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CURSO DE ARQUITETURA

HISTÓRIA E TEORIA DA CIDADE E DO URBANISMO

AVALIAÇÃO I

Brenda de Almeida Ferreira Leandro - 19200024


Bruno Rosa Reis – 19200191
Fellipe Neves Barbosa da Silva - 19200797

Rio de Janeiro/RJ
2021
BIOGRAFIA

Walter Gropius foi um arquiteto de destaque para o século XX. Nasceu em 18 de maio de
1883 na cidade de Berlim, na Alemanha. Seguindo os passos de seu pai, Gropius estudou
arquitetura na Universidade Técnica de Berlim e Munique entre 1903 e 1907. Sua primeira
atuação de destaque foi no projeto de fachada da fábrica de sapatos Fargus, junto a Adolf
Meyer, onde aplicou suas primeiras idéias para uma nova estética da construção, com o uso de
cortinas de vidros e a estrutura de aço de forma moderna.

Após a Primeira Guerra Mundial, o arquiteto liderou o Manifesto de Bauhaus cujo objetivo
era aliar a arte e a indústria, ou seja, juntar a técnica e a habilidade de um com o status e o
conhecimento de tempo de demanda do outro, áreas que até então sempre galgaram separadas.
Portanto, Walter junta duas importantes escolas, a Escola de Belas Artes e a Escola de Artes e
Ofício, dando origem à Escola de Bauhaus em Weimar, na Alemanha. A Escola de Bauhaus
foi a primeira escola de designer do mundo, onde seu objetivo era unir beleza e
funcionalidade. Temas como a criação de um espaço moderno, o uso da padronização e da
pré-fabricação, eram fundamentais. Para Walter, ao unir a máquina e o artista, pode-se
elaborar objetos com design de valor com rapidez e com preços justos para boa parte da
população local. Em 1926, a Escola foi transferida para Dessau, devido à hostilidade do
governo vigente na época. Sua nova sede foi projetada pelo próprio Walter Gropius, onde
todo o complexo foi desenvolvido de acordo com a função. O ideal da Bauhaus era que a
forma do objeto deveria ser definida segundo suas funções reais, surge a máxima “A forma
segue a função”. As principais características desse movimento são o uso de formas e linhas
simples; banimento dos ideais burgueses, como adornos e cores; e o uso de aço, vidro e
madeira nas estruturas dos projetos.

Em 1933, a escola foi fechada pelo governo Nazista, Walter deixa a Alemanha temendo ser
perseguido e segue para a Grã-Bretanha onde desenvolveu bastantes projetos escolares e
residenciais, como a Impington Village College, em Impington. Alguns anos depois, o
arquiteto mudou-se para os Estados Unidos da América após ser convidado a lecionar na
Escola de Arquitetura na Universidade de Harvard. Foi nesse período que pode dedicar-se
mais à suas obras, elaborando seus melhores projetos, um deles foi a Harvard Graduated
Center. Tornou-se diretor da Faculdade de Arquitetura de Harvard e em 1944 ganhou a
cidadania americana. Viveu no país até seu falecimento, em 1969.

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CIDADE

As idéias fundamentais de Walter Gropius giravam em torno de uma cidade que sintetizava
padronização, pré-fabricação, ergonomia e arte. Ele acreditava que o processo de
industrialização poderia ser um canal para a construção de alojamentos em serie, uma forma
de padronizar e baratear as habitações que modelam as cidades sem perder a racionalidade. A
beleza era um objeto essencial para Walter que sempre buscava na forma a função, um novo
método de se construir buscando a fidelidade com a essência do que estava sendo construído,
levando em conta não só a mecânica, a plástica, a função ou a acústica de um determinado
lugar, mas também o seu “espírito”.
Para cada época surge uma nova visão que rompe com os padrões, despontando em direção a
um caminho único e utópico que aparentemente é o ideal. Alcançar esses ideais nem sempre
levou a mudança a um ponto pleno e confortável, pelo contrário, o que movimenta a história
são, em parte, os rompimentos. Gropius não se distanciou disso em seu ideal de uma
arquitetura racional e construída em módulos. Construir uma imagem única do mundo pode
gerar um processo nostálgico, monótono e limitante em que a cultura e a forma com que as
pessoas se relacionam com o espaço seja completamente modificada.
A Arquitetura Internacional vem de uma adequação desse espírito construtivo, com materiais
novos e industrializados; exatidão e rigor formal; simplicidade na diversidade; métodos
construtivos baseados na função dos edifícios e limitações de formas e bases que são
classificadas e repetidas. O modelo standard não desacelerou o processo de desenvolvimento
da civilização, pelo contrário, com um modelo único e simplificado que poderia aderir a
diversas formas de uso, fruto de uma síntese de padrões e formas anteriores que funcionavam
ele seria visto e recebido com bons olhos pela indústria por poder ser produzido em escala. As
grandes épocas da história traçaram linhas semelhantes de pensamento com construções que
tinham em comum a mesma função e eram construídas com o mesmo projeto. A uniformidade
nos componentes arquitetônicos no modelo standard deveria servir para homogeneizar a
cidade ressaltando uma sociedade superiormente organizada e para diminuir seu preço de
custo, elevando com isso o nível social da população. No capítulo em questão, essa
comparação de repetições estandardizadas de elementos poderia ser traduzida com a forma
em que nos vestirmos e na forma como roupa foi introduzida na vida social.
Walter Gropius também se preocupava com as questões de moradia para classes
economicamente desfavorecidas, que ele nomeia de moradia mínima. Determinar a estrutura
necessária para cada alojamento economicamente acessível era uma tarefa que iria além da

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forma habitacional e chegaria até o planejamento da cidade inteira com um grande organismo
que se comunica com as questões sociais. O arquiteto teria também a função de coordenador,
cujo papel é reduzir ao máximo os problemas plásticos, técnicos, sociais e econômicos
causados pelo descaso com o urbanismo e com isso, o estudo de habitações se relacionava
com a rua que se relacionava com a cidade.
O tipo ideal de habitação para Gropius eram os prédios de apartamentos de oito a doze
andares, para ele, esses imóveis eram superiores as formas térreas e aos apartamentos de dois
a cinco andares, pois satisfaziam em todas as exigências nos quesitos ar, luz e tranquilidade.
Esse modelo de apartamento ganharia também na questão da densidade populacional
geográfica que passaria a ocupar menos espaço com construções verticais. Já as construções
de tamanho intermediário não apresentavam nenhuma das vantagens dos seus extremos,
devendo, segundo Gropius, ser abandonada pelos novos arquitetos racionalistas. Os limites de
altura impostos pelos regulamentos são, na visão do arquiteto, um ato errôneo e mal pensado,
a densidade populacional e o número de habitações precisam de uma necessária diminuição
que pode ser gerada a partir da verticalização das habitações. Entretanto, essa verticalização
precisa ser controlada e ordenada para não se tornar uma floresta labiríntica de arranha-céus,
produzindo um verdadeiro caos, como em Nova York e Chicago.
A reconciliação com o campo também era um objetivo de Gropius, cujo ideal era obter uma
cidade mais espaçada que se mistura com o verde. Unidades mais próximas da realidade do
dia a dia que estarão amplamente espalhadas por regiões inteiras, um campo urbanizado. O
processo descongestivo da cidade será assegurado por aqueles que não têm emprego fixo, eles
serão remanejados para “novas unidades urbanas” onde poderão recuperar sua capacidade de
produção e seu meio de sustento. Esse novo processo construtivo serviria de experiência
preparatória para um estágio mais complexo: a reconstrução das nossas grandes cidades. A
velha cidade dará lugar a um novo modelo administrativo que cobrirá toda a região, dentro do
qual está a unidade urbana. Trazendo com isso a homogeneização entre a cidade grande e a
cidade pequena, entre o campo e acidade, permitindo que o cidadão possa participar da
criação de novas aglomerações humanas, novas cidades.

BAIRRO BANGU

Após a leitura do capítulo Walter Gropius do livro O Urbanismo de Françoise Choay,


escolhemos o bairro Bangu para analisarmos. Esse faz parte da Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Trata-se de um bairro com origem rural, onde predominavam as atividades ligadas ao setor

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primário. O gênese do bairro foi a Fazenda Bangu, fundada por Manuel Barcelos Domingos
no ano de 1673, que foi grande produtora de cana-de-açúcar na época. Após pesquisas
relacionadas à história da fábrica, encontramos o nome Ana Bangu, primeira proprietária a
documentar os registros da fazenda e fazer uso do nome Bangu. Logo após sua morte, seu
filho e herdeiro, conhecido como Coronel Gregório de Castro Morais e Souza, assumiu a
administração da fazenda até o ano de 1870, quando optou pela venda para Manoel Miguel
Martins, Barão de Itacurussá. Com o decorrer do tempo, o Barão decidiu vender a fazenda
para a Companhia Progresso Industrial do Brasil (CPIB). A partir desse momento, é fundada a
Fábrica de Tecidos Bangu, cuja matéria-prima principal foi o algodão do Seridó. Após a
instalação da fábrica, o espaço rural que ali se encontrava logo se transformou em urbano. A
fábrica foi um marco no desenvolvimento de Bangu, pois foi uma das responsáveis em
desenvolver, sustentar e participar no processo de transformação do bairro. Através dessa
transformação, Bangu passou a ter grande importância para o desenvolvimento econômico da
cidade do Rio de Janeiro.
A partir do ano de 1889, o bairro passou a vivenciar uma transformação no espaço, na cultura
e no trabalho, trazendo uma nova fase histórica e uma nova dinâmica de bairro. A fábrica,
seguindo modelos de arquitetura inglesa, financiava casas para todos os seus empregados.

Todas construídas com materiais que eram trazidos da Europa. O que antes era rural passou a
ser um típico bairro urbano, pensado para atender as necessidades geradas pela fábrica.
Ademais, não só moradia foi proporcionada aos operários, atendimento médico, pagamentos
de enterros e outros tipos de auxílios foram oferecidos. Houve um melhora na qualidade de
vida.A CPIB foi uma grande construção para a região naquele momento. A alta demanda de
mão de obra e a diversidade de especializações que sua produção industrial necessitava, gerou
muitos empregos. Surge também uma nova relação entre o homem e o método de trabalho.

Figura 1- Fábrica de Tecidos Bangu Figura 2 – Mulheres na fábrica

Fonte: Rio Secreto Fonte: Jornal Extra

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Após a construção da fábrica de tecidos, obras importantes foram iniciadas, como a Estação
Ferroviária de Bangu em 1890, o ramal ferroviário de Santa Cruz em 1892, A Igreja de São
Sebastião e Santa Cecilia em 1908, entre outras construções benéficas que agregaram a
estrutura física e social do bairro. Em 1904 o esporte fez parte também da linha de criação da
fábrica, pois foi um dos berços do Bangu Atlético Clube, time criado por um grupo de
operários ingleses e brasileiros, que trabalhavam na fábrica.

Podemos afirmar que para um bairro, a instalação de uma indústria gera a necessidade de
novos modelos de moradias e edificações, pois para atender a demanda da produção fabril,
conseqüentemente ocorre um aumento no número de habitantes locais. Esse crescimento
habitacional desordenado gera uma excessiva ocupação do espaço edificado ao longo dos
anos devido a falta de planejamento, dando origem a insegurança e a criminalidade, trânsito
congestionado, insuficiência do transporte público, diminuição da acessibilidade em horários
de pico e a degradação do bairro por falta de manutenções básicas, como a limpeza de ruas,
manutenção de calçadas, asfalto, praças e saneamento básico.

Segundo a visão de Walter Gropius, esses problemas urbanos poderiam ser revertidos através
de uma arquitetura organizada e racional. Para ele no início das primeiras zonas das cidades
seria necessário um controle ativo que limitaria os loteamentos e distanciamentos entre as
propriedades, permitindo assim uma mescla de construções residências, comércios, indústrias
e áreas verdes sem tornar os centros extremamente populosos. O transporte também teria
papel extremamente importante para aliviar o agrupamento de casas ao redor do centro, tendo
maior oferta de transporte com uma maior fluidez entre o trânsito e as áreas indústrias, os
trabalhadores poderiam se estabilizar em áreas mais distribuídas pela cidade causando mais
homogeneização urbana. Com a cidade homogeneizada e o transporte gerando acessibilidade
entre os centros, os bairros menores e o campo, as aglomerações que se formam em torno das
indústrias e do centro comercial seriam extintas.

Segundo o MonitoAr-Rio (Rede Municipal de Monitoramento da Qualidade do Ar)1, dentre


as oito estações de monitoramento do Rio de Janeiro, o pior desempenho foi apresentado pela
Estação Bangu.

“Foi registrado menos de 20% de dias de boa qualidade do ar, a geografia local pode
ter a reposta para esse desempenho. O bairro está localizado entre duas cadeias de
montanhas: o Maciço da Pedra Branca, ao sul, e a Serra de Gericinó, ao norte.
Bangu está situado em um vale, isso dificulta a dispersão dos poluentes, que acabam

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Disponível em: https://rioonwatch.org.br/?p=4845
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se concentrando”, explica o ambientalista Sérgio Ricardo, pós-graduado pela
COPPE/UFRJ.

Figura 3 – Mapa das Estações OTICS no Rio de Janeiro.

Fonte: Rede OTICS Rio

Bangu faz parte da Área de Planejamento 5 (AP5) da cidade, que corresponde às regiões
administrativas da Zona Oeste de Realengo, Bangu, Campo Grande, Guaratiba e Santa Cruz.
A Zona Oeste somada a Zona Norte, correspondem às áreas com menor presença de
arborização na cidade. Outrossim, o Parque Estadual da Pedra Branca, a principal cobertura
florestal da região, vem sido desmatada nas últimas décadas por conta do processo de
ocupação intensificado.

“O aumento da zona verde em áreas urbanas com grandes níveis de poluição pode
ser uma estratégia viável para ajudar a reduzir estas concentrações nessas áreas”,
afirma Ana Lúcia Feitais Fernandes, na dissertação “Os Impactos dos Espaços
Verdes na Qualidade do Ar”.

A ótica de um campo urbanizado era defendida por Gropius como uma reconciliação entre o
campo e a cidade aliviando as antigas cidades dos pesos mortos, dessarte os bairros
desaglomerados poderão se tornar centros orgânicos e cultuarias.

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De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2, o Rio de
Janeiro é a cidade brasileira com o maior percentual de sua população vivendo em favelas:
22,03%. Isso corresponde a mais de 1,3 milhões de pessoas. Próximo a um terço do número
de habitantes do município, em torno de seis milhões. Esses dados se refletem em Bangu
também, com os altos custos de materiais de construção e de compra de terrenos e imóveis o
trabalhador mais simples e a família que tem sua renda na informalidade não encontram
soluções de moradia. O único modo é viver dentro de uma área informal em condições de
habitação precárias. As favelas, por exemplo, a do Sapo e do Quarenta e Oito, vão ganhando
cada vez mais espaço no cenário urbanístico atual, amontoados de casa com construções
precárias e emergidas em conflitos entre a criminalidade e a polícia, marginalizados pelos
centros e pelas sociedades vão sendo abandonados em um abismo de segregação social.

Figura 4 – Favela do Sapo.

Fonte: Perinews.

Para resolver os problemas poderíamos citar as construções Standards ou até mesmo as


chamadas “Habitações Mínimas” que Gropius apresenta como um modelo padrão de
habitação acessível. Acessível, pois seria feita com materiais pré-fabricados em grande escala
com um nível de acabamento mais simples e neutro, conseguindo uma economia de 40% nas
construções de dez a doze andares comparados as de dois a cinco andares e a padronização
arquitetônica geraria novas tecnologias de produção que poderão diminuir o custo final do
produto. A redistribuição de pessoas que ocupam essas favelas seria feita a partir da oferta de

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Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/rio-a-cidade-com-maior-populacao-em-favelas-do-brasil-
3489272#:~:text=RIO%20%2D%20O%20Rio%20de%20Janeiro,6.323.037%20moradores%20do%20Rio.
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emprego em locais já urbanizados, pessoas desempregadas ou que possuem empregos
precários seriam asseguradas pela demanda de emprego dos novos bairros orgânicos e
voltariam a ser produtivas obtendo seu sustento em lugares já organizados. Gerando com isso
condições mais iguais de habitação e terminando com a segregação entre os centros e os sub-
bairros, entre a cidade e o campo e entre as favelas e a cidade.

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REFERÊNCIAS

TOLEDO, Rodrigo . Concepções progressistas e culturalistas do espaço social: a


dimensão dos projetos e dos planos para as cidades brasileiras da primeira metade do
século XX. Revista Espaço de Diálogo e Reconexão. V. 10 n. 2, 2018. São Paulo.
Disponível em: <https://doi.org/10.32760/1984-1736/REDD/2018.v10i2.11983> Acesso em:
16 abr. 2021.

CHOAY, Françoise. O urbanismo: utopias e realidades. São Paulo: Editora Perspectiva,


1992.
SOUSA, Gabriel. Bangu: Do bairro operário à centralidade comercial, uma análise sobre
conflitos e cooperações entre agentes produtores do espaço urbano do bairro. São Paulo:
ENANPEGE, 2019. p. 3-5.

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