MINICUCCI, 2008, p. 31).

Na mesma linha de pensamento, Del Prette e Del Prette (2013) ressalta que
as habilidades empáticas são exercidas como reação a demandas caracterizadas
por uma necessidade afetiva do outro, sendo que tais demandas ocorrem
quando a pessoa experiencia sentimentos negativos ou positivos e espera o
compartilhamento solidário daqueles que lhe são próximos. A empatia é, portanto,
a capacidade de compreender e sentir o que outra pessoa pensa e sente em
uma situação cuja demanda é afetiva, comunicando-lhe de forma adequada tal
compreensão e sentimento.

Para este autor, a definição de empatia considera três componentes. Vejamos


quais são eles:

a) o cognitivo (adotar a perspectiva do interlocutor, ou seja,


interpretar e compreender seus sentimentos e pensamentos);

b) o afetivo (experienciar a emoção do outro, mantendo


controle sobre ela);

c) o comportamental (expressar compreensão e sentimentos


relacionados às dificuldades ou êxito do interlocutor) (DEL
PRETTE; DEL PRETTE, 2013, p. 86).

O significado do trabalho e relações humanas 135


U3

Dessa forma, desenvolver a habilidade empática pode favorecer de muitas


maneiras a condução das relações humanas em nosso dia e dia.

Outra habilidade que precisamos desenvolver no trato com o outro é a


flexibilidade de comportamento que, em concordância com Minicucci (2008), é
a condução apropriada de determinada situação, com determinada pessoa. Para
isso, é necessário analisar caso a caso e agir adequadamente, utilizando a empatia,
para que os resultados de nossas atitudes possam ser os mais positivos possíveis.
“Isso significa que devo ter um repertório de condutas que varia conforme a
situação e a pessoa” (MINICUCCI, 2008, p. 33, grifo nosso).

Um esquema bem interessante, desenhado pelo autor, mostra-nos esta


dinamicidade das relações humanas:

Figura 3.1 | Dinamicidade das relações humanas

Fonte: Adaptado de Minicucci (2008, p. 33).

O vídeo que você vai assistir agora é emocionante! Você irá se deparar
com um ambiente cheio de pessoas e perceberá o quão importante é
a empatia e a flexibilidade de comportamento com cada uma delas.
Assista e faça esse importante exercício mental de relacionar-se com
outros seres humanos. Acesso em: <https://www.youtube.com/
watch?v=gPASDkS3F98>.

136 O significado do trabalho e relações humanas


U3

Ao pensarmos na vida em sociedade, sabemos que o tempo todo somos


influenciados pelos outros e também exercemos sobre esta influência. A influência
social constitui, então, um dos fenômenos mais presentes no relacionamento
interpessoal.

Rodrigues, Assmar e Jablonski (1999, p. 179) afirmam que “quando falamos em


influência social, estamos nos referindo ao fato de uma pessoa induzir outra a um
determinado comportamento”.

Estes autores apontam um trabalho de Robert Cialdini (1993 apud RODRIGUES;


ASSMAR; JABLONSKI, 1999) em que é apresentada uma série de táticas utilizadas
para influenciar pessoas. Vamos conhecer algumas dessas táticas:

• A primeira tática mencionada pelos autores é a tática ou técnica do “um pé


na porta”, que se caracteriza por qualquer forma de atrair a pessoa que se quer
influenciar a fim de permitir que o influenciador inicie sua tentativa de influência,
como vendedores que oferecem presentes aos consumidores com o intuito de
que estes os aceitem e os deixem falar sobre seus produtos.

• Outra tática apresentada pelos autores é a chamada tática ou técnica da “bola


baixa”, ou seja, uma técnica em que o influenciador começa solicitando algo que
leve a uma adesão fácil por parte daquele que está sendo influenciado, passando
depois para a apresentação de outras ações que se seguem à adesão do início.
Isto pode acontecer quando se omite o aspecto desagradável de propósito, só
revelando posteriormente, quando o influenciado já se sente envolvido e, portanto,
com dificuldade de recusar, face ao compromisso assumido antes de saber a
característica negativa.

• A próxima tática que os autores trazem é a tática ou técnica da “porta na


cara”, que consiste em pedir inicialmente algo que certamente será negado, para
se chegar no pedido de algo que realmente se deseja, o qual terá grandes chances
de ser aceito. Os próprios autores dão um exemplo:

Por exemplo: um menino, que precisa de dois reais para


comprar balas, pede à sua mãe 50 reais para comprar balas.
Sua mãe obviamente lhe nega. Ele então diz: “Está bem,
50 é muito mesmo; será que você pode me dar então dois
reais?”. Esta técnica tem a sutileza de mostrar que a pessoa
que quer influenciar a outra (no caso do exemplo, o menino)
é compreensiva e flexível, portanto, aceita a negativa inicial;
isto, por sua vez, pressiona a pessoa-alvo da influência (no

O significado do trabalho e relações humanas 137


U3

caso em pauta, a mãe) a mostrar a mesma compreensão (e até


a se sentir culpada se disser que não) e não lhe negar agora
um pedido razoável (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999,
p. 188).

• Agora, a tática é a do contraste perceptivo. Os autores afirmam que esta tática


é utilizada como influência social quando um vendedor, por exemplo, interessado
em vender determinado produto, apresenta ao cliente vários outros produtos
inferiores antes de mostrar o produto que de fato quer vender. Os produtos
anteriormente apresentados, que foram inferiores, serviram como fundo para que
o produto que de fato deveria ser vendido assumisse, aos olhos da pessoa-alvo da
influência, características muito mais atraentes do que realmente poderia ter.

• A reciprocidade é outra tática que os autores abordam e se refere ao direito


da pessoa em solicitar da outra pessoa favor igual no futuro. “Por exemplo, se eu
ajudo um amigo a trocar um pneu furado, caso eu venha a ter um pneu furado e
ele esteja perto eu posso dizer: ‘ajude-me a trocar o pneu porque eu lhe ajudei em
outra ocasião’” (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 189).

Você já exerceu influência sobre alguém ou algum grupo de


pessoas? Consegue identificar qual ou quais dessas táticas
você já utilizou?

Outra forma de exercer potencial influência sobre o outro é por meio do poder.
Sabemos que o poder é a capacidade de domínio ou autoridade sobre uma pessoa,
um grupo de pessoas ou até sobre uma nação.

No que diz respeito às bases do poder social, os autores French e Raven (1959
apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999) apresentaram uma classificação de
tipos de base de poder: o poder de recompensa, o poder de coerção, o poder de
legitimidade, o poder de referência e o poder de conhecimento. A partir de agora,
conheceremos cada um destes tipos de poder, de acordo com estes autores:

• O poder de recompensa, conforme explicam os autores, está diretamente


relacionado ao reconhecimento por parte da pessoa sobre quem a influência
é exercida, ou seja, da capacidade do influenciador de mediar recompensas.

138 O significado do trabalho e relações humanas


U3

Assim, quando uma mãe diz a um filho que, se ele cumprir determinada atividade
receberá uma recompensa, a influência que se apresenta é baseada no poder de
recompensa, que será bem-sucedida se a recompensa é desejada pela pessoa e
este reconhece no outro a capacidade para oferecê-la.

• Segundos os autores, o poder de coerção é definido “quando A é capaz de


influenciar B em virtude da possibilidade que A tem de infligir castigos a B, caso
este não obedeça, a base de influência exercida é o poder de coerção” (FRENCH;
RAVEN, 1959 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 192). Assim, este
tipo de influência é operado quando a pessoa-alvo da influência reconhece que
o influenciador tem a possibilidade de aplicar-lhe punições caso ela não ceda
à influência exercida. Isto pode acontecer, por exemplo, em uma situação de
trabalho, na qual o chefe pode exercer poder de coerção sob seu subordinado.

• Já o poder de legitimidade acontece quando “[…] A emite comportamento


desejado por B, em virtude do reconhecimento da legitimidade de B prescrever
tal comportamento, estamos diante da influência baseada em poder legítimo”
(FRENCH; RAVEN, 1959 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 193). Isto
significa que no cotidiano a propriedade ou impropriedade de emitir determinados
comportamentos numa dada situação pode advir da tradição, dos valores, das
crenças ou, até mesmo, das normas sociais, conforme nos explicam os autores.
Portanto, numa equipe de trabalho, por exemplo, tradicionalmente se obedece às
determinações do líder da equipe, sendo reconhecida como legítima a prescrição
de determinados comportamentos por parte deste líder.

• No que diz respeito ao poder de referência, de acordo com os autores, as


pessoas podem desempenhar o papel de referência tanto positiva quanto negativa
em relação a outras. “Quando a influência exercida por A sobre B decorre do fato
de B ter A como ponto de referência (positiva ou negativa), a base da influência
exercida é o poder de referência” (FRENCH; RAVEN, 1959 apud RODRIGUES;
ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 193). Com isso, percebemos que há pessoas com
quem nos identificamos e que exercem sobre nós algum tipo de referência.

• O poder de conhecimento ocorre em virtude da aceitação do conhecimento


de uma pessoa à outra. Um médico, por exemplo, reconhecido por nós como
especialista em determinado assunto, quando recomenda um tratamento ou
receita algum medicamento, nós acatamos. Este poder exercido pelo médico
tem como base o reconhecimento por parte dos seus méritos profissionais. “Diz-
se que A tem poder de conhecimento sobre B, quando B segue as prescrições
determinadas por A em virtude da aceitação do conhecimento abalizado por A”
(FRENCH; RAVEN, 1959 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 193).

Além destes cinco tipos de poder, Raven (1965 apud RODRIGUES; ASSMAR;
JABLONSKI, 1999) acrescentou outra base de poder denominada poder de informação:

O significado do trabalho e relações humanas 139


U3

• O poder de informação acontece quando a pessoa-alvo muda sua atitude


em função de uma reorganização cognitiva provocada pelo conteúdo de uma
influência efetuada por outra pessoa (a que influencia), e não por causa de alguma
característica especificamente associada a esta pessoa. Vamos entender a partir do
exemplo do próprio autor:

Sabemos que o poder é a


capacidade de domínio ou
autoridade sobre uma pessoa.

Um vendedor, por exemplo, pode fazer com que o comprador


veja por si mesmo as vantagens de comprar a mercadoria que
lhe está sendo oferecida. Se a argumentação do vendedor
gerou no comprador novos insights que o levaram a decidir-
se pela propriedade de adquirir a mercadoria, a influência
exercida pelo vendedor se enquadra no tipo de poder
social aqui descrito. Tal não seria o caso, por exemplo, se o
comprador adquirisse a mercadoria porque um especialista na
matéria lhe havia recomendado a compra do artigo (RAVEN,
1965 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 194,
grifo dos autores).

Os autores explicam que um exemplo claro em que o poder de informação é


utilizado é a resolução de charadas ou enigmas.

Utilize seu poder de informação e resolva as charadas propostas,


acessando o link: Disponível em: <http://charadaslegais.com.br/
melhores.htm>.

É interessante percebermos quantos elementos constituem a complexidade e


dinamicidade das relações humanas. Por isso, é importante que sempre tenhamos
cuidado ao lidar com pessoas, grupos e/ou instituições, conhecendo suas reais

140 O significado do trabalho e relações humanas


U3

necessidades, seu histórico, suas vivências, desempenhando nossas habilidades de


empatia e exercitando nossa capacidade de análise crítica diante de cada situação.

2.1 As contribuições da Psicologia Social

Até agora discutimos temas bastante relevantes para a construção do ser


humano. Falamos do trabalho e de seu significado, também refletimos o conceito
de subjetividade, passeamos pelo mundo do trabalho e suas transformações
até chegar nos dias atuais e analisamos a importância das relações humanas,
considerando a presença da influência social nesta dinâmica.

Diante de todos estes temas, foi possível perceber que o ser humano se faz em
contato com o seu semelhante, ou seja, nos construímos enquanto humanos de
fato por meio do olhar do outro, nas infinitas relações que são estabelecidas ao
longo de nossa existência. Portanto, somos seres que “[…] vivemos em constante
processo de dependência e interdependência em relação a nossos semelhantes”
(RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 21).

Para compreendermos estes fenômenos tão presentes na vida humana e


fundamentais para o seu funcionamento, contamos com a ciência Psicologia,
neste caso, mais especificamente, a Psicologia Social, cujo objetivo é investigar a
influência recíproca entre as pessoas – a interação social – e o processo cognitivo
gerado por esta interação, o chamado pensamento social. Assim, a interação
humana e seus efeitos comportamentais e cognitivos constituem o objeto de
estudo da Psicologia Social (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999).

O Psicólogo Social, por sua vez, deve estar muito atento às variáveis, muitas
vezes complexas e dinâmicas, que interferem na interação humana, isto é,
considerar que os fatores longitudinais (aspectos da personalidade, história de
vida, experiências passadas, fatores hereditários, etc.) interatuam com fatores
situacionais (do contexto, do ambiente), caracterizando, assim, o aspecto social
do comportamento (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999).

Vamos refletir, então, o que é Psicologia Social a partir da definição dos próprios autores:

[…] Psicologia Social é o estudo científico de manifestações


comportamentais de caráter situacional suscitadas pela
interação de uma pessoa com outras pessoas ou pela mera
expectativa de tal interação, bem como dos processos cognitivos
suscitados pelo processo de interação social (RODRIGUES;
ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 24).

O significado do trabalho e relações humanas 141


U3

A Psicologia Social e a Sociologia são dois campos do conhecimento que,


algumas vezes, se confundem. Mesmo que haja uma ligação entre ambas as
áreas, é preciso identificar as particularidades de cada uma delas. De acordo com
Rodrigues, Assmar e Jablonski (1999), a Psicologia Social e a Sociologia têm, no
mínimo, um objeto formal distinto, no entanto, reconhecem a existência de uma
área de interseção bastante nítida em seu objeto de estudo.

Vamos verificar, por meio da figura abaixo, alguns dos muitos fenômenos sociais
que apresentam interconexão entre os dois campos do conhecimento:

Figura 3.2 | Exemplos de objetos de estudo da Psicologia Social e da Sociologia e a


interseção entre ambas.

Fonte: Adaptado de Minicucci (2008, p. 33).

Uma diferença importante entre estes dois campos, ressaltada pelos autores,
está na forma com que a Psicologia Social e a Sociologia estudam o seu objeto de
estudo (que muitas vezes é idêntico ou quase idêntico), e também nas perguntas
e questionamentos que os respectivos pesquisadores dessas áreas formulam em
suas pesquisas. É impossível negar, porém, a contribuição que uma área possibilita
a outra.

Com relação à história da construção da Psicologia Social enquanto campo


do conhecimento, González Rey (2005) esclarece que antes a Psicologia Social
esteve atrelada a uma plataforma individualista, que se apoiou em uma visão do
homem como agente e não como sujeito do comportamento, contribuindo
para a dicotomia entre o social e o individual, cuja perspectiva esteve presente na
psicologia até os dias de hoje.

142 O significado do trabalho e relações humanas


U3

Em oposição a essa ideia de dicotomia, na qual o indivíduo e a sociedade seriam


instâncias separadas e deveriam ser compreendidas da mesma forma, Lane (2001),
importante nome na história da Psicologia Social no Brasil, nos ensina:

Porém o homem fala, pensa, aprende e ensina, transforma a


natureza; o homem é cultura, é história. Este homem biológico
não sobrevive por si e nem é uma espécie que se reproduz
tal e qual, com variações decorrentes de clima, alimentação,
etc. O seu organismo é uma infraestrutura que permite o
desenvolvimento de uma superestrutura que é social e,
portanto, histórica. Esta desconsideração da Psicologia em
geral, do ser humano como produto histórico-social, é que a
torna, se não inócua, uma ciência que reproduziu a ideologia
dominante de uma sociedade […] (LANE, 2001, p. 12).

Sílvia Lane nasceu em 1933, em São Paulo e, em 1956, formou-se em


Filosofia pela USP-SP. Em seguida, começou sua pesquisa em Psicologia
Social. Faleceu em abril de 2006, vítima de câncer. Para ela, a ciência
não tinha qualquer valor se não estivesse diretamente relacionada à
realidade do mundo, cujo objetivo era o de buscar soluções para os
problemas sociais vividos pela maioria da população. Fundou a ABRAPSO
(Associação Brasileira de Psicologia Social), entidade bastante atuante
até hoje. Lane publicou livros em Psicologia Social, tendo sido grande
referência nesta área e na Psicologia Social Comunitária, que veio a se
desenvolver no Brasil em meado dos anos de 1980.

Lane (2001) defende a impossibilidade de delimitarmos conhecimentos em


áreas que constituiriam o conjunto das ciências humanas, como a Psicologia,
a Sociologia, a Antropologia, a Economia, a História etc.; áreas que teriam uma
postura impermeável, restrita. Para ela, estes campos do conhecimento são
enfoques a partir dos quais todas as áreas devem colaborar para o conhecimento
profundo e concreto do homem, ampliando o conhecimento do ser humano
tanto individualmente quanto em grupo e na sociedade como um todo.

Veja, nas palavras da própria autora, as consequências de uma ciência que não
olha o ser humano em todas as suas dimensões, como um ser social, dinâmico e
agente de sua própria história:

O significado do trabalho e relações humanas 143


U3

Se a Psicologia apenas descrever o que é observado ou enfocar


o Indivíduo como causa e efeito de sua individualidade, ela
terá uma ação conservadora, estatizante – ideológica –
quaisquer que sejam as práticas decorrentes. Se o homem
não for visto como produto e produtor, não só de sua história
pessoal mas da história de sua sociedade, a Psicologia estará
apenas reproduzindo as condições necessárias para impedir a
emergência das contradições e a transformação social (LANE,
2001, p. 15).

Diante de todas essas reflexões, podemos concluir que o conhecimento


científico tem nos ajudado, no decorrer dos anos, a produzir novas coisas, a criar
novos significados e valores e a transformar a realidade.

Em concordância com Lane (2001), os vários campos do conhecimento


científico, entre eles a Psicologia e a Sociologia, não podem estar a serviço da
redução e simplificação de suas práticas e de seus olhares, mas sim assumir, em
primeiro lugar, dentro de cada prática e de cada especificidade, o principal motivo
de se fazer ciência: desenvolver a humanidade que seja para todos. Para isso, é
imprescindível reconhecer o homem enquanto sujeito histórico e social, que se
faz em meio ao conjunto de relações sociais que o transforma constantemente,
ao mesmo tempo em que contribui para o desenvolvimento de seu espaço e de
seu mundo social.

1. Com relação às táticas utilizadas para influenciar pessoas,


escolha uma das táticas descritas e dê um exemplo prático de
acordo com suas experiências de vida.

2. Na sua opinião, qual é o papel do Cientista Social?

144 O significado do trabalho e relações humanas


U3

Nesta Unidade, você aprendeu:

A importância do trabalho para a constituição do ser humano


e os impactos das transformações sociais e culturais na
concepção do trabalho e na produção da subjetividade humana.

Os aspectos básicos do desenvolvimento humano e os fatores


que interferem no processo de desenvolvimento humano.

A reflexão sobre as relações humanas e a habilidade de viver


com os nossos semelhantes.

As contribuições da Psicologia Social.

Você terá a missão de utilizar este conhecimento adquirido


para o seu desenvolvimento pessoal e para o bem das pessoas
que estão ao seu redor! Para isso, em primeiro lugar, é preciso
enxergar e reconhecer o humano como um ser dotado de
múltiplas dimensões; um ser que é, ao mesmo tempo, singular,
social, cultural e histórico, e que está em constante processo
de construção. É importante mencionar que o propósito desta
unidade não foi fazer você encontrar respostas, mas sim fazê-
lo questionar-se cada vez mais sobre sua realidade, a fim de
colaborar para sua aprendizagem e para a conquista de um
mundo com mais significado e ações em prol do coletivo.

1. O conceito de Subjetividade é fundamental para


buscarmos compreender o ser humano, inclusive em

O significado do trabalho e relações humanas 145


U3

sua relação com o trabalho. Sendo assim, com relação à


Subjetividade, coloque V para Verdadeiro e F para Falso:

( ) A Subjetividade diz respeito ao homem em todas as


suas manifestações e expressões, as visíveis e as invisíveis;
também se refere às expressões singulares e às genéricas.

( ) A Subjetividade nasce com o ser humano, portanto, ela é


inata; além disso, é inteiramente constituída até a primeira
fase da idade adulta.

( ) A Subjetividade é um processo em constante


desenvolvimento; é a condição natural de interioridade
humana que permite apreender o mundo e construir-se a
si mesmo.

Escolha a alternativa que preenche corretamente os


espaços (de cima para baixo):

a) V – F – F.
b) V – V – V.
c) F – F – V.
d) V – F – V.

2. O psicólogo Wanderley Codo (2006) define Trabalho


como uma relação de dupla transformação entre o homem
e a natureza “geradora de significado”. Neste sentido, o que
quer dizer gerar significado?

3. Vimos que Zygmunt Bauman (1999; 2001; 2005) é um


grande pensador contemporâneo; suas palavras nos
fazem refletir sobre os fatos cotidianos e a condição da
vida humana na atual sociedade de consumo. Um dos
conceitos desenvolvidos por Bauman em suas obras é o de
Globalização. Sob esta ótica, explique Globalização.

146 O significado do trabalho e relações humanas


U3

4. Estudar o desenvolvimento humano é compreender


o crescimento orgânico e também o desenvolvimento
gradativo de estruturas mentais do ser humano. No
que diz respeito aos fatores que afetam os aspectos do
desenvolvimento humano, relacione a coluna da esquerda
com a coluna da direita:

( ) Torna possível determinado padrão de compor-


(1) Hereditariedade
tamento, como a alfabetização das crianças.
( ) Conjunto de influências e estímulos ambien-
tais que altera os padrões de comportamento do
indivíduo, como uma criança de 3 anos que re-
(2) Crescimento orgânico
cebe estimulação verbal intensa e apresenta um
repertório verbal muito maior do que a média das
crianças de sua idade.
( ) Carga genética que estabelece o potencial do
(3) Maturação neurofisiológica
indivíduo, podendo se desenvolver ou não.
( ) Diz respeito ao aspecto físico. O aumento de
altura e a estabilização do esqueleto permitem ao
indivíduo comportamentos e também um domínio
de mundo. Imagine uma criança que engatinha e
depois começa a andar, quantas possibilidades de
(4) Meio descoberta.

A coluna da direita, portanto, estará corretamente


preenchida na seguinte ordem (de cima para baixo):

a) 1 – 2 – 3 – 4.
b) 4 – 3 – 2 – 1.
c) 3 – 4 – 1 – 2.
d) 2 – 1 – 3 – 4.

5. De acordo com as reflexões estudadas, quais as


contribuições da Psicologia Social para as questões do
homem e sociedade?

O significado do trabalho e relações humanas 147


U3

148 O significado do trabalho e relações humanas


U3

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SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós-moderno. 11. ed. São Paulo: Brasiliense,
1993.

150 O significado do trabalho e relações humanas


Unidade 4

A COMPREENSÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO
E COMUNICAÇÃO

Ana Céli Pavão

Objetivos de aprendizagem: Nesta Unidade, você será levado a


compreender que a Psicologia científica apresenta uma diversidade
de vertentes teóricas que, por sua vez, possuem diferentes formas de
entender o ser humano, bem como seu comportamento. Além disso, você
será levado a refletir a dinâmica do comportamento humano em grupo
e conhecerá alguns tipos de grupo, os processos grupais e as fases de
desenvolvimento de grupos, destacando os grupos de trabalho, e também
a distinção entre grupos e equipes. Finalmente, você será conduzido a
entender a arte da comunicação, seus conceitos, funcionalidades, tipos,
bem como sua importância nas relações interpessoais, sendo necessário
desenvolver habilidades, entre elas o mecanismo de dar e receber feedback,
que favoreçam o processo de interação humana.

Seção 1 | Comportamento humano, contribuições da


psicologia e a interação humana em grupo

Nesta seção, você encontrará conteúdos sobre duas perspectivas


teóricas da Psicologia, a Psicanálise e o Behaviorismo (também chamado
de Análise do Comportamento), levando-o a compreender que, assim
como estas duas vertentes teóricas, existem outras teorias na Psicologia
que compreendem o comportamento humano de formas diferentes.
Além disso, convido você a refletir o comportamento humano em grupo,
U4

conhecendo alguns tipos de grupo, a dinâmica de funcionamento


dos grupos, suas etapas de desenvolvimento (pensando, inclusive, nos
grupos de trabalho) e a distinção entre grupos e equipes.

Seção 2 | Comunicação humana, seus conceitos,


funcionalidades e habilidades

Esta seção traz uma considerável reflexão sobre a arte da comunicação,


levando em consideração seus conceitos, elementos e os tipos de
comunicação. Em seguida, abordaremos a necessidade de desenvolver
habilidades de comunicação, ressaltando o processo de dar e receber
feedback, como requisito fundamental para o relacionamento satisfatório
nos dias atuais, tanto interpessoal quanto em grupo. Ao final da seção,
traremos uma técnica que tem por objetivo contribuir na análise das
relações interpessoais e nos processos de aprendizagem em grupo, a
chamada Janela de Johari.

152 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

Introdução à unidade

Seja bem-vindo a uma discussão extremamente importante sobre alguns


fenômenos da vida humana, como o comportamento das pessoas individualmente
e com seus semelhantes e o processo de comunicação. É interessante reconhecer
que, quando estudamos eventos, acontecimentos e aspectos próprios da
dinamicidade da vida humana, estamos buscando compreender a nós mesmos.
E não faremos isso sozinhos. Mais uma vez contaremos com a preciosa ajuda de
campos do conhecimento, como é o caso da Psicologia. Convido você a começar
a desvendar estas manifestações tão presentes no cotidiano de nossas vidas.

Para iniciarmos nossas reflexões, a Seção 1, que se chama “Comportamento


humano, contribuições da Psicologia e a interação humana em grupo”, trará
noções a respeito da diversidade de objetos de estudo da Psicologia, que
implica diferentes maneiras de compreender o ser humano e a expressão de
seus comportamentos. Para isso, conheceremos, mesmo que de forma breve e
superficial, duas abordagens teóricas da Psicologia: a Psicanálise e o Behaviorismo.
Nesta mesma seção, refletiremos não só a respeito do comportamento individual
e entre pessoas, mas do comportamento humano em grupo, buscando aprender
sobre alguns tipos de grupo, o movimento dos processos grupais, os estágios
de desenvolvimento dos grupos, principalmente no que se refere aos grupos de
trabalho, além de reconhecer a diferença existente entre grupos e equipes.

Na Seção 2, intitulada “Comunicação humana, seus conceitos, funcionalidades


e habilidades”, analisaremos algumas definições de comunicação, de forma a
entender seu mecanismo e seus componentes, bem como os tipos nos quais a
comunicação humana pode ser classificada. Para finalizar a seção, abordaremos
um tema relevante e pertinente para os dias atuais, tanto em situações pessoais
rotineiras quanto em situações no contexto de trabalho, o qual pode ser
determinante para o sucesso dos indivíduos no atual cenário social. Trata-se do
desenvolvimento de habilidades de comunicação, destacando a importância da
capacidade de dar e receber feedback que, quando praticada e aprimorada, pode
favorecer sobremaneira o relacionamento das pessoas entre si e dos grupos aos
quais pertencem.

Você poderá validar seu aprendizado por meio das atividades disponíveis logo
ao final da unidade. Espero que este conteúdo que será apresentado possa ser
bastante produtivo para você!

Bom aproveitamento!

A compreensão do comportamento humano e comunicação 153


U4

154 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

Seção 1

Comportamento humano, contribuições da


psicologia e a interação humana em grupo
Qualquer instituição, associação, organização de trabalho, movimento social,
seja formal ou informal, é constituído por pessoas. São as pessoas que constroem
o mundo e tudo que nele há, e elas são seres históricos e sociais, em constante
processo de desenvolvimento, dotadas de características múltiplas, e tudo isso
está sintetizado em sua Subjetividade.

Você se lembra o que quer dizer Subjetividade?

Um dos aspectos que define a condição humana é a capacidade de comportar-


se. O comportamento pode ser manifestado de inúmeras maneiras, desde a
ação de conversar com pessoas, beber um copo de água, assistir a um filme na
televisão, até os comportamentos que parecem mais complexos, como resolver
cálculos matemáticos, tomar decisões estratégicas ou, ainda, realizar uma
atividade planejada em meio a uma equipe com outras pessoas. De acordo com
Minicucci (2008, p. 19, grifo do autor), “o termo comportamento humano refere-se
sensivelmente ao que é possível que uma ou várias pessoas façam”.

O comportamento humano é um fenômeno estudado pela ciência Psicologia,


cujo objetivo principal é compreender o homem a partir da constituição de sua
subjetividade, a qual engloba, entre tantos outros componentes, o comportamento.

A Psicologia, para ser considerada um conhecimento científico, necessita


apresentar um objeto específico de estudo. Se pensarmos na Biologia, por
exemplo, conseguimos delimitar facilmente seu objeto de estudo: os seres vivos.
Na Psicologia, esta delimitação não é tão fácil assim, pois, da mesma forma que as
outras ciências humanas (como é o caso da Sociologia, por exemplo) que estudam
o ser humano, a Psicologia também apresenta este mesmo objeto de estudo, no

A compreensão do comportamento humano e comunicação 155


U4

entanto, este ser humano pode ser enxergado sob várias perspectivas. Por isso,
dizemos que a Psicologia apresenta uma diversidade de objetos de estudo (BOCK;
FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

Bock, Furtado e Teixeira (2008) nos ensinam que a ciência é constituída


por um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da
realidade, chamados de objetos de estudo, expresso através de uma
linguagem rigorosa e precisa. Para que estes conhecimentos sejam
considerados válidos, devem ser obtidos de maneira programada,
sistemática e controlada, levando em consideração uma das
características fundamentais da ciência, a objetividade.

A Psicologia, portanto, apresenta formas diversificadas de entender o ser


humano e essa diversidade se traduz em suas variadas vertentes teóricas.

Você já ouviu falar em Freud, por exemplo? Ele desenvolveu uma linha de
pensamento chamada Psicanálise, adotada pela Psicologia, a partir da qual o objeto
de estudo é o inconsciente. Já outra abordagem da Psicologia, conhecida como
Análise do Comportamento, ou Behaviorismo (que significa “comportamento” em
inglês), considera como objeto de estudo o próprio comportamento humano. E
assim outras abordagens teóricas da Psicologia apresentam seus objetos de estudo
específicos. Bock, Furtado e Teixeira (2008) explicam que esta é uma questão
enfrentada por todas as ciências humanas e, até hoje, discutida pelos cientistas.
Vejamos o que os próprios autores nos dizem:

Conforme a definição adotada, teremos uma concepção de


objeto que combine com ela. Como, neste momento, há uma
riqueza de valores sociais que permitem várias concepções de ser
humano, diríamos simplificadamente que, no caso da Psicologia,
essa ciência estuda “diversos seres humanos” concebidos pelo
conjunto social. Assim, a Psicologia hoje se caracteriza por uma
diversidade de objetos de estudo.
Por outro lado, essa diversidade de objetos justifica-se porque
os fenômenos psicológicos são tão diversos que não podem ser
acessíveis ao mesmo nível de observação e, portanto, não podem
ser submetidos aos mesmos padrões de descrição, medida,

156 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

controle e interpretação. O objeto da Psicologia, considerando


suas características, deve ser aquele que reúna as condições
de aglutinar uma ampla variedade de fenômenos psicológicos
(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 22, grifos nossos).

A partir desta definição, percebemos o quão complexo, dinâmico e sensível


às condições históricas, sociais e culturais é o ser humano e, por isso, deve ser
estudado e compreendido à luz de todos esses elementos: seu psiquismo (sua
interioridade), sua história de vida, as fases de seu desenvolvimento, os aspectos
de sua cultura, a sociedade que o envolve e as relações que nela são estabelecidas,
entre tantos outros. É por considerar esta forma de entender o ser humano que
utilizamos como referência de objeto de estudo a Subjetividade – conceito já
analisado na unidade anterior – em concordância com os autores que afirmam
que “[…] com o estudo da subjetividade, a Psicologia contribui para a compreensão
da totalidade da vida humana” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 24).

Vamos entender, de forma breve, como o ser humano é visto a partir de duas
vertentes teóricas da Psicologia: a Psicanálise e a Análise do Comportamento
(Behaviorismo), refletindo, desta forma, a noção de comportamento sob a ótica
destas duas abordagens, consideradas as mais importantes e influentes concepções
teóricas no ramo da Psicologia.

Vamos começar pela Psicanálise. Você já ouviu falar sobre ela?

A Psicanálise foi fundada por Sigmund Freud (1856-1939), no final do


século XIX, e refere-se a um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre
o funcionamento da vida psíquica, ou seja, da vida interior do ser humano.
Como já dissemos, seu objeto de estudo é o inconsciente. Como método de
investigação, caracteriza-se pelo método chamado interpretativo, cujo intuito é
buscar o significado oculto daquilo que é manifestado através de ações, palavras e
produções imaginárias (como os sonhos, os delírios, os lapsos etc.). O profissional
de Psicologia considerado Psicanalista utiliza como forma de tratamento a análise,
que tem como objetivo contribuir com o autoconhecimento do paciente (BOCK;
FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Assim, a partir da concepção psicanalítica, entende-
se que o comportamento humano é influenciado por forças internas que estão
registradas no inconsciente.

Conforme nos explica Bock, Furtado e Teixeira (2008), Freud desenhou


uma primeira concepção sobre a estrutura do aparelho psíquico humano, que
é constituída por três instâncias psíquicas: o consciente, o pré-consciente e o
inconsciente. Vamos conhecer, superficialmente, cada uma destas instâncias:

A compreensão do comportamento humano e comunicação 157


U4

• Na consciência está a nossa percepção de mundo externo, a atenção e o


raciocínio, como ver uma paisagem, pensar na conversa que tivemos com um
amigo há alguns minutos etc.; portanto, o consciente recebe, simultaneamente,
as informações do mundo externo e as do mundo interior.

• O pré-consciente diz respeito àquilo que não está na consciência neste


momento, mas que pode estar em outro momento, como o número de telefone
de uma pessoa importante que você adquiriu há algum tempo e, se fizer um
esforço, poderá lembrá-lo; refere-se, então, ao sistema no qual permanecem os
conteúdos que podem se tornar acessíveis à consciência.

• Já o inconsciente, é formado por conteúdos que não têm fácil acesso ao pré-
consciente e consciente, conteúdos chamados reprimidos, por causa da ação de
censuras internas; neste sentido, o inconsciente é um sistema do aparelho psíquico
governado por suas próprias leis de funcionamento e por uma lógica totalmente
diferente, como a noção de tempo, por exemplo, não existindo passado, presente
e futuro. Os conteúdos que estão no inconsciente podem ter sido conscientes um
dia, mas, em algum momento da vida do indivíduo, podem ter sido reprimidos (ou
seja, foram para o inconsciente), ou ainda podem ser originalmente inconscientes.
Por exemplo, ao invés de dizer o nome de alguém, “sem querer” você diz outra
palavra; esse ato falho (termo utilizado pela Psicanálise como uma das formas
de manifestação do inconsciente) pode estar querendo dizer algo que esteja
registrado no seu inconsciente. Para a Psicanálise, não existe “sem querer”, ou seja,
tudo tem um porquê e a mente humana funciona como uma máquina, na qual
cada fase se encadeia ao momento anterior e posterior.

Uma metáfora que nos ajuda a pensar na magnitude e, ao mesmo


tempo, no enigma do inconsciente é a figura do iceberg. É como se
a nossa mente (aparelho psíquico) fosse um iceberg, formado pelas
três instâncias psíquicas, sendo que a parte visível do iceberg seria o
consciente e o pré-consciente, e a parte invisível (submersa) seria o
nosso inconsciente (que é a parte que não enxergamos, a qual é difícil
acesso, mas que é bem maior).

Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 48) nos explicam como Freud pensou o
inconsciente, sua dinâmica e o método por meio do qual seus conteúdos vêm à
tona. Veja que interessante:

158 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

O esquecido era sempre algo penoso para o indivíduo e era


exatamente por isso que havia sido esquecido, e o penoso não
significava, necessariamente, sempre algo ruim, mas podia se
referir a algo bom que se perdera ou que fora intensamente
desejado. Quando Freud abandonou as perguntas no trabalho
terapêutico com os pacientes e os deixou dar livre curso às suas
ideias, observou que, muitas vezes, eles ficavam embaraçados,
envergonhados com algumas ideias ou imagens que lhe ocorriam.
A essa força psíquica que se opunha a tornar consciente,
a revelar um pensamento, Freud denominou resistência. E
chamou de repressão o processo psíquico que visa encobrir,
fazer desaparecer da consciência, uma ideia ou representação
insuportável e dolorosa que está na origem do sintoma. Esses
conteúdos psíquicos ‘localizam-se’ no inconsciente.

Mais para frente, entre 1920 e 1923, Freud remodela sua teoria do aparelho
psíquico, introduzindo outros conceitos para se referir aos três sistemas que
constituiriam a personalidade humana: id, ego e superego (BOCK; FURTADO;
TEIXEIRA, 2008).

As obras completas de Freud, as quais constam toda sua teoria, é repleta de


conceitos desenvolvidos por ele, que buscam explicar o funcionamento da vida
psíquica, da personalidade humana e, consequentemente, das diversas formas
de comportamento. Uma de suas descobertas importantes foi com relação
à sexualidade infantil e às fases do desenvolvimento psicossexual do indivíduo.
Tantas outras descobertas tornam Freud até hoje bastante respeitado e estudado
no mundo todo. É relevante destacarmos que sua teoria é densa e merecedora
de cuidadoso estudo e análise, portanto, o que trouxemos aqui foi apenas uma
pequena pincelada das principais ideias deste importante teórico da humanidade.

Para conhecer um pouco a respeito dos três sistemas da personalidade


que formam o aparelho psíquico, de acordo com a Psicanálise de Freud
- id, ego e superego -, acesse o link: Disponível em < http://filosofia.
ceseccaieiras.com.br/freud-id-ego-e-superego>.

Agora, vamos conhecer outra abordagem teórica da Psicologia: o Behaviorismo


ou Análise do Comportamento.

A compreensão do comportamento humano e comunicação 159


U4

Behaviorismo remete-nos à palavra em inglês behavior, que significa


“comportamento”; por isso, essa vertente teórica é conhecida também como
Análise do Comportamento, Comportamentalismo, Análise Experimental do
Comportamento, entre outras nomenclaturas. Os estudiosos e profissionais desta
linha foram os pioneiros na aproximação de propostas explicativas dos termos
psicológicos baseando-se em critérios de objetividade e seguindo as regras que
o método científico preconizava. Aliás, a Psicologia, em meados do século XX,
buscava o reconhecimento como área científica e este posicionamento behaviorista
veio a calhar para elevar o status da Psicologia como ciência, rompendo de forma
definitiva com suas raízes filosóficas (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

O objeto de estudo do Behaviorismo é o comportamento, entendido como


interação entre indivíduo e ambiente, entre as ações do indivíduo (respostas) e o
ambiente (estimulações); portanto, como afirmam Bock, Furtado e Teixeira (2008,
p. 59), “o ser humano começa a ser estudado a partir da sua interação com o
ambiente, sendo tomado como produto e produtor dessa interação”.

Um dos nomes mais importantes desta perspectiva teórica é B. F. Skinner (1904-


1990), cuja linha de estudo ficou conhecida como Behaviorismo Radical, termo
que designou uma ideia defendida por ele, através da análise experimental do
comportamento. Skinner formulou o conceito de comportamento operante, que
é a base de sua teoria, sendo este distinto de outro conceito, o comportamento
respondente ou reflexo (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

Vamos entender, mesmo que de forma breve, estes dois termos, com o auxílio
de Bock, Furtado e Teixeira (2008):

• O comportamento respondente ou reflexo, de acordo com os autores, é


o comportamento involuntário, incluindo as respostas que são produzidas por
estímulos antecedentes do ambiente, como o ato de piscar, ou ainda, o ato de
chorar quando se está cortando uma cebola. Esses comportamentos respondentes
ou reflexos são interações do indivíduo com o ambiente, consideradas
incondicionadas, ou seja, são respostas do nosso organismo que acontecem
independente da nossa vontade. Você sabia que estes comportamentos podem
ser condicionados? Vamos entender melhor como isto acontece através do
exemplo dos próprios autores:

[…] suponha que, em uma sala aquecida, sua mão direita seja
mergulhada em uma vasilha com água gelada. A temperatura da
mão cairá rapidamente devido ao encolhimento ou constrição
dos vasos sanguíneos, caracterizando o comportamento como

160 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

respondente. Esse comportamento será acompanhado de uma


modificação semelhante, e mais facilmente mensurável, na mão
esquerda, na qual a constrição vascular também será induzida.
Suponha, agora, que a sua mão direita seja mergulhada na água
gelada certo número de vezes, em intervalos de três ou quatro
minutos, e que você ouça uma campainha pouco antes de cada
imersão. Lá pelo vigésimo pareamento do som da campainha
com a água fria, a mudança de temperatura nas mãos poderá
ser eliciada apenas pelo som, isto é, sem necessidade de emergir
uma das mãos na água (KELLER, 1973 apud BOCK; FURTADO;
TEIXEIRA, 2008, p. 60).

Que interessante, não é? Pudemos verificar que este é um exemplo de


condicionamento respondente. O conceito de comportamento respondente ou
reflexo levou Skinner a estudar o comportamento operante.

• Conforme explicam os autores, o comportamento operante, por sua vez,


caracteriza-se como a maioria de nossas interações com o ambiente e, como
o próprio nome já diz, ele opera sobre este ambiente; portanto, é qualquer
comportamento que produz algum efeito no mundo em que vivemos, como o
comportamento de dançar, estudar, ler este livro, digitar no computador, assistir
televisão, cantar uma música, tocar algum instrumento, falar em público, e tantos
outros comportamento que emitimos ao longo de nossa vida. De acordo com
este tipo de comportamento, a premissa é a de que a ação do organismo sobre o
ambiente e o efeito que esta interação (indivíduo – ambiente) resulta propiciam a
aprendizagem de comportamentos, uma vez que a aprendizagem está na relação
entre uma ação e seu efeito. Por exemplo, o comportamento de dançar produz um
efeito sobre o meio em que estamos inseridos, que pode ser o de estar próximo de
quem se gosta; portanto, o resultado (efeito) desta ação de dançar vai fazer com
que o comportamento de dançar seja emitido várias vezes. Os próprios autores
explicam o que é comportamento operante e nos ensinam um importante termo
utilizado pelos behavioristas: relação funcional.

A compreensão do comportamento humano e comunicação 161


U4

O comportamento operante refere-se à interação sujeito-


ambiente. Nessa interação, chama-se de relação funcional a
relação entre a ação do indivíduo (a emissão da resposta) e as
consequências. É considerada funcional porque o organismo se
comporta (emitindo essa ou aquela resposta), ou seja, sua ação
produz uma alteração ambiental, consequência que, por sua
vez, retroage sobre o sujeito, alterando a probabilidade futura
de ocorrência. Assim, agimos sobre o mundo em função das
consequências criadas pela ação. As consequências da resposta
são as variáveis de controle mais relevantes (BOCK; FURTADO;
TEIXEIRA, 2008, p. 63).

Diante da explicação dos autores, então, pudemos entender que, de acordo


com o pensamento behaviorista de Skinner, o comportamento é influenciado pela
interação com o meio e as consequências desta interação é que vão determinar
as nossas próximas ações.

O idealizador do Behaviorismo Radical, Burrhus Frederic Skinner,


nasceu na Pensilvânia, no dia 20 de março de 1904, e foi um psicólogo
americano. Seu trabalho tem como premissa a compreensão do
comportamento humano através do comportamento operante,
buscando entendê-lo em função das interações entre o indivíduo e o
seu meio (ambiente). Morreu em 18 de agosto de 1990.

Se o comportamento pode ser mantido ou ser extinto pela força que suas
consequências produzem no ambiente, então Skinner apontou dois conceitos
importantes que fazem parte desta dinâmica: o reforço e a punição.

Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), o reforço diz respeito ao aumento


da frequência de emissão das respostas que a produziram, portanto, reforço é
toda consequência que, mediante uma resposta, modifica a probabilidade futura
de ocorrência dela. Levando em consideração as consequências que aumentam
a frequência das respostas, o reforço pode ser positivo ou negativo. O primeiro
refere-se a todo evento que aumenta a probabilidade futura da resposta que o
produz. Por exemplo, quando uma pessoa diz que você está bonito(a) por usar

162 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

determinada blusa, o ato de usar a blusa provavelmente aumentará porque foi


reforçador e este é considerado um reforço positivo, pois aumenta a probabilidade
futura da resposta que produziu o comportamento (o elogio provavelmente fará
com que você volte a usar a mesma blusa). Já o segundo, o reforço negativo,
diz respeito a todo evento que aumenta a probabilidade futura da resposta que o
remove. Por exemplo, o ato de fechar a janela do seu quarto quando está trovejando
é também reforçador, mas é considerado um reforço negativo, pois reduziu ou
removeu o barulho e o incômodo do trovão, aumentando a probabilidade de você
emitir esta mesma ação outras vezes em que estiver trovejando. A punição, por sua
vez, envolve a consequência de uma resposta quando há a apresentação de um
estímulo aversivo ou a remoção de um reforçador positivo presente. Por exemplo,
as multas de trânsito são consideradas punições, que têm como objetivo levar
o motorista a conscientizar-se sobre as leis de trânsito. A questão é que punir
ações leva à supressão temporária da resposta (e não definitiva), não resolvendo o
problema na raiz.

Além destes, outros conceitos igualmente relevantes foram elaborados e


minuciosamente estudados por Skinner, como é o caso dos conceitos de Esquiva
e Fuga e os de Generalização e Discriminação, entre outros.

Você consegue identificar alguma prática punitiva que se


deu em algum momento da sua vida? E alguma prática
reforçadora? Pense como aconteceram essas ações e quais
foram as respostas emitidas.

Da mesma forma que a abordagem anterior, o Behaviorismo carrega vários


conceitos e processos que precisam ser estudados e compreendidos com todo
o cuidado, portanto, o que se oferece aqui é apenas uma ideia rápida para que
você conheça o pensamento deste teórico e suas contribuições para a Psicologia
científica.

Além destes, outros conceitos igualmente relevantes foram elaborados e


minuciosamente estudados por Skinner, como é o caso dos conceitos de Esquiva
e Fuga e os de Generalização e Discriminação, entre outros. Da mesma forma que
a abordagem anterior, o Behaviorismo carrega vários conceitos e processos que
precisam ser estudados e compreendidos com todo o cuidado, portanto, o que
se oferece aqui é apenas uma ideia rápida para que você conheça o pensamento
deste teórico e suas contribuições para a Psicologia científica.

A compreensão do comportamento humano e comunicação 163


U4

Conheça, de forma resumida, os conceitos desenvolvidos pelo


Behaviorismo Radical de Skinner. Acesse o link: Disponível em <http://
pt.scribd.com/doc/22535697/O-Behaviorismo-RESUMO>.

Fizemos um breve passeio por duas abordagens da Psicologia, a Psicanálise


e o Behaviorismo. Porém, há outras abordagens que também trazem ideias e
conceitos bastante sólidos, as quais buscam explicar o ser humano, contribuindo
tanto para o seu autoconhecimento quanto para a convivência do homem em
sociedade.

Foi possível verificar, portanto, que a Psicologia, por apresentar uma diversidade
de vertentes teóricas, apresenta também formas distintas de enxergar o ser humano
e buscar compreender seus comportamentos; não só os comportamentos
intrapessoais (do ser humano com ele mesmo), mas os interpessoais (do ser
humano com outros seres humanos) e também dos comportamentos em grupo.

1.1 Comportamento humano em grupo

Você já percebeu que a vida humana é organizada em grupos? Isso nos leva a pensar
que muitos dos nossos comportamentos são influenciados pelos grupos dos quais
fazemos parte, da mesma forma que também influenciamos as pessoas que pertencem
aos mesmos grupos que nós.

Albuquerque e Puente-Palacios (2004) apontam que estamos tão habituados a


viver em grupos que poucas vezes percebemos sua relevância e influência em nossos
comportamentos e decisões no dia a dia. Veja a análise dos autores com relação à
importância da vida em grupo:

A vida humana é grupal. Nascemos em uma família na qual


nos relacionamos com nossos pais e irmãos. Também existem
os tios, as tias, os primos e toda uma gama de pessoas que
forma um conjunto perfeitamente identificável, que transmite
características próprias; de sorte que, muitas vezes, exclamamos

164 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

ante um determinado comportamento: “Só poderia ser da família


tal!”. Observe que não nos referimos, nesse momento, ao sujeito
do comportamento, e sim ao comportamento. É como se a pessoa
refletisse uma espécie de linhagem comportamental perfeitamente
identificada por meio dos diversos atos que já observamos em outros
membros de sua família. Ocorre o mesmo com algumas profissões:
os advogados têm um estilo; os militares, outro; pedreiros agem
de forma parecida; e os técnicos de eletrodomésticos têm uma
maneira muito sua de tratar os prazos acertados (ALBUQUERQUE;
PUENTE-PALACIOS, 2004, p. 358).

E o que é grupo? Você consegue identificar grupos facilmente? Um conjunto


de pessoas num ponto de ônibus esperando pela condução é considerado grupo?
E um conjunto de amigos que resolve jogar futebol no final de semana? Podemos
dizer que, neste último exemplo, temos sim um grupo, mas o primeiro exemplo
não caracteriza um grupo. Você consegue identificar o motivo?

Segundo Albuquerque e Puente-Palacios, “(…) um grupo é um conjunto formado


por duas ou mais pessoas, que, para atingir determinado(s) objetivo(s), necessita de
algum tipo de interação, durante um intervalo de tempo relativamente longo, sem
o qual seria mais difícil ou impossível obter o êxito desejado” (2004, p. 358, grifo
nosso). De acordo com essa definição, o primeiro exemplo citado não pode ser
identificado como um grupo, pois não há interação entre os membros, o que já
acontece no segundo exemplo, no qual as pessoas, para se divertirem no futebol,
precisam se relacionar umas com as outras.

Quais os grupos dos quais você pertence? Pense no seu dia


a dia, nas atividades cotidianas, nas pequenas decisões que
toma todos os dias, nas relações que vão sendo estabelecidas
ao longo do tempo: consegue perceber o quanto das suas
decisões e atitudes são impactadas por esses grupos?

Neste sentido, podemos afirmar que, além de nossas motivações pessoais,


somos também frutos de nossa interação com as pessoas à nossa volta, em especial,
aquelas que fazem parte dos grupos dos quais pertencemos, reconhecemos e
valorizamos. Assim, o comportamento humano é também resultante do indivíduo
em convívio com seus grupos de referência, o que nos leva a crer que o grupo
é elemento primordial para buscar compreender o comportamento das pessoas.

A compreensão do comportamento humano e comunicação 165


U4

Para os autores Albuquerque e Puente-Palacios (2004, p. 358, grifo dos


autores), “designa-se de grupo de referência aquele no qual o indivíduo
é motivado a manter relações. Quando um grupo de relações (p. ex.,
colegas de trabalho) torna-se um grupo de referência, este passa a
desempenhar um papel normativo no comportamento do indivíduo”.
Um grupo normativo, por sua vez, cumpre a função de imprimir aos seus
integrantes valores e normas que são compartilhados pela sociedade.

Uma denominação de grupo que acaba abarcando os grupos de referência são os


chamados grupos sociais que, em conformidade com Bock, Furtado e Teixeira (2008), são
conjuntos de pessoas que apresentam objetivos comuns e, para alcançá-los, desenvolvem
ações que focam tais objetivos. Os próprios autores exemplificam:

Assim, quando se dá esse nosso encontro, poderíamos dizer


que estão se encontrando representantes de diferentes grupos
sociais: de um lado você, representando sua família, seus grupos
de amigos, seu grupo racial, seu grupo religioso etc., de outro
lado nós, representando nossos grupos de pertencimento ou de
referência, ou seja, aqueles aos quais pertencemos ou nos quais
nos referenciamos para saber como nos comportar, o que dizer,
como perceber o outro, do que gostar ou não gostar (BOCK;
FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 182).

Ainda com relação às diferentes definições e aos tipos de grupos, os autores Rodrigues,
Assmar e Jablonski (1999) descrevem o que é grupo psicológico, considerado como
sendo um grupo integrado por indivíduos que se conhecem, que estão em busca de
objetivos comuns, possuem ideologias compatíveis e interagem com grande frequência.
Dessa forma, o grupo psicológico tem um funcionamento próprio, sendo formado,
principalmente, pela proximidade física e também pela identidade de pontos de vista de
seus membros, além de fortalecerem a compatibilidade de valores, papéis, normas etc., à
medida que vão interagindo gradativamente.

Estes mesmos autores nos ensinam que existem alguns processos que são
considerados grupais: Coesão, Formação de Normas, Liderança, Status e Papel, Facilitação
Social, Tomada de Decisão e Identificação Grupal. Vamos juntos conhecer cada um destes

166 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

processos e suas implicações no funcionamento dos grupos, com o auxílio de Rodrigues,


Assmar e Jablonski (1999, p. 376-391):

• a coesão grupal diz respeito à quantidade de pressão exercida sobre os membros


de um grupo, com o intuito de que estes nele permaneçam, ou seja, é a resultante das
forças que agem sobre um membro do grupo para que nele este membro se mantenha.
Muitas podem ser as razões capazes de fazer com que os membros de um grupo possam
permanecer nele, como a atração pelo grupo ou por seus membros, ou a forma de
obter algum objetivo através da filiação ao grupo etc. De acordo com Thibaut e Kelley
(1959 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999), a tendência de um membro do
grupo permanecer nele está relacionada à função de positividade dos resultados por ele
obtidos no próprio grupo, além da magnitude das recompensas oferecidas pelo grupo.
Vários autores que pesquisaram este processo grupal afirmam que, quanto maior for a
coesão dos grupos, maior será a satisfação de seus membros, a influência exercida pelos
membros, o nível de comunicação entre eles e também a produtividade do grupo.

Assista a este vídeo bem-humorado que mostra os benefícios da


coesão grupal. Acesse o link: Disponível em <https://www.youtube.
com/watch?v=Pkc_xBD4Cyo>.

• Segundo os autores, no que diz respeito à formação de normas, percebemos que


qualquer tipo de grupo, seja grande ou pequeno, possui certas normas de funcionamento
que direcionam as linhas gerais do comportamento de cada um de seus membros
e, quando estas normas não são cumpridas, os membros do grupo podem sofrer
punição por isso. Normas sociais podem ser definidas como padrões ou expectativas
de comportamentos partilhados pelos integrantes do grupo, que utilizam estes mesmos
padrões para julgar da propriedade ou da inadequação de suas percepções, seus
sentimentos e comportamentos. Os autores alertam que, em grupos cuja coesão não é
tão forte, pode haver dificuldade no estabelecimento de normas, muitas vezes devido à
multiplicidade de interesses de seus membros, sendo necessário, nestas situações, alguns
cuidados para que se formem normas: a especificação das atitudes ou comportamentos
desejados, a fiscalização, por parte do grupo, da obediência a estas especificações e, em
casos mais graves, a aplicação de sanções àqueles que não se adaptam às normas.

• A liderança é um processo bastante discutido nos dias de hoje, principalmente


quando pensamos em grupos, pois logo nos vem a figura de um líder capaz de inspirar e
direcionar os seus liderados, membros deste grupo. Atualmente, a teoria sobre liderança
mais aceita é a posição na qual a liderança é um fenômeno emergente, resultado da

A compreensão do comportamento humano e comunicação 167


U4

interação entre os membros do grupo e, portanto, dependente do clima e de


finalidades do próprio grupo. Esta definição nos faz pensar que a liderança pode ser
aprendida e isto não significa que características de personalidade não podem facilitar a
condução da liderança (como inteligência, autoconfiança, criatividade, sociabilidade etc.),
no entanto, não podemos afirmar que uma pessoa se tornará líder apenas por apresentar
estes atributos. Você já ouviu falar em estilos de liderança? Lewin e colaboradores (1939
apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999) apresentam três estilos de liderança: a
liderança autocrática, a liderança democrática e a liderança laissez-faire (expressão em
francês que significa “deixe fazer”, indicando uma liderança liberal). No primeiro estilo, o
líder utiliza o poder coercitivo e decide pelo grupo, não valorizando sua participação nas
decisões; o segundo estilo implica um líder que toma as decisões em conjunto com os
membros de seu grupo de liderados, cabendo a ele a tarefa de orientar o grupo; e no
terceiro estilo, os liderados poderiam fazer o que quisessem, pois não havia de fato um
líder que os direcionasse. Pesquisas demonstraram o sucesso de alguns destes estilos em
determinadas situações; o líder democrático parecia exercer mais influência que o líder
autocrático. Fiedler (1967-1978 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999) lança a
hipótese do líder contingencial, cujo estilo de liderança será exercido de acordo com as
contingências, ou seja, das situações vivenciadas em determinadas circunstâncias. Algo
não se pode negar: a liderança é um processo interacional, sendo impossível garantir
de antemão qual a melhor pessoa para liderar um determinado grupo; o líder terá que
emergir do próprio grupo durante a relação com ele estabelecida.

O vídeo que você verá agora possui cenas bem divertidas, que mostrarão
alguns exemplos de atitudes de líderes. Acesse o link: Disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=Ds5HD74uzlQ>.

• Agora falaremos a respeito do status e papel grupais. Os autores definem status


como sendo o prestígio desfrutado por um membro do grupo, que pode ser tal como
o indivíduo o percebe (chamado status subjetivo) e pode ser também o resultado do
consenso do grupo acerca deste indivíduo (denominado status social). Dependendo da
natureza do grupo, alguns atributos serão mais significantes para conferir status do que
outros, como exemplificam os autores:

[…] em um grupo de professores universitários terá pouca


relevância para o estabelecimento de status o fato de um deles
ser capaz de jogar futebol muito bem; já se um deles possui

168 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

quantidade substancial de publicações de qualidade tal circunstância


não só lhe trará elevado status subjetivo como também acentuado
status social em seu grupo (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI,
1999, p. 382).

Ainda em concordância com os mesmos autores, o status (tanto subjetivo quanto


social) e também as normas sociais impactam no papel a ser desempenhado pelos
integrantes de um grupo. Os papéis desempenhados pelos membros do grupo facilitam
a interação social, possibilitando que, a princípio, as pessoas saibam o que fazer e o que
esperar umas das outras. Da mesma forma que existe o status subjetivo, há também um
papel subjetivamente atribuído pelo integrante do grupo a si mesmo. “Para funcionamento
harmonioso do grupo, faz-se necessário que o papel atribuído a si pelo próprio indivíduo
seja coerente com o que dele esperam os demais membros” (RODRIGUES; ASSMAR;
JABLONSKI, 1999, p. 385). É importante destacar também que a noção de papel
desempenhado pelos membros do grupo não é permanente e imóvel, sendo que os
papéis exercidos por cada membro do grupo devem estar em concordância com as
características sistêmicas do grupo ao qual pertencem.

• A facilitação social, por sua vez, implica que a presença de outras pessoas tende a
facilitar o desempenho quando a pessoa tem domínio sobre a resposta a ser emitida; caso
contrário, a presença de outras pessoas pode inibir o desempenho. Neste sentido, como
explicam os autores, o trabalho em grupo deve ser incentivado quando as pessoas estão
treinadas o suficiente na tarefa a ser executada.

• No tocante à tomada de decisão, os autores revelam que as decisões tomadas


em grupo tendem a ser mais arriscadas, mais audaciosas e menos conservadoras que as
decisões que o indivíduo toma sozinho, uma vez que, provavelmente, nas decisões tomadas
em grupo, verifica-se uma difusão de responsabilidades. Janis (1971 apud RODRIGUES;
ASSMAR; JABLONSKI, 1999) apresenta um processo bastante interessante que acontece
nos grupos, o qual denominou pensamento grupal, que consiste na tendência de os
integrantes dos grupos coesos se deixarem levar pela harmonia e pelo entusiasmo do
grupo e passarem a agir de acordo com as emoções deste; assim, o objetivo principal
passa a ser a coesão do grupo em torno das ideias discutidas por ele e nem tanto pela
análise mais racional delas. Outro fenômeno bem interessante que pode acontecer na
dinâmica grupal diz respeito ao grau de risco envolvido nas tomadas de decisão por parte
do grupo; a chamada polarização grupal, que é a propensão de um grupo vir a tomar
decisões mais arriscadas do que aquelas defendidas por seus membros (BROWN, 1965;
BURNSTEIN; VINOKUR, 1977; MYERS; ARONSON, 1972 apud RODRIGUES; ASSMAR;
JABLONSKI, 1999), devido ao somatório de opiniões sobre um determinado assunto,
levado a uma direção, que não teriam sido levadas por cada membro isoladamente, e cujo
resultado seria a adoção de medidas ainda mais arriscadas do que aquelas provavelmente
tomadas por cada integrante do grupo de forma isolada.

A compreensão do comportamento humano e comunicação 169


U4

• Finalmente, a identificação grupal remete-nos a pensar que membros de um grupo


psicológico, por várias vezes, acabam se identificando com os objetivos, as filosofias e
ideais do grupo do qual fazem parte. Um dos exemplos de identificação grupal que os
autores trazem é de Zimbardo (1970 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999), que
fez um experimento com guardas e prisioneiros. Veja como ocorreu, nas palavras dos
próprios autores:

[…] Zimbardo simulou uma prisão no subsolo do Departamento de


Psicologia da Universidade de Stanford e alocou aleatoriamente
estudantes à condição de “presos” ou de “guardas”. Os guardas
se identificaram tanto com o papel a ser desempenhado por seu
grupo que chegaram a extremos de rigor no tratamento dos
presos, levando o autor do estudo a interrompê-lo bem antes do
prazo de duração previsto (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI,
1999, p. 389).

Você consegue perceber, através do exemplo acima, o


quanto a identificação grupal pode ser intensa? E você, já se
identificou (ou se identifica atualmente) com as ideias e os
propósitos de um grupo?

Agora que conhecemos os processos grupais, vale a pena destacar que os grupos
podem apresentar também fases de desenvolvimento, principalmente no que se refere ao
ambiente de trabalho. Quem nos ajudará a entender estes estágios de desenvolvimento
dos grupos de trabalho são os autores Albuquerque e Puente-Palacios (2004). Segundo
eles, há algumas etapas pelas quais passam os grupos que podem ou não ser sequenciais,
sendo possível, até mesmo, voltar a uma etapa anterior antes de ir para a seguinte, o que
nos leva a perceber a mobilidade destas fases e a interferência que o grupo poderá sofrer
com relação a pressões e mudanças do meio externo.

As fases ou estágios de desenvolvimento dos grupos de trabalho são os seguintes, de


acordo com Albuquerque e Puente-Palacios (2004, p. 372-373):

• Formação: segundo os autores, é o início dos contatos, no qual há um processo


de descobrimento do outro membro do grupo, procurando identificar quem é o outro e
em que ele pode contribuir para atingir determinado objetivo. Neste momento, as regras

170 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

e normas que direcionarão o grupo também começam a ser decididas. Essa fase tende
a ser caracterizada pela incerteza, uma vez que nada ainda está muito claro e definido, e
finaliza à medida que cada pessoa passa a se reconhecer como membro do grupo.

• Conflito: é o processo de ajuste do grupo, que visa estabelecer o que será feito,
quem fará cada tarefa e quais os procedimentos que serão utilizados, como explicam
os autores. Também é a fase de negociação, pois pode haver membros da equipe que
não concordem com as decisões tomadas; além disso, a liderança, se ainda não tiver
sido determinada, poderá emergir nesta etapa. É importante ressaltar que o conflito não é
necessariamente ruim; ele servirá para regular o processo grupal e, por isso, é fundamental
saber lidar com ele, não o ignorando ou querendo eliminá-lo, uma vez que se trata de um
estágio inerente ao processo de formação e estruturação do grupo.

• Normatização: para os autores, esta é a fase da coesão e da identificação dos


membros entre si, surgindo sentimentos de acolhimento e pertencimento ao grupo.
Nesta etapa, a troca de informações acontece de forma harmoniosa e espontânea, e a
liderança consegue definir, junto aos seus liderados, os papéis que cada um deles exercerá,
bem como as tarefas e responsabilidades de cada um. Essa fase é finalizada quando o
grupo como um todo aceita as normas de comportamento e os procedimentos para a
realização dessas tarefas.

• Desempenho: este é o estágio da execução das tarefas, como dizem os autores,


sendo caracterizado pela fase da produtividade, na qual há o empenho de todos para a
realização dos seus propósitos.

• Desintegração: é a última fase no desenvolvimento dos grupos, de acordo com os


autores, e ocorre quando os objetivos que levaram à sua criação são alcançados e não há
mais motivos para o grupo continuar a existir. Essa fase pode não vir a acontecer com os
grupos, sendo comum em grupos e equipes temporários.

Devemos ter consciência de que essas etapas de desenvolvimento dos grupos não
acontecem de forma “redonda”, pois se trata de pessoas em processo de construção
e, por isso, os grupos estarão em constante dinâmica, passando por ajustes e acertos
durante o período em que ele existir. Outro ponto que merece ser comentado é o de
que, assim como os grupos, as equipes também passam pelos mesmos estágios de
desenvolvimento e funcionamento.

Por falar em Equipe, você sabe o que é? Será que a definição de equipe é diferente da
definição de grupo?

Equipe é considerada um tipo específico de grupo, podendo ser definida como


um sistema de relações dinâmicas e complexas entre um conjunto de indivíduos que
identificam a si mesmos e que por outras pessoas são identificados. Algumas características
de uma equipe são: possuir um esforço coletivo, apresentar objetivos compartilhados e
também responsabilidades compartilhadas por resultados globais (ALBUQUERQUE;

A compreensão do comportamento humano e comunicação 171


U4

PUENTE-PALACIOS, 2004). Consta a seguir um exemplo bastante pertinente da


diferença entre grupos e equipes, em especial no contexto de trabalho:

[…] no caso de funcionários do departamento financeiro de uma


empresa, embora o objetivo de trabalho de todos eles seja cuidar
das finanças da empresa, cada empregado funciona como uma
unidade mais ou menos independente. Constituir-se-iam uma
equipe de trabalho no momento em que, alguns deles, fossem
chamados a juntar os seus esforços, interagirem e relacionarem
com a finalidade de atingir um objetivo específico, como traçar
um plano de trabalho que permitisse à empresa alcançar novos
mercados. Assim, os autores apontam o primeiro aspecto que
diferencia grupos de equipes. Nos grupos, a realização do trabalho
depende fundamentalmente do esforço individual, enquanto, na
equipe, depende tanto do esforço individual como do esforço
conjunto (GREENBERG; BARON, 1995 apud ALBUQUERQUE;
PUENTE-PALACIOS, 2004, p. 370, grifo nosso).

Todas as equipes são consideradas grupos, mas nem todos os grupos


podem ser definidos como equipes. Um grupo consiste em pessoas
que trabalham juntas, mas podem realizar suas tarefas sozinhas; já uma
equipe é um grupo de pessoas que não pode realizar seu trabalho sem
os outros membros de sua equipe (SPECTOR, 2005).

Vale destacar que refletir sobre a importância e funcionalidade dos grupos, tanto para o
indivíduo quanto para a sociedade em geral, é um tema prioritário para a Psicologia Social.
Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), o tema Grupo é fundante da Psicologia Social,
lembrando que os primeiros estudos sobre os grupos aconteceram no final do século XIX
pela psicologia da época, chamada Psicologia das Massas ou Psicologia das Multidões. Os
pesquisadores questionavam-se como era possível a mobilização de tantas pessoas, como
aconteceu no caso das revoluções. No nosso cotidiano, também temos vários exemplos
que fazem com que nos perguntemos o que é capaz de mobilizar tamanho contingente
de pessoas a lutarem em prol de um objetivo. É a força dos grupos.

172 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

1. O que significa dizer que a Psicologia apresenta uma


diversidade de objetos de estudo?

2. Dentre os processos grupais: coesão, formação de normas,


liderança, status e papel, facilitação social, tomada de decisão
e identificação grupal, escolha um destes processos, explique
e traga um exemplo da sua vida que tenha relação ele.

A compreensão do comportamento humano e comunicação 173


U4

174 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

Seção 2

Comportamento humano, contribuições da


psicologia e a interação humana em grupo
Você concorda que se comunicar é uma arte? É desta forma com que Minicucci
(2008) se refere ao processo de comunicação, como a arte da comunicação.

Talvez a comunicação possa ser mesmo considerada uma arte, pois, embora
pareça ser um processo simples que é realizado a todo instante na nossa vida
cotidiana, envolve pessoas em suas relações e, como já vimos, pessoas são
dotadas de múltiplos atributos e estão envoltas em variadas dimensões (sociais,
culturais, históricas).

Pereira (2009) recorda-nos que a comunicação torna possível a vida do homem


em sociedade, uma vez que é por meio dela que realizamos trocas de informações,
que aprendemos novos conceitos, que nos socializamos, que damos significado
às coisas do mundo à nossa volta. Este livro que você está lendo foi escrito graças
ao processo que envolve a comunicação (a comunicação escrita) e, da mesma
forma, você o está lendo por fazer parte deste processo.

Vamos conhecer a explicação do autor no que diz respeito ao conceito de


comunicação:

[…] em primeiro lugar, diz respeito ao homem, e por extensão


a seres vivos que mantenham relações sociais entre si. Em
segundo lugar, trata-se em princípio de um fenômeno concreto,
objetivo, que ocorre quando um ser A transfere informação para
um ser B. Em terceiro lugar, a comunicação seria um processo
ativo, ou seja, envolve na sua essência um propósito (ainda que
geneticamente programado) que é o de um ser influenciar outro
ser, modificar seu comportamento, obter uma resposta. Donde,
em quarto lugar, a tendência da relação comunicativa a se fechar
em círculo, ou mais propriamente a evoluir segundo uma espiral
de influências recíprocas e sucessivas. Essas características
do ato comunicativo estão reunidas na mais típica forma de
comunicação, a humana, na sua modalidade mais típica, a falada
(PEREIRA, 2009, p. 10).

A compreensão do comportamento humano e comunicação 175


U4

Em linhas gerais e de forma bem simplificada, a comunicação pode ser definida


como um processo que acontece em três fases: a de emissão, transmissão e
recepção de mensagens, e que, portanto, envolve três componentes básicos:
um emissor, uma mensagem e um receptor. A figura abaixo traz um pequeno
esquema de como se dá este processo:

Figura 4.1 | Processo simplificado de Comunicação

Fonte: Adaptado de Pereira (2009, p. 13).

Vamos entender cada um destes componentes básicos que são envolvidos no


processo de comunicação, com o auxílio de Pereira (2009):

• O emissor, conforme nos ensina o autor, é de quem parte a mensagem, o


responsável por ela. No que diz respeito à comunicação humana, o emissor pode
ser uma pessoa isolada ou um grupo de pessoas, uma empresa que publica um
anúncio no jornal, uma instituição, o governo etc. É quem emite a mensagem.

• De acordo com o autor, o receptor é quem recebe a mensagem, podendo


ser outra pessoa, um grupo de pessoas, o público de forma geral, leitores de um
jornal, ou até mesmo telespectadores da televisão. É importante lembrar que o
receptor não apenas recebe a mensagem, mas ele também a interpreta.

• A mensagem é aquilo que o emissor transmite ao receptor, como diz o autor.


É, portanto, toda e qualquer expressão da comunicação: um e-mail, um gesto,
uma aula, uma palestra, uma fotografia, uma notícia de jornal, um comercial de
televisão, uma novela etc. Pereira (2009, p. 28, grifo nosso) define mensagem
como “uma ordenação de signos visando transmitir informação”, sendo que signos
são os elementos de uma mensagem, e a informação é o nome técnico que se dá
ao conteúdo da mensagem.

Acesse o link a seguir e conheça um pouco a respeito do processo


de comunicação, bem como sua evolução e os benefícios para a
humanidade. Link: <http://ana-intervalo.blogspot.com.br/2009/02/o-
que-e-comunicacao.html>.

176 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

Vimos na definição de mensagem (esta que faz parte do processo de


comunicação) que ela se trata de uma ordenação de signos. Você já parou para
pensar que a leitura e a interpretação dos signos que estão no nosso ambiente é
um caso, até mesmo, de sobrevivência? Vamos refletir um exemplo: pense nos
diversos signos que constam nas leis de trânsito; todos eles querem nos dizer algo
para direcionar o nosso comportamento em meio ao trânsito. O semáforo, que
é um instrumento que orienta o tráfego de pedestres e veículos, nos comunica
como devemos agir: quando está com a luz vermelha quer dizer que o veículo
deve parar e aguardar, e a luz verde indica que o veículo pode seguir em frente. O
pedestre também se conduz por esse instrumento.

Sendo assim, concordamos com a afirmação de Pereira (2009, p. 41, grifo


nosso) de que “todos os ritos sociais, todo intercâmbio social humano – inclusive
e particularmente esse intercâmbio de informações que se chama comunicação
– se baseiam no uso de signos. Toda a experiência humana está alicerçada em
signos”.

Mas, afinal de contas, o que é signo?

Com a ajuda de Pereira (2009), verificamos que o termo signo é de origem


latina, signum, do qual outras palavras também são derivadas, como sinal, senha,
desenho, aceno etc., e todas elas passam a ideia de indicar algo, sinalizar, representar
alguma coisa. “Representar talvez seja o termo que melhor se relaciona com o
conceito de signo. Os signos surgem da necessidade que tem o ser humano de
representar as coisas para melhor compreender, interpretar, analisar, conhecer o
mundo” (PEREIRA, 2009, p. 42).

No processo de comunicação, como nos ensina o autor, as palavras são signos.


Elas estão na nossa mente, no mundo das ideias, e substituem e representam as
coisas. Uma amostra disto é quando dizemos o nome de alguém: pense no seu
nome, o que ele representa? Representa um ser humano, aluno(a) do curso de
Sociologia, que mora em uma determinada cidade do Brasil e, assim, tantas outras
características que definem você!

De acordo com Pereira (2009), existem vários tipos de signos; podemos pensar
em alguns exemplos: os signos naturais, ou seja, que representam elementos da
natureza (água, fumaça); os signos artificiais, tudo aquilo que é criado pelo homem
(um anel, por exemplo); signos verbais e não verbais, sendo aqueles as palavras e os
nomes (como Ana), e estes o que não é palavra (polegar para cima, por exemplo);
signos visuais (uma foto, um desenho); signos sonoros (vaia, sirene de ambulância),
entre tantos outros.

O que estes signos representam? Todos os signos representam alguma


coisa que é exterior a ele: a aliança no dedo da mão esquerda de uma pessoa
significa que ela é comprometida e indica o seu estado civil, casada. Já a sirene

A compreensão do comportamento humano e comunicação 177


U4

de uma ambulância que passa velozmente na rua pode representar alguém que
esteja necessitando de atendimento médico. Uma vaia em um estádio de futebol
representa um sinal de desagrado, e assim vários outros exemplos.

Umberto Eco (1980 apud Pereira, 2009. p. 43) traz uma definição muito
interessante de signo, ele diz que é “uma presença que substitui uma ausência”. O
signo, portanto, tem essa função de tornar presente aquilo que não está acessível de
maneira palpável, aquilo que não está presente de alguma forma, mas está de outra.

O signo é composto por dois lados, como se fossem dois lados de uma moeda,
diz o autor. Um lado chama-se significante e o outro lado, significado. O significante
é o aspecto sensível do signo, já o significado diz respeito ao aspecto semântico.
Vamos utilizar um exemplo trazido pelo próprio autor para entendermos melhor
estes dois lados, que são interdependentes:

Exemplo: a palavra mesa. O som da palavra ou a grafia da palavra


é o significante. O conceito, de “móvel sobre o qual se come, se
trabalha, se joga, etc.”, o significado. Um exemplo não verbal:
significante, celular tocando; significado, alguém quer falar
com você. Significante e significado não se separam, mas se
distinguem (PEREIRA, 2009, p. 44, grifos do autor).

Assim como os conceitos de significado e significante, o signo traz em sua


essência vários outros elementos que nos ajudam a tornar um pouco mais
compreensível esta arte tão indispensável à vida humana, que é o processo de
comunicação.

O que este signo representa para você?

A comunicação humana pode ser classificada em vários tipos. Com o auxílio de


Pereira (2009), vamos conhecer alguns destes tipos:

• Comunicação Intrapessoal: de acordo com o autor, ocorre quando uma


pessoa se comunica consigo mesma por meio de alguns recursos, como agenda,

178 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

diário, lembrete, anotações etc. Outros autores apontam que o pensamento,


ou seja, a atividade mental pode ser considerada comunicação intrapessoal; no
entanto, Pereira (2009) nos alerta que ainda não há certeza se estes processos
mentais podem ser definidos como comunicação.

• Comunicação Interpessoal: esta, segundo o autor, refere-se ao momento


em que uma pessoa se comunica com outra, como uma conversa de casal de
namorados, um companheiro de trabalho que explica um determinado assunto ao
outro colega ou, ainda, uma conversa entre dois amigos.

• Comunicação grupal: neste tipo de comunicação, podemos pensar na


comunicação intragrupal e na comunicação intergrupal, conforme relata o
autor. A primeira ocorre quando as mensagens transitam dentro do próprio grupo,
como no exemplo de um grupo de alunos buscando eleger o seu representante
de turma; já a segunda trata-se do fato das mensagens transitarem entre grupos,
como no caso de turmas de alunos, setores de empresas e até entre nações.

No que diz respeito a este último tipo de comunicação mencionado, a


Comunicação Grupal, Albuquerque e Puente-Palacios (2004) confirmam que a
comunicação não é uma tarefa fácil, mas, ao mesmo tempo, é primordial para
manter relações e desenvolvê-las de forma satisfatória, ainda mais quando falamos
em grupos de pessoas. Se a comunicação é o processo através do qual as pessoas
criam e enviam mensagens que são recebidas, interpretadas e respondidas por
outras pessoas, então concordamos que o propósito do processo de se comunicar
é desenvolver significados que seriam compartilhados por membros do grupo.

Um ponto extremamente importante que os autores mencionam é que a


comunicação não acontece de forma “pura”, ou seja, a mensagem que o emissor
transmitiu não chegará ao receptor da mesma forma; este a interpreta, ou seja,
a mensagem é reinterpretada por cada um dos receptores. Imagine que este
livro está sendo lido por todos os seus colegas do curso. Certamente, mesmo
que se trate de uma fonte escrita, que é a mesma para todos, a probabilidade da
comunicação ser reinterpretada é muito alta.

Além disso, a comunicação é acompanhada de outros componentes que não


só a oral ou a escrita, mas também a corporal. Vamos entender cada um destes
tipos de comunicação?

De acordo com Pereira (2009), a comunicação corporal diz respeito a um


conjunto de meios de comunicação: expressões faciais, posturas, gestos, tons de
voz etc. O autor relata que este foi um dos primeiros tipos de comunicação do
homem em sua história evolutiva e que era este o tipo de comunicação utilizado
para se comunicar com os outros animais.

A comunicação oral se dá por meio da fala, caracterizando um grande salto na

A compreensão do comportamento humano e comunicação 179


U4

história da comunicação humana e que, inclusive, é uma das principais distinções


entre o homem e os animais. Portanto, o instrumento que possibilitou este avanço
na evolução da vida humana é a linguagem (PEREIRA, 2009).

Por mais que a fala seja considerada a forma de comunicação por excelência,
fundamental para o estabelecimento de relações, uma sociedade que se
baseasse apenas na comunicação oral, provavelmente, ficaria limitada em seu
desenvolvimento, por isso, a comunicação escrita foi tão importante, conforme
nos indica o autor. Com este tipo de comunicação, através do alfabeto que
aprendemos quando somos ainda crianças, o homem conseguiu o poder de
transmitir seus pensamentos e conhecimentos não só para os que estavam à sua
volta, mas para as gerações seguintes. Os livros, jornais e revistas são exemplos
deste tipo de comunicação.

O alfabeto, tal como o conhecemos hoje, foi inventado pelos egípcios


e adotado pelos fenícios por volta do ano de 1.300 a.C., que o
conduziram para a Grécia e no qual só continha as consoantes. Foram
os gregos que, por volta do ano de 900 a.C. acrescentaram-lhe as letras
correspondentes às vogais, criando o primeiro exemplo histórico de
escrita fonética (PEREIRA, 2009).

Não podemos deixar de citar outro tipo de comunicação que tem sido
bastante utilizada no mundo atual: a comunicação eletrônica, reconhecida pelo
autor como o último estágio de evolução da comunicação humana. Hoje, nos
comunicamos com muita frequência através da Internet e das redes sociais e
estabelecemos relações que podem ser chamadas de virtuais. Este fator realmente
caracteriza um grande avanço da nossa sociedade se olharmos para o prisma
de que a distância foi eliminada e, com isso, conseguimos ter acesso a pessoas
do outro lado do mundo a qualquer momento. Albuquerque e Puente-Palacios
(2004) afirmam que tecnologias da comunicação, como videoconferências, fax,
scanner e internet (conforme já citamos), estão possibilitando formar equipes
virtuais, principalmente com relação às organizações de trabalho que, mesmo
separadas espacial e temporalmente, conseguem fazer com que seus membros
compartilhem conhecimentos e realizem tarefas.

Veja que interessante o depoimento de Pereira (2009, p. 25) sobre este tipo tão
atual de comunicação:

180 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

O efeito da comunicação eletrônica foi pois tornar a informação


praticamente instantânea e planetária. Ela reduz ao mínimo as
distâncias locais, regionais, nacionais e internacionais. E massifica
e globaliza ao máximo a informação, que alcança hoje no mesmo
instante do iletrado ao intelectual, nivela as classes sociais e
cria uma cultura mundial homogênea. Seu efeito final está em
produzir uma aceleração fantástica do intercâmbio humano e
das mudanças tecnológicas.

Sobre este assunto, Bock, Furtado e Teixeira (2008) falam da intensidade dos
meios de Comunicação de Massa, ou seja, o destaque que a difusão da informação
alcançou no mundo contemporâneo, e com isso presenciamos muitos veículos
de informação que usam um mecanismo de convencimento que pode ou não
ultrapassar os limites racionais de divulgação de uma mensagem; podemos pensar
como exemplo na força da publicidade e propaganda. Neste sentido, a internet e
as ferramentas da comunicação eletrônica tornaram-se um potente veículo de
difusão de informações, além de contribuir para uma verdadeira mudança nos
hábitos, comportamentos e valores das pessoas e, por conta disso, conforme
relatam os autores, atualmente há várias pesquisas que buscam entender o que
está por detrás das mensagens, ou seja,

[…] o fenômeno subjetivo produzido pelo efeito da relação virtual


entre pessoas por meio dos inúmeros recursos oferecidos pela
internet. Desde a sedentariedade das sucessivas horas passadas
em frente ao computador, até os relacionamentos bem ou
malsucedidos de pessoas que se conheceram virtualmente
(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 290-291).

O vídeo que você irá assistir agora vai depender de uma avaliação crítica
da sua parte. Ele traz um trabalho de um grupo de pessoas que trata da
potente influência da mídia nas crianças e o impacto no comportamento
e desenvolvimento delas. Ao assistir, reflita sobre os pontos abordados
no vídeo. Você concorda com eles? Acesse o link e bom vídeo!
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=qV3j21gGpk4>.

A compreensão do comportamento humano e comunicação 181


U4

Vamos refletir, neste momento, uma contribuição muito pertinente e


extremamente relevante da autora Lane (2001) sobre a comunicação, mais
especificamente, na aquisição da linguagem.

A autora nos alerta que, para compreendermos de forma mais profunda


a comunicação oral, ou utilizando o termo que a própria autora usa, o
comportamento verbal, faz-se necessário analisá-lo em um cenário mais amplo,
levando em consideração o ser humano em sua totalidade, como um ser histórico-
social, que produz sua história e, ao mesmo tempo, é por ela produzido. Com esse
pensamento, ela nos ensina que a linguagem é um produto de uma coletividade
e, diante disso, reproduz por meio dos significados das palavras articuladas em
frases, os conhecimentos que adquirimos, bem como os valores associados a
práticas sociais que se solidificaram. Assim, “[…] a linguagem reproduz uma visão de
mundo, produto das relações que se desenvolveram a partir do trabalho produtivo
para a sobrevivência do grupo social” (LANE, 2001, p. 32-33).

Entendendo que a linguagem é produto histórico de uma coletividade,


Lane (2001) exalta a aprendizagem da língua materna, afirmando que esta tem
a função de inserir a criança na história de sua sociedade, tornando-a humana
gradativamente. Com isso, em conformidade com outros importantes teóricos
da Psicologia, como Piaget, Skinner e Vygotsky, a autora assegura que a função
primária da linguagem é a comunicação e a interação social, por meio da qual a
criança consegue representar o mundo à sua volta, influenciando sobremaneira
seu pensamento e suas atitudes no maravilhoso processo de tornar-se humana.

Por falar em Vygotsky, a autora resgata que sua forma de conceber o ser
humano é como um ser histórico-social, sendo a linguagem crucial no homem
para o desenvolvimento da consciência de si e de sua consciência social, e tudo
isso se dá por meio da linguagem e também do pensamento e das ações, que se
realizam no processo de interação com os seus semelhantes (LANE, 2001).

Você se recorda de alguns momentos da sua infância


em que interagiu com pessoas da sua família? Consegue
perceber quão importante é o processo de aquisição da
linguagem para o desenvolvimento de nossa consciência e
para a internalização de valores?

182 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

2.1 Habilidades de comunicação: o feedback

No mundo de hoje, seja em qualquer profissão e atividade de trabalho, ou ainda nas


várias situações que o dia a dia nos apresenta, a habilidade de comunicação é um requisito
quase que obrigatório para alcançar um bom desempenho e ter sucesso.

Moscovici (2008) afirma que as habilidades de comunicação, essenciais para facilitar


a compreensão mútua, podem ser aprendidas e precisam ser treinadas e praticadas
constantemente para maior eficiência de resultados.

Uma dessas habilidades é o saber dar e receber feedbacks. Em qualquer circunstância


da vida, apresentar essa habilidade pode contribuir significativamente com a prática das
relações interpessoais e com o desenvolvimento de novas atitudes. Vamos entender o
que este termo quer dizer?

Feedback quer dizer retroalimentação. Para Moscovici (2008), este termo implica um
processo de ajuda para alterações de comportamento, através da comunicação a uma
pessoa, ou um grupo, no intuito de fornecer-lhe informações sobre como sua atuação
está influenciando outras pessoas. “Feedback eficaz ajuda o indivíduo (ou grupo) a melhorar
seu desempenho e, assim, alcançar seus objetivos” (MOSCOVICI, 2008, p. 94).

Segundo Del Prette e Del Prette (2013), o termo feedback vem se popularizando cada
vez mais e sua dinâmica constitui em habilidades essenciais para regular desempenhos
tanto nossos quanto das pessoas com quem convivemos, visando estabelecer relações
saudáveis e harmoniosas.

Para que o feedback seja um processo útil de fato, é necessário que seja realizado
mediante alguns cuidados. Vejamos quais são eles, de acordo com Moscovici (2008):

• Deve ser descritivo em vez de avaliativo: a autora recomenda que não deve haver
julgamento, pois quando não se julga o relato de um evento, mas há uma conversa
tranquila, reduz-se a necessidade do outro reagir de forma defensiva e, assim, ele poderá
ouvir e sentir-se à vontade para receber aquela informação e usá-la da maneira que achar
conveniente.

• Deve ser oportuno: o feedback tende a ser mais útil e eficiente quanto mais próximo
possível acontecer após o comportamento em questão, e vai depender, claro, da prontidão
da pessoa para recebê-lo e aproveitá-lo da melhor forma possível.

• Deve ser dirigido: segundo a autora, o feedback deve se dirigir para comportamentos
que o receptor possa realmente modificar, pois, se não for desta maneira, a frustração
poderá aparecer se a pessoa identificar falhas naquilo que não está sob seu controle e,
assim, o feedback tende a não surtir bons resultados.

• Deve ser específico em vez de geral: isto significa que a informação a ser transmitida
ao receptor deve indicar algo que seja possível visualizar, como o comportamento emitido

A compreensão do comportamento humano e comunicação 183


U4

em determinada ocasião, e não algo vago ou abrangente demais. A própria autora dá


um exemplo de como seria a realização de um feedback específico a uma pessoa que
apresente um perfil mais dominador: “Nesta reunião, você fez o que costuma fazer outras
vezes, não ouviu a opinião dos demais e fomos forçados a aceitar sua decisão para não
receber suas críticas exaltadas” (MOSCOVICI, 2008, p. 95).

• Deve ser solicitado em vez de imposto: é claro que a informação solicitada tem
maior chance de ser bem recebida do que a informação que é imposta e, segundo a
autora, será mais útil quando a pessoa tiver formulado perguntas para que aqueles que
observam suas atitudes possam responder e ajudá-la a melhorar.

• Deve ser compatível com as necessidades de ambos, tanto do comunicador


quanto do receptor: o feedback não deve favorecer apenas o comunicador ou apenas
o receptor; pode ser bastante prejudicial quando ele satisfizer apenas as necessidades do
comunicador, por exemplo, sem levar em consideração as motivações do receptor.

• Deve ser esclarecido para assegurar que a comunicação seja precisa: uma boa
dica da autora é fazer com que o receptor repita o feedback recebido para confirmar se
corresponde ao que o comunicador quis transmitir.

Você já recebeu algum feedback, seja no trabalho ou em


outras esferas da sua vida? Como foi viver essa experiência?
Você concordou com a forma como o feedback foi
realizado? Você acredita que houve resultados satisfatórios?

Há uma pergunta que sempre nos vem à mente quando precisamos dar
feedback ou quando vamos recebê-lo: por que é difícil dar e receber feedback?

Moscovici (2008) acredita que, no caso da dificuldade de dar feedback, o perigo


pode estar em pensarmos nele como forma de demonstrar nossas habilidades e
inteligência em vez de refletir sobre sua utilidade e aplicabilidade para o receptor,
bem como sobre suas necessidades; isto porque temos a tendência de gostar
de dar conselhos e com isso nos sentimos competentes e importantes, e assim
podemos confundir as coisas. Um outro ponto que a autora traz é o de que
podemos apresentar receio no que diz respeito à reação da pessoa que receberá o
feedback, ou seja, ela pode interpretá-lo de forma distorcida, o que pode acontecer
em nossa cultura, pois, infelizmente, este processo ainda tende a ser visto como
uma crítica, apresentando fortes implicações emocionais e sociais. Quando

184 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

isto acontece, o receptor provavelmente ficará mais defensivo e, ao tentarmos


argumentar para convencê-lo ou ainda pressioná-lo, sua defensividade e resistência
tende a aumentar ainda mais. Não podemos deixar de considerar também que,
muitas vezes, a pessoa não está preparada para receber um feedback e isto precisa
ser compreendido e respeitado.

Já no caso de receber o feedback, Moscovici (2008) aponta que se torna um


processo difícil, uma vez que nem sempre é agradável reconhecer e aceitar nossas
falhas, e é ainda mais complicado admiti-las para outras pessoas. Outro aspecto que
dificulta este processo é o receio que o receptor pode ter com relação à pessoa
que dará o feedback, principalmente no que diz respeito ao que esta pessoa pensa
dele. Pode haver também um certo desconforto quando a pessoa que o recebe
perceba que está contribuindo para manter o problema e que precisará pensar
em seus comportamentos e tentar modificá-los; isto pode gerar uma resistência a
ponto do receptor negar tal informação e a validade do feedback. Porém, muitas
vezes, a resolução do problema pode estar no reconhecimento de que algumas
atitudes não são satisfatórias e que será necessário revisá-las e pensar sobre elas.

Del Prette e Del Prette (2013) indica que é mais comum do que imaginamos
o feedback ser confundido com reforço ou elogio (se positivo) ou com críticas
(se negativo), e que pessoas socialmente competentes tendem a associar o elogio
ao feedback positivo, o que pode tornar suas referências mais objetivas e mais
facilmente aceitas e valorizadas pelas pessoas.

Agora que apontamos algumas dificuldades, eis outra questão: como fazer para
superar estas dificuldades?

Muitas vezes, em nosso dia a dia, recebemos informações das mais variadas
pessoas que convivem conosco e nem paramos para pensar que pode se tratar
de feedback. Isto nos leva a crer que o feedbacké um processo necessário para
identificarmos as atitudes que geram resultados negativos e insatisfações para, assim,
conseguirmos fazer as adequações necessárias, contribuindo para desenvolver
nossas habilidades e alinhar a prática das relações (MOSCOVICI, 2008).

A autora traz algumas orientações do que podemos fazer para tentarmos superar
essas dificuldades com relação ao processo de feedback:

1) Estabelecendo uma relação de confiança recíproca para


diminuir as barreiras entre comunicador e receptor.
2) Reconhecendo que o feedback é um processo de exame
conjunto.

A compreensão do comportamento humano e comunicação 185


U4

3) Aprendendo a ouvir, a receber feedback sem reações emocionais


(defensivas) intensas.
4) Aprendendo a dar feedback de forma habilidosa, sem conotações
emocionais intensas (MOSCOVICI, 2008, p. 98, grifos da autora).

Para complementar, vamos trazer outros componentes funcionais e formais


que ajudam no momento de dar e receber feedback, conforme nos ensina Del
Prette e Del Prette (2013, p. 70, grifo do autor):

a) falar diretamente à pessoa à qual se dá o feedback, chamando-a


pelo nome, mantendo contato visual e usando tom de voz calmo,
porém audível;
b) apresentá-lo o mais imediatamente possível à emissão do
comportamento;
c) descrever o desempenho observado ao invés de avaliá-lo;
d) referir-se ao comportamento emitido no momento sem
atribuí-lo como característica da pessoa;
e) primar pela parcimônia.

O grupo do qual fazemos parte também requer receber informações a respeito


do seu desempenho; isto é mais comum quando pensamos em grupos de
trabalho. Da mesma forma que no feedback individual há dificuldades envolvidas,
também no grupo podem aparecer estes mesmos problemas e, à medida que as
pessoas vão amadurecendo e aprimorando suas habilidades para dar e receber
feedbackindividual de forma satisfatória, também vão se tornando habilidosas para,
sempre que necessário e conveniente, dar feedback ao grupo do qual faz parte.

Seja em grupo ou individualmente, “dar e receber feedback constitui, portanto,


uma das habilidades interpessoais imprescindíveis ao funcionamento produtivo de
um grupo humano em qualquer contexto” (MOSCOVICI, 2008, p. 102). Para Del
Prette e Del Prette (2013), o feedback pode permitir o ajuste, a manutenção e a
melhoria das relações entre as pessoas e, sem ele, provavelmente, as relações
sociais tenderiam a ser mais confusas, o que poderia resultar em situações nas
quais as pessoas não soubessem como se comportar.

186 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

Acesse o link a seguir e adquira dicas bem pertinentes sobre o processo


de dar e receber feedback, bem como as atitudes que podem interferir
no relacionamento interpessoal. Link: Disponível em <https://www.
youtube.com/watch?v=ALKl0yt3OaM>.

Você já ouviu falar de uma técnica muito interessante chamada Janela de Johari?
Trata-se de uma representação de áreas da personalidade humana, idealizada por
Joseph Luft e Harry Ingham (1961 apud MOSCOVICI, 2008), que tem a finalidade
de ilustrar as relações interpessoais e os processos de aprendizagem em grupo
para facilitá-los. É também uma ferramenta muito utilizada no processo de dar e
receber feedback. Vamos conhecer brevemente como funciona esta técnica.

A Janela de Johari apresenta o seguinte desenho:

Figura 4.2 | A técnica da Janela de Johari

I. EU ABERTO II. EU CEGO

III. EU SECRETO IV. EU DESCONHECIDO

Fonte: Adaptado de Moscovici (2008, p. 80).

Moscovici (2008) explica-nos o que cada uma dessas áreas significa:

• O Eu Aberto constitui a área da vida que é conhecida por nós e por qualquer
pessoa que nos observa. Esses tipos de comportamento variam muito conforme
nossa estimativa sobre o que é correto em determinado ambiente e com diferentes
grupos de pessoas, limitando-se àquilo que nossos familiares e amigos conhecem
de nós e àquilo que para nós é considerado óbvio, como nossas aptidões, nossa
maneira de falar, nossas atitudes em geral etc.

• O Eu Cego, como nos explica a autora, diz respeito às nossas características


de comportamento facilmente percebidas pelas outras pessoas, mas que são
despercebidas por nós mesmos, como alguma manifestação de raiva, alguma reação
agressiva etc. É interessante que nesta área há evidências de que, frequentemente,
quando somos mais críticos com relação ao comportamento de outras pessoas,
pode ser que estamos nos comportando da mesma forma, sem perceber.

A compreensão do comportamento humano e comunicação 187


U4

• O Eu Secreto, por sua vez, representa coisas que conhecemos sobre nós,
mas que buscamos esconder das outras pessoas, e são coisas que podem variar
desde assuntos mais banais e simples, até os assuntos mais sérios e de grande
importância.

• O Eu Desconhecido representa coisas de nossa vida que não são conhecidas


nem por nós mesmos, nem pelas outras pessoas, as quais podemos chamar de
inconscientes, como memórias da infância, potencialidades latentes, entre outras.
Determinadas coisas são tão desconhecidas e escondidas que talvez nunca se
tornem conscientes, no entanto, outras, por serem mais superficiais, podem
vir à tona, e é justamente o processo de feedback que facilita o acesso a essas
informações que poderão se tornar conscientes.

Este modelo da Janela de Johari pode facilitar e muito a relação do próprio


indivíduo consigo mesmo e com as outras pessoas e, para Moscovici (2008),
os principais processos que regulam as relações interpessoais, determinando a
dinâmica de cada área da Janela de Johari, são envolvidos com o mecanismo de
dar e receber feedback, como a própria autora nos elucida:

a) Busca de feedback: consiste em solicitar e receber reações dos


outros, em termos verbais ou não-verbais, para saber como o seu
comportamento está afetando os outros, isto é, ver-se com os
olhos dos outros.
b) Autoexposição: consiste em dar feedback aos outros, revelando
seus próprios pensamentos, percepções e sentimentos de como
o comportamento dos outros o está afetando.

Esses dois processos, quando utilizados de forma equilibrada e satisfatória,


contribui para propiciar o desenvolvimento individual e o aprimoramento das
competências interpessoais, inclusive as habilidades de comunicação.

Por fim, pudemos verificar que o fenômeno da comunicação é complexo por


se tratar do relacionamento entre as pessoas, sendo necessário ser compreendido
a partir das diversas condições históricas, culturais e sociais do ser humano, tanto
na relação intrapessoal, ou seja, do indivíduo consigo mesmo, como nas relações
interpessoais e grupais.

188 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

1. Por que a comunicação humana pode ser considerada uma arte?

2. Qual é a função do feedback no processo de comunicação,


tanto intrapessoal quanto interpessoal e grupal?

Nesta Unidade, você aprendeu:

• As contribuições de diferentes abordagens teóricas da Psicologia


com relação ao entendimento do comportamento humano.

• A importância da vida humana organizada em grupos,


bem como as diferentes definições de grupos, os principais
processos grupais e os estágios de desenvolvimento dos
grupos, em especial dos grupos de trabalho; além da diferença
entre grupos e equipes.

• O processo de comunicação humana, seus conceitos, tipos


e funcionalidades, bem como a importância de desenvolver
habilidades de comunicação, dentre elas, o dar e receber feedback.

O conhecimento transmitido através desta unidade colaborou


para que você pudesse compreender um pouco mais a
respeito dos complexos fenômenos humanos, como as
diferentes concepções de comportamento, o processo da
comunicação humana e a habilidade de conviver em grupo.
Para isso, utilizamos a ciência Psicologia que nos direcionou

A compreensão do comportamento humano e comunicação 189


U4

ao percorrermos este caminho. Espero que você tenha


aproveitado bastante todo o conteúdo, relembrando que o
propósito desta unidade não foi trazer respostas prontas, mas
fazê-lo questionar-se sobre sua realidade, contribuindo cada
vez mais com sua aprendizagem e desenvolvimento, que são
constantes em sua vida.

1. Freud, no desenvolvimento da Psicanálise, desenhou uma


primeira concepção sobre a estrutura do aparelho psíquico
humano, que é constituída por três instâncias psíquicas: o
consciente, o pré-consciente e o inconsciente. Explique
estas três instâncias.

2. No que diz respeito ao Behaviorismo, um dos nomes


mais importantes desta teoria é Skinner, cuja linha de
estudo ficou conhecida como Behaviorismo Radical. Nesta
concepção, ele formulou o conceito de comportamento
operante, que é a base de sua teoria. Explique o que quer
dizer comportamento operante.

3. No que se refere aos estágios de desenvolvimento dos


grupos, relacione a coluna da esquerda com a coluna da
direita:

190 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

( ) É a última fase no desenvolvimento dos grupos


e ocorre quando os objetivos que levaram à sua
(1) Formação
criação são alcançados e não há mais motivos para
o grupo continuar a existir.
( ) Este é o estágio da execução das tarefas, sendo
caracterizado pela fase da produtividade, na qual
(2) Conflito
há o empenho de todos para a realização dos seus
propósitos.
( ) Esta é a fase da coesão e da identificação
dos membros entre si, surgindo sentimentos de
acolhimento e pertencimento ao grupo. Nesta
etapa, a troca de informações acontece de forma
(3) Normatização
harmoniosa e espontânea, e a liderança consegue
definir, junto aos seus liderados, os papéis que
cada um deles exercerá, bem como as tarefas e
responsabilidades de cada um.
( ) É o processo de ajuste do grupo, que visa
estabelecer o que será feito, quem fará cada tarefa e
quais os procedimentos que serão utilizados. Também
(4) Desempenho é a fase de negociação, pois pode haver membros da
equipe que não concorde com as decisões tomadas;
além disso, a liderança, se ainda não tiver sido
determinada, poderá emergir nesta etapa.
( ) É o início dos contatos, no qual há um processo
de descobrimento do outro membro do grupo,
procurando identificar quem é o outro e em que
(5) Desintegração ele pode contribuir para atingir determinado
objetivo. Neste momento, as regras e normas que
direcionarão o grupo também começam a ser
decididas.

A coluna da direita, portanto, estará corretamente


preenchida na seguinte ordem (de cima para baixo):

a) ( ) 2, 3, 4, 5, 1.
b) ( ) 4, 2, 3, 1, 5.
c) ( ) 5, 4, 3, 2, 1.
d) ( ) 5, 1, 2, 3, 4.

A compreensão do comportamento humano e comunicação 191


U4

4. Assinale a alternativa que traz, corretamente, as três fases


do processo simplificado de comunicação:

a) ( ) Emissor, mensagem, receptor.


b) ( ) Integrador, notificação, selecionador.
c) ( ) Manipulador, redação, associador.
d) ( ) Fiscalizador, documento, facilitador.

5. De acordo com os conteúdos abordados, explique por


que é difícil dar e receber feedback.

192 A compreensão do comportamento humano e comunicação


U4

Referências

ALBUQUERQUE, Francisco José Batista de; PUENTE-PALACIOS, Katia Elizabeth.


Grupos e equipes de trabalho nas organizações. In: ZANELLI, José Carlos; BORGES-
ANDRADE, Jairo Eduardo; BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt (Orgs). Psicologia,
organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 357-379.

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes T.


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