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AULA 4

TECNOLOGIAS PARA A
INDÚSTRIA 4.0

Prof. Gabriel Vergara


TEMA 1 – ROBÔS COLABORATIVOS: ASPECTOS GERAIS

Muito se fala da substituição da mão de obra humana por robôs, mas será
que de fato isso ocorre ou se trata de uma remodelagem das atribuições
exercidas? O primeiro aspecto que devemos analisar para responder a esses
questionamentos é a tecnologia utilizada ao se considerar a robótica. Na prática,
até o momento, tem-se o maior uso de cobots, robôs autônomos e RPA. De modo
geral, os RPAs diferenciam-se pelo fato de automatizarem o processo como um
todo, ao passo que os dois primeiros atuam na estação de trabalho. Numa
abordagem macro, o RPA automatiza as atividades dos robôs autônomos, ou
seja, um RPA pode atribuir a lógica para todos os robôs autônomos de uma linha
de produção. Vale ressaltar também que essa automação de cunho global não se
aplica somente à indústria, mas também a todas as áreas que possuem métricas
e repetitividade.

Saiba mais

Para maior entendimento sobre robôs autônomos e RPA, recomenda-se o


aprofundamento por meio das seguintes leituras:
 ASL, M. I. et al. (2013). Autonomous Robots for Agricultural Tasks and
Farm Assignment and Future Trends in Agro Robots. International Journal of
Mechanical & Mechatronics Engineering IJMME-IJENS, v. 13, n. 3.
 VAN DER AALST, W. M. P.; BICHLER, M.; HEINZL, A. (2018). Robotic
Process Automation. Business & Information Systems Engineering, v. 60.

1.1 Reflexões

Após leitura do preâmbulo do presente tema, acrescido das leituras


recomendadas, podemos agora analisar um segundo aspecto: a automatização.
Tal característica é de grande importância, visto que influencia diretamente no
contexto global de dada empresa. Quando se fala em automatizar, geralmente
imagina-se uma indústria repleta de robôs que executam as atividades sem
necessitar de influência humana ou algo próximo a isso.
Um possível exemplo para esse perfil de alto grau de automação poderia
ser uma indústria automobilística. A Volkswagen, por exemplo, seguindo um

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cenário similar produz um carro a cada 30 segundos. Contudo, quais seriam os
prováveis problemas dentro desse contexto?
Algo de grande importância a se verificar é a lei de oferta e procura, sendo
este um modelo conhecido por estipular o preço de determinado produto no
mercado. Deve-se levar em consideração também que esse modelo será
influenciado por aspectos como poder de compra, necessidade e concorrência.
Constata-se nesse ponto que existe um ciclo para que a economia flua
naturalmente, visto que as pessoas necessitam de trabalho para poderem
consumir aquilo precisam e desejam, ou seja, aumentar a produtividade não
significa, necessariamente, a obtenção de maior lucro por parte empregador.
Logo, o cenário mais apropriado é a remodelação das atribuições exercidas,
destinando os colaboradores para funções de menor repetitividade e risco.
Outro ponto que surge para reflexão é se necessariamente a minha
empresa precisar estar robotizada para ser competitiva. A resposta mais
adequada é depende, visto que todos os pilares da indústria 4.0 devem ser
avaliados conforme o grau de maturidade da sua empresa. Basicamente, a
empresa precisa estar pronta para dar um passo adiante em vez de dar passos
para trás por antecipação.

1.2 Aspectos gerais da robótica

Após fazer uma reflexão sobre o contexto da robótica, devemos agora


entender de uma forma um pouco mais técnica como essa tecnologia surgiu, seus
conceitos inerentes, suas características e respectivas aplicações.
Sabe-se que o homem sempre buscou construir um humanoide
mecanizado, ou seja, uma máquina com inteligência artificial e com capacidade
de agir e pensar de modo semelhante. Esse interesse pode ser notado, seja no
aspecto industrial no intuito automatizar os processos seja na realização de
atividades de alto risco, de alta precisão e/ou de movimentos repetitivos.
Os respectivos pensamentos e ações para esse fim desaguaram no que
denominamos hoje como robô. Segundo Rosário (2005), a referida palavra possui
origem tcheca (robotnik), que significa servo. O termo em questão foi utilizado pela
primeira vez por Karel Capek, em 1923. Vale ressaltar que nessa época a referida
concepção ainda era vista como uma obra de ficção.
Conforme citado anteriormente, a tecnologia geralmente advém de uma
necessidade, de um problema ou ao acaso. No presente contexto, a ideia de

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construir um robô, que ganhou forte impulso no início do século XX, partiu da
necessidade de aumentar a produtividade industrial e melhorar a qualidade dos
produtos. Como grande referência dessa tecnologia, pode-se citar George Devol,
considerado o pai da robótica.
Segundo Craig (2013), a utilização do robô industrial tornou-se significativa
na década de 1960, juntamente com os sistemas CAD (Computer-Aided Design)
e CAM (Computer-Aided Manufacturing), que juntos caracterizam as últimas
tendências da automação no processo de manufatura.
Antes de conceituarmos o que vem a ser um robô, levemos em
consideração o que se define por robótica que, segundo Rosário (2005), é a área
que preocupada com o desenvolvimento desses dispositivos (robôs). De forma
multidisciplinar, ela busca a integração de técnicas e algoritmos para a criação
destes. Num aspecto global, ela envolve o estudo da engenharia mecânica, da
engenharia elétrica e da inteligência artificial.
Por sua vez, como podemos definir o termo robô? Segundo dada pelo RIA
(Robot Institute of America), em 1981, “um robô industrial é um manipulador
reprogramável, multifuncional, projetado para mover materiais, peças,
ferramentas ou dispositivos especiais em movimentos variáveis programados
para a realização de uma variedade de tarefas”.
Segundo definição ampliada, fornecida em 2011 pela ISO 10218, “um robô
industrial é uma máquina para manipulação, com vários graus de liberdade,
controlada automaticamente, reprogramável, multifuncional, que pode ter base
fixa ou móvel para utilização em aplicações de automação industrial.”
Em uma definição mais global, Mataríc (2017) emprega o termo robô da
seguinte maneira: “Um robô é um sistema autônomo que existe no mundo físico,
pode sentir o seu ambiente e pode agir sobre ele para alcançar alguns objetivos.”
Note que dois verbos se destacam na definição: sentir e agir. Segundo
Mataríc (2017), sentir o ambiente significa a utilização de sensores, ou seja, possui
meio para perceber os sentidos básicos (ouvir, tocar, ver e cheirar) no intuito de
obter informações. Por sua vez, o agir significa tomar medidas frente as
informações sensoriais, contudo, essas ações devem ser coerentes.
Segundo Santos (2015),

o atual estado da arte de robôs industriais implica preponderantemente


tarefas de controle de posicionamento e movimentação, que é ainda o
principal objetivo desses mecanismos. Diversas capacidades de controle
lógico de entrada e saída têm sido acrescentadas aos recentes robôs,
assim como a possibilidade de comunicação, como em redes ethernet,
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fieldbus ou conexões seriais (RS-232, RS-485 etc.). Quanto à forma de
programação, observa-se o uso de scripts para acesso aos recursos de
software disponíveis no robô.

Ainda, de acordo com Craig (2013), as principais características da robótica


são: descrição de posição e orientação, a cinemática dos manipuladores, a
velocidade dos movimentos do robô, o controle de força e, por fim, a programação
do robô.

Figura 1 – Conceitos básicos de um robô

Crédito: Smile Ilustras.

Por fim, pode-se citar algumas aplicações que vão além da utilização de
braços robóticos, entre elas: carros autônomos; na medicina, com teleoperação e
reabilitação por meio de próteses; entregas via drones; e sistemas de
monitoramento militar aéreo.

Figura 2 – Utilização na medicina

Crédito: Zapp2photo/Shutterstock.

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Figura 3 – Entrega de produtos via drone

Crédito: Phoelixde/Shutterstock.

TEMA 2 – COBOTS E SUA ABRANGÊNCIA

Resgatando a abordagem da robótica colaborativa, vislumbra-se um


cenário mais interessante seja pela empregabilidade como também nas mais
diversas práticas industriais. Para tanto, é de grande importância sabermos os
respectivos conceitos, características e o entorno dessa tecnologia.

2.1 O que são cobots?

Frente à crescente demanda por customização em massa de produtos no


mercado global, uma classe completamente nova de robôs apareceu
recentemente, representando uma solução acessível para esse problema.
Projetados para colaborar com segurança junto aos trabalhadores humanos,
esses robôs estão apresentando novas oportunidades para automatizar
parcialmente os processos de fabricação.
Anteriormente, o uso de automação e robótica era uma proposta de tudo
ou nada. Por esses motivos, o campo da robótica colaborativa está expandindo
rapidamente sua gama de aplicações e de acordo com uma previsão de mercado
publicada recentemente pela Loop Ventures, até o ano 2025 um em cada três
robôs será usado para aplicações colaborativas.
De acordo com Ferraguti (2019), os robôs colaborativos são um dos
principais impulsionadores da indústria 4.0 e evoluíram consideravelmente desde
as últimas décadas do século XX. Se comparados aos robôs industriais, os

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colaborativos são mais produtivos, flexíveis, versáteis e seguros. Nos últimos
anos, muitos produtores e startups de robôs industriais entraram no segmento de
robôs colaborativos. Conforme pode ser visto na Figura 4, o contexto da respectiva
tecnologia promove um equilíbrio bastante interessante, uma vez que erros que
seriam gerados por humanos em dada atividade são dirimidos pela utilização do
cobot e, ao mesmo tempo, não há um alto investimento inicial ou ainda a
necessidade de automatizar todos os processos inerentes a uma linha de
produção.

Figura 4 – Proposta da robótica colaborativa

Créditos: Tanakrid Prombut; Gorodenkoff; Jenson; Willyam Bradberry/Shutterstock.

Segundo Zanchettin et al. (2018), estatísticas recentes também indicam


que o mercado correspondente deve expandir-se a uma taxa de crescimento
anual composta de quase 60%, atingindo US$12 bilhões nos próximos dez anos.
Assim como os robôs tradicionais de mais de 40 anos atrás, os primeiros a adotar
essa tecnologia foram os fabricantes de automóveis. No entanto, enquanto levou
mais de 40 anos para os robôs tradicionais serem adotados em números
significativos fora do setor automotivo, a robótica colaborativa já penetrou em
outros setores desde a sua primeira aparição no mercado.
Como o nome sugere, um robô colaborativo (cobot) é um robô projetado
para colaborar com trabalhadores humanos. Nos trabalhos iniciais de pesquisa e

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padronização, a ênfase principal estava na segurança, com o objetivo de permitir
que os robôs trabalhassem ao lado de humanos.
Conforme Østergaard (2018), ao desenvolver o primeiro cobot
comercialmente bem-sucedido do mundo, percebeu-se que além da facilidade de
programação, também seria necessária uma flexibilidade leve de design e
implantação para que um robô fosse realmente colaborativo. A visão era
desenvolver um robô que pudesse servir como ferramenta para os trabalhadores
da fábrica.
Figura 5 – Robô YuMi: o primeiro robô com dois braços verdadeiramente
colaborativo do mundo

Crédito: Mikedotta/Shutterstock.

Figura 6 – Interatividade homem e robô colaborativo

Crédito: Zapp2photo/Shutterstock.
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2.2 Características do cobot

Robôs colaborativos também podem ser chamados de robôs cooperativos,


cobots ou assistentes robóticos. De acordo com Vysocky e Novak (2016), um robô
destinado à cooperação com seres humanos não precisa ter um design
estritamente diferente dos robôs industriais padrão que estão em conformidade
com a norma de segurança ISO EN 10218. No entanto, o robô deve estar
equipado com outros componentes de segurança. As recomendações para robôs
colaborativos estão resumidas na especificação técnica ISO / TS 15066 (Robôs e
dispositivos robóticos - robôs colaborativos).
Conforme Østergaard (2018), CTO e cofundador da Universal Robots, os
cobots possuem as seguintes características:

 Segurança para as pessoas trabalharem ao redor - sem necessidade de


cercas protetoras;
 Simplicidade na programação, implantação e reimplantação;
 Serve como ferramenta para operadores, não como dispositivos que
substituem trabalhadores humanos;
 Permite que as empresas mantenham o controle de seus próprios
processos automatizados.

Figura 7 – Avanço do nível de colaboração entre humano e robô

Crédito: Smile Ilustras.

De forma complementar, Vysocky e Novak (2016), trazem as vantagens


que a respectiva tecnologia apresenta:

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 Do ponto de vista socioeconômico, a implantação de robôs produz maior
competitividade das empresas em comparação com países com mão de
obra muito barata. Mesmo uma pequena empresa pode concentrar-se nas
demandas dos clientes e oferecer um produto por um preço mais baixo.
 A precisão de posicionamento repetível do robô e a operação contínua
oferecem melhor qualidade e menores requisitos para pós-processamento
e controle de qualidade.
 O robô pode acelerar algumas operações e também ajustar-se a condições
especiais, o que pode levar ao aumento da produção.
 Limitar o trabalho desconfortável, repetitivo e tedioso resulta no
levantamento da carga de seres humanos que, de outra forma, pode
resultar em doenças ocupacionais.
 Existe uma relação entre a carga sobre os trabalhadores e a ergonomia
das operações. Melhorar o ambiente de trabalho pode levar à diminuição
da quantidade de lesões ocupacionais.
 Situações perigosas geralmente ocorrem devido à violação das regras de
segurança e à simplificação dos procedimentos. Se houver uma tecnologia
mais segura, o risco de ferimentos é menor.

2.3 Cobots na indústria 4.0

Os cobots representam uma tecnologia bastante aderente aos princípios


da indústria 4.0, pois uma vez que são equipados com poderosos computadores
de bordo, eles são interoperáveis e facilmente capazes de ingressar na Internet
das Coisas (IoT) em qualquer ambiente de fábrica. Além disso, eles promovem a
transparência das informações por meio de sua capacidade de coletar dados e
repassá-los para outros sistemas para análise, modelagem e assim por diante.
Por fim, eles fornecem assistência técnica no sentido de que apoiam fisicamente
os seres humanos, realizando uma série de tarefas desagradáveis, exaustivas ou
inseguras para seus colegas de trabalho humanos (Østergaard, 2018).
Além disso, os cobots são produtos clássicos da indústria 4.0, pois são
produtos digitais que continuam evoluindo por meio de atualizações de software
e de sua própria programação. Eles até suportam modelos de negócios digitais
(XaaS), a exemplo de empresas como a Hirebotics que aluga cobots por hora.
Sem a necessidade de isolar sua área de trabalho, a integração de cobots
nos espaços de trabalho humanos torna-se mais econômica e produtiva e abre
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muitas aplicações possíveis nas indústrias. Na indústria 4.0, robôs e humanos
trabalharão de mãos dadas, por assim dizer, em tarefas de interligação e usando
interfaces homem-máquina com sensor inteligente.
Segundo Bahrin et al. (2016), a utilização de robôs está em ascensão e
visa a incluir várias funções, como produção, logística e gerenciamento de
escritório (para distribuir documentos) que podem ser controlados remotamente.
Na existência de qualquer eventualidade, o trabalhador receberá uma mensagem
em seu telefone celular, que está vinculado a uma webcam, de modo que possa
visualizar determinada ocorrência e dar instruções para que a produção continue
normalmente. Assim, a planta está operando 24 horas por dia, enquanto os
trabalhadores estão lá apenas durante o dia.

2.4 Abrangência dos cobots

Os conceitos da indústria 4.0 promovem alto impacto e ampla gama de


mudanças nos processos de fabricação, nos resultados e também nos modelos
de negócios. Além disso, propiciam customização em massa, aumento de
produtividade, flexibilidade e velocidade de produção, e melhoria na qualidade do
produto. Essa customização em massa permitirá a produção de pequenos lotes
devido à capacidade de configurar rapidamente as máquinas para se adaptarem
às especificações fornecidas pelo cliente e à fabricação aditiva. Essa flexibilidade
também incentiva a inovação, já que protótipos ou novos produtos podem ser
produzidos rapidamente, sem necessidade de reformulação de ferramentas ou
configuração de novas linhas de produção. Assim, é possível produzir um produto
com muitas variantes, proporcionando diminuição no estoque (Boston Consulting
Group, 2015).
A velocidade com que um produto pode ser produzido também melhorou;
os projetos digitais e a modelagem virtual do processo de fabricação reduzem o
tempo entre o design de um produto e sua entrega. Na Alemanha, as cadeias de
suprimentos orientadas a dados podem acelerar o processo de fabricação em
cerca de 120% em termos de tempo necessário para entregar pedidos e em 70%
no tempo necessário para colocar produtos no mercado (European Comission,
2015).
A utilização da robótica em aplicações industriais tem um impacto
econômico substancial em que o aumento da produtividade pode impulsionar o
crescimento econômico. Um estudo recente estima que esses benefícios

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contribuirão com 78 bilhões de euros para o PIB alemão até 2025 (Hermann; Otto;
Pentek, 2015).
Outro viés de grande importância é o da acessibilidade, uma vez que os
cobots têm desempenhado um papel importante ao permitir que empresas que
talvez não tenham conseguido pagar por robôs industriais possam começar a
automatizar seus processos. Além disso, por se tratar de dispositivos versáteis,
fáceis de programar, pequenos, leves e acessíveis, os cobots estão sendo
implantados nas pequenas e médias empresas no intuito de modernizar fábricas
mais antigas, promovendo sua compatibilidade com a indústria 4.0.
Por fim, com essa abrangência e simplicidade, os cobots ajudam as
empresas em todos os lugares a se unirem com a mais recente onda de
automação, mesmo que não estejam prontas para ir até o setor 4.0.

Figura 8 – Alcance da tecnologia

Crédito: Maxuser/Shutterstock.

TEMA 3 – MANUFATURA ADITIVA: ASPECTOS GERAIS

A manufatura é fundamental para a prosperidade da sociedade, tanto no


intuito de atender as mais diversas necessidades quanto no de promover a
qualidade de vida. O termo manufatura faz alusão a processos de fabricação,
podendo estes serem enquadrados como convencionais ou não convencionais.
Mediante novas necessidades frente a um contexto diferenciado, a manufatura
aditiva ganhou força e merece grande atenção, pois essa tecnologia vai além das
aplicações industriais.
Dessa forma, caro aluno, seja você um gestor, empreendedor ou
colaborador de dada empresa/indústria, é preciso vislumbrar novas oportunidades
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de negócio ou ainda possíveis melhorias de processo que discorre dessa
temática.

3.1 Aspectos gerais da manufatura aditiva

A manufatura aditiva (AM) é uma tecnologia que está desenvolvendo-se


rapidamente e sendo integrada à manufatura e ao nosso dia a dia. Muitas pessoas
ouviram falar de seu surgimento no mundo comercial, embora ele tenha sido
rotulado por nomes diferentes, como impressão tridimensional (3-D), prototipagem
rápida (RP), fabricação em camadas (LM) e fabricação de forma livre sólida (SFF)
(Bandyopadhyay; Bose, 2016).
Como a AM é uma tecnologia relativamente jovem, quase não houve
esforços de padronização por muitos anos além de alguns trabalhos preliminares
na Alemanha, no início dos anos 90. Em 2007, uma recomendação especial
dedicada à RP foi criada sob a supervisão da Sociedade Alemã de Engenheiros
Mecânicos e publicada no outono de 2008. A partir de 2009, a Sociedade
Americana de Engenheiros Mecânicos (ASME), em cooperação com a Sociedade
Americana de Testes e Materiais (ASTM), iniciou o desenvolvimento de seus
próprios procedimentos de padronização.
No outono de 2009, surgiu o comitê F42 de Manufatura Aditiva (subcomitê
F42.91 de Terminologia), também chamado de Terminologia Padrão para
Tecnologias de Manufatura Aditiva. Entre outras definições, o nome manufatura
aditiva foi definido por esse comitê. Como sempre, leva tempo até que termos
recém-definidos sejam geralmente aceitos. Uma grande variedade de termos
diferentes, aumentada por nomes de marcas e termos conduzidos pela empresa,
ainda está em uso, às vezes até em competição entre si (Gebhardt, 2011).
Contextualizando a referida tecnologia, dois pontos norteadores se fazem
presentes: competitividade e complexidade. Tais premissas têm exigido das
empresas diversas alterações no Processo de Desenvolvimento de Produtos
(PDP), a fim de reduzir o tempo envolvido e aumentar a qualidade dos produtos
com o objetivo de promover maior competitividade. Essas alterações envolvem os
aspectos de gestão e a utilização de novas técnicas e ferramentas para projeto,
além de habilidades para identificar as necessidades dos clientes (Volpato;
Carvalho, 2018).

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Figura 9 – Máquina de impressão 3-D

Crédito: Blackday/Shutterstock.

De forma a contemplar uma visão global da manufatura aditiva,


previamente aos seus conceitos, tem-se o Quadro 1, a seguir:

Quadro 1 – Definição de níveis de aplicação e tecnologia

Fonte: Gebhardt, 2011.

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Saiba mais

Durante este tema será dada uma especial atenção ao processo de


prototipagem rápida (ou Rapid Prototyping). Para a outra vertente de aplicação
(Rapid Manufacturing), recomenda-se a leitura do seguinte artigo:

 LEVY, N. G.; SCHINDEL, R.; KRUTH, J. P. Rapid Manufacturing and Rapid


Tooling With Layer Manufacturing (LM) Technologies, State Of The Art And Future
Perspectives. CIRP Annals, 2003 – Elsevier.

3.2 Manufatura aditiva: conceitos

Segundo Volpato e Carvalho (2018), os principais processos de fabricação


possuem princípios baseados na moldagem do material, caracterizado pela fusão
ou não (moldagem por injeção de plástico), pela remoção de material como ocorre
em processos clássicos como o fresamento e o torneamento, ou pela
conformação do material que objetiva gerar a geometria final pela deformação
plástica como a laminação e o forjamento. Outros dois processos bastante
tradicionais têm a união de componentes por meio, por exemplo, da soldagem e
da divisão de componentes pelos procedimentos que envolvem cortes.
No final da década de 1980, um novo princípio de fabricação baseado na
adição de material foi apresentado, sendo este denominado manufatura aditiva ou
impressão 3-D. De acordo com Prado, Mattos e Rodrigues (2019), a origem dos
princípios básicos dessa tecnologia remonta de tempos muitos distantes, quando
os egípcios já empregavam a técnica de construção por sobreposição de
camadas, utilizando blocos que eram empilhados em camadas sucessivas para
construírem suas pirâmides.
A manufatura aditiva, segundo Volpato e Carvalho (2018), consiste em um
processo de fabricação por meio de adição sucessiva de material na forma de
camadas, com informações obtidas diretamente de uma representação
geométrica computacional 3-D do componente originado, geralmente de um
sistema CAD. Por sua vez, Srivatsan e Sudarshan (2016) definem que a
manufatura aditiva pode ser descrita como o processo de união ou adição de
materiais com o objetivo principal de criar objetos com base em dados de modelos
tridimensionais (3-D) usando o princípio de camada por camada. As tecnologias
de fabricação de camadas (LM) são conhecidas entre as comunidades científica
e de engenharia como fabricação rápida ou prototipagem rápida (RP).
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Figura 10 – Impressão 3-D de motor de avião

Crédito: Chesky/Shutterstock.

O processo de construção é totalmente automatizado e possui tempo


reduzido se comparado aos processos tradicionais. Em geral, a manufatura aditiva
apresenta sete categorias: VAT photopolymerisation, FDM, Material Jetting,
Binder Jetting, Powder Bed Fusion, Sheet Laminatiton e Directed Energy
Deposition.

Saiba mais

Para mais detalhes sobre esses processos, acesse o artigo:


 JUNIOR, G. B. M.; COSTA, C. A. Manufatura aditiva aplicada na
fabricação de insertos para moldes de injeção termoplásticos. Scientia cum
Industria, 2019.

TEMA 4 – MANUFATURA ADITIVA: O PROCESSO


Tendo ciência do conceito da manufatura aditiva bem como das diferentes
categorias, é de grande valia identificarmos cada uma das etapas do processo e
suas respectivas vantagens e limitações.

4.1 Etapas do processo

Tendo como base que esse processo aditivo permite fabricar componentes
físicos a partir de diversos materiais, formas e princípios diferentes, imagina-se

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certa complexidade no manejo de cada uma das etapas. No entanto, o processo
como um todo é automatizado e relativamente mais rápido se comparado aos
meios tradicionais de fabricação.
De acordo com Volpato e Carvalho (2018), o processo inicia-se com o
modelo 3-D da peça sendo fatiado eletronicamente com o objetivo de determinar
as curvas de nível 2-D, nas quais será ou não adicionado material. Na sequência,
a peça física é gerada por meio de empilhamento e adesão das respectivas
camadas, partindo da base da peça até o seu topo. De forma mais específica,
pode-se definir o processo em cinco etapas:

 Modelagem tridimensional no intuito de gerar o modelo geométrico 3-D.


 Obtenção do modelo geométrico 3-D em formato específico, geralmente,
conforme o padrão STL (STereoLithography) ou AMF (additive
manufacturing format).
 Fatiamento, definição de estruturas de suporte e consequente estratégia
para deposição de material.
 Fabricação da peça em equipamento de AM.
 Pós-processamento.

Figura 11 – Etapas da manufatura aditiva

Crédito: Jefferson Schnaider.

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4.2 Vantagens da manufatura aditiva

A seguir, podermos observar as vantagens do referido processo:

 Não apresenta restrição de design. Tal fato gera diversas oportunidades


em termos de projeto, uma vez que é possível reduzir o número de peças
nas montagens por meio da integração das funções.
 Trata-se de um processo único do início ao fim, que pode fazer a peça
inteira e não requer várias máquinas ou processos.
 Redução no custo de produção e no desperdício de matéria-prima por se
tratar de uma técnica aditiva.
 Se for constatado que o design que está sendo produzido possui uma falha,
ou se houver algo que possa ser alterado para otimizar seu uso, ele poderá
ser alterado instantaneamente.
 Produção sob demanda.

4.3 Limitações da manufatura aditiva

Agora, vamos observar as respectivas limitações:

 O pós-processamento é necessário para o acabamento ideal da superfície.


 Taxas de produção mais lentas para fabricação de alto volume.
 É necessário um grande investimento de capital para a obtenção de
impressoras 3-D de ponta.
 Problemas como distorções e empenamento do material devido à natureza
térmica/química do princípio de adesão selecionado.
 Restrições de material e tamanho.

Saiba mais

Para verificar mais detalhes, entre eles as possíveis aplicações de


manufatura aditiva, recomenda-se a leitura do capítulo 1 do livro a seguir:
 VOLPATO, N.; CARVALHO, J. Manufatura Aditiva – Tecnologias e
aplicações da impressão 3-D. São Paulo: Blucher, 2018.

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TEMA 5 – ESTUDO DE CASO

Para finalizar esta aula, trazendo o aspecto prático, que é o objetivo de um


curso de especialização, tem-se um estudo de caso bastante interessante que
trata da evolução digital na aplicação de cirurgia craniana. Questiona-se aqui
como a cirurgia craniana pode estar atrelada a alguma das tecnologias
mencionadas durante a aula. Pois bem, acompanhe o conteúdo a seguir e você
obterá a resposta.
 Contextualização: Da cirurgia facial reconstrutiva complexa à cirurgia
ortopédica e de trauma, os avanços na manufatura aditiva inspiraram
cirurgiões a cada vez mais encomendarem implantes específicos para
pacientes (PSIs) impressos em 3-D e guias de corte para procedimentos
complexos e diretos.
 Motivação: Diversos estudos de caso fornecem evidências convincentes
de que os cirurgiões que adotam essa tecnologia em relação aos implantes
padrão ou tradicionalmente fabricados estão fornecendo, de forma
consistente, resultados melhores e mais previsíveis em termos de
segurança e satisfação do paciente, além de eficiência e economia
hospitalar.
 Exemplo prévio: Os hospitais do NHS do Reino Unido, em busca de
melhor qualidade e eficiência, usaram modelos anatômicos, guias e
implantes impressos em 3-D para melhorar previsibilidade, precisão,
segurança e velocidade das operações.

Figura 12 – Reconstrução das costelas localizada no peito de paciente

Crédito: Jefferson Schnaider.

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 Ramo industrial: Medicina e saúde.
 Demanda médica: O paciente necessitou de uma craniectomia para
retirada de tumor e de uma cranioplastia para reconstruir o crânio.
 Demanda industrial: Fabricar as peças em máquina de impressão 3-D,
em titânio, conforme especificação do neurocirurgião.

Figura 13 – Procedimento cirúrgico utilizando as peças solicitadas

Fonte: Renishaw, 2017.

 Conclusão: Como a segurança é a principal prioridade, o fornecimento de


uma guia de corte predefinida e do implante correspondente ajudou a
eliminar todo o risco que possa advir do trabalho à mão livre durante p
procedimento. A satisfação do paciente também era uma prioridade e a
precisão do PSI permitiu ao cirurgião fornecer a qualidade estética
necessária. Assim como nos procedimentos de reconstrução facial mais
complexos, o poder do design específico do paciente forneceu dimensões
adicionais de consistência e previsibilidade. Nenhum ajuste foi necessário
durante a cirurgia. O uso da guia de corte e implante impressos em 3-D
economizou aproximadamente 30% do tempo necessário para esse tipo de
cirurgia. Além disso, tempos de cirurgia mais curtos podem ajudar a reduzir
o risco de infecção, acelerar a recuperação do paciente e propiciar mais
produtividade.

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REFERÊNCIAS
ASL, M. I. et al. Autonomous Robots for Agricultural Tasks and Farm Assignment
and Future Trends in Agro Robots. International Journal of Mechanical &
Mechatronics Engineering IJMME-IJENS, v. 13, n. 3, 2013.

BAHRIN, M.; OTHMAN, F.; AZLI, N.; TALIB, M. Industry 4.0: A review on industrial
automation and robotic. Journal Teknologi, 2016.

BANDYOPADHYAY, A.; BOSE, S. Additive Manufacturing. CRC Press, 2016.

BOSTON CONSULTING GROUP. Industry 4.0: The Future of Productivity and


Growth in Manufacturing Industries, 2015.

CRAIG, J. Robótica. 3 ed. São Paulo: Pearson, 2013.

EUROPEAN COMISSION. Digital Transformation of European Industry and


Enterprises – report from the Strategic Policy Forum on Digital Entrepreneurship,
2015.

FERRAGUTI, F. et al. A Methodology for Comparative Analysis of


Collaborative Robots for Industry 4.0. IEEE, 2019.

GEBHARDT, A. Understanding Additive Manufacturing. Hanser, 2011.

HERMANN, M.; OTTO, B.; PENTEK, T. Design Principles for Industrie 4.0
Scenarios: A Literature Review, 2015.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO/TS 15066:


2016 – Robots and robotic devices – Collaborative robots. Genebra, 2016.

JUNIOR, G. B. M.; COSTA, C. A. Manufatura aditiva aplicada na fabricação de


insertos para moldes de injeção termoplásticos. Scientia cum Industria, 2019.

LEVY, N. G.; SCHINDEL, R.; KRUTH, J. P. Rapid Manufacturing And Rapid


Tooling With Layer Manufacturing (LM) Technologies, State Of The Art And Future
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