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BASES PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETO ARQUITETÔNICO

CONTEMPORÂNEO NO CONTEXTO DO PLANEJAMENTO AMBIENTAL

RESUMO
Este artigo objetiva investigar as possibilidades metodológicas do processo de elaboração de projetos
arquitetônicos e urbanísticos focados na garantia de preservação de recursos naturais e de fontes de
energia renováveis. Conceituando os elementos básicos pertinentes ao universo do Desenho Ambiental,
proteção e manutenção dos ecossistemas, a reflexão desse artigo se fundamenta no campo das ações do
Planejamento Ambiental. Desse modo destaca-se a legislação vigente, particularmente ligada às questões
aqui abordadas e os possíveis caminhos apontados por filósofos, pensadores da arquitetura e urbanismo
atuantes nesse seguimento e comprometidos com as questões da natureza, na contemporaneidade.
Palavras-chave: Desenho ambiental, processo de projeto, recursos naturais, preservação, legislação.

ABSTRACT
This article goal is to investigate the methodological possibilities of the process for the elaboration of
architectonic and urban designs focused on the assurance of the natural resources and renewable energy
preservation. Conceptualizing the basic elements pertaining to the Environmental Design Universe,
protection and maintenance of the ecosystems, this article reflection is based on the field of Environmental
Planning. Thus it detaches the current legislation, particularly linked to the issues here focalized and the
possible ways pointed by philosopher, thinkers in architecture and urbanism dealing within these aspects
and committed to nature in the contemporaneity.
Key words: Environmental design, design process, natural resources, preservation, legislation.
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BASES PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETO ARQUITETÔNICO


CONTEMPORÂNEO NO CONTEXTO DO PLANEJAMENTO AMBIENTAL

1
Paulo Eduardo Borzani Gonçalves
2
Gilda Collet Bruna

INTRODUÇÃO

Pretende-se identificar os pré-requisitos conceituais e de avaliação, para a

fundamentação do processo de projeto arquitetônico contemporâneo. Objetiva-se o

compromisso com a preservação dos recursos naturais e seu rebatimento na construção

do desenho ambiental. Com isto o propósito é encontrar caminhos possíveis para o

direcionamento do processo de projeto arquitetônico e urbanístico, na direção do

estabelecimento de relações harmônicas entre a urbanidade contemporânea e a natureza. A

proposta metodológica apresentada visa inicialmente, compreender como surgiram as

preocupações que originaram não só o Desenho Ambiental, mas também o seu

1
Diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Coordenador da Pós Graduação - Lato Sensu em Design de

Interiores da Universidade Guarulhos - UnG. Docente das Faculdades de Arquitetura e Urbanismo e Design da

Universidade do Oeste Paulista - UNOESTE. Doutorando do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo

da Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM, Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade São Judas

Tadeu - USJT (2009) e graduado em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário Belas Artes - Febasp (1989)

todos de São Paulo - SP. Titular da SAIS Consultoria - Soluções em Arquitetura Acessível, Inclusão Social e

Sustentabilidade. Universidade Guarulhos e Universidade do Oeste Paulista. pgoncalves015@gmail.com.


2
É Professor Associado Pleno da Universidade Presbiteriana Mackenzie, tendo sido Coordenadora do Programa de

Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo 2004-2008. Graduou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1968) e defendeu Doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1973). Em 1977 obteve Especialização em

Tóquio, Japão, pela Japan International Cooperation Agency. Defendeu tese de Livre Docência em 1980 e foi

professora visitante - Pós-graduação em 1985 na Universidade do Novo México. Aposentou-se como Professora Titular

da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, diretora de 1991-1994. Presidente da

Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano Emplasa de 1995 a 2000. Universidade Presbiteriana Mackenzie.

gildacbruna@gmail.com.
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Planejamento. Procura-se assim investigar as relações estabelecidas entre o homem e o

meio que habita. Nesse sentido é importante compreender o tema espaço e lugar, além das

possibilidades de intervenção na paisagem que o rodeia, na perspectiva conceitual de uma

arquitetura sustentável, como definida por Corbella:

[...]a concepção e o desenvolvimento de edificações que objetivem “o


aumento da qualidade de vida do ser humano no ambiente construído e no
seu entorno, integrado com as características de vida e do clima locais, além
da redução do uso de recursos naturais” (CORBELLA, 2003, p.17)

Assim é que se focalizam a relação homem x recursos hídricos, buscando

estabelecer padrões de convivência sadia entre seres humanos e rios, canais e córregos

que permeiam as áreas de concentração de população e as áreas de vegetação envoltórias

indispensáveis à manutenção dos cursos d’água.

Nesse sentido busca-se compreender como a administração pública, responsável

pela gestão das cidades utiliza os instrumentos legislativos. Com isso essa administração

trata de garantir a preservação dos recursos naturais e a manutenção da estabilidade das

relações ecossistêmicas inerentes à sobrevivência do planeta, procurando garantir a

manutenção das relações de sustentabilidade que se apoiam, inevitavelmente, nos três

pilares: econômico, social e o ambiental.

PLANEJAMENTO E DESENHO AMBIENTAL: PERCURSO HISTÓRICO E CONCEITUAL

A origem do Planejamento Ambiental, pode-se dizer que ocorre no início do século XIX,

com as primeiras propostas decorrentes da investigação de pensadores como o inglês Jonh

Ruskin, o francês Viollet-le-Duc e os americanos Henry David Thoureau, George Perkins Marsh e

Frederick Law Olmsted entre outros, por vezes considerados como utópicos ou românticos, mas

que na verdade se mostraram capazes de vislumbrar com antecedência a escassez de recursos

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que veio a ocorrer com a implementação da primeira revolução industrial, norteada por princípios

positivistas, seguindo as diretrizes do liberalismo econômico, que naquele momento

pressupunham a inesgotabilidade dos recursos naturais do planeta. (FRANCO, 2001)

Segundo Gorski (2010), no Brasil, até meados do século XX, as relações de encontro da

população com os rios se mantiveram harmoniosas. Entretanto, a partir desse momento,

ampliaram-se os conflitos entre o inevitável desenvolvimento urbano e uma população crescente.

No meio físico, essa situação ocasionou a elevação dos índices de poluição e as dificuldades de

acesso às áreas ribeirinhas. Assim houve o afastamento das atividades de lazer e esporte das

regiões de várzeas, que tinham no hábito dessas práticas, garantindo a manutenção das

condições de balneabilidade desses recursos fluviais urbanos.

Para contextualizar essa afirmação, torna-se necessário estabelecer os parâmetros

básicos que descrevem a maneira como o homem se relaciona com o meio ambiente. Segundo

Maria Assunção Ribeiro Franco (2008), Tuan (1980) teria afirmado que a maneira do homem se

relacionar com o meio ambiente estaria ligada às formas da topografia e ao grau de visibilidade

possibilitado pelas paisagens em que instala seu habitat.

A paisagem é um arranjo de aspectos naturais e humanos em uma perspectiva


grosseira; os elementos naturais são organizados de tal forma que proporcionam
um ambiente apropriado para a atividade humana [...]. (TUAN, 1980, p. 140)

Para explicar sua teoria, Tuan (1980) estabelece uma comparação entre populações de

duas culturas totalmente diferentes e que habitam localidades com características topológicas

diametralmente opostas: uma localizada nas florestas tropicais, usando com exemplo uma tribo de

pigmeus do Congo na África; e outra, instalada em regiões de planalto, como quando se refere a

uma tribo de índios Pueblo do sudoeste da América do Norte. Para o primeiro grupo mencionado,

onde não existe marcos visuais importantes, não se dá importância ao posicionamento das

estrelas ou do Sol; definem assim um sentido de tempo restrito e uma memória bastante curta. Já

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para o segundo grupo, dos indígenas habitantes de um platô semiárido, seu campo de visão

amplo determina um sentido de mundo completamente estruturado num sistema de espaço e

tempo, definindo assim, papéis fundamentais para as relações com o lugar, com a localização no

espaço e com o sentido de direção.

Outra teoria, também citada por Franco (2008), mostra uma característica mais holística,

baseando-se em estudos neurofisiológicos que estabelecem uma relação de dualidade entre

homem e natureza, e as relaciona, diretamente aos hemisférios do cérebro humano. Cabe ao lado

esquerdo do cérebro controlar as funções do lado direito do corpo que envolve funções cognitivas,

como o uso das palavras e a abstração; já, o lado direito do cérebro determina o controle do lado

esquerdo do corpo, ligando-se ao registro das intuições e da compreensão, inclusive do ambiente

em que se habita. (CREMA 3, 1988 apud FRANCO, 2008)

Obviamente, a relação estabelecida entre o homem e o meio ambiente em áreas de

vegetação natural, como as acima mencionadas, não é a mesma que ocorre em ambientes

urbanos. Estes se vinculam a ecossistemas naturalmente ativos em que há uma interação entre

diferentes elementos que os constituem, tais como: a temperatura; os ventos; as chuvas; as águas

de superfície; e as subterrâneas; a altitude; e a inclinação dos terrenos; a vegetação; o tipo de

solo; e outros tantos. Entretanto, nas cidades há a intervenção do homem, com suas construções,

alterações de percursos naturais dos cursos d’água entre outras, que modificam

fundamentalmente a coexistência entre tais elementos, rompendo o equilíbrio pré-estabelecido. É

no meio urbano que se concentram as atividades propulsoras de maior impacto à natureza,

regidas pelo homem e originando as maiores alterações dos recursos naturais: terra, água, ar e

organismos vivos; pois a urbanização de áreas de concentração humana cria novos ambientes

nos quais se desenvolvem relações de interação entre esses grupos, seus trabalhos e a natureza,

3
CREMA, R. Introdução à visão holística – Breve relato de viagem do Velho ao Novo Paradigma. São Paulo: Summus,
1988.
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as quais aumentam seu grau de complexidade na mesma proporção em que crescem os

aglomerados e as sociedades se consolidam, impondo a abertura de ruas e avenidas, canalizando

córregos e represando rios depois de retificar seus entremeios, além de impermeabilizar o solo

com a construção de edificações em todas as escalas e para todos os usos, fatores que acabam

por interferir na dinâmica dos processos físicos, os quais operam diretamente nos diversos

ecossistemas existentes na natureza. (SOBRAL,1996)

A ecologia tomou para si significados específicos, moldando termos utilizados,

normalmente, pelas ciências sociais e até inventou outros termos para expressar seus conceitos,

quais sejam: população, com o intuito de se referir a grupos de indivíduos de um tipo qualquer de

organismo; comunidade ou comunidade biótica referindo-se a populações que ocupam

determinada área; bioma, para designar um grande biossistema regional ou subcontinental

caracterizado por um tipo principal de vegetação ou outro aspecto identificador da paisagem;

ecosfera e biosfera, para referir-se ao sistema biológico maior, (aquele que mais se aproxima da

autossuficiência); biocenosee e biogeocenose com sentidos equivalentes à comunidade e

ecossistema respectivamente; ecossistema para designar o funcionamento conjunto da

comunidade e o ambiente não-vivo.

Para que se possa esclarecer o funcionamento da dinâmica dos processos físicos

operantes na natureza é necessário compreender com clareza o significado do conceito de

ecossistema. Segundo Sobral (1996) ecossistema é desenvolvido como um quadro referencial

para entender sistemas naturais, porém as pesquisas comprovaram que são raríssimos aqueles

que sobrevivem independentemente de interferências humanas. A partir desse quadro referencial

foi possível definir outro conceito, o de ecossistema urbano que pretende entender e contabilizar

as relações complexas e as reações entre as atividades humanas e o meio ambiente, buscando

orientar as ações para serem capazes de atenuar seu impacto inevitável.

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Em 1972, quando da publicação do livro Urbanization and Environment: The Phisical

Geography of the City4 , foi proposta a adoção do conceito de ecossistema urbano. Este conceito

objetivava englobar os componentes naturais, sociais e construídos, considerando-os como

interligados e capazes de perpetuar a cultura urbana por meio da troca e da conversão de

quantidades de materiais e de energia, obrigando, para tanto, a se organizar uma concentração

de trabalhadores; um sistema de transportes; e uma área de influência. Esta deve fornecer os

recursos necessários ao abastecimento das cidades e, consequentemente, absorver sua

produção.

Em decorrência do estabelecimento dessa premissa, que alerta para a fundamental

importância da conservação dos recursos naturais através da preservação da natureza, a

população das cidades e posteriormente seus governantes tomaram consciência de sua

responsabilidade frente à sobrevivência do Planeta, fato que acabou por se refletir na

administração pública das cidades pelo mundo; alerta-se assim a importância das causas

ambientais, que não se restringem a questões exclusivamente ecológicas, englobando desafios,

para além da erradicação da pobreza, da consolidação global e irrestrita dos direitos humanos e a

garantia da paz entre as nações.

CONSTRUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

No Brasil, a partir da promulgação de sua Constituição Federal, em 1988, a qual orienta a

cooperação entre União, Estados e Municípios, em relação ao meio ambiente, garantindo que as

administrações municipais assumissem uma posição mais participativa nas questões ambientais

locais e regionais. Esse posicionamento dos municípios se deu através da descentralização de

políticas e da formulação de programas adaptados às particularidades de cada região,

4
DETWYLER, T.R.; MARCUS, M. G. Urbanization and environment: the physical geography of the city. Los Angeles:
Duxbury Press, 1972.
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possibilitando maior integração entre as três esferas governamentais e os agentes econômicos.

Entretanto, torna-se importante ressaltar que a legislação federal de proteção dos recursos

naturais não conseguia sozinha, refrear a degradação continuada dos recursos naturais, mesmo

após a aprovação da legislação ambiental5 , fato que tem levado os órgãos estatais a buscar

parcerias com agentes econômicos privados e entidades da sociedade civil, no intuito de

minimizar a fragilidade do aparato de fiscalização e monitoramento das áreas de preservação; isto

se dá através da combinação de instrumentos de comando e controle (ICC) com incentivos

econômicos (IE), que possibilitem a implementação de amplos programas de recuperação dos

recursos florestais e detenção da erosão hídrica, como descreveram LOPES, et al. (1998):

[...] O uso de instrumentos econômicos está induzindo o uso sustentável dos


recursos florestais. A intermediação das ONGs tem minimizado conflitos e
contribuído para implementar a proteção ambiental. (LOPES et al. (1998, p. 08)

No que diz respeito às políticas públicas, novos dispositivos constitucionais foram

introduzidos a partir de 1988. Estes possibilitaram atribuir aos estados um papel suplementar na

5
Destacam-se os artigos 23 e 24.
O Art. 23 trata da competência comum na proteção do meio ambiente e do combate à poluição em qualquer de suas

formas: preservação das florestas, da fauna e da flora; proteção dos documentos, das obras e outros bens de valor

histórico, artístico ou cultural; fomento à produção agropecuária e organização do abastecimento alimentar; promoção

de programas referentes à construção de moradias, bem como a melhoria destas habitações no tocante ao saneamento

básico; registro, acompanhamento e fiscalização das concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos

hídricos e minerais.

A cooperação entre a União, o Estado e os Municípios, em relação a esses assuntos, deve ser normalizada por lei

complementar, visando o equilíbrio do desenvolvimento e do bem estar nacional.

O Art. 24 trata da competência concorrente do domínio das leis por parte dos referidos entes da Federação, exceto o

Município. Conforme esse dispositivo, a estrutura das normas gerais pertence ao poder legiferante da União, sem entrar

em detalhes ou minúcias, sendo estas de competência dos Estados e do Distrito Federal. Não existe, porém, Lei

Federal sobre normas gerais. Os Estados exercerão competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

No elenco de matérias mencionadas no Art. 24, tem-se, entre outras, aquelas pertinentes a:florestas, caça, pesca,

fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção ao meio ambiente e controle da

poluição; responsabilidade por dano ao meio ambiente, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e

paisagístico. (BRASIL, 1997)

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gestão ambiental descentralizada, fato que proporcionou maior contato e uma percepção mais

direta dos problemas ambientais locais pelo Poder Público Estadual. Com isto foi possível ao

estado direcionar medidas mais específicas e adequadas às diferentes situações regionais.

Porém, apesar das semelhanças entre as políticas adotadas nas diversas esferas de governo,

ocorrem sobreposições de determinações legislativas, levando a situações de conflito derivadas

das características demasiadamente restritivas das Leis Federais. Desse modo alguns estados

foram obrigados a aprimorar a regulamentação das políticas de gestão dos recursos naturais, no

intuito de torna-las mais eficientes ampliando as possibilidades de participação dos diferentes

agentes interessados na questão ambiental.

O Congresso Federal aprovou ainda uma lei que delega aos municípios a tarefa de definir

o que significa cumprir a função social da cidade e da propriedade urbana, bem como cuidar da

expansão urbana de seu município: o Estatuto da Cidade aprovado em 2001. Este Estatuto é

regulamentado no capítulo de política urbana (artigos 182 e 183) da Constituição Federal de 1988,

oferecendo para as cidades um conjunto inovador de instrumentos de intervenção sobre seus

territórios, além de uma nova concepção de planejamento e gestão urbanos. Segundo Saule Jr.;

Rolnik (2001) foram definidas, no Estatuto, ferramentas para que o Poder Público e especialmente

os Municípios pudessem utiliza-las no enfrentamento dos problemas da desigualdade social e

territorial nas cidades, seguindo diretrizes e instrumentos de política urbana, relacionados a

seguir:

- Diretrizes gerais da política urbana, cabendo destacar a garantia do direito às


cidades sustentáveis, à gestão democrática da cidade, à ordenação e controle do
uso do solo visando evitar a retenção especulativa de imóvel urbano, à
regularização fundiária e à urbanização de áreas ocupadas por população de
baixa renda;

-Instrumentos destinados a assegurar que a propriedade urbana atenda a sua


função social, tais como o Plano Diretor, o parcelamento e edificação compulsória
de áreas e imóveis urbanos, imposto sobre a propriedade urbana, [Imposto Predial
e Territorial Urbano] (IPTU) progressivo no tempo, desapropriação para fins de
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reforma urbana, o direito de preempção, a outorga onerosa do direito de construir


(solo criado);

- Instrumentos de regularização fundiária, como o usucapião urbano, a concessão


de direito real de uso, as zonas especiais de interesse social;

- Instrumentos de gestão democrática da cidade: conselhos de política urbana,


conferências da cidade, orçamento participativo, audiências públicas, iniciativa
popular de projetos de lei, estudo de impacto de vizinhança. (SAULE Jr.; ROLNIK,
2001, p. 11-12)

Entre as diretrizes gerais previstas no artigo 2° do Estatuto da Cidade, em especial as

inter-relacionadas com as normas da política urbana e com as competências constitucionais

atribuídas aos entes federativos no campo das proposições relacionadas à proteção ambiental,

deve-se destacar a seguinte:

Garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra


urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao
transporte e serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras
gerações; (SAULE Jr.; ROLNIK, 2001, p. 13)

Em sintonia com as questões ambientais contemporâneas e no intuito de chamar a

atenção do mundo para a dimensão global dos perigos e ameaças à vida no planeta, a Cúpula da

Terra realizou em 1992 a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, a ECO-92. Visando atuar para a minoração da constante degradação do meio

ambiente e do esgotamento dos recursos naturais não renováveis, a Cúpula do Desenvolvimento

Sustentável constituiu-se tema básico do encontro. Nesse evento, foram assinados acordos com o

intuito de alargar e fornecer o substrato filosófico, jurídico e político que fundamentaram e

nortearam os atos futuros no caminho da transformação das promessas de preservação da vida

no Planeta. Com isto assegurou que os compromissos assumidos pelos participantes, da

Conferência, fossem registrados num documento, que assegurasse compromissos de trabalho

para o próximo século, tal acordo foi denominado Agenda 21. Nesse processo procurou-se

identificar os problemas prioritários, os recursos necessários e os meios pelos quais se pretende


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enfrenta-los, estabelecendo-se para tanto um plano de metas para as próximas décadas,

buscando disciplinar e concentrar esforços nas áreas chaves buscando evitar dispersões que

levem ao desperdício ou às ações contraproducentes.

Entretanto, é necessário ressaltar que para se atingir as metas estabelecidas pela Agenda

21 não é possível depender somente do Poder Público. São necessárias alterações de valores, de

modelos produtivos e de padrões de consumo configurando uma verdadeira revolução cultural.

PARADIGMAS PROJETUAIS CONTEMPORÂNEOS NO CONTEXTO DO DESENHO

AMBIENTAL

Inicia-se tratando da questão projetual e preservação do meio ambiente, com vistas a

garantir a proteção, regularização e gestão dos recursos naturais, com a intenção de melhorar a

qualidade da interação existente entre as populações urbanas e a natureza. No que diz respeito à

rede de rios, canais e córregos que irrigam as áreas de adensamento, foram desenvolvidas

algumas diretrizes de projeto e planejamento para o desenho ambiental. Fundamentadas, tanto na

compreensão e percepção destas áreas, quanto na própria utilização dos recursos hídricos pela

população, ficou claro que é preciso identificar o valor dos significados estéticos e ecológicos das

paisagens fluviais para a sociedade urbana no século XXI.

Nesse sentido, Gorski (2010) refere-se a uma metodologia desenvolvida por Maria da

Graça A. N. Saraiva6 , que pretende avaliar valores intangíveis (cênicos, estéticos e culturais) de

percepção da paisagem, capitados na população através de um estudo sobre O rio como

paisagem: gestão de corredores fluviais no quadro do ordenamento do território. Nesse estudo se

estabelecem índices de relacionamento entre homem e natureza, num determinado sítio, segundo

6
SARAIVA, M. G. A. N. O rio como paisagem: gestão de corredores fluviais no quadro do ordenamento do território.
Liboa: Fundação CalousteGulbenkian/Fundação para a Ciência e Tecnologia, 1999. In: Goski, 2010, p. 37.
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uma perspectiva temporal-espacial7 . São elencados então, fatores levados em conta na avaliação

decorrente da percepção e das preferências, com relação ao que diz respeito às paisagens

fluviais. Visava-se com isto fornecer dados para alimentar o instrumental de projeto arquitetônico e

urbanístico de acordo com o escopo dos projetos e com os tipos de impactos pretendidos, que

decorrerão de intervenções nas unidades paisagísticas que integram o mosaico de ambientes

fluviais.

- características formais ou aspectos estéticos da água e sua relação com a


paisagem – unidade como consistência e harmonia; vivacidade como forte
impressão visual, contraste, textura, composição; variedade da apresentação da
água e dos elementos a ela interligados, como o solo e a vegetação, e presença
de elementos focais ou distintos;
- características ecológicas – diversidade, integridade, composição e variedade de
espécies;
- componentes de apreciação cognitiva – simbolismo, legibilidade e mistério.
(SARAIVA, 1999 apud GORSKI 2010, p. 37)

Segundo Franco (2001) é preciso entender o convívio e harmonia do homem com a

natureza, ocasionando o mínimo impacto possível, isto é, visando assegurar a permanência dos

recursos ambientais, responsáveis pela garantia de vida às gerações futuras.

Fizeram parte da construção desse paradigma diversos pensadores e filósofos. Mas,

quando Frederick Law Olmsted projetou o primeiro grande parque urbano da América, o Central

Park, em Nova York, datando de 1858-59, tornou-se o precursor da disseminação do ideal de

transformar a prática do desenho ambiental num agente capaz de induzir a transformação social e

estética à cidade. Segundo seu pensamento, o desenho urbano deveria englobar toda a cidade,

sendo elaborado com a antecedência, de pelo menos, duas gerações, mantendo no tecido urbano

espaços de reserva de área, que pudessem ser constantemente renovadas, considerando a ideia

7
A autora sintetiza índices de percepção extraídos de uma série de estudos realizados no período de 1960 à 1990.
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de parque como sistema de espaços livres urbanos interligados, como descrito por Maria

Assunção Ribeiro Franco em seu livro Desenho Ambiental:

A partir da experiência do Central Park, Olmsted concebeu a ideia de parques


como sistemas de espaços livres urbanos interligados, a qual ele pôs em prática
num projeto paisagístico para o Brooklin, cujo centro irradiador era o Prospect
Park. (FRANCO, 2001, p.97)

Ícone da arquitetura moderna ligando as questões ambientais às grandes produções

profissionais do século XX, o polêmico arquiteto americano Frank Lloyd Wright que viveu entre

1867 e 1959, segundo vários biógrafos, concentrou seu pensamento como um filósofo da

natureza, levando ao extremo sua preocupação com a inserção da arquitetura nas diversas

paisagens em que se localizaria, por vezes chegando mesmo a ser considerado como um anti-

urbanista, segundo Franco (2001), devido à proximidade de suas crenças com o pensamento de

Howard e Gueddes8, desconfiando como eles da eficácia das cidades modernas, apinhadas e

movimentadas, como uma referencia à evolução humana. O ápice de sua manifestação teórica se

deu na década de 1930, quando da publicação de: The disappearing city and Broadacres, no qual

fazia a apologia do desenvolvimento familiar sobre um acre de terra, ou seja, numa gleba com

cerca de 4.000 metros quadrados. Para comprovar sua teoria desenvolveu uma maquete

experimental que reproduzia um modelo ideal de cidade horizontal de baixa densidade, que se

aproximaria dos conceitos de “sustentabilidade urbana” desenvolvidos na contemporaneidade.

Contudo, mais importante que as proposições ideológicas, até mesmo utópicas, de Wright,

foi sua contribuição para o processo de projeto arquitetônico inspirado nas relações humanas,

8
Sir Ebenezer Howard (1850 — 1928)pré-urbanista inglês; tornou-se conhecido por sua publicação Cidades-jardins de
Amanhã (Garden Cities of Tomorrow), de 1898, na qual descreveu uma cidade utópica em que pessoas viviam

harmonicamente juntas com a natureza.

Patrick Geddes (1854-1932), biólogo e filósofo escocês foi credenciado como o “pai” do planeamento regional.

(QUENTAL, Nuno. Episódios da história do urbanismo. Escola Superior de Biotecnologia – Universidade Católica

Portuguesa. Cascais: Land Art, 2013.)

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com os recursos naturais. Apesar de sua afinidade com os princípios transcendentais9 de Thoreau

e Emerson10 , vivenciou o apogeu da industrialização da primeira metade do século passado,

período no qual se desenvolveu a tecnologia aplicada aos sistemas construtivos. E, o arquiteto

não se furtou à oportunidade de se apropriar das inovações da época para a concepção e

elaboração de seus projetos, fato que o levou, por vezes a ser classificado como um arquiteto

paradoxal, que utilizava “instrumentos e métodos industriais, valores humanos e um amor

entranhado pela natureza”. (PFEIFFER, 1994 apud FRANCO, 2001)

Foi nos projetos de arquitetura residencial que Wright deixou registrada sua relação com a

paisagem natural, pois acreditava que a integração da arquitetura ao meio ambiente permitiria que

o ser humano experimentasse o encantamento da beleza natural. Desse modo seria possível

alcançar maior plenitude de vida. Para tanto, propunha uma tipologia denominada “Prairie House”

(Casa de Pradaria). Nesses casos utilizava telhados levemente inclinados e propunha silhuetas

largas e maciças, adotando beirais acolhedores e terraços baixos. Em sua maioria essas casas

foram erguidas a partir de um pedestal que possibilitava o desenvolvimento de terraços

espraiados, se conformando à topografia natural do terreno. Usava então muretas de contenção e

os jardins se interligavam ao sítio, por meio do que o arquiteto chamou de “plantas abertas”. Estas

tinham como proposta a exclusão de alguns ambientes internos, bem como algumas portas e até

paredes, criando a sensação de interpenetração mútua entre a área interna e a externa,

experiência que viria a ficar conhecida como “arquitetura orgânica”.

O paradoxo vivenciado por Frank Lloyd Wright viria a se transformar, no início do século

XXI, no paradigma da arquitetura contemporânea. Neste caso o foco se concentra na

9
O Transcendentalismo foi um movimento filosófico que exerceu grande influência na Nova Inglaterra, no final do séc.
XVII e no séc. XIX [...].
10
Thoreau (1817-62) [...] passou sua juventude imerso no universo intelectual “transcendentalista” da Nova Inglaterra,
onde se destacava a figura do filósofo Ralph Waldo Emerson (1803-82), de quem se tornou amigo e admirador.

(FRANCO, 2001, p. 91)

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possibilidade de desenvolver soluções que construíssem processos sustentáveis. Estes implicam

na realização sistemática de ações que visam não só a preservação dos ecossistemas e da

biodiversidade, mas também garantir a melhoria das condições socioeconômicas das

comunidades.

Contemporâneo de Wright, Aldo Leopold que viveu entre 1887 e 1948, foi o criador da

“Land ethic” (ética da terra) fundamentada numa filosofia de “perspectiva biocêntrica”. Segundo

seu criador, essa filosofia induziria os homens à ação de preservar a integridade, a estabilidade e

a beleza dos sistemas naturais, reconhecendo que os seres humanos são elementos conscientes

de um processo evolucionário, que prescinde de reflexões racionais sobre suas ações, com

relação a si e com relação aos demais seres vivos. A partir dessa determinação, Leopold passa a

ser considerado o pai do pensamento crítico em relação à ecologia, considerando essa ciência

como sendo portadora do potencial reorganizador de um novo paradigma cultural para além do

século XXI.

A partir da ação de idealistas como Wright e Leopold existiram precursores dos

questionamentos envolvendo o desenho ambiental, que desenvolveram teorias que viriam a

consolidar o pensamento ambientalista. Estas acabaram por se refletir nas correntes

arquitetônicas ditas ecológicas, que atuariam com maior empenho, a partir da década de 1970.

Foi nesse período que as discussões se globalizaram e tomaram caráter oficial, sendo então

respaldadas pelo instrumental da Gestão Pública das cidades em diversos países, e por órgãos

internacionais como a Assembleia das Nações Unidas.

Muito embora possa parecer que exista uma corrente hegemônica no campo do desenho

ambiental baseado na atividade da arquitetura sustentável, esta nova tendência mundial se

apresenta dividida em duas correntes teóricas: há aqueles ecocentristas que valorizam

essencialmente o mundo natural e iniciativas individuais de transformação da relação

homem/natureza; e há aqueles ostecnocentristas, que defendem uma arquitetura baseada na


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máquina, considerando-a, supostamente, capaz de solucionar todos os possíveis problemas

ambientais prementes. (FOLADORI, 2001)

Pode-se destacar no universo dos arquitetos ecocentristas, os neovernaculares 11 , que,

influenciados pela chamada Deep Ecology, propõem uma retomada das práticas arcaicas,

destacando o papel dos povos indígenas e remanescentes de culturas tradicionais. Reconhecem-

nos não mais como simples testemunhos do passado, mas destacam a importância de sua

vivência e dos processos que utilizam para enfrentar o futuro, ensinando a sociedade capitalista

sobre o que representa ser verdadeiramente sustentável. A arquitetura neovernacular propõe a

retomada de valores antigos, como a retomada do uso de materiais naturais e de técnicas

artesanais, nas quais as formas mais simples do viver nos levam às soluções mais econômicas e

de menor impacto. Com intensas preocupações regionais e sociais, utilizam-se dos recursos

locais, tais como arquitetura de terra, defendida por arquitetos pioneiros, como o egípcio Hassan

Fathy, ou o premiado trabalho em madeira do brasileiro Severiano Mário Porto.

Outra importante vertente da arquitetura ecológica nasceu com a intenção de conciliar a

tradição histórica e as possibilidades modernas. Assim focaliza a aplicação de tecnologias

“limpas” e a utilização de recursos renováveis, a Green architecture, ou arquitetura “verde”. Esta

busca também a eficiência energética das construções, a correta especificação dos materiais, a

proteção da paisagem natural e o planejamento territorial, além do reaproveitamento de edifícios

existentes. Procura dar a estes edifícios um novo uso. Aposta na mudança de postura dos

profissionais para se orientarem essencialmente para a preservação da natureza e da qualidade

do ambiente construído. Segundo esses arquitetos é preciso fugir de radicalismos e de forma

isolada. Assim uma parcela dos projetos arquitetônicos, tanto novos quanto retrofits (reformas),

passará a ser desenvolvida sob a ótica da sustentabilidade, estabelecendo padrões de

11
Por VERNÁCULA se compreende a prática arquitetônica baseada na tradição e transmitida entre gerações de modo
informal, sem a participação de arquitetos ou representantes do saber acadêmico (oficial e erudito), fruto de um tempo e

espaço.(CASTELNOU, A. M. N., 2012)


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sustentabilidade humana e ambiental, e introduzindo novas tecnologias de menor impacto ao

privilegiarem a reutilização de matérias-primas. Entre os arquitetos que mais se destacam na

atualidade como “verdes”, encontram-se Sambo Mockbee e muitos norte-americanos. (WINES,

2000)

A partir dos anos 1990 surge a chamada eco-techarchitecture, baseada na defesa da alta

tecnologia a fim de minimizar os impactos ambientais. Para isto, usam sistemas

computadorizados e auto gestores, acreditando que a própria tecnologia mostraria o caminho para

a garantia da qualidade ambiental (SLESSOR, 1997). Essencialmente tecnocentristas,

aproximam-se das questões ambientais contemporâneas por serem moderados e por se

enquadrarem nas regras mercadológicas. Associam biotecnologias a preocupações político-

econômicas. Seus principais expoentes encontram-se principalmente na Europa e no oriente,

destacando-se o alemão Thomaz Herzog, o francês Jean Nouvel e o italiano Renzo Piano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em pleno correr do século XXI é impossível pensar no fazer arquitetônico sem se

considerar que qualquer intervenção, seja no âmbito da construção de edificações, seja na

implementação de planos decorrentes do planejamento ou da ordenação de áreas urbanas, sem

considerar as consequências do fato inevitável de gerar impacto no meio ambiente. Este abrange,

de acordo com a resolução CONAMA 306 de 2002, o conjunto das condições, leis, influência e

interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abrigam

e regem a vida em todas as suas formas, além de avaliar antecipadamente as proporções dos

possíveis danos decorrentes das determinações projetuais.

As decisões tomadas pelo arquiteto e urbanista devem, nesse sentido, serem

fundamentadas no propósito de garantir a preservação da área de intervenção e de seu entorno


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imediato. Assim, além de prever soluções de manutenção da integridade dos recursos naturais, de

economia de energia e de geração mínima de resíduos sólidos, como princípios básicos do

desenvolvimento sustentável para a sociedade, esse desenvolvimento tem como premissa

amalgamar em íntima simbiose a gestão ambiental e o desenvolvimento econômico. Isto

significaria poder suprir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das

próximas gerações de suprirem as necessidades de seu tempo. Nesse sentido, seria preciso

incorporar no planejamento e também no projeto arquitetônico, não apenas os fatores

econômicos, mas também as variáveis sociais e ambientais, considerando as consequências das

ações de longo prazo, bem como os resultados de curto prazo. A origem dessa conceituação foi

definida por Franco (2001), com a intenção de dirimir possíveis dúvidas e se apresenta

reproduzida a seguir:

O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu da Estratégia Mundial para a


Conservação (World Conservation Strategy) lançada pela União Mundial para a
Conservação (IUCN) e pelo Fundo Mundial para a Conservação (WWF), apoiado
pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), embora já
tivesse aparecido com o nome de “ecodesenvolvimento” na Reunião de Founeux
em 1971, [...]. (FRANCO, 2001, p. 26)

Ao se considerar o sentido abrangente de ecossistema, pode-se utiliza-lo para

compreender os sistemas que interagem nas relações de subsistência das cidades. Desse modo,

todos os elementos e processos que conformam os ambientes são inter-relacionados e

interdependentes. Com isto, se houver alteração em qualquer das unidades, haverá reflexos em

outros componentes. O conceito aqui adotado considera que os ecossistemas são formados por

dois sistemas intimamente ligados, de um lado o “sistema natural”, englobando o meio físico e o

biológico (solo, vegetação, fauna, recursos hídricos) e de outro, o “sistema cultural” configurado

pelo homem e por suas atividades. Nesse sentido se atribui ao homem a capacidade de dirigir

suas ações e se apropriar do meio ambiente. Este é fonte de matéria prima e energia

indispensável à sua sobrevivência. Desse modo colocando-o na posição de receptor de seus

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produtos e resíduos, caracterizando o ambiente urbano como um sistema aberto, onde cada parte

depende de outras para garantir seu correto funcionamento e todas elas dependentes do meio

ambiente natural e de seus recursos. (MOTA, 1981)

É importante se considerar que as intervenções humanas das quais decorrem as

alterações do meio ambiente são procedidas de maneira cada vez mais rápida e

incessantemente. Nos grandes aglomerados urbanos fica impossível que a natureza cumpra seu

ciclo de recuperação, pois o homem não é o único agente de alterações dos recursos naturais,

outros animais buscam alimentos, constroem abrigos e expelem seus detritos, notadamente nas

áreas rurais ou de preservação, porem esses processos ocorrem de forma naturalmente lenta e

regular, garantindo o tempo necessário para se processar a neutralização dos seus prejuízos.

No final do século XX, a população da Terra se transformou de predominantemente rural

para preponderantemente urbana, concentrando pouco mais de 50% da população mundial em

aglomerados urbanos. No caso do Brasil, esta alteração ocorreu em meados dos anos 1960,

sendo que tal processo sofreu uma grande aceleração nas décadas seguintes, ligado a dois

fatores: primeiro, ao êxodo rural; e na sequencia, à migração da população entre centralidades

diversas. Tal processo denominado como “urbanização corporativa” por Milton Santos (1991)12 ,

gerou cidades com expressiva degradação das condições de vida e do ambiente urbano, fatos

que vem se agravando com a paulatina intensificação da queda de qualidade da atmosfera

urbana. (Mendonça, 2003)13

Atingindo cerca de 85% da população brasileira na década de 1990, o processo de

urbanização da população brasileira ocorreu de maneira muito rápida, deflagrando um processo

de metropolização muito veloz ao estabelecer uma rede de pequenas, médias, grandes e

12
SANTOS, M. A urbanização Brasileira, São Paulo: Hucitec, 1991.
13
MENDONÇA, F. O ESTUDO DO CLIMA URBANO NO BRASIL: Evolução, tendências e alguns desafios. In:
MENDONÇA, F.; MONTEIRO, C. A. F. (Orgs.). Clima urbano. São Paulo: Contexto, 2003, p. 175 –191.

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gigantescas cidades, sem contudo, considerar a necessidade do planejamento social inerente ao

sucesso do desenvolvimento de áreas urbanas. Isto acabou resultando em condições ambientais

degradadas e até na destruição de recursos naturais vitais à sobrevivência dos seres humanos no

planeta. Por exemplo, as matas ciliares constituindo a vegetação que se forma naturalmente às

margens dos cursos d’água, configurando uma proteção devido à massa verde extremamente

eficaz para os meios hídricos, atuando no amortecimento do impacto da erosão de suas margens

e para os lençóis freáticos, assegurando sua manutenção através da garantia de permeabilidade

das áreas ribeirinhas.

Embora a deterioração do meio ambiente seja um problema antigo e que sempre existiu na

história da humanidade, agora, porém, há uma nova intensidade dos processos de degradação

que acompanham a recente urbanização, resultando em uma acelerada vulnerabilidade das

cidades.

O conceito de Desenvolvimento Sustentável vem se difundindo na medida em que cresce

a consciência sobre o esgotamento dos recursos naturais e se multiplicam os estudos que

procuram mapear os vilões da temerosa insustentabilidade ambiental. De acordo com dados

publicados pelo Balanço Energético Nacional (BEM) e pela Pesquisa Nacional de Amostra de

Domicílios (PNAD), o maior consumo específico de recursos energéticos provém da construção

civil residencial, que aparece como responsável pela extração de aproximadamente 15 e 50% dos

recursos naturais extraídos, 66% de toda a madeira extraída, 40% da energia consumida e 16%

da água potável. Estes dados se referem ao conceito abrangente de ciclo de vida da edificação,

que se inicia na fabricação dos materiais de construção, passa pelo transporte dos mesmos até o

sítio das construções, pela obra propriamente dita, prolongando-se pela vida útil da edificação até

a demolição e deposição final dos materiais. (Civil Engineering Research Foundation - CERF,

entidade ligada à Sociedade Americana dos Engenheiros Civis – ASCE, 2001)

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O desenvolvimento da arquitetura e do ambiente construído em direção à sustentabilidade

ambiental, frente aos benefícios socioeconômicos, implica numa revisão do processo projetual

convencional. Pesquisas de metodologias de projeto arquitetônico e urbanístico remetem a uma

interação entre estudo e proposição, com a inclusão de novas variáveis: arquitetura; desenho

urbano; e planejamento, em suas várias escalas.

Battle; McCarthy (2001) apud Gonçalves e Duarte (2006) definem o funcionamento das

cidades, chamando-o de “metabolismo urbano”, como uma composição desses ciclos. E cada um

destes contém características particulares, porém com influências mútuas, constituídos de:

transporte; energia; água; resíduos; microclima, paisagem natural e ecologia; e materiais

englobando construções e edifícios.

Esses autores destacam que as decisões de transformação de cada um desses ciclos,

para minimizar o impacto ambiental, são específicas da localidade de implantação do projeto,

porém recebendo influências de questões econômicas, sociais e culturais de âmbito regional,

nacional e até mesmo global.

Segundo essa linha de pensamento as diretrizes para a elaboração de projetos devem

definir em primeiro lugar as metas para o consumo e respectiva origem e procedência de recursos

básicos como água e energia; em seguida pode-se definir a escolha das tecnologias e a

determinação da eficiência dos processos de consumo desses recursos (na operação dos

edifícios); e, por fim, são estabelecidas as metas e tecnologias de gerenciamento da geração de

resíduos, incluindo a poluição atmosférica. A quantidade dos recursos gerados, reutilizados e

reciclados nos limites físicos da região de intervenção ou alteração do meio físico (equipamento

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ou edificação) irão caracterizar o compromisso da sociedade urbana com questões imediatas de

impacto ambiental14.

Com esse olhar sobre o ambiente construído, a busca pela sustentabilidade urbana vem

ao encontro das seguintes metas aqui propostas:

- preservação e liberação de áreas naturais devido aos efeitos e vantagens da


compacidade urbana;
- proximidade, diversidade e uso misto (socialização do espaço público);
- maior eficiência energética (e menor poluição) pelo sistema de transporte;
- microclimas urbanos mais favoráveis ao uso do espaço público e ao
desempenho ambiental das construções;
- edifícios ambientalmente conscientes ;
- consumo consciente dos recursos em geral;
-reuso e reciclagem (diminuição do impacto ambiental proveniente da geração de
resíduos). (GONÇALVES; DUARTE, 2006, p. 63)

Com o intuito de fortalecer o conceito de sustentabilidade urbana propõe-se estimular a

revitalização de áreas urbanas com diferentes configurações e usos, para ser uma alternativa à

ocupação de áreas degradadas e desvalorizadas (brownfields); com isto propõe-se substituir à

prática de expansão urbana periférica, que se baseia na ocupação de áreas verdes (greenfields)

livres. Em suma, os principais objetivos dessas premissas, segundo Gonçalves e Duarte, (2006)

são:

- ocupar áreas degradadas inseridas na cidade, otimizando o uso da infraestrutura


disponível com base em parâmetros de densidade e uso misto;
- conectar áreas da cidade, superando os obstáculos físicos existentes;
- melhorar a qualidade ambiental da área como um todo;

14
Miguel Aloysio Sattler classifica os impactos determinados pela indústria da construção civil em dois tipos: impactos
durante a fase de produção da construção (extração, processamento e distribuição de produtos), considerados de maior

interferência no ambiente; e impactos durante a fase de utilização da construção (aplicações no local, desenvolvimento

da vida no local e disposição dos produtos correspondentes).EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS,

2003. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Departamento de Engenharia Civil/NORIE


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-otimizar o consumo de energia nos edifícios e na cidade; e


- aumentar o valor ambiental e socioeconômico em área existente, ou restaurar o
seu valor inicial. (GONÇALVES; DUARTE, 2006, p. 63)

A orientação de estudos no sentido de embasar uma metodologia de projeto arquitetônico

fundamentada nos princípios da sustentabilidade e da manutenção das fontes naturais de geração

de energia, nos parece primordial, para assegurar o desenvolvimento da Arquitetura e do

Urbanismo como campos da Ciência, capazes de orientar as novas gerações no sentido de

construir cidades e edifícios que se adaptem aos ecossistemas vigentes, perpetuando o

desenvolvimentos das espécies no planeta.

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