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XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”


Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

APLICAÇÃO DA TÉCNICA OWAS E


DIAGRAMA DE ÁREAS DOLOROSAS
EM UMA SERRALHERIA DO CENTRO
OESTE MINEIRO
Cláudia Melo de Faria
claudia.melo1515@gmail.com
Ivana Leite de Menezes
ivanaleitem@gmail.com
Luís Otávio da Costa Rodrigues
luisrodrigues-97@live.com
Wesley Isidoro de Paula
wesleyifmg94@gmail.com
BRUNA APARECIDA REZENDE
bruna.rezende@ifmg.edu.br

A ergonomia é o estudo da interação entre homem, máquina e


ambiente, buscando a harmonização entre os elementos, uma
adaptação do trabalho ao funcionário, de forma a melhorar o
desempenho da atividade e prevenir danos à saúde do trabalhador.
Percebe-se então que, no setor serralheiro, o trabalho manual
ocasiona inadequações do binômio homem-máquina, sendo pela
postura errônea perante as operações, ou pela repetitividade dos
processos somado a falta de recursos de segurança. Logo, o presente
estudo objetiva analisar ergonomicamente as atividades realizadas em
uma serralheria do centro-oeste mineiro. Para tal, utilizou o método
OWAS para análise de postura de um operador na atividade de corte.
Aplicou-se também o Diagrama de Áreas Dolorosas para análise de
possíveis desconfortos corporais dos mesmos. Obteve-se categoria 3
para análise de postura do processo crítico e também constatou que as
regiões do corpo que mais apresentaram desconforto foram o ombros,
pescoço, mãos e braços do operador. Medidas preventivas como
manutenções, aquisição de máquinas adequadas para o corte de
chapas, ferramentas e equipamentos seguros foram sugeridos como
propostas de melhoria, além de possíveis alterações físicas do local
para regularizar as condições ergonômicas do mesmo.

Palavras-chave: ergonomia, Serralheria, Diagrama de Áreas


Dolorosas, OWAS
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1. Introdução

Criada após a Segunda Guerra Mundial, a ergonomia está em expansão e apresenta-se em


diversos setores (saúde, educação, transporte, lazer e outros). Anteriormente baseada apenas
no conjunto homem-máquina, a ergonomia passou por um desenvolvimento ao longo da
segunda metade do século XX e pode ser conceituada hoje como estudo, não apenas do
relacionamento homem e máquina, mas também, abrange o ambiente, a aplicação de
conhecimentos anatômicos, fisiológicos e cognitivos, que caracterizam os três tipos de
ergonomia em todo o contexto o qual o trabalhador está envolvido.

Segundo Falzon (2007) a ergonomia possui dois focos com seus respectivos objetivos: foco
na empresa visando a otimização do desempenho através da eficiência, produtividade,
confiabilidade, qualidade, entre outros e por outro lado, foca-se as pessoas, desdobrando-as
em segurança, saúde, facilidade de uso, satisfação e interesse do trabalho, etc. Ao buscar
reduzir as consequências nocivas ao trabalhador, a eficiência e o alto rendimento dos
funcionários serão consequência de seus resultados.

Com atuação em todos os setores produtivos, a ergonomia é facilmente aplicada em qualquer


contexto industrial. Cita-se como foco do estudo o setor serralheiro devido a sua grande
atuação diária, com alta demanda de serviço e pela quantidade de máquinas encontradas no
ambiente de trabalho, que se utilizadas de maneira errônea podem causar malefícios a saúde
física e cognitiva do trabalhador.

O setor serralheiro se caracteriza principalmente pela excessiva mão de obra, uma vez que não
possui muita aplicação tecnológica no dia a dia. A mão de obra necessita de especialização,
visto que requer várias habilidades manuais por parte de quem as pratica. Uma serralheria tem
como principal atividade a produção de esquadrias, portões, grades, entre outros produtos,
utilizando-se do ferro e mais recentemente do alumínio como matéria-prima básica. A grande
maioria das empresas do ramo trabalha por ordem de serviço, ou seja, por encomenda, tendo
como boa parte de seus consumidores as pessoas físicas (SEBRAE, 2006).

As serralherias contam com um maquinário de grande porte e que necessita de grandes


cuidados na hora do manuseio, uma vez que as atividades desenvolvidas como a soldagem,

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corte e transporte de materiais, pinturas entre outros se tornam viáveis apenas através da
utilização dos mesmos. Dentre as máquinas, as mais comuns são: esmerilhadeira, policorte,
esmeril, solda elétrica, etc. Além disso, alguns produtos químicos e radiações não ionizantes
também são utilizados, como: zarcão, esmalte, solda elétrica e oxiacetileno.

Os trabalhadores estão constantemente expostos a diferentes tipos de riscos, sendo eles


físicos, como perda auditiva provocada por ruídos; químicos, como queimaduras, lesões
pulmonares, dores de cabeça causadas por produtos químicos; ergonômicos, como postura
inadequada, lesões por esforço repetitivo, fadiga, redução da capacidade de trabalho; e riscos
de acidentes, causados por máquinas e equipamentos, e instalações inadequadas por exemplo.

Deste modo, o presente estudo tem o objetivo de melhorar o contexto ergonômico ao qual o
trabalhador de uma serralheria está inserido, na região do centro oeste mineiro. Para isso,
foram aplicadas duas técnicas observacionais denominas OWAS e Diagrama de Áreas
Dolorosas, as quais permitiram mensurar o desconforto dos trabalhadores e propor melhorias
para que estes impactos fossem erradicados, ou minimizados.

2. Referencial teórico

2.1. Ergonomia

Segundo a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), a ergonomia pode ser definida


como:

A Ergonomia (ou Fatores Humanos) é uma disciplina científica


relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e
outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios,
dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o
desempenho global do sistema. (ABERGO, 2000).

A disciplina tem como enfoque o estudo da relação entre homem e trabalho. Salienta-se que o
estudo ergonômico visa à adaptação do posto de trabalho em relação ao trabalhador, este que
deve ser projetado de acordo com as características dos funcionários que nele executam suas
atividades.

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O estudo ergonômico do posto de trabalho visa minimizar os impactos causados sobre o


trabalhador, preservando sua saúde e bem-estar. De acordo com Iida e Guimarães (2016, pg.
04) “A ergonomia estuda os diversos fatores que influenciam no desempenho do sistema
produtivo e procura reduzir as consequências nocivas sobre o trabalhador”. Desta forma
através de seu estudo é possível reduzir acidentes, fadiga, estresse, erros, propiciando ao
trabalhador um ambiente confortável e seguro.

A ergonomia é dividida em três grandes áreas para melhor explanação, sendo elas a
ergonomia física, a qual correlaciona a resposta do corpo humano, em virtude a atividade
física exercida, esta área engloba de forma geral as características anatômicas do homem,
como antropometria, fisiologia, biomecânica, em função do posto de trabalho; a ergonomia
cognitiva que está relacionada com os processos mentais, como percepção, atenção, memória,
raciocínio e como estas características interferem na interação entre homem e os demais
elementos de um sistema; por fim a ergonomia organizacional, que se refere a estrutura
organizacional, como a comunicação, trabalho em grupo, teoria motivacional. (IIDA;
GUIMARÃES, 2016).

Cada área da ergonomia pode ser manipulada através de diversos métodos e técnicas. Para
esse estudo, restringe-se à área da ergonomia física, adotando como técnicas o OWAS e o
diagrama de áreas dolorosas que serão detalhados a seguir.

2.2. OWAS

A técnica OWAS (Ovako Working Posture Analysing System) é considerado uma técnica
observacional, esta que visa avaliar os riscos provocados pelo excesso de peso e más posturas,
que podem acarretar distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORTs), exaustão,
lesões por esforços repetitivos (LER), entre outras lesões (IIDA; GUIMARÃES, 2016).

O OWAS visa especificamente a análise de posturas dos trabalhadores, esta técnica foi
desenvolvida em 1997 por três pesquisadores finlandeses que trabalhavam em uma empresa
siderúrgica, e observaram que o trabalho se dava em condições desfavoráveis. Inicialmente os
pesquisadores realizaram análises fotográficas das principais posturas encontradas, desta

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forma encontraram 72 posturas, derivadas de diversas combinações de posições do dorso,


braço e pernas, além da consideração da carga suportada pelo operador ((IIDA;
GUIMARÃES, 2016).

A seguir, a figura 1 demonstra detalhadamente as classificações de cada membro de acordo


com a posição do trabalhador, cada postura é classificada com um código que pode variar de 1
a 6. A postura final é originária da combinação das posturas do dorso (variação de 1 a 4), dos
braços (variação de 1 a 3), das pernas (variação de 1 a 7), e da carga (variação de 1 a 3).

Figura 1- Classificações dos membros do trabalhado

Fonte: Adaptado de Iida e Guimarães (2016)

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Após a determinação das posturas dos membros analisados pelo método, o resultado do
sistema OWAS pode ser estabelecido de acordo com a duração das posturas, ou através das
combinações das variáveis, neste estudo foi utilizado o segundo método, que consiste no
cruzamento das posturas obtidas, o qual é exposto a seguir, conforme figura 2.

Figura 2- Método OWAS

Fonte: Iida e Guimarães (2016)

Para a postura do corpo final, há quatro níveis de recomendações, as quais indicam o grau de
necessidade de atuação para melhoria, como mostra a Tabela 1.

Tabela 1 - Classificação Método OWAS

Classes Grau de necessidade de atuação

Classe 1 Postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais.

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Classe 2 Postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de
trabalho.

Classe 3 Postura que deve merecer atenção a curto prazo.

Classe 4 Postura que deve merecer atenção imediata.

Fonte: Adaptado de Iida e Guimarães (2016)

2.3. Diagrama de áreas dolorosas

Elaborado por Corlet e Manenica, em 1980 (IIDA, 2005), o Diagrama de Áreas Dolorosas é
utilizado para identificar, após uma jornada de trabalho, as áreas de seu corpo onde há
ocorrência de dores. Após, é solicitado a medição do grau de desconforto nos segmentos
indicados. Através desses dados é possível facilmente obter entendimentos e a possibilidade
de mensurar o desconforto ocasionado pela rotina de trabalho (IIDA, 2016).

O diagrama é composto por uma estrutura corporal dividida em 12 segmentos corporais


simétricos, o qual facilita a localização das áreas, como pode ser visto pela figura 3.

Figura 3 - Diagrama de Áreas Dolorosas

Fonte: Iida (2005)

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A aplicação do Diagrama tem como objetivo determinar a localização de áreas em que os


trabalhadores sentem dores, identificando desta forma máquinas, processos ou até mesmo
locais de trabalhos críticos à saúde e segurança do trabalhador, podendo atuar de forma
imediata nas causas destes problemas.

Para facilitar a aplicação, este método pode ser utilizado tanto com auxílio de softwares
específicos quanto também por questionários. Trata-se então de uma metodologia simples que
não demanda da interrupção da jornada de trabalho do operário e na coleta de dados do
pesquisador.

2.4. Serralheria

A serralheria é um ambiente onde o operador exerce funções de corte, reparos, montagem e


modelagem de recursos transformadores como aço, ferro, estanho, cobre e alumínio em
produtos como grades, portas, janelas, portões, telhados e outros recursos transformados. É
necessário que a empresa conheça as normas regulamentadoras e atenda as necessidades de
segurança estabelecidas pela mesma, evitando comprometer a vida de seus funcionários. Logo
os processos de produção devem ser gerenciados corretamente, máquinas e ferramentas
adequadas para o serviço e pessoal qualificado.

A maioria das serralherias trabalham com ramo de serviço, ou seja, por pedido. O mercado é
intensificado devido à variedade de pedidos, uma vez que o cliente está cada vez mais
exigente. Logo é considerável que o serralheiro precise ser qualificado o suficiente para ser
criativo e inovador para atender diversas necessidades. O Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (Sebrae, 2006) ressalta que o ramo serralheria é altamente
competitivo e que as linhas de serviço devem ser definidas anteriormente pela empresa de
acordo com as exigências do mercado, que ela procure constantemente conhecer as
necessidades atuais e locais do cliente, com o pensamento estratégico de que os recursos
produtivos devem atender às demandas desse mercado à todo momento, ganhando em
competitividade e consequentemente em confiabilidade.

3. Metodologia

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Caracterizada por uma pesquisa de natureza aplicada, o presente estudo busca-se


conhecimentos para alcançar a solução para determinado problema. Possui também aspectos
bibliográficos e de estudo de caso, o qual poderá fornecer um estudo acerca dos processos
ocorridos dentro da serralharia, obtendo então conhecimento sobre a mesma.

Inicialmente a metodologia proposta é a pesquisa bibliográfica, realizada com o propósito de


explanar sobre os principais tópicos para a compreensão e posterior análise dos dados obtidos.
Segundo Fonseca (2002), a pesquisa bibliográfica é realizada com base no levantamento de
referências teóricas já exploradas e divulgadas, sendo esta o início de um trabalho científico.

A pesquisa também pôde ser descrita como um estudo de caso, visando conhecimentos
específicos sobre determinada situação. De acordo com Gill (2002, p.73), “o estudo de caso é
caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a
permitir conhecimentos amplos e detalhados do mesmo.”

Desta forma, através de uma visita in loco, foi analisada a postura exercida de um operador
exercendo a atividade de corte de chapas de ferro, material base na montagem de produtos.
Para essa análise foi utilizada a técnica OWAS. Em seguida, mediante entrevistas com todos
os funcionários após o expediente, foi realizada uma análise utilizando o Diagrama de Áreas
Dolorosas a fim de identificar as regiões do corpo que mais apresentaram desconforto. Por
fim, foram propostas mudanças com o objetivo atender as necessidades ergonômicas da
atividade analisada como também necessidades gerais de segurança, a fim de melhorar o
ambiente de trabalho analisado.

4. Resultado e discussões

A seguir tem-se os resultados da pesquisa realizada na serralheria alvo, bem como discussões
que validam a análise ergonômica da mesma.

4.1. Método OWAS

Como dito, o sistema OWAS procura avaliar a postura analisando partes individuais do corpo,
como o dorso, os braços, as pernas e a carga utilizada na atividade. A Figura 4 representa a
atividade realizada por um operador onde é feito o corte de chapas de ferro laminadas a frio,

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chapas de ferro laminadas a quente e chapas de ferro galvanizados, matéria-prima necessária


para a construção de alguns portões, grades e telhas.

Figura 4 – Atividade de corte

Fonte: Autores (2017)

Percebe-se na figura que o pescoço do operador está com inclinação maior que 20 graus, o
tronco levemente inclinado, o suporte (peso do trabalhador) sobre as duas pernas. Também
deve-se levar em conta que o pescoço está inclinado para o lado. A operação é feita
mecanicamente e com movimentos repetitivos, já que as chapas são compradas em lote e os
tamanhos são padronizados, mas a frequência dessa atividade varia de acordo com pedido
realizado pelo cliente. Durante a atividade pode ocorrer mudanças nas posturas, devido não só
pelo tamanho como também pela largura das chapas, podendo dificultar ainda mais o
manuseio da mesma, tendo o operador de inclinar o tronco e o pescoço ainda mais para
realizar a atividade.

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De acordo com a técnica utilizada o dorso do operador apresentou grau 2, devido estar
levemente flexionado, os braços grau 2 já que durante a atividade um destes estava para cima
no manuseio da alavanca de corte. As pernas apresentaram grau 4 devido a uma delas estar
flexionada e a carga grau 1 visto que durante a atividade as chapas e o operador não
apresentam carga/força superior a 10kg. Portanto, a combinação resultante foi 2241 e de
acordo com as Tabelas 1 e 2, concluiu-se que o nível ergonômico de intervenção foi classe 3,
ou seja, a postura realizada na atividade merece atenção à curto prazo.

Com base na análise feita, foi recomendado à serralheria o aumento da altura da ferramenta de
corte para evitar inclinações do dorso, pescoço e pernas. O operador também pode estar
procurando realizar manutenções na ferramenta, como alisar ou trocar a lâmina de corte,
assim evitando maior força pelo trabalhador na utilização da mesma. Também é
recomendável a aquisição de outra ferramenta para cortar as chapas, por exemplo, uma serra
elétrica específica para o corte de material de baixa espessura.

4.2. Diagrama de Áreas Dolorosas

Apesar dos inúmeros recursos exigidos pelas normas de segurança do trabalho, alguns
processos, máquinas e equipamentos mal gerenciados podem fazer com que o trabalhador
sofra algum tipo de desconforto, podendo ocorrer formigamentos, dores medianas e até
lesões. Com isso, mediante entrevista com todos os funcionários da serralheria estudada, foi
possível obter o seguinte diagrama de áreas dolorosas, representado no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Grau de intensidade do desconforto

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Fonte: Autores (2018)

O diagrama retrata a perceptível necessidade de intervir nas atividades que geram desconforto
na área do pescoço, ombros, braços e mãos. Foi constatado na entrevista que a atividade que
mais influenciou as dores no pescoço foi a utilização de uma máquina de furar pequenas
chapas de ferro, a fim de criar arruelas e porcas, utilizadas na montagem dos produtos. A
máquina estava em uma mesa de madeira desgastada e relativamente baixa, o que pode ter
influenciado para postura inadequada. Essa atividade também gerou pequenos formigamentos
na coluna baixa, devido à altura da região de furo, mas também dores nos ombros, que
somados com outras atividades como corte das chapas grandes de aço e montagem dos
produtos, trouxeram notáveis desconfortos. Vale ressaltar que os andaimes de apoio na
montagem dos produtos são baixos fazendo com que o trabalhador incline mais o pescoço e
tronco, além de que o chão não é cimentado, havendo desníveis. Formigamentos associados
aos pés é explicado pela jornada de trabalho em pé. Já o formigamento no joelho esquerdo é
ocasionado também pelo corte de chapas de ferro, devido à flexão do mesmo durante a
aplicação da força que o trabalhador exerce na alavanca para cortar a chapa. As dores
observadas na mão esquerda são justificadas por pequenos cortes realizados durante o
manuseio das chapas. A atividade mais preocupante foi na utilização de solda elétrica pelos
pertinentes respingos que às vezes caem nos braços do operador, apresentando pequenas
queimaduras, mas que geram alto desconforto.

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De acordo com tais acontecimentos, foi recomendado trocar a mesa de apoio da máquina que
fura chapas por uma mesa de ferro com altura adequada, facilitando a limpeza dos resíduos
deixados pela máquina. Também foi colocada a hipótese de pavimentar o local e trocar os
andaimes por aqueles com altura adequada. O cobrimento dos braços é algo urgentemente
necessário para evitar as queimaduras acarretadas pelos respingos.

4.3. Outras questões ergonômicas

Para finalizar a análise ergonômica do trabalho proposta anteriormente, deve-se levar em


consideração as questões de segurança do trabalhador em relação às atividades exercidas por
ele. Os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) são sempre exigidos de acordo com a
norma de segurança interna das empresas industriais e, para a serralheria, são necessários
óculos de segurança, protetor facial, protetores auriculares (contra ruídos), respirador
acoplador com cartucho químico específico, máscara de solda, luvas de couro, calçados de
segurança, avental de couro, cinto de segurança (para trabalhos com alturas superiores a 2
metros).

Mediante entrevista com o próprio operário e análise do ambiente de trabalho, foi possível
perceber que as luvas com malha de couro apresentaram alto desgaste, apresentando cortes,
logo devem ser trocadas. Além disso, não há luvas com malha de aço, necessárias para o
manuseio e corte das chapas de ferro, evitando acidentes de corte nas mãos do operador. Não
há capacetes nem cinto de segurança, sendo que o operário realiza atividades fora da empresa,
ou seja, na implantação de algum portão ou telhado, não há segurança quanto à possíveis
acidentes relacionados à queda de uma peça ou do próprio trabalhador, em casos de altura.
Óculos de proteção, máscara de solda estão de acordo e não apresentam problemas, como
também os protetores auriculares utilizados, necessários em atividades que geram bastante
ruído, seja no uso de serras elétricas, lixadeiras e furadeiras. O avental de couro não é
utilizado pelo trabalhador, este que seria utilizado para proteção nas atividades de solda, os
braços não são cobertos para nenhuma atividade, ou seja, gerando riscos para o trabalhador.
Para atividades onde agentes químicos estão constantemente predominantes, por exemplo no
uso de tinta para finalizar algum portão, estão em dia com a utilização das máscaras de
respiração (respirador acoplador).

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Como dito os EPI são necessários, mas nem sempre são utilizados, seja pela má segurança
fornecida pela empresa ou pela negligência dos próprios funcionários. É imprescindível a
atualização dos equipamentos de segurança, para que o trabalho possa ser realizado de forma
segura, assim o serviço segue sem interrupções, aumentando a eficiência do processo
produtivo.

5. Conclusão

Ao longo de toda a discussão e análise do presente estudo obteve-se a consciência da


importância da Análise Ergonômica do Trabalho para os empregadores e empregados. Nota-
se que como a afirmação de Falzon (2007), a ergonomia acarreta tanto em consequências
positivas para o empregador, como aumento de rendimento do funcionário e, portanto, a
otimização da produção, quanto para o empregado, que passa a exercer suas atividades de
forma segura, correta e com o maior conforto possível.

Os resultados mostraram que o mal posicionamento do colaborador durante a rotina de


trabalho ocasiona lesões e/ou desconfortos ao mesmo. Tal fato foi comprovado neste estudo,
baseado na metodologia OWAS e do Diagrama de Áreas Dolorosas. A veracidade dos
métodos gerou resultados que proporcionaram o conhecimento acerca das funções críticas que
causam incômodo ao trabalhador e que podem gerar queda de velocidade na produção e
insatisfação do trabalho, resultando em baixa produtividade. As condições de trabalho
analisadas na serralheria estudada também apresentaram preocupação nos quesitos de
segurança, como a falta de alguns equipamentos de proteção individual. Todas essas
inconformidades em algum momento irão atrapalhar a produção, logo é indiscutível a
importância que a ergonomia nesses casos.

Por fim, expõe-se a importância de trabalhos relacionados à Ergonomia, para todos os ramos
produtivos. Os trabalhadores são a principal peça de qualquer empresa, e a saúde cognitiva e
física são relevantes, tal que o alto desempenho e rotatividade desses funcionários dentro das
empresas são firmados pelo seu sentimento de segurança e satisfação com a atividade
executada.

6. REFERÊNCIAS

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ABERGO- Associação Brasileira de Ergonomia. O que é Ergonomia? 2000. Disponível em:


<http://www.abergo.org.br/internas.php?pg=o_que_e_ergonomia>. Acesso em: 12 maio 2018.

FALZON, Pierre. Ergonomia. São Paulo: Editora Edgard Blucher Ltda., 2007

FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.

GIIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa em ciências sociais: um tratamento conceitual. São
Paulo: EPU, 2002.

IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. 2. ed. São Paulo: Editora Edgard Blucher Ltda., 2005.

IIDA, Itiro; GUIMARÃES, Lia Buarque de Macedo. Ergonomia: Projeto e Produção. 3. ed. São Paulo:
Edgard Bluncher Ltda, 2016.

SEBRAE - Serviço de Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Serralheria. 2006. Disponível em:
<http://vix.sebraees.com.br/ideiasnegocios/arquivos/serralheria.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2018.

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