Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
e instituições políticas
O caso da Campanha da Lei Maria da Penha*
O interesse sistemático dos pesquisadores bra- e dos seus impactos na emergência, no desenvol-
sileiros pelos processos nacionais de mobilização vimento e na globalização dos movimentos sociais
coletiva do direito ainda é bastante incipiente. Os contemporâneos (Sarat e Scheingold, 2001, 2006).
raros estudos existentes têm analisado a politiza- Enquanto as duas primeiras linhas de pesquisa
ção ou a globalização de carreiras e causas jurídicas restringem o foco da investigação numa dimensão
(Engelmann, 2007; Santos, 2007). Desse ângulo, específica – os impactos judiciais (top-down appro-
o ativismo de movimentos, organizações e redes é ach) ou a atuação de advogados-ativistas (cause la-
tomado como expressão da transnacionalização do wyering project) –, a abordagem baseada na teoria
direito, e os objetos de análise privilegiados são an- do processo político (political process-based approa-
tes casos e causas levados às cortes globais do que os ches) analisa o uso do direito e dos tribunais como
padrões e/ou os processos da ação coletiva. fenômeno emergente no curso da mobilização po-
A produção acadêmica sobre a Lei Maria da lítica de grupos e movimentos sociais (McCann,
Penha, por sua vez, tem se mantido circunscri- 1991, 1994, 1998, 2006a, 2006b). É a perspectiva
ta ao debate sobre a Justiça Criminal. Os estudos que mais tem procurado incorporar aos estudos so-
problematizam seja a eficácia da criminalização de ciolegais o repertório teórico, conceitual e metodo-
conflitos domésticos e familiares diante da pecu- lógico da sociologia da ação coletiva.
liaridade dessas relações sociais (Izumino, 2003, Este artigo traça em linhas gerais o debate so-
2007; Debert, 2006; Debert e Gregori, 2008;), ciolegal norte-americano e, em seguida, apresenta
seja a adequação de soluções penalizadoras em o estudo de caso da Campanha da Lei Maria da
face da tendência de informalização e despenaliza- Penha à luz da abordagem do processo político.
ção da Justiça Criminal (Azevedo e Celmer, 2007;
Azevedo, 2001; Amorim, 2003). Nesse sentido, a
dimensão instrumental do direito para a mudan- Mobilização política e direito:
ça social tem sido privilegiada em detrimento da síntese analítica
sua dimensão estratégica e simbólica para a ação
coletiva. Questões analíticas e empíricas sobre os O tema da interface do direito com a vida social
processos de mudança legal, impulsionados por e política tem saído da posição marginal tradicional-
grupos e movimentos sociais, permanecem pouco mente ocupada nas ciências sociais. Uma diversifi-
investigadas: quando, por que e como ativistas to- cada literatura produzida, desde os anos de 1980,
mam normas jurídicas e tribunais como recurso e tem contribuído seja para a renovação da tradição
estratégia de mobilização? Quais condições as tor- da sociologia do direito, seja para a incorporação de-
nam bem ou malsucedidas do ponto de vista dos finitiva das instituições judiciais como objeto ana-
objetivos políticos dos movimentos? lítico relevante na sociologia e na ciência política.
Essa agenda de pesquisa tem animado a litera- (Koerner, 2004, 2007; Engelman, 2006).
tura sociolegal norte-americana. Embora compar- Nessa nova leva de trabalhos, a expansão do
tilhem a mesma preocupação analítica – o uso das poder judicial na regulação de condutas e conflitos
normas jurídicas e dos tribunais em situações de figura como problema analítico central. No caso
conflito –, os estudos adotam perspectivas distintas. brasileiro, o crescimento do interesse acadêmico por
A abordagem centrada nas cortes (top-down approa- essa questão vem na esteira de eventos nacionais e
ch) focaliza o impacto das decisões judiciais sobre a globais como a reforma constitucional de 1988 e a
mudança social almejada pelos grupos e movimen- globalização de instituições e do ativismo voltados
tos sociais, privilegiando, portanto, o papel do direi- para a promoção e a efetivação de direitos. Ambos
to na produção de resultados tangíveis (Rosenberg, vêm favorecendo de maneira inédita a mobilização
1991). O projeto cause lawyering (“advocacia de das normas jurídicas e dos tribunais nos processos
causa”) tem privilegiado a análise do engajamento de conflitos social e político.
de segmentos das elites jurídicas (em particular, ad- No âmbito nacional, a Constituição de 1988
vogados de causa) no interior das redes de ativismo expandiu a previsão normativa de direitos, de ins-
que só se efetiva na medida em que é mobilizado. ação coletiva. Isso porque o direito e suas instituições
Nesse sentido, a mobilização do direito é uma ativi- figuram como mais um dentre os vários recursos
dade política por meio da qual a autoridade pública políticos e culturais disponíveis por meio dos quais
das normas é convertida pelos agentes em forma re- grupos insatisfeitos podem vocalizar demandas,
levante de participação nos sistemas democráticos. construir identidades, legitimar interesses e disputas.
Por esse ângulo analítico, o foco no protagonis- Quando, por que e como são mobilizados é pro-
mo dos tribunais ou das elites estatais é redirecio- blema de investigação empírica. Assim, a literatura
nado para a ação dos “usuários.” (McCann, 2010). sociolegal norte-americana vem incorporando as te-
Tomando o direito como recurso de interação polí- orias dos movimentos sociais, em particular a teoria
tica e social, essa perspectiva de análise parte de três do processo político, para analisar o papel e o signi-
premissas teóricas. ficado das normas jurídicas e dos tribunais nos pro-
Primeiro, as dimensões normativa e estratégica cessos de conflito e de mobilização coletiva (Burs-
do direito são analiticamente inseparáveis. De um tein, 1991; Epp, 1998; McCann, 1991, 1994, 1998,
lado, o direito é constitutivo para a vida social, pois 2006a, 2006b; Sarat e Scheingold, 2001, 2006).
as normas jurídicas fornecem a moldura normati- A teoria do processo político produziu um
va e categorial que orienta a percepção dos agentes modelo analítico da mobilização política que con-
acerca das relações nas quais estão inseridos, dos seus templa tanto formas de ação coletiva mais fluidas e
interesses, das formas e das possibilidades de ação. não institucionalizadas, como movimentos sociais
De outro lado, o direito é recurso estratégico, pois as e protestos públicos, quanto aquelas mais estrutu-
normas jurídicas são objeto de uso calculado para a radas e organizadas sob a forma de organizações ci-
consecução de interesses e de resultados práticos. As vis, sindicatos, partidos políticos, grupos religiosos
dimensões constitutiva e estratégia do direito repre- etc. As mobilizações coletivas são investigadas do
sentam dois níveis distintos de poder, mas não total- ponto de vista simultaneamente político-institu-
mente separados. A norma jurídica estrutura as pró- cional, estratégico e simbólico-cognitivo.
prias situações de ação e interação estratégica uma vez Primeiro, a ação coletiva é condicionada por
que orienta a formulação de problemas, a definição estruturas de incentivos e/ou constrangimentos
de competências e as formas legítimas de ação. políticos numa determinada época histórica, que
Segundo, a concepção restritiva do poder ju- possibilitam mas também limitam as escolhas dos
dicial como capacidade formal de limitar outros agentes entre cursos de ação possíveis. O conceito
atores estatais no sistema check and balances é subs- de estrutura de oportunidades políticas tem sido
tituída pela preocupação analítica com as bases so- utilizado para descrever “as dimensões consistentes
cioculturais do poder, da autoridade e da legitimi- – mas não necessariamente formais, permanentes
dade dos tribunais nos processos de construção de ou nacionais – do ambiente político que tanto fa-
problemas públicos, conflitos e demandas sociais. cilitam ou dificultam a emergência da ação coletiva
Terceiro, os tribunais passam de árbitros como impactam a trajetória histórica das mobili-
alheios aos processos políticos à condição de mais zações coletivas (Tarrow, 1988). Essas dimensões
um agente na dinâmica das disputas e das políti- são compostas por três fatores: as mudanças no
cas públicas. O impacto judicial não se limita ao estilo de interação entre Estado e sociedade, como
estabelecimento de regras a serem seguidas ou à repressão, cooptação ou negociação; o aumento da
declaração de perdedores e ganhadores. As decisões permeabilidade das instituições políticas e adminis-
judiciais modelam o contexto estratégico de outros trativas às demandas sociais; e a disponibilidade de
atores no Estado e na sociedade, pois estão inseridas aliados políticos e sociais para os grupos mobiliza-
num ambiente de conflito em torno da definição dos dentre partidos, elites sociais, meios de comu-
do sentido e do alcance social das normas jurídicas nicação, comunidade científica, sindicatos e outros
que envolve recursos, valores e identidades. movimentos sociais (Kriesi, 1995).
Por esse ângulo, a análise do poder judicial está Segundo, a estrutura de oportunidades políti-
intimamente associada ao problema mais geral da cas condiciona, em determinadas conjunturas his-
tóricas, estratégias de mobilização que permitem sociais e situações de injustiça como para alcançar
dar suporte prático à ação coletiva.7 Por meio desses resultados políticos e práticos.
suportes, os movimentos sociais mobilizam “reper- Essa síntese analítica permite explorar múlti-
tórios de ação” compostos de formas de ação políti- plas dimensões da mobilização das normas jurídicas
ca não institucionalizadas – protestos públicos, gre- e dos tribunais pelos grupos e movimentos sociais:
ves, boicotes – e institucionalizadas, como lobbies e tanto o contexto macropolítico no qual organiza-
o uso das normas e procedimentos judiciais. (Tilly, ções civis, redes e campanhas se formam como a
1978; Kriesi, 1995). ação coletiva, isto é, as estratégias de mobilização
Terceiro, a emergência e o curso das mobiliza- e os quadros interpretativos adotados pelos agentes
ções políticas dependem, ainda, da construção de no curso da ação coletiva para influenciar o debate
esquemas interpretativos e discursivos pelos agentes público e os processos decisórios.
para definir problemas sociais, indicar suas causas
e propor estratégias de solução (Benford e Snow,
2000).8 Os quadros interpretativos (frames) expres- O caso da Campanha da Lei Maria da Penha
sam as disputas valorativas e cognitivas, empreendi-
das pelos grupos mobilizados, para reinterpretar a O estudo de caso da Campanha da Lei Maria
realidade social, angariar legitimidade pública às cau- da Penha procura sublinhar dois aspectos da mo-
sas e construir identidades coletivas (Tarrow, 1992). bilização coletiva. Primeiro, como mudanças mais
Partindo desse repertório conceitual, McCann amplas no ambiente sociopolítico e institucional
(2006a, 2006b) propõe um modelo multidimen- podem estimular a escolha por estratégias de mobi-
sional de análise da mobilização do direito. Do lização das normas jurídicas e dos tribunais. Segun-
ponto de vista político-institucional, o uso do di- do, como o uso político do direito pode representar
reito e dos tribunais é contingente, pois condicio- para os movimentos sociais – mais do que instru-
nado pela percepção dos agentes das estruturas de mento inequívoco de mudança social a ser decidido
oportunidades políticas no interior das quais a ação pelos tribunais – a oportunidade para provocar a
coletiva emerge e se desenvolve. As estruturas nor- ação responsiva do Estado e de outras autoridades,
mativas, institucionais, histórico-culturais que sus- dramatizar situações sociais problemáticas, atrair e
tentam o funcionamento das instituições judiciais mobilizar atenção pública e, ainda, ganhar voz, po-
permitem aos agentes identificarem oportunidades sição e influência no processo mais amplo das polí-
e custos, recursos e constrangimentos. A importân- ticas públicas (McCann, 2006a, 2006b).9
cia dos tribunais nos processos de conflito e de mo-
bilização política depende largamente da maneira Oportunidades políticas e padrões de
como os usuários interpretam e agem em função ativismo feminista
dos sinais emitidos pelas decisões.
Do ponto de vista da ação coletiva, o uso do As estruturas de oportunidades políticas dos
direito comporta simultaneamente dimensões ins- anos de 1990 disponibilizaram canais institucionais
trumentais e simbólicas. Regras, símbolos, con- e estruturas de alianças inéditos para o movimento
venções e argumentos jurídicos constituem, de um feminista brasileiro. No plano nacional, o retorno
lado, recurso estratégico para definir e atingir inte- à normalidade democrática ampliou potencialmen-
resses e objetivos instrumentais e tangíveis; de ou- te os pontos de pressão sobre o sistema político.
tro, recursos cognitivos e morais para a construção Além da representação dos interesses via partidos,
de quadros interpretativos, isto é, para a conversão o Legislativo e o Executivo tornaram-se mais per-
ou a tradução de problemas sociais em problemas meáveis ao lobby das organizações civis para a pro-
jurídicos e para a criação de identidades coletivas dução de leis ordinárias visando à regulamentação
calcadas na “consciência de direitos”. Em suma, dos princípios e normas constitucionais; para a
agentes coletivos valem-se de estratégias de mobi- formulação e implementação de políticas públicas
lização do direito tanto para (re)definir problemas destinadas a efetivar direitos constitucionalmente
previstos; e para a ratificação das convenções inter- e homens, dominante na rede do movimento na-
nacionais. Desde meados dos anos de 1990, os ca- cional durante a redemocratização, foi obliterado
nais e o acesso ao Executivo foram ampliados com pela incorporação das categorias de violência, gê-
a vitória nas eleições presidenciais de candidatos nero e direitos humanos (Maciel e Prata, 2011). O
dos partidos políticos com os quais lideranças femi- tema da “violência de gênero” como violação dos
nistas estavam vinculadas, desde a redemocratiza- direitos humanos converteu-se no denominador
ção.10 O Judiciário constituiu-se na nova arena po- comum das diversas identidades e experiências fe-
lítica com a qual as ativistas passaram a contar para mininas,15 assim como permitiu ampliar as alianças
reclamar, proteger e promover direitos. No plano com os homens em torno da Campanha para a mu-
internacional, as Conferências Mundiais da ONU dança legal.16
propiciaram coalizões de organizações feministas e O novo cenário provocou, ainda, uma inflexão
dos direitos humanos para influenciar a produção na maneira de dramatizar publicamente a questão
de normas e jurisprudência internacionais. (Keck e da violência contra a mulher.17 O ativismo feminis-
Sikking, 1998).11 A temática da violência contra a ta das décadas anteriores havia se concentrado na
mulher foi legitimada em documentos, convenções denúncia de crimes passionais e da impunidade dos
e cortes internacionais e regionais no campo dos di- agressores (Maciel e Prata, 2011). A Campanha da
reitos das mulheres.12 Lei Maria da Penha empunhou bandeira animada
Esse conjunto de mudanças no ambiente so- por novo slogan – “Direito das Mulheres a uma Vida
ciopolítico impulsionou transformações nos pa- Sem Violência” – substituindo a figura da mulher
drões de ativismo. passiva e vitimizada pela figura da mulher encarna-
Do ponto de vista das carreiras políticas, as or- da pelo exemplo de Maria da Penha: sobrevivente
ganizações civis que lideraram a Campanha, criadas de agressões e rotineiras e vitoriosa ao fazer valer di-
entre 1987 e 2001, compõem a nova safra de associa- reitos violados, exigindo do Estado a reparação dos
tivismo profissionalizado e globalizado surgida desde danos sofridos pelas práticas violentas às quais foi
a conclusão da redemocratização do país.13 Acumula- submetida. Por meio dessa reconstrução simbólica,
ram, ao longo dos anos de 1990, importantes recur- o problema da violência contra a mulher extravasou
sos de mobilização: a expertise jurídica no duplo enga- definitivamente a esfera privada para se transformar
jamento nas áreas dos direitos da mulher e humanos em problema público a ser socialmente sinalizado
e o acesso às arenas formais globais e nacionais. Cla- pela mudança do aparato legal e institucional.
dem/Ipê-Brasil, Themis e Advocaci, formadas por Do ponto de vista das estratégias de mobiliza-
advogadas, privilegiaram a mobilização nas arenas ju- ção, a inserção do movimento brasileiro nas redes
diciais nacionais e internacionais. CFEMEA, Cepia e transnacionais disseminou formas de ação política
Agende, formadas predominantemente por cientistas típicas do movimento de direitos humanos: a apre-
sociais, dedicaram-se à consultoria técnica em proje- sentação de casos de abusos e violações por meio
tos e ações específicas, ao lobby no Legislativo e no da elaboração e da difusão de relatórios nas arenas
Executivo nacionais, à propositura de projetos de lei e públicas globais e nacionais.. A utilização política
de políticas públicas de igualdade de gênero, à capaci- dos instrumentos legais de proteção dos direitos
tação legal de agentes estatais das redes de serviço de humanos passou a ser utilizada tanto para legiti-
atendimento às mulheres vítimas de violência sexual mar juridicamente demandas e casos específicos nas
(segurança pública e saúde). cortes internacionais como para pressionar as elites
Da perspectiva do significado da questão femi- políticas nacionais. Mais do que remediar abusos
nina, o quadro interpretativo da violência contra a individuais, a apresentação de denúncias, represen-
mulher tornou-se dominante nas redes internacio- tações e/ou o litígio foram destinados a politizar ou
nais desde meados da década passada, substituindo legalizar a política de direitos humanos por meio de
os temas clássicos da descriminação e da igualda- casos exemplares, criando precedentes e jurispru-
de de oportunidades (Keck e Sikkink, 1998).14 No dência com algum impacto político, legal e simbó-
caso brasileiro, o tema da igualdade entre mulheres lico (Santos, 2007, p. 28).
Além do uso dos tribunais, outras estratégias da Lei Maria da Penha desenvolveu-se em dois ci-
de mobilização tornaram-se disponíveis para o ati- clos de mobilização.
vismo: lobby nos poderes Executivo, Legislativo e O primeiro ciclo de mobilização, entre 2003 e
Judiciário mediante a formação de redes de advo- 2006, teve como alvo a formulação da lei. O Exe-
cay; parcerias com as agências estatais, promoção cutivo nacional, sob o governo Lula, tornou-se a via
de campanhas públicas. Esse repertório de ação foi para o encaminhamento da proposta de lei ao Le-
amplamente utilizado na Campanha da Lei Maria gislativo.19 O anteprojeto, elaborado pelo consórcio
da Penha. A reforma da legislação, as decisões judi- sob a coordenação do CFEMEA, foi entregue, no
ciais e o monitoramento das políticas públicas con- início de 2004, à Secretaria Especial de Políticas para
verteram-se nos principais focos das mobilizações as Mulheres (SPM) que o apresentou como projeto
feministas, sinalizando a substituição do protesto de lei ao Legislativo.sem contemplar, contudo, dois
público, adotado pelo ativismo nas décadas ante- itens cruciais para o movimento: o afastamento da
riores, por ações de caráter propositivo dirigidas competência dos Juizados Especiais Criminais e a
para temáticas específicas. criação de novo Juízo para a apreciação dos casos
de violência doméstica e familiar contra a mulher.20
O processo político da mobilização coletiva Uma onda de manifestações públicas, entre
2003 e 2006, visou incrementar as pressões sobre
As primeiras mobilizações feministas para a o processo decisório. Vigílias nacionais pelo fim da
formulação de lei específica tiveram início na se- violência contra as mulheres foram organizadas pela
gunda metade dos anos de 1990, momento em que rede nacional do movimento – Articulação de Mu-
Juizados Especiais Criminais (Jecrims), criados em lheres Brasileiras –, disseminando mobilizações cole-
1995, se tornaram rapidamente o escoadouro de tivas nas doze audiências públicas realizadas em di-
denúncias de agressões contra a mulher nos âmbi- versos estados. Em 2004, a Campanha “Por uma Lei
tos doméstico e familiar. A legislação existente, ao Integral de Enfrentamento à Violência Doméstica e
processar os conflitos como “ameaça” e lesão corpo- Familiar Contra as Mulheres”, promovida pela CFE-
ral leve”, foi interpretada pelas ativistas como obs- MEA, instigava mulheres e organizações feministas
táculo à incorporação da violência contra a mulher ao apoio público ao Projeto de Lei n.4559/2004 em
como crime de violação de direitos humanos, seja tramitação no Legislativo e, em particular, estimula-
em virtude da pouca gravidade simbólica, moral va o protesto contra a permanência da competência
e jurídica dada às práticas violentas, representada dos Juizados Especiais no tratamento dos casos de
pelo tipo penal (“crimes de menor potencial ofen- violência doméstica contra a mulher.
sivo”), seja em virtude da ausência de mecanismos O calendário das eleições presidenciais e le-
específicos de proteção à vítima e de reparação dos gislativas foi decisivo para ampliar a capacidade de
danos (Piovesan e Pimentel, 2002, p. 65) pressão política: o movimento conseguiu a aprova-
As resistências à mudança por parte de seg- ção, nas duas casas legislativas, do substituto, o Pro-
mentos dos Jecrims, e o fracasso dos lobbies legisla- jeto de Lei n. 37/2006, que afastava formalmente
tivos, impulsionaram a mobilização nas instâncias a competência dos Juizados para o tratamento dos
do CIDH/OEA com a apresentação de petições, processos oriundos de violência doméstica.21
pelo Cladem e Cejil, denunciando a omissão do O segundo ciclo de mobilização, entre 2007
Estado brasileiro.18 O ativismo jurídico transnacio- e 2008, correspondeu ao engajamento das ativis-
nal, no período entre 1999 e 2002, foi combina- tas na implementação do novo aparato legal.22 O
do com a mobilização sistemática nas instituições sucesso político do movimento na conquista da
políticas nacionais e na sociedade (Maciel e Prata, Lei Maria da Penha não foi acompanhado pela sua
2011). Contudo, a formação do consórcio de orga- aceitação consensual. Pelo contrário, a nova legisla-
nizações para a elaboração de um anteprojeto de lei ção tornou-se objeto tanto de controvérsias jurídi-
só ocorreu em 2002 com a promulgação da decisão cas em torno da sua constitucionalidade como de
favorável da CIDH no ano anterior. A Campanha críticas de profissionais e pesquisadores na área dos
direitos da mulher, devido ao seu caráter punitivo Tribunal Federal (STF) em 2007, focalizando os
ou à sua eficácia prática na resolução dos conflitos dispositivos da Lei que causaram controvérsias no
violentos (Maciel e Prata, 2011). Judiciário.28 Para reforçar a tese da constitucionali-
A mudança legal funcionou, contudo, como dade da Lei, apresentada pelo Executivo, as ativistas
alavanca para o acesso às políticas públicas e ao Ju- ingressaram com o amicus curiae no STF.29
diciário. O engajamento nas instâncias da Secretaria Outra frente de mobilização foi o lobby para
Especial de Políticas para Mulheres intensificou-se a aplicação da Lei em casos de violência domésti-
com a instalação de variados instrumentos para ga- ca levado a tribunais regionais (Superior Tribunal
rantir a efetividade legal. O Observatório Nacional de Justiça/STJ).30 Liderando as pressões do movi-
de Implementação e Aplicação da Lei Maria da Pe- mento sobre as decisões judiciais, o Observatório
nha foi criado em 2007 para produzir, analisar e promoveu moções para que o Tribunal, primeiro,
divulgar informações sobre a aplicação da Lei pelas refutasse a tese da necessidade de representação da
delegacias, Ministério Público, Defensoria Pública, vítima para o ajuizamento de ação penal nos casos
poderes Judiciário e Executivo e redes de atendi- de situação de violência doméstica e, segundo, con-
mento à mulher.23 Financiado pela SPM e por re- siderasse a relação de namoro como relação de afeto
cursos internacionais,24 as atividades desenvolvidas íntima sob a perspectiva da Lei Maria da Penha.
pelo Observatório foram lideradas por organiza- Ambas as manifestações obtiveram êxito.31
ções de mulheres e núcleos de universidades com No âmbito da sociedade, reedições da Campa-
representação nas cinco regiões do país. Os Planos nha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência
Nacionais de Políticas Públicas para as Mulheres contra as Mulheres” visaram atrair atenção e legi-
passaram a ser formulados desde 2004, incremen- timidade social aos novos mecanismos legais.32 A
tando a pressão política das organizações civis para Campanha de 2008, em particular, amplificou de
a participação nas decisões orçamentárias e o mo- maneira inédita a difusão pública da temática da
nitoramento da aplicação dos recursos.25 A criação violência contra a mulher com a realização de 487
dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar foi eventos públicos por todo o país.33 Com o mote,
incluída nas metas do Programa Nacional de Segu- “Há momentos em que sua atitude faz a diferença.
rança Pública com Cidadania (Pronasci), lançado Lei Maria da Penha. Comprometa-se!”, a mobiliza-
pelo governo Lula em agosto de 2007, estimulando ção contou com o apoio de 32 redes de organização
a mobilização, em aliança com o Ministério da Jus- de mulheres e direitos humanos e ganhou ares ofi-
tiça, nas instituições e operadores do direito; com ciais. Promovida, pela primeira vez, em conjunto
os Tribunais dos Estados, que detêm a competência com a Secretaria Especial de Políticas para as Mu-
para a instalação dos novos Juizados; e com a De- lheres e lançada no Congresso Nacional, a Cam-
fensoria Pública e o Ministério Público, para a ins- panha atraiu a adesão do Legislativo, de empresas
talação de departamentos especializados no atendi- públicas, estatais e privadas, do Judiciário, do Mi-
mento de casos de violência doméstica e familiar.26 nistério Público e de agências das Nações Unidas
Por fim, a mudança legal rendeu ao ativismo, ainda, (Freire e Libardoni, 2008).
a condução de programa de capacitação de agentes A Campanha da Lei Maria da Penha teve des-
públicos sobre a questão da violência de gênero e dobramentos tanto para o movimento feminista
os novos mecanismos legais (médicos legistas, po- como para a institucionalização da agenda da vio-
liciais e delegadas, servidores do Judiciário e juízes) lência contra a mulher no Brasil dos anos de 1990.
promovidos em parceria com secretarias de estado.27 Do ponto de vista do movimento, o ciclo de
A aliança com o Executivo na formulação das mobilização nos dois anos subsequentes à promul-
políticas públicas expandiu-se para a pressão polí- gação da Lei Maria da Penha evidencia o impacto
tica sobre o Judiciário. Para obter a declaração de da mudança legal na abertura de novos canais insti-
constitucionalidade da Lei Maria da Penha, a Advo- tucionais para as ativistas. Enquanto a mobilização
cacia Geral da União ajuizou Ação Direta de Cons- para a formulação da Lei havia tido como principal
titucionalidade (ADC) nas instâncias do Supremo alvo o Legislativo, a edição da Lei foi crucial para
sedimentar parcerias com as agências estatais e, ao tiva: a estrutura de oportunidades políticas, as car-
mesmo tempo, inaugurar o debate sistemático no reiras de ativismo, os quadros interpretativos e as
interior dos tribunais. estratégias adotados no curso das mobilizações para
Do ponto de vista da institucionalização do a mudança legal.
problema da violência contra a mulher, a Lei não A estrutura de oportunidades políticas tem
apenas promoveu o reconhecimento formal da oferecido, desde os anos de 1990, incentivos e re-
vulnerabilidade da mulher nas relações domésti- cursos para a mobilização política do direito e dos
cas, familiares e afetivas, como também instituiu a tribunais. No caso do movimento feminista, a glo-
força simbólica da pena na redefinição jurídica da balização do ativismo incrementou as alianças do
violência como ato lesivo a valores e sentimentos movimento brasileiro com redes e organizações
coletivos, deslocando definitivamente o problema transnacionais em torno da efetivação dos novos
da esfera da vida privada para a esfera pública. Em instrumentos internacionais de proteção aos direi-
contrapartida, categorias construídas no processo de tos humanos. No âmbito doméstico, o processo de
mobilização política, como a “violência de gênero”, redemocratização brasileiro legou condições nor-
migraram para o mundo do direito e dos tribunais mativas e político-institucionais favoráveis ao uso
ampliando o significado jurídico de “família” e de da linguagem dos direitos e dos tribunais nos con-
“mundo doméstico”: não obstante a evidente tônica flitos social e político. Novos institutos processu-
punitiva, a Lei Maria da Penha constitui a primeira ais abriram o Judiciário para a proposição de ações
legislação brasileira que legitima a existência jurídica judiciais ou a manifestação nos processos nas ins-
de relações homoafetivas no âmbito civil.34 O novo tâncias do Supremo Tribunal Federal. No âmbito
aparato legal embutiu potencialmente na decisão do Executivo, além dos assentos nos Conselhos de
judicial avaliações de natureza extrajurídica – o con- Mulheres, nos níveis nacional, estadual e munici-
junto de relações de poder e de hierarquias sociais pal, as ativistas passaram a contar com o apoio de
envolvendo mulheres –, abrindo espaço normativo uma burocracia nacional, a Secretaria Especial de
e institucional para novas ondas de mobilização so- Políticas para as mulheres, especializada na promo-
cial e política em torno da interpretação da Lei. ção de campanhas e de políticas públicas.
A especialização e a globalização das carreiras de
ativismo franquearam o acesso das ativistas às arenas
Conclusão formais nacionais e transnacionais. O engajamen-
to de advogadas e juristas nas redes do movimen-
A ascensão de demandas aos tribunais para o to, desde a última década, contribuiu para conferir
reconhecimento de identidades coletivas e de igual- dimensão legal ao problema da violência contra a
dade de oportunidades (mulheres, negros, popula- mulher, inaugurando o uso da expertise jurídica na
ções indígenas, homossexuais, deficientes físicos) mobilização feminista em torno da temática.
tem ganhado destaque no debate público brasileiro O quadro interprerativo da violência de gêne-
em função dos efeitos político e ético-moral poten- ro como violação dos direitos humanos foi decisi-
ciais das decisões judiciais. Contudo, os processos vo para transformar o direito em recurso político e
político-institucionais, organizacionais e culturais simbólico. A tônica sexista da bandeira feminista
que ancoram a mobilização coletiva ainda têm sido das décadas anteriores foi substituída pela noção de
muito pouco investigados. direitos humanos, convertendo conflitos privados
Esta análise da Campanha da Lei Maria da em problema público a ser solucionado pela inter-
Penha procurou demonstrar os desdobramentos venção do aparato estatal-legal. A mudança nos sig-
teóricos e conceituais da perspectiva do processo nificados da violência contra a mulher permitiu às
político para o estudo da dinâmica da política dos ativistas tanto legitimar publicamente as reivindi-
direitos no Brasil depois da Constituição de 1988. cações para a mudança legal, como angariar novos
A reconstrução empírica do episódio de mobiliza- aliados dentre diferentes identidades femininas e o
ção contemplou múltiplas dimensões da ação cole- público masculino.
8 A teoria do processo político vem incorporando a di- 14 O quadro interprerativo da violência contra a mulher
mensão cultural na análise das mobilizações coletivas fez convergir searas de ativismo separadas nas décadas
em resposta às restrições feitas à tônica estratégica e de 1970 e 1980: os movimentos dos países desenvol-
racionalista da abordagem. Para a utilização do mo- vidos (centrados no quadro interpretativo da discrimi-
delo teórico do processo político na reconstrução da nação) e dos países em desenvolvimento (focados no
trajetória do movimento ambientalista brasileiro, cf. quadro interpretativo da justiça social), assim como o
Alonso, Costa e Maciel (2007). movimento de mulheres e o movimento de direitos
9 A pesquisa consistiu na coleta de informações na se- humanos. A redefinição da violência contra a mulher
guintes fontes: nos sites das seis organizações civis que como violação dos direitos humanos consagrou-se na
lideraram a campanha da Lei Maria da Penha (Advo- formação da campanha global “16 Dias de Ativismo
caci, Agende, Cepia, CFEMEA, Cladem e Themis); pelo Fim da Violência de Gênero”, em 1991.
em sites governamentais; em notícias da imprensa di- 15 “[...] queremos dar voz [...] às especificidades dos di-
ária no período da Campanha; em depoimentos de versos segmentos de mulheres [negra, meninas, ado-
ativistas: quatro deles coletados em publicações e dois lescentes, idosas, portadoras de deficiência, prostitu-
coletados em entrevistas diretivas realizadas com lide- tas, mulheres indígenas, donas de casa, trabalhadoras,
ranças da Agende e do Cladem/Brasil. Para uma ver- mulheres presas] e mostrar a cara das mulheres de cada
são ampliada da reconstrução empírica da Campanha, um destes segmentos [...] muitas vezes invisibilizadas
cf. Maciel e Prata (2011). e esquecidas, para que relatem o que as diferencia e o
10 O governo Fernando Henrique Cardoso (1995-1998; que as iguala quando o assunto é violência [...] somos
1999-2002) ratificou a Convenção Interamericana para diversas, mas também somos únicas e assim precisa-
Prevenção, Punição e Erradicação da Violência contra mos ser compreendidas para a garantia da plena frui-
a Mulher e a jurisdição da Corte Interamericana de Di- ção de nosso direito fundamental a uma vida livre de
reitos Humanos foi aceita, respectivamente em 1995 e violência” (Massula e Liberdoni, 2006, p. 8).
1998. Em 1996, FHC lançou o Programa Nacional de 16 “[...] nem todo homem é, em princípio, agressivo. E
Direitos Humanos, que reconheceu formalmente os di- muitos são aqueles que rejeitam, condenam e querem
reitos humanos de mulheres e, em 1998, criou a Secre- o fim da violência contra as mulheres. É preciso rom-
taria Nacional de Direitos Humanos para implementá- per o silêncio e unir esforços. A violência de gênero é
-lo. No primeiro mandato do governo Luís Inácio Lula uma violação dos direitos humanos e, portanto, um
da Silva do PT (2003-2006), a Secretaria Nacional de crime contra a humanidade” (Medrado e Pedrosa,
Direitos Humanos ganhou status ministerial (Secretaria 2006, p. 13).
Especial de Direitos Humanos) e foi criada a Secretaria 17 “[...] no começo a gente trabalhava muito com aquela
Especial de Políticas para as Mulheres (SPM). lógica da mulher com olho roxo [...] como na Campa-
11 Conferência de Direitos Humanos de Viena (1992), nha “Quem Ama, Não Mata” [...]. Hoje na campanha
Conferência do Cairo (1994) e Conferência Mundial dos 16 dias, você vai ver as mulheres sempre sorrindo,
de Beijing (1995). elas estão empoderadas [...] porque a gente quer dizer
12 No campo dos direitos das mulheres: Convenção para as outras mulheres: ‘olha, tem jeito, dá para dar a
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discrimi- volta por cima, e dá para ser feliz de novo’” (Entrevista
nação contra a Mulher (Cedaw) e Convenção Intera- com ativista da Agende em 30 de outubro de 2007).
mericana para Prevenir, Sancionar e Erradicar a Vio- 18 O objetivo era construir jurisprudência no Sistema
lência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará, Interamericano com base nos princípios da Conven-
1995). No campo dos direitos humanos: Comissão ção do Pará, em vigor desde 1995, a partir do litígio
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). de casos individuais, como os de Delvita Silva Prates,
13 Cladem/Ipê-Brasil (Comitê Latino-americano de Defe- cujo companheiro após assassiná-la, grávida de quatro
sa dos Direitos da Mulher/Instituto para Promoção da meses, não havia sido submetido ao Tribunal do Júri
Equidade), 1987; CFEMEA (Centro de Feminista de por falta de provas; o caso Márcia Cristina Leopoldi,
Estudos e Assessoria), 1989; Cepia (Cidadania, Estudo, cujo namorado se encontrava foragido após a conces-
Pesquisa, Informação e Ação), 1991; Themis (Assessoria são de habeas corpus, apesar de condenado pelo Tri-
Jurídica e Estudos de Gênero), 1993; Agende (Ações em bunal do Júri; e o caso Maria da Penha (Tojo, 2002).
Gênero, Cidadania e Desenvolvimento), 1998; Advoca- 19 As feministas contavam com autoridades aliadas oriun-
ci (Advocacia Cidadã pelos Direitos Humanos), 2001. das dos movimentos políticos e de mulheres durante o
período de redemocratização, como: a chefe da SPM, 29 A iniciativa foi promovida pelas organizações Antígo-
Nilcéia Freire, e a relatora do projeto de lei, Jandira Fe- na, Themis, Ipê e Cladem/Brasil e ocorreu em 25 de
ghali, deputada federal do PC do B do Rio de Janeiro. novembro de 2008, data do “Dia Internacional da
20 CFEMEA, “Mobilização por uma Lei Integral de En- Não Violência contra a Mulher. Ver “Cladem defende
frentamento da Violência Doméstica contra as Mu- constitucionalidade da Lei Maria da Penha”. Disponí-
lheres”, disponível em <http://www.cfemea.org.br/ vel em <http://www.mulheresdeolho.org.br/?p=547>.
violencia/noticias/detalhes.asp?IDNoticia=22>. 30 “[...] As companheiras do movimento de mulheres
21 “[...] a gente sabia que [...] se não aprovasse no ano enviem Notas/Mensagens ao STJ manifestando repú-
2006, não aprovava mais [...] [pois era] ano eleitoral dio [...] a abrir precedente para deferimento de habeas
e a gente tinha que aproveitar [...] mas isso não tira a corpus para os casos de lesão corporal leve ou dolosa
legitimidade, enfim de toda a consulta que foi feita praticada contra as mulheres no âmbito da família
[junto à sociedade civil]” (Entrevista com a assessora e esfera doméstica. [...] Outra sugestão é o envio de
técnica da Agende em 30 de outubro de 2007). Mensagem de incentivo/ agradecimento pela posição
da Relatora [...] que defendeu o cumprimento da Lei
22 A pesquisa acompanhou o engajamento das organiza-
Maria da Penha. Ver Observe, “Pelo cumprimento
ções civis principalmente nas arenas do Executivo e do
da Lei Maria da Penha”, 5 set. 2008, disponível em
Judiciário (STF) até 2008.
<http://www.observe.ufba.br/noticias/exibir/4>.
23 Observe, “Quem somos”, disponível em <http://
31 Observe, “STJ decide mais uma vez pela aplicação
www.observe.ufba.br/quem_somos>.
da Lei Maria da Penha”, 3 out. 2008, disponível em
24 Recursos da Organização das Nações Unidas, De- <http://www.observe.ufba.br/noticias/exibir/19>.
partment for International Development, do Reino
32 “[...] entre 2003 e 2005, a iniciativa teve como ob-
Unido – DFID, e da organização não governamental
jetivo a aprovação de uma lei específica sobre violên-
holandesa Oxfam/Novib. Secretaria Especial de Polí-
cia doméstica. Desde 2006, a Campanha tem como
ticas para Mulheres, “Lei Maria da Penha completa
centro a divulgação e a efetiva implementação da Lei
um ano de vigência”, disponível em <http://www.pre-
Maria da Penha, para que as mulheres busquem seus
sidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sepm/noticias/
direitos e tenham uma vida sem violência” (Freire e
ultimas_noticias/not_um_ano_vigencia_lei/>, aces-
Libardoni, 2008).
sado em 21 set. 2007.
33 Somente no mês de novembro – lançamento da
25 O CFEMEA, em 2008, encaminhou à subprocurado-
Campanha – e na primeira semana de dezembro
ra da República um ofício requerendo que se tomasse
82.101.067 pessoas tomaram conhecimento de ma-
providências para a inclusão no Plano Orçamentário
térias sobre a Campanha no rádio, em mais de 337
de recursos destinados à implementação dos mecanis-
municípios, em 25 estados brasileiros (Freire e Libar-
mos da Lei Maria da Penha. Ver Craide (2008).
doni, 2008).
26 Ministério da Justiça/Agência de Notícias, “Levanta-
34 “[...] Como a proteção é assegurada a fatos que ocor-
mento de notícias do período de agosto de 2006 a
rem no ambiente doméstico, isso quer dizer que as
janeiro de 2009”, disponível em <http://www.mj.gov.
uniões de pessoas do mesmo sexo são entidade fami-
br/main.asp?Team={D561D16C-0D52-4DDA-
liar [...] alcançam-se tanto lésbicas como travestis,
BEF1-1FCD4B6B1388}>.
transexuais e transgêneros [...] (Dias, 2006).
27 Agende, “Campanha 16 Dias de Ativismo”, disponí-
vel em <http://www.campanha16dias.org.br>. Cepia,
“Curso de Formação de Multiplicadores sobre Vio-
lência Doméstica e a Lei Maria da Penha”, disponível BIBLIOGRAFIA
em <http://www.cepia.org.br/multiplicadores.htm>.
28 1) do artigo 1º da Lei, que disciplina sua aplicação para Alonso, Ângela; Costa, Valeriano & Maciel,
os casos de violência doméstica contra a mulher; 2) do Débora A. (2007), “Identidade e estratégia na
artigo 33, que estabelece a criação de Juizados Especiais formação do movimento ambientalista brasi-
de Violência Doméstica e Familiar, e assenta ordem de leiro”. Novos Estudos Cebrap, (79): 151-167.
preferência de processos desta espécie sobre outros pro- Amorim, Maria Stella. (2003), “Cidadania e
cessos criminais; 3) do artigo 41, que afasta a aplicação jurisdição de direitos nos juizados especiais
da Lei n.9099/1995 nos casos de violência doméstica. criminais”, in M. S. Amorim et al. (orgs.),
Juizados especiais Criminais, sistema judicial Epp, Charles R. (1998), The rights revolution: la-
e sociedade no Brasil: ensaios interdisciplinares, wyers, activists and Supreme Courts in compara-
Niterói, Intertexto, pp. 205-229. tive perspective. Chicago/Londres, The Univer-
Azevedo, Rodrigo Ghiringhelli. (2001), “Juiza- sity of Chicago Press.
dos especiais criminais: uma abordagem socio- Izumino, Wânia Pasinato. (2003), Justiça para
lógica sobre a informalização da justiça penal todos: juizados especiais criminais e a violência de
no Brasil”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, gênero. São Paulo, tese de doutorado.
16 (47): 97-110. . (2007), “Contribuições para o debate
Azevedo, Rodrigo Ghiringhelli & Celmer, Eli- sobre violência, gênero e impunidade no Bra-
sa G. (2007),“Violência de gênero, produção sil”. São Paulo em Perspectiva, 21 (2): 5-14.
legislativa e discurso punitivo: uma análise Keck, Margaret E. & Sikking, Kathryn.
da lei 11.340/2006”. Boletim IBCCRIM, 14 (1998), Activist beyond borders: advocacy ne-
(170): 15-17. tworks in international politics. Ithaca, NY,
Benford, Robert & Snow, David. (2000), “Fra- Cornell University Press.
ming process and social movements: an over- Kriesi, Hanspeter. (1995), New social movements
view and assessment”. Annual Review Sociologi- in Western Europe: comparative analysis. Minne-
cal, 26 (6): 11-39. apolis: The University of Minnesota Press.
Botallo, Eduardo Domingos. (2005), Lições de . (1996), “The organizational struc-
direito público. 2 ed. São Paulo, Dialética. ture of new social movements in a political
Burstein, Paul. (1991), “Legal mobilization as context”, in Douglas McAdam, John D. Mc-
a social movement tatic: the struggle for equal Carthy e Zald Mayer (eds.), Comparative pers-
employment opportunity”. The American Jour- pectives on social movements political opportuni-
nal of Sociology, 96 (5): 1201-1225. ty, mobilizing structures and cultural framings.
Campos, Carmen Hein de Campos. (2003), “Jui- Cambridge, Cambridge University Press.
zados especiais criminais e seu déficit teórico”. Koerner, Andrei. (2004), “Direito e regulação:
Revista Estudos Feministas, 11 (1): 155-170. uma apresentação do debate teórico no Réseau
. (2008), “Lei Maria da Penha: mínima Européen Droit et Société”. BIB – Revista Bra-
intervenção punitiva, máxima intervenção so- sileira de Informação Bibliográfica em Ciências
cial”. Revista Brasileira de Ciências Criminais, Sociais, 58: 79-130.
(73): 244-267. . (2007), “Instituições, decisão judicial e
Debert, Guita G. (2006), “Conflitos éticos nas análise do pensamento jurídico: o debate norte-
delegacias de defesa da mulher”, in G. Debert -americano”. BIB – Revista Brasileira de Informa-
et al. (orgs.), Gênero e distribuição da justiça: ção Bibliográfica em Ciências Sociais, 63: 63-86.
as delegacias de defesa da mulher na constru- Koerner, Andrei et al. (2011), “Sobre o Judiciá-
ção das diferenças. Campinas, Pagu/Unicamp rio e a judicialização”, in Mauricio Mota e Luiz
(col. Encontros). Eduardo Motta (orgs.), O Estado Democrático
Debert, Guita G. & Gregori, Maria Filome- de Direito em questão: teorias críticas da judi-
na. (2008), “Violência e gênero: novas propos- cialização da política, Rio de Janeiro, Elsevier.
tas, velhos dilemas”. Revista Brasileira de Ciên- Maciel, Débora A. & Koerner, Andrei.
cias Sociais, 66: 166-185. (2002), “Sentidos da judicialização da política:
Engelmann, Fabiano. (2006), Sociologia do duas análises”. Lua Nova, 57: 113-134.
campo jurídico: juristas e usos do direito. Porto Maciel, Débora A. & Prata, Ana Paula da Sil-
Alegre, Sergio Antonio Fabris Editor. va Brito. (2011), “Movilización por derechos
. (2007), “Internacionalização e ativis- y cambio legal: la Campaña de la Ley María
mo judicial: causas políticas e causas jurídicas da Penha”. Revista Politica, 49 (1). Dossiê “De-
nas décadas de 1990 e 2000”. Revista Contexto recho, Justicia y Política”, coord. de Virginia
Internacional, 29 (1): 39-62. Vecchioli, Universidad de Chile.
McCann, Michael. (1994), Rights at work: pay aning through action”, in A. D. Morris e C.
equity reform and the politics of legal mobili- M. Mueller (eds.), Frontiers in social movements
zation. Chicago, The University of Chicago theory, New Haven, Yale University Press.
Press. TATE, C. Neal & VALLINDER, Torbjorn. (1995),
. (1998), “How does Law Matter for The global expansion of judicial power. Nova
social movements?”, in Bryant Garth e Austin York, New York University Press.
Sarat (eds.), How does Law Matter?. Illinois, Tilly, Charles. (1978), From mobilization to re-
Northwestern University Press. volution. Chicago, McGraw-Hill Humanities.
. (1999), “How the Supreme Court Zemans, Francês Kahn. (1983), “Legal mobili-
Matters in American Politics: new institutio- zation: the neglected role of the law in the po-
nalist perspectives”, in Howard Gillman e Cor- litical system”. The American Political Science
nell Clayton, The Supreme Court in American Review, 77 (3): 690-703.
Politics: new institutionalist interpretations, La-
wrence, University Press of Kansas, pp. 63-97. Documentos
. (2006a), “Law and social movements:
contemporary perspectives”. Annual Review of ADVOCACI; AGENDE; IPÊ/CLADEM/Brasil;
Law and Social Science, 2. CEPIA; CFEMEA; THEMIS et al. (2004),
(ed.). (2006b), Law and social mo- “Anteprojeto de Lei: cria mecanismos para coi-
vements. Londres/Burlington, Ashgate Pu- bir a violência contra a mulher no âmbito das
blishing. relações domésticas e familiares, implementan-
. (2010), “Poder Judiciário e mobiliza- do a Convenção Interamericana para prevenir,
ção do direito: uma perspectiva dos “usuários”. punir e erradicar a violência contra a mulher
Anais do Seminário Nacional sobre Justiça Cons- e regulamenta parcialmente o § 8º do artigo
titucional. Seção Especial da Revista Escola da 226 da Constituição Federal”. Brasília, 4 mar.,
Magistratura Regional Federal da 2ª. Região/ disponível em <http://www.cfemea.org.br/vio-
Emarf, pp. 175-196. lencia/noticias/detalhes.asp?IDNoticia=2>.
Mirabete, Júlio Fabbrini. (2008), Processo penal. ADVOCACI & IPAS. (s.d.), “Violência sexual e
18 ed. São Paulo, Atlas. direitos humanos: fortalecendo a rede e pro-
Rosenberg, Gerald. (1991), The hollow hope: movendo os direitos sexuais e reprodutivos de
can courts bring about social change. Chicago: adolescentes”. Disponível em <http://www.
University of Chicago Press. scribd.com/doc/6879953/Violencia-Sexual-e-
Santos, Cecília Mac Dowell. (2007), “Ativismo -Direitos-Humanos-Advocaci>.
jurídico transnacional e o Estado: reflexões so- AGENDE. (s.d.), “Campanha 16 dias de Ativis-
bre casos apresentados contra o Brasil na Co- mo”. Disponível em <http://www.campanha-
missão Interamericana de Direitos Humanos”. 16dias.org.br/Ed2008/index.php>.
SUR – Revista Internacional de Direitos Huma- BRASIL. (1995), “Lei n.9.099, de 26 de setembro de
nos, (7): 27-57. 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Sarat, Austin & Scheingold, Stuart. Criminais e dá outras providências”. Brasília, DF.
(2001), Cause lawyering and the state in the glo- . (2006), “Lei n.11.340, de 07 de agosto
bal era. Oxford, Oxford University Press. de 2006. Cria mecanismos para coibir a violên-
. (2006), Cause lawyers and social move- cia doméstica e familiar contra a mulher, nos
ments. Stanford, Stanford University Press. termos do art.226 da Constituição Federal,
Tarrow, Sidney. (1988), Power in movement: da Convenção sobre a Eliminação de Todas as
social movements, collective action and politics. Formas de Discriminação contra as Mulheres
Nova York, Cambridge University Press. e da Convenção Interamericana para Prevenir,
. (1992), “Mentalities, political cultures Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
and collective action frames: constructing me- dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Maria da Penha”. 5 set. Disponível em <http://
Código de Processo Penal e a Lei de Execução www.observe.ufba.br/noticias/exibir/4>.
Penal; e dá outras providências”. Brasília, DF. Piovesan, Flávia & Pimentel, Silvia (coor-
CEPIA. (s.d.), “Curso de formação de multiplica- ds.). (2002), “Relatório Nacional Brasileiro:
dores sobre violência doméstica e a Lei Maria Relativo aos anos de 1985, 1989, 1993, 1997
da Penha”. Disponível em <http://www.cepia. e 2001, nos termos do artigo 18 da Convenção
org.br/multiplicadores.htm>. sobre a Eliminação de todas as formas de Dis-
. (s.d.), “Saúde e direitos sexuais repro- criminação contra a Mulher”. Brasília, MRE/
dutivos”. Disponível em <http://www.cepia. MJ/SEDIM.
org.br/programas.asp>. Secretaria Especial de Políticas
CFEMEA. (s.d.), “Mobilização por uma lei inte- Para Mulheres. (2007), “Lei Maria da
gral de enfrentamento da violência doméstica Penha completa um ano de vigência”. 21 set.
contra as mulheres”. Disponível em <http:// Disponível em <http://www.presidencia.gov.
www.cfemea.org.br/violencia/noticias/deta- br/estrutura_presidencia/sepm/noticias/ulti-
lhes.asp?IDNoticia=22>. mas_noticias/not_um_ano_vigencia_lei/>.
Mulheres de olho. (s.d.), “Cladem defen- Tojo, Liliana. (2002), “O caso Maria da Penha:
de constitucionalidade da Lei Maria da Penha”. um marco na luta contra a violência de gênero
Disponível em <http://www.mulheresdeolho. nas Américas”, in D. D. Dora (ed.), Direito e
org.br/?p=547>. mudança social. Rio de Janeiro, Renovar/Fun-
Craide, Sabrina. (2008), “Entidades esperam dação Ford, pp. 201-239.
que novo plano para mulheres amplie parti-
cipação política”. Agência Nacional, 5 mar. Entrevistas
Disponível em <http://www.agenciabrasil.
gov.br/noticias/2008/03/04/materia.2008-03 Letícia Massula. (2007), Entrevista realizada em
04.2659311431/view>. outubro de 2007.
Dias, Maria Berenice. (2006), “Violência domés- Valéria Pardiadjian. (2007), Entrevista realizada em
tica e as uniões homoafetivas”. 29 set. Disponí- dezembro de 2007
vel em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto. Heleieth Iara Bongiovani Saffioti. (2007), Entre-
asp?id=8985>. vista publicada em A Gazeta de Cuiabá, 28
Freire, Nilcéia & Libardoni, Marlene. (2008), nov. Disponível em <http://copodeleite.rits.
“A Campanha 16 Dias de Ativismo pede uma org.br/apc-aa-patriciagalvao/home/noticias.
atitude para salvar a vida de muitas mulheres shtml?x=916>.
brasileiras”. 19 dez. Disponível em <http://www. Leila Linhares Barsted. (2005), Entrevista concedi-
campanha16dias.org.br/Ed2008/index.php>. da à Revista de Saúde Sexual e Reprodutiva, nov.
Massula, Letícia & Liberdoni, Alice (orgs.). Disponível <www.ipas.org.br/revista/nov05.
(2006), Mulheres e violência. Brasília, Agende. html#cinco>.
Medrado, Benedito & Pedrosa, Cláu- Maria Lúcia Karan. (2008), Entrevista concedida
dio. (2006), “Pelo fim da violência contra as ao Conselho Regional de Psicologia do Rio
mulheres, um compromisso também dos ho- de Janeiro em agosto de 2008. Disponível em
mens”. Brasília, Agende/Ministério da Justiça. <http://www.crprj.org.br/noticias/karam.pdf>.
Disponível em <http://www.mj.gov.br/main. Valéria Pardiadjian. (2008), Entrevista concedida
asp?Team={D561D16C-0D52-4DDA-BEF1 ao Mulheres de Olho, em 24 de novembro de
1FCD4B6B1388}>. 2008. Disponível em <http://www.mulheres-
OBSERVE – Observatório Lei Maria da Penha. deolho.org.br/?p=547>.
(s.d.), “Quem somos”. Disponível em <http://
www.observe.ufba.br/quem_somos>.
. (2008), “Pelo cumprimento da Lei
Palavras-chaves: Movimentos sociais; Keywords: Social movements; Legal mo- Mots-clés: Mouvements sociaux; Mobi-
Mobilização de direito; Ativismo de di- bilization; Human rights activism; Gen- lisation du droit; Activisme du droit;
reito; Violência de gênero. der Violence. Violence de genre.
Estudos norte-americanos sobre legal mo- North-American studies on legal mobili- Des études américaines sur la legal mobi-
bilization (mobilização do direito) têm zation have constructed some analytical lization (mobilisation légale) construisent
construído sínteses analíticas entre a so- synthesis between sociology of law and des synthèses analytiques entre la socio-
ciologia do direito e a sociologia da ação sociology of collective action, theory logie du droit et la sociologie de l’action
coletiva, campos de teoria e pesquisa tra- and research areas that are traditionally collective, des domaines de théorie et
dicionalmente apartados. A noção de mo- apart.The notion of legal mobilization of- de recherche traditionnellement sépa-
bilização do direito oferece uma agenda de fers a research agenda still not explored rés. La notion de mobilisation du droit
investigação, ainda inexplorada pelas ciên by Brazilian social sciences on the use of introduit un agenda d’investigation, en-
cias sociais brasileiras, acerca do uso do law and courts as resource and strategy of core peu étudié par les sciences sociales
direito e dos tribunais como recurso e es- political action. The article presents, in brésiliennes, sur l’utilisation du droit
tratégia de ação política. Este artigo apre- general terms, the theoretical premises of et des tribunaux comme ressource et
senta em linhas gerais as premissas teóricas this approach and its conceptual devel- stratégie d’action politique. Cet article
dessa abordagem e seus desdobramentos opments for the empirical reconstruction présente, en lignes générales, les pré-
conceituais para a reconstrução empírica of a mobilization episode in Brazil, the misses théoriques de cette approche et
de um episódio de mobilização no Brasil, Maria da Penha Law Campaign. de ses dédoublements conceptuels par la
a Campanha da Lei Maria da Penha. reconstruction empirique d’un épisode
de mobilisation au Brésil: la Campagne
pour la Loi Maria da Penha.