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USO DE RESÍDUOS DA INDÚSTRIA DE PEDRAS ORNAMENTAIS COMO

SUBSTITUIÇÃO AO AGREGADO MIÚDO EM CONCRETOS E


ARGAMASSAS

Use of waste marble and granite as aggregates in concrete and mortar

Ana Flávia Ramos Cruz 1, Matheus Pereira Mendes 2, Lucas Machado Rocha 3, Cláudia Valéria
Gávio Coura 4
1 Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Brasil, ana.cruz@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Brasil, matheus.mendes@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Brasil, lucas.machado@engenharia.ufjf.br
4
Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IFSudesteMG), Juiz de Fora, claudia.coura@ifsudestemg.edu.br

Resumo: No intuito de alcançar o desenvolvimento sustentável no setor da construção civil, faz-se


necessário o desenvolvimento de tecnologias e processos construtivos que têm como objetivo
minimizar a geração de resíduos e reduzir os impactos ambientais. Este setor é um dos que mais
consome recursos naturais não-renováveis opondo-se ao fato de ser considerado um dos mais
eficazes para utilização de materiais reciclados. Sabe-se que outras indústrias, como a de produção
de pedras ornamentais, produz grandes quantidades de materiais residuais em seu processo de
produção, e que estes são passiveis de serem utilizados na construção civil. A reciclagem e
reutilização de resíduos traz benefícios como a preservação do meio ambiente, a diminuição de
áreas para descarte e a redução do consumo de energia no processo de produção. Os materiais
descartados de outras indústrias são reutilizados na construção civil, muitas das vezes, como
agregado. A extração de areia natural por exemplo, comumente utilizada como agregado miúdo,
compromete a biodiversidade e afeta o regime de vazão dos rios, somado a dificuldade de sua
obtenção próximo a centros urbanos. Assim, sua substituição total ou parcial já influencia bastante
nos impactos causados pelo setor da construção. Diante deste contexto, o objetivo deste trabalho é
apresentar a capacidade de uso dos resíduos de pedras ornamentais, especificamente de mármore e
granito, como substituição ao agregado miúdo na produção de concretos e argamassas. Para isso, é
feita uma pesquisa bibliográfica acerca de pesquisas relevantes no assunto nos últimos 10 anos, com
análise de seus resultados e identificação de vantagens e desvantagens dessa utilização. Conclui-se
que é possível o emprego desses resíduos nesse setor da construção civil, dada sua viabilidade
técnica, econômica e ambiental.

Palavras-chave: mármore, granito, agregado miúdo, resíduo, pedras ornamentais.

Abstract: In order to achieve sustainable development in the construction industry, it is necessary


to create constructive technologies and processes that aim to minimize waste generation and reduce
environmental impacts. This industry is one of the biggest consumers of non-renewable natural
resources and, however, can be considered one of the most effective on the use of recycled
materials. It is known that other industries, such as industry of ornamental stones, result in large
quantities of waste materials in their production process, and these are likely to be reused in
construction. Waste recycle and reuse brings benefits such as preservation of the environment,
reduction of areas allocated for disposal and reduction of energy consumption in the production
process. Discarded materials from other industries are reused in construction, often as an aggregate.
Extraction of natural sand, for example, commonly used as a fine aggregate, compromises
biodiversity and affects the flow regime of the rivers, besides the difficulty of obtaining them near
urban centers. Hence, its total or partial replacement has a great influence on the impacts caused by
the construction sector. In this context, the objective of this paper is to present the capacity of using
ornamental stone residues, specifically marble and granite, as a substitute for the fine aggregate in
the production of concrete and mortars. To achieve this goal, a bibliographical review is done on
relevant researches in the last 10 years, analyzing the results and demonstrating the advantages and
disadvantages of its use. It is concluded that it is possible to use this waste material in the civil
construction industry, given its technical, economic and environmental viability.

Keywords: marble, granite, fine aggregate, waste, ornamental stones.

1. INTRODUÇÃO
Após a década de 1980, os resíduos da construção civil se transformaram em grandes problemas
devido ao aumento da população urbana, intensa industrialização e diversificação do consumo de
bens e serviços. Os problemas se caracterizavam pelo seu oneroso gerenciamento, contaminação
ambiental e escassez de depósitos causados pela intenção urbanização [1].
A gestão ambiental de resíduos sólidos foi debatida durante a ECO-92 com a definição da Agenda
21, conjuntos de medidas para conciliar crescimento econômico e social com a preservação do meio
ambiente. Assim, para que alcançasse o desenvolvimento sustentável na indústria da construção
civil, a reutilização e reciclagem de resíduos se fizeram necessárias, visto que o setor chega a
consumir até 75% dos recursos naturais do planeta, representando um grande impacto ambiental
[2].
A reutilização de resíduos industriais é de grande importância. Dentre alguns de seus benefícios,
pode-se citar: a redução de recursos naturais não renováveis e a preservação do meio ambiente; a
redução de áreas para deposição e descarte de resíduos; a redução do consumo do processo de
produção e redução da poluição; dentre outros [1]-[3].
Apesar da indústria da construção civil ser uma das maiores consumidoras de recursos naturais não-
renováveis, segundo Coura [4], ela também pode ser considerada uma das mais eficazes para
utilização de materiais reciclados. Em consequência disso, faz-se necessário o desenvolvimento de
tecnologias e processos construtivos que têm como objetivo minimizar a geração de resíduos.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais [5], a produção de rochas
ornamentais, amplamente empregadas como revestimento, é de aproximadamente 5,2 milhões de
toneladas/ano, dos quais 57% são os granitos e 17% o mármore. Desta quantidade anual, cerca de
30% do material se perde durante o processo de corte de chapas, e 25% no processo de
comercialização, gerando quase 400 mil toneladas de resíduo a ser descartado.
As sobras da indústria de rochas ornamentais são passíveis de serem utilizadas como material para a
produção de concretos, representando uma alternativa viável que substitui a areia como agregado
miúdo [6]. Além disso, a extração da areia natural compromete a biodiversidade, afeta o regime de
vazão dos rios, e sabe-se da dificuldade encontrada para obtenção deste material próximo à centros
urbanos, o que incrementa ainda mais o seu preço final.
Do ponto de vista econômico e produtivo, utilizar-se de um material categorizado como rejeito ou
resíduo e atribuir a este um novo valor comercial é extremamente positivo. A indústria de rochas
ornamentais passaria a ofertar um novo produto ao mercado da construção civil, sem exigir para tal
investimentos adicionais na aquisição, transporte e beneficiamento da matéria prima.
Diante deste contexto, este presente trabalho tem como objetivo a apresentação de uma revisão
bibliografia acerca da potencialidade do uso dos resíduos de pedras ornamentais como agregado
miúdo, especificamente o mármore e o granito, fazendo uma comparação entre o concreto com o
agregado reciclado e aquele com material usual.

2. METODOLOGIA
Este trabalho se divide em três etapas distintas. Na primeira etapa, para sua elaboração e obtenção
de resultados, é utilizado o método da pesquisa bibliográfica, entendida como o ato de indagar e de
buscar informações sobre determinado assunto, através de um levantamento realizado em base de
dados nacionais. Assim, as bases de dados escolhidas foram o Google Acadêmico e a Scientific
Electronic Library Online (SciELO), nas quais foi realizada a pesquisa bibliográfica com recorte
temporal dos últimos 10 anos, com estudos que aplicaram os resíduos da indústria de pedras
ornamentais – mármore e granito – na produção de concretos e argamassas, em substituição ao
agregado miúdo.
Em sua segunda etapa, buscou-se desenvolver uma discussão dos resultados obtidos, apresentando,
portanto, uma abordagem sobre a viabilidade de inclusão desses resíduos na fabricação de concretos
e argamassas, suas vantagens e desvantagens. Por fim, em sua última etapa, o trabalho conta com as
considerações finais, obtidas a partir dos resultados encontrados.

3. RESULTADOS
Recentemente, o emprego de resíduos da indústria de rochas ornamentais na construção civil tem
sido amplamente estudado. Na década de 1990 pesquisadores desenvolveram seus trabalhos
utilizando o rejeito das pedras ornamentais em argamassas [7], tijolos de solo-cimento [8] e em
tijolos cerâmicos [9]-[11], onde foi constatada a viabilidade técnica da substituição. Logo depois, o
resíduo foi utilizado no concreto como adição e obteve-se êxito [12]. Além disso, a utilização dos
resíduos de rochas ornamentais, granito e mármore, como adição e filer no concreto tiveram sucesso
em variados experimentos [13]-[14].
Nos últimos 10 anos, são amplas, também, as pesquisas sobre o emprego de resíduos do
beneficiamento de rochas ornamentais como agregado miúdo na fabricação de concretos e
argamassas. A Tabela 1 apresenta um levantamento de pesquisas relevantes nacionalmente a serem
consideradas nesse trabalho.
Fazendo-se uma abordagem temporal, conforme a Tabela 1, observa-se que Gomes e Bacarji
(2008) [15] estudaram o módulo de deformação e a durabilidade de concretos produzidos com o
resíduo da indústria de rochas ornamentais em substituição ao agregado miúdo. Foram produzidas
diferentes dosagens, uma de referência e as demais com adição de 5%, 10%, 15% e 20% do resíduo
em substituição ao agregado miúdo. Os ensaios de módulo de deformação, absorção e índice de
vazios foram realizados. Nos ensaios de módulo de deformação, houve aumento dos valores em
relação à dosagem de referência, proporcionalmente ao aumento da quantidade de resíduos
adicionada. Em adições de 20%, porém, houve queda dos resultados obtidos. Os autores acreditam
que a quantidade de finos prejudicou a aderência pasta-agregado. Os valores encontrados nos
ensaios de absorção e índice de vazios, embora superiores, de forma geral, são muito semelhantes
aos de referência. A pesquisa concluiu a viabilidade o uso desses resíduos em concretos.
Barbosa et al. (2008) [6] efetuaram um estudo de caracterização e avaliação do emprego de rejeitos
de mármore triturado (RMT) e rocha gnaisse triturada (RGT), em substituição total do agregado
miúdo natural, para a produção de concretos. A dosagem de referência, com agregado miúdo
natural (AMN), foi um parâmetro comparativo para avaliação da viabilidade das duas outras
aplicações. Foram realizados ensaios de trabalhabilidade, densidade de massa, resistência à
compressão axial, absorção de água por imersão e módulo de deformação. A trabalhabilidade foi
avaliada pelo ensaio de abatimento de tronco de cone (slump test). O concreto com RMT teve maior
trabalhabilidade que os demais no estado fresco. Esse fato pode ser explicado pela baixa porosidade
e absorção dos grãos de RMT. A dosagem com RGT, porém, teve trabalhabilidade inferior à de
referência. Isso foi explicado pelas autoras como consequência da dificuldade de homogeneizar a
mistura devido ao elevado teor de material pulverulento dos RGT. Em relação à densidade de
massa, ambos tiveram valores superiores ao concreto com AMN. Isso é explicado pelo fato de o
RMT ser inerte e com baixa absorção de água e, consequentemente, menor perda de água. Os RGT,
por sua vez, têm essa característica por possuírem teor mais elevado de material pulverulento. Nos
ensaios de resistência à compressão axial, os dois concretos (com RMT e com RGT) apresentaram
valores superiores aos do concreto de referência, uma vez que, por terem maior densidade de massa,
tem menor teor de ar aprisionado. Nos ensaios de absorção por imersão, o concreto com RMT teve
valor inferior ao de referência, da ordem de 15%, enquanto que o RGT teve absorção muito superior
ao de referência (aproximadamente 25%). No ensaio de módulo de elasticidade, os resultados do
concreto com RMT foram bastante superiores aos do concreto de referência, uma vez que os AMN
têm partículas mais arredondadas e lisas, permitindo a formação de microfissuras entre o concreto e
a pasta. De modo geral, o resultado obtido pelas autoras foi de que o concreto com RMT tem
características superiores ao de referência, sendo, portanto, viável a utilização desse resíduo no
concreto.
Em 2009, Coura [4] também pesquisou a utilização de rejeitos de mármore triturado (RMT) em
substituição ao agregado miúdo natural (AMN). Em sua pesquisa, foram utilizadas dosagens com
areia natural de rios (mistura de referência), dosagens com substituição do AMN por RMT em 20%,
40%, 50%, 60% e 100%, dosagem com substituição do AMN por mistura de RMT na
granulometria ótima (segundo referência normativa) e dosagem com substituição do AMN por
agregado miúdo artificial. Foram ensaiadas várias propriedades em que o concreto com RMT se
destacou, como nos ensaios de resistência mecânica. Foi observada que quanto maior o teor de
adição de RMT em substituição ao AMN, maiores os valores de resistência, sendo todos superiores
aos valores do concreto de referência. A autora indica, ainda, a possibilidade de aumentar a
resistência dos concretos com RMT em aproximadamente 20%, já que é possível reduzir o fator
água/cimento, uma vez que sua trabalhabilidade é, também, superior à do concreto com AMN.
Outro ensaio realizado foi o de absorção de água por imersão, que indicou redução da absorção e do
índice de vazios com o aumento do percentual de substituição de AMN por RMT. A redução
também ocorreu na absorção por capilaridade. O módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson
também foram avaliados para as diferentes dosagens. Foi observado que maiores são seus
resultados à medida que o aumenta-se o teor do RMT, indicando uma melhoria no travamento das
partículas dos agregados, graças à rugosidade dos grãos de RMT. O concreto com RMT, porém,
apresentou aumento de retração por secagem nas primeiras idades, estabilizando-se aos 40 dias. A
autora explica que isso acontece devido à maior concentração de material pulverulento que o AMN
e à sua baixa absorção de água, de modo que o agregado não absorve parte da água de
amassamento, ficando uma quantidade maior livre na mistura (água evaporável). Os concretos com
RMT apresentaram, também, maior velocidade de propagação de ondas que os concretos com
AMN. Outras propriedades foram avaliadas em sua pesquisa e podem ser consultadas na obra
original.
Tabela 1 - Pesquisas relevantes sobre o emprego de resíduos de mármore e granito como agregado miúdo.
Ano Título Autores
Influência da Mistura de Agregados Graúdos, Resíduo
2017 de Corte de Mármore e Granito e Metacaulim e SILVA, D. M.
Aditivos no Desempenho Mecânico do Concreto
Desempenho de durabilidade de concreto estrutural
GAMEIRO, F.; BRITO, J.;
2014 contendo agregados finos a partir de resíduos gerados
SUKVA; D. C.
pela indústria de extração de mármore *
Argamassas com substituição parcial do agregado SALES, A. T. C.; SÁ, B. R. C.;
2014
miúdo por pó de mármore SANTOS, D. G.
MATTA, V.R.P.;
Efeitos da adição do resíduo de corte de mármore e
APOLINÁRIO, E.C.A.;
2013 granito (RCMG) no desempenho de argamassas de
SANTOS, G. R.; RIBEIRO, D.
cimento Portland no estado endurecido
V.
Análise do efeito de adição de diferentes teores de pó BACARJI, E.; PEREZ, E.;
2013 de granito nas propriedades mecânicas do HAMER, L.; LIMA, M.;
microconcreto MARTINS, M.; NETO, T.
Argamassa com substituição de agregado natural por SANTOS, R. A.; LIRA, B. B.;
2012
resíduo de britagem de granito RIBEIRO, A. C. M.
2011 Argamassa de alto desempenho SANTOS, W. J.

Caracterização do pó de mármore para uso em CORINALDESI, V.;


2010
argamassas e concretos MORICONI, G.; NAIK, T. R.

Análise experimental sobre a substituição do agregado


2009 COURA, C. V. G.
miúdo por mármore triturado na confecção de concreto

Estudo sobre a areia artificial em substituição à natural BARBOSA, M. T. G.; COURA,


2008
para confecção de concreto C. V. G.; MENDES, L. O.
Avaliação do módulo de deformação e da durabilidade
de concretos produzidos com o resíduo de
2008 GOMES, K.; BACARJI, E.
beneficiamento de mármore e granito (RBMG) em
substituição ao agregado miúdo
*Tradução pelo autor: Durability performance of structural concrete containing fine aggregates from waste
generated by marble quarrying industry.
Corinaldesi (2010) [16] também ensaiou corpos de prova para estudo do uso de pó de mármore em
concretos e argamassas. O pó de mármore utilizado para os ensaios apresentou um alto índice de
finos. Foram preparadas diferentes dosagens para ensaio, com ou sem adição de aditivo
superplastificante. O fator água/cimento foi variado e os testes foram feitos em diversas misturas de
argamassa, todas preparadas com areia para relação de cimento de 3:1 em aproximadamente a
mesma trabalhabilidade. Os resultados obtidos mostram que 10% de substituição de areia pelo pó
de mármore forneceu a máxima resistência à compressão na mesma trabalhabilidade.
Santos, W. J. (2001) [17] também avaliou o emprego do resíduo de mármore triturado em
substituição ao agregado miúdo natural para a produção de argamassas. Os resíduos oriundos do
mármore foram denominados neste trabalho por areia artificial (AA), enquanto o agregado miúdo
natural, por AN. Foram empregadas diferentes dosagens, baseadas em duas consistências (avaliadas
através da mesa de espalhamento): 180 mm e 210 mm, adotadas em função da trabalhabilidade
desejada. Os traços, portanto, foram constituídos por cimento, cal hidratada e areia ou cimento e
areia, determinando-se o fator água/cimento em função da trabalhabilidade. Os ensaios de
resistência à compressão axial demonstraram melhores resultados nas argamassas com AA. Os
valores de resistência à tração por compressão diametral foram parecidos com os anteriores. Demais
propriedades foram avaliadas em ensaios laboratoriais, como velocidade de propagação de pulso
ultrassônico, módulo de elasticidade, dureza superficial, resistência à tração por arranchamento,
absorção por capilaridade, por imersão e pelo método do cachimbo, massa específica, índice de
vazios e retração hidráulica. O foco foi dado na comparação entre argamassas de AA com ou sem a
adição de cal.
Santos et al. (2012) [18] também estudaram argamassa com substituição total de agregado natural
por resíduo de britagem de granito, comparando duas dosagens distintas: uma com menor teor de
cal, resíduo e menor fator água/cimento e outro com quantidades superiores de cal, resíduo e fator
água/cimento. A primeira dosagem teve resultados de resistência à compressão e flexão muito
superiores à segunda.
Bacarji et al. (2013) [19] estudaram diferentes microconcretos, com areia artificial. Segundo eles,
na indústria brasileira de britagem, são gerados 1t de brita, 0,3t de areia artificial e 0,03t de finos
residuais (pó de brita). O objetivo da pesquisa foi avaliar o desempenho do microconcreto nos
estados fresco e endurecido, com diferentes teores de pó de brita: 5% de adição e 10% de adição em
relação à areia artificial. Foi dosado também um microconcreto de referência, com areia artificial,
sem adição de pó de brita. A areia artificial empregada e o pó de brita foram originários do processo
de britagem do granito. Os ensaios no estado fresco realizados foram o da mesa de espalhamento e
massa específica. No ensaio de espalhamento, para avaliar sua fluidez, as três dosagens tiveram
comportamento semelhante. No ensaio de massa específica, o que obteve comportamento menos
denso foi com a adição de 5%. Os ensaios de resistência à compressão nas primeiras idades (7 dias)
indicaram maiores valores de resistência nos concretos com adição, especialmente no de 5% de
adição. Aos 28 dias, porém, o comportamento das três dosagens foi bastante semelhante. Os valores
de módulo de elasticidade obtidos em cada microconcreto foram condizentes com os valores do
ensaio de resistência à compressão, onde o microconcreto com adição de 5% obteve maior módulo,
seguido do microconcreto com adição de 10% e por fim o microconcreto de referência. Os autores
concluíram que é possível dosar microconcreto com adições de pó de brita, uma vez que
constataram sua viabilidade.
Matta et al. (2013) [20] avaliaram os efeitos da adição do resíduo de corte de mármore e granito
(RCMG) no desempenho de argamassas de cimento Portland no estado endurecido. Foram
elaboradas dosagens de referência e com adições de 5%, 10% e 15% em massa. A relação
água/cimento foi mantida constante. Os ensaios de resistência mecânica – resistência à flexão e
compressão axial – indicaram ganhos de resistência nas argamassas com adição, com desempenho
superior daquela com adição de 5%. A densidade de massa desses concretos foi superior à medida
que se aumentava o teor de adição, enquanto a porosidade diminuía. Em relação à absorção de água
por capilaridade, essa foi aumentando com o aumento do percentual de finos, sendo próxima à de
referência apenas para a argamassa com adição de 5%. Os resultados obtidos para a velocidade de
propagação do pulso ultrassônico são crescentes com o teor de resíduo adicionado, fato que foi
explicado pelos autores como consequência do teor de finos da mistura. Isso também levou a um
aumento do módulo de deformação. Os autores destacaram a viabilidade técnica do uso do RCMG
como adição às argamassas, com 5% de teor ótimo de adição. Eles observaram redução de
porosidade nas argamassas com adição, sendo muito significativa na composição contendo 15% de
resíduo, o que acarretou elevação significativa na rigidez, podendo representar maior
susceptibilidade à fissuração, devido a sua menor capacidade de se deformar. Eles apontaram,
ainda, que densidades elevadas também podem, comprometer a rigidez, dificultando a aplicação
dessa argamassa em revestimentos. Por fim, os autores consideraram viável sua aplicação,
especialmente na adição de 5%, considerada ótima.
Sales, Sá e Santos (2014) [21] analisaram a influência do resíduo da produção de mármore, em
diferentes teores, nas propriedades físicas e mecânicas das argamassas, para sua futura utilização
como revestimento e/ou assentamento. Para isso, uma caracterização química e física do resíduo foi
feita no intuito de conhecer suas propriedades. Logo após, foram realizadas seis misturas de
argamassa cimentícia, com substituição do agregado miúdo natural por pó de mármore, em teores
de 0%, 20% e 40%. Foi encontrado que a porosidade da argamassa foi reduzida quando houve
substituição em teor de 20%, no entanto, com aumento desse teor (40%) a porosidade aumentou. No
que tange as propriedades mecânicas, a resistência à compressão da argamassa aumentou em 10%
se utilizados o teor de 20% de substituição. Para maiores quantidades de pó de mármore (40%), a
resistência reduziu em quase 30 %. O mesmo aconteceu com a resistência à tração indireta, que era
maior com o teor de 20% e menor com o de 40%.
Gameiro, Brito e Silva (2014) [22], avaliaram a durabilidade de concretos com substituição do
agregado miúdo natural por resíduo do beneficiamento de mármore em diferentes teores, sendo
eles: 0%, 20%, 50% e 100%. Foi encontrado que a trabalhabilidade do concreto é reduzida à
medida que se aumenta o teor de substituição. Já em relação a absorção de água por capilaridade, o
teor de 20% foi aquele que apresentou a melhor opção. Em relação a absorção por imersão em água,
quanto maior o teor, mais benéficos eram os corpos de prova.
Por fim, Silva (2017) [23] realizou a substituição de 10% do agregado miúdo natural por resíduo de
corte de granito e mármore. A caracterização deste resíduo foi feita para determinar sua composição
granulométrica. Já que a quantidade de material pulverulento do resíduo era grande, também foi
feito o ensaio para determinar a quantidade de filler (partículas com diâmetro inferior a 0,075 mm).
Essa adição, em comparação a um concreto padrão, resultou numa redução de 42% na resistência
característica à tração. No entanto, ocasionou um aumento de 16% na resistência à compressão
característica do concreto aos sete dias.
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
De um modo geral, o comportamento das propriedades dos concretos e argamassas com adição de
resíduos da indústria de mármore e granito, de acordo com a bibliografia de referência, com base
nos autores estudados, ocorreu conforme a Tabela 2.
Tabela 2 - Comportamento geral dos concretos e argamassas com adição de resíduos da indústria de produção de
rochas ornamentais.
Propriedade Comportamento
Densidade de massas Aumenta
Resistência mecânica à compressão Aumenta
Resistência mecânica à tração Diminui
Módulo de elasticidade Aumenta
Trabalhabilidade Aumenta
Absorção por imersão Diminui
Absorção por capilaridade Incoerência de resultados
Velocidade de propagação de ondas Aumenta
Retração hidráulica Aumenta nas primeiras idades e
estabiliza-se
Porosidade Incoerência de resultados

Conforme visto na Tabela 2, uma série de vantagens do emprego desses resíduos como adição ou
substituição total do agregado miúdo podem ser verificadas em concretos e argamassas. Observa-se,
de forma geral, ganhos de trabalhabilidade, de resistência, de módulo de elasticidade e redução da
absorção de água por imersão. Essas já são propriedades muito significativas na qualidade de um
concreto e argamassa e devem ser consideradas.
Algumas desvantagens foram observadas, como o aumento da retração hidráulica nas primeiras
idades, conforme visto em Coura [4]. Esta, porém, estabiliza-se após 40 dias.
Os concretos elaborados com resíduo de granito triturado (RGT) por Barbosa et al. [6]
apresentaram redução de trabalhabilidade e aumento de absorção de água por imersão. Essas,
porém, não podem ser consideradas desvantagens da aplicação dos rejeitos de rochas ornamentais,
de um modo geral, uma vez que os concretos com RMT suprem essas falhas e apresentaram
comportamento técnico superior aos concretos de referência.
Matta et al. [20] relacionam a redução de porosidade de certas dosagens com adição de resíduo,
com o aumento de rigidez e possibilidade de geração de fissuras. Além disso, o ganho de densidade
também pode aumentar sua rigidez, dificultando a aplicação dessas argamassas em revestimentos.
Esse comportamento pode ser considerado uma desvantagem de aplicação e deve ser melhor
avaliado por novos ensaios em trabalhos futuros.
A absorção por sucção capilar não pode ser devidamente avaliada, uma vez que houve incoerência
entre os resultados de Coura [4] e Matta et al. [20]
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De forma geral, como visto nas pesquisas levantadas, o uso de resíduos de indústrias de produção
de mármore e granito como substituição total ou parcial do agregado miúdo em concretos e
argamassas se destaca em relação às propriedades que oferece ao concreto produzido. São inúmeros
os benefícios técnicos obtidos, como ganho de trabalhabilidade, resistência, módulo de elasticidade,
além de redução da absorção de água, que está muito relacionada à benefícios de estanqueidade e
durabilidade dos concretos que utilizam esse resíduo. Todos os autores pesquisados indicaram
viabilidade dessa utilização.
Além dos benefícios que configuram sua viabilidade técnica, o uso dessa categoria de resíduos pode
significar benefício econômico, uma vez que os custos desses materiais são inferiores ao da areia
natural, utilizada em concretos de referência, e benefício ambiental, já que é dada uma alternativa
de destinação ambientalmente correta para esses resíduos, além de reduzir a exploração de areia
natural de rios.
Algumas desvantagens foram apontadas em poucos trabalhos, como a redução da resistência à
tração, porém para sua real comprovação são necessários novos estudos e novas abordagens em
relação à utilização desses resíduos em concretos e argamassas.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a CAPES e a UFJF pelo apoio à pesquisa.

REFERÊNCIAS
[1] JOHN, V. M. Reciclagem de resíduos na construção civil: Contribuição para metodologia de pesquisa e
desenvolvimento. São Paulo, 2000. 113p. Tese (Livre Docência) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
Departamento de Engenharia de Construção Civil. São Paulo, 2000.
[2] JOHN, V.M.J. Panorama sobre a reciclagem de resíduos na construção civil. In: SEMINÁRIO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A RECICLAGEM NA CONSTRUÇÃO CIVIL, 2., São Paulo, 1999.
Anais... São Paulo: IBRACON, 1999.
[3] PINTO, T.P. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana. São
Paulo, 1999. 189p. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1999.
[4] COURA, C. V. G. Análise experimental sobre a substituição do agregado miúdo por mármore triturado
na confecção de concreto. Niterói, 2009. 196p. Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2009.
[5] ABIROCHAS - Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais. Disponível em:
www.abirochas.com.br. Acessado às 14:35 do dia 23/09/2018.
[6] BARBOSA, M. T. G., COURA, C. V. G., MENDES, L. O. Estudo de areia artificial em substituição à natural
para confecção de concreto. Ambiente Construído. V.8, n.4, PP 51-60, Out-Dez, 2008.
[7] CALMON, J. L.; TRISTÃO, F. A.; LORDÊLLO, F. S. S.; DA SILVA, S. A. C.; MATTOS, F. V. Reciclagem
do resíduo de corte de granito para a produção de argamassas. In: I Encontro Nacional sobre Edificações e
Comunidades Sustentáveis. Canela, 1997. Anais... Canela (RS), 1997.
[8] CALMON, J. L.; TRISTÃO, F. A.; LORDÊLLO, F. S. S.; DA SILVA, S. A. C.; MATTOS, F. V.
Aproveitamento do resíduo de corte de granito para a produção de tijolos de solo-cimento. In: VII Encontro Nacional de
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(SC): ANTAC, 1998.
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