Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Unidade II
3 AS FUNÇÕES DO DESIGN
Segundo Bernd Löbach (2001), na relação do homem com os objetos de uso de seu cotidiano existem
três funções que os produtos, frutos da atuação do designer, podem apresentar: função prática, função
estética e função simbólica. Ainda segundo esse autor, essas funções geralmente ocorrem de forma
simultânea nos objetos, mas pode ser que uma destas seja mais preponderante do que a outra.
A função prática refere-se ao uso que o objeto propicia e às necessidades que supre para o usuário.
Pode-se reconhecer essa função nos objetos propostos principalmente pela Bauhaus (será tratada mais
à frente) em sua primeira fase. A função estética é entendida como a relação entre um objeto e um
usuário a partir da sua percepção sensorial. Löbach (2001) entende que a função estética dos produtos
é um aspecto psicológico da percepção sensorial durante o seu uso. Por último, a função simbólica,
termo cunhado por Jean Piaget, que é a capacidade que o objeto possui de significar, ao propiciar
representações mentais no usuário a partir de imagens, números, palavras, formas etc.
Foi na segunda metade do século XIX e início do XX que começou a formar-se o conceito estético
relacionado à função e não mais à beleza por si só. Os arquitetos Henri Labrouste, Louis Sullivan e o
escultor Horatio Greenough são os personagens principais no século XIX que construíram as teorias que
se desenvolveriam mais agudamente no início do XX, com Adolf Loos, Walter Gropius ou Le Corbusier.
Löbach (2001, p. 89-90) apresenta a teoria dos funcionalistas como estando alinhada com os critérios
da produção industrial, a saber:
As três funções descritas anteriormente articuladas pelo designer possibilitam alcançar o caráter
do objeto enquanto símbolo. O conceito de símbolo remete a um significado especial que pode ser
percebido ou não pelo usuário em função de sua condição social e cultural.
33
Unidade II
Lembrete
No Design de Interiores de hoje utilizam-se muitos produtos, entre os quais mobiliários, objetos
e componentes arquitetônicos produzidos industrialmente. Mas existem campos de atuação em que
34
HISTÓRIA DO DESIGN E DO MOBILIÁRIO
era praticamente impossível empregar elementos produzidos industrialmente, como quando se trata
do restauro de elementos construtivos, ou pinturas murais, douração etc. Nesse campo, o do restauro,
cada tipo de trabalho exige uma escolha técnica precisa, principalmente porque na contemporaneidade
surgiram novas tecnologias, como os softwares que propiciam a construção de imagens em 3D
e sua posterior impressão, modificando substancialmente aquilo que era tratado apenas como
trabalho artesanal.
4 O MODERNISMO E O LAR
No início do século XX, pela primeira vez na história da arquitetura ou da arte, artistas e arquitetos
europeus procuraram atender às necessidades das classes trabalhadoras (operários), em todas as escalas
da vida cotidiana, desde “a colher até a cidade”, como diria Le Corbusier, o arquiteto franco-suíço, um
dos mestres da primeira geração de artistas modernistas.
Saiba mais
A produção industrial implicava a produção em série, pressupondo a padronização dos produtos e peças
componíveis, em quantidade, qualidade e a preço justo. Por isso sua produção visava à funcionalidade
e à economia de meios – buscava-se a essencialidade da vida e, portanto, das necessidades materiais, e
sempre um preço final dos produtos acessível para todos.
35
Unidade II
alcançada com a atuação da Deutscher Werkbund mostrando que o entendimento sobre esta estava
interligado à funcionalidade.
Os artistas e arquitetos da época acreditavam que, a partir dos projetos de artefatos criados
para serem produzidos pela indústria e comercializados nas cidades, a vida dos trabalhadores
poderia transformar-se em uma vida melhor. Essa ideia da transformação social a partir da arte e
da arquitetura, bem como do design e do urbanismo perseguiu-os por todas as primeiras décadas
do século XX. Somente após a Segunda Grande Guerra é que, com a nova conformação política e
econômica mundial, essa meta é substituída pelo pós-modernismo.
Nas primeiras décadas do século XX, as principais experiências na produção de novas formas para o
mobiliário estavam concentradas na Holanda, na Alemanha e na França.
A Cadeira Vermelha e Azul de Gerrit Rietveld, designer holandês desse período, representa os
conceitos projetuais do De Stijl: a estrutura preta é o que representa o espaço. Esta pode ser pensada
com dimensões infinitas. No caso da cadeira, Rietveld delimita a estrutura, e, ao fazê-lo, as superfícies
de corte são pintadas de dourado (cor que elimina a espacialidade). Uma cadeira deve permitir que a
pessoa sente e se recoste. Isso é representado por dois planos: o assento (azul) e o encosto (vermelho).
Uma pequena inclinação dos planos gerará o conforto que o sentar exige.
36
HISTÓRIA DO DESIGN E DO MOBILIÁRIO
Saiba mais
4.1 Bauhaus
37
Unidade II
Lembrete
O segundo aspecto da criação da Bauhaus era formar artistas que se aproximassem do processo
industrial para criar objetos de uso cotidiano (desde equipamentos da habitação, como mobiliário,
luminárias; elementos construtivos, como ferragens; tecidos e até objetos triviais do cotidiano, como
potes, chaleiras, talheres etc.). Para garantir a racionalidade do processo produtivo era necessária a
padronização dos objetos aliada à geometrização das formas. Para o mestre da Bauhaus, Walter Gropius,
“projetar o espaço significa projetar a existência e a recíproca é verdadeira: não há existência consciente
que não seja de algum modo projetada” (ARGAN, 1999, p. 273).
A Bauhaus teve três fases distintas: a primeira expressionista, a partir de sua fundação, em Weimar;
depois passou pela fase construtivista, em Dessau; até a terceira fase com maior ênfase na arquitetura
e urbanismo em detrimento da abordagem artística, ainda em Dessau e posteriormente em Berlim. Seus
diretores foram Walter Gropius, Hannes Meyer e Mies van der Rohe.
Saiba mais
O expressionismo foi um movimento de vanguarda muito importante
na Alemanha nos anos 1910 e 1920, manifestando-se em várias linguagens,
como o cinema, por exemplo. É possível estudar as obras de Edvard Munch
assistindo ao filme:
O GABINETE do Dr. Caligari. Dir. Robert Wiene. Alemanha. 1920. 71 minutos.
Na primeira fase participaram principalmente três artistas, a saber: Johannes Itten, o pintor Lyonel
Feininger e o escultor Gerhard Marks. Mas quem de fato exercia maior influência era o pedagogo de arte
e pintor Johannes Itten.
acaba e nasce um novo caminho, o De Stijl, o “estilo”, fundado por Theo van Doesburg e Piet
Mondrian na Holanda, em 1917. Os objetivos do ensino do De Stijl na Bauhaus eram ensinar algo
novo e radical e desenvolver uma obra de arte total. “O ângulo direito e as três cores primárias,
completadas pelo preto, branco e cinzento compunham os elementos básicos da expressão”
(DROSTE, 1994, p. 54, tradução nossa).
Observação
Ângulo direito que dizer ângulo reto, isto é, de 90º.
Influenciado pelo De Stijl, um dos melhores alunos da Bauhaus, Marcel Breuer, criou cadeiras no
período de 1921 a 1925 com os princípios dessa corrente neoplástica (como era também chamada
a vanguarda do De Stijl). Ele foi o primeiro, como melhor aluno da Bauhaus, a experimentar
mobiliário com aço tubular, a partir da observação dos tubos curvados de sua bicicleta (SCHAEFER,
1981, tradução nossa).
Saiba mais
Para conhecer melhor o De Stijl, leia:
MONDRIAN, P. Mondrian e movimento De Stijl. São Paulo: Art
Unlimited, 2016.
39
Unidade II
Os artistas Paul Klee e Wassily Kandinsy ministravam aulas no início do curso. Klee trabalhou logo
no início a “Teoria da forma pictórica”, a partir da bidimensionalidade de um painel. Mais tarde, incluiu
a Teoria da cor. Já Kandinsky trabalhava com as cores elementares ou puras (vermelho-amarelo-azul) e
com as formas geométricas básicas (círculo-triângulo-quadrado). Seu interesse sobre o efeito da cor o
fez criar exercícios que exploravam a relação entre formas geométricas e cores.
Lembrete
As três cores primárias são o vermelho, azul e o amarelo, isto é: são as
cores puras.
40
HISTÓRIA DO DESIGN E DO MOBILIÁRIO
Os ateliers oferecidos eram o de cerâmica, tecelagem, metal, mobiliário, vitral e pintura mural,
escultura em madeira e em pedra, encadernação, tipografia e teatro. Eles oscilavam entre o trabalho
manual e a tentativa de buscar soluções formais que pudessem ser produzidas industrialmente.
O atelier de cerâmica produziu exemplos de diferentes chaleiras, bules e jarros, cuja forma do corpo
principal é a mesma para diversas soluções em que muda apenas o pegador, a tampa ou o bico, ou
mesmo suas posições.
O atelier de tecelagem foi o mais feminino de todos e o que talvez tivesse um aspecto mais
industrializado do que os outros. O de metais produziu uma série de objetos cuja aparência, a partir das
formas puras, poderia parecer fruto de uma produção industrial, mas eram produtos realizados nas oficinas
da Bauhaus e ainda manualmente. Ainda neste, além do material metálico, procuraram experiências
com outros materiais. O atelier de mobiliário, em primeira instância, buscou a estandardização, em que
os designers buscavam soluções que pudessem ser produzidas industrialmente.
41
Unidade II
Observação
42
HISTÓRIA DO DESIGN E DO MOBILIÁRIO
Figura 38 – Produção no ateliê de metal: Luminária, Figura 39 – Produção no ateliê de metal: Jogo
de 1923-1924, de Carl Jakob Jucker e Wilhelm de Café, de 1924, de Wilhelm Wagenfeld
Wagenfeld (à esquerda), e luminária, de 1924, de
Wilhelm Wagenfeld
Figura 43 – Poltrona chaise longue LC4, de 1928, de Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand
44
HISTÓRIA DO DESIGN E DO MOBILIÁRIO
Dentre as teorias desenvolvidas por Le Corbusier, não podemos deixar de citar o modulor,
as dimensões humanas universais estabelecidas para o homem-tipo. Para não adotar o sistema
decimal, ele baseou-se em proporções relacionadas inicialmente a um homem com altura de 1,75 m
e posteriormente a 1,83 m.
226,0
182,9
139,7
113,0
86,3
69,8
43,2
26,7
cm
Como as novas necessidades sociais e econômicas, após a Primeira Guerra Mundial, a mulher
também é incorporada no mercado de trabalho e começa a trabalhar fora de casa. Com isso, ao ter
que se desdobrar em múltiplas tarefas cotidianas no cuidado com a casa, não sobra muito tempo para
as mesmas tarefas realizadas antes na cozinha patriarcal e grande da casa. Além disso, em 1926, Ernst
May, o então arquiteto encarregado na prefeitura de Frankfurt, projetou e construiu uma habitação
mínima para trabalhadores. Dentro desse contexto, era fundamental racionalizar o trabalho na
cozinha. Para isso, incumbiu a arquiteta vienense Margarete Schütte-Lihotzky de projetar uma cozinha
compacta e racional dentro do programa da Nova Frankfurt. A cozinha projetada pela arquiteta possuía
3,40 m × 1,90 m e foram feitos estudos de todos os movimentos e gestos necessários para os
procedimentos de quem utiliza a cozinha, e evitando deslocamentos desnecessários.
45
Unidade II
Assim como o pensamento de Le Corbusier, a cozinha de Frankfurt seria como uma estação de
trabalho que deveria funcionar como uma máquina. A cor estabelecida, um azul-esverdeado, foi
escolhida por afastar os insetos.
46
HISTÓRIA DO DESIGN E DO MOBILIÁRIO
Saiba mais
Na Dinamarca, destaca-se Kaare Klint, que “renovou” estilos passados, retirando ornamentos e
características formais, proporcionando um caráter formal atemporal, privilegiando a funcionalidade.
Como professor na Academia de Belas Artes de Copenhagen, seus ensinamentos, contrários aos
métodos da Bauhaus, orientavam os alunos para pesquisarem nas formas do passado aquilo que poderia
representar a essência do que seria realmente da tradição escandinava.
47
Unidade II
Na Suécia, Karl Bruno Mathsson utilizou madeira laminada para criar formas contínuas. Mas é na
Finlândia que Alvar Aalto utilizará a madeira de forma nunca antes imaginada. É de 1932 sua cadeira
criada com assento e encosto contínuo de madeira laminada.
Resumo
Exercícios
49
Unidade II
II – As pinturas de Piet Mondrian foram a principal fonte para o desenvolvimento da filosofia e das
formas visuais do movimento de que a obra retratada é representativo.
III – Os artistas do movimento ao qual pertence a obra retratada buscavam alcançar a harmonia
universal da natureza por meio da inclusão de linhas curvas e diagonais.
IV – O repertório visual do grupo de artistas a que Gerrit Rietveld pertencia foi reduzido ao uso de
cores primárias, cores neutras, planos chapados quadrados, retangulares e circulares e ao uso frequente
da simetria.
A) I e II, apenas.
B) I e IV, apenas.
C) II e III, apenas.
D) III e IV, apenas.
E) I, II, III e IV.
I – Afirmativa correta.
II – Afirmativa correta.
IV – Afirmativa incorreta.
Questão 2. (Enade 2015). A imagem a seguir representa um dos objetos que consolidaram a reputação
da escola Bauhaus como uma força de liderança do design industrial no século XX. A cadeira B3, de
Marcel Breuer, mais tarde conhecida como cadeira Wassily, produzida em 1925, foi um dos primeiros
desenhos a explorar o aço tubular, cujos aspectos como aparência rígida e elegante, força estrutural e
leveza permitiram a criação de móveis em novas e surpreendentes formas.
Figura 50
Fonte: DESIGN MUSEUM. Cinquenta cadeiras que mudaram o mundo. Belo Horizonte: Autêntica, 2010 (adaptado).
A cadeira ilustrada representa um dos princípios adotados pela escola Bauhaus, pois:
C) representa o gosto estético disseminado pela burguesia das primeiras décadas do século XX.
D) explicita a ideia de simplificação da forma do móvel para uma produção industrial de qualidade.
51