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POTSDAMER PLATZ COMO TERRITÓRIO HÍBRIDO

RESUMO
Apresenta-se o processo de conformação de uma região denominada Potsdamer Platz, localizada numa
área esvaziada de Berlim decorrente de severos bombardeios durante a Primeira Guerra Mundial e, na qual
se construiria posteriormente, o muro de divisão entre as porções oriental e ocidental da Alemanha (1961-
1989). No início da década de 1990 se processam uma série de concursos para apresentação de propostas
de reurbanização para o local, do qual participam importantes arquitetos contemporâneos que aliados aos
interesses comerciais e políticos da Alemanha reunificada, dariam origem à um microcosmo de
conformação subjetiva de um culturalismo midiático voltado para o turismo, constituindo um território híbrido,
que segundo definição de F. Guattari (1985) pode ser definido como reterritorialização capitalística,
conjugando dentro desses espaços uma imensa possibilidade de comunicação com uma solidão muito
acentuada.
Palavras-chave: Complexo cultural, espaço midiático, território híbrido, reunificação alemã, arquitetura
contemporânea.

ABSTRACT
It presents the process of forming a region called Potsdamer Platz, located in an area devoid of Berlin due to
severe bombing during World War I and in which would be built later, the dividing wall between the eastern
and western portions of Germany (1961-1989). In the early 1990s are processed a series of contests for
proposals for redevelopment of the site, which involve important contemporary architects who allied with the
commercial and political interests of the reunified Germany, would give rise to a microcosm forming opinion
of culturalism media geared for tourism, being a hybrid territory, which according to the definition of F.
Guattari (1985) can be defined as reterritorialization capitalistic, combining within these spaces an immense
possibility of communication with a very sharp loneliness.
Key words: Cultural complex, media space, hybrid territory, German reunification, contemporary
architecture.
208

POTSDAMER PLATZ COMO TERRITÓRIO HÍBRIDO

Paulo Eduardo Borzani Gonçalves1


Carlos Leite de Souza2

INTRODUÇÃO

Observando-se o contexto mundial, no que diz respeito às políticas urbanas até as

décadas finais do século XX e mais precisamente durante os anos 1980, percebe-se que

elas envolviam propostas que derivavam de legislações quase idênticas para qualquer

cidade. Em função do insucesso deste modelo instaurou-se o princípio de intervenções

locais, pontuais, geralmente envolvendo parcerias público-privadas, como é comum no


3
modelo neoliberal (PORTAS, 1996). Trata-se de uma tentativa de reconstruir,

principalmente nas áreas centrais, o desenho urbano tradicional, os locais de convivência,

os espaços públicos, desagregados pela política urbana intervencionista. A intenção é a de

reestruturar o contexto urbano, recuperando os lugares do passado e da memória, capazes

de sustentar a percepção e a visualização da ambiência urbana. Foi recorrente, nesta

política de intervenções pontuais, a criação de centros culturais.

1
Diretor da Faculdade e Coordenador da Pós Graduação - Lato Sensu em Arquitetura e Urbanismo da Universidade

Guarulhos - UnG. Docente da Graduação e Pós-graduação da Universidade do Oeste Paulista - UNOESTE. Doutorando

do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM, Mestre

em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade São Judas Tadeu - USJT e graduado em Arquitetura e Urbanismo pelo

Centro Universitário Belas Artes - SP. Titular da SAIS Consultoria - Soluções em Arquitetura Acessível, Inclusão Social

e Sustentabilidade. Universidade Guarulhos e Universidade do Oeste Paulista. pgoncalves015@gmail.com


2
Arquiteto e Urbanista com Mestrado e Doutorado (FAUUSP) e pós-doutorado pela CalPoly; Professor Adjunto da

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. carlos@stuchileite.com


3
As políticas neoliberais perseguidas ao final dos anos 1970 e no começo dos 1980 por parte dos governos nacionais

dos países centrais constituem precisamente uma tentativa (crescentemente desesperada) de 'remercadorização’ de

suas economias. DEÁK, Csaba (2001) "Globalização ou crise global?" Anais, ENA-Anpur.
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O projeto para Potsdamer Platz, ao lado da reurbanização da Alexanderplatz e da

revitalização da Frieddrichstrasse constitui a parte mais relevante de um profundo

processo de transformação urbana ocorrido na cidade de Berlim e previa não somente a

reconstrução das áreas centrais esvaziadas, mas também a reurbanização das periferias e

novos projetos de expansão do território. Uma operação que contou com mais de trezentos

projetos, comandados pelo primeiro time da arquitetura mundial, movimentando cerca de

duzentos milhões de dólares fornecidos pelas mais poderosas corporações globais, cujo

objetivo era a conversão da capital alemã numa metrópole do terciário avançado.

A praça na qual se implantou o projeto de Potsdamer Platz compreende uma ampla

área que vai da Filarmônica e da Staatsbibliothek de Scharoun até a linha por onde passava

o muro divisor das Alemanhas, conformando um amplo espaço vazio, o qual passaria, a

partir da implementação das propostas, a constituir ponto fundamental de interesse na

dinâmica urbana da cidade reunificada, por ser, justamente, um dos lugares que marcaria,

não apenas no plano físico, mas de maneira significativa o plano simbólico, a religação

entre leste e oeste, como descreveu Andreas Huyssen por ocasião da queda do muro de

Berlim:

Durante uns dois anos, o centro de Berlim, portal entre as partes leste e
oeste da cidade, era um terreno baldio de dezessete acres que ia do Portão
de Bradenburgo a Potsdamer e a Leipziger Platz, um largo rasgão de sujeira,
mato e restos de pavimentação, sob um enorme céu que parecia maior ainda
dada a ausência de um horizonte de edifícios altos, tão característicos desta
4
cidade.(HUYSSEN, 1999, p.16)

4
Sobre o tema ver KOOLHAAS, Rem. Berlin: the Massacre of Ideas - An open letter to the jury of Potsdamer Platz.
Carta publicada no jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, em 16/10/1991 e reproduzida em: VVAA. Politics-Poetics

Documenta X - The Book. Kassel: Cantz, 1997. Catálogo da Exposição.

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O caso de Potsdamer Platz foi alvo de intensas discussões. Vejamos inicialmente as

diferenças entre o projeto vencedor dos arquitetos Heinz Hilmer e Christoph Sattler (Figura

01) e o projeto de Oswald Mathias Ungers e Stefan Vieths que ficou com a segunda

colocação (Figura 01) no concurso promovido para a escolha do Projeto de Revitalização

da área. O primeiro, escolhido pelo júri, apresenta características formais da Berlim do

início do século XX, restaurando o traçado original das ruas no entorno da antiga

Potsdamer Platz, propondo a manutenção do gabarito de altura dos edifícios e a

distribuição de comércio no nível da calçada, com escritórios nos pavimentos

imediatamente superiores e apartamentos residenciais nos mais altos. O segundo colocado

apresenta a visão de Berlim como cidade global. Propõe uma dúzia de arranha-céus de

vidro que riscam a paisagem verticalmente em meio aos blocos tradicionais berlinenses –

que tentam manter o traçado original do arruamento local, mas que propositalmente, vez ou

outra, são interrompidos pela implantação diagonal e cortante das grandes torres

envidraçadas.

Figura 01 – Maquete da proposta vencedora do concurso para a Potsdamer Platz – H. Hilmer e C. Sattler e
do segundo lugar - . O.M. Ungers e S. Vieths.
Fonte: Ein Stück Grobstadt als Experiment Planungen am Potsdamer Platz in Berlin, 1994, p.73-75.

O projeto vencedor de Hilmer e Sattler teoricamente ilustra o grupo culturalista,

resgatando elementos históricos e padrões morfológicos tradicionais de outrora, próprios

do lugar da intervenção. O projeto de Ungers e Vieths, por sua vez, pode-se encaixar no

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grupo que pretendia uma imagem de cidade aparentemente nova e certamente diferente da

paisagem tradicional de Berlim. Embora formalmente as propostas fossem distintas, na

prática, ambas apresentavam semelhança em um aspecto importante e revelador do fazer

urbanístico contemporâneo, eram propostas cujos resultados instalavam a discussão da

cidade como imagem. A primeira, tradicional e teoricamente culturalista, é a edificação da

imagem ilustrativa do passado em uma metrópole do século passado. A segunda, chamada

de progressista, revela seu caráter simpático à espetacularização das cidades

contemporâneas, construindo uma paisagem desvinculada do sítio de sua implantação.

Formalmente, as propostas guardam grandes diferenças. Rem Koolhaas, arquiteto

de importante produção, classificou o projeto vencedor como “massacre da imaginação

arquitetônica”, pois remete a uma imagem de Berlim de 70 anos atrás. Para ele, os dois

grupos realmente representavam, de um lado, uma perspectiva culturalista, de outro, uma

visão progressista.

O primeiro concurso para a definição do plano diretor da área, vencido pela equipe

Hilmer & Sattler de Munique gerou uma série de polêmicas fomentadas principalmente pelo

arquiteto Rem Koolhaas, o qual foi vetado pelo Departamento de Construções a participar

do júri dos demais concursos. O ataque de Koolhaas ao resultado homologado neste

concurso foi contra a política de reestruturação privilegiada na cidade, através da influente

atuação de Hans Stimmann, que o arquiteto caracterizou de “ingênua e limitada”. Ao

desclassificar projetos de extremo potencial urbano, como os de Hans Kollhoff e Daniel

Libeskind, em favor de projetos mais “típicos e normais”, Stimmann demonstrou sua

incapacidade, segundo Koolhaas, de dotar a cidade de uma arquitetura condizente o

importante momento em questão.

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BERLIM COMO CENTRO URBANO EM TRANSFORMAÇÃO

Berlim converteu-se na capital no exato momento em que política, artística e

ideologicamente estava menos apta para assumir esta responsabilidade. (...) Reflete a ideia de

uma cidade suburbana, antiquada, reacionária, não-realista, banal, provinciana, e acima de tudo,

amadora: um terrível desperdício de um potente empreendimento único na Europa do século XX.

O que deveria ser o auge está se tornado um anti-clímax.(KOOLHAAS, 1991)

O processo de reestruturação urbana de Berlim foi conduzido através de dois mecanismos

de concursos distintos, que por sua vez abriram espaço para polêmicas específicas. Os concursos

promovidos pelos investidores privados para a instalação da sede de suas empresas e demais

empreendimentos de caráter particular (hotéis, cinemas, torres de escritórios), e que estavam em

alguns casos acompanhados por representantes da administração pública (como foi o caso de

Potsdamer Platz) caracterizaram-se pelo extremo empenho em obter o máximo de retorno pelas

áreas, compradas a preços excessivamente altos. Desta forma, ainda que tentando respeitar os

planos aprovados em concursos, projetos inteiros eram refeitos em vista de um retorno financeiro

imediato, não obstante o prestígio do escritório de arquitetura que estava envolvido.

“Em Potsdamer Platz, os singulares espaços remanescentes da Segunda Guerra e da

Guerra Fria só restaram intactos nas sugestivas imagens e narrações visuais de Wim Wenders” 5.

(TAVARES, 2006)

Potsdamer Platz configura um caso em que a mutação foi negada nos seus edifícios e

espaços urbanos. O diagnóstico de Rem Koolhaas foi preciso a este respeito. Os mecanismos de

projeto, tomados quase todos em favor da história, deram margem a uma arquitetura de

5
Asas do Desejo, premiado filme de Wim Wenders, 1987, em que se vê Berlim, especificamente Potsdamer Platz, o
epicentro cosmopolita berlinense nas primeiras décadas do século XX. Dividida em duas pelo muro que separava leste

e oeste da cidade, reduzida a um imenso vazio urbano deixado pelos bombardeios da Segunda Guerra Mundial, vista

nos tempos da Guerra Fria, in: “Angels and the Modern City; Wim Wenders: Wings of Desire”, disponível em:

http://www.wim-wenders.com. Acesso: 23/04/2013.


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submissão. Uma arquitetura de resistência deveria assumir o forte potencial urbano e a energia

centrífuga das mutações. A mutação, tomada como problema contemporâneo para a arquitetura,

é um processo, no qual, distintas formas devem ser pensadas desde a sua ideia particular e

atípica de mudança. A adoção de morfologias abertas e interativas, e o entendimento dos

movimentos e das diversas forças que atuam na metrópole contemporânea são fatores que

podem levar a uma arquitetura em acordo com estes processos singulares. (TAVARES, 2006)

As ideias de arquitetura e do urbano sempre estiveram relacionadas à imposições de

ordem e de limites, e a criação de suas formas esteve constantemente relacionada a uma

identidade particular, ou a códigos de entendimento universais. Resulta bastante difícil à

apreensão destes espaços sob mecanismos convencionais de projeto. Apenas sob a ideia de

continuidade é que o potencial destes espaços pode ser tratado pela arquitetura das cidades

atuais, como descreve Solà-Morales:

Como a arquitetura pode atuar no terrain vague sem se tornar um agressivo


instrumento de poder e da razão abstrata? Indiscutivelmente, através da atenção à
continuidade: não a continuidade da cidade planejada e eficiente, mas a
continuidade dos fluxos, das energias, dos ritmos estabelecidos pela passagem do
tempo e pela perda de limites. (...) Devemos tratar a cidade residual com uma
cumplicidade contraditória que não destrua os elementos que mantém sua
continuidade no tempo e no espaço. (SOLÀ-MORALES, 1995, p. 119-20)

Tanto o conjunto da Potsdamer Platz, como a intervenção em Friedrichstrasse podem ser

entendidos como modelos de cidade ordenada, regulada, cujos espaços projetados negaram o

valor evocativo dos terrain vague. (SOLÀ-MORALES, 1995)

O que se reconhece em ambos é a permanência da oposição entre a reconstrução da

história e a projeção do futuro deslocada para a superfície da imagem. Se a imagem se impõe

como campo de articulação do discurso urbano contemporâneo por excelência, talvez através

dela enxerguemos com maior nitidez outras formas de “imaginar” o urbano e a sua importância

para as cidades contemporâneas nas quais a arquitetura é chamada a colaborar no sentido da

construção de uma imagem. E, em Potsdamer Platz não poderia ter sido diferente, tendo que
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responder às demandas de representação do Estado alemão reunificado e aos empreendedores

dos projetos das corporações multinacionais. Os projetos arquitetônicos apresentavam duas

variantes, a primeira seguindo os padrões morfológicos da Berlim tradicional e a segunda

buscando construir a imagem da identidade high tech de Berlin. Ambas trabalhando com o

objetivo de atender ao urbanismo-turístico, cujos programas definem megacomplexos de

entretenimento e consumo, se utilizando do apelo ideológico do mix cultural, traduzindo o caráter

episódico ou efêmero das atividades previstas para esses espaços, tais como espetáculos,

exposições, consumo noite e dia, gastronomia, imagens virtuais e todo o tipo de entretenimento,

dos quais a arquitetura não participa, senão como coadjuvante, propondo para extensas

aglomerações urbanas, apenas projetos pontuais, com diversas tipologias distribuídas em

variados programas e complexas edificações-espetáculo ocupando extensas glebas, sem,

entretanto, estabelecer relação com os hábitos e mapas mentais dos habitantes dos locais de sua

implantação, os quais se veem obrigados a se adaptarem às transformações derivadas de

projetos de revitalização e reurbanização provenientes de estratégias de intervenção distintas, do

ponto de vista conceitual, onde a cidade passa a ser configurada por um conjunto fragmentado de

grandes polos de atração. Novas atividades se apropriam de espaços que se tornam exclusivos,

públicos ou um mixer dos dois, contudo invariavelmente desestruturados, nos quais os habitantes

tradicionais não se integram mais. Esta substituição das memórias atingiu, no decorrer do século

XX, uma expressão caracterizada por duas estratégias complementares: a primeira,

fundamentada na destruição radical das culturas históricas através das guerras totais; a segunda

pautada na recorrente colonização ou globalização industrial, mercantil e eletrônica dessas

culturas.

Definidos como edge-cities, por Otília Arantes (2012), que analisa as imagens estratégicas

de Barcelona e Berlim em seu novo livro, nesses espaços pode-se por vezes, morar, trabalhar e

divertir-se sem a necessidade de proceder a deslocamento dos centros urbanos, estabelecendo

nessas áreas, “ilhas de felicidade e fraternidade” como definem seus idealizadores, inovando na

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proposta de oferecer a possibilidade de uso público, para seus open spaces, na tentativa de

populariza-los, estimulando a gentreficação.

Berlin passou a conter edifícios dos mais renomados arquitetos de todo o mundo contando

com os altos edifícios-sede de empresas multinacionais, como a Daimler Chrysler (Figura 02), a

Deutsche Bahn Turm (Figura 03), Brown Bovery, (Figura 03) e o Complexo Sony Center (Figura

02) que passaram a se destacar agressivamente na paisagem histórica. Na não menos histórica

rua dos franceses, uma Galeria Lafayette (Figura 02), projetada por Jean Nouvel, tem implantada

em sua área interna uma enorme redoma de vidro e aço, numa alusão ao original francês, no qual

se encontra grande claraboia central como cobertura.

Figura 02 – Vistas: corporações Daimler Chrysler, Complexo Sony Center e Galeria Lafayette - Berlim.
Fonte: http://www.manager-magazin.de/fotostrecke/fotostrecke-27350-4.html

Figura 03 – Vista dos edifícios: Sede da Deutsche Bahn e Brown Bovery Co.
Fonte: http://www.cambridge2000.com/gallery/html/PA2628840e.html

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Figura 04 – Vista do histórico Reichstag – Sede do Parlamento Alemão. Incendiado durante bombardeio e
revitalizado posteriormente
Fonte: http://www.hardmob.com.br/cotidiano-cultura-politica/482165-hardemobe-imagens-historicas-
surpreendentes-marcantes-11.html

O histórico Reichstag inaugurado em 1894 foi severamente danificado, em 1933, por um

incêndio (Figura 04), supostamente provocado por um comunista holandês chamado Marinus van

der Lubbe e abrigou, a partir de sua reconstrução o centro do comando nazista, até a Segunda

Guerra Mundial, quando passa a enfrentar um período de abandono e degradação, tornando-se

foco, durante a implementação do projeto de reurbanização de Potsdamer Platz, de uma proposta

de revitalização de autoria de Sir Norman Foster, que propôs levantar, na área central do prédio,

uma cúpula em aço e vidro para recobrir o novo parlamento alemão (Figura 04). As relações

sociais urbanas foram substituídas por uma seleção de imagens da arquitetura cenográfica onde

os indivíduos são meros contempladores unidimensionais que, por força da propaganda da

renovação urbana apenas aparentam ser uma comunidade. Com algumas raras exceções, a

verdadeira troca de sociabilidade que existia nas antigas praças, nos mercados e até mesmo nas

ruas passa a ser apenas uma ilusão de encontros, como interpreta Gui Débord, que atribui ao

projeto urbano cenográfico uma aparência fictícia onde se destroem os limites entre o falso e o

verdadeiro. (DÉBORD, 1995)

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A REPERCURÇÃO DA CONSTRUÇÃO DO COPLEXO POTZDAMER PLATZ

A imprensa alemã se manifestou durante todo o processo de construção do novo

complexo econômico, turístico e cultural, no Die Zeit, por exemplo a manchete dizia: "Operação de

coração aberto" referindo-se aos novos ou já operantes projetos arquitetônicos implantados e

segue: “Projeto arquitetônico mais grandioso de Berlim sobe na área da Potsdamer Platz. Entre

os edifícios de Scharoun (a Staatsbibliothek eo Philarmonie) e Mies van der Rohe (a Neue

National Galerie), em direção a Berlim Mitte um enorme conglomerado de prédios está sendo

colocado. A nova ilha de arquitetura”. (http://www.ejornais.com.br/jornal_die_zeit_al.html)

Ainda seguindo a ótica de Arantes (2012), a urbanidade miniaturizada descrita remete,

imediatamente, a algumas cidades artificiais americanas, cujos exemplos máximos são as

Disney’s, que pareciam ser fenômenos tipicamente americanos, quando de suas inaugurações

respectivas e acabaram por tornarem-se ideal de cidades no mundo globalizado pós-moderno,

segundo alguns estudiosos da área. Posição compartilhada pelo crítico alemão Werner Sewing,

que se utilizou do mesmo conceito para caracterizar o pequeno mundo da Potsdamer Platz,

definindo-a como local de instalação da nova urbanidade, ideia defendida em seu artigo “Heart,

Artificial Heart, or Theme Park?” o qual traz em suas considerações finais a seguinte afirmação:

“Let’s ask Disney”6 .

Também corroborando com essa linha de abordagem, vale mencionar a referência, em

tom de elogio, feita a Walt Disney, por James Rouse7 , definindo-o como o primeiro “planejador

urbano” a extrair e isolar o desejo de segurança entranhado no vernacular e projetá-lo numa

paisagem coerente de poder “corporativo”, proposição compartilhada por Zukin (1993) ao

6
ARANTES, 2012, p. 113. In: nota de rodapé ( Em Der Potsdamer Platz, Urban Architecture for a new Berlim – Urbane
Architektur das neue Berlin, Berlim, ed. Jovis, 2000, p. 47-58)
7
Em conferência proferida pelo famoso empreendedor imobiliário responsável por Faneuil Hill, Inner Harbor e South
Street Sea Port, no ano de 1963 na Harvard University, referido por Sharon Zukin in: Landscapes of Power: from Detroit

to Disney World, University of California Press, 1993, p. 230-32).


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comprovar o embasamento da formulação conceitual de diversos shoppings malls americanos,

localizados em centros urbanos, na ideia de manipulação da memória e do consumo coletivos.

Esses “lugares” que misturam no mesmo espaço, a possibilidade de desenvolverem-se atividades

de múltiplas correntes, caracterizam novos enclaves urbanos, primeiro eram apenas shopping

centers, depois seus programas foram se tornando mais complexos no sentido de oferecer

entretenimento proveniente da diversidade de equipamentos culturais concomitantes, coexistindo

nos mesmos lugares em turnos, por vezes, alternados, como descreveu Otília Arantes:

[...] Tudo indica que a multiplicação dos parques temáticos pelo mundo todo
obedeceria a esta mesma lógica. E que os novos enclaves urbanos – no começo
eram apenas shopping malls, lugares resguardados de consumo -, estão se
tornando cada vez mais complexos, misturando no mesmo espaço toda sorte de
atividades, normais das vezes puxadas pelos equipamentos culturais, hoje
liderados pelas salas multiplex de cinema [...] (ARANTES, 2012, p. 114)

Mas os novos enclaves urbanos, não abarcam apenas atividades de consumo e

contemplação, configuram estruturas espaciais mais complexas, verdadeiramente híbridas, nas

quais se pode morar e trabalhar, como no Daimler City (Figura 05), divertir-se e conviver com o

público de frequentadores, na praça coberta do Sony Center, por exemplo (Figura 05), locais onde

descontração e segurança policiada convivem simultaneamente, configurando espaços 8 do

imaginário da cidade ideal, que é cofigurada pelo funny capitalismo, onde todos realizam suas

tarefas sorridentes, como partes integrantes de uma engrenagem, na qual o trabalho aparece

disfarçado de “animação”, tornando todos os atores envolvidos no processo, personagens de um

espetáculo multidimensional, característica fundamental e palavra de ordem para o sucesso das

indústrias do turismo e do entretenimento que motivam o projeto das novas urbanidades

contemporâneas.

8
Para Certeau, o lugar se caracterizaria por sua estabilidade enquanto o espaço pelas operações móveis através das
ações dos "sujeitos". (CERTEAU, 2008)

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Figura 05 – Vistas:Daimler City dos arquitetos Renzo Piano, Rafael Moneo and Arata Isozaki e praça
coberta do Complexo Sony Center de Helmut Jahn.
Fonte: http://www.agefotostock.com/en/Stock-Images/Rights-Managed/HMS-HEM222776

Tal fato nos leva a referir, mais uma vez Arantes (2012) ao sintetizar o pensamento de

Sharon Zukin a respeito da dimensão capitalista contemporânea do consumo visual:

[...] o consumo visual (ou cultural), é uma dimensão do capitalismo contemporâneo


altamente planejada (na qual seguramente permanecem resíduos fordistas como
quer o autor da tese da McDonaldização do mundo), seguindo estratégias que
induzem ao consumo “seletivo” do espaço e do tempo e geram os famigerados
processos de “requalificação” urbana, entendamos, de gentrificação e
consequente segregação social. (ARANTES, 2012 p. 117, apud ZUKIN, 1993, p.
259)

Sob este ponto de vista, não foi aleatoriamente que se escolheu Potsdamer Platz para

investigar conceitos relacionados a configuração de espaços híbridos9 , visto que está área se

caracteriza como a constatação mais enfática e escancarada de um novo modelo urbano,

possivelmente, como ressalta Arantes (2012), fundamentado no conceito norte americano de

cidade como máquina empresarial de crescimento, a partir da implementação de grandes projetos

urbanos espetacularizados, que constituem matrizes ou modelos da inserção da esfera cultural na

reinvenção das cidades, colaborando para uma imagem econômica mais vendável e incentivadora

9
O híbrido mostra suas muitas facetas e sua própria personalidade. Como ele depende da natureza individual de seu
processo de criação, ele pode assumir múltiplas representações, representações, mesmo aparentemente contraditórias,

marco urbano, escultura, paisagem ou volume anônimo. PER, A. F.; MOZAS, J.; ARPA, J. Isso é híbrido, Uma análise

de edifícios de uso misto. Madri: 2011.


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do turismo, princípios assimilados, reinventados e largamente empregados por F. Mitterand10 , na

França, como uma máquina cultural de crescimento, por ter descoberto na “cultura” uma

possibilidade de crescimento em tempos de crise e desarticulação social. A nova articulação

francesa demonstrava claramente estar operando com conhecimento de causa no campo da

convergência entre eficiência econômica glamourizada e cultura como investimento de ponta,

determinando efetivamente, um híbrido, que viria a ser difundido pelo mundo, traduzido em

“parques malls” imbuídos de nobres intenções pedagógico-científico-culturais.

Berlin parece-me o modelo mais atual da cidade-espetáculo. Sua


descaracterização é tão intensa que os cenários de romances e filmes conhecidos
ambientados naquela cidade estão completamente transformados pelo “vazio
exaltado pela estética sublime dos arranha-céus que coroam os centros
financeiros das megalópoles tardo-industriais com seus ascéticos espaços digitais
11
e suas frias fachadas de vidro espelhado”. (SUBIRATS, 2002)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi obedecendo ao novo princípio da Mischung (mistura), que se construiu com a intenção

de torna-la símbolo, uma microcidade síntese da nova Berlim unificada, entretanto sob o ponto de

vista arquitetônico-funcional e social totalmente reciclada, na tentativa do que Félix Guattari (1985)

definiria como reterritorialização capitalística, conjugando dentro desses espaços uma imensa

possibilidade de comunicação com uma solidão muito acentuada, afetando cada indivíduo de uma

10
Líder político francês, nasceu em 1916, em Jarnac, e morreu em 1996, em Paris. Em 1981, tornou-se o primeiro
socialista Presidente da República desde a fundação da Quinta República francesa em 1958. Ocupou o cargo durante

catorze anos. No plano das relações externas, cultivou um bom relacionamento com os Estados Unidos, ao mesmo

tempo que, aliando-se à Alemanha liderada por Helmut Kohl, fazia da França um dos países com maior

responsabilidade política no processo de criação da União Europeia. François Mitterrand. In Infopédia [Em linha]. Porto:

Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-06-15].

11
SUBIRATS, Eduardo. Viagem ao final do paraíso. Arquitetura e crise civilizacional. Texto Especial Arquitextos n. 139,
jul. 2002 <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp139.asp>.
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forma diferenciada segundo seu nível social, não pelo território mas pelo espaço

comunicacional, sendo repertoriado, exatamente pelo seu nível social e refletido de modo muito

preciso na configuração dos tipos de espaços sociais e econômicos que o afetam.

Vale esclarecer que Deleuze & Guattari indicaram que a formação subjetiva produzida por

um território específico pode se desterritorializar, se abrindo às linhas de fuga, ou seja, realizando

um movimento pelo qual se abandona o território e constrói-se um outro (reterritorialização). Em

outras palavras, a reterritorialização, se constitui numa tentativa de recomposição de um território

engajado em um processo desterritorizalizante. (ROLNIK & GUATTARI, 2005)

Com o intuito de concluir essa argumentação, se propõe uma reflexão a cerca de um

conceito proposto por Felix Guattari com a intenção de esclarecer a conformação dos novos

espaços contemporâneos, determinados não apenas por seus limites e características físicas,

mas principalmente pela subjetividade intrínseca a sua urbanidade, fator que os caracterizam

segundo o filósofo, como territórios híbridos, que existem e funcionam como uma espécie de

“ovo”, incluindo-se ai, os shopping centers, parques temáticos, malls e complexos culturais e

midiáticos, nos quais cada porção do espaço é pré-equipada, pré-codificada e seus percursos

possíveis teleguiados como circuitos a serem percorridos, buscando em síntese fabricar

empreendimentos repletos de subjetividade e caracterizados por variados elementos subliminares.

Como traço mais marcante dessa produção de subjetividade, está segundo o próprio Guattari, a

infantilização do usuário desses complexos, intrínseca à concepção de um pseudo espaço

maternal, proporcionando-lhes uma espécie de ambiente maternal separado da realidade caótica

contemporânea dos centros urbanos desenvolvidos, criando uma espécie de sentimento de

onipotência, a partir do qual se considera, que uma vez que se esteja dentro de uma dessas

bolhas, tudo pode acontecer, como se pode verificar nas palavras do pensador:

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Os territórios estariam ligados a uma ordem de subjetivação individual e coletiva e o espaço estando ligado mais ás
relações funcionais de toda espécie. (GUATTARI, 1985)
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[...] o sentimento de onipotência que está ligado à dimensão da infantilização.


Quando se está nesse mundo é como se estivéssemos num mundo de conto de
fadas, com o cartão de crédito, tudo, de repente, se torna possível. Todas as
relações são feitas de maneira a dar uma espécie de ilusão, de conto de fadas, de
onipotência infantilizante. (GUATTARI, 1985, p. 118)

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