A Segunda Conferência Geral do Episcopado latino-americano
aconteceu na cidade de Medellín, na Colômbia, no ano de 1968, convocada pelo papa Paulo VI, atendendo um pequeno grupo de bispos, membros de um episcopado que havia se revelado, no Concílio, como conservador em sua maioria. Não obstante, Medellín “deu uma virada”, pois não apenas aplicou o Concílio Vaticano II, mas lançou os alicerces para organizar uma “Igreja comunidade”, avançar na pastoral, refletir sobre a fé e atuar na sociedade; lançou, por fim, as bases para a Teologia da Libertação e a “Igreja dos pobres”.
Neste registro, Medellín não se restringiu a ser uma aplicação do
Vaticano II, embora tenha sido convocada para concretizá-lo, pois fez uma releitura do mesmo e abriu novas perspectivas, movendo-se com mais rapidez que o Concílio, conforme o que se entendia na época como os clamores de Deus na realidade latino-americana, como a justiça social, a paz e o desenvolvimento integral. Destarte, conforme o historiador Oscar Beozzo, a maior novidade de Medellín é a leitura dos sinais dos tempos, com o método Ver-julgar-agir.
Medellín não é indiferente ante as tremendas injustiças sociais na
América Latina, que mantém desigualdades, produz pobreza e até miséria. Assim, embora a expressão “opção pelos pobres” não se encontre literalmente nos documentos da Conferência — pois foi cunhada em Puebla — os termos “pobre”, “pobres” e “pobreza” aparecem 99 vezes. O documento Justiça realça que a indignação diante da injustiça remonta ao próprio Deus. Nesta mesma linha, o documento Paz afirma que a miséria, causada pelas injustiças sociais, exprimem uma situação de pecado. O documento Educação aponta para que a exclusão de pessoas colocadas à margem da cultura é uma escravidão humana e sua libertação é uma responsabilidade de todas as pessoas latino- americanas. Já o documento Pobreza na Igreja aponta para o compromisso em favor dos mais necessitados para testemunhar o mal da pobreza material e o bem da liberdade espiritual perante as coisas. Assim, a “opção pelos pobres” constitui uma presença profética em todos os níveis, em vista da construção de uma nova sociedade. Da parte da Igreja, postula-se abandonar privilégios e colocar-se como humilde servidora.
Nos próximos dias acontecerá, na Cidade do México, a Assembleia
Eclesial Latino-Americana e Caribenha, fazendo memória da Conferência de Aparecida. Seu objetivo será o de olhar para a realidade e seus desafios para propor caminhos de uma pastoral eficaz em vista da vida plena para todos (as) proposta por Jesus. Considerando Medellín, esta Conferência revela uma Igreja latino-americana que compreendeu a sua missão de lutar contra a injustiça e a cultura da morte em nosso continente. A grande diferença é que hoje a Igreja conta com a inspiração de Francisco com suas interpelações programáticas para a ‘práxis’ pastoral. Enfim, seja Medellín como a próxima Conferência Episcopal em sua eminência, entende-se que o Espírito suscita caminhos de libertação. Esse Espírito, é o que se compreende através dos processos de escuta, fala à igreja a partir de baixo, a partir dos marginalizados, já que, por meio do sensus fidei, o mesmo Espírito se manifesta nos corações abertos à Deus. Portanto, que saibamos escutar o que o Espírito fala à Igreja da América Latina e do Caribe (cf. Ap 2,11)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MURAD, Afonso Tadeu. Medellín: História, símbolo e atualidade. In: Horizonte,
PUC-Minas. Dossiê: Conferência de Medellín. 50 anos depois. Belo Horizonte, v. 16, n. 60, p. 600-631, maio/ago. 2018.