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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA - UEFS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA


CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

RESENHA CRÍTICA DO LIVRO “METÁFORA E MELANCOLIA: ENSAIOS MÉDICO-


FILOSÓFICOS”

Trabalho produzido ao curso de Psicologia da Universidade Estadual de


Feira de Santana/BA como requisito para obtenção de nota parcial na
disciplina de Teorias e Sistemas em Psicologia I ministrado pelo
Profº Drº João Gabriel Lima da Silva.

ARIADNE GONÇALVES DA SILVA


IASMIM DA CONCEIÇÃO DA SILVA

FEIRA DE SANTANA - BAHIA


2021
1. Referência
PIGEAUD, Jackie. Metáfora e Melancolia: ensaios médico-filosóficos. 1. ed. Rio de Janeiro:
Contraponto, 2009. p. 53-80.

2. Apresentação do autor da obra


Jackie Pigeaud nasceu no dia 1º de novembro de 1937 em Saint-Hillaire-des-Loges, na França e
morreu no dia 13 de novembro de 2016, aos setenta e nove anos, em Orvault, na França. Ele foi um
filológo, filósofo, historiador da medicina e especialista em literatura latina e em línguas antigas na
Universidade de Nantes, além de ter se consagrado como um dos principais helenistas de sua época.
Sua ampla cultura chegou a adotar a corporação grega, o que mais tarde teve como resultado
que Pigeaud se tornasse um tradutor de autores clássicos, como Eurípides e Aristóteles.
A produção intelectual do autor concentra-se em uma leitura transformadora da tradição da
medicina grega. Portanto, o pensamento de Pigeaud sofreu uma grande influência da tradição
médica grega e as produções intelectuais elaboradas pelo autor refletem esta influência.

3. Perspectiva teórica da obra


Na obra “Metáfora e Melancolia: ensaios médico-filosóficos”, Pigeaud aborda, no capítulo “O
humor dos antigos”, a concepção da existência de humores no corpo(teoria humoral hipocrática) e
que seu excesso ou falta se configurariam enfermidade no ser humano e seu equilíbrio significaria a
saúde dos indivíduos. Pigeaud apresenta um olhar filosófico sob os discursos médicos da Grécia
Antiga e influenciado pela escola teórica que fazia parte, o helenismo. Dessa maneira, o autor
ressalta também o pensamento de Galeno, que afirma que o predomínio de um dos humores no
corpo do indivíduo determina o comportamento e o caráter individual, além de assegurar que a
tradição do Ocidente atribuiu a Hipócrates a determinação da melancolia como uma doença. Sendo
assim, estas são as teses mais aprofundadas e que permeiam e fundamentam grande parte da obra.

4. Breve síntese da obra

A Grécia Antiga é conhecida como o berço da medicina. Assim, no contexto vivido por
Hipócrates, os gregos tinham algumas práticas de cura e tratamento, as quais levavam um carácter
mágico e religioso. Diante disso, segundo Jackie Pigeaud, no capítulo “O humor dos Antigos”, o
autor refere-se ao corpo como: “O corpo na medicina grega é, essencialmente, uma coisa porosa,
atravessada por uma infinidade de cavidades, canais, uns perceptíveis aos sentidos, outros não,
nos quais circulam líquidos e ar. Esses líquidos são os humores”.

A partir disso, o autor traz que corpo para a medicina grega era uma coisa porosa e atravessado
por infinidades de canais, líquidos. Logo, ter saúde nesse período era considerado que os líquidos
estavam em equilíbrio, ocorrendo assim uma substituição constante desses líquidos. Desse modo,
existe quarto humores/líquidos: o sangue, o fluegma, a bile amarela, a bile negra.

Ademais, a doença era dita que há excesso ou falta de líquidos/humores. Portanto,


os tratamentos utilizados com os fármacos serviam para reequilibrar os líquidos, por exemplos,
os vomitórios e purgantes. Assim, havia a incisão ou cortes denominadas sangrias e a
cauterização (queimar da pele). 

Logo, os fluxos exteriores do corpo, os suores, a urina, o esperma e nas regras das mulheres:
os sangramentos hemorroidários. Diante disso, a bile estava ligada aos casos patológicos
como icterícia e vômitos biliosos, já o flegma a coriza, vômitos e uma espécie de líquido viscoso.
Todavia, o problema da origem dos humores, de sua essência, de sua manutenção qualitativa e
quantitativa é que existe trocas frequentes com o exterior.

Desse modo, Jackie Pigeaud, aborda sobre os humores, suas características e fontes, além das
definições de saúde e doença. Dessa forma, considera-se que: "Há saúde perfeita", escreve o autor,
"quando esses humores estão em uma justa proporção entre si, tanto do ponto de vista da qualidade,
como da quantidade, e quando sua mistura é perfeita; há doença quando um desses humores, em
quantidades muito pequenas ou muito grandes, isola-se no corpo ao invés de manter-se misturado
aos outros (Cap. 4, trad. J. Jouanna, p.173)

5. Principais teses desenvolvidas na obra


Em “Metáfora e Melancolia: ensaios médico-filosóficos”, Pigeaud emprega o método da autonomia
descritiva, assim, esse método descritivo apresenta técnicas baseadas em metáforas, analogias e
associações.
“O corpo, na medicina antiga é, essencialmente, uma coisa porosa, atravessada por uma infinidade
de cavidades, canais, uns perceptíveis aos sentidos, outros não, nos quais circulam líquidos e ar.
Esses líquidos são os humores.” (PIGEAUD, 2009, p. 53)
Uma das principais teses da obra é relacionada à teoria humoral de Hipócrates, que afirma que o
corpo é composto por humores(sangue, fleugma, bile amarela e bile negra) e que os sujeitos nascem
com estes líquidos, que são perceptíveis através dos corrimentos exteriores de sangramentos
hemorroidários, suor e urina, por exemplo. Estes humores são as causas das doenças nos sujeitos.
“Assim, cada humor tem no corpo sua fonte específica: a cabeça é a fonte do fleugma, o coração a
do sangue, o baço a da água e o “pequeno sítio” sobre o fígado - segundo a expressão do texto - (a
vesícula) é a da bile.” (PIGEAUD, 2009, p. 56)
Segundo a teoria humoral hipocrática, essas fontes dos humores se esvaziam e se enchem e tão
somente infiltram fundamentalmente seu humor específico. Além disso, os espaços vazios atraem
esses líquidos de acordo com a regra primordial de compatibilidade entre os similares.
“Compreendemos que, se o ciclo se faz em dois dias, há perda de humor e, segundo o princípio dos
“vasos comunicantes”, o corpo definha. Se ele se realiza em mais de três dias há pletora e, portanto,
doença; o humor procura sair, se fixa ou turbilhona, engendrando o mal.” (PIGEAUD, 2009, p. 58)
Logo, segundo Hipócrates, as trocas entre o meio externo e o meio interno desses humores resultava
em um excesso de humores dentro do corpo, que tinha como resultado a doença. Ou seja, o excesso
dos humores e também a ausência desse humores originam as doenças corporais. Portanto, cabe
salientar que os humores se estabelecem como as causas das doenças no corpo, ao se segregarem e
efetuarem seus papéis específicos.
“O medicamento: se administrarmos a um paciente um flegmagogo, observaremos um vômito de
flegma; se administrarmos um medicamento que atrai a bile, observaremos um vômito de bile.; do
mesmo modo em relação à bile negra.” (PIGEAUD, 2009, p. 63)
Assim, é necessário pontuar que a existência dos humores é expressa através do medicamento e da
doença.
“As doenças mostram também a existência desses humores específicos. Assim, no inverno, os
escarros e o muco nasal contêm principalmente fleugma; na primavera e no verão, as hemorragias
intestinais e nasais são mais frequentes, no outono, ocorrem vômitos expontâneos de bile.”
(PIGEAUD, 2009, p. 64)
Cabe acrescentar, a partir desta citação, que Hipócrates determina relações entre humores,
elementos presentes no universo e qualidades a nível atmosférico. A titúlo de exemplo, Hipócrates
relaciona o humor fleugma ao elemento água e concebe como qualidades desse líquido a umidade e
o frio. Portanto, através da doença, é que os sujeitos manifestam a existência de um humor
particular, no exemplo anteriormente citado, os escarros e o muco nasal são a externalização do
humor fleugma.
“A saúde sendo, em última análise, definida como uma substituição constante em quantidade dos
líquidos do corpo - o que supõe um logos, como diz o autor, um ritmo, como traduz Robert Joly,
entre a alimentação e a excreção. ” (PIGEAUD, 2009, p. 59)
Portanto, percebe-se que, segundo a teoria humoral hipocrática, a saúde tem relação com a alteração
contínua em quantidade dos humores no corpo do indivíduo. Ou seja, a saúde é o estabelecimento
do equilíbrio dos líquidos corporais. Quando os indivíduos se alimentam, acumulam humores, que
originam as doenças, portanto, a expulsão desses líquidos é responsável por estabilizar os humores
no corpo e restabelecer a saúde dos sujeitos.
“Existem quatro vias por onde o homem se purga: a boca, o nariz, o ânus, a uretra; quando há
excesso de um humor, se o homem por elas se purga, a saúde perdura(40).” (PIGEAUD, 2009, p.
58)
"Há saúde perfeita", escreve o autor, "quando esses humores estão em uma justa proporção entre si,
tanto do ponto de vista da qualidade, como da quantidade, e quando sua mistura é perfeita; há
doença quando um desses humores, em quantidades muito pequenas ou muito grandes, isola-se no
corpo ao invés de manter-se misturado aos outros (Cap. 4, trad. J. Jouanna, p.173)
É fundamental, teoricamente, ressaltar que a expurgação dos líquidos em excesso no corpo é um
dos tratamentos de natureza médica da Grécia Antiga que tinha como objetivo reequilibrar os
humores no corpo e restabelecer a saúde dos sujeitos. Sendo assim, compreende-se que a saúde é o
estabelecimento do equilíbrio dos humores no corpo e se conclui a base da teoria hipocrática.
“Essa doença, cujo estatuto jurídico foi dado pelo Aforismo hipocrático(VI, 23): “se tristeza e temor
duram muito tempo, um tal estado é melancólico.” (PIGEAUD, 2009, p. 76)
Outra tese apresentada por Pigeaud tem relação com a constituição da melancolia como doença, de
acordo com Hipócrates. A melancolia está ligada a presença em excesso do humor bile negra nos
corpos dos indivíduos, segundo Hipócrates. Portanto, indivíduos que apresentavam excesso de bile
negra eram melancólicos.
“Voltamos ao temperamento médio, que seria aquele da saúde. Esse temperamento, que eu
chamaria de não bem definido, é um temperamento ideal: um humor predomina mais
frequentemente no corpo, o que explica o comportamento e o caráter do indivíduo: sanguíneo,
fleugmático, bilioso, melancólico. Esse desvio é, de alguma forma, patológico; é também a marca
da individualidade.” (PIGEAUD, 2009, p. 74)
A última tese fundamental na obra de Pigeaud tem relação com o pensamento de Galeno, que
fundamenta que o predomínio de um humor específico no corpo produz um temperamento
particular nos indivíduos e este humor específico se constituía como a causa do comportamento e
caráter destes sujeitos. O temperamento melancólico apresenta uma preponderância da bile negra,
um dos humores e indivíduos que apresentam esse humor têm um temperamento melancólico.
Todavia, o temperamento colérico é caracterizado pelo predomínio da bile amarela, portanto, os
sujeitos tendem a ter um temperamento apaixonado. O temperamento sanguíneo, por sua vez, expõe
uma prevalência do humor sangue e os sujeitos são expressivos, sociáveis, alegres e seguros. Por
fim, o temperamento fleumático têm, como o próprio nome já afirma, uma preponderância do
humor fleuma e os indivíduos são calmos, justos e reflexivos. Contudo, a instabilidade dos
humores, mediante essa tese, também impacta na forma de agir, pensar e sentir das pessoas.

6. Reflexão crítica sobre obra e implicações

7. Referências Bibliográficas
Livro Metáfora e Melancolia: Ensaios Médico-filosóficos - Jackie Pigeaud. Megaleitores.
Disponível em: < Metáfora e Melancolia: Ensaios Médico-filosóficos (megaleitores.com.br) > .
Acesso em: 24 set. de 2021;
Metáfora e Melancolia: ensaios médico-filosóficos. Editora Puc-Rio. Disponível em: < Editora
PUC-Rio >. Acesso em: 24 set. de 2021;
Biografia de Jack Pigeaud. Howold. Disponível em: <Jackie Pigeaud - Wikipedia>. Acesso em: 24
set. de 2021;
Droit, Roger. A morte de Jackie Pigeaud, filológo. Lemonde, 2016. Disponível em: <La mort de
Jackie Pigeaud, philologue (lemonde.fr)>. Acesso em 24 set. de 2021;

Doenças IV,32. CF. éd. et trad. de R. Joly, HIPPOCRATE, t. IX. Paris: Belles Lettres,1970

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