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1. Introdução
Segundo Falzon (2007) a ergonomia possui dois focos com seus respectivos objetivos: foco
na empresa visando a otimização do desempenho através da eficiência, produtividade,
confiabilidade, qualidade, entre outros e por outro lado, foca-se as pessoas, desdobrando-as
em segurança, saúde, facilidade de uso, satisfação e interesse do trabalho, etc. Ao buscar
reduzir as consequências nocivas ao trabalhador, a eficiência e o alto rendimento dos
funcionários serão consequência de seus resultados.
O setor serralheiro se caracteriza principalmente pela excessiva mão de obra, uma vez que não
possui muita aplicação tecnológica no dia a dia. A mão de obra necessita de especialização,
visto que requer várias habilidades manuais por parte de quem as pratica. Uma serralheria tem
como principal atividade a produção de esquadrias, portões, grades, entre outros produtos,
utilizando-se do ferro e mais recentemente do alumínio como matéria-prima básica. A grande
maioria das empresas do ramo trabalha por ordem de serviço, ou seja, por encomenda, tendo
como boa parte de seus consumidores as pessoas físicas (SEBRAE, 2006).
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corte e transporte de materiais, pinturas entre outros se tornam viáveis apenas através da
utilização dos mesmos. Dentre as máquinas, as mais comuns são: esmerilhadeira, policorte,
esmeril, solda elétrica, etc. Além disso, alguns produtos químicos e radiações não ionizantes
também são utilizados, como: zarcão, esmalte, solda elétrica e oxiacetileno.
Deste modo, o presente estudo tem o objetivo de melhorar o contexto ergonômico ao qual o
trabalhador de uma serralheria está inserido, na região do centro oeste mineiro. Para isso,
foram aplicadas duas técnicas observacionais denominas OWAS e Diagrama de Áreas
Dolorosas, as quais permitiram mensurar o desconforto dos trabalhadores e propor melhorias
para que estes impactos fossem erradicados, ou minimizados.
2. Referencial teórico
2.1. Ergonomia
A disciplina tem como enfoque o estudo da relação entre homem e trabalho. Salienta-se que o
estudo ergonômico visa à adaptação do posto de trabalho em relação ao trabalhador, este que
deve ser projetado de acordo com as características dos funcionários que nele executam suas
atividades.
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A ergonomia é dividida em três grandes áreas para melhor explanação, sendo elas a
ergonomia física, a qual correlaciona a resposta do corpo humano, em virtude a atividade
física exercida, esta área engloba de forma geral as características anatômicas do homem,
como antropometria, fisiologia, biomecânica, em função do posto de trabalho; a ergonomia
cognitiva que está relacionada com os processos mentais, como percepção, atenção, memória,
raciocínio e como estas características interferem na interação entre homem e os demais
elementos de um sistema; por fim a ergonomia organizacional, que se refere a estrutura
organizacional, como a comunicação, trabalho em grupo, teoria motivacional. (IIDA;
GUIMARÃES, 2016).
Cada área da ergonomia pode ser manipulada através de diversos métodos e técnicas. Para
esse estudo, restringe-se à área da ergonomia física, adotando como técnicas o OWAS e o
diagrama de áreas dolorosas que serão detalhados a seguir.
2.2. OWAS
A técnica OWAS (Ovako Working Posture Analysing System) é considerado uma técnica
observacional, esta que visa avaliar os riscos provocados pelo excesso de peso e más posturas,
que podem acarretar distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORTs), exaustão,
lesões por esforços repetitivos (LER), entre outras lesões (IIDA; GUIMARÃES, 2016).
O OWAS visa especificamente a análise de posturas dos trabalhadores, esta técnica foi
desenvolvida em 1997 por três pesquisadores finlandeses que trabalhavam em uma empresa
siderúrgica, e observaram que o trabalho se dava em condições desfavoráveis. Inicialmente os
pesquisadores realizaram análises fotográficas das principais posturas encontradas, desta
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Após a determinação das posturas dos membros analisados pelo método, o resultado do
sistema OWAS pode ser estabelecido de acordo com a duração das posturas, ou através das
combinações das variáveis, neste estudo foi utilizado o segundo método, que consiste no
cruzamento das posturas obtidas, o qual é exposto a seguir, conforme figura 2.
Para a postura do corpo final, há quatro níveis de recomendações, as quais indicam o grau de
necessidade de atuação para melhoria, como mostra a Tabela 1.
Classe 1 Postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais.
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Classe 2 Postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de
trabalho.
Elaborado por Corlet e Manenica, em 1980 (IIDA, 2005), o Diagrama de Áreas Dolorosas é
utilizado para identificar, após uma jornada de trabalho, as áreas de seu corpo onde há
ocorrência de dores. Após, é solicitado a medição do grau de desconforto nos segmentos
indicados. Através desses dados é possível facilmente obter entendimentos e a possibilidade
de mensurar o desconforto ocasionado pela rotina de trabalho (IIDA, 2016).
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Para facilitar a aplicação, este método pode ser utilizado tanto com auxílio de softwares
específicos quanto também por questionários. Trata-se então de uma metodologia simples que
não demanda da interrupção da jornada de trabalho do operário e na coleta de dados do
pesquisador.
2.4. Serralheria
A maioria das serralherias trabalham com ramo de serviço, ou seja, por pedido. O mercado é
intensificado devido à variedade de pedidos, uma vez que o cliente está cada vez mais
exigente. Logo é considerável que o serralheiro precise ser qualificado o suficiente para ser
criativo e inovador para atender diversas necessidades. O Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (Sebrae, 2006) ressalta que o ramo serralheria é altamente
competitivo e que as linhas de serviço devem ser definidas anteriormente pela empresa de
acordo com as exigências do mercado, que ela procure constantemente conhecer as
necessidades atuais e locais do cliente, com o pensamento estratégico de que os recursos
produtivos devem atender às demandas desse mercado à todo momento, ganhando em
competitividade e consequentemente em confiabilidade.
3. Metodologia
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A pesquisa também pôde ser descrita como um estudo de caso, visando conhecimentos
específicos sobre determinada situação. De acordo com Gill (2002, p.73), “o estudo de caso é
caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a
permitir conhecimentos amplos e detalhados do mesmo.”
Desta forma, através de uma visita in loco, foi analisada a postura exercida de um operador
exercendo a atividade de corte de chapas de ferro, material base na montagem de produtos.
Para essa análise foi utilizada a técnica OWAS. Em seguida, mediante entrevistas com todos
os funcionários após o expediente, foi realizada uma análise utilizando o Diagrama de Áreas
Dolorosas a fim de identificar as regiões do corpo que mais apresentaram desconforto. Por
fim, foram propostas mudanças com o objetivo atender as necessidades ergonômicas da
atividade analisada como também necessidades gerais de segurança, a fim de melhorar o
ambiente de trabalho analisado.
4. Resultado e discussões
A seguir tem-se os resultados da pesquisa realizada na serralheria alvo, bem como discussões
que validam a análise ergonômica da mesma.
Como dito, o sistema OWAS procura avaliar a postura analisando partes individuais do corpo,
como o dorso, os braços, as pernas e a carga utilizada na atividade. A Figura 4 representa a
atividade realizada por um operador onde é feito o corte de chapas de ferro laminadas a frio,
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Percebe-se na figura que o pescoço do operador está com inclinação maior que 20 graus, o
tronco levemente inclinado, o suporte (peso do trabalhador) sobre as duas pernas. Também
deve-se levar em conta que o pescoço está inclinado para o lado. A operação é feita
mecanicamente e com movimentos repetitivos, já que as chapas são compradas em lote e os
tamanhos são padronizados, mas a frequência dessa atividade varia de acordo com pedido
realizado pelo cliente. Durante a atividade pode ocorrer mudanças nas posturas, devido não só
pelo tamanho como também pela largura das chapas, podendo dificultar ainda mais o
manuseio da mesma, tendo o operador de inclinar o tronco e o pescoço ainda mais para
realizar a atividade.
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De acordo com a técnica utilizada o dorso do operador apresentou grau 2, devido estar
levemente flexionado, os braços grau 2 já que durante a atividade um destes estava para cima
no manuseio da alavanca de corte. As pernas apresentaram grau 4 devido a uma delas estar
flexionada e a carga grau 1 visto que durante a atividade as chapas e o operador não
apresentam carga/força superior a 10kg. Portanto, a combinação resultante foi 2241 e de
acordo com as Tabelas 1 e 2, concluiu-se que o nível ergonômico de intervenção foi classe 3,
ou seja, a postura realizada na atividade merece atenção à curto prazo.
Com base na análise feita, foi recomendado à serralheria o aumento da altura da ferramenta de
corte para evitar inclinações do dorso, pescoço e pernas. O operador também pode estar
procurando realizar manutenções na ferramenta, como alisar ou trocar a lâmina de corte,
assim evitando maior força pelo trabalhador na utilização da mesma. Também é
recomendável a aquisição de outra ferramenta para cortar as chapas, por exemplo, uma serra
elétrica específica para o corte de material de baixa espessura.
Apesar dos inúmeros recursos exigidos pelas normas de segurança do trabalho, alguns
processos, máquinas e equipamentos mal gerenciados podem fazer com que o trabalhador
sofra algum tipo de desconforto, podendo ocorrer formigamentos, dores medianas e até
lesões. Com isso, mediante entrevista com todos os funcionários da serralheria estudada, foi
possível obter o seguinte diagrama de áreas dolorosas, representado no Gráfico 1.
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O diagrama retrata a perceptível necessidade de intervir nas atividades que geram desconforto
na área do pescoço, ombros, braços e mãos. Foi constatado na entrevista que a atividade que
mais influenciou as dores no pescoço foi a utilização de uma máquina de furar pequenas
chapas de ferro, a fim de criar arruelas e porcas, utilizadas na montagem dos produtos. A
máquina estava em uma mesa de madeira desgastada e relativamente baixa, o que pode ter
influenciado para postura inadequada. Essa atividade também gerou pequenos formigamentos
na coluna baixa, devido à altura da região de furo, mas também dores nos ombros, que
somados com outras atividades como corte das chapas grandes de aço e montagem dos
produtos, trouxeram notáveis desconfortos. Vale ressaltar que os andaimes de apoio na
montagem dos produtos são baixos fazendo com que o trabalhador incline mais o pescoço e
tronco, além de que o chão não é cimentado, havendo desníveis. Formigamentos associados
aos pés é explicado pela jornada de trabalho em pé. Já o formigamento no joelho esquerdo é
ocasionado também pelo corte de chapas de ferro, devido à flexão do mesmo durante a
aplicação da força que o trabalhador exerce na alavanca para cortar a chapa. As dores
observadas na mão esquerda são justificadas por pequenos cortes realizados durante o
manuseio das chapas. A atividade mais preocupante foi na utilização de solda elétrica pelos
pertinentes respingos que às vezes caem nos braços do operador, apresentando pequenas
queimaduras, mas que geram alto desconforto.
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De acordo com tais acontecimentos, foi recomendado trocar a mesa de apoio da máquina que
fura chapas por uma mesa de ferro com altura adequada, facilitando a limpeza dos resíduos
deixados pela máquina. Também foi colocada a hipótese de pavimentar o local e trocar os
andaimes por aqueles com altura adequada. O cobrimento dos braços é algo urgentemente
necessário para evitar as queimaduras acarretadas pelos respingos.
Mediante entrevista com o próprio operário e análise do ambiente de trabalho, foi possível
perceber que as luvas com malha de couro apresentaram alto desgaste, apresentando cortes,
logo devem ser trocadas. Além disso, não há luvas com malha de aço, necessárias para o
manuseio e corte das chapas de ferro, evitando acidentes de corte nas mãos do operador. Não
há capacetes nem cinto de segurança, sendo que o operário realiza atividades fora da empresa,
ou seja, na implantação de algum portão ou telhado, não há segurança quanto à possíveis
acidentes relacionados à queda de uma peça ou do próprio trabalhador, em casos de altura.
Óculos de proteção, máscara de solda estão de acordo e não apresentam problemas, como
também os protetores auriculares utilizados, necessários em atividades que geram bastante
ruído, seja no uso de serras elétricas, lixadeiras e furadeiras. O avental de couro não é
utilizado pelo trabalhador, este que seria utilizado para proteção nas atividades de solda, os
braços não são cobertos para nenhuma atividade, ou seja, gerando riscos para o trabalhador.
Para atividades onde agentes químicos estão constantemente predominantes, por exemplo no
uso de tinta para finalizar algum portão, estão em dia com a utilização das máscaras de
respiração (respirador acoplador).
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Como dito os EPI são necessários, mas nem sempre são utilizados, seja pela má segurança
fornecida pela empresa ou pela negligência dos próprios funcionários. É imprescindível a
atualização dos equipamentos de segurança, para que o trabalho possa ser realizado de forma
segura, assim o serviço segue sem interrupções, aumentando a eficiência do processo
produtivo.
5. Conclusão
Por fim, expõe-se a importância de trabalhos relacionados à Ergonomia, para todos os ramos
produtivos. Os trabalhadores são a principal peça de qualquer empresa, e a saúde cognitiva e
física são relevantes, tal que o alto desempenho e rotatividade desses funcionários dentro das
empresas são firmados pelo seu sentimento de segurança e satisfação com a atividade
executada.
6. REFERÊNCIAS
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FALZON, Pierre. Ergonomia. São Paulo: Editora Edgard Blucher Ltda., 2007
GIIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa em ciências sociais: um tratamento conceitual. São
Paulo: EPU, 2002.
IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. 2. ed. São Paulo: Editora Edgard Blucher Ltda., 2005.
IIDA, Itiro; GUIMARÃES, Lia Buarque de Macedo. Ergonomia: Projeto e Produção. 3. ed. São Paulo:
Edgard Bluncher Ltda, 2016.
SEBRAE - Serviço de Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Serralheria. 2006. Disponível em:
<http://vix.sebraees.com.br/ideiasnegocios/arquivos/serralheria.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2018.
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