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Direito e Sociedade
O homem é inegavelmente um ser social. Essa

premissa só encontra sentido na análise da nossa realidade, ainda que

idéias, crenças, valores, símbolos e sentimentos não se formam no início de

nossa existência. É no convívio com outros seres humanos que assimilamos e

desenvolvemos nossas capacidades. À medida que nos integramos na vida em

sociedade vamos adquirindo e constituindo idéias, valores e sentimentos. Logo, o ente humano no seu

contínuo processo

de adaptação ao meio, tanto físico quanto social, assimila os padrões de

conduta já estipulados por seus antecessores. O homem em sua interação com o

ambiente onde vive permanece em constante socialização (adaptação do indivíduo

ao seu grupo). E como o indivíduo se socializa?

Por meio da aceitação dos padrões de condutas e das idéias em voga num
determinado grupo social. Esse processo, como já mencionado, começa cedo, na

família e se estende as instituições sociais. Do berço ao túmulo, na expressão

de Machado Neto, vamos construindo e desconstruindo os diversos modelos de

comportamento. São essas regras de

convivência coletiva que irão sustentar a estrutura do organismo social. Sem

elas os indivíduos se veriam perdidos e a vida dentro do grupo tornar-se-ia

impossível, pois a estipulação prévia de comportamentos é o elemento de

segurança quanto a previsibilidade de condutas. Todavia, para garantir a permanência da

sociedade, faz-se necessário a constituição de mecanismos de controle das ações

dos indivíduos. Controle social é a denominação usualmente dada pelos

sociólogos para identificação de tais formas de dominação. Podemos, então,

definir controle social como um conjunto de expressões sociais - usos,

costumes, leis, instituições e sanções - que tem como escopo a socialização do

indivíduo e a manutenção da estrutura social, através da imposição de modelos

de comportamentos, apoiados nos valores e interesses da classe dominante ou no

consenso grupal. Acrescentamos, ainda,

que o homem no seu processo de socialização também tem o poder de modificar os

padrões sociais de várias maneiras, dentre as quais destacamos a imposição

econômica, o uso da linguagem como técnica de convencimento e por fim, o poder

político. A sociologia classifica o

controle social em formal e informal. Os usos, costumes e a opinião pública são

mecanismos de controle informal, enquanto a Lei é controle formal por

excelência. Verificamos, outrossim, que

o direito é a última razão da socialização, i. e., só atua na proteção dos

interesses considerados mais importantes para a sociedade, restabelecendo a


ordem social. Deste modo, o Direito

existe em razão da necessidade coletiva. Sua aplicação dependerá de uma

identificação das funções que lhe são latentes, dos motivos sociais que

ensejaram a norma jurídica e sobretudo da natureza teleológica. Como instrumento de socialização em

última

instância, o direito cumpre um papel conservador do status quo. Quando

da infringência de uma norma jurídica, estipulada pelo grupo, ou da dúvida com

relação a forma de sua aplicação pode surgir o conflito de interesses. Para

dirimi-lo o direito entra em ação, com seus postulados, regras de interpretação

e poder coercitivo. No entanto, o

Direito não é mero solucionador de conflitos de interesses, tampouco o Poder

Judiciário, Poder Constituído, exerce função restrita ao conhecimento,

interpretação e aplicação das normas jurídicas aos casos concretos, através de

um juízo racional, imparcial e axiológico. É mais, tem um papel social

relevante, como instrumento de desenvolvimento humano. Instrumento de controle

é uma de suas finalidades, entretanto, revela-se também como fator

condicionante do meio, exercendo papel educativo e transformador. Vejamos, por

exemplo, a questão da responsabilidade civil, de caráter reparador e

pedagógico. Assim, para compreender o

Direito com precisão e direcionado à realização da justiça, devemos perquirir o

objetivo das suas prescrições, suas razões coletivas e a base social que ampara

a ordem jurídica estatal. As pessoas

encarregadas da missão específica de conhecer, interpretar e aplicar o Direito

possuem um papel importante na permanência e desenvolvimento da sociedade, pois

cabem a elas as tarefas de sentir os novos valores sociais e preservar aqueles

que são essenciais à dignidade humana e coesão do grupo social. A propósito, a decisão do juiz

denomina-se

sentença, que vem de sentir, tal qual a palavra sentimento. Ele, como agente

social, também sofre os condicionamentos do meio, e ao julgar, realiza

atividade valorativa, sempre tendo como norte o critério da imparcialidade e da

realidade social, integrando o direito que por natureza é estático à sociedade

que é dinâmica. Essa interpretação valorativa do direito busca uma melhor

aplicação e integração do jurídico no social.

Em linha de conclusão, podemos dizer que o direito como um sistema

aberto, de controle e também de desenvolvimento social precisa ser visto como

uma manifestação da sociedade, devendo ser interpretado e aplicado segundo os

anseios da coletividade e com base nos valores que preservem a dignidade

humana. Portanto, é imprescindível que


os advogados, promotores, juizes e demais técnicos do direito apresentem uma

postura voltada para a sociedade, bem assim a consciência de que, caso não

tenham a devida atenção, poderão ser instrumentos de iniquidades e funcionarem

a serviço, unicamente, de interesses das classes dominantes, já tão favorecidas

pelo modelo capitalista, sobretudo o neoliberal. Pensar o direito como mecanismo de alcance

da ordem social igualitária, adaptar o direito aos valores coletivos, decidir

com consciência social, são recursos indispensáveis à realização da Justiça.

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