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HISTÓRIA DO DESIGN E DO MOBILIÁRIO

Unidade II
3 AS FUNÇÕES DO DESIGN

Segundo Bernd Löbach (2001), na relação do homem com os objetos de uso de seu cotidiano existem
três funções que os produtos, frutos da atuação do designer, podem apresentar: função prática, função
estética e função simbólica. Ainda segundo esse autor, essas funções geralmente ocorrem de forma
simultânea nos objetos, mas pode ser que uma destas seja mais preponderante do que a outra.

A função prática refere-se ao uso que o objeto propicia e às necessidades que supre para o usuário.
Pode-se reconhecer essa função nos objetos propostos principalmente pela Bauhaus (será tratada mais
à frente) em sua primeira fase. A função estética é entendida como a relação entre um objeto e um
usuário a partir da sua percepção sensorial. Löbach (2001) entende que a função estética dos produtos
é um aspecto psicológico da percepção sensorial durante o seu uso. Por último, a função simbólica,
termo cunhado por Jean Piaget, que é a capacidade que o objeto possui de significar, ao propiciar
representações mentais no usuário a partir de imagens, números, palavras, formas etc.

Foi na segunda metade do século XIX e início do XX que começou a formar-se o conceito estético
relacionado à função e não mais à beleza por si só. Os arquitetos Henri Labrouste, Louis Sullivan e o
escultor Horatio Greenough são os personagens principais no século XIX que construíram as teorias que
se desenvolveriam mais agudamente no início do XX, com Adolf Loos, Walter Gropius ou Le Corbusier.
Löbach (2001, p. 89-90) apresenta a teoria dos funcionalistas como estando alinhada com os critérios
da produção industrial, a saber:

• Eliminação dos adereços “inúteis” e “supérfluos” dos produtos (por


exemplo, ornamentos ou efeitos lúdicos).

• Utilização de princípios construtivos técnico-físicos e técnico-econômicos.

• Utilização racional dos meios disponíveis com objetivos bem


determinados; gastos mínimos para obter rendimento máximo.

• Custos mínimos de fabricação e de administração.

• Renúncia à configuração de produtos com influências emocionais.

As três funções descritas anteriormente articuladas pelo designer possibilitam alcançar o caráter
do objeto enquanto símbolo. O conceito de símbolo remete a um significado especial que pode ser
percebido ou não pelo usuário em função de sua condição social e cultural.

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Figura 26 – Exemplo de predominância da Figura 27 – Exemplo de predominância da


função prática no design: cadeira Emeco 1.006, função estética no design: cadeira Panton,
Navy Chair de Verner Panton

Figura 28 – Exemplo de predominância da função simbólica no design: Novo Fiat 500

Lembrete

São três as funções do design segundo Bernd Löbach (2001): a função


prática, a função estética e a função simbólica.

No Design de Interiores de hoje utilizam-se muitos produtos, entre os quais mobiliários, objetos
e componentes arquitetônicos produzidos industrialmente. Mas existem campos de atuação em que

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era praticamente impossível empregar elementos produzidos industrialmente, como quando se trata
do restauro de elementos construtivos, ou pinturas murais, douração etc. Nesse campo, o do restauro,
cada tipo de trabalho exige uma escolha técnica precisa, principalmente porque na contemporaneidade
surgiram novas tecnologias, como os softwares que propiciam a construção de imagens em 3D
e sua posterior impressão, modificando substancialmente aquilo que era tratado apenas como
trabalho artesanal.

4 O MODERNISMO E O LAR

No início do século XX, pela primeira vez na história da arquitetura ou da arte, artistas e arquitetos
europeus procuraram atender às necessidades das classes trabalhadoras (operários), em todas as escalas
da vida cotidiana, desde “a colher até a cidade”, como diria Le Corbusier, o arquiteto franco-suíço, um
dos mestres da primeira geração de artistas modernistas.

Saiba mais

Para mais informações sobre as teorias de Le Corbusier, leia:

LE CORBUSIER. Por uma arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 2014.

A indústria e a consequente urbanização implicaram o aumento demográfico nas principais cidades


europeias, e o modo de vida das classes trabalhadoras sofria com a falta de moradias adequadas,
com o desconforto pela insalubridade dos cortiços nos quais se amontoavam famílias inteiras, com
a poluição industrial, todos problemas que necessitavam de soluções rápidas e eficientes. Mas, por
outro lado, a produção industrial cada vez mais pujante necessitava ser distribuída para uma nova
sociedade que adentrava no mundo do consumo.

A produção industrial implicava a produção em série, pressupondo a padronização dos produtos e peças
componíveis, em quantidade, qualidade e a preço justo. Por isso sua produção visava à funcionalidade
e à economia de meios – buscava-se a essencialidade da vida e, portanto, das necessidades materiais, e
sempre um preço final dos produtos acessível para todos.

A atuação do arquiteto passa a contemplar todas as fases da produção, desde a programação ou


projeto do produto que será fabricado por meios mecânicos até a venda do produto e sua exposição
em alguma vitrine da cidade. Nesse processo, a estética das máquinas tem uma importância muito
grande, pois representa aquela essencialidade citada anteriormente. A máquina é composta de peças
absolutamente essenciais para o seu funcionamento, não há nenhuma peça supérflua que possa
acarretar perda de eficiência e de tempo de produção. O outro aspecto a ser levado em conta é a
estética do projeto do produto que agora passa a se pautar pelo exemplo da máquina, isto é, sua beleza
é funcional, mais do que formal, pois atende à essência da existência das pessoas comuns. Contudo, o
arquiteto alemão Hermann Muthesius argumentou, no Congresso de 1911, que a boa forma deveria ser

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alcançada com a atuação da Deutscher Werkbund mostrando que o entendimento sobre esta estava
interligado à funcionalidade.

Os artistas e arquitetos da época acreditavam que, a partir dos projetos de artefatos criados
para serem produzidos pela indústria e comercializados nas cidades, a vida dos trabalhadores
poderia transformar-se em uma vida melhor. Essa ideia da transformação social a partir da arte e
da arquitetura, bem como do design e do urbanismo perseguiu-os por todas as primeiras décadas
do século XX. Somente após a Segunda Grande Guerra é que, com a nova conformação política e
econômica mundial, essa meta é substituída pelo pós-modernismo.

Nas primeiras décadas do século XX, as principais experiências na produção de novas formas para o
mobiliário estavam concentradas na Holanda, na Alemanha e na França.

A Cadeira Vermelha e Azul de Gerrit Rietveld, designer holandês desse período, representa os
conceitos projetuais do De Stijl: a estrutura preta é o que representa o espaço. Esta pode ser pensada
com dimensões infinitas. No caso da cadeira, Rietveld delimita a estrutura, e, ao fazê-lo, as superfícies
de corte são pintadas de dourado (cor que elimina a espacialidade). Uma cadeira deve permitir que a
pessoa sente e se recoste. Isso é representado por dois planos: o assento (azul) e o encosto (vermelho).
Uma pequena inclinação dos planos gerará o conforto que o sentar exige.

Figura 29 – Cadeira vermelho e azul, de Figura 30 – Cadeira Zig Zag, de 1938, de


Gerrit Rietveld Gerrit Rietveld

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Figura 31 – Cadeira Berlin, de 1923, de Gerrit Rietveld

Saiba mais

Para saber o que é o pós-modernismo, leia:

SANTOS, J. F. dos. O que é o pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 1986.

4.1 Bauhaus

Paralelamente à atuação do Deutscher Werkbund, em 1919 fundou-se na cidade de Weimar uma


escola para formação de artistas designers chamada Bauhaus – Bau = construção; Haus = casa –,
portanto seu significado é casa da construção; mas a palavra bauen significa estrutura, esse é o principal
significado dado à Bauhaus por Walter Gropius, fundador da escola. Fruto da junção da Escola Superior
de Arte, dirigida por Fritz Mackensen, e da de Artes e Ofícios, dirigida por Henry van de Velde, o fundador
Walter Gropius tinha o objetivo principal de criar uma escola para a construção da democracia. Uma
sociedade democrática que almejasse o progresso tinha que investir na educação, ou melhor, na educação
em democracia. Para isso era necessário que a escola funcionasse sob o princípio da colaboração
entre professores e estudantes. Portanto, a racionalidade e a dialética deveriam amparar esse objetivo
primordial de transformação social. Mas a sociedade democrática define a forma da cidade. Como cita
Argan (2015) em sua obra, ao construir a cidade, a sociedade se constrói.

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Lembrete

O Deutscher Werkbund foi fundado em 1907, na cidade de Munique, na


Alemanha, pelo arquiteto Hermann Muthesius, com a finalidade principal
de melhorar a qualidade das mercadorias produzidas pela indústria alemã
para recuperar uma “cultura harmônica” perdida por causa dos processos
de urbanização e da industrialização.

O segundo aspecto da criação da Bauhaus era formar artistas que se aproximassem do processo
industrial para criar objetos de uso cotidiano (desde equipamentos da habitação, como mobiliário,
luminárias; elementos construtivos, como ferragens; tecidos e até objetos triviais do cotidiano, como
potes, chaleiras, talheres etc.). Para garantir a racionalidade do processo produtivo era necessária a
padronização dos objetos aliada à geometrização das formas. Para o mestre da Bauhaus, Walter Gropius,
“projetar o espaço significa projetar a existência e a recíproca é verdadeira: não há existência consciente
que não seja de algum modo projetada” (ARGAN, 1999, p. 273).

A Bauhaus teve três fases distintas: a primeira expressionista, a partir de sua fundação, em Weimar;
depois passou pela fase construtivista, em Dessau; até a terceira fase com maior ênfase na arquitetura
e urbanismo em detrimento da abordagem artística, ainda em Dessau e posteriormente em Berlim. Seus
diretores foram Walter Gropius, Hannes Meyer e Mies van der Rohe.

Saiba mais
O expressionismo foi um movimento de vanguarda muito importante
na Alemanha nos anos 1910 e 1920, manifestando-se em várias linguagens,
como o cinema, por exemplo. É possível estudar as obras de Edvard Munch
assistindo ao filme:
O GABINETE do Dr. Caligari. Dir. Robert Wiene. Alemanha. 1920. 71 minutos.

Na primeira fase participaram principalmente três artistas, a saber: Johannes Itten, o pintor Lyonel
Feininger e o escultor Gerhard Marks. Mas quem de fato exercia maior influência era o pedagogo de arte
e pintor Johannes Itten.

Este implantou um curso preliminar com ênfase no desenvolvimento da sensibilidade artística do


aluno, do próprio “eu”, a partir do estudo dos materiais, formas, teoria da cor etc. Iniciava as aulas com
exercícios de ginástica e de respiração e era adepto ao masdeísmo, religião antiga do Irã, que praticava
e tentava implantar na Bauhaus. Em 1923, Itten pede demissão da Bauhaus por discordar de Gropius
acerca de encomendas feitas à instituição.

Na segunda fase da Bauhaus, os ensinamentos mudam de direção, concentrando-se no conceito


de “tipo” e “função” e na contraposição entre “técnica” e “indústria”. Com isso o expressionismo
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acaba e nasce um novo caminho, o De Stijl, o “estilo”, fundado por Theo van Doesburg e Piet
Mondrian na Holanda, em 1917. Os objetivos do ensino do De Stijl na Bauhaus eram ensinar algo
novo e radical e desenvolver uma obra de arte total. “O ângulo direito e as três cores primárias,
completadas pelo preto, branco e cinzento compunham os elementos básicos da expressão”
(DROSTE, 1994, p. 54, tradução nossa).

Observação
Ângulo direito que dizer ângulo reto, isto é, de 90º.

Influenciado pelo De Stijl, um dos melhores alunos da Bauhaus, Marcel Breuer, criou cadeiras no
período de 1921 a 1925 com os princípios dessa corrente neoplástica (como era também chamada
a vanguarda do De Stijl). Ele foi o primeiro, como melhor aluno da Bauhaus, a experimentar
mobiliário com aço tubular, a partir da observação dos tubos curvados de sua bicicleta (SCHAEFER,
1981, tradução nossa).

Saiba mais
Para conhecer melhor o De Stijl, leia:
MONDRIAN, P. Mondrian e movimento De Stijl. São Paulo: Art
Unlimited, 2016.

Figura 32 – Cadeira de ripas, de 1924, de Marcel Breuer

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Figura 33 – Cadeira Wassily ou poltrona B3, de 1925, de Marcel Breuer

Figura 34 – Cadeiras de Marcel Breuer

4.1.1 As aulas na Bauhaus e os ateliers

Os artistas Paul Klee e Wassily Kandinsy ministravam aulas no início do curso. Klee trabalhou logo
no início a “Teoria da forma pictórica”, a partir da bidimensionalidade de um painel. Mais tarde, incluiu
a Teoria da cor. Já Kandinsky trabalhava com as cores elementares ou puras (vermelho-amarelo-azul) e
com as formas geométricas básicas (círculo-triângulo-quadrado). Seu interesse sobre o efeito da cor o
fez criar exercícios que exploravam a relação entre formas geométricas e cores.

Lembrete
As três cores primárias são o vermelho, azul e o amarelo, isto é: são as
cores puras.
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Os ateliers oferecidos eram o de cerâmica, tecelagem, metal, mobiliário, vitral e pintura mural,
escultura em madeira e em pedra, encadernação, tipografia e teatro. Eles oscilavam entre o trabalho
manual e a tentativa de buscar soluções formais que pudessem ser produzidas industrialmente.
O atelier de cerâmica produziu exemplos de diferentes chaleiras, bules e jarros, cuja forma do corpo
principal é a mesma para diversas soluções em que muda apenas o pegador, a tampa ou o bico, ou
mesmo suas posições.

Figura 35 – Peças em cerâmica de Theodor Bogler

O atelier de tecelagem foi o mais feminino de todos e o que talvez tivesse um aspecto mais
industrializado do que os outros. O de metais produziu uma série de objetos cuja aparência, a partir das
formas puras, poderia parecer fruto de uma produção industrial, mas eram produtos realizados nas oficinas
da Bauhaus e ainda manualmente. Ainda neste, além do material metálico, procuraram experiências
com outros materiais. O atelier de mobiliário, em primeira instância, buscou a estandardização, em que
os designers buscavam soluções que pudessem ser produzidas industrialmente.

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Figura 36 – Cadeira de Marcel Breuer com estofamento em


tecelagem, de Gunta Stölzl, do ateliê de Tecelagem, de 1922

Observação

Estandardização significa padronização das dimensões.

Figura 37 – Produção no ateliê de metal: Infusores de chá, de 1924, de Otto Rittweger


e Josef Knau, e apoio de infusores de chá, de 1924, de Otto Rittweger e Wolfgang Tümpel

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Figura 38 – Produção no ateliê de metal: Luminária, Figura 39 – Produção no ateliê de metal: Jogo
de 1923-1924, de Carl Jakob Jucker e Wilhelm de Café, de 1924, de Wilhelm Wagenfeld
Wagenfeld (à esquerda), e luminária, de 1924, de
Wilhelm Wagenfeld

Figura 40 – Desenho de Alma Buscher para quarto de criança

4.2 Le Corbusier e o design de mobiliário na França

Na França, o arquiteto franco-suíço Le Corbusier juntamente a Charlotte Perriand também projetaram


mobiliário com tubos de aço. Enquanto, na Alemanha, os artistas estavam experimentando novas
soluções, para Le Corbusier o problema do design estava vinculado a questões tecnológicas, sociais e
econômicas. Inicialmente chamou o mobiliário de “equipamento” da habitação e procurou reduzi-lo às
categorias de cadeira, mesa e armazenamento perfeitamente inserido na arquitetura.
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Figura 41 – Cadeira LC1, de 1928, de Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand

Figura 42 – Poltrona LC2, de 1928, de Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand

Figura 43 – Poltrona chaise longue LC4, de 1928, de Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand

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Para Le Corbusier, o mobiliário, entendido agora como equipamento, complementava a “máquina de


morar”, que era a habitação. Portanto seus projetos, assim categorizados como universais, poderiam ser
utilizados em qualquer espaço arquitetônico.

Dentre as teorias desenvolvidas por Le Corbusier, não podemos deixar de citar o modulor,
as dimensões humanas universais estabelecidas para o homem-tipo. Para não adotar o sistema
decimal, ele baseou-se em proporções relacionadas inicialmente a um homem com altura de 1,75 m
e posteriormente a 1,83 m.
226,0

182,9

139,7

113,0

86,3
69,8
43,2
26,7
cm

Figura 44 – O modulor (adaptação)

4.3 Cozinha de Frankfurt

Como as novas necessidades sociais e econômicas, após a Primeira Guerra Mundial, a mulher
também é incorporada no mercado de trabalho e começa a trabalhar fora de casa. Com isso, ao ter
que se desdobrar em múltiplas tarefas cotidianas no cuidado com a casa, não sobra muito tempo para
as mesmas tarefas realizadas antes na cozinha patriarcal e grande da casa. Além disso, em 1926, Ernst
May, o então arquiteto encarregado na prefeitura de Frankfurt, projetou e construiu uma habitação
mínima para trabalhadores. Dentro desse contexto, era fundamental racionalizar o trabalho na
cozinha. Para isso, incumbiu a arquiteta vienense Margarete Schütte-Lihotzky de projetar uma cozinha
compacta e racional dentro do programa da Nova Frankfurt. A cozinha projetada pela arquiteta possuía
3,40 m × 1,90 m e foram feitos estudos de todos os movimentos e gestos necessários para os
procedimentos de quem utiliza a cozinha, e evitando deslocamentos desnecessários.

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Figura 45 – Cozinha de Frankfurt

Figura 46 – Pormenores da cozinha de Frankfurt

Assim como o pensamento de Le Corbusier, a cozinha de Frankfurt seria como uma estação de
trabalho que deveria funcionar como uma máquina. A cor estabelecida, um azul-esverdeado, foi
escolhida por afastar os insetos.

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Figura 47 – Cozinha de Frankfurt

Saiba mais

Uma amostra de como o modernismo se revelou na vida cotidiana


e doméstica da sociedade na reconstrução do pós-guerra, na década de
1950, pode ser vista no filme:

MEU tio. Dir. Jacques Tati. França/Itália. 1958. 117 minutos.

4.4 Design na Escandinávia

Na Escandinávia, entre os anos 1920 e 1930, formou-se um grupo de designers que,


influenciados pela utilização das estruturas metálicas do mobiliário realizado por Mies Van der
Rohe e sobretudo por Marcel Breuer, procuraram aproximar-se dessas realizações. Contudo,
diferentemente dos alemães, deram ênfase à utilização da madeira e exploraram as possibilidades
máximas desse material.

Na Dinamarca, destaca-se Kaare Klint, que “renovou” estilos passados, retirando ornamentos e
características formais, proporcionando um caráter formal atemporal, privilegiando a funcionalidade.
Como professor na Academia de Belas Artes de Copenhagen, seus ensinamentos, contrários aos
métodos da Bauhaus, orientavam os alunos para pesquisarem nas formas do passado aquilo que poderia
representar a essência do que seria realmente da tradição escandinava.
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Na Suécia, Karl Bruno Mathsson utilizou madeira laminada para criar formas contínuas. Mas é na
Finlândia que Alvar Aalto utilizará a madeira de forma nunca antes imaginada. É de 1932 sua cadeira
criada com assento e encosto contínuo de madeira laminada.

Figura 48 – Cadeira modelo 379, de 1932, Paimio, de Alvar Aalto

Resumo

Nas três primeiras décadas do século XX, a produção industrial de


objetos do cotidiano transformou-se completamente, tanto em relação às
formas desses objetos quanto em relação aos materiais e, principalmente,
à forma de produção, que contrapunha a maneira artesanal à produção
industrial em larga escala. Para que isso acontecesse, tiveram papel
fundamental a Deutscher Werkbund e a Bauhaus, movimentos ambos
ocorridos na Alemanha.

Com o mote da produção econômica, a baixo custo, mas preservando


a “boa forma”, as principais e mais importantes experimentações
concentraram-se na Europa, em países como Holanda, Alemanha e França.
Esse esforço foi empreendido principalmente por Gerrit Rietveld na
Holanda, pela Werkbund e em seguida pela Bauhaus, ambas na Alemanha,
e por último por Le Corbusier e Charlotte Perriand na França.

A Bauhaus foi uma escola fundada inicialmente para a formação de


novos artesãos que seguissem os princípios da “boa forma” pregada pelos
artistas vanguardistas. Em seguida, com a vontade de Walter Gropius,
passou a produzir objetos industrialmente em função de encomendas.
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Marcel Breuer, na Bauhaus, foi o primeiro designer a substituir a


estrutura de madeira do mobiliário por uma estrutura tubular de aço,
a partir da observação de sua bicicleta. Após essa experiência, outros
arquitetos, como Le Corbusier e Mies van der Rohe, também incorporaram
esse novo material à sua produção de mobiliário.

Grande modificação nos equipamentos e mobiliário da cozinha


residencial também ocorreu por volta de 1926, em Frankfurt. O arquiteto
Ernst May, que estava incumbido de construir casas mínimas, atribui
à arquiteta Margarete Schütte-Lihotzky uma cozinha que funcionasse
com a eficiência e a racionalidade de uma máquina, esse era o fruto de
uma demanda do Plano da Nova Frankfurt. Com dimensões mínimas, de
3,40 m × 1,90 m, a cozinha representou o primeiro passo para uma nova
forma de morar, moderna, eficiente e racional.

Assim, a casa era uma máquina de morar, e os equipamentos da habitação,


segundo Le Corbusier, complementariam a eficiência e funcionalidade que
uma máquina propiciava.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2018).

Figura 49 – Cadeira Red/Blue, 1918-1923, Gerrit Thomas Rietveld

Fonte: disponível em <http://moma.org/collection/works/4044?artist_id=4922&locale=en&page=1&sov_


referrer=artist>. Acesso em: 20 jul. 2018 (adaptado)

Considerando a imagem apresentada e o movimento artístico do qual a obra retratada é representativa,


avalie as afirmações a seguir.

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I – O estilo geométrico abstrato da obra de Gerrit Rietveld é representativo do Neoplasticismo,


movimento que buscava leis universais de equilíbrio e harmonia para a arte.

II – As pinturas de Piet Mondrian foram a principal fonte para o desenvolvimento da filosofia e das
formas visuais do movimento de que a obra retratada é representativo.

III – Os artistas do movimento ao qual pertence a obra retratada buscavam alcançar a harmonia
universal da natureza por meio da inclusão de linhas curvas e diagonais.

IV – O repertório visual do grupo de artistas a que Gerrit Rietveld pertencia foi reduzido ao uso de
cores primárias, cores neutras, planos chapados quadrados, retangulares e circulares e ao uso frequente
da simetria.

É correto o que se afirma em:

A) I e II, apenas.
B) I e IV, apenas.
C) II e III, apenas.
D) III e IV, apenas.
E) I, II, III e IV.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: Rietveld integrou o movimento do neoplasticismo, que valorizava as formas elementares,


as linhas retas e as cores primárias. A Cadeira Vermelha e Azul é de 1917.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: Modrian foi um dos expoentes do neoplasticismo e influenciou muito os designers do


grupo de Rietveld.

III – Afirmativa incorreta.

Justificativa: o movimento valorizava as linhas retas, não curvas.

IV – Afirmativa incorreta.

Justificativa: o movimento valorizava o equilíbrio assimétrico.


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Questão 2. (Enade 2015). A imagem a seguir representa um dos objetos que consolidaram a reputação
da escola Bauhaus como uma força de liderança do design industrial no século XX. A cadeira B3, de
Marcel Breuer, mais tarde conhecida como cadeira Wassily, produzida em 1925, foi um dos primeiros
desenhos a explorar o aço tubular, cujos aspectos como aparência rígida e elegante, força estrutural e
leveza permitiram a criação de móveis em novas e surpreendentes formas.

Figura 50

Fonte: DESIGN MUSEUM. Cinquenta cadeiras que mudaram o mundo. Belo Horizonte: Autêntica, 2010 (adaptado).

A cadeira ilustrada representa um dos princípios adotados pela escola Bauhaus, pois:

A) evidencia os processos de produção artesanais, que valorizam o produto e o trabalhador.

B) simboliza a personalidade do designer, contrapondo o funcionalismo à ideia da boa forma.

C) representa o gosto estético disseminado pela burguesia das primeiras décadas do século XX.

D) explicita a ideia de simplificação da forma do móvel para uma produção industrial de qualidade.

E) sintetiza a ideia de customização, na qual o consumidor pode determinar características


estético‑formais do produto.

Resolução desta questão na plataforma.

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