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Universidade de Lisboa

Faculdade de Arquitetura

Arte e Arquitetura
1º Ano da Turma C, do Mestrado Integrado de Arquitetura em Interiores e
Reabilitação do Edificado

Disciplina: História da Arte Contemporânea


Docente: Raffaella Maddaluno

Maria Ferreira Possidónio, nº20211359


Dezembro de 2021

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Índice
Contextualização………………………………………………………………………………………………………….3
I.1 Introdução………………………………………………………………………………………………………………3
I.2 A relação do artista com a efemeridade………………………………………………………………….3
I.3A cidade como o novo palco da nova Arquitetura…………………………………………………….3
II Exemplos da Arquitetura Efêmera…………………………………………………………………………….4
II.1 Bar da Associação de Estudantes da Faculdade de Arquitetura da Universidade do
Porto……………………………………………………………………………………………………………………………4
II.2 Lesezeichein Salbke………………………………………………………………………………………………..5
II.3 Pavilhão” Echo” ……………………………………………………………………………………………….7
II.4 The End of Sitting……………………………………………………………………………………………..8
II.5 Contentor…………………………………………………………………………………………………………9
II.5.1 Arãna…………………………………………………………………………………………………………….9
III. Bibliografia…………………………………………………………………………………………………………….11

Índice de Ilustrações
Figura 1-Temporary Bar………………………………………………………………………………………………4
Figura 2- Planta do projeto “Temporary Bar”………………………………………………………………4
Figura 3- Instalação Temporária do Lesezeichein Salbke……………………………………………..5
Figura 4-Espaço permanente do Lesezeinchein…………………………………………………………..6
Figura 5- Pavilhão Echo……………………………………………………………………………………………….7
Figura 6- Contentor……………………………………………………………………………………………………..8
Figura 7- Arãna…………………………………………………………………………………………………………….9

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Contextualização
Entre os temas abordados, na elaboração do enunciado, o que sobressaiu entre os
demais, foi o da Arquitetura Efêmera tema que irei desenvolver ao longo deste
exercício individual.
1.1 Introdução
Dentro da temática das instalações, e cumprindo o seu único dever, o de trabalhar
com o instantâneo, a arquitetura efêmera segue por diversas vertentes, experimental,
estética, reutilizável, transformável e sobretudo adaptável.
Geralmente atribuímos o nome de arquitetura efémera “quando se pretende melhorar
a performance de um lugar para um fim igualmente temporário” (Daniel Paz, 2008)
1.2 A relação do artista com a efemeridade
Explorando a linha de pensamento do arquiteto e cineasta Cottineli Telmo
observamos que na maioria destas obras,” o artista, apesar de na grande maioria das
vezes estar condicionado, o seu rendimento, porém, irá ser maior quanto, maior for o
seu sacrifício no projeto. É lhe reduzido o tempo, a verba, o espaço dentro de certos
limites, e é evidente: a sua imaginação trabalhará mais acesa. Estas obras podem ser
o desabafo dos arquitetos pela vida profissional fora, quando, não tem ocasiões
frequentes de sonhar, como sonharam na escola.”
Podemos deduzir que o exercício da instalação temporária, mantêm mais liberdade e
expressividade, ao comparar com a arquitetura concebida para ser para sempre,
condenada pela obsessão da responsabilidade no arquiteto e artista, algo que está se
perdendo cada vez mais com a crescente construção e desconstrução do edifício
arquitetónico.
1.3 A cidade como o palco da nova Arquitetura
É curioso, como podemos observar, as profundas mudanças que ocorreram na cidade
nas últimas décadas, e nas suas novas formas de exposição e atividades culturais que
estão a decorrer.
O sociólogo, Zygmunt Bauman, afirma que já passamos para uma fase de
modernidade “líquida” - uma fase que, como um líquido, “não pode manter sua forma
por muito tempo”.
Todas as estruturas expositivas, retém um caracter de exclusividade, ou seja, tudo o
que está compreendido entre um espaço limitado de tempo, irá despertar uma
conexão profunda com o público.
E especialmente a ideia de que o espectador visiona a montagem, interage com ela
muitas das vezes, (na maioria destes projetos oferecem uma maior interação e
participação), e no fim visiona de novo a desmontagem, ele está eternamente ligado a
todo o seu processo, e por isso, a obra quase que lhe pertence.
Segundo o arquiteto Giovanni La Varra, que batizou a esta nova era “The Post it City”,
estas dinâmicas reescrevem temporariamente os espaços que preenchem, e são uma
“forma de resistência” à normalização do “comportamento público” à paisagem
quotidiana.

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A utilização do espaço público é fundamental, e sem ele as cidades não podiam
funcionar, ele irá fornecer o local para trocas e transações informais, é onde os
cidadãos se encontram, conversam e prevalecem. É a essência onde floresce toda a
vida cívica. A forma como “o espaço público é visto, também muda o foco tradicional
em praças formais, parques e calçadas para uma conceção mais ampla que
reconhece o valor de espaços de “sobra”, menos formais. E os usos quotidianos que
aí ocorrem.
2. Exemplos de Arquitetura Efémera
Procurarei agora desenvolver os conceitos aplicados previamente, através de diversos
exemplos para auxiliar na sua total compreensão.

2.1 Bar da Associação de Estudantes da Faculdade de Arquitetura da Universidade do


Porto

Figura 1 e 2 -Temporary Bar e Planta

Temporary Bar, Queima das Fitas Porto, é o nome da obra acima, que se pode inserir-
se na linha de pensamento acerca do condicionamento do arquiteto. Criada pelos
arquitetos Diogo Aguiar e Teresa Otto. A implantação pré-definida, a rápida construção
e o orçamento reduzido são premissas que têm de ser consideradas tendo em conta
que este projeto está inserido dentro de um concurso anual de criação de um bar.

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Neste projeto foram utilizadas 420 caixas de plástico do Ikea, organizadas, em 4 tipos
de módulos – caixas fixas a estruturas secundárias em madeira, num total de 46
módulos, posteriormente montados sobre a estrutura principal em metal, já no local.
Construído somente numa semana.
Por outro lado, as caixas, em plástico polipropileno, são altamente recicláveis e
reutilizáveis, e a utilização de iluminação por LED, multi-cromática, tem um baixo
consumo de energia. Sendo um dos pontos a considerar nesta obra o seu carácter de
sustentabilidade.
Este projeto abrange perfeitamente, os ideias da arquitetura efémera, de manter um
baixo financeiro, e ter de ser desenvolvido rapidamente, mas mesmo assim não se
priva por qualidade e conceção. É uma instalação que pode “brincar” com as
estruturas, moldar o espaço, e criar uma forma apelativa aos seus espectadores
conhecendo o que lhes apela.
Neste caso o projeto, utilizar as caixas de plástico dando-lhes uma diferente forma e
plasticidade e ilumina-as com as luzes led que vão mudando de cores ofuscando o
local durante a noite, o que algo que tem uma presença diferente, contrastando com o
seu aspeto com a luz do dia, em que se desligam as luzes led e a aparência do bar é
branca ou seja mais “limpa” e sóbria.

2.2 Lesezeichein Salbke

Figura 3- Instalação Temporária do Lesezeichein Salbke

Traduzido à letra esta estrutura situada no distrito de Salbke de Magdeburg na


Alemanha, significa Marcador do livro Salbke, e insere-se na vertente experimental da
arquitetura efêmera.

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Participação é neste momento um dos aspetos mais importantes no equadramento do
urbanismo e do desenvolvimento urbano da cidade. E modo de instalação temporária
interliga-se sublinhamente com esse propósito.

Esta estrutura expositiva tinha o objetivo principal de ser igual a uma Escultura Social,
em que o ponto de partida, seria, com a ajuda de toda a população montar uma
biblioteca de teste temporário, gerando um processo realmente participativo entre
cidadãos, arquitetos e construtures.
Uma intervenção com a ajuda da população, utilizou 1,000 grades de cerveja como
principal material de construção e em apenas dois dias todas as prateleiras se
preencheram com livros.
Embora o mobiliário improvisado da biblioteca tenha dominado o espaço urbano por
apenas dois dias, teve um efeito duradouro. Os residentes adotaram a ideia e
continuaram a administrá-la como uma biblioteca pública informal por conta própria.
Este projeto foi considerado como um modelo de pesquisa, e com o depósito de livros
a aumentar, rapidamente foi garantido o financiamento para uma biblioteca ao ar livre
com mobiliário urbano permantente.
Figura 4- Espaço permanente do Lesezeinchein

Emprega uma arquitetura modernista relembrando as fachadas das lojas do


modernismo dos anos 1960. E foi toda construída com o vínculo sustentável, e, ao
pedido da população utiliza molduras de alumínio repuxado recicláveis.
Todo este projeto é um exemplo da funcionalidade da arquitetura efêmera, de se
poder moldar às necessidades dos cidadãos e provar fisicamente a extrema demanda
destes espaços às comunidades.

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2.3 Pavilhão” Echo” Itália
Figura 5- Pavilhão Echo

O Echo Pavilion, insere-se na vertente estética da arquitetura efémera, realizado pelo


atelier de arquitetura chileno Pezo Von Ellrichshausen e construído dentro do palazzo
litta barroco de Milão (1761) para a edição de 2019 da semana do Design de Milão.
Os dois arquitetos defendem que esta instalação se assemelha vagamente com a
história de uma ninfa solitária que só podia repetir as últimas palavras ditas por outra
pessoa. Este pavilhão proposto é um eco direto da arquitetura histórica à sua volta. A
parte superior, é uma pirâmide invertida que se estende simetricamente em todas as
direções obscurecendo as vistas do pallazo litta.
Esta é uma instalação “enganadora”, e é caracterizada, por recuar e expandir, ser
visível e invisível, sólido e etéreo. Este pavilhão é extremamente interessante, por não
ignorar a história que tem ao seu redor e sim envolvê-la, refletindo não só as fachadas,
como o pavimento de pedra, as colunatas e o corredor além. O espectador tem outro
sentimento ao visitar esta instalação, um sentimento completamente diferente ao se a
estrutura não se encontrasse ali. Quando o espectador vagueia aproximadamente dos
painéis de aço inoxidável, olhando para cima observava-se refletido em um teto
impressionantemente inclinado, fica hipnotizado com as reflecções que observa, com
todo o gestalt.
Para além de tudo, este panorama carrega uma força enorme, e possui um aspeto
cenográfico e uma relação curiosa com a ideia de instalação e arte, transformando-se
um no outro.
“Em sua simplicidade radical, o pavilhão se tornará uma presença imaterial que, quase
como em uma miragem fugaz, irá capturar a beleza discreta do palácio de trezentos e
setenta anos em suas superfícies planas" Pezo Von Ellrichshausen

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2.4 The End of Sitting, Holanda
Figura 6- Instalação The End of Sitting

“O fim da cadeira” é uma instalação que se pode introduzir em ambas vertentes


experimental e transformável. Foi realizada pelo atelier de arquitetura RAAAF e a
artista visual Barbara Visser desenvolveram um conceito em que a cadeira e a mesa
não são mais pontos de partida inquestionáveis.
O projeto engloba as artes visuais, arquitetura, filosofia e ciência empírica.
Na sociedade ocidental em que nos enquadramos, o tempo que passamos, foi
concessionado quase todo à volta de estarmos sentados, o que medicamente está
provado que demasiado tempo sentados irá prejudica a nossa saúde.
Toda esta instalação traz a possibilidade aos seus visitantes de experimentarem uma
nova forma de trabalharem, experimentando diversas posições confortáveis em pé, e o
facto de estar inserida num escritório desafia a necessidade e a comodidade,”
obrigatória” de se estar sentado numa secretária.
The End of Sitting abre toda uma nova porta de mudanças para alterar o ambiente de
trabalho e experimental por uma série tentativas e erros ao estudar diferentes
posições pouco convencionais mas confortáveis para trabalhar, transformando-se e
reconstruindo a cada nova tentativa.
Utilizando também uma superfície com planos geométricos em vários ângulos
construída com molduras de madeira compensada e uma variante de cimento que
enche a sala em que se encontra, algo que ao início parece estranho, mas que depois
se assemelha. Para os visitantes é quase uma volta à infância, pois raramente vemos
crianças sentadas a trabalhar.

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2.5 Contentor, Sevilha
Figura 6- Contentor

Ambas as obras do arquiteto Santiago Cirugeda aplicam-se em uma vertente tanto


política e social como adaptável ao meio envolvente através da efemeridade quase
igualando performances.
No seu primeiro projeto, o arquiteto Santiago Cirugeda, converteu um contentor de
obras, em um autogerido e autoconstruído “playground” itinerante, que se pode
transformar em um baloiço, em um balancé, em um palco de flamengo … que poderia
ser colocada em qualquer lugar, com o intuito de devolver o espaço público de volta à
população para se usufruir dele.
No The Guardian, o arquiteto defendeu “Gosto dos confrontos com tecnocratas e
políticos, mas acima de tudo gosto de construir os meus próprios projetos em Sevilha,
a crise afeta a todos, estamos dentro uma situação desesperadora e com muita
injustiça na forma como as coisas estão a ser feitas. E quanto todas estas casas
vazias e terrenos não utilizadas? Existem muitas situações que me interessam - como
arquiteto e como cidadão. “
2.5.1 Arãna

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Figura 7-Instalação movível Arãna.

Esta instalação é um protótipo, que funciona como uma prótese e ocupa os edifícios e
o espaço público.
É uma instalação e é capaz de hospedar diferentes programas e atividades, podendo
ser movida facilmente, permitindo exibir outros sistemas sob eles. Ao mesmo tempo,
podendo conectar os diferentes edifícios à sua volta.
As suas intervenções tendem a utilizar a arquitetura e arte em função da causa social,
mas é impossível distinguir na sua obra a política da arte. A forma com trabalha na
conceção em “Aranã” e no “Contentor”, ao criar estruturas artisticamente relevantes, e
curiosas que nos levam a pensar e a questionar os nossos dogmas acerca da
arquitetura, da arte e da efemeridade. Ambas as suas duas obras, transcendem a
questão estética focando-se na questão social e preenchendo a necessidade das
pessoas.
O atelier Recetas Urbanas empenha-se a devolver a cidade aos seus cidadãos, e
utiliza material disponível, doado e muito reciclado. Une também a disponibilidade com
a habilidade da mão de obra, e encurta a ligação entre arquiteto/artista a cidadão
construído ele próprio e em conjunto com os habitantes.
As artes não têm disciplina, é impossível esgotarmo-la e aparecem nos locais mais
inesperados. Nem sempre englobam uma vertente estética, apesar de ser muito
relevante nem sempre é necessário. Múltiplas vezes a arte ultrapassa a arquitetura,
pois, não deve estar regulada nem condicionada por qualquer tipo de leis. A
arquitetura nunca terá sempre a capacidade da arte, apesar disso aproxima-se disso
ao tentar confrontar as suas próprias regras com observamos em Arãna.
Inserem-se arte relacional e arte política. Especialmente quando adicionamos as
camadas de todo o seu processo.
Ambas as instalações estão inscritas em diferentes contextos, mas ambas carregam
um grande sentido, carregam uma mudança no panorama da cidade, da arquitetura e
no verdadeiro propósito ao seu nível artístico.

3. Conclusão
A arquitetura temporária vai se aproximando da arte também numa dimensão
relacional. Nela está presente um processo de criação coletiva, e de
“empoderamento”, onde não está em causa a afirmação de uma só pessoa, mas de
todo um processo. E aí essa capacidade não se perde. Todo este processo é
meramente momentâneo e rapidamente transforma-se e permanece apenas dentro da
nossa memória partilhada
Para concluir a arte em relação com a arquitetura efêmera, na sua essência, acentua
a forma com desfrutamos de todas as obras de arte.

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Bibliografia:

• Revista Oficial do Sindicato Nacional dos Arquitetos


• The Temporary City (livro)
• Loose Space (livro)
• Tese Arquiteturas Expositivas Efémeras Pavilhão Temporário em Roma
• https://www.designboom.com/
• https://www.archdaily.com.br/br
• https://www.architonic.com/de/project/karo-lesezeichen-salbke-freiluftbibliothek-
in-magdeburg/5100461
• https://www.miesarch.com/work/2769
• https://www.morethangreen.es/en/santiago-cirugeda-guerrilla-architect-low-
cost-projects/
• http://www.recetasurbanas.net/index1.php
• https://www.raaaf.nl/nl/projects/927_the_end_of_sitting/opinion
• https://www.architectmagazine.com/design/this-concept-office-is-chair-free_o
• http://pezo.cl/?m=1&sm=1&pn=info
• https://www.publico.pt/2011/02/16/jornal/tres-premios-de-arquitectura-para-o-
porto-21322680

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