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INORGÂNICA
KÃO t^O
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tradução
JE da 5-a edição
inglesa
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Blucher
Blucher
J. D. LEE
Professor da Universidade de Loughborough,
Inglaterra
QUÍMICA
INORGÂNICA
NÀO TÀO
CONCISA
Tradução:
HENRIQUE E. TOMA
KOITI ARAKI
REGINALDO C. ROCHA
Professores e Pesquisadores do Instituto de Química
da Universidade de São Paulo
I
Concise inorganic chemistry
© 1 996 by Blackwell Publishing Ltd.
Todos os direitos reservados pela Editora Edgard Blücher Lida. índices para catálogo sistemático:
1. Química inorgânica 546
V
PREFÁCIO DÃ 5? EDIÇÃO
Já se passaram 32 anos desde a publicação da utilizando explicações simples, os porquês das estruturas,
primeira edição do livro Química Inorgânica Concisa - propriedades e reatividade dos compostos. A maioria dos
um tempo relativamente longo para um livro. O tamanho capítulos traz uma seção de leituras complementares,
foi gradualmente e inevitavelmente crescendo, e por isso onde são enumerados artigos de fácil compreensão (em
fiquei satisfeito ao constatar que a quinta edição não era revistas científicas tais como o Journal of Chemical Edu-
maior que a quarta. Robert Baden-Powell (o fundador do cation, Chemistry in Britain e Education in Chemistry),
movimento dos escoteiros) disse: “Tanto para se fazer e referências em livros mais especializados, artigos de
tão pouco tempo!” Eu podería parafrasear essa idéia revisão (tais como no Quarterly Reviews, Coordination
dizendo: "Tanto para se escrever e tão poucas páginas!" Chemistry Reviews, e artigos de conferências e simpósios
Talvez o volume do livro tenha atingido seu máximo, e especializados). As referências a artigos mais antigos fo
quem sabe na próxima edição seja menor. ram restritas àquelas de interesse especial ou histórico.
Os objetivos da quinta edição são exatamente os mes Por exemplo, os artigos originais sobre a utilização do
mos da primeira edição, ou seja: diagrama de Ellingham, a teoria de Sidgwick-Powell da
estrutura das moléculas e a descoberta do ferroceno e
• um livro-texto moderno de química inorgânica, que
dos supercondutores quentes.
seja extenso o suficiente para cobrir os tópicos essen
ciais, mas sucinto o suficiente para ser interessante; A Química sempre foi e continua sendo uma área de
caráter aplicado. O provérbio “onde há detritos, há
• que tenha uma estrutura simples e lógica na qual os
dinheiro” é particularmente válido no caso da indústria
leitores possam encaixar seus conhecimentos e
extrapolá-los de modo a prever fatos ainda desco química. Se os produtos químicos não fossem necessários
nhecidos; e utilizados em grandes quantidades, não haveria a
necessidade de uma indústria química, nem de estu
• que preencha a lacuna entre os livros do 2a grau e os dantes, de professores e de livros-textos de Química.
mais avançados;
Um professor americano me disse que classificava
• destinado principalmente aos alunos do Ia e 2a anos os livros de Química Inorgânica em duas classes: teóricos
dos cursos de Química, mas que também seja útil e aplicados. Para classificar um dado livro, primeiro ele
para aqueles que estão fazendo cursos universitários verificava se os métodos de extração dos dois metais mais
nos quais a Química é uma disciplina secundária. produzidos (Fe e Al) eram adequadamente descritos: quais
Algumas partes do livro são úteis inclusive para impurezas poderíam estar presentes e como os métodos
estudantes em nível mais avançado. foram adaptados para removê-los. Em segundo lugar,
• Acima de tudo, pretende ser um livro de fácil leitura verificava se o autor se delongava mais na descrição das
e compreensão. Por isso, o texto é baseado em ligações nos compostos de xenônio e no ferroceno que
aspectos descritivos da Química, combinado-se algu na da descrição do método de produção de amônia.
mas explicações a nível teórico. Finalmente, ele verificava se os métodos de produção e a
A estrutura do livro não foi alterada, sendo utilização dos fosfatos estavam sendo descritos adequa
constituída por seis partes: conceitos teóricos e o hidro damente. Este livro foi intencionalmente estruturado de
gênio; elementos do bloco s, do bloco p, do bloco d, do forma que o meu amigo americano o classificasse como
bloco f e outros tópicos. Como nas edições anteriores, o “aplicado”. Durante muitos anos, tem havido uma
índice remissivo é bastante completo, contendo uma tendência no sentido de tornar o ensino de química mais
tabela de conteúdos bastante detalhada. Todos os teórico. Sempre haverá o interesse teórico em algum outro
capítulos foram atualizados e os grupos foram numerados estado de oxidação ou outro complexo incomum, mas o
de 1 a 18, de acordo com a recomendação da 1UPAC. O ponto de equilíbrio foi deslocado de modo a não excluir
conteúdo descritivo é preponderante, mas foram feitas os produtos comuns e aqueles comercialmente
tentativas no sentido de mostrar, sempre que possível e importantes.
VI
Acho importante que os estudantes saibam quais são descoberto que os gases nobres de fato formam compos
os produtos comercialmente importantes, especialmente tos. A este se seguiu um período de extrema atividade no
aqueles produzidos em larga escala. Da mesma forma é sentido de preparar e compreender a ligação nos
importante saber quais são suas aplicações, seus processos compostos organometálicos, para muitos dos quais não
de produção e a origem da matéria-prima. Isso conecta a havia uma explicação coerente com as teorias vigentes.
Química com o mundo real, mas infelizmente poucos Os próximos avanços provavelmente ocorrerão em
livros chegam a apresentar esses detalhes. Os dados duas áreas: química bioinorgânica e novos materiais.
referentes à quantidade produzida de produtos químicos Muitos trabalhos em química bioinorgânica vem sendo
e os principais produtores das matérias-primas foram realizados com o objetivo de desvendar o mecanismo de
totalmente atualizados. Tais dados foram extraídos atuação das enzimas e dos catalisadores, da hemoglobina
principalmente do World Mineral Statistics, publicado pela e da clorofila, e como as bactérias conseguem fixar
British Geological Survey; do Industrial Statistics Year- nitrogênio atmosférico tão facilmente enquanto para nós
book, publicado pelas Nações Unidas (Nova York); e os é tão difícil. Os trabalhos no campo dos novos materiais
dados coletados junto a cerca de 250 empresas. Os valores, incluem os polímeros, as ligas, os supercondutores e
que tem variado muito pouco de ano para ano, ilustram semicondutores. Eu espero que este livro não ajude os
a escala de produção/utilização e identificam os principais estudantes somente a passar nas provas, mas que os façam
fornecedores de matéria-prima. Além de descrever em compreender e os estimulem a estudar mais profunda
detalhes a produção de produtos básicos como H2SO4, mente os assuntos envolvidos.
NH3, NaOH, Cl2, O2 e N2, outros materiais importantes
Este livro trata principalmente da Química dos Ele
tais como cimento e aço, polietileno, silicones, teflon,
mentos, o qual é considerado do escopo da Química
sabão e detergentes, também foram contemplados.
Inorgânica. Eu acho contra-producente os estudantes
A Química é interessante e está acontecendo em compartimentalizarem as informações, visto que os
nossa volta. Muitas aplicações em pequena escala, mas conceitos envolvidos na discussão de um determinado
fascinantes, também são descritas e explicadas. Dentre assunto podem ser os mesmos de um outro, de modo
eles podem ser citados o fermento químico, a fotografia, que os limites entre eles são parcialmente artificiais. O
os supercondutores, os transistores, as fotocopiadoras, o livro incorpora as informações sobre a Química dos
método de datação pelo carbono, a bomba atômica, as Elementos sem se preocupar com a sua classificação nas
aplicações dos radioisótopos, etc. diversas áreas. Assim, muitas vezes vamos cruzar os
Atualmente, existe uma maior consciência dos limites da química analítica, da bioquímica, da ciência
problemas ambientais. Assim, problemas relacionados dos materiais, da química nuclear, da química orgânica,
com os freons e a camada de ozone, a substituição dos da física e da química dos polímeros. É importante lembrar
clorofluorocarbonos, o efeito estufa, a chuva ácida, a que em 1987 os trabalhos sobre complexos usando éteres-
poluição por chumbo, os efeitos tóxicos do estanho, do coroa e criptatos, com forte apelo biológico, recebeu o
mercúrio e do amianto, os problemas causados pelo uso Prêmio Nobel de Química; e as descobertas no campo
excessivo de fosfatos e nitratos, e os efeitos tóxicos de dos supercondutores quentes foram premiadas com o
vários materiais sobre a qualidade da água potável são Nobel de Física. Ambos envolvem a Química. Alguém
discutidos no livro. Em outras seções, também, são poderia questionar se os fullerenos são compostos
discutidos o desenvolvimento da bomba atômica e o uso inorgânicos ou orgânicos!
pacífico da energia nuclear. Torna-se inevitável num livro deste porte e complexi
Apesar da maior parte da Química Inorgânica estar dade que hajam eventuais erros. Todos são meus e me
consolidada, ela está viva, de modo que a forma corrente esforçarei para corrigi-los nas edições futuras; e sempre
de se pensar e o encaminhamento dos trabalhos futuros estarei aberto às contribuições dos leitores. O último
estão sendo constantemente alterados. Em particular, parágrafo do prefácio da primeira edição é reproduzida
nossa concepção de ligação química tem mudado. Até abaixo:
1950, a Química Inorgânica era preponderantemente Uma grande parte da Química é muito fácil, mas
descritiva. A pesquisa e o desenvolvimento que culmi uma pequena parte é extremamente difícil. Eu não
naram na invenção da bomba atômica, em 1946, provavel encontro uma maneira melhor de finalizar que citando o
mente foi o maior feito da Química no século. Seu mo- saudoso Prof. Silvanus P. Thompsom em seu livro Calcu
mentum levou a descoberta de muitos elementos novos las Made Easy : “Eu gostaria de presentear meus colegas
das séries dos lantanídios e actinídios. Essa era foi seguida tolos com as partes que não são difíceis. Domine-as
por um período onde o interesse se voltou para os aspectos completamente e a compreensão das demais partes
físicos da Química Inorgânica, no qual ao invés de apenas ocorrerá naturalmente. O que um tolo pode fazer outros
se observar o que estava acontecendo, passamos a nos também poderão".
perguntar por quê. A termodinâmica e a cinética foram J.D. Lee
utilizadas para explicar as reações químicas; as
propriedades magnéticas e a espectroscopia uv-vis foram Loughborough 1996
exploradas. Havia uma explosão de atividade quando foi
VII
UWBSãDES 51
As unidade SI foram adotadas neste livro, facili As posições dos picos de absorção nos espectros são
tando a comparação das propriedades termodinâmicas. indicadas em números de onda, cm’1, porque os ins
As energias de ionização são apresentadas em kJ • mol-1 trumentos são calibrados nessa unidade. Deve-se frisar
em vez de eV. Dados mais antigos de outras fontes que esta não é uma unidade do sistema SI, devendo
estão em eV, mas podem ser convertidos em ser multiplicada por 100 para ser convertido em
unidades SI (1 kcal = 4,184 kJ, e 1 eV = 23,06 x unidades SI (m1), ou por 11,96 para se obter o resultado
4,184 kJ • mol’1). em J-mol’1.
A unidade SI para comprimento é o metro, mas A unidade SI para densidade é kg • m'3, fazendo com
os comprimentos de ligações são às vezes expressos que a densidade da água seja igual a 1.000 kg - m’3. Essa
em nanômetros (1 nm=10’9 m). Contudo, o convenção não é muito aceita. Assim, a unidade antiga,
àngstrõm é uma unidade de comprimento permitida g ■ cm-3, foi mantida, de modo que a densidade da água
(1 Â = 10"10 m), sendo amplamente utilizada por seja igual a 1 g-cm'3.
cristalógrafos, pois os comprimentos de ligação se Nos tópicos sobre magnetismo tanto as unidades do
encontram num intervalo bastante apropriado de sistema SI como o Debye foram utilizados, e a relação
valores. A maioria das ligações tem comprimentos entre elas foi explicada. Para um químico inorgânico que
entre 1 e 2 Â (0,1 a 0,2 nm). Assim, o àngstrõm foi simplesmente deseja o número de elétrons desempare-
utilizado como unidade no caso dos comprimentos Ihados num íon de um metal de transição, a unidade
de ligação. debye é muito mais conveniente.
VIII
J LWEBSSLATBBA
Uã TABELA PEBBÉEBEA
Durante muito tempo os químicos ordenaram os ele Nas primeiras versões deste livro, os grupos dos
mentos da Tabela Periódica em grupos, de modo a elementos do bloco s e p foram numerados de I a VII e 0,
relacionar as estruturas eletrônicas dos elementos com dependendo do número de elétrons na camada de valência
as suas propriedades, simplificando assim o seu estudo. dos átomos. Por sua vez, os grupos dos elementos de
Vários métodos de nomear os grupos têm aparecido. transição foram tratados como se pertencessem a tríades,
Em diversos livros, os grupos dos elementos represen sendo os grupos denominados de acordo com o primeiro
tativos e dos de transição são denominados subgrupos A elemento de cada grupo.
e B, respectivamente, como na tabela periódica de A IUPAC (International Union of Pure and Applied
Mendeleef de 50 anos atrás. Sua desvantagem está na Chemistry) recomendou que os grupos dos elementos
supervalorização de pequenas similaridades entre os representativos e de metais de transição fossem numera
elementos dos subgrupos A e B, alem de haver um grande dos de 1 a 18. O número de adeptos desse sistema está
número de elementos no Grupo VIII. aumentando e por isso foi adotado neste livro.
I II III IV V VI VII 0
IA IIA IIIB IVB VB VIB VIIB 0
IIIA IVA VA VIA VIIA (••• VIII -) IB IIB
H He
Li Be B C N O F Ne
Na Mg Al Si P S Cl Ar
K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Po At Rn
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
IX
COFJTEÚDO
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1
estrutura atümica
E TABELA PERIÓDICA
O ÁTOMO COMO UM NÚCLEO COM
a) Elétron b)
ELÉTRONS CIRCUNDANTES circundante
Todos os átomos são constituídos por um núcleo cen
tral rodeado por um ou mais elétrons circundantes. O núcleo
sempre contém prótons e todos os núcleos mais pesados He i
elétron próximo do núcleo é fortemente atraído por ele, 4, 5...... Substituindo-se os valores de n, pode se obter uma
possuindo uma baixa energia potencial. Um elétron distante série de linhas.
do núcleo é atraído com menos intensidade e possui elevada As linhas que se encontram na região do espectro visível
energia potencial. constituem a série de Balmer, mas várias outras séries de
linhas podem ser observadas em diferentes regiões do
espectro (Tab. 1.1).
ESPECTROS ATÔMICOS DO HIDROGÊNIO E
Foram encontradas equações semelhantes para as linhas
A TEORIA DE BOHR que constituem as outras séries do espectro do hidrogênio:
Quando átomos são aquecidos ou submetidos a uma
descarga elétrica, eles absorvem energia, que em seguida é
emitida como radiação. Por exemplo, se o cloreto de sódio
Lyman
í7=4Ut-4
n2
n = 2,3,4,5...
for aquecido na chama de um bico de Bunsen, serão
produzidos átomos de sódio, que dão origem a uma coloração Balmer n = 3,4,5,6...
amarela característica na chama (há duas linhas no espectro U2 n2
de emissão do sódio, correspondentes aos comprimentos
de onda de 589,0 nm e 589,6 nm). A espectroscopia se ocupa
do estudo, tanto da radiação absorvida como da radiação
Paschen .=44-4
v32 n2
n 4,5,6,7...
emitida. A espectroscopia atômica é uma técnica importante
para o estudo da energia e da disposição dos elétrons nos Brackett n = 5,6,7,8...
átomos. <42 n2
Passando-se uma descarga elétrica através do gás
hidrogênio (H2) a baixa pressão, formam-se alguns átomos Pfund
J ----------
-p =K 1 1 n = 6,7,8,9...
de hidrogênio (H), que emitem luz na região do visível. Essa U2 n2
luz pode ser estudada por um espectrômetro, verificando-se No início deste século tentativas foram feitas para se
que ela é constituída por uma série de linhas com diferentes obter uma imagem física do átomo, a partir dessa e de outras
comprimentos de onda. Quatro linhas podem ser vistas a evidências. Thomson tinha mostrado, em 1896, que a
olho nu, mas muitas outras podem ser observadas aplicação de uma elevada diferença de potencial elétrico
fotograficamente na região do ultravioleta. Essas linhas se através de um gás fornece elétrons, sugerindo que estes
aproximam cada vez mais, à medida que o comprimento de estavam presentes no átomo. Rutherford sugeriu, a partir
onda (X) diminui, até coalescerem e formarem um contínuo de experimentos de dispersão de partículas alfa, que. um
(Fig. 1.3). Os comprimentos de onda, em metros, relacionam- átomo é constituído por um núcleo pesado, positivamente
se com a freqüência, v, em hertz (ciclos/segundo), através carregado, rodeado por um número suficiente de elétrons
da equação: para torná-lo eletricamente neutro. Em 1913, Niels Bohr
c combinou essas idéias e sugeriu que o núcleo do átomo era
V~ À rodeado por elétrons movendo-se em órbitas, como planetas
ao redor do sol. Ele recebeu o Prêmio Nobel de Física de
onde c é a velocidade da luz (2,9979 x 108 m s*1). Geralmente
1922 pelo seu trabalho sobre a estrutura do átomo. Diversos
freqüências são expressas como números de onda v em
problemas surgiram com esse conceito:
espectroscopia, sendo v- 1/X nr1.
1. O movimento dos elétrons deveria tornar-se
Em 1885, Balmer mostrou que o número de onda v de
gradativamente mais lento.
qualquer linha do espectro visível do hidrogênio atômico
podería ser obtido pela simples relação empírica: 2. Por que os elétrons deveríam mover-se numa órbita
em torno do núcleo?
3. Como o núcleo e os elétrons apresentam cargas elétricas
<22 n2 ) opostas, eles deveríam atrair-se mutuamente. Portanto,
onde R é a constante de Rydberg e n os números inteiros 3, seria de se esperar um movimento em espiral dos
elétrons, até colidirem com o núcleo.
-t
ip
Para explicar esses problemas, Bohr postulou o seguinte:
00 cp
<N
<õ Contínuo
(O
in CO
8
<o
Tabela 1.1 — Séries espectrais do átomo de hidrogênio
Região do espectro
1. Um elétron não emite energia enquanto permanecer em que um elétron se move em órbitas circulares de raios
numa mesma órbita e, portanto, não deve sofrer desa proporcionais a l2, 22, 32, ... O átomo emitirá ou absorverá
celeração. energia somente ao passar de uma órbita para outra. A
2. Quando um elétron passa de uma órbita a outra, irradiou energia cinética de um elétron é -l/lfmv2). Rearranjando
ou absorveu energia. Se ele se moveu em direção ao a equação (1.1):
núcleo, houve emissão de energia e, se ele se afastou
do núcleo, houve absorção de energia. E = -X
72 mv2 = —8ne
~~—
0r
3. Para que um elétron permaneça em sua órbita, a atração
eletrostática entre o núcleo e o elétron, que tende a Substituindo r pela expressão da equação (1.3):
puxar o elétron em direção ao núcleo, deve ser igual à
força centrífuga, que tende a afastar o elétron. Para um n Z2e4nt
E =-------------
elétron de massa m, movendo-se com uma velocidade v 8egn2h2
numa órbita de raio r, temos que:
Se um elétron saltar de uma órbita inicial i para uma
, ,, mv2
força centrifuga = ------ órbita final f, a variação de energia é dada por:
r
Se e for a carga do elétron, Z a carga do núcleo e e0 a Z2e4m Z2e4m
AE =
permissividade no vácuo, então 8eQn2h2 8£Qn2h2
Ze2
força de atração eletrostática = Z2e4m 1____ 1_
4xe0r2 Sfigh2 [nf n2)
de modo que
A energia se relaciona com o comprimento de onda
mv2 Ze2 (E = hc v), e esta equação tem a mesma forma da equação
r 42te0r2 (1.1)
de Rydberg:
v2 = —(E-V)
m
A substituição da expressão de v2 na equação (1.5) leva
à forma popular da equação de Schrõdinger:
8tt2m
A2yr +
V (E-V> = 0
Soluções aceitáveis para a equação de onda, isto é,
soluções que sejam fisicamente plausíveis, devem ter certas
propriedades:
1. V deve ser contínua
2. V deve ser finita
3. V deve gerar um único resultado
4. A probabilidade de se encontrar o elétron em
todo o espaço, de + °° até -■*>, deve ser igual a
um.
A probabilidade de se encontrar um elétron num ponto
x, y, z é v2, de modo que
í ip2dx dy dz = 1
Diversas funções de onda, designadas como y2, t|/3 Figura 1.6 — a) Funções de onda y para orbitais atômicos s, p e d.
..., poderão satisfazer as condições enumeradas acima e cada Lembre-se de que os sinais + e-se referem à simetria e não à carga, b)
uma delas terá uma energia correspondente, designadas Diferentes maneiras de se representar xy2 para um orbital 2p (como um
como Ej, E2, E}.... respectivamente. Cada uma dessas funções diagrama de contorno e como uma superfície limite correspondente a
Vj, V2, etc. representa um orbital, em analogia com as órbitas 90% de probabilidade de se encontrar o elétron)
da teoria de Bohr. No átomo de hidrogênio, o único elétron No primeiro grupo de soluções, o valor da função de
presente normalmente ocupa o nível de energia mais baixo, onda e portanto, a probabilidade de se encontrar um
Er Nesse caso o átomo encontra-se no estado fundamental. elétron y2, é igual em todas as direções, e depende somente
A correspondente função de onda descreve o orbital, ou da distância r ao núcleo.
seja, o volume do espaço no qual há uma grande
probabilidade de se encontrar o elétron. Y - f (r)
Para um dado tipo de átomo há várias soluções acei Esse fato leva a um orbital esférico, e ocorre quando o
táveis para a equação de onda, e cada orbital pode ser número quântico secundário l é igual a zero. Esses orbitais
descrito inequivocamente por um conjunto de três números são chamados de orbitais s. Quando l = 0, o número quântico
quânticos n, l e m, que são os mesmos
números quânticos — principal, secun
dário ou azimutal e magnético — usados Tabela 13 — Orbitais atômicos
na teoria de Bohr.
Número Número Número
O número quântico secundário l
quântico quântico quântico Símbolo
descreve a forma do orbital ocupado
principal secundário magnético
pêlo elétron. I pode ser igual a 0,1, 2 ou
3. Quando 1= 0, o orbital é esférico e é
designado orbital s; quando 1= 1, o or n l m
bital tem a forma de haltere e é designa 1 0 0 is (um orbital)
do orbital p; quando l = 2, o orbital tem 2 0 0 2s (um orbital)
forma de haltere duplo e é denominado
orbital d; e quando l- 3, um orbital f 2 1 -1,0,+1 2p (três orbitais)
de forma mais complicada é obtido (ver 3 0 0 3s (um orbital)
Fig. 1.6). As letras s,p,def provêm dos
3 1 -1,0,+1 3p (três orbitais)
termos espectroscópicos sharp, princi
pal, difuse e fundamental, que eram 3 2 -2, -1,0,+1,+2 3d (cinco orbitais)
usados para descrever as linhas nos 4 0 0 4s (um orbital)
espectros atômicos.
4 1 -1,0,+1 4p (três orbitais)
Uma análise de todas as soluções
permitidas para a equação de onda 4 2 —2, — 1, 0,+1,+2 4d (cinco orbitais)
mostra que os orbitais se classificam em 4 3 -3,-2,-1,0, +1.+2, +3 4/ (sete orbitais)
grupos.
RJNÇOES RADIAIS E AN6ULARE5
Número quântico 1 2 3
principal, n I
Número quântico
secundário, / 0
Número quântico
magnético, m 0
Número quântico
de spin, ms
I 0
r T
1
1
3
“I
m 0 0 +1
m,
2s 6p 10d 14/
Total 32 elétrons
Figura 1.12 — Números quãnticos, número máximo de elétrons para o preenchimento dos orbitais e forma da tabela periódica.
Bloco s Bloco p
Grupo
1 2 13 14 15 16 17 18
Período^^\
1 ’H 2He
4 «K 23y
2°Ca 2’Sc 22Ti 24Cr 25Mn 2BFe 27 Co 29Ni 29Cu “Zn 3,Ga 32Ge “As “Se “Br 36Kr
5 37Rb “Sr “Y «Zr 41 Nb 42Mo «Tc “Ru «Rh «Pd 47Ag «Cd «In “Sn 5,Sb 52Te 53l “Xe
6 “Cs “Ba 57Laf 72Hf 73Ta 74W 75Re 760s ”lr 7BPt 79Au "Hg s’T| 82Pb “Bi MPo “At “Rn
Bloco /
Lantanidios “Ce “Pr “Nd f,Pm 62Sm “Eu “Gd “Td “Dy 67Ho “Er 69Tm 7°Yb ”Lu
Actinídios “Th 91 Pa 92U 93Np “Pu “Am “Cm 97Bk 99Cf 99Es ™Fm ,0'Md ’02No ,03Lr
l.° período Is 2 elementos no período hidrogênio não se assemelha nem aos metais alcalinos, nem
2. ° período 2s 2p 8 elementos no período aos halogênios e nem aos elementos do Grupo 14. Os átomos
3. ° período 3s de hidrogênio são extremamente pequenos e apresentam
3p 8 elementos no período
muitas propriedades singulares. Seria, assim, o caso de se
4. ° período 4s 3d 4p 18 elementos no período colocar o hidrogênio num grupo à parte.
5. ° período 5s 4d 6s 18 elementos no período
6.° período 6s «A 5d 6p 32 elementos no período
LEITURAS COMPLEMENTARES
Os metais alcalinos aparecem numa coluna vertical
denominada Grupo 1, no qual todos os elementos * Karplus, M. e Porter, R.N., “Atoms and Molecules", Benjamin,
apresentam um único elétron no nível mais externo, tendo New York, 1971.
portanto propriedades semelhantes. Assim, se um dos • Greenwood, N.N., “Principies of Atomic Orbitais”, Royal In-
elementos do grupo reagir com um determinado reagente, stitute of Chemistry Monographs for Teachers No 8, 3a ed.,
os demais provavelmente reagirão de modo semelhante, Londres, 1980.
formando compostos de fórmulas semelhantes. Dessa forma
é possível prever reações de compostos desconhecidos, bem PROBLEMAS
como suas fórmulas, por simples analogia com compostos
já conhecidos. Analogamente, todos os gases nobres 1. Quais são os nomes dados às cinco primeiras séries de
aparecem numa coluna vertical denominada Grupo 18, sendo linhas espectrais que ocorrem no espectro atômico do
que todos possuem o nível eletrônico mais externo completo. hidrogênio? Indique as regiões do espectro eletromagnético
em que essas séries aparecem e escreva uma equação geral
Essa é a chamada forma longa da Tabela Periódica. Ela
que permita calcular os números de onda, que seja
apresenta muitas vantagens, sendo as mais importantes a aplicável a todas essas séries.
ênfase na semelhança de propriedades dentro dos grupos e
a relação entre o grupo e a configuração eletrônica. Os 2. Quais são os postulados em que se baseiam a teoria de
Bohr, relativa à estrutura do átomo de hidrogênio?
elementos do bloco d são denominados elementos de
transição porque se situam entre os blocos s e p. 3. Escreva a equação que explica as diferentes séries de linhas
no espectro atômico do hidrogênio. Qual o nome da
O hidrogênio e o hélio diferem dos demais elementos, equação? Explique os diferentes termos envolvidos.
porque neles não existem elétrons p no primeiro nível. O
hélio obviamente pertence ao Grupo 18, dos gases nobres, 4. a) Calcule os raios das três primeiras órbitas de Bohr para
o hidrogênio (constante de Planck h = 6,6262 x IO'34 J s;
que são quimicamente inertes, porque o nível eletrônico mais
massa do elétron m = 9,1091 x 10“31 kg; carga do elétron
externo está completamente preenchido. O hidrogênio é mais
e - 1,60210 x 10“19 C; permissividade do vácuo t:0 =
difícil de ser classificado. Podería ser incluído no Grupo 1, 8,854185 x 10*12 kg-1 m~3 A2).
porque só possui um elétron s no nível mais externo, é
monovalente e normalmente forma íons positivos (Respostas: 0,529 x 10’10 m (0,529 A); 2,12 x IO’10 m
(2,12 A) e 4,76 x IO’10 m; (4,76 A))
monovalentes. Contudo, o hidrogênio não é um metal e é
gasoso, ao passo que Li, Na, K, Rb e Cs são metais e são b) Use os valores desses raios para calcular a velocidade
sólidos. Por outro lado, o hidrogênio poderia ser incluído no do elétron em cada uma dessas órbitas.
Grupo 17, porque falta um elétron no último nível; ou no (Respostas: 2,19 x 106 m s’1; 1,09 x 106 m s~*;
grupo 14, porque o último nível está semi-preenchido. O 7,29 x 105 m s’1)
PROBLEMAS 13
5. A série de Balmer de linhas espectrais para o hidrogênio 12. O que é um orbital? Desenhe as formas dos orbitais Is, 2s,
aparece na região da luz visível. Qual é o nível energético 3px> 2-Py, ^Pz' 3dxy< 3dyz, e
inferior de partida dessas transições, e a que transições 13. Quais são os nomes e os símbolos dos quatro números
correspondem às linhas espectrais que ocorrem em 379,0 quânticos necessários para definir a energia dos elétrons
nm e 430,0 nm, respectivamente? nos átomos? A que esses números quânticos se referem e
6. Quais são o número de onda e o comprimento de onda da que valores numéricos são possíveis para cada um deles?
primeira transição nas séries de Lyman, Balmer e Paschen, Mostre como a forma da Tabela Periódica está relacionada
no espectro do átomo de hidrogênio? com esses números quânticos.
A quais das seguintes espécies aplica-se a teoria de Bohr? 14. O primeiro nível energético pode conter até 2 elétrons, o
a) H, b) H+, c) He, d) He+, e) Li, f) Li+, g) Li2+, h) Be, segundo nível até 8, o terceiro nível até 18, e o quarto
i) Be+, j) Be2*, 1) Be3*. nível até 32. Explique essa distribuição em função dos
números quânticos.
8. No que a teoria de Bohr do átomo de hidrogênio difere da
teoria de Schrõdinger? 15. Escreva os valores dos quatro números quânticos para cada
um dos elétron do átomo de a) oxigênio e b) escândio no
9. a) Escreva a forma geral da equação de Schrõdinger e defina
estado fundamental. Use primeiro os valores positivos de
cada um dos termos que nela ocorrem.
rri\ e ms.
b) Soluções fisicamente possíveis da equação de onda
16. Determine a seqüência em que os níveis energéticos de
devem apresentar quatro propriedades. Quais são elas? um átomo são preenchidos com elétrons. Escreva a
10. O que é uma função de distribuição radial? Represente configuração eletrônica para os átomos de número atômico
essa função para os orbitais Is, 2s, 3s, 2p, 3p e 4p do átomo 6, 11, 17 e 25. Em seguida, verifique a que grupos da Tabela
de hidrogênio. Periódica esses elementos pertencem.
11. Explique a) o Princípio de Exclusão de Pauli, eb) a Regra 17. Escreva o nome e o símbolo dos átomos que têm, no estado
de Hund. Mostre como usar esses princípios para fundamental, as seguintes configurações eletrônicas no
determinar a estrutura eletrônica dos primeiros 20 nível mais externo: a) 2S2, b) 3S2 3p5, c) 3S2 3p6 4S2, d) 3S2
elementos da Tabela Periódica. 3p6 3d6 4S2, e) 5? Sp2, 0 5S2 5p6.
14
inTnonuçno
À LIGAÇÃO ÇUÍMIGA
TRANSIÇÕES ENTRE OS PRINCIPAIS TIPOS Quando sódio e cloro reagem entre si, o elétron no nível
DE LIGAÇÕES mais externo do átomo de sódio é transferido para o átomo
de cloro, de modo a formar íons sódio, Na + , e íons cloreto,
Poucas ligações são totalmente iônicas, covalentes ou Cl'. Atração eletrostática entre os íons positivos e negativos
metálicas. A maioria das ligações são intermediárias entre os mantêm juntos num retículo cristalino. O processo é
esses três tipos e possuem algumas características de duas energeticamente favorecido, pois os dois tipos de átomos
delas, às vezes das três. atingem a configuração eletrônica estável de gás nobre, tal
que o cloreto de sódio, Na* CL, é facilmente formado. Isso
Ligações iônicas pode ser ilustrado graficamente por meio de um diagrama
Formam-se ligações iônicas quando elementos eletro- de Lewis, no qual os elétrons externos são representados
positivos reagem com elementos eletronegativos. por pontos:
Considere o composto iônico cloreto de sódio. O átomo
de sódio tem a configuração eletrônica ls2 2s2 2p6 3s*. O
primeiro e o segundo níveis eletrônicos estão completamente Na Cl (Na]+ + Cl
preenchidos, mas o terceiro nível contém somente um
átomo dc sódio átomo dc cloro íon sódio
elétron. Quando esse átomo reage, ele o faz de maneira a íon cloreto
atingir uma configuração eletrônica mais estável. Os gases A formação de cloreto de cálcio CaCl2 pode ser explicada
nobres apresentam um arranjo eletrônico estável, sendo o de maneira semelhante. Os átomos de cálcio possuem dois
neônio o gás nobre mais próximo do sódio, cuja configuração elétrons no nível mais externo. O Ca é um elemento
é ls2 2s2 2p6. Se o átomo de sódio perder o elétron de seu
eletropositivo, de modo que cada átomo de Ca perde dois
nível mais externo, ele atingirá uma configuração eletrônica
elétrons para dois átomos de Cl, gerando um íon cálcio,
estável, e assim fazendo o sódio adquire uma carga positiva
Ca2*, e dois íons cloreto, Cl". Considerando-se apenas os
+ 1, sendo denominado íon sódio, Na + . A carga positiva
elétrons mais externos, a reação pode ser representada como
surge porque o núcleo contém 11 prótons, cada qual com
se segue:
uma carga positiva, mas restam apenas 10 elétrons. Os
átomos de sódio tendem a perder elétrons dessa maneira
quando lhes é fornecida energia. Logo, o sódio é um elemento
eletropositivo. Cl
Cl
Na -> Na+ + elétron
átomo de sódio íon de sódio
Ca : [Ca]2+ +
Átomos de cloro possuem a configuração eletrônica ls2
2s2 2p6 3s2 3ps. Falta apenas um elétron para se chegar a Cl Cl
estrutura estável do gás nobre argônio ls2 2s2 2p6 3s2 3p6.
Assim, quando os átomos de cloro reagem, recebem um átomo de cálcio átomos de cloro íon cálcio íons cloreto
elétron. O cloro é, portanto, um elemento eletronegativo.
Cl + elétron —> Cl"
átomo de cloro íon cloreto Ligações covalentes
Adquirindo um elétron, o átomo de cloro eletricamente Quando dois átomos eletronegativos reagem entre si,
neutro se transformará num íon cloreto, que possui uma ambos têm a tendência de receber elétrons mas nenhum
carga negativa, Cl". mostra tendência alguma de ceder elétrons. Nesses casos os
átomos compartilham elétrons para atingir a configuração
eletrônica de gás nobre.
Metálica Vamos inicialmente considerar o diagrama abaixo, que
Li mostra como dois átomos de cloro Cl reagem para formar
Ag Na3Bi uma molécula de Cl2 (estão sendo representados apenas os
elétrons mais externos):
Sn Na3Sb
As Na3AS
TeZ Cl + Cl Cl Cl
Na3P
Na3N átomos de cloro molécula de cloro
12- CIF - OF2 - NF3 - CCI4 - BF3 - BeF2 - Na3O
Cada átomo de cloro compartilha um de seus elétrons
F2 - IF, - SFe - PF5 - SiF4 - AIF3 - MgF2 - CsF com o outro átomo. Assim, um par de elétrons é compar
Covalente Iônica tilhado igualmente pelos dois átomos, de modo que cada
átomo possui agora oito elétrons em seu nível mais externo
(um octeto estável) — a estrutura de gás nobre do argônio.
Figura 2.1 — Triângulo ilustrando as transições entre ligações iônica.
covalente e metálica (reproduzido de "Chemical Constitution" de Na representação gráfica (estrutura de Lewis) o par de
J.A.A. Ketelaar, Elsevier) elétrons compartilhado é representado por dois pontos en-
16 INTRODUÇÃO À LIGAÇÃO OUlMICA
tre os átomos, Cl : Cl. Na representação por ligações de discutida no capítulo 6). Um procedimento alternativo é
valência esses pontos são substituídos por uma linha que "quebrar" (teoricamente) a molécula, removendo-se todos
representa uma ligação, Cl-Cl. os átomos ligados na forma de íons e, em seguida,
Analogamente, uma molécula de tetraclorometano, determinando a carga remanescente no átomo central. Deve-
CC14, é obtida a partir de um átomo de carbono e quatro se frisar que as moléculas não são realmente destruídas,
átomos de cloro: nem os elétrons são realmente removidos. Por exemplo, na
água, H2O, a retirada de dois íons H + deixa uma carga -2 no
Cl átomo de oxigênio, tal que o estado de oxidação do O na
água é (—II). Analogamente, no H2S o estado de oxidação do
S é (-11); no F2O o estado de oxidação do O é ( + 11); no SF4
c • + 4 Cl : ->C1 : C : Cl
o estado de oxidação do S é (+ IV), enquanto que no SF6 0
estado de oxidação do S é (+ VI). O conceito de número de
Cl oxidação funciona igualmente bem no caso de compostos
O átomo de carbono necessita de quatro elétrons para iônicos. Assim, no CrCl3 o átomo de Cr tem estado de
chegar à estrutura de gás nobre, de modo que ele formará oxidação (+ III) e forma íons Cr3 * e no caso do CrCl2 0 Cr
quatro ligações. Os átomos de cloro precisam de um elétron se encontra no estado de oxidação (+ II), ou seja na forma
para chegar à estrutura de gás nobre, e cada um deles formará de íons Cr2 + .
uma ligação. Compartilhando elétrons dessa maneira, tanto
o átomo de carbono como os quatro átomos de cloro atingem Ligações coordenativas
a estrutura de um gás nobre. Deve-se frisar, contudo, que
Uma ligação covalente resulta do compartilhamento de
embora seja possível obter moléculas dessa maneira e
um par de elétrons por dois átomos, sendo que cada um
entender suas estruturas eletrônicas, não se pode concluir
deles contribui com um elétron para a formação da ligação.
que os átomos envolvidos reajam diretamente. No presente
É possível também ter ligações nos quais o par de elétrons
caso, carbono e cloro não reagem diretamente entre si, sendo
que o tetraclorometano é obtido por reações indiretas. provém de apenas um dos átomos, sendo que o outro não
contribui com nenhum elétron. Essas ligações são
Uma molécula de amônia NH3 é constituída por um denominadas ligações coordenativas ou dativas. Visto que
átomo de nitrogênio e três de hidrogênio:
nos compostos de coordenação um par de elétrons é
compartilhado por dois átomos, a diferença em relação às
ligações covalentes normais reside apenas na maneira em
N • + 3[H ] -> H : N :H
que as ligações são formadas. Uma vez formada, as ligações
coordenativas são idênticas às ligações covalentes normais.
H Embora a molécula de amônia tenha uma configuração
O átomo de nitrogênio necessita de três elétrons para eletrônica estável, ela pode fazer uso de seu par de elétrons
chegar à estrutura de um gás nobre, enquanto que os átomos isolados para se ligar a um íon H + , formando o íon amônio,
de hidrogênio precisam receber um elétron para chegar à NH4 + :
estrutura de um gás nobre. O átomo de nitrogênio forma
três ligações, enquanto cada átomo de hidrogênio forma uma H H H
única ligação, para alcançar uma configuração estável. Um
par de elétrons do átomo de nitrogênio não participa da
I
H : N : + [H]+ H : N : H ou H—N —>H
formação de ligações, sendo denominado par isolado de
elétrons.
A água (com duas ligações covalentes e dois pares H H H
isolados) e fluoreto de hidrogênio (uma ligação covalente e
três pares isolados), são mais alguns exemplos de compostos
Ligações covalentes normais são geralmente repre
com ligações covalentes.
sentadas por uma linha reta unindo os átomos envolvidos.
Por sua vez, as ligações coordenativas são representadas
por setas que indicam qual é 0 átomo que está doando os
H: O : H: F
elétrons. Da mesma forma que no caso do íon NH4 + , a
amônia pode doar 0 par isolado para o trifluoreto de boro.
H Assim, 0 boro atinge a configuração estável de oito elétrons.
Números de oxidação H F H F
O número de oxidação de um elemento num composto I I
covalente é calculado inicialmente considerando-se que os H : N : + B : F-> H — N -»B — F
elétrons compartilhados pertencem ao elemento mais
eletronegativo. A seguir determina-se a carga teórica
I I
H F H F
remanescente em cada átomo (a eletronegatividade será
TRANSIÇÕES ENTRE OS PRINCIPAIS TIPOS OE LIEAÇOES 17
F F
F + B : F —> F —B —F
I
F F
H H H H
\ /
C : C molécula de eteno
C=C (ligação dupla)
/ \ Figura 2.2 — As [rês estruturas metálicas, a) Estrutura hexagonal de
H H H H empacotamento compacto mostrando a seqiiência de camadas ABABAB...
e os 12 vizinhos que circundam cada esfera, b) Estrutura cúbica de
C:H H:C — C:H molécula de etino empacotamento compacto (o número de coordenação também é 12)
H:C (ligação tripla) mostrando camadas repetidas ABCABC. c) Estrutura cúbica de corpo
centrado mostrando os 8 vizinhos que circundam cada esfera
permanecem mais tempo ao redor do flúor do que junto ao O momento dipolar de uma molécula mede a tendência
outro átomo. Logo, o flúor adquire uma pequena carga da molécula alinhar suas cargas, quando colocadas num
negativa 8“ e o outro átomo (Cl ou H) uma pequena carga campo elétrico. Moléculas polares apresentam elevadas
positiva 8+. constantes dielétricas, enquanto que moléculas não-polares
8+- 8- 8+ 8- possuem constantes dielétricas baixas. A constante dielétrica
Cl—F H—F é a razão da capacitância de um capacitor com o material
entre as placas à capacitância do mesmo capacitor com vácuo
Embora essas ligações sejam essencialmente covalentes,
entre elas. Realizando tais medidas poderemos determinar
elas possuem um certo caráter iônico e, às vezes, são
a constante dielétrica e sua magnitude indicará se o mate
designadas ligações covalentes polares. Nessas moléculas,
uma carga positiva e uma carga negativa de mesmo módulo rial é polar ou apoiar.
estão separadas por uma certa distância. Isso gera um Nos próximos capítulos, as ligações iônicas, covalentes
momento de dipolo permanente na molécula. e metálicas serão discutidas mais detalhadamente.
ei
A LIGAÇAO lonicn
BD _ r~
COS ABD = 0,7071 = AB ” r++r-
1
= 1,414
0,7071
Rearranjando,
+ 1 = 1,414
— + 1 = 1,225
Figura 3.6 — Estrutura do cloreto de césio (CsCl). (Reproduzido com Estrutura do fluoreto de cálcio (fluorita)
permissão de Wells. A.F. Structural Inorganic Chemistry, 5? ed., Oxford
University Press, 1984) Na fluorita, cada íon Ca2 + é rodeado por oito íons F",
formando um arranjo do tipo cúbico de corpo centrado de
cúbica compacta de íons Cl", no qual os íons Na+ ocupam íons F" em torno de cada íon Ca2 +. Dado que o número de
todos os interstícios octaédricos. íons F" é o dobro do número de íons Ca2 +, o número de
coordenação dos dois íons não é o mesmo, de modo que
quatro íons Ca2 + se dispõem tetraedricamente em torno de
Estrutura do cloreto de césio
cada íon F". Os números de coordenação são, pois, 8 e 4, e
No cloreto de césio, CsCl, a relação de raios é igual a este é denominado arranjo 8 : 4. A estrutura da fluorita é
0,93. Isso sugere um arranjo do tipo cúbico de corpo encontrada quando a relação de raios for igual ou superior a
centrado, em que cada íon Cs+ é rodeado por oito íons Cl" e 0,73.
vice-versa (Fig. 3.6). A coordenação é, portanto, 8 : 8. Ob Uma descrição alternativa dessa estrutura considera os
serve que essa estrutura não é de empacotamento compacto, íons Ca2+ formando um arranjo cúbico de face centrada. Os
e não é rigorosamente cúbica de corpo centrado. íons Ca2+ são pequenos demais para tocarem-se mutuamente
Num arranjo cúbico de corpo centrado, o átomo situado e a estrutura não apresenta empacotamento compacto.
no centro do cubo é idêntico àqueles situados nos vértices. Contudo, essa estrutura está relacionada com o arranjo
Essa estrutura é encontrada em metais, mas, no CsCl, encontrado numa estrutura de empacotamento compacto,
enquanto os íons situados nos vértices são íons Cl", o íon visto que os íons Ca2+ ocupam exatamente as mesmas
situado no centro deverá ser um íon Cs + . Logo, o arranjo posições relativas encontradas nesse tipo de estrutura, e os
não é estritamente cúbico de corpo centrado. A estrutura do íons F" ocupam todos os interstícios tetraédricos.
') cloreto de césio deverá ser descrita como uma estrutura do
tipo cúbico de corpo centrado.
Estruturas do rutilo
Existem três formas de TiO2, denominadas anatase,
COMPOSTOS IÔNICOS DO TIPO AX2 (CaF2, brookita e rutilo. A estrutura do rutilo é encontrada em
TiO2, SiO2) muitos cristais, onde a relação de raios se situa entre 0,41 e
As duas estruturas mais comuns são a da fluorita, CaF2 0,73. Isso sugere um número o coordenação 6 para um dos
(Fig. 3.7), e a do rutilo, TiO2, (Fig. 3.8). Muitos difluoretos e íons e, a partir da fórmula, deduz-se que o número de
dióxidos também apresentam uma dessas duas estruturas. coordenação do outro íon é 3. Esse é um arranjo 6 : 3. Cada
Uma outra estrutura bastante comum é a de uma das formas íon Ti4 + é rodeado octaedricamente por seis íons O2". Por
do SiO2 denominada p-cristobalita (Fig. 3.9). Essas estruturas sua vez, cada íon O2" é circundado por três íons Ti4 +, num
são verdadeiramente iônicas. Se as ligações tiverem um grau arranjo trigonal plano.
apreciável de caráter covalente, formam-se estruturas em A estrutura do rutilo não apresenta empacotamento
camadas. compacto. A cela unitária, isto é, a unidade estrutural que
cj-
®Ca”
Figura 3.11 — Estrutura do arseneto de níquel
Essa equação é designada equação de Bom-Landé. Ela números de coordenação com aquela encontrada no
permite calcular a energia reticular desde que se conheçam caso da coordenação seis:
a geometria do cristal, a constante de Madelung, as cargas
z+ e z~ e a distância interiônica. Usando unidades Sl, a Número de coordenação
equação toma a forma: 12 8 6 4
Relação entre as distâncias interiônicas
(3.4) 1,091 1,037 1,000 0,951
4rre„r0 V n)
Variando-se o número de coordenação de 6 (estrutura
onde eo é a permissividade no vácuo = 8,854 x 10’12 F m"1. do NaCl) para 8 (estrutura do CsCl) a distância
Essa equação fornece um valor calculado de U = -778 interiônica aumenta em 3,7% enquanto que a constante
kJ mol-1 para a energia reticular do cloreto de sódio, ou de Madelung (NaCl, A = 1,74756, e CsCl, A = 1,76267)
seja, aproximadamente igual ao valor experimental de -775 varia apenas 0,9%. Portanto, uma mudança no número
kJ mol’1 a 25 °C (obtido usando o ciclo de Born-Haber). Os de coordenação de 6 para 8 resultaria numa redução
valores experimentais e teóricos para os haletos dos metais da energia reticular, e teoricamente a estrutura do NaCl
alcalinos e os óxidos e haletos dos metais alcalino terrosos deveria ser sempre mais estável que a do CsCl. De modo
(exceto Be) concordam dentro de uma margem de erro de análogo, a diminuição do número de coordenação de 6
3%. para 4 faz com que r diminua 4,9%. O correspondente
Há outras expressões semelhantes, por exemplo, as decréscimo de A é igual a 6, l ou 6,3 % (dependendo da
equações de Born-Mayer e de Kapustinskii, mas estas estrutura resultante: blenda ou wurtzita). Percebe-se
estimam a contribuição de repulsão de maneira um pouco que em ambos os casos o decréscimo em A é superior
diferente. A concordância entre valores teóricos e ao efeito da variação em r, logo, teoricamente, o arranjo
experimentais é ainda melhor se considerarmos as forças de com número de coordenação 6 é mais estável que o
van der Waals e a energia do ponto zero. arranjo com coordenação 4.
Vários aspectos importantes decorrem da equação de Isso indica que não deveríam existir estruturas com
Born-Landé: números de coordenação 4 ou 8, visto que a estrutura
do NaCl, com número de coordenação 6, é a mais
1. O retículo torna-se mais forte (isto é, a energia reticular estável. Obviamente, essa hipótese é incorreta, já que
torna-se mais negativa) à medida que a distância são conhecidos o ZnS (número de coordenação 4), e o
interiônica r diminui. U é proporcional a 1/r. CsCl, o CsBr e o Csl com número de coordenação 8.
r(A) U (kJ mol-1) Logo, devemos procurar os erros nos pressupostos
LiF 2,01 -1004 teóricos utilizados acima. Em primeiro lugar, o valor
Csl 3,95 -527 de n foi fixado em 9, quando na realidade ele pode
variar de 5 a 12. Em segundo lugar, os íons foram
2. A energia reticular depende do produto das cargas
considerados como cargas puntuais no cálculo da
iônicas, e U é proporcional a (z+ ■ z"). atração eletrostática. Finalmente, supôs-se que não
r(A) (z+ • z") U (kJ mol"1) houve diminuição da carga em função das interações
LiF 2,01 1 -1004 (isto é, considerou-se que as ligações são 100% iônicas).
MgO 2,10 4 -3933 4. Cristais com energia reticular elevada geralmente
fundem em temperaturas elevadas, e são muito duros.
A dureza é medida de acordo com a escala de Mohs
3. A excelente concordância entre as energias reticulares (vide Apêndice N). Elevadas energias reticulares são
experimentais e aquelas calculadas pela equação de favorecidas por pequenas distâncias interiônicas e íons
Born-Landé para os haletos dos metais alcalinos, não com cargas elevadas.
implica que a equação ou as suposições em que ela se
baseia estejam corretas. Na equação existem Vimos que diversos sais que deveríam ter a estrutura
compensações mútuas e ela tende a esconder erros. Há do CsCl, de acordo com considerações baseadas na relação
dois fatores opostos na equação. O aumento da distância
interiônica r reduz a energia reticular. É quase
impossível variar r sem afetar a estrutura, alterando-se Tabela 3.6 — Distâncias interiônicas e cargas tônicas
com isto a constante de Madelung, A. O aumento de A relacionadas ao P.F. e à dureza
eleva a energia reticular; portanto, os efeitos da variação
de r e de A podem em grande parte cancelar-se r(Â) (z+ ■ z") P.F. CC) Dureza
mutuamente.
NaF 2,310 1 990 3,2
Isso pode ser ilustrado considerando-se um valor BeO 1,65 4 2530 9,0
constante de n na equação de Born-Landé. Torna-se, MgO 2,106 4 2800 6.5
assim, possível calcular variações da distância CaO 2,405 4 2580 4,5
interiônica em função tanto das variações no número 2,580 4 2430 3,5
SrO
de coordenação como na estrutura do retículo cristalino. 4 1923 3,3
BaO 2,762
Tomando-se um valor constante de n = 9, poderemos
TiC 2,159 16 3140 8-9
comparar as distâncias interiônicas para diferentes
30 A LISAÇÃD lONICA
de raios, possuem na realidade a estrutura do NaCl. A tendem a um arranjo perfeitamente ordenado. À medida
constante de Madelung para o CsCl é maior que aquela para que a temperatura aumenta, aumenta a energia de vibração
o NaCl, e levaria a uma energia reticular maior. Contudo, térmica dos íons em suas posições no retículo. Caso o
numa estrutura do tipo CsCl, a distância interiônica r será deslocamento vibracional de um determinado íon tornar-se
maior que numa estrutura do tipo NaCl, o que diminuiría a suficientemente grande, ele poderá sair de sua posição regular
energia reticular. Esses dois fatores atuam em sentidos no retículo. Isso constitui um defeito pontual. Quanto maior
opostos e se cancelam parcialmente. Com isso, em alguns a temperatura, maior será a probabilidade de termos posições
casos a energia reticular será mais favorável para um arranjo reticulares desocupadas. Esses defeitos são muitas vezes
do tipo NaCl, mesmo que a estrutura do CsCl seja designados como termodinâmicos, visto que seu número
geometricamente a mais plausível. Considere o caso do RbBr depende da temperatura.
em que a relação de raios está próxima do limite entre a
coordenação 6 (estrutura do NaCl) e a coordenação 8
Defeitos Schottky
(estrutura do CsCl). Adotando a estrutura do CsCl, a
constante de Madelung será maior que para a estrutura do Um defeito de Schottky é formado por um par de
NaCl, o que aumenta a energia reticular em 0,86%. Ao "vacâncias” no retículo cristalino. Estão ausentes um íon
mesmo tempo a distância interiônica r na estrutura do CsCl positivo e um íon negativo (ver Fig. 3.13). Esse tipo de defeito
aumenta em 3%, o que diminui a energia reticular em 3%. ocorre principalmente em compostos altamente iônicos, em
O RbBr prefere, obviamente, a estrutura do NaCl. que os íons positivos e negativos apresentem tamanhos
semelhantes; com um número de coordenação elevado
(geralmente 8 ou 6), por exemplo NaCl, CsCl, KC1 e KBr.
CARACTERÍSTICAS DOS SÓLIDOS O número de defeitos Schottky existentes por cm3 (nj
A característica fundamental dos sólidos cristalinos é o é dado por
arranjo tridimensional totalmente regular das moléculas,
átomos ou íons que o constituem. Os modelos construídos f IV I
para mostrar a estrutura detalhada dos materiais cristalinos n‘ = NeX!V2Éj
freqüentemente levam a interpretações errôneas, pois eles
supõem um arranjo completamente estático. Como os átomos onde N é o número de sítios do retículo, por cm3, que podem
ou íons apresentam um grau considerável de vibração ficar desocupados; Ws é o trabalho necessário para formar
térmica, o estado cristalino não é estático, e o arranjo um defeito Schottky; k é a constante dos gases e T a
raramente é perfeito. Muitas das propriedades mais temperatura absoluta.
importantes dos sólidos estão relacionadas com as vibrações
térmicas dos átomos, com a presença de impurezas e com a Defeitos Frenkel
existência de defeitos.
/ Um defeito Frenkel é constituído por um sítio reticular
desocupado (um "buraco" no retículo); estando o íon que
DEFEITOS ESTEQUIOMÉTRICOS deveria ocupar esse sítio localizado numa posição intersti-
Compostos estequiométricos são aqueles em que os cial (ver Fig. 3.14).
diferentes tipos de átomos ou íons estão presentes íons metálicos são geralmente menores que os ânions.
exatamente nas quantidades indicadas pelas suas fórmulas. Assim, é mais fácil forçar íons A+ a ocupar posições
Eles obedecem à lei das proporções constantes: um dado intersticiais, e, em conseqüência, é mais comum encon
composto químico sempre contém os mesmos elementos com trarmos íons positivos ocupando posições intersticiais. Esse
as mesmas proporções em massa. Por um certo tempo, esses tipo de defeito é favorecido quando há uma grande diferença
compostos foram denominados daltonetos; em contraste com de tamanho entre os íons positivo e negativo. Conse-
os bertoletos ou compostos não-estequiométricos, cuja qüentemente, o número de coordenação é geralmente pe
composição química não é constante, mas variável. queno (4 ou 6). Visto que íons positivos pequenos são
Dois tipos de defeitos, respectivamente, denominados altamente polarizantes e íons negativos grandes altamente
defeitos Schottky e Frenkel, podem ser observados em polarizáveis, esses compostos apresentam considerável
compostos estequiométricos. No zero absoluto, os cristais caráter covalente. A distorção dos íons e a proximidade de
(7)---(]r)----('»)---(7)
retículo cristalino, mas, em contraste, o íon correspondente Se um óxido com esse tipo de defeito for aquecido na
não está ocupando as posições intersticiais. Portanto, existem presença de oxigênio e em seguida resfriado até a temperatura
apenas as lacunas, estando o íon correspondente ausente ambiente, sua condutividade irá diminuir. Isso ocorre porque
na estrutura. Esse tipo de defeito ocorre em cristais para os o oxigênio oxida alguns dos íons intersticiais, e estes,
quais seria de se esperar a formação de defeitos Schottky. subseqüentemente, removem os elétrons intersticiais,
Quando compostos como NaCl, KC1, LiH ou 8-TiO são diminuindo a condutividade.
aquecidos com um excesso do vapor do metal que os Cristais com qualquer um dos tipos de defeito discutidos
constitui, ou quando são tratados com radiação de alta acima, caracterizados pelo excesso de metal, contêm elétrons
energia, eles se tornam deficientes em íons negativos. Assim, livres que, ao migrarem, conduzem eletricidade. Como é
suas fórmulas poderíam ser representadas por AX|_S, onde pequeno o número de defeitos, há poucos elétrons livres
Sé uma pequena fração do todo. A forma não-estequio- que podem conduzir a eletricidade. Assim a magnitude da
métrica do NaCl é amarela e a forma não estequiométrica corrente conduzida é muito pequena quando comparada com
de KC1 apresenta coloração azul-lilás. Note a semelhança a corrente conduzida pelos metais, por sais fundidos ou por
com as cores da chama do Na e do K. sais em solução aquosa. Esse tipo de material contendo
O retículo cristalino apresenta vacâncias deixadas pelos defeitos são designados semicondutores. Como o transporte
ânions, que são ocupadas por elétrons. Sítios aniônicos de elétrons ocorre por um mecanismo de condução eletrônica
ocupados por elétrons são denominados centros-F (F é uma normal, são denominados semicondutores do tipo n. Além
abreviatura de Farbe, palavra alemã que significa cor). Esses disso, esses elétrons livres podem ser excitados para níveis
centros-F estão associados com a cor dos compostos, e quanto energéticos superiores, provocando o aparecimento de
mais centros-F estiverem presentes maior será a intensidade bandas de absorção na região do visível. Logo, esses
da coloração. Sólidos que contêm centros-F são compostos são frequentemente coloridos: NaCl não-
paramagnéticos, pois os elétrons que ocupam as vacâncias estequiométrico é amarelo, KC1 não-estequiométrico é lilás
estão desemparelhados. Quando materiais contendo centros- e ZnO é branco à temperatura ambiente mas torna-se amarelo
F são irradiados com luz, eles se tornam fotocondutores. quando aquecido.
Isso ocorre como resultado da promoção dos elétrons nos
centros-F para uma banda de condução, semelhante às
bandas de condução existentes nos metais, quando absorvem Deficiência de metais
fótons com energias suficientes (ou calor). Como a condu- Compostos com deficiência de metal podem ser
tividade decorre da promoção de elétrons para a banda de representados pela fórmula geral Aj.jX. Em princípio, a
condução do material, tem-se uma semicondução do tipo n. deficiência de metal pode ocorrer de duas maneiras. Ambas
requerem metais com valências variáveis, sendo, portanto,
esperadas nos compostos de metais de transição.
íons e elétrons intersticiais
Também ocorrem defeitos quando um excesso de íons
positivos ocupam posições intersticiais do retículo e a Deficiência de íons positivos
neutralidade elétrica é mantida pela presença de elétrons Caso um íon positivo não esteja presente em seu sítio
intersticiais (ver Fig. 3.16). A composição desses compostos reticular, a carga elétrica pode ser equilibrada pelos íons
pode ser representada pela fórmula geral A] +gX. positivos adjacentes, desde que estes tenham cargas positivas
adicionais (ver Fig. 3.17). Exemplos são o FeO, NiO, 8-TiO,
Esse tipo de defeito se assemelha ao defeito Frenkel,
FeS e Cul (se faltar um íon Fe2 + num retículo cristalino de
pois íons ocupam posições intersticiais, porém não existem
FeO, deverá haver em algum lugar do retículo dois íons Fe3 +
vacâncias no retículo e também existem elétrons intersticiais.
para equilibrar a carga elétrica. Analogamente, se faltar um
Esse tipo de defeito caracterizado pelo excesso de metal é
íon Ni2 + num retículo de NiO, este deverá conter dois íons
muito mais freqüente que o anterior, e se forma em cristais
Ni3 + ).
nos quais se espera a ocorrência de defeitos Frenkel (isto é,
os íons constituintes são de tamanhos bastante diferentes, Cristais apresentando deficiência de metal são
números de coordenação baixos, e com algum caráter semicondutores. Suponha que o retículo contenha os íons
covalente). Os exemplos incluem ZnO, CdO, Fe2O3 e Cr2O3. A+ e A2 + . Se um elétron “saltar” do íon A+ para o sítio
mais oxidado (ou seja, um íon A2 + ), o íon A+ inicial se
transforma num novo íon A2 + . Logo, houve um movimento Os intervalos entre bandas são de apenas 68 kJ moF1
aparente de A2+. Caso ocorra uma série de "saltos” para o Ge e 106 kJ mol'1 para o Si. Por isso apenas alguns
semelhantes, um elétron poderá ser transportado numa poucos elétrons de valência podem ganhar, da energia
direção dentro do retículo. Concomitantemente, o sítio térmica vibracional dos átomos, uma quantidade de energia
oxidado (vacância) migrará na direção oposta ao do suficiente para serem promovidos à banda de condução, à
movimento do elétron. Isso é denominado semicondução do temperatura ambiente. Se o cristal estiver conectado a um
tipo p. circuito elétrico, esses elétrons termicamente excitados
Se um óxido com esse tipo de defeito for aquecido na conduzem uma pequena corrente elétrica e tornam o cristal
presença de oxigênio, sua condutividade à temperatura de Si ou Ge ligeiramente condutor. Esse fenômeno é desig
ambiente aumentará, pois o oxigênio oxidará alguns dos nado semicondutividade intrínseca. Em outras palavras,
íons metálicos, aumentando o número de vacâncias. algumas ligações são rompidas e esses elétrons de valência
podem migrar e conduzir a eletricidade.
À medida que se aumenta a temperatura, também
íons negativos adicionais intersticiais
aumenta a condutividade, isto é, diminui a resistência elétrica
Em princípio, deveria ser possível colocar um íon (o oposto da situação que ocorre com os metais). Acima de
negativo adicional numa posição intersticial e equilibrar a 100°C, são tantos os elétrons de valência promovidos à banda
carga elétrica aumentando a carga de um íon metálico de condução que o cristal pode ser desintegrar. A temperatura
adjacente (ver Fig. 3.18). Contudo, como os íons negativos máxima de operação de dispositivos de Si é de 150°C. Essa
são geralmente grandes, deve ser difícil acomodá-los nos semicondução intrínseca é indesejável, e devem ser tomadas
interstícios. De fato, não se conhece nenhum cristal contendo precauções para limitar a temperatura de funcionamento dos
íons intersticiais negativos até o momento. transistores.
O Si e o Ge puros podem se tornar semicondutores de
SEMICONDUTORES E TRANSISTORES uma maneira controlada, mediante a adição de impurezas
que atuam como agentes portadores de carga. Inicialmente,
Semicondutores são sólidos, nos quais a diferença de
Si e Ge devem ser obtidos num estado extremamente puro
energia entre a banda de valência (preenchida) e a banda
pelo processo de refinação por zona. Em seguida, átomos
de condução é pequena. Essa diferença é denominada
com cinco elétrons externos, tais como o arsênio, As, são
intervalo entre bandas (band gap). Caso sejam resfriados ao
adicionados deliberadamente ao cristal de silício. Esse
zero absoluto, os elétrons ocuparão os níveis energéticos
processo, designado "dopagem" do cristal, consiste na
mais baixos possíveis. A banda de condução estará
substituição aleatória de uma fração extremamente pequena
completamente vazia e o material será um isolante perfeito.
de átomos de Si por átomos de As, com cinco elétrons no
Entretanto, à temperatura ambiente, alguns elétrons podem
nível mais externo. Somente quatro dos cinco elétrons do
ser termicamente excitados da banda de valência para a
As são necessários para formar as ligações no retículo
banda de condução e nessa condição o material pode
cristalino. No zero absoluto ou a baixas temperaturas, o
conduzir eletricidade. A condutividade observada se situa
quinto elétron estará localizado no átomo de As. Contudo, à
entre a dos isolantes e a de um metal, e depende do número
temperatura ambiente, esses elétrons do As são excitados
de elétrons na banda de condução.
para a banda de condução, onde podem conduzir
Os exemplos comerciais mais importantes de prontamente a corrente elétrica. Esse fenômeno é
semicondutores são o germânio e, principalmente, o silício. denominado condução extrínseca e aumenta a condutividade
As estruturas cristalinas de ambos se assemelham àquela a um nível bem superior àquele permitido pela condução
do diamante. Tanto os átomos de silício como os de germânio intrínseca. Visto que a corrente é conduzida pelo excesso de
têm quatro elétrons no nível mais externo e formam quatro elétrons, trata-se de uma semicondução do tipo n.
ligações covalentes com outros átomos. Em temperaturas
Num procedimento alternativo, um cristal de Si puro
muito baixas, tanto o Si e quanto o Ge apresentam sua banda
pode ser “dopado" com alguns átomos contendo apenas três
de valência preenchida e banda de condução vazia. Nessas
elétrons externos, tais como o índio [In]. Cada átomo de
condições, ambos são isolantes e não podem conduzir
corrente elétrica.
Tabela 3.8 — Intervalos de banda de alguns semicondutores
no zero absoluto
Átomo de impureza
Antes de poder ser usado em semicondutores, o silício pentavalente
deve ser ultra-purifiçado. Inicialmente, silício impuro (98%
de pureza) é obtido pela redução de SiO2 com carbono, num
forno elétrico a cerca de 1.900°C. O silício assim obtido sofre
I
—•(Ge)*—*i
(doador)
P n Um transmissor n-p-n n P n
Emissor Base Coletor
Um diodo
H1—
conduz
P n -0,2V
Base(b)
---- 1 |------
não conduz
se afastarão da junção, e na região do tipo n os elétrons Figura 3.21 — Transistores n-p-n e p-np
migrarão afastando-se da junção. Assim, na região da junção
não haverá nem elétrons nem lacunas positivas para se na Fig. 3.21. Geralmente aplica-se -0,2 volt na base e a
combinarem e, portanto, não haverá passagem de corrente. diferença de potencial entre o coletor e o emissor é de -2,0
volts. Os portadores de carga no emissor são lacunas
positivas, e estas migram do emissor a 0 volt para a base
CÉLULA FOTOVOLTAICA a -0,2 volt. As lacunas positivas atravessam a junção p-n da
Se uma junção p-n for irradiada com luz, cujos fótons interface emissor/base. Na região da base, do tipo n, algumas
tenham energias que excedam a energia do intervalo entre lacunas positivas se recombinam com elétrons e são
bandas, haverá rompimento de algumas ligações com a aniquiladas. Logo, há um fluxo de elétrons no sentido
formação de elétrons e lacunas positivas, e esses elétrons inverso, da base para o emissor, dando origem a uma corrente
serão promovidos da banda de valência para a banda de elétrica de baixa intensidade. Porém, a base é muito fina e o
condução. Os elétrons adicionais na banda de condução coletor apresenta um potencial elétrico muito mais negativo,
deixarão a região tipo n mais negativa, ao passo que os de modo que a maioria das lacunas positivas passa através
elétrons se recombinarão com as lacunas positivas na região da base em direção ao coletor, onde se combinam com os
p. Se as duas regiões forem conectadas através de um circuito elétrons provenientes do circuito. Os elétrons deixam o
externo, um fluxo de elétrons poderá fluir da região do tipo semicondutor do tipo p e entram no circuito, gerando novas
n para a região do tipo p, isto é, uma corrente flui da região lacunas positivas. Geralmente, se a corrente do emissor for
do tipo p para a região do tipo n. Tal dispositivo atua como igual a 1 mA, então as correntes da base e do coletor serão
uma bateria, que pode gerar eletricidade a partir da luz. iguais a 0,02 e 0,98 mA, respectivamente.
Muitos esforços estão sendo feitos para se construir O método mais comum de se usar um transistor como
dispositivos eficientes que permitam aproveitar a energia amplificador é o circuito emissor comum ou aterrado (Fig.
solar. 3.22a). O emissor é comum aos circuitos da base e do coletor,
e é às vezes aterrado. A corrente de base é o sinal de entrada
e a corrente do coletor é o sinal de saída. Se a corrente da
TRANSISTORES
Os transistores são geralmente cristais de silício
"dopados” de modo a formar três zonas. Na Grã-Bretanha, a) b)
os transistores são geralmente do tipo p-n-p, enquanto que R Saída
nos Estados Unidos são do tipo n-p-n. Ambos apresentam Ri R2
muitos usos, por exemplo, como amplificadores e osciladores b
c
em circuitos de rádio, de televisão, circuitos de alta-fidelidade T c’ll b c
e
e em computadores. Eles são também usados como
e
fototransistores, diodos-túnel, células solares, termistores, e Ri
Entrada Saída
na detecção de radiação ionizante.
Para fazer funcionar um transistor, é necessário aplicar
O - ■ -X-
e = emissor b = base c = coletor
tensões elétricas diferentes às suas três regiões. Os potenciais
típicos a serem aplicados num transistorp-n-p são mostrados Figura 3.22 — Circuitos emissores comuns
36 A LI6AÇÃD lONICA
base for diminuída, por exemplo, aumentando-se R,, a base adequada para produzir canais, onde será depositado
torna-se positivamente carregada, o que reduz o movimento um metal que conectará os vários dispositivos
das lacunas em direção ao coletor. Num transistor típico, semicondutores assim produzidos, gerando um circuito
uma variação na corrente da base pode provocar uma integrado.
variação até 50 vezes maior na corrente do coletor, resultando 9. Finalmente o “chip" é encapsulado em plástico ou
num fator de amplificação de corrente igual a 50. Uma cerâmica, são soldados os pinos que possibilitam a
variação pequena na corrente de entrada na base produz montagem do "chip” nos soquetes da placa e o “chip"
uma variação muito maior na corrente do coletor, e o sinal é testado. Alguns apresentarão defeitos e serão
original é amplificado. descartados, visto que não podem ser reparados.
Na prática, as diferenças de potencial entre a base e o
coletor são freqüentemente geradas por uma bateria,
conectando-se em série uma resistência R! muito maior que LEITURAS COMPLEMENTARES
a resistência R2 (vide Fig. 3.22b). • Adams, D.M.; Inorganic Solids, Wiley-Interscience, New York,
Os transistores n-p-n operam de maneira semelhante, 1974.
só que as polaridades são invertidas: o coletor e a base são • Addison, W.E.; Structural Principies ín Inorganic Compounds,
positivos em relação ao emissor. Longmans, London, 1961.
• Bamfield.P. (ed.J; Fine Chemicals for the Electronic Industry,
Royal Society of Chemistry, Special Publication, N? 40, Lon
DISPOSITIVOS SEMICONDUTORES don, 1986.
MICROMINIATURIZADOS. • Burdett, J.K.; New Ways to Look at Solids, Acc. Chem. Res.,
CIRCUITOS INTEGRADOS 15, 34 (1982).
• Cartmell, E. e Fowles, G.W.A.; Valency and Molecular Struc
Atualmente é possível fabricar “chips" de computadores
ture, 4? ed., Butterworths, London. 1982.
contendo muitos milhares de junções p-n simples, montados
num pequeno pedaço de silício de alguns poucos milímetros • Cox, P.A.: The Electronic Structure and Chemistry of Solids,
(são facilmente encontrados "chips” de memória para Oxford University Press, 1987.
computadores que armazenam 64K, 256K, 1 megabyte e • Dasent, W.E.; Inorganic Energetics: An Introduction (Cam-
mesmo 4 megabytes de informações num único "chip"). bridge Texts in Chemistry and Biochemistry Series), Cam-
bridge University Press, 1982.
As etapas da fabricação de tais “chips" são as seguintes:
• Douglas, B.; McDaniel, D.H. e Alexander, J.J., Concept and
1. Um cristal razoavelmente grande de Si é “dopado” para Models in Inorganic Chemistry, 2? ed., Wiley, New York, 1983.
convertê-lo num semicondutor do tipo n, sendo então
• Ebsworth, E.A.V.; Rankin, D.W.H. e Cradock, S.; Structural
cuidadosamente cortado em fatias delgadas.
Methods in Inroganic Chemistry, Blackwell Scientific, Oxford,
2. Essas fatias são aquecidas na presença de ar para formar 1987.
uma fina camada superficial de SiO2. • Galasso, F.S.; Structure and Properties of Inorganic Solids,
3. A camada de óxido é a seguir revestida por um filme Pergatnon, Oxford, 1970. (Contém extensas tabelas).
fotossensível, denominado fotorresiste. • Galwey, A.K.; Chemistry of Solids, Chapman & Hall, Lon
4. Uma “máscara” é colocada sobre o filme de fotorresiste, don, 1967.
e exposta à radiação ultravioleta. As partes do • Greenwood, N.N.; lonic Crystals, Lattice Defects and Non-
fotorresiste expostas à luz são quimicamente Stoichiometry, Butterworths, London, 1968. (Ainda é o melhor
modificadas e removidas por um tratamento com ácido, livro sobre o assunto)
enquanto que as partes não expostas permanecem • Ho, S.M. e Douglas, B.E.; Structure of the Elements and the
protegidas pelo filme de fotorresiste insolúveis. PTOT System, J. Chem. Ed., 49, 74 (1972).
5. As fatias são então tratadas com HF, que remove a • Hyde. B.G. e Andersson, S.; Inorganic Crystal Structures,
camada de SiO2 das áreas expostas. Em seguida, o Wiley, New York, 1989.
fotorresiste remanescente é removido. • Jenkins, H.D.B.; The Calculation of Lattice Energy: Some Prob-
6. A superfície é exposta a vapores de um elemento do lems and Some Solutions, Revue de Chimie Minerale, 16,
Grupo 13. Algumas partes da superfície estão recobertas 134-150 (1979).
com uma película de SiO2, enquanto que em outras • Ladd, M.F.C.; Structure and Bonding in Solid State Chemis
partes o silício está exposto. As partes cobertas pela try, Wiley, London, 1974.
película de SiO2 não são afetadas pelos vapores, mas, • Moss, S.J. e Ledwith, A. (eds.); The Chemistry of Semicon-
nas regiões em que o silício está exposto, alguns átomos ductor Industry, Blackie, 1987.
de Si são aleatoriamente substituídos, gerando uma • Parish, R.V.; TheMetallicElements, Longmans, London, 1976.
camada constituída por um semicondutor do tipo p.
• Rao, C.N.R. (ed.); Solid State Chemistry, Dekker, New York,
7. As etapas de (2) a (5) são repetidas usando diferentes 1974.
máscaras, e as áreas onde o Si está exposto são tratadas
• Rao, C.N.R. e Gopalakrishnan, J.; New Directions in Solid
com vapor de um elemento do Grupo 15, para produzir State Chemistry, Cambridge University Press, Cambridge,
camadas constituídas por um semicondutor do tipo n. 1986.
8. As etapas de (2) a (5) são repetidas com uma máscara
• Shannon, R.D.; Revised Effective lonic Radii, Acta Cryst., A32,
PROBLEMAS 37
751-767,1976. (Valores de raios iônicos mais atuais e aceitos) 8. Escreva a equação de Born-Landé e defina cada um de
• Walton, A.; Molecular and Crystal Structure Models, Ellis seus termos. Use a equação para mostrar porque alguns
Horwood, Chichester, 1978. compostos que deveríam apresentar número de
coordenação 8, segundo o conceito da relação de raios,
• Wells, A.F.; Structural Inorganic Chemistry, 5? ed., Oxford
apresentam de fato número de coordenação 6.
University Press, Oxford, 1984. (Texto padrão com muitos
diagramas) 9. Esquematize um ciclo de Born-Haber para a formação de
um composto iônico MCI. Defina os termos empregados e
• West, A.R.; Solid State Chemistry and Its Applications, Wiley,
mostre como estes podem ser determinados ou calculados.
New York, 1984.
Como esses valores de entalpia variam ao longo da tabela
periódica? Use essa tendência para prever as diferenças
PROBLEMAS entre as propriedades do NaCl e do CuCl.
10. Explique a origem do termo correspondente à energia re-
1. Relacione a tendência dos átomos de perder ou receber
ticular num sólido iônico. Calcule a energia reticular do
elétrons com os tipos de ligações que eles formam.
cloreto de césio usando os seguintes dados:
2. Indique a condutividade dos seguintes compostos e mostre
para cada caso o mecanismo de condução. Cs(s) • Cs(g) AH = + 79,9 kl mol'1
a) NaCl (fundido) Cs(g) Cs+(g) AH - +374,05 kl mol’1
b) NaCl (solução aquosa) Cl2(g) • 2Cl(g) AH - +241,84 kJ mol’1
c) NaCl (sólido) Cl(g) + e CT(g) AH - -397,90 kJ mol’1
d) Cu (sólido) Cs(s) + */2Cl2 CsCl(s) AH = -623,00 kl mol’1
A LIGAÇAO CAVALETE
■ C • + 2 . O : : O : : C : : 0 :
: Cl . + ■ Cl : : Cl : Cl :
TEORIA DA REPULSÃO DOS PARES OE ELÉTRONS OA CAMADA DE VALÊNCIA 39
O íon triiodeto, I3
Se iodo (I2) for dissolvido numa solução aquosa de
iodeto de potássio, é formado o íon triiodeto, I3“. Esse é um
exemplo de um íon poli-haleto, que é estruturalmente
semelhante ao íon BrlCl" (vide Capítulo 15). O íon I3" (Fig.
4.6) é constituído por três átomos e pode ter estrutura linear
ou angular. É conveniente considerar a estrutura numa série
de etapas — inicialmente um átomo de I, depois uma
molécula de I2 e por fim o íon I3", formado a partir da
coordenação de um 1" a uma molécula de I2. Figura 4.6 — O íon triiodeto
A TEORIA DA LIGAÇÃO DE VALÉNCIA 43
2s 2P
?P. 2pr 2p,
A TEORIA DA LIGAÇÃO DE VALÉNCIA Estrutura eletrônica do C
no estado fundamental |t It
Essa teoria foi proposta por Linus Pauling, que recebeu
o Prêmio Nobel de Química de 1954. A teoria foi 2p
Estrutura eletrônica do C
extensivamente usada no período de 1940 a 1960, mas foi no estado excitado |t |t |T |
sendo substituída por outras teorias. Atualmente é referida
como "fora de moda”. Contudo, ela continua sendo muito
usada pelos químicos orgânicos, além de fornecer a base
para a descrição simplificada de moléculas inorgânicas
Átomo de C que recebeu
4 elétrons de 4 átomos
de H na molécula CH4
0 nu
pequenas.
A estrutura da molécula de CH4 não fica aparente de
Átomos com elétrons desemparelhados tendem a
imediato. Os três orbitais p (px, py e pz) são ortogonais entre
combinar-se com outros átomos que também tenham si e o orbital s tem simetria esférica. Se os orbitais p forem
elétrons desemparelhados. Dessa maneira os elétrons utilizados nas ligações, então o ângulo de ligação na água
desemparelhados se combinam em pares e todos os átomos deveria ser de 90°, e os ângulos de ligação no NH3 também
envolvidos atingem uma estrutura eletrônica estável, deveríam ser de 90°. Os ângulos de ligações encontrados
geralmente resultando no preenchimento do nível eletrônico experimentalmente diferem consideravelmente desse valor:
(isto é, uma configuração de gás nobre). Dois elétrons
compartilhados por dois átomos formam uma ligação. CH4 H—C—H = 109° 28'
Geralmente o número de ligações formadas por um átomo é NH3 H—N—H - 107° 48'
igual ao número de elétrons desemparelhados existentes no
estado fundamental, isto é, no estado de menor energia. H2O H—O—H = 104° 27'
Contudo, em muitos casos os átomos podem formar mais
ligações que as previstas dessa maneira. Isso ocorre através Hibridizaçao
da excitação do átomo (isto é, fornecendo-lhe energia),
As evidências químicas e físicas indicam que no metano,
quando elétrons emparelhados no estado fundamental são
CH4, há quatro ligações equivalentes. Se as quatro Ligações
desemparelhados e tornados em orbitais vazios adequados.
forem equivalentes, as repulsões entre pares de elétrons serão
Com isso aumenta o número de elétrons desemparelhados
minimizadas quando os quatro orbitais apontarem para os
e, conseqüentemente, o número possível de ligações.
vértices de um tetraedro, o que resultaria no ângulo obser
A forma da molécula é determinada fundamentalmente vado de 109° 28'.
pelas direções em que apontam os orbitais. Os elétrons no
nível de valência do átomo original que permanecem Cada elétron pode ser descrito por sua função de onda
emparelhados são denominados pares isolados. y. Se as funções de onda dos quatro orbitais atômicos de
valência do C forem descritos por y2s. V2Pz. V2p>, e V2Pz> então
Uma ligação covalente resulta do emparelhamento de os orbitais tetraédricos serão funções de onda ysp3, obtidas
elétrons (um de cada átomo). Os spins dos dois elétrons
pela combinação linear dessas quatro funções de onda.
devem ser opostos (antiparalelos) em virtude do princípio
de exclusão de Pauli, que estabelece que dois elétrons de VSÍ? = c,v2s + c2V2Px + C3y2py + c4v2pz
um átomo não podem ter todos os quatro números quânticos
iguais. Há quatro combinações diferentes possíveis com
Considere a formação de algumas moléculas simples. constantes q, c2, c3 e c4 diferentes.
44 A LISAÇAO CDVALENTE
s 1,00
P 1,73
sp 1,93
sp2 1.99
sp3 2,00
Is 2s
Boro — estado fundamental
0 0 T
a) b) c)
carga 8* no átomo de P, que por sua vez provoca a contração a a densidade eletrônica se concentra entre os dois átomos
dos orbitais. Como o orbital 3d sofre uma contração bem e sobre o eixo que une os dois átomos. Ligações duplas ou
maior que os orbitais 3s e 3p, as energias dos orbitais 3s, 3p triplas decorrem da interação lateral dos orbitais, dando
e 3d podem se tornar suficientemente próximas para permitir origem a ligações tt (pi). Nas ligações ít a densidade eletrônica
a ocorrência da hibridização no PC1S. Átomos de H não são também se concentra entre os átomos, mas de um lado e do
capazes de provocar uma contração tão acentuada, de modo outro sobre o eixo unindo os dois átomos. A forma da
que o PHS não existe. molécula é determinada pelas ligações 0 (e pelos pares
A estrutura do SF6 pode ser descrita de modo análogo, isolados), e não pelas ligações n. As ligações jt simplesmente
pela combinação de um orbital 3s, três orbitais 3p e dois diminuem os comprimentos das ligações.
orbitais 3d, ou seja, hibridização sp3d2. Considere a estrutura da molécula de dióxido de
carbono, CO2. Como o C é tetravalente e o O é divalente, a
3s 3p 3d ligação poderia ser representada simplesmente por
Estrutura eletrônica do
átomo de S — O=C=O
estado fundamental camada
interna Moléculas triatômicas podem ser lineares ou angulares.
No CO2 o átomo de C deve ser excitado para fornecer quatro
Estrutura eletrônica do
átomo de S — □ |t |t |t | |T |T | | | | elétrons desemparelhados, de modo a permitir a formação
estado excitado das quatro ligações na molécula.
Um segundo fator que influencia o tamanho de orbitais Há duas ligações 0 e duas ligações ti na molécula de
3d é o número de orbitais d ocupados por elétrons. Se CO2. Os orbitais tt são ignorados na determinação da
somente um dos orbitais d de um átomo de S estiver ocupado, estrutura da molécula. Os orbitais s ep remanescentes são
a distância radial média é de 2,46 Â, mas se dois orbitais 3d usados na formação de ligações 0 (esses orbitais podem
estiverem ocupados esse valor diminui para 1,60 Â. O efeito estar hibridizados, de modo que os dois orbitais sp2 estejam
da variação da carga sobre a distância radial média pode ser apontando em direções opostas. Segundo a teoria VSEPR.
visto na Tab. 4.5. esses dois orbitais devem se orientar de modo a ficarem o
Uma pequena contração adicional dos orbitais d pode mais afastados possíveis um do outro). Esses dois orbitais
surgir como conseqüência do acoplamento dos spins de interagem com os orbitais p de dois átomos de oxigênio,
elétrons ocupando orbitais diferentes. formando uma molécula linear com um ângulo de ligação
Assim, parece provável que os orbitais d realmente de 180°. Os orbitais 2py e 2pz do C usados para formar as
participem das ligações nos casos em que ocorre uma ligações tt estão situados a 90° da ligação o, e interagem
contração significativa dos mesmos. lateralmente com os orbitais p dos átomos de O. A formação
dessas ligações n diminui a distância C-O, mas não altera a
estrutura da molécula.
LIGAÇÕES C E n A molécula de dióxido de enxofre, SO2, pode ser tratada
Todas as ligações formadas nos exemplos discutidos de maneira análoga. O enxofre pode ter números de oxidação
até o momento foram decorrentes da interação coaxial de (+ II), (+ IV) e (+ VI), enquanto o oxigênio é divalente. A
orbitais e são denominadas ligações o (sigma). Nas ligações estrutura do SO2 poderia ser representada como
MÉTODO DOS ORBITAIS MOLECULARES ^7
o=s=o
Moléculas triatômicas são lineares ou angulares. O
átomo de S deve ser excitado para fornecer quatro elétrons
desemparelhados.
3s 3p 3d
Estrutura eletrônica do
átomo de S —
estado fundamental camada
interna
cheia
Estrutura eletrônica do
átomo de S — íu t t t Figura 4.13 — A molécula de trióxido de enxofre
estado excitado
Na molécula de trióxido de enxofre, SO3, a teoria da
valência sugere a estrutura
Átomo de enxofre depois
de compartilhar quatro [Ü] |U|U|U| [ü| | | | | O
elétrons com átomos i____________ li________ i
de O na molécula de S02 1 1 I
Duas ligações Duas
OAO
o e um par ligações
isolado n
Os dois pares eletrônicos que formam as ligações tt não O átomo central de S deve ser excitado de modo a
alteram a geometria da molécula. Os três orbitais remanes fornecer seis elétrons desemparelhados capazes de formar
centes apontam para os vértices de um triângulo, gerando seis ligações.
uma estrutura trigonal planar para a molécula: dois vértices 3s 3p 3d
são ocupados por átomos de oxigênio e um vértice é ocupado Estrutura eletrônica do
átomo de enxofre — □ |T |t |t I |T |T I I I I
por um par isolado. Portanto, a molécula de SO2 é angular, estado excitado
isto é, tem a forma de um V (Fig. 4.12).
As ligações tt não alteram a forma, mas diminuem os Átomo de S após T
comprimentos das ligações. O ângulo da ligação é reduzido compartilhar seis L
elétrons com átomos i JL
do valor teórico de 120° para 119° 30', por causa da maior de O na molécula de SO3
repulsão provocada pelo par isolado. Os problemas aparecem Três Três
ligações ligações
quando se tenta verificar quais são exatamente os orbitais 0 71
atômicos envolvidos na formação das ligações n. Caso as
ligações o estejam no plano xy, então as interações tt podem As três ligações tt são ignoradas na determinação da
ocorrer entre o orbital 3pz do S e o orbital 2pz de um dos geometria da molécula. Os três orbitais o se dirigem para os
átomos de oxigênio, formando uma das ligações tt. A segunda vértices de um triângulo equilátero, e a molécula de SO3
ligação tt envolve um orbital d. Embora o orbital 3dzi do apresenta geometria trigonal planar regular (Fig. 4.13). As
átomo de S esteja na orientação correta para uma interação ligações tt encurtam as ligações, mas não alteram a forma
com o orbital 2pz do outro átomo de O, a simetria do orbital da molécula. Essa abordagem explica as ligações a e a forma
3dz2 não é adequada (ambos os lóbulos apresentam sinal da molécula, mas a explicação dada para as ligações tt é
+ ), ao passo que num orbital p um lóbulo é + e outro é -. insatisfatória. Ela pressupõe que:
Assim, a interação desses dois orbitais não resulta numa 1. Um orbital 3p e dois orbitais 3 d do átomo de enxofre
ligação. O orbital hd^ do átomo de S tem orientação e tenham orientação adequada para interagirem
simetria adequadas para interagir com o orbital 2pz do lateralmente com os orbitais 2py ou 2pz de três átomos
segundo átomo de O, formando a segunda ligação tt. É de oxigênio diferentes, e
surpreendente que ligações tt envolvendo orbitais p e d
tenham ambas a mesma energia (e comprimento de ligação). 2. As ligações tt formadas tenham todas a mesma força.
Fica, assim, a dúvida se é correto tratar moléculas com duas Isso nos faz questionar a abordagem das ligações tt.
ligações tt como sendo moléculas com duas ligações tt Em moléculas contendo mais de uma ligação tt ou em
discretas. É mais adequado considerar as ligações tt como moléculas nas quais a ligação tt pode estar em mais de uma
estando deslocalizadas sobre vários átomos. Exemplos dessa posição, é melhor considerar as ligações tt como estando
abordagem serão vistos no final deste capítulo. deslocalizadas sobre diversos átomos ao invés de localizada
sobre dois átomos. Essa abordagem será desenvolvida no
final deste capítulo.
t
iS
VlAI
Átomo (A)
VlB)
Átomo (B)
Orbital 1s Orbital 1s
Interação n*
Combinação de orbitais p e d
. Plano
nodal
Orbital Um orbital p de um átomo pode se sobrepor a um or
antiligante
bital d de outro átomo, dando origem a combinações ligante
e antiligante. Como os orbitais não se encontram ao longo
Vis> do eixo que une os dois núcleos, a interação deve ser do
Figura 4.19 — Combinação p-p com formação de ligação tt tipo tt (Fig. 4.20). Esse tipo de ligação é responsável pelas
RESRA5 PARA A COMBINAÇÃO LINEAR DE ORBITAIS ATÚMICOS 51
Interação n
Orbital
ligante
Interação n"
Orbital
G ®’G) antiligante Figura 4.22 — Algumas combinações não-ligantes de orbitais atômicos
A ordem de energia dos orbitais moleculares foi um tipo de núcleo, ou seja, de um único elemento; e
determinada principalmente a partir de dados diatômico significa que a molécula é formada por dois
espectroscópicos. Em moléculas diatômicas homonucleares átomos.
simples, a ordem é:
7t2pv, tt^Py
O íon molecular He2+
als,a*ls,a2s,a*2s, a2pI,a*2px,
7t2pz, 7t’2pz Ele pode ser considerado como sendo a combinação de
energia crescente >
um átomo de He e um íon He + . Os três elétrons desse íon
molecular estão distribuídos nos OMs como se segue: ais2,
a*ls’.
EXEMPLOS DA APLICAÇÃO DA TEORIA O orbital molecular preenchido ais é um OM ligante e
DE ORBITAIS MOLECULARES leva a uma estabilização igual a 2A, enquanto que o orbital
semipreenchido a* Is leva a uma desestabilização igual a A.
PARA MOLÉCULAS DIATÔMICAS Logo, a energia de estabilização é igual a A. Apesar disso, o
HOMONUCLEARES íon molécula de He2 + não é muito estável, mas foi observado
Os átomos podem ser teoricamente construídos, colo espectroscopicamente.
cando-se o número correspondente de elétrons nos orbitais
atômicos. Para tanto, utiliza-se o princípio de Aufbau: A molécula de He2
1. Orbitais de energia menor são preenchidos primeiro.
Cada átomo de He possui dois elétrons perfazendo um
2. Cada orbital pode conter dois elétrons, desde que eles total de quatro na molécula. Esses elétrons estão distribuídos
tenham spins opostos.
A regra de Hund estabelece que no caso de termos .2 n
diversos orbitais de mesma energia (isto é, degenerados), <5 Orbitais Orbitais Orbitais o
os elétrons serão distribuídos de modo a resultarem no maior £ atômicos moleculares atômicos ui
número possível de spins desemparelhados.
No método dos orbitais moleculares considera-se a
molécula como um todo e não os átomos que a constituem.
Além disso, são utilizados orbitais moleculares em vez de a*1s
orbitais atômicos. Na “construção” da molécula, o número
total de elétrons provenientes de todos os átomos é 1s 1s
distribuído pelos orbitais moleculares. O princípio de Aufbau
e a regra de Hund devem ser obedecidas da mesma maneira ols
que no caso de átomos. H H2 H
átomo molécula átomo
Por questões de simplicidade, consideraremos
inicialmente moléculas diatômicas homonucleares. Homo-
nuclear significa que a molécula é constituída por apenas Figura 4.23 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e
moleculares para o hidrogênio
EXEMPLEIS BA APLICAÇÃO DA TEORIA DE ORBITAIS MOLECULARES PARA MOLÉCULAS OIATOMICAS HOMONUCLEARES 53
nos OMs como se segue: ais2, a^ls2. Note que nesse caso a A molécula de B2
energia de estabilização 2A, decorrente do preenchimento Cada átomo de boro possui 2 + 3 elétrons. A molécula
do orbital a2s, é cancelada pela energia de desestabilização de B2 contém, portanto, um total de dez elétrons, que se
proveniente do preenchimento do OM a*ls. Consequen distribuem nos OMs como se segue:
temente, não há formação de ligações e essa molécula não
deve existir. n2pj
ais2,a * ls2,a2s2,a *2s2,
rt2pj
Molécula de Li2 Essa configuração eletrônica é mostrada esquema-
Cada átomo de Li possui dois elétrons em seu nível ticamente no diagrama da Fig. 4.25. Lembre-se de que o B é
interno e um elétron no nível externo, perfazendo um total um átomo leve e que nesse caso a seqüência de energia dos
de três elétrons. Logo, existem seis elétrons a serem OMs é diferente da seqüência “normal". Os orbitais n2p têm
distribuídos na molécula, e estes devem ser distribuídos nos energia menor que os orbitais a2px. Como os orbitais it2pv e
OMs como se segue: ais2, a*ls2, aãs2. Essa situação é n2pz são degenerados (têm energias idênticas), cada orbital
mostrada graficamente na Fig. 4.24. A camada interna de deve conter um único elétron, segundo a regra de Hund. A
OM ais não contribui para a formação de ligações, como no camada interna não participa da ligação. Os efeitos dos
caso da molécula de He2. Esses orbitais moleculares são orbitais a2s ligante e antiligante cancelam-se mutualmente.
muito similares aos orbitais atômicos de origem, de modo Contudo, o preenchimento dos orbitais n2p leva a uma
que a configuração eletrônica da molécula Li2 pode ser escrita situação energeticamente favorável e a formação de uma
KK, aãs2. ligação.
Uma ligação se forma devido ao preenchimento do nível
a2s, e a molécula de Li2 existe no estado de vapor. Porém, A molécula de C2
no estado sólido é mais vantajoso para o lítio formar uma
estrutura metálica. Outros metais do Grupo 1 se comportam Um átomo de carbono possui 2 + 4 elétrons. Uma
de maneira semelhante. Por exemplo, a estrutura eletrônica molécula C2 deve conter um total de 12 elétrons que se
do Na2 é KK, LL, a3s2. distribuem pelos OMs como se segue:
x2p2
ais2, a* ls2,a2s2,a • 2s2,
A molécula de Be2
Um átomo de berílio possui dois elétrons no primeiro
nível e mais dois elétrons no segundo nível. Logo, a molécula
de Be2 tem um total de oito elétrons. Eles se distribuem
pelos OMs como se segue: ais2, a*ls2, aãs2, c*2s2 ou KK, t Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares
Orbitais
atômicos
t
a2s2, o’2s2.
Ignorando a camada interna como antes, verifica-se que
os efeitos dos orbitais a2s ligante e a*2s antiligante cancelam-
se mutualmente. Portanto, não se espera observar a formação o2p.
de moléculas de Be2, visto que a energia de estabilização é
igual a zero. -4+ 2p,'~--.______ _.--''2p^ 2py'
M-
2p, 2p> 2p,
.2 .s o2p,
’cn
o Orbitais Orbitais Orbitais
£ atômicos moleculares atômicos £ n2p. n2p.
a'2s
a'2s
2s 2s 2s 2s
c2s a2s
a’1s
1s 1s
ais
Li Li2 Li B B
átomo molécula átomo átomo molécula átomo
Figura 4.24 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e Figura 4.25 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e
moleculares para o lítio moleculares para o boro
54 A LI6AÇAD COVALENTE
Essa situação é mostrada esquematicamente na Fig. molécula de O2 tem um total de 16 elétrons que se distribuem
4.26. pelos OMs como se segue:
A molécula deve ser estável, já que dois orbitais ligantes
Tt2p fornecem uma energia de estabilização de 4A, com n2 p2,
formação de duas ligações. Na realidade, o carbono existe ais2,cr * ls2,a2s2,a* 2s2,a2p2
n2p2, n • 2p'z
na forma de macromoléculas de grafite e diamante, pois
estes se constituem em arranjos ainda mais estáveis (cada Essa situação é mostrada esquematicamente na Fig.
carbono forma quatro ligações). Por isso, o diamante e a 4.28.
grafita são formados em vez do C2. Os orbitais antiligantes n*2py e tc*2pz estão ocupados
com um elétron cada, de acordo com a regra de Hund. A
A molécula de N2 presença de elétrons desemparelhados implica na ocorrência
de propriedades paramagnéticas. Assim, a existência dos
Um átomo de nitrogênio possui 2 + 5 = 7 elétrons.
Assim, a molécula de N2 contém 14 elétrons que se dois elétrons desemparelhados com spins paralelos explica
distribuem nos OM como se segue: porque o oxigênio é paramagnético. Comparando essa
abordagem com a teoria dos pares eletrônicos de Lewis ou
com a teoria da ligação de valência, percebe-se que elas não
als2,cr'ls2,a2s2,cr'2s2. prevêem a ocorrência de elétrons desemparelhados na
.^p2
molécula de O2.
Isso é mostrado esquematicamente na Fig. 4.27.
Supondo-se que a camada interna não participe da
ligação e que a contribuição dos orbitais moleculares ligantes 0 O ■0'0
<0
■
í Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares
Orbitais
atômicos
‘oj
£ t
£
Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares
Orbitais
atômicos
®
u
-'>f2pt,^'.jt-2p/ ^■'n-2pY.-<n-2p,'~^
o-2p.
M-
2p, 2pY '2pt 2p,''-, ' ||
;>t>t > t
,--'2p. 2p/ 2p,
a2p.
n2p,.
g2s g2s
C C2 C N N2 N
átomo molécula átomo átomo molécula átomo
Figura 4.26 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e Figura 4.27 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e
moleculares para o carbono moleculares para o nitrogênio
EXEMPLOS DA APLICAÇÃO DA TEORIA DE ORBITAIS MOLECULARES PARA MOLÉCULAS OIATOMICAS HOMONUCLEARES 55
ligante e antiligante se cancelam mutuamente. Do preenchi A camada interna de elétrons não participa da ligação.
mento do orbital a2px2 resulta uma ligação o. Como o orbi Os orbitais O2S2 ligante e antiligante cancelam-se mutua
tal 7t,2pyl está semipreenchido e cancela metade do efeito mente. O orbital a2pz está preenchido e forma uma ligação
do orbital totalmente preenchido 7t2py2, ocorre a formação o. Os efeitos dos orbitais tt2py2 ligante e n2py2 antiligante
de meia ligação rt. Analogamente, forma-se outra meia liga cancelam-se, mas apenas a metade da contribuição do orbi
ção tt a partir de tóp,2 e n’2pz1, dando um total de 1 +1/2 +1/2 tal ligante preenchido tt2pz2 é cancelado pelo orbital antiligan
= 2 ligações. Portanto, a ordem de ligação é igual a dois. te semipreenchido n2pz’, formando, assim, meia ligação Jt.
A ordem de ligação pode ser calculada como sendo a A ordem de ligação é, portanto, 1 + 1/2 = l’/2. A ordem de
metade da diferença entre o número de elétrons ocupando ligação também pode ser calculada segundo a expressão (n°
orbitais ligantes e antiligantes, ao invés da determinação e ligantes - n° e“ antiligantes)/2, ou seja, (10 - 7)/2 = 11/2.
explícita do efeito do preenchimento de cada tipo de OMs Isso corresponde a uma ligação com comprimento interme
da molécula: diário entre o de uma ligação dupla e uma simples. O íon su-
ín.° de elétrons ocupandoj'! ín.° de elétrons ocupando'! peróxido apresenta um elétron desemparelhado e é paramag-
Ordem de _ orbitais ligantes J orbitais antiligantes J nético (uma ordem de ligação 1 '/2 também ocorre no benzeno).
ligação
No caso do O2, a ordem de ligação assim calculada é O íon O 2‘
(10-6)/2 = 2, o que corresponde a uma dupla ligação. Analogamente, o peróxido de sódio, Na2O2, contém o
íon O22’. Esse íon possui 18 elétrons, distribuídos como
O íon O2 segue:
O superóxido de potássio KO2 contém o íon superóxido
O2". O íon O2~ tem 17 elétrons, um a mais que a molécula de ItópJ Ín2pz
O2. Esse elétron adicional ocupa o orbital 7t*2py ou o orbital ais2, a* ls2,a2sz,cr*2sz,a2pz
l n2p2 [n2p2
tt*2pz. Como os dois têm a mesma energia, é indiferente
qual deles está realmente ocupado. Novamente a camada interna não participa da ligação.
Os orbitais 2s ligante e antiligante se cancelam mutualmente.
rt2py Íx2pz O orbital preenchido 2px forma uma ligação a. Os orbitais
ais2,a * ls2,a2s2,a* 2sz,a2pz,
n2pz l^Pl ligantes 2py e 2pz são ambos cancelados pelo preenchimento
dos correspondentes orbitais antiligantes. Assim, a ordem
tu de ligação é um, isto é, há uma ligação simples. A ordem de
‘o)
£
CD Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares
Orbitais
atômicos I ligação também pode ser calculada pela expres-são (n° e‘
ligantes - n° e" antiligantes)/2, ou seja, (10 - 8)/2 = 1.
'a'2p. A molécula de F2
Átomos de flúor têm 2 + 7 elétrons, de modo que a
n'2py- -n'2p, molécula de F2 contém 18 elétrons, que estão distribuídos
-fic.f <t >—t- como se segue:
2p, 2p'y-^2p; --'2P, 2p,
In2p2 tr*2p2
''--.rt2py x2p;_. ais2,a * lsz,a2sz,a * 2sz,a2pz
’p2p2 7t*2p2
a2p.
O preenchimento dos orbitais é mostrado esquemati-
camente na Fig. 4.29.
o’2s A camada interna é não-ligante, e os orbitais ligantes
2s, 2py e 2pz são cancelados pelos correspondentes orbitais
2s 2s
antiligantes. Isso leva a uma ligação a proveniente do or
a2s bital preenchido a2pz e, portanto a uma ordem de ligação
igual a um. A ordem de ligação também pode ser calculada
pela expressão (n° de e" ligantes - n° de e" antiligantes)/2,
ou seja, (IO - 8)/2 = 1.
1s 1s Deve-se notar que Cl2 e Br2 apresentam estruturas
""4F
a1s eletrônicas semelhantes a do F2, exceto pela presença de
novas camadas internas preenchidas.
o o2 O A ligação F-F é fraca (ver Capítulo 15), e este fato é
átomo molécula átomo
atribuído ao reduzido tamanho dos átomos de flúor e à
Figura 4.28 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e repulsão entre pares eletrônicos isolados de átomos
moleculares para o oxigênio adjacentes.
5B A UEAÇÃO COVALENTE
2. Eles devem apresentar sobreposição (overlap) máxima. Essa configuração é mostrada esquematicamente na Fig.
3. Eles devem apresentar a mesma simetria. 4.31.
Visto que os dois átomos a combinar são diferentes, as A camada interna é não-ligante. A contribuição dos
energias de seus orbitais atômicos serão ligeiramente orbitais 2s ligante e antiligante se cancelam, mas forma-se
diferentes. Um diagrama mostrando como eles podem ser uma ligação o pelo preenchimento do orbital o2p2. O or
combinados para formar orbitais moleculares pode ser visto bital preenchido tt2p2 forma uma ligação n. 0 orbital
na Fig. 4.30. semipreenchido tt*2pj, cancela pela metade o orbital
preenchido tóp2, originando uma meia ligação. A ordem de
Causa problemas o fato de não sabermos com exatidão, ligação é, pois, 21/1, ou seja, intermediária entre uma ligação
em muitos casos, a seqüência dos níveis de energia dos OMs. dupla e uma ligação tripla. Uma maneira alternativa de
Por isso, veremos inicialmente alguns exemplos em que os determinar a ordem de ligação é o cálculo (n° e‘ ligantes -
dois átomos estão próximos na tabela periódica. Nesse caso n° e‘ antiligantes)/2, ou seja, (10 — 5J/2 = 2*/2. A molécula
é razoável supor que a ordem dos níveis de energias dos é paramagnética, já que ela contém um elétron
OMs seja idêntica àquela encontrada para moléculas homo desemparelhado. No NO há uma diferença considerável de
nucleares. cerca de 250 kJ mol-1 nas energias dos OAs envolvidos, de
modo que a combinação de OAs para formar OMs é menos
efetiva que no caso do O2 ou do N2. As ligações são, portanto,
mais fracas do que seria de se esperar. Apesar disso, o
diagrama de orbitais moleculares (Fig. 4.31) é semelhante1
ro ao encontrado para moléculas diatômicas homonucleares.
t
i5
Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares
Orbitais
atômicos
E5
c
LU
A retirada de um elétron formando o íon NO + leva a ligações
mais curtas e mais fortes, pois o elétron é removido de um
orbital antiligante e a ordem de ligação aumenta para 3.
-''a'2p.
A molécula de CO
*2pv- ■n'2p.
O carbono possui 2 + 4 = 6 elétrons, e o oxigênio 2 +
6 = 8 elétrons, de modo que a molécula de CO contém 14
2 P, 2pf..2p;-._ f -2p,,,'-Zp,
'r 2 Pm elétrons. Nesse caso temos menos certeza sobre a seqüência
''-..n2pr n2p;..-- das energia dos OMs, pois é diferente daquelas do C e do 0.
o'2s Energia
2s 2s
V'
Va
Is 1s
Va
V
F F, F
átomo molécula átomo
Figura 4.29 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e Figura 4.30 — Níveis de energia relativos para os orbitais atômicos e
moleculares para o flúor orbitais moleculares de uma molécula diatônica hetemnuclear AB
EXEMPLOS DA APLICAÇÃO DA TEORIA DOS ORBITAI5 MOLECULARES PARA MOLÉCULAS DIATÔMICAS HETERONUCLEARES
Suponhamos inicialmente que a seqüência seja aquela no gráfico. Isso implica que eles estão mais afastados, e que
encontrada para moléculas diatômicas de átomos leves como o OM o*2s tem energia maior que os OMs cr2px, n2py e
o C: n2pz. Esse caso ilustra claramente que a seqüência das
energias dos OMs para moléculas diatômicas homonucleares
ct1s2,ct* 1s2,<t2s2,<7* 2s2, n2P^2Pl simples não se aplica automaticamente para moléculas
Ttlpi heteronucleares. O modelo certamente não é válido para a
molécula de CO.
A distribuição dos elétrons nesse caso é mostrada
esquematicamente na Fig.4.32.
A molécula de HC1
A camada interna é não-ligante e a contribuição dos
orbitais 2s ligante e antiligante se cancelam, mas ainda restam No caso de átomos heteronucleares não é evidente quais
uma ligação a e duas ligações n — portanto a ordem de OAs devem ser combinados para formar OMs, pelo método
ligação é igual a 3. A ordem de ligação pode ser calculada CLOA. Além disso, como as energias dos OAs dos dois átomos
utilizando a fórmula (n° e‘ ligantes - n° e' antiligantes)/2, não são idênticas, os OMs terão uma contribuição maior de
isto é, (10 - 4)/2 = 3. Porém, esse modelo simples não é um dos átomos que do outro. Isso equivale a dizer que os
adequado, pois quando o CO é ionizado a CO+ pela retirada OMs se concentram num dos átomos, ou que os elétrons do
de um elétron do orbital o2px, espera-se que ocorra a OM passam mais tempo em tomo de um dos átomos que do
diminuição da ordem de ligação para 2l/2 e, conseqüen- outro. Portanto, há um certo grau de separação de cargas
temente, um aumento no comprimento da ligação. De fato, 8+ e S" e a formação de um dipolo. Logo, uma ligação
o comprimento da ligação no CO é igual a 1,128 ÂenoCO* covalente pode conter uma contribuição iônica bastante
é 1,115 A. Essa diminuição do comprimento da ligação é um significativa.
indício de que o elétron foi retirado de um orbital antiligante. Considere a molécula de HC1. As combinações entre o
O problema não se resolve, mesmo se considerarmos a OA Is do hidrogênio e os orbitais Is, 2s, 2p e 3s do cloro
seqüência de OMs análoga à observada para átomos mais podem ser descartadas porque as energias daqueles orbitais
pesados que o C, pois isto apenas inverte a posição dos do cloro são comparativamente muito baixas. As combi
orbitais a2px e (it2py e rc2px). A explicação mais razoável nações com os orbitais 3py e 3pz do cloro serão não-ligantes
para o encurtamento da ligação, observado quando se (vide Fig. 4.22), porque o lóbulo positivo do hidrogênio se
transforma CO em CO + , é supor que os orbitais a2s e c*2s sobrepõe igualmente com os lóbulos positivos e negativos
apresentam uma diferença de energia maior que o indicado dos orbitais do cloro. Portanto, a única interação efetiva
ocorre com o orbital 3px do cloro. A combinação dos orbitais
S>
UJ
Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares
Orbitais
atômicos
t£ H Is1 e Cl 3px' forma um orbital ligante e um antiligante,
a 2p«
I Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares
a-2p.
Orbitais
atômicos
’cd
£
n'2py '->r’2p.
2p, '*2py\2p,
■K
2px '~2p^\2p,
"2pr--2p, 2p,
n2py n2p2.--
a2p„ -,2py 2p, 2p„
a'2s
□2s
NO O
átomo molécula átomo
o2s
Figura 4.31 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e moleculares c CO O
para o óxido nítrico (este diagrama é essencialmente o mesmo que aquele átomo molécula átomo
para moléculas diatônicas homonucleares tais como N2,O2 ou Fz. A
diferença estd nos níveis de energia dos orbitais atômicos de Ne O, que Figura 4.32 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e
não são os mesmos) moleculares para o monóxido de carbono
58 A LIEAÇÃD EOVALENTE
sendo que os dois elétrons da ligação ocupam o OM ligante, (VSEPR), utilizando o número de ligações a e os pares
deixando vazio o OM antiligante. Supõe-se que todos os OAs de elétrons não-ligantes do átomo central.
do cloro, exceto o 3px estão localizados no átomo de cloro e 2. Some o número total de elétrons na camada externa
retém todas as características dos OAs. Os orbitais 3s, 3py e (de valência) de todos os átomos envolvidos e adicione
3pz são considerados como sendo pares isolados não-ligantes. ou subtraia o número de elétrons necessários para a
Esse modelo simplificado ignora toda e qualquer formação de íons, se for o caso.
contribuição iônica, como a que pode ser mostrada utilizando 3. Calcule o número de elétrons usados nas ligações o e
as estruturas de ressonância da teoria de valência H + C1“ e pares não-ligantes. Então, determine o número de
H'C1+. Espera-se que a primeira estrutura contribua elétrons que irão participar de ligações rt subtraindo
significativamente, gerando uma ligação mais forte. esse valor do número total de elétrons.
4. Determine o número de orbitais atômicos que podem
formar ligações rt e combine-os para formar o mesmo
EXEMPLOS DA APLICAÇÃO DA TEORIA número de orbitais moleculares deslocalizados sobre
DOS ORBITAIS MOLECULARES NO CASO todos os átomos. Verifique quais OMs são ligantes, não-
DE LIGAÇÕES jc DESLOCALIZADAS ligantes ou antiligantes, e preencha-os com o número
apropriado de elétrons n (dois elétrons por OM). Os
orbitais de menor energia são preenchidos primeiro. O
O íon carbonato CO32 número de ligações rt pode ser determinado facilmente
A estrutura do íon carbonato é trigonal planar, com a partir dos OMs que foram preenchidos.
ângulos de ligação de 120°. O átomo central de C utiliza Vamos examinar a estrutura do CO32’ utilizando o
orbitais híbridos sp2 para formar as ligações. Os três átomos procedimento acima. Há 24 elétrons na camada de valência
de oxigênio são equivalentes e as ligações C-0 são mais (quatro do carbono, seis de cada um dos três átomos de
curtas que as ligações simples. A estrutura mostrada abaixo oxigênio e mais dois devido à carga do íon).
(uma das estruturas de ressonância da teoria de valência) Desses elétrons, seis são utilizados para formar as
deveria apresentar ligações C-O com diferentes comprimen ligações a entre o C e três átomos de O. Cada O possui quatro
tos e não descreve apropriadamente a estrutura da molécula. elétrons não-ligantes. Logo, restam seis elétrons para formar
as ligações n.
Os orbitais atômicos disponíveis para formar as ligações
ir são os orbitais 2pz do C e dos três átomos de O. A combina
ção desses quatro orbitais atômicos leva à formação de quatro
orbitais moleculares n quadricentrados. Cada um deles
O problema decorre do fato de que o elétron não pode abrange todos os quatro átomos do íon. O OM de menor
ser representado por um ponto ou um par de elétrons como energia é ligante, o de energia mais alta é antiligante e os
uma linha (uma ligação). O quarto par de elétrons, que forma dois intermediários são não-ligantes (são também degene
a dupla ligação, não está localizado em nenhuma das três rados, isto é, têm a mesma energia). Os seis elétrons n ocupam
posições, mas se encontra distribuído de alguma maneira os OMs de menor energia. Dois elétrons preenchem o OM
sobre todas as três ligações, de modo que cada ligação tenha ligante, e os quatro restantes preenchem os dois OMs não-li
uma ordem de ligação igual a 1,33 . gantes, havendo a formação de apenas uma ligação n na mo
Pauling adaptou a teoria da ligação de valência para lécula. Assim, cada uma das ligações C-0 possui uma ordem
representar estruturas em que os elétrons estão de ligação igual a 1 */3, 1 da ligação a e ’/3 da ligação n.
deslocalizados. Três estruturas diferentes podem ser
esquematizadas para o íon carbonato: O íon nitrato NO3
A estrutura do íon nitrato é trigonal planar. O átomo
-o'z^xo- -o^^o central de N utiliza orbitais híbridos sp2 para formar as
ligações. Todos os três átomos de oxigênio são equivalentes
e os comprimentos das ligações N-O são um pouco menores
Essas estruturas não existem na realidade. O íon CO32' que o esperado para uma ligação simples. Isso não pode ser
não é constituído pela mistura dessas estruturas, nem há explicado por uma estrutura de ligações de valência:
um equilíbrio entre elas. A estrutura verdadeira é algo
intermediário, denominado híbrido de ressonância. A resso
nância foi amplamente aceita nos anos 50, mas é atualmente
considerada, na melhor das hipóteses, como inadequada e
grosseira, e na pior como enganosa ou errônea. Há 24 elétrons na camada de valência (cinco do N, seis
Ligações rt deslocalizadas são melhor descritas como de cada um dos três átomos de O e um devido à carga
ligações multicentradas envolvendo orbitais moleculares tt. negativa do íon).
Tais orbitais podem ser obtidos procedendo-se como se segue: Seis desses elétrons são utilizados para formar as três
1. Determine a estrutura básica da molécula ou do íon, ligações entre o N e os três átomos de O. Cada átomo de Q
seja experimentalmente ou seja através da teoria da possui quatro elétrons não-ligantes. Assim, restam seis
repulsão dos pares de elétrons da camada de valência elétrons para formar as ligações n.
EXEMPLOS DA APLICAÇÃO DA TEORIA PDS ORBITAIS MOLECULARES NO CASO DE LIEAÇOES n DESLOCALIZAOAS 59
dentro da molécula. O método do átomo unido é uma • O'Dwyer, M.F., Kent, J.E. e Brown, R.D. (1978) Valency, 2?
abordagem alternativa em que os núcleos de um “átomo ed., Springer (reimpresso em 1986).
unido" hipotético (onde os núcleos estão superpostos), são • Pauling, L. (1961) The Nature of the Chemical Bond, 3a ed.,
posteriormente afastados para suas posições de equilíbrio. Oxford University Press, Oxford. (Livro texto clássico sobre
teoria de ligação.)
O átomo unido tem o mesmo número de orbitais que um
átomo normal, mais os elétrons dos dois átomos que for • Pauling, L. (1967) The Chemical Bond, Oxford University
Press, Oxford. (Livro mais conciso e atualizado sobre ligação.)
mam a ligação. Assim, no átomo unido alguns elétrons
• Sidgwick, N.V. e Powell H.M., (1940) Proc. R. Soc., 176A,
devem ser promovidos para níveis de energia mais elevados. 153. (Artigo original sobre a teoria de repulsão dos pares
Além disso, as energias dos orbitais do átomo unido diferem eletrônicos de valência).
das energias dos orbitais atômicos convencionais, por causa • Speakman, J.C. (1977) Molecular structure: Its Study by Crystal
da maior carga nuclear. Os orbitais moleculares situam-se, Diffraction, Royal Society of Chemistry, Monografia para
pois, numa posição intermediária entre a dos orbitais no professores n.° 30.
átomo unido e as dos átomos separados. Desenhando-se li • Urch, D.S. (1970) Orbitais and Symmetry, Penguin.
nhas conectando as energias dos elétrons nos átomos separa • Wade, K. (1971) Electron Deficient Compounds, Nelson, London.
dos e no átomo unido (isto é, um gráfico de energia interna • Worral, J. e Worral, IJ. (1969) Introduction to Valence Theory,
contra a distância entre os núcleos para r = 0 a r = ~), American Elsevier Publishing Co., New York.
obtém-se um diagrama de correlação como o da Fig. 4.33. • Comprimentos e ângulos de ligação de compostos
moleculares no estado sólido e gasoso podem ser encontrados
no The Chemical Society’s Special Publication n° 11
LEITURAS COMPLEMENTARES (Distâncias Interatômicas) e Special Publication n“ 18
(Suplemento sobre Distâncias Interatômicas).
• Atkins, P.W. (1983) Molecular Quantum. Mechanics, Oxford
University Press, Oxford.
• Ballhausen, C.J. e Gray, H.B. (1964) Molecular Orbital Theory, PROBLEMAS
Benjamin, Menlo Park, Califórnia.
1. Mostre esquematicamente por meio de desenhos como os
• Ballhausen, C.J. e Gray, H.B. (1980) Molecular Electronic Struc-
tures, Benjamin-Cummings, Menlo-Park, Califórnia. orbitais s, p ou d de um átomo podem interagir com os
orbitais s, p ou d de um átomo adjacente.
• Brown, I.D. (1978) A simple structural model for inorganic
chemistry, Chem. Soc. Rev., 7, 359. 2. Enumere três regras para a “Combinação linear de orbitais
• Burdett, J.K. (1980) Molecular Shapes: Theoretical Models atômicos".
for Inorganic Stereochemistry, Wiley- Interscience, New York. 3. Mostre como os orbitais ligantes e antiligantes são gerados
• Cartmell, E. e Fowles, G.W.A. (1977) Valency and Molecular por meio do método da CLOA. Ilustre sua resposta dando
Structure, 4? ed., Butterworths, London. três exemplos diferentes de moléculas diatômicas.
• Coulson, C.A. (1982) revisado por McWeeny, R., The Shape 4. Utilize a teoria dos orbitais moleculares para explicar por
and Structure of molecules, 2? ed., Clarendon Press, Oxford. que a ligação na molécula de N2 á mais forte que a ligação
• Coulson, C.A. (1979) revisado por McWeeny, R., Valence, 3a na molécula de F2.
ed., Oxford University Press, Oxford. (Versão atualizada do 5. Utilize a teoria dos orbitais moleculares para prever a ordem
livro de Coulson de 1969.) de ligação e o número de elétrons desemparelhados nas
• DeKock, R.L. e Bosma, W.B. (1988) The three-center, two- espécies O22~, O2‘, O2, O2 + , NO e CO.
electron Chemical bond, J. Chem. Ed., 65, 194-197. 6. Desenhe os diagramas de orbitais moleculares para C2,
• DeKock, R . L. e Gray, H.B. (1980) Chemical Structure and O2, e CO. Mostre quais orbitais estão ocupados e deter
Bonding, Benjamin-Cummings, Menlo Park, Califórnia. mine as ordens de ligação e as propriedades magnéticas
• Douglas, B., McDaniel, D.H. e Alexander J.J. (1983) Concepts dessas espécies.
and Models in Inorganic Chemistry, 2? ed., Wiley, New York, Cite os três tipos de orbitais híbridos que podem ser
• Ebsworth, E.A.V., Rankin, D.W.H. e Cradock, S. (1987) Struc formados por um átomo que possui apenas orbitais s e p
tural Methods in Inorganic Chemistry, Blackwell Scientific , na camada de valência. Desenhe as formas e a estereo-
Oxford. química desses orbitais híbridos.
• Ferguson, J.E. (1974) Stereochemistry and Bonding in Inor
ganic Chemistry, Prentice Hall, Englewood Cliffs, N.J. 8. Quais são os arranjos geométricos dos orbitais híbridos
spid1, sp3d e dsp2l
• Gillespie, RJ. (1972) Molecular Geometry, Van Nostrand
Reinhold, London. (A mais recente publicação sobre a teoria 9. Prever a estrutura de cada uma das espécies seguintes,
VSEPR.) indicando se os ângulos de ligação sofrem ou não desvio
• Gillespie, RJ. e Nyholm, R.S. (1957) Q. Rev. Chem. Soc., 11, dos valores teóricos, ou seja, sem considerar as diferenças
339. (Desenvolve a teoria de Sidgwick-Powell à luz da entre as forças de repulsão entre os diversos tipos de
moderna teoria VSEPR.) elétrons, a) BeCl2; b) BC13; c) SiCl4; d) PC15 (vapor);
• Karplus, M. e Porter, R.N. (1970) Atoms and Molecules, Ben e) PF3; f) F2O; g) SF4; h) IFS; i) SO2; j) SF6.
jamin, New York. 10 Como e por que as forças de coesão nos metais mudam de
• Kettle, S.F.A. (1985) Symmetry and Structure, Wiley, London cima para baixo num grupo, ou ao passar de um grupo
• Kutzelnigg, W. (1984) Chemical bonding in higher main group para outro ? Que propriedades físicas acompanham essas
elements, Angew. Chemie (International edition in English), variações nas forças de coesão ?
23, 272. 11. Explique as diferenças entre condutores, isolantes e
• Murrell, J.N., Kettle, S.F.A. e Tedder, J.M. (1985) The Chemi semicondutores valendo-se de diagramas de níveis de
cal Bond, 2? ed., Wiley, London. energia e da teoria de bandas.
62
LIGAÇÃO L1ETÃLICA
se reflete, conferindo o brilho. As cores avermelhada do cobre de coesão aumenta à medida que aumenta o número de
e dourada do ouro se devem à maior absorção de certas elétrons d desemparelhados. Continuando ao longo da série
cores em relação às outras. de transição, o número de elétrons envolvidos na ligação
Muitos metais emitem elétrons quando expostos à luz - metálica eventualmente diminui à medida que os elétrons d
(efeito fotoelétrico). Alguns emitem elétrons quando irradia são emparelhados, atingindo um mínimo no Zn.
dos com radiação de pequeno comprimento de onda e outros Os pontos de fusão e, em grau ainda maior, os pontos
emitem elétrons quando aquecidos (emissão termoiônica). de ebulição dos metais, acompanham as tendências da
energia de coesão. As energias de coesão variam numa larga
faixa de valores e podem se aproximar das magnitudes das
Maleabilidade e força de coesão
energias reticulares que sustentam os cristais iônicos. Essas
Os metais apresentam propriedades mecânicas carac energias de coesão são muito maiores que as fracas forças
terísticas como maleabilidade e ductibilidade. Isso indica de van der Waals, que mantêm unidas as moléculas
que não há muita resistência à deformação da sua estrutura, covalentes discretas no estado sólido.
mas mesmo assim existe uma intensa força de coesão que
Há duas regras sobre a energia de coesão e a estrutura
mantém os átomos unidos.
dos metais (ou ligas), que serão examinadas a seguir:
âH
^cristal' * Mgás Regra 1: A energia de ligação num metal depende do número
médio de elétrons desemparelhados disponíveis
A força de coesão pode ser medida como calor de
para formar as ligações em cada átomo.
atomização. Alguns valores numéricos de AH°, os calores
de atomização a 25 °C, são mostrados na Tab. 5.2. Os calores Regra 2: A estrutura cristalina adotada depende do número
de atomização (energias de coesão) decrescem de cima para de orbitais s e p existentes em cada átomo envolvido
baixo num grupo da tabela periódica (por exemplo, Li-Na- na ligação.
K-Rb-Cs), sugerindo que são inversamente proporcionais à Consideremos a primeira regra — Metais do Grupo 1
distância internuclear. têm configuração eletrônica externa ns1, e assim possuem
A energia de coesão aumenta ao se passar do Grupo 1 um elétron para formar as ligações. No estado fundamental
ao Grupo 2 e Grupo 13, na tabela periódica. Isso sugere que (de energia mais baixa), os elementos do Grupo 2 possuem
a força da ligação metálica depende do número de elétrons configuração eletrônica ns2. Mas se o átomo for excitado,
de valência. Na série de metais de transição Sc-Ti-V, a energia um elétron externo é promovido, levando à configuração
ns1 np1, com dois elétrons desemparelhados, que podem
formar duas ligações. Analogamente, elementos do Grupo
13 apresentam no estado fundamental a configuração
Tabela 5.2 — Entalpias de atomização AH* (kJ mol-1)
eletrônica ns2 np1. Todavia, quando excitados, têm confi
(medidas a 25° C, exceto Hg)
guração ns1 np2 e podem usar seus três elétrons para formar
Metal AH" Ponto de Ponto de a ligação metálica.
fusão ("C) ebulição CC) A segunda regra tenta relacionar o número de elétrons
s e p disponíveis para as ligações com a estrutura cristalina
Li 162 181 1331 adotada (Tab. 5.3). Exceto pelos metais do Grupo 1, os
Na 108 98 890 átomos precisam ser excitados, e as estruturas adotadas são
K 90 64 766 mostradas na Tab. 5.4.
Rb 82 39 701 Os metais do Grupo 1 adotam a estrutura cúbica de
Cs 78 29 685
corpo centrado e seguem a regra. No Grupo 2, somente o Be
Be 324 1277 2477
Mg 146 650 1120 e o Mg apresentam estrutura hexagonal compacta, e seguem
Ca 178 838 1492 estritamente a regra. No grupo 13, o Al adota a estrutura
Sr 163 768 1370 cúbica compacta, como esperado. Contudo, nem todas as
Ba 178 714 1638 previsões estão corretas. Não há nenhuma razão óbvia para
B 565 2030 3927 que o Ca e Sr adotem estruturas cúbicas compactas. Mas, as
Al 326 660 2447
Ga 272 30 2237
Sc 376 1539 2480 Tabela 53 — Previsão de estruturas metálicas a partir do
Ti 469 1668 3280 número de elétrons sep envolvidos na ligação metálica
V 562 1900 3380
Cr 397 1875 2642 N? de elétrons Estrutura
Mn 285 1245 2041
Fe 415 1537 2887 Menos de 1,5 Cúbica de corpo centrado
Co 428 1495 2887 1,7 —2,1 Hexagonal de empacota
Ni 430 1453 2837 mento compacto
Cu 339 1083 2582 2,5 — 3,2 Cúbica de empacotamento
Zn 130 420 908 compacto
Aproximadamente 4 Estrutura do diamante —
Entalpias de atomização de Brewer, L., Science, 1968,161, 115, com não metálica
alguns acréscimos.
64 LIBAÇÃD METÁLICA
estruturas do Ca e do Sr a altas temperaturas e a do Ba a e mais outros seis vizinhos a uma distância cerca de 15%
baixas temperaturas são cúbicas de corpo centrado (como maior. Caso essa pequena diferença entre os vizinhos mais
nos metais do Grupo 1), em vez da estrutura hexagonal com próximos e os vizinhos seguintes seja desconsiderada, o
pacta esperada. A provável explicação é a promoção do número de coordenação na estrutura cúbica de corpo
elétron s para um nível d em vez de um nível p. Assim, há centrado é aproximadamente 14. As propriedades mecânicas
apenas um elétron s ou p por átomo participando da ligação de maleabilidade e duetibilidade dependem da facilidade
metálica. Isso também explica porque a primeira metade com que camadas adjacentes de átomos podem deslizar uma
dos metais de transição também forma sólidos com estrutura sobre as outras, gerando um arranjo equivalente de esferas.
cúbica de corpo centrado. Na segunda metade da série de Essas propriedades são também afetadas por imperfeições
transição, os elétrons adicionais podem ser colocados nos físicas, tais como: imperfeições nos grânulos e deslocamentos
níveis p para impedir o emparelhamento dos elétrons d, por defeitos pontuais no retículo cristalino, e pela presença
permitindo, assim, a participação máxima de orbitais d na de traços de impurezas no retículo. A possibilidade de ocorrer
ligação metálica. Isso aumenta o número de elétrons s e p o deslizamento dos planos é maior nos materiais com
estruturas cúbicas de empacotamento compacto, pois são
formando a ligação metálica. Por exemplo no Cu, no Ag e
altamente simétricas e apresentam planos de deslizamento
no Au o estado eletrônico excitado envolvido na ligação é,
das camadas densamente empacotadas em quatro direções
provavelmente, d8 s1 p2, dando uma estrutura cúbica com
(ao longo das diagonais do sólido). A estrutura de empa
pacta e cinco ligações por átomo (dois elétrons d, um s e
cotamento hexagonal compacto possibilita o deslocamento
dois p). No Zn os orbitais d estão preenchidos, e o estado
em apenas uma daquelas direções. Isso explica porque os
excitado empregado na ligação é 3d10, 4S1, 4p‘, ocorrendo a
sólidos com empacotamento cúbico compacto são
formação de duas ligações por átomo e uma estrutura cúbica geralmente mais moles e mais facilmente deformáveis que
de corpo centrado. De uma maneira geral as entalpias de materiais com estruturas cúbicas de corpo centrado ou
atomização concordam com essas idéias sobre as ligações hexagonais. Impurezas podem provocar deslocamentos em
metálicas. relação a posição normal dos átomos no retículo cristalino,
e a ligação localizada aumenta a dureza. Alguns metais moles
como o cobre tornam-se mais rígidos com o uso — é maiis
Estrutura cristalina dos metais difícil dobrá-los pela segunda vez. Isso se deve aos
Os elementos metálicos geralmente possuem estruturas deslocamentos provocados pela primeira dobra, que
de empacotamento compacto com número de coordenação interrompem os planos de deslizamento. Outros metais como
igual a 12. Há dois tipos de empacotamento compacto, Sb e Bi são quebradiços. Esse fato se deve à formação de
dependendo da disposição das camadas adjacentes na ligações direcionais, com camadas “encaixadas” que
estrutura: empacotamento cúbico compacto ABCABC e impedem o deslizamento de uma sobre as outras.
empacotamento hexagonal compacto ABAB (vide Ligação O tipo de empacotamento varia com a posição dlo
metálica e estruturas metálicas no capítulo 2). Contudo, elemento na tabela periódica (Tab. 5.4). Isso está relacionado
alguns metais apresentam uma estrutura do tipo cúbico de com o número de elétrons s ep em cada átomo que podem
corpo centrado (que ocupa o espaço de maneira um pouco participar da ligação metálica. Esse aspecto já foi descrito
menos eficiente). Nesse caso, há oito vizinhos mais próximos anteriormente.
Li Be B C N
bcc hep
Na Mg AI Si P S
bcc hep ccp d
K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se
bcc
ccp bcc
bcc bcc bcc P ccp
bcc
ccp
bcc ccp hep hep bcc bcc Z hep cep ccp hep d a
Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te
bcc
hep bcc bcc
bcc ccp hep hep bcc bcc hep hep ccp ccp ccp hep ccp' d a
Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Pa>
bcc
ccp bcc bcc
bcc bcc hep hep bcc bcc hep hep ccp ccp cpp hep ccp a
bcc - cúbico de corpo centrado ccp = cúbico de empacotamento compacto hep = hexagonal de empacotamento compacto
d = estnitura do diamante ccp* = cúbico de empacotamento compacto distorcido X = outra estrutura
• = caso especial (ver o grupo em questão) a = estrutura romboédrica (lâminas pregueadas)
TEORIAS DE LIBAÇÂO NOS METAIS 65
nem o brilho e nem a manutenção das propriedades metálicas orbitais diminui ainda mais à medida que aumenta o número
no estado líquido ou em solução. de elétrons no "cluster". E, quando o número de átomos se
torna muito grande, os níveis energéticos dos orbitais estão
situados tão próximos uns dos outros que quase formam
Teoria dos orbitais moleculares ou das bandas
um contínuo (ver Fig. 5.2d).
A configuração eletrônica do átomo de lítio é
Por definição, o número de OAs deve ser igual ao
Is Zs 2p número de OMs formados. Como existe apenas um elétron
EÈ I II I de valência por átomo de lítio e como um OM pode conter
até dois elétrons, conclui-se que somente a metade dos OMs
A molécula de Li2 existe no estado de vapor, e a ligação da banda de valência 2s será preenchida (isto é, os OMs
é formada pela combinação dos orbitais atômicos 2s. Há ligantes). Assim, basta uma pequena quantidade de energia
três orbitais 2p vazios na camada de valência, e a presença para promover um elétron para um OM desocupado.
de OAs vazios é um pré-requisito para a ocorrência de Os OMs se estendem nas três dimensões sobre todos os
propriedades metálicas (carbono no estado excitado, átomos no cristal, fazendo com que os elétrons passem a ter
nitrogênio, oxigênio, flúor e neônio não apresentam OAs um elevado grau de mobilidade. A mobilidade dos elétrons
vazios na camada de valência e todos são não-metais). é responsável pela acentuada condutividade térmica e elétrica
A camada de valência tem mais OAs que elétrons e, dos metais.
mesmo que todos os elétrons participem de ligações normais, Quando uma das extremidades de uma peça de metal é
o átomo não pode atingir a estrutura estável de gás nobre. aquecida, os elétrons situados nessa extremidade adquirem
Compostos desse tipo são chamados de "deficientes em energia e se movem para um OM desocupado, onde podem
elétrons” ou "elétron-deficientes”. migrar rapidamente para qualquer outra parte do metal. Isso
Os OAs vazios podem ser usados para formar ligações
adicionais de duas maneiras diferentes:
1. OAs vazios podem receber pares isolados de elétrons Orbitais atômicos Orbitais moleculares
de outros átomos ou ligantes, formando ligações
coordenadas. a) Li2
2. Pode ocorrer a formação de compostos tipo "cluster”
2s 2s
(aglomerado), em que cada átomo compartilha seus
elétrons com diversos vizinhos, obtendo também uma -pr_t
ÁtomoÁtomo
participação nos elétrons destes. A formação de clus- 1 2
ters ocorre em hidretos de boro e carboranos e é a ■j 'tJ, [— Ligante
característica preponderante dos metais.
A descrição da molécula de Li2 pela teoria de orbitais
moleculares se encontra no Capítulo 4, nos exemplos da ■j Antiligante
b) Li3
teoria dos OMs. Seus seis elétrons estão dispostos nos orbitais
moleculares como se segue: 2s 2s 2s
2 3
faz com que a peça como um todo tenha sua temperatura não há uma diferença apreciável entre OMs preenchidos e
elevada. Analogamente, a condução da eletricidade ocorre vazios, e uma pequena quantidade de energia é suficiente
através de uma pequena perturbação que promove um para perturbar o sistema.
elétron para um nível não-preenchido, onde ele pode mover- Nos isolantes (não-metais), a banda de valência está
se livremente. Na ausência de um campo elétrico, um número completa e uma perturbação envolvendo níveis dentro da
igual de elétrons se moverá em todas as direções. Se um própria banda é impossível. Por outro lado, há uma diferença
eletrodo positivo for colocado numa das extremidades da apreciável de energia (denominada intervalo de banda) en
peça e na outra um eletrodo negativo, então a proporção de tre a banda de valência e a banda vazia mais próxima. Assim,
elétrons movendo-se em direção ao ânodo será muito maior os elétrons não podem ser promovidos para um nível vazio,
que na direção oposta. Logo, uma corrente elétrica fluirá onde eles poderíam mover-se livremente.
através do material.
Os semicondutores intrínsecos são basicamente iso
A condução ocorre porque os OMs se estendem por
lantes onde o intervalo de energia entre as bandas adjacentes
todo o cristal, e porque não há efetivamente uma diferença
é suficientemente pequeno para que a energia térmica
de energia entre os OMs ocupados e vazios. No lítio, a
promova um pequeno número de elétrons da banda de
ausência desse intervalo de energia se deve ao fato de apenas
valência para a banda de condução vazia. Tanto o elétron
metade dos OMs na banda de valência estarem preenchidos
promovido para a banda de condução como o elétron
(Fig. 5.3a).
desemparelhado que permanece na banda de valência podem
No berílio há dois elétrons de valência, de modo que conduzir a eletricidade. A condutividade dos semicondutores
eles preenchem completamente os OMs 2s da banda de aumenta com a temperatura porque, à medida que aumenta
valência. Num átomo isolado de berílio a diferença de energia a temperatura, também aumenta o número de elétrons
entre os OAs 2s e 2p é de 160 kJ mol-1. Assim como os OAs promovidos para a banda de condução. Tanto os semicon
2s formam uma banda de OM, os OA 2p também formam dutores do tipo n como os do tipo p são preparados dopando-
uma banda de OMs 2p, mas a parte superior da banda 2s se se um isolante com uma impureza adequada. A banda da
sobrepõe à parte inferior da banda 2p (Fig. 5.3b). Por causa impureza se situa entre as bandas de valência e de condução
dessa sobreposição de bandas, parte da banda 2p está do isolante, de modo tal que elétrons podem ser excitados
ocupada e parte da banda 2s está vazia. Nesse caso, é fácil
da banda de valência para a banda da impureza ou vice-
perturbar um elétron para um nível desocupado na banda
versa (Fig. 5.4) (defeitos e semicondutores foram discutidos
de condução, onde ele pode mover-se através do cristal.
no final do Capítulo 3).
Logo, o berílio comporta-se como um metal. Por causa da
sobreposição das bandas não há um intervalo de energia
proibida, e os elétrons da banda de valência preenchida LIGAS
podem ser promovidos para a banda de condução vazia.
Quando uma mistura de dois metais é aquecida ou
quando um metal é misturado com um elemento não-
CONDUTORES, ISOLANTES E metálico, pode ocorrer uma das seguintes situações:
SEMICONDUTORES 1. Forma-se um composto iônico.
Nos condutores elétricos (metais) a banda de valência 2. Forma-se uma liga intersticial.
está ou apenas parcialmente preenchida ou existe uma 3. Forma-se uma liga substitucional.
sobreposição das bandas de valência e de condução. Assim, 4. Resulta uma simples mistura.
A ocorrência de uma ou outra dessas situações depende
da natureza química dos elementos envolvidos, dos tama
a) b)
Orbitais Orbitais nhos relativos dos átomos metálicos e dos átomos
moleculares moleculares adicionados.
Orbitais Orbitais
atômicos
Compostos iônicos
C g Considere inicialmente a natureza química dos dois
elementos. Se um elemento de elevada eletronegatividade
2s (por exemplo, F 4,0, Cl 3,0 ou O 3,5) for adicionado a um
metal de baixa eletronegatividade (por exemplo. Li 1,0 ou
Na 0,9), o produto será um composto iônico não metálico.
a> co
eS-
o Ligas intersticiais e compostos correlatos
Em seguida, considere os tamanhos relativos dos
átomos. A estrutura da maioria dos metais é um retículo
compacto de átomos ou íons esféricos. Portanto, existem
Figura 5.3 — Dois métodos pelos quais pode ocorrer condução: a) orbitais
moleculares metálicos no lítio mostrando uma banda semipreenchida;
muitos interstícios tetraédricos e octaédricos. Se o elemento
b) orbitais moleculares metálicos no berílio mostrando bandas adicionado tiver átomos pequenos, eles podem ser
sobrepostas acomodados nesses interstícios sem alterar a estrutura do
68 LIBAÇÃD metálica
Vazio Vazio
<
Vazio
Intervalo
grande
Intervalo
estreito
/
í
Parcialmente
preenchido
\H Preenchido L■ ' Preenchido
; *
W
Condutor Condutor Isolante Semicondutor
intrínseco
metal. O hidrogênio é suficientemente pequeno para ocupar A parte superior da curva é típica de dois sólidos apenas
interstícios tetraédricos, mas a maioria dos outros elementos parcialmente miscíveis, ocorrendo em X um ponto eutético
ocupa os interstícios octaédricos, que são maiores. entre y-ferrita, carbeto de ferro e o líquido. Um ponto triplo
Os átomos adicionados ocupam posições intersticiais semelhante ocorre em Y, mas como este ocorre numa região
no retículo metálico, em vez de substituírem átomos do metal em que ocorre um equilíbrio entre espécies no estado sólido,
no retículo. A composição química desse tipo de compostos ele é chamado de ponto eutectóide. O sólido com a
pode variar numa grande faixa, dependendo do número de composição do eutectóide (uma mistura de y-ferrita e carbeto
interstícios ocupados. Tais ligas são denominadas soluções de ferro) é denominado pearlita. Trata-se de uma mistura,
sólidas intersticiais e são formadas por um grande número não de um composto propriamente dito, e foi assinalado
de metais com o hidrogênio, boro, carbono, nitrogênio e com um P no diagrama. O nome pearlita se deve ao aspecto
outros elementos. O fator mais importante é o tamanho do de madrepérola quando observado ao microscópio. As várias
átomo adicionado. Para que ocorra a ocupação dos inters regiões sólidas, a, y e 8 são constituídas pelas diferentes
tícios octaédricos, a relação de raios do átomo menor pelo
do átomo maior, deve situar-se na faixa de 0,414 a 0,732. A
ocupação dos interstícios não altera de modo significativo a
estrutura do metal. Ele continua parecido com um metal e
continua conduzindo calor e eletricidade. Contudo, o
preenchimento dos interstícios tem um efeito considerável
sobre as propriedades físicas; sobretudo dureza, malea
bilidade e ductibilidade do metal. Isso ocorre porque a
ocupação dos interstícios dificulta o deslizamento de uma
camada de íons metálicos sobre a outra.
Boretos, carbetos e nitretos intersticiais são compostos
quimicamente extremamente inertes, possuem pontos de
fusão extremamente elevados e são muito duros. Carbetos
intersticiais de ferro são de grande importância na
composição dos vários tipos de aço.
O diagrama de fases ferro-carbono é de grande
importância na indústria dos metais ferrosos. A Fig. 5.5
mostra parte desse diagrama. A parte mais importante vai
do ferro puro ao composto carbeto de ferro ou cementita,
Fe3C. O Fe puro existe na forma de duas variedades
alotrópicas: a-ferrita e y-ferrita. A a-ferrita ou austenita, adota
uma estrutura cúbica de corpo centrado, estável até
temperatura de 910 °C. Acima desta temperatura, ela se
transforma em y-ferrita, com estrutura cúbica centrada nas
faces. Acima de 1401 °C a y-ferrita volta a ter uma estrutura Figura 5.5 — Parte do diagrama de fases ferro-carbono (X - eutético.,
cúbica de corpo centrado, mas é denominado 8-ferrita. Y ~ eutectóide; P - pearlita)
USAS B9
a) b)
O O o O O O O O
O O O O O X O
O O O o o X o o o
o o o o X o X o
o O o o o O o o
Retículo de metal puro Liga interstícial (átomos de X)
ocupam posições intersticiais
c) d)
O o O
o O o o O
o o o o
o o
O O O • O
Liga de substituição Super-retículo (liga por
aleatória substituição ordenada)
Figura S.6 — Cu/Ni — uma série contínua de soluções sólidas
(segundo W J. Moore, Physical Chemistry)
Figura S.7 — Estruturas de metais e ligas: a) retículo metálico puro; b)
variedades alotrópicas do ferro, e todas contêm quantidades liga interstício! (átomos de X ocupam posições intersticiais); c) liga por
substituição aleatória; d) super-retículo (liga por substituição ordenada)
variáveis de carbono em posições intersticiais.
O aço contém até 2 % de carbono. Quanto maior a quan
tidade de carbono presente, tanto mais dura e quebradiça No caso de ligas de Cu/Au, a temperaturas superiores
será a liga. Quando o aço é aquecido, o sólido se transforma a 450 °C, existe uma estrutura desordenada (Fig. 5.7c), mas
em austenita, que pode ser laminada, dobrada ou prensada se o resfriamento for suficientemente lento pode formar-se
em qualquer forma desejada. Durante o resfriamento, as fa o super-retículo mais ordenado mostrado na Fig. 5.7d.
ses se separam, e o modo pelo qual é efetuado esse resfria Apenas alguns poucos metais formam esse tipo de solução
mento afeta a granulometria e as propriedades mecânicas. sólida de maneira contínua. Hume-Rothery mostrou que
As propriedades do aço podem ser modificadas por meio de nesses casos três regras são válidas:
tratamentos térmicos tais como a têmpera e o recozimento. 1. Os dois metais devem ser de tamanhos semelhantes —
O ferro fundido contém mais de 2% de carbono. O seus raios metálicos não devem diferir mais que 14 a
carbeto de ferro é extremamente duro e quebradiço. O aque 15 %.
cimento do ferro fundido não produz uma solução sólida 2. Os dois metais devem adotar a mesma estrutura cris
homogênea (similar à austenita no aço). Assim, o ferro talina.
fundido não pode ser trabalhado mecanicamente, mas o
líquido pode ser despejado em moldes com as formas 3. As propriedades químicas dos metais devem ser
desejadas. semelhantes — principalmente, o número de elétrons
de valência deve ser o mesmo.
Considere uma liga de Cu e Au. Os raios metálicos
Ligas substitucionais diferem em apenas 12,5%; ambos possuem estruturas
Se dois metais forem completamente miscíveis um com cúbicas de empacotamento compacto e possuem
o outro, eles podem formar soluções sólidas cujas propriedades semelhantes, pois se situam no mesmo grupo
composições podem ser variadas continuamente. Os da tabela periódica. Portanto, os dois metais são
exemplos incluem Cu/Ni, Cu/Au, K/Rb, K/Cs e Rb/Cs. completamente miscíveis. Os elementos do Grupo 1 são
Nesses casos um átomo pode substituir outro no retículo, quimicamente semelhantes; todos têm estruturas cúbicas
aleatoriamente. de corpo centrado. A diferença de tamanhos entre pares
Tabela S.7 — Raios metálicos dos elementos (em Â) (para coordenação 12)
Li Be B C N
1,52 1,12 0.89 0,91 0,92
Na Mg Al Si P S
1,86 1,60 1,43 1,32 1,28 1,27
K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se
2,27 1,97 1,64 1,47 1,35 1,29 1,37 1,26 1,25 1,25 1,28 1,37 1,23 1,37 1,39 1,40
Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te
2,48 2,15 1,82 1,60 1,47 1,40 1,35 1,34 1,34 1,37 1,44 1,52 1,67 1,62 1,59 1,60
Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Po
2,65 2,22 1,87 1,59 1,47 1,41 1,37 1,35 1,36 1,39 1,44 1,57 1,70 1,75 1,70 1,76
70 LIGAÇÃO METÁLICA
e 82 — 88%
Estrutura cúbica complexa
Composto intermetálico de
estequiometria aproximada CuZn3
Estrutura hexagonal de empacota
200 L
0 20 40 60
Zinco (porcentagem de átomos)
.n
80
e+4
100
mento compacto
97 — 100% Solução sólida substitucional
aleatória de Cu em Zn Figura 5.9 — Diagrama de fases para ligas Cu/Zn (Copyright Botim e
Klemm, Z. Anorg. Chem., 243, 69, 1939)
SUPERCQNQLmVinAnE 71
Tabela 5.9 — Alguns compostos intermetálicos com Uma liga supercondutora de nióbio e titânio, que possui
diferentes proporções entre elétrons de valência e n.° de Tc de cerca de 4 K e requer hélio líquido para seu
átomos resfriamento, é conhecida desde a década de 1950.
Considerável esforço tem sido dispensado na busca de ligas
N? de elétrons de valência que se tornem supercondutoras a temperaturas mais
Fórmula ideal elevadas. Ligas de Nb3Sn, Nb3Ge, Nb3Al e V3Si são
n? de átomos
supercondutoras com Tc em torno de 20 K. É interessante
CuZn 3/2 notar que todas apresentam a estrutura do p-tungstênio. As
Cu3A1 6/4 = 3/2 ligas Nb3Sn e Nb3Ge possuem Tc de 22 K e 24 K, respec
Cu5Sn 9/6 = 3/2 tivamente e são utilizadas para fabricar os fios de eletroímãs
AgZn 3/2 fases P extremamente poderosos. Esses ímãs possuem diversas
Cu5Si 9/6 = 3/2 aplicações:
AgjAl 6/4 = 3/2 1. Em aceleradores lineares: usados para fragmentar
CoZn3 3/2 *
átomos no estudo da física de partículas de alta energia.
Cu5Zn8 21/13 2. Na pesquisa sobre fusão nuclear: para produzir cam
CU9AI4 21/13 pos magnéticos poderosos que atuam como um reci
fases y
Na3|Pb8 21/13 piente magnético para um plasma.
C05Z1121 21/13
3. Para fins militares.
CuZn3 7/4
7/4 4. Em aparelhos de ressonância magnética nuclear para
Cu3Si
fases e pesquisa na área de química e para obtenção de imagens
Ag5Al3 14/8 = 7/4
Au5Al3 14/8 = 7/4 (usada na medicina para efetuar diagnósticos).
Uma corrente extremamente elevada pode ser passada
♦ Supõe-se que os metais dos grupos do Fe, Co e Ni não apresentam elétrons
através de um fio muito fino feito de um supercondutor.
de valência para ligação metálica
Isso possibilita a obtenção de eletroímãs pequenos, com um
relação é de 7 :4, quaisquer que sejam os metais envolvidos grande número de espiras, que geram campos magnéticos
(Tab. 5.9). extremamente intensos. Como o supercondutor tem
Não se sabe exatamente porque fases metálicas binárias resistência elétrica praticamente nula, não há perda de
semelhantes são formadas para dadas relações elétrons/ energia na forma de calor. Como não há perda de corrente,
átomos. Todavia, parece que a causa se encontra no modo uma vez que esta se estabelece na espiral, ela flui
de preenchimento das bandas eletrônicas de forma a mini indefinidamente. Por exemplo, nos grandes ímãs super-
mizar a energia do sistema. condutores usados na pesquisa de plasma, a corrente usada
por uma liga supercondutora de Nb/Ta a 4 K corresponde a
apenas 0,3% da corrente usada num eletroímã feito de
SUPERCONDUTIVTDADE espirais de cobre, de potência semelhante. Um dos grandes
Os metais são bons condutores de eletricidade e suas obstáculos para a disseminação desses supercondutores de
condutividades aumentam à medida que a temperatura baixa temperatura é justamente o fato da temperatura de
diminui. Em 1911, o cientista holandês Heike Kammerlingh transição Tc ser muito baixa. O único meio de se alcançar
Onnes descobriu que metais como Hg e Pb se tornam super- tais temperaturas é utilizando hélio líquido, que é muito
condutores em temperaturas próximas do zero absoluto. Um caro.
supercondutor apresenta resistência elétrica zero ou quase O primeiro supercondutor não-metálico foi descoberto
zero. Por isso, ele pode transportar uma corrente elétrica em 1964. TYatava-se de um óxido metálico com a estrutura
sem perder energia e, em princípio, a corrente poderia fluir cristalina da perovskita, sendo um supercondutor diferente
para sempre. Existe uma temperatura crítica Tc na qual a das ligas. Não tinha nenhum valor prático, já que a Tc era de
resistência cai bruscamente, provocando o aparecimento das apenas 0,01 K.
propriedades supercondutoras. Mais tarde, Meissner e
Ochsenfeld descobriram que certos materiais supercon- A estrutura da perovskita é adotada por compostos de
dutores impedem a penetração de campos magnéticos. fórmula ABO3, onde a soma dos estados de oxidação de A e
Atualmente esse fenômeno é conhecido como efeito Meissner
e é responsável pela “levitação". A levitação ocorre quando
objetos “flutuam” no ar. Isso pode ser provocado pela
repulsão mútua entre um ímã permanente e um
supercondutor. Um supercondutor também expele todos os
campos magnéticos internos (que surgem de elétrons
desemparelhados), de modo que eles são diamagnéticos.
Em muitos casos a variação das propriedades magnéticas é
mais fácil de se monitorar que o aumento da condutividade
elétrica, já que a passagem de correntes elevadas ou cam
pos magnéticos intensos podem destruir o estado
supercondutor. Portanto, existe também uma corrente crítica
e uma magnetização crítica relacionadas à Tc. Figura 5.10 — Perovskita
73 LIEAÇÁO metálica
1. A possibilidade de transportar energia elétrica usando (isto é, quando falta oxigênio), dois átomos de Cu
um supercondutor é muito interessante. Há dificuldades possam interagir diretamente um com o outro.
óbvias em relação à fabricação de longos cabos Interações entre CuI1-Cu111 ou Cu‘-Culn poderíam então
utilizando um material “cerâmico”. Contudo, a ocorrer devido a transferência de elétron entre os átomos
transmissão de corrente contínua com pequenas perdas de Cu. Analogamente, a supercondutividade no sistema
através de cabos desprovidos de resistência elétrica a YBa2Cu3O(7_X) também está sendo associada à facilidade
partir das estações geradoras, ao invés da transmissão de transferência de elétrons entre os íoins Cu(I), Cu(II)
de corrente alternada utilizando cabos convencionais e Cu(III).
parece economicamente promissora.
2. Uso em computadores. Uma das maiores dificuldades LEITURAS COMPLEMENTARES
para uma posterior miniaturização dos chips de
computadores é encontrar uma maneira de dissipar o • Adams, D.M. (1974) Inorganic Solids, Wiley, New York.
calor indesejado. Com o uso de supercondutores, o • Addison, C.C. (1974) The chemistry of liquid metais, Chem
problema do desprendimento de calor será reduzido istry in Britain, 10, 331.
drasticamente. O aumento da velocidade dos chips está • Brewer, L. (1968) Science, 161,115. (Entalpias de atomização.)
sendo impedida pelo tempo necessário para se carregar • Burdett, J.K. (1982) New ways to look at solids, Acc. Chem.
um capacitor, devido à resistência da película metálica Res., 15, 34. Chemistry in Britain, maio 1969 — Este volume
que atuam como contatos elétricos. Os uso de materiais foi dedicado a metais e ligas.
supercondutores deve possibilitar a construção de chips • Cox, P. A. (1987) The Electronic Structure and Chemistry of
mais rápidos. Solids, Oxford University Press, Oxford.
3. Eletroímãs poderosos utilizando espirais de materiais • Duffy, J.A. (1983) Band theory of conductors, semiconduc-
supercondutores já estão sendo utilizados. Todavia, a tors and insulators, i, 20, 14-18.
operação desses equipamentos em temperaturas mais • Galwey, A. K. (1967) Chemistry of Solids, Chapman Hall,
elevadas seria ainda mais vantajosa. London.
4. Levitação — a maioria das pesquisas pioneiras foram • Ho, S.M. e Douglas, B.E. (1972) Structures of the elements
realizadas por Eric Laithwaite no Imperial College com and the PTOT System, J. Chem. Ed., 49, 74.
motores lineares, e o protótipo de um trem que flutua • Hume-Rothery, W. (1964) Review of bonding in metais, Met-
sobre um campo magnético foi construído no Japão. allurgist, 3, 11.
Supõe-se que a supercondutividade dos metais e ligas • Hume-Rothery, W. (1964) A note on the intermetallic chem
envolve o transporte simultâneo de dois elétrons (Bardeen istry of the later transition elements, J. Less-Common Met
et al, 1957; Ogg, 1946). Não há nenhuma explicação als, 7, 152.
universalmente aceita sobre a origem da supercondutividade • Hume-Rothery, W.J. e Raynor, G.V. (1962) The Structure of
a temperaturas mais elevadas nos materiais a base de óxidos Metals and Alloys, 4? ed., Institute of Metals, London.
mistos (cerâmicos). É, contudo, conveniente resumir os fatos • Hume-Rothery, W.J., Christian, J.W. e Pearson, W.B. (1952)
atualmente evidentes: Metallurgical Equilibrium Diagrams, Institute of Physics,
1. Muitos, mas não todos, supercondutores "quentes” London.
contém Cu. Duas características da química do Cu são • Jolly, W.L. (1976) The Principies of Inorganic Chemistry, (Cap.
a sua ocorrência em três estados de oxidação, ( + 1), 11: Metais; Cap. 12: Semicondutores), McGraw Hill, New
( + 11) e ( + 111), e a formação de muitos complexos de York.
Cu(II) octaédricos tetragonalmente distorcidos. Ambos • Metal Structures Conference (Brisbane 1983), (ISBN 0-85825-
os fatores podem ser importantes. Nos compostos do 183-3), Gower Publishing Company. Parish, R.V. (1976) The
tipo La2CuO4 alguns íons Ba2+ são substituídos por Metallic Elements, Longmans, London.
La3 + . Para o balanceamento das cargas, alguns íons • Parish, R.V. (1976) The Metallic Elements, Longmans, Lon
Cu(II) se transformam em Cu(HI). A supercondutividade don.
nesse sistema parece envolver a transferência de elétrons
do Cu(II) para o Cu(III). Mas, se o processo envolver a Supercondutividade
transferência de dois elétrons como nos supercondutores
• Bardeen, J., Cooper, L.N. e Schreiffer, J.R. (1957) Phys. Rev.,
metálicos, podería haver transferência de elétrons de 106, 162. (Desenvolvimento da teoria BCS da
íons Cu(I) para Cu(lII). supercondutividade em metais, decorrente da movimentação
2. É também importante enfatizar que todos esses de pares de elétrons)
supercondutores adotam a estrutura da perovskita. • Bednorz, J.G. e Müller, A. (1986) Possible high Tc supercon-
3. Outra característica comum é o fato de que aparen ductivity in the Ba-La-Cu-0 system, Z. Phys., B., 64, 189.
temente a deficiência de oxigênio é crítica. Há fortes (Artigo que iniciou a corrida em busca dos supercondutores
evidências, obtidas por difração de nêutrons, de que as de óxidos metálicos)
vacâncias de oxigênio estão ordenadas. Como o Cu é • Edwards, P.P., Harrison, M.R. e Jones, R. (1987) Supercon-
normalmente coordenado octaedricamente por 6 átomos ductivity returns to chemistry, Chemistry in Britain, 23, 962-
de O, é razoável supor que quando há deficiência de O 966.
7^ U6AÇÃO METÁLICA
propriedades gerais
EPS ELEMEIJTOS
TAMANHO DOS ÁTOMOS E DOS ÍONS Um íon positivo é sempre menor que o átomo corres
pondente, e quanto mais elétrons forem removidos (isto é,
quanto maior for sua carga), menor será o íon.
Tamanho dos átomos
O tamanho dos átomos diminui da esquerda para a Raio do Na metálico 1,86 A Raio atômico do Fe 1,17 Â
direita ao longo de um período da tabela periódica. Por Raio iônico do Na* 1,02 Â Raio iônico do Fe2* 0,780 Â
(spin alto)
exemplo, passando do lítio ao berílio, uma carga positiva é
acrescentada ao núcleo, bem como um elétron orbital Raio iônico do Fe3* 0,645 Â
(spin alto)
adicional. O aumento da carga nuclear provoca um aumento
da força de atração de todos os elétrons circundantes pelo Um ou mais elétrons são adicionados ao átomo para
núcleo. Num dado período, o metal alcalino é o maior átomo gerar um íon negativo. Nesse caso, a carga nuclear efetiva
e o halogênio o menor. Quando um período contém os dez diminui e a nuvem eletrônica se expande. Os íons negativos
elementos de transição correspondentes, a contração no são maiores que os átomos correspondentes.
tamanho é maior. Quando, além disso, estiverem presentes
os 14 elementos correspondentes aos elementos de transição Raio covalente do Cl 0,99 Â
interna, a contração no tamanho é ainda mais acentuada. Raio iônico do CF 1,84 Â
Descendo ao longo de um grupo da tabela periódica,
como aquele contendo os elementos lítio, sódio, potássio, Problemas com os valores dos raios iônicos
rubídio e césio, o tamanho do átomo aumenta devido ao Há diversos problemas para se obter um conjunto
efeito dos níveis eletrônicos que vão sendo acrescentados: confiável de valores de raios iônicos.
este sobrepuja o efeito provocado pelo aumento da carga
nuclear. 1. Embora seja possível medir com exatidão distâncias
intemucleares num cristal por meio de difração de raios
Tamanho dos íons X, por exemplo a distância entre o Na+ eo Fno NaF,
não há nenhuma fórmula universalmente aceita para
Os metais geralmente formam íons positivos. São dividir esta distância entre os dois íons. Historicamente,
obtidos pela remoção de um ou mais elétrons do átomo do foram determinados diversos conjuntos de raios iônicos.
metal. Os íons metálicos são menores que os átomos a partir Os principais são as de Goldschmidt, Pauling e Ahrens.
dos quais foram gerados, por duas razões: Todas elas foram calculadas a partir de distâncias
1. Toda a camada eletrônica externa é geralmente ionizada, intemucleares experimentais, mas diferem no método
isto é, removida. Por essa razão os cátions são muito usado para dividir a distância entre os dois íons. O
menores que os átomos metálicos originais. conjunto de valores mais recentes foi calculado por
2. Um segundo fator é a carga nuclear efetiva. Num átomo, Shannon (1976) e são provavelmente mais exatos.
o número de cargas positivas no núcleo é exatamente 2. É necessário corrigir os valores dos raios, no caso de
igual ao número de elétrons circundantes. Quando se haver mudança na carga do íon.
forma um íon positivo, o número de cargas positivas
no núcleo excede o número de elétrons circundantes, e 3. Também devem ser feitas correções para a mudança do
a carga nuclear efetiva (ou seja, relação entre o número número de coordenação e para a mudança de geometria.
de cargas no núcleo e o número de elétrons) é aumen 4. A suposição de que os íons são esféricos provavelmente
tada. Em conseqüência, os elétrons remanescentes são está correta para os íons dos blocos s e p, com configu
mais fortemente atraídos pelo núcleo, aproximando-se ração de gás nobre, mas provavelmente são incorretas
ainda mais do núcleo. Com isso, o tamanho do íon no caso de íons de metais de transição, com uma
diminui ainda mais. camada d incompleta.
7B PROPRIEDADES GERAIS DOS ELEMENTOS
2 Li Be B C N O F Ne
3 Na Mg Grupo AZ Si P S Cl Ar
4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
• •
2,03 1.74 1,44 1,32 1,22 1,17 1,17 1,17 1,16 1,15 1,17 1,25 1,25 1,22 1.21 1,14 1,14 2,00»
5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
2,16 1,91 1,62 1,45 1,34 1,29 1,24 1,25 1,28 1,34 1,41 1,50 1,40 1,41 1,37 1,33 2,20»
6 Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TZ Pb Bi Po At Rn
2,35 1,98 1,69 1,44 1,34 1,30 1,28 1,26 1,26 1,29 1,34 1,44 1,55 1,46 1,52
7 Fr Ra Ac
Lantanídios Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu
________________________________ 1,65 1,64 1,64 - 1,66 1,85 1,61 1,59 1,59 1,58 1,57 1,56 1,70 1,56
numéricos estão
(Os valores i.un.vj.vvu angstrõm) * Os valores
vouiv em oogouviu; para ua
raiuico paia os gaova nobres aau
gases iiuotco são Ud raios atômicos, IbUJ
os laiUò é, IdJUS
isto C, combinados; qUC
raios CUIIlUlIiaUUS, que ÒCIldlll mais bCIUClIldlUCb
seriam IlliUb aos iojlo
semelhantes nuo raios
de Van der Waals que aos raios covalentes. Círculos grandes indicam valores elevados de raios covalentes, e círculos pequenos indicam valores pequenos. Segundo
Moeller, T„ Inorganic Chemistry, Wiley 1952.
5. Em alguns casos, os elétrons d encontram-se extensa 4. Os orbitais d e f não blindam eficientemente a carga
mente deslocalizados, por exemplo no TiO, onde são nuclear. Por isso, ocorre uma significativa diminuição
responsáveis pela sua condutividade metálica, ou em no tamanho dos íons logo após a entrada dos 10 elétrons
compostos do tipo “cluster”. Nesses casos também d ou dos 14 elétrons f. Esta é denominada contração
ocorrem mudanças nos raios. lantanídica. Consequentemente, os tamanhos dos
Assim sendo, os raios iônicos não são constantes e elementos da segunda e da terceira séries de elementos
devem ser considerados como sendo aproximações mas de transição são praticamente iguais. Isso será discutido
funcionais para certas aplicações. no Capítulo 30.
Tabela 6J. — Energias de ionização para elementos dos Tabela 63 — Comparação entre algumas primeiras energias
Grupos 1 e 2 (kJ mol-1) de ionização (kJ mol-1)
1? 2? 1? 2? 3? Li Be B C N O F Ne
520 899 801 1086 1403 1410 1681 2080
Li 520 7.296 Be 899 1.757 14.847
Na 496 4.563 Mg 737 1.450 7.731 Na Mg AZ Si P S CZ Ar
K 419 3.069 Ca 590 1.145 4.910 496 737 577 786 1012 999 1255 1521
Rb 403 2.650 Sr 549 1.064 4.207
Cs 376 2.420 Ba 503 965 energia necessária para a remoção do segundo elétron é
____Fr Ra 509 979 3.281*
muito maior. De fato é cerca de 7 a 14 vezes maior que a
* Valor estimado primeira energia de ionização. A segunda energia de
à terceira energia de ionização é possível transformar M2 + ionização é tão elevada que o segundo elétron não é
em M3 + , e assim por diante. removido. A grande diferença entre a primeira e segunda
energias de ionização está relacionada com a estrutura
Os fatores que influenciam as energias de ionização
são: eletrônica dos elementos do Grupo 1. Eles apresentam apenas
um elétron no nível mais externo. Assim, enquanto que é
1. O tamanho do átomo. relativamente fácil remover esse elétron externo, a remoção
2. A carga no núcleo. do segundo elétron requer uma quantidade de energia muito
3. A eficiência com que os níveis eletrônicos internos maior, pois isto envolve os elétrons de um nível eletrônico
blindam a carga nuclear. interno completamente preenchido.
4. O tipo de elétron envolvido (s, p, d ou f).
Comparando-se as energias de ionização dos elementos
Esses fatores estão geralmente correlacionados. Num do Grupo 2 pode-se notar que a primeira energia de ionização
átomo pequeno, os elétrons se encontram firmemente desses elementos é quase o dobro das energias dos elementos
ligados, ao passo que num átomo maior os elétrons estão do Grupo 1 correspondentes. Isso decorre do aumento da
menos firmemente ligados. Assim, a energia de ionização carga nuclear, que faz com que os elementos do grupo 2
diminui à medida que o tamanho do átomo aumenta. Essa sejam menores. Uma vez removido o primeiro elétron, a
tendência pode ser observada, por exemplo, nos elementos relação entre as cargas do núcleo e o número de elétrons
dos Grupos 1 e 2 (ver Tab. 6.2), e também nos outros grupos circundantes (a carga nuclear efetiva) aumenta e consequen
representativos. temente o tamanho diminui. Por exemplo, Mg + é menor que
Comparando-se a primeira e a segunda energias de o átomo de Mg. Assim sendo, os elétrons remanescentes no
ionização para os elementos do Grupo 1, percebe-se que a Mg+ estão ainda mais firmemente ligados, e a segunda energia
1331 2372
2 Li Be B C N O F 'Ne
3 Na Mg AZ Si P S Cl Ar
4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
419 590 631 656 650 652 717 762 758 736 745 906 579 760 947 941 1142 1351
5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
403 549 616 674 664 685 703 711 720 804 731 876 558 708 834 869 1191 1170
6 Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TZ Pb Bi Po At Rn
376 503 541 760 760 770 759 840 900 870 889 1007 589 715 703 813 912 1037
7 Fr Ra Ac
(Os valores numéricos são dados em kJ mol’1) (Círculos grandes indicam valores elevados da energia dc ionização e círculos pequenos indicam valores pequenos).
Segundo Sanderson. R.T., Chemical Periodicity, Reinhold, N.York.
7B PROPRIEDADES GERAIS DDS ELEMENTOS
períodos.
2. Os metais do Grupo 1, Li, Na, K, Rb, Cs, apresentam as
menores energias de ionização em seus respectivos
É |u|u|u| Preenchido — estrutura de gás nobre
Ar
elementos (Ga, In, e Tl) não seguem a
mesma tendência e são irregulares. O
N / motivo do desvio observado no Ga é o
■S 1500-
/ó I Kr
Xe
fato deste ser precedido pelos 10
elementos da primeira série de transição
1 jl (onde está sendo preenchido o subnível
V
Be/ Cd /
® 1000- 3d). Isso faz com que o Ga seja menor
h Mgl
do que deveria ser. Um fenômeno
i 500 Li
■Al
Na
K
I Ga V
Rb
In
Cs
Tl semelhante é observado com a segunda
e a terceira séries de transição. Assimi,
a presença das três séries de transição
não só tem efeito acentuado sobre os
0
10 20 30 40 50 60 70 80 valores das energias de ionização do Gai,
Número atômico
In e Tl, mas o efeito continua se
Figura 6.1 — Primeiras energias de ionização dos elementos manifestando nos Grupos 14 e 15.
O CICLO OE BORN-HABER 79
Os valores negativos das afinidades eletrônicas indicam Para NaCl 381,2 = +108,4 + 495,4 + 120,9 + E - 757,3
que essa quantidade de energia é liberada quando um átomo portanto E = -348,6 kJ mol*1
recebe um elétron. Os valores mostrados na tabela acima
indicam que os halogênios desprendem uma grande Agora que conhecemos os valores da afinidade
quantidade de energia ao formarem os respectivos ânions eletrônica, o ciclo é utilizado para calcular a energia reticu-
haleto, com carga negativa. Por isso, não causa surpresa o lar de estruturas cristalinas desconhecidas.
fato desses elementos constituírem um grande número de
compostos. +300-'
Na*flt + Cl,,, Natgi + Cllai
Também ocorre desprendimento de energia quando um
elétron é adicionado a um átomo de O ou a um de S, Afinidade
Energia ^Entalpia de eletrônica
formando as espécies O" e S". Todavia, uma quantidade (kJ moF1) dissociação (E)
apreciável de energia é absorvida quando o segundo elétron Na;gl + Cl<a,
é adicionado, formando as espécies O2- e S2-. Portanto, as Natai + LÇ|2<g)
afinidades eletrônicas para os processos O-—*O2- e S"—»S2"
+400-
Energia de
têm sinais positivos. Mesmo sendo necessário fornecer ionização (/)
energia para formar esses íons divalentes, são conhecidos
compostos contendo esses íons. Logo, pode-se inferir que a Nalcl + 2f-l;(ai
energia necessária para formar esses íons deve ser fornecida Entalpia de
por algum outro processo. Por exemplo, da energia reticular sublimação Energia
AH, reticular
liberada quando os íons se combinam de maneira regular (U)
para formar um sólido cristalino, ou da energia de solvatação o- Na,,) + )CÍ2lai
dos íons em solução. É sempre arriscado considerar um único
termo energético isoladamente. Por isso, sempre que possível Entalpia de
formação
um ciclo energético completo deve ser considerado. AH,
Tabela 6.7 — Comparação entre valores teóricos e O tipo de ligação que se forma entre A+ e B’ depende
experimentais para energias reticulares do efeito que um íon exerce sobre o outro. O íon positivo
atrai os elétrons do íon negativo e ao mesmo tempo repele o
Energia reti Energia reti Diferença núcleo, distorcendo ou polarizando o íon negativo. 0 íon
cular teórica cular segundo em % negativo também irá polarizar o íon positivo, mas como
(kJ mol-1) Bom-Haber geralmente os ânions são grandes e os cátions pequenos, o
(kJ mol"1)
efeito de um íon grande sobre um íon pequeno será muitto
LiCl -825 -817 menos pronunciado. Se o grau de polarização for pequeno,
0,8
NaCZ -764 -764 0,0 então a ligação permanecerá essencialmente iônica. Se o
KC1 -686 -679 1,0 grau de polarização for grande, os elétrons são atraídos do
Kl -617 -606 1,8 íon negativo em direção ao íon positivo. Isso provoca um
CaF2 -2584 -2611 1,0 aumento na concentração de elétrons entre os dois núcleos,
Cdl2 -1966 -2410 22,6 fazendo com que a ligação apresente um grau apreciável de
caráter covalente.
É útil conhecer a energia reticular, pois é uma indicação O grau de distorção provocado sobre os íons depende
da solubilidade do cristal. Quando um sólido é dissolvido, o do poder que tem um íon de distorcer o outro (isto é, de seu
retículo cristalino deve ser rompido (o que requer forne poder polarizante) e, também, da susceptibilidade do referido
cimento de energia). Os íons assim formados são solvatados íon à distorção (isto é, de sua polarizabilidade). Geralmente,
(e há desprendimento de energia). Quando a energia reticu o poder polarizante aumenta à medida que os íons se tomam
lar é elevada, é necessária uma grande quantidade de energia menores e sua carga positiva aumenta. A polarizabilidade
para romper o retículo. Assim, é pouco provável que a de um íon negativo é maior que a de um íon positivo, po is
entalpia de solvatação seja suficientemente elevada (e libere os elétrons se encontram mais fracamente ligados ao núcleo
uma quantidade de energia maior que a requerida), de modo por causa de sua menor carga nuclear efetiva. íons negativos
que a substância provavelmente será insolúvel. grandes são mais polarizáveis que íons negativos pequenos.
A baixa reatividade de muitos metais de transição, isto Fajans estabeleceu quatro regras que resumem os fatores
é, sua resistência ao ataque por produtos químicos, está que favorecem a polarização e, portanto, a covalência.
relacionado com um conjunto semelhante de variações de 1. Um íon positivo pequeno favorece a covalência.
energia. 0 caráter “nobre” é favorecido por um elevado calor Em íons pequenos, a carga positiva se concentra numa
de sublimação, elevada energia de ionização e baixa energia área pequena. Por isso o íon apresenta um elevado poder
de solvatação dos íons. polarizante, muito propício para distorcer o íon negativo.
/ Os valores das energias reticulares também podem 2. Um íon negativo grande favorece a covalência.
fornecer informações sobre a natureza covalente ou iônica íons grandes são altamente polarizáveis, isto é,
da ligação. O valor da energia reticular pode ser teoricamente facilmente distorcidos pelo íon positivo, pois os elétrons
calculado admitindo-se a formação de ligações totalmente externos são mais fortemente blindados pelas camadas
iônicas, e este valor pode ser comparado com o valor obtido preenchidas de elétrons, sentindo uma carga nuclear
a partir dos dados experimentais do ciclo de Born-Haber. menor.
Uma boa concordância entre os valores indica que a hipótese 3. Cargas elevadas em ambos os íons favorece a covalência.
de que as ligações são iônicas era de fato verdadeira, Isso se explica porque cargas elevadas implicam num
enquanto que uma discrepância razoável indica que a ligação elevado grau de polarização.
não é iônica. As energias reticulares determinadas dessas 4. A polarização, e portanto a covalência, será favorecida
maneiras são comparadas na Tab. 6.7. A concordância dos se o íon positivo não tiver a configuração eletrônica de
valores é boa para todos os compostos citados, exceto o um gás nobre.
Cdl2, confirmando o caráter iônico da maioria dos compostos Exemplos de íons que não apresentam configuração de
citados. A grande discrepância dos valores para o Cdl2 gás nobre incluem alguns poucos elementos
indicam que as ligações dentro da estrutura cristalina não representativos, tais como Tl + , Pb2+ e Bi3 + , muitos
são iônicas. Na realidade o Cdl2 forma uma estrutura lamelar íons de metais de transição como Ti3 +, V3 +, Cr2+, Mn2 +
essencialmente covalente. e Cu +, e alguns íons de metais lantanídeos, como Ce3 T
e Eu2 + . Elétrons numa configuração de gás nobre
PODER POLARIZANTE E blindam mais eficientemente a carga nuclear. Assim,
íons sem a configuração de gás nobre apresentarão
POLARIZABILIDADE — REGRAS DE cargas mais elevadas na superfície, sendo assim mais
FAJANS polarizantes.
Considere teoricamente a formação de uma ligação pela
aproximação dos íons A+ e B" até a distância de equilíbrio.
A ligação continuará sendo iônica ou ela tornar-se-á covalen
ELETRONEGATIVIDADE
te? Ligações iônicas e covalentes são dois tipos extremos de Em 1931 Pauling definiu a eletronegatividade de uim
ligação, e quase sempre as ligações formadas são de caráter átomo como a tendência de atrair elétrons em sua direção
intermediário. Isso pode ser explicado em termos da polari quando combinado, formando um composto.
zação {isto é, da deformação) dos íons. Assim, quando se forma uma ligação covalente, os elé-
ELETRONEGATIVIDADE BI
trons utilizados para formar a ligação não precisam ser dis A energia de ligação real pode ser medida, mas a energia
tribuídos igualmente entre os dois átomos. Se os elétrons da de uma ligação 100% covalente deve ser calculada. Pauling
ligação permanecerem mais tempo em torno de um dos sugeriu que a energia da ligação 100% covalente é igual a
átomos, este átomo terá uma carga 5“ e, conseqüentemente, média geométrica das energias das ligações covalentes das
o outro átomo terá uma carga 8 +. No caso extremo em que moléculas A-A e B-B.
os elétrons da ligação estiverem localizados sobre um dos
átomos, teremos uma ligação iôrúca. Pauling e outros pesqui ^100% covalente A—B = ^E,■a-a-Eb-b)
sadores tentaram relacionar as diferenças de eletrone-
gatividade entre dois átomos com o grau de caráter iônico As energias das ligações nas moléculas A-A e B-B
da ligação formada pelos mesmos. podem ser medidas. Logo,
Em geral, átomos pequenos atraem mais fortemente os
elétrons que os átomos grandes. Portanto, átomos pequenos A = (energia da ligação realj-VíE^—a-Eb—b)
são mais eletronegativos. Átomos com níveis eletrônicos
Pauling postulou que a diferença de eletronegatividades
quase preenchidos apresentam eletronegatividades mais
entre dois átomos é igual a 0,208^/A, onde A é a energia de
elevadas que átomos com níveis eletrônicos pouco
ligação adicional, em kcal mol"1 (convertendo a equação
preenchidos. É muito difícil medir os valores das
para unidades SI teremos 0,1017-Va, onde A é medida em
eletronegatividades. Para tornar a situação mais complexa,
kJ mol"1).
basta lembrar que um determinado tipo de átomo vai estar
em ambientes diferentes, em diferentes moléculas. É pouco Pauling calculou os valores de 0,208Va para inúmeras
provável que a eletronegatividade permaneça indiferente ao ligações e os designou diferenças de eletronegatividade en
ambiente em que o átomo se encontra, embora tre A e B. Repetindo os cálculos de Pauling utilizando a
invariavelmente sejam consideradas constantes. Alguns dos equação em unidades SI, poderemos determinar os valores
métodos mais importantes para se determinar os valores de 0,1017v/A:
das eletronegatividades encontram-se esquematizados
Ligação A(kJ mol"1) 0,1017^A
adiante.
C—H 24,3 0,50 i.e. %C - %H = 0,50
H—Cl 102,3 1,02 i.e. %C1 - %H = 1,02
Pauling N—H 105,9 1,04 i.e.xN-xH - 1,04
Pauling assinalou que, uma vez que reações do tipo
(x(chi) = eletronegatividade do átomo]
A2 + B2 —> 2AB
Se %H = 0, então os valores das eletronegatividades
são invariavelmente exotérmicas, a ligação formada entre para o C, Cl e N serão 0,50; 1,02 e 1,04; respectivamente.
os dois átomos A e B deve ser mais forte que a média das Pauling mudou a origem da escala de Xh = 0 para xh =
energias das ligações simples nas moléculas A-A e B-B. Por 2,05 para evitar valores negativos na tabela de eletro
exemplo: negatividades. Com isso, o valor para o C passou a ser 2,5,
e o valor para o flúor passou a ser 4,0. Além disso, os valores
Hz(gás) + Fz(gás) 2HF(6áS) AH = -5393 kJ mol’1 de eletronegatividade para muitos elementos se aproximaram
^2 (gás) + CIzigás) 2HCl(gás) AH = -1852 kJ mol"1 de números inteiros: Li = 1,0, B = 2,0, N = 3,0. Assim,
H2(gás) + Br2(gâs) 2HBrfgás) AH = -727 kJ mol"1 somando-se 2,05 aos valores determinados anteriormente,
obteremos os valores de eletronegatividades geralmente
O orbital molecular ligante para AB(<X>ab) é formado aceitos (Tab. 6.8).
por contribuições das funções de onda dos orbitais atômicos Caso dois átomos tenham eletronegatividades
apropriados (yA) e (yB). semelhantes, isto é, apresentem tendências semelhantes de
^ab = (Va) + constante (qrB)
Se a constante for maior que 1, o orbital molecular te‘rá Tabela 6.8 — Coeficientes de eletronegatividade de Pauling
uma maior densidade eletrônica sobre o átomo B. Nesse (para os estados de oxidação mais comuns dos elementos)
caso, esse átomo terá uma carga parcial negativa e a ligação
será parcialmente polar. H
2,1
8+ 8" Li Be B C N O F
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
A----- B
Na Cl
Se, por outro lado, a constante for menor que 1, o átomo 0,9 3,0
A terá uma carga parcial negativa. Por causa desse caráter ir 17
iônico parcial, a ligação A-B será mais forte do que seria de 0,8 2,8
se esperar para uma ligação covalente pura. A energia de Rb"
ligação adicional é denominado delta, A. 0,8 2,5
A = (energia de ligação real) - (energia para uma ligação cT
100 % covalente) 0,7
ae PROPRIEDADES BERAIS DOS ELEMENTOS
Grupo
1 2 13 14 15 16 17 18
Período
1 H H He
2.1 2.1
2 Li Be B C N O F Ne
3 Na Mg AZ Si P S Cl Air
Grupo
0.9 1.2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1.5 1.8 2.1 2.5 3.0
4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
0.8 1.0 1.3 1.6 1.6 1.5 1.8 1.8 1.8 1,9 1,6 1,6 1,8 2.0 2,4 2,8
5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
0.8 1,0 1.2 1,4 1.6 1,8 1,9 2.2 2,2 2,2 1,9 1.7 1.7 1,8 1,9 2,1 25
6 Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TZ Pb Bi Po At Rn
0.7 0.9 1.1 1.3 1.5 1.7 1.9 2.2 2,2 2.2 2.4 1.9 1,8 1.8 1.9 2.0 2,2
7 Fr Ra Ac
A eletronegatividade varia com o estado de oxidação do elemento. Os valores dados correspondem aos estados de oxidação mais comuns. (Bolas grandes indicam valores
elevados de eletronegatividade, bolas menores indicam valores menores). Copyright 1960 Comell University Press.
atrair os elétrons, a ligação entre eles será predominan- entre os átomos é de cerca de 1,7. Logo, se a diferença de
temente covalente. Por outro lado, uma grande diferença de eletronegatividade for maior, a ligação terá caráter mads
/ eletronegatividade leva a uma ligação com um elevado grau iônico que covalente. Analogamente, a ligação será mais
de caráter polar, ou seja, a uma ligação predominantemente covalente que iônica se a diferença for menor que 1,7. É
iônica. preferível descrever uma ligação como a que ocorre no BF;
Pode-se perceber que ao invés de considerar apenas como sendo 63% iônica, ao invés de caracterizá-lo como
duas formas extremas de ligações (iônicas e covalentes), sendo puramente iônica.
Pauling introduziu a idéia de que o grau de caráter iônico de
uma ligação varia com a diferença de eletronegatividades, Mulliken
como mostrado na Fig. 6.3. Esse gráfico se baseia no caráter
iônico dos ácidos HI (4% iônico), HBr (11% iônico), HC1 Em 1934, Mulliken sugeriu uma interpretação alterna
(19% iônico) e HF (45% iônico), determinados a partir de tiva para a eletronegatividade, baseada na energia de ioni-
medidas de momento dipolar. Ocorre uma ligação com 50% zação e na afinidade eletrônica dos átomos. Considere do is
de caráter iônico quando a diferença de eletronegatividades átomos A e B. Se um elétron for transferido de A para B,
com formação dos íons A+ e B', a variação de energia será
igual à diferença entre a energia de ionização do átomo A,
(IA), e a afinidade eletrônica do átomo B, (EB), ou seja,
IA - Eb. Se, ao contrário, o elétron for transferido de B para
A, formando B+ e A", a variação de energia será dada
por IB - Ea. Se as estruturas formadas efetivamente forem A*
e B~, então este será o processo que requer menos energia,
de modo que
a 0 V, ou seja, o valor atribuído arbitrariamente ao par H+/ de H + , e o cobre pode ser eletrolisado em solução aquosa.
H2: o hidrogênio é conhecido como um agente redutor. Um Contudo, o hidrogênio e outros gases freqüentemente
grupo de reagentes utilizados na química analítica clássica requerem um potencial consideravelmente maior que o
como agentes redutores fracos (por exemplo, sulfito e Sn(II)) potencial teórico. Para o hidrogênio esse potencial extra ou
são as formas reduzidas de pares redox com potenciais en sobretensão pode ser de 0,8 volt, tornando possível a
tre 0 e cerca de +-0,6 V. Por outro lado, VO2 + é a forma eletrodeposição de zinco de uma solução aquosa de seus
estável do vanádio e VO2+ é um agente oxidante fraco: o sais.
potencial VO2 + /VO2+ é +1,00 V. Assim, podemos afirmar, Diversos fatores influenciam o valor do potencial
a partir dos dados experimentais, que regra geral quando padrão. A conversão de M em M +, em solução aquosa, pode
E° =0,8 V as formas oxidada e reduzida terão estabilidades ser desdobrada numa série de etapas:
mais ou menos equivalentes em processos redox.
1. Sublimação de um metal sólido
Não é muito revelador designar um metal como sendo 2. Ionização de um átomo metálico gasoso
um agente redutor: a maioria dos metais são agentes
redutores. É útil classificar os metais em quatro grupos de 3. Hidratação do íon gasoso.
acordo com a facilidade de redução de seus íons metá Essas etapas podem ser analisadas mais convenien-
licos. temente num ciclo do tipo de Born-Haber (Fig. 6.4).
1. Os metais nobres (com E° mais positivo que 0 V). A entalpia de sublimação e a energia de ionização são
2. Metais que são facilmente reduzidos (por exemplo com positivas, pois energia deve ser fornecida ao sistema em
carvão) (E° entre 0 e -0,5 V). ambos os casos. Por outro lado, a entalpia de hidratação é
negativa, pois há desprendimento de energia nesse processa.
3. Metais de transição reativos (E° entre -0,5 e -1,5 V), Portanto,
que são freqüentemente preparados por redução com
metais eletropositivos. E = +AHS + Z + AHh
4. Os metais eletropositivos (E° mais negativo que -1,5 V), Considere inicialmente um metal de transição. A maioria
que podem ser preparados por redução eletroquímica. dos metais de transição tem elevados pontos de fusão: a
Quando uma solução é eletrolisada, o potencial externo entalpia de sublimação será, portanto, elevada. Ao mesmo
aplicado deve ser maior que o potencial de eletrodo. A tempo, seus átomos são bastante pequenos e possuem
voltagem mínima necessária para provocar a deposição é elevadas energias de ionização. Com isso o valor do potencial
igual e de sinal contrário ao potencial do eletrodo em contato de eletrodo E será baixo, e o metal terá pouca tendência .a
com sua solução. Elementos situados na parte inferior da formar íons: ele será pouco reativo ou nobre.
série se reduzem antes: por exemplo, Cu2+ se reduz antes Ao contrário, metais do bloco s (Grupo 1 e 2) apresentam
reaçOes oe □xioaçAo-reduçAo 87
Portanto, o revestimento de zinco tem duas finalidades: reações de desproporcionamento. Esse tópico é freqüen-
primeiro ele recobre o ferro e impede sua oxidação (como temente pouco compreendido, por isso diversos exemplos
se fosse uma camada de tinta) e em segundo lugar ele fornece serão apresentados.
proteção catódica. Uma grande quantidade de informações úteis sobre um
Uma tabela de potenciais padrão de redução (Tab. 6.12) dado elemento pode ser mostrada utilizando as semi-reações
pode ser usada para prever se uma dada reação é ou não apropriadas e seus respectivos potenciais de redução.
possível, e qual será sua constante de equilíbrio. Vejamos, Vejamos algumas das semi-reações envolvendo o ferro:
por exemplo, se o íon triiodeto I3’ é capaz de oxidar As(III)
do HAsO2 a As(V). Fe2* + 2e Fe E° = -0,47 volt
Fe3* + 3e Fe E° = -0,057 volt
HAsOj + I3- + 2H2O H3ASO4 + 3F + 2H* Fe3* + e->Fe2* E° = + 0,77 volt
FeO,2' + 3e + 8H* ->Fe3* + 4H2O E° = +2,20 volt
Como a tabela contém os potenciais de redução,
precisamos achar as semi-reações para os seguintes Quando um elemento pode existir em diversos estados
processos: H3AsO4 + 2e —» produtos e I3“ + 2e—» produtos. de oxidação (no presente caso, Fe(VI), Fe(III), Fe(II) eFe(O)),
é conveniente mostrar todos os potenciais de redução para
H3AsO4 + 2e + 2H* HAsO2 + 2H2O as semi-reações em um único diagrama. A espécie com o
E° - + 0,56 volt maior estado de oxidação é mostrado à esquerda e 0 de
I3- + 2e —> 3F E° = + 0,54 volt menor estado de oxidação à direita. Espécies tais como
elétrons, H* e H2O são omitidas.
A reação que estamos investigando requer que a
primeira semi-reação seja invertida, e a seguir somada à estado de oxidação
segunda semi-reação. Os valores de E° das semi-reações não VI III II 0
devem ser somados, já que eles não consideram o número
E° (V) -0,47
de elétrons envolvidos. Contudo, os valores de E° podem FeO2’ — Fe3* — Fe2*- Fe
ser convertidos nos correspondentes valores de AG, os quais L-----------0,057 J
podem ser somados para fornecerem o valor de AG da reação
total. O potencial para a redução de FeO42’ a Fe3 * é de 2,20
HAsO2 + 2H2O —> H3ASO4 2H + E° = -0,56 V
H3AsO4 + 2e + 2H volts. Como AG = -nFE?, conclui-se que o valor de AG
I3" + 2e —-+3F
>3F E° = +0,54 V para essa reação será elevado e negativo. Isso indica que a
reação é termodinamicamente factível, já que ela desprende
HAsO2 + I3- + 2H2O^H3AsO4 + 3F + 2H + uma grande quantidade de energia, e FeO42- é um agente
oxidante forte.
AG = + (2xFxO,56)
AG = - (2 X F x 0,54) Potenciais padrão de eletrodo são medidos numa escala
em que
AG = +0.04F
H+ + e H E° = 0,00 volt
A variação de energia livre AG assim calculada é
positiva, o que indica que a reação não se processa Dado que o hidrogênio é normalmente considerado
espontaneamente na direção indicada, e sugere que é como um agente redutor, as espécies reduzidas de semi-
energeticamente possível que a reação se processe no sentido reações com valores negativos de E° são mais redutoras qu e
inverso. Todavia, deve-se notar que o valor de AG é muito o hidrogênio, isto é, elas são fortemente redutoras. Geralmen
pequeno, e assim não é prudente tirar conclusões precipi te, os compostos aceitos como sendo agentes oxidantes têm
tadas. Os valores de E° se referem às condições padrão e valores de E° acima de + 0,8 volt, aquelas com valores em
como o valor de AG é muito pequeno, uma pequena variação torno de +0,8 volt (como Fe3* —» Fe2*) são estáveis
nas condições, como por exemplo uma variação na (igualmente oxidantes e redutoras), e aquelas com valores
concentração, no pH ou na temperatura, poderíam alterar inferiores a + 0,8 volt se tornam mais e mais redutoras.
suficientemente os potenciais e, portanto, o valor de AG para Para a transformação Fe3*/Fe2* o valor de E° é de
permitir que a reação em qualquer sentido. Existem métodos + 0,77 V. Este se aproxima do valor + 0,8 V, e assim Fe3* e
volu métricos de análise no qual se reduz o ácido arsênico Fe2* têm quase a mesma estabilidade em relação à oxidação
com íons iodeto em ácido 5 M, e outro no qual o ácido e à redução. Os valores de E° para as transformações Fe3 *
arsenioso é oxidado pelo íon triiodeto, em pH 7. —> Fe e para Fe2* —» Fe são ambos negativos: como AG é
positivo, nem Fe3* e nem Fe2* apresentam tendência de se
reduzirem a Fe.
APLICAÇÃO DOS POTENCIAIS DE
Um dos fatos mais importantes que pode ser deduzido
REDUÇÃO a partir de um diagrama de potenciais de redução é a
Os potenciais de redução podem ser empregados em estabilidade das espécies frente ao desproporcionamento. A
inúmeros casos, para verificar que espécies irão oxidar ou reação de desproporcionamento ocorre quando um íon num
reduzir uma dada espécie, para verificar quais serão os dado estado de oxidação se decompõe formando íons com 0
produtos e quais são os estados de oxidação estáveis no elemento em questão num estado de oxidação mais alto e
solvente em questão, bem como para obter infoimações sobre mais baixo. Isso acontece quando o íon num dado estado de
aplicaçAd oos potenciais de redução 89
oxidação é um agente oxidante mais forte que o íon no estado Portanto, em solução o íon Cu* sofre desproporciona
de oxidação imediatamente superior. Essa situação acontece mento gerando Cu2+ e Cu, e por isso o Cu* só pode ser
quando um potencial de redução à direita é mais positivo encontrado no estado sólido.
que um à esquerda. No diagrama dos potenciais de redução O diagrama de potenciais de redução para o oxigênio é
do ferro, os valores se tornam progressivamente mais mostrado a seguir.
negativos ao passarmos da esquerda para a direita, e portanto
Fe3* e Fe2* são estáveis frente ao desproporcionamento.
Num primeiro exame, o potencial de -0,057 V para a estado de oxidação 0 -I -II
transformação Fe3* —> Fe parece incorreto, visto que os + 0,682' +1,776
E° (V) o2 —— h2o2—:—h2o
potenciais para as transformações Fe3+ -» Fe2* e Fe2+ Fe I---------- + 1,229---------- 1
são respectivamente, 0,77 V e -0,47 V. A soma de 0,77 e -0,47
não dá -0,057. Potenciais para reações completas podem * sofre desproporcionamento.
ser somados, porque não há sobras de elétrons no processo. Movendo-se da esquerda para a direita, os potenciais
Os potenciais das semi-reações não podem ser somados de redução aumentam, e portanto H2O2 é instável com
porque neste caso o número de elétrons envolvidos pode relação ao desproporcionamento.
não estar balanceado. Contudo, sempre é possível converter
os valores de E° em energia livre através da equação 0 -II
AG = -nFE°, onde n é o número de elétrons envolvidos e F 2H2O2 O2 + H2O
é o Faraday. Dado que a energia livre de Gibbs, G, é uma
função termodinâmica, as energias podem ser somadas, e o Devemos lembrar que o solvente impõe limitações sobre
valor total da energia livre pode ser reconvertido para um as espécies que são estáveis, ou até mesmo definem quais
valor de E°: são as espécies que podem existir. Agentes oxidantes muito
fortes oxidarão a água a O2, ao passo que agentes redutores
Fe3* + e->Fe2* E° = +0,77 V AG = -l( + 0,77)F = -0,77F fortes reduzirão a água a H2. Assim, agentes oxidantes e
Fe2* +2e->Fe E° =-0,47 V AG = -2(-0,47)F = + 0.94F redutores muito fortes não podem existir em solução aquosa.
As seguintes semi-reações são de particular interesse:
somando,
Redução da água
Fe3+ + 3e —» Fe AG = + 0,17F
solução neutra H2O + e" -» OH’ + ’/zH2 E° -0,414 V
Podemos, portanto, calcular E° para a reação Fe- Fe: solução ácida 1,0 M H3O* + e- + h2o + ‘/2H2 E° 0,000 V
solução básica 1,0 M H2O + e’~ OH' + ‘/2H2 E° = -0,828 V
0,17F Oxidação da água
= -0,057V
—nF -3F solução neutra '/;O2 + 2H* + 2e—»H20 E° = +0,185 V
solução ácida 1,0 M */2O2 + 2H*+2e’ —+H20 E° +1,229 V
O diagrama de potenciais de redução para o cobre, em solução básica 1,0 M '/2O2 + H20 + 2e" —> 20H" E° + 0,401 V
solução ácida, é:
Essas reações limitam a estabilidade termodinâmica de
estados de oxidação II I 0 qualquer espécie em solução aquosa. Os potenciais de
Cu2*+-^'cu*---------+ 0.50 _ redução mínimos necessários para oxidar a água a oxigênio
E° (V) Cu
I---------- +0,35 I são E° > +0,185 V numa solução neutra, E° > +1,229 V
numa solução ácida (l,0M),eE° > +0,401 Vnuma solução
" sofre desproporcionamento. básica (1,0 M).
O potencial e, portanto, a energia liberada quando Cu2 + Da mesma forma, semi-reações com potenciais, E°,
é reduzido a Cu + , são ambos muito pequenos, de modo menores que zero (valores negativos) devem reduzir a água
que Cu2+ não é um agente oxidante, mas é estável. Passando a H2 em solução ácida 1,0 M, enquanto que um potencial
da esquerda para a direita os potenciais Cu2+ - Cu+ - Cu se E°< -0,414 V é necessário numa solução neutra, e£° <
tornam mais positivos. Sempre que ocorre essa situação, a -0,828 V numa solução básica 1,0 M.
espécie situada no meio (Cu+ no caso em discussão) sofre Frequentemente, quando os valores de E° são apenas
desproporcionamento, isto é, se comporta simultaneamente suficientes para que uma dada reação seja termodinami-
tanto como um agente auto-oxidante como um agente auto- camente possível, a reação parece não ocorrer. Na realidade,
redutor, porque do ponto de vista energético as duas uma substância termodinamicamente instável pode ser
transformações seguintes podem ocorrer concomitan cineticamente estável se apresentar uma energia de ativação
temente: elevada para reagir. Isso significa que as velocidades dessas
reações serão muito lentas. Por outro lado, se os potenciais
Cu*—>Cu2 + + e Eoxidaçao - -0,15 AG - + 0.15F forem consideravelmente mais positivos ou negativos que
Cu * + e —> Cu firedução - +0.50 AG - -0,50F os limites acima, poderá ocorrer uma reação com o solvente.
Somando, Os potenciais de redução para o amerício indicam que
2Cu* -» Cu2* + Cu AG -0.35F o Am4* é instável com relação ao desproporcionamento.
90 PROPRIEDADES BERAI5 DOS ELEMENTOS
2MnO4* +!' + 2HT -> 2MnO2 + IO3' + H2O Separação mecânica de elementos que existem na
8MnO4‘ + 31' + 8H+ -> 8MnO2 + 3IO4‘ + 4H2O forma nativa
Se essa mesma reação for efetuada invertendo-se a Um número surpreendentemente grande de elementos
ordem de adição, ou seja, adicionando-se gota a gota a ocorre livre no estado elementar. Eles permaneceram na
solução de KMnO4 sobre a solução de Kl, então os produtos forma nativa porque são pouco reativos. Somente os metais
formados deverão ser estáveis na presença de I'. Nesse caso menos reativos, pertencentes ao Grupo 11 (cobre/prata/ouro)
o MnO2 não pode ser o produto de redução, pois ele oxidaria e os metais do grupo da platina, ocorrem na forma elementar
o I' a I2. Analogamente, o IO3 não podería ser o produto de em quantidades apreciáveis.
redução, pois oxidaria qualquer excesso de I' a 12. Logo, a 1. O ouro é encontrado na forma nativa, como grânulos
reação que ocorre nessas condições é: incrustados no quartzo, como pepitas ou junto aos
2MnO„ + 101' + 16H+ ->2Mn2+ + 5I2 + 8H2O sedimentos nos leitos dos rios. O ouro possui uma
densidade de 19,3 g cm'3, muito maior que a das rochas
Como há um excesso de íons I", o I2 formado ficará na ou dos sedimentos com os quais ele está misturado.
forma do íon triiodeto I3‘, mas isso não influencia a reação Por isso, o ouro pode ser separado com o auxílio de ba-
acima. teias (recentemente tornou-se comum extraí-lo por
J2 + r->s amalgamaçâo com mercúrio). A prata e o cobre, tam
bém, são às vezes encontrados na forma elementar,
Observe que a natureza dos produtos formados depende como "pepitas". Todos os três metais são “nobres” ou
da natureza do reagente que se encontra em excesso. pouco reativos. Essa característica está associada com
sua posição na série eletroquímica, abaixo do hidrogênio
OCORRÊNCIA E OBTENÇÃO DOS e próximo dos não-metais.
ELEMENTOS 2. O paládio e a platina também são encontrados como
Os elementos mais abundantes na crosta terrestre (em metais nativos. Além disso, existem ligas naturais dos
peso) são mostrados na Tab. 6.13. É interessante ressaltar metais do grupo da Pt.
que os cinco primeiros elementos perfazem quase 92% em Rh Pd
Os metais do grupo da platina são: Ru
peso da crosta terrestre, que os dez primeiros perfazem mais Os Ir Pt
de 99,5%, e que os vinte primeiros constituem cerca de
99,97% da crosta terrestre. Portanto, alguns poucos elemen Os nomes dessas ligas naturais indicam sua composição:
tos são muito abundantes; a maioria é rara. osmirídio, iridosmina.
Outros elementos muito abundantes são o nitrogênio 3. Gotas de mercúrio líquido são encontrados em asso
(78 % da atmosfera) e o hidrogênio que ocorre como água ciação com o cinábrio, HgS. Os não-metais que ocorrem
nos oceanos. A química desses elementos abundantes é bem na forma nativa, na crosta terrestre, pertencem aos
conhecida. Alguns elementos menos abundantes também grupos do carbono e do nitrogênio, mas na atmosfera
são bem conhecidos, pois ocorrem em depósitos concen encontram-se o N2, o O2 e os gases nobres.
trados: por exemplo, o chumbo, encontrado como PbS (ga-
lena) e boro como Na4B2O7- 10H2O (bórax). 4. Os diamantes são encontrados na crosta terrestre e são
obtidos por separação mecânica de grandes quantidades
Os diferentes métodos para separar e extrair os
de rochas e terra. Os maiores depósitos se encontram
elementos podem ser divididos em cinco classes (vide Ives,
na Austrália, Zaire, Botsuana, Rússia e África do Sul.
D. J. G., em Leituras complementares).
Os diamantes são usados principalmente na fabricação
de ferramentas de corte e, em menor quantidade, na
Tabela 6.13 — Os elementos mais abundantes manufatura de jóias. A grafita é minerada principal
mente na China, Coréia do Sul, Rússia, Brasil e México.
Partes por milhão %da crosta Ela é usada na fabricação de eletrodos, na indústria do
da crosta terrestre terrestre aço, como lubrificantes, em lápis, em escovas para
motores elétricos e lonas de freios. Também, é usada
1. Oxigênio 455.000 45,5 como moderador nos núcleos de reatores nucleares
2. Silício 272.000 27,2 resfriados a gás.
3. Alumínio 83.000 8,3
5. Depósitos de enxofre são encontrados a grandes
4. Ferro 62.000 6,2
5. Cálcio 46.000 4,66 profundidades nos EUA, Polônia, México e Rússia. O
6. Magnésio 27.640 2,764 enxofre é extraído pelo processo Frasch. Pequenas
7. Sódio 22.700 2,27 quantidades de selênio e telúrio frequentemente estão
8. Potássio 18.400 1,84 presentes no enxofre.
9. Titânio 6.320 0,632 6. A atmosfera é constituída por cerca de 78% de
10. Hidrogênio 1.520 0,152 nitrogênio, 22% de oxigênio e por traços dos gases
11. Fósforo 1.120 0,112 nobres argônio, hélio e neônio. Eles podem ser separa
12. Manganês 1.060 0,106
dos por destilação fracionada do ar líquido. O hélio
O apêndice A apresenta uma tabela completa também ocorre em alguns depósitos de gás natural.
92 PROPRIEDADES GERAIS DOS ELEMENTOS
Tabela 6.14 — Potenciais de redução e métodos de obtenção nos correspondentes óxidos sã<
inclinados para cima, pois as variaçõei
Elemento E° (V) Materiais Método de obtenção de energia livre se tornam cada vez mai
positivas com o aumento da tempe
Lítio Li+ILi -3,05 LiCl Eletrólise de sais fundidos, ratura, como já foi discutido anterior
Potássio K+IK -2,93 KC1, [KClMgCl2-6H2O] geralmente cloretos mente.
Cálcio Ca2+ICa -2,84 CaCl2 2. Os gráficos são lineares até c
Sódio Na+INa -2,71 NaCl momento em que os metais fundem oi
Magnésio Mg2+IMg -2,37 MgCl2, MgO Eletrólise de MgCl2 Redução se vaporizam. Nesses casos, há uma
com C a altas temperaturas grande variação de entropia devido i
mudança de estado físico, que provoca
Alumínio A13+IA1 -1,66 A12O3 Eletrólise de A12O3 dissolvido uma alteração na inclinação das retas
em Na3[AlF6] fundido (por exemplo, a reta para o processo
Manganês Mn2+IMn -1,08 Mn3O4, MnO2 Redução com Al. Hg —> HgO muda de inclinação a 356 °'C,
Crômio CrJ+ICr
CPlCr -0,74 FeCr2O4 Processo térmita quando o mercúrio passa para o estado
Zinco Zn2+IZn -0,76 ZnS Redução química dos óxidos gasoso. Analogamente, a linha para o
Ferro Fe+IFe -0,44 Fe2O3, Fe3O4 com C. processo Mg —> MgO muda de inclinação
Cobalto Co2*ICo -0,27 CoS Sulfetos convertidos em óxi a 1.120 °C).
Níquel Ni2+INi -0,23 NiS, NiAs2 dos e a seguir reduzidos com 3. Em alguns casos, o gráfico cruza
Chumbo Pb2+IPb -0,13 PbS C, às vezes com H2 a linha correspondente a AG = 0, numa
Estanho Sn2+ISn -0,14 SnO2 temperatura suficientemente elevada.
Cobre Cu2+ICu +0,35 Cu (metal), CuS Encontrados como metais nati Abaixo dessa temperatura a energia livre
Prata _ +IAg_
Ag +0,80 Ag (metal), Ag2S, AgCl vos, ou compostos facilmente de formação do óxido é negativa, de
Mercúrio Hg2+IHg +0,85 HgS desintegráveis pelo calor (tam modo que o óxido será estável. Acima
Ouro Au3+IAu +1,38 Au (metal) bém extração com cianeto) dessa temperatura a energia livre de
formação do óxido será positiva, e o
A variação de energia livre AG deve ser negativa para óxido se torna instável. Nesse caso, ele deveria se
uma reação espontânea. decompor gerando o metal e oxigênio.
AG = AH - TAS Teoricamente é possível decompor todos os óxidos nos
metais respectivos e oxigênio, desde que se atinja uma
AH é a variação de entalpia da reação, T a temperatura
absoluta, e AS a variação de entropia da reação. Considere
uma reação como a da formação de um óxido:
M +■ */2O2 MO
temperatura suficientemente elevada. Na prática, e ficará abaixo de todas as outras linhas dos gráficos
somente os óxidos de Ag, Au e Hg podem ser correspondentes à transformação metal/óxido do metal.
decompostos a temperaturas suficientemente baixas, Portanto, teoricamente o carbono poderia ser usado para
para que os elementos possam ser obtidos a partir da reduzir qualquer óxido metálico, desde que se consiga
decomposição térmica de seus óxidos. temperaturas suficientemente elevadas. Apesar deste
4. Em vários processos, utiliza-se um metal para reduzir processo ser atualmente obsoleto, a redução do MgO com C
o óxido de outro metal. Qualquer metal reduzirá o óxido a temperaturas em torno de 2.000 °C, já foi utilizado para
de outro metal situado acima dele no diagrama de produzir Mg, após um rápido resfriamento (choque térmico).
Ellingham, porque a energia livre dessas reações será Analogamente, a redução de óxidos muito estáveis, tais como
negativa e igual à diferença entre os valores de energia TiO2, A12O3 e MgO, é teoricamente possível, mas não é
livre entre os dois gráficos, na temperatura em questão. utilizada na prática devido aos altos custos e dificuldades
Por exemplo, o Al reduz prontamente o FeO, CrO e NiO, operacionais decorrentes do emprego de temperaturas
por meio da conhecida reação Thermite (aluminoter- extremamente elevadas. Uma outra limitação no uso do
mia); mas o Al não será capaz de reduzir o MgO, a carbono para a obtenção de metais é decorrente de sua reação
temperaturas inferiores a 1.500 °C. com os metais a altas temperaturas, formando carbetos.
No caso do carbono reagindo com oxigênio, duas Muitos metais ocorrem como sulfetos. Embora o
reações são possíveis: carbono seja um bom agente redutor para óxidos, ele é um
agente redutor fraco para sulfetos. A razão pela qual o
C + O2 -» CO2 carbono é capaz de reduzir tantos óxidos metálicos a
C + '/2O2 -» CO temperaturas elevadas é a inclinação negativa da linha
ÁGS/T para o CO. Não existe um composto de enxofre
Na primeira reação o volume de CO2 produzido é igual análogo ao CO que apresente um gráfico de AG°/T com uma
ao volume de O2 consumido, de modo que a variação de inclinação negativa pronunciada. Por isso os sulfetos são
entropia é muito pequena. Por isso, o AG da reação prati normalmente calcinados ao ar para formarem óxidos, antes
camente não se altera em função da temperatura, e o gráfico de serem reduzidos com carbono.
de AG em função de T é quase uma reta horizontal.
2MS + 3O2 -» 2MO + 2SO2
A segunda reação produz dois volumes de CO para cada
volume de oxigênio consumido. Portanto, ÁS é positivo e Analogamente, o hidrogênio tem um espectro limitado
AG se torna cada vez mais negativo à medida que aumenta como agente redutor para a obtenção de metais a partir de
a temperatura T. Consequentemente, a reta correspondente seus óxidos, uma vez que a linha AG°/T apresenta inclinação
a essa reação no diagrama de Ellingham tem uma inclinação positiva, e é paralela à linha de muitos óxidos metálicos.
negativa (Fig. 6.6). As linhas referentes às reações C —» CO2 2H2 + [O2] -» 2H,O
e C —» CO se cruzam a cerca de 710 °C. Abaixo dessa
temperatura a reação que forma CO2 é energeticamente mais Portanto, somente os metais com linhas metal —> óxido
favorecida, mas acima de 710 °C a formação de CO é mais metálico situados acima da linha do hidrogênio serão
favorecida. reduzidos, e essa situação não muda em função da
temperatura. Outro problema associado ao uso de H2 decorre
O carvão (carbono) é muito utilizado para reduzir o
da reação de muitos metais com o hidrogênio, formando
óxido de ferro na produção de ferro, mas também pode ser
hidretos. Caso o hidrogênio permaneça dissolvido no metal
utilizado para reduzir outros óxidos situados acima dele
(hidretos intersticiais) as propriedades do metal serão
no diagrama de Ellingham. Como a linha do AG da reação
modificadas significativamente.
C —> CO tem inclinação negativa, ela eventualmente cruzará
Os argumentos termodinâmicos apresentados até o
momento para prever quais são os agentes que podem reduzir
um dado composto têm duas limitações. Pressupõe-se que
os reagentes e os produtos estejam em equilíbrio, o que nem
sempre é o caso, e eles apenas indicam se uma dada reação
é possível ou não. Contudo, não é possível prever a
velocidade das reações ou se alguma reação paralela é ainda
mais favorecida.
Maiores detalhes sobre os processos de obtenção e os
diagramas de Ellingham para haletos e sulfetos podem ser
encontrados nas referências listadas na seção de leituras
complementares (vide Ives, D. J. G., e Ellingham, H. J. T.)
Bloco s Bloco p
^\Grupo
1 2 13 14 15 16 18 18
Períodc»^
Destilação fracionada
de ar líquido
t
1 ■h 7He
2 3Lí 4Be Bloco d 5B 6C 7N 8O »F l0Ne
3 "Na l2Mg 3 4 5 6 7 8 9 10 H 12 13aí l4Si l5P l6S l7CÍ uAr
4 l9K 20Ca 2lSc 22Ti 21V 24Cr 25Mn 26Fe 28Ni 29Cu 3lGa l:Gc 33As MSe 35Br *Kr
5 37Rb 38Sr 39y 40Zr 4lNb 42Mo 43Tc “Ru JSRh 46Pd 47 Ag 48Cd 49In 5<lSn 51Sb 52Te «I HXe
6 55Cs 56Ba 57La 72Hf ”Ta ,4W 75Re 76Os 77Ir 78Pt 79 Au 8iT/ 82Pb ”Bi
L
eletrólise de sais fundidos
J LJ
Eletrólise
LJ LJ t J L ZE ZE
Encontrados livres na natureza
(freqüentemente cloretos) ou redução ou compostos facilmente
química desintegráveis pelo calor
Grupo 1 têm um elétron no nível mais externo. Quando Geralmente, os óxidos metálicos sao básicos enquanto ot
reagem, são univalentes, pois a perda de um elétron leva à óxidos dos não-metais são ácidos.
configuração de um gás nobre. De modo semelhante, os Descendo por um grupo da tabela periódica, todos o<
elementos do Grupo 2 possuem dois elétrons no nível mais elementos possuem o mesmo número de elétrons externo:
externo e são divalentes. Logo, a valência de um elemento e a mesma valência, mas o tamanho aumenta. Assim, i
do bloco s é igual ao número do grupo. No caso de elementos energia de ionização diminui e o caráter metálico aumenta
do bloco p a valência geralmente é igual ao número do grupo Isto é particularmente visível nos Grupos 14 e 15, q.u<
1 ou (8 — número do grupo). Isso é, igual ao número de começam com os não-metais carbono e nitrogênio, <
elétrons s ep da camada mais externa, ou (8 — esse número terminam com os metais chumbo e bismuto. Os óxidos s
de elétrons). Os elementos do Grupo 15 (por exemplo, o tornam cada vez mais básicos, descendo ao longo do Grupo
nitrogênio) têm cinco elétrons na camada mais externa. Se
Ao se mover diagonalmente na tabela periódica, oi
três desses elétrons forem compartilhados para formarem
elementos apresentam certas similaridades. Essa:
ligações covalentes com outros átomos, então o nitrogênio
semelhanças não são tão acentuadas como as que ocomen
terá oito elétrons e uma configuração eletrônica estável. Logo,
dentro dos Grupos, mas são bastante pronunciadas no;
o nitrogênio é trivalente, como na amônia, NH3. Os
seguintes pares de elementos:
halogênios se situam no Grupo 17 e têm sete elétrons na
camada mais externos, de modo que sua valência deve ser Li Be B c
18 —17 = 1. Nesse caso, uma configuração estável pode
ser alcançada recebendo um elétron, seja pela formação de Na Mg Al Si
uma ligação iônica ou uma covalente. Pode-se inferir pelo
Ao se passar de um período para outro adjacente i
exposto acima que o número de elétrons mais externos direita, a carga dos íons aumenta e o tamanho dimiiiu
determina a valência do elemento. provocando um aumento no poder polarizante dos mesmo:
Movendo-se da esquerda para a direita ao longo de um Descendo por um grupo, o tamanho aumenta e o pode
período, o tamanho dos átomos diminui por causa do polarizante diminui. Ao se mover diagonalmente, esses dloi
aumento da carga nuclear efetiva. Portanto, os elétrons serão efeitos praticamente se cancelam, de modo que não s
mais fortemente atraídos pelo núcleo e a energia de ionização observam diferenças muito acentuadas nas propriedades dc
aumenta naquele sentido. O caráter metálico dos elementos elementos. O tipo e a força das ligações formadas e a
também decresce e os óxidos correspondentes se tornam propriedades dos compostos são geralmente semelhanle;
menos básicos. Na2O é fortemente básico; A12O3 é anfótero embora a valência seja diferente. O lítio é semelhante a
e reage tanto com ácidos como com bases; SO2 é um óxido magnésio em muitas de suas propriedades, o mestn
ácido visto que se dissolve em água para formar ácido ocorrendo com o berílio e o alumínio. Essas semelhança
sulfuroso (H2SO3) e reage com bases para formar sulfitos. serão examinadas mais detalhadamente nos capítulos sobi
PROBLEMAS 97
o Grupo 1, 2 e 3. Essas semelhanças são mais importantes • Jolly, W.L.; Inorganic Chemistry, McGraw Hill, New York,
entre os elementos mais leves, mas deve-se frisar que a linha 1976. (Reações redox em solução aquosa)
que separa os metais dos não-metais também é uma linha • Johnson, D.A.; Some Thermodynamic Aspects of Inorganic
diagonal. Chemistry, Cambridge University Press, Cambridge, 1968.
(Energias reticulares e assuntos correlatos)
LEITURAS COMPLEMENTARES • Latimer, W.M.; The Oxidation States of the Elements and Their
Potentials in Aqueous Solution, 2? ed., Prentice Hall, New
Tamanho, energia de ionização, afinidade eletrônica, York, 1952. (Mesmo sendo antigo, foi o principal local de
termodinâmica, ciclo de Born-Haber e eletronegatividade consulta dos dados de potenciais redox, até muito
• Allred, A.L. e Rochow, E.G.; J. Inorg.Nucl. Chem., 5, 264 recentemente)
(1958). (Artigo original sobre a escala de eletronegatividade • Rosotti, H.; The Study of lonic Equilibria in Aqueous Solu
de Allred e Rochow) tion, Longmans, London, 1978. (Reações redox, solubilidade)
• Allred, A.L.; J. Inorg. Nucl. Chem., 17, 215 (1961). (Mais • Sanderson, R.T.; J. Chem. Ed., 43, 584-586 (1966).
informações sobre os valores de eletronegatividade) (Significado dos potenciais redox)
• Ashcroft, S.J. e Beech, G.; Inorganic Thermodynamics; Van • Sharpe, A.G.; Principies of Oxidation and Reduction,
Nostrand, 1973. Monografia do Royal Institute of Chemistry para professores,
• Bratsch, S.G.; J. Chem. Ed., Parí I: 65, 34-41; Parí II: 65, 223- N.° 2, London, 1981.
226. (Eletronegatividades de Mulliken revisados) • Vincent, A.; Oxidation and Reduction in Inorganic and Ana-
• Blustin, P.H. e Raynes, W.T.; J. Chem. Soc. (Dalton), 1237 lytical Chemistry: A Programmed Introduction, John Wiley,
(1981). (Escala de eletronegatividade considerando as Chichester, 1985.
mudanças de geometria durante a ionização) Abundância e extração dos elementos
• Emeléus, H.J. e Sharpe, H.G.; Modem Aspects of Inorganic • Cox, P.A.; The Elements: Their Origins, Abundance and Dis-
Chemistry, 4? ed., Routledge and Kegan Paul, London, 1973. tribution, Oxford University Press, Oxford, 1989.
(Cap. 5: Estrutura e termodinâmica de moléculas inorgânicas; • Ellingham, H.J.T.; J. Chem. Soc. Ind. Lond., 63, 125 (1944);
Cap. 6: Química inorgânica em meio aquoso) Disc. Faraday Soc., 4,126, 161 (1948). (artigos originais sobre
• Huheey, J.E.; Inorganic Chemistry, Harper and Row, New os diagramas de Ellingham)
York, 1972. (Discussão sobre eletronegatividade) • Fergusson, J.E.; Inorganic Chemistry and the Earth: Chemi
• Lieberman, J.F.; J. Chem. Ed., 50, 831 (1973). (Entalpias de cal Resources, Their Extractioin, Use and Enviromental Im-
Ionização e afinidades eletrônicas) pact, Pergamon Press, Oxford, 1982. (Série da Pergamon Press
• Mulliken, R.S.; J. Chem. Phys., 2, 782 (1934); 3, 573 (1935). sobre ciência ambiental, vol. 6)
(Escala de eletronegatividade de Mulliken) • Ives, D.J.G.; Principies of the Extraction of Metals, Monografia
• Pauling, L.; The Nature ofthe Chemical Bond, 3? ed., Oxford da Royal Institute of Chemistry para professores, N.° 3, Lon
University Press, London, 1960. (Um texto clássico, mas don, 1969.
antigo) • Jeffes, J.H.E.; Chemistry in Britain, 5, 189-192 (1969).
• Sanderson, R.T.; J. Chem. Ed., 31, 2 (1945). (artigo original (Metalurgia extrativa)
sobre a escala de eletronegatividade de Sanderson)
• Sanderson, R.T.; Inorg. Chem., 25, 1856-185 (1986). (Efeito PROBLEMAS
do par inerte sobre a eletronegatividade)
1. a) Como varia o tamanho dos átomos da esquerda para a
• Sanderson, R.T.; J. Chem. Ed., Parí I: 65, 112-118; Part II: 65, direita num período e de cima para baixo num grupo da
227-231 (1988). (Fundamentos sobre a eletronegatividade) tabela periódica? Quais são as razões dessas variações?
• Shannon, R.D.; Acta. Cryst., A32, 751-767 (1976). (Valores b) Explique por que os raios atômicos dos gases nobres
mais recentes e aceitos para os raios iônicos) são os menores dentro dos seus respectivos períodos.
• Sharpe, A.G.; InorganicChemistry, Longmans, London, 1981. c) Por que o decréscimo de tamanho entre o Li e o Be é
(Cap. 3: Configurações eletrônicas e algumas propriedades muito maior que o decréscimo entre o Na e o Mg ou entre
dos átomos) o K e o Ca ?
• Zhang, Y.; Inorg. Chem., 21, 3886-3889 (1982). (Eletronega 2. Explique o que significa energia de ionização de um
tividade dos elementos em diferentes estados de oxidação) elemento. Como ela varia na tabela periódica, entre o
Potenciais padrão de eletrodo, reações redox hidrogênio e o neônio? Discuta como essa variação pode
• Baes, C.F. e Mesmer, R.E.; The Hydrolysis od Cations, Wiley- ser relacionada à estrutura eletrônica dos átomos.
Interscience, London, 1976. (Completo e inteligível) 3. a) Qual a relação entre tamanho dos átomos e suas energias
• Bard, A.J., Parsons, R. e Jordan, J.; Standard Potentials in de ionização ?
Aqueous Solution, Marcei Dekker, New York, 1985. b) Explique o decréscimo observado na energia de
(Monografia da série sobre Química Eletroanalítica e ionização entre o Be e o B e entre o Mg e o Al.
Eletroquímica, vol. 6. Foi aprovado pela 1UPAC para substituir c) Sugira um motivo para o decréscimo na primeira energia
os valores contidos no livro do Prof. Latimer) de ionização entre o N e o O e entre o P e o S.
• Burgess, J.; lons in Solution, Ellis Horwood, Chichester, 1988. d) Explique por que a primeira energia de ionização diminui
• Fromhold, A.T., Jr.; Theory of Metal Oxidation, North Hol- consideravelmente ao se passar do Na para o K e do Mg
land Publishing Co., Amsterdam and Oxford, 1980. para o Ca, mas não do Al para o Ga.
98 PROPRIEDADES BERAIS DOS ELEMENTOS
e) Explique por que a terceira e a quinta energias de 8. a) Explique por que o Cu+ sofre desproporcionamento er
ionização, respectivamente, do Ca e do Si, são muito solução.
maiores em relação à remoção dos primeiros elétrons. b) Explique por que o potencial padrão de redução d
f) Por que os valores da primeira energia de ionização dos semi-reação Cu2 + —+ Cu é igual a +0,34 V, apesar do
elementos de transição são semelhantes ? potenciais das semi-reações Cu2 + —> Cu + e Cu+ -» Ci
4. a) O que é eletronegatividade e como ela está relacionada serem respectivamente iguais a +0,15 V e +0,50 V.
com o tipo de ligação formada ? 9. Enumere os oito elementos mais abundantes da crost.
b) Discuta os fundamentos das regras de Fajans. terrestre e disponha-os em ordem crescente de abundância
c) Que tipo de ligação existe no HC1, CsCl, NH3, CS2 e 10. Descreva os seguintes processos metalúrgicos: a) Bes
GeBr4? semer, b) BOP, c) Kroll, d) Van Arkel, e) Hall-Héroult» í
5. a) Cite quais são as diferentes escalas de eletronegatividade Parkes.
e descreva resumidamente os fundamentos teóricos em 11. Quais são os elementos que ocorrem no estado nativo ?
que cada uma delas se baseia. 12. Enumere cinco minérios que são aquecidos a fusão par<
b) Dê quatro exemplos que mostram como os valores de se obter os respectivos metais e apresente as equações
eletronegatividade podem ser usados para prever o tipo que mostrem o que ocorre durante esse processo.
de ligação formado num composto. 13. Descreva a obtenção de três elementos diferentes usandc
6. Utilize um ciclo de Born-Haber, modificado adequada carbono como agente redutor.
mente para a determinação do potencial de eletrodo, para 14. Desenhe um diagrama de Ellingham para óxidos metálicos
explicar: e explique que informações podem ser obtidas a partindo
a) por que o lítio é um agente redutor tão forte quando o Cs. mesmo. Além disso, explique por que a inclinação da
b) por que o Ag é um metal nobre e o K um metal altamente maioria das linhas é positiva, por que a inclinação varia e
reativo. o que acontece quando uma linha cruza o eixo
7. a) Explique o que são potenciais padrões de eletrodo e correspondente a AG = 0.
como eles estão relacionados com a série eletroquímica. 15. Utilize o diagrama de Ellingham para óxidos e verifique:
b) Explique os fundamentos do método de recuperação a) se o Al consegue reduzir o óxido de crômio
do cobre a partir de suas soluções utilizando raspas de b) a que temperatura o C irá reduzir o óxido de magnésio
ferro.
c) a que temperatura o óxido de mercúrio irá se decompor
c) Como seria possível depositar eletroliticamente os metais em seus elementos.
Cu, Ni e Zn, a partir de uma solução contendo uma mistura
dos sais dos três metais, de modo a se obter os três metais 16. Explique detalhadamente os processos envolvidos na
separadamente? produção do ferro gusa e do aço.
J d) Por que é possível obter o zinco por eletrólise de uma 17. Descreva os métodos de obtenção de dois metais e de dois
solução aquosa, mesmo que os potenciais de eletrodo elementos não-metálicos por eletrólise.
/
sugiram que a água deveria se decompor num potencial 18. Descreva o método de obtenção do magnésio e do bromo
inferior ao necessário para se obter o zinco metálico ? a partir da água do mar.
99
COMPOSTOS
os coonosnoç/io
SAIS DUPLOS E COMPOSTOS DE Cu2+ existe na forma do íon complexo azul-pálido
[Cu(H2O)6]2 + quando em solução aquosa (e também em
COORDENAÇÃO sais cristalinos hidratados). Ao se adicionar uma solução
Compostos de adição são formados quando quantidades aquosa de amônia a essa solução, forma-se o bastante
estequiométricas de dois ou mais compostos estáveis são conhecido íon tetraamincobre(li), azul escuro:
colocados em contato. Por exemplo:
[Cu(H2O)6]2 + + 4NH3 [Cu(H2O)2(NH3)4]2 + + 4H2O
KC1 + MgCl2 + 6H2O -> KC1 • MgCl2 • 6H2O
(carnalita) Observe que essa reação é uma reação de substituição,
K2SO4 + A12(SO4)3 + 24H2O-> K2SO4 A12(SO4)3 -24H2O onde o NH3 substitui a água no íon complexo.
(alúmen de potássio)
CuSO4 + 4NH3 + H2O-> CuSO4 -4NH3 H2O
(sulfato de tetraamincobre(n) O TRABALHO DE WERNER
mono-hidratado) A teoria da coordenação de Werner, de 1893, foi a
Fe(CN)2 + 4KCN -> Fe(CN)2 -4KCN primeira tentativa de explicar a ligação existente em
(ferrocianeto de potássio) complexos de coordenação. Deve-se frisar que essa
engenhosa teoria foi proposta antes da descoberta do elétron
Os compostos de adiçao pertencem a dois grupos:
por J. J. Thompson em 1896, e antes da formulação da teoria
1. Aqueles que perdem sua identidade em solução (sais eletrônica de valência. Essa teoria, e os 20 anos de trabalhos
duplos) árduos de pesquisa associadas a ela, conduziram Alfred
2. Aqueles que mantêm sua identidade em solução Werner ao Prêmio Nobel de Química de 1913.
(complexos). Os complexos devem ter sido um verdadeiro mistério,
Quando cristais de camalita são dissolvidos em água, a sem os conhecimento prévios sobre ligações químicas ou a
solução apresenta as propriedades de uma solução contendo estrutura dos mesmos. Por exemplo, por que um sal estável
íons K+, Mg2+ e Cl". Analogamente, uma solução de alúmen como o CoCl3 reagiría com um número variável de moléculas
de potássio apresenta as propriedades de uma solução estáveis de um composto como o NH3, para formar diversos
contendo os íons K + , Al3+ e SO42’. Ambos são exemplos de compostos novos: CoCl3 ■ 6NH3, CoCl3 ■ 5NH3 e CoCl3 • 4NH3?
sais duplos, que só existem no estado cristalino. Quais seriam suas estruturas? Na época de Werner a difração
Quando os dois outros exemplos, desta feita de com- de raios X, o mais poderoso método para se determinar a
pos-tos de coordenação, são dissolvidos em água, eles não estrutura de cristais, ainda não tinha sido descoberto. Werner
formam os íons simples que os compõem, ou seja, Cu2+ ou não tinha à sua disposição nenhuma das modernas técnicas
Fe2 + e CN~. Em contraste, seus íons complexos mantêm a instrumentais, de modo que todos os seus estudos foram
integridade. Assim, os íons [Cu(H2O)2(NH3)4]2+ e realizados mediante a interpretação de simples reações
[Fe(CN)6]4', existem como entidades distintas, tanto no químicas. Werner foi capaz de explicara natureza das ligações
estado sólido como em solução. Os íons complexos são nos complexos, e concluiu que nesses compostos o metal
indicados através do uso de colchetes e os compostos apresenta dois tipos de valência:
contendo esses íons são designados compostos de coorde 1. Valências primárias. São não direcionais. Uma
nação. A química dos íons metálicos em solução é essen explicação moderna seria a que segue. O complexo
cialmente a química de seus complexos. Em particular, os geralmente existe na forma de um íon positivo. A
íons dos metais de transição formam muitos complexos valência primária é o número de cargas no íon
estáveis. Em solução, os íons metálicos "livres” são coor complexo. Essa carga deve ser compensada por um
denados pela água ou por outros ligantes. Por exemplo, o número igual de cargas provenientes de íons negativos.
1OO COMPOSTOS OE COORDENAÇÃO
a) b)
NHj NH, 2+
Já foram isolados os dois isômeros ópticos possíveis Tabela 73 — Condutividade de sais e complexos
(Fig. 7.4) dos complexos metálicos obtidos com ligantes (condutividades molares medidas em concentração de 0,001 M)
bidentados como a etilenodiamina (1,2-diaminoetano).
ohm"1
Werner estudou uma série de complexos, que incluíam cm2 mol'1
[Ptn(NH3)2Cl2] e [Pdn(NH3)2Cl2]. O número de coordenação
é 4, e a forma poderia ser tetraédrica ou quadrado-planar. LiCl -»Li+cr (total de 2 cargas) 112,0
Werner obteve dois isômeros diferentes para esses com CaCl2 -> Ca2* 2Cr (total de 4 cargas) 260,8
plexos. Se os complexos fossem tetraédricos não deveríam CoCl3 • 5NH3 261,3
haver isômeros, mas se fossem quadrado-planares poderíam CoBr3 • 5NH3 257,6
existir na forma de dois isômeros. Assim, provou-se que
esses complexos são quadrado-planares e não tetraédricos
LaCl3 -> L 3cr (total de 6 cargas) 393,5
CoCl3 • 6NH3 431,6
(Fig. 7.5).
CoBr3 ■ 6NH3 426,9
Plano do
espelho [Co(nh3]3+ 3cr 6 3 6NH3 =6
[Co(nh3)5ci2+ 2cr 4 2 5NH3 + icr =6
[Co(NH3)4Cl2r cr 2 1 4NH3 + 2Cr =6
Figura 7.4 — Isometria óptica em complexos octaédricos
ias COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO
A regra do número atômico efetivo (NAE) prevê se deduzir a forma e a estabilidade do complexo. Essa teoria
corretamente o número de ligantes em muitos complexos. apresenta duas limitações principais. A maioria dos
Há, porém, um número significativo de exceções em que o complexos dos metais de transição são coloridos, mas a teoria
NAE não é equivalente ao número de elétrons de um gás não fornece nenhuma explicação para seus espectros
nobre. Por exemplo, se o íon metálico tiver um número ímpar eletrônicos. Além disso, a teoria não explica porque as
de elétrons, a adição de pares de elétrons não resulta na propriedades magnéticas variam em função da temperatura.
estrutura eletrônica de um gás nobre. Portanto, pode-se inferir Por isso, foi substituída pela teoria do campo cristalino.
que a tendência de se alcançar a estrutura estável de um gás Contudo, continua interessante para fins de estudo, pois
nobre é um fator importante, mas não uma condição mostra a sequência do desenvolvimento das idéias até se
necessária para a formação dos complexos. Também é chegar a teoria atual, a partir da teoria de Werner.
necessária a formação de uma estrutura simétrica
(tetraédrica, quadrado planar, octaédrica), qualquer que seja A teoria do campo cristalino
o número de elétrons envolvidos.
Essa teoria foi proposta por Bethe e van Vleck. A força
de atração entre o metal central e os ligantes do complexo é
FORMAS DOS ORBITAIS d considerada como sendo de natureza puramente eletros-
Como os orbitais d são geralmente utilizados para a tática. Assim, as ligações nos complexos podem ser
formação das ligações em compostos de coordenação, é consideradas como sendo devido a atrações do tipo íon-íon
importante estudar suas formas e suas orientações no espaço. (entre íons positivos e negativos tais como Co3 + e Cl-).
Os cinco orbitais d não são idênticos e podem ser divididos Alternativamente, as atrações íon-dipolo podem dar origem
em dois grupos. Os três orbitais t2g possuem formas idênticas às ligações (se o ligante for uma molécula neutra como NH3
e seus lóbulos se situam entre os eixos x, y e z. Os dois ou CO). O NH3 tem um momento dipolar com uma carga d'
orbitais eg possuem formas diferentes e seus lóbulos se situam localizado no nitrogênio e uma carga S+ nos hidrogênios.
sobre os eixos do sistema de coordenadas cartesianas(Fig. Assim, no [Co(NH3)6]3 + a carga 8“ do átomo de nitrogênio
7.6). As denominações alternativas para t2g e são de e dg, de cada NH3 está apontado em direção ao Co3 +. A teoria é
respectivamente. bastante simples e tem sido utilizada com bastante êxito na
explicação dos espectros eletrônicos e das propriedades
magnéticas dos complexos dos metais de transição, parti
LIGAÇÕES EM COMPLEXOS DE METAIS DE cularmente quando as interações covalentes entre o metal e
TRANSIÇÃO o ligante são consideradas. A teoria do campo cristalino
Há três teorias que explicam as ligações entre o metal e modificada para conter as contribuições covalentes é
os ligantes nos complexos, todas formuladas na década de denominada teoria do campo ligante. São possíveis três tipos
1930. de interações: interação a, n ou drc - pn (retrodoação). Essa
última decorre da interação n de orbitais d preenchidos do
metal com orbitais p vazios dos ligantes.
Teoria da ligaçao de valência
Essa teoria foi desenvolvida por Pauling. Os compostos Teoria dos orbitais moleculares
de coordenação contêm íons complexos, nos quais os ligantes
formam ligações coordenadas com o metal. Assim, o ligante São integralmente consideradas nessa teoria tanto as
deve ter um par de elétrons livres e o metal um orbital vazio contribuições covalentes como as iônicas.
de energia adequada para formar a ligação. A teoria permite Embora essa teoria, provavelmente, seja a melhor para
determinar quais são os orbitais atômicos do metal que são tratar a ligação química, ela não substituiu totalmente as
utilizados para formar as ligações. A partir desse dado, pode- outras teorias. Isso porque os cálculos quantitativos
envolvidos são difíceis e demorados, implicando no uso de
computadores por tempos muito prolongados. Além disso,
uma descrição qualitativa quase completa das moléculas
pode ser obtida por outros meios, que se valem da simetria
Orbitais
e da teoria de grupos.
t2o <
(de) TEORIA DA LIGAÇÃO DE VALÊNCIA
A formação de um complexo pode ser considerada como
sendo constituída por uma série de etapas hipotéticas.
Inicialmente seleciona-se o íon metálico apropriado, por
Orbitais
exemplo Co3 + . A configuração eletrônica de valência do
átomo de Co é 3d7 4S2. Assim, o íon Co3+ terá configuração
e» <
(dy) 3d6, e os elétrons estarão arranjados como se segue:
dX2-y2 d,2
camada
interna 4s 4p 4d
eQ
Energia
+°j6A° Aç
Nível médio
- - de energia
t
-0,4Aq
(baricentro)
f2g
Comprimento de onda(Ã)
Energia Orbitais d são
3000 4000 6000 7000
desdobrados 10
em dois
grupos
o
E
ro
i
-Q
5
Freqüência (cm'1)
Figura 7.8 — Desdobramento do campo cristalino em níveis de
energia, num campo octaédrico Figura 7.11 — Espectro de absorção ultravioleta e visível [Ti(H2O)&]3^
106 COMPOSTOS DE □□□RDENAÇÁD
Valores
grandes
dexX, Tabela 7.11 — EECC e energia de emparelhamento para
Valores
pequenos alguns complexos
detX,
o 2500 -
cristalino (EECC). £
As energias de hidratação dos íons M2 + dos elementos
2400 -
da primeira série de transição são mostradas no gráfico da
Fig. 7.14a.
2300
M&+ + excesso H2O -» [M(H2O)6]
2200
Tabela 7.12 — EECC e configurações eletrônicas em complexos
octaédricos
2100
2000
d> it it it im -1.2 3,87 irimm -1.2 3,87
1800
Ca Sc Ti V Cr Mn F, Co Ni Cu Zn Ol
d5 it it it um +1'2
=-0,0
5,92 Itilnit im -2.0 1,73
m2+
4800
b)
d. itj-it it iif~rn +>’2 4,90 iTiitiiTiinn -2.4 0,00
=-0.4
4600
-2,0 -2.4
d. Itilult lltlD +1',2 3,87 iniHimirn +0.6 1,73
-1 =-0.8 —1.8 4400
-2.4 m3+
rf,0 itwniM 0.00 ITJ-IT J.lTJ-1 HÜTN] +2.4
= 0,0
0.00
Figura 7.14 — Entalpias de hidratação paraM2* tH1', =~
kj mol'1
□I5TDRÇAD TETRA50NAL EM COMPLEXOS OCTAÉDRICDS [DISTORÇÃO DE JAHN-TELLER] 109
Configuração
-A-:—
eletrônica
r2g e«
eg Natureza do
campo ligante
Exemplos
Cr(+II), Mn(+ni)
A forma dos complexos dos metais de transição é d*
it it it i on forte ou fraco
(complexo de
determinada pela tendência dos pares de elétrons de ocupar spin alto)
posições tão afastadas quanto possíveis uma das outras. O d’ forte ou fraco co<+n). Ni(+in>
mesmo comportamento se verifica nos compostos dos Itiltiltilim (complexo de
elementos representativos e nos complexos. Além disso, as spin baixo)
Cu(+II)
formas dos complexos dos metais de transição são in d9
Itiltiltil IÜTTI
fluenciadas pela maneira como os orbitais d estão preen
11O COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO
Figura 7.19 — Distorção tetragonal Figura 7.21 — Orientação de orbitais d com relaçao ao cubo
112 COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO
f2fl f2fl
Energia
-0.6At
------------------- —“ e9
íon metálico livre íon do metal Energia média íon metálico
(cinco orbitais d num campo do íon metálico num campo
degenerados) tetraédrico num campo tetraédrico
esférico
Figura 7.22 — Desdobramento do campo cristalino de níveis de
energia num campo tetraédrico Figura 7.23 — Níveis de energia para orbitais d num campo
tetraédrico
octaédricos. Portanto, a magnitude d2 iFFirm 3,87 -1,2+ 0,4= -0.8 -0,36 -1,2
do desdobramento do campo
cristalino também terá um valor
d4 on itim 4,90 -1,2+ 0,8=-0,4 -0,18 -0,6 -1,6
equivalente a dois terços do valor d5 inti imn 5,92 -1,2+1,2= 0,0 0,00 0,0 -2,0
observado no octaedro. db lüiFi irinn 4,90 -1,8+1,2=-0,6 -0,27 -0,4 -2,4
2. A direção dos orbitais não coincide
com a direção de aproximação dos
d7 EH on 3,87 -2,4+ 1,2=-1.2 -0,53 -0,8 -1,8
ligantes. Isso reduz o desdo d i EH EO~I 2,83 -2,4+ 1,6=-0,8 -0,36 -1,2 -1,2
bramento do campo cristalino por
outros dois terços, aproxima
d9 EH EEE 1,73 -2,4 + 2,0= -0,4 -0,18 -0,6 -0.6
damente.
d10 EH EEH 0,00 -2,4+2,4= 0,0 0,00 0,0 0,0
QUELATOS 113
Energia
MAGNETISMO
O momento magnético pode ser medido utilizando uma
balança de Gouy (vide Capítulo 18). Supondo-se que o
momento magnético se deve inteiramente aos spins de ea
3 elétrons
elétrons desemparelhados, pode-se utilizar a fórmula de “spin desemparelhados, p =73(3+2) =7Í5 = 3,87BM
only" para se determinar o valor de n, o número de elétrons
desemparelhados. Os valores calculados concordam Co2* num complexo quadrado-planar
razoavelmente bem com os valores encontrados para os
complexos dos elementos da primeira série de transição. Energia
ps = -Jn(n + 2)
Uma vez conhecido o número de elétrons desem
parelhados, pode-se empregar tanto a teoria da ligação de
valência como a teoria do campo cristalino para determinar
a geometria do complexo, o estado de oxidação do metal, e,
no caso de complexos octaédricos, se estão sendo utilizados T4 d;2
da segunda ou terceira séries. A influência da temperatura é 2p de cada NH3, contendo um par de elétrons livres, também
explicada pelo acoplamento spin-órbita. Ele remove a participa da formação dos orbitais moleculares. Há, pois, 12
degenerescência dos níveis de menor energia, do estado fun orbitais atômicos, que se combinam para formar 12 orbitais
damental. Assim, a energia térmica possibilita o preenchi moleculares (seis OM’s ligantes e seis antiligantes). Os 12
mento de vários níveis de energia. elétrons provenientes dos seis pares de elétrons livres dos
ligantes são colocados nos seis orbitais moleculares ligantes,
o que explica as seis ligações formadas. O íon Co3+ possui
EXTENSÃO DA TEORIA DO CAMPO outros orbitais d, que até agora foram ignoradas: trata-se
CRISTALINO COM INCORPORAÇÃO DO dos orbitais 3dxy, 3dxz e 3dyz. Esses orbitais formam OM’s
CARÁTER COVALENTE não-ligantes. No Co3+ eles contém 6 elétrons, mas não
A teoria do campo cristalino se baseia em atração contribuem em nada para a formação das ligações. Todos os
puramente eletrostática. Numa primeira avaliação, isso orbitais anti-ligantes estão vazios. O arranjo dos orbitais é
parece ser uma suposição bastante improvável. Não obstante, mostrado na Fig. 7.29. Pode-se prever que o complexo deverá
a teoria é muito bem sucedida na explicação das formas dos ser diamagnético, já que todos os elétrons estão
complexos, de seus espectros e de suas propriedades emparelhados. O complexo deverá ser colorido, visto que é
magnéticas. Os cálculos podem ser efetuados de maneira possível a promoção de elétrons dos orbitais não-ligantes
bastante simples. A desvantagem da teoria é o fato dela para os orbitais antiligantes eg*. A diferença de energia, Ao,
ignorar as evidências de que interações covalentes ocorrem, igual a 23.000 cm'1. Nesse complexo os seis elétrons d não-
pelo menos em alguns complexos de metais de transição: ligantes estão emparelhados, porque A„ é maior que a energia
de 19.000 cm'1 necessária para emparelhá-los.
1. Compostos com o metal no estado de oxidação zero,
como o tetracarbonilníquel [Ni°(CO)4], não apresentam Um diagrama de OM semelhante pode ser esque-
nenhuma atração eletrostática entre o metal e os matizado para o complexo [ColuF6]3'. Contudo, as energias
ligantes. Portanto, a ligação deve ser covalente. dos orbitais 2p do F" são muito menores que as energias dos
orbitais correspondentes do N no NH3. Isso altera o
2. A ordem dos ligantes na série espectroquímica não pode espaçamento entre os níveis de energia do OM (Fig. 7.30).
ser explicada apenas considerando-se as forças O Ao medido espectroscopicamente é igual a 13.000 cm'1.
eletrostáticas. Portanto, a diferença de energia entre os OM’s não-ligantes
3. Há algumas evidências, fornecidas pelas técnicas de e os antiligantes (eg) é menor que a energia necessária para
ressonância magnética nuclear e ressonância emparelhar os elétrons, ou seja, 19.000 cm'1. Conse-
paramagnética eletrônica, de que existe densidade qüentemente os elétrons d não-ligantes não se emparelham
eletrônica de elétrons desemparelhados nos ligantes. como no [Co(NH3)6]3 + , porque é energeticamente vantajoso
Isso sugere o compartilhamento de elétrons e, portanto, que os elétrons permaneçam desemparelhados. Assim, o
um grau de covalência. [CoF6]3' apresenta quatro elétrons desemparelhados e é um
Na interpretação dos espectros é introduzido o complexo de spin alto enquanto que o [Co(NH3)6]3+ não
parâmetro de repulsão intereletrônica de Racah, B. Ele apresenta elétrons desemparelhados e é um complexo de
permite considerar a ocorrência de covalência decorrente spin baixo.
da deslocalização dos elétrons d do
metal para os ligantes. Se B for inferior
ao valor para o íon metálico livre, então
os elétrons d estão deslocalizados sobre
os ligantes. Quanto menor for o valor
>OM antiligantes
de B, maior será o grau de deslo-
calizaçâo e o caráter covalente da »»
4p
ligação. De modo semelhante, é possível
utilizar um fator de deslocalização 4s
eletrônica k na interpretação das pro
priedades magnéticas. 3dl I ; |u|u|h[— -|n|n|n|— Seis orbitais
doadores
xy xz -yz OM não-ligantes
(6NH3)
TEORIA DOS ORBITAIS cada um contém
2 elétrons
MOLECULARES
A teoria dos orbitais moleculares
é feita para a ligação covalente.
Considere um elemento da primeira > OM ligantes
série.de transição formando um ju|u|n|-
complexo octaédrico, por exemplo,
[Coln(NH3)6]3 + . Os orbitais atômicos ti
do Co3 + usados para formar os orbitais Orbitais atômicos Orbitais atômicos
no íon do metal Orbitais moleculares nos ligantes
moleculares são os orbitais 3dx2_y2, 3dz2,
4s, 4px, 4py e 4pz. Um orbital atômico Figura 7.29 — Diagrama de arbitrais moleculares para o [Co111
116 COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO
vazios, com simetria adequada para interagir com os orbitais Br' bromo O2' oxo CN' ciano
t2g do metal, formando ligações n. Esse fenômeno é
comumente denominado retrodoação. Normalmente os
r iodo 02‘ peroxo NOj nitro
ISOMERIA 117
nh3 2+ NH, 2+
H3N zrNH3Co
nh3
e
h3n
Co
NH3
NHj
Cl Cl
NH3‘
NH3
~T
Co
NH3
cis
(violeta)
NH3
CZ
nh3
T
Co
Cl
trans
(verde)
nh3
NH3
formas dei
forma meso
0
0
o nionoGÊmo
e os nxonsTOS
ESTRUTURA ELETRÔNICA elementos no primeiro período, o hidrogênio e o hélio. O
hidrogênio é bastante reativo, mas o hélio é inerte. Não é
O hidrogênio possui a estrutura atômica mais simples
difícil relacionar a estrutura eletrônica e as propriedades do
que qualquer outro elemento, sendo constituído por um
hélio com aquelas dos outros gases nobres do Grupo 18,
núcleo contendo um próton com carga +1 e um elétron
mas as propriedades do hidrogênio não podem ser
circundante. A configuração eletrônica pode ser representada
correlacionadas com nenhum dos grupos representativos da
como Is1. Os átomos de hidrogênio podem alcançar a
tabela periódica. Assim, o melhor é considerá-lo como um
estabilidade de três maneiras diferentes:
elemento à parte.
1. Formando uma ligação covalente (um par de elétrons)
A estrutura eletrônica do átomo de hidrogênio, de certo
com outro átomo
modo, se assemelha com a dos metais alcalinos. Os metais
O hidrogênio forma esse tipo de ligação preferen alcalinos (Grupo 1) também possuem um elétron no nível
cialmente com não-metais, por exemplo H2, H2O, mais externo, mas quando reagem eles tendem a perder este
HClfgás; ou CH4. Muitos metais também formam esse elétron formando íons positivos M +. Embora o íon H + seja
tipo de ligação. conhecido, o hidrogênio apresenta uma tendência muito
2. Perdendo um elétron para formar H+ maior de compartilhar o seu elétron, formando uma ligação
Um próton é extremamente pequeno (raio de aproxi covalente.
madamente 1,5 xlO"5 A, comparando com os 0,7414 A Por outro lado, a estrutura eletrônica do átomo de
do hidrogênio e 1-2 A da maioria dos átomos). Por ser hidrogênio, de certo modo, também se assemelha com a
o H+ muito pequeno, ele tem um poder polarizante dos halogênios (Grupo 17), já que ambos precisam de um
muito grande, e portanto deforma a nuvem eletrônica elétron para alcançar a estrutura de um gás nobre.
de outros átomos. Assim, os prótons estão sempre Geralmente, os halogênios adquirem um elétron formando
associados a outros átomos ou moléculas. Por exemplo, íons negativos X“. Não é comum o hidrogênio formar um
na água ou soluções aquosas de HC1 e H2SO4, o próton íon negativo, embora ele forme hidretos iônicos M + H’ (por
existe na forma de íons H3O + , H9O4+ ou H(H2O)„ + . exemplo, LiH e CaH2) com alguns poucos metais altamente
Prótons livres não existem em “condições normais", eletropositivos.
embora eles sejam encontrados em feixes gasosos a Em alguns aspectos, a estrutura eletrônica do hidrogênio
baixas pressões, por exemplo num espectrômetro de também se parece com a dos elementos do Grupo 14, pois
massa. ambos possuem o nível mais externo semi-preenchido.
3. Adquirindo um elétron e formando H" Observam-se diversas semelhanças entre hidretos e
compostos organometálicos, visto que tanto o grupo CH3’
Sólidos cristalinos como o LiH contém o íon H", sendo
como o H’ possuem uma valência disponível para formar
formados por metais altamente eletropositivos (todo o
uma ligação. Assim, o hidreto é freqüentemente considerado
Grupo 1 e parte do Grupo 2). Os íons H" não são, porém,
como pertencendo a uma série de compostos organome
muito comuns.
tálicos, por exemplo, LiH, LiMe e LiEt; NH3, NMe3 e NEty,
Como a eletronegatividade do H é 2,1, ele pode valer- ou SiH4, CH3SíH3, (CH3)2SíC12, (CH3)3SíC1 e (CH,)4Si.
se de qualquer um desses três meios, sendo o mais Contudo, a melhor alternativa é considerar o hidrogênio
comum a formação de ligações covalentes. como um elemento à parte.
92% de hidrogênio e 7% de hélio, de modo que todos os da com mais vapor, resfriada a 400° C e passada por
demais elementos juntos representam apenas 1 %. Contudo, um conversor que contém um catalisador de ferro/
a quantidade de H2 na atmosfera terrestre é muito pequena, cobre, onde o CO é transformado em CO2.
pois o campo gravitacional da terra é pequeno demais para
reter um elemento tão leve. Contudo, um pouco de H2 é CO + H2O co2 + h2
encontrado nos gases vulcânicos. Em contrapartida, o
Finalmente o CO2 é absorvido por uma solução de K2CO3
hidrogênio é o décimo elemento mais abundante na crosta
ou de etanolamina, HOCH2CH2NH2. O K2CO3 e a
terrestre (1.520 ppm ou 0,152% em peso). Também é
etanolamina são regenerados por aquecimento.
encontrado em grandes quantidades nas águas dos oceanos.
Compostos contendo hidrogênio são muito abundantes, K2CO3 + CO2 + H2O ■* 2KHCO3
sobretudo a água, organismos vivos (carboidratos e 2HOCH2CH2NH2 + CO2 + H2O - (HOCH2CH2NH3)2CO3
proteínas), compostos orgânicos, combustíveis fósseis
(carvão, petróleo e gás natural), amônia e ácidos. De fato, o
hidrogênio forma mais compostos que qualquer outro 3. Nas refinarias de petróleo, misturas naturais de
elemento. hidrocarbonetos de elevado peso molecular, tais como
nafta e óleo combustível, são submetidos ao processo
de "craqueamento" para formar misturas de hidrocar
OBTENÇÃO DO HIDROGÊNIO bonetos de pesos moleculares menores, que podem ser
O hidrogênio é preparado em grande escala por diversos usadas como combustível automotivo. O hidrogênio é
métodos. um valioso subproduto desse processo.
1. O hidrogênio pode ser obtido em grande escala e a baixo 4. Hidrogênio muito puro (pureza 99,9%) é preparado por
custo, passando-se vapor de água sobre coque aquecido eletrólise da água ou de soluções de NaOH ou KOH.
ao rubro. O produto obtido é o gás d’água, ou seja, Esse é o método mais dispendioso. A água não conduz
uma mistura de CO e H2. Trata-se de um combustível muito bem a corrente elétrica, sendo comum a eletrólise
industrial importante, pois é fácil de se obter e queima de soluções de NaOH e KOH numa célula com anodos
liberando uma grande quantidade de calor. de níquel e cátodos de ferro. Os gases produzidos nos
compartimentos do ânodo e do cátodo devem ser
C + H2O 1000°C
CO + H2 mantidos separados.
** —v----------- 7
gás d'água
Ânodo 2OH“ —» H2O + 1 /2O2 + 2e"
CO + H2 + O2 —» CO2 + H2O + calor Cátodo 2H2O + 2e’ -> 2OH” + H2
Reação global H2O -> H2 + ’/2O2
Não é fácil obter H2 puro a partir do gás d’água, pois a
remoção do CO é difícil. O CO pode ser liquefeito a 5. Uma grande quantidade de hidrogênio puro também é
baixas temperaturas e sob pressão, podendo assim ser formado como subproduto da indústria de cloro e álcalis.
separado do H2. Alternativamente, a mistura gasosa Nesse caso, soluções aquosas de NaCl são eletrolisadas
pode ser misturada com vapor, resfriada a 400°C e para formar NaOH, CI2 e H2.
passada sobre óxido de ferro num conversor adequado, 6. O método comum de preparação do hidrogênio em
formando H2 e CO2. O CO2 assim formado pode ser laboratório é a reação de ácidos diluídos com metais,
facilmente removido, ou dissolvendo-o em água sob ou de um álcali com alumínio.
pressão ou reagindo-o com uma solução de K2CO3.
Nesse caso forma-se KHCO3 em solução e o H2 gasoso Zn + H2SO4 - ZnSO4 + H2
permanece inalterado. 2AZ + 2NaOH + 6H2O > 2Na[Al(OH)4] + 3H2
CO + H2—■' -»2H2 + CO2 7. O hidrogênio pode ser preparado pela reação de hidretos
-------- .------- ■ 4S0 “C
gás d'água FeO, salinos (iônicos) com água.
2. O hidrogênio também pode ser obtido em grandes LiH + H2O LiOH + H2
quantidades pelo processo de reformação a vapor. O
hidrogênio obtido dessa maneira é utilizado no processo
Haber de síntese de NH3 e para a hidrogenação de óleos.
Hidrocarbonetos leves, como o metano, são misturados
PROPRIEDADES DO HIDROGÊNIO
com vapor de água e passados sobre um catalisador de MOLECULAR
níquel a 800-900° C. Esses hidrocarbonetos podem ser O hidrogênio é o gás mais leve conhecido. Por causa de
encontrados no gás natural e, também, são obtidos em sua baixa densidade, é utilizado no lugar do hélio para inflar
refinarias no processo de "craqueamento” de balões meteorológicos. É incolor, inodoro e quase insolúvel
hidrocarbonetos mais pesados. em água. O hidrogênio forma moléculas diatômicas H2, onde
os dois átomos estão unidos por uma ligação covalente muito
CH4 + H2O CO + 3H2 forte (energia de ligação 435,9 kJ mol-1).
CH4 + 2H2O CO2 + 4H2
Em condições normais, o hidrogênio não é muito
O gás que sai do reator é constituído por CO, CO2, H2 e reativo. A baixa reatividade se deve à cinética e não à termo
excesso de vapor d’água. A mistura gasosa é enriqueci- dinâmica da reação, e está relacionada com a força da ligação
1B4 □ HIDROBÊNIO E 05 HIORETDS
H-H. Uma etapa essencial durante a reação do H2 com outros saturados, que possuem pontos de fusão mais elevados.
elementos é a quebra da ligação H—H, formando átomos Removendo-se dessa maneira as duplas ligações da cadeia
de hidrogênio. Isso requer 435,9 kj mol"1: portanto, há uma carbônica, os óleos comestíveis (líquidos à temperatura
elevada energia de ativação para essas reações. Em ambiente) podem ser convertidos em gorduras (sólidas ã
conseqüência, muitas reações são lentas, ou requerem temperatura ambiente). A razão para assim proceder é a
elevadas temperaturas ou catalisadores (freqüentemente maior utilidade de gorduras sólidas, por exemplo, para a
metais de transição). Muitas reações importantes do preparação de margarina.
hidrogênio envolvem a catálise heterogênea; ou seja, o
catalisador inicialmente reage com o H2 ou quebrando ou CH3 • (CH2)„• CH = CH• COOH + H2 CH3 • (CH2)n •
enfraquecendo a ligação H-H. Dessa forma a energia de ■CH2CH2-C00H
ativação é diminuída. Podem ser citados como exemplos: O hidrogênio também é usado para reduzir nitrobenzeno
1. O processo Haber para a obtenção de NH3 a partir de à anilina (na indústria de corantes), e na redução catalítica
N2 e H2, no qual é utilizado um catalisador de Fe ativado do benzeno (a primeira etapa da produção de náilon-66).
a 380-450 °C e pressão de 200 atmosferas. Também, reage com CO para formar metanol.
2. A hidrogenação de diversos compostos orgânicos catalisador
insaturados (incluindo os óleos vegetais), no qual os CO + 2H2 CH3OH
catalisadores são Ni, Pd ou Pt finamente divididos.
A molécula de hidrogênio é muito estável e apresenta
3. A fabricação de metanol pela redução de CO com H2 pouca tendência de se dissociar a temperaturas normais, já
sobre um catalisador de Cu/Zn, aquecido a 300 °C. que a reação de dissociação é muito endotérmica.
O hidrogênio reage diretamente com a maioria dos
elementos, nas condições apropriadas. H2—>2H AH = 435,9 kJ mol'1
O hidrogênio queima ao ar ou numa atmosfera de Contudo, a altas temperaturas, num arco elétrico, ou
oxigênio formando água e liberando uma grande quantidade sob irradiação com luz ultravioleta, o H2 se dissocia. O
de energia. Esse fato é aproveitado para soldar ou cortar hidrogênio atômico produzido existe por um período infe
metais com o maçarico oxigênio-hidrogênio. É possível rior a meio segundo; antes dos átomos se recombinarem
alcançar temperaturas de quase 3.000 °C. Deve-se tomar regenerando o hidrogênio molecular e liberando uma grande
cuidado com esses gases, pois misturas de H2 e O2 em quantidade de energia. Essa reação tem sido utilizada na
proporções de cerca de 2:1 são explosivas. solda de metais. O hidrogênio atômico é um forte agente
redutor, e é comumente preparado em solução usando o par
2H2 + 02 -> 2H2O AH = -485 kj mol-1 zinco-cobre ou mercúrio-alumínio.
O hidrogênio reage com os halogênios. A reação com o Tem havido muita discussão sobre os aspectos econô
flúor é violenta, mesmo a baixas temperaturas. A reação micos do hidrogênio (ver Leituras complementares). Parte-
com cloro é lenta no escuro, mas a reação é catalisada por se da idéia de que o hidrogênio poderia substituir o carvão
luz (fotocatálise), tornando-se mais rápida à luz do dia e e o petróleo como principal fonte de energia. A combustão
explosiva quando exposta à luz solar direta. A combinação do hidrogênio ao ar ou numa atmosfera de oxigênio forma
direta dos elementos é usada para produzir HC1. água e libera uma grande quantidade de energia. Ao contrário
da queima de carvão ou óleo em termelétricas, ou de gasolina
H2 + F2 2HF e óleo diesel em motores de combustão interna, a queima
H2 + Cl2 2HC1 do hidrogênio não forma substâncias poluentes como o SO2
e óxidos de nitrogênio, responsáveis pela chuva ácida, nem
Diversos metais reagem com H2 formando hidretos. As CO2, responsável pelo efeito estufa, nem hidrocarbonetos
reações não são violentas e geralmente requerem tempe carcinogênicos, nem compostos de chumbo. O hidrogênio
raturas elevadas. Essas reações serão descritas numa seção pode ser obtido facilmente por eletrólise ou por processos
posterior. químicos. O hidrogênio pode ser armazenado e transportado
Grandes quantidades de H2 são utilizadas na produção no estado gasoso em cilindros, no estado líquido em enormes
industrial de amônia, pelo processo Haber. A reação é recipientes criogênicos a vácuo, ou “dissolvido” em vários
reversível e a formação de NH3 é favorecida por pressões metais (por exemplo, a liga LaNis pode absorver sete mols
elevadas, pela presença de um catalisador (Fe) e por baixas de hidrogênio por mol da liga, a uma pressão de 2,,5
temperaturas. Na prática, utiliza-se uma temperatura de 380- atmosferas, à temperatura ambiente). O hidrogênio líquido
450 °C e uma pressão de 200 atmosferas, para se obter uma foi usado como combustível dos foguetes espaciais da série
conversão eficiente numa velocidade razoável. Saturno e dos ônibus espaciais, do programa espacial norte-
americano. Há motores de automóvel adaptados para utilizar
N2 + 3H2 2NH3 AG298k — -33,4 kJ mol ' hidrogênio. Deve-se frisar que o uso do hidrogênio conto
combustível envolve o risco de explosão, mas isso também
O hidrogênio é usado em larga escala em reações de ocorre no caso da gasolina.
hidrogenação, nas quais o hidrogênio se adiciona a duplas
ligações de compostos orgânicos. Um exemplo importante é ISÓTOPOS DE HIDROGÊNIO
a hidrogenação de óleos vegetais com a obtenção de
gorduras. Ácidos graxos insaturados são hidrogenados com . Isótopos são átomos de um mesmo elemento que
H2 e um catalisador de paládio, formando ácidos graxos possuem diferentes números de massa. A diferença nos
ISÚTDPDS DE HIDROGÊNIO 125
Tabela 8.1 — Constantes físicas para o hidrogênio, deutério Tabela 8.2 — Constantes físicas da água e da água pesada
e trítio
Constante física h2o D2O
Constante física h2 D2 t2
Ponto de fusão CC) 0 3,82
Massa do átomo (uma) 1,0078 2,0141 3,0160 Ponto de ebulição (’C) 100 101,42
Ponto de fusão (’C) -259,0 -254,3 -252,4 Densidade a 20 "C (g cm"3) 0,917 I, 017
Ponto de ebulição (’C) -252,6 -249,3 -248,0 Temperatura de densidade máxima (' C) 4 II,6
Comprimento de ligação (Â) 0,7414 0,7414 (0,7414) Produto iônico Kw a 25 'C 1,0 x 10"'4 3,0 x 10-'5
Calor de dissociação1 (kJ mol"1) 435,9 443,4 446,9 Contante dielétrica a 20 "C 82 80,5
Calor latente de fusão (U mol-1) 0,117 0,197 0,250 Solubilidade g NaCl/100 g água a 25 ’C 35,9 30,5
Calor latente de vaporização (kJ mol-1) 0,904 1,226 1,393 Solubilidade g BaCl2/100 g água a 25 *C 35,7 28,9
Pressão de vapor* (mm Hg) 54 5,8
Bloco s Bloco p
^\Gnipo Hidretos intermediários 13 14 15 16 17 18
1 2
Perfodo^-^
1
2 3Li 4Be Bloco d 5B 6C 7N 8O 9F
3 "Na 12Mg 3 4 5 6 7 8 9 10 TT 12 1 13AJ 14Si ^P lgs 17C1
4
5
19K
37Rb
2°Ca
38Sr
HE
39y
22Ti 23V
41Nb
24Cr 28Ni
“Pd
29Cu ^Zn
48Cd
31Ga 32Ge
49In MSn
33 As
3lSb
34Se
52Te
35Br
“I
6 “Cs 56Ba 57La. 72Hf 73Ta “hT siT| 82 Pb 8,Bi “Po 83At
Esse tipo de hidreto só é formado por elementos que Isso é de se esperar, visto que a diferença de eletronega-
tenham eletronegatividades significativamente menores que tividade entre esses átomos e o hidrogênio é pequena. Os
o valor 2,1 do hidrogênio, de modo a favorecer a abstração compostos em questão geralmente são constituídos por
de um elétron do metal pelo hidrogênio, com formação de moléculas covalentes discretas, as quais são mantidas unidas
M+ e H“. apenas por forças de van der Waals fracas. Por isso, normal
Os hidretos do Grupo 1 são mais reativos que os mente são voláteis e apresentam baixo ponto de fusão e de
correspondentes hidretos do Grupo 2. Além disso, a ebulição. Eles não conduzem a corrente elétrica. A fórmula
reatividade aumenta de cima para baixo dentro do grupo. desses hidretos é XH(18_n), onde n é o número do grupo da
Tabela Periódica ao qual o elemento X pertence. Esses
Com exceção do LiH, os hidretos iônicos se decompõem
hidretos podem ser obtidos por diversos métodos de síntese:
gerando os elementos, quando aquecidos a temperaturas de
400-500 °C. 1. Alguns poucos podem ser obtidos por combinação direta
dos elementos.
O íon hidreto H~ não é um íon muito comum e é instável
em água. Todos os hidretos iônicos reagem com água 3H2 + N2 -> 2NH3
formando hidrogênio. (altas temperatura e pressão + catalisador, processo Haber)
2H2 + O2 -> 2H2O (centelha - explosão)
LiH + H2O -> LiOH + H2 H2 + Cl2 —» 2HC1 (combustão - preparo de HC1 puro)
CaH2 + 2H2O -> Ca(OH)2 + 2H2
2. Reaçao de um haleto com Li[AlH4] num solvente seco,
Eles são agentes redutores fortes, especialmente a por exemplo éter.
temperaturas elevadas, embora sua reatividade com a água
limite sua utilidade. 4BC13 + 3Li[AlH4] -> 2B2H6 + 3A1C13 + 3LÍC1
SiCl4 + Lí[A1H4] -> SiH4 + A1C13 + LiCl
2CO + NaH—>HCOONa + C
SiCl4 + 4NaH -» SiH4 + 4NaCl 3. TYatamento de um composto binário apropriado com
PbSO4 + 2CaH2 -» PbS + 2Ca(OH)2 ácido.
O NaH apresenta diversos usos como agente redutor 2Mg3B2 + 4H3PO4 —» B4H10 + 2Mg3(PO4)2 + H2
em química sintética. Ele é utilizado para se obter outros A14C3 + 12HC1 -> 3CH4 + 4A1C13
hidretos importantes, especialmente o hidreto de alumínio FeS + H2SO4 H,S + FeSO4
e lítio Li[AlH4] e o borohidreto de sódio Na[BH4]. Ambos Ca3P2 + 3H2SO4 2PH3 + 3CaSO4
são muito utilizados como agentes redutores tanto em
sínteses orgânicas como inorgânicas. Grupo 13 14 15 16 17
B C N O F
4LiH + A1C13 -» Li[AlH4] + 3LÍC1
Al Si P S Cl
4NaH + B(OCH3)3 -> Na[BH4] + 3NaOCH3
Ga Ge As Se Br
In Sn Sb Te I
Hidretos covalentes Pb Bi Po
Os hidretos dos elementos do bloco p são covalentes. Figura 8.3 — Hidretos covalentes
128 O HIDROGÊNIO E OS HIDRETOS
4. Reação de um oxoácido com NafBHJ em solução Os alcanos são saturados, porém os alcenos apresentam
aquosa. duplas ligações e os alcinos triplas ligações na estrutura. 0
Si e o Ge só formam cadeias saturadas e a cadeia mais longa
4H3AsO3 + 3Na[BH4) -+ 4AsH3 + 3H3BO3 + 3NaOH é a do Si10H22. As cadeias de hidretos mais longas formadas
5. Conversão de um hidreto em outro por pirólise pelos demais elementos são Sn2H6, N2H4 e HN3, P3H5, As3H;,
(aquecimento). H2O2 e H2O3; H2S2, H2S3, H2S4, H2Ss e H2S6.
Analisando-se a Tab. 8.3 nota-se que os pontos de ebuli
B4H10 ~» B2H6 + outros produtos ção e de fusão do H2O são muito mais elevados que os dos
outros hidretos. Examinando a tabela mais detalhadamente,
6. Uma descarga elétrica silenciosa ou uma descarga de contudo, constata-se que o NH3 e o HF também apresentam
microondas sobre hidretos simples pode gerar valores mais elevados que os esperados nos seus respectivos
oligômeros. grupos. Isso se deve à formação de ligações de hidrogênio,
GeH4 Ge2H8 ► Ge3H8 —> até Ge9H2g que será discutida mais adiante no presente capítulo.
presente nas posições intersticiais se encontra na forma o metal é aquecido. Isso se constitui num bom método de se
atômica, ou alternativamente na forma de íons H* com pesar H2. A composição limite é PdH0 7, mas nem a estrutura
elétrons deslocalizados, mas de qualquer modo apresentam nem a natureza da interação entre Pd e H são inteiramente
propriedades acentuadamente redutoras. compreendidos. À medida que o hidrogênio é absorvido, a
Mesmo pequenas quantidades de hidrogênio dissolvidas condutividade metálica diminui, e o material pode
num metal afetam sua resistência e o tornam quebradiço. O eventualmente se transformar num semicondutor. O
titânio é obtido reduzindo-se TiCl4 com Mg ou Na, numa hidrogênio é móvel e se difunde através do metal. É possível
atmosfera inerte. Se uma atmosfera de H2 for utilizada, o que os relatos incorretos sobre a produção de energia por
titânio obtido dissolve H2, tornando-se quebradiço. O titânio “fusão a frio” (por meio da eletrólise do D2O utilizando
é utilizado na construção de aviões supersônicos, onde a eletrodos de Pd, à temperatura ambiente) estejam associados
resistência é um fator importante. Por isso, o titânio é à energia liberada na reação entre Pd e D2, e não à fusão
produzido numa atmosfera de argônio. nuclear do hidrogênio ou do deutério com a formação de
A ligação que ocorre nesses hidretos é mais complicada hélio (ver Capítulo 31).
do que se supunha inicialmente, e é ainda hoje um motivo
de controvérsias. Hidretos intermediários
1. Em muitos desses hidretos os átomos de hidrogênio Alguns poucos hidretos não se enquadram na classifi
ocupam interstícios tetraédricos, onde os átomos do cação dada acima. Por exemplo, o (BeH2)n é polimérico, e
metal se arranjam segundo uma estrutura cúbica de supõe-se que ele seja uma cadeia polimérica com átomos de
empacotamento compacto. Se todos os interstícios hidrogênio em ponte. O MgH2 apresenta propriedades
tetraédricos estiverem ocupados, a fórmula seria MH2, intermediárias entre aquelas dos hidretos iônicos e dos
e a estrutura seria semelhante ao da fluorita. Geral hidretos covalentes.
mente, alguns interstícios permanecem desocupados,
com o que os compostos contêm uma quantidade menor CuH, ZnH2, CdH2 e HgH2 também possuem proprie
de hidrogênio. Isso explica os compostos de fórmula dades intermediárias entre as dos hidretos metálicos e dos
MHi>5-2 formados pelos elementos dos grupos do hidretos covalentes. Provavelmente, eles são deficientes em
escândio e do titânio, e pela maioria dos lantanídeos e elétrons como o (AlH3)n. A reação de formação do CuH é
actinídeos. endotérmica, isto é, é preciso fornecer energia para formar
2. Dois dos elementos da série dos lantamdios, o európio o composto. Ele é obtido reduzindo-se Cu2+ com ácido
e o itérbio são exceções, pois formam hidretos iônicos hipofosforoso. Os hidretos de Zn, Cd e Hg são obtidos
EuH2 e YbH2, que são estequiométricos e se assemelham reduzindo-se os respectivos cloretos com Li[AlH4].
ao CaH2. Os lantanídios são geralmente trivalentes, mas
o Eu e o Yb formam íons divalentes (associados com as O ÍON HIDROGÊNIO
configurações eletrônicas estáveis Eu( + II) 4f7 (nível f
semipreenchido) e Yb( + II) 4f14 (nível f preenchido)). A energia necessária para remover o elétron de um
átomo de hidrogênio (ou seja, a energia de ionização do
3. Os compostos YH2 e LaH2, bem como muitos dos
hidrogênio) é igual a 1.311 kJ mol'1. Trata-se de uma
hidretos MH2 dos lantanídios e actinídios, podem
quantidade de energia muito grande. Conseqüentemente,
absorver mais hidrogênio formando compostos de
as ligações formadas pelo hidrogênio em fase gasosa são
composição limite MH3. Podem ser encontrados
compostos com estequiometrias tais como LaH2 76 e geralmente covalentes. O Quoreto de hidrogênio é o composto
CeH2i69. As estruturas desses hidretos são complicadas, que apresenta maior probabilidade de conter um hidrogênio
às vezes cúbicas e às vezes hexagonais. O terceiro átomo iônico (H + ), dado que apresenta a maior diferença de
de hidrogênio está menos firmemente ligado que os eletronegatividades. Mas mesmo nesse caso a ligação tem
demais e, surpreendentemente, pode ocupar um somente 45% de caráter iônico.
interstício octaédrico. Assim sendo, compostos contendo H+ só se formarão
4. O urânio é incomum por formar um hidreto, UH3, que se algum outro processo fornecer uma quantidade de energia
apresenta duas estruturas cristalinas estequiométricas pelo menos equivalente à energia de ionização. Se o
diferentes. composto for dissolvido, por exemplo em água, a energia de
5. Alguns elementos (V, Nb, Ta, Cr, Ni e Pd) formam hidratação pode compensar a elevada energia de ionização.
hidretos de composição que se aproxima de MH. São Na água, oH‘ é solvatado, formando H3O + , com liberação
comuns compostos como NbH0 7 e PdH0,s. Eles são de uma quantidade de energia igual a 1.091 kJ mol’1. O
menos estáveis que os outros hidretos, são não- restante que falta para atingir o valor da energia de ionização,
estequiométricos e formam compostos que abrangem 1.311 kJ mol’1, provém da afinidade eletrônica (a energia
uma ampla faixa de proporções entre M e H. liberada na formação de um íon negativo), e também da
O sistema Pd/H2 é fora do comum e interessante. energia de solvatação do íon negativo.
Quando Pd aquecido ao rubro é resfriado em atmosfera de Compostos que formam íons hidrogênio solvatados num
H2, ele pode absorver ou ocluir uma quantidade de gás H2 solvente adequado são denominados ácidos. Embora seja o
correspondente a cerca de 935 vezes o seu próprio volume. H3O+ (ou mesmo H9O4+) o íon presente em solução, é
Essa propriedade pode ser aproveitada para separar H2 ou comum referir-se a ele como H + , subentendendo-se que se
D2 de hélio ou outros gases. O hidrogênio é liberado quando trata do próton hidratado.
130 O HIDROGÊNIO E OS HIDRETOS
LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO
Em alguns compostos um átomo de hidrogênio é atraído O» ,O
por forças razoavelmente fortes por dois outros átomos, por -H
exemplo no [F-H-F]- (às vezes o átomo de hidrogênio pode
ser atraído por mais de dois átomos). Supôs-se inicialmente H H CH
que o hidrogênio formasse duas ligações covalentes.
Atualmente admite-se que o hidrogênio só pode formar uma H
ligação covalente, visto que sua configuração eletrônica é d
H 'H
Is1. A ligação de hidrogênio é considerada, simplificada-
mente, como sendo uma atração eletrostática fraca entre
um par de elétrons livres de um átomo e um átomo de hidro orto meta para
gênio ligado covalentemente, tendo uma carga parcial 8 + .
As ligações de hidrogênio são formadas apenas com os Figura 8.5 — Estruturas do orto-. meta-, e para-nitrofenol
elementos mais eletronegativos (destes, os quatro mais
importantes são o F, O, N e Cl). Essas ligações são fracas,
com valores típicos de 10 kJ mol’1. Porém, a energia de entalpias de vaporização e de sublimação (Fig. 8.6). De iun.
ligação pode variar de 4 a 45 kl mol"1. Esses valores devem modo geral, os pontos de fusão e de ebulição numa série dr
ser comparados com a energia de uma ligação covalente compostos correlatos tendem a aumentar à medida que o
C-C, que é de 347 kJ mol"1. Apesar da pequena energia de átomos se tornam maiores, devido ao aumento das força
ligação, elas são de grande importância em sistemas dispersivas. Assim, por extrapolação das temperaturas dr
bioquímicos e mesmo na química. Elas são extremamente ebulição do H2Te, H2Se e H2S, pode-se prever que o ponte
importantes por serem as responsáveis pela ligação de de ebulição da água deve ser em torno de -100° C. Ni
cadeias polipeptídicas em proteínas e por ligarem pares de realidade, contudo, o ponto de ebulição da água é igual;
bases nas gigantescas moléculas contendo ácidos nucléicos. +100 °C. Portanto, a água ferve a uma temperatura cerc.
As ligações de hidrogênio mantêm essas moléculas em de 200 °C maior que a que deveriamos observar na ausêndi
configurações moleculares específicas, o que é importante de ligações de hidrogênio.
para o funcionamento de genes e enzimas. As ligações de Analogamente, o ponto de ebulição do NH3 é bem maio
hidrogênio são responsáveis pelo fato da água ser líquida à que o valor esperado analisando-se a tendência observad;
temperatura ambiente e, se assim não fosse, a vida tal como na série PH3, AsH3 e SbH3. O HF também entra em ebuliçãc
a conhecemos não seria possível. Como as ligações de a temperaturas mais elevadas que o HC1, HBr e HI. A
hidrogênio são fracas, suas energias de ativação são baixas. responsáveis por essas temperaturas de ebulição maioire
Por isso exercem um papel importante em muitas reações que o esperado são as ligações de hidrogênio. Note que o:
que ocorrem a temperaturas ambiente. pontos de ebulição dos hidretos do Grupo 14, CH4, SiH.
As ligações de hidrogênio foram a primeira explicação GeH4 e SnH4 aumentam contínua e gradativamente, já qu.
para o caráter fracamente básico do hidróxido de não há formação de ligações de hidrogênio .
trimetilamônio, quando comparado com o hidróxido de As ligações de hidrogênio no HF ligam o átomo de F d<
tetrametilamônio. No composto trimetilado, o grupo 0H~ uma molécula com os átomos de H de outra molécula
está ligado ao grupo Me3NH (a linha pontilhada na Fig. 8.4) formando uma cadeia em zigue-zague de (HF)n, tanto n<
por ligações de hidrogênio. Isso toma a dissociação do grupo estado líquido como no sólido (Fig.8.7). No gás HF, também
OH mais difícil, enfraquecendo a base. No composto ocorre a formação de ligações de hidrogênio, sendo est
tetrametilado não há possibilidade de haver a formação de constituído por uma mistura de polímeros cíclicos (HF)6, d>
ligações de hidrogênio e o grupo OH se dissocia facilmente. dímeros (HF)2 e de monômeros HF (a energia da ligação d
Logo, o composto tetrametilado é uma base muito mais forte. hidrogênio F—H---F é igual a 29 kJ mol-1, no HF(gás)).
De uma maneira análoga, a formação de ligações de Um comportamento semelhante pode ser observado mo
hidrogênio intramoleculares no o-nitrofenol torna-o menos pontos de fusão e entalpias de vaporização dos hidretos
ácido que o m-nitrofenol e o p-nitrofenol, nos quais não é indicando a presença de ligações de hidrogênio no NH3, m
possível a formação de ligações de hidrogênio intramo H2O e no HF, mas não no CH4 (Fig.8.6c).
leculares (Fig. 8.5). Fortes evidências a favor das ligações de hidrogêni
As presenças de ligações de hidrogênio intermoleculares são fornecidas pelos estudos estruturais. Entre os exemplo
podem exercer um efeito muito acentuado sobre propriedades estão o gelo, cuja estrutura foi determinada tanto pordifraçã
físicas tais como pontos de fusão, pontos de ebulição e de raios X como de nêutrons; a estrutura dimérica do ácid
fórmico (determinada por difração de elétrons, na fas
gasosa); estruturas do hidrogenocarbonato de sódio e ácid
CH3 ch3 bórico, determinadas por difração de raios X (Fig. 8.8);
I I muitos outros.
CHi -N—>H • • • O—H ch3—n->ch3 O—H-
I I Uma outra técnica para o estudo das ligações d
CH3 ch3 hidrogênio é a espectroscopia de absorção no infravermelh
em solução de CC14, que permite estudar as freqüências d
Figura 8.4 — Estruturas dos hidróxidos de trimetila e tetrametilamônio estiramento das ligações O-H e N-H.
ÁCIDOS E BASES 131
ÁCIDOS E BASES
Existem várias teorias sobre acidez
e basicidade. Contudo, não se trata
realmente de teorias, mas simplesmente
de diferentes definições para o que
convencionamos denominar ácido e
base. Como se trata meramente de um
caso de definição, não se pode dizer que
uma teoria é mais correta que outra.
Assim, utilizamos a “teoria” mais conve
niente para solucionar um determinado
I problema químico. Qual é a teoria ou
definição mais útil de ácidos e bases ?
Não há uma resposta simples para essa
questão, pois ela depende do fato de
estarmos considerando reações iônicas
em solução aquosa, ou em solventes
não-aquosos, ou numa massa em fusão,
ou ainda se estamos interessados na
medida da força dos ácidos e bases. Por
esse motivo é necessário conhecer
diversas teorias.
A teoria de Arrhenius
Nos primórdios da química, os
ácidos eram identificados pelo seu gosto
azedo ou "ácido” e pelo seu efeito sobre
certos pigmentos de plantas, por
exemplo o tornassol. As bases eram
substâncias que reagiam com os ácidos
formando sais. As reações em solução
Figura 8.6 — Pontos de ebulição dos hidretos. b) Pontos de fusão de hidretos. c) Entalpias de vapori- eram efetuadas quase que exclusi
zação de hidretos (adaptação J.J. Lagotuski, Modem Inorganic Chemistry, Marcei Dekker, N.York. vamente em água. Assim, em 1884,
Arrhenius sugeriu a teoria da dissocia
ção eletrolítica e propôs a auto-ionização da água:
H2O ^H+ + OH"
Substâncias que produziam H+ foram denominadas
ácidos e aquelas que produziam OH" bases. Uma típica
reação de neutralização é a seguinte:
HC1 + NaOH NaCl + H2O
ácido base sal água
ou simplesmente:
H+ + OH" H,0
Em soluções aquosas, a concentração de H+ é freqüen-
temente expressa em unidades de pH, onde:
PH = log10 -^- = -log10[H+]
J
F F F F F
/\
. H
z\H
.
Z\
. H
/\
. H . H
• H • H • H • H • H * H
*•/ *./ *./ *./ '•/
F F F F F F
Figura 8.6a — continuação da figura 8.6 Figura 8.7 — Cadeia de HF sólido com ligações por pontes de hidrogênio
133 O HIDRD6ÈNID E 05 HIORETOS
2H2O — H3O+ + OH
A constante de equilíbrio dessa reação depende da
concentração da água [H2O] e das concentrações dos íom
[H3O + ] e [OH-].
[H3O+][OH~]
Ki =
[h20]2
Como a água está presente em grande excesso, sua
concentração é praticamente constante, de modo que o
produto iônico da água pode ser expresso como:
Kw = [H30 + ][0H"] = 10I"’ 14 mol2 r2
ácido muito fraco ácido fraco ácido forte ácido muito forte
Tabela 8.5 — Relações entre pH, |H*] e [OH-] HNO2 pK, - 3,3 HNOj pX, - -1,4
HjSOj pX, - 1,9 H2SO4 pXa - (-1)
PH [H+] (mol l-1) [OH-] (mol l-1) HOCI pK, - 7,2 HC1O2 pX, - 2,0 HClOj pXa - HC1O, pK, - (-10)
0 10° icr14
1 10-1 10-13 A Teoria de Brõnsted-Lowry
2 10-2 10-'2 Em 1923, Brõnsted e Lowry, independentemente,
3 IO-3 10-11 — ácido definiram ácidos como sendo doadores de prótons e bases
4 10"4 IO-10 como receptores de prótons.
5 10-5 10-9
6 10-6 10-8 2H2O = H3O+ + OH-
7 10-7 IO-7- neutro solvente ácido base
8 10-8 10-6 Em soluções aquosas, essa definição não difere
9 10-9 10-5 apreciavelmente daquela da teoria de Arrhenius. A água se
10 10-1° 10-* auto-ioniza, como mostrado acima. Substâncias que, em
11 10-" 10-3 — básico solução aquosa, aumentam a concentração de H3O+ para
12 IO-'2 10-2
valores acima de 10-7 mol2 l"2, correspondente a auto-
13 10-13 10-1
14 10° ionização, são consideradas ácidas e aquelas que diminuem
10-'4
esse valor são bases.
A teoria de Brõnsted-Lowry é útil, porque estende a
aplicabilidade da teoria de ácidos e bases a solventes
A escala de pH é usada para medir a atividade dos íons diferentes da água, como amônia líquida, ácido acético gla-
hidrogênio (pH = -log[H + ]) e se refere ao número de cial e ácido sulfúrico anidro, bem como a todos os outros
potências de dez que expressam a concentração de íons solventes contendo hidrogênio. Deve-se frisar que as bases
hidrogênio. Analogamente, a constante de dissociação do são receptores de prótons, não havendo necessidade
ácido, Ka, pode ser expressa como um valor de pKa: nenhuma da presença do íon OH- para que uma substância
seja uma base.
P*a= log-J- = log^c Por exemplo, em amônia líquida:
O pKa é, portanto, uma medida da força de um dado NH4C1 + NaNH2 Na + Cl- + 2NH3
ácido base sal solvente
ácido. O valor de Ka será elevado se o ácido estiver quase
que totalmente ionizado (elevada força ácida}. Consequente ou simplesmente:
mente, o valor de pKa será pequeno. Pode-se inferir a partir NH4+ + NH2"-> 2NH3
dos valores de pKa dados a seguir, que a força ácida aumenta ácido base solvente
da esquerda para a direita na tabela periódica: (doa um (aceita um
próton) próton)
CH4 NH3 H2O HF
Analogamente, em ácido sulfúrico:
PKa 46 35 16 3
H3SO4+ HSO4- 2H2SO4
A força dos ácidos também aumenta de cima para baixo, ácido base solvente
dentro de um grupo da tabela periódica:
Espécies químicas que diferem na composição apenas
HF HC1 HBr HI por um próton são denominados “pares conjugados".
pK> 3 -9 -10 Portanto, cada ácido possui sua respectiva base conjugada,
que se forma quando o ácido doa um próton. Analogamente,
Nos oxoácidos contendo mais de um átomo de
cada base possui um ácido conjugado correspondente.
hidrogênio, as constantes de dissociação sucessivas se
tomam rapidamente mais positivas, isto é, o tipo de “fosfato” A . B" + H+
formado por sucessivas remoções de H + se torna cada vez ácido base
menos ácida: conjugada
B H+ A+
H3PO4^H+ + H2POJ pKj = 2,15 base ácido
H2PO4- H+ + HPO4- pK2 = 7,20 conjugado
HPO4- H+ + PO4- pKj = 12,37 Em solução aquosa
Se um elemento formar diversos oxoácidos, o composto HC1 + H2O H3O+ + cr
será tanto mais ácido quanto mais átomos de oxigênio acid base ácido base
! j conjugado conjugada
contiver. Isso decorre do decréscimo na força de atração
eletrostática pelo próton, à medida que a carga negativa se
distribui sobre um maior número de átomos, o que facilita a Na reação acima, o HC1 é um ácido, pois doa prótons.
ionizaçâo. Assim, Cl- é sua base conjugada. Visto que o H2O recebe
134 □ HI0RDÍ5ÊNID E 05 HIDRETOS
um próton, ele é uma base e forma H30 + , seu ácido Solventes diferenciadores, como 0 ácido acético glaciaf—
conjugado. A base conjugada de um ácido forte é fraca, e enfatizam a diferença de força ácida e muitos ácidos minerai-
vice-versa. só se ionizam parcialmente neste solvente. Isso acontece
Em solução de amônia líquida: porque o próprio ácido acético é um doador de prótons
Portanto, para que uma substância dissolvida em ácãdc
NHj + S2’ HS" + NH3 acético se comporte como um ácido, ela deve doar próton
add base ácido base
I [conjugado conjugada mais facilmente que o ácido acético. O material dissolvnde
deve forçar o ácido acético a receber prótons (isto é, deví
forçar o ácido acético a comportar-se como base). 0 solventi
Em amônia líquida todos os sais de amônio atuam como
ácido acético torna mais difícil a dissociação dos ácidos miai
ácidos, pois eles podem doar prótons; e o íon sulfeto atua
comuns, e ao contrário favorecerá a dissociação complet;
como base, pois recebe prótons. A reação é reversível e ela
das bases. Logo, conclui-se que um solvente diferenciada
ocorre no sentido da formação das espécies que apresentam
para ácidos será um solvente nivelador para bases e vice
as menores tendências de se dissociarem, ou seja, HS" e
versa.
NH3 no presente caso.
A teoria de Brõnsted-Lowry apresenta uma limitação,
pois o grau em que uma substância dissolvida pode atuar A Teoria de Lewis
como ácido ou como base depende muito do solvente. 0 soluto Lewis desenvolveu uma definição de ácidos e base
apresenta propriedades ácidas somente se sua capacidade que não depende da presença de prótons, nem envolve
de doar prótons superar a do solvente. Isso às vezes contradiz reações com o solvente. Ele definiu ácidos como sendc
as nossas idéias tradicionais sobre o que são ácidos, pois substâncias capazes de receber pares de elétrons e basee
estas idéias se baseiam na nossa experiência sobre o que como sendo substâncias capazes de doar pares de elétrons.
acontece em solução aquosa. Por exemplo, o HC104 é um Portanto, um próton é um ácido de Lewis e a amônia é uma
doador de prótons extremamente forte. Se HC1O4 líquido for base de Lewis, pois o par de elétrons livres do nitrogênio
utilizado como solvente, o HF dissolvido será forçado a pode ser doado para um próton:
receber prótons e atuar como base.
H+ + :NH3-> [H<-:NH3]+
HCIO4 + HF H2F+ + ClOf
Analogamente, 0 HC1 é um ácido de Lewis porque ele
Analogamente, o HNO3 é forçado a receber prótons e, pode receber um par de elétrons de uma base como a água,
portanto, atua como base tanto em HC104 como em HF embora este processo seja seguido por uma ionização:
líquido como solvente. H20 + HC1 -» [H2O:-»HC1] -> H30 + + Cl’
A água apresenta apenas uma fraca tendência de doar
Embora essa abordagem seja mais geral e abrangente
prótons. Assim, todos os ácidos minerais (HC1, HNO3, H2SO4
que aquela que envolve prótons, ela apresenta diversas
etc.) apresentam tendência muito mais acentuada a ceder
desvantagens:
prótons. Em solução aquosa todos os ácidos minerais doam
prótons para a água, comportando-se como ácidos. Nesse 1. Muitas substâncias, tais como o BF3 ou íons metálicos,
processo os ácidos minerais se dissociam completamente. que normalmente não são considerados ácidos,
Usando amônia líquida como solvente, os ácidos fortes comportam-se como ácidos de Lewis. Essa teoria
em solução aquosa reagem completamente com a amônia, também engloba reações em que não há formação de
formando NH4 + . íons, nem transferência de íons hidrogênio ou de
quaisquer outros íons (por exemplo, Ni(CO)4).
HCIO4 + NH3^NH4+ + CIO4’
HN03 + NH3-»NH4+ + N03- ácido base
BF3 + NH3 -> [H3N:—>BF3]
Ácidos um pouco mais fracos em água também reagem Ag+ + 2NH3 [H3Nt—>Ag<—:NH3]+
completamente com a amônia, formando NH4 + . Co3+ + 6Cr —» [CoCl6]3-
Ni + 4C0 -»Ni(C0)4
H2SO4 + 2NH3 2NH4+ + SO4- 0 + C6H5 ->C6H5N:-»O (óxido de piridina)
Também ácidos que sao fracos frente a água, como 0 2. Não há escala para medir a força de ácidos ou de bases
ácido oxálico, reagem completamente com NH3. já que a força de uma substância ácida ou básica nãat
constante, variando de um solvente para outro e tambéir
(COOH)2 + 2NH3 —>2NH4+ + (COO)22-
de uma reação para outra.
As forças dos diferentes ácidos foram todas niveladas 3. Quase todas as reações podem ser consideradas comt
pelo solvente amônia líquida: por isso a amônia líquida é sendo reações ácido-base, caso essa definição seji
denominada um solvente nivelador. Mesmo certas moléculas utilizada.
que não apresentam propriedades ácidas em solução aquosa,
como a uréia, tornam-se fracamente ácidas em amônia
O solvente
líquida.
Talvez a definição geral mais conveniente de ácidos 1
NH2CONH2 + NH3^NH4+ + nh2conh- bases seja aquela formulada por Cady e Elsey, que pode se
ÁCIDOS E BASES 135
aplicada em todos os casos em que o solvente sofra auto- Contudo, o ácido acético se comporta como base
ionização, quer ele possua prótons ou não. quando usamos ácido sulfúrico como solvente, pois o H2SO4
Muitos solventes sofrem reações de auto-ionização, de é um doador de prótons mais forte que o CH3COOH. Analoga
modo semelhante ao que acontece com a água, formando mente, o HNO3 é forçado a comportar-se como base em
íons positivos e negativos: H2SO4, o que é importante na obtenção do íon nitrônio,
NO2 + , responsável pela nitração de compostos orgânicos
2H2O — H3O+ + OH" por uma mistura de H2SO4 e HNO3 concentrados.
2NH3 NH4+ + NH2"
H2SO4 + CH3COOH ■CH3COOH2- + HSO4"
2H2SO4 H3SO4+ + HSO4"
H2SO4 + HNO3- [H2NO3]+ + HSO4-
2POC13 POC12+ + POC14"
[H2NO3]+ • h2o + no2+
2BrF3 BrF2+ + BrF4"
N2O4 NO+ + NO3"
A definição de Lux-Flood
Os ácidos são definidos como substâncias que
Lux propôs originalmente uma definição diferente de
aumentam a concentração do íon positivo característico do
ácidos e bases, que foi ampliada por Flood. Em vez de usar
solvente (H3O+ no caso da água, NH4+ no caso da amônia
prótons ou íons característicos do solvente, eles definiram
líquida, e NO+ no caso do N2O4). Bases são substâncias
ácidos como sendo óxidos capazes de receber oxigênio, e
que aumentam a concentração do íon negativo característico
bases como óxidos que cedem oxigênio. Por exemplo:
do solvente (OH“ no caso da água, NH2“ na amônia líquida,
N03" no N2O4). CaO + CO2 - Ca2+[CO3]2"
Essa abordagem apresenta duas vantagens. Em primeiro SiO2 + CaO - Ca2 + [SiO3]2"
lugar, a maior parte de nossas idéias tradicionais sobre ácidos 6Na2O + P4O10 > 4Na3 + [PO4]3"
e bases em solução aquosa permanecem inalteradas, o que base ácido
acontece também com o conceito de reações de neutra Esse sistema é muito útil no tratamento de reações em
lização. Em segundo lugar, ela permite a inclusão de condições anidras, em óxidos no estado fundido, e em outras
solventes não-aquosos por analogia com a água. reações a altas temperaturas, como aquelas encontradas nas
Por exemplo, a água se ioniza formando os íons H3O + áreas de metalurgia e cerâmica.
e OH". Substâncias que fornecem H3O + (por exemplo HC1,
KNO3 e H2SO4) são ácidos, e substâncias que fornecem OH" A definição de Usanovich
(como NaOH e NH4OH) são bases. As reações de
Segundo essa definição, um ácido é uma espécie
neutralização são do tipo ácido + base —> sal + água.
química qualquer que reage com bases, libera cátions, ou
HC1 NaOH NaCl H2O recebe ânions ou elétrons. Por sua vez, uma base é uma
ácido base sal água espécie química qualquer que reage com ácidos, libera ânions
ou elétrons, ou se combina com cátions. TYata-se de uma
Analogamente, a amônia líquida ioniza-se formando os íons
definição muito ampla que inclui todas as reações do tipo
NH4+ e NH2". Sais de amônio são ácidos pois eles fornecem
ácido-base de Lewis, além de englobar as reações redox que
íons NH4 + , e a sodamida, NaNH2, é básica pois ela fornece
envolvem a transferência de elétrons.
íons NH2~. As reações de neutralização são do tipo ácido +
base —> sal + solvente.
Ácidos e bases duros e moles
NH4C1 + NaNH2 NaCl 2NH3
ácido base sal solvente Os íons metálicos podem ser divididos em dois grupos,
dependendo da estabilidade de seus complexos com certos
0 N2O4 sofre auto-ionização gerando os íons NO+ e NO3". ligantes.
No caso do N2O4 como solvente, N0C1 comporta-se como Metais do tipo a): incluem os íons pequenos dos Grupos
ácido, pois fornece NO +, e NaNO3 como base, já que fornece 1 e 2 e os elementos de transição que se encontram a
no3-. esquerda na tabela periódica, particularmente em estados
de oxidação elevados. Esses metais formam os complexos
NOC1 + NaNO3 NaCl n2o4 mais estáveis com doadores de oxigênio e nitrogênio
ácido base sal solvente
(amônia, aminas, água, cetonas, álcoois), e também com F"
e cr.
Claramente essa definição se aplica igualmente bem a
sistemas protônicos e não-protônicos. Essa definição mais Metais do tipo ti): incluem os íons de metais de transição
localizados a direita na série e os complexos de metais de
ampla também apresenta vantagens ao se considerar
transição em baixo estado de oxidação, tais como as
solventes protônicos, pois explica porque as propriedades
carbonilas. Esses metais formam os complexos mais estáveis
ácidas ou básicas de um soluto não são absolutas e dependem
com ligantes tais como I", SCN" e CN".
em parte do solvente. Normalmente consideramos o ácido
acético como sendo um ácido, porque em solução aquosa Essa classificação empírica foi útil na previsão das
ele produz H3O + . estabilidades relativas de complexos. Pearson estendeu o
conceito para uma grande variedade de interações ácido-
CHjCOOH + H2O h3o+ + ch3coo" base. Metais do tipo a) são pequenos e não muito polarizáveis
13B □ HIDROGÊNIO E OS HIDRETOS
Tabela 8.6 — Alguns ácidos e bases duros e moles • Muetterties, E.L.; Tl-ansition Metal Hydrides, Marcei Dekker
New York, 1971.
Ácidos duros Ácidos moles • Sharpe, A.G.; Inorganic Chemistry, Longmans, London, 1981
H* Pd2*. Pt2*, Cu*, Ag*. Au*. Hg2*, cap. 9.
Li*. Na* K*. (Hg2)2*,Tl*. • Stinson, S.C.; Chem. Eng. News, 3 de novembro, 18-20,1980
Be2*, Mg2*, Ca2*, Sr2*, B(CH3)j, B2H6, Ga(CH3)3, GaCl3, (Aumento do uso de hidretos como agentes redutores)
Al3*, BF3. A1(CH3)3, A1C13, GaBr3, Galj • Wiberg, E. e Amberger, E.; Hydrides, Elsevier, 1971.
Sc3*, Ti4*, Zr4*, VO2*, Cr3*, [Fe(CO)5], [Co(CN)5]5-
MoO3*, WO4*,
Ce3*, Lu3*, Hidrogênio como Combustível Alternativo
Co2, SOj • McAuliffe, C.A.; The hydrogen economy, Chemistry inBrit
Bases duras Bases moles ain, 9, 559-563 (1973).
NH3, RNH2, N4H4 H", CN", SCN-, S2O1-, r RS', • Marchetti, C.; The hydrogen economy and the chemist, Chem
H2O, ROH, r2o R2S, CO, B2H6, C2Hj, R3P, P(OR)3 istry in Britain, 13, 219-222 (1977).
OH-, NO), CIOJ, CO?-, SO?“, • Williams, L.O.; Hydrogen Power: An Introduction to Hydro
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1980.
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superácidos) Radiochem., 1, 385 (1959). (Ácido sulfúrico como solvente)
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New York, 1978, cap. 7. (Tópicos em química geral e inorgânica, monografia 17),
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PROBLEMAS
Pearson, R.G.; J. Chem. Ed., 64, 561-567 (1987). (Avanços
recentes no conceito de ácidos e bases duros e moles) 1. Proponha razões a favor e contra a inclusão do hidrogênio
em um dos grupos de elementos representativos da Tabela
• Smith, D.W.; J. Chem. Ed., 64, 480-481 (1987). (Escala de Periódica.
acidez para óxidos binários)
Descreva quatro métodos de obtenção do hidrogênio em
• Vogei, A.L; Jeffery, G.H.; Bassett, J.; Mendham, J. e Denney, escala industrial. Mostre um método conveniente de
R.C.; Vogei’s Textbook of Quantitative Chemical Analysis, 5? preparar hidrogênio em laboratório.
ed., Halstead Press, 1990. (Indicadores, titulações ácido-base,
ácidos e bases fracas, tampões, etc.) 3. Descreva os principais usos do hidrogênio.
4. Escreva as equações que representam as reações do
hidrogênio com: a) Na, b) Ca, c) CO, d) N, e) S, f) Cl2, g)
A água e as soluções CuO.
• Burgess, J.; lons in Solution, Ellis Horwood, Chichester, 1988. 5. Descreva as propriedades dos diferentes tipos ou classes
• Franks, F.; Water, 1 ? edição revisada, Royal Society of Chem- de hidretos.
istry, London. 6. Dê seis exemplos de solventes protônicos diferentes da
• Hunt, J.P. e Friedman, H.L.; Prog. Inorg. Chem., 30, 359-387 água e mostre como eles se auto-ionizam.
(1983). (Aqua complexos de íons metálicos) 7. Quais são as espécies caracteristicamente ácidas e básicas
• Murrell, J.N. e Boucher, E.A.; Properties ofLiquids and Solu nos seguintes solventes: a) amónia líquida, ácido acético
tions, John Wiley, Chichester, 1982. anidro, b) ácido nítrico anidro, c) HF anidro, d) ácido
• Nielson, G.W. e Enderby, J.E. (eds.); Water and Aqueous perclórico anidro, e) ácido sulfúrico anidro, f) tetróxido
Solutions, 37.° Simpósio da Colston Research Society de dinitrogênio.
(Universidade de Bristol), Adam Hilger, Bristol, 1986. 8. Descreva como as várias propriedades físicas de um
• Symons, M.C.R.; Liquid water - the story unfolds, Chemistry solvente influenciam a sua utilidade como solvente.
inBritain, 25, 491-494 (1989). 9. Como as propriedades do H2O, NH3 e HF são influenciadas
pela formação de ligações de hidrogênio ?
Solventes Não-Aquosos 10. Explique a tendência de variação encontrada nos pontos
de ebulição dos haletos de hidrogênio (HF 20 °C, HC1
• Addison, C.C.; Chem. Rev., 80, 21-39 (1980). (Tetróxido de -85 °C, HBr -67 °C, HI -36 °C).
dinitrogênio, ácido nítrico e suas misturas como meios para
reações inorgânicas) 11. Discuta os fundamentos teóricos, os usos práticos e as
limitações teóricas para a utilização do fluoreto de
• Addison, C.C.; The Chemistry of Liquid Alkali Metals, John hidrogênio líquido como solvente não-aquoso. Enumere
Wiley, Chichester, 1984. as substâncias que se comportam como ácidos e como
• Burger, K.; lonic Solvation and Complex Formation Reactions bases nesse solvente. Explique o que acontece quando SbFs
in Non-Aqueous Solvents, Elsevier, New York, 1983. é dissolvido em HF.
• Emeléus, H.J. e Sharpe, A.G.; Modem Aspects of Inorganic 12. Discuta os fundamentos teóricos, usos práticos e limitações
Chemistry, Routledge and Kegan Paul, London, 1973. (Cap.7: para o uso da amónia líquida como solvente não-aquoso.
Reações em solventes não aquosos; Cap.8: O hidrogênio e Explique o que acontece quando o l5NH4Cl é dissolvido
os hidretos) em amónia líquida não marcada e o solvente é evaporado.
13B
eiledíieot®
0® EM®® s
139
Grupo J
os metais nLcnuuos
INTRODUÇÃO dustrial. A produção mundial de sais de potássio (designados
genericamente como "potassa” e medidos pelo conteúdo de
Os elementos do Grupo 1 ilustram, de modo mais claro
K2O) foi de 24,5 milhões de toneladas, em 1992. Grande
que qualquer outro grupo de elementos, o efeito do tamanho
parte foi empregada como fertilizante, mas KOH, KNO3 e
dos átomos ou íons sobre as propriedades físicas e químicas.
K2O também são importantes. Além disso, sódio e potássio
Eles formam um grupo bastante homogêneo e, provavel
são elementos essenciais para a vida animal. Esses dois
mente, tenham a química mais simples que qualquer outro
elementos foram isolados pela primeira vez por Humphrey
grupo da Tabela Periódica. As propriedades físicas e químicas
Davy, em 1807, pela eletrólise de KOH e NaOH.
desses elementos estão intimamente relacionadas com sua
estrutura eletrônica e seu tamanho. Todos esses elementos
são metais; são excelentes condutores de eletricidade, moles OCORRÊNCIA E ABUNDÂNCIA
e altamente reativos. Possuem na camada eletrônica mais
externa um elétron fracamente ligado ao núcleo e geralmente Apesar de sua grande semelhança química, os
formam compostos univalentes, iônicos e incolores. Os elementos alcalinos não ocorrem juntos, principalmente por
hidróxidos e óxidos são bases muito fortes e os oxo-sais são causa dos diferentes tamanhos de seus íons.
muito estáveis. O lítio é o trigésimo quinto elemento mais abundante,
O lítio, o primeiro elemento, difere consideravelmente em peso, e é obtido principalmente a partir de minerais do
dos demais elementos do grupo. Em todos os grupos de grupo dos silicatos, como o espodumênio LiAl(SiO3)2 e a
elementos representativos da Tabela Periódica, o primeiro lepidolita Li2Al2(SiO3)3(FOH)2. A produção mundial de
elemento apresenta uma série de diferenças em relação aos minerais de lítio foi de 8.900 toneladas em 1992. Os principais
demais elementos. produtores são a ex-União Soviética com 36%, Austrália 34%,
O sódio e o potássio constituem cerca de 4% em peso China 12%, Zimbabue 10%, Chile 9% e Canadá 8%.
da crosta terrestre. Seus compostos são muito comuns, sendo O sódio e o potássio são o sétimo e o oitavo elementos
conhecidos e usados desde os primórdios da civilização. mais abundantes da crosta terrestre, em peso. NaCl e KC1
Alguns desses compostos são utilizados em quantidades ocorrem em grandes quantidades na água do mar. A princi
muito grandes. Em 1992, a produção mundial de NaCl foi pal fonte de sódio é o sal-gema (NaCl). Diversos sais,
de 183,5 milhões de toneladas (a maior parte é usada na incluindo NaCl, Na2B4O7- 10H2O (bórax), Na2CO3NaHCO3.
preparação de NaOH e Cl2). Foram produzidos 38,7 milhões 2H2O (trona), NaNO3 (salitre) e Na2SO4 (mirabilita), são
de toneladas de NaOH, em 1994. Cerca de 31,5 milhões de obtidos a partir de depósitos formados pela evaporação das
toneladas de Na2CO3 são consumidos por ano. NaHCO3, águas de antigos mares, como o Mar Morto e o Grande Lago
Na2SO4 e NaOCl também são compostos de importância in- Salgado em Utah, EUA. O cloreto de sódio é extremamente
importante e é utilizado em quantidades
Tabela 9.1 — Estruturas eletrônicas que superam a de qualquer outro
composto. A produção mundial foi de
Elemento Símbolo Configuração eletrônica 183,5 milhões de toneladas em 1992. Os
principais produtores são os Estados
Lítio Li ls22? ou [He] 2s‘ Unidos (19%), China (10%), ex-União
Sódio Na lr22?2p63s‘ ou [Ne] 3? Soviética (9%), Alemanha (8%), índia
Potássio K lr22j22p63j23p64r1 ou [Ar] 4s’ (7%), Canadá (6%), Grã-Bretanha e
Rubídio Rb 1 r22?2p63?3p63d104j24p65s1 ou [Kr] 5r‘ Austrália (5% cada um), França e
Césio Cs ls22?2p63j23p63d104?4p64d'°5?5p66r1 ou [Xe] 6? México (4% cada um). Em muitos
Frâncio Fr [Rn] 7? lugares o NaCl é minerado como sal-
140 Grupo 1 — 05 METAIS ALCALINO5
Tabela 9.2 — Abundância dos metais alcalinos na crosta deslocamento de um dos elementos por outro situado acima
terrestre, em peso dele na série eletroquímica, seria impraticável em solução
aquosa. Os metais alcalinos são os agentes redutores mais
Abundância na crosta terrestre Abundância fortes conhecidos, razão pela qual não é possível obtê-los
relativa por redução de seus óxidos. A eletrólise de soluções aquosas
(ppm) (%)
de seus compostos também não seria bem sucedida, exceto
Li 18 0,0018 35 se cátodos de mercúrio forem utilizados. Nesse caso, obtém-
Na 22.700 2,27 7 se amálgamas e a obtenção dos metais puros a partir d.as
K 18.400 1,84 8 mesmas é difícil.
Rb 78 0,0078 23 Os metais alcalinos podem ser obtidos por eletrólise de
Cs 2,6 0,00026 46 um sal fundido, geralmente dos haletos fundidos.
Geralmente, impurezas são adicionadas para abaixar o ponto
gema. Na Grã-Bretanha (depósito salino de Cheshire), cerca de fusão.
de 75% é extraído em solução, como salmoura; também na
Alemanha 70% do NaCl é extraído como salmoura. Em países O sódio é obtido a partir da eletrólise de uma mistura
de clima quente, o sal pode ser obtido por evaporação da fundida constituída de cerca de 40 % de NaCl e 60 % de CaCij,
água do mar, nas salinas. Por exemplo, 92% do sal produzido numa célula de Downs (Fig. 9.1). Essa mistura fundeacerca
na índia é obtido por evaporação; na Espanha e na França de 600 °C, bem abaixo dos 803 °C do NaCl puro. A pequena
essa percentagem chega a 26%. Esse método também é quantidade de cálcio formado durante a eletrólise é insolúvel
utilizado na Austrália. no sódio líquido e se dissolve na mistura eutética. Há três
vantagens nesse procedimento:
O potássio ocorre principalmente como depósitos de
KC1 (silvita), de uma mistura de KC1 e NaCl (silvinita), e do 1. Ele diminui o ponto de fusão e, conseqüentemente, o
sal duplo KCl-MgCl2-6H2O (carnalita). Sais solúveis de consumo de combustível.
potássio são denominados coletivamente de "potassa". A 2. Devido a diminuição da temperatura de operação, a
produção mundial de "potassa” foi de 34,5 milhões de pressão de vapor do sódio é menor, diminuindo os riscos
toneladas em 1992, estimadas pelo conteúdo de K2O. A maior de sua ignição ao ar.
parte provém de depósitos comercialmente explorados (ex- 3. Nessas temperaturas mais baixas o metal sódio formado
União Soviética 35%, Canadá 25%, Alemanha 18%, França não se dissolve no material fundido. Caso ele se
e Estados Unidos, 5% cada e Israel 4%). Grandes quantida dissolvesse, provocaria um curto-circuito entre os
des são obtidas a partir de salmouras, como as águas do eletrodos, impedindo o prosseguimento da eletrólise.
Mar Morto (Jordânia) e do Grande Lago Salgado (Utah, EUA), Uma célula de Downs é constituída por um recipiente
onde a concentração chega a ser 20 a 25 vezes maior que na cilíndrico de aço, medindo cerca de 2,5 m de altura e 1,5 im
água do mar. Não é economicamente viável extrair potássio de diâmetro, revestido com tijolos refratários. O ânodo é um
da água do mar “comum”.
bastão de grafite rodeado por um cátodo de aço fundido,
Não há nenhuma fonte conveniente para a obtenção que se encontra no centro do cilindro. Uma tela de melai
do rubídio e somente uma para o césio. Assim, esses elemen separa os dois eletrodos e impede que o Na formado no
tos são obtidos como subprodutos do processamento do lítio. cátodo se recombine com o Cl2 formado no ânodo. 0 sódio
Todos os elementos mais pesados que o bismuto fundido sobrenada, pois ele é menos denso que o eletrólito,
(número atômico 83) 83Bi são radioativos. Assim, o frâncio e é coletado numa calha invertida, removido da célula e
(número atômico 87) é radioativo, e como este tem um empacotado em cilindros de aço.
período de meia-vida de apenas 21 minutos, ele não ocorre Uma célula semelhante podería ser usada para obter
em quantidades significativas na natureza. Todo o frâncio potássio eletrolisando KC1 fundido. Contudo, a célula deve
existente nos primórdios da Terra já teria desaparecido e
aquele produzido nesse momento a partir do actínio teria
uma existência transitória. Saída do Saída Saída do
sódio do sódio
“sAc 99% fundido cloro fundido
JJe + ^Th (decaimento beta)
1%
t t
z He + “I Fr (decaimento alfa)
Eletrólito
fundido
223 pr meia-vida de 21 min.
_?e + 2||Ra (decaimento beta)
Cf C/2
Cátodo
I
OBTENÇÃO DOS METAIS -'v* Ânodo
Tela
Os metais desse grupo são reativos demais para serem metálica
encontrados livres na natureza. Todavia, seus compostos
estão entre os mais estáveis ao calor, de modo que sua II I I I I I I I I II
decomposição térmica é praticamente impossível. Como
esses metais se situam no topo da série eletroquímica eles
reagem com a água. Logo, a obtenção desses metais por Figura 9.1 — Célula de Doums para a obtenção de sódio
TAMANHO 005 ÁTOMOS E lONS 141
ser operada a temperaturas mais elevadas, pois o ponto de preparação da liga Na/Pb, utilizado na síntese de PbEt4 e
fusão do KC1 é mais elevado, e isso provocaria a vaporização PbMe4. Esses compostos organometálicos são utilizados
do potássio liberado. Como o sódio é um agente redutor como aditivos da gasolina (antidetonante), mas seu uso está
mais forte que o potássio e é de fácil obtenção, o método diminuindo continuamente à medida que mais e mais carros
moderno consiste na redução de KC1 fundido com vapor de usam gasolina isenta de chumbo. Outra importante aplicação
sódio a 850 °C, numa grande torre de fracionamento. Esse é na redução do TiCl4 e ZrCl4 para a obtenção dos respectivos
processo fornece K com pureza de 99,5 %. metais. Ele também é usado na fabricação de compostos
tais como Na2O2 e NaH, e em lâmpadas de iluminação para
Na + KC1 -» NaCl + K ruas. Sódio metálico líquido é utilizado como elemento
Rb e Cs são produzidos de maneira semelhante, reduzin refrigerante num tipo de reator nuclear, transferindo o calor
do seus cloretos com Ca a 750 °C, sob pressão reduzida. do reator às turbinas, onde é gerado o vapor usado para
produzir eletricidade. Um reator desse tipo (“fast breeder”)
continua operando em Grenoble (França), mas o de Dounreay
APLICAÇÕES DOS METAIS DO GRUPO 1 E (Escócia) foi desativado. Eles operam à temperaturas de cerca
DE SEUS COMPOSTOS de 600° C. Por ser um metal, o sódio conduz muito bem o
calor e é perfeito para esse propósito, pois seu ponto de
O estereato de lítio C17H35COOLi é usado na fabricação ebulição é 881 ° C. Pequenas quantidades do metal são usadas
de graxas lubrificantes para automóveis. O Li2CO3 é em síntese orgânica e para secar solventes orgânicos.
adicionado à bauxita na produção eletrolítica de alumínio,
para reduzir o ponto de fusão, e também é utilizado para O potássio é um elemento essencial à vida. Cerca de 95
endurecer o vidro. Também tem usos medicinais, pois afeta % dos compostos de potássio são usados como fertilizante
o equilíbrio entre Na+ e K+ e entre Mg2+ e Ca2+ no para plantas - KC1 90%, K2SO4 9% e KNO3 1%. Sais de
organismo. O metal lítio é usado na fabricação de ligas, por potássio são sempre mais caros que os sais de sódio,
exemplo, com chumbo (“metal branco”) utilizado em geralmente por um fator de 10 ou mais. KOH (fabricado por
mancais de motores e máquinas, com alumínio para a eletrólise de soluções aquosas de KC1) é usado na fabricação
fabricação de peças de aviões leves e resistentes e com de fosfatos de potássio e de sabões moles, por exemplo
magnésio para fabricar chapas para blindagem. Há um estearato de potássio. Ambos são constituintes de detergentes
grande interesse nas aplicações termonucleares do lítio, pois líquidos. O KNO3 é usado em explosivos. O KMnO4 é usado
quando bombardeado com nêutrons ele produz trítio (vide na fabricação de sacarina. Também é usado como agente
a seção sobre Fusão Nuclear no Capítulo 31). O lítio também oxidante e em titulações. K2CO3 é usado na produção de
encontra emprego na fabricação de células eletroquímicas cerâmicas, tubos de TV a cores e lâmpadas fluorescentes. O
(tanto baterias primárias como secundárias). As baterias superóxido de potássio, KO2, é empregado em aparelhos de
primárias produzem eletricidade por meio de uma reação respiração e em submarinos. O KBr encontra uso na
química e são descartadas quando se esgotam. Elas são fotografia. Potássio metálico é produzido em pequenas
constituídas por um ânodo de lítio, um cátodo de carbono e quantidades, principalmente para fabricar KO2.
SOC12 como eletrólito. Há interesse por baterias de Li/S, que
poderíam fornecer a energia para movimentar os carros
elétricos do futuro, e em células secundárias, que poderão
ESTRUTURA ELETRÔNICA
se constituir num meio prático para o armazenamento da Todos os elementos do Grupo 1 têm um elétron de
energia elétrica excedente, nos horários de menor consumo. valência no orbital mais externo — um elétron s, que ocupa
0 LiH é usado para gerar hidrogênio e o LiOH para absorver um orbital esférico. Ignorando-se as camadas eletrônicas
CO2. internas preenchidas, suas configurações eletrônicas podem
A soda cáustica NaOH é o álcali mais importante usado ser escritas como: 2sl, 3sl, 4s‘, 5s’, 6s’ e 7s*. O elétron de
na indústria, sendo empregado para várias finalidades, in valência encontra-se bastante afastado do núcleo. Logo, é
clusive a fabricação de muitos compostos inorgânicos e fracamente ligado pelo núcleo e pode ser removido com
orgânicos, na fabricação de papel, em neutralizações de facilidade. Em contraste, os demais elétrons estão mais
ácidos, e na obtenção de alumina, sabões e raiom. A soda próximos do núcleo, são mais firmemente ligados e
(Na2CO3) pode ser empregada no lugar de NaOH em vários removidos com dificuldade. Por serem as configurações
processos, como na fabricação de papel, sabão e detergentes. eletrônicas desses elementos semelhantes, espera-se que seus
Grandes quantidades são utilizadas na fabricação de vidro, comportamentos químicos também o sejam.
fosfatos, silicatos e produtos de limpeza, bem como na
extração de SO2 dos gases liberados por usinas termelétricas TAMANHO DOS ÁTOMOS E ÍONS
alimentadas a carvão. O Na2SO4 é empregado em grandes
quantidades nas indústrias de sabões e detergentes, papel, Os átomos do grupo 1 são os maiores nos seus
fibras têxteis e vidro. O NaOCl é usado como alvejante e respectivos períodos, na tabela periódica. Quando os elétrons
desinfetante, sendo sua produção anual de cerca de 950.000 externos são removidos para formar os correspondentes íons
toneladas (em equivalentes de cloro), em 1990. O NaHCO3 positivos, o tamanho diminui consideravelmente. Há duas
é usado em fermentos químicos. A utilização do sódio razões para tal:
metálico está declinando, mas cerca de 80.000 toneladas 1. A camada eletrônica mais externa foi totalmente
foram produzidas em 1994. Sua principal aplicação é na removida.
14B Grupo 1 — 05 METAIS ALCALINOS
Energia Energia
Na*g>+ C1(q) Na(fl) + CI(0) M;fl>+ x(a, M(gl + X(fl)
+ ^Entalpia de + ^Entalpia de
-Afinidade dissociação -Afinidade
dissociação
eletrônica eletrônica
(AHd) (AHd)
Na*g| + |CI2|al (E) M<al + |X2|„| (E)
Tabela 9.7 — Entalpias padrão de formação dos haletos dos Tabela 9.9 — Pontos de fusão e pontos de ebulição
metais do Grupo 1 (todos os valores em kJ mor1)
Ponto de fusão Ponto de fusão
MF MCI MBr MI CC) CC)
Li -612 -398 -350 -271 Li 181 1.347
Na -569 ^100 -360 -288 Na 98 881
K -563 -428 -392 -328 K 63 766
Rb -549 -423 -389 -329 Rb 39 688
Cs -531 -424 -395 -337 Cs 28,5 705
> iodeto. Portanto, os fluoretos são os compostos mais necessária para gerar átomos gasosos a partir do sólido). A
estáveis e os iodetos os menos estáveis de todos. energias de coesão dos metais do Grupo 1 são iguais à ceirc<
2. As entalpias de formação para os respectivos cloretos, da metade daquelas dos elementos do Grupo 2, e um terçt
brometos e iodetos se tornam mais negativas de cima das energias de coesão dos elementos do Grupo 13. A mag
para baixo dentro do grupo. Essa tendência é observada nitude das energias de coesão determina a dureza. El:
para a maioria dos sais, exceto para os fluoretos no depende do número de elétrons que podem participar da
qual a tendência oposta é observada. ligações e da força das mesmas. Os metais do Grupo 1
Compostos iônicos também podem ser formados em possuem somente um elétron de valência que pode participa
solução. Nesse caso, um ciclo semelhante de variações de das ligações (comparado com dois ou mais elétrons n;
energia deve ser considerado, mas a energia reticular deve maioria dos outros metais). Esse fato, associado ao grande
ser substituída pelas energias de hidratação dos íons tamanho dos átomos e à natureza difusa do elétron externo
negativos e positivos. é responsável pela baixa energia de coesão, pequena íorç;
de ligação e baixa resistência mecânica dos metais alcalinos
O ciclo de energia mostrado na Fig. 9.3 é muito Os átomos se tornam maiores descendo o grupo do lítio ac
semelhante ao ciclo de Born-Haber. A entalpia de formação césio. Portanto, existe uma tendência das ligações sc
dos íons hidratados, a partir dos elementos em seu estado tornarem mais fracas, as energias de coesão diminuírem t
natural, deve ser igual à soma de todas as outras variações os metais se tornarem mais moles.
de energia ao longo do ciclo.
Tabela 9.10 — Cores da chama e comprimentos de onda que emite luz de um comprimento de onda apropriado para
que ocorra uma determinada transição eletrônica, para
Cor Comprimento Número de irradiar a amostra na chama. Assim, uma lâmpada de sódio
de onda (nm) onda (cm-1) é usada para determinar sódio na amostra: outras lâmpadas
são utilizadas na determinação de outros elementos. A
Li Vermelho-carmim 670,8 14.908 quantidade de luz absorvida pelos átomos no estado funda
Na Amarelo 589,2 16.972 mental é medida, sendo esta proporcional à quantidade do
K Violeta 766,5 13.046 elemento presente na amostra problema.
Rb Vermelho-violeta 780,0 12.821
Cs Azul 455,5 21.954
COR DOS COMPOSTOS
A cor surge porque a energia absorvida ou emitida nas
para um nível de energia superiores, por exemplo, no teste transições eletrônicas corresponde aos comprimentos de
de chama. Para realizar esse teste, uma amostra do cloreto onda da luz na região do visível. Todos os íons dos metais
do metal, ou de qualquer outro sal mergulhado em HC1 do Grupo 1 apresentam configurações eletrônicas de gás
concentrado, é aquecido na chama de um bico de Bunsen, nobre, no qual todos os elétrons estão emparelhados. Assim,
com o auxílio de um fio de platina ou de níquel-crômio. a promoção de um elétron requer uma certa quantidade de
Nessa situação, o elétron externo é excitado para um nível energia para desemparelhar um elétron, outra para romper
de energia mais alto pelo calor da chama. Quando esse um nível completamente preenchido de elétrons, além da
elétron retorna ao nível energético inicial, ele libera a energia energia para promover o elétron para um nível de maior
absorvida. A relação de Einstein relaciona essa energia E energia. A quantidade total de energia requerida é grande:
com o número de onda v: não há transições eletrônicas na faixa de energia adequada
E = hv (onde h é a constante de Planck) e seus compostos são tipicamente brancos. Qualquer
transição que porventura venha a ocorrer envolverá grandes
No caso dos metais do Grupo 1, a energia é emitida na quantidades de energia e aparecerá na região do ultravioleta
forma de luz visível, provocando o aparecimento de cores e não do espectro visível. Portanto, essa luz será invisível
características na chama. ao olho humano. Compostos dos metais do Grupo 1 são
Na realidade, a cor é decorrente das transições todos brancos, exceto aqueles em que o ânion é colorido,
eletrônicas em espécies de vida curta que se formam por exemplo, cromato de sódio Na2[CrO4] (amarelo),
momentaneamente na chama, que é rica em elétrons. No dicromato de potássio K2[Cr2O7] (alaranjado) e perman-
caso do sódio, os íons são temporariamente reduzidos a seus ganato de potássio K[MnO4] (violeta intenso). Nesses casos
átomos. a cor é devido a presença dos ânions [CrO4]-, [Cr2O7]2- ou
[MnO4]" e não dos íons dos metais do Grupo 1.
Na+ + e Na Quando os elementos do Grupo 1 formam compostos
(geralmente iônicos, mas existem alguns poucos compostos
A linha D do sódio (na realidade é um dubleto com covalentes), todos os elétrons estão emparelhados. Por isso,
máximos em 589,0 nm e 589,6 nm) decorre da transição os compostos do Grupo 1 são diamagnéticos. Há uma exceção
eletrônica 3s' —> 3p’, num átomo de sódio formado na
importante — os superóxidos, que serão discutidos mais
chama. As cores características da chama para os diferentes
adiante.
elementos não se devem todas à mesma transição, ou à
mesma espécie. Assim, a linha vermelha do lítio se deve à
espécie transiente LiOH formada na chama. PROPRIEDADES QUÍMICAS
Essas colorações características da chama correspondem Reação com água
a diferentes espectros de emissão, que possibilita a
determinação analítica destes elementos pela técnica de Todos os metais do Grupo 1 reagem com água, liberando
fotometria de chama. Uma solução de um sal do Grupo 1 é hidrogênio e formando os correspondentes hidróxidos. A
aspirada para o interior da chama resultante da queima de reação se torna cada vez mais vigorosa à medida que se
uma mistura oxigênio-gás, num fotômetro de chama. A desce o grupo. Assim, o lítio reage a uma velocidade
energia da chama excita um elétron para um nível de energia moderada; o sódio funde na superfície da água e o metal
mais alto e quando o elétron retorna ao nível de energia fundido desliza vigorosamente, podendo inflamar-se
mais baixo, a diferença de energia é emitida na forma de (especialmente se ficar parado); e o potássio funde e sempre
luz. A intensidade da coloração da chama é medida com se inflama.
uma célula fotoelétrica e depende da concentração de metal
2Li + 2H2O 2LÍOH + H2
presente. Uma curva de calibração pode ser construída,
2Na + 2H2O 2NaOH + H2
medindo-se tais intensidades para amostras de concentrações
conhecidas. Assim, as concentrações exatas de amostras 2K + 2H,0 2KOH + H2
desconhecidas podem ser determinadas, comparando-se os Os potenciais padrões de eletrodo E° são : Li * | Li =
resultados obtidos com os valores da curva padrão. -3,05 volts, Na + |Na = -2,71, K+|K = -2,93, Rb + |Rb =
As concentrações de metais do Grupo 1 podem ser -2,92 e Cs + |Cs = -2,92 V. O lítio apresenta o potencial padrão
alternativamente determinados, utilizando a espectroscopia de eletrodo mais negativo que qualquer outro elemento da
de absorção atômica. Nesse caso, utiliza-se uma lâmpada, tabela periódica, principalmente por causa da grande energia
146 Grupa 1 — Ü5 METAIS ALCALINOS
Tabela 9.11 — Algumas reações dos metais do Grupo 1 Reaçao com o nitrogênio
O lítio é o único elemento do grupo que reage
Reação Observações diretamente com o nitrogênio, formando o nitreto. 0 nitreto
de lítio, Li3N, é um composto iônico (3Li+ e N3') de cor
M + H,0 -» MOH + H, Os hidróxidos são as bases mais fortes conhecidas vermelho-rubi. Duas de suas reações são importantes: ele
Com excesso de oxigênio se decompõe gerando os elementos constituintes, quando
2Li +'/2O2-> Li2O O monóxido é formado pelo Li e em menor grau aquecido a altas temperaturas, e reage com água formando
pelo Na amônia.
2Na + 02 -» Na2O2 0 peróxido é formado pelo Na e em menor grau
calor
pelo Li 2Li3N — 6Li + N2
K + O2->KO2 O superóxido é formado pelo K, Rb e Cs Lí3N + 3H2O -» 3LÍOH + NH3
m + '/2h,->mh Formação de hidretos iônicos ou salinos
3Li +'/2N2-> LijN Somente o Li forma o nitreto ÓXIDOS, HIDRÓXIDOS, PERÓXIDOS E
3M + P->MjP Todos os metais alcalinos formam fosfetos SUPERÓXIDOS
3M + As -> MjAs Todos os metais alcalinos formam arsenetos Reação com o ar
3M + Sb-»MjSb Todos os metais alcalinos formam antimonetos Todos os metais alcalinos queimam ao ar formando
2M + S-»MjS Todos os metais alcalinos formam sulfetos
óxidos, embora o produto formado varie com o metal. 0
2M + Se-»M,Se Todos os metais alcalinos formam selenetos
2M+Te~»M,Te lítio forma o monóxido Li2O (e uma pequena quantidade do
Todos os metais alcalinos formam teluretos
2M + F2—>2MF Todos os metais alcalinos formam fluoretos peróxido, Li2O2), o sódio forma o peróxido Na2O2 (e uma
2M + Cl2-> 2MCI Todos os metais alcalinos formam cloretos pequena quantidade de monóxido Na2O), e os demais for
2M + Br,-»2MBr Todos os metais alcalinos formam brometos mam superóxidos do tipo MO2.
2M + I,-»2MI Todos os metais alcalinos formam iodetos Todos os cinco metais alcalinos podem ser induzidos a
M + NHj MNH, + '/,H2 Todos os metais alcalinos formam amidetos formar o óxido normal, o peróxido ou o superóxido,
dissolvendo-os em amônia líquida e borbulhando-se a
quantidade adequada de oxigênio.
Peróxidos e superóxidos
Tabela 9.12 — Solubilidades dos hidróxidos do Grupo 1
Todos os peróxidos contém o íon [-0-0-]2". Eles são
Elemento Solubilidade diamagnéticos (todos os elétrons estão emparelhados) e são
(g/100 g de H2O) agentes oxidantes. Os peróxidos podem ser considerados
como sendo sais do ácido dibásico H2O2, pois reagem com
Li 13,0 (25'C) água e ácido, formando peróxido de hidrogênio, H2O2.
Na 108,3 (25’C)
K 112,8 (25'C) Na2O2 + 2H2O 2NaOH + H2O2
Rb 197.6 (30"C)
Cs 385.6 (15*C) O Na2O2 é amarelo pálido, sendo usado industrialmente
como alvejamento de polpa de madeira, de papel e de artigos
têxteis, tais como algodão e linho. É um oxidante poderoso
e muitas de suas reações são perigosamente violentas,
As bases reagem com ácidos para formarem sais e água particularmente com materiais redutores tais como alumínio
e são utilizadas em muitas reações de neutralização. em pó, carvão, enxofre e muitos solventes orgânicos. Como
ele reage com o C02 do ar, tem sido empregado para purificar
NaOH + HC1 -> NaCl + H2O o ar em submarinos e recintos confinados, pois além de
absorver o CO2 desprende O2. O superóxido de potássio,
As bases também reagem com CO2, até mesmo com
KO2, é ainda mais adequado para essa finalidade. Algumas
quantidades traço presentes no ar, formando os carbonatos.
reações típicas são mostradas abaixo:
O LiOH é usado para absorver dióxido de carbono em recintos
fechados, tais como em cápsulas espaciais (onde sua baixa Na2O2 + CO -> Na2CO3
densidade é importante para diminuir o peso). 2Na2O2 + 2CO2 —í 2Na2CO3 a- O2
2NaOH + CO2 Na2CO3 + H2O Uma reação em duas etapas, na presença de excesso de
ar, é utilizado na obtenção industrial de Na2O2:
Elas reagem também com os óxidos anfóteros A12O3
formando aluminatos, SiO2 (ou vidro) formando silicatos, 2Na + */2O2 -» Na20
SnO2 formando estanatos, PbO2 formando plumbatos e ZnO Na2O + */2O2 -» Na2O2
formando zincatos.
Os superóxidos contêm o íon [02]~, que possui um
As bases provocam a liberação de gás amônia quando elétron desemparelhado; sendo portanto, paramagnéticos e
reagem com sais de amônio e complexos, onde a amônia coloridos (LiO2 e NaO2 são amarelos, K02 alaranjado, RbO2
está ligada a íons de metais de transição (amin complexos). castanho e CsO2 alaranjado).
NaOH + NH4C1 -> NH3 + NaCl + H20 O NaO2 apresenta três estruturas cristalinas diferentes:
6NaOH + 2[Co(NH3)6]C13 -»12NH3 + Co2O3 + 3NaCl + 3H2O a estrutura da marcassita na temperatura do ar líquido, a
cloreto de estrutura das piritas (FeS2) entre -17° C e -50 °C, e a
hexaamincobalto(III)
estrutura do carbeto de cálcio à temperatura ambiente. Tanto
a estrutura da pirita como a do carbeto de cálcio se
O NaOH reage com H2S para formar sulfetos S2" e
relacionam à estrutura do NaCZ, com os íons metálicos
hidrogenossulfetos HS", sendo usado para remover
ocupando as posições do Na+ e os íons O2", S2" e C2" estão
mercaptanas (tioálcoois) de derivados de petróleo.
nas posições do Cl". Como os íons negativos contêm dois
NaOH + H2S NaSH Na2S átomos, sua forma é cilíndrica ao invés de esférica. Na
estrutura do CaC2 os íons C2" estão todos orientados ao longo
Os hidróxidos reagem com álcoois, formando alcóxidos. de um dos eixos cúbicos, e a célula unitária é alongada nessa
direção. Por isso, a célula unitária do NaCl é cúbica, mas a
NaOH + EtOH -> NaOEt + H2O do CaC2 é tetragonal. A estrutura das piritas é semelhante,
etóxido de sódio
mas os íons C2" não estão todos alinhados, de modo que a
O KOH se assemelha ao NaOH em todas as suas reações, estrutura cúbica é mantida.
mas o KOH é muito mais caro e por isso menos utilizado. Os superóxidos são agentes oxidantes ainda mais fortes
Contudo, o KOH é muito mais solúvel em etanol, que os peróxidos, e reagem com água ou ácidos, despren
possibilitando a formação de mais íons C2H5O" através do dendo H2O2 e O2.
equilíbrio.
2KO, + 2H,0 2KOH + H,O2 + '/2O2
C2HsOH + OH" C2HsO" + H2O
O K02 é usado em cápsulas espaciais, submarinos e
Esse fato explica o uso de soluções alcoólicas de KOH máscaras de respiro, pois remove o CO2 e produz oxigênio.
em Química Orgânica. Os hidróxidos do Grupo são Ambas as funções são importantes em equipamentos para a
termicamente estáveis, confirmando a natureza fortemente manutenção da vida.
eletropositiva dos metais alcalinos. Muitos hidróxidos se
decompõem, perdendo água e formando os correspondentes 4KO2 + 2CO2 —> 2K2CO3 + 3O2
óxidos, durante o aquecimento. ma,'-CO,
4KO2 + 4CO2 + 2H2O —mais c—-> 4KHCO3 3O2
148 Brupo I — 05 METAIS ALCALINOS
0 superóxido de sódio não pode ser preparado por de sódio, usado em fotografia para dissolver os haletos de
combustão do metal em atmosfera de oxigênio, à pressão prata, e como reagente de laboratório para titulações
atmosférica, mas é preparado industrialmente, com bons iodométricas.
rendimentos, pela reação de peróxido de sódio com oxigênio
a altas temperaturas e pressões (450 °C e 300 atmosferas), 2Na2S + 2O2 + H20 Na2S2O3 + 2NaOH
num reator de aço inoxidável. 2Na2S2O3 + I2 -> Na2S4O6 + 2NaI
Na2O2 + O2 2NaO2
HIDRÓXIDO DE SÓDIO
As ligações que ocorrem nos peróxidos e superóxidos O hidróxido de sódio é o álcali mais importante
foram descritas nos exemplos sobre a teoria de orbitais empregado na indústria. É fabricado em grande escala (38,7
moleculares, no Capítulo 4. O íon peróxido [-O-O-]2- possui milhões de toneladas em 1994) pela eletrólise de uma solução
18 elétrons, que ocupam os orbitais moleculares como se aquosa de NaCl (salmoura), numa célula de diafragma ou
segue: de cátodo de mercúrio. No passado, também foi obtida a
partir do Na2CO3 pelo processo calcário-soda cáustica.
tt2p2, n’2pj,
CT1S2, CT * 1S2, <T2s2, <T * 2S2, CT2p2 , Atualmente, esse processo é pouco usado, pois outros
tt2p2, tt‘2p2, métodos são mais econômicos. Os detalhes sobre o método
industrial de preparação, suas aplicações e produção, serão
energia crescente
apresentados no Cap.10.
Portanto, a ordem de ligação é um, correspondente a
ligação simples.
HIDROGENOCARBONATO DE SÓDIO
O íon superóxido, [02]~, possui apenas 17 elétrons, o
que leva a uma ordem de ligação igual a 1,5. (BICARBONATO DE SÓDIO)
Cerca de 900.000 toneladas de NaHCO3 foram produ
crls2,<T • ls2,<j2s2,o * 2s2,a2p2
x
jttãp2, tt*2p2, zidos em 1991, dos quais 40 % foram utilizados em fermencos
’ («zpt n’2pj, químicos, 15% na preparação de outros produtos químicos,
12% em produtos farmacêuticos, inclusive antiácidos, e 10'%
Geralmente átomos ou íons grandes formam ligações em extintores de incêndio.
mais fracas que átomos ou íons pequenos. Os íons peróxido
NaHCO3 pode ser usado como “fermento químico" na
e superóxido são grandes, e deve ser frisado que a
estabilidade dos peróxidos e superóxidos aumenta à medida preparação de pães e bolos, pois ele se decompõe entre
que os íons metálicos se tornam maiores. Isso indica que 50 °C e 100 °C, com desprendimento de bolhas de C02.
cátions grandes podem ser estabilizados por ânions grandes, aquec. brando
2NaHCO3 t> Na2CO3 + H20 + C02
pois se os dois íons tiverem tamanhos semelhantes o número
de coordenação será elevado, o que conduz a uma elevada
Geralmente uma mistura de NaHC03, Ca(H2P04)2 e
energia reticular.
amido, é usado para essa finalidade. O Ca(H2PO4)2 é ácido,
e quando umedecido reage com NaHCO3, desprendendo CO>.
SULFETOS O amido é usado como carga. Um fermento composto
melhorado contém cerca de 40% de amido, 30% de NaHCOj,
Todos os metais alcalinos reagem com enxofre formando
20% de NaAl(SO4)2 e 10% de Ca(H2PO„)2. O NaAl(S04),
sulfetos, tais como Na2S, e polissulfetos, Na2Sn, onde n =
reduz a velocidade da reação, de modo que o gás carbônico,
2, 3, 4, 5 ou 6. Os íons polissulfetos têm estruturas com
cadeias de átomos de enxofre em zigue-zague. CO2, é liberado mais lentamente.
A A A A A ,S s"
-sz s- -s
-Sz y -sz \z \z SULFATO DE SÓDIO
Cerca de 4,3 milhões de toneladas de Na2SO4 forarr
O sulfeto de sódio também pode ser obtido aquecendo-
consumidos em 1993. Cerca de 55% desse total foram obtido:
se sulfato de sódio com carbono, ou borbulhando H2S numa
artificialmente, como subproduto da fabricação de HC1. (
solução de NaOH.
também de muitos processos de neutralização que utilizan
Na2SO4 + 4C -» Na2S + 4CO H2SO4. Cerca de 45% são naturais, minerados principalmentt
NaOH + H2S -> NaHS + H2O como sal de Glauber — Na2SO4- 10H2O.
NaOH + NaHS -> Na2S + H2O O principal consumidor de Na2SO4, cerca de 70%, é i
indústria de papel. Cerca de 10 % são usados na indústri;
Os sulfetos do Grupo 1 hidrolisam-se consideravelmente de detergentes e outros 10% na fabricação de vidro. Nt
em água, dando origem a soluções fortemente alcalinas: processo de fabricação de papel Kraft uma solução fortement,
Na2S + H2O NaSH + NaOH alcalina de Na2SO4 é usada para dissolver a lignina, qw
serve de suporte para as fibras de celulose presentes n.a:
0 Na2S é empregado para fabricar corantes orgânicos raspas de madeira. As fibras de celulose são entãt
sulfurados e nos curtumes para remover os pêlos dos couros. transformadas em cartolina ou papelão ondulado e pape
O Na2S é facilmente oxidado pelo ar formando tiossulfato marrom do tipo “Kraft".
HALETOS E POLIHALETO5 149
O lítio constitui uma exceção, pois não forma um Os nitritos também podem ser obtidos pela decompo
bicarbonato sólido, embora o LiHCO3 possa existir em sição térmica de nitratos, e pela redução química de nitratos:
solução. Todos os carbonatos e bicarbonatos dos metais
alcalinos são solúveis em água. 2NaNO3 + C -> 2NaNO2 + CO2
KNO3 + Zn ->■ KNO2 + ZnO
Mais de 50.000 toneladas de Li2CO3 são produzidos
anualmente. A maior parte é adicionada como impureza ao ou pela reação de NO com um hidróxido:
A12O3, para reduzir o ponto de fusão do mesmo no processo
de fabricação de alumínio por eletrólise ígnea. Uma parte é 2K0H + 4N0 2KNO2 + N20 + H20
adicionada aos vidros para torná-los mais duros (o lítio 4KOH + 6NO 4KNO2 + N2 + 2H2O
substitui o sódio na estrutura do vidro).
O Na2CO3 é usado no tratamento de águas duras e o
NaHCO3 é utilizado em “fermentos” químicos.
HALETOS E POLI-HALETOS
Todos os nitratos dos metais alcalinos podem ser Sendo o Li+ o menor íon desse grupo, espera-se que a
preparados pela reação do HNO3 com os respectivos formação de sais hidratados seja facilitada em relação aos
carbonatos ou hidróxidos, sendo todos muito solúveis em demais metais. LiCl, LiBr e o Lil formam tri-hidratos
água. O LiNO3 encontra emprego em fogos de artifícios e LiX-3H2O, mas os demais haletos de metais alcalinos for
em sinais luminosos avermelhados de socorro. Grandes mam cristais anidros.
depósitos de NaNO3 são encontrados no Chile, sendo usados Todos estes haletos assumem uma estrutura do tipo do
como fertilizante nitrogenado. LiNO3 e NaNO3 sólidos são NaCl, com número de coordenação 6, exceto o CsCl, o CsBr
deliqüescentes. Por isso, o KNO3 é utilizado preferen e o Csl. Esses últimos têm uma estrutura do tipo do CsCl,
cialmente ao NaNO3 na fabricação de pólvora (a pólvora é com número de coordenação 8. O número de compostos
uma mistura de KNO3, enxofre e carvão). O KNO3 é que assumem uma estrutura do tipo NaCl é maior do que se
geralmente obtido a partir de ácido nítrico sintético e K2CO3, podería esperar, a partir das relações de raios dos íon,
mas já foi fabricado a partir de NaNO3. r+/r". A razão para isso é a maior energia reticular (vide as
2HNO3 + K2CO3 -> 2KNO3 + CO, + H20 seções sobre Compostos iônicos do tipo AX e Energia re
NaNO3 + KC1 -^KNO3 + NaCl ticular, no Capítulo 3).
Os haletos dos metais alcalinos reagem com os
Os nitratos do metais do Grupo 1 são sólidos de pontos halogênios e com os compostos inter-halogenados, formando
de fusão relativamente baixos e estão entre os nitratos mais poli-haletos iônicos:
estáveis conhecidos. Contudo, com forte aquecimento eles
Kl + I2 K[I3]
se decompõem aos nitritos e a temperaturas ainda mais
KBr + 1C1 KfBrlCl]
elevadas aos óxidos correspondentes. O LiNO3 se decompõe
KF + BrF3 K[BrF4]
mais facilmente formando o óxido.
150 Empo I — 05 METAIS ALCALINOS
□
2s 2P
pode ser recristalizado de água fria e K[BH4) de água quente. Configuração eletrônica
Apresentam, pois, a vantagem de poderem ser usados em do ion Li*
solução aquosa. Os demais reagem com água (vide Grupo
13).
[BHJ- + 2H2O —>B02- + 4H2
Configuração eletrônica do ion
Li* com 4 moléculas de água com
ligações coordenadas através
E3 P BI
4 pares eletrônicos
dos pares isolados dos oxigênios
tetaédricos
(hibridização sp*l
SOLUBILIDADE E HIDRATAÇÃO
Todos os sais simples se dissolvem em água, formando No caso dos íons mais pesados, particularmente Rb4 e
íons; e portanto essas soluções conduzem corrente elétrica. Cs + , o número de moléculas de água aumenta para seis. A
Como os íons Li* são pequenos, seria de se esperar que as Teoria da Repulsão dos Pares de Elétrons da Camada de
soluções de sais de lítio conduzissem melhor a corrente Valência prevê uma estrutura octaédrica. A teoria da ligação
elétrica que as soluções de mesma concentração de sais de de valência também sugere um arranjo octraédrico, usanda
sódio, potássio, rubídio ou césio. Os íons pequenos deveríam um orbital s, três orbitais p e dois orbitais d para formar as
migrar mais facilmente para o cátodo e conduzir melhor a ligações.
SOLUBILIDADE E HIDRATAÇÃO 151
O composto LiC2H é empregado na síntese industrial A estrutura do agregado ("cluster”) (LiCH3)4 é incomum.
de vitamina A. Os quatro átomos de lítio ocupam os vértices de um tetraedro.
Os metais potássio, rubídio e césio reagem com grafita, Cada átomo de C das metilas se situa acima de uma das
inserindo-se nos espaços entre as camadas de carbono, do faces do tetraedro, formando ligações com os três átomos
seu retículo cristalino. Eles formam carbetos intersticiais de lítio que constituem cada uma das faces do tetraedro. A
altamente coloridos, não-estequiométricos cujas composições distância intramolecular Li-C é de 2,31 A. O átomo de
variam de C60K (cinza) a C36K (azul). A inserção máxima carbono também se liga aos três átomos de hidrogênio do
(saturação) ocorre no composto C8K, de coloração bronze grupo metila. Além disso, o átomo de C se liga ao átomo de
(vide Capítulo 12). Li em outro tetraedro, sendo a distância intermolecular C-
Li igual a 2,36 A. Portanto, o número de coordenação do
átomo de C é igual a 7. Isso não pode ser explicado pelas
COMPOSTOS ORGÂNICOS E teorias de ligação clássicas, pois o átomo de C só dispõe de
ORGANOMETÁLICOS um orbital s e três orbitais p para formar ligações. A
explicação mais simples envolve uma ligação quadricentrada
Os metais alcalinos substituem o H em ácidos orgânicos, com dois elétrons, englobando três átomos de Li nos vértices
formando sais como o acetato de sódio (etanoato de sódio),
de uma face e o átomo de C que se encontra acima deles. De
CH3COONa, e benzoato de potássio, C6H5COOK. O sabão é
um modo semelhante, o número de coordenação do Li
uma mistura dos sais de sódio dos ácidos palmítico, oléico e também é 7, constituído por três átomos de Li no tetraedro,
esteárico (ácido palmítico, C1SH31COOH, ocorre em óleo de três carbonos no centro das faces do tetraedro, e um átomo
coco, ácido oléico, C17H33COOH, ocorre em óleo de oliva e
de Li do tetraedro vizinho.
ácido esteárico, C17H35COOH, ocorre no sebo e gorduras
animais). O sabão é obtido pela saponificação (hidrólise) de O tetraetil-lítio é um tetrâmero no estado sólido (LiEt)4,
óleos e gorduras naturais. Esses óleos e gorduras são ésteres mas é um hexâmero quando dissolvido em hidrocarbonetos
do glicerol, e sua hidrólise com NaOH inicialmente trans (LiEt)6. O sólido tem estrutura semelhante a do [LiCH3]4, e
forma os ésteres em glicerol e ácidos graxos. A neutralização supõe-se que o hexâmero consista de um octaedro de átomos
desses ácidos graxos forma os correspondentes sais de sódio, de Li com grupos etila, Et, acima de seis das oito faces,
ou seja, sabão. Em 1991, a produção mundial de sabões foi formando ligações multicentradas.
de 7,4 milhões de toneladas. O n-butil-lítio também é um tetrâmero quando sólido,
(LiBu)4. Esse composto é disponível comercialmente. A sua
CH2O-OC-C15H3I ch2oh produção é de cerca de 1.000 toneladas por ano. É usado
principalmente como catalisador de polimerização e em
CH • 0 ■ OC • C15H3i + 3NaOH- CHOH + 3C15H31COOH alquilações. No laboratório, é um reagente muito versátil na
síntese de derivados aromáticos e insaturados, tais como
CH2OOC-C15H31 CHj-OH compostos vinil- e alil—lítio. Muitas dessas reações são
tripalmitato de glicerila glicerol ácido palmítico semelhantes às que ocorrem com os reagentes de Grignard.
(do óleo de coco) LiBu + Ari —> LiAr + Bul (Bu = butil, Ar - aril)
C15H31—COOH + NaOH^C15H31 • COONa + H2O 4LiAr + Sn(CH = CH)4—> 4LÍCH - CH2 + Sn(Ar)4
O estereato de lítio também é um "sabão” e é obtido a A partir desses compostos, é possível preparar uma
partir de LiOH e de uma gordura natural como o sebo. É grande variedade de compostos organometálicos e orgânicos.
usado em grande escala para tornar mais espessos óleos
minerais usados como lubrificantes (os assim chamados (R alquil ou aril)
"óleos detergentes"), sendo utilizados também na fabricação 3LiR + BCl3 -»BR3 + 3LÍC1 (compostos organoborados)
de graxas para motores. 4LiR + SnCl4 —>SnR4 + 4LÍC1 (compostos orgânicos de Sn)
3LiR + P(OEt)3 ->PR3 + 3LiOEt (compostos organofosforados)
O lítio mostra maior tendência de formar ligações 2LiR + HgI, ->HgR2 + 2LÍ1 (compostos organomercúricos)
covalentes que os demais metais alcalinos. O lítio apresenta LiR + RT —>R-R’ + LÍI (hidrocarbonetos)
propriedades semelhantes ao do magnésio, designadas LiR + H* —>R-H (hidrocarbonetos)
"relações diagonais” na Tabela Periódica. O magnésio forma LiR + Cl2 —>R-C1 + LÍC1 (haletos de alquila e arila)
LiR + HCONMe2—>R • CHO + LiNMe2 (aldeídos)
diversos alquil- e aril-derivados, denominados reagentes LiR + 3CO ->R2CO + 2LÍCO (cetonas)
de Grignard, que são muito importantes na obtenção de LíR + CO2 ►R • COOH + LiOH (ácidos carboxílicos)
compostos organometálicos. O lítio também forma diversos
alquil- e aril-derivados, que são muito importantes na Alquil compostos de Na, K, Rb e Cs são geralmente
preparação de compostos organometálicos. Por exemplo, o preparados a partir dos correspondentes compostos
(LiCH3)4 é o protótipo de uma série de compostos: é organomercúricos.
covalente, solúvel em solventes orgânicos e pode ser
sublimado ou destilado. Esses compostos freqüentemente 2K + HgR2 Hg + 2KR
são tetrâmeros ou hexâmeros. São obtidos a partir de haletos
Esses compostos são iônicos, M + R~, e extremamente
de alquila ou arila, geralmente o cloreto, em solvente como
éter de petróleo, ciclohexano, tolueno ou éter dietílico. reativos. Eles se inflamam ao ar, reagem violentamente com
a maioria dos compostos, exceto nitrogênio e hidrocarbonetos
RCÍ + Li LiR + LiCl saturados. Portanto, são de difícil manuseio.
154 Grupo 1 — 05 METAIS ALCALINOS
•axz
CRIPTANDOS
Os metais do Grupo 1 diferem dos demais metais pela /\0Hi
sua pequena tendência a formar complexos. Esse fato é ) oh2
previsível, pois os fatores que favorecem a formação de
Aldeído salicílico
complexos são o tamanho pequeno, a carga elevada e orbitais
vazios de baixa energia para formar as ligações. Entretanto,
os íons dos metais do Grupo 1 são muito grandes e tem uma
O choh
carga baixa de + 1. choxkÍÉ^
demais elementos do grupo são estáveis. Outro elementos, por exemplo Be e Al, B e Si, também são
indicativo de sua natureza menos básica é o fato dele observadas, como mostrado abaixo:
formar o bicarbonato apenas em solução e não no estado
Li Be . B . C
sólido, enquanto que todos os outros metais alcalinos
formam bicarbonatos sólidos estáveis. Na Mg Al Si
5. O lítio forma um nitreto, Li3N. Nenhum outro elemento
As relações diagonais decorrem dos efeitos tanto do
do Grupo 1 forma nitretos, mas os elementos do Grupo
tamanho como da carga sobre as propriedades. Descendo
2 formam.
por um grupo, os átomos e íons aumentam de tamanho.
6. O lítio reage diretamente com o carbono para formar Movendo-se da esquerda para a direita na Tabela Periódica,
um carbeto iônico. Nenhum outro metal alcalino o tamanho diminui. Logo, num movimento diagonal, o
apresenta essa propriedade, mas todos os elementos tamanho das espécies envolvidas permanece aproxima
do Grupo 2 reagem analogamente com o carbono. damente o mesmo. Por exemplo, o lítio é menor que o sódio,
7. O lítio apresenta uma maior tendência de formar e o magnésio também é menor que o sódio, de modo que o
complexos que os metais alcalinos mais pesados, sendo lítio e o magnésio têm aproximadamente o mesmo tamanho.
possível preparar complexos de amônia sólidos, como O tamanho do Li+ = 0,76 A e do Mg2+ = 0,72 Â, tal que
o [Li(NH3)4)l. em situações em que o tamanho é determinante, o
8. Li2CO3, Lí3PO4 e LiF são todos insolúveis em água, e o comportamento desses íons será semelhante.
LiOH é pouco solúvel. Os demais elementos do Grupo Berílio e alumínio é outro caso onde se observam
1 formam compostos solúveis em água, mas os relações diagonais. Nesse caso os tamanhos não são tão
correspondentes compostos de magnésio são insolúveis similares (Be2+= 0,45ÂeAl3+ = 0,535 A), mas a carga por
ou pouco solúveis. unidade de área é semelhante (Be2+ 2,36 e Al3+ 2,50), porque
9. Os haletos e os compostos alquil—lítios são muito mais as cargas dos íons são, respectivamente, +2 e +3.
covalentes que os correspondentes compostos de sódio, (carga iônica)
e por isso são solúveis em solventes orgânicos. Carga por unidade de área = —
Analogamente, o perclorato de lítio, e em menor grau o ■ (raio iônico)2
— ■ 71
perclorato de sódio, assemelham-se ao perclorato de 3
magnésio no que se refere à elevada solubilidade em Em alguns casos, sugeriu-se que as relações diagonais
acetona (propanona). são decorrentes de semelhanças diagonais nos valores de
10. O íon Li+ e seus compostos são mais fortemente eletronegatividades.
hidratados que os compostos dos demais elementos do Li Be B C
grupo. 1,0 1,5
1,5. 2,0 2,5
Desse comportamento aparentemente anômalo do lítio,
Na Mg
'Mg 'Al 'Si
iodem ser inferidas diversas generalizações.
0,9 1,2
1,2 1,5 1,8
Os primeiros elementos de cada um dos Grupos
representativos (Li, Be, B, C, N, O e F) diferem do restante Visto que há uma relação entre o tamanho dos íons e
dos elementos dos seus respectivos grupos. Em parte isso se suas eletronegatividades, trata-se apenas de uma maneira
deve ao tamanho muito menor dos primeiros elementos em diferente de abordar o mesmo problema.
relação aos demais elementos dos grupos. Conseqüentemente
eles têm uma maior tendência de formar compostos LEITURAS COMPLEMENTARES
covalentes (regras de Fajans) e complexos.
• Addison, C.C.; The Chemistry of the Liquid Alkali Metals,
O primeiro elemento de cada grupo pode formar no John Wiley, Chichester, 1984.
máximo quatro ligações convencionais, pois o nível
• Bach, R.O. {ed.); Lithium: Current Applications in Science,
eletrônico mais externo contém apenas um orbital s e três Medicine and Technology, John Wiley, Chichester and New
orbitais p. Os elementos mais pesados podem utilizar os York, 1985. (Anais de Conferência)
orbitais d para formar ligações. Assim, eles podem ter um
• Dram, D.J. e Cram, J.M.; Container Molecules and their
número de coordenação igual a 6, utilizando um orbital s, 3 Guests, Royal Society of Chemistry, Cambridge, 1995.
orbitais p e 2 orbitais d. Por causa disso, o número de
• Dietrich, B.; Coordination Chemistry of alkali and alkalirte
coordenação de um complexo ou composto covalente dos earth cations with macrocyclic ligands, J. Chem. Ed., 62.
primeiros elementos dos grupos geralmente é 4 e para os 954-964 (1985). (éteres-coroa e criptandos)
elementos subsequentes o número de coordenação
• Gockel, G.W.; Crown Ethers and Cryptands, Royal Society of
geralmente é 6. Essa generalização simples pressupõe que Chemistry, Cambridge. (um de uma série sobre Química
as ligações são formadas por pares de elétrons Supramolecular, Stoddart, J.F. (ed.))
compartilhados por dois átomos. Quando ocorre a formação
• Hanusa, T.P., Re-examining the diagonal relationships, J.
de ligações multicentradas, como no Li4(CH3)4, essa Chem. Ed., 64, 686-687 (1987).
generalização não é aplicável.
• Hart, W.A. eBeumel, O.E; ComprehensiveInorganicChemis
As relações de similaridade entre o lítio (o primeiro try, vol.l, Pergamon Press, Oxford, 1973. (Cap.7: 0 lido e
elemento do Grupo 1) e o magnésio (o segundo elemento seus compostos)
do Grupo 2) seguem a correlação diagonal na Tabela • Hughes, M.N. e Birch, N.J., IA and I1A cations in biology.
Periódica. Relações diagonais entre outros pares de Chemistry in Britain, 18, 196-198 (1982).
PROBLEMAS 157
• Jolly, W.L.; Metal Ammonia Solutions, Dowden, Hutchinson estrutura eletrônica dos óxidos formados pelo sódio e pelo
and Row, Strodburg, PA, 1972. potássio.
• Lagowski, J. (ed.); The Chemistry of Non-aqueous Solvents, 8. Explique as diferenças de reatividade dos metais do Grupo
Academic Press, New York, 1967. (Cap.6: Soluções de metais 1 com água.
em amônia líquida)
9. As energias de ionização dos elementos do Grupo 1
• Lehn, J.M.; Design of organic complexing agents, Structure sugerem que o césio deve ser o elemento mais reativo,
and Bonding, 16, 1-69 (1973) mas os potenciais padrão de eletrodo sugerem que o lítio
• Lippard, S. (ed.); Progress in Inorganic Chemistry, vol.32, Dye, é o mais reativo. Discuta conciliando essas duas obser
J.L.; Electides, Negatively Charged Metal íons and Related vações.
Phenomena, Wiley-Interscience, New York, 1984.
10. Descreva como você obteria hidreto de lítio. Escreva as
• March, N.N.; Liquid Metals, Cambridge University Press, 1990. equações que representem duas propriedades importantes
• Parker, D.; Alkali and alkaline earth cryptates, Adv. Inorg. do hidreto de lítio. O composto contém os íons
and Radiochem., 27, 1-26 (1983). isoeletrônicos Li+ e H". Qual deles é maior e por quê?
• Pedersen, C.J.; J. Am. Chem. Soc. 89, 2495, 7017-7036 (1967). 11. Represente através de equações as reações entre sódio e:
(Poli-éteres cíclicos e seus complexos com metais) a) H2O, b) H2, c) grafite, d) N2, e) O2, f) Cl2, g) Pb, h) NH3.
• Pedersen, C.J. e Frensdorf, H.K.; Angew. Chem., 11, 16-25 12. Os elementos do Grupo 1 geralmente formam compostos
(1972). (Poli-éteres cíclicos e seus complexos com metais) muito solúveis. Cite alguns compostos insolúveis ou pouco
• Sargenson, A.M.; Caged metal ions, Chemistry in Britain, 15, solúveis. Como esses elementos podem ser detectados e
23-27 (1979). (Considerações objetivas sobre éteres-coroa, identificados na análise qualitativa?
criptandos, etc)
13. Descreva a cor e a natureza das soluções dos metais do
• The Chemical Society; Alkali Metals, Publicação especial n? Grupo 1 em amônia líquida. Escreva uma equação que
22, London. mostre como essas soluções se decompõem.
• Waddington, T.C. (ed.); Non AqueousSolvent Systems, Nelson, 14. Desenhe as estruturas cristalinas do NaCl e do CsCl. Qual
1969. (Cap.l por Jolly, W.L. e Hallada, C.J.: Soluções de é o número de coordenação do íon metálico em cada caso?
metais em amônia líquida)
Explique por que esses dois sais adotam estruturas
• Wakefield, B.J.; The Chemistry of Organolithium Compounds, cristalinas diferentes.
Pergamon Pres, Oxford, 1976.
15. Os metais alcalinos formam muitos complexos? Qual é o
• Whaley, T.P.; Comprehensive Inorganic Chemistry, vol. 1, íon metálico desse grupo que forma complexos com mais
Pergamon Press, Oxford, 1973. (Cap.8: Sódio, potássio,
facilidade? Quais são os melhores agentes complexantes?
rubídio, césio e frâncio)
16. Desenhe a estrutura dos complexos formados pelo Li + ,
Na+ eK* com acetilacetona e com aldeído salicílico. Por
PROBLEMAS que os números de coordenação são diferentes?
1. Por que os elementos do Grupo 1 são: 17. O que é um éter-coroa e um criptando? Desenhe alguns
exemplos de complexos de elementos do Grupo com esses
a) monovalentes
ligantes. Qual é a importância biológica desse tipo de
b) essencialmente iônicos complexos?
c) agentes redutores fortes 18. Qual dos seguintes métodos você usaria para extinguir um
d) tem pequena tendência de formar complexos incêndio provocado pelo lítio, sódio ou potássio metálico?
e) porque eles tem os menores valores para a primeira Explique porque alguns desse métodos são inadequados e
energia de ionização nos respectivos períodos ? escreva as reações correspondentes.
2. Por que os metais do Grupo 1 são moles, têm baixo ponto a) água
de fusão e baixa densidade? (vide Capítulo 5) b) nitrogênio
3. O lítio é o menor íon do Grupo 1. Seria de esperar que ele c) dióxido de carbono
tivesse a maior mobilidade iônica e, portanto, as soluções d) manta de amianto
de seus sais deveríam ter uma maior condutividade que 19. Os quatro métodos gerais de obtenção de metais são
soluções de sais de césio. Explique porque isso não ocorre. decomposição térmica, deslocamento de um elemento por
4. Por que o lítio tem uma maior tendência de formar com outro, redução química e redução eletrolítica. Como são
postos covalentes que os demais elementos do grupo? obtidos os metais do Grupo 1? Por que os demais métodos
5. O raio atômico do lítio é 1,23 Â. Quando o elétron 2s mais não são adequados ?
externo é removido, o raio do Li+ passa a ser 0,76 Â. 20. 0,347 g de um metal (A) foram dissolvidos em HNO3
Supondo-se que a diferença de raios se deva ao espaço diluído. Essa solução provocou o aparecimento de uma
ocupado pelo elétron 2s, calcule a percentagem do vol coloração vermelha na chama não-Iuminosa de um bico
ume do átomo de lítio ocupado pelo único elétron de de Bunsen, e por evaporação formou 0,747 do correspon
valência. Essa hipótese é razoável? (Volume da esfera: dente óxido (B). (A) também reage com nitrogênio, for
4/37rr3) (Resposta = 76,4%) mando um composto (C), e com hidrogênio, formando
6. Por que e de que maneira o lítio se assemelha ao magnésio? (D). Um gás (E) e um composto pouco solúvel (F) foram
7. Quais são os produtos formados quando cada um dos obtidos quando 0,1590 g de (D) foram reagidos com água.
metais do Grupo 1 são queimados em atmosfera de oxigê O sólido (F) é uma base e consumiu 200 ml de HC1 0,1000
nio? O que resulta da reação desses produtos com água? M para a sua neutralização. Identifique as substâncias de
Utilize a teoria dos orbitais moleculares para descrever a (A) a (F) e explique as reações envolvidas.
158
n inoúSTnm
DE CLOna E ÁLC/1LIS
A indústria de cloro e álcalis compreende a fabricação
Tabela 10.1 — Quantidades de produtos químicos mais
de três produtos químicos de base: o hidróxido de sódio
fabricados em 1991,1992,1993 e 1994
(também denominado soda cáustica), o cloro e o carbonato
de sódio (ou simplesmente soda). Todos são obtidos a partir Milhões de toneladas
Produto
do cloreto de sódio. Mundo EUA Reino
O NaOH e o cloro são obtidos simultaneamente pela Unido
eletrólise de uma solução aquosa de NaCl. O NaOH é o álcali
mais importante usado na indústria e o Cl2 também é um D H2SO4 145,5 b 42,3 b l,70b
produto químico industrial de grande importância. O carbo 2) CaO 127,9' 18,4' 2,50b
3) NH3 U0,0b 17,3' l,20c
nato de sódio está sendo abordado juntamente com os dois
4) O2 (100)b 23,3c 2,50'
produtos acima citados por dois motivos — primeiro, porque
5) NH4NO3 (75)b 8,40'
ele pode substituir o hidróxido de sódio em muitas de suas
6) N2 (60)b 32,60'
aplicações industriais, como na fabricação de papel, sabões 20,6' 1,80*
7) eteno (etileno) 47,5 a
e detergentes; e em segundo lugar porque o Na2CO3 pode 38,7 d 12,9'
8) NaOH
ser convertido facilmente em NaOH (e vice-versa) pelo pro 9) Cl2 35,3 ó 12,0' 0,88*
cesso "cal-soda cáustica”. Nesse processo ocorre uma reação 10) Na2CO3 31,5' 9,9'
reversível. Assim, conforme a demanda e custos relativos 11) propileno 25,9“ 11,2' 0,79*
do carbonato de sódio e do hidróxido de sódio, ela pode ser 12) HNO3 24,7“ 8,5'
deslocada em um ou outro sentido. Antes de 1955, o Na2CO3 13) metanol 20,6' 5,3' 0,40*
era usado em grande escala no amolecimento de águas duras, 14) benzeno 20,4“ 6,2' 0,91*
pois impede a formação de precipitado na presença de 15) H3PO4 20,3“ ll,5b
sabões. Os sabões foram discutidos no item “Compostos 16) etanol 15,8b 0,9 b’ O,24b
Orgânicos e Organometálicos” do Capítulo 9, e a água dura 17) vinil clorídico 14,9“ 6,9''■ 0,16"
será discutida no Capítulo 11. Assim, até 1955, era 18) HC1 12,3“ 3,2': 0,15*
economicamente viável fabricar Na2CO3 a partir de NaOH. • valores de 1991;b valores de 1992;' valores de 1993; valores de 1994
Mais recentemente, com o uso cada vez mais generalizado
dos detergentes, diminuiu o de sabões, reduzindo a demanda 4HC1 + MnO2—»C12 + Mn2+ + 2CU + 2H2O
do Na2CO3. Atualmente a reação inversa é efetuada em escala
Scheele também descreveu as propriedades alvejantei
limitada, convertendo o Na2CO3 em NaOH.
do cloro, o que acabou elevando a demanda de cloro e d<
Na2CO3 + Ca(OH)2 CaCO3 + 2NaOH hidróxido de sódio a uma escala industrial, para uso n;
indústria têxtil. Naquela época não existia uma indústri;
Esses três produtos químicos são classificados como química e as pessoas tinham de fabricar seus próprio:
“produtos químicos inorgânicos pesados", pois são produtos químicos. O primeiro problema se referia à obtençãr
produzidos industrialmente em grandes quantidades. A Tab. do HC1, que passou a ser produzido pelo processo Leblanc
10.1 contém a listagem dos produtos químicos mais Embora o processo seja atualmente obsoleto, merece um:
produzidos na indústria química "pesada”. descrição mais detalhada, pois trata-se do primeiro processr
industrial em grande escala usado na Europa. Foi utilizadi
durante quase todo o século 19 e ilustra muito bem .
PROCESSO LEBLANC necessidade de se considerar a problemática das matérias
C. W. Scheele descobriu o cloro em 1774, por meio da primas a serem utilizadas, como podem ser obtidas e 1
oxidação do ácido clorídrico com dióxido de manganês. mercado para o(s) produto (s). (Nessa época, a Europa era.
O PROCESSO ELETROLlTICO 159
potência industrial do mundo, tal que o processo foi que era um composto derivado de um elemento, mas foi
importado pelos Estados Unidos). posteriormente separado em dois elementos lantanídeos, o
praseodímio e o neodímio. O catalisador é uma mistura
calor
NaCl + H2SO4 concentrado - ■> NaHSO4 + HCI finamente pulverizada de sólidos que fluem como um
NaHSO4 + NaCl —— -> Na2SO4 + HCI líquido. Por isso, o sistema contendo o catalisador é
denominado "leito fluidizado”).
O HCI era a seguir oxidado a Cl2.
4HC1 + MnO2 Cl2 + Mn2++2CC+ 2H2O O PROCESSO ELETROLÍTICO
A eletrólise da salmoura foi descrita pela primeira vez
O Na2SO4 era usado na produção de vidro, ou Na2CO3 por Cruickshank. Mas, somente em 1834 Faraday desen
e NaOH. volveu as leis da eletrólise. Naquele tempo o uso da eletrólise
era muito restrito, porque as únicas fontes de energia elétrica
Na2SO4 + CaCO3 - Na2CO3 + CaSO4
eram as baterias primárias. Essa situação mudou em 1872,
Na2CO3 + Ca(OH)2 > 2NaOH + CaCO3
quando Gramme inventou o dínamo. A primeira planta ele-
Nesse processo, os produtos químicos consumidos são trolítica comercial foi instalada em 1891 em Frankfurt
H2SO4, NaCl e CaCO3; e os produtos formados são NaOH e (Alemanha): as células eletrolíticas tinham que ser enchidas,
Cl2 (e Na2SO4, em menor quantidade). As matérias-primas eletrolisadas, esvaziadas; a seguir novamente enchida... e
eram obtidas como segue: assim por diante. TYatava-se, portanto, de um processo
descontínuo ou em bateladas. Obviamente, uma célula que
S ou FeS2 + O2 —» SO2 —> SO3 —> H2SO4 pode ser operada continuamente, sem a necessidade de ser
NaCl — minerado ou obtido de salmouras esvaziada, produziria mais e a custos menores. Nos vinte
CaCO3 — extraído como calcário anos seguintes surgiram muitas patentes e avanços
CaCO3 —> CaO ■ H*° > Ca(OH)2 tecnológicos, visando explorar as possibilidades industriais
da eletrólise. A primeira instalação industrial a empregar
Em 1874 ,a produção mundial de NaOH era de 525.000 uma célula contínua de diafragma foi provavel-mente aquela
toneladas, 94% das quais eram produzidas pelo processo idealizada por Le Seur, em Romford (Maine, Estados Unidos),
Leblanc. Em 1902, a produção de NaOH tinha aumentado em 1893; seguida da célula de Castner, em Saltville (Vir-
para 1.800.000 toneladas, mas apenas 8% eram produzidas ginia/EUA), em 1896. A primeira instalação na Inglaterra
pelo processo Leblanc. Esse processo tornou-se obsoleto foi a de Hargreaves e Bird, em 1897, em Runcorn. Todas
porque foram encontrados métodos mais econômicos, sendo essas células (e também em muitas células modernas)
substituído sucessivamente pelos processos Weldon e depois empregavam amianto como um diafragma para separar os
Deacon, e finalmente pela eletrólise. compartimentos anódico e catódico. Com a adição constante
de salmoura, havia uma produção contínua de NaOH e de
Cl2.
OS PROCESSOS WELDON E DEACON Na mesma época, Castner (um americano que trabalha
O processo Leblanc usava MnO2 para oxidar o HCI, mas va em Birmingham, Inglaterra) e Kellner (um austríaco
o MnCl2, obtido como subproduto, era desprezado. O trabalhando em Viena) desenvolveram e patentearam versões
processo Weldon (1866) reciclava o MnCl2, sendo portanto semelhantes da célula de cátodo de mercúrio, em 1897. Suas
mais econômico. patentes combinadas passaram a ser utilizadas pela “Castner
No processo Deacon (1868), o HCI era oxidado pelo ar Kellner Alkali Company”, também em Runcorn, em 1897.
e não pelo MnO2. Efetuava-se uma reação em fase gasosa Os dois tipos de células, o de diafragma e o de cátodo
entre o HCI e o ar sobre uma superfície de blocos cerâmicos de mercúrio, ainda continuam sendo utilizados. As primeiras
especiais impregnados com uma solução de CuCl2, que instalações produziam cerca de 2 toneladas de cloro por dia,
atuava como catalisador. A reação é reversível, sendo possível mas as instalações modernas produzem 1.000 toneladas por
um grau de conversão de cerca de 65 %. dia.
4HC1 + O2
~ catalizador
catanzaaor de
44O.C
ae CuC/j
cucfj ___ „
2C12 + 2H2O + calor
, Na eletrólise da salmoura, ocorrem reações tanto no
ânodo como no cátodo.
Atualmente, cerca de 90% da demanda mundial de cloro
provém da eletrólise de uma solução aquosa de cloreto de Ânodo: 2Cr Cl2 + 2e
sódio (salmoura). Os 10% restantes praticamente provém
Cátodo: Na+ + e—>Na
da eletrólise do NaCl fundido (produção de sódio metálico);
2Na + 2H2O -> 2NaOH + H;
da eletrólise de soluções aquosas de KC1, (produção de KOH;
e de MgCl2 fundido (obtenção de magnésio metálico). Apenas Se os produtos se misturarem, podem ocorrer reações
uma pequena quantidade ainda é produzida pela oxidação secundárias:
do HCI pelo oxigênio do ar, utilizando um processo Deacon
modificado. Essa modificação surgiu em 1960 e utiliza um 2NaOH + Cl2 NaCl + NaOCl + H2O
catalisador melhorado de didímio, Dm2O3, e CuCl2, a uma ou
temperatura ligeiramente inferior de 400 °C (didímio é um
nome antigo, e significa "gêmeo”. Acreditava-se inicialmente
2OH“ + Cl2 * ocr + h,o + cr
hipoclorito
160 A INDÚSTRIA DE CLORO E ÂLCALIS
I
Cátodo
Ânodo de
carbono
de tela
de aço H4 H? H; Nível do líquido
Diafragma
de amianto Saída de _O _o Remoção de
* hidróxilo o o NaOH do com
Diafragma partimento do
de sódio
de amianto << cátodo
Figura 10.1 — Uma célula de diafragma
& Compartimento
do ânodo
e pode ocorrer uma outra reação secundária, numa pequena
extensão, no ânodo:
Figura 10.2 — Célula de diafragma industrial para produção de Clj
40H" -> 02 + 2H2O + 4e e NaOH
í
<0 Q
■o
to-toa
c ©
nas plásticas possuem uma resistência
menor que o amianto. Cátodo
I LU-U
1
Menos da metade do NaCI é de mercúrio Grafite de
desnudamento
convertido em NaOH, usualmente
obtendo-se uma mistura de 11% de B "jfl —*
NaOH e 16% de NaCI. Essa solução é Mercúrio J D . ~L > -ss
concentrada num evaporador a vapor, Bomba
levando à cristalização de uma grande Mercúrio Ho
quantidade de NaCI e a uma solução
final contendo 50% de NaOH e 1% de Figura 10.3 — Célula de cátodo de mercúrio para produção de Cl2 e NaOH
CARBONATO DE SÓDIO 151
de eletrólise, sendo reciclado. Inicialmente os ânodos eram Tabela 103 — Principais usos do cloro
feitos de grafite, mas eram corroídos pela reação com o
oxigênio formado numa reação paralela (em quantidades Usos Comunidade EUA
traço), com a evolução de CO2. Os ânodos são atualmente européia
fabricados com aço revestido de titânio. O titânio é muito
resistente à corrosão, o que não somente evita o problema Cloreto de vinila (CH2=CHC1) 31% 18%
do desgaste e formação de CO2, mas também abaixa a Intermediários orgânicos 16%
resistência elétrica do sistema. Solventes clorados 14% 22%
(C2H5C1 aprox. 40.000 ton/ano
(CH2C1-CH2C1 etc.)
PRODUÇÃO Óxido de propileno 8% 5%
Nos dois processos eletrolíticos (célula de diafragma, e Alvejamento de polpa e papel 11%
de cátodo de mercúrio), NaOH e Cl2 são produzidos numa Clorometanos (CCI4, CHC13 etc.) 10%
proporção molar de 2:1. Como a massa molecular do Cl2 é Materiais inorgânicos 8%
71 e o do NaOH é 40, deduz-se que a eletrólise fornece 40 (alvejantes, hipoclorito de sódio)
partes em peso de NaOH para 35,5 partes de cloro. Isso Outros usos 31% 26%
corresponde a 1,13 toneladas de NaOH para cada tonelada
de Cl2. Em 1994 a produção mundial de cloro foi de 35,3
milhões de toneladas. pelo processo Solvay (processo amônia-soda). Contudo,
desde os tempos pré-históricos, depósitos naturais de trona,
Até 1965, a demanda de NaOH excedia à de Cl2 e o
Na2CO3 • NaHCO3 • 2H2O, foram formados nos leitos de lagos
cloro era barato. Desde então, a situação se inverteu, princi
secos, no Egito. Grandes quantidades são atualmente
palmente devido ao consumo de grandes quantidades de
mineradas, principalmente nos Estados Unidos e no Quênia.
cloro na fabricação de plásticos, como o cloreto de polivinila
Nos Estados Unidos foram utilizados 9,9 milhões de
(PVC) (a produção mundial de PVC foi de 14,9 milhões de
toneladas de Na2CO3, em 1993. Cerca de 6 milhões de
toneladas em 1991).
toneladas/ano de Na2CO3 são obtidos a partir da trona. A
trona é também denominada sesquicarbonato (sesqui
CARBONATO DE SÓDIO significa um e meio), sendo convertido em carbonato de
sódio por aquecimento.
A produção mundial de carbonato de sódio, Na2CO3,
em 1993 foi de 31,5 milhões de toneladas, 49% dos quais 2(Na2CO3 ■ NaHCOj ■ 2H2O) calor
-> 3Na2CO3 + CO2 + 5H2O
foram consumidos na obtenção de vidro. Quantidades
menores foram empregadas na preparação de diversos Durante a descrição da indústria de cloro e álcalis, foi
fosfatos e polifosfatos de sódio, que são utilizados no mencionado que o carbonato de sódio (soda) pode substituir
tratamento de águas duras (são adicionados a diversos o NaOH, por exemplo, na fabricação de papel, sabão e
produtos de limpeza), e na obtenção de polpa de madeira e
papel. A crescente conscientização da população sobre os
efeitos da "chuva ácida” sobre plantas e edifícios, levou a Tabela 10.4 — Principais usos do hidróxido de sódio (soda
cáustica)
um novo uso para o Na2CO3, ou seja, no tratamento dos
gases de exaustão de usinas termelétricas alimentadas a EUA
carvão ou óleo, para a remoção de SO2 e H2SO4. Esse nova
aplicação deve demandar uma considerável quantidade do Produtos químicos inorgânicos 21%
Na2CO3 produzido. Produtos químicos orgânicos 17%
Os principais produtores de carbonato de sódio são os Obtenção de polpa de madeira e papel 14%
Estados Unidos (30%), a ex-União Soviética (19%), China Neutralizações 12%
(8%), Alemanha (5%), Japão (4%), Bulgária (4%) e Polônia Produção de alumina 7%
(4%). A maior parte do Na2CO3 é produzida sinteticamente Sabões 4%
Raiom 4%
Outros usos 21%
Tabela 103 — Produção de cloro (em milhões de toneladas)
detergentes, e que o carbonato de sódio pode ser utilizado Assim, as matérias-primas utilizadas são NaCl e CaCOj
como matéria-prima para a obtenção de NaOH, pelo processo sendo gerados o produto desejado Na2CO3 e 0 subproduu
calcário-soda cáustica. Contudo, como atualmente o NaOH do processo CaCl2. Há pouca demanda para o CaCl2, de modr
é barato e abundante, muito pouco carbonato de sódio é que só uma pequena parte é recuperada da solução, sendt
utilizado com essa finalidade. Está havendo um declínio no o restante desprezado. O principal uso do Na2CO3 é m
uso da "soda” para limpeza, Na2CO3.10H2O, para o produção de vidro (Tab. 10.5), que requer a “soda pesada"
amolecimento de águas duras, devido ao crescente emprego ou seja Na2CO3 • H2O. Este é obtido recristalizando-se a "sodi
de detergentes. leve” Na2CO3 anidro, produzida pelo processo Solvay, en
água quente.
O PROCESSO SOLVAY (OU PROCESSO
AMÔNIA-SODA) LEITURAS COMPLEMENTARES
• Adam, D.J.; Early industrial electrolysis, Education in Chem
Muitos esforços foram dispendidos na tentativa de se
istry, 17, 13-14, 16 (1980).
encontrar um processo que permitisse produzir Na2CO3 de
forma mais econômica que pelo processo Leblanc, utilizando • Borgstedt, H.U. e Mathews, C.K., Applied Chemistry of tlu
a reação global: Alkali Metals, Plenum, London, 1987.
• Boyton, R.S.; Chemistry and Technology of Lime and Lime
2NaCl + CaCO3 Na2CO3 + CaCl2 stone, 2? ed., John Wiley, Chichester, 1980.
• Buchner, W; Schleibs, R.; Winter, G. e Buchel, K.H.;Indus
Essa reação foi estudada pela primeira vez por Freshnel,
trial Inorganic Chemistry, V.C.H. Publishers, Weinheim, 1989.
em 1811, e diversas instalações industriais foram construídas.
Contudo, logo foram abandonadas por não darem lucro ou • Grayson, M. e Eckroth, D. (ed.); Kirk-Othmer ConciseEncy
por causa de dificuldades técnicas, como corrosão do equipa clopedia of Chemical Technology, John Wiley.
mento, contaminação do produto e obstrução das tubulações. • Kirk-Othmer Concise Encyclopedia of Chemical Technology,
Emest Solvay foi o primeiro a operar com sucesso uma (26 volumes), 3? ed., Wiley-Interscience, 1984.
instalação industrial explorando o método, na Bélgica (1869). • Stephenson, R.M.; Introduction to the Chemical Process In
O processo é muito mais complicado que o sugerido dustries, Van Nostrand Rienhold, New York, 1966.
pela reação global. Para complicar ainda mais a situação, a • Thompson, R. (ed.); The Modem Inorganic Chemicals In-
reação é reversível e só 75 % do NaCl é convertido no produto. dustry, Publicação Especial n? 31, The Chemical Society, Lon
O primeiro estágio do processo é a purificação da salmoura don, 1986. (Purcell, R.W., A indústria de cloro e álcalis e
saturada, que então é saturada com amônia gasosa. Em Campbell, A., Cloro e clorinação)
seguida, a salmoura amoniacal é carbonatada com CO2, • Venkatesh, S. e Tilak, S.; Chlor-alkali technology, J. Chem.
formando NaHCO3. Este é insolúvel na salmoura, por causa Ed., 60, 276-278 (1983).
do efeito do íon comum, podendo ser separado por filtração. • Uma compilação dos 50 produtos químicos mais produzidos
Por aquecimento a 150° C, o NaHCO3 se decompõe gerando nos EUA a cada ano é publicado na revista Chemical and Engt-
Na2CO3 anidro (denominado “soda leve”, porque é um sólido neering News, numa das edições de junho (vide Apêndice K).
com uma baixa densidade de empacotamento de 0,5g cm’3).
A seguir o CO2 é removido aquecendo-se a solução, sendo o
gás reciclado. A amônia, NH3, é regenerada pela adição de PROBLEMAS
um álcali (suspensão de cal em água) e também reciclada. 1. Que produtos químicos são obtidos industrialmente a partir
A cal (CaO) é obtida pelo aquecimento do calcário (CaCO3), do cloreto de sódio? Esquematize os respectivos processos
que também fornece o CO2 necessário. Quando a cal (CaO) de produção.
é misturada com água forma-se Ca(OH)2. 2. Descreva em detalhe 0 processo de eletrólise industrial do
cloreto de sódio. Faça comentários sobre a pureza dos
NH3 + H2O + CO2^NH4HCO3 produtos obtidos.
NaCl + NH4 •HCO3—>NaHCO3 + NH4C1 3. Quais são os principais usos do cloro, sódio e hidróxido
1SO'C
2NaHCO3 — Na2CO3 + CO2 + H2O de sódio? Por que a demanda de cloro aumentou
1100'Cem
forno de cal dramaticamente?
Caco3 — > CaO + CO2
4. Quais são os usos do Na2CO3? Por que seu uso diminuiu i
CaO + H2O —» Ca(OH)2 Explique por que, em certas épocas, NaOH era convertidc
2NH4CI + Ca(OH)2 —» 2NH3 + CaCl2 + 2H2O em Na2CO3 e em outras Na2CO3 era convertido em NaOHi
163
ELEÍ.IEMTOS
7nnnosos
INTRODUÇÃO Mg2 + e Ca2+ são elementos essenciais ao ser humano;
e Mg2+ é um importante constituinte da clorofila.
Os elementos do Grupo 2 apresentam as mesmas
tendências nas propriedades que foram observadas no Grupo
1. Contudo, o berílio é uma exceção, diferindo muito mais ESTRUTURA ELETRÔNICA
em relação aos demais elementos do grupo que o lítio no Todos os elementos do Grupo 2 possuem dois elétrons
caso dos elementos do Grupo 1. O principal motivo para s no nível eletrônico mais externo. Ignorando os níveis
isso é o fato do átomo de berílio e o íon Be2+ serem ambos internos preenchidos, as suas estruturas eletrônicas podem
extremamente pequenos, sendo o aumento relativo de ser representadas como 2S2, 3S2, 4S2, Ss2, õs2 e 7S2.
tamanho do Be2 + para o Mg2 + quatro vezes maior que do
Li+ par o Na + . O berílio também apresenta algumas
semelhanças em diagonal com o alumínio, no Grupo 13. OCORRÊNCIA E ABUNDÂNCIA
Todos os compostos de berílio e bário são muito tóxicos. O berílio não é muito comum, em parte porque ele não
Esses elementos formam uma série bem comportada é muito abundante (2 ppm) e em parte por causa de sua
de metais altamente reativos, mas menos reativos que os difícil extração. É encontrado em pequenas quantidades em
metais do Grupo 1. Geralmente, são divalentes e formam minerais do grupo dos silicatos, como berilo Be3Al2Si6O18 e
compostos iônicos incolores. Os óxidos e hidróxidos são fenacita Be2SiO4. Cerca de 6.700 toneladas de berilo foram
menos básicos que os dos elementos do Grupo 1: portanto mineradas em 1993, principalmente nos Estados Unidos
seus oxossais (carbonato, sulfatos, nitratos) são mais (73%), no Casaquistão (13%) e na ex-União Soviética (12%).
susceptíveis ao calor. O magnésio é um importante metal A pedra preciosa esmeralda tem a mesma fórmula mínima
estrutural, sendo usado em grandes quantidades (303.000 do berilo, mas contém pequenas quantidades de cromo,
toneladas em 1993). Diversos compostos são utilizados em responsável por sua coloração verde).
grandes quantidades: calcário (CaCO3) é utilizado para a O magnésio é o sexto elemento mais abundante da
preparação de cal virgem (CaO: 127,9 milhões de toneladas crosta terrestre (27.640 ppm ou 2,76%). Sais de magnésio
em 1993) e cimento (1.396 milhões de toneladas em 1993), estão dissolvidos na água do mar, na proporção de até 0,13%.
além de 14,2 milhões de toneladas de giz. Outros compostos Montanhas inteiras (por exemplo as Dolomitas na Itália)
usados em grande escala incluem o gesso, CaSO4 (88,2 são constituídas pelo mineral dolomita [MgCO3-CaCO3]. A
milhões de toneladas em 1992); fluorita, CaF2 (3,6 milhões dolomita é utilizada na construção de rodovias. Quando
de toneladas em 1992), magnesita; MgCO3 (10,8 milhões de calcinada se transforma num material refratário, usado no
toneladas em 1992) e barita, BaSO4 (4,,9 milhões de revestimento interno de altos fornos. Existem também
toneladas em 1992). grandes depósitos de magnesita, MgCO3: 10,8 milhões de
toneladas foram mineradas em 1992. Os
Tabela 11.1 — Configurações eletrônicas dos elementos do Grupo 2 principais produtores são a China, 24%,
a Coréia do Norte 15%, aTUrquia (11%)
Elemento Símbolo Configuração eletrônica e a ex-União Soviética 10%. Outros
depósitos são os de sulfatos, tais como
Berílio Be 1?2? ou [He] 2s2 as de epsomita, MgSO4-7H2O, e de
Magnésio Mg l?2?2p63? ou [Ne] 3s2 kieserita, MgSO4-H2O. A carnalita,
Cálcio Ca B22522p63?3p64? ou [Ar] 4í2 [KCl-MgCl2-6H2O], é explorada essen
Estrôncio Sr 1 ?2?2p63?3p63rf104?4p65? ou [Kr] 5s2 cialmente como uma fonte de potássio.
Bário Ba lj22j22p63?3p63d104?4p64<i105s25p66? ou [Xe] 6s2 O Mg também está presente em diversos
Rádio Ra [Rn] 7? minerais do grupo dos silicatos, por
164 Brupo g — PS ELEMENTOS ALCALINP5 TERROSOS
absorção de radiação eletromagnética por um sólido depende Processo Dow de extração da salmoura natural
de sua densidade eletrônica. O Be possui uma densidade A dolomita, [MgCO3 • CaCO3], é calcinada (aquecida
eletrônica muito baixa e, conseqüentemente, a menor fortemente) de modo a gerar MgO.CaO (dolomita calcinada).
capacidade de absorção que qualquer outro sólido. Por isso, Esta é tratada com HC1, o que leva a formação de uma solução
é usado para fabricar as "janelas” dos tubos de raios X. de CaCl2 e MgCl2. Depois de tratada com mais dolomita
O magnésio é o único elemento do Grupo 2 a ser calcinada, CO2 é borbulhado através da mesma. O íon Ca2 +
produzido em larga escala na forma metálica. A produção precipita como CaCO3, deixando em solução o MgCl2, que é
mundial foi de 303.000 toneladas em 1993. Os principais posteriormente eletrolisado.
produtores foram os Estados Unidos, 48%, a ex-União
Soviética 12%, o Canadá 9% e a Noruega 8%. O magnésio CaCl2-MgCl2 + CaOMgO + 2CO2 -> 2MgCl2 + 2CaCO3
precipita
é um metal estrutural leve extremamente importante por
causa de sua baixa densidade (1,74 g cm'3, menor que do O metal Ca é usado para a obtenção de ligas com Al,
aço 7,8 g cm'3 ou do alumínio 2,7 g cm'3). O Mg forma utilizado para a confecção de mancais. Ele é usado na
muitas ligas binárias, freqüentemente contendo até 9% de indústria do ferro e do aço para controlar a quantidade de
Al, 3% de Zn e 1% de Mn, além de quantidades traço dos carbono no ferro fundido e na remoção de P, O e S. Também
lantanídeos praseodímio Pr e neodímio Nd, e de tório. O são utilizados como redutores na obtenção de outros metais
metal e suas ligas podem ser moldados, torneados e soldados — Zr, Cr, Th e U — e na remoção de quantidades traço de
com facilidade. Ele é utilizado na fabricação da estrutura de N2 no argônio. Do ponto de vista químico, o CaH2 é às vezes
aeronaves, peças de avião e motores de automóveis. Até usado como fonte de hidrogênio. A produção mundial de
cerca de 5% de Mg são adicionados ao alumínio para Ca é de cerca de 1.000 toneladas/ano. O metal é obtido por
melhorar suas propriedades. Do ponto de vista químico, é eletrólise do CaCl2 fundido, obtido como subproduto do
importante em síntese orgânica, sendo utilizado na processo Solvay ou a partir da reação entre CaCO3 e HC1.
preparação dos reagentes de Grignard, como por exemplo Sr e Ba metálicos são produzidos em quantidades bem
C2H5MgBr. menores, por eletrólise dos cloretos fundidos ou pela redução
O Mg era preparado aquecendo-se MgO com C a 2.000 de seus óxidos com alumínio (reação térmita ou
°C. Nessa temperatura o C é capaz de reduzir o MgO. A aluminotermia).
mistura gasosa de Mg e CO era então resfriada muito
rapidamente para se obter o metal. Esse resfriamento por TAMANHO DOS ÁTOMOS E DOS ÍONS
"choque" era necessário, pois a reação é reversível. Se a
Os átomos dos elementos do Grupo 2 são grandes, mas
mistura fosse resfriada lentamente, a posição do equilíbrio
menores que os correspondentes elementos do Grupo 1, pois
se deslocaria mais para a esquerda:
a carga adicional no núcleo faz com que esta atraia mais
MgO + C Mg + CO fortemente os elétrons. Analogamente, os íons são grandes,
mas são menores que os dos correspondentes elementos do
Atualmente, o magnésio é produzido por redução a altas Grupo 1, principalmente porque a retirada de dois elétrons
temperaturas e por eletrólise. aumenta ainda mais a carga nuclear efetiva. Logo, esses
1. No processo Pidgeon, o Mg é produzido pela redução elementos possuem densidades maiores que os metais do
de dolomita calcinada com liga ferrossilício a 1.150 °C, Grupo 1.
à pressão reduzida. Os metais do Grupo 2 têm cor branca prateada. Eles
possuem dois elétrons de valência que podem participar de
calor + Fe/Si
(CaCOj • MgCOj] ->CaO-MgO Mg + Ca2SiO4 + Fe ligações metálicas, enquanto que os metais do Grupo 1
possuem apenas um elétron. Em conseqüência, os metais
2. A eletrólise pode ser efetuada com MgCl2 fundido ou do Grupo 2 são mais duros, suas energias de ligação são
com MgCl2 parcialmente hidratado. O MgCl2 é produzido maiores e seus pontos de fusão e de ebulição são muito
de duas maneiras. mais elevados que os dos metais do Grupo 1 (vide Tab. 11.4),
mas os metais são relativamente moles. Os pontos de fusão
Processo Dow de extraçao da água do mar
Tabela 113 — Tamanho e densidade
A água do mar contém cerca de 0,13 % de íons Mg2 + ,
e a extração do magnésio depende do fato de ser o Mg(OH)2 Raio Raio iônico Densidade
muito menos solúvel que o Ca(OH)2. Quando cal hidratada, metálico M2+ (Â) (g cm'1)
Ca(OH)2, é adicionada à água do mar, os íons Ca2+ vão (Â) hexacoordenado
para a fase aquosa enquanto o Mg(OH)2 é precipitado. Este
é filtrado, tratado com HC1 para formar o cloreto de magnésio, Be 1,12 0,31* 1,85
e eletrolisado. Mg 1.60 0,72 1.74
Ca 1.97 1.00 1,55
Ca(OH)2 + MgCl2 -> Mg(OH)2 + CaCl2 Sr 2,15 1.18 2.63
cal da água precipita
hidratada do mar Ba 2,22 1.35 3,62
calor
Ra 1,48 5,50
Mg(OH)2 + 2HC1 -> MgCl2 + 2H2O
* Raio do íon tetracoordenado; com coordenação seis = 0.45 Â
IBS Grupo 2 — OS ELEMENTOS ALCALINOS TERROSOS
de eletronegatividade de 2,5) e o BeO (diferença de Os sais de berilio sofrem extensa hidrólise em água,
eletronegatividade de 2,0) mostram evidências de formando uma série de hidroxo-complexos de estrutura
caráter covalente. desconhecida. Podem ser estruturas poliméricas do tipo:
3) O Be se situa no segundo período da tabela periódica,
de modo que o nível eletrônico mais externo comporta HO OH OH HO OH OH HO
no máximo oito elétrons (os orbitais disponíveis para
\ / \ ,/ \ / \ / \ /
Be Be Be Be Be
ligações são o orbital 2s e os três orbitais 2p). Portanto, / \ / \ / \ / \ / \
o Be pode formar no máximo quatro ligações HO OH OH HO OH OH OH
convencionais, tal que em muitos compostos o número Quando um álcali é adicionado a essas soluções, os
de coordenação do Be é 4. Os elementos mais pesados polímeros se rompem com a formação do íon mononuclear
podem ter mais de oito elétrons na camada de valência, berilato, [Be(OH)4]2-, que é tetraédrico. Muitos sais de berilio
podendo alcançar o número de coordenação 6 por meio contêm o íon hidratado [Be(H2O)4]2+ ao invés do íon Be2*.
da utilização de um orbital s, três orbitais p e dois O íon hidratado também é um íon complexo tetraédrico.
orbitais d para formar as ligações. Compostos com Observe que o número de coordenação é 4. A formação de
ligações multicentradas, por exemplo o acetato básico um complexo hidratado aumenta o tamanho efetivo do íon
de berilio, podem ter números de coordenação mais berilio, sendo a carga distribuída por uma área maior. Por
elevados, e são exceções às regras acima. isso, compostos iônicos estáveis tais como [Be(H2O)4]SO4,
Assim, espera-se que o Be forme principalmente [Be(H2O)4](NO3)2 e [Be(H2O)4]Cl2 podem ser formados.
compostos covalentes, invariavelmente com número de
coordenação 4. Compostos anidros de berilio apresentam 2p
predominantemente duas ligações covalentes, tal que
moléculas do tipo BeX2 deveríam ser lineares.
Estrutura eletrônica do átomo de
berilio no estado fundamental E È
E □
2s 2p
1s 2s 2p Estrutura eletrônica do íon
Be2*
Estrutura eletrônica do átomo de
berilio no estado fundamental E E 2p
Is 2s 2p Estrutura eletrônica do íon Be2"
depois de receber quatro pares È È
Estrutura eletrônica do átomo de
berilio no estado excitado E E eletrônicos de 4 átomos de
oxigênio de moléculas de água Quatro pares de
Dois elétrons desem- elétrons tetaédrico
parelhados podem formar - hibridizaçáo sp3
ligações com dois
átomos X
Os sais de berilio são ácidos quando dissolvidos em
água pura, por causa da hidrólise dos íons hidratados, dando
Na realidade, moléculas lineares só existem na fase origem a íons H3O +. Isso acontece porque a ligação Be-0 é
gasosa, pois esse arranjo eletrônico não preenche o nível muito forte, o que enfraquece a ligação O-H do íon hidratado,
eletrônico mais externo. No estado sólido o Be sempre se fazendo com que tenha uma tendência a perder prótons. A
encontra com um número de coordenação 4. Pode-se chegar reação inicial é
a essa estrutura de diversas maneiras:
1. Dois ligantes que possuem pares de elétrons livres H20 + [Be(H2O)4]2 + [Be(H2O)3(OH)] + + H30*
podem formar ligações coordenadas, usando os dois Mas esta pode ser acompanhada por uma polimeriza-
orbitais vazios do nível eletrônico de valência do Be. ção, formando compostos como. [Be2OH]3 + e [Be3(OH)4]3 + ,
Assim, dois íons F" podem coordenar-se ao BeF2, que possuem grupos hidroxo em ponte. Em soluções alcalinas
formando [BeF4]2'. Analogamente, éter dietílico pode forma-se o íon [Be(OH)4]2-. Os outros sais dos elementos
coordenar-se com o Be( + II) no BeCl2, formando
do Grupo 2 não interagem tão fortemente com a água e não
(BeCl2(OEt2)2).
se hidrolisam significativamente.
2. As moléculas de BeX2 podem polimerizar-se, formando
Sais de berflio raramente tem mais que quatro moléculas
cadeias contendo átomos de halogênios em ponte, por
de água de cristalização associadas ao íon metálico, pois há
exemplo (BeF2)n, (BeCl2)n. Cada átomo de halogênio
apenas quatro orbitais disponíveis no segundo nível
forma uma ligação covalente normal e utiliza um par
eletrônico. Todavia, o Mg pode ter número de coordenação
de elétrons livres para formar uma ligação coordenada
6, pois é capaz de usar, além dos orbitais 3s e 3p, alguns
(Fig.ll.3c).
orbitais 3d para formar ligações.
3. O (BeMe2)n tem essencialmente a mesma estrutura do
(BeCl2)n, mas a ligação no composto metilado deve ser
considerado como sendo uma ligação tricentrada SOLUBILIDADE E ENERGIA RETICULAR
contendo dois elétrons, abrangendo um grupo metila e A solubilidade da maioria dos sais diminui com o
dois átomos de Be. aumento do peso atômico, embora se observe a tendência
4. Um retículo cristalino covalente com a estrutura da inversa no caso dos fluoretos e hidróxidos deste Grupo. A
blenda ou da wurtzita (número de coordenação 4) pode solubilidade depende da energia reticular do sólido e da
jer formado, por exemplo, pelo BeO e BeS. energia de hidratação dos íons, como explicado abaixo.
16B Bnjpo 2 — DS ELEMENTOS ALCALINOS TERROSOS
AH (kJ mói’1)
PROPRIEDADES QUÍMICAS
Be24 -2.494 Reação com água
Mg24 -1.921 O potencial de redução do berílio é muito menor qut
Ca24 -1.577 aqueles dos demais elementos do Grupo (potencial padrão
Sr24 -1.443 de eletrodo, E°, do Be24 |Be -1,85, Mg24 |Mg -2,37, Ca2’|Ca
Ba24 -1.305 -2,87, Sr24 |Sr -2,89, Ba2+|Ba -2,91, Ra24|Ra -2,92 volts)
Isso indica que o berílio é muito menos eletropositivo (menos
Alguns valores de energias reticulares de compostos de metálico) que os outros elementos do grupo, e não reage
elementos do Grupo 2 podem ser encontrados na Tab. 11.7. com a água. Há dúvidas se ele reage com vapor d'água para
As energias reticulares são muito maiores que as dos formar o óxido BeO, ou se não reage com água nem mesmo
correspondentes compostos do Grupo 1, por causa do efeito nessas condições.
do aumento da carga na equação de Born-Landé (vide
Capítulo 3). Considerando-se um íon negativo qualquer, a
energia reticular decresce à medida que aumenta o tamanho Tabela 11.9 — Algumas reações dos elementos do Grupo 2
do metal.
A energia de hidratação também diminui à medida que Reação Observações
os íons metálicos se tornam maiores (Tab. 11.8). Para uma
M+2H2O -> M(OH)2+H2 Be provavelmente reage com vapor,
substância ser solúvel, a energia de hidratação deve ser maior
Mg com água quente, e Ca, Sr rea
que a energia reticular. Considere um grupo de compostos gem rapidamente com água fria
correlatos, por exemplo os cloretos de todos os metais do
Grupo 2. Descendo pelo Grupo os íons metálicos se tornam M+2HC1 -> MC12+H2 Todos os metais reagem com ácidos,
maiores, de modo que tanto a energia de hidratação como a liberando hidrogênio
energia reticular se tomam cada vez menores. Um decréscimo Be+2NaOH+2H2O —» Be é anfótero
na energia reticular favorece um aumento de solubilidade, Na2[Be(ÒH)4]+H2
mas o decréscimo de energia de hidratação favorece uma 2M+O2 -» 2MO Todos os membros do grupo formam
diminuição de solubilidade. Os dois fatores portanto variam óxidos normais
em sentidos opostos, e o efeito global depende de qual dos
Com excesso de oxigênio
dois apresenta uma variação relativa maior. Na maioria dos
Ba+O2 -» BaO2 O bário também forma o peróxido
casos, considerando-se os compostos formados pelos
elementos do Grupo, a energia de hidratação decresce mais M+H2->MH2 Ca, Sr e Ba formam, a altas tempera
rapidamente que a energia reticular: portanto os compostos turas, hidretos iônicos, “salinos"
se tornam menos solúveis à medida que o metal aumenta 3M+N2—>M3N2 Todos os elementos do grupo formam
de tamanho. Contudo, no caso dos fluoretos e dos hidróxidos, nitretos a temperaturas elevadas
a energia reticular diminui mais rapidamente que a energia
de hidratação, de modo que a solubilidade desses compostos 3M+2P-»M3P2 Todos os metais do grupo formam
aumenta de cima para baixo dentro do Grupo. fosfetos a temperaturas elevadas
M+S -> MS Todos os metais formam sulfetos
M+Se -> MSe Todos os metais formam selenetos
SOLUÇÕES DOS METAIS EM AMÔNIA M+Te -t MTe Todos os metais formam teluretos
LÍQUIDA
M+F2 -> MF, Todos os metais formam fluoretos
Todos esses metais se dissolvem em amônia líquida, M+C12 -> MCI2 Todos os metais formam cloretos
tal como ocorria com os metais do Grupo 1. Soluções diluídas M+Br2—> MBr2 Todos os metais formam brometos
são de coloração azul brilhante, devido ao espectro do elétron M+12->M12 Todos os metais formam iodetos
solvatado. Essas soluções se decompõem muito lentamente,
formando amidetos e liberando hidrogênio, mas a reação é 2M+2NH3—»2M(NH2)2+H2 Todos os metais do grupo formam
amidetos a altas temperaturas
catalisada por muitos metais de transição e seus compostos.
REAÇÕES CDM ÁCIDOS E BASES 169
Ca, Sr e Ba tem potenciais de redução semelhantes gerando uma escuma insolúvel de estearato de cálcio, antes
aqueles dos correspondentes metais do Grupo 1, e se situam da formação de qualquer espuma. A água dura também
em posições no topo da série eletroquímica. Reagem forma depósitos insolúveis em tubulações de água e caldeiras.
facilmente com água fria, liberando hidrogênio e formando A "dureza temporária” é decorrente da presença de
os hidróxidos. Mg(HCO3)2 e Ca(HCO3)2. Ela é chamada de temporária
Ca + 2H2O Ca(OH)2 + H2 porque pode ser eliminada pela fervura, o que expulsa o
CO2 e desloca o equilíbrio.
O magnésio apresenta um valor de E° intermediário e
não reage com água fria, mas é capaz de decompor água 2HCO3- CO32- + CO2 + H2O
quente. Assim, os bicarbonatos se decompõem aos carbonatos,
Mg + 2H2O -> Mg(OH)2 + H2 precipitando o carbonato de cálcio. Se este for filtrado ou se
ou for removido por sedimentação, a água estará livre da dureza.
Mg + H2O -> MgO + H2 A dureza temporária também pode ser eliminada
adicionando-se cal hidratada para precipitar o carbonato de
O Mg forma uma camada protetora de óxido. Assim, cálcio. Esse processo é denominado "depuração com cal”.
apesar de seu potencial de redução favorável, não reage Se um pH de 10,5 for utilizado, a dureza temporária devida
facilmente a não ser que a camada de óxido seja removida ao HCO3" pode ser quase que completamente eliminada.
por amalgamação com mercúrio. Nesse aspecto, ou seja,
formação do filme de óxido, ele se assemelha ao alumínio. Ca(HCO3)2 + Ca(OH)2 2CaCO3 + H2O
ÓXIDOS E PERÓXIDOS
Tabela 11.10 — Relações de raios e números de coordenação
Todos os elementos desse grupo queimam em atmosfera
de 02 formando óxidos, MO. O metal Be é relativamente Óxido Relação de Número de Número de
inerte quando na forma de um bloco maciço, não reagindo raios coordenação coordenação
a temperaturas abaixo de 600 °C. Entretanto, o Be em pó é m2+/o2- previsto encontrado
muito mais reativo e queima emitindo um forte brilho. Os
BeO 0,32 4 4
elementos também queimam ao ar, formando uma mistura
MgO 0,51 6 6
de óxido e nitreto. O Mg queima ao ar emitindo um brilho
CaO 0,71 6 6
extremamente intenso e liberando uma grande quantidade SrO 0,84 6
8
de calor. Esse fato é aproveitado para dar início a uma reação BaO 0,96 8 6
térmita com alumínio e também como fonte de luz nos
antigos bulbos de "flash” fotográfico.
(wurtzita, coordenação 4:4), mas todos os demais hidróxidos
Mg + ar —> MgO + Mg3N2 são iônicos e cristalizam com a estrutura do cloreto de sódio
(coordenação 6:6).
O BeO geralmente é obtido por combustão do metal,
mas os óxidos dos demais metais do Grupo são obtidos por As tentativas realizadas no sentido de prever a estrutura
decomposição térmica dos carbonatos, MC03. Outros oxo- usando os raios dos íons e a relação de raios apenas tiveratn
sais, como M(NO3)2, MS04, e M(0H)2, também se um êxito parcial (Tab. 11.10). As estruturas corretas foram
decompõem aos óxidos por aquecimento. Os oxossais são previstas para BeO, MgO e CaO. Mas para SrO e BaO o
menos estáveis ao calor que os correspondentes compostos número de coordenação previsto foi 8, embora as estruturas
dos metais do grupo 1, pois os metais e seus hidróxidos são ■ encontradas tenham coordenação 6. Os cristais assumem as
menos básicos que os do Grupo 1. estruturas que levem às energias reticulares mais favoráveis.
As falhas nas previsões utilizando a relação de raios, citado
CaO (cal) é produzido em enormes quantidades (127,9
acima, leva-nos a rever as hipóteses nas quais ele se baseia
milhões de toneladas em 1993) aquecendo-se CaCO3 num
(vide no Capítulo 3, o item "Uma visão mais crítica da relação
forno de cal.
de raios”). Os raios iônicos não são conhecidos com grande
calor exatidão e variam em função do número de coordenação.
C3CO3 -> CaO + CO2
Os íons também não são necessariamente esféricos ou
inelásticos.
O MgO não é muito reativo, principalmente quando
previamente aquecido a altas temperaturas. Por esse motivo À medida que os átomos aumentam de tamanho, a
é utilizado como um material refratário. O BeO também é energia de ionização diminui, e os elementos se tornam mais
usado como refratário. Eles possuem várias propriedades básicos. BeO é insolúvel em água mas dissolve-se em ácidos
que os tornam adequados para o revestimento de altos- formando sais e em álcalis formando berilatos, que
fornos, tais como: precipitam na forma de hidróxido quando deixados em
1. Elevados pontos de fusão (~ 2.500 °C para o BeO e repouso. Portanto, o BeO é anfótero. O MgO reage com água
~ 2.800 °C para o MgO). formando Mg(0H)2, que é fracamente básico. CaO reage
prontamente com água, desprendendo grande quantidade
2. Pressões de vapor extremamente baixas. de calor formando Ca(OH)2, que é uma base moderadamente
3. Elevada condutividade térmica. forte. Sr(OH)2 e Ba(0H)2 são bases ainda mais fortes.
4. Inércia química. Geralmente, os óxidos são preparados pela decomposição
5. Alta resistividade elétrica. térmica dos carbonatos, nitratos ou hidróxidos. 0 aumento
da basicidade é evidenciado pelas temperaturas de
Todos os compostos de berílio devem ser usados com
decomposição dos carbonatos:
cuidado pois são tóxicos, sendo que a inalação de poeiras
ou vapores podem causar beriliose. BeCO3 MgCO3 CaCO3 SrCO3 BaCO3
CaO, SrO e BaO reagem exotermicamente com a água < 100 °C 540 °C 900 °C 1290 °C 1360 °C
formando hidróxidos.
Todos os carbonatos são iônicos, mas o BeC03 é um
CaO + H20 Ca(OH)2 caso à parte, na realidade se apresenta na forma hidratada,
ou seja, contém o íon [Be(H2O)4]2+ e não o íon Be2+.
O Mg(OH)2 é muito pouco solúvel em água (cerca 0 CaC03 pode cristalizar segundo duas estruturas
de 1 x IO'4 g T1 a 20 °C), mas os demais hidróxidos são
diferentes, a da calcita e a da aragonita. Ambas ocorrem
solúveis e a solubilidade aumenta ao se descer pelo Grupo naturalmente como minerais. A calcita é mais estável: cada
(Ca(OH)2 ~ 2gr';Sr(OH)2 ~ 8 g l'1 e Ba(OH)2 ~ 39 g?1). íon Ca2+ é rodeado por seis átomos de oxigênio de íons
O Be(OH)2 é solúvel em soluções contendo um excesso de CO32'. A aragonita é uma forma meta-estável, sendo sua
OH‘, pois é anfótero. O Mg(OH)2 é fracamente básico, sendo entalpia padrão de formação cerca de 5 kJ mo?1 maior que
usado no tratamento de acidez associada à indigestão. Os a da calcita. A princípio a aragonita deveria transformar-se
outros hidróxidos são bases fortes. O Ca(OH)2 é também em calcita, mas a elevada energia de ativação impede essa
conhecido como "cal extinta". transformação. A aragonita pode ser preparada no laboratório
O BeO é covalente e possui estrutura do sulfeto de zinco precipitando-se o composto a partir de uma solução quente.
NITRATOS 171
Sua estrutura cristalina apresenta íons Ca2+ rodeados por na construção civil como "gesso de Paris”. É obtido pela
nove átomos de oxigênio. Esse é um número de coordenação desidratação parcial do gesso.
bastante incomum.
150°C 250°C
O óxido de cálcio (cal) é preparado em larga escala CaSO4-2H2O CaSO4 '/2H2O - CaSO4
gesso gesso calcinado anidríta
(127,9 milhões de toneladas em 1993) por aquecimento do
1100°C
CaCO3 em fornos de cal. CaO + SO3
CaCOg —> CaO + CO2 Quando o pó do gesso de Paris, CaSO4 ■ ’/2H2O, é mistura
I do com a quantidade correta de água, transforma-se numa
A cal é usada:
massa sólida de gesso, CaSO4 • 2H2O. O gesso de Paris é usado
1. Na fabricação do aço, para remover fosfatos e silicatos no acabamento de paredes e, também, para fabricar moldes
como escória. para uma variedade de fins na indústria, artes plásticas e
2. Misturada com SiO2 e aiumina ou argila para fabricar em medicina, para recobrir mantendo rígidos membros
cimento. fraturados, de modo que os ossos não saiam de suas posições
3. Na fabricação de vidro. corretas. Alabastro é a denominação de uma forma finamente
granulada de CaSO4 • H2O, lustroso como o mármore e usado
4. No processo calcário-soda, que faz parte da indústria
na confecção de ornamentos. CaSO4 é ligeiramente solúvel
de cloro e álcalis, convertendo Na2CO3 em NaOH ou em água (2 g por litro), de modo que objetos de gesso ou
vice-versa.
alabastro não podem ser mantidos expostos à chuva. O BaSO4
5. No tratamento de “águas duras”. é insolúvel e opaco aos raios X, sendo utilizado como meio
6. Na preparação de CaC2. de contraste na radiografia do estômago ou do duodeno,
7. Na obtenção de cal extinta, Ca(OH)2, pela reação com utilizadas para diagnosticar úlceras. Todos os sulfatos desse
água. Grupo se decompõem por aquecimento, formando os óxidos:
Cerca de 150.000 toneladas por ano de alvejante em pó MgSO4 calor
-> MgO + SO3
são preparados pela passagem de Cl2 através de uma solução
de cal extinta. Embora a fórmula desse alvejante seja Analogamente ao comportamento térmico dos
rotineiramente escrita como Ca(OCl)2, trata-se na realidade carbonatos, quanto mais básico for o metal mais estável
de uma mistura: será o sulfato. Isso é evidenciado pelas temperaturas de
3Ca(OH)2 + 2Cl2 -» Ca(OCl)2-Ca(OH)2-CaCl2-2H2O decomposição dos sulfatos:
BeSO4 MgSO4 CâSO4 SrSO4
Cal sodada (“soda lime”) é uma mistura de NaOH e
500 °C 895 °C 1149 °C 1374 °C
Ca(OH)2 obtida a partir da cal viva (CaO) e hidróxido de
sódio aquoso. Seu manuseio é muito mais fácil que do NaOH. O aquecimento dos sulfatos com C os reduzem a
Os peróxidos são formados com facilidade e a estabilida sulfetos. A maioria dos compostos de bário é obtida a partir
de cresce à medida que os íons metálicos se tornam maiores. do sulfeto de bário.
0 peróxido de bário, BaO2, é obtido passando-se ar sobre
BaO, a SOO °C. O SrO2 também pode ser obtido por um BaSO4 + 4C -> BaS + 4CO
método análogo, mas requer elevada temperatura e pressão.
Os elementos do Grupo 2 também formam percloratos,
0 CaO2 não pode ser obtido dessa maneira, mas pode ser
MC1O4, com estruturas muito semelhantes às dos sulfatos:
preparado na forma de hidrato, tratando-se Ca(OH)2 com
o íon C1O4~ também é tetraédrico e semelhante em tamanho
H2O2, seguido da desidratação do produto. MgO2 bruto foi
ao íon SO42-. Contudo, eles são quimicamente diferentes,
obtido usando H2O2, mas não se conhece o peróxido de
pois os percloratos são agentes oxidantes fortes. O perclorato
berílio. Os peróxidos são sólidos iônicos brancos contendo
de magnésio é usado como agente secante conhecido como
0 íon [O-O]2', podendo ser considerados como sendo sais
“anidrona”. A anidrona não deve ser usada com materiais
do ácido muito fraco peróxido de hidrogênio. O tratamento
orgânicos, porque é um forte agente oxidante, e um contato
dos peróxidos com ácidos fornece 0 peróxido de hidrogênio.
acidental com materiais orgânicos podería provocar uma
BaO2 + 2HC1 -> BaCl2 + H2O2 explosão.
SULFATOS NITRATOS
A solubilidade dos sulfatos em água diminui ao se descer Todos os nitratos desses metais podem ser preparados
pelo Grupo: Be > Mg > > Ca > Sr > Ba. Assim, BeSO4 e MgSO4 em solução e cristalizados como sais hidratados, pela reação
são solúveis, mas 0 CaSO4 é pouco solúvel, enquanto que de HNOj com os carbonatos, óxidos ou hidróxidos
os sulfatos de Sr, Ba e Ra são praticamente insolúveis. As correspondentes. O aquecimento dos sólidos hidratados não
solubilidades muito maiores do BeSO4 e do MgSO4 são leva à formação dos nitratos anidros, porque o sólido se
decorrentes das elevadas entalpias de solvatação dos íons decompõe ao óxido. Os nitratos anidros podem ser
Be2+ e Mg2+ , bem menores que os demais. O sal de Epsom, preparados usando tetróxido de dinitrogênio líquido e acetato
MgSO4 • 7H2O, é usado como laxante suave. O sulfato de cálcio de etila. O berílio é uma exceção, pois além do sal normal
pode existir como hemihidrato, CaSO4 • ‘/2H2O, importante ele forma um nitrato básico.
17B Grupo 5 — OS ELEMENTOS ALCALINOS TERROSOS
aquec. a 50°C
N-Q, sob vácuo
BeCl2 Be(NO3)2-2N2O4 -»Be(NO3)2
125°C
[Be4O(NO3)6]
nitrato básico
de berílio
NITRETOS
a) b) Cl
Todos os elementos alcalino-terrosos queimam em
Cl—Be—Cl Cl —Be Be-CI atmosfera de nitrogênio formando nitretos iônicos, M3N2.
Esse comportamento contrasta com o dos elementos do
Grupo 1, onde apenas o lítio forma o nitreto, Li3N.
A produção mundial de fluorita, CaF2, foi de 3,6 milhões Be2C + 4H2O 2Be(OH)2 + CH4
de toneladas em 1992. Os principais produtores foram a
China 42%, a ex-União Soviética, o México e a Mongólia Os metais do Grupo 2 fornram carbetos iônicos de
8% cada um, e a África do Sul 7%. O CaF2 também é fórmuta MC2. Mg, C3, Sr e Bs formam carbetos MC2, qusndo
empregado para a confecção de prismas e celas de os metais são aquecidos com C num forno elétrico ou qusndo
espectrofotômetros. seus óxidos são aquecidos com carbono. O C3C2 obtido dess3
maneira é um sólido cinza, mas é incolor quando puro. BeC2
Os cloretos, brometos e iodetos de Mg, Ca, Sr e Ba são
é obtido aquecendo-se Be com etino (acetileno).
iônicos, têm pontos de fusão bem mais baixos que os
fluoretos e se dissolvem prontamente em água. A solubilidade Com o aquecimento, o MgC2 se converte em Mg2C3.
decresce um pouco com o aumento do número atômico. Esse composto contém o íon C34- e reage com água formando
Todos os haletos formam hidratos e são higroscópicos propino, CH3OCH (metilacetileno).
(absorvem vapor d’água do ar). Vários milhões de toneladas 11OO"C
de CaCl2 são produzidos anualmente. Grandes quantidades Cs + 2C —> CaC2
são desprezadas como subproduto do processo Solvay, na 20<xrc
CaO + 3C - CaC2 + CO
forma de soluções aquosas, pois não é economicamente
viável recuperá-lo como sólido e sua demanda é pequena. Todos os carbetos MC2 possuem uma estrutura
0 CaCl2 é muito usado nos países frios para dissolver o gelo semelhante ao do cloreto de sódio, mas distorcida. OM2*
das rodovias, porque uma mistura eutética de CaCl2/H2O substitui o Na+ e o [OC]2* substitui o Cl". Os íons C22~ são
(-55 °C) congela a uma temperatura bem menor que a alongados ao invés de esféricos, como o CF. Assim, o eixo
mistura NaCl/H2O (-18 °C). O CaCl2 também é usado para tendo os íons C22- orientados no mesmo sentido é alongado
acelerar a cura do concreto e aumentar sua resistência, e em relação aos outros dois eixos, e a estrutura apresenta
como "salmoura” em torres de refrigeração. É usado em uma distorção tetragonal. A estrutura é mostrada na Fig.
menor escala como agente dessecante, em laboratório. O 3.12, do Capítulo 3. A temperaturas superiores a 450 °C, os
MgCl2 anidro é importante no método eletrolítico de obtenção íons C22* se orientam aleatoriamente, deixando de se alinhar
do magnésio. como descrito acima. Por isso, a célula unitária muda de
174 Bnjpo 2 — OS ELEMENTOS ALCALINOS TERROSOS
Durante muito tempo essa reação foi a principal fonte COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS
do acetileno utilizado na solda oxiacetilênica. A produção
de CaC2 atingiu o máximo de 7 milhões de toneladas/ano Tanto o Be como o Mg formam um número apreciável
em 1960, mas diminuiu para 4,9 milhões de toneladas, em de compostos com ligações M-C; mas somente alguns poucos
1991, pois o acetileno é atualmente obtido pelo proces destes compostos correlatos de Ca, Sr e Ba foram isolados.
samento do petróleo. Victor Grignard, um químico francês, recebeu o Prêmio
O CaC2 é um intermediário químico importante. Quando Nobel de Química de 1912 por seus trabalhos pioneiros com
o CaC2 é aquecido num forno elétrico na presença de os compostos organometálicos de magnésio, atualmente
nitrogênio atmosférico, a 1.100 °C, forma-se a cianamida de conhecidos como compostos de Grignard. Provavelmente,
cálcio, CaNCN. Essa é uma reação importante, pois se são os reagentes mais versáteis da Química Orgânica,
constitui num dos métodos de fixação do nitrogênio podendo ser usados na síntese de uma grande variedade de
atmosférico (o nitrogênio é fixado principalmente pelo álcoois, aldeídos, cetonas, ácidos carboxílicos, ésteres,
processo Haber de fabricação de NH3). amidas e alcenos. Os dois métodos gerais de obtenção de
compostos organometálicos se baseiam na utilização,
CaC2 + N2 -> CaNCN + C respectivamente, de reagentes de Grignard ou de compostos
do tipo alquil-lítio. Portanto, os compostos de Grignard são
O íon cianamida [N - C = N)2’ é isoeletrônico com o também muito importantes na Química Inorgânica.
CO2 e também é linear. O CaNCN é produzido em larga Os reagentes de Grignard são obtidos pela lenta adição
escala, principalmente em locais onde a energia elétrica é de haletos de alquila ou de arila (Cl, Br, 1) a um solvente
barata. A produção já chegou a cerca de 1,3 milhão de orgânico absolutamente seco, como éter dietílico, contendo
toneladas/ano e está aumentando. Esse composto é raspas de magnésio. É necessária a exclusão total de água e
largamente empregado como fertilizante nitrogenado de ação do ar. Freqüentemente, a reação apresenta um período de
lenta (particularmente no sudeste da Ásia), já que se hidrolisa indução antes de se iniciar. Porém, em alguns casos, é
lentamente, durante um período de alguns meses. O CaNCN necessário a adição de um cristal de iodo (este ajuda a re
é melhor que outros fertilizantes nitrogenados como o mover o filme de óxjdo que recobre o metal, ativando-o)
NH4NO3 ou a uréia, pois não é arrastado tão facilmente pelas
para que a reação tenha início. Reduzindo-se haletos de
chuvas.
magnésio com potássio, na presença de Kl, pode-se obter
CaNCN + 5H2O CaCO3 + 2NH4OH um Mg muito reativo. Este facilita a preparação de reagentes
de Grignard, popularizando seu uso.
Outros usos industriais importantes do CaNCN são a Mg + RBr ——r sec° > RMgBr (R - alquil ou aril)
fabricação de cianamina, H2NCN, empregado na fabricação reagente de Grignard
de uréia e tiouréia, e de melamina que forma plásticos rígidos
com formaldeído. Todos os reagentes de Grignard são muito reativos. Os
iodetos são os mais reativos e os cloretos os menos reativos.
CaNCN + H2SO4 -» H2NCN + CaSO4 Os reagentes de Grignard contendo grupos alquila são
geralmente mais reativos que aqueles contendo grupos arila.
CaNCN + CO2 + H2O -4 H2NCN + CaCO3
cianamida Todos os reagentes de Grignard são rapidamente
pH <2 ou >12 hidrolisados pela água, gerando os hidrocarbonetos
h2ncn + h2o 4 H2N CO NH2 (uréia) correspondentes.
H2NCN + H2S -> H2N-CS-NH2 (tiouréia) 2RMgBr + 2H2O -> 2RH + Mg(OH)2 + MgBr2
CO2C20H39
Em última análise, quase todos os seres vivos dependem
da clorofila e da fotossíntese. O oxigênio da atmosfera é um b)
subproduto da fotossíntese e os alimentos são provenientes HOOC • CH2 CH2 • COOH
de plantas ou de animais, que se alimentaram de plantas. •N-CH. CH. N-
Embora o processo de fotossíntese seja comumente associado HOOC ■ CHj CH2 ■ COOH
às plantas superiores, cerca da metade é realizado por algas
(• = átomo doador)
e certas bactérias verdes, marrons, vermelhas e púrpuras.
As bactérias fotossintéticas são anaeróbicas e são
envenenadas pelo O2. Essas bactérias oxidam H2S a S ou Figura 11.6 — a) Clorofila a. b) Ácido etilenodiaminotetraédnco, EUTA
PROBLEMAS 177
IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA DO Mg2 + EDOCa2* Observa-se uma clara relação diagonal entre o berílio,
Os íons Mg2 + se concentram dentro das células dos no Grupo 2, e o alumínio, no Grupo 3. Tal como no caso do
animais, enquanto que os íons Ca2+ se concentram nos lítio e do magnésio, esse comportamento decorre
fluídos corpóreos, fora da célula. Essa distribuição é similar principalmente da similaridade entre os tamanhos de seus
ao do K+ e Na + , respectivamente. Os íons Mg2+ formam átomos e íons.
um complexo com ó ATP e estão presentes nas fosfoidrolases
e fosfotransferases, ou seja, enzimas que controlam as LEITURAS COMPLEMENTARES
reações de liberação de energia a partir do ATP. São também
• Bell, N.A.; Adv. Inorg. Radiochem., 14, 225 (1972). (Haletos
essenciais para a transmissão de impulsos nervosos. O Mg2 + de berílio e seus complexos)
está presente na clorofila: as partes verdes das plantas. O
Ca2+ é um dos constituintes dos ossos e dos dentes, na forma • Dietrich, B.; Coordination chemistry of alkali and alkaline
earth cations with macrocyclic ligands, J. Chem. Ed., 62,
de apatita Ca3(PO4)2, e do esmalte dos dentes, como
954-964 (1985). (éteres-coroa e criptandos)
fluorapatita 3(Ca3(PO4)2) CaF2. Os íons Ca2+ são impor
tantes no processo de coagulação do sangue, e são neces • Everest, D.A.; Comprehensive Inorganic Chemistry, vol. 1,
sários para dar início à contração dos músculos e para manter Pergamon Press, Oxford, 1973. (Berílio)
o batimento regular do coração. • Goodenough, R.D. e Stenger, V.A.; ComprehensiveInorganic
Chemistry, vol. 1, Pergamon Press, Oxford, 1973. (Magnésio,
cálcio, estrôncio, bário e rádio)
DIFERENÇAS ENTRE O BERÍLIO E OS • Hanusa, T.P.; Reexamining the diagonal relationships, J.
DEMAIS ELEMENTOS DO GRUPO 2 Chem. Ed., 64, 686-687 (1987).
O berílio apresenta propriedades diferente daquelas dos • Hughes, M.N.; The Inorganic Chemistry of Biological Processes,
demais elementos do Grupo 2 e se assemelha diagonalmente John Wiley, London, 1972. (Cap.8: Metais dos Grupos 1 e 2
com o alumínio, no Grupo 13. Abaixo são listadas suas em biologia)
principais características: • Hughes, M.N. e Birch, N.J.; Chemistry in Britain, 18, 196-
1. Be é muito pequeno e tem uma densidade de carga 198 (1982). (Cátions dos grupos 1 e 2 na biologia)
elevada, apresentando uma grande tendência à • Parker, D.; Adv. Inorg. Radiochem., 27,1-26 (1983). (Criptatos
covalència, como previsto pelas regras de Fajans. Por de metais alcalinos e alcalinos terrosos)
isso, os pontos de fusão de seus compostos são mais • Sargeson, A.M.; Caged metal ions, Chemistry in Britain, 15,
baixos (BeF2 funde a 800 °C, enquanto os fluoretos dos 23-27 (1979). (Discussão objetiva sobre éteres-coroa,
outros metais do Grupo fundem a cerca de 1.300 °C). criptatos, etc)
Todos os haletos de Be são solúveis em solventes • Schubert, J.; Readings from Scientific American in Chemis
orgânicos e se hidrolisam em água, como os haletos de try of the Enviroment, W.H. Freeman, San Francisco, 1973.
alumínio. Os demais haletos dos elementos do Grupo 2 (Cap.34: Berílio e beriliose)
são iônicos. • Skilleter, D.N.; Chemistry in Britain, 26, 26-30 (1990). (Ser
2. O hidreto de berílio é deficiente em elétrons e poli- ou não ser - a história da toxicidade do berílio)
mérico, e formam ligações multicentradas, tal como o • Spiro, T.G. (ed.); Calcium in Biology, Wiley-Interscience, New
hidreto de alumínio. York, 1983.
3. Os haletos de berílio também são deficientes em elétrons • Waker, W.E.C.; Magnesium and Man, Harvard University
e poliméricos, mas com átomos de halogênio em ponte. Press, London, 1980.
O BeCl2 geralmente forma cadeias, mas pode formar o
dímero. O A1C13 é um dímero. PROBLEMAS
4. O Be forma muitos complexos — o que não é comum Por que os elementos do Grupo 2 são menores que os
no caso dos elementos dos Grupos 1 e 2. correspondentes elementos do Grupo 1?
5. O Be é anfótero, liberando H2 quando reage com NaOH 2. Por que os metais do Grupo 2 são mais duros. Por que tem
formando berilatos. O Al forma aluminatos. pontos de fusão mais elevados que os metais do Grupo 1?
6. O Be(OH)2, como o A1(OH)3, é anfótero. 3. Por que os compostos de Be são muito mais covalentes
7. O Be, como o Al, se torna "passivo" quando tratado que os compostos dos demais elementos do Grupo 2?
com ácido nítrico. 4. Qual é a estrutura do BeCl2 no estado gasoso? E no estado
sólido? Por que o BeCl2 é ácido quando dissolvido em
8. Os potenciais padrão de eletrodo do Be se assemelha água?
mais ao do Al (respectivamente-1,85 e -1,66 volt) que Descreva as diferenças estruturais entre o BeH2 e o CaH2.
5.
aos do Ca, Sr e Ba (-2,87; -2,89 e -2,90 volts,
6. Por que os haletos e os hidretos de Be se polimerizam?
respectivamente).
9. Os sais de berílio sofrem hidrólise acentuada. 7. Quais são as precauções que devem ser tomadas ao se
manusear compostos de berílio?
10. Os sais de Be se incluem entre os mais solúveis que se Quais são os números de coordenação mais comuns dos
8.
conhecem. íons Be2+ e Mg2 + ? Explique o motivo dessa diferença?
11. O berílio forma um carbeto incomum, Be2C, que, como 9. Compare o grau de hidratação dos haletos dos elementos
o A14C3, libera metano ao se hidrolisar. dos Grupo 1 e 2. Por que os sais de berílio raramente
178 Grupo 5 — 05 ELEMENTOS ALCALINOS TERROSOS
contêm mais que quatro moléculas de água de outro, redução química e redução eletrolítica. Como são
cristalização? obtidos os metais do Grupo 2, e por que os demais métodos
10. Escreva as equações que representem as reações entre o não são adequados?
Ca e: a) H2O, b) H2, c) C, d) N2, e) O2, f) Cl2, g) NH3. 18. Um elemento (A) reage quando tratado com água fria,
11. Compare as reações dos metais dos Grupo 1 e 2 com água. formando um gás incolor e inodoro (B), e uma solução
Como a basicidade dos hidróxidos do metais alcalinos (C) . 0 lítio reage com (B) formando um sólido (D), que
terrosos varia dentro do Grupo? Essa tendência é comum reage rapidamente com água, com efervescência, formando
nos demais grupos da tabela periódica? uma solução fortemente básica (F). Quando gás carbônico
foi borbulhado na solução (C) inicialmente observou-se a
12. A "dureza” da água pode ser "temporária" ou "permanente”. formação de um precipitado branco (G), que voltou a se
a) O que provoca a dureza e como pode ser eliminada em dissolver após o borbulhamento de mais C02 .formando
cada caso? b) Explique (consulte outras referências uma solução (H). 0 precipitado (G) efervesce quando
bibliográficas) por que zeólitas naturais, resinas de troca- tratado com HC1 concentrado, e confere uma coloração
iônica sintéticas e polifosfatos podem ser utilizadas no vermelha intensa à chama do bico de Bunsen. Quando
tratamento de águas “duras”. (G) foi aquecido com C a 1.000 °C, formou-se um composto
13. Os íons dos metais alcalinos-terrosos formam complexos? alcalino branco (I), que quando aquecido com C a 1.000
Os elementos do Grupo 2 têm maior ou menor tendência °C resulta num sólido (J) de certa importância comercial.
que os do Grupo 1, a formar complexos? Qual é o motivo Identifique as substâncias de (A) a (J) e escreva as equações
dessa diferença? Qual dos íons metálicos do Grupo 2 forma químicas balanceadas de cada uma das reações.
complexos com maior facilidade? Quais são os melhores 19. Quando uma substância branca (A) foi tratada com ácido
agentes complexantes? Cite um complexo de um elemento clorídrico diluído, houve o desprendimento de um gás
do Grupo 2 que tenha importância biológica. incolor (B), que torna vermelho um papel de tornassol
14. Descreva sucintamente o método de preparação, as úmido. Quando o gás (B) foi borbulhado numa solução
propriedades, a estrutura e as aplicações do acetato básico alcalina observou-se a formação de um precipitado (C),
de berílio. mas a passagem de maior quantidade do gás levou à
15. Em que condições os íons alcalinos terrosos formam redissolução do sólido e formação de uma solução límpida
complexos estáveis com EDTA? Como as quantidades de (D) , A chama de um bico de Bunsen se tornou verde
íons Mg2* e Ca2 + , de uma amostra de água, podem ser quando uma pequena amostra de (A), umedecida com
determinadas por titulação com EDTA? (Consulte um livro ácido clorídrico concentrado, foi introduzida na mesma
texto de Química Analítica, por exemplo Vogei). Esses utilizando-se um fio de platina. Mediante forte aquecimento
complexos de EDTA são mais ou menos estáveis que (A) se decompõe formando um sólido branco (E), que
aqueles dos outros íons metálicos? Por que a titulação é torna azul o papel de tornassol. O aquecimento forte de
efetuada em pH elevado? Qual é o indicador usado? 1,9735 g de (A) forneceu 1,5334 g de (E). A amostra de
(E) foi dissolvida em água num balão volumétrico e o vo
16. Descreva como se prepara um reagente de Grignard e cite lume completado para 250 ml. 20,30 ml de uma solução
cinco aplicações diferentes em síntese preparativa (consulte de ácido clorídrico 0,0985 M foram necessárias para titu
também o item sobre Silicones). lar 25 ml dessa solução. Identifique os compostos de (A)
17. Os quatro métodos gerais de obtenção de metais são até (E) e escreva as equações químicas de todas as reações
decomposição térmica, deslocamento de um elemento por mencionadas. Calcule o peso molecular de (A).
173
kMEKiTOS
0® M)(§@ /.
180
OS ELEMENTOS
00 GRUPO 13
PROPRIEDADES GERAIS [Califórnia, EUA) e no Vale da Morte (Utah, EUA). Ambas
são regiões desérticas. Durante um longo período de tempo,
O boro é um não-metal e sempre forma ligações
a chuva arrastou esses sais alcalinos das encostas dos morros
covalentes. Normalmente forma três ligações covalentes com
ângulos de 120° entre si, utilizando orbitais híbridos sp2. O para os lagos nos vales. Muito tempo depois esses lagos
boro não possui nenhuma tendência de formar compostos secaram, deixando depósitos sólidos na superfície, com
monovalentes. Todos os compostos BX3 são deficientes em espessuras de 10 a 50 metros. A quantidade de minerais
elétrons e podem receber mais um par de elétrons de um brutos de boratos extraída em 1993 foi de 5,3 milhões de
outro átomo, formando uma ligação coordenada. O BF3 tem toneladas. Os maiores produtores foram a ex-União Soviética
importância comercial como catalisador. O boro também (53%) e os Estados Unidos e a Turquia (19% cada um).
forma diversos compostos nos quais os átomos se dispõem O alumínio é o metal mais abundante e o terceiro
de forma a gerar uma estrutura semelhante a um “cesto” elemento mais abundante, em peso, (depois do oxigênio e
aberto, bem como algumas estruturas em forma de poliedros do silício) da crosta terrestre. É bem estudado e tem grande
fechados. Este pode conter outros átomos, tais como o importância econômica. O metal alumínio é produzido em
carbono. As ligações multicentradas formadas nesse tipo de grande escala. A produção primária foi de 19,4 milhões de
compostos são de grande interesse teórico. toneladas em 1992, além dos 5 milhões de toneladas de
Os elementos Al, Ga, In e TI formam compostos alumínio obtido por reciclagem. O minério de alumínio mais
trivalentes. Os elementos mais pesados apresentam o “efeito importante é a bauxita. Este é um nome genérico para
do par inerte”, de modo que os compostos monovalentes diversos minerais, com fórmulas que variam entre A12O3 • H20
adquirem importância crescente na seqüência Ga-»In—»T1. e A12O3 ■ 3H2O. Em 1992, a produção mundial de bauxita foi
Esses quatro elementos (Tab. 12.1) são mais metálicos e de 108,6 milhões de toneladas. O alumínio também ocorre
iônicos que o boro. Sâo metais moderadamente reativos. em grandes quantidades em rochas da classe dos
Seus compostos se situam no limite entre aqueles com caráter aluminossilicatos, tais como os feldspatos e as micas. Quando
iônico e covalente. Muitos de seus compostos são covalentes essas rochas se decompõem, formam argilas ou outras rochas
quando anidros, mas formam íons em solução. metamórficas. Não há nenhum método simples ou
econômico de extrair o alumínio de feldspatos, micas e
argilas.
OCORRÊNCIA E ABUNDÂNCIA O gálio é duas vezes mais abundante que o boro, mas
0 boro é um elemento bastante raro, mas é bem conheci o índio e o tálio são muito menos abundantes. Os elementos
do, pois ocorre em depósitos concentrados de bórax, Ga, In e Tl, ocorrem na forma de sulfetos e são menos
Na2[B4Os(OH)4] • 8H2O, e de kemita, Na2[B4O5(OH)4] • 2H2O. estudados. Isso decorre do fato deles não serem encontrados
Os maiores depósitos se encontram no deserto de Mojave na forma de minérios concentrados e, também, porque suas
aplicações são restritas. Pequenas
Tabela 12.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação quantidades de Ga são encontradas em
minérios dos elementos adjacentes a ele
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* na Tabela Periódica (Al, Zn e Ge).
Quantidades traço de In e Tl são
Boro B [He] 2?2p' III encontrados em minérios de ZnS e PbS.
Alumínio Al [Ne] 3?3p' (D m Em 1993, a produção de In, Ga e Tl fo
Gálio Ga [Ar] 3d‘° 4? 4p‘ i ni ram, respectivamente, de 145,28 e 14,5
índio In [Kr] 4d'° 5? 5p' i in toneladas.
Tálio TI [Xe] 4/4 5d10 6? 6p' i m
181
Tabela 122 — Abundância dos elementos na crosta de insetos. O bórax é usado como fundente em solda bronze
terrestre, em peso e prata, pois reage com óxidos (tais como o Cu2O da
superfície de bronze aquecido) formando boratos de baixo
ppm Abundância relativa ponto de fusão. Assim, uma superfície limpa é exposta à
solda, melhorando a adesão. O bórax é também usado na
B 9 38 fabricação de esmaltes cerâmicos e para escurecer o couro.
Al 83.000 03 O ácido ortobórico é obtido tratando minérios contendo
Ga 19 33 borato com ácido sulfúrico. Foram produzidos cerca de
In 0,24 63 211.000 toneladas desse produto, em 1992. A reação do H3BO3
TI 05 60 com H2O2 fornece o ácido monoperoxobórico, cuja
composição provável é ((HO^BfOOH)]. O peroxoborato de
sódio, Na2[B2(O2)2(OH)4]-6H2O, é um dos constituintes de
OBTENÇÃO E USOS DOS ELEMENTOS muitos detergentes e sabões em pó. Isso ocorre
Obtenção do boro principalmente na Europa, onde os sabões em pó podem
Boro amorfo de baixa pureza (conhecido como boro de conter até 20% de peroxoborato de sódio. Esse produto é
Moissan) é obtido pela redução de B2O3 com Mg ou Na, a menos usado com essa finalidade nos Estados Unidos. A
altas temperaturas. Sua pureza é de 95-98 % (é contaminado produção mundial é de cerca de 550.000 toneladas/ano. Os
por boretos metálicos) e é preto. peroxoboratos atuam como avivadores, porque absorvem
ácido bq calor
luz UV e emitem luz visível. Isso faz com que tanto tecidos
Na2[B4O5(OH)4]-8H2O H3BO3 ->B2O3 brancos como coloridos tenham aspecto mais brilhante.
bórax ácido ortobórico
Quando usados a temperaturas superiores a 80 °C, os
—M?°uNa >2B + 3MgO peroxoboratos se decompõem com a formação de peróxido
É difícil obter boro cristalino puro, pois o boro fundido de hidrogênio, H2O2> que atua como alvejante.
é corrosivo e seu ponto de ebulição é muito elevado (2.180 O sesquióxido de boro, B2O3, é usado na fabricação de
DC). Pequenas quantidades de boro cristalino podem ser vidros do tipo borossilicato, resistentes ao calor (por exemplo
obtidas como se segue: Pyrex, que contém 14% de B2O3). O vidro do tipo
D Pela redução de BC13 com H2 (escala de quilogramas). borossilicato possui menor coeficiente de expansão térmica
e pode ser trabalhado mais facilmente que o vidro alcalino
2) Pela pirólise de BI3 (método de Van Arkel).
convencional. H3BO3, B2O3 e borato de cálcio são utilizados
3) Pela decomposição térmica do diborano ou de outros na obtenção de fibras de vidro isentas de sódio, empregadas
hidretos de boro. como isolantes térmicos em casas.
filamento de W ou de Ta ao rubro > + 6HC1
2BC13+3H2
filamento de W ou de Ta ao rubro Obtenção do alumínio
2BI3 •»2B+3I2
método de Van Arkel O alumínio é obtido a partir da bauxita, que pode ser
calor A1O-OH (A12Oj-H2O) ou A1(OH)j (A12O3-3H2O). 108milhões
b2h6 ■*2B + 3H2 de toneladas desse minério foram extraídas em 1992. Os
principais produtores são a Austrália (36%), a Guiné
Aplicações do boro Francesa (17%), Jamaica (10%) e o Brasil (9%).
Uma importante aplicação do boro é na fabricação de A primeira etapa do processo consiste na purificação
barras de controle, de aço-boro ou de carbetos de boro, para do minério. No processo Bayer as impurezas que acom
reatores nucleares. O boro possui elevada seção transversal panham o minério são removidas (principalmente compostos
de captura de nêutrons. As barras de controle são de ferro e de silício), pois degradariam as propriedades do
introduzidas no reator para absorver parte dos nêutrons e produto. Quando NaOH é adicionado o Al se dissolve, pois
com isso diminuir a velocidade da reação de fissão nuclear. é anfótero, formando aluminato de sódio. O SiO2 também
0 carbeto de boro também é usado como abrasivo. O boro é se dissolve formando silicatos. Todos os rejeitos insolúveis,
usado para fabricar aços resistentes ao impacto, pois aumenta particularmente óxido de ferro, são removidos por filtração.
0 ponto até o qual o aço pode ser temperado. Em seguida, 0 hidróxido de alumínio é precipitado da solução
fortemente alcalina de aluminato. Isso pode ser feito
O bórax (Na2[B4Os(OH)4] - 8H2O), o ácido ortobórico
borbulhando-se CO2 (um óxido ácido que diminui o pH),
(H3BO3), e o sesquióxido de boro (B2O3), encontram diversas
ou então adicionando-se A12O3 à solução. Os silicatos
aplicações. Dentre elas, as mais importantes estão na
produção de fibra de vidro para revestimento e tecidos (50% permanecem em solução. O precipitado de A1(OH)3 é
da produção é usada nos EUA) e de perboratos para calcinado (aquecido fortemente), convertendo-se em A12O3
detergentes (35% na Europa). A produção mundial de bórax purificado.
foi de cerca de 2,2 milhões de toneladas, em 1992 (45% O alumínio é geralmente obtido pelo processo Hall-
Estados Unidos e 42% TUrquia). O bórax é usado como um Héroult. O A12O3 é fundido com criolita, Na3[AlF6], e
retardante de chama para tecidos e madeira. Ele é misturado eletrolisado num tanque de aço revestido de grafite, que
com NaOH e vendido como "Polybor" ou “Timbor", utilizado atua como cátodo. Os ânodos também são de grafite. A célula
no tratamento de madeira e papelão duro contra o ataque opera continuamente, sendo que de tempos em tempos
188 □S ELEMENTOS □□ GRUPO 13
alumínio fundido (ponto de fusão 660 °C) é removido do A1(OH)3 é muito usado como antiácido para o tratamento
fundo da célula e uma nova porção de bauxita é adicionada. de indigestões. A12(SO4)3 é usado no tratamento de água
Parte da criolita consumida é minerada na Groenlândia, mas potável e utensílios de cozinha são fabricados com alumínio.
a quantidade é insuficiente para atender a demanda, de modo Contudo, há indicações de que o alumínio talvez não seja
que a maior parte é produzida sinteticamente. tão inofensivo como se pensava. O alumínio provoca
intoxicações agudas em pessoas com insuficiência renal, que
A1(OH)3 + 3NaOH + 6HF —♦ Na3[AlF6] + 6H2O não conseguem excretar o elemento. Pacientes que sofrem
da doença de Alzheimer (que causa senilidade) possuem
A criolita melhora a condutividade elétrica da célula, depósitos de sais de alumínio no cérebro. Esse elemento,
pois o A12O3 é um mau condutor de eletricidade. Além disso, embora tóxico, é normalmente excretado com facilidade pelo
a criolita é uma impureza que reduz o ponto de fusão da organismo. Qualquer elemento abundante na natureza será
mistura para cerca de 950 °C. Outras impurezas, tais como inevitavelmente absorvido pelas plantas e a seguir pelos
CaF2 e A1F3, também podem ser adicionadas (uma mistura animais. Os organismos vivos ou utilizam os elementos (que
eletrolítica típica é constituída por 85% de Na3[AlF6], 5% nesse caso são classificados como essenciais) ou então os
de CaF2, 5% de A1F3 e 5% de A12O3). Vários produtos, tais rejeita. Raramente os elementos são toxicologicamente
como O2, CO2, F2 e compostos orgânicos fluorados, são inertes.
formados no ânodo. Eles provocam o desgaste do ânodo,
que deve ser substituído periodicamente. As pequenas
quantidades de flúor formadas provocam sérios problemas Gálio, índio e tálio
de corrosão. Atualmente grandes quantidades de Li2CO3 são Pequeníssimas quantidades de gálio são encontradas
utilizados como uma impureza alternativa, pois diminui os na bauxita, sendo a relação do Ga para o Al de cerca de 1/
problemas de corrosão. O consumo de energia é muito 5.000. Durante o processo Bayer de purificação da alumina,
elevado, e o processo só é economicamente viável em regiões a concentração de Ga na solução alcalina gradualmente
com disponibilidade de energia elétrica barata, geralmente aumenta para cerca de 1/250. O Ga é obtido pela eletrólise
produzidas por usinas hidrelétricas. dessa solução. O índio e o tálio ocorrem em quantidades
diminutas nos minérios de ZnS e de PbS. Esses sulfetos são
calcinados ao ar num forno, para convertê-los em ZnO e
Usos do alumínio PbO. O Ga e In são recuperados da poeira de exaustão, sendo
O metal alumínio é relativamente mole e os metais obtidos por eletrólise das soluções aquosas de
mecanicamente pouco resistente quando puro, mas toma- seus sais.
se consideravelmente mais resistente quando forma ligas Os metais desse grupo são moles, de cor prateada e
com outros metais. Sua principal vantagem é sua baixa bastante reativos. Eles se dissolvem em ácidos. Não há muita
densidade (2,73 g cm*3). Algumas ligas são utilizadas para demanda para o Ga, o In e o Tl, mas pequenas quantidades
finalidades específicas: como o duralumínio, que contém de Ga são empregadas para “dopar” cristais para a fabricação
cerca de 4% de Cu, e diversos "bronzes de alumínio” (ligas de transistores. A fabricação de semicondutores requer Ga
de Cu e Al com outros metais, tais como Ni, Sn e Zn). O de altíssima pureza obtido pelo método de refino por zona.
metal produzido em maior quantidade é o ferro/aço (712 O gálio também é usado em outros dispositivos
milhões de toneladas em 1992), sendo o alumínio o segundo semicondutores. O arseneto de gálio, GaAs, é isoeletrônico
mais produzido (a produção total de alumínio foi de 24,4 com o Ge, e é usado em diodos emissores de luz (LEDs = light
milhões de toneladas em 1991: 19,4 milhões de toneladas emitting diodes) e lasers de diodo. Muitas pesquisas estãO'
de produção primária e reciclagem de 5 milhões de sendo realizadas sobre o uso de GaAs na confecção de
toneladas). Os maiores produtores do metal alumínio são os “chips” de memória para computadores, já que eles operam
Estados Unidos (21 %), a ex-União Soviética (17%), o Canadá numa freqüência 5 a 10 vezes maiores que os análogos feitos
(10%) e a Austrália, o Brasil e a China (6% cada um). O de silício. O índio é usado para dopar cristais na fabricação
alumínio e suas ligas têm muitas aplicações: de transistores p-n-p e em termistores (InAs e InSb). O índio
1. Como metais estruturais em aviões, navios, automóveis também é utilizado em soldas de baixo ponto de fusão
e trocadores de calor. (usadas comumente na soldagem de “chips” de
semicondutores) e em outras ligas de baixo ponto de fusão.
2. Na construção civil (portas, janelas, divisórias e “trai-
lers”).
3. Recipientes diversos, tais como embalagens para ESTADOS DE OXIDAÇÃO E TIPOS DE
bebidas, tubos para creme dentais, etc, e papel alumínio. LIGAÇÕES
4. Na fabricação de utensílios de cozinha. O estado de oxidação (+ III)
5. Na fabricação de cabos elétricos (tomando por base o Os elementos desse grupo apresentam três elétrons noi
peso, eles conduzem duas vezes mais que o cobre). nível mais externo. Com exceção do Tl, eles normalmente
6. Na preparação de alumínio finamente dividido, utilizam esses três elétrons para formar três ligações, levando-
denominado “bronze de alumínio”, usado em tintas à os ao estado de oxidação (+ III). As ligações são iônicas ou
base de alumínio. covalentes? Os seguintes fatos sugerem a covalência:
Durante muitos anos supôs-se que o íon Al3+ fosse 1. As regras de Fajans — o tamanho reduzido dos íons e
completamente inofensivo e não tóxico para o homem. sua elevada carga de + 3 favorecem a formação de
ligações covalentes.
PONTOS DE FUSÃO, PQNTDS OE EBULIÇÃO E ESTRUTURAS 183
2. A soma das três primeiras energias de ionização é muito os cloretos é: GaCl3 = 242, InCl3 = 206 e T1C13 = 152 kJ
grande, o que também sugere que as ligações serão mol’1. Assim, no tálio há maior probabilidade dos elétrons s
essencialmente covalentes. permanecerem inertes.
3. Os valores das eletronegatividades são maiores que os O efeito do par inerte não é a explicação das razões que
para os Grupos 1 e 2, de modo que quando reagem levam ao aparecimento de compostos monovalentes dos
com outros elementos as diferenças de elementos do Grupo 13. Ele simplesmente descreve o que
eletronegatividade não deverão ser muito grandes. acontece, ou seja, indica o fato de dois elétrons não
O boro é consideravelmente menor; logo sua energia participarem de ligações. O motivo de não participarem de
de ionização será maior que dos demais elementos do grupo. ligações é de natureza energética. Os íons monovalentes são
A energia de ionização é tão elevada que o B sempre forma muito maiores que os íons trivalentes, tal que os compostos
ligações covalente. no estado de oxidação (+1) são iônicos e, em muitos
aspectos, semelhantes aos compostos dos elementos do
Muitos compostos simples dos demais elementos, tais Grupo 1.
como A1C13 e GaCl3, são covalentes quando anidros. Contudo,
Al, Ga, In e TI formam íons quando em solução. O tipo de O efeito do par inerte não se limita ao Grupo 13, mas
ligação formada depende do que é mais favorável em termos também se manifesta nos elementos mais pesados de outros
de energia. Essa mudança de covalente para iônico ocorre grupos do bloco p. O Sn2+ e o Pb2 + , são os exemplos típicos
do Grupo 14, e no Grupo 15 temos o Sb3 + e o Bi3 +. O estado
porque os íons são hidratados e a quantidade de energia de
de oxidação inferior é mais estabilizado nos elementos mais
hidratação liberada excede a energia de ionização. Considere
pesados do grupo. Assim, o Sn2+ é um agente redutor, mas
o A1C13: 5.137 kJ mol’1 são necessários para converter Al
em Al3 +, mas o AHhidralaçao dos íons Al3 + e Cl" são iguais a
o Pb2+ é estável. Analogamente, o Sb3 + é um agente redutor,
mas o Bi3+ é estável. Quando os elétrons s permanecem
-4.665 kJ mol"1 e -381 kJ mol"1, respectivamente. A energia
emparelhados, o estado de oxidação observado será sempre
de hidratação total será portanto:
duas unidades menor que o estado de oxidação normal para
-4.665 + (3 x -381) = -5.808 kJ mol’1 os elementos do grupo.
Assim, no bloco s, os elementos dos Grupos 1 e 2
Esse valor é superior à energia de ionização e o A1C13 apresentam somente a valência prevista para o grupo. Grupos
se ioniza em solução. do bloco p mostram valências variáveis, diferindo de duas
Os íons metálicos hidratados possuem seis moléculas em duas unidades. Valências variáveis também ocorrem nos
de água ligadas firmemente, segundo uma estrutura elementos do bloco d. Elas se devem ao uso de diferente
octaédrica, [M(H2O)6]3 + . As ligações metal-oxigênio são número de elétrons d para formar ligações, de modo que
muito fortes. Isso enfraquece as ligações O-H e favorece a nesse caso a valência pode variar de uma em uma unidade
dissociação. Os prótons liberados se ligam às moléculas de (por exemplo, Cu+ e Cu2 + , Fe2+ e Fe3 + ).
água na vizinhança, formando íons H3O + (hidrólise).
Tabela 123 — Pontos de fusão e pontos de ebulição fusão. O ponto de fusão extremamente baixo decorre de sua
estrutura cristalina incomum, mas ela é destruída quando
Ponto de fusão Ponto de ebulição se forma o líquido.
CC) CC)
TAMANHO DOS ÁTOMOS E ÍONS
B 2.180 3.650
Al 660 2.467 Os raios metálicos dos átomos não aumentam
Ga 30 2.403 regularmente, de cima para baixo dentro do grupo (Tab.
In 157 2.080 12.4). Contudo, os valores não são comparáveis, pois o boro
TI 303 1.457 não é um metal e o raio medido é simplesmente a metade
da menor distância de aproximação. No caso do Ga, o valor
tabelado também é igual à metade da menor distância de
O boro apresenta uma estrutura cristalina fora do aproximação, mas sua estrutura cristalina é pouco comum.
comum, que leva a um ponto de fusão muito elevado. Os demais elementos apresentam estruturas metálicas de
Existem pelo menos quatro diferentes formas alotrópicas. O empacotamento denso.
boro possui um número insuficiente de elétrons para Os raios iônicos dos íons M3 + aumentam de cima para
preencher o nível de valência, mesmo após a formação das baixo dentro do grupo, embora não da maneira regular
ligações. A variedade e a complexidade das formas observada nos Grupos 1 e 2. Há duas razões para tanto:
alotrópicas ilustra as várias maneiras pelas quais a natureza 1. Não há evidências para a existência de B3* em
tenta solucionar esse problema. Em outros elementos esse condições normais, e o valor apresentado é uma
problema é solucionado pela formação de ligações metálicas, estimativa.
mas no caso do boro isso é impossível, por causa do seu 2. As estruturas eletrônicas dos elementos são diferentes.
pequeno tamanho e de sua elevada energia de ionização. Ga, In e Tl aparecem imediatamente após uma série de
Todas as quatro formas alotrópicas contêm unidades dez elementos de transição. Eles possuem, portanto,
icosaédricas, nas quais os átomos de boro ocupam todos os 10 elétrons d, que são menos eficientes na blindagem
12 vértices (lembre-se que um icosaedro é um poliedro regu da carga nuclear que os elétrons s e p (a capacidade de
lar com 12 vértices e 20 faces). Nessas unidades, 12 átomos blindagem segue a ordem s>p>d>f). A blindagem
de boro se arranjam de modo regular e cada átomo do B ineficiente da carga nuclear leva a elétrons externos
está ligado a cinco vizinhos equivalentes (a uma distância mais firmemente ligados ao núcleo. Portanto, átomos
de 1,77 A). As diferenças entre as formas alotrópicas com um subnível interno d10 são menores e possuem
decorrem da maneira pela qual os icosaedros estão ligados uma energia de ionização maior que o esperado. Essa
entre si. A forma mais simples é o boro romboédrico. Nesse contração de tamanho é denominado contração do
caso, metade dos átomos de um icosaedro se liga a um átomo bloco-d. De uma maneira análoga, o Tl aparece
em outro icosaedro, situados a uma distância de 1,71 A. A imediatamente após uma série de 14 elementos do bloco
outra metade dos átomos se liga aos átomos em dois outros f. O tamanho e a energia de ionização do Tl são afetados
icosaedros (a uma distância de 2,03 Â). Não se trata aqui ainda mais pela presença dos 14 elétrons f, que blindam
nem de uma estrutura regular, nem de uma estrutura ainda menos eficientemente a carga nuclear. A contração
metálica. Somente 37% do espaço está ocupado por átomos, de tamanho provocada por esses elementos do bloco f
bem menos que os 74% num arranjo de empacotamento é denominada contração lantanídica.
denso. Isso mostra que os icosaedros preenchem o espaço
de modo ineficiente. As outras formas alotrópicas apresentam A grande diferença de tamanho entre B e Al provoca
estruturas ainda mais complicadas. muitas diferenças nas suas propriedades. Por exemplo, o B
é um não-metal, tem ponto de fusão extremamente elevado,
Os elementos Al, In e TI apresentam estruturas metálicas sempre forma ligações covalentes e seu óxido é ácido. Em
de empacotamento compacto. O gálio tem uma estrutura contraste, o Al é um metal, tem ponto de fusão muito mais
pouco comum. Cada átomo possui um vizinho próximo, a baixo e seu óxido é anfótero (pode-se fazer generalizações
uma distância de 2,43 A, e seis vizinhos mais distantes, a desse tipo, mas não é recomendável se fazer argumentações
distâncias entre 2,70 e 2,79 A. Essa notável estrutura se
assemelha mais à estrutura das moléculas diatômicas
Tabela 124 — Rais iônicos e covalentes, e valores de
discretas que dos metais. Isso explica o ponto de fusão
eletronegatividade
incrivelmente baixo do gálio, de 30 °C. Além disso, o Ga
líquido se expande quando forma o sólido, isto é, o sólido é Raio do Raio iônico Eletronega
menos denso que o líquido. Essa propriedade somente é metal M3+ M+ tividade de
observada no Ga, Ge e Bi. (Â) (A) (Â) Pauling
Embora os pontos de fusão decresçam do Al para o In,
conforme esperado quando se desce por um grupo, ele B (0,885) (0,27) 2,0
aumenta novamente no Tl. O ponto de ebulição do B é Al 1,43 0,535 1,5
extraordinariamente elevado, mas os valores para o Ga, In e Ga (1,225) 0,620 1,20 1,6
In 1,67 0,800 1,40 1,7
Tl diminuem de cima para baixo no grupo, como esperado.
TI 1,70 0,885 1,50 1,8
Note que o ponto de ebulição do Ga é coerente com o dos
demais elementos do grupo, em contraste com seu ponto de Para os valores entre parênteses, veja o texto.
ENERSIA DE IONIZAÇÃO 185
Tabela 12.5 — Potenciais padrão de redução (volt) Tabela 12.7 — Energias de ionização
Energias de inonização (kJ moE1)
Estados de oxidação
1? 2f 3? total
Solução ácida Solução básica
+HI +11 +1 0 +in +11 +1 0 B 801 2.427 3.659 6.887
Al 577 1.816 2.744 5.137
-1,66 -2,31 Ga 579 1.979 2.962 5.520
Al3* Al A1(OH)3 Al In 558 1.820 2.704 5.082
Tl 589 1.971 2.877 5.437
-0,44 -0,79 -1,22
Ga3*--------- Ga*------- Ga H2GaO3 Ga para o In; e o potencial se torna positivo para o Tl. Como
AG = -nFE°, conclui-se que AG, a energia livre de formação
-0,56 do metal, por exemplo, Al3* + 3e —» Al, é positiva. Assim,
essa reação dificilmente ocorrerá (a reação inversa, Al —>
-0,44 -0,18 -1,0 Al3* + 3e ocorre espontaneamente). O potencial padrão se
In3* ------ In*------- In In(OH)3 In
torna menos negativo descendo-se pelo grupo, ou seja, a
reação M3* —> M se torna cada vez mais fácil. Assim, um
-0,34
elemento no estado de oxidação (+ III) se torna cada vez
+2,06 -0,34 -0,05 menos estável em solução ao se descer pelo grupo.
Tl3* --------Tl* Tl T1(OH)3--------- Tl(OH) Analogamente, os valores de E° para o par M* |M indicam
que a estabilidade do estado ( + 1) aumenta, no mesmo
+1,26 sentido. O Tl(+1) é mais estável que o Tl( + III).
Deve-se lembrar nesse tipo de argumentação que E° e
AG se referem à reação com o H2:
quantitativas dizendo, por exemplo, que o Al3+ tem o dobro
do tamanho doB3*, ou que os raios metálicos diferem por 2A13* + 3H2 2AI + 6H*
um fator de 1,6, já que o íon B3+ não existe e o B não é um
metal). ENERGIA DE IONIZAÇÃO
As energias de ionização aumentam da forma esperada
CARÁTER ELETROPOSITIVO (primeira energia de ionização < segunda energia de
ionização < terceira energia de ionização). A soma das três
A natureza eletropositiva ou metálica desses elementos
cresce do B para o Al, e a seguir decresce do Al para o Tl. primeiras energias de ionização, para cada um desses
Isso pode ser inferido pelos potenciais padrão de eletrodo elementos, é muito elevada. Por exemplo, o boro não
da reação: apresenta nenhuma tendência de formar íons, sempre
formando ligações covalentes. Os demais elementos
M3* + 3e M normalmente formam ligações covalentes, exceto em
O aumento de caráter metálico do B para o Al solução.
corresponde à tendência normal observada quando se desce Os valores das energias de ionização não decrescem
por um grupo, e está associado ao aumento de tamanho. regularmente dentro do Grupo. O decréscimo do B para o Al
Contudo, Ga, In e Tl não seguem a tendência esperada. Os corresponde ao comportamento esperado descendo-se pelo
referidos elementos têm menor tendência de perder elétrons grupo, associado ao aumento de tamanho. A blindagem
(sendo assim menos eletropositivos), por causa da blindagem ineficiente oferecida pelos elétrons d e a conseqüente
ineficiente proporcionada pelos elétrons d, como descrito contração d, influenciam os valores para os demais
anteriormente. elementos do Grupo.
Os potenciais padrão de eletrodo, E°, para o par redox
M3 + |M se tornam menos negativos do Al para o Ga e deste
M3*IM M*IM
(volt) (volt)
B (-0,87»)
Al -1,66 +0,55
Ga -0,56 -0,79
In -0,34 -0,18*
Tl +1,26 -0,34
• Para H3BO3 + 3H* + 3e' B + 3H2O f Valor em solução ácida. Figura 12.2 — Estrutura de nitreto de boro
186 □5 ELEMENTOS □□ 5RUPO 13
Tabela 12.8 — Algumas reações do boro amorfo Reações com ácidos e álcalis
O alumínio se dissolve em ácidos minerais diluídos
Reação Comentários liberando hidrogênio.
durante o conflito das Malvinas. A grande afinidade do das quantidades relativas de óxidos. Uma composição típica
alumínio pelo oxigênio é aproveitada na obtenção de outros de um cimento Portland é a seguinte: CaO 70%, SiO2 20%,
metais, a partir de seus óxidos. A12O3 5 %, Fe2O3 3 %, CaSO4 ■ 2H2O 2 %. A produção mundial
total de cimento foi de 1.396 milhões de toneladas em 1993,
8A1 + 3Mn3O4 -> 4A12O3 + 9Mn 70 % dos quais de cimento Portland.
2A1 + Cr2O3 —> A12O3 + 2Cr
Cimentos com elevado teor de alumina são obtidos
fundindo-se calcário e bauxita com pequenas quantidades
Reações com halogênios e sulfatos de SiO2 e TiO2, a 1.400-1.500 °C, numa fornalha aberta ou
O alumínio reage facilmente com os halogênios, mesmo num forno giratório. O cimento com elevado teor de alu
a frio, formando os tri-haletos. mina é mais caro que o cimento Portland, mas apresenta
uma grande vantagem sobre este — o processo de cura é
O sulfato de alumínio é empregado em grandes mais rápida, adquirindo elevada resistência em apenas um
quantidades (3,7 milhões de toneladas em 1991). É obtido dia. É empregado na confecção de vigas de pontes e edifícios.
tratando-se bauxita com H2SO4 e usado como agente de Cimento de elevado teor de alumina apresenta boa resistência
floculaçâo e de precipitação no tratamento de água potável
à água do mar e a ácidos minerais diluídos. Resiste a
e de água de esgoto. Também é usado na indústria de papel, temperaturas de até 1.500 °C e pode ser empregado com
e na indústria têxtil como mordente para tingimento. tijolos refratários em fornalhas. Uma análise típica de um
cimento de elevado teor de alumina é: CaO 40%, A12O3 40%,
Alúmens SiO2 10%, Fe2O3 10%. Tem havido muitas notícias referentes
Os íons de alumínio podem cristalizar a partir de às falhas estruturais em vigas feitas com esse cimento. Os
soluções aquosas, formando sais duplos. Estes são acidentes se devem a deterioração provocada pela exposição
designados alúmens de alumínio e têm a fórmula geral, prolongada à umidade e ao calor, ou devido ao uso excessivo
[M'(H2O)6] [A1(H2O)6] (SO4)2. M1 é um cátion monovalente, de água na mistura de cimento e areia. Isso resulta numa
como Na + , K+ ou NH4 . Os cristais têm geralmente a forma cura muito rápida do cimento, não dando tempo suficiente
de grandes octaedros, e são extremamente puros. A pureza para que ocorra uma cristalização adequada.
é particularmente importante em algumas de suas aplicações.
0 alúmen de potássio, [K(H2O)6][A1(H2O)6](SO4)2 é usado Reações do Ga, do In e do TI
como mordente para tingimento. Nessa aplicação, o Al3+ é O gálio e o índio são estáveis ao ar e não são atacados
precipitado como A1(OH)3 sobre o tecido, para auxiliar a pela água, a não ser na presença de oxigênio livre. O tálio é
adesão do corante ao mesmo, na forma de complexos de um pouco mais reativo, sendo oxidado superficialmente pelo
alumínio. É essencial a ausência de íons Fe3 + , para se obter ar. Os três metais se dissolvem em ácidos diluídos, liberando
as cores “verdadeiras" dos corantes. Os sais duplos se hidrogênio. O gálio é anfótero como o alumínio, e se dis
dissociam em solução, gerando seus íons constituintes. Os solve em solução aquosa de NaOH, liberando H2 e formando
cristais são constituídos por [M(H2O)6] +, [A1(H2O)6]3 + e dois gaiatos. Os óxidos e hidróxidos de Al e Ga também são
íons SO4. Os íons possuem as cargas e os tamanhos anfóteros. Já os óxidos e hidróxidos de In e TI são tipicamente
adequados para se cristalizarem juntos. Além do Al3 +, alguns básicos.
outros íons M3+ podem formar alúmens de fórmula
[M1(H2O)6][MII1(H2O)s](SO4)2. Os íons trivalentes mais Os três metais reagem com os halogênios, mediante
comuns são o Fe3+ e o Cr3 + , mas esse tipo de composto aquecimento brando.
também pode ser formado pelo Ti3 +, V3 +, Mn3 +, Co3 +, In3 +,
Rh3 + , Ir3+e Ga3 + .
ALGUMAS PROPRIEDADES DO TÁLIO (I)
Cimento Os compostos de tálio (I) ou talosos são bem conhecidos.
Compostos de alumínio, principalmente o aluminato Geralmente são incolores e todos são extremamente tóxicos.
de tricálcio, Ca3Al2O6, são muito importantes como A ingestão de pequeníssimas quantidades de tálio (I) tornam
constituintes do cimento Portland e cimentos de elevado os cabelos mais escuros, mas doses maiores podem provocar
teor de alumina. A fórmula do aluminato de tricálcio é escrita a perda dos cabelo e a morte. Eles são tóxicos, porque
mais adequadamente como Ca9[Al6OI8], porque contém suprimem a atividade enzimática no organismo.
anéis de 12 membros de Si-O-Si, obtidos pela união de seis
tetraedros de A1O4. O cimento Portland é obtido aquecendo- Em solução aquosa, os íons T1(I) são muito mais estáveis
se a mistura correta de calcário (CaCO3) com areia (SiO2) e que os íons Tl(IIl). O raio iônico do Tl+ (1,50 A) se situa
aluminossilicatos (argila), a uma temperatura de 1.450-1.600 entre odoK* (1,38 Â) e do Rb+ (1,52 A). Por causa disso o
°C, num forno giratório. Quando misturado com areia e água, Tl+ se assemelha aos íons do Grupo 1 em diversos aspectos.
o cimento se solidifica formando o concreto, um sólido duro T1OH e T12O são ambos solúveis em água e fortemente
esbranquiçado e insolúvel, semelhante às pedras de Port básicos. Eles absorvem CO2 do ar, formando T12CO3. A
land (calcário extraído em Portland Bill, Dorset/Inglaterra). solubilidade da maioria de seus sais é ligeiramente inferior
Adiciona-se ao cimento de 2 % a 5 % de gesso, CaSO4 • 2H2O, a dos sais de potássio. O Tl" pode substituir oKT em diversas
para diminuir a velocidade de cura do concreto, pois a enzimas, podendo ser usado como um traçador biológico
solidificação mais lenta aumenta a resistência do material. no organismo. Há também algumas diferenças nas suas
A composição dos cimentos geralmente é dada em função propriedades. T1OH é amarelo e quando aquecido a 100 °C
188 □5 ELEMENTOS □□ BRUPO 13
se transforma em T12O, que é preto. O número de 3B(OH)3 — H3O+ + [B3O3(OH)4]- + H2O pK=6,84
coordenação do Tl+ geralmente é igual a 6 ou 8, comparado [3H3BO3]
com 6 para os íons do Grupo 1. O T1F é solúvel em água,
mas os demais haletos são quase insolúveis. Há também HO
algumas semelhanças com o Ag*: por exemplo o T1C1 é \
sensível à luz. Ele escurece quando exposto à luz, como B----- O OH
acontece com o AgCl. Todavia, o T1C1 não é solúvel em / \ /
NH4OH como o AgCl. O B
\ / \
B—O OH
COMPOSTOS DE BORO E OXIGÊNIO /
HO
Sesquióxidos de boro e os boratos
Estes são os compostos mais importantes de boro.
“Sesqui" significa um e meio, de modo que o óxido deve ter
Propriedades ácidas do H3BO3 ou B(OH)3
a fórmula MObS ou M2O3. Todos os elementos desse grupo
formam sesquióxidos quando aquecidos em atmosfera de Como o B(OH)3 só reage parcialmente com água para
oxigênio. O B2O3 é convenientemente obtido pela formar H3O+ e [B(OH)4]“, ele se comporta como um ácido
desidratação do ácido bórico: fraco. Assim, H3BO3 ou B(OH)3 não pode ser titulado
aquecimento
satisfatoriamente com NaOH, pois não se obtém um ponto
H3BO3 100'C
> rubro
HBO2 ----- ao B2O3 de equivalência muito nítido. Entretanto, se certos compostos
ácido ácido sesquióxido orgânicos poliidroxilados como glicerol, manitol ou açúcares
ortobórico metabórico de boro
forem adicionados à mistura a ser titulada, o B(OH)3 se com
B2O3 é um típico óxido não-metálico, tendo propriedades portará como um ácido monobásico forte. Nessas condições
ácidas. É o anidrido do ácido ortobórico e reage com óxidos ele pode ser titulado com NaOH e o ponto final da reação
básicos (metálicos), formando sais denominados boratos ou pode ser determinado utilizando-se fenolftaleína como
metaboratos. No teste da pérola de bórax aquece-se o B2O3 indicador (este indicador muda de cor em pH de 8,3-10).
ou bórax, Na2[B4O5(OH)4] -8H2O, na chama de um bico de
Bunsen, juntamente com os óxidos metálicos, num aro B(OH)3 + NaOH Na[B(OH)4]
existente na extremidade de um fio de platina. A mistura NaBO2 + 2H2O
metaborato de sódio
funde formando uma pérola de metaborato, de aspecto vítreo.
As pérolas de metaborato contendo diversos metais de Para que se observe um aumento da acidez, é necessário
transição apresentam cores características. Assim, esta reação que o composto adicionado seja um cts-diol (ou seja possui
se constitui num método de identificação dos mesmos. Esse grupos OH em átomos de carbono adjacentes, na
teste simples forneceu a primeira prova de que a vitamina conformação cis). Os cís-dióis formam complexos muito
B12 continha cobalto. estáveis com o [B(OH)4]‘ formado na reação direta acima,
removendo-o da solução. A reação é reversível. Assim, a
CoO + B2O3 -> Co(BO2)2 efetiva remoção de um dos produtos da reação desloca
metaborato de cobalto (cor azul) completamente o equilíbrio para a direita, de modo que todo
Contudo, é possível forçar o B2O3 a comportar-se como reagente é transformado em produto. Por isso, o B(OH)3 se
um óxido básico, reagindo-o com compostos fortemente comporta como um ácido forte na presença de cis-dióis.
ácidos. Assim, na reação com P2O5 ou As2O5, formam-se
respectivamente fosfato de boro e arsenato de boro. I ■ I
—C—HO HO OH —C—O) OH
b203 P2O5 2BPO4 \ ✓ -2H;0
\ /
B B +
O ácido ortobórico, H3BO3, é solúvel em água e se
comporta como um ácido monobásico fraco. Ele não doa
—C—HO HO OH -Ç-0') OH
I
prótons para o solvente como a maioria dos ácidos, mas
I I I
aceita íons OH". Portanto é um ácido de Lewis, sendo HO—C —C—O (O—c—
representado mais corretamente como B(OH)3.
I X '
B(OH)3 + 2H2O H3O+ + [B(OH)4]' pK = 9,25
[H3BO3] OH—C
-2H;O
I A
—c—o <o-ç-
: i
HO OH ' I I
OH
I
B y
/ \ / \ Estruturas dos boratos
HO OH HO OH
trigonal plana íon metaborato tetraédrico Nos boratos simples cada átomo de B está ligado a três
Em concentrações mais elevadas, formam-se átomos de oxigênio, dispostos nos vértices de um triângulo
metaboratos poliméricos, como a espécie do exemplo a equilátero. Essa estrutura pode ser prevista a partir dos
seguir: orbitais utilizados nas ligações.
CDMPOSTD5 DE BORD E OXISÉNIO 189
2p
Estrutura eletrônica do átomo
de boro — estado fundamental È 0
1s 2s _____ 2p
,
Estrutura eletrônica do átomo
de boro — estado excitado 0 0 I* 0| II_______ r— ’
intendo
Três orbitais contar.;
um elétron forman
"nam
ligações com três átor jmos
de
dê oxigênio — form
forma
trigonal plana (hibridização sp2)
Bórax
O metaborato mais comum é o bórax,
Na2[B4O5(OH)4]-8H2O. Trata-se de um padrão primário
muito útil para a titulação de ácidos.
(Na2[B4O5(OH)4] • 8H2O) + 2HCl-+2NaCl + 4H3BO3 + 5H2O
Um mol de bórax reage com dois mols de ácido. Isso triangulares BO3 como unidades tetraédricas B04,
ocorre porque, ao se dissolver em água, o bórax forma tanto ligadas entre si pelo compartilhamento dos vértices.
B(OH)3 como [B(OH)4]", mas somente o [B(OH)4]" reage Essas estruturas não são planares.
com HC1. 3. Os boratos hidratados podem receber prótons. Estes
[B4O5(OH)4]2" + 5H2O — 2B(OH)3 + 2[B(OH)4]- são adicionados na seguinte seqüência: (i) íons O2' são
2(B(OH)4]" +2H3O+ —» 2B(OH)3 + 4H2O convertidos em OH"; (ii) os oxigênios tetraédricos são
protonados; (iii) são protonados os oxigênios das
No ponto de equivalência, o pH da solução dessa última estruturas triangulares; e finalmente (iv) qualquer grupo
reação será igual a 9,2, de modo que o indicador utilizado OH" livre é convertido em H2O.
deve ter um pKa ~ 8. O bórax também é usado na preparação 4. Os boratos hidratados podem polimerizar-se por meio
de soluções tampão, já que contém quantidades iguais de da eliminação de H2O. Isso pode ser acompanhado do
um ácido fraco e de seu sal.
rompimento ou rearranjo das ligações B-O.
5. O H3BO3 freqüentemente está em equilíbrio com
Peroxoborato de sódio poliânions mais complexos. As estruturas poliméricas
Cerca de 550.000 toneladas de peroxoborato de sódio dos boratos tendem a se romper, quando tais compostos
são produzidos anualmente no mundo. Os dois principais são dissolvidos em água.
métodos de preparação são: Por outro lado, as estruturas dos fosfatos e dos silicatos
1) Eletrólise de uma solução de borato de sódio (contendo sempre se baseiam nas unidades tetraédricas P04 e SiO4,
um pouco de Na2CO3). respectivamente. Os tetraedros podem polimerizar-se
2) Oxidação do ácido bórico ou do metaborato de sódio gerando cadeias, ciclos e estruturas tridimensionais. Essas
com peróxido de hidrogênio. estruturas são mais estáveis e permanecem inalteradas
mesmo em solução.
2NaBO2 + 2H2O2 + 6H2O-^Na2[(OH)2B(O-O)2B(OH)2) • 6H2O
metaborato de sódio peroxoborato de sódio
Análise qualitativa de compostos de boro
HO < —0
0 OH 2" Quando os boratos são tratados com HF (ou com H2SO4
\ / \ /
B B e CaF2), forma-se o composto volátil BF3. Se o gás BF3 assim
/ \ / \ produzido for conduzido para uma chama (por exemplo, a
HO 1 —0
0 OH chama de um bico de Bunsen), a chama adquire uma
íon peroxoborato
coloração verde característica.
0 peroxoborato de sódio é usado como avivador em
sabões em pó. Ele é compatível com as enzimas adicionadas H2SO4 conc. + CaF2 —> 2HF + CaSO4
a alguns sabões "biológicos”. Em água muito quente (acima H3BO3 + 3HF -> BF3 + 3H2O
de 80 °C), as ligações com o grupo 0-0 são rompidas,
levando a formação de H2O2. Um teste alternativo consiste na obtenção do éster
borato de metila, B(OCH3)3. À amostra em análise é
adicionado H2SO4 concentrado para formar H3BO3 e, a seguir,
Isopoliácidos de B, Si e P aquecido com metanol num cadinho.
Outros elementos formam compostos poliméricos
semelhantes aos boratos; principalmente o silício, que forma B(OH)3 + 3CHjOH -> B(OCH3)3 + 3H2O
os silicatos, e o fósforo, que forma os fosfatos. Esses O H2SO4 concentrado remove a água formada. A mistura
compostos poliméricos são chamados de isopoliácidos (o é a seguir inflamada. O borato de metila é volátil e confere a
nome isopoliácido significa que íons ácidos estão chama uma cor verde.
polimerizados. Iso significa “o mesmo”, indicando que há
envolvimento de apenas um tipo de íon. Se dois tipos
diferentes de íons se polimerizarem, por exemplo os íons Ácido fluorobórico
fosfato e molibdato formando um fosfomolibdato, este é O H3BO3 se dissolve em HF aquoso formando o ácido
denominado um heteropoliácido). fluorobórico, HBF4.
Os princípios que fundamentam a estrutura dos boratos
foram desenvolvidos por Christ e Clark (vide Leituras H3BO3 + 4HF—>H + + [BF4]' 3H2O
Complementares) e podem ser sumarizados como se segue: O ácido fluorobórico é um ácido forte: soluções
1. Freqüentemente B forma unidades triangulares BO3. Às comerciais contêm cerca de 40% de ácido. O íon [BF4]~ é
vezes elas permanecem como monômeros, mas podem tetraédrico de modo que os fluoroboratos se assemelham
formar íons polinucleares compartilhando os átomos aos percloratos, C1O4, e aos sulfatos, no que se refere a sua
de O dos vértices. Assim, as unidades triangulares se estrutura cristalina e solubilidade (KC1O4 e KBF4 não são
ligam formando cadeias, ciclos e estruturas lamelares muito solúveis em água). Os íons [BF4]" e [C1O4]' possuem
bidimensionais. uma pequeníssima tendência de formar complexos em
2. Às vezes o B forma unidades BO4. Os boratos solução aquosa, embora formem alguns poucos complexos
polinucleares mais complexos contêm tanto unidades em solventes não-aquosos.
OS DEMAIS ÚXIDOS DO GRUPO 13 191
A presença do íon alumínio pode ser confirmada pela hidretoboratos dos metais alcalinos são sólidos iônicos
formação de um precipitado vermelho, na reação do A1(OH)3 brancos e reagem com água com grau variável de facilidade.
com o corante “aluminon". O Li [BH4] reage violentamente com a água; mas o Na[BH4)
pode ser recristalizado em água fria, praticamente sem sofrer
Caráter anfótero — os aluminatos decomposição. O K[BH4] é bastante estável.
O A1(OH)3 é anfótero. Ele reage principalmente como Li[BH4] + 2H2O -» LiBO2 + 4H2
uma base, isto é, reage com ácidos para formar sais que
contêm o íon [A1(H2O)5]3 + . Contudo, o A1(OH)3 mostra Os tetra-hidretoboratos dos metais alcalinos são valiosos
algum caráter ácido quando se dissolve em NaOH, formando agentes redutores, tanto na Química Inorgânica como na
aluminato de sódio (mas o A1(OH)3 é reprecipitado mediante Orgânica. O Na[BH4] é estável em soluções alcoólicas e
adição de dióxido de carbono, indicando que suas aquosas. TYata-se de um reagente útil para reduzir aldeídos
propriedades ácidas são muito fracas). a álcoois primários e cetonas a álcoois secundários. É um
reagente nucleofílico que ataca preferencialmente sítios de
excesso de NaOH
A1(OH)3 •» NaAl(OH)4 aluminato
baixa densidade eletrônica. Outros grupos funcionais, tais
de sódio como C = C, COOH e NO2, normalmente não são atacados
NaAlO, • 2H2O
pelo boro-hidreto.
A fórmula dos aluminatos é freqüentemente
representada como NaAlO2-2H2O (que é equivalente a Na|BH,l
R-CHO RCH2OH álcool primário
(A1(OH)4]‘). Os estudos utilizando espectroscopia Raman
sugerem que a estrutura do íon aluminato é mais complicada
do que parece, variando tanto em função do pH como da
concentração.
R R
1. Entre pH 8 e 12 os íons se polimerizam, por meio da \ Na(BH,|
formação de pontes OH, e cada íon alumínio apresenta C=O CHOH álcool secundário
coordenação octaédrica. /
R' R'
2. Em soluções diluídas e pH’s superiores a 13, predomina
o íon tetraédrico, [A1(OH)4]’. Nem todos os tetra-hidretoboratos são iônicos. Os boro-
3. Em soluções concentradas (acima de 1,5 M) e pH's hidretos de berílio, alumínio e dos metais de transição
superiores a 13, o íon se encontra na forma de dímero: tornam-se mais e mais covalentes e voláteis, na seqüência
[(HO)3A1-O-A1(OH)3]2-. apresentada. Nesses compostos o grupo [BH4]" atua como
O Ga2O3 e o Ga(OH)3 são anfóteros como os um ligante, formando ligações covalentes com os íons
correspondentes compostos de Al. O Ga(OH)3 é branco e metálicos. Um ou mais átomos de H do íon [BH4]“ atuam
gelatinoso, e se dissolve em álcalis formando gaiatos. T12O3 como átomos em ponte e se ligam ao metal, formando ligação
e In2O3 são totalmente básicos e não formam nem hidratos tricêntrica onde dois elétrons são compartilhados
nem hidróxidos. Em contraste, o hidróxido de tálio(I), T10H, simultaneamente por três átomos. O ligante [BH4]~ pode
é uma base forte, solúvel em água. Portanto, o T10H difere formar uma, duas ou três dessas ligações tricêntricas com
dos hidróxidos trivalentes, assemelhando-se aos hidróxidos os íons metálicos. Assim, Be(BH4)2, A1(BH4)3 e Zr(BH4)4 são
do Grupo 1. Quando um elemento puder assumir mais que compostos covalentes e reagem prontamente com a água.
um estado de oxidação, geralmente o hidróxido contendo o Nos compostos de Al e Zr cada grupo [BH4]" utiliza dois de
metal no estado de oxidação inferior tende a ser a base mais seus átomos de hidrogênio para formar duas ligações em
forte. ponte, enquanto que no composto de Be dois dos três grupos
[BH4]~ utilizam três dos seus átomos de hidrogênio para
O acetato e o trifluoroacetato de tálio(III) podem ser
formar ligações em ponte, como mostrado na figura 12.5.
obtidos dissolvendo-se o óxido no ácido apropriado. São
utilizados na síntese de compostos organometálicos de tálio.
TETRA-HIDRETOBORATOS (BORO-HIDRETOS)
Os complexos estáveis contendo o grupo [BH4]‘ são
compostos bem estudados. Eles deveríam ser denominados
tetra-hidretoboratos, embora o antigo nome boro-hidreto
ainda seja muito usado. O íon tetra-hidretoborato, [BH4]’, é
tetraédrico e o sal de sódio, Na[BH4], é o composto mais
importante. É iônico e tem^ estrutura do cloreto de sódio.
Usualmente é preparado a partir do trimetoxiborato,
250‘C, alta pressão
4B(OMe)3 + 4NaH 4Na[BH4] + 3Na[B(OMe)4]
cnmetiloxiboraio lelra-hidroíurano
Figura 12.5 — Estruturas do Al(BH4)3 e do Be(BH4)2 (segundo HJ.
Outros tetra-hidretoboratos podem ser obtidos reagindo- Eneléus e A.G. Sharpe, Modem Aspects of Inorganic Chemistry, 4‘ ed.,
se Na[BH4] com o cloreto do metal apropriado. Os tetra- 1973, Routledge and Kegan Paul)
TRI-HALETOS 193
não podendo ser rigorosamente chamado de catalisador. ligações covalentes, o átomo chega a ter somente seis
elétrons. Os compostos são, portanto, deficientes em elétrons.
C6H6 + C2H5F + BF3-»C6HS • C2Hs + H+ + [BF4]- Os haletos BX3 atingem o octeto pela formação de ligações
2. Atua como catalisador em diversas reações: tt. Os demais elementos do grupo são bem maiores, de modo
que nesses casos não é possível haver o recobrimento efetivo
ácido + álcool —» éster + água dos orbitais para que haja a formação de ligação x. Assim,
benzeno + álcool —» alquilbenzeno + água formam polímeros para atenuar a deficiência de elétrons.
O A1C13 é um importante produto da indústria química.
3. Quantidades consideráveis de BF3 também são usadas
como catalisador de polimerização, na produção de Só nos Estados Unidos, a produção anual é de cerca de 25.000
poliisobutenos (usados para fabricar óleos lubrificantes toneladas. O A1C13 anidro (e em menor grau o AlBr3) é usado
"viscotáticos”), resinas cumarona-indeno, e borrachas como "catalisador" em diversas reações de alquilação e
butadieno-estireno. acilação de Friedel-Crafts. Dessa maneira são fabricadas
grandes quantidades de etilbenzeno, que por sua vez é
Nos Estados Unidos são fabricados anualmente cerca
utilizado na preparação de estireno (a produção de
de 4.000 toneladas de BF3, a partir de B2O3 ou de bórax:
poliestireno foi de 8,2 milhões de toneladas em 1991).
B2O3 + 6HF +3H2SO4 —» 2BF3 + 3H2SO4 ■ H2O
C6H5H + CH3CH2C1 + A1C13->C6HS • CH2CH3 + H + + [ AlCIJ'
Na2[B4O5(OH)4) + 12HF —> [Na2O(BF3)4]
+ 2H,SO,
4BF3 + 2NaHSO„ + H2O Não se trata de uma ação "catalítica” verdadeira, visto
que o A1C13 é consumido na reação, pois a formação de
Todos os haletos de boro são hidrolisados pela água. O [A1C14]‘ ou de [AlBr4]‘ é uma parte essencial da reação. As
BF3 se hidrolisa de modo incompleto e forma fluoroboratos. reações de acilação são semelhantes:
Isso ocorre porque o HF formado inicialmente reage com o
H3BO3. C6H5 H + RCOC1 + A1C13 —> RCOC6H5 + H+ + [AlCIJ’
4BF3 + 12H2O —» 4H3BO3 + 12HF O A1C13 também é empregado para catalisar a reação
12HF + 3H3BO3 —>3H + + 3[BF4]' + 9H2O de obtenção de brometo de etila (utilizado na preparação !
do aditivo de gasolina PbEL,).
4BF3 + 3H2O —» H3BO3 + 3H + + 3[BF4]“
CH2 = CH2 + HBr C2H5Br
Os demais haletos hidrolisam-se completamente,
formando ácido bórico. O A1C13 é ainda utilizado na fabricação de antraquinona
(usado na indústria de corantes), e do dodecilbenzeno (usado
BC13 + 3H2O H3BO3 + 3HC1
na fabricação de detergentes), bem como na isomerização
Os fluoretos de Al, Ga, In e TI são iônicos e apresentam de hidrocarbonetos (indústria do petróleo).
elevados pontos de fusão. Os outros haletos são O T1I3 é um composto pouco comum. Tem a mesma
eminentemente covalentes quando anidros. A1C13, AlBr3 e estrutura (isomorfo) do Csl3 e do NH4I3, os quais contém o
GaCl3 são diméricos, alcançando assim o octeto de elétrons. íon linear triiodeto, I3“. Assim, o metal está presente como
O dímero se mantém estável quando os haletos são TI+, ou seja, no estado de oxidação (+1) e não no estado de
dissolvidos em solventes apoiares, como o benzeno. oxidação (+ III).
Contudo, quando são dissolvidos em água, a elevada entalpia
de hidratação é suficiente para decompor o dímero, formando
os íons [M(H2O)6]3 + e 3X“. A baixas temperaturas, o AIC13 DI-HALETOS
forma um retículo densamente empacotado de íons Cl", onde O boro forma haletos do tipo B2X4. Eles se decompõem
os íons Al3 + ocupam os interstícios octaédricos. Com o lentamente à temperatura ambiente. O B2C14 pode ser obtido
aumento da temperatura, forma-se a espécie dimérica A12C16 como se segue:
e ocorre um grande aumento de volume no sólido. Esse
descarga elétrica
comportamento ilustra o quão próximo do limite entre o 2BC13 + 2Hg -> B2C14 + Hg2Cl2
baixa pressão
comportamento covalente ou iônico, se encontra a ligação
nesse composto. Há livre rotação em torno da ligação B-B, sendo que
Os elementos do Grupo 13 só possuem três elétrons de nos estados gasoso e líquido a molécula assume uma
valência. Quando eles são usados na formação de três conformação não eclipsada. No estado sólido, a molécula é
planar, por causa das forças que atuam sobre as moléculas
no cristal e da facilidade de empacotamento. O gálio e o
índio também formam “di-haletos"
Cl Cl Cl
B—B
XC1 B—B
ci' '>>cl
Cl Cl
Figura 12.7 — Estrutu.^ uo-dímero do AlCl3 Não-eclipsado Plano
H10RETDS QE BORO 195
B(CH2 • CH2R)3 + H2O2 -> 3RCH2CH2OH + H3BO3 O composto B2H6-2NH3 é iônico, sendo constituído
álcool primário pelos íons [H3N->BH2«-NH3]+ e [BH4]'. 0 aquecimento
desse composto leva a formação da borazina.
R R
\h- H2CrO4 \ O nitreto de boro é um sólido branco com baixo
CH=O coeficiente de atrito. Um átomo de B junto com um átomo
/ cetona
r H£rOt
R' de nitrogênio tem o mesmo número de elétrons de valência
de dois átomos de carbono. Assim, o nitreto de boro
(CH3 • CH2)3-B ■» CH3COOH
ácido carboxílico apresenta quase a mesma estrutura da grafita, ou seja, o
(CH3 • CH2)3-B + CO diglime
!-> [(CH3 • CH2)3-CBO]2 sólido é formado por lamelas contendo anéis hexagonais
interligados, constituídos por átomos de B e N alternados.
(CH3 ■ CH243COH
As camadas estão empilhadas umas sobre as outras,
formando uma estrutura lamelar (Fig. 12.10).
») A borazina, B3N3H6 é também conhecido como
1 I •B:
I I I "benzeno inorgânico”, devido a sua semelhança estrutural
^N' com o benzeno, às ligações com elétrons deslocalizados e
I I I ao caráter aromático. Suas propriedades físicas também são
semelhantes.
I I I I I I A borazina e as borazinas substituídas são obtidos como
segue:
I I. I I 3BC13 + 3NH4C1 140 C
•» B3N3H3C13 NaIBHJ
* B3N3H6
Nitreto de boro Grafita'
b)
H H
MeMgBr
I +
H. _H H. B3N3H3(Me)3
N*
I I - I III A borazina forma complexos II como o B3N3H6 ■ Cr(CO)3,
.B^ -B^n<'-b^h
H' n H H' com compostos de metais de transição. A borazina é
I I consideravelmente mais reativa que o benzeno, de modo
H H
Borazina Benzeno que reações de adição podem ser efetuadas com relativa
facilidade:
Figura 12.10 — Semelhança estrutural entre a) nitreto de boto e
grafita; b) borazeno e benzeno B3N3H6 + 3HC1 -> B3N3H9C13
198 OS ELEMENTOS DO BRUPO 13
Cl H H H
\ / \ /
H B— —N H
\ / \ /
N B
/ \
H B— -?< a
/ \
Cl H H H
C2H5 CH2CH2-C2H5
/ /
Al—C2H5 —» Al—C2Hs
\ \
c2hs c2h5
(CH2-CH2)n-C2H5
/
-* Al-(CH2CHJnC2Hs
\
(CH2CH2)nC2Hs
• Wade, K.; Structural and bonding patterns in cluster chem- 14. Qual é o principal minério de alumínio? Como o minério é
istry, Adv. Inorg. Chem. Radiochem., 18, 1-66 (1976). purificado, e como o metal é obtido? Como se chama esse
• Wade, K.; Electron Deficient Compounds, Nelson, London, processo? Qual é a função da criolita nesse processo? Quais
1971. são as aplicações do alumínio?
• Walton, R.A.; Coordination complexes of thallium(III) ha- 15. Com base na posição do alumínio na série eletroquímica,
lides and their behavior in non-aqueous media, Coord. Chem. qual é a sua expectativa em relação à sua estabilidade em
Rev., 6, 1-25 (1971). água? Por que ele é estável ao ar e em água?
• Wiberg, E. e Amberger, E.; Hydrides ofthe Elements ofMain 16. Escreva as equações químicas qúe representam as reações
Groups I-IV, Cap. 5 e 6, Elsevier, Amsterdam, 1971. entre o Al e a) H 4q , b) NaOH, c) N2, d) 02, e) Cl2.
17. Dê dois exemplos de alúmens. Quais são as espécies
presentes em solução, quando esses compostos são
PROBLEMAS dissolvidos em água?
1. 0 primeiro elemento de cada um dos grupos representativos 18. Como é preparado o cloreto de alumínio? Qual é a estrutura
da tabela periódica apresenta propriedades anômalas em do sólido anidro, e da espécie presente em solução aquosa?
relação aos demais elementos do mesmo grupo. Discuta Dê um exemplo de uma reação de Friedel-Crafts onde o
esse fato, focalizando a atenção sobre os elementos Li, Be A1C13 é empregado como catalisador.
eB. Como poderíam ser preparados o LiH4 e o LiAlH4? Para
19.
2. Qual é a principal fonte de boro? Esquematize as etapas que são usados?
de obtenção do boro. 20. Descreva dois métodos diferentes de preparação de Et3Al
3. Desenhe a estrutura da unidade B12 encontrada no sólido e sua aplicação como catalisador na polimerização do
boro. Como se chama essa forma tridimensional? eteno. Compare os produtos formados com aqueles
4. a) Enumere as propriedades que tornam o bórax um padrão descritos no Capítulo 20, na seção sobre o titânio.
primário, e mostre a equação balanceada da reação 21. Compare evidenciando as diferenças entre a química do
utilizado em titulações ácido-base. b) Represente a forma boro e do alumínio.
do íon B03" e explique porque ele apresenta essa estrutura. 22. Discuta os motivos que levam os elementos do Grupo 13 a
5. 0 ácido ortobórico pode ser escrito como H3BO3 ou B(OH)3. formarem compostos trivalentes e monovalentes. Discuta
Como ele se dissocia em água e qual das duas fórmulas é a possibilidade de se formarem compostos divalentes como
a mais útil? Qual é a força desse ácido? Por que o glicerol o GaCl2.
acentua as propriedades ácidas desse composto? Escreva 23. Enumere as principais características sobre a química do
a equação balanceada de uma reação de neutralização com tálio( + I).
ácido bórico.
24. A substância (A) é um sólido deliqüescente, branco
6. Explique sucintamente o que são isopoliácidos, com amarelado, que sublima e nessa forma apresenta uma
referência particular aos boratos. densidade de vapor de 133. (A) reage violentamente com
Apresente um método de preparação do diborano, B2H6. água, formando uma solução (B). A amostra de (B) forma
Por que é denominado composto deficiente em elétrons? um precipitado floculoso branco (C) mediante a adição de
Desenhe a estrutura do diborano, indicando os HNO3 diluído e solução de AgNO3. A adição de uma solução
comprimentos das ligações. O que há de diferente nas diluída de NH4OH provoca a solubilização do sólido (C),
ligações encontradas nesse composto? mas se forma um precipitado gelatinoso, (D), em seu lugar.
8. 0 que ocorre na reação do diborano com a) amônia, b) Este foi filtrado e dissolvido por meio da adição de excesso
tribrometo de boro, e c) trimetilboro? de NaOH, com formação de uma solução límpida (E).
9. Quando CO2 foi borbulhado através de (E), o composto
Descreva a aplicação do diborano em reações de
(D) foi reprecipitado.
hidroboração.
A substância (A) se dissolve em éter seco, sem sofrer
10. Descreva o método de obtenção, a estrutura e os usos do
alterações. A reação dessa solução com LiH pode formar
boro-hidreto de sódio.
os produtos (F) ou (G), respectivamente, dependendo se
11. Compare as estruturas do BF3 gasoso, A1C13 gasoso e A1C13 o LiH se encontra em excesso ou não.
em solução aquosa.
A análise qualitativa da solução (B) forneceu um precipi
12. Explique os seguintes fatos: tado branco gelatinoso, quando o teste específico para os
a) BF3 não apresenta momento dipolar, mas PF3 possui elementos do Grupo 3 foi aplicado. A reação de 0,1333 g
um momento de dipolo considerável. de (A), dissolvido em água, com 8-hidroxiquinolina levou
b) As moléculas de BF3 e BrF3 têm formas diferentes. a formação de 0,4594 g de precipitado.
13. Descreva o método de preparação e desenhe as estruturas Identifique os compostos de (A) a (G) e escreva as equações
dos di-haletos de boro, gálio e índio. químicas de todas as reações citadas acima.
aoa
OS ELEMENTOS
DO GRUPO f4
INTRODUÇÃO
Tabela 13.2 — Abundância dos elementos na crosta
O carbono está onipresente na natureza. É um terrestre, em peso
constituinte essencial de toda a matéria viva, como proteínas,
carboidratos e gorduras. O dióxido de carbono é fundamen Elemento ppm abundância relativa
tal na fotossíntese e é liberado na respiração. A Química
Orgânica se dedica ao estudo da química dos compostos de C 180 17?
carbono. Compostos inorgânicos de carbono produzidos em Si 272.000 2?
larga escala incluem o negro de fumo, coque, grafita, Ge 1,5 54?
Sn 2,1 49?
carbonatos, dióxido de carbono, monóxido de carbono (como 36?
Pb 13
gás combustível), uréia, carbeto de cálcio, cianamida de
cálcio e dissulfeto de carbono. Há um grande interesse em
tomo de compostos organometálicos, carbonilas e complexos OCORRÊNCIA DOS ELEMENTOS
com ligações tt. Com a exceção do germânio, todos os elementos do
A descoberta de que o sílex (S1O2 hidratado) tem uma Grupo 14 são bem conhecidos. O carbono é o 17? e o silício
aresta cortante foi muito importante no desenvolvimento é o 2? elemento mais abundante em peso na crosta terrestre
da tecnologia. Hoje em dia o silício é importante em um (Tab. 13.2). Os minerais de germânio são muito raros,
grande número de produtos fabricados em larga escala. ocorrendo em quantidades ínfimas nos minerais de outros
Podem ser citados o cimento, cerâmicas, argilas, tijolos, vi metais e no carvão, não tendo sido muito estudado. Tanto
dros e os silicones (polímeros). O elemento silício extrema Si como Ge são importantes na fabricação de semicondutores
mente purificado é importante na indústria microeletrônica e transistores. Embora estanho e chumbo sejam relativa
mente pouco abundantes, eles ocorrem na forma de minérios
(transistores e "chips” de computadores).
concentrados de fácil extração, de modo que ambos vêm
O germânio é pouco conhecido, mas estanho e chumbo sendo utilizados desde tempos pré-bíblicos.
são bem conhecidos e foram usados como metais desde antes O carbono ocorre em grandes quantidades, combinado
dos tempos bíblicos. Lâminas de chumbo foram usadas nos com outros elementos e compostos, principalmente como
pisos dos Jardins Suspensos da Babilônia (uma das maravi carvão, petróleo e rochas calcárias como calcita CaCO3,
lhas do mundo antigo) para impedir o vazamento de água. magnesita MgCO3 e dolomita (MgCO3-CaCO3). O carbono
também é encontrado na forma nativa:
Tabela 13.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação são explorados grandes quantidades de
grafite, e quantidades extremamente
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* pequenas (tomando como referência a
massa) de diamantes também são
Carbono C [He] 2?2p2 IV obtidas por mineração. Tanto o C0>
Silício Si [Ne] 3?3p2 (II) IV como o CO são importantes industrial
Germânio Ge [Ar] 3d'° 4? 4p2 II IV mente. CO2 ocorre em pequenas quan
Estanho Sn [Kr] 4d10 5? 5p2 II IV tidades na atmosfera, mas é extre
Chumbo Pb [Xe] tf* 5d'° 6? 6p2 II IV mamente importante, tendo em vista seu
papel central no ciclo do carbono, como
• Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados
em negrito Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo a fotossíntese e a respiração. 0 CO é um
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são mostrados entre parênteses combustível importante, e forma alguns
203
compostos interessantes do grupo das carbonilas metálicas. Os principais produtores de diamantes são a Austrália
0 silício está onipresente na natureza, como sílica SiO2 (areia 41%, Botsuana 16%, Zaire 14%, a URSS 11% e a África do
e quartzo), e numa grande variedade de silicatos e argilas. Sul 10%. A produção mundial de diamantes naturais foi de
0 germânio só é encontrado em quantidades traço em alguns 98.400.000 quilates ou 19,68 toneladas em 1992. Os
minérios de prata e zinco, e em alguns tipos de carvão. O diamantes maiores são lapidados para jóias e seu tamanho
estanho é obtido como o minério cassiterita SnO2, e o chumbo é medido em quilates (Ig = 5 quilates). Cerca de 30% da
é encontrado no minério galena, PbS. produção é utilizada em joalheria e 70% para fins industriais
diversos, principalmente na fabricação de brocas ou
abrasivos para corte e polimento, pois o diamante é muito
OBTENÇÃO E APLICAÇÕES DOS duro (dureza 10 na escala de Mohs — vide Apêndice N). É
ELEMENTOS economicamente viável produzir sinteticamente pequenos
Carbono diamantes de qualidade industrial, tratando-se a grafita a
altas temperaturas e pressões.
0 negro de fumo (fuligem) é produzido em grandes
quantidades (4,5 milhões de toneladas em 1991). Ele é obtido
pela combustão incompleta de hidrocarbonetos provenientes Silício
do gás natural ou do petróleo. Suas partículas são Mais de um milhão de toneladas de silício são
extremamente pequenas. Cerca de 90% são empregados na produzidos anualmente. A maior parte é adicionada ao aço
indústria da borracha, mais especificamente na fabricação para remoção de oxigênio. Isso é importante na fabricação
de pneus. Outro uso importante é na obtenção de tintas de aços ricos em silício, resistentes à corrosão. Para essa
para impressão. finalidade é conveniente usar ferro-silício, ou seja uma liga
O coque é produzido em enormes quantidades (390 de Fe e Si. Foram produzidos 3,5 milhões de toneladas de
milhões de toneladas em 1991). 339 milhões de toneladas ferro-silício, em 1991. É obtido reduzindo-se SiO2 e raspas
íoram obtidas pela carbonização do carvão a altas de ferro com coque.
temperaturas, na ausência de ar, em grandes fornos. 51
milhões de toneladas foram obtidas pela destilação de óleos SiO2 + Fe + 2C FeSi + 2CO
minerais pesados. O coque é de grande importância na O elemento Si é obtido pela redução do SiO2 com coque
metalurgia do ferro e de muitos outros metais. A destilação de alta pureza. Deve-se utilizar um excesso de SiO2 para
do carvão também constitui uma importante fonte de impedir a formação do carbeto, SiC. O Si tem uma cor azul
compostos orgânicos. acinzentada e um brilho quase metálico, mas é um semi
Em 1992 foram extraídas por mineração 930.000 condutor e não um metal. Si de elevada pureza (para a
toneladas de grafite natural (China 59%, Coréia do Sul 17%, indústria de semicondutores) é obtido convertendo-se Si em
URSS 7% e índia 5%). Ele geralmente é encontrado SiCl4, purificando-o por destilação, e reduzindo-se o cloreto
misturado com mica, quartzo e silicatos, constituindo cerca com Mg ou Zn.
de 10% a 60%. O grafite é separado da maioria das impurezas
por flotação. A purificação final é realizada aquecendo-se SiO2 + 2C -» Si + 2CO
com HC1 e HF a vácuo, para remover os últimos vestígios de Si + 2C12 -> SÍCI4
compostos de silício, na forma de SiF4. Depósitos sedi SÍCI4 + 2Mg—>Si + 2MgCl2
mentares de carbono são minerados no México. Supunha-
se que se tratasse de carbono amorfo, mas atualmente A indústria eletrônica necessita de pequenas
admite-se que se trata de grafite microcristalino (finamente quantidades de silício e de germânio extremamente puros
dividida). Praticamente a mesma quantidade de grafite (com quantidade de impurezas inferiores a 1 por 109). Esses
minerada é também obtida artificialmente. materiais são isolantes quando puros, mas tornam-se
semicondutores do tipo-p ou do tipo-n quando “dopados”
3C + SiO2 aquec.
SÍC + 2C0 2S00'C
^(grafite) + $'(g) com um elemento do Grupo 13 ou do Grupo 15, respecti
vamente. São usados para a fabricação de transistores e
0 grafite é utilizado na fabricação de eletrodos, na semicondutores. Si de alta pureza é usado para fabricar
indústria do aço, na fundição de metais, na preparação de “chips" de computadores (vide “Dispositivos semicondutores
cadinhos, como lubrificante e ainda em lápis, lonas de freios microminiaturizados", no Capítulo 3). Para se obter Si e Ge
e escovas para motores elétricos. É também usado como extremamente puros, esses materiais são inicialmente
moderador nos reatores nucleares resfriados a gás, onde ele purificados tanto quanto possível, por exemplo por uma
diminui a velocidade dos nêutrons. cuidadosa destilação fracionada do SiCI4 no caso do silício.
0 carvão ativado é fabricado aquecendo-se ou oxidando- O estágio final de purificação é realizado por um processo
se quimicamente a serragem ou a turfa. A produção mundial denominado “ refino por zona" ou “fusão por zona”. TYata-
foi de 864.200 toneladas em 1991. O carvão ativado tem se de um excelente método para a purificação de pequenas
uma enorme área superficial, sendo usado para alvejar o quantidades de material. Uma barra do elemento, já bastante
açúcar e muitos produtos químicos. É também usado como pura, é colocada num longo tubo de quartzo preenchido
absorvedor de gases venenosos em máscaras contra gases, com um gás inerte. Uma espira de aquecimento funde uma
como filtros no tratamento de águas residuais e como estreita faixa dessa barra. O aquecedor se move lentamente
catalisador em algumas reações. de uma extremidade da barra à outra, fazendo com que Si
eo4 □S ELEMENTOS DO BRUPO 14
puro (ou metal puro) cristalize a partir da massa em fusão. pode ser usado como resistor para aquecer e impedir a
As impurezas são mais solúveis no líquido e são arrastadas deposição de gelo sobre o vidro. São usadas grandes
para as extremidades da barra, que são cortadas e despre quantidades de compostos orgânicos de estanho (estima-se
zadas. Silício próprio para a fabricação de semicondutores em mais de 40.000 toneladas/ano). Compostos como R2SnX2
também pode ser obtido reduzindo-se com sódio o Na2[SiF6). (onde R é um radical alquil como n-octil, e X um resíduo de
Este é um subproduto do processo de fabricação de ácido carboxílico como o laurato) são usados como estabi-
fertilizantes fosfatados a partir da fluoroapatita. lizantes para polímeros halogenados, como o PVC. Sem o
estabilizante, o polímero é degradado com relativa facilidade
Na2[SiF6] + 4Na -» Si + 6NaF pela luz solar, ar ou aquecimento, tornando-se quebradiço e
descorado. O composto contendo o radical butil, Bu2SnX2. é
Germânio usado para curar borrachas e silicone, a temperatura ambien
te. Compostos inorgânicos de estanho são empregados com-o
O germânio pode ser recuperado das cinzas do carvão,
retardantes de chama e supressores de fumaça. Derivados
mas atualmente prefere-se recuperá-lo das poeiras liberadas
triorgânicos, como o Bu3SnOH ou Ph3SnOAc são largamente
no processo de obtenção do metal a partir dos minérios de
usados na agricultura como fungicidas, por exemplo no
zinco. Diversas etapas são necessárias para recuperar o Ge
controle da "ferrugem” da batata (Botrytis infestans), videi
da poeira, concentrá-lo e purificá-lo. Obtém-se GeO2 puro,
ras, arroz e beterraba. Compostos semelhantes matam ácaros
que é reduzido a Ge elementar reagindo-se com H2 a 500
vermelhos que atacam frutas como maçãs e pêras, bem como
°C. Germânio com pureza adequada para a fabricação de
outros insetos e larvas. São também usados no tratamento
transistores é obtido por refino por zona. A produção mundial
da madeira. Foi utilizado na preparação de tintas especiais
foi de cerca de 50 toneladas em 1993 (20% do total dos
para barcos, que dificultam a proliferação de cracas.
Estados Unidos). É utilizado principalmente na confecção
Atualmente estão sendo usados produtos alternativos, pois
de dispositivos a base de semicondutores e transistores. É
há indícios de que o metal pesado Sn já entrou na cadeia
transparente à luz infravermelha e é por isso empregado na
alimentar.
fabricação de prismas, lentes e “janelas” para espectrofo-
tômetros infravermelho e outros equipamentos científicos.
Chumbo
Estanho O principal minério de chumbo é a galena, PbS. Ela é
preta, brilhante e muito densa. Os principais fornecedores
O único minério importante de estanho é a cassiterita,
são URSS 17%, Austrália 14%, Estados Unidos 10%, Canadá
SnO2. Foram minerados 177.000 toneladas (conteúdo de
9% e Peru, México e China 6% cada um. A galena é minerada
metal) em 1992. Os principais fornecedores são atualmente
e depois separada de outros metais por flotação. Há dois
a China 25%, Indonésia 17% e Brasil 15%. O estanho foi
minerado na Comualha, Inglaterra, desde o tempo dos roma métodos para a obtenção do elemento:
nos até o presente século, porém atualmente tais minas são 1. Aquecimento na presença de ar para formar PbO,
economicamente inviáveis. seguido da redução com coque ou CO num alto-forno.
O SnO2 é reduzido ao metal usando carbono, num forno
elétrico a 1.200-1.300 °C. O produto freqüentemente contém 2PbS + 3O2 -> 2PbO + 2SO2 > 2Pb(iiquido) + CO2(gás)
pequenas quantidades de ferro, que tornam o metal mais
2. O PbS é parcialmente oxidado pela passagem de ar
duro. O Fe é removido injetando ar na mistura fundida, para
oxidá-lo a FeO, que então flutua. através do material aquecido. Depois de um tempo o
fornecimento de ar é interrompido mantendo-se o
Os principais usos do estanho são na fabricação da folha aquecimento. Nessas condições ocorre uma reação de
de flandres por eletrodeposição sobre chapas de aço e na auto-redução da mistura.
fabricação de ligas. A folha de flandres é muito utilizado na
fabricação de embalagens para alimentos e bebidas. A liga aquecimento na
mais importante de estanho é a solda (Sn/Pb), mas há muitas 3Pbs presença de ar * PbS + 2PbO
outras, incluindo o bronze (Cu/Sn), "bronze duro” (“gun aquecimento na
metal”) (Cu/Sn/Pb/Zn) e pewter (Sn/Sb/Cu). O SnO2 é ausência de ar -> 3Pb(iíquido) + SOzlgls)
usado na vitrificação de cerâmicas e é freqüentemente
misturado com outros óxidos metálicos para ser usado como O chumbo obtido contém diversas impurezas metálicas:
pigmento para utensílios cerâmicos. SnCl4 e Me2SnCl2 são Cu, Ag, Au, Sn, As, Sb, Bi e Zn. Eles são removidos por
utilizados para a preparação de filmes muito finos de SnO2 resfriamento até próximo do ponto de fusão do chumbo,
sobre superfícies de vidro. Com isso o vidro se torna mais quando solidificam primeiro o Cu e depois o Zn contendo a
resistente, permitindo a fabricação de frascos com paredes maior parte do Au e do Ag. As, Sb e Sn são oxidados antes
mais finas, além de vidros resistentes ao risco (úteis na do Pb a As2O3, Sb2O3 e SnO2, que flutuam na superfície do
fabricação de lentes). Películas um pouco mais espessas são metal fundido, podendo assim ser removidos. A produção
depositadas sobre vidros planos para reduzir as perdas de mundial de chumbo foi de 5,3 milhões de toneladas em 1992.
calor. O filme de SnO2 permite a passagem de luz visível 3,1 milhões foram obtidos a partir de PbS como matéria-
mas reflete a radiação infravermelha, impedindo a fuga de prima. Os principais produtores de minérios de chumbo são
calor do interior das casas. Um filme de SnO2 é aplicado a Austrália 19%, Estados Unidos 13%, Canadá 11 % e China
também nas janelas de aviões. Ele conduz eletricidade e 10%. A reciclagem de raspas de chumbo forneceu outras
ESTRUTURA E ALOTROP1A DOS ELEMENTOS 205
A12(CH3)6 5
B|oC2HioR2 6
Li4(CH3)4 7
[CO8C(CO)18]2- 8
Figura 13.3 — Estrutura do buckminster fulereno
negatividade. Como resultado desses fatores, o primeiro
cidade dentro de uma mesma camada, mas não de uma elemento do grupo apresenta maior energia de ionização,
camada para outra. sendo mais covalente e menos metálico.
A grafite é termodinamicamente mais estável que o Usando a teoria clássica da ligação, o primeiro elemento
diamante, sendo sua energia livre de formação 1,9 kl mol-1 pode formar no máximo quatro ligações covalentes, pois
menor, à temperatura ambiente e pressão normal. Termodina estão disponíveis para formar ligações apenas os orbitais s e
micamente, é favorável a conversão do diamante em grafite. p. Isso limitaria o número de coordenação a 4 nesses
Todavia, isso normalmente não ocorre porque a energia de compostos. A maioria dos compostos de carbono apresenta
ativação do processo é muito grande. Se essa energia de número de coordenação 3 ou 4. Contudo, o conceito de
ativação estiver disponível a transformação ocorre. Por ligações multi-centradas está agora bem fundamentado, e
exemplo, quando brocas contendo diamantes como abrasivo conhecem-se diversos compostos em que o carbono tem
“queimam" forma-se grafite devido ao superaquecimento. números de coordenação maiores, como mostra a Tab. 13.3.
O processo inverso não é termodinamicamente possível,
Além disso, o carbono difere dos outros elementos do
sendo necessárias condições extremas de temperatura e
Grupo 14 em sua capacidade única de formar ligações
pressão para converter grafite em diamante. O grafite pode
múltiplas pn-pn, tais como C = C, C=C, C = O, C = S e ON.
ser convertido em diamantes sintéticos a temperaturas de
Os demais elementos do grupo não formam ligações pit-px,
1.600 °C e pressão de 50.000 a 60.000 atmosferas.
principalmente porque os orbitais atômicos são muito
Quando uma descarga elétrica gera faíscas entre grandes e difusos para permitir uma interação efetiva; mas
eletrodos de grafite é produzido fuligem (uma atmosfera eles podem utilizar orbitais d para formar ligações múltipla s,
inerte de argônio é necessário para evitar a formação de CO particularmente entre Si e N e entre Si e O. Assim, o composto
e CO2). Esta é constituída principalmente por negro de fumo, N(SiH3)3 é plano e contém ligações pn-dn, mas o composto
mas contém quantidades apreciáveis do cluster de carbono N(CH3)3 é piramidal e não contém ligações tt.
Ceo, também denominados buckminster fullereno. Pequenas
O carbono também difere dos demais elementos do
quantidades de outros fullerenos semelhantes, C32, C50, C70,
grupo em sua acentuada capacidade de formar cadeias
C76 e c84 também podem ser produzidas. Os fullerenos são
(catenação). Isso porque as ligações C-C são fortes, e as
extraídos facilmente da mistura de fuligem por dissolução
energias das ligações Si-Si, Ge-Ge e Sn-Sn diminuem
em benzeno ou solventes hidrocarbonetos, produzindo uma
progressivamente. (Tab. 13.4).
solução vermelha de onde é possível obter cristais de colora
ção mostarda. Os diferentes compostos podem ser separados Carbono e silício só possuem elétrons s e p, mas os
por cromatografia. outros elementos seguem uma série completa de elementos
de transição com dez elétrons d. Esperam-se, pois, algumas
Esse isômero do carbono difere do diamante e da grafita
diferenças, e o carbono e o silício diferem não só entre si,
(que forma redes), pelo fato de formar moléculas. A molécula
mas também dos demais elementos do Grupo, enquanto
de Ceo se parece com uma bola de futebol, consistindo de
que germânio, estanho e chumbo variam de maneira
anéis de 5 e 6 membros interligados como na Figura 13.3.
progressiva.
Os fullerenos são compostos covalentes e por isso são
solúveis em solventes orgânicos. Contudo, podem ser
reduzidos eletro-quimicamente e reagem com os metais do Tabela 13.4 — Energias de ligação
grupo 1, formando sólidos como K3C60. Esse composto se
comporta como um supercondutor abaixo de 18 K, o que Ligação Energia de Observações
ligação
significa que transporta corrente elétrica com resistência zero.
(kJ mol-1)
C60 reage com OsO4, formando uma ligação com uma das
duplas da gaiola, e também forma complexos de platina. C-C 348 Forma muitas cadeias de grande
comprimento
Si-Si 297 Forma poucas cadeias, até SisHu
DIFERENÇAS ENTRE O CARBONO, O
no hidretos, e Si16F34, Si6C)4 e
SILÍCIO E OS DEMAIS ELEMENTOS DO Si4Brl0 com os halogênios
GRUPO Ge-Ge 260 Forma poucas cadeias, até Ge6H14
nos hidretos, e Ge2C|6 com cloro
Em geral, o primeiro elemento difere do restante do Sn-Sn 240 Forma o dímero Sn2H6, nos hidretos
Grupo, por causa de seu menor tamanho e maior eletro-
PROPRIEDADES FÍSICAS 207
de carbono no estado fundamental dois elétrons desem- com F2 e I2 por aquecimento, com formação de SnDQ. 0 Pb
parelhados, possibilidade de formar duas ligações covalentes reage com F2 a frio formando PbF2, e com Cl2 a quente,
apenas formando PbCl2.
Is 2s _____ 2p____
Estrutura eletrônica do átomo
de carbono — estado fundamental EU E3 E El I
Dois elétrons desemparelhados,
EFEITO DO PAR INERTE
podem formar somente duas O efeito do par inerte se mostra em caráter crescente
ligações covalentes
nos elementos mais pesados do Grupo. Há um decréscimo
Átomo de carbono —
estado excitado eu e eee
I_ l_______ I
i na estabilidade do estado de oxidação (+ IV) e um aumento
na estabilidade do estado de oxidação (+ II) ao percorrermos
Quatro elétrons desempa
relhados, podem formar o grupo de cima para baixo. 0 Ge( + II) é um forte agente
quatro ligações covalen
tes, resultando uma redutor, enquanto que o Ge( + IV) é estável. 0 Sn( + II) existe
estrutura tetraédrica
na forma de íons simples, que são fortemente redutores,
mas o Sn( + IV) é covalente e estável. O Pb( + II) é iônico,
REATIVIDADE QUÍMICA estável e mais comum do que Pb( + IV), que é oxidante. As
valências menores são mais iônicas porque o raio do íon
Os elementos desse Grupo são relativamente pouco M2+ é maior que o do M4 + , e de acordo com as regras de
reativos, mas a reatividade aumenta de cima para baixo Fajans, quanto menor o íon, maior a tendência à covalência.
dentro do Grupo. O estado de oxidação M11 se torna
sucessivamente mais estável descendo pelo Grupo. O Pb às
vezes parece mais “nobre” (menos reativo) do que seria de POTENCIAIS PADRÃO DE REDUÇÃO
se esperar a partir de seu potencial de eletrodo padrão (VOLT)
de -0,13 volt. A inércia se deve em parte ao revestimento da
superfície por uma camada de óxido, e em parte à elevada Solução ácida Solução básica
sobretensão para a redução de H+ a H2 numa superfície de
Pb. A produção de H2 a partir de H+ num eletrodo de chumbo Estados de oxidação
é cineticamente desfavorável, e requer-se um potencial muito +IV +11______ 0
+IV +11_______ 0
mais elevado que o potencial padrão de redução.
C, Si e Ge não são afetados pela água. Sn reage com Sn4+ *°-15 Sn2+—-0,14
°-14 ■ Sn [Sn(OH))l- =42_ HSnO) =42L Sn
vapor de água para formar SnO2 e H2. O Pb não é afetado PbO2 =tldé_Pb24. ~°-13 Pb PbO2---- ---------- PbO Pb
pela água, provavelmente por causa da formação de uma
camada protetora de óxido.
C, Si e Ge não são afetados por ácidos diluídos. Sn se
dissolve em HN03 diluído, formando Sn(NO3)2. O Pb se dis
COMPOSTOS DE GRAFITE
solve lentamente em HC1 diluído, formando o PbCl2 pouco Na grafite, é grande a distância entre as diversas
solúvel, e se dissolve mais rapidamente em HN03 diluído, camadas: portanto, as ligações entre as camadas são fracas.
formando Pb(NO3)2 e óxidos de nitrogênio. O Pb também Assim, um grande número de substâncias pode invadir o
se dissolve em ácidos orgânicos (por exemplo, acético, cítrico espaço entre as camadas, formando compostos de interca
e oxálico). O Pb não se dissolve em H2SO4 diluído, porque lação de composição variada. Quando o espaço entre as
se forma uma película protetora de PbSO4. camadas for ocupado por átomos, moléculas ou íons, eles
O diamante não é afetado por ácidos concentrados, mas provocam aumento da distância entre estas camadas. Desde
o grafite reage com HN03 concentrado à quente, formando que as camadas permaneçam planas, o novo composto
ácido melítico, e com uma mistura de HF e HN03 concen mantém um caráter semelhante ao do grafite: os elétrons x
trados a quente, formando óxido de grafite. O Si é oxidado e continuam deslocalizados sobre toda a camada, retendo a
fluoretado por HF/HNO3 concentrados. O Ge se dissolve capacidade de conduzir a corrente elétrica. Se os átomos
lentamente em H2SO4 concentrado e quente e em HN03. 0 invasores adicionarem elétrons ao sistema n, a condutividade
Sn se dissolve em diversos ácidos concentrados. O Pb não elétrica aumentará. Reações desse tipo (ou seja, reações de
se dissolve em HC1 concentrado porque se forma uma intercalação) são freqüentemente reversíveis.
película protetora de PbCl2. Quando a grafite é aquecida a cerca de 300 °C com
C não é afetado por álcalis. Si reage lentamente a frio vapores dos metais mais pesados do Grupo 1, K, Rb eCs,
com soluções aquosas de NaOH, reagindo rapidamente à ela absorve o metal, formando um composto de cor bronze
quente, com formação de soluções de silicatos, [SiO4]4". Sn de fórmula CeM. A cor de bronze se deve à formação de
e Pb são atacados lentamente por álcalis a frio, e rapidamente agregados de átomos metálicos nessas concentrações de
por álcalis a quente, formando estanatos Na2[Sn(OH)6] e metal relativamente elevadas, da mesma maneira como se
plumbatos Na2[Pb(OH)6]. Sn e Pb são, portanto, anfóteros. formam agregados em soluções destes metais em amônia
O diamante não reage com os halogênios, mas o grafite líquida. Se o C8M for aquecido a 350 °C sob pressão reduzida,
reage com F2 a 500 °C, formando compostos de intercalação ocorre a perda de metal, formando-se uma série de compostos
ou fluoreto de grafita (CF)n. Si e Ge reagem facilmente com de intercalação, variando de uma coloração cinza azulada, a
todos os halogênios, formando haletos voláteis SiX4 e GeX4. azul ou preto, dependendo do número de camadas ocupadas
Sn e Pb são menos reativos. Sn reage com Cl2 e Br2 a frio, e pelo metal (verTab. 13.6).
COMPOSTOS OE 6RAFITE 209
(exceto H3PO4), mas reage com NaOH e ar, e com Cl2 a 3. Gás de iluminação: uma mistura de CO, H2, CH4 e CO2,
100 °C. produzida nos gasômetros por destilação de carvão, e
armazenada em grandes reservatórios. O gás de ilumi
SiC + 2NaOH + 2O2 -> Na2SiO3 + CO2 + H2O nação era distribuído e utilizado como gás de cozinha
SiC + 2C12 SiCl4 e para aquecimento, nas grandes cidades. Na Inglaterra,
foi substituído pelo gás natural (CH4), mas em alguns
SiC geralmente tem cor púrpura escura, preta ou verde países ainda continua sendo utilizado.
escura, devido a pequenas quantidades de ferro e outras
impurezas, mas amostras puras são amarelo pálidas ou O "gás d’água" é obtido pela passagem de vapor de
incolores. O SiC apresenta uma estrutura tridimensional de água sobre coque aquecido ao rubro.
átomos de Si e C, sendo cada átomo rodeado tetraedricmente
por quatro átomos do outro tipo. Há um grande número de C + H2O aquec. ao njbro > CO + H2 (gás d’água)
Tabela 13.7 — Carbonilas metálicas binárias formadas pelos um "ligante ponte” entre dois átomos metálicos, por exemple
elementos da primeira serie de transição no nonacarboniidiferro(O), Fe2(CO)9 (Fig. 13.5). OCOpodt
estabilizar agregados metálicos, onde o C forma ligaçõe
Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn multicêntricas com três átomos do metal, e os orbitais n' <fc
CO podem estar formando ligações com outros átomo:
W Ci(CO)6 MnXCO),,, Fe(CO)s Co^CO), Ni(CO)4 metálicos.
fc/CO), Co4(CO)u O monóxido de carbono é bastante reativo, combinan
FqlCOhAlCO)» do-se facilmente com O, S e os halogênios F, Cl e Br.
Cl nh2
fase gasosa
:C:O: ou C=0 C=0 + 2NH3 C=0 + 2HC1
Cl NH2
uréia
A descrição mais precisa é aquela baseada na teoria
dos orbitais moleculares (vide Capítulo 4).
0 cloreto de carbonila (fosgênio) é extremamente tóxico
tt*2p” e foi usado na Primeira Guerra Mundial como gás dt
ols2, cr ' ls2, cr2s2, cr • 2s2, 7l2.P2’a2P2r’a''2P°- combate. Atualmente é fabricado em grandes quantidade:
tt ♦ 2p°
para a obtenção de diisocianato de tolileno, um intermediári:
energia crescente
na fabricação de polímeros do tipo das poliuretanas.
A ligação carbono-metal nos complexos carbonílicos
pode ser considerada como sendo resultante da doação de
Dióxido de carbono, CO2
um par de elétrons do carbono para o metal, M«—0=0. Essa
ligação a original é fraca. Uma segunda ligação, mais forte, O C02 é um gás incolor e inodoro. Trata-se de um do;
é formada por retrodoação (“back bonding"), também principais produtos da indústria química, cuja produção sc
denominada ligação n dativa. Ela decorre da sobreposição nos Estados Unidos ultrapassa 5,3 milhões de toneladas;
lateral de um orbital dxy preenchido do metal com um or ano e 10 milhões de toneladas/ano no mundo, em 1993. f
bital antiligante vazio tt* 2py do carbono, formando assim fonte industrial mais importante de CO2 é como subprodut:
uma ligação tt M—>C. Logo, a ligação formada é do tipo do processo de obtenção do hidrogênio, necessário para t
M = C = 0. O preenchimento total ou parcial do orbital síntese de NH3.
antiligante do carbono diminui a ordem de ligação da ligação
tripla no OO para uma ligação dupla. Isso se reflete num
aumento do comprimento da ligação C-0 de 1,128 A no CO
para cerca de 1,15 A em muitas carbonilas metálicas.
O CO é o ligante organometálico mais estudado. Por
causa da retrodoação (“back bonding") ele é às vezes
chamado de ligante receptor tt. O deslocamento de densidade
eletrônica tt de M para C torna o ligante mais negativo, o
que por sua vez reforça o caráter doador a . Por causa disso
c= o C =0 :C=0
o CO forma ligações fracas com ácidos de Lewis (receptores
de pares de elétrons), tais como o BF3, pois nesse caso é
formado apenas uma ligação o. Por outro lado, o CO se liga
fortemente a metais de transição capazes de formar tanto
ligações o como tt. Outros ligantes receptores tt são o CN~,
RNC e NO +. Comparando esses ligantes entre si, a força das
ligações a varia na ordem CN" > RNC > CO > N0 + ,
enquanto que a propriedade n-receptora varia na ordem
inversa.
0 CO é um ligante muito versátil. Ele pode atuar como Figura 13.S — A estrutura do Fe?(CO)9
COMPOSTOS CONTENDO OXIGÊNIO 213
0 C02 gasoso pode ser liquefeito sob pressão a tempe O CO2 também pode atuar como ligante, formando
raturas entre -57 °C e +31 °C. Cerca de 80% é comercializa alguns poucos complexos, tais como [Rh(CO2)Cl(PR3)3] e
do na forma líquida, e 20% na forma sólida. O sólido é [Co(CO2)(PPh3)3]. No primeiro o átomo de C do CO2 está
obtido como uma neve branca por expansão do gás compri ligado ao metal. No segundo complexo o CO2 atua como
mido em cilindros (a expansão provoca resfriamento). Essa ligante bidentado, com um C e um O ligados ao metal, sendo
neve é compactada em blocos e vendida. O CO2 sublima a molécula de CO2 angular.
diretamente para o estado gasoso (sem passar pela fase A estrutura do CO2 é linear, O-C-O. As duas ligações
líquida) à temperatura de -78 °C, à pressão atmosférica. C-O tem o mesmo comprimento. Além das ligações a exis
Mais da metade do CO2 produzido é usada como refrigerante. tentes entre C e O, há uma ligação tt tricêntrica com quatro
0 C02 sólido é conhecido como “gelo seco” e é usado para elétrons envolvendo os três átomos. Isso equivale a mais
congelar carnes, alimentos e sorvetes, e no laboratório é uti duas ligações tt, além das duas ligações a. A ordem de ligação
lizado como agente refrigerante. Mais de um quarto da da ligação C-O é, portanto, dois. Veja uma descrição mais
produção encontra emprego na carbonatação de bebidas detalhada no Capítulo 4.
(refrigerantes, cerveja, etc). Podem ser citados também a
Do ponto de vista biológico, é importante na fotossínte-
fabricação de uréia, o emprego como atmosfera inerte, e a
se, processo pelo qual as plantas verdes sintetizam glicose a
neutralização de álcalis. Mais de 35 milhões de toneladas
partir de CO2. Em última análise, toda a vida animal e vege
de uréia foram produzidas mundialmente, em 1991 (a uréia
tal depende desse processo.
é o fertilizante nitrogenado mais usado, além de ser usado
na fabricação de resinas uréia-formaldeído). luz solar
6CO2 + 6H,O + C6H]2O6+6O2
glicose
180‘C, pressão
CO2+2NH3 + NH4CO2NH2 -+CO(NH2)2 + H2O A reação inversa ocorre durante o processo da res
carbamato uréia
de amônio piração, pelo qual os animais e plantas produzem energia.
■314 OS ELEMENTOS DO BRUPO 14
C6H12O6 + 6O2 —» 6CO2 + 6H2O + energia amônio, (NH4)2CO3 e os carbonatos do Grupo 1, exceto o
Li2CO3 (pouco solúvel), são muito solúveis em água. O
Subóxidos de carbono T12CO3 é moderadamente solúvel, mas os demais carbonato»
dos elementos do Grupo 13 são pouco solúveis ou insolúveis-
O subóxido de carbono, C3O2, é um gás de cheiro
Todos os carbonatos reagem com ácido, formando C02.
desagradável, com ponto de ebulição de 6 °C. É preparado
pela desidratação do ácido malônico com P4O10. Na2CO3 + 2HC1 -> 2NaCI + CO2 + H20
HOOC■ CH, ■ COOH —W150'c > O = C = C = C“O + 2H2O
ácido malônico Os carbonatos do Grupo 1 são estáveis ao calor e funderr.
sem sofrer decomposição. Todos os carbonatos dos elemento»
O composto é estável a -78 °C, e a molécula é linear. A
do Grupo 2 se decompõem se o aquecimento for suficien
temperatura ambiente o gás sofre uma reação de polime-
temente forte, sendo que suas estabilidades aumentam á
rização, formando um sólido amarelo. A temperaturas mais
medida que aumenta o tamanho do íon metálico. A maioria
elevadas, o sólido se torna vermelho e depois púrpura. O
dos demais carbonatos se decompõe facilmente.
óxido reage com água formando ácido malônico, e também
reage com HC1 e NH3, como mostrado abaixo: aquec.
CaCO3 CaO + CO2
C3O2 + 2HC1 —» CH2(COC1)2 (um cloreto de acila)
C3O2 + 2NH3 —» CH2(CONH2)2 (uma diamida) Temperatura de decomposição
BeCO3 MgCO3 CaCO3 SrCO3 BaCOj
Há relatos contraditórios dizendo que o CSO2 é formado
< 100 °C 540 °C 900 °C 1290 °C 1360 °C
na termólise do C3O2. Além dos subóxidos mencionados
acima, o único estável é o C12O9. Este sólido branco é o Os únicos bicarbonatos sólidos conhecidos são os dos
anidrido do ácido melítico, C6(COOH)6. metais do Grupo 1 e o de amônio, NH4’. São sólidos incolores,
um pouco menos solúveis que os correspondentes carbo
CARBONATOS natos. Eles se decompõem facilmente mediante aqueci
mento. As estruturas cristalinas desses compostos são
Há duas séries de sais derivados do ácido carbônico, constituídas por cadeias poliméricas de grupos HCOJ,
H2CO3: os carbonatos, CO3’, e os hidrogenocarbonatos ou mantidas por ligações de hidrogênio.
bicarbonatos, HCO3‘. O íon CO3’ é planar. O íon CO^’ não
existe, embora o íon SiO4" seja estável. O motivo deve ser o
pequeno tamanho do C. Essa situação é análoga à da O CICLO DO CARBONO
formação do NO3’ e do PO4_ no Grupo 15. A estrutura Embora o carbono seja o décimo sétimo elemento mais
eletrônica do íon CO3~ pode ser representada como se segue: abundante na crosta terrestre, totalizando cerca de 2xl0k
Um orbital é usado para
toneladas, a maior parte se encontra na forma de carvão,
formar uma ligação k petróleo e diversos carbonatos (calcário e dolomita), ou seja,
1s 2s 2p encontram-se numa forma imobilizada.
Configuração eletrônica do
Carbono após compartilhar [u] |TT| |u|ti(|t;|) Em contraste, há um ciclo rápido na atmosfera
elétrons formando 4 ligações envolvendo CO2, compostos de carbono em organismos vi
Três orbitais formam ligações vos e CO2 dissolvido nos oceanos, além de um ciclo mais
o: portanto, a molécula é tri-
gonal plana (hibridização sp2) lento envolvendo os minerais carbonatados formados no
As ligações rc nos íons CO3“ podem ser melhor descritas fundo dos oceanos. Existe um equilíbrio entre eles. A pro
por meio de orbitais moleculares n deslocalizados, envol porção de CO2 na atmosfera é de aproximadamente 0,046%
vendo os quatro átomos (vide Capítulo 4). em peso, e 0,031 % em volume. Embora seja uma percen
tagem relativamente pequena, corresponde a 2.500 bilhões
Muitos carbonatos de fórmula MhCO3 adotam a mesma
de toneladas (2.500xl09 toneladas), e é essencial à vida.
estrutura cristalina da calcita, mas outros apresentam a
estrutura da aragonita. A estrutura assumida depende do A fotossíntese efetuada pelas partes verdes das plantas
tamanho dos íons metálicos. e por algumas algas marrons e azuis remove por ano cerca
de 360 bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera — cerca
Mn2’Mg2’Co2’ Zn2’ Fe2’ Cd2’| Ca2’|Sr2’ Pb2’ Ba2’ de 15%. O produto formado é o carboidrato glicose. Este
0,67 0,72 0,74 0,74 0,78 0,97 I 1,00 11,18 1,21 1,35 pode ser usado pelas plantas na respiração com liberaçãc
■4 — estrutura da calcita----------------------------- ► de energia, ou então incorporado às células das plantas. As
H------- estrutura da aragonita------ ►
plantas são ingeridas pelos animais, e utilizadas para arespi
Alguns carbonatos são produzidos em quantidades ração ou produção das células dos animais. Eventualmente
muito grandes: 31,5 milhões de toneladas/ano de Na2CO3, a mesma quantidade de CO2 fixado é devolvida à atmosfera
900.000 toneladas/ano de NaHCO3, e 50.000 toneladas/ano pela respiração de plantas e animais ou pela putrefação d<
de Li2CO3 (vide Capítulos 9 e 10). restos de animais e plantas.
O íon carbonato é incolor e portanto os carbonatos dos A combustão de combustíveis fósseis, principalmentí
metais dos Grupos 1 e 2 são brancos. Embora os sais de carvão, petróleo e gás natural, e as queimadas em floresta:
Ag’ sejam-tipicamente brancos, Ag2CO3 é amarelo, por causa tropicais, liberam anualmente cerca de 25 bilhões d<
do efeito fortemente polarizante do Ag’. O carbonato de toneladas de CO2 na atmosfera (a produção de carvão eir
SULFETOS 215
1992 foi de 4.545 milhões de toneladas; de petróleo 3.034 da acidez poderá dissolver as conchas dos moluscos e de
milhões de toneladas, de gás natural 2.1X1012 m3). Quan outros seres marinhos, levando-os a extinção. Tratam-se de
tidades significativas de CO2 são liberadas pela decomposição hipóteses, já que no caso de ocorrer um aquecimento glo
térmica de calcário, na fabricação de cal para a indústria do bal, a solubilidade do CO2 na água do mar irá também
cimento. A produção de cal em 1992 foi de 127,9 milhões de diminuir. Contudo, um aumento da concentração de CO2
toneladas, o que corresponde ao desprendimento de cerca nas águas superficiais poderia levar a um aumento da
de 100 milhões de toneladas de CO2. população de plânctons — pequenas plantas marinhas que
usam o CO2 para a fotossíntese.
Caco3 CaO + CO2
coj- + CO2 + H2O 2HCOj
Calcula-se que em 1992 os EUA foram responsáveis pela Os sedimentos de silicato no fundo dos oceanos exercem
emissão de cerca de 1,2 bilhão de toneladas de CO2 na um papel importante na manutenção da composição e do
atmosfera; a ex-URSS por cerca de 1 bilhão de toneladas e a pH da água. Um aumento do pH é compensado pela dis
Europa Ocidental por 0,8 bilhão de toneladas. Se todo esse solução de certos minerais e a precipitação de outros. Assim
CO2 permanecer na atmosfera, estima-se que sua silicatos podem converter-se em carbonatos e SiO2. Se
concentração duplicará até o ano 2.020. Com o uso crescente subseqüentemente o pH variar no sentido inverso, esses
de combustíveis fósseis, essa concentração poderá ser processos serão revertidos.
alcançada bem antes dessa data. A polêmica criada pelo “efeito estufa” é um indicativo
As moléculas de CO2 absorvem fortemente na região da quantidade insuficiente de evidências, das incertezas e
do infravermelho e sua presença na atmosfera diminui a da longa escala de tempo envolvidas no problema do
perda de calor da Terra por irradiação. Esse aquecimento aquecimento global. Na opinião do autor, é prudente iniciar
global é denominado “efeito estufa” (outros gases como os programas no sentido de conservar energia, melhorar a
óxidos de nitrogênio provenientes dos gases de escape dos eficiência e reduzir desperdícios, já que não há nenhuma
carros, os freons dos aerossóis e refrigeradores e o metano tecnologia alternativa viável que permita substituir os
produzido por bactérias do solo e pelo rúmen dos animais combustíveis fósseis. A única fonte de energia alternativa
ruminantes também contribuem para o efeito estufa.). A em larga escala a considerar é a nuclear, mas no momento
magnitude desse efeito e até mesmo sua existência ou não, muitos consideram essa alternativa inaceitável. Muita pesqui
são objeto de controvérsias. A concentração do CO2 sa ainda é necessária para tornar o hidrogênio uma fonte de
atmosférico aumentou em 10% desde 1958, e as medidas energia economicamente viável. Além disso, o aproveita
realizadas em amostras de geleiras indicam que ela é cerca mento da energia solar, dos ventos e das marés podem, na
melhor das hipóteses, suprir necessidades locais de energia,
de 25% maior que antes da Revolução Industrial. Isso
ficando muito aquém das necessidades globais de energia.
corresponde a cerca da metade do CO2 produzido pela
queima de combustíveis fósseis, tendo sido a outra metade
absorvida pelos oceanos. Um estudo das Nações Unidas SULFETOS
sugere que, se nada for feito, a temperatura média da Terra O dissulfeto de carbono, CS2, é o mais importante dos
aumentará em 2,5 °C nos próximos 30 anos. Este é um valor sulfetos de carbono. Trata-se de um líquido incolor e volátil,
médio que pode variar de 2 graus no equador a 4 graus nos P.E. 46 °C, que deve ser manuseado com muito cuidado,
pólos. Esse fato poderia ter conseqüências dramáticas sobre pois é muito inflamável, tem ponto de inflamabilidade muito
0 clima. Algumas áreas férteis, como o "grain belt” (cinturão baixo (“flash-point" = 30 °C) e sofre ignição espontanea
dos cereais) dos EUA, tornar-se-iam desérticas. O aumento mente a 100 °C. Além disso, é muito venenoso e ataca o
da temperatura provocaria um aumento da velocidade de cérebro e o sistema nervoso central. Amostras puras têm
evaporação da água e, por conseguinte, mais chuva, odor semelhante ao do éter, mas certas impurezas orgânicas
inundações e tempestades tropicais em certas regiões da freqüentemente lhe comunicam um odor extremamente
planeta. Além disso, o degelo de parte das calotas polares desagradável. É um produto químico de interesse industrial,
associado com a expansão térmica da água dos oceanos tendo sido de 280.400 toneladas, a produção mundial em
inundaria vastas áreas de terra. 1991. Era obtido aquecendo-se carvão e vapor de enxofre a
Não se sabe com certeza, contudo, se essas transfor cerca de 850 °C. Atualmente é produzido principalmente
mações catastróficas realmente ocorrerão. Deve-se enfatizar por meio de uma reação em fase gasosa entre gás natural e
que 0 esperado aumento de temperatura, em conseqüência enxofre, catalisada por A12O3 ou sílica-gel.
dos gases responsáveis pelo "efeito estufa”, deve se estender CH4 + 4S ■ 6Q0'C
CS2 + 2H2S
por um longo período de tempo. Além disso, na natureza,
uma variação na biosfera é geralmente equilibrada por outra O CS2 é utilizado principalmente:
transformação de efeito contrário. A reação dos sistemas 1. Na fabricação de viscose (seda artificial) e celofane. O
biológicos e de outros sistemas podem influenciar a evolução CS2 reage com a celulose e NaOH formando ditiocarbo-
das concentrações dos gases responsáveis pelo efeito estufa. nato de celulose e sódio (xantato de celulose).
Uma quantidade maior de CO2 na atmosfera pode favorecer
0 crescimento das plantas, que o fixarão. Uma floresta inteira celulose—O
\
pode se desenvolver em 30 anos. O pH das águas dos mares CS2 + celulose—OH + NaOH C=S
deverá diminuir, pois grandes quantidades de CO2 se /
NaS
dissolvem nas mesmas. Num caso extremo, esse aumento xantato de celulose
eis □S ELEMENTOS □□ BRUPO 14
O xantato é então dissolvido numa solução alcalina temperaturas. A mais comum dessas formas é de longe o a-
aquosa para formar uma solução viscosa chamada de quartzo, que é um dos principais componentes do graniioe
"viscose”. Por acidificação, a "viscose” é reconvertida do arenito. O SiO2 puro é incolor, mas pequenas quantidades
em celulose na forma de fibras (raiom ou “lã de de outros metais podem comunicar-lhe cor, produzindo
celulose"), ou de uma película fina (celofane). pedras semipreciosas como a ametista (violeta), o quartzo
2. Na produção de CC14 (vide mais adiante o item rosa (cor de rosa), o quartzo enfumaçado (marrom), o
“Haletos”). quartzo citrino (amarelo), e materiais não preciosos como a
3. Na vulcanização a frio da borracha; são usadas pederneira (às vezes preta por causa da presença de C), a
quantidades menores para dissolver o S. ágata e o ônix (rajado).
CS2 reage com NaOH aquoso, formando uma mistura
formas à baixa temperatura
de carbonato de sódio e tritiocarbonato de sódio:
a-quartzo a—tridimita a—cristobalita
3CS2 + ÓNaOH Na2CO3 + 2Na2CS3 + 3H2O
5Z3’C 2M-2ZS’C
O CS2 é uma molécula linear com estrutura semelhante Em todas essas formas, o silício é rodeado tetraedri-
a do CO2. O CS2 forma complexos com mais facilidade que camente por quatro átomos de O. Cada vértice é compar
o CO2. O complexo [Pt(CS2)(PPh3)3] é estruturalmente tilhado com outro tetraedro, formando um arranjo infinito.
semelhante ao [Co(CO2)(PPh3)3]. O CS2 atua como ligante A diferença entre elas está nas diferentes maneiras em que
bidentado, ligando-se ao metal através de um átomo de C e as unidades de SiO4 estão ligadas umas nas outras. 0 a-
um átomo de S. Nesse caso a molécula de CS2 passa a ter quartzo é a forma mais estável à temperatura ambiente, onde
estrutura angular. Os átomos de enxofre podem ligar-se a os tetraedros formam cadeias helicoidais ligadas entre si.
outros átomos metálicos, originando complexos mais Como as hélices podem ter rotação para a esquerda ou para
complicados. As ligações não podem ser explicadas a direita, elas não são sobreponíveis, podendo existir na
utilizando as ligações localizadas clássicas. formas dos isòmeros ópticos d e l. Os cristais podem ser
separados manualmente. Na cristobalita os átomos de Si
A radiação solar pode provocar a decomposição do CS2 têm o mesmo arranjo que os átomos de C no diamante,
a CS, por isso deve ser armazenado em frascos escuros. A sendo que os átomos de O se encontram a meio-caminho
passagem de uma descarga elétrica de alta freqüência pelo entre eles. A relação que existe entre tridimita e cristobalita
vapor também pode provocar a decomposição do CS2 a CS. é a mesma que existe entre a wurtzita e a blenda. Aquecendo-
Este é um radical altamente reativo, mesmo à temperatura se qualquer uma das formas sólidas do SiO2 ao seu ponto de
do ar líquido, sendo quimicamente bem diferente do CO. A amolecimento, ou esfriando-se lentamente o SiO2 fundido,
passagem de CS2 por um arco voltaico fornece C3S2, um obtém-se um sólido vítreo. Este é amorfo e contém uma
líquido vermelho que se polimeriza lentamente (como o mistura desordenada de anéis, cadeias e unidades tridimen
C3O2). Supõe-se que sua estrutura seja S = C = C = C = S. sionais.
A sílica, em qualquer forma, é muito pouco reativa. É
OS ÓXIDOS DE SILÍCIO um óxido ácido e, portanto, não reage com ácidos. Contudo,
Dois óxidos de silício são conhecidos: SiO e SiO2. Supõe- reage com HF formando tetrafluoreto de silício, SiF4. Essa
se que o monóxido de silício se forme na redução de SiO2 reação é usada em análise qualitativa para detectar a presença
com Si, a altas temperaturas, mas há dúvidas sobre sua de silicatos: o SiF4 é hidrolisado a ácido silícico quando entra
existência à temperatura ambiente. em contato com uma gota d’água, formando um sólido
branco que flutua na superfície da mesma.
SiO2 + Si 2SÍ0
+ SiO, + Hp HF+Si(OH)4oa
O dióxido de silício, SiO2, é comumente chamado de H2SO4+CaF2-> HF ->SiF4+H2O
SíO2-2H2O
sílica, e é muito abundante na forma de areia e quartzo. Os
elementos do Grupo 14 geralmente formam quatro ligações. SiO2 é um óxido ácido: dissolve-se lentamente numa
O carbono pode formar ligações prt-ptc, de modo que o CO2 solução aquosa alcalina, e mais rapidamente em álcalis
é um gás constituído por moléculas discretas. O silício não (MOH) ou carbonatos (M2CO3) fundidos, formando silicatos.
pode formar ligações duplas da mesma maneira, usando
orbitais pn-pn (atualmente são conhecidos diversos SiO2 + NaOH -> (Na2SiO3)n e Na4SiO4
compostos de silício que contém ligações pn-pn, nos quais
Essa reação explica porque as tampas de vidro esmeri-
o átomo de silício aparentemente usa orbitais d para formar
Ihado ficam aderidas nos frascos contendo soluções de
as ligações). O SiO2 forma, portanto, uma estrutura tridi
NaOH. Dentre os halogênios, somente o flúor ataca o SiO».
mensional infinita, sendo o SiO2 um sólido de elevado ponto
de fusão. Existem pelo menos 12 formas diferentes de SiO2. SiO2 + 2F2 -> SiF4 + O2
As principais são o quartzo, a tridimita e a cristobalita, cada
uma das quais tem uma estrutura diferente a altas e baixas O quartzo é um importante material piezoelétrico,
SILICATOS B17
utilizado em agulhas de toca-discos, nos osciladores em Os óxidos inferiores GeO, SnO e PbO apresentam
receptores de rádio e computadores, para fabricar acende estruturas lamelares em vez das estruturas iônicas típicas.
dores de cigarros e fogões (do tipo “Magiclik”). Quartzo São ligeiramente mais básicos e iônicos que os corres
natural de elevada pureza não é encontrado em quantidade pondentes óxidos superiores. GeO é caracteristicamente
suficiente para suprir a demanda. Por isso, uma grande ácido, enquanto que SnO e PbO são anfóteros e se dissolvem
quantidade é sintetizada a partir do crescimento hidrotérmico tanto em ácidos com em bases. O aumento da estabilidade
de cristais semeados em NaOH aquoso ou sílica vítrea a 400 das espécies no estado de oxidação mais baixo, à medida
°C, sob pressão. que se desce no grupo, é ilustrado pelo fato de Ge11 e Sn11
A sílica vítrea tem baixo coeficiente de expansão serem agentes redutores bastante fortes, enquanto que o
térmica, é resistente ao choque e muito transparente à luz Pb" é estável.
visível e ultravioleta. Assim, é utilizada na manufatura de O PbO é comercialmente importante, podendo se
vidrarias de laboratório, em componentes ópticos tais como apresentar na forma de uma variedade vermelha chamada
lentes e prismas, e cubetas para espectrofotômetros UV- litargírio ou amarela conhecida como massicote. O litargírio
visível. é usado em grandes quantidades na fabricação do vidro
A sílica-gel é amorfa e muito porosa. Eia é obtida por “cristal” e para vitrificar objetos cerâmicos. A produção
desidratação do ácido silícico e pode conter até cerca de 4% mundial é de cerca de 250.000 toneladas/ano. O “óxido
de água. É muito usada como agente secante, como negro” de chumbo é uma mistura de PbO e Pb, sendo usado
catalisador e em cromatografia. O mineral opala, que é usado em grande escala na fabricação de placas de chumbo de
como pedra preciosa branca ou perolada, é sílica-gel amorfa. acumuladores e baterias de automóveis. O ânodo é oxidado
0 início da formação de estruturas ordenadas pode ser a PbO2 enquanto o cátodo é reduzido a Pb esponjoso. Cerca
observado em vários minerais, muitos dos quais são cortados de 700.000 toneladas/ano são usadas mundialmente.
e lapidados para uso como pedras semipreciosas: O chumbo também forma o óxido misto Pb3O4. É
ágata (frequentemente rajada) conhecido como “chumbo vermelho" e pode ser representado
como 2PbOPbO2, indicando claramente que contém Pb(II)
ônix (pode conter listras brancas e pretas) e Pb (IV). O Pb3O4 é usado em tintas para prevenir a formação
cornalina (amarelo ou vermelho) de ferrugem no ferro e aço. É usado ainda para colorir e
heliotrópio(verde com manchas vermelhas) vulcanizar plásticos e borracha sintética. Quantidades
jaspe (geralmente vermelho ou marron, mas às menores são utilizadas na fabricação de vidro e cerâmica. A
vezes verde, azul ou amarelo) produção mundial é de cerca de 18.000 toneladas/ano.
pederneira (incolor, ou preto se carbono estiver O PbO2 é usado como agente oxidante forte, sendo pro
presente) duzido “in situ" nas baterias de chumbo.
SiOj- íon
0=0
• = Si
Figura 13.10 — Estruturas de várias cadeias isoladas Figura 13.12 — Estrutura de várias cadeias duplas
hexagonais verde pálidos. A esmeralda tem a mesma fórmula Os anfibólios mais numerosos e melhor estudados são
do berilo, mas contém de 1 a 2% de Cr, responsável por sua os minerais da família dos asbestos. Eles são constituídos
coloração verde mais intensa. por unidades (Si4O11)nSn'. Nessa estrutura (Fig. 13.12) alguns
tetraedros compartilham dois, enquanto outros compartilltan
três vértices. Podem ser citados a tremolita, Ca2Mgs[(Si4O1|JJ
Silicatos em cadeia
(0H)2, e a crocidolita, Na2Fell3Fe,II2[(SÍ40n)2](OH)2. Os
Silicatos com cadeias simples, os piroxênios, são anfibólios sempre contêm grupos hidroxila, que estão ligados
formados pelo compartilhamento dos átomos de oxigênio aos íons metálicos.
de dois vértices de cada tetraedro com outros tetraedros.
As ligações Si-O nas cadeias são fortes e direcionais.
Isso leva à fórmula (SiO3)n2n’ (vide Fig. 13.10 e 13.11). Diver
Cadeias adjacentes são mantidas unidas pelos íons metálicos
sos minerais importantes são constituídos por cadeias de
presentes. Por isso, os piroxênios e os anfibólios podem ser
silicatos, com várias estruturas diferentes. Dependendo da
facilmente clivados na direção paralela às cadeias, formando
disposição dos tetraedros no espaço, o tamanho das unidades
fibras. Por esse motivo eles são chamados de minerais
repetitivas ao longo da cadeia pode variar, alterando a
fibrosos. O ângulo de divagem para os piroxênios é de 89',
estrutura do silicato. O arranjo mais comum é aquele no
e para os anfibólios de 56°. Essa característica é usada para
qual as unidades se repetem a cada dois tetraedros, por
identificar esses minerais. Aqueles ângulos estão relacionados
exemplo, no espodumênio, LiAl ((SiO3) 2] (é a principal,
com o tamanho das seções transversais trapezoidais das
matéria-prima para a obtenção do lítio), na enstatita,
cadeias, e à maneira como elas estão empacotarias (vide
Mg2[(SiO3)2] e na diopsita, CaMg[(SiO3)2]. Na wollastonita,
Fig. 13.14).
Ca3((SiO3)3], a unidade repetitiva é constituída por três
tetraedros. Vários outros minerais constituídos por unidades 0 asbesto tem considerável importância econômica,
repetitivas contendo 4, S, 6, 7, 9 e 12 tetraedros são tendo sido minerados 2,8 milhões de toneladas (URSS 36%.
conhecidos. Canadá 19%, Cazaquistão 14%, China e Brasil 9% cada
um), em 1993. Ele é útil por ser forte, barato, resistente ao
Cadeias duplas podem ser formadas quando duas
calor e à chama, e também resistente a ácidos e álcalis. A
cadeias simples se ligam por meio do compartilhamento de
átomos de oxigênio. Esses minerais são conhecidos como
anfibólios e são bastante comuns. Há diversas maneiras de
se formar cadeias duplas, originando compostos que podem
ser representados como (Si2O5)n2"', (Si4On)n6n", (Si6O17)n10'
e outros (vide Fig. 13.12).
Figura 13.11 — Estrutura dos piroxênios (SIOJf~ (segundo T. Moeller) Figura 13.13 — Estrutura de anfibólios (SitOu)^ (segundo T. Moeücrl
CLASSIFICAÇÃO DOS SILICATOS 221
quarto do Si4+ no SiO2 por Al3 + , leva a formação do íon cuja cor é produzida pelo íon polissulfeto. Os ultramares
tridimensional AlSi3O8. Os cátions são geralmente íons constituem um grupo de compostos que não contém água,
metálicos grandes, tais como K + , Na + , Ca2+ ou Ba2+. íons mas contém ânions como CF, SO4" e S2". Podem ser citados
menores como Fe3 + , Cr3+ e Mn2*, que eram comuns nos como exemplos de ultramares:
silicatos em cadeia e silicatos lamelares, não ocorrem nos
silicatos tridimensionais, porque os interstícios no retículo Ultramar Na8[(AlSiO4)6]S2
cristalino são muito grandes. A substituição de um quarto sodalita Na8[(AlSiO4)6]Cl2
ou da metade dos átomos de Si são bastante comuns, gerando noselita Na8[(AlSiO4)6]SO4
estruturas do tipo M'[A1Sí3O8] e Mn[Al2SÍ2O8]. Tais Atualmente, os ultramares são produzidos sintetica-
substituições são responsáveis pela formação de três grupos mente. O próprio Ultramar é obtido pelo aquecimento de
de minerais: caolinita, carbonato de sódio e enxofre, na ausência de ar. O
D feldspatos produto pode ser azul, verde ou vermelho, dependendo do
2) zeólitas polissulfeto presente. O composto é usado como pigmento
3) ultramares. azul para tintas a óleo e cerâmicas. Antes de existirem os
Os feldspatos são os minerais formadores de rochas detergentes com avivadores artificiais, o Ultramar sintético
mais importantes e constituem dois terços das rochas ígneas. era usado como corante azul (anil) para mascarar a cor
Por exemplo, o granito é constituído por fedspato, associado amarelada da roupa.
a pequenas quantidades de mica e quartzo. Os feldspatos
são agrupados em duas classes:
se uma solução sólida de mullita (fórmula aproximada foram produzidos 26,4 milhões de toneladas de vidro para
3Al2O3-2SiO2) e SiO2, que permanece sólida até no mínimo garrafas, e 7 milhões de toneladas de vidro plano. Este foi
1.595 °C. A partir dessa temperatura ocorre o amolecimento usado sobretudo em janelas.
gradativo do material. Como a caolinita é uma argila isenta Na fabricação de vidro podem ser usados aditivos para
de ferro, o produto é branco. refino e para descolorir e colorir. Agentes de refino tais como
A porosidade do produto depende da temperatura NaNO3 ou As2O3 podem ser adicionados para remover
utilizada na "queima". Se a temperatura for alta, o produto bolhas. O agente de refino se decompõe e libera grandes
não absorverá líquidos. A presença de Fe3+ na argila bolhas de gases na massa fundida, que removem as pequenas
comunica ao produto uma cor vermelha ou púrpura, enquan bolhas que sempre se formam. Os agentes descolorantes
to argilas com elevado teor de CaO levam a produtos de são adicionados para remover impurezas e para obter vidro
coloração amarela. A maior parte das cerâmicas, exceto os incolor. Fe3+ confere uma coloração amarela castanho,
tijolos e alguns pisos, recebe um revestimento vítreo, ou misturas de Fe3+ e Fe2+ uma cor verde, e Fe2+ uma cor azul
seja, são vitrificados. O processo de vitrificação é realizado clara. Outros agentes colorantes podem ser adicionados —
mergulhando-se o produto numa suspensão aquosa de óxido Co2 + confere uma cor azul intensa e partículas coloidaisde
de metais pesados como SnO2 ou PbO2, antes do tratamento Cu comunicam uma coloração vermelho-rubi. 0 CaF2 é às
térmico. Os pigmentos podem ser aplicados antes ou depois vezes adicionado para provocar uma turvação, na fabricação
do processo de vitrificação. Caso sejam aplicados sobre a do vidro opalina.
camada vítrea já formada, é necessário uma segunda
"queima” para fixá-los.
COMPOSTOS ORGANOSSILÍCICOS E OS
Vidros
SILICONES
Uma pequena quantidade de vidro é fabricada usando Compostos organossüícicos
sílica. Esse vidro tem excelentes propriedades, mas são As ligações Si—C são quase tão fortes quanto as ligações
necessárias temperaturas muito elevadas para a sua C—C. Assim, o carbeto de silício é extremamente duro e
fabricação. O vidro de sílica é muito caro para que possa ser estável. Milhares de compostos organossilícicos contendo
utilizado de forma generalizada, mas é utilizado em ligações Si—C foram preparados, principalmente depois de
instrumentos científicos. 1950. Muitos deles são inertes e termoestáveis (por exemplo,
SiPh4 pode ser destilado ao ar a 428 °C). Contudo, a varieda •
A temperatura de fusão da sílica pode ser diminuída
de de compostos de Si é restrita, se comparada com a grande
adicionando-se diversos óxidos, de modo a preparar os vidros
variedade de compostos orgânicos, por três motivos:
a base de silicatos. Dentre os óxidos podem ser citados o
Na2O, K2O, MgO, CaO, BaO, B2O3, A12O3, PbO e ZnO. O vidro D Os átomos de silício apresentam pequena tendência de
é uma solução sólida e sua composição pode variar. A se ligarem entre si (catenação), enquanto que o carbono
quantidade de óxido adicionada não é muito grande, de modo tem uma grande tendência nesse sentido. As cadeias
que os tetraedros de SiO4 ainda tem um papel importante mais longas de silício são as cadeias formadas no Si16FM
na estrutura do vidro. e Si8H18, mas estes compostos são exceções. Isso se
deve ao fato das ligações Si-Si serem fracas, en
O vidro seria solúvel em água caso fossem utilizados
contraste com as fortes ligações C-C (vide Tabela 13.4).
somente Na2O e K2O. Por exemplo, o vidro comum para uso
em janelas é um vidrossilicato de cálcio e álcali, obtido por 2) O silício não forma ligações duplas prt-prr, enquanto
meio da fusão do carbonato do metal alcalino, CaCO3 e SiO2 que o carbono prontamente forma ligações duplas (foi
(os carbonatos se decompõem aos seus respectivos óxidos isolado um dissileno, Me2Si = SiMeH, mas isso só foi
com o aquecimento). O vidro-de-sódio, usado em equipa possível em matriz de argônio sólido. Vários interme
mentos baratos de laboratório, é obtido quando se utiliza diários de reação com ligações Si = C e Si = N são
Na2CO3. O uso de K2CO3 fomece o vidro-de-potássio. O vidro- conhecidos. Além disso, o composto (Me3Si)2Si =
de-chumbo (vidro cristal) é obtido quando a maior parte do C(OSiMe3)(C10H15) forma cristais estáveis à temperatura
CaO for substituída por PbO. Esse vidro tem um maior índice ambiente e na ausência de ar. Contudo, tratam-se de
de refração e é usado na fabricação de componentes ópticos raras exceções.)
e objetos decorativos ("cristais”). Caso A12O3 seja adicionado, 3) O silício forma vários compostos contendo ligações
o íon Al3 + pode estar presente na estrutura como íon metálico duplas prt-drt. Os átomos de silício utilizam orbitais d
livre, ou substituindo o Si4 + nos tetraedros de SiO4 do retículo para formar tais ligações (vide tópicos abaixo).
cristalino. O íon B3+ substitui parte do Si4+ do retículo
cristalino quando B2O3 é adicionado. Os vidros de Obtenção de compostos organossüícicos
borossilicato são importantes e podem conter Al além do B.
Esses materiais apresentam um baixo coeficiente de expansão Há diversos métodos para se obter compostos com
e podem resistir a grandes variações de temperatura sem ligações Si—C:
quebrar. Eles contêm uma menor quantidade de álcali e são 1) Através de uma reação de Grignard
menos susceptíveis a ataques por agentes químicos. Esses SiCl4 + CHjMgCl -> CH3SiCl3 + MgCl2
vidros são muito usados na manufatura de equipamentos CH3SiCl3 + CH3MgCl -4 (CH3)2SiCl2 + MgCl2
de laboratório, bem como em utensílios de vidro tipo “Pyrex”. (CH3)2SiCl2 + CH3MgCl • ■> (CH3)3SiCl + MgCl2
O vidro é fabricado em grandes quantidades. Em 1991, (CH3)3SiCl + CH3MgCl -> (CH3)4Si + MgCl2
COMPOSTOS ORSANOSSILlCICOS E OS SILICONES 2S5
(CH3)3SiCl e (CH3)2SiCl2 na mistura inicial determinará o Os compostos cíclicos fornecem as unidades formadoras das
tamanho médio das cadeias poliméricas que serão obtidas. cadeias, enquanto o hexametildissiloxano fornece os grupos
bloqueadores do crescimento das cadeias. O comprimento
ch3 ÇH3 çh3 çh3 CH3 médio das cadeias é determinado pela proporção desses dois
reagentes. O H2SO4 rompe as ligações Si-O-Si, formando
HO—Si—O—Si—O—Si—O—Si—OH + HO—Si—CH3—> ésteres Si-O-SO3H, e Si-OH. Os ésteres sofrem nova hidrólise
I I I I regenerando as ligações Si-O-Si. Esse processo se repete
ch3 CH3 ch3 ch3 CH3
continuamente, e leva à formação de cadeias de tamanhos
ch3 ch3 ÇH3 ÇH3 ch3 semelhantes. O ponto de ebulição e a viscosidade aumentam
com o aumento do comprimento das cadeias, formando
I" - —O
HO—Si - —O—Si—O—Si—O—Si—CH3
- —Si
compostos que se assemelham a líquidos, óleos viscosos e
I I I I I graxas. Os fluidos são usados como repelentes de água no
ch3 ch3 ch3 ch3 ch3
tratamento de alvenaria e construções, vidraria e tecidos.
A hidrólise de metil(tricloro)silano, RSiCl3, fornece um São ainda empregados em ceras para automóveis e graxas
polímero com estrutura bastante complexa, contendo de sapato. Os fluidos de silicone não são tóxicos e apresentam
ligações cruzadas. baixa tensão superficial. A adição de algumas partes por
mjlhão de silicones reduz enormemente a formação de
I espumas nos efluentes domésticos e processos industriais,
O R
I I tais como no fingimento de tecidos, na fabricação de cerveja
O—Si—O—Si—O— (fermentação) e na fritura industrial de alimentos. Óleos de
I I silicone são empregados como materiais dielétricos
O O R (isolantes) em transformadores de alta tensão. São também
I I usados como fluidos hidráulicos. Os metil silicones podem
—O—Si—O—Si—O—Si—O—
I I ser usados como óleos lubrificantes em locais onde não muito
R R 0 solicitados, mas não são adequados para uso pesado, como
I em caixas de engrenagens, pois o filme de óleo se rompe
Assim, algumas ligações cruzadas ou sítios para a quando submetidos a altas pressões. Silicones com alguns
ligação de outras moléculas serão obtidos, caso pequenas grupos fenil são melhores lubrificantes. Esses óleos podem
quantidades de CH3SiCl3 sejam adicionadas à mistura. Logo, ser misturados com estearato de lítio, na produção de graxas.
qualquer tipo de polímero poderá ser obtido misturando-se Borrachas de silicone são constituídas de polímeros de
de forma controlada os reagentes adequados. cadeia normal longas (dimetilpolissiloxanos), com 6.000 a
Os silicones são relativamente caros mas apresentam 600.000 unidades de Si, misturados com uma carga,
muitas propriedades interessantes. Foram inicialmente geralmente SiO2 finamente dividido ou eventualmente grafita.
desenvolvidos para serem utilizados como isolantes elétricos, São produzidos pela hidrólise do dimetilclorossilano em KOH,
porque são mais resistentes ao calor que polímeros orgânicos (correspondem a cerca de 25% da produção mundial)
e, caso venham a se decompor, não formam materiais tomando-se o cuidado de excluir da reação grupos bloquea
condutores, como acontece com os compostos de carbono. dores do crescimento das cadeias ou formadores de ligações
São resistentes à oxidação e à maioria dos reagentes cruzadas. Os elastômeros de silicone são úteis, porque
químicos. Além disso, repelem fortemente a água, são bons preservam sua elasticidade entre -90 °C e +250 °C, um
isolantes elétricos, têm propriedades não-aderentes e intervalo muito maior que o da borracha natural. São também
propriedades anti-espumantes. Sua resistência e inércia estão bons isolantes elétricos. Podem ser vulcanizados para formar
relacionadas a dois fatores: borrachas duras, por dois métodos:
D À estabilidade da cadeia Si-O-Si-O-Si, contendo D Por oxidação com pequenas quantidades de peróxido
ligações semelhantes às encontradas na sílica. A energia de benzoíla, que produz algumas ligações cruzadas
de dissociação da ligação Si-0 é muito elevada (502 kJ (cerca de 1 % dos átomos de Si formam ligações
mor1). cruzadas).
2) À estabilidade da ligação C-Si. 2) Pela incorporação de unidades formadoras de ligações
Suas propriedades hidrofóbicas decorrem do fato da cruzadas na cadeia.
cadeia de silicone ser rodeada por grupos substituintes Os grupos laterais que comunicam maior resistência
orgânicos, que tornam sua parte exterior muito semelhante ao calor são os grupos fenil, seguidos pelos grupos metil,
aos dos alcanos. Os silicones podem se apresentar na forma etil e propil, em ordem decrescente de estabilidade. Os sili
de líquidos, óleos, graxas, elastômeros (borrachas) ou resinas. cones são rapidamente oxidados e ligações cruzadas são
Polímeros de cadeias normais constituídas por 20 a 500 formadas, quando aquecidos ao ar a temperaturas de 350-
unidades são utilizados como fluidos de silicone. Eles 400 °C. O polímero se torna quebradiço e se rompe, gerando
correspondem a 63% dos silicones usados. Se forem prepa polímeros de baixo peso molecular e estruturas cíclicas. Um
rados pela hidrólise de uma mistura de (CH3)3SiCl e aquecimento intenso, na ausência de ar, provoca a formação
(CH3)2SiCl2, os comprimentos das cadeias variam considera de produtos voláteis e torna-os mais moles, mas não ocorrem
velmente. Industrialmente são produzidos tratando-se uma reações de oxidação e a formação de ligações cruzadas.
mistura de tetrakis-ciclo(dimetil)siloxano, (Me2SiO)4, e Resinas de silicone são polímeros rígidos, como a
hexametildissiloxano, (Me)3SiOSi(Me)3, com H2SO4 a 100%. baquelita. São produzidos hidrolisando-se (com água) uma
HIDRETOS 227
mistura de PhSiCl3 e (Ph)2SiCl2, dissolvidos em tolueno. O SiCl4 + Lí[A1H4) -> SiH4 + A1C13 + LiCl
produto parcialmente polimerizado é lavado para remover Si2Cl6 + 6LiH -> Si2H6 + 6LÍC1
o HC1, e em seguida moldado. Finalmente, o produto é Si3Cl8 + 8NaH Si3H8 + 8NaCl
aquecido com sal de amônio quaternário como catalisador,
para condensar quaisquer grupos OH remanescentes na Os silanos também podem ser preparados pela reação
estrutura. O produto final apresenta muitas ligações cruzadas. direta, aquecendo-se Si ou ferro-silício com HX anidro ou
RX, na presença de um catalisador de cobre.
Aproximadamente 12% dos silicones são produzidos na
forma de resinas e usados como isolantes elétricos,
geralmente misturados com fibra de vidro para aumentar Si + 2HC1 SiH2Cl2
sua resistência. São usados na fabricação de placas de Si + 3HC1 -+ SíHC13 + H2
circuitos impressos e para encapsular “chips” de circuitos Si + 2CH3C1 -> CH3SiHCl2 + C + H2
integrados e resistores. São também empregados como
revestimentos não-aderentes de panelas, formas de cozinha Os silanos são muito mais reativos que os alcanos. Os
e moldes para pneumáticos. alcanos são quimicamente pouco reativos, praticamente
reagindo somente com os halogênios e com o oxigênio
(combustão). Já os silanos são fortes agentes redutores,
HIDRETOS entram em combustão em contato com o ar e explodem em
contato com Cl2. Quando puros, os silanos não reagem com
Todos os elementos do grupo formam hidretos
ácidos diluídos nem com água pura em aparelhagens de
covalentes, mas o número de compostos formados e a
sílica, mas hidrolisam rapidamente em solução alcalina, ou
facilidade com que se formam diferem substancialmente. O
mesmo na presença de pequenas quantidades de álcali
carbono forma muitos compostos constituídos por cadeia e
desprendidos pelos equipamentos de vidro.
ciclos:
Os alcanos (parafinas), CnH2n+2 traços de áJcali
1) Si2H6 + (4 + n) H2O 2SÍO2hH2O + 7H2
2) Os alcenos (olefinas), CnH2n
Compostos com ligações Si-H sofrem uma importante
3) Os alcinos (acetilenos), CnH2n_2
reação de hidrosililação com alcenos, na presença de um
4) Os compostos aromáticos. catalisador de platina. A reação é semelhante à hidroboração,
Esses compostos formam a base da Química Orgânica. e os produtos podem ser utilizados na preparação de sili
Há uma forte tendência à catenação (formação de cadeias), cones.
pois as ligações C-C são muito fortes.
RCH = CH2 + SiHClj RCH2CH2SíC13
O silício forma um número limitado de hidretos
saturados SinH2n + 2, denominados silanos, com cadeias As diferenças de comportamento entre os alcanos e os
normais ou ramificadas, contendo até oito átomos de silício. silanos é atribuída a diversos fatores:
Compostos cíclicos são muito raros. Além disso, não se D As eletronegatividade de Pauling são: C = 2,5, Si = 1,8 e
conhecem compostos de silício análogos aos alcenos e H = 2,l. Assim, os elétrons das ligações C-H e Si-H
alcinos. O monossilano, SiH4, é o único hidreto de silício não estão distribuídos da mesma maneira, deixando
importante. SiH4 e SiHCl3 foram preparados pela primeira uma carga 8‘noCe uma carga 6* no Si. Portanto, o Si
vez, tratando-se uma liga Al/Si com HC1 diluído. Uma mistura é mais vulnerável ao ataque de reagentes nucleofílicos.
de silanos foi obtida hidrolisando-se siliceto de magnésio,
Mg2Si, com ácido sulfúrico ou ácido fosfórico. Esses com 8“ 8+ 8 + 8-
postos são gases incolores ou líquidos voláteis. São altamente C—H Si—H
reativos e se inflamam ou explodem ao ar. Com exceção do
2) O Si é maior, facilitando o ataque dos reagentes.
SiH4, são termicamente instáveis. Só foi possível começar a
estudá-los quando A. Stock inventou um método que permite 3) O Si tem orbitais d de baixa energia. Podem ser usados
manusear gases reativos sob vácuo. para formar intermediários de reação que diminuem a
energia de ativação das reações.
2Mg + Si aquec. em ausência de ar ♦ Mg2Si Vários hidretos de germânio (germanos), GenH2n + 2,
com n variando até 5, são conhecidos. São compostos de
Mg2Si + H2SO4 SiH4 (40%) cadeia normal, que se apresentam na forma de gases
Si2H6 (30%) incolores ou líquidos voláteis. São semelhantes aos silanos,
Sí3H8 (15%) mas menos voláteis, menos inflamáveis e não reagem com
Sí4H10 (10%) água ou solução aquosa de ácidos ou álcalis. O GeH4 pode
sí5h12 + Si6H14
ser obtido como segue:
(5%)
éter seco
GeCl4 + Li[AlH4] -> GeH4 + LiCl + A1CI3
Mais recentemente o monossilano foi preparado
reduzindo-se SiCl4 com Li[AlH4], LiH ou NaH, em solução GeO2 + Na[BH4] solução aquOM—) + JÇaBO2
etérea a baixas temperaturas. Esse é um método muito
melhor, pois fornece apenas um único produto e o rendi O estanano, SnH4, é muito menos estável. Pode ser
mento é quantitativo. preparado pela reação de SnCU com Li[AlH4] ou Na[BH4]. É
nn — *ãc stezs <zr;a on ácidos e preenchidos para formar íígacóes irr-mr "'back-bonding')
mi-.-v-sr' ;zza estameare tem as corres- aiém da ligação coordenada <y, M-— (CN)'. A ligação e
jcmoentee aunxe t—= Gtnneee-se ramném o semelhante a que ocorre nas carbonilas, e o íon CN' atua
5r.--.=_ zas .- acsa rrescs estavei. Não são como um receptor rt. A carga negativa do CN' faz dele tun
■ate— -streszcres. 3 piumbano. PbH4, é melhor doador o que o CO, mas em contrapartida diminuía
tnraoB “ta-et me- r «tanano e anua mais difícil de ser eficiência do CN como receptor n.
presaraac. Is nesxios m -tnrese tsados para os outros A extrema toxicidade dos cianetos se deve à sua
ruareías rnc -ãc -~r.ms. J Pbrü toi preparado em quanti capacidade de formar complexos com os metais das enzimas,
dades muito petraenas e-tantas ccncennacões, peia redução como a citocromo-c oxidase, bloqueando a cadeia
catodca. senão. teseetaao cor especrroscopia de massa. respiratória. Além de formar muitos complexos análogos aos
complexos com os haletos, o íon cianeto frequentemente
CIANETOS leva à formação do complexo com o número de coordenação
máximo do metal. Assim, o Fe3* forma [FeCl4]'cornos íons
Gs cianetos dos metais alcalinos, principalmente o cloreto, mas [Fe(CN)6]3" com o íon cianeto. Muitos íons
cianeto de sodio. NaCN. são preparados em quantidades metálicos instáveis em solução, como os íons Cu+, Ni',
consideráveis cerca de 120.ÜOO toneladas/ano). Até cerca Mn + , Au+ e MnJ*, se tornam bastante estáveis quando
de 1965 o cianeto de sodio foi fabricado peio processo Castrter. complexados com o íon cianeto. A formação de complexos
reação da soaamiua com C. a altas temperaturas. é importante no processo de extração da prata e do ouro,
pois se dissolvem numa solução de NaCN na presença de
Na s- NH, ■ NaNH, + 1/2H, ar, formando argentocianeto ou aurocianeto de sódio. Em
NaNH, 3- C 75°-c > NaCN + H, seguida, os metais são recuperados por redução com zinco.
A partir de então o HCN se tornou disponível 4Ag + 8NaCN + 2H2O + O2 -+ 4Na[Ag(CN)2] + 4NaOH
comerciaimente (atualmente são produzidos cerca de 300.000 4Au + 8NaCN + 2H2O + 02 4Na[Au(CN)z] +4NaOH
toneladas/ano) e passou a ser utilizado na obtenção do
NaCN. Antes disso, o HCN era preparado acidificando-se Os íons cianeto podem atuar como agentes comple-
NaCN ou Ca(CN)2. xantes e como redutores:
+ CN'
2NaCN + H,SO4 -> 2HCN + Na2SO4 2Cu2+ +4CN'—> (CN)2 + 2CuCN [Cu(CN)4]3'
Ca(CN)2 + H2SO4 -> 2HCN + CaSO4 Nessa reação, o íon cianeto é oxidado a cianogênio,
Os modernos processos industriais de preparação de (CN)2, de modo semelhante à oxidação de I* a I2 pelo Cm .
Em meio alcalina, o cianogênio sofre desproporcionamento,
HCN, se valem de uma reação em fase gasosa entre CH4 e
NH3, a temperaturas de aproximadamente 1.200 °C, na gerando os íons cianeto e cianato.
presença de um catalisador. (CN)2 + 20H* H20 + CN' + NCO'
Processo Degussa O íon cianato é isoeletrônico com o dióxido de carbono.
CH4 + NH3 HCN + 3H2 Portanto, devem ter estruturas semelhantes, sendo ambos
(catalisador de Pt) lineares.
Processo Andrussow
0 = 00 “N = C = O
2CH4 + 2NHj + 3O2 2HCN + 6H2O
(catalisador de Pt/Rh)
COMPLEXOS
O HCN é extremamente tóxico. Tem um ponto de A capacidade de formar complexos é favorecida nos
ebulição anormalmente elevado de 26 °C, por causa da cátions metálicos com carga elevada, pequeno tamanho e
formação de ligações de hidrogênio. É um dos ácidos mais disponibilidade de orbitais vazios de energia apropriada. 0
fracos conhecidos, sendo mais fraco que o HF. Mais da carbono se situa no segundo período e pode ter no máximo
metade da produção é usada na fabricação de NaCN, de oito elétrons no nível de valência. Os compostos tetraco-
(C1CN)3 e de vários complexos contendo cianeto, tais como valentes de carbono contêm um máximo de oito elétrons no
K4[Fe(CN)6] e K3[Fe(CN)6], Também é empregado na segundo nível. Esses compostos são estáveis, pois suas
extração de Ag e Au. estruturas eletrônicas são similares a dos gases nobres, e o
carbono não forma complexos. Os compostos tetracovalentes
(C1CN)3 + 3NH3 —» 3HC1 + C3N3(NH2)3 (melamina)
dos elementos subseqiientes podem formar complexos de
4Au + 8NaCN + 2H2O + 02 -> 4Na[Au(CN)2] + 4NaOH
vido à disponibilidade de orbitais d. Geralmente, esses ele
O HCN tem sido usado como solvente não-aquoso polar. mentos aumentam seu número de coordenação de 4 para 6.
0 íon cianeto é importante, pois forma complexos está SiF4 + 2F‘ -> [SiF6]2-
veis, particularmente com os metais dos grupos do Cr, Mn, GeF4 + 2NMe3 -» [GeF4 ■ (NMe3)2J
Fe, Co, Ni, Cu e Zn. Dois complexos bastante comuns são o SnCl4 + 2Cr [SnCl6]2"
ferrocianeto, [Fe(CN)6]4*, e o ferricianeto, [Fe(CN)6]3'. Os
elementos de transição posteriores formam complexos Segundo a Teoria da Repulsão dos Pares Eletrônicos de
estáveis com o cianeto, porque podem usar seus orbitais d Valência, esses complexos deveriam ser octaédricos, pois
TETRA-HALETOS B29
possuem seis pares de elétrons de valência. De acordo com LIGAÇÕES 7t INTERNAS USANDO ORBITAIS d
a teoria da ligação de valência, quatro ligações covalentes e
Os compostos trimetilamina, (CH3)3N, e trissililamina,
duas ligações coordenadas deveríam ser formadas, levando
(SiH3)3N, têm fórmulas semelhantes, mas possuem estruturas
a formação de compostos com estrutura octaédrica. No caso
do [SiF6]2~: totalmente diferentes (Fig. 13.17). A estrutura eletrônica na
trimetilamina é:
3s 3p 3d Configuração eletrônica do Is 2s 2p
Estrutura eletrônica do Si
no estado fundamental t I? átomo de nitrogênio no
estado fundamental [u] [Ü] |t |t |t I
camada I 1 I
interna
cheia Três elétrons desemparelhados
Átomo de Si
no estado excitado T formam liçjações com os grupos
CH3 — disposição tetraédrica
de três pares lipantes e um par
não-ligante (hibridização sp3)
Átomo de Si após compar
tilhar 4 elétrons com 4 TYês orbitais sp2 são utilizados para formar ligações a
átomos de F no SiF4 na trissililamina, levando a uma estrutura trigonal planar. O
par isolado de elétrons ocupa um orbital p ortogonal ao plano
Estrutura eletrônica do Si no r do triângulo e interage com os orbitais d vazios em cada um
[SiFsl2-, onde dois F" formam
duas ligações coordenadas P
[
I
Seis pares eletrônicos de valência
I dos três átomos de Si, formando uma ligação rt, Essa ligação
é melhor descrita como uma ligação pn-dn multicentrada,
porque ela envolve um orbital p cheio e orbitais d vazios.
levam a compostos com estrutura
octaédrica (hibridização sp3d2} Isso torna mais curta a ligação N-Si. Além disso, como o N
não tem mais um par de elétrons isolados, a molécula não é
A participação de elétrons d na hibridização foi discutida um doador de elétrons. Uma ligação prt-dn análoga não é
no Capítulo 4. O íon [SiF6]2“ é geralmente obtido a partir de possível no (CH3)3N, pois o C não possui orbitais d de energia
SiO2 e HF aquoso. adequada, tendo, pois, uma estrutura piramidal. Cerca de
SiO2 + 6HF 2H+ + [SiF6]2~ + 2H2O 200 compostos atualmente conhecidos supostamente contêm
ligações pn-dn (Fig. 13.18; vide Raabe e Michl nas Leituras
0 complexo [SiF6]2~ é estável em água e em álcali, mas Complementares).
os complexos análogos com os demais elementos do grupo
são menos estáveis. [GeF6]2' e [SnF6]2- sofrem hidrólise em
solução alcalina, e [PbFs]2- é hidrolisado tanto por álcali TETRA-HALETOS
como por água. Ge, Sn e Pb também formam complexos
Todos os tetra-haletos dos elementos do grupo 14, exceto
com cloreto, tais como [PbCl6]2-, e complexos com oxalato,
o Pbl4, são conhecidos. São compostos tetraédricos, tipica
como [Pb(ox)3]2-.
mente covalentes, e muito voláteis. As exceções são SnF4 e
O tetra-acetato de chumbo, Pb(CH3COO)4, pode ser PbF4, que possuem estruturas tridimensionais e apresentam
obtido na forma de um sólido incolor, tratando-se Pb3O4 elevados pontos de fusão (SnF4 sublima a 705 °C, PbF4 funde
com ácido acético glacial. É sensível à presença de água e é a 600 °C). Os elementos abaixo do C podem utilizar os
muito usado como um agente oxidante seletivo em química orbitais d para formar ligações, tal que as ligações Si-F,
orgânica. Sua aplicação mais conhecida é na divagem de Si-Cl e Si-O são mais fortes que as correspondentes ligações
1,2-dióis (glicóis), por exemplo, presentes nos carbohidratos. com o C. Supõe-se que isso se deva a formação de ligações
ptt-dtt devido a interação entre os orbitais p preenchidos do
I
-C-OH
I F, Cl e O com os orbitais d vazios do Si.
Pb(CH,COO),
—~C—*O\
I Pb (CH3COO)2
-C-OH —C—o/
I 1 I
—c=o
—► + Pb (CHjCOO),
—c=o
I
h3sí SíH3
SíH3
Figura 13.18 — Ligações prc-dit na trissililamina (de Mackay e Mackay,
Figura 13.17— Himetílamina, N(CH3)3, e trissililamina, NCSiCH^s Introduction to Modem Inorganic Chemistry, 4? ed., Blackie, 1989)
230 05 ELEMENTOS DO 6RUPD 14
Hidrofluorocarbonos (HFCs), tais como CH2FCF3, e tativos são geralmente brancos. A cor está associada com a
hidroclorofluorocarbonos (HCFCs), tais como CHC12CF3, promoção de elétrons de um nível energético para outro, ou
esião sendo atualmente utilizados como propelentes alter seja, a absorção ou emissão da diferença de energia entre
nativos de aerossóis, por serem menos nocivos. Esses dois níveis. Isso é comum nos elementos de transição, onde
compostos também provocam o efeito estufa e podem há níveis de energia não preenchidos na camada d,
danificar a camada de ozônio. Mas, seu efeito é bem menor possibilitando a promoção de elétrons de um nível d para
que 0 dos CFCs, pois eles não são tão estáveis para permane outro. Nos compostos dos elementos representativos, as
cerem na atmosfera por tanto tempo quanto os freons. Os camadas s e p estão geralmente preenchidas, não sendo
átomos de H podem ser atacados por radicais hidroxila, na possível transições eletrônicas dentro de um mesmo nível.
alta atmosfera, formando ácido trifluoroacético. Este não é A promoção de um elétron de um nível para outro, por
muito tóxico e pode ser decomposto por bactérias do solo. exemplo 2p para 3p, envolve muita energia, de modo que as
0 C02 podería ser usado como propelente alternativo, mas bandas de absorção apareceríam na região do ultravioleta e
sua pressão de vapor é insuficiente. O butano também não na do visível. Portanto, os tetrahaletos devem ser
podería ser usado, mas é inflamável e não pode ser empre brancos. A cor laranja do Snl4 é provocada pela absorção de
gado em alimentos. luz azul, de modo que a luz refletida contém uma proporção
maior de vermelho e laranja. A energia absorvida provoca a
transferência de um elétron do I para o Sn (isso corresponde
Silício a uma redução momentânea do Sn(IV) a Sn(III)). A
Os haletos de silício podem ser preparados pelo transferência de um elétron de um átomo para outro implica
aquecimento do Si ou do SiC com o halogênio correspon numa transferência de carga, tais transições eletrônicas são
dente. Em contraste com CF4, CC14 e os freons, o SiF4 é denominadas transições de transferência de carga. Esse tipo
rapidamente hidrolisado por soluções alcalinas. de transição ocorre no Snl4 e no Gel4, porque os átomos
apresentam níveis energéticos semelhantes. Isso seria de se
SiF4 + 8OH~ -> SiO44’ + 4F + 4H2O esperar, pois eles estão próximos na tabela periódica e têm
tamanhos semelhantes. Nos demais haletos as transições
Os haletos de silício são hidrolisados rapidamente pela
de transferência de carga não aparecem na região do visível.
água, com formação de ácido silícico.
GeCl4 e GeBr4 são hidrolisados mais lentamente. SnCl4
SiCl4 + 4H2O -> Si(OH)4 + 4HC1 e PbCl4 se hidrolisam em soluções diluídas, mas essas reações
costumam ser incompletas e podem ser reprimidas pela
No caso do tetrafluoreto de silício, ocorre uma reação adição do ácido halogenídrico apropriado.
secundária entre o HF resultante e o SiF4 remanescente,
z —-_■« HC1 , HC1 r , ■«
formando 0 íon hexafluorossilicato, [SiF6]2~. Sn(OH 4 SnCL, n2u
SnCI6 2*
SiF4 + 2HF 2H+ + [SiF6]2~ Na presença de excesso de ácido, os haletos de Si, Ge,
Sn e Pb aumentam seu número de coordenação de 4 para 6,
0 SiCl4 é industrialmente importante. Pequenas formando íons complexos, tais como [SiF6]2", [GeF6]2-,
quantidades são utilizadas na obtenção de Si ultrapuro, [SnCl6]2’ e [SnCy. O Pbl4 não é conhecido, provavelmente
destinado a fabricação de transistores. Grandes quantidades por causa do poder oxidante do Pb( + IV) e do poder redutor
de SiCl4 são hidrolisadas a altas temperaturas (numa chama do r, que levam à formação apenas de Pbl2.
de oxigênio/hidrogênio) para gerar SiO2 finamente dividido,
ao invés de Si(OH)4. O pó de SiO2 ultrafino é usado como Haletos catenados
agente tixotrópico em tintas e resinas a base de poliéster e
epoxi, e como carga para borrachas de silicone. O carbono forma diversos haletos catenados. Provavel
mente, o mais conhecido deles é o “teflon” ou politetrafluo-
Outros membros da série SinX2n + 2 podem ser obtidos roetileno, descrito anteriormente. Esses polímeros apresen
porpirólise (aquecimento forte). Estes podem ser líquidos tam cadeias com várias centenas de átomos de carbono.
voláteis ou sólidos. As cadeias mais longas conhecidas são
O silício forma polímeros (SiF2)n e (SiCl2)n. São obtidos
Si]6F34, Si6Cl14 e Si4Br10. Essas cadeias são mais longas que
passando-se o tetra-haleto sobre silício aquecido. Esses
as dos correspondentes hidretos. Isso se deve à formação de
polímeros se decompõem em polímeros de baixo peso mo
ligações ptt-dn envolvendo os orbitais p preenchidos dos
lecular (ou oligômeros) de fórmula SinX2n+2, quando aque
halogênios e os d vazios do Si.
cidos. Os compostos com as cadeias mais longas conhecidas
SiCl4 + Si -» Si2Cl6 + membros superiores da série (Si6Cl14) são Si16F34, Si6Cl14 e Si4Br10.
O germânio forma 0 dímero Ge2Cl6, mas Sn e Pb não
Germânio, Estanho e Chumbo formam nenhum haleto catenado.
Ge, Sn e Pb formam duas séries de haletos: MXt e MX2.
No caso do Ge, o estado de oxidação (+ IV) é o mais estável, DI-HALETOS
mas no Pb 0 estado de oxidação (+ II) é o mais estável.
Há um gradativo aumento na estabilidade dos di-haletos
Todos os tetrahaletos são líquidos incolores voláteis, na seguinte ordem:
exceto 0 Gel4 e o Snl4, que são sólidos laranja brilhante. Os
compostos formados pelos elementos dos grupos represen- CX2 « SiX2 < GeX2 < SnX2 < PbX2
232 □5 ELEMENTOS □□ BRUPO 14
0 SiF2 pode ser obtido por reações a altas temperaturas, consiste em um anti- prisma quadrado, isto é, um cubo no
e pode ser coletado em N2 líquido. Quando o produto é qual a face superior sofreu uma rotação de 45° em relaçãoà
aquecido, ele se polimeriza, formando uma série de face inferior. Quando um átomo adicional se projeta acima
compostos com fórmula até Si16F34. de uma das faces, forma-se uma face “piramidal”.
SÍF4 + Si 2SÍF2
MECANISMOS DE REAÇÃO
O GeF2 é um sólido branco, obtido aquecendo-se Ge e
HF anidro, ou então a partir de GeF4 e Ge. O polímero tem Muitas reações inorgânicas, como as reações de dupla-
troca, envolvem apenas íons e são virtualmente instantâneas.
uma estrutura pouco comum com átomos de flúor em ponte,
Já as reações orgânicas são mais lentas, pois envolvem a
baseada numa bipirâmide trigonal. Unidades GeF3 compar
tilham dois átomos de F, levando à fórmula GeF2. O átomo quebra de ligações covalentes, e ocorrem ou por substituição
de Ge também forma uma ligação mais fraca com outro de um grupo por outro, ou então por meio da formação de
átomo de flúor, utilizando um par isolado de elétrons na um intermediário contendo um grupo adicional, que então
quinta posição. Essas unidades se ligam formando cadeias elimina outro grupo para formar o produto.
espiraladas infinitas. SnF2 e SnCl2 são sólidos brancos, A hidrólise do SiCl4 é rápida, porque o Si pode utilizar
obtidos aquecendo-se Sn ou SnO com HF ou HC1 gasosos. O orbitais d para formar um intermediário pentacoordenado,
fluoreto estanoso, SnF2, era usado junto com o pirofosfato de modo que a reação ocorresse por um mecanismo Ss-2
de estanho, Sn2P2O7, nos primeiros cremes dentais contendo (Fig. 13.20). Um par isolado de elétrons de um oxigênio
flúor. Isso é surpreendente, visto que o Sn é tóxico (atualmen interage com um orbital d vazio do Si, formando um
te NaF é usado para essa finalidade). A estrutura cristalina intermediário pentacoordenado, com estrutura de uma
do SnF2 é constituída por unidades tetraméricas Sn4F8. Eles bipirâmide trigonal.
formam anéis dobrados de oito membros -Sn-F-Sn-F-, com
interações mais fracas ligando os anéis entre si. SnCl2 sofre 3s ____ 3p 3d
hidrólise parcial em água, originando o cloreto básico, Estrutura eletrônica do
Silício no estado excitado t t |t It
Sn(OH)Cl. Tanto o SnF2 como o SnCl2 se dissolvem em
camada
soluções contendo íons haleto. interna
cheia
Átomo de silício após com
SnF2 + F“ -» [SnF3]' pK ~ 1 partilhar quatro elétrons
SnCl2 + CP -» [SnCl3]“ pK ~ 2 formando SiCI4 |H| | | | | I
Oualro orbitais —
íons Sn2+ ocorrem em soluções de perclorato, mas o molécula tetraédrica
(hibridização sp )
íon estanoso é facilmente oxidado a Snlv pelo ar, a não ser SiCL, depois de receber um
que se tomem precauções para evitá-lo. Os íons Sn2+ são
hidrolisados pela água, principalmente a [Sn3(OH)4]2 + , com
par isolado de elétrons do
OH no intermediário [fj] |n|n|u| |n| | II
Cinco orbitais — bipirâmide
formação de pequenas quantidades de [SnOH]+ e trigonal (hibridização sp d)
[Sn2(OH)2]2 +. O íon [Sn3(OH)4]2+ é provavelmente cíclico,
sendo conhecidos os compostos [Sn3(OH)4]SO4 e Caso seja efetuada a hidrólise de um composto de silício
[Sn3(OH)4](NO3)2. Os compostos PbX2 são muito mais com substituição assimétrica (consequentemente opticamen-
estáveis que os compostos PbX4. Pb é o único elemento do te ativo), tal como MeEtPhSi*Cl, ocorrerá a inversão de
Grupo com cátions bem definidos. Todos os sais PbX2 podem Walden, resultando na inversão da estrutura de d para 1 ou
ser obtidos à partir de um sal de Pb2 + solúvel em água e 0 vice-versa (Fig. 13.21). De uma maneira semelhante, a
correspondente íon haleto ou ácido halogenídrico. O íon redução de R^RjS^Cl com Li[A1H4] formando R^RjSPH,
plumboso é parcialmente hidrolisado pela água. também ocorre com inversão de estrutura.
Outros mecanismos são possíveis, pois a conversão de
Pb2+ + 2H2O —» [PbOH]+ + H3O + R]R2R3Si*H a RiR2R3Sí*C1 ocorre com retenção da estrutura.
Se R1R2R3Si*Cl for dissolvido em éter ou CCU, o composto
AGREGADOS (“CLUSTERS”) inalterado será recuperado, mas se for dissolvido em CH3CN
ocorre a racemização.
Há uma clara tendência dos membros mais pesados
dos Grupos 14, 15 e 16 de formarem íons poliatômicos,
constituídos por cadeias, anéis ou agregados ("clusters"). DERIVADOS ORGÂNICOS
A redução de Ge, Sn, e Pb com Na em amônia líquida Os elementos desse Grupo apresentam uma extensa quí
forma íons contendo diversos átomos do metal. Verificou-se mica organometálica. O estado divalente se torna cada vez
que tais compostos são agregados metálicos ou "clusters”.
Compostos cristalinos contendo tais íons podem ser isolados
por meio da formação de complexos com etilenodiamina, Adição Eliminação
ou com o ligante 2,2,2-criptando. Podem ser citados o de QH~
[Na(2,2,2-cript)]2+ [Sn5]2', [Na(2,2,2-cript)]2+ [Pbs]2-,
[Na4(en)5Ge9] e [Na4(en)5Sn9]. Os agregados M5 têm forma
de uma bipirâ-mide trigonal, e os agregados M9 são anti-
prismas quadrados com uma face “piramidal" (este último Figura 13.20 — Hidrólise de SiCl4
LEITURAS COMPLEMENTARES 233
19. Como o CS2 é obtido e quais são suas aplicações? reação são separados? Como podem ser preparados
20. Como podem ser obtidos o NaCN e o (CN)2? Para que o materiais poliméricos com praticamente qualquer
NaCN é utilizado? propriedade específica desejada utilizando-os como
matérias-primas?
21. Apresente dois métodos de obtenção do monossilano e
29. Como são detectados os silicatos na análise qualitativa?
compare suas propriedades químicas com as do CH4.
Explique as diferenças observadas. 30. Quais são os principais minérios de Sn e de Pb, e como os
metais podem ser obtidos?
22. Dê três exemplos de freons. Como são obtidos, quais são
seus usos, e como prejudicam o meio-ambiente? 31. Escreva as equações que descrevam as reações entre Sn e:
a) H + (aq.J, b) NaOH, c) HNO3, d) O2 e e) Cl2.
23. Compare e cite as diferenças entre as estruturas da
trimetilamina e da trisililamina. 32. Quais são as principais aplicações do chumbo?
24. Desenhe as estruturas de seis tipos diferentes de silicatos, 33. O que é “vermelho de chumbo" e para que é usado?
e dê o nome e a fórmula de um exemplo de cada tipo. 34. Quais são as principais fontes de poluição ambiental por
chumbo, o que pode ser feito para diminuí-las, e quais
25. Descreva as aplicações dos silicatos de sódio solúveis.
são os efeitos do chumbo no organismo humano?
26. Descreva o uso das zeólitas no tratamento de águas duras.
35. Como você prepararia o tetraacetato de chumbo? Quais
27. Como são removidas as impurezas de silicatos nos são suas aplicações, e a sua estrutura?
processos de obtenção de Al e Fe?
36. Descreva as variações das propriedades físicas e químicas
28. Descreva dois métodos industriais de preparação de que podem ser observadas nos elementos C, Si, Ge, Sn e
clorossilanos alquil substituídos. Como os produtos da Pb. Apresente os motivos dessas alterações.
B3B
OS ELEMENTOS
DO GRUPO15
CONFIGURAÇÕES ELETRÔNICAS E algumas regiões desérticas. O maior deles é um cinturão de
ESTADOS DE OXIDAÇÃO cerca de 720 km de extensão ao longo do litoral norte do
Chile, onde NaNO3 (salitre do Chile) é encontrado combinado
Todos os elementos deste Grupo possuem cinco elétrons com pequenas quantidades de KNO3, CaSO4 e NaIO3, debaixo
na camada de valência. O estado de oxidação máxima de de uma fina camada de areia ou solo. Tratava-se da maior
todos os elementos é cinco, situação na qual utilizam os fonte de nitratos até a I Guerra Mundial, quando foram desen
cinco elétrons para formar ligações, por exemplo com o volvidos processos sintéticos para a produção de nitratos a
oxigênio. A tendência do par de elétrons s de permanecer partir do nitrogênio da atmosfera. Um grande depósito de
inerte (o efeito do par inerte) cresce com o aumento da massa
salitre KNO3 ocorre na índia.
atômica. Nesses casos, somente os elétrons p são utilizados
para formar ligações, sendo a valência igual a três. As valên- O nitrogênio é um constituinte essencial de proteínas e
cias três e cinco se verificam nos compostos com halogênios aminoácidos (a composição média de uma proteína é
e com enxofre. Os hidretos são trivalentes. O nitrogênio exibe C = 50%, 0 = 25%, N=17%, H-7%, S = 0,5%, P-0,5%,
uma grande variedade de estados de oxidação: (—III) na em peso). Nitratos e outros compostos de nitrogênio são
amônia NH3, (-11) na hidrazina N2H4, (-1) na hidroxilamina muito utilizados como fertilizantes e em explosivos. No início
NH2OH, (0) no nitrogênio N2, (+1) no óxido nitroso N2O, deste século, o NaNO3 foi muito importante como fertilizante.
( + 11) no óxido nítrico NO, ( + 111) no ácido nitroso HNO2, Guano de morcego também foi muito importante (trata-se
(+ IV) no dióxido de nitrogênio NO2 e (+ V) no ácido nítrico de excremento de morcegos encontrados em grandes quanti
HNOj. Os estados de oxidação negativos decorrem do fato dades nas cavernas em rocha calcária, existentes em Ken-
da eletronegatividade do H (2,1) ser menor que do N (3,0). tucky, Tennessee e Carlsbad/New México, EUA). Nos últimos
50 anos essas fontes naturais foram substituídas pelo NH3 e
NH4NO3, obtidos pelas gigantescas indústrias da amônia e
OCORRÊNCIA, OBTENÇÃO E USOS nitratos sintéticos.
Nitrogênio O gás nitrogênio é usado em grandes quantidades como
Embora o nitrogênio constitua 78% da atmosfera atmosfera inerte. Isso ocorre principalmente na indústria do
terrestre, ele não é um elemento abundante na crosta terrestre ferro e do aço e outras indústrias metalúrgicas, e nas refinarias
(é o 33.° em ordem de abundância relativa). Todos os nitratos de petróleo, na limpeza das tubulações e dos reatores de cra-
são muito solúveis em água, de modo que não são comuns queamento catalítico e reforma. O nitrogênio líquido é usado
na crosta terrestre, embora sejam encontrados depósitos em como agente refrigerante. Grandes quantidades de N2 são con
sumidas na fabricação da amônia e da
cianamida de cálcio. O N2 é obtido em
Tabela 14.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação escala industrial, liquefazendo-se o ar e
então realizando a destilação fracionada
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* do mesmo. O N2 tem ponto de ebulição
menor que o O2, saindo antes que o 02
Nitrogênio N [He] 2?2p3 -III -II -I 0 I H III IV V da coluna de destilação. Seis gases
Fósforo P (Ne) 3s2 3p3 in V industriais são obtidos dessa maneira: N2,
Arsênio As [Ar] 3d'° 4? 4p3 m V O2, Ne, Ar, Kr e Xe. Uma análise típica do
Antimônio Sb [Kr] 4d10 5? 5p3 in V
ar é mostrada na Tab. 14.3.
Bismuto Bi [Xe] 4/4 5d'°6r26p3 ui V
A produção mundial de N2 está cres
’ Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados cendo rapidamente e ultrapassa 60
em negrito
cu» WUUV9 estados
UUKl ttu Outros bem vuiuvivi
coiauvj wvm caracterizados, menos uimportantes,
icuuvv, mas HÍV.1ÀWJ 1VÍ lainvJ, uuw em tipo
mostrados Clll
são líivouauuo lipu ,
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são mostrados entre parênteses milhões de toneladas/ano (isso se deve
OCORRÊNCIA. OBTENÇÃO E USOS
principalmente ao fato do O2 líquido ser essencial nos Figura 14.1 — Estrutura do adenosina-trífosfato, ATP
modernos processos de obtenção do aço, mas o N2 é
produzido simultaneamente). Cerca de dois terços do N2 é CaFJ. Um indivíduo de peso médio possui em seu organismo
vendido na forma de gás. Este pode ser comprimido em cerca de 3,5 kg de fosfato de cálcio. Os ácidos nucléicos
cilindros de aço, ou conduzido através de gasodutos ao lo como DNA e RNA contêm o material genético de cada célula.
cal de consumo. Um terço da produção é vendido como N2 Esses ácidos nucléicos são constituídos por cadeias de
líquido. 0 nitrogênio obtido dessa maneira sempre contém poliésteres de fosfatos e açúcares com certas bases orgânicas
pequenas quantidades de oxigênio e dos gases nobres como (adenina, citosina, timina e guanina). O fósforo, na forma
impurezas. Geralmente, o N2 comercial contém até 20 ppm de adenosina-trifosfato, ATP, e adenosina-difosfato, ADP, é
de 02. 0 nitrogênio “isento de oxigênio" contém até 2 ppm de importância vital no processo de produção de energia
de 02 e o nitrogênio ultrapuro é isento de oxigênio, mas nas células. Quando a água quebra uma das ligações fosfato
pode conter até 10 ppm de argônio. do ATP transformando-o em ADP, ocorre a liberação de 33
Um cilindro de N2 é a fonte usual de nitrogênio nos kJ mol'1 de energia.
laboratórios, mas amostras do gás podem ser obtidas a partir Grandes quantidades de fosfatos são utilizados em
do aquecimento do nitrito de amônio. O N2 também é obtido fertilizantes. A produção mundial de rocha fosfática foi de
na oxidação da amônia, por exemplo com hipoclorito de 145 milhões de toneladas em 1992 (EUA 32%, China 18%,
cálcio, água de bromo ou CuO. Pequenas quantidades de N2 URSS 15% e Marrocos 13%). A maior parte é fluoroapatita,
muito puro podem ser obtidas aquecendo-se cuidadosa [3Ca3(PO4)2.CaF2], sendo mineradas quantidades menores
mente o azoteto de sódio, NaN3, a cerca de 300 °C. A de hidroxiapatita, [3Ca3(PO4)2.Ca(OH)2J, e cloroapatita,
decomposição térmica do NaN3 é usada para inflar os [3Ca3(PO4)2.CaCl2), onde o OH' e o Cl' substituem o F~ na
colchões de ar empregados como dispositivos de segurança estrutura cristalina. Cerca de 90% das rochas fosfáticas são
em veículos (air-bags). usados diretamente na fabricação de fertilizantes, e o restante
é usado na fabricação de fósforo e ácido fosfórico.
NH4C1 + NaNO2 -» NaCl + NH4NO2 —aquec.
aquf<:- > N2 + 2H2O
4NH3 + 3Ca(OCl)2 -> 2N2 + 3CaCl2 + 6H2O A produção mundial do elemento é de cerca de um
8NH3 + 3Br2 -» N2 + 6NH4Br milhões t/ano, mas está declinando. O fósforo é obtido pela
2NaN3 —3OO'C > 3N2 + 2Na redução do fosfato de cálcio com C, num forno elétrico a
1.400-1.500 °C. Adiciona-se areia (SiO2) à mistura para re
mover o cálcio como uma escória fluída (silicato de cálcio),
Fósforo que se separa do fósforo na forma de P4O10. A seguir o C é
0 fósforo é o décimo-primeiro elemento mais abundante utilizado para reduzir P4O10 a fósforo elementar. Nas
na crosta terrestre. O fósforo é essencial para a vida, tanto temperaturas utilizadas para essa reação o fósforo encontra-
como material estrutural em animais superiores, como no se no estado gasoso e destila, principalmente como P4
metabolismo de plantas e animais. Cerca de 60% dos ossos misturado com quantidades menores de P2.0 fósforo branco,
e dos dentes são constituídos por Ca3(PO4)2 ou [3(Ca3(PO4)2. P4, é obtido pela condensação do gás ao passar através da
água.
Tabela 143 — Abundância dos diferentes gases no ar seco
2Ca3(PO4)2 + 6SiO2 -> 6CaSiO3 + P4Ol0
P4O10+10C-»P4+10CO
Gás % em volume P.E. dos gases
(em ’C) Cerca de 85% da produção de fósforo elementar é
empregado na fabricação de ácido fosfórico, H3PO4, muito
N2 78,08 -195,8 puro. Cerca de 10% é usado na fabricação de P4S10
O2 20,95 -183,1 (empregado na fabricação de compostos organofosforados
Ar 0,934 -186,0 com ligações P-S) e P4S3 (usado na fabricação de fósforos
CO2 0,025-0,050 -78,4 (sublima) de segurança).
Ne 0,0015 -246,0
H2 0,0010 -253,0 P4 + 5O2 —» P4Ojo + 6H2O - 4H3PO4
He 0,00052 -269,0 P4 + 10S —> P4S10
Kr 0,00011 -153,6 Também é utilizado na fabricação de POC13 e de bronze
Xe 0,0000087 -108,1 de fósforo.
H3B □S ELEMENTOS OO BRUPO 13
ao solo pela primeira chuva, mas não o N2. Dentre as 2) Cerca de 20% provém do NH4NO3, usado em grandes
bactérias desnitrificantes podem ser citadas as quantidades como um fertilizante artificial. O processo
Pseudomonas e Achromobacter. Haber-Bosch é empregado para fixar o N2 atmosférico
na forma de NH3, e o processo Ostwald é empregado
nitratos -» nitritos NO2 n2 NH3 para converter NH3 em HNO3. A reação de NH3 com
HNO3 fornece NH4NO3.
3) Ocorre uma perda global de compostos nitrogenados
do solo devido ao arraste dos mesmos pelas águas 3) Quantidades relativamente pequenas provêm de
superficiais em direção aos mares. Esses compostos depósitos minerais como o salitre do Chile, NaNO3, que
nitrogenados sustentam a flora marinha. é usado como fertilizante.
4) Há uma pequena perda de NO e NO2 para a atmosfera 4) Pequenas quantidades de N2 são fixadas pelos relâm
na combustão de plantas e do carvão; o mesmo pagos e as transformações fotoquímicas. Os relâmpagos
ocorrendo nos gases de escape dos carros. Embora isso provocam a formação de NO e NO2 a partir do N2 e O2
tenha efeitos desagradáveis e produzam “smog” do ar. Essa reação é semelhante ao processo obsoleto
localizado, as quantidades envolvidas são pequenas, e de Birkeland-Eyde. A forte radiação UV na atmosfera
o nitrogênio é devolvido ao solo com a chuva. superior pode provocar transformações fotoquímicas
semelhantes, gerando óxidos de nitrogênio. O NO2
Ocorre aumento da quantidade de nitrogênio combinado no
produzido forma uma solução muito diluída de HNO3
solo:
na água da chuva.
1) Esse aumento provém principalmente como resultado
da fixação de N2 pelas bactérias nitrificantes,
convertendo-o em nitratos ou sais de amônio. Isso Fósforo
corresponde a mais de 60% do ganho de nitrogênio. O fósforo é um sólido à temperatura ambiente. O fósforo
Calcula-se que cerca de 175 milhões de toneladas de branco é mole, de aspecto ceroso, e bastante reativo. Reage
N2 são fixados pelas bactérias anualmente. Essa com ar úmido desprendendo luz (quimioluminescência). Ele
quantidade pode ser comparada com os 110 milhões de se inflama espontaneamente no ar a cerca de 35 °C, sendo
toneladas de NH3 produzida em 1992 pelo homem armazenado sob água para impedir essa reação. É extrema
(principalmente pelo processo Haber-Bosch, mas mente tóxico, podendo ser encontrado na forma de moléculas
também pela destilação do carvão). O gênero mais P4 tetraédricas. Essa mesma estrutura é mantida nos estados
importante dessas bactérias é o Rhizobium. Elas vivem líquido e gasoso. Acima de 800 °C, as moléculas de P4 gaso
em simbiose nos nódulos das raízes das plantas da sos começam a se dissociar formando P2, que possuem uma
família das leguminosas, por exemplo, ervilhas, feijão, energia de ligação de 489,6 kJ mol’1 (este corresponde
trevo e amieiro. Outras bactérias nitrificantes vivem somente à metade do valor para o N2, pois os orbitais do
livres no solo, por exemplo as bactérias verde azuladas terceiro nível são muito maiores, sendo a interação prc-ptt
Anabena e Nostoc, as bactérias aeróbias tais como relativamente fraca). Se o fósforo branco for aquecido a cerca
Azobacter e Beijerinckia, e as bactérias anaeróbias como de 250 °C, ou a uma temperatura menor na presença de luz
Clostridium pastorianum. Essas bactérias necessitam solar, forma-se o fósforo vermelho. Trata-se de um sólido
de pequenas quantidades de certos metais de transição polimérico, muito menos reativo que o fósforo branco. É
como Mo, Fe, Co e Cu, e também de B do solo. A enzima estável ao ar e não sofre ignição, a não ser mediante
fixadora de nitrogênio “nitrogenase” foi isolada do aquecimento a 400 °C. Não é necessário armazená-lo sob
Clostridium pastorianum em 1960: o mesmo sistema água. É insolúvel em solventes orgânicos. Uma forma
enzimático é responsável pela fixação de nitrogênio nas altamente polimerizada de fósforo denominada fósforo preto
demais bactérias. pode ser obtido aquecendo-se o fósforo branco, a pressões
A nitrogenase contém dois componentes. Uma delas é elevadas. Essa é a forma alotrópica termodinamicamente
uma proteína de Mo e Fe, de peso molecular 220.000, mais estável. É inerte e apresenta uma estrutura lamelar
contendo 24-32 Fe, dois Mo e um grupo sulfeto lábil. O (Fig. 14.2). Há relatos duvidosos sobre outras variedades
outro é uma ferro-proteína de peso molecular 60.000, alotrópicas.
contendo 4 Fe e 4 S. A nitrogenase reduz N2 a NH3. Supõe-
se que o N2 forma um complexo com a proteína de Fe-Mo. A
coordenação de apenas um dos átomos de nitrogênio ao
metal é favorecida nos complexos de N2. Nesse caso, a doação
do par de elétrons do N ao metal formando uma ligação o é
mais importante que a retrodoação n do metal par o N. A
nitrogenase também é capaz de reduzir N2O, RCN e N3 a
NH3; reduz também etino, C2H2, a eteno, C2H4.
Bactérias verde azuladas também podem fixar N2, sendo
importante no cultivo do arroz.
0 número de quilogramas de nitrogênio fixadas
anualmente por acre de solo fértil por diferentes organismos Figura 14.2 — A estrutura do fósforo preto. No fósforo preto cristalino,
é: Rhizobium, 120; bactérias verde azuladas, 10; Azotobacter, os átomos estão dispostos em planos dobrados (Van Wazer, J.R.
0,1; Clostridium, 0,1. Phosphorus and its compounds, Vol 1, Interscience, N. York - Londres.
B4O □S ELEMENTOS □□ BRUPO 15
4) formar um precipitado amarelo-alaranjado com o ao fogo. O NH4CIO4 é usado como agente oxidante em
reagente de Nessler. combustíveis sólidos para foguetes.
A produção mundial de NH3 foi de 110 milhões de
toneladas em 1992. A maior parte foi sintetizada a partir de Fosfina, PH3
H2 e N2, pelo processo Haber-Bosch (vide adiante), mas uma
parte foi obtida a partir da purificação do gás de carvão e A fosfina, PH3 (ou fosfano), é um gás incolor extrema
durante a produção de coque a partir do carvão. A amônia mente tóxico e reativo, com odor que se assemelha ao do
alho ou do peixe em decomposição. Pode ser obtido pela
também pode ser obtida pela hidrólise da cianamida de
hidrólise de fosfetos metálicos como Na3P ou Ca3P2 com
cálcio, CaNCN. A cianamida de cálcio é usualmente
água, ou pela hidrólise de fósforo branco numa solução
empregada como fertilizante, sendo que a reação de hidrólise
aquosa de NaOH.
ocorre lentamente no solo.
CaNCN + 3H2O -► 2NH3 + CaCO3 Ca3P2 + 6H2O -» 2PH3 + 3Ca(OH)2
P4 + 3NaOH + 3H2O -» PH3 + 3NaH2PO2
(CaNCN também é empregado na preparação da
melamina, uréia e tiouréia — vide Capítulo 11). No passado, Ao contrário do NH3, o PH3 não é muito solúvel em
quando o gás de iluminação era produzido pela destilação água e suas soluções aquosas são neutras. O PH3 é mais
seca do carvão na ausência de ar e usado como combustível, solúvel em CS2 e em outros solventes orgânicos. Sais de
os compostos nitrogenados do carvão eram transformados fosfônio, como [PH4] + cr, podem ser formados, mas isto
em NH3. Assim, NH3 era obtido como um subproduto do requer a reação de PH3 e HC1 anidros (em contraste com a
gás de iluminaçâ o. rápida formação de NH4X em solução aquosa). O PH3 puro
é estável no ar, mas inflama-se quando aquecido a cerca de
150 °C.
Sais de amônio
PH3 + 2O2 —> H3PO4
Todos os sais de amônio são muito solúveis em água.
Todos reagem com NaOH, liberando NH3. O íon NH4+ é O PH3 freqüentemente contém pequenas quantidades
tetraédrico. Diversos sais de amônio são importantes. de difosfina, P2H6 (difosfano) que provocam sua ignição
O NH4CI é um dos mais conhecidos. Antigamente era espontânea. Essa é a origem das luzes bruxuleantes
obtido aquecendo-se estrume de camelos: 0 NH4C1 pode ser conhecidas como "fogo-fátuo”, às vezes observadas em
facilmente purificado por sublimação! O sal pode ser pântanos e cemitérios.
recuperado como um subproduto do processo Solvay. É
usado em pilhas secas do tipo Leclanché. Também é usado Arsina AsH3, estibina SbH3, e bismutina BiH3
como fundente na solda e estanhação de metais, já que os A energia de ligação (Tab. 14.6) e a estabilidade dos
óxidos de muitos metais reagem com NH4C1 formando hidretos decrescem descendo pelo Grupo. Em conseqüência,
cloretos voláteis, limpando assim a superfície metálica. a arsina AsH3 (arsano), a estibina SbH3 (estibano) e a
O NH4NO3 é um composto deliqüescente usado em bismutina BiH3 (bismutano) são obtidas apenas em pequenas
grandes quantidades como fertilizante nitrogenado. Como quantidades. Tanto o AsH3 como o SbH3 são gases muito
ele pode provocar explosões, é freqüentemente misturado tóxicos. AsH3, SbH3 e BiH3 podem ser preparados pela
com CaCO3 ou (NH4)2SO4 para torná-lo seguro. Também é hidrólise dos seus compostos binários com metais, como
usado como explosivo, pois mediante forte aquecimento Zn3As2, Mg3Sb2 ou Mg3Bi2, com água ou ácidos diluídos.
(acima de 300 °C) ou com o auxílio de um detonador, é AsH3 e SbH3 são formados no teste de Marsh para compostos
possível provocar sua rápida decomposição. O sólido ocupa de As e Sb. Antes do advento da análise instrumental, esse
teste era usado na química forense. Praticamente todos os
um volume irrelevante, mas produz sete volumes de gás.
compostos de As e Sb podem ser reduzidos com Zn e ácido,
Isso provoca a explosão:
formando AsH3 e SbH3. Os hidretos gasosos são passados
2NH4NO3 -» 2N2 + O2 + 4H2O através de um tudo de vidro aquecido por um bico de Bun-
sen. O SbH3 é menos estável que o AsH3, por isso decompõe-
Quantidades menores de (NH4)2SO4 são também usadas se, formando um espelho metálico antes de chegar a região
como fertilizantes. Antigamente o (NH4)2SO4 era obtido como do tubo que está sendo diretamente aquecida pela chama.
subproduto do gás de iluminação. Desde o momento em O AsH3 é mais estável e requer temperaturas maiores para
que o gás natural começou a suprir a demanda nos países se decompor. Assim, o AsH3 forma um espelho metálico
desenvolvidos, o gás de iluminação não foi mais produzido. depois da posição em que se encontra a chama.
O (NH4)2SO4 é obtido passando-se NH3 e CO2 gasosos através
de uma suspensão de CaSO4 em água: Estrutura dos hidretos
2NH3 + CO2 + H2O (NH4)2CO3 A estrutura da amônia pode ser descrita como sendo
(NH4)2CO3 + CaSO4 CaCO3 + (NH4)2SO4 piramidal ou tetraédrica, com uma das posições ocupada
por um par não-ligante (Fig. 14.4). Essa forma é prevista
Pequenas quantidades de hidrogenofosfato de diamônio, pela Teoria da Repulsão dos Pares Eletrônicos de Valência,
(NH4)2HPO4, e de dihidrogenofosfato de amônio, NH4H2PO4, uma vez que há quatro pares de elétrons na camada mais
são empregadas como fertilizantes. Esses compostos são externa. Esses pares constituem três pares ligantes e um
usados para tornar a madeira, o papel e tecidos resistente não-ligante. A repulsão entre um par não-ligante e um ligante
HIDRETOS 243
sempre é maior que a repulsão entre dois pares ligantes. Por Tabela 14.7 — Hidretos do nitrogênio
isso, os ângulos das ligações diminuem de 109°27' para
107°48', e 0 tetraedro é ligeiramente distorcido. Fórmula Nome Estado de oxidação
1s 2s 2p
Configuração eletrônica
do átomo de nitrogênio [w] [u] |t |t |t I NH3 Amônia -III
— estado fundamental n2h4 Hidrazina -II
nh2oh Hidroxilamina
Nitrogênio depois de
compartilhar três elétrons 0 [ü] |n|t;|n| Os demais hidretos do Grupo apresentam nenhuma ou
com três átomos de I
hidrogênio na molécula de NH3 Quatro orbitais no nível mais externo pouca tendência de formar ligações coordenadas, por serem
intes e um par não-
(três pares ligan doadores muito fracos.
_tura tetaédrica com
ligante) — estrut»
um vértice «'«■■oado
ocup< pelo par
não-liga
jante O par não-ligante ocupa um orbital híbrido sp3 no NH3.
No AsH3 e SbH3 os ângulos de ligação se aproximam de
90°, sugerindo que os orbitais usados na formação das três
Os hidretos PH3, AsH3 e SbH3 deveríam ter estruturas
ligações M-H são orbitais p quase puros. Se isso for verdade,
semelhantes. Contudo, os pares de elétrons ligantes estão
então o par não-ligante deve ocupar um orbital esférico s.
mais afastados do átomo central do que no NH3. Assim, o
Esse é maior e não direcional, sendo portanto menos eficiente
par isolado de elétrons provoca uma distorção ainda maior
para formar ligações coordenadas. Isso implica que qualquer
no PH3, AsH3 e SbH3. O ângulo da ligação diminui até 91°18'
ligação o formada por esse orbital será muito fraca. Além
no SbH3 (Tab. 14.6). Esses ângulos de ligação sugerem que
disso, os orbitais 4d e 5d são muito grandes para permitirem
no PH3, AsH3, SbH3 e BiH3 as ligações estão sendo formadas
uma interação n efetiva. Esses dois fatores explicam as
por orbitais p quase puros.
diferenças no poder coordenante observadas nos diferentes
Os pontos de fusão e de ebulição dos hidretos aumentam hidretos.
do PH3 ao AsH3 e SbH3. Os valores para o NH3 não acom
O nitrogênio forma diversos hidretos (vide Tab. 14.7).
panham essa tendência: espera-se que seu ponto de ebulição
seja da ordem de -110 °C ou -120 °C. O NH3 tem um ponto
de ebulição maior e é muito menos volátil que o esperado, Hidrazina, N2H4
pois forma ligações de hidrogênio no estado líquido, em A hidrazina é um líquido covalente, fumegante quando
contraste com os demais hidretos. exposto ao ar, e com odor semelhante ao do NH3. A hidrazina
Esses hidretos são agentes redutores fortes e reagem pura queima facilmente ao ar, liberando uma grande quanti
com soluções de íons metálicos formando fosfetos, arsenetos dade de calor.
e estibinetos. São inflamáveis e extremamente tóxicos.
N2(g) + 2H2O
N2H4Q) + O2(gS —* ^2(x) AH = —621 kJ mol
Os derivados metilados MeNHNH2 e Me2NNH2 são
Propriedades doadoras
misturados com N2O4 e usados como combustível de fogue
0 NH3 pode doar seu par de elétrons não-ligante tes, ônibus espaciais e de mísseis teleguiados. Também foi
formando complexos estáveis. Assim, a amônia forma sais utilizado nos módulos lunares da série Apollo.
deamônio NH4+, e também compostos de coordenação com
íons metálicos dos Grupos do Co, Ni, Cu e Zn, por exemplo, O N2H4 é uma base fraca e reage com ácidos, formando
0 íon [Co(NH3)6]3+ pode ser facilmente obtido. duas séries de sais. Todos são sólidos iônicos cristalinos,
brancos, solúveis em água.
O PH3 também se comporta como um doador de elétrons
e forma numerosos complexos, tais como [F3B«— PH3], N2H4 + HX N2H5+ + X-
[CI3AI*—PH3) e [Cr(CO)3(PH3)3]. Diversos outros compostos N2H4 + 2HX N2HÍ* + 2X‘
de fósforo trivalente, como PF3, PC13, PEt3, P(OR)3 e PPh3 Quando dissolvida em água (em soluções neutras ou
também formam complexos, que de certo modo se alcalinas), a hidrazina ou seus sais são agentes redutores
assemelham aos complexos formados pelo CO. Por exemplo, fortes. São usados para fabricar espelhos de prata e de cobre,
0 par não-ligante do P é utilizado para formar uma ligação e para precipitar os metais do grupo da platina. A hidrazina
coordenada com um orbital vazio do B ou de um metal (uma também reduz I2 e O2.
ligação a). No caso dos metais, essa ligação coordenada
pode ser reforçada por uma ligação tr, formada por um or N,H4 + 2I2 -> 4HI + N2
bital d preenchido do metal com um orbital d vazio do P N2H4 + 2O2 -»2H2O2 + N2
(“back-bonding”). N2H4 + 2CuSO4 - Cu + N2 + 2H2SO4
Geralmente a hidrazina se compor
Tabela 14.6 — Algumas propriedades dos hidretos
ta como um agente redutor moderado
P.F. P.E. Energia de ligação Ângulo de ligação Comprimento em meio ácido, embora redutores mais
cc) CC) (kJ mol de ligação (Â) fortes possam reduzir N2H4 a NH3.
possuem um par de elétrons não-ligantes, que podem formar propriedades química bem diferentes da do N2H4.
ligações coordenadas com íons metálicos como Ni2+ e Co2 + . H :
A produção mundial de hidrazina é de aproximada \ /
:—N—N—H
mente 20.000 t/ano. A maior parte é usada como combustível
de foguetes. Também são usados na fabricação de
/ \
H H
“propelentes” (para a obtenção de plásticos insuflados),
como produto de uso agrícola, e no tratamento de águas de
caldeira para prevenir a oxidação das caldeiras e tubulações. Hidroxilamina NH2OH
No laboratório, a fenil-hidrazina é empregada para identificar A hidroxilamina forma cristais incolores que fundem a
compostos carbonílicos e açúcares, através da formação de 33 °C. Ela é termicamente instável e se decompõe facilmente
derivados cristalinos denominados osazonas. As osazonas em NH3, N2, HNO2 e N2O. Se aquecida fortemente, explode.
podem ser identificadas pelo exame da forma dos cristais ao Geralmente é manuseada na forma de uma solução aquosa
microscópio, ou pela determinação de seus pontos de fusão. ou um de seus sais, pois são mais estáveis que NH2OH puro.
A hidroxilamina é uma base mais fraca que amônia ou
CHj-OH CH2OH a hidrazina. Os seus sais contêm o íon hidroxilamônio,
(CHOH), (CH-OH), [NH3OH] + .
Essa reação é catalisada por íons de metais pesados Tanto o NH2OH como seus sais são muito tóxicos e são
presentes na solução. Por isso, utiliza-se água destilada ao agentes redutores fortes.
invés de água de torneira, e adiciona-se cola ou gelatina A hidroxilamina é obtida pela redução de nitritos ou,
para complexar os íons metálicos remanescentes. O uso de então, a partir de nitrometano:
excesso de amônia reduz a ocorrência da reação entre
cloramina e hidrazina. É necessário a utilização de solução NH4NO2 + NH4HSO3 + SO2 + 2H2O—»[NH3OH]+ HSO4-
diluída dos reagentes para minimizar outra reação + (NH4)2so4
secundária: CH3NO2 + H2SO4 [nh3oh]+hso; + CO
A AMÔNIA LÍQUIDA COMO SOLVENTE necessário destruir o sódio mediante o uso de um ácido, por
exemplo o sal de amônio em amônia líquida.
0 gás amônia pode ser facilmente condensado (ponto
de ebulição -33 °C) à amônia líquida. Ele é o solvente não- 2NH4Br + 2Na —em NHj
,n,NH‘ > 2NaBr + H2 + 2NH3
aquoso mais estudado, assemelhando-se bastante ao sistema
aquoso. A amônia líquida, como a água, é capaz de dis A amônia líquida aceita prótons com facilidade, e por
solver uma grande variedade de sais. Além disso, tanto a isso aumenta o grau de dissociação dos assim chamados
água como a amônia sofrem reações de auto-ionização: ácidos fracos, como o ácido acético.
2H2O H3O+ + OH’ CH3 COOH =* CH3COO" + H +
2NH3 — NH4+ + NH2’
O NH3 remove prótons e faz com que a reação se
Substâncias que produzem íons H3O+ em solução processe no sentido direto. Assim, o pKa do ácido acético
aquosa são ácidas, e os sais de amônio são ácidos em amônia em água é igual a 5, mas está quase totalmente dissociado
líquida. Analogamente, substâncias que produzem OH" em em amônia líquida. Portanto, a amônia reduz as diferenças
água ou NH2 em amônia líquida são bases nos respectivos entre as forças dos ácidos. Por isso a amônia é conhecido
solventes. como um solvente nivelador (vide Ácidos e Bases, no
Capítulo 8).
Portanto, reações de neutralização ácido-base ocorrem
em ambos os solventes e a fenolftaleína pode ser usada para
indicar o ponto final: AZOTETOS
O azoteto de hidrogênio, HN3, (ácido azotídrico) é um
HC1 + NaOH—» NaCl + H2O (em água)
ácido base sal solvente líquido incolor com ponto de ebulição igual a 37 °C,
altamente tóxico e odor irritante. Tanto o líquido como o
NH4CI + NaNH2 NaCl + 2NH3 (em amônia) gás explodem quando aquecidos ou sob forte impacto.
De modo semelhante, ocorrem reações de precipitação 2HN3 H2 + 3N2
em ambos os solventes. Contudo, o sentido da reação
O HN3 é um pouco mais estável em solução aquosa,
depende do solvente.
mas deve ser manuseado com cuidado. Dissocia-se pouco
em solução aquosa (ácido fraco, pKa = 5), tendo uma força
(NH4)2S + Cu2+ -> 2NH4 + Cu2S 4- (em água)
semelhante a do ácido acético. Reage com metais eletro-
(NH4)2S + Cu2+ -> 2NH4 + Cu2S 4- (em amônia) positivos, formando compostos iônicos denominados
BaCl2 + 2AgNO3 —> Ba(NO3)2 + 2AgCl 4- (em água) azotetos. Mas, ao contrário de outras reações entre ácidos e
metais, não há liberação de hidrogênio.
Ba(NO3)2 + 2AgCl -> BaCl2 4- + 2AgNO3 4- (em amônia)
6HN3 + 4Li -> 4LiN3 + 2NH3 + 2N2
0 caráter anfótero dos compostos pode ser observado azoteto de lítio
em ambos os solventes. Por exemplo, Zn(OH)2 é anfótero
em água e Zn(NH2)2 é anfótero em amônia: Azotetos covalentes são usados como detonadores e
explosivos. Os azotetos iônicos geralmente são muito mais
Zn2+ + NaOH -> Zn(OH)2+ NaOH -4 Na2[Zn(OH)4] (em água) estáveis, de modo que alguns deles são usados como corantes
insolúvel excesso solúvel e intermediários em síntese orgânica.
Zn2+ + KNH2 -> Zn(NH2)2+KNH2 -> K2[Zn(NH2)4] (em amônia) O método de síntese de azotetos mais importante se
insolúvel excesso baseia no borbulhamento do óxido nitroso gasoso em
A amônia líquida é um solvente muito apropriado para sodamida fundida a 190 °C, em condições anidras. O vapor
os metais alcalinos e os metais mais pesados do Grupo 2, d'água produzido reage com nova quantidade de sodamida.
Ca, Sr e Ba. Os metais são muito solúveis e suas soluções Alternativamente, o óxido nitroso pode ser borbulhado numa
em amônia líquida apresentam uma condutividade solução de sodamida em amônia líquida como solvente.
comparável a dos metais puros. A amônia solvata os íons
metálicos, mas resiste à redução pelos elétrons livres. Essas N2O + NaNH2 -> NaN3 + H2O
soluções de metais em amônia líquida são excelentes agentes H2O + NaNH2 -» NH3 + NaOH
redutores, por causa da presença dos elétrons livres. N2O + 2NaNH2-»NaN3 + NH3 + NaOH
Na amônia líquida
-> [Na(NH3)„] + + e O azoteto de sódio assim obtido pode ser convertido
no azoteto de hidrogênio por tratamento com H2SO4, seguido
Soluções de sais de amônio em amônia líquida são de destilação. O azoteto de chumbo, Pb(N3)2, pode ser
usadas na limpeza do sistema de refrigeração de alguns precipitado de uma solução de azoteto de sódio e um sal
reatores nucleares. O sódio líquido é empregado para solúvel de chumbo, como Pb(NO3)2. O Pb(N3)2 é sensível
arrefecer os reatores do tipo “fast breeder”, como o de ao choque sendo usado como detonador de explosivos de
Dounreay, na Escócia. A amônia líquida é um bom solvente elevada potência. É panicularmente confiável, e funciona
para esse metal, mas as superfícies ficam úmidas com NH3. mesmo quando úmido. Muitos outros azotetos metálicos
Quando este evapora, podem sobrar pequenos depósitos de são conhecidos. O triazoteto cianúrico é um poderoso
sódio finamente divididos, que é pirofórico. Por isso, é explosivo (Fig. 14.6).
246 OS ELEMENTOS DO GRUPO 15
Solução ácida
Estado de oxidação
+V +IV +ni +n +1 0 -n -in
+ 1,03 -0,23
+0,96 ------------------------- ---------- -0,005
I +0.79
+ 1,07 +1,00 + 1,59 +1,77 -1.87 | • +1,41 I +1,28
no3-------- N2O4 ----------- HONO------------ - NO - n2o NHjOH H* -------- N2H; -------- nh;
Estado de oxidação
+0,94 __________ I I_________ +1,29
J -3,09 1----------- +1,35 —-------
I------- HN3 ------------- +0.70---------- —'I
+V +IV +m +n +i 0 -n in
-0,94 » +0,38 -0,50 -0.51 -0.1 o.o
H3PO4—H4P2O6 H3PO2 P PzK, ph3
'------------------- 0,28 ■
0,50 JL -0.065
+0,56 +0,25 -0.60
H3AsO4 — -------- H3AsO3 As AsH3
+0,68 +0,21 -0,51
Sb2O5 Sb2O4 SbO+ Sb SbHj
‘-------------- +0,58 l
+ 1,6 +0,32 -0.8
BiA BiO* Bi BiHj
Solução básica
Estado de oxidação
+V +TV +III +n +1 0 -II III
NOj
-0,86
N2O4
+0,88
no2
-0,46
NO-
+0,76
n2o
+0.94 r
- n2-
-3,04
-1.16
NH2OH
+0,73
1
N2ri,
’
+0,1
NHj
+0,01 JL +0,15 J L -1,05 I I +0,42
-1.12 -1,57 -2,05 -0,89
POt HPOj’ H2PO) P4 PH3
I____
* Sofre despropoprcionamento
-1.18
ÍJ
complexo por N2. Já foram obtidos complexos de dinitrogênio em larga escala como fertilizante nitrogenado, e como
com quase todos os elementos de transição. matéria-prima para preparação de compostos orgânicos como
a melamina.
[Ru(NH3)5H2O]2++N2 ----- Solução aquosa > [Ru (NH3)5N2)2 +
CaC2 + N2 ----- 1100'C
“°°c > CaNCN + C
A formação desse complexo de nitrogênio estável
CaNCN + 5H2O -> CaCO3 + 2NH4OH
motivou os estudos com outros metais. Os mais promissores
são os complexos de titânio (II): a redução de alcóxidos de
titânio fornece amônia ou hidrazina. Um ciclo completo de O processo Haber-Bosch
reações para fixar o nitrogênio atmosférico gerando NH3 já O processo industrial mais importante é o processo
íoi publicado: Haber-Bosch. Fritz Haber descobriu como combinar direta
Tilv(OR)4
Na mente, em laboratório, N2 e H2. Ele recebeu o Prêmio Nobel
-Tin(OR)2 + 2NaOR
de Química de 1918. Carl Bosch foi um engenheiro químico
r*Ti(OR)2 [Ti(OR)2N2] que desenvolveu os equipamentos necessários para a
produção industrial de amônia aproveitando essa reação.
reduz Ele também recebeu o Prêmio Nobel de Química, mas em
[Ti(OR)2N2] (TiCOR)^]6-
1931, por suas pesquisas sobre reações a altas pressões.
+ 6H*
[TiíOR^NJ6- •2NH3 + [tí(ÕR)2 |
n N2 + 3H2 2NHj + calor
4 volumes 2 volumes
OU
reduz + 6H* A reação é reversível, e o princípio de Le Chatelier sugere
[Ti(OR)2N2] [Ti(OR)2N2]6- N2R,+ Tí(OR)2
que são necessárias altas pressões e baixas temperaturas
para deslocar o equilíbrio para a direita, formando assim o
0 Processo da Cianamida
NH3. A temperaturas menores a percentagem de conversão
A produção de cianamida de cálcio superou a marca é maior, mas a reação atinge o equilíbrio muito lentamente,
dos 1,3 milhões de t/ano e continua aumentando. Ela é usada sendo necessário um catalisador. Na prática, as condições
B48 05 ELEMENTOS 00 ERUPO 15
empregadas são 200 atmosferas de pressão, uma temperatura como a nitroglicerina, a nitrocelulose e o TNT. 0 HNOj
de 380-450 °C, e um catalisador de “ferro ativado”. É mais tem ainda muitas outras aplicações.
econômico usar uma temperatura mais elevada, mesmo que 2) Obtenção de caprolactama, que pode ser polimerizado
a percentagem de conversão em NH3 seja menor, pois o formando o náilon-6 (vide hidroxilamina).
equilíbrio será atingido mais rapidamente. A temperaturas
3) Preparação de hexametilenodiamina, empregada na
de cerca de 400 °C obtém-se uma conversão de 15%, com fabricação de náilon-66, de poliuretanas e de poliamidas.
apenas uma passagem pelo catalisador. A mistura gasosa é
esfriada para formar NH3 líquida, e a mistura dos gases N2 e 4) Fabricação de hidrazina e hidroxilamina.
H2 é reciclada. As instalações são feitas de uma liga de aço 5) A amônia líquida é muitas vezes usada como um meio
com Ni e Cr. alternativo conveniente e econômico de transportar
O catalisador é obtido fundindo-se Fe3O4 e KOH com “H2”, e, vez de transportá-lo em cilindros de aço com
um material refratário como MgO, SiO2, ou A12O3. O sólido gás H2 comprimido. O H2 é obtido a partir do NHj
assim obtido é quebrado em pequenos fragmentos e aquecendo-o na presença de um catalisador de Ni ou
introduzido no conversor de amônia, onde o Fe3O4 é Fe, finamente dividido.
reduzido, formando pequenos cristais de ferro dentro de uma 6) A amônia tem sido empregada como líquido
matriz refratária. Esse é o catalisador ativado. refrigerante. O líquido tem um calor de vaporização
muito elevado e pontos de ebulição e de fusão
As instalações reais são bem mais complicadas do que
adequados. Devido aos riscos ao meio ambiente
sugerido por essa reação em uma etapa, já que os gases N2
causados pelo uso dos freons em refrigeradores, o uso
e H2 devem ser obtidos antes de serem convertidos em NH3.
O preço do H2 é um dos principais fatores que influenciam o alternativo da NH3 pode aumentar.
custo do processo. Antigamente o H2 necessário era obtido O uso generalizado de nitratos como fertilizantes
pela eletrólise da água. Esse procedimento era caro. Por isso provocou um grande aumento nas colheitas. Como são
foi substituído por um método mais barato que utiliza coque solúveis, as águas que escorrem para os lagos e rios também
e água (gás d’água, gasogênio). Atualmente, o H2 é produzido contêm nitratos. Isso causa diversos problemas:
a partir de hidrocarbonetos (como petróleo ou CH4), D Provoca o crescimento anormal de algas e outras plantas
reagindo-os com vapor a 750 °C, na presença de um aquáticas, que podem obstruir rios e lagos, e tornar
catalisador de Ni. Todos os compostos de S devem ser verdejantes os bancos pantanosos existentes nos
removidos, pois envenenam o catalisador. estuários.
2) Há suspeitas de que a presença de nitratos na água
CH4 + 2H2O •=*=> CO2 + 4H2 potável é prejudicial, pois provocam uma doença nos
CH4 + H2O CO + 3H2 bebês denominado metemoglobinemia, que reduz a
Adiciona-se certa quantidade de ar a mistura de gases quantidade de oxigênio no sangue. Em casos extremos,
obtida. O oxigênio reage com parte do H2 até que a proporção isso provoca a “síndrome da doença azul". Também há
correta dos reagentes N2 e H2 de 1:3 seja alcançada. suspeitas de que os nitratos estejam relacionados ao
câncer de estômago. Por causa disso, alguns países
(4N2 + OJ + 2H2 -> 4N2 + 2H2O fixaram o limite de 25 ppm de nitratos na água potável.
ar
3) É possível que a desnitrificação produzindo óxidos de
0 CO também deve ser removido, pois envenena o nitrogênio, como o N2O, possa prejudicar a camada de
catalisador. ozônio.
CO + H20 == C02 + H2
URÉIA
Finalmente, o CO2 é removido utilizando-se uma solução A uréia é largamente empregada como fertilizante
concentrada de K2CO3 ou de etanolamina.
nitrogenado. Ela é muito solúvel e portanto de ação rápida,
A produção mundial de NH3 aumentou de cerca de 1 mas é também facilmente lixiviada pela água. Tem um
milhão de t/ano em 1950 para 110 milhões em 1992. Mesmo conteúdo muito elevado de nitrogênio (46%). A uréia é
assim não é o produto químico fabricado em maior obtida a partir da amônia, utilizando um processo em dois
quantidade em massa. Contudo, como o NH3 tem uma massa estágios:
molecular muito pequena, ela é a substância produzida em
160-200'C
maior quantidade em número de mol. Os maiores produtores 2NH3 +C02 T NH2COONH4 -> nh2 • CO ■ NH2+H,0
altas pressões carbamato uréia
são a União Soviética (27%), China (21%), EUA (18%), de amônia
Canadá (4%), Romênia (4%), Holanda e México (3% cada No solo, a uréia lentamente sofre hidrólise formando
um), Alemanha Ocidental, Polônia, Itália e Alemanha Ori carbonato de amônio.
ental (2% cada um).
NH2CONH2 + 2H2O (NH4)2CO3
Cerca de 75% da amônia são empregados como
fertilizantes (30% por aplicação direta do gás NH3 ou de
NH40H ao solo, 20% como NH4NO3, 15% como uréia, 10% FERTILIZANTES FOSFATADOS
como fosfato de amônio e 3% como (NH4)2SO4). Também é Rochas fosfáticas, como a fluorapatita, [3Ca3(PO4)2-CaF2],
utilizada na: são muito pouco solúveis e, portanto, não estão disponíveis
D Fabricação de HNO3, o qual pode ser usado na para as plantas. O “superfosfato” é preparado, tratando-se
preparação de NH4NO3 (fertilizante), ou explosivos as rochas fosfáticas com H2SO4 concentrado. 0 sal ácido
HALETOS B49
Ca(H2PO4)2 é mais solúvel e o superfosfato se dissolverá na Inúmeros complexos de metais de transição com
água do solo no período de algumas semanas. trifluorofosfina são conhecidos. Muitas das pesquisas a
respeito foram realizadas por J. Chatt e seu grupo na ICI.
[3Ca3 (PO4)2 ■ CaF2] + 7H2SO4-»3Ca(H2PO4)2 + 7CaSO4 + 2HF
superfosfato Embora a maioria dos trihaletos sejam obtidos a partir dos
elementos, o PF3 é obtido pela ação do CaF2 (ou outro
0 CaSO4 é um subproduto insolúvel sem valor para as fluoreto) sobre PC13. O PF3 é um gás incolor, inodoro e muito
plantas, mas não é removido do produto comercializado. tóxico, pois complexa a hemoglobina do sangue, impedindo
0 "superfosfato triplo" é fabricado de maneira seme o fornecimento de oxigênio ao organismo.
lhante, usando H3PO4 para evitar a formação do subproduto O NF3 apresenta uma pequena tendência de atuar como
CaSO4. molécula doadora. Essa molécula é tetraédrica, com um dos
(3Ca3(PO4)2-CaF2] + 14H3PO4 10Ca(H2PO4)2 + 2HF vértices ocupado pelo par não-ligante, sendo o ângulo de
superfosfato triplo ligação F-N-F igual a 102°30'. Contudo, o momento dipo-
lar é muito baixo (0,23 Debye) quando comparado com o
do NH3 (1,47 D). Os átomos de flúor altamente eletro-
HALETOS negativos atraem os elétrons, de modo que os momentos de
líihaletos dipolo das ligações N-F cancelam parcialmente o momento
Todos os tribaletos possíveis de N, P, As, Sb e Bi são do par isolado. Isso reduz tanto o momento dipolar como 0
conhecidos. Os compostos de nitrogênio são os menos poder doador do composto.
estáveis. Embora o NF3 seja estável, o NC13 é explosivo. Os trihaletos também possuem propriedades receptoras
Antigamente esse composto era empregado no alvejamento de elétrons e podem aceitar um par de elétrons de outro íon,
do trigo usado na confecção de pães brancos. Esse uso como o F", formando íons complexos como [SbFs]2' e
declinou rapidamente quando surgiram suspeitas de que o [Sb2F7]“. Reagem também com vários reagentes organo-
trigo alvejado dessa maneira era responsável pela insanidade metálicos formando compostos do tipo MR3.
provocada em cães! NBr3 e NI3 só são conhecidos na forma O trihaleto mais importante é o PCI3, do qual se
de seus amoniatos instáveis: NBr3(6NH3 e NI3(6NH3. Este produzem anualmente 250.000 t/ano, a partir dos elementos.
último pode ser preparado dissolvendo I2 em NH4OH 0,880 Parte do PC13 é utilizado para se obter PC1S.
M e explode na ausência de excesso de amônia. Recomenda-
se aos estudantes que não preparem esse composto. Os PCI3 + Cl2 (OU S2C12) PC15
demais 16 trihaletos são estáveis.
O PCI3 é muito usado na química orgânica para con
Os trihaletos são predominantemente covalentes e têm verter ácidos carboxílicos em cloretos de acila, e álcoois em
uma estrutura tetraédrica com um dos vértices ocupado por haletos de alquila.
um par não-ligante, como o NH3. As exceções são o BiF3,
que é iônico, e os outros haletos de Bi, além do SbF3 que PC13 + 3RCOOH -> 3RCOC1 + H3PO3
apresenta um caráter intermediário. PCI3 + 3ROH —> 3RC1 + H3PO3
Os trihaletos prontamente se hidrolisam em água, mas
O PCI3 pode ser oxidado pelo O2 ou P4O10, formando
os produtos variam conforme o elemento:
oxicloreto de fósforo (cloreto de fosforüa), POC13.
NCI3 + 4H2O - NH4OH + 3H0C1
PCI3 + 3H2O > H3PO4 + 3HC1 2PCI3 + O2 -> 2POC13
AsCIj + 3H2O > H3ASO3 + 3HC1 6PCI3 + P4O10 + 6C12 -> IOPOCI3
SbClj + H2O^SbO+ + 3Cr + 2H +
O POCI3 é consumido em grandes quantidades na
BiClj + H2O->BiO + + 3CF + 2H +
fabricação de fosfatos de trialquila e triarila, (RO)3PO.
Também reagem com NH3. Por exemplo:
/OEt
PCI3 + 6NH3 —> P(NH2)3 + 3NH4C1 (fosfato de trietila)
O=PCl3 + 3EtOH O=P—OEt
NF3 se comporta diferentemente dos demais trihaletos. ^OEt
Ele é inerte, como o CF4, e não sofre hidrólise em água ou /O-CeHrCHj
ácidos e álcalis diluídos. Contudo, reage com vapor d'água O=PC13 + 3HO—C6H4—CHj -» O=P—O • CeH, • CH3
sob a ação de uma centelha. XOC6H,CH3
0 PF3 é bem menos reativo frente à água e seu manuseio (fosfato de tritolufla)
é mais fácil que dos demais trihaletos. Os trihaletos,
particularmente o PF3, podem atuar como moléculas Diversos desses fosfatos têm importância industrial:
doadoras de elétrons, utilizando o par de elétrons isolado D O fosfato de trietila é usado na fabricação de inseticidas
para formar uma ligação coordenada (p. ex. Ni(PF3)4). Além sistêmicos.
dessa ligação o, também são formadas ligações ir pela 2) O fosfato de tritolufla é um aditivo de combustíveis.
interação dos orbitais preenchidos do metal com um orbital 3) Os fosfatos de triarila e de trioctila são usados como
vazio do P, como nos complexos com CO. O Ni(PF3)4 pode plastificantes na obtenção de cloreto de polivinila (PVC).
ser obtido a partir do tetra(carbonil)níquel, Ni(CO)4.
4) O fosfato de tri-n-butila é usado nos processos de ex
Ni(CO)4 + 4PF3 Ni(PF3)4 + 4CO trações com solventes.
250 □S ELEMENTOS □□ ERUPO 15
ÓXIDOS DE NITROGÊNIO
Todos os óxidos e oxo-ácidos de nitrogênio apresentam
ligações múltiplas pn-pn entre os átomos de nitrogênio e
oxigênio. Isso não ocorre com os elementos mais pesados
do grupo. Conseqüentemente, o nitrogênio forma uma série
de compostos que não tem análogos de P, As, Sb ou Bi. O
Figura 14.7 — Estrutura do pentacloreto de fósforo gasoso nitrogênio forma uma enorme variedade de óxidos, nos quais
ÚXIDOS DE NITROGÊNIO 251
Óxido nítrico NO
Tabela 14.8 — Óxidos de nitrogênio
O NO é um gás incolor, sendo um importante
Fórmula Número de Nome intermediário na fabricação do ácido nítrico pela oxidação
oxidação catalítica da amônia (processo Ostwald). Também foi
importante no processo Birkeland-Eyde (atualmente
n2o +1 Óxido nitroso obsoleto), que envolvia a reação entre nitrogênio e oxigênio
NO +n Óxido nítrico sob a ação de uma faísca elétrica. No laboratório, o NO é
N2O3 +iii Sesquióxido de nitrogênio preparado pela redução de HNO3 diluído com Cu, ou pela
no2,n2o4 +rv Dióxido de nitrogênio, redução de HNO2 com I":
tetróxido de dinitrogênio
N2O5 +v Pentóxido de dinitrogênio 3Cu + 8HNO3->2NO + 3Cu(NO3)2 + 4H2O
(NOj, N2O6) +vi Trióxido de nitrogênio 2HNO2 + 2F + 2H+ —> 2NO + I2 + 2H2O
(muito instável) hexóxido de dinitrogênio
NO é um óxido neutro, não sendo o anidrido de nenhum
ácido.
O NO possui 11 elétrons de valência. Logo, é impossível
o estado de oxidação do nitrogênio pode variar de (+1) a que todos estejam emparelhados, pois a molécula possui
(+VI]. Os óxidos inferiores são neutros e os superiores são um número ímpar de elétrons, e esse gás é paramagnético.
ácidos (Tab. 14.8). Nos estados líquido e sólido é diamagnético, porque se
dimeriza formando O-N-N-O. O dímero assimétrico O-N-
Óxido nitroso N2O O-N já foi observado na forma de um sólido vermelho, na
presença de HC1 ou outros ácidos de Lewis.
0 N2O é um gás estável e pouco reativo. É preparado
pela cuidadosa decomposição térmica de nitrato de amônio O comprimento da ligação N-O é de 1,15 A, interme
fundido, a cerca de 280 °C, pois explode quando aquecido diário entre o de uma ligação dupla e uma tripla. A melhor
fortemente. O N2O também pode ser obtido aquecendo-se maneira de se descrever as ligações é usando a teoria de
uma solução de NH4NO3 acidificada com HC1. orbitais moleculares (vide Capítulo 4). As ligações são
semelhantes àquelas encontradas no N2 e no CO, que
NH4NO3 -> N2O + 2H2O possuem 10 elétrons de valência. O NO possui 11 elétrons
externos, e o elétron adicional desemparelhado ocupa um
N20 é um óxido neutro e não forma ácido hiponitroso, orbital antiligante n*2p. Isso reduz a ordem de ligação de 3
H2N2O2> com água, nem hiponitritos com álcalis. É no N2 para 2,5 no NO. Se esse elétron for removido oxidando-
importante na obtenção de azoteto de sódio, e consequen se o NO, forma-se o íon nitrosônio, NO + . No nitrosônio a
temente de outros azotetos: ordem de ligação é 3, e o comprimento da ligação N-O
diminui de 1,15 A no NO para 1,06 Â no NO + .
N2O + 2NaNH2 NaNj + NH3 + NaOH Moléculas com número ímpar de elétrons são geral
0 principal uso do N2O é como propelente em sorvetes. mente muito reativos e tendem a dimerizar. O NO é
incomumente estável para uma molécula desse tipo. Mesmo
Como é inodoro, insípido e não tóxico, satisfaz as rígidas
assim, reage instantaneamente com oxigênio formando NO2,
exigências da legislação adotada para os alimentos.
e com os halogênios formando haletos de nitrosila, por
0 N2O é usado como anestésico, principalmente por exemplo NOC1.
dentistas. É conhecido como “gás hilariante", porque a
inalação de pequenas quantidades desse composto provoca 2NO + O2 2NO2
euforia. É necessário uma pressão parcial de 760 mm Hg de 2NO + Cl2 2NOC1
N20 para anestesiar completamente um paciente. Logo, caso
O NO prontamente forma compostos de coordenação
oxigênio também seja fornecido, o paciente pode não estar
com íons de metais de transição. Esses complexos são
totalmente inconsciente. Na ausência prolongada de oxigênio
denominados nitrosilas. A reação de Fe2+ e NO forma o
ocorrerá a morte do paciente. O N2O é inadequado para
complexo [Fe(H2O)sNO]2 + , responsável pela cor marron no
intervenções mais prolongadas. Geralmente, emprega-se o
“teste do anel” na análise qualitativa de nitratos. A maioria
N20 para “adormecer" o paciente e O2 é administrado para dos complexos de nitrosila são coloridos. Outro exemplo é o
que recupere a consciência. nitroprussiato de sódio, Na2[Fe(CN)5NO] -2H2O. O NO atua
A molécula é linear, como é de se esperar para uma frequentemente como um doador de três elétrons, em
molécula triatômica com 16 elétrons externos (vide também contraste com a maioria dos ligantes que doam dois elétrons.
oNjeoCOJ. Contudo, o CO2 é simétrico (O-C-O), enquanto Assim, três ligantes CO podem ser substituídos por dois NO's:
que no N2O as energias dos orbitais favorecem a formação
da molécula assimétrica N-N-O, em detrimento da molécula [Fe(CO)s] + 2NO —* [Fe(CO)2(NO)2] + 3CO
simétrica N-O-N. As ligações são curtas, e as ordens das [Cr(CO)6] + 4NO -» [Cr(NO)4] + 6CO
ligações foram calculadas como sendo 2,73 A para a ligação Nesses complexos a ligação M-N-0 é linear, ou quase li
N-N e 1,61 A para a ligação N-O. near. Contudo, em 1968, verificou-se que o ângulo M-N-0
J.J 1.126 A J.J 1,186 A Q no complexo [Ir(CO)(Cl)(PPh3)(NO)]+ é de 123°, e desde
ese □S ELEMENTOS □□ ERUPD 15
O processo Ostwald se baseia na oxidação catalítica da Figura 14.8 — Nitração do benzeno e do tolueno
amônia a NO, seguida da oxidação do NO a NO2 e a reação
deste último com água para formar o HN03. A primeira de toneladas em 1991, mas a produção real deve ter sido
unidade industrial a utilizar esse método foi construída na
maior.
Alemanha em 1908, e Ostwald recebeu o Prêmio Nobel de
Química em 1909. O método de Ostwald ainda é empregado O HNO3 é usado para oxidar misturas de cilohexano!/
para produzir cerca de 24.7 milhões de toneladas/ano de ciclohexanona a ácido adípico. Este reage com hexametile-
HN03. A reação global é: nodiamina, gerando o polímero conhecido como náilon-66).
catalizador de Pt/Rh
4NH3(g) + 5O2(g) l.aUnosíeras.SSO-C ) 4NOfe) + OH COOH NH2
I
HNO,
“(ÇH2)„ (ÇH2)6 —
O NO e o ar são resfriados e a mistura de gases é ciclohexanol
absorvida pela água em contracorrente. ou COOH nh2
o ácido adípico hexametilenodiamina
► 2NO(g) + O2(gj 2NO2(g)
2NO2(g) + H2O(d -> HN03 + HNO2 -CO[NH(CH2)6NH • CO(CH2)4 ■ CO]„NH-
ciclohexanona náilon-66
2HNO2 -» H2O + NO2 + NO-i
3NO2 + H2O -» 2HNO3 + NO-------
reação global
NH3 + 2O2 HNO3 + H20 o2n no2
I
jo
é a espécie ativa nas reações de nitração de compostos
orgânicos aromáticos. Essa é uma etapa importante na
o- CH 0- NO,
fabricação de explosivos. Os nitrocompostos também podem
ser reduzidos, gerando anilinas e serem usados na fabricação
H ONO2 ch2 O- N0:
de corantes [Fig. 14.8).
Os nitratos covalentes são menos estáveis que os nitratos n Propanol-1,2,3-
iônicos (esse comportamento é semelhante ao dos azotetos). Nitrato de celulose tril-trinitrato
Nitroglicerina, nitrocelulose, trinitrotolueno (TNT) e nitrato (nitrocelulose,algodão, pólvora) (nitroglicerina)
de flúor (FNO3) são todos explosivos (Fig. 14.9)..
A produção mundial de explosivos foi de 2,5 milhões Figura 14.9 — Alguns explosivos
ÚXIDOS DE FÓSFORO. ARSÊNIO E BISMUTO 255
OXOÁCIDOS DE FÓSFORO
0 fósforo forma duas séries de oxoácidos:
1) A série dos ácidos fosfórícos, nos quais 0 estado de
oxidação do fósforo é ( +V), e cujos componentes têm
propriedades oxidantes.
2) A série dos ácidos fosforosos, nos quais o P apresenta
estado de oxidação (+ III), e cujos componentes são
agentes redutores.
Em todos esses ácidos 0 P é tetracoordenado e
tetraédrico, sempre que possível. Interações de retrodoação
pn-dn dão origem as ligações P = O. Os átomos de hidrogênio
dos grupos OH são ionizáveis e ácidos, mas as ligações P-H
encontradas nos ácidos fosforosos apresentam propriedades
redutoras e não ácidas. Os íons fosfato simples podem
Figura 14.11 — Estrutura do pentóxido de fósforo, P4OJ0. a) formação polimerizar-se, levando à formação de uma vasta gama de
das ligações a, b) orbitais envolvendo as ligações dativas. isopoliácidos e seus respectivos sais.
A SÉRIE DOS ÁCIDOS FOSFÚRICOS B57
A
o
4°A
discutidos mais adiante.
II
O dihidrogenopirofosfato de sódio, O HO—P- -O- -P—OH
Na2H2P2O7, é misturado com NaHCO3 I
/ O I O
e usado para fazer “crescer” a massa H I OH |
do pão, ou seja, como fermento. Quan O=P——O
Ap=O -l—P—OH
O. O 'II
do aquecidos juntos, eles reagem libe O
rando CO2. TYata-se de uma maneira de
fabricar pão mais simples que utilizan
I ácido tetrametafosfórico
O OH
do fermento, e por isso é utilizada
industrialmente. não isolado
o
Na2H2P2O7 + 2NaHCO3 -> Na4P2O7 II ? HlOí/jj
+ 2CO2 + 2H2O 4 HO—P—OH * 2 HO—P-0—P—OH >—O-P-OH
P‘
A s
p
P
trissulfeto de pentassulfeto de
tetrafósforo P4S3 tetrafósforo P4S5
S S
II
Á s=A. -4P=S
Figura 14.20 — Estruturas de ácidos tiofosfóricos
,S
P4S10 + 8EtOH —» 4(EtO)2P-(S) SH + 2H2S
p
heptassulfeto de \\ Os sais de Zn dos dialquil- e diariltiofosfatos,
tetrafósforo P4S7 s
decassulfeto de [(RO)2-P- (S)]2Zn, são usados como aditivos de lubrificantes
tetrafósforo P4SW que resistem a pressões extremamente elevadas, tais como
os óleos de engrenagem. (Et)2 • P • (S) • Na e (Et)2 • P • (S) - NH4
Figura 14.19 — Estruturas de sulfetos de fósforo são empregados como agentes de flotação, para concentrar
minérios do grupo dos sulfetos, tais como PbS e ZnS, antes
O P4S10 é estruturalmente semelhante ao P4O10, mas a do processo de ustulação. Os metil- e etil- derivados são
ausência do composto P4S6 é intrigante. Os demais sulfetos usados na fabricação de pesticidas, como o melathion e o
não possuem um análogo na série dos óxidos. Contudo, suas parathion.
estruturas apresentam certas com as dos óxidos P4O6 e P4O10,
pois são constituídos por um tetraedro de átomos de P, tendo (EtO)2 • P • (S) • SH + Cl2 -> (EtO)2 • P • (S) • Cl + HC1 + S
alguns átomos de S em ponte entre os átomos de P, e outros (EtO)2 ■ P • (S) • Cl + NaO ■ C6H4 ■ NO2-+(EtO)2 • P • (S) ■ O • QK, ■ NO,
ocupando as posições apicais nos vértices. parathion
2) As polifosfazenas formam uma extensa série de Ésteres de fosfato exercem um papel importante em
polímeros. A série dos polímeros formados pela muitos processos vitais:
catenação de átomos de C é a mais extensa; seguida
pela dos silicones e das fosfazenas.
D A liberação de energia nos organismos vivos, pela
hidrólise da adenosina-trifosfato (ATP -» ADP +
energia) já foi descrita anteriormente. A nicotina-
COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS mida-adenina-dinucleotídio (NAD) é importante na
degradação do ácido cítrico e conseqüente
O nitrogênio forma aminas primárias, secundárias e liberação de energia, no ciclo de Krebs. Outro éster,
terciárias (RNH2, R2NH e R3N) e suas propriedades podem a fosfocreatina, é importante na regeneração do
ser encontradas nos livros-textos de Química Orgânica. ATP, e outros controlam a síntese e o armaze
Muitos compostos organofosforados são tóxicos. Alguns namento de carboidratos, tais como o glicogénio,
foram usados como pesticidas, herbicidas e gases de em animais.
combate. Outros tem um papel fundamental nos processos 2) Ésteres de fosfato também são importantes na
vitais. síntese de proteínas e de ácidos nucléicos. Os ári
Os haletos de P, As, Sb e Bi reagem prontamente com dos desoxirribonucléicos, DNA, são responsáveis
compostos organolítio ou com reagentes de Grignard, pelo armazenamento e transferência de
formando alquil ou aril derivados. Os mais conhecidos são informações genéticas. A sequência de bases orgâ
as fosfinas terciárias, como a trifenilfosíina. nicas é específica para cada ácido nucléico. A
molécula de DNA é constituída por duas cadeias
PC13 + 3LiEt -> PEt3 + 3LÍC1 ligadas entre si por ligações de hidrogênio,
trietilfosflna
formando uma dupla hélice. Os ácidos ribonucléi-
PC13 + 3PhMgCl -> PPh3 + 3MgCl2 cos, RNA, são semelhantes, mas geralmente são
trifenilfosíina
constituídos por somente uma cadeia, formando
Todos os trimetil derivados de P, As, Sb e Bi são atacados uma hélice simples. Atuam como molde para
pelo ar, mas os triaril derivados são estáveis. Não é necessário produzir ácidos nucléicos idênticos, com a mesma
substituir todos os três átomos de halogênio, podendo-se seqüência de bases e a mesma orientação no
obter compostos haloorganos derivados mistos, usando um espaço.
excesso de PC13 ou um agente alquilante ou arilante mais 3) Ésteres de fosfato também são importantes na
fraco. fotossíntese, e na conversão do excesso de açúcar
em amido nas plantas.
PC13 + LiEt EtPCl2 + LiCl
excesso 4) Ésteres de fosfato também participam do processo
PC13 + 2HgR2 R2PC1 + 2RHgCl de fixação do nitrogênio.
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2BB OS ELEMENTOS DO BRUPO 15
grupo ig
CALCOGEiJIOS
PROPRIEDADES GERAIS elementos. A maioria de seus compostos foi ou será estudada
junto com os outros elementos.
Os quatro primeiros quatro elementos desse grupo são
não-metais. São conhecidos como “calcogênios”, ou S, Se e Te são moderadamente reativos e queimam ao
elementos formadores de minérios, pois inúmeros minérios ar formando dióxidos. Eles se combinam diretamente com a
são óxidos ou sulfetos de metais. maioria dos elementos, tanto metais como não-metais,
Diversos produtos químicos contendo os elementos embora com menor facilidade que o oxigênio. Como esperado
desse grupo têm importância econômica. O H2SO4 é o no caso de elementos não-metálicos, S, Se e Te não são
produto mais importante da indústria química. Em 1992, a atacados por ácidos, exceto por aqueles que são também
impressionante quantidade de 146 milhões de toneladas fo agentes oxidantes. O Po tem propriedades metálicas, pois se
ram produzidas. 100 milhões de toneladas de O2 são dissolve em H2SO4, HF, HC1 e HNO3, formando soluções de
produzidas anualmente e consumidas, principalmente, na Po11, de coloração rosa. Contudo, o Po é fortemente
indústria do ferro e do aço. Em 1992 foram produzidas 54 radioativo, e as partículas a emitidas decompõem a água.
milhões de toneladas de S, sendo a maior parte usada para Por isso, as soluções de Po11 são rapidamente oxidadas
fabricar H2SO4. Cerca de um milhão de toneladas de Na2SO3 gerando soluções amarelas de Po17.
são consumidos, principalmente no branqueamento de polpa O oxigênio apresenta diversas diferenças em relação
de madeira e de papel. A produção mundial de H2O2 foi de aos demais elementos do grupo. Essas diferenças estão
1.018.200 toneladas em 1991. relacionadas ao seu menor tamanho, sua maior eletrone-
Os elementos apresentam a tendência normal de gatividade, e à falta de orbitais d adequados para formarem
aumento no caráter metálico, ao se descer pelo Grupo. Isso ligações. O oxigênio pode utilizar orbitais pn para formar
se reflete nas suas reações, nas estruturas dos elementos e duplas ligações fortes. Os demais elementos também podem
na crescente tendência de formar íons M2 + , com formar duplas ligações, mas se tomam cada vez mais fracas
concomitante decréscimo da estabilidade dos íons M2". O e à medida que aumenta o número atômico dos mesmos.
S são totalmente não-metálicos. O caráter não-metálico é Assim, CO2 (O = C = O) é estável, CS2 é menos estável, o
menor no Se e no Te. O Po é caracteristicamente metálico, CSe2 se polimeriza ao invés de formar duplas ligações e o
além de ser um elemento radioativo com tempo de vida CTe2 ainda é desconhecido. O oxigênio também forma
curto. ligações de hidrogênio fortes, que influenciam enormemente
O oxigênio é um elemento muito importante na química as propriedades da água e de outros compostos.
inorgânica, visto que reage com quase todos os demais O enxofre possui uma maior tendência de formar cadeias
e ciclos que os demais elementos do
grupo (vide Variedades alotrópicas). O
Tabela 15J — Configurações eletrônicas e estados de oxidação enxofre forma uma extensa e incomum
variedade de compostos com o nitro
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação*
gênio, que não encontram correspon
dentes nos demais elementos.
Oxigênio o [He] 2s22p4 -n (-D
Enxofre s [Ne] 3? 3p4 -n (II) IV VI Enquanto o O e o S possuem
Selênio Se [Ar] 3d10 4? 4p4 (-1D II IV VI somente elétrons s e p, o Se segue logo
Telúrio Te [Kr] 4d'°5?5p4 II IV VI após a primeira série de transição e
Polônio Po [Xe] 4/4 5d'°6?6p4 II IV também possui elétrons d. O preenchi
' Os estados de oxidação mais imponantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados mento do nível 3d influencia as
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, sao mostrados em tipo propriedades do Ge, As, Se e Br. Os
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são mostrados entre parênteses átomos são menores e os elétrons estão
001 111 I zxxz í zl ** z* X —' > —T-V-» zí Oi- «-An ♦ /-»r-
B68 BRUPO 16 — CALCQBÉNIDS
toneladas em 1992. Quase 90% desse total foram convertidos ligas com ferro e metais não-ferrosos, por exemplo para tomar
em S02, depois em SO3 e finalmente em H2SO4. Cerca de o chumbo mais duro.
60% do H2SO4 produzido é empregado na fabricação de Tanto os compostos de Se como os de Te são absorvidos
fertilizantes. O restante é usado na produção de uma pelo organismo humano e são eliminados pela respiração e
variedade de outros produtos químicos. Sulfitos SO32", pelo suor, na forma de compostos orgânicos de mau cheiro.
hidrogenossulfitos HSO3" e SO2 são importantes como
alvejantes.
Descoberta e obtenção de polônio
Os 10% da produção de enxofre que não são
consumidos na produção de H2SO4, são empregados na forma
de S elementar. Parte é usada na fabricação de dissulfeto de O polônio foi descoberto por Marie Curie pelo
carbono, CS2, que por sua vez é empregado na fabricação processamento de grandes quantidades de minerais de tório
de CCLj e de viscose. O enxofre reage com alcenos formando e de urânio, e separação dos produtos de decaimento. O
ligações-cruzadas entre as moléculas. Essa reação é polônio é um desses produtos de decaimento (vide "Séries
importante no processo de vulcanização da borracha. O de decaimentos radioativos”, no Capítulo 31). A separação
enxofre e o selênio desidrogenam hidrocarbonetos saturados. foi monitorada pelo estudo da radioatividade.
0 enxofre também é utilizado na fabricação de fungicidas, -^ a ,
2J?Pb^-» 2J?bí-^ ^pomeia-vida 2£pb
inseticidas e pólvora. A pólvora é uma mistura de salitre 223 anos 5,0 dias 138,4 dias
NaN03 (75%), carvão (15%) e enxofre (10%). Atribui-se
sua descoberta a Roger Bacon em 1245, tendo sido o primeiro Marie Curie compartilhou o Prêmio Nobel de Física de
explosivo capaz de lançar uma bala de canhão. Foi usado 1903 com H.A. Becquerel e Pierre Curie, por seus trabalhos
pela primeira vez com esse propósito na batalha de Crécy, sobre a radioatividade, que era então uma técnica nova. Em
em 1346. Posteriormente foi usado em armamentos terrestres 1911, ela recebeu um segundo Prêmio Nobel, desta vez o de
e marítimos por 500 anos, até a descoberta de explosivos Química, pela descoberta do polônio e do rádio. O nome do
melhores, como o algodão-pólvora, a nitroglicerina e a polônio é uma homenagem à terra natal de Marie Curie, a
cordita. Polônia. Atualmente o polônio é obtido artificialmente pela
irradiação do bismuto com nêutrons, num reator nuclear,
Obtenção e usos do selênio e do telúrio em quantidades da ordem de gramas. O metal é separado
por sublimação.
0 Se e o Te ocorrem associados aos minérios do grupo
dos sulfetos e são obtidos na forma concentrada a partir dos 205Bi +1 n-------- >2g3Bi------- >2*°Po +.° e
depósitos ou sedimentos anódicos do processo de refino
eletrolítico do cobre. Esse depósito também contém metais Todos os isótopos do polônio são altamente radioativos.
do grupo da platina, além de prata e ouro. O Se e o Te também O isótopo mais estável é o ^Po, mas este é um forte emissor
são obtidos das poeiras formadas durante a calcinação de a, tendo um tempo de meia-vida de 138 dias. A radiação a
minérios como PbS, CuS ou FeS2. A poeira é coletada com o decompõe a água, complicando o estudo dos compostos de
auxílio de um precipitador eletrostático. Os dois elementos polônio nesse solvente. Por causa disso, a química do polônio
também ocorrem na forma nativa associados ao S. não é bem conhecida.
A produção mundial de Se metálico foi de 1.670
toneladas, em 1992. A maior parte é usada para descolorir o ESTRUTURA E ALOTROPIA DOS
vidro, embora o Cd(S, Se) seja empregado para obter vidros ELEMENTOS
de coloração rosa ou vermelha. O Se é usado em
fotocopiadoras do tipo xerox, no fotorreceptor destinado a Todos os elementos desse grupo, exceto o Te, são
receber a imagem. O fotorreceptor é uma fina película de Se polimórficos, isto é, podem ser obtidos em mais de uma
num suporte de Al. Ele é sensibilizado eletrostaticamente, variedade alotrópica.
aplicando-se uma alta tensão. Então, a imagem é focalizada
sobre o fotorreceptor, como numa câmera fotográfica. As Oxigênio
áreas expostas à luz perdem sua carga eletrostática, de modo O oxigênio ocorre na forma de dois compostos não-
que o "toner" fica aderido apenas sobre as área ainda metálicos, dioxigênio O2 e ozônio, O3. O dioxigênio O2 é
carregadas. Essa imagem é, então, transferida para uma folha uma molécula diatômica estável, o que explica sua existência
de papel e fixada, fundindo-se o pó ao papel por meio de na forma de um gás (S, Se, Te e Po tem estruturas mais
um tratamento térmico. Obtém-se assim uma cópia da complicadas, por exemplo S8, sendo sólidos à temperatura
imagem original. O fotorreceptor é então limpo mecani ambiente). A ligação na molécula de O2 não é tão simples
camente, para ser novamente sensibilizado e utilizado. O como a princípio pode parecer. Se a molécula tivesse duas
selênio é um elemento essencial no organismo, em pequenas ligações covalentes, então todos os elétrons estariam
quantidades, sendo um dos componentes de diversas emparelhados e a molécula seria diamagnética.
enzimas importantes como a glutationa peroxidase, que pro
tege as células do ataque por peróxidos. Mas em quantidades
maiores o Se é tóxico. 0 O : O ' O ou 0=0
A produção mundial de telúrio metálico foi de 152
toneladas, em 1992. A maior parte é usada na fabricação de Mas o O> é uma molécula paramagnética e, portanto,
R7H BRUPQ 16 — CALCDBÊNID5
deve conter elétrons desemparelhados. A explicação desse tem um par eletrônico isolado, enquanto que os átomos de
fenômeno foi um dos primeiros êxitos da teoria de orbitais O das extremidades têm dois pares isolados. Com isso haverá
moleculares. Sua estrutura eletrônica foi descrita no Capítulo quatro elétrons para formar as ligações n. Os orbitais
4 (vide "Exemplos da teoria de orbitais moleculares"). atômicos pz dos três átomos formam três orbitais moleculares
O oxigênio líquido é azul pálida, assim como o sólido. deslocalizados envolvendo os três átomos. Um dos OMs é
A cor decorre das transições eletrônicas que levam a molécula ligante, um é não-ligante e o outro á antiligante. Os quatro
do estado fundamental (um estado triplete) para um estado elétrons n ocuparão os orbitais ligante e não-ligante. Logo,
excitado singlete. Essa transição é "proibida” no oxigênio além das duas ligações a, forma-se também uma ligação n
gasoso. No oxigênio líquido ou sólido um único fóton pode deslocalizada na molécula. A ordem de ligação é 1,5 e o
colidir simultaneamente com duas moléculas, promovendo sistema rt é constitui uma ligação tricêntrica com quatro
ambas ao estado excitado. É absorvido nesse processo uma elétrons.
luz vermelha-amarela-verde, fazendo com que o O2 adquira
cor azul. A origem dos estados singletes excitados no O2 Enxofre
está na disposição dos elétrons nos orbitais moleculares anti- O enxofre possui mais formas alotrópicas que qualquer
ligantes n’2py e Jt'2pz, mostrada abaixo. outro elemento. Essas formas diferem no grau de
»*p,»‘p, polimerização do S e na estrutura cristalina. As duas formas
Segundo estado
excitado (elétrons
têm spins opostos)
EE singlete Estado Energia/kJ
157
cristalinas comuns são o enxofre-a ou rômbico, que é estável
à temperatura ambiente, e o enxofre-p ou monoclínico, que
é estável acima de 95,5 °C. Essas duas formas se
Primeiro estado
excitado (elétrons
emparelhados)
EO singlete ’A, 92 interconvertem quando aquecidos ou esfriados lentamente.
O enxofre rômbico ocorre naturalmente na forma de grandes
cristais amarelos em áreas vulcânicas. Uma terceira
Estado fundamental
(elétrons com spins
paralelos)
EE triplete %- 0
modificação, conhecida como enxofre y-monoclínico, é
nacarada (se assemelha à madre-pérola). Pode ser obtido
Quando O2 é excitado para o estado singlete, ele se esfriando rapidamente soluções concentradas quentes de S
torna muito mais reativo que o oxigênio triplete normal do em solventes como CS2, tolueno ou EtOH. Todas as três
estado fundamental. O oxigênio singlete pode ser gerado formas contêm anéis S8 não-planos, com uma conformação
fotoquimicamente pela irradiação do oxigênio normal na de coroa (Fig. 15.2), diferindo somente no modo de
presença de um sensibilizador, tais como fluoresceína, azul empacotamento dos anéis no cristal. Isso afeta suas
de metileno ou alguns hidrocarbonetos policíclicos. O densidades:
oxigênio singlete também pode ser obtido por processos a-rômbico 2,069 g cm"3
químicos:
P-monoclínico 1,94-2,01 g cm'
ElOH
h2o2 + ocr o2('Ag) + h2o + cr y-monoclínico 2,19 g cm"3
O enxofre de Engel (enxofre-e) é instável e contém anéis
O oxigênio singlete pode adicionar-se às posições 1,4
S6 dispostos numa conformação em cadeira. É obtido
de um dieno, de modo semelhante a uma reação de Diels-
derramando uma solução de Na2S2O3 em HC1 concentrado e
Alder. Também, pode se inserir nas posições 1,2 de um
extraindo-se o enxofre em tolueno. Também pode ser obtido
alceno, formando um intermediário que pode ser clivado
como se segue:
gerando dois compostos carbonílicos.
O oxigênio singlete também pode estar envolvido em H2S4 + S2C12 -> S6 + 2HC1
reações de oxidação em sistemas biológicos.
Diversos outros anéis (S7, S9, S10, Su, S12, S18 e S20)
O ozônio, O3, é a variedade alotrópica triatômica do
foram obtidos por Schmidt e colaboradores. Geralmente são
oxigênio. Ele é instável e se decompõe a O2. A estrutura do
obtidos através de uma reação 1:1, em éter seco, entre
O3 é angular, com um ângulo de ligação 0-0-0 de 116° 48'.
polissulfetos de hidrogênio e dicloretos de polienxofre com
As duas ligações 0-0 têm um comprimento de 1,28 A,
o número adequado de átomos de S, por exemplo:
intermediário entre uma ligação simples (1,48 A no H2O2) e
uma dupla (1,21 A no 02) (a estrutura do 03 foi descrita no H2S8 + S2C12 -> S10 + 2HC1
final do Capítulo 4). A representação tradicional como um H2S8 + S„C12 -» S12 + 2HC1
híbrido de ressonância entre formas canônicas é atualmente
raramente empregada. A estrutura é descrita como tendo Em todos esses compostos cíclicos, a distância S-S é
um átomo central de O, utilizando orbitais híbridos sp2 para de 2,04 A a 2,06 A, e o ângulo da ligação S-S-S varia de
ligar-se aos átomos de O das extremidades. O átomo central 102° a 108°. Todos são solúveis em CS2.
orbitais d vazios que podem ser utilizados para formar elétrons sep blindam apenas parcialmente a carga do núcleo,
ligações: esses elementos podem formar quatro ou seis o tamanho dos átomos e portanto dos orbitais d decresce do
ligações ao desemparelhar seus elétrons. Si para o P, deste para o S e deste para o Cl. A diminuição do
tamanho dos orbitais 3d nessa série leva à formação de
ligações pn-dn progressivamente mais fortes. Assim, nos
Átomo de S, Se ouTe
Estado fundamental
É |n|t |t | IIHII silicatos praticamente não há formação de ligações pn-dit.
As unidades SiO4 se polimerizam formando uma enorme
Dois átomos desemparelhados,
possibilitam a formação de duas ligações. variedade de estruturas com ligações o Si-O-Si. Nos fosfatos,
Quatro pares de elétrons, levam a uma estrutura
rutura
tetra éc
idrica com duas posições ocupadas por pare;es isolados. a ligação tt é mais forte, mas ainda um grande número de
fosfatos poliméricos são formados. A ligação rt é ainda mais
Estado excitado |f |f | |t | | | I I forte e se toma dominante nos oxoácidos de enxofre. Por
isso, ocorre apenas um pequeno grau de polimerização,
Quatro elétrons desemparelhados
possibilitam a formação de quatro ligações. sendo conhecidos alguns poucos compostos poliméricos com
par eletrônicos, portanto a estrutura e bipirâmide
Cinco pares
trigonalI com uma posição ocupada por um par isolado. ligações S-O-S. Nos oxoânions de cloro, as ligações pn-dn
são tão fortes que não ocorre polimerização.
Estado mais excitado
E |t |t |t I |t |t I I I I Nos casos em que há mais de uma ligação tt na
Seis elétrons desemparelhados, possibilitam
molécula, é mais explicar tais ligações em termos de orbitais
a formação de seis ligações.
Seis pares eletrônicos, levam a uma estrutura octaédrica.
moleculares deslocalizados envolvendo diversos átomos.
Óxidos normais
Nesses casos o número de oxidação de M pode ser
deduzido utilizando a fórmula empírica MxOy> considerando
o número de oxidação do oxigênio como sendo (-II). Esses
óxidos. por exemplo H2O, MgO e A12O3, contêm apenas
ligações M-O.
Peróxidos
Os peróxidos contêm uma quantidade de oxigênio maior
Figura 15.4 — A interação pn-dn que aquele esperado a partir do número de oxidação de M.
B76 6RUP0 1B — CALCOBÊNIDS
Alguns deles são iônicos e contêm o íon peróxido O22-, por A12O3 + 6HC1 -> 2AI3+ + 6cr + 3H2O
exemplo os peróxidos dos metais dos Grupos 1 e 2 (Na2O2 e A12O3 + 2OH“ + 3H2O -» 2[A1(OH)4]-
BaOJ. Outros são covalentes e suas estruturas contêm o PbO + 2HNO3 -» Pb2 + + 2NO3- + H20
grupo -O-O-, por exemplo o H,02 (H-O-O-H), o ácido PbO + OH’ -> (PbO-OHJ-
peroxomonossulfúrico e o ácido peroxodissulfúrico.
Óxidos ácidos
0 O O
Os óxidos dos elementos não-metálicos são geralmente
II II I covalentes. Muitos ocorrem como moléculas discretas (C02,
2H* O—s—O—O 2H + 0—S—O—O—S—O
I II I NO, SO2, C12O) e apresentam baixos pontos de fusão e
. o J o 0 ebulição, embora alguns como B2O3 e SiO2 formem
ácido peroxomonossulfúrico ácido peroxodissulfúrico "moléculas gigantes” infinitas e tenham pontos de fusão
Os peroxo-compostos são agentes oxidantes fortes e são elevados . Todos têm caráter ácido e muitos deles são os
hidrolisados pela água a H2O2. anidridos dos correspondentes ácidos.
Subóxidos Alguns deles que não reagem com água, tal como o
SiO2, reagem com NaOH, evidenciando assim suas
Esses compostos contêm uma quantidade de oxigênio
características ácidas. Nos casos em que o elemento pode
menor que o previsto a partir do número de oxidação de M.
existir em mais de um estado de oxidação, por exemplo N2O3
Além das ligações M-0, eles possuem ligações M-M, como
e N2O5 e SO2 e SO3, aquele no qual o elemento se encontra
por exemplo oO = C = C = C = O.
no estado de oxidação mais elevado é o mais ácido.
Um segundo critério de classificação dos óxidos se
baseia nas suas propriedades ácido-base. Assim, os óxidos N2O3 + H2O —>2HNO2
podem ser ácidos, básicos, anfóteros ou neutros, dependendo N20s + H20 -> 2HNO3
dos produtos formados quando reagem com água.
O N2O3 contém N( + III) e o N20s contém N( + V). 0
Óxidos básicos HNO3 é um ácido mais forte que o HNO2. Esse
comportamento pode ser racionalizado da seguinte maneira:
Os óxidos metálicos são geralmente básicos. A maioria quanto maior o estado de oxidação do átomo central, mais
dos óxidos metálicos são iônicos e contém o íon O2-. Os ele atrairá os elétrons para si, enfraquecendo as ligações
óxidos dos metais mais eletropositivos, ou seja, dos Grupos 0-H e facilitando a liberação de íons H +.
1 e 2 e dos lantanídeos, são caracteristicamente básicos. A
formação de um óxido iônico requer uma grande quantidade Óxidos neutros
de energia, pois a molécula de 02 precisa ser dissociada e a
energia requerida para formar O2- (afinidade eletrônica) Alguns poucos óxidos covalentes não apresentam
também é grande. Assim, os óxidos iônicos são formados características nem básicas nem ácidas (N20, NO, CO).
por compostos em que a elevada energia reticular compensa
esse grande consumo de energia. Por isso, geralmente Reações entre os óxidos
possuem elevados pontos de fusão (Na20 1.275 °C, MgO Mais importante que a reação de um óxido com água,
2.800 °C, La2O3 2.315 °C). Quando reagem com água, o íon são suas reações e a sua relação com outros óxidos. Se os
O2- é convertido em OH". óxidos forem dispostos numa série que vai do mais básico
Na2O + H2O -> 2NaOH ao mais ácido, observa-se que quanto mais afastados
estiverem dois óxidos nessa série, mais estável será o
Contudo, muitos óxidos de metais com fórmulas M2O3 composto formado quando esses óxidos reagirem entre si.
e MO2, mesmo sendo iônicos, não reagem com a água. Dentre Essa constatação pode ser analisada quantitativamente,
eles podem ser citados o T12O3, Bi2O3 e ThO2. Mas, esses considerando as variações de energia livre padrão.
óxidos reagem com ácidos formando sais, sendo portanto
básicos. Quando um metal pode existir em mais de um estado Na2°(s) + H2O0) 2NaOH(s)
AG° -376 -234 2(-376) AG =-142 kl mol’1
de oxidação, formando mais de um óxido, por exemplo CrO,
Cr2O3 e CrO3, PbO e PbO2 e Sb4O6 e Sb4O10, aquele com o CaO(s) H2O(|) —»Ca(OH)2(s)
estado de oxidação mais baixo é o mais iônico e mais básico. AG° -602 -234 -895 AG = -59 klmol'1
Por exemplo, CrO é básico, Cr2O3 é anfótero e CrO3 é ácido.
A12O3(s) + 3H2O(I) ->2A1(OH)3(s)
AG° -1572 3 (-234)
3( —234) 2(-1138) AG = -2 kJ mol'1
Óxidos anfóteros
Muitos metais formam óxidos anfóteros, ou seja, que Dos valores de AG, deduz-se que o Na2O é o mais básico
reagem tanto com ácidos fortes como com bases fortes. Os e o A12O3 o menos básico desses óxidos. Realmente, o Na>0
exemplos incluem BeO, A12O3, Ga2O3, SnO, PbO e ZnO. é fortemente básico e o A12O3 é anfótero. Pode-se inferir
ÓXIDOS OE ENXOFRE. 5ELÊNI0. TELÚRIO E POLÚNIO B77
De acordo com os valores de AG, o SO3 é o óxido mais 4) Grandes quantidades são produzidos como subproduto
ácido, seguido pelo N2O5, e o CO2 é o ácido mais fraco. na queima do carvão, e em menores quantidades na
Considerando os valores das energias livres dos sais forma queima de combustíveis fósseis, óleo combustível e gás.
dos, veriíica-se que o Ca(NO3)2 é o menos estável e mais reati Isso indubitavelmente prejudica o meio ambiente.
vo, enquanto que o CaSO4 é o mais estável e menos reativo. O SO2 é um gás incolor (P.E. -10 °C, P.F. -75,5 °C),
A ordem de acidez de alguns óxidos é mostrado abaixo: com um cheiro asfixiante, muito solúvel em água (39 cm'3
do gás se dissolvem em 1 cm'3 de água). O SO2 em solução
K2O, CaO, MgO, CuO, H2O, SiO2, CO2, N2O5, SO3 se encontra quase que inteiramente na forma de várias
mais básico mais ácido espécies hidratadas, como por exemplo SO2.6H2O. A solução
É possível prever se uma reação é possível ou não. Por contém somente uma pequena quantidade de ácido sulfuroso
H2SO3 • SO2 em concentrações superiores a 5 ppm são tóxicos
exemplo, se CaO for adicionado a uma mistura de H2O e
para o homem, mas as plantas são bem mais sensíveis.
S03 (H2SO4), formar-se-á o composto mais estável CaO • SO3
(CaSO4), ou seja; No laboratório, o SO2 pode ser detectado:
D Pelo seu cheiro.
H2SO4 + CaO —» CaSO4 + H2O
2) Por tornar verde um papel de filtro umedecido com
mas CuSO4 + CO2 —> não reage
solução ácida de dicromato de potássio, devido à
Os valores das energias livres e a acidez estão formação de íons Cr3 +.
relacionados. A termodinâmica nos permite prever se uma K2Cr2O7 + 3SO2 + H2SO4 -> Cr2(SO4)3 + K2SO4 + H2O
reação é possível em termos de energia. Essa aplicação dos
valores de AG não se limita aos óxidos, mas se aplica a todas 3) Por tornar azul um papel com iodato e amido (formação
as reações. Todavia, a termodinâmica não nos permite prever de e I2 na presença de amido)
a velocidade de uma dada reação. Por exemplo, a reação 2KIO3 + 5SO2 + 4H2O -> I2 + 2KHSO4 + 3H2SO4
abaixo é termodinamicamente possível:
Métodos quantitativos de determinação de SO2 na
CaO + SiO2 -> CaSiO3 atmosfera encontram-se bastante desenvolvidos, por causa
das preocupações ambientais relacionadas à “chuva ácida”.
Mas, é muito lenta a temperaturas normais, embora
Dentre eles temos a:
seja mais rápida nas altas temperaturas de um alto-forno.
Na Química Inorgânica é importante lembrar quais são D Oxidação a H2SO4, seguida da determinação quantitativa
de H2SO4 por titulação convencional ou condutimétrica.
os compostos que reagem entre si, saber comparar as
diferentes estabilidades dos hidróxidos, silicatos, carbonatos, so2 + h2o, H2SO4
nitratos, sulfatos, etc. A utilização de uma série como aquela
dada acima minimiza esse esforço de memorização. 1) Reação com KJHgClJ, com formação de um complexo
Tabelas bastante extensas de dados de energias livres de mercúrio que reage com o corante para-rosanilina,
podem ser encontradas nos livros de Bard, A.J., Parsons, R., que posteriormente é determinado colorimetricamente.
e Jordan, J.; e em Latimer, W.M., apresentados nas Leituras
Complementares. K2[HgCl4] + 2SO2 + 2H,0 -> K2[Hg(SO3)2] + 4HC1
z T
Figura 15.5 — A estrutura do SO2 Figura 15.7 — A estrutura do gás SO3
ÚXIOOS DE ENXOFRE. SELÊNIO. TELÚRIO E POLÚNIO 279
r*N02 + SÓ, + H2O -> H2SO4 + NO O H2SO4 concentrado absorve água avidamente, sendo
| 2NO + O2 —» 2NO2 um agente dessecante eficiente para gases. É às vezes usado
em dessecadores como agente dessecante. É capaz de
O processo das câmaras de chumbo tinha a desvantagem desidratar HNO3 formando o íon nitrônio NO2+, espécie
de produzir H2SO4 no máximo a 78 %, e menos puro que o muito importante em reações de nitração de compostos
obtido pelo processo de contato. orgânicos.
Os dados comparativos mostrando as principais HNO3 + 2H2SO4 -> NO2+ + H3O+ + 2HSO4‘
aplicações do H2SO4 nos EUA e no Reino Unido são
mostrados na Tabela 15.6. O principal emprego é na O H2SO4 também pode ser usado como agente
conversão de fosfato de cálcio em superfosfato, usado como desidratante, por exemplo na preparação de éteres.
fertilizante. Ácidos graxos são sulfonados na fabricação de
2C2H5OH + H2SO4 -»C2Hs-O-C2Hs + H2S04-H20
detergentes. O TiO2 é 0 pigmento branco mais usado
atualmente, e grandes quantidades de H2SO4 são utilizados Ele pode desidratar alguns compostos orgânicos de
na purificação do mineral ilmenita (FeTiO3). É usado na forma tão eficiente que provoca a sua carbonização. Papel e
remoção de óxidos e imperfeições da superfície de metais. tecido são completamente destruídos .
O H2SO4 é usado como catalisador na fabricação de Em soluções aquosas diluídas, o H2SO4 atua como um
combustíveis de alta octanagem, por meio da alquilação de ácido forte. O primeiro próton se dissocia prontamente,
hidrocarbonetos insaturados. O H2SO4 tem uma importante formando o íon hidrogenossulfato, HSO4“. O segundo próton
aplicação eletroquímica, pois é o eletrólito das baterias de se dissocia com menor facilidade, formando 0 íon sulfato,
chumbo. SO42’. Por causa disso, as soluções dos hidrogenossulfatos
O ácido sulfurico puro funde a 10,5 °C, formando um são ácidas.
líquido viscoso. Apresenta fortes ligações de hidrogênio, e O íon SO42- é tetraédrico. O comprimento de todas as
na ausência de água não reage com metais para produzir ligações são iguais a 1,49 A e são relativamente curtas. A
H2. Muitos metais reduzem o H2SO4 (S + VI) a SO2 (S + IV), ordem das ligações S-0 é de aproximadamente 1,5. A melhor
especialmente a quente. Quando 0 H2SO4 puro é aquecido, maneira de explicar as ligações é considerando a formação
há liberação de pequenas quantidades de SO3, até ocorrer a de quatro ligações a entre o átomo de S e os átomos de 0, e
formação de uma mistura azeotrópica de 98,3% de H2SO4 duas ligações rt deslocalizadas sobre o átomo de S e os quatro
e 1,7% de água. Essa mistura tem P.E. = 338 °C. O H2SO4 átomos de O.
puro é usado como solvente não-aquoso e como agente O ácido tiossulfúrico, H2S2O3, não pode ser obtido
sulfonante. adicionando-se um ácido a um tiossulfato, porque 0 ácido
H2SO4 anidro e H2SO4 concentrado se misturam com livre se decompõe em solução aquosa formando uma mistura
água em todas as proporções, liberando uma grande de S, H2S, H2Sn, SO2 e H2SO4. Ele pode ser obtido na ausência
quantidade de calor (880 kj mol'1). Quando a água é de água (por exemplo em éter), a baixas temperaturas (-78
misturada com o ácido concentrado, o calor liberado provoca °C).
a ebulição das gotas e o violento derramamento do ácido. A
éter
maneira segura de se diluir ácidos concentrados é misturando h2s + so3 H2S2O3-(Et2O)„
cuidadosamente 0 ácido na água, sob agitação.
Já os seus sais, denominados tiossulfatos, são estáveis
O H2SO4 concentrado é um oxidante relativamente forte. e bastante numerosos. Os tiossulfatos podem ser obtidos
Assim, quando NaBr é dissolvido em H2SO4 concentrado aquecendo-se a ebulição soluções alcalinas ou neutras de
ocorre a formação de HBr, mas parte dos íons Br~ são sulfitos com S, ou então oxidando-se polissulfetos com ar.
oxidados a Br2. O cobre não reage com ácidos, porque está
situado abaixo do H na série eletroquímica. Contudo, água fervente
Na2SO3 + S Na2S2O3
diversos metais “nobres” como o Cu se dissolvem em H2SO4 aquecimento em ar
2Na2S3 + 3O2 • 2Na2S2O3 + 2S
concentrado devido a suas propriedades oxidantes. As
propriedades oxidantes do SO42" convertem Cu em Cu2 +. O íon tiossulfato é estruturalmente semelhante ao íon
sulfato (Fig. 15.10).
Tabela 15.6 — Usos do ácido sulfurico nos EUA e na Grã- O tiossulfato de sódio hidratado, Na2S203.5H20, é
Bretanha conhecido comercialmente como "hypo”, e forma grandes
cristais incolores hexagonais, de P.F. = 48 °C. É muito solúvel
EUA Grã- em água e suas soluções são usadas para titular 0 iodo em
Bretanha análise volumétrica. O iodo rapidamente oxida 0 íon
tiossulfato, S2O32~, ao íon tetrationato, S4O62’, sendo 0 I»
Fertilizantes 65% 32% reduzido a íons I".
Fabricação de produtos químicos 5% 16%
Tintas / pigmentos 2% 15% 2Na2S2O3 + I2 -> Na2S4O6 + 2NaI
Detergentes 2% 11% tetrationato de sódio
Fibras / películas de celulose 2% 9% O Na2S2O3 é utilizado no alvejamento industrial para
Limpeza de metais 5% 2,5% eliminar o Cl2 remanescente nos tecidos, depois destes terem
Refino de petróleo 5% 1% sido submetidos a um tratamento com uma solução de
□XCIÁCIOOS OE ENXOFRE 283
A maior parte dos sulfetos dos metais pesados são Tabela 15.7 — Limites para contaminantes da água potável
insolúveis em água e por isso não sofrem hidrólise. Se uma admitidos na Comunidade Econômica Européia
solução diluída de amônia for saturada com H2S, obtém-se
o hidrogenossulfeto de amônio NH4HS, e não o sulfeto de (pg/litro-1) Fonte contaminante e possíveis
atnônio (NH4)2S. Este só é estável a baixas temperaturas, na problemas por ele provocados
ausência de água. As soluções de NH4HS são incolores e
são usadas como reagente de laboratório misturadas com Al 200 Adição de A12(SO4)3 no processo
uma quantidade equimolar de NH3 . Geralmente utiliza-se o de tratamento da água. O Al po
de estar relacionado ao mal de
"sulfeto amarelo de amônio" como reagente de laboratório, Alzheimer (demência senil)___
por exemplo, para precipitar sulfetos de metais em análise
Pb 50 Tubulações de água feitas de
qualitativa. O "sulfeto amarelo de amônio” é na realidade chumbo. O Pb pode danificar o
uma mistura de polissulfetos de amônio, obtido dissolvendo- cérebro de crianças__________
se enxofre numa solução incolor de NH4HS/NH3. Nitratos utilizados como fertilizan
NOj 50
tes chegam ao sistema de abaste
Água cimento de água. Os nitratos afe
tam o nível de O2 no sangue de
A água é a substância química mais abundante: os bebês causando a síndrome da
oceanos cobrem praticamente 71 % da superfície da Terra. “doença azul". Nitratos podem
Portanto, não há necessidade de se preparar água. Contudo, estar relacionados ao câncer de
a água do mar contém muitos sais dissolvidos, de modo que estômago_________________
menos de 3% da água existente na Terra é água doce. A Trihalometanos 100 O cloro é usado como bactericida
maior parte dessa água se encontra na forma de gelo nas no tratamento de água. Excesso
regiões polares. A obtenção de água pura potável ou para de cloraçâo pode provocar forma
uso em laboratório, é uma atividade industrial importante. ção de clorofórmio em reação
0 organismo humano é mais tolerante a algumas das com compostos orgânicos. Possí
vel causa de câncer do intestino
impurezas que os processos industriais. A Comunidade e da bexiga._______________
Econômica Européia estabeleceu limites para o conteúdo de Para pesticidas considerados isola
Pesticidas 0,1
impurezas na água potável (vide Tab. 15.7). damente
Na indústria e no laboratório necessita-se de água 0,5 Para o conjunto de pesticidas.
extremamente pura. O único meio de se remover todos os O DDT é agora proibido em mui
solutos sólidos é por meio da destilação. Esse processo é tos países. Seus efeitos prejudi
dispendioso, pois a água possui elevado ponto de ebulição ciais decorrem do acúmulo e mo
dificações biológicas na cadeia
e um elevado calor latente de evaporação. Durante a alimentar; luz UV converte DDT
destilação, a água tende a dissolver quantidades apreciáveis em bifenilos policlorados (PCBY
de C02 da atmosfera, o que a torna ácida. Uma alternativa que são tóxicas.
mais barata é a desionização da água . Isso é feito passando-
se a água por duas colunas de troca iônica, uma após a
sabor muito agradável. A Organização Mundial de Saúde
outra (como alternativa pode-se usar um “leito misto”, isto
recomenda um máximo de 0,5 gramas de sólidos dissolvidos
é, uma única coluna contendo os trocadores catiônico e
por litro, embora o limite máximo permitido seja o triplo
aniônico). As resinas de troca iônica são sólidos poliméricos
desse valor. Se a fonte de água doce contiver sedimentos,
insolúveis contendo um grupo reativo. São fabricadas na
aguarda-se a precipitação dos mesmos. Pequenas partículas
forma de pequenas esferas, permeáveis à água. A primeira
em suspensão e partículas coloidais que dão cor à água, são
coluna contém uma resina na forma de ácido sulfônico, isto
removidas tratando-se com A1(OH)3 ou Fe(OH)3. Eles
é, uma resina orgânica contendo grupos -SO3H. Ela remove
provocam a coagulação do material em suspensão, clareando
todos os íons metálicos da solução, substituindo-os por H +:
a água (o agente coagulante mais empregado é o alúmen).
resina-SO3H + Na+ —> resina-SO3Na + H + Caso seja necessário, a “dureza" da água é removida por
2resina-SO3H + Ca2+ —> (resina-SO3)2Ca + 2H + troca iônica ou misturando-se águas de diferentes origens.
A água é então clorada ou tratada com ozônio para matar as
A segunda coluna contém uma resina com grupos
bactérias. Estas estão presentes por causa da contaminação
básicos -NR4 + OH’, que remove os íons negativos
dos reservatórios pelas águas provenientes dos campos e
substituindo-os por OH":
dos esgotos não tratados ou parcialmente tratados. O
resina-N(CH3)4 OH" + cr -> resina-N(CH3)4 cr + OH' tratamento inadequado da água potável é a principal causa
das enterites. Em alguns países subdesenvolvidos, até metade
A água produzida dessa maneira geralmente contém das crianças menores de cinco anos morrem de enterites ou
silicatos solúveis e CO2. Quando todos os sítios reativos da de outras doenças provocadas pela água indevidamente
resina tiverem sido usados, esta pode ser regenerada, tratada.
tratando a primeira com H2SO4 diluído e a segunda com A água do mar tem um elevado teor de sais. O processo
uma solução de Na2CO3. de produção de água potável ou de água para irrigação a
A água potável é geralmente bem menos pura. Na partir da água do mar é denominado “dessalinização”. Esse
realidade a água sem nenhum sai dissolvido não tem um processo requer uma grande quantidade de energia e é,
BB6 BRUPQ 16 — CALCD6ÈNI0S
Os tetrabrometos de Se, Te e Po também são conhecidos, Dímeros de mono-haletos , tais como S2F2, S2C12, Se2Cl2
mas o SeBr4 é instável e se hidrolisa facilmente. e Se2Br2 são obtidos pela combinação direta do S ou Se com
os respectivos halogênios. Esses mono-haletos são
2SeBr4 —» Se2Br2 + 3Br2 lentamente hidrolisados e tendem a sofrer reação de
SeBr„ + 4H2O -> [Se(OH)4] + 4HBr despropor-cionamento.
instável 2S2F2 + 2H2O -> 4HF + SO2 + 3S
4.
H2SeO3 + H2O + 11 + IV 0
2SeCl2 + —» SeCU + Se
0 Te e o Po são os únicos elementos do Grupo 16 que
formam tetraiodetos. O S2C12 é um líquido amarelo tóxico (P.F. = -76 °C,
P.E. = 138 °C), com um cheiro repugnante. É utilizado na
0 di-haleto mais bem estudado é o SC12. É um líquido
vermelho de odor desagradável (P.F. = -122 °C, P.E. = 59 °C). vulcanização da borracha e no preparo de cloridrinas. A
0 aquecimento de S e Cl2 fornece o S2C12, mas saturando-se utilização de S2C12 na obtenção de compostos cíclicos, com
este composto com cloro obtém-se o SC12. A reação de SC12 7 a 20 átomos de enxofre foi descrita anteriormente.
com polissulfetos de hidrogênio, a baixas temperaturas, H2S8 + S2C12 -» S10 + 2HC1
fornece uma série de diclorossulfanos.
Pode ainda ser usado na preparação de diclorossulfanos.
H2S2 + 2SC12 -> S4C12 + 2HC1
H2Sn + 2SC12 -> S(n+2)C12 + 2HC1 H,Sn + 2S2C12 -» S(n+4)C12 + 2HC1
0 SC12 tem importância industrial, pois facilmente se A estrutura do S2C12 e dos demais monohaletos é
adiciona às duplas ligações de alcenos. Foi usado para semelhante à do H2O2, com um ângulo de ligação de 104°,
fabricar o notório “gás mostarda”, um gás de combate usado devido à distorção provocada por dois pares isolados de
pela primeira vez na I Guerra Mundial e mais recentemente elétrons .
na guerra Irã-Iraque (1988). O S2F2 é um composto instável formado através da ação
SC12 + 2CH2 = CH2 -> S(CH2CH2C1)2 de agentes de fluoração brandos como AgF sobre S (a reação
sulfeto de bis(2-cloroetila) direta entre S e F2 gera SF6; e mesmo quando F2 está diluído
ou gás mostarda com N2 ocorre formação de SF4). O S2F2 pode ser obtido na
0 "gás mostarda” não é um gás, mas um líquido volátil forma de dois isômeros diferentes: F-S-S-F (análogo ao Cl-
(P.F. = 13 °C, P.E. = 215 °C). Ele é espalhado como uma névoa S-S-Cl e H-O-O-H) e o fluoreto de tionila, S = SF2.
290 BRUPO 16 — CALCOBÈNIÜS
O compostos S2F10 possui uma estrutura incomum, na diferentes tamanhos de anel, como por exemplo o ciclo-S2N2,
qual dois octaedros se encontram interligados. ciclo-S4N2, ciclo-S4N3Cl e ciclo-S3N3Cl3. Além disso, os
compostos bicíclicos SUN2, S15N2, S16N2, S17N2 e Si9N2
F
F±V-
F
Z N.
F
\ zF
->S<-F
também são conhecidos. Os últimos quatro compostos
podem ser considerados como sendo dois anéis heterocíclicos
F F S7N, com os átomos de N interligados por uma cadeia de 1
a 5 átomos de S.
COMPOSTOS DE ENXOFRE COM O S4N4 é hidrolisado muito lentamente pela água, mas
reage rapidamente com NaOH morno, com a quebra do anel:
NITROGÊNIO
Existe um grande número de compostos cíclicos e em S4N4 + 6NaOH + 3H2O ->Na2S2O3 + 2Na2SO3 + 4NH3
cadeia contendo S e N. Os elementos N e S se relacionam
diagonalmente na Tabela Periódica, e tem densidades S4N4F4 é obtido ao se reagir S4N4 com Ag2F, em CC(|.
eletrônicas semelhantes. Suas eletronegatividades também Esse composto é constituído por um anel S-N de 8 membros,
são semelhantes (N = 3,0; S = 2,5), sendo esperado a com os átomos de F ligados aos de S. O composto resulta da
formação de ligações covalentes. Os compostos formados quebra das ligações S-S do anel. Analogamente, a formação
possuem estruturas incomuns, que não podem ser explicadas de adutos tais como S4N4 BF3 ou S4N4 SbF5 (nos quais o
pelas teorias de ligação clássicas. As tentativas no sentido grupo adicional se liga ao N) leva à quebra das ligações S-S
de se determinar os estados de oxidaçâo levam a erros ou e ao aumento da distância média S-N de 1,62 A para 1,68
são de pouca utilidade. O mais conhecido desses compostos A. Provavelmente, isso se deve a diminuição da densidade
é o tetranitreto de tetraenxofre, S4N4. Ele é o reagente de eletrônica n provocada pela ligação do BF3 e do SbFs, dois
partida para a preparação de muitos outros compostos com receptores de elétrons.
ligações S-N. O S4N4 pode ser obtido como se segue: A redução do S4N4 com SnCl2 em MeOH leva à formação
da tetraimida de tetraenxofre, S4(NH)4. Diversas imidas
6SC12 + 16NH3 -> S4N4 + 2S + 14NH4CI podem ser obtidas pela reação de S4N4 com S, ou de S2C12
6S2C12 + 16NH3 CCI’ > S4N4 + 8S + 12NH4C1 com NH3. Essas imidas são estruturalmente semelhantes aos
6S2C12 + 4NH„CI -» S4N4 + 8S + 16HC1 ciclos Se, onde um ou mais átomos de S foram substituídos
por grupos imida NH, como no S7NH, no S6(NH)2, S5(NH)3
O S4N4 é um sólido de P.F. = 178 °C. TYata-se de um e S4(NH)4.
composto termocrômico, isto é, ele muda de cor em função Se o S4N4 for vaporizado a pressão reduzida e passado
da temperatura. À temperatura do nitrogênio líquido ele é através de “lã de prata”, ocorre a formação de S2N2.
quase incolor, mas à temperatura ambiente é amarelo
alaranjado, e a 100 °C é vermelho. É estável ao ar, mas pode S4N4 + 4Ag -> S2N2 + 2Ag2S + N2
detonar por percussão, na moagem ou aquecimento
repentin.0. É um anel heterocíclico em forma de “berço”, 0 S2N2 é um sólido cristalino insolúvel em água, mas
sendo estruturalmente diferente do anel S8, que tem forma solúvel em muitos solventes orgânicos. Explode por
de coroa. O comprimento médio da ligação S-N é de 1,62 Â, percussão ou aquecimento. A estrutura é cíclica e os quatro
segundo a estrutura (Fig. 15.14) determinada por difração átomos se dispõem no espaço de modo a praticamente gerar
raios X. Como a soma dos raios covalentes do S e do N é uma estrutura quadrado planar.
igual a 1,78 A, as ligações S-N parecem ter algum caráter de A reação mais importante do S2N2 é a lenta
ligação dupla. O fato de todas as ligações terem o mesmo polimerização do sólido ou do vapor para formar politiazila
comprimento sugere que essas ligações duplas estão (SN)x. Este é um sólido cor de bronze e brilhante, de aspecto
deslocalizadas. As distâncias S-S no topo e no fundo do metálico. Conduz a corrente elétrica e a condutividade
"berço" são de 2,58 A. A distância S-S de van der Waals aumenta à medida que diminui a temperatura, como nos
(átomos não ligados) é igual a 3,30 A e o comprimento das metais. E, torna-se um supercondutor a 0,26 K. Os estudos
ligações S-S simples é igual a 2,08 A. Isso indica que as de difração de raios X indicam que o anel S2N2 de quatro
ligações S-S são fracas, mas suficientemente fortes para que membros se abriu e formou longas cadeias poliméricas. Os
o S4N4 tenha uma estrutura de "gaiola". átomos se dispõem em zigue-zague e a cadeia é quase plana.
A condutividade ao longo da cadeia é maior que em outras
São conhecidos compostos cíclicos com os mais
direções. Logo, esse polímero se comporta como um metal
unidimensional. A resistividade à temperatura ambiente é
bastante elevada (cerca de 1 x 109 microohm cm ao longo
da cadeia), mas este valor diminui para cerca de 1 x 10°
microohm cm a 4K (vide a resistividade de outros elementos,
no Apêndice J).
DERIVADOS ORGÂNICOS
0 oxigênio forma muitos derivados orgânicos do tipo
R20, denominados éteres. Compostos análogos de S, Se e
Figura 15.14 — A estrutura do N4S4 Te, podem ser preparados utilizando-se reagentes de Grignard
LEITURAS COMPLEMENTARES 291
I
1 Chemistry and Electrochemistry Series, Vol. 6), Marcei
Dekker. (Contratado pela UJPAC para atualizar os valores no
livro de Latimer).
• Bevan, D.J.M. (1973), Comprehensive Inorganic Chemistry,
Vol. 3, (Cap. 49: Composto não estequiométricos), Pergamon
Press, Oxford. (Uma boa introdução aos compostos não
estequiométricos)
• Bland, WJ. (1984), Sulphuric acid - modem manufacture
and uses, Education in Chemistry, 21, 7-10.
• Campbell, I.M. (1977), Energy and the Atmosphere, Wiley,
London. (Chuva ácida, etc.)
• Clive, D.L.J. (1978), Modem Organo-Selenium Chemistry,
Pergamon Press, New York.
• Cocks, A. e Kallend, T. (1988), The chemistry of atmospheric
Figura 1S.1S — A estrutura do heme pollution, Chemistry in Britain, 24, 884-885.
ou reagentes organo-lítio: • Cooper, W.C. (1972), Tellurium, Van Nostrand-Reinhold, New
York.
SC12 + 2LÍR —éter
*!£—» R2S + 2LÍC1 • Donovan, R.J. (1978), Chemistry and pollution of the strato-
SC14 + 4RMgCl -> R4S + 4MgCl2 sphere, Education in Chemistry, 15, 110-113.
• Dotto, L. e Schiff, H. (1978), The Ozone War, Doubleday,
Sulfetos de dialquila, R2S, têm uma estrutura semelhante New York.
à da água (tetraédrica com dois vértices ocupados por pares • Emeléus, H.J. e Sharpe, A.G. (1973), Modem Aspects of In
isolados), sendo que a presença dos pares isolados organic Chemistry, 4a ed. (Cap 12: Peróxidos e peroxo-ácidos),
transformam esse tipo de compostos em ligantes úteis. Routledge and Kegan Paul, London.
A hemoglobina é o pigmento vermelho do sangue da • Fogg, P.G.T. e Young, C.L. (eds) (1988), Hydrogen Sulfide,
maioria dos animais. Ela é vermelha na presença e azul na Deuterium Sulfide and Hydrogen Selenide, Pergamon.
ausência de oxigênio. A hemoglobina é essencial para • Greenwood, G. e Hill, H.O.A. (1982), Oxygen and life, Chem
absorver o oxigênio molecular nos pulmões, formando-se a istry in Britain, 18, 194.
oxihemoglobina. A oxihemoglobina libera o oxigênio nas • Govindgee, R. (1977), Photosynthesis, McGratu Hill Encyclo-
partes do organismo que dele necessitam, regenerando a pedia of Science and Technology, 4th ed., Vol. 10. (Artigo
hemoglobina (reduzida). A hemoglobina tem uma massa introdutório)
molecular de cerca de 65.000. Ela é constituída por quatro
• Heal, H. G. (1980), The Inorganic Heterocyclic Chemistry of
grupos heme, ou seja, anéis heterocíclicos porfirínicos
Sulphur, Nitrogen and Phosphorus, Academic Press, London.
planares contendo ferro e uma proteína globular (Fig. 15.15,
e vide "Química Bioinorgânica do ferro”, no Capítulo 24). A • Heicklen, J. (1976), AtmosphericChemistry, Academic Press,
hemoglobina reage com O2 e forma oxihemoglobina. Nesse New York. (Chuva ácida, etc.)
complexo o eixo 0-0 da molécula de O2 está paralelo ao • Holloway, J.H. e Laycock, D. (1983), Preparations and reac-
plano do anel porfirínico, sendo as duas distâncias Fe ■ • • O tions of inorganic main-group oxide fluorides, Adv. Inorg.
iguais. Supõe-se que o oxigênio molecular se liga ao ferro Chem. Radiochem., 27, 157-195.
por meio de ligações n. • Horvath, M., Bilitzky, L. e Huttner, J. (1985), Ozone (Topics
in Inorganic and General Chemistry Series No. 20), Elsevier.
Alguns poucos complexos de metais de transição
também podem formar complexos com ligações n com o • Hynes, H.B.N. (1973), The Biology of Polluted Waters,
oxigênio molecular. Liverpool University Press (Um bom livro texto sobre poluição
aquática)
L,Pt + O2 -> L2PtO2 (L = P(C6H5)3) • Lagowski, J. (ed.) (1967), The Chemistry of Non-aqueous
Solvents, Vol. III (Cap. por Burow, D.F., Dióxido de enxofre
Cl Cl
o líquido), Academic Press, New York.
L2ír O2 L2Ir"_'.' I • Latimer, W.M. (1959), The Oxidation States ofthe Elements
o and Their Potentials in Aqueous Solution, 2? ed., Prentice
CO CO Hall (Antigo, mas até recentemente foi a principal referência
sobre potenciais redox).
LEITURAS COMPLEMENTARES • Murphy, J.S. e Orr, J.R. (1975), Ozone Chemistry and Tech
• Bagnall, K.W. (1973), Comprehensive Inorganic Chemistry, nology, Franklin Instite Press, Philadelphia.
Vol. 11 (Cap. 24: Selênio, telúrio e polônio), Pergamon Press, • Nickless, G. (ed.) (1968), InorganicSulfur Chemistry, Elsevier,
Oxford. Amsterdam.
• Bailey, P.S. (1978), Ozonation in. Organic Chemistry, Aca- • Ochiai, E.I. (1975) Bioinorganic chemistry of oxygen, J. Inorg.
demic Press, New York. Nuclear Chem., 37, 1503-1509.
• Bard, A.J., Parsons, R. e Jordan, J. (1985), Standard Poten- • Ogryzlo, E.A. (1965), Why liquid oxygen is blue, J. Chem.
tials In Aqueous Solution (Monographs in Electroanalytical Ed., 42, 647-648.
B92 ERUPO 16 — CALCOBÊNIDS
• Oxygen in the Metal and Gaseous Fuel Industries (1978), em cada caso as ordens de ligação e suas propriedades
Special Publication N.° 32, Royal Society for Chemistry, Lon- magnéticas (paramagnético ou diamagnético): a) O2; b)
don. (Anais da primeira conferência BOC Priestley) íon superóxido, O2“; c) íon peróxido, O22'.
• Oxygen and Life (1981), Special Publication No. 39, Royal 6. Explique os seguintes fatos:
Society for Chemistry, London. (Anais da segunda conferência a) O oxigênio líquido é atraído pelos pólos de um ímã,
BOC Priestley). mas o nitrogênio líquido não.
• Patai, S. (ed.) (1983), The Chemistry ofPeroxides, John Wiley b) O íon N-O+ tem uma ligação mais curta que o N0,
Chichester. embora este último tenha um elétron a mais.
• P hillips, A. (1977), The modern sulphuric acid process, 7. Como pode ser preparado o ozônio, no laboratório? Qual
Chemistry in Britain, 13, 471. é a sua estrutura e quais são suas principais aplicações!
• Roesky, H.W. (1979), Cyclic sulphur-nitrogen compounds, Há uma camada de ozônio na atmosfera superior: qual a
Adv. Inorg. Chem. Radiochem., 22, 240-302. sua importância para o homem?
• Roy, A.B. e Tfudinger, P.A. (1970), The Biochemistry oflnor- 8. Escreva as equações das reações entre O2 e: a) Li; b) Na;
ganic Compounds of Sulphur, Cambridge University Press, c) K; d) C; e) CH4; f) N2; g) S; h) Cl2; i) PbS; j) CuS.
Cambridge. 9. Por que o oxigênio forma moléculas de O2 enquanto o
• Schaap A.P. (ed.) (1976), Singlet Molecular Oxygen, Wiley, enxofre forma moléculas S8?
New York. 10. Descreva um método de preparação do peróxido de
• Schmidt, M. e Siebert, W. (1973), Comprehensive Inorganic hidrogênio. Mostre sua estrutura na fase gasosa. Escreva
Chemistry, Vol. II (Cap. 23: Oxoácidos do enxofre), Pergamon as equações balanceadas para as reações do H2O2 com:
Press, Oxford. a) uma solução ácida de KMnO4
• Thompson, R. (ed.) (1976), The Modem Inorganic Chemi b) H1 aquoso
cals Industry (Cap. por Grant, W.J. e Redfearn, S.L., Gases
Industriais; cap. por Arden, T.V., Purificação de água e c) uma solução ácida de hexacianoferrato(II) de potássio.
reciclagem; cap. por Crampton, C.A. et alli., Produção, 11. Quais são as principais fontes de enxofre? Quais são as
propriedades e aplicações do peróxido de hidrogênio e dos duas formas alotrópicas mais comuns ?
peróxidos inorgânicos; cap. por Phillips, A., O processo 12. Descreva o processo Frasch de extração do enxofre.
moderno de produção do ácido sulfúrico), Special publica 13. Descreva as transformações que ocorrem quando se aquece
tion No. 31, The Chemical Society, London. o enxofre.
• Thrush, B.A. (1977), The chemistry of the stratosphere and 14. Explique as diferenças nos ângulos de ligação e nos pontos
its pollution, Endeavour, 1, 3-6. de ebulição do H2O e do H2S.
• Vaska, L. (1976), Dioxygen-metal complexes: towards a uni- 15. Explique a formação das ligações rt no O2, O3, S03 e
fied view, Acc. Chem. Res., 9,175- 1 83. SO42’.
• Waddington, T.C. (ed.) (1965), Non Aqueous Solvents (Cap. 16. Descreva o processo industrial de fabricação do ácido
4 por Gillespie, R.J. e Robinson, E.A., Ácido sulfúrico; cap. 6 sulfúrico. Enumere suas principais aplicações.
por Waddington, T.C., Dióxido de enxofre líquido), Nelson.
17. Descreva os métodos de preparação, propriedades e
• Wsserman, H.H. e Murray, R.W. (eds) (1979), Singlet Oxy estruturas do SO2, SO3, H2SO5 e H2S2O8.
gen, Academic Press, New York.
18. a) Descreva as diferenças estruturais entre o SO3 gasoso e
• West J. R. (1975), New UseofSulfur, ACS Advances in Chem sólido.
istry series, No. 146, American Chemical Society.
b) Que reação ocorre entre SO3 e H2SO4? Mostre a estrutura
• Zure, P.S. (1987), The Antarctic ozone hole, Chem. Eng. News, do produto.
7 agosto, 7-13; 2 novembro, 22-26.
c) Descreva o efeito do calor sobre o NaHSO3.
PROBLEMAS d) Compare as estruturas dos íons SO42- e S2O32'.
e) Qual é a reação que ocorre entre o Na2S2O3 e o I2?
1. Escreva as equações químicas das reações de obtenção de
oxigênio a partir de: a) H2O; b) H2O2; c) Na2O2; d) NaNO3; f) Por que o ácido sulfuroso e os sulfitos são redutores!
e) KC1O3; f) HgO. 19. Compare e assinale as diferenças entre os ácidos sulfúrico,
2. Como o oxigênio é produzido em escala industrial, e quais selênico e telúrico.
são suas principais aplicações? 20. Como se obtém Na2S2O3? Explique sua utilização em
3. Compare os óxidos de Na e Ca com os de S e N. Compare fotografia e na análise volumétrica.
seus pontos de fusão, a natureza da ligação, e suas reações 21. Quais são os principais fluoretos de enxofre? Como são
com água, ácidos e bases. obtidos, quais são suas estruturas e para que são usados!
4. De que maneira e com base em que critérios podem ser 22. Explique porque o SF8 é inerte mas o TeF8 reage com a
classificados os óxidos? água.
5. Utilize a Teoria de Orbitais Moleculares para descrever as 23. Apresente motivos que justifiquem a existência do SF8 mas
ligações em cada um dos seguintes compostos, informando não do OF6.
293
Grupo 17
GG IlGLOGÊllIOG
INTRODUÇÃO lhantes entre si que as dos outros pares de elementos, pois
têm tamanhos similares. O raio iônico do Cl" é 38% maior
0 nome "halogênio” vem do grego e significa "formador que o do F", mas o raio iônico do Br" é apenas 6,5% maior
de sal”. Todos os elementos desse Grupo reagem diretamente
que o do Cl". Essa diferença relativamente pequena no
com os metais formando sais, e também são muito reativos
tamanho se deve aos dez elétrons 3d do Br", que
frente a não-metais. O flúor é o elemento mais reativo
proporcionam uma blindagem pouco eficiente da carga
conhecido.
nuclear. Por causa disso, as eletronegatividades desses
Todos esses elementos possuem sete elétrons no nível elementos também são muito semelhantes. Assim sendo,
eletrônico mais externo. A configuração ^p5 indica que eles há poucas diferenças nas polaridades das ligações formadas
tem um elétron p a menos que o gás nobre mais próximo. pelo Cl e pelo Br com outros elementos.
Assim, os átomos desses elementos completam seu octeto
Os estados de oxidação ( + 1) e (-1) são de longe os
ganhando um elétron (isto é, através da formação dos íons
mais comuns, e depende se o halogênio é o elemento mais
X‘ e de ligações iônicas), ou então compartilhando um elétron
eletronegativo ou não. Todos os elementos, exceto o flúor,
com outro átomo (ou seja, formando uma ligação covalente). podem existir em estados de oxidação mais elevados. A
Seus compostos com metais são iônicos, enquanto que os ausência de orbitais d de baixa energia no segundo nível
compostos com os não-metais são covalentes. impede que o flúor forme mais de uma ligação covalente
Os halogênios apresentam semelhanças muito grandes normal.
dentro do Grupo. O flúor (o primeiro elemento do grupo)
O flúor é um agente oxidante extremamente forte. Essa
difere em diversos aspectos dos demais elementos do grupo. propriedade combinada com seu pequeno tamanho, faz com
0 primeiro elemento de cada um dos grupos dos elementos que os elementos aos quais ele está ligado alcancem seus
representativos difere significativamente dos demais estados de oxidação mais elevados . Os exemplos incluem
pertencentes aos respectivos grupos. Os motivos dessas IFr, PtF6, SF6 e muitos hexafluoretos, BiFs, SFs, TbF4, AgF2 e
diferenças são:
K(AgulF4],
1) O primeiro elemento é menor que os demais, e segura Todos os halogênios existem como moléculas diatômicas
mais firmemente seus elétrons. e são coloridos. O F2 gasoso é amarelo claro, o gás Cl2 é
2) Não possui orbitais d de baixa energia que possam ser amarelo esverdeado, o Br2 gasoso e líquido são castanho
utilizados para formar ligações. avermelhado escuros e o I2 gasoso é violeta. As cores
As propriedades do cloro e do bromo são mais seme decorrem da absorção de luz quando um elétron do estado
fundamental é promovido para um
estado de maior energia. Nos elementos
Tabela 16J — Configurações eletrônicas e estados de oxidação mais pesados, os níveis de energia
envolvidos estão mais próximos, de
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* modo que a energia de excitação se toma
cada vez menor, e o comprimento de
Flúor F [He] 2?2p55 onda se toma maior.
Cloro Cl [Ne] 3? 3p5 -I +1 +ni +IV +V +VI+VII
Bromo Br [Ar] 3d10 4s2 4p5 -i +i +ni +iv +v +vi O I2 sólido cristaliza na forma de
Iodo I [Kr] 4d10 5? 5ps -i +i +ni +v +vn escamas pretas e apresenta um ligeiro
Astatínio At [Xe] 4/4 5d'°6?6p5 brilho metálico. Embora a estrutura
determinada por difração de raios X
■ Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados indique a presença de moléculas de I2
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo
normal. discretas, a cor é remanescente de
B94 6RUPQ 17 — OS HALO6ÊNIÜS
e facilitar a eletrólise. Moissan utilizou uma mistura de indústria nuclear consome cerca de 75% do flúor produzido.
KF e HF na razão molar de 1:13. Nessa proporção, a O UF6 é obtido como se segue:
pressão de vapor de HF é elevada , acarretando proble
mas devido à sua toxicidade e propriedades corrosivas, U ou UO2 + HF -> UF4
mesmo quando a mistura é resfriada a -24 °C. Os UF4 + f2 -> uf6
métodos modernos utilizam geradores de flúor de UF4 + C1F3 -> UF6
temperatura média. Esses geradores usam uma mistura Os fluorocarbonetos são um grupo de compostos muito
de KF:HF na proporção molar de 1:2, que tem uma importantes e úteis, derivados dos hidrocarbonetos
pressão de vapor de HF muito menor. Essa mistura funde
substituindo-se H por F. O tetrafluorometano, CF4, é o
a cerca de 72 °C, uma condição mais fácil de se manter. fluorocarboneto correspondente ao metano. Os compostos
Observe que o KF e o HF reagem para formar o sal totalmente fluorados, CnF2n+2, são denominados compostos
K+[F-H-F]-.
perfluorados. Assim, o CF4 é o perfluorometano. Os
4) A água deve ser rigorosamente excluída ou o flúor compostos perfluorados apresentam pontos de ebulição
produzido irá oxidá-la a oxigênio. muito baixos em relação a seu peso molecular: isso se deve
5) 0 hidrogênio liberado no cátodo deve ser separado do a atuação de forças intermoleculares muito fracas. Os
flúor produzido no ãnodo, com a ajuda de um fluorocarbonetos são extremamente inertes. Ao contrário do
diafragma. Caso contrário reagirão de modo explosivo. metano, o CF4 pode ser aquecido ao ar sem que entre em
6) 0 flúor é extremamente reativo. Por exemplo, inflama- combustão. Os fluorocarbonetos não são atacados por HNO3
se quando em contato com pequenas quantidades de ou H2SO4 concentrados, nem por agentes oxidantes fortes
graxa ou silício cristalino. O vidro e a maioria dos metais como KMnO4 ou O3, e também por agentes redutores fortes
são atacados. É difícil encontrar materiais adequados como Lí[A1H4] ou C a 1.000 °C. São atacados por Na fundido.
para se construir os reatores. Moissan utilizou um tubo Quando pirolisados a temperaturas muito elevadas, são
de platina em U, já que este metal é muito inerte (mas rompidas as ligações C-C, mas não as ligações C-F. O
muito caro). Atualmente, o cobre ou o metal-monel tetrafluoroeteno, F2C = CF2 (P.E. -76,6 °C), pode ser obtido
(uma liga de Cu/Ni) são utilizados, por causa de seu como se segue:
menor custo. Uma película protetora de fluoreto se 500-1000'C
forma na superfície do metal, diminuindo a velocidade 2CHC1F2 ■> CF2 = CF2 + 2HC1
da reação com o flúor.
Os fluoroalcenos desse tipo podem ser polimerizados,
7) Os cátodos são feitos de aço e os ânodos de carbono, e
ou por processos térmicos, ou utilizando radicais livres como
teflon é utilizado como isolante elétrico. Não devem iniciadores. Dependendo do grau de polimerização, isto é,
ser usados ânodos de grafita, pois esta reage com o do peso molecular médio, os produtos obtidos podem ser
flúor formando derivados de grafita, CF. Neste caso, os óleos, graxas, ou sólidos constituídos por moléculas de
átomos de flúor invadem progressivamente os espaços elevado peso molecular, denominados politetrafluoroeteno.
interlamelares da grafita, afastando-as e dobrando-as. É semelhante à reação de polimerização do eteno (ou
Esse processo vai diminuindo gradativamente a etileno), com a formação de polietileno (politeno). O
condutividade da grafita e a tensão elétrica necessária politetrafluoroeteno é conhecido comercialmente como PTFE
aumenta. Nesse caso há liberação de maior quantidade ou Teflon. TYata-se de um sólido plástico muito inerte, e útil
de calor e eventualmente pode ocorrer uma explosão. por ser totalmente resistente ao ataque químico e por ser
Para evitar isso, o eletrodo é feito com carbono um isolante elétrico. Embora caro, é utilizado no laboratório.
desgrafitizado, compactando-se coque pulverizado Também, é usado como revestimento em utensílios de
impregnado com cobre. cozinha não aderentes.
Cilindros de F2 podem atualmente ser encontrados no Os freons são clorofluorocarbonetos mistos. Compostos
comércio. Contudo, para muitas de suas finalidades, o F2 é tais como CC1F3, CC12F2 e CC13F são importantes como fluidos
convertido em C1F3 (P.E. 12 °C), que embora muito reativo
é menos desagradável e de transporte mais fácil.
200-300'C HF F2 H2
3F2 + Cl2 2C1F3 (entradaXsaída) (saida)
refrigerantes não-tóxicos e como propelentes de aerossóis. Capítulo 10). Contudo, um processo Deacon modificado
Também são muito inertes e serão discutidos mais adiante. ainda é usado em pequenas proporções. Ele utiliza o HC1
O CFjCHBrCl é o anestésico conhecido como fluotano. obtido como subproduto da pirólise do 1,2-dicloroetano, no
Além disso, o F2 é usado na fabricação do SF6, um gás processo de obtenção do cloreto de vinila, e um catalisador
muito inerte usado como dielétrico (isolante) em mais eficiente (CuCl2 com óxido de "didímio" como promo
equipamentos de alta tensão. O F2 é usado ainda na obtenção tor; "didímio” significa "gêmeos” e é o nome da mistura de
de outros agentes de fluoração, como C1F3, BrF3, 1FS e SbFs. praseodímio e neodímio). Esse catalisador torna-se ativo a
O uso de F2 como agente oxidante em motores de foguetes uma temperatura um pouco menor que o do processo origi
foi abandonado. O HF anidro tem muitas aplicações. nal.
Pequenas quantidades de íons fluoreto, F", na água 400-450‘C
potável (cerca de 1 ppm) reduzem significativamente a CH2C1-CH2C1 4 CH2 = CHC1 + HC1
incidência de cáries nos dentes. Os íons F" tornam mais
duro o esmalte dos dentes, pois reagem com a hidroxia- O gás cloro é tóxico e foi usado como gás de combate
patita, [3(Ca3(PO4)2) Ca(OH)2], formadora do esmalte na na I Guerra Mundial. O gás é detectado pelo olfato humano
superfície dos dentes transformando-o em fluorapatita, a uma concentrações de 3 ppm, e a 15 ppm provoca irritação
[3(Ca3(PO4)2)-CaF2], muito mais dura. Contudo, concen na garganta e lacrimejamento. Concentrações maiores
trações de F~ superiores a 2 ppm provocam descoloração e provocam tosse, danos nos pulmões e a morte.
surgimento de manchas nos dentes, e em concentrações A produção mundial de cloro é de cerca de 35,3 milhões
ainda maiores é prejudicial à saúde. Em lugares onde a água de toneladas por ano (ex-Uniâo Soviética 43%, EUA 24%,
contém quantidades insuficientes de íons F" naturais, Alemanha Ocidental 7%, Canadá e França 3% cada um,
adiciona-se NaF e H2[SiF6] à água potável. O NaF também é Japão e Inglaterra 2% cada um). Cerca de dois terços da
usado nos cremes dentais fluoretados (o creme dental produção é usado na fabricação de compostos
fluoretado antigo continha SnF2 e Sn2P2O7). organoclorados, um quinto como alvejante, e o restante na
fabricação de vários compostos inorgânicos. 0 1,2-
Cloro dicloroetano e o monômero do cloreto de vinila são os dois
compostos orgânicos clorados mais importantes. Ambos são
O cloro foi preparado pela primeira vez por Scheele, utilizados na indústria de plásticos. O cloro também é usado
pela oxidação do HC1 com MnO2. Esse foi um dos métodos na fabricação de:
de preparação de cloro no laboratório, mas atualmente o
solventes organoclorados, como cloreto de metila e
cloro é comercializado em cilindros e pode ser facilmente
encontrado. cloreto de etila
percloro e dicloroeteno
H2SO4 + NaCl -4 HC1 + NaHSO4 mono, di e triclorobenzeno
4HC1 + MnO2 -4 MnCl2 + 2H2O + Cl2 hexaclorobenzeno
o inseticida DDT
O gás preparado usando MnO2 deve ser purificado. fenóis clorados
Inicialmente o HC1 é removido borbulhando-se em água e, hormônios de crescimento de vegetais (o ácido 2,4-
em seguida, o gás é desidratado borbulhando-se em H2SO4 diclorofenoxiacético e o ácido 2,4,6-triclorofeno-
concentrado. Caso seja necessário, a umidade pode ser ainda xiacético são usados como herbicidas seletivos).
mais reduzida passando o gás cloro assim obtido sobre CaO
e P4O10. Grandes quantidades de cloro são empregados no
alvejamento de tecidos, madeira, polpa e papel. O cloro é
O cloro é produzido industrialmente em grandes extensivamente empregado na purificação da água potável,
quantidades, por dois métodos principais (cerca de 35,3 por causa de sua capacidade de matar bactérias. Também
milhões de toneladas foram produzidos em 1994): encontra emprego na produção de uma grande variedade de
1) Pela eletrólise de soluções aquosas de NaCl, no processo produtos químicos inorgânicos, tais como:
de fabricação do NaOH. alvejantes
2) Na eletrólise do NaCl fundido, no processo de fabricação hipoclorito de sódio, NaOCl
do sódio (vide Capítulo 10). dióxido de cloro, C1O2
Antes de 1960 o cloro era um subproduto desses clorato de sódio, NaClO3
processos. Desde então houve um grande aumento na diversos cloretos de metais e de não-metais.
demanda de cloro, principalmente na indústria de polímeros
como o cloreto de polivinila (14,9 milhões de toneladas de Bromo
PVC foram fabricados em 1991). Atualmente, o cloro é O bromo é obtido a partir da água do mar e de lagos
considerado o produto principal desses processos. salgados. A água do mar contém cerca de 65 ppm de Br’.
eletrólise Assim, 15 toneladas de água do mar contém cerca de 1 kg
2NaCl + 2H2O 4 2NaOH + Cl2 + H2 de bromo. O bromo é extraído da água do mar, mas é mais
eletrólise
2NaCl 4 2Na + Cl2 econômico utilizar salmouras naturais mais concentradas,
como a do Mar Morto, ou salmouras de fontes em Arkansas
O cloro já foi obtido pela oxidação do HC1 com ar, no e Michigan, nos EUA, e no Japão, que contém de 2.000 a
processo Deacon. Esse processo se tornou obsoleto (vide 5.000 ppm de Br". Inicialmente o pH é ajustado para cerca
HS7
de 3,5 com H2SO4. A seguir, Cl2 gasoso é borbulhado na O salitre do Chile é constituído essencialmente por
solução para oxidar o Br’ a Br2. Esse é um exemplo de NaNO3, mas contém pequenas quantidades de iodato de
deslocamento de um elemento por outro situado mais acima sódio, NaIO3, e periodato de sódio, NaIO4. O NaNO3 puro é
na série eletroquímica. obtido dissolvendo-se o salitre em água e recristalizando-o.
Os resíduos de iodato se acumulam e se concentram na água-
Cl2 + 2Br’ -> 2C1- + Br2 mãe. Eventualmente, esse concentrado é dividido em duas
partes. Uma parte é reduzida com NaHSO3 para formar I".
0 bromo é removido com o auxílio de um fluxo de ar,
Este é misturado com a parte não tratada para formar o I2,
pois é muito volátil, e borbulhado numa solução de Na2CO3.
que é filtrado e purificado por sublimação.
0 Br2 é absorvido por essa solução, pois reage formando
uma mistura de NaBr e NaBrO3. Finalmente, a solução é 2IO3’ + 6HSO3'—> 21’ + 6SO42’ + 6H +
acidificada e destilada para se obter o bromo puro. 51’ + 1O3’ + 6H+ -> 3I2 + 3H2O
3Br2 + 3Na2CO3 -> 5NaBr + NaBrO3 + 3CO2 A água do mar contém apenas 0,05 ppm de I", uma
SNaBr + NaBrO3 + 3H2SO4 -» SHBr + HBrO3 + 3Na2SO4 quantidade muito baixa para permitir uma exploração
5HBr + HBrO3 -> 3Br2 + 3H2O economicamente viável. A salmoura natural, que pode conter
de 50 a 100 ppm, é tratada com Cl2, para oxidar os íons 1“ a
A produção mundial de bromo foi de 370.000 toneladas
12. Este é removido por um fluxo de ar, de modo semelhante
em 1993 (EUA 45%, Israel 36%, Reino Unido 8% e Japão
ao bromo. Ou, após a oxidação com Cl2, a solução pode ser
4%). Em 1955, cerca de 90% do bromo produzido foi
passada através de uma resina de troca-iônica. O I2 fica
utilizado na fabricação de 1,2-dibromoetano, CH2Br-CH2Br,
adsorvido na coluna na forma de íons triiodeto, I3‘, que é
mas atualmente o consumo para essa finalidade é inferior a removido da resina com uma solução alcalina.
50%. 0 1,2-dibromoetano é adicionado à gasolina para re
mover o chumbo. O tetraetilchumbo é adicionado à gasolina A produção mundial de I2 foi de 17.500 toneladas em
para aumentar o índice de octanas, mas provoca a formação 1992 (Japão 42%, Chile 35%, Estados Unidos 11 % e União
de depósitos de chumbo na combustão. O 1,2-dibromoetano Soviética 9%). Não há uma aplicação predominante para o
é adicionado para impedir a formação de depósitos de iodo . Cerca da metade é usado na obtenção de uma
chumbo nas velas de ignição e no motor. O chumbo é variedade de compostos orgânicos, incluindo o iodofórmio,
eliminado com os gases de escape, principalmente na forma CHI3 (usado como antisséptico), e o iodeto de metila, CH3I.
de PbCIBr. O uso de PbELi como aditivo antidetonante da O Agl é usado em filmes fotográficos e para semear nuvens
gasolina diminuiu consideravelmente. A tendência é diminuir para provocar a precipitação de chuvas artificiais. Pequenas
ainda mais em função das preocupações ambientais, devido quantidades de iodo são necessárias na dieta humana, por
à toxicidade do chumbo e à consequente legislação restritiva isso adiciona-se cerca de 10 ppm de NaI ao sal de cozinha.
em relação ao seu uso. Por isso, a produção do 1,2- O Kl é adicionado à ração de animais (mamíferos e aves). A
dibromoetano também diminuiu. glândula tireóide produz um hormônio de crescimento
chamado tiroxina, que contém iodo. A deficiência de iodo
Cerca de 20% do bromo produzido é empregado na provoca o bócio. O iodo é usado em pequenas quantidades
obtenção de derivados orgânicos, tais como brometo de como antisséptico: a tintura de iodo é uma solução aquosa
metila, brometo de etila e dibromocloropropano. Esses de iodo em Kl ("lugol") e o “iodo francês" é uma solução
compostos são usados na agricultura: o MeBr é um alcóolica de iodo. No laboratório, os iodetos e os iodatos
nematicida e um pesticida utilizado no controle de insetos e são usados em análise volumétrica e na preparação do
fungos. Os outros dois são usados como pesticidas. reagente de Nessler, K2[HgI4], usado para detectar amônia.
Cerca de 10% encontram emprego na fabricação de
retardantes de chamas. Compostos bromados podem ser
Astato
adicionados ao processo de polimerização, na fabricação de
fibras acrílicas e de poliéster. É mais comum tornar os tecidos O astato não ocorre na natureza, mas foram obtidos
"resistentes" à chama, tratando-os com tris(dibromopro- artificialmente mais de vinte isótopos. Todos são radioativos.
pil)fosfato, (Br2C3H5O)3PO. Isso pode ser feito tanto durante Os isótopos mais estáveis são o210At (meia-vida de 8,3 horas)
a fiação com após a manufatura. e o 211 At (meia-vida de 7,5 horas). O último foi obtido pela
primeira vez em 1940, numa reação nuclear em que um
Outras aplicações incluem a fabricação de emulsões
alvo de bismuto foi bombardeado com partículas a de alta
fotográficas e de produtos farmacêuticos. O AgBr é sensível
energia.
à luz e é usado em filmes fotográficos e, também, em filtros
bactericidas para água potável e na fabricação de corantes.
2”Bi+4 He ■»2JsAt + 2ón
0 KBr é usado como sedativo e como anti-convulsivo no
tratamento da epilepsia. Métodos baseados em traçadores radioativos foram
utilizados para estudar a química do 2UAt, usando
Iodo quantidades extremamente pequenas do elemento, ou seja,
Há dois métodos industriais diferentes de obtenção do cerca de 10’14 mol. Esse isótopo sofre decaimento por captura
iodo. O método usado depende da matéria-prima, ou seja, o eletrônica e por emissão de partículas a (vide no Capítulo
salitre do Chile ou uma salmoura natural (por exemplo das 31, "Modos de decaimento"). O astato parece ser muito
fontes de Oklahoma e Michigan, nos EUA, ou do Japão). semelhante ao iodo.
298 BRUPO 17 — OS HALÜBÊNIOS
Tabela 163 — Raios iônicos e covalentes Tabela 16.5 — Eletronegatividade e potencial de eletrodo
Cl, Br e I podem ter valências mais elevadas, quando Tabela 16.7 — Energias de ligação c comprimentos de
seus números de oxidação são (+ III), (+ V) e (+ VII). Esses ligação de X2
estados de valências superiores levam a formação de ligações
covalentes, que evidentemente decorrem da promoção de Energias de ligação Comprimento da
elétrons de orbitais preenchidos p e s para níveis d vazios. (energia livre de ligação em X2
Assim, os elétrons desemparelhados formam três, cinco e dissociação) (Â)
sete ligações covalentes. Há numerosos exemplos de (kJ mol-1)
compostos interhalogenados e de óxidos de halogênios em
F 126 1.43
que esse elemento se encontra num desses estados de
Cl 210 1,99
valência superiores. 158 2,28
Br
ns _____ np_____ _________ nd_________
I 118 2,66
Estrutura eletrônica
do átomo de halo- camada
gênio — estado interna
È |u|u|t I I I I I I I
fundamental cheia (um só elétron desemparelhado possibilita
a formação de apenas uma ligação covalente) A energia de ligação do F2 é anormalmente baixa (126
kJ mol'1), sendo um dos principais motivos de sua grande
Estrutura eletrônica reatividade (outros elementos do primeiro período da tabela
do átomo de halo- camada
gênio — estado interna
[n] |u|t |t | |t | | | I I periódica também têm energias de ligação inferiores as dos
excitado cheia (três elétrons desemparelhados possibilitam
a formação de três ligações covalentes)
elementos seguintes nos respectivos grupos. Por exemplo,
no Grupo 15, a ligação N-N na hidrazina é mais fraca que a
Estrutura eletrônica camada [H] 1? |t |t I |t |t | I I I
ligação P-P e, no Grupo 16, a ligação 0-0 dos peróxidos é
do átomo de halo- mais fraca que a ligação S-S). Duas explicações diferentes
gênio — estado interna
mais excitado cheia (cinco elétrons desemparelhados possibilitam foram aventadas para explicar essa baixa energia de ligação:
a formação de cinco ligações covalentes)
D Mulliken sugeriu que no Cl2, Br2 e I2 existe um certo
Estrutura eletrônica grau de hibridização pd, fazendo com que as ligações
do átomo de halo- camada
gênio — estado interna
[F] |t |t |t I |? |T |T | 11 tenham um certo caráter de ligação múltipla. Com isso
ainda mais excitado cheia (sete elétrons desemparelhado possibilitam as ligações nesses elementos ficariam mais fortes que a
a formação de sete ligações covalentes)
ligação no F2, no qual não há orbitais d disponíveis.
Os estados de oxidação ( + IV) e ( + VI) ocorrem nos 2) Coulson sugeriu que havería uma repulsão internuclear
óxidos C1O2, BrO2, C12O6 e BrO3. apreciável, visto que os átomos de flúor são pequenos
e a distância F-F também é pequena (1,48 Â). As
PONTOS DE FUSÃO E DE PONTOS DE intensas repulsões elétron-elétron dos pares isolados
EBULIÇÃO nos dois átomos de flúor enfraqueceríam a ligação.
Os pontos de fusão e de ebulição desses elementos Parece desnecessário recorrer às ligações múltiplas para
crescem com o aumento do número atômico. À temperatura explicar esses fatos, de modo que a explicação mais simples
ambiente, o flúor e o cloro são gases, o bromo é líquido e o de Coulson é amplamente aceita.
iodo é um sólido. Em locais de clima temperado, somente
dois elementos são líquidos à temperatura ambiente, o bromo PODER OXIDANTE
e o mercúrio (em locais de clima muito quente, o césio e o A afinidade eletrônica é a medida da tendência dos
tálio também são líquidos). O I2 sólido sublima sem se átomos de receber elétrons. Ela é máxima no cloro (vide
liqüefazer, à pressão atmosférica. Tab. 16.4). A oxidação implica na remoção de elétrons, de
modo que um agente oxidante recebe elétrons. Portanto, os
ENERGIA DE LIGAÇÃO NA MOLÉCULA X2 halogênios atuam como agentes oxidantes. A força de um
Todos esses elementos formam moléculas diatômicas. agente oxidante (isto é, seu potencial redox) depende de
Espera-se um decréscimo da energia de ligação nas moléculas diversos fatores energéticos, que podem ser convenien
X2, à medida que aumenta o tamanho dos átomos, já que temente representados num ciclo de energia do tipo Born-
esse aumento provoca uma diminuição na eficiência das Haber (Fig. 16.3).
interações entre seus orbitais. Cl2, Br2 e 12 seguem a tendência O potencial de oxidação é a variação de energia entre o
esperada (Tab. 16.7}, mas a energia de ligação do F2 desvia- elemento no seu estado padrão e na forma de seus íons
se desse comportamento. hidratados. No caso do iodo, isso corresponde à diferença
de energia entre l/2I2(sólido) e r(hidratado). O potencial
Tabela 16.6 — Pontos de fusão e pontos de ebulição de oxidação é igual à soma das energias fornecidas como
entalpias de fusão, de vaporização e dissociação, menos a
Pontos de fusão Pontos de ebulição energia liberada como afinidade eletrônica e entalpia de
CC) CC) hidratação.
Utilizando um ciclo semelhante, pode-se calcular o
F2 -219 -188
Cl2 potencial de oxidação do bromo, ou seja para a transformação
-101 -34
Br2 de l/2Br2(líquido) em Br(hidratado) (observe que como o
60
>2 114 185 bromo é líquido em seu estado padrão, e o termo correspon
dente à energia livre de fusão deve ser omitido. Analoga-
300 BRUPO 17 — DS HAL0BÊNID5
7 ÍEnergia livre
3 Xz(sol)do) de fusão
Potencial de
oxidação
parao cloro Energia livre
de hidratação
é grande e negativa). A oxidação pode
ser considerada como sendo a remoção
de elétrons, de modo que um agente
Potencial
de oxidação oxidante recebe elétrons. Logo, os
para o bromo átomos de flúor são reduzidos a íons
Potencial
de oxidação fluoreto.
para o iodo
X (hidratado)
F2 + 3H2O -> 2H3O+ + 2F- + ’/2O2
AG° = -795 kJ mol'1
Figura 16.3 — Ciclo de energia mostrando os potenciais de oxidação dos halogênios. (Utilizou-se Uma reação semelhante entre o
aqui o potencial de oxidação em vez do potencial de redução para enfatizar que os halogênios são
fortes agentes oxidantes. Lembre que AG'- -nFE) cloro e a água é termodinamicamente
possível, mas a reação é muito lenta,
mente, as entalpias de fusão e de vaporização devem ser por causa da elevada energia de ativação.
omitidas no cálculo do potencial de oxidação do cloro e do
flúor, dado que ambos são gases. Cl2 + 3H2O -> 2H3O+ + 2CT + */2O2
Embora o cloro tenha a maior afinidade eletrônica, e Porém, uma reação alternativa de desproporcionamento
os átomos de cloro aceitem elétrons mais facilmente, ele ocorre rapidamente:
não é o agente oxidante mais forte (vide Tab. 16.8). Isso
ocorre, pois quando todos os termos do ciclo de energia são Cl2 + H2O -> HC1 + HOC1
Estado de oxidação do cloro (0) (-1) ( + 1)
somados o flúor tem o menor valor de AH°. Visto que a
diferença entre AG° e AH° não é significativo, o flúor aceita Uma reação de desproporcionamento análoga ocorre
elétrons mais prontamente que o cloro e é o agente oxidante com o bromo e o iodo, mas em pequeníssima extensão.
mais forte. Há duas razões principais para esse fato: Assim, uma solução aquosa saturada de Cl2, a 25 °C, contém
cerca de dois terços de X2 hidratado e um terço de OCL.
1) O F2 tem baixa entalpia de dissociação (conseqüência
Soluções de Br2 e de I2 contêm somente uma quantidade
da ligação F-F fraca)
muito pequena de OBr" e uma quantidade desprezível de
2) O F2 tem uma elevada energia livre de hidratação OI", respectivamente.
(decorrente do menor tamanho dos íons F"). O iodo é um agente oxidante ainda mais fraco. A
O flúor é um agente oxidante muito forte, e substituirá variação da energia livre é positiva, indicando que é
o Cl" tanto em solução como nos compostos sólidos. necessário fornecer energia para que o iodo oxide a água.
Analogamente, o gás cloro deslocará o Br" de suas soluções
(esta é a base do método industrial de obtenção do bromo a I2 + H2O -> 2H+ + 21' + ‘/2O2 AG°= +105kJmol'1
partir da água do mar). Em geral, qualquer halogênio de Assim, o valor de AG° da reação inversa será igual a
menor número atômico oxidará íons haleto de maior número -105 kJ mol’1, de modo que essa reação deveria ocorrer
atômico. espontaneamente. Esse é efetivamente o caso. 0 oxigênio
da atmosfera oxida os íons iodeto a iodo. No ponto de
equivalência de uma titulação de iodo com tiossulíato de
sódio, o iodo inicialmente presente terá sido totalmente
convertido em íons iodeto. Logo, a cor azul do indicador de
Tabela 16.8 — Valores de entalpia (ATT*) para
1/2 X2 —> X(hidratado) (todos os valores em kJ mol"1)
Tabela 16.9 — Concentrações em soluções aquosas
'/2 entalpia '/2 entalpia ’/2 entalpia Afinidade Entalpia Total de saturadas a 25'C
de de eva-
eva de dis- eletrônica de AH°
fusão poração sociação hidra Solubilidade Concentração Concentração
tação (mol r1) X2(hidralailo) HOX
(mol l"1) (mol r'i
F2 + 159/2 -333 -513 -836
+243/2 -349 -370 -597,5 Cl2 0,091 0,061 0,030
Cl2
Br2 +30/2 +193/2 -325 -339 -552,5 Br2 0,21 0,21 l.lxlO'1
+15/2 +42/2 +151/2 -296 -274 -466 I2 0,0013 0,0013 6,4x1o-6
h
HF 301
amido na presença do iodo desaparece e a solução se torna Tabela 16.11 — Algumas reações dos halogênios
incolor.
I2 + 2S2O32- -> 2K + S„O62- Reação Comentários
Se o frasco em que foi feita a titulação for deixado em 2F2 + 2H2O —» 4H+ + 4F~ + O2 Reação enérgica com o F
repouso por dois ou três minutos, o indicador se torna 2I2 + 2H2O <— 4H+ + 4F + O2 I reage no sentido inverso
novamente azul . Isso ocorre porque o oxigênio do ar X2 + H2O -» H+ + X" + HOX Cl > Br > I (não com o F)
reoxidou o r a I2, que reage com o amido regenerando a cor X2 + H2 -» 2HX Todos os halogênios
azul. nX2 + 2M -*■ 2MX„ A maioria dos metais formam
haletos
21“ + >/2O2 + 2H+ -> I2 + H20 Com F a reação é a mais
enérgica
Considera-se como sendo o final da titulação o ponto
X2 + CO COX2 Cl e Br formam haletos de
em que a cor desaparece e a solução permanece incolor du
rante meio minuto. carbonila
3X2 + 2P -» 2PX3 Todos os halogênios formam
trihaletos
REATIVIDADE DOS ELEMENTOS As, Sb e Bi também formam
0 flúor é o mais reativo de todos os elementos da tabela trihaletos
periódica. Ele reage com todos os outros elementos, exceto 5X2 + 2P—>2PX5 F, Cl e Br formam pentahaletos
os gases nobres mais leves He, Ne e Ar. Reage com o xenônio AsFj, SbFj, BiF3, SbCl3
em condições brandas, formando fluoretos de xenônio (vide X2 + 2S -> S2X2 Cl e Br
Capítulo 17). Suas reações com a maioria dos elementos 2C12 + S -» SC14 Somente o Cl
são vigorosas e muitas vezes explosivas. Alguns metais como 3F2 + S —> SF6 Somente o F
Cu, Ni, Fe e Al, numa forma maciça, ficam recobertos por X2 + H2S -» 2HX + S Todos os halogênios oxidam
uma camada protetora de fluoreto. Contudo, se esses metais S2'aS
forem pulverizados (aumento da superfície de contato), ou X2 + SO2 -» SO2X2 Fe Cl
3X2 + 8NH3 -» N2 + 6NH4X F, Cl e Br
se a mistura reacional for aquecida, então a reação será
X2 + X2 -> 2XX' Compostos interhalogenados
vigorosa. A reatividade dos demais halogênios diminui na
X2 + XX' -> X'X3 Formam compostos interhaloge
ordem Cl > Br > I. O cloro e o bromo reagem com a maioria
nados superiores
dos elementos, embora menos vigorosamente que o flúor. O
iodo é menos reativo e não se combina com elementos tais
como S e Se. Geralmente, o flúor e o cloro oxidam os porque os halogênios formam ligações muitos fortes. Muitas
elementos para estados de oxidação mais elevados que o delas são inclusive mais fortes que a ligação C-C, que é
bromo e o iodo, provocando a obtenção de compostos nos considerada uma ligação muito forte (a energia da ligação
quais esses elementos se encontram nos seus estados de C-C é igual a 347 kJ moI-1).
oxidação mais elevados, como por exemplo no PBr3 e PC15,
e no S2Br2, SC12 e SF6.
HALETOS DE HIDROGÊNIO HX
A grande reatividade do flúor é atribuída a dois fatores:
É comum referir-se aos compostos HX anidros como
1) À pequena energia de dissociação da ligação F-F haletos de hidrogênio, e a suas soluções aquosas como ácidos
(energia de ativação da reação é baixa). halogenídricos.
2) À formação de ligações muito fortes. Todos os halogênios reagem com o hidrogênio formando
Ambos os fatores são decorrentes do pequeno tamanho hidretos, HX, embora esse não seja o método usual de
do átomo de flúor. As ligações F-F são fracas, por causa da obtenção dos mesmos, exceto no caso do HC1. A reatividade
repulsão entre os pares de elétrons isolados nos dois átomos. frente ao hidrogênio decresce de cima para baixo dentro do
Formam-se ligações fortes, por causa do elevado número de grupo. Hidrogênio e flúor reagem violentamente. A reação
coordenação e da elevada energia reticular. com cloro é lenta no escuro, mas rápida à luz e explosiva
São mostradas na Tab. 16.10 as energias de algumas quando exposta a radiação solar. A reação com o iodo é
ligação. Essas energias podem ser utilizadas para explicar lenta à temperatura ambiente.
O HF é purificado por sucessivas lavagens, esfriamento Na segunda etapa, a mistura era aquecida a cerca de
e destilação fracionada, resultando num produto final de 550 °C , quando ocorria nova reação com H2SO4 e a
99,95% de pureza. A produção mundial de HF é de cerca de formação de Na2SO4. Esse subproduto era vendido
1,5 milhão de toneladas por ano em 1994, sendo que mais principalmente para a indústria de papel (é utilizado
de 80.000 t/ano são produzidos no Reino Unido. no processo Kraft).
O HF gasoso é muito tóxico e só deveria ser manuseado
em capelas com boa exaustão. As soluções de HF são NaCl + H2SO4 - iscrc •» HCl(g) + NaHSO„
denominadas ácido fluorídrico, e são muito corrosivas. O NaCI + NaHSO4 5S0*C >, HC1(S)
------------ + Na2SO4
ácido fluorídrico é normalmente utilizado em equipamentos
de cobre ou metal-monel, pois reage com o vidro formando 2) Grandes quantidades de HCI impuro são obtidos como
o íon hexafluorossilicato, [SiF6]2’. subproduto na indústria química orgânica pesada. Por
exemplo, ocorre formação de HCI na conversão de 1,2-
SiO2 + 6HF -> [SiF6]2- + 2H+ + 2H2O dicloroetano, CH2C1-CH2C1, em cloreto de vinila,
CH2 = CHC1, e na fabricação de derivados clorados do
Surpreendentemente, a velocidade de corrosão é menor etano e de fluorocarbonetos clorados. Atualmente essas
quando a concentração do ácido é superior a 80%. As são as maiores fontes de HCI.
principais aplicações do HF são as seguintes:
3] HCI de alta pureza é obtido pela combinação direta dos
D Dois terços da produção são utilizados na obtenção de elementos. Uma mistura gasosa de H2 e Cl2 é explosiva.
clorofluorocarbonetos (freons), também conhecidos Contudo, a reação transcorre de modo controlado se a
como CFC’s. São utilizados como fluidos refrigerantes mistura dos gases for “queimado” numa câmara de
e propelentes de aerossóis. O uso dos CFCs está sendo combustão especial. O processo é fortemente
abandonado, por causa do dano que provocam na exotérmico.
camada de ozônio, da atmosfera superior (vide Capítulo
13, “Tetrahaletos”). 4) No laboratório, o HCI pode ser obtido de maneira
conveniente tratando-se NH4C1 com H2SO4 concentrado.
condições anidras O NH4C1 é mais caro que o NaCl (usado no processo
CC1„ + 2HF ->CC12F2+2HC1 “salt cake”). Contudo, prefere-se o NH4C1, porque o
+SbCls freon
NH4HSO4 é solúvel e a reação não é interrompida na
2) Cerca de 14% são usados na produção de A1F3 e criolita primeira etapa.
sintética, empregados na extração eletrolítica do
alumínio (vide Capítulo 3). 2NH4C1 + H2SO4 -> 2HC1 + (NH4)2SO4
3) Cerca de 2% são empregados no processamento do O gás cloreto de hidrogênio é muito solúvel em água.
urânio (obtenção dos intermediários UF4 e UF6). Soluções aquosas de HCI são comercializadas como ácido
4) Cerca de 4% da produção é utilizada na forma anidra, clorídrico. Uma solução saturada a 20 °C contém 42% de
como catalisador de reações de alquilação na indústria HCI em peso e o ácido “concentrado” normalmente contém
petroquímica, na obtenção de alquilbenzenos de cadeia cerca de 38% de HCI em peso (solução aproximadamente
longa. Estes são a seguir convertidos em alquilbenze- 12 M). O ácido clorídrico puro é incolor, mas soluções de
nossulfonatos e usados como detergentes. grau técnico costumam ser amareladas, por causa da
5) O HF aquoso é usado no tratamento do aço (cerca de contaminação com Fe(lII). É utilizado principalmente na
4%), para gravar o vidro, fabricar herbicidas e diversos limpeza de metais, isto é, na remoção de camadas de óxidos
fluoretos, inclusive o BF3. de sua superfície. Também é usado na obtenção de cloretos
de metais, de corantes e na indústria do açúcar.
B2O3 + 6HF H^conc > 2BF3 + 3H2SO4-H2O O HCI gasoso é convenientemente preparado no
A12O3 + 6HF -> 2A1F3 + 3H2O laboratório, a partir de HCI e H2SO4 concentrados.
HCI HBr e HI
O HCI é produzido industrialmente em grande escala. O HBr e o HI são obtidos por meio da reação de ácido
A produção mundial foi de 12,3 milhões de toneladas em fosfórico concentrado, H3PO4, com brometos e iodetos de
1991 (EUA 24%, China 21%, Alemanha e Japão 7% cada metais, num processo semelhante ao do “salt cake” pata o
um, França e Itália 5% cada e Bélgica 3%). Há diversos HCI. Observa-se que é necessário utilizar um ácido não
métodos de obtenção: oxidante, como o ácido fosfórico. O H2SO4 concentrado é
D Antigamente o HCI era obtido exclusivamente pelo um agente oxidante forte e oxidaria o HBr a Br2 e o HI a I2.
método “salt cake”. Nesse método, o sal-gema (NaCl) é
H3PO4 + NaI -> HI + NaH2PO4
tratado com H2SO4 concentrado. A reação é endotérmica
e realizada em duas etapas, a diferentes temperaturas. A preparação de laboratório convencional, baseia-se na
A primeira dessas reações era efetuada a cerca de 150 redução do bromo ou do iodo com fósforo vermelho em
°C. O NaCl sólido reage com o H2SO4, e fica recoberto água. Obtém-se HBr pela adição de bromo a uma mistura
com uma camada de NaHSO4 insolúvel. Isso impede a de fósforo vermelho e água. No caso do HI, adiciona-se água
continuação da reação e deu origem ao nome "salt cake”. a uma mistura de fósforo e iodo.
HBr e Hl 303
Figura 16.4 — Cadeia ligada por pontes de hidrogênio no HF sólido é dada pela equaçao:
304 GRUPO 17 — 05 HALOBÊNIOS
Às vezes, quando o elemento alcança seu grau de 2A1 + 6HC1 -> 2A1C13 + 3H2
covalência máxima, os haletos não reagem com a água. Por Cr + 2HF -> CrF2 + H2
exemplo, 0 CCL, e o SF6 são estáveis. Isso se deve a fatores Fe + 2HC1 -> FeCI2 + H2
cinéticos e não a fatores termodinâmicos, e o CC14 é
hidrolisado por vapor superaquecido a fosgênio, COC12. Os Reações de óxidos com compostos halogenados
haletos moleculares geralmente são gases ou líquidos Freqüentemente obtém-se os haletos correspondentes
voláteis. Isso decorre da presença de fortes ligações quando se aquece compostos halogenados, tais como NH4CI,
intramoleculares, mas somente de ligações intermoleculares CC14, C1F3, BrF3, S2C12 ou SOCi2, com o óxido de um metal.
fracas do tipo van der Waals. Diversos fluoretos exibem
ligações múltiplas quando o átomo central dispõe de orbitais 30°'‘Cc--> 2ScC13 + 6NH3 + 3H2O
Sc2O3 + 6NH,C1 —3OO
vazios adequados. Esse fato contribui para a grande energia
e pequeno comprimento de muitas das ligações do flúor (B- 2BeO + CCI4 —eo°'c > 2BeCl2 + CO2
F, C-F, N-F e P-F). 3UO2 + 4BrF3 -> 3UF4 + 3BrO2 + ‘/2Br2
3NiO + 2C1F3 -> 3NiF2 + Cl2 + l‘/2O2
Halogênios em ponte
Tboca de halogênios
Às vezes os haletos se ligam simultaneamente a dois
Muitos haletos reagem ou com os halogênios ou com
átomos (é menos comum encontrar haletos se ligando
um excesso de outros haletos, substituindo um átomo de
simultaneamente a três átomos). Por exemplo, 0 A1C13 forma
halogênio por outro. Assim, diversos fluoretos metálicos,
um dímero, enquanto que o BeF2 e o BeCl2 formam cadeias
como AgF2, ZnF2, CoF3, AsF3, SbF3 e SbFs podem ser usados
infinitas. As ligações contendo halogênios em ponte podem
para obter fluoretos, assim como o HF.
ser representadas como sendo constituídas por uma ligação
covalente normal e uma coordenativa, onde um par de PC13 + SbF3 -> PF3 + SbCl3
elétrons isolados do mesmo é doado para formar uma CoCl2 + 2HF -> CoF2 + 2HC1
segunda ligação. As duas ligações são idênticas. A ponte
pode ser descrita usando a teoria de orbitais moleculares Cloretos podem ser convertidos a iodetos pelo
como sendo uma ligação tricentrada com quatro elétrons. tratamento com Kl, em acetona. Analogamente, o KBr pode
As ligações com cloro ou bromo em ponte são tipicamente ser usado no caso dos brometos.
angulares, mas aquelas formadas pelo flúor podem ser
angulares ou lineares. Diversos pentafluoretos, tais como TiCl4 + 4KI -> Til4 + 4KC1
NbFs e TaFs, formam tetrâmeros cíclicos com pontes lineares.
Desidratação de haletos
Obtenção de haletos anidros Haletos hidratados podem ser preparados por diversos
métodos, tais como pela reação de carbonatos, óxidos ou
Há diversos métodos gerais para a preparação de haletos metais com o ácido halogenídrico apropriado. A evaporação
anidros. das soluções obtidas leva aos haletos hidratados. Alguns
deles podem ser desidratados por simples aquecimento, ou
Reação direta entre os elementos. por aquecimento a vácuo, mas freqüentemente esses
A maioria dos metais reage vigorosamente com o F2, procedimentos geram os oxohaletos. Os cloretos podem ser
formando os fluoretos desses elementos nos seus estados desidratados refluxando-se o sal hidratado em cloreto de
de oxidação mais elevados. Alguns não-metais, como P e S tionila. Outros haletos podem ser desidratados por tratamento
explodem. Geralmente, são necessárias temperaturas com 2,2-dimetoxipropano.
elevadas para se obter os cloretos, brometos e iodetos.
VC13-6H2O + 6SOC12 ->VC13 + 12HCI + 6SO2
2Fe + 3F2 -> 2FeF3 CrF3 ■ 6H2O + 6CH3C(OCH3)2CH3 ->CrF3 + 12CH3OH + 6(CH3)2CO
Fe + Br2 —> FeBr2
Fe + I2 —> Fel2 ÓXIDOS DE HALOGÊNIO
As diferenças encontradas nos compostos dos
As reações são facilitadas em solventes como o
halogênios com o oxigênio provavelmente são maiores que
tetrahidrofurano, embora na maioria dos casos os produtos
em qualquer outra classe de compostos. As diferenças entre
sejam solvatados.
o F e os demais halogênios se devem às razões usuais
(pequeno tamanho, ausência de orbitais d e elevada eletrone-
Reação de óxidos com carbono e halogênios gatividade). Além disso, o oxigênio é menos eletronegativo
Supõe-se que o óxido seja inicialmente reduzido pelo que o flúor, mas mais eletronegativo que o Cl, Br e 1. Logo,
carbono ao metal e que, em seguida, este reaja com o os compostos binários de F e O são fluoretos de oxigênio e
halogênio. não óxidos de flúor. Os demais halogênios são menos
eletronegativos que o oxigênio e formam óxidos. A diferença
TiO2 + C + 2C12 -> TÍCI4 + C02 de eletronegatividade entre os halogênios e o oxigênio é
pequena e as ligações são essencialmente covaientes.
Reação do metal com HX anidro Surpreendentemente, I2O4 e I4O9 são estáveis e iônicos.
Muitos metais reagem com HF, HC1, HBr ou HI gasosos. A maioria dos óxidos dos halogênios é instável, e tende
3OB GRUPO 17 — OS HALOGÊNIOS
vv
O O OOO
com ar ou CO2. O método de obtenção mais segura no
laboratório baseia-se na reação do clorato de sódio com ácido
Cl Cl ClOjCIO;
oxálico, pois o gás é gerado diluído em CO2.
2NaC103 + 2(COOH)2 np, 9<rc ; O' O O O
O
2C1O2 + 2CO2 + (COONa)2 + 2H2O
Figura 16.7 — Estruturas possíveis para o Cl£>6
0 gás é obtido industrialmente a partir do NaC103. É
difícil obter dados fidedignos sobre sua produção, pois por
questões de segurança o C1O2 é produzido no local em que sólido. Ambos são diamagnéticos e não devem ter elétrons
é utilizado, e sempre é diluído com CO2 (por questões de desemparelhados. As possíveis estruturas do C12O6 são
segurança). Cerca de 200.000 toneladas são produzidos por mostradas na Fig. 16.7.
ano; metade nos EUA. O produto puro pode ser obtido O C12O6 é um agente oxidante forte e explode quando
utilizando-se SO2. O emprego de HC1 provoca sua em contato com graxa. A hidrólise do C12O6 com água ou
contaminação com Cl2, mas isso pode não ser importante álcalis forma cloratos e percloratos. A reação com HF anidro
ou até mesmo ser útil para alvejar e esterilizar. é reversível.
C12O6 + 2 NaOH -> NaC103 + NaClO4 + H2O
2NaC103 + SO2 + H2SO4 —lrat°s de NaCI , 2ClO2 + 2NaHSO4 clorato perclorato
2HC1O3 + 2HC1 -> 2C1O2 + Cl2 + 2H2O C12O6 + H2O -> HClOj + HC1O4
HOC1O2 + HOClOj
0 C102 se dissolve em água liberando calor e gerando C12O6 + HF — FC102 + HC1O4
uma solução verde escura. Esta se decompõe muito C12O6 + N2O4->C1O2 + [NO2] + [C1O4]-
lentamente na ausência de luz, mas rapidamente quando
irradiada.
CI2O7, heptóxido de dicloro
C1O2 -> CIO + o
O C12O7 é um líquido oleoso incolor. É moderadamente
2C1O + H2O -> HC1 + HClOj
estável e é o único óxido de cloro formado numa reação
0 composto também é empregado na fabricação de exotérmica, sendo contudo sensível ao choque. É obtido pela
clorito de sódio, NaC102, que também é usado como alvejante desidratação cuidadosa do ácido perclórico com pentóxi-
de tecidos e de papel. do de fósforo, ou H3PO4, a -10 °C, seguido de sua desti
2C1O2 + 2NaOH + H2O2 -> 2NaC102 + O2 + 2H2O lação a -35 °C, à pressão de 1 mm/Hg. Sua estrutura é
O3CI-O-CIO3, com um ângulo de ligação de 118°36’ no oxi
Algumas outras reações são: gênio central. É menos reativo que os óxidos inferiores e
2C1O2 + 2NaOH -> NaC102 + NaC103 + H2O não provoca a ignição de materiais orgânicos. Reage com a
2C1O2 + 20j -> C12O6 + 2O2 água, formando ácido perclórico.
O O
Tabela 16.15 — Os oxoácidos
HOX HXO2 HXO3 HX04
I----- O ----- 1 Estados de
oxidação (+D (+ffl) (+V) (+VII)
HOF
HOC1 hcio2 HCIO3 HCIO4
HOBr HBrO3 HB1O4
HO1 HIO3 HIO4
Figura 16.8 — A estrutura do I2OS
□xqáciqqs 309
no ânodo<
2cr -> ci2 estados de oxidação t+n t-n C* v)
ci2 + 20H" -> ocr + cr + h2o 30C1" 2C1" + C1O3"
hipoclorito cloreto clorato
mais forte que o HOC1. O átomo de cloro se encontra no D O aquecimento de KC1O3 a 400-500 °C se constitui na
estado de oxidação (+ III). O HC1O2 é obtido pela reação de conhecida experiência para obtenção de oxigênio no
clorito de bário com H2SO4, após a remoção do BaSO4 por laboratório. Também se formam pequenas quantidades
filtração. de Cl2 ou C1O2 (embora isso raramente seja mencio
nado) . A decomposição ocorre a 150 °C na presença de
Ba(C102)2 + H2SO4 -> 2HC1O2 + BaS04 um catalisador como o MnO2 ou vidro em pó, que
Os sais do HC102 são denominados cloritos. 0 clorito fornece uma grande superfície onde o O2 pode ser
de sódio pode ser preparado a partir de C102 e hidróxido de formado .
sódio ou de C1O2 e peróxido de sódio. 2KC1O3 -» 2KC1 + 3O2
2C1O2 + 2NaOH -> NaC102 + NaClO3 + H2O Quando o Zn(C103)2 é aquecido, este se decompõe em
clorito clorato
O2 e Cl2.
2C1O2 + Na2O2 -> 2NaClO2 + O2
2Zn(ClO3)2 -> 2ZnO + 2C12 + 5O2
Os cloritos são utilizados como alvejantes. Eles são
estáveis em meio alcalino, mesmo à temperatura de ebulição, 2) Na ausência de catalisador, especialmente a
mas em meio ácido sofrem reação de desproporcionamento, temperaturas menores, o KC1O3 tende a se
principalmente quando aquecidos. desproporcionar formando perclorato e cloreto.
Os cloratos e bromatos se decompõem quando Todos os demais percloratos e o próprio ácido perclórico
aquecidos, mas o mecanismo da reação de decomposição é são obtidos a partir do NaClO4.
complicado e ainda não foi inteiramente esclarecido. O KC103 1) O NH4C1O4 é um sólido branco, que já foi usado como
pode decompor-se de duas maneiras diferentes, dependendo explosivo em mineração . É agora usado nos foguetes
da temperatura. da nave espacial Challenger. O NH4C1O4 oxida o
OXÜÁCIOOS 311
combustível (Al em pó). Cada lançamento da nave uma fraca tendência de formar complexos com íons
consome cerca de 700 toneladas de NH4C1O4, o que metálicos. Por isso, os percloratos são frequentemente usados
corresponde à metade da demanda de percloratos . como íons inertes no estudo de íons metálicos em solução
NH4C1O4 pode absorver uma quantidade suficiente de aquosa. Contudo, na ausência de outros ligantes, o C1O4“
! amônia para liqüefazê-lo. pode atuar como um ligante unidentado ou bidentado. O
2) São utilizados anualmente cerca de 500 toneladas de íon perclorato é tetraédrico.
HC1O4, principalmente na obtenção de outros perclora Durante muito tempo as tentativas no sentido de se
tos. O HC1O4 é um líquido incolor, que pode ser obtido obter perbromatos foram infrutíferas. Por isso, supunha-se
pela reação de NH4C1O4 com ácido nítrico diluído, ou que eles não pudessem existir, até que pequeníssimas
de NaClO4 com ácido clorídrico concentrado. quantidades foram obtidas como resultado do decaimento
beta do 83SeO42’. Na realidade, os perbromatos podem ser
NH4C1O4 + HNOj -> hcio4 + NH4NO3 obtidos a partir dos bromatos pela ação de agentes oxidantes
muito fortes como F2 ou XeF2, ou por eletrólise de suas
Em princípio, os percloratos poderíam ser obtidos pela
soluções aquosas.
reação de desproporcionamento dos cloratos, mas essa
reação é lenta e de pouca utilidade. KBrOj + F2 + 2KOH -> KBrO4 + 2KF + H2O
(rende 20%)
4C1O3“ -> 3C1O4- + cr
RbBrOj + XeF2 + H2O RbBrO4 + 2HF + Xe
0 HC1O4 pode ser encontrado comercialmente como (rende 10%)
oxidação eletrolítica
uma solução a 70%, que praticamente corresponde a LiBrOj -> LiBrO4 (rende 1 %)
composição esperada para o dihidrato, HC1O4 -2H2O. É
0 único oxoácido de cloro que pode ser isolado na forma Os perbromatos sólidos são estáveis. O KBrO4 é estável
anidra. É obtido pela desidratação do HC1O4.2H2O com até temperaturas de cerca de 275 °C e é isomórfico com o
ácido sulfúrico fumegante, seguido da remoção do KC1O4. O HBrO4 é estável em solução até uma concentração
HC1O4 por destilação a vácuo. de cerca de 6 M, mas o ácido concentrado é um agente
oxidante forte. Em soluções diluídas os perbromatos são
HC1O4-2H2O + 2H2S2O7 —» HC1O4 + 2H2SO4 oxidantes lentos, e não oxidam o íon Cl".
0 HC1O4 é um dos ácidos mais fortes que se conhece. Os periodatos podem ser obtidos oxidando-se I2 ou I"
Na forma anidra é um poderoso agente oxidante, que em solução aquosa. Industrialmente são obtidos pela
explode quando em contato com material orgânico oxidação de iodatos com Cl2 ou eletroliticamente, em meio
(madeira, papel, tecido, graxa, borracha e outros alcalino.
produtos químicos), e às vezes até espontaneamente.
IO3- + 6OH~ + Cl2 -> IO6' + 3H2O + 2 Cl’
Uma solução concentrada a frio (solução aquosa a 70%)
é um agente oxidante bem mais fraco. Soluções IO3’ + 6OH’ —~2 g'a,°ns IO65- + 3H2O
concentradas a quente tem sido utilizadas no processo
de “carbonização por via úmida”, no qual todos os A forma comum do ácido periódico é HIO4 • 2H2O, ou
materiais orgânicos são oxidados a CO2, permanecendo H5IO6. Este é denominado ácido paraperiódico, e pode ser
para análise apenas os constituintes inorgânicos. Álcoois encontrado na forma de cristais brancos que fundem e se
não devem estar presentes, pois os ésteres de perclorato decompõem a 128,5 °C. Por aquecimento a 100 °C, à pressão
são explosivos. Freqüentemente, uma mistura de HC1O4 reduzida, ocorre a saída de água e a formação do ácido
e HNOj é utilizada nesse processo de "carbonização” , periódico, HIO4. Quando submetido a um aquecimento forte,
pois o HNO3 oxida os álcoois e elimina esse perigo. ele eventualmente se decompõe, liberando O2 e formando
3) O perclorato de magnésio, MgC104, é usado como I2O5.
eletrólito nas “pilhas secas”. Ele é muito higroscópico, 100'C 200'C
2H5IO6 - -4 2HIO4 - :—> I2O5 + O2 + H2O
-4HO
sendo um agente dessecante muito eficiente conhecido ácido paraperiódico ácido periódico pentóxido de iodo
como "anidrona”.
4) 0 KC1O4 é usado em fogos de artifício e avisos Os periodatos podem ser encontrados em duas formas:
luminosos. Os fogos que explodem emitindo um intenso a tetraédrica, IO4’, e a octaédrica, (OH)SIO. Em soluções
brilho são preparados com KC1O4, Al e S, e aqueles que aquosas à temperatura ambiente, o íon predominante é o
apenas brilham contêm KC1O4 e Mg. Uma cor vermelha IO4". A estrutura dos periodatos é muito mais complicada
pode ser obtida adicionando-se SrCO3 ou Li2CO3, en do que isso pode sugerir. Existe toda uma série de
quanto o CuCO3 confere uma cor azul. O processo de isopoliácidos com unidades octaédricas (baseadas em um
fabricação de fogos de artifício é muito perigoso — não átomo de I e seis de O) ligadas entre si, compartilhando
corra esse risco! átomos de O em dois vértices (isto é, compartilhando uma
Virtualmente todos os percloratos de metais, exceto dos aresta do octaedro), ou compartilhando três vértices (ou seja,
íons maiores do Grupo 1, como K +, Rb + e Cs +, são solúveis uma face do octaedro).
em água. A pequena solubilidade do KC1O4 é aproveitada Do ponto de vista químico, os periodatos são
em química analítica para identificar o potássio (caso uma importantes como agentes oxidantes: por exemplo oxidam
solução de NaClO4 seja adicionada a uma solução contendo Mn2 + a MnO4’. São também usados para oxidar compostos
íons K + , precipita o KC1O4). O íon C1O4‘ apresenta apenas orgânicos. Soluções de ácido periódico são utilizadas na
312 6RUPO 17 — DS HALOGÊNIOS
determinação da estrutura de compostos orgânicos, por Todos podem ser preparados pela reação direta entre
métodos de degradação. O HIO4 é um conhecido agente de os halogênios, ou pela reação de um halogênio sobre um
divagem de glicóis, uma vez que provoca a divagem composto interhalogenado inferior. O produto formado
(oxidação) de 1,2-glicóis em aldeídos. depende das condições da reação.
IO4 + R—CH—CH—R -» R—CHO + R—CHO + IO) + H2O Em nenhum caso foi observado mais de dois halogênios
diferentes numa mesma molécula. As ligações são
OH OH essencialmente covalentes, por causa das pequenas
diferenças de eletronegatividade. Os pontos de fusão e de
ebulição aumentam à medida que cresce a diferença de
Força dos oxoácidos
eletronegatividade entre os halogênios que os constituem.
O HC104 é um ácido extremamente forte, enquanto que
o HOC1 é um ácido muito fraco. A dissociação de um 200‘C
Cl2 + F2 (volumes iguais) —^2E —> 2C1F
oxoácido envolve dois termos de energia:
Cl2 + 3F2 (excesso de F2) —300'C
3-22^—r 2C1F3
1) A ruptura da ligação O-H, gerando o íon H + e o ânion.
I2 + Cl2 líquido (equimolar) -> 2IC1
2) A hidratação desses dois íons. I2 + 3C12 líquido (excesso de Cl2) (IC13)2
O íon C1O4“ é maior que o íon OCF, de modo que a Br2 + 3F2 (diluído com nitrogênio) -> 2BrF3
energia de hidratação de CIO4“ é menor que a do íon OC1". Br2 + 5F2 (excesso de F2) -» 2BrFs
Isso sugere que o H0C1 deveria se dissociar mais facilmente I2(s) + 5F2 2°'c > 2IFS
que o HC104. Mas, sabemos que o inverso corresponde à
verdade, e o motivo deve ser a maior energia necessária I2(g) + 7F2 —250-300'C
25°~3°°’c > 2IF7
para romper a ligação O-H.
Compostos do tipo AX e AX3 são formados por
O oxigênio é mais eletronegativo que o cloro. Na série elementos em que as diferenças de eletronegatividade não
de oxoácidos HOC1, HC102, HC103 e HC1O4, um número
são muito grandes. Os compostos com as valências maiores,
crescente de átomos de oxigênio estão ligados ao átomo de
AXS e AX7, são formados pelos átomos maiores como o Br e
cloro. Quanto mais átomos de oxigênio estiverem ligados,
o I, ligados a átomos pequenos como o F. Isso ocorre, pois é
maior será a tendência dos elétrons da ligação O-H serem
possível arranjar um número maior de átomos pequenos
atraídos para longe da mesma e mais fraca será essa ligação.
em torno de um átomo grande.
Assim, o HC1O4 requer a menor quantidade de energia para
romper a ligação O-H e formar íons H +. Por isso, o HC1O4 é Geralmente, os compostos interhalogenados são mais
o mais forte desses ácidos. reativos que os halogênios (exceto o F2). Isso se deve ao
fato da ligação A-X nos compostos interhalogenados ser mais
Em geral, para qualquer série de oxoácidos, o ácido
fraca que a ligação X-X nos halogênios. As reações dos
com o maior número de átomos de oxigênio (isto é, com o
maior número de oxidação) é o que mais se dissocia. A compostos interhalogenados são semelhantes as dos
força ácida decresce na ordem HC1O4 > HC1O3 > HC1O2 > respectivos halogênios. A reação de hidrólise fornece íons
HC1O. Exatamente da mesma maneira, o H2SO4 é um ácido haleto e oxohaleto. Note que o íon oxohaleto provém sempre
mais forte que o H2SO3, e o HNO3 é um ácido mais forte que do átomo mais pesado.
o HNO2. IC1 + H2O -> HC1 + HOI (ácido hiporodoso)
BrFs + 3H2O -> 5HF + HBrO3 (ácido brômico)
COMPOSTOS INTERHALOGENADOS
Os compostos interhalogenados de flúor podem ser
Os halogênios reagem entre si formando compostos
utilizados para fluorar muitos óxidos de metais, haletos de
interhalogenados, que são classificados em quatro tipos: AX,
AX3, AX5 e AX7. metais e metais.
Ele pode simultaneamente clorar e fluorar um outro O IF3 só é estável abaixo de -30 °C, e tende a formar o
composto, oxidando-o ou adicionando-se a uma dupla composto mais estável IFS. Também pode ser preparado
ligação. usando XeF2 para fluorar o I2.
C1F + SF4 -> SF5CI 3XeF2 + I2 -> 2IF3 + 3Xe
C1F + CO —» COFC1
C1F + SO2 -> C1SO2F O I2C16 pode ser obtido facilmente, adicionando-se I2
sólido ao Cl2 líquido. Mas dissocia-se quando aquecido à
0 monocloreto de iodo, IC1, é um composto bem temperatura ambiente:
conhecido. Ele é usado como o reagente de Wij, na
determinação do número de iodo de gorduras e óleos. O I2CI6 -> 2IC1 + 2C12
número de iodo é uma medida do número de duplas ligações,
isto é, do grau de insaturação de uma gordura. O IC1 se Tanto o C1F3 como o BrF3 são conhecidos como líquidos
adiciona às duplas ligações da gordura. A solução de IC1 é covalentes. O C1F3 é um dos compostos mais reativos que se
de cor marron. Mas, quando é adicionada a uma solução de conhece e reage violentamente. Inflama-se espontaneamente
gordura insaturada essa cor desaparece, até que todas as quando em contato com madeira e materiais estruturais,
duplas ligações tenham reagido. O número de iodo é inclusive amianto. Foi usado em bombas incendiárias du
simplesmente o volume (em ml) de uma solução padrão de rante a II Guerra Mundial. Apesar dos riscos inerentes ao
IC1 que reage com uma determinada massa de gordura. composto, a produção em tempos de paz alcança centenas
de toneladas por ano, sendo comercializado em cilindros de
—CH=CH— + IC1 —CH—CH— aço. É usado principalmente na indústria nuclear, na
I I obtenção de UF6 gasoso, utilizado no processo de fabricação
I Cl de combustível nuclear enriquecido com 235U. Também é
Quando o IC1 reage com compostos orgânicos, empregado no processo de separação dos produtos de fissão
freqüentemente provoca a inserção de iodo, embora também das barras de combustível nuclear esgotadas. O Pu e a maior
possa ocorrer a inserção de cloro, dependendo das condições. parte dos produtos de fissão formam tetrafluoretos não
voláteis como o PuF4, enquanto que o urânio forma o UF6
---- ----------------- - cloração volátil.
ácido salicílico------
iodação 2CIF3 + (J UF6 + Cl2
+ IC1 em nltrobenzeno
4C1F3 + 3Pu -> 3PuF4 + 2C12
Supõe-se que a espécie ativa é o I + , já que o iodo se
insere às posições com as maiores densidades eletrônicas. O CIF3 reage explosivamente com água, graxa de
Tanto 0 IC1 como o IBr estão parcialmente ionizados no vedação e muitos compostos orgânicos, inclusive algodão e
estado fundido. Medidas de condutividade indicam que essa papel. TYata-se de um poderoso agente de fluoração para
proporção é de cerca de 1%, no caso do IC1. Em vez de compostos inorgânicos.
serem formados os íons simples I+ e Cl", formam-se os íons
solvatados. 4C1F3 + 6MgO 6MgF2 + 2C1Z + 3O2
4C1F3 + 2A12O3 -> 4A1F3 + 2CI2 + 3O2
3IC1 — [I2C1]+ + [IC12]- 2C1F3 + 2AgCl -> 2AgF2 + Cl2 + 2C1F
2C1F3 + 2NH3 -> 6HF + Cl2 + N2
Tanto 0IC1 como o IBr podem ser usados como solventes C1F3 + BF3 -> [CIFJ+ [bf4f
ionizantes não-aquosos. C1F3 + SbF5-a [ClF2] + [SbF6]'
Os compostos interhalogenados também formam ClFj + PtFs —> [C1F2]+ [PtF6]~
compostos de adição com haletos de metais alcalinos. Esses
compostos são iônicos e denominados polihaletos. O CIF3 pode ser usado para fluorar compostos orgânicos,
quando diluído com nitrogênio para moderar a reação. O
NaBr + IC1 -> Na+[BrICl]' CIF3 tem sido usado como comburente de foguetes de curto
Kl + IC1 -> K + [I2C1J- alcance, em reação com a hidrazina. Isso é tecnicamente
mais fácil que usar O2 ou F2 líquidos, já que os reagentes
Compostos AX3 podem ser armazenados sem refrigeração e sofrem ignição
Os compostos C1F3, BrF3, IF3 e (IC13)2 podem ser obtidos espontânea ao serem misturados.
pela combinação direta dos elementos, em condições
cuidadosamente controladas. O C1F3 é um líquido (P.E. 11,8 4C1F3 + 3N2H4 -> 12HF + 3N2 + 2C12
°C) comercialmente disponível, sendo obtido pela reação
direta entre os elementos: O trifluoreto de bromo, BrF3, é um líquido vermelho,
que pode ser obtido a partir dos elementos a temperaturas
Cl2 + 3F2 —2200-300'c
°°-?(xrc- -> 2CIF3 próximas da temperatura ambiente. Várias toneladas desse
ou C1F + F2 -> C1F3 produto são fabricados anualmente. Reage menos
violentamente que o CIF3, mas de maneira semelhante. A
0 CIF3 reage com excesso de Cl2, formando C1F. O BrF3 ordem de reatividade dos compostos interhalogenados é a
se comporta de maneira semelhante. seguinte:
CIFj + Cl2 -> 3C1F CIFj > BrFs > IF7 > C1F > BrF3 > IF5 > BrF > IF3 > IF
314 ERUPQ 17 — OS HALQBÉNIDS
vv
/\/'\
Cl Cl
entendida examinando o IFS. O átomo central da molécula é
o I (Fig. 16.12).
Configuração
eletrônica do
camada
int<
5s
s» ã iLiLiLl lT lT I I Ü
5p 6d
h + r -»f3’
As distâncias I-I no [Me4N] + [I3]' são iguais a 2,92 A.
Supondo-se que o comprimento de 2,66 A no I2 seja
correspondente a uma ligação simples normal, pode-se
afirmar que as ligações no I3“ são muito fracas, mas a teoria
VSEPR não oferece nenhuma explicação para esse fato. A
Figura 16.12 — A estrutura do IFS teoria de orbitais moleculares é mais útil. Supondo-se que
Surpreendentemente o IFS reage com haletos de xenônio as ligações no I3" sejam decorrentes da interação dos orbitais
formando os adutos XeF2-2IF5 e XeF4- IF5. 5pz semipreenchidos de dois átomos de I e um orbital 5pz
preenchido de um I", conclui-se que três orbitais atômicos
Compostos AX7 estão envolvidos. Logo, três orbitais moleculares devem ser
formados: um ligante, um antiligante e um não-ligante.
OIF7 é obtido pela combinação direta dos elementos a Porém, existem 4 elétrons, de modo que 2 deles devem
250-300 °C.; ou aquecendo-se IF5 com F2; ou tratando-se ocupar o orbital ligante e 2 o não ligante. Consequentemente
iodetos com F2.
há apenas um par de elétrons ligantes deslocalizado sobre
Kl + 4F2 -> IF7 + KF duas ligações, ou seja, a ordem de cada ligação é 0,5, e
Pdl2 + 8F2 -> 2IF7 + PdF2 explica as ligações muito longas mencionadas acima.
Também foram preparados íons mais complexos como
OIF7 é um poderoso agente de fluoração e reage com a
o pentaiodeto I5", o heptaiodeto I7‘ e o nonaiodeto I9*.
maioria dos elementos. Também reage com água, SiO2 e
CsF. Compostos cristalinos contendo os íons poliiodeto maiores
geralmente contêm como cátions íons metálicos grandes
1F7 + H2O -> IOFS + 2HF como o Cs+ , ou cátions complexos grandes como o f^N*.
2IF7 + SiO2 -> 2IOF5 + SiF4 Isso porque um ânion grande com um cátion grande levam
IF7 + CsF^Cs + [IF8]“ a um elevado número de coordenação, e consequentemente
a uma elevada energia reticular. Poli-haletos como KI3.H2O,
A estrutura do IF7 é incomum — uma bipirâmide pen Rbl3, NH4I5, [(C2H5)4N]I7 e Rbl9.2C6H6 podem ser obtidos
tagonal (Fig. 16.13). Trata-se provavelmente do único pela adição direta de I2 a I", na presença ou ausência de um
exemplo de um elemento que não seja de transição que faz solvente.
uso de três orbitais d para formar ligações.
O íon Br3‘ é muito menos estável e menos comum que
Configuração
5s 5p 5d o I3“. Alguns poucos compostos instáveis de Cl3~ são
camada [
eletrônica do interna 0 k |t |t I |T |T |T | | |
átomo de iodo preenchida FI_______________
____
conhecidos, sendo que esse íon somente se forma em
,_______________ I soluções concentradas. Nenhum composto contendo o íon
estado excitado rons desemparelhados formam ligações
Sete elétrc
pares de elétrons
com sete1 átomos de flúor: sete pare
F3‘ é conhecido.
formam uma bipirâmide pent itagonal.
Muitos poli-haletos contendo dois ou três halogênios
diferentes são conhecidos, como por exemplo K[IC12], KIICL,],
POLI-HALETOS Cs[IBrF] e K[IBrCl]. Esses compostos são obtidos reagindo-
Os íons haleto muitas vezes reagem com moléculas de se haletos de metais com compostos inter-halogenados.
halogênios ou de compostos inter-halogenados, formando IC1 + KCl -> K + [IC12]~
íons poli-haleto. O iodo é apenas ligeiramente solúvel em IC13 + KCl —> K+ [ICLJ-
IFS + CsF —> Cs+(IF6]“
IC1 + KBr —> K+[BrICl]~
2C1F + AsFs -» [FC12]+ [AsF6]-
Bromo catiônico também pode ser encontrado em outros eletrólise, são gerados I2 e Cl2 em ambos os eletrodos. Esse
complexos, tais como Br(piridina)2NO3 e BrF3. Eles se fato sugere a seguinte reação de dissociação:
dissociam de acordo com os equilíbrios abaixo:
2IClj — [IC12] * + [IC14]'
Br(piridina)2NO3 — [Br (piridina)2]* + NO3'
2BrF3 [BrF2]* + [BrF4]' O tratamento de I2 com HNO3 fumegante e anidrido
acético fornece o composto iônico I(acetato)3. Se uma solução
Complexos contendo iodo positivo são mais numerosos. saturada de I(acetato)3 em anidrido acético for eletrolisada
Tanto 0 IC1 como o IBr conduzem a eletricidade quando no usando eletrodos de prata, formar-se-á um equivalente de
estado fundido. A eletrólise do IC1 gera I2 e Cl2 nos dois Agí no cátodo para cada três faradays de eletricidade. Isso
eletrodos. Isso é consistente com a seguinte reação de sugere uma reação de dissociação que fornece I3 *:
dissociação:
I(acetato)3 I3 + + 3(acetato')
3IC1 [I2C1]* + [IC12]-
Não existe nenhuma evidência estrutural indicando a
0 ICN fundido se comporta de maneira semelhante ao presença dei3*. Outros compostos iônicos que podem conter
ICI. o cátion I3* são o fosfato de iodo, IPO4, e o fluorossulfonato
de iodo, I(SO3F)3.
3ICN [I2CN] * + [I(CN)2]' no estado fundido
Contudo, a eletrólise do IC1 dissolvido em piridina leva PSEUDO-HALOGÊNIOS E PSEUDO-
à produção de I2 somente no cátodo. Isso sugere um tipo
HALETOS
mais simples de dissociação:
Plrtdma
Alguns poucos íons dessa classe são conhecidos. São
2IC1 [I(piridina)z] * + [ICb]' constituídos por dois ou mais átomos, dos quais pelo menos
um é o N, e apresentam propriedades semelhantes as dos
A adição de A1C13 ao IC1 fundido aumenta em muito a
sua condutividade. Esse fato pode ser explicado através da íons haleto. Por isso, são denominados pseudo-haletos. Os
formação dos íons complexos: pseudo-haletos são monovalentes e formam sais que se
assemelham aos haletos. Por exemplo, os sais de sódio são
A1C13 + 2IC1 -> [I2C1]+ + [AICI4]- solúveis em água, mas os sais de prata são insolúveis. Os
derivados de hidrogênio são ácidos como os ácidos
0 IC1 se comporta como um agente eletrofílico de halogenídricos, HX. Alguns dos íons pseudo-haleto se
iodação. Converte acetanilida em 4-iodo-acetanilida e ácido combinam para formar dímeros análogos as moléculas dos
salicílico em ácido 3,5-diiodo(salicílico). Os sítios atacados halogênios, X2. Podem ser citados o cianogênio, (CN)2, o
apresentam elevadas densidades eletrônicas, por isso o iodo tiocianogênio, (SCN)2, e o selenogênio, (SeCN)2.
deve se encontrar na forma de um cátion.
O pseudo-haleto mais conhecido é o cianeto, CN'. Este
Se uma solução de iodo em um solvente inerte for
se assemelha ao Cl', Br“ e I' nos seguintes aspectos:
passado através de uma coluna de troca catiônica , parte do
iodo ficará retido na coluna. D forma um ácido, HCN.
2) Pode ser oxidado para formar cianogênio, (CN)2.
H* resina' + I2 -> I* resina' + HI
3) Forma sais insolúveis com Ag*, Pb2* e Hg*.
0 íon positivo retido pode ser eluído com Kl, para se 4) Os compostos "inter-pseudo-halogenados", C1CN, BrCN
determinar a quantidade de I*, ou então pode reagir com e ICN, podem ser formados.
diversos reagentes.
5) O AgCN é insolúvel em água mas solúvel em amônia,
I +resina' + Kl —> I2 + K* resina' tal como o AgCl.
I*resina' + H2SO4 anidro -> I2SO4 + H*resina' 6) Forma um grande número de complexos semelhantes
l+resina' + HNO3 alcoólico -» INO3 + H* resina' aos halo-complexos, por exemplo, [Cu(CN)4]2' e
[CuCL,]2', [Co(CN)6]3' e [CuCI6]3'.
0 I+ reage com OH“ em soluções aquosas.
Por causa disso, o I* só existe em meio aquoso se ele Ânion Ácido Dímero
for estabilizado por coordenação a uma outra molécula. Um
grande número de compostos contendo I* estabilizado na CN- íon cianeto HCN cianeto de hidrogênio (CN)2 cianogênio
forma de um íon complexo é conhecido. Muitos complexos SCN~ íon tiocianato HSCN ácido dociânico (SCN)2 docianogênio
de piridina são conhecidos, por exemplo [I(piridina)2)NO3, SeCN" íon selenocianato (SeCN)2 selenocianogênio
lí(piridina)2]C1O4, [I(piridina)]acetato e [I(piridina)] OCN“ íon cianato HOCN ácido ciânico
benzoato. NCN2- íon cianamida H2NCN cianamida
ONC" íon fulminato HONC ácido fulmínico
0 1C13 fundido apresenta elevada condutividade HN3 azoteto dc hidrogênio
(8,4 x 10'3 ohm'1 cm'1). Quando o IC13 é submetido à
NJ
318 BRUPO 17 — OS HALDBÊNIQS
LEITURAS COMPLEMENTARES • Thrush, B.A. (1977) The chemistry of the stratosphere and
• Banks, R.E. (ed.) (1982) Preparation, Properties and Indus its pollution, Endeavour, 1, 3-6.
trial Applications of Organofluorine Compounds, Ellis • Waddington, T.C. (ed.) (1969) Nonaqueous Solvent Systems
Horwood, Chichester. (Cap. 2 por Hyman, H.H. e Katz, J.J., Fluoreto de hidrogênio
líquido; Cap. 3 por Peach, M.E. e Waddington, T.C, Haletos
• Banks, R.E., Sharp, D.W.A. e Tatlow, J.C. (1987) Fluorine
the First 100 Years (1886-1986), Elsevier. de hidrogênio superiores como solventes ionizantes), Nelson.
• Brown, D. (1968) Halides of the Transition Elements, Vol. I
(Haletos dos lantanídeos e actinídeos), Wiley, London e New PROBLEMAS
York. Descreva o método de obtenção do flúor, os equipamentos
• Brown, I. (1987) Astatine: organonuclear chemistry and bio- utilizados e as precauções necessárias para o bom
medical applications, Adv. Inorg. Chem., 31, 43-88. andamento do processo. O flúor elementar é muito
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1968) Halides of the Second empregado em reações químicas?
and Third Roív Transition Elements, Wiley, London. 2. Por que não é possível obter Fz por eletrólise de NaF
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides of the First Row aquoso, ou HF aquoso ou anidro?
Transition Elements, Wiley , London. 3. Quais são os agentes de fluoração comumente usados no
• Colton, R. e Canterford, J.H. (1968) Halides of the Second lugar do F2? Escreva equações químicas que ilustrem o
and Third Row Transition Elements, Wiley, London. seu uso.
• Colton, R. e Canterford,. J.H. (1969) Halides of the First Row 4. Quais são as principais aplicações do flúor?
TYansition Elements, Wiley, London. 5. Escreva equações balanceadas que mostrem as reações
• Donovan, R.J. (1978) Chemistry and pollution of the strato entre HF e a) SiO2, b) CaO, c) KF, d) CC14, e) U, f) grafita.
sphere, Education in Chemistry, 15, 110-113. 6. Quais são as principais fontes de cloro, bromo e iodo?
• Downs, A.J. e Adams, C.J. (1973) Comprehensive Inorganic Onde ocorrem e como os elementos podem ser obtidos a
Chemistry, Vol. II (Capítulo sobre cloro, bromo, iodo e astato), partir dos sais correspondentes?
Pergamon Press, Oxford. Quais são as principais aplicações do Cl2?
• Downs, A.J. e Adams, C.J. (1975) The Chemistry of Chlo- 8. Escreva as equações que mostrem como os ácidos
rine, Bromíne, lodine and Astatine, Pergamon, New York. halogenídricos HF, HCI, HBr e HI podem ser preparados
• Fogg , P.G.T. e Gerrard , W. (eds) (1989) Hydrogen Halides in em solução aquosa. Por que o HF é um ácido fraco quando
Non-aqueous Solvents, Pergamon. comparado com o HI, em meio aquoso?
• Gillespie, R.J. e Morton, M.J. (1971) Halogen and interhalogen 9. O HCl|g) pode ser preparado a partir do NaCl e H2SO4. 0
cations, Q. Rev. Chem. Soc., 25, 553. HBr(-; e o HI(g) não podem ser obtidos de maneira
• Golub, A.M., Kohler, H. e Skopenko, V.V. (eds) (1986) Chem semelhante a partir do NaBr e do NaI, respectivamente?
istry of Pseudo-halides (Topics in Inorganic and General Chem Explique esse fato.
istry Series No. 21), Elsevier, Oxford. 10. Escreva as equações químicas das reações entre Cl2 e: a)
• Gutman, V. (ed.) (1967) Halogen Chemistry, 3 Volumes, Aca- H2, b) CO, c) P, d) S, e) SO2, f) Br-(aq), g) NaOH.
demic Press, London, (Vol. 1: Halogênios, compostos 11. Explique o que acontece quando uma solução aquosa de
interhalogenados, polihaletos e haletos de gases nobres; Vol. AgNO3 é adicionada as soluções de NaF, NaCl, NaBr e
II: Haletos de não-metais; Vol. 3: Complexos), (Antigo, mas NaI. Que mudança será observada (se houver alguma),
abrangente) caso amônia seja adicionada a cada uma dessas misturas?
• Lagowski.J. (ed.) (1978) The Chemistry ofNon-aqueous Sol 12. a) Desenhe as estruturas do OF2, C12O, O2F2 e I2OS.
vents, Vol. II (Cap. 1 por Klanberg, F„ HCI, HBr e HI líquidos; b) Explique porque OF2 é uma molécula angular e porque
Cap. 2 por Kilpatrick, M. e Jones, J.G., Fluoreto de hidrogênio esse ângulo difere daquele encontrado no C12O.
anidro como solvente; Cap. 3 por Martin, D.M., Rousson, R. c) Por que as ligações O-F do O2F2 são mais longas que as
e Weulersse, J.M., Compostos interhalogenados), Academic do OF2, enquanto que as ligações 0-0 do O2F2 são mais
Press, New York. curtas que aquelas do H2O2?
• Langley R.H. e Welch, L. (1983) Fluorine (Chemical of the 13. Descreva o método de preparação e o uso analítico do
month), J. Chem. Ed., 60, 759-761. I2O5.
• O’Donnell, T.A. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, 14. a) Cite quatro tipos diferentes de oxoácidos dos halogênios
Vol. II (Cap. 25: Flúor) Pergamon Press, Oxford. e apresente a fórmula de um ácido ou de um sal derivado
• Price, D., Iddon, B. e Wakefield, B.J. (eds) (1988) Bromíne de cada um deles.
Compounds, Elsevier. b) Descreva os métodos de obtenção e uma aplicação dos
• Sconce, J.S. (1962) Chlorine: Its Manufacture, Properties and compostos a seguir: NaOCl, NaClO2, NaClO3, HI04.
Uses, Reinhold, New York. 15. O iodo é quase insolúvel em água, mas se dissolve
’• Shamir, J, (1979) Polyhalogen cations, Structure and Bond- prontamente numa solução aquosa de KL Explique o
ing, 37, 141-210. motivo desse comportamento.
• Tatlow, J.C. et ali. (eds), Advances in Fluorine Chemistry, 16. a) Explique a estrutura do íon I314.
Butterworths, London. (Série) b) Explique porque o Csl3 sólido é estável, mas o Nal3
• Thompson, R. (ed.) (1986) The Modem Inorganic Chemicals sólido não é.
Industry (Cap. por Fielding H. e Lee, B.E., Fluoreto de 17. a) Apresente as fórmula de 11 compostos interhalogenados.
hidrogênio, fluoretos inorgânicos e flúor; Cap. por Purcell,
R.W., A indústria de cloro e álcalis; Cap. por Campbell, A., b) Desenhe as estruturas das seguintes moléculas e íons,
Cloro e clorinação; Cap. por McDonald, R.B. e Merriman, indicando as posições dos pares de elétrons isolados: C1F,
W.R., Bromo e a indústria química do bromo), Publicação BrF3, IFs, 1F7, If, IC14" e If
especial No. 31, The Chemical Society, London, (reeditado 18. Enumere as diferenças entre a química do flúor em relação
em 1986). a dos demais halogênios, justificando-as.
319
Grupo 18
OS GASESHOSSES
NOME DO GRUPO E CONFIGURAÇÕES removeu o N2 do ar, adicionando um excesso de O2 e
ELETRÔNICAS combinando os gases com o auxílio de descargas elétricas.
O NO2 formado foi absorvido por uma solução de NaOH. O
Os elementos do Grupo 18 têm sido denominados “gases
excesso de O2 foi removido pela sua reação (combustão)
inertes” e “gases raros". Ambos são inadequados, já que a
com S, seguido da absorção do SO2 formado numa solução
descoberta dos fluoretos de xenônio, em 1962, mostrou que
de NaOH. Dessa forma, foi obtido um pequeno volume de
o xenônio não é inerte. Além disso, o argônio constitui 0,9%
um gás não-reativo.
em volume da atmosfera terrestre (vide Tab. 14.3). O nome
“gases nobres” dá a entender que eles tendem a ser não O argônio é relativamente abundante e pode ser obtido
reativos, analogamente aos metais nobres que dificilmente por destilação fracionada do ar líquido (vide "Nitrogênio”,
reagem, e se constituem nos metais menos reativos. no Capítulo 14). O argônio constitui 0,93% em volume do
ar (isto é 9.300 ppm). Origina-se principalmente da reação
0 hélio possui dois elétrons, que completam a camada
de captura de elétrons (decaimento 0 +) pelo potássio:
Is2. Os demais gases nobres possuem um octeto completo
de elétrons, ns2np6, na camada mais externa. Essa «K+.?e------- >18 Ar
configuração eletrônica é muito estável e está relacionada
com a baixa reatividade química desses elementos. Esses A produção mundial de argônio é superior a 700.000
átomos apresentam uma afinidade eletrônica igual a zero toneladas/ano.
(ou ligeiramente negativa), e energias de ionização muito Os demais gases nobres são muito menos abundantes.
elevadas — maiores que as de qualquer outro elemento. Em A abundância do He na atmosfera é de apenas 5 ppm em
condições normais, os átomos dos gases nobres apresentam volume e sua obtenção a partir do ar seria muito dispendiosa.
pouca tendência de perder ou receber elétrons. Por isso Uma fonte mais barata são os depósitos de gases naturais:
apresentam uma pequena tendência de formar ligações e depois de liquefazer os hidrocarbonetos, sobra um resíduo
ocorrem na forma de átomos isolados. de He. O He foi produzido por decaimento radiativo e ficou
retido nesses depósitos subterrâneos. A fonte mais rica são
OCORRÊNCIA E OBTENÇÃO DOS os gases naturais do sudoeste dos EUA, que contêm de 0,5 a
0,8 % de hélio, e satisfaz a maior parte da demanda mundial
ELEMENTOS de hélio. Outros depósitos de gases naturais, contendo
Todos os gases nobres, ou seja He, Ne, Ar, Kr e Xe, quantidades apreciáveis de He, foram encontrados na Argélia,
ocorrem na atmosfera. Uma mistura de gases nobres foi Polônia, ex-URSS e Canadá. A produção mundial foi de
obtida pela primeira vez por Cavendish, em 1784. Cavendish 18.800 toneladas em 1993.
Todos os gases nobres não-radiativos são produzidos
em escala industrial, pela destilação fracionada do ar líquido.
Tabela 17.1 — Configurações eletrônicas
Esse processo fornece grandes quantidades de nitrogênio e
Elemento Símbolo Configuração eletrônica oxigênio, e somente uma pequena quantidade de gases
nobres (o oxigênio é empregado principalmente na indústria
Hélio He 1? siderúrgica). O argônio é o gás nobre produzido em maior
Neònio Ne [He] 2?2p6 quantidade e o mais barato.
Argônio Ar [Ne] 3?3p6 O radônio (Rn) é radiativo, e é formado no decaimento
Criptônio Kr [Ar] 3d'° 4? 4p6 radiativo de minerais de rádio e de tório. Uma fonte
Xenônio Xe [Kr] 4d‘°5?5p6 conveniente é o isótopo 226Ra: 100 g de rádio fornece cerca
Radônio Rn [Xe] 4/4 5d10 6? 6p6 de 2 ml de radônio por dia:
300 BRUPO IB — BS BA5E5 NQBRES
!Ra-------- ♦“Rn+jHe
> Tabela 17.2 — Propriedades físicas dos gases nobres
O isótopo mais estável do radônio, o 222Rn, é um emissor Awira Entalpia de Ponto de Ponto de Raio Abun&cis
a e seu tempo de meia-vida é de somente 3,8 dias. Por isso, inergia de vaporização fusão ebulição atômico na atmosfera
apenas estudos utilizando traçadores de radiação foram ionização (kl mor1) CC) CC) (A) (%«n
possíveis. (kJ mol'1) volume)
PROPRIEDADES QUÍMICAS DOS GASES Tabela 173 — Estruturas de alguns compostos de xenônio
NOBRES
Fórmula Nome Estado de P.F. Estrutura
Os gases nobres foram isolados e descobertos graças à
sua falta de reatividade química. Durante muito tempo supôs-
oxidação CC)
se que eram quimicamente inertes. Antes de 1962, a única evi
XeF2 difluoreto (+n) 129 linear (RnF2 e XeCI2
dência a favor da formação de compostos dos gases nobres era a são semelhantes
de xenônio
formação de alguns íons moleculares em tubos de descarga 117 quadrado-planar
XeF4 tetrafluoreto (+IV)
de gases rarefeitos em alguns compostos do tipo clatratos. de xenônio (XeCL, é semelhante)
XeF6 hexafluoreto (+VI) 49,6 octaedro distorcido
íons moleculares formados no estado excitado de xenônio
Diversos íons moleculares, tais como He2 + , HeH + , XeO3 trióxido (+VI) explode piramidal (tetaédrica
HeH2+ e Ar2+ são formados em condições de alta energia, de xenônio com um vértice
em tubos de descarga de gases rarefeitos. Eles subsistem desocupado)
XeO2F2 (+VI) 30,8 bipirâmide trigonal
momentaneamente e podem ser detectados por métodos
(com um vértice
espectroscópicos. Moléculas neutras como o He2 são
desocupado)
instáveis.
XeOF4 (+V1) -46 pirâmide quadrada
(octaédrica com uma
Clatratos posição desocupada)
Os clatratos formados pelos gases nobres são bem XeO4 tetróxido ovni) -35,9 tetaédrica
conhecidos. Os compostos químicos normais possuem de xenônio
ligações iônicas ou covalentes. Contudo, nos clatratos, XeO3F2 (+VIII) -54,1 bipirâmide trigonal
átomos ou moléculas de tamanho adequado estão presos Ba2(XeO6]4’ perxenato (+VI1I) dec.>300 octaédrica
nas cavidades existentes no retículo cristalino de outros de bário
compostos. Embora os gases estejam retidos, eles não for
mam ligações. A primeira energia de ionização para a semi-reação O2
—»O2+ é igual a 1.165 kJ mol"1, ou seja praticamente o mes
Se uma solução aquosa de hidroquinona (1,4-dihidro-
mo da semi-reação Xe —>Xe+ que é igual a 1.170 kJ mol’1.
xibenzeno) for cristalizada sob 10 a 40 atmosferas de Ar, Kr
Assim, foi previsto que o PtF6 deve reagir com o xenônio.
ou Xe, esses gases nobres ficam retidos em cavidades de
cerca de 4 Â de diâmetro existentes na estrutura da hidro Foi demonstrado experimentalmente que quando os vapores
quinona. Quando o clatrato é dissolvido, a estrutura cristalina vermelho escuros de PtF6 eram misturados com um volume
mantida pelas ligações de hidrogênio se desfaz e o gás nobre idêntico de Xe, esses gases se combinavam imediatamente à
escapa. Outras moléculas pequenas como O2, SO2, H2S, temperatura ambiente, formando um sólido amarelo. Eles
MeCN e CH3OH também formam clatratos parecidos com propuseram (incorretamente) que o composto obtido era
os do Ar, Kr e Xe. Os gases nobres menores He e Ne não hexafluoroplatinato(V) de xenônio, Xe+ [PtF6]“. Verificou-se
formam clatratos, porque os átomos são pequenos o posteriormente que a reação é bem mais complicada, e o
suficiente para escaparem das cavidades. A composição produto formado é na realidade o [XeF]+ [Pt2Fn]~.
desses clatratos corresponde a 3 hidroquinona:! molécula 2S'C
encapsulada, mas geralmente nem todas as cavidades são Xe[PtF6] + PtF6 4 [XeF]+ [PtF6j- + PtFs
ocupadas. - > [XeF]+ [Pt2F„J-
Analogamente, Ar, Kr e Xe podem ser retidos em
cavidades durante o processo de congelamento da água sob Pouco depois descobriu-se que o Xe e o F2 reagem a
elevadas pressões desses gases. Os compostos obtidos 400 °C, gerando XeF4, um sólido incolor volátil. Este
também são clatratos, embora sejam comumente denomi apresenta o mesmo número de elétrons de valência e é
nados "hidratos dos gases nobres”. Suas fórmulas são isoestrutural com o íon polihaleto [IC14]‘. Após essas
aproximadamente 6H2O: 1 átomo do gás. He e Ne não são descobertas, houve uma rápida expansão da química dos
retidos por serem muito pequenos. Os gases nobres mais gases nobres, em particular do xenônio.
pesados também podem ser retidos nas cavidades de zeólitas As energias de ionização do He, Ne e Ar são muito
sintéticas, tendo sido obtidas amostras contendo até 20% maiores que do Xe, sendo demasiadamente elevadas para
em peso de argônio. Os clatratos se constituem num meio permitir a formação de compostos semelhantes aos do
conveniente de armazenar isótopos radiativos de Kr e de xenônio. A energia de ionização do Kr é um pouco menor
Xe, produzidos em reatores nucleares. que a do Xe, e o Kr forma KrF2. A energia de ionização do
Rn é menor que a do Xe, de modo que o Rn deve formar
QUÍMICA DO XENÔNIO compostos semelhantes aos formados pelo Xe. O Rn é
O primeiro composto verdadeiro de um gás nobre foi radiativo, não possui isótopos estáveis e todos eles são de
obtido em 1962. Bartlett e Lohman já haviam usado o meia-vida curta. Isso limitou as pesquisas sobre a química
hexafluoreto de platina, um poderoso agente oxidante, para do radônio, sendo conhecidos somente o RnF2 e alguns
oxidar o oxigênio molecular. complexos.
O Xe reage diretamente apenas com o F2. Contudo,
PtF6 + O2 -> O2+ [PtFJ- compostos com oxigênio podem ser obtidos a partir dos
3HH BRUPO 1B — 05 BASES NBBRES
fluoretos. Há algumas evidências a favor da existência do 3XeF4 + 6H2O -> 2Xe + XeO3 + 12HF + l'/2O2
XeCl2 e XeCl4, e conhece-se um composto com uma ligação
Xe-N. Pode-se notar que o xenônio possui uma química O XeF6 também reage violentamente com a água. A
relativamente extensa. Na Tab. 17.3 estão listados os hidrólise lenta desse fluoreto, devido à umidade existente
principais compostos de xenônio. na atmosfera, forma o sólido altamente explosivo XeO3.
O xenônio reage diretamente com flúor, quando os gases XeF6 + 3H2O -> Xe03 + 6HF
são aquecidos a 400 °C, num recipiente fechado de níquel.
Os produtos obtidos são definidos pela proporção relativa Quando o XeF6 reage com quantidades limitadas de água
de F2 e Xe. ocorre uma hidrólise parcial, com a formação do oxofluoreto
de xenônio, XeOF4, um líquido incolor. 0 mesmo produto
Z 2 : 1 mistura —> XeF2 se forma quando o XeF6 reage com a sílica ou o vidro.
Xe + F2—» 1 : 5 mistura —» XeF4
X 1 : 20 mistura —» XeF6 XeFs + H2O -> XeOF4 + 2HF
2XeF6 + SiO2 -> 2XeOF4 + SiF4
Os compostos XeF2, XeF4 e XeF6 são sólidos brancos.
Sublimam à temperatura ambiente e podem ser armazenados O XeO3 é um sólido branco higroscópico e explosivo,
indefinidamente em recipientes de níquel ou de metal monel. que reage com XeF6 e XeOF4.
Os fluoretos inferiores podem ser convertidos nos fluoretos
superiores por aquecimento com F2 sob pressão. Todos esses XeO3 + 2XeF6 -» 3XeOF4
fluoretos são oxidantes extremamente fortes e também são XeO3 + XeOF4 -> 2XeO2F2
agentes de fluoração. Reagem quantitativamente com
hidrogênio como segue: O XeO3 é solúvel em água, mas não se dissocia.
Contudo, em soluções alcalinas, com pH superiores a 10,5,
XeF2 + H2 -> 2HF + Xe forma-se o íon xenato, [HXeO4]’.
XeF4 + 2H2 -> 4HF + Xe
XeF6 + 3H2 -> 6HF + Xe XeO3 + NaOH -> Na +[HXeO4f
xenato de sódio
Oxidam CF a Cl2,1" a I2 e cério(lll) a cério(IV):
Os xenatos contêm Xe( + VI), que lentamente se
XeF2 + 2HC1 -> 2HF + Xe + Cl2 desproporcionam em solução formando perxenato (que
XeF4 + 4KI -> 4KF + Xe + 2I2 contém Xe( + VIII)) e Xe.
SO42' + XeF2 + Ce2"‘(SO4)3 -> 2CeIV(SO4)2 + Xe + F2
2[HXeO4]- + 2OH- —> [XeO6]4- + Xe + O2 + 2H2O
íon perxenato
Podem ser utilizados na fluoração de outros compostos:
XeF4 + 2SF4 -> Xe + 2SF6 Diversos perxenatos de metais dos Grupos 1 e 2 foram
XeF„ + Pt -> Xe + PtF„ isolados; sendo as estruturas cristalinas do Na4XeO6-6H2O
e do Na4XeO6 ■ 8H2O determinadas por cristalografia de raios
Atualmente, o XeF2 é um produto comercial e está sendo X. A solubilidade do perxenato de sódio em NaOH 0,5 M é
largamente utilizado em síntese orgânica. Ele pode oxidar e de apenas 0,2 grama por litro. Logo, a reação de precipitação
fluorar os heteroátomos em compostos organometálicos, mas do perxenato de sódio poderia ser empregada como método
não reage com os grupos alquila ou arila. gravimétrico de determinação de sódio. Os perxenatos são
agentes oxidantes extremamente poderosos, que oxidam HCI
CH3I + XeF2 -> CH3IF2 + Xe a Cl2, H2O a O2 e Mn2 + a MnO4“. Reage com H2SO4
C6HsI + XeF2 -> C6HsIF2 + Xe concentrado formando tetróxido de xenônio, XeO4, que é
(C6H5)2S + XeF2 -» (C6Hs)2SF2 + Xe volátil e explosivo.
A reatividade do XeF2 aumenta consideravelmente caso
seja misturado com HF anidro, provavelmente devido a Fluorocomplexos de xenônio
formação de XeF+. O XeF2 atua como doador de fluoreto e forma complexos
com pentafluoretos covalentes, como PFS, AsFs, SbFs, e os
Pt + 3XeF2/HF —> PtF6 + 3Xe
fluoretos de metais de transição NbFs, TaFs, RuFs, OsFs, RhFs,
S8 + 24XeF2/HF -> 8SF6 + 24Xe
IrFs e PtFs. Supõe-se que esses complexos tenham a estrutura
CrFe + XeF2/HF CrF3 + Xe -> CrF4 + Xe
MoO3 + 3XeF2/HF -> MoF6 + 3Xe + l'/2O2 XeF2-MF5 [XeF] + [MF6]-
Mo(CO)6 + 3XeF2/HF -> MoF6 + 3Xe + 6CO XeF2-2MF5 [XeF]+ [M2Fn]*
2XeF2-MFs [Xe2F3]+ [MFJ-
Os fluoretos reagem diferentemente com a água. O XeF2
é solúvel em água, mas lentamente hidrolisa-se. Em meio As estruturas de alguns dos complexos de XeF2, no
alcalino essa reação é mais rápida. estado sólido, são conhecidas. No complexo XeF2-2SbFs (Fig.
17.1) as duas distâncias Xe-F são muito diferentes (1,84 A e
2XeF2 + 2H2O 2Xe + 4HF + 02
2,35 A). Isso sugere a formulação [XeF]+ [Sb2Fn]-. Contudo,
0 XeF4 reage violentamente com a água formando a distância Xe-F de 2,35 Â é muito menor que a distância de
trióxido de xenônio, XeO3. van der Waals (não-ligante) de 3,50 A. Isso sugere a existência
ESTRUTURA E LIGAÇÃO NDS COMPOSTOS DE XENPNID 323
5s 5p 5d
Configuração
eletrônica do
átomo de xenônio
[n] |n|n|u|| | | | | |
estado fundamental
Xe no estado
fundamental [ü] |u|u|t I |t I I I I I
I__________ T__________ I
Dois pares desemparelhados de elétrons
formam ligações com dois átomos de flúor
Cinco pares de elétrons formam uma
bipirâmide trigonal
XeF2
0 XeF2 é uma molécula linear com distâncias Xe-F de
2,00 A. As ligações podem ser explicadas de maneira bastante
simples, promovendo-se um elétron de um nível 5p do
xenônio para o nível 5d. Os dois elétrons desemparelhados
formam ligações com os átomos de flúor. Os cinco pares de
elétrons apontam para os vértices de uma bipirâmide trigo-
nal. Ttês desses pares são pares de elétrons isolados e ocupam F
as posições equatoriais. Dois deles são pares ligantes que
ocupam as posições apicais. Assim, a molécula é linear (Fig.
17.2). Figura 17.2 — A molécula de XeF,
324 BRUPO 10 — OS BASES NOBRES
F F
Energia
5pt
Não ligante,
2Pi 2Pz
Ligante
orbitais d nas ligações formadas pelos elementos dos blocos • Huston, J.L. (1982) Chemical and physical properties of some
s e p. As conclusões desses estudos podem ser resumidas xenon compounds, Inorg. Chem., 21, 685-688.
como se segue: • Moody, G.J. (1974) A decade of xenon chemistry, J. Chem.
D Orbitais d parecem estar envolvidos de maneira Ed., 51, 628.
significativa na formação de ligações o, em compostos • Selig, H. e Holloway, J.H. (1984) Topics in Current Chemis
com elevado número de coordenação com elementos try, Cationic and anionic complexes of the noble gases, (ed.
de alta eletronegatividade, como PF5, SF6, 1FS e XeF6, by Bosche, EL.), Springer Verlag, 124, 33.
(esses compostos podem ser descritos sem a • Seppelt, K. and Lentz, D. (1982) Novel developments in noble
necessidade do uso de orbitais d se for considerado a gas chemistry, Progr. Inorg. Chem., 29, 167-202.
formação de ligações tricêntricas). • Thompson, R. (ed.) (1986) The Modem Inorganic Chemicals
Industry, (Cap. por Grant W.J. e Redfearn, S.L., Gases
2) Em compostos com elementos de baixa eletronegati industriais), Publicação Especial No. 31, The Chemical Soci-
vidade, tais como H2S e PH3, a contribuição dos orbitais ety, London. (reeditado em 1986).
d é muito baixa (1-2%). Mesmo assim melhora
• Wilks, J. e Betts, D.S. (1987) An Introduction to Liquid He-
consideravelmente a concordância entre os valores Hum, 2? ed., Clarendon, Oxford.
calculados e observados para os momentos dipolares e
os níveis de energia.
PROBLEMAS
3) Os orbitais d contribuem de maneira significativa na
1. De onde provém o hélio presente na Terra e em sua
formação de ligações tt, por exemplo ligações pn-dtt
atmosfera? Como o He é obtido em escala industrial, e
nos fosfatos e oxoácidos do enxofre, bem como no PF3. quais são suas aplicações? Qual é a temperatura de ebulição
do He em °C e em K?
LEITURAS COMPLEMENTARES 2. Qual é a quantidade relativa de argônio presente na
atmosfera terrestre? Como ele é obtido industrialmente e
• Bartlett, N. (1962) Xenon hexafluoroplatinate (V), Xe+ [PtF]", para que é usado?
Proc. Chem. Soc., 218. (Artigo original sobre o primeiro
composto verdadeiro de gás nobre). 3. Explique por que se usa argônio no processo Kroll de
extração do titânio, no processo de soldagem e nos bulbos
• Bartlett, N. (1971) The Chemistry ofthe Noble Gases, Elsevier, das lâmpadas elétricas?
Amsterdam.
4. Como Bartlett interpretou a reação entre Xe e PtF6, e como
• Bartlett, N. e Sladky, F.E. (1973) Comprehensive Inorganic esta reação é interpretada atualmente?
Chemistry, Vol. I (Cap. 6: A química do criptônio, xenônio e
radônio), Pergamon Press, Oxford. 5. a) Esquematize as estruturas do XeF2, XeF4 e XeF6. b) Como
esses compostos podem ser preparados a partir do Xe! c)
• Berecz, E. e Balla-Ach, S.M. (1984) Gas Hydrates (Studies in Escreva as equações balanceadas das reações desses três
Inorganic Chemistry, Vol. 4), Elsevier, Oxford. compostos com a água.
• Cockett, A.H. e Smith, K.C. (1973) Comprehensive Inorganic 6. Como podem ser preparados os compostos XeO3, XeOF4 e
Chemistry, Vol. I (Cap. 5: Os gases monoatômicos: produção Ba2XeO6, e quais são suas estruturas?
e propriedades físicas), Pergamon Press, Oxford.
7. "De certo modo a descoberta dos compostos dos gases
• Hawkins, D.T., Falconer, W.E. e Bartlett, N. (1978) Noble nobres criou mais problemas que soluções”. Discuta essa
Gas Compounds, Plenum Press, London. (Contém referências afirmação focalizando principalmente a questão da
de 1962 a 1976) estabilidade dos níveis eletrônicos preenchidos e a
• Holloway, J.H. (1987) Twenty-five years of noble gas chem participação de orbitais d nas ligações formadas pelos
istry, Chemistry in Britain, 23, 658-672. elementos dos blocos s e p.
• Holloway, J.H. e Laycock, D. (1983) Preparations and reac- 8. Sugira motivos que expliquem por que os únicos compostos
tions of inorganic main-group oxide fluorides, Adv. Inorg. binários dos gases nobres são fluoretos e óxidos de Kr, Xe
Chem. Radiochem., 27, 157-195. e Rn.
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0® DCo®®®
328 INTRODUÇÃO AOS ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO
0
0
IIJTnODUÇnO DOS
ELEMEimJS
de Tnnnsiçno
INTRODUÇÃO físicas e químicas em comum. Por exemplo, todos os
elementos de transição são metais. São, portanto, bons
Três séries de elementos são formados pelo
condutores de eletricidade e de calor, apresentam brilho
preenchimento dos níveis eletrônicos 3d, 4d e 5d. Em
conjunto eles constituem os elementos do bloco d e são metálico e são duros, resistentes e dúcteis. Também, for
comumente denominados “elementos de transição”, pois mam ligas com outros metais.
estão entre os elementos do bloco s e do bloco p. Suas
propriedades são intermediárias, constituindo uma transição ESTADO DE OXIDAÇÃO VARIÁVEL
entre os elementos metálicos altamente reativos do bloco s,
Um dos aspectos mais marcantes dos elementos de tran
que geralmente formam compostos iônicos, e os elementos
sição é o fato deles poderem existir em diversos estados de
do bloco p, que geralmente formam compostos covalentes.
Nos blocos s e p, os elétrons vão sendo adicionados ao nível oxidação. Além disso, os estados de oxidação variam de
eletrônico mais externo do átomo. Já no bloco d, os elétrons uma em uma unidade, por exemplo Fe3 + e Fe2+, Cu2+ e Cu’.
vão sendo adicionados ao penúltimo nível, expandindo-o Os estados de oxidação apresentados pelos elementos
de 8 para 18 elétrons. Assim, os elementos de transição são de transição podem ser relacionados às suas estruturas
caracterizados pelo fato de possuírem um nível d eletrônicas. Cálcio, o elemento do bloco s que precede o
parcialmente preenchido. Os elementos do grupo 12 (grupo primeiro elemento da primeira série de transição, tem a
do zinco) tem configuração d10 e, devido ao fato do nível d configuração eletrônica:
estar preenchido, os compostos desses elementos apresentam
propriedades diferentes dos demais. Os elementos de Ca 1 s22s22p63s23p64s2
transição constituem três séries completas de dez elementos,
e uma quarta série incompleta. Essa quarta série incompleta Logo, os dez elementos de transição que se seguem ao
será discutida juntamente com os elementos do bloco f. cálcio devem ter de um a dez elétrons d adicionados, de
maneira regular, a essa configuração eletrônica: 3d’, 3d2,
3d3, ....3d10. Isso é verdade, exceto para Cr e Cu. Nesses
CARÁTER METÁLICO dois casos, um dos elétrons s vai para o nível d, por causa
O penúltimo nível eletrônico foi expandido nos elemen da maior estabilidade dos orbitais d exatamente semipre-
tos do bloco d. Assim, eles possuem muitas propriedades enchidos ou totalmente preenchidos (vide Tab. 18.2).
Assim, o Sc pode ter um número
Tabela 18 J — Os elementos de transição de oxidação de ( + 11), se ambos os
Grupos elétrons s forem utilizados na ligação,
7 8 9 ou (+ III) se os dois elétrons s e o elétron
3 4 5 6 10 11 12
d estiverem envolvidos nas ligações. 0
Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zu Ti apresenta número de oxidação ( + 11)
Escândio Titânio Vanádio Crômio Manganês Ferro Cobalto Níquel Cobre Zinco quando os dois elétrons s estiverem
Y Zr Nb Mo Te Ru Rh Pd Ag Cd participando da ligação, (+ III) quando
dois elétrons s e um elétron d forem
ítrio Zircônio Nióbio Molibdênio Tecnécio Rutênio Ródio Paládio Prata Cádmio
usados e (+ IV) quando os dois elétrons
La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg s e os dois elétrons d forem usados nas
Lantânio Háfnio Tântalo Tungstênic Rênio Ósmio Iridio Platina Ouro Mercúrio ligações. Analoga-mente, o V pode ser
Ac
encontrado nos estados de oxidação
( + 11), ( + 111), ( + IV) e ( +V). No caso
Actínio do Cr, se o elétron s isolado for utilizado
COMPLEXOS 329
Na Tab. 18.3 os compostos mais estáveis estão indicados em negrito, compostos instáveis estão entre parênteses; h indica óxidos hidratados, g indica que o composto
só ocorre na fase gasosa, m indica ligações metal-metal, c indica compostos tipo “cluster”, x indica um óxido misto e d indica que ocorre desproporcionamento.
de Lewis, isto é, com grupos capazes de doar um par de denominados "receptores da classe b", e correspondem aos
elétrons. Esses grupos são denominados ligantes. Um ligante ácidos "moles”. Os demais metais de transição, e os
pode ser uma molécula neutra como o NH3, ou íons tais elementos mais pesados do bloco p, formam complexos com
como CP ou CN~. O cobalto forma mais complexos que os dois tipos de doadores e são assim de natureza
qualquer outro elemento, e forma mais compostos que "intermediária". Esses elementos estão assinalados por (a/
qualquer outro elemento, exceto o carbono. b) na Tab. 18.4.
Co3 + + 6NH3 -> [Co(NH3)6]3 + A natureza dos compostos de coordenação e a importan
Fez + + 6CN- -> [Fe(CN)6]4- te teoria do campo cristalino já foram discutidas no Cap. 7.
Li Be B C N 0
(a) (a) (a) (a) (a)
Na Mg Al Si P S
(a) (a) (a) (a) (a) (a)
K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se
(a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a/b) (a/b) (a/b) (a/b) (a) (a) (a) (a) (a)
Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te
(a) (a) (a) (a) (a) (a) (a/b) (a/b) (b) (b) (b) (a/b) (a) (a) (a) (a)
Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Po
(a) (a) (a) (a) (a) (a) (a/b) (a/b) (b) (b) (b) (b) (a/b) (a/b) (a/b) (a/b)
Fr Ra Ac
(a) (a) (a)
Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb
(a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a)
Th Pa U Np Pu Am Cm Bk Cf Es Fm Md Mo
(a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a)
uma bola de ósmio ou irídio de 30 cm de diâmetro pesaria na região do visível e UV do espectro é causada por variações
320 kg, ou seja, quase um terço de uma tonelada. na energia eletrônica. Por isso os espectros são freqüente-
mente denominados espectros eletrônicos (essas variações
são acompanhadas por variações muito menores nas energias
PONTOS DE FUSÃO E DE EBULIÇÃO vibracionais e rotacionais). É sempre possível promover um
Os pontos de fusão e de ebulição dos elementos de elétron de um nível energético para outro. Contudo, os saltos
transição geralmente são muito elevados (vide Apêndices B de energia geralmente são tão grandes que a absorção ocorre
e C). Geralmente os elementos de transição fundem a na região do UV. Circunstâncias especiais podem tornar
temperaturas superiores a 1.000 °C. Dez desses elementos possíveis saltos menores na energia eletrônica, que aparecem
fundem acima de 2.000 °C, e três acima de 3.000 °C (Ta como uma absorção na região do visível.
3.000 °C, W 3.410 °C e Re 3.180 °C). Contudo, há algumas
exceções. Os pontos de fusão do La e do Ag são um pouco
menores que 1.000 °C (920 °C e 961 °C, respectivamente). Polarização
Outras exceções dignas de menção são o Zn (420 °C), o Cd NaCl, NaBr e NaI são todos compostos iônicos incolores.
(321 °C) e o Hg, que é um líquido à temperatura ambiente e O AgCl também é incolor. Logo, os íons Cl’, Br’ e 1’ e os
funde a -38 °C. Esses três últimos se comportam de modo íons metálicos Na+ e Ag + são tipicamente incolores.
atípico porque os subníveis d estão completos, e esses elé Contudo, AgBr é amarelo pálido e Agí é amarelo. A cor
trons não participam da ligação metálica. Esses elevados decorre da polarização dos haletos pelo íon Ag + . Isso
pontos de fusão contrastam marcadamente com as baixas significa que ele distorce a nuvem eletrônica, aumentando a
temperaturas de fusão dos metais do bloco s Li (181 °C) e contribuição covalente na ligação. A polarizabilidade dos
Cs (29 °C). íons aumenta com o tamanho: assim, o 1’ é o mais polarizado
e o mais colorido. Pela mesma razão Ag2CO3 e Ag3PO4 são
REATIVIDADE DOS METAIS amarelos; e Ag2O e Ag2S são pretos.
i Muitos desses metais são suficientemente eletro
positivos para reagirem com ácidos inorgânicos, liberando Camada d ou f parcialmente preenchida
H2. Alguns poucos apresentam baixos potenciais de eletrodo A cor pode ter uma causa inteiramente diferente em
padrão e são inertes ou “nobres". A inércia é favorecida por íons com camadas d ou /'incompletas. Essa origem da cor é
elevadas entalpias de sublimação, altas energias de ionização muito importante na maioria dos íons dos metais de
e baixas entalpias de solvatação (vide "ciclo de Born-Haber”, transição.
no Capítulo 6). Os elevados pontos de fusão implicam em Num íon gasoso livre isolado, os cinco orbitais d são
elevados calores de sublimação. Os átomos menores possuem degenerados, isto é, eles são idênticos em termos de energia.
energias de ionização maiores, mas isso é compensado pelas Nas situações reais, o íon está rodeado por moléculas de
elevadas energias de solvatação desses íons pequenos. A
solvente se estiver em solução, por outros ligantes se fizer
tendência a um caráter “nobre” é mais pronunciada nos
parte de um complexo, ou por outros íons se fizer parte de
metais do grupo da platina (Ru, Rh, Pd, Os, Ir, Pt) e no ouro.
um retículo cristalino. Os grupos vizinhos alteram a energia
de alguns orbitais d mais que de outros. Assim, os orbitais d
ENERGIAS DE IONIZAÇÃO não serão mais degenerados, e na situação mais simples
A facilidade com que um elétron pode ser removido do formam dois grupos de orbitais com energias diferentes.
átomo de um metal de transição (isto é, sua energia de Portanto, em íons de metais de transição com um nível d
ionização) é intermediária entre aquelas dos blocos s e p. A parcialmente preenchido, é possível promover elétrons de
primeira energia de ionização varia num amplo intervalo de um nível d para outro nível d de maior energia. Isso
valores, de 541 kJ mol’1 para o lantânio até 1.007 kJ mol’1 corresponde a uma diferença de energia relativamente
para o mercúrio, comparáveis com as do lítio e do carbono, pequena, e a absorção ocorre na região do visível. A cor de
respectivamente. Isso sugere que os elementos de transição um complexo de metal de transição depende da magnitude
são menos eletropositivos que os metais dos Grupos 1 e 2, da diferença de energia entre os dois níveis d. Isso, por sua
podendo formar ligações iônicas ou covalentes, dependendo vez, depende da natureza do ligante e do tipo de complexo
das condições. Geralmente, os estados de oxidação mais formado. Por exemplo, o complexo octaédrico [Ni(NH3)6]2 +
baixos são iônicos e os mais elevados são covalentes. Os é azul, [Ni(H2O6)]2+ é verde e o [Ni(NO2)6]4’ é castanho
elementos da primeira série de transição formam um número avermelhado. A cor varia em função do ligante coordenado.
maior de compostos iônicos que os elementos da segunda e A cor também depende do número de ligantes e da geometria
da terceira séries. do complexo formado.
A origem da cor nos lantanídios e nos actinídios é muito
COR semelhante, e decorrem de transições f—>f. No caso dos
Muitos compostos iônicos e covalentes dos elementos lantanídeos, os orbitais 4f situam-se bem no interior do átomo
de transição são coloridos. Em contraste, os compostos dos e são muito bem protegidos pelos elétrons 5s e 5p. Os elétrons
elementos dos blocos s e p são invariavelmente brancos. fpraticamente não são afetados pela formação de complexos:
Quando a luz atravessa um certo material, ela perde aqueles portanto a cor permanece praticamente constante para um
comprimentos de onda que são absorvidos. Se a absorção dado íon, qualquer que seja o ligante. As bandas de absorção
ocorrer na região visível do espectro, a luz transmitida tem também são muito estreitas.
a cor complementar da cor que foi absorvida. A absorção Alguns dos compostos dos metais de transição são
334 INTRODUÇÃO AD5 ELEMENTOS DE TRAN5IÇAD
brancos, por exemplo o ZnSO4 e o TiO2. Nesses compostos aumenta muito quando isso ocorre, quando comparada com
não é possível promover os elétrons de um nível d para a situação em que os momentos magnéticos nâo estão
outro. O Zn2 + possui configuração d10 e o nível d está acoplados. O alinhamento ocorre quando os materiais são
completo. O Ti4 + tem configuração d° e o nível d está vazio. magnetizados, sendo que Fe, Co e Ni podem gerar ímãs
Todos os íons da série Sc( + III), Ti( + IV), V( + V), Cr( + VI) permanentes. Propriedades ferromagnéticas foram
e Mn( + Vll), possuem um nível d vazio. Logo, não há observadas em diversos metais de transição e seus
nenhuma possibilidade de ocorrer transições d-d e os íons compostos. Também é possível se ter propriedades
em questão deveríam ser incolores. Contudo, à medida que antiferromagnéticas, por meio do emparelhamento dos
o número de oxidação aumenta, os íons se tornam cada vez momentos magnéticos de átomos adjacentes em sentidos
mais covalentes. Assim, em vez de formarem íons simples opostos. Isso leva a um momento magnético inferior ao
com carga elevada eles formam os oxo-íons: TiO2 + , VO2 + , esperado para um conjunto de íons independentes. O
VO43’, CrO42’ e MnO4‘. O VO2+ é amarelo pálido, mas o antiferromagnetismo ocorre em diversos sais simples de Fe3’,
CrO42’ é amarelo intenso e o MnO4‘ apresenta uma intensa Mn2* e Gd3 + . Como o ferromagnetismo e o antiferromag-
coloração púrpura em solução, embora o sólido seja quase netismo dependem da orientação, eles desaparecem em
preto. Nesses casos, as cores decorrem de transições de solução.
transferência de carga. No MnO4“ um elétron é transferido Muitos compostos dos elementos de transição são
momentaneamente do O para o metal, convertendo O2- em paramagnéticos, pois contêm níveis eletrônicos parcialmente
O' e diminuindo o estado de oxidação do metal de Mn(VII) preenchidos. O número de elétrons desemparelhados pode
para Mn(VI). A transferência de carga ocorre mais ser calculado medindo-se o momento magnético. A
efetivamente quando os níveis energéticos dos dois átomos magnetoquímica dos elementos de transição fornece
são razoavelmente próximos. A transição de transferência subsídios para se saber se os elétrons d estão ou não
de carga sempre dá origem a cores intensas, visto que as emparelhados. Essas medidas são de grande importância
restrições da regra de Laporte não se aplicam às transições para se distinguir se um dado complexo octaédrico é de spin
entre átomos. alto ou de spin baixo.
Os elementos dos blocos s e p não possuem um nível d Há dois métodos comumente utilizados para se medir
parcialmente preenchido e não podem ter transições d-d. A a susceptibilidade magnética: os métodos de Faraday e de
energia necessária para promover um elétron s ou p para Gouy. O método de Faraday é útil para se fazer medidas
um nível energético mais elevado é muito maior e com monocristais muito pequenos, mas existem dificuldades
corresponde à absorção de luz ultravioleta. Por isso, seus de ordem prática pois as forças envolvidas são muito
compostos nâo são coloridos. pequenas. O método de Gouy é mais freqüentemente
utilizado. Nesse método a amostra pode estar na forma de
PROPRIEDADES MAGNÉTICAS um longo bastão do material, ou em solução, ou o matenal
pulverizado pode estar empacotado dentro de um tubo de
Quando uma substância é colocada num campo
vidro. Uma das extremidades da amostra é colocada num
magnético de intensidade H, a intensidade do campo
campo magnético uniforme e a outra num campo muito fraco
magnético dentro da substância poderá ser maior ou menor
ou nulo. As forças envolvidas são muito maiores e podem
que H.
ser medidas com o auxílio de uma balança analítica
Se o campo dentro da substância for maior que H, a modificada.
substância é paramagnética. É mais fácil para as linhas de
A susceptibilidade por volume de um composto
força magnéticas percorrerem um material paramagnético
pode ser medido utilizando uma balança magnética (balança
que o vácuo. Assim, os materiais paramagnéticos atraem as
de Gouy). & é uma grandeza adimensional, mas pode ser
linhas de força e se tiver liberdade para mover-se, um mate
convertida facilmente na susceptibilidade molar, Xm, cuja
rial paramagnético se deslocará de uma região de campo
unidade é m3 mol'1.0 momento magnético, p, do composto
mais fraco para uma região de campo mais forte. O
pode ser calculado a partir desse valor, desde que as
paramagnetismo decorre da presença de spins de elétrons
pequenas contribuições diamagnéticas sejam ignoradas:
desemparelhados no átomo.
Se o campo dentro da substância for menor que H, a 3kTZM
substância é diamagnética. Substâncias diamagnéticas
n2 =
N°Po
tendem a repelir as linhas de força. É mais difícil para as onde k é a constante de Boltzman (1,3805 x 10'23 J K'1),
linhas de força magnéticas atravessarem um material
diamagnético que o vácuo, e esses materiais tendem a se p0 é a permeabilidade do vácuo (4tr x 10'7 H m'1) e
deslocar de uma região de campo magnético mais forte para T é a temperatura absoluta e N° o número de Avogra-
uma região de campo mais fraco. Em compostos dro.
diamagnéticos todos os spins eletrônicos estão emparelhados. Assim, a unidade de p no sistema SI é J T’1, e
O efeito paramagnético é muito maior que o efeito
diamagnético. p = 7{3k)/(N°p0)-A&r
Deve-se frisar que Fe, Co e Ni são materiais É conveniente exprimir o momento magnético p em função
ferromagnéticos. O ferromagnetismo pode ser considerado
do magneton de Bohr, pB
um caso particular de paramagnetismo no qual os momentos
magnéticos de átomos individuais se alinham e apontam eh
pB=------- = 9,273 x10‘24JT'‘
todos para uma mesma direção. A susceptibilidade magnética 4ttme
PROPRIEDADES MAGNÉTICAS 335
b- Balança analítica
Vejamos como os valores de p são obtidos. Inicialmente,
Xm deve ser determinado experimentalmente. Um tubo da
amostra, que deve ter pequeno diâmetro e um fundo chato,
- com um prato é enchido com a amostra até a marca de calibração. A
removido
amostra pode ser um sólido finamente dividido ou uma
solução. A área da seção transversal do tubo é a. O peso do
...... tubo com a amostra é determinado pelo procedimento usual.
e. ,... ,i Em seguida o peso aparente é determinado, pesando-se o
tubo com a amostra na presença de um campo magnético
forte, de intensidade H. Uma diferença de peso é observada.
Se g for a aceleração da gravidade, então a força F que atua
sobre a amostra é dada por:
F = Amg (18.2)
Tubo contendo a amostra
Se Xi for a susceptibilidade por volume da amostra e a
susceptibilidade por volume do ar, temos que
X — Eletroímã
F = '/aíXi -XzHwH2 (18.3)
àm g = ‘/ríXi-xJ a-Ho H2
logo
2ámg
Figura 18.1 — Diagrama de uma balança megnética de Gouy Xi = Xi +
apoH2
onde e é a carga do elétron, h a constante de Planck e me a
Queremos calcular, Xi, a susceptibilidade por volume
massa do elétron.
da amostra. A susceptibilidade por volume do ar, Xz. é
Assim, o momento magnético em magnetons de Bohr conhecida (0,364 x 1CF12), mas a intensidade do campo H e
é dado por: a área da seção transversal a não são conhecidas. Por isso,
efetuamos a mesma experiência acima descrita com um
X= constante -^Zm t (18.1) padrão, cuja susceptibilidade magnética é conhecida com
Ub exatidão. Isso nos permite calibrar o aparelho, ou seja,
onde calcular o valor da constante a-H1. O complexo tetratio-
cianocobaltatato(II) de mercúrio(II), Hg[Co(NCS)4], é
constante = ^(3k)/(N°p0) /Bb = 797>5 i3'2 molI/2 K1/2. freqüentemente utilizado como padrão sólido (x.m = 206,6
O momento magnético p de um metal de transição pode x 10-12 m3 mol’1 a 293 K). Após calibrar o aparelho, o mesmo
fornecer informações importantes sobre o número de elétrons tubo preenchido com a amostra desconhecida até a mesma
desemparelhados presentes no átomo e os orbitais que eles marca e o mesmo campo magnético devem ser utilizados
ocupam. Além disso, pode conter informações sobre a para se medir a diferença de peso do composto desconhecido.
estrutura da molécula ou do complexo. Se o momento Pode-se obter assim a susceptibilidade por volume, Xi, desse
magnético for devido exclusivamente ao spin dos elétrons composto. Esse valor pode ser facilmente convertido na
desemparelhados, m, então temos que susceptibilidade molar, Xm. do composto, com a ajuda da
equação:
ps = J4S(S +1) • pB
_ Z, ■ M _ M 2Am -g
onde S é o número quântico de spin total. Essa expressão for Zm D ~ D .a-Uo-H2
nece o momento magnético em unidade SI, ou seja, J T"1,
sendo o momento magnético em magnetons de Bohr dado onde M é a massa molecular do composto e D sua densidade.
por 'l(4S(S+1). Essa equação está relacionada ao número
Materiais diamagnéticos não possuem elétrons desem-
de elétrons desemparelhados, n, pela expressão:
parelhados, tendo momento magnético p = 0. O campo
ps = 7n(n + 2) -pB magnético externo induz um pequeno momento magnético
que se opõe ao campo externo. Logo, os materiais
0 objetivo do experimento é determinar a susceptibi diamagnéticos repelem as linhas de força e observa-se um
lidade por volume, x, determinando-se a massa da amostra pequeno decréscimo no peso. Em contraste, o
dentro e fora do campo magnético. A partir desse dado pode paramagnetismo decorre da presença de um ou mais elétrons
se calcular a susceptibilidade molar, Xm> 0 momento desemparelhados no composto. Os materiais paramagnéticos
magnético, p, o número quântico de spin total, S, e even atraem as linhas de força e sofrem um aumento no peso,
tualmente n, o número de elétrons responsáveis pelo para pois a amostra é puxada para baixo, ou seja para o espaço
magnetismo. entre os pólos da balança magnética (vide Fig. 18.1). Para
336 INTRODUÇÃO APS ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO
Tabela 18.7 — Algumas correções diamagnéticas (contantes Tabela 18.9 — Momentos magnéticos de alguns complexos
de Pascal) (todos os valores devem ser multiplicados por da primeira série de transição
10’“. As unidades são m3 mol-1)
íon Número de Momento Momento
elétrons magnético magnético
nh; -167 OH“ -151 H -36 +30 de spin calculado
desemparelhados experimental
Li* -12 o2- -151 C -75 +105 (magnetons) p, (magnetons)
Na* -85 F -114 C (aromático) -79 +81
K* -187 cr -294 N -70 N=N +23 Ti3* 1 1.7- 1,8 1,73
Rb* -269 Br“ -435 N (aromático) -59 N=O +22 2,83
V3* 2 2.8- 3,1
Cs* -422 r -636 P(+V) -331 C=C + 10 Cr3* 3 3.7- 3,9 3,87
Mg2* -63 COj- -370 O éter/ROH -58 C—N +10 4,90
Cr2*, Mn3* 4 4.8- 4,9
Ca2* -131 NO) -126 O, (emCOOH) -42 5,92
Mn2*, Fe3* 5 5,7-6,0
Cr2* -188 NO, -326 S -189 Fe2* 4,90
4 5,0-5,6
Cr3* -138 sot -478 F -79 Co2* 3 4,3-5,2 3,87
Mn2* -176 SO5- -503 Cl -253 2,83
Ni2* 2 2.9- 3,9
Mn3* -126 BFJ -490 Br -395 1,73
Cu2* 1 1.9- 2,1
Fe2* -161 CN‘ -163 I -561
Fe3* -126 CNO- -264 acetato -402
Co2* -161 CNS“ -390 oxalato -427 O elétron desemparelhado dá origem a um campo
Co3* -126 CIO5 -380 etilenodiamina -578 magnético por causa de seu spin, e também por causa de
Ni2* -161 CIO4 -402 NH, -226 seu momento angular orbital. A equação geral para os
Cu2* -161 H2O -163 dipiridina -1.319 momentos magnéticos dos íons dos metais de transição da
Zn2* -189 PPh, -2.098 primeira série é:
um complexo de um metal de transição, a variação de peso p(S + L) = -J4S{S +1) + L(L +1) • gB
medida com a balança de Gouy é a soma dos efeitos do íon
metálico paramagnético e dos ligantes e íons diamagnéticos onde S é a soma dos números quânticos de spin e L é a
presentes. Assim, o valor de %M obtido a partir dessa variação resultante dos momentos angulares orbitais de todos os
de peso é o magnetismo total, ou seja a soma Xparamagnético elétrons da molécula (vide no Capítulo 32, "Acoplamento
+ Xdiamagnético- Dado que desejamos determinar o paramag- dos momentos angulares orbitais e de spin”). Para um
netismo do íon metálico, devemos introduzir uma correção elétron, o número quântico de spin pode ser igual a +1/2
para compensar o diamagnetismo. A maneira mais simples ou -1/2; portanto, S = ms.n, onde n é o número de elétrons
de se calcular o valor da correção diamagnética, Xdiamagnético. desemparelhados.
é somando-se as correções diamagnéticas (denominadas Em muitos compostos dos elementos da primeira série
constantes de Pascal) dos átomos e íons da molécula, e as de transição, a contribuição orbital é "anulada” pelos cam
contribuições devido as ligações múltiplas. Esses dados são pos elétricos dos átomos vizinhos. Numa aproximação
conhecidos (Tab. 18.7). razoável, as contribuições orbitais podem ser ignoradas e o
Xdiamagnético ~ ^-/(correção dos átomos) + —Xfligações múltiplas) momento magnético observado pode ser considerado como
sendo exclusivamente decorrente dos spins dos elétrons
Assim, pode-se calcular o valor de Xparamagnético como se desemparelhados. Esse momento magnético de “spin-only".
segue: Ps, pode ser escrito como:
Xparamagnético Xmedido ~~ Xdiamagnético
ps = ^45(8 + 1) pB
Finalmente o valor de Xparamagnético pode ser convertido
no momento magnético do íon metálico em magnetons de O momento magnético p (medido em magnetons de
Bohr, usando a equação 18.1: Bohr, BM) está relacionado ao número de "spins” desem
parelhados, pela equação:
y- = 797,57 ZmT ps = -Jn(n + 2) • pB
P-B
Os resultados de momentos magnéticos de "spin-only”
Tabela 18.8 — Momentos magnéticos de spin para estão mostrados na Tab. 18.8. Os resultados obtidos usando
diferentes números de elétrons desemparelhados a equação dos momentos magnéticos de spin-only estão em
boa concordância com os fatos experimentais, no caso de
Número n de Momento Número muitos complexos de spin alto de metais da primeira série
elétrons magnético quântico total
de spin S de transição, como mostrado na Tab. 18.9.
desemparelhados (magnetons) g,
250,18g, ou seja, a massa molar M é igual a 0,250 kg mol'1. (tagTíeg)|00 Uag)2^I»0 ('2g)4(eg)|22 (r2g)SCeg)2
A densidade D é igual a 2,29 g cm'3 = 2,29 x 103 kg m'3. O
valor de Xm (sem a correção para compensar os efeitos O Co2* tem configuração (t2g)s(eg)2: portanto o valor
diamagnéticos) é: elevado de p se deve à contribuição orbital. Analogamente
existe uma contribuição no caso de complexos tetraédricos
ZM = L70xl0"x0 250 kgmol--=1858xl(). com as seguintes configurações:
mol-1 m3
2,29 X103 kg m’3
(e)2(tj‘ (e)2(tj2 (e)4(t2)4 (e)4(t2)5
A correção diamagnética pode ser obtida somando-se
Nos elementos da segunda e terceira séries de transição,
as contribuições de cada um dos íons e das moléculas
e particularmente nos lantanídeos (onde os elétrons
constituintes, utilizando os dados da Tab. 18.7:
desemparelhados ocupam orbitais 4f), o movimento orbital
Cu2 + -161 x 10'12 não é impedido ou suprimido. Por isso, as contribuições
soj- -503 x 10'12 orbitais, L, devem ser incluídas nos cálculos. Em alguns casos
5H2O 5 x (-163 x IO’12) = -815 x 10'12 ocorre o acoplamento entre as contribuições de spin, S, e
orbital, L (acoplamento spin-órbita, ou acoplamento de
Xdiamagnético -1479 X 10 Russel-Saunders), dando origem a um novo número
ou -0.148 x 10'8 quântico, J. Nesse caso é necessário usar uma expressão
0 valor corrigido de %M é, portanto: mais complicada, que será descrita no capítulo 29. Assim,
temos que:
(1,856 + 0,148) x IO'8 mol'1 m3 = 2,004 x 10'8 mol'1 m>3;
logo
Tabela 18.10 — Metaloenzimas e metaloproteínas (estas
i = 797,5 J/m-T últimas entre parênteses)
Pb Metal Enzima/metaloproteína Função biológica
A lei de Curie é obedecida com grande exatidão por Mo Xantina-oxidase Metabolismo das purinas
alguns sistemas, como o [FeF6]3’. Contudo, muitos materiais Nilrato-redulase Utilização dos nitratos
paramagnéticos se desviam um pouco desse comportamento Mn" Arginase Formação de uréia
ideal, e obedecem à lei de Curie-Weiss: Fosfotranferase Adição ou remoção de POt
Fe" ou Fe1" Aldeído-oxidase Oxidação de aldeídos
C e |1 = 797,5-7zm'(7' + 0)HB Catalase Decomposição de H2O2
Xm ~ T + e Peroxidase Decomposição de H202
Citocromos Tranferência de elétrons
(0 é a constante de Weiss; um valor empírico). Fotossíntese
Ferrodoxima
(Hemoglobina) Transporte de 02 nos animais
PROPRIEDADES CATALÍTICAS superiores
Desidrogenase succínica Oxidação aeróbica de caibo-
Muitos metais de transição e seus compostos
idratos
apresentam propriedades catalíticas. Algumas das mais
Fe e Mo Nitrogenase Fixação de nitrogênio
importantes estão listadas abaixo:
Co Glutamato mutase Metabolismo de aminoácidos
TiCl3 Usado como catalisador de Ziegler-Natta na Ribonucleotídeo-redulase Biossíntese do DNA
Cu1 e Cu" Amino-oxidases Oxidação de aminas
fabricação de polietileno.
Ascorbato-oxidase Oxidação de ácido ascórbico
V2O5 Converte SO2 em SO3 no processo de fabricação Citocromo-oxidase Principal oxidase terminal
de H2SO4. Galactose-oxidase Oxidação da galactose
MnO2 Usado como catalisador na reação decomposição Lisina-oxidase Elasticidade das paredes da
de KC1O3 a O2. aorta
Dopamina-hidroxilase Produção de noradrenalina
Fe O ferro ativado é usado no processo Haber-Bosch
necessária para gerar im
de fabricação de NH3.
pulsos nervosos no cérebro
FeCl3 Usado na fabricação de CC14 a partir de CS2 e Cl2. Tirosinase Pigmentação da pele
FeSO4 Ceruloplasmina Utilização do Fe
(Hemocianina) Transporte de 02 em
eH2O2 Usados como reagentes de Fenton para oxidar
invertebrados
álcoois a aldeídos.
Plastocianina Fotossíntese
PdCl2 Processo Wacker para conversão de Zn" Álcool-desidrogenase Metabolismo do álcool
C2H4 + H2O + PdCl2 a CHjCHO + 2HC1 + Pd. Fosfalase alcalina Liberação de POj"
Pd Usado em reações de hidrogenação (por exemplo, Anidrase carbônica Regulação do pH e formação
de fenol a ciclohexanona). deCO2
Carboxipeptidase Digestão de proteínas
Pt/PtO Catalisador de Adams, usado em reduções.
Pt Foi usado na conversão SO2 a SO3 no processo de
compostos intermediários instáveis, devido à sua valência
contato de fabricação de H2SO4.
variável. Em outros casos o metal de transição fornece uma
Pt Encontra uso crescente em conversores de três superfície adequada para que uma dada reação ocorra.
estágios para gases de escape de automóveis.
Enzimas são catalisadores que aumentam as velocidades
Pt/Rh Foi usado no Processo Ostwald de fabricação do de reações específicas. Elas são proteínas e são produzidas
HNO3, para oxidar NH3 a NO. pelas células de organismos vivos, a partir de aminoácidos.
Cu É usado no processo direto de fabricação de Elas atuam em condições amenas e freqüentemente levam
(CH3)2SiCl2, empregado na fabricação de silicones. a rendimentos de 100%, aumentando a velocidade de uma
Cu/V Oxidação de misturas ciclohexanol/ciclohexanona reação de 106 a 1012 vezes. Algumas enzimas requerem a
a ácido adípico, usado na fabricação de náilon. presença de íons metálicos como co-fatores e por isso são
denominadas metaloenzimas. Muitas (mas não todas)
CuCl2 Processo Deacon de fabricação de Cl2 a partir de
metaloenzimas contêm um metal de transição. Algumas das
HC1.
metaloenzimas e suas respectivas funções estão listadas na
Ni Níquel de Raney, usado em vários processos de Tab. 18.10.
redução (por exemplo, fabricação de
hexametilenodiamina, redução da antraquinona a
antraquinol na fabricação de H2O2). NÃO-ESTEQUIOMETRIA
Comple Síntese de Reppe (polimerização de alcinos, por Uma outra característica dos elementos de transição é
xos de Ni exemplo na obtenção de benzeno ou a possibilidade de formação de compostos não-
ciclooctatetraeno). estequiométricos. Trata-se de compostos de estrutura e
composição indefinidas. Por exemplo, o composto óxidode
Em alguns casos, os metais de transição podem formar ferro (11), FeO, deve ser escrito com uma barra sobre a fórmula
DIFERENÇAS ENTRE A PRIMEIRA SÉRIE E AS OUTRAS DUAS SÉRIES DE TRANSIÇAD 339
Cr2(CH3COO)4(H20)2, e no dimetilglioximatoníquel(II)
Tabela 18.11 — Abundância dos elementos de transição na
crosta terrestre, em ppm de massa sólido.
Os elementos da segunda e terceira séries formam, mui
Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn to mais freqüentemente, compostos com ligações M-M i
25 6320 136 122 1060 60000 29 99 68 76 D Eles formam carbonil-complexos com ligações M-M,
Y Zr Nb Mo Tc
Tc Ru Rh Pd Ag Cd semelhantes aos formados pelos elementos da primeira
31 162 20 1,2 - 0,0001 0,0001 0,015 0,08 0,16 série, tais como Ru3(CO)12, Os3(CO)12, Rh4(CO)12,
Ir4(CO)12. Também formam um tipo de carbonil-
La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg complexo não observado no caso dos elementos da
35 2,8 1,7 1,2 0,0007 0,005 0,001 0,01 0,004 0,08
primeira série como o Rh6(CO)16.
FeO, para indicar que a proporção de átomos de Fe e de O 2) Os metais Mo, Ru e Rh formam complexos binucleares
não é exatamente 1:1. Os resultados de análises realizadas com carboxilatos, como o Mo2(CH3COO)4(H2O)2, que
indicaram que a fórmula desse composto varia de Fe0,94O a é similar ao acetato de cromo(Il).
Fe084O. Vanádio e selênio formam uma série de compostos 3) Os complexos [Re2Cla]2" e [Mo2C19]3~ também possuem
cujas composições variam de VSe0,9s a VSe2. A esses ligações M-M.
compostos são atribuídas as fórmulas: 4) Os haletos inferiores de diversos elementos são
constituídos de aglomerados de três ou seis átomos de
VSe (VSe0 98 —» VSe12)
metal ligados entre si, formando compostos denomi
V2Se, (VSeu -a VSe, 6) nados “clusters" (agregados). Esses elementos são:
(VSeu -> VSe2) Nb Mo
Ta W Re
A não-estequiometria é observada particularmente em
compostos dos metais de transição com elementos do Grupo [Nb6Cl12]2* e [Ta6Cl12]2 + apresentam estruturas pouco
16 (0, S, Se, Te). Essa tendência se deve principalmente à comuns. Ambos contêm seis átomos do metal dispostos nos
valência variável dos elementos de transição. Por exemplo, vértices de um octaedro, com doze átomos de halogênio em
o cobre é precipitado de uma solução contendo Cu2+ pela ponte entre os vértices. Há fortes ligações M-M entre os
passagem de H2S. O sulfeto é completamente insolúvel, mas átomos do metal no octaedro. Os assim chamados “dihaletos”
não é usado como um método gravimétrico de determinação de Mo e W são na realidade Mo6C112 e W6Br12, que contêm
de cobre, pois o precipitado é uma mistura de CuS e Cu2S. o íon [MjXg]4'1’. Este também apresenta uma estrutura
Às vezes, a não-estequiometria é provocada por defeitos na notável. Seis átomos do metal se encontram nos vértices de
estrutura dos sólidos. um octaedro formando um "cluster", enquanto oito átomos
de halogênio, localizados acima de cada uma das oito faces
do octaedro, se ligam a três átomos do metal. O ReCl3 é na
ABUNDÂNCIA verdade o trímero Re3Cl9. Este é constituído por um triângulo
Três dos metais de transição são muito abundantes na de três átomos de Re com três átomos de halogênio em ponte
crosta terrestre. Fe é o quarto elemento mais abundante em entre os três vértices, e seis halogênios em ponte com outras
peso, Ti o nono e o Mn o décimo-segundo. Os elementos da unidades Re3CI9.
primeira série de transição geralmente seguem a regra de
Harkins, ou seja, elementos com números atômicos pares
Estabilidade dos estados de oxidação
são geralmente mais abundantes que seus vizinhos com
números atômicos ímpares. O manganês é uma exceção. Os Os estados de oxidação (+ II) e (+ III) são importantes
elementos da segunda e terceira séries são muito menos para todos os elementos da primeira série de transição. íons
abundantes que os da primeira série. O Tc não existe na simples M2+ e M3 + são comumente formados pelos
natureza. Dos últimos seis elementos da segunda e terceira elementos da primeira série, mas são menos importantes no
séries (Tc, Ru, Rh, Pd, Ag, Cd, Re, Os, Ir, Pt, Au, Hg) nenhum caso dos elementos da segunda e terceira séries, que for
ocorre em concentrações superiores a 0,16 partes por milhão mam alguns poucos compostos iônicos. Analogamente, os
(ppm) na crosta terrestre. elementos da primeira série formam um grande número de
complexos extremamente estáveis, tais como [Cr^ClJ3- e
[Coln(NH3)6]3 + . Não se conhecem complexos equivalentes
DIFERENÇAS ENTRE A PRIMEIRA SÉRIE E de Mo, W, Rh ou Ir.
AS OUTRAS DUAS SÉRIES DE TRANSIÇÃO No caso dos elementos da segunda e terceira séries, os
Ligação metal-metal e formação de “clusters” estados de oxidação mais elevados são mais importantes e
Ligações metal-metal (M-M) ocorrem não apenas nos muito mais estáveis que na primeira série de elementos de
metais mas também .em alguns dos seus compostos. Os transição. Por exemplo, o íon cromato, [CrO4]2’, é um forte
elementos da primeira série de transição raramente formam agente oxidante, mas o molibdato, [MoO4]2~, e o tungstato,
compostos contendo ligações M-M. Isso ocorre somente no [WO4]2’, são estáveis. Analogamente, o íon permanganato,
caso de alguns poucos carbonil-derivados, como por exemplo [MnO4F, é um forte agente oxidante, mas os íons pertecnato,
Mn2(CO)10, Fe2(CO)9, Co2(CO)8, Fe3(CO)12 e Co4(CO)12, e [TcO4]_, e perrenato, [ReO4)~, são estáveis.
em carboxilato-complexos como o acetato de cromo(II), Em alguns compostos, os elementos se encontram em
340 INTRODUÇÃO AOS ELEMENTOS DE TRAN5IÇÂ0
estados de oxidação elevados, não observados no caso de propriedades paramagnéticas dependentes da temperatura.
elementos da primeira série, como por exemplo nos Isso é explicado pelo acoplamento spin-órbita, que remove
compostos WC16, ReF7, RuO4, OsO4 e PtF6. a degenerescência do nível de menor energia, do estado fun
damental.
Complexos
O número de coordenação 6 é comum entre os Abundância
elementos de transição, gerando compostos com estrutura Os dez elementos da primeira série de transição são
octaédrica. O número de coordenação 4 é muito menos razoavelmente abundantes e constituem 6,79% da crosta
comum, formando complexos tetraédricos e quadrado- terrestre. Os demais elementos de transição são quase todos
planares. Números de coordenação 7 e 8 são raros no caso muitos raros. Embora a abundância do Zr seja de 162 ppm,
dos elementos da primeira série de transição, mas são muito do La de 31 ppm, do Y de 31 ppm e do Nb de 20 ppm, todos
mais comuns nos primeiros membros da segunda e terceira os 20 elementos da segunda e terceira séries de elementos
séries. Assim, no Na3[ZrF7] o íon [ZrF7]3“ é uma bipirâmide de transição perfazem apenas 0,025 % da crosta terrestre. 0
pentagonal, e no (NH4)3[ZrF7] é um prisma trigonal com Tc não ocorre na natureza.
uma face piramidada. No Cu2[ZrF8], o Zr está no centro de
um antiprisma quadrado.
LEITURAS COMPLEMENTARES
Tamanho • Bevan, D.J.M. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry,
Vol. 3 (Cap. 49: Compostos não estequiométricos), Pergamon
Os elementos da segunda série são todos maiores que Press, Oxford. (Boa introdução aos compostos não
os da primeira série. Contudo, devido a contração lantanídica, estequiométricos)
os raios dos elementos da terceira série são quase iguais aos
• Brown, D. (1968) Halides of the TYansition Elements, Vol. I
dos da segunda série.
(Haletos de lantanídeos e actinídeos), Wiley, London e New
York.
Magnetismo • Canterford, J.H. e Cotton, R. (1968) Halides of lhe Second
Quando os elementos de transição formam complexos and Third Roív Transition Elements, Wiley, London.
octaédricos, os níveis d são desdobrados nos subníveis t2g e • Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides of the First Row
eg. Considere um elemento da primeira série. Se os ligantes Transition Elements, Wiley, London.
forem de campo forte, a diferença de energia entre esses • Corbett, J.D. (1981) Extended metal-metal bonding in ha
dois subníveis será grande. Assim, os elétrons que ocupam lides of the early TYansition Metals, Acc. Chem. Res. 14,239.
o nível d irão preencher o subnível t2g, mesmo que os elétrons • Cotton, F.A. ( 1983) Multiple metal-metal bonds, J. Chem.
tenham de ser emparelhados. Caso isso ocorra, o complexo Ed., 60, 713-720.
é denominado de spin baixo ou de spins emparelhados. Por
• Crangle, J. (1977) The Magnetic Properties ofSolids, Amold,
outro lado, se o campo dos ligantes for fraco, o
London.
desdobramento do nível d será pequeno e o emparelhamento
de spins só ocorrerá quando cada um dos subníveis t2g e eg • Diatomic metais and metallic clusters (1980) (Conferência
contiver um elétron. Tais complexos são denominados de do Simpósio Faraday do Royal Society of Chemistry, N° 14),
spin alto. Assim, no caso de um elemento da primeira série Royal Society of Chemistry, London.
de transição, a intensidade do campo do ligante determina • Earnshaw, A. (1968) Introduction to Magnetochemistry, Aca-
se o complexo formado será de spin baixo ou de spin alto. demic Press, London.
Os elementos da segunda e terceira séries de transição • Emeléus, H.J. e Sharpe, A.G. (1973) Modem Aspects of Inor
tendem a formar complexos de spin baixo, isto é, é energe- ganic Chemistry, 4th ed. (Caps. 14 e 15: Complexos de metais
de transição; Cap. 16: Propriedades magnéticas), Routledge
ticamente mais favorável emparelhar os elétrons nos
and Kega Paul, London.
subníveis d de menor energia que ocupar os subníveis mais
altos, qualquer que seja o ligante. • Figgis. B.N. e Lewis, J. (1960) The magnetochemistry ofcom-
plex compounds, Cap. 6 do livro Modem Inorganic Chemis
Resultados razoavelmente concordantes são obtidos try (ed.: Lewis, J. e Wilkins, R.G.), Interscience, New Yorke
quando se usa a equação do momento magnético de spin- Wiley, London, 1960. (Boa revisão sobre medidas de
only para relacionar o momento magnético de complexos momento magnético).
da primeira série de transição com o número de elétrons
• Greenwood, N.N. (1968) lonic Crystals, Lattice Defeas and
desemparelhados. Porém, no caso de complexos da segunda Non-Stoichiometry, Butterworths, London.
e terceira séries, a contribuição do momento magnético or
• Griffith, W.P. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol.
bital passa a ser significativa, além de haver um acoplamento
4 (Cap. 46: Carbonilas, cianetos, isocianetos e nitrosilas).
spin-órbita considerável. Nesse caso, a aproximação de spin-
Pergamon Press, Oxford.
only não é mais válida, e equações mais complicadas devem
ser utilizadas. Assim, a interpretação simplificada dos • Johnson, B.F.G. (1976) The structures of simple binary car-
momentos magnéticos, apenas em função do número de bonyls, JCS Chem. Comm., 211-213.
elétrons desemparelhados, não pode ser estendida dos • Johnson, B.F.G. (ed.) (1980) Transition Metal Clusters, lohn
complexos dos elementos da primeira série para os da Wiley, Chichester.
segunda e terceira séries. Além disso, os compostos dos • Lewis, J. (1988) Metal clusters revisited, Chemistry in Brit-
elementos da segunda e terceira séries apresentam ain, 24, 795-800.
PROBLEMAS 341
• Lewis , J. e Green, M.L. (eds) (1983) Metal Clusters in Chem a) o óxido com o metal no estado de oxidação mais baixo
istry (Anais da Royal Society Discussion Meeting, Maio 1982), é básico, enquanto que o óxido com o metal no seu estado
The Society, London. de oxidação máximo é geralmente ácido.
• Lever A.B.P. (1984) Inorganic Electronic Spectroscopy, Elsevier, b) um metal de transição geralmente se encontra num
Amsterdam. (Atual e completo, além de ser uma boa fonte estado de oxidação maior nos fluoretos, em comparação
de dados espectrais) aos iodetos.
• Moore, P. (1982) Colour in transition metal chemistry, Edu- c) os haletos se tomam mais covalentes e susceptíveis à
cation in Chemistry, 19, 10-11, 14. hidrólise, à medida que aumenta o estado de oxidação do
metal.
• Muetterties, E.L. (1971) Transition Metal Hydrides, Marcei
Dekker, New York. 4. Explique sucintamente:
• Muetterties, E.L. e Wright, C.M. (1967) High coordination a) A regra do número atômico efetivo
numbers, Q. Rev. Chem. Soc., 21, 109. b) Que tipo de ligantes estabilizam estados de oxidação
• Nyholtn, R.S. (1953) Magnetism and inorganic chemistry, baixos
Q. Rev. Chem. Soc., 7, 377. c) As ligações tt (retrodoação) nas carbonilas metálicas.
• Nyholm, R.S. e Tobe, M.L. (1963) The stabilization of oxida- 5. Descreva os métodos que possibilitam a obtenção de
tion States of the transition metais, Adv. Inorg. Radiochem., amostras extremamente puras dos metais de transição.
5,1. 6. Quais dos íons M2+ e MJ* dos elementos da primeira série
• Shriver, D.H.; Kaesz,, H.D. e Adams, R.D. (eds) (1990) Chem- de transição são estáveis em solução, quais são oxidantes
istry of Metal Cluster Complexes, VCH, New York. e quais são redutores?
• Sharpe, A.G. (1976) Chemistry of Cyano Complexes of the Explique porque certos ligantes, como o F, estabilizam os
Transition Metals, Academic Press, London, 1976. metais em seus estados de oxidação mais elevados,
enquanto que outros, como o CO ou bipiridina, estabilizam
os elementos nos seus estados de oxidação mais baixos.
PROBLEMAS 8. Apresente os motivos pelos quais os carbonil e ciano
1. Como você definiría um elemento de transição? Cite as complexos dos metais de transição Cr, Mn, Fe, Co e Ni são
propriedades associadas a esses elementos. mais estáveis e comuns que complexos semelhantes com
2. Como as seguintes propriedades variam nos elementos de elementos do bloco s ou com os primeiros elementos dessa
transição: série de transição.
a) caráter iônico 9. Por que os elementos da segunda e terceira séries de
transição se assemelham muito mais entre si do que os
b) propriedades básicas
elementos da primeira série de transição?
c) estabilidade dos diferentes estados de oxidação
10. O que se entende por paramagnetismo e diamagnetismo?
d) capacidade de formar complexos. Faça uma previsão sobre o momento magnético de
3. Dê exemplos ou justifique as seguintes propriedades complexos octaédricos de Fe2 + com ligantes de campo forte
química dos metais de transição: e de campo fraco.
342
ogrupo
BO ESCORBIO
INTRODUÇÃO
Esses quatro elementos são às vezes agrupados com os Tabela 19.2 — Abundância dos elementos na crosta
14 lantanídios, e denominados coletivamente de “terras terrestre, em peso
raras”. Essa denominação é incorreta, pois os elementos do Abundância
Elemento ppm
grupo do escândio são elementos do bloco d e os lantanídios relativa
são elementos do bloco f. Além disso, os elementos do grupo
do escândio não são tão raros, exceto pelo actínio que é Sc 25 31?
radiativo. As propriedades do Sc, Y, La e Ac, variam de modo Y 31 29?
bastante regular e se assemelham às variações observadas LA 35 28?
nos elementos dos Grupos 1 e 2. Há poucos usos industriais AC traços
importantes desses elementos ou de seus compostos, exceto
pelo “mischmetar, utilizado na indústria metalúrgica. (entalpia de formação do A12O3 1.675 kJ mor1, entalpiade
formação do La2O3 1.884 kJ mol’1). Esses metais podem ser
OCORRÊNCIA, SEPARAÇÃO, OBTENÇÃO E obtidos por redução de seus cloretos ou fluoretos com cálcio
a 1.000 °C, numa atmosfera de argônio.
APLICAÇÕES
Pequenas quantidades de Y são empregadas na fabrica
O Sc é o trigésimo-primeiro elemento mais abundante, ção das substância fosforescentes (fósforos) usadas em tubos
em peso, da crosta terrestre. O elemento encontra-se muito de TV. Uma certa quantidade encontra emprego na fabricação
espalhado, sendo encontrado na forma do mineral raro de granadas sintéticas, usadas em radares e como pedras
thortveitita, Sc2[Si2O7J. O escândio é obtido como subproduto preciosas. Em contraste, cerca de 5.000 toneladas de La são
do processo de extração do urânio. O escândio e seus produzidos anualmente, a maior parte como mischmetal. 0
compostos têm pouquíssimas aplicações. mischmetal é uma mistura de La e de metais da série dos
O Y e o La são, respectivamente, o vigésimo-nono e o lantanídeos (50% Ce, 40% La, 7% Fe, 3% outros metais). É
vigésimo-oitavo elementos mais abundantes. São encon usado em grandes quantidades para melhorar a resistência
trados associados aos lantanídios na bastnaesita, MlnCO3F, e a trabalhabilidade do aço, e também em ligas de Mg.
na monazita, MnlPO4, e em outros minerais. É extremamente Pequenas quantidades são usadas como "pedras de isqueiro".
difícil separar cada um dos elementos. Esse processo será O La2O3 é usado em vidros ópticos, como por exemplo nas
discutido com algum detalhe no capítulo 29. Também é difícil lentes de Crookes, que protegem contra a radiação ultra
extrair os metais de seus compostos. Os metais são violeta.
eletropositivos e reagem com a água. Seus óxidos são muito Pequenas quantidades de Ac estão sempre associados
estáveis, o que impede o uso do processo de aluminotermia com o U e o Th, pois é um dos produtos da série de decai
mentos radiativos tanto do tório como do urânio (vide
Tabela 19.1 — Configuração eletrônicas e estados de oxidação
capítulo 31).
Elemento Símbolo Configuração Estado de 2»Th-^ ^Ra—£
,Th- a 2"'Ra- L422|Ac
eletrônica oxidação a A a
2“ u_£^Th_J_/a[ p a_a_^
Pa- Ac_í—>n^Th
Escândio Sc (Ar) 3d' 4? III O Ac pode ser obtido pelo bombardeamento do Ra com
ítrio Y (Kr) 4d' 5? III
nêutrons, num reator nuclear:
Lantânio La [Xe] 5d' 6? III
Actínio Ac [Rn] 6d' ls2 III 2g3Ra +J n- •2”Ra- £ 42"AC
PROPRIEDADES QUÍMICAS 343
Na melhor das hipóteses, esse método produz quanti rapidamente com água quente, liberando hidrogênio e
dades da ordem de miligramas. A separação dos outros ele formando o óxido básico ou o hidróxido correspondente.
mentos é efetuada por um método de troca iônica. 2g® Ac e
2La + 6H2O -> 2La(OH)3 + 3H2
2s3Ac são seus únicos isótopos naturais, sendo ambos
La(OH)3 -» LaO(OH) + H2O
fortemente radiativos. A meia-vida do 2g| Ac e do ^Ac é 6 óxido básico
horas e 21,8 anos, respectivamente. Assim, todo o actínio
existente no período da formação da Terra já se desintegrou O Sc(OH)3 parece não ser um composto definido, mas
há muito tempo. Assim, o actínio encontrado atualmente o óxido básico, ScO(OH), é bem conhecido e anfótero como
deve ter sido formado recentemente, como produto do o AI(OH)3. Como o escândio é anfótero, ele se dissolve em
decaimento radiativo de algum outro elemento. Isso explica NaOH liberando H2.
porque 0 Ac natural é tão raro. A elevada radiatividade do
Ac limitou o estudo de suas propriedades químicas. Sc + 3NaOH + 3H2O -> Na3(Sc(OH)6] i72h2
O caráter básico dos óxidos e hidróxidos aumenta
ESTADO DE OXIDAÇÃO quando se desce pelo grupo, de modo que o Y(OH)3 e o
La(OH)3 são básicos. Os óxidos e hidróxidos formam sais
Esses elementos sempre são encontrados no estado de
oxidação ( + 111), na forma de íons M3 + . A formação do íon quando reagem com ácidos. O Y(OH)3 e o La(OH)3 reagem
M3+ requer a remoção de dois elétrons s e de um elétron d. com dióxido de carbono, CO2:
Logo, esses íons apresentam configuração d°, tornando
2Y(OH)3 + 3CO2 -> Y2(CO3)3 + 3H2O
impossível a ocorrência de transições d-d. Conseqüente-
mente, os íons e seus compostos são incolores e diamag- O La(OH)3 é uma base suficientemente forte para
néticos. A soma das três primeiras energias de ionização do deslocar o NH3 de sais de amônio. Como os óxidos (e hidró
escândio é um pouco menor que a correspondente soma xidos) são anfóteros ou bases fracas, seus oxossais podem
para 0 alumínio. Por isso, as propriedades do escândio são ser decompostos a óxidos por aquecimento. Esse compor
semelhantes, em alguns aspectos, as do alumínio. tamento é análogo ao observado nos elementos do Grupo 2,
mas a decomposição é mais fácil, isto é, ocorre em
TAMANHO temperaturas menores:
calor
Os raios covalentes e iônicos desses elementos 2Y(OH)3 ——Y2O3 + 3H2O
aumentam regularmente de cima para baixo dentro do Grupo, Y2(CO3)3 -» Y2O3 + 3CO2
como no bloco s. Nos grupos dos elementos de transição, 2Y(NO3)3 -> Y2O3 + 6NO2 + 172O2
mostrados na Tab. 19.3, os elementos da segunda e terceira Y2(SO4)3 —> Y2O3 + 3SO2 + l'/2O2
séries são quase idênticos em tamanho, por causa da
Os metais reagem com os halogênios, formando tri-
contração lantanídica. Contudo, esse fenômeno ocorre
somente após o La. haletos, MX3. Eles lembram os haletos de Ca. Os fluoretos
são insolúveis (como o CaFJ, e os demais haletos são
deliqüescentes e muito solúveis (como o CaCl2). Se os
PROPRIEDADES QUÍMICAS cloretos forem preparados em solução, eles cristalizam na
Os metais desse grupo têm potenciais padrão de eletrodo forma de sais hidratados, mas o aquecimento dos mesmos
moderadamente elevados. São bastante reativos, e a não leva aos haletos anidros. Com o aquecimento, o
reatividade cresce com 0 aumento do tamanho. Eles perdem ScC13(H2O)7 se decompõe ao óxido, ao passo que os demais
0 brilho quando expostos ao ar e queimam na presença de formam oxo-haletos.
oxigênio, formando M2O3. Porém, quando exposto ao ar, calor
uma camada protetora de óxido é formada sobre a superfície 2ScC13 • (H2O)7 -> Sc2O3 + 6HC1 + 4H2O
do Y, tornando-o não-reativo. YCl3 (H2O)7-> YOC1 + 2HC1 + 6H2O
LaCl3-(H,O)7 -> LaOCI + 2HC1 + 6H2O
2L.3 + 3O2 —2L32O3
Cloretos anidros podem ser preparados tratando os
Os metais reagem lentamente com água fria, e mais óxidos com NH4CI:
300'C
Tabela 193 — Algumas propriedades físicas Sc2O3 + 6NH4CI •» 2ScC13 + 6NH3 + 3H2O
Ele- Raio Raio Energias de ionização Potencial P.E Eleiro- O ScCl3 anidro difere do A1C13 pois é um monômero,
men- covalente iônico 1? 2? 3? eletrodo negan- enquanto que o cloreto de alumínio é um dímero, (A1C13)2.
10 M5* padrão vidade Além disso, o ScCl3 não possui atividade como catalisador
de
para reações de Friedel-Crafts.
(Â) (Â) (kl mols) f(V) CO Pauling
Os sais geralmente se assemelham aos sais de cálcio,
Sc 1,44 0,745 631 1,235 2,393 -2,08 1.539 1,3 sendo os fluoretos, carbonatos, fosfatos e oxalatos insolúveis.
Y 1,62 0,900 616 1,187 1,968 -2,37 1.530 12 Todos esses elementos reagem com hidrogênio,
La 1,69 1,032 541 1.100 1.852 -2,52 920 1,1 mediante aquecimento a 300 °C, com formação de compostos
Ac 1,120 -2,60 817 1,1 altamente condutores de fórmula MH2. Esses compostos não
344 O SRUPO OO ESCÂNDIO
contêm o íon M2*, mas provavelmente são constituídos por 8 o mais comum. Assim, o [Sc(acetilacetonato)3] tem número
M3’ e 2H", e um elétron ocupa a banda de condução. Todos, de coordenação 6 e é octaédrico. Já 0 (Yfacetilace-
exceto o Sc, podem absorver mais H2. Mas, nesse caso tonato)3(H2O)J tem número de coordenação 7 e sua estnrtura
perdem seu caráter condutor, formando compostos não é trigonal prismática com uma face “piramidada". No
exatamente estequiométricos, mas que se aproximam da [La(acetilacetonato)3(H2O)2] o número de coordenação é 8
composição MH3. A composição exata depende da e sua estrutura é um antiprisma quadrado distorcido. No
temperatura e da pressão de hidrogênio. Esses hidretos são [La(EDTA)(H2O)4]-3H2O o EDTA forma quatro ligações
iônicos, ou seja, contêm o íon hidreto, H“, e reagem com usando seus átomos de O e duas utilizando os átomos de N.
água liberando hidrogênio. Além disso, as quatro moléculas de água estão ligadas ao La
O escândio forma um carbeto, ScC2, quando o óxido é por meio dos átomos de O. Assim, o número de coordenação
aquecido com carbono, num forno elétrico. O carbeto reage total desse composto é 10. Os íons NO3‘ e SO42' também
com água, liberando acetileno (etino). atuam como ligantes bidentados e formam complexos com
elevado número de coordenação. No [Sc(NO3)s]2‘, quatro
SC2O3 + c
1000'C
2ScC2 HjO
4 C2H2 + ScO OH grupos NO3‘ estão ligados bidentadamente e um está ligado
monodentadamente, gerando um composto com número de
Supunha-se antigamente que o carbeto continha coordenação igual a 9. No [Y(NO3)5]2’, todos os cinco íons
Sc( + II), ou seja, que fosse constituído pelos íons Sc2 + e NO3~ estão ligados bidentadamente, e 0 número de
(C=C)2'. Medidas magnéticas sugerem que ele contêm íons coordenação é 10. No La2(SO4)3-9H2O metade dos átomos
Sc3 + e C22", e que tenha elétrons deslocalizados numa banda de La tem número de coordenação 12.
de condução, provocando o aparecimento de um certo grau Os sais de lantânio tem sido usados como marcadores
de condutividade metálica. biológicos. O La3* parece substituir o Ca2+ no processo de
condução de impulsos nervosos ao longo dos axônios das
células nervosas, e também no estabelecimento de estruturas
COMPLEXOS de membranas celulares. O La3 + é facilmente detectado por
Apesar da carga + 3, os íons metálicos desse grupo não ressonância paramagnética de spin (EPR). A semelhança na
apresentam uma tendência muito forte de formar complexos. atividade biológica pode decorrer do fato deles serem de
Isso se explica pelo tamanho relativamente grande desses tamanhos semelhantes (La3* = 1,032 Â e Ca2+ = 1,00 A).
íons. O Sc3+ é o menor íon do grupo e forma complexos
mais facilmente que os demais elementos. Dentre eles podem LEITURAS COMPLEMENTARES
ser citados o [Sc(OH)6]3- e (ScFJ3’, ambos com número de
coordenação 6 e estrutura octaédrica. • Callow, R.J. (1967) The Industrial Chemistry of the Lanthan-
ons, Yttrium, Thorium and Uranium, Pergamon Press, New
ScF3 + 3NH4F—> 3NH4 + + [ScF6]3’ York.
• Horovitz, C.T. (ed.) (1975) Scandium: Its Occurrence, Chem
De longe o átomo doador mais importante em istry, Physics, Metallurgy, Biology and Technology, Academic
complexos é o O, principalmente quando os ligantes são Press, London.
agentes quelantes. Assim, complexos são formados com • Melson, G.A. and Stotz, R.W. (1971) The coordination chem
agentes complexantes fortes tais como ácido oxálico, ácido istry of scandium, Coordination Chem. Rev., 7, 133.
cítrico, acetil-acetona e EDTA. Os complexos dos metais • Vickery, R.C. (1973) Conprehensive Inorganic Chemistry, Vol.
maiores, Y e La, freqüentemente têm números de 3 (Cap. 31: Escândio, ítrio e Lantânio), Pergamon Press.
coordenação maiores que 6, sendo o número de coordenação Oxford.
345
0
Grupo 14
O GHUPG DO TITÂNIO
INTRODUÇÃO
O titânio é um elemento de importância industrial. Tabela 20.2 — Abundância dos elementos na crosta
terrestre, em peso
Grandes quantidades de TiO2 são usadas como pigmento e
como “carga”, e o metal titânio é importante por causa de Elemento ppm Ordem de
sua resistência mecânica, baixa densidade e resistência à abundância relativa
corrosão. O TiCl3 é um importante catalisador de Ziegler-
Natta, utilizado na fabricação de polietileno e de outros Ti 6.320 9?
polímeros. O zircônio é usado para fabricar os revestimentos Zr 162 18?
das barras de combustível de reatores nucleares resfriados a Hf 2,8 45?
água. 0 háfnio é usado para fabricar barras de controle para
certos reatores.
OBTENÇÃO E USOS
O titânio tem sido chamado de o "metal maravilha"
OCORRÊNCIA E ABUNDÂNCIA por causa de suas propriedades singulares e úteis. Ele é muito
O Ti é o nono elemento mais abundante, em peso, na duro, tem elevado ponto de fusão (1.667 °C), é mais forte e
crosta terrestre. Os principais minérios são a ilmerüta, FeTiO3, muito mais leve que o aço (densidades: Ti =-4,4 g cm-3,
e o rutilo, TiO2. Em 1992, a produção mundial foi de 7,8 Fe = 7,87 g cm'3). Contudo, mesmo quantidades muito
milhões de toneladas de ilmenita e de 471.000 toneladas de pequenas de impurezas não-metálicas, como H, C, N ou O,
rutilo, totalizando 4,3 milhões de toneladas em conteúdo de tomam o titânio e os dois outros metais, Zr e Hf, quebradiços.
Ti02. Os principais produtores são o Canadá, 27%, Austrália O Ti tem melhor resistência à corrosão que o aço inoxidável.
24% e Noruega 9%. O zircônio é o décimo oitavo elemento É um melhor condutor de calor e de eletricidade que os
mais abundante na crosta terrestre, sendo encontrado metais do grupo do Sc (Grupo 3). O Ti metálico e as ligas de
principalmente como zirconita, ZrSiO4, e pequenas Ti com Al são utilizadas em grande escala na indústria
quantidades de baddeleyita, ZrO2. A produção mundial de aeronáutica, em turbinas e motores a jato, e na estrutura
minerais de zircônio foi de 808.000 toneladas em 1992. O das aeronaves. Aviões supersônicos, como o Concorde,
háfnio é muito semelhante em tamanho e propriedades ao podem usar o Al como revestimento estrutural (ponto de
zircônio, por causa da contração lantanídica. Por isso, o Hf fusão 660 °C), mas sua velocidade fica limitada a Mach 2,2
éencontrado, na proporção de 1 a 2%, em minérios de Zr. A (2,2 vezes a velocidade do som). Quando aviões supersônicos
separação do Zr do Hf é particularmente difícil — inclusive que operam a três vezes a velocidade do som forem
mais difícil que a separação dos lantanídios. fabricados, é provável que eles sejam fabricados com Ti
(ponto de fusão 1.667 °C). O Ti também
———— é empregado em equipamentos navais
Tabela 20.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação e em instalações para a indústria
química. Pequenas quantidades de Ti
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* são adicionadas ao aço, para formar ligas
mais duras e resistentes. A produção
Titânio Ti (Ar] 3d24? (-D (0) (H)
(-1) m TV
Zircônio Zr [Kr] 4d2 5? (II) (m) TV mundial de Ti metálico é de cerca de
Háfnio Hf [Xe] íf^Sifès2 (II) (III) IV 50.000 toneladas/ano.
É difícil de se obter o metal a partir
* Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo de seus minérios, devido a seu elevado
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são dados entre perênteses. ponto de fusão e elevada reatividade
346 Grupo 14 — GRUPO DO TITÂNIO
No estado de oxidação (+ IV) esses elementos apresen Potenciais padrão de redução (volt)
tam configuração d°, sem elétrons desemparelhados: assim,
seus compostos são tipicamente brancos ou incolores, e Solução ácida
diamagnéticos. Estado de oxidação
íons Ti4+ não existem em solução, pois formam-se oxo-
+iv +m +n +1 o
->0,10 -0,37 -1,63
íons. 0 íon titanila, TiO2+ é encontrado em solução, mas TiO2"- Tr Ti2+ Ti
em sais cristalinos ele geralmente se encontra polimerizado.
0 íon no estado de oxidação (+ III) é redutor, tal que O Zr se dissolve em H2SO4 concentrado a quente e em água-
Ti3" é um redutor mais forte que Sn2 + . São razoavelmente régia. O melhor solvente para todos esses metais é o HF,
estáveis, tanto no estado sólido como em solução. Como os porque formam hexafluoro complexos.
íons M3+ apresentam configuração d1, possuem um elétron
desemparelhado e são paramagnéticos. Os momentos Ti + 6HF -> H2[TiF6] + 2H2
magnéticos de seus compostos se aproximam do momento
magnético de spin-only de 1,73 magnetons de Bohr. Devido A cerca de 450 °C os três metais começam a reagir com
a presença de apenas um elétron d, só há uma transição muitas substâncias. A temperaturas superiores a 600 °C se
eletrônica d-d possível: portanto, só existe uma banda de tornam altamente reativos. Nessas condições formam óxidos
absorção no espectro visível, e quase todos os seus MO2, haletos MX4, nitretos intersticiais MN e carbetos
compostos têm uma cor púrpura avermelhada pálida. intersticiais MC, por combinação direta. Da mesma forma
que os elementos do grupo do escândio, os metais
0 íon no estado de oxidação (+ II) é muito instável. É pulverizados absorvem H2. A quantidade absorvida depende
um redutor forte capaz de reduzir a água. Apenas alguns da temperatura e da pressão, sendo MH2 a composição limite
poucos compostos contendo esse íon são conhecidos, e desses compostos intersticiais. Esses hidretos intersticiais
somente no estado sólido. Os íons nos estados (0), (-1), e (- são estáveis ao ar e não reagem com água. Esse compor
II) são encontrados nos complexos com bipiridina tamento difere daquele encontrado nos hidretos iônicos do
[Ti°(bipy)3], Li[Ti_|(bipy)3].3,5(tetra-hidrofurano) e Li2[Ti’u grupo do escândio e dos elementos do bloco s.
(bipy)3].5(tetra-hidrofurano). Os íons nos estados de
oxidação mais baixos tendem a sofrer reações de despropor-
cionamento: O ESTADO ( + IV)
Óxidos
2Ti'"Cl3 —■“Ior -> TilvCl4 + TinCl2
A produção mundial de TiO2 foi de 4,1 milhões de
2Ti“Cl2 TilvCl4 + Ti° toneladas em 1992. Mais da metade foi empregada como
pigmento branco em tintas, e como agente opacificante de
TAMANHO tintas coloridas. O TiO2 substitui os pigmentos brancos
0s raios covalentes e iônicos aumentam regularmente usados anteriormente, como o “branco de chumbo”
do Ti ao Zr, mas o Zr e o Hf têm tamanho quase idêntico. O (2PbCO3.Pb(OH)2), BaSO4 e CaSO4, pois apresenta três
Hf não segue a tendência de aumento de tamanho esperado, vantagens sobre o composto de Pb: maior grau de cobertura,
pois entre o La e o Hf ocorre o preenchimento do nível 4f, não é tóxico e não escurece quando em contato com H2S.
nos 14 elementos da série dos lantanídios. Há uma pequena Outras importantes aplicações do TiO2 são no branquea-
diminuição de tamanho de um lantanídeo para o seguinte. mento de papel e como “carga" para plásticos e borrachas.
0 decréscimo global de tamanho ao longo dos 14 elementos Uma pequena quantidade é empregada para alvejar e re
lantanídios é denominado contração lantanídica (vide mover o brilho do náilon.
capítulo 29). O decréscimo de tamanho causado pela O TiO2 natural é invariavelmente colorido pela presença
contração lantanídica cancela o esperado aumento de de impurezas. Há dois processos industriais de obtenção de
tamanho do Zr para o Hf. Como o tamanho dos átomos de TiO2 puro: o "processo do sulfato”, mais antigo, e o “processo
Hf e La e suas estruturas eletrônicas de valência são do cloreto", mais recente. No processo do cloreto, rutilo
semelhantes, suas propriedades químicas são quase (TiO2) é aquecido com Cl2 e coque a 900 °C, para formar
idênticas. Assim, a separação desses dois elementos é muito TiCl4. Este é volátil, podendo assim ser separado das
difícil, como visto no item “Obtenção e Usos”. impurezas. O TiCI4 é, então, aquecido com O2 a cerca de
1.200 °C, para gerar TiO2 puro e Cl2. O cloro é reciclado e
REATIVIDADE E PASSIVAÇÃO reutilizado.
Os metais maciços são poucos reativos ou passivos, a TiO, + 2C + 2C12 ->TíC14 + 2CO
temperaturas baixas e moderadas. Isso se deve a uma fina TiCL, + O, —> TiO2 + 2C12
película de óxido que se forma sobre sua superfície,
dificultando um posterior ataque. Esse comportamento é No "processo do sulfato”, a ilmenita FeTiO3 é digerida
observado principalmente no Ti (lembre-se, contudo, que com H2SO4 concentrado: FeHSO4, Feln2(SO4)3 e sulfato de
os metais finamente divididos são pirofóricos). À temperatura titanila, TiO • (SO4) são obtidos na forma de uma “pasta de
ambiente, os metais não reagem nem com ácidos nem com sulfato”. Esta é lavada com água, removendo-se todo o ma
álcalis. Todavia, o Ti se dissolve lentamente em HC1 terial insolúvel. íons Fe111 presentes na solução são reduzidos
concentrado e a quente, formando Ti3+ e H2. O Ti é oxidado a Fe11 usando raspas de ferro e o FeSO4 é cristalizado por
por HNOj a quente, gerando o óxido hidratado TiO2 • (H2O)n. evaporação a vácuo e abaixamento de temperatura. A solução
348 Brupo 14 — 0 BRUPO □□ TITÂNIO
. O>
/ \o O>/Xo o. /Xt o oxido hidratado.
Ti
V V
Ti
V Óxidos mistos
Ti Ti
Se os óxidos TiO2, ZrO2 e HfO2 forem fundidos (a
Figura 20.1 — Uma cadeia polimérica de (TiO)** temperaturas de 1.000-2.500 °C) com quantidades
adequadas de óxidos de outros metais, haverá a formação
deTiO(SO4) é hidrolisada, então, levando-a à ebulição, sendo de titanatos, zirconatos e hafnatos. São óxidos mistos, que
posteriormente semeada com cristais de rutilo ou anatásio. geralmente não contêm íons discretos. Por exemplo, titanato
As estruturas cristalinas dos óxidos sugerem que são de sódio anidro, Na2TiO3 pode ser obtido por meio da fusão
iônicos. Contudo, a soma das quatro primeiras energias de de TiO2 com Na2O, Na2CO3 ou NaOH. A redução de Na2TiO3
ionização é tão elevada (8.800 kJ mol’1 para o Ti4 + ) que com H2, a altas temperaturas, leva a formação de “bronzes
isso parece ser improvável. O TiO2 ocorre em três formas de titânio", que são materiais não-estequiométricos de
cristalinas diferentes: rutilo, anatásio e brookita. O rutilo é a fórmula Na0,2-o,25Ti02. Esses materiais apresentam elevada
forma mais comum: cada átomo de Ti é rodeado condutividade elétrica, tem um aspecto metálico, cor preto
octaedricamente por seis átomos de O (vide no capítulo 3, azulado e são análogos aos bronzes de tungstênio. 0 titanato
“Compostos iônicos do tipo AX2’). As outras duas formas de cálcio ocorre na natureza como perovsquita, CaTiOj, e
apresentam estruturas octaédricas distorcidas. Os óxidos são ilmenita (titanato de ferro), Fe"TiO3, e são as principais fontes
insolúveis em água. íons M4 + não podem ser encontrados de titânio.
em solução, pois íons MO2+ são formados, dando origem a A estrutura da ilmenita consiste num retículo hexago-
sais básicos como o sulfato de titanila, TiO • S04. Tanto o íon nal de empacotamento denso de átomos de O, onde os
TiO2* como o [Ti(OH)2]2 + podem estar presentes em átomos de Ti ocupam um terço dos interstícios octaédricos,
solução, mas no estado sólido eles se polimerizam, gerando e os átomos de ferro (ou de outro metal) ocupam mais um
cadeias (MO)n2 + , onde os átomos de oxigênio estão ligados terço desses interstícios. Essa estrutura é formada quando o
em ponte. A estrutura de raios X do TiO(SO4) mostra que outro metal tem tamanho semelhante ao do Ti. A estrutura
cada Ti é rodeado octaedricamente por seis átomos de O: é análoga a do coríndon, A12O3, mas este possui dois íons
dois átomos de O da cadeia, três átomos de O de três grupos Al3+ em vez de um íon Ti4+ e um Fe2 + .
SO42- e um átomo de uma molécula de água.
Quando os dois metais possuem tamanhos muito dife
Analogamente, íons zirconila, ZrO2+, são encontrados rentes, o composto cristaliza com a estrutura da perovsquita
em solução, mas nos sólidos formam espécies poliméricas. (Fig. 20.2). Trata-se de um arranjo cúbico de empacotamento
O nitrato de zirconila, ZrO(NO3)2, forma uma estrutura em compacto de átomos de O e de Ca (de modo que o Ca apre
cadeia contendo átomos de oxigênio em ponte, semelhante senta número de coordenação 12), onde o Ti ocupa um
a do TiO(SO4). O ZrO(NO3)2 é solúvel em água e HN03 quarto dos interstícios octaédricos. Os interstícios ocupados
diluído, sendo usado para remover fosfato em análise são aqueles completamente rodeados por átomos de 0, man
qualitativa. Se o fosfato não for removido, irá interferir na tendo assim o Ca e o Ti tão afastados quanto possível um do
análise sistemática dos metais. Os fosfatos de Ti, Zr e Hf são outro.
todos insolúveis.
O BaTiO3 apresenta a estrutura da perovsquita. 0 íon
TiO2, ZrO2 e HfO2 são sólidos brancos muito estáveis, Ba2 + é grande demais para se acomodar no retículo de óxido
não são voláteis e tornam-se refratários quando aquecidos a de empacotamento compacto sem expandi-lo. Isso faz com
altas temperaturas. Nesse caso, o ZrO2 se torna muito duro, que aumente o tamanho dos interstícios octaédricos onde o
além de ter um elevado ponto de fusão (2.700 °C) e ser Ti se encontra, e este tenha um espaço livre disponível para
resistente aos ataques químicos. Por isso é usado na que possa se deslocar de um lado para outro. Num campo
manufatura de cadinhos para altas temperaturas e no elétrico, os átomos de Ti são impelidos para um dos lados
revestimento de fornos. Atualmente, pode ser encontrado do interstício, polarizando o material e tornando o cristal
comercialmente fibras de ZrO2, similares às fibras de A12O3 fortemente ferroelétrico. Ele é também um material piezo-
descritas no capítulo 12. Se os sólidos tiverem sido elétrico (pressão gera uma diferença de potencial e vice-
preparados a seco ou se tiverem sido aquecidos, não reagem
com ácidos. Se tiverem sido preparados em solução, por
exemplo pela hidrólise de TiCl4, o óxido se dissolve em HC1,
HF e H2SO4, formando os complexos [TiCl6]2“, [TiF6]2’ ou
[Ti(SO4)3]2“.
As propriedades básicas dos óxidos são intensificadas
com o aumento do número atômico: TiO2 é anfótero,
enquanto ZrO2 e HfO2 são básicos. TiO2 se dissolve tanto
em ácidos como em bases, formando titanatos e compostos
de titanila:
H/>04 conc.
TiO(SO„) e TiO2(H2O)n
sulfato de titanila NaOH conc.
■> Na2TiOj (H2O)„ Figura 20.2 — A estrutura da perovsquita
O ESTADO (+111] 349
versa). Isso torna-o útil como transdutor de agulhas de toca- Outros números de coordenação também são encontra
discos e de microfones, como dielétrico de capacitores dos em complexos. São conhecidos alguns poucos complexos
cerâmicos, e outras aplicações em dispositivos eletrônicos. pentacoordenados e raros, tais como Et4N[TilvCls]“ e
Outros titanatos tem a fórmula M"2TiO4, onde M pode [TiCl4- AsH3). Também são conhecidos alguns complexos
ser Mg, Mn, Fe, Co ou Zn. O Mg2TiO4 tem uma estrutura de heptacoordenados: Na3[ZrF7] e Na3(HfF7]. Estes têm
espinélio (como o MgAl2O4). Os íons óxido formam um estrutura bipirâmide pentagonal, como o IF7. Contudo, a
arranjo cúbico de empacotamento compacto, onde os íons estrutura do (NH4)3[ZrF7) é a de um prisma trigonal com
Mg ocupam a metade dos interstícios octaédricos e os íons uma face “piramidal”: o Zr se situa no centro de um prisma
titânio um oitavo dos interstícios tetraédricos. Assim, esses trigonal com seis átomos de F nos vértices e um sétimo
compostos contêm íons discretos [TiO4]4‘. acima e no centro de uma das faces. Outro composto
incomum é o Ti(NO3)4. Os grupos NO3~ atuam como ligantes
Peróxidos bidentados, isto é, dois átomos de O de cada grupo NO3~ se
ligam ao Ti. Logo, o número de coordenação do Ti é igual a
Uma propriedade marcante das soluções de Ti ( +IV) é 8, e sua estrutura é a de um dodecaedro quase regular
0 aparecimento de uma cor amarela alaranjada intensa conhecido como bisdiesfenóide. O Na4[ZrF8] e o Na4[HfF8]
quando se adiciona H2O2. Essa reação pode ser usada para também têm estrutura bisdiesfenóide. Contudo, no
a determinação colorimétrica de Ti(IV) ou de H2O2. Supõe- [Cu(H2O)6]22 +[ZrF8)4~ o Zr tem número de coordenação 8,
se que essa cor seja decorrente da formação de um peroxo- mas sua estrutura é a de um antiprisma quadrado (pode ser
complexo. Abaixo de pH 1, a espécie predominante é imaginado como um cubo no qual a face superior sofreu
(Ti(02) • (OH) ■ (H2O)n]+, na qual 0 ligante peroxo se coordena uma rotação de 45°). As estruturas dos complexos hepta e
bidentadamente. octacoordenados são mostrados na Fig. 20.3.
Haletos
O ESTADO ( + III)
0 haleto mais importante é o TiCl4, obtido
industrialmente passando-se Cl2 sobre TiO2 e C aquecidos. Todos os compostos com os elementos no estado de
Os outros haletos MX4 podem ser preparados de modo oxidação (+ III) são coloridos e paramagnéticos, pois o íon
semelhante. Para evitar o manuseio de F2, os fluoretos são tem configuração d1. O Ti(III) é muito mais básico que o
preparados reagindo-se HF anidro com TiCl4. Ti(IV), de modo que a adição de álcali a uma solução de
Ti3+ provoca sua precipitação na forma de Ti2O3 • (H2O)n,
TiCl4 + 4HF -> TiF4 + 4HC1 um sólido púrpura, insolúvel em excesso de álcali.
Os haletos TiX3 podem ser facilmente obtidos por
Os iodetos também podem ser preparados pelo
redução do TiX4 correspondente. Assim, o TiCl3 anidro pode
aquecimento do halogênio com o metal. Os iodetos são
ser obtido como um pó violeta por redução de TiCl4 com
importantes no processo van Arkel-de Boer, utilizado para
H2, a 600 °C. O TiCl3 é importante como um catalisador de
purificar esses metais.
Ziegler-Natta (vide adiante). A redução de soluções aquosas
0 T1C14 é um líquido incolor fumegante, covalente e
diamagnético. O ZrCl4 é um sólido branco. No estado gasoso,
todos os haletos são tetraédricos, mas no sólido formam a) b)
cadeias de octaedros MX6, em zigue-zague. Todos os haletos
reagem vigorosamente com água formando TiO2, e fumegam
em ar úmido. Caso a hidrólise seja efetuada com solução
aquosa de HC1, o oxocloreto TiOCl2 é obtido.
contendo Ti( + IV) com Zn fornece o íon hidratado púrpura polímeros atáticos ou aleatórios. Praticamente qualquer
[Ti(H2O)6]3 + . Este é um poderoso agente redutor, inclusive alceno pode ser polimerizado.
mais forte que o Sn2 + . Ele é oxidado diretamente pelo ar, e Foram realizadas muitas pesquisas para se determinar
deve ser armazenado ao abrigo da luz solar direta. Soluções como esse catalisador atua. A espécie ativa contém Ti111, e o
aquosas de TinlCI3 são constituídas por duas espécies AlEt3 pode reduzir TiCl4 a TiCl3 in situ, ou então, TiClj pode
hidratadas diferentes, com cores distintas. Em um dos ser diretamente adicionado à mistura reacional. Então, um
complexos o Ti111 está ligado a seis moléculas de H20 dos átomos de Cl é substituído por um grupo etil gerando a
([Ti(H2O)6]3 + C13"), enquanto que no outro está coordenado espécie ativa. Um mecanismo de polimerização possível
a cinco moléculas de H2O e um Cl" ([TíC1(H2O)5]2+C12"). O supõe a coordenação de outra molécula de eteno pela dupla
desdobramento dos níveis d pelo campo cristalino, nesses ligação a um sítio desocupado de um átomo de Ti na
dois ambientes, são diferentes. Logo, a quantidade de energia superfície do catalisador. Ocorre então uma reação de
necessária para promover o elétron d também é diferente migração do carbono, e o eteno é inserido entre o Ti e o C
nos dois casos, e por isso eles apresentam cores distintas. da ligação Ti-Et. Esse processo aumenta a cadeia carbônica
O Ti3* é usado em análise volumétrica para a de dois para quatro átomos, deixando novamente um sido
determinação de íons Fe3+ e também de nitrocompostos desocupado no átomo de Ti. À medida que o processo
orgânicos. Na titulação do ferro, o ponto de equivalência descrito acima se repete a cadeia carbônica aumenta de
pode ser detectado com tiocianato de amônio ou com azul tamanho. Uma reação semelhante ocorre com outros alcenos,
de metileno. O primeiro faz com que a solução permaneça como o propeno ou propileno, CH3-CH = CH2. Quando essa
vermelha enquanto íons Fe3+ estiverem presentes, enquanto molécula se coordena ao Ti pela dupla ligação, o grupo CH3
que o segundo é reduzido e descora quando houver um sempre vai estar apontado para uma direção oposta ao da
pequeno excesso de Ti3 + . superfície, simplesmente porque a reação se processa numa
superfície. Assim, quando a molécula migra e é inserida na
[Ti(H2O)6]3+Cl3 TiCl4 ligação Ti-C ela sempre terá a mesma orientação. Esse
violeta desproporciona fenômeno é conhecido como inserção do alceno em cis, o
c/ aquecimento
TíC14 «o^tíCI^ e que explica porque os polímeros obtidos são estéreo-
violeta
[Ti(H2O)5Cl]2+Cl2 TiCl2 regulares.
Ti^ HC1 quente verde
A polimerização do eteno era efetuada no passado em
FeCl3 + TiCl3 + H2O -> FeCl2 + TiO Cl2 + 2HC1 condições de altas temperaturas e pressões. Com o catalisador
RNO2 + 6Ti3+ + 4H2O ->RNH2 + 6TíO2+ + 6H + de Ziegler-Natta, a polimerização pode ser efetuada em
condições relativamente brandas, que vão da temperatura
Uma grande variedade de complexos de Ti,n pode ser ambiente a 93 °C, e da pressão atmosférica a 100 atmosferas.
obtida, por exemplo [Ti,nF6]3-, [TiUICl6]3-, [TinlCl5-H2O]2-, Eventualmente, o produto é hidrolisado com água ou com
[TiBr3(bipiridina)2] e [TiBr2(bipiridina)2]+ [TiBr4(bipiri- álcool e o catalisador é removido. O polímero obtido é o
dina)]". polietileno de alta densidade (densidade = 0,95 - 0,97 g
O Zr(III) e o Hf(III) são instáveis em água e só são cm'3 e P.F. = 135 °C). É constituído por cadeias lineares,
encontrados em compostos no estado sólido. com pouquíssimas ramificações e peso molecular de 20.000
a 30.000. Essa forma de polietileno é relativamente dura e
COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS rígida. Outra forma de polietileno, denominado polietileno
de baixa densidade, é mole e tem densidade e ponto de
Catalisadores de Ziegler-Natta
Soluções de AlEt3 e TiCl4, num Superfície
hidrocarboneto como solvente, reagem
exotermicamente formando um sólido Cl<
castanho. Trata-se do importante
catalisador de Ziegler-Natta para a
polimerização de eteno (etileno) a
polietileno. Ziegler e Natta receberam
XXAIEt3
Cl
o Prêmio Nobel de Química de 1963 por
essa pesquisa (vide também o capítulo CH3 CHj
/ /
12). Atividade catalítica semelhante foi CH2 CH,
z
observada para misturas de alquil-Li, Be CH3 CH3 CH3 /
CH3
’ ‘ C/H'
xxk xjkxâlj«to
ou seja, do Ti, V e Cr.
CH^
CHÍ] ch ^1_ch chí I CHÍ]
O catalisador A1C13/TíC14 é de
grande importância industrial. Ele
> c-i tolCHj
fusão menores (0,91 - 0,94 g cm’3 e P.F. = 115 °C). São nuamente, e que os anéis q5 e q' também alternam suas
obtidos pela polimerização radicalar do eteno, iniciada por posições. O Hf forma um composto idêntico, mas surpreen
um promotor, sob condições muito mais drásticas (190 - dentemente o Zr forma um análogo com três anéis q5 e
210 °C e 1.500 atmosferas de pressão), e são constituídos somente um anel q1.
por cadeias bem mais ramificadas. A produção de todas as Somente alguns poucos alquil- e aril-derivados são
formas de polietileno e de polipropileno foi, respectivamente, conhecidos, mas geralmente são instáveis frente ao ar e a
de 24,6 e 12 milhões de toneladas, em 1991. água. C6H5Ti(C3H7O)3, CH3TíC13 e Ti(CH2Ph)4 são estáveis
a 10 °C, e o Ti(CH3)4 é estável abaixo de -20 "C. A maioria
Outros compostos dos compostos com um grupo alquil ligado ao Ti atua como
Não são conhecidos complexos carbonílicos estáveis catalisador da polimerização de alcenos.
dos elementos do grupo 4. O Ti(CO)6 foi obtido empregando- Alguns compostos organometálicos de Ti11 são capazes
se a técnica de isolamento em matriz, por meio da de fixar gás N2 e formar NH3. Um exemplo é o (C10H10Ti)2.
condensação de vapores de Ti e CO numa matriz sólida de Esse ciclo que descreve o processo de fixação pode ser
um gás inerte, a baixíssimas temperaturas. O composto foi semelhante ao processo de fixação de nitrogênio observado
estudado espectroscopicamente. A ausência de compostos na natureza (complexos de dinitrogênio serão discutidos no
carbonílicos, provavelmente, se deve à falta de elétrons d tópico sobre complexos de rutênio(II), no capítulo 24).
para formar ligações de retrodoação.
Já os ciclopentadienil-derivados são bem mais estáveis LEITURAS COMPLEMENTARES
e mais estudados. Na descrição de compostos organome • Allen, A.D. (1973) Complexes of dinitrogen, Chem Rev., 73,
tálicos, é conveniente descrever a “hapticidade” ti de um 11.
grupo, como sendo o número de átomos de C coordenados
ao metal. Diversos complexos de bis(ciclopentadienila) • Boor, J. (1979) Ziegler-Natta Catalysts and Polymerizations,
Academic Press, New York.
estáveis, tais como [Ti(q5-C5H5)2(CO)2], [Ti(q5-
CsHs)2(NR2)2], e [Ti(q5-CsHs)2(SCN)2], são conhecidos. Suas • Canterford, J.H. e Cotton, R. (1968) Halides of the Second
estruturas são aproximadamente tetraédricas, mas os ligantes and Third Row Ifansition Elements, Wiley, London.
ciclopentadienila são penta-hápticas, isto é, cinco átomos • Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides ofthe First Row
de carbono de cada anel se ligam ao Ti. A redução desses Transition Elements, Wiley, London.
compostos leva a formação de [Ti(C5H5)2X] ou [Ti(C5H5)2]. • Corbett, J.D. (1981) Extended metal-metal bonding in ha
Este último lembra o ferroceno, [Fe(C5H5)2], mas o composto lides of the early transition metais, Acc. Chem. Res., 14, 239.
de Ti é dimérico e, portanto, diferente. • Davis, K.A. (1982) Titanium dioxide (Chemical of the month),
Tetraciclopentadienil-derivados, como o [Ti(CsHs)4], J. Chem. Ed„ 59, 158-159.
podem ser obtidos reagindo-se TiCl4 e NaCsHs. Esse • Jones, DJ. (1988) The story of titanium, Chemistry in Brit-
composto é melhor descrito pela fórmula [Ti(qs-CsHs)2(q1- ain, 24, 1135-1138.
CsH5)2], onde dois anéis ciclopentadienila estão ligados por • Kepert, D.L. (1972) The Early Tfansition Metals (Cap. 2),
cinco átomos de C (ligações rt) e dois anéis estão ligados Academic Press, London.
por um átomo de C (ligações o). Estudos de ressonância • Kettle, S. F A. (1969) Coordination Compounds, Nelson, Lon
magnética nuclear desse tetraciclopentadienil-derivado don. (Espectro do Ti3 + )
sugerem que nos anéis q1 o C ligado ao Ti muda conti-
• Shriver, D.H.; Kaesz, H.D. eAdams, R.D. (eds) (1990) Chem
istry of Metal Cluster Complexes, VCH, New York.
►Tilv(OR)4+2Na -Ti"(OR)2+2 RO Na • Sinn, H. e Kaminsky, W. (1980) Ziegler-Natta Catalysts, Adv.
: tí"(or)2 + n2 ____ 2-N2]„
-[Ti(OR)
Organometallic Chem., 18, 99-143. (Um bom artigo de
revisão)
i [Ti(OR)2-N2]„+4 Na Ti,v(0R)4 ' +4RO Na + 2NH3
. '----- ,---- - • Thompson, R. (ed.) (1986) The Modem Inorganic Chemis
try Industry, (Cap. por Darby, R.S. e Leighton, J., Pigmentos
de dióxido de titânio), Publicação especial No. 31, The Chemi
Figura 20.5 — Ciclo para a fixação do nitrogênio cal Society, London.
35H
Grupo 5
0 GRUPO GO UANÁGIO
INTRODUÇÃO
O vanádio é importante industrialmente como compo Tabela 21.2 — Abundância dos elementos na crosta
nente da liga ferro-vanádio, usado na fabricação de aço terrestre, em peso
especiais. O V2OS é um composto bem conhecido, utilizado
Elemento ppm Ordem de
como catalisador; sendo o metal V, também empregado como abundância relativa
catalisador. Os vanadatos apresentam uma extensa química
em solução. O nióbio e o tântalo são usados apenas em V 136 19?
pequenas quantidades. Contudo, há um grande interesse Nb 20 32?
teórico pelos "clusters”, que eles formam quando em estados Ta 1,7 53?
de oxidação baixos.
0 nióbio e o tântalo ocorrem juntos. O mineral mais associado à participação máxima de elétrons d na ligação
importante é a piroclorita, CaNaNb2O6F. Quantidades bem metálica. Os pontos de fusão do Nb e do Ta são elevados,
menores de columbita, (Fe,Mn)Nb2O6, e de tantalita, mas os pontos de fusão máximos para os elementos da
(Fe,Mn)Ta2O6, também são mineradas. Todavia, 60% do segunda e terceira séries de transição ocorrem no grupo
tântalo é recuperado da escória resultante do processo de seguinte (Grupo 6), com os elementos Mo e W.
extração do Sn. Os minérios são dissolvidos ou por fusão Os metais V, Nb e Ta puros são moderadamente moles
com álcalis ou em ácido. Antigamente, a separação de Nb e dúcteis, mas quantidades traço de impurezas os tomam
do Ta era efetuada tratando-se a mistura com uma solução duros e quebradiços. São extremamente resistentes à
de HF. Nessas condições, o Nb forma o composto solúvel, corrosão, devido à formação de uma película superficial de
K2[NbOF5] enquanto o Ta forma o composto insolúvel oxido. À temperatura ambiente, eles não reagem com o ar,
K>[TaF7). Atualmente, a separação é efetuada por extração água ou ácidos, exceto o HF, com o qual formam complexos.
com solvente a partir de uma solução diluida de HF, V também se dissolve em ácidos oxidantes, tais como H2SO4
utilizando metilisobutilcetona. Os metais são obtidos por concentrado a quente, HNO3 e água-régia. V não reage com
redução dos pentóxidos com Na, ou então por eletrólise dos álcalis, indicando que é tipicamente básico, mas o Nb e o Ta
íluoro-complexos fundidos, como o K2[NbF7). Em 1992, a se dissolvem em álcali fundido.
produção mundial de Nb eTa foi, respectivamente, de 15.200 Os três metais reagem com muitos não-metais à altas
e 600 toneladas. temperaturas. Os produtos freqüentemente são compostos
O Nb é utilizado em vários tipos de aço inoxidável e na intersticiais, não-estequiométricos.
liga Nb/aço usada para encapsular os elementos V forma diversos cátions diferentes, mas o Nb e o Ta
combustíveis de alguns reatores nucleares. Uma liga Nb/Zr praticamente não formam nenhum. Assim, embora o Nb e
é um supercondutor a baixas temperaturas e está sendo o Ta sejam metais, seus compostos no estado (+ V)
empregada para preparar os fios de poderosos eletroímãs. O geralmente são covalentes, voláteis e facilmente hidrolisados
Ta é usado na fabricação de capacitores na indústria — propriedades associadas aos não-metais.
eletrônica. Como ele não é rejeitado pelo organismo humano,
A tendência de formar compostos iônicos simples
é usado na manufatura de próteses para o tratamento de
diminui, à medida que o estado de oxidação aumenta.
fraturas, tais como chapas, pinos, parafusos e fios. O carbeto
Embora os íons V2 + e V3 + sejam redutores, eles são
de tântalo, TaC, é o sólido com um dos mais elevados pontos
encontrados nessas formas tanto no estado sólido como em
de fusão que se conhece (cerca de 3.800 °C).
solução (como íons hexaidratados). Eles possuem uma
extensa química em meio aquoso. O estado de oxidação
ESTADOS DE OXIDAÇÃO (+ IV) é dominado pelo íon VO2 +. Este é muito estável e
O estado de oxidação máximo para os elementos desse pode ser encontrado numa grande variedade de compostos,
Grupo é ( + V). Os três elementos apresentam todos os tanto sólidos como em solução (como íon hidratado). Alguns
estados de oxidação possíveis, de (-1) a (+ V). O íon vanádio compostos covalentes com o metal no estado ( + TV), como
é um redutor nos estados (+ II) e (+ III), é estável no estado o VC14, também são conhecidos. O íon ( + V) pode ser
(+IV) e ligeiramente oxidante no estado (4-V). O estado covalente, como no VFS, ou pode formar os íons hidratados
( + V) é de longe o mais estável e o melhor estudado no caso VO2 + e VO43’. A química do Nb e do Ta se restringem
do Nb e do Ta, embora os íons em estados de oxidação essencialmente ao estado de oxidação (+ V).
inferiores sejam conhecidos. As propriedades básicas dos óxidos M2O5 aumentam
O V( + V) é reduzido a V2+ e o Nb( +V) é reduzido a de cima para baixo dentro do Grupo. V2OS é anfótero, embora
Nb3+ por Zn, em meio ácido, mas o Ta( + V) não é reduzido. seja preponderantemente ácido. Dissolve-se um pouco em
Isso demonstra a estabilidade crescente do estado de água, formando uma solução ácida, de cor amarela pálida.
oxidação ( +V) ao se descer pelo Grupo. Ao mesmo tempo, Dissolve-se prontamente em NaOH formando uma solução
os estados de oxidação inferiores se tornam cada vez menos incolor, que contém diversos íons vanadato. O íon formado
estáveis. Essa tendência é oposta àquela observada nos depende do pH: em valores intermediários de pH coexistem
elementos dos grupos representativos. diversos isopolivanadatos e em pH elevado forma-se o
ortovanadato, VO43-. A química dos polivanadatos em
solução aquosa é bastante complicada. O V2O5 também se
TAMANHO dissolve um pouco em H2SO4 concentrado, formando o íon
Os átomos são menores que os do grupo do titânio, amarelo pálido VO2 +. Nb2O5 e Ta2O5 são relativamente pouco
devido à blindagem ineficiente do núcleo pelos elétrons d.
Os raios covalentes e iônicos do Nb e do Ta são idênticos Tabela 213 — Algumas propriedades físicas
por causa da contração lantanídica (Tab. 21.3). Por
conseguinte, esses dois elementos têm propriedades muito Raio Raio iônico Pomo de Pomo de Densidade Eletrone-
semelhantes, ocorrem juntos e sua separação é muito difícil. covalente M2’ M3* fusão ebulição gaüvi-
(A) (A) (’C) (-C)
CC) (g cm-3) dade de
Pauling
propriedades gerais
V 1,22 0,79 0,640 1.915 3.350 6,11 1,6
V, Nb e Ta são metais de cor prateada, com elevados
Nb 1,34 0,720 2.468 4.758 8.57 1,6
pontos de fusão. V tem o ponto de fusão mais alto dentre os
Ta 1,34 0,720 2.980 5.534 16,65 1,5
elementos da primeira série de metais de transição. Isso está
354 SRUPO 5 — 0 6RUPQ □□ VANÁOIO
Estruturas desse tipo são lamelares e diamagnéticas, por têm configuração d° e devem ser incolores. Nb2O5 e Ta2O5
causa das ligações metal-metal. Por outro lado, um cluster são brancos, mas o V2O5 é laranja ou vermelho, por causa
pode se ligar a seis outros através de pontes de halogênio, das transições de transferência de carga.
formando uma estrutura tridimensional de fórmula [M6X12] O V2O5 é anfótero, mas predominantemente ácido, fons
+ 1/2 X6, isto é, M6X15 ou MX2 S. Esses compostos são ortovanadato, VO43', incolores são formados quando esse
paramagnéticos e têm um momento magnético correspon óxido é dissolvido em soluções concentradas de NaOH. Num
dente a um elétron desemparelhado. Clusters desse tipo são pH um pouco menor, ocorrem reações de polimerização e a
formados principalmente pelo Nb e o Ta em estados de formação de toda uma série de isopoliácidos denominados
oxidação baixos. Muitos desses clusters são solúveis em água polivanadatos, que serão descritos adiante. O V2O5 se dis
e seu núcleo permanece intacto durante as reações. Por solve em ácidos fortes, eventualmente formando o íon
exemplo, os clusters podem ser oxidados: amarelo pálido dioxovanádio(V), VO2 + . Esse íon é angular.
Algumas reações do V2OS são mostradas abaixo:
[M6X12]2+ -> [M6X12]3+ -+ [M6X12]4 +
V2OS + NaOH —> vários vanadatos
0 NbsIn exibe uma estrutura muito pouco comum, onde V2OS + H2O2 —> peroxovanadatos (vermelhos)
seis átomos de Nb formam um cluster octaédrico análogo V2O5 + 3C12 —» 2VOC13 + l‘/2O2
ao descrito acima, mas os oito átomos de iodo se situam V2OS + SO2 -> 2VO2 + SO3
acima das oito faces do octaedro. Cada um desses átomos 3V2O5 + 5H2 -> 2VO2 + 2V2O3 + 5H2O
de I liga-se aos três átomos adjacentes do metal das faces
triangulares do octaedro. Os demais átomos de iodo estão Nb2O5 e Ta2Os são melhor caracterizados como sendo
ligados aos seis vértices do octaedro constituído pelos átomos inertes em vez de anfóteros, embora reajam com HF e com
de Nb. Eles atuam como átomos pontes em relação a outros NaOH fundido formando niobatos e tantalatos.
octaedros. A fórmula do composto é, portanto, [Nb6I8] + A estrutura do V2OS é incomum, sendo constituído por
1/2 16, ou seja, Nb6In. bipirâmides trigonais distorcidas de unidades VOS, compar
tilhando arestas com outras unidades, para formar cadeias
ÓXIDOS duplas em zigue-zague. Seu uso como catalisador no
Processo de Contato foi mencionado anteriormente. Tal
Todos os metais desse grupo reagem com o oxigênio
atividade catalítica pode estar associada à sua propriedade
gerando pentóxidos, M2O5, a elevadas temperaturas. O V2OS
de ligar e liberar oxigênio reversivelmente, quando aquecido.
é vermelho ou laranja, dependendo do grau de subdivisão,
mas os demais pentóxidos são brancos. VO2 também pode
ser formado durante tal reação. V2O5 puro pode ser obtido Óxidos dos elementos no estado de oxidação (+ IV)
acidificando-se uma solução de metavanadato de amônio, VO2 pode ser obtido pela redução do V2OS com agentes
ou simplesmente aquecendo esse composto: redutores moderados, como Fe2 + , SO2ou ácido oxálico. O
íon V( + IV) tem configuração d1 e o óxido é azul escuro. É
2NH4VO3 + h2so4 -> v2o5(hidratadO) + (NH4)2SO4 + h2o um óxido anfótero, mas seu caráter básico é mais
2NH4VO3 —V2O5 + 2NH3 + H2O pronunciado que o caráter ácido. Em meio ácido, forma
soluções azuis contendo o íon oxovanádio(lV), VO2 + ,
Os principais óxidos conhecidos são mostrados na Tab. também conhecido como íon vanadila. Um grande número
21.5. Os óxidos inferiores geralmente apresentam composi de compostos de vanadila são conhecidos: sulfato de
ções que variam numa ampla faixa. vanadila, VOSO4, e haletos de vanadila, VOX2. Vários
complexos de vanadila também são conhecidos: [VOXJ2-,
Óxidos dos elementos no estado de oxidação (+ V) onde X é um halogênio, [VO(oxalato)2]2“, [VO(bipiridi-
Todos os óxidos M2O5 podem ser obtidos aquecendo- na)2Cl] + , [VO(NCS)4]2' e [VO(acetilacetona)2j.
se o metal em atmosfera de oxigênio. Contudo, o melhor A estrutura desses complexos é similar à octaédrica,
método de preparação do V2OS é baseado na decomposição mas com um dos vértices desocupado (Fig. 21.5). A sexta
térmica do metavanadato de amônio, NH4VO3. O Nb2O5 e o posição pode ser facilmente ocupada por um sexto ligante,
Ta2O5 são geralmente obtidos por meio do aquecimento ao por exemplo piridina, C5H5N, no [VO(acetilacetona)2(piri-
ar de outros compostos de Nb e Th. Nos pentóxidos, os metais dina)]. Nesses compostos a ligação V-O tem comprimento
Estados de oxidação
(+n) (■mi) (+rv) (+V)
VO v 2o 3 VO2 V2O5
Nbo NbO2 Nb2Os
(TaO) TaO2 1h2Os
Os óxidos dos estados de oxidação mais estáveis estão representados em Figura 21. S — Estrutura da vanadil-acetilacetonato,
negrito [VO(acettlacetonatoJJ
358 BRUPO 5 — BRUPO □□ VANÁDIO
de ligação de 1,56-1,59 A, ou seja, mais curta que uma é protonado e se polimeriza, formando um grande número
ligação simples. Assim, essa ligação é representada como de isopoliácidos diferentes em solução. Os oxoíons se
V = O. A ligação rt se forma pela interação de um orbital p polimerizam formando dímeros, trímeros e pentâmeros. E,
preenchido do O com um orbital d vazio do V, analogamente quando a solução se tornar ácida, ocorrerá a precipitação
às ligações P = O nos óxidos e oxoácidos de fósforo. do óxido hidratado, V2Os(H2O)n. Caso a concentração do
ácido seja aumentada progressivamente, este se dissolve
Óxidos dos elementos no estado de oxidaçao (+ III) formando diversos íons complexos, até, finalmente, formar
o íon dioxovanádio, VO2 + . Diversos sólidos foram
O óxido V2O3 é não-estequiométrico (VO13S_li5) e contém cristalizados a partir de soluções de diferentes pH’s, mas
íons simples dispostos numa estrutura do tipo do coríndon, estes não têm necessariamente a mesma estrutura, e é impro
A12O3. Pode ser obtido pela redução do V2O5 com carbono vável que tenham o mesmo grau de hidratação das espécies
ou hidrogênio, a altas temperaturas, ou pela redução em solução. O esquema abaixo pode ser utilizado para
eletrolítica de um vanadato. O óxido é completamente básico explicar as observações experimentais, embora o grau de
e se dissolve em ácidos formando íons hidratados hidratação das diferentes espécies envolvidas seja
[V(H2O)6)3 + , de cor verde ou azul. Tais soluções são forte
desconhecido.
mente redutoras. A adição de NaOH provoca a precipitação
de V(OH)3 hidratado, mas este não apresenta nenhuma [vo4]3- pH 12
-> [VO3OH]2~ - PH 10 ?
tendência de se dissolver num excesso dessa base. O íon incolor incolor
( + III) tem configuração d2, sendo o óxido preto e o íon pH 9 pH 7 ?
hidratado azul. Um número considerável de complexos [V2O6OH]3- 4 [V3O9]3-
incolor laranja
octaédricos, tais como [V(H2O)6]3 + , [VF6]3’, [V(CN)6]3’ e
[V(oxalato)3]3', são conhecidos. O vanádio também forma *[VSO14]3- pH 6,5
■» •V2O5-(H2O)n PH2J }
[V“'2 (acetato)6j, um triacetato complexo dimérico que possui vermelho precipitado marrom
uma estrutura pouco comum. Quatro dos seis grupos acetato ^Líl-9 [VOJ ’
[V10o28]6-
atuam como ligantes pontes, ligando dois átomos de V por amarelo páLdo
meio dos átomos de O. Os dois grupos acetato remanescente
atuam como ligantes monodentados e se coordenam a cada (•foram incluídas porque sólidos com essa composição fo
um dos átomos de V. Essa estrutura é análoga ao do acetato ram precipitados)
de cromo(II), [Cr2(acetato)4(H2O)2], e do acetato de cobre, O Nb2Os e o Ta2O5 são brancos e quimicamente inertes.
[Cu2(acetato)4(H2O)2] (vide Fig.22.2). Ambos são diméricos Dificilmente são atacados por ácidos, exceto o HF, com o
e possuem quatro grupos acetatos pontes, mas os dois grupos qual forma fluoro-complexos. Se os pentóxidos forem
acetato terminais no composto de vanádio são substituídos fundidos com NaOH, niobatos e tantalatos são formados.
por duas moléculas de água. Em solução aquosa, o Os óxidos hidratados precipitam em pH 7 e 10,
[V(H2O)6]3+ hidrolisa-se parcialmente a V(OH)+ e VO + .
respectivamente, e o único isopoli-íon conhecido em solução
é o [M6O19]8-.
Óxidos dos elementos no estado de oxidação (+ II)
Os fosfatos, silicatos e boratos apresentam uma
O óxido V O é não-estequiométrico e tem composição acentuada tendência de se polimerizarem, formando um
VO0>94_1>12. O sólido é iônico e tem estrutura do tipo do NaCl, número muito grande de isopoliácidos. Analogamente, no
mas defeituosa. A configuração do íon (+ II) é d3, e o óxido bloco d, os molibdatos e tungstatos também tendem a se
tem coloração cinza-escuro e brilho metálico. Ele é obtido polimerizar formando um grande número de isopoliácidos.
pela redução do V2O5 com hidrogênio, a 1.700 °C. Apresenta Essa tendência é menos acentuada no (TiO2+)n e no CrO42'
uma condutividade elétrica relativamente alta, —> Cr2O72 .
provavelmente devido à presença de ligações metal-metal
Os íons vanadato também formam complexos com os
na sua estrutura. O óxido é completamente básico e solúvel
íons de outros ácidos. Nesse caso, como há mais de um tipo
em água. A adição de NaOH a essa solução provoca a
de ácido se condensando, os produtos são denominados
precipitação de V(OH)2. O VO se dissolve em ácidos
heteropoliácidos. Eles sempre contêm íons vanadato,
formando uma solução violeta de íons [V(H2O)6]2 + . Essas
molibdato ou tungstato e um ou mais íons ácidos (tais como
soluções são fortemente redutoras e são facilmente oxidadas,
tanto pelo ar como pela água. Assim, a solução violeta fosfato, arsenato ou silicato) de cerca de 40 elementos. A
rapidamente se torna verde, devido à sua oxidação a relação entre o número de diferentes tipos de unidades ácidas
[V(H2O)6]3 + . Alguns poucos complexos octaédricos desse é geralmente de 12:1 ou 6:1, formando os 12-poliácidoseos
íon são conhecidos, como o K4[V(CN)6] • 7H2O e o [Vjetileno- 6-poliácidos. Contudo, outras proporções também foram
diamina)3]Cl2. O complexo K4[V(CN)2] -2H2O, cuja estrutura encontradas. O estudo dos heteropoliácidos é muito difícil,
é bipirâmide pentagonal, também é conhecido. pois:
D 0 peso molecular é elevado, freqüentemente superior
VANADATOS a 3.000.
Embora o V2O5 seja anfótero, ele é predominantemente 2) O conteúdo de água é variável.
ácido. Dissolve-se em NaOH concentrado, formando soluções 3) Os íons mudam em função do pH.
incolores contendo íons ortovanadato, VO43", tetraédricos. 4) As espécies presentes em solução são provavelmente
Ao se adicionar gradualmente um ácido e abaixar o pH, ele diferentes das espécies que cristalizam.
LEITURAS COMPLEMENTARES 359
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS EM • Clark, R.J.H. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol.
3 (Cap. 34: Vanádio), Pergamon Press, Oxford.
ESTADOS DE OXIDAÇÃO INFERIORES
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1968) Halides of the Second
Apenas alguns poucos compostos são conhecidos. and Third Row D-ansition Elements, Wiley, London.
0 íon no estado (-1) ocorre nos complexos [M(CO)6]" • Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides ofthe First Row
dos três elementos, e no complexo de bipiridina, Transition Elements, Wiley, London.
Li[V[bipiridina)3] - éter. O elemento no estado de valência • Corbett, J.D. (1981) Extended metal-metal bonding in ha
zero é encontrado no [V(CO)6], mas este nãoémuito estável. lides of the early trannsition metais, Acc. Chem. Res., 14,
Como o V tem número atômico ímpar, conclui-se que o 239.
[V(CO)6] tem um elétron desemparelhado, ou seja, um nível
• Cotton, F.A. (1975) Compounds with multiple metal to metal
eletrônico incompleto. Outros compostos carbonílicos de bonds, Chem. Soc. Rev. 27, 27-53.
metais da primeira série de transição com um elétron
desemparelhado se dimerizam, formando uma ligação M- • Diatomic metais and metallic clusters (1980) (Conferência
do Faraday Symposia of the Royal Society of Chemistry, No.
Me, assim, emparelhando os elétrons. O V(CO)6 foge à regra,
14), Royal Society of Chemistry, London.
pois permanece na forma monomérica. Outro exemplo de
composto com V(0) é o complexo [V(bipiridina)3]. O • Emeléus, H. J. e Sharpe, A.G. (1973) Modem Aspects of Inor
ganic Chemistry, 4? ed. (Cap. 14 e 15: Complexos de metais
complexo [V(bipiridina)3]+ contém V no estado ( + 1).
de transição: Cap 20: Carbonilas) Routledge and Kegan Paul,
London.
COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS • Fairbrother, F. (1967) The Chemistry of Niobium and Tanta-
Os elementos desse grupo não formam muitos lum, Elsevier, Amsterdam.
compostos com ligações o M-C. Os principais exemplos são • Hagenmuller, P. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry,
V(CO)6, que embora seja pirofórico e não muito estável, Vol. 4 (Cap. 50:
pode ser preparado em quantidades muito maiores que o • Bronzes de vanádio e tungstênio), Pergamon Press, Oxford.
Ti(CO)6. Um composto digno de nota é o hexakis(dinitro- • Hunt C.B. (1977) Metallocenes - the first 25 years, Education
gênio)vanádio(0), [V(N2)6], que se supõe ser isoeletrônico in Chemistry, 14, 116-113.
e isoestrutural ao complexo carbonil correspondente. • Johnson, B.F.G. (ed.) (1980) Hansition Metal Clusters, John
V forma bis(ciclopentadienil) complexos, tais como Wiley, Chichester.
[V(q5-C5HS)2C12], [V(qs-C5H5)2C1] e [V(q5-CSH5)2]. O último • Kepert D.L. (1972) The Early TYansition Metals (Cap. 3: V,
é um composto sanduíche simples e é conhecido como Nb, Ta), Academic Press, London .
vanadoceno. Este se assemelha ao ferroceno, descrito no • Kepert, D.L. (1973) ComprehensiveInorganicChemistry, Vol.
próximo capítulo, e difere do correspondente composto de 4 (Cap. 51: Isopoliânions e heteropoliânions), Pergamon
titânio. A hapticidade q5 indica que os cinco átomos de Press, Oxford.
carbono de cada anel estão “ligados” ao V. O vanadoceno é • Lewis, J. e Green, M.L. (eds) (1983) Metal Clusters in Chem
um sólido violeta paramagnético, muito sensível ao ar. Nb e istry (Anais do Royal Society Discussion Meeting, maio de
Ta também formam ciclopentadienil complexos, tais como 1982), The Society, London.
[Nb(q5-CsH5)2(q1-C5H5)2], no qual dois dos anéis ciclopen- • Muetterties, E.L. (1971) Transition Metal Hydrides, Marcei
tadienila se ligam com hapticidade q5 e dois com q1. Também Dekker, New York.
são conhecidos os complexos [Nb(q5-C5HS)2C12] e [Nb(q5- • Ophard, C.E. e Stupgia, S. (1984) Synthesis and spectra of
CsH5)2C13]. vanadium complexes, J. Chem. Ed., 61, 1102-1103.
• Pope, M.T. (1983) Heteropoly and Isopoly-Oxo-Metalates,
LEITURAS COMPLEMENTARES Springer-Verlag. (Boa revisão sobre poliácidos).
• Brown, D. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol. 3 • Shriver, D.H., Kaesz, H.D. e Adams, R.D. (eds) (1990) Chem
(Cap. 35: Nióbio e tântalo), Pergamon Press, Oxford. istry of Metal Cluster Complexes, VCH, New York, 1990.
3BO
Grupo G
0 GPUPG DD CBGMIG
INTRODUÇÃO semelhante ao do piche, mas com tons castanhos. Ela pode
O metal crômio é produzido em larga escala e extensi ter alguma propriedade magnética. A produção mundial de
vamente empregado em ligas com ferro e com metais não- cromita foi de 11,4 milhões de toneladas em 1992, o que
ferrosos, e em revestimentos obtidos por eletrodeposição. corresponde a um conteúdo de Cr igual a 3,3 milhões de
Os metais molibdênio e tungstênio são obtidos em quan toneladas. Os principais produtores de cromita são a antiga
tidades apreciáveis. O dicromato de sódio também é usado URSS 32%, África do Sul 30%, Túrquia e índia 9% cada, e
em grandes quantidades. Tanto CrO3 como Cr2Ô3 são usados Albânia e Zimbabue S% cada. Pequenas quantidades de
para fins industriais. crocoíta, PbCrO4, e de óxido de crômio, Cr2O3, também sáo
minerados.
Os íons tungstato e molibdato formam extensas séries
de iso- e heteropoliácidos. O acetato de crômio(II) tem uma O crômio é obtido em duas formas: ferrocrómio e Cr
estrutura pouco comum, contendo uma ligação quádrupla. metálico puro, dependendo do uso a que se destina. 0
Os haletos inferiores MoX2 e WX2 formam interessantes ferrocrómio é uma liga de Fe, Cr e C, obtido pela redução da
compostos do tipo cluster, constituídos por unidades cromita com C. Em 1991, foram produzidos 3,1 milhões de
octaédricos [M6X8]4 + . O Mo é importante na fixação do toneladas de ferrocrómio, o qual foi empregado na
nitrogênio. preparação de diversas ligas de ferro, inclusive o aço
inoxidável e o aço-crômio, muito duro.
na obtenção de ligas não-ferrosas. Ou altemativamente, Cr2O3 fabricação dos filamentos de lâmpadas elétricas
é dissolvido em H2SO4 e depositado eletroliticamente sobre incandescentes. O dissulfeto de molibdênio, MoS2, é um
a superfície de um metal. Essa película de Cr protege o metal material lamelar com excelente poder lubrificante, quando
contra a corrosão e lhe comunica um aspecto brilhante. misturado a óleos minerais ou mesmo quando puro.
0 tnolibdênio ocorre como o mineral molibdenita, MoS2.
Em 1992, a produção mundial do minério foi de 129.000 ESTADOS DE OXIDAÇÃO
toneladas, em conteúdo de molibdênio. Os principais
A configuração eletrônica do Cr e do Mo no estado fun
produtores são EUA 38% eChina29%. Uma certa quantidade
de MoS2 também é obtida como subproduto de minérios de damental é dss', com orbitais semipreenchidos estáveis,
cobre. MoS2 é convertido a MoO3 por aquecimento na enquanto que o W apresenta a configuração eletrônica d^s2.
presença de ar. Este pode ser diretamente adicionado ao Analisando a configuração eletrônica do Cr e do Mo
aço, ou então é aquecido com Fe e Al para formar pressupõe-se que formem compostos onde o metal se
íerromolibdênio, que é então adicionado ao aço. Quase 90% encontra nos estados de oxidação entre ( + 1) e ( +VI), e o
do molibdênio é empregado na fabricação de aço para W nos estados (+ II) a (+ VI), inclusive. Esses metais podem
ferramentas de corte ou de aço inoxidável. O molibdênio ser encontrados nesses estados de oxidação, além de
puro é obtido dissolvendo-se MoO3 em NH4OH diluído, de formarem compostos nos quais o metal se encontra em
modo a precipitar molibdato de amônio, dimolibdato ou alguns estados de oxidação inferiores, como no caso de
paramolibdato. Este é então reduzido ao metal com complexos com bipiridina e carbonila.
hidrogênio. Mo metálico é usado como catalisador na No caso do Cr, os íons nos estados ( + !!),( + III) e (+ VI)
indústria petroquímica. são os mais importantes. O Cr( + II) é redutor, o Cr( + III) é o
0 tungstênio ocorre na forma de tungstatos, sendo os mais estável e importante e o Cr( + VI) é fortemente oxidante.
minérios mais importantes a wolframita, FeWO4.MnWO4, e O estado mais estável do Mo e do W é o ( + VI), embora
ascheelita, CaWO4. Em 1992, a produção mundial de minério existam muitos compostos de Mo( + V) e W( + V) estáveis
de tungstênio foi de 39.000 toneladas, em conteúdo do metal. em água. Enquanto o Cr( + VI) é fortemente oxidante,
Os principais produtores são a China 65 % e a ex-URSS 17%. Mo( + VI) e W( + VI) são estáveis. Analogamente, Cr( + III)
Diversos processos são utilizados para extrair o W da é estável, mas Mo( + III) e W( + III) são fortemente redutores.
wolframita e da scheelita. A wolframita é fundida com Isso corresponde à tendência normal, ou seja, ao se descer
Na2CO3, formando tungstato de sódio. Este é separado e por um grupo da tabela periódica os íons nos estados de
acidificado para formar o "ácido túngstico", que é o óxido oxidação mais altos se tornam mais estáveis e os estados
hidratado. A scheelita é acidificada com HC1 de modo a inferiores se tomam menos estáveis. Uma lista dos óxidos e
precipitar o “ácido túngstico”, e dissolver os demais haletos conhecidos é mostrado na Tab. 22.3.
compostos. O “ácido túngstico” é, então, aquecido de modo
a se obter o óxido anidro, que é posteriormente reduzido ao
metal por aquecimento com hidrogênio, a 850 °C. PROPRIEDADES GERAIS
Pós de Mo e de W são obtidos por esse método. Seus Os metais desse grupo são duros e apresentam pontos
pontos de fusão são muito altos, de modo que a fusão dos de fusão muito elevados e baixa volatilidade (Tab. 22.4). O
mesmos para se obter os metais maciços seria muito ponto de fusão do W é inferior apenas ao do carbono.
dispendiosa. Em vez disso, os objetos desses metais são Cr é inerte ou passivo, a baixas temperaturas, por ser
obtidos sinterizando-se (aquecendo, mas sem fundir) o pó
compactado na forma desejada, sob uma atmosfera de Tabela 223 — Óxidos e haletos
hidrogênio. Tanto o Mo como o W formam ligas com o aço,
dando origem a materiais extremamente duros, utilizadas Estados de oxidação
na fabricação de aços para ferramentas de corte e máquinas
operatrizes. O aço para ferramentas de corte conserva o fio, (+D) (+m) (+IV) (+V) (+V1)
mesmo quando aquecido ao rubro. Cerca da metade do W
produzido é usado na obtenção de carbeto de tungstênio, Cr2O3 CrQ, CrO3
WC, um material extremamente duro (dureza 10 na escala MoÓ, Mo,03 MoO3
de Mohs) que pode ser usado para cortar vidro. WC é usado WO2 (W2Ò3) WO3
na fabricação de brocas. O metal W é empregado na CrFj CrF3 CrF4 CrF3 (CrF6)
CrCl2 CrCI3 CrCl4
CrBr2 CrBr3 CrBr„
Tabela 22.2 — Abundância dos elementos na crosta
terrestre, em peso Crl2 Crl3 Crli
MoFj MoF4 MoFj MoF6
MoCU MoCI3 MoCI4 MoClj (MoClé)
Elemento ppm Ordem de
MoBr2 MoBr3 MoBr4
abundância relativa
Mol2 Molj Mol4?
wf4 WFS WF6
Cr 122 21?
WC12 WC13 WC14 WC13 WC16
Mo 1,2 56?
W WBr, WBr3 WBr4 WBr3 WBr6
1,2 56? WI3
WI2 WL,?
3BB GRUPO 6 — 0 GRUPO 00 CRÚMID
40,13
Inicialmente, o peroxo-composto azul-violeta intenso
CrO^ Çr(OH)3— Cr(OH)2 ~zL£- Çr CrO(O2)2 é formado, mas é rapidamente hidrolisado a Cr3’
e oxigênio, em meio aquoso. O peroxo-composto pode ser
-0,96 -0,91 extraído com éter. Nesse meio pode reagir com piridina,
MoO^’ MoO2------ Mo
---------- 40,08 formando o aduto piridina • CrO(O2)2 (Fig. 22.1a). Sua
estrutura é aproximadamente uma pirâmide pentagonal: o
wor------------ -1,007
W
Cr se situa no centro do pentágono formado por quatro
* sofre desproporcionamento
átomos de O e pelo átomo de N da piridina, enquanto um 0
Muitos desses potenciais foram calculados a partir de dados termodinâmicos, e a
existência de espécies tais como Mo**, W3* e W2O5 é discutível. se encontra numa das posições apicais.
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIDAÇÃO (+VI) 363
MoO3 e WO3
Os óxidos ácidos MoO3 e WO3 são formados quando se
aquece os correspondentes metais ao ar. Eles não são
atacados por ácidos, exceto HF, mas se dissolvem em NaOH
formando os íons MoO42' e WO42'. MoO3 e WO3 diferem do
CrO3 em diversos aspectos:
D Eles praticamente não apresentam propriedades
oxidantes.
2) São insolúveis em água.
3) Seus pontos de fusão são muito mais elevados (CrO3
P.F. = 197 °C, MoO3 P.F. = 795 °C e WO3 P.F. = 1.473 °C).
Figura 22.1 — Estruturas de: a) piridina, CrO(OJ2: b) (NH3)3CrOt 4) Suas cores e estruturas são diferentes. MoO3 é branco,
(bipirãmide pentagonal) como esperado para um íon de configuração d°, mas
torna-se amarelo quando aquecido, devido ao
Em soluções menos ácidas, K2Cr2O7 e H2O2 reagem aparecimento de defeitos no retículo do sólido. WO3 é
formando sais diamagnéticos de coloração violeta. Supõe- amarelo-Iimão, e tem uma estrutura semelhante ao do
se que contenham o íon [CrO(O2)2(OH)]~, mas suas trióxido de rênio, ReO3, mas um pouco distorcida. É
estruturas não são conhecidas, pois seus compostos são constituído por um retículo tridimensional onde
explosivos. Em soluções alcalinas contendo 30% de H2O2, unidades octaédricas WO6 compartilham todos os seus
forma-se o composto vermelho-castanho K3CrO8, um vértices (vide Fig. 23.5a).
tetraperoxo complexo constituído por unidades [Cr(O2)4]3-,
contendo Cr( + V). Em solução amoniacal, o composto
Óxidos mistos
vermelho-castanho escuro (NH3)3CrO4, contendo Cr( + IV)
(Fig.22.lb), é formado. Diversos óxidos mistos podem ser obtidos pela fusão
de MoO3 ou WOj com óxidos do Grupo 1 ou 2. São
Trióxido de crômio (ácido crômico) constituídos por cadeias ou anéis formados por unidades
CrO3 é um sólido alaranjado brilhante, conhecido como octaédricas MoO6 ou WO6. WO3 úmido se torna levemente
“ácido crômico”. Geralmente, é preparado adicionando-se azul quando exposto à luz UV. A redução parcial de
H2SO4 concentrado a uma solução saturada de dicromato suspensões aquosas de MoO3 e WO3 ou de soluções ácidas
de sódio. de molibdatos e tungstatos também levam à formação de
uma coloração azul. Supõe-se que esses "óxidos azuis"
Na2Cr2O7 + H2SO4 -4 2CrO3 + Na2SO4 + H2O contenham Mo ou W nos estados de oxidação (+1V) e (+ V),
A cor se deve a transições de transferência de carga além de alguns grupos OH’ no lugar de O2’ para equilibrar
(não a transições d-d, pois o Cr( + VI) apresenta configuração as cargas.
d°). CrO3 é tóxico e corrosivo. Sua estrutura cristalina consiste
de cadeias de unidades tetraédricas ligadas pelos vértices. Oxo-haletos
CrO3 se dissolve prontamente em água, gerando um ácido
Oxo-haletos do tipo MO2C12 podem ser formados
forte, que também é um agente oxidante forte. É um óxido
dissolvendo-se o trióxido em ácidos fortes, ou em alguns
ácido e se dissolve em soluções de NaOH, formando o íon
casos pela ação de ácidos fortes sobre sais como os
cromato, CrO42-. Mediante aquecimento acima de 250 °C,
ele perde oxigênio em etapas, até eventualmente levar à dicromatos, ou ainda pela adição direta dos halogênios ao
formação de Cr2O3, um sólido verde. dióxido.
HjSO4 conc.
2CrO3 —> 2CrO2 + O2 CrO3 + 2HC1 CrO2Cl2 + H2O
2CrO2 —> Cr2O3 + */2O2 H,SO4 conc.
K2Cr2O7 + 6HC1 —! 4 2CrO2Cl2 + 2KC1 + 3H2O
CrO3 reage com F2, a pressões atmosféricas, formando
os oxofluoretos CrO2F2 e CrOF4, mas CrF6 é formado a 170 O cloreto de cromila, CrO2Cl2, é um líquido de coloração
°C e 25 atmosferas. vermelha intensa. É obtido na análise qualitativa para
confirmar a presença de íons cloreto. A amostra sólida em
150'C
CrO3 + F2 — CrO2F2 + 3/2O2 que se suspeita a presença do íon cloreto é misturado com
CrO3 + 2F2 22O'C—4 CrOF4 + O2 K2Cr2O7 sólido e H2SO4 concentrado, e aquecido suavemente.
CfO3 + 3F 170'C, 25 atmosferas São desprendidos vapores vermelhos intensos de CrO2Cl2,
4 CrF6 (sólido amarelo) + 3/2O2 que se forem recolhidos numa solução aquosa de NaOH,
CrO3 é largamente usado na preparação de soluções conferem a esta uma cor amarela, por causa da formação de
para cromação. Pode ser usado como oxidante em química Na2CrO4.
orgânica quando dissolvido em ácido acético, embora as Cloretos de cromila e molibdenila são cloretos ácidos
reações possam ser explosivas. Soluções de ácido crômico covalentes, e são facilmente decompostos pela água. O
são usadas na limpeza de vidrarias de laboratório. cloreto de tungstenila se hidrolisa com menor facilidade.
364 BRUPQ 6 — 0 BRUPQ □□ CROMIO
alúmens se dissociam completamente em íons simples, incomum, [Cr3O(CH3COO)6L3] * (onde L é água ou algum
quando em solução. outro ligante). Sua estrutura consiste de um triângulo de
0 íon hexaaqua é ácido e pode dimerizar por meio da três átomos de Cr com um átomo de O no centro. Os seis
formação de duas ligações hidroxo em ponte grupos acetato atuam como ligantes pontes entre os átomos
de Cr — dois grupos acetato estão ligados ao longo de cada
2[Cr(H2O)6)=^2H + + [Cr(H2O)5OH]2+=^ aresta do triângulo. Cada átomo de Cr é circundado
octaedricamente por seis átomos: 4 átomos de O de quatro
H grupos acetato, o O central e o L na sexta posição. L pode
O ser água ou outro ligante. Cr3 + tem configuração d3 e deveria
/ \ apresentar um momento magnético igual a 3,87 MB. O
(H2O)4Cr Cr(H2O)4 + 2H2O momento magnético do complexo, à temperatura ambiente,
\ / é de apenas 2 MB. Acredita-se que o menor valor se deva ao
O
H emparelhamento parcial dos elétrons d dos três átomos do
metal, devido à formação de ligações dtt-pn com o O cen
Os íons Cr34 formam inúmero e variados complexos. tral. Esse tipo de complexo é formado pelos íons trivalentes
Têm usualmente coordenação seis e estruturas octaédricas, de Cr, Mn, Fe, Ru, Rh e Ir (o emparelhamento parcial de
e são muito estáveis, tanto no estado sólido como em spins e um momento magnético menor do que o esperado
soluções aquosas. A estabilidade se deve à elevada energia também são encontrados em outros complexos, tais como
de estabilização de campo cristalino decorrente da [(NH3)5Cr-OH-Cr(NH3)5]s + e [(NH3)sCr-O-Cr(NH3)5]4’, nos
configuração d3. Os momentos magnéticos desses complexos quais o momento magnético depende da temperatura. O
são próximos a 3,87 MB, ou seja, o momento magnético de momento magnético é igual a cerca de 1,3 MB à tempe
spin-only esperado para íons com três elétrons ratura ambiente, mas tende a zero a baixas temperaturas
desemparelhados. Podem ser citados o hexaaqua e o cloro (-200 °C).
complexo, [Cr(H2O)6]3 + e [Cr(H2O)5Cl]2 + , mencionados
acima. Os amin- e oxalato complexos apresentam muitas Espectros
formas diferentes de isomeria. Por exemplo, no caso dos
A configuração eletrônica do íon Cr( + III) é d3. No
amin complexos:
estado fundamental esses elétrons ocupam os orbitais t2g,
(Cr(NH3)6]3 + somente uma forma ou seja, a configuração é (t2g)3. Os dois orbitais eg estão
[Cr(NH3)5Cl]2 + somente uma forma vazios, podendo haver a promoção de elétrons para os
[Cr(NH3)4Cl2] + isômeros cis e trans mesmos. A situação é análoga àquela da configuração d2 no
[Cr(NH3)3Cl3] isômeros mer e fac V3 + , descrito no capítulo 21. Os espectros eletrônicos de
complexos de Cr( + III) exibem três bandas de absorção. No
e nos complexos com oxalato: estado fundamental, cada um dos orbitais dxy, da e dyz
contém um elétron, levando ao estado não-degenerado
(Cr(oxalato)3]3” isômeros d e l 4A2g(F). O primeiro estado excitado corresponde à promoção
de um desses elétrons para um dos orbitais eg, ou seja
Os diferentes tipos de isomeria foram descritos
(t2g)2(eg)’. Essa configuração leva aos termos 4T2g(F) e
detalhadamente no Capítulo 7 (vide Fig. 7.3). Também, são
4Tlg(F). O segundo estado excitado corresponde à promoção
conhecidos muitos complexos com cianeto e tiocianato. O
de dois elétrons, ou seja (t2g)1 (eg)2. Este leva a um único
sal de Reinecke, NH4[Cr(NH3)2(NCS)4] • H2O, é muitas vezes
quarteto triplamente degenerado, cujo termo espectroscópico
usado para precipitar íons positivos grandes. Isso se deve ao
é 4Tlg(P). Assim, as transições possíveis são 4A2g(F) —>4T2g(F),
fato dos cristais formados por ânions e cátions de tamanhos
4A2g(F) —»4Tlg(F) e 4A2g(F) ->4T]g(P). No íon hexaaquo
semelhantes possuírem um elevado número de coordenação,
[Cr(H2O)6]3+ observam-se bandas em 17.400 cm’1 e 24.700
e assim uma elevada energia reticular.
cm’1, além de um "ombro" na banda de transferência de
O íon Cr( + III) forma um acetato básico bastante carga em 37.800 cm'1 (vide também capítulo 32).
Molibdênio e tungstênio
Os óxidos de Mo( + IIl) e W( + II1) não foram
observados, mas todos os haletos, exceto o WF3 (Tab. 22.3),
podem ser formados com o anel benzênico). Por exemplo, de uma extensa série de polimolibdatos e de politungstatos.
complexos tricarbonil(benzeno) de Cr, Mo e W, como [Cr(q6- Abaixo de pH 1, ocorre a precipitação dos óxidos hidratados.
C6H6)(CO)3], são sólidos amarelos, onde o metal apresenta MoO3 • 2H2O é amarelo e WO3 • 2H2O é branco. A formação
número de coordenação igual a 9. Os complexos de benzeno de poliácidos é uma característica marcante da química do
são mais reativos e termicamente menos estáveis que os Mo e do W. Outros elementos de transição, como V, Nb, Ta
correspondentes complexos t]5-C5H5. e U, também tendem a formar poliácidos, mas em menor
Os estados de oxidação mais baixos ocorrem em com grau. Os poliânions contém unidades octaédricas MoO6ou
plexos carbonílicos tais como [M2(CO)10]2“ e [M(CO)S]2’, WO6, que se ligam uns aos outros de várias maneiras,
onde o metal encontra-se, respectivamente, nos estados de compartilhando vértices e arestas, mas nunca faces. Os
oxidação (-1) e (-11). poliácidos de Mo e W são classificados em dois tipos
principais:
CROMATOS, MOLIBDATOS E TUNGSTATOS I. Isopoliácidos: os ânions que se condensam são todos
do mesmo tipo — por exemplo, todos são grupos MoO6
Os óxidos CrO3, MoO3 e WO3 são fortemente ácidos, e ou WO6.
se dissolvem em solução aquosa de NaOH formando os íons
2. Heteropoliácidos: dois ou mais tipos diferentes de ânions
tetraédricos discretos cromato, CrO42', molibdato, MoO42',
e tungstato, WO42'. se condensam — por exemplo, grupos molibdato ou
tungstato com grupos fosfato, silicato ou borato.
CrO3 + 2NaOH -> 2Na+ + CrO42" + H20 Os isopoliácidos de Mo e de W ainda não são
inteiramente compreendidos. Seu estudo é muito difícil,
Os íons cromato, molibdato e tungstato podem ser porque o grau de hidratação e de protonação das espécies
encontrados tanto em solução como em sólidos. Os cromatos em solução não são conhecidos. O fato de um sólido poder
são agentes oxidantes fortes, mas os molibdatos e tungstatos ser cristalizado a partir de uma solução não implica,
são oxidantes muito fracos. Os molibdatos e tungstatos necessariamente, que tal íon tenha a mesma estrutura ou
podem ser reduzidos para formarem os óxidos azuis. mesmo que esteja-presente em solução. O primeiro passo
A adição de ácido à soluções de cromato CrO42’ leva à no processo de formação de um poliácido, à medida que o
formação do íon HCrO4" e do íon dicromato, Cr2O72" (laranja pH é diminuído, deve ser o aumento do número de
avermelhado), nos quais duas unidades tetraédricas se ligam coordenação do Mo e do W de 4 para 6, mediante adição de
compartilhando o átomo de oxigênio de um dos vértices moléculas de água. As relações entre as espécies estáveis,
(Fig. 22.8). HCrO4' e Cr2O72’ existem em equilíbrio numa identificadas até o momento, são as seguintes:
grande faixa de pH, que vai de 2 a 6.
pH 6 pH 1,5-2,9
CrO3 pode ser precipitado de soluções muito ácidas (pH [MoO4]“- [Mo7O24]6~
molibdato paramolibdato
inferior a 1). normal
pH <1
[Mo8O26]4- ■> Mo03-2H,0
CrO42" Cr2O72’ CrO3 octamolibdato oxido
amarelo laranja hidratado
O composto de crômio mais importante é o Na2Cr2O7, As estruturas dos íons paramolibdato e octamolibdato
que é obtido numa das etapas de extração do crômio. Além foram confirmadas por estudos de cristalografia de raios X
da quantidade de dicromato produzida no processo de de seus sais cristalinos (Fig. 22.9).
obtenção do crômio, em 1991, foram utilizadas 369.300
Os conhecimentos atuais sobre a química dos tungstatos
toneladas no curtimento de couros (obtenção dos chamados
estão sumarizados abaixo:
couros “crômio"), na "anodização” do alumínio e como
agente oxidante. Há algumas evidências sobre a ocorrência
pH6-7 rápido
de um maior grau de polimerização, levando a uma série [WO2]2- [HW6O21]S-^[W12O41] 10-
oh*
tungstato paratungstato A
mais restrita de policromatos. Até o momento, foram isolados normal
OU
e identificados o tricromato, Cr3O102', e o tetracromato,
Cr4O132 . [WI2O36(OH) 10]10-
paratungstato B
Quando soluções de molibdato e de tungstato são
acidificadas, ocorrem reações de condensação e a formação
[H3W6O21]3-
pH - 3,3
I”'
[H^Ao]6"
V-metatungstato metatungstato
pH < 1
WO3-2H2O
Se uma solução de molibdato ou de tungstato for
acidificada na presença de fosfato, silicato ou íons metálicos,
formam-se hetero-poliíons. O segundo ânion fornece um
centro em torno do qual se condensam os octaedros deMoO;
Figura 22.8 — Estrutura dos tons cromato e dicromato ou WO6, compartilhando átomos de oxigênio com outros
BRONZES OE TUN6STÊNIO 3B9
octaedros e com o grupo central. Freqüentemente, os grupos Figura 22.11 — Um 6-poliácido. por exemplo K6[TeMo6024] (de
centrais são oxoânions tais como PO43’, SiO44’ e BO43’, mas Emeléus, H>J> e Sharpe, A.G., Modem Aspects of inorganic
Chemistry, 4,a edição, Routledge and Paul, 1973)
outros elementos como Al, Ge, Sn, As, Sb, Se, Te, I e muitos
dos elementos de transição podem servir como segundo BRONZES DE TUNGSTÊNIO
grupo. A relação entre o número de unidades octaédricas
MoO6 e WO6 e P, Si, B ou outro átomo central é usualmente Os bronzes de tungstênio foram obtidos inicialmente
mediante o forte aquecimento de tungstato de sódio,
de 12:1, 9:1 ou 6:1, embora possam ocorrer em outras
Na2WO4, com WO3 e H2. Atualmente são obtidos por
proporções com menor freqüência. Um exemplo bem
aquecimento do Na2WO4 com W metálico, onde são
conhecido de formação de heteropoliácidos é o teste para
formados bronzes de tungstênio azuis, vermelhos, amarelos
fosfatos. Uma solução de fosfato é aquecida com molib-
e púrpuras. São sólidos semimetáiicos, brilhantes e
dato de amônio e ácido nítrico, formando-se um preci
condutores de eletricidade. São muito inertes, tanto ao ataque
pitado amarelo de fosfomolibdato de amônio, de ácidos como de bases fortes. São utilizados na obtenção
(NH4)3[PO4-Mo12O36], de tintas "metálicas” e de "bronzes”.
As estruturas de diversos heteropoliácidos já foram Bronzes de tungstênio são compostos não-
determinadas. Nos 12-heteropoliácidos, por exemplo no ácido estequiométricos de fórmula MXWO3, onde M pode ser Na,
12-fosfotungstico, 12 unidades octaédricas WO6 envolvem K, um metal do grupo 2 ou um lantanídeo, e onde x é sempre
um PO4 tetraédrico. Esse íon pode ser considerado como inferior a um. Os íons de Na+ ou de outros metais ocupam
sendo formado por quatro grupos de três unidades WO6 (Fig. posições intersticiais. A cor depende da proporção de M
22.10). presente. No caso dos bronzes de sódio observa-se que:
Os 6-heteropoliácidos abrigam átomos centrais maiores, x ~ 0,9, amarelo ou dourado; x ~ 0,7 laranja; x ~ 0,5 vermelho;
com número de coordenação 6. A disposição das seis 0,3 preto azulado. A quantidade variável de Na 4 produz
unidades MoOs, como mostrado na Fig. 22.11, cria uma um retículo com defeitos, onde alguns dos sítios que
cavidade central suficientemente grande para acomodar a deveríam estar ocupados por metais alcalinos permanecem
unidade octaédrica do heteroátomo, como por exemplo no vazios. Pode-se supor que para cada Na+ removido do
K6[TeMo6O24], NaW03, um tungstênio passa de W( + V) para W{ + VI). As
propriedades dos bronzes de tungstênio são melhor
explicados, supondo-se que todos os átomos de tungstênio
estão no estado de oxidação ( +VI). Os elétrons de valência
dos metais alcalinos têm liberdade para se moverem através
do retículo, levando à condução metálica. A condutividade
diminui com o aumento da temperatura, como nos metais.
Sua estrutura é constituída por unidades octaédricas WO6
interligadas pelo compartilhamento de todos os seus vértices
com outros octaedros. Nas Leituras Complementares podem
ser encontrados mais detalhes sobre os bronzes de
tungstênio.
O molibdênio também forma bronzes semelhantes aos
do W, mas é necessário uma pressão elevada para obtê-los;
e os compostos de Mo são menos estáveis. Isso pode ser
devido à menor estabilidade do Mo( + V) comparado com o
W( +V), ou por causa das diferenças em suas estruturas: é
Figura 22. W — Um 12-poliácido, por exemplo H3[PO4 • WI2O3J (de
constituído por unidades octaédricas MoO6 interligados tanto
Emeléus, HJ e Sharpe, A.C., Modem Aspects of inorganic Chemistrym pelos vértices como pelas arestas. O lítio também forma
4°edição, Routledge and Kegan Paul, 1973 bronzes, mas estes não conduzem a eletricidade.
370 GRUPO 6 — 0 GRUPO □□ CRÚMIO
7
o cj uuníSãnÊs
INTRODUÇÃO MnO2 era particularmente violenta). O metal puro tem
0 manganês é produzido em quantidades muito poucas aplicações. 95% dos minérios de manganês
grandes, e a maior parte encontra emprego na indústria do produzidos são utilizados na indústria siderúrgica, para a
aço. Também são produzidas grandes quantidades de MnO2, produção de ligas. A mais importante delas é o ferro-
usado principalmente em “pilhas secas” e na indústria de manganês, que contém 80% de Mn. A produção mundial
cerâmica. KMnO4 é um importante agente oxidante. de ferro-manganês foi de 3,4 milhões de toneladas em 1991.
Mn( + III) forma um acetato básico com uma estrutura pouco O ferro-manganês é obtido pela redução de uma mistura
comum. 0 manganês tem importância biológica e é apropriada de Fe2O3 e MnO2 com carvão coque, num alto-
necessário na fotossíntese. Os elementos tecnécio e rênio forno, ou num forno de arco elétrico. Certa quantidade de
raramente são encontrados. Eles diferem do manganês por calcário também é adicionada para remover as impurezas
terem uma química de cátions pobre, por seus estados de de silicato como escória de silicato de cálcio. Dentre as ligas
oxidação elevados serem muito mais estáveis, e por formarem com um conteúdo menor de Mn estão o ferro sílico-manganês
agregados e compostos com ligações metal-metal nos estados (aproximadamente 65% Mn, 20% Si, 15% Fe), e o ferro
de oxidação ( + 11), (+ III) e ( + IV). "spiegel" ou de fundição especular, que é semelhante ao
ferro fundido e contém de 5 a 25 % de Mn. O Mn é um
aditivo importante na fabricação do aço. Atua como
ABUNDÂNCIA, OBTENÇÃO E USOS removedor de oxigênio e de enxofre, impedindo assim a
0 manganês é o décimo-segundo elemento mais formação de bolhas e torna-o menos quebradiço. A liga de
abundante, em peso, na crosta terrestre, sendo extraído aço obtida é muito dura (o aço Hadfield contém cerca de
predominantemente como o minério pirolusita, MnO2. É um 13% de Mn e 1,25% de C. É muito resistente ao desgaste e
material secundário que se originou da lixiviação do Mn de ao choque, sendo utilizado em escavadeiras e britadeiras).
rochas ígneas, por águas alcalinas, e sua deposição como Quantidades menores de Mn também são empregadas em
MnO2. A produção mundial de minérios de manganês foi de ligas de metais não-ferrosos. Por exemplo, a “manganina” é
22,7 milhões de toneladas em 1992 (cerca de 9 milhões de uma liga contendo 84% de Cu, 12% de Mn e 4% de Ni. É
toneladas em conteúdo de Mn). Os principais produtores largamente usada em instrumentos elétricos, porque sua
são a ex-URSS 31 %, China 25 %, Brasil e África do Sul 11 % resistência elétrica praticamente não varia com a
cada um, Gabão 7%, índia 6% e Austrália 5%. Atualmente, temperatura.
o Mn puro é obtido por eletrólise de soluções aquosas de O tecnécio não ocorre na natureza, tendo sido o primeiro
MnSO4 (antigamente o Mn era obtido por redução do MnO2 elemento a ser obtido artificialmente. Todos os seus isótopos
ou Mn3O4 com Al, numa reação térmita, mas a reação com são radioativos, e só recentemente suas propriedades quí
micas foram estudadas. O 99Tc é um dos
——————— produtos de fissão do urânio. É um emis
Tabela 23.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação sor beta com uma meia-vida de 2,lxlOs
anos. É obtido em quantidades da ordem
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* de quilogramas a partir de barras
esgotadas de combustível de reatores de
Manganês Mn [Ar] 3^4? (-D 0 (D n (ui) iv (V) (vi) vn usinas termonucleares. Essas barras
Tecnécio Tc [Kr] 41/5 5.r2 0 (ii) (iii) iv (V) vi vn
Rênio Re [Xe] 4/4 5cP 6? 0 (D (ii) ni iv (V) vi vn podem conter até 6% de Tc, mas devem
ser armazenadas por vários anos, para
' Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados permitir O decaimento radioativo das
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo espécies de meia-vida curta. O Tc pode
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são dados entre parênteses.
37H GRUPO 7—0 GRUPO 00 MANGANÊS
Esses complexos também podem ser facilmente reduzidos, pois a estrutura eletrônica do íon metálico é (t2g)3(eg)1, e o
já que a adição de um elétron preenche completamente nível eg não está preenchido simetricamente. A distorção é
(simetricamente) os orbitais. semelhante à encontrada em complexos de Cr2 + e de Cu2 +.
O complexo com oxalato, [Mnln(oxalato)3]3’, pode formar-
[Mn'(CN)6]s-<—Zn’redllca° [Mn“(CN)6]4- se durante as titulações de oxalato com permanganato. Isso
■ [Mnln(CN)6]3" provocaria erros na determinação analítica, que se baseia
na redução de MnO4‘ a Mn2*. Por isso, as titulações são
Em complexos d.5 de spin baixo, as transições eletrônicas efetuadas a 60 °C, para decompor o complexo com o oxalato,
d-d são permitidas por spin e os compostos tendem a ser que é termicamente instável.
íortemente coloridos. O complexo K3[Mnln(CN)6] é formado quando se
Também são conhecidos alguns poucos exemplos de borbulha ar numa solução contendo Mn2* e KCN. Como o
complexos quadrado-planares, como a ftalocianina de Mn e CN" atua como um ligante de campo forte, provoca o
oMnS04-5H20, que contém unidades [Mn(H2O)4]2 + emparelhamento dos elétrons, e o complexo é de spin baixo,
quadrado-planares. Os complexos com haletos [MnCl4]2', cuja configuração eletrônica é (t2g)4(eg)°. O nível eg está
(MnBr4]2“ e [Mnl4]2’ são tetraédricos e verde amarelados. simetricamente preenchido e o complexo tem estrutura
Em solução, duas moléculas de água ou dois íons haleto são octaédrica regular, como esperado.
adicionados, formando complexos octaédricos, de coloração Quando o Mn2* é oxidado com KMnO4, em ácido acéti-
rosa. Esses octaedros podem se polimerizar através da co glacial, forma-se um acetato básico de manganês bastante
formações de ligações em que íons haleto atuam como incomum. É um sólido castanho avermelhado intenso, de
ligantes pontes. fórmula [Mn3O(CH3COO)6+ [CH3 COO]“, usado industrial
Re( + II) não é iônico e somente é encontrado em alguns mente na oxidação de tolueno C6H5 CH3 a fenol, C6H5OH.
poucos complexos, tais como [Re(piridina)2Cl2]. Este Também é capaz de oxidar alcenos a lactonas, além de ser
composto foi resolvido nos isômeros eis e trans, provando usado como matéria-prima para a obtenção de muitos
assim que sua estrutura é quadrado-planar e não tetraédrica. compostos de Mn( + III). Sua estrutura é pouco comum e
consiste de um triângulo com três átomos de Mn nos vértices
e um átomo de O no centro. Os seis grupos acetato atuam
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO como pontes entre os átomos de Mn — dois grupos ao longo
DE OXIDAÇÃO (+ III) de cada aresta do triângulo. Assim, cada átomo de Mn está
Mn3O4 é um sólido preto e é o óxido mais estável a ligado a quatro grupos acetato e ao O central, sendo a sexta
altas temperaturas. É formado quando qualquer óxido ou posição do octaedro ocupada por uma molécula de água ou
hidróxido de manganês é aquecido a 1.000 “C. Contém tanto de outro ligante, levando ao composto [Mn3O(CH3COO)6L3] *.
Mn( + II) como Mn(+ III), isto é, sua fórmula é na verdade Esse tipo de complexo com carboxilatos é formado pelos
(MnnMnln2O4), e tem a estrutura do espinélio. Os átomos de íons trivalentes de Cr, Mn, Fe, Ru, Rh e Ir. A mesma reação
O formam uma estrutura de empacotamento compacto, onde descrita acima em ácido sulfúrico leva a formação de uma
íons Mn( + III) ocupam os interstícios octaédricos e íons solução vermelha intensa. Supõe-se que ela contenha um
Mn( + II) ocupam os interstícios tetraédricos. íon complexo análogo, com grupos sulfato, SO42’, atuando
como ligantes pontes. Essa solução é tão fortemente oxidante
0 íon mangânico hidratado, [Mn(H2O)6]3 + , pode ser quanto o KMnO4 e já foi usada como um agente oxidante
obtido em solução por eletrólise, pela oxidação de Mn2* alternativo.
com peroxodissulfato de potássio, K2S2O8, ou pela redução
de MnO4‘. Não pode ser obtido em concentrações elevadas, Complexos de Mn( + lII) e Mn( + IV) participam do
em parte porque a água reduz Mn3* ao íon mais estável processo de formação de O2 durante a fotossíntese.
Mn2+ (cuja estabilidade é aumentada por causa da O íon Tc( + III) é instável, mas Re2O3 • (H2O)n e os haletos
configuração d5). Mn3* se desproporciona em meio ácido mais pesados são conhecidos. Os haletos são na realidade
(vide os potenciais padrão de redução). Um número reduzido trímeros: (ReCl3)3 e (ReBr3)3 são sólidos vermelho escuros,
de sais de Mn3 + , por exemplo, MnF3, Mn2(SO4)3, e o óxido e (Rel3)3 é preto. Sua estrutura consiste de um cluster. no
Mn2O3, são conhecidos. Esses compostos sofrem despro-
porcionamento em meio ácido e hidrólise em água:
como o mineral preto pirolusita. Tem a estrutura do rutilo, a C6H5CH3 + 2MnO2 + 2H2SO4 -4
qual é adotada por muitos outros óxidos de fórmula MO2. O «Olueno C6HsCHO + 2MnSO„ + 3H2O
composto pode ser obtido como se segue: benzaldeído
[ReCl6]2‘ sofre hidrólise em água: vez, os cloretos são obtidos tratando-se o fluoreto corres
pondente com BC13. A configuração eletrônica dos metais é
[ReClJ2- + H20 —> ReO2-(H20)„ d1, sendo os fluoretos amarelos e os cloretos verde escuros.
0 momento magnético é menor que o valor calculado
Os demais complexos com haletos ([MF6]2~, [MBr6]2~ e
utilizando a aproximação de spin-only, por causa do forte
[MI6]2"), são obtidos a partir do hexacloreto e um ácido
acoplamento spin-órbita. Os pontos de fusão desses
halogenídrico apropriado. [ReF6]2’ é estável em água. Os
compostos são baixos, variando de 18 °C até 33 °C. Todos
ciano complexos podem ser obtidos pela reação de [MI6]2-
com KCN. O tecnécio forma [Tclv(CN)6]2'. O rênio é oxidado reagem com água.
pelo CN‘ e forma [Rev(CN)s]3’. Nesse complexo o rênio se 3ReF6 + 10H2O -> 2HRev"O4 + RelvO2 + 18HF
encontra no estado de oxidação (+ V) e tem um número de
coordenação igual a 8. Provavelmente, esse complexo tem
estrutura dodecaédrica.
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIDAÇÃO ( + VII)
DE OXIDAÇÃO (+ V) O manganês no estado de oxidação ( + V11) não é
comum, embora seja bem familiar no íon permanganato,
0 manganês no estado de oxidação ( + V) é pouco Mn04". O permanganato de potássio é muito usado como
conhecido, exceto como o íon hipomanganato, MnO43‘. Este agente oxidante, tanto na química analítica como para
pode ser obtido na forma de um sal azul brilhante, K3MnO4, sínteses. As titulações são efetuadas normalmente em meio
pela redução de uma solução aquosa de KMnO4 com um ácido, sendo o íon MnO4~ reduzido a Mn2*, numa reação
excesso de «ulfito de sódio. Não é um composto estável e envolvendo a transferência de cinco elétrons.
tende a desproporcionar. O tecnécio dificilmente é oxidado
ao estado ( + V); e compostos de Re( + V) são facilmente Mn04- + 8H+ + 5e —> Mn2 + + 4H2O £° = 1,51 V
hidrolisados por água, e ao mesmo tempo se despropor-
cionam. Em meio alcalino, ocorre a formação de Mnlv02, coma
transferência de três elétrons.
3RevCls + 8H2O -» HRev,lO4 + RelvO2(H2O)„
MnO4- + 2H2O + 3e -> Mn02 + 40H" E° = 1,23 V
ReCls é um dímero, com estrutura semelhante a do
(NbCl5)2 (Fig. 21.2), no qual dois octaedros estão interligados Assim, a reação que ocorre e sua estequiometria
por uma aresta. A distância Re-Re é de 3,74 A, não havendo, depende do pH. A cor púrpura intensa do MnO4“ é, geral
portanto, formação de ligação metal-metal. 0 óxido Re2O5 mente, usado para indicar o final da titulação.
também é conhecido. Soluções de permanganato são intrinsecamente
instáveis em meio ácido, decompondo-se lentamente com o
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO tempo. Essa reação é catalisada pela luz solar, de modo que
DE OXIDAÇÃO (+ VI) as soluções de KMnO4 devem ser armazenadas em frascos
escuros. Além disso, devem ser padronizados com
Os únicos compostos de Mn( + VI) são os manganatos: frequência.
compostos verde escuros que contêm o íon MnO42~. São
formados nas reações de oxidação do Mn02 em KOH fundido 4MnO4‘ + 4H+ -> 4MnO2 + 3O2 + 2H2O
com ar, KNO3, PbO2, NaBiO3 ou outros agentes oxidantes.
Também podem ser obtidos tratando-se uma solução de Se uma pequena quantidade de KMnO4 for adicionada
KMnO4 com uma base: a H2SO4 concentrado, forma-se uma solução verde contendo
íons MnO3 + .
4MnO4’ + 40H“ -> 4MnO„2’ + 02 + H2O
KMnO4 + 3H2SO4 -> K+ + MnO3 + + 3HSO4’ + H30*
MnO42’ é um oxidante bastante forte e só é estável em
soluções fortemente alcalinas. Em soluções diluídas, água Caso quantidades maiores de KMnO4 sejam adicionadas.
ou soluções ácidas ele se desproporciona:
3MnVIO42- + 4H+ -> 2MnVHO4- + Mn,vO2 + 2H2O
(manganato) (permanganato)
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381
Grupo O
0 GRUPO DO FERRO
GRUPO DO FERRO, DO COBALTO E DO
NÍQUEL INTRODUÇÃO AO GRUPO DO FERRO
O ferro é o metal mais utilizado dentre todos os metais,
Ferro Fe Cobalto Co Níquel Ni e a fabricação do aço é de extrema importância em todo o
Rutênio Ru Ródio Rh Paládio Pd mundo. Para as plantas e os animais, o ferro é o elemento
Ósmio Os Irídio Ir Platina Pt mais importante dentre os metais de transição. Sua
0 Grupo 8 da Tabela Periódica clássica de Mendeleev, é importância biológica reside na variedades de funções que
constituído pelos nove elementos acima. Atualmente (e neste seus compostos desempenham, por exemplo, no transporte
livro), são considerados como três grupos verticais (grupos de elétrons em plantas e animais (citocromos e ferredoxinas),
8, 9 e 10), ou tríades, do mesmo modo que os demais no transporte de oxigênio no sangue de mamíferos
elementos de transição: (hemoglobina), no armazenamento de oxigênio (mioglobi-
na), no armazenamento e absorção de ferro (ferritina e
Grupo 8 Grupo 9 Grupo 10 transferrina) e como componente da nitrogenase (a enzima
Fe Ni fixadora de nitrogênio das bactérias). O ferro forma diversos
Co
Ru complexos de estruturas pouco comuns, como o ferroceno.
Rh Pd
Os Ir Pt
ABUNDÂNCIA, OBTENÇÃO E USOS
Contudo, as semelhanças horizontais entre esses
elementos são maiores que em qualquer outro conjunto O ferro é o quarto elemento mais abundante da crosta
de elementos da tabela periódica, exceto os lantanídeos. terrestre, sendo sua quantidade menor apenas que do O, do
Devido à contração lantanídica, os elementos da segunda Si e do Al. Ele constitui 62.000 ppm ou 6,2% em peso da
e terceira séries de transição são muito semelhantes entre crosta terrestre, onde ele é o segundo metal mais abundante
si. Por isso, as semelhanças horizontais eram às vezes (vide Apêndice A). Além disso, o níquel e o ferro constituem
enfatizadas, ao se classificar esses nove elementos em dois a maior parte do núcleo da terra.
grupos horizontais: os três metais ferrosos Fe, Co e Ni; e Os principais minérios de ferro são a hematita, Fe2O3, a
os seis metais do grupo da platina: Ru, Rh, Pd, Os, Ir e Pt. magnetita, Fe3O4, a limonita, FeO(OH) e a siderita, FeCO3
(pequenas quantidades de piritas, FeS2, também são
Fe Co Ni encontradas. A pirita tem cor amarela metálica e é conhecida
Ru Rh Pd como “ouro dos tolos", porque muitas vezes é confundida
Os Ir Pt com esse metal). A produção mundial de minérios de ferro
foi de 959 milhões de toneladas, em 1992. Os principais
produtores foram: China 22%, ex-URSS
Tabela 24.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação 18%, Brasil 16%, Austrália 12%,
Estados Unidos e índia 6% cada. Essa
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* quantidade de minério forneceu 497
milhões de toneladas de ferro gusa em
Ferro Fe [Ar] 3^4? 0 n m (rv) (V) (vi) 1992.
Rutênio Ru [Kr] 4d75? 0 n m rv (V) vi (vidvoi O rutênio e o ósmio são muito ra
Ósmio Os [Xe] 4/4 ód6 6? 0 O) (in (iii) rv (V) ví (vmvm
ros. São encontrados no estado metálico
‘ Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados associados aos metais do grupo da
em. negrito. uuuu»
— Outros e&iduus bem udidctenz.duub,
estados uem caracterizados, nidb menos uupui
mas menus importantes, são luubiiduus
idílica, sau em 11tipo platina e os metais moeda (Cu, Ag e Au).
mostrados cm
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são dados entre parênteses.
382 Brupo B — GRUPO □□ FERRO
O alto-fomo
O ferro é obtido a partir de seus óxidos num alto-forno,
um forno quase cilíndrico revestido com tijolos refratários.
É operado continuamente, utilizando o princípio da contra-
corrente. Pelo topo ele é alimentado com minério de feno,
um agente redutor (o coque) e substâncias formadoras de
escória (carbonato de cálcio). A quantidade de CaCO3 varia
em função da quantidade de silicatos presentes nos minérios.
O ar é insuflado pela base do alto-forno. O coque entra em
combustão produzindo calor e CO. A temperatura do forno
é de cerca de 2.000 °C no ponto de entrada do ar, mas é de
cerca de 1.500 °C no fundo e de apenas 200 °C no topo. O
óxido de ferro é reduzido a feno, principalmente pelo CO
(embora talvez ocona alguma redução provocada pelo C).
O feno fundido dissolve de 3 a 4% de C do coque, formando
feno-gusa. O ponto de fusão do feno puro é 1.535 °C. As Figura 24.1 — Diagrama de um alto-fomo
FABRICAÇÃO □□ AÇO 383
doce é maleável e pode ser moldado ou trabalhado. Pode essa tendência não se mantém na segunda metade do bloco
ainda ser temperado, por aquecimento ao rubro e rápido d, e o estado de oxidação máximo do ferro é ( + VI).
resfriamento por imersão em água ou óleo. São produzidas Compostos de ferro nesse estado são raros e de pouca
por ano, 14 milhões de toneladas de folhas-de-flandres, isto importância.
é folhas de aço-doce revestidas, por eletrodeposição, com Os principais estados de oxidação do Fe são ( + 11) e
uma fina película de estanho. Elas são usadas em embalagens (+ III). O Fe( + II) é a espécie mais estável, e existe em solução
de alimentos e de outros materiais. Diversas ligas de ferro aquosa. O Fe( + III) é ligeiramente oxidante, mas as
são produzidas em grandes quantidades: ferro-silício, 3,5 estabilidades dos íons Fe( + II) e Fe( + III) são mais
milhões de toneladas/ano, ferro-cromo 3,1 milhões de semelhantes que as estabilidades dos elementos dos grupos
toneladas/ano, ferro-manganês 3,4 milhões de toneladas/ anteriores nos mesmos estados de oxidação. Num contraste
ano e ferro-níquel 569.000 toneladas/ano. marcante, os elementos Ru e Os formam os compostos RuO4
0 "ferro promovido" é usado como catalisador no Pro e OsO4, nos quais os elementos se encontram no estado de
cesso Haber-Bosch de fabricação de NH3. oxidação (+ VIII). Os estados mais estáveis desses elementos
são o Ru( + III) e o Os( + IV), embora Ru( + V), Os( + VI) e
Os( + VII) também sejam razoavelmente estáveis. Observa-
OBTENÇÃO DO RUTÊNIO E ÓSMIO se assim a tendência usual de que, descendo-se por um
0 Ru e o Os são obtidos a partir do depósito anódico grupo, os elementos nos estados de oxidação mais elevados
que se acumula no refino eletrolítico de Ni. Esse depósito se tomam mais estáveis. A estabilidade dos compostos nos
contém uma mistura dos metais do grupo da platina, vários estados de oxidação é mostrada pela gama de óxidos
juntamente com Ag e Au. Caso esse material seja tratado e haletos conhecidos (vide Tab. 24.5).
com água-régia, os elementos Pd, Pt, Ag e Au se dissolvem,
restando um resíduo que contém Ru, Os, Rh e Ir. Após um PROPRIEDADES GERAIS
processo de separação complicado, Ru e Os são obtidos na
forma de pó. Estes são transformados nos metais maciços O ferro puro tem cor prateada, não é muito duro, e é
usando técnicas de metalurgia de pó. Esses elementos são bastante reativo (vide Tab. 24.6). O metal finamente dividido
escassos e caros. Ru é usado em ligas com Pd e Pt, e Os é pirofórico. O ar seco tem pouco efeito sobre o ferro maciço,
também é usado para obter ligas duras. Todos os metais do mas o ar úmido facilmente oxida o metal ao óxido férrico
grupo da platina apresentam propriedades catalíticas hidratado (ferrugem). Este é constituído por camadas não-
específicas. aderentes que se soltam, expondo mais metal para posterior
reação. O ferro se dissolve em ácidos não-oxidantes diluídos
a frio, formando Fe2 + e liberando hidrogênio. Se o ácido
ESTADOS DE OXIDAÇÃO estiver momo e houver presença de ar, uma certa quantidade
Nos grupos de metais de transição anteriormente de íons Fe3 + será formada ao lado de íons Fe2 + . Ácidos
estudados (grupos 3 a 7), o número de oxidação máximo de oxidantes geram apenas Fe3 +. Agentes oxidantes fortes, tais
um dado elemento era alcançado quando todos os elétrons como HNO3 concentrado ou K2Cr2O7, tornam o metal
dos níveis des fossem usados para formar ligações. Caso passivo, por causa da formação de uma camada protetora
essa tendência seja mantida, o número de oxidação máximo de óxido. Se essa camada for removida, o metal toma-se
dos elementos do grupo 8 deveria ser (+ VIII). Contudo, novamente vulnerável ao ataque químico. O Fe é levemente
anfótero. Não reage na presença de NaOH diluído, mas é
Tabela 24.5 — Óxidos e haletos atacado por NaOH concentrado.
Em contraste, Ru e Os são metais nobres e muito
Estados de oxidação
resistentes ao ataque por ácidos. Contudo, Os é oxidado a
(+11) (+IID (+IV) (+V) (+VI) (+VTI) (+vm) Outros OsO4 por água-régia.
UIHF] twi
campo ligante fraco campo ligante forte
Figura 24.3 — a 1,10-fenantrolina Figura 24.4 — Configurações eletrônicas para o íon d6 Fe2*
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO OE OXIDAÇÃO [+111) 389
octaédricos. Esses complexos são formados quando soluções os átomos no N2 gasoso, que é de 1,098 A. O interesse por
contendo M( + III) ou M( + IV) são reduzidos na presença complexos que podem coordenar dinitrogênio se deve à
do ligante. O íon metálico tem configuração d6, e seus possibilidade de utilizá-los para realizar a fixação do
complexos são todos diamagnéticos, ou seja, os elétrons se nitrogênio (vide também o Capítulo 20). Já foram obtidos
encontram emparelhados, indicando a existência de uma complexos de dinitrogênio com todos os metais dos grupos
grande energia de estabilização de campo cristalino. 7, 8 e 9 (grupos do Mn, Fe e Co), além do Mo e do Ni.
0 rutênio forma [Ru2(CH3COO)4(H2O)2], um complexo Geralmente, esses complexos contêm o metal num estado
binuclear contendo quatro grupos carboxilatos, semelhante de oxidação baixo e fosfina ou hidreto como ligantes, como
ao acetato de crômio, e uma ligação M-M. Mo e Rh formam nos complexos [(R3P)2Ni- (N2) - Ni(PR3)2] e [(RjPh-Fe-fNJ-
complexos semelhantes. (HJ ]. Como a molécula de N2 é simétrica e tem um momento
dipolar igual a zero, a ligação o do N ao metal será muito
0 rutênio também forma uma interessante série de
fraca (daí a pequena variação no comprimento da ligação
complexos do tipo [Run(NO)Ls], onde o ligante L pode ser: N-N), e a principal interação é a ligação de retrodoação do
Cl', NH3, H2O, NO3“, OH", CN", etc. O NO se liga fortemente
metal com os orbitais n antiligante do nitrogênio.
ao metal por meio de ligações oe tt, de modo que a ligação
Ru-NO resiste a uma grande variedade de reações de
substituição e de óxido-redução. Estudos de difração de raios COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
X sugerem que em alguns complexos a ligação Ru-N-0 é DE OXIDAÇÃO (+ III)
linear, enquanto que em outros é angular.
O estado de oxidação ( + 111) é muito importante na
química do ferro, sendo os sais férricos obtidos pela oxidação
Ru—N—O Ru—N
dos correspondentes sais de Fe( + II). Soluções de sais férricos
\ são frequentemente castanho amareladas, mas a cor se deve
O
Complexos análogos de ósmio também são conhecidos, à presença de óxido de ferro coloidal, ou FeO(OH). Fe( + III)
embora tenham sido menos estudados. forma sais cristalinos com todos os ânions comuns, exceto
o I", e muitos deles podem ser isolados tanto na forma
Complexos de carbonila com Fe, Ru e Os são conhecidos hidratada como anidra. Esses sais podem ter várias cores:
há muito tempo. CO e N2 são isoeletrônicos, e durante muito FeCl3 -6H2O, FeF3-4’/2H2O e Fe2(SO4)3-9H2O são amarelos:
tempo especulou-se que seria possível formar ligações M- FeBr3-6H2O e FeF3 são verdes; Fe(NO3)3-6H2O é incolor; e
NN, análogas às ligações M-CO. O primeiro exemplo de um Fe(NO3)3 -9H2O é púrpura pálido. Muitos sais contêm o íon
complexo de dinitrogênio, [Ru(NH3)5(N2)]CI2, foi publicado [Fe(H2O)6]3 + . O mais comum é o Fe2(SO4)3, que pode ser
em 1965. Esse complexo pode ser obtido reduzindo-se uma encontrado na forma de seis hidratos diferentes, e é largamen
solução aquosa de RuCl3 com sulfato de hidrazina ou, então, te usado como coagulante para clarificar água potável e
tratando-se [Ruln(NH3)5(H2O)]3 + com NaN3. A reação em também no tratamento de efluentes e águas industriais. Os
que H2O é diretamente substituído por N2, é de grande in alúmens são sais duplos que contêm o íon [Fe(H2O)6]3t e
teresse, pois ela pode ser semelhante a uma das etapas do cristalizam facilmente. Os exemplos mais conhecidos são o
processo de fixação do nitrogênio pelas bactérias. alúmen de ferro e amônio (NH4)[Fenl(H2O)6][SO4]2-6H2O e
o alúmen de ferro e potássio [K(H2O)6][Fenl(H2O)6][SO4]2.
[Ru(NH3)5H2O]2+ + N2 -» [Ru(NH3)5-N2]2 +
Esses alúmens são usados como mordentes na indústria da
Ligantes N2 terminais apresentam uma intensa banda tinturaria, como os alúmens de crômio.
no infravermelho, na faixa de 1.930 a 2.230 cm"1, enquanto
o gás N2 apresenta uma banda em 2.331 cm"1. Essa banda Óxidos e óxidos hidratados
no infravermelho pode ser utilizada para verificar se houve Não há evidências quanto à existência do Fe(OH)3. A
formação de um complexo de dinitrogênio. A diminuição hidrólise de FeCl3 não forma o hidróxido, mas fornece um
da energia da vibração sugere que houve formação de ligação precipitado gelatinoso castanho avermelhado do óxido
n entre Ru e N2, diminuindo a ordem da ligação N-N. Assim, hidratado, Fe2O3(H2O)n. Pelo menos parte desse precipitado
o N2 atua como um ligante receptor de elétrons. N2 é um é constituída por FeO(OH). Quando o óxido hidratado é
doador a mais fraco e um receptor tc mais fraco que o CO, e aquecido a 200 °C obtém-se o a-Fe2O3, de cor vermelho-
por isso os complexos de dinitrogênio não são muito estáveis. castanha. Sua estrutura é constituída por um retículo de
Complexos de outros metais, tais com Mo, Fe e Co, também íons O2", num arranjo hexagonai de empacotamento compac
podem ligar N2 à pressão atmosférica, particularmente com to, com íons Fe3+ ocupando dois terços dos interstícios
ligantes de fosfinas terciárias: octaédricos. Contudo, a oxidação de Fe3O4 leva à formação
NaBH, de y-Fe2O3, que tem um arranjo cúbico de empacotamento
FeCl2 + N2 + 3PEtPh2 FeH2(NJ(PEtPh2)3 compacto de íons O2", com íons Fe3+ distribuídos
aleatoriamente, tanto nos interstícios octaédricos como nos
N2 também pode atuar como ligante ponte:
tetraédricos.
[Ru(NH3)5-N2]2 + + [Ru(NH3)s-H2O]2 + -> Fe3O4 é um sólido preto formado no aquecimento de
[(NH3)5Ru-N-N-Ru- (NH3)s]4 + Fe2O3 a 1.400 °C. O Fe3O4 é um óxido misto de fórmula
FellFelli2O4 e tem a estrutura do espinélio invertida. Os íons
0 comprimento da ligação N-N no complexo binuclear O2" formam um retículo cúbico de empacotamento compac
é de 1,24 A, apenas um pouco maior que a distância entre to, com os íons maiores, Fe2 + , ocupando um quarto dos
390 Erupo B — ERUPO □□ FERRO
H 4*
ox Cl Cl Cl
tetrâmeros com átomos de F em ponte, como no NbFs e no NaOH. Em vez disso, grupos OH" se ligam ao metal formando
TaFs (vide Fig. 21.1). Complexos com o fluoreto também o íon octaédrico trans-osmato(VIII).
são conhecidos.
Osv,"O4 + 2OH- -> [Osv"‘O4-(OH)2]2-
RuCl3 + KCI + F, -> K[RuvF6] perosmato ou osmato(Vlll)
oxigênio nos músculos. A forma oxigenada da hemoglobina aumento da afinidade dessas subunidades pelo O2 e é
é denominada oxi-hemoglobina, e a forma reduzida é conhecido como efeito cooperativo. Analogamente, quando
conhecida como desoxi-hemoglobina. Essa transferência de o sangue chega aos músculos e libera uma molécula de O2,
oxigênio é digna de nota, pois envolve somente Fe( + II) e as demais moléculas são liberadas mais facilmente, como
não Fe( + III). Outros ligantes, como CO, CN" e PF3 podem conseqüência do efeito cooperativo no sentido inverso. A
ocupar o sítio do O2. A coordenação destes também é afinidade da hemoglobina pelo O2 diminui à medida que o
reversível, porém, muito mais forte. A coordenação é pH diminui. Mas como o sangue é bem tamponado, esse
irreversível no caso do CN“. Esses ligantes diminuem ou fato tem apenas um efeito discreto sobre a sua capacidade
impedem o transporte de oxigênio e podem levar à morte. transportadora de O2.
Contudo, o CN' também interfere com o sistema enzimático CO2 é o produto final do metabolismo da glicose que
dos citocromos, sendo essa a causa principal de sua extrema libera energia, havendo o acúmulo de quantidades
toxicidade. apreciáveis do mesmo nos músculos. Ele é removido dos
A hemoglobina tem uma massa molecular de cerca de tecidos e convertido nos íons solúveis HCO3“.
65.000, e é constituída por quatro subunidades. Cada
subunidade contém um complexo porfirínico do tipo heme CO2 + H2O —>H+ + HCOj-
(Fig. 24.8), que contém Fe2 + ligado a quatro átomos de N e
Esse processo é facilitado pelos grupos amino terminais
uma proteína globular conhecida como globina. A proteína
da desoxi-hemoglobina, que recebe os prótons produzidos
globular se liga ao Fe2+ do grupo heme através do átomo de e atua como agente tamponante. O processo inverso ocorre
N existente num resíduo de histidina da proteína. A sexta
nos pulmões.
posição do Fe2+ é ocupada por uma molécula de oxigênio
ou de água. O anel porfirínico é conjugado e plano. A cor vermelha
característica se deve a transições de transferência de carga
Na oxi-hemoglobina, o Fe2+ se encontra num estado entre orbitais rt estáveis e orbitais rt* de energia relativamente
de spin baixo e é diamagnético. Ele tem o tamanho exato
baixas no anel e no Fe.
para se encaixar no centro do anel porfirínico. A porfirina é
plana e rígida. Na desoxi-hemoglobina, o Fe2+ está num
estado de spin alto e é paramagnético. O tamanho do íon Mioglobina
Fe2+ aumenta 28% quando ele passa do estado de spin baixo O grupo heme também é biologicamente importante
para o de spin alto, ou seja seu raio passa de 0,61 A para na mioglobina, que é usada para armazenar oxigênio nos
0,78 A (vide Tab. 24.7). Logo, na desoxi-hemoglobina o Fe2 + músculos. A mioglobina é semelhante a uma das
é grande demais para se acomodar na cavidade da porfirina subunidades da hemoglobina. Contém somente um átomo
e se situa de 0,7 a 0,8 A acima do plano do anel, distorcendo de Fe, tem uma massa molecular de aproximadamente 17.000
assim as ligações em torno do Fe. Portanto, a coordenação e liga O2 mais fortemente que a hemoglobina.
do 02 altera a configuração eletrônica do Fe2 + e também
distorce a forma do complexo. A proteína globular parece Citocromos
ser essencial, dado que na sua ausência ocorre a oxidação Existem muitos citocromos, que diferem muito pouco
irreversível do Fe( + II) a Fe( + III). entre si. De um modo geral são classificados em citocromo
A hemoglobina é constituída por quatro subunidades, a, citocromo b e citocromo c. Em todos os citocromos, o
e quando uma delas se liga a uma molécula de O2, o íon grupo prostético se restringe ao grupo heme e possui uma
Fe2+ diminui de tamanho e se desloca para o plano do anel. massa molecular de aproximadamente 12.400. Como na
Com isso, ele desloca a molécula de histidina ao qual está hemoglobina, o ferro está ligado a quatro átomos de N do
ligado e provoca alterações conformacionais na cadeia da anel porfirínico, sendo a quinta posição ocupada por um
globina. Como essa cadeia interage por meio de ligações de átomo de N da proteína ao qual está associado. A grande
hidrogênio com as outras três unidades, elas também têm diferença está na sexta posição, que geralmente está ocupada
suas conformações alteradas. Esse fenômeno provoca o por um átomo de S de um aminoácido como a metionina,
que constitui a proteína.
Os citocromos estão envolvidos no processo de liberação
de energia, por meio da oxidação da glicose pelo O2 mo
lecular, nas organelas denominadas mitocòndrias existentes
no interior das células vivas. Os citocromos são oxidados
reversivelmente (logo, atuam como transportadores de
elétrons). O Fe está no estado de spin baixo, e se interconverte
reversivelmente entre os estados ( + 11) e ( + III). Os
citocromos a, b e c têm potenciais de redução ligeiramente
Citocromo b 0.04 V
Citocromo c 0,26 V
Citocromo a 0,28 V
Figura 24.8 — A estrutura da heme b
394 Grupo B — O GRUPO □□ FERRO
diferentes uns dos outros, e as reações envolvem todos os As demais ferredoxinas contêm íons ferro ligados a
três, na seqüência b, c, a. Desse modo, a energia que seria sulfetos inorgânicos e átomos de S de resíduos de cisteína,
proveniente da reação de oxidação da glicose é liberada por exemplo, Fe2(S2)(S-cisteína)4. Como elas contêm íons
gradativamente. Ela é armazenada na forma de sulfeto inorgânicos, H2S é liberado quando são tratadas com
adenosinatrifosfato, ATP, e usada quando requerida pela ácidos diluídos.
célula. Algumas ferredoxinas de bactérias formam clusters. 0
mais simples é o Fe4S4(S-cisteína)4. Esse cluster pode ser
Ferritina imaginado como um cubo com dois átomos de Fe situados
Nos animais, inclusive no homem, o ferro dos alimentos em vértices diagonalmente opostos da face superior, mais
é absorvido na forma de Fe( + II), no sistema digestivo. As dois átomos de Fe ocupando os outros vértices diagonalmente
necessidades diárias de ferro são muito pequenas (o homem opostos da face inferior. Os átomos de S ocupam os quatro
requer 1 mg por dia), pois o Fe que existe no organismo é vértices remanescentes. Além disso, cada átomo de Fe está
reciclado. Todo ferro absorvido pelo organismo reage imedia ligado a um átomo de S de uma molécula de cisteína.
tamente para formar transferrina. O corpo humano contém
cerca de 4 gramas de Fe, sendo que cerca de 3 gramas se Hemeritrina
encontram na forma de hemoglobina e 1 grama na forma de Apesar do nome, a hemeritrina é uma ferro-proteína
ferritina. A ferritina é encontrada no baço, no fígado e na que não contém grupo heme. Ela é responsável pelo
medula óssea. Quando uma célula vermelha do sangue transporte de oxigênio em alguns animais marinhos. Sua
envelhece, após cerca de 16 semanas, a hemoglobina é massa molecular é de aproximadamente 108.000, e é
decomposta e o ferro é recuperado pela transferrina, uma constituída por oito subunidades. Outros animais marinhos
proteína que não contém grupo heme. TYata-se de uma cadeia têm em seus músculos mio-hemeritrina, que corresponde a
polipeptídica simples de massa molecular entre 76.000 a apenas uma dessas subunidades. Essas moléculas são os
80.000, que contém dois átomos de Fe. Essa proteína análogos da hemoglobina e da mioglobina nos animais
transporta o Fe para a medula óssea, onde ela é convertida superiores. Entretanto, a desoxi-hemeritrina contém dois
em ferritina (é marrom e solúvel em água). A ferritina contém átomos de Fe11 de spin alto, e a oxi-hemeritrina contém dois
cerca de 23 % de ferro. TYata-se de uma camada aproxima átomos de Fe111, ligados a uma molécula de oxigênio na forma
damente esférica de proteína denominada apoferritina, com de O22’.
aproximadamente 120 A de diâmetro, que engloba uma
micela de hidróxido, óxido e fosfato de ferro( + III). A micela
é um agregado de partículas cuja superfície é eletricamente COMPLEXOS COM CICLOPENTADIENILA E
carregada. Cada uma dessas micelas contém de 2.000 a 5.000 ANÁLOGOS
átomos de Fe.
O interesse pela química organometálica teve início em
1951, quando G. Wilkinson e colaboradores relataram a
Catalases e peroxidases obtenção de um incrível composto de ferro com um derivado
As catalases são enzimas que promovem o despropor- de hidrocarboneto, chamado di-n-ciclopentadienilfeno.
cionamento do H2O2. Elas também catalisam as reações de Surpreendentemente, dois grupos de pesquisadores traba
oxidação de outros substratos pelo H2O2. A molécula de lhando independentemente prepararam o mesmo composto
catalase contém quatro complexos de heme b com Fe( + III), quase que simultaneamente.
e tem uma massa molecular de aproximadamente 240.000.
2CsHsMgBr + FeCl2 -> Fe(CsH5)2 MgBf2 + MgCli
2H2O2 -> 2H2O + O2
Esse composto é atualmente conhecido como fenoceno
As peroxidases também catalisam a reação de decom e sua fórmula é (7ü-C5H5)2Fe. É diamagnético, estável ao are
posição do H2O2, mas elas estão associadas a uma coenzima forma cristais de cor laranja. O ferroceno é solúvel ein
AH2, que é oxidada na reação. solventes orgânicos (álcool, éter e benzeno) e insolúvel em
água, soluções de NaOH e HC1 concentrado. É termicamente
H2O2 + AH2 -> 2H2O + A estável até cerca de 500 °C. A estrutura determinada por
difração de raios X mostra que o composto é do tipo “sanduí
Ferredoxinas che", no qual o átomo do metal se situa entre dois anéis
As ferredoxinas, um grupo de ferro-proteínas que não planos e paralelos de ciclopentadienila. Com isso ficou
contém o grupo heme, são responsáveis pelo transporte de evidente que ligantes orgânicos podem usar seu sistema x
elétrons em plantas e bactérias. Elas têm a mesma função para se ligar a metais, dando início ao estudo de compostos
dos citocromos nos animais, mas as ferredoxinas têm massas contendo ligações carbono-metal.
moleculares muito menores (6.000 a 12.000), e podem conter Por questões de simetria dos grupos espaciais, os dois
um, dois, quatro ou oito átomos de Fe. A mais simples é a anéis ciclopentadienila do ferroceno devem ter conformação
rubedoxina, que contém somente um átomo de Fe. Este está estrela. Em contraste, nos correspondentes compostos de
ligado a quatro átomos de S de resíduos de cisteína presentes Ru e Os, o rutenoceno e o osmoceno, os anéis estão na
na cadeia protéica, podendo ser representada por Fe(S- conformação eclipsada (Fig. 24.9). A conformação exata dos
cisteína)4. Os quatro átomos de S formam uma estrutura anéis ciclopentadienila no ferroceno não pode ser
aproximadamente tetraédrica em torno do íon ferro. determinada de maneira simples, pois a barreira rotacional
COMPLEXOS COM CICLOPENTADIENILA E ANÁLOGOS 395
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metálicos do tipo sanduíche).
• Johnson, B.F.G. (1976) The structures of simple binary car
bonyls, JCS Chem. Commim., 211-213.
397
Grupo D
G GBUPO BO COBALTO
OCORRÊNCIA, OBTENÇÃO E APLICAÇÕES Tabela 25.2 — Abundância dos elementos na crosta
Esses elementos têm número atômico ímpar e são pouco terrestre, em peso
abundantes na crosta terrestre. O cobalto ocorre na proporção
de cerca de 23 ppm em peso, enquanto o ródio e o iridio são Elemento ppm Ordem de
extremamente raros. abundância relativa
Existem muitos minérios contendo cobalto. Os minérios
Co 30 29?
economicamente importantes são a cobaltita, CoAsS, a 77?
Rh 0,0001
esmaltita, CoAs2, e a linneíta, Co3S4. Estão sempre associados Ir 0,001 74?
com minérios de Ni, frequentemente com minérios de Cu e
às vezes com minérios de Pb. Co é obtido como subproduto a jato e na obtenção de aços rápidos usados na fabricação
dos processos de extração dos outros metais. Em 1992, a de ferramentas de corte. Altas velocidades podem ser
produção mundial de minérios de Co foi de 30.100 toneladas utilizadas nas operações de corte, pois as ferramentas
de conteúdo em metal. Os principais produtores foram: Za conservam sua dureza e fio mesmo quando aquecidas ao
ire 22%, Canadá 17%, Zâmbia e ex-URSS 15% cada e rubro. É possível se obter ligas excepcionalmente duras como
Austrália 9%. a estelita (50% de Co, 27% de Cr, 12% de W, 5% de Fe e
0 minério é calcinado para ser convertido numa mistura 2,5% de C), e o metal vídia (carbeto de tunsgstênio com
de óxidos denominado "speisses”. As4O10 e SO2 são liberados 10% de Co), que podem substituir o diamante em brocas
como gases e são subprodutos valiosos. O sólido é, então, para escavar rochas.
tratado com H2SO4 de modo a dissolver os óxidos de Fe Um terço do cobalto obtido é empregado na fabricação
(freqüentemente presente como impureza), de Co e de Ni, de pigmentos para as indústrias de cerâmica, vidro e tintas.
podendo assim ser separado do Cu ou Pb. Em seguida, cal é Historicamente, o óxido de cobalto tem sido usado como
adicionado à solução para precipitar o íon Fe( + III) como o pigmento azul na indústria de cerâmica, além de ser usado
óxido hidratado, Fe2O3 ■ (H2O)n. A seguir NaOCl é adicionado na fabricação de vidro azul. Atualmente, é muito usado para
de modo a precipitar o Co(OH)3. O hidróxido é calcinado e mascarar a cor amarela do Fe e obter a cor branca.
convertido em Co3O4, que é posteriormente reduzido a Co O cobalto metálico é ferromagnético (isto é, pode ser
metálico por aquecimento com H2 ou carvão. magnetizado de modo permanente) como o Fe e o Ni. Um
O cobalto forma importantes ligas de alta temperatura quinto da produção de Co se destina à obtenção de ligas
com o aço, e cerca de um terço do metal produzido é usado magnéticas, como o “Alnico” (que contém Al, Ni e Co). É
para esse fim. Essas ligas são usadas na confecção de turbinas possível preparar poderosos ímãs permanentes, 20 a 30 vezes
mais fortes que os ímãs de Fe, utilizando
Tabela 25.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidaçao essa liga.
Pequenas quantidades de sais de Co
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* dos ácidos graxos do óleo de linhaça e
do ácido naftênico são usados como
Cobalto Co [Ar] 3d’4? (-1) o (i) n m (rv) "secantes", para acelerar a secagem de
Ródio Rh [Kr] 4^5? (-D o (i) n m iv (vi) tintas a óleo.
Iridio Ir [Xe] 4/4 5J9 H) o (D (n) m rv (V)(vi)
_________________________________________________________________ O elemento Co é um constituinte
’ Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis] são mostrados essencial do solo fértil e está presente
Outros esiauus
negrito. vuiius
em negiiiu. bem caracierizados,
estados bem caracterizados, mas menos impuiiamcs,
mas menus importantes, sãu
são müsuãuüS em tipo
mostrados êiTi tipo em enzimas ee na
algumas enzimas
em algumas na Vitamina
Vliamma D ]2..
B32
nm ir131 t?o•
instáveis, ou de existência duvidosa,
normal. Estados de oxidaçãoír,zl são dados entre parênteses.
, ■«rí ri zsr*ontro norontococ
398 Bnjpo g — BRUPQ □□ COBALTO
O isótopo artificial “Co é radioativo, e sofre decaimento Tabela 253 — Óxidos c haletos
P (meia-vida de 5,2 anos). Ao mesmo tempo, ele libera
grande quantidade de radiação y de alta energia, que é usada Estados de oxidação
no tratamento radioterápico de tumores cancerígenos. O 60Co
é preparado irradiando-se com nêutrons o único isótopo (+11) (+IH) (+IV) (+V) (+VI) Outros
natural do cobalto, o 59Co, num reator nuclear.
CoO (Co2O3)h (CoO2)h Co3O4
Co------ >“Ni +4 e+ v + /
“!Co- RhO Rh2O3 RhO2
Ir2O3 IrO2 (IrO3)
Quantidades traço de ródio e de irídio são encontrados CoF2 CoF3
no estado metálico, associados com os metais do grupo da CoCI2
platina e os metais moeda nos minérios NiS/CuS extraídos CoBr2
na África do Sul, Canadá (Sudbury, Ontario) e na ex-URSS Col2
(nas areias dos rios dos Montes Urais). A produção mundial RhF3 RhF4 (RhF5) RhF6
dos seis metais do grupo da platina foi de apenas 281 RhCl3
toneladas em 1992. Os principais produtores foram: África RhBr3
do Sul 54 %, ex-URSS 37 % e Canadá 4 %. Rh e Ir são obtidos Rhl3
a partir do lodo anódico que se deposita no processo de IrF3 IrF4 (IrF5) IrF6
refino eletrolítico do Ni. Esse lodo contém uma mistura dos (IiC12?) IrCl3
metais do grupo da platina, além de Ag e Au. Os elementos IrBr3
Pd, Pt, Ag e Au se dissolvem em água-régia e o resíduo Irl3__________________
contém Ru, Os, Rh e Ir. Depois de um processo de separação Os compostos com os estados de oxidação mais estáveis estão representados
complicado, Rh e Ir são obtidos na forma de pó. Seus pontos em negrito; os instáveis entre parênteses, h = óxido hidratado
de fusão são muito elevados, de modo que técnicas de meta
Os estados mais estáveis para os demais elementos do
lurgia de pó (o pó é moldado nas formas desejadas, e depois
grupo são Rh( + III), Ir(+ III) e Ir(+ IV). Compostos iônicos
sinterizado, isto é, aquecido em hidrogênio até coalescer,
simples desses elementos são pouco comuns. Os óxidos e
sem contudo fundir) são utilizadas para fabricar componen
os haletos conhecidos desses elementos são mostrados na
tes metálicos. Esses elementos são tão raros quanto caros, e
Tab. 25.3.
têm um número limitado de aplicações especializadas.
Todos os metais do grupo da platina apresentam proprie
dades catalíticas específicas. Uma liga Pt/Rh era usada PROPRIEDADES GERAIS
antigamente no processo Ostwald (de fabricação de HNO3) O Co se assemelha ao Fe e é muito resistente. É mais
para oxidar NH3 a NO. O ródio é um catalisador importante duro e apresenta maior resistência à tração que o aço. 0 Co
no controle dos gases de escape de veículos automotores. tem aspecto branco azulado brilhante. É ferromagnético
Complexos de Rh com fosfina são usados como catalisadores como o Fe, mas quando aquecido acima de 1.000 °C
em reações de hidrogenação. O Ir (como o Os no grupo an converte-se numa forma não-magnética.
terior) é utilizado na preparação de ligas muito duras, usadas
na confecção de eixos para certos instrumentos. Uma liga Tabela 25.4 — Algumas propriedades físicas
Pt/Ir é usada como eletrodo das velas de ignição de longa
vida útil. Elas são muito caras, mas têm importantes usos Raio Raio iônico Ponto de Ponto de Densidade Eletrme-
militares, como em helicópteros. Uma grande quantidade covalente M2t M3+ fusão ebulição galivi-
dadede
dessa liga foi usada pelos EUA durante a Guerra do Vietnã.
(A) (A) co CO (g cm"1) Pauling
ESTADOS DE OXIDAÇÃO Co 1,16 0,745a 0,61" 1.495 3.100 8,90 1,8
0,65b 0,545b
A tendência de não utilizar todos os elétrons do nível Rh 1.25 - 0,665 1.960 3.760 12,39 2,2
mais externo nas ligações químicas no estado de oxidação Ir 1.26 - 0,68 2.443 (4.550) 22,61 2,2
máximo do elemento, observada nos elementos da segunda
metade do bloco d, é mantida. Um possível relato sobre a a = valor de spin alto; b = valor de spin baixo
ocorrência de Co( + V) não foi confirmado, e mesmo o
Co( + IV) é instável. O estado de oxidação máximo do Rh e Tabela 25.5 — Algumas reações do Co, Rh e Ir
do Ir é (+ VI). Os estados de oxidação (+ II) e (+ III) são de
longe os mais importantes para o cobalto. Também se verifica Reagente Co Rh Ir
a tendência, observada na primeira série de transição, do
elemento no estado (+ II) ser mais estável que no estado O2 Co3O4 Rh203a 600'C IrO2a 1000'C
( + III). O íon Co2 + e o íon hidratado [Co(H2O)6]2 + podem F2 CoF2 e CoF3 RhF3a 600'C IrF6
ser encontrados em muitos compostos simples, sendo o íon Cl2 CoCI2 RhCl3a 400'C IrCl3 a 600‘C
hidratado estável em água. Em contraste, os compostos mais H2O Não reage Não reage Não reage
HC1 ou HNOj
simples contendo Co( + III) são oxidantes e relativamente
diluídos [Co(H2O)6]2* + H2 Não reage Não reage
instáveis. Contudo, os complexos de Co( + III) são estáveis
HNOj conc. Passivo Não reage Não reage
e muito numerosos.
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE CXtOAÇÃO [+1) 399
Figura 25.1 — Duas formas isômeras de Co2(CO)B. ambas com COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
ligações metal-metal DE OXIDAÇÃO ( + I)
0 Co é relativamente inerte e não reage com H2O, H2 O íon Co( +1) pode ser encontrado em muitos complexos
ou N2, mas reage com vapor d'água formando CoO. É oxidado com ligantes n receptores. Compostos de Co( +1) foram mais
quando aquecido ao ar e queima emitindo luz branca, bem estudados que qualquer outro elemento de transição
formando Co3O4. Co se dissolve lentamente em ácidos da primeira série nesse estado de oxidação, exceto o Cu.
diluídos, mas como o ferro, torna-se passivo quando tratado Esses compostos são geralmente obtidos pela redução do
com HNO3 concentrado. Co reage facilmente com os CoCl2 com Zn ou N2H4, na presença do ligante desejado.
halogênios, e, a temperaturas elevadas, também reage com Geralmente, os complexos formados têm estrutura bipirâmide
S, C, P, Sb e Sn. trigonal ou, então, tetraédrica.
Rh e Ir também são metais duros. Como acontece com O íon [Co-I(CO)4]- reage com isonitrilas orgânicas, R-
os demais metais do grupo da platina, são muito mais NC, formando [Co'(CNR)s] + , que tem estrutura bipirâmide
“nobres” e inertes. Ir é o mais denso de todos os elementos trigonal. Um complexo de dinitrogênio pode ser formado
(d = 22,61 g cm-3). Rh e Ir são resistentes a ácidos, mas por combinação direta com N2 gasoso, à pressão atmosférica:
reagem com 02 e halogênios a altas temperaturas (Tab. 25.5).
Co(acac)3 + N2 + 3Ph3P -> [Co'(H)(N2)(PPh3)3]
Os três elementos formam um grande número de compostos
de coordenação. O ligante (acac) é a acetilacetona. O complexo
[Co'(H)(N2)(PPh3)3] também tem estrutura bipirâmide trigo-
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NOS nal CFig- 25.3) e o comprimento de ligação NsN é igual a
1,11 Â, um pouco maior que o comprimento da ligação no
ESTADOS DE OXIDAÇÃO INFERIORES N2 gasoso, de 1,098 A. Como o comprimento da ligação
Os elementos nos estados de oxidação (-1) e (0) ocorrem N=N permaneceu praticamente inalterado, pode-se inferir
em alguns poucos compostos com ligantes n receptores, tais que a ligação a entre o N e o Co é muito fraca. Assim, a
como CO, PF3, NO e CN". O elemento no estado (-1) é ligação N-Co é essencialmente uma ligação tt (“back-bond-
encontrado nos complexos tetraédricos [Co(CO)4]“, ing”) do Co para o N, similar àquela existente no
(Rh(CO)4J-, [Co(CO)3NO] e K[Ir(PF3)4], O elemento no [Ru(NH3)sN2]2 + (os complexos de dinitrogênio foram discu
estado de oxidação zero ocorre no Co2(CO)s, embora haja tidos no Capítulo 24 no item “Complexos dos elementos no
algumas dúvidas sobre a existência do correspondente estado de oxidação +11").
composto de Ru (Fig. 25.1). Outros compostos contendo o Acredita-se que a forma reduzida da vitamina B12 con
metal de valência zero são K4[Co(CN)4] e [Co(PMe3)4] tenha Co( + I).
Os complexos Co4(CO)12, Rh4(CO)12 e Ir4(CO)12 Conhece-se uma química razoavelmente extensa de
possuem ligações M-M e contêm um cluster constituído por complexos de Rh( +1) e de Ir( +1), com ligantes tt receptores,
quatro átomos do metal. Os grupos CO podem ser apicais
(terminais) ou estarem ligados em ponte. Há pequenas N
diferenças entre os compostos dos diferentes metais. Os III
N
a) b)
V Ph3P- PPh3
O=c—M 4t°0 4-
/# %
O
UI
o
Figura 25.2 — As estruturas de a) Co4(CO)i2 e Rh4(CO)I2 e b) lr4(CO)l2 Figura 25.3 — A estrutura de [Co1 HfNJfPPhjJsJ
400 Grupo 9 — GRUPO □□ COBALTO
tais como CO, fosfinas PR3 e alcenos. Normalmente eles têm ramificada, dependendo da posição da dupla ligação no
estrutura quadrada-planar, como no trans-[IrCl(CO)(PPh3)2] hidrocarboneto de partida. Os álcoois de cadeia normal são
(conhecido como "composto de Vaska") e [RhCl(PPh)3] usados na obtenção de cloreto de polivinila (PVC) e deter
(catalisador de Wilkinson), ou estrutura bipirâmide trigo- gentes. Tentativas de aumentar o rendimento dos produtos
nal como no [RhH(CO)(PPh3)3], Os compostos quadrado- de cadeia normal foram feitas, utilizando-se complexos de
planares contendo o metal no estado (+I) são susceptíveis cobalto com CO e trifenilfosfinas. 0 complexo trans-
a um tipo pouco comum de reação denominada adição [Rh(CO)(H)(PPh3)3] também tem sido empregado no pro
oxidativa. Nessa reação, uma molécula neutra é adicionada cesso 0X0, sendo um importante catalisador na reação de
ao complexo (+1), formando um complexo octaédrico com hidrogenação de alcenos. É eficiente à 25 °C e 1 atmosfera
o elemento no estado ( + 111). de pressão e, por motivos estereoquímicos, catalisa espe
cificamente a hidrogenação de duplas ligações terminais,
[Ir'(Cl)(CO)(PPh3)2] + HC1 [Ir»,(Cl)2(COXPPh3)2H] não afetando as duplas ligações em outros pontos da cadeia.
Reações semelhantes ocorrem com H2, H2S, CH3I e Cl- RCH = CH2 + HCo(CO)4 -> RCH2CH2Co(CO)4
HgCl. Uma reação diferente ocorre quando outras moléculas, RCH2CH2Co(CO)4 + CO -> RCH2CH2CO-Co(CO)4
tais como O2, SO2, CS2, RNCS, RNCO e RCsCR, são RCH2CH2CO ■ Co(CO)4 + H2 -> RCH2CH2CH0 + HCo(CO)i
adicionadas aos compostos quadrado planares ( + 1) (todas
as moléculas adicionadas contêm ligações múltiplas). Nesse 0 ácido acético pode ser obtido sinteticamente a partir
caso, a molécula adicionada atua como um ligante bidentado, de metanol, sendo essa reação catalisada por complexos tais
formando assim uma estrutura cíclica (Fig. 25.4). como [RhCl(CO)(PPh3)2] ou [RhCl(CO)2]2, na presença de
0 composto de Vaska é amarelo, mas rapidamente CH3I, I2 ou HI como ativadores.
absorve 02 e adquire coloração laranja. O oxigênio pode ser
CH3OH + CO CHjCOOH
removido utilizando um fluxo de N2. Essa reação de
oxigenaçâo reversível foi estudada como um modelo da
capacidade transportadora de oxigênio da hemoglobina (vide COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
Capítulo 24). Reações de adição oxidativa foram observadas DE OXIDAÇÃO ( + II)
em complexos nos quais o átomo central é Rh1, Ir1, Ni°, Pd°, O estado de oxidação (+ II) é o mais importante para
Pt°, Pd11 e Pt11 e tem configuração ds ou d10. Para isso, o compostos simples de Co (embora o estado + III seja 0 mais
metal deve ter elétrons d não-ligantes, bem como dois sítios importante em complexos). Rh( + II) e Ir( + II) tem apenas
de coordenação vazios. importância secundária.
O catalisador de Wilkinson, [RhCl(PPh3)3] é vermelho- Uma grande variedade de compostos de Co( + II) é
violeta, tem estrutura quadrado planar e é obtido refluxando- conhecida, inclusive CoO, Co(OH)2, CoS e sais dos ácidos
se RhCl3-3H2O com trifenilfosfina. É muito eficiente na comuns, como CoCl2, CoBr2, CoSO4, Co(NO3)2 e CoCO3.
reação de hidrogenação seletiva de moléculas orgânicas, à Todos os sais hidratados são róseos ou vermelhos, e contêm
pressão e temperatura ambiente. Duplas ligações terminais o íon hexahidratado [Co(H2O)6]2 +. A maioria dos compostos
(1-alcenos) são hidrogenadas, mas duplas ligações em outras de Co( + II) são solúveis em água, exceto o carbonato.
posições da cadeia não são afetadas. Essa reação é importante
na indústria farmacêutica. Se NaOH for adicionado a uma solução contendo Co2*,
obtém-se inicialmente Co(OH)2 como um precipitado azul.
O catalisador de Wilkinson e vários compostos de Co, Este vai se tornando rosa pálido com 0 passar do tempo. 0
como o carbonil(hidreto), HCo'(CO)4, têm sido usados como hidróxido é tipicamente básico, mas tem algum caráter
catalisadores no processo 0X0. Nesse processo, CO e H2 anfótero, visto que se dissolve em soluções concentradas de
são adicionados a um alceno, dando origem a um aldeído, à NaOH formando uma solução azul, contendo 0 íon
150 °C e 200 atmosferas. O processo 0X0 é de considerável [Co(OH)4]2'. Co(OH)2 é lentamente oxidado ao ar a
importância industrial, pois os aldeídos obtidos podem ser ConlO(OH), de coloração marrom.
convertidos em álcoois. Cerca de 3 milhões de toneladas de
álcoois C6- C9 são produzidos anualmente dessa maneira. CoO é verde-oliva e é formado quando Co(OH), ou
Trata-se de misturas de moléculas de cadeia normal ou muitos sais de Co( + II), como CoCO3, são aquecidos na
ausência de ar. Caso CoO seja fundido junto com SiO, e
K2CO3, forma-se um vidro azul de silicato de potássio e
PPhs cobalto(II). Após ser triturado e transformado em pó, esse
vidro é denominado esmalte, e é usado como pigmento azul
para vidros, esmaltes e vitrificações de cerâmicas. Esse
"esmalte" já era conhecido pelos antigos egípcios e romanos.
No laboratório, o “vidro de cobalto" é usado para examinar
a chama do potássio na presença de sódio no teste de chama.
O vidro azul absorve a intensa cor amarela da chama do
sódio, permitindo a visualização da chama violeta do
potássio.
CoCl2 é usado para indicar a presença de água, tanto
no “papel de cloreto de cobalto” como na forma de indicador
Figura 2S.4 — O complexo [^"CKCOifOJÍPPh^J adicionado ao agente dessecante "sílica-ger. CoCl2 hidratado.
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIOAÇAO [-1-11] 401
CoC12 6H20, tem coloração rosa e é constituído por íons 0,27 Ao, por um íon d7, num campo ligante fraco (vide Tab.
octaédricos [Co(H2O)6]2 + . Se o composto for parcialmente 7.15).
desidratado por aquecimento, o íon tetraédrico de cor azul, O complexo azul Hg[Co(NCS)4] é interessante. O íon
(Co(H2O)4]2 + , é formado. A adição de água produz a reação Co2+ está coordenado tetraedricamente por átomos de N, e
inversa. Assim, quando o indicador na sílica-gel tiver o Hg2+ está coordenado tetraedricamente por átomos de S,
coloração azul, o agente dessecante está ativo, mas deve ser dando origem a um sólido polimérico. Esse composto é
substituído quando a coloração for rosa. freqüentemente usado para calibrar balanças magnéticas,
nas medidas de momento magnético.
[Co(H2O)6]2+ — [Co(H2O)4]2+ + 2H2O
rosa azul A maioria dos complexos de Co( + II) é de spin alto,
mas o ligante CN" produz complexos de spin baixo. Se uma
0 íon octaédrico hidratado reage com excesso de Cl" de solução de um sal de Co2+ for tratada com excesso de CN",
modo análogo, formando o íon tetraédrico de cor azul forma-se o complexo verde, [Co(CN)5]3". Este pode ser
[CoCl4]2". isolado na forma do sal de bário e é um bom catalisador
[Co(H2O)6]2 + + 4C1" [Co(Cl)4]2" + 6H2O para a hidrogenação de alcenos. O complexo é paramag-
rosa azul nético, com um elétron desemparelhado, e tem a forma de
uma pirâmide de base quadrada. Pode formar o dímero
OíonCo( + II) tem configuração d7. [Co(H2O)6]2+ bem [Co2(CN)10]6" de cor púrpura. Esse é diamagnético e sua
como a maioria dos complexos octaédricos de Co( + II) são estrutura (CN)sCo-Co(CN)s é semelhante a do complexo
de spin alto. Os complexos tetraédricos também são comuns carbonílico Mn2(CO) 10. É interessante notar que [Con(CN)s]3"
e apresentam cores mais intensas que os complexos é formado em detrimento do complexo octaédrico
octaédricos. Isso ocorre porque o tetraedro não tem um centro [Co“(CN)6]4". Um complexo octaédrico de spin baixo teria a
de simetria e atende facilmente à regra de seleção de Laporte configuração (t2g)6(eg)‘. Como o nível eg não estaria
(que exige A(= 1). Em contraste, os complexos octaédricos simetricamente preenchido, o complexo sofreria uma
dependem de vibrações assimétricas dos ligantes para distorção de Jahn-Teller. O ligante CN" é um receptor tt forte,
eliminar o centro de simetria. Os momentos magnéticos, isto é, recebe elétrons do metal nas ligações de retrodoação.
tanto dos complexos octaédricos como dos tetraédricos, são Isso aumenta o desdobramento do campo cristalino A^,
maiores que os previstos pela equação do momento tornando o orbital eg muito energético e fortemente
magnético de spin-only, ou seja, p = 3,87 MB. No caso dos "antiligante". Se houvesse a formação de um complexo
complexos octaédricos, isso se deve à existência de uma octaédrico, esses orbitais eg de alta energia deveríam conter
contribuição orbital, já que no arranjo (t2g)5(eg)2 é possível um elétron. Por isso, os complexos octaédricos seriam muito
transformar um orbital t2g no outro. Em complexos instáveis (num contraste acentuado, Co( + III) tem
tetraédricos a configuração eletrônica é (eg)4 (t^)3 e a configuração (£2g)6(eg)° e o complexo octaédrico [Conl(CN)6]3"
transformação de orbitais t2 não é possível, sendo a é extremamente estável).
contribuição orbital igual a zero. Contudo, nesse caso, ocorre O complexo [CoH(CN)5]3" é oxidado pelo ar, formando
o acoplamento de spin-órbita. Isso explica o valor de p maior o peroxo-complexo de cor castanha K6[(CN)5Conl-O-O-
que o esperado (vide "Medida dos Momentos Magnéticos", Colll(CN)s], que será discutido juntamente com os complexos
no Capítulo 18).
de Co( + lII).
A dissolução de CoCO3 em ácido acético leva à formação É menos comum a formação de complexos de Co( + II)
do acetato de cobalto(II), Co(CH3COO)2-4H2O. Este pode
quadrado planares com ligantes bidentados, como dimetil-
ser obtido na forma de cristais vermelhos, muito solúveis glioxima, e com ligantes tetradentados como as porfirinas.
em água, e usados como agente secante para vernizes e lacas. Medidas de momento magnético podem ser usadas para
Sais anidros de Co não podem ser obtidos por aqueci distinguir os complexos tetraédricos dos quadrado planares.
mento dos sais hidratados, pois estes se decompõem ao Os complexos tetraédricos possuem três elétrons desem-
óxido. Por isso, métodos de preparação em condições anidras parelhados, enquanto que os complexos quadrado-planares
são utilizados. CoF2 anidro (rosa) é obtido pela reação de tem somente um.
HF com CoCl2. CoCl2 anidro (azul) e CoBr2 anidro (verde)
são obtidos aquecendo-se os elementos correspondentes.
Col2 anidro (preto azulado) é obtido aquecendo-se o metal b)
com Hl. Todos têm estruturas cristalinas nas quais o íon
Co2+ se encontra octaedricamente coordenado.
0 íon Co( + II) forma vários complexos, mas estes são
menos estáveis que os correspondentes complexos de
Co( + III). Os complexos de Co( + II) podem ser tetraédricos
ou octaédricos. Como a diferença de estabilidade entre as
duas formas é pequena, elas podem coexistir em equilíbrio.
Geralmente, os ligantes monodentados volumosos Cl", Br",
1", OH" e SCN", formam complexos tetraédricos. 0 íon
iWÜ
d6
w d7
Co( + II) forma mais complexos tetraédricos que qualquer
outro íon de metal de transição. Isso está associado à pequena Figura 25.S — Configurações eletrônicas para íons d6 e d7 num
perda de energia de estabilização de campo cristalino de campo octaédrico forte
402 Grupo — GRUPO □□ COBALTO
indica que os dois átomos de Co são idênticos. Assim, o Rh( + VI) e Ir( + VI) somente ocorrem no RhF6 e IrF6,
elétron desemparelhado deve ser capaz de se mover ao longo que são obtidos pela reação direta entre os elementos.
da ponte peroxo e permanecer nos dois átomos do metal Nenhum deles é estável, embora o complexo do metal mais
por tempos iguais. pesado, IrF6, seja mais estável que RhF6.
São conhecidos diversos outros complexos binucleares,
que utilizam [-O-O-]2-, OH", NH2~, ou NH2’ como ligantes LEITURAS COMPLEMENTARES
pontes:
• Abel, E.W. e Stone, F.G. (1969, 1970) The chemistry of tran-
(azul) sition metal carbonyls, Q. Rev. Chem. Soc., Parte 1 -
[(NH3)5Co-nh2—Co(NH3)5]s +
Considerações estruturais, 23, 325; Parte II - Síntese e
nh2 reatividade, 24, 498.
• Allen, A.D. (1973) Complexes of dinitrogen, Chem Rev., 73,
[(NH3)4Co Co(NH3)4]3+ (marrom) 11.
O2 • Canterford, J . H. e Cotton, R. (1968) Halides ofthe Second
and Third Roív TYansition Elements, Wiley, London.
OH
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides of the First Row
l(NH3)4Co Co(NH3)4]' (vermelho) TYansition Elements, Wiley, London.
• Diatomic metais and metallic clusters (1980) (Conferência
OH do Faraday Symposia da Royal Society of Chemistry, Na 14),
0 estado (+ IV) é um dos estados de oxidação mais Royal Society of Chemistry, London.
estáveis do Ir, mas Rh( + lV) é instável e forma poucos • Emeléus, H.J. e Sharpe, A.G. (1973) Modem Aspects oflnor-
compostos. Ambos formam tetrafluoretos. RhF4 pode ser ganic Chemistry, 4a ed. (Cap. 14 e 15: Complexos de metais
obtido a partir de RhCl3 e BrF3. IrCl4 não é muito estável. de transição; Cap. 20: Carbonilas), Routledge and Kegan Paul,
Ir02 é obtido na queima do metal ao ar, mas RhO2 só pode London.
ser obtido pela oxidação enérgica de Rh( + III), em solução • Golding, B.T. (1983) Cobalt and vitamin Bu, Education in
alcalina, por exemplo, com bismutato de sódio. O ródio forma Chemistry, 20, 204-207.
apenas poucos complexos, como K2[RhF6] e K2[RhCl6], mas • Griffith, W. P. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry,
estes reagem com água, gerando O2 e eventualmente RhO2. Vol. 4 (Cap. 46: Carbonilas, cianetos, isocianetos e nitrosilas),
0 indio forma vários complexos com haletos e água, tais co Pergatnon Press, Oxford.
mo [lrCl6]2-, [IrCl3(H2O)3]+, [IrCl4(H2O)2] e [IrCl5■ (H2O)]". • Johnson, B.F.G. (1976) The structures of simple binary car
0 complexo com oxalato, [Ir(oxalato)3]2’, pode ser resolvido bonyls, JCS Chem. Comrnun., 211-213.
nos isômeros ópticos d e l. • Johnson, B.F.G. (ed.) (1980) TYansition Metal Clusters, John
Wiley, Chichester.
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NOS • Levason , W . e McAuliffe, C.A. (1974) Higher oxidation
ESTADOS DE OXIDAÇÃO ( + V) E ( + VI) State chemistry of iron, cobalt and nickel, Coordi.naJ.ion Chem.
Rev., 12, 151-184.
Compostos de Co( + V) não podem ser obtidos, em
condições normais. Rh( +V) e lr( + V) são encontrados nos • Lewis, J. e Green, M.L. (eds) (1983) Metal Clusters in Chem
pentafluoretos (RhF5)4 e (IrF5)4. São compostos muito istry (Anais do Royal Society Discussion Meeting, maio de
reativos e são facilmente hidrolisados. São constituídos por 1982), The Society, London.
unidades tetraméricas com pontes M-F-M, semelhantes às • Nicholls, D. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol.
que ocorrem nos análogos de Nb, Ta, Mo, Ru e Os (Fig. 3 (Cap. 41: Cobalto), Pergamon Press, Oxford.
21.1). Os únicos complexos conhecidos são Cs[RhF6] e • Phipps, D.A. (1976) Metals and Metabolism, Oxford Univer-
Cs[IrF6]_ sity Press, Oxford.
406
Grupo 10
0 GRUPO DO IJÍGURL
INTRODUÇÃO
O níquel é moderadamente abundante e produzido em Tabela 26.2 — Abundância dos elementos na crosta
grandes quantidades. É utilizado para a preparação de várias terrestre, em peso
ligas, tanto ferrosas como não-ferrosas. Nos compostos Ordem de
Elemento ppm
simples é predominantemente iônico e divalente. Também abundância relativa
é encontrado na forma de Ni( + II) na maioria de seus
complexos, que geralmente são quadrado planares ou Ni 99 22?
octaédricos. Paládio e platina são metais raros e caros. São Pd 0,015 69?
metais nobres e não muito reativos, mas um pouco mais Pt 0,01 70?
reativos que os demais metais do grupo da platina. Ambos
são usados como catalisadores. Os elementos são mais incluem a garnierita, um silicato de magnésio e níquel, de
comumente encontrados na forma de Pd ( + 11), Pt( + II) e composição variável, (Mg,Ni)6 Si4O10(OH)8, e a limonita
Pt( + IV). Eles não formam compostos iônicos simples. niquelífera, (Fe,Ni)O(OH)(H2O)n. Os minérios extraídos em
1992 continham cerca de 850.000 toneladas de níquel. Os
OCORRÊNCIA, OBTENÇÃO E USOS principais produtores de minérios foram: Canadá 23%, ex-
URSS 21% e Nova Caledônia 12%.
Níquel
A obtenção do níquel a partir de seus minérios é
O níquel é o vigésimo-segundo elemento mais
dificultada pela presença de outros metais. Minérios do grupo
abundante em peso na crosta terrestre. Os minérios de níquel dos sulfetos são hoje a principal fonte de níquel. 0 minério
de importância comercial são: sulfetos, que geralmente estão é concentrado por flotação e por métodos magnéticos, e a
misturados com sulfetos de Fe ou Cu, e depósitos aluviais seguir aquecido com SiO2. FeS se decompõe a FeO, que reage
de silicatos e óxidos/hidróxidos. O minério mais importante com SiO2 formando a escória de FeSiOj, que pode ser
é a pentlandita, (Fe,Ni)9S8, que sempre apresenta uma facilmente removida. A mistura de sulfetos é esfriada
proporção de Fe:Ni de 1:1. Geralmente, ocorre associado lentamente, de modo a gerar uma camada prateada supe
com uma forma de FeS denominada pirrotita — ambos têm rior de Cu2S e uma camada preta inferior de Ni2S3, que pode
cor de bronze e são encontrados na ex-URSS, Canadá e África ser separada mecanicamente (também se forma uma
do Sul. Diversos outros minérios do grupo dos sulfetos e pequena quantidade de uma liga de Cu/Ni. Ela dissolve todos
dos arsenetos, tais como millerita, NiS, nicolita, NiAs, e a os metais do grupo da platina eventualmente presentes,
pirita arsenical de níquel, NiAsS, já foram importantes, mas sendo usada como fonte desses elementos raros e caros).
atualmente são pouco usados. Depósitos aluviais importantes Ni2S3 é, então, aquecido com ar e convertido em NiO. Este
último pode ser utilizado diretamente na
Tabela 26.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação manufatura do aço, ou pode ser
reduzido ao metal pelo carbono, num
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* forno. O metal é fundido, transformado
em placas, e purificado por eletrólise,
Níquel Ni [Ar] 3^4? 0 (I) II (ni) (IV) numa solução aquosa de NiSO4.
Paládio Pd [Kr] 4d'° 0 <i)? li iv
Platina Pt [Xe] tf* Sr^ós 1 0 (D n (in>? iv (V) (vi) O processo Mond é um método
alternativo para produzir Ni de elevada
' Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados pureza. Esse método foi patenteado por
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo L. , Mond
,. ’. utilizado
.... < no sul do País de
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são dados entre parênteses. Mond ee utilizado no sul
OCORRÊNCIA, OBTENÇÃO E USOS 407
Gales de 1899 até 1970. NiO e “gás d’água” (H2 e CO) são de 100 toneladas dos quais era platina. Embora o Pd seja
aquecidos à 50 °C, à pressão atmosférica. O H2 reduz NiO a um pouco mais abundante que a Pt, a produção de Pt é
Ni, que por sua vez reage com CO formando o complexo maior que a de Pd. Os principais produtores foram: África
volátil (tetracarbonil)níquel, Ni(CO)4 (este é muito tóxico e do Sul 54%, ex-URSS 37% e Canadá 4%. As jazidas sul-
inflamável). Todas as impurezas permanecem no estado africanas contêm mais Pt que Pd, mas nas jazidas da ex-
sólido. Quando o gás é aquecido a 230 °C, se decompõe URSS é o contrário.
formando o metal Ni puro e CO, que é reciclado. Uma fábrica Os metais do grupo da platina ocorrem em pequenas
recém construída no Canadá utiliza CO e metal impuro, mas quantidades, associados aos minérios de Cu e Ni, do grupo
opera a 150 °C e 20 atmosferas de pressão, na etapa de dos sulfetos. São obtidos na forma concentrada no lodo
obtenção do Ni(CO)4. anódico, resultante dos processos de refino eletrolítico dos
SO'C 23O'C
principais metais do minério. Os metais do grupo da platina
Ni + 4C0 ■> Ni(C0)4 -> Ni + 4CO também são obtidos a partir da liga Cu/Ni, produzida na
(processo Mond) separação da mistura de Cu2S e Ni2S3 no processo de
extração do níquel descrito acima. A separação dos metais
Minérios de níquel do grupo dos silicatos, como a do grupo da platina é um processo complexo, mas nas
garnierita, são misturados com gesso (CaSO4) e fundidos na últimas etapas os complexos (NH4)2[PtCl6j e [Pd(NH3)2Cl2]
presença de coque. Os silicatos formam uma escória de são submetidos a um tratamento térmico para se obter os
CaSiO3, e o níquel forma uma mistura de sulfetos, que é respectivos metais. Os metais são obtidos na forma de pó
tratado pelo método descrito acima. ou sólidos esponjosos, que são convertidos nos objetos
A maior parte da produção de níquel é utilizada na sólidos por sintetização.
fabricação de ligas ferrosas e não-ferrosas. O níquel melhora Aproximadamente um terço da produção de Pt é usado
a resistência mecânica e química do aço. Em 1991, foram na manufatura de jóias, um terço na indústria automobilística
produzidas 569.000 toneladas de liga ferro-níquel. O aço e um terço em aplicações industriais e financeiras. Pt tem
inoxidável pode conter de 12 a 15% de Ni, e o aço para sido usada em joalheria desde centenas de anos antes de
cutelaria contém 20% de Cr e 10% de Ni. ímãs permanentes Cristo. Os primeiros foram os egípcios e os povos primitivos
muito fortes são fabricadas com a liga de aço “alnico". O do Peru e do Equador. Hoje em dia, ela é freqüêntemente
metal-monel é muito resistente à corrosão e é usado em usada na montagem de anéis de diamantes e outras jóias.
equipamentos que entram em contato com F2 e outros Assemelha-se à prata e já foi denominada “ouro branco".
fluoretos corrosivos. Essa liga contém 68% de Ni, 32% de Atualmente, esse termo é usado para designar uma liga de
Cu, além de pequenas quantidades de Fe e Mn. Diversas Pd/Au, o que cria certa confusão.
ligas não-ferrosas são importantes. As ligas da série Uma aplicação recente e crescente da Pt é na confecção
“nimônica” (75% de Ni, com Cr, Co, Al e Ti) são usadas em dos “conversores catalíticos de três vias”. Esses "catalisado
turbinas e motores a jato, onde resistem a elevadas tensões res" são usados nos carros modernos para reduzir a poluição
e temperaturas. As aplicações de outras ligas, como o provocada pelos gases de escape. Os catalisadores exigem o
“hastelloy C”, se deve à sua elevada resistência à corrosão. uso de gasolina isenta de chumbo. O principal componente
0 “nicromo” contém 60% de Ni e 40% de Cr e é usado na do catalisador é um peça de cerâmica constituída por peque
fabricação das resistências de aquecedores elétricos. O cupro- nos tubos (colméia), revestido com Pt, Pd e Rh. Os gases de
níquel (80% de Cu e 20% de Ni) é usado na fabricação de escape do motor passam através da colméia a cerca de 300
moedas de “prata". A liga conhecida como “prata alemã” °C. Durante o trajeto, os metais nobres convertem os hidro-
contém aproximadamente 60% de Cu, 20% de Ni e 20% de carbonetos remanescentes, o CO e os óxidos de nitrogênio
Zn. Ela é usada na fabricação de imitações de artigos de nos compostos inofensivos CO2 e N2 (gasolina contendo
prata, podendo ser eletrodepositada sobre outros metais. Seu Pb(Et)4 não pode ser utilizada, pois o chumbo envenena o
nome (“prata alemã”) confunde, pois essa liga não contém “catalisador”).
prata. Géralmente, o aço recebe um revestimento de níquel, Tanto Rh como Pt são extensivamente empregados na
por eletrodeposição, antes da cromação. O níquel também é química como catalisadores. PdCl2 é usado no Processo
utilizado em acumuladores de Ni/Fe, que têm a vantagem Wacker de conversão de C2H4 (eteno) a CH3CHO (etanal).
de poderem ser carregados rapidamente, sem provocar danos Pd é usado em reações de hidrogenação, como a de fenol a
às placas da bateria. Pequenas quantidades de níquel ciclohexanona, e também em reações de desidrogenação. A
finamente dividido (Ni Raney) são empregadas em muitos platina é muito importante como catalisador na indústria
processos de redução. Pode ser citado como exemplo a petroquímica, na “reforma" de hidrocarbonetos. Pt/PtO é o
fabricação de hexametilenodiamina, a obtenção de H2 a partir catalisador de Adams para reduções. Pt já foi usado como
de NH3 e a redução de antraquinona a antraquinol no catalisador no Processo de Contato, de fabricação de H2SO4
processo de fabricação de H2O2. (para converter SO2 em SO3). Atualmente, V2O5 é usado como
catalisador, porque é mais barato e menos susceptível ao
Paládio e platina envenenamento. No passado, uma liga Pt/Rh foi usada na
Pd e Pt são elementos raros, embora sejam bem mais oxidação de NH3 a NO, no processo Ostwald de fabricação
abundantes que os demais metais do grupo da platina (Ru, de HNO3.
0s, Rh e Ir). Em 1992, a produção mundial de todos os seis No laboratório, cadinhos de platina são às vezes
metais do grupo da platina foi de apenas 281 toneladas, cerca utilizados. Pt também é empregado em equipamentos para
408 BRUPO 10 — 0 BRUPO □□ NlQUEL
o manuseio de HF. Pt pode ser soldada ao vidro de sódio, Tabela 26.4 — Algumas propriedades físicas
para fazer conexões elétricas com esse material. Isso é
importante na fabricação de eletrodos, válvulas termo- Raio Raio iânico Ponto de Ponto de Densidade Eletrone-
iônicas, etc. O vidro de sódio e a platina tem quase o mesmo covalente M2* MJ* fusão ebulição gativkla-
coeficiente de expansão, e ele não quebra ao esfriar. (Â) (A) fC) CC)
CO (gem-3) dei
Panling
•OH 0—HO
2 + Ni2* Ni +2H*
CH-
tltl
Figura 26.3 — Arranjo de num campo tetraédrico Figura 26.5 — Sal de Zeise: [Pt(rf-C2Ht)(Cl)3F
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIDAÇAD [->-11] 411
C são de 2,128 A e 2,135 A). A distância OCno complexo uma estrutura pouco usual, contendo um triângulo de três
é de 1,375 A, enquanto que a distância C = C no eteno é de átomos de Pd, unidos por seis grupos acetato atuando como
1,337 A e a distância C-C no etano é de 1,54 A. Nota-se que ligantes ponte.
a ligação C = C no complexo se tornou um pouco mais longa. PdCl2 catalisa a reação entre H2C - CH2, CO e H2O:
A dupla ligação ocupa um sítio de coordenação e não um
átomo de C isolado, de modo que o C2H4 atua como um CH2 = CH2 + CO + H2 -> CH3CH2COOH
ligante diháptico. Assim, o complexo deveria ser representado No sal de Magnus, [Pt(NH3)4]2+ [PtCl4]2-, de cor verde,
como K[Pt(n2-C2H4)Cl3] ■ H2O. os ânions e cátions quadrado planares estão empilhados uns
A ligação formada nesses complexos com alcenos não sobre os outros. Essa estrutura também ocorre em outros
era perfeitamente entendida até 1951, quando Dewar sugeriu complexos, como [Pd(NH3)4]2+[Pd(SCN)4]2' e
que a ligação rt doa elétrons para um orbital o vazio do [Cu(NH3)4]2+ [PtCl4]2’. Os átomos metálicos de unidades
metal, em vez de se ligar a apenas um dos átomo de C da adjacentes podem interagir uns com os outros, formando
dupla ligação. Essa idéia foi ampliada por Chatt, em 1953. ligações metal-metal fracas. Uma evidência disso é a cor do
Assim, atualmente supõe-se que a ligação pode ser complexo: se o ânion e o cátion contém Pt( + II) eles deveríam
subdividida em duas partes: ser individualmente incolores, amarelo pálido ou vermelho
1) Uma ligação dativa, na qual o par de elétrons do or claro, mas quando empilhados apresentam coloração verde
bital rt preenchido do eteno se combina com um orbital iridescente. Exibem também uma maior condutividade
híbrido vazio do metal, formando uma ligação o. elétrica. O complexo [Pt(etilenodiamina)Cl2] tem estrutura
semelhante (Fig. 26.6).
2) Ocorre também uma interação rt entre um orbital d
preenchido do metal e um orbital antiligante vazio do K2[Pt(CN)4]-3H2O é um complexo bem conhecido,
eteno. Essa ligação rt é uma ligação de retrodoação. A incolor e estável. No cristal, as unidades quadrado planares
maioria dos elementos de transição forma complexos [Pt(CN)4]2’ estão empilhadas umas sobre as outras, mas o
com alcenos. As exceções são alguns dos primeiros sólido não conduz a eletricidade. Contudo, a partir desse
elementos, pois os orbitais d não estão suficientemente complexo podem ser obtidos diversos outros compostos, que
preenchidos para permitir a ocorrência de interações conduzem a corrente elétrica em uma dimensão e sâo
de retrodoação. A extensão desse tipo de interação varia dicróicos (materiais dicróicos são materiais que apresentam
de um complexo para outro, mas pode ser avaliado pelo um índice de refração diferente em função da direção, de
comprimento da ligação C = C. modo que quando são observados de direções diferentes
exibem cores diferentes). Se esse composto for oxidado, será
Além do interesse teórico no estudo das ligações nesses possível obter compostos cor de bronze, deficientes em
complexos, alguns deles são importantes em diversos cátions, como K2[Pt(CN)4]Bro,3-3H20 e K2[Pt(CN)4]Cl0.3-
processos industriais. Complexos formados pela adição de 3H2O. Os orbitais dz2 preenchidos dos átomos de Pt interagem
eteno a PdCl2 são decompostos pela água, formando etanal formando uma banda deslocalizada ao longo da cadeia de
(acetaldeído): átomos de Pt. No K2[Pt(CN)4] • 3H2O essa banda está
preenchida; logo, esse material não conduz eletricidade. No
C2H4 + PdCl2 + H20 -» CH3CHO + Pd + 2HC1
K2[Pt(CN)4]Br0,3-3H2O, o bromo atua como receptor de
Essa reação é a base do Processo Wacker de fabricação de elétrons, removendo em média 0,3 elétron de cada unidade
acetaldeído. Pd é reconvertido em PdCI2 “in situ” pelo CuCl2: [Pt(CN)4]2’. Assim, a banda d2 está preenchida com cinco
sextos de sua capacidade, e o sólido conduz a eletricidade
Pd + 2CuC12 -» PdCl2 + 2CuC12 por um mecanismo de condução metálica em uma dimen
são (Fig. 26.7). No K2[Pt(CN)4] • 3H2O a distância Pt-Pt é de
A solução contém HC1, e o CuCl2 é regenerado pela passagem 3,48 A, mas a forte interação dos orbitais d2 no
de um fluxo de O2: K2[Pt(CN)4]Br0-3-3H2O diminui a distância Pt-Pt para 2,8-
3,0 Â.
2CuCl + 2HC1 + ’/zO2 -> 2CuCI2 + H2O
Logo, a reação global é:
PdO2 só é conhecido na forma hidratada. Em contraste, tetrâmero e tem uma estrutura similar a de muitos pentafluo-
PtO2 é o óxido mais estável da Pt e pode ser obtido tanto na retos de metais de transição (Fig. 21.1). O íon [PtF6]' também
forma anidra como hidratada. O óxido anidro é insolúvel, contém Pt( + V) e foi preparado pela primeira vez por meio
mas o óxido hidratado se dissolve em ácidos e álcalis. da reação entre PtF6 e O2, na qual foi obtido o composto
PdF4 é o único haleto de Pd conhecido, mas todos os O2+ [PtF6]“. Uma reação semelhante entre Xe e PtF6 foi
quatro haletos PtX4 da platina são conhecidos. A reação direta utilizada por Bartlett, em 1962. Este levou à formação de
de Pd com F2 leva à formação de PdF3 (na realidade Xe+ [PtF6]", o primeiro composto de um gás nobre a ser
Pd"[PdlvF6]) e PdF4, ao passo que a reação análoga com Pt sintetizado (verificou-se posteriormente que o composto era
forma PtF4, PtFs e PtF6. O PtCl4 é obtido pela reação direta na realidade [XeFJ * [Pt2Fn]”). Os únicos exemplos
entre os elementos, ou então pelo tratamento térmico de conhecidos de compostos dos elementos desse grupo no
H2[PtCl6], estado (+ VI) são PtO3 e PtF6.
água régia calor
Pt + H2[PtCl6] — PtCl4 + 2HC1 COMPARAÇÕES HORIZONTAIS NOS
Pd( + IV) é encontrado em alguns poucos complexos GRUPOS DO FERRO, COBALTO E NÍQUEL
octaédricos do tipo [PdX6]2”, onde X = F, Cl ou Br, e no Os metais ferrosos Fe, Co e Ni exibem similaridades
[PdX4(NH3)2j. Esses complexos são geralmente reativos. horizontais e diferem dos metais do grupo da platina por
[PdF6]2~ se hidrolisa rapidamente em água, enquanto que serem muito mais reativos. Nos metais ferrosos, a reatividade
os demais complexos com haletos são decompostos por água decresce do ferro para o cobalto, e deste para o níquel.
quente, gerando [PdIlX4]2- e o halogênio correspondente. Embora os estados de oxidação máximos sejam Fe( + VI),
Em contraste, Pt( + IV) é encontrado em inúmeros com Co( + IV) e Ni( + IV), estes elementos raramente excedem o
plexos octaédricos muito estáveis, tais como [Pt(NH3)6]4 + , estado de oxidação ( + 111). A tendência de formar íons
[Pt(NH3)5Cl]3 + , [Pt(NH3)4Cl2]2+... até [PtCl6]2”. São trivalentes decresce ao longo do período. Assim, Fe3 * é o
conhecidas outras séries de complexos análogos, com ligantes estado usual do ferro, mas Co3+ é um forte agente oxidante,
como F”, Cl“, Br", I”, OH”, acetilacetona, NO2”, SCN”, SeCN” a não ser quando complexado; e o Ni é divalente em todos
e CN”. Alguns desses complexos foram estudados por Werner, os seus compostos simples. Os elementos, nos estados de
nos primeiros estudos sobre compostos de coordenação (vide valência mais baixos, formam íons simples e são relati
Capítulo 7). vamente abundantes.
0 composto de Pt comercialmente mais comum é o Os metais do grupo da platina (Ru, Rh, Pd, Os, Ir, e Pt)
ácido cloroplatínico. Ele se forma quando Pt esponjoso é são muito mais "nobres” que os metais ferrosos, e
dissolvido em água-régia, ou em HC1 saturado com Cl2. For praticamente não reagem com ácidos. A reatividade desses
mam-se cristais vermelhos de fórmula H2[PtCl6]-2H2O. Os metais aumenta na seqüência Ru < Rh < Pd, e na seqüência
sais de sódio ou potássio desse ácido são freqüentemente Os < Ir < Pt, ou seja, apresenta uma tendência oposta
usados como matéria-prima para a fabricação de outros àquela observada no grupo dos metais ferrosos. Os
compostos de Pt( + IV). O amianto platinizado é usado como halogênios reagem com os metais somente a elevadas
catalisador. É obtido impregnando-se o amianto com uma temperaturas, e geram compostos onde os metais estão nos
solução de ácido cloroplatínico, seguido do aquecimento forte seus estados de oxidação mais elevados, como OsF6, IrF6 e
do material obtido para decompor o complexo ao metal Pt. PtF6. Os elementos nos estados de oxidação mais baixos são
Com isso, uma pequena quantidade de Pt é espalhada por instáveis, exceto em complexos. Somente alguns poucos íons
uma superfície muito grande. simples são conhecidos. Por causa da contração lantanídica,
A “platina platinizada” ou “negro de platina" é freqüen os raios da segunda e terceira séries de elementos de transição
temente usada como eletrodo para medidas de condu- são muito semelhantes e seus volumes atômicos são quase
tividade. Ela é preparada pela eletrólise de uma solução iguais. Conseqüentemente, as densidades do Os, Ir, e Pt são
contendo o íon hexacloroplatinato, [PtCl6]2”. praticamente o dobro das densidades do Ru, Rh e Pd. Todos
A platina forma derivados alquilados quando reage com os seis elementos são raros.
um reagente de Grignard, o que não é muito comum: Tanto os metais ferrosos como os metais do grupo da
platina são elementos de transição típicos, e se caracterizam
4PtCL, + 12CH3MgI -> [(CH3)3Ptl]4 + 8MgCl2 + 4MgI2
por:
Há relatos sobre o complexo [(CH3)4Pt]4, mas estes eram
incorretos, e o composto formado é na realidade o D formarem compostos coloridos
[(CH3)3Pt(OH)]4. O sólido é constituído por unidades 2) terem valência variável
tetraméricas nas quais a Pt está hexacoordenada. A ligação 3) terem propriedades catalíticas
Pt-C é muito estável. Esses compostos organometálicos são 4) formarem compostos de coordenação
solúveis em solventes orgânicos.
As diferenças entre os dois grupos são:
1) tendência de aumento da estabilidade dos elementos
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NOS nos estados de oxidação superiores
ESTADOS DE OXIDAÇÃO (+ V) E ( + VI) 2) desaparecimento de formas iônicas simples
Somente Pt forma alguns poucos compostos nos quais 3) caráter “nobre" crescente
o elemento se encontra nesses estados de oxidação. O Essas são as tendências normalmente esperadas num
elemento no estado (+ V) é encontrado no PtFs, que é um grupo vertical.
414 GRUPO IP — O GRUPO 00 NÍQUEL
Grupo fJ
0 GRUPO DO COBRE
INTRODUÇÃO
Todos os elementos do grupo 11 tem um elétron s Tabela 27.2 — Abundância dos elementos na crosta
externo, além de um nível d completo. Apresentam mais terrestre, em peso
diferenças que semelhanças em suas propriedades. Os três ppm Ordem de
Elemento
metais possuem a mesma estrutura cristalina (cúbica de abundância relativa
empacotamento compacto). Conduzem particularmente bem
a eletricidade e o calor, e tendem a ser pouco reativos. Os Cu 68 25?
únicos íons simples que podem ser encontrados em solução Ag 0,08 66?
(além dos íons complexos) são: Cu2+ e Ag + . O estado de Au 0,004 73?
oxidação mais estável varia com o elemento: Cu( + II),
Ag( +1) e Au( + III). O cobre é obtido em larga escala, tendo
sido utilizadas 11 milhões de toneladas em 1992, praticamente esgotada. O minério mais comum é a
principalmente como metal puro e em ligas. O cobre é calcopirita, CuFeS2. Ela tem brilho metálico e aparência
biologicamente importante, sendo encontrado em diversas semelhante à da pirita, FeS, (o “ouro dos tolos”), mas com
enzimas do grupo das oxidases, nos transportadores de uma coloração mais próxima da do cobre. Também podem
oxigênio em certos invertebrados e no sistema fotossintético. ser citados o Cu2S (calcocita; cinza escura), o carbonato
Há um grande interesse em torno de diversos óxidos mistos básico de cobre CuCO3Cu(OH)2 (malaquita, verde), óxido
de cobre, que possuem propriedades supercondutoras. cuproso Cu2O (cuprita, vermelho-rubi) e o Cu5FeS4 ou bomita
(mistura de cores iridescentes azul, vermelho, castanho e
ABUNDÂNCIA, OBTENÇÃO E APLICAÇÕES púrpura, como nas penas do pavão). A turquesa
CuAl6(PO4)4(OH)8-4H2O é uma pedra semipreciosa,
DOS ELEMENTOS apreciada por sua coloração azul e listras delicadas.
0 cobre é moderadamente abundante, sendo o Os minérios do grupo dos sulfetos são muitas vezes
vigésimo-quinto elemento mais abundante, em peso, na pobres, e podem conter apenas 0,4-1 % de Cu. Os minérios
crosta terrestre. Ocorre na proporção de 68 ppm em peso. são moídos e concentrados por dotação a espuma, formando
Prata e ouro são bastante raros (Tab. 27.2). um concentrado com até 15 % de Cu. Ele é a seguir calcinado
ao ar.
Cobre
Pepitas de cobre naturais (isto é, pedaços de metal) 2CuFeSj
1.400—1^SO‘C CU2S
+ Fe2O3 + 3SO2
eram antigamente encontradas, mas essa fonte está agora
Areia é adicionada para remover o
Tabela 27J — Configurações eletrônicas e estados de oxidação ferro, como escória de silicato de ferro,
Fe2(SiO3)3, que flutua na superfície. Ar
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* é passado através da mistura líquida de
Cu2S, contendo um pouco de FeS e sílica;
Cobre Cu [Ar] 3</'°4? I II (UI) provocando sua oxidação parcial:
Prata Ag [Kr] 4d10 5? I n (IID
Ouro Au [Xe] 4/45d106s‘ I ni V 2FeS + 3O2 —> 2FeO + 2SO2
* Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados FeO + SiO2 -> Fe2(SiO3)3
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo Cu2S + O2 —» Cu2O + SO2
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são dados entre parênteses.
416 Grupo II — GRUPO □□ COBRE
Após algum tempo, o fornecimento de ar é D Atualmente, a maior parte é obtida como subproduto
interrompido. Nessa etapa ocorre a auto-redução do óxido e do Cu, Pb ou Zn. Pode ser obtida da lama anódica
do sulfeto, formando um cobre com 98 a 99% de pureza. formada no refino eletrolítico de Cu e de Zn.
C112S + 2CU2O —» 6Cu + SO2 2) Zinco é usado para extrair a prata do chumbo em estado
de fusão, por extração com solvente, no processo Parke.
Em seguida, é fundido em blocos (cobre cementado) e 3) Ouro e prata podem ser extraídos de seus minérios na
refinado por eletrólise: os eletrodos são de Cu e a solução forma de ciano complexos solúveis.
(eletrólito) contém H2SO4 diluído e CuSO4. A produção mundial de prata foi de 13.818 toneladas
Não é economicamente viável tratar minérios muito em 1992. Os principais produtores foram: México, 17%,
pobres em cobre, da maneira descrita. Assim, esses minérios Estados Unidos 13%, Peru 11 %, Canadá e Austrália 9 % cada,
são extraídos e deixados ao relento para sofrerem a ação do ex-URSS e Chile 7% cada. A principais aplicações da prata
intemperismo. O CuS se oxida lentamente a CuSO4, que é são: em emulsões fotográficas (AgCl e AgBr), em joalheriae
lixiviado com água ou H2SO4 diluído. O cobre é deslocado ornamentos de prata, em baterias e na fabricação de espelhos.
da solução de sulfato de cobre resultante, adicionando-se à
mesma raspas de ferro. Ouro
Fe + Cu2 + Fe2+ + Cu Historicamente, o ouro tem sido encontrado na forma
nativa, como pepitas. Achados dessa natureza
A produção mundial de cobre minerado’ foi de 9,3 desencadearam as "corridas do ouro”, por exemplo nos EUA
milhões de toneladas em 1992. Os principais produtores de Contudo, o ouro ocorre sobretudo na forma de pequenos
cobre foram: Chile 21 %, Estados Unidos 19%, ex-URSS 9%, grãos de metal disseminados em veios de quartzo. Muitas
Canadá 8 % e Zâmbia 5 %. Além disso, foram reciclados cerca dessas rochas foram erodidas pelo intemperismo. Assim, 0
de 1,7 milhões de toneladas do metal, levando a uma ouro e a areia foram arrastadas pelos cursos d’água e se
produção total de 11 milhões de toneladas. acumularam como sedimentos no leitos dos rios. Os grãos
de ouro podem ser separados da areia com 0 auxílio da bateia,
O metal é utilizado na indústria elétrica, por causa da
ou seja, agitando a mistura com água, em movimentos circu
sua elevada condutividade, e em tubulações de água, por
lares. O ouro é muito denso (19,3 g cm'3) e sedimenta rapida
causa de sua inércia química. Existem mais de 1.000 ligas mente, mas a sílica, com uma densidade de 2,5 g cm'3,
diferentes de cobre. Podem ser citados o bronze (Cu/Zn,
precipita mais lentamente e é desprezada com a água. Esse
com 20-50% de Zn), a liga conhecida como "prata alemã"
procedimento é hoje pouco usado, pois os depósitos de ouro
(55-65% de Cu, 10-18% de Ni e 17-27% de Zn), o "bronze
estão quase esgotados.
de fósforo” (Cu com 1,25-10% de Sn e 0,35% de P) e várias
ligas usadas na fabricação de moedas. O sulfato de cobre é Atualmente, as rochas contendo pequenas quantidades
produzido em quantidades apreciáveis (123.956 toneladas de ouro são moídas e o ouro é extraído com mercúrio ou
em 1991). Diversos compostos de cobre são utilizados na cianeto de sódio. A água e a rocha moída são passadas sobre
agricultura. Por exemplo, a "mistura de Bordeaux" é o mercúrio, que dissolve o ouro formando uma amálgama. 0
hidróxido de cobre, obtido a partir de CuSO4 e Ca(OH)2. É ouro é recuperado, aquecendo-se a amálgama num sistema
um importante fungicida pulverizado nas plantações para de destilação. O mercúrio é volátil e se separa do ouro, sendo
protegê-la contra certos fungos, por exemplo, aqueles que novamente condensado e reutilizado. No Brasil, esse
atacam as folhas da batata (responsável pela grande fome procedimento tem sido utilizado com água dos rios e areia
na Irlanda em 1845-46) e também contra fungos da videira. aurífera. Em conseqüência, consideráveis trechos de rios da
Carbonato básico de cobre, acetato de cobre e oxocloreto de Bacia Amazônica foram contaminadas com mercúrio,
cobre também têm sido utilizados para esse fim. O "verde provocando problemas ambientais. No "processo do
de Paris” é um inseticida obtido a partir de acetato básico cianeto", as rochas trituradas são tratadas com solução 0,1-
de cobre, óxido arsenioso e ácido acético. 0,2% de NaCN e aeradas.
Existe um enorme interesse pelos óxidos mistos de cobre 4Au + 8NaCN + 2H2O + O2 -> 4Na[Au(CN)2) + 4NaOH
do tipo La(2.x)BaxCuO(4.y), pois eles apresentam propriedades
supercondutoras, a temperaturas inferiores a 50 K. G. O complexo cianoaurato de sódio é solúvel em água e
Bednorz e A. Müller receberam o Prêmio Nobel de Física de pode ser separado da rocha. O ouro é precipitado dessa
1987, por suas pesquisas com esses compostos. Outros solução adicionando-se Zn em pó. A produção mundial de
materiais que se tornam supercondutores a temperaturas ouro foi de 2.134 toneladas em 1992. Os principais produtores
mais elevadas (até 125 K), são baseados no YBa2Cu3O7.x. foram: África do Sul, 29%, Estados Unidos 14%, Austrália
Esses compostos foram descritos no Capítulo 5, no tópico 11%, ex-URSS 10%, Canadá 7% e China 6%. É usado
"Supercondutividade". principalmente como um (ouro em barras) padrão monetário
internacional e em joalheria. O ouro empregado em joalheria
é geralmente uma liga com Cu e Ag. Essas ligas preservam a
Prata cor dourada, mas são mais duras. A quantidade de ouro
A prata é encontrada na forma de minérios do grupo presente nas ligas é expressa em quilates. O ouro puro tem
dos sulfetos, como Ag2S (argentita), como cloreto AgCl 24 quilates. As ligas geralmente têm 9,18 ou 22 quilates, ou
(cloroarginita) ou como prata nativa. TYês processos de seja, contém 9/24, 18/24 e 22/24 de ouro puro, respecti
extração estão sendo utilizados: vamente. Pequenas quantidades de ouro são utilizadas para
PROPRIEDADES 6ERAIS 417
fabricar contatos elétricos resistentes à corrosão, por exemplo Potencial de redução padrão (volt)
em placas de computadores. Uma fina película de 1011 m de Solução ácida
espessura é as vezes depositada sobre os vidros das janelas
Estados de oxidação
de edifícios de luxo. Essa fina película metálica reflete o
calor indesejado do sol no verão, mantendo fresco o ambiente +iu +n +1 0
no interior do prédio. No inverno, essa película evita a perda 40,52
-1.8 40.15
de calor. CuO+- Cu2* éu+- Cu
+0.34
ESTADOS DE OXIDAÇÃO AgO*-
42.1
Ag2*-
41.98
Ag+-
40,80
Ag
Os elementos Cu, Ag e Au podem ser encontrados nos
estados de oxidação ( + 1), ( + 11) e ( + III). Contudo, os únicos <413 >41,29 4-1.68
Au3*- Au2*- Âu+- Au
íons hidratados simples estáveis em solução aquosa são os
íons Cu2* e Ag+. Os íons monovalentes Cu+ e Au* se L 41.50
Contudo, Cu é muito lentamente oxidado superficial a ácido adípico, que é empregado na fabricação de náilon-
mente quando exposto ao ar úmido, formando um 66. CuCl2 era usado como catalisador no processo Deacon
revestimento verde de azinhavre. O azinhavre é carbonato de obtenção de Cl2, a partir de HC1.
básico de cobre, CuCO3Cu(OH)2, e é responsável pela
coloração esverdeada dos telhados recobertos com chapas COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
de cobre e das estátuas de cobre.
DE OXIDAÇÃO ( + 1)
Ag se dissolve em HNO3 concentrado e em H2SO4
concentrado, à quente. Au não é atacado por nenhum ácido, Os elementos no estado de oxidação ( + 1) têm
exceto a água-régia (uma mistura 3:1 de HC1 e HNO3 concen configuração d10. Por isso, a maioria de seus compostos
trados). O HNO3 atua como um agente oxidante e os íons simples e seus complexos são diamagnéticos e incolores.
cloreto como agentes complexantes. Há poucos compostos coloridos: por exemplo, Cu2O é
amarelo ou vermelho, Cu2CO3 é amarelo e Cul é marrom.
Cu reage com oxigênio, mas Ag e Au são inertes. Nesses casos a cor se deve às transições de transferência de
aquecimento temperaturas carga, e não às transições d-d.
Cu + O2 4CuO ->Cu2O + O2
ao rubro mais elevadas Seria de se esperar que os elementos no estado ( + 1)
fossem mais estável e mais comuns, por causa da estabilidade
Cu e Ag metálicos reagem com H2S e com S, mas o Au resultante da configuração d10, com um nível completamente
não reage. Objetos de prata lentamente perdem o brilho preenchido. Surpreendentemente esse não é o caso. Embora
quando expostos ao ar (ou seja, objetos polidos de prata Ag+ seja estável tanto no estado sólido como em solução,
gradualmente escurecem). Isso se deve a presença de Cu+ e Au+ se desproporcionam em água.
pequenas quantidades de H2S no ar, que reagem com Ag
formando Ag2S, que é preto. v_[Cu2+]
2Cu+ Cu2 + + Cu ix----------- 77 = l,6xl06
2Ag + H2S —>Ag2S + H2 (Cu f
preto
[Au3*]
3Au + =Au3+ + 2Au K= = 1x10'°
Analogamente, a passagem de H2S por soluções [Au+]3
contendo Cu2 + ou Ag+ formam precipitados pretos de CuS
e Ag2S. Os três metais do grupo reagem com os halogênios. A constante de equilíbrio da reação de despropor-
Compostos simples de Au se decompõem rapidamente cionamento de Cu + em solução é elevada, mostrando que o
gerando o metal, os de Ag podem ser reduzidos com razoável equilíbrio está bastante deslocado para a direita. Assim, a
facilidade, e os de Cu menos facilmente. concentração de Cu+ em solução é muito baixa. Um íon
Cu+ persiste em solução aquosa durante uma fração de
Para o metal poder reagir, um átomo dever ser tempo inferior a um segundo. Por motivos semelhantes, o
inicialmente removido do retículo cristalino e ser ionizado. íon Au+ virtualmente inexiste em solução aquosa. Os únicos
Uma elevada entalpia de sublimação e uma alta energia de compostos de Cu+ e Au* estáveis em meio aquoso são
ionização diminuem a reatividade, embora isso possa ser insolúveis ou estão na forma de complexos. CuCl, CuCN e
parcialmente compensado pela energia liberada na reação CuSCN, podem ser citados como exemplos de compostos
de hidratação dos íons. Comparando Cu com K, verifica-se insolúveis de Cu( +1). O tiocianato de cobre( +1), CuSCN, é
que o Cu possui um ponto de fusão muito maior (e, portanto, usado para a determinação gravimétrica do cobre.
uma maior energia de sublimação). Por causa da maior carga
nuclear do Cu, os elétrons estão mais firmemente ligados 2Cu2+ + SO32" + 2SCN“ + H2O -> 2Cu'SCN + H2SO4
(logo, a energia de ionização será maior). A energia de
O íon Cu2 + é reduzido a óxido cuproso, Cu2O, por agente
hidratação não é suficiente para compensar essas
redutores moderados. Essa é a base do teste de Fehling para
"demandas” elevadas de energia. Por isso, o potássio é muito
açúcares redutores (monossacarídeos, como a glicose).
mais reativo que o cobre.
Quantidades iguais de duas soluções diferentes, chamadas
Os óxidos e hidróxidos dos metais do Grupo 1 são de Fehling A e Fehling B, são misturadas imediatamente
fortemente básicos e solúveis em água. Em contraste, os antes de se adicionar o açúcar e aquecer a mistura. A solução
óxidos de cobre são insolúveis e fracamente básicos. Todos de Fehling tem coloração azul intensa, mas na presença de
os compostos dos metais do Grupo 1 contêm íons simples, um agente redutor forma-se um precipitado amarelo ou
monovalentes e incolores; e só formam complexos com vermelho de Cu2O (a solução de Fehling A é uma solução
agentes complexantes muito fortes. Por outro lado, os metais de tartarato de cobre(II), obtido reagindo-se CuSO4 como
do grupo do cobre tem valência variável. Os estados de sal de Rochelle (tartarato de sódio e potássio). A solução de
oxidação mais comuns são Cu( + Il), Ag( +1) e Au( + III), e Fehling B é uma solução aquosa de NaOH).
as propriedades químicas dos três elementos diferem muito Cu2O é um óxido básico e reage com os ácidos
uns dos outros. Os elementos apresentam forte tendência halogenídricos HC1, HBr e HI, formando os haletos insolúveis
de formarem compostos de coordenação e seus compostos CuCl, CuBr e Cul. CuF é desconhecido. CuCl e CuBr são
são geralmente coloridos. geralmente obtidos refluxando-se uma solução ácida de CuCl;
O cobre é importante em diversos catalisadores. Cu é ou CuBr2 com excesso de Cu. Dessa forma obtém-se uma
usado no processo direto de fabricação de alquilclorossilanos solução contendo os íons complexos lineares (CuCl;)' e
como (CH3)2SiCl2, usado na preparação de silicones. Cu e V [CuBr2]". A diluição dessas soluções provoca a precipitação,
catalisam a oxidação de misturas ciclohexanol/ciclohexanona respectivamente, de CuCl (branca) e CuBr (amarelo).
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIDAÇÃO [4-1] 419
A adição de Kl a uma solução contendo Cu2+ provoca ligados da maneira convencional pelo C, mas o terceiro CN’
a redução do Cu2+ a iodeto cuproso, Cul, com concomitante atua como ligante-ponte entre dois átomos de Cu.
oxidação de I’ a I2. Essa reação é usada na determinação O cianeto podem reagir com íons metálicos de duas
volumétrica de Cu2+ em solução. Adiciona-se um excesso maneiras:
de Kl a uma solução acidificada de Cu2 +, e o I2 produzido é
titulado com tiossulfato de sódio. D Como um agente redutor
2) Como um agente complexante.
2Cu2+ + 41“ —> 2CuI + I2 Assim, a adição de KCN a uma solução de CuSO4
2Na2S2O3 + I2 —> Na2S2O6 + 2NaI provoca, inicialmente, a redução e precipitação de cianeto
cuproso. Este reage com excesso de CN”, formando o
Os haletos cuprosos são parcialmente covalentes e têm
complexo tetracoordenado solúvel, [Cu(CN)4]3’, de estrutura
a estrutura da blenda, com íons Cu+ coordenados tetraedri-
tetraédrica.
camente. CuCl e CuBr são poliméricos no vapor, sendo
constituídos principalmente por subunidades contendo um 2Cu2+ + 4CN’—>2Cu+CN’ + (CN)2
anel de seis membros. danogênio
Os haletos cuprosos são insolúveis em água. Contudo, CuCN + 3CN’ -> [Cu(CN)4]3"
eles se dissolvem em soluções contendo um excesso de íons
Cu( + I) forma diversos complexos poliméricos
haleto, devido à formação de íons complexos solúveis tais
diferentes, constituídos por clusters contendo quatro átomos
como [CuCl2]“, [CuCl3]2’ e [CuCl4]3’. Esses e outros
de Cu nos vértices de um tetraedro, mas sem envolver
complexos de Cu1 são tetraédricos no estado sólido (no
ligações metal-metal. Os complexos com fosfina e arsina,
KCuCl2 e no K2CuC13 eles formam cadeias, contendo Cu
Cu4l4(PR3)4 e Cu4I4(AsR3)4, são exemplos de tais clusters.
coordenado tetraedricamente por Cl. Essas subunidades
Os quatro ligantes fosfina ou arsina se ligam aos quatro
tetraédricas estão interligadas por haletos em ponte).
vértices do tetraedro, e os quatro átomos de I se situam
Os haletos cuprosos também se dissolvem em HC1 e acima das quatro faces do tetraedro. Assim, cada I está ligado
HNO3 concentrados e em soluções aquosas de amônia. a três átomos de Cu (forma três ligações). No [Cu4(SPh)6]2"
Soluções de CuCl em HC1 concentrado e de CuCl em NH4OH os átomos de Cu formam um tetraedro e os seis átomos de S
são importantes, pois absorvem monóxido de carbono. TYês formam ligações em ponte, nas seis arestas do tetraedro.
aspectos merecem destaque:
O estado de oxidação (+1) é o mais importante da prata,
D Uma solução de CuCl em NH4OH é freqüentemente sendo conhecidos muitos compostos iônicos simples
usada para medir a quantidade de CO presente em contendo esse íon. Praticamente, todos os sais de Ag1 são
amostras de gases, simplesmente medindo-se a variação insolúveis em água, exceto AgNO3, AgF e AgClO4, que são
de volume da amostra. solúveis. Os sais são geralmente anidros, exceto pelo
2) Embora os metais desse grupo não formem compostos AgF-4H2O. O íon Ag+ forma o dihidrato [Ag(H2O)2] + em
carbonílicos neutros, observa-se a formação de um solução. Geralmente, Ag1 forma complexos dicoordenados
carbonil-haleto, (Cu(CO)Cl), instável quando CO é em vez de tetracoordenados, como o Cu1.
borbulhado através de uma solução de CuCl. Tanto Cu AgNO3 é um de seus sais mais importantes. Ag2O é
como Au formam carbonil-haletos, [M(CO)C1], quando tipicamente básico, dissolvendo-se em ácidos. Ag2O úmido
o haleto é aquecido na presença de CO. absorve dióxido de carbono, formando Ag2CO3. Dado que
3} Diversos complexos com alcenos e alcinos podem ser Ag2O também se dissolve em NaOH, deve apresentar também
obtidos de maneira semelhante, borbulhando-se o um certo caráter ácido.
hidrocarboneto através de uma solução de Cu1 ou de Os haletos de prata são utilizados em fotografia (vide
Ag1. Complexos com alcenos também podem ser obtidos adiante). AgF é solúvel em água, mas os demais haletos de
passando-se o hidrocarboneto sobre o haleto aquecido. prata são insolúveis. Na análise qualitativa, a presença de
A fórmula desses complexos é [MRX], onde R é um íons Cl", Br’ e I" em soluções aquosas é verificada adicio-
hidrocarboneto insaturado e X um halogênio. Esses nando-se uma solução de AgNO3 e HNO3 diluído. Um
complexos são muitos reativos e freqüentemente precipitado branco (AgCl) indica a presença de cloreto, um
poliméricos. As ligações M-C não são simétricas, precipitado amarelo claro (AgBr) indica a presença de
sugerindo a formação de uma ligação o ao invés de brometo, e um precipitado amarelo (Agí) indica a presença
uma ligação rt. Au1 não forma esse tipo de complexos de iodeto. A presença desses íons haleto pode ser confirmada
com tanta facilidade: reage somente com alcenos de pela solubilidade dos haletos de prata em hidróxido de
elevado peso molecular. amônio. AgCl é solúvel em NH4OH diluído. AgBr se dis
Os complexos com cianeto são bem conhecidos e solve em NH4OH 0,880 M, e Agl é insolúvel, mesmo em
empregados na extração de Ag e Au, na forma de complexos solução de amônia concentrada. AgCl e AgBr se dissolvem
solúveis. Os metais são obtidos a partir do complexo por devido à formação do complexo linear [H3N—»Ag«-NH3]+.
redução com zinco. Alguns poucos compostos de prata com ânions incolores
4Au + 8CN’ + 2H2O + O2 -> 4[Au1(CN)2)’ + 4OH’ são coloridos. Por exemplo, Agl, Ag2CO3 e Ag3PO4 são amare
los e Ag,S é preto. Isso ocorre porque o íon Ag+ é pequeno
Complexos bicoordenados, como [Au(CN)2]’, são e altamente polarizante, e o ânion, por exemplo F, é grande
lineares. Contudo, no K[Cu’(CN)2] sólido o Cu está ligado a e altamente polarizável. Isso aumenta o caráter covalente
três CN’, num arranjo trigonal planar. Dois grupos CN’ estão das ligações.
4BO Brupo II — BRUPO □□ COBRE
Ag* forma uma variedade de complexos. A maioria niente do objeto a ser fotografado, e focalizado pela lente
dos ligantes simples levam à formação de complexos para produzir uma imagem nítida. A luz dá início a uma
dicoordenados lineares, por exemplo [Ag(NH3)2] + , reação fotoquímica pela excitação de um íon haleto, que
[Ag(CN)2)“ e [Ag(S2O3)2]3". Ligantes bidentados levam à perde um elétron. O elétron se move pela banda de condução
formação de complexos polinucleares. Os complexos de Cu + até a superfície dos grãos, onde reduz um íon Ag* a prata
e Ag* com haletos têm comportamento atípico, pois a ordem metálica. Nos primórdios da fotografia, os tempos de
de estabilidade é I > Br > Cl > F, enquanto que para a maioria exposição eram longos, às vezes de 10 ou 20 minutos, de
dos metais a ordem é inversa. Ligantes capazes de formar modo a produzir uma quantidade de prata suficiente para
ligações n, como os derivados da fosfina, podem formar gerar o “negativo”. Esse termo é um alusão ao fato das partes
complexos tanto dicoordenados como tetracoordenados. mais luminosas do objeto se tornarem escuras após a
Au( + 1) é menos estável, mas seu óxido, Au20, é revelação do filme. Atualmente, os tempos de exposição são
conhecido. Os haletos AuCl e AuBr podem ser obtidos muito curtos, até a ordem de um milésimo de segundo. Nesse
aquecendo-se suavemente o correspondente haleto AuX3. tempo muito curto, somente poucos átomos de prata (talvez
Aul precipita quando I" é adicionado a Aul3. Esses compostos 10 a 50) são produzidos em cada grão exposto à luz. As
partes do filme expostas às partes mais luminosas do objeto
de Au( +1) sofrem desproporcionamento em água, formando
Au metálico e Au( + III). contêm muitos grãos com prata metálica. As partes do filme
expostas às partes mais escuras do objeto contêm poucos
O íon Au( +1) também pode ser encontrado em comple grãos com prata, enquanto que as partes não expostas não
xos lineares, tais como [NC—>Au«—CN]“, [Cl—»Au«-Cl]~, têm nenhum átomo de prata metálica. Assim, um filme
[R3P—>Au«—Cl] e [R3P—>Au<—CH3]. O cianocomplexo é contém uma imagem latente do objeto. Contudo, o número
solúvel em água e é formado no processo de extração de de átomos de prata formado é tão pequeno que a imagem
ouro com cianeto, no qual Au é dissolvido numa solução não é visível.
aquosa contendo CN", na presença de ar ou H2O2. O
A seguir o filme é colocado numa solução reveladora.
complexo R3PAuC1 é obtido reagindo-se Au2C16 com R3P, em TYata-se de um solução de um agente redutor moderado,
solução etérea. O cloreto pode ser substituído por outros geralmente contendo hidroquinona. Sua finalidade é reduzir
ligantes, como I, SCN ou Me. A redução do R3PAuC1 com mais haleto de prata a prata metálica. Ag se deposita
um redutor forte, como NaBH4, leva à formação do cluster principalmente onde já existem átomos de prata. Assim, o
AunC13(R3P)7, cuja estrutura está relacionada com a de um processo de revelação intensifica a imagem latente do filme,
icosaedro incompleto. Há um átomo de Au no centro e dez tornando-a visível. A revelação deve ser realizada em
átomos de Au em dez dos 12 vértices do icosaedro. condições adequadas, para se obter uma imagem com o
Compostos de Au( + I) são usados em medicamentos contraste desejado. Os fatores importantes são a
para o tratamento da artrite reumática. Supõe-se que o concentração do revelador, o pH, a temperatura e o tempo
princípio ativo desses medicamentos sejam complexos durante o qual o filme é mantido na solução reveladora.
lineares do tipo RS—>Au«—SR ou R3P—>Au«-PR3. A solubili- Se o filme fosse exposto à luz solar nessa etapa, as
dade desses composto em lipídios pode ser controlada partes não expostas também escureceríam e a imagem seria
variando-se o grupo R. Isso afeta a facilidade com que a destruída. Para impedir isso, todo haleto de prata remanes
droga se distribui pelo corpo. cente (que permaneceu inalterado) é removido do filme com
Há algumas evidências mostrando que o ouro pode o auxílio de uma solução fixadora. Antigamente usava-se
formar o íon aureto, Au", que tem a configuração eletrônica uma solução de amônia concentrada para remover o AgBr
d10s2, uma configuração estável. O composto CsAu não tem remanescente. Embora a remoção fosse eficiente, o odor de
brilho metálico e o sólido não conduz a eletricidade como amônia no espaço confinado da câmara escura era desagra
um metal. Ele é iônico, Cs* Au", e não uma liga. A presença dável e perigoso para o fotógrafo. Atualmente, uma solução
do íon Au" foi confirmada, em solução de amônia líquida. É de tiossulfato de sódio é usado como fixador, pois forma um
um íon grande e foi isolado no estado sólido com diversos complexo solúvel com a prata, dissolvendo o haleto.
cátions grandes.
AgBr + 2Na2S2O3 Na3[Ag(S2O3)2] + NaBr
do cobre. O íon cúprico, Cu2 + , tem configuração eletrônica CuF2 4 ligações de 1,93 A e 2 ligações de 2,27 A
d’ e, portanto, tem um elétron desemparelhado. Seus CuCl2 4 ligações de 2,30 A e 2 ligações de 2,95 A
compostos são geralmente coloridos, devido às transições CuBr2 4 ligações de 2,40 A e 2 ligações de 3,18 A
d-d, e paramagnéticos. CuSO4 • 5H2O e muitos sais hidratados
de Cu(II) são azuis. Considerações semelhantes às utilizadas para explicar
a distorção de complexos octaédricos de Cu2 + , também se
Mediante aquecimento intenso, os oxo-sais, como
aplicam a complexos octaédricos de qualquer outro íon
Cu(NO3)2, se decompõem a CuO, que é preto. Cu2O é
metálico no qual os orbitais eg não estejam simetricamente
formado quando esse oxoSsal é aquecido a temperaturas
preenchidos, ou seja, quando estes orbitais contiverem um
muito elevadas (acima de 800 °C). A adição de NaOH a
ou três elétrons. Distorções desse tipo são encontradas no:
uma solução contendo Cu2* leva à formação de um preci
pitado do hidróxido, azul. O íon hidratado, [Cu(H2O)6]2*, é Co2* e Ni3* de spinbaixo
despin baixo Uag)6^)1
formado quando o hidróxido ou o carbonato é dissolvido e Cr2* e Mn3* de spin alto (t2g)3(eg)'
num ácido, ou quando CuSO4 ou Cu(NO3)2 é dissolvido em
água. Esse íon apresenta a cor azul característica dos sais de Soluções aquosas de Cu2* formam muitos complexos
cobre, que tem uma estrutura octaédrica distorcida: duas com amônia e aminas, como por exemplo [Cu(H2O)sNH3]2*,
ligações em trans são mais longas e quatro ligações são mais [Cu(H2O)4 (NH3)2)2*, [Cu(H2O)3(NH3)3]2* e [Cu(H2O)2-
curtas (Fig. 27.1). Essa distorção tetragonal é uma (NH3)4]2 + . É difícil adicionar o quinto e o sexto grupo NH3,
conseqüência da configuração d9. O ambiente octaédrico em mas é possível obter [Cu(NH3)6]2* usando amônia líquida
torno do íon provoca o desdobramento dos orbitais d do Cu como solvente. Esse comportamento pode ser explicado pelo
em níveis de menor energia, t2g, e maior energia, eg, devido efeito Jahn-Teller, que distorce o complexo octaédrico
ao efeito do campo cristalino. Os nove elétrons d se tornando a quinta e a sexta ligações mais longas e fracas.
distribuem da seguinte maneira: (t2g)s(eg)3. Os três elétrons Analogamente, os complexos [Cu(en)(H2O)4]2* e
eg ocupam os orbitais dxZ_y2 e dois num orbital e o terceiro [Cu(en)2(H2O)2]2*, com o ligante bidentado etilenodiamina
no outro. Como o preenchimento do nível eg não é simétrico, (en), formam-se com facilidade; mas um grande excesso do
ocorre a distorção de Jahn-Teller. Este quebra a ligante é necessário para formar o complexo [Cu(en)3]2*.
degenerescência dos orbitais eg e t2g (isto é, os dois orbitais Os complexos com haletos podem ser encontradas em
e8 passam a não ter a mesma energia; o mesmo ocorrendo duas formas estereoquimicamente diferentes. No complexo
com os três orbitais t2g). Assim, o complexo será distorcido. (NH4)2[CuCl4], o íon [CuCl4]2- é quadrado-planar, mas no
0 orbital dx2_y2 está sob a influência dos quatro ligantes que complexo CsJCuCLJ e Cs2[CuBr4], os íons [CuX4l2" têm uma
se aproximam ao longo das direções + x, -x, + y e -y. O estrutura tetraédrica ligeiramente distorcida (comprimida).
orbital dz2 está sob a influência de apenas dois ligantes, que O íon tetraédrico [CuCL,]2' tem coloração laranja, mas o íon
se aproximam segundo as direções + z e -z. Assim, a energia [CuCL,]2- é amarelo
do orbital dX2.y2 aumenta mais que a do orbital dz2. Por isso, A maioria dos complexos e compostos de Cu( + II)
os três elétrons do nível t2g passam a se distribuir como se apresenta uma estrutura octaédrica distorcida, e são azuis
segue: (dZ2)2(dx2.y2)'. Como o orbital dz2 contêm dois elétrons, ou verdes. O íon metálico tem a configuração eletrônica d9,
os ligantes que se aproximam segundo as direções +z e -z restando apenas um orbital para o qual um elétron pode ser
são impedidos de se aproximarem do cobre tanto quanto os promovido. Logo, os espectros deveríam ser semelhantes
ligantes que se aproximam ao longo das direções +x, -x, aos do caso d1 (por exemplo, Ti3*), com uma única banda
+y e -y (vide Capítulo 7). de absorção larga. Isso realmente ocorre, e esses compostos
Esse arranjo octaédrico distorcido é comum em absorvem na região de 11.000 a 16.000 cm'1. Contudo, os
compostos de cobre. Por exemplo, os haletos CuX2 têm a complexos de Cu( + II) são apreciavelmente distorcidos
estru-tura do rutilo (TiO2) distorcida, onde o metal tem (efeito Jahn-Teller), provocando o aparecimento de mais de
número de coordenação igual a 6. Os comprimentos das uma banda de absorção. Essas bandas se sobrepõem
ligações nos haletos CuuX2 são: tornando a banda assimétrica. Não é possível atribuir cada
banda de modo inequívoco. Os sais anidros CuF2 e CuSO4
são brancos, o que de certa forma é surpreendente.
Por muito tempo não se conseguiu obter nitratos anidros
dos metais de transição, pois o aquecimento dos mesmos
simplesmente provoca a sua decomposição. A água é um
ligante mais forte que o nitrato, de modo que um nitrato
hidratado obtido em solução aquosa tende a perder o nitrato
com mais facilidade que a água, durante o aquecimento. O
recurso que resta é preparar os nitratos anidros na ausência
de água, em vez de se tentar remover a água dos sais hidrata
dos. Muitos nitratos anidros foram preparados recentemente
usando solventes não-aquosos, como N2O4 líquido.
Nitrato de cobre(II) anidro pode ser preparado dissol-
vendo-se Cu metálico numa solução de N2O4 em acetato de
Figura 27.1 — Octaedro tetraedricamente distorcido, com quatro ligações etila. A reação é vigorosa e Cu(NO3)2-N2O4 pode ser
curtas num arranjo quadrado planar, e duas ligações mais longas em
trans. cristalizado da solução resultante. O produto é, na realidade,
4BB Grupo II — O GRUPO □□ COBRE
FhCC^O !u:
X CCHa
Na6H3[Ag'”(TeOs)2]. Esses compostos são instáveis e
fortemente oxidantes.
Em contraste, Au( + III) é 0 íon mais comum e estável
do ouro. Poucos compostos simples de Au( +111) são
OH2
conhecidos, mas aparentemente não contêm íons Au3*. A
Figura 27.3 — A estrutura do (Cu(CH3 COO)2 H2O)2 configuração do Au1" é d8 (como da Pt”) e forma complexos
IMPORTÂNCIA BI0LÚ6ICA DO COBRE 423
quadrado-planares, como a Pt. Esses complexos se decom vermelho escuro quando O2AuF6 é aquecido e o produto é
põem facilmente ao metal, quando aquecidos. condensado num "dedo “frio”. O composto é instável e se
decompõe a AuF3 e F2, acima de 60 °C.
[Au^CUl’ + OH" -h> Au(OH)3 —desidralaci° -> Au2O3
1SO'C 370*C ,
-> Au + Au2O + O2 Au + 3F2 + O2 O2AuF6 —> AuFg 72f2 + o2
pressão elevada
estado de oxidação de Cu2+ a Cu+ e vice-versa. Sua cor é • Gernscheim, H. (1977) The history of photography, Endeav-
muito mais intensa do que seria de se esperar, caso as our, 1, 18-22.
transições d-d fossem as únicas envolvidas na absorção de • Hathaway, B.J. e Billing, D.E. (1970) The electronic propet-
luz visível. Supõe-se que a cor seja decorrente das transições ties and stereochemistry of mono-nuclear complexes of the
de transferência de carga entre Cu e S. Entre os exemplos copper(II) ion, Coordination Chem. Rev., 5, 143.
estão a plastocianina e a azurina. A plastocianina ocorre • Jardine, F.H. (1975) Copper(I) complexes, Adv. Inorg. Chem.
nos cloroplastos das plantas verdes, tem um peso molecular Radiochem., 17,115.
de cerca de 10.500 e contém um átomo de Cu. É um • Johnson, B.G.F. e Davis, R. (1973) Comprehensive Inorganic
transportador de elétrons importante na fotossíntese. A Chemistry, Vol. 3 (Cap. 29: Ouro), Pergamon Press, Oxford.
azurina é encontrada em bactérias. Contém um átomo de • Karlin, K.D. e Gultneh, Y. (1985) Bioinorganic Chemical
Cu por molécula e é estruturalmente semelhante à plasto modelling of dioxygen-activation copper proteins, J. Chem.
cianina, mas seu peso molecular é da ordem de 16.000. Ed„ 62, 983-987.
• Karlin, K.D. e Zubieta, J. (eds) (1986) Biological and Inor
ganic Copper Chemistry, Vol. 1, Adenine Press.
LEITURAS COMPLEMENTARES • Knutton, S. (1986) Copper - the enduring metal, Education
• Ainscough, E.W. e Brodie, A.M. (1985) Gold chemistry and in Chemistry, 23, 135-137.
its medicai applications, Education in Chemistry, 22, 6-8. • Massey, A.G. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol.
• Beinert, H. (1977) Structure and function of copper proteins, 3 (Cap. 27: Cobre), Pergamon Press, Oxford.
Coordination Chem. Rev., 23, 119-129. • Siegl, H. (ed.) (1981) Metal lon in Biological Systems, Vol. 13
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1968) Halides of the Second (Proteínas de cobre), Marcei Dekker, New York.
and Third Row Transition Elements, Wiley, London. • Sorenson, R.J. (1989) Copper complexes as 'radiation recov-
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides of the First Row ery’ agents, Chemistry in Britain, 25, 169-170, 172.
Tt-ansition Elements, Wiley, London. • Thompson, N.R. (1973) Comprehensive Inorganic Chemis
• Dirkse, T.P. (ed.) (1986) Copper, Silver, Gold, Zinc, Cadmium, try, Vol. 3 (Cap. 28: Prata), Pergamon Press, Oxford.
Mercary Oxides and Hydroxides, Pergamon, Oxford. • Valentine, J.S. e de Freitas, D.M. (1985) Copper-zinc
• Gerloch, M. (1981) The sense of Jahn-Teller distortions in dismutase, J. Chem. Ed., 62, 990-996.
octahedral copper(II) and other transition metal complexes, • West E.G. (1969) Developments in copper smelting, Chemis
Inorg. Chem., 20, 638-640. try in Britain, 5, 199-202.
425
0
0
Grupo 12
O GHUPO DO ZinCO
INTRODUÇÃO O zinco exerce um papel importante em diversas
enzimas. Do ponto de vista biológico, é o segundo elemento
Todos os elementos apresentam uma configuração
de transição mais importante.
eletrônica d^s2, formando geralmente íons M2 + . Contudo,
muitos de seus compostos são covalentes em proporção
elevada. ABUNDÂNCIA E OCORRÊNCIA
Os compostos de Hg( + II) são mais covalentes, e seus O zinco ocorre na crosta terrestre na proporção de 132
complexos são mais estáveis que os correspondentes ppm, em peso. É o vigésimo-quarto elemento mais
compostos de Zn e Cd. Como esses íons têm uma camada d abundante. A produção mundial de Zn foi de 7,3 milhões de
completa, eles não se comportam como se fossem metais de toneladas, em 1992. Os principais produtores foram: Canadá
transição típicos. Embora os íons sejam divalentes, eles têm 19%, Austrália 14%, China 10% e ex-URSS, Peru e Estados
poucas semelhanças com os elementos do Grupo 2. Assim, Unidos 8% cada. A produção de cádmio foi de 20.700
o Zn mostra algumas semelhanças com o Mg. Porém, é mais toneladas e a de mercúrio de 3.200 toneladas, em 1992. Cd
denso e menos reativo, por ter um raio menor e uma carga e Hg são bastante raros. Apesar disso, esses elementos nos
nuclear maior. O Zn também tem uma maior tendência de são bastante familiares, porque sua extração e purificação
formar compostos covalentes. De modo geral, Zn e Cd são simples.
possuem propriedades semelhantes, mas as propriedades Quando a Terra foi formada, o zinco foi depositado na
do Hg diferem significativamente daqueles do Zn e do Cd. forma de sulfetos. ZnS é explorado comercialmente, sendo
Em vários aspectos, o Hg é um elemento singular. À conhecido como esfarelita nos Estados Unidos e como blenda
temperatura ambiente, é um líquido, é pouco reativo (nobre) na Europa. Sua estrutura se assemelha à do diamante, sendo
e, forma compostos "univalentes" de mercúrio(I). O mercúrio a metade dos sítios ocupados por S e a outra metade pelo
é o único elemento do grupo que possui um estado de Zn ou outro metal. A esfarelita quase sempre contém ferro,
oxidação (+1) bem definido. O aumento de estabilidade para e sua fórmula podería ser representada como (ZnFe)S. Isso
os menores estados de oxidação nos elementos mais pesados comumente ocorre também com a galena, PbS. O intempe-
do grupo é mais típico nos elementos do bloco p que nos rismo hidrotermal dos sulfetos levou à formação de depósitos
metais de transição. de carbonatos e de silicatos. ZnCO3 é outro minério impor
tante. É denominado smithsonita nos Estados Unidos (uma
Zn é produzido em grande escala. Em 1992, foram homenagem a James Smithson, o fundador da Smithsonian
produzidas 7,3 milhões de toneladas do metal. Foi usado Institution, em Washington), e calamina na Europa. A
principalmente como proteção contra a corrosão, na hemimorfita, Zn4(OH)2(Si2O7) • H2O, é menos importante do
fabricação de ligas e em fundição. ZnO também é um produto ponto de vista econômico, mas é um exemplo interessante
comercialmente importante. de pirossilicato. Em 1988, os principais produtores de
minérios foram: Canadá 19%, ex-União
Tabela 28.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação Soviética 13,5%, Austrália 11% e China
e Peru 7% cada. Minérios de cádmio são
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* muito raros. Pequenas quantidades de
Cd acompanham os minérios de zinco,
Zinco Zn [Ar] 3d'°4? n e o cádmio é extraído dos mesmos. Hg
Cádmio Cd [Kr] 4r/'°5? □ é obtido do cinábrio, HgS, um mineral
Mercúrio Hg [Xe] 4/4 5d ‘°6s2 I n relativamente raro, encontrado sobre
' Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados tudo na ex-URSS, Espanha, México e
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo Argélia.
normal.
426 Grupo 15 — 0 GRUPO □□ ZINCO
Obtenção do mercúrio
OBTENÇÃO E USOS Hg também é raro. É extraído na forma do minério
Obtenção do zinco cinábrio, vermelho-vivo, de fórmula HgS (podem conter
gotículas de Hg), principalmente na ex-URSS, Espanha,
Os minérios de zinco (principalmente ZnS) são
México e Argélia. O minério é triturado e HgS é separado
concentrados por flotação e aquecidos ao ar, para formarem
ZnO e SO2 (SO2 é usado na fabricação de H2SO4). Zn metálico dos outros minerais e concentrado por sedimentação, pois
é obtido a partir do óxido por dois processos diferentes: tem uma densidade muito alta (8,1 g cm‘!). Se o minério for
pobre em Hg, é aquecido ao ar. O vapor de Hg formado é
1) ZnO pode ser reduzido pelo monóxido de carbono a condensado, e o SO2 é usado na fabricação de H2SO4.
1.200 °C, num forno de fusão. A reação é reversível,
sendo necessária utilização de temperaturas elevadas HgS O2
600'C
-> Hg + S02
para deslocar o equilíbrio para a direita. Nessa
temperatura, o zinco se encontra no estado gasoso. Se Minérios mais ricos em mercúrio são aquecidos com
a mistura de Zn e CO2 fosse simplesmente removida do raspas de ferro, ou com cal:
forno e esfriada, ocorrería a reoxidação de parte do
zinco, e o pó de Zn obtido conteria grandes quantidades HgS + Fe -> Hg + FeS
de ZnO. 4HgS + 4CaO -> 4Hg + CaSO4 + 3CaS
Tabela 28.4 — Energias de promoção e de ionização do grupo do zinco, com configuração de valência d10s2, são
pequenas. Os elementos dos dois grupos formam íons
Energias de promoção Energias de ionização divalentes. Os sulfatos hidratados são isomorfos e os sais
(kJ mor1) duplos como K2SO4 ■ HgSO4 ■6H2O são análogos ao
(kJ mor1) 1? 2.° 3.° K2SO4 ■ MgSO4 ■ 6H2O. Contudo, os elementos do grupo do
zinco são mais "nobres", mais covalentes, têm maior ten
Zn 433 906 1.733 3.831 dência a formar complexos e são menos básicos.
Cd 408 876 1.631 3.616 A reatividade dos metais decresce na seguinte ordem:
Hg 524 1.007 1.810 3.302
Zn > Cd > Hg. Essa tendência pode ser observada nos seus
potenciais de redução padrão. Zn e Cd são metais eletro-
PROPRIEDADES GERAIS positivos, mas Hg tem um potencial positivo e, portanto, é
Zn, Cd e Hg exibem algumas poucas propriedades relativamente nobre. A grande diferença entre as proprie
associadas aos elementos de transição típicos. O motivo para dades do Cd e do Hg pode ser parcialmente explicada pelo
tanto é a presença de um nível d completo, não disponível fato do Hg ter a maior energia de ionização dentre os metais,
para a formação de ligações. e pela maior energia de solvatação do íon Cd2*.
1) Zn e Cd não têm valência variável. Zn2* + 2e -» Zn E° = -0,76 V
2) Têm configuração eletrônica d10, não sendo possível a Cd2* + 2e -> Cd E° = -0,40 V
ocorrência de transições d-d. Por isso, muitos dos mas Hg2* + 2e->Hg E° = +0,85 V
compostos desses elementos são brancos. Contudo,
alguns compostos de Hg( + II) e um número menor de Zn e Cd são sólidos prateados que rapidamente perdem
compostos de Cd( + II) são intensamente coloridos, por o brilho quando expostos ao ar úmido. Hg é um liquido
causa da presença de transições de transferência de prateado, que não se torna escuro com a mesma facilidade.
carga dos ligantes para o metal (os metais deste grupo Zn e Cd se dissolvem em ácidos não-oxidantes diluídos
são menores e têm um maior poder polarizante que os liberando H2, mas Hg não reage. Os três metais reagem com
metais do Grupo 2. Isso aumenta o grau de covalência ácidos oxidantes, como HNO3 e H2SO4 concentrados,
das ligações e também possibilita a ocorrência de formando sais e liberando uma mistura de óxidos de
transições de transferência de carga). nitrogênio e de SO2, respectivamente. Nessas condições, Hg
forma sais de mercúrio (II), mas reage lentamente com HNOj
3) Os metais são relativamente moles quando comparados
diluído formando o sal de mercúrio(I), Hg2(NO3)2.
com os demais metais de transição, provavelmente
porque os elétrons d não participam das ligações. Zn é o único elemento do grupo com algumas
propriedades anfóteras: solubiliza-se em álcalis formando
4) Os pontos de fusão e de ebulição são muito baixos.
zincatos como Na2[Zn(OH)4], Na[Zn(OH)3-(H2O)J ou
Isso explica porque esses elementos são mais reativos
Na[Zn(OH)3 • (H2O)3], de modo semelhante aos aluminatos.
que os metais do grupo do cobre, embora as energias
de ionização dos elementos dos dois grupos sugiram o Os três metais formam óxidos MO, sulfetos MS e haletos
contrário (o caráter "nobre" é favorecido por elevados MX2, pela reação sob aquecimento dos elementos envolvidos.
calores de sublimação, elevadas energias de ionização HgO se decompõe a altas temperaturas, e esta reação tem
e baixos calores de hidratação). sido utilizada como método de preparação de O2.
O mercúrio é o único metal que é líquido à temperatura 35O'C 400‘C
Hg O2 + HgO + Hg + 02
ambiente. Isso pode ser explicado pela energia de ionização
muito grande, que dificulta a participação dos elétrons na
Os três elementos formam sulfetos insolúveis. Na análise
formação das ligações metálicas. O líquido tem uma pressão
qualitativa, CdS (amarelo) e HgS (preto) são precipitados,
de vapor apreciável, à temperatura ambiente. Por isso,
borbulhando-se H2S nas soluções previamente acidificadas.
superfícies expostas de mercúrio devem sempre ser cobertas
ZnS (branco) é mais solúvel, e só pode ser precipitado pelo
(por exemplo, com tolueno), para impedir sua evaporação
H2S de soluções alcalinas. ZnCl2 e CdCl2 são iônicos, mas
e, conseqüentemente, o risco de intoxicação. O mercúrio
HgCl2 é covalente. A energia necessária para promover um
gasoso tem um comportamento incomum, pois é constituído
elétron s para um orbital p antes de formar duas ligações
por espécies monoatômicas, como os gases nobres.
covalentes, decresce do Zn para o Cd; mas surpreenden
As semelhanças entre os elementos do Grupo 2, com temente, aumenta do Cd para o Hg. Zn e Cd reagem com P
uma configuração eletrônica de valência s2, e os elementos formando fosfetos, mas Hg não reage.
Potenciais padrão de redução (volt) Todos os três metais formam ligas com diversos outros
metais. Cu e Zn formam diversas ligas chamadas de bronzes,
Solução ácida
que podem conter de 20% a 50% de Zn. Os bronzes são
Estados de oxidação comercialmente importantes. Ligas de Hg com outros metais
+n +i o +n +1 0 +11 +1 0 são denominadas amálgamas. A amálgama de sódio é
-0.76 0.40 +0,91 +0.79 formada na célula de cátodo de mercúrio, no processo de
Zn2*------- Zn Cd2* Cd Hg2* ------- Hg?*------- Hg fabricação de NaOH. Amálgamas de zinco e de sódio são
------ +0,85--------- 1 usadas no laboratório como fortes agentes redutores. A
maioria dos elementos da primeira série de transição não
□l-HALETOS 409
formam amálgamas, exceto Mn, Cu e Zn. Os elementos de nitrato Hg(NO3)2 são aquecidos. A diferença de cor se deve
transição mais pesados formam amálgamas com facilidade. à diferença no tamanho das partículas.
Num grupo vertical do bloco d, os elementos da segunda Quando Zn(OH)2 e Cd(OH)2 são tratados com H2O2,
e terceira séries tem tamanho e propriedades químicas dão origem a peróxidos de composição variável.
semelhantes, mas diferem consideravelmente dos elementos
da primeira série. Em contraste, nesse grupo, Zn e Cd são DI-HALETOS
muito semelhantes mas diferem consideravelmente do Hg.
Todos os 12 di-haletos MX2 são conhecidos. Os fluoretos
têm pontos de fusão consideravelmente maiores que os dos
ÓXIDOS demais haletos, pois são compostos iônicos. Os pontos de
fusão dos cloretos, brometos e iodetos são relativamente
O único óxido comercialmente importante é o ZnO. Seu baixos, sugerindo que são compostos parcialmente cova-
principal uso está na indústria da borracha, pois diminui o lentes.
tempo necessário para a ocorrência da vulcanização. ZnO ZnF2, CdF2 e HgF2 são sólidos brancos, são considera
também é usado como pigmento branco em tintas. É muito
velmente mais iônicos e têm pontos de fusão mais elevados
menos usado para essa finalidade que o TiO2, pois este tem que os demais haletos. Não são muito solúveis em água.
um maior índice de refração e, portanto, um maior poder de Em parte, isso se deve à grande energia reticular e, também,
cobertura. ZnO é também a matéria-prima para a obtenção ao fato de não formarem complexos com íons haleto em
de outros compostos de Zn, tais como estearato de zinco e solução.
palmitato de zinco. Esses dois compostos são detergentes
("sabões") e são utilizados para estabilizar plásticos e como ZnF2 tem a estrutura do rutilo (TiOJ, na qual o íon
agentes secantes de tintas. A produção mundial de ZnO foi Zn2 + está rodeado octaedricamente por seis íons F“. Os íons
de 366.500 toneladas em 1991. Cd2 + e Hg2+ são maiores e estão octacoordenados, numa
estrutura análoga à da fluorita (CaF2).
As propriedades básicas aumentam de cima para baixo
dentro do grupo. ZnO é anfótero e se dissolve em ácidos, As estruturas do ZnCl2, ZnBr2 e Znl2 podem ser
consideradas como sendo constituídas por arranjos de empa
formando sais, e em álcalis, formando zincatos tais como
cotamento compacto de íons haleto, com os íons Zn2’
[Zn(OH)4]2’ e [Zn(OH)3- (H2O)]'. A adição de álcalis a uma
ocupando um quarto dos interstícios tetraédricos. Por outro
solução aquosa de Zn2+ leva inicialmente à formação de
lado, os compostos CdX2 são constituídos por arranjos de
um precipitado branco gelatinoso de Zn(OH)2, que se dis
empacotamento compacto de íons haleto, com os íons Cd2 +
solve num excesso de álcali formando zincatos. CdO é
ocupando metade dos interstícios octaédricos. O grau de
essencialmente básico, mas em soluções muito concentradas
polarização é considerável, e esses retículos cristalinos não
de base, Na2[Cd(OH)4] é formado. Zn(OH)2 e Cd(OH)2 se
são completamente regulares, como se espera no caso de
dissolvem em excesso de amônia, formando complexos
compostos iônicos. CdCl2 e Cdl2 formam estruturas lamelares
amina. HgO é totalmente básico.
um pouco diferentes, nas quais os íons Cd2" ocupam todos
Os três óxidos são formados pela combinação direta os interstícios octaédricos em uma camada e nenhum na
dos elementos, ou então na decomposição térmica dos camada seguinte. Isso sugere que esses compostos são
nitratos correspondentes. ZnO e CdO sublimam, sugerindo parcialmente covalentes (vide Capitulo 3). Em contraste, os
que são significativamente covalentes. HgO não sublima, compostos HgCl2, HgBr2 e Hgl2 são covalentes e possuem
mas se decompõe quando aquecido. baixos pontos de fusão. HgCl2 sólido é constituído por
aquec. superior a 400‘C moléculas lineares Cl-Hg-Cl, com ligações Hg-Cl de 2,25
2HgO ■» 2Hg + O2
A. Há pouca interação entre os átomos de Hg e Cl, a não ser
Logo, a estabilidade térmica dos óxidos decresce na entre o átomo de Hg e os dois átomos de Cl que formam as
seqüência Zn > Cd > Hg. moléculas (demaisdistâncias interatômicas = 3,34Â).HgBr2
e Hgl2 formam sólidos lamelares.
ZnO é branco quando frio, mas se torna amarelo quando
aquecido. Depois de esfriar, volta a ser branco. CdO pode Os haletos são todos brancos, exceto pelo CdBr2, que é
ser amarelo, verde ou marrom à temperatura ambiente, amarelo pálido, e pelo Hgl2, que pode ser encontrado nas
dependendo do tratamento térmico ao qual foi submetido. formas vermelha e amarela. A cor se deve a transições de
Contudo, é branco na temperatura do ar líquido. Esses transferência de carga.
compostos divalentes possuem uma camada d completa, e Os cloretos, brometos e iodetos de Zn e de Cd são higros-
a cor não é devida a transições d-d. A cor se deve aos defeitos cópicos e muito solúveis em água. As solubilidades são:
existentes na estrutura do sólido (ZnO perde O quando ZnCl2 432 g em 100 g de água a 25 °C
aquecido). O número de defeitos aumenta com o aumento CdCl2 140 g em 100 g de água a 20 °C
da temperatura, e deve tender a zero, no zero absoluto (vide
Capítulo 3). HgO pode ser encontrado nas formas amarela e Tabela 28.5 — Di-haletos e seus pontos de fusão
vermelha.
A adição de uma base às soluções dos sais dos elementos ZnF2 872°C CdF2 l.O49°C HgF, 645°C*
ZnCÍ2 283°C CdCÍ2 568°C HgCl, 276°C
do grupo leva à precipitação de Zn(OH)2, Cd(OH)2 e HgO
(amarelo), e não Hg(OH)2. A forma amarela do HgO tem a ZnBr2 394°C CdBr, 567°C HgBr, 236°C
mesma estrutura cristalina que a forma vermelha mais Znl2 446°C Cdl2 387°C Hgl2 259°C
comum, que se forma quando os elementos (Hg + O2) ou o * Decompõe
430 Grupo 12 — 0 GRUPO 00 ZINCO
Os dois átomos de Hg estão ligados por meio dos orbitais completamente para a esquerda. Por outro lado, é possível
6s. 0 mercúrio é um elemento singular por formar íons obter compostos de mercúrio(I) aquecendo-se compostos
metálicos dinucleares estáveis. Dentre os metais, os dois de mercúrio(II), com pelo menos 50% de excesso de Hg.
únicos outros metais que formam íons dinucleares são (Zn-
Zn)2* e (Cd-Cd)2". Mas, esses íons são instáveis e tais HgCl2 + Hg -> ]Hg2]Cl2
espécies só foram detectadas espectroscopicamente em Na análise qualitativa, a presença de Hg2Cl2 em solução
misturas fundidas de Zn/ZnCl2 e Cd/CdCl2.
é confirmada pela formação de um precipitado preto,
Os compostos de mercúrio (I) podem ser obtidos redu mediante adição de NH4OH. O resíduo preto pode ser
zindo-se os sais de mercúrio(II) com o metal. Alternativa Hg(NH3)2Cl2, HgNH2Cl ou Hg2NCl H2O, ou então uma
mente, o nitrato de mercúrio (I) pode ser obtido dissolvendo- mistura dos três compostos com Hg.
se Hg em HNO3 diluído. Hg2CO3 é, então, precipitado pela
Existem poucos complexos de mercúrio(I), por causa
adição de NaHCO3, e outros sais podem ser obtidos a partir
do grande tamanho do íon binuclear, e porque a maioria
deste composto, por exemplo, reagindo-se com HC1, HF,
dos ligantes provoca o deslocamento da reação de
H2SO4, etc.
desproporcionamento, discutido acima.
Os quatro haletos de mercúrio(I) são conhecidos.
Um aspecto único do mercúrio no estado (+1) é o fato
[Hg2]F2 é hidrolisado pela água e, a seguir, se desproporciona.
dele ser constituído por dois átomos metálicos ligados
[Hg2]F2 + 2H2O —> 2HF + [Hg2](OH)2 diretamente entre si, sendo sua estrutura [Hg-Hg]2". Há
instável diversas evidências experimentais a favor dessa estrutura.
desproporcionamento
(Hg2](OH)2 + Hg"O + Hg° + H2O
Difração de raios X
[Hg2] Cl2, [Hg2]Br2 e [Hg2]I2 são insolúveis em água. O nitrato A estrutura cristalina de diversos compostos de mercú-
[Hg2](NO3)2-2H2O é solúvel em água e a solução contém o rio(I) foi determinada por difração de raios X. Considere por
íon linear [H2O-Hg-Hg-OH2]2 + . Hg2(C104)2-4H20 também exemplo o composto Hg'Q. Se ele fosse constituído por Hg1’
é solúvel. Nenhum óxido, hidróxido ou sulfeto é conhecido. e CF, sua estrutura teria íons Hg" alternados com íons Cl".
Os potenciais de redução padrão são tão próximos que Contudo, em vez desse arranjo, foi observado o arranjo lin
agentes oxidantes como HNO3 concentrado oxidam Hg a ear Cl-Hg-Hg-Cl. Os demais compostos de Hg’ também
Hg2+ e não a Hg[I) (caso o oxidante esteja presente em apresentam pares Hg-Hg em vez de íons discretos Hg1. O
excesso). comprimento da ligação Hg-Hg varia dependendo do
composto: [Hg2]F2, 2,51 Â; [Hg,]Cl2, 2,53 A; [Hg2]Br2, 2,49
Hg2" -» Hg E° = +0,85 V A; [Hg2]I2,2,69 A; [Hg2](NO3)2 -2H2O, 2,54 Â; [_Hg2]SO4,2,50
e [Hg2]2" - Hg E° = +0,79 V A. Todos são menores que a distância de 3,00 Â no mercúrio
sólido.
Pode-se inferir, analisando-se um diagrama de potenciais
de redução, que o íon [Hg2]2+ é estável por uma pequena Constantes de equilíbrio
margem frente à reação de desproporcionamento, nas condi As constantes de equilíbrio podem ser medidas, e
ções padrão, fornecem evidências sobre as espécies presentes. Os
compostos mercúrio(I) podem ser obtidos a partir dos
Hg2 + + Hg — Hg22" E° = +0,13 V correspondentes compostos de mercúrio(ll) e mercúrio
metálico. Se a reação for:
A constante de equilíbrio K da reação pode ser calculada a
partir do potencial E°: Hg(NO3)2 + Hg -> 2HgNO3
Hg2" + Hg—>2Hg"
E° = —InK
nF teremos, pela lei da açao das massas
_ concentração de (Hg2)2" _ [Hg1]2
K 170 = constante
concentração de Hg2" [Hg2"]
Assim, soluções de compostos mercúrio (I) contêm um Os experimentos mostraram que isso não é verdadeiro. Se,
íon Hg2" para cada 170 íons [Hg2]2". O equilíbrio é delicado. porém, tivermos:
Se for adicionado à solução um reagente que remova íons [Hg2f"
Hg2" da mistura (formando um composto insolúvel, ou então Hg2" + Hg —> (Hg,)2" então constante
[Hg2"]
um complexo), o equilíbrio será deslocado para a esquerda.
Nessas condições os íons (Hg2)2" se desproporcionarão Isso foi verificado experimentalmente, comprovando-se assim
completamente em Hg2" e Hg. Por exemplo, a adição de que os íons mercúrio(I) são Hg/", ou seja, (Hg-Hg)2".
■
0H‘ ou S2" forma um precipitado contendo HgO e Hg, ou
HgS e Hg. A causa da inexistência de diversos compostos de
mercúrio(I), como o hidróxido, o sulfeto e o cianeto, se deve Células de concentração
à precipitação dos respectivos compostos de Hg2", deslo A análise das medidas da força eletromotriz de uma
cando o equilíbrio da reação de desproporcionamento acima célula de concentração de nitrato mercuroso indicou que o
432 Brupo 12 — GRUPO □□ ZINCO
Compostos do tipo do de Grignard podem ser obtidos como IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA DO ZINCO
se segue:
O zinco exerce um importante papel nos sistemas
CdR2 + Cdl2 -> 2RCdI enzimáticos de animais e de plantas. O organismo de uma
pessoa adulta contém cerca de 2 g de Zn. T¥ata-se do segundo
R2Zn e R2Cd reagem de maneira semelhante aos elemento de transição mais abundante, perdendo apenas
reagentes de Grignard e aos compostos de (alquil)lítio, mas para o Fe (~ 4 g). Existem cerca de 20 enzimas contendo
são menos reativos e não reagem com CO2. A menor Zn. Algumas das mais conhecidas são:
reatividade desses compostos permite realizar reações de 1) Anidrase carbônica, está presente nas células vermelhas
alquilação seletivas: do sangue e participa do processo de respiração. Ela
acelera a absorção de CO2 pelas células vermelhas do
R2Zn + EtOH RZnOEt + RH
sangue, nos músculos e outros tecidos e, também,
O uso mais importante dos compostos organocádmicos acelera a reação inversa, ou seja, a liberação de CO2
é na obtenção de cetonas. O método explora a menor nos pulmões. Ao mesmo tempo regula o pH.
reatividade dos compostos de alquilcádmio, já que os
CO2 + OH" — HCOj-
reagentes de Grignard reagiríam com as cetonas obtidas.
R 2) Carboxipeptidase, presente no suco pancreático. Está
\ envolvida no processo de digestão de proteínas pelos
R2Cd + 2CH3COC1 2 CO + CdCl2 animais e, também, participa do metabolismo de
/ proteínas em plantas e animais. A enzima catalisa a
CH2 hidrólise da ligação peptídica (amídica) terminal, na
Um grande número de compostos organomercúricos, extremidade que contém a carboxila. A enzima é
do tipo R2Hg e RHgX monoméricos, são conhecidos. Eles seletiva. Ela só atua quando o grupo R do aminoácido
são muito mais estáveis ao ar e à água que os compostos de terminal for aromático ou uma cadeia alifática ramifi
zinco. São obtidos facilmente reagindo-se HgCl2 com rea cada, e tenha a configuração L.
gentes de Grignard, em tetra-hidrofurano, ou pela reação de
HgX2 com um hidrocarboneto: R" O R' O RO
HgCl2 + RMgBr -> RHgCl + '/zMgCI2 + ‘/2MgBr2
I II I II I II
—CH—C—NH—CH—C—NH—CH—C—OH + H2O-»
RHgCl + RMgBr -> R2Hg + 72MgCl2 + 72MgBr2 R" O R' O RO
HgX2 + RH -» RHgX + HX I II I II I II
—CH—C—NH—CH—C—OH + NH2—CH—C—OH
Compostos de arilmercúrio podem ser preparados a partir
de acetato de mercúrio (II): 3) Fosfatase alcalina (liberação de energia).
4) Desidrogenases e aldolases (metabolismo de glicídios).
C6H6 + (CH3COO)2Hg -> C6H5 • HgOOC • CH3
acetato de fenilmercúrio 5) Álcool desidrogenase (metabolismo do álcool).
Esses compostos inorgânicos de mercúrio foram fortes. Atualmente, consideráveis precauções estão sendo
empregados para controlar o crescimento de bolores em tomadas para impedir a descarga de compostos de mercúrio
fábricas de polpa de madeira e de papel. São ainda usados com os efluentes industriais. Os principais problemas são
em tintas protetoras contra o apodrecimento, como fungicidas causados pelas fábricas de acetaldeído e de cloreto de vinila
para o tratamento de sementes e de plantas, e no controle monomérico, que utilizam compostos de mercúrio como
de uma doença conhecida como potra (plasmodiophora catalisadores, e da indústria de cloro-álcalis, em que NaOH
brassicae), que ocorre em couves. Mais recentemente, e Cl2 ainda são obtidos pelo processo eletrolítico utilizando
compostos organomercúricos, tais como dimetilmercúrio, cátodos de mercúrio.
Hg(Me)2, e MeHgX, foram usados para prevenir o ataque de
4) O problema mais recente decorre do uso cada vez mais
fungos em sementes. Compostos alquilmercúricos, como o disseminado de mercúrio na extração de ouro, sobretudo
dimetilmercúrio, são muito mais tóxicos que os compostos no Brasil. A areia e a água dos rios são passados sobre
inorgânicos de mercúrio. Os compostos de arilmercúrio são mercúrio para que o ouro eventualmente presente se
ainda mais perigosos. Eles podem provocar paralisia, perda dissolva no mesmo, formando uma amálgama. 0
de visão, surdez, loucura e morte, devido aos danos provados mercúrio perdido nesse procedimento contaminou
ao cérebro. consideráveis trechos de rios da bacia amazônica.
Foram registrados diversos incidentes alarmantes
envolvendo intoxicação com mercúrio:
1) No início do século, sais de mercúrio eram empregados LEITURAS COMPLEMENTARES
na indústria de chapéus de feltro. A poeira afetava o • Bertini, I., Luchinat, C. eMonnanni, R. (1985) Zincenzymes,
sistema nervoso central dos operários, provocando J. Chem. Ed., 62, 924-927.
tremores musculares, conhecidos na literatura inglesa • Bryce-Smith, D. (1989) Zinc deficiency - the neglected fac-
como "tremores de chapeleiro" (“hatter’s shakes"). Isso tor, Chemistry in Britain, 25, 783-786.
levou à expressão "mad as a hatter”, que significa algo • Coates, G.E. e Wade, K. (1967) Organometallic Compounds,
como "doido varrido”, ou literalmente, "doido como 3a ed., Vol. 1, Zinco, Cádmio e Mercúrio, Methuen, London.
um chapeleiro". • Dirkse, T.P. (ed.) (1986) Copper, Silver, Gold, Zinc, Cadmium,
2) Em 1952, 52 pessoas morreram em Minamata (Japão), Mercury Oxides and Hydroxides, Pergamon, Oxford.
como conseqüência da ingestão de peixe contaminado • Friberg, L.T. e Vostal, J.J. (1972) Mercury in the Environ-
com mercúrio. O Hg provinha dos efluentes de uma ment, CRC Press, Cleveland.
fábrica que usava sais de Hg11 como catalisadores na • Glocking, F. e Craig, P.J. (1988) The Biological Alkylation of
fabricação de etanal (acetaldeído) a partir de acetileno. Heavy Elements, Publicação especial N2 66, Royal Society of
O HgCl2 era convertido no composto organomercúrico, Chemistry, London. (Compostos alquil- e aril-mercúricos no
MeHgSMe, por bactérias anaeróbias existentes no lodo meio ambiente)
do leito da baía. Esse composto era concentrado na • McAuliffe, C. A. (ed.) (1977) The Chemistry of Mercury,
cadeia alimentar. Inicialmente era absorvido pelo Macmillan, New York.
plâncton, que serve de alimento para os peixes e outros • Ochiai, Ei-I. (1988) Uniqueness of zinc as a bioelement, J.
animais marinhos, utilizados na alimentação dos Chem. Ed., 65, 943-946.
habitantes do local. Em 1960 e novamente em 1965, foi
• Prince, R.H. (1979) Some aspects of the biochemistry of zinc,
registrado um aumento repentino no número de casos Adv. Inorg. Chem. Radiochem., 22, 349-440.
de intoxicação por mercúrio no Japão, causados por
consumo de crustáceos contaminados. • Richards, A.W. (1969) Zinc extraction metallurgy in the UK,
Chemistry in Britain, 5,203-206.
3) Em duas ocasiões, (no Iraque, em 1956 e em 1960) se • Roberts, H.L. (1968) The chemistry of mercury, Adv. Inorg.
mentes de milho tratados com compostos organo-mer- Chem. Radiochem., 11, 309.
cúricos, (para impedir o crescimento de fungos), foram
• Valentine, J.S. e de Freitas, D.M. (1985) Copper-zinc
consumidas, em vez de serem utilizadas para fins agrí
dismutase J. Chem. Ed. 62, 990-996.
colas. Isso provocou muitas mortes. Também ocorreram
problemas com resíduos de sais de mercúrio usados
como fungicidas em indústrias de papel, na Suécia. PROBLEMAS (REFERENTES AOS
Os problemas provocados pela contaminação por CAPÍTULOS 19 A 28)
mercúrio são agora melhor compreendidos. Embora os sais
1. Explique por que La2O3 não é reduzido pelo Al.
inorgânicos de mercúrio sejam tóxicos, sua toxicidade é
muito menor que a de compostos alquil ou arilmercúricos. 2. Explique por que TiO2 é branco, enquanto que TiClj é
Contudo, é necessário impedir a contaminação ambiental violeta.
com compostos inorgânicos de mercúrio, como Hg2+ e 3. Desenhe a estrutura do rutilo. Quais são os números de
Hg22 + , pois podem ser metilados por bactérias presentes coordenação dos íons e qual é a relação entre os raios do
nos rios, lagos e mares. Algas, moluscos e peixes podem cátion e do ânion?
concentrar as pequenas quantidades presentes no meio, por 4. Descreva o processo de obtenção do Ti metálico e explique
um fator de 2 a 10 vezes. Esses podem servir de alimento por que ele foi denominado "o metal maravilha".
para outros organismos, onde ocorre um novo processo de 5. Descreva as aplicações dos compostos de titânio em tintas,
concentração. HgMe2 e Hg-Me+ são ambos muito estáveis na polimerização do eteno e na fixação do nitrogênio
e persistem por um longo tempo por terem ligações Hg-C gasoso.
PROBLEMAS (REFERENTES AOS CAPÍTULOS 19 A 28) 435
6. Explique por que as propriedades físicas e químicas dos 23. Faça um comentário crítico sobre as diversas maneiras
compostos de Zr e Hf são muito mais semelhantes que as segundo as quais os nove elementos dos grupos do ferro,
propriedades dos correspondentes compostos de Ti e de do cobalto e do níquel foram agrupados, para fins de
Zr. comparação de suas propriedades.
7. Descreva o que acontece quando se diminui gradualmente 24. Desenhe esquematicamente e denomine os possíveis
o pH de uma solução contendo íons [VO4]3-. isômeros dos complexos: a) (Co(en)3]3 + , b)
8. Quando vanadato de amônio é aquecido com uma solução [Co(en)2(SCN)2] + .
de ácido oxálico, ocorre a formação de um composto (Z). 25. Os resultados da análise elementar de um complexo
Uma amostra de (Z) foi titulada com KMnO4 em meio ácida, monomérico de cobalto são fornecidos abaixo
a quente. A solução resultante foi reduzida com SO2, sendo Co NH3 CF SO42"
o excesso removido por ebulição. Esta foi novamente
titulada com KMnO4. % 21,24 24,77 12,81 34,65
O composto é diamagnético e não contém outros grupos
A relação entre os volumes da solução de KMnO4 usados
ou elementos, exceto eventualmente a água.
nas duas titulações foi de 5:1. Que conclusões podem ser
tiradas a respeito da natureza do composto (Z)? Nota: Determine a fórmula empírica do composto, desenhe as
KMnO, oxida o vanádio em todos os estados de oxidação estruturas de todos os isômeros possíveis, e sugira métodos
a vanádio( +V). SO2 reduz vanádio( +V) a vanádio( + IV). que permitam distinguí-los.
9. Escreva as equações que descrevem as reações de CrO, 26. Dê exemplos de clusters de íons de metais de transição.
Cr2O3 e CrO3 com soluções aquosas de ácidos e de bases. 27. Esquematize as estruturas de seis complexos carbonílicos
10. Descreva as estruturas do acetato de cromo(ll) e do acetato diferentes.
de cobre(II), e faça comentários sobre os aspecto incomum 28. Discuta a origem dos complexos quadrado-planares
que você constatar nas mesmas. formados pelo Ni (II), e explique quais são as outras
11. Como é possível remover todo oxigênio presente no estruturas possíveis para esses complexos.
nitrogênio como impureza? 29. Explique por que os metais "nobres" são pouco reativos.
12. O manganês foi descrito como sendo "o mais versátil dos 30. Dê exemplos de compostos que contenham ligações metal-
elementos”. Explique essa afirmação, e mostre as metal.
semelhanças e diferenças entre o comportamento químico 31. Compare o comportamento químico dos elementos cobre,
do manganês e do rênio. ouro e prata.
13. Explique por que [Mn(HO)6]2+ é rosa pálido, MnO2 é preto, 32. Quais são as configurações eletrônicas do Zn, Cd e Hg
e MnO4‘ tem uma coloração púrpura intensa. metálicos, e de seus íons divalentes? Discuta suas posi
14. Explique por que uma solução verde de manganato(VI) ções na tabela periódica. Você acha que esses elementos
de potássio, K2MriO4, se torna púrpura e ocorre a deveríam se comportar como se fossem autênticos
precipitação de um sólido castanho, quando dióxido de elementos de transição?
carbono é borbulhado através da mesma. 33. Desenhe a estrutura da blenda de zinco. Quais são os
15. Desenhe a estrutura cristalina do ReO3 e compare-a com a números de coordenação dos íons, e qual é a relação entre
estrutura da perovsquita. os raios do cátion e do ânion?
16. Explique por que metais como o ferro são corroídos e como 34. Explique como o metal Zn é usado no método de obtenção
isso podería ser prevenido. do Cd.
17. Descreva como se obtém o ferro metálico a partir de seus 35. Explique por que um precipitado branco é formado quando
minérios, e como o ferro gusa é transformado em aço. uma solução de sulfato de zinco é adicionada a uma
18. Descreva o que é: ferro fundido, ferro forjado, aço doce, solução aquosa de amônia, mas não há precipitação
aço carbono e aço inoxidável. quando a mesma solução de sulfato de zinco é adicionada
a uma solução aquosa de amônia contendo cloreto de
19. Prever a configuração eletrônica do metal, com base no
amônio.
desdobramento do campo cristalino e da natureza dos
ligantes, nos seguintes complexos: a) [Fe(H2O)6]2 + ; b) 36. Quais são aplicações do cádmio, como é obtido, e quais
[Fe(CN)6l4-; e c) [Fe(CN)6]3“. Quantos elétrons desempa- são os problemas causados pela intoxicação por cádmio
relhados existem em cada um desses complexos? Quais em fundições de zinco?
são os momentos magnéticos de spin-only? 37. Enumere as principais formas de contaminação do meio
20. Pentacarbonil(ferro), Fe(13CO)5, tem uma estrutura ambiente com resíduos de mercúrio. Faça uma discussão
bipirâmide trigonal, mas um único pico é observado no sobre a toxicidade dos compostos inorgânicos e orgânicos
espectro de RMN de 13C, mesmo quando a amostra é de mercúrio.
mantida a baixas temperaturas. Dois picos são esperados 38. Faça uma revisão sobre reações de desproporcionamento.
para um composto com estrutura bipirâmide trigonal (o Por que o íon mercúrio (1) é representado como Hg22 + ,
núcleo de 13C tem um spin nuclear igual a 1/2 e seu enquanto o íon cobre(I) é representado como Cu+?
comportamento é semelhante ao do próton, na espectros- 39. Que evidências experimentais sugerem que a estrutura do
copia RMN). Interprete o espectro obtido. íon mercúrio (I) é Hg>2+ e não Hg + ?
21. Compare e assinale as diferenças entre as estruturas dos 40. Quando o mercúrio é oxidado com uma quantidade
grupos prostéticos da hemoglobina, da Vitamina Bi, e da limitada de agente oxidante (isto é, quando há excesso de
clorofila. Hg) sâo formados compostos de Hg1. Todavia, na presença
22. Descreva as principais características relacionadas com a de um excesso do agente oxidante são formados compostos
ligação da molécula de O2 com a mioglobina. de Hg11. Explique esse fato.
436
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bqs lautaiiídios
INTRODUÇÃO Os elétrons 4f do antepenúltimo nível são muito bem
isolados do ambiente químico no qual se encontra o átomo,
Os catorze elementos do bloco f são conhecidos como pelos elétrons 5s e 5p. Conseqüentemente, os elétrons
lantanídios e se caracterizam pelo preenchimento gradativo não participam das ligações. Eles não são removidos para
do antepenúltimo nível energético, 4f. As propriedades de dar origem a íons, nem participam de modo significativo na
um elemento são extremamente semelhantes aos dos demais, energia de estabilização do campo cristalino, em complexos.
de modo que eles foram considerados como sendo um único A energia de estabilização do campo cristalino é muito
elemento até 1907. Já foram chamados de “terras raras”, importante no caso dos elementos do bloco d. O
mas essa denominação não é adequada, pois muitos deles desdobramento dos orbitais f num campo octaédrico Ao, é
não são particularmente raros. Além disso, o termo não é de somente cerca de 1 kJ mol’1. O fato dos orbitais f estarem
muito preciso, pois as terras raras incluíam, além dos 14 preenchidos ou vazios, influenciam muito pouco as
elementos da série dos lantanídios, o La, ou o grupo formado propriedades químicas desses elementos. Contudo, seus
pelo Sc, Y e La, que são elementos do bloco d. Às vezes. Th espectros eletrônicos e suas propriedades magnéticas são
(um actinídio) e Zr (outro elemento do bloco d) também dependentes da configuração eletrônica.
eram incorporados.
CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA Tabela 29.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação dos lantanídios
As configurações eletrônicas dos Elemento Símbolo Configuração Configuração Estados de
metais lantanídios são mostrados na Tab. eletrônica do átomo eletrônica de M' oxidação*
29.1.0 lantânio (o elemento do bloco d
que precede a série lantanídica) tem a Lantânio La [Xe] 5d' 6? [Xe] +III
estrutura eletrônica: [xenônio] Sd'632.
Podería se esperar que os 14 elementos, Cério Ce [Xe] 4f1 5d‘ 6? [Xe] 4/1 +ni +iv
do cério ao lutécio, fossem obtidos pela Praseodímio Pr [Xe] 4/3 ór2 [Xe] 4/2 +iu (+rv)
adição sucessiva de 1,2,3...,14 elétrons Neodímio Nd [Xe] 4/^ ós2 [Xe] 4/3 (+ID +in
ao nível 4f. Contudo, exceto no caso do Promécio Pm [Xe] 4/5 ôr [Xe] 4Z4 (+11) +in
Ce, Gd e Lu, o deslocamento do elétron [Xe]4/ 6? [Xe] 4/5 (+H) +ni
Samário Sm
5d para o nível 4f é energeticamente
Európio Eu [Xe]4/7 ós2 [Xe] 4/ +U +m
mais favorável. Gd mantém o arranjo
Gadolínio Gd [Xe]4/75d' ór2 [Xe] 4/’ +iu
Sd1, porque isso deixa o subnível 4f
Tb [Xe] 4/’ 6? [Xe] 4/8 +ni (+IV)
semipreenchido, o que é energetica Térbio
mente mais favorável. Lu mantém o Disprósio Dy [Xe] 4/10 6? [Xe] d/9 +in (+IV)
arranjo Sd1, porque o nível 4f já está Hólmio Ho [Xe] 4/" ós2 [Xe] 4/10 +ui
totalmente preenchido. Os lantanídios Érbio Er [Xe] 4/12 ós2 [Xe] 4/" +ni
se caracterizam pela química dos ele Túlio Tm [Xe] 4/13 6? [Xe] 4/12 (+n) +ui
mentos no estado de oxidação ( + 111). Itérbio Yb [Xe] 4/14 6? [Xe] 4/13 +u +in
Seus compostos são tipicamente iônicos Lutécio Lu [Xe]4fl45d* &r [Xe] 4/14 +iu
e trivalentes. As configurações eletrô
nicas dos íons são: Ce3+ f Pr34 f2; ♦ Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados em
negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, vêm representados em tipo normal.
Nd3 + f3,... Lu3+ f'4. Estados de oxidação instáveis ou de existência duvidosa estão representados em parênteses.
438 A SÉRIE DOS LANTANÍDIOS
À medida que a solução de citrato desce pela coluna, Esses hidróxidos são iônicos e básicos. São menos básicos
os íons Ln3 + formam complexos com o citrato e são que Ca(OH)2, mas mais básicos que A1(OH)3, que é anfótero.
removidos da resina. Um pouco mais abaixo na coluna, os Todos os metais, óxidos e hidróxidos se dissolvem em ácidos
íons Ln3+ voltam a se ligar à resina. Ou seja, à medida que diluídos, formando sais. Os hidróxidos Ln(OH)3 são
a solução de citrato percorre a coluna, os íons metálicos se suficientemente básicos para absorverem CO2 do ar e
ligam ora à resina, ora ao citrato. Esse processo ocorre formarem carbonatos. A basicidade diminui à medida que
inúmeras vezes, à medida que o íon metálico desce decresce o raio iônico, do Ce ao Lu. Assim, Ce(OH)3 é o
gradativamente pela coluna. Eventualmente, será recolhido hidróxido mais básico e Lu(OH)3 é o menos básico. A
na parte inferior da coluna, na forma do complexo com basicidade deste último composto é intermediária entre a
citrato. Os íons lantanídios menores, como o Lu3 + , formam dos hidróxidos de escândio e de ítrio. A diminuição das
complexos mais estáveis com o citrato que os íons maiores, propriedades básicas é ilustrada pela solubilização dos
como o La3 + . Assim, os íons menores e mais pesados hidróxidos dos elementos mais pesados em NaOH
permanecem mais tempo na solução (e menos tempo na concentrado, a quente, formando complexos.
coluna) e são, portanto, os primeiros a serem eluídos da
coluna. Os diferentes íons metálicos presentes se separam Yb(OH)3 + 3NaOH -» 3Na+ + [Yb(OH)6]3-
em bandas que percorrem a coluna. O progresso dessas Lu(OH)3 + 3NaOH —>3Na+ + [Lu(OH)6]3-
bandas pode ser acompanhado espectroscopicamente por
Os metais perdem rapidamente o brilho quando
fluorescência. A solução que sai da coluna é coletada em
expostos ao ar. Quando são aquecidos na presença de O2
recipientes separados por um coletor automático de frações.
formam os óxidos Ln2O3. Yb e Lu formam um filme protetor
Dessa maneira, é possível separar cada um dos elementos.
Os metais podem ser precipitados na forma de seus oxalatos de óxido, que impede que o restante do metal reaja, a não
insolúveis e, a seguir, calcinados para formarem os óxidos ser quando aquecido a 1.000 °C. A única exceção é o Ce,
correspondentes. que forma CeIVO2 ao invés de Ce2O3. Os óxidos são iônicos
e básicos. A força básica diminui à medida que os íons se
0 processo cromatográfico é equivalente à realização tomam menores.
de muitas separações ou recristalizações, mas a separação é
efetuada numa mesma coluna. Caso uma coluna de troca- Os metais do grupo reagem com H2, mas geralmente é
iônica suficientemente longa seja utilizada, os elementos necessário aquecê-los a uma temperatura de 300 - 400 °C
podem ser obtidos com pureza de 99,9%, numa única para dar início à reação. Dessa forma, podem ser obtidos
passagem. sólidos de fórmula LnH2. Eu e Yb têm tendência de formarem
compostos bivalentes; de modo que EuH2 e YbH2 são hidretos
salinos contendo o íon M2 + e dois íons H". Os demais for
PROPRIEDADES QUÍMICAS DOS mam hidretos LnH2, pretos, metálicos e condutores. Esses
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO compostos seriam melhor descritos como sendo constituídos
DEOXIDAÇÃO ( + III) por Ln3 + , 2H“ e um elétron ocupando uma banda de
condução. Além disso, Yb forma um composto não-
Todos esses metais são moles e de coloração branca estequiométrico, cuja composição se aproxima de YbH2 S.
prateada. São eletropositivos e muito reativos. Os elementos Esses hidretos são surpreendentemente estáveis termica-
mais pesados do grupo são menos reativos que os mais leves, mente; às vezes, até cerca de 900 °C. São decompostos pela
porque formam uma camada protetora de óxido na superfície. água e reagem com oxigênio.
As propriedades químicas dos elementos do grupo, se
restringem praticamente às propriedades dos seus compostos .CeH2 + 2H2O -4 CeO2 + 2H2
trivalentes.
A soma das três primeiras energias de ionização varia Quando aquecidos sob pressão, todos esses “dihidre-
tos”, com exceção do EuH2, absorvem H e formam hidretos
ao longo da série, com mínimos no La3 + , Gd3+ e Lu3 + ,
associados a uma camada f vazia, semipreenchida e comple salinos LnH3, constituídos por Ln3+ e três H~. Eles não
tamente preenchida. Os máximos ocorrem no Eu3+ e Yb3 + , possuem um elétron deslocalizado e não são condutores
e estão associados à quebra da configuração de camada metálicos.
semipreenchida ou preenchida, respectivamente. Os haletos anidros MX3 podem ser obtidos aquecendo-
Os potenciais de redução padrão são todos elevados se o metal com o halogênio, ou então aquecendo-se o óxido
(vide os valores de E° na Tab. 29.2), e variam de forma com o haleto de amônio apropriado.
regular no pequeno intervalo de -2,48 a -2,26 volts, 300*C
Ln2O3 + 6NH4C1 + 2LnCl3 + 6NH3 + 3H2O
dependendo do tamanhos dos íons.
Todos os lantanídios são muito mais reativos que o Al Os fluoretos são muito insolúveis, e podem ser preci
(E° = -1,66 volt), e são um pouco mais reativos que o Mg pitados de soluções de Ln3 + mediante adição de Na + F" ou
(E° “ -2,37 volts). Assim, reagem lentamente com água de HF. Essa reação é usada como teste para os lantanídios,
fria, mas mais rapidamente com água quente. em análise qualitativa. Contudo, os íons lantanídios menores
podem formar complexos solúveis, (LnF(H2O)n]2+, na
2Ln + 6H2O —>2Ln(OH)3 3H2
presença de um excesso de F". Os cloretos são deliqüescentes
Os hidróxidos Ln(OH)3 formam precipitados e solúveis, e cristalizam com seis ou sete moléculas de água
gelatinosos, mediante adição de NH4OH às soluções aquosas. de cristalização. Ao invés de perderem água e formarem os
44e A SÉRIE DOS LANTANÍDIOS
haletos anidros, oxo-haletos são formado quando os haletos O sulfato cérico, Ce(SO4)2, é um composto bem
hidratados são aquecidos. conhecido, amarelo como K2CrO4. CeF4 é obtido a panir da
calor reação entre CeF3 e F2. É um composto branco, que
LnCl3-6H2O —CJ'°r > LnOCl + 5H2O + 2HC1 rapidamente se hidrolisa em água. Tem uma estrutura
CeO2 é obtido ao se aquecer CeX3 • (H2O)n. Os brometos e os cristalina tridimensional, com o metal no centro de um
iodetos se comportam de modo análogo aos cloretos. antiprisma quadrado. Muitos de seus complexos são estáveis,
A temperaturas elevadas, os lantanídios reagem com B como o "nitrato de amônio e cério(IV)”, (NH4)2[Ce(NO3)6].
formando LnB4 e LnB6. Sua estrutura cristalina é pouco comum, envolvendo a
coordenação bidentada dos grupos NO3‘. O número de
A fusão dos metais com C, num arco voltáico sob atmos
coordenação do átomo de Ce é 12, e a forma é a de um
fera inerte, leva à formação dos carbetos LnC2 e Ln4(C2)3.
icosaedro. O complexo com essa estrutura é estável, mesmo
Esses carbetos também podem ser obtidos reduzindo-se
em solução. Dois dos grupos NO3" podem ser substituídos
Ln2O3 com C, num forno elétrico. LnC2 é mais reativo que
pelo ligante derivado da fosfina Ph3PO, formando o complexo
CaC2. Reagem com água, formando etino (acetileno) e,
neutro decacoordenado, [Celv(NO3)4(Ph3PO)2].
também, uma certa quantidade de hidrogênio, C2H4 e C2H6.
Também são condutores metálicos. Esses compostos não Os compostos dos demais elementos nesse estado de
contêm o íon Ln( + II), sendo melhor descritos como oxidação, por exemplo os compostos de Pr(lV), Nd(lV),
acetiletos, ou seja, compostos constituídos por Ln3 + e C22-, Tb(IV) e Dy(IV), não são estáveis em solução aquosa. Eles
e um elétron numa banda de condução. somente podem ser obtidos como sólidos, ou na forma de
fluoretos, ou de óxidos (podem ser não-estequiométricos)
2LnCl2 + 6H2O -> 2Ln(OH)3 + 2C2H2 + H2 ou alguns poucos fluorocomplexos como PrO2, PrF4,
C2H2 + H2 -> C2H4 > C2H6 Na2[PrF6], TbO2, TbF4, DyF4 e Cs3[DyF7],
A temperaturas elevadas, os metais lantanídios também
reagem com N, P, As, Sb e Bi formando compostos do tipo COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
LnN, etc. Este é hidrolisado por água, de modo semelhante DE OXIDAÇÃO ( + II)
ao A1N:
Os únicos dos elementos que no estado (+ II) apresen
LnN + 3H2O -» Ln(OH)3 + NH3 tam uma química em solução aquosa são Sm2+, Eu2’ e
Yb2 + .
Uma grande variedade de oxossais são conhecidos,
dentre os quais podem ser citados os nitratos, carbonatos, O lantanídio bivalente mais estável é o Eu2 +. É estável
sulfatos, fosfatos, bem como sais de íons fortemente oxi- em água, mas suas soluções são fortemente redutoras.
dantes, como os percloratos. EunSO4 pode ser preparado pela eletrólise de soluções de
Euln2(SO4)3, quando ocorre a precipitação do sulfato
bivalente. EunCl2 sólido pode ser obtido reduzindo-se Eu,nCl3
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO com H2.
DE OXIDAÇÃO ( + IV)
2EuCl3 + H2 -> 2EuC12 + 2HC1
O único lantanídio no estado (+ IV), que persiste em
solução e tem uma química'em solução aquosa é o íon Ce4 +. Soluções aquosas de Eu3+ podem ser reduzidas com
É raro encontrar íons com carga 4+ em solução. A carga Mg, Zn, amálgama de zinco ou eletroliticamente, para se
elevada do íon leva a uma intensa hidratação. Assim, exceto obter soluções de Eu2 + . EuH2 é um composto iônico,
em soluções fortemente ácidas, o íon Ce4 + se hidrolisa semelhante ao CaH2. O íon Eu( + II) se assemelha ao Ca em
formando espécies poliméricas e H + . Soluções de Ce( + IV) diversos aspectos:
são largamente usadas como oxidante em análise
1) O sulfato e o carbonato são insolúveis em água.
volumétrica, no lugar de KMnO4 e K2Cr2O7. Na análise
clássica, as buretas devem ser lavadas com ácido, pois caso 2) O dicloreto é insolúvel em HC1 concentrado.
água seja utilizada, corre-se o risco de haver certo grau de 3) O metal é solúvel em NH3 líquida.
hidrólise. Soluções aquosas de Ce(IV) podem ser preparadas A maior diferença entre Ca e Eu está nas suas proprie
oxidando-se uma solução de Ce3+ com um agente oxidante dades magnéticas. O di-haleto EuX2 tem um momento
muito forte, tal como o peroxodissulfato de amônio, magnético de 7,9 MB, que corresponde à presença de sete
(NH4)2S2O8. O íon Ce( + IV) também é usado em síntese elétrons desemparelhados, enquanto que os compostos de
orgânica, por exemplo, a oxidação do carbono alfa de álcoois, Ca são diamagnéticos.
aldeídos e cetonas. Os compostos mais comuns são CeO2 O par Eu3+/Eu2 + tem um potencial de redução de -
(branco quando puro) e CeO2-(H2O)n (um precipitado 0,41 volt. Esse valor é quase igual ao do par Cr3+/Ct2'’, e
gelatinoso amarelo). CeO2 pode ser obtido aquecendo-se o provavelmente são os agentes redutores mais fortes que não
metal, Ce(OH)3ou Celu2(oxalato)3, ao ar. CeO2 tem uma reduzem a água.
estrutura do tipo da fluorita. É insolúvel em ácidos e álcalis,
mas dissolve-se quando reduzido a Ce3 + .
Yb2 + e Sm2 + podem ser preparados por redução eletro-
lítica das soluções aquosas de seus íons trivalentes. Contudo,
Ce + O2 -> CeO2 os íons Ln2+ são facilmente oxidados pelo ar. Ambos for
2Ce(OH)3 + ’/2O2 ->2CeO2 + 3H2O mam hidróxidos, carbonatos, haletos, sulfatos e fosfatos.
Ce2(C2O4)3 + 2O2 -> 2CeO2 + 6CO2 Os íons Nd( + II), Pm( + II), Sm( + II) e Gd( + II) somente
COR E ESPECTROS 443
do visível. Contudo, exibem bandas de absorção excepcio Os demais íons do grupo dos lantanídios não obedecem
nalmente intensas na região do ultravioleta, atribuídas a essa relação simples. Os elétrons Hf são bem protegidos dos
transições do nível 4f para o 5d. A absortividade molar é campos externos pelos elétrons Ss e 5p mais externos. Assim,
muito elevada pois Ai = 1 e a transição é permitida, sendo, o efeito magnético causado pelo movimento do elétron em
portanto, mais intensa que as transições f-f proibidas. Além seu orbital não é cancelado. Por isso, o momento magnético
disso, a promoção de elétrons nesses íons pode ser mais deve ser calculado considerando-se tanto o momento
fácil que em outros íons. A configuração eletrônica do Ce3 + magnético dos spins dos elétrons desemparelhados, como
é f', e a do Yb3 + é f8. Logo, a remoção de um elétron leva aquele decorrente do movimento orbital. Isso também ocorre
às configurações particularmente estáveis com subnível f no caso dos elementos da segunda e terceira séries de
vazio ou semipreenchido. As bandas de absorção devido a transição. Contudo, as propriedades magnéticas dos
transições f-d são largas, ao contrário das transições f-f. lantanídios são fundamentalmente diferentes daquelas dos
Também são possíveis transições de transferência de elementos de transição. Nos lantanídios, a contribuição dos
carga, devido à transferência de um elétron do ligante para spins, S, e a contribuição orbital, L, se acoplam, dando origem
o metal. Essa transição é mais provável quando o metal a um novo número quântico, J.
estiver num estado de oxidação elevado, ou quando o ligante J = L-S quando o subnível está preenchido
tiver propriedades redutoras. A transição de transferência menos que a metade
de carga geralmente é responsável por cores muito intensas. e J = L + S quando o subnível está preenchido
A cor amarela forte das soluções de Ce4+ é decorrente de mais que a metade.
uma transição de transferência de carga ao invés de
transições f-f. A coloração vermelho-sangue do Sm2 + O momento magnético p é calculado em magnétons-Bohr
também é devida a uma transição de transferência de (MB), por meio da expressão:
carga. Hs=gy/j(J+l)
onde
PROPRIEDADES MAGNÉTICAS S(S +1) - L(L +1)
Os íons La3+ e Ce4 + têm uma configuração f°, e Lu3 + S = 1X + 2J(J +1)
uma configuração f1A. Esses íons não apresentam elétrons
desemparelhados e são diamagnéticos. Todos os demais Os momentos magnéticos calculados para os lantaní
estados f apresentam elétrons desemparelhados e são, dios, utilizando tanto a fórmula simplificada do momento
portanto, paramagnéticos. magnético de spin-only, como a fórmula que considera o
acoplamento dos momentos magnéticos de spin e orbital
O momento magnético de elementos de transição pode são mostrados na Fig. 29.2. Observa-se uma excelente
ser calculado pela equação: concordância entre os valores calculados pela última equação
M-ts+i.) = V4S(S +1) + L(L +1) e os valores experimentais, medidos a 300 K, para a maioria
dos elementos. O desvio dos valores experimentais é
Onde, P(s+y é o momento magnético em magnétons- representado pelos pequenos traços verticais (barras de
Bohr, calculado considerando-se tanto a contribuição do erros).
momento magnético de spin como do momento magnético A concordância deixa a desejar no caso do Eu3 + , e não
orbital. S é o número quântico de spin total, e L é o número é muito boa no caso do Sm3 +. Isso ocorre porque no Eu3+ a
quântico de momento angular orbital total. Para os elementos constante de acoplamento spin-órbita é de apenas cerca de
da primeira série de transição, a contribuição orbital é 300 cm'1. Isso significa que a diferença de energia entre o
geralmente suprimida pela interação com os campos elétricos estado fundamental e o estado seguinte é pequena. Por isso,
dos ligantes. Assim, numa primeira aproximação, o momento
magnético pode ser calculado usando a fórmula simplificada,
do momento magnético de spin-only (ps é o momento
11r
10-
magnético de spin, em magnétons-Bohr. S é o número quân 9-
tico de spin total, e n o número de elétrons desempare
lhados). m
8-
i 7-
Ps = ^4S(S + 1) §
*0) 6-
Ps = + 2) & 5-
CO
â
f 4-
Essa relação simples pode ser utilizada no caso do La3 +
3-
(/'“), e de dois outros lantanídios, Gd3+ (f7) e Lu3 + (f14).
La3 + e Lu3 + não possuem elétrons desemparelhados, e 2-
n = 0, com o que ps = Vo(O + 2) = 0. 1-
organic Chemistry, 4? ed. (Cap. 22: Elementos de transição • Yatsimirskii, K.B. e Davidenko, N.K. (1979) Absorption spec-
interna 1, os lantanídios), Routledge and Kegan Paul, Lon- tra and structure of lanthanide coordination compounds in
don. solution, Coordination Chem. Rev., 27, 223-273.
• Evans, W.J. (1985) Organolanthanide chemistry, Adv. Orga-
nometallic Chem., 24, 131-173. PROBLEMAS
• Evans W.J. (1987) Organolanthanide chemistry, Polyhedron, 1. Ordene os elementos lantanídios na seqüência correta,
6, 803-835. escrevendo seus símbolos químicos e suas configurações
eletrônicas.
• Greenwood, N.N. (1968) lonic Crystals, Lattice Defects and
2. De que modo os estados de oxidação dos lantanídios estão
Non-Stoichiometry (Cap. 6), Butterworths, London. relacionados com suas configurações eletrônicas?
• Gschneidner, K.A. Jr, e LeRoy, K.A. (eds) (1988) Handbook 3. Por que é difícil separar os compostos dos elementos
on the Physics and Chemistry of the Rare Earths, North Hol- lantanídios uns dos outros? Que métodos foram usados
land, Amsterdam. para efetuar tais separações? Quais deles continuam em
• Johnson D.A. (1977) Adv. Inorg. Chem. Radiochem., 20, 1. uso?
(Excelente revisão sobre a química dos lantanídios em estados 4. Explique o que é a contração lantamdica, e quais são suas
de oxidação menos comuns) conseqüências.
5. De que maneira o preenchimento do nível energético 4f
• Johnson D.A. (1980) Principies of lanthanide chemistry, J.
influencia os demais elementos da Tabela Periódica?
Chem. Ed., 57, 475-477.
6. Compare os espectros eletrônicos dos íons dos elementos
• Lanthanide and Actinide Chemistry and Spectroscopy (1980) lantanídios e dos metais de transição. Por que os íons dos
Simpósio da ACS, Série 131, American Chemical Society, lantanídios apresentam bandas de absorção finas e suas
Washington. propriedades magnéticas são pouco influenciadas pela
• Moller, M„ Cerny, P. e Saupe, F. (eds) (1988) Rare Earth natureza dos ligantes?
Elements (Publicação especial da Society for Geology Ap Compare os números de coordenação e a estereoquímica
plied to Mineral Deposits, Vol. 7), Springer Verlag, Berlin. comumente encontrados nos complexos dos lantanídios
com aqueles geralmente encontrados nos complexos dos
• Muetterties, E.L. e Wright, C.M. (1967) High coordination metais de transição.
numbers, Q. Rev. Chem. Soc., 21, 109. Determine o número de elétrons desemparelhados, no
8.
• Subbarao, E.C. e Wallace, W.E. (eds) (1980) Science and Tech estado fundamental, dos seguintes íons: La3 ", Ce4 +, Lu3 *,
nology of Rare Earth Materials, Academic Press, New York. Yb2 + , Gd3 + , Eu2+, Tb44.
448
OS ACTIHÍB10S
CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA E POSIÇÃO faziam parte do bloco d. Os motivos para tanto eram algumas
semelhanças entre as propriedades químicas desses
NA TABELA PERIÓDICA
elementos com os grupos de metais de transição Ti, Zr, Hf
Pode-se constatar, por uma rápida análise dos elementos ...Th? e Cr, Mo, W....U? O aumento do número de estados
anteriormente estudados, que o frâncio, Fr, e o rádio, Ra, de oxidação assumidos pelos elementos Ac, Th, Pa e U lembra
pertencem aos Grupos 1 e 2, respectivamente, e que seus a pirâmide invertida de estados de oxidação, observada no
elétrons mais externos devem estar no orbital 7s. No elemento caso dos elementos do bloco d (vide Tab.18.2). O aumento
seguinte, o actínio, Ac, começa o preenchimento do da estabilidade dos elementos nos estados de oxidação mais
penúltimo nível d (—6d’7s2). Este possui propriedades altos, também, segue a tendência encontrada nos elementos
características dos elementos do Grupo do Sc, Y e La. Por do bloco d. Isso contrasta com o fato dos lantanídios
analogia com o que acontecia após o La, espera-se que nos formarem, praticamente, apenas o íon no estado de oxidação
14 elementos que sucedem o actínio, os elétrons ocupem o ( + III). O urânio é o elemento natural mais “pesado’’ (número
nível Sf, constituindo a segunda série de transição interna. atômico 92). Como resultado das pesquisas realizadas para
Esses 14 elementos, do número atômico 90, tório, ao número o desenvolvimento da bomba atômica, durante a II Guerra
atômico 103, laurêncio, são denominados actinídios. Mundial, e das pesquisas posteriores sobre energia nuclear,
Contudo, as configurações eletrônicas dos actinídios não pelo menos 12 elementos foram obtidos artificialmente.
seguem o padrão simples encontrado nos lantamdios. Como esses elementos têm números atômicos superiores ao
Logo após o La, os orbitais 4f passam a ter uma energia do 92U, são também denominados elementos transurânicos.
menor que os orbitais 5d. Por isso, nos
lantanídios os orbitais 4f são preen
chidos de maneira regular (desconside- Tabela 30.1 — Os elementos e seus estados de oxidação
rando-se os pequenos desvios que
Número Elemento Símbolo Estrutura eletrônica Estados de oxidação*
ocorrem no caso de uma camada
semipreenchida). Assim, seria de se 89 Actínio Ac 6J1 7? ni
esperar que, após o Ac, os orbitais 5f se
tornem menos energéticos que os 90 Tório Th 6d2 7? III IV
orbitais 6d. Contudo, a diferença de 91 Protactínio Pa 5/2 6d' Is2 iii rv v
energia entre os orbitais Sf e 6d é 92 Urânio U 5/3 6d' 7? ui rv v vi
pequena, nos primeiros quatro actiní 93 Neptúnio Np 5/ 6d1 7? m iv V vi vn
dios, Th, Pa, U e Np. Logo, nesses 94 Plutônio Pu 5/6 7? III iv V vi vn
95 Amerício Am 5f 7? II m iv V vi
elementos e em seus íons, os elétrons
podem ocupar os níveis Sf ou 6d, ou às
96 Cúrio Cm 5f 6d‘ 7S2 in rv
97 Berquélio Bk 5/’ 7? III IV
vezes ambos. Nos actinídios mais
pesados, o nível 5f passa a ter uma
98 Califómio Cf 5/'° 7? n iii
99 Einstênio Es 5/" 7? n iii
energia consideravelmente menor. 100 Férmio Fm 5/'2 7? n in
Assim, a partir do Pu, o nível Sf passa a 101 Mendelévio Md 5/'3 7? n iii
ser preenchido de maneira regular, e 102 Nobélio No 5/14 7? ii iii
esses elementos são muito semelhantes 103 Laurêncio Lr 5/14 6d' 7? ii in
uns aos outros.
104 Rutherfórdio Rf 5/14 6d2 7Í2 III
Até 1940, os actinídios conhecidos
eram O Th, o Pa e O U. Supunha-se * Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e mais estáveis) são mostradas
(erroneamente) que esses elementos em negrito. Outros estados, bem caracterizados mas menos importantes, são mostrados em tipo nornul.
ESTADOS DE PXIDAÇAO 449
^U (n, 2n)
94 Plutônio “8Pu 86,4 anos Diversos isótopos formam-se em combustíveis nucleares
«Np-S^Np-^Pu
nr «U
6 ?
“Np 0
^Pu
“9Pu 2,4xl04anos 23 min 2Jd
242pu 3.8X1O5 anos 2£Pu
três(ny)
«Pu
cinco (ny)
244Pu 8,2xl07 anos ™Pu ► «Pu
.2 (nr)
na B ,
95 Amerício 241Am 433 anos 92 u
238 u «Pu «Am
13.2 anos
quatro (ny) 2« Pu 8 > 243 Am
243 Am 7.7X103 anos «Pu-
(ny) ? 242
™Am “Am
na
96 Cúrio 242Cm 162 dias «Pu * «'■Cm
quatro (ny) -» 2«Pu -L> “Am 244 A B
244Cm 17.6 anos «Pu 93 Am------ > «Cm
5.0 horas 26 mim
97 Berquélio 249Bk 314 dias
98 Califómio 249Cf 360 anos
“2Cf 2.6 anos Bombardeio intenso e prolongado com nêutron do 239Pu em
99 Einstênio ““Es 250 dias reatores nucleares
100 Férmio 233Fm 4,5 dias
101 Mendelévio 256Md 1,5 horas Bombardeio de 252Cf com He24 seguido de B
102 Nobélio 254No 3 segundos Bombardeio de 246Cm com C64
103 Lawrêncio 257Lr 8 segundos Bombardeio de 252Cf com B54
104 Rutherfórdio 261Rf - 70 segundos
relação n/p, ao mesmo tempo que aumenta o número 2) e sua capacidade de absorver nêutrons, isto é, sua
atômico em uma unidade. Assim, é formado um novo “seção de choque" de captura de nêutrons.
elemento, que se localiza à direita do elemento original na Isótopos dos elementos posteriores ao Pu podem ser
Tabela Periódica (vide Capítulo 31, Estabilidade e relação obtidos por uma sequência de reações (n, y) num reator
entre nêutrons e prótons). Quando a barra de combustível é nuclear, usando Pu como material de partida.
removida do reator, ela é processada, e os novos elementos (n.y) (n.y)
23’II. -- “Am
podem ser recuperados. Como não há muitas aplicações para *« Put1/2-=13^ anos
o Np, geralmente só o Pu é recuperado (o Pu é útil tanto
A adição gradativa de nêutrons lentos é tediosa. Um
como combustível nuclear como para fins militares).
método mais rápido consiste em submeter a amostra a um
feixe ou densidade muito elevada de nêutrons rápidos, sem
“4u+* n->23*U+Jn->2”üItl/2—a6,7 dias «Np permitir que os produtos intermediários sofram decaimento.
6
Isso ocorre durante a explosão de bombas de hidrogênio, na
't1/2—
=23,3 mim.
2« Npt1Z— *-»
j=2,3 dias
Pu qual os elementos gçEs e 10oFm também foram formados.
Entretanto, esse procedimento não é uma rota de síntese
0 rendimento do processo em relação aos elementos mais conveniente e praticável. Quando 238U é usado como
pesados é controlado por dois fatores: combustível de reatores nucleares, ele pode capturar um
1) a meia-vida dos diferentes isótopos. nêutron rápido e, em seguida, emitir dois nêutrons.
452 □5 ACTINlDIOS
ilu- (n^2n)
•2”U ^295
tI/2=6,7 dias
Am Tabela 30.4 — Disponibilidade de vários isótopos
Um método alternativo é o bombardeamento de uma Toneladas Quilogramas 100 gramas Miligramas Microgramas
amostra com íons pequenos. Tais íons devem ter energia
suficientemente elevada para superar as interações 232Th 237Np 231Pa 244Pu “7Fm
coulômbicas entre os íons e os núcleos pesados. Para tal, 238U 239Pu 238Pu 249Bk
esses íons são acelerados até atingirem grandes velocidades 242Pu 242Cm
(elevada energia cinética), num acelerador linear de 241 Am 252Cf
243 Am 253Es
partículas ou num ciclotron. O íon mais simples usado é a
244Cm 254Es
partícula a (isto é, um núcleo de He). Sua captura por um
núcleo pesado provoca o aumento do número de massa em
quatro unidades e do número atômico em duas unidades. PROPRIEDADES GERAIS
Algumas propriedades desses elementos são mostradas
2"Pu+ 4He------- >24|Cm na Tab. 30.5. Todos são metais prateados, de pontos de fusão
Muitas vezes a adição do núcleo de hélio desequilibra moderadamente elevados, mas consideravelmente inferiores
a relação entre nêutrons e prótons (vide Capítulo 31), de aos dos elementos de transição. O tamanho dos íons decresce
modo que um ou mais nêutrons são subseqüentemente regularmente ao longo da série, pois a carga adicional do
emitidos. As equações que representam as reações nucleares núcleo é ineficientemente blindada pelos elétrons f. Isso
podem ser escritas representando todas as partículas provoca uma "contração actinídica”, semelhante à contração
envolvidas na reação, por exemplo lantanídica. Pode-se concluir, a partir da comparação dos
raios iônicos M3 + dos actinídios com os dos lantanídios (Tab.
“9Pu+ 4He------- >2”Cm+2(Jn) 29.6), que os lantanídios e os actinídios têm tamanhos muito
semelhantes. Portanto, suas propriedades químicas também
ou de uma maneira simplificada, onde as partículas adiciona são semelhantes. Contudo, os actinídios são mais densos e
das e emitidas na reação são indicadas entre parênteses: têm uma maior tendência de formar complexos.
Os actinídios são metais reativos, como o lantânio e os
2”Pu_<(o. 2"> )243Cm
«.2n) lantanídios. Reagem com água quente e perdem o brilho
2^Am (o. n)
(°'n) >™Bk quando expostos ao ar, formando um filme de óxido. No
caso do tório, forma-se uma camada protetora, mas isso não
(g, 2n)
242Cm- ^2n) >2«Cf ocorre com os demais metais dessa série. Os metais reagem
facilmente com HC1, mas a reação com outros ácidos é mais
249pf (g,2n)
(g. 2n) 251 r»—,
98 > 100 r m lenta do que se espera. Th, U e Pu são passivados pelo HNOj
(g. n)
concentrado, devido à formação de uma película protetora
2^Es (g n) >2o?Md de óxido. Os metais são básicos e não reagem com NaOH.
Os elementos mais pesados foram obtidos bombardeando- Mas, reagem com oxigênio, com os halogênios e com o
se a amostra com íons Bs + , C6 + , N7+ ou O8+ acelerados. hidrogênio. Os hidretos são não-estequiométricos e têm
fórmulas ideais MH2 ou MH3.
i’U +14 N- ■2"Es + 3(Jn) Geralmente os metais são obtidos por eletrólise dos sais
fundidos, ou por redução dos haletos com Ca, a altas tem
«u+'to- •^Fm+4(Jn) peraturas.
principais laboratórios em todo o mundo. Assim, rapida e L. Szilard me levam a crer que o elemento urânio poderá
mente foram obtidas a maioria das informações que se tem se transformar numa nova e importante fonte de energia
sobre as propriedades do elemento. num futuro próximo". A História mostrou que ele estava
A química do protactínio é de estudo particularmente certo.
difícil, porque seus compostos hidrolisam rapidamente. Além Enrico Fermi (um físico italiano refugiado que trabalha
disso, os íons se polimerizam, formando precipitados coloi- va na Universidade de Chicago) foi o primeiro cientista a
dais em água e na maioria dos ácidos. Esses precipitados desencadear uma reação em cadeia, usando o processo de
ficam adsorvidos nas paredes do recipiente ou sobre outros fissão nuclear, em 2 de dezembro de 1942. 0 seu reator era
precipitados. Tais precipitados coloidais não são formados constituído por uma pilha de camadas alternadas de
quando Pa é manuseado em soluções contendo fluoreto, combustível (U e UO2) e de um moderador (grafita). Tiras
pois nesse caso forma fluorocomplexos. de Cd serviam para absorver nêutrons e assim controlar a
Pa pode ser extraído de soluções de HC1 ou HNO3 com reação em cadeia. Fermi empregou 400 toneladas de grafita,
fosfato de tributila. É, então, precipitado como PaF4 e 50 toneladas de UO2 e 5 toneladas de U metálico.
reduzido ao metal com Ba, a 1.400 °C. Pa foi obtido em Isso levou à criação do "Projeto Manhattan”, destinado
quantidades da ordem de 100 gramas. TYata-se de um metal à fabricação de bombas atômicas, à descoberta dos elementos
brilhante e maleável, que escurece em contato com o ar. transurânicos (elementos com número atômico superior ao
O elemento no estado de oxidação ( + V) é o mais do urânio) e ao desenvolvimento da energia nuclear. Duas
estável. Pa2O5, um sólido branco, é obtido por calcinação de bombas atômicas foram lançadas contra o Japão, em 1945.
compostos de Pa ao ar. Este óxido é fracamente ácido, pois Atualmente, o urânio tem grande importância comercial
reage com álcalis fundidos. Seu aquecimento numa câmara como combustível nuclear. Em 1989, haviam 120 usinas
sob vácuo, ou sua redução com hidrogênio a 1.500 °C, nucleares geradoras de eletricidade somente nos EUA, além
fornece uma fase não-estequiométrica de cor preta, PaO2i3, de mais de 400 outras distribuídas nos demais países.
e eventualmente, PaO2. PaF5 pode ser obtido pela reação de
F2com PaF4, ou de BrF3 com Pa2Os. É reativo, mas pode ser Ocorrência
sublimado. PaCls e os oxo-haletos PaOX3 e PaO2X, também Os vanadatos de urânio, como a carnotita,
são conhecidos. Complexos de Pa(V) com oxalato, citrato, K2(UO2)2(VO4)2 -3H2O constituem os principais minérios de
tartarato, sulfato e fosfato já foram obtidos. Também, foram urânio. A carnotita ocorre como uma crosta distinta de colora
estudados alguns complexos incomuns com fluoreto. No ção amarela ou amarelo esverdeada, em arenitos e outros
Rb[PaF6], o átomo de Pa é octacoordenado. O complexo agregados moles. U também é minerado como óxidos, sendo
K2[PaF7] contém grupos PaF9, onde o metal tem número de os mais importantes a uraninita e a pechblenda. Estes têm
coordenação nove. Eles formam ligações com dois grupos coloração castanho-preta, são não-estequiométricos, mas sua
vizinhos por meio de átomos de F em ponte, um de cada estequiometria se aproximam daquela do UO2. São freqüen-
lado, constituindo uma cadeia. No Na3[PaF8], o íon [PaF8]3’ temente oxidados; e a gumita é laranja amarelada, marrom
tem uma estrutura cúbica ligeiramente distorcida. PaO2 e ou preta, sendo constituída por uma mistura de minérios de
todos os haletos PaX^ bem como os oxo-haletos PaOX2, são U e de Th que sofreram a ação do intemperismo. Os óxidos
conhecidos, e contêm o elemento no estado de oxidação estequiométricos UO2, U3O8 e UO3 são, respectivamente,
(h- IV). Esta espécie, ou seja Pa(IV), pode ser obtido por preto-castanho, verde-preto e laranja amarelado. U é o
redução de soluções aquosas de Pa(V) com amálgama de quadragésimo-oitavo elemento mais abundante na crosta
zinco ou com Cr2*, mas é facilmente oxidado pelo ar. Os terrestre (2,3 ppm). É mais abundante que alguns dos
espectros de absorção do PaCl4, em HC1 ou HC1O4, são elementos “mais familiares” como Ag, Hg, Cd e I. Em 1992,
semelhantes aos do Ce3 + (4f'). Isso sugere que o íon Pa(IV) a produção mundial de urânio foi de 34.400 toneladas em
tem uma configuração Sf1 e é um actinídeo. O íon Pa(III) foi conteúdo de metal, o que equivale a 40.600 toneladas de
detectado por polarografia. U3O8. Os principais produtores de minério de urânio foram:
ex-União Soviética 32%, Canadá27%, Nigéria 9%, Austrália
URÂNIO e Namíbia 7% cada, França 6%, e Estados Unidos e África
Antigamente, os minérios de urânio foram empregados do Sul 5% cada.. Metade da produção dos EUA provém da
como matéria-prima do Ra, que foi usado no tratamento região de Grants, no Novo México.
radioterápico do câncer. Pequenas quantidades de U eram
usadas (e ainda o são) para a obtenção de vidros amarelo Obtenção
pálidos ou verdes. Esse vidro fluoresce quando exposto à Os processos de extração são complexos. Os minérios
luz ultravioleta. Pequenas quantidades de óxido de urânio são triturados e concentrados por processos físicos e quími
são usadas para colorir cerâmicas. cos. 0 minério pode conter 0,2% de U, de modo que 1
A descoberta da fissão nuclear do urânio por Otto Hahn, tonelada de minério fornece menos de 2 kg de U3O8.
em dezembro de 1938, estimulou o estudo detalhado da Inicialmente o minério é concentrado por flotação, valendo-
física nuclear e da química do urânio. A liberação de energia se da elevada densidade dos compostos de U. A seguir, é
durante a fissão de um núcleo era de tamanha importância calcinado ao ar e extraído com H2SO4 (geralmente, na
que, em 2 de agosto de 1939, Albert Einstein escreveu uma presença de um agente oxidante como Mn02, para assegurar
carta ao presidente dos Estados Unidos, Franklin D. a conversão a U( + VI)). Este é precipitado como diuranato
Roosevelt, na qual disse: “Os trabalhos recentes de E. Fermi de sódio, Na2U2O7, um sólido amarelo vivo conhecido como
urAnio 455
“torta amarela”. Esta é dissolvida em HNO3, para formar levantadas para acelerá-lo. Tais barras de controle podem
nitrato de uranila, UO2(NO3)3 • (H2O)n, que é posteriormente ser feitas de aço-boro, cádmio ou háfnio.
purificado. Esse processo de purificação pode ser realizado
precipitando-se UO3 com amônia, ou, então, extraindo-se o 'jB+in------ >12B+Z
nitrato de uranila com fosfato de tributila (diluído com um «Cd+Jn------ >«Cd+Z
hidrocarboneto inerte), a partir da solução aquosa.
Finalmente, os produtos purificados são transformados em Paradoxalmente, essas reações em cadeia dificilmente
UF4, e reduzidos com Ca ou Mg para se obter o metal. podem resultar numa explosão. Para se obter uma explosão,
as condições devem ser tais que o fator de propagação de
nêutrons seja maior que 1. Isso significa que mais de um
Fissão nuclear nêutron resultante de uma fissão efetivamente provoca a
0 urânio que ocorre na natureza contém três isótopos: fissão de outros núcleos. Isso é denominado reação em cadeia
99,3% de 238U, 0,7% de 235U e quantidades traço de 234U. O ramificada. Para se atingir tal condição, o combustível nuclear
isótopo 23SU é físsil e se parte em dois núcleos menores a ser usado (em bombas) deve ser muito enriquecido,
(fissão), quando irradiado com nêutrons térmicos (lentos). podendo conter até 80% de 23SU. É muito difícil se chegar a
0 processo de fissão libera cerca de um milhão de vezes esse grau elevado de enriquecimento e, geralmente, a energia
mais energia que uma reação química. A fissão do núcleo liberada no processo funde o material radioativo, permitindo
pode dar origem a vários produtos (vide “Reações nucleares que ele se espalhe. Assim, devido ao aumento da área su
induzidas”, Capítulo 31), por exemplo: perficial, um maior número de nêutrons pode escapar e a
reação em cadeia cessa. Uma reação em cadeia poderá
^U+òn------->‘|fl +’3S9y + 3(òn)+ 2xIO10 kl moF1 resultar numa explosão somente se o material físsil for
impedido de se espalhar, por meio da utilização de alguma
Se um dos nêutrons liberados provocar a fissão de outro forma de contenção. As temperaturas atingidas se asseme
núcleo de 235U, terá início uma reação nuclear em cadeia lham às do Sol, e nenhum tipo de recipiente resistiría a tais
auto-sustentada. Esse processo libera energia a uma temperaturas. A primeira bomba atômica lançada sobre
velocidade constante. Como a fissão de um núcleo libera Hiroshima usava 235U como combustível. Duas massas
três nêutrons, a princípio estes podem provocar a fissão de subcríticas de 23SU, em parte opostas da bomba, foram
três outros núcleos de 23SU. Isso provocaria a liberação de juntadas por uma pequena explosão convencional, por um
um número ainda maior de nêutrons, dando início a uma tempo suficientemente longo para provocar uma explosão
reação em cadeia "ramificada”. Esse tipo de reação é nuclear.
incontrolável, pois liberaria energia a uma velocidade cada
Num reator nuclear, o fator de propagação de nêutrons
vez maior, até gerar uma explosão.
é muito próximo de 1. Isso significa que apenas I nêutron
É muito difícil iniciar e manter uma reação em cadeia. resultante de cada fissão provoca outra fissão. Assim, a
Os nêutrons liberados pela fissão são “nêutrons rápidos”, liberação de energia é controlada e pode ser usada para fins
tendo energias da ordem de 2 x 108 kJ moF*. Eles tendem a pacíficos, como a geração de eletricidade. O excesso de
escapar e não são muito efetivos para provocar novas fissões. nêutrons pode escapar, ser absorvido pelas barras de controle,
São muito menos efetivos que os nêutrons "lentos”, com ou então pelos núcleos de 238U, que também estão presentes
cerca de 2 kl moF1 de energia (são também denominados no combustível.
nêutrons “térmicos”, pois sua energia é comparável à energia A preparação de combustíveis de U enriquecido, conten
térmica existente a temperatura ambiente). A probabilidade do elevadas concentrações de 235U físsil, é difícil. O material
de se conseguir uma reação em cadeia pode ser aumentada enriquecido, usado em reatores nucleares de usinas de
de duas maneiras: geração de energia, geralmente contém de 2 a 4% de 235U.
1) Os nêutrons rápidos podem ser desacelerados pela Um combustível mais enriquecido (70% a 80%) é utilizado
colisão com átomos de hidrogênio, deutério ou carbono. em bombas e nos motores de submarinos nucleares. Há
Esses materiais são denominados “moderadores". quatro métodos para se separar os isótopos de U: difusão
2) Uma massa suficientemente grande de 2|2U pode ser térmica, difusão gasosa, separação eletromagnética e o uso
usada, para assegurar que um número suficiente de de uma centrífuga para gases. Atualmente, as separações
nêutrons atinja outros núcleos físseis de 235U antes de em grande escala são efetuadas valendo-se das diferentes
escapar. Logo, existe uma “massa crítica”. O valor dessa velocidades de difusão de 23SUF6 e 238UF6 gasosos (vide
massa crítica depende da forma do material e de sua Capítulo 31). O método da centrifuga de gases está crescendo
pureza. Uma esfera tem a menor área superficial, o que em importância.
minimiza a probabilidade de escape dos nêutrons. F,
UO, + HF —> UE, — UF6(gás)
Barras ou lâminas tem uma superfície muito maior e
os nêutrons podem escapar com maior facilidade. A U + 3C1F3 —50~90X > UF6 + 3C1F3
probabilidade dos nêutrons provocarem uma fissão Quando um núcleo de 238U absorve nêutrons, forma-se
aumenta com o aumento da proporção do isótopo físsil. o elemento mais pesado plutônio, que também é físsil e
Assim, o combustível nuclear deve ser "enriquecido”. pode ser usado como combustível nuclear. Como a quanti
As barras de controle são utilizadas para evitar que a dade de Pu formado pode ser maior que a quantidade de
reação se descontrole. As barras de controle são introduzidas 23SU consumida, este tipo de reator é denominado “reator
no reator para absorver os nêutrons e desacelerá-lo, ou são regenerador rápido” (“fast breeder reactor").
456 □5 ACT1NÍDI05
Propriedades químicas
O urânio e os três elementos seguintes, Np, Pu e Am,
podem ser encontrados nos estados de oxidação ( + III),
(+1V), (+ V) e (+ VI). Eles são semelhantes uns aos outros,
exceto pelo fato do estado de oxidação mais estável desses
elementos decrescer do U(VI) para Np(V) para Pu(IV) para
Am(Ili). Os compostos dos elementos nos estados ( + 111) e
(+ IV) são semelhantes aos dos lantanídios. Os íons formados
nos estados de oxidação (+ III), ( + IV), ( + V) e ( +VI) são,
respectivamente, M3 + , M4 + , MO2+ e MO22 + . As reações
redox entre e M4*, ou entre MO2* e MO22 +, são rápidas,
pois envolvem apenas a transferência de um elétrons. Já as
reações de oxidação de M*( a MO22+ são lentas, pois
envolvem a transferência de elétrons e de átomos de oxigênio.
Figura 30.1 — Estrutura do nitrato de uranila di-hidratado,
O urânio é um metal reativo. O metal finamente dividido UO2(NO3)2-2H2O
reage com água em ebulição, formando uma mistura de UH3
e UO2.0 metal se dissolve em ácidos, e reage com hidrogênio, são mostradas no esquema abaixo:
oxigênio, os halogênios e muitos outros elementos.
UF3
Hidretos
Al 900°C
O urânio reage com hidrogênio mesmo à temperatura
ambiente, embora a reação seja mais rápida a 250 °C, forman HF F2 240°C HF
do UH3. Este é obtido na forma de um pó preto pirofórico. O uo2 uf4 UFS [UFJ- e [UFeJ-
hidreto é muito reativo e, freqüentemente, é mais apropriado Fj 400°C \ HBr 65"C
que o metal puro como material de partida para a preparação
de outros compostos: UF6
UF6 e UC16 são complexos octaédricos mas todos os demais
2UH3 + 4H2O —>2UO2 + 7H2 haletos são poliméricos, com números de coordenação
2UHj + 4C12 -> 2UC14 + 3H2 elevados. Todos os haletos são hidrolisados pela água. Os
2UH3 + 8HF -> 2UF4 + 7H2 hexahaletos se dissolvem em ácidos fortes, formando o íon
UH3 + 3HC1 -> UC13 + 3H2 UO22 +. Em pHs mais elevados, este se hidrolisa e se politne-
riza por meio de grupos OH em ponte, formando:
Óxidos
O estudo dos óxidos de urânio é complicado, pois exis H
tem diversos estados de oxidação estáveis e, freqüentemente,
esses compostos são não-estequiométricos. UO2 é castanho-
preto e ocorre na pechblenda; U3O8 é verde escuro, enquanto
que UO3 é laranja amarelado. Algumas reações são mostradas
no esquema abaixo:
3S0aC CO 3SO°C
UF6 pode ser obtido na forma de cristais incolores (P.F. = 64
UO2(NO3)2-2H2O -*UO3 UO2 °C). É um poderoso agente de fluoração, que reage rapida
,700’C
calor mente com água. UFS tende a se desproporcionar em UF4 e
u + o2 ——-—- U3Oe
UF6. Os tetra-haletos são os haletos mais estáveis.
Os três óxidos são básicos e se dissolvem em ácidos.
UO3 se dissolve em HNO3, formando o íon amarelo uranila,
[O = U = O]2 +, que pode ser cristalizado a partir da solução Tabela 30.7 — Os haletos de urânio
como nitrato de uranila, UO2(NO3)2(H2O)n. O número de
moléculas de água de cristalização pode ser dois, três ou Estados de Fluoretos Cloretos Brometos lodetos
seis, dependendo se foi utilizado HN03 fumegante, concen oxidação
trado ou diluído, respectivamente. O di-hidrato apresenta
uma curiosa estrutura em que o urânio se encontra octaco- +m UF3 verde UCI3 vermelho UBr3 vermelho UIj preto
ordenado. Ele é constituído por um íon linear [O = U- O]2 + +rv UF4 verde UC14 verde UBr4 castanho UI4 preto
perpendicular a um hexágono formado por seis átomos de
oxigênio (quatro provenientes de dois grupos NO3“ +v UFS branco U2C1 io verme-
bidentados e dois provenientes de moléculas de água, Fig. azulado Iho-marrom
30.1). +VI UF6 branco UCI6 preto
U2F9 preto
Haletos U4F14 preto
Os principais haletos de urânio e suas cores são U5F22 preto
mostrados na Tab. 30.7. Algumas das reações dos fluoretos
05 ELEMENTOS ACTINÍDIOS POSTERIORES 457
NEPTÚNIO, PLUTÔNIO E AMERÍCIO oxidante tão forte quanto KMnO4. Os estados de oxidação
mais estáveis desses elementos são: Np( + V), Puf + IV) e
Com exceção do 294Pu, que é muito importante como
Am( + III). Porém, é possível obtê-los no estado de oxidação
combustível nuclear e para a fabricação de bombas nucleares,
( + VII), pela reação de NpO22 + e de PuO22* com oxidantes
os demais elementos transurânicos possuem pouco uso, a
muito fortes como ozônio ou HIO4, em meio alcalino. Em
não ser para fins de pesquisa.293Np e 2|4Pu podem ser obti
seguida, podem ser isolados como Li5(NpO6] e Li5[PuO6].
dos em quantidades da ordem de quilogramas, e 24sAm e
Os compostos dos elementos no estado (+ VII) são
2?sAm em quantidades da ordem de centenas de gramas, a
fortemente oxidantes, e quando são acidificados rapidamente
partir de barras de urânio combustível esgotadas, utilizadas
oxidam a água a O2 e se reduzem ao estado (+ VI).
em reatores nucleares. A separação desses elementos é
extremamente difícil e perigosa, pois não somente estão Os óxidos mais importantes são os dióxidos MO2, mas
misturados com produtos de fissão altamente radioativos, os óxidos podem ser não-estequiométricos e conter várias
como também são eles próprios físseis. A massa crítica para soluções sólidas. As estruturas, propriedades e métodos de
uma esfera de Pu metálico é de cerca de 10 kg, mas uma obtenção dos haletos são semelhantes aos de urânio. Uma
solução contendo menos de 1 kg pode ser suficiente. Além lista dos compostos conhecidos é apresentado na Tab. 30.8.
disso, 0 plutônio é extremamente tóxico (uma dose de 10~6 Todos os isótopos do plutônio são importantes como
g pode ser fatal, e doses menores são cancerígenas). Am combustíveis nucleares. 237Np é convertido em 238Pu, por
pode ser obtido a partir de barras de combustível esgotadas. irradiação com nêutrons. Este é usado como fonte de energia
E produzido pela intensa irradiação de Pu puro com nêutrons, em satélites.241 Am é uma fonte valiosa de partículas a em
no Oak Ridge National Laboratories, Tennessee, EUA. laboratório.
0 reprocessamento de barras de combustível nuclear é
uma importante tecnologia recentemente desenvolvida. O OS ELEMENTOS ACTINÍDIOS POSTERIORES
reprocessamento é necessário em reatores regeneradores para
Muito pouco se sabe sobre os actinídios posteriores,
extrair os novos elementos resultantes da fissão, que podem
cúrio, einstênio, férmio, mendelévio, nobélio e laurêncio.
ser usados como combustíveis. O reprocessamento também
Em parte, isso se deve às pequenas quantidades desses
é essencial em reatores térmicos normais, pois alguns dos
elementos disponíveis para estudo, e em parte à sua
produtos da fissão absorvem nêutrons. Desse modo, eles
instabilidade. Somente o Cm está disponível em quantidades
poderíam terminar a reação em cadeia antes que todo 235U
macroscópicas, como mostrado na Tab. 30.4, sendo as
ou 239Pu fosse usado como combustível. São produzidos mais
informações sobre os demais elementos obtidas
de 30 elementos diferentes, incluindo Sr, os elementos da
essencialmente por estudos com traçadores.
segunda série de transição, I, Xe, Cs, Ba, La e os lantanídios
(muitos dos isótopos obtidos são radioativos: os mais O interesse nesses elementos se concentra essencial
conhecidos são 90Sr e 138I). As barras contêm grandes quanti mente em mostrar que as propriedades dos elementos da
dades de U e Pu, e pequenas quantidades dos demais segunda metade da série dos actinídios são muito similares
elementos transurânicos. ao dos lantamdios. Apesar das semelhanças, os actinídios
podem ser separados dos lantanídios com relativa facilidade,
As barras de combustível nuclear removidas de um
pois os actinídios formam complexos com maior facilidade.
reator são imersas em água durante 100 dias. Isso as mantém
Por exemplo, os actinídios formam cloro complexos em HCI
resfriadas, enquanto os isótopos altamente radioativos, de
concentrado. Logo, se os íons dos elementos das duas séries
meia-vida curta, como ’|jl (t1/2 = 8 dias), decaem e perdem
forem adsorvidos em colunas de troca-iônica, os actinídios
a maior parte de sua atividade. podem ser eluídos com HCI concentrado. Os íons actinídios
No Processo Purex, as barras de combustível são podem ser separados uns dos outros por cromatografia de
dissolvidas em HN03 7 M e extraídas com fosfato de tributila.
UO22+ e Pu( + IV) são extraídos da mesma maneira. Os
demais elementos transurânicos (principalmente Np, Am e Tabela 30.8 — Haletos do neptúnio, plutônio e amerício
Cm) junto com outros produtos da fissão (principalmente
elementos da segunda série de transição e lantanídios) Estados de Neptúnio Plutônio Amerício
permanecem na solução aquosa. Pu( + III) é obtido pela
redução cuidadosa da solução de UO22+/Pu( + IV) com SO2,
+m NpF3 púrpura- PuF3 púrpura AmF3rosa
escuro
NH20H ou sulfamato de ferro(II), Fe(NH2SO3)2. Este pode NpCl3 branco PuCl3 verde- AmCl3 rosa
ser facilmente separado do UO22+ e do U4+ por extração esmeralda
com solvente. U é precipitado como nitrato de uranila, e Pu NpBr3 verde PuBr3 verde AmBr3 branco
como oxalato ou fluoreto. Eventualmente, são transformados Npl3 castanho Pul3 castanho Aml3 amarelo
em U02 e PuO2. +IV NpF4 verde PuF4 castanho AmF4 cor de
Np, Pu e Am são metais reativos semelhantes ao U. canela
Eles se dissolvem em ácidos e reagem com hidrogênio, NpCL* castanho-
oxigênio, os halogênios, e muitos outros elementos. Esses vermelho
elementos, nos estados de oxidação ( + III)->( + VI), estão NpBr4 castanho-
vermelho
presentes em solução como M3 + , M4 + , MO2+ e MO22 + . Os
+VI NpF6 castanho PuF6 castanho-
elementos no estado ( + VI) tornam-se cada vez mais vermelho
oxidante na ordem U < Np < Pu < Am. O íon AmO22 + é um
458 □5 ACT1NÍDIÜ5
troca iônica, usando soluções de citrato como eluente. A Rutherford). Esse elemento se assemelha ao háfnio, um
seqüência de eluição dos íons actinídios é muito semelhante elemento do bloco d. Os estudos com traçadores, sugerem
àquela observada no caso dos íons lantanídios. que UnqCl4 se parece com HfCl4. O elemento 105 (Unp),
O estado de oxidação (+ III) é o mais estável para todos provisoriamente denominado hahnium, Ha (homenagem a
os elementos com números atômicos de 96 a 103, exceto Otto Hahn), parece se assemelhar ao tântalo. UnpCls e
um, ou seja, Cm, Bk, Cf, Es, Fm, Md, (No), Lr. A exceção é UnpBrs, também, já foram estudados. O elemento 105, Unp,
o No, que é mais estável no estado ( + 11), pois tem uma tem uma meia-vida de apenas 1,5 segundos, e os estudos
configuração eletrônica f14 favorável. com o composto UnpBrs foi efetuado com apenas 18 átomos.
Tanto o elemento 104 como o 105 foram obtidos
Há evidências sobre a obtenção dos elementos de núme
ro atômico 98 a 102, isto é, do califórnio ao nobélio, no bombardeando-se actinídios com núcleos acelerados de
átomos leves. Por exemplo, o elemento 105 foi obtido
estado de oxidação (+ II). Todos os elementos nesse estado,
bombardeando-se o califórnio com núcleos de 15N. Os tem
exceto o nobélio, são redutores ou fortemente redutores. Os
pos de meia-vida dos elementos com números atômicos
elementos em estados de oxidação mais elevados, como
Cm( + IV), foram observados em compostos CmF4 e superiores a 100 são muito curtos. Além disso, o processo
de fissão espontânea se toma um mecanismo de decaimento
Rb[CmF6) no estado sólido, mas não em solução. Compostos
radioativo cada vez mais importante à medida que aumenta
de Bk( + IV) são oxidantes, mas podem ser obtidos tanto em
o número atômico. Tendo em vista tais constatações, parece
sólidos como em solução. BkO2 e Cs2[BkCl6] já foram
isolados. O laurêncio só pode ser obtido no estado (+ III) e muito pouco provável que novos elementos, com números
resiste tanto à oxidação como à redução, novamente atômicos muito maiores que aqueles sintetizados até o
presente, possam ser obtidos, de modo a estender ainda mais
ilustrando a estabilidade de uma espécie com a configuração
eletrônica f14. a Tabela Periódica.
A IUPAC propôs um sistema de nomenclatura para os
Os três primeiros desses elementos, cúrio, berquélio e
califórnio, foram obtidos em quantidades da ordem de elementos com Z > 100.
miligramas. Seu comportamento químico foi estudado por D Os nomes seriam a combinação de raízes, referente aos
métodos normais em microescaia, tendo-se conseguido isolar três dígitos que constituem os números atômicos dos
alguns de seus compostos. Os elementos restantes foram elementos, seguidos do sufixo -io (-ium em inglês). As
estudados por métodos de traçadores radioativos, pois só raízes para os números são:
estão disponíveis em quantidades ínfimas. Nessa técnica, 0 1 2 3 4
as pequeníssimas quantidades desses elementos pesados são nulo uno bi ou di tri tetra
precipitados, ou formam complexos, na presença de
5 6 7 8 9
quantidades maiores de um elemento, que apresenta um
penta hexa hepta octa nona
comportamento químico semelhante ("carrier”). Assim, o
mendelévio é estudado na presença do lantanídeo európio, 2) Em certos casos, os nomes são simplificados. Por
e monitorado pela sua radioatividade. exemplo, bi + io, tri + io e enn + nila seriam trans
Os elementos até o número atômico 100, férmio, decaem formados em bio, trio e enila, respectivamente.
radioativamente emitindo, principalmente, partículas a ou 3) O símbolo do elemento correspondería às primeiras
p (vide Capítulo 31). Os elementos se tornam cada vez mais letras das três raízes numéricas que constituem seus
instáveis à medida que o número atômico aumenta, de modo nomes. A estranha mistura de raízes gregas e latinas
que o nobélio tem uma meia-vida de apenas três segundos foi escolhida para assegurar que os símbolos seriam
(Tab. 30.3). Nesses elementos muito pesados, a fissão nuclear todos diferentes.
espontânea se transforma numa das principais vias de Embora os nomes devam ser escritos como uma palavra
decaimento. Assim, 252Cf pode vir a ser usado como uma única, nos exemplos abaixo, foram inseridos hífens
valiosa fonte de nêutrons. separando cada parte dos nomes, para torná-los mais
inteligíveis. Normalmente, os hífens deveríam ser omitidos.
NOVOS ELEMENTOS TRANSURÂNICOS Os isótopos e as meias-vidas dos elementos "super-
A série dos actinídios se completa com o elemento 103, pesados”, conhecidos com grau de certeza razoável até 1989,
laurêncio. Recentemente, foi relatada a obtenção dos estão listados na Tab. 30.10.
elementos de números atômicos 104 a 109, que pertencem Elementos contendo um número par de prótons no
ao bloco d. Atualmente, há dois grandes grupos de núcleo (portanto com números atômicos pares) geralmente
pesquisadores que se dedicam à produção de elementos “su- são mais estáveis que seus vizinhos com números atômicos
per-pesados”: um na Califórnia, nos EUA e outro em Dubna, ímpares (regra de Harkins). Isso significa que eles são mais
nas proximidade de Moscou, na Rússia. Por convenção, o abundantes, pois a probabilidade deles decaírem é menor.
pesquisador que descobrir um novo elemento tem o direito Além disso, núcleos com número par de nêutrons e de
de escolher seu nome. A descoberta do elemento 104 (Unq) prótons tendem a ser mais estáveis. Os núcleos também
foi relatada pela primeira vez por pesquisadores russos, que apresentam uma estrutura em camadas, com diferentes níveis
o denominaram kurchatovium, Ku (homenagem a Igor de energia, grosseiramente semelhantes à estrutura
Kurchatov). Porém, seus trabalhos foram repetidos por cien eletrônica. Os núcleos com número de nêutrons ou de
tistas norte-americanos, que obtiveram resultados diferentes prótons iguais a 2, 8, 20, 28, 50, 82 ou 126 são mais estáveis
e o denominaram rutherfordium, Rf (homenagem a Ernest que a média. Estes são “números mágicos”, que podem ser
LEITURAS COMPLEMENTARES 459
• Erds, P. e Robinson, J.M. (1983) The Physics ofActinide Com- • Taube, M. (1974) Plutonium: A General Survey, Verlag
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Stroudsburg. (contém os 120 artigos mais importantes sobre 5. Descreva os métodos que têm sido utilizados para separar
a história dos elementos artificiais) os isótopos do urânio. Explique as dificuldades encon
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• Steinberg, E.P. (1989) Radiochemistry of the fission Prod elementos mais pesados na Tabela Periódica, são objeto
ucts, J. Chem. Ed., 66, 367-372. (Reflexões sobre a fissão de controvérsia. Quais são as possibilidades, e quais são
nuclear nessa metade de século) as evidências que suportam cada uma delas?
461
5 0
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4EB
0 UÚCLEO
DOS ÁTOMOS
ESTRUTURA DO NÚCLEO "efeito da tensão superficial" assegura a esfericidade dos
Um átomo é constituído por um núcleo com carga núcleos pequenos. À medida que a massa do núcleo aumen
positiva, rodeado por uma nuvem de um ou mais elétrons, ta, a repulsão entre os prótons aumenta mais rapidamente
com carga negativa. As cargas se compensam mutuamente que as forças de atração. Para minimizar as forças de
e o átomo é eletricamente neutro. O núcleo é constituído repulsão, o núcleo se deforma, de modo análogo ao
por prótons, de carga positiva, e por nêutrons, que são alongamento observado numa grande gota de um líquido.
eletricamente neutros, ligados entre si por forças muito fortes. Esse modelo foi proposto pelo físico dinamarquês Niels
Essas forças são de curto alcance e diminuem rapidamente, Bohr para explicar a ocorrência da fissão nuclear em núcleos
à medida que aumenta a distância entre as partículas. As pesados. O núcleo do urânio (elemento de número 92), de
partículas que constituem o núcleo são denominados número de massa 235, 2||U, é tão deformado que o forneci
coletivamente núcleons. mento de uma pequena quantidade adicional de energia,
por exemplo, a absorção de um nêutron, é suficiente para
O raio de um núcleo é incrivelmente pequeno, da ordem provocar a fragmentação do mesmo em dois núcleos
de IO-15 m. As distâncias nucleares são medidas em fentôme- menores. Esse fenômeno é denominado fissão nuclear, e é
tros (1 fm = 10’15 m) (a maioria dos átomos tem um raio de acompanhado da liberação de uma grande quantidade de
1-2 A, ou seja, 1-2 x IO'10 m. O núcleo do oxigênio, por energia. Núcleos com números de massa maiores que o do
exemplo, tem um raio de 2,5 fm). Para se ter uma idéia das urânio, são tão deformados que sofrem fissão espontânea.
ínfimas dimensões do núcleo, imagine um núcleo com um Isso significa que esses núcleos se desintegram (ou seja, se
diâmetro de 1 cm. Nessa mesma escala, o diâmetro do átomo “quebram” espontaneamente), sem necessidade de qualquer
seria de cerca de 1.000 metros. A maior parte da massa de perturbação externa.
um átomo está concentrada no núcleo. Conseqüentemente,
sua densidade é muito grande, da ordem de 2,4 x 1014 g cm’3, A densidade de todos os núcleos, exceto os mais leves,
ou seja, cerca de 1013 vezes maior que a densidade do mais é quase constante. Assim, o volume do núcleo é diretamente
denso dos metais, o irídio (22,61 g cm’3). proporcional ao número de núcleons presentes. Núcleos com
números diferentes de núcleons são considerados como
O número atômico Z de um elemento é igual ao número sendo gotas de diferentes tamanhos. O intervalo em que as
de prótons existentes no núcleo, que, por sua vez, é igual ao forças de atração entre os núcleons atua é muito pequeno,
número de elétrons que estão em volta do núcleo. O número de 2 a 3 fm. Os núcleons podem se mover dentro do núcleo
de massa A é a soma do número de prótons e do número de como se fossem partículas num líquido.
nêutrons existentes no núcleo.
O modelo de camadas
O modelo da “gota” Na nuvem eletrônica que envolve os átomos pode-se
Algumas vezes, o núcleo é descrito, como se fosse a distinguir elétrons em diferentes níveis de energia. Os elétrons
"gota de um líquido". Uma pequena gota de um líquido é se distribuem em diferentes camadas e orbitais, que podem
quase esférica. Essa forma é mantida graças às forças de ser descritos pelos quatro números quânticos. Supõe-se que
curto alcance — a atração entre as moléculas vizinhas. As os núcleons se arranjem no núcleo de uma maneira definida,
moléculas que se encontram na parte externa da gota só em camadas. Estas correspondem aos diferentes níveis de
sentem essa força de atração num lado: é o efeito da tensão energia possíveis. Quando os núcleons ocupam os níveis
superficial. Uma gota maior de um líquido se torna alongada energéticos mais baixos, o núcleo se encontra no estado fun
e basta uma pequena perturbação para destruí-la. damental. Em condições diferentes, os núcleons podem
De maneira análoga, o núcleo é mantido unido por ocupar níveis energéticos diferentes (excitados, de maior
forças de curto alcance (o intercâmbio de mésons rr). O energia). Geralmente, a população desses níveis energéticos
FORÇAS NO INTERIOR □□ NÚCLEO 463
nucleares de maior energia tem vida tão curta que não pode um grande número de isótopos. Os números acima
ser observada. Assim, as propriedades do núcleo dependem mencionados são chamados de "números mágicos". Os
somente do número de nêutrons e de prótons, e não dos números 114, 164 e 184 também deveríam ser incluídos na
níveis energéticos que eles ocupam. série dos números mágicos. Os núcleos serão muito estáveis,
Em alguns poucos casos, os estados nucleares excitados se tanto o número de prótons como o de nêutrons forem
têm uma vida mensurável, e quando isso ocorre podem números mágicos. Por exemplo, 2™Pbé muito estável e possui
existir isômeros nucleares. Isômeros nucleares são simples 82 prótons e 208 - 82 = 126 nêutrons. A emissão de raios y
mente núcleos com o mesmo número de prótons e nêutrons, pelos núcleos pode ser facilmente explicada pelo modelo de
mas cujas energias são diferentes. Nesse caso, as massas camadas. Isso ocorre quando núcleons em estados excitados
dos isômeros não são exatamente iguais, sendo a pequena decaem para estados de menor energia. A diferença de
diferença correspondente à diferença de energia entre eles. energia entre os níveis é emitida na forma de raios y.
Muitos núcleos são instáveis, mesmo quando correspon Assim, algumas das propriedades do núcleo sugerem
dem ao estado fundamental. Os núcleos instáveis se decom que os núcleons se movimentam livremente dentro do
põem emitindo vários tipos de partículas e radiações núcleo, enquanto outras propriedades sugerem que os
eletromagnéticas. Esse fenômeno que é conhecido como núcleons se arranjam em níveis de energia definidos.
decaimento radioativo. Mais de 1.500 núcleos instáveis são
conhecidos. Caso não seja possível detectar nenhuma FORÇAS NO INTERIOR DO NÚCLEO
decomposição radiativa, o núcleo é dito estável.
Os prótons têm uma carga positiva. Em qualquer núcleo
O modelo da estrutura em camadas é coerente com a contendo dois ou mais prótons, haverá repulsão eletrostática
periodicidade das propriedades nucleares. Por exemplo, entre partículas de mesma carga. Num núcleo estável, as
certas combinações de números de nêutrons e de prótons forças de atração devem ser maiores que as forças de
são particularmente estáveis: repulsão. Num núcleo instável, as forças repulsivas são
D Elementos com números atômicos pares são mais maiores que as forças de atração, e o núcleo pode sofrer um
estáveis e abundantes que os vizinhos com números processo de fissão espontânea. As forças de atração no inte
atômicos ímpares. Essa regra é conhecida como regra rior do núcleo não podem ser de natureza eletrostática por
de Harkins (essa regra é quase geral, pois o ’H é uma dois motivos:
exceção digna de nota). D Não existem partículas com cargas opostas no interior
2) Elementos com números atômicos pares possuem vários do núcleo.
isótopos e nunca menos que três isótopos estáveis (5,7 2) As forças são de curtíssimo alcance, de 2-3 fm.
em média). Elementos com números atômicos ímpares
Se as partículas intranucleares forem afastadas por uma
freqüentemente possuem apenas um único isótopo
distância maior que essa, a força de atração desaparece. As
estável, e nunca mais que dois.
forças eletrostáticas diminuem lentamente em função da
3) Há uma tendência no sentido de que os números de distância. Essas forças de atração independem da carga, pois
prótons e de nêutrons existentes no núcleo sejam são capazes de ligar prótons com prótons, prótons com
números pares (Tab. 31.1). nêutrons e nêutrons com nêutrons.
Isso sugere que os núcleons podem ser emparelhados Dois átomos podem se ligar compartilhando elétrons,
no núcleo, de modo semelhante ao emparelhamento de pois a interação de forças leva à formação de uma ligação
elétrons nos orbitais atômicos e moleculares. Se dois prótons covalente. Por analogia, duas partículas intranucleares podem
tiverem spins opostos, os campos magnéticos produzidos se ligar compartilhando uma partícula. A partícula
por eles se cancelarão mutuamente. A pequena quantidade compartilhada é denominada méson. tt. Os mésons podem
de energia de ligação nuclear produzida é suficiente para ter carga positiva, n+, carga negativa, rc', ou ser neutra, rt°.
estabilizar o núcleo. Contudo, essa não é a fonte de energia O intercâmbio de mésons tt“ e n+ é responsável pela energia
mais importante do núcleo. de ligação nuclear entre prótons e nêutrons. A transferência
Certos núcleos são particularmente estáveis, e esse fato de uma carga transforma um nêutron num próton, ou vice-
pode ser atribuído a uma configuração de camada versa. As forças de atração resultantes são indicadas por
preenchida. Núcleos contendo 2, 8, 20, 28, 50, 82 e 126 linhas pontilhadas nos exemplos abaixo.
nêutrons ou prótons são especialmente estáveis e possuem
P- n-.
>
Tabela 31.1 — O número de nêutrons e de prótons e núcleos
estáveis >
p-*^ n-‘ n-*^ p-'
Número Números Número Entre dois prótons, ou entre dois nêutrons, ocorre o
de prótons de nêutrons de isótopos intercâmbio de um méson0.
P(=Z) N estáveis
> P-... >
Par Par 164 )
Par ímpar 55 p-*^ p- n-*^ n--
ímpar Par 50
ímpar ímpar 4 As forças de atração entre p-n, n-n e p-p são provavel
mente de intensidades semelhantes. Os diferentes tipos de
4B4 o núcleo aos Átomos
Emissão de pósitrons
P Pósitrons, ou radiação p + (elétrons positivos), resultam
da transformação de um próton num nêutron. 0 pósitron é
Figura 31.1 — A relaçao ente nêutrons e prótons emitido pelo núcleo juntamente com um anti-neutrino v.
TEMPO OE MEIA-VIDA 465
— A =—n =e - —1
Emissão de prótons
Aq n0 2
A emissão de prótons é improvável, exceto no caso de Aplicando-se o logaritmo natural nos dois membros da
núcleos em estados de energia muito elevados, pois a energia
equação, temos que:
necessária para se remover um próton é de cerca de 8 MeV.
-Xí]/2 = ln(‘/J
radiação gama ln(X) 0,693
Imediatamente após uma transformação nuclear, e portanto fl/2 “
X X
freqüentemente os nêutrons e os prótons ainda não se acomo
daram em suas posições mais estáveis. O núcleo-filho assim As energias nucleares são da ordem de 109 kJ mol"1 de
46B □ NÚCLEO DOS ÁTOMOS
As partículas alfa não possuem nuvem eletrônica e têm SÉRIES DE DECAIMENTOS RADIOATIVOS
carga + 2. Uma vez emitidas, as partículas a rapidamente
Os elementos pesados radioativos podem ser agrupados
removem dois elétrons de quaisquer átomos em sua
em quatro séries de decaimentos. Elementos radioativos
vizinhança, transformando-se em átomos de He neutros.
como tório, urânio e actínio ocorrem na natureza e pertencem
Quando ocorre um decaimento a, pode-se detectar a
às três diferentes séries, que recebem seus nomes. Eles são
formação de He.
os núcleos primordiais das respectivas séries e têm os tem
A massa do núcleo-mãe deve fornecer tanto a massa pos de meia-vida mais longos. Eles decaem segundo uma
da partícula a como a do núcleo-filho, além da pequena série de emissões a e 0, e dão origem a elementos radioativos
quantidade de massa que é convertida em energia. A partir sucessivamente mais estáveis, até eventualmente chegar a
da massa do núcleo, é possível determinar se o decaimento um isótopo estável. As três séries terminam no elemento
a de um dado radioisótopo é energeticamente possível. O
chumbo (2B2Pb, ^Pb e “fPb). Após a descoberta dos elemen
decaimento a natural só é possível nos elementos com
tos transurârúcos artificiais, foi adicionada a essas três séries,
número de massa superiores a 209, pois somente esses
a série do neptúnio, que termina no 2§3Bi.
elementos possuem a energia necessária para tal. Por outro
lado, 209 é o maior número possível de núcleons que podem Série do Tório (4n)
formar um núcleo estável. Série do Neptúnio (4n + 1)
Se a emissão de uma partícula a não estabilizar comple Série do Urânio (4n + 2)
tamente o núcleo, outras partículas a poderão ser emitidas. Série do Actínio (4rt + 3)
Contudo, o decaimento a aumenta a relação N/P, de modo
que freqüentemente é acompanhado por uma emissão 0. Os números entre parênteses indicam que o isótopo
Núcleos de número de massa superior a 230 podem primordial e todos os membros de uma dada série têm núme
sofrer fissão espontânea, formando dois núcleos mais leves. ros de massa exatamente divisíveis por quatro, ou então
São formados assim dois elementos de números atômicos divisíveis por quatro mas restando um, dois ou três. Não
menores. Elementos de números atômicos baixos apresentam existem interrelações naturais entre as quatro séries, embora
relações N/P menores, e alguns nêutrons ficarão sobrando seja possível estabelecer tais relações artificialmente.
após a fissão. A maior parte desses nêutrons é emitida, mas
alguns podem converter-se em prótons e ocorrer uma
emissão 0. Os nêutrons emitidos podem ser absorvidos Série do Tório (4n)
(capturados) por outro núcleo. Então, esse núcleo se torna “Th 4 “Ra 4 “ac ± 2£tu 4 ^4 220 „
86Rn~j
instável e sofre fissão, liberando mais nêutrons. Dessa forma,
tem início uma reação em cadeia. 216
;AI a
212
85 ‘ 54 >P°a
O decaimento a ocorre muito raramente com nuclídeos a
PZ PZ 'S
«Po «Pb
com Z < 83 (átomos mais leves que o Bi). Contudo, a grande “\2Tb^
.
\ti4
estabilidade das partículas a faz com que alguns poucos 82'
Série do Actínio (4n + 3) ausência de carga impede que os nêutrons sejam acelerados
A ^Np 4 2*Pu 2”u ^Th 4 Pa dessa maneira. Assim, o bombardeamento com nêutrons só
pode ser efetuado usando os nêutrons produzidos em reações
22 .
90|Tha
211 nucleares.
PZ - ... PZ
84 Po« Algumas transformações nucleares são mostradas
\Ra42£Rn4
227 Ac
89 AC ^poA-pbL-Bi «Pb
a\ a\ abaixo:
izFr 2Sti4
*‘N + ‘He ------- >'JO + [H
Nove dos elementos mais leves são naturalmente
13 Al + ‘He ------- »’°P + Jn
radioativos. É possível que, com o aumento da sensibilidade
dos detectores, sejam encontrados outros elementos "Na + JH ------ »"Mg + Jn
radioativos. Dentre eles, os mais importantes são *‘C e ‘°K.
O isótopo ‘gK provavelmente foi formado com o planeta Terra, "|Cd + Jn ------- >“JCd + energia
e existe até os dias atuais em função de seu tempo de meia- No primeiro exemplo, o nitrogênio é bombardeado com
vida de 1,25 x 109 anos. Esse isótopo constitui apenas 0,01 % partículas a, sendo expelido um átomo de hidrogênio. Essa
do potássio natural, mas sua presença torna os tecidos vi reação é descrita como uma reação (a, p). Uma maneira
vos bastante radioativo. Esse núcleo pode sofrer decaimento alternativa de escrever essa reação é:
por emissão p ou por captura K.
(«■P)
”N i°f) >i7o
4°,, £ 40 C,
19K 20^-a
Essa reação foi efetuada pela primeira vez por E. Ruth-
captura K
io. erford, em 1919, tendo sido a primeira transformação nuclear
induzida (Rutherford recebeu o Prêmio Nobel de Química
0 isótopo ’£c tem um tempo de meia-vida de 5.720 de 1908). A segunda reação foi realizada por Frederic Joliot
anos, de modo que todos os núcleos formados junto com a
e Irène Joliot-Curie em 1932, sendo esta uma reação (a, n)
Terra já sofreram decaimento. O fato desse isótopo ainda
(eles receberam o Prêmio Nobel de Química de 1935).
ser encontrado indica que ele foi formado em tempos mais
recentes. ’jc é formado continuamente pela ação dos nêu (o.n)
27 Al --- <°-n> )|°p
trons presentes nos raios cósmicos sobre o nitrogênio da
atmosfera, segundo a reação nuclear: De maneira semelhante, o terceiro exemplo é uma rea
ção (p, n). No último exemplo, a energia é emitida na forma
»N + Jn ------- >“C + ]p de raios y, sendo esta uma reação (n, y). Os núcleos obtidos
dessa maneira podem ser estáveis, ou podem sofrer
Esse nuclídeo é importante na “datação radioisotópica” decaimento subseqüente. Todos os elementos transurânicos
de materiais arqueológicos (vide “Datação por carbono foram obtidos bombardeando-se um núcleo pesado com
radioativo", no Capítulo 12). partículas a, com carbono desnudado C6 +, ou com núcleos
de outros átomos leves. Assim, foram obtidos núcleos ainda
REAÇÕES NUCLEARES INDUZIDAS mais pesados.
Muitas reações nucleares podem ser induzidas pela
irradiação de núcleos com raios y ou com vários tipos de FISSÃO NUCLEAR
partículas (elétrons, nêutrons, prótons, partículas a ou o Núcleos muito pesados têm uma energia de ligação
núcleo de outros átomos, como o carbono). Os núcleos de nuclear por núcleon menor que os núcleos de massa
carbono dos quais foram removidos os elétrons são conhe intermediária. Assim, os núcleos de massa intermediária são
cidos como “carbono desnudado" (“stripped carbon”). Essa mais estáveis que os núcleos pesados. Quando um nêutron
partícula pode ser capturada pelo núcleo (fusão) ou o núcleo lento penetra num átomo físsil como o urânio (que já é
pode sofrer fissão, dependendo das condições de distorcido), essa energia adicional provoca a fissão do núcleo
bombardeamento. em dois fragmentos e a emissão espontânea de dois ou mais
Fontes de radiação natural podem ser usadas para nêutrons. Esse fenômeno é denominado fissão. 0 processo
induzir reações nucleares, mas isso limita a energia da de fissão resulta na liberação de grandes quantidades de
partícula. Geralmente, as partículas carregadas são aceleradas energia (cerca de 8 x IO9 kj mor1). No caso do 292<J, vários
por um campo elétrico forte, num acelerador linear, ou por produtos primários de fissão diferentes podem ser formados,
campos alternados de atração e de repulsão num ciclotron dependendo da maneira como o núcleo se fragmentou. Três
ou num síncrotron. (Há aceleradores de partículas das reações mais comuns são:
gigantescos no CERN ‘França/Suíça’, em Berkeley 'EUA’ e
na Rússia). Assim, as partículas podem ser aceleradas, de “‘Ba + ’°Kr + 2(jn)
modo a adquirirem energias cinéticas extremamente
elevadas, que podem ser usadas para promover a reação 235,. . 1
92^ + On + 3(Jn)
nuclear. Energias de tais magnitudes são necessárias para
superar a repulsão entre um núcleo-alvo positivo e a partícula ssCs + jyRb + 4^0n J
positiva usada no bombardeamento. Os nêutrons não têm
carga e não são repelidos pelo núcleo, mas justamente a Observe que os núcleos-filhos formados pertencem a
A HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO OA BOMBA ATÔMICA 469
102
Massa crítica
Há uma quantidade mínima de matéria físsil necessária
103 para produzir uma reação em cadeia auto-sustentada. Essa
quantidade é chamada de massa crítica. A massa crítica
depende de diversos fatores:
10**
60 80 100 120 140 160 180 D Da pureza da amostra.
Número de massa 2) Da densidade do material.
3) De sua forma geométrica e de suas vizinhanças.
Figura 31.3 — Rendimentos de elementos, em porcentagem, na fissão
de com nêutrons lentos
Todos esses fatores influenciam o fator de propagação
de nêutrons. Se a amostra for impura, muitos nêutrons se
duas classes. O grupo mais pesado tem massas entre 130 a perderão por colisão com átomos não físseis. Quanto mais
160, e o grupo mais leve tem massas entre 80 a 110. É raro denso for o material, maior será a probabilidade de ocorrer
ocorrer a formação de núcleos-filhos com massas semelhan colisões entre um nêutron e um outro núcleo. A forma da
tes na fissão (Fig. 31.3). amostra também é importante, já que os nêutrons tem maior
A massa total dos produtos da fissão é 0,22 unidade de probabilidade de escapar de uma longa barra de material
massa menor que a massa do átomo de urânio e a do nêutron. que de uma esfera.
Isso corresponde a uma liberação de mais de 200 MeV de
energia, ou seja, uma energia doze vezes maior que a energia A HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DA
liberada numa reação nuclear normal. A fissão completa de
450 g (1 libra) de urânio libera uma quantidade de energia BOMBA ATÔMICA
equivalente à explosão de 8.000 toneladas de TNT. A fissão de núcleos pesados foi conseguida pela primeira
Os núcleos-filhos formados como produtos primários vez em Berlim, em dezembro de 1939, e Otto Hahn recebeu
da fissão têm uma elevada relação N/P, e sofrem decaimento o Prêmio Nobel de Química por essas pesquisas, em 1944.
por emissão p para diminuir tal relação. Geralmente, diversas Surpreendentemente, o primeiro reator alemão (a pilha
etapas de decaimento desse tipo são necessárias até se chegar subcrítica B-III) estava instalado na “Casa dos Vírus" do
a um núcleo estável. Assim, cada um dos produtos primários Kaiser Wilhelm Institute de Biologia, em Dahlem. Naquele
de decaimento está associado a uma série de decaimentos, tempo os reatores nucleares eram denominados “pilhas
como por exemplo: atômicas". O reator alemão era constituído por camadas
alternadas de urânio metálico e de parafina sobre uma esfera
UST
‘“I 6
->, 138 Xe «Cs '“Ba (estável) de alumínio, imersa em água. Embora a pilha contivesse
£ ->’s7r B 4 ”Nb B 551 kg de urânio, ela era subcrítica, isto é, menos de um
39Y
'40 -> ®Mo (estável)
nêutron proveniente de cada fissão provocava uma nova
fissão. Por isso, uma fonte de nêutrons foi colocada na
Cerca de 90 séries de decaimentos foram identificadas a partir “chaminé”, no centro da esfera, para manter a pilha em
da fissão do “jU, totalizando várias centenas de nuclídeos funcionamento.
diferentes.
Dois anos mais tarde, Enrico Fermi construiu na Univer
sidade de Chicago, EUA, uma pilha crítica (auto-sustentada)
Reação em cadeia (Fermi era um físico e recebeu o Prêmio Nobel de Física de
Uma reação de fissão pode desencadear outra. Os 1938, pela obtenção de novos elementos radioativos por meio
nêutrons produzidos numa fissão poderão: da irradiação com nêutrons. Durante a Segunda Guerra fugiu
1) Provocar outra reação de fissão nuclear. da Itália fascista para os Estados Unidos). A “pilha” de Chi
cago era constituída por um enorme bloco de grafita,
2) Escapar do material físsil.
protegido por concreto de alta densidade, de vários metros
3) Participar de uma reação que não seja de fissão. de espessura. Canais horizontais no bloco de grafita eram
Quando os nêutrons produzidos numa reação de fissão usados para introduzir esferas de urânio suficientes para
são usados em novas fissões, temos o que se chama de reação desencadear a reação em cadeia. Um fluxo de ar era usado
em cadeia. Há duas aplicações principais para as reações para esfriar a pilha e remover a energia produzida. Foram
em cadeia — a construção da bomba atômica e os reatores obtidos mil quilowatts de calor. A “pilha” estava instalada
nucleares destinados à geração de energia elétrica. nas quadras de “squash". Pilhas maiores foram depois cons-
470 O NÚCLEO 005 ÁTOMOS
truídas em Clinton, Tennessee, e em Hanford, Washington. método necessita de uma enorme quantidade de energia
Uma base militar secreta foi construída em Oak Ridge, elétrica (as instalações de Oak Ridge apresentavam duas
Tennessee, como parte do "Projeto Manhattan”, criado para vantagens na época da guerra: localizava-se numa área re
conduzir as pesquisas que levariam ao desenvolvimento da mota e pouco povoada, vantajosas para uma atividade de
bomba atômica. O U natural é constituído essencialmente riscos desconhecidos. Além disso, havia a disponibilidade
por dois isótopos: 99,3 % de 2|8U, que não é físsil, e 0,7 % de de energia elétrica barata, proveniente de diversas hidrelé
292U, que é físsil. tricas construídas no vale do Tennessee na década de 1930,
para dar ocupação aos desempregados da época da depres
são). 0 método da difusão gasosa já foi importante, mas
Separaçao dos isótopos atualmente é utilizado apenas num local, nos Estados Unidos.
Enormes esforços foram dispendidos na separação dos
isótopos, para se obter quantidades suficientes de 23SU físsil, Uso de centrífuga de gases para separar 23SUF6 de 23eUF6
para se construir uma bomba. Quatro foram os métodos Posteriormente, este se tornou o método mais usado
empregados: na Inglaterra e na Holanda. Centrífugas girando a 1.700 revo
luções por segundo concentram 235UF6 no centro e 236UF6
Difusão térmica nas paredes do rotor cilíndrico.
Dois gases de densidades diferentes são colocados num Haviam dificuldades imensas para se conseguir uma
longo tubo vertical, com uma resistência elétrica aquecendo quantidade de 235U suficiente para se construir uma bomba
a parte inferior do tubo. O gás mais leve se difunde mais atômica. A massa crítica depende da pureza, e a bomba
rapidamente em direção ao fio quente, onde é aquecido e deveria ser leve o suficiente para ser transportada num avião.
sobe, devido à corrente de convecção. Assim, o gás mais Durante a realização desses trabalhos, um segundo
leve se acumula no topo do tubo, enquanto o gás mais pesado elemento físsil foi descoberto por Glenn Seaborg (em 1940)
flui para baixo acompanhando as paredes do tubo. na Universidade da Califórnia, em Berkeley: o plutônio. Pu
é obtido irradiando-se com nêutrons o isótopo relativamente
Separação eletromagnética de UCl4 num espectrômetro de abundante 238U, num reator nuclear.
massa 238U + ‘n------ > 239U ÜNp —«->
02 0 92 t,„= 23.5 min " i„,= 2.3 dia.
Inicialmente devem ser produzidos íons, pelo bombar
deamento da amostra com elétrons, numa câmara à baixa Todos os isótopos do Pu são físseis, e por isso o plutônio se
pressão. Os íons são acelerados por um forte campo elétrico tornou importante como combustível nuclear. Os trabalhos
e tendem a atravessar uma câmara de vácuo. Porém, um com plutônio foram realizados, sobretudo em Hanford.
campo magnético os desvia mais ou menos, de acordo com
suas relações carga/massa. Esse método pode fornecer Fabricando a bomba
isótopos puros. Embora usado inicialmente para se obter Uma terceiro grupo, em Los Alamos (Novo México/
pequenas quantidades do material enriquecido, tem sido EUA), se concentrava principalmente nos problemas de
usado para se obter quantidades da ordem de quilogramas. caráter técnico, envolvidos na construção de bombas. Os
problemas eram: a) como transportar as massas subcríticas
Difusão gasosa de UF6 de Pu ou de U num avião, b) como combiná-las para obter a
UF6 é um gás acima da temperatura de sublimação de massa crítica, quando a bomba estivesse sobre o alvo e c)
56° C. Nesse processo de enriquecimento, esse gás é como conter o material por um tempo suficientemente longo
bombeado através de milhares de barreiras filtrantes. 23SU é para permitir a ocorrência da reação nuclear.
um pouco menor e consegue atravessar os filtros com um No caso da bomba de Pu, foi utilizado um dispositivo
pouco mais de facilidade que o isótopo mais pesado. A de implosão. Diversas massas subcríticas de 239Pu foram
velocidade de difusão de um gás é determinada pela lei de colocadas na superfície de uma esfera e rodeadas com
difusão de Graham: explosivos de alta potência. Assim, quando os explosivos
convencionais fossem detonados, as massas subcríticas de
velocidade de difusão = K^ÍD Pu seriam impelidas para o centro da esfera, onde formariam
uma massa crítica. A força da explosão deveria manter as
onde K é uma constante e D a densidade do gás. A densidade massas de Pu unidas durante o tempo suficiente para
do vapor é igual a massa molecular/2. Portanto, a velocidade provocar uma explosão nuclear. A primeira bomba atômica
de difusão de 235UF6 é apenas ligeiramente maior que a do a ser fabricada empregava esse princípio, e foi testada numa
238UF6, mais exatamente por um fator de V(352/349 = torre de 30 metros de altura em Trinity, no Novo México, às
1,0043. Essa operação é repetida milhares de vezes, bom 5 horas e 29 minutos da manhã (logo antes do amanhecer)
beando o gás num processo "em cascata". Após cada estágio, do dia 16 de julho de 1945. A bomba funcionava! Fermi
a fração mais leve é bombeada para o estágio seguinte, calculou a temperatura atingida como sendo quatro vezes
enquanto a fração mais pesada é bombeada para o estágio superior à temperatura no centro do Sol e a pressão como
anterior. As instalações utilizadas por esse método são muito sendo superior a 100 bilhões de atmosferas. A radioatividade
grandes. O edifício K25, em Oak Ridge, abrigava as instala emitida foi um milhão de vezes maior que a de todas as
ções originais do processo de difusão gasosa e ocupava uma reservas de rádio do mundo. As partes de uma bomba
área construída de cerca de 90.000 m2. Uma segunda instala atômica semelhante foram enviadas ao Extremo Oriente, para
ção foi construída em Hanford, no estado de Washington. O serem montadas e lançadas sobre o Japão.
USINAS NUCLEARES PARA A PRODUÇÃO DE ENER5IA ELÉTRICA 471
Enquanto isso, uma quantidade suficientemente grande D Nêutrons lentos, com uma energia inferior a 0,1 eV
de 23SU para produzir uma bomba atômica, havia sido 2) Nêutrons intermediários, com energias entre 0,1
laboriosamente coletado. A maneira mais simples de se a 2 MeV
montar uma bomba era usar um tubo cilíndrico com duas
massas subcríticas de 235U , nas suas duas extremidades. A 3) Nêutrons rápidos, com energias superiores a 2,0 MeV.
massa crítica poderia ser gerada pela colisão entre as duas Os nêutrons emitidos por um núcleo, geralmente, têm
massas sub-críticas, numa das extremidades. Isso não tinha energias muito elevadas e são chamados "nêutrons rápidos”.
sido testado, pois não havia 235U em quantidade suficiente São tão rápidos que tendem a escapar da reação. Por isso,
para tal. As partes para a montagem da bomba usando esse nêutrons lentos são necessários para provocar a fissão e
princípio foram enviadas para o Extremo Oriente. sustentar uma reação em cadeia.
A bomba de Pu foi chamada de “Fat Man”, e tinha 3,20 Num reator térmico utiliza-se um moderador para
m de comprimento e 1,50 m de diâmetro, com uma massa desacelerar alguns dos nêutrons rápidos. Os nêutrons colidem
de aproximadamente 4.900 kg. Devido às suas dimensões, com os núcleos do moderador e perdem parte de sua energia
modificações tiveram que ser feitas no compartimento de cinética. Os melhores moderadores são átomos leves que
bombas do avião para permitir seu transporte e lançamento. não tendem a capturar os nêutrons, como por exemplo 2H,
A bomba de U foi chamada de “Little Boy”: tinha 3 m de 2He, ’Be e 'lC. Dentre eles, o mais usado é o grafite. A água
comprimento e somente 68 cm de diâmetro, e pesava cerca pesada D2O, que contém 2H, também é bastante usada. Às
de 4.000 kg. Devido ao seu menor diâmetro, coube no vezes, a água comum H2O, também pode ser utilizada. Be e
compartimento de bombas do avião, e por isso foi usada He não são usados, pois Be é tóxico e caro, e He não é
primeiro. suficientemente denso, por ser um gás. Reatores regenera-
dores rápidos ("fast breeders”) não usam moderadores.
A bomba de U "Little Boy” foi lançada sobre Hiroshima,
em 6 de agosto de 1945. A potência correspondia a de 13.000
toneladas de TNT. 10 km2 da cidade foram devastados, Combustível
provocando 70.000 mortes imediatas. Em 9 de agosto de Os reatores mais antigos usavam urânio metálico. A
1945, a bomba de Pu “Fat Man” foi lançada sobre Nagasaki. maioria dos reatores térmicos atuais usa UO2, porque este
Sua potência equivalia a 23.000 toneladas de TNT. Uma área tem ponto de fusão mais elevado e é quimicamente menos
de 5 km2 foi devastada, causando 45.000 mortes imediatas. reativo. O urânio natural (99,3% de 238U e 0,7% de 235U)
poderia ser usado como combustível. Contudo, geralmente
o combustível é enriquecido até conter 2% a 3% de 235U,
USINAS NUCLEARES PARA A PRODUÇÃO para compensar as perdas de alguns nêutrons absorvidos
DE ENERGIA ELÉTRICA pelo recipiente metálico da blindagem da barra de combus
Uma usina nuclear para a geração de energia elétrica tível ou pelo moderador. O enriquecimento do U diminui a
consiste de um reator nuclear, usando U ou Pu como massa crítica e, portanto, o tamanho do reator. Porém, o
combustível, em que ocorre uma reação em cadeia contro processo de enriquecimento é muito dispendioso. Um enri
lada. O calor liberado pelo reator é usado para produzir va quecimento superior a 3 % só é efetuado para fins militares
por, que movimenta uma turbina e gera energia elétrica. Os — para a fabricação de bombas ou para se construir reatores
primeiros reatores nucleares foram construídos com o operando a altas' temperaturas mas pequenos, empregados
propósito de se produzir Pu para bombas pela irradiação de em submarinos. Estes últimos utilizam UC2 enriquecido a
U, e, também, para fins experimentais. A primeira usina mais de 90% como combustível.
nuclear comercial foi construída em 1956, em Calder Hall Reatores regeneradores rápidos (fast breeders) utilizam
(Cumberland/Inglaterra). Em 1989, haviam mais de 120 o oxido de plutônio como combustível. Eles não necessitam
usinas nucleares só nos Estados Unidos, e mais de 400 nos de moderador, pois os nêutrons rápidos produzidos são
demais países. A França produz dois terços de sua demanda utilizados para converter ^U (não-físsil) em Pu (físsil), pelas
de eletricidade a partir das usinas nucleares. reações:
0 programa que visa o estudo da fusão nuclear está em 0 primeiro processo de síntese dos elementos mais
andamento, mas muitos avanços são ainda necessários para pesados nas estrelas é a "queima" do hidrogênio. As estrelas
que tenha aplicação prática. As condições extremas são extremamente densas (IO8 g cm-3) e existe uma enorme
necessárias para se ter uma fusão controlada, em escala de força gravitacional. Parte dessa força é convertida em calor,
laboratório, ainda não foram conseguidas. Se for possível fazendo com que a temperatura se eleve até 107 K. Foi
construir um reator de fusão, ele seria uma fonte quase mencionado anteriormente (no item "Fusão nuclear”) que
ilimitada de energia. essa temperatura é suficiente para superar a repulsão entre
dois núcleos de H positivamente carregados, de modo que
A ORIGEM DOS ELEMENTOS estes núcleos podem sofrer uma reação de fusão nuclear,
formando deutério.
Como se formou o Universo, como se formaram os
Energia liberada (MeV)
diversos elementos e porque os diferentes elementos e seus
isótopos ocorrem nas proporções em que são observados ;h + ;h - -> |H + /T + v 1,44
na natureza, são interessantes considerações de cunho quase
filosófico.
?h + ;h - -> ^He + y 5,49
0 efeito Doppler fornece uma evidência de que o Univer ’He + jHe —> 3He + 2()h) 12,86
so está se expandindo. A luz proveniente das galáxias mais
distâncias tem um comprimento de onda mais longo que o Soma 4(Jh) ------- > ‘He + 2/5” + 2v + 2y
esperado, isto é, mais próximo da extremidade vermelha,
pois elas estão de afastando de nós. Há várias teorias sobre 0 processo é exotérmico. A pequena quantidade de
a origem do universo. massa perdida é liberada como energia. Assim, núcleos mais
estáveis são formados, mas o processo é lento. A idade do
A "teoria do estado estacionário" sugere que o hidrogê Sol é calculada em 5 bilhões de anos, mas ele ainda tem
nio é criado continuamente para preencher os vazios no cerca de 90% do hidrogênio primordial.
espaço criados pela expansão do Universo. Os outros
elementos seriam formados a partir do hidrogênio, por meio À medida que o hidrogênio é consumido, o hélio forma
de reações nucleares. do vai se acumulando no núcleo. A temperatura no núcleo
da estrela diminui, e a estrela se expande para conservar o
A "teoria do big bang" é atualmente a mais aceita. Ela calor. A estrela será mais fria que antes e é chamada de
pressupõe que toda a matéria do Universo, na forma de gigante vermelho. Eventualmente, o núcleo entrará em colap
partículas elementares, estava reunida num “núcleo" de so sob o efeito da pressão, e a temperatura se elevará acima
densidade, temperatura e pressão imensas. Este explodiu de 108 K. Nesse momento os núcleos começam a se fundir.
(daí o nome da teoria) espalhando a matéria uniformemente
pelo espaço, na forma de nêutrons. Então, os nêutrons sofre ‘He + ‘He ------- > ®Be + y
ram decaimento, formando os prótons, os elétrons e os anti-
Os núcleos formados dessa maneira se fundem com nova
neutrinos.
quantidade de He:
Jn ------- > [p + _}e + v jBe + ‘He ------> 12C + y
Durante o “big bang” e a "bola de fogo" que lhe seguiu, 'cC + ‘He ------ > ,80 + y
temperaturas de 106 a 109 K foram alcançadas. Assim, nas
primeiras horas deve ter ocorrido diversas reações nucleares: ‘|O + ‘He ------- > “Ne + y
Essas reações consomem o hélio do núcleo da estrela e
;h + Jn o transformam em C, O e Ne. Quando a maior parte do H e
2H + JH ■> 3He do He tiver sido consumida, as estrelas pequenas se contraem
e se tornam mais quentes. Estas são denominadas anãs
jHe + òn --- > ‘He brancas.
‘He + in--—> 3He Contudo, a contração de estrelas grandes (com 1,4 vezes
a massa do Sol, ou mais) leva a temperaturas ainda mais
O isótopo 3He tem uma meia-vida de apenas 2 x 10’21 s, elevadas (6 x 108 K). Nessas condições mais energéticas,
de modo que a formação de núcleos mais pesados pela adição passa a ocorrer o “ciclo do carbono-nitrogênio”. Este envolve
sucessiva de nêutrons ou prótons foi interrompida. Com a as reações desses elementos com o hidrogênio, desde que
queda da temperatura, todas essas reações cessaram. Assim, um pouco de ‘|C esteja presente como catalisador:
a maior parte do Universo era constituída de H, com uma
pequena quantidade de He; e as galáxias devem ter se — 'Ic + Jh -> I3N + y decaimento 13q + p+ + V
formado pela condensação desse material.
”C + [h -> ‘«N + 7
Qualquer que seja a origem do Universo, é geralmente
aceito que os elementos mais pesados são formados pelas > + Jh -> *’O + y Io decaimento ISkT , q+
---------- > 7N + p + V
<
reações nucleares nas estrelas. 0 hidrogênio ainda responde
por 88,6 % e o He por 11,3 % de todos os átomos do Universo. 12C
Juntos eles constituem 99,9% dos átomos e mais de 99%
da massa do Universo. soma -(!") 3He + 2[3+ + 2v + 2y
A ÜRI6EM DOS ELEMENTOS 475
Além disso, os núcleos formados podem sofrer fusão com cósmicos colidem com núcleos de C, N ou O, provocando
hélio: sua fragmentação em núcleos mais leves. Esse processo é
também denominado processo-x. Diversos elementos, como
“C + «He >|o + / ’|C, ’|O e i°Ne são mais abundantes que seus vizinhos na
tabela periódica, e diferem por um núcleo de «He. Isso é um
'tO + «He * “Ne + r
indicativo de que eles se formaram por meio da fusão de
“Ne + «He -> “Mg + y outros núcleos com hélio. O núcleo “Fe é particularmente
abundante, pois possui a mais elevada energia de ligação
Nessas temperaturas pode ocorrer a “queima” do carbono e nuclear por núcleon. É o núcleo mais estável e é um dos
do oxigênio: produtos das reações de fusão. As abundâncias dos
elementos que precedem o Fe (Sc, Ti, V e Cr) também são
”C + 12C ->“Mg maiores que o esperado. Isso provavelmente se deve a reações
ou “Na + }H de espalação, onde raios cósmicos de alta velocidade colidem
com Fe, formando Sc, Ti, V ou Cr, bem como Li, Be e B (em
ou “Ne + «He menor quantidade).
'|O + “O —> uS + Jn Núcleos mais pesados que “Fe são endotérmicos e só
‘‘O + “o —> “Si + «He podem ser obtidos com o fornecimento de energia. Assim,
toma-se cada vez mais difícil obter esses elementos por fusão.
'5C + «He —> “O + Y Os elementos mais pesados são sintetizados nas estrelas por
*|O + «He —» “Ne + y reações de captura de nêutrons. Há dois processos principais,
denominados processo-s (captura de nêutrons lentos) e
Em alguns casos a estrela pode contrair-se ainda mais processo-r (captura de nêutrons rápidos), pelos quais tais
e a temperatura pode se elevar até 109 K. Nesse ponto, a reações podem ocorrer.
radiação y, produzida por muitas dessas transformações No processo de captura de nêutrons lentos, os nêutrons
nucleares, tem energia suficiente para induzir reações são adicionados ao núcleo um a um. A adição de um nêutron
endotérmicas como: aumenta a relação N/P e, eventualmente, a adição de um
nêutron pode deixar o núcleo instável. Por causa da escala
“Ne + y------- > “O + «He de tempo relativamente longa, o núcleo pode decair, e a
0 He assim formado volta a reagir: proporção N/P desfavorável é corrigida por decaimento 0. A
seguir, o processo acima descrito é repetido e outro nêutron
“Ne + «He * “Mg + Y é adicionado.
“Si + «He ■* “S + y
“Fe+ Jn-> "Fe+ Jn-> “Fe+ Jn-> ”Fe-> 2’Co + _°e
“S + tHe ?sAr + y
Os nêutrons são produzidos em gigantes vermelhos e em
™Ca + «He "Ti + y estrelas de segunda geração, por processos normais em
Essas reações de fusão são exotérmicas até o 26Fe- Pode- estrelas, tais como:
se observar na Fig. 31.2 que a energia de ligação nuclear por
núcleon aumenta do H até o Fe, e volta a diminuir nos »C + jHe ------ > “O + Jn
elementos mais pesados. OU 'JO + “O ------- > ”S + *n
Até aqui a nossa discussão explicou porque H e He
A adição lenta de nêutrons pode produzir núcleos até
constituem uma parcela tão grande do Universo. Os núcleos
2^Bi. Os elementos com números de massa em tomo de 90,
mais abundantes e estáveis até o elemento de número
138 e 208, e os isótopos 39Y e 9oZr, “iBa e 'sgCe, e 2gÍPb e
atômico 20, possuem uma relação de nêutrons para prótons
de 1:1, por exemplo: |He, '«N, 'gO, 2«Mg e «§Ca. A maioria 259Bi, são relativamente abundantes e são encontrados em
deles (exceto o N) tem um número par de nêutrons e um quantidades muito maiores que as esperadas. Na discussão
número par de prótons (número atômico par). Alguns sobre o número de nêutrons e de prótons no núcleo, no
isótopos leves, como '|F, “Na e ^Al, são comuns e abun início deste capítulo, foi mencionado que núcleos com 2, 8,
dantes, mas não têm uma relação N/P de 1:1. Esses elementos 20, 28, 50,82 e 126 nêutrons ou prótons são particularmente
têm um número atômico ímpar e, portanto, um número estáveis, e que esses números são denominados "números
ímpar de prótons, mas têm um número par de nêutrons. mágicos". Os três grupos de elementos bastante abundantes
Esses núcleos ímpar-par são mais estáveis que os se situam em torno dos números de nêutrons “mágicos” 50,
correspondentes núcleos ímpar-ímpar, com uma relação N/ 82 e 126. Isso significa que eles apresentam seção transver
P de 1:1. Os elementos Li, Be e B são muito pouco abun sal de absorção de nêutrons muito baixa, ou seja, a probabi
dantes, quando comparados com os seus vizinhos. O fato lidade desses núcleos capturarem nêutrons é menor e eles
deles serem encontrados na natureza já é surpreendente, se acumulam. O processo-s é responsável pela formação dos
visto que as pequenas quantidades formadas pela “queima” isótopos mais leves ou mais ricos em prótons de um
de H e de He são convertidas em elementos mais pesados. elemento.
As pequenas quantidades encontradas foram formadas Uma fonte diferente de nêutrons ocorre imediatamente
provavelmente por reações de espalação, em que raios antes ou durante o período de supemova de uma estrela.
47G □ NÚCLEO 005 ÁTOMOS
Neste, estrelas grandes se tornam extremamente quentes Por exemplo, uma amostra sólida contendo 3°SrSO4 radioa
(8 x 109 K),eos núcleos que se encontram no núcleo da tivo e SrSO4 normal pode ser preparada e sua atividade por
estrela se fragmentam em nêutrons, prótons e partículas a, grama medida. Em seguida, a atividade do resíduo de
que sofrem uma variedade de reações. O núcleo da estrela evaporação de um volume conhecido de uma solução
se contrai e, eventualmente implode. Isso resulta na explosão saturada pode ser medida. A comparação dessas atividades
da camada externa, cujo material é lançado no espaço. No permite calcular a solubilidade. Analogamente, o isótopo
processo-r, muitos nêutrons são adicionados rapidamente 3sP foi usado para se determinar a solubilidade do
(em poucos segundos) por um núcleo, antes de ocorrer um MgNH4PO4 ■ 6H2O, e o isótopo 113I foi usado para se determi
decaimento já. nar a solubilidade de Pbl2. Uma técnica semelhante pode
S6
ser empregada para se medir as pressões de vapor de
Te + 13(in)
26 * “Fe substâncias não-voláteis.
“Fe + 2’Co ------- > _?e A análise de ativação é usada para se determinar a
quantidade de um dado elemento presente numa amostra.
Os elementos muito pesados são formados dessa A amostra a ser analisada e uma amostra contendo uma
maneira, adicionando-se muitos nêutrons de uma só vez: quantidade conhecida do elemento em questão são colocadas
quantidades traço de 29gCf estão presentes em estrelas, e num reator nuclear e bombardeadas (geralmente com
esse isótopo também é formado durante as explosões nêutrons). Depois de irradiadas por um período de tempo
nucleares. Analogamente, observou-se a formação de 99Es adequado (várias vezes a meia-vida do radioisótopo
einstênio e jooFm férmio durante as explosões de bombas esperado) as amostras são retiradas do reator, e a radioati
de hidrogênio. 0 processo-r forma isótopos ricos em vidade induzida nas duas amostras pode ser medida. A
nêutrons. Assim, os isótopos mais leves ricos em nêutrons, quantidade do elemento presente na amostra desconhecida
como i|S, 2§Ca e 2oCa podem ter sido formados pelo processo- é calculada a partir da relação entre as atividades das
r. Um processo de captura de prótons pode ocorrer durante amostras desconhecida e padrão. Mais de 50 elementos (ou
um curtíssimo espaço de tempo, numa supernova. Este é melhor, isótopos) podem ser determinados dessa maneira.
denominado processo-p e é possível que vários isótopos, O método é o mais usado para se determinar pequeníssimas
como 34Se, "oSn, "oSn e "jjSn até ’soHg, sejam formados quantidades de um dado elemento. A vantagem do método
dessa maneira. é a de preservar a amostra, mas tem a desvantagem de
A ausência do tecnécio e do promécio na Terra pode precisar de um reator nuclear. Nem todos os elementos
ser justificada pelos curtos períodos de meia-vida de todos podem ser determinados dessa maneira; por exemplo, não
os seus isótopos. é possível determinar o carbono, porque 'iC tem uma seção
transversal de absorção de nêutrons muito pequena.
Contudo, a determinação de C pelo método de análise por
I ALGUMAS APLICAÇÕES DOS ISÓTOPOS ativação é possível bombardeando-o com deutério, num
RADIOATIVOS ciclotron.
As aplicações dos radioisótopos são tão numerosas, que Reações de troca isotópica fornecem informações sobre
somente alguns exemplos foram aqui abordados. o mecanismo de certas reações. Assim, a troca do }H por ,D
Medidas de radioatividade são empregadas para se da água pesada D2O ocorre rapidamente se o H estiver ligado
determinar a idade de vários objetos. O isótopo 'Jc ocorre a um N ou O, mas é lenta ou nem ocorre se o H estiver
na natureza e é usado na datação de materiais de origem ligado a um C. Isso está relacionado com a mobilidade dos
vegetal e animal. O procedimento foi descrito no Capítulo prótons e a maior polaridade das ligações N-H e 0-H.
12, e implica na determinação do momento a partir da qual
a amostra deixou de trocar C com o seu ambiente. Esse D20 + RO-H = HDO + RO-D
isótopo é produzido continuamente pela colisão de nêutrons Se *7NH4C1 marcado for dissolvido em NH3 líquida e se
dos raios cósmicos com o nitrogênio presente na atmosfera. o solvente for evaporado, a atividade do ’?N estará igual
Enquanto a planta ou o animal estiverem vivos, conterão a mente distribuído entre o NH4C1 e o NH3. Como ^NH4C1 se
mesma proporção de 19C que o meio. Quando a planta ou o dissocia em ’?NH4+ e Cl", esse resultado é uma evidência de
animal morre, deixa de absorver, e o conteúdo desse isótopo que a auto-ionização do NH3 líquido ocorre:
começa a decair gradativamente. De uma maneira
semelhante, a datação com hélio radioativo pode ser usada 2NH3 — NH4+ + NHf
para determinar a idade de certos depósitos minerais.
Minerais de urânio sofrem decaimento por emissão de Analogamente, a não ocorrência de trocas entre o 'JC
partículas a, assim produzindo o hélio. Um grama de U forma de uma solução contendo CN" marcado e do complexo
cerca de IO'7 g de He por ano. A idade do mineral pode ser [Fe(CN)6]3“ é uma evidência de que os grupos CN" no com
calculada se for conhecido seu conteúdo de U e de He. Devem plexo não são lábeis. Uma prova de que os dois átomos de
ser feitas algumas correções, pois um pouco de He escapa. enxofre no íon tiossulfato S2O3‘ não são idênticos, pode ser
Além disso, há a possibilidade de ocorrer a formação de He obtida aquecendo-se 3|S marcado com uma solução aquosa
a partir de outros elementos como o Th, eventualmente de sulfito de sódio, para formar o íon tiossulfato:
presentes no mesmo.
A análise por diluição isotópica poder ser usada para so23- + «S ■* ”sso2-
se determinar a solubilidade de materiais pouco solúveis.
PROBLEMAS 477
Se o tiossulfato assim formado for decomposto pelo • Fergusson, J.E. (1982) Inorganic Chemistry and the Earth
tratamento com um ácido, toda a radioatividade fica no (Cap.l, Origens: os elementos químicos e a Terra), Pergamon,
enxofre e nada é encontrado no SO2 formado: Oxford.
• Grabowski, K.F.M. (1986) The early use of radioactive trac-
2FT + ”SSO2’ SO2 + ”S + h2o ers in chemistry, Education in Chemistry, 23, 174-176.
• Nier, A.O. (1989) Some reminiscences of mass spectrometry
O isótopo 2°Co emite tanto radiação p como radiação y. and the Manhattan Project, J. Chem. Ed., 66,. 385-388.
É utilizado na radiografia com raios-y, na detecção de (Reflexões sobre a fissão nuclear nos primeiros 50 anos).
rachaduras e fissuras em peças metálicas como tubulações, • Peacocke, T.A.H. (1978) Radiochemistry: Theory and Experi-
peças de aviões e juntas soldadas, por exemplo, nas câmaras ment, Wykeham Publications, London. (Um bom livro básico)
de alta pressão dos reatores nucleares. É ainda usado para • Rhodes, R. (1989) The complementarity of the Bomb, J.
irradiar tumores malignos do organismo, na radioterapia do Chem. Ed., 66, 376-379. (Reflexões sobre a fissão nuclear
câncer. nos primeiros 50 anos).
O nuclídio é usado para localizar tumores no cérebro, • Seaborg, G.T. (1989) Nuclear fission and transuranium ele-
e no diagnóstico e tratamento de doenças da glândula ments, J. Chem. Ed., 66, 379-384. (Reflexões sobre a fissão
tireóide. No primeiro caso, o isótopo é incorporado num nuclear nos primeiros 50 anos).
corante e injetado no paciente. Este é absorvido preferencial • Selbin, J. (1973) Stellar nucleosynthesis, J. Chem. Ed., 50,
mente por células cancerosas, de modo que a localização 306, 380.
do tumor pode ser determinada com exatidão, mapeando- • Sime, R.L. (1989) Lise Meitner and the discovery of fission,
se os locais de maior atividade radioativa no crânio. No caso J. Chem. Ed., 66, 373-376. (Reflexões sobre a fissão nuclear
da tireóide, o paciente consome uma pequena quantidade nos primeiros 50 anos).
do isótopo, na forma de Nal. O iodo radioativo se concentra
• Steinberg, E.P. (1989) Radiochemistry of the fission Prod
na glândula tireóide, e pode ser medido através da contagem
ucts, J. Chem. Ed., 66, 367-372. (Reflexões sobre a fissão
da radiação y emitida. nuclear nos primeiros 50 anos).
Soluções de NaCl marcado, contendo o isótopo nNa, • Taylor, R.J. (1972) The Origin of the Chemical Elements,
são injetadas nas veias, para se descobrir a localização e Wykenham Publications, London. (Uma abordagem
extensão de coágulos e outros distúrbios circulatórios. relativamente direta)
• Thompson, R. (ed.) (1986) The Modem Inorganic Chemicals
Industry, Publicação especial N.° 31, The Chemical Society,
ALGUMAS UNIDADES E DEFINIÇÕES London. (vide o cap. “A química inorgânica dos combustíveis
u.m.a. = unidade de massa atômica = 1/12 da massa do nucleares”, por Findlay, J.R. e colaboradores).
átomo de 12C • Vertes, A. e Kiss, I. (1987) Nuclear Chemistry (Série sobre
Número de massa = número de nêutrons + número de Tópicos em Química Geral e Inorgânica: N.° 22), EIsevier.
prótons
Massa do átomo de hidrogênio 'H = 1,007825 u.m.a. PROBLEMAS
Massa do próton jp ou ]H = 1,007277 u.m.a. D Qual é a natureza das forças de ligação nucleares nos
Massa do nêutron Jn = 1,008665 u.m.a. núcleos dos átomos? Como varia a energia de ligação
nuclear média por núcleon, à medida que aumenta o
Massa do elétron _?e = 0,00054859 u.m.a. número atômico do elemento?
Massa do átomo de hélio 2He = 4,00260 u.m.a. 2) Defina os seguintes termos: número atômico, número de
Massa do núcleo de hélio (partícula a, 2He) = 4,00150 u.m.a. massa, isótopo, decaimento a, decaimento p, radiação y,
MeV = milhão de elétron-volts (1 MeV) = 9,648xl07 kJ mol’1 fissão nuclear e fusão nuclear.
3) De que maneira o modo de decaimento de um determinado
1 u.m.a. - 931,4812 MeV = 8,982 x 1010 kJ mol'1.
núcleo está relacionado com a) a relação entre o número
de nêutrons e de prótons; b) o tamanho?
LEITURAS COMPLEMENTARES 4) Explique os termos número de massa, massa isotópica e
energia de ligação nuclear, utilizados na descrição de um
• Abelson, P.H. (1989) Products of nêutron irradiation, J. Chem. isótopo.
Ed., 66, 364-366.
5) Esquematize um diagrama que ilustre como a energia de
• Ahrens, L.H. (ed.) (1979) Origin and Distribution ofthe Ele- ligação nuclear por núcleo varia em função do número de
ments, Pergamon Press, Oxford. (Anais do segundo simpósio massa. Discuta a forma da curva obtida.
da UNESCO.)
6) Como a energia de ligação nuclear por núcleon de um
• Cadman, P. (1986) Energy from the nucleus, Education in dado núcleo atômico podería ser determinada? Explique o
Chemistry, 23, 8-11. que significa esse valor?
• Choppin, G.R. e Rydberg, J. (1980) Nuclear Chemistry - Theory 7) Calcule a energia de ligação nuclear por núcleon (em MeV
and Applications, Pergamon, Oxford. por núcleon) do isótopo 2|Fe, sabendo-se as massas das
• Cunninghame, J. G. (1972) Chemical Aspects ofthe Atomic partículas elementares: 56Fe 55,93494 u.m.a., nêutron
Nucleus, Monografia para professores, N“ 23, Royal Society 1,008665 u.m.a., próton 1,00783 u.m.a. e elétron
for Chemistry, London. 0,00054859 u.m.a. (Resposta: 8,79 MeV por núcleon).
478 □ NÚCLEO 00S ÁTOMOS
8) 2’Na é um isótopo instável do sódio, com meia-vida de 15 16) Na série de decaimentos radioativos naturais do tório, o
horas. Calcule o valor da constante de decaimento nuclídeo sofre decaimentos a, p, p, a, a, a, p sucessivos.
radioativo. Explique como você tentaria prever o modo de Escreva equações que mostrem os números de massa, os
decaimento radioativo do mesmo. números atômicos e os símbolos dos nuclídios formados
9) O que é a lei do deslocamento radioativo? Ilustre a lei dos nesses decaimentos.
deslocamentos radioativos usando as quatro séries de 17) A seguinte reação corresponde a um dos processos que
decaimentos radioativos. ocorre durante a fissão
10) Mostre, por meio de equações, o decaimento a dos seguin ilü------ ,»“Ce+«Zr+Jn + 6.?e
tes núcleos:
Dados as massas, U 235,0439 u.m.a., Ce 139,9054 u.m.a.,
(a) 29®U, (b)2|2Th, (c) 'ÜBi, (d)2J26Rn, (e) 2^Po Zr 93,9063 u.m.a. e n 1,008665 u.m.a., calcule a quantidade
11) Mostre, por meio de equações, o decaimento p dos seguin de energia liberada, em MeV, por fissão (Resposta: 205
tes núcleos: MeV por fissão).
(a)uMg, (b)2^Pb, (c)fêNe, (d) $Co, (e) 18) Explique as principais diferenças entre as duas bombas
12) Mostre, por meio de equações, o decaimento dos seguintes atômicas que foram lançadas sobre o Japão.
núcleos por captura de elétrons: 19) a) Qual é a diferença entre uma reação em cadeia e uma
(a) 1SK, Cb) jBe, (c) &Ge, (d) 'J?Sb, (e) gSe reação em cadeia ramificada, b) O que é moderador? Dê
exemplos, c) Explique o que é a massa crítica de um ma
13) Mostre, por meio de equações, o decaimento dos seguintes terial físsil, e por que ela varia.
núcleos por emissão de pósitrons, p*:
20) Compare os processos de fissão e fusão nuclear como fontes
(a) 13N, (b) ԤF, (c) 22Na, (d) >,?Ne, (e) f0Zn de energia.
14) Escreva uma equação que mostre o que aconteceria se um 21) Calcule a energia liberada, em MeV por fusão, no seguinte
nuclídeo sofresse uma fissão espontânea, produzindo dois processo:
nuclídeos-filhos idênticos e quatro nêutrons. Escreva outra
equação supondo que os nuclídios formados difiram em |d+; H------->}H
40 unidades de massa. dadas as seguintes massas atômicas: 2D 2,01410 u.m.a.,
15) Nas séries de decaimentos radioativos naturais do urânio, ‘H 1,007825 u.m.a., 3He 3,01603 u.m.a. (Resposta: 5,5 MeV
o nuclídeo sofre decaimentos a, p, p, a, a, a, a, p suces por fusão).
sivos. Escreva equações que mostrem os números de 22) Explique como podem ser preparados os núcleos mais
massa, os números atômicos e os símbolos dos nuclídios pesados que o urânio.
formados nesses decaimentos. 23) Enumere algumas aplicações dos isótopos radioativos.
479
ESPECTROS
I
Os espectros eletrônicos de íons e complexos de metais 1) Geralmente, os elétrons ocupam os orbitais de menor
de transição são observados nas regiões do visível e do energia.
ultravioleta. Os espectros de absorção trazem informações 2) A regra de Hund: se diversos orbitais tiverem a mesma
sobre o comprimento de onda da luz absorvida, isto é, sobre energia, os elétrons tendem a não se emparelharem,
a energia necessária para promover um elétron de um enquanto isso puder ser evitado. Assim, no estado fun
determinado nível de energia para um nível mais elevado. damental, um átomo contém o maior número possível
Por outro lado, os espectros de emissão trazem informações de elétrons desemparelhados.
sobre a energia emitida quando um elétron retoma do nível
3) O princípio de exclusão de Pauli: não pode haver num
excitado para o estado fundamental. Geralmente, as mesmo átomo dois elétrons com os quatro números
transições envolvendo os elétrons do nível mais externo são
quânticos iguais.
observadas na faixa de números de onda de 100.000 cm’1 a
10.000 cm'1, mas a maioria das transições ocorre na faixa Essas regras podem ser ilustradas representando os
de 50.000 a 10.000 cm’1 (200 a 1.000 nm). A interpretação orbitais como quadrados e elétrons como setas (Fig. 32.1).
dos espectros se constitui numa ferramenta muito útil para Os dois elétrons do orbital Is do He possuem spins opostos.
se descrever e compreender os níveis de energia de átomos Assim, T significa que ms = + 1/2, e 1 significa que
e moléculas. ms = -1/2. O preenchimento dos níveis de energia Is e 2s é
óbvio.
NÍVEIS DE ENERGIA NUM ÁTOMO No boro, o quinto elétron ocupa um dos orbitais 2p. Os
três orbitais 2p têm valores idênticos de n = 2, e de l = 1,
Os níveis de energia num átomo foram descritos no mas valores diferentes de m (+ 1, 0 e -1), que identifica os
Capítulo 1, em função de quatro números quânticos:
D O número quântico principal n, que pode ter valores 1, Número quântico principal n 1 2
2,3,4..., correspondentes ao primeiro, segundo, terceiro
Número quântico secúndário / 0 0 1
e quarto níveis ou camadas de elétrons em torno do
núcleo. Número quântico magnético m 0 0 +1 0
2) O número quântico secundário l que pode ter n valores,
1s 2s 2p
ou seja, 0, 1, 2,. (n-1), e descreve o momento angu-
lar orbital ou a forma do orbital. Assim
H = 1 l = 0 orbital s esférico
H
He
□
[u]
n = 2 1 = 0 orbital s esférico
l = 1 orbital p em forma de halteres Li in
n 3 Z = 0 orbital s
l = 1 orbital p
Be tl E3 I I I I
l •= 2 orbital d B LLLl O |t I I I
3) O número quântico magnético m, que pode assumir os
valores de + Z, (7-1),..., 0..... -Z.
C E3 0 |t M I
4) O número quântico de spin ms, que pode ser igual a
N 0 0 |t |t |t |
+1/2 ou -1/2.
A distribuição dos elétrons nos átomos obedece a três
O E3 EHEE
regras simples: Figura 32.1 — Arranjos eletrônicos dos elementos
480 ESPECTROS
I = 1
Px Py Pr Px Py Pr
t 1 T 1 >
Resultante
L=3 L=2
l= Resultante
L= 1
L=2
t 1 t 1 i-i .-.estado F
•
/ Resultante
L= 2
.-. estado P
L-2 .-.estado D
1 t 1 i
1 1 1
J. 1 1 Resultante Resultante Resultante
1 1 1 T > L= 2 L= 1 L- 1
L=0
.-. estado S
.-.estado D .-. estado P
n 1-1
L=1
n
n Resultante
L= 1
.-.estado P
orbitais px, py e pz. Supondo-se que cada um desses orbitais Acoplamento dos momentos angulares orbitais
possa conter elétrons com dois valores distintos de haverá Configuração p2
no total seis arranjos possíveis para esse elétron. Os três
0 momento angular é quantizado em "pacotes” de
orbitais p são degenerados, e não importa em qual desses
magnitude h/2n (onde h é a constante de Planck). Para um
arranjos ele se encontra. Quando existe um único elétron
elétron p, o número quântico secundário ou azimutal l - 1,
num nível ou subnível de energia, como 2p, 3p ou 3d, a
e o momento angular orbital é igual a l(/t/2tt), sendo
energia depende apenas de l, o número quântico orbital ou representado por uma seta de comprimento unitário. As
secundário. maneiras como os momentos angulares l de dois elétrons p
No caso do carbono, dois elétrons ocupam o nível 2p e, podem interagir entre si são mostradas esquematicamente,
portanto, há 15 arranjos eletrônicos possíveis (Fig.32.2). Eles utilizando diagramas vetoriais (Fig. 32.3). Como o momento
podem ser divididos em três grupos com energias diferentes, angular é quantizado, as únicas combinações permitidas são
denominados estados de energia. Assim, embora os três aquelas em que a resultante é um número inteiro de quanta.
orbitais p sejam degenerados e tenham a mesma energia, os Logo, existem três estados de energia possíveis,
elétrons neles presentes interagem uns com os outros, correspondentes aos três termos espectroscópicos: D,PeS.
gerando o estado fundamental (de menor energia) e um ou No caso do estado P, o ângulo entre os vetores l deve ser tal
mais estados excitados para o átomo ou íon. Além da que a resultante seja um número inteiro de quanta, mais
repulsão eletrostática entre os elétrons, eles se influenciam especificamente L = 1.
mutualmente, 1) pela interação ou acoplamento dos cam
pos magnéticos produzidos pelos seus momentos de spin, e Configuração p3
2) pelo acoplamento dos campos produzidos pelo movimento 0 acoplamento dos momentos angulares orbitais, I, de
orbital dos elétrons (momento angular orbital). Quando um três elétrons p pode ser analisado de maneira análoga, por
subnível é ocupado por diversos elétrons, os estados de adição vetorial. Para simplificar, tais acoplamentos podem
energia dependem das resultantes dos números quânticos ser consideradas como sendo resultantes da interação de
orbitais de cada um dos elétrons. A resultante de todos os um terceiro elétron p com os estados eletrônicos obtidos
valores de l forma um novo número quântico, L, que define para o caso p2 (Fig. 32.4). A resultante do acoplamento dos
os estados energéticos do átomo. momentos angulares orbitais resulta num estado F, dois
estados D, três estados P e um estado S.
L - 0 1 2 3 4 5 6 7 8
Resultante Resultante
estado S P D F G H I K L
I Resultante
> L=4
.-.estado G
(A letra J é omitida, pois ela é usada para outro número 1=2
quântico, a ser descrito mais adiante).
1-2 .-.estado F .-.estado D
I - 1
Resultante
> L=2 Resultante
.-.estado D L =1
.-.estado P
I-1 Resultante
l>1
1-1 Resultante
L=0
I-2 I-2 .-.estado S
Resultante
L=0 .-.estado P
.-. estado S
Figura 32.3 — Resultante dos termos l para a configuração p2 Figura 32.5 — Resultante de termos l para uma configuração á‘
NÍVEIS DE ENERGIA NUM ÁTOMO 481
0
1
0
1/2
1
2
Singlete
Dublete
1 n n 0 2 'D
2 1 3 Triplete
2 n 0 -2 'D
3 l'/2 4 Quarteto 3 n 0 0
4 2 5 Quinteto 4
í £ 0 0 ’P, 'D, 'S
Energia
’S0 Tabela 323 — Termos espectroseópicos para as
•21.648 cm'1(259.0 kj mof’)
configurações ped
P'.P5 2P
P2-P* 3P 'D
Figara 32.9 — Desdobramento dos termos no estado fundamental do P3 ‘S 2P,2D
carbono P6 ’5
3) Persistindo ainda a ambigüidade para dados valores de d',<f> 2D
S e L, o estado mais estável corresponderá àquele de d2,<f 3f 3P, 'G, 'D, 'S
menor valor de J, caso o subnível esteja menos que d3, d2 *F 4P, 2h, 2g, 2f, 2d. 2p
semipreenchido, ou corresponderá ao maior valor de J, 5D 3H, 3G, 3F, 3D, 3P, */, ‘G, 'F. 'D. 'S
caso o subnível esteja mais que semipreenchido. <P 6S 4G, *F, *D, *P, 2I,2H, 2G, 2F, 2D, 2P, 2S
(As regras de Hund não devem ser empregadas para se
d'° ’S
determinar a ordem dos termos espectroseópicos de configu
rações eletrônicas excitadas, como do C na configuração Is2, Contudo, no oxigênio, mais da metade do subnível está
2s2, 2p’, 3p’). preenchido. Portanto, segundo a terceira regra de Hund, as
Aplicando a primeira dessas regras aos termos energias dos estados triplete P do oxigênio crescem na ordem
decorrentes da configuração p2 do carbono, verifica-se que 3P2 < 3Pi < 3P0- Logo, o estado fundamental é 3P2.
o estado 3P deve ser o estado fundamental, pois nesse caso Analogamente, considerando-se as “lacunas”, os termos
há apenas um estado triplete, sendo os demais estados espectroseópicos obtidos para pares de átomos com
singlete, *S e *D. De acordo com a segunda regra, o estado configurações pn e p6-", bem como <f e d10-n, serão idênticos
‘D, correspondente a L = 2, é mais estável que o estado *S, (Tab. 32.3).
no qual L = 0. Finalmente, o estado triplete P apresenta três
termos, 3P2, 3Pj e 3P0, e de acordo com a terceira regra, 3P0 Determinação do termo espectroscópico de um nível
< 3P] < 3P2. Os valores experimentais medidos para os preenchido
termos espectroseópicos do estado fundamental do carbono Se um subnível eletrônico estiver completamente
estão representados na Fig. 32.9. Verifica-se que num átomo preenchido, por exemplo nas configurações p6 ou d10, a
leve como o carbono, o desdobramento do termo 3P, determinação dos termos espectroseópicos é bastante
resultante do acoplamento spin-órbita, é bem menor que o simplificada:
desdobramento resultante do acoplamento dos momentos
magnéticos orbitais 1, gerando os termos *D e 3P. No caso m = +1 0 1 M, Mi
dos elementos leves, com números atômicos menores que
P6 0 0
30, o desdobramento dos diferentes níveis J é pequeno
comparado com o desdobramento dos níveis L (vide Fig. m = + 2+1 0 -1 -2
32.9). Portanto, é possível prever corretamente a seqüência
de níveis energéticos ou termos espectroseópicos, para a
d10 |Ti|ti|u|u|n] 0 0
primeira série de elementos de transição, usando o Em ambos os casos o número quântico de spin total na
acoplamento de Russell-Saunders. No caso dos elementos direção z, Ms, que equivale à soma de todos os spins
mais pesados, o desdobramento dos níveis J torna-se maior eletrônicos individuais m,, é igual a zero. Portanto, S = 0 e
que o desdobramento de L. Assim, o acoplamento de Russell- a multiplicidade 2S + 1 = 1. Do mesmo modo, nos casos p6
Saunders não pode mais ser empregado, sendo necessário e d10 o número quântico de momento angular total na direção
considerar uma forma alternativa de acoplamento j-j. z é ML = Xm - 0, logo L = 0 e o estado é do tipo S. Assim,
uma camada completamente preenchida sempre corresponde
DETERMINAÇÃO DOS TERMOS USANDO a um estado singlete S, ’$0.
AS LACUNAS
Determinação dos termos espectroseópicos para a
Quando um subnível tiver mais da metade de sua
configuração d2
capacidade preenchida, é mais simples e conveniente deter
minar os termos espectroseópicos considerando as "lacu No caso de elétrons ocupando orbitais d, o número
nas” (isto é, as vacâncias existentes nos diversos orbitais) quântico azimutal ou secundário l = 2, e o número quàntico
em vez dos elétrons, que estão presentes num número maior. magnético m. terá valores +1 -> 0 —> -l, ou seja, + 2, +1,0,
Os termos espectroseópicos derivados dessa maneira para a -1, -2. Há 45 maneiras diferentes de se arranjar dois elétrons
configuração eletrônica de menor energia do oxigênio, que d, sem violar o princípio de exclusão de Pauli. Os arranjos
tem configuração p4 e portanto duas "lacunas", são os possíveis são mostrados na Tab. 32.4.
mesmos que os determinados para o estado fundamental Os termos foram atribuídos usando um procedimento
do carbono, que tem configuração p2, isto é, 'D e 3P. semelhante ao adotado no caso p2. O maior valor de ML -
484 ESPECTROS
Tabela 32.4 — Valores permitidos de m e ms para a Tabela 32.5 — Energia dos estados 3F e 3P para íons livres d2
configuração d2
m= 'Lm = Mi Termo Ti2* v3* Cr4*
+2 +1 0 -1 -2 espectroscópico
V 10.600 cm-1 13.250 cm"' 25.700 cm"'
1 _n 0 4 *G 3F 0 0 0
2 t £ 1 3 3F
3 t £ 0 3 4 só pode ser obtido se L = 4, isto é, se o estado for do tipo
'G, 3F
4 t £ 0 3 G. Mas, isso será possível somente se Ms = 0. Logo, S será
5 i I 3 3f igual a zero e o termo será singlete G, ‘G. ML pode ter os
valores + L,..., 0,..., -L, ou neste caso em particular, +4,
6 t í 1 2 3f + 3, +2, +1, 0,-1,-2, -3 e-4. Como há somente um valor
7 t £ 0 2 de Ms possível, teremos nove arranjos associados a esse
8 i t 0 2 'G. 3F, 'D termo espectroscópico.
9 n 0 2 O valor mais elevado de ML ainda não considerado é
+ 3, que corresponde a um estado F. Todavia, nesse caso o
10 £ 1 2 3F
maior valor de S possível é 1. Logo, Ms pode assumir os
11 t t 1 valores + 1,0 e -1, e teremos um estado triplete F, 3F. Como
12 t T 1 :} 3 , 3 f p
Ml pode ser igual a +3, +2, +1, 0, -1, -2, -3, e como há
três valores possíveis de Ms, teremos 21 arranjos associados
13 1 I 1 1
}3F.3P ao termo 3F.
14 1 l 1
Assim, 30 dos 45 arranjos possíveis já foram
15 £ £ 0 1
considerados. Analisando-se os grupos de arranjos com os
16 i t 0 1 mesmos valores de Ms e ML, verifica-se que os 15 arranjos
► 'G, 3F, 'D, 3P
17 £ £ 0 1 remanescentes correspondem aos mesmos da configuração
18 t 0 1 p2, isto é, 'D, 'S e 3P. Portanto, os termos espectroscópicos
associados à configuração d2 são 'G, 3F, lD, 3Pe 'S. De acordo
19 t t 1 0
20 t t 1 0
}3f.3p com as regras de Hund, o estado fundamental será 3F, e a
energia dos diferentes estados varia na seqüência 3F < 3P
21
1 £ 0 0 < *G < 'D < 'S.
22 i t 0 0 Os espectros de diversos íons d2 foram obtidos. Assim,
23 £ £ 0 0 ► 'G, 3F 'D 3P 'S foi verificado experimentalmente que, em todos os caso, a
energia do estado 3P é maior que do estado fundamental SF
24 1 t 0 0
(Tab. 32.5). Os níveis energéticos de íons metálicos livres,
25 tl 0 0 em fase gasosa, foram determinados quantitativamente e se
26 1 0 encontram disponíveis. O próximo passo é desenvolver uma
27 £ l 0
}3f, 3P teoria que permita prever como esses níveis energéticos
variam com a aproximação dos ligantes, para formar os
28 £ £ 0
complexos.
29 I t 0
°G, 3F, 'D, 3P
30 £ £ 0 DETERMINAÇÃO DO NÚMERO DE
31 1 t 0 MICROESTADOS
32 t t 1
> 3P Cada arranjo diferente de elétrons nos orbitais tem uma
33 t t 1 energia ligeiramente diferente uma da outra, e são
34 I denominados microestados. Eles correspondem a cada um
3f, 3p dos arranjos mostrados na Tab. 32.2 para a configuração p2,
35 £ 1
ou na Tab. 32.4 para a configuração d2. O número de
36 1 £ 1 3f microestados pode ser calculado a partir do número de
37 £ £ 0 orbitais e do número de elétrons, usando a equação:
38 1 t 0 'G, 3F, 'D
- n!
39 n 0 J r!(n - r)l
40 1 1 3F onde n é o dobro do número de orbitais e r é o número de
41 £ t 1 3f elétrons (note que n! é n fatorial, er! ér fatorial). Assim, no
42 £ 1 0
'G, 3F
caso de um átomo com configuração p3 há três orbitais e
três elétrons. Portanto, n = 6 e r = 3, tal que:
43 £ T 0
44 1 1 3F 6 6! _ 6! _6x5x4x3x2xl
45 ti 0 'G 3 ~ 31(6-3)1 ~ 31x3! “ 3x2xlx3x2xl
= 20 microestados
ESPECTROS ELETRÔNICOS OE COMPLEXOS DE METAIS DE TRANSIÇÃO 485
A
Figura 32.10 — íon Mn2* em um campo fraco octaédrico
4BB ESPECTROS
ESPECTROS DE ÍONS d1 E d?
Nos íons livres em fase gasosa, os orbitais d estão
degenerados e não será possível observar bandas de absorção
decorrentes de transições d-d. Quando se forma um
complexo octaédrico, o campo eletrostático dos ligantes
desdobra os orbitais d em dois grupos, t2g e eg (o desdobra
mento provocado pelo campo cristalino foi descrito no
Capítulo 7). Os exemplos mais simples de complexos d1 são
aqueles formados pelo íon Ti(IIl), tais como [TiCl6]3* e
[Ti(H2O)6]3 + . O desdobramento dos orbitais d é mostrado
na Fig. 32.12a. No estado fundamental, o único elétron d
ocupa o nível t2g, de menor energia, e somente uma transição
é possível para o nível eg. Consequentemente, o espectro de
absorção do [Ti(H2O)6]3 + , mostrado na Fig. 32.12b,
apresenta uma única banda, com máximo em 20.300 cm'1.
A magnitude do desdobramento, ou seja o valor de Ao,
depende da natureza dos ligantes. Este está diretamente
relacionado com a energia da transição e, logo, com a Figura 32.13 — Desdobramento dos níveis de energia para uma
freqüência do máximo da banda de absorção no espectro. configuração d1 num campo oaaédrico
No [TiCl6]3* o máximo ocorre em 13.000 cm-1, no [TiF6]3~
em 18.900 cm*1, no [Ti(H2O)6]3 + em 20.300 cm*1 e no ração d1. No caso d1 há um único elétron no nível inferior
[Ti(CN)6]3" em 22.300 cm*1. A intensidade do desdobramento t2g, e no caso d9 há uma única lacuna no nível eg superior.
provocado pelos diversos ligantes está relacionado com suas No caso do complexo d1, a transição consiste em promover
posições na série espectroquímica (vide Capítulo 7). O efeito um elétron do nível t2g para o nível eg. Já no caso d9, é mais
de um campo ligante octaédrico sobre um íon d1 é mostrado simples considerar a transição como sendo a transferência
na Fig. 32.13. O termo 2D, à esquerda, corresponde ao estado da lacuna do nível eg para o nível t2g. Assim, o diagrama de
fundamental do íon livre (vide Tab. 32.3). Sob a influência energias para o caso d9 é, portanto, o inverso do diagrama
do campo ligante, há um desdobramento desse níveis em para o caso d1 (Fig. 32.14).
dois estados que são descritos pelos símbolos de Mulliken, Se o efeito de um campo ligante tetraédrico for consi
2Eg e 2T2g (esses símbolos são da Teoria de Grupos e serão derado, veremos que os cinco orbitais d degenerados são
usados sem tentar explicá-los. Algumas referências úteis desdobrados em dois orbitais eg de menor energia e três
estão listadas no final do capítulo). O estado de menor orbitais t2g de maior energia (vide Capítulo 7). O diagrama
energia T2g corresponde ao estado gerado quando o elétron de níveis de energia para complexos d1 num campo
d ocupa um dos orbitais t2g, e o estado 2Eg corresponde ao tetraédrico é o inverso do diagrama num campo octaédrico.
estado em que o elétron ocupa um dos orbitais eg. A Logo, o diagrama é semelhante ao do caso d9 em campo
separação entre esses dois estados aumenta à medida que octaédrico (Fig. 32.13), exceto que a intensidade do
aumenta a força do campo cristalino. desdobramento num campo tetraédrico corresponde à 4/9
Complexos octaédricos de íons de configuração d9, como daquela num campo octaédrico.
por exemplo [Cu(H2O)6]2 + , podem ser descritos de maneira De modo análogo, a configuração d6 de spin alto, num
análoga aos complexos octaédricos do Ti3 + , com configu- campo octaédrico, (Fig. 32.15a) está relacionada ao caso d1,
em campo octaédrico. Como as
transições que envolvem inversão de
spin são proibidas e estão associadas à
bandas extremamente pouco intensas,
a única transição permitida é a transição
do elétron emparelhado do nível t2g, que
apresenta spin inverso ao dos demais
elétrons, para o nível eg. O diagrama de
níveis de energia para complexos
octaédricos de configuração d6 de spin
alto é igual ao diagrama para o caso d1
(Fig. 32.13).
Os complexos octaédricos de spin
alto contendo íons d4 (Fig. 32.15b)
podem ser considerados como tendo
uma única lacuna no nível superior eg.
Logo, pode-se inferir que seus
diagramas de níveis de energia serão
Figura 32.12 — a) Diagrama de energia dos níveis de energia num campo oaaédrico. b) Espeam de análogos aos dos complexos octaédricos
absorção no ultravioleta e visível do Ti(H2O)63t de configuração d9 (Fig. 32.14).
488 ESPECTROS
a) b) d4 Cr2* 5D |t |t |T |T | | 2 2
d6 Fe2* 5d iTllt |t |T |t I 2 2
tf Co2* 4F |t |t | 3 l'/2
|n|u|u|t |t~|
tíüTN nnn d
tf
Ni2*
Cu2*
3F
2d |u|u|n|n|r |
3
2
1
■/2
Figura 32.1 S — Arranjos octaédricos de spin-alto para a) d6 eb) á4
ESPECTROS OE ÍONS cP E tí" 489
a)
3A2g
H^fP)
3t2s
t
i£
3P
3F
^.(F)
3T,0(F) 3Ti0(P)
10
o
E ’T„(F) —3A2g
.2
I G 3T„(F) — 3T2b(F)
.D
2 5
xj
3T,a(F) 3A2í
Experimental Previsto 6
o
4A2g —> 47'Ig (F) v3 34.400 30.700 (12Dq+15B) E
.S
4A2g —» 4'iTig (F) v2 22.700 26.800 (!8Dq)
4a2s^4'T: 2t v. 14.900 14.900 (10Dq) i
-O
4
g
(curvatura das linhas no diagrama de Orgel), a energia 2
do estado 4Tlg(F) aumenta de um valor x e a energia do
estado 4Tlg(F) diminui de um valor x. I__________ I__________ I
2) O valor do parâmetro B de Racah é do íon livre. O valor 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000
aparente num complexo, B’, é sempre menor que o valor Frequência (cm1)
no íon livre, pois os elétrons do metal podem ser deslo- Figura 32.21 — Espectro eletrônico do [Co(H2O)&J2'¥
calizados para orbitais moleculares compreendendo
tanto o metal como os ligantes. O uso de valores Portanto:
corrigidos de B’ melhora a concordância. O efeito da
deslocalização é denominada efeito nefelauxético, sendo 15.200 - 7.200 = 10D,
a relação nefelauxética P definida como:
logo Dq = 800 cm"1
600
aAla
_íõ _cõ
0,03 G
o
E
o
E
% J 4T2 (D) o
.2 .2
i
-O
400
In 0,02
3 8
< 0,01
200
Freqüência (cm-1)
I 1 1 1^-------
Figura 32.22 — Espectro eletrônico do [CoCl4]2~ molares, e, variam de 0,02 a 0,03 mol"1 L cm’1, em
comparação com 5 a 10 mol"1 L cm’1 das transições
(ec)4(f2g)3- Essa configuração é semelhante ao do íon Cr34 permitidas por spin.
(d3) octaédrico, pois apenas dois dos elétrons podem ser 2) Algumas das bandas são largas e outras são finas.
promovidos. Há três transições possíveis: 4A2 -> 4T2(F), Bandas permitidas por spin são invariavelmente largas.
4A2(D -» 4T, (F) e 4A2(F) -> 4T,(P), mas apenas uma banda O diagrama de Orgel de níveis de energia para o Mn2+,
(atribuída à transição v,) aparece na região do visível, em num campo octaédrico, é mostrado na Fig. 32.24. Somente
15.000 cm’1 (Fig.32.22). Além disso, há duas bandas na os quartetos foram incluídos, pois as transições para os
região do infravermelho. A primeira, atribuída à transição demais estados são duplamente proibidas.
n2, aparece em 5.800 cm'1, enquanto que a de menor energia, Note que o estado fundamental 6S não é desdobrado e
atribuída à transição v3, é esperada em torno de 3.300 cm’1. se transforma no estado 6Alg, que se encontra ao longo do
4A2—>4T1(P) v3 eixo das abcissas (horizontal). Observe que os termos 4Eg(G),
15.000 cm'1; na região visível
4A2—>4T1(F) 4A]g, 4Eg(D) e 4A2g(F), também são linhas horizontais no
v2 5.800 cm’1; na região visível
4A2-^4T2 diagrama. Logo, suas energias são praticamente indepen
Vi (3.300 cm’1; na região do
dentes do campo cristalino. Os ligantes de um complexo
infravermelho)
vibram em relação a uma posição média, de modo que a
ESPECTROS DE ÍONS d5
A configuração ds ocorre no Mn(II) e no Fe(III). Em
complexos octaédricos de spin alto, com ligantes fracos, por
exemplo [MnnF6]4’, [Mnn(H2O)6]2 + e [FelnF6]3’. Esses
complexos possuem cinco elétrons desemparelhados.
Qualquer transição eletrônica dentro do nível d só pode ocor
rer se estiver acoplado a uma inversão de spin. Assim, como
todas as bandas de absorção associadas a transições proibidas
por spin, essas também serão muito pouco intensas. Isso
explica a cor rosa pálida da maioria dos sais de Mn(II), e a
cor violeta pálida do alúmen de Fe(III). O termo para o estado
fundamental é 6S. Nenhum dos 11 estados excitados,
mostrados na Tab. 32.3, pode ser alcançado sem que haja a
inversão do spin de um elétron. Por isso, a probabilidade de
ocorrer uma dessas transições é extremamente baixa. Dos
11 estados excitados, os quatro quartetos 4G, 4F, 4D e 4P,
envolvem a inversão de apenas um dos spin. Os outros sete
estados são estados dubletes. Logo, as transições para os
mesmos são duplamente proibidos por spin e muito
improváveis de serem observados no espectro. Aqueles
quatro estados se desdobram em dez estados, num campo
octaédrico. Portanto, até dez bandas de absorção
extremamente fracas poderíam ser observadas no espectro.
O espectro do [Mn(H2O)6)2 + é mostrado na Fig. 32.23.
Diversos aspectos desse espectro são incomuns:
Figura 32.24 — Diagrama de Orgel de níveis de energia para o Ma2'
1) As bandas são extremamente fracas. As absorptividades (d5) octaédrico
DIAGRAMAS OE TANABE-SUGANO 493
Apêndice
ARURRANCIA DOS ELEMENTOS NA
CROSTA TERRESTRE
Elemento Símbolo Abundância* Elemento Símbolo Abundância*
1 Oxigênio O 455.000 40 Samário Sm 7,0
2 Silício Si 272.000 41 Cadolínio Gd 6,1
3 Alumínio Al 83.000 42 Disprósio Dy 4,5
4 Ferro Fe 62.000 43 Érbio Er 3,5
5 Cálcio Ca 46.600 44 Itérbio Yb 3,1
6 Magnésio Mg 27.640 45 Háfnio Hf 2,8
7 Sódio Na 22.700 46 Césio Cs 2,6
8 Potássio K 18.400 47 Bromo Br 2,5
9 Titânio Ti 6.320 48 Urânio U 2,3
10 Hidrogênio H 1.520 49 Estanho Sn 2,1
11 Fósforo P 1.120 49 Európio Eu 2,1
12 Manganês Mn 1.060 51 Berílio Be 2,0
13 Flúor F 544 52 Arsênio As 1,8
14 Bário Ba 390 53 Tântalo Ta 1,7
15 Estrôncio Sr 384 54 Germânio Ge 1,5
16 Enxofre S 340 55 Hólmio Ho 1.3
17 Carbono C 180 56 Molibdênio Mo 1,2
18 Zircônio Zr 162 56 lúngstênio W 1,2
19 Vanádio V 136 56 Térbio Tb 1,2
20 Cloro Cl 126 59 Lutécio Lu 0,8
21 Crômio Cr 122 60 Tálio n 0,7
22 Níquel Ni 99 61 Túlio Tm 0,5
23 Rubídio Rb 78 62 Iodo I 0,46
24 Zinco Zn 76 63 índio In 0,24
25 Cobre Cu 68 64 Antimônio Sb 0,20
26 Cério Ce 66 65 Cádmio Cd 0,16
27 Neodímio Nd 40 66 Prata Ag 0,08
28 Lantânio La 35 66 Mercúrio Hg 0,08
29 ítrio Y 31 68 Selênio Se 0,05
30 Cobalto Co 29 69 Paládio Pd 0,015
31 Escândio Sc 25 70 Platina Pt 0,01
32 Nióbio Nb 20 71 Bismuto Bi 0,008
33 Nitrogênio N 19 72 Ósmio Os 0,005
34 Gálio Ga 19 73 Ouro Au 0,004
35 Lítio Li 18 74 Irídio Ir 0,001
36 Chumbo Pb 13 74 Telúrio Te 0,001
37 Praseodímio Pr 9,1 76 Rênio Re 0,0007
38 Boro B 9,0 77 Rutênio Ru 0,0001
39 Tório Th 8,1 77 Ródio Rh 0,0001
* As unidades para a abundância são ppm da crosta terrestre, o que corresponde a g/tonelada. Os valores foram extraídos
essencialmente de Geochemistry, de W.S. Fyfe, Oxford University Press, 1974, complementados por alguns dados mais
recentes.
49B APÊNDICES
p
Apêndice d.
PONTOS DE FUSÃO
DOS ELEMENTOS
^^^^Grupo
1 2 13 14 15 16 17 18
Período^^^
1 H He
-253 -269
2 Li Be B C N O F Ne
3 Na Mg Al Si P S Cl Ar
Grupo
881 1.105 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 2.467 3.280 281 445 -34 -186
4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
766 1.494 2.748 3.285 3.350 2.960 2.060 2.750 3.100 2.920 2.570 907 2.403 2.850 615, 685 60 -153,6
5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
688 1.381 3.264 4.200 4.758 4.650 4567 (4.050) 3.760 2.940 2.155 765 2.080 2.623 1.487 1.087 185 -108,1
6 Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Po At Rn
705 (1.850) 3.420 4450 5.534 5.500 5.650 (5.025) (4.550) 4.170 2.808 357 1.457 1.751 1.564 962 -62
7 Fr Ra Ac
(1700) 2.470
As temperaturas são dadas em graus Celsius. Círculos grandes indicam valores elevados e círculos pequenos indicam valores baixos; s indica sublimação. Dados entre
parênteses representam valores aproximados.
<0‘ • ■ --------•
1-1.500 1.501-3.000 • >3.000 •
APÊNDICES 497
Apêndice
OOT0S OE EBULIÇÃO
DOS ELEMENTOS
Grupo
1 2 13 14 15 16 17 18
Período^-..
1 H H He
-259 -259
2 Li Be B C N O F Ne
3 Na Mg
Grupo Al Si P S Cl Ar
4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
63 839 1.539 1.667 1.915 1.900 1.244 1535 1.495 1.452 1.083 420 30 945 816 221 -157
5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
39 768 1.530 1.857 2.468 2.620 2.200 2.282 1.960 1552 961 321 157 232 631 452 114 -112
6 Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Po At Rn
285 727 920 2.222 2.980 3.380 3.180 3.045 2.443 1.769 1.064 -39 303 327 271 254 3O2e -71'
7 Fr Ra Ac
27' (700) 817
As temperaturas são dadas em graus Celsius. Círculos grandes indicam valores elevados e círculos pequenos indicam valores baixos; e indica valor calculado. Dados
entre parênteses representam valores aproximados.
<0 • ■ ----------
1-1.500 1501-3.000 • >3.000 •
498 APÊNDICES
Apêndice
DENSIDADE DOS ELEMENTOS
SÓLIDOS E LÍSOIEOS
^^^Gnipo
1 2 13 14 15 16 17 18
Período^^,
1 H H He
2 Li Be B C N O F Ne
3 Na Mg Al Si P S Cl Ar
Grupo
0,97 1,74 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 2,70 2,34 1,82 2,1
4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
0,86 1,55 3,0 4,50 6,11 7,14 7,43 7,87 8,90 8,91 8,95 7,14 5,90 5,32 5,77 4,19 3,19
5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
153 2,63 45 6,51 8,57 10,28 11,5 12,41 12,39 11,99 10,49 8,65 7,31 7,27 6,70 6,25 4,94
6 Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Po At Rn
1,90 3.62 6,17 13,28 16,65 19,3 21,0 2257 22,61 21,41 19,32 13,53 11,85 11,34 9,81 9,14
7 Fr Ra Ac
5,5
As densidades são dadas em g cm" (o que equivale a 10 3 kg m"3). O valor para o carbono é o do grafite. Círculos grandes indicam valores elevados e círculos
pequenos indicam valores baixos.
<0 • 1-1.500 • 1.501-3.000 • >3.000 •
APÊNDICES 499
Apêndice
CEFJFIEEnAÇÊES ELETRÔNICAS
ESBS ELEMENTOS
z Elemento Símbolo Configuração Z Elemento Símbolo Configuração
1 Hidrogênio H Is1 53 Iodo I [Kr] 4d10 5S2 5p5
2 Hélio He ls2 54 Xenônio Xe [Kr] 4d10 5? 5p6
3 Lítio Li [He] 2s' 55 Césio Cs [Xe] 6s‘
4 Berílio Be [He] 2S2 56 Bário Ba [Xe] 6?
5 Boro B [He] 2S2 2pl 57 Lantânio La [Xe] Sd1 6S2
6 Carbono C [He] 2s2 âp2 58 Cério Ce [Xe] 4f‘ Sd-1 bs2
7 Nitrogênio N [He] 2s2 2p3 59 Praseodímio Pr [Xe] 4f3 5d° bs2
8 Oxigênio O [He] 2s2 2p* 60 Neodímio Nd ..... .,
[Xe] 4f* 5d° bs2
9 Flúor F [He] 2s2 2p5 61 Promécio Pm [Xe] 4f5 5d° bs2
10 Neônio Ne [He] 2? 2p6 62 Samário Sm [Xe] 4f6 5d° bs2
11 Sódio Na [Ne] 3s' 63 Európio Eu [Xe] 4f7 5d° 6S2
12 Magnésio Mg [Ne] 3s2 64 Gadolínio Gd [Xe] 4f7 5d‘ bs2
13 Alumínio Al [Ne] 3S2 3p' 65 Térbio Tb [Xe] 4f* 5d° bs2
14 [Ne] 3S2 3p2 66 Disprósio Dy [Xe] 4f ° Sd? bs2
Silício Si
15 [Ne] 3s2 3p3 67 Hólmio Ho [Xe] 4f“ 5d° bs2
Fósforo P
68 Érbio Er [Xe] 4f 2 5d° bs2
16 Enxofre S [Ne] 3s2 3p4
69 Túlio Tm [Xe] 4f3 5d° bs2
17 Cloro Cl [Ne] 3S2 3ps
70 Itérbio Yb [Xe] 4f 4 5d° bs2
18 Argônio Ar [Ne] 3s2 3p6
71 Lutécio Lu [Xe] 4f14 Sd1 bs2
19 Potássio K [Ar] 4s’
72 Háfnio Hf [Xe] 4f\* Sd2 bs2
20 Cálcio Ca [Ar] 4s2
73 Tântalo Ta [Xe] 4f 4 Sd3 bs2
21 Escândio Sc [Ar] 3d‘ 4S2 [Xe] 4f 4 Sd* bs2
74 Hingstênio W
22 Titânio Ti [Ar] 3d2 4S2 [Xe] 4f 4 Sd5 bs2
75 Rênio Re
23 Vanádio V [Ar] 3d3 4S2 Ósmio Os [Xe] 4f4 Sd6 bs2
76
24 Crômio Cr [Ar] 3d5 4s‘ Ir [Xe] 4f 4 Sd7 bs2
77 Irídio
25 Manganês Mn [Ar] 3d5 4s2 Pt [Xe] 4f 4 Sd? bs‘
78 Platina
26 Ferro Fe [Ar] 3d6 4S2 79 Ouro Au [Xe] 4f 4 5d'° 6s‘
27 Cobalto Co [Ar] 3d7 4S2 80 Mercúrio [Xe] 4f 4 5d'° bs2
Hg
28 Níquel Ni [Ar] 3d8 4S2 81 Tálio TI [Xe] 4f 4 Sd10 bs2 bp'
29 Cobre Cu [Ar] 3d10 4s' 82 Chumbo Pb [Xe] 4f 4 5d‘° 6S2 óp2
30 Zinco Zn [Ar] 3d10 4s2 83 Bismuto Bi [Xe] 4f 4 5d'° 6S2 6p3
31 Gálio Ga [Ar] 3d10 4s2 4p‘ 84 Polônio Po [Xe] 4f. 4 5d10 ôs
.. 2 6p4
32 Germânio Ge [Ar] 3d10 4s2 4p2 85 Astato At [Xe] 4f14 5d'° 6S2 óp5
33 Arsênio As [Ar] 3d10 4S2 4p3 86 Radônio Rn [Xe] 4f14 5d10 6? 6p6
34 Selênio Se [Ar] 3d’° 4S
__ 2 . 4
4p 87 Frâncio Fr [Rn] 7s'
35 Bromo Br [Ar] 3d10 4S2 4p>s; 88 Rádio Ra [Rn] 7?
36 Criptônio Kr [Ar] 3d’° 4s2 4p,6( 89 Actínio Ac [Rn] 6d‘ 7?
37 Rubídio Rb [Kr] 5s‘ 90 Tório Th [Rn] , 6d2 7S2
38 Estrôncio Sr [Kr] 5S2 91 Protactínio Pa [Rn] Sf 2 6d‘ 7S2
39 [trio Y [Kr] 4d' 5s2 92 Urânio U [Rn] Sf3 6d‘ 7S2
40 Zircônio Zr [Kr] 4d2 5s2 93 Neptúnio Np [Rn] Sf4 6d‘ 7S2
41 Nióbio Nb [Kr] 4d4 Ss1 94 Plutônio Pu [Rn] 5f8 bd? 7S2
42 Molibdênio Mo [Kr] 4d5 5s‘ 95 Amerício Am [Rn] 5f7 bd° 7S2
43 Tecnécio f Tc [Kr] 4d5 5? 96 Cúrio Cm [Rn] Sf7 6d‘ 7?
l Tc [Kr] 4d6 5s‘ 97 Berquélio f Bk [Rn] 5f8 6d‘ 7?
44 Rutênio Ru [Kr] 4d7 5s‘ 1 Bk [Rn] 5f’ 6d° 7S2
45 Ródio Rh [Kr] 4d8 5s' 98 Califómio Cf [Rn] Sf » 6d° 7sr
46 Paládio Pd [Kr] 4d:j10 ss°
5s° 99 Einstêinio Es [Rn] 5f" bd° 7S2
47 Prata Ag [Kr] 4d10 5s‘ 100 Férmio Fm [Rn] 5f 2 6d° 7S2
48 Cádmio Cd [Kr] 4d10 Ss2 101 Mendelévio Md [Rn] Sf 3 6d° 7?
49 índio In ■[Kr]’ 4d10 Ss2 Sp1 102 Nobélio No [Rn] Sf 4 6d° 7?
50 Estanho Sn [Kr], 4d'° 5s2 Sp2 103 Laurêncio Lr [Rn] Sf 4 6d’ 7s2
51 Antimônio Sb [Kr] 4d10 5s2 Sp3 104 Rutherfórdio Rf [Rn] 5fl* bd2 7S2
52 Telúrio Te [Kr] 4d10 5s2 5p4 105 Dúbnio Db [Rn] Sf 14 bd3 7?
500 APÊNDICES
Apêndice
VALORES MÉDIOS RE ALGUMAS
ENERGIAS RE LIGAÇÃO
(em kl mor1)
I Br Cl F S O P N Si C H
H 297 368 431 565 339 464 318 389 293 414 435
C 238 276 330 439 259 351 263 293 289 347
Si 213 289 360 539 226 368 213e 176
N 243 201 272 201 209e 159
P 213 272 330 489 230e 351e 213
O 201 205 184 138
S 213 251 284 213
F 255 184 159
Cl 209 217 243
Br 180 193
I 151
e
Indica valores calculados com o auxílio das diferenças de eletronegatividade
Apêndice
5EEURIMDADE EM ÁGUA
EE COMPOSTOS DOS GRUPOS
REPRESENTATIVOS
F" cr Br‘ r OH“ NOj COj- sof HCOj
As solubilidades são dadas em gramas de soluto por 100 gramas de água a 20° C, a não ser nos casos especificados de modo
diferente, ms = muito solúvel; s -solúvel; ps = pouco solúvel; dec = decomposição; a = a 0°C; b = a 15°C; c = a 18°C;
d - a 25°C,
503 APÊNDICES
Apêndice £7
MASSAS ATÔMICAS
(com case no isótofo ,sc-io,ccj)
Elemento Massa atômica Elemento Massa atômica
Actínio (227) Lantânio 138,91
Alumínio 26,982 Laurêncio (257)
Amerício (243) Lítio 6,939
Antimônio 121,75 Lutécio 174,97
Argônio 39,948 Magnésio 24,312
Arsênio 74,922 Manganês 54,938
Astato (ou astatínio) (210) Mendelévio (256)
Bário 137,34 Mercúrio 200,59
Berílio 9,102 Molibdênio 95,94
Berquélio (249) Neodímio 144,24
Bismuto 208,98 Neônio 20,183
Boro 10,811 Neptúnio (237)
Bromo 79,909 Nióbio 92,91
Cádmio 112,40 Níquel 58,71
Cálcio 40,08 Nitrogênio 14,0067
Califórnio (251) Nobéiio (254)
Carbono 12,01115 Ósmio 190,2
Cério 140,12 Ouro 196,967
Césio 132,905 Oxigênio 15,9994
Chumbo 207,19 Paládio 106,4
Cloro 35,453 Platina 195,09
Cobalto 58,933 Plutônio (242)
Cobre 63,54 Polônio (210)
Criptônio Potássio 39,102
83,80
Crômio Praseodímio 140,91
51,996
Cúrio Prata 107,870
(247)
Promécio (147)
Disprósio 162,50
Protactínio (231)
Einstêinio (254)
Rádio (226)
Enxofre 32,064
Radônio (222)
Érbio 167,26
Rênio 186,22
Escândio 44,96
Ródio 102,91
Estanho 118,69 85,47
Rubídio
Estrôncio 87,62 Rutênio 101,07
Európio 151,96 Samário 150,35
Férmio (253) Selênio 78,96
Ferro 55,847 Silício 28,086
Flúor 18,993 Sódio 22,9898
Fósforo 30,9738 Tálio 204,37
Frâncio (223) Tântalo 180,95
Gadolínio 157,25 Tecnécio (99)
Gálio 69,72 Telúrio 127,60
Germânio 72,59 Térbio 153,92
Háfnio 178,49 Titânio 47,90
Hélio 4,003 Tório 232,04
Hidrogênio 1,00797 Túlio 168,93
Hólmio 164,93 Túngstênio 183,85
índio 114,82 Urânio 238,03
Iodo 126,904 Vanádio 50,942
Irídio 192,2 Xenônio 131,30
Itérbio 173,04 Zinco 65,37
ítrio 88,91 Zircônio 91,22
APÊNDICES 503
Apêndice
DALODES DE ALGUMAS
CCESTAIJTES FÍSICAS
Constante de Planck, h = 6,6262xl0~34 J s
s’1
Velocidade da luz no vácuo, c = 2,997925x10® m
Apêndice 3
RESISTIVIDASE ELÉTRICA
COS ELERSERTOS
(na temperatura indicada)
* Resistividade do Ga é 8,2, 17,5 ou 55,3 microohm com, dependendo da direção. # Fósforo branco.
APÊNDICES 505
Apêndice
eo produtos químicos mais
PRODUZIDOS NOS ESTADOS UEIE3S
(em 1994)
Negrito indica compostos inorgânicos. Os dados foram reproduzidos do Chemical & Engineering News, página 39, edição de
26 de junho de 1995. Os dados são atualizados anualmente e publicados em junho/julho sob o título Facts and Figures.
506 APÊNDICES
Apêndice
PSODUTOS QUÍMICOS iccns.zcicos
pncsunicss cri Lcr.c.i escala (no mundo)
Apêndice [J
MEJEEAIS USADOS
EM LASSA ESCALA
Mineral 106 ton/ano Usos
Carvão mineral 4.530 Energia, produtos químicos, coque
Petróleo 3.034 Energia, petroquímica
Minérios de ferro 959 Ferro, aço, ferro-ligas
Cloreto de sódio 183,5 Indústria de cloro e álcalis, NaOH, Cl2, Na2CO3 e HC1
Fosfatos minerais 145 Fertilizantes, detergentes, tratamento de águas, fósforo, H3PO4
Calcário 127,9 CaCO3, CaO, Ca(OH)2, CaC2, Ca
Bauxita 108,6 Al, A12O3, A1(OH)3, A12(SO4)3
Gesso 88,2 Usado em moldes e na construção
Enxofre 54,1 Fabricação de ácido sulfúrico
Carbonato de sódio 31,5 Produtos de limpeza
Compostos de K: silvina, 24,5 Fertilizantes, KOH, KO2, K
silvinita, carnalita
Pirolusita 22,7 Ligas de Mn, MnO2, secantes para tintas
Caolim 22,5 Cerâmicas refratárias, tinta, coberturas, plásticos
Giz 14,2 Material de enchimento
Magnesita 10,8 Mg e seus compostos
Minérios de cobre 9,3 Cu
Bentonita 9,2 Em perfurações, tintas tixotrópicas
Talco 8,4 Cerâmicas, tinta, papel, coberturas, plásticos, cosméticos
Ilmenita e rutilo 8,3 Pigmentos de TiO2, Ti
Minérios de zinco 7,3 Ligas de Zn, e proteção contra corrosão
Baritas 4,9 Lubrificante de perfurações, compostos de bário, pigmentos, cargas
Terra de pisoeiro 4,2 Absorvente, descorante e desinfetante de óleo mineral e vegetal
Sulfato de sódio 4,3 Papel, vidro, detergentes
Fluorita 3,6 A1F3, Na3[AlF6], HF, F2, compostos orgânicos fluorados
Cromita 3,2 Cromatos, dicromatos, cerâmica, pigmentos, crômio
Galena 3,1 Baterias de Pb, Pb em lâminas, PbEt,
Amianto 2,8 Cargas, isolante térmico, cimentos, placas para cobertura
SiO2 (terras infusórias) 2,0 Material inerte de enchimento, sistemas de filtração, abrasivos
Boratos 1,0 Bórax, ácido bórico, perboratos, vitrificações de cerâmicas
Grafite 0,93 Refratários, eletrodos, lubrificantes, lápis, moldes
Zirconita/badeleita 0,87 Zr
Minério de níquel 0,66 Ni e ligas
Nitrato de sódio 0,55 Fertilizantes, explosivos
Vermiculita 0,5 Embalagem, solo artificial
Compostos de bromo 0,37 Brometos, produtos químicos de uso agrícola
(da água do mar)
Minérios de cobalto 0,31 Ligas
Mica 0,21 Cimento, tinta, cobertura, isolante elétrico, cargas
Cassiterita 0,18 Sn
Estroncianita 0,17 Compostos de Sr
Molibdenita 0,13 Ligas, MnO2
Granadas 0,106 Lixas, ornamentos, jóias
Monazita/bastnaesita 0,08 Compostos dos lantanídeos e do tório
Minérios de urânio 0,034 Energia nuclear, armamento nuclear
Compostos de iodo 0,017 Fármacos, fotografia, iodatos, iodetos, iodo, suplemento alimentar animal,
catalisadores, tintas
Minerais de Li 0,009 Estearato de lítio, LiiCO3 (produção de Al), LiOH, cerâmica/vidro
(espodumênio, lepidolita)
Berilo 0,005 Be
508 APÊND1CE5
Apêndice
DUREZA E3S MEJEZAIS
ESCALA EE mSS
Muitas vezes rochas são chamadas de "moles", mesmo é arbitrária e não indica valores “exatos” de dureza. Assim,
quando suas partículas constituintes, consideradas um mineral com dureza 6 pode riscar os minerais com dureza
individualmente, sejam bastante duras: elas se unem inferior na escala, mas não se pode concluir que este min
fracamente em agregados que se desfazem facilmente. A eral seja duas vezes mais duro que um mineral de dureza 3.
dureza de um mineral é uma propriedade totalmente Dois minerais de mesma dureza riscarão um ao outro. Há
diferente, e se refere à resistência que a superfície como um uma grande diferença entre as durezas 9 e 10 nessa escala.
todo oferece ao ato de riscar. Objetos comuns, como uma unha, uma moeda, uma
Há mais de um século um mineralogista chamado lâmina ou uma lima de metal podem ser usados como
Friedrich Mohs desenvolveu uma escala de dureza que “instrumentos” para o teste da dureza. São testes
recebeu o seu nome. Ele atribuiu arbitrariamente ao talco (o convenientes para testar rapidamente a dureza de um mi
mineral mais mole conhecido) uma dureza de 1, e ao neral em atividades de campo.
diamante (o mineral mais duro), uma dureza de 10. A escala Minerais com dureza inferiores a 6,5 podem ser riscados
com uma lixa de unha de metal, aqueles com dureza infe
rior a 5,5 podem ser riscados por uma lâmina de canivete;
Tabela 1 — A escala de durezas de Mohs minerais com dureza abaixo de 3,5 são riscados por uma
moeda de cobre, e os com dureza inferior a 2,5 são riscados
Escala de Mohs Mineral pela unha e deixam uma marca sobre o papel. Por outro
lado, minerais com dureza superior a 5,5 riscarão o vidro.
10 Diamante
9 Coríndon
Tabela 2. “Instrumentos” para testar a dureza
8 Topázio
7 Quartzo
6 Microclínio Escala de Mohs “Instrumento”
5 Apatita
4 Fluorita 6,5 Lixa de unha de aço
3 Calcita 5,5 Lâmina de canivete ou caco de vidro
2 Gesso 3,5 Moeda de cobre
1 Talco 2,5 Unha
APÊNDICES 509
Apêndice
LIVROS-TEXTOS
EE REFERÊNCIA
Além das listas contendo "leituras complementares” uma compilação dos produtos químicos usados na
apresentadas ao final de cada capítulo, poderão ser obtidas indústria química, como são obtidos e para que são
maiores informações sobre os vários assuntos ou abordagens utilizados)
alternativas nos seguintes livros-textos:
Outros textos gerais de nível universitário
Textos avançados e obras de referência • Bums, D.T., Carter, A.H. e Townshend, A., Inorganic
• Bailar, J.C., Eméleus, H.J., Nyholm, R.S. e TYotman- Reaction Chemistry: Reactions of the Elements and Their
Dickinson, A.E (eds) Comprehensive Inorganic Chem Compounds, (Ellis Horwood Series in Analytical Chem
istry, (5 volumes), Pergamon, 1973. (Um conjunto de istry), Halsted Press, 1981.
artigos de revisão sobre os elementos, com alguns • Cotton, F.A., Gaus, P.L. e Wilkinson, G., Basic Inor
tópicos especiais. Um pouco ultrapassado, fornecendo ganic Chemistry, 2.a ed., John Wiley, 1986.
muitos detalhes e referências antigas) • Douglas, B., McDaniel, D.H. e Alexander, J.J., Concepts
• Cotton, F.A. e Wilkinson, G., Advanced Inorganic Chem- and Models of Inorganic Chemistry, 2.a ed., John Wiley
istry, 5? ed., John Wiley, 1988. (Um livro completo, & Sons, 1983.
com informações a nível de pesquisa. Ele contém muitas • Jolly, W.L., Principies of Inorganic Chemistry, McGraw-
referências atualizadas que levam aos artigos originais) Hill, 1985.
• Eméleus, H.J., editor geral, MTP International Revietv • Mackay, K. e Mackay, A., Introduction to Modem Inor
of Science, (10 volumes), Butterworths, 1975. Os vol ganic Chemistry, 4.a ed., Prentice Hall, 1989.
umes individuais foram editados por Lappert, M.F., • Massey, A.G., Main Group Chemistry, Ellis Horwood,
Sowerby, D.B., Gutmann, V., Aylett, B.J., Sharp, D.W.A.,
1990.
Mays, M„ Bagnall, K.W., Maddock, A.G., Tobe M.L. e
Roberts, L.E.J. (Como o livro Comprehensive Inorganic • Mortimer, C.E., Chemistry, 6.a ed., Wadsworth, 1986.
Chemistry, ele reúne sistematicamente artigos de revisão • Sharpe, A.G., Inorganic Chemistry, 2? ed., John Wiley,
sobre os elementos e alguns tópicos especiais. Também, 1987.
está um pouco ultrapassado, mas traz muitos detalhes • Shriver, D.F., Atkins, P.W. e Langford, C.H., Inorganic
e informações, além de muitas referências antigas.) Chemistry, Oxford University Press, 1990.
• Greenwood, N.N. e Earnshaw, A., Chemistry oftheEle-
ments, Pergamon, 1984. (Um livro avançado e completo Química bioinorgânica
para universitários e pós-graduandos. É o melhor de
seu tipo, apresentando um excelente tratamento • Bioinorganic Chemistry, Journal of Chemical Education,
sistemático da química inorgânica, incluindo tanto os 1986. (ISBN 0-910362-25-4).
aspectos teóricos como práticos, além de muitas • Hay, R.W., Bio-Inorganic Chemistry, (Série Ellis
referências atualizadas) Horwood em Ciências Químicas), Halsted Press, 1984.
• Kirk, R.E. e Othmer, D.F. (eds), Encyclopedia of Chemi • Hughes, M.N., The Inorganic Chemistry of Biological
cal Technology, 3? ed., (26 volumes), Wiley, 1984 (Traz Processes, 2a ed., John Wiley, 1981.
510 ÍNDICE ALFABÉTICO
raio iônico 185 amônia líquida como solvente 245 extração e aplicações 269
raio metálico 70, 185 aplicações dos fosfatos 26 haletos 288
reação de Friedel-Crafts 194 azidas 60, 246, 252 hidretos 286
reações dos elementos do 186 bactéria desnitrificante 239 ligação pn-dn 275
sesquióxido de boro 182, 188 bactéria nitrificante 239 minérios na forma de sulfetos 270
sulfato de alumínio 187 ciclo do nitrogênio 239 organo derivados 291
sulfatos 187 compostos organometálicos 266 óxidos 270, 276
teste da pérola de bórax 188 comprimento de ligação e ligação oxoácidos de S 280-284
trifluoreto de boro 37, 42, 194 prt-dn 276 oxoácidos de Se e Te 275
Grupo 14 203-236 eletronegatividade 81, 240 oxohaletos de Se 284
alotropia 205 energias de ionização 76, 240 peróxidos e polissulfetos 287
bicarbonatos 213 estrutura cristalina dos metais 64 pontos de ebulição 274
caráter metálico e não-metálico estrutura dos elementos 238 pontos de fusão 274
208 estrutura eletrônica 236 potenciais padrão de redução 85,
carbetos 210 estrutura eletrônica do N 1 275
carbonatos 214 fertilizantes 237, 247, 248 processo de contato (para SO2)
carbonilas 212, 359, 367, 373, 384, fixação do nitrogênio 238, 246, 279, 352, 405
386, 397, 406 360, 370 processo Frasch (enxofre) 269
cianetos 228 formas alotrópicas 239 química do ozônio 59, 272, 273
ciclo do carbono 215 fosfazenas (compostos raio covalente 75, 274
clusters 233 fosfonitrílicos) 252, 265 raio iônico 274
complexos 230 haletos 250 raio metálico 70
compostos de grafita 209 hidrazina 244 reações entre óxidos 268
datação por carbono 207, 467 hidretos 241-245 sulfeto de hidrogênio 270
derivados orgânicos 225-228, 234 estruturas dos 243 Grupo 17 293-326
diferenças entre Si e demais propriedades doadoras dos 243 afinidade eletrônica 78, 298
elementos do Grupo 14 206 hidroxilamina 245 bromo e iodo positivos 317
dissulfeto de carbono 216 ligação pit-dn 257 ciclos termodinâmicos para
efeito do par inerte 208 ocorrência, extração e aplicações força dos ácidos HX 304
efeito estufa 121, 215, 231 236-238 potenciais de oxidação de X2
eletronegatividade 82, 207 óxidos 252-254 299
energia de ionização 76, 207 oxoácidos de fósforo 257-263 compostos interhalogenados 313-
estrutura atômica do C 1 oxoácidos de nitrogênio 254-263 316
estrutura cristalina dos metais 64 ponto de fusão 238 cor dos X, 294
estrutura eletrônica 203 pontos de ebulição 238 eletronegatividade 81, 398
extração e aplicações 203-205 potenciais padrão de redução 85, energia de hidratação dos haletos
haletos 231 247 298
haletos de carbonila 213 problemas ambientais com fosfatos energia de ionização 76, 298
hidretos 228 260, 263 energia de ligação dos compostos
ligações p internas usando orbitais problemas com fertilizante de halogênio 301
d 230 nitrogenados 249 energia de ligação dos X, 298
mecanismos de reação 233 propriedades metálicas e não- estrutura atômica do F 1
ocorrência e abundância 203 metálicas 241 estrutura eletrônica 295
óxidos 211-214, 217 raio covalente 75, 240 extração e aplicações 294-296
ponto de fusão 207 raio metálico 70 força dos ácidos HX 304
pontos de ebulição 207 reatividade dos elementos 241 força dos oxoácidos 313
potenciais padrão de redução 85, série do ácido fosfórico 2570-262 haletos 305
209 série do ácido fosforoso 262 haletos de hidrogênio, HX 302-306
raio covalente 75, 207 sulfetos 263 tabela de propriedades 303
raio metálico 70 teste de Marsh 243 ligação no HF 17
reatividade 208 tipo de ligação 240 ocorrência e abundância 294
silicatos 218-225 Grupo 16 267-292 óxidos 306-310
silicones 225-228 abundância 267 oxoácidos 310-313
Grupo 15 236-266 alotropia e estrutura 272 poder oxidante dos X, 299
amônia 242, 247 compostos cíclicos de S e N 290 polihaletos 317
detecção de 242 compostos de enxofre e nitrogênio pontos de fusão 299
estrutura da 37, 39, 41 290 potenciais padrão de redução 298,
ligação na 17 diferença entre O e os demais 309
líquida 131, 153, 168, 244 elementos do grupo 276 preparação de haletos anidros 306
processo cianamida 248 eletronegatividade 81, 273 propriedades básicas 317
processo Solvay 162 energia de ionização 76, 273 propriedades metálicas 317
produção pelo processo Haber- estrutura atômica do O 1 pseudo-halogênios 317
Bosch 121, 248 estrutura eletrônica 267 raio covalente 75, 297
51B Índice alfabético
raio iônico 297 estrutura eletrônica dos elementos carbeto de tungstênio 210
reação com água 300 do 398 carbonilas de 367
reações dos halogênios 301 haletos dos 400 ciclopentadienil complexos 367
reatividade dos elementos 301 Hodgkin, D.C. 405 cluster de 360, 367
tipos de ligações formadas 298 importância biológica do cobalto compostos de Cr( +1) 364
Grupo 18 319-326 405 compostos de Cr( + II) 364
abundância na atmosfera 320 ocorrência, extração e aplicações compostos de Cr( + III) 364
aplicações 320 dos 398 compostos de Cr( + IV) 364
argônio, íon molécula de 321 óxidos 400 compostos de Cr( + V) 364
Bartlett (primeiro composto de Xe) processo OXO 401 compostos de cromo (0), (-1) e
321 propriedades físicas dos 400 (-11) 364
Cavendish 319 propriedades gerais dos 399 cromatos 361, 366
clatratos 321 reação de adição oxidativa 401 cromita 360
energia de ionização 76, 320 vitamina B,,399, 403 dibenzenocrômio 366
estrutura atômica do Ne 1 Grupo do Cobre 415-425 dicromato 360
estrutura e ligação em compostos abundância, extração e aplicações dissulfeto de molibdênio 360
de xenônio 323 415 espectro do Cr(III) (d3) 364
estrutura eletrônica 15, 320 acetato de cobre(II) anidro 422 estados de oxidação dos elementos
hélio complexos com alcenos 420 do 360
estrutura atômica 1 compostos dos elementos no estruturas eletrônicas dos
íon molécula de 54, 321 estado ( + 1) 419 elementos do 360
molécula de 54 compostos dos elementos no Fischer, E.O. 366
ocorrência e descoberta 320 estado ( + 11) 421 fixação de nitrogênio 360, 368
pontos de ebulição 320 compostos dos elementos no haletos dos elementos do 360
pontos de fusão 320 estado ( + IIII) 423 importância biológica do Cr e Mo
propriedades especiais do He 320 condutividade 415, 418 368
química do xenônio 321-323 cor 418, 421 liga ferrocromo 360
radônio, formação do 320 desproporcionamento 418 ligação quádrupla nos 360, 365
raio atômico 320 distorção tetragonal (Jahn-Teller) ligações metal-metal nos
supercondutividade 321 421 elementos do 365
xenônio estados de oxidação dos 416 molibdatos 360
difluoreto de 322, 324 estrutura eletrônica dos elementos molibdenita 360
fluoro complexos de 323 do 415 molibdenoferredoxina 369
hexafluoreto de 326, 328 fotografia 283, 297, 421 óxido de cromo(III)/ácido crômico
hexafluoroplatinato de 321 haletos dos 300, 418 362
oxofluoretos de 322 importância biológica do cobre óxidos dos elementos do 360, 362
química do 321-323 415, 424 oxohaletos dos 348
tetrafluoreto, íon 322, 324 ligas peroxocompostos dos 362
trióxido de 324 latão 71, 416, 427 poliácidos dos 360, 366
xenato, íon 324 níquel/prata 416 potenciais padrão de redução 85,
Grupo do Cobalto 397 mistura Bordeaux 416 361
carbonilas dos elementos do 400 nitrato de cobre(Il) anidro 422 propriedades físicas dos 360
catalisador de Wilkinson 401 óxidos dos 417 propriedades gerais dos elementos
ciclopentadienil complexos dos potenciais padrão de redução dos do 360
403 85, 418 reatividade dos 360
complexos de nitrogênio dos 401 processo cianeto para extração de scheelita 360
composto de Vaska 401 Au 417, 420 tungstatos 360, 366
compostos dos elementos nos processo Parke (prata) 415 Wilkinson, G. 366
estados ( + 1) 401 propriedades catalíticas 418 wolframita 360
compostos dos elementos nos propriedades físicas dos 418 Grupo do Escândio 342-344
estados (+ II) 402 propriedades gerais dos 414-418 areia monazítica 342, 439, 450,
compostos dos elementos nos quilates (ouro) 417 452
estados (+ III) 404 reatividade dos 415, 418 carbetos 344
compostos dos elementos nos separação do ouro com bateia 416 complexos 344
estados (+ IV) 406 turquesa 416 estados de oxidação 342
compostos dos elementos nos verde de Paris 415 estrutura eletrônica 342
estados (+ V) e (+ VI) 406 Grupo do Crômio 360 extração, separação e aplicações
compostos dos elementos nos abundância, extração e aplicações 342
estados (-1) e (0) 400 do 360 haletos 343
espectro acetato de crômio(II) 360, 366 hidretos 343
do [Co(H2O)6]2* 490 aço para ferramenta de corte 361 óxidos e hidróxidos 343
do [CoCIJ2- 491 análise qualitativa dos 364 potenciais padrão de redução 343
estados de oxidação dos 399 bronzes de tungstênio 368 propriedades físicas 343
ÍNDICE ALFABÉTICO 519
carbetos 208, 352 sal de Zeise 433 Indústria cloro-álcalis 122, 158
carbonilas 359 smithsonita 426 Interstícios octaédricos 23
carnotita 351 tamanho 427 Interstícios tetraédricos 23
clusters 351, 356 toxicidade do mercúrio e cádmio Inversão de Walden 233
coloração 353 427, 434 lodeto de hidrogênio 302
columbita 352 Háfnio, vide grupo do Titânio caráter iônico 82
como aditivos do aço 351 Hahn, O. 468 força do ácido 304
complexos 356 Haletos de carbonila 212 preparação 303
compostos de ciclopentadienila Haletos de elementos de transição Iodo
358 (tabelas) 331 afinidade eletrônica 78, 298
compostos de vanadila 356 Haletos em ponte 305 compostos interhalogenados 312-
compostos não-estequiométricos Halogênios, vide grupo 17 316
355 Hélio, vide grupo 18 cor dos X2 294
compostos organometálicos 358 Hemeritrina 393 eletronegatividade 81, 298
espectro do VJ* (d1) 354 Hemoglobina 392 energia de hidratação do iodeto
do [V(H2O)6]3* 488 Heteropoliácidos 358, 368 298
estados de oxidàção 352 Hexacianoferrato(II) (ferrocianeto) 396 energia de ionização 76, 298
estados de oxidação inferiores 358 Hibridizaçâo 41-44 estrutura eletrônica 294
estrutura eletrônica 351 Hidrazina 242 extração e aplicações 296
haletos 354-356 processo Raschig 242 haletos de 304
hidretos 354 Hidretos 125, 128 heptafluoreto de 315
liga ferrovanádio 351 covalentes 126 iodo positivo 316
ligações M-M 354 pontos de fusão dos 127 monocianeto de 318
ligas supercondutoras 351 intermediários 127 monocloreto de 314-318
nitretos 352 intersticiais (metálicos) 124, 127 número de 314
óxidos 357 iônicos 127 ocorrência e abundância 294
pentóxidos como catalisadores 352 tabela de 126 óxidos 308
piroclorito 351 Hidroboração 198 oxoácidos de 308-312
potencial padrão de redução 356 Hidrogênio 121-136 pentafluoreto de 315
propriedades físicas 352 abundância 122 poder oxidante dos X2 298
propriedades gerais 352 abundância no ar seco 237 polihaletos 298
reatividade 352 chama hidrogênio/cloro 301 ponto de fusão 298
tamanho 352 espectro atômico 3 potencial padrão de redução 299,
tantalita 352 estrutura atômica 1 308
vanadatos 357 estrutura eletrônica do 121 propriedades características 308
vanadinita 351 íon hidrogênio 121, 127 raio covalente 297
Grupo do zinco 425-435 isótopos do 124, 139 raio iônico 297
abundância, obtenção e usos 425 ligação no 128, 269, 305 reação com água 300
acetato básico de zinco 431 molécula de 50 reatividade 300
barras de controle de cádmio 453 orto e para 125 tricloreto de 314, 317
baterias de Ni/Cd 427 peróxido de 148, 271, 290 triiodeto, íon 317
calamina 426 preparação do 122 vide também Grupo 17
célula de cátodo de mercúrio propriedades do 123 íon amônio 18
(NaOH) 162 série de Balmer 1, 4 dicromato 363
célula de condutividade 432 série de Brackett 1, 4 nitrato 252
célula de Leclanché 427 série de Humphries 1, 4 perclorato 311
complexos 430 série de Lyman 1, 4 pertecnato 370
compostos de mercúrio( +1} 431 série de Paschen 1-4 sais de 242
compostos organometálicos 433 série de Pfund 1-4 íon carbonato 57
estados de oxidação 427 soluções em metais 124 Irídio, vide grupo do Cobalto
estrutura do cloreto de cádmio 26 Hidroxilamina 245 Isolantes 68
estrutura do iodeto de cádmio 25 Hólmio, vide Lantanídios Isomeria 118-120
estrutura eletrônica 425 de coordenação 118
Frankland 433 Ilmenita 345, 347 de hidratação 118
haletos 429 Importância biológica de ionização 118
importância biológica do zinco 433 do cálcio e do magnésio 177 de ligação 119
latão 71, 416, 427 do cobalto 405 de polimerização 118
óxidos 429 do cobre 415, 423 de posição de coordenação 119
policátions 432 do cromo e do molibdênio 368 facial 100, 406
potenciais padrão de redução 429 do manganês 370 geométrica 101, 119
propriedades físicas 428 do sódio e do potássio 378 meridional 100,. 406
propriedades gerais 428 do zinco 433 número de isômeros 101
reagente de Nessler 244, 300, 430 índio, vide Grupo 13 óptica 119
ÍNDICE ALFABÉTICO 521
Plutônio, vide Actinídios camada de ozônio 250, 273, 301 PTFE 228
Poder polarizante 79 chuva ácida 124, 272 Pudlagem (aço) 381
Polarizabilidade 79 conversores catalíticos (carros) 409
Polifosfatos 259-261 detergentes 281 Quartzo 217
Polihaletos 149 fertilizantes nitrogenados 249 Quelatos 112
Polímeros estereoregulares 350 fluoreto em água potável 297 Quilates (ouro) 417
Polissulfetos 148 fosfatos 260 Química bioinorgânica do ferro 390
Polônio limites de contaminantes na água
abundância 268 (CEE) 285 Radiação alfa 465
descoberta e produção 271 mercúrio e cádmio 427, 434 Radiação gama 464
estrutura eletrônica 268 smog fotoquímico 275 Radiografia 476
potencial padrão de redução 274 Processo básico com oxigênio (aço) Radioisótopos, aplicações de 475
vide também Grupo 16 270, 384 análise por ativação 475
Pólvora 270 forno aberto Siemens 382 análise por diluição isotópica 475
Ponto de fusão forno Siemens de arco elétrico 382 datação por carbono 475
de compostos iônicos e covalentes processo Bessemer-Thomas 382 radiografia 476
20 processo Kaldo e LD 384 reações de troca isotópica 475
dos elementos Apêndice B pudlagem 382 tratamento de câncer 476
Porfirina 113, 293, 393 Processo Birkeland-Eyde (HN03) 255 Radônio, vide Grupo 18
Pósitron, emissão de 463 Processo cianeto (ouro) 417, 317 Raio
Potássio Processo de Contato (para SO2) 279, covalente 75
alúmen 99 331, 409 iônico 74
bicarbonato 149 Processo Deacon 159, 401, 439 metálico 70
brometo 297 Processo Degussa (HCN) 229 Raio covalente 75
cloreto 139 Processo direto (Rochow) 226 Raio iônico 74
cobaltinitrito 152 Processo direto de Rochow Raio metálico 70
coloração na chama 145 (alquilclorosilanos) 226 Raschig, processo para obtenção de
complexos de 154 Processo Dow a partir da água do mar hidrazina 242
efeito fotoelétrico 6 (Mg) 166 Reação de Friedel-Crafts 196
em fertilizantes 141 Processo Dow a partir da salmoura Reação de fusão controlada 472
estrutura eletrônica 139 (Mg) 166 Reação de troca isotópica 475
hidrogenocarbonato de 149 Processo Ferrite (Lowig) para NaOH Reação de Wackenroder 285
hidróxido de 147 388 Reação em cadeia 467
nitrato de 149 Processo Frash (enxofre) 270 Reação nuclear induzida 467
ozoneto de 276 Processo Haber-Bosch 124, 247 Reação térmita 93
perbromato de 312 Processo Hall-Héroult 182 Reações de fusão 125, 128
perclorato de 152, 312 Processo IMI para obtenção do Ti 346 Reações de fusão nuclear controladas
permanganato de 141, 370, 377 Processo Kaldo (aço) 270, 382 472
perrenato de 370, 378 Processo Kroll 345 Reações de oxidação-redução 87
superóxido de 141, 147 Processo LD 270, 382 Reagente de Nessler 242, 298, 430
tetrafenilborato de 152 Processo Leblanc 160 Reagente de Wij 315
vide também Grupo 1 Processo Lowig (ferrita) para NaOH Reatores nucleares
Potenciais de eletrodo 84-91 388 regenerador rápido 470
Potenciais de redução 84-91 Processo Mond (níquel) 212, 408 térmico refrigerado a água 471
e métodos de extração dos Processo Ostwald (HNO3) 253, 255, térmico refrigerado a gás 470
elementos 94 400 Refino por zona 33, 204
exemplos de aplicações dos Processo OXO (adição de CO a alcenos) Reforma a vapor 121
diagramas 402 Reformador (vapor] 121
Am 89 Processo Parke 416 Refratário, material 192
Cl2 90 Processo Solvay (Na2CO3) 162 Regra de Fajans 79, 183
Cu 89 Processo Weldon 160 Regra de Harkins 341, 438, 458, 461
Fe 88H2O2 89 Produção da bomba atômica 468 Regra de Hund 11, 50, 478
I2 90 Produção dos produtos químicos para determinação do estado
Mn 90 pesados 161, Apêndice K, fundamental 482
Potenciais padrão de redução, tabela Apêndice L Regra de Mattauch 438
de 84 Projeto Manhattan 453, 468 Regra de seleção de Laporte 393, 484
Praseodímio, vide Lantanídios Promécio, vide Lantanídios Regra do número atômico efetivo 102
Prata, vide grupo do Cobre Propriedades gerais dos metais 62-65 Regra do octeto 37
Preparação de haletos anidros 305 Propriedades magnéticas 334, 340 exceções à regra 37
Princípio da construção 10, 50 Protactínio, vide Actinídios Regras de Hume-Rothery 69-71
Princípio da incerteza de Heisenberg 6 Próton 1, 461 Regras de seleção 484
Problemas ambientais Próton, emissão de 464 Regras para LCAO 49
asbestos 221 Pseudohalogênios 318 Relação de raios
Índice alfabético 525
Terras de pisoeiro 208 TYansistores 34, 184 Vidro 160, 162, 182, 224
Terras infusórias 224 TYiazida cianúrica 245 Vidro borossilicato 224
Terras raras, vide Lantanídios TYidimita 216 Viscose e rayon 218
Teste de Marsh 243 TYietilfosfato 251, 258, 262 Vitamina B12 396, 400
Teste do anel marron 252, 385 TYiiodeto, íon 316 Vulcanizaçâo da borracha 271
Tetraclorometano (tetracloreto de TYisililamina 228
carbono) 17, 37, 231, 390 TYítio 124, 141 Wilkinson, catalisador de 397
Tetraetilchumbo 234 Trttolilfosfato 252, 263 Willemita 219
Tetróxido de dinitrogênio 135, 252 Túlio, vide Lantanídios
Tetróxido de dinitrogênio líquido 132, Túngstênio Xenônio
254 bronzes de 270 aplicações do 320
Thompson, JJ. 3 carbeto de 210, 360 complexos de flúor do 323
Tipos de decaimento tungstatos 360, 367 difluoreto de 323, 325
captura de elétrons K 463 vide também grupo do Cromo hexafluoreto de 325
decaimento p 463 Turquesa 416 hexafluoroplatinato de 321
decaimento y 464 ligação 324
decaimento a 465 Ultramarinos 224 oxofluoreto de 322
emissão de nêutrons 463 Ultrapuras, substâncias 33, 204 perxenato, íon 322
emissão de pósitron 463 Uraninita 454 química do 321
emissão de próton 464 Urânio, vide Actinídios tetrafluoreto de 322
fissão espontânea 465 Uréia 213, 250, 279 trióxido de 324
Tipos de reatores nucleares Usinas nucleares 470 vide também Grupo 18
regenerador rápido 470 xenato, íon 322
térmico esfriado a água 471 Valência variável 84
térmico esfriado a gás 470 no bloco d 178 Zeeman 5
TNT 258 van Arkel de Boer, processo de 345 Zeólitas 222
Tório, vide Actinídios Vanadatos 358 Ziegler, catalisador de 200
Torita 450 Vanadinita 351 Ziegler-Natta, catalisador de 281, 350
Transição de transferência de carga Velocidade das reações 20 Zircónia 219, 345
232, 354, 364, 371, 377, 386, 388, Verde de Magnus 412 Zircônio, vide grupo do Titânio
418, 427 Verde de Paris 416
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