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Disciplina: Pedagogia Sistêmica

Autores: Esp. Olinda Roseli Pereira Guedes

Revisão de Conteúdos: Esp. Murillo Hochuli Castex

Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki

Ano: 2019

Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas


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Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em
cobrança de direitos autorais.

1
Olinda Roseli Pereira Guedes

Pedagogia Sistêmica
1ª Edição

2019

Curitiba, PR

Editora São Braz

2
Editora São Braz
Rua Cláudio Chatagnier, 112
Curitiba – Paraná – 82520-590
Fone: (41) 3123-9000

Coordenador Técnico Editorial


Marcelo Alvino da Silva

Revisão de Conteúdos
Murillo Hochuli Castex

Revisão Ortográfica
Juliano de Paula Neitzki

Desenvolvimento Iconográfico
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério

FICHA CATALOGRÁFICA

GUEDES, Olinda Roseli Pereira.


Pedagogia Sistêmica / Olinda Roseli Pereira Guedes. – Curitiba: Editora São Braz,
2019.
35 p.
ISBN: 978-85-5475-371-9
1. Pedagogia Sistêmica. 2. Constelações Familiares. 3. Aprendizagem.
Material didático da disciplina de Pedagogia Sistêmica – Faculdade São Braz
(FSB), 2019.

Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870

3
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO

Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz!

Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier,


nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão
Universitária.
A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas
também brasileiros conscientes de sua cidadania.
Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e
grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e
estudantes.

Bons estudos e conte sempre conosco!


Faculdade São Braz

4
Sumário
Prefácio ................................................................................................................. 06
Aula 1 – Pedagogia Sistêmica (conceitos e definições) ......................................... 07
Apresentação da Aula 1 ......................................................................................... 07
1.1 A teoria e a prática .................................................................................... 07
1.2 História – Autores importantes para a Pedagogia Sistêmica ..................... 07
1.3 Mecanicismo e Sistêmico ......................................................................... 08
1.4 A paz vem da mãe; o limite vem do pai ...................................................... 11
1.5 Pedagogia Sistêmica – a pedagogia do presente ..................................... 12
Conclusão da Aula 1 .............................................................................................. 13
Aula 2 – Corrente psicopedagógica de Bert Hellinger e suas adaptações 14
posteriores ............................................................................................................
Apresentação da Aula 2 ......................................................................................... 14
2.1 Bert Hellinger e Marianne Franke-Gricksch da Clínica à Escola ............... 14
2.2 “Eu descobri a criança” – Maria Montessori .............................................. 17
2.3 A sala em círculo – as tarefas para casa ................................................... 18
2.4 Pedagogia Sistêmica – as Constelações Sistêmicas na dinâmica escolar 20
Conclusão da Aula 2 .............................................................................................. 23
Aula 3 – Pedagogia Sistêmica e suas aplicabilidades em distintas áreas .............. 24
Apresentação da Aula 3 ......................................................................................... 24
3.1 Atendimento ao aluno / atendimento ao professor .................................... 24
3.2 A escola como um sistema vivo ................................................................ 25
3.3 Liderança e Trabalho em Equipe .............................................................. 25
3.4 Pedagogia Sistêmica – A Pedagogia do Amor ......................................... 26
Conclusão da Aula 3 .............................................................................................. 27
Aula 4 – Utilizações dos princípios sistêmicos em distintos contextos (inclusivos, 28
mediativos, formação humana, ensino-aprendizagem e nos processos
alfabetizatórios) .....................................................................................................
Apresentação da Aula 4 ......................................................................................... 28
4.1 Por que as crianças vão para a escola? Por que os professores vão para 28
a escola? ...............................................................................................................
4.2 O objetivo social e o objetivo de conteúdos ............................................... 29
4.3 Por que adultos vão para o trabalho? Escola e profissão: o sucesso 29
começa em casa ....................................................................................................
4.4 Ensino-aprendizagem: Jean Piaget, Rudolf Steiner e Paulo Freire ........... 30
Conclusão da Aula 4 .............................................................................................. 30
Índice Remissivo ................................................................................................... 32
Referências ........................................................................................................... 34

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Prefácio

A Pedagogia Sistêmica foi concebida pela professora alemã Marianne


Franke-Gricksch, que, nos anos 1970, utilizou como base para seus estudos as
experiências em grupos de terapias conduzidas por Bert Hellinger, teólogo e
filósofo alemão.
Marianne percebeu que os exercícios vivenciados naqueles grupos
terapêuticos de desenvolvimento humano poderiam ajudar muito no cotidiano
escolar. Desse modo, de forma criativa, começou a fazer intervenções
diferenciadas em sala de aula, levando em conta os sistemas familiares,
educativos e institucionais, promovendo a boa convivência e o melhor
aprendizado.
Sua visão sistêmica permitiu uma abordagem diferenciada, que outros
professores passaram a adotar também, obtendo êxito. Assim, nesta disciplina
será apresentada a riqueza deste conhecimento, para você também colocar em
prática e testemunhar os surpreendentes resultados.
Um abraço e bons estudos!

6
Aula 1 – Pedagogia Sistêmica (conceitos e definições)

Apresentação da aula 1

Compreender o que é a Pedagogia Sistêmica permite a sua aplicação


imediata e soluções inéditas para as situações experienciadas no cotidiano.
Desse modo, nesta aula será realizada a contextualização histórica do
conhecimento sistêmico, apresentando a sua inspiração na biologia de Maturana
e Varela, na pedagogia de Paulo Freire, bem como nas Constelações Sistêmicas
de Bert Hellinger.

1.1 A teoria e a prática

A partir da compreensão do que é o pensamento sistêmico,


especificamente da Pedagogia Sistêmica, foram desenvolvidos recursos
significativos para a excelência do ensino-aprendizado. Nesse sentido, o
professor pode realmente tornar muito mais leve o seu cotidiano escolar e
praticar esses conhecimentos, não somente em sua vida profissional, mas
também em sua vida pessoal.

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SUGESTÃO DE LEITURA

Para complementar os seus estudos, leia a


obra O que traz quem levamos para a
Escola, de autoria de Olinda Guedes. Um
livro para aprofundar seus conhecimentos
sobre a Pedagogia Sistêmica.

1.2 História – Autores importantes para a Pedagogia Sistêmica

 Humberto Maturana e Francisco Varela: Humberto Maturana


(Santiago, Chile, 14 de setembro de 1928) é um neurobiólogo chileno,

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crítico do realismo matemático e criador da teoria da autopoiese e da
biologia do conhecer, junto a Francisco Varela, é um dos propositores
do pensamento sistêmico e do construtivismo radical;

Vocabulario
Autopoiese (do grego auto "próprio", poiesis "criação") é um
termo criado na década de 1970 por Francisco Varela e
Humberto Maturana para designar um sistema organizado
de forma autossuficiente, que produz e recicla seus próprios
componentes diferenciando-se do meio exterior.

 Paulo Freire: Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife, no dia


19 de setembro de 1921 e faleceu em São Paulo, no dia 2 de maio de
1997. Educador, pedagogo e filósofo, foi um dos pensadores mais
notáveis na história da pedagogia mundial, sendo considerado o
patrono da Educação Brasileira. Com sua obra voltada para o
despertar da consciência crítica e de práticas de ensino libertadoras,
é um dos pensadores mais influentes para o desenvolvimento de uma
concepção pedagógico-sistêmica.

1.3 Mecanicismo e Sistêmico

O mecanicismo é uma teoria filosófica determinista, herdada dos filósofos


da Revolução Científica do século XVII, como Descartes, Francis Bacon e
Newton, segundo a qual todos os fenômenos se explicam pela causalidade
mecânica ou em analogia à causalidade mecânica (causalidade linear ou,
instrumentalmente, como meio para uma causa final).
Em filosofia, o mecanicismo é defendido pelo deísmo, que sustenta que
o universo é um mecanismo, o qual pressupõe a existência de um ser superior
não mecânico (Deus), assim como um relógio pressupõe a existência do
relojoeiro que o construiu.

8
Vocabulario
Em seu sentido filosófico, o termo causalidade refere-se à
condição segundo a qual uma causa produz um efeito.
O conceito de deísmo define um sistema que aceita a
existência de Deus, mas não acredita na autoridade de
igrejas ou de práticas religiosas.

Visão mecanicista
Fonte: https://st.depositphotos.com/1001414/3789/i/450/depositphotos_37893441-
stock-photo-clock-mechanism-made-in-the.jpg

Em biologia, mecanicismo refere-se às teorias que afirmam que todos os


fenômenos que se manifestam nos seres vivos são mecanicamente
determinados e, em última análise, essencialmente de natureza físico-química.
Essa postura opõe-se às explicações vitalistas, que postulam a existência de
uma força ou impulso vital sem a qual a vida não poderia ser explicada.
A visão sistêmica consiste na habilidade de compreender os sistemas, de
acordo com a abordagem da Teoria Geral dos Sistemas, ou seja, ter o
conhecimento do todo, de modo a permitir a análise ou a interferência no
processo de aprendizagem. Desse modo, é formada a partir do conhecimento
do conceito e das características dos sistemas.
A visão sistêmica é a capacidade de identificar as ligações de fatos
particulares do sistema como um todo e foi desenvolvida a partir da necessidade

9
de explicações complexas exigidas pela ciência. Dentre as principais
características constituintes de um sistema, podemos apontar:

 É composto por partes;


 Todas as partes devem se relacionar de forma direta ou indireta;
 É limitado pelo ponto de vista do observador ou um grupo de
observadores;
 Pode abrigar outro sistema;
 É vinculado ao tempo e espaço.

Visão Sistêmica
Fonte: https://www.tikura.com.br/wp-
content/uploads/2018/04/constelac%CC%A7a%CC%83o.png

Vídeo
Assista ao curta-metragem brasileiro Vida Maria, produzido em
computação gráfica 3D. A narrativa apresenta personagens e
cenários modelados com texturas e cores pesquisadas e
capturadas no sertão cearense, criando uma atmosfera realista
e humanizada. Vencedor de mais de 50 prêmios em festivais de
cinema nacionais e internacionais, foi dirigido por Márcio Ramos
e conta a história de Maria José, uma menina de 5 anos que é
levada a largar os estudos para trabalhar. A partir deste curta,
é possível refletir a respeito do quão sistêmica é a vida, apesar
de aparentemente mecanicista. Disponível em:
https://youtu.be/yFpoG_htum4?t=54

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1.4 A paz vem da mãe; o limite vem do pai

O relacionamento da criança com seus pais permite que ela se expresse


de forma assertiva no mundo e que seja criativa e saudável.
Nesse sentido, de acordo com a visão sistêmica, é possível afirmar que a
paz vem da mãe, porque os atos de gestar, parir, cuidar e amparar só podem
resultar de forma positiva se houver paz, respeito e cuidado. Esta é uma frase
de Bert Hellinger: “a paz vem da mãe!”. Assim, quando nós queremos que a paz
aconteça no âmbito escolar, que esteja no coração, nas empresas e no mundo,
devemos estar sempre em contato, em um vínculo de amor, de carinho, de
memória. Do mesmo modo, é necessário manter os nossos pais presentes e
principalmente a mãe, no que diz respeito a um bom ambiente de aprendizado.

Relacionamento da criança com seus pais


Fonte: https://st.depositphotos.com/1003580/2153/i/450/depositphotos_21532389-
stock-photo-silhouette-group-of-happy-children.jpg

Outro conceito fundamental da Pedagogia Sistêmica é que o limite vem


do pai. Entendemos aqui por limite o respeito, a não violência, as regras, os
princípios e os valores. O limite maravilhoso que todos precisamos saber: quais
são meus direitos, quais são meus deveres. Esse saber vem das figuras
masculinas de cada sistema, de cada família.
Sugiro que, sempre que estiver na escola, tenha sempre em mente a figura
do seu pai, seja como professor ou como aluno. Procure mantê-lo sempre

11
presente em sua meditação, em seu pensamento, norteando o ensino e o
aprendizado das disciplinas. Tenha sempre em seu pensamento, em suas
imagens internas a presença de seus próprios pais, dos pais de seus colegas,
professores e alunos.
Há muitos casos em que o indivíduo não conheceu o seu genitor ou este era
um adulto disfuncional. Então, sugere-se imaginar uma boa pessoa que poderia
ter feito para si a função parental, um parente, um personagem de um filme, ou
uma figura religiosa. Isso já é suficiente para preencher esse espaço e promover
a identificação. Por exemplo, o sentimento de segurança tão desejado por todos
vem da figura parental masculina de nossas famílias, do pai, do genitor.

1.5 Pedagogia Sistêmica – a pedagogia do presente

A Pedagogia Sistêmica é a pedagogia do presente, porque efetivamente


oferece novas possibilidades. Nossa mestra, Marianne Franke-Gricksch, a
precursora da Pedagogia Sistêmica no mundo, disse: “somente quando
conseguimos dar um lugar no coração para nosso aluno, para toda sua história,
seu sofrimento ele se tornará capaz de aprender. Essa é a Pedagogia do Amor”
(GRICKSH, s/d). Nesse sentido, no quadro abaixo é possível observar um
comparativo entre a perspectiva da Pedagogia Clássica e a Pedagogia
Sistêmica:

Pedagogia Clássica Pedagogia Sistêmica


Centrada no conhecimento e na Centrada nas “ordens do amor” que
realização acadêmica. permitem o fluir de todo o processo.
A aprendizagem está pulverizada. A aprendizagem está articulada.
O importante é que o aluno
O importante é que o aluno aprenda.
experimente a “vida” fluir.
A avaliação é mais quantitativa. A avaliação também é qualitativa.
A família é um apoio adicional. A família é a base da educação.
O professor é uma ponte de
O professor é o ator principal.
interação.
Favorece, também, a inteligência
Favorece a inteligência cognitiva.
emocional.
Fonte: Vieira; Sivek; Cavalcante (2014), adaptado pelo DI (2019).

12
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SUGESTÃO DE LEITURA

No livro Introdução à Pedagogia Sistêmica


– uma nova postura para pais e
educadores, o autor Jean Lucy Toledo Vieira
relata, de maneira leve e elucidativa, como a
abordagem sistêmica pode contribuir para
humanizar ainda mais as relações no
ambiente escolar, culminando na melhoria
dos processos de ensino-aprendizagem.
Repleto de exemplos e situações práticas,
este livro se torna um verdadeiro manual para
pais, professores, educadores e a todos que
estão em busca de outras formas para lidar
com situações difíceis e complexas que
envolvem o contexto educacional.

Conclusão da aula 1

Ao final desta aula é possível perceber que a Pedagogia Sistêmica é muito


mais do que um conceito, é uma prática constante, um estado de presença, de
constatar que nenhum indivíduo está sozinho, ou faz acontecer algo à revelia.
Desse modo, nosso aluno traz consigo, em sua bagagem, toda a sua história,
sucessos e fracassos, talentos e desafios de gerações anteriores, seu DNA
revela isso. Todo ensino precisa estar fundamentado nessa visão: eis diante do
professor uma história imensa, todo um sistema. O professor, enquanto agente
facilitador, também leva em conta a sua humanidade e mantém sempre
presente, consigo, seus pais, ou a imagem interna deles. As soluções de
conflitos entre pais e filhos tornam-se essenciais para que o professor, em paz
com seus pais/genitores, esteja empoderado para liderar e conduzir para o futuro
todos os seus alunos.
Aprendemos sobretudo a respeito das raízes da Pedagogia Sistêmica,
dos autores que inspiram a prática por serem sistêmicos em suas atitudes e
pesquisas. Esclarecemos também sobre o conceito de mecanicismo sistêmico.
Nesse sentido, o papel que os pais ocupam no processo de ensino-
aprendizagem é fundamental para o êxito na vida e na profissão.

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Atividade de Aprendizagem
O que você levou para a escola em seu primeiro dia de aula?
Escreva um parágrafo respondendo a essa pergunta, seguindo
uma escrita livre e informal. Que emoções haviam junto com os
materiais escolares? Quais eram as suas expectativas, medos
e sonhos? Qual é o nome de sua primeira professora? Que
idade você tinha? Era um dia chuvoso ou de sol a pino? De
manhã ou de tarde? Como sentiu-se ao voltar para casa?
Essas são algumas perguntas para lhe inspirar.

Aula 2 – Corrente psicopedagógica de Bert Hellinger e suas adaptações


posteriores

Apresentação da aula 2

Nesta aula conheceremos a proposta das Constelações Sistêmicas e


como originou-se a Pedagogia Sistêmica. A postura sistêmica é uma realidade
de muitas propostas pedagógicas, inclusive de Maria Montessori.
Existe uma forma de organizar a sala e também de decidir sobre as tarefas
para casa. Tudo isso pode ser norteado pela Pedagogia Sistêmica; a pedagogia
da empatia, do amor. O estudante terá dicas de como praticar os princípios da
Pedagogia Sistêmica e poderá ir além, tendo ideias criativas sobre como criar
um melhor ambiente de ensino-aprendizagem.

2.1 Bert Hellinger e Marianne Franke-Gricksch da Clínica à Escola

A Pedagogia Sistêmica nasceu da aplicação da visão sistêmica ao âmbito


da pedagogia. Seu desenvolvimento enquanto aplicação dos princípios do
pensamento sistêmico teve início a partir dos trabalhos do filósofo e professor
alemão Bert Hellinger. Sua carreira como missionário católico na África do Sul,
durante quase 20 anos lecionando em escolas para os zulus, durante o regime
do apartheid, colocaram-no em uma perspectiva ímpar para identificar questões
de conflito e consciência. Mais tarde, seu desenvolvimento pessoal o levou a
14
estudar e praticar uma vasta gama de abordagens psicoterapêuticas, a saber:
psicanálise, análise transacional, hipnoterapia Ericsksoniana, terapia primal,
Gestalt, esculturas familiares, análise de histórias etc. Seus trabalhos o levaram
a descobrir a natureza da consciência pessoal e certas leis inconscientes que
ditam o comportamento humano em grupos familiares e sociais, as quais
denominou “ordens do amor” ou “leis da vida”. A partir desses estudos, Hellinger
fundamentou, nos anos 80, uma nova abordagem no campo terapêutico,
denominada Constelações Sistêmicas Familiares.

Saiba Mais
Apartheid é uma palavra do idioma africâner, uma das
línguas oficiais da África do Sul, que significa “separação”.
Foi o nome dado ao sistema político implantado na África do
Sul e que exigia a segregação da população negra,
vigorando entre 1948 e 1994, comandado pela minoria
branca da população.
Durante o regime, apenas as pessoas brancas podiam votar
e o casamento e relações sexuais entre pessoas de
diferentes raças eram proibidas. Os primeiros passos para o
fim do apartheid foram dados na década de 1990, quando foi
instituído um governo democrático liderado por Nelson
Mandela, o primeiro presidente negro da África do Sul.

Por oferecer ferramentas rápidas e eficazes na resolução de conflitos


pessoais e familiares e na abertura de novas possibilidades de convívio e de
estruturação dos vínculos, as Constelações prontamente migraram para a área
organizacional como uma nova consultoria corporativa e, inclusive, jurídica,
sendo hoje utilizadas por grandes empresas, sobretudo na Europa e nos Estados
Unidos. Assentando raízes no novo paradigma científico, longe do velho modelo
cartesiano, que prioriza a parte em relação ao todo, esse campo de saber,
denominado por Constelações Sistêmicas, continuou sua marcha e alcançou a
área da Educação. Sua força, como fundamento e método, localiza-se na práxis
e na postura fenomenológica e sua rápida expansão advém de resultados
empiricamente verificáveis, formando um corpo de conhecimentos que começa
a ter validação científica na Alemanha, Bélgica, Espanha, México, Inglaterra,
Holanda, Estados Unidos, dentre outros.

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As Constelações Sistêmicas focalizam o sujeito como parte de um
sistema de relações, em que a família é o sistema básico, ligado em intersecções
a outros sistemas. Fundamentam-se no princípio da ressonância mórfica,
validado em pesquisas do biólogo Rupert Sheldrake, em Cambridge e Harvard.
O campo mórfico tem sido percebido como um campo de memória de cada
espécie ou sistema e Sheldrake sugere que neles estamos imersos
sistemicamente e que essas informações reverberam em nós, sem que
tenhamos consciência disso (ZANLORENZI, s.d).
Com essa base, Hellinger percebeu que fatos ocorridos com outros
membros da família (e em sistemas organizacionais), inclusive em gerações
passadas, mesmo que desconhecidos, podem, inconscientemente, afetar os
descendentes, sucessores e todo o grupo, manifestando-se em dificuldades,
conflitos, bloqueios, doenças etc. Em quatro décadas de observação, constatou
que os sistemas são regidos por três grandes forças/leis e que o desrespeito a
estas provoca, mais cedo ou mais tarde, tensões que podem ecoar em um ponto
do sistema ou em todo o conjunto.

Importante
Segundo a Pedagogia Sistêmica, todo sistema social se
organiza com base em três grandes forças, também chamadas
de “leis da vida” ou “ordens do amor”, a saber:
 1.ª Lei – o princípio da Inclusão: todos têm o direito de
pertencer e o lugar de cada um, inclusive dos ausentes,
deve ser reconhecido;
 2.ª Lei – o princípio da Equivalência: dar e receber
devem estar em equilíbrio;
 3.ª Lei – o princípio da Hierarquia: os sistemas
obedecem a ordens específicas, em que os primeiros e
os mais velhos devem ser respeitados pelos mais novos
e por quem chegou depois.

Nas organizações, os efeitos dessas "leis" são observados nas dinâmicas


de sucessão e liderança, fusões, contratações, demissões, promoções,
capacitação, direitos trabalhistas etc. Nas instituições de ensino, conhecemos
bem as tensões e conflitos criados pelo descaso, precarização e mercantilização
da Educação e as consequências disso decorrentes, em todos os níveis. O

16
bullying é o maior retrato desse caos. Nesse contexto, as Constelações
Sistêmicas têm várias contribuições a oferecer.

2.2 “Eu descobri a criança” – Maria Montessori

Baseada na inclusão, a Pedagogia Sistêmica não faz confronto com


outras metodologias, ao contrário, acrescenta-lhes novos recursos à prática
educacional. Assim, considera o sistema como um complexo de vínculos e
dinâmicas, que suscita o reconhecimento dos sujeitos e papéis envolvidos,
inclusive a constatação de que ninguém (alunos, professores, diretores e
funcionários) está apartado de sua biografia, vínculos pessoais, contexto
familiar, histórico e social de origem. As famílias são parte integrante da escola,
assim, os professores não devem assumir responsabilidades inerentes aos pais.
Ao esclarecer as funções, papéis e hierarquia, potencializa-se o sentimento de
que todos têm um lugar e evita-se sobrecarregar e tirar a força de diretores,
professores, alunos e da própria educação.

Para Refletir
O mesmo se dá para a equivalência entre dar e receber: o
que cada um dá e o que cada um recebe na dinâmica da
escola? Que parte cabe a cada um e como a escola faz esse
reconhecimento?

Dinâmicas da escola
Fonte: https://static8.depositphotos.com/1594308/1073/i/450/depositphotos_10733082-
stock-photo-classmates.jpg
17
Tal postura remete a uma compreensão bem diferente da usual e
passamos a perceber a serviço de quais vínculos e questões sistêmicas cada
um está agindo. Ou seja, por meio daquele aluno problemático, em qual lugar
podemos chegar, coletivamente? A riqueza do pensamento sistêmico, com sua
complexidade, está em abrir campos para novas possibilidades de reflexão e,
sobretudo, ação. Como bem ponderou Maria Montessori: “a criança lidera, nós
seguimos”.

Saiba Mais
Maria Tecla Artemisia Montessori (1870 -
1952) foi uma educadora, médica e pedagoga
italiana, conhecida pelo método educativo que
desenvolveu e que ainda é usado hoje em
escolas públicas e privadas mundo afora.
Dentre suas contribuições metodológicas,
destacou a importância da liberdade, da
atividade e do estímulo para o desenvolvimento físico e
mental das crianças e adaptou o princípio da autoeducação,
que consiste na interferência mínima dos professores, dado
que a aprendizagem teria como base o espaço escolar e o
material didático.

2.3 A sala em círculo e as tarefas para casa

A Pedagogia Sistêmica é um novo paradigma educativo que implica


modificações profundas na forma de pensar a educação e nas atitudes em
relação aos intervenientes no processo educativo: famílias, alunos e docentes.
Como metodologia, é destinada a todos os elementos da comunidade escolar
orientando-os para êxito, mesmo em situações de grande dificuldade. Inclui a
aceitação da família de cada elemento e isso contribui para uma melhor
integração no sistema escolar.
Se percebermos que muitas das intervenções criadas para solucionar
problemas na relação escola-aluno-família falham devido ao desconhecimento
das leis inconscientes que governam o grupo familiar, podemos tomar
consciência delas e utilizá-las para melhorar o desempenho do professor, o
rendimento do aluno, as relações professor-aluno e entre pares, e,
consequentemente, o sucesso educativo. Sugerimos, por exemplo, que os

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alunos sejam dispostos em círculo, pois o contato de olhar, de perceberem-se
mutuamente, faz com que os sentimentos de confiança, de pertença e de
cooperação essenciais ao aprendizado possam ser fortalecidos naturalmente
com essa organização de contexto.

Alunos dispostos em círculo


Fonte: https://blog.schoolspecialty.com/wp-content/uploads/2016/09/Tips-to-Refocus-
During-Circle-Time.jpg

A Pedagogia Sistêmica mostra que, para o processo de aprendizagem


fluir eficazmente, é preciso respeitar as origens e contextos de cada aluno, ou
seja, ter consciência de que cada aluno vem de um contexto específico,
fundamental para o seu desenvolvimento, e é preciso estar disponível
afetivamente, ter como valores o agradecimento e a admiração pela vida, pelos
pais, pela aprendizagem. Assim, pode ser aplicada em situações de
desintegração, de dificuldades de aprendizagem, de problemas
comportamentais, afetivos, conflitos e quaisquer problemáticas que surjam no
sistema escolar direta ou indiretamente.
Uma sugestão importante e que tem trazido paz e equilíbrio na relação
escola-família é não sobrecarregar a criança com tarefas escolares para serem
resolvidas em casa. A abordagem sistêmica considera que o tempo que o aluno
está na escola deve ser suficiente para o aprendizado dos conteúdos propostos.
Assim, sobrecarregar o aluno com tarefas escolares para casa apenas invade o
papel da família com a resolução de suas próprias tarefas. A família deve liderar

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as tarefas domésticas da melhor forma necessária ao desenvolvimento da
pessoa, de seus vínculos e de seus talentos, de suas múltiplas inteligências.
Quando a escola ocupa o tempo destinado à família, existe uma violação de
ordem, em que a instituição de ensino invade o espaço familiar, quando, na
verdade, deve apenas fazer parte deste. A liderança pertence à família.

2.4 Pedagogia Sistêmica – as Constelações Sistêmicas na dinâmica escolar

As Constelações Sistêmicas chegaram ao conhecimento de diversos


professores e pedagogos que iniciaram a aplicação do método na área
educacional. Marianne Franke-Gricksch, professora primária alemã e Angélica
Olvera, professora mexicana do ensino médio, foram as pioneiras a aplicar os
princípios das Constelações à educação, criando um campo de pesquisa e
prática denominado Pedagogia Sistêmica, com resultados surpreendentes na
estrutura escolar, em sala de aula, na relação escola-família, no
amadurecimento emocional e intelectual dos alunos, no enfrentamento do
bullying e na valorização do professor. Em seguida, a Pedagogia Sistêmica
entrou em escolas da Espanha que hoje, como no México, são referência no
treinamento de professores dentro dessa abordagem. No Brasil, esses
treinamentos já começam a ser ministrados; o Instituto Anauê-Teiño, por
exemplo, por meio do Programa Pingo D’Água, se dedica a levar o conhecimento
sistêmico ao âmbito educacional e realiza oficinas de formação para diretores,
professores e funcionários de escolas, das quais participam muitas instituições
de ensino com todo o seu corpo docente, equipe pedagógica, diretiva e
administrativa.
Em primeiro plano, a abordagem sistêmica ou visão sistêmica é uma
abordagem filosófica. Assim, a Pedagogia Sistêmica não é, na verdade, uma
metodologia em si. Ela mostra como muitas das intervenções desenhadas para
solucionar problemas na relação escola-aluno-família falham devido ao
desconhecimento das leis inconscientes que governam o grupo familiar. Mostra
ainda como é possível, por meio do conhecimento dessas leis, atuar de forma
simples e marcante, atingindo os objetivos propostos. Nesse sentido, a
abordagem não exclui nenhuma metodologia já existente e aproveita todas as
formações e conhecimentos pregressos do corpo docente e dirigente da escola.

20
Desse modo, o novo referencial propiciado pela abordagem nos permite
reajustar as intervenções dentro de um referencial mais efetivo.
Um exemplo simples: em muitas situações familiares, o pai está excluído.
As razões são várias e não cabe discuti-las aqui. Porém, Hellinger descobriu que
em um nível muito profundo as crianças são totalmente leais aos pais,
especialmente quando estes são excluídos, desvalorizados e condenados. Isso
significa que, se permitimos que esse pai seja olhado também na escola como
“mau”; “inapropriado”; “ausente” etc., não teremos nunca um apoio da criança
em qualquer intervenção pretendida. Pelo contrário, se respeitamos seu destino
e nos colocamos em uma posição de neutralidade respeitosa, respeitando “na
criança” seu próprio pai, então, teremos um bom terreno no qual trabalhar nossas
intervenções.
A aplicação, portanto, consiste em treinar o corpo docente na visão
dessas relações e leis inconscientes, de forma que todo seu trabalho seja
permeado pela visão das relações que perpassam o universo da criança. Assim,
em cada momento, a professora, a orientadora, a pedagoga etc., terão em seu
campo de visão como intervir sem ferir as leis sistêmicas e, desse modo, ganhar
mais chances de sucesso em seu trabalho.
Para educar com o coração, Marianne Franke-Gricksch e Angélica Olvera
desenvolveram metodologias aplicáveis no dia a dia, que incluem ferramentas
como o genograma (árvore genealógica), a autobiografia acadêmica, o
trabalho com bonecos, a visualização, a focalização, os jogos dramáticos etc.,
como recursos cotidianos para enfatizar a inclusão, a hierarquia e o equilíbrio
entre dar e receber. Mesmo que uma escola não adote a Pedagogia Sistêmica,
um professor pode usar essas estratégias em sala de aula, que requerem
conhecimentos básicos sobre as Constelações Sistêmicas e a teoria da
comunicação sistêmica.

21
Genograma (árvore genealógica)
Fonte: https://st2.depositphotos.com/4807119/8429/v/450/depositphotos_84295218-
stock-illustration-family-tree.jpg

Sendo uma área de pesquisa recente, a Pedagogia Sistêmica não conta


com muitos livros publicados em Língua Portuguesa que tratam da Abordagem
Sistêmica aplicada à educação. Marianne Franke-Gricksch publicou o livro Você
é um de nós – Editora Atman, em que descreve, com as suas experiências, como
ideias sistêmicas possibilitam uma nova e eficiente aprendizagem e fomentam
um trabalho conjunto e criativo. Está sendo lançado também, por Olinda Guedes,
O que traz quem levamos para a escola? – Editora Appris, que apresenta a vida
escolar repensada em sua profundidade e riqueza, apontando que cada um leva
para a escola muito mais do que seus materiais escolares e seu próprio ser: cada
criança, adolescente ou jovem leva para a escola também seus pais, sua família,
suas histórias de vida. Nesse sentido, a obra aponta que reverência e respeito
são condições essenciais para que a paz se estabeleça e, então, se tenha um
ambiente favorável ao aprendizado.

22
Amplie Seus Estudos
SUGESTÃO DE LEITURA

O livro Você é um de nós, de Marianne


Franke-Gricksch, apresenta relatos
empolgantes sobre as experiências da autora
como professora e terapeuta, evidenciando
como as ideias sistêmicas possibilitam um
novo e eficiente aprendizado e fomentam um
trabalho conjunto e criativo de alunos,
professores e pais. Ao fazer isso, ela os
contempla não como indivíduos isolados, mas
como parte viva de suas famílias, grupos
diversificados, mostrando como os seres
humanos se influenciam e se transformam
constante e mutuamente.

Conclusão da aula 2

Perceber que uma filosofia cria resultados práticos e norteia escolhas,


planejamentos e decisões faz com que todos, escola, família e comunidade,
experienciem a realidade de ensino-aprendizagem como uma rica oportunidade
de crescimento e realização a partir do ser e não a partir do saber. É um olhar
amoroso, sincero e sistêmico para todas as partes da vida, inclusive os saberes
intrínsecos de cada família, de cada sistema, de cada estudante, de cada
profissional.
Nesta aula foram abordados os principais temas referentes ao conceito
de Constelações Sistêmicas e como originou, a partir dessa dinâmica, dessa
proposta de intervenção para o bem-estar humano, a Pedagogia Sistêmica.
Foram contemplados os seus principais autores no mundo e comentou-se
também a respeito de exemplos práticos de aplicação, cabendo ao professor
testar e observar os resultados, dado que a Pedagogia Sistêmica é
essencialmente fenomenológica.

23
Atividade de Aprendizagem
1. Descreva como a sua história pessoal influenciou na escolha
de sua profissão.
2. Observe como as histórias de pessoas conhecidas
influenciaram em suas dificuldades e facilidades no processo
de ensino-aprendizagem.

Aula 3 – Pedagogia Sistêmica e suas aplicabilidades em distintas áreas

Apresentação da aula 3

Nesta aula estudaremos como podemos utilizar a Pedagogia Sistêmica,


seus princípios e experiência, para o atendimento ao aluno e ao professor, a fim
de perceber a importância da comunidade escolar. Refletiremos também sobre
o papel do líder e do trabalho em equipe em diferentes contextos. A Pedagogia
Sistêmica também é chamada da Pedagogia do Amor, porque seus princípios
tornam muito melhor a vida e todas as suas relações.

3.1 Atendimento ao aluno e ao professor

A empatia é essencial para as boas soluções em todos os âmbitos do


relacionamento humano. Ao perceber o aluno, devemos, antes de tudo, saber
que antes do conteúdo, o aluno é mais importante, isto é, quem ele é, qual a sua
história, quais são seus medos e anseios. A partir dessa percepção, o professor
tem totais condições de conduzir o conteúdo da maneira mais apropriada.
Sabemos que o fator decisivo para o êxito no aprendizado é o amor, o bom
vínculo com o professor e o professor, como líder, deverá fazer isso, pois
depende dele o bom relacionamento. Contudo, sabemos que o professor
também é humano, carrega consigo suas mais diversas demandas e necessita
também de compreensão, orientação e desenvolvimento. Se seus líderes
permearem a relação com o professor tendo a tarefa como plano de fundo e o

24
afeto, a estima, a consideração como figura principal, haverá um time cada vez
mais afinado e exitoso para uma escola feliz e bem-sucedida.

Para Refletir
Pode-se definir o papel da escola como o jardim de infância
da esperança. Se uma criança é a esperança nascida viva, a
escola é o local de cultivo destes talentos e possibilidades,
que se expressarão, no futuro, no mundo do trabalho, das
profissões, da prosperidade, da saúde e da felicidade.

O abraço, o contato físico, a alegria, o sorriso, o ombro amigo, as mãos


estendidas para a ajuda e a cooperação, o importar-se com o outro poderiam ser
os retratos da prática da Pedagogia Sistêmica.

3.2 A escola como um sistema vivo

Perceber que estamos nos relacionando com tudo e com todos, o tempo
todo, faz com que a experiência de ensino-aprendizagem seja muito mais rica e
exitosa. Um professor precisa lembrar sempre que, para que haja aprendizado,
é fundamental que a pessoa se sinta incluída; pertencente. Para isso acontecer,
sua realidade (desde seu ambiente de vida, de produção e cultural) precisa estar
considerada e incluída. Aqui, valida-se que é essencial a empatia, o perceber o
outro, a compaixão, a solidariedade. Quando professores e alunos importam-se
uns com os outros, todos sentem-se seguros e validados.

3.3 Liderança e trabalho em equipe

“Fale a verdade e peça o que você precisa”, esse princípio guia a noção
de liderança e trabalho em equipe.
Vivemos em uma sociedade em que as pessoas podem pedir o que elas
precisam? Geralmente, não! As pessoas não podem pedir o que elas precisam,
a nossa sociedade geralmente considera isso errado; as conquistas devem
acontecer por meio do esforço e mérito pessoal.

25
Entretanto, sabemos que o que faz os sistemas prosperarem é a
cooperação e isso envolve pensar no bem comum e importar-se com os outros.
Portanto, de acordo com os princípios da vida, a Pedagogia Sistêmica nos
inspira e orienta para relações de cooperação, de respeito, de transparência, de
apoio mútuo. O líder está a serviço de criar condições para que toda a equipe
tenha sucesso; a equipe, por sua vez, cria condições para que o líder os sirva do
melhor modo. É uma verdadeira relação de foco no bem comum e no êxito.
As pessoas não só podem como devem pedir o que elas precisam pois,
com confiança e cooperação, nos fortalecemos. Cria-se uma rede de
solidariedade, de compaixão, de benevolência, de prosperidade; uma rede do
bem. Aquele que precisa, pede; aquele que tem, oferece; um sapato, uma
camisa, um alimento, um medicamento.
Existir é tecer relacionamentos, é estender as mãos. Quando um ajuda o
outro, todos vão adiante; esse é o espetáculo da liderança sistêmica, do trabalho
em equipe com pessoas funcionais, amadurecidas e equilibradas.

3.4 Pedagogia Sistêmica – a Pedagogia do Amor

Todos precisamos de afeto, de segurança, precisamos uns dos outros. A


Pedagogia Sistêmica é eficaz porque é a pedagogia do amor, da empatia,
responsável por levar a humanidade ao desenvolvimento.
A Pedagogia Sistêmica também resulta em equilíbrio emocional, em
aprendizado. Ela propõe que estejamos em sintonia com nossos sentimentos,
que a felicidade seja respeitada e honrada. Nesse sentido, pessoas com saúde
mental são mais felizes e pessoas felizes têm saúde mental.
A palavra e a atitude do amor, da validação, da cooperação, da empatia,
são sinônimos da Pedagogia Sistêmica.
Alunos devem respeitar os professores, professores devem honrar seus
alunos, ajudando-se mutuamente a terem êxito. Professores ajudam seus
alunos a terem êxito no aprendizado e estudantes criam as condições para que
os professores ensinem, validando, reconhecendo no professor o líder servidor,
que está a serviço do bem comum.

26
Vídeo
O curta-metragem Validation, dirigido por Kurt Kuenne, aborda
o poder do elogio e da positividade, segundo a perspectiva da
validação, isto é, a motivação para nos sentirmos felizes,
prósperos e saudáveis. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=PWSMOxOlOac&feature=y
outu.be&t=65

Conclusão da aula 3

Percebemos que o mais importante é perceber que as partes não vivem


sem o todo. Cooperar, facilitar e importar-se são atitudes comuns, que revelam
a prática sistêmica como facilitadora de um ambiente favorável de ensino-
aprendizagem.
Percebemos que os alunos e professores se diferenciam em suas funções
e responsabilidades, entretanto, são seres humanos que necessitam igualmente
de validação e cooperação. Alunos e professores, quando percebem que suas
vidas, experiências e realidades interessam e fazem parte da vida escolar,
sentem-se muito mais seguros para ousarem na aventura do ensino-
aprendizagem.
A liderança sistêmica interessa-se, sobretudo, em criar as condições para
que toda equipe tenha êxito. A Pedagogia Sistêmica é a Pedagogia do Amor
porque ela é empática, olha em primeiro lugar para as relações, depois para o
conteúdo.

Atividade de Aprendizagem
Experiencie a meditação: todas as manhãs, ao sair de casa,
imagine seus pais e/ou genitores perto de você, como em um
retrato antigo. Procure lembrar dessa imagem interna ao longo
do dia, ao menos uma ou duas vezes. Ao final do dia, anote
suas percepções a respeito de como se sentiu e o que foi
diferente em seu dia por recordar essa simples lembrança.

27
Aula 4 – Utilizações dos princípios sistêmicos em distintos contextos
(inclusivos, mediativos, formação humana, ensino-aprendizagem e nos
processos alfabetizatórios)

Apresentação da aula 4

Nesta aula busca-se compreender os motivos pelos quais a sociedade se


organiza de forma a ter na escola um de seus principais pontos em comum, o
que nos permite compreender profundamente o sentido da Pedagogia Sistêmica
e colocar em prática uma forma diferenciada de ensinar e aprender.
Profissão e escola também estão diretamente interligadas; compreender
esses fatores permitirá soluções e empoderamento por parte de toda a
comunidade escolar. Assim, estudaremos Jean Piaget, Paulo Freire e Rudolf
Steiner, referências sistêmicas em ensino-aprendizagem.

4.1 Por que as crianças vão para a escola? Por que os professores vão
para a escola?

Estudantes e professores vão para a escola para socializar, para a


validação do conhecimento, afinal, somos seres sistêmicos e é na escola que
acontece esse aprendizado essencial: o respeito pelas diferenças, o apoio mútuo
e o crescimento. Em primeiro lugar, vem o relacionamento, depois, o que todos
farão juntos: a aprendizagem do conteúdo.

Vídeo
O vídeo a seguir apresenta depoimento de Marianne Franke-
Gricksch, precursora da Pedagogia Sistêmica, apresentando
sua visão a respeito de mudanças e adaptações na escola
decorrentes da contemporaneidade. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Tvs5Gia_Pkk

28
4.2 O objetivo social e o objetivo de conteúdos

O objetivo social é perene, todos precisamos, desde sempre, nos


sentirmos confiantes e seguros em nossos contextos de vida, de comunidade,
de contexto geográfico.
O objetivo de conteúdo permite a realização do objetivo social, do
encontro, do crescimento. O objetivo de conteúdo é determinado segundo
diretrizes das instituições educacionais, cultura e contexto.

Amplie Seus Estudos


SUGESTÃO DE LEITURA

No livro Mediações Sistêmicas na Escola,


Rinaldo Almeida apresenta sua experiência
em mediação de conflitos entre crianças e
jovens de escolas públicas. A partir da
perspectiva das Constelações Familiares, o
autor desenvolve um trabalho que visa
fortalecer os vínculos entre os alunos,
professores e o processo de aprendizagem, a
partir da inclusão do sistema familiar em sala
de aula.

4.3 Por que adultos vão para o trabalho? Escola e profissão: o sucesso
começa em casa

O que move o mundo é o fato de que faz parte da nossa natureza o viver
em grupo, a felicidade, a saúde, a prosperidade, a perenidade da vida. Todos os
indivíduos organizam-se para viverem juntos, para se encontrarem, para
realizarem juntos. Assim, de acordo com a sua cultura, origem e época, sempre
organizarão modos de vida para que o aproximar-se seja viável. Somente desse
modo a vida está assegurada, a humanidade pode sobreviver aos conflitos, às
divergências, à escassez e assegurar que a vida siga adiante.

29
Vídeo
Esse trecho do filme Gênio Indomável (EUA,
1997), dirigido por Gus Van Sant, exercita a
reflexão acerca do quanto precisamos uns dos
outros para melhorar as nossas vidas e da
maturidade necessária para chegar à felicidade,
configurando-se como um exemplo de mestria
sistêmica.
Disponível em: https://youtu.be/LowuyZ3_B84?t=14

4.4 Ensino-aprendizagem: Jean Piaget, Rudolf Steiner e Paulo Freire

A proposta de Jean Piaget do construtivismo, segundo a qual o saber se


constrói com a experimentação; de Rudolf Steiner, com a antroposofia, uma
teoria que coloca o homem como parte de um grande sistema chamado
natureza, respeitando seu ritmo, suas características, proporcionando condições
adequadas para a expressão do seu ser e de Paulo Freire, com a Pedagogia
prática do cotidiano, da relação do indivíduo com sua comunidade, com seus
anseios e desejos, somam um conjunto de pilares para a inspiração da prática
sistêmica. Cada vez mais, é fundamental saber que não precisamos nos ocupar
com a invenção de nada, mas com a aplicação criativa do que já está posto,
porque há muitas boas propostas para serem colocadas em prática.
Esses autores e outros tantos validam a importância do contexto, da
qualidade de vida para professores, alunos e comunidade, que juntos podem
criar uma escola e uma vida suficiente para todos. Eles afirmam que a vida não
deve nunca ser desligada da escola, porque a escola é o berço do futuro; o
templo do presente e a guardiã do passado, é ela que pode nos ajudar a discernir
o que é ético e justo das realidades que ainda devem ser transformadas.

Conclusão da aula 4

Saber que todos precisamos uns dos outros não é suficiente para
vivermos em paz, de modo amadurecido e funcional. Entretanto, é o início de
uma jornada e nos fortalece para sermos cada vez mais felizes, prósperos e

30
saudáveis. Nesse sentido, a escola pode ser um dos lugares em que acontece
esse encontro coletivo, dos sonhos e desafios da humanidade.
Todos vão para a escola e para o trabalho por conta da característica da
natureza humana de viver em grupo. Portanto, aprender qualquer conteúdo é
secundário. O bom relacionamento com o professor deixa o aluno livre para
aprender o que quer que seja proposto. Nesse sentido, grandes autores já
deixaram seus legados para que possamos ser mais sistêmicos: Piaget, Rudolf
Steiner e Paulo Freire, o patrono da educação brasileira. Praticar esses
conhecimentos traz para todos e para cada um a possibilidade de êxito na
profissão e na vida.
A Pedagogia Sistêmica é eminentemente prática, é uma postura de vida,
um jeito de conduzir-se no cotidiano das relações e uma forma de organizar o
processo de ensino-apredizagem. Os saberes da Pedagogia Sistêmica são de
proveito para todas as profissões, para as mais diversas tarefas, de liderança,
de parentalidade, de ajuda e de ensino-aprendizagem.

Atividade de Aprendizagem
Observe e converse com seus colegas e alunos sobre aspectos
do cotidiano escolar que podem ser melhorados a partir dos
próprios recursos existentes. Por exemplo: plantar árvores no
quintal, restaurar mesas, colocar um pequeno arranjo de flores
nas salas de aula. Relate a sua experiência.

31
Índice Remissivo

Pedagogia Sistêmica (conceitos e definições) ........................................... 07


(Aplicação; constelações; cotidiano)

A teoria e a prática ..................................................................................... 07


(Conhecimentos; vida pessoal; vida profissional)

História – Autores importantes para a Pedagogia Sistêmica ...................... 07


(Autopoiese; crítica; práticas)

Mecanicismo e Sistêmico ........................................................................... 08


(Causalidade; deísmo; mecanicismo)

A paz vem da mãe; o limite vem do pai ....................................................... 11


(Ambiente; família; pais)

Pedagogia Sistêmica – a pedagogia do presente ....................................... 12


(Conhecimento; inteligência; professor)

Corrente psicopedagógica de Bert Hellinger e suas adaptações


posteriores ................................................................................................. 14
(Amor; empatia; princípios)

Bert Hellinger e Marianne Franke-Gricksch da Clínica à Escola ................. 14


(Constelações; natureza; terapia)

“Eu descobri a criança” – Maria Montessori ............................................... 17


(Dinâmicas; sujeitos; vínculos)

A sala em círculo – as tarefas para casa .................................................... 18


(Círculos; escola; tarefas)

Pedagogia Sistêmica – as Constelações Sistêmicas na dinâmica escolar 20


(Constelações; dinâmica; escola)

Pedagogia Sistêmica e suas aplicabilidades em distintas áreas ................ 24


(Corpo docente; pedagogia; visão sistêmica)

Atendimento ao aluno / atendimento ao professor ..................................... 25


(Empatia; êxito; relacionamento)

A escola como um sistema vivo .................................................................. 25


(Inclusão; pertencimento; vínculo)

Liderança e Trabalho em Equipe ............................................................... 25


(Confiança; cooperação; prosperidade)

Pedagogia Sistêmica – A Pedagogia do Amor .......................................... 26


(Equilíbrio emocional; sentimentos; sintonia)

32
Utilizações dos princípios sistêmicos em distintos contextos (inclusivos,
mediativos, formação humana, ensino-aprendizagem e nos processos
alfabetizatórios) ......................................................................................... 28
(Empoderamento; referências; soluções)

Por que as crianças vão para a escola? Por que os professores vão para
a escola? .................................................................................................... 28
(Conhecimento; diferenças; relacionamento)

O objetivo social e o objetivo de conteúdos .............................................. 29


(Comunidade; contexto; instituições)

Por que adultos vão para o trabalho? Escola e profissão: o sucesso


começa em casa ........................................................................................ 29
(Cultura; época; origem)

Ensino-aprendizagem: Jean Piaget, Rudolf Steiner e Paulo Freire ............ 30


(Antroposofia; experimentação; propostas)

33
Referências

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FREIRE, Paulo; FREIRE, Nita; OLIVEIRA, Walter Ferreita de. Pedagogia da


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