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tradução
JE da 5-a edição
inglesa
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Blucher
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J. D. LEE
Professor da Universidade de Loughborough,
Inglaterra

QUÍMICA
INORGÂNICA
NÀO TÀO

CONCISA
Tradução:
HENRIQUE E. TOMA
KOITI ARAKI
REGINALDO C. ROCHA
Professores e Pesquisadores do Instituto de Química
da Universidade de São Paulo

I
Concise inorganic chemistry
© 1 996 by Blackwell Publishing Ltd.

Química inorgânica não tão concisa


© 1999 Editora Edgard Blücher Ltda.
12a reimpressão - 201 8

Esta edição é publicada conforme acordo com a Blackwell


Publishing Ltd, Oxford.
Traduzida pela Editora Edgard Blücher Ltda., a partir da edição
em língua inglesa. A responsabilidade pela precisão da tradução
é apenas da Editora Edgard Blücher Ltda., não tendo a Blackwell
Publishing Ltd. responsabilidade pela mesma.

Blucher FICHA CATALOCRÁFICA

Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4° andar Lee,J. D.


04531-934 - São Paulo - SP - Brasil Química inorgânica nâo tão concisa / J. D. Lee;
Tel.: 55 1 1 3078-5366 tradução da 5a ed. Inglesa: Henrique E. Toma, Koiti
contato@blucher.com.br Araki, Reginaldo C. Rocha - São Paulo: Blucher, 1999.
www.blucher.com.br

Título original: Concise inorganic chemistry


Bibliografia.
ISBN 978-85-21 2-01 76-2

1. Química inorgânica 2. Química inorgânica -


Experiências I. Título.

É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer


meios sem autorização escrita da editora. 04-5238 CDD-546

Todos os direitos reservados pela Editora Edgard Blücher Lida. índices para catálogo sistemático:
1. Química inorgânica 546
V

PREFÁCIO DÃ 5? EDIÇÃO

Já se passaram 32 anos desde a publicação da utilizando explicações simples, os porquês das estruturas,
primeira edição do livro Química Inorgânica Concisa - propriedades e reatividade dos compostos. A maioria dos
um tempo relativamente longo para um livro. O tamanho capítulos traz uma seção de leituras complementares,
foi gradualmente e inevitavelmente crescendo, e por isso onde são enumerados artigos de fácil compreensão (em
fiquei satisfeito ao constatar que a quinta edição não era revistas científicas tais como o Journal of Chemical Edu-
maior que a quarta. Robert Baden-Powell (o fundador do cation, Chemistry in Britain e Education in Chemistry),
movimento dos escoteiros) disse: “Tanto para se fazer e referências em livros mais especializados, artigos de
tão pouco tempo!” Eu podería parafrasear essa idéia revisão (tais como no Quarterly Reviews, Coordination
dizendo: "Tanto para se escrever e tão poucas páginas!" Chemistry Reviews, e artigos de conferências e simpósios
Talvez o volume do livro tenha atingido seu máximo, e especializados). As referências a artigos mais antigos fo­
quem sabe na próxima edição seja menor. ram restritas àquelas de interesse especial ou histórico.
Os objetivos da quinta edição são exatamente os mes­ Por exemplo, os artigos originais sobre a utilização do
mos da primeira edição, ou seja: diagrama de Ellingham, a teoria de Sidgwick-Powell da
estrutura das moléculas e a descoberta do ferroceno e
• um livro-texto moderno de química inorgânica, que
dos supercondutores quentes.
seja extenso o suficiente para cobrir os tópicos essen­
ciais, mas sucinto o suficiente para ser interessante; A Química sempre foi e continua sendo uma área de
caráter aplicado. O provérbio “onde há detritos, há
• que tenha uma estrutura simples e lógica na qual os
dinheiro” é particularmente válido no caso da indústria
leitores possam encaixar seus conhecimentos e
extrapolá-los de modo a prever fatos ainda desco­ química. Se os produtos químicos não fossem necessários
nhecidos; e utilizados em grandes quantidades, não haveria a
necessidade de uma indústria química, nem de estu­
• que preencha a lacuna entre os livros do 2a grau e os dantes, de professores e de livros-textos de Química.
mais avançados;
Um professor americano me disse que classificava
• destinado principalmente aos alunos do Ia e 2a anos os livros de Química Inorgânica em duas classes: teóricos
dos cursos de Química, mas que também seja útil e aplicados. Para classificar um dado livro, primeiro ele
para aqueles que estão fazendo cursos universitários verificava se os métodos de extração dos dois metais mais
nos quais a Química é uma disciplina secundária. produzidos (Fe e Al) eram adequadamente descritos: quais
Algumas partes do livro são úteis inclusive para impurezas poderíam estar presentes e como os métodos
estudantes em nível mais avançado. foram adaptados para removê-los. Em segundo lugar,
• Acima de tudo, pretende ser um livro de fácil leitura verificava se o autor se delongava mais na descrição das
e compreensão. Por isso, o texto é baseado em ligações nos compostos de xenônio e no ferroceno que
aspectos descritivos da Química, combinado-se algu­ na da descrição do método de produção de amônia.
mas explicações a nível teórico. Finalmente, ele verificava se os métodos de produção e a
A estrutura do livro não foi alterada, sendo utilização dos fosfatos estavam sendo descritos adequa­
constituída por seis partes: conceitos teóricos e o hidro­ damente. Este livro foi intencionalmente estruturado de
gênio; elementos do bloco s, do bloco p, do bloco d, do forma que o meu amigo americano o classificasse como
bloco f e outros tópicos. Como nas edições anteriores, o “aplicado”. Durante muitos anos, tem havido uma
índice remissivo é bastante completo, contendo uma tendência no sentido de tornar o ensino de química mais
tabela de conteúdos bastante detalhada. Todos os teórico. Sempre haverá o interesse teórico em algum outro
capítulos foram atualizados e os grupos foram numerados estado de oxidação ou outro complexo incomum, mas o
de 1 a 18, de acordo com a recomendação da 1UPAC. O ponto de equilíbrio foi deslocado de modo a não excluir
conteúdo descritivo é preponderante, mas foram feitas os produtos comuns e aqueles comercialmente
tentativas no sentido de mostrar, sempre que possível e importantes.
VI

Acho importante que os estudantes saibam quais são descoberto que os gases nobres de fato formam compos­
os produtos comercialmente importantes, especialmente tos. A este se seguiu um período de extrema atividade no
aqueles produzidos em larga escala. Da mesma forma é sentido de preparar e compreender a ligação nos
importante saber quais são suas aplicações, seus processos compostos organometálicos, para muitos dos quais não
de produção e a origem da matéria-prima. Isso conecta a havia uma explicação coerente com as teorias vigentes.
Química com o mundo real, mas infelizmente poucos Os próximos avanços provavelmente ocorrerão em
livros chegam a apresentar esses detalhes. Os dados duas áreas: química bioinorgânica e novos materiais.
referentes à quantidade produzida de produtos químicos Muitos trabalhos em química bioinorgânica vem sendo
e os principais produtores das matérias-primas foram realizados com o objetivo de desvendar o mecanismo de
totalmente atualizados. Tais dados foram extraídos atuação das enzimas e dos catalisadores, da hemoglobina
principalmente do World Mineral Statistics, publicado pela e da clorofila, e como as bactérias conseguem fixar
British Geological Survey; do Industrial Statistics Year- nitrogênio atmosférico tão facilmente enquanto para nós
book, publicado pelas Nações Unidas (Nova York); e os é tão difícil. Os trabalhos no campo dos novos materiais
dados coletados junto a cerca de 250 empresas. Os valores, incluem os polímeros, as ligas, os supercondutores e
que tem variado muito pouco de ano para ano, ilustram semicondutores. Eu espero que este livro não ajude os
a escala de produção/utilização e identificam os principais estudantes somente a passar nas provas, mas que os façam
fornecedores de matéria-prima. Além de descrever em compreender e os estimulem a estudar mais profunda­
detalhes a produção de produtos básicos como H2SO4, mente os assuntos envolvidos.
NH3, NaOH, Cl2, O2 e N2, outros materiais importantes
Este livro trata principalmente da Química dos Ele­
tais como cimento e aço, polietileno, silicones, teflon,
mentos, o qual é considerado do escopo da Química
sabão e detergentes, também foram contemplados.
Inorgânica. Eu acho contra-producente os estudantes
A Química é interessante e está acontecendo em compartimentalizarem as informações, visto que os
nossa volta. Muitas aplicações em pequena escala, mas conceitos envolvidos na discussão de um determinado
fascinantes, também são descritas e explicadas. Dentre assunto podem ser os mesmos de um outro, de modo
eles podem ser citados o fermento químico, a fotografia, que os limites entre eles são parcialmente artificiais. O
os supercondutores, os transistores, as fotocopiadoras, o livro incorpora as informações sobre a Química dos
método de datação pelo carbono, a bomba atômica, as Elementos sem se preocupar com a sua classificação nas
aplicações dos radioisótopos, etc. diversas áreas. Assim, muitas vezes vamos cruzar os
Atualmente, existe uma maior consciência dos limites da química analítica, da bioquímica, da ciência
problemas ambientais. Assim, problemas relacionados dos materiais, da química nuclear, da química orgânica,
com os freons e a camada de ozone, a substituição dos da física e da química dos polímeros. É importante lembrar
clorofluorocarbonos, o efeito estufa, a chuva ácida, a que em 1987 os trabalhos sobre complexos usando éteres-
poluição por chumbo, os efeitos tóxicos do estanho, do coroa e criptatos, com forte apelo biológico, recebeu o
mercúrio e do amianto, os problemas causados pelo uso Prêmio Nobel de Química; e as descobertas no campo
excessivo de fosfatos e nitratos, e os efeitos tóxicos de dos supercondutores quentes foram premiadas com o
vários materiais sobre a qualidade da água potável são Nobel de Física. Ambos envolvem a Química. Alguém
discutidos no livro. Em outras seções, também, são poderia questionar se os fullerenos são compostos
discutidos o desenvolvimento da bomba atômica e o uso inorgânicos ou orgânicos!
pacífico da energia nuclear. Torna-se inevitável num livro deste porte e complexi­
Apesar da maior parte da Química Inorgânica estar dade que hajam eventuais erros. Todos são meus e me
consolidada, ela está viva, de modo que a forma corrente esforçarei para corrigi-los nas edições futuras; e sempre
de se pensar e o encaminhamento dos trabalhos futuros estarei aberto às contribuições dos leitores. O último
estão sendo constantemente alterados. Em particular, parágrafo do prefácio da primeira edição é reproduzida
nossa concepção de ligação química tem mudado. Até abaixo:
1950, a Química Inorgânica era preponderantemente Uma grande parte da Química é muito fácil, mas
descritiva. A pesquisa e o desenvolvimento que culmi­ uma pequena parte é extremamente difícil. Eu não
naram na invenção da bomba atômica, em 1946, provavel­ encontro uma maneira melhor de finalizar que citando o
mente foi o maior feito da Química no século. Seu mo- saudoso Prof. Silvanus P. Thompsom em seu livro Calcu­
mentum levou a descoberta de muitos elementos novos las Made Easy : “Eu gostaria de presentear meus colegas
das séries dos lantanídios e actinídios. Essa era foi seguida tolos com as partes que não são difíceis. Domine-as
por um período onde o interesse se voltou para os aspectos completamente e a compreensão das demais partes
físicos da Química Inorgânica, no qual ao invés de apenas ocorrerá naturalmente. O que um tolo pode fazer outros
se observar o que estava acontecendo, passamos a nos também poderão".
perguntar por quê. A termodinâmica e a cinética foram J.D. Lee
utilizadas para explicar as reações químicas; as
propriedades magnéticas e a espectroscopia uv-vis foram Loughborough 1996
exploradas. Havia uma explosão de atividade quando foi
VII

UWBSãDES 51

As unidade SI foram adotadas neste livro, facili­ As posições dos picos de absorção nos espectros são
tando a comparação das propriedades termodinâmicas. indicadas em números de onda, cm’1, porque os ins­
As energias de ionização são apresentadas em kJ • mol-1 trumentos são calibrados nessa unidade. Deve-se frisar
em vez de eV. Dados mais antigos de outras fontes que esta não é uma unidade do sistema SI, devendo
estão em eV, mas podem ser convertidos em ser multiplicada por 100 para ser convertido em
unidades SI (1 kcal = 4,184 kJ, e 1 eV = 23,06 x unidades SI (m1), ou por 11,96 para se obter o resultado
4,184 kJ • mol’1). em J-mol’1.
A unidade SI para comprimento é o metro, mas A unidade SI para densidade é kg • m'3, fazendo com
os comprimentos de ligações são às vezes expressos que a densidade da água seja igual a 1.000 kg - m’3. Essa
em nanômetros (1 nm=10’9 m). Contudo, o convenção não é muito aceita. Assim, a unidade antiga,
àngstrõm é uma unidade de comprimento permitida g ■ cm-3, foi mantida, de modo que a densidade da água
(1 Â = 10"10 m), sendo amplamente utilizada por seja igual a 1 g-cm'3.
cristalógrafos, pois os comprimentos de ligação se Nos tópicos sobre magnetismo tanto as unidades do
encontram num intervalo bastante apropriado de sistema SI como o Debye foram utilizados, e a relação
valores. A maioria das ligações tem comprimentos entre elas foi explicada. Para um químico inorgânico que
entre 1 e 2 Â (0,1 a 0,2 nm). Assim, o àngstrõm foi simplesmente deseja o número de elétrons desempare-
utilizado como unidade no caso dos comprimentos Ihados num íon de um metal de transição, a unidade
de ligação. debye é muito mais conveniente.
VIII

J LWEBSSLATBBA
Uã TABELA PEBBÉEBEA
Durante muito tempo os químicos ordenaram os ele­ Nas primeiras versões deste livro, os grupos dos
mentos da Tabela Periódica em grupos, de modo a elementos do bloco s e p foram numerados de I a VII e 0,
relacionar as estruturas eletrônicas dos elementos com dependendo do número de elétrons na camada de valência
as suas propriedades, simplificando assim o seu estudo. dos átomos. Por sua vez, os grupos dos elementos de
Vários métodos de nomear os grupos têm aparecido. transição foram tratados como se pertencessem a tríades,
Em diversos livros, os grupos dos elementos represen­ sendo os grupos denominados de acordo com o primeiro
tativos e dos de transição são denominados subgrupos A elemento de cada grupo.
e B, respectivamente, como na tabela periódica de A IUPAC (International Union of Pure and Applied
Mendeleef de 50 anos atrás. Sua desvantagem está na Chemistry) recomendou que os grupos dos elementos
supervalorização de pequenas similaridades entre os representativos e de metais de transição fossem numera­
elementos dos subgrupos A e B, alem de haver um grande dos de 1 a 18. O número de adeptos desse sistema está
número de elementos no Grupo VIII. aumentando e por isso foi adotado neste livro.

I II III IV V VI VII 0
IA IIA IIIB IVB VB VIB VIIB 0
IIIA IVA VA VIA VIIA (••• VIII -) IB IIB
H He
Li Be B C N O F Ne
Na Mg Al Si P S Cl Ar
K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Po At Rn

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
IX

COFJTEÚDO

Prefácio à quinta edição.................... ...V A teoria de Sidgwick - Powell................................................ 39


Unidades SI.......................................... • VII Teoria da repulsão dos pares de elétrons da camada de
A nomenclatura na tabela periódica VIII valência..................................................................................... ■39
Alguns exemplos de aplicação da “Teoria da repulsão dos
pares de elétrons da camada de valência” (VSEPR) .......... 40 •
PARTE I — CONCEITOS TEÓRICOS E HIDROGÊNIO
A teoria da ligação de valência................................................ ■43
Capítulo 1 — Estrutura atômica e tabela periódica.................... 1 Participação do orbital d nas ligações em moléculas......... ■45
O átomo como um núcleo com elétrons circundantes...... 2 Ligações a e ligações n.............................................................. •46
Espectros atômicos do hidrogênio e a teoria de Bohr.......... . 1 Método dos orbitais moleculares .......................................... 47
Refinamentos na teoria de Bohr............................................... 3 Método da combinação linear de orbitais atômicos
A natureza dual dos elétrons — partículas ou ondas.......... 5 (CLOA)....................................................................................... 48
O princípio da incerteza de Heisenberg................................ . 5 Regras para a combinação linear de orbitais atômicos.........51
A equação de onda de Schrõdinger......................................... 5 Exemplos da aplicação da teoria dos orbitais moleculares
Funções radiais e angulares...................................................... 7 para moléculas diatômicas homonucleares......................... 52
O princípio de exclusão de Pauli............................................ . 9 Exemplos da applicação da teoria dos orbitais moleculares
A regra de Hund e a construção dos átomos......................... 9 para moléculas diatômicas heteronucleares ........................ 56
Seqüência de níveis energéticos............................................ 11 Exemplos da aplicação da teoria dos orbitais moleculares
Disposição dos grupos de elementos na tabela periódica. 11 no caso de ligações n deslocalizadas.................................... 58
Leituras complementares....................................... 12 Sumário sobre estruturas com ligações n multicentradas.. 60
12 Método do átomo unido .................................................... 60
Problemas.................................................................
Capítulo 2 — Introdução à ligação química............ 14 Leituras complementares........................................... .61
Em busca de uma configuração estável............ 14 Problemas............................................................................... 61
Tipos de ligações.................................................... 14 Capítulo 5 — Ligação metálica.................................................. 62
teansições entre os principais tipos de ligações 15 Propriedades gerais dos metais......................................... 62
Capítulo 3 — A ligação iônica..................................... 21 Teorias de ligação nos metais............................................ 65
Estruturas dos sólidos iônicos ............................ 21 Condutores, isolantes e semicondutores......................... 67
Regras sobre as relações de raios....................... 21 Ligas....................................................................................... 67
Cálculos de alguns valores limites das relações de raios 21 Supercondutividade............................................................. 71
Empacotamento compacto....................................... 22 Leituras complementares..................................................... 73
Classificação das estruturas iônicas...................... 23 Problemas.............................................................................. 74
Compostos iônicos do tipo AX (ZnS,NaCl,CsCl) . 23 Capítulo 6 — Propriedades gerais dos elementos................. 75
Compostos iônicos do tipo AX2 (CaF2,TiO2,SiO2) 24 Tamanho dos átomos e dos íons....................................... 75
Estrutura em camadas (Cdl2,CdCl2,[NiAs]) ......... 25 Energias de ionização......................................................... 76
Uma visão mais crítica da relação de raios.......... 26 Afinidade eletrônica............................................................ 79
Um alerta sobre relações de raios................................ 27 Ciclo de Bom-Haber............................................................ 79
Energia reticular............................................................ .28 Poder polarizante e polarizabilidade - Regras de Fajans 79
Características dos sólidos......................................... 30 Eletronegatividade............................................................... 79
Defeitos estequiométricos ......................................... 30 Caráter metálico................................................................... 83
Defeitos não-estequiométricos................................. .31 Valências variáveis e estados de oxidação variáveis..... 84
Semicondutores e transistores................................. 33 Potenciais padrão de eletrodo e série eletroquímica..... 84
Retificadores ................................................................ 33 Reações de oxidação-redução............................................ 87
Célula fotovoltaica................................................ . 35 Aplicação dos potenciais de redução............................... 88
TYansistores.................................................................. 35 Ocorrência e obtenção dos elementos............................. 91
Dispositivos semicondutores microminiaturizados Relações horizontais, verticais e diagonais na tabela
— circuitos integrados................................................ 36 periódica............................................................................... 95
Leituras complementares............................................. 36 Leituras complementares........................................... 97
Problemas...................................................................... 37 Problemas.............................................................................. 97
Capítulo 4 — A ligação covalente..................................... 38 Capítulo 7 — Compostos de coordenação............................... 99
Introdução.................................................................... 38 Sais duplos e compostos de coordenação........................ 99
A teoria de Lewis........................................................ 38 O trabalho de Wemer......................................................... 99
X
Métodos mais recentes para o estudo de complexos 101 Compostos com carbono........................................................ 152
Números atômicos efetivos........................................ 102 Compostos orgânicos e organometálicos............................. 153
Formas dos orbitais d................................................... 103 Complexos com éteres-coroa e criptandos .......................... 154
Ligações em complexos de metais de transição...... 103 Importância biológica............................................................. 155
Teoria da ligação de valência...................................... 103 Diferenças entre o lítio e os demais elementos do grupo I.... 155
Teoria do campo cristalino......................................... 104 Leituras complementares.................................................. 156
Complexos octaédricos................................................ 107 Problemas........................................................................... 157
Efeitos do desdobramento do campo cristalino ............. 107 Capítulo 10 — Indústria de cloro e de álcalis..................... 158
Distorção tetragonal em complexos octaédricos (distorção Processo Leblanc ............................................................. 158
de Jahn-Teller).......................................................................... 109 Os processos Weldon e Deacon ..................................... 159
Arranjos quadrado-planares................................................. 110 O processo eletrolítico..................................................... 159
Complexos tetraédricos............................................................ 111 Células de diafragma....................................................... 160
Quelatos..................................................................................... 113 A célula de cátodo de mercúrio..................................... 160
Magnetismo............................................................................. 114 Produção............................................................................ 161
Extensão da teoria do campo cristalino com incorporação Carbonato de sódio.......................................................... 161
do caráter covalente................................................................ 115 O processo Solvay (ou processo amônia-soda)........... 162
Teoria dos orbitais moleculares............................................ 115 Leituras complementares.................................................. 162
Nomenclatura de compostos de coordenação..................... 116 Problemas........................................................................... 162
Isomeria................................................................................... 117 Capítulo 11 — Grupo 2 — Elementos alcalinos terrosos.. 163
Leituras complementares........................................................ 119 Introdução......................................................................... 163
Problemas................................................................................... 120 Estrutura eletrônica......................................................... 163
Capítulo 8 — O hidrogênio e os hidretos.................................... 122 Ocorrência e abundância................................................ 163
Estrutura eletrônica................................................................. 122 Obtenção dos metais....................................................... 164
Posição na tabela periódica................................................... 122 Tamanho dos átomos e dos íons................................... 165
Abundância do hidrogênio.................................................... 122 Energia de ionização ....................................................... 166
Obtenção do hidrogênio......................................................... 123 Eletronegatividade............................................................ 166
Propriedades do hidrogênio molecular................................ 123 Energias de hidratação..................................................... 166
Isótopos de hidrogênio .......................................................... 124 Comportamento anômalo do berílio............................. 166
Orto- e para- hidrogênio........................................................ 126 Solubilidade e energia reticular...................................... 167
Hidretos....................................................................................126 Soluções dos metais em amônia líquida...................... 168
O íon hidrogênio..................................................................... 129 Propriedades químicas.................................................... 168
Ligações de hidrogênio.......................................................... 130 Hidróxidos ........................................................................ 169
Ácidos e bases.........................................................................131 Dureza da água................................................................. 169
Leituras complementares........................................................ 136 Reações com ácidos e bases........................................... 169
Problemas..................................................................................137 Óxidos e peróxidos.......................................................... 170
Sulfatos.............................................................................. 171
PARTE 2 — ELEMENTOS DO BLOCO s Nitratos.............................................................................. 171
Capítulo 9 — Grupo 1 — Os metaisalcalinos............................. 139 Hidretos............ ................................................................ 172
Introdução................................................................................ 139 Haletos .............................................................................. 172
Ocorrência e abundância...................................................... 139 Nitretos.............................................................................. 173
Obtenção de metais................................................................ 140 Carbetos............................................................................. 173
Aplicação dos metais do grupoI e de seus compostos .... 141 Sais insolúveis.................................................................. 174
Estrutura eletrônica.................................................................141 Compostos organometálicos.......................................... 174
Tamanho dos átomos e íons.................................................. 141 Complexos ........................................................................ 175
Densidade................................................................................ 142 Importância biológica do Mg2+ e do Ca2+................... 177
Energia de ionização.............................................................. 142 Diferenças entre o berílio e dos demais elementos do
Eletronegatividade e tipos de ligação................................... 142 grupo 2.............................................................................. 177
O ciclo de Born-Haber: variações de energia na formação Leituras complementares................................................. 177
de compostos iônicos............................................................. 143 Problemas........................................................................... 177
Estrutura cristalina dos metais, dureza e energia de
coesão ............................................................................... 144 PARTE 3 — ELEMENTOS DO BLOCO p
Pontos de fusão e de ebulição...................................... 144 Capítulo 12 — Os elementos do Grupo 13.................. 180
Teste de chama e espectros........................................... 144 Propriedades gerais................................................. 180
Cor dos compostos.......................................................... 145 Ocorrência e abundância....................................... 180
Propriedades químicas.......................................... '■........ 145 Obtenção e usos dos elementos............................ 181
Óxidos, hidróxidos, peróxidos e superóxidos............ 146 Estados de oxidação e tipos de ligações............... 182
Sulfetos............................................................................. 148 Pontos de fusão, pontos de ebulição e estruturas 183
Hidróxido de sódio......................................................... 148 Tamanho de átomos e íons..................................... 184
Hidrogenocarbonato de sódio (bicarbonato de sódio) 148 Caráter eletropositivo ............................................. 185
Sulfato de sódio.............................................................. 148 Energia de ionização.............................................. 185
Oxossais - carbonatos, bicarbonatos, nitratos enitritos... 149 Reações do boro....................................................... 186
Haletos e poli-haletos.............................................................149 Reações dos demais elementos............................. 186
Hidretos.................................................................................... 150 Algumas propriedades do tálio (I)........................ 187
Solubilidade e hidratação.......................................................150 Compostos de boro e oxigênio............................... 188
Soluções dos metais alcalinos em amônia líquida..............152 Os demais óxidos do grupo 13............................... 191
XI

Tetra-hidretoboratos (boro-hidretos)..................................... 192 A série dos ácidos fosfóricos ................................................ 257


TH-haletos................................................................................. 193 A série dos ácidos fosforosos................................................ 260
Di-haletos................................................................................... 194 Principais aplicações dos fosfatos ....................................... 261
Mono-haletos.............................................................................195 Sulfetos de fósforo.................................................................. 261
Complexos................................................................................ 195 Fosfazenas e ciclofosfazenas (compostos fosfonitrílicos) . 262
Diferenças entre o boro e os demais elementos do grupo 195 Compostos organometálicos.................................................. 264
Hidretos de boro...................................................................... 195 Leituras complementares..........................................................264
Reações dos boranos............................................................... 197 Problemas................................................................................... 266
Estruturas dos boranos........................................................... 198 Capitulo 15 — Grupo 16 — Calcogênios......................................267
Compostos organometálicos................................................... 199 Propriedades gerais................................................................. 267
Leituras complementares..........................................................200 Configuração eletrônica e estados de oxidação................... 268
Problemas................................................................................... 201 Abundância dos elementos.................................................... 268
Capítulo 13 — Os elementos do grupo 14................................... 202 Obtenção e usos dos elementos............................................ 268
Introdução................................................................................. 202 Estrutura e alotropia dos elementos..................................... 271
Ocorrência dos elementos...................................................... 202 A química do ozônio............................................................... 273
Obtenção e aplicações dos elementos.................................. 203 Estados de oxidação ( + 11), (+ IV) e ( + VI)......................... 274
Estrutura e alotropia dos elementos..................................... 205 Comprimentos de ligação e ligações pn-dtt......................... 275
Diferenças entre o carbono, o silício e os demais Diferenças entre o oxigênio e os demais elementos........... 275
elementos do grupo................................................. 206 Propriedades gerais dos óxidos.............................................. 275
Datação com carbono radioativo .......................... 207 Óxidos de enxofre, selênio, telúrio e polônio...................... 277
Propriedades físicas................................................. 207 Oxoácidos de enxofre.............................................................. 280
Reatividade química................................................ 208 Oxoácidos de selênio e telúrio............................................... 284
Efeito do par inerte.................................................. 208 Oxo-haletos............................................................................... 284
Potenciais padrão de redução (volt)..................... 208 Hidretos..................................................................................... 284
Compostos de grafite............................................... 208 Haletos .......................................................................................288
Carbetos..................................................................... 210 Compostos do enxofre com nitrogênio ................................ 290
Compostos contendo oxigênio............................... 211
Derivados orgânicos.................................................................290
Carbonatos................................................................ 214
Leituras complementares.......................................................... 291
O ciclo do carbono.................................................. 214
Problemas................................................................................... 292
Sulfetos...................................................................... 215
Capítulo 16 — Crupo 17 — Os halogênios.................................. 293
Os óxidos de silício................................................. 216
Introdução................................................................................. 293
Óxidos de germânio, estanho e chumbo.............. 217
Ocorrência e abundância....................................................... 294
Silicatos..................................................................... 217
Obtenção e aplicações dos elementos.................................. 294
Classificação dos silicatos...................................... 218
Energia de ionizaçâo.............................................................. 298
Os silicatos na tecnologia....................................... 223
Tipos de ligação formados e estados de oxidação.............298
Compostos organossilícicos e os silicones........... 224
Pontos de fusão e pontos de ebulição.................................. 299
Hidretos ..................................................................... 227
228 Energia de ligação na molécula X2........................................ 299
Cianetos .....................................................................
Poder oxidante......................................................................... 299
Complexos................................................................ 228
229 Reação com água ................................................................ 300
Ligações tt internas usando orbitais d...................
229 Reatividade dos elementos.................................................... 301
Tetra-haletos.............................................................
Di-haletos.................................................................. 231 Haletos de hidrogênio HX......................................................301
Agregados ("clusters”)............................................ .232 HF.............................................................................................. 301
Mecanismo de reação............................................. ,232 HC1............................................................................................. 302
Derivados orgânicos................................................ .232 HBr e HI.................................................................................... 302
Leituras complementares......................................... .233 Haletos ..................................................................................... 304
Problemas................................................................... .234 Óxidos de halogênio............................................................... 305
Capítulo 14 — Os elementos do grupo 15................... .236 Oxoácidos................................................................................ 308
Configurações eletrônicas e estados de oxidação .236 Compostos interhalogenados................................................ 312
Ocorrência, obtenção e usos.................................. .236 Poli-haletos............................................................................... 315
Propriedades gerais e estruturas dos elementos .. .238 Propriedades básicas dos halogênios................................... 316
Tipos de ligações ..................................................... .240 Pseudo-halogênios e pseudo-haletos................................... 317
Caráter metálico e não-metálico............................ .240 Leituras complementares......................................................... 318
Reatividade.............................................................. .241 Problemas.................................................................................. 318
Hidretos .................................................................... .241 Capítulo 17 — Grupo 18 — Os gases nobres............................ 319
A amônia líquida como solvente.......................... .245 Nome do grupo e configurações eletrônicas...................... 319
Azotetos.................................................................... .245 Ocorrência e obtenção dos elementos ................................ 319
Fertilizantes............................................................. .246 Aplicações dos elementos..................................................... 320
Fixação de nitrogênio............................................ .246 Propriedades físicas................................................................ 320
Uréia.......................................................................... .248 Propriedades especiais do hélio........................................... 320
Fertilizantes fosfatados .......................................... .248 Propriedades químicas dos gases nobres ........................... 321
Haletos ..................................................................... .249 Química do xenônio............................................................... 321
Óxidos de nitrogênio.............................................. .250 Estrutura e ligação nos compostos de xenônio.......... ....... 323
Oxiácidos do nitrogênio......................................... .253 Observações finais................................................................. 325
Óxidos do fósforo, arsênio e bismuto................. .255 Leituras complementares........................................................ 326
Oxoácidos do fósforo............................................. .256 Problemas.......................................... ....................................... 326
XII
PARTE 4 — OS ELEMENTOS DO BLOCO d Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + 1) ... 367
Capítulo 18 — Introdução aos elementos de transição............ 328 Estados de oxidação zero (-1) e (-11)................................... 367
Introdução................................................................................. 328 Cromatos, molibdatos e tungstatos ......................................368
Caráter metálico....................................................................... 280 Bronzes de tungstênio........................................................... 369
Estado de oxidação variável.................................................. 328 Importância biológica............................................................. 370
Complexos ................................................................................328 Leituras complementares......................................................... 370
Tamanho de átomos e íons..................................................... 331 Capítulo 23 — Grupo 7 — O Grupo do manganês.................... 371
Densidade................................................................................. 332 Introdução................................................................................. 371
Pontos de fusão e de ebulição.............................................. 333 Abundância, obtenção e usos................................................ 371
Reatividade dos metais........................................................... 333 Estados de oxidação............................................................... 372
Energias de ionização............................................................. 333 Propriedades gerais................................................................ 372
Cor............................................................................................. 333 Compostos dos elementos em estados de oxidação
Propriedades magnéticas....................................................... 334 inferiores................................................................................... 373
Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + II).. 374
Propriedades catalíticas..........................................................334
Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + III). 375
Não-estequiometria................................................................. 338
Compostos dos elementos no estado de oxidação (+ IV). 376
Abundância.............................................................................. 339
Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + V).. 378
Diferenças entre a primeira série e as outras duas séries
de transição.......................................................................... 339 Compostos dos elementos no estado de oxidação ( +VI). 378
Leituras complementares............................................ 340 Compostos dos elementos no estado de oxidação ( +VII) 378
Problemas............................................................................... 340 Importância biológica............................................................379
Capítulo 19 — Grupo 3 — O Grupo do escândio................... 342 Leitura complementares......................................................... 380
Introdução............................................................................. 342 Capítulo 24 — Grupo 8 — O Grupo do ferro.............................. 381
Ocorrência, separação, obtenção e aplicações................ 342 Grupo do ferro, do cobalto e do níquel................................ 381
Introdução ao grupo do ferro................................................. 381
Estado de oxidação ............................................................. 343
Abundância, obtenção e usos................................................381
Tamanho............................................................................... 343
Obtenção do ferro ................................................................... 382
Propriedades químicas........................................................ 343
Fabricação do aço ................................................................... 383
Complexos ........................................................................... 344
Obtenção de rutênio e do ósmio.......................................... 385
Leituras complementares............................................ 344
Estados de oxidação............................................................... 385
Capítulo 20 — Grupo 4 — O grupo do titânio........................ 345
Propriedades gerais................................................................ 385
Introdução............................................................................ 345
Compostos dos elementos em estados de oxidação
Ocorrência e abundância................................................... 345 baixos........................................................................................386
Obtenção e usos.................................................................. 345 Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + II).. 387
Estados de oxidação....................... ................................... 346 Compostos dos elementos no estado de oxidação (+ III). 389
Tamanho............................................................................... 347 Compostos dos elementos no estado de oxidação (+1V). 391
Reatividade e passivação................................................... 347 Compostos dos elementos no estado de oxidação ( +V).. 391
O estado (+ IV).................................................................... 347 Compostos dos elementos no estado de oxidação (+ VI). 392
O estado (+ III).................................................................... 349 Compostos dos elementos no estado de oxidação (+ VIII) 392
Compostos organometálicos.............................................. 350 A química bioinorgânica do ferro......................................... 392
Leituras complementares..................................................... 351 Complexos com ciclopentadienil e análogos ...................... 394
Capítulo 21 — Grupo 5 — O Grupo do vanádio..................... 352 Leituras complementares......................................................... 395
Introdução............................................................................ 352 Capítulo 25 — Grupo 9 — O Grupo do cobalto......................... 397
Abundância, obtenção e usos............................................ 352 Ocorrência, obtenção e usos.................................................. 397
Estados de oxidação........................................................... 353 Estados de oxidação............................................................... 398
Tamanho............................................................................... 353 Propriedades gerais................................................................ 398
Propriedades gerais............................................................ 353 Compostos dos elementos nos estados de oxidação
Cor......................................................................................... 354 inferiores................................................................................... 399
Compostos com nitrogênio, carbono e hidrogênio......... 354 Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + 1)... 399
Haletos ................................................................................. 354 Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + 11) ..400
ÓxidoS ....:............................................................................. 357 Compostos dos elementos no estado de oxidação (+ III). 402
Vanadatos........................... :................................................ 357 Compostos dos elementos no estado de oxidação (+1V). 404
Compostos dos elementos em estados de oxidação Estados de oxidação (+ V) e (+ VI) ................................... 405
inferiores.................................................................................. 359 Leituras complementares......................................................... 405
Compostos organometálicos................................................. 359 Capítulo 26 — Grupo 10 — O Grupo do níquel......................... 406
Leituras complementares.................................................. 359 Introdução................................................................................ 406
Capítulo 22 — Grupo 6 — O Grupo do crômio.......................... 360 Ocorrência, obtenção e usos.................................................. 406
Introdução................................................................................ 360 Estados de oxidação............................................................... 408
Abundância, obtenção e usos............................................... 360 Propriedades gerais................................................................ 408
Estados de oxidação............................................................... 361 Compostos dos elementos nos estados de oxidação
Propriedades gerais................................................................ 361 baixos (-1), (0) e ( + 1)........................................................... 409
Compostos dos elementos no estado de oxidação (+ VI). 362 Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + 11) ..409
Compostos dos elementos no estado de oxidação (+ V).. 364 Compostos dos elementos no estado de oxidação (+ III). 412
Compostos dos elementos no estado de oxidação (+ IV). 364 Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + IV). 412
Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + III). 364 Estados de oxidação (+ V) e (+ VI) .................................... 413
Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + 11).. 366 Comparações horizontais nos grupos do ferro, cobalto
XIII

e níquel............................... 413 Leituras complementares. 459


Leituras complementares.......................................................... 414 Problemas.......................... 460
Capítulo 27 — O Grupo 11 — O Grupo do cobre........................ 415
Introdução..................................................................................415 PARTE 6 — OUTROS TÓPICOS
Abundância, obtenção e usos dos elementos..................... 415 Capítulo 31 — O núcleo dos átomos..................................... 462
Estados de oxidação................................................................ 417 Estrutura do núcleo......................................................... 462
Propriedades gerais..................................................................417 Forças no interior do núcleo.......................................... 463
Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + 1)... 418 Estabilidade e a relação entre nêutrons/prótons........ 464
Compostos dos elementos no estado de oxidação (+ II).. 420 Tipos de decaimento...................................................... 464
Compostos dos elementos no estado de oxidação (+ III). 422 Radiação gama................................................................ 465
Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + V) ..423 Tempo de meia-vida........................................................ 466
Importância biológica do cobre............................................. 423 Energia de ligação nuclear e estabilidade nuclear..... 466
Leituras complementares..........................................................424 Decaimento alfa............................................................... 466
Capítulo 28 — Grupo 12 — O Grupo do Zinco...........................425 Leis do decaimento radioativo...................................... 467
Introdução................................................................................. 425 Séries de decaimentos radioativos................................ 467
Abundância e ocorrência....................................................... 425 Reações nucleares induzidas......................................... 468
Obtenção e usos....................................................................... 426 Fissão nuclear................................................................... 468
Estados de oxidação................................................................ 427 A história do desenvolvimento da bomba atômica ... 469
Tamanho................................................................................... 427 Usinas nucleares para a produção de energia elétrica 471
Energias de ionizaçâo..............................................................427 Tipos de reatores em uso............................................... 472
Propriedades gerais................ .................................................428 Fusão nuclear................................................................... ,472
Óxidos....................................................................................... 429 A origem dos elementos................................................. 474
Di-haletos.................................................................................. 430 Algumas aplicações de isótopos radioativos............... .476
Complexos ................................................................................ 430 Algumas unidades e definições..................................... .477
Compostos de mercúrio (+1) ................................................ 430 Leituras complementares........................................ .477
Policátions................................................................................. 432 Problemas........................................................................... .477
Compostos organometálicos.................................................. 432 Capítulo 32 — Espectros.......................................................... .479
Importância biológica do zinco..............................................433 Níveis de energia num átomo........................................ .479
Toxicidade do cádmio e do mercúrio.................................... 433 Determinação dos termos do estado fundamental —
regras de Hund................................................................. 482
Leituras complementares......................................................... 434
Determinação dos termos usando as lacunas............. 483
Problemas (referentes aos capítulos 19 a 28)........................ 434
Determinação do número de microestados................ 484
Espectros eletrônicos de complexos de metais de
PARTE 5 — OS ELEMENTOS DO BLOCO f transição............................................................................ 485
Capítulo 29 — A série dos lantanídios......................................... 437 Desdobramento dos níveis de energia eletrônicos e
Introdução................................................................................. 437 estados expectroscópicos............................................... 486
Configuração eletrônica.......................................................... 437 Espectros de íons d1 e d9................................................. 487
Estados de oxidação................................................................ 438 Espectros de íons d2 e d8................................................. 488
Abundância e número de isótopos....................................... 438 Espectros de íons d5......................................................... 492
Obtenção e usos....................................................................... 439 Diagramas de Tanabe-Sugano........................................ 493
Separação dos elementos latanídios..................................... 439 Leituras complementares................................................. 494
Propriedades químicas dos compostos dos elementos no Problemas........................................................................... 494
estado de oxidação (+ III)...................................................... 441
Compostos dos elementos no estado de oxidação (+ IV). 442 APÊNDICES
Compostos dos elementos no estado de oxidação ( + 11) ..442 A— Abundância dos elementos na crosta terrestre... 495
Solubilidade ..............................................................................443 B— Pontos de fusão dos elementos............................ 496
Cor e espectros......................................................................... 443 C— Pontos de ebulição dos elementos........................ 497
Propriedades magnéticas ........................................................444 D— Densidade dos elementos sólidos e líquidos...... 498
Contração lantanídica................................................ 445 E— Configurações eletrônicas dos elementos........... 499
Complexos ................................................................................ 446 Valores médios de algumas energias de ligação . 500
F—
Leituras complementares.......................................................... 446 G— Solubilidade em água de compostos dos grupos
Problemas................................................................................... 447 representados................................................................ 501
Capítulo 30 — Os actinídios............................................................448 H— Massas atômicas............................................................502
Configuração eletrônica e posição na tabela periódica .... 448 I— Valores de algumas constantesfísicas......................... 503
Estados de oxidação................................................ 449 J— Resistividade elétricados elementos .......................... 504
Ocorrência e obtenção dos elementos.................................. 450 L— 50 produtos químicos mais produzidos nos Estados ...
Preparação dos actinídios........................................................ 450 Unidos.................................................................... 505
cnc
Propriedades gerais..................................................................452 M— Produtos químicos inorgânicos produzidos em
Tório .......................................................................................... 453 larga escala............................................................ 506
Protactínio................................................................................. 453 N— Minerais usados em larga escala................. ...... 507
Urânio ............................................ 454 O— Dureza dos minerais — escala de Mohs.......... 508
Neptúnio, plutônio e amerício............................................... 457 P— Livros-textos de referência.................................. 509
Os elementos actinídios posteriores ..................................... 457
Novos elementos transurânicos.............................................458 ÍNDICE ALFABÉTICO. 510

§

Iü ©»®
1

estrutura atümica
E TABELA PERIÓDICA
O ÁTOMO COMO UM NÚCLEO COM
a) Elétron b)
ELÉTRONS CIRCUNDANTES circundante
Todos os átomos são constituídos por um núcleo cen­
tral rodeado por um ou mais elétrons circundantes. O núcleo
sempre contém prótons e todos os núcleos mais pesados He i

que o hidrogênio também contêm nêutrons. Juntos, os /


prótons e os nêutrons perfazem a maior parte da massa do ■" -x- "
Núcleo
átomo. Tanto os prótons como os nêutrons são partículas de
massa unitária, mas o próton possui uma carga positiva e o
nêutron é eletricamente neutro (isto é, não possui carga). Figura 1.1 — As estruturas do a) hidrogênio, símbolo H, número
Logo, o núcleo sempre é positivamente carregado. O número atômico 1; eb) hélio, símbolo He, número atômico 2
de cargas positivas no núcleo é exatamente equilibrado por
um igual número de elétrons circundantes, cada um dos No modelo planetário simples do átomo imaginamos
quais possui uma carga negativa. O elétron é relativamente que esses elétrons se movem em tomo do núcleo em órbitas
leve — possui cerca de 1/1.836 da massa do próton. Os 103 circulares, de modo semelhante ao movimento dos planetas
elementos por enquanto conhecidos são todos constituídos em torno do sol. Assim, o hidrogênio e o hélio (Fig. 1.1)
possuem um e dois elétrons, respectivamente, em sua
pela simples combinação dessas três partículas
primeira órbita. A primeira órbita estará então completa. Os
fundamentais.
oito átomos seguintes são o lítio, o berüio, o boro, o carbono,
O hidrogênio é o primeiro e mais simples dos elementos. o nitrogênio, o oxigênio, o flúor e o neônio. Cada um deles
Ele é constituído por um núcleo que contém um próton e possui no núcleo um próton a mais que o elemento anterior
tem, portanto, uma carga positiva, a qual é contrabalançada e os elétrons correspondentes vão para uma segunda órbita
por um elétron circundante contendo uma carga negativa. (Fig. 1.2). Assim a segunda órbita estará preenchida no
O segundo elemento é o hélio. Seu núcleo contém 2 prótons neônio. Nos próximos oito elementos (com números
e tem, portanto, carga +2. A carga nuclear de +2 é atômicos de 11 a 18), os elétrons adicionais começam a
contrabalançada por dois elétrons circundantes preencher a terceira camada.
negativamente carregados. O núcleo também contém dois Os elétrons com carga negativa são atraídos pelo núcleo
nêutrons que atenuam a repulsão entre os prótons no núcleo positivo por meio de forças de atração eletrostática. Um
e aumentam a massa do átomo. Todos os núcleos mais
pesados que o hidrogênio contêm nêutrons, mas seu número „ "x" -
z - X- X
não pode ser previsto com precisão. / z
Esse esquema se repete para o restante dos elementos.
O terceiro elemento, lítio, possui três prótons no núcleo x x’ X /
1 ® '* x x ( (c
X " x’ '
I x
'
\ X x*
(além de alguns nêutrons). A carga nuclear é +3 e é
contrabalançada por 3 elétrons circundantes. O elemento X "2X. X 'í
, x
103, laurêncio, possui 103 prótons no núcleo (mais um certo x - x• x \ „ X- x \ z -x- >.
número de nêutrons). A carga nuclear é +103 e é ' ", ; x ('

neutralizada por 103 elétrons circundantes. O número de ©


" X- '
i x x ( Tf
z' \'-X '
i X x ( (Ne)
/ X ' X- z
I x
X
cargas positivas no núcleo de um átomo é sempre igual ao X - _x_ - ' " X- '
número de elétrons circundantes, e é denominado o número
atômico do elemento. Figura 1.2 — As estruturas dos elementos lítio ao neònio
e ESTRUTURA ATÔMICA E TABELA PERIÓDICA

elétron próximo do núcleo é fortemente atraído por ele, 4, 5...... Substituindo-se os valores de n, pode se obter uma
possuindo uma baixa energia potencial. Um elétron distante série de linhas.
do núcleo é atraído com menos intensidade e possui elevada As linhas que se encontram na região do espectro visível
energia potencial. constituem a série de Balmer, mas várias outras séries de
linhas podem ser observadas em diferentes regiões do
espectro (Tab. 1.1).
ESPECTROS ATÔMICOS DO HIDROGÊNIO E
Foram encontradas equações semelhantes para as linhas
A TEORIA DE BOHR que constituem as outras séries do espectro do hidrogênio:
Quando átomos são aquecidos ou submetidos a uma
descarga elétrica, eles absorvem energia, que em seguida é
emitida como radiação. Por exemplo, se o cloreto de sódio
Lyman
í7=4Ut-4
n2
n = 2,3,4,5...
for aquecido na chama de um bico de Bunsen, serão
produzidos átomos de sódio, que dão origem a uma coloração Balmer n = 3,4,5,6...
amarela característica na chama (há duas linhas no espectro U2 n2
de emissão do sódio, correspondentes aos comprimentos
de onda de 589,0 nm e 589,6 nm). A espectroscopia se ocupa
do estudo, tanto da radiação absorvida como da radiação
Paschen .=44-4
v32 n2
n 4,5,6,7...
emitida. A espectroscopia atômica é uma técnica importante
para o estudo da energia e da disposição dos elétrons nos Brackett n = 5,6,7,8...
átomos. <42 n2
Passando-se uma descarga elétrica através do gás
hidrogênio (H2) a baixa pressão, formam-se alguns átomos Pfund
J ----------
-p =K 1 1 n = 6,7,8,9...
de hidrogênio (H), que emitem luz na região do visível. Essa U2 n2
luz pode ser estudada por um espectrômetro, verificando-se No início deste século tentativas foram feitas para se
que ela é constituída por uma série de linhas com diferentes obter uma imagem física do átomo, a partir dessa e de outras
comprimentos de onda. Quatro linhas podem ser vistas a evidências. Thomson tinha mostrado, em 1896, que a
olho nu, mas muitas outras podem ser observadas aplicação de uma elevada diferença de potencial elétrico
fotograficamente na região do ultravioleta. Essas linhas se através de um gás fornece elétrons, sugerindo que estes
aproximam cada vez mais, à medida que o comprimento de estavam presentes no átomo. Rutherford sugeriu, a partir
onda (X) diminui, até coalescerem e formarem um contínuo de experimentos de dispersão de partículas alfa, que. um
(Fig. 1.3). Os comprimentos de onda, em metros, relacionam- átomo é constituído por um núcleo pesado, positivamente
se com a freqüência, v, em hertz (ciclos/segundo), através carregado, rodeado por um número suficiente de elétrons
da equação: para torná-lo eletricamente neutro. Em 1913, Niels Bohr
c combinou essas idéias e sugeriu que o núcleo do átomo era
V~ À rodeado por elétrons movendo-se em órbitas, como planetas
ao redor do sol. Ele recebeu o Prêmio Nobel de Física de
onde c é a velocidade da luz (2,9979 x 108 m s*1). Geralmente
1922 pelo seu trabalho sobre a estrutura do átomo. Diversos
freqüências são expressas como números de onda v em
problemas surgiram com esse conceito:
espectroscopia, sendo v- 1/X nr1.
1. O movimento dos elétrons deveria tornar-se
Em 1885, Balmer mostrou que o número de onda v de
gradativamente mais lento.
qualquer linha do espectro visível do hidrogênio atômico
podería ser obtido pela simples relação empírica: 2. Por que os elétrons deveríam mover-se numa órbita
em torno do núcleo?
3. Como o núcleo e os elétrons apresentam cargas elétricas
<22 n2 ) opostas, eles deveríam atrair-se mutuamente. Portanto,
onde R é a constante de Rydberg e n os números inteiros 3, seria de se esperar um movimento em espiral dos
elétrons, até colidirem com o núcleo.
-t
ip
Para explicar esses problemas, Bohr postulou o seguinte:
00 cp
<N
<õ Contínuo
(O
in CO
8
<o
Tabela 1.1 — Séries espectrais do átomo de hidrogênio

Região do espectro

Série de Lyman ultravioleta


H„ Hp Hy H5 Hqo Série de Balmer visível/ultravioleta
Série de Paschen infravermelho
Energia Série de Brackett infravermelho
Série de Pfund infravermelho
Figura 1.3 — O espectro do hidrogênio na região do visível (série de Série de Humphries infravermelho
Balmer)
REFINAMENTOS NA TEORIA DE BOHR 3

1. Um elétron não emite energia enquanto permanecer em que um elétron se move em órbitas circulares de raios
numa mesma órbita e, portanto, não deve sofrer desa­ proporcionais a l2, 22, 32, ... O átomo emitirá ou absorverá
celeração. energia somente ao passar de uma órbita para outra. A
2. Quando um elétron passa de uma órbita a outra, irradiou energia cinética de um elétron é -l/lfmv2). Rearranjando
ou absorveu energia. Se ele se moveu em direção ao a equação (1.1):
núcleo, houve emissão de energia e, se ele se afastou
do núcleo, houve absorção de energia. E = -X
72 mv2 = —8ne
~~—
0r
3. Para que um elétron permaneça em sua órbita, a atração
eletrostática entre o núcleo e o elétron, que tende a Substituindo r pela expressão da equação (1.3):
puxar o elétron em direção ao núcleo, deve ser igual à
força centrífuga, que tende a afastar o elétron. Para um n Z2e4nt
E =-------------
elétron de massa m, movendo-se com uma velocidade v 8egn2h2
numa órbita de raio r, temos que:
Se um elétron saltar de uma órbita inicial i para uma
, ,, mv2
força centrifuga = ------ órbita final f, a variação de energia é dada por:
r
Se e for a carga do elétron, Z a carga do núcleo e e0 a Z2e4m Z2e4m
AE =
permissividade no vácuo, então 8eQn2h2 8£Qn2h2
Ze2
força de atração eletrostática = Z2e4m 1____ 1_
4xe0r2 Sfigh2 [nf n2)
de modo que
A energia se relaciona com o comprimento de onda
mv2 Ze2 (E = hc v), e esta equação tem a mesma forma da equação
r 42te0r2 (1.1)
de Rydberg:

e portanto _ Z2e4m J____1_


v= (1.4)
8cgh3c ^n2 n2
Ze2
v2 = (1.2)
4^e0mr 1
ü = Rp-- (equaçao de Rydberg)
De acordo com a teoria quântica de Planck, a energia lnt nf
não é contínua, mas discreta. Isso significa que a energia
ocorre em "pacotes” denominados quanta, de magnitude Logo, a constante de Rydberg é igual a:
h/27t, onde h é a constante de Planck. A energia de um
Z2e4m
elétron numa órbita, isto é, seu momento angular mvr, deve R
ser igual a um número inteiro n de quanta. 8egh3c
nh O valor experimental de R é 1,097373 x 107 nr1, em
mvr = — boa concordância com o valor teórico de 1,096776 x
2tt
107 nr1. A teoria de Bohr fornece uma explicação para o
nh espectro atômico do hidrogênio. As diferentes séries de linhas
v =-------
2nmr espectrais podem ser obtidas variando os valores de ni e nf
na equação (1.4). Por exemplo, para nf - 1 e n. = 2, 3, 4 ...
n2h2 obteremos a série de Lyman na região do ultravioleta. Com
v2 =
4tt2m2r2 nf = 2 e n. = 3, 4, 5 ... obteremos a série de Balmer no
espectro visível. Analogamente, nf = 3 e rtj - 4, S, 6 ...
Combinando-se essa equação com a equação (1.2),
fornecerá a série de Paschen, nf = 4 e tl = 5,6,7 ... fornecerá
temos que: a série de Brackett, e n( = 6 e n. = 7, 8, 9 ... a série de
Ze2 _ n2h2 Pfund. As várias transições possíveis entre as órbitas são
mostradas na Fig. 1.4, na página seguinte.
4tte0mr 4tt2m2r2
e portanto
REFINAMENTOS NA TEORIA DE BOHR
e0n2h2
(2.3) Foi suposto que o núcleo permanece estacionário, exceto
T = ^ê2z por um movimento de rotação em torno do próprio eixo.
Para o hidrogênio a carga do núcleo é Z - 1, e se: Isso seria verdadeiro se a massa do núcleo fosse infinita,
n - 1 teremos um valor de r l2 x 0,0529 nm; mas a relação entre as massas do elétron e do núcleo de
hidrogênio é de 1/1.836. Na realidade, o núcleo oscila
n = 2 teremos um valor de r 22 x 0,0529 nm; ligeiramente em torno do centro de gravidade, e, para se
n - 3 teremos um valor de r 32 x 0,0529 nm. adequar a esta situação, substitui-se na equação (1.4) a
Isso nos fornece uma imagem do átomo de hidrogênio massa do elétron m por sua massa reduzida p:
4 ESTRUTURA ATÔMICA E TABELA PERIÓDICA

Figura 1.5 — As órbitas de Bohr-Sommerfeld para n - 3


Para o número quântico principal n = 3, n/fc pode ter os
valores 3/3 (circular), 3/2 (elíptica) e 3/1 (elíptica mais
estreita).
A presença dessas órbitas adicionais, com energias
ligeiramente diferentes uma das outras, explica o desdo­
bramento das linhas no espectro de alta resolução. O número
quântico original k foi substituído por um novo número
quântico l, sendo l = k -1. Tem-se pois que:
n = 1 l = 0
n = 2 l = 0 ou 1
n = 3 l = 0 ou 1 ou 2
Figura 1.4 — As órbitas de Bohr para o átomo de hidrogênio e as n = 4 l - 0 ou 1 ou 2 ou 3
diversas séries de linhas espectrais. Isso explica porque algumas das linhas espectrais são
mM desdobradas em duas, três, quatro ou mais linhas. Além
p =--------- disso, algumas linhas espectrais podem ser novamente
m+M
onde M é a massa do núcleo. A inclusão da massa do núcleo desdobradas em duas linhas (um dublete). Esse fato pode
explica porque diferentes isótopos de um mesmo elemento ser explicado supondo-se que o elétron gira em torno de seu
produzem linhas espectrais de comprimento de onda próprio eixo, ou no sentido horário ou no sentido anti-
ligeiramente diferentes. horário. A energia é quantizada, e o valor ms.h/2n foi
inicialmente atribuído ao momento angular de spin, onde
Frequentemente as órbitas são designadas pelas letras mséo número quântico do spin, cujos valores possíveis são
K, L, M, N ... a partir do núcleo; e também podem ser ± 1/2 (a mecânica quântica mostrou, entrementes, que a
designadas pelos números 1, 2, 3, 4 ... Esse número é expressão exata é 'Vsfs + l)-h/2n, onde s é o número quântico
denominado número quântico principal e é representado de spin ou a resultante da combinação de vários spins).
pela letra n. Assim, é possível definir qual das diferentes
órbitas circulares está sendo considerada, especificando-se Zeeman mostrou que se os átomos forem expostos a
o número quântico principal. um campo magnético forte, aparecem novas linhas no
espectro. Isso se deve ao fato das órbitas elípticas poderem
Quando um elétron se move de uma órbita para outra, assumir apenas determinadas orientações em relação ao
deve gerar uma única linha no espectro, que corresponde campo externo, e não sofrerem precessão aleatoriamente.
exatamente à diferença de energia entre as órbitas inicial e Cada uma dessas orientações está associada a um quarto
final. Contudo, se o espectro do hidrogênio for obtido com número quântico m, que pode ter valores iguais a Z, (Z — 1)
um espectrômetro de alta resolução, verifica-se que algumas ... 0 ... (-Z + 1), -l.
das linhas apresentam uma "estrutura fina”. Isso significa
que uma linha é na realidade composta por várias linhas Portanto uma única linha espectral aparece como
muito próximas. Sommerfeld explicou esse desdobramento (21 + 1) linhas, se aplicarmos um campo magnético.
das linhas supondo que algumas das órbitas são elípticas, e Assim, são necessários quatro números quânticos para
que ocorre um movimento de precessão no espaço em torno explicar o espectro do átomo de hidrogênio, como mostrado
do núcleo. Para a órbita mais próxima do núcleo, o número na Tab. 1.2. Os espectros dos outros átomos podem ser
quântico principal é n - 1 e a órbita é circular. Para a órbita explicados de maneira semelhante.
seguinte, o número quântico principal é n = 2, sendo
possíveis tanto órbitas circulares como elípticas. Para definir Tabela 1.2 — Os quatro números quânticos
uma órbita elíptica, é necessário um segundo número
quântico k. A forma da elipse é definida pela relação entre Símbolo Valores
os comprimentos dos eixos principal e secundário. Assim,
Número quântico principal n 1,2,3,...
eixo principal _ n
Número quântico azimutal
eixo secundário k ou secundário l 0, 1, (n-1)
k é chamado de número quântico azimutal ou secundário, e Número quântico magnético m 0..... +1
pode ter valores de 1, 2 ... n. Assim, para n = 2, n/k pode
Número quântico de spin ±1/2
ter os valores 2/2 (órbita circular) e 2/1 (órbita elíptica).
A EQUAÇÃO DE ONOA OE SCHROOINBER 5

A NATUREZA DUAL DOS O conceito de um elétron movimentando-se numa órbita


ELÉTRONS — PARTÍCULAS OU ONDAS definida, na qual podem ser calculados com exatidão sua
posição e velocidade, deve portanto ser substituída pela
O modelo planetário do átomo proposta por Ruther- probabilidade de se encontrar um elétron numa determinada
ford e Bohr descreve o átomo como um núcleo central posição ou num determinado volume do espaço. A equação
rodeado por elétrons, situados em certas órbitas. O elétron de onda de Schrõdinger proporciona uma descrição
é, pois, considerado como sendo uma partícula. Na década satisfatória do átomo nesse sentido. As soluções da equação
de 1920, foi demonstrado que partículas em movimento, de onda são denominadas funções de onda e são
como os elétrons, comportavam-se em alguns casos como representadas pelo símbolo y. A probabilidade de se
ondas. Esse é um conceito importante para explicar a encontrar um elétron num ponto do espaço — cujas
estrutura eletrônica dos átomos.
coordenadas são x, y e z — é y2(x, y, z).
Por algum tempo a luz foi considerada como sendo
uma partícula ou uma onda. Por exemplo, certos materiais
como o potássio emitem elétrons quando irradiados com A EQUAÇÃO DE ONDA DE SCHRÕDINGER
luz visível ou, no caso de alguns outros materiais, com luz
Para uma onda estacionária (como um corda em
ultravioleta. Esse fenômeno é denominado efeito fotoelétrico.
vibração) de comprimento de onda A, cuja amplitude em
Esse fenômeno é explicado imaginando a luz movendo-se
na forma de partículas denominadas fótons. Se um fóton qualquer ponto ao longo de x pode ser descrita pela função
colidir com um elétron, ele pode transferir sua energia para f(x), pode-se mostrar que
o elétron. Se a energia do fóton for suficientemente elevada, d2f W 4n2 , , ,
ela pode remover o elétron da superfície do metal. Contudo, =—r~ fW
7
os fenômenos da difração e interferência da luz somente dx.22 A2
podem ser explicados supondo-se que a luz se comporta Se um elétron for considerado como sendo uma onda
como uma onda. Em 1924, de Broglie postulou que os movendo-se numa única dimensão x, então temos que
elétrons também devem apresentar o mesmo caráter dual
— às vezes eles são considerados como sendo partículas, e d2iy 4tt2
em outras situações é mais conveniente considerá-los como dx2 A2
sendo ondas. Uma evidência da natureza ondulatória do Todavia, um elétron pode mover-se nas direções x, y e
elétron foi obtida quando anéis de difração foram observados z. Portanto, a equação anterior deve ser expressa como se
fotograficamente, após a passagem de um feixe de elétrons segue:
através de uma fina lâmina metálica. A difração de elétrons
é atualmente uma importante ferramenta utilizada para <j2yr d2<y <j2yz 4tt2
elucidar a estrutura de moléculas, particularmente de gases. dx2 + dy2 + dz2 A2
A mecânica ondulatória é um recurso que vem sendo
utilizado para estudar a estrutura eletrônica dos átomos e a Usando o símbolo A no lugar das três derivadas parciais,
forma dos orbitais ocupados pelos elétrons. essa equação é simplificada para:
,2 4tt2
A> =----- -yz
O PRINCÍPIO DA INCERTEZA A
DE HEISENBERG A relação de de Broglie estabelece que
Os cálculos baseados no modelo atômico de Bohr
requerem informações precisas sobre a posição e a velocidade A=—
de um elétron. É difícil medir com exatidão as duas mv
quantidades simultaneamente. Um elétron é pequeno demais (onde h é a constante de Planck, m a massa do elétron e v a
para ser visto, e só pode ser observado quando submetido a sua velocidade); portanto:
uma perturbação. Por exemplo, poderiamos atingir o elétron
com outra partícula, tal como um fóton ou um elétron, ou 4tt2m2v2
A2yr = —
poderiamos aplicar sobre o elétron uma força magnética ou
elétrica. Isso inevitavelmente modificaria a posição do OU
elétron, ou a velocidade e direção de seu movimento.
Heisenberg formulou que quanto mais exatamente pudermos 4n2m2v2
A2y/ + yz = O (1.5)
determinar a posição de um elétron, tanto menor será a h2
exatidão com que poderemos estimar sua velocidade, ou Contudo, a energia total do sistema E é a soma da
vice-versa. Se Ax for a incerteza em relação a posição e Av a energia cinética K e da energia potencial V
incerteza em relação a velocidade, o princípio da incerteza
pode ser expresso matematicamente como: E = K + V
logo,
Ax • Av > — K = E-V
4tt
onde h = constante de Planck = 6,6262 x 10'34 J s. Isso Mas a energia cinética = ’/2 my2‘ de modo que
significa que é impossível conhecer exatamente a posição e
a velocidade de um elétron simultaneamente. 1/2 mv2 = E - V
6 ESTRUTURA ATÔMICA E TABELA PERIÓDICA

v2 = —(E-V)
m
A substituição da expressão de v2 na equação (1.5) leva
à forma popular da equação de Schrõdinger:
8tt2m
A2yr +
V (E-V> = 0
Soluções aceitáveis para a equação de onda, isto é,
soluções que sejam fisicamente plausíveis, devem ter certas
propriedades:
1. V deve ser contínua
2. V deve ser finita
3. V deve gerar um único resultado
4. A probabilidade de se encontrar o elétron em
todo o espaço, de + °° até -■*>, deve ser igual a
um.
A probabilidade de se encontrar um elétron num ponto
x, y, z é v2, de modo que

í ip2dx dy dz = 1

Diversas funções de onda, designadas como y2, t|/3 Figura 1.6 — a) Funções de onda y para orbitais atômicos s, p e d.
..., poderão satisfazer as condições enumeradas acima e cada Lembre-se de que os sinais + e-se referem à simetria e não à carga, b)
uma delas terá uma energia correspondente, designadas Diferentes maneiras de se representar xy2 para um orbital 2p (como um
como Ej, E2, E}.... respectivamente. Cada uma dessas funções diagrama de contorno e como uma superfície limite correspondente a
Vj, V2, etc. representa um orbital, em analogia com as órbitas 90% de probabilidade de se encontrar o elétron)
da teoria de Bohr. No átomo de hidrogênio, o único elétron No primeiro grupo de soluções, o valor da função de
presente normalmente ocupa o nível de energia mais baixo, onda e portanto, a probabilidade de se encontrar um
Er Nesse caso o átomo encontra-se no estado fundamental. elétron y2, é igual em todas as direções, e depende somente
A correspondente função de onda descreve o orbital, ou da distância r ao núcleo.
seja, o volume do espaço no qual há uma grande
probabilidade de se encontrar o elétron. Y - f (r)
Para um dado tipo de átomo há várias soluções acei­ Esse fato leva a um orbital esférico, e ocorre quando o
táveis para a equação de onda, e cada orbital pode ser número quântico secundário l é igual a zero. Esses orbitais
descrito inequivocamente por um conjunto de três números são chamados de orbitais s. Quando l = 0, o número quântico
quânticos n, l e m, que são os mesmos
números quânticos — principal, secun­
dário ou azimutal e magnético — usados Tabela 13 — Orbitais atômicos
na teoria de Bohr.
Número Número Número
O número quântico secundário l
quântico quântico quântico Símbolo
descreve a forma do orbital ocupado
principal secundário magnético
pêlo elétron. I pode ser igual a 0,1, 2 ou
3. Quando 1= 0, o orbital é esférico e é
designado orbital s; quando 1= 1, o or­ n l m
bital tem a forma de haltere e é designa­ 1 0 0 is (um orbital)
do orbital p; quando l = 2, o orbital tem 2 0 0 2s (um orbital)
forma de haltere duplo e é denominado
orbital d; e quando l- 3, um orbital f 2 1 -1,0,+1 2p (três orbitais)
de forma mais complicada é obtido (ver 3 0 0 3s (um orbital)
Fig. 1.6). As letras s,p,def provêm dos
3 1 -1,0,+1 3p (três orbitais)
termos espectroscópicos sharp, princi­
pal, difuse e fundamental, que eram 3 2 -2, -1,0,+1,+2 3d (cinco orbitais)
usados para descrever as linhas nos 4 0 0 4s (um orbital)
espectros atômicos.
4 1 -1,0,+1 4p (três orbitais)
Uma análise de todas as soluções
permitidas para a equação de onda 4 2 —2, — 1, 0,+1,+2 4d (cinco orbitais)
mostra que os orbitais se classificam em 4 3 -3,-2,-1,0, +1.+2, +3 4/ (sete orbitais)
grupos.
RJNÇOES RADIAIS E AN6ULARE5

magnético m - 0, de modo que só existe um orbital deste


tipo para cada valor de n.
No segundo grupo de soluções da equação de onda, y
depende tanto da distância ao núcleo como da direção no
espaço (x, y ou z). Orbitais desse tipo ocorrem quando o
número quântico secundário Z - 1. Esses orbitais são
denominados orbitais p e existem três valores possíveis para
I o número quântico magnético (m = -1, 0, +1). Existem,
pois, três orbitais idênticos em energia, forma e tamanho,
i que diferem apenas em suas orientações relativas no espaço.
Essas três soluções para a equação de onda podem ser
expressas como se segue:
= f (r) • f (x)
Yy = f (r) • f (y)
Vz = f (r) • f (z)
Orbitais de mesma energia são chamados de Figura 1.7 — As relações entre coordenadas cartesianas e coordenadas
polares
degenerados, existindo pois três orbitais p degenerados para
cada um dos valores de n = 2, 3, 4 ....
O terceiro grupo de soluções da equação de onda
1 d2y t 1 d
ã í adv
depende da distância ao núcleo r e de duas direções no r2 dr l dr J r2 sen2 9 dtp2 r2 sen 9 39 de
espaço, por exemplo: A solução dessa equação tem a forma:
Y - f (r) • f (x) ■ f (y) y = R(r) . 0(0) . <X>(<t>) (1.6)
Tal grupo de orbitais possui l = 2, e são denominados R(r) é uma função que depende da distância do núcleo, que
orbitais d. Há cinco soluções correspondentes aos valores por sua vez depende dos números quânticos n e Z
dem = -2, -1, 0, + 1 e +2; e todas apresentam a mesma 0(0) é uma função de 0, que depende dos números quânticos
energia. Existem, portanto, cinco orbitais degenerados d para Zem
cada um dos valores de n = 3, 4, 5 ....
<t>(4>) é uma função de <|>, que depende somente do número
Outra série de soluções aparece quando Z = 3, sendo quântico m
os orbitais em questão designados orbitais f. Existem sete
A equação (1.6) pode ser reescrita como
valores de m: -3, -2, -1, 0, +1, +2 e +3. Logo, há sete
orbitais /'degenerados quando n = 4, 5, 6 ... V = R™nl ■ Arrd
Desdobramos assim a equação de onda em duas partes,
as quais podem ser resolvidas separadamente:
FUNÇÕES RADIAIS E ANGULARES
1. A função radial R(r), que depende dos números
A equação de Schrõdinger pode ser resolvida quânticos n e Z.
completamente para o átomo de hidrogênio, e para íons
2. A função de onda angular total Amb que depende dos
semelhantes que possuam apenas um elétron como He+ e
Li2 + . Para outros átomos, só podem ser obtidas soluções números quânticos mel.
aproximadas. Na maioria dos cálculos, é mais simples re­ A função radial R não tem significado físico, mas R2
solver a equação se as coordenadas cartesianas x, y e z forem nos dá a probabilidade de encontrar o elétron num pequeno
transformadas em coordenadas polares r, 0 e <j>. As volume dv próximo do ponto no qual R foi medido. Para um
coordenadas do ponto A, medidas a partir da origem, são x, dado valor de r, a área da esfera é igual a 4ttr2, de modo que
y e z quando dadas em coordenadas cartesianas, e r, 0 e <)> a probabilidade de se encontrar o elétron a uma distância r
em coordenadas polares. Pode-se notar, observando a figura do núcleo é 4tcr2R2. E, a expressão 4itr2R2 é denominada
1.7, que os dois sistemas de coordenadas se relacionam função de distribuição radial. Gráficos da função de
através das seguintes expressões: distribuição radial em função de rpara o átomo de hidrogênio
são mostrados na Fig. 1.8.
z = r cos 0
Esses gráficos mostram que a probabilidade é igual a
y = r sen 0 sen ç
zero no núcleo (pois r = 0). Examinando os gráficos para
x = r sen 0 cos <|> Is, 2s e 3s, nota-se que a distância mais provável para se
A equação de Schrõdinger é usualmente escrita como encontrar o elétron aumenta acentuadamente, à medida que
se segue: aumenta o número quântico principal. Além disso,
8tt2m comparando os gráficos para 2s e 2p, ou para 3s, 3p e 3d,
A2y/ + (E-V> = 0 observa-se que o raio mais provável decresce ligeiramente,
h2 à medida que o número quântico secundário aurrjenta. Todos
onde os orbitais s, exceto o primeiro (Is), apresentam uma
estrutura em camadas, semelhante a uma cebola, constituída
por camadas concêntricas de densidade eletrônica.
d x2 ãy2 dz2 Analogamente, todos os orbitais, menos o primeiro orbital p
Mudando para coordenadas polares, A2 y transforma- (2p) e o primeiro orbital d (3d), possuem estrutura em
se em camadas.
B ESTRUTURA ATÚMICA E TABELA PERIÚOICA

aspectos a serem considerados acerca desses diagramas:


1. É difícil visualizar uma função de onda angular como
uma equação matemática. É muito mais fácil visualizar
uma superfície-limite, ou seja, uma forma sólida que
contenha por exemplo 90% da densidade eletrônica.
Para frisar que y é uma função contínua, na Fig. 1.9 as
superfícies-limites foram estendidas até o núcleo. A
densidade eletrônica é nula no núcleo no caso de orbitais
p, de modo que alguns livros-textos mostram um or­
bital p como sendo duas esferas que não se tocam.
2. Esses desenhos mostram a simetria dos orbitais Is, 2p
e 3d. Contudo, nos caso dos orbitais 2s, 3s, 4s ... 3p,
4p, 5p ... 4d, 5d ... o sinal (a simetria) muda dentro da
superfície-limite do orbital. Esse fato pode ser facilmente

Figura 1.8 — Funções de distribuição radial para vários orbitais no


átomo de hidrogênio
A função angular A depende somente da direção e é
independente da distância (r) a partir do núcleo. Assim, A2
é a probabilidade de se encontrar um elétron numa direção
definida por 0 e <j>, a qualquer distância do núcleo até o
infinito. As funções angulares A são mostradas na forma de
gráficos em coordenadas polares na Fig. 1.9. Deve ser frisado
que esses diagramas polares não representam a função de
onda total \y, mas somente a parte angular da mesma (a
função de onda total é composta pelas funções radial e an­
gular).
V = R(r) • A
Por conseguinte, a probabilidade de se encontrar um
elétron a uma distância r e numa dada direção 0, <|>, é dada
por:
= R2 ’ A2

Diagramas em coordenadas polares, isto é, desenhos


da parte angular da função de onda, são usados rotinei­
ramente para ilustrar a sobreposição ("overlap”) de orbitais,
dando origem a ligações entre os átomos. Tais diagramas
são adequados para esse propósito, já que contêm os sinais
+ e - relacionados com a simetria da função angular. Para
que ocorra a formação de ligações, deve haver a sobreposição
de funções de mesmo sinal. As formas são um pouco Figura 1.9 — Superfície-limite para a parte angular da função de
diferentes das formas da função de onda total. Há diversos onda A(8, <p) para os orbitais 2s, 2p e 3d num átomo de hidrogênio,
mostradas como diagramas em coordenadas polares
A REERA DE HUND E A CONSTRUÇÃO DOS ÁTOMOS 9

Fig. 1.9 representam a parte angular A da função de


onda, e não A2. Elevar A ao quadrado não altera a forma
de um orbital s, mas alonga os lóbulos dos orbitais p
(Fig. 1.10). Alguns livros usam orbitais p alongados,
mas neste caso eles não deveríam ter sinais, pois com a
elevação ao quadrado remove-se qualquer sinal decor­
rente da simetria. Apesar disso, muitos autores dese­
nham formas que se aproximam à distribuição de
probabilidades, isto é, funções de onda ao quadrado, e
colocam os sinais das funções de onda nos lóbulos,
Figura 1.10 — A parte angular ao quadrado da função de onda, referindo-se tanto às formas quanto às funções de onda
A2 (0, <p), para o orbital 2p de um átomo de hidrogênio como orbitais.
4. A representação completa da probabilidade de se
visualizado pelo aparecimento de nós nos gráficos das encontrar um elétron no espaço requer a determinação
funções radiais (Fig. 1.8). do quadrado da função de onda total, o qual inclui o
3. A probabilidade de se encontrar um elétron numa quadrado da probabilidade radial e da probabilidade
direção 0, é dada pelo quadrado da função de onda, angular. Na realidade, precisamos de um modelo tridi­
A2, ou, mais precisamente, Os diagramas da mensional para representar tais probabilidades e mostrar
as formas dos orbitais. É difícil fazer isso num material
bidimensional, como uma folha de papel, mas uma
representação razoável é mostrada na Fig. 1.11. Os
orbitais não estão representados em escala. Note que
os orbitais p não são simplesmente duas esferas, mas
elipsóides de revolução. Assim, o orbital 2px é
esfericamente simétrico em torno do eixo x, mas não
tem simetria esférica em outras direções. Analogamente,
o orbitai py apresenta simetria esférica em torno do eixo
y, e tanto o orbital p2 como o orbital 3dzi são esferi­
camente simétricos em relação ao eixo z.

O PRINCÍPIO DE EXCLUSÃO DE PAULI


São necessários três números quânticos n, l e m para
definir um orbital. Cada orbital pode conter até dois elétrons,
desde que eles tenham spins opostos. Um número quântico
adicional é necessário para definir o spin de um elétron no
orbital. Portanto, são necessários quatro números quânticos
para definir a energia de um elétron num átomo. O Princípio
de Exclusão de Pauli diz que um elétron num átomo não
pode ter os quatro números quânticos exatamente iguais a
nenhum outro. Pela permutação dos números quânticos, é
possível calcular o número máximo de elétrons que podem
ser acomodados em cada um dos nfveis energéticos principais
(vide Fig. 1.12, na página seguinte).

A REGRA DE HUND E A CONSTRUÇÃO DOS


3dXy 3dyz ÁTOMOS
Quando os átomos se encontram em seus estados
fundamentais, os elétrons ocupam os níveis de energia mais
baixos possíveis.
O elemento mais simples, o hidrogênio, possui um
elétron, que ocupa o nível Is. Esse nível tem número quântico
principal n = 1 e número quântico secundário l = 0.
O hélio possui dois elétrons. O segundo elétron também
ocupa o orbital Is. Isso é possível porque os dois elétrons
apresentam spins opostos. O nível Is está assim completo.
30^-^ O elemento seguinte, o lítio, tem três elétrons. O terceiro
3dp
elétron ocupa o próximo nível energético, que é o nível 2s.
Figura 1.11 —- Funções de onda total (orbitais) para o átomo de Possui número quântico principal n - 2 e número quântico
hidrogênio secundário l - 0.
IO ESTRUTURA ATÔMICA E TABELA PERIÓDICA

Número quântico 1 2 3
principal, n I
Número quântico
secundário, / 0

Número quântico
magnético, m 0

Número quântico
de spin, ms

Elétrons Elétrons Elétrons 6p 10d


2s (total) 2s 6p

Total 8 elétrons Total 18 elétrons

I 0
r T
1
1
3

“I
m 0 0 +1

m,

2s 6p 10d 14/

Total 32 elétrons

Figura 1.12 — Números quãnticos, número máximo de elétrons para o preenchimento dos orbitais e forma da tabela periódica.

O quarto elétron do berílio também ocupa o nível 2s. O Estrutura eletrônica 1s 2s 2p


boro deve ter seu quinto elétron no nível 2p, pois o nível 2s do átomo de H no
estado fundamental 1
já se encontra completamente preenchido. O sexto elétron
do carbono também será encontrado no nível 2p. A regra de Estrutura eletrônica 1s 2s 2p
do átomo de He no
Hund estabelece que o número de elétrons não emparelhados estado fundamental n
num dado nível energético é máximo. Assim, os dois elétrons
p do carbono estão desemparelhados, no estado fundamen­ Estrutura eletrônica 1s 2s 2p
do átomo de Li no
tal. Eles ocupam orbitais p distintos e possuem spins
paralelos. Analogamente, os três elétrons p do nitrogênio
estado fundamental 0 I I I I
apresentam spins paralelos. Estrutura eletrônica 1s 2s 2p
do átomo de Be no
Para mostrar a posição dos elétrons num átomo, os estado fundamental ti tl
símbolos ls, 2s, 2p, etc. são utilizados para indicar os níveis Estrutura eletrônica 1s 2s 2p
energéticos principal e secundário. Um índice indica o nú­ do átomo de B no
mero de elétrons em cada conjunto de orbitais. Por exemplo, estado fundamental n n t
o hidrogênio contém 1 elétron, sendo denotado por ls1. No Estrutura eletrônica 1s 2s 2p
hélio, o nível Is contém 2 elétrons, e sua representação é do átomo de C no
ls2. As estruturas eletrônicas dos primeiros átomos da Tabela estado fundamental n ti t t
Periódica podem ser escritas como se segue: Estrutura eletrônica 1s 2s 2p
do átomo de N no
H
He ls2
ls1 estado fundamental 00IHtH|
Li ls2 Estrutura eletrônica 1s 2s 2p
2S1
Be ls2 2s2
do átomo de O no
estado fundamental 0 ÈÓ |n| t |t |
B ls2 2s2 2p'
C ls2 2s2 2p2
Estrutura eletrônica 1s 2s 2p
do átomo de F no
N ls2 2s2 2p3 estado fundamental tT n tlltil t
O ls2 2s2 2p^
Estrutura eletrônica 1s 2s 2p 3s 3p
F ls2 2s2 2P5 do átomo de Ne no
Ne ls2 2s2 2p6 estado fundamental ti n tiltilti
Na ls2 2s2 2pb 3s’
Estrutura eletrônica 1s 2s 2p 3s 3p
Uma maneira alternativa de representar a estrutura do átomo de Na no
tiltllti'
estado fundamental ti ti t
eletrônica de um átomo é representando os orbitais por
quadrados e os elétrons por setas: 0 procedimento continua de maneira semelhante.
DISPOSIÇÃO DOS BRUPDS DE ELEMENTOS NA TABELA PERIÚOICA 11

tentes no nível mais externo e sua distribuição nos orbitais.


Se os elementos químicos forem dispostos em grupos com a
mesma distribuição eletrônica no nível mais externo, então
tais elementos devem apresentar propriedades químicas e
físicas semelhantes. A grande vantagem que advém disso é
o fato de não ser necessário estudar o comportamento de
cada um dos elementos, mas apenas dos diferentes grupos.
Os elementos que contém 1 elétron no nível mais
extemo são denominados elementos do Grupo 1 (os metais
alcalinos), e aqueles com dois elétrons no nível mais externo
são denominados elementos do Grupo 2 (os metais alcalino
terrosos). Esses dois grupos constituem os elementos do
bloco s, porque suas propriedades são resultantes da presença
de elétrons s.
Elementos com três elétrons no nível mais externo (2
elétrons s e 1 p) são denominados elementos do Grupo 13.
Analogamente, os elementos do Grupo 14 possuem quatro
elétrons no nível mais externo; os elementos do grupo 15
possuem cinco elétrons, os elementos do Grupo 16 seis e os
elementos do Grupo 17 sete elétrons no nível mais externo.
Os elementos do Grupo 18 possuem o nível mais externo
Figura 1.13 — Seqíiência de preenchimento dos níveis de energia
completo. Os grupos 13, 14, 15, 16, 17 e 18 são constituídos
por elementos que diferem no preenchimento dos orbitais
SEQÜÊNCIA DE NÍVEIS ENERGÉTICOS p, e por isso são denominados elementos do bloco p.
É importante conhecer a seqüência segundo a qual os De modo semelhante, elementos nos quais orbitais d
níveis energéticos são preenchidos. A Fig. 1.13 ilustra uma estão sendo preenchidos pertencem ao bloco d; e são
ferramenta útil. Observa-se pela figura que a seqüência de denominados elementos de transição. Note que os elétrons
preenchimento dos níveis energéticos é: Is, 2s, 2p, 3s, 3p, d vão sendo adicionados ao penúltimo nível. Por exemplo,
4s, 3d, 4p, 5s, 4d, 5p, 6s, 4f, 5d, 6p, 7s, etc. o elemento escândio é o primeiro elemento de transição e
sucede o cálcio, Ca, que pertence ao Grupo 2. A última
Após o preenchimento dos níveis Is, 2s, 2p, 3s e 3p, no
camada do cálcio contém dois elétrons s. O escândio também
elemento argônio, os elétrons seguintes vão para o nível 4s,
levando à formação dos elementos potássio e cálcio. Uma possui dois elétrons s, mas tem um elétron d adicional na
vez preenchido o nível 4s, o próximo nível em ordem penúltima camada. Portanto, o escândio pertence ao Grupo
crescente de energia é o 3d e não o 4p. Assim, o nível 3d 3. Analogamente, o titânio (Ti, o segundo elemento de
começa a ser preenchido com o elemento escândio. Os transição) possui dois elétrons s e dois elétrons d na
elementos que vão do escândio ao cobre possuem um nível penúltima camada. Logo, o grupo do titânio é também
4s completo e um nível 3d incompleto, e quimicamente todos designado Grupo 4. Seguindo esse mesmo raciocínio
se comportam de maneira semelhante. Esse conjunto de podemos adicionar até 10 elétrons aos orbitais d. Assim, os
átomos é conhecido como uma série de transição. elementos de transição se encontram dispostos na Tabela
Periódica formando os Grupos de 3 a 12.
Uma segunda série de transição começa depois do
preenchimento do orbital 5s, no elemento estrôncio, porque Finalmente, elementos cujos orbitais f estão sendo
no elemento seguinte, o ítrio, começa o preenchimento do preenchidos constituem o bloco f, e nesses casos os elétrons
nível 4d. Uma terceira série de transição se inicia com o f vão sendo adicionados ao antepenúltimo nível (ou o
lantânio, elemento em que começa o preenchimento do nível segundo de fora para dentro).
5d, após o preenchimento do nível 6s. Na Tabela Periódica (Tab. 1.4, na página seguinte), os
Uma nova complicação surge no elemento lantânio, elementos encontram-se dispostos segundo números
porque depois desse elemento, que possui um elétron no atômicos crescentes, isto é, em ordem de carga nuclear
nível 5d, começa o preenchimento do nível 4f, dando origem crescente, ou de número de elétrons crescente. Assim, cada
aos elementos que vão do cério ao lutécio e que possuem de elemento contém um elétron a mais que o elemento
1 a 14 elétrons 4f. Eles são algumas vezes denominados precedente. Ao invés de colocar os 103 elementos numa longa
elementos de transição interna, mas são mais conhecidos lista, a Tabela Periódica os dispõem em uma série de fileiras
como lantanídios ou terras raras. horizontais ou períodos, de tal modo que cada período
comece com um metal alcalino e termine com um gás nobre.
A seqüência segundo a qual os vários níveis energéticos
DISPOSIÇÃO DOS GRUPOS DE ELEMENTOS
vão sendo preenchidos determina o número de elementos
NA TABELA PERIÓDICA em cada período. Assim, a Tabela Periódica pode ser dividida
As propriedades químicas de um elemento são em em quatro regiões principais, conforme estejam sendo
grande parte determinadas pelo número de elétrons exis­ preenchidos os níveis s, p, d ou f.
12 ESTRUTURA ATÔMICA E TABELA PERIÓDICA

Bloco s Bloco p

Grupo
1 2 13 14 15 16 17 18
Período^^\

1 ’H 2He

2 3Li 4Be Bloco d 5B 9C 7N s0 9F 10Ne

3 "Na 12Mg 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 ’3AI «Si «P «S ”CI «Ar

4 «K 23y
2°Ca 2’Sc 22Ti 24Cr 25Mn 2BFe 27 Co 29Ni 29Cu “Zn 3,Ga 32Ge “As “Se “Br 36Kr

5 37Rb “Sr “Y «Zr 41 Nb 42Mo «Tc “Ru «Rh «Pd 47Ag «Cd «In “Sn 5,Sb 52Te 53l “Xe

6 “Cs “Ba 57Laf 72Hf 73Ta 74W 75Re 760s ”lr 7BPt 79Au "Hg s’T| 82Pb “Bi MPo “At “Rn

7 37Fr “Ra 89Ac

Bloco /

Lantanidios “Ce “Pr “Nd f,Pm 62Sm “Eu “Gd “Td “Dy 67Ho “Er 69Tm 7°Yb ”Lu

Actinídios “Th 91 Pa 92U 93Np “Pu “Am “Cm 97Bk 99Cf 99Es ™Fm ,0'Md ’02No ,03Lr

l.° período Is 2 elementos no período hidrogênio não se assemelha nem aos metais alcalinos, nem
2. ° período 2s 2p 8 elementos no período aos halogênios e nem aos elementos do Grupo 14. Os átomos
3. ° período 3s de hidrogênio são extremamente pequenos e apresentam
3p 8 elementos no período
muitas propriedades singulares. Seria, assim, o caso de se
4. ° período 4s 3d 4p 18 elementos no período colocar o hidrogênio num grupo à parte.
5. ° período 5s 4d 6s 18 elementos no período
6.° período 6s «A 5d 6p 32 elementos no período
LEITURAS COMPLEMENTARES
Os metais alcalinos aparecem numa coluna vertical
denominada Grupo 1, no qual todos os elementos * Karplus, M. e Porter, R.N., “Atoms and Molecules", Benjamin,
apresentam um único elétron no nível mais externo, tendo New York, 1971.
portanto propriedades semelhantes. Assim, se um dos • Greenwood, N.N., “Principies of Atomic Orbitais”, Royal In-
elementos do grupo reagir com um determinado reagente, stitute of Chemistry Monographs for Teachers No 8, 3a ed.,
os demais provavelmente reagirão de modo semelhante, Londres, 1980.
formando compostos de fórmulas semelhantes. Dessa forma
é possível prever reações de compostos desconhecidos, bem PROBLEMAS
como suas fórmulas, por simples analogia com compostos
já conhecidos. Analogamente, todos os gases nobres 1. Quais são os nomes dados às cinco primeiras séries de
aparecem numa coluna vertical denominada Grupo 18, sendo linhas espectrais que ocorrem no espectro atômico do
que todos possuem o nível eletrônico mais externo completo. hidrogênio? Indique as regiões do espectro eletromagnético
em que essas séries aparecem e escreva uma equação geral
Essa é a chamada forma longa da Tabela Periódica. Ela
que permita calcular os números de onda, que seja
apresenta muitas vantagens, sendo as mais importantes a aplicável a todas essas séries.
ênfase na semelhança de propriedades dentro dos grupos e
a relação entre o grupo e a configuração eletrônica. Os 2. Quais são os postulados em que se baseiam a teoria de
Bohr, relativa à estrutura do átomo de hidrogênio?
elementos do bloco d são denominados elementos de
transição porque se situam entre os blocos s e p. 3. Escreva a equação que explica as diferentes séries de linhas
no espectro atômico do hidrogênio. Qual o nome da
O hidrogênio e o hélio diferem dos demais elementos, equação? Explique os diferentes termos envolvidos.
porque neles não existem elétrons p no primeiro nível. O
hélio obviamente pertence ao Grupo 18, dos gases nobres, 4. a) Calcule os raios das três primeiras órbitas de Bohr para
o hidrogênio (constante de Planck h = 6,6262 x IO'34 J s;
que são quimicamente inertes, porque o nível eletrônico mais
massa do elétron m = 9,1091 x 10“31 kg; carga do elétron
externo está completamente preenchido. O hidrogênio é mais
e - 1,60210 x 10“19 C; permissividade do vácuo t:0 =
difícil de ser classificado. Podería ser incluído no Grupo 1, 8,854185 x 10*12 kg-1 m~3 A2).
porque só possui um elétron s no nível mais externo, é
monovalente e normalmente forma íons positivos (Respostas: 0,529 x 10’10 m (0,529 A); 2,12 x IO’10 m
(2,12 A) e 4,76 x IO’10 m; (4,76 A))
monovalentes. Contudo, o hidrogênio não é um metal e é
gasoso, ao passo que Li, Na, K, Rb e Cs são metais e são b) Use os valores desses raios para calcular a velocidade
sólidos. Por outro lado, o hidrogênio poderia ser incluído no do elétron em cada uma dessas órbitas.
Grupo 17, porque falta um elétron no último nível; ou no (Respostas: 2,19 x 106 m s’1; 1,09 x 106 m s~*;
grupo 14, porque o último nível está semi-preenchido. O 7,29 x 105 m s’1)
PROBLEMAS 13

5. A série de Balmer de linhas espectrais para o hidrogênio 12. O que é um orbital? Desenhe as formas dos orbitais Is, 2s,
aparece na região da luz visível. Qual é o nível energético 3px> 2-Py, ^Pz' 3dxy< 3dyz, e
inferior de partida dessas transições, e a que transições 13. Quais são os nomes e os símbolos dos quatro números
correspondem às linhas espectrais que ocorrem em 379,0 quânticos necessários para definir a energia dos elétrons
nm e 430,0 nm, respectivamente? nos átomos? A que esses números quânticos se referem e
6. Quais são o número de onda e o comprimento de onda da que valores numéricos são possíveis para cada um deles?
primeira transição nas séries de Lyman, Balmer e Paschen, Mostre como a forma da Tabela Periódica está relacionada
no espectro do átomo de hidrogênio? com esses números quânticos.
A quais das seguintes espécies aplica-se a teoria de Bohr? 14. O primeiro nível energético pode conter até 2 elétrons, o
a) H, b) H+, c) He, d) He+, e) Li, f) Li+, g) Li2+, h) Be, segundo nível até 8, o terceiro nível até 18, e o quarto
i) Be+, j) Be2*, 1) Be3*. nível até 32. Explique essa distribuição em função dos
números quânticos.
8. No que a teoria de Bohr do átomo de hidrogênio difere da
teoria de Schrõdinger? 15. Escreva os valores dos quatro números quânticos para cada
um dos elétron do átomo de a) oxigênio e b) escândio no
9. a) Escreva a forma geral da equação de Schrõdinger e defina
estado fundamental. Use primeiro os valores positivos de
cada um dos termos que nela ocorrem.
rri\ e ms.
b) Soluções fisicamente possíveis da equação de onda
16. Determine a seqüência em que os níveis energéticos de
devem apresentar quatro propriedades. Quais são elas? um átomo são preenchidos com elétrons. Escreva a
10. O que é uma função de distribuição radial? Represente configuração eletrônica para os átomos de número atômico
essa função para os orbitais Is, 2s, 3s, 2p, 3p e 4p do átomo 6, 11, 17 e 25. Em seguida, verifique a que grupos da Tabela
de hidrogênio. Periódica esses elementos pertencem.
11. Explique a) o Princípio de Exclusão de Pauli, eb) a Regra 17. Escreva o nome e o símbolo dos átomos que têm, no estado
de Hund. Mostre como usar esses princípios para fundamental, as seguintes configurações eletrônicas no
determinar a estrutura eletrônica dos primeiros 20 nível mais externo: a) 2S2, b) 3S2 3p5, c) 3S2 3p6 4S2, d) 3S2
elementos da Tabela Periódica. 3p6 3d6 4S2, e) 5? Sp2, 0 5S2 5p6.
14

inTnonuçno
À LIGAÇÃO ÇUÍMIGA

EM BUSCA DE UMA CONFIGURAÇÃO 3. Elementos com reduzida tendência de perder ou receber


ESTÁVEL elétrons.
Dependendo do caráter eletropositivo ou eletronegativo
De que maneira os átomos se combinam para formar
dos átomos envolvidos, três tipos de ligações químicas
moléculas, e por que os átomos formam ligações? Uma
podem ser formadas.
molécula será formada somente se esta for mais estável e
tiver menor energia do que os átomos individuais.
Para compreendermos o que está acontecendo em Elemento eletropositivo
termos de estrutura eletrônica, consideremos inicialmente Ligação iônica
os elementos do Grupo 18. Eles compreendem os gases
Elemento eletronegativo
nobres, o hélio, neônio, argônio, criptônio, xenônio e
radônio, conhecidos por sua inércia química. Os átomos dos Elemento eletronegativo
gases nobres geralmente não reagem com nenhum outro ■Ligação covalente
átomo, e suas moléculas são monoatômicas, isto é, contém
apenas um átomo. A baixa reatividade decorre do fato de Elemento eletronegativo
suas energias já serem baixas, e não poderem ser diminuídas Elemento eletropositivo
ainda mais através da formação de compostos. A baixa
■Ligação metálica
energia dos gases está associada ao fato deles terem o nível
eletrônico mais externo completamente preenchido. Essa Elemento eletropositivo
estrutura é freqüentemente denominada estrutura de gás
nobre, e se constitui num arranjo de elétrons particularmente A ligação iônica envolve a transferência completa de
estável. um õu mais elétrons de um átomo para outro. A ligação
covalente envolve o compartilhamento de um par de elétrons
A formação de ligações químicas envolve normalmente
entre dois átomos, e na ligação metálica os elétrons de
só os elétrons do nível mais externo do átomo e, através da
valência são livres para se moverem livremente através de
formação de ligações, cada átomo adquire uma configuração
todo o cristal.
eletrônica estável. O arranjo eletrônico mais estável é a
estrutura de um gás nobre, e muitas moléculas possuem Esses tipos de ligações são representações idealizadas.
essa estrutura. Contudo, arranjos menos estáveis que a de Embora um dos tipos de ligação geralmente predomine, na
gás nobre ocorrem regularmente nos elementos de transição. maioria das substâncias as ligações se encontram em algum
ponto entre essas formas limites. Por exemplo, o cloreto de
lítio é considerado um composto iônico, mas ele é solúvel
TIPOS DE LIGAÇÕES em álcool, o que sugere um certo caráter de ligação covalente.
Os átomos podem adquirir uma configuração eletrônica Caso os três tipos limites de ligações sejam colocados nos
estável por três maneiras: perdendo, recebendo ou vértices de um triângulo, os compostos com ligações que
compartilhando elétrons. tendem a pertencer a um dos três tipos limites serão
Os elementos podem ser classificados em: representados por pontos próximos dos vértices. Compostos
com ligações intermediárias entre dois tipos, situar-se-ão ao
1. Elementos eletropositivos, cujos átomos perdem um ou
longo dos lados do triângulo, enquanto que compostos
mais elétrons com relativa facilidade. apresentando algumas das características dos três tipos de
2. Elementos eletronegativos, que tendem a receber ligação serão representados por pontos no interior do
elétrons. triângulo.
TRAN5IÇ0ES ENTRE OS PRINCIPAIS TIPOS DE LIEAÇOES 15

TRANSIÇÕES ENTRE OS PRINCIPAIS TIPOS Quando sódio e cloro reagem entre si, o elétron no nível
DE LIGAÇÕES mais externo do átomo de sódio é transferido para o átomo
de cloro, de modo a formar íons sódio, Na + , e íons cloreto,
Poucas ligações são totalmente iônicas, covalentes ou Cl'. Atração eletrostática entre os íons positivos e negativos
metálicas. A maioria das ligações são intermediárias entre os mantêm juntos num retículo cristalino. O processo é
esses três tipos e possuem algumas características de duas energeticamente favorecido, pois os dois tipos de átomos
delas, às vezes das três. atingem a configuração eletrônica estável de gás nobre, tal
que o cloreto de sódio, Na* CL, é facilmente formado. Isso
Ligações iônicas pode ser ilustrado graficamente por meio de um diagrama
Formam-se ligações iônicas quando elementos eletro- de Lewis, no qual os elétrons externos são representados
positivos reagem com elementos eletronegativos. por pontos:
Considere o composto iônico cloreto de sódio. O átomo
de sódio tem a configuração eletrônica ls2 2s2 2p6 3s*. O
primeiro e o segundo níveis eletrônicos estão completamente Na Cl (Na]+ + Cl
preenchidos, mas o terceiro nível contém somente um
átomo dc sódio átomo dc cloro íon sódio
elétron. Quando esse átomo reage, ele o faz de maneira a íon cloreto
atingir uma configuração eletrônica mais estável. Os gases A formação de cloreto de cálcio CaCl2 pode ser explicada
nobres apresentam um arranjo eletrônico estável, sendo o de maneira semelhante. Os átomos de cálcio possuem dois
neônio o gás nobre mais próximo do sódio, cuja configuração elétrons no nível mais externo. O Ca é um elemento
é ls2 2s2 2p6. Se o átomo de sódio perder o elétron de seu
eletropositivo, de modo que cada átomo de Ca perde dois
nível mais externo, ele atingirá uma configuração eletrônica
elétrons para dois átomos de Cl, gerando um íon cálcio,
estável, e assim fazendo o sódio adquire uma carga positiva
Ca2*, e dois íons cloreto, Cl". Considerando-se apenas os
+ 1, sendo denominado íon sódio, Na + . A carga positiva
elétrons mais externos, a reação pode ser representada como
surge porque o núcleo contém 11 prótons, cada qual com
se segue:
uma carga positiva, mas restam apenas 10 elétrons. Os
átomos de sódio tendem a perder elétrons dessa maneira
quando lhes é fornecida energia. Logo, o sódio é um elemento
eletropositivo. Cl
Cl
Na -> Na+ + elétron
átomo de sódio íon de sódio
Ca : [Ca]2+ +
Átomos de cloro possuem a configuração eletrônica ls2
2s2 2p6 3s2 3ps. Falta apenas um elétron para se chegar a Cl Cl
estrutura estável do gás nobre argônio ls2 2s2 2p6 3s2 3p6.
Assim, quando os átomos de cloro reagem, recebem um átomo de cálcio átomos de cloro íon cálcio íons cloreto
elétron. O cloro é, portanto, um elemento eletronegativo.
Cl + elétron —> Cl"
átomo de cloro íon cloreto Ligações covalentes
Adquirindo um elétron, o átomo de cloro eletricamente Quando dois átomos eletronegativos reagem entre si,
neutro se transformará num íon cloreto, que possui uma ambos têm a tendência de receber elétrons mas nenhum
carga negativa, Cl". mostra tendência alguma de ceder elétrons. Nesses casos os
átomos compartilham elétrons para atingir a configuração
eletrônica de gás nobre.
Metálica Vamos inicialmente considerar o diagrama abaixo, que
Li mostra como dois átomos de cloro Cl reagem para formar
Ag Na3Bi uma molécula de Cl2 (estão sendo representados apenas os
elétrons mais externos):
Sn Na3Sb
As Na3AS
TeZ Cl + Cl Cl Cl
Na3P
Na3N átomos de cloro molécula de cloro
12- CIF - OF2 - NF3 - CCI4 - BF3 - BeF2 - Na3O
Cada átomo de cloro compartilha um de seus elétrons
F2 - IF, - SFe - PF5 - SiF4 - AIF3 - MgF2 - CsF com o outro átomo. Assim, um par de elétrons é compar­
Covalente Iônica tilhado igualmente pelos dois átomos, de modo que cada
átomo possui agora oito elétrons em seu nível mais externo
(um octeto estável) — a estrutura de gás nobre do argônio.
Figura 2.1 — Triângulo ilustrando as transições entre ligações iônica.
covalente e metálica (reproduzido de "Chemical Constitution" de Na representação gráfica (estrutura de Lewis) o par de
J.A.A. Ketelaar, Elsevier) elétrons compartilhado é representado por dois pontos en-
16 INTRODUÇÃO À LIGAÇÃO OUlMICA

tre os átomos, Cl : Cl. Na representação por ligações de discutida no capítulo 6). Um procedimento alternativo é
valência esses pontos são substituídos por uma linha que "quebrar" (teoricamente) a molécula, removendo-se todos
representa uma ligação, Cl-Cl. os átomos ligados na forma de íons e, em seguida,
Analogamente, uma molécula de tetraclorometano, determinando a carga remanescente no átomo central. Deve-
CC14, é obtida a partir de um átomo de carbono e quatro se frisar que as moléculas não são realmente destruídas,
átomos de cloro: nem os elétrons são realmente removidos. Por exemplo, na
água, H2O, a retirada de dois íons H + deixa uma carga -2 no
Cl átomo de oxigênio, tal que o estado de oxidação do O na
água é (—II). Analogamente, no H2S o estado de oxidação do
S é (-11); no F2O o estado de oxidação do O é ( + 11); no SF4
c • + 4 Cl : ->C1 : C : Cl
o estado de oxidação do S é (+ IV), enquanto que no SF6 0
estado de oxidação do S é (+ VI). O conceito de número de
Cl oxidação funciona igualmente bem no caso de compostos
O átomo de carbono necessita de quatro elétrons para iônicos. Assim, no CrCl3 o átomo de Cr tem estado de
chegar à estrutura de gás nobre, de modo que ele formará oxidação (+ III) e forma íons Cr3 * e no caso do CrCl2 0 Cr
quatro ligações. Os átomos de cloro precisam de um elétron se encontra no estado de oxidação (+ II), ou seja na forma
para chegar à estrutura de gás nobre, e cada um deles formará de íons Cr2 + .
uma ligação. Compartilhando elétrons dessa maneira, tanto
o átomo de carbono como os quatro átomos de cloro atingem Ligações coordenativas
a estrutura de um gás nobre. Deve-se frisar, contudo, que
Uma ligação covalente resulta do compartilhamento de
embora seja possível obter moléculas dessa maneira e
um par de elétrons por dois átomos, sendo que cada um
entender suas estruturas eletrônicas, não se pode concluir
deles contribui com um elétron para a formação da ligação.
que os átomos envolvidos reajam diretamente. No presente
É possível também ter ligações nos quais o par de elétrons
caso, carbono e cloro não reagem diretamente entre si, sendo
que o tetraclorometano é obtido por reações indiretas. provém de apenas um dos átomos, sendo que o outro não
contribui com nenhum elétron. Essas ligações são
Uma molécula de amônia NH3 é constituída por um denominadas ligações coordenativas ou dativas. Visto que
átomo de nitrogênio e três de hidrogênio:
nos compostos de coordenação um par de elétrons é
compartilhado por dois átomos, a diferença em relação às
ligações covalentes normais reside apenas na maneira em
N • + 3[H ] -> H : N :H
que as ligações são formadas. Uma vez formada, as ligações
coordenativas são idênticas às ligações covalentes normais.
H Embora a molécula de amônia tenha uma configuração
O átomo de nitrogênio necessita de três elétrons para eletrônica estável, ela pode fazer uso de seu par de elétrons
chegar à estrutura de um gás nobre, enquanto que os átomos isolados para se ligar a um íon H + , formando o íon amônio,
de hidrogênio precisam receber um elétron para chegar à NH4 + :
estrutura de um gás nobre. O átomo de nitrogênio forma
três ligações, enquanto cada átomo de hidrogênio forma uma H H H
única ligação, para alcançar uma configuração estável. Um
par de elétrons do átomo de nitrogênio não participa da
I
H : N : + [H]+ H : N : H ou H—N —>H
formação de ligações, sendo denominado par isolado de
elétrons.
A água (com duas ligações covalentes e dois pares H H H
isolados) e fluoreto de hidrogênio (uma ligação covalente e
três pares isolados), são mais alguns exemplos de compostos
Ligações covalentes normais são geralmente repre­
com ligações covalentes.
sentadas por uma linha reta unindo os átomos envolvidos.
Por sua vez, as ligações coordenativas são representadas
por setas que indicam qual é 0 átomo que está doando os
H: O : H: F
elétrons. Da mesma forma que no caso do íon NH4 + , a
amônia pode doar 0 par isolado para o trifluoreto de boro.
H Assim, 0 boro atinge a configuração estável de oito elétrons.

Números de oxidação H F H F
O número de oxidação de um elemento num composto I I
covalente é calculado inicialmente considerando-se que os H : N : + B : F-> H — N -»B — F
elétrons compartilhados pertencem ao elemento mais
eletronegativo. A seguir determina-se a carga teórica
I I
H F H F
remanescente em cada átomo (a eletronegatividade será
TRANSIÇÕES ENTRE OS PRINCIPAIS TIPOS OE LIEAÇOES 17

Analogamente, uma molécula de BF3 pode receber um


par de elétrons de um íon F" formando uma ligação dativa.

F F

F + B : F —> F —B —F
I
F F

Dentre os vários outros exemplos podemos citar:


PC15 + cr -» [PC16J-
SbFs + F“-> [SbFJ-

Ligações duplas e triplas


Às vezes dois átomos compartilham mais de um par de
elétrons. Se quatro elétrons são compartilhados, formam-se
duas ligações, e esse arranjo é chamado de ligação dupla.
Se seis elétrons são compartilhados, forma-se uma ligação
tripla:

H H H H
\ /
C : C molécula de eteno
C=C (ligação dupla)
/ \ Figura 2.2 — As [rês estruturas metálicas, a) Estrutura hexagonal de
H H H H empacotamento compacto mostrando a seqiiência de camadas ABABAB...
e os 12 vizinhos que circundam cada esfera, b) Estrutura cúbica de
C:H H:C — C:H molécula de etino empacotamento compacto (o número de coordenação também é 12)
H:C (ligação tripla) mostrando camadas repetidas ABCABC. c) Estrutura cúbica de corpo
centrado mostrando os 8 vizinhos que circundam cada esfera

Ligações metálicas e estruturas metálicas


Os metais são formados por íons positivos empacotados, como mostrado na Fig. 2.4a. Uma esfera da primeira camada
normalmente segundo um dos três arranjos: toca três esferas da camada situada acima dela e três esferas
1. Cúbico de empacotamento compacto (também chamado da camada situada abaixo dela, além das seis esferas da
cúbico de face centrada). própria camada, perfazendo assim um total de doze.
Portanto, o número de coordenação, ou seja, o número de
2. Hexagonal compacto.
átomos ou íons em contato com um determinado átomo, é
3. Cúbico de corpo centrado. igual a doze num arranjo de empacotamento compacto.
Os elétrons negativamente carregados mantêm esses Nesse caso, as esferas ocupam 74% do espaço total.
íons unidos. O número de cargas positivas e negativas são Todavia, dois arranjos diferentes são possíveis quando
exatamente iguais, visto que os elétrons se originam dos se adiciona uma terceira camada de esferas, preservando
átomos neutros dos metais. As propriedades mais marcantes cada uma delas o arranjo de empacotamento compacto.
dos metais são suas condutividades elétrica e térmica Se a primeira esfera da terceira camada for colocada na
extremamente elevadas. Ambas decorrem da mobilidade dos depressão X mostrada na Fig. 2.4a, então esta esfera ficará
elétrons através do retículo. exatamente acima de uma esfera da primeira camada.
Os arranjos dos átomos nessas três estruturas metálicas Portanto, todas as esferas da terceira camada estarão situadas
são mostrados na Fig. 2.2. Em dois desses arranjos (o cúbico exatamente acima de outra esfera da primeira camada, como
compacto e o hexagonal compacto) os átomos se encontram mostrado na Fig. 2.2a. Se a primeira camada for representada
o mais próximo possível uns dos outros. Nesses casos, supõe- por A e a segunda por B, o esquema de empacotamento
se que os íons metálicos se comportem como se fossem compacto que se repete é ABABAB... Essa estrutura apresenta
esferas, dispostas de modo a preencher o espaço da maneira simetria hexagonal e por isso é designada estrutura hexago-
a mais efetiva possível, como mostrado na Fig. 2.3a. Assim, nal compacta.
cada esfera toca seis outras esferas numa mesma camada. Altemativamente, a primeira esfera da terceira camada
Uma segunda camada de esferas se dispõe sobre essa pode ser colocada numa depressão, tal como mostrada na
primeira camada, de modo que as partes protuberantes dessa Fig. 2.4a. Nesse caso, essa esfera não estará exatamente
nova camada se encaixem nas concavidades da primeira, acima de uma esfera da primeira camada. Logo todas as
18 INTRODUÇÃO À LIGAÇÃO OUfMICA

Figura 2.3 — Diferentes possibilidades de empacotamento de esferas


iguais em duas dimensões, a) empacotamento compacto (preenche 74%
do espaço), b) cúbico de corpo centrado (ocupa 68% do espaço)

esferas da terceira camada não estarão localizadas


exatamente acima das esferas da primeira camada (Fig. 2.4b). Figura 2.5 — Disposição dos 12 vizinhos mais próximos, em estruturas
Se cada uma das três camadas for representada por A, B e hexagonal e cúbica de empacotamento compacto. (Observe que as
C, então o esquema de repetição das camadas será camadas superior e central são iguais, mas na estrutura cúbica de
ABCABCABC... (Fig. 2.2b). Essa estrutura apresenta simetria empacotamento compacto a camada inferior sofre uma rotação de 60'
cúbica e é denominada estrutura cúbica compacta. Um nome em relação à estrutura hexagonal de empacotamento compacto), a)
alternativo é estrutura cúbica de face centrada. A diferença hexagonal de empacotamento compacto, b) cúbico de empacotamento
compacto
entre os empacotamentos hexagonal e cúbico compactos está
representada na Fig. 2.5. As teorias de ligação em metais e ligas metálicas serão
Formas aleatórias de empacotamento, tais como ABABC descritas no Capítulo 5.
ou ACBACB, são possíveis mas estes raramente ocorrem de A ligação metálica não ocorre somente em metais e
fato. Todavia, os empacotamentos densos hexagonal ligas, mas também em vários outros tipos de compostos:
ABABAB e cúbico ABCABC são muito comuns.
1. Boretos, carbetos, nitretos e hidretos intersticiais
A terceira estrutura metálica comum é denominada formados pelos elementos de transição (e também por
estrutura cúbica de corpo centrado (Fig. 2.2c). As esferas se alguns dos lantanídios). Alguns haletos de metais de
encontram empacotadas segundo camadas, como mostrado transição de baixo estado de oxidação também per­
na Fig. 2.3b. As esferas da segunda camada ocupam as tencem a esse grupo, pois os compostos apresentam
depressões da primeira camada e as esferas da terceira condutividade elétrica e imagina-se que contenham
camada ocupam as depressões da segunda camada. Nesse elétrons livres localizadas em bandas de condução.
caso, as esferas da terceira camada também se situam
imediatamente acima das esferas da primeira camada. 2. Compostos do tipo “cluster” dos metais de transição e
Contudo, essa forma de empacotamento é menos eficiente compostos do tipo "cluster” do boro, nos quais as
na ocupação do espaço que o empacotamento compacto ligações covalentes se encontram deslocalizadas ao
(compare as Figs. 2.3a e b). Numa estrutura cúbica de corpo longo de vários átomos. Nesse caso, as ligações são
centrado, as esferas ocupam 68% do espaço total e equivalentes a uma forma restrita de ligação metálica.
apresentam número de coordenação 8, enquanto que na 3. Um grupo de compostos com ligação metal-metal, que
estrutura de empacotamento compacto 74% do espaço são inclui os carbonilmetálicos. Os compostos do tipo “clus­
ocupados e o número de coordenação é 12. Os metais sempre ter” (aglomerados) e os compostos com ligações metal-
possuem estruturas com elevado número de coordenação. metal têm ajudado na compreensão do papel dos metais
como catalisadores.
a)
Pontos de fusão
Os compostos iônicos são geralmente sólidos, com
elevados pontos de fusão e de ebulição. Ao contrário, os
compostos covalentes são geralmente gases, líquidos ou
sólidos de baixo ponto de fusão. Esses contrastes são
decorrentes das diferenças nas ligações e na estrutura dos
mesmos.
Os compostos iônicos são constituídos por íons positivos
e negativos, dispostos de maneira regular num retículo
Figura 2.4 — Camadas suporpostas de esferas de empacotamento cristalino. A atração entre os íons é de natureza eletrostática
compacto, a) duas camadas de esferas de empacotamento compacto (a e não-direcional, estendendo-se igualmente em todas as
segunda camada está sombreada), b) três camadas de esferas de
empacotamento compacto (segunda camada sombreada, terceira
direções. Fundir o composto significa romper o retículo. Isso
camada, círculos pretos). Observe que a terceira camada não se situa requer uma energia considerável. Por isso, os pontos de fusão
acima da primeira: trata-se pois de um arranjo ABCABC... (cúbico de e de ebulição geralmente são elevados e os compostos são
empacotamento compacto) muito duros.
TRANSIÇÕES ENTRE 05 PRINCIPAIS TIPOS DE USAÇOES 19

Compostos contendo ligações covalentes são, em geral, Solubilidade


constituídos por moléculas discretas. As ligações são Se forem solúveis, os compostos iônicos serão
direcionais e fortes ligações covalentes mantêm os átomos dissolvidos preferencialmente em solventes polares. São
unidos para formar uma molécula. No estado sólido, as solventes com elevada constante dielétrica, tais como água
moléculas são mantidas por forças de van der Waals fracas.
ou os ácidos minerais. Compostos covalentes normalmente
Para fundir ou evaporar os compostos, precisamos apenas
não são solúveis nesses solventes, mas se forem solúveis
fornecer uma quantidade de energia suficiente para
dissolver-se-ão preferencialmente em solventes apoiares
sobrepujar as forças de van der Waals. Consequentemente,
compostos covalentes são geralmente gases, líquidos ou (orgânicos) de baixa constante dielétrica, tais como benzeno
sólidos moles, com baixo ponto de fusão. ou tetraclorometano. A regra geral é formulada às vezes como
“semelhante dissolve semelhante”. Assim, os compostos
Em alguns casos, como no diamante e na sílica, SiO2, iônicos geralmente são solúveis em solventes polares
todos os átomos estão ligados covalentemente formando um
(iônicos) e compostos covalentes em solventes apoiares
retículo gigante, ao invés de moléculas discretas. Nesses
(covalentes).
casos, existe um retículo tridimensional, apresentando
ligações covalentes fortes em todas as direções. Uma grande
quantidade de energia é necessária para romper esse retículo. Velocidade das reações
Por isso o diamante, a sílica e outros materiais que possuem Geralmente os compostos iônicos reagem muito
retículos tridimensionais gigantes são muito duros e
rapidamente, ao passo que os compostos covalentes
apresentam elevados pontos de fusão. geralmente reagem lentamente. As espécies envolvidas nas
reações iônicas são íons, e como estes já se encontram
Condutividade presentes no meio, basta que eles colidam com o outro íon.
Compostos iônicos conduzem a eletricidade quando Por exemplo, durante o teste com nitrato de prata, para
fundidos ou em solução. A condução se deve aos íons que verificar a presença de íons cloreto numa solução, a
migram para os respectivos eletrodos sob a ação de um precipitação de cloreto de prata é muito rápida.
potencial elétrico. Se uma corrente elétrica for passada Ag+ + Cl' -» AgCl
através de uma solução de cloreto de sódio, os íons Na +
serão atraídos pelo eletrodo negativo (cátodo), onde eles Nas reações envolvendo compostos covalentes,
recebem um elétron e formam átomos de sódio. Os íons Cl~ geralmente há quebra de uma ligação seguida da substituição
são atraídos pelo eletrodo positivo (ânodo), onde eles perdem ou adição de um outro grupo. Logo, é necessário fornecer
um elétron e se transformam em átomos de cloro. Esse energia para quebrar a ligação. Essa energia é denominada
processo é designado eletrólise. As transformações ocorridas energia de ativação, e freqüentemente torna as reações lentas.
se devem à transferência de elétrons do cátodo para o ânodo, As colisões entre as moléculas de reagentes só serão efetivas
mas a condução ocorre por um mecanismo iônico en­ se as energias forem suficientes. Por exemplo, a redução de
volvendo a migração dos íons positivos e negativos em nitrobenzeno a anilina, em quantidades apreciáveis, leva
direções opostas. várias horas. Analogamente, a reação de H2 com Cl2 é
surpreendentemente lenta, a não ser quando a mistura é
No estado sólido, os íons estão presos a lugares definidos
exposta diretamente à luz solar. Nesse caso pode haver uma
no retículo cristalino. Como eles não podem migrar, são
explosão:
incapazes de conduzir eletricidade por aquele mecanismo.
Contudo, é errado afirmar que sólidos iônicos não conduzem C6H5NO2 + 6[H] C6N5NH2 + 2H2O
eletricidade, sem definir melhor o que queremos dizer. O
H2 —> 2H
cristal pode conduzir eletricidade em pequeno grau por
semicondução, se ele contiver defeitos. Suponha que uma Cl2 -> 2C1
posição no retículo esteja desocupado e haja uma "vacância" H + Cl—>HC1
nesse local. Um íon pode migrar de sua posição normal no
retículo para essa posição desocupada. Ao fazer isso, cria
uma vacância num outro local. A nova vacância pode ser É importante lembrar que geralmente as ligações não
preenchida por outro íon, e assim por diante. Assim, a são 100% covalentes ou iônicas e que existem ligações de
vacância pode migrar através do cristal e uma carga seria caráter intermediário. Se uma molécula for constituída por
transportada no sentido inverso. Evidentemente, a dois átomos idênticos, ambos terão a mesma eletronega-
quantidade de corrente conduzida desse modo é muito tividade e, portanto, a mesma tendência de atrair elétrons
pequena, mas mesmo assim, os semicondutores são de (ver capítulo 6). Numa molécula desse tipo, o par de elétrons
grande importância nos modernos dispositivos eletrônicos. que forma a ligação covalente é igualmente compartilhado
Os metais conduzem a eletricidade mais eficientemente pelos dois átomos. Temos, assim, uma ligação 100%
que qualquer outro material, mas nesse caso a condução se covalente, às vezes denominada ligação covalente apoiar.
deve ao movimento de elétrons e não de íons. É mais freqüente a formação de moléculas a partir de
Compostos covalentes não contêm íons (em contraste átomos diferentes, e as eletronegatividades dos dois átomos
com os compostos iônicos), nem elétrons móveis (ao envolvidos serão distintas. Considere por exemplo as
contrário dos metais). Por isso, são incapazes de conduzir a moléculas de C1F e HF. O flúor é o átomo mais eletronegativo,
corrente elétrica, tanto no estado gasoso como no líquido e quando ligado covalentemente atrai elétrons com mais força
ou no sólido. Compostos covalentes são, portanto, isolantes. do que qualquer outro elemento. Os elétrons da ligação
eo iNrmnnuçAo À lisaçAd duImica

permanecem mais tempo ao redor do flúor do que junto ao O momento dipolar de uma molécula mede a tendência
outro átomo. Logo, o flúor adquire uma pequena carga da molécula alinhar suas cargas, quando colocadas num
negativa 8“ e o outro átomo (Cl ou H) uma pequena carga campo elétrico. Moléculas polares apresentam elevadas
positiva 8+. constantes dielétricas, enquanto que moléculas não-polares
8+- 8- 8+ 8- possuem constantes dielétricas baixas. A constante dielétrica
Cl—F H—F é a razão da capacitância de um capacitor com o material
entre as placas à capacitância do mesmo capacitor com vácuo
Embora essas ligações sejam essencialmente covalentes,
entre elas. Realizando tais medidas poderemos determinar
elas possuem um certo caráter iônico e, às vezes, são
a constante dielétrica e sua magnitude indicará se o mate­
designadas ligações covalentes polares. Nessas moléculas,
uma carga positiva e uma carga negativa de mesmo módulo rial é polar ou apoiar.
estão separadas por uma certa distância. Isso gera um Nos próximos capítulos, as ligações iônicas, covalentes
momento de dipolo permanente na molécula. e metálicas serão discutidas mais detalhadamente.
ei

A LIGAÇAO lonicn

ESTRUTURAS DOS SÓLIDOS IÔNICOS


Os compostos iônicos incluem sais, óxidos, hidróxidos,
sulfetos e a maioria dos compostos inorgânicos. Os sólidos
iônicos são mantidos pela força de atração eletrostática en­
tre os íons positivos e negativos. Evidentemente, haverá uma
força de repulsão quando os íons adjacentes tiverem a mesma
carga, e haverá uma força de atração se os íons positivos
estiverem rodeados por íons negativos ou vice-versa. A força
de atração será máxima quando cada íon for circundado Figura 3.1 — Tamanhos dos tons para o número de coordenação 3
pelo maior número possível de íons de carga oposta. O também aumenta. Assim, a partir de um dado ponto (quando
número de íons que circunda determinado íon é chamado a relação exceder 0,225) será possível alojar quatro íons em
de número de coordenação. Quando o composto for torno de um dado íon. O mesmo raciocínio pode ser
constituído por um mesmo número de íons positivos e empregado para o caso de seis íons em torno de um dado
negativos, como no NaCl, ambos terão o mesmo número de íon. Os números de coordenação 3, 4, 6 e 8 são comuns, e
coordenação. Mas, quando o número de íons for diferente, as correspondentes relações limite entre os raios podem ser
como no CaCl2, os números de coordenação para os íons determinadas as partir de considerações geométricas, como
positivos e negativos serão diferentes. mostradas na Tab. 3.1.
Se os raios iônicos forem conhecidos, pode-se calcular
REGRAS SOBRE AS RELAÇÕES DE RAIOS a relação entre eles e prever o número de coordenação e a
A estrutura de muitos sólidos iônicos pode ser explicada estrutura. Em muitos casos, esse procedimento simples é
considerando-se os tamanhos relativos dos íons positivos e válido.
negativos, bem como seus números relativos. Cálculos
geométricos simples permitem determinar quantos íons de
um dado tamanho podem se arranjar em torno de um íon
CÁLCULOS DE ALGUNS VALORES LIMITES
menor. Portanto, podemos prever o número de coordenação DAS RELAÇÕES DE RAIOS
a partir dos tamanhos relativos dos íons. Esse item pode ser desconsiderado por aqueles que não
Se o número de coordenação num composto iônico AX estiverem interessados em conhecer a origem dos valores
for três, teremos três íons X“ em contato com um íon A + limites das relações de raios.
(Fig. 3.1a). Uma situação limite ocorre quando os íons X“
também estão em contato entre si (Fig.3.1b). A partir de Tabela 3.1 — Relações de raios limitantes e estruturas
considerações geométricas podemos calcular a relação de
raios (raio de A+/raio de X") = 0,155. Esse é o limite infe­ Relação de raios Número de
rior para o número de coordenação três. Caso a relação de limitantes r+/r~ coordenação Forma
raios seja menor que 0,155, o íon positivo não estará em
contato com os íons negativos. Nesse caso, a estrutura <0,155 2 Linear
resultante (Fig. 1.3c) é instável e o íon positivo "oscila" 0,155->0,225 3 Trigonal planar
dentro da cavidade formada pelos íons negativos. 0,225->0,414 4 Tetraédrica
Se a relação de raios for maior que 0,155, será possível 0,414->0,732 4 Quadrada planar
alojar três íons X” em torno de cada íon A +. À medida que 0,414->0,732 6 Octaédrica
0,732 -> 0,999 8 Cúbica de corpo centrado
o tamanho relativo do cátion aumenta, a relação de raios
22 A LIGAÇÃO iOnica

Número de coordenação 6 (octaédrico)


A seção transversal de um sítio octaédrico é mostrada
na Fig. 3.2d, onde o íon positivo menor (de raio r+) toca os
seis íons negativos maiores (de raio r") (note que somente
quatro dos íons negativos estão representados na figura,
estando os demais íons negativos um acima e outro abaixo
do plano do papel). É evidente que AB = r+ + r“, BD = r"
e o ângulo ABC é igual a 45°. Considerando-se o triângulo
ABD:

BD _ r~
COS ABD = 0,7071 = AB ” r++r-

Determinando-se o recíproco, temos que

1
= 1,414
0,7071
Rearranjando,

+ 1 = 1,414

Figura 3.2 — Relações de raios limitantes para os números de e, portanto,


coordenação 3,4e6. a) Seção transversal através de um triângulo plano; r+/r" = 0,414
b) Tetraedro inscrito num cubo: c) Diagrama para o caso tetraédrico;
d) Seção transversal através de um arranjo octaédrico
EMPACOTAMENTO COMPACTO
Número de coordenação 3 (trigonal plana)
Muitas das estruturas cristalinas comumente encon­
A Fig. 3.2a mostra um íon positivo pequeno de raio r+,
tradas são derivadas, ou podem ser descritas em termos, da
em contato com 3 íons negativos maiores de raio r~. Obvia­
estrutura hexagonal ou cúbica de empacotamento compacto.
mente, temos que AB = BC = AC - 2r", BE = r“, BD =
Por causa de sua forma, as esferas não podem preencher
r+ +r“. Além disso, o ângulo A-B-C e D-B-E são, respec­
completamente o espaço.
tivamente, iguais a 60 0 e 30 °. Segue da trigonometria que
Num arranjo de empacotamento compacto de esferas,
cos 30° = BE/BD
apenas 74% do espaço estarão preenchidos. Assim, 26% do
BD = BE/cos 30°
espaço estão desocupados e podem ser considerados como
r+ + r~ = r/cos 30° - f/0,866 = r“ x 1,155
sendo "buracos" presentes no retículo cristalino. Ocorrem
r+ = (l,155r~) - f = 0,155f
dois diferentes tipos de interstícios. Alguns são delimitados
e portanto, por quatro esferas e são denominados interstícios tetraédricos
r+/r“ - 0,155 (marcados por T na Fig. 3.3a), e outros são delimitados por
seis esferas e denominados interstícios octaédricos (marcados
Número de coordenação 4 (tetraédrico) com O na Fig. 3.3a). Para cada esfera num arranjo de
empacotamento compacto há um interstício octaédrico e dois
Na Fig. 3.2b é mostrado um tetraedro inscrito dentro
tetraédricos. Os interstícios octaédricos são maiores que os
de um cubo. Uma parte dessa estrutura tetraédrica é mostrada tetraédricos.
na Fig. 3.2c. Pode-se observar que o ângulo ABC corresponde
ao ângulo de 109°28', característico do tetraedro. Logo o Uma estrutura iônica é composta por íons de cargas
ângulo ABD corresponde à metade, ou seja, 54°44'. No opostas. Se os íons maiores se encontrarem num arranjo de
triângulo ABD empacotamento compacto, os íons menores ocuparão os
interstícios octaédricos ou tetraédricos, dependendo do seu
AD = r~
sen ABD 0,8164
AB r++r~
Determinando-se o recíproco, temos que:
1
+ 1,225
0,8164
Rearranjando,

— + 1 = 1,225

e, portanto, Figura 3.3 — Interstícios tetraédricos e octaédricos: a) sítios tetraédicos


e octaédricos num retículo de empacotamento copipacto; b) sítio
0,225 tetraédico; e c) sítio octaédrico
COMPOSTOS IONICDS DO TIPO AX (ZnS. NaO. CsCI) 23

arranjo 4 : 4. Existem duas formas dife­


Tabela 3.2 — Algumas estruturas baseadas em empacotamento compacto rentes de sulfeto de zinco, a blenda e a
wurtzita (Fig. 3.4). Ambas apresentam
Fórmula Tipo Tetraédrico Octaédrico Número de arranjos 4 : 4.
de c coordenação As duas estruturas podem ser conside­
A:X
radas como sendo arranjos de empaco­
tamento compacto de íons S2-. A estrutura
AX NaCl cc Nenhuma Todas 6:6
da blenda está relacionada com a estrutura
NiAS hc Nenhuma Todas 6:6
cúbica de empacotamento compacto,
ZnS blenda cc 1/2 Nenhuma 4:4
enquanto que a estrutura da wurtzita está
ZnS wurtzita hc 1/2 Nenhuma 4:4
relacionada com a estrutura hexagonal de
ax2 CaF2* fluorita cc* Todas Nenhuma 8:4 empacotamento compacto. Em ambos os
Cdl2 hc Nenhuma 1/2 6:3 casos, os íons Zn2 + ocupam os interstícios
CdCl2 cc Nenhuma 1/2 6:3 tetraédricos do retículo. Como há duas
P-ZnClj hc 1/4 Nenhuma 4:2 vezes mais interstícios tetraédricos que íons
Hgl2, cc 1/4 Nenhuma 4:2 S2~, deduz-se que para satisfazer a este-
MX3 BíI3 hc Nenhuma 1/3 6:2
quiometria definida pela fórmula ZnS,
CrCl3 cc Nenhuma 1/3 6:2 somente metade dos interstícios tetraé­
dricos deve ser ocupada por íons Zn2 + (isto
MX4 Snl4 hc 1/8 Nenhuma 4: 1 é, sítios tetraédricos estão alternadamente
mx6 a-WCl6 e UC16 cc Nenhuma 1/6 6: 1 desocupados).

m2x3 a-Al2O3 corindo hc Nenhuma 2/3 6:4


* O íon metálico assume o arranjo cúbico de face centrada, que é exatamente igual ao cúbico compacto, a não ser
pelo fato de os íons não se tocarem (observe que os íons densamenle empacotados são os íons M*, não os íons
negativos, como nos outros exemplos).
tamanho. Geralmente, a relação de raios permite prever o Estrutura do cloreto de sódio
tipo de interstício ocupado. Um íon que ocupa um interstício No cloreto de sódio, NaCl, a relação de raios é igual a
tetraédrico apresenta número de coordenação 4, enquanto 0,52 sugere um arranjo octaédrico. Cada íon Na+ é rodeado
que um íon ocupando um interstício octaédrico apresenta por seis íons CF dispostos nos vértices de um octaedro regu­
número de coordenação 6. Em alguns compostos, o tamanho lar. Analogamente, cada íon Cl" é rodeado por seis íons Na +
relativo dos íons é tal que os íons menores são grandes (Fig. 3.5). A coordenação é, portanto, 6 : 6. Essa estrutura
demais para se encaixarem nos interstícios. Nesse caso, eles pode ser considerada como sendo resultante de uma estrutura
obrigam os íons maiores a se afastarem (estes deixam de
estar em contato entre si) quebrando a estrutura de
empacotamento compacto. Não obstante, as posições
relativas dos íons permanecem inalteradas, sendo, portanto,
conveniente manter a descrição da estrutura do sólido
segundo o arranjo de empacotamento compacto.

CLASSIFICAÇÃO DAS ESTRUTURAS


IÔNICAS
É conveniente classificar os compostos iônicos nos
grupos AX, AX2, AX3, dependendo do número relativo de
Figura 3.4 — Estrututras do ZnS: a) blenda e b) wurtzita. (Reproduzido
íons positivos e negativos. com permissão de Wells, A.F. Structural Inorganic Chemistty, 5a ed.,
Oxford University Press. 1984)
COMPOSTOS IÔNICOS DO TIPO AX (ZnS,
NaCl, CsCI)
Os três arranjos estruturais mais comumente encon­
trados são as estruturas do sulfeto de zinco, cloreto de sódio
e do cloreto de césio.

Estruturas do sulfeto de zinco O Na*


No sulfeto de zinco a relação de raios de 0,40 sugere • ci-
um arranjo tetraédrico. Cada íon Zn2+ é rodeado tetrae-
dricamente por quatro íons S2', e cada íon S2' é circundado Figura 3.5 — Estrutura de cloreto de sódio (sal-gema, NaCl).
tetraedricamente por quatro íons Zn2 + . O número de (Reproduzido com permisão de Wells. A.F. Structural Inorganic Chemistty,
coordenação de ambos os íons é 4 e por isso é designado 5.° ed., Oxford University Press, 1984)
£4 a lieaçAd iúnica

Figura 3.8 — Estrutura do rutilo (TiOJ

Figura 3.6 — Estrutura do cloreto de césio (CsCl). (Reproduzido com Estrutura do fluoreto de cálcio (fluorita)
permissão de Wells. A.F. Structural Inorganic Chemistry, 5? ed., Oxford
University Press, 1984) Na fluorita, cada íon Ca2 + é rodeado por oito íons F",
formando um arranjo do tipo cúbico de corpo centrado de
cúbica compacta de íons Cl", no qual os íons Na+ ocupam íons F" em torno de cada íon Ca2 +. Dado que o número de
todos os interstícios octaédricos. íons F" é o dobro do número de íons Ca2 +, o número de
coordenação dos dois íons não é o mesmo, de modo que
quatro íons Ca2 + se dispõem tetraedricamente em torno de
Estrutura do cloreto de césio
cada íon F". Os números de coordenação são, pois, 8 e 4, e
No cloreto de césio, CsCl, a relação de raios é igual a este é denominado arranjo 8 : 4. A estrutura da fluorita é
0,93. Isso sugere um arranjo do tipo cúbico de corpo encontrada quando a relação de raios for igual ou superior a
centrado, em que cada íon Cs+ é rodeado por oito íons Cl" e 0,73.
vice-versa (Fig. 3.6). A coordenação é, portanto, 8 : 8. Ob­ Uma descrição alternativa dessa estrutura considera os
serve que essa estrutura não é de empacotamento compacto, íons Ca2+ formando um arranjo cúbico de face centrada. Os
e não é rigorosamente cúbica de corpo centrado. íons Ca2+ são pequenos demais para tocarem-se mutuamente
Num arranjo cúbico de corpo centrado, o átomo situado e a estrutura não apresenta empacotamento compacto.
no centro do cubo é idêntico àqueles situados nos vértices. Contudo, essa estrutura está relacionada com o arranjo
Essa estrutura é encontrada em metais, mas, no CsCl, encontrado numa estrutura de empacotamento compacto,
enquanto os íons situados nos vértices são íons Cl", o íon visto que os íons Ca2+ ocupam exatamente as mesmas
situado no centro deverá ser um íon Cs + . Logo, o arranjo posições relativas encontradas nesse tipo de estrutura, e os
não é estritamente cúbico de corpo centrado. A estrutura do íons F" ocupam todos os interstícios tetraédricos.
') cloreto de césio deverá ser descrita como uma estrutura do
tipo cúbico de corpo centrado.
Estruturas do rutilo
Existem três formas de TiO2, denominadas anatase,
COMPOSTOS IÔNICOS DO TIPO AX2 (CaF2, brookita e rutilo. A estrutura do rutilo é encontrada em
TiO2, SiO2) muitos cristais, onde a relação de raios se situa entre 0,41 e
As duas estruturas mais comuns são a da fluorita, CaF2 0,73. Isso sugere um número o coordenação 6 para um dos
(Fig. 3.7), e a do rutilo, TiO2, (Fig. 3.8). Muitos difluoretos e íons e, a partir da fórmula, deduz-se que o número de
dióxidos também apresentam uma dessas duas estruturas. coordenação do outro íon é 3. Esse é um arranjo 6 : 3. Cada
Uma outra estrutura bastante comum é a de uma das formas íon Ti4 + é rodeado octaedricamente por seis íons O2". Por
do SiO2 denominada p-cristobalita (Fig. 3.9). Essas estruturas sua vez, cada íon O2" é circundado por três íons Ti4 +, num
são verdadeiramente iônicas. Se as ligações tiverem um grau arranjo trigonal plano.
apreciável de caráter covalente, formam-se estruturas em A estrutura do rutilo não apresenta empacotamento
camadas. compacto. A cela unitária, isto é, a unidade estrutural que

Figura 3.7 — Estrutura da fluorita (CaFJ. (Reproduzido com permissão


de Wells, A.F. Structural Inorganic Chemistry, S? ed., Oxford University
Press, 1984) Figura 3.9 — Estrutura da ^-cristobalita
ESTRUTURA EM CAMADAS [CdIE. CdCIE. [NIAs]] 25

ESTRUTURA EM CAMADAS (Cdl2, CdCl2,


[Ni As])

Estrutura do iodeto de cádmio


Muitos compostos AX2 não são suficientemente iônicos
para formar as estruturas perfeitamente regulares descritas
acima. Muitos cloretos, brometos, iodetos e sulfetos
cristalizam segundo estruturas muito diferentes daquelas
descritas. O fluoreto de cádmio, CdF2, forma um retículo
iônico com a estrutura do CaF2. Todavia, o iodeto de cádmio,
Cdl2, é muito menos iônico e não assume a estrutura da
fluorita. A relação de raios para o Cdl2 é 0,45, o que indica
um número de coordenação 6 para o cádmio. Esse composto
forma uma estrutura em camadas eletricamente neutras na
qual uma camada de íons Cd2+ se encontra entre duas
camadas de íons F", um em cada lado — como num
sanduíche, em que a camada de Cd2+ é o recheio e as
camadas de I" são as fatias de pão. Essa é uma estrutura em
Figura 3.10 — Parte de duas camadas da estrutura de iodeto de
cádmio (Cdlt) camadas e não se trata de uma estrutura iônica
completamente regular. Num sanduíche, a fatia do pão é
se repete, não é um cubo, uma vez que um dos eixos é 30% separada da outra pelo recheio, mas numa pilha de
mais curto que os outros dois. Por isso, é conveniente sanduíches, uma fatia de pão acaba ficando sobre a do outro
descrevê-la como um cubo consideravelmente distorcido pão. Analogamente, no Cdl2, duas camadas de íons I" são
(embora a distorção seja relativamente grande). Assim, a separadas por uma de Cd2+ num “sanduíche”, mas entre
estrutura pode ser descrita como um retículo cúbico de corpo um "sanduíche" e o seguinte duas camadas de F estão em
centrado de íons Ti4+ consideravelmente distorcido. Cada contato. Embora exista uma forte atração eletrostática entre
íon Ti4 + é rodeado octaedricamente por seis íons O2-, e os as camadas de Cd2+ e de F, as camadas adjacentes de íons
íons O2" estão em posição de número de coordenação três, F são mantidas apenas por forças fracas de van der Waals.
ou seja, cada O2" é rodeado por três íons Ti4+ situados nos Assim, o empacotamento das camadas na estrutura cristalina
vértices de um triângulo equilátero. O número de não é completamente regular — o sólido parece ser cons­
coordenação três não é comum em sólidos. Não há exemplos tituído por escamas e podem ser facilmente clivadas for­
de compostos do tipo AX com número de coordenação três, mando duas lâminas paralelas. Essa estrutura é adotada por
mas há um outro exemplo em compostos do tipo AX2, o muitos diiodetos de metais de transição (Ti, V, Mn, Fe, Co,
Cdl2, embora nesse caso o arranjo não seja de um triângulo Zn, Cd) e por alguns diiodetos e dibrometos de metais
equilátero. A estrutura do CaCl2 também é do tipo 6 : 3, representativos (Mg, Ca, Ge e Pb). Muitos hidróxidos
semelhante à do Cdl2. Essas estruturas serão descritas mais apresentam estruturas semelhantes, em camadas: Mg(OH)2,
adiante. Ca(OH)2, Fe(OH)2, Co(OH)2, Ni(OH)2 e Cd(OH)2.
Existem apenas alguns poucos casos em que a relação No iodeto de cádmio, os íons F da terceira camada se
de raios é inferior a 0,41. Podem ser citados como exemplos situam exatamente sobre os íons da primeira camada, de
a sílica, SiO2, e o fluoreto de berílio, BeF2. Apresentam modo que o padrão de repetição é ABABAB... Pode-se
números de coordenação 4 e 2, mas as previsões a partir considerar que os íons F formam um arranjo aproxima­
das relações de raios são imprecisas, devido ao elevado damente hexagonal de empacotamento compacto, onde os
caráter covalente das ligações. íons Cd2+ ocupam metade dos interstícios octaédricos.
Entretanto, ao invés de preencher de maneira regular a
metade dos interstícios octaédricos, os íons Cd2 + preenchem
Estrutura da p-cristobalita (sílica) todos os interstícios octaédricos existentes entre duas
Existem seis formas cristalinas diferentes de sílica camadas de F deixando desocupados todos os interstícios
[SiO2]: o quartzo, a cristobalita e a tridimita, cada uma com octaédricos entre as duas camadas seguintes. Continuando
uma forma a e uma forma 0. A P-cristobalita tem uma esse raciocínio, espera-se que os interstícios octaédricos
estrutura semelhante a da blenda, em que dois retículos de existentes entre as próximas duas camadas adjacentes sejam
empacotamento compacto se interpenetram. Num deles, os novamente preenchidos, permanecendo vazios os interstícios
átomos de Si ocupam as posições do S2’, no outro os átomos entre as duas camadas seguintes, e assim por diante.
de Si ocupam as posições do Zn2+ (isto é, os interstícios
tetraédricos do primeiro retículo). Os átomos de O se situam
numa posição intermediária entre os átomos de Si, mas Estrutura do cloreto de cádmio
ligeiramente deslocados para fora da linha que os une. Logo, O cloreto de cádmio forma uma estrutura em camadas
os ângulos Si-O-Si não são iguais a 180°. A relação de raios semelhante a do Cdl2, mas os íons cloreto ocorrem num
prevê um número de coordenação de 4, sendo esta uma arranjo aproximadamente cúbico de empacotamento com­
estrutura do tipo 4:2. pacto (ABCABC...).
BB A LIGAÇÃO lONICA

cj-

®Ca”
Figura 3.11 — Estrutura do arseneto de níquel

Figura 3.12 — Estrutura do carbeto de cálcio


As estruturas em camada são intermediárias entre dois
casos extremos:
1. Um cristal totalmente iônico, com arranjo regular de K2[PtCl6] adota a estrutura da anti-fluorita, que é idêntica à
íons e fortes forças eletrostáticas em todas as direções, estrutura da fluorita, exceto que as posições ocupadas pelos
e íons positivos e negativos são trocadas. Os dois íons de um
composto podem ser complexos — por exemplo,
2. Um cristal formado por moléculas discretas pequenas, [Ni(H2O)s][SnCl6] forma cristais com a estrutura do CsCl,
mantidas juntas por forças fracas tais como as forças mas um pouco distorcida. Outros íons (CN~ e SH") às vezes
de van der Waals e ligações de hidrogênio. adquirem simetria esférica por causa da livre rotação, ou
devido a uma orientação aleatória. Como exemplos temos
Estrutura do arseneto de níquel CsCN, T1CN e CsSH.
A estrutura do arseneto de níquel, NiAs, é semelhante Algumas vezes a presença de íons não-esféricos
à estrutura do Cdl2. No NLAs (Fig. 3.11) os átomos de arsênio simplesmente distorce o retículo. O carbeto de cálcio
formam um retículo do tipo hexagonal compacto. Contudo, cristaliza segundo uma estrutura cúbica de face centrada,
nesse caso os átomos de níquel ocupam todos os interstícios como o NaCl. Mas, os íons lineares C22" estão todos
octaédricos entre todas as camadas de átomos de arsênio orientados na mesma direção, ao longo de um dos eixos do
(no Cdl2 são preenchidos todos os interstícios octaédricos retículo. Isso alonga a cela unitária nessa direção (Fig. 3.12).
existentes entre metade das camadas, enquanto que no NiAs Analogamente, a calcita, CaCO3, também possui uma
são preenchidos todos os interstícios octaédricos entre todas estrutura semelhante a do NaCl, mas os íons trigonais planos
as camadas). CO32' distorcem a cela unitária ao longo de um eixo de
simetria ternária, e não ao longo de um dos eixos da cela
Na estrutura do arseneto de níquel cada átomo possui
unitária. Diversos carbonatos de metais divalentes, vários
seis átomos vizinhos do outro tipo. Cada átomo de arsênio
nitratos (LiNO3, NaNO3), e alguns boratos (ScBO3, YBO3,
é rodeado por seis átomos de níquel nos vértices de um
InBO3), também apresentam a estrutura da calcita.
prisma trigonal. Cada átomo de níquel é rodeado
octaedricamente por seis átomos de arsênio, mas com dois
átomos de níquel adicionais suficientemente próximos para UMA VISÃO MAIS CRÍTICA DA RELAÇÃO
que possam estar ligados ao átomo de níquel em questão.
Essa estrutura ocorre quando muitos dos elementos de
DE RAIOS
transição formam ligas com um dos elementos mais pesados Numa primeira aproximação, são os números e
do bloco p (Sn, As, Sb, Bi, S, Se, Te). Estes são melhor tamanhos relativos dos íons que determinam a estrutura de
classificados como fases intermetálicas do que como um cristal. As relações de raios dos haletos dos metais
compostos químicos verdadeiros. Apresentam brilho alcalinos e dos óxidos, sulfetos, selenetos e teluretos dos
metálico, e às vezes, composição variável. metais alcalino terrosos são mostrados na Tabela 3.3.
Para maiores detalhes sobre outras estruturas iônicas, Todos os cristais que apresentam uma relação de raios
tais como perovskitas e espinélios, vide o capítulo 20 e as compreendidas entre 0,41 e 0,73 (delimitada por linhas cheias
sugestões de leitura no final deste capítulo (Adams; Addison; na Tab. 3.3) deveríam ter a estrutura do cloreto de sódio. De
Douglas, McDaniel e Alexander; Greenwood; Wells). fato, exceto por quatro dos compostos citados, todos
apresentam a estrutura do NaCl, à temperatura ambiente.
Assumem a estrutura do NaCl um número bem maior de
Estruturas formadas por íons poliatômicos compostos que o previsto. As exceções são o CsCl, CsBr e
Existem muitos compostos iônicos dos tipos AX e AX2, Csl, que têm a estrutura do cloreto de césio; e o MgTe que
nos quais A ou X ou ambos são substituídos por íons possui a estrutura do sulfeto de zinco. RbCl e RbBr são
complexos. Quando o íon complexo for razoavelmente incomuns, pois eles assumem a estrutura de NaCl (número
esférico, poderá formar uma estrutura bastante simétrica, de coordenação 6) quando cristalizam à temperatura e
íons tais como SO42~, C1O4“ e NH4+ são quase esféricos. Por pressão normais, mas a estrutura do CsCl (número de
exemplo, o complexo de metal de transição [Co(NH3)6]I2 coordenação 8) quando cristalizam à pressão ou temperatura
forma sólidos com a estrutura da fluorita, CaF2. O complexo elevadas. O fato desses compostos poderem ter ambas as
UM ALERTA SOBRE AS RELAÇ0E5 BE RAIOS 27

A suposição de que os íons se tocam é necessária para


Tabela 33 — Relações de raios dos haletos do Grupo 1 e
se calcular o limite inferior crítico para as relações de raios,
óxidos do Grupo 2
compatíveis com as diversas estruturas cristalinas. Em
cr Br- o2- s2- Se2- Te' princípio, os íons positivos e negativos devem se tocar para
F
que estejam o mais próximo possível uns dos outros e se
obtenha a atração eletrostática máxima (a energia de atração
Li* 0,57 0,41 0,39 0,35 Be
eletrostática é proporcional ao produto das cargas dos íons
Na* 0,77 0,55 0,52 0,46 Mg2* 0,51 0,39 0,36 0,33 dividido pela distância entre eles). Teoricamente, estruturas
K* 0,96* 0,75 0,70 0,63 Ca2* 0.71 0,54 0,51 0,45 em que o íon menor está "solto" em seu interstício (isto é,
Rb* 0,88* 0,83 0,78 0,69 Sr* 0.84 0.64 0,60 0,53 ele não está em contato com os íons negativos vizinhos)
Cs* 0,80* 0,91 0,85 0,76 Ba2* 0.96 0,73 0,68 0,61 deveríam ser instáveis. Uma situação mais favorável poderia
♦ Indica o valor recíproco r7r+, pois o valor normal é maior que a unidade. ser alcançada adotando-se um arranjo geométrico diferente
com um número de coordenação menor, fazendo com que
os íons se aproximem. Já vimos que alguns haletos alcalinos
estruturas indica que a diferença de energia reticular entre e óxidos dos metais alcalino-terrosos possuem estrutura do
as mesmas é pequena. Logo, a diferença de estabilidade dos NaCl, com número de coordenação 6 : 6, mesmo que as
referidos sais, que cristalizam segundo as estruturas do NaCl
estruturas previstas pelas relações de raios sejam diferentes.
ou do CsCl, é pequena.
Portanto, uma vez que o íon menor não se encaixa
perfeitamente no interstício, pode-se deduzir que ele ou está
UM ALERTA SOBRE AS RELAÇÕES DE "solto” ou então comprimido.
RAIOS Os íons são esféricos? É razoável considerar esféricos
os íons com configuração eletrônica de gás nobre. Isso inclui
A relação de raios fornece uma indicação do que é a maioria dos íons formados pelos elementos dos grupos
provável, baseado na geometria, e também fornece uma
representativos. Há um pequeno número de exceções, em
primeira idéia a respeito da provável estrutura, mas há outros
que os íons apresentam um par inerte (Ga *, In *, TI *, Sn2 *,
fatores envolvidos. O uso das relações de raios não leva a
Pb2*, I*, I3*). Esses íons não possuem centro de simetria e
um método totalmente confiável para se prever qual será a
estrutura cristalina real de um composto iônico. as estruturas que eles formam geralmente apresentam
alguma distorção, com o íon metálico ligeiramente deslocado
Embora a relação de raios indique a estrutura correta de sua posição normal. Os íons dos metais de transição,
em muitos casos, há um número significativo de exceções, com orbitais d parcialmente preenchidos, não são esféricos.
onde a estrutura prevista é incorreta. Vale a pena, portanto,
Porém, ao contrário dos íons que apresentam distorção pela
analisar as hipóteses sobre os quais se baseia o método das
presença de um par inerte, os íons de metais de transição
relações de raios, para verificar se eles são realmente válidos.
geralmente tem um centro de simetria. O arranjo dos elétrons
Esses pressupostos são:
nesses orbitais d dá origem à distorção de Jahn-Teller (ver
1. Os raios iônicos devem ser conhecidos com exatidão. Capítulo 28). Um elétron em orbital d parcialmente
2. Os íons se comportam como esferas rígidas inelásticas. preenchido, que aponta em direção a um íon coordenado
3. Arranjos estáveis somente são possíveis quando os íons (ligante) sofrerá uma ação repulsiva. Um orbital d
positivos e negativos se tocam. completamente preenchido sofrerá ainda maior repulsão.
4. Os íons apresentam forma esférica. Com isso surge uma estrutura com algumas ligações longas
e algumas curtas, dependendo tanto da configuração
5. Os íons apresentam sempre o maior número de
eletrônica como da estrutura cristalina, isto é, da posição
coordenação possível.
relativa dos íons coordenantes.
6. A ligação é 100% iônica.
É altamente improvável que uma ligação seja 100%
Os valores para os raios iônicos não podem ser medidos iônica. A manutenção da estrutura do NaCl em muitos
de maneira absoluta e exata, mas são valores estimados. compostos, para os quais se esperaria uma estrutura de CsCl,
Esses valores não são totalmente exatos e confiáveis. Isso deve-se à existência de uma pequena contribuição covalente
acontece porque embora seja possível medir a distância
para a ligação. Os três orbitais p se situam a 90° um do
interatômica entre dois íons com muita exatidão por
outro. Numa estrutura do tipo NaCl, eles apontam
cristalografia de raios X, é difícil saber exatamente como a
diretamente para os seis vizinhos mais próximos, tornando
distância entre eles deve ser dividida para se obter os raios
possível o recobrimento entre os orbitais e a ocorrência de
iônicos. Além disso, o raio de um íon não é constante, mas
dependente de sua vizinhança. De fato, o raio iônico muda interações covalentes. A disposição espacial dos íons na
quando varia o número de coordenação. Os valores tabelados estrutura do NaCl é perfeita para que existam contribuições
normalmente se referem aos íons com número de covalentes na ligação. Esse não é o caso na estrutura do
coordenação 6. Mas o raio efetivamente aumenta 3% quando CsCl.
o número de coordenação aumenta de 6 para 8, e decresce Assim sendo, a relação de raios nos permite, grosseira­
6% quando o número de coordenação diminui de 6 para 4. mente, prever quais são as estruturas geometricamente possí­
Os íons não são esferas rígidas inelásticas. Eles às vezes veis. Muitas vezes é possível prever a estrutura correta basean­
se encontram em interstícios que são um pouco menores, do-se na relações de raios, mas nem sempre. Em última aná­
ou seja, os íons se encontram comprimidos e, em lise, uma determinada estrutura cristalina é formada porque
! conseqüência, o retículo pode ser distorcido. é a que conduz a uma energia reticular mais favorável.
28 A LIGAÇÃO lONICA

ENERGIA RETICULAR Tabela 3.5 — Valores médios para o expoente de Bom


A energia reticular (U) de um cristal é a energia liberada
quando se forma uma molécula-grama do cristal a partir dos Estrutura n Exemplos
íons gasosos: eletrônica do íon
Na + (g) + Cl"(g) —» NaCl(cristal) U = -782 kj moT1 He 5 Li+,Be2+
As energias reticulares não podem ser medidas Ne 7 Na+, Mg2+, O2', F"
diretamente, mas valores experimentais podem ser obtidos Ar 9 K+, Ca2+, S2-, CF, Cu*
a partir de dados termodinâmicos e o ciclo de Born-Haber Kr 10 Rb+, Br, Ag+
Xe 12 Cs*, T, Au+
(ver Capítulo 6).
É possível se determinar teoricamente os valores das Usam-se valores médios, por exemplo, no LiCl, Li* = 5, Cl = 9, portanto
energias reticulares. Considerando-se apenas um íon positivo para o LiCl n — (5 + 9)/2 = 7.
e um negativo e supondo-se que se comportem como cargas
A equação para as forças de atração entre os íons resulta
puntuais, a energia de atração eletrostática, E, entre eles é: num valor negativo de energia, isto é, há liberação de energia
quando o cristal é formado. A distância interiônica aparece
B z*z~e2
ZÍ --- ------------------------- no denominador da equação. Portanto, quanto menor o valor
r de r maior será a quantidade de energia liberada quando o
onde: retículo cristalino for formado, e tanto mais estável será o
z* ez’ são as cargas dos íons positivo e negativo cristal. Matematicamente, a equação sugere a liberação de
uma quantidade infinita de energia quando a distância r for
e é a carga do elétron
igual a zero. Na realidade não é bem assim. Quando a
r é a distância entre os íons. distância interiônica se torna pequena o suficiente para que
No caso de um sistema com mais de dois íons, a energia os íons se toquem, eles começam a se repelir. Essa força de
eletrostática depende do número de íons e também do fator repulsão é resultante da repulsão mútua entre as nuvens
A, que depende da localização relativa dos íons no espaço. eletrônicas dos dois átomos ou íons e aumenta rapidamente
A energia de atração eletrostática para um mol do composto à medida que r diminui. A força de repulsão é dada por B/
é dada por: r", onde B é uma constante que depende da estrutura, e n é
uma constante denominada expoente de Bom. Para um
r_ NoAz*z-e2 molécula-grama, a força repulsiva total será igual a (N0B)/
r r". O expoente de Bom pode ser determinado a partir de
experimentos de compressibilidade. Freqüentemente os
onde: químicos utilizam o valor 9, mas é preferível usar os valores
No é a constante de Avogadro — o número de próprios dos íons em questão.
moléculas existentes em um mol, ou seja A energia total que permite a formação do cristal é a
6,023 x 1023 moT1 energia reticular U, que é a soma das forças de atração e de
A é a constante de Madelung, que depende da repulsão eletrostática.
geometria do cristal.
+ NOB
Os valores das constantes de Madelung de todas as r (3.1)
r"
estruturas cristalinas comuns foram calculados somando-se energia de atração energia de repulsão
as contribuições de todos os íons presentes num dado retículo
(A é a constante de Madelung e B o coeficiente de repulsão,
cristalino. Alguns desses valores são mostrados na Tabela
aproximadamente proporcional ao número de vizinhos
3.4 (deve-se alertar que às vezes os valores tabelados podem
adjacentes).
ser diferentes daqueles aqui apresentados. Existem casos
em que o termo z+z" é substituído por z2, sendo z o maior A distância de equilíbrio entre os íons é determinada
fator comum nas cargas dos íons. A constante de Madelung pelo balanço entre os termos de atração e de repulsão. No
é então reescrita como M - Az*z“/z2. Esse procedimento equilíbrio, dU/dr = 0, e a distância de equilíbrio é r = r0.
não é recomendado).
dU _ N0Az+z e2 _ nN0B _ Q
dr " r2 r0"+1 “ (3.2)
Tabela 3A — Constantes de Madelung
Rearranjando esses termos, obteremos uma equação
Tipo de estrutura A M para o coeficiente de repulsão B.

Blenda ZnS 1,63806 1,63806 Az^z-e2^


=0 (3.3)
Wurtzita ZnS 1,64132 1,64132 n
Cloreto de sódio NaCl 1,74756 1,74756 Substituindo-se a equação (3.3) na equação (3.1), temos
Cloreto de césio CsCI 1,76267 1,76267 que:
Rutilo TiO2 2,408 4,816
Fluorita CaFj 2,51939 5,03878 u N0Az*z~e2 1-1
Corindo A12O3 4,17186 25,03116 n
rB
ENERGIA RETICULAR eg

Essa equação é designada equação de Bom-Landé. Ela números de coordenação com aquela encontrada no
permite calcular a energia reticular desde que se conheçam caso da coordenação seis:
a geometria do cristal, a constante de Madelung, as cargas
z+ e z~ e a distância interiônica. Usando unidades Sl, a Número de coordenação
equação toma a forma: 12 8 6 4
Relação entre as distâncias interiônicas
(3.4) 1,091 1,037 1,000 0,951
4rre„r0 V n)
Variando-se o número de coordenação de 6 (estrutura
onde eo é a permissividade no vácuo = 8,854 x 10’12 F m"1. do NaCl) para 8 (estrutura do CsCl) a distância
Essa equação fornece um valor calculado de U = -778 interiônica aumenta em 3,7% enquanto que a constante
kJ mol-1 para a energia reticular do cloreto de sódio, ou de Madelung (NaCl, A = 1,74756, e CsCl, A = 1,76267)
seja, aproximadamente igual ao valor experimental de -775 varia apenas 0,9%. Portanto, uma mudança no número
kJ mol’1 a 25 °C (obtido usando o ciclo de Born-Haber). Os de coordenação de 6 para 8 resultaria numa redução
valores experimentais e teóricos para os haletos dos metais da energia reticular, e teoricamente a estrutura do NaCl
alcalinos e os óxidos e haletos dos metais alcalino terrosos deveria ser sempre mais estável que a do CsCl. De modo
(exceto Be) concordam dentro de uma margem de erro de análogo, a diminuição do número de coordenação de 6
3%. para 4 faz com que r diminua 4,9%. O correspondente
Há outras expressões semelhantes, por exemplo, as decréscimo de A é igual a 6, l ou 6,3 % (dependendo da
equações de Born-Mayer e de Kapustinskii, mas estas estrutura resultante: blenda ou wurtzita). Percebe-se
estimam a contribuição de repulsão de maneira um pouco que em ambos os casos o decréscimo em A é superior
diferente. A concordância entre valores teóricos e ao efeito da variação em r, logo, teoricamente, o arranjo
experimentais é ainda melhor se considerarmos as forças de com número de coordenação 6 é mais estável que o
van der Waals e a energia do ponto zero. arranjo com coordenação 4.
Vários aspectos importantes decorrem da equação de Isso indica que não deveríam existir estruturas com
Born-Landé: números de coordenação 4 ou 8, visto que a estrutura
do NaCl, com número de coordenação 6, é a mais
1. O retículo torna-se mais forte (isto é, a energia reticular estável. Obviamente, essa hipótese é incorreta, já que
torna-se mais negativa) à medida que a distância são conhecidos o ZnS (número de coordenação 4), e o
interiônica r diminui. U é proporcional a 1/r. CsCl, o CsBr e o Csl com número de coordenação 8.
r(A) U (kJ mol-1) Logo, devemos procurar os erros nos pressupostos
LiF 2,01 -1004 teóricos utilizados acima. Em primeiro lugar, o valor
Csl 3,95 -527 de n foi fixado em 9, quando na realidade ele pode
variar de 5 a 12. Em segundo lugar, os íons foram
2. A energia reticular depende do produto das cargas
considerados como cargas puntuais no cálculo da
iônicas, e U é proporcional a (z+ ■ z"). atração eletrostática. Finalmente, supôs-se que não
r(A) (z+ • z") U (kJ mol"1) houve diminuição da carga em função das interações
LiF 2,01 1 -1004 (isto é, considerou-se que as ligações são 100% iônicas).
MgO 2,10 4 -3933 4. Cristais com energia reticular elevada geralmente
fundem em temperaturas elevadas, e são muito duros.
A dureza é medida de acordo com a escala de Mohs
3. A excelente concordância entre as energias reticulares (vide Apêndice N). Elevadas energias reticulares são
experimentais e aquelas calculadas pela equação de favorecidas por pequenas distâncias interiônicas e íons
Born-Landé para os haletos dos metais alcalinos, não com cargas elevadas.
implica que a equação ou as suposições em que ela se
baseia estejam corretas. Na equação existem Vimos que diversos sais que deveríam ter a estrutura
compensações mútuas e ela tende a esconder erros. Há do CsCl, de acordo com considerações baseadas na relação
dois fatores opostos na equação. O aumento da distância
interiônica r reduz a energia reticular. É quase
impossível variar r sem afetar a estrutura, alterando-se Tabela 3.6 — Distâncias interiônicas e cargas tônicas
com isto a constante de Madelung, A. O aumento de A relacionadas ao P.F. e à dureza
eleva a energia reticular; portanto, os efeitos da variação
de r e de A podem em grande parte cancelar-se r(Â) (z+ ■ z") P.F. CC) Dureza
mutuamente.
NaF 2,310 1 990 3,2
Isso pode ser ilustrado considerando-se um valor BeO 1,65 4 2530 9,0
constante de n na equação de Born-Landé. Torna-se, MgO 2,106 4 2800 6.5
assim, possível calcular variações da distância CaO 2,405 4 2580 4,5
interiônica em função tanto das variações no número 2,580 4 2430 3,5
SrO
de coordenação como na estrutura do retículo cristalino. 4 1923 3,3
BaO 2,762
Tomando-se um valor constante de n = 9, poderemos
TiC 2,159 16 3140 8-9
comparar as distâncias interiônicas para diferentes
30 A LISAÇÃD lONICA

de raios, possuem na realidade a estrutura do NaCl. A tendem a um arranjo perfeitamente ordenado. À medida
constante de Madelung para o CsCl é maior que aquela para que a temperatura aumenta, aumenta a energia de vibração
o NaCl, e levaria a uma energia reticular maior. Contudo, térmica dos íons em suas posições no retículo. Caso o
numa estrutura do tipo CsCl, a distância interiônica r será deslocamento vibracional de um determinado íon tornar-se
maior que numa estrutura do tipo NaCl, o que diminuiría a suficientemente grande, ele poderá sair de sua posição regular
energia reticular. Esses dois fatores atuam em sentidos no retículo. Isso constitui um defeito pontual. Quanto maior
opostos e se cancelam parcialmente. Com isso, em alguns a temperatura, maior será a probabilidade de termos posições
casos a energia reticular será mais favorável para um arranjo reticulares desocupadas. Esses defeitos são muitas vezes
do tipo NaCl, mesmo que a estrutura do CsCl seja designados como termodinâmicos, visto que seu número
geometricamente a mais plausível. Considere o caso do RbBr depende da temperatura.
em que a relação de raios está próxima do limite entre a
coordenação 6 (estrutura do NaCl) e a coordenação 8
Defeitos Schottky
(estrutura do CsCl). Adotando a estrutura do CsCl, a
constante de Madelung será maior que para a estrutura do Um defeito de Schottky é formado por um par de
NaCl, o que aumenta a energia reticular em 0,86%. Ao "vacâncias” no retículo cristalino. Estão ausentes um íon
mesmo tempo a distância interiônica r na estrutura do CsCl positivo e um íon negativo (ver Fig. 3.13). Esse tipo de defeito
aumenta em 3%, o que diminui a energia reticular em 3%. ocorre principalmente em compostos altamente iônicos, em
O RbBr prefere, obviamente, a estrutura do NaCl. que os íons positivos e negativos apresentem tamanhos
semelhantes; com um número de coordenação elevado
(geralmente 8 ou 6), por exemplo NaCl, CsCl, KC1 e KBr.
CARACTERÍSTICAS DOS SÓLIDOS O número de defeitos Schottky existentes por cm3 (nj
A característica fundamental dos sólidos cristalinos é o é dado por
arranjo tridimensional totalmente regular das moléculas,
átomos ou íons que o constituem. Os modelos construídos f IV I
para mostrar a estrutura detalhada dos materiais cristalinos n‘ = NeX!V2Éj
freqüentemente levam a interpretações errôneas, pois eles
supõem um arranjo completamente estático. Como os átomos onde N é o número de sítios do retículo, por cm3, que podem
ou íons apresentam um grau considerável de vibração ficar desocupados; Ws é o trabalho necessário para formar
térmica, o estado cristalino não é estático, e o arranjo um defeito Schottky; k é a constante dos gases e T a
raramente é perfeito. Muitas das propriedades mais temperatura absoluta.
importantes dos sólidos estão relacionadas com as vibrações
térmicas dos átomos, com a presença de impurezas e com a Defeitos Frenkel
existência de defeitos.
/ Um defeito Frenkel é constituído por um sítio reticular
desocupado (um "buraco" no retículo); estando o íon que
DEFEITOS ESTEQUIOMÉTRICOS deveria ocupar esse sítio localizado numa posição intersti-
Compostos estequiométricos são aqueles em que os cial (ver Fig. 3.14).
diferentes tipos de átomos ou íons estão presentes íons metálicos são geralmente menores que os ânions.
exatamente nas quantidades indicadas pelas suas fórmulas. Assim, é mais fácil forçar íons A+ a ocupar posições
Eles obedecem à lei das proporções constantes: um dado intersticiais, e, em conseqüência, é mais comum encon­
composto químico sempre contém os mesmos elementos com trarmos íons positivos ocupando posições intersticiais. Esse
as mesmas proporções em massa. Por um certo tempo, esses tipo de defeito é favorecido quando há uma grande diferença
compostos foram denominados daltonetos; em contraste com de tamanho entre os íons positivo e negativo. Conse-
os bertoletos ou compostos não-estequiométricos, cuja qüentemente, o número de coordenação é geralmente pe­
composição química não é constante, mas variável. queno (4 ou 6). Visto que íons positivos pequenos são
Dois tipos de defeitos, respectivamente, denominados altamente polarizantes e íons negativos grandes altamente
defeitos Schottky e Frenkel, podem ser observados em polarizáveis, esses compostos apresentam considerável
compostos estequiométricos. No zero absoluto, os cristais caráter covalente. A distorção dos íons e a proximidade de

(7)---(]r)----('»)---(7)

Figura 3.73 — Defeito de Schottky Figura 3.14 — Defeito de Frenkel


□EFEITOS NAO-ESTEOUIQMÉTRICDS 31

espécie com cargas iguais levam a materiais com elevadas


constantes dielétricas. Esse tipo de defeito pode ser Tabela 3.7 — Porcentagem de condução por cátions e
encontrado no ZnS, AgCl, AgBr e Agí. ânions
O número de defeitos Frenkel existentes por cm3 (ttf), é Temp. NaF NaCl NaBr
dado por CC) cátion % ânion % cátion % ânion % cálion % ânion %

nf = TnN7 expí-^j 400 100 0 100 0 98 2


500 100 0 98 2 94 6
onde N é o número de sítios reticulares, por cm3,que podem 600 92 8 91 9 89 11
ser deixados desocupados; N' é o número de posições
intersticiais alternativas por cm3; Wt é o trabalho necessário "lacunas" pode haver o colapso ou a distorção parcial do
para formar um defeito Frenkel; k é a constante dos gases e retículo cristalino — e nesse caso a variação de densidade é
T a temperatura absoluta. imprevisível. A presença de íons em posições intersticiais
A energia necessária para formar um defeito Schottky pode distorcer (expandir) o retículo e aumentar as dimensões
ou Frenkel depende do trabalho envolvido e da temperatura. da célula unitária.
Para um dado composto um dos dois tipos de defeitos
geralmente é predominante. DEFEITOS NÃO-ESTEQUIOMÉTRICOS
A energia necessária para formar um defeito de Schottky
Compostos não-estequiométricos ou bertoletos, podem
no NaCl é de aproximadamente 200 kJ mol’1, comparada existir numa faixa de composição química. A relação entre
com uma energia reticular de cerca de 750 kJ mol-1. Por o número de átomos de um tipo e o número de átomos do
conseguinte, é mais fácil formar um defeito que romper o outro tipo não é exatamente a relação de números inteiros
retículo. expressa pela fórmula química. Esses compostos não
O número de defeitos formados é relativamente pequeno obedecem à lei das proporções definidas. Há muitos exemplos
e, à temperatura ambiente, o NaCl apresenta somente um desse tipo de compostos, particularmente entre os óxidos e
defeito para 1015 sítios reticulares. Esse valor aumenta para sulfetos dos elementos de transição. Assim, nos compostos
um defeito em 106 sítios a 500 °C; e um defeito para 104 FeO, FeS ou CuS as proporções de Fe : O, Fe : S ou Cu : S
sítios a 800°C. diferem daquelas indicadas pelas suas respectivas fórmulas
A presença desses defeitos pode fazer com que os químicas ideais. Se a relação entre os átomos não for
sólidos cristalinos apresentem uma pequena condutividade exatamente igual a 1 : 1, deve haver um excesso de íons
elétrica. A condutividade elétrica num semicondutor metálicos ou uma deficiência de íons metálicos (por exemplo,
estequiométrico quimicamente puro é denominado '‘semicon­ Feo,840 _ Fe0i94O, Feo.sS). A neutralidade elétrica é mantida
dutividade intrínseca". Nos casos mencionados acima a ou através de elétrons adicionais na estrutura ou mudando
semicondutividade intrínseca ocorre por um mecanismo a carga de alguns dos íons metálicos. Isso torna a estrutura
iônico. Ou seja, se um íon se mover de sua posição reticular irregular, isto é, ela contém defeitos adicionais que se somam
para ocupar um “interstício” ou “buraco", ele cria um novo aos defeitos termodinâmicos normais já descritos.
"buraco". Caso esse processo seja repetido muitas vezes,
um "buraco" pode migrar dentro do cristal, o que equivale
Excesso de metal
à migração de uma carga na direção oposta (esse tipo de
semicondutividade dos materiais é responsável pelo Esse excesso pode ocorrer de duas maneiras.
indesejável ruído de fundo que aparece nos transistores).
Cristais com defeito Frenkel apresentam somente um Centros-F
tipo de vacância, enquanto que cristais com defeito Schottky íons negativos podem estar ausentes de seu sítio nor­
apresentam vacâncias provenientes da falta de íons tanto mal no retículo cristalino deixando “lacunas” que são
positivos quanto negativos. Portanto a condutividade pode ocupadas por elétrons. Dessa forma o equilíbrio de cargas
ser decorrente da migração de um tipo ou outro de lacuna, elétricas é mantida (ver Fig. 3.15). Esse tipo de defeito é
ou ambos. A migração do íon menor (geralmente o íon similar ao defeito Schottky, pois apresenta "lacunas" no
positivo) para as lacunas correspondentes é favorecida a
baixas temperaturas, pois a migração de um íon pequeno
requer menos energia. Por outro lado, a altas temperaturas,
ocorre a migração dos dois tipos de íons em direções opostas
(usando os dois tipos de vacâncias). Por exemplo, a
temperaturas abaixo de 500°C os haletos alcalinos conduzem
por migração de cátions, mas a temperaturas mais elevadas
tanto cátions como ânions podem migrar. Além disso, a
condutividade aniônica aumenta com o aumento de
temperatura, como mostrado na Tab. 3.7.
A densidade de um retículo defeituoso deve ser diferente
da densidade de um retículo perfeito. A presença de “lacu­
nas" deveria diminuir a densidade, mas, se houver muitas Figura 3.15 — Defeito de excesso de metal por causa de âniort ausente
32 A LISAÇAO lONICA

retículo cristalino, mas, em contraste, o íon correspondente Se um óxido com esse tipo de defeito for aquecido na
não está ocupando as posições intersticiais. Portanto, existem presença de oxigênio e em seguida resfriado até a temperatura
apenas as lacunas, estando o íon correspondente ausente ambiente, sua condutividade irá diminuir. Isso ocorre porque
na estrutura. Esse tipo de defeito ocorre em cristais para os o oxigênio oxida alguns dos íons intersticiais, e estes,
quais seria de se esperar a formação de defeitos Schottky. subseqüentemente, removem os elétrons intersticiais,
Quando compostos como NaCl, KC1, LiH ou 8-TiO são diminuindo a condutividade.
aquecidos com um excesso do vapor do metal que os Cristais com qualquer um dos tipos de defeito discutidos
constitui, ou quando são tratados com radiação de alta acima, caracterizados pelo excesso de metal, contêm elétrons
energia, eles se tornam deficientes em íons negativos. Assim, livres que, ao migrarem, conduzem eletricidade. Como é
suas fórmulas poderíam ser representadas por AX|_S, onde pequeno o número de defeitos, há poucos elétrons livres
Sé uma pequena fração do todo. A forma não-estequio- que podem conduzir a eletricidade. Assim a magnitude da
métrica do NaCl é amarela e a forma não estequiométrica corrente conduzida é muito pequena quando comparada com
de KC1 apresenta coloração azul-lilás. Note a semelhança a corrente conduzida pelos metais, por sais fundidos ou por
com as cores da chama do Na e do K. sais em solução aquosa. Esse tipo de material contendo
O retículo cristalino apresenta vacâncias deixadas pelos defeitos são designados semicondutores. Como o transporte
ânions, que são ocupadas por elétrons. Sítios aniônicos de elétrons ocorre por um mecanismo de condução eletrônica
ocupados por elétrons são denominados centros-F (F é uma normal, são denominados semicondutores do tipo n. Além
abreviatura de Farbe, palavra alemã que significa cor). Esses disso, esses elétrons livres podem ser excitados para níveis
centros-F estão associados com a cor dos compostos, e quanto energéticos superiores, provocando o aparecimento de
mais centros-F estiverem presentes maior será a intensidade bandas de absorção na região do visível. Logo, esses
da coloração. Sólidos que contêm centros-F são compostos são frequentemente coloridos: NaCl não-
paramagnéticos, pois os elétrons que ocupam as vacâncias estequiométrico é amarelo, KC1 não-estequiométrico é lilás
estão desemparelhados. Quando materiais contendo centros- e ZnO é branco à temperatura ambiente mas torna-se amarelo
F são irradiados com luz, eles se tornam fotocondutores. quando aquecido.
Isso ocorre como resultado da promoção dos elétrons nos
centros-F para uma banda de condução, semelhante às
bandas de condução existentes nos metais, quando absorvem Deficiência de metais
fótons com energias suficientes (ou calor). Como a condu- Compostos com deficiência de metal podem ser
tividade decorre da promoção de elétrons para a banda de representados pela fórmula geral Aj.jX. Em princípio, a
condução do material, tem-se uma semicondução do tipo n. deficiência de metal pode ocorrer de duas maneiras. Ambas
requerem metais com valências variáveis, sendo, portanto,
esperadas nos compostos de metais de transição.
íons e elétrons intersticiais
Também ocorrem defeitos quando um excesso de íons
positivos ocupam posições intersticiais do retículo e a Deficiência de íons positivos
neutralidade elétrica é mantida pela presença de elétrons Caso um íon positivo não esteja presente em seu sítio
intersticiais (ver Fig. 3.16). A composição desses compostos reticular, a carga elétrica pode ser equilibrada pelos íons
pode ser representada pela fórmula geral A] +gX. positivos adjacentes, desde que estes tenham cargas positivas
adicionais (ver Fig. 3.17). Exemplos são o FeO, NiO, 8-TiO,
Esse tipo de defeito se assemelha ao defeito Frenkel,
FeS e Cul (se faltar um íon Fe2 + num retículo cristalino de
pois íons ocupam posições intersticiais, porém não existem
FeO, deverá haver em algum lugar do retículo dois íons Fe3 +
vacâncias no retículo e também existem elétrons intersticiais.
para equilibrar a carga elétrica. Analogamente, se faltar um
Esse tipo de defeito caracterizado pelo excesso de metal é
íon Ni2 + num retículo de NiO, este deverá conter dois íons
muito mais freqüente que o anterior, e se forma em cristais
Ni3 + ).
nos quais se espera a ocorrência de defeitos Frenkel (isto é,
os íons constituintes são de tamanhos bastante diferentes, Cristais apresentando deficiência de metal são
números de coordenação baixos, e com algum caráter semicondutores. Suponha que o retículo contenha os íons
covalente). Os exemplos incluem ZnO, CdO, Fe2O3 e Cr2O3. A+ e A2 + . Se um elétron “saltar” do íon A+ para o sítio
mais oxidado (ou seja, um íon A2 + ), o íon A+ inicial se

Figura 3.16 — Defeitos de excesso de metal causado por cátions


instersticiais Figura 3.17 — Deficiência de metal causada por (on positivo ausente
SEMICONDUTORES E TRANSISTORES 33

transforma num novo íon A2 + . Logo, houve um movimento Os intervalos entre bandas são de apenas 68 kJ moF1
aparente de A2+. Caso ocorra uma série de "saltos” para o Ge e 106 kJ mol'1 para o Si. Por isso apenas alguns
semelhantes, um elétron poderá ser transportado numa poucos elétrons de valência podem ganhar, da energia
direção dentro do retículo. Concomitantemente, o sítio térmica vibracional dos átomos, uma quantidade de energia
oxidado (vacância) migrará na direção oposta ao do suficiente para serem promovidos à banda de condução, à
movimento do elétron. Isso é denominado semicondução do temperatura ambiente. Se o cristal estiver conectado a um
tipo p. circuito elétrico, esses elétrons termicamente excitados
Se um óxido com esse tipo de defeito for aquecido na conduzem uma pequena corrente elétrica e tornam o cristal
presença de oxigênio, sua condutividade à temperatura de Si ou Ge ligeiramente condutor. Esse fenômeno é desig­
ambiente aumentará, pois o oxigênio oxidará alguns dos nado semicondutividade intrínseca. Em outras palavras,
íons metálicos, aumentando o número de vacâncias. algumas ligações são rompidas e esses elétrons de valência
podem migrar e conduzir a eletricidade.
À medida que se aumenta a temperatura, também
íons negativos adicionais intersticiais
aumenta a condutividade, isto é, diminui a resistência elétrica
Em princípio, deveria ser possível colocar um íon (o oposto da situação que ocorre com os metais). Acima de
negativo adicional numa posição intersticial e equilibrar a 100°C, são tantos os elétrons de valência promovidos à banda
carga elétrica aumentando a carga de um íon metálico de condução que o cristal pode ser desintegrar. A temperatura
adjacente (ver Fig. 3.18). Contudo, como os íons negativos máxima de operação de dispositivos de Si é de 150°C. Essa
são geralmente grandes, deve ser difícil acomodá-los nos semicondução intrínseca é indesejável, e devem ser tomadas
interstícios. De fato, não se conhece nenhum cristal contendo precauções para limitar a temperatura de funcionamento dos
íons intersticiais negativos até o momento. transistores.
O Si e o Ge puros podem se tornar semicondutores de
SEMICONDUTORES E TRANSISTORES uma maneira controlada, mediante a adição de impurezas
que atuam como agentes portadores de carga. Inicialmente,
Semicondutores são sólidos, nos quais a diferença de
Si e Ge devem ser obtidos num estado extremamente puro
energia entre a banda de valência (preenchida) e a banda
pelo processo de refinação por zona. Em seguida, átomos
de condução é pequena. Essa diferença é denominada
com cinco elétrons externos, tais como o arsênio, As, são
intervalo entre bandas (band gap). Caso sejam resfriados ao
adicionados deliberadamente ao cristal de silício. Esse
zero absoluto, os elétrons ocuparão os níveis energéticos
processo, designado "dopagem" do cristal, consiste na
mais baixos possíveis. A banda de condução estará
substituição aleatória de uma fração extremamente pequena
completamente vazia e o material será um isolante perfeito.
de átomos de Si por átomos de As, com cinco elétrons no
Entretanto, à temperatura ambiente, alguns elétrons podem
nível mais externo. Somente quatro dos cinco elétrons do
ser termicamente excitados da banda de valência para a
As são necessários para formar as ligações no retículo
banda de condução e nessa condição o material pode
cristalino. No zero absoluto ou a baixas temperaturas, o
conduzir eletricidade. A condutividade observada se situa
quinto elétron estará localizado no átomo de As. Contudo, à
entre a dos isolantes e a de um metal, e depende do número
temperatura ambiente, esses elétrons do As são excitados
de elétrons na banda de condução.
para a banda de condução, onde podem conduzir
Os exemplos comerciais mais importantes de prontamente a corrente elétrica. Esse fenômeno é
semicondutores são o germânio e, principalmente, o silício. denominado condução extrínseca e aumenta a condutividade
As estruturas cristalinas de ambos se assemelham àquela a um nível bem superior àquele permitido pela condução
do diamante. Tanto os átomos de silício como os de germânio intrínseca. Visto que a corrente é conduzida pelo excesso de
têm quatro elétrons no nível mais externo e formam quatro elétrons, trata-se de uma semicondução do tipo n.
ligações covalentes com outros átomos. Em temperaturas
Num procedimento alternativo, um cristal de Si puro
muito baixas, tanto o Si e quanto o Ge apresentam sua banda
pode ser “dopado" com alguns átomos contendo apenas três
de valência preenchida e banda de condução vazia. Nessas
elétrons externos, tais como o índio [In]. Cada átomo de
condições, ambos são isolantes e não podem conduzir
corrente elétrica.
Tabela 3.8 — Intervalos de banda de alguns semicondutores
no zero absoluto

Composto Intervalo Composto Intervalo


de energia de energia
(kJ moF1) (kJ mol-1)

a-Sn 0 GaAs 145


PbTe 19 Cu2O 212
Te 29 CdS 251
PbS 29 GaP 278
Ge 68 ZnO 328
Si 106 ZnS 376
Figura 3.18 — Deficiência de metal causada por tons negativos InP 125 Diamante 579
intersticiais
34 A LIBAÇAO IONICA

índio utiliza seus três elétrons externos para formar três


ligações no retículo, mas eles são incapazes de formar as
quatro ligações necessárias para completar a estrutura
(Ge) Núcleo de germânio
covalente. Uma das ligações está incompleta, e o lugar + 28 eletrons
normalmente ocupado pelo elétron que falta é designado • Elétron de valência
"lacuna positiva”. No zero absoluto ou a baixas temperaturas,
— Ligação covalente
as lacunas positivas se localizam nos átomos de índio.
Contudo, à temperatura ambiente, um elétron de valência
de um átomo de silício adjacente tem energia suficiente para
se mover para essa lacuna. Assim se forma uma nova la­
cuna positiva no átomo de Si, que aparentemente se moveu
em direção oposta a do elétron. Por meio de uma série de
“saltos” a lacuna positiva pode migrar através do cristal.
Isso equivale a uma migração do elétron na direção oposta,
ocorrendo, assim, a condução da corrente elétrica. Como a
corrente é conduzida pela migração de lacunas positivas,
trata-se de uma semicondução do tipo p.
—• (Ge)*—•
I. Elétron adicional

Átomo de impureza
Antes de poder ser usado em semicondutores, o silício pentavalente
deve ser ultra-purifiçado. Inicialmente, silício impuro (98%
de pureza) é obtido pela redução de SiO2 com carbono, num
forno elétrico a cerca de 1.900°C. O silício assim obtido sofre
I
—•(Ge)*—*i
(doador)

uma reação com HC1 formando triclorossilano, SiHCl3, que


pode ser purificado por destilação. Após essa nova etapa de
T
purificação, um silício metálico de maior pureza é obtido c)
pela decomposição térmica do triclorossilano (reação
inversa).
Interstício
SiO2 + C -> Si + CO2
Átomo de impureza
Si + 3HC1 35°,c > H2 + SiHClj ■ Si + 3HC1 trivalente
(receptor)
A purificação final é feita pelo método de refino por
zona, no qual uma barra de silício é fundida por um forno
elétrico próximo de uma de suas extremidades. À medida
que o forno é lentamente deslocado ao longo da barra, a
estreita região da barra em fusão se move em direção a outra
extremidade. As impurezas são mais solúveis na parte Figura 3.19 — a) Germânio puro: b) Germânio do tipo nec)
fundida que no sólido. Assim, elas se concentram na parte Germânio do tipo p
fundida e eventualmente se movem para a extremidade da
barra. A extremidade impura é então removida, restando RETIFICADORES
uma barra de Si ultra-purificada, com um nível de impurezas Um retificador só permite a passagem de uma corrente
inferior a uma parte em IO10. Cristais ultra-purificados de externa numa única direção. Isso é imprescindível para a
silício (ou de germânio) podem ser convertidos, em elevadas conversão de corrente alternada em corrente contínua, sendo
temperaturas, em semicondutores dos tipos p ou n, por comum a utilização de um quadrado constituído por quatro
difusão dos elementos "dopantes” apropriados, até uma diodos num circuito para efetuar essa transformação. Um
concentração de 1 parte em 108. Em princípio, qualquer diodo é simplesmente um transistor com duas regiões, uma
elemento do Grupo 13, boro, alumínio, gálio ou índio, pode­ do tipo p e outra do tipo n, com uma junção p-n entre elas.
ría ser usado na preparação de semicondutores do tipo p. Suponha que uma voltagem positiva é aplicada à região
Porém, o índio é o mais usado por causa de seu baixo ponto de tipo p e uma voltagem negativa à região do tipo n. Nesse
de fusão. Analogamente, poderíam ser usados elementos caso, lacunas positivas migrarão em direção à junção p-n na
do Grupo 15, tais como fósforo ou arsênio, na preparação região do tipo p. Em contraste, elétrons migrarão em direção
de semicondutores do tipo n. Contudo, o arsênio é geralmente à junção na região do tipo n. Na junção, os dois se aniquilarão
usado por causa de seu baixo ponto de fusão. mutuamente. Ou seja, na junção os elétrons que migram da
Se uma das extremidade de um cristal de silício for região do tipo n se combinarão com as lacunas na banda de
"dopado” com índio e a outra extremidade com arsênio, valência da região do tipo p. A migração de elétrons e de
uma das extremidades será um semicondutor do tipo p e a lacunas positivas pode continuar indefinidamente. Logo, a
outra um semicondutor do tipo n. Na região intermediária, corrente elétrica continuará fluindo enquanto um potencial
haverá uma região interfacial onde as duas partes se externo estiver sendo aplicado.
encontram, constituindo uma junção p-n. Tais junções são Imagine o que acontecerá se invertermos a polaridade,
os principais componentes dos dispositivos semicondutores de modo que a região do tipo p se torne negativa e a região
modernos. do tipo n positiva. Na região do tipo p as lacunas positivas
TRANSISTORES 35

P n Um transmissor n-p-n n P n
Emissor Base Coletor
Um diodo

Lacunas positivas Um transmissor p-n-p ___P n P


Emissor Base Coletor
P n
Lacunas positivas
elétrons

H1—
conduz

P n -0,2V

Base(b)

---- 1 |------
não conduz

Emissor (e) Coletor (c)


Figura 3.20 — Uma junta n-p como retificador

se afastarão da junção, e na região do tipo n os elétrons Figura 3.21 — Transistores n-p-n e p-np
migrarão afastando-se da junção. Assim, na região da junção
não haverá nem elétrons nem lacunas positivas para se na Fig. 3.21. Geralmente aplica-se -0,2 volt na base e a
combinarem e, portanto, não haverá passagem de corrente. diferença de potencial entre o coletor e o emissor é de -2,0
volts. Os portadores de carga no emissor são lacunas
positivas, e estas migram do emissor a 0 volt para a base
CÉLULA FOTOVOLTAICA a -0,2 volt. As lacunas positivas atravessam a junção p-n da
Se uma junção p-n for irradiada com luz, cujos fótons interface emissor/base. Na região da base, do tipo n, algumas
tenham energias que excedam a energia do intervalo entre lacunas positivas se recombinam com elétrons e são
bandas, haverá rompimento de algumas ligações com a aniquiladas. Logo, há um fluxo de elétrons no sentido
formação de elétrons e lacunas positivas, e esses elétrons inverso, da base para o emissor, dando origem a uma corrente
serão promovidos da banda de valência para a banda de elétrica de baixa intensidade. Porém, a base é muito fina e o
condução. Os elétrons adicionais na banda de condução coletor apresenta um potencial elétrico muito mais negativo,
deixarão a região tipo n mais negativa, ao passo que os de modo que a maioria das lacunas positivas passa através
elétrons se recombinarão com as lacunas positivas na região da base em direção ao coletor, onde se combinam com os
p. Se as duas regiões forem conectadas através de um circuito elétrons provenientes do circuito. Os elétrons deixam o
externo, um fluxo de elétrons poderá fluir da região do tipo semicondutor do tipo p e entram no circuito, gerando novas
n para a região do tipo p, isto é, uma corrente flui da região lacunas positivas. Geralmente, se a corrente do emissor for
do tipo p para a região do tipo n. Tal dispositivo atua como igual a 1 mA, então as correntes da base e do coletor serão
uma bateria, que pode gerar eletricidade a partir da luz. iguais a 0,02 e 0,98 mA, respectivamente.
Muitos esforços estão sendo feitos para se construir O método mais comum de se usar um transistor como
dispositivos eficientes que permitam aproveitar a energia amplificador é o circuito emissor comum ou aterrado (Fig.
solar. 3.22a). O emissor é comum aos circuitos da base e do coletor,
e é às vezes aterrado. A corrente de base é o sinal de entrada
e a corrente do coletor é o sinal de saída. Se a corrente da
TRANSISTORES
Os transistores são geralmente cristais de silício
"dopados” de modo a formar três zonas. Na Grã-Bretanha, a) b)
os transistores são geralmente do tipo p-n-p, enquanto que R Saída
nos Estados Unidos são do tipo n-p-n. Ambos apresentam Ri R2
muitos usos, por exemplo, como amplificadores e osciladores b
c
em circuitos de rádio, de televisão, circuitos de alta-fidelidade T c’ll b c
e
e em computadores. Eles são também usados como
e
fototransistores, diodos-túnel, células solares, termistores, e Ri
Entrada Saída
na detecção de radiação ionizante.
Para fazer funcionar um transistor, é necessário aplicar
O - ■ -X-
e = emissor b = base c = coletor
tensões elétricas diferentes às suas três regiões. Os potenciais
típicos a serem aplicados num transistorp-n-p são mostrados Figura 3.22 — Circuitos emissores comuns
36 A LI6AÇÃD lONICA

base for diminuída, por exemplo, aumentando-se R,, a base adequada para produzir canais, onde será depositado
torna-se positivamente carregada, o que reduz o movimento um metal que conectará os vários dispositivos
das lacunas em direção ao coletor. Num transistor típico, semicondutores assim produzidos, gerando um circuito
uma variação na corrente da base pode provocar uma integrado.
variação até 50 vezes maior na corrente do coletor, resultando 9. Finalmente o “chip" é encapsulado em plástico ou
num fator de amplificação de corrente igual a 50. Uma cerâmica, são soldados os pinos que possibilitam a
variação pequena na corrente de entrada na base produz montagem do "chip” nos soquetes da placa e o “chip"
uma variação muito maior na corrente do coletor, e o sinal é testado. Alguns apresentarão defeitos e serão
original é amplificado. descartados, visto que não podem ser reparados.
Na prática, as diferenças de potencial entre a base e o
coletor são freqüentemente geradas por uma bateria,
conectando-se em série uma resistência R! muito maior que LEITURAS COMPLEMENTARES
a resistência R2 (vide Fig. 3.22b). • Adams, D.M.; Inorganic Solids, Wiley-Interscience, New York,
Os transistores n-p-n operam de maneira semelhante, 1974.
só que as polaridades são invertidas: o coletor e a base são • Addison, W.E.; Structural Principies ín Inorganic Compounds,
positivos em relação ao emissor. Longmans, London, 1961.
• Bamfield.P. (ed.J; Fine Chemicals for the Electronic Industry,
Royal Society of Chemistry, Special Publication, N? 40, Lon­
DISPOSITIVOS SEMICONDUTORES don, 1986.
MICROMINIATURIZADOS. • Burdett, J.K.; New Ways to Look at Solids, Acc. Chem. Res.,
CIRCUITOS INTEGRADOS 15, 34 (1982).
• Cartmell, E. e Fowles, G.W.A.; Valency and Molecular Struc­
Atualmente é possível fabricar “chips" de computadores
ture, 4? ed., Butterworths, London. 1982.
contendo muitos milhares de junções p-n simples, montados
num pequeno pedaço de silício de alguns poucos milímetros • Cox, P.A.: The Electronic Structure and Chemistry of Solids,
(são facilmente encontrados "chips” de memória para Oxford University Press, 1987.
computadores que armazenam 64K, 256K, 1 megabyte e • Dasent, W.E.; Inorganic Energetics: An Introduction (Cam-
mesmo 4 megabytes de informações num único "chip"). bridge Texts in Chemistry and Biochemistry Series), Cam-
bridge University Press, 1982.
As etapas da fabricação de tais “chips" são as seguintes:
• Douglas, B.; McDaniel, D.H. e Alexander, J.J., Concept and
1. Um cristal razoavelmente grande de Si é “dopado” para Models in Inorganic Chemistry, 2? ed., Wiley, New York, 1983.
convertê-lo num semicondutor do tipo n, sendo então
• Ebsworth, E.A.V.; Rankin, D.W.H. e Cradock, S.; Structural
cuidadosamente cortado em fatias delgadas.
Methods in Inroganic Chemistry, Blackwell Scientific, Oxford,
2. Essas fatias são aquecidas na presença de ar para formar 1987.
uma fina camada superficial de SiO2. • Galasso, F.S.; Structure and Properties of Inorganic Solids,
3. A camada de óxido é a seguir revestida por um filme Pergatnon, Oxford, 1970. (Contém extensas tabelas).
fotossensível, denominado fotorresiste. • Galwey, A.K.; Chemistry of Solids, Chapman & Hall, Lon­
4. Uma “máscara” é colocada sobre o filme de fotorresiste, don, 1967.
e exposta à radiação ultravioleta. As partes do • Greenwood, N.N.; lonic Crystals, Lattice Defects and Non-
fotorresiste expostas à luz são quimicamente Stoichiometry, Butterworths, London, 1968. (Ainda é o melhor
modificadas e removidas por um tratamento com ácido, livro sobre o assunto)
enquanto que as partes não expostas permanecem • Ho, S.M. e Douglas, B.E.; Structure of the Elements and the
protegidas pelo filme de fotorresiste insolúveis. PTOT System, J. Chem. Ed., 49, 74 (1972).
5. As fatias são então tratadas com HF, que remove a • Hyde. B.G. e Andersson, S.; Inorganic Crystal Structures,
camada de SiO2 das áreas expostas. Em seguida, o Wiley, New York, 1989.
fotorresiste remanescente é removido. • Jenkins, H.D.B.; The Calculation of Lattice Energy: Some Prob-
6. A superfície é exposta a vapores de um elemento do lems and Some Solutions, Revue de Chimie Minerale, 16,
Grupo 13. Algumas partes da superfície estão recobertas 134-150 (1979).
com uma película de SiO2, enquanto que em outras • Ladd, M.F.C.; Structure and Bonding in Solid State Chemis­
partes o silício está exposto. As partes cobertas pela try, Wiley, London, 1974.
película de SiO2 não são afetadas pelos vapores, mas, • Moss, S.J. e Ledwith, A. (eds.); The Chemistry of Semicon-
nas regiões em que o silício está exposto, alguns átomos ductor Industry, Blackie, 1987.
de Si são aleatoriamente substituídos, gerando uma • Parish, R.V.; TheMetallicElements, Longmans, London, 1976.
camada constituída por um semicondutor do tipo p.
• Rao, C.N.R. (ed.); Solid State Chemistry, Dekker, New York,
7. As etapas de (2) a (5) são repetidas usando diferentes 1974.
máscaras, e as áreas onde o Si está exposto são tratadas
• Rao, C.N.R. e Gopalakrishnan, J.; New Directions in Solid
com vapor de um elemento do Grupo 15, para produzir State Chemistry, Cambridge University Press, Cambridge,
camadas constituídas por um semicondutor do tipo n. 1986.
8. As etapas de (2) a (5) são repetidas com uma máscara
• Shannon, R.D.; Revised Effective lonic Radii, Acta Cryst., A32,
PROBLEMAS 37

751-767,1976. (Valores de raios iônicos mais atuais e aceitos) 8. Escreva a equação de Born-Landé e defina cada um de
• Walton, A.; Molecular and Crystal Structure Models, Ellis seus termos. Use a equação para mostrar porque alguns
Horwood, Chichester, 1978. compostos que deveríam apresentar número de
coordenação 8, segundo o conceito da relação de raios,
• Wells, A.F.; Structural Inorganic Chemistry, 5? ed., Oxford
apresentam de fato número de coordenação 6.
University Press, Oxford, 1984. (Texto padrão com muitos
diagramas) 9. Esquematize um ciclo de Born-Haber para a formação de
um composto iônico MCI. Defina os termos empregados e
• West, A.R.; Solid State Chemistry and Its Applications, Wiley,
mostre como estes podem ser determinados ou calculados.
New York, 1984.
Como esses valores de entalpia variam ao longo da tabela
periódica? Use essa tendência para prever as diferenças
PROBLEMAS entre as propriedades do NaCl e do CuCl.
10. Explique a origem do termo correspondente à energia re-
1. Relacione a tendência dos átomos de perder ou receber
ticular num sólido iônico. Calcule a energia reticular do
elétrons com os tipos de ligações que eles formam.
cloreto de césio usando os seguintes dados:
2. Indique a condutividade dos seguintes compostos e mostre
para cada caso o mecanismo de condução. Cs(s) • Cs(g) AH = + 79,9 kl mol'1
a) NaCl (fundido) Cs(g) Cs+(g) AH - +374,05 kl mol’1
b) NaCl (solução aquosa) Cl2(g) • 2Cl(g) AH - +241,84 kJ mol’1
c) NaCl (sólido) Cl(g) + e CT(g) AH - -397,90 kJ mol’1
d) Cu (sólido) Cs(s) + */2Cl2 CsCl(s) AH = -623,00 kl mol’1

e) CC14 (líquido) 11. a) Desenhe as estruturas do CsCl e do TiO2 mostrando


3. Por que os compostos iônicos geralmente apresentam claramente o número de coordenação dos cátions e dos
ânions. b) Mostre como o ciclo de Born-Haber pode ser
elevadas temperaturas de fusão, enquanto que a maioria
usado para se determinar a entalpia da reação hipotética:
dos compostos covalentes simples tem baixas temperaturas
de fusão? Explique 0 elevado ponto de fusão do diamante. Ca(s) + 72Cl2(g) -> CaCI(s)
4. Como os valores das relações de raios foram obtidos para Explique porque 0 CaCl(s) nunca foi obtido, embora a
os diversos números de coordenação, e quais são esses entalpia para essa reação seja negativa.
valores? Dê exemplos dos tipos de estrutura cristalina
12. As variações de entalpia padrão AH° a 298 K para a reação
associados a cada um desses números de coordenação.
5. Mostre, com o auxílio de um diagrama e de um cálculo MC12(s) + */2Cl2(g) -> MC13(s)
simples, o valor mínimo da relação r*/f que permite a são, para a primeira série de metais de transição, iguais a:
um sal cristalizar segundo a estrutura do cloreto de césio.
Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu
6. Dê os números de coordenação dos íons e descreva as
estruturas cristalinas da blenda, da wurtzita e do cloreto AH°/kJ mol’1 -339 -209 -138 -160 + 22 -59 +131 +280 + 357
de sódio em função do grau de empacotamento e da Utilize um ciclo de Bom-Haber para explicar a variação de
ocupação de interstícios tetraédricos e octaédricos. AH° à medida que aumenta o número atômico do metal.
O CsCl, Csl, T1C1 e T1I apresentam a estrutura do cloreto Discuta as estabilidades relativas desses compostos quando
de césio. As distâncias interiônicas são: Cs-Cl, 3,06 Â; Cs- os metais 3d se encontram nos estados de oxidação + II e
I, 3,41 A; Tl-Cl, 2,55 A; e Tl-I, 2,90 A. Supondo-se que os + III.
íons se comportem como esferas rígidas e que a relação 13. Enumere os tipos de defeitos que podem ocorrer no estado
de raios no T1I corresponda ao valor limite, calcule os raios sólido e dê um exemplo de cada um. Discuta em cada
iônicos do Cs+ , TI+ , Cl’ e I’, considerando-se o número caso se o material é isolante ou condutor e explique qual é
de coordenação 8. o mecanismo de condução.
38

A LIGAÇAO CAVALETE

INTRODUÇÃO Um átomo de carbono possui quatro elétrons na camada


externa, de modo que ele completa o octeto no caso do CC14,
Existem diversas teorias que explicam as estruturas
compartilhando todos os quatro elétrons e formando quatro
eletrônicas e formas das moléculas conhecidas, bem como
ligações.
as tentativas de prever a forma de moléculas cujas estruturas
ainda são desconhecidas. Todas essas teorias têm suas Cl
vantagens e seus defeitos. Nenhuma delas é rigorosa. As
teorias podem mudar à medida que novos conhecimentos
vão sendo incorporados. Se soubéssemos ou pudéssemos c ■ + 4 Cl : -> Cl : C : Cl
provar o que é uma ligação química, não teríamos
necessidade de teorias. Assim, o valor de uma teoria reside Cl
mais na sua utilidade do que na sua veracidade. É importante
sermos capazes de prever a estrutura de uma molécula. Na De modo semelhante, um átomo de nitrogênio possui
maioria, todas as teorias levam à resposta correta. cinco elétrons externos, e no NH3 ele compartilha três destes
elétrons formando três ligações, alcançando desse modo o
octeto. O hidrogênio possui apenas um elétron, porém
A TEORIA DE LEWIS compartilhando-o consegue atingir a estrutura estável de
dois elétrons.
A regra do octeto
A teoria de Lewis foi a primeira explicação de uma N ■ + 3 H -> H : N : H
ligação covalente, fundamentada no compartilhamento de
elétrons, a ser amplamente aceita. O compartilhamento de
dois elétrons entre dois átomos constitui uma ligação química H
que mantém os átomos unidos. A maioria dos átomos leves Analogamente, o átomo de oxigênio completa o octeto
atinge uma configuração eletrônica estável quando estão compartilhando dois de seus elétrons, por exemplo, para
rodeados por oito elétrons. Esse octeto pode ser formado formar a molécula de água (H2O); e o átomo de flúor
por elétrons provenientes do próprio átomo e por elétrons completa seu octeto compartilhando um de seus elétrons
"compartilhados” com outros átomos. Assim, os átomos no HF.
continuam a formar ligações até completarem um octeto de
elétrons. Essa tendência é conhecida como "regra do octeto”.
A regra do octeto explica as valências observadas em um H : O H : F
grande número de casos. Há contudo exceções à regra do
octeto; por exemplo, o hidrogênio torna-se estável com
apenas dois elétrons. Outras exceções serão discutidas mais H
adiante. Um átomo de cloro possui sete elétrons em sua Ligações duplas são explicadas pelo compartilhamento
camada mais externa, de modo que se um desses elétrons de quatro elétrons entre dois átomos, e ligações triplas pelo
for compartilhado com outro átomo de cloro, ambos compartilhamento de seis elétrons.
completam os octetos e formam a molécula de cloro, Cl2.

■ C • + 2 . O : : O : : C : : 0 :
: Cl . + ■ Cl : : Cl : Cl :
TEORIA DA REPULSÃO DOS PARES OE ELÉTRONS OA CAMADA DE VALÊNCIA 39

Exceções à regra do octeto orbitais interagirem com os orbitais de outros átomos


A regra do octeto não é observada em um número para formarem ligações, então a molécula formada será
significativo de casos. linear.
1. Por exemplo, no caso de átomos tais como Be e B que 2. Se houver três pares de elétrons no átomo central, estes
apresentam menos de quatro elétrons na última camada. se situarão a 120° um dos outros, formando uma estru­
Nesses casos, mesmo utilizando todos os elétrons tura trigonal planar.
externos para formar ligações, não é possível completar 3. No caso de quatro pares de elétrons, o ângulo será de
o octeto. 109° 28' e a molécula será tetraédrica.
4. Para cinco pares de elétrons, a estrutura da molécula
será a de uma bipirâmide trigonal.
• Be • +2 F F : Be : F 5. Para seis pares de elétrons, os ângulos serão de 90° e a
estrutura será octaédrica.

F TEORIA DA REPULSÃO DOS PARES DE


ELÉTRONS DA CAMADA DE VALÊNCIA
B ■ + 3 F F B F Em 1957, Gillespie e Nyholm (vide Leituras complemen­
tares) melhoraram a teoria de Sidgwick e Powell, possibi­
litando a previsão das estruturas moleculares e dos ângulos
2. A regra do octeto também não é obedecida quando os de ligação de forma mais exata. A teoria foi amplamente
átomos apresentam um nível eletrônico adicional com desenvolvida por Gillespie na “Teoria de repulsão dos pares
energia próxima a do nível p, que pode receber elétrons de elétrons da camada de valência" (Valence Shell Electron
e formar ligações. O PF3 obedece à regra do octeto, Pair Repulsion Theory = VSEPR). Essa teoria pode ser
mas o PF5 não obedece. O PFS possui dez elétrons resumida como segue:
externos e utiliza um orbital 3s, três orbitais 3p e um 1. A estrutura das moléculas é determinada pelas repulsões
orbital 3d. Qualquer composto com mais de quatro entre todos os pares de elétrons presentes na camada
ligações covalentes estará em desacordo com a regra de valência (tal como na teoria de Sidgwick-Powell).
do octeto. Essas violações da regra se tornam cada vez
2. Um par isolado de elétrons ocupa mais espaço em tomo
mais freqüentes após os dois primeiros períodos de oito
do átomo central que um par de elétrons ligante, já que
elementos da tabela periódica.
o par isolado é atraído por apenas um núcleo e o par
3. A regra do octeto não é válida no caso de moléculas ligante é compartilhado por dois núcleos. Pode-se inferir
com número ímpar de elétrons, como o NO e o C1O2, que a repulsão entre dois pares isolados é maior que a
nem explica por que o O2 é paramagnético com dois repulsão entre um par isolado e um par de elétrons
elétrons desemparelhados. ligantes, que por sua vez é maior que a repulsão entre
Apesar dessas exceções, a regra do octeto é dois pares de elétrons ligantes. Assim, a presença de
surpreendentemente útil e explica satisfatoriamente o
número de ligações formadas em moléculas simples.
Contudo, ela não fornece nenhuma informação sobre a Tabela 4.1 — Formas moleculares previstas pela teoria de
estrutura das moléculas. Sidgwick-Powell

Número de pares Forma Ângulos


A TEORIA DE SIDGWICK-POWELL eletrônicos no da molécula da ligação
nível externo
Em 1940, Sidgwick e Powell (vide Leituras comple­
mentares) fizeram uma revisão sobre as estruturas das 2 Linear 180'
moléculas conhecidas até então. Sugeriram que a geometria
aproximada das moléculas poderia ser prevista utilizando- 3 Trigonal 120'
se o número de pares de elétrons na camada de valência do plana
átomo central, no caso de íons e moléculas contendo somente
ligações simples. A camada externa contém um ou mais 4 Tetraédrica 109' 28’
pares de elétrons, mas também pode apresentar pares não-
compartilhados de elétrons (pares de elétrons isolados).
5 Bipirâmide 120'e 90'
Consideram-se equivalentes os pares de elétrons compar­
trigonal
tilhados e isolados, já que ambos ocupam algum espaço e
se repelem mutuamente. A repulsão entre os pares de elétrons
será minimizada se eles estiverem situados o mais distante 6 Octaédrica 90'
possível uns dos outros. Assim,
i. Se houver dois pares de elétrons no nível de valência
do átomo central, os orbitais que os contém serão orien­
tados a 180° um do outro. Conclui-se que se esses
7 Bipirâmide
pentagonal 4^ 72'e 90'
40 A LIBAÇÃO eovalente

pares de elétrons isolados provoca pequenas distorções


Tabela 4.2 — Os efeitos de pares ligantes e pares isolados
nos ângulos de ligação da molécula. Se o ângulo entre
nos ângulos da ligação
o par isolado no átomo central e um par ligante
aumentar, os ângulos de ligação observados entre os Ângulos
Orbitais Forma N°de N?de
átomos devem diminuir. no átomo pares pares da
3. A magnitude das repulsões entre os pares de elétrons central ligantes isolados ligação
ligantes depende da diferença de eletronegatividades
entre o átomo central e os demais átomos. BeCl2 2 Linear 2 £ 180’

4. Ligações duplas repelem-se mais intensamente que BF3 3 Trigonal 3 0 120’


ligações simples, e ligações triplas provocam maior plana
repulsão que ligações duplas. CH4 4 Tetraédrica 4 0 109*28'
NH3 4 Tetraédrica 3 1 107'48’
NF3 4 Tetraédrica 3 1 102' 30’
Efeito de pares isolados h2o 4 Tetraédrica 2 2 104' 27’
A estrutura de moléculas contendo quatro pares de f20 £ Tetraédrica 2 2 102'
elétrons na camada mais externa é baseada no tetraedro. PCI5 5 Bipirâmide 5 0 120’e 90’
No CH4 há quatro pares eletrônicos ligantes na camada de trigonal
valência do átomo de C, de modo que sua estrutura será SF4 5 Bipirâmide 4 1 86" 33’
tetraédrica com ângulos de ligação H-C-H de 109° 28'. No trigonal e 101•36'
NH3 o átomo de N apresenta quatro pares de elétrons na C1F, 5 Bipirâmide 3 2 87’40'
trigonal
camada de valência: três pares ligantes e um par eletrônico
If 5 Bipirâmide 2 3 180'
isolado. Devido à presença do par isolado, o ângulo H-N-H trigonal
diminui do valor teórico de 109° 28’, no tetraedro regular,
para 107° 48'. Na molécula de H2O o átomo de O apresenta sf6 6 Octaédrica 6 0 90'
BrFj 6 Octaédrica 5 1 84’ 30’
quatro pares de elétrons na camada de valência. A forma da
XeF4 • 6 Octaédrica 4 2 90"
molécula de H2O se baseia num tetraedro, com dois dos
vértices sendo ocupados por pares de elétrons ligantes e os elétrons do par ligante fiquem mais afastados do N, em
outros dois vértices ocupados por pares isolados. A presença comparação com o par ligante no NH3. Assim, a repulsão
dos pares isolados reduz ainda mais o ângulo da ligação entre os pares de elétrons ligantes é menor no NF3 do que
H-O-H para 104° 27'. no NH3. Por isso o par isolado do NF3 provoca uma distorção
Analogamente, o SF6 apresenta seis pares de elétrons maior do tetraedro e leva a ângulos de ligação F-N-F de
ligantes na camada de valência, e sua estrutura é a de um 102° 30', comparado ao ângulo de 107° 48’ no NH3. O mesmo
octaedro regular com ângulos de ligações de exatamente 90°. efeito é observado no H2O (ângulo de ligação = 104° 27') e
No BrFs, o Br também apresenta seis pares de elétrons na no F2O (ângulo de ligação = 102°).
camada de valência, sendo cinco deles pares ligantes e um
par isolado. A repulsão do par isolado reduz os ângulos de
ligação para 84° 30'. Seria de se esperar que a presença de Princípio isoeletrônico
dois pares de elétrons isolados distorcesse ainda mais a Espécies isoeletrônicas geralmente possuem a mesma
molécula, mas no XeF4 os ângulos são de 90°. Isso ocorre estrutura. Esse princípio pode ser estendido a espécies com
porque os dois pares isolados estão em posição trans um o mesmo número de elétrons de valência. Assim, BF4, CH4
em relação ao outro no octaedro, fazendo com que os átomos e NH4 são todos tetraédricos; CO2", NO3 e SO3 são todos
tenham um arranjo quadrado planar. trigonais planos; e CO2, N3 e NO2+ são todos lineares.
Todas as moléculas com cinco pares de elétrons têm
sua estrutura baseada numa bipirâmide trigonal. Como nos ALGUNS EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DA
casos anteriores, pares isolados distorcem a estrutura. Os
pares isolados sempre ocupam as posições equatoriais do
“TEORIA DA REPULSÃO DOS PARES DE
triângulo em detrimento das posições apicais acima e abaixo ELÉTRONS DA CAMADA DE VALÊNCIA”
do triângulo. Assim, no íon IJ o átomo central de I apresenta (VSEPR)
cinco pares de elétrons na camada de valência, dois dos
quais pares ligantes e três pares isolados. Os três pares
isolados ocupam as três posições equatoriais enquanto os BF3 e o íon [BF4]
três átomos de I ocupam os vértices superior e inferior e o Considere inicialmente o BF3. A teoria VSEPR requer
centro da bipirâmide trigonal, formando um arranjo linear apenas o conhecimento do número de pares de elétrons da
com ângulos de ligação de exatamente 180° (Tab. 4.2). camada mais externa do átomo central. Como o boro se
situa no Grupo 13, ele apresenta três elétrons no nível de
valência (a configuração eletrônica do B é ls2 2s2 2p\ com
Efeito da eletronegatividade
três elétrons na camada de valência). Se os três elétrons de
O NH3 e o NF3 apresentam ambos estruturas baseadas valência forem usados para formar ligações com os três
no tetraedro, com um dos vértices ocupado por um par átomos de F, o nível externo passa a ter 6 elétrons, ou seja,
isolado. A elevada eletronegatividade do F faz com que os três pares de elétrons. A estrutura do BF3 será, pois, trigonal
ÁLBUNS EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DA TEORIA DA REPULSÃO PDS PARES DE ELÉTRONS OA CAMADA OE VALÊNCIA (VSEPR) 41

planar. Embora a estrutura tenha sido corretamente predita,


na realidade as ligações são mais curtas que as esperadas
para ligações simples. Os motivos dessa diferença serão
discutidos no tópico '"lYihaletos” do Cap.12.
O íon [BF4]“ pode ser considerado como sendo formado
pela adição de um íon F' à molécula de BF3, por meio de
uma ligação coordenada. O átomo de B apresenta agora os
três pares de elétrons do BF3, mais o par de elétrons
proveniente do íon F~. Portanto, o íon [BF4]~ apresenta
estrutura tetraédrica regular, pois possui quatro pares de
elétrons na camada de valência.

Amônia, NH3 Figura 4.2 — Estrutura do H2O


O átomo central é o N. Ele se situa no Grupo 15 e tem
cinco elétrons na camada de valência (a configuração
eletrônica é Is2 2s2 2p3). TYês desses elétrons estão sendo
utilizados para formar ligações com três átomos de H e dois
elétrons não participam da ligação, formando um par isolado.
Logo, a camada de valência tem oito elétrons, ou seja, três
pares ligantes e um par isolado. Quatro pares eletrônicos
dão origem a uma estrutura tetraédrica. Mas nesse caso três
posições são ocupadas por átomos de H e a quarta posição
é ocupada pelo par isolado (Fig. 4.1). A forma da molécula
de NH3 pode ser descrita como tetraédrica, com um dos
vértices ocupado por um par isolado, ou como uma estrutura
piramidal. A presença do par isolado provoca uma distorção
do ângulo de 109° 28' para 107° 48'. Figura 4.3 — Estrutura da molécula de PCls

Água, H2O Pentacloreto de fósforo, PC15


O átomo central é o O. Situa-se no Grupo 16, portanto, O PC1S gasoso é covalente. O átomo central P, pertence
possui seis elétrons externos (sua configuração eletrônica é ao Grupo 15, tendo assim cinco elétrons no nível mais extemo
ls2 2s2 2p4). Dois desses elétrons formam ligações com (sua configuração eletrônica é ls2 âs2 2p6 3S2 3p3). Todos os
átomos de H, completando assim o octeto. Os outros quatro cinco elétrons de valência estão sendo usados para formar
elétrons externos do O são não-ligantes. Assim, na água, o ligações com os cinco átomos de Cl. Na molécula de PC15 o
átomo de O possui oito elétrons externos (quatro pares nível de valência do átomo de P contém cinco pares
eletrônicos) e a estrutura se baseia num tetraedro. Há dois eletrônicos: a estrutura é a de uma bipirâmide trigonal. Não
pares ligantes e dois pares não-ligantes. A estrutura pode existem pares isolados, de modo que a estrutura não é
ser descrita como tetraédrica, com duas posições ocupadas distorcida. Contudo, uma bipirâmide trigonal não é uma
por pares isolados. Os dois pares isolados distorcem o ângulo estrutura completamente regular, pois alguns ângulos têm
da ligação de 109° 28' para 104° 27' (Fig. 4.2). 90° e outros 120°. Estruturas simétricas geralmente são mais
estáveis que estruturas assimétricas. Por causa disso, o PC1S
Molécula triatômicas devem ser lineares, com ângulo
é muito reativo, e no estado sólido se decompõe em [PC14]+
de ligação de 180°, ou então angulares, ou seja, dobrada. A
e [PC16]~, os quais tem estruturas tetraédrica e octaédrica,
estrutura da molécula de H2O se baseia na do tetraedro, e
respectivamente.
conseqüentemente é angular.

TYifluoreto de cloro, C1F3


O átomo de cloro se situa no centro da molécula e
determina sua forma. O Cl se situa no Grupo 17, tendo pois
sete elétrons de valência (a estrutura eletrônica do Cl é ls2
2s2 2p6 3s2 3ps). TYês elétrons formam ligações com átomos
de F e quatro elétrons não participam de ligações. Assim, no
C1F3 o átomo de Cl apresenta cinco pares eletrônicos no
nível mais externo: a estrutura, é, portanto, uma bipirâmide
trigonal. Há três pares eletrônicos ligantes e dois pares
isolados.
Citamos anteriormente que uma bipirâmide trigonal não
é uma estrutura regular, pois os ângulo das ligações não são
Figura 4.1 — Estrutura do NH3 todos iguais. Portanto, os vértices não são todos equivalentes,
42 A L1BAÇÃQ COVALENTE

Figura 4.4 — A molécula de trifluoreto de cloro


Figura 4.5 — A molécula de tetrafluoreto de enxofre
sendo que dois deles devem ser ocupados por pares isolados
I2 4- I~ —» [I — I <— I]-
e três por átomos de F. Nesse caso três arranjos diferentes
são teoricamente possíveis, como mostra a Fig. 4.4. 0 iodo se situa no Grupo 17 e possui sete elétrons de
A estrutura mais estável será a de menor energia, isto valência (sua configuração eletrônica é ls2 2s2 2p6 3s2 3p6
é, aquela que apresentar as menores repulsões entre os cinco 3d10 4s2 4p6 4d10 Ss2 5ps). Um dos elétrons de valência forma
orbitais. A maior repulsão é aquela entre dois pares isolados, uma ligação com um outro átomo de I na molécula de I2.
seguido das repulsões entre pares isolados e pares ligantes. Dessa forma os átomos de I passam a ter 8 elétrons na
As repulsões mais fracas são aquelas entre pares ligantes. camada mais externa. Um dos átomos de I da molécula de
Grupos que se situam a 90° se repelem mais intensamente I2 pode receber um par isolado de um íon I", formando um
que aqueles situados a 120° um do outro. íon I3~. O nível externo do átomo central de I contém agora
A estrutura (1) é a mais simétrica, mas apresenta seis dez elétrons, isto é, cinco pares de elétrons. Logo, sua
repulsões de 90° entre átomos e pares isolados. A estrutura estrutura baseia-se na de uma bipirâmide trigonal, mas dois
(2) apresenta uma repulsão de 90° entre dois pares isolados, dos pares de elétrons são ligantes e três são não-ligantes.
além de três repulsões de 90° entre pares isolados e átomos. Para minimizar as forças de repulsão, os três pares isolados
A estrutura (3) apresenta quatro repulsões de 90° entre pares devem ocupar as posições equatoriais, tal que os três átomos
isolados e átomos. Essas considerações mostram que a de I se localizam no centro e nas duas posições apicais.
estrutura (3) é a mais provável. Os ângulos observados são Portanto, o íon é linear, com um ângulo de ligação de
de 87° 40', muito próximo do valor teórico de 90°. Isso exatamente 180°.
confirma que a estrutura correta é (3), e o pequeno desvio é
explicado pela presença dos dois pares isolados.
Hexafluoreto de enxofre, SF6
Em geral, se existirem pares isolados numa bipirâmide
trigonal eles se situarão em posições equatoriais (no plano O enxofre se situa no Grupo 16 e apresenta seis elétrons
do triângulo) e não nas posições apicais, uma vez que esse externos (sua estrutura eletrônica é Is2 2s2 2p6 is2 3p4). Todos
arranjo minimiza as forças repulsivas. os seis elétrons externos são utilizados para formar ligações
com os átomos de F. Portanto, no SF6 o S apresenta seis
pares eletrônicos no nível mais externo; logo, a estrutura é
Tetrafluoreto de enxofre, SF4 octaédrica. Não existem pares isolados e a estrutura é
O S se situa no Grupo 16 e possui seis elétrons externos totalmente regular, com ângulos de ligação de 90°.
(sua configuração eletrônica é Is2 ís2 2p6 3s2 3p4). Quatro
dos elétrons de valência são utilizados para formar ligações
com átomos de F, e dois elétrons são não-ligantes. Portanto, Heptafluoreto de iodo, IF7
no SF4 o enxofre apresenta cinco pares eletrônicos de Esse é o único exemplo de um elemento (que não é de
valência, e sua estrutura é baseada na de uma bipirâmide transição) que usa sete orbitais para formar ligações, levando
trigonal. Há quatro pares ligantes e um par não-ligante. Para
minimizar as forças de repulsão, o par isolado ocupa uma
das posições equatoriais, e os átomos de F se situam nos
vértices remanescentes, como mostrado na Fig. 4.5.

O íon triiodeto, I3
Se iodo (I2) for dissolvido numa solução aquosa de
iodeto de potássio, é formado o íon triiodeto, I3“. Esse é um
exemplo de um íon poli-haleto, que é estruturalmente
semelhante ao íon BrlCl" (vide Capítulo 15). O íon I3" (Fig.
4.6) é constituído por três átomos e pode ter estrutura linear
ou angular. É conveniente considerar a estrutura numa série
de etapas — inicialmente um átomo de I, depois uma
molécula de I2 e por fim o íon I3", formado a partir da
coordenação de um 1" a uma molécula de I2. Figura 4.6 — O íon triiodeto
A TEORIA DA LIGAÇÃO DE VALÉNCIA 43

1. No HF o H possui um orbital s com um único elétron,


que interage com um orbital 2p contendo um elétron
isolado do átomo de F.
2. Na água, H2O, o átomo de O possui dois orbitais p
semipreenchidos, que podem interagir com os orbitais
s semipreenchidos de dois átomos de H.
3. No NH3 há três orbitais p semipreenchidos no átomo
de N, que interagem com os orbitais s semipreenchidos
de três átomos de H.
4. No CH4 o átomo de C apresenta, no estado fundamen­
Figura 4.7 — A molécula de hexafluoreto de enxofre tal, a configuração eletrônica ls2 2S2 2px 2py1, com
apenas dois elétrons desemparelhados, podendo formar
somente duas ligações. Se o átomo de C for excitado,
a uma estrutura do tipo bipirâmide pentagonal (ver Capítulo os elétrons 2s podem ser desemparelhados, levando à
15). configuração ls2 2s‘ 2px 2py1 2px . Existem agora quatro
A Tab. 4.1 relaciona o número total de orbitais extemos, elétrons desemparelhados, que podem formar quatro
orbitais ligantes e pares isolados com as estruturas mole­ ligações por meio da interação com os orbitais s
culares mais comumente encontradas. semipreenchidos de quatro átomos de H.

2s 2P
?P. 2pr 2p,
A TEORIA DA LIGAÇÃO DE VALÉNCIA Estrutura eletrônica do C
no estado fundamental |t It
Essa teoria foi proposta por Linus Pauling, que recebeu
o Prêmio Nobel de Química de 1954. A teoria foi 2p
Estrutura eletrônica do C
extensivamente usada no período de 1940 a 1960, mas foi no estado excitado |t |t |T |
sendo substituída por outras teorias. Atualmente é referida
como "fora de moda”. Contudo, ela continua sendo muito
usada pelos químicos orgânicos, além de fornecer a base
para a descrição simplificada de moléculas inorgânicas
Átomo de C que recebeu
4 elétrons de 4 átomos
de H na molécula CH4
0 nu
pequenas.
A estrutura da molécula de CH4 não fica aparente de
Átomos com elétrons desemparelhados tendem a
imediato. Os três orbitais p (px, py e pz) são ortogonais entre
combinar-se com outros átomos que também tenham si e o orbital s tem simetria esférica. Se os orbitais p forem
elétrons desemparelhados. Dessa maneira os elétrons utilizados nas ligações, então o ângulo de ligação na água
desemparelhados se combinam em pares e todos os átomos deveria ser de 90°, e os ângulos de ligação no NH3 também
envolvidos atingem uma estrutura eletrônica estável, deveríam ser de 90°. Os ângulos de ligações encontrados
geralmente resultando no preenchimento do nível eletrônico experimentalmente diferem consideravelmente desse valor:
(isto é, uma configuração de gás nobre). Dois elétrons
compartilhados por dois átomos formam uma ligação. CH4 H—C—H = 109° 28'
Geralmente o número de ligações formadas por um átomo é NH3 H—N—H - 107° 48'
igual ao número de elétrons desemparelhados existentes no
estado fundamental, isto é, no estado de menor energia. H2O H—O—H = 104° 27'
Contudo, em muitos casos os átomos podem formar mais
ligações que as previstas dessa maneira. Isso ocorre através Hibridizaçao
da excitação do átomo (isto é, fornecendo-lhe energia),
As evidências químicas e físicas indicam que no metano,
quando elétrons emparelhados no estado fundamental são
CH4, há quatro ligações equivalentes. Se as quatro Ligações
desemparelhados e tornados em orbitais vazios adequados.
forem equivalentes, as repulsões entre pares de elétrons serão
Com isso aumenta o número de elétrons desemparelhados
minimizadas quando os quatro orbitais apontarem para os
e, conseqüentemente, o número possível de ligações.
vértices de um tetraedro, o que resultaria no ângulo obser­
A forma da molécula é determinada fundamentalmente vado de 109° 28'.
pelas direções em que apontam os orbitais. Os elétrons no
nível de valência do átomo original que permanecem Cada elétron pode ser descrito por sua função de onda
emparelhados são denominados pares isolados. y. Se as funções de onda dos quatro orbitais atômicos de
valência do C forem descritos por y2s. V2Pz. V2p>, e V2Pz> então
Uma ligação covalente resulta do emparelhamento de os orbitais tetraédricos serão funções de onda ysp3, obtidas
elétrons (um de cada átomo). Os spins dos dois elétrons
pela combinação linear dessas quatro funções de onda.
devem ser opostos (antiparalelos) em virtude do princípio
de exclusão de Pauli, que estabelece que dois elétrons de VSÍ? = c,v2s + c2V2Px + C3y2py + c4v2pz
um átomo não podem ter todos os quatro números quânticos
iguais. Há quatro combinações diferentes possíveis com
Considere a formação de algumas moléculas simples. constantes q, c2, c3 e c4 diferentes.
44 A LISAÇAO CDVALENTE

Tabela 4-3 — Forças aproximadas de ligações formadas por


diferentes orbitais

Orbital Força relativa da ligação

s 1,00
P 1,73
sp 1,93
sp2 1.99
sp3 2,00

Is 2s
Boro — estado fundamental
0 0 T

Boro — estado excitado


EU 0
Molécula de BF3 onde o B recebeu
três elétrons pela formação de
ligações com três átomos de F
0 E3
Hibridização sp2 de três
Figura 4.8 — Combinação de orbitais atômicos s e p para formar um orbitais de valència:
orbital híbrido sp3. a) Orbital atômico 2s; b) Orbital atômico 2px; c) estrutura trigonal-plana
Orbital híbrido sp3
Combinando as funções de onda dos orbitais atômicos
VspHl) " '/zVzs + 'AVipx + 'AVzpy + '/2V2pz 2s, 2p* e 2py, teremos três orbitais híbridos sp2.
Ysp3(2) = '/zVzs + '/zVzpx ~ '/iWipy - '/2V2pz
Vsp^O) = '/zVzs - '/zVzpx + '/zVzpy - '/zVzpx
Vsp5(4) = '/zVzs - '/zVzpx - '/2V2PJ, + '/2V2pz
A combinação linear ou mistura das funções de onda i
dos orbitais atômicos, como mostrado acima, é denominada
hibridização. A combinação de um orbital s e três orbitais p 11/ _ 1 11/ I 1 11/ 1 u/
leva a quatro orbitais híbridos sp3. A Fig. 4.8 mostra a forma sp2(3) ^3 2s 2P* ^2 Zp*
de um orbital sp3. Como um dos lóbulos é expandido, ele
pode interagir mais efetivamente com outros orbitais que Esses três orbitais são equivalentes e a repulsão entre
um orbital s ou p puros. Assim, os orbitais híbridos sp3 for­ eles será minimizada se forem dispostos a 120° um do outro,
mam ligações mais fortes que os orbitais atômicos originais gerando uma estrutura trigonal planar. Nos orbitais híbridos
(ver Tab. 4.3). um lóbulo é maior que o outro e pode interagir mais
São possíveis outras combinações de orbitais atômicos, efetivamente com outros orbitais, formando ligações mais
de maneira semelhante à descrita acima. A estrutura da fortes que os orbitais atômicos de partida (vide Tab. 4.3). 0
molécula de trifluoreto de boro, BF3, é trigonal planar, com recobrimento dos orbitais sp2 com os orbitais p de átomos
ângulos de ligação de 120°. O átomo de B é o átomo central, de F dá origem à molécula trigonal planar de BF3, com
e ele deve ser excitado para se obter três elétrons não ângulos de ligação de 120°. Embora esse tratamento permita
emparelhados, possibilitando a formação de três ligações a previsão da estrutura correta, as ligações são mais curtas
covalentes. do que se espera para ligações simples. O motivo será
discutido no tópico "TYi-haletos” no Cap.12.

a) b) c)

Figura 4.10 — a) Orbital s, b) orbital p, c) formação de dois orbitais


Figura 4.9 — a) Orbitais híbridos sp2 e b) molécula de BF3 híbridos sp, d) seu emprego na formação do difluoreto de berílio
PARTICIPAÇÃO □□ ORBITAL d NAS LIEAÇOES EM MOLÉCULAS 45

A estrutura da molécula gasosa de fluoreto de berílio,


BeF2 é linear, F-Be-F. O Be é o átomo central da molécula e Tabela 4A — Número de orbitais e tipo de hibridizaçao
determina sua forma. A configuração eletrônica do Be no
estado fundamental é Is2 2S2. Não há elétrons desempare- Número Tipos Distribuição dos orbitais
de orbitais de híbridos no espaço
Ihados, e não pode haver formação de ligações. Se energia mais hibridi-
for fornecida à molécula, um elétron 2s pode ser promovido externos zação
para um orbital 2p vazio, gerando um átomo no estado
excitado com configuração eletrônica ls2 2s’ 2pj. Agora 2 sp Linear
existem dois elétrons desemparelhados e o átomo poderá 3 sp2 Trigonal plana
formar as duas ligações necessárias. 4 sp3 Tetraédrica
5 sp3d Bipirâmide trigonal
6 sp3d2 Octaédrica
Átomo de berílio —
estado fundamental È EU 7
(4
sp3d3
dsp2)
Bipirâmide pentagonal
Quadrado planar
Átomo de berílio —
estado excitado
hibridizado não existe na realidade. Ele não pode ser
detectado nem mesmo espectroscopicamente, de modo que
Molécula de BeF2 que recebeu
dois elétrons, formando
ligações com átomos de F
EU EU |T^| | | as energias de orbitais híbridos não podem ser medidas; só
podem ser estimadas teoricamente.
Hibridização sp dos
dois orbitais na camada
externa, estrutura linear
PARTICIPAÇÃO DO ORBITAL d NAS
A hibridizaçao dos orbitais atômicos 2s e 2pz leva a LIGAÇÕES EM MOLÉCULAS
formação de dois orbitais híbridos sp.
As ligações no PC15 podem ser descritas usando orbitais
híbridos formados pela combinação dos orbitais 3s, 3p e 3d
do P (veja a seguir). Entretanto, há dúvidas sobre a
participação de orbitais d na hibridização, o que tem contri­
buído para o declínio dessa teoria.
3s 3p __________ 3d_________
Estrutura eletrônica do
Por causa de sua forma, esses orbitais híbridos sp
átomo de P — EU |t |t |t | | | | | | |
interagem mais efetivamente e levam a ligações mais fortes estado fundamental camada
que os orbitais atômicos de partida. A repulsão será interna
cheia
minimizada quando os orbitais estiverem dispostos a 180°
um do outro. Quando esses orbitais híbridos se combinam Átomo de fósforo —
com orbitais p dos átomos de F, obtém-se uma molécula estado excitado
linear de BeF2.
Em princípio deveria ser possível calcular as forças de
ligação relativas das ligações formadas a partir de orbitais s,
Átomo de P, depois de
compartilhar 5 elétrons EU |u|n|u| |n; | | | |
p ou de seus vários orbitais híbridos. Contudo, a equação com átomos de Cl na i________ ,________ i
molécula de PCI5
de onda só pode se resolvida exatamente para átomos que Hibridização sp3 d,
bipirâmide trigonal
contém apenas um único elétron, ou seja átomos
semelhantes ao hidrogênio, como H, He + , Li2 + , Be3 + etc. Geralmente, os orbitais d são muito volumosos e de
Assim, as tentativas de se calcular as forças das ligações energia muito elevada para permitir uma combinação efetiva
necessariamente envolvem aproximações, que podem ou não com orbitais s e p. A diferença de tamanhos é ilustrada pelos
ser válidas. Tendo em vista tais considerações, os valores valores da distância radial média dos elétrons nos diferentes
apresentados na Tab. 4.3 refletem as energias relativas das orbitais do fósforo: 3s = 0,47 A, 3p = 0,55 A, e 3d = 2,4 A.
ligações formadas por orbitais s, p e seus orbitais híbridos. A energia de um orbital é proporcional à sua distância ra­
A hibridização e a combinação de orbitais é um conceito dial média, e como o orbital 3d é muito maior, sua energia
ainda mais útil. A combinação de orbitais s epé aceita sem será muito maior que a dos orbitais 3s e 3p. Em princípio
reservas, mas o envolvimento de orbitais d na hibridização pode parecer improvável que uma hibridização envolvendo
está sujeito a controvérsias, pois para haver uma combinação orbitais s, p e d realmente possa ocorrer.
efetiva as energias dos orbitais envolvidos devem ser Diversos fatores influenciam o tamanho dos orbitais. O
aproximadamente iguais. mais importante é a carga do átomo. Se o átomo tiver uma
É um engano comum admitir que a hibridização é a carga formal positiva, todos os elétrons serão atraídos em
causa de uma determinada estrutura molecular. Não é esse direção ao núcleo. O efeito é muito maior no caso dos elétrons
o caso. A razão pela qual uma dada estrutura molecular é mais externos. Se o átomo de P estiver ligado a um elemento
adotada é sua energia. Também é importante lembrar que a muito eletronegativo, como F, O ou Cl, esse elemento eletro-
hibridização é uma etapa teórica que foi introduzida na negativo atrai mais fortemente os elétrons da ligação e
passagem de um átomo para uma molécula. O estado adquire uma carga 8’. Isso provoca o aparecimento de uma
46 A LISAÇÃn COVALENTE

Tabela 4.5 — Tamanhos de orbitais

Configuração Distância radial média (Â)


sp^d2 3p 3d

Átomo de S 0,88 0,94 1,60


(neutro, sem
carga) Figura 4.11 — Interações sigma e pi; a) interação sigma (os lóbulos
Átomo de S 0,87 0,93 1,40 apontam ao longo dos núcleos); b) interação pi (os lóbulos são
(carga +0,6) octogonais à linha que une os núcleos

carga 8* no átomo de P, que por sua vez provoca a contração a a densidade eletrônica se concentra entre os dois átomos
dos orbitais. Como o orbital 3d sofre uma contração bem e sobre o eixo que une os dois átomos. Ligações duplas ou
maior que os orbitais 3s e 3p, as energias dos orbitais 3s, 3p triplas decorrem da interação lateral dos orbitais, dando
e 3d podem se tornar suficientemente próximas para permitir origem a ligações tt (pi). Nas ligações ít a densidade eletrônica
a ocorrência da hibridização no PC1S. Átomos de H não são também se concentra entre os átomos, mas de um lado e do
capazes de provocar uma contração tão acentuada, de modo outro sobre o eixo unindo os dois átomos. A forma da
que o PHS não existe. molécula é determinada pelas ligações 0 (e pelos pares
A estrutura do SF6 pode ser descrita de modo análogo, isolados), e não pelas ligações n. As ligações jt simplesmente
pela combinação de um orbital 3s, três orbitais 3p e dois diminuem os comprimentos das ligações.
orbitais 3d, ou seja, hibridização sp3d2. Considere a estrutura da molécula de dióxido de
carbono, CO2. Como o C é tetravalente e o O é divalente, a
3s 3p 3d ligação poderia ser representada simplesmente por
Estrutura eletrônica do
átomo de S — O=C=O
estado fundamental camada
interna Moléculas triatômicas podem ser lineares ou angulares.
No CO2 o átomo de C deve ser excitado para fornecer quatro
Estrutura eletrônica do
átomo de S — □ |t |t |t | |T |T | | | | elétrons desemparelhados, de modo a permitir a formação
estado excitado das quatro ligações na molécula.

Átomo de enxofre depois 1s 2s 2p


de compartilhar seis
elétrons com átomos
E EEE EEl I I ~l Estrutura eletrônica do átomo
de C — estado fundamental É E t |t
de F na molécula de SF6
i________ T________i
Hibridização sp3 d2, 2p
estrutura ostaédrica Estrutura eletrônica do átomo
de C — estado excitado É t |t It
A presença de seis átomos de F muito eletronegativos Átomo de carbono que recebeu
provoca uma contração acentuada dos orbitais d, diminuindo 4 elétrons de átomos de oxigênio,
formando quatro ligações
E E I , I
suas energia e tornando possível a combinação com orbitais
s e p. Ligações a Ligações t.

Um segundo fator que influencia o tamanho de orbitais Há duas ligações 0 e duas ligações ti na molécula de
3d é o número de orbitais d ocupados por elétrons. Se CO2. Os orbitais tt são ignorados na determinação da
somente um dos orbitais d de um átomo de S estiver ocupado, estrutura da molécula. Os orbitais s ep remanescentes são
a distância radial média é de 2,46 Â, mas se dois orbitais 3d usados na formação de ligações 0 (esses orbitais podem
estiverem ocupados esse valor diminui para 1,60 Â. O efeito estar hibridizados, de modo que os dois orbitais sp2 estejam
da variação da carga sobre a distância radial média pode ser apontando em direções opostas. Segundo a teoria VSEPR.
visto na Tab. 4.5. esses dois orbitais devem se orientar de modo a ficarem o
Uma pequena contração adicional dos orbitais d pode mais afastados possíveis um do outro). Esses dois orbitais
surgir como conseqüência do acoplamento dos spins de interagem com os orbitais p de dois átomos de oxigênio,
elétrons ocupando orbitais diferentes. formando uma molécula linear com um ângulo de ligação
Assim, parece provável que os orbitais d realmente de 180°. Os orbitais 2py e 2pz do C usados para formar as
participem das ligações nos casos em que ocorre uma ligações tt estão situados a 90° da ligação o, e interagem
contração significativa dos mesmos. lateralmente com os orbitais p dos átomos de O. A formação
dessas ligações n diminui a distância C-O, mas não altera a
estrutura da molécula.
LIGAÇÕES C E n A molécula de dióxido de enxofre, SO2, pode ser tratada
Todas as ligações formadas nos exemplos discutidos de maneira análoga. O enxofre pode ter números de oxidação
até o momento foram decorrentes da interação coaxial de (+ II), (+ IV) e (+ VI), enquanto o oxigênio é divalente. A
orbitais e são denominadas ligações o (sigma). Nas ligações estrutura do SO2 poderia ser representada como
MÉTODO DOS ORBITAIS MOLECULARES ^7

o=s=o
Moléculas triatômicas são lineares ou angulares. O
átomo de S deve ser excitado para fornecer quatro elétrons
desemparelhados.
3s 3p 3d
Estrutura eletrônica do
átomo de S —
estado fundamental camada
interna
cheia
Estrutura eletrônica do
átomo de S — íu t t t Figura 4.13 — A molécula de trióxido de enxofre
estado excitado
Na molécula de trióxido de enxofre, SO3, a teoria da
valência sugere a estrutura
Átomo de enxofre depois
de compartilhar quatro [Ü] |U|U|U| [ü| | | | | O
elétrons com átomos i____________ li________ i
de O na molécula de S02 1 1 I
Duas ligações Duas
OAO
o e um par ligações
isolado n

Os dois pares eletrônicos que formam as ligações tt não O átomo central de S deve ser excitado de modo a
alteram a geometria da molécula. Os três orbitais remanes­ fornecer seis elétrons desemparelhados capazes de formar
centes apontam para os vértices de um triângulo, gerando seis ligações.
uma estrutura trigonal planar para a molécula: dois vértices 3s 3p 3d
são ocupados por átomos de oxigênio e um vértice é ocupado Estrutura eletrônica do
átomo de enxofre — □ |T |t |t I |T |T I I I I
por um par isolado. Portanto, a molécula de SO2 é angular, estado excitado
isto é, tem a forma de um V (Fig. 4.12).
As ligações tt não alteram a forma, mas diminuem os Átomo de S após T
comprimentos das ligações. O ângulo da ligação é reduzido compartilhar seis L
elétrons com átomos i JL
do valor teórico de 120° para 119° 30', por causa da maior de O na molécula de SO3
repulsão provocada pelo par isolado. Os problemas aparecem Três Três
ligações ligações
quando se tenta verificar quais são exatamente os orbitais 0 71
atômicos envolvidos na formação das ligações n. Caso as
ligações o estejam no plano xy, então as interações tt podem As três ligações tt são ignoradas na determinação da
ocorrer entre o orbital 3pz do S e o orbital 2pz de um dos geometria da molécula. Os três orbitais o se dirigem para os
átomos de oxigênio, formando uma das ligações tt. A segunda vértices de um triângulo equilátero, e a molécula de SO3
ligação tt envolve um orbital d. Embora o orbital 3dzi do apresenta geometria trigonal planar regular (Fig. 4.13). As
átomo de S esteja na orientação correta para uma interação ligações tt encurtam as ligações, mas não alteram a forma
com o orbital 2pz do outro átomo de O, a simetria do orbital da molécula. Essa abordagem explica as ligações a e a forma
3dz2 não é adequada (ambos os lóbulos apresentam sinal da molécula, mas a explicação dada para as ligações tt é
+ ), ao passo que num orbital p um lóbulo é + e outro é -. insatisfatória. Ela pressupõe que:
Assim, a interação desses dois orbitais não resulta numa 1. Um orbital 3p e dois orbitais 3 d do átomo de enxofre
ligação. O orbital hd^ do átomo de S tem orientação e tenham orientação adequada para interagirem
simetria adequadas para interagir com o orbital 2pz do lateralmente com os orbitais 2py ou 2pz de três átomos
segundo átomo de O, formando a segunda ligação tt. É de oxigênio diferentes, e
surpreendente que ligações tt envolvendo orbitais p e d
tenham ambas a mesma energia (e comprimento de ligação). 2. As ligações tt formadas tenham todas a mesma força.
Fica, assim, a dúvida se é correto tratar moléculas com duas Isso nos faz questionar a abordagem das ligações tt.
ligações tt como sendo moléculas com duas ligações tt Em moléculas contendo mais de uma ligação tt ou em
discretas. É mais adequado considerar as ligações tt como moléculas nas quais a ligação tt pode estar em mais de uma
estando deslocalizadas sobre vários átomos. Exemplos dessa posição, é melhor considerar as ligações tt como estando
abordagem serão vistos no final deste capítulo. deslocalizadas sobre diversos átomos ao invés de localizada
sobre dois átomos. Essa abordagem será desenvolvida no
final deste capítulo.

MÉTODO DOS ORBITAIS MOLECULARES


Na teoria da ligação de valência (dos pares eletrônicos)
a molécula é considerada como sendo constituída por
átomos, onde os elétrons estão ocupando orbitais atômicos.
Esses podem ou não estar hibridizados. Se estiverem
hibridizados, orbitais atômicos do mesmo átomo se
Figura 4.12 — A molécula de dióxido de enxofre combinam para formar orbitais híbridos, que podem interagir
48 A LIGAÇÃO COVALENTE

mais efetivamente com os orbitais de outros átomos,


formando ligações mais fortes. Supõe-se, assim, que os
orbitais atômicos (ou os orbitais híbridos) permaneçam
inalterados, mesmo que o átomo esteja quimicamente
combinado formando uma molécula.
Na teoria dos orbitais moleculares, os elétrons de
valência são tratados como se estivessem associados a todos
os núcleos da molécula. Portanto, os orbitais atômicos de
átomos diferentes devem ser combinados para formar orbitais
moleculares.
Os elétrons podem ser considerados como partículas
ou como ondas. Um elétron num átomo pode, portanto, ser
descrito como uma partícula ocupando um orbital atômico, Figura 4.14 — Combinações s-s de orbitais atômicos
ou por uma função de onda VF, que é uma das soluções da
equação de Schrõdinger. Os elétrons numa molécula ocupam gênio. Nesse caso os orbitais atômicos ls dos dois átomos
orbitais moleculares. A função de onda que descreve um podem ser descritos pelas funções de onda 4'(A) e H^b;- São
orbital molecular pode ser obtida através de um dos dois possíveis duas combinações lineares das funções de onda
procedimentos: *(A)eT(B):
1. Combinação linear de orbitais atômicos (CLOA) (Lin­ 1. Aquela em que os sinais das duas funções de onda são
ear combination of atomic orbitais = LCAO). iguais.
2. Método do átomo unido. 2. Aquela em que os sinais das duas funções de onda são
diferentes.
MÉTODO DA COMBINAÇÃO LINEAR (se uma das funções de onda 'F(A) for arbitrariamente
DE ORBITAIS ATÔMICOS (CLOA) assinalada com o sinal +, a outra poderá ser + ou -).
Funções de onda que têm o mesmo sinal podem ser
Considere dois átomos A e B, cujos orbitais atômicos
consideradas como ondas que estão em fase, que se
são descritos pelas funções de onda 'F(A) e 4'(B). Se as nuvens
combinam dando origem a uma onda resultante maior.
eletrônicas desses dois átomos se recobrirem com a
Analogamente, funções de onda com sinais contrários
aproximação dos átomos, então a função de onda para a
correspondem a ondas que estão completamente fora de
molécula (orbital molecular 'J'(AB)) pode ser obtida por uma
fase e se cancelam mutuamente por interferência destrutiva
combinação linear dos orbitais atômicos VP(A) e vF'cb):
(os sinais + e - se referem aos sinais da funções de onda
'F(ab) = N(c,^(a) + c2T(b)) que determinam suas simetria, e nada tem a ver com suas
cargas elétricas). As duas combinações são:
onde N é uma constante de normalização que faz com que
a probabilidade de se encontrar um elétron na totalidade do *(8) = ^(A) ^(B)}
espaço seja unitária, e Cj e c2 são constantes que minimizam e
a energia de 'P(AB). Se os átomos A e B forem semelhantes,
então Ci e c2 terão valores semelhantes. Se os átomos A e B Y(u) = + [-'F(b)]} N{V(A) - >P(B)}
forem iguais, q e c2 serão iguais. A última equação deve ser considerada como sendo a
A probabilidade de se encontrar um elétron num volu­ soma de duas funções de onda e não como sendo a diferença
me dv é 'J'2dv, de modo que a densidade eletrônica, em matemática entre elas.
termos de probabilidade, para a combinação de dois átomos Quando um par de orbitais atômicos 'P(A; e 'PfB) se
será proporcional ao quadrado da função de onda: combina, eles dão origem a um par de orbitais moleculares
'P(g) e 'F(u). O número de orbitais moleculares formados deve
^(AB) = (c/^tA) + 2c1C2'F(A)'P(B) + C?^)
ser sempre igual ao número de orbitais atômicos utilizados.
No lado direito da equação, os primeiro e terceiro A função H'(g) provoca um aumento da densidade eletrônica
termos, c12'P2(A) e C22'i/2(B), são as probabilidades de se entre os núcleos e, portanto, é um orbital molecular ligante.
encontrar um elétron nos átomos A e B, se estes fossem Ele possui uma energia menor que os orbitais atômicos de
átomos isolados. O termo central se torna cada vez mais partida. Já 'P(u) é constituída por dois lóbulos de sinais
importante à medida que a sobreposição (“overlap”) dos opostos, que se cancelam mutuamente e anulam a densidade
dois orbitais atômicos aumenta, sendo por isso denominado eletrônica entre os núcleos. Esse é um orbital molecular
integral de recobrimento ou sobreposição. Esse termo é a antiligante, de energia mais elevada que os orbitais iniciais
principal diferença entre as nuvens eletrônicas nos átomos (Fig. 4.15).
isolados e na molécula. Quanto maior for a contribuição As funções de onda dos orbitais moleculares são
desse termo mais forte será a ligação. designadas por 'P(6) e 4'(u; , onde g vem de gerade (alemão,
significando par; pronuncia-se "guerrade") e u de ungerade
(ímpar). g e u se referem à simetria do orbital em relação a
Combinação de orbitais s e s seu centro. Se o sinal da função de onda não se alterar quando
Suponha que os átomos A e B sejam átomos de hidro- o orbital for invertido em relação a seu centro (isto é, quando
MÉTODO DA COMBINAÇÃO LINEAR OE ORBITAIS ATÚMICOS [CLOA] 49

Orbitais Orbitais Orbitais


atômicos moleculares atômicos

t
iS
VlAI
Átomo (A)
VlB)
Átomo (B)
Orbital 1s Orbital 1s

Figura 4.16 — Níveis energéticos de orbitais atômicos e orbitais


moleculares
Figura 4.15 — Energia de orbitais moleculares HÇg) e
desestabilização 2A decorrente da ocupação do orbital mo­
lecular antiligante. Como no processo global não há nenhuma
x, y e z se transformarem em -x, -y e -z) o orbital será
diminuição da energia do sistema, a molécula de He2 não se
gerade. Um método alternativo para se determinar a simetria
forma, e essa situação corresponde a uma interação não-
do orbital molecular consiste em girar o orbital em torno do
ligante.
eixo que une os dois núcleos e a seguir em torno de um eixo
perpendicular ao primeiro. Se os sinais dos lóbulos Alguns outros símbolos são necessários para descrever
permanecerem inalterados, o orbital será gerade; se houver a maneira como os orbitais atômicos se combinam. A
troca de sinais, o orbital será ungerade. sobreposição dos orbitais atômicos ao longo do eixo que
une os núcleos produz os orbitais moleculares a, enquanto
A energia do orbital molecular ligante T(g) passa por
que a sobreposição lateral de orbitais atômicos produz
um mínimo (Fig. 4.15), e a distância entre os átomos nesse
orbitais moleculares tt.
ponto corresponde à distância internuclear entre os dois
átomos quando eles formarem uma ligação. Vamos examinar
os níveis de energia dos dois orbitais atômicos Is e do or­ Combinação de orbitais s e p
bital ligante 'Pfg) e do antiligante (Fig. 4.16). Um orbital s pode se combinar com um orbital p, desde
A energia do orbital molecular ligante é menor que a que seus lóbulos estejam orientados ao longo do eixo que
do orbital atômico por um valor A, denominada energia de une os dois núcleos. Se os lóbulos que interagem tiverem o
estabilização. Analogamente, a energia do orbital molecu­ mesmo sinal, ocorre a formação de um orbital molecular
lar antiligante aumentou de um valor correspondente a A. (OM) que apresenta um aumento da densidade eletrônica
Orbitais atômicos podem conter até dois elétrons (desde que entre os núcleos. Se os lóbulos tiverem sinais opostos, haverá
estes tenham "spins” opostos), e o mesmo se aplica para a formação de um OM antiligante, com uma menor densidade
orbitais moleculares. No caso da combinação de dois átomos eletrônica entre os núcleos (Fig. 4.17].
de hidrogênio, há apenas dois elétrons a serem considerados:
um do orbital Is do átomo A e um do orbital Is do átomo B.
Na molécula, os dois elétrons passam a ocupar o orbital Combinação de orbitais p e p
molecular ligante H'(g). Isso resulta numa diminuição de Considere inicialmente a combinação de dois orbitais
energia equivalente a 2A, correspon­
dente à energia da ligação. É somente
por causa dessa estabilização do sistema
que a ligação é formada.
Considere agora o caso hipotético
da combinação de dois átomos de He.
O orbital Is de cada um dos átomos de
He contém dois elétrons, perfazendo um
total de quatro elétrons a serem
distribuídos nos orbitais moleculares.
Dois desses elétrons devem ocupar o
orbital molecular ligante, enquanto os
outros dois devem ocupar o orbital
molecular antiligante. A energia de
estabilização de 2A, proveniente do
preenchimento do orbital molecular
ligante, é cancelada pela energia de Figura 4.17 — Combinação s-p de orbitais atômicos
50 A LIBAÇÃD covalente

A ligação tr é importante em muitos compostos


orgânicos tais como o eteno (no qual existe uma ligação a e
uma ligação tc entre os átomos de carbono), o etino (uma
ligação a e duas ligações tt) e o benzeno, bem como em
diversos compostos inorgânicos tais como C02 e CN’.
O eteno contém uma dupla ligação localizada que
envolve somente dois átomos de carbono. Medidas
experimentais mostram que os dois átomos de C e os quatro
átomos de H são coplanares, com ângulos de ligação de
aproximadamente 120°. Cada átomo de C utiliza seu orbital
2s e dois orbitais 2p para formar três orbitais híbridos sp1,
que formam uma ligação a com o outro carbono e com dois
átomos de hidrogênio. O orbital p remanescente em cada
átomo de C é ortogonal ao plano das ligações o assim
formadas. Na teoria da ligação de valência esses orbitais
Figura 4.18 — Combinação p-p de orbitais atômicos interagem lateralmente para dar origem a uma ligação n.
Essa sobreposição lateral não é tão efetiva quanto a interação
coaxial na ligação o, de modo que a ligação C = C, embora
p cujos lóbulos estejam orientados ao longo do eixo que seja mais forte que a ligação C-C, não é duas vezes mais
une os dois núcleos. Nesse caso serão formados tanto um forte (346 kJ mol-1 no etano, 598 kJ mol"1 no eteno). A
OM ligante como um OM antiligante do tipo o (Fig. 4.18). molécula pode girar em torno da ligação C-C no etano, mas
Considere a seguir a combinação de dois orbitais p cujos não no eteno, pois isto reduziría a proporção da interação tt.
os lóbulos estejam orientados perpendicularmente ao eixo A explicação dada para a formação da ligação n utilizando a
que une os dois núcleos. Nesse caso pode ocorrer a teoria dos orbitais moleculares é ligeiramente diferente. Os
sobreposição lateral dos orbitais com formação de um OM tr dois orbitais p envolvidos na formação da ligação n se
ligante e um OM n* antiligante. combinam formando dois orbitais moleculares, um ligante
Há três diferenças entre esses orbitais moleculares e os e um antiligante. Como somente dois elétrons estão
orbitais moleculares o descritos anteriormente: envolvidos, estes ocupam o OM n ligante, pois este tem
1. Para ocorrer interação Tt, os lóbulos dos orbitais atômicos menor energia. A explicação através da teoria dos orbitais
devem estar orientados perpendicularmente ao eixo moleculares se torna mais importante nos casos em que
internuclear, enquanto que na interação o os lóbulos existem ligações n deslocalizadas, isto é, onde as ligações tt
devem se encontrar ao longo do eixo. abrangem diversos átomos, como no benzeno, N03‘ e CO32’.
2. T é nula ao longo da linha internuclear no caso dos No etino, cada átomo de C utiliza dois orbitais híbridos
/ orbitais moleculares ir e conseqüentemente a densidade sp para formar ligações a com o outro átomo de C e com um
eletrônica 'F2 será igual a zero, em contraste com os átomo de H. Esses quatro átomos formam uma molécula
orbitais o. linear. Cada átomo de C apresenta dois orbitais p ortogonais
entre si, que se sobrepõem lateralmente com os corres­
3. A simetria de orbitais moleculares tt é diferente da pondentes orbitais p do outro átomo de C. Assim, são
simetria dos OMs a. Se o OM n ligante for girado em formadas duas ligações n. Ocorre dessa maneira a formação
torno do eixo internuclear, ocorrerá uma inversão dos de uma ligação tripla C=C, mais forte que a ligação dupla
sinais dos lóbulos. Os orbitais rr ligantes são, portanto, C = C (C=C no etino, 813 kJ mol-1).
ungerade, enquanto que todos os OMs o ligantes são
gerade. Já os OMs ir antiligantes são gerade enquanto A maioria das ligações Tt fortes ocorre entre elementos
que os OM a antiligantes são ungerade. do primeiro período curto da tabela periódica, por exemplo,
OC, C=N, CsO, C = C e C = O. Isso ocorre porque os átomos
envolvidos são pequenos e os orbitais razoavelmente
Orbitais atômicos Orbitais moleculares compactos, tornando possível uma sobreposição razoável
dos orbitais. Há um pequeno número de casos em que ocorre
Plano
Interação Tt a formação de ligações n entre tipos diferentes de orbitais,
Orbital
nodal
ligante por exemplo entre orbitais 2p e 3d. Embora esses orbitais
sejam muito maiores, a presença de regiões nodais pode
concentrar a densidade eletrônica em certas partes dos
M>(u> orbitais.
Plano nodal

Interação n*
Combinação de orbitais p e d
. Plano
nodal
Orbital Um orbital p de um átomo pode se sobrepor a um or­
antiligante
bital d de outro átomo, dando origem a combinações ligante
e antiligante. Como os orbitais não se encontram ao longo
Vis> do eixo que une os dois núcleos, a interação deve ser do
Figura 4.19 — Combinação p-p com formação de ligação tt tipo tt (Fig. 4.20). Esse tipo de ligação é responsável pelas
RESRA5 PARA A COMBINAÇÃO LINEAR DE ORBITAIS ATÚMICOS 51

Orbitais atômicos Orbitais moleculares

Interação n
Orbital
ligante

Interação n"
Orbital
G ®’G) antiligante Figura 4.22 — Algumas combinações não-ligantes de orbitais atômicos

V(0» REGRAS PARA A COMBINAÇÃO LINEAR


DE ORBITAIS ATÔMICOS
Figura 4.20 — Combinação p-d de orbitais atômicos
Para decidir quais são os orbitais atômicos que podem
ligações curtas encontradas nos óxidos e oxoácidos de fósforo ser combinados para formar orbitais moleculares, três regras
e de enxofre. Ocorre também em complexos de metais de devem ser consideradas:
transição, como os carbonil e os ciano complexos. 1. Os orbitais atômicos devem ter aproximadamente a
mesma energia. Isso é importante ao se considerar a
interação de dois tipos diferentes de átomos.
Combinações de orbitais de d 2. A sobreposição dos orbitais deve ser maximizada. Isso
Dois orbitais atômicos d podem ser combinados de significa que os átomos devem estar suficientemente
modo a formar OMs ligante e antiligante, denominados próximos para haver uma sobreposição efetiva e as
respectivamente 8 (Fig. 4.21) e 8*. Ao se girar esses orbitais funções de distribuição radial dos dois átomos devem
em torno do eixo internuclear, os sinais dos lóbulos mudam ser semelhantes na distância considerada.
quatro vezes, em contraste com as duas vezes no caso de 3. Para formar OMs ligantes e antiligantes, os dois orbitais
orbitais rt. e nenhuma no caso de OMs o. atômicos devem permanecer inalterados ou se alterar
de maneira equivalente, após uma rotação em torno do
Combinações não-ligantes de orbitais eixo internuclear.
Todas as combinações de orbitais atômicos vistos até o Do mesmo modo que um orbital atômico possui uma
momento resultaram em um OM ligante de energia mais determinada energia e é definido por um conjunto de quatro
baixa e um OM antiligante de energia mais alta. Para obter números quânticos, cada orbital molecular também
um OM ligante com uma densidade eletrônica maior entre apresenta uma energia definida e é definido por quatro
os núcleos, os sinais (simetria) dos lóbulos que interagem números quânticos.
devem ser iguais. Para a formação de OMs antiligantes, os 1. O número quântico principal n tem o mesmo significado
sinais dos lóbulos que interagem devem ser diferentes. Nas que nos orbitais atômicos.
combinações mostradas na Fig. 4.22, qualquer estabilização 2. O número quântico secundário l também tem o mesmo
decorrente da interação de + com + é desestabilizada por significado que nos orbitais atômicos.
igual número de interações de + com -. Ou seja, não há 3. O número quântico magnético dos orbitais atômicos é
variação da energia global do sistema, e essa combinação é substituído por um novo número quântico X. Numa
denominada não-ligante. Deve-se notar que em todas essas molécula diatômica a linha que une os dois núcleos é
interações não-ligantes as simetrias dos dois orbitais atômicos tomada como direção de referência, e X representa a
são diferentes, isto é, a rotação em torno do eixo internuclear quantização do momento angular em unidades h/2n
altera o sinal de apenas um deles. em relação a esse eixo. X assume os mesmos valores
que m nos átomos, isto é,
-3,-2,-1, 0, +1, + 2, +3, +1

Quando X = 0, os orbitais são simétricos em torno do


eixo e são denominados orbitais a. Quando X = ± 1,
eles são denominados orbitais tt e, quando X =± 2,
são chamados de orbitais 8.
4. O número quântico de spin é o mesmo dos orbitais
atômicos e pode ter valores iguais a ± 1/2.
O princípio de exclusão de Pauli estabelece que num
átomo não podem haver dois elétrons com os quatro números
quânticos iguais. O princípio de Pauli também se aplica aos
orbitais moleculares: numa molécula não podem haver dois
Figura 4.21 — Ligação d a partir de dois orbitais d (interação lateral
de dois orbitais dx?_y2 elétrons com os quatro números quânticos iguais.
52 A LIEAÇAO covalente

A ordem de energia dos orbitais moleculares foi um tipo de núcleo, ou seja, de um único elemento; e
determinada principalmente a partir de dados diatômico significa que a molécula é formada por dois
espectroscópicos. Em moléculas diatômicas homonucleares átomos.
simples, a ordem é:

112 py, l7r‘2p?,,CT’2px O íon molécula H2


<71S, CT*lS,O’2s,O',2s,CT2pJ., Ele pode ser considerado como sendo a combinação do
7t2p_, [7t,2p2.,
átomo de H com um íon H + . Assim, o íon molécula de
energia crescente * hidrogênio contém apenas um elétron, que ocupa o OM de
menor energia, ais1.
Note que o orbital atômico 2py forma OMs 7t ligante e
O OM ais é um orbital ligante. A energia desse íon é,
jc*antiligante; e o orbital atômico 2pz também forma OMs rr
pois, menor que a do sistema constituído pelo átomo e o íon
ligante e 7t* antiligante. Os orbitais moleculares ligantes n2py
H + por uma quantidade A. Essa diferença de energia confere
e 7t2pz têm exatamente a mesma energia e são duplamente
certa estabilidade ao H2 +, mas é uma espécie pouco comum,
degenerados. De modo análogo, os orbitais moleculares
pois o H2 é muito mais estável. Contudo, o íon H2 + pode ser
antiligantes 7t*2py e 7t*2pz têm a mesma energia e são
detectado espectroscopicamente, quando gás H2 à pressão
também duplamente degenerados.
reduzida é submetido a uma descarga elétrica.
Existe uma sequência semelhante de orbitais molecu­
lares do a3s ao a*3px, mas os valores das energias são
conhecidos com menor exatidão. A molécula de H2
As energias dos OMs a2p e 7t2p são muito próximas. A Cada átomo de H possui um elétron, portanto existem
ordem de OMs mostrada acima é correta para o oxigênio e dois elétrons na molécula. Eles ocupam o OM de menor
os elementos mais pesados, mas para os elementos mais energia cls2. Essa situação é mostrada na Fig. 4.23. O OM
leves boro, carbono e nitrogênio, os orbitais 7i2py e 7t2pz ligante ais está completamente preenchido, de modo que a
provavelmente possuem uma energia menor que a2px. Para energia de estabilização é igual a 2A. Forma-se uma ligação
esses átomos a seqüência é: a e a molécula de H2 é estável e bem conhecida.

7t2pv, tt^Py
O íon molecular He2+
als,a*ls,a2s,a*2s, a2pI,a*2px,
7t2pz, 7t’2pz Ele pode ser considerado como sendo a combinação de
energia crescente >
um átomo de He e um íon He + . Os três elétrons desse íon
molecular estão distribuídos nos OMs como se segue: ais2,
a*ls’.
EXEMPLOS DA APLICAÇÃO DA TEORIA O orbital molecular preenchido ais é um OM ligante e
DE ORBITAIS MOLECULARES leva a uma estabilização igual a 2A, enquanto que o orbital
semipreenchido a* Is leva a uma desestabilização igual a A.
PARA MOLÉCULAS DIATÔMICAS Logo, a energia de estabilização é igual a A. Apesar disso, o
HOMONUCLEARES íon molécula de He2 + não é muito estável, mas foi observado
Os átomos podem ser teoricamente construídos, colo­ espectroscopicamente.
cando-se o número correspondente de elétrons nos orbitais
atômicos. Para tanto, utiliza-se o princípio de Aufbau: A molécula de He2
1. Orbitais de energia menor são preenchidos primeiro.
Cada átomo de He possui dois elétrons perfazendo um
2. Cada orbital pode conter dois elétrons, desde que eles total de quatro na molécula. Esses elétrons estão distribuídos
tenham spins opostos.
A regra de Hund estabelece que no caso de termos .2 n
diversos orbitais de mesma energia (isto é, degenerados), <5 Orbitais Orbitais Orbitais o
os elétrons serão distribuídos de modo a resultarem no maior £ atômicos moleculares atômicos ui
número possível de spins desemparelhados.
No método dos orbitais moleculares considera-se a
molécula como um todo e não os átomos que a constituem.
Além disso, são utilizados orbitais moleculares em vez de a*1s
orbitais atômicos. Na “construção” da molécula, o número
total de elétrons provenientes de todos os átomos é 1s 1s
distribuído pelos orbitais moleculares. O princípio de Aufbau
e a regra de Hund devem ser obedecidas da mesma maneira ols
que no caso de átomos. H H2 H
átomo molécula átomo
Por questões de simplicidade, consideraremos
inicialmente moléculas diatômicas homonucleares. Homo-
nuclear significa que a molécula é constituída por apenas Figura 4.23 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e
moleculares para o hidrogênio
EXEMPLEIS BA APLICAÇÃO DA TEORIA DE ORBITAIS MOLECULARES PARA MOLÉCULAS OIATOMICAS HOMONUCLEARES 53

nos OMs como se segue: ais2, a^ls2. Note que nesse caso a A molécula de B2
energia de estabilização 2A, decorrente do preenchimento Cada átomo de boro possui 2 + 3 elétrons. A molécula
do orbital a2s, é cancelada pela energia de desestabilização de B2 contém, portanto, um total de dez elétrons, que se
proveniente do preenchimento do OM a*ls. Consequen­ distribuem nos OMs como se segue:
temente, não há formação de ligações e essa molécula não
deve existir. n2pj
ais2,a * ls2,a2s2,a *2s2,
rt2pj
Molécula de Li2 Essa configuração eletrônica é mostrada esquema-
Cada átomo de Li possui dois elétrons em seu nível ticamente no diagrama da Fig. 4.25. Lembre-se de que o B é
interno e um elétron no nível externo, perfazendo um total um átomo leve e que nesse caso a seqüência de energia dos
de três elétrons. Logo, existem seis elétrons a serem OMs é diferente da seqüência “normal". Os orbitais n2p têm
distribuídos na molécula, e estes devem ser distribuídos nos energia menor que os orbitais a2px. Como os orbitais it2pv e
OMs como se segue: ais2, a*ls2, aãs2. Essa situação é n2pz são degenerados (têm energias idênticas), cada orbital
mostrada graficamente na Fig. 4.24. A camada interna de deve conter um único elétron, segundo a regra de Hund. A
OM ais não contribui para a formação de ligações, como no camada interna não participa da ligação. Os efeitos dos
caso da molécula de He2. Esses orbitais moleculares são orbitais a2s ligante e antiligante cancelam-se mutualmente.
muito similares aos orbitais atômicos de origem, de modo Contudo, o preenchimento dos orbitais n2p leva a uma
que a configuração eletrônica da molécula Li2 pode ser escrita situação energeticamente favorável e a formação de uma
KK, aãs2. ligação.
Uma ligação se forma devido ao preenchimento do nível
a2s, e a molécula de Li2 existe no estado de vapor. Porém, A molécula de C2
no estado sólido é mais vantajoso para o lítio formar uma
estrutura metálica. Outros metais do Grupo 1 se comportam Um átomo de carbono possui 2 + 4 elétrons. Uma
de maneira semelhante. Por exemplo, a estrutura eletrônica molécula C2 deve conter um total de 12 elétrons que se
do Na2 é KK, LL, a3s2. distribuem pelos OMs como se segue:

x2p2
ais2, a* ls2,a2s2,a • 2s2,
A molécula de Be2
Um átomo de berílio possui dois elétrons no primeiro
nível e mais dois elétrons no segundo nível. Logo, a molécula
de Be2 tem um total de oito elétrons. Eles se distribuem
pelos OMs como se segue: ais2, a*ls2, aãs2, c*2s2 ou KK, t Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares
Orbitais
atômicos
t
a2s2, o’2s2.
Ignorando a camada interna como antes, verifica-se que
os efeitos dos orbitais a2s ligante e a*2s antiligante cancelam-
se mutualmente. Portanto, não se espera observar a formação o2p.
de moléculas de Be2, visto que a energia de estabilização é
igual a zero. -4+ 2p,'~--.______ _.--''2p^ 2py'
M-
2p, 2p> 2p,
.2 .s o2p,
’cn
o Orbitais Orbitais Orbitais
£ atômicos moleculares atômicos £ n2p. n2p.

a'2s
a'2s

2s 2s 2s 2s
c2s a2s

a’1s

1s 1s

ais

Li Li2 Li B B
átomo molécula átomo átomo molécula átomo

Figura 4.24 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e Figura 4.25 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e
moleculares para o lítio moleculares para o boro
54 A LI6AÇAD COVALENTE

Essa situação é mostrada esquematicamente na Fig. molécula de O2 tem um total de 16 elétrons que se distribuem
4.26. pelos OMs como se segue:
A molécula deve ser estável, já que dois orbitais ligantes
Tt2p fornecem uma energia de estabilização de 4A, com n2 p2,
formação de duas ligações. Na realidade, o carbono existe ais2,cr * ls2,a2s2,a* 2s2,a2p2
n2p2, n • 2p'z
na forma de macromoléculas de grafite e diamante, pois
estes se constituem em arranjos ainda mais estáveis (cada Essa situação é mostrada esquematicamente na Fig.
carbono forma quatro ligações). Por isso, o diamante e a 4.28.
grafita são formados em vez do C2. Os orbitais antiligantes n*2py e tc*2pz estão ocupados
com um elétron cada, de acordo com a regra de Hund. A
A molécula de N2 presença de elétrons desemparelhados implica na ocorrência
de propriedades paramagnéticas. Assim, a existência dos
Um átomo de nitrogênio possui 2 + 5 = 7 elétrons.
Assim, a molécula de N2 contém 14 elétrons que se dois elétrons desemparelhados com spins paralelos explica
distribuem nos OM como se segue: porque o oxigênio é paramagnético. Comparando essa
abordagem com a teoria dos pares eletrônicos de Lewis ou
com a teoria da ligação de valência, percebe-se que elas não
als2,cr'ls2,a2s2,cr'2s2. prevêem a ocorrência de elétrons desemparelhados na
.^p2
molécula de O2.
Isso é mostrado esquematicamente na Fig. 4.27.
Supondo-se que a camada interna não participe da
ligação e que a contribuição dos orbitais moleculares ligantes 0 O ■0'0

e antiligantes formados pela combinação dos orbitais 2s se


cancele mutualmente, ainda restam uma ligação a e duas A previsão do paramagnetismo do O2 foi o primeiro
ligações tt perfazendo um total de 3 ligações. Esse fato está sucesso da teoria dos orbitais moleculares; fato sequer
de acordo com a formulação N=N da teoria de valência. considerado pela teoria de valência, que representa a
molécula como 0 = 0.
A molécula de O2 Como nos exemplos anteriores, a camada interna não
Cada átomo de oxigênio possui 2 + 6 = 8 elétrons. A participa da ligação, pois as contribuições dos orbitais 2s

<0


í Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares
Orbitais
atômicos
‘oj

£ t
£
Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares
Orbitais
atômicos
®
u

-'>f2pt,^'.jt-2p/ ^■'n-2pY.-<n-2p,'~^

o-2p.
M-
2p, 2pY '2pt 2p,''-, ' ||
;>t>t > t
,--'2p. 2p/ 2p,
a2p.

n2p,.

g2s g2s

C C2 C N N2 N
átomo molécula átomo átomo molécula átomo

Figura 4.26 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e Figura 4.27 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e
moleculares para o carbono moleculares para o nitrogênio
EXEMPLOS DA APLICAÇÃO DA TEORIA DE ORBITAIS MOLECULARES PARA MOLÉCULAS OIATOMICAS HOMONUCLEARES 55

ligante e antiligante se cancelam mutuamente. Do preenchi­ A camada interna de elétrons não participa da ligação.
mento do orbital a2px2 resulta uma ligação o. Como o orbi­ Os orbitais O2S2 ligante e antiligante cancelam-se mutua­
tal 7t,2pyl está semipreenchido e cancela metade do efeito mente. O orbital a2pz está preenchido e forma uma ligação
do orbital totalmente preenchido 7t2py2, ocorre a formação o. Os efeitos dos orbitais tt2py2 ligante e n2py2 antiligante
de meia ligação rt. Analogamente, forma-se outra meia liga­ cancelam-se, mas apenas a metade da contribuição do orbi­
ção tt a partir de tóp,2 e n’2pz1, dando um total de 1 +1/2 +1/2 tal ligante preenchido tt2pz2 é cancelado pelo orbital antiligan­
= 2 ligações. Portanto, a ordem de ligação é igual a dois. te semipreenchido n2pz’, formando, assim, meia ligação Jt.
A ordem de ligação pode ser calculada como sendo a A ordem de ligação é, portanto, 1 + 1/2 = l’/2. A ordem de
metade da diferença entre o número de elétrons ocupando ligação também pode ser calculada segundo a expressão (n°
orbitais ligantes e antiligantes, ao invés da determinação e ligantes - n° e“ antiligantes)/2, ou seja, (10 - 7)/2 = 11/2.
explícita do efeito do preenchimento de cada tipo de OMs Isso corresponde a uma ligação com comprimento interme­
da molécula: diário entre o de uma ligação dupla e uma simples. O íon su-
ín.° de elétrons ocupandoj'! ín.° de elétrons ocupando'! peróxido apresenta um elétron desemparelhado e é paramag-
Ordem de _ orbitais ligantes J orbitais antiligantes J nético (uma ordem de ligação 1 '/2 também ocorre no benzeno).
ligação
No caso do O2, a ordem de ligação assim calculada é O íon O 2‘
(10-6)/2 = 2, o que corresponde a uma dupla ligação. Analogamente, o peróxido de sódio, Na2O2, contém o
íon O22’. Esse íon possui 18 elétrons, distribuídos como
O íon O2 segue:
O superóxido de potássio KO2 contém o íon superóxido
O2". O íon O2~ tem 17 elétrons, um a mais que a molécula de ItópJ Ín2pz
O2. Esse elétron adicional ocupa o orbital 7t*2py ou o orbital ais2, a* ls2,a2sz,cr*2sz,a2pz
l n2p2 [n2p2
tt*2pz. Como os dois têm a mesma energia, é indiferente
qual deles está realmente ocupado. Novamente a camada interna não participa da ligação.
Os orbitais 2s ligante e antiligante se cancelam mutualmente.
rt2py Íx2pz O orbital preenchido 2px forma uma ligação a. Os orbitais
ais2,a * ls2,a2s2,a* 2sz,a2pz,
n2pz l^Pl ligantes 2py e 2pz são ambos cancelados pelo preenchimento
dos correspondentes orbitais antiligantes. Assim, a ordem
tu de ligação é um, isto é, há uma ligação simples. A ordem de
‘o)

£
CD Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares
Orbitais
atômicos I ligação também pode ser calculada pela expres-são (n° e‘
ligantes - n° e" antiligantes)/2, ou seja, (10 - 8)/2 = 1.

'a'2p. A molécula de F2
Átomos de flúor têm 2 + 7 elétrons, de modo que a
n'2py- -n'2p, molécula de F2 contém 18 elétrons, que estão distribuídos
-fic.f <t >—t- como se segue:
2p, 2p'y-^2p; --'2P, 2p,
In2p2 tr*2p2
''--.rt2py x2p;_. ais2,a * lsz,a2sz,a * 2sz,a2pz
’p2p2 7t*2p2
a2p.
O preenchimento dos orbitais é mostrado esquemati-
camente na Fig. 4.29.
o’2s A camada interna é não-ligante, e os orbitais ligantes
2s, 2py e 2pz são cancelados pelos correspondentes orbitais
2s 2s
antiligantes. Isso leva a uma ligação a proveniente do or­
a2s bital preenchido a2pz e, portanto a uma ordem de ligação
igual a um. A ordem de ligação também pode ser calculada
pela expressão (n° de e" ligantes - n° de e" antiligantes)/2,
ou seja, (IO - 8)/2 = 1.
1s 1s Deve-se notar que Cl2 e Br2 apresentam estruturas
""4F
a1s eletrônicas semelhantes a do F2, exceto pela presença de
novas camadas internas preenchidas.
o o2 O A ligação F-F é fraca (ver Capítulo 15), e este fato é
átomo molécula átomo
atribuído ao reduzido tamanho dos átomos de flúor e à
Figura 4.28 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e repulsão entre pares eletrônicos isolados de átomos
moleculares para o oxigênio adjacentes.
5B A UEAÇÃO COVALENTE

EXEMPLOS DA APLICAÇÃO DA TEORIA A molécula de NO


DOS ORBITAIS MOLECULARES O átomo de nitrogênio possui 2 + 5 = 7 elétrons e o
PARA MOLÉCULAS DIATÔMICAS átomo de oxigênio tem 2 + 6 = 8 elétrons, perfazendo um
total de 15 elétrons na molécula. A seqüência dos níveis de
HETERONUCLEARES energia para os diferentes OMs é idêntica a das moléculas
Os mesmos princípios aplicados à combinação de diatômicas homonucleares mais pesadas que C2. Assim, sua
átomos idênticos se aplicam na combinação de orbitais estrutura eletrônica é:
atômicos de dois átomos diferentes, ou seja:
7t2p2 n’2pj
1. Somente os orbitais atômicos de energia semelhante ct1s2,o*1s2,ct2s2,ct* 2s2,cr2p2,
podem combinar-se efetivamente. 7r2p2 n ’ 2p°

2. Eles devem apresentar sobreposição (overlap) máxima. Essa configuração é mostrada esquematicamente na Fig.
3. Eles devem apresentar a mesma simetria. 4.31.
Visto que os dois átomos a combinar são diferentes, as A camada interna é não-ligante. A contribuição dos
energias de seus orbitais atômicos serão ligeiramente orbitais 2s ligante e antiligante se cancelam, mas forma-se
diferentes. Um diagrama mostrando como eles podem ser uma ligação o pelo preenchimento do orbital o2p2. O or­
combinados para formar orbitais moleculares pode ser visto bital preenchido tt2p2 forma uma ligação n. 0 orbital
na Fig. 4.30. semipreenchido tt*2pj, cancela pela metade o orbital
preenchido tóp2, originando uma meia ligação. A ordem de
Causa problemas o fato de não sabermos com exatidão, ligação é, pois, 21/1, ou seja, intermediária entre uma ligação
em muitos casos, a seqüência dos níveis de energia dos OMs. dupla e uma ligação tripla. Uma maneira alternativa de
Por isso, veremos inicialmente alguns exemplos em que os determinar a ordem de ligação é o cálculo (n° e‘ ligantes -
dois átomos estão próximos na tabela periódica. Nesse caso n° e‘ antiligantes)/2, ou seja, (10 — 5J/2 = 2*/2. A molécula
é razoável supor que a ordem dos níveis de energias dos é paramagnética, já que ela contém um elétron
OMs seja idêntica àquela encontrada para moléculas homo­ desemparelhado. No NO há uma diferença considerável de
nucleares. cerca de 250 kJ mol-1 nas energias dos OAs envolvidos, de
modo que a combinação de OAs para formar OMs é menos
efetiva que no caso do O2 ou do N2. As ligações são, portanto,
mais fracas do que seria de se esperar. Apesar disso, o
diagrama de orbitais moleculares (Fig. 4.31) é semelhante1
ro ao encontrado para moléculas diatômicas homonucleares.
t
i5
Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares
Orbitais
atômicos
E5
c
LU
A retirada de um elétron formando o íon NO + leva a ligações
mais curtas e mais fortes, pois o elétron é removido de um
orbital antiligante e a ordem de ligação aumenta para 3.
-''a'2p.
A molécula de CO
*2pv- ■n'2p.
O carbono possui 2 + 4 = 6 elétrons, e o oxigênio 2 +
6 = 8 elétrons, de modo que a molécula de CO contém 14
2 P, 2pf..2p;-._ f -2p,,,'-Zp,
'r 2 Pm elétrons. Nesse caso temos menos certeza sobre a seqüência
''-..n2pr n2p;..-- das energia dos OMs, pois é diferente daquelas do C e do 0.

o2p, Orbitais Orbitais Orbitais


atômicos moleculares atômicos

o'2s Energia

2s 2s
V'

Va

Is 1s
Va

V
F F, F
átomo molécula átomo

Figura 4.29 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e Figura 4.30 — Níveis de energia relativos para os orbitais atômicos e
moleculares para o flúor orbitais moleculares de uma molécula diatônica hetemnuclear AB
EXEMPLOS DA APLICAÇÃO DA TEORIA DOS ORBITAI5 MOLECULARES PARA MOLÉCULAS DIATÔMICAS HETERONUCLEARES

Suponhamos inicialmente que a seqüência seja aquela no gráfico. Isso implica que eles estão mais afastados, e que
encontrada para moléculas diatômicas de átomos leves como o OM o*2s tem energia maior que os OMs cr2px, n2py e
o C: n2pz. Esse caso ilustra claramente que a seqüência das
energias dos OMs para moléculas diatômicas homonucleares
ct1s2,ct* 1s2,<t2s2,<7* 2s2, n2P^2Pl simples não se aplica automaticamente para moléculas
Ttlpi heteronucleares. O modelo certamente não é válido para a
molécula de CO.
A distribuição dos elétrons nesse caso é mostrada
esquematicamente na Fig.4.32.
A molécula de HC1
A camada interna é não-ligante e a contribuição dos
orbitais 2s ligante e antiligante se cancelam, mas ainda restam No caso de átomos heteronucleares não é evidente quais
uma ligação a e duas ligações n — portanto a ordem de OAs devem ser combinados para formar OMs, pelo método
ligação é igual a 3. A ordem de ligação pode ser calculada CLOA. Além disso, como as energias dos OAs dos dois átomos
utilizando a fórmula (n° e‘ ligantes - n° e' antiligantes)/2, não são idênticas, os OMs terão uma contribuição maior de
isto é, (10 - 4)/2 = 3. Porém, esse modelo simples não é um dos átomos que do outro. Isso equivale a dizer que os
adequado, pois quando o CO é ionizado a CO+ pela retirada OMs se concentram num dos átomos, ou que os elétrons do
de um elétron do orbital o2px, espera-se que ocorra a OM passam mais tempo em tomo de um dos átomos que do
diminuição da ordem de ligação para 2l/2 e, conseqüen- outro. Portanto, há um certo grau de separação de cargas
temente, um aumento no comprimento da ligação. De fato, 8+ e S" e a formação de um dipolo. Logo, uma ligação
o comprimento da ligação no CO é igual a 1,128 ÂenoCO* covalente pode conter uma contribuição iônica bastante
é 1,115 A. Essa diminuição do comprimento da ligação é um significativa.
indício de que o elétron foi retirado de um orbital antiligante. Considere a molécula de HC1. As combinações entre o
O problema não se resolve, mesmo se considerarmos a OA Is do hidrogênio e os orbitais Is, 2s, 2p e 3s do cloro
seqüência de OMs análoga à observada para átomos mais podem ser descartadas porque as energias daqueles orbitais
pesados que o C, pois isto apenas inverte a posição dos do cloro são comparativamente muito baixas. As combi­
orbitais a2px e (it2py e rc2px). A explicação mais razoável nações com os orbitais 3py e 3pz do cloro serão não-ligantes
para o encurtamento da ligação, observado quando se (vide Fig. 4.22), porque o lóbulo positivo do hidrogênio se
transforma CO em CO + , é supor que os orbitais a2s e c*2s sobrepõe igualmente com os lóbulos positivos e negativos
apresentam uma diferença de energia maior que o indicado dos orbitais do cloro. Portanto, a única interação efetiva
ocorre com o orbital 3px do cloro. A combinação dos orbitais
S>
UJ
Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares
Orbitais
atômicos
t£ H Is1 e Cl 3px' forma um orbital ligante e um antiligante,

a 2p«
I Orbitais
atômicos
Orbitais
moleculares

a-2p.
Orbitais
atômicos
’cd

£
n'2py '->r’2p.

2p, '*2py\2p,

■K
2px '~2p^\2p,
"2pr--2p, 2p,
n2py n2p2.--
a2p„ -,2py 2p, 2p„

a'2s

□2s
NO O
átomo molécula átomo
o2s
Figura 4.31 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e moleculares c CO O
para o óxido nítrico (este diagrama é essencialmente o mesmo que aquele átomo molécula átomo
para moléculas diatônicas homonucleares tais como N2,O2 ou Fz. A
diferença estd nos níveis de energia dos orbitais atômicos de Ne O, que Figura 4.32 — Configuração eletrônica, orbitais atômicos e
não são os mesmos) moleculares para o monóxido de carbono
58 A LIEAÇÃD EOVALENTE

sendo que os dois elétrons da ligação ocupam o OM ligante, (VSEPR), utilizando o número de ligações a e os pares
deixando vazio o OM antiligante. Supõe-se que todos os OAs de elétrons não-ligantes do átomo central.
do cloro, exceto o 3px estão localizados no átomo de cloro e 2. Some o número total de elétrons na camada externa
retém todas as características dos OAs. Os orbitais 3s, 3py e (de valência) de todos os átomos envolvidos e adicione
3pz são considerados como sendo pares isolados não-ligantes. ou subtraia o número de elétrons necessários para a
Esse modelo simplificado ignora toda e qualquer formação de íons, se for o caso.
contribuição iônica, como a que pode ser mostrada utilizando 3. Calcule o número de elétrons usados nas ligações o e
as estruturas de ressonância da teoria de valência H + C1“ e pares não-ligantes. Então, determine o número de
H'C1+. Espera-se que a primeira estrutura contribua elétrons que irão participar de ligações rt subtraindo
significativamente, gerando uma ligação mais forte. esse valor do número total de elétrons.
4. Determine o número de orbitais atômicos que podem
formar ligações rt e combine-os para formar o mesmo
EXEMPLOS DA APLICAÇÃO DA TEORIA número de orbitais moleculares deslocalizados sobre
DOS ORBITAIS MOLECULARES NO CASO todos os átomos. Verifique quais OMs são ligantes, não-
DE LIGAÇÕES jc DESLOCALIZADAS ligantes ou antiligantes, e preencha-os com o número
apropriado de elétrons n (dois elétrons por OM). Os
orbitais de menor energia são preenchidos primeiro. O
O íon carbonato CO32 número de ligações rt pode ser determinado facilmente
A estrutura do íon carbonato é trigonal planar, com a partir dos OMs que foram preenchidos.
ângulos de ligação de 120°. O átomo central de C utiliza Vamos examinar a estrutura do CO32’ utilizando o
orbitais híbridos sp2 para formar as ligações. Os três átomos procedimento acima. Há 24 elétrons na camada de valência
de oxigênio são equivalentes e as ligações C-0 são mais (quatro do carbono, seis de cada um dos três átomos de
curtas que as ligações simples. A estrutura mostrada abaixo oxigênio e mais dois devido à carga do íon).
(uma das estruturas de ressonância da teoria de valência) Desses elétrons, seis são utilizados para formar as
deveria apresentar ligações C-O com diferentes comprimen­ ligações a entre o C e três átomos de O. Cada O possui quatro
tos e não descreve apropriadamente a estrutura da molécula. elétrons não-ligantes. Logo, restam seis elétrons para formar
as ligações n.
Os orbitais atômicos disponíveis para formar as ligações
ir são os orbitais 2pz do C e dos três átomos de O. A combina­
ção desses quatro orbitais atômicos leva à formação de quatro
orbitais moleculares n quadricentrados. Cada um deles
O problema decorre do fato de que o elétron não pode abrange todos os quatro átomos do íon. O OM de menor
ser representado por um ponto ou um par de elétrons como energia é ligante, o de energia mais alta é antiligante e os
uma linha (uma ligação). O quarto par de elétrons, que forma dois intermediários são não-ligantes (são também degene­
a dupla ligação, não está localizado em nenhuma das três rados, isto é, têm a mesma energia). Os seis elétrons n ocupam
posições, mas se encontra distribuído de alguma maneira os OMs de menor energia. Dois elétrons preenchem o OM
sobre todas as três ligações, de modo que cada ligação tenha ligante, e os quatro restantes preenchem os dois OMs não-li­
uma ordem de ligação igual a 1,33 . gantes, havendo a formação de apenas uma ligação n na mo­
Pauling adaptou a teoria da ligação de valência para lécula. Assim, cada uma das ligações C-0 possui uma ordem
representar estruturas em que os elétrons estão de ligação igual a 1 */3, 1 da ligação a e ’/3 da ligação n.
deslocalizados. Três estruturas diferentes podem ser
esquematizadas para o íon carbonato: O íon nitrato NO3
A estrutura do íon nitrato é trigonal planar. O átomo
-o'z^xo- -o^^o central de N utiliza orbitais híbridos sp2 para formar as
ligações. Todos os três átomos de oxigênio são equivalentes
e os comprimentos das ligações N-O são um pouco menores
Essas estruturas não existem na realidade. O íon CO32' que o esperado para uma ligação simples. Isso não pode ser
não é constituído pela mistura dessas estruturas, nem há explicado por uma estrutura de ligações de valência:
um equilíbrio entre elas. A estrutura verdadeira é algo
intermediário, denominado híbrido de ressonância. A resso­
nância foi amplamente aceita nos anos 50, mas é atualmente
considerada, na melhor das hipóteses, como inadequada e
grosseira, e na pior como enganosa ou errônea. Há 24 elétrons na camada de valência (cinco do N, seis
Ligações rt deslocalizadas são melhor descritas como de cada um dos três átomos de O e um devido à carga
ligações multicentradas envolvendo orbitais moleculares tt. negativa do íon).
Tais orbitais podem ser obtidos procedendo-se como se segue: Seis desses elétrons são utilizados para formar as três
1. Determine a estrutura básica da molécula ou do íon, ligações entre o N e os três átomos de O. Cada átomo de Q
seja experimentalmente ou seja através da teoria da possui quatro elétrons não-ligantes. Assim, restam seis
repulsão dos pares de elétrons da camada de valência elétrons para formar as ligações n.
EXEMPLOS DA APLICAÇÃO DA TEORIA PDS ORBITAIS MOLECULARES NO CASO DE LIEAÇOES n DESLOCALIZAOAS 59

Os orbitais atômicos usados nas ligações tt são os Ozônio, O3


orbitais 2pz do N e dos três átomos de O. Quatro orbitais A molécula de ozônio, O3, tem uma estrutura em forma
moleculares n quadricentrados são formados pela combina­ de V. As duas ligações são equivalentes e tém comprimentos
ção desses quatro OAs. O de menor energia é ligante, o de iguais a 1,278 A. O ângulo da ligação é igual a 116° 48'.
maior energia é antiligante, e os dois restantes são degene­ Supõe-se que o átomo central de oxigênio utiliza orbitais
rados (têm a mesma energia) e são não-ligantes. Os seis híbridos sp2 para formar as ligações o. A representação da
elétrons tt preenchem o OM ligante e os dois OMs não- estrutura por ligações de valència não é adequada, pois ela
ligantes, contribuindo com uma ligação n para a molécula. sugere que as duas ligações têm comprimentos diferentes.
Cada uma das ligações N-0 tem ordem de ligação 1 */3, 1 Como visto anteriormente, esse problema pode ser contor­
da ligação 0 e ’/3 da ligação n. nado utilizando-se um híbrido de ressonância.

TYióxido de enxofre, S03 t)


A estrutura do S03 é trigonal planar. O átomo central
estrutura por ligações de valència
de S utiliza orbitais sp2 para formar as ligações 0. Os três
átomos de oxigênio são equivalentes e as ligações S-0 são
muito mais curtas que ligações simples. A estrutura de ligação Cr\) CT X)
de valència é: formas canônicas (estruturas que participam
da formação do híbrido de ressonância)
A dupla ligação existente na molécula pode ser explicada
mais satisfatoriamente por meio de ligações deslocalizadas
tricêntricas. Há um total de 18 elétrons na camada de
A explicação utilizando OMs tt multicentrados é a valència: seis de cada um dos três átomos de oxigênio. O
seguinte: há 24 elétrons na camada de valència (seis do S e átomo central de O forma uma ligação a com cada um dos
seis de cada um dos três átomos de O). Seis desses elétrons outros dois átomos de O, utilizando quatro daqueles elétrons.
são utilizados para formar ligações o entre o S e os três O átomo central usa orbitais sp2, um dos quais é um par
átomos de O. Cada O possui quatro elétrons não-ligantes. não-ligante. Se os átomos de O das “extremidades" também
Restam, pois, seis elétrons para formar as ligações tc. usarem orbitais híbridos sp2, cada um deles terá dois pares
S03 tem 24 elétrons de valència, como o N03“. Se 0 de elétrons não-ligantes. Assim, os pares de elétrons isolados
utilizam 10 elétrons. Logo, as ligações a e os pares isolados
S03 seguisse o mesmo esquema que o íon N03“ e utilizasse
respondem por 14 dos 18 elétrons, restando apenas quatro
o OA 3pz do S e os OAs 2pz dos três átomos de O, haveria a
elétrons para formar as ligações n.
formação de quatro OMs: um ligante, um antiligante e dois
não-ligantes. Nesse caso os seis elétrons n ocupariam os Os orbitais atômicos envolvidos na ligação rr são os
OMs ligante e não-ligantes, ocorrendo a formação de apenas orbitais 2pz sobre os três átomos de oxigênio. Eles dão origem
uma ligação tt, a ordem da ligação S-0 deveria ser igual a três orbitais moleculares tt tricentrados. O orbital molecu­
lar de menor energia é ligante, o de maior energia é
a 1 */3. As ligações são na realidade muito mais curtas que
antiligante, e o intermediário é não-ligante. Como há quatro
0 esperado nesse caso. Embora o S03 tenha o mesmo número
elétrons tt, dois deles preenchem o OM ligante e dois o or­
de elétrons externos que o íon N03~, os dois não são
bital não-ligante, formando uma ligação n na molécula. Logo
isoeletrônicos. O átomo de S possui três camadas de elétrons,
a ordem das ligações 0-0 é igual a 1,5. O sistema é, pois,
havendo a possibilidade de se utilizar orbitais d para formar um sistema tricentrado com quatro elétrons.
ligações.
Os seis orbitais atômicos disponíveis para formar as
ligações 7t são os orbitais 2pz dos três átomos de O e os O íon nitrito, NO2
orbitais 3pz, 3d^ e 3dyz do S. Dois OMs, um ligante e outro O íon nitrito, NO2", tem uma estrutura em forma de V.
antiligante, são gerados pela combinação de um OA 2pz com Esta é baseada na estrutura trigonal planar, com o átomo de
o 3pz. Analogamente, a combinação de outro OA 2pz com o N no centro, tendo dois de seus vértices ocupados por átomos
OA 3^ leva a um OM ligante e um antiligante. Combinando- de O e o terceiro vértice ocupado por um par isolado de
se o terceiro OA 2pz com o OA 3dyz obtém-se mais um OM elétrons. A hibridização do átomo de N é, assim, uma
ligante e antiligante. Assim, foram obtidos três OMs ligantes hibridização aproximadamente sp2.
e três antiligantes. Os seis elétrons disponíveis para as O íon nitrito, NO/, possui 18 elétrons na camada de
ligações tt ocupam os três OMs ligantes, contribuindo com valència: cinco provêm do N, seis de cada um dos dois
três ligações rc para a molécula. Cada uma das ligações S-0 átomos de O, e um da carga negativa do íon.
tem ordem de ligação de aproximadamente 2:1 da ligação o O átomo de N forma uma ligação o com cada um dos
e aproximadamente 1 da ligação tt. A ordem de ligação é átomos de O, o que consome quatro elétrons. Além disso, o
aproximada porque o grau da participação dos orbitais d átomo de N possui um par isolado de elétrons, o que
depende do número de elétrons, do tamanho e da energia corresponde a mais dois elétrons. Se os átomos de O também
dos orbitais envolvidos. Cálculos detalhados são necessários tiverem hibridização sp2 (um orbital para o par ligante e
para se determinar o valor exato. dois para os pares não-ligantes), os pares isolados dos átomos
60 A LI5AÇÃ0 COVALENTE

de O responderão por mais 8 elétrons. Assim, já foram


computados 14 elétrons, restando 4 elétrons para formar as Tabela 4.6 — Estruturas com ligações multicentradas
ligações rt.
Espécies N? de Forma Ordem de
TYês orbitais atômicos estão envolvidos nas ligações tt: elétrons ligações
os orbitais 2pz do átomo de N e dos dois átomos de 0. Esses externos
três orbitais atômicos formam três orbitais moleculares tt
tricentrados. O de menor energia é ligante, o de maior energia CO2 16 Linear 2
é antiligante e o intermediário é não-ligante. Dois dos quatro N3 16 Linear 2
elétrons tt ocupam o OM ligante e os dois restantes O3 18 Forma de V 1,5
NO2- 18 Forma de V 1,5
preenchem o OM não-ligante, formando uma ligação n na
CO32" 24 Trigonal plana 1,33
molécula. Logo, a ordem das ligações N-0 é 1,5, e o 1,33
NOf 24 Trigonal plana
comprimento é intermediário entre o de uma ligação simples
e uma dupla.
Se supusermos que os orbitais ligantes e não-ligantes
são formados utilizando os orbitais 2s e 2px, restam seis
O dióxido de carbono, CO2 orbitais atômicos para as ligações tr, ou seja, três OAs 2py e
A estrutura do C02 é linear, O-C-O, e o átomo de C três OAs 2pz. Os três orbitais 2py formam três orbitais K
utiliza orbitais híbridos sp para formar as ligações o. As tricentrados. 0 de menor energia é ligante, o de maior energia
duas ligações C-O são idênticas, mas muito mais curtas que é antiligante e o intermediário é não-ligante. Analogamente,
as ligações simples. A melhor explicação é aquela que usa os três orbitais atômicos 2pz formam orbitais moleculares
ligações rr deslocalizadas envolvendo orbitais moleculares ligante, antiligante e não-ligante. Os oito elétrons preenchem
rt multicentrados. A molécula contém 16 elétrons externos: os dois OMs ligantes e os dois não-ligantes. Formam-se,
seis elétrons provenientes de cada um dos átomos de O mais portanto, duas ligações a e duas ligações ti, resultando numa
quatro do átomo de C. ordem de ligação igual a 2. As duas ligações N-N têm a
O átomo de C forma ligações a com os dois átomos de mesmo comprimento de 1,16 Â.
O, o que corresponde a quatro elétrons. Não há pares isolados
de elétrons no átomo de C. Se os átomos de 0 também SUMÁRIO SOBRE ESTRUTURAS COM
utilizarem orbitais híbridos sp, haverá um par isolado de
elétrons em cada átomo de O, respondendo por mais quatro LIGAÇÕES ti MULTICENTRADAS
elétrons. Foram utilizados até o momento 8 elétrons, restando Espécies isoeletrônicas apresentam a mesma forma e a
oito elétrons para formar as ligações 7t. mesma ordem de ligação (Tab. 4.6).
Se as ligações o e os pares isolados de elétrons ocuparem
os orbitais atômicos 2s e 2px dos átomos de oxigênio, então MÉTODO DO ÁTOMO UNIDO
os orbitais 2py e 2pz poderão ser utilizados para formar
ligações n. Portanto, há seis orbitais atômicos disponíveis O método das CLOA já descrito equivale ao processo
para formar as ligações tr. Os três orbitais atômicos 2py (um de trazer os átomos do infinito a suas posições de equilíbrio
do C e dois dos átomos de O) formam três orbitais molecu­
lares tricentrados que cobrem toda a molécula. O OM de Átomos
Átomo unido Moléculas separados
menor energia é um orbital ligante. O OM de maior energia
4p
é um orbital antiligante, e o OM remanescente é não-ligante.
De modo semelhante, os três orbitais 2pz também formam 4s
orbitais moleculares n tricentrados ligante, antiligante e não- 3d
ligante. Cada um desses OMs envolve toda a molécula. Os
oito elétrons tt ocupam os OMs de menor energia; neste ou
caso dois elétrons ocupam o OM ligante 2py, dois o orbital -4’2o
ng
ligante 2pz, dois elétrons o OM não-ligante 2py e dois elétrons 3p nu
o OM não-ligante 2pz. Há uma contribuição total de duas tO?- «9
ligações ti à molécula, além das ligações a. A ordem de 3s ~^~ã2p
ligação das ligações C-0 é, portanto, igual a dois. u
2s
2p ___ _o2?.
O íon azoteto, N3“ 2s
u
O íon azoteto possui 16 elétrons externos (cinco de cada 1s
9
um dos átomos de nitrogênio mais um devido à carga
negativa do íon). Ele é isoeletrônico e linear N-N-N como o
C02. Supõe-se que o nitrogênio central utilize orbitais
híbridos sp para formar as ligações a, utilizando quatro
elétrons. Cada um dos átomos terminais de nitrogênio Is
apresenta um par não-ligante de elétrons, o que corresponde
a mais quatro elétrons. Restam, assim, oito elétrons para Figura 4.33 — Correlação de Mulliken para átomos iguais formando
formar as ligações 7t. uma molécula diatômica
PROBLEMAS 61

dentro da molécula. O método do átomo unido é uma • O'Dwyer, M.F., Kent, J.E. e Brown, R.D. (1978) Valency, 2?
abordagem alternativa em que os núcleos de um “átomo ed., Springer (reimpresso em 1986).
unido" hipotético (onde os núcleos estão superpostos), são • Pauling, L. (1961) The Nature of the Chemical Bond, 3a ed.,
posteriormente afastados para suas posições de equilíbrio. Oxford University Press, Oxford. (Livro texto clássico sobre
teoria de ligação.)
O átomo unido tem o mesmo número de orbitais que um
átomo normal, mais os elétrons dos dois átomos que for­ • Pauling, L. (1967) The Chemical Bond, Oxford University
Press, Oxford. (Livro mais conciso e atualizado sobre ligação.)
mam a ligação. Assim, no átomo unido alguns elétrons
• Sidgwick, N.V. e Powell H.M., (1940) Proc. R. Soc., 176A,
devem ser promovidos para níveis de energia mais elevados. 153. (Artigo original sobre a teoria de repulsão dos pares
Além disso, as energias dos orbitais do átomo unido diferem eletrônicos de valência).
das energias dos orbitais atômicos convencionais, por causa • Speakman, J.C. (1977) Molecular structure: Its Study by Crystal
da maior carga nuclear. Os orbitais moleculares situam-se, Diffraction, Royal Society of Chemistry, Monografia para
pois, numa posição intermediária entre a dos orbitais no professores n.° 30.
átomo unido e as dos átomos separados. Desenhando-se li­ • Urch, D.S. (1970) Orbitais and Symmetry, Penguin.
nhas conectando as energias dos elétrons nos átomos separa­ • Wade, K. (1971) Electron Deficient Compounds, Nelson, London.
dos e no átomo unido (isto é, um gráfico de energia interna • Worral, J. e Worral, IJ. (1969) Introduction to Valence Theory,
contra a distância entre os núcleos para r = 0 a r = ~), American Elsevier Publishing Co., New York.
obtém-se um diagrama de correlação como o da Fig. 4.33. • Comprimentos e ângulos de ligação de compostos
moleculares no estado sólido e gasoso podem ser encontrados
no The Chemical Society’s Special Publication n° 11
LEITURAS COMPLEMENTARES (Distâncias Interatômicas) e Special Publication n“ 18
(Suplemento sobre Distâncias Interatômicas).
• Atkins, P.W. (1983) Molecular Quantum. Mechanics, Oxford
University Press, Oxford.
• Ballhausen, C.J. e Gray, H.B. (1964) Molecular Orbital Theory, PROBLEMAS
Benjamin, Menlo Park, Califórnia.
1. Mostre esquematicamente por meio de desenhos como os
• Ballhausen, C.J. e Gray, H.B. (1980) Molecular Electronic Struc-
tures, Benjamin-Cummings, Menlo-Park, Califórnia. orbitais s, p ou d de um átomo podem interagir com os
orbitais s, p ou d de um átomo adjacente.
• Brown, I.D. (1978) A simple structural model for inorganic
chemistry, Chem. Soc. Rev., 7, 359. 2. Enumere três regras para a “Combinação linear de orbitais
• Burdett, J.K. (1980) Molecular Shapes: Theoretical Models atômicos".
for Inorganic Stereochemistry, Wiley- Interscience, New York. 3. Mostre como os orbitais ligantes e antiligantes são gerados
• Cartmell, E. e Fowles, G.W.A. (1977) Valency and Molecular por meio do método da CLOA. Ilustre sua resposta dando
Structure, 4? ed., Butterworths, London. três exemplos diferentes de moléculas diatômicas.
• Coulson, C.A. (1982) revisado por McWeeny, R., The Shape 4. Utilize a teoria dos orbitais moleculares para explicar por
and Structure of molecules, 2? ed., Clarendon Press, Oxford. que a ligação na molécula de N2 á mais forte que a ligação
• Coulson, C.A. (1979) revisado por McWeeny, R., Valence, 3a na molécula de F2.
ed., Oxford University Press, Oxford. (Versão atualizada do 5. Utilize a teoria dos orbitais moleculares para prever a ordem
livro de Coulson de 1969.) de ligação e o número de elétrons desemparelhados nas
• DeKock, R.L. e Bosma, W.B. (1988) The three-center, two- espécies O22~, O2‘, O2, O2 + , NO e CO.
electron Chemical bond, J. Chem. Ed., 65, 194-197. 6. Desenhe os diagramas de orbitais moleculares para C2,
• DeKock, R . L. e Gray, H.B. (1980) Chemical Structure and O2, e CO. Mostre quais orbitais estão ocupados e deter­
Bonding, Benjamin-Cummings, Menlo Park, Califórnia. mine as ordens de ligação e as propriedades magnéticas
• Douglas, B., McDaniel, D.H. e Alexander J.J. (1983) Concepts dessas espécies.
and Models in Inorganic Chemistry, 2? ed., Wiley, New York, Cite os três tipos de orbitais híbridos que podem ser
• Ebsworth, E.A.V., Rankin, D.W.H. e Cradock, S. (1987) Struc­ formados por um átomo que possui apenas orbitais s e p
tural Methods in Inorganic Chemistry, Blackwell Scientific , na camada de valência. Desenhe as formas e a estereo-
Oxford. química desses orbitais híbridos.
• Ferguson, J.E. (1974) Stereochemistry and Bonding in Inor­
ganic Chemistry, Prentice Hall, Englewood Cliffs, N.J. 8. Quais são os arranjos geométricos dos orbitais híbridos
spid1, sp3d e dsp2l
• Gillespie, RJ. (1972) Molecular Geometry, Van Nostrand
Reinhold, London. (A mais recente publicação sobre a teoria 9. Prever a estrutura de cada uma das espécies seguintes,
VSEPR.) indicando se os ângulos de ligação sofrem ou não desvio
• Gillespie, RJ. e Nyholm, R.S. (1957) Q. Rev. Chem. Soc., 11, dos valores teóricos, ou seja, sem considerar as diferenças
339. (Desenvolve a teoria de Sidgwick-Powell à luz da entre as forças de repulsão entre os diversos tipos de
moderna teoria VSEPR.) elétrons, a) BeCl2; b) BC13; c) SiCl4; d) PC15 (vapor);
• Karplus, M. e Porter, R.N. (1970) Atoms and Molecules, Ben­ e) PF3; f) F2O; g) SF4; h) IFS; i) SO2; j) SF6.
jamin, New York. 10 Como e por que as forças de coesão nos metais mudam de
• Kettle, S.F.A. (1985) Symmetry and Structure, Wiley, London cima para baixo num grupo, ou ao passar de um grupo
• Kutzelnigg, W. (1984) Chemical bonding in higher main group para outro ? Que propriedades físicas acompanham essas
elements, Angew. Chemie (International edition in English), variações nas forças de coesão ?
23, 272. 11. Explique as diferenças entre condutores, isolantes e
• Murrell, J.N., Kettle, S.F.A. e Tedder, J.M. (1985) The Chemi­ semicondutores valendo-se de diagramas de níveis de
cal Bond, 2? ed., Wiley, London. energia e da teoria de bandas.
62

LIGAÇÃO L1ETÃLICA

PROPRIEDADES GERAIS DOS METAIS Os elementos situados à esquerda do carbono temí


menos elétrons e por isso devem ter orbitais não ocupados.
Os metais apresentam propriedades físicas caracte­
rísticas, tais como: Tanto o número de elétrons presentes no nível externo como
a presença de orbitais desocupados na camada de valência.
1. São excelentes condutores de eletricidade e calor. são fatores importantes que explicam a condutividade e as
2. Apresentam um brilho metálico característico — são ligações nos metais.
brilhantes, lustrosos e apresentam altos índices de A condutividade dos metais decresce com o aumento
reflexão. da temperatura. Os metais exibem um certo grau de para-
3. São maleáveis e dúcteis. magnetismo, o que indica que eles possuem elétrons desem-
4. Suas estruturas cristalinas são invariavelmente do tipo parelhados.
cúbico de empacotamento compacto, hexagonal
compacto, ou cúbico de corpo centrado. Brilho
5. Formam ligas com facilidade. Superfícies lisas de metais geralmente apresentam,
aspecto brilhante e lustroso. Todos os metais, exceto o oura
/ e o cobre, apresentam cor prateada (note que, quando
Condutividade
Todos os metais são condutores de eletricidade e calor finamente divididos, a maioria se mostra de tom cinza opaco
excepcionalmente eficientes. A condutividade elétrica decorre ou preto). O brilho é característico e é observado segundo
qualquer ângulo, em contraste com o brilho de alguns poucos:
do movimento dos elétrons. Esse fato contrasta com o
movimento de íons, responsável pela condução elétrica em elementos não-metálicos como o iodo e enxofre, que são
brilhantes somente quando observados segundo ângulos de
soluções aquosas ou amostras fundidas de compostos iônicos
pequena magnitude. Os metais são usados como espelhos,
como o cloreto de sódio, nos quais os íons sódio migram
porque eles refletem a luz incidente sob quaisquer ângulos.
para o cátodo e os íons cloreto migram para o ânodo. No
Isso se deve aos elétrons “livres" nos metais, que absorvem,
estado sólido, os compostos iônicos conduzem eletricidade
a energia da luz e a emitem quando o elétron retorna do
em pequeno grau (semicondução), caso existam defeitos no
estado excitado ao seu nível energético normal. Como a luz
retículo cristalino. Há uma enorme diferença na
em todos os comprimentos de onda (cores) é absorvida e
condutividade dos metais e dos demais tipos de sólidos (Tab.
5.1). imediatamente reemitida, praticamente toda luz incidente
A maioria dos elementos situados à esquerda do carbono
na tabela periódica são metais. O átomo de carbono possui Tabela 51 — Condutividade elétrica de vários sólidos
quatro elétrons de valência. Se todos eles forem utilizados
para formar quatro ligações, a camada de valência estará Substância Tipo de ligação Condutividade
completa e não haverá elétrons livres para conduzir a (ohm cm'1)
eletricidade.
Prata Metálica 6.3 x 105
2s 2p Cobre Metálica 6,0 x 105
Átomo de carbono
- estado excitado □ |t |t |T | Sódio Metálica 2.4 x1o5
Zinco Metálica 1.7X105
Cloreto de sódio lônica io-’
Átomo de carbono após io-14
compartilhar seus elétrons Diamante Molécula gigante covalente
formando quatro ligações Quartzo Molécula gigante covalente io-'4
PROPRIEDADES GERAIS DOS MATERIAIS B3

se reflete, conferindo o brilho. As cores avermelhada do cobre de coesão aumenta à medida que aumenta o número de
e dourada do ouro se devem à maior absorção de certas elétrons d desemparelhados. Continuando ao longo da série
cores em relação às outras. de transição, o número de elétrons envolvidos na ligação
Muitos metais emitem elétrons quando expostos à luz - metálica eventualmente diminui à medida que os elétrons d
(efeito fotoelétrico). Alguns emitem elétrons quando irradia­ são emparelhados, atingindo um mínimo no Zn.
dos com radiação de pequeno comprimento de onda e outros Os pontos de fusão e, em grau ainda maior, os pontos
emitem elétrons quando aquecidos (emissão termoiônica). de ebulição dos metais, acompanham as tendências da
energia de coesão. As energias de coesão variam numa larga
faixa de valores e podem se aproximar das magnitudes das
Maleabilidade e força de coesão
energias reticulares que sustentam os cristais iônicos. Essas
Os metais apresentam propriedades mecânicas carac­ energias de coesão são muito maiores que as fracas forças
terísticas como maleabilidade e ductibilidade. Isso indica de van der Waals, que mantêm unidas as moléculas
que não há muita resistência à deformação da sua estrutura, covalentes discretas no estado sólido.
mas mesmo assim existe uma intensa força de coesão que
Há duas regras sobre a energia de coesão e a estrutura
mantém os átomos unidos.
dos metais (ou ligas), que serão examinadas a seguir:
âH
^cristal' * Mgás Regra 1: A energia de ligação num metal depende do número
médio de elétrons desemparelhados disponíveis
A força de coesão pode ser medida como calor de
para formar as ligações em cada átomo.
atomização. Alguns valores numéricos de AH°, os calores
de atomização a 25 °C, são mostrados na Tab. 5.2. Os calores Regra 2: A estrutura cristalina adotada depende do número
de atomização (energias de coesão) decrescem de cima para de orbitais s e p existentes em cada átomo envolvido
baixo num grupo da tabela periódica (por exemplo, Li-Na- na ligação.
K-Rb-Cs), sugerindo que são inversamente proporcionais à Consideremos a primeira regra — Metais do Grupo 1
distância internuclear. têm configuração eletrônica externa ns1, e assim possuem
A energia de coesão aumenta ao se passar do Grupo 1 um elétron para formar as ligações. No estado fundamental
ao Grupo 2 e Grupo 13, na tabela periódica. Isso sugere que (de energia mais baixa), os elementos do Grupo 2 possuem
a força da ligação metálica depende do número de elétrons configuração eletrônica ns2. Mas se o átomo for excitado,
de valência. Na série de metais de transição Sc-Ti-V, a energia um elétron externo é promovido, levando à configuração
ns1 np1, com dois elétrons desemparelhados, que podem
formar duas ligações. Analogamente, elementos do Grupo
13 apresentam no estado fundamental a configuração
Tabela 5.2 — Entalpias de atomização AH* (kJ mol-1)
eletrônica ns2 np1. Todavia, quando excitados, têm confi­
(medidas a 25° C, exceto Hg)
guração ns1 np2 e podem usar seus três elétrons para formar
Metal AH" Ponto de Ponto de a ligação metálica.
fusão ("C) ebulição CC) A segunda regra tenta relacionar o número de elétrons
s e p disponíveis para as ligações com a estrutura cristalina
Li 162 181 1331 adotada (Tab. 5.3). Exceto pelos metais do Grupo 1, os
Na 108 98 890 átomos precisam ser excitados, e as estruturas adotadas são
K 90 64 766 mostradas na Tab. 5.4.
Rb 82 39 701 Os metais do Grupo 1 adotam a estrutura cúbica de
Cs 78 29 685
corpo centrado e seguem a regra. No Grupo 2, somente o Be
Be 324 1277 2477
Mg 146 650 1120 e o Mg apresentam estrutura hexagonal compacta, e seguem
Ca 178 838 1492 estritamente a regra. No grupo 13, o Al adota a estrutura
Sr 163 768 1370 cúbica compacta, como esperado. Contudo, nem todas as
Ba 178 714 1638 previsões estão corretas. Não há nenhuma razão óbvia para
B 565 2030 3927 que o Ca e Sr adotem estruturas cúbicas compactas. Mas, as
Al 326 660 2447
Ga 272 30 2237
Sc 376 1539 2480 Tabela 53 — Previsão de estruturas metálicas a partir do
Ti 469 1668 3280 número de elétrons sep envolvidos na ligação metálica
V 562 1900 3380
Cr 397 1875 2642 N? de elétrons Estrutura
Mn 285 1245 2041
Fe 415 1537 2887 Menos de 1,5 Cúbica de corpo centrado
Co 428 1495 2887 1,7 —2,1 Hexagonal de empacota­
Ni 430 1453 2837 mento compacto
Cu 339 1083 2582 2,5 — 3,2 Cúbica de empacotamento
Zn 130 420 908 compacto
Aproximadamente 4 Estrutura do diamante —
Entalpias de atomização de Brewer, L., Science, 1968,161, 115, com não metálica
alguns acréscimos.
64 LIBAÇÃD METÁLICA

estruturas do Ca e do Sr a altas temperaturas e a do Ba a e mais outros seis vizinhos a uma distância cerca de 15%
baixas temperaturas são cúbicas de corpo centrado (como maior. Caso essa pequena diferença entre os vizinhos mais
nos metais do Grupo 1), em vez da estrutura hexagonal com­ próximos e os vizinhos seguintes seja desconsiderada, o
pacta esperada. A provável explicação é a promoção do número de coordenação na estrutura cúbica de corpo
elétron s para um nível d em vez de um nível p. Assim, há centrado é aproximadamente 14. As propriedades mecânicas
apenas um elétron s ou p por átomo participando da ligação de maleabilidade e duetibilidade dependem da facilidade
metálica. Isso também explica porque a primeira metade com que camadas adjacentes de átomos podem deslizar uma
dos metais de transição também forma sólidos com estrutura sobre as outras, gerando um arranjo equivalente de esferas.
cúbica de corpo centrado. Na segunda metade da série de Essas propriedades são também afetadas por imperfeições
transição, os elétrons adicionais podem ser colocados nos físicas, tais como: imperfeições nos grânulos e deslocamentos
níveis p para impedir o emparelhamento dos elétrons d, por defeitos pontuais no retículo cristalino, e pela presença
permitindo, assim, a participação máxima de orbitais d na de traços de impurezas no retículo. A possibilidade de ocorrer
ligação metálica. Isso aumenta o número de elétrons s e p o deslizamento dos planos é maior nos materiais com
estruturas cúbicas de empacotamento compacto, pois são
formando a ligação metálica. Por exemplo no Cu, no Ag e
altamente simétricas e apresentam planos de deslizamento
no Au o estado eletrônico excitado envolvido na ligação é,
das camadas densamente empacotadas em quatro direções
provavelmente, d8 s1 p2, dando uma estrutura cúbica com­
(ao longo das diagonais do sólido). A estrutura de empa­
pacta e cinco ligações por átomo (dois elétrons d, um s e
cotamento hexagonal compacto possibilita o deslocamento
dois p). No Zn os orbitais d estão preenchidos, e o estado
em apenas uma daquelas direções. Isso explica porque os
excitado empregado na ligação é 3d10, 4S1, 4p‘, ocorrendo a
sólidos com empacotamento cúbico compacto são
formação de duas ligações por átomo e uma estrutura cúbica geralmente mais moles e mais facilmente deformáveis que
de corpo centrado. De uma maneira geral as entalpias de materiais com estruturas cúbicas de corpo centrado ou
atomização concordam com essas idéias sobre as ligações hexagonais. Impurezas podem provocar deslocamentos em
metálicas. relação a posição normal dos átomos no retículo cristalino,
e a ligação localizada aumenta a dureza. Alguns metais moles
como o cobre tornam-se mais rígidos com o uso — é maiis
Estrutura cristalina dos metais difícil dobrá-los pela segunda vez. Isso se deve aos
Os elementos metálicos geralmente possuem estruturas deslocamentos provocados pela primeira dobra, que
de empacotamento compacto com número de coordenação interrompem os planos de deslizamento. Outros metais como
igual a 12. Há dois tipos de empacotamento compacto, Sb e Bi são quebradiços. Esse fato se deve à formação de
dependendo da disposição das camadas adjacentes na ligações direcionais, com camadas “encaixadas” que
estrutura: empacotamento cúbico compacto ABCABC e impedem o deslizamento de uma sobre as outras.
empacotamento hexagonal compacto ABAB (vide Ligação O tipo de empacotamento varia com a posição dlo
metálica e estruturas metálicas no capítulo 2). Contudo, elemento na tabela periódica (Tab. 5.4). Isso está relacionado
alguns metais apresentam uma estrutura do tipo cúbico de com o número de elétrons s ep em cada átomo que podem
corpo centrado (que ocupa o espaço de maneira um pouco participar da ligação metálica. Esse aspecto já foi descrito
menos eficiente). Nesse caso, há oito vizinhos mais próximos anteriormente.

Tabela 5A — Tipos de estruturas dos metais na tabela periódica

Li Be B C N
bcc hep
Na Mg AI Si P S
bcc hep ccp d
K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se
bcc
ccp bcc
bcc bcc bcc P ccp
bcc
ccp
bcc ccp hep hep bcc bcc Z hep cep ccp hep d a

Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te
bcc
hep bcc bcc
bcc ccp hep hep bcc bcc hep hep ccp ccp ccp hep ccp' d a

Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Pa>
bcc
ccp bcc bcc
bcc bcc hep hep bcc bcc hep hep ccp ccp cpp hep ccp a

bcc - cúbico de corpo centrado ccp = cúbico de empacotamento compacto hep = hexagonal de empacotamento compacto
d = estnitura do diamante ccp* = cúbico de empacotamento compacto distorcido X = outra estrutura
• = caso especial (ver o grupo em questão) a = estrutura romboédrica (lâminas pregueadas)
TEORIAS DE LIBAÇÂO NOS METAIS 65

no estado líquido (por exemplo, mercúrio) ou quando


Tabela 5.5 — Distâncias interatômicas em moléculas M2 e
dissolvido num solvente adequado (por exemplo, soluções
cristais metálicos
de sódio em amônia líquida). Além disso, a teoria deve
Distância Distância explicar a grande mobilidade dos elétrons.
no metal na molécula M2
(A) (Â)
Teoria dos elétrons livres
Li 3,04 2,67 Já em 1900, Drude imaginou um metal como sendo
Na 3,72 3,08 um retículo onde os elétrons podem se mover livremente,
K 4,62 3,92 de modo semelhante ao movimento das moléculas de um
Rb 4,86 4,22 gás. Essa idéia foi aperfeiçoada por Lorentz em 1923, que
Cs 5,24 4,50 sugeriu que os metais fossem constituídos por um retículo
de esferas rígidas (íons positivos), "imersas” num “gás" de
elétrons de valência que podiam se mover através dos
Os elementos metálicos comumente reagem com outros
interstícios existentes no retículo. Esse modelo explica o livre
elementos metálicos, às vezes numa ampla faixa de
movimento dos elétrons, sendo que a força de coesão resulta
composição, formando uma grande variedade de ligas. Estes
da interação dos íons positivos com a nuvem eletrônica.
se assemelham a metais e apresentam as propriedades dos
Embora explique de uma maneira qualitativa porque um
metais.
maior número de elétrons de valência leva a uma maior
energia de coesão, os cálculos quantitativos geram resultados
Comprimentos de ligação muito piores que os obtidos em cálculos semelhantes para
as energias reticulares de compostos iônicos.
Se os elétrons de valência num metal estiverem distri­
buídos sobre um grande número de ligações, cada uma
dessas ligações deveria ser mais fraca e, consequentemente, Teoria da ligaçao de valência
mais longa. Os metais alcalinos existem na forma de Considere um metal simples como o lítio, que possui
moléculas diatômicas no estado de vapor. Verificou-se que estrutura cúbica de corpo centrado com oito vizinhos
as distâncias interatômicas no cristal do metal são maiores próximos e mais seis vizinhos no nível seguinte a uma
que na molécula diatômica (Tab. 5.5). distância um pouco maior. Um átomo de lítio tem um elétron
Embora as ligações sejam mais longas e fracas, há um na camada mais externa, que pode ser compartilhado com
maior número dessas ligações no metal em comparação às um de seus vizinhos formando uma ligação normal com
existentes na molécula M2. Por isso, a energia de ligação dois elétrons. O átomo podería combinar-se igualmente com
total é maior no metal cristalino. Isso pode ser notado qualquer um de seus oito vizinhos, de modo que muitos
comparando-se as entalpias de sublimação do metal e a arranjos são possíveis, como os dois exemplos mostrados
entalpia de dissociação das moléculas M2 (Tab. 5.6). na Fig. 5.1 a e b.
O átomo de lítio pode formar duas ligações caso ele
TEORIAS DE LIGAÇÃO NOS METAIS esteja ionizado, levando então a estruturas semelhantes às
mostradas nas Fig. 5.1 c e d. Pauling sugeriu que a estrutura
As ligações em metais e ligas metálicas e suas estruturas real é o resultado da mistura de todas as estruturas possíveis.
não são tão bem compreendidas como aquelas existentes Quanto maior o número de estruturas possíveis, menor será
nos compostos iônicos e covalentes. Qualquer teoria a energia. Isso significa que a energia de coesão que mantém
adequada da ligação metálica deve explicar tanto a ligação os átomos unidos é grande. De fato, no lítio metálico a energia
entre um grande número de átomos idênticos num metal de coesão é três vezes maior que na molécula de Li2. A
puro como a ligação entre átomos de metais (às vezes bem energia de coesão aumenta do Grupo 1 para o Grupo 2 e
diferentes nas ligas metálicas). A teoria não pode ser baseada deste para o Grupo 13. Isso pode ser explicado pela
em ligações direcionais, pois muitas das propriedades capacidade crescente dos átomos em formar ligações, dando
metálicas permanecem mesmo quando o metal se encontra um número ainda maior de estruturas possíveis. A presença
de íons podería explicar a condutividade elétrica, mas a teoria
Tabela 5.6 — Comparação entre entalpias de sublimação e não é capaz de explicar a condução do calor nos sólidos;
dissociação
a) Li Li—Li Li b) Li— Li Li—Li
Entalpia de 1/2 entalpia de
sublimação do dissociação da I I
metal molécula M2 Li Li—Li Li Li—Li Li—Li
(kJ mol-1) (kJ mor1)
c) Li—Li Li—Li- d) Li Li—Li—Li
Li 161 54 I
Na 108 38 Li* Li—Li Li Li Li—Li Li*
K 90 26
Rb 82 24
Cs 78 21 Figura S.l — Representações de algumas possibilidades de ligação
no lítio
B6 LIBAÇÃO METÁLICA

nem o brilho e nem a manutenção das propriedades metálicas orbitais diminui ainda mais à medida que aumenta o número
no estado líquido ou em solução. de elétrons no "cluster". E, quando o número de átomos se
torna muito grande, os níveis energéticos dos orbitais estão
situados tão próximos uns dos outros que quase formam
Teoria dos orbitais moleculares ou das bandas
um contínuo (ver Fig. 5.2d).
A configuração eletrônica do átomo de lítio é
Por definição, o número de OAs deve ser igual ao
Is Zs 2p número de OMs formados. Como existe apenas um elétron
EÈ I II I de valência por átomo de lítio e como um OM pode conter
até dois elétrons, conclui-se que somente a metade dos OMs
A molécula de Li2 existe no estado de vapor, e a ligação da banda de valência 2s será preenchida (isto é, os OMs
é formada pela combinação dos orbitais atômicos 2s. Há ligantes). Assim, basta uma pequena quantidade de energia
três orbitais 2p vazios na camada de valência, e a presença para promover um elétron para um OM desocupado.
de OAs vazios é um pré-requisito para a ocorrência de Os OMs se estendem nas três dimensões sobre todos os
propriedades metálicas (carbono no estado excitado, átomos no cristal, fazendo com que os elétrons passem a ter
nitrogênio, oxigênio, flúor e neônio não apresentam OAs um elevado grau de mobilidade. A mobilidade dos elétrons
vazios na camada de valência e todos são não-metais). é responsável pela acentuada condutividade térmica e elétrica
A camada de valência tem mais OAs que elétrons e, dos metais.
mesmo que todos os elétrons participem de ligações normais, Quando uma das extremidades de uma peça de metal é
o átomo não pode atingir a estrutura estável de gás nobre. aquecida, os elétrons situados nessa extremidade adquirem
Compostos desse tipo são chamados de "deficientes em energia e se movem para um OM desocupado, onde podem
elétrons” ou "elétron-deficientes”. migrar rapidamente para qualquer outra parte do metal. Isso
Os OAs vazios podem ser usados para formar ligações
adicionais de duas maneiras diferentes:
1. OAs vazios podem receber pares isolados de elétrons Orbitais atômicos Orbitais moleculares
de outros átomos ou ligantes, formando ligações
coordenadas. a) Li2
2. Pode ocorrer a formação de compostos tipo "cluster”
2s 2s
(aglomerado), em que cada átomo compartilha seus
elétrons com diversos vizinhos, obtendo também uma -pr_t
ÁtomoÁtomo
participação nos elétrons destes. A formação de clus- 1 2
ters ocorre em hidretos de boro e carboranos e é a ■j 'tJ, [— Ligante
característica preponderante dos metais.
A descrição da molécula de Li2 pela teoria de orbitais
moleculares se encontra no Capítulo 4, nos exemplos da ■j Antiligante
b) Li3
teoria dos OMs. Seus seis elétrons estão dispostos nos orbitais
moleculares como se segue: 2s 2s 2s

ols2, cr*ls2, cr2s2


E~ - HD
ÁtomoÁtomoÁtc
omoAtomo
f Não-ligante

2 3

Ocorre a formação de ligação porque o OM ligante a2s jtip Ligante


está completo e o correspondente orbital antiligante está
vazio. Ignorando todos os elétrons internos, os OAs 2s dos
dois átomos de lítio de se combinam para formar dois OMs c) Li„
a — um deles ligante e outro antiligante. Os elétrons de
2s 2s 2s 2s
valência ocupam o OM ligante (Fig. 5.2a).
Suponha agora que existam três átomos de Li ligando- t t HO
-{r___
ÁtomoÁtomoÁtomtroAtomo
se para formar Li3. Haveria a combinação de três OAs 2s 1 2 3
para formar três OMs a — um deles ligante, um não-ligante
e outro antiligante. A energia do orbital não-ligante se situa ti
entre a do orbital ligante e a do antiligante. Os três elétrons
de valência dos três átomos ocupariam o OM ligante (dois d) Li„(metal) Muitos OMs pouco
espaçados formando
elétrons) e o OM não-ligante (um elétron) (Fig. 5.2b). uma banda (observe
2s 2s que há n níveis de
No Li4, os quatro OAs formam quatro OMs a — dois energia e n elétrons,
ligantes e dois antiligantes. A presença de dois OM não- -[FJ"
Átomo Muitos
7-O
Átomo
de modo aue a
banda esta apenas
semipreenchida)
ligantes entre os orbitais ligante e antiligante diminui a átomos n
diferença de energia entre os mesmos. Os quatro elétrons de
valência devem ocupar os dois OMs de menor energia, am­
bos orbitais ligantes, como mostrado na Fig. 5.2c.
Figura S.2 — Evolução dos diagramas de orbitais moleculares até a
A diferença entre os níveis energéticos dos vários formação de bandas nos metais
USAS 67

faz com que a peça como um todo tenha sua temperatura não há uma diferença apreciável entre OMs preenchidos e
elevada. Analogamente, a condução da eletricidade ocorre vazios, e uma pequena quantidade de energia é suficiente
através de uma pequena perturbação que promove um para perturbar o sistema.
elétron para um nível não-preenchido, onde ele pode mover- Nos isolantes (não-metais), a banda de valência está
se livremente. Na ausência de um campo elétrico, um número completa e uma perturbação envolvendo níveis dentro da
igual de elétrons se moverá em todas as direções. Se um própria banda é impossível. Por outro lado, há uma diferença
eletrodo positivo for colocado numa das extremidades da apreciável de energia (denominada intervalo de banda) en­
peça e na outra um eletrodo negativo, então a proporção de tre a banda de valência e a banda vazia mais próxima. Assim,
elétrons movendo-se em direção ao ânodo será muito maior os elétrons não podem ser promovidos para um nível vazio,
que na direção oposta. Logo, uma corrente elétrica fluirá onde eles poderíam mover-se livremente.
através do material.
Os semicondutores intrínsecos são basicamente iso­
A condução ocorre porque os OMs se estendem por
lantes onde o intervalo de energia entre as bandas adjacentes
todo o cristal, e porque não há efetivamente uma diferença
é suficientemente pequeno para que a energia térmica
de energia entre os OMs ocupados e vazios. No lítio, a
promova um pequeno número de elétrons da banda de
ausência desse intervalo de energia se deve ao fato de apenas
valência para a banda de condução vazia. Tanto o elétron
metade dos OMs na banda de valência estarem preenchidos
promovido para a banda de condução como o elétron
(Fig. 5.3a).
desemparelhado que permanece na banda de valência podem
No berílio há dois elétrons de valência, de modo que conduzir a eletricidade. A condutividade dos semicondutores
eles preenchem completamente os OMs 2s da banda de aumenta com a temperatura porque, à medida que aumenta
valência. Num átomo isolado de berílio a diferença de energia a temperatura, também aumenta o número de elétrons
entre os OAs 2s e 2p é de 160 kJ mol-1. Assim como os OAs promovidos para a banda de condução. Tanto os semicon­
2s formam uma banda de OM, os OA 2p também formam dutores do tipo n como os do tipo p são preparados dopando-
uma banda de OMs 2p, mas a parte superior da banda 2s se se um isolante com uma impureza adequada. A banda da
sobrepõe à parte inferior da banda 2p (Fig. 5.3b). Por causa impureza se situa entre as bandas de valência e de condução
dessa sobreposição de bandas, parte da banda 2p está do isolante, de modo tal que elétrons podem ser excitados
ocupada e parte da banda 2s está vazia. Nesse caso, é fácil
da banda de valência para a banda da impureza ou vice-
perturbar um elétron para um nível desocupado na banda
versa (Fig. 5.4) (defeitos e semicondutores foram discutidos
de condução, onde ele pode mover-se através do cristal.
no final do Capítulo 3).
Logo, o berílio comporta-se como um metal. Por causa da
sobreposição das bandas não há um intervalo de energia
proibida, e os elétrons da banda de valência preenchida LIGAS
podem ser promovidos para a banda de condução vazia.
Quando uma mistura de dois metais é aquecida ou
quando um metal é misturado com um elemento não-
CONDUTORES, ISOLANTES E metálico, pode ocorrer uma das seguintes situações:
SEMICONDUTORES 1. Forma-se um composto iônico.
Nos condutores elétricos (metais) a banda de valência 2. Forma-se uma liga intersticial.
está ou apenas parcialmente preenchida ou existe uma 3. Forma-se uma liga substitucional.
sobreposição das bandas de valência e de condução. Assim, 4. Resulta uma simples mistura.
A ocorrência de uma ou outra dessas situações depende
da natureza química dos elementos envolvidos, dos tama­
a) b)
Orbitais Orbitais nhos relativos dos átomos metálicos e dos átomos
moleculares moleculares adicionados.
Orbitais Orbitais
atômicos
Compostos iônicos
C g Considere inicialmente a natureza química dos dois
elementos. Se um elemento de elevada eletronegatividade
2s (por exemplo, F 4,0, Cl 3,0 ou O 3,5) for adicionado a um
metal de baixa eletronegatividade (por exemplo. Li 1,0 ou
Na 0,9), o produto será um composto iônico não metálico.
a> co
eS-
o Ligas intersticiais e compostos correlatos
Em seguida, considere os tamanhos relativos dos
átomos. A estrutura da maioria dos metais é um retículo
compacto de átomos ou íons esféricos. Portanto, existem
Figura 5.3 — Dois métodos pelos quais pode ocorrer condução: a) orbitais
moleculares metálicos no lítio mostrando uma banda semipreenchida;
muitos interstícios tetraédricos e octaédricos. Se o elemento
b) orbitais moleculares metálicos no berílio mostrando bandas adicionado tiver átomos pequenos, eles podem ser
sobrepostas acomodados nesses interstícios sem alterar a estrutura do
68 LIBAÇÃD metálica

Energia Energia Energia Energia Energia

Vazio Vazio
<
Vazio
Intervalo
grande
Intervalo
estreito
/
í
Parcialmente
preenchido
\H Preenchido L■ ' Preenchido

; *
W
Condutor Condutor Isolante Semicondutor
intrínseco

Figura 5.4 — Condutores, isolantes, semicondutores por impureza e intrínsecos

metal. O hidrogênio é suficientemente pequeno para ocupar A parte superior da curva é típica de dois sólidos apenas
interstícios tetraédricos, mas a maioria dos outros elementos parcialmente miscíveis, ocorrendo em X um ponto eutético
ocupa os interstícios octaédricos, que são maiores. entre y-ferrita, carbeto de ferro e o líquido. Um ponto triplo
Os átomos adicionados ocupam posições intersticiais semelhante ocorre em Y, mas como este ocorre numa região
no retículo metálico, em vez de substituírem átomos do metal em que ocorre um equilíbrio entre espécies no estado sólido,
no retículo. A composição química desse tipo de compostos ele é chamado de ponto eutectóide. O sólido com a
pode variar numa grande faixa, dependendo do número de composição do eutectóide (uma mistura de y-ferrita e carbeto
interstícios ocupados. Tais ligas são denominadas soluções de ferro) é denominado pearlita. Trata-se de uma mistura,
sólidas intersticiais e são formadas por um grande número não de um composto propriamente dito, e foi assinalado
de metais com o hidrogênio, boro, carbono, nitrogênio e com um P no diagrama. O nome pearlita se deve ao aspecto
outros elementos. O fator mais importante é o tamanho do de madrepérola quando observado ao microscópio. As várias
átomo adicionado. Para que ocorra a ocupação dos inters­ regiões sólidas, a, y e 8 são constituídas pelas diferentes
tícios octaédricos, a relação de raios do átomo menor pelo
do átomo maior, deve situar-se na faixa de 0,414 a 0,732. A
ocupação dos interstícios não altera de modo significativo a
estrutura do metal. Ele continua parecido com um metal e
continua conduzindo calor e eletricidade. Contudo, o
preenchimento dos interstícios tem um efeito considerável
sobre as propriedades físicas; sobretudo dureza, malea­
bilidade e ductibilidade do metal. Isso ocorre porque a
ocupação dos interstícios dificulta o deslizamento de uma
camada de íons metálicos sobre a outra.
Boretos, carbetos e nitretos intersticiais são compostos
quimicamente extremamente inertes, possuem pontos de
fusão extremamente elevados e são muito duros. Carbetos
intersticiais de ferro são de grande importância na
composição dos vários tipos de aço.
O diagrama de fases ferro-carbono é de grande
importância na indústria dos metais ferrosos. A Fig. 5.5
mostra parte desse diagrama. A parte mais importante vai
do ferro puro ao composto carbeto de ferro ou cementita,
Fe3C. O Fe puro existe na forma de duas variedades
alotrópicas: a-ferrita e y-ferrita. A a-ferrita ou austenita, adota
uma estrutura cúbica de corpo centrado, estável até
temperatura de 910 °C. Acima desta temperatura, ela se
transforma em y-ferrita, com estrutura cúbica centrada nas
faces. Acima de 1401 °C a y-ferrita volta a ter uma estrutura Figura 5.5 — Parte do diagrama de fases ferro-carbono (X - eutético.,
cúbica de corpo centrado, mas é denominado 8-ferrita. Y ~ eutectóide; P - pearlita)
USAS B9

a) b)
O O o O O O O O
O O O O O X O
O O O o o X o o o
o o o o X o X o
o O o o o O o o
Retículo de metal puro Liga interstícial (átomos de X)
ocupam posições intersticiais

c) d)
O o O
o O o o O
o o o o
o o
O O O • O
Liga de substituição Super-retículo (liga por
aleatória substituição ordenada)
Figura S.6 — Cu/Ni — uma série contínua de soluções sólidas
(segundo W J. Moore, Physical Chemistry)
Figura S.7 — Estruturas de metais e ligas: a) retículo metálico puro; b)
variedades alotrópicas do ferro, e todas contêm quantidades liga interstício! (átomos de X ocupam posições intersticiais); c) liga por
substituição aleatória; d) super-retículo (liga por substituição ordenada)
variáveis de carbono em posições intersticiais.
O aço contém até 2 % de carbono. Quanto maior a quan­
tidade de carbono presente, tanto mais dura e quebradiça No caso de ligas de Cu/Au, a temperaturas superiores
será a liga. Quando o aço é aquecido, o sólido se transforma a 450 °C, existe uma estrutura desordenada (Fig. 5.7c), mas
em austenita, que pode ser laminada, dobrada ou prensada se o resfriamento for suficientemente lento pode formar-se
em qualquer forma desejada. Durante o resfriamento, as fa­ o super-retículo mais ordenado mostrado na Fig. 5.7d.
ses se separam, e o modo pelo qual é efetuado esse resfria­ Apenas alguns poucos metais formam esse tipo de solução
mento afeta a granulometria e as propriedades mecânicas. sólida de maneira contínua. Hume-Rothery mostrou que
As propriedades do aço podem ser modificadas por meio de nesses casos três regras são válidas:
tratamentos térmicos tais como a têmpera e o recozimento. 1. Os dois metais devem ser de tamanhos semelhantes —
O ferro fundido contém mais de 2% de carbono. O seus raios metálicos não devem diferir mais que 14 a
carbeto de ferro é extremamente duro e quebradiço. O aque­ 15 %.
cimento do ferro fundido não produz uma solução sólida 2. Os dois metais devem adotar a mesma estrutura cris­
homogênea (similar à austenita no aço). Assim, o ferro talina.
fundido não pode ser trabalhado mecanicamente, mas o
líquido pode ser despejado em moldes com as formas 3. As propriedades químicas dos metais devem ser
desejadas. semelhantes — principalmente, o número de elétrons
de valência deve ser o mesmo.
Considere uma liga de Cu e Au. Os raios metálicos
Ligas substitucionais diferem em apenas 12,5%; ambos possuem estruturas
Se dois metais forem completamente miscíveis um com cúbicas de empacotamento compacto e possuem
o outro, eles podem formar soluções sólidas cujas propriedades semelhantes, pois se situam no mesmo grupo
composições podem ser variadas continuamente. Os da tabela periódica. Portanto, os dois metais são
exemplos incluem Cu/Ni, Cu/Au, K/Rb, K/Cs e Rb/Cs. completamente miscíveis. Os elementos do Grupo 1 são
Nesses casos um átomo pode substituir outro no retículo, quimicamente semelhantes; todos têm estruturas cúbicas
aleatoriamente. de corpo centrado. A diferença de tamanhos entre pares

Tabela S.7 — Raios metálicos dos elementos (em Â) (para coordenação 12)

Li Be B C N
1,52 1,12 0.89 0,91 0,92
Na Mg Al Si P S
1,86 1,60 1,43 1,32 1,28 1,27
K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se
2,27 1,97 1,64 1,47 1,35 1,29 1,37 1,26 1,25 1,25 1,28 1,37 1,23 1,37 1,39 1,40
Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te
2,48 2,15 1,82 1,60 1,47 1,40 1,35 1,34 1,34 1,37 1,44 1,52 1,67 1,62 1,59 1,60
Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Po
2,65 2,22 1,87 1,59 1,47 1,41 1,37 1,35 1,36 1,39 1,44 1,57 1,70 1,75 1,70 1,76
70 LIGAÇÃO METÁLICA

diagrama. No caso da "solda dos encanadores" (30% Sn-


70% Pb), as curvas para o líquido e o sólido estão bastante
afastadas, havendo um intervalo de temperatura de cerca
de 100 °C no qual o material é pastoso, onde existe uma
solução sólida suspensa no líquido. Quando o material se
encontra nesse estado, parte sólido, parte líquido, uma junta.
soldada pode ser “alisada".
Um comportamento semelhante é observado na liga_
Na/K e Al/Cu. Os raios metálicos do Na e do K diferem em
22%, de modo que, apesar de suas semelhanças estruturais
e químicas, eles formam soluções sólidas apenas numa faixa
de composição muito estreita.
Em outros casos em que soluções sólidas se formam
em intervalos estreitos de composição, é importante a
tendência dos metais de formarem compostos ao invés de
soluções. Nesses casos, podem se formar uma ou mais fases
intermetálicas, cada uma das quais se comporta como um
composto dos metais constituintes, embora a estequiometria
possa variar numa faixa limitada. Por exemplo, no sistema
Cu/Zn os raios metálicos diferem em apenas 7%, mas os
Figura 5.8 — Diagrama de fases para Sn/Pb mostrando miscibilidade metais têm estruturas diferentes (Cu é cúbico de empaco­
parcial e somente um reduzido intervalo de soluções sólidas (o eutético tamento compacto e o Zn é hexagonal de empacotamento
ocorre com 62 % de Sn e pontos eutectóides ocorrem com 19,5% de Sn e
97,4% de Sn) compacto) e possuem números diferentes de elétrons de
valência. Nesse caso espera-se uma faixa estreita de soluções
adjacentes são Li-Na 22,4%, Na-K 22,0%, K-Rb 9,3% e Rb- sólidas. Porém, os átomos apresentam uma elevada tendência
Cs 6,9%. Por causa da diferença de tamanhos, ocorre a a formar compostos, podendo ser distinguidas cinco estru­
miscibilidade completa nas ligas K/Rb e Rb/Cs, mas não turas diferentes, como mostrado na Tab. 5.8.
nas ligas Li/Na e Na/K. A relação entre as várias fases é mostrada no diagrama
Se forem satisfeitas somente uma ou duas dessas regras, de fases da Fig. 5.9. Cada fase apresentada uma composição
então soluções sólidas de substituição aleatória serão característica e pode ser representada por uma fórmula ideal,
- formadas num intervalo muito restrito, próximo aos dois mesmo que ela varie numa faixa de composições. Hume-
extremos de composição. Rothery estudou a composição das fases formadas e verificou
Consideremos as ligas de estanho e chumbo. Seus raios que a fase p sempre ocorre nas ligas quando a relação entre
diferem em apenas 8% e ambas pertencem ao Grupo 14, e a soma dos elétrons de valência e o número de átomos é d e
exibem propriedades semelhantes. Contudo, suas estruturas 3 : 2. Analogamente, a fase y sempre ocorre quando aquela
são diferentes e elas são apenas parcialmente miscíveis (vide relação é de 21 : 13, e a fase T] sempre ocorre quando aquela
Fig. 5.8). A solda é uma liga de Sn e Pb contendo geralmente
1.200
cerca de 30% de Sn, mas que pode conter de 2 a 63% de Sn.
O diagrama de fases é mostrado na Fig. 5.8. Há duas 1083’
Cu Líquido
pequenas áreas de miscibilidade completa, denominadas a
e p, nos extremos de composição a direita e esquerda do 1.000
a + líq

Tabela 5.8 — Tabela de fases intermediárias Pi-líq

Fase Composição Estrutura


e800
2
em Zn 2
e .TM-líq*
a 0 — 35% Solução sólida substitucional Q. a a P P 7 S+líq\
E6oo +
aleatória de Zn em Cu P 7 181
P 45 — 50% Composto metálico de estequio­ \ e+líq\
metria aproximada CuZn
470’
Estrutura cúbica de corpo centrado 453’ --

1 60 — 65% Composto intermetálico de 400 419*


estequiometria aproximada Cu5Zn8 P' y+e w Zn

e 82 — 88%
Estrutura cúbica complexa
Composto intermetálico de
estequiometria aproximada CuZn3
Estrutura hexagonal de empacota­
200 L
0 20 40 60
Zinco (porcentagem de átomos)
.n
80
e+4

100

mento compacto
97 — 100% Solução sólida substitucional
aleatória de Cu em Zn Figura 5.9 — Diagrama de fases para ligas Cu/Zn (Copyright Botim e
Klemm, Z. Anorg. Chem., 243, 69, 1939)
SUPERCQNQLmVinAnE 71

Tabela 5.9 — Alguns compostos intermetálicos com Uma liga supercondutora de nióbio e titânio, que possui
diferentes proporções entre elétrons de valência e n.° de Tc de cerca de 4 K e requer hélio líquido para seu
átomos resfriamento, é conhecida desde a década de 1950.
Considerável esforço tem sido dispensado na busca de ligas
N? de elétrons de valência que se tornem supercondutoras a temperaturas mais
Fórmula ideal elevadas. Ligas de Nb3Sn, Nb3Ge, Nb3Al e V3Si são
n? de átomos
supercondutoras com Tc em torno de 20 K. É interessante
CuZn 3/2 notar que todas apresentam a estrutura do p-tungstênio. As
Cu3A1 6/4 = 3/2 ligas Nb3Sn e Nb3Ge possuem Tc de 22 K e 24 K, respec­
Cu5Sn 9/6 = 3/2 tivamente e são utilizadas para fabricar os fios de eletroímãs
AgZn 3/2 fases P extremamente poderosos. Esses ímãs possuem diversas
Cu5Si 9/6 = 3/2 aplicações:
AgjAl 6/4 = 3/2 1. Em aceleradores lineares: usados para fragmentar
CoZn3 3/2 *
átomos no estudo da física de partículas de alta energia.
Cu5Zn8 21/13 2. Na pesquisa sobre fusão nuclear: para produzir cam­
CU9AI4 21/13 pos magnéticos poderosos que atuam como um reci­
fases y
Na3|Pb8 21/13 piente magnético para um plasma.
C05Z1121 21/13
3. Para fins militares.
CuZn3 7/4
7/4 4. Em aparelhos de ressonância magnética nuclear para
Cu3Si
fases e pesquisa na área de química e para obtenção de imagens
Ag5Al3 14/8 = 7/4
Au5Al3 14/8 = 7/4 (usada na medicina para efetuar diagnósticos).
Uma corrente extremamente elevada pode ser passada
♦ Supõe-se que os metais dos grupos do Fe, Co e Ni não apresentam elétrons
através de um fio muito fino feito de um supercondutor.
de valência para ligação metálica
Isso possibilita a obtenção de eletroímãs pequenos, com um
relação é de 7 :4, quaisquer que sejam os metais envolvidos grande número de espiras, que geram campos magnéticos
(Tab. 5.9). extremamente intensos. Como o supercondutor tem
Não se sabe exatamente porque fases metálicas binárias resistência elétrica praticamente nula, não há perda de
semelhantes são formadas para dadas relações elétrons/ energia na forma de calor. Como não há perda de corrente,
átomos. Todavia, parece que a causa se encontra no modo uma vez que esta se estabelece na espiral, ela flui
de preenchimento das bandas eletrônicas de forma a mini­ indefinidamente. Por exemplo, nos grandes ímãs super-
mizar a energia do sistema. condutores usados na pesquisa de plasma, a corrente usada
por uma liga supercondutora de Nb/Ta a 4 K corresponde a
apenas 0,3% da corrente usada num eletroímã feito de
SUPERCONDUTIVTDADE espirais de cobre, de potência semelhante. Um dos grandes
Os metais são bons condutores de eletricidade e suas obstáculos para a disseminação desses supercondutores de
condutividades aumentam à medida que a temperatura baixa temperatura é justamente o fato da temperatura de
diminui. Em 1911, o cientista holandês Heike Kammerlingh transição Tc ser muito baixa. O único meio de se alcançar
Onnes descobriu que metais como Hg e Pb se tornam super- tais temperaturas é utilizando hélio líquido, que é muito
condutores em temperaturas próximas do zero absoluto. Um caro.
supercondutor apresenta resistência elétrica zero ou quase O primeiro supercondutor não-metálico foi descoberto
zero. Por isso, ele pode transportar uma corrente elétrica em 1964. TYatava-se de um óxido metálico com a estrutura
sem perder energia e, em princípio, a corrente poderia fluir cristalina da perovskita, sendo um supercondutor diferente
para sempre. Existe uma temperatura crítica Tc na qual a das ligas. Não tinha nenhum valor prático, já que a Tc era de
resistência cai bruscamente, provocando o aparecimento das apenas 0,01 K.
propriedades supercondutoras. Mais tarde, Meissner e
Ochsenfeld descobriram que certos materiais supercon- A estrutura da perovskita é adotada por compostos de
dutores impedem a penetração de campos magnéticos. fórmula ABO3, onde a soma dos estados de oxidação de A e
Atualmente esse fenômeno é conhecido como efeito Meissner
e é responsável pela “levitação". A levitação ocorre quando
objetos “flutuam” no ar. Isso pode ser provocado pela
repulsão mútua entre um ímã permanente e um
supercondutor. Um supercondutor também expele todos os
campos magnéticos internos (que surgem de elétrons
desemparelhados), de modo que eles são diamagnéticos.
Em muitos casos a variação das propriedades magnéticas é
mais fácil de se monitorar que o aumento da condutividade
elétrica, já que a passagem de correntes elevadas ou cam­
pos magnéticos intensos podem destruir o estado
supercondutor. Portanto, existe também uma corrente crítica
e uma magnetização crítica relacionadas à Tc. Figura 5.10 — Perovskita
73 LIEAÇÁO metálica

B é igual a 6. Podem ser citados o BaTiO3, CaTiO3 e NaNbvO3.


A estrutura cristalina da perovskita é cúbica. Um íon Ca2* O O ou vacância • Cu
está situado no centro do cubo, os íons menores Ti4+ se -O--------- 1
localizam nos vértices e os O2" se situam no meio das arestas ó ô
do cubo. Assim, o Ca2+ tem número de coordenação 12, o o CuBaO;
• O ' <•
pois é circundado por 12 átomos de O, e o Ti4* é rodeado < > o" O< I
o
por 6 átomos de O formando um octaedro. Essa estrutura LO
CO
o• z"-"\ o
está ilustrada na Fig. 5.10. o o CuYO;
• o
A supercondutividade também foi observada em certos
II o°” o < o
materiais orgânicos constituídos por moléculas planares o'(Ba)< o
Q 9 CuBaO:
superpostas e em certos sulfetos conhecidos como compostos
de Chevrel.
Em 1986, Georg Bednorz e Alex Müller (que traba­ a = 3.89Â
lhavam nos laboratórios da IBM em Zurique, na Suíça)
comunicaram a descoberta de um novo tipo de Figura 5.11 — A estrutura 1-2-3 do YBa2Cu3O7_x
supercondutor com valor de Te de 35 K. Essa temperatura é
consideravelmente maior que a requerida para as ligas. Esse Os cubos superior e inferior possuem um íon Ba2* no
composto é um óxido misto do sistema Ba-La-Cu-O. Embora centro e os íons menores Cu2+ nos vértices. O cubo do meio
a fórmula originalmente sugerida tenha sido outra, ela foi é semelhante, mas tem um íon Y3 * no centro. Uma perovskita
revista e reescrita como Lap_x)BaxCuO(4_y), onde o valor de possui fórmula geral ABO3, mas a estequiometria do
x se situa entre 0,15 e 0,20 e y é pequeno. Esse composto composto deverá ser YBa2Cu3O9. Como a estequiometria
adota a estrutura da perovskita baseada na do La2CuO4. encontrada é YBa2Cu3O7.x, há um grande deficiência de
Embora o La2CuO4 não seja condutor, os supercondutores oxigênio: cerca de um quarto dos sítios que deveríam estai
podem ser obtidos substituindo-se de 7,5 a 10 % dos íons ocupados por oxigênio no retículo estão desocupados. Na
La3* por Ba2*. Há uma pequena deficiência de O2-. Parece perovskita, o íon O2" se localiza no meio das 12 arestas do
razoável supor que a perda de oxigênio do retículo seja cubo. A difração de nêutrons mostra que as vacâncias de
contrabalanceada pela redução de um cátion metálico oxigênio estão ordenadas. Todos os O que deveríam estar
facilmente redutível, neste caso o Cu3*. presentes ao longo do eixo Z até a altura do Y estão ausentes:
metade dos O em torno do Cu e entre os planos de Ba também
O2’
(retículo) 72O2 + 2e estão ausentes.
2Cu3* + 2e—>2Cu2* O Y, da estrutura do supercondutor 1-2-3, foi subs-tituído
por diversos lantanídios, inclusive Sm, Eu, Nd, Dy e Yb. Os
A publicação daquele artigo estimulou um enorme in­ valores de Tc até 93 K foram confirmados em diversos
teresse pelos supercondutores “cerâmicos”, e uma avalanche laboratórios. Esses supercondutores foram denominados
de artigos sobre o assunto foi publicada em 1987. Foram ■' supercondutores “quentes".
preparados compostos semelhantes em diversos laboratórios, Em 1988 foram relatados novos sistemas usando Bi ou
substituindo-se Ba2+ por Ca2+ ou por Sr2*, ou usando TI ao invés de lantanídeos. Por exemplo, no sistema
diferentes lantamdios e modificando as condições de síntese Bi2Sr2Ca(n_1)CunO(2n+4) conhecem-se compostos com n igual
para controlar a quantidade de oxigênio. Nas principais rotas a 1, 2, 3 e 4. Todos apresentam a estrutura da perovskita e
de síntese, quantidades estequiométricas dos óxidos ou valores de Tc iguais a 12 K, 80 K, 110 K e 90 K, respec­
carbonatos dos metais apropriados são aquecidos ao ar, tivamente. Uma série de compostos semelhante
resfriados, triturados, aquecidos em atmosfera de oxigênio Tl2Ba2Ca(n_I)CunO(2n + 4) com valores de Tc de 90 K, 110 K,
e temperados. Dessa maneira foram preparados compostos 122 K e 119 K, respectivamente, também é conhecida.
com Tc em torno de 50 K. Bednorz e Müller foram Existem indícios de que o Tc do composto
contemplados com o Prêmio Nobel de Física em 1987. Bi17Pb0i2Sb0 1Sr2Ca2Cu2 8Oy é igual a 164 K.
Outro material supercondutor muito importante se BaBiO3 adota a estrutura da perovskita, mas não é um
baseia no sistema Y-Ba-Cu-O, descrito por Wu, Chu e supercondutor. Contudo, substituindo-se alguns dos íons
colaboradores em março de 1987. Transformou-se num Ba2* por K + , ou alguns dos Bi4* por Pb4*, obtém-se fases
marco, pois foi o primeiro relato de um material supercon­ supercondutoras tais como KxBa(1_x)BiO3 e BaPb(!_x)BixO3.
dutor a 93 K. Essa temperatura é importante por razões de Esses compostos apresentam valores relativamente baixos
ordem prática. Ela permite o uso de nitrogênio líquido (P.E. de Tc, mas são de interesse teórico, pois não contém Cu nem
77 K) como refrigerante no lugar do dispendioso hélio líquido. elementos da série dos lantanídeos.
O composto é representado como YBa2Cu3O7_x e foi A corrida em busca de materiais que sejam supercon­
denominado sistema 1-2-3, por causa da estequiometria dos dutores a temperaturas mais elevadas continua. A perspectiva
metais presentes. Como o sistema anterior La2CuO4, o de se obter materiais supercondutores à temperatura
1-2-3 contém Cu e adota uma estrutura que se baseia na ambiente continuará a atrair a atenção de muitos
estrutura da perovskita. É constituído por três unidades pesquisadores, já que sua utilização será acompanhada de
cúbicas de perovskita empilhadas uma sobre a outra, gerando grandes benefícios financeiros. Quais são as possíveis
uma célula unitária alongada (tetragonal). aplicações?
LEITURAS COMPLEMENTARES

1. A possibilidade de transportar energia elétrica usando (isto é, quando falta oxigênio), dois átomos de Cu
um supercondutor é muito interessante. Há dificuldades possam interagir diretamente um com o outro.
óbvias em relação à fabricação de longos cabos Interações entre CuI1-Cu111 ou Cu‘-Culn poderíam então
utilizando um material “cerâmico”. Contudo, a ocorrer devido a transferência de elétron entre os átomos
transmissão de corrente contínua com pequenas perdas de Cu. Analogamente, a supercondutividade no sistema
através de cabos desprovidos de resistência elétrica a YBa2Cu3O(7_X) também está sendo associada à facilidade
partir das estações geradoras, ao invés da transmissão de transferência de elétrons entre os íoins Cu(I), Cu(II)
de corrente alternada utilizando cabos convencionais e Cu(III).
parece economicamente promissora.
2. Uso em computadores. Uma das maiores dificuldades LEITURAS COMPLEMENTARES
para uma posterior miniaturização dos chips de
computadores é encontrar uma maneira de dissipar o • Adams, D.M. (1974) Inorganic Solids, Wiley, New York.
calor indesejado. Com o uso de supercondutores, o • Addison, C.C. (1974) The chemistry of liquid metais, Chem­
problema do desprendimento de calor será reduzido istry in Britain, 10, 331.
drasticamente. O aumento da velocidade dos chips está • Brewer, L. (1968) Science, 161,115. (Entalpias de atomização.)
sendo impedida pelo tempo necessário para se carregar • Burdett, J.K. (1982) New ways to look at solids, Acc. Chem.
um capacitor, devido à resistência da película metálica Res., 15, 34. Chemistry in Britain, maio 1969 — Este volume
que atuam como contatos elétricos. Os uso de materiais foi dedicado a metais e ligas.
supercondutores deve possibilitar a construção de chips • Cox, P. A. (1987) The Electronic Structure and Chemistry of
mais rápidos. Solids, Oxford University Press, Oxford.
3. Eletroímãs poderosos utilizando espirais de materiais • Duffy, J.A. (1983) Band theory of conductors, semiconduc-
supercondutores já estão sendo utilizados. Todavia, a tors and insulators, i, 20, 14-18.
operação desses equipamentos em temperaturas mais • Galwey, A. K. (1967) Chemistry of Solids, Chapman Hall,
elevadas seria ainda mais vantajosa. London.
4. Levitação — a maioria das pesquisas pioneiras foram • Ho, S.M. e Douglas, B.E. (1972) Structures of the elements
realizadas por Eric Laithwaite no Imperial College com and the PTOT System, J. Chem. Ed., 49, 74.
motores lineares, e o protótipo de um trem que flutua • Hume-Rothery, W. (1964) Review of bonding in metais, Met-
sobre um campo magnético foi construído no Japão. allurgist, 3, 11.
Supõe-se que a supercondutividade dos metais e ligas • Hume-Rothery, W. (1964) A note on the intermetallic chem­
envolve o transporte simultâneo de dois elétrons (Bardeen istry of the later transition elements, J. Less-Common Met­
et al, 1957; Ogg, 1946). Não há nenhuma explicação als, 7, 152.
universalmente aceita sobre a origem da supercondutividade • Hume-Rothery, W.J. e Raynor, G.V. (1962) The Structure of
a temperaturas mais elevadas nos materiais a base de óxidos Metals and Alloys, 4? ed., Institute of Metals, London.
mistos (cerâmicos). É, contudo, conveniente resumir os fatos • Hume-Rothery, W.J., Christian, J.W. e Pearson, W.B. (1952)
atualmente evidentes: Metallurgical Equilibrium Diagrams, Institute of Physics,
1. Muitos, mas não todos, supercondutores "quentes” London.
contém Cu. Duas características da química do Cu são • Jolly, W.L. (1976) The Principies of Inorganic Chemistry, (Cap.
a sua ocorrência em três estados de oxidação, ( + 1), 11: Metais; Cap. 12: Semicondutores), McGraw Hill, New
( + 11) e ( + 111), e a formação de muitos complexos de York.
Cu(II) octaédricos tetragonalmente distorcidos. Ambos • Metal Structures Conference (Brisbane 1983), (ISBN 0-85825-
os fatores podem ser importantes. Nos compostos do 183-3), Gower Publishing Company. Parish, R.V. (1976) The
tipo La2CuO4 alguns íons Ba2+ são substituídos por Metallic Elements, Longmans, London.
La3 + . Para o balanceamento das cargas, alguns íons • Parish, R.V. (1976) The Metallic Elements, Longmans, Lon­
Cu(II) se transformam em Cu(HI). A supercondutividade don.
nesse sistema parece envolver a transferência de elétrons
do Cu(II) para o Cu(III). Mas, se o processo envolver a Supercondutividade
transferência de dois elétrons como nos supercondutores
• Bardeen, J., Cooper, L.N. e Schreiffer, J.R. (1957) Phys. Rev.,
metálicos, podería haver transferência de elétrons de 106, 162. (Desenvolvimento da teoria BCS da
íons Cu(I) para Cu(lII). supercondutividade em metais, decorrente da movimentação
2. É também importante enfatizar que todos esses de pares de elétrons)
supercondutores adotam a estrutura da perovskita. • Bednorz, J.G. e Müller, A. (1986) Possible high Tc supercon-
3. Outra característica comum é o fato de que aparen­ ductivity in the Ba-La-Cu-0 system, Z. Phys., B., 64, 189.
temente a deficiência de oxigênio é crítica. Há fortes (Artigo que iniciou a corrida em busca dos supercondutores
evidências, obtidas por difração de nêutrons, de que as de óxidos metálicos)
vacâncias de oxigênio estão ordenadas. Como o Cu é • Edwards, P.P., Harrison, M.R. e Jones, R. (1987) Supercon-
normalmente coordenado octaedricamente por 6 átomos ductivity returns to chemistry, Chemistry in Britain, 23, 962-
de O, é razoável supor que quando há deficiência de O 966.
7^ U6AÇÃO METÁLICA

• Ellis, A.B. (1987) Superconductors, J. Chem. Ed., 64, 836- PROBLEMAS


841.
1. Enumere as propriedades físicas e químicas associadas aos
• Khurana, A. (1989) Physics Today, April, 17-19. metais.
• Murray Gibson, J. (1987) Superconducting ceramics, Nature, 2. Cite e desenhe as três estruturas cristalinas comumenite
329, 763. adotadas pelos metais.
• Ogg, R.A. (1946) Phys. Rev., 69, 243. (Primeira hipótese de 3. O alumínio possui uma estrutura cúbica centrada nas faces.
que a supercondutividade em ligas envolve pares de elétrons) O comprimento da célula unitária é 4,05 A. Calcule o raio
• Sharp, J.H. (1990) A review of the crystal chemistry of mixed do Al no metal (resposta: 1,43 A).
oxide superconductors, Br. Ceram. TTam. J„ 89,1-7. (Revisão 4. Explique porque a condutividade elétrica de um metal
inteligível sobre supercondutores quentes relacionando diminui com o aumento da temperatura, mas aumenta no
propriedades e estruturas — o melhor até o momento) caso dos semicondutores.
• Tilley, D.R. e Tilley, J. (1986) Superfluidity and Supercon- 5. Descreva as estruturas das ligas intersticiais e das
ductivity, 2? ed., Hilger, Bristol. substitucionais e enumere os fatores que levam à formação
• Wu, M.K. et alli., (1987) Superconductivity at 93K in a new de uma ou outra.
mixed phase Y-Ba-Cu-0 compound system at ambient pres- 6. O que é supercondutividade? Quais são as aplicações e
sure, Phys. Rev. Lett., 58, 908-910. possíveis aplicações dos materiais supercondutores? Qme
tipos de materiais apresentam propriedades supercondu-
toras ?
75

propriedades gerais
EPS ELEMEIJTOS
TAMANHO DOS ÁTOMOS E DOS ÍONS Um íon positivo é sempre menor que o átomo corres­
pondente, e quanto mais elétrons forem removidos (isto é,
quanto maior for sua carga), menor será o íon.
Tamanho dos átomos
O tamanho dos átomos diminui da esquerda para a Raio do Na metálico 1,86 A Raio atômico do Fe 1,17 Â
direita ao longo de um período da tabela periódica. Por Raio iônico do Na* 1,02 Â Raio iônico do Fe2* 0,780 Â
(spin alto)
exemplo, passando do lítio ao berílio, uma carga positiva é
acrescentada ao núcleo, bem como um elétron orbital Raio iônico do Fe3* 0,645 Â
(spin alto)
adicional. O aumento da carga nuclear provoca um aumento
da força de atração de todos os elétrons circundantes pelo Um ou mais elétrons são adicionados ao átomo para
núcleo. Num dado período, o metal alcalino é o maior átomo gerar um íon negativo. Nesse caso, a carga nuclear efetiva
e o halogênio o menor. Quando um período contém os dez diminui e a nuvem eletrônica se expande. Os íons negativos
elementos de transição correspondentes, a contração no são maiores que os átomos correspondentes.
tamanho é maior. Quando, além disso, estiverem presentes
os 14 elementos correspondentes aos elementos de transição Raio covalente do Cl 0,99 Â
interna, a contração no tamanho é ainda mais acentuada. Raio iônico do CF 1,84 Â
Descendo ao longo de um grupo da tabela periódica,
como aquele contendo os elementos lítio, sódio, potássio, Problemas com os valores dos raios iônicos
rubídio e césio, o tamanho do átomo aumenta devido ao Há diversos problemas para se obter um conjunto
efeito dos níveis eletrônicos que vão sendo acrescentados: confiável de valores de raios iônicos.
este sobrepuja o efeito provocado pelo aumento da carga
nuclear. 1. Embora seja possível medir com exatidão distâncias
intemucleares num cristal por meio de difração de raios
Tamanho dos íons X, por exemplo a distância entre o Na+ eo Fno NaF,
não há nenhuma fórmula universalmente aceita para
Os metais geralmente formam íons positivos. São dividir esta distância entre os dois íons. Historicamente,
obtidos pela remoção de um ou mais elétrons do átomo do foram determinados diversos conjuntos de raios iônicos.
metal. Os íons metálicos são menores que os átomos a partir Os principais são as de Goldschmidt, Pauling e Ahrens.
dos quais foram gerados, por duas razões: Todas elas foram calculadas a partir de distâncias
1. Toda a camada eletrônica externa é geralmente ionizada, intemucleares experimentais, mas diferem no método
isto é, removida. Por essa razão os cátions são muito usado para dividir a distância entre os dois íons. O
menores que os átomos metálicos originais. conjunto de valores mais recentes foi calculado por
2. Um segundo fator é a carga nuclear efetiva. Num átomo, Shannon (1976) e são provavelmente mais exatos.
o número de cargas positivas no núcleo é exatamente 2. É necessário corrigir os valores dos raios, no caso de
igual ao número de elétrons circundantes. Quando se haver mudança na carga do íon.
forma um íon positivo, o número de cargas positivas
no núcleo excede o número de elétrons circundantes, e 3. Também devem ser feitas correções para a mudança do
a carga nuclear efetiva (ou seja, relação entre o número número de coordenação e para a mudança de geometria.
de cargas no núcleo e o número de elétrons) é aumen­ 4. A suposição de que os íons são esféricos provavelmente
tada. Em conseqüência, os elétrons remanescentes são está correta para os íons dos blocos s e p, com configu­
mais fortemente atraídos pelo núcleo, aproximando-se ração de gás nobre, mas provavelmente são incorretas
ainda mais do núcleo. Com isso, o tamanho do íon no caso de íons de metais de transição, com uma
diminui ainda mais. camada d incompleta.
7B PROPRIEDADES GERAIS DOS ELEMENTOS

Tabela 6J — Raios covalentes dos elementos


^^^Grupo
1 2 13 14 15 16 17 18
Período
1 H H He

-0,30 -0,30 1,20"

2 Li Be B C N O F Ne

1,23 0,89 0,80 0,77 0,74 0,74 0,72 1,60»

3 Na Mg Grupo AZ Si P S Cl Ar

1,57 1.36 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1,25 1,17 1,10 1,04 0,99 1,91»

4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
• •
2,03 1.74 1,44 1,32 1,22 1,17 1,17 1,17 1,16 1,15 1,17 1,25 1,25 1,22 1.21 1,14 1,14 2,00»

5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe

2,16 1,91 1,62 1,45 1,34 1,29 1,24 1,25 1,28 1,34 1,41 1,50 1,40 1,41 1,37 1,33 2,20»

6 Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TZ Pb Bi Po At Rn

2,35 1,98 1,69 1,44 1,34 1,30 1,28 1,26 1,26 1,29 1,34 1,44 1,55 1,46 1,52
7 Fr Ra Ac

Lantanídios Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu

________________________________ 1,65 1,64 1,64 - 1,66 1,85 1,61 1,59 1,59 1,58 1,57 1,56 1,70 1,56
numéricos estão
(Os valores i.un.vj.vvu angstrõm) * Os valores
vouiv em oogouviu; para ua
raiuico paia os gaova nobres aau
gases iiuotco são Ud raios atômicos, IbUJ
os laiUò é, IdJUS
isto C, combinados; qUC
raios CUIIlUlIiaUUS, que ÒCIldlll mais bCIUClIldlUCb
seriam IlliUb aos iojlo
semelhantes nuo raios
de Van der Waals que aos raios covalentes. Círculos grandes indicam valores elevados de raios covalentes, e círculos pequenos indicam valores pequenos. Segundo
Moeller, T„ Inorganic Chemistry, Wiley 1952.
5. Em alguns casos, os elétrons d encontram-se extensa­ 4. Os orbitais d e f não blindam eficientemente a carga
mente deslocalizados, por exemplo no TiO, onde são nuclear. Por isso, ocorre uma significativa diminuição
responsáveis pela sua condutividade metálica, ou em no tamanho dos íons logo após a entrada dos 10 elétrons
compostos do tipo “cluster”. Nesses casos também d ou dos 14 elétrons f. Esta é denominada contração
ocorrem mudanças nos raios. lantanídica. Consequentemente, os tamanhos dos
Assim sendo, os raios iônicos não são constantes e elementos da segunda e da terceira séries de elementos
devem ser considerados como sendo aproximações mas de transição são praticamente iguais. Isso será discutido
funcionais para certas aplicações. no Capítulo 30.

Tendências observadas nos raios iônicos ENERGIAS DE IONIZAÇÃO


Independentemente do conjunto de raios iônicos O fornecimento de uma pequena quantidade de energia
utilizado, observam-se as seguintes tendências gerais: a um átomo, pode levar a promoção de um elétron a u:m
1. Nos grupos representativos, os raios aumentam nos nível energético mais elevado, mas se a quantidade de energia
grupos de cima para baixo, por exemplo Li* = 0,76 A, fornecida for suficientemente grande o elétron pode s>er
Na* = 1,02 A, K+ = 1,38 A, por causa da adição de removido completamente. A quantidade de energia
novas camadas eletrônicas. necessária para remover o elétron mais fracamente ligado
2. Qualquer que seja o período da tabela periódica, os de um átomo gasoso isolado é designado energia de
raios iônicos decrescem da esquerda para a direita, por ionização.
exemplo Na* = 1,02 Â, Mg2* = 0,720 A, Al3* = 0,535 A. As energias de ionização são determinadas a partir de
Isso se deve em parte ao número crescente de cargas dados espectroscópicos e são medidas em kJ moT1. É possível
no núcleo e em parte à carga crescente dos íons. remover mais que um elétron da maioria dos átomos. A
3. Os raios iônicos decrescem à medida que mais elétrons primeira energia de ionização é a energia necessária para
vão sendo removidos, ou seja, à medida que a valência remover o primeiro elétron, transformando M em M*. A
aumenta, por exemplo Cr2* = 0,80 A (spin alto), segunda energia de ionização é a quantidade de energia
Cr3* = 0,615 A, Cr4* = 0,55 A, Cr5* = 0,49 A e necessária para remover o segundo elétron e converter M*
Cr6* = 0,44 A. em M2*. Fornecendo-se a quantidade de energia equivalente
ENERGIAS DE IONIZAÇÃO

Tabela 6J. — Energias de ionização para elementos dos Tabela 63 — Comparação entre algumas primeiras energias
Grupos 1 e 2 (kJ mol-1) de ionização (kJ mol-1)

1? 2? 1? 2? 3? Li Be B C N O F Ne
520 899 801 1086 1403 1410 1681 2080
Li 520 7.296 Be 899 1.757 14.847
Na 496 4.563 Mg 737 1.450 7.731 Na Mg AZ Si P S CZ Ar
K 419 3.069 Ca 590 1.145 4.910 496 737 577 786 1012 999 1255 1521
Rb 403 2.650 Sr 549 1.064 4.207
Cs 376 2.420 Ba 503 965 energia necessária para a remoção do segundo elétron é
____Fr Ra 509 979 3.281*
muito maior. De fato é cerca de 7 a 14 vezes maior que a
* Valor estimado primeira energia de ionização. A segunda energia de
à terceira energia de ionização é possível transformar M2 + ionização é tão elevada que o segundo elétron não é
em M3 + , e assim por diante. removido. A grande diferença entre a primeira e segunda
energias de ionização está relacionada com a estrutura
Os fatores que influenciam as energias de ionização
são: eletrônica dos elementos do Grupo 1. Eles apresentam apenas
um elétron no nível mais externo. Assim, enquanto que é
1. O tamanho do átomo. relativamente fácil remover esse elétron externo, a remoção
2. A carga no núcleo. do segundo elétron requer uma quantidade de energia muito
3. A eficiência com que os níveis eletrônicos internos maior, pois isto envolve os elétrons de um nível eletrônico
blindam a carga nuclear. interno completamente preenchido.
4. O tipo de elétron envolvido (s, p, d ou f).
Comparando-se as energias de ionização dos elementos
Esses fatores estão geralmente correlacionados. Num do Grupo 2 pode-se notar que a primeira energia de ionização
átomo pequeno, os elétrons se encontram firmemente desses elementos é quase o dobro das energias dos elementos
ligados, ao passo que num átomo maior os elétrons estão do Grupo 1 correspondentes. Isso decorre do aumento da
menos firmemente ligados. Assim, a energia de ionização carga nuclear, que faz com que os elementos do grupo 2
diminui à medida que o tamanho do átomo aumenta. Essa sejam menores. Uma vez removido o primeiro elétron, a
tendência pode ser observada, por exemplo, nos elementos relação entre as cargas do núcleo e o número de elétrons
dos Grupos 1 e 2 (ver Tab. 6.2), e também nos outros grupos circundantes (a carga nuclear efetiva) aumenta e consequen­
representativos. temente o tamanho diminui. Por exemplo, Mg + é menor que
Comparando-se a primeira e a segunda energias de o átomo de Mg. Assim sendo, os elétrons remanescentes no
ionização para os elementos do Grupo 1, percebe-se que a Mg+ estão ainda mais firmemente ligados, e a segunda energia

Tabela 6.4 — Primeiras energias de ionização dos elementos


Grupo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Período
1 H He

1331 2372

2 Li Be B C N O F 'Ne

520 899 801 1086 1403 1410 1681 2080

3 Na Mg AZ Si P S Cl Ar

496 737 577 786 1012 999 1255 1512

4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr

419 590 631 656 650 652 717 762 758 736 745 906 579 760 947 941 1142 1351

5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe

403 549 616 674 664 685 703 711 720 804 731 876 558 708 834 869 1191 1170
6 Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TZ Pb Bi Po At Rn

376 503 541 760 760 770 759 840 900 870 889 1007 589 715 703 813 912 1037
7 Fr Ra Ac

(Os valores numéricos são dados em kJ mol’1) (Círculos grandes indicam valores elevados da energia dc ionização e círculos pequenos indicam valores pequenos).
Segundo Sanderson. R.T., Chemical Periodicity, Reinhold, N.York.
7B PROPRIEDADES GERAIS DDS ELEMENTOS

de ionização é maior que a primeira. A remoção de um


terceiro elétron dos elementos do Grupo 2 é muito mais difícil, Tabela 6.5 — Energias de ionização para os elementos do
Grupo 13 (kj moP1)
por dois motivos:
1. A carga nuclear efetiva aumentou, e os elétrons 1? 2? 3?
remanescentes estão mais firmemente ligados.
2. A remoção do terceiro elétron destruiría um nível B 801 2427 3659
eletrônico completamente preenchido. Al 577 1816 2744
Ga 579 1979 2962
A energia de ionização também depende do tipo de In 558 1820 2704
elétron que é removido. Os elétrons s,p,de focupam orbitais TZ 589 1971 2877
que apresentam formas diferentes. Um elétron s pode se
aproximar mais do núcleo e, portanto, encontra-se mais 3. Há uma tendência geral de aumento da energia de1
firmemente ligado que um elétron p. Por razões semelhantes, ionização dentro de um período, por exemplo, do Li ao-
os elétrons p estão mais firmemente ligados que elétrons d, Ne ou do Na ao Ar.
e os elétrons d estão mais firmemente ligados que os elétrons
f. Caso os demais fatores sejam mantidos constantes, as Os valores para o Ne e o Ar são os maiores em seus
energias de ionização variam na ordem s > p > d > f. respectivos períodos, porque é necessária uma grande
Assim, o aumento na energia de ionização não varia quantidade de energia para remover um elétron de uma
regularmente da esquerda para a direita ao longo da tabela camada estável completamente preenchida.
periódica. Por exemplo, a primeira energia de ionização para O gráfico não varia de forma regular. Os valores para o
um elemento do Grupo 13 (onde está sendo removido um Be e o Mg são elevados, o que é atribuído à estabilidade do
elétron p) é na realidade menor que a do elemento adjacente nível s preenchido. Os valores para o N e o P também são
do Grupo 2 (onde está sendo removido um elétron s). elevados, o que indica que um nível p semipreenchido
Em geral, a energia de ionização decresce de cima para também é particularmente estável. Os valores para o B e o
baixo num grupo, e aumenta ao se deslocar para um período Al são mais baixos porque após a remoção de um elétron
adjacente a direita. A remoção de elétrons sucessivos se torna resta um nível s estável completamente preenchido. Analo­
cada vez mais difícil, de modo que: primeira energia de gamente, no caso do O e do S resta um nível estável p semi­
ionização < segunda energia de ionização < terceira energia preenchido.
de ionização. Porém, há diversas exceções para essas Estruturas eletrônicas com estabilidade especial:
generalizações
As variações na primeira energia de iorjização dos
elementos são mostradas na Fig. 6.1. O gráfico mostra três
características marcantes:
É Nível s preenchido

1. Os gases nobres He, Ne, Ar, Kr, Xe e Rn possuem as


mais elevadas energias de ionização em seus respectivos É |t |t |t | Nível p semipreenchido

períodos.
2. Os metais do Grupo 1, Li, Na, K, Rb, Cs, apresentam as
menores energias de ionização em seus respectivos
É |u|u|u| Preenchido — estrutura de gás nobre

períodos. Em geral, a primeira energia de ionização decresce


regularmente, de cima para baixo, nos
grupos dos elementos representativos.
He Um desvio dessa tendência pode ser
2500* observado no Grupo 13, no qual se
Ne observa o decréscimo esperado do B
para o Al, mas os valores para os demais
íI 2000*

Ar
elementos (Ga, In, e Tl) não seguem a
mesma tendência e são irregulares. O
N / motivo do desvio observado no Ga é o
■S 1500-
/ó I Kr
Xe
fato deste ser precedido pelos 10
elementos da primeira série de transição
1 jl (onde está sendo preenchido o subnível

V
Be/ Cd /
® 1000- 3d). Isso faz com que o Ga seja menor
h Mgl
do que deveria ser. Um fenômeno

i 500 Li
■Al
Na
K
I Ga V
Rb
In
Cs
Tl semelhante é observado com a segunda
e a terceira séries de transição. Assimi,
a presença das três séries de transição
não só tem efeito acentuado sobre os
0
10 20 30 40 50 60 70 80 valores das energias de ionização do Gai,
Número atômico
In e Tl, mas o efeito continua se
Figura 6.1 — Primeiras energias de ionização dos elementos manifestando nos Grupos 14 e 15.
O CICLO OE BORN-HABER 79

envolvidos na formação de um retículo


Tabela 6.6 — Alguns valores de afinidades eletrônicas (kJ mor1)
cristalino, como do cloreto de sódio,
H ~ H" ~ podem ser subdivididos em várias
He ->■ He- 54 etapas. Os elementos, nos seus estados
padrão, são inicialmente convertidos a
Li -» Li" -57 Na Na’ -21
Be~ átomos gasosos, em seguida a íons, e
Be 66 Mg Mg" 67
B -> finalmente combinados e ordenados
B" -15 Al Al “ -26
C -» -121 Si Si“ -135 segundo um retículo cristalino.
N -> N" 31 P P" -60 As entalpias de sublimação e
O -> o- -142 S S- -200 dissociação e a energia de ionização são
O -+ O2- 702 S S2- 332 positivas, visto que estão relacionadas
F -> -333 Cl Cl * -348 Br -» Br- -324 I -295 a quantidades de energia fornecidas ao
Ne -> Ne“ 99 sistema. A afinidade eletrônica e a
energia reticular geralmente são
As energias de ionização dos elementos de transição negativas, pois nesses processos há liberação de energia.
são um pouco irregulares, mas os elementos da terceira série, De acordo com a lei de Hess, a variação total de energia
que começa com o Hf, apresentam valores menores que os de um processo depende somente das energias dos estados
esperados, devido à presença dos 14 elementos da série dos inicial e final, e não do caminho seguido. Assim, a entalpia
lantanídeos entre o La e o Hf. de formação AHf é igual à soma dos demais termos que
aparecem no ciclo (preste atenção a natureza endotérmica
ou exotérmica de cada etapa), como mostrado na Fig. 6.2.
AFINIDADE ELETRÔNICA
A energia liberada quando um elétron é adicionado a AZZf = ÓJI3+I + jAHd+E + U
um átomo gasoso neutro é designado afinidade eletrônica. Todos os termos podem ser medidos, exceto a energia
Geralmente apenas um elétron é acrescentado, formando reticular e a afinidade eletrônica. Inicialmente, o ciclo foi
um íon mononegativo. Dado que há liberação de energia, utilizado para calcular valores de afinidade eletrônica.
esse termo tem sinal negativo. A magnitude da afinidade Utilizando-se compostos com estruturas cristalinas
eletrônica depende do tamanho e da carga nuclear efetiva. conhecidas, era possível calcular a energia reticular, e por
Tais valores não podem ser determinados diretamente, mas conseguinte os valores das afinidades eletrônicas.
podem ser calculados indiretamente mediante o uso do ciclo
de Born-Haber. A/Zf = A/Z, + Z +4A/Zd +E + U

Os valores negativos das afinidades eletrônicas indicam Para NaCl 381,2 = +108,4 + 495,4 + 120,9 + E - 757,3
que essa quantidade de energia é liberada quando um átomo portanto E = -348,6 kJ mol*1
recebe um elétron. Os valores mostrados na tabela acima
indicam que os halogênios desprendem uma grande Agora que conhecemos os valores da afinidade
quantidade de energia ao formarem os respectivos ânions eletrônica, o ciclo é utilizado para calcular a energia reticu-
haleto, com carga negativa. Por isso, não causa surpresa o lar de estruturas cristalinas desconhecidas.
fato desses elementos constituírem um grande número de
compostos. +300-'
Na*flt + Cl,,, Natgi + Cllai
Também ocorre desprendimento de energia quando um
elétron é adicionado a um átomo de O ou a um de S, Afinidade
Energia ^Entalpia de eletrônica
formando as espécies O" e S". Todavia, uma quantidade (kJ moF1) dissociação (E)
apreciável de energia é absorvida quando o segundo elétron Na;gl + Cl<a,
é adicionado, formando as espécies O2- e S2-. Portanto, as Natai + LÇ|2<g)
afinidades eletrônicas para os processos O-—*O2- e S"—»S2"
+400-
Energia de
têm sinais positivos. Mesmo sendo necessário fornecer ionização (/)
energia para formar esses íons divalentes, são conhecidos
compostos contendo esses íons. Logo, pode-se inferir que a Nalcl + 2f-l;(ai
energia necessária para formar esses íons deve ser fornecida Entalpia de
por algum outro processo. Por exemplo, da energia reticular sublimação Energia
AH, reticular
liberada quando os íons se combinam de maneira regular (U)
para formar um sólido cristalino, ou da energia de solvatação o- Na,,) + )CÍ2lai
dos íons em solução. É sempre arriscado considerar um único
termo energético isoladamente. Por isso, sempre que possível Entalpia de
formação
um ciclo energético completo deve ser considerado. AH,

CICLO DE BORN-HABER NaCI(erimi|


-400-
Esse ciclo termodinâmico foi desenvolvido por Bom e
Haber em 1919 e relaciona a energia reticular de um cristal
com outros dados termoquímicos. Os termos energéticos Figura 6.2 — O ciclo de Bom-Haber para a formação de NaCl
80 PROPRIEDADES GERAIS DOS ELEMENTOS

Tabela 6.7 — Comparação entre valores teóricos e O tipo de ligação que se forma entre A+ e B’ depende
experimentais para energias reticulares do efeito que um íon exerce sobre o outro. O íon positivo
atrai os elétrons do íon negativo e ao mesmo tempo repele o
Energia reti­ Energia reti­ Diferença núcleo, distorcendo ou polarizando o íon negativo. 0 íon
cular teórica cular segundo em % negativo também irá polarizar o íon positivo, mas como
(kJ mol-1) Bom-Haber geralmente os ânions são grandes e os cátions pequenos, o
(kJ mol"1)
efeito de um íon grande sobre um íon pequeno será muitto
LiCl -825 -817 menos pronunciado. Se o grau de polarização for pequeno,
0,8
NaCZ -764 -764 0,0 então a ligação permanecerá essencialmente iônica. Se o
KC1 -686 -679 1,0 grau de polarização for grande, os elétrons são atraídos do
Kl -617 -606 1,8 íon negativo em direção ao íon positivo. Isso provoca um
CaF2 -2584 -2611 1,0 aumento na concentração de elétrons entre os dois núcleos,
Cdl2 -1966 -2410 22,6 fazendo com que a ligação apresente um grau apreciável de
caráter covalente.
É útil conhecer a energia reticular, pois é uma indicação O grau de distorção provocado sobre os íons depende
da solubilidade do cristal. Quando um sólido é dissolvido, o do poder que tem um íon de distorcer o outro (isto é, de seu
retículo cristalino deve ser rompido (o que requer forne­ poder polarizante) e, também, da susceptibilidade do referido
cimento de energia). Os íons assim formados são solvatados íon à distorção (isto é, de sua polarizabilidade). Geralmente,
(e há desprendimento de energia). Quando a energia reticu­ o poder polarizante aumenta à medida que os íons se tomam
lar é elevada, é necessária uma grande quantidade de energia menores e sua carga positiva aumenta. A polarizabilidade
para romper o retículo. Assim, é pouco provável que a de um íon negativo é maior que a de um íon positivo, po is
entalpia de solvatação seja suficientemente elevada (e libere os elétrons se encontram mais fracamente ligados ao núcleo
uma quantidade de energia maior que a requerida), de modo por causa de sua menor carga nuclear efetiva. íons negativos
que a substância provavelmente será insolúvel. grandes são mais polarizáveis que íons negativos pequenos.
A baixa reatividade de muitos metais de transição, isto Fajans estabeleceu quatro regras que resumem os fatores
é, sua resistência ao ataque por produtos químicos, está que favorecem a polarização e, portanto, a covalência.
relacionado com um conjunto semelhante de variações de 1. Um íon positivo pequeno favorece a covalência.
energia. 0 caráter “nobre” é favorecido por um elevado calor Em íons pequenos, a carga positiva se concentra numa
de sublimação, elevada energia de ionização e baixa energia área pequena. Por isso o íon apresenta um elevado poder
de solvatação dos íons. polarizante, muito propício para distorcer o íon negativo.
/ Os valores das energias reticulares também podem 2. Um íon negativo grande favorece a covalência.
fornecer informações sobre a natureza covalente ou iônica íons grandes são altamente polarizáveis, isto é,
da ligação. O valor da energia reticular pode ser teoricamente facilmente distorcidos pelo íon positivo, pois os elétrons
calculado admitindo-se a formação de ligações totalmente externos são mais fortemente blindados pelas camadas
iônicas, e este valor pode ser comparado com o valor obtido preenchidas de elétrons, sentindo uma carga nuclear
a partir dos dados experimentais do ciclo de Born-Haber. menor.
Uma boa concordância entre os valores indica que a hipótese 3. Cargas elevadas em ambos os íons favorece a covalência.
de que as ligações são iônicas era de fato verdadeira, Isso se explica porque cargas elevadas implicam num
enquanto que uma discrepância razoável indica que a ligação elevado grau de polarização.
não é iônica. As energias reticulares determinadas dessas 4. A polarização, e portanto a covalência, será favorecida
maneiras são comparadas na Tab. 6.7. A concordância dos se o íon positivo não tiver a configuração eletrônica de
valores é boa para todos os compostos citados, exceto o um gás nobre.
Cdl2, confirmando o caráter iônico da maioria dos compostos Exemplos de íons que não apresentam configuração de
citados. A grande discrepância dos valores para o Cdl2 gás nobre incluem alguns poucos elementos
indicam que as ligações dentro da estrutura cristalina não representativos, tais como Tl + , Pb2+ e Bi3 + , muitos
são iônicas. Na realidade o Cdl2 forma uma estrutura lamelar íons de metais de transição como Ti3 +, V3 +, Cr2+, Mn2 +
essencialmente covalente. e Cu +, e alguns íons de metais lantanídeos, como Ce3 T
e Eu2 + . Elétrons numa configuração de gás nobre
PODER POLARIZANTE E blindam mais eficientemente a carga nuclear. Assim,
íons sem a configuração de gás nobre apresentarão
POLARIZABILIDADE — REGRAS DE cargas mais elevadas na superfície, sendo assim mais
FAJANS polarizantes.
Considere teoricamente a formação de uma ligação pela
aproximação dos íons A+ e B" até a distância de equilíbrio.
A ligação continuará sendo iônica ou ela tornar-se-á covalen­
ELETRONEGATIVIDADE
te? Ligações iônicas e covalentes são dois tipos extremos de Em 1931 Pauling definiu a eletronegatividade de uim
ligação, e quase sempre as ligações formadas são de caráter átomo como a tendência de atrair elétrons em sua direção
intermediário. Isso pode ser explicado em termos da polari­ quando combinado, formando um composto.
zação {isto é, da deformação) dos íons. Assim, quando se forma uma ligação covalente, os elé-
ELETRONEGATIVIDADE BI

trons utilizados para formar a ligação não precisam ser dis­ A energia de ligação real pode ser medida, mas a energia
tribuídos igualmente entre os dois átomos. Se os elétrons da de uma ligação 100% covalente deve ser calculada. Pauling
ligação permanecerem mais tempo em torno de um dos sugeriu que a energia da ligação 100% covalente é igual a
átomos, este átomo terá uma carga 5“ e, conseqüentemente, média geométrica das energias das ligações covalentes das
o outro átomo terá uma carga 8 +. No caso extremo em que moléculas A-A e B-B.
os elétrons da ligação estiverem localizados sobre um dos
átomos, teremos uma ligação iôrúca. Pauling e outros pesqui­ ^100% covalente A—B = ^E,■a-a-Eb-b)
sadores tentaram relacionar as diferenças de eletrone-
gatividade entre dois átomos com o grau de caráter iônico As energias das ligações nas moléculas A-A e B-B
da ligação formada pelos mesmos. podem ser medidas. Logo,
Em geral, átomos pequenos atraem mais fortemente os
elétrons que os átomos grandes. Portanto, átomos pequenos A = (energia da ligação realj-VíE^—a-Eb—b)
são mais eletronegativos. Átomos com níveis eletrônicos
Pauling postulou que a diferença de eletronegatividades
quase preenchidos apresentam eletronegatividades mais
entre dois átomos é igual a 0,208^/A, onde A é a energia de
elevadas que átomos com níveis eletrônicos pouco
ligação adicional, em kcal mol"1 (convertendo a equação
preenchidos. É muito difícil medir os valores das
para unidades SI teremos 0,1017-Va, onde A é medida em
eletronegatividades. Para tornar a situação mais complexa,
kJ mol"1).
basta lembrar que um determinado tipo de átomo vai estar
em ambientes diferentes, em diferentes moléculas. É pouco Pauling calculou os valores de 0,208Va para inúmeras
provável que a eletronegatividade permaneça indiferente ao ligações e os designou diferenças de eletronegatividade en­
ambiente em que o átomo se encontra, embora tre A e B. Repetindo os cálculos de Pauling utilizando a
invariavelmente sejam consideradas constantes. Alguns dos equação em unidades SI, poderemos determinar os valores
métodos mais importantes para se determinar os valores de 0,1017v/A:
das eletronegatividades encontram-se esquematizados
Ligação A(kJ mol"1) 0,1017^A
adiante.
C—H 24,3 0,50 i.e. %C - %H = 0,50
H—Cl 102,3 1,02 i.e. %C1 - %H = 1,02
Pauling N—H 105,9 1,04 i.e.xN-xH - 1,04
Pauling assinalou que, uma vez que reações do tipo
(x(chi) = eletronegatividade do átomo]
A2 + B2 —> 2AB
Se %H = 0, então os valores das eletronegatividades
são invariavelmente exotérmicas, a ligação formada entre para o C, Cl e N serão 0,50; 1,02 e 1,04; respectivamente.
os dois átomos A e B deve ser mais forte que a média das Pauling mudou a origem da escala de Xh = 0 para xh =
energias das ligações simples nas moléculas A-A e B-B. Por 2,05 para evitar valores negativos na tabela de eletro­
exemplo: negatividades. Com isso, o valor para o C passou a ser 2,5,
e o valor para o flúor passou a ser 4,0. Além disso, os valores
Hz(gás) + Fz(gás) 2HF(6áS) AH = -5393 kJ mol’1 de eletronegatividade para muitos elementos se aproximaram
^2 (gás) + CIzigás) 2HCl(gás) AH = -1852 kJ mol"1 de números inteiros: Li = 1,0, B = 2,0, N = 3,0. Assim,
H2(gás) + Br2(gâs) 2HBrfgás) AH = -727 kJ mol"1 somando-se 2,05 aos valores determinados anteriormente,
obteremos os valores de eletronegatividades geralmente
O orbital molecular ligante para AB(<X>ab) é formado aceitos (Tab. 6.8).
por contribuições das funções de onda dos orbitais atômicos Caso dois átomos tenham eletronegatividades
apropriados (yA) e (yB). semelhantes, isto é, apresentem tendências semelhantes de
^ab = (Va) + constante (qrB)
Se a constante for maior que 1, o orbital molecular te‘rá Tabela 6.8 — Coeficientes de eletronegatividade de Pauling
uma maior densidade eletrônica sobre o átomo B. Nesse (para os estados de oxidação mais comuns dos elementos)
caso, esse átomo terá uma carga parcial negativa e a ligação
será parcialmente polar. H
2,1
8+ 8" Li Be B C N O F
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
A----- B
Na Cl
Se, por outro lado, a constante for menor que 1, o átomo 0,9 3,0
A terá uma carga parcial negativa. Por causa desse caráter ir 17
iônico parcial, a ligação A-B será mais forte do que seria de 0,8 2,8
se esperar para uma ligação covalente pura. A energia de Rb"
ligação adicional é denominado delta, A. 0,8 2,5
A = (energia de ligação real) - (energia para uma ligação cT
100 % covalente) 0,7
ae PROPRIEDADES BERAIS DOS ELEMENTOS

Tabela 6.9 — Valores de eletronegatividade de Pauling

Grupo
1 2 13 14 15 16 17 18
Período

1 H H He

2.1 2.1

2 Li Be B C N O F Ne

1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3,5 4.0

3 Na Mg AZ Si P S Cl Air
Grupo
0.9 1.2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1.5 1.8 2.1 2.5 3.0

4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr

0.8 1.0 1.3 1.6 1.6 1.5 1.8 1.8 1.8 1,9 1,6 1,6 1,8 2.0 2,4 2,8

5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe

0.8 1,0 1.2 1,4 1.6 1,8 1,9 2.2 2,2 2,2 1,9 1.7 1.7 1,8 1,9 2,1 25

6 Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TZ Pb Bi Po At Rn

0.7 0.9 1.1 1.3 1.5 1.7 1.9 2.2 2,2 2.2 2.4 1.9 1,8 1.8 1.9 2.0 2,2

7 Fr Ra Ac

0.7 0.9 1.1

A eletronegatividade varia com o estado de oxidação do elemento. Os valores dados correspondem aos estados de oxidação mais comuns. (Bolas grandes indicam valores
elevados de eletronegatividade, bolas menores indicam valores menores). Copyright 1960 Comell University Press.

atrair os elétrons, a ligação entre eles será predominan- entre os átomos é de cerca de 1,7. Logo, se a diferença de
temente covalente. Por outro lado, uma grande diferença de eletronegatividade for maior, a ligação terá caráter mads
/ eletronegatividade leva a uma ligação com um elevado grau iônico que covalente. Analogamente, a ligação será mais
de caráter polar, ou seja, a uma ligação predominantemente covalente que iônica se a diferença for menor que 1,7. É
iônica. preferível descrever uma ligação como a que ocorre no BF;
Pode-se perceber que ao invés de considerar apenas como sendo 63% iônica, ao invés de caracterizá-lo como
duas formas extremas de ligações (iônicas e covalentes), sendo puramente iônica.
Pauling introduziu a idéia de que o grau de caráter iônico de
uma ligação varia com a diferença de eletronegatividades, Mulliken
como mostrado na Fig. 6.3. Esse gráfico se baseia no caráter
iônico dos ácidos HI (4% iônico), HBr (11% iônico), HC1 Em 1934, Mulliken sugeriu uma interpretação alterna­
(19% iônico) e HF (45% iônico), determinados a partir de tiva para a eletronegatividade, baseada na energia de ioni-
medidas de momento dipolar. Ocorre uma ligação com 50% zação e na afinidade eletrônica dos átomos. Considere do is
de caráter iônico quando a diferença de eletronegatividades átomos A e B. Se um elétron for transferido de A para B,
com formação dos íons A+ e B', a variação de energia será
igual à diferença entre a energia de ionização do átomo A,
(IA), e a afinidade eletrônica do átomo B, (EB), ou seja,
IA - Eb. Se, ao contrário, o elétron for transferido de B para
A, formando B+ e A", a variação de energia será dada
por IB - Ea. Se as estruturas formadas efetivamente forem A*
e B~, então este será o processo que requer menos energia,
de modo que

(Ia - EB) (Ib - EA)


Rearranjando,
(Ia + Ea) (Ib + Eb)

Por isso Mulliken sugeriu que a eletronegatividade


poderia ser considerada como sendo a média aritmética en­
tre a energia de ionização e a afinidade eletrônica de um
Figura 6.3— Diferença de eletronegatividade dado átomo.
CARÁTER METÁLICO 83

(f+E) O método de Allred e Rochow depende dos raios


Eletronegatividade = covalentes, que podem ser determinados com grande
2
exatidão por cristalografia de raios X. Assim, espera-se que
Mulliken utilizou valores de I e E medidos em elétron- seja possível obter valores muito exatos de eletronega-
volt, e os valores obtidos eram cerca de 2,8 vezes maiores tividades. Contudo, isso não ocorre. Embora as distâncias
que os valores obtidos por Pauling. Atualmente I e E são interatômicas possam ser determinadas com exatidão, os
medidos em kJ mol"1. A energia de 1 eV/molécula = 96,48 raios covalentes são bem menos exatos, pois não se tem
kJ mol-1, de modo que valores que se aproximam dos valores certeza sobre a multiplicidade da ligação; isto é, a ligação
comumente aceitos das eletronegatividades de Pauling pode ter algum caráter de dupla ligação.
podem ser obtidos efetuando-se o seguinte cálculo: (/ + E)
Os valores de eletronegatividade utilizados neste livro
/ (2 x 2,8 x 96,48) ou (I + E) / 540.
são aqueles determinados por Pauling, mas outros valores
Esse método tem uma base teórica simples, e tem a foram calculados com base em diferentes suposições teóricas
vantagem de permitir a determinação de valores de por Mulliken, Allred e Rochow e Sanderson. Para maiores
eletronegatividade distintos para o mesmo elemento em detalhes desses e de outros textos de revisão recentes sobre
diferentes estados de oxidação. A limitação é o fato de eletronegatividade, vide as Leituras complementares. Consi­
conhecermos apenas um número relativamente pequeno de dera-se atualmente que a determinação de valores muito
valores de afinidades eletrônicas. Por isso, dentre as duas exatos para as eletronegatividades não se justifica, sendo
abordagens, aquela baseada nas energias de ligação tem preferível manter uma definição mais flexível e utilizá-la para
sido mais utilizada. se ter uma descrição mais qualitativa das ligações. Tendo
essa finalidade em vista, convém relembrar alguns poucos
valores de eletronegatividade (vide Tab. 6.8). A partir deles
Allred e Rochow
é possível prever, dentro de uma margem de erro bastante
Em 1958 Allred e Rochow imaginaram a eletronega­ razoável, os valores para os demais elementos, e assim prever
tividade de uma maneira diferente, e calcularam valores para a natureza das ligações formadas. Ligações entre átomos
69 elementos (vide Leituras complementares). Eles definiram com eletronegatividades semelhantes serão eminentemente
a eletronegatividade como a força de atração entre o núcleo não-polares (covalentes), e ligações entre átomos com dife­
e um elétron que se encontra a uma distância igual ao raio renças acentuadas de eletronegatividades serão essencial­
covalente. Essa força F é eletrostática e dada por: mente polares (iônicas). As previsões feitas com base nas
eletronegatividades geralmente concordam com aquelas
e -^efetiva feitas com base nas regras de Fajans.
F=
r2 A basicidade dos elementos depende inversamente de
onde e é a carga do elétron, r é o raio covalente e Ze(eliva é a suas eletronegatividades. Assim, descendo num grupo dos
carga nuclear efetiva. Este último fator é a carga nuclear elementos representativos, a eletronegatividade decresce, e
modificada por fatores de blindagem devido aos demais o caráter básico dos mesmos se intensifica. Analogamente,
elétron circundante. Os fatores de blindagem dependem do ao longo de um período da tabela periódica, da esquerda
número quântico principal (o nível ocupado pelo elétron) e para a direita, os elementos vão se tornando cada vez mais
o tipo de elétron s, p, d ou f. Os fatores de blindagem foram eletronegativos e menos básicos.
determinados por Slater e, consequentemente, esse método
é bastante conveniente para se calcular os valores de CARÁTER METÁLICO
eletronegatividade. Os valores de F podem ser convertidos
em valores de eletronegatividades na escala de Pauling, Os metais são eletropositivos e apresentam a tendência
utilizando-se a relação empírica: de perder elétrons, quando lhes é fornecida energia:
M -> M + + e"
0,3S9Zfyi,riva
X 0,744 + Quanto mais acentuada for essa tendência, mais
r2
eletropositivo e maior será o caráter metálico do elemento.
Os valores de eletronegatividade assim obtidos estão Essa tendência de perder elétrons depende da energia de
em boa concordância com aqueles obtidos por Pauling e ionização. É mais fácil remover um elétron de um átomo
Mulliken. grande que de um átomo pequeno. Logo, o caráter metálico
À medida que aumenta o número de oxidação de um aumenta quando descemos por um Grupo da tabela
átomo, também aumenta a atração entre os elétrons e o periódica. Por exemplo, no Grupo 14 o carbono é um não-
núcleo, e a eletronegatividade também deveria aumentar. O metal, o germânio mostra algumas propriedades metálicas,
método de Allred e Rochow leva a obtenção de valores de e o estanho e o chumbo são metais. Analogamente, o caráter
eletronegatividade um pouco maiores para os íons em estados metálico decresce da esquerda para a direita na tabela
de oxidação crescente. periódica, pois o tamanho dos átomos diminui e a energia
de ionização aumenta. Assim, o sódio e magnésio são mais
Mo(ll) 2,18 Fe(II) 1,83 T1(I) 1,62 Sn(ll) 1,80 metálicos que o silício, que por sua vez possui um maior
Mo(III) 2,19 Fe(IIl) 1,96 Tl(III) 2,04 Sn (IV) 1,96 caráter metálico que o cloro. Os elementos mais
Mo(lV) 2,24 eletropositivos são encontrados na parte esquerda inferior
Mo(V) 2,27 da tabela periódica, e os elementos mais não-metálicos na
Mo(Vl) 2,35 parte superior direita.
84 PROPRIEDADES GERAIS DDE ELEMENTOS

A eletropositividade é de fato o recíproco da estado de oxidação é normalmente igual ao (número d<


eletronegatividade, mas é conveniente usar o conceito de grupo ( 10) ou (18 - o número do grupo). Pode-se observa
eletropositividade ao descrever metais. Elementos fortemente a ocorrência de alguns casos de elementos com valêncic
eletropositivos formam compostos iônicos. Óxidos e variável no bloco p. Nesses casos o estado de oxidaçãt
hidróxidos metálicos são básicos, já que se dissociam sempre varia de duas unidades, por exemplo T1C13 e T1CJ
formando íons hidroxila: SnCl4 e SnCl2, PC1S e PC13. Essa característica é devido a un
par de elétrons que permanece emparelhado e não partici p<
NaOH Na+ + OH" das ligações (o efeito do par inerte). O termo estado di
CaO + H,O Ca2 + + 2OH" oxidação é preferível em vez de valência. O estado d(
oxidação pode ser definido como sendo a carga que resta nc
Óxidos insolúveis em água não podem produzir íons átomo central quando todos os demais átomos do compostc
OH" da mesma maneira, e são considerados básicos, pois são removidos mantendo seus estados de oxidação normais
reagem com ácidos formando sais. Portanto, o caráter básico Assim, o TI apresenta estados de oxidação ( + 111) e ( + 1), c
aumenta de cima para baixo dentro do grupo dos elementos Sn (+ IV) e (+ II), e o P (+ V) e ( + III). O número de oxidaçãt
representativos, porque os elementos se tornam mais pode ser determinado sem problemas tanto para composto:
eletropositivos e iônicos. Contudo, essa generalização não iônicos como para compostos covalentes, sem conhecer ot
se aplica aos elementos do bloco d, principalmente para os tipos de ligações envolvidos. O número de oxidação do Smc
elementos que se encontram na parte central dos grupos H2SO4 pode ser determinado como se segue: o O geralmenu
dos elementos de transição (Cr, Mn, Fe, Co, Ni). Nesses casos, apresenta estado de oxidação (—II) (exceto no O2 e no O22")
a basicidade e a capacidade de formar íons simples decresce o H usualmente se encontra no estado de oxidação [+-I]
de cima para baixo dentro do grupo. (exceto no H2 e H"). A soma dos números de oxidação d(
O grau de caráter eletropositivo se manifesta de diferen­ todos os átomos do H2SO4 deverá ser igual a zero, de moidc
tes maneiras. Elementos fortemente eletropositivos reagem que:
com água e com ácidos. Formam hidróxidos e óxidos forte­
(2X1) + (S*) + (4 X -2) = 0
mente básicos e reagem com oxoácidos, formando sais
estáveis como carbonatos, nitratos e sulfatos. Elementos Assim, x, o estado de oxidação do S, será ( + VI). No ca.sc
fracamente eletropositivos não reagem com a água e reagem do estado de oxidação do Mn no KMnO4, considera-se
muito mais lentamente com ácidos. Freqüentemente seus inicialmente a dissociação do composto em K+ e Mn0,4".
óxidos são anfóteros e reagem tanto com ácidos como com No MnO4“ a soma dos estados de oxidação deve ser iguall è
álcalis. Eles não são suficientemente básicos para formar carga do íon, de modo que:
carbonatos estáveis.
A natureza eletropositiva de um metal também se Mnx + (4 x -2) = -1
manifesta através do grau de hidratação de seus íons. Na Logo, o estado de oxidação x do Mn será ( +VII).
transformação de M+ em [(H2O)n —» M] +, a carga positiva
Uma das características mais marcantes dos elemento'
se distribui por todo o íon complexo. Como a carga não está
de transição é o fato deles existirem em diferentes estado'
mais localizada no metal, esse processo quase equivale à
de oxidação. Além disso, os estados de oxidação variam de
transformação M + —> M. Metais fortemente eletropositivos
uma unidade, por exemplo, Fe3+ e Fe2 + , Cu2+ e Cu+, em
apresentam grande tendência para a transformação inversa,
contraste com os elementos dos blocos s e p. A razão para
ou seja, M —> M + , de modo que eles não são tão facilmente
esse comportamento é a participação de diferentes número:
hidratados. Quanto menos eletropositivo for o metal, mais
de elétrons d nas ligações envolvendo esses elementos.
fraca a tendência do processo M —» M+ ocorrer, e mais forte
será o grau de hidratação. Os elementos do Grupo 2 são Embora o número de oxidação seja igual à carga do íon
menos eletropositivos que os do Grupo 1. Portanto, os íons em espécies tais como Tl+ e Tl3 + , os dois valores nãos.ãc
dos elementos do Grupo 2 são mais hidratados que os íons obrigatoriamente iguais. Por exemplo, o Mn pode existir nc
dos elementos do Grupo 1. O grau de hidratação também estado de oxidação (+ VII), mas o íon manganês livre nc
decresce de cima para baixo dentro do grupo, por exemplo estado de oxidação (+ VII), Mn7 +, não existe, pois o KMmO,
MgCl2 ■ 6H2O e BaCl2 ■ 2H2O. se dissocia em K+ e MnO4".
Sais de metais fortemente eletropositivos praticamente
não apresentam tendência de se hidrolisar e formar oxos- POTENCIAIS PADRÃO DE ELETRODO E
sais. Como o íon metálico é grande, ele apresenta uma SÉRIE ELETROQUÍMICA
pequena tendência de formar complexos. Por outro lado,
sais de elementos fracamente eletropositivos sofrem hidrólise Quando um metal é mergulhado em água, ou numa
e podem formar oxossais. Como são menores, os íons desses solução contendo seus próprios íons, o metal tende a liberai
metais mostram maior tendência a formar complexos. para a solução íons metálicos positivos. Assim o melai
adquire uma carga negativa.

VALÊNCIA E ESTADOS DE OXIDAÇÃO Mn+ (hidratado) + ' ^(sólido)


VARIÁVEIS
A magnitude do potencial elétrico E gerado pelo pai
Nos elementos do bloco s o estado de oxidação é sempre redox depende da natureza do metal em questão, do númerc
igual ao número do grupo. Para os elementos do bloco p, o de elétrons envolvidos, da atividade dos íons em solução e
POTENCIAIS PADRÃO OE ELETRODO E SÉRIE ELETROOUlMICA 35

Assim um metal qualquer da série eletroquímica deslocará


Tabela 6.10 — Potenciais de eletrodo padrao (volt a 25 ”C) de suas soluções quaisquer metais situados abaixo dele na
série. Por exemplo, o ferro se situa acima do cobre na série
Li* Li -3,05
-2,93 eletroquímica, de modo que raspas de ferro podem ser
K* K
Ca2* Ca -2,84 utilizadas para deslocar os íons Cu2* de uma solução de
AI 3* Al -1,66 CuSO4, para recuperar o cobre metálico.
Mn2* Mn -1,08
Zn2* Zn -0,76 Fe + Cu2* Cu + Fe2*
Fe2* Fe -0,44
Cd2* Cd -0,40 Na célula de Daniell o zinco metálico desloca os íons
Co2* Co -0,27 de cobre em solução. Essa reação é responsável pela diferença
Ni2* Ni -0,23 de potencial entre as placas.
Sn2* Sn -0,14 A Tab. 6.12 é uma tabela de potenciais padrão de
Pb2* Pb -0,13 redução. Podemos ver nessa tabela que o potencial padrão
H* H2 0,00 de redução para o sistema Cu2 + /Cu é igual a 0,35 V. O que
Cu2* Cu +0,35 isso significa?
Ag* Ag +0,80
O sistema Cu2 + /Cu é conhecido como um par redox, e
Au3* Au + 1,38
da forma como está escrito se refere à semi-reação (ou reação
do eletrodo).
da temperatura. E° é o potencial padrão de eletrodo e é uma
constante para cada metal. De fato, é o potencial de eletrodo Cu2* + 2e" Cu
medido nas condições padrões de temperatura e atividade
unitária em relação ao íon metálico correspondente. Esses Em geral, os pares redox são representados como ox/
termos estão relacionados através da equação: red, onde ox é a forma oxidada (à esquerda) e red é a forma
reduzida (à direita da seta).
E = E0+^ln(l/aM7t+) Os valores dos potenciais padrão de redução são
nF determinados em relação a um eletrodo padrão de
(onde Ré a constante dos gases, T é a temperatura absoluta, hidrogênio, isto é, em relação ao par redox H*/H2 a 25° C e
a a atividade do íon em solução, rt a valência do íon e F o concentrações de 1M (ou pressão de uma atmosfera) para
Faraday). A atividade, aMn + , pode ser substituída pela todas as espécies químicas presentes nas equações (a
concentração dos íons em solução, na maioria dos casos. concentração da água está incluída na constante).
O potencial de um único eletrodo isolado não pode ser Assim sendo, a expressão E° (Cu2 + /Cu) = +0,35 V é
medido. Mas, se um segundo eletrodo de potencial conhecido na realidade uma notação simplificada para a semi-reação
for introduzido na solução, é possível medir a diferença de mostrada abaixo, indicando que o potencial de redução
potencial entre os mesmos. O eletrodo padrão em relação padrão da reação é 0,35 V.
ao qual são feitas todas as demais medidas é o eletrodo
Cu2* + H2 2H* + Cu E° = +0,35 V (6.1)
padrão de hidrogênio (este é constituído por um eletrodo de
platina platinizado, imerso numa solução de H3O* de Analogamente o potencial de redução padrão do par Zn2 + /
atividade unitária, saturada com hidrogênio à pressão de Zn é -0,76 V.
uma atmosfera. O potencial desenvolvido por esse eletrodo
foi definido arbitrariamente como sendo igual a zero). Zn2* + H2 2H* + Zn E° = -0,76 V (6.2)
Caso os elementos sejam dispostos em ordem crescente
Subtraindo a equaçao (6.2) da equação (6.1) temos:
de potenciais de eletrodo padrão, a tabela resultante (Tab.
6.10) é denominada série eletroquímica. Cu2* + Zn Cu + Zn2* E° = +0,35-(-0,76) - +1.10V
Também é possível medir os potenciais de eletrodo de
elementos tais como o oxigênio e os halogênios, que for­ Os dois potenciais padrões se referem ao par H*/H2, e
mam íons negativos (Tab. 6.11). portanto H* e H2 desaparecem quando o par Cu2*/Cu é
combinado com o par Zn2*/Zn.
Na série eletroquímica, os elementos mais
eletropositivos se situam no topo e os menos eletropositivos A partir de considerações experimentais, as formas
na parte inferior da tabela. Quanto maior for o valor negativo oxidadas de pares redox com elevado potencial positivo, por
do potencial, maior será a tendência do metal se ionizar. exemplo, MnO4 + 5e —> Mn2*, E° - +1,54 V, são
denominados agentes oxidantes fortes. Ao contrário, as
formas reduzidas de pares redox de elevado potencial
Tabela 6.11 — Potenciais de eletrodo padrão (V) negativo, por exemplo Li* + e —» Li, E° = -3,05 V, são
denominados agentes redutores fortes. Logo, pode-se inferir
O2 OH" +0,40 que para certos potenciais intermediários o poder oxidante
I2 +0,57
da forma oxidada e o poder redutor da forma reduzida serão
Br2 Br" + 1,07
Cl2 semelhantes. Qual será o valor desse potencial em que ocorre
Cl" +1,36
F" +2,85 a mudança de propriedade dos compostos de oxidantes para
F2
redutoras? A primeira observação a fazer é que não será
86 PROPRIEDADES 6ERAIS DOS ELEMENTOS

Tabela 6.12 — Alguns potenciais de redução padrão, em solução ácida a 25 ‘C (volt)

Grupo 1 E° Grupo 14 (continuação) E° Grupo 16 (continuação) £° Melais de transição E”


Li* + e-+Li -3,05 Si + 4e-+SiH4 + 0,10 S4O62’ + 2e+>2S2O32‘ + 0,08
K* + e-+K -2,93 C + 4e-+CH„ + 0,13 S + 2e-+H2S + 0,14 La3* + 3e -> La -2.52
Rb* + e —>Rb -2,93 Sn4* + 2e-+Sn2* + 0,15 HSOf + 2e -> H2SO3 + 0,17 Sc3* + 3e-+Sc -2,08
Cs* + e -» Cs -2,92 PbO2 + 2e-+PbSO4 + 1,69 H2SO3 + 2e -> '/2S2O32- + 0,40 Mn2* + 2e -» Mn -1,18
Na* + e -> Na -2,71 H2SO3 + 4e —+ S + 0,45 Zn2* + 2e-»Zn -0,76
Grupo 15 E° 4H2SO3 + 6e->S4O62- + 0,51 Cr’* + 3e->Cr -0,74
Grupo 2 E° As + 3e -> AsH3 -0,60 S2Ó62- + 2e -» 2H2SO4 + 0,57 Fe2* + 2e-+Fe -0,44
Ba2* + 2e •Ba -2.90 Sb + 3e->SbH3 -0,51 02 + 2e -* H2O2 + 0,68
Sr2* + 2e- Sr H3PO2 + e-»P -0,51 Cr3* ve^Cr2* -0,41
-2,89 H2SeO3 + 4e -» Se + 0,74
Ca2* + 2e ■ Ca
__ -2,87 H3PO3 + 2e -> HjPO2 -0,50 Cd2* + 2e-+Cd -0,40
SeO42-+ 2e-+H2SeO3 + 1,15 Ni2* + 2e-+Ni -0,25
Mg2* + 2e -» Mg -2,37 H3PO4 + 2e -> HjPOj -0,28 '/20, + 2e -> H,0 + 1,23 Cu2* + e-»Cu* + 0,15
Be2* + 2e->Be -1,85 l/2N2 + 3e —> NH4* -0,27
H20, + 2e -> 2H2O + 1,77 + 0,27
'/2N2 + 2e->'/2N2H5* -0,23 Hg2Cl2 + 2e -> 2Hg
S2O82- + 2e -> 2SO42- + 2,01
Grupo 13 E° P + 3e->PHj + 0,06 Cu2*+2e-»Cu + 0,35
'/2Sb2O3 + 3e —> Sb 03 + 2e —+ 02 + 2,07
Al^ + Se—>A1 -1,66 + 0.15 [Fe(CN)6]3- + e-+ [Fe(CN)6r +036
Ga5* + 3e —> Ga -0,53 HÃsO2 + 3e->As + 0,25 Cu* + e -» Cu + 050
In2* + 3e —> In -0,34 H3AsÓ4 + 2e -> HAsO2 + 0,56 Grupo 17 E°
Cu2* + e-+CuCI +054
Tl* + e->Tl -0,34 NH3 + 8e-» 3NH4* + 0,69 I3- + 2e-»3r + 0,54
Br3‘ + 2e -> 3Br“ + 1,05 MnO4“ + e -» MnO42 + 056
Tl3* + 2e-+Tl* + 1,25 NOf + 3e-»NO + 0,96 Fe3* + e-»Fe2* + 0,77
HNO2 + e-»NO + 1,00 21Clf + 2e -»I2 + 1.06
'/,N2O4 + 2e->NO Br2 + 2e -> 2Br“ + 1,07 Hg22* + 2e -> 2Hg + 0,79
Grupo 14 £° + 1.03
2Hg2* + 2e —+ Hg22* + 0,92
SiO2 + 4e->Si -0,86 l/2N2H5* + 2e->NH4* + 1,28 21Of+ 10e-+I2 + 1,20
PbSO4 + 2e—>Pb -0,36 NH3OH + 2e —> NH4* + 1,35 Cl2 + 2e-»2CF + 1,36 MnO2 + 2e-+Mn2* + 1,23
CO2 + 4c —> C -0,20 2H01 + 2e->I2 + 1,45 '/2Cr2O72- + 3e -> Cr3* + 133
GeO2 + 4c —> Ge -0,15 Grupo 16 £° H5IO6 + 2e -+ IO3’ + 1,60 MnO4" + 5e-> Mn2* + 154
Sn!* + 2e->Sn -0,14 Te + 2e -» H2Te -0,72 2HOCI + 2e-> Cl2 + 1,63 NiO2 + 2e-> Ni2* + 1,68
Pb2* + 2e-»Pb -0,13 Se + 2e -+ H.Se -0,40 F2 + 2e—>2F" + 2,65 MnO4" + 3e -> MnO2 + 1,70

a 0 V, ou seja, o valor atribuído arbitrariamente ao par H+/ de H + , e o cobre pode ser eletrolisado em solução aquosa.
H2: o hidrogênio é conhecido como um agente redutor. Um Contudo, o hidrogênio e outros gases freqüentemente
grupo de reagentes utilizados na química analítica clássica requerem um potencial consideravelmente maior que o
como agentes redutores fracos (por exemplo, sulfito e Sn(II)) potencial teórico. Para o hidrogênio esse potencial extra ou
são as formas reduzidas de pares redox com potenciais en­ sobretensão pode ser de 0,8 volt, tornando possível a
tre 0 e cerca de +-0,6 V. Por outro lado, VO2 + é a forma eletrodeposição de zinco de uma solução aquosa de seus
estável do vanádio e VO2+ é um agente oxidante fraco: o sais.
potencial VO2 + /VO2+ é +1,00 V. Assim, podemos afirmar, Diversos fatores influenciam o valor do potencial
a partir dos dados experimentais, que regra geral quando padrão. A conversão de M em M +, em solução aquosa, pode
E° =0,8 V as formas oxidada e reduzida terão estabilidades ser desdobrada numa série de etapas:
mais ou menos equivalentes em processos redox.
1. Sublimação de um metal sólido
Não é muito revelador designar um metal como sendo 2. Ionização de um átomo metálico gasoso
um agente redutor: a maioria dos metais são agentes
redutores. É útil classificar os metais em quatro grupos de 3. Hidratação do íon gasoso.
acordo com a facilidade de redução de seus íons metá­ Essas etapas podem ser analisadas mais convenien-
licos. temente num ciclo do tipo de Born-Haber (Fig. 6.4).
1. Os metais nobres (com E° mais positivo que 0 V). A entalpia de sublimação e a energia de ionização são
2. Metais que são facilmente reduzidos (por exemplo com positivas, pois energia deve ser fornecida ao sistema em
carvão) (E° entre 0 e -0,5 V). ambos os casos. Por outro lado, a entalpia de hidratação é
negativa, pois há desprendimento de energia nesse processa.
3. Metais de transição reativos (E° entre -0,5 e -1,5 V), Portanto,
que são freqüentemente preparados por redução com
metais eletropositivos. E = +AHS + Z + AHh
4. Os metais eletropositivos (E° mais negativo que -1,5 V), Considere inicialmente um metal de transição. A maioria
que podem ser preparados por redução eletroquímica. dos metais de transição tem elevados pontos de fusão: a
Quando uma solução é eletrolisada, o potencial externo entalpia de sublimação será, portanto, elevada. Ao mesmo
aplicado deve ser maior que o potencial de eletrodo. A tempo, seus átomos são bastante pequenos e possuem
voltagem mínima necessária para provocar a deposição é elevadas energias de ionização. Com isso o valor do potencial
igual e de sinal contrário ao potencial do eletrodo em contato de eletrodo E será baixo, e o metal terá pouca tendência .a
com sua solução. Elementos situados na parte inferior da formar íons: ele será pouco reativo ou nobre.
série se reduzem antes: por exemplo, Cu2+ se reduz antes Ao contrário, metais do bloco s (Grupo 1 e 2) apresentam
reaçOes oe □xioaçAo-reduçAo 87

portanto, a um potencial de redução, já que ocorre a adição


Mm +e de elétrons aos reagentes. Uma lista mais completa de
f + Energia de potenciais de redução em solução ácida são apresentadas
ionização (/) na Tab. 6.12.
M(g) Os potenciais de oxidação-redução (ou potenciais re­
Energia +Entalpia de dox) podem ser usados com grande vantagem na explicação
sublimação Entalpia de de reações de oxidação-redução em solução aquosa. O
AH, hidratação M*
potencial de redução se relaciona com a energia livre através
M(»ólido)
J AHh
da equação:
Potencial AG = -nFE°
de eletrodo
(E) (onde AG é a variação da energia livre de Gibbs, n a valência
M [hidratado) + O | do íon, Fo Faraday e E° o potencial padrão do eletrodo). Na
realidade, trata-se de uma aplicação da termodinâmica. Em
última análise, o fato de uma dada reação ocorrer ou não
Figura 6.4 — Ciclo de energia para potenciais de eletrodo depende do balanço energético. Sabemos que a reação não
ocorrerá se a variação de energia livre AG for positiva e, as­
baixos pontos de fusão (e portanto baixas entalpias de sim, a termodinâmica nos poupa o trabalho de testar a rea­
sublimação) e os átomos são grandes, apresentando baixas ção. Se o valor de AG for negativo, a reação é termodinamica-
energias de ionização. Portanto, o potencial de eletrodo E mente possível. Mas, não basta uma reação ser termodinami-
será elevado e esses metais serão reativos. camente possível para de fato ocorrer. A termodinâmica não
Quando uma substância é oxidada há perda de elétrons fornece nenhuma informação sobre a velocidade da reação,
e quando uma substância é reduzida ela recebe elétrons. que pode ser rápida, lenta ou infinitamente lenta, e nem
Um agente redutor deve, portanto, fornecer elétrons. Logo, indica se alguma outra reação pode ser mais favorecida.
pode-se inferir que os elementos com elevados potenciais Considere o processo de corrosão que pode ocorrer
negativo de eletrodo são fortes agentes redutores. As forças quando uma chapa de ferro galvanizado é riscado (ferro
de agentes oxidantes e redutores podem ser determinados galvanizado é ferro revestido com uma camada de zinco
através da medida da magnitude do potencial de uma para evitar o enferrujamento). As semi-reações e os corres­
solução, utilizando um eletrodo inerte. Os valores dos pondentes potenciais redox são mostrados abaixo:
potenciais padrões de redução serão obtidos quando as
concentrações das formas oxidada e reduzida forem iguais Fe.22++ + 2e —» Fe E° = -0,44 volt
a 1M, e se as medidas forem realizadas em relação a um Zn2+ + 2e —> Zn E° = -0,76 volt
eletrodo padrão de hidrogênio. Os agentes oxidantes mais
poderosos tem potenciais de oxidação muito positivos e Quando em contato com água, ambos os metais podem
agentes redutores fortes possuem potenciais redox muito ser oxidados e liberar íons, ou seja, as equações químicas
negativos. As magnitudes dos valores dos potenciais padrão das reações acima devem ser invertidas para expressar
de redução permitem prever que íons poderão oxidar ou corretamente os processos envolvidos. Os potenciais
reduzir outros íons. Os potenciais indicam se as variações referentes às reações escritas dessa maneira são denominados
de energia para uma dada reação redox são favoráveis ou potenciais de oxidação e tem a mesma magnitude mas sinais
desfavoráveis. É importante frisar, contudo, que embora os opostos aos dos potenciais de redução:
potenciais possam ser utilizados para prever se uma reação
é possível ou não, não se tem nenhuma informação cinética, Fe Fe2 + + 2e E° = + 0,44 volt
ou seja, relativa à velocidade da reação. A velocidade de Zn Zn2+ + 2e E° = +0,76 volt
uma reação pode ser muito rápida ou lenta, e em muitos
casos é necessário a presença de um catalisador para que Como Zn —» Zn2 + possui o maior valor positivo de E° e
ela ocorra — por exemplo, na reação de oxidação do arsenito como AG = -nFE?, o valor de AG será mais negativo para
de sódio com sulfato cérico. essa semi-reação. Portanto, a dissolução do Zn é mais
favorecida energeticamente, de modo que ela deve ocorrer
em detrimento da dissolução do ferro.
REAÇÕES DE OXIDAÇÃO-REDUÇÃO
Quando o ferro galvanizado for riscado, é possível que
Uma oxidação implica na retirada de elétrons de um o ar venha a oxidar o ferro. Entretanto, o Fe2+ assim
átomo enquanto uma redução envolve a adição de elétrons
produzido será imediatamente reduzido a ferro metálico pelo
num átomo. Os potenciais padrão de eletrodo mostrados na
zinco, e dessa forma o ferro não enferrujará.
Tab. 6.10 foram escritos, por convenção, tendo a espécie
oxidada à esquerda e a espécie reduzida à direita. Zn + Fe2 + Fe + Zn2 +
Li + |Li E° = -3,05 volts Podemos citar exemplos de aplicações similares, no qual
ou um metal é sacrificado para proteger outro, a utilização de
Li+ + e Li E° = -3,05 volts blocos de magnésio conectados a oleodutos de aço,
subterrâneos, e aos cascos dos navios, para assim evitar a
O potencial desenvolvido pela semi-cela se refere, corrosão.
BB PROPRIEDADES BERAIS DOS ELEMENTOS

Portanto, o revestimento de zinco tem duas finalidades: reações de desproporcionamento. Esse tópico é freqüen-
primeiro ele recobre o ferro e impede sua oxidação (como temente pouco compreendido, por isso diversos exemplos
se fosse uma camada de tinta) e em segundo lugar ele fornece serão apresentados.
proteção catódica. Uma grande quantidade de informações úteis sobre um
Uma tabela de potenciais padrão de redução (Tab. 6.12) dado elemento pode ser mostrada utilizando as semi-reações
pode ser usada para prever se uma dada reação é ou não apropriadas e seus respectivos potenciais de redução.
possível, e qual será sua constante de equilíbrio. Vejamos, Vejamos algumas das semi-reações envolvendo o ferro:
por exemplo, se o íon triiodeto I3’ é capaz de oxidar As(III)
do HAsO2 a As(V). Fe2* + 2e Fe E° = -0,47 volt
Fe3* + 3e Fe E° = -0,057 volt
HAsOj + I3- + 2H2O H3ASO4 + 3F + 2H* Fe3* + e->Fe2* E° = + 0,77 volt
FeO,2' + 3e + 8H* ->Fe3* + 4H2O E° = +2,20 volt
Como a tabela contém os potenciais de redução,
precisamos achar as semi-reações para os seguintes Quando um elemento pode existir em diversos estados
processos: H3AsO4 + 2e —» produtos e I3“ + 2e—» produtos. de oxidação (no presente caso, Fe(VI), Fe(III), Fe(II) eFe(O)),
é conveniente mostrar todos os potenciais de redução para
H3AsO4 + 2e + 2H* HAsO2 + 2H2O as semi-reações em um único diagrama. A espécie com o
E° - + 0,56 volt maior estado de oxidação é mostrado à esquerda e 0 de
I3- + 2e —> 3F E° = + 0,54 volt menor estado de oxidação à direita. Espécies tais como
elétrons, H* e H2O são omitidas.
A reação que estamos investigando requer que a
primeira semi-reação seja invertida, e a seguir somada à estado de oxidação
segunda semi-reação. Os valores de E° das semi-reações não VI III II 0
devem ser somados, já que eles não consideram o número
E° (V) -0,47
de elétrons envolvidos. Contudo, os valores de E° podem FeO2’ — Fe3* — Fe2*- Fe
ser convertidos nos correspondentes valores de AG, os quais L-----------0,057 J
podem ser somados para fornecerem o valor de AG da reação
total. O potencial para a redução de FeO42’ a Fe3 * é de 2,20
HAsO2 + 2H2O —> H3ASO4 2H + E° = -0,56 V
H3AsO4 + 2e + 2H volts. Como AG = -nFE?, conclui-se que o valor de AG
I3" + 2e —-+3F
>3F E° = +0,54 V para essa reação será elevado e negativo. Isso indica que a
reação é termodinamicamente factível, já que ela desprende
HAsO2 + I3- + 2H2O^H3AsO4 + 3F + 2H + uma grande quantidade de energia, e FeO42- é um agente
oxidante forte.
AG = + (2xFxO,56)
AG = - (2 X F x 0,54) Potenciais padrão de eletrodo são medidos numa escala
em que
AG = +0.04F
H+ + e H E° = 0,00 volt
A variação de energia livre AG assim calculada é
positiva, o que indica que a reação não se processa Dado que o hidrogênio é normalmente considerado
espontaneamente na direção indicada, e sugere que é como um agente redutor, as espécies reduzidas de semi-
energeticamente possível que a reação se processe no sentido reações com valores negativos de E° são mais redutoras qu e
inverso. Todavia, deve-se notar que o valor de AG é muito o hidrogênio, isto é, elas são fortemente redutoras. Geralmen­
pequeno, e assim não é prudente tirar conclusões precipi­ te, os compostos aceitos como sendo agentes oxidantes têm
tadas. Os valores de E° se referem às condições padrão e valores de E° acima de + 0,8 volt, aquelas com valores em
como o valor de AG é muito pequeno, uma pequena variação torno de +0,8 volt (como Fe3* —» Fe2*) são estáveis
nas condições, como por exemplo uma variação na (igualmente oxidantes e redutoras), e aquelas com valores
concentração, no pH ou na temperatura, poderíam alterar inferiores a + 0,8 volt se tornam mais e mais redutoras.
suficientemente os potenciais e, portanto, o valor de AG para Para a transformação Fe3*/Fe2* o valor de E° é de
permitir que a reação em qualquer sentido. Existem métodos + 0,77 V. Este se aproxima do valor + 0,8 V, e assim Fe3* e
volu métricos de análise no qual se reduz o ácido arsênico Fe2* têm quase a mesma estabilidade em relação à oxidação
com íons iodeto em ácido 5 M, e outro no qual o ácido e à redução. Os valores de E° para as transformações Fe3 *
arsenioso é oxidado pelo íon triiodeto, em pH 7. —> Fe e para Fe2* —» Fe são ambos negativos: como AG é
positivo, nem Fe3* e nem Fe2* apresentam tendência de se
reduzirem a Fe.
APLICAÇÃO DOS POTENCIAIS DE
Um dos fatos mais importantes que pode ser deduzido
REDUÇÃO a partir de um diagrama de potenciais de redução é a
Os potenciais de redução podem ser empregados em estabilidade das espécies frente ao desproporcionamento. A
inúmeros casos, para verificar que espécies irão oxidar ou reação de desproporcionamento ocorre quando um íon num
reduzir uma dada espécie, para verificar quais serão os dado estado de oxidação se decompõe formando íons com 0
produtos e quais são os estados de oxidação estáveis no elemento em questão num estado de oxidação mais alto e
solvente em questão, bem como para obter infoimações sobre mais baixo. Isso acontece quando o íon num dado estado de
aplicaçAd oos potenciais de redução 89

oxidação é um agente oxidante mais forte que o íon no estado Portanto, em solução o íon Cu* sofre desproporciona­
de oxidação imediatamente superior. Essa situação acontece mento gerando Cu2+ e Cu, e por isso o Cu* só pode ser
quando um potencial de redução à direita é mais positivo encontrado no estado sólido.
que um à esquerda. No diagrama dos potenciais de redução O diagrama de potenciais de redução para o oxigênio é
do ferro, os valores se tornam progressivamente mais mostrado a seguir.
negativos ao passarmos da esquerda para a direita, e portanto
Fe3* e Fe2* são estáveis frente ao desproporcionamento.
Num primeiro exame, o potencial de -0,057 V para a estado de oxidação 0 -I -II
transformação Fe3* —> Fe parece incorreto, visto que os + 0,682' +1,776
E° (V) o2 —— h2o2—:—h2o
potenciais para as transformações Fe3+ -» Fe2* e Fe2+ Fe I---------- + 1,229---------- 1
são respectivamente, 0,77 V e -0,47 V. A soma de 0,77 e -0,47
não dá -0,057. Potenciais para reações completas podem * sofre desproporcionamento.
ser somados, porque não há sobras de elétrons no processo. Movendo-se da esquerda para a direita, os potenciais
Os potenciais das semi-reações não podem ser somados de redução aumentam, e portanto H2O2 é instável com
porque neste caso o número de elétrons envolvidos pode relação ao desproporcionamento.
não estar balanceado. Contudo, sempre é possível converter
os valores de E° em energia livre através da equação 0 -II
AG = -nFE°, onde n é o número de elétrons envolvidos e F 2H2O2 O2 + H2O
é o Faraday. Dado que a energia livre de Gibbs, G, é uma
função termodinâmica, as energias podem ser somadas, e o Devemos lembrar que o solvente impõe limitações sobre
valor total da energia livre pode ser reconvertido para um as espécies que são estáveis, ou até mesmo definem quais
valor de E°: são as espécies que podem existir. Agentes oxidantes muito
fortes oxidarão a água a O2, ao passo que agentes redutores
Fe3* + e->Fe2* E° = +0,77 V AG = -l( + 0,77)F = -0,77F fortes reduzirão a água a H2. Assim, agentes oxidantes e
Fe2* +2e->Fe E° =-0,47 V AG = -2(-0,47)F = + 0.94F redutores muito fortes não podem existir em solução aquosa.
As seguintes semi-reações são de particular interesse:
somando,
Redução da água
Fe3+ + 3e —» Fe AG = + 0,17F
solução neutra H2O + e" -» OH’ + ’/zH2 E° -0,414 V
Podemos, portanto, calcular E° para a reação Fe- Fe: solução ácida 1,0 M H3O* + e- + h2o + ‘/2H2 E° 0,000 V
solução básica 1,0 M H2O + e’~ OH' + ‘/2H2 E° = -0,828 V
0,17F Oxidação da água
= -0,057V
—nF -3F solução neutra '/;O2 + 2H* + 2e—»H20 E° = +0,185 V
solução ácida 1,0 M */2O2 + 2H*+2e’ —+H20 E° +1,229 V
O diagrama de potenciais de redução para o cobre, em solução básica 1,0 M '/2O2 + H20 + 2e" —> 20H" E° + 0,401 V
solução ácida, é:
Essas reações limitam a estabilidade termodinâmica de
estados de oxidação II I 0 qualquer espécie em solução aquosa. Os potenciais de
Cu2*+-^'cu*---------+ 0.50 _ redução mínimos necessários para oxidar a água a oxigênio
E° (V) Cu
I---------- +0,35 I são E° > +0,185 V numa solução neutra, E° > +1,229 V
numa solução ácida (l,0M),eE° > +0,401 Vnuma solução
" sofre desproporcionamento. básica (1,0 M).
O potencial e, portanto, a energia liberada quando Cu2 + Da mesma forma, semi-reações com potenciais, E°,
é reduzido a Cu + , são ambos muito pequenos, de modo menores que zero (valores negativos) devem reduzir a água
que Cu2+ não é um agente oxidante, mas é estável. Passando a H2 em solução ácida 1,0 M, enquanto que um potencial
da esquerda para a direita os potenciais Cu2+ - Cu+ - Cu se E°< -0,414 V é necessário numa solução neutra, e£° <
tornam mais positivos. Sempre que ocorre essa situação, a -0,828 V numa solução básica 1,0 M.
espécie situada no meio (Cu+ no caso em discussão) sofre Frequentemente, quando os valores de E° são apenas
desproporcionamento, isto é, se comporta simultaneamente suficientes para que uma dada reação seja termodinami-
tanto como um agente auto-oxidante como um agente auto- camente possível, a reação parece não ocorrer. Na realidade,
redutor, porque do ponto de vista energético as duas uma substância termodinamicamente instável pode ser
transformações seguintes podem ocorrer concomitan­ cineticamente estável se apresentar uma energia de ativação
temente: elevada para reagir. Isso significa que as velocidades dessas
reações serão muito lentas. Por outro lado, se os potenciais
Cu*—>Cu2 + + e Eoxidaçao - -0,15 AG - + 0.15F forem consideravelmente mais positivos ou negativos que
Cu * + e —> Cu firedução - +0.50 AG - -0,50F os limites acima, poderá ocorrer uma reação com o solvente.
Somando, Os potenciais de redução para o amerício indicam que
2Cu* -» Cu2* + Cu AG -0.35F o Am4* é instável com relação ao desproporcionamento.
90 PROPRIEDADES BERAI5 DOS ELEMENTOS

+ VI +V + IV + III 0 + 0.S0 + 0,88


cio; ocr- cr
a r>2 + +I-70A +0,86 - 4+ +2,62 3+ -2,07
AmOj ------ AmO;----- Am’ -------Am3 ------- Am Analogamente, os potenciais em torno do íon C103‘ niãc
• sofre desproporcionamento. decrescem da esquerda para a direita.
O potencial para o par AmO2+ —> Am3’ pode ser + 0,36 + 0,50
calculado convertendo-se os valores 0,86 e 2,62 volts nas cio; cio; ocr
correspondentes energias livres, somando-as e reconvertendo
Portanto, C1O3~ deve se desproporcionar em C104" e
o resultado em potencial. Dessa forma obtém-se o potencial
OCl”, e o OCl" também deve se desproporcionar gerando Cl'
resultante de 1,74 volt. Se essa etapa for adicionada ao
e C1O3-,
diagrama, fica evidente que os potenciais não decrescem do
AmO22* para o AmOf e deste para o Am3’. Por isso, o Os diagramas de potenciais de redução também podem
AmO2* é instável, em relação à reação de desproporcio­ ser usados para prever os produtos de reações quando os
namento a AmO22* e Am3*. Finalmente, o potencial da semi- elementos podem apresentar diversos estados de oxidação.
reação AmO22* —> Am3* pode ser calculado, encontrando- Considere por exemplo a reação entre KMnO4 e Kl, em meio
se o valor + 1,726 volt. Portanto, considerando-se a ácido. Os diagramas de potenciais de redução são mostrados
seqüência AmO22 + —> Am3 + Am, pode-se inferir que o Am3 + abaixo:
é estável.
+ vn + vi + IV + 111 + 11 0
+ VI +v + IV +III 0 MnO; -^^MnO4‘ —— MnO2 t2+ -1-1’ 1.
2’----- Mn
,+1,70 • + 0,86 + 2,62 „ ,
3+ -2’07 A I1----------+1,69 J L ----- +1,23------ -J
AmOj ------ AmOj ------Am4 ------ Am-r ------ Am
| -------- + 1-74 I + 1,51---------------
I-------------------------+ 1,726 --------- +v + III +1 -1
+ VII 0
* sofrem desproporcionamento. + 1,65
IO;---- —----10;
r -------- +1,19-------
-------- HOI r
É importante incluir no diagrama de potenciais de ------- +0,99--------- 1
H5IO6-+ 1,60—1
redução todas as semi-reações possíveis, pois caso contrário
pode-se chegar a conclusões errôneas. O exame do diagrama • sofrem desproporcionamento.
incompleto para o cloro, em meio alcalino, indica que 0
C1O2 deve-se desproporcionar gerando C1O3' e OCl-. Supondo-se que as reações sejam controladas pella
Analogamente, o Cl2 deve-se desproporcionar gerando OCl’ termodinâmica, isto é, que o equilíbrio seja alcançado com
e Cl'. Ambas as conclusões estão corretas, nas condições razoável rapidez, então as espécies MnO42‘, Mn3+ e HOI
especificadas. não precisam ser consideradas, visto que elas sofrem
desproporcionamento. A semi-reação Mn2t —>Mn apresenta
+ V1I +V + III +1 0 um valor negativo elevado de E°. Portanto, 0 AG terá um
valor positivo elevado e essa semi-reação não deve ocorreir.
+ 0,36 +0,33 • +0,66 +0,40 , • +1,36
C1O4- ------ Cio; — C102 -- ---- OCl- ------- |C12 ------- Cl- Logo, também pode ser ignorada. Levando-se em conta essats
considerações, 0 diagrama de potenciais de redução poderá
• sofrem desproporcionamento.
ser simplificado:
Os dados incompletos também sugerem que o OCl" deve
ser estável com relação ao desproporcionamento, mas isso + VII +V + IV +11 0 -r
não é correto. As espécies que sofrem desproporcionamento + 1,70 MnO2 --'-3 Mn24
MnO;
foram "ignoradas”. Esses processos podem ser incluídos
calculando-se um potencial único para a transformação C1O3' + 1,65 + 1,19
ji2(s)^-r
IO;----- 10;-
—> OCl', para substituir os valores +0,33 V e +0,66 V.
HsIO6- + 1,60—1
Também, deve-se calcular um potencial único para a
transformação OC1~ —> CT.
Se a reação for efetuada acrescentando-se, gota a gotai,
+ VII +V + III +1 0 -I uma solução de Kl a uma solução acidificada de KMn04, os
produtos da reação deverão ser estáveis na presença de
cio4- dô; cio2 oéi- +-^ & +-11£ cr KMnO4. Consequentemente, o produto de redução não
I -------- + 0,50--------- 1 I---------- + 0,88-------- poderá ser Mn2 + , pois o KMnO4 o oxidaria a Mn02. Analo­
gamente, I2 não poderá ser o produto de oxidação, pois pode
• sofrem desproporcionamento. ser oxidado pelo KMnO4. O fato dos potenciais das semi-
reações IO; —> IO; e H5IO6 —> IO; serem semelhantes ao po­
Examinando o diagrama completo, fica claro que os tencial da semi-reação MnO; MnO2 é outro fator de compli­
potenciais em torno de OCC não decrescem da esquerda cação, impossibilitando definir precisamente se o 10;, 0IOjj
para a direita, e portanto OCl” é instável com relação ao ou se o HsIO6 será o produto de oxidação. Na realidade, oT
desproporcionamento em C1O3“ e Cl". é oxidado a uma mistura de IO; e IO;.
OCORRÊNCIA E OBTENÇÃO DOS ELEMENTOS 91

2MnO4* +!' + 2HT -> 2MnO2 + IO3' + H2O Separação mecânica de elementos que existem na
8MnO4‘ + 31' + 8H+ -> 8MnO2 + 3IO4‘ + 4H2O forma nativa
Se essa mesma reação for efetuada invertendo-se a Um número surpreendentemente grande de elementos
ordem de adição, ou seja, adicionando-se gota a gota a ocorre livre no estado elementar. Eles permaneceram na
solução de KMnO4 sobre a solução de Kl, então os produtos forma nativa porque são pouco reativos. Somente os metais
formados deverão ser estáveis na presença de I'. Nesse caso menos reativos, pertencentes ao Grupo 11 (cobre/prata/ouro)
o MnO2 não pode ser o produto de redução, pois ele oxidaria e os metais do grupo da platina, ocorrem na forma elementar
o I' a I2. Analogamente, o IO3 não podería ser o produto de em quantidades apreciáveis.
redução, pois oxidaria qualquer excesso de I' a 12. Logo, a 1. O ouro é encontrado na forma nativa, como grânulos
reação que ocorre nessas condições é: incrustados no quartzo, como pepitas ou junto aos
2MnO„ + 101' + 16H+ ->2Mn2+ + 5I2 + 8H2O sedimentos nos leitos dos rios. O ouro possui uma
densidade de 19,3 g cm'3, muito maior que a das rochas
Como há um excesso de íons I", o I2 formado ficará na ou dos sedimentos com os quais ele está misturado.
forma do íon triiodeto I3‘, mas isso não influencia a reação Por isso, o ouro pode ser separado com o auxílio de ba-
acima. teias (recentemente tornou-se comum extraí-lo por
J2 + r->s amalgamaçâo com mercúrio). A prata e o cobre, tam­
bém, são às vezes encontrados na forma elementar,
Observe que a natureza dos produtos formados depende como "pepitas". Todos os três metais são “nobres” ou
da natureza do reagente que se encontra em excesso. pouco reativos. Essa característica está associada com
sua posição na série eletroquímica, abaixo do hidrogênio
OCORRÊNCIA E OBTENÇÃO DOS e próximo dos não-metais.
ELEMENTOS 2. O paládio e a platina também são encontrados como
Os elementos mais abundantes na crosta terrestre (em metais nativos. Além disso, existem ligas naturais dos
peso) são mostrados na Tab. 6.13. É interessante ressaltar metais do grupo da Pt.
que os cinco primeiros elementos perfazem quase 92% em Rh Pd
Os metais do grupo da platina são: Ru
peso da crosta terrestre, que os dez primeiros perfazem mais Os Ir Pt
de 99,5%, e que os vinte primeiros constituem cerca de
99,97% da crosta terrestre. Portanto, alguns poucos elemen­ Os nomes dessas ligas naturais indicam sua composição:
tos são muito abundantes; a maioria é rara. osmirídio, iridosmina.
Outros elementos muito abundantes são o nitrogênio 3. Gotas de mercúrio líquido são encontrados em asso­
(78 % da atmosfera) e o hidrogênio que ocorre como água ciação com o cinábrio, HgS. Os não-metais que ocorrem
nos oceanos. A química desses elementos abundantes é bem na forma nativa, na crosta terrestre, pertencem aos
conhecida. Alguns elementos menos abundantes também grupos do carbono e do nitrogênio, mas na atmosfera
são bem conhecidos, pois ocorrem em depósitos concen­ encontram-se o N2, o O2 e os gases nobres.
trados: por exemplo, o chumbo, encontrado como PbS (ga-
lena) e boro como Na4B2O7- 10H2O (bórax). 4. Os diamantes são encontrados na crosta terrestre e são
obtidos por separação mecânica de grandes quantidades
Os diferentes métodos para separar e extrair os
de rochas e terra. Os maiores depósitos se encontram
elementos podem ser divididos em cinco classes (vide Ives,
na Austrália, Zaire, Botsuana, Rússia e África do Sul.
D. J. G., em Leituras complementares).
Os diamantes são usados principalmente na fabricação
de ferramentas de corte e, em menor quantidade, na
Tabela 6.13 — Os elementos mais abundantes manufatura de jóias. A grafita é minerada principal­
mente na China, Coréia do Sul, Rússia, Brasil e México.
Partes por milhão %da crosta Ela é usada na fabricação de eletrodos, na indústria do
da crosta terrestre terrestre aço, como lubrificantes, em lápis, em escovas para
motores elétricos e lonas de freios. Também, é usada
1. Oxigênio 455.000 45,5 como moderador nos núcleos de reatores nucleares
2. Silício 272.000 27,2 resfriados a gás.
3. Alumínio 83.000 8,3
5. Depósitos de enxofre são encontrados a grandes
4. Ferro 62.000 6,2
5. Cálcio 46.000 4,66 profundidades nos EUA, Polônia, México e Rússia. O
6. Magnésio 27.640 2,764 enxofre é extraído pelo processo Frasch. Pequenas
7. Sódio 22.700 2,27 quantidades de selênio e telúrio frequentemente estão
8. Potássio 18.400 1,84 presentes no enxofre.
9. Titânio 6.320 0,632 6. A atmosfera é constituída por cerca de 78% de
10. Hidrogênio 1.520 0,152 nitrogênio, 22% de oxigênio e por traços dos gases
11. Fósforo 1.120 0,112 nobres argônio, hélio e neônio. Eles podem ser separa­
12. Manganês 1.060 0,106
dos por destilação fracionada do ar líquido. O hélio
O apêndice A apresenta uma tabela completa também ocorre em alguns depósitos de gás natural.
92 PROPRIEDADES GERAIS DOS ELEMENTOS

Métodos baseados na decomposição térmica 2HgO -» 2Hg + O2


Alguns poucos compostos se decompõem em seus Ag2CO3 -» CO2 + Ag2O 2Ag + 72O2
elementos constituintes por simples aquecimento.
6. O oxigênio molecular pode ser obtido aquecendo-se
1. Diversos hidretos se decompõem dessa maneira. Mas
compostos como o peróxido de hidrogênio (H2O2),
como os próprios hidretos são obtidos a partir dos
peróxido de bário (BaO2), óxido de prata (Ag2O) ou
metais, o processo de decomposição térmica não tem
importância industrial. Os hidretos arsina AsH3 e clorato de potássio (KC1O3).
estibina SbH3 são produzidos no teste de Marsh, no 2H2O2 —» 2H2O + O2
qual compostos de arsênio e antimônio são convertidos 2BaO2 2BaO + O2
nos respectivos hidreto com Zn/H2SO4. Em seguida, os 2Ag2O -» 2Ag + O2
hidretos gasosos são decompostos formando um espelho 2KC1O3 -> 2KC1 + 3O2
prateado do metal, passando-se o gás através um tubo
aquecido.
2. O azoteto de sódio, NaN3, se decompõe formando sódio Deslocamento de um elemento por outro
metálico e nitrogênio puro, mediante aquecimento Em princípio, qualquer elemento pode ser deslocado
brando. Muito cuidado é necessário, porque os azotetos de suas soluções por outro elemento situado acima dele na
são explosivos. Esse método não é usado comercial­ série eletroquímica. O método não é aplicável a elementos
mente, mas é útil para se obter pequenas quantidades que reagem com água. Além disso, para ser economicamente
de nitrogênio puro, em laboratório. viável, deve-se sacrificar um elemento barato para obter uim
elemento mais valioso.
2NaN3 -> 2Na + 3N2
1. Minérios de cobre muito pobres em CuS, a ponto de
3. O tetracarbonilníquel [Ni [CO)4] é um composto gasoso não permitir a extração de Cu pelo método convenciomal
que pode ser obtido aquecendo-se Ni com CO, a 50° C. de aquecimento ao ar, são deixados sob a ação do ar e
Todas as impurezas contidas no níquel permanecem da chuva para formarem uma solução de CuSO4. Em
sólidas. Quando o gás é aquecido a 230° C, ele se seguida os íons Cu2+ são reduzidos a Cu metálico,
decompõe formando o níquel metálico puro e CO, que utilizando-se raspas de ferro. Este reage formando íon
é reciclado. Essa é a base do processo Mond para a Fe2 + , pois o ferro se situa acima do cobre na série
purificação do níquel, usado na Grã-Bretanha (Sul de eletroquímica.
Gales) de 1899 até a década de 1960. Uma nova fábrica
no Canadá utiliza o mesmo princípio, mas o [Ni(CO)4] Fe + Cu2 + —»Fe2 + + Cu
é obtido a 150° C e 20 atmosferas de pressão. 2. O cádmio ocorre em pequenas quantidades nos minérios
50°C 23O°C de zinco. O Zn é extraído por eletrólise de uma solução
Ni + 4CO -> Ni(CO)„ Ni + 4CO de ZnSO4, que contém traços de CdSO4. Depois de algum
tempo já existe uma concentração razoável de Cd2*.
4. Os iodetos são os haletos menos estáveis. Essa proprie­
Como o Zn se situa acima do cádmio na série
dade tem sido explorada para purificar pequenas
eletroquímica, sacrifica-se o Zn metálico para deslocar
quantidades de zircônio e de boro pelo processo vart
da solução os íons Cd2+ na forma de Cd metálico. O
Arkel — de Boer. O elemento impuro é aquecido com
zinco consumido nesse processo é posteriormente
iodo produzindo um iodeto volátil, Zrl4 ou BI3. Eles
recuperado por eletrólise.
são decompostos fazendo os produtos gasosos passarem
sobre um filamento incandescente de tungstênio ou Zn + Cd2 + Zn2 + + Cd
tântalo, aquecido eletricamente. O elemento se deposita
sobre o filamento e o iodo é reciclado. O filamento se 3. A água do mar contém íons Br". O cloro se situa acima
torna cada vez mais grosso e é periodicamente do bromo na série eletroquímica. Assim, o bromo é
substituído. Então, o núcleo de tungstênio é retirado, obtido passando-se um fluxo de gás cloro através da
obtendo-se uma pequena quantidade de Zr ou B de água do mar.
elevada pureza.
Cl2 + 2Br‘ -> 2C1" + Br2
5. A maioria dos óxidos são termicamente estáveis até
temperaturas de cerca de 1.000 °C, mas os óxidos dos
metais situados abaixo do hidrogênio na série Métodos de redução química a altas temperaturas
eletroquímica se decompõem com relativa facilidade. Um grande número de processos industriais de obtençãc
Por exemplo, o HgO e o Ag2O se decompõem com o de metais pertencem a esse grupo. O carbono pode ser usa dc
aquecimento, gerando os elementos. O mineral cinábrio, para reduzir vários óxidos e outros compostos. Esse métodc
HgS, é queimado ao ar para formar o óxido, que é a é muito empregado, devido ao baixo custo e disponibilidaid.
seguir decomposto termicamente. Resíduos de prata de do coque. As desvantagens são a necessidade de alta
laboratórios ou provenientes do processamento de temperaturas, o que é dispendioso e exige o emprego d-
chapas fotográficas são recuperados na forma AgCl e altos-fornos, e o fato de muitos metais se combinarem com
tratados com Na2CO3 para formar Ag2CO3. Este é decom­ o carbono formando carbetos. Alguns exemplos são dado s _
posto termicamente a Ag2O e posteriormente a Ag. seguir:
□CDRRÊNCIA E OBTENÇÃO DOS ELEMENTOS 93

Redução com carbono A eletrólise pode ser efetuada:


alto forno Em solução aquosa
Fe2O3 + C - 4 Fe
1200 °C Desde que os produtos não reajam com a água, a eletrólise
ZnO + C — Zn
pode ser efetuada de maneira conveniente e barata em
fomo elétrico
Ca3(PO4)2 + C > p solução aquosa. Cobre e zinco são obtidos por eletrólise de
MgO + C 2000 °C fomo elétrico , Mg (processo agora obsoletO) soluções aquosas dos sais sulfatos correspondentes.
PbO + C -» Pb Em outros solventes
Redução com outro metal A eletrólise também pode ser executada em outros solventes.
O flúor reage violentamente com a água, e ele é produzido
Se a temperatura necessária para a redução de um óxido
por eletrólise de KHF2 dissolvido em HF anidro (a reação
pelo carvão for muito elevada para ser econômica ou
apresenta várias dificuldades técnicas, pois o HF é corrosivo,
tecnicamente viável, a redução pode ser efetuada por outro
o hidrogênio produzido no cátodo deve ser mantido separado
metal altamente eletropositivo como o Al, que libera uma
do flúor produzido no ânodo para evitar o perigo de explosão;
grande quantidade de energia na reação de oxidação a A12O3
o meio deve ser rigorosamente isento de água e, além disso,
(1.675 kJ mol’1). Essa é a base do processo Thermite (alumi-
o flúor produzido reage com o ânodo e o recipiente de
notermia):
reação).
3Mn3O4 + 8A1 9Mn + 4A12O3 Em estado fundido
B2O3 + Al —* 2B + A12O3 Os elementos que reagem com a água são freqüentemente
Cr2O3 + Al -» 2Cr + A12O3 obtidos a partir de seus sais fundido. Esses materiais fundidos
geralmente são corrosivos e as despesas com o combustível,
O magnésio é usado de maneira semelhante para reduzir necessário para manter as elevadas temperaturas necessárias,
óxidos. Em alguns casos o óxido é muito estável para ser oneram o processo. O alumínio é obtido pela eletrólise de
reduzido, de modo que seus haletos são reduzidos por metais uma mistura de A12O3 e criolita, Na3[AlF6]. Tanto o cloro
eletropositivos. como o sódio são obtidos pela eletrólise do NaCl fundido:
TiCl4 + 2Mg Processo Kroll, 1000-1150*C , Tj + 2MgCl2 nesse caso, até dois terços em peso de CaCl2 é adicionado
para diminuir o ponto de fusão de 803 °C para 505 °C.
TiCl4 + 4Na Processo 1M1 ; 4. 4NaCl

Fatores que influem na escolha do método de


Auto-redução obtenção
Os minérios de muitos metais são sulfetos, por exemplo, O tipo de processo utilizado para a obtenção industrial
PbS, CuS e Sb2S3. Estes podem ser parcialmente convertidos de um determinado elemento depende de uma série de
nos seus respectivos óxidos por aquecimento ao ar e, em fatores.
seguida, o aquecimento é continuado na ausência de ar para 1. O elemento é suficientemente inerte para existir no
possibilitar a ocorrência da reação de auto-redução: estado livre?
CuO 2. Existem compostos desse elemento que são instáveis
aquecimento ao ar > aquecimento em ausénda de ar frente ao aquecimento?
CuS + ->Cu + SO2
3. O elemento existe na forma de um composto iônico?
CuS Ele é estável em água? Se ambas as respostas forem
positivas, deve-se questionar: existe um elemento barato
que se encontre acima dele na série eletroquímica que
Redução de óxidos com hidrogênio: possa ser sacrificado para deslocá-lo da solução?
Co3O4 + 4H2 -» 3Co + 4H2O 4. O elemento ocorre na forma de um sulfeto que pode
GeO2 + 2H2 -> Ge + 2H2O ser calcinado, ou na forma de um óxido que pode ser
NH4[MoO4] + 2H2 Mo + 4H2O + NH3 reduzido diretamente? O carbono é o redutor mais ba­
NH4[WO4] + 2H2 W + 4H2O + NH3 rato, enquanto que Mg, Al ou Na são mais dispendiosos.
Esse método não é muito utilizado, porque muitos 5. Se nenhum dos métodos acima for aplicável, a eletrólise
metais reagem com hidrogênio formando hidretos, a altas sempre poderá ser utilizada no caso de materiais iônicos,
temperaturas. Além disso, sempre há riscos de explosão, mas é um método caro. No caso de elementos estáveis
pois o hidrogênio reage violentamente com o oxigênio do em água, a eletrólise de soluções aquosas tem a
ar. vantagem de ser menos dispendiosa que a eletrólise de
sais fundidos.
Redução eletrolítica
Termodinâmica dos processos de redução
O agente redutor mais forte possível é o elétron.
Qualquer material iônico pode ser eletrolisado, sendo que a A obtenção dos metais a partir de seus óxidos usando
redução ocorre no cátodo. Esse é um excelente método que carbono ou outros metais, bem como a decomposição
fornece produtos extremamente puros, mas a eletricidade é térmica, envolvem diversos aspectos que merecem uma
muito dispendiosa. discussão mais detalhada.
94 PROPRIEDADES SERAIS DDE ELEMENTOS

Tabela 6.14 — Potenciais de redução e métodos de obtenção nos correspondentes óxidos sã<
inclinados para cima, pois as variaçõei
Elemento E° (V) Materiais Método de obtenção de energia livre se tornam cada vez mai
positivas com o aumento da tempe
Lítio Li+ILi -3,05 LiCl Eletrólise de sais fundidos, ratura, como já foi discutido anterior
Potássio K+IK -2,93 KC1, [KClMgCl2-6H2O] geralmente cloretos mente.
Cálcio Ca2+ICa -2,84 CaCl2 2. Os gráficos são lineares até c
Sódio Na+INa -2,71 NaCl momento em que os metais fundem oi
Magnésio Mg2+IMg -2,37 MgCl2, MgO Eletrólise de MgCl2 Redução se vaporizam. Nesses casos, há uma
com C a altas temperaturas grande variação de entropia devido i
mudança de estado físico, que provoca
Alumínio A13+IA1 -1,66 A12O3 Eletrólise de A12O3 dissolvido uma alteração na inclinação das retas
em Na3[AlF6] fundido (por exemplo, a reta para o processo
Manganês Mn2+IMn -1,08 Mn3O4, MnO2 Redução com Al. Hg —> HgO muda de inclinação a 356 °'C,
Crômio CrJ+ICr
CPlCr -0,74 FeCr2O4 Processo térmita quando o mercúrio passa para o estado
Zinco Zn2+IZn -0,76 ZnS Redução química dos óxidos gasoso. Analogamente, a linha para o
Ferro Fe+IFe -0,44 Fe2O3, Fe3O4 com C. processo Mg —> MgO muda de inclinação
Cobalto Co2*ICo -0,27 CoS Sulfetos convertidos em óxi­ a 1.120 °C).
Níquel Ni2+INi -0,23 NiS, NiAs2 dos e a seguir reduzidos com 3. Em alguns casos, o gráfico cruza
Chumbo Pb2+IPb -0,13 PbS C, às vezes com H2 a linha correspondente a AG = 0, numa
Estanho Sn2+ISn -0,14 SnO2 temperatura suficientemente elevada.
Cobre Cu2+ICu +0,35 Cu (metal), CuS Encontrados como metais nati­ Abaixo dessa temperatura a energia livre
Prata _ +IAg_
Ag +0,80 Ag (metal), Ag2S, AgCl vos, ou compostos facilmente de formação do óxido é negativa, de
Mercúrio Hg2+IHg +0,85 HgS desintegráveis pelo calor (tam­ modo que o óxido será estável. Acima
Ouro Au3+IAu +1,38 Au (metal) bém extração com cianeto) dessa temperatura a energia livre de
formação do óxido será positiva, e o
A variação de energia livre AG deve ser negativa para óxido se torna instável. Nesse caso, ele deveria se
uma reação espontânea. decompor gerando o metal e oxigênio.
AG = AH - TAS Teoricamente é possível decompor todos os óxidos nos
metais respectivos e oxigênio, desde que se atinja uma
AH é a variação de entalpia da reação, T a temperatura
absoluta, e AS a variação de entropia da reação. Considere
uma reação como a da formação de um óxido:

M +■ */2O2 MO

O oxigênio é consumido no decorrer da reação. Os gases


apresentam uma estrutura mais aleatória (menos ordenada)
que os líquidos e os sólidos. Logo, os gases possuem uma
entropia maior que os líquidos e os sólidos. Por isso, nessas
reações a entropia S diminui, e portanto AS será negativo.
Assim, se a temperatura T aumentar, o termo TAS tornar-se-
á ainda mais negativo. Como o termo TAS é subtraído do H
na equação acima, o valor de AG tomar-se-á menos negativo.
Portanto, a variação de energia livre deve se tornar mais
positiva com o aumento da temperatura.
As variações de energia livre associadas com a reação
de um molécula-grama de um dado reagente (no presente
caso, o oxigênio) em função da temperatura, podem ser
mostradas graficamente para uma série de reações que
envolvem a transformação dos metais nos seus respectivos
óxidos. Esse gráfico, denominado diagrama de Ellingham
(para óxidos), é mostrado na Fig. 6.5. Diagramas semelhantes
podem ser construídos para a reação de um molécula-grama
de enxofre. Dessa forma, pode-se obter um diagrama de
Ellingham para sulfetos. Procedendo-se analogamente, pode-
se obter o diagrama para haletos.
O diagrama de Ellingham para óxidos mostra diversos
aspectos importantes: Figura 6.S — Diagrama de Ellingham mostrando a variação de energia
livre AG com a temperatura para óxidos (baseados em um nwlécuL-
1. Todos os gráficos para as transformações dos metais grama de oxigênio em cada caso)
RELAÇÕES HORIZONTAIS. VERTICAIS E OIAEONA15 NA TABELA PERIÓDICA 95

temperatura suficientemente elevada. Na prática, e ficará abaixo de todas as outras linhas dos gráficos
somente os óxidos de Ag, Au e Hg podem ser correspondentes à transformação metal/óxido do metal.
decompostos a temperaturas suficientemente baixas, Portanto, teoricamente o carbono poderia ser usado para
para que os elementos possam ser obtidos a partir da reduzir qualquer óxido metálico, desde que se consiga
decomposição térmica de seus óxidos. temperaturas suficientemente elevadas. Apesar deste
4. Em vários processos, utiliza-se um metal para reduzir processo ser atualmente obsoleto, a redução do MgO com C
o óxido de outro metal. Qualquer metal reduzirá o óxido a temperaturas em torno de 2.000 °C, já foi utilizado para
de outro metal situado acima dele no diagrama de produzir Mg, após um rápido resfriamento (choque térmico).
Ellingham, porque a energia livre dessas reações será Analogamente, a redução de óxidos muito estáveis, tais como
negativa e igual à diferença entre os valores de energia TiO2, A12O3 e MgO, é teoricamente possível, mas não é
livre entre os dois gráficos, na temperatura em questão. utilizada na prática devido aos altos custos e dificuldades
Por exemplo, o Al reduz prontamente o FeO, CrO e NiO, operacionais decorrentes do emprego de temperaturas
por meio da conhecida reação Thermite (aluminoter- extremamente elevadas. Uma outra limitação no uso do
mia); mas o Al não será capaz de reduzir o MgO, a carbono para a obtenção de metais é decorrente de sua reação
temperaturas inferiores a 1.500 °C. com os metais a altas temperaturas, formando carbetos.
No caso do carbono reagindo com oxigênio, duas Muitos metais ocorrem como sulfetos. Embora o
reações são possíveis: carbono seja um bom agente redutor para óxidos, ele é um
agente redutor fraco para sulfetos. A razão pela qual o
C + O2 -» CO2 carbono é capaz de reduzir tantos óxidos metálicos a
C + '/2O2 -» CO temperaturas elevadas é a inclinação negativa da linha
ÁGS/T para o CO. Não existe um composto de enxofre
Na primeira reação o volume de CO2 produzido é igual análogo ao CO que apresente um gráfico de AG°/T com uma
ao volume de O2 consumido, de modo que a variação de inclinação negativa pronunciada. Por isso os sulfetos são
entropia é muito pequena. Por isso, o AG da reação prati­ normalmente calcinados ao ar para formarem óxidos, antes
camente não se altera em função da temperatura, e o gráfico de serem reduzidos com carbono.
de AG em função de T é quase uma reta horizontal.
2MS + 3O2 -» 2MO + 2SO2
A segunda reação produz dois volumes de CO para cada
volume de oxigênio consumido. Portanto, ÁS é positivo e Analogamente, o hidrogênio tem um espectro limitado
AG se torna cada vez mais negativo à medida que aumenta como agente redutor para a obtenção de metais a partir de
a temperatura T. Consequentemente, a reta correspondente seus óxidos, uma vez que a linha AG°/T apresenta inclinação
a essa reação no diagrama de Ellingham tem uma inclinação positiva, e é paralela à linha de muitos óxidos metálicos.
negativa (Fig. 6.6). As linhas referentes às reações C —» CO2 2H2 + [O2] -» 2H,O
e C —» CO se cruzam a cerca de 710 °C. Abaixo dessa
temperatura a reação que forma CO2 é energeticamente mais Portanto, somente os metais com linhas metal —> óxido
favorecida, mas acima de 710 °C a formação de CO é mais metálico situados acima da linha do hidrogênio serão
favorecida. reduzidos, e essa situação não muda em função da
temperatura. Outro problema associado ao uso de H2 decorre
O carvão (carbono) é muito utilizado para reduzir o
da reação de muitos metais com o hidrogênio, formando
óxido de ferro na produção de ferro, mas também pode ser
hidretos. Caso o hidrogênio permaneça dissolvido no metal
utilizado para reduzir outros óxidos situados acima dele
(hidretos intersticiais) as propriedades do metal serão
no diagrama de Ellingham. Como a linha do AG da reação
modificadas significativamente.
C —> CO tem inclinação negativa, ela eventualmente cruzará
Os argumentos termodinâmicos apresentados até o
momento para prever quais são os agentes que podem reduzir
um dado composto têm duas limitações. Pressupõe-se que
os reagentes e os produtos estejam em equilíbrio, o que nem
sempre é o caso, e eles apenas indicam se uma dada reação
é possível ou não. Contudo, não é possível prever a
velocidade das reações ou se alguma reação paralela é ainda
mais favorecida.
Maiores detalhes sobre os processos de obtenção e os
diagramas de Ellingham para haletos e sulfetos podem ser
encontrados nas referências listadas na seção de leituras
complementares (vide Ives, D. J. G., e Ellingham, H. J. T.)

RELAÇÕES HORIZONTAIS, VERTICAIS E


DIAGONAIS NA TABELA PERIÓDICA
O número de elétrons no nível mais externo aumenta
Figura 6.6 — Diagrama de Ellingham para o carbono (a curva real é de um a oito ao percorrermos um período da Tabela Periódica,
a linha cheia) da esquerda para a direita. Assim, todos os elementos do
9B PROPRIEDADES EERAIS DOS ELEMENTOS

Tabela 6.15 — Métodos de obtenção e tabela periódica

Bloco s Bloco p
^\Grupo
1 2 13 14 15 16 18 18
Períodc»^
Destilação fracionada
de ar líquido
t
1 ■h 7He
2 3Lí 4Be Bloco d 5B 6C 7N 8O »F l0Ne
3 "Na l2Mg 3 4 5 6 7 8 9 10 H 12 13aí l4Si l5P l6S l7CÍ uAr
4 l9K 20Ca 2lSc 22Ti 21V 24Cr 25Mn 26Fe 28Ni 29Cu 3lGa l:Gc 33As MSe 35Br *Kr
5 37Rb 38Sr 39y 40Zr 4lNb 42Mo 43Tc “Ru JSRh 46Pd 47 Ag 48Cd 49In 5<lSn 51Sb 52Te «I HXe
6 55Cs 56Ba 57La 72Hf ”Ta ,4W 75Re 76Os 77Ir 78Pt 79 Au 8iT/ 82Pb ”Bi

L
eletrólise de sais fundidos
J LJ
Eletrólise
LJ LJ t J L ZE ZE
Encontrados livres na natureza
(freqüentemente cloretos) ou redução ou compostos facilmente
química desintegráveis pelo calor

óxidos reduzidos por carbono ou sulfetos


convertidos a óxidos e então reduzidos por carbono
Observações: 1Al, F e Cl são obtidos por eletrólise de soluções; 2.- Br é obtido por deslocamento;
3.-1 é obtido por redução; 4.- Tc não ocorre na natureza

Grupo 1 têm um elétron no nível mais externo. Quando Geralmente, os óxidos metálicos sao básicos enquanto ot
reagem, são univalentes, pois a perda de um elétron leva à óxidos dos não-metais são ácidos.
configuração de um gás nobre. De modo semelhante, os Descendo por um grupo da tabela periódica, todos o<
elementos do Grupo 2 possuem dois elétrons no nível mais elementos possuem o mesmo número de elétrons externo:
externo e são divalentes. Logo, a valência de um elemento e a mesma valência, mas o tamanho aumenta. Assim, i
do bloco s é igual ao número do grupo. No caso de elementos energia de ionização diminui e o caráter metálico aumenta
do bloco p a valência geralmente é igual ao número do grupo Isto é particularmente visível nos Grupos 14 e 15, q.u<
1 ou (8 — número do grupo). Isso é, igual ao número de começam com os não-metais carbono e nitrogênio, <
elétrons s ep da camada mais externa, ou (8 — esse número terminam com os metais chumbo e bismuto. Os óxidos s
de elétrons). Os elementos do Grupo 15 (por exemplo, o tornam cada vez mais básicos, descendo ao longo do Grupo
nitrogênio) têm cinco elétrons na camada mais externa. Se
Ao se mover diagonalmente na tabela periódica, oi
três desses elétrons forem compartilhados para formarem
elementos apresentam certas similaridades. Essa:
ligações covalentes com outros átomos, então o nitrogênio
semelhanças não são tão acentuadas como as que ocomen
terá oito elétrons e uma configuração eletrônica estável. Logo,
dentro dos Grupos, mas são bastante pronunciadas no;
o nitrogênio é trivalente, como na amônia, NH3. Os
seguintes pares de elementos:
halogênios se situam no Grupo 17 e têm sete elétrons na
camada mais externos, de modo que sua valência deve ser Li Be B c
18 —17 = 1. Nesse caso, uma configuração estável pode
ser alcançada recebendo um elétron, seja pela formação de Na Mg Al Si
uma ligação iônica ou uma covalente. Pode-se inferir pelo
Ao se passar de um período para outro adjacente i
exposto acima que o número de elétrons mais externos direita, a carga dos íons aumenta e o tamanho dimiiiu
determina a valência do elemento. provocando um aumento no poder polarizante dos mesmo:
Movendo-se da esquerda para a direita ao longo de um Descendo por um grupo, o tamanho aumenta e o pode
período, o tamanho dos átomos diminui por causa do polarizante diminui. Ao se mover diagonalmente, esses dloi
aumento da carga nuclear efetiva. Portanto, os elétrons serão efeitos praticamente se cancelam, de modo que não s
mais fortemente atraídos pelo núcleo e a energia de ionização observam diferenças muito acentuadas nas propriedades dc
aumenta naquele sentido. O caráter metálico dos elementos elementos. O tipo e a força das ligações formadas e a
também decresce e os óxidos correspondentes se tornam propriedades dos compostos são geralmente semelhanle;
menos básicos. Na2O é fortemente básico; A12O3 é anfótero embora a valência seja diferente. O lítio é semelhante a
e reage tanto com ácidos como com bases; SO2 é um óxido magnésio em muitas de suas propriedades, o mestn
ácido visto que se dissolve em água para formar ácido ocorrendo com o berílio e o alumínio. Essas semelhança
sulfuroso (H2SO3) e reage com bases para formar sulfitos. serão examinadas mais detalhadamente nos capítulos sobi
PROBLEMAS 97

o Grupo 1, 2 e 3. Essas semelhanças são mais importantes • Jolly, W.L.; Inorganic Chemistry, McGraw Hill, New York,
entre os elementos mais leves, mas deve-se frisar que a linha 1976. (Reações redox em solução aquosa)
que separa os metais dos não-metais também é uma linha • Johnson, D.A.; Some Thermodynamic Aspects of Inorganic
diagonal. Chemistry, Cambridge University Press, Cambridge, 1968.
(Energias reticulares e assuntos correlatos)
LEITURAS COMPLEMENTARES • Latimer, W.M.; The Oxidation States of the Elements and Their
Potentials in Aqueous Solution, 2? ed., Prentice Hall, New
Tamanho, energia de ionização, afinidade eletrônica, York, 1952. (Mesmo sendo antigo, foi o principal local de
termodinâmica, ciclo de Born-Haber e eletronegatividade consulta dos dados de potenciais redox, até muito
• Allred, A.L. e Rochow, E.G.; J. Inorg.Nucl. Chem., 5, 264 recentemente)
(1958). (Artigo original sobre a escala de eletronegatividade • Rosotti, H.; The Study of lonic Equilibria in Aqueous Solu­
de Allred e Rochow) tion, Longmans, London, 1978. (Reações redox, solubilidade)
• Allred, A.L.; J. Inorg. Nucl. Chem., 17, 215 (1961). (Mais • Sanderson, R.T.; J. Chem. Ed., 43, 584-586 (1966).
informações sobre os valores de eletronegatividade) (Significado dos potenciais redox)
• Ashcroft, S.J. e Beech, G.; Inorganic Thermodynamics; Van • Sharpe, A.G.; Principies of Oxidation and Reduction,
Nostrand, 1973. Monografia do Royal Institute of Chemistry para professores,
• Bratsch, S.G.; J. Chem. Ed., Parí I: 65, 34-41; Parí II: 65, 223- N.° 2, London, 1981.
226. (Eletronegatividades de Mulliken revisados) • Vincent, A.; Oxidation and Reduction in Inorganic and Ana-
• Blustin, P.H. e Raynes, W.T.; J. Chem. Soc. (Dalton), 1237 lytical Chemistry: A Programmed Introduction, John Wiley,
(1981). (Escala de eletronegatividade considerando as Chichester, 1985.
mudanças de geometria durante a ionização) Abundância e extração dos elementos
• Emeléus, H.J. e Sharpe, H.G.; Modem Aspects of Inorganic • Cox, P.A.; The Elements: Their Origins, Abundance and Dis-
Chemistry, 4? ed., Routledge and Kegan Paul, London, 1973. tribution, Oxford University Press, Oxford, 1989.
(Cap. 5: Estrutura e termodinâmica de moléculas inorgânicas; • Ellingham, H.J.T.; J. Chem. Soc. Ind. Lond., 63, 125 (1944);
Cap. 6: Química inorgânica em meio aquoso) Disc. Faraday Soc., 4,126, 161 (1948). (artigos originais sobre
• Huheey, J.E.; Inorganic Chemistry, Harper and Row, New os diagramas de Ellingham)
York, 1972. (Discussão sobre eletronegatividade) • Fergusson, J.E.; Inorganic Chemistry and the Earth: Chemi­
• Lieberman, J.F.; J. Chem. Ed., 50, 831 (1973). (Entalpias de cal Resources, Their Extractioin, Use and Enviromental Im-
Ionização e afinidades eletrônicas) pact, Pergamon Press, Oxford, 1982. (Série da Pergamon Press
• Mulliken, R.S.; J. Chem. Phys., 2, 782 (1934); 3, 573 (1935). sobre ciência ambiental, vol. 6)
(Escala de eletronegatividade de Mulliken) • Ives, D.J.G.; Principies of the Extraction of Metals, Monografia
• Pauling, L.; The Nature ofthe Chemical Bond, 3? ed., Oxford da Royal Institute of Chemistry para professores, N.° 3, Lon­
University Press, London, 1960. (Um texto clássico, mas don, 1969.
antigo) • Jeffes, J.H.E.; Chemistry in Britain, 5, 189-192 (1969).
• Sanderson, R.T.; J. Chem. Ed., 31, 2 (1945). (artigo original (Metalurgia extrativa)
sobre a escala de eletronegatividade de Sanderson)
• Sanderson, R.T.; Inorg. Chem., 25, 1856-185 (1986). (Efeito PROBLEMAS
do par inerte sobre a eletronegatividade)
1. a) Como varia o tamanho dos átomos da esquerda para a
• Sanderson, R.T.; J. Chem. Ed., Parí I: 65, 112-118; Part II: 65, direita num período e de cima para baixo num grupo da
227-231 (1988). (Fundamentos sobre a eletronegatividade) tabela periódica? Quais são as razões dessas variações?
• Shannon, R.D.; Acta. Cryst., A32, 751-767 (1976). (Valores b) Explique por que os raios atômicos dos gases nobres
mais recentes e aceitos para os raios iônicos) são os menores dentro dos seus respectivos períodos.
• Sharpe, A.G.; InorganicChemistry, Longmans, London, 1981. c) Por que o decréscimo de tamanho entre o Li e o Be é
(Cap. 3: Configurações eletrônicas e algumas propriedades muito maior que o decréscimo entre o Na e o Mg ou entre
dos átomos) o K e o Ca ?
• Zhang, Y.; Inorg. Chem., 21, 3886-3889 (1982). (Eletronega­ 2. Explique o que significa energia de ionização de um
tividade dos elementos em diferentes estados de oxidação) elemento. Como ela varia na tabela periódica, entre o
Potenciais padrão de eletrodo, reações redox hidrogênio e o neônio? Discuta como essa variação pode
• Baes, C.F. e Mesmer, R.E.; The Hydrolysis od Cations, Wiley- ser relacionada à estrutura eletrônica dos átomos.
Interscience, London, 1976. (Completo e inteligível) 3. a) Qual a relação entre tamanho dos átomos e suas energias
• Bard, A.J., Parsons, R. e Jordan, J.; Standard Potentials in de ionização ?
Aqueous Solution, Marcei Dekker, New York, 1985. b) Explique o decréscimo observado na energia de
(Monografia da série sobre Química Eletroanalítica e ionização entre o Be e o B e entre o Mg e o Al.
Eletroquímica, vol. 6. Foi aprovado pela 1UPAC para substituir c) Sugira um motivo para o decréscimo na primeira energia
os valores contidos no livro do Prof. Latimer) de ionização entre o N e o O e entre o P e o S.
• Burgess, J.; lons in Solution, Ellis Horwood, Chichester, 1988. d) Explique por que a primeira energia de ionização diminui
• Fromhold, A.T., Jr.; Theory of Metal Oxidation, North Hol- consideravelmente ao se passar do Na para o K e do Mg
land Publishing Co., Amsterdam and Oxford, 1980. para o Ca, mas não do Al para o Ga.
98 PROPRIEDADES BERAIS DOS ELEMENTOS

e) Explique por que a terceira e a quinta energias de 8. a) Explique por que o Cu+ sofre desproporcionamento er
ionização, respectivamente, do Ca e do Si, são muito solução.
maiores em relação à remoção dos primeiros elétrons. b) Explique por que o potencial padrão de redução d
f) Por que os valores da primeira energia de ionização dos semi-reação Cu2 + —+ Cu é igual a +0,34 V, apesar do
elementos de transição são semelhantes ? potenciais das semi-reações Cu2 + —> Cu + e Cu+ -» Ci
4. a) O que é eletronegatividade e como ela está relacionada serem respectivamente iguais a +0,15 V e +0,50 V.
com o tipo de ligação formada ? 9. Enumere os oito elementos mais abundantes da crost.
b) Discuta os fundamentos das regras de Fajans. terrestre e disponha-os em ordem crescente de abundância
c) Que tipo de ligação existe no HC1, CsCl, NH3, CS2 e 10. Descreva os seguintes processos metalúrgicos: a) Bes
GeBr4? semer, b) BOP, c) Kroll, d) Van Arkel, e) Hall-Héroult» í
5. a) Cite quais são as diferentes escalas de eletronegatividade Parkes.
e descreva resumidamente os fundamentos teóricos em 11. Quais são os elementos que ocorrem no estado nativo ?
que cada uma delas se baseia. 12. Enumere cinco minérios que são aquecidos a fusão par<
b) Dê quatro exemplos que mostram como os valores de se obter os respectivos metais e apresente as equações
eletronegatividade podem ser usados para prever o tipo que mostrem o que ocorre durante esse processo.
de ligação formado num composto. 13. Descreva a obtenção de três elementos diferentes usandc
6. Utilize um ciclo de Born-Haber, modificado adequada­ carbono como agente redutor.
mente para a determinação do potencial de eletrodo, para 14. Desenhe um diagrama de Ellingham para óxidos metálicos
explicar: e explique que informações podem ser obtidas a partindo
a) por que o lítio é um agente redutor tão forte quando o Cs. mesmo. Além disso, explique por que a inclinação da
b) por que o Ag é um metal nobre e o K um metal altamente maioria das linhas é positiva, por que a inclinação varia e
reativo. o que acontece quando uma linha cruza o eixo
7. a) Explique o que são potenciais padrões de eletrodo e correspondente a AG = 0.
como eles estão relacionados com a série eletroquímica. 15. Utilize o diagrama de Ellingham para óxidos e verifique:
b) Explique os fundamentos do método de recuperação a) se o Al consegue reduzir o óxido de crômio
do cobre a partir de suas soluções utilizando raspas de b) a que temperatura o C irá reduzir o óxido de magnésio
ferro.
c) a que temperatura o óxido de mercúrio irá se decompor
c) Como seria possível depositar eletroliticamente os metais em seus elementos.
Cu, Ni e Zn, a partir de uma solução contendo uma mistura
dos sais dos três metais, de modo a se obter os três metais 16. Explique detalhadamente os processos envolvidos na
separadamente? produção do ferro gusa e do aço.
J d) Por que é possível obter o zinco por eletrólise de uma 17. Descreva os métodos de obtenção de dois metais e de dois
solução aquosa, mesmo que os potenciais de eletrodo elementos não-metálicos por eletrólise.
/
sugiram que a água deveria se decompor num potencial 18. Descreva o método de obtenção do magnésio e do bromo
inferior ao necessário para se obter o zinco metálico ? a partir da água do mar.
99

COMPOSTOS
os coonosnoç/io
SAIS DUPLOS E COMPOSTOS DE Cu2+ existe na forma do íon complexo azul-pálido
[Cu(H2O)6]2 + quando em solução aquosa (e também em
COORDENAÇÃO sais cristalinos hidratados). Ao se adicionar uma solução
Compostos de adição são formados quando quantidades aquosa de amônia a essa solução, forma-se o bastante
estequiométricas de dois ou mais compostos estáveis são conhecido íon tetraamincobre(li), azul escuro:
colocados em contato. Por exemplo:
[Cu(H2O)6]2 + + 4NH3 [Cu(H2O)2(NH3)4]2 + + 4H2O
KC1 + MgCl2 + 6H2O -> KC1 • MgCl2 • 6H2O
(carnalita) Observe que essa reação é uma reação de substituição,
K2SO4 + A12(SO4)3 + 24H2O-> K2SO4 A12(SO4)3 -24H2O onde o NH3 substitui a água no íon complexo.
(alúmen de potássio)
CuSO4 + 4NH3 + H2O-> CuSO4 -4NH3 H2O
(sulfato de tetraamincobre(n) O TRABALHO DE WERNER
mono-hidratado) A teoria da coordenação de Werner, de 1893, foi a
Fe(CN)2 + 4KCN -> Fe(CN)2 -4KCN primeira tentativa de explicar a ligação existente em
(ferrocianeto de potássio) complexos de coordenação. Deve-se frisar que essa
engenhosa teoria foi proposta antes da descoberta do elétron
Os compostos de adiçao pertencem a dois grupos:
por J. J. Thompson em 1896, e antes da formulação da teoria
1. Aqueles que perdem sua identidade em solução (sais eletrônica de valência. Essa teoria, e os 20 anos de trabalhos
duplos) árduos de pesquisa associadas a ela, conduziram Alfred
2. Aqueles que mantêm sua identidade em solução Werner ao Prêmio Nobel de Química de 1913.
(complexos). Os complexos devem ter sido um verdadeiro mistério,
Quando cristais de camalita são dissolvidos em água, a sem os conhecimento prévios sobre ligações químicas ou a
solução apresenta as propriedades de uma solução contendo estrutura dos mesmos. Por exemplo, por que um sal estável
íons K+, Mg2+ e Cl". Analogamente, uma solução de alúmen como o CoCl3 reagiría com um número variável de moléculas
de potássio apresenta as propriedades de uma solução estáveis de um composto como o NH3, para formar diversos
contendo os íons K + , Al3+ e SO42’. Ambos são exemplos de compostos novos: CoCl3 ■ 6NH3, CoCl3 ■ 5NH3 e CoCl3 • 4NH3?
sais duplos, que só existem no estado cristalino. Quais seriam suas estruturas? Na época de Werner a difração
Quando os dois outros exemplos, desta feita de com- de raios X, o mais poderoso método para se determinar a
pos-tos de coordenação, são dissolvidos em água, eles não estrutura de cristais, ainda não tinha sido descoberto. Werner
formam os íons simples que os compõem, ou seja, Cu2+ ou não tinha à sua disposição nenhuma das modernas técnicas
Fe2 + e CN~. Em contraste, seus íons complexos mantêm a instrumentais, de modo que todos os seus estudos foram
integridade. Assim, os íons [Cu(H2O)2(NH3)4]2+ e realizados mediante a interpretação de simples reações
[Fe(CN)6]4', existem como entidades distintas, tanto no químicas. Werner foi capaz de explicara natureza das ligações
estado sólido como em solução. Os íons complexos são nos complexos, e concluiu que nesses compostos o metal
indicados através do uso de colchetes e os compostos apresenta dois tipos de valência:
contendo esses íons são designados compostos de coorde­ 1. Valências primárias. São não direcionais. Uma
nação. A química dos íons metálicos em solução é essen­ explicação moderna seria a que segue. O complexo
cialmente a química de seus complexos. Em particular, os geralmente existe na forma de um íon positivo. A
íons dos metais de transição formam muitos complexos valência primária é o número de cargas no íon
estáveis. Em solução, os íons metálicos "livres” são coor­ complexo. Essa carga deve ser compensada por um
denados pela água ou por outros ligantes. Por exemplo, o número igual de cargas provenientes de íons negativos.
1OO COMPOSTOS OE COORDENAÇÃO

A valência primária é igualmente aplicável a sais simples


e a complexos. Assim, no CoCl2 (Co2 + + 2C1') há duas Tabela 7.1 — Fórmulas de alguns complexos de cobalto
valências primárias, isto é, duas ligações iônicas. Por
outro lado, o complexo [Co(NH3)6]C13 é constituído Antiga Nova
pelos íons (Co(NH3)6]3+ e 30". Portanto, a valência
CoCl3 • 6NH3 [Co(NH3)6]* 3cr
primária é 3 e três ligações iônicas são formadas.
CoCI3 • 5NH3 [Co(NH3)5]C12* 2cr
2. Valências secundárias. São direcionais. Utilizando uma CoC13 • 4NH3 [Co(NH3)4C12]+ cr
linguagem mais atual, pode-se dizer que o número de
valências secundárias é igual ao número de átomos
ligantes coordenados ao metal. Atualmente esse número
Wemer deduziu ainda que a perda de um NH3 pe’
é denominado número de coordenação. Os ligantes são
CoC13 -6NH3 deveria levar à formação de CoC13 SNH3, z
geralmente íons negativos como Cl", ou moléculas
mesmo tempo em que um Cl- passa a ocupar uma da
neutras como NH3. Ligantes carregados positivamente,
valências secundárias. Portanto, esse complexo tem dua
como N0 + , são mais raros. Cada metal possui um
valências primárias e seis valências secundárias. Er
número característico de valências secundárias. Por
linguagem moderna, o complexo [Co(NH3)sCl]Cl2 seionáz
exemplo, no [Co(NH3)6)Cl3, os três íons Cl" estão ligados
para formar o íon (Co(NH3)5C1)2+ e dois íons Cl'. Soment
por meio das valências primárias, enquanto que os seis
dois dos três íons cloreto são iônicos e podem ser precipitado
grupos NH3 estão ligados por meio das valências
na forma de AgCl pelo AgNO3. Logo, cinco NH3 e um C
secundárias.
formam ligações coordenadas com o Co3 +, produzindo mr
As valências secundárias são direcionais, de modo que íon complexo (Fig. 7.1b).
um íon complexo tem uma forma característica. Por exemplo,
o íon complexo [Co(NH3)6]3+ tem estrutura octaédrica. De modo semelhante, no CoCl3 • 4NH3, Wemer deduzr
que um Cl- satisfaz a única valência primária, e que há sei
Wemer deduziu a forma de muitos complexos. Ele conseguiu
valências secundárias, ocupadas por dois Cl- e quatro NH.
isso preparando tantos complexos isoméricos diferentes
Em linguagem moderna, o complexo (Co(NH3)4CI2]Cl s-
quantos possíveis, de um sistema. Em seguida, o número
dissocia formando os íons [Co(NH3)4Cl2]+ e C1-. Assiim
de isômeros formados foi comparado com o número de
somente um Cl- pode ser precipitado como AgCl. 0 númer
isômeros previstos para as diferentes formas geométricas. O
de coordenação do Co3 + continua sendo 6: neste caso, quatr:
número de coordenação mais comum em complexos de
NH3 e dois Cl- formam ligações coordenadas com o Co34. t
metais de transição é 6, e a forma é geralmente octaédrica.
forma antiga e a moderna de se representar as fórmula
O número de coordenação 4 também é bastante comum,
desses complexos são mostradas na Tab. 7.1.
dando origem a complexos tetraédricos ou quadrados
planares. Werner estabeleceu que nesses complexos o númer
de valências secundárias (isto é, o número de coordenação
Werner tratou soluções resfriadas de uma série de
é igual a 6. Em seguida, ele tentou determinar as estrutura
compostos de coordenação com um excesso de nitrato de
dos complexos. Seis grupos podem ser arranjados em toim
prata, e determinou a massa de cloreto de prata precipitado.
de um dado átomo de três maneiras diferentes, formand:
As seguintes estequiometrias foram encontradas para a
um hexágono plano, um prisma trigonal ou um octaedr
reação, considerando-se o complexo e o AgCl formado:
(Fig. 7.2). Então, Werner comparou o número de isômerc
CoCl3 ■ 6NH3 -> 3AgCl distintos obtidos experimentalmente com o número teor
CoCl3 ■ 5NH3 -> 2AgCl camente previsto para cada uma dessas formas (Tab. 7.2)
CoCl3 • 4NH3 -4 lAgCl Esses resultados sugeriram fortemente que os complexo
em questão tinham uma forma octaédrica. A prova não et
Wemer deduziu que, no CoC13.6NH3, os três cloretos uma prova irrefutável, pois havia a possibilidade de nâ
estão ligados por valências primárias e os seis NH3 terem sido encontradas as condições experimentais adeqm
completam as valências secundárias. Esse complexo seria das para se obter todos os isômeros possíveis. Mais recenn
atualmente representado como [Co(NH3)6]Cl3. Os três Cl" mente, suas estruturas foram examinadas com o auxílio* d
são iônicos e, portanto, são precipitados como AgCl quando método de difração de raios X. Dessa forma, foi confirmad
tratados com AgNO3. Os seis ligantes NH3 formam ligações que esses complexos são realmente octaédricos (Fig. 7.3)
coordenadas com o Co3 + , gerando o íon complexo
[Co(NH3)6]3 + (Fig. 7.1a).

a) b)
NHj NH, 2+

H,N NHj HjN Cl


3cr 2cr
rCfT
HjN TNHj
NHj HjN
NHj
NH, Hexágono plano prisma trigonal Octaedro

Figura 7.2 — Formas geométricas possíveis para o número de


Figura 7.1 — Estruturas de a) [Co(NH3)6]Cl3 e b) [Co(NH3)sCl]Cl2 coordenação seis
MÉTODOS MAIS RECENTES PARA O ESTUDO DE COMPLEXOS 1O1

Tabela 7.2 — Números de isômeros previstos e realmente Cl NH3 Cl nh3


obtidos
Pt Pt
Complexo Observado _____________Previstos
Octaédrico Hexágono Prisma Cl NH3 nh3 Cl
plano trigonal
cis trans
[MXJ 1 1 1 1
Figura 7.5 — Isometria óptica em complexos quadrado-planares
[MX5Y] 1 1 1 1
[MX^] 2 2 3 3
[MX3Y3] 2 2 3 3 MÉTODOS MAIS RECENTES PARA O
ESTUDO DE COMPLEXOS
A condutividade elétrica de uma solução de um mate­
rial iônico depende:
MX« Somente uma forma 1. da concentração do soluto
p.ex.
ICo"'(NH3lel3* 2. das cargas das espécies que se formam em solução.
IFe'"(CN)6|r
As condutividades molares se referem a uma solução 1
M e, com isto, o fator concentração é normalizado. As cargas
MX,y
p.ex.
Somente3 uma forma,
nas espécies formadas quando o complexo é dissolvido,
tPllv(NH3>5Cll3'*' >eis vértices
pois os sei podem ser deduzidas comparando-se a condutividade mo­
ICo'"<NH3)5CI12* são equiví/alentes
lar da solução com a condutividade molar de materiais
iônicos conhecidos (Tab. 7.3). Essas condutividades sugerem,
para os complexos constituídos pelos íon cobalto/amônia/
mx4y2 Dois isômeros cloreto mencionados anteriormente, as mesmas estruturas
p.ex. Cis eTrans
deduzidas por Werner, a partir das determinações das massas
IPtIV(NH3>4CI2)2+
ICo"'lNH3UCI2r de AgCl formadas, mostradas na Tab. 7.4.
IPtIV(NH3)2CI4l O ponto de fusão de um líquido é diminuído quando se
dissolve uma substância química no mesmo. As medidas
MX1Y3
/ Dois isômeros crioscópicas consistem na determinação do grau de
eg. M y Fac(facial)
IPt^INHghCljl* X' Mer(meridional) abaixamento do ponto de fusão. Este, por sua vez, depende
ICotNHjljCy
4= MVer do número de partículas formadas em solução. As medidas
crioscópicas podem ser usadas para verificar se uma dada
Figura 7 3 — Isômeros em complexos octaédricos substância sofre dissociação e qual é o número de íons

Já foram isolados os dois isômeros ópticos possíveis Tabela 73 — Condutividade de sais e complexos
(Fig. 7.4) dos complexos metálicos obtidos com ligantes (condutividades molares medidas em concentração de 0,001 M)
bidentados como a etilenodiamina (1,2-diaminoetano).
ohm"1
Werner estudou uma série de complexos, que incluíam cm2 mol'1
[Ptn(NH3)2Cl2] e [Pdn(NH3)2Cl2]. O número de coordenação
é 4, e a forma poderia ser tetraédrica ou quadrado-planar. LiCl -»Li+cr (total de 2 cargas) 112,0
Werner obteve dois isômeros diferentes para esses com­ CaCl2 -> Ca2* 2Cr (total de 4 cargas) 260,8
plexos. Se os complexos fossem tetraédricos não deveríam CoCl3 • 5NH3 261,3
haver isômeros, mas se fossem quadrado-planares poderíam CoBr3 • 5NH3 257,6
existir na forma de dois isômeros. Assim, provou-se que
esses complexos são quadrado-planares e não tetraédricos
LaCl3 -> L 3cr (total de 6 cargas) 393,5
CoCl3 • 6NH3 431,6
(Fig. 7.5).
CoBr3 ■ 6NH3 426,9

Tabela 73 — Número de cargas relacionadas às estruturas


Míenla^^Z| de Werner e a formulação completa

Cargas Valência Valência


primária, secundária
cloros
Forma d Forma I ionizáveis

Plano do
espelho [Co(nh3]3+ 3cr 6 3 6NH3 =6
[Co(nh3)5ci2+ 2cr 4 2 5NH3 + icr =6
[Co(NH3)4Cl2r cr 2 1 4NH3 + 2Cr =6
Figura 7.4 — Isometria óptica em complexos octaédricos
ias COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO

possível distinguir complexos tetras


Tabela 7.5 — Estabelecendo a estrutura de complexos
dricos de octaédricos e verificar se h
Fórmula ou não uma distorção estrutural nc
Medidas Condutividade Estrutura
crioscópicas molar mesmos.
Porém, o método mais poderoso
CoCl3 ■ 6NH3 4 partículas 6 cargas [Co(nh3)6]3+ 3cr a técnica de difração de raios X, qu
CoCl3 • 5NH3 3 partículas 4 cargas [Co(nh3)5ci]2+ 2cr permite a determinação da estrutur
CoC13 ■ 4NH3 2 partículas 2 cargas [Co(nh3)4ci2]+ cr cristalina dos compostos. Essa técmic
CoC13 • 3NH3 1 partícula sem carga [Co(NH3)3C13] fornece informações precisas sobne
Co(NO2)3 ■ KNO2 • 2NH3 2 partículas 2 cargas K+ [Co(NH3)2(NO2)4]- estrutura das moléculas, ou seja, sobr
Co(NO2)3 ■ 2KNO2 • NH3 3 partículas 4 cargas 2K+ [Co(NH3)(NO2)5]2" os comprimentos das ligações e o
Co(NO2)3 ■ 3KNO2 4 partículas 6 cargas 3K+ [Co(NO2)6]3- ângulos formados pelos átomos.

formado. Se a molécula se dissociar em dois íons, o NÚMEROS ATÔMICOS EFETIVOS


decréscimo observado será igual ao dobro do esperado para
o decréscimo provocado pela molécula não dissociada. Caso Atualmente, o número de valências secundárias d
três íons sejam formados, a diminuição da temperatura de teoria de Werner é denominado número de coordenação d
fusão será três vezes maior que o previsto e assim por diante. átomo metálico central no complexo. Ele corresponde a
Logo: número de átomos ligados diretamente ao íon metálico cer
trai. Cada ligante doa um par de elétrons ao íon metálicc
LiCl —> Li+ + cr (2 partículas) [2 cargas) formando uma ligação coordenada. Os metais de transiçã
MgCl2 -> Mg2 + 2cr (3 partículas) (4 cargas) formam compostos de coordenação com facilidade, porqu
LaCl3 -> La3+ + 3C1* (4 partículas) (6 cargas) eles apresentam orbitais d não totalmente preenchidos, qu
podem acomodar esses pares de elétrons. É sabido qu e
O número de partículas formadas a partir de uma molé­ configuração eletrônica dos gases nobres é muito estáve
cula do complexo determina a magnitude do abaixamento Sidgwick sugeriu por meio de sua regra do número atômic
do ponto de fusão. Observe que o número de partículas efetivo, que os pares de elétrons dos ligantes são adicionado
formado pode ser diferente do número total de cargas ao metal central até que este esteja rodeado por um núm.er
determinadas a partir de medidas de condutividade. Os dois de elétrons equivalente ao do gás nobre mais próximc
tipos de informações podem ser usados em conjunto para Considere o hexacianoferrato(II) de potássio, K4[Fe(CN).
se determinar a estrutura (Tab. 7.5). (anteriormente era denominado ferrocianeto de potássio.
O momento magnético pode ser determinado experi­ Um átomo de ferro possui 26 elétrons e, portanto, o to
mentalmente (vide Capítulo 18 - Propriedades magnéticas). Fe2+ possui 24 elétrons. O gás nobre mais próximo Krposst
Essa medida fornece informações sobre o número de elétrons 36 elétrons. A adição de seis pares de elétrons de seis ligante
com spins desemparelhados presentes no complexo. Tendo- CN~ totalizam 12 elétrons, aumentando o número atômic
se essa informação, é possível inferir como os elétrons estão efetivo do Fe2+ no complexo [Fe(CN)6]4’para 36.
arranjados e quais são os orbitais ocupados. Às vezes, é
possível deduzir a estrutura do complexo apenas conhe­ [24 + (6x2)- 36]
cendo-se seu momento magnético. Por exemplo, o composto
A Tab. 7.6 traz outros exemplos.
Nin(NH3)4(NO3)2-2H2O deve conter quatro moléculas de
amônia coordenadas ao Ni, formando o íon complexo
quadrado-planar [Ni(NH3)4]2 + com duas moléculas de água Tabela 7.6 — Números atômicos efetivos de alguns metais
de cristalização. Esse complexo não deve ter elétrons em complexos
desemparelhados. Por outro lado, as moléculas de água
podem estar coordenadas ao metal, formando o íon complexo Átomo Número Complexo Elétrons Elétrons NAE
octaédrico [Ni(H2O)2(NH3)4]2 + , com dois elétrons desem­ atômico perdidos ganhos
na forma- por coor-
parelhados. Ambos os íons complexos existem de fato e suas
ção do íon denação
estruturas podem ser deduzidas a partir de suas propriedades
magnéticas. Cr 24 [Cr(CO)6] 0 12 36
Os valores dos momentos dipolares também podem Fe 26 [Fe(CN)6]4- 2 12 36
fornecer informações sobre a estrutura, mas somente no caso Fe 26 [Fe(CO)s] 0 10 36
Co (Kr
de complexos não-iônicos. Por exemplo, o complexo 27 [Co(NH3)6]34" 3 12 36
[Pt(NH3)2Cl2] é quadrado planar e pode existir nas formas Ni 28 [Ni(CO)4] 0 8 36
Cu 29 [Cu(CN)4]3- 1 8 36
cis e trans. Os momentos dipolares das várias ligações metal-
Pd 46 [Pd(NH3)6]4+ 4 12 54 (Xet
ligante se cancelam no caso do isômero trans. Contudo, o
Pt 78 [PtCl6]2- 4 12 86 (Rn,
isômero cis apresenta um momento magnético diferente de
zero. Fe 26 [Fe(CN)6]3- 3 12 35
Os espectros eletrônicos (UV e visível) também Ni 28 [Ni(NH3)6]2+ 2 12 38
Pd 46 [PdCl4]2- 2 8 52
fornecem informações valiosas sobre a energia dos orbitais
Pt 78 [Pt(NH3)4]2+ 2 8 84
e a estrutura do complexo. Assim, por meio dessa técnica é
TEORIA DA LIBAÇAO DE VALÊNCIA 103

A regra do número atômico efetivo (NAE) prevê se deduzir a forma e a estabilidade do complexo. Essa teoria
corretamente o número de ligantes em muitos complexos. apresenta duas limitações principais. A maioria dos
Há, porém, um número significativo de exceções em que o complexos dos metais de transição são coloridos, mas a teoria
NAE não é equivalente ao número de elétrons de um gás não fornece nenhuma explicação para seus espectros
nobre. Por exemplo, se o íon metálico tiver um número ímpar eletrônicos. Além disso, a teoria não explica porque as
de elétrons, a adição de pares de elétrons não resulta na propriedades magnéticas variam em função da temperatura.
estrutura eletrônica de um gás nobre. Portanto, pode-se inferir Por isso, foi substituída pela teoria do campo cristalino.
que a tendência de se alcançar a estrutura estável de um gás Contudo, continua interessante para fins de estudo, pois
nobre é um fator importante, mas não uma condição mostra a sequência do desenvolvimento das idéias até se
necessária para a formação dos complexos. Também é chegar a teoria atual, a partir da teoria de Werner.
necessária a formação de uma estrutura simétrica
(tetraédrica, quadrado planar, octaédrica), qualquer que seja A teoria do campo cristalino
o número de elétrons envolvidos.
Essa teoria foi proposta por Bethe e van Vleck. A força
de atração entre o metal central e os ligantes do complexo é
FORMAS DOS ORBITAIS d considerada como sendo de natureza puramente eletros-
Como os orbitais d são geralmente utilizados para a tática. Assim, as ligações nos complexos podem ser
formação das ligações em compostos de coordenação, é consideradas como sendo devido a atrações do tipo íon-íon
importante estudar suas formas e suas orientações no espaço. (entre íons positivos e negativos tais como Co3 + e Cl-).
Os cinco orbitais d não são idênticos e podem ser divididos Alternativamente, as atrações íon-dipolo podem dar origem
em dois grupos. Os três orbitais t2g possuem formas idênticas às ligações (se o ligante for uma molécula neutra como NH3
e seus lóbulos se situam entre os eixos x, y e z. Os dois ou CO). O NH3 tem um momento dipolar com uma carga d'
orbitais eg possuem formas diferentes e seus lóbulos se situam localizado no nitrogênio e uma carga S+ nos hidrogênios.
sobre os eixos do sistema de coordenadas cartesianas(Fig. Assim, no [Co(NH3)6]3 + a carga 8“ do átomo de nitrogênio
7.6). As denominações alternativas para t2g e são de e dg, de cada NH3 está apontado em direção ao Co3 +. A teoria é
respectivamente. bastante simples e tem sido utilizada com bastante êxito na
explicação dos espectros eletrônicos e das propriedades
magnéticas dos complexos dos metais de transição, parti­
LIGAÇÕES EM COMPLEXOS DE METAIS DE cularmente quando as interações covalentes entre o metal e
TRANSIÇÃO o ligante são consideradas. A teoria do campo cristalino
Há três teorias que explicam as ligações entre o metal e modificada para conter as contribuições covalentes é
os ligantes nos complexos, todas formuladas na década de denominada teoria do campo ligante. São possíveis três tipos
1930. de interações: interação a, n ou drc - pn (retrodoação). Essa
última decorre da interação n de orbitais d preenchidos do
metal com orbitais p vazios dos ligantes.
Teoria da ligaçao de valência
Essa teoria foi desenvolvida por Pauling. Os compostos Teoria dos orbitais moleculares
de coordenação contêm íons complexos, nos quais os ligantes
formam ligações coordenadas com o metal. Assim, o ligante São integralmente consideradas nessa teoria tanto as
deve ter um par de elétrons livres e o metal um orbital vazio contribuições covalentes como as iônicas.
de energia adequada para formar a ligação. A teoria permite Embora essa teoria, provavelmente, seja a melhor para
determinar quais são os orbitais atômicos do metal que são tratar a ligação química, ela não substituiu totalmente as
utilizados para formar as ligações. A partir desse dado, pode- outras teorias. Isso porque os cálculos quantitativos
envolvidos são difíceis e demorados, implicando no uso de
computadores por tempos muito prolongados. Além disso,
uma descrição qualitativa quase completa das moléculas
pode ser obtida por outros meios, que se valem da simetria
Orbitais
e da teoria de grupos.
t2o <
(de) TEORIA DA LIGAÇÃO DE VALÊNCIA
A formação de um complexo pode ser considerada como
sendo constituída por uma série de etapas hipotéticas.
Inicialmente seleciona-se o íon metálico apropriado, por
Orbitais
exemplo Co3 + . A configuração eletrônica de valência do
átomo de Co é 3d7 4S2. Assim, o íon Co3+ terá configuração
e» <
(dy) 3d6, e os elétrons estarão arranjados como se segue:

dX2-y2 d,2
camada
interna 4s 4p 4d

Figura 7.6 — Fôrmas dos orbitais d


cheia mu it it it i rm i i i i i i
104 COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO

Se esse íon formar um complexo com seis ligantes, serão camada


necessários seis orbitais atômicos vazios do íon metálico interna 3d 4s 4p
cheia
para receber os pares de elétrons livres dos ligantes. Os
orbitais a serem utilizados são o 4s, três orbitais 4p e dois
|n|n|t |t |n|[n]|t;|?l| |[ | I I |
orbitais 4d. Eles são combinados para formar um conjunto (hibridização dsp2)
forma quadrado-planar
de seis orbitais híbridos, sp3d2, equivalentes. Um orbital do
ligante contendo um par de elétrons livres forma uma ligação A teoria não explica a cor nem os espectros dc
coordenada pela interação com um orbital híbrido vazio do complexos. A teoria permite prever o número de elétnor
íon metálico. Forma-se dessa maneira uma ligação s com desemparelhados e, portanto, permite calcular o momeni
cada um dos ligante. Os orbitais d empregados para formar magnético (vide Capítulo 18). Contudo, a teoria nãoexplic
essas ligações são os orbitais 4dx2_y2 e 4dz2. Nos diagramas a porque o momento magnético varia com a temperatura.
seguir, os pares de elétrons provenientes dos ligantes são
representados por ti: TEORIA DO CAMPO CRISTALINO
camada
A teoria do campo cristalino é hoje muito mais aceit
b?te.rna 3d________ 4p______________ 4d________ que a teoria da ligação de valência. Ela supõe que a atraçã
|u|t |t|t |?~| [u] |u|n|n| |u|u| | | ~| entre o metal central e os ligantes num complexo é purameint
eletrostática. O metal de transição, ou seja o átomo centra
I____ I
(hibridização sp3 d2} do complexo, é considerado como sendo um íon positiiv,
forma octaédrica
complexo de orbitais externos com carga igual ao seu estado de oxidação. Este é rodead'
complexo de spin alto por ligantes negativamente carregados ou moléculas neutra
possuindo pares de elétrons livres. Se o ligante for um.
Como são usados orbitais 4d externos este é deno­
molécula neutra, tal como NH3, a extremidade negativa d:
minado complexo de esfera externa. A energia desses orbitais
dipolo elétrico da molécula se aproximará do íon metálico
é relativamente elevada e o complexo deve ser reativo ou
Os elétrons do átomo central estão sob a ação de força
lábil. O momento magnético depende do número de elétrons
repulsivas provocadas pelos elétrons dos ligantes. Portan to
desemparelhados. Os orbitais 3d contêm o número máximo
de elétrons desemparelhados para uma configuração d6 e os elétrons ocupam os orbitais d que se encontram o mai
são denominados complexos de alto-spin. Outra alternativa afastados possíveis da direção de aproximação dos ligantes
possível é arranjar os elétrons do íon metálico como mostrado Na teoria do campo cristalino são feitas as seguinte;
abaixo. Analogamente ao caso anterior, os pares de elétrons suposições.
livres do ligante são representados por ti: 1. Os ligantes são tratados como cargas pontuais.
2. Não há interação entre os orbitais do metal e o dlos
camada ligantes.
interna 3d 4s 4p 4d
cheia 3. Todos os orbitais d do metal, no íon livre, têm a mesma
|u|u|n|u|?í| [u |u|u|u| | | | | | ~| energia (isto é, são degenerados). Contudo, os ligantes
(hibridização sp3 d2) removem o caráter degenerado desses orbitais quanric
forma octaédrica o complexo é formado, isto é, os orbitais passam a tei
complexo de orbitais internos
complexo de spin baixo energias diferentes. Num íon metálico gasoso isolado
os cinco orbitais d têm a mesma energia, e são ditos
Visto que nesse caso orbitais d internos de baixa energia degenerados. Se um campo de cargas negativas, de
são utilizados para formar as ligações, o complexo é deno­ simetria esférica, envolver o íon metálico, os orbitais d
minado complexo de esfera interna. Complexos desse tipo permanecerão degenerados. No entanto, a energia d>o=
são mais estáveis que os complexos de esfera externa. Os orbitais é aumentada por causa da repulsão entre c
elétrons desemparelhados do íon metálico foram forçados a campo e os elétrons no metal. Na maioria dos complexos
se emparelhar e portanto esse é um complexo de spin baixo. dos metais de transição há seis ou quatro ligantes ligados
Nesse caso em particular, todos os elétrons estarão empa­ ao metal, formando estruturas octaédricas oc
relhados e o complexo será diamagnético.
tetraédricas. Em ambos os casos, o campo produzide
O íon metálico também podería formar complexos com pelos ligantes não é esfericamente simétrico. Assim, ns
número de coordenação quatro. Nesse caso, são possíveis orbitais d não são todos afetados igualmente pelo campe
dois arranjos diferentes, como mostrado abaixo. Deve-se ligante.
lembrar que, na realidade, orbitais híbridos não existem. A
hibridização consiste numa operação matemática com as
equações de onda correspondentes aos orbitais atômicos COMPLEXOS OCTAÉDRICOS
envolvidos nas ligações. Num complexo octaédrico, o metal se situa no centro s
os ligantes nos seis vértices de um octaedro. Os eixos x,y ■
camada z apontam para três vértices adjacentes do octaedro, come
interna 3d 4s 4p ________ 4d
cheia
mostrado na Fig. 7.7.
|u|t |t |t |t | [ü | | | | | | Os lóbulos dos orbitais eg (dx2_y2 e úz2) se situam
——— I
i hibridização sp3) longo dos eixos x,yez. Os lóbulos dos orbitais t2g (dxy, dtu
orma tetraédnca e dyj se situam entre os eixos do sistema de coordenada.
COMPLEXOS OCTAÉDRICOS 105

eQ

Energia
+°j6A° Aç
Nível médio
- - de energia
t
-0,4Aq
(baricentro)

f2g

Energia média íon do metal


Figura 7.7 — Os eixos cartesianos num complexo octaédrico do íon metálico num campo
num campo octaédrico
cartesianas octogonais. Logo, pode-se inferir que a apro­ esférico
ximação de seis ligantes, segundo as direções x, y, z, -x, -y
e —z, aumentará muito mais a energia dos orbitais dx2_y2 e Figura 7.9 — Diagrama dos níveis de energia dos orbitais d num
dZ2 (que se situam ao longo dos eixos) que a energia dos campo octaédrico
orbitais d^, da e dyz (que se situam entre os eixos). Portanto,
sob a influência de um campo ligante octaédrico, os orbitais O espectro eletrônico do [Ti(H2O)6]3 + é mostrado na
d se dividem em dois grupos com energias distintas (Fig. Fig. 7.11. A parte da curva com uma inclinação mais
7.8). acentuada, entre 27.000 e 30.000 cm’1 (na região do UV), se
deve a transições de transferência de carga. A transição d-d
Em vez de tomar como referência o nível energético de corresponde à banda larga com máximo em 20.300 cm'1.
um átomo metálico isolado, toma-se como sendo o zero de Como 1 kJ mol-1 corresponde a 83,7 cm'1, o valor de A,?
energia a média ponderada desses dois conjuntos de orbitais para [Ti(H2O)]3 + é igual a 20.300/83,7 = 243 kJ mol'1. Esse
perturbados, ou seja o baricentro do sistema. A diferença de é um valor muito semelhante à energia de uma ligação
energia entre os dois conjuntos de orbitais d é representada simples normal (vide Apêndice F).
pelos símbolos Ao ou 10 Dq. Assim, os orbitais eg tem uma
energia equivalente a + 0,6 A<, acima da média de energia, e
os orbitais t2g possuem uma energia igual a -0,4 Ao abaixo
da média (Fig. 7.9).
A magnitude da diferença de energia Ao entre os níveis
t2g e eg pode ser facilmente medida registrando-se o espectro
UV-visível do complexo. Considere um complexo como o
[Ti (H2O) 6]3 +. O íon Ti3 + possui um elétron d. No complexo,
esse elétron ocupará o orbital de menor energia, isto é, um
dos orbitais t2g (Fig. 7.10a). O complexo absorve luz de
comprimento de onda (energia) adequado para promover
esse elétron do nível t2g para o nível eg (Fig. 7.10b).
Figura 7.10 — Configuração d‘: a) estado fundamental; b) estado
excitado

Comprimento de onda(Ã)
Energia Orbitais d são
3000 4000 6000 7000
desdobrados 10
em dois
grupos

o
E
ro

i
-Q
5

íon metálico livre íon do metal


(cinco orbitais d num campo o
degenerados) octaédrico 30.000 20.000 10.000

Freqüência (cm'1)
Figura 7.8 — Desdobramento do campo cristalino em níveis de
energia, num campo octaédrico Figura 7.11 — Espectro de absorção ultravioleta e visível [Ti(H2O)&]3^
106 COMPOSTOS DE □□□RDENAÇÁD

A série espectroquímica é uma série determina


Tabela 7.7 — Cores absorvidas e cores complementares
experimentalmente. É difícil explicar a ordem observar
Cor absorvida Cor observada Número de onda
pois ela incorpora tanto os efeitos o como tt. A seqüêrt
observado (cm-1)
dos haletos é a esperada, levando-se em consideração
efeitos eletrostáticos. Em outros casos, é necessá
Amarelo—verde Vermelho—violeta 24.000—26.000 considerar as interações covalentes para explicar a seqüê nt
Amarelo Anil 23.000—24.000 O poder doador a cresce na seguinte ordem:
Laranja Azul 21.000—23.000
Vermelho Azul—verde 20.000—21.000
haletos < doadores O < doadores N < doadores C
Púrpura Verde 18.000—20.000
O desdobramento do campo cristalino provocado p<
Vermelho—violeta Amarelo—verde 17.300— 18.000
Anil
ligante de campo forte CN" é mais ou menos o dobro daqu
Amarelo 16.400—17.300
Azul Laranja
observado para ligantes de campo fraco, como os haleti
15.300— 16.400
Azul—verde Vermelho 12.800—15.300
Esse fato é atribuído à formação de ligações tt, em que
metal interage com o orbital vazio do ligante, utilizanddos
orbitais t2g preenchidos. Analogamente, muitos ouu
ligantes insaturados, tendo N e C como átomos doador
O método acima descrito é o mais conveniente para se também podem atuar como receptores p.
medir os valores de Ao. Contudo, os valores de Ao também
A magnitude de Ao tende a aumentar em função:
podem ser obtidos a partir das energias reticulares, sejam
aumento da carga do íon. Para os metais da primeira sé
experimentais ou calculados usando a equação de Born-
de transição, os valores de Ao para complexos de M3’ s
Landé (vide Capítulo 3).
cerca de 50 % maiores que os valores encontrados para
Soluções contendo o íon Ti3+ hidratado são de coloração complexos de M2+ (Tab. 7.9).
vermelho-violeta. Isso decorre da absorção de luz amarela e
O valor de Ao também aumenta em cerca de 30 % en
verde pelo complexo, levando à promoção de um elétron do
membros adjacentes num grupo de metais de transição JT;
nível t2g para o eg. Assim, a luz transmitida tem a coloração
7.10). Foi mostrado acima que a energia de estabilização
vermelho-violeta complementar (Tab. 7.7).
campo cristalino no [Ti(H2O)s]3 + , que tem configuraçãoi
Por causa do desdobramento dos orbitais d no campo é igual a -0,4 Ao. Logo, complexos contendo um metal a
cristalino, o elétron isolado do [Ti(H2O)6]3 + ocupa um nível configuração d2 terão uma EECC de 2 x -0,4 Ao = -0,8;
energético situado 2/5 Ao abaixo da energia média dos Nesse caso os dois elétrons ocupam dois dos orbitais t2K (:
orbitais d. Como consequência, o complexo será mais estável. acordo com a regra de Hund que estabelece que o arrar
Nesse caso, a energia de estabilização do campo cristalino com o número máximo de elétrons desemparelhados; é
(EECC) é igual a 2/5 x 243 = 97 kJ mor1. mais estável). Complexos com íon metálicos cc
A magnitude de Ao depende de três fatores: configuração d3 apresentam uma EECC de 3 x -0,4 A.,
1. Da natureza dos ligantes. -1,2 Ao.
2. Da carga do íon metálico. Espera-se que complexos de íons metálicos «
3.
configuração d4 tenham uma configuração eletrônica t
Do fato do metal pertencer à primeira, segunda ou
terceira série de metais de transição. concordância com a regra de Hund (Fig. 7.12a), ouse
com quatro elétrons desemparelhados. Nesse caso, os valo:
Analisando-se os espectros de uma série de complexos de EECC serão iguais a (3 x -0,4 Ao) + (0,6 AJ = -0,6.
do mesmo metal com diferentes ligantes, verificou-se que a Um arranjo eletrônico alternativo, que não segue a regra
posição da banda de absorção (e, portanto, o valor de Ao) Hund, é mostrado na Fig. 7.12b. Nesse arranjo apenas dc
varia em função dos ligantes a ele coordenados (Tab. 7.8). elétrons estão desemparelhados, e a EECC é iguala (4
Os ligantes que provocam apenas um pequeno grau de -0,4 Ao) = -1,6 Ao. Nota-se que a EECC é maior quie
desdobramento do campo cristalino são designados ligantes caso anterior. Contudo, é necessário considerar a energi;
de campo fraco. Ligantes que provocam um grande necessária para emparelhar os elétrons, de modo que
desdobramento são denominados ligantes de campo forte. energia de estabilização total será igual a -1,6 Ao + P. Ess
A maioria dos valores de A se encontra na faixa de 7.000 a dois arranjos diferem no número de elétrons desei
30.000 cm’1. Os ligantes mais comuns podem ser dispostos parelhados. Aquele com o maior número de elétro
em ordem crescente em relação ao grau de desdobramento desemparelhados é denominado configuração de “spin altt
do campo cristalino A. A seqüência permanece praticamente
constante para os diversos metais e é denominada série Tabela 7.8 — Desdobramento do campo cristalino por mi
espectroquímica (vide leituras complementares: Tsuchida, ligantes
1938, e Jõrgensen, 1962). Complexo _____ Pico de absorção_____
Série espectroquímica (cm-1) (kJ mol’1)
ligantes de campo fraco
[Cr1,,CI6]3- 13.640 163
r < Br’ < S2’ ' < cr < NO3- < r < OH- < EtOH < [Cr^HzO),;]3* 17.830 213
oxalato < H2O < EDTA < (NH3 e piridina) < etilenodiamina < [CrII1(NH3)6]3+ 21.680 259
bipiridina < o-fenantrolina < NO2’ < CN’ < CO [Cr^CNjJ3- 314
ligantes de campo forte 26.280
EFEITOS □□ DESDOBRAMENTO DD CAMPO CRISTALINO 107

Argumentos semelhantes se apli­


Tabela 7.9 — Desdobramento do campo cristalino para hexaaqua complexos de M2*
cam a complexos de íons metálicos com
eM3*
configurações d5, d6 e d7, de spin alto e
spin baixo. Essas informações se en­
Estado
de Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu contram sumarizadas na Tab. 7.12.
oxidação
EFEITOS DO
(+11) Configuração d2 d2 d4 d5 d6 d2 d> d9
eletrônica DESDOBRAMENTO DO
Ao em cm*1 12.600 13.900 7.800 10.400 9.300 8.500 12.600 CAMPO CRISTALINO
A<, em kJ mol*1 151 (166) 93 124 111 102 (151) Em complexos octaédricos, o pre­
(+IU) Configuração d' d2 d2 d* d5 d6 d1 d2 enchimento dos orbitais t2g diminui a
Ao em cm*1 20.300 18.900 17.800 21.000 13.700 18.600 energia do complexo, isto é, para cada
Ao em kJ mol*1 243 225 213 (251) 164 222 elétron adicionado a esses orbitais o
complexo é estabilizado por um valor
e o outro configuração de “spin baixo”. Verificou-se que equivalente a -0,4Ao. O preenchimento dos orbitais eg
ambas as situações são possíveis. Assim, o tipo de arranjo aumenta a energia do complexo de um valor igual a + 0,6a,,
encontrado num determinado complexo depende dos valores por elétron. Logo, a energia de estabilização de campo
de Ao e de P, ou seja, das magnitudes da energia necessária cristalino (EECC) é dada por
para promover um elétron do nível t2g para o eg (isto é, o
desdobramento do campo cristalino Ao) e da energia EECC(oclaédnco) -0,4n(t2g) + 0,6n(eg)
necessária para emparelhar um elétron no nível de menor
onde n(t2g) e n(eg) são os números de elétrons que ocupam
energia t2g (isto é, P). P é constante para um dado íon
os orbitais t2g e eg, respectivamente. A EECC é igual a zero
metálico. Assim, o desdobramento do campo cristalino é
para íons com configuração d° e d10, tanto em campos
determinado pela força do campo ligante. Um ligante de
ligantes fortes como fracos. A EECC também é igual a zero
campo fraco, como o Cl", causará apenas um pequeno
para a configurações d5 em um campo fraco. Todos os demais
desdobramento dos níveis de energia e Ao será pequeno.
arranjos apresentam alguma EECC, que aumenta a
Nesse caso, será energeticamente mais favorável que os
estabilidade termodinâmica dos complexos. Assim, muitos
elétrons ocupem o nível superior eg e formem um complexo
compostos de metais de transição apresentam uma energia
de “spin alto”, ao invés de emparelhar os elétrons. Em
reticular maior (obtida por cálculos usando o ciclo de Born-
contraste, ligantes de campo forte como o CN", provocam
Haber) que aquela calculada com o auxílio das equações de
um grande desdobramento do campo cristalino. Nesse caso,
Born-Landé, Born-Meyer ou Kapustinskii. Em contraste, os
a energia necessária para emparelhar os elétrons, P, será
valores medidos (Born-Haber) e calculados para compostos
menor que Ao, e o complexo será de “spin baixo".
dos metais representativos (que não apresentam EECC) são
Tabela 7.10 — Desdobramento A„ do campo cristalino num muito semelhantes (Tab. 7.13). Uma boa concordância en­
grupo tre aqueles valores também é observada no MnF2, que tem
configuração d5 e um campo ligante fraco: portanto, a EECC
cm' kJ mol 1 é igual a zero.
Um gráfico das energias reticulares dos haletos dos
[Co(NH3)6]3* 24.800 296 elementos da primeira série de transição no estado divalente
[Rh(NH3)6]3* 34.000 406 é mostrado na Fig. 7.13. No sólido, o número de coordenação
[Ir(NH3)6]3* 41.000 490 desses metais é igual a 6, e as estruturas são, portanto,
í
análogas a dos complexos octaédricos. O gráfico para cada
! Energia
série de haletos mostra um mínimo no Mn2*, que possui
configuração d5. Num campo fraco, ele tem um arranjo
a) b) e0 eletrônico de spin alto com EECC igual a zero. As
configurações d° e d10 também possuem EECC igual a zero.
As linhas tracejadas passando pelo Ca2 + , Mn2* e Zn2 +
ea

Valores
grandes
dexX, Tabela 7.11 — EECC e energia de emparelhamento para
Valores
pequenos alguns complexos
detX,

Complexo Confi­ 4, P Previsto Encon­


guração (cm*1) (cm*1) trado
t t t Í29 Ut T
[Fe"(H2O)6]2* d6 10.400 17.600 spin alto spin alto
[Fe"(CN)6|+ d6 32.850 17.600 spin baixo spin baixo
Figura 7. 12 — Complexos de spin alto e spin baixo: a) arranjo d" de [ComF6]3- d1 13.000 21.000 spin alto spin alto
spin alto (campo ligante fraco); b) arranjo dJ de spin baixo (campo [Co“I(NH])6]3+ d1 23.000 21.000 spin baixo spin baixo
ligante forte)
108 COMPOSTOS DE CDORDENAÇÀO

Os íons Ca2 + , Mn2 + e Zn2 + , com configurações d”,


Tabela 7.13 — Energias reticulares calculadas e medidas
e d10, possuem EECC’s iguais a zero. Uma linha quase n
Composto Estrutura Energia Energia pode ser traçada entre esses pontos. As distâncias dos dem
Diferença
reticular reticular (medida pontos experimentais até essa linha correspondem
medida calculada calculada) respectivas EECC’s. Os valores obtidos dessa mane
(kj mol'1) (kl mol'1) (kl mol'1)
kj mol 1
NaCl Cloreto de sódio -764 -764 0
AgCl Cloreto de sódio -916 -784 -132 3000
AgBr Cloreto de sódio -908 -759 -149
MgF2 Rutilo -2.908 -2.915 +7 2900
MnF2 Rutilo -2.770 -2.746 -24
FeF2 Rutilo -2.912 -2.752 -160
NiF2 Rutilo -2.917 2800
-3.406 -129
CuF2 Rutilo -3.042 -2.885 -157
2700

indicam os valores esperados para energias de estabilização


de campo cristalino iguais a zero. As diferenças entre essa
linha e os pontos experimentais para os demais íons
correspondem às energias de estabilização do campo
i 2600

o 2500 -
cristalino (EECC). £
As energias de hidratação dos íons M2 + dos elementos
2400 -
da primeira série de transição são mostradas no gráfico da
Fig. 7.14a.
2300
M&+ + excesso H2O -» [M(H2O)6]
2200
Tabela 7.12 — EECC e configurações eletrônicas em complexos
octaédricos
2100

Número Configuração em campo Configuração em campo Ca Sc TI V Cr Mn Fe Co Nl Cu Zn


de elé­ _____ ligante fraco_______ ligante forte
trons Z2g Cg EECC Momento eg EECC Momento
Óq magnético *
*0 magnético Figura 7.13 — EECC de di-haletos da primeira série de transíç
de spin de spin (segundo T.C. Waddington, Lattice energies and their signifiacr.
Mu (D) Md (D)
in inorganic chemistry, Advances in Inorganic Chemistry ffi
d> irmm -°-4 1,73 1,73 Radiochemistry, 1, Academic Press, N.York, 1959)

d2 o~nm -o.8 2,83 ornrn -0.8 2,83 a) 2200

2000
d> it it it im -1.2 3,87 irimm -1.2 3,87
1800

d4 it it it iitt~i +^ 4,90 itiit it im -1.6 2,83


=-0,6 1600

Ca Sc Ti V Cr Mn F, Co Ni Cu Zn Ol
d5 it it it um +1'2
=-0,0
5,92 Itilnit im -2.0 1,73
m2+

4800
b)
d. itj-it it iif~rn +>’2 4,90 iTiitiiTiinn -2.4 0,00
=-0.4
4600
-2,0 -2.4
d. Itilult lltlD +1',2 3,87 iniHimirn +0.6 1,73
-1 =-0.8 —1.8 4400

r—r—1 "2’4 -2,4


d. itutiitiiim +1.2 2,83 |U|tl|tl| |t~|F| +1.2.
=-1.2
2,83 4200
=-1,2
-2,4 -2,4
itiiTiifii luin +1,8
=-0.6
1,73 itutwiitnri +1.8
=-0,6
1,73 4000
Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn G»

-2.4 m3+
rf,0 itwniM 0.00 ITJ-IT J.lTJ-1 HÜTN] +2.4
= 0,0
0.00
Figura 7.14 — Entalpias de hidratação paraM2* tH1', =~
kj mol'1
□I5TDRÇAD TETRA50NAL EM COMPLEXOS OCTAÉDRICDS [DISTORÇÃO DE JAHN-TELLER] 109

Tabela 7.14 — Configurações eletrônicas simétricas

Configuração
-A-:—
eletrônica
r2g e«
eg Natureza do
campo ligante
Exemplos

d° I | I I | I I forte ou fraco TilvO2,[TílvF6]2-


rnlvc/6j2’
|| || || | I I I forte ou fraco [CrJ"(oxaIato)1]3~
[Cr"'(H2O6)]u
d1
HEEHEl fraco [Mn"F6]*-
[Fe'“FJJ-

itrniui r~n forte [Fe"(CN)6]*-


(Co11
d‘
luiuinl IFIFI fraco [Ni"F6]4-
[Ní1i(H2O6)J2*
d10
iniuiui FüTnI forte ou fraco [Zn"(NH6)]2*
(Zn"(H2O6)]2'

Figura 7.15 — Raio iônicos octaédricos de M2* para elementos da


primeira série de transição chidos, ou seja, se estão preenchidos simétrica ou assime-
tricamente.
concordam com os valores obtidos espectroscopicamente.
A repulsão entre os elétrons do metal e dos seis ligantes
Um gráfico semelhante para os íons M3 + é mostrado na Fig.
num complexo octaédrico desdobra os orbitais d do átomo
7.14b: neste caso, as espécies com configuração d°, d5 e d10
metálico central nos níveis t2g e eg. Logo, deve haver uma
são o Sc3 +, Fe3 + e Ga3 +.
correspondente repulsão entre os elétrons d e os ligantes. Se
Esperar-se-ia que os raios iônicos para os íons M2 + os elétrons d estiverem dispostos simetricamente, a repulsão
diminuam contínua e gradativamente do Ca2+ ao Zn2 + , por sentida por todos os seis ligantes será a mesma. A estrutura
causa da crescente carga nuclear e da ineficiente blindagem será, portanto, um octaedro perfeitamente regular. Os
proporcionada pelos elétrons d. O gráfico desses raios iônicos arranjos simétricos dos elétrons d são mostrados na Tab.
é mostrado na Fig. 7.15. Nota-se que na realidade a variação 7.14.
de tamanho dos íons não é tão regular ao longo do período.
Os demais arranjos apresentam uma distribuição
Uma linha tracejada une os pontos correspondentes aos assimétrica dos elétrons d. Caso os elétrons d estejam
íons Ca2 + , Mnzt e Zn2 + . Esses íons apresentam distribuídos assimetricamente, eles repelirão com maior
configurações d°, d5 e d10, com os orbitais d respectivamente intensidade alguns ligantes do complexo que outros.
vazios, semipreenchidos e cheios. Esses arranjos eletrônicos Portanto, a estrutura do complexo será distorcida, pois alguns
geram um campo elétrico quase esférico em torno do núcleo. ligantes serão impedidos de se aproximarem do metal tanto
No Ti2+, os elétrons d ocupam orbitais distantes dos ligantes, quanto outros. Os orbitais eg apontam diretamente para os
levando a pouca ou nenhuma proteção da carga nuclear. ligantes. Assim, o preenchimento assimétrico dos orbitais
Com isso os ligantes são atraídos para regiões mais próximas eg implica que alguns dos ligantes serão mais fortemente
do núcleo. A carga nuclear maior tem um efeito ainda mais repelidos que outros. Isso provoca uma distorção significativa
acentuado no caso do V2 + . No Cr2 + , o nível eg contém um da forma octaédrica. Já os orbitais t2g não apontam
elétron. Nesse caso a densidade eletrônica se concentra na diretamente, mas entre os eixos sobre as quais se encontram
direção dos ligantes, proporcionando assim uma boa os ligantes. Portanto, o preenchimento assimétrico dos
blindagem. Por isso, os ligantes não podem se aproximar orbitais t2g tem somente um pequeno efeito sobre a
tanto do núcleo e o raio iônico aumenta. Esse aumento de estereoquímica. A distorção provocada pelo preenchimento
tamanho prossegue com o preenchimento do segundo or­ assimétrico dos orbitais t2g é geralmente pequena demais
bital eg no caso do Mn2 +. A blindagem proporcionada pelos para ser medida. Os arranjos eletrônicos que provocarão
orbitais eg é tão eficiente que o raio do Mn2+ é apenas uma distorção estrutural pronunciada são mostradas na Tab.
ligeiramente menor do que ele seria se estivesse numa campo 7.15.
esférico. O mesmo padrão de variação no tamanho se repete
Os dois orbitais eg, o dxi_y2 e o dz2 são normalmente
na segunda metade da série.
degenerados. Contudo, se eles estiverem assimetricamente

DISTORÇÃO TETRAGONAL EM Tabela 7J5 — Configurações eletrônicas assimétricas


COMPLEXOS OCTAÉDRICOS Configuração í'll
2g e‘t1 Natureza do Exemplos
campo ligante
(DISTORÇÃO DE JAHN-TELLER) eletrônica

Cr(+II), Mn(+ni)
A forma dos complexos dos metais de transição é d*
it it it i on forte ou fraco
(complexo de
determinada pela tendência dos pares de elétrons de ocupar spin alto)
posições tão afastadas quanto possíveis uma das outras. O d’ forte ou fraco co<+n). Ni(+in>
mesmo comportamento se verifica nos compostos dos Itiltiltilim (complexo de
elementos representativos e nos complexos. Além disso, as spin baixo)
Cu(+II)
formas dos complexos dos metais de transição são in­ d9
Itiltiltil IÜTTI
fluenciadas pela maneira como os orbitais d estão preen­
11O COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO

preenchidos, este caráter degenerado será destruído, e os


dois orbitais não mais terão a mesma energia. Se o orbital
dz2 tiver um elétron a mais que o orbital dx2_y2, então os
ligantes que se aproximarem pelas direções +z e -z terão
uma dificuldade maior que os outros quatro ligantes. A
repulsão e conseqüente distorção levam a um alongamento
do octaedro segundo o eixo z, denominado distorção tetra-
gonal. Essa deformação seria mais precisamente designada
alongamento tetragonal. Essa é uma forma de distorção
encontrada com muita freqüência.
Se o elétron adicional estiver no orbital dx2_y2, o
alongamento ocorrerá segundo as direções x e y. Isso significa
que os ligantes que se encontram ao longo do eixo z poderão
se aproximar mais. Conseqüentemente, haverá quatro
ligações mais longas e duas mais curtas. Essa situação é
equivalente a comprimir o octaedro ao longo do eixoz, sendo Figura 7.17 — Configuração d8 num campo octaédrico muito forte. A
distorção tetragonal desdobra a) o nível eE; b) também o nível t2g. 0
a distorção denominada compressão tetragonal. O orbital dxy apresenta energia maior que os orbitais d„ e dyz (para
alongamento tetragonal é muito mais comum que a simplificar, isto é às vezes ignorado)
compressão tetragonal, não sendo possível prever qual delas
irá ocorrer. Para minimizar a repulsão com os ligantes, dois elétrons
Por exemplo, a estrutura cristalina do CrF2 é equivalente ocupam o orbital dz2 e um elétron ocupa o orbital dx2.yi.
à estrutura do rutilo (TiOJ, mas distorcida. O Cr2+ é Assim, os dois ligantes ao longo de +z e -z são repelidos
circundado octaedricamente por seis F“, havendo quatro mais fortemente que os outros quatro ligantes (vide Capítulo
ligações Cr-F de comprimento entre 1,98 - 2,01 A e duas 27, estado +11 do cobre).
ligações mais longas de 2,43 Â. Diz-se que o octaedro está Os exemplos acima mostram que ocorrerá distorção
distorcido tetragonalmente. A configuração eletrônica do estrutural sempre que houver uma ocupação desigual dos
Cr2* é d4 e o F“é um ligante de campo fraco, de modo que orbitais dz2 e dx2_y2. Essa distorção é denominada distorção
o nível t2g contém três elétrons e o nível eg um. O orbital de Jahn-Teller. O teorema de Jahn-Teller estabelece que
dx2_y2 possui quatro lóbulos, enquanto que o orbital dzi
"qualquer sistema molecular não-linear num estado
possui dois lóbulos apontados para os ligantes. Para
eletrônico degenerado será instável, e sofrerá algum tipo de
minimizar a repulsão com os ligantes, o único elétron eg
distorção para reduzir a sua simetria e quebrar a dege-
ocupará o orbital dz2. Isso equivale a uma quebra da
nerescência”. Ou, em palavras mais simples, moléculas ou
degenerescência do nível eg, de modo que dz2 tem menor
complexos (de qualquer geometria, exceto lineares), que tem
energia, isto é, é mais estável que dx2_y2, que tem maior
uma série de orbitais (t2g ou eg) desigualmente ocupados,
energia e é menos estável. Os dois ligantes que se aproximam
serão distorcidos. Em complexos octaédricos as distorções
ao longo das direções +z e -z estão sujeitos a uma repulsão
provocadas pelo preenchimento assimétrico do nível t2g são
maior que os quatro ligantes que se aproximam segundo as
pequenas demais para serem detectadas. Contudo, as
direções +x, -x, +y e -y. A conseqüência é uma distorção
distorções resultantes do preenchimento desigual dos orbitais
tetragonal com quatro ligações mais curtas e duas mais
longas. Analogamente, MnF3 contém Mn3+ com uma eg são muito significativas.
configuração d4, formando uma estrutura octaédrica
tetragonalmente distorcida. COMPLEXOS QUADRADO-PLANARES
Muitos sais e complexos de Cu( + II) também possuem Se o íon metálico central de um íon complexo tiver uma
estruturas octaédricas tetragonalmente distorcidas. O Cu2 + configuração d8, seis elétrons ocuparão os orbitais t2g e dois
tem configuração d9: elétrons ocuparão os orbitais eg. O arranjo é o mesmo num
__f20
complexo com ligantes de campo fraco. Os elétrons se
|n|u|u| |TI|T I dispõem como mostrado na Fig. 7.16. Os orbitais são
preenchidos simetricamente, formando-se um complexo
octaédrico regular, como por exemplo [Nin(H2O)6]2 + e
Energia [Níh(NH3)6]2 + .
T T e.
O elétron isolado do orbital dx2.y2 está sendo repelido
por quatro ligantes, enquanto que o elétron no orbital dz2
está sendo repelido por somente dois ligantes. Portanto, a
energia do orbital dx2_y2 aumenta com relação a do dz2. Se o
campo ligante for suficientemente forte, a diferença de
energia entre esses dois orbitais se torna maior que a energia
Ti Tl TI necessária para emparelhar os elétrons. Nessas condições,
forma-se um arranjo mais estável se os dois elétrons eg se
emparelharem, passando a ocupar o orbital menos energético
Figura 7.16 — Configuração d‘ num campo octaédrico fraco dz2. Com isso fica vazio o orbital dx2_y2 (Fig. 7.17) e quatro
COMPLEXOS TETRAÉ0RIC05 111

Figura 7.20 — Relações de um tetraedro com o cubo

Fig. 7.19. Nos complexos quadrado-planares de Co11, Nin e


Figura 7.18 — Configuração d8, campo forte (o orbital d2r está Cuu, de fato o orbital dz2 tem energia aproximadamente igual
preenchido, e o dx;_y; está vazio a dos orbitais dzz e dyz. No [PtCI4]2’, o orbital dzi tem energia
menor que os orbitais dxz e dyz.
ligantes podem agora aproximar-se sem dificuldade, segundo Complexos quadrado-planares são formados por íons
as direções +x, -x, +y e -y. Contudo, os ligantes que se de configuração d8 com ligantes de campo forte, como por
aproximarem segundo as direções +z e -z encontrarão for­ exemplo [Niu(CN)4]2’. O desdobramento do campo cristalino
ças repulsivas muito fortes, visto que o orbital dz2 estará Ao é maior para os elementos da segunda e terceira séries de
totalmente preenchido (Fig. 7.18). Assim, somente quatro transição, e para espécies com carga mais elevada. Todos os
ligantes conseguem ligar-se ao metal, formando um complexos de Pt(+ II) e de Au( + III) são quadrado-planares,
complexo quadrado-planar; não tendo êxito a tentativa de inclusive aqueles com ligantes de campo fraco como os íons
se formar um complexo octaédrico. haletos.
O grau de distorção tetragonal que ocorre depende do Estruturas quadrados planares também podem ser
íon metálico em questão e dos ligantes. Às vezes a distorção formadas por íons de configuração d4 num campo ligante
tetragonal pode tornar-se tão grande que o orbital dz2 passa fraco. Nesse caso, o orbital dzz contém apenas um elétron.
a ter energia menor que o orbital dxy, como mostrado na
COMPLEXOS TETRAÉDRICOS
Tabela 7.16 — íons que formam complexos quadrado-
planares Um tetraedro regular está relacionado a um cubo. Um
átomo se situa no centro do cubo e quatro dos oito vértices
Configu- íons Tipo de N.° de do cubo são ocupados por ligantes, como mostrado na Fig.
ração ele­ campo elétrons 7.20.
trônica desem-
parelha- As direções x, y e z apontam para os centros das faces
dos do cubo. Os orbitais eg apontam nessas mesmas direções
(isto é, para o centro das faces). Os orbitais t2g se situam
d* Cr(+II) Fraco 4 entre os eixos x, y e z (isto é, apontam para o meio das
d6 Fe(+H) Heme 2 arestas do cubo) (Fig. 7.21).
d1 Co(+II) Forte 1 A direção de aproximação dos ligantes não coincide
d8 Ni(+n), Rh(+I), Ir(+I) Forte 0 exatamente nem com os orbitais eg, nem com os orbitais t2g.
Pd(+U), Pt(+II), Au(+m) Forte ou fraco 0
cu(+ii),Ag(+n) Forte ou fraco 1

Figura 7.19 — Distorção tetragonal Figura 7.21 — Orientação de orbitais d com relaçao ao cubo
112 COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO

f2fl f2fl
Energia

Energia Orbitais d são


desdobrados
em dois +0.4Àt
grupos
Nível médio
- de energia
(baricentro)
eo A,

-0.6At

------------------- —“ e9
íon metálico livre íon do metal Energia média íon metálico
(cinco orbitais d num campo do íon metálico num campo
degenerados) tetraédrico num campo tetraédrico
esférico
Figura 7.22 — Desdobramento do campo cristalino de níveis de
energia num campo tetraédrico Figura 7.23 — Níveis de energia para orbitais d num campo
tetraédrico

O ângulo entre o orbital eg, o metal central e o ligante é


igual a metade do ângulo tetraédrico = 109°28'/2 - 54°44'. Assim, o desdobramento do campo cristalino para a
O ângulo entre um orbital t2g, o metal central e o ligante é tetraedro, Al( é aproximadamente 2/3 x 2/3 = 4/9 do
de apenas 35°16'. Portanto, os orbitais t2g estão mais desdobramento do campo cristalino para o octaedro,
próximos da dos ligantes que os orbitais eg (em outras pala­ Ligantes de campo forte geram uma maior diferença de
vras, os orbitais t2g se encontram a uma distância correspon­ energia entre os orbitais t2g e eg que ligantes de campo fraco.
dente a um lado do cubo dos ligantes, enquanto que os O desdobramento tetraédrico A, é, porém, sempre muito
orbitais eg se encontram a uma distância equivalente a uma menor que o desdobramento octaédrico Ao. Portanto, o
diagonal do cubo). A aproximação dos ligantes aumenta as emparelhamento de elétrons não é favorecido do ponto de
energias de ambos os conjuntos de orbitais, mas a energia vista energético e todos os complexos tetraédricos são de
dos orbitais t2s sofre um aumento maior, pois estão mais spin alto.
próximos dos ligantes. Pode-se notar que o desdobramento As EECC em ambientes octaédricos e tetraédricos são
dos orbitais provocado pelo campo cristalino dispõe os níveis mostradas na Tab. 7.17. Observa-se que a EECC é igual a
energéticos numa sequência inversa daquela observada nos zero tanto nos complexos octaédricos como nos tetraédricos,
complexos octaédricos (Fig. 7.22). para metais com configurações d°, d5 e d10. Para todas as
Os orbitais t2g estão localizados 0,4At acima da energia demais configurações a EECC é diferente de zero, sendo a
média ponderada dos dois grupos e os orbitais eg se situam EECC octaédrica maior que a EECC tetraédrica. Conclui-se
0,6A, abaixo da média (Fig. 7.23).
A magnitude do desdobramento do Tabela 7.17 — EECC e configurações eletrônicas em complexos tetraédricos
campo cristalino A, em complexos
Número Configuração Momento EECC EECC EECC
tetraédricos é consideravelmente menor de elé­ eletrônica magnético tetraédrica tetraédrica octaédrica A,
que em campos octaédricos. Há duas trons d (spin) comparada com campo campo
valores octaédricas fraco forte
razões para isso:
ei P(D) A, (supondo At = 4/9Ao)
1. Há apenas quatro ligantes em vez
de seis, por isso o campo ligante d1 mrm 1,73 -0,6 -0,27 -0,4 -0,4
tem apenas dois terços da inten­
sidade observada nos complexos d2 irnrm 2,83 -0,53 -0,8 -0,8

octaédricos. Portanto, a magnitude d2 iFFirm 3,87 -1,2+ 0,4= -0.8 -0,36 -1,2
do desdobramento do campo
cristalino também terá um valor
d4 on itim 4,90 -1,2+ 0,8=-0,4 -0,18 -0,6 -1,6

equivalente a dois terços do valor d5 inti imn 5,92 -1,2+1,2= 0,0 0,00 0,0 -2,0
observado no octaedro. db lüiFi irinn 4,90 -1,8+1,2=-0,6 -0,27 -0,4 -2,4
2. A direção dos orbitais não coincide
com a direção de aproximação dos
d7 EH on 3,87 -2,4+ 1,2=-1.2 -0,53 -0,8 -1,8

ligantes. Isso reduz o desdo­ d i EH EO~I 2,83 -2,4+ 1,6=-0,8 -0,36 -1,2 -1,2
bramento do campo cristalino por
outros dois terços, aproxima­
d9 EH EEE 1,73 -2,4 + 2,0= -0,4 -0,18 -0,6 -0.6

damente.
d10 EH EEH 0,00 -2,4+2,4= 0,0 0,00 0,0 0,0
QUELATOS 113

que os complexos octaédricos são


ch3
geralmente mais estáveis e mais comuns C—tO-
que os complexos tetraédricos. Isso se
deve em parte à existência de seis XC2z.</
termos de energia de ligação em vez de
quatro e em parte porque os valores de CH3
EECC são maiores. Apesar disso, alguns íon acetilacetonato íon oxalato íon N,N'- dietiltiocarbanato
complexos tetraédricos são formados e
são estáveis. A formação dos complexos
tetraédricos é favorecida nos seguintes
casos:
1. Quando os ligantes são grande e
volumosos, podendo provocar
problemas estéticos em complexos Ânion do aldeído 2,2’-bipiridina 1,10-Fenantrolina
salicílico (o-fenantrolina)
octaédricos.
2. Quando é importante atingir-se CH3 ch3
uma forma regular. Para estruturas
C— C As(CH3)2
tetraédricas, as configurações d°,
d2, ds, d7 e d10 são regulares. II II
Alguns complexos tetraédricos N N
stCHjh
regulares são os seguintes: Ti,vCl4 ~O' OH
(eg, t2°), [Mnv"04]- (e° t2°), íon 8- hidroxiquinolinato Ânian da o-fenilenobisdimetllarsina
[FevlO4]2- (e 2, rt 2;j
e„-, °), [F^nCl4]" (oxina) dimetilglioxima (diarsina)
lfCl4]?- (es4, t32g) e
(e|,t2g), [CoJfri.jz-
[ZnHCl4]2“ (eg4, t2g). " " Figura 7.24 — Alguns ligantes polidentados comuns
3. Quando os ligantes são de campo fraco e a EECC se ligante ou grupo bidentado (bidentado significa literalmente
torna menos importante. com dois dentes). Forma-se dessa maneira uma estrutura
4. Quando o metal central apresenta estados de oxidação cíclica (no presente caso, um par de anéis de cinco membros).
baixos. Isso reduz a magnitude de A. Complexos possuindo tais estruturas cíclicas são
denominados quelatos (cheios é a palavra grega para
5. Quando a configuração eletrônica do átomo central for
caranguejo). Os quelatos são mais estáveis que complexos
d°, d5 ou d'°, ou seja, quando não há EECC.
com ligantes monodentados, pois a dissociação deste tipo
6. Quando a perda de EECC for pequena. Por exemplo, de complexo implica na ruptura de duas ligações em vez de
para as configurações d1 e d6 onde a perda de EECC é uma. Alguns ligantes polidentados típicos são mostrados na
de 0,13Ao, ou d2 e d7 onde a perda é de 0,274,. Fig. 7.24.
Muitos cloretos, brometos e iodetos de metais de Quanto maior o número de anéis formados, mais estável
transição formam complexos tetraédricos. será o complexo. Os agentes quelantes com três, quatro e
seis átomos doadores são denominados, respectivamente,
QUELATOS ligantes tridentados, tetradentados e hexadentados. Um
Alguns dos fatores que favorecem a formação de exemplo importante desse último tipo é o ácido
complexos já foram mencionados: etilenodiaminotetraacético. Ele se liga ao metal por meio de
1. íons pequenos de carga elevada com orbitais vazios dois átomos de N e quatro átomos de O, formando cinco
anéis. Por causa dessas ligações, o EDTA (sigla para o ácido
com energias adequadas.
etilenodiaminotetraacético) pode formar complexos com a
2. A obtenção de uma configuração de gás nobre (regra maioria dos íons metálicos. Mesmo complexos com íons
do número atômico efetivo). grandes como Ca2+, são relativamente estáveis (o complexo
3. A formação de complexos simétricos e com elevada [Ca2 + (-EDTA)] só se forma completamente em pH 8, não
EECC. em pH’s inferiores).
Em alguns complexos, um ligante ocupa mais de uma Os quelatos são ainda mais estáveis quando eles contêm
posição de coordenação. Assim, mais de um átomo do ligante um sistema de ligações duplas e simples alternadas. Essa
está coordenado ao metal central. Por exemplo, a situação é melhor representada como sendo uma na qual a
etilenodiamina forma um complexo com íons cobre(II):

CH2—NH2 CH: -NH: .NHr—CH2 HOOCCH2 ch2cÔoh


Cuu+2 — Cu "*N—CHj—CHj—N*
CH2—NH2 CH,—NH: HOOCCH2 CHvCOOH
'NH2—CH, *
Nesse complexo o cobre está rodeado por quatro grupos (•= átomo doador)
NH2. Cada molécula de etilenodiamina está ligada ao cobre
por dois sítios. Por esse motivo a etilenodiamina é designada Figura 7.25 — EDTA
114 COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO

Energia

Ligantes de campo forte,


p.ex. [Co(NH3)6]3‘ sem elétrons
It I |T I It 11 desemparelhados,
Alternativo 11 ■1'11 -l-l I ^1 portanto diamagnético

Complexo octaédrico de Co3* com ligantes fracos


> Energia ------- ------- -

Figura 7.26 — Alguns complexos quelatos t T


Ligantes de campo fraco,
______ p.ex. [CoFb]3” quatro elétrons
11+ [+ I desemparelhados,
densidade eletrônica se deslocaliza e se distribui por todo o 11 m 1 I 1 I portanto para magnético
anel. Temos como exemplo os complexos de acetilacetona e supondo p. = 7n(n+2) =74(4+2) = 4,90 BM
de porfirina com metais (Fig. 7.26).
Diversos quelatos têm importância biológica. A
hemoglobina das células vermelhas do sangue contém um Figura 7.27 — Co3* em complexos de spin alto e spin baixo
complexo ferro-porfirina. A clorofila das plantas verdes
contém um complexo magnésio-porfirina. A vitamina B12 é O Co( + II) forma complexos tetraédricos ou quadrados
um complexo de cobalto e a enzima citocromo-oxidase planares. A distinção entre eles pode ser feita por meio da
contém ferro e cobre. De fato nosso organismo contém medida de suas propriedades magnéticas (Fig. 7.28).
diversos materiais capazes de formar quelatos com metais, Contudo, o momento angular orbital também contribui
por exemplo adrenalina, ácido cítrico e cortisona. A em maior ou menor grau para o valor do momento
intoxicação com metais como chumbo, cobre, ferro, cromo magnético. Para elementos da segunda e terceira séries de
e níquel se deve à formação de complexos não desejados transição, essa contribuição não só é significativa, mas pode
com estes materiais, impedindo assim o metabolismo nor­ ocorrer acoplamento spin-órbita. Por causa disso, a
mal. Por isso, a dermatite provocada por sais de cromo e aproximação de "spin-only” não é mais válida, havendo uni
níquel é tratada com cremes à base de EDTA. Intoxicação forte grau de paramagnetismo dependente da temperatura.
por chumbo e cobre são tratadas por meio da ingestão de Conseqüentemente, a interpretação dos momentos
soluções aquosas de EDTA, que forma complexos com os magnéticos em função apenas do número de elétrons
íons chumbo e cobre. Infelizmente ele também forma desemparelhados, utilizado para os complexos da primeira
complexos com íons metálicos essenciais, particularmente série de transição, não pode ser estendida para os elementos
o Ca2+. Finalmente, os complexos metal-EDTA são excretados
pela urina (o problema da excreção de Ca2+ pode ser Co2* num campo tetraédrico
parcialmente resolvido utilizando complexos [Ca-EDTA] ao
Energia
invés de EDTA).
T t t *20

MAGNETISMO
O momento magnético pode ser medido utilizando uma
balança de Gouy (vide Capítulo 18). Supondo-se que o
momento magnético se deve inteiramente aos spins de ea
3 elétrons
elétrons desemparelhados, pode-se utilizar a fórmula de “spin desemparelhados, p =73(3+2) =7Í5 = 3,87BM
only" para se determinar o valor de n, o número de elétrons
desemparelhados. Os valores calculados concordam Co2* num complexo quadrado-planar
razoavelmente bem com os valores encontrados para os
complexos dos elementos da primeira série de transição. Energia

ps = -Jn(n + 2)
Uma vez conhecido o número de elétrons desem­
parelhados, pode-se empregar tanto a teoria da ligação de
valência como a teoria do campo cristalino para determinar
a geometria do complexo, o estado de oxidação do metal, e,
no caso de complexos octaédricos, se estão sendo utilizados T4 d;2

orbitais d internos ou externos. Por exemplo, o Co( + III)


T 4- T 4 dfl © dy2
forma muitos complexos, todos octaédricos. A maioria deles
1 elétron
são diamagnéticos, mas o [CoF6]3' é paramagnético com desemparelhado, p =7l(1+2) = 73 = 1,73 BM
um momento magnético observado de 5,3 BM. A teoria do
campo cristalino explica esse fato (Fig. 7.27). Figura 7.28 — Co2* em complexos tetraédricos e quadrado-planares
TEORIA DOS ORBITAIS MOLECULARES 115

da segunda ou terceira séries. A influência da temperatura é 2p de cada NH3, contendo um par de elétrons livres, também
explicada pelo acoplamento spin-órbita. Ele remove a participa da formação dos orbitais moleculares. Há, pois, 12
degenerescência dos níveis de menor energia, do estado fun­ orbitais atômicos, que se combinam para formar 12 orbitais
damental. Assim, a energia térmica possibilita o preenchi­ moleculares (seis OM’s ligantes e seis antiligantes). Os 12
mento de vários níveis de energia. elétrons provenientes dos seis pares de elétrons livres dos
ligantes são colocados nos seis orbitais moleculares ligantes,
o que explica as seis ligações formadas. O íon Co3+ possui
EXTENSÃO DA TEORIA DO CAMPO outros orbitais d, que até agora foram ignoradas: trata-se
CRISTALINO COM INCORPORAÇÃO DO dos orbitais 3dxy, 3dxz e 3dyz. Esses orbitais formam OM’s
CARÁTER COVALENTE não-ligantes. No Co3+ eles contém 6 elétrons, mas não
A teoria do campo cristalino se baseia em atração contribuem em nada para a formação das ligações. Todos os
puramente eletrostática. Numa primeira avaliação, isso orbitais anti-ligantes estão vazios. O arranjo dos orbitais é
parece ser uma suposição bastante improvável. Não obstante, mostrado na Fig. 7.29. Pode-se prever que o complexo deverá
a teoria é muito bem sucedida na explicação das formas dos ser diamagnético, já que todos os elétrons estão
complexos, de seus espectros e de suas propriedades emparelhados. O complexo deverá ser colorido, visto que é
magnéticas. Os cálculos podem ser efetuados de maneira possível a promoção de elétrons dos orbitais não-ligantes
bastante simples. A desvantagem da teoria é o fato dela para os orbitais antiligantes eg*. A diferença de energia, Ao,
ignorar as evidências de que interações covalentes ocorrem, igual a 23.000 cm'1. Nesse complexo os seis elétrons d não-
pelo menos em alguns complexos de metais de transição: ligantes estão emparelhados, porque A„ é maior que a energia
de 19.000 cm'1 necessária para emparelhá-los.
1. Compostos com o metal no estado de oxidação zero,
como o tetracarbonilníquel [Ni°(CO)4], não apresentam Um diagrama de OM semelhante pode ser esque-
nenhuma atração eletrostática entre o metal e os matizado para o complexo [ColuF6]3'. Contudo, as energias
ligantes. Portanto, a ligação deve ser covalente. dos orbitais 2p do F" são muito menores que as energias dos
orbitais correspondentes do N no NH3. Isso altera o
2. A ordem dos ligantes na série espectroquímica não pode espaçamento entre os níveis de energia do OM (Fig. 7.30).
ser explicada apenas considerando-se as forças O Ao medido espectroscopicamente é igual a 13.000 cm'1.
eletrostáticas. Portanto, a diferença de energia entre os OM’s não-ligantes
3. Há algumas evidências, fornecidas pelas técnicas de e os antiligantes (eg) é menor que a energia necessária para
ressonância magnética nuclear e ressonância emparelhar os elétrons, ou seja, 19.000 cm'1. Conse-
paramagnética eletrônica, de que existe densidade qüentemente os elétrons d não-ligantes não se emparelham
eletrônica de elétrons desemparelhados nos ligantes. como no [Co(NH3)6]3 + , porque é energeticamente vantajoso
Isso sugere o compartilhamento de elétrons e, portanto, que os elétrons permaneçam desemparelhados. Assim, o
um grau de covalência. [CoF6]3' apresenta quatro elétrons desemparelhados e é um
Na interpretação dos espectros é introduzido o complexo de spin alto enquanto que o [Co(NH3)6]3+ não
parâmetro de repulsão intereletrônica de Racah, B. Ele apresenta elétrons desemparelhados e é um complexo de
permite considerar a ocorrência de covalência decorrente spin baixo.
da deslocalização dos elétrons d do
metal para os ligantes. Se B for inferior
ao valor para o íon metálico livre, então
os elétrons d estão deslocalizados sobre
os ligantes. Quanto menor for o valor
>OM antiligantes
de B, maior será o grau de deslo-
calizaçâo e o caráter covalente da »»
4p
ligação. De modo semelhante, é possível
utilizar um fator de deslocalização 4s
eletrônica k na interpretação das pro­
priedades magnéticas. 3dl I ; |u|u|h[— -|n|n|n|— Seis orbitais
doadores
xy xz -yz OM não-ligantes
(6NH3)
TEORIA DOS ORBITAIS cada um contém
2 elétrons
MOLECULARES
A teoria dos orbitais moleculares
é feita para a ligação covalente.
Considere um elemento da primeira > OM ligantes
série.de transição formando um ju|u|n|-
complexo octaédrico, por exemplo,
[Coln(NH3)6]3 + . Os orbitais atômicos ti
do Co3 + usados para formar os orbitais Orbitais atômicos Orbitais atômicos
no íon do metal Orbitais moleculares nos ligantes
moleculares são os orbitais 3dx2_y2, 3dz2,
4s, 4px, 4py e 4pz. Um orbital atômico Figura 7.29 — Diagrama de arbitrais moleculares para o [Co111
116 COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO

orbitais p nos ligantes têm energia maior


que os orbitais t2g dos metais. Assim,
não são adicionados mais elétrons, pois
os orbitais n estão vazios, mas as
> OM antiligantes interações ti aumentam o valor de A<,.
Isso explica porque esses ligantes são
4p ligantes de “campo forte" e se
»» encontram no extremo direito da série
4s espectroquímica.
Seis orbitais
3d[ | h-Fíw Ij I- - —|ti|t |t |— doadores
(6F-) Doadores rc
'xy xzyz OM não-ligantes
0 ligante possui orbitais ir
Cada um contém preenchidos que interagem com os
dois elétrons
1u|tU orbitais t2g dos metais, formando uma
ligação tr. Logo, há transferência de
densidade eletrônica do ligante para o
metal. A ligação a também transfere
•• /■OM ligantes
ju|u|n|- uma certa densidade eletrônica para o
metal. Esse tipo de complexo é
favorecido quando o átomo central se
ti encontra num elevado estado de
Orbitais atômicos Orbitais atômicos
no íon do metal Orbitais moleculares nos ligantes oxidação, e estiver com "deficiência" de
Figura 7.30 — Diagrama de orbitais moleculares para o ICoFJ3' elétrons. Os orbitais rt dos ligantes têm
energia menor que os orbitais t2g do
A teoria dos orbitais moleculares explica, portanto, as metal. Assim, a deslocalização de elétrons rt do ligante para
propriedades magnéticas e os espectros dos complexos tão o metal reduz o valor de A. Nem sempre é fácil saber se
bem quanto a teoria do campo cristalino. Ambas as teorias houve formação de ligações n dessa natureza, mas ela é
se baseiam em dados espectroscópicos para se determinar o mais provável com ligantes situados no extremo esquerdo
valor de Ao. Qualquer uma das duas teorias pode ser da série espectroquímica.
empregada, dependendo de qual é a mais conveniente.
A teoria dos orbitais moleculares se baseia na mecânica NOMENCLATURA DE COMPOSTOS DE
ondulatória, e tem assim a desvantagem de não permitir o
cálculo direto das entalpias de formação e das energias de COORDENAÇÃO
ligação. Consideramos até o momento apenas as ligações a A IUPAC (International Union of Pure and Applied
entre os ligantes e o metal central. A grande vantagem da Chemistry) publicou, em 1989, o livro “Nomenclature of
teoria dos OM é a facilidade com que ela pode ser estendida Inorganic Chemistry" (Blackwell Scientific Publishers), que
às ligações n. Ligações rt ajudam a explicar como metais em contém as regras para a nomenclatura sistemática de
baixos estados de oxidação (por exemplo [Ni°(CO)4]) podem compostos de coordenação. As regras básicas, adaptadas
formar complexos. É impossível explicar a existência de para a língua portuguesa, são sumarizadas abaixo.
forças de atração entre o metal e os ligantes em tais 1. 0 nome do ânion antecede o do cátion.
complexos, utilizando a teoria do campo cristalino, por causa
da inexistência de cargas no metal. As ligações rr também 2. Ao escrever o nome do complexo, os ligantes são citados
ajudam a explicar a posição de alguns ligantes na série em ordem alfabética, qualquer que seja sua carga
espectroquímica. Ocorrem dois casos: (seguidos pelo nome do metal).
1. Ligantes que atuam como receptores n, recebendo 3. A fórmula dos íons complexos deve ser escrita entre
elétrons do metal central. Os exemplos incluem CO, colchetes. 0 metal deve aparecer primeiro, seguido dos
CN', NO+ e as fosfinas. grupos a ele coordenados na seguinte ordem: ligantes
2. Ligantes que atuam como doadores rt e transferem negativos, ligantes neutros, ligantes positivos (e em
densidade eletrônica do ligante ao metal por meio de ordem alfabética, conforme o primeiro símbolo de cada
interações cr, bem como por meio de interações 7t. grupo).
Ligações n dessa natureza geralmente ocorrem nos oxo- a) Os nomes de ligantes negativos terminam em -o,
íons de metais em elevados estados de oxidação, por por exemplo:
exemplo [MnVI104]' e [CrvlO4]2'.
F- fluoro H' hidreto HS~ mercapto
Receptores n
Ligantes tais como CO, CN' e N0+ possuem orbitais p
cr cloro OH' hidroxo S2' tio

vazios, com simetria adequada para interagir com os orbitais Br' bromo O2' oxo CN' ciano
t2g do metal, formando ligações n. Esse fenômeno é
comumente denominado retrodoação. Normalmente os
r iodo 02‘ peroxo NOj nitro
ISOMERIA 117

b) Grupos neutros não apresentam sufixos especiais. Ânions complexos


Podemos citar NH3 amin, H2O aqua, CO carbonil, LijAlHJ tetra(hidreto)aluminato(III) de lítio
NO nitrosil. Os ligantes N2 e O2 são denominados (hidreto de alumínio e lítio)
dinitrogênio e dioxigênio. Ligantes orgânicos Na2[ZnCy tetraclorozincato(II) de sódio
recebem seus nomes comuns, por exemplo fenil, KdFefCNJeJ hexacianoferrato(II) de potássio
metil, etilenodiamina, piridina, trifenilfosfina. K3[Fe(CN)sNO) pentacianonitrosilferrato(II) de
c) Grupos positivos terminam em -io, por exemplo, potássio
H2N-NH2 hidrazínio. K2[OsC1sN] pentacloronitretoosmato(Vl) de
4. Quando há vários ligantes iguais normalmente são potássio
usados os prefixos di, tri, tetra, penta e hexa para indicar Na3[Ag(S,O3)2l bis(tiossulfato)argentato(I) de sódio
o número de ligantes de cada tipo. Ocorre uma exceção K2[Cr(CN)2O2(O2)NH3] amindicianodioxoperoxocromato(Vl)
quando o nome do ligante incluir um número, por de potássio
exemplo bipiridina ou etilenodiamina. Nesses casos,
para evitar confusões, são utilizados os prefixos bis-, Grupos orgânicos
tris- e tetraquis- em vez de di, tri e tetra, e o nome do [Pt(py)4](PtCl4] tetracloroplatinato(ll) de
ligante é colocado entre colchetes. tetrapiridinaplatina(lf)
5. O estado de oxidação do átomo central é indicado por (Cr(en)3]Cl3 de tris(etilenodiamina)crõmio(III)
um numeral romano entre colchetes, imediatamente [CuCyCHjNHJJ diclorobis(metilamina)cobrefll)
após o nome do metal (isto é, sem o espaço, como em Fe(C5Hs)2 bis(ciclopentadienil)feno(ll)
titânio(III)). [Cr(C6H6)2] bis(benzeno)crômio(0)
6. O nome de íons complexos positivos e moléculas neutras
Complexos com ligantes em pontes
não possuem terminações especiais, mas no caso de
[(NH3)sCo-NH2-Co(NH3)s1(NO3)s nitrato de
íons complexos negativos terminam em -ato.
g-a midobis {pentaminco bal t o (III)}
7. Se o complexo contiver dois ou mais átomos metálicos, j(CO)3Fe(CO)3Fe(CO)3] tri-m-carbonil-bis(tricarbonil)fenD(ü)
ele é denominado complexo polinuclear. Os ligantes que (nonacarbonildiferro)
formam as pontes entre os átomos metálicos são [Be4O(CH3COO)6] hexa-ji-acetatofO.CTltq-oxo-
identificados pelo prefixo p.-. Havendo duas ou mais tetraberílio(II) (acetato básico de
ligantes pontes do mesmo tipo, estes são indicados pelos
berílio)
prefixos di-p, tri-p, etc. Os ligantes ponte são listados
em ordem alfabética junto com os demais ligantes, a
Hidratos
não ser que a simetria da molécula permita uma
A1K(S04)2.12H20 sulfato de alumínio e potássio
nomenclatura mais simples. Se um dado grupo atuar
dodeca-hidratado
como ligante ponte entre mais de dois átomos metálicos,
eles são identificados por meio dos prefixos p3, |i4, p5
ou p6, para indicar o número de átomos ligados a ele.
8. Às vezes um grupo ligante pode estar ligado através de
ISOMERIA
diferentes átomos. Por exemplo, o ligante em M-NO2 Compostos com a mesma fórmula molecular, mas
é denominado nitro e em M-ONO nitrito. Analoga­ arranjos estruturais diferentes são designados isômeros. Por
mente, o grupo SCN pode coordenar-se de duas formas: causa das fórmulas complicadas de muitos compostos de
M-SCN tiocianato ou M-NCS isotiocianato. Os nomes coordenação, da variedade de tipos de ligações e geometrias
sistemáticos tiocianato-S ou tiocianato-N indicam qual possíveis, ocorrem vários tipos de isomeria. De um modo
dos átomos está ligado ao metal. Essa convenção pode geral ainda é aceita a classificação de Werner em isomeria
ser estendida para outros casos nos quais o modo de de polimerização, de ionização, de hidratação, de ligação,
ligação é ambíguo. de coordenação, de posição de coordenação, geométrica e
9. Havendo componentes reticulares como águas de óptica.
cristalização ou outros solventes de cristalização, este
vem imediatamente após o nome, precedido por um Isomeria de polimerização
número arábico indicando o número desses grupos. Não se trata a rigor de uma verdadeira isomeria, pois
Os seguintes exemplos ilustram essas regras: os compostos possuem a mesma fórmula empírica, mas
diferentes massas moleculares. Por exemplo.
Cátions complexos
[Pt(NH3)2Cl2], [Pt(NH3)4][PtC14],
[Co(NH3)6)C13 cloreto de hexaamincobalto(ÍII)
[CoC1(NH3)5]2+ íon pentaminclorocobalto(lll) lPt(NH3)4][Pt(NH3)Cl3]2 e [Pt(NH3)3Cl]2[PtCU]
[CoSO4(NH3)4]NO3 nitrato de sulfatotetraamincobalto(III)
[Co(NO2)3(NH3)3] triamintrinitrocobalto(III) apresentam todos a mesma fórmula empírica. A “isomeria"
ICoC1CNNO2(NH3)3] triamincianocloronitrocobalto(III) de polimerização pode ser devida à presença de diferentes
[Zn(NCS)4]2 + íon tetra(tiocianato-N)zincato(ll) números de núcleos metálicos no complexo, como mostrado
[Cd(SCN)4]2+ íon tetra(tiocianato-S)cadmato(H) na Fig. 7.31.
118 COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO

nh3 2+ NH, 2+

(NH3)3Co —OH^ Co(NH3)3 e Co 1


X>H\
Co(NH3)4
H3N\Í/0N0 H’N \ / N°2

H3N zrNH3Co

nh3
e

h3n
Co

NH3
NHj

Figura 7.31 — Isômeros de polimerização vermelho amarelo


íon nitritopentaamincobalto (III) íon nitropentaamenicobalto (III)

Figura 7.32 — Complexos nitrito- e nitro-


Isomeria de ionização
NH;
Esse tipo de isomeria se deve à troca de posição entre
os íons coordenados e os não coordenados. O (NH3)4Co Co(NH3)2C/2 cz2
[Co(NH3)5Br]SO4 é magenta-violeta. Quando em solução ’2
forma um precipitado de BaSO4, mediante adição de BaCI2,
confirmando assim a presença de íons SO42' não coordenado. NH;
Por outro lado, [Co(NH3)5SO4]Br é vermelho. Uma solução C1(NH3)3Co Co(NH3)3CZ c/2
desse complexo não dá resultado positivo num teste para a
presença de íons sulfato com BaCl2. Porém, forma um >2
precipitado amarelado de AgBr na presença de AgNO3, Figura 7.33 — Isomeria de posição da coordenação
confirmando a presença de íons Br' livres. Observe que o
íon sulfato ocupa apenas uma posição de coordenação, Isomeria de posição de coordenação
embora ele tenha duas cargas negativas. Outros exemplos Em complexos polinucleares, uma troca de ligantes entre
de isomeria de ionização são os diferentes núcleos metálicos dá origem à isomeria de
[Pt(NH3)4Cl2]Br2 e [Pt(NH3)4Br2]Cl2; posição. Um exemplo é dado na Fig. 7.33.
e [Co(en)2(NO2)Cl]SCN, [Co(en)2(N02)(SCN)]CI
e [Co(en)2Cl(SCN)]NO2 Isomeria geométrica ou estereoisomeria
Em complexos dissubstituídos, os grupos análogos
Isomeria de hidratação podem estar em posições adjacentes ou opostas um ao outro.
Conhecem-se três isômeros de CrCl3.6H2O. Por meio Isso dá origem à isomeria geométrica. Complexos quadrado
de medidas de condutividade e da determinação do número planares, como [Pt(NH3)2Cl2] podem ser preparados em duas
de íons cloreto não coordenados por precipitação quan­ formas distintas, cis e trans. Se o complexo for preparado
titativa, foi possível atribuir-lhes as seguintes fórmulas: adicionando-se NH4OH a uma solução de íons (PtCl4]2‘, o
complexo tem um momento dipolar diferente de zero e deve,
[Cr(H2O)6]Cl3 violeta (três cloretos iônicos) portanto, ser cis. O complexo preparado pela reação de
[Cr(H20)sCl]Cl2-H20 verde (dois cloretos iônicos) [Pt(NH3)4)2+ com HC1 não apresenta momento dipolar, e
[Cr(H2O)4Cl2]Cl-2H2O verde escuro (um cloreto iõnico) deve, portanto, ser trans. A estrutura dos dois complexos é
mostrada na Fig. 7.34. O mesmo tipo de isomeria também
Isomeria de ligaçao pode ocorrer em complexo quadrado-planares com ligantes
Certos ligantes contêm mais de um átomo em condições quelantes, desde que estes não sejam simétricos. Um exemplo
de doar um par eletrônico. No íon NO2‘, tanto o átomo de N de isomeria cis-trans é encontrado no complexo formado
como o de O poderia atuar como doador de um par de por glicina e platina (Fig. 7.35).
elétrons. Com isso surge a possibilidade de isomeria. Foram Analogamente, complexos octaédricos dissubstituídos,
preparados dois complexos diferentes de fórmula tais como [Co(NH3)4Cl2] + , podem existir nas formas cise
[Co(NH3)5NO2]C12, ambos contendo NO2‘ coordenado. Um trans (Fig. 7.36) (esse método de representar um complexo
deles é vermelho e facilmente decomposto por ácidos, com
formação de ácido nitroso. Contém Co-ONO e é um Cl NH3 cz nh3
nitritocomplexo. O outro complexo é amarelo e é estável em
meio ácido. Contém o grupo Co-NO2 e trata-se de um
nitrocomposto. As estruturas dos dois complexos são
mostrados na Fig. 7.32. Esse tipo de isomeria também ocorre
cz NHj nh3 cz
cis ' trans
com outros ligantes, tais como SCN".
Figura 7.34 — Isômeros Cis e Trans
Isomeria de coordenação
CM?—NH
Quando tanto o íon positivo como o negativo forem
íons complexos, a isomeria pode ser causada pela troca de
ligantes entre o cátion e o ânion, por exemplo no
NH,-CH:
[Co(NH3)6][Cr(CN)6] e [Cr(NH3)6][Co(CN)6]. Também são
possíveis casos intermediários entre esses dois extremos. Figura 7.3S — Complexos Cis e Trans da glicina
LEITURAS COMPLEMENTARES 119

Cl Cl

NH3‘
NH3

~T
Co

NH3
cis
(violeta)
NH3
CZ

nh3
T
Co

Cl
trans
(verde)
nh3
NH3

formas dei

Figura 7.39 — Formas d, l e meso


7Zz7
/ en en\^ / en

forma meso

Figura 7.36 — Complexos octaédricos Cis e Ttans

octaédrico poderia sugerir que as posições no plano são LEITURAS COMPLEMENTARES


diferentes das posições situadas acima e abaixo do quadrado.
Isso não é verdade e as seis posições são equivalentes). • Ahrland, S., Chatt, J. e Davies, N.R.; Q. Rev. Chem. Soc. 12,
265-276 (1958). (Afinidades relativas dos átomos ligantes
para moléculas ou íons receptores)
Isomeria óptica
• Bell, C.F.; Principies and Applications of Metal Chelation,
Até há algum tempo atrás, supunha-se que a isomeria Oxford University Press, Oxford, 1977.
óptica estava associada somente a compostos orgânicos.
• Emeléus, H.J. e Sharpe, A.G.; Modem Aspects of Inorganic
Contudo, esse fenômeno também se manifesta em compostos
Chemistry, 4.a ed., Routledge and Kegan Paul, London.
inorgânicos. Se uma molécula for assimétrica, ela não poderá (Complexos de metais de transição: Cap. 14, Estrutura; Cap.
ser sobreposta à sua imagem especular. As duas formas 15, Ligação; Cap.16, Propriedades magnéticas; Cap.17,
apresentam o tipo de simetria encontrada entre as mãos Espectros eletrônicos)
esquerda e direita, e são denominadas pares enantiomórficos.
• Gerloch, M.; Inorg. Chem., 20, 638-640 (1981). (O sentido
Elas são isômeros ópticos e diferenciadas pelos prefixos dex-
das distorções de Jahn-Teller em complexos de cobre(II) e
tro e levo (freqüentemente abreviados para d e Z). A atribuição
complexos de outros metais de transição)
do nome depende do sentido em que o composto gira o
plano da luz polarizada num polarímetro (d provoca rotação • Hogfeldt, E. (Ed.); Stability Constants ofMetal-Ion Complexes,
para a direita, e l para a esquerda). A isomeria óptica é Pergamon, Oxford, 1982. (Ligantes inorgânicos)
comum em complexos octaédricos envolvendo grupos • Johnson, B.F.G.; Comprehensive Inorganic Chemistry, vol. IV,
bidentados. Por exemplo, [Co(en)2Cl2]+ apresenta as formas Pergamon Press, Oxford, 1973. (Cap.52: Química dos metais
cis e trans (isomeria geométrica). Além disso, a forma cis é de transição)
opticamente ativa, existindo nas formas d e l, perfazendo • Jorgensen, C.K.; Absorption Spectra and Chemical Bonding
um total de três isômeros (Fig. 7.37). A isomeria óptica ocorre in Complexes, Pergamon Press, Oxford, 1962.
também em complexos polinucleares, como no caso do
• Kauffman, G.B.; Alfred Wemer Founder of Coordination
complexo mostrado na Fig. 7.38. Ela foi resolvida em duas
Theory, Springer, Berlin, 1966.
formas opticamente ativas, (d e Z), e uma forma opticamente
• Kauffman, G.B. (Ed.); Classics in Coordination Chemistyr,
inativa, que apresenta uma compensação interna e é
Part I, 1968, The Selected Papers of Alfred Wemer; Part II,
designada forma meso (Fig. 7.39).
1976, Selected Papers (1798-1899); Part III, 1978, Twentieth
Century Papers, Dover, New York.
Cl • Kauffman, G.B.; Coord. Chem. Rev., 11, 161-168 (1973). (O
trabalho de Alfred Werner sobre isomeria estrutural)
• Kauffman, G.B.; Coord. Chem. Rev., 12, 105-149 (1974). (O
en en en trabalho de Werner sobre compostos de coordenação
opticamente ativos)
• Martell, A.E. (Ed.); Coordination Chemistry, Vol. I (1971) e II
Cl
(1978), Van Nostrand Reinhold, New York.
íon trans-diclorobis • Munro, D.; Misunderstanding over the chelate effect, Chem-
íon d e / cis-dicloro bis (etilenodiamina) istry in Britain, 13, 100 (1977). (um artigo simples sobre o
(etilenodiamina)cobalto(lll) cobalto(lll)
efeito chelato)
Figura 7.37 — Isômeros do [CoíenJiClzl2* • Perrin, D. (Ed.); Stability Constants ofMetal-Ion Complexes,
Chemical Society, Pergamon, 1979. (Ligantes orgânicos)
^N°2 • Sillen, L.G. e Martell, A.E.; Stability Constants of Metal-lon
(en)2O\ /Co(en), Complexes, (volumes especiais da Chemical Society, na 17
(1964) e 25 (1971)) The Chemical Society, London.
IH2
• Tsuchida, R.; Bu.ll. Chem. Soc. Japan, 388-400, 434-450 e
Figura 7.38 471-480 (1938).
leo COMPOSTOS DE CaORDENAÇAg

PROBLEMAS 14. Mostre, com o auxílio de um diagrama, como varia o


desdobramento dos orbitais d à medida que um complexo
1. Relacione e explique os fatores que determinam a octaédrico sofre uma distorção tetragonal até, finalmente,
estabilidade dos compostos de coordenação. se transformar num complexo quadrado-planar.
2. Descreva os métodos que permitem detectar a presença 15. Por que as transições eletrônicas d-d são proibidas ? Por
de íons complexos em solução. que elas podem ser observadas como bandas de absorção
3. Represente todos os isômeros de um complexo octaédrico fracas no espectro eletrônico?
com seis ligantes unidentados, dois dos quais do tipo A e 16. Por que os compostos de Ti44 e Zn2+ são brancos ! Por
quatro do tipo B. que compostos de Mn24 apresentam coloração muito
4. Represente todos os isômeros de um complexo octaédrico pouco intensa? Quais são as transições d-d permitidas por
que apresenta três ligantes unidentados do tipo A e três spin num íon d5 ?
ligantes unidentados do tipo B. 17. O que é a série espectroquímica e qual é a sua importância?
5. Represente todos os isômeros de um complexo octaédrico 18. Sabendo-se que o máximo de absorção da banda d-d do
constituído por três ligantes bidentados iguais. [Ti(H2O)6]3 + ocorre em 20.300 cm’1, faça uma previsão
6. Represente todos os isômeros de complexos tetraédricos e sobre a posição dessa banda nos complexos [Ti(CN)J!’e
quadrado-planares que apresentem dois ligantes uni­ [Ti(Cl)6]3’.
dentados do tipo A e dois ligantes unidentados do tipo B. 19. Discuta como varia Do quando a carga do átomo central
Represente cada um dos estereoisômeros possíveis dos passa de M2+ para M3 4, e como será a variação dentro de
seguintes complexos octaédricos: a) Ma3bcd, b) Ma2bcde, um grupo vertical ou tríade, constituído por elementos da
c) M(AA)(AA)cd. (As letras minúsculas a, b, c, d, e primeira, segunda e terceira séries de transição.
representam ligantes unidentados, e as letras maiúsculas 20. Quais devem ser os valores da energia de estabilização de
(AA) representam os átomos doadores de um ligante campo cristalino e do momento magnético nos seguintes
bidentado). Indique quais dos isômeros são opticamente complexos: a) [CoP6]3', b) [Co(NH3)6]3 + , c) [Fe(H30)]|4,
ativos (quirais). d) [Fe(CN)6]4’ e e) [Fe(CN)6]3’.
8. Represente as formas dos diferentes orbitais d no espaço e 21. Na estrutura cristalina do CuF2, o Cu24 apresenta número
explique porque eles são desdobrados em dois grupos, t2g de coordenação 6, com quatro F’ a uma distância de 1,93
e eg, num campo ligante octaédrico. A e dois F" a uma distância de 2,27 A. Explique o motivo
desse fato.
9. Desenhe um diagrama que mostre como os orbitais d são
22. Descreva e explique o efeito Jahn-Teller em complexos
desdobrados em dois grupos com diferentes energias num
octaédricos de Cr24 e de Cu24.
campo ligante octaédrico. Dependendo do número de
elétrons d o íon metálico num complexo tem a possibilidade 23. O complexo [Ni(CN)4]2“ édiamagnético, mas o [NiCLJ^é
de assumir tanto uma configuração eletrônica de spin alto paramagnético e apresenta dois elétrons desemparelhados.
como de spin baixo, num campo octaédrico. Represente Explique essas observações e deduza a estrutura dos dois
todos esses casos e sugira que íons metálicos e que ligantes complexos.
devem dar origem aos complexos com cada uma das 24. Que métodos poderíam ser usados para distinguir entre os
configurações anteriormente enumeradas. isômeros cis e trans de um complexo ?
10. Represente um diagrama de níveis de energia que mostre 25. Dê o nome de cada um dos isômeros dos seguintes
a quebra da degenerescência dos orbitais 3d num campo complexos:
ligante tetraédrico. a) [Pt(NH3)2Cl2]
11. Represente os diagramas de níveis de energia e indique o b) CrCl3.6H2O
preenchimento dos orbitais nos seguintes complexos: c) [Co(NH3)5NO2](NO3)2
a) d6, octaédrico, spin baixo d) [Co(NH3)s(SO4)]C1
b) d9, octaédrico, com alongamento tetragonal
NH2
c) d8, quadrado planar / \'
d) d6, tetraédrico (en)2Co Co(en)2 Br4
e) \ ./
Calcule, em unidades Ao, a diferença de energia de NO2
estabilização de campo cristalino entre os complexos a) e
d) , supondo-se que os ligantes são de campo forte. 0 Co(en)2(NH3)Br SO4
(Resposta: octaédrico - 2,4AO, tetraédrico - 0,27Ao, g) [Pt(NH3] (H2O) (C5HsN) (NOJ ] Cl
diferença - 2,13A<,). 26. Explique os seguintes fatos:
12. Calcule a energia de estabilização do campo cristalino para a) Ni(CO)4 é tetraédrico
um íon d8, como Ni2+, em complexos octaédricos e b) [Ni(CN)4]2’ é quadrado-planar
tetraédricos. Use unidades A<, em ambos os casos. Qual é c) [Ni(NH3)6]2 + é octaédrico
o mais estável ? Enumere todas as hipóteses utilizadas
27. Qual é o número de oxidação do metal em cada um dos
nos cálculos.
seguintes complexos:
13. Calcule o momento magnético "spin only” para um íon d8
a) [Co(NH3)6)Cl3
num campo ligante octaédrico, quadrado-planar e
tetraédrico. b) [CoSO4(NH3)4]NO3
PROBLEMAS 121

c) [Cd(SCN)4]2 + g) bis(tiossulfato)argentato(I) de sódio


d) [Cr(en)3]Cl3 h) hexacloroplatinato(IV) de níquel
e) [CuC12(CH3NH2)2] i) amintricloroplatinato(II) de tetraaminplatina(II)
f) [AlHJ- 29. Escreva a fórmula que representa cada um dos seguintes
g) [Fe(CN)6]4- complexos:
h) [OsClsN]2- a) sulfato de tetramincobre(II)
i) [Ag(S2O3)2]3- b) tetracianoniquelato(O) de potássio
28. Escreva a fórmula que representa cada um dos seguintes c) bis (ciclopentadienil) ferro(II)
complexos: d) íon tetra (tiocianato-N)zincato (II)
a) cloreto de hexamincobalto(III) e) cloreto de diaminbis(etilenodiamina)cobalto(III)
b) hexacianoferrato(II) de potássio e ferro(III) 0 tetraaminditiocianatocromo (III)
c) diamindicloroplatina (II) g) tetraoxomanganato(VII) de potássio
d) tetracarbonilníquel (0) h) trioxalatoaluminato(III) de potássio
e) triamincianocloronitrocobalto(III) >) tetracloroplatinato(II) de tetrapiridinaplatina(II)
0 tetra-hidretoaluminato(III) de lítio
iee

0
0

o nionoGÊmo
e os nxonsTOS
ESTRUTURA ELETRÔNICA elementos no primeiro período, o hidrogênio e o hélio. O
hidrogênio é bastante reativo, mas o hélio é inerte. Não é
O hidrogênio possui a estrutura atômica mais simples
difícil relacionar a estrutura eletrônica e as propriedades do
que qualquer outro elemento, sendo constituído por um
hélio com aquelas dos outros gases nobres do Grupo 18,
núcleo contendo um próton com carga +1 e um elétron
mas as propriedades do hidrogênio não podem ser
circundante. A configuração eletrônica pode ser representada
correlacionadas com nenhum dos grupos representativos da
como Is1. Os átomos de hidrogênio podem alcançar a
tabela periódica. Assim, o melhor é considerá-lo como um
estabilidade de três maneiras diferentes:
elemento à parte.
1. Formando uma ligação covalente (um par de elétrons)
A estrutura eletrônica do átomo de hidrogênio, de certo
com outro átomo
modo, se assemelha com a dos metais alcalinos. Os metais
O hidrogênio forma esse tipo de ligação preferen­ alcalinos (Grupo 1) também possuem um elétron no nível
cialmente com não-metais, por exemplo H2, H2O, mais externo, mas quando reagem eles tendem a perder este
HClfgás; ou CH4. Muitos metais também formam esse elétron formando íons positivos M +. Embora o íon H + seja
tipo de ligação. conhecido, o hidrogênio apresenta uma tendência muito
2. Perdendo um elétron para formar H+ maior de compartilhar o seu elétron, formando uma ligação
Um próton é extremamente pequeno (raio de aproxi­ covalente.
madamente 1,5 xlO"5 A, comparando com os 0,7414 A Por outro lado, a estrutura eletrônica do átomo de
do hidrogênio e 1-2 A da maioria dos átomos). Por ser hidrogênio, de certo modo, também se assemelha com a
o H+ muito pequeno, ele tem um poder polarizante dos halogênios (Grupo 17), já que ambos precisam de um
muito grande, e portanto deforma a nuvem eletrônica elétron para alcançar a estrutura de um gás nobre.
de outros átomos. Assim, os prótons estão sempre Geralmente, os halogênios adquirem um elétron formando
associados a outros átomos ou moléculas. Por exemplo, íons negativos X“. Não é comum o hidrogênio formar um
na água ou soluções aquosas de HC1 e H2SO4, o próton íon negativo, embora ele forme hidretos iônicos M + H’ (por
existe na forma de íons H3O + , H9O4+ ou H(H2O)„ + . exemplo, LiH e CaH2) com alguns poucos metais altamente
Prótons livres não existem em “condições normais", eletropositivos.
embora eles sejam encontrados em feixes gasosos a Em alguns aspectos, a estrutura eletrônica do hidrogênio
baixas pressões, por exemplo num espectrômetro de também se parece com a dos elementos do Grupo 14, pois
massa. ambos possuem o nível mais externo semi-preenchido.
3. Adquirindo um elétron e formando H" Observam-se diversas semelhanças entre hidretos e
compostos organometálicos, visto que tanto o grupo CH3’
Sólidos cristalinos como o LiH contém o íon H", sendo
como o H’ possuem uma valência disponível para formar
formados por metais altamente eletropositivos (todo o
uma ligação. Assim, o hidreto é freqüentemente considerado
Grupo 1 e parte do Grupo 2). Os íons H" não são, porém,
como pertencendo a uma série de compostos organome­
muito comuns.
tálicos, por exemplo, LiH, LiMe e LiEt; NH3, NMe3 e NEty,
Como a eletronegatividade do H é 2,1, ele pode valer- ou SiH4, CH3SíH3, (CH3)2SíC12, (CH3)3SíC1 e (CH,)4Si.
se de qualquer um desses três meios, sendo o mais Contudo, a melhor alternativa é considerar o hidrogênio
comum a formação de ligações covalentes. como um elemento à parte.

POSIÇÃO NA TABELA PERIÓDICA ABUNDÂNCIA DO HIDROGÊNIO


O hidrogênio é o primeiro elemento da Tabela Periódica O hidrogênio é o elemento mais abundante do universo.
e apresenta características únicas. Existem apenas dois Segundo algumas estimativas, o universo é constituído por
PROPRIEDADES DD HIDRDBÊNID MOLECULAR 123

92% de hidrogênio e 7% de hélio, de modo que todos os da com mais vapor, resfriada a 400° C e passada por
demais elementos juntos representam apenas 1 %. Contudo, um conversor que contém um catalisador de ferro/
a quantidade de H2 na atmosfera terrestre é muito pequena, cobre, onde o CO é transformado em CO2.
pois o campo gravitacional da terra é pequeno demais para
reter um elemento tão leve. Contudo, um pouco de H2 é CO + H2O co2 + h2
encontrado nos gases vulcânicos. Em contrapartida, o
Finalmente o CO2 é absorvido por uma solução de K2CO3
hidrogênio é o décimo elemento mais abundante na crosta
ou de etanolamina, HOCH2CH2NH2. O K2CO3 e a
terrestre (1.520 ppm ou 0,152% em peso). Também é
etanolamina são regenerados por aquecimento.
encontrado em grandes quantidades nas águas dos oceanos.
Compostos contendo hidrogênio são muito abundantes, K2CO3 + CO2 + H2O ■* 2KHCO3
sobretudo a água, organismos vivos (carboidratos e 2HOCH2CH2NH2 + CO2 + H2O - (HOCH2CH2NH3)2CO3
proteínas), compostos orgânicos, combustíveis fósseis
(carvão, petróleo e gás natural), amônia e ácidos. De fato, o
hidrogênio forma mais compostos que qualquer outro 3. Nas refinarias de petróleo, misturas naturais de
elemento. hidrocarbonetos de elevado peso molecular, tais como
nafta e óleo combustível, são submetidos ao processo
de "craqueamento" para formar misturas de hidrocar­
OBTENÇÃO DO HIDROGÊNIO bonetos de pesos moleculares menores, que podem ser
O hidrogênio é preparado em grande escala por diversos usadas como combustível automotivo. O hidrogênio é
métodos. um valioso subproduto desse processo.
1. O hidrogênio pode ser obtido em grande escala e a baixo 4. Hidrogênio muito puro (pureza 99,9%) é preparado por
custo, passando-se vapor de água sobre coque aquecido eletrólise da água ou de soluções de NaOH ou KOH.
ao rubro. O produto obtido é o gás d’água, ou seja, Esse é o método mais dispendioso. A água não conduz
uma mistura de CO e H2. Trata-se de um combustível muito bem a corrente elétrica, sendo comum a eletrólise
industrial importante, pois é fácil de se obter e queima de soluções de NaOH e KOH numa célula com anodos
liberando uma grande quantidade de calor. de níquel e cátodos de ferro. Os gases produzidos nos
compartimentos do ânodo e do cátodo devem ser
C + H2O 1000°C
CO + H2 mantidos separados.
** —v----------- 7
gás d'água
Ânodo 2OH“ —» H2O + 1 /2O2 + 2e"
CO + H2 + O2 —» CO2 + H2O + calor Cátodo 2H2O + 2e’ -> 2OH” + H2
Reação global H2O -> H2 + ’/2O2
Não é fácil obter H2 puro a partir do gás d’água, pois a
remoção do CO é difícil. O CO pode ser liquefeito a 5. Uma grande quantidade de hidrogênio puro também é
baixas temperaturas e sob pressão, podendo assim ser formado como subproduto da indústria de cloro e álcalis.
separado do H2. Alternativamente, a mistura gasosa Nesse caso, soluções aquosas de NaCl são eletrolisadas
pode ser misturada com vapor, resfriada a 400°C e para formar NaOH, CI2 e H2.
passada sobre óxido de ferro num conversor adequado, 6. O método comum de preparação do hidrogênio em
formando H2 e CO2. O CO2 assim formado pode ser laboratório é a reação de ácidos diluídos com metais,
facilmente removido, ou dissolvendo-o em água sob ou de um álcali com alumínio.
pressão ou reagindo-o com uma solução de K2CO3.
Nesse caso forma-se KHCO3 em solução e o H2 gasoso Zn + H2SO4 - ZnSO4 + H2
permanece inalterado. 2AZ + 2NaOH + 6H2O > 2Na[Al(OH)4] + 3H2
CO + H2—■' -»2H2 + CO2 7. O hidrogênio pode ser preparado pela reação de hidretos
-------- .------- ■ 4S0 “C
gás d'água FeO, salinos (iônicos) com água.
2. O hidrogênio também pode ser obtido em grandes LiH + H2O LiOH + H2
quantidades pelo processo de reformação a vapor. O
hidrogênio obtido dessa maneira é utilizado no processo
Haber de síntese de NH3 e para a hidrogenação de óleos.
Hidrocarbonetos leves, como o metano, são misturados
PROPRIEDADES DO HIDROGÊNIO
com vapor de água e passados sobre um catalisador de MOLECULAR
níquel a 800-900° C. Esses hidrocarbonetos podem ser O hidrogênio é o gás mais leve conhecido. Por causa de
encontrados no gás natural e, também, são obtidos em sua baixa densidade, é utilizado no lugar do hélio para inflar
refinarias no processo de "craqueamento” de balões meteorológicos. É incolor, inodoro e quase insolúvel
hidrocarbonetos mais pesados. em água. O hidrogênio forma moléculas diatômicas H2, onde
os dois átomos estão unidos por uma ligação covalente muito
CH4 + H2O CO + 3H2 forte (energia de ligação 435,9 kJ mol-1).
CH4 + 2H2O CO2 + 4H2
Em condições normais, o hidrogênio não é muito
O gás que sai do reator é constituído por CO, CO2, H2 e reativo. A baixa reatividade se deve à cinética e não à termo­
excesso de vapor d’água. A mistura gasosa é enriqueci- dinâmica da reação, e está relacionada com a força da ligação
1B4 □ HIDROBÊNIO E 05 HIORETDS

H-H. Uma etapa essencial durante a reação do H2 com outros saturados, que possuem pontos de fusão mais elevados.
elementos é a quebra da ligação H—H, formando átomos Removendo-se dessa maneira as duplas ligações da cadeia
de hidrogênio. Isso requer 435,9 kj mol"1: portanto, há uma carbônica, os óleos comestíveis (líquidos à temperatura
elevada energia de ativação para essas reações. Em ambiente) podem ser convertidos em gorduras (sólidas ã
conseqüência, muitas reações são lentas, ou requerem temperatura ambiente). A razão para assim proceder é a
elevadas temperaturas ou catalisadores (freqüentemente maior utilidade de gorduras sólidas, por exemplo, para a
metais de transição). Muitas reações importantes do preparação de margarina.
hidrogênio envolvem a catálise heterogênea; ou seja, o
catalisador inicialmente reage com o H2 ou quebrando ou CH3 • (CH2)„• CH = CH• COOH + H2 CH3 • (CH2)n •
enfraquecendo a ligação H-H. Dessa forma a energia de ■CH2CH2-C00H
ativação é diminuída. Podem ser citados como exemplos: O hidrogênio também é usado para reduzir nitrobenzeno
1. O processo Haber para a obtenção de NH3 a partir de à anilina (na indústria de corantes), e na redução catalítica
N2 e H2, no qual é utilizado um catalisador de Fe ativado do benzeno (a primeira etapa da produção de náilon-66).
a 380-450 °C e pressão de 200 atmosferas. Também, reage com CO para formar metanol.
2. A hidrogenação de diversos compostos orgânicos catalisador
insaturados (incluindo os óleos vegetais), no qual os CO + 2H2 CH3OH
catalisadores são Ni, Pd ou Pt finamente divididos.
A molécula de hidrogênio é muito estável e apresenta
3. A fabricação de metanol pela redução de CO com H2 pouca tendência de se dissociar a temperaturas normais, já
sobre um catalisador de Cu/Zn, aquecido a 300 °C. que a reação de dissociação é muito endotérmica.
O hidrogênio reage diretamente com a maioria dos
elementos, nas condições apropriadas. H2—>2H AH = 435,9 kJ mol'1
O hidrogênio queima ao ar ou numa atmosfera de Contudo, a altas temperaturas, num arco elétrico, ou
oxigênio formando água e liberando uma grande quantidade sob irradiação com luz ultravioleta, o H2 se dissocia. O
de energia. Esse fato é aproveitado para soldar ou cortar hidrogênio atômico produzido existe por um período infe­
metais com o maçarico oxigênio-hidrogênio. É possível rior a meio segundo; antes dos átomos se recombinarem
alcançar temperaturas de quase 3.000 °C. Deve-se tomar regenerando o hidrogênio molecular e liberando uma grande
cuidado com esses gases, pois misturas de H2 e O2 em quantidade de energia. Essa reação tem sido utilizada na
proporções de cerca de 2:1 são explosivas. solda de metais. O hidrogênio atômico é um forte agente
redutor, e é comumente preparado em solução usando o par
2H2 + 02 -> 2H2O AH = -485 kj mol-1 zinco-cobre ou mercúrio-alumínio.
O hidrogênio reage com os halogênios. A reação com o Tem havido muita discussão sobre os aspectos econô­
flúor é violenta, mesmo a baixas temperaturas. A reação micos do hidrogênio (ver Leituras complementares). Parte-
com cloro é lenta no escuro, mas a reação é catalisada por se da idéia de que o hidrogênio poderia substituir o carvão
luz (fotocatálise), tornando-se mais rápida à luz do dia e e o petróleo como principal fonte de energia. A combustão
explosiva quando exposta à luz solar direta. A combinação do hidrogênio ao ar ou numa atmosfera de oxigênio forma
direta dos elementos é usada para produzir HC1. água e libera uma grande quantidade de energia. Ao contrário
da queima de carvão ou óleo em termelétricas, ou de gasolina
H2 + F2 2HF e óleo diesel em motores de combustão interna, a queima
H2 + Cl2 2HC1 do hidrogênio não forma substâncias poluentes como o SO2
e óxidos de nitrogênio, responsáveis pela chuva ácida, nem
Diversos metais reagem com H2 formando hidretos. As CO2, responsável pelo efeito estufa, nem hidrocarbonetos
reações não são violentas e geralmente requerem tempe­ carcinogênicos, nem compostos de chumbo. O hidrogênio
raturas elevadas. Essas reações serão descritas numa seção pode ser obtido facilmente por eletrólise ou por processos
posterior. químicos. O hidrogênio pode ser armazenado e transportado
Grandes quantidades de H2 são utilizadas na produção no estado gasoso em cilindros, no estado líquido em enormes
industrial de amônia, pelo processo Haber. A reação é recipientes criogênicos a vácuo, ou “dissolvido” em vários
reversível e a formação de NH3 é favorecida por pressões metais (por exemplo, a liga LaNis pode absorver sete mols
elevadas, pela presença de um catalisador (Fe) e por baixas de hidrogênio por mol da liga, a uma pressão de 2,,5
temperaturas. Na prática, utiliza-se uma temperatura de 380- atmosferas, à temperatura ambiente). O hidrogênio líquido
450 °C e uma pressão de 200 atmosferas, para se obter uma foi usado como combustível dos foguetes espaciais da série
conversão eficiente numa velocidade razoável. Saturno e dos ônibus espaciais, do programa espacial norte-
americano. Há motores de automóvel adaptados para utilizar
N2 + 3H2 2NH3 AG298k — -33,4 kJ mol ' hidrogênio. Deve-se frisar que o uso do hidrogênio conto
combustível envolve o risco de explosão, mas isso também
O hidrogênio é usado em larga escala em reações de ocorre no caso da gasolina.
hidrogenação, nas quais o hidrogênio se adiciona a duplas
ligações de compostos orgânicos. Um exemplo importante é ISÓTOPOS DE HIDROGÊNIO
a hidrogenação de óleos vegetais com a obtenção de
gorduras. Ácidos graxos insaturados são hidrogenados com . Isótopos são átomos de um mesmo elemento que
H2 e um catalisador de paládio, formando ácidos graxos possuem diferentes números de massa. A diferença nos
ISÚTDPDS DE HIDROGÊNIO 125

Tabela 8.1 — Constantes físicas para o hidrogênio, deutério Tabela 8.2 — Constantes físicas da água e da água pesada
e trítio
Constante física h2o D2O
Constante física h2 D2 t2
Ponto de fusão CC) 0 3,82
Massa do átomo (uma) 1,0078 2,0141 3,0160 Ponto de ebulição (’C) 100 101,42
Ponto de fusão (’C) -259,0 -254,3 -252,4 Densidade a 20 "C (g cm"3) 0,917 I, 017
Ponto de ebulição (’C) -252,6 -249,3 -248,0 Temperatura de densidade máxima (' C) 4 II,6
Comprimento de ligação (Â) 0,7414 0,7414 (0,7414) Produto iônico Kw a 25 'C 1,0 x 10"'4 3,0 x 10-'5
Calor de dissociação1 (kJ mol"1) 435,9 443,4 446,9 Contante dielétrica a 20 "C 82 80,5
Calor latente de fusão (U mol-1) 0,117 0,197 0,250 Solubilidade g NaCl/100 g água a 25 ’C 35,9 30,5
Calor latente de vaporização (kJ mol-1) 0,904 1,226 1,393 Solubilidade g BaCl2/100 g água a 25 *C 35,7 28,9
Pressão de vapor* (mm Hg) 54 5,8

1 Medida a -259,1 ’C • Medido a 25 ‘C


enriquecida em água pesada, D2O. Se o processo for
continuado até restar apenas um pequeno volume, então
números de massa é decorrente da quantidade diferente de D2O quase puro será obtido. Cerca de 29.000 litros de água
nêutrons no núcleo. O hidrogênio encontrado na natureza é devem ser eletrolisados para produzir 1 litro de D2O com
constituído por três isótopos: o prótio jH ou H, o deutério 99% de pureza. Essa é a maneira usual de separar o deutério.
jH ou D, e o trítio jH ou T. Esses isótopos contêm no núcleo A água pesada D2O sofre todas as reações da água normal e
1 próton e zero, 1 ou 2 nêutrons, respectivamente. O prótio é útil na preparação de outros compostos de deutério. O
é de longe o isótopo mais abundante. D2O possui uma constante dielétrica menor que a água
O hidrogênio encontrado na natureza contém 99,986% comum. Por isso, compostos iônicos são menos solúveis
doisótopo jH, 0,014% doisótopo jHe7x 10"16% doisótopo em D2O que em H2O. Algumas propriedades físicas do H2O
jH, de modo que as propriedades do hidrogênio são e do D2O são comparadas na Tab. 8.2.
essencialmente devido ao seu isótopo mais leve. Compostos deuterados são geralmente preparados por
Esses isótopos apresentam a mesma configuração reações de substituição, nas quais, em condições apropriadas,
eletrônica e essencialmente as mesmas propriedades o deutério substitui o hidrogênio nos compostos que o
químicas. As únicas diferenças são encontradas nas contêm. Assim, D2 reage com H2 a altas temperaturas
velocidades de reação e nas constantes de equilíbrio. Por formando HD e também reage com NH3 e CH4 formando
exemplo: NH2D, NHD2 e ND3, e CH3D ... CD4. Geralmente é mais fácil
1. H2 é mais rapidamente adsorvido em superfícies que o preparar compostos deuterados usando D2O em vez de D2.
O D2O pode ser usado diretamente na síntese, no lugar do
d2; H2O, ou podem ser efetuadas reações de substituição
2. H2 reage mais de 13 vezes mais rapidamente com o Cl2 utilizando D2O.
que o D2, porque a energia de ativação para o H2 é
Reações de substituição
menor.
As diferenças de propriedades decorrentes das NaOH + D2O -» NaOD + HDD
diferenças de massa são denominadas efeitos isotópicos. Por NH4C1 + D2O NH3DC1 + HDO
ser 0 hidrogênio muito leve, a diferença percentual em massa Mg3N2 + 3D2O -> 2ND3 + 3MgO
entre o prótio , o deutério e o trítio é maior que a diferença Reações diretas
entre os isótopos de qualquer outro elemento. Portanto, as
diferenças de propriedades físicas encontradas entre os SO3 + D,0 - D2SO4
isótopos do hidrogênio são muito maiores que aquelas P4O10 + 6D2O > 4D3PO4
encontradas entre isótopos de quaisquer outro elemento.
O trítio é radioativo e sofre decaimento com emissão p.
Algumas constantes físicas do H2, D2 e T2 são mostradas na
Tab. 8.1. ?T->?He + _?e
A água contendo prótio, H2O, se dissocia cerca de três O trítio possui uma meia-vida relativamente curta de
vezes mais que a água pesada D2O. A constante de equilíbrio 12,26 anos. Assim, todo T presente quando a Terra foi
para a dissociação da água H2O é igual a 1,0 x 10"14, enquanto formada já sofreu decaimento, de modo que as pequenas
que a constante de equilíbrio para a dissociação da água quantidades de trítio atualmente existentes se formaram
pesada D2O é igual a 3,0 x 10"15. recentemente por reações induzidas por raios cósmicos na
atmosfera superior.
H2O H+ + OH"
I4N + Jn -» n6C + jT
D2O D+ + OD"
14N + jH -> jT + outros fragmentos
As ligações com prótio são rompidas mais facilmente jD + jD -> jT + }H
que as ligações com deutério (em alguns casos, até cerca de
18 vezes mais facilmente). Assim, na eletrólise da água, o O trítio está presente numa proporção de uma parte de
H2 é formado bem mais rapidamente que o D2, de modo T2 para 7 x 1017 partes de H2. Ele foi inicialmente preparado
que a água remanescente após a eletrólise se torna bombardeando-se D3PO4 e (ND4)2SO4 com dêuterons D + .
les O HIDROGÊNIO E OS HIDRETOS

?D + |D->?T + |H A forma para é a espécie de menor energia; e no zero


absoluto o gás contém 100% do H2 nessa forma. À medida
Atualmente é obtido em larga escala irradiando-se lítio que a temperatura aumenta, parte do hidrogênio na forma
com nêutrons lentos, num reator nuclear. para se converte na forma orto. A altas temperaturas 0 gás
contém cerca de 75% de orto-hidrogênio.
3Lí + Jn -* 2He + |T
Para-hidrogênio é usualmente preparado passando-se
O trítio é utilizado em dispositivos termonucleares e
uma mistura das duas formas de hidrogênio através de um
na pesquisa de reações de fusão nuclear com o intuito de
tubo empacotado com carvão, resfriado à temperatura do ar
produzir energia. O gás é geralmente armazenado na forma
líquido. O para-hidrogênio preparado dessa maneira pode
de UT3, que por aquecimento a 400° C desprende T2. O
ser armazenado por várias semanas num recipiente de vidro,
trítio é muito empregado como traçador radioativo, por ser
relativamente barato e de fácil manuseio. Ele somente emite à temperatura ambiente, porque a conversão orto-para é
radiação p de baixa energia, sem emissão concomitante de lenta na ausência de catalisadores. Podem ser citados como
radiação y. A radiação p é aniquilada por uma camada de sendo catalisadores dessa transformação o carvão ativado,
apenas 0,6 cm de ar, não sendo assim necessária nenhuma 0 hidrogênio atômico, metais como Fe, Ni, Pt e W e
blindagem especial. O trítio não é tóxico, a não ser que substâncias ou íons paramagnéticos (substâncias que contêm
compostos “marcados” sejam ingeridos. elétrons desemparelhados), tais como O2, NO, NO2, Co2* e
Cr2O3.
Compostos tritiados são obtidos a partir do gás T2. O
T2O é produzido como se segue:
T2 + CuO —> T2O + Cu
HIDRETOS
OU
Os compostos binários do hidrogênio com outros
catalisador de Pd
elementos são designados hidretos. O tipo de hidreto formado
2T2 + O2 ■» 2T2O por um elemento depende de sua eletronegatividade e,
portanto, do tipo de ligação formada. Embora não haja uma
Muitos compostos orgânicos contendo trítio podem ser distinção nítida entre ligação iônica, covalente e metálica, é
obtidos armazenando o composto em atmosfera de T2, du­ conveniente separar os hidretos em três classes (Fig. 8.2):
rante algumas semanas. Nesse período ocorre a troca de H
por T. Muitos compostos podem ser obtidos por substituição 1. Hidretos iônicos ou salinos
catalítica em solução, usando ou o gás T2 dissolvido em 2. Hidretos covalentes ou moleculares
água, ou T2O. 3. Hidretos metálicos ou intersticiais

NH4C1 + T2O (ou HTO) = NH3TCI Hidretos iônicos ou salinos


A altas temperaturas, os metais do Grupo 1 (metais
ORTO- E PARA-HIDROGÊNIO alcalinos) e os metais mais pesados do Grupo 2 (metaâs
alcalino-terrosos) Ca, Sr e Ba formam hidretos iônicos tais
A molécula de hidrogênio H2 existe segundo duas
como NaH e CaH2. Esses compostos são sólidos com elevados
formas diferentes denominadas orto- e para-hidrogênio. O
pontos de fusão, e são classificados como hidretos iônicos
núcleo de um átomo pode apresentar spin nuclear, da mesma
(salinos). São as seguintes as evidências de que se trata de
forma que os elétrons. Na molécula de H2, os dois núcleos
compostos iônicos:
podem apresentar spins no mesmo sentido ou em sentidos
opostos. Isso leva à isomeria de spin, isto é, podem existir 1. LiH fundido (ponto de fusão 691 °C) conduz eletricidade
duas formas diferentes de H2. Essas duas formas são e H2 é liberado no ânodo, confirmando assim a presença
chamadas de orto-hidrogênio e para-hidrogênio. A isomeria do íon hidreto, H".
de spin também é encontrada em outras moléculas simétricas 2. Os demais hidretos iônicos se decompõem antes de
cujos núcleos apresentam spin nuclear, por exemplo, D2, fundir, mas eles podem ser dissolvidos em haletos
N2, F2, Cl2. Há diferenças significativas entre as propriedades alcalinos fundidos (por exemplo, o CaH2 se dissolve
físicas (por exemplo, pontos de ebulição, calores específicos, numa mistura eutética de LiCl/KCl) e quando
condutividades térmicas) das formas orto e para, por causa submetidos a eletrólise, há liberação de H2 no ânodo.
das diferenças na suas energias internas. Diferenças também 3. As estruturas cristalinas desses hidretos são conhecidas
podem ser observadas nos espectros-eletrônicos das formas e elas não apresentam evidências de ligações direcionais.
orto e para do H2. O lítio é o cátion mais polarizante e mais apto a formar
compostos covalentes que os demais metais. Assim, se 0
LiH for essencialmente iônico, os demais hidretos também
devem ser iônicos e devem conter o íon hidreto, H".
a) b) A densidade desses hidretos é maior que a do
correspondente metal de que são formados. Isso pode ser
explicado pelo fato dos íons H' ocuparem os interstícios no
retículo cristalino do metal, sem provocar distorções no
Figura 8.1 — Orto e para-hidrogênio (a) ono-, spins paralelos; mesmo. Os hidretos iônicos apresentam elevados calores de
b) para-, spins opostos formação e são sempre estequiométricos.
HIQRETDS 127

Bloco s Bloco p
^\Gnipo Hidretos intermediários 13 14 15 16 17 18
1 2
Perfodo^-^
1
2 3Li 4Be Bloco d 5B 6C 7N 8O 9F
3 "Na 12Mg 3 4 5 6 7 8 9 10 TT 12 1 13AJ 14Si ^P lgs 17C1
4
5
19K
37Rb
2°Ca
38Sr
HE
39y
22Ti 23V
41Nb
24Cr 28Ni
“Pd
29Cu ^Zn
48Cd
31Ga 32Ge
49In MSn
33 As
3lSb
34Se
52Te
35Br
“I

6 “Cs 56Ba 57La. 72Hf 73Ta “hT siT| 82 Pb 8,Bi “Po 83At

7 8’Fr 88Ra 89Ac Hidretos covalentes


Bloco/
Hidretos iônicos
Lantanídios 58Ce 59Pr “Nd «Sm “Eu “Gd “Tb “Dy 67Ho “Er 6Tm ,0Yb ”Lu
Actinídios ^Th 9lPa “U 93Np ’4Pu ’sAm
Hidretos metálicos
Figura 8.2 — Tipos de hidretos e a tabela periódica

Esse tipo de hidreto só é formado por elementos que Isso é de se esperar, visto que a diferença de eletronega-
tenham eletronegatividades significativamente menores que tividade entre esses átomos e o hidrogênio é pequena. Os
o valor 2,1 do hidrogênio, de modo a favorecer a abstração compostos em questão geralmente são constituídos por
de um elétron do metal pelo hidrogênio, com formação de moléculas covalentes discretas, as quais são mantidas unidas
M+ e H“. apenas por forças de van der Waals fracas. Por isso, normal­
Os hidretos do Grupo 1 são mais reativos que os mente são voláteis e apresentam baixo ponto de fusão e de
correspondentes hidretos do Grupo 2. Além disso, a ebulição. Eles não conduzem a corrente elétrica. A fórmula
reatividade aumenta de cima para baixo dentro do grupo. desses hidretos é XH(18_n), onde n é o número do grupo da
Tabela Periódica ao qual o elemento X pertence. Esses
Com exceção do LiH, os hidretos iônicos se decompõem
hidretos podem ser obtidos por diversos métodos de síntese:
gerando os elementos, quando aquecidos a temperaturas de
400-500 °C. 1. Alguns poucos podem ser obtidos por combinação direta
dos elementos.
O íon hidreto H~ não é um íon muito comum e é instável
em água. Todos os hidretos iônicos reagem com água 3H2 + N2 -> 2NH3
formando hidrogênio. (altas temperatura e pressão + catalisador, processo Haber)
2H2 + O2 -> 2H2O (centelha - explosão)
LiH + H2O -> LiOH + H2 H2 + Cl2 —» 2HC1 (combustão - preparo de HC1 puro)
CaH2 + 2H2O -> Ca(OH)2 + 2H2
2. Reaçao de um haleto com Li[AlH4] num solvente seco,
Eles são agentes redutores fortes, especialmente a por exemplo éter.
temperaturas elevadas, embora sua reatividade com a água
limite sua utilidade. 4BC13 + 3Li[AlH4] -> 2B2H6 + 3A1C13 + 3LÍC1
SiCl4 + Lí[A1H4] -> SiH4 + A1C13 + LiCl
2CO + NaH—>HCOONa + C
SiCl4 + 4NaH -» SiH4 + 4NaCl 3. TYatamento de um composto binário apropriado com
PbSO4 + 2CaH2 -» PbS + 2Ca(OH)2 ácido.

O NaH apresenta diversos usos como agente redutor 2Mg3B2 + 4H3PO4 —» B4H10 + 2Mg3(PO4)2 + H2
em química sintética. Ele é utilizado para se obter outros A14C3 + 12HC1 -> 3CH4 + 4A1C13
hidretos importantes, especialmente o hidreto de alumínio FeS + H2SO4 H,S + FeSO4
e lítio Li[AlH4] e o borohidreto de sódio Na[BH4]. Ambos Ca3P2 + 3H2SO4 2PH3 + 3CaSO4
são muito utilizados como agentes redutores tanto em
sínteses orgânicas como inorgânicas. Grupo 13 14 15 16 17
B C N O F
4LiH + A1C13 -» Li[AlH4] + 3LÍC1
Al Si P S Cl
4NaH + B(OCH3)3 -> Na[BH4] + 3NaOCH3
Ga Ge As Se Br
In Sn Sb Te I
Hidretos covalentes Pb Bi Po
Os hidretos dos elementos do bloco p são covalentes. Figura 8.3 — Hidretos covalentes
128 O HIDROGÊNIO E OS HIDRETOS

4. Reação de um oxoácido com NafBHJ em solução Os alcanos são saturados, porém os alcenos apresentam
aquosa. duplas ligações e os alcinos triplas ligações na estrutura. 0
Si e o Ge só formam cadeias saturadas e a cadeia mais longa
4H3AsO3 + 3Na[BH4) -+ 4AsH3 + 3H3BO3 + 3NaOH é a do Si10H22. As cadeias de hidretos mais longas formadas
5. Conversão de um hidreto em outro por pirólise pelos demais elementos são Sn2H6, N2H4 e HN3, P3H5, As3H;,
(aquecimento). H2O2 e H2O3; H2S2, H2S3, H2S4, H2Ss e H2S6.
Analisando-se a Tab. 8.3 nota-se que os pontos de ebuli­
B4H10 ~» B2H6 + outros produtos ção e de fusão do H2O são muito mais elevados que os dos
outros hidretos. Examinando a tabela mais detalhadamente,
6. Uma descarga elétrica silenciosa ou uma descarga de contudo, constata-se que o NH3 e o HF também apresentam
microondas sobre hidretos simples pode gerar valores mais elevados que os esperados nos seus respectivos
oligômeros. grupos. Isso se deve à formação de ligações de hidrogênio,
GeH4 Ge2H8 ► Ge3H8 —> até Ge9H2g que será discutida mais adiante no presente capítulo.

Os hidretos do Grupo 13 são um caso à parte, pois eles


Hidretos metálicos (ou intersticiais)
são deficientes em elétrons e poliméricos, embora não
contenham ligações diretas entre os elementos do Grupo Muitos dos elementos do bloco d e os elementos das
13.0 hidreto de boro mais simples é denominado diborano, séries dos lantanídeos e dos actinídeos, no bloco f, reagem
B2H6, embora sejam conhecidas estruturas mais compli­ com H2 e formam hidretos metálicos. Contudo, os elementos
cadas, como B4H]q, B5H9, BsHn, B8H]8 e B]8H34. O hidreto situados na região intermediária do bloco d não formam
de alumínio também é polimérico (AlH3)n. Nessas estruturas hidretos. A ausência de hidretos nessa parte da Tabela
o hidrogênio está ligado a dois ou mais átomos, o que é Periódica é às vezes denominada "lacuna do hidrogênio'
explicado em termos de ligações multicêntricas. Esse assunto (ver Fig. 8.2).
será discutido no Capítulo 12. Os hidretos metálicos são geralmente preparados
Além dos hidretos simples, os demais elementos leves, aquecendo-se o metal com hidrogênio sob pressão elevada
exceto os halogênios, formam hidretos polinucleares. A (quando aquecidos a temperaturas mais altas os hidretos se
tendência para a formação desses hidretos é mais forte no decompõem. Essa propriedade pode ser utilizada como um
C, N e O. Assim, dois ou mais dos átomos desses elementos método conveniente para a preparação de hidrogênio de
não-metálicos estão ligados diretamente um ao outro. Essa elevada pureza).
tendência atinge 0 máximo no C, que forma cadeias com Esses hidretos geralmente apresentam propriedades
várias centenas de átomos. Esses compostos estão reunidos semelhantes àquelas dos metais correspondentes: eles são
em três séries homólogas de hidrocarbonetos alifáticos e duros, apresentam brilho metálico, conduzem a corrente
uma série de hidrocarbonetos aromáticos, derivados do elétrica e apresentam propriedades magnéticas. Os hidretos
benzeno. são menos densos que os correspondentes metais porque 0
CH4, C2H6, C3H8, C4H1o,...., C„H2n+2 retículo cristalino se expande com a inclusão do hidrogênio.
(alcanos)
C2H4, C3H6, C4H8,................ CnH2n (alcenos) A deformação do retículo cristalino pode tornar 0 hidreto
C2H2, C3H4, C4H6................. CnH2n_2 (alcinos) quebradiço. Assim, um pedaço maciço do metal pode se
c6H6 (aromáticos) transformar num pó finamente dividido, quando se formão
hidreto. Se os hidretos finamente divididos forem aquecidos,
eles se decompõem produzindo hidrogênio gasoso e 0 metal
Tabela 83 — Pontos de fusão e pontos de ebulição de finamente dividido. Esses metais finamente divididos podem
alguns hidretos covalentes ser usados como catalisadores. São também usados em
metalurgia na fabricação de pós, e o hidreto de zircônio tem
Composto P.F. CC) P.E. (’C) sido utilizado como moderador em reatores nucleares.
Em muitos casos, os compostos não são estequiomé-
B2H6 -165 -90 tricôs, por exemplo LaHn, TiHn e PdHn, nos quais a compo­
ch4 -183 -162 sição química é variável. Composições típicas para esse tipo
SiFL, -185 de compostos são LaH2 87, YbH2,55, TiH),8, ZrHli9, VH, 6,
GeH4 -166 -88 NbH07 e PdH07. Esses compostos foram inicialmente
SnH4 -150 -52
denominados hidretos intersticiais. Imaginava-se que um
NH3 -78 -33
número variável de posições intersticiais do retículo poderíam
ph3 -134 -88
AsH3 -117 -62 estar sendo preenchidos pelo hidrogênio.
SbH3 -88 -18 Os compostos não-estequiométricos podem ser
H2O 0 +100 considerados como sendo soluções sólidas. Metais que
h2s -86 -60 podem “dissolver" quantidades variáveis de hidrogênio
HF -83 +20 podem atuar como catalisadores em reações de hidroge-
HC1 -84 nação. Acredita-se que esses catalisadores são eficientes,
HBr -89 -67 porque atuam como fontes de átomos de H em vez de
H1 -51 -35 moléculas de H2. Não se sabe com certeza se o hidrogênio
□ ÍDN HIDROGÊNIO 1B9

presente nas posições intersticiais se encontra na forma o metal é aquecido. Isso se constitui num bom método de se
atômica, ou alternativamente na forma de íons H* com pesar H2. A composição limite é PdH0 7, mas nem a estrutura
elétrons deslocalizados, mas de qualquer modo apresentam nem a natureza da interação entre Pd e H são inteiramente
propriedades acentuadamente redutoras. compreendidos. À medida que o hidrogênio é absorvido, a
Mesmo pequenas quantidades de hidrogênio dissolvidas condutividade metálica diminui, e o material pode
num metal afetam sua resistência e o tornam quebradiço. O eventualmente se transformar num semicondutor. O
titânio é obtido reduzindo-se TiCl4 com Mg ou Na, numa hidrogênio é móvel e se difunde através do metal. É possível
atmosfera inerte. Se uma atmosfera de H2 for utilizada, o que os relatos incorretos sobre a produção de energia por
titânio obtido dissolve H2, tornando-se quebradiço. O titânio “fusão a frio” (por meio da eletrólise do D2O utilizando
é utilizado na construção de aviões supersônicos, onde a eletrodos de Pd, à temperatura ambiente) estejam associados
resistência é um fator importante. Por isso, o titânio é à energia liberada na reação entre Pd e D2, e não à fusão
produzido numa atmosfera de argônio. nuclear do hidrogênio ou do deutério com a formação de
A ligação que ocorre nesses hidretos é mais complicada hélio (ver Capítulo 31).
do que se supunha inicialmente, e é ainda hoje um motivo
de controvérsias. Hidretos intermediários
1. Em muitos desses hidretos os átomos de hidrogênio Alguns poucos hidretos não se enquadram na classifi­
ocupam interstícios tetraédricos, onde os átomos do cação dada acima. Por exemplo, o (BeH2)n é polimérico, e
metal se arranjam segundo uma estrutura cúbica de supõe-se que ele seja uma cadeia polimérica com átomos de
empacotamento compacto. Se todos os interstícios hidrogênio em ponte. O MgH2 apresenta propriedades
tetraédricos estiverem ocupados, a fórmula seria MH2, intermediárias entre aquelas dos hidretos iônicos e dos
e a estrutura seria semelhante ao da fluorita. Geral­ hidretos covalentes.
mente, alguns interstícios permanecem desocupados,
com o que os compostos contêm uma quantidade menor CuH, ZnH2, CdH2 e HgH2 também possuem proprie­
de hidrogênio. Isso explica os compostos de fórmula dades intermediárias entre as dos hidretos metálicos e dos
MHi>5-2 formados pelos elementos dos grupos do hidretos covalentes. Provavelmente, eles são deficientes em
escândio e do titânio, e pela maioria dos lantanídeos e elétrons como o (AlH3)n. A reação de formação do CuH é
actinídeos. endotérmica, isto é, é preciso fornecer energia para formar
2. Dois dos elementos da série dos lantamdios, o európio o composto. Ele é obtido reduzindo-se Cu2+ com ácido
e o itérbio são exceções, pois formam hidretos iônicos hipofosforoso. Os hidretos de Zn, Cd e Hg são obtidos
EuH2 e YbH2, que são estequiométricos e se assemelham reduzindo-se os respectivos cloretos com Li[AlH4].
ao CaH2. Os lantanídios são geralmente trivalentes, mas
o Eu e o Yb formam íons divalentes (associados com as O ÍON HIDROGÊNIO
configurações eletrônicas estáveis Eu( + II) 4f7 (nível f
semipreenchido) e Yb( + II) 4f14 (nível f preenchido)). A energia necessária para remover o elétron de um
átomo de hidrogênio (ou seja, a energia de ionização do
3. Os compostos YH2 e LaH2, bem como muitos dos
hidrogênio) é igual a 1.311 kJ mol'1. Trata-se de uma
hidretos MH2 dos lantanídios e actinídios, podem
quantidade de energia muito grande. Conseqüentemente,
absorver mais hidrogênio formando compostos de
as ligações formadas pelo hidrogênio em fase gasosa são
composição limite MH3. Podem ser encontrados
compostos com estequiometrias tais como LaH2 76 e geralmente covalentes. O Quoreto de hidrogênio é o composto
CeH2i69. As estruturas desses hidretos são complicadas, que apresenta maior probabilidade de conter um hidrogênio
às vezes cúbicas e às vezes hexagonais. O terceiro átomo iônico (H + ), dado que apresenta a maior diferença de
de hidrogênio está menos firmemente ligado que os eletronegatividades. Mas mesmo nesse caso a ligação tem
demais e, surpreendentemente, pode ocupar um somente 45% de caráter iônico.
interstício octaédrico. Assim sendo, compostos contendo H+ só se formarão
4. O urânio é incomum por formar um hidreto, UH3, que se algum outro processo fornecer uma quantidade de energia
apresenta duas estruturas cristalinas estequiométricas pelo menos equivalente à energia de ionização. Se o
diferentes. composto for dissolvido, por exemplo em água, a energia de
5. Alguns elementos (V, Nb, Ta, Cr, Ni e Pd) formam hidratação pode compensar a elevada energia de ionização.
hidretos de composição que se aproxima de MH. São Na água, oH‘ é solvatado, formando H3O + , com liberação
comuns compostos como NbH0 7 e PdH0,s. Eles são de uma quantidade de energia igual a 1.091 kJ mol’1. O
menos estáveis que os outros hidretos, são não- restante que falta para atingir o valor da energia de ionização,
estequiométricos e formam compostos que abrangem 1.311 kJ mol’1, provém da afinidade eletrônica (a energia
uma ampla faixa de proporções entre M e H. liberada na formação de um íon negativo), e também da
O sistema Pd/H2 é fora do comum e interessante. energia de solvatação do íon negativo.
Quando Pd aquecido ao rubro é resfriado em atmosfera de Compostos que formam íons hidrogênio solvatados num
H2, ele pode absorver ou ocluir uma quantidade de gás H2 solvente adequado são denominados ácidos. Embora seja o
correspondente a cerca de 935 vezes o seu próprio volume. H3O+ (ou mesmo H9O4+) o íon presente em solução, é
Essa propriedade pode ser aproveitada para separar H2 ou comum referir-se a ele como H + , subentendendo-se que se
D2 de hélio ou outros gases. O hidrogênio é liberado quando trata do próton hidratado.
130 O HIDROGÊNIO E OS HIDRETOS

LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO
Em alguns compostos um átomo de hidrogênio é atraído O» ,O
por forças razoavelmente fortes por dois outros átomos, por -H
exemplo no [F-H-F]- (às vezes o átomo de hidrogênio pode
ser atraído por mais de dois átomos). Supôs-se inicialmente H H CH
que o hidrogênio formasse duas ligações covalentes.
Atualmente admite-se que o hidrogênio só pode formar uma H
ligação covalente, visto que sua configuração eletrônica é d
H 'H
Is1. A ligação de hidrogênio é considerada, simplificada-
mente, como sendo uma atração eletrostática fraca entre
um par de elétrons livres de um átomo e um átomo de hidro­ orto meta para
gênio ligado covalentemente, tendo uma carga parcial 8 + .
As ligações de hidrogênio são formadas apenas com os Figura 8.5 — Estruturas do orto-. meta-, e para-nitrofenol
elementos mais eletronegativos (destes, os quatro mais
importantes são o F, O, N e Cl). Essas ligações são fracas,
com valores típicos de 10 kJ mol’1. Porém, a energia de entalpias de vaporização e de sublimação (Fig. 8.6). De iun.
ligação pode variar de 4 a 45 kl mol"1. Esses valores devem modo geral, os pontos de fusão e de ebulição numa série dr
ser comparados com a energia de uma ligação covalente compostos correlatos tendem a aumentar à medida que o
C-C, que é de 347 kJ mol"1. Apesar da pequena energia de átomos se tornam maiores, devido ao aumento das força
ligação, elas são de grande importância em sistemas dispersivas. Assim, por extrapolação das temperaturas dr
bioquímicos e mesmo na química. Elas são extremamente ebulição do H2Te, H2Se e H2S, pode-se prever que o ponte
importantes por serem as responsáveis pela ligação de de ebulição da água deve ser em torno de -100° C. Ni
cadeias polipeptídicas em proteínas e por ligarem pares de realidade, contudo, o ponto de ebulição da água é igual;
bases nas gigantescas moléculas contendo ácidos nucléicos. +100 °C. Portanto, a água ferve a uma temperatura cerc.
As ligações de hidrogênio mantêm essas moléculas em de 200 °C maior que a que deveriamos observar na ausêndi
configurações moleculares específicas, o que é importante de ligações de hidrogênio.
para o funcionamento de genes e enzimas. As ligações de Analogamente, o ponto de ebulição do NH3 é bem maio
hidrogênio são responsáveis pelo fato da água ser líquida à que o valor esperado analisando-se a tendência observad;
temperatura ambiente e, se assim não fosse, a vida tal como na série PH3, AsH3 e SbH3. O HF também entra em ebuliçãc
a conhecemos não seria possível. Como as ligações de a temperaturas mais elevadas que o HC1, HBr e HI. A
hidrogênio são fracas, suas energias de ativação são baixas. responsáveis por essas temperaturas de ebulição maioire
Por isso exercem um papel importante em muitas reações que o esperado são as ligações de hidrogênio. Note que o:
que ocorrem a temperaturas ambiente. pontos de ebulição dos hidretos do Grupo 14, CH4, SiH.
As ligações de hidrogênio foram a primeira explicação GeH4 e SnH4 aumentam contínua e gradativamente, já qu.
para o caráter fracamente básico do hidróxido de não há formação de ligações de hidrogênio .
trimetilamônio, quando comparado com o hidróxido de As ligações de hidrogênio no HF ligam o átomo de F d<
tetrametilamônio. No composto trimetilado, o grupo 0H~ uma molécula com os átomos de H de outra molécula
está ligado ao grupo Me3NH (a linha pontilhada na Fig. 8.4) formando uma cadeia em zigue-zague de (HF)n, tanto n<
por ligações de hidrogênio. Isso toma a dissociação do grupo estado líquido como no sólido (Fig.8.7). No gás HF, também
OH mais difícil, enfraquecendo a base. No composto ocorre a formação de ligações de hidrogênio, sendo est
tetrametilado não há possibilidade de haver a formação de constituído por uma mistura de polímeros cíclicos (HF)6, d>
ligações de hidrogênio e o grupo OH se dissocia facilmente. dímeros (HF)2 e de monômeros HF (a energia da ligação d
Logo, o composto tetrametilado é uma base muito mais forte. hidrogênio F—H---F é igual a 29 kJ mol-1, no HF(gás)).
De uma maneira análoga, a formação de ligações de Um comportamento semelhante pode ser observado mo
hidrogênio intramoleculares no o-nitrofenol torna-o menos pontos de fusão e entalpias de vaporização dos hidretos
ácido que o m-nitrofenol e o p-nitrofenol, nos quais não é indicando a presença de ligações de hidrogênio no NH3, m
possível a formação de ligações de hidrogênio intramo­ H2O e no HF, mas não no CH4 (Fig.8.6c).
leculares (Fig. 8.5). Fortes evidências a favor das ligações de hidrogêni
As presenças de ligações de hidrogênio intermoleculares são fornecidas pelos estudos estruturais. Entre os exemplo
podem exercer um efeito muito acentuado sobre propriedades estão o gelo, cuja estrutura foi determinada tanto pordifraçã
físicas tais como pontos de fusão, pontos de ebulição e de raios X como de nêutrons; a estrutura dimérica do ácid
fórmico (determinada por difração de elétrons, na fas
gasosa); estruturas do hidrogenocarbonato de sódio e ácid
CH3 ch3 bórico, determinadas por difração de raios X (Fig. 8.8);
I I muitos outros.
CHi -N—>H • • • O—H ch3—n->ch3 O—H-
I I Uma outra técnica para o estudo das ligações d
CH3 ch3 hidrogênio é a espectroscopia de absorção no infravermelh
em solução de CC14, que permite estudar as freqüências d
Figura 8.4 — Estruturas dos hidróxidos de trimetila e tetrametilamônio estiramento das ligações O-H e N-H.
ÁCIDOS E BASES 131

ÁCIDOS E BASES
Existem várias teorias sobre acidez
e basicidade. Contudo, não se trata
realmente de teorias, mas simplesmente
de diferentes definições para o que
convencionamos denominar ácido e
base. Como se trata meramente de um
caso de definição, não se pode dizer que
uma teoria é mais correta que outra.
Assim, utilizamos a “teoria” mais conve­
niente para solucionar um determinado
I problema químico. Qual é a teoria ou
definição mais útil de ácidos e bases ?
Não há uma resposta simples para essa
questão, pois ela depende do fato de
estarmos considerando reações iônicas
em solução aquosa, ou em solventes
não-aquosos, ou numa massa em fusão,
ou ainda se estamos interessados na
medida da força dos ácidos e bases. Por
esse motivo é necessário conhecer
diversas teorias.

A teoria de Arrhenius
Nos primórdios da química, os
ácidos eram identificados pelo seu gosto
azedo ou "ácido” e pelo seu efeito sobre
certos pigmentos de plantas, por
exemplo o tornassol. As bases eram
substâncias que reagiam com os ácidos
formando sais. As reações em solução
Figura 8.6 — Pontos de ebulição dos hidretos. b) Pontos de fusão de hidretos. c) Entalpias de vapori- eram efetuadas quase que exclusi­
zação de hidretos (adaptação J.J. Lagotuski, Modem Inorganic Chemistry, Marcei Dekker, N.York. vamente em água. Assim, em 1884,
Arrhenius sugeriu a teoria da dissocia­
ção eletrolítica e propôs a auto-ionização da água:
H2O ^H+ + OH"
Substâncias que produziam H+ foram denominadas
ácidos e aquelas que produziam OH" bases. Uma típica
reação de neutralização é a seguinte:
HC1 + NaOH NaCl + H2O
ácido base sal água

ou simplesmente:
H+ + OH" H,0
Em soluções aquosas, a concentração de H+ é freqüen-
temente expressa em unidades de pH, onde:
PH = log10 -^- = -log10[H+]
J

F F F F F
/\
. H
z\H
.
Z\
. H
/\
. H . H
• H • H • H • H • H * H
*•/ *./ *./ *./ '•/
F F F F F F

Figura 8.6a — continuação da figura 8.6 Figura 8.7 — Cadeia de HF sólido com ligações por pontes de hidrogênio
133 O HIDRD6ÈNID E 05 HIORETOS

bases e sais eram comum aos três sistemas.


Embora a água ainda seja o solvente mais utilizado, =
seu uso exclusivo limitou a química àqueles compostos qu=
são estáveis em sua presença. Os solventes não-aquososestã«
sendo cada vez mais utilizados na Química Inorgânica porqu=
muitos compostos, inéditos e instáveis em água, podem se-
preparados. Além disso, podem ser preparados alguns
compostos anidros, tais como o nitrato de cobre anidro, que
apresentam propriedades completamente distintas daquela
da forma hidratada já conhecida. Os conceitos de ácido <-
base, definidos para soluções aquosas, devem ser ampliado:
para englobar também solvente não-aquosos.

Ácidos e bases em solventes protônicos


A água sofre auto-ionização

2H2O — H3O+ + OH
A constante de equilíbrio dessa reação depende da
concentração da água [H2O] e das concentrações dos íom
[H3O + ] e [OH-].

[H3O+][OH~]
Ki =
[h20]2
Como a água está presente em grande excesso, sua
concentração é praticamente constante, de modo que o
produto iônico da água pode ser expresso como:
Kw = [H30 + ][0H"] = 10I"’ 14 mol2 r2

O valor de K„ é igual a 1,00 x 10-14 mol2 F2, a 25 °C,


mas varia com a temperatura. Logo, na água pura, a 25 °C,
teremos IO-7 mor1 de H3O+ e IO"7 mol"1 de OH".
Ácidos, tais como HA, aumentam a concentração de
H H3O + :
O' HA + H2O = H3O+ + A"
I [H3O*][A-]
O' w [HA] [H2O]
Figura 8.6 — Estruturas com ligações por pontes de hidrogênio, a) Danem Em soluções diluídas, a água está em tal excesso que
do ácido fórmico, (HCOOH)2; Gelo (de L.Pauling, The Nature of the sua concentração é praticamente constante (aproximada­
Chemical Bond, 3.aed., pg.449-504, Comell University Press, Ithaca 1960)
e c) Uma camada de H3BO3 cristalino mente 55 M) e poderá ser incorporada à constante K„.
Portanto:

sendo [H + ] a concentração do íon hidrogênio. Rigorosa­ [H3O*][A-]


mente, a atividade deveria ser utilizada no lugar da concen­
«« = [HA]
tração. Essa escala logarítmica foi introduzida por S.P.L.
Sorensen em 1909, sendo muito útil para expressar concen­
trações numa vasta faixa de ordens de grandeza. Por exem­ Tabela 8.4 — Produto iônico da água a várias temperaturas
plo, H* 1 M corresponde a pH = 0, IO"14 M H + a pH = 14.
Até o final do século 19 acreditava-se que a água era o Temperatura (") Kw(mol2!-2)
único solvente no qual poderíam ocorrer reações iônicas.
Os estudos realizados por Cady, em 1897, e por Franklin e 0 0,12 x IO"14
Kraus, em 1898, sobre reações em amônia líquida, e por 10 0,29 x 10-14
Walden, em 1899, sobre reações em dióxido de enxofre 20 0,68 x IO"14
líquido, revelaram muitas analogias com as reações efetuadas 25 1,00 x IO’14
em água. Essas analogias sugeriram que o três meios 30 1,47 x IO’14
estudados se comportavam como solventes ionizantes e 40 2,92 X IO-14
poderíam ser utilizados em reações iônicas; e que ácidos, 100 47,6 x IO"14
ÁCIDOS E BASES 133

ácido muito fraco ácido fraco ácido forte ácido muito forte
Tabela 8.5 — Relações entre pH, |H*] e [OH-] HNO2 pK, - 3,3 HNOj pX, - -1,4
HjSOj pX, - 1,9 H2SO4 pXa - (-1)
PH [H+] (mol l-1) [OH-] (mol l-1) HOCI pK, - 7,2 HC1O2 pX, - 2,0 HClOj pXa - HC1O, pK, - (-10)

0 10° icr14
1 10-1 10-13 A Teoria de Brõnsted-Lowry
2 10-2 10-'2 Em 1923, Brõnsted e Lowry, independentemente,
3 IO-3 10-11 — ácido definiram ácidos como sendo doadores de prótons e bases
4 10"4 IO-10 como receptores de prótons.
5 10-5 10-9
6 10-6 10-8 2H2O = H3O+ + OH-
7 10-7 IO-7- neutro solvente ácido base
8 10-8 10-6 Em soluções aquosas, essa definição não difere
9 10-9 10-5 apreciavelmente daquela da teoria de Arrhenius. A água se
10 10-1° 10-* auto-ioniza, como mostrado acima. Substâncias que, em
11 10-" 10-3 — básico solução aquosa, aumentam a concentração de H3O+ para
12 IO-'2 10-2
valores acima de 10-7 mol2 l"2, correspondente a auto-
13 10-13 10-1
14 10° ionização, são consideradas ácidas e aquelas que diminuem
10-'4
esse valor são bases.
A teoria de Brõnsted-Lowry é útil, porque estende a
aplicabilidade da teoria de ácidos e bases a solventes
A escala de pH é usada para medir a atividade dos íons diferentes da água, como amônia líquida, ácido acético gla-
hidrogênio (pH = -log[H + ]) e se refere ao número de cial e ácido sulfúrico anidro, bem como a todos os outros
potências de dez que expressam a concentração de íons solventes contendo hidrogênio. Deve-se frisar que as bases
hidrogênio. Analogamente, a constante de dissociação do são receptores de prótons, não havendo necessidade
ácido, Ka, pode ser expressa como um valor de pKa: nenhuma da presença do íon OH- para que uma substância
seja uma base.
P*a= log-J- = log^c Por exemplo, em amônia líquida:

O pKa é, portanto, uma medida da força de um dado NH4C1 + NaNH2 Na + Cl- + 2NH3
ácido base sal solvente
ácido. O valor de Ka será elevado se o ácido estiver quase
que totalmente ionizado (elevada força ácida}. Consequente­ ou simplesmente:
mente, o valor de pKa será pequeno. Pode-se inferir a partir NH4+ + NH2"-> 2NH3
dos valores de pKa dados a seguir, que a força ácida aumenta ácido base solvente
da esquerda para a direita na tabela periódica: (doa um (aceita um
próton) próton)
CH4 NH3 H2O HF
Analogamente, em ácido sulfúrico:
PKa 46 35 16 3
H3SO4+ HSO4- 2H2SO4
A força dos ácidos também aumenta de cima para baixo, ácido base solvente
dentro de um grupo da tabela periódica:
Espécies químicas que diferem na composição apenas
HF HC1 HBr HI por um próton são denominados “pares conjugados".
pK> 3 -9 -10 Portanto, cada ácido possui sua respectiva base conjugada,
que se forma quando o ácido doa um próton. Analogamente,
Nos oxoácidos contendo mais de um átomo de
cada base possui um ácido conjugado correspondente.
hidrogênio, as constantes de dissociação sucessivas se
tomam rapidamente mais positivas, isto é, o tipo de “fosfato” A . B" + H+
formado por sucessivas remoções de H + se torna cada vez ácido base
menos ácida: conjugada
B H+ A+
H3PO4^H+ + H2POJ pKj = 2,15 base ácido
H2PO4- H+ + HPO4- pK2 = 7,20 conjugado
HPO4- H+ + PO4- pKj = 12,37 Em solução aquosa
Se um elemento formar diversos oxoácidos, o composto HC1 + H2O H3O+ + cr
será tanto mais ácido quanto mais átomos de oxigênio acid base ácido base
! j conjugado conjugada
contiver. Isso decorre do decréscimo na força de atração
eletrostática pelo próton, à medida que a carga negativa se
distribui sobre um maior número de átomos, o que facilita a Na reação acima, o HC1 é um ácido, pois doa prótons.
ionizaçâo. Assim, Cl- é sua base conjugada. Visto que o H2O recebe
134 □ HI0RDÍ5ÊNID E 05 HIDRETOS

um próton, ele é uma base e forma H30 + , seu ácido Solventes diferenciadores, como 0 ácido acético glaciaf—
conjugado. A base conjugada de um ácido forte é fraca, e enfatizam a diferença de força ácida e muitos ácidos minerai-
vice-versa. só se ionizam parcialmente neste solvente. Isso acontece
Em solução de amônia líquida: porque o próprio ácido acético é um doador de prótons
Portanto, para que uma substância dissolvida em ácãdc
NHj + S2’ HS" + NH3 acético se comporte como um ácido, ela deve doar próton
add base ácido base
I [conjugado conjugada mais facilmente que o ácido acético. O material dissolvnde
deve forçar o ácido acético a receber prótons (isto é, deví
forçar o ácido acético a comportar-se como base). 0 solventi
Em amônia líquida todos os sais de amônio atuam como
ácido acético torna mais difícil a dissociação dos ácidos miai
ácidos, pois eles podem doar prótons; e o íon sulfeto atua
comuns, e ao contrário favorecerá a dissociação complet;
como base, pois recebe prótons. A reação é reversível e ela
das bases. Logo, conclui-se que um solvente diferenciada
ocorre no sentido da formação das espécies que apresentam
para ácidos será um solvente nivelador para bases e vice
as menores tendências de se dissociarem, ou seja, HS" e
versa.
NH3 no presente caso.
A teoria de Brõnsted-Lowry apresenta uma limitação,
pois o grau em que uma substância dissolvida pode atuar A Teoria de Lewis
como ácido ou como base depende muito do solvente. 0 soluto Lewis desenvolveu uma definição de ácidos e base
apresenta propriedades ácidas somente se sua capacidade que não depende da presença de prótons, nem envolve
de doar prótons superar a do solvente. Isso às vezes contradiz reações com o solvente. Ele definiu ácidos como sendc
as nossas idéias tradicionais sobre o que são ácidos, pois substâncias capazes de receber pares de elétrons e basee
estas idéias se baseiam na nossa experiência sobre o que como sendo substâncias capazes de doar pares de elétrons.
acontece em solução aquosa. Por exemplo, o HC104 é um Portanto, um próton é um ácido de Lewis e a amônia é uma
doador de prótons extremamente forte. Se HC1O4 líquido for base de Lewis, pois o par de elétrons livres do nitrogênio
utilizado como solvente, o HF dissolvido será forçado a pode ser doado para um próton:
receber prótons e atuar como base.
H+ + :NH3-> [H<-:NH3]+
HCIO4 + HF H2F+ + ClOf
Analogamente, 0 HC1 é um ácido de Lewis porque ele
Analogamente, o HNO3 é forçado a receber prótons e, pode receber um par de elétrons de uma base como a água,
portanto, atua como base tanto em HC104 como em HF embora este processo seja seguido por uma ionização:
líquido como solvente. H20 + HC1 -» [H2O:-»HC1] -> H30 + + Cl’
A água apresenta apenas uma fraca tendência de doar
Embora essa abordagem seja mais geral e abrangente
prótons. Assim, todos os ácidos minerais (HC1, HNO3, H2SO4
que aquela que envolve prótons, ela apresenta diversas
etc.) apresentam tendência muito mais acentuada a ceder
desvantagens:
prótons. Em solução aquosa todos os ácidos minerais doam
prótons para a água, comportando-se como ácidos. Nesse 1. Muitas substâncias, tais como o BF3 ou íons metálicos,
processo os ácidos minerais se dissociam completamente. que normalmente não são considerados ácidos,
Usando amônia líquida como solvente, os ácidos fortes comportam-se como ácidos de Lewis. Essa teoria
em solução aquosa reagem completamente com a amônia, também engloba reações em que não há formação de
formando NH4 + . íons, nem transferência de íons hidrogênio ou de
quaisquer outros íons (por exemplo, Ni(CO)4).
HCIO4 + NH3^NH4+ + CIO4’
HN03 + NH3-»NH4+ + N03- ácido base
BF3 + NH3 -> [H3N:—>BF3]
Ácidos um pouco mais fracos em água também reagem Ag+ + 2NH3 [H3Nt—>Ag<—:NH3]+
completamente com a amônia, formando NH4 + . Co3+ + 6Cr —» [CoCl6]3-
Ni + 4C0 -»Ni(C0)4
H2SO4 + 2NH3 2NH4+ + SO4- 0 + C6H5 ->C6H5N:-»O (óxido de piridina)
Também ácidos que sao fracos frente a água, como 0 2. Não há escala para medir a força de ácidos ou de bases
ácido oxálico, reagem completamente com NH3. já que a força de uma substância ácida ou básica nãat
constante, variando de um solvente para outro e tambéir
(COOH)2 + 2NH3 —>2NH4+ + (COO)22-
de uma reação para outra.
As forças dos diferentes ácidos foram todas niveladas 3. Quase todas as reações podem ser consideradas comt
pelo solvente amônia líquida: por isso a amônia líquida é sendo reações ácido-base, caso essa definição seji
denominada um solvente nivelador. Mesmo certas moléculas utilizada.
que não apresentam propriedades ácidas em solução aquosa,
como a uréia, tornam-se fracamente ácidas em amônia
O solvente
líquida.
Talvez a definição geral mais conveniente de ácidos 1
NH2CONH2 + NH3^NH4+ + nh2conh- bases seja aquela formulada por Cady e Elsey, que pode se
ÁCIDOS E BASES 135

aplicada em todos os casos em que o solvente sofra auto- Contudo, o ácido acético se comporta como base
ionização, quer ele possua prótons ou não. quando usamos ácido sulfúrico como solvente, pois o H2SO4
Muitos solventes sofrem reações de auto-ionização, de é um doador de prótons mais forte que o CH3COOH. Analoga­
modo semelhante ao que acontece com a água, formando mente, o HNO3 é forçado a comportar-se como base em
íons positivos e negativos: H2SO4, o que é importante na obtenção do íon nitrônio,
NO2 + , responsável pela nitração de compostos orgânicos
2H2O — H3O+ + OH" por uma mistura de H2SO4 e HNO3 concentrados.
2NH3 NH4+ + NH2"
H2SO4 + CH3COOH ■CH3COOH2- + HSO4"
2H2SO4 H3SO4+ + HSO4"
H2SO4 + HNO3- [H2NO3]+ + HSO4-
2POC13 POC12+ + POC14"
[H2NO3]+ • h2o + no2+
2BrF3 BrF2+ + BrF4"
N2O4 NO+ + NO3"
A definição de Lux-Flood
Os ácidos são definidos como substâncias que
Lux propôs originalmente uma definição diferente de
aumentam a concentração do íon positivo característico do
ácidos e bases, que foi ampliada por Flood. Em vez de usar
solvente (H3O+ no caso da água, NH4+ no caso da amônia
prótons ou íons característicos do solvente, eles definiram
líquida, e NO+ no caso do N2O4). Bases são substâncias
ácidos como sendo óxidos capazes de receber oxigênio, e
que aumentam a concentração do íon negativo característico
bases como óxidos que cedem oxigênio. Por exemplo:
do solvente (OH“ no caso da água, NH2“ na amônia líquida,
N03" no N2O4). CaO + CO2 - Ca2+[CO3]2"
Essa abordagem apresenta duas vantagens. Em primeiro SiO2 + CaO - Ca2 + [SiO3]2"
lugar, a maior parte de nossas idéias tradicionais sobre ácidos 6Na2O + P4O10 > 4Na3 + [PO4]3"
e bases em solução aquosa permanecem inalteradas, o que base ácido
acontece também com o conceito de reações de neutra­ Esse sistema é muito útil no tratamento de reações em
lização. Em segundo lugar, ela permite a inclusão de condições anidras, em óxidos no estado fundido, e em outras
solventes não-aquosos por analogia com a água. reações a altas temperaturas, como aquelas encontradas nas
Por exemplo, a água se ioniza formando os íons H3O + áreas de metalurgia e cerâmica.
e OH". Substâncias que fornecem H3O + (por exemplo HC1,
KNO3 e H2SO4) são ácidos, e substâncias que fornecem OH" A definição de Usanovich
(como NaOH e NH4OH) são bases. As reações de
Segundo essa definição, um ácido é uma espécie
neutralização são do tipo ácido + base —> sal + água.
química qualquer que reage com bases, libera cátions, ou
HC1 NaOH NaCl H2O recebe ânions ou elétrons. Por sua vez, uma base é uma
ácido base sal água espécie química qualquer que reage com ácidos, libera ânions
ou elétrons, ou se combina com cátions. TYata-se de uma
Analogamente, a amônia líquida ioniza-se formando os íons
definição muito ampla que inclui todas as reações do tipo
NH4+ e NH2". Sais de amônio são ácidos pois eles fornecem
ácido-base de Lewis, além de englobar as reações redox que
íons NH4 + , e a sodamida, NaNH2, é básica pois ela fornece
envolvem a transferência de elétrons.
íons NH2~. As reações de neutralização são do tipo ácido +
base —> sal + solvente.
Ácidos e bases duros e moles
NH4C1 + NaNH2 NaCl 2NH3
ácido base sal solvente Os íons metálicos podem ser divididos em dois grupos,
dependendo da estabilidade de seus complexos com certos
0 N2O4 sofre auto-ionização gerando os íons NO+ e NO3". ligantes.
No caso do N2O4 como solvente, N0C1 comporta-se como Metais do tipo a): incluem os íons pequenos dos Grupos
ácido, pois fornece NO +, e NaNO3 como base, já que fornece 1 e 2 e os elementos de transição que se encontram a
no3-. esquerda na tabela periódica, particularmente em estados
de oxidação elevados. Esses metais formam os complexos
NOC1 + NaNO3 NaCl n2o4 mais estáveis com doadores de oxigênio e nitrogênio
ácido base sal solvente
(amônia, aminas, água, cetonas, álcoois), e também com F"
e cr.
Claramente essa definição se aplica igualmente bem a
sistemas protônicos e não-protônicos. Essa definição mais Metais do tipo ti): incluem os íons de metais de transição
localizados a direita na série e os complexos de metais de
ampla também apresenta vantagens ao se considerar
transição em baixo estado de oxidação, tais como as
solventes protônicos, pois explica porque as propriedades
carbonilas. Esses metais formam os complexos mais estáveis
ácidas ou básicas de um soluto não são absolutas e dependem
com ligantes tais como I", SCN" e CN".
em parte do solvente. Normalmente consideramos o ácido
acético como sendo um ácido, porque em solução aquosa Essa classificação empírica foi útil na previsão das
ele produz H3O + . estabilidades relativas de complexos. Pearson estendeu o
conceito para uma grande variedade de interações ácido-
CHjCOOH + H2O h3o+ + ch3coo" base. Metais do tipo a) são pequenos e não muito polarizáveis
13B □ HIDROGÊNIO E OS HIDRETOS

Tabela 8.6 — Alguns ácidos e bases duros e moles • Muetterties, E.L.; Tl-ansition Metal Hydrides, Marcei Dekker
New York, 1971.
Ácidos duros Ácidos moles • Sharpe, A.G.; Inorganic Chemistry, Longmans, London, 1981
H* Pd2*. Pt2*, Cu*, Ag*. Au*. Hg2*, cap. 9.
Li*. Na* K*. (Hg2)2*,Tl*. • Stinson, S.C.; Chem. Eng. News, 3 de novembro, 18-20,1980
Be2*, Mg2*, Ca2*, Sr2*, B(CH3)j, B2H6, Ga(CH3)3, GaCl3, (Aumento do uso de hidretos como agentes redutores)
Al3*, BF3. A1(CH3)3, A1C13, GaBr3, Galj • Wiberg, E. e Amberger, E.; Hydrides, Elsevier, 1971.
Sc3*, Ti4*, Zr4*, VO2*, Cr3*, [Fe(CO)5], [Co(CN)5]5-
MoO3*, WO4*,
Ce3*, Lu3*, Hidrogênio como Combustível Alternativo
Co2, SOj • McAuliffe, C.A.; The hydrogen economy, Chemistry inBrit
Bases duras Bases moles ain, 9, 559-563 (1973).
NH3, RNH2, N4H4 H", CN", SCN-, S2O1-, r RS', • Marchetti, C.; The hydrogen economy and the chemist, Chem
H2O, ROH, r2o R2S, CO, B2H6, C2Hj, R3P, P(OR)3 istry in Britain, 13, 219-222 (1977).
OH-, NO), CIOJ, CO?-, SO?“, • Williams, L.O.; Hydrogen Power: An Introduction to Hydro­
por, CH3COO-, F-, cr gen Energy and Its Applications, Pergamon Press, Oxfoird,
1980.

e combinam-se preferencialmente com ligantes também Ligação de Hidrogênio


pequenos e não muito polarizáveis. Esses metais e ligantes • Coulson, C.A.; Valence, Oxford University Press, Oxford, 3?
foram denominados por Pearson, respectivamente, ácidos ed. por McWeeny, R., 1979. (Esta é a versão atualizada do
duros e bases duras. Analogamente, os metais do tipo b e os livro de Coulson de 1952)
ligantes, maiores e mais polarizáveis, com que se combinam • DeKock, R.L. e Gray, H.B.; Chemical Structure and Bonding,
preferencialmente, foram denominados por ele de ácidos Benjamin/Cummins, Menlo Park, Califórnia, 1980.
moles e bases moles, respectivamente. Ele estabeleceu a • Douglas, B.; McDaniel, D.H. e Alexander, J.J.; Conceptsand
seguinte relação: preferencialmente, ácidos duros reagem com Models oflnorganic Chemistry, 2? ed., John Wiley, New York.
bases duras e ácidos moles reagem com bases moles. Essa 1982. (Cap.5: A ligação de hidrogênio)
definição incorpora as reações do tipo ácido-base mais • Emsley, J.; Chem. Soc. Rev., 9, 91-124 (1980). (Ligações de
comuns (H+ é um ácido duro, OH~ e NH3 são bases duras), hidrogênio muito fortes)
além de um grande número de reações que envolvem a • Joesten, M.D. e Schaad, L.J.; Hydrogen Bonding, Marcei
formação de complexos simples e de complexos com ligantes Dekker, New York, 1974.
que formam ligações n.
• Pauling, L.; The Nature of the Chemical Bond, 3? ed., Oxford
University Press, London, 1960, cap.12.
LEITURAS COMPLEMENTARES • Pimentel, G.C. e McClellan, A.L.; The Hydrogen Bond, W.H.
Hidrogênio Freeman, San Francisco, 1960. (Uma monografia bem escrita
com mais de 2.200 referências. Antiga mas completa)
• Brown, H.C.; Chem. Eng. News, 5 de março, 24-29 (1979).
• Vinogrodov, S.N. e Linnell, R.H.; Hydrogen Bonding, Vao
(Reduções com hidretos: 40 anos de revolução na química
Nostrand Reinhold, New York, 1971. (Ótimo tratamento geral)
orgânica)
• Wells, A.E; Structural Inorganic Chemistry, 5? ed., Oxford
• Emeléus, H.J. e Sharpe, A.G.; Modem Aspects of Inorganic
University Press, Oxford, 1984.
Chemistry, Routledge and Kegan Paul, London, 1973. (Cap.8:
O hidrogênio e os hidretos)
Ácidos e Bases
• Evans, E.A.; THtium and its Compounds, 2? ed., Butterworths,
London, 1974. (Contém cerca de 4.000 referências) • Bell, R.P.; The Proton in Chemistry, 2? ed., Chápman am:
• Grant, W.J. e Redfearn, S.L.; The Modem Inorganic Chemis­ Hall, London, 1973.
try Industry, Thompson, R. (editor), The Chemical Society, • Bronsted, J.N.; Rec. TTav. Chim.,42, 718 (1923). (Artigoorigi
London, 1977, publicação especial n? 31. (Gases industriais) nal sobre a teoria de Bronsted)
• Jolly, W.L.; The Principies of Inorganic Chemistry, McGraw • Cady, H.P. e Elsey, H.M.; J. Chem. Ed., 5, 1425 (1928)
Hill, New York, 1976, cap.4-5. (Definição geral de ácidos, bases e sais)
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e trítio) sistemas superácidos)
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PROBLEMAS 137

protônicos, ácidos de Lewis, ácidos duros e moles e • Gillespie, R.J. e Robinson, E.A.; Adv. Inorg. Chem.
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• Olah, G.A.; Surya Prakask, G.K. e Sommer, J.; Superacids,
Wiley, Chichester and Wiley-Interscience, New York, 1985.
PROBLEMAS
Pearson, R.G.; J. Chem. Ed., 64, 561-567 (1987). (Avanços
recentes no conceito de ácidos e bases duros e moles) 1. Proponha razões a favor e contra a inclusão do hidrogênio
em um dos grupos de elementos representativos da Tabela
• Smith, D.W.; J. Chem. Ed., 64, 480-481 (1987). (Escala de Periódica.
acidez para óxidos binários)
Descreva quatro métodos de obtenção do hidrogênio em
• Vogei, A.L; Jeffery, G.H.; Bassett, J.; Mendham, J. e Denney, escala industrial. Mostre um método conveniente de
R.C.; Vogei’s Textbook of Quantitative Chemical Analysis, 5? preparar hidrogênio em laboratório.
ed., Halstead Press, 1990. (Indicadores, titulações ácido-base,
ácidos e bases fracas, tampões, etc.) 3. Descreva os principais usos do hidrogênio.
4. Escreva as equações que representam as reações do
hidrogênio com: a) Na, b) Ca, c) CO, d) N, e) S, f) Cl2, g)
A água e as soluções CuO.
• Burgess, J.; lons in Solution, Ellis Horwood, Chichester, 1988. 5. Descreva as propriedades dos diferentes tipos ou classes
• Franks, F.; Water, 1 ? edição revisada, Royal Society of Chem- de hidretos.
istry, London. 6. Dê seis exemplos de solventes protônicos diferentes da
• Hunt, J.P. e Friedman, H.L.; Prog. Inorg. Chem., 30, 359-387 água e mostre como eles se auto-ionizam.
(1983). (Aqua complexos de íons metálicos) 7. Quais são as espécies caracteristicamente ácidas e básicas
• Murrell, J.N. e Boucher, E.A.; Properties ofLiquids and Solu­ nos seguintes solventes: a) amónia líquida, ácido acético
tions, John Wiley, Chichester, 1982. anidro, b) ácido nítrico anidro, c) HF anidro, d) ácido
• Nielson, G.W. e Enderby, J.E. (eds.); Water and Aqueous perclórico anidro, e) ácido sulfúrico anidro, f) tetróxido
Solutions, 37.° Simpósio da Colston Research Society de dinitrogênio.
(Universidade de Bristol), Adam Hilger, Bristol, 1986. 8. Descreva como as várias propriedades físicas de um
• Symons, M.C.R.; Liquid water - the story unfolds, Chemistry solvente influenciam a sua utilidade como solvente.
inBritain, 25, 491-494 (1989). 9. Como as propriedades do H2O, NH3 e HF são influenciadas
pela formação de ligações de hidrogênio ?
Solventes Não-Aquosos 10. Explique a tendência de variação encontrada nos pontos
de ebulição dos haletos de hidrogênio (HF 20 °C, HC1
• Addison, C.C.; Chem. Rev., 80, 21-39 (1980). (Tetróxido de -85 °C, HBr -67 °C, HI -36 °C).
dinitrogênio, ácido nítrico e suas misturas como meios para
reações inorgânicas) 11. Discuta os fundamentos teóricos, os usos práticos e as
limitações teóricas para a utilização do fluoreto de
• Addison, C.C.; The Chemistry of Liquid Alkali Metals, John hidrogênio líquido como solvente não-aquoso. Enumere
Wiley, Chichester, 1984. as substâncias que se comportam como ácidos e como
• Burger, K.; lonic Solvation and Complex Formation Reactions bases nesse solvente. Explique o que acontece quando SbFs
in Non-Aqueous Solvents, Elsevier, New York, 1983. é dissolvido em HF.
• Emeléus, H.J. e Sharpe, A.G.; Modem Aspects of Inorganic 12. Discuta os fundamentos teóricos, usos práticos e limitações
Chemistry, Routledge and Kegan Paul, London, 1973. (Cap.7: para o uso da amónia líquida como solvente não-aquoso.
Reações em solventes não aquosos; Cap.8: O hidrogênio e Explique o que acontece quando o l5NH4Cl é dissolvido
os hidretos) em amónia líquida não marcada e o solvente é evaporado.
13B

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139

Grupo J
os metais nLcnuuos
INTRODUÇÃO dustrial. A produção mundial de sais de potássio (designados
genericamente como "potassa” e medidos pelo conteúdo de
Os elementos do Grupo 1 ilustram, de modo mais claro
K2O) foi de 24,5 milhões de toneladas, em 1992. Grande
que qualquer outro grupo de elementos, o efeito do tamanho
parte foi empregada como fertilizante, mas KOH, KNO3 e
dos átomos ou íons sobre as propriedades físicas e químicas.
K2O também são importantes. Além disso, sódio e potássio
Eles formam um grupo bastante homogêneo e, provavel­
são elementos essenciais para a vida animal. Esses dois
mente, tenham a química mais simples que qualquer outro
elementos foram isolados pela primeira vez por Humphrey
grupo da Tabela Periódica. As propriedades físicas e químicas
Davy, em 1807, pela eletrólise de KOH e NaOH.
desses elementos estão intimamente relacionadas com sua
estrutura eletrônica e seu tamanho. Todos esses elementos
são metais; são excelentes condutores de eletricidade, moles OCORRÊNCIA E ABUNDÂNCIA
e altamente reativos. Possuem na camada eletrônica mais
externa um elétron fracamente ligado ao núcleo e geralmente Apesar de sua grande semelhança química, os
formam compostos univalentes, iônicos e incolores. Os elementos alcalinos não ocorrem juntos, principalmente por
hidróxidos e óxidos são bases muito fortes e os oxo-sais são causa dos diferentes tamanhos de seus íons.
muito estáveis. O lítio é o trigésimo quinto elemento mais abundante,
O lítio, o primeiro elemento, difere consideravelmente em peso, e é obtido principalmente a partir de minerais do
dos demais elementos do grupo. Em todos os grupos de grupo dos silicatos, como o espodumênio LiAl(SiO3)2 e a
elementos representativos da Tabela Periódica, o primeiro lepidolita Li2Al2(SiO3)3(FOH)2. A produção mundial de
elemento apresenta uma série de diferenças em relação aos minerais de lítio foi de 8.900 toneladas em 1992. Os principais
demais elementos. produtores são a ex-União Soviética com 36%, Austrália 34%,
O sódio e o potássio constituem cerca de 4% em peso China 12%, Zimbabue 10%, Chile 9% e Canadá 8%.
da crosta terrestre. Seus compostos são muito comuns, sendo O sódio e o potássio são o sétimo e o oitavo elementos
conhecidos e usados desde os primórdios da civilização. mais abundantes da crosta terrestre, em peso. NaCl e KC1
Alguns desses compostos são utilizados em quantidades ocorrem em grandes quantidades na água do mar. A princi­
muito grandes. Em 1992, a produção mundial de NaCl foi pal fonte de sódio é o sal-gema (NaCl). Diversos sais,
de 183,5 milhões de toneladas (a maior parte é usada na incluindo NaCl, Na2B4O7- 10H2O (bórax), Na2CO3NaHCO3.
preparação de NaOH e Cl2). Foram produzidos 38,7 milhões 2H2O (trona), NaNO3 (salitre) e Na2SO4 (mirabilita), são
de toneladas de NaOH, em 1994. Cerca de 31,5 milhões de obtidos a partir de depósitos formados pela evaporação das
toneladas de Na2CO3 são consumidos por ano. NaHCO3, águas de antigos mares, como o Mar Morto e o Grande Lago
Na2SO4 e NaOCl também são compostos de importância in- Salgado em Utah, EUA. O cloreto de sódio é extremamente
importante e é utilizado em quantidades
Tabela 9.1 — Estruturas eletrônicas que superam a de qualquer outro
composto. A produção mundial foi de
Elemento Símbolo Configuração eletrônica 183,5 milhões de toneladas em 1992. Os
principais produtores são os Estados
Lítio Li ls22? ou [He] 2s‘ Unidos (19%), China (10%), ex-União
Sódio Na lr22?2p63s‘ ou [Ne] 3? Soviética (9%), Alemanha (8%), índia
Potássio K lr22j22p63j23p64r1 ou [Ar] 4s’ (7%), Canadá (6%), Grã-Bretanha e
Rubídio Rb 1 r22?2p63?3p63d104j24p65s1 ou [Kr] 5r‘ Austrália (5% cada um), França e
Césio Cs ls22?2p63j23p63d104?4p64d'°5?5p66r1 ou [Xe] 6? México (4% cada um). Em muitos
Frâncio Fr [Rn] 7? lugares o NaCl é minerado como sal-
140 Grupo 1 — 05 METAIS ALCALINO5

Tabela 9.2 — Abundância dos metais alcalinos na crosta deslocamento de um dos elementos por outro situado acima
terrestre, em peso dele na série eletroquímica, seria impraticável em solução
aquosa. Os metais alcalinos são os agentes redutores mais
Abundância na crosta terrestre Abundância fortes conhecidos, razão pela qual não é possível obtê-los
relativa por redução de seus óxidos. A eletrólise de soluções aquosas
(ppm) (%)
de seus compostos também não seria bem sucedida, exceto
Li 18 0,0018 35 se cátodos de mercúrio forem utilizados. Nesse caso, obtém-
Na 22.700 2,27 7 se amálgamas e a obtenção dos metais puros a partir d.as
K 18.400 1,84 8 mesmas é difícil.
Rb 78 0,0078 23 Os metais alcalinos podem ser obtidos por eletrólise de
Cs 2,6 0,00026 46 um sal fundido, geralmente dos haletos fundidos.
Geralmente, impurezas são adicionadas para abaixar o ponto
gema. Na Grã-Bretanha (depósito salino de Cheshire), cerca de fusão.
de 75% é extraído em solução, como salmoura; também na
Alemanha 70% do NaCl é extraído como salmoura. Em países O sódio é obtido a partir da eletrólise de uma mistura
de clima quente, o sal pode ser obtido por evaporação da fundida constituída de cerca de 40 % de NaCl e 60 % de CaCij,
água do mar, nas salinas. Por exemplo, 92% do sal produzido numa célula de Downs (Fig. 9.1). Essa mistura fundeacerca
na índia é obtido por evaporação; na Espanha e na França de 600 °C, bem abaixo dos 803 °C do NaCl puro. A pequena
essa percentagem chega a 26%. Esse método também é quantidade de cálcio formado durante a eletrólise é insolúvel
utilizado na Austrália. no sódio líquido e se dissolve na mistura eutética. Há três
vantagens nesse procedimento:
O potássio ocorre principalmente como depósitos de
KC1 (silvita), de uma mistura de KC1 e NaCl (silvinita), e do 1. Ele diminui o ponto de fusão e, conseqüentemente, o
sal duplo KCl-MgCl2-6H2O (carnalita). Sais solúveis de consumo de combustível.
potássio são denominados coletivamente de "potassa". A 2. Devido a diminuição da temperatura de operação, a
produção mundial de "potassa” foi de 34,5 milhões de pressão de vapor do sódio é menor, diminuindo os riscos
toneladas em 1992, estimadas pelo conteúdo de K2O. A maior de sua ignição ao ar.
parte provém de depósitos comercialmente explorados (ex- 3. Nessas temperaturas mais baixas o metal sódio formado
União Soviética 35%, Canadá 25%, Alemanha 18%, França não se dissolve no material fundido. Caso ele se
e Estados Unidos, 5% cada e Israel 4%). Grandes quantida­ dissolvesse, provocaria um curto-circuito entre os
des são obtidas a partir de salmouras, como as águas do eletrodos, impedindo o prosseguimento da eletrólise.
Mar Morto (Jordânia) e do Grande Lago Salgado (Utah, EUA), Uma célula de Downs é constituída por um recipiente
onde a concentração chega a ser 20 a 25 vezes maior que na cilíndrico de aço, medindo cerca de 2,5 m de altura e 1,5 im
água do mar. Não é economicamente viável extrair potássio de diâmetro, revestido com tijolos refratários. O ânodo é um
da água do mar “comum”.
bastão de grafite rodeado por um cátodo de aço fundido,
Não há nenhuma fonte conveniente para a obtenção que se encontra no centro do cilindro. Uma tela de melai
do rubídio e somente uma para o césio. Assim, esses elemen­ separa os dois eletrodos e impede que o Na formado no
tos são obtidos como subprodutos do processamento do lítio. cátodo se recombine com o Cl2 formado no ânodo. 0 sódio
Todos os elementos mais pesados que o bismuto fundido sobrenada, pois ele é menos denso que o eletrólito,
(número atômico 83) 83Bi são radioativos. Assim, o frâncio e é coletado numa calha invertida, removido da célula e
(número atômico 87) é radioativo, e como este tem um empacotado em cilindros de aço.
período de meia-vida de apenas 21 minutos, ele não ocorre Uma célula semelhante podería ser usada para obter
em quantidades significativas na natureza. Todo o frâncio potássio eletrolisando KC1 fundido. Contudo, a célula deve
existente nos primórdios da Terra já teria desaparecido e
aquele produzido nesse momento a partir do actínio teria
uma existência transitória. Saída do Saída Saída do
sódio do sódio
“sAc 99% fundido cloro fundido
JJe + ^Th (decaimento beta)
1%
t t
z He + “I Fr (decaimento alfa)
Eletrólito
fundido
223 pr meia-vida de 21 min.
_?e + 2||Ra (decaimento beta)
Cf C/2
Cátodo
I
OBTENÇÃO DOS METAIS -'v* Ânodo
Tela
Os metais desse grupo são reativos demais para serem metálica
encontrados livres na natureza. Todavia, seus compostos
estão entre os mais estáveis ao calor, de modo que sua II I I I I I I I I II
decomposição térmica é praticamente impossível. Como
esses metais se situam no topo da série eletroquímica eles
reagem com a água. Logo, a obtenção desses metais por Figura 9.1 — Célula de Doums para a obtenção de sódio
TAMANHO 005 ÁTOMOS E lONS 141

ser operada a temperaturas mais elevadas, pois o ponto de preparação da liga Na/Pb, utilizado na síntese de PbEt4 e
fusão do KC1 é mais elevado, e isso provocaria a vaporização PbMe4. Esses compostos organometálicos são utilizados
do potássio liberado. Como o sódio é um agente redutor como aditivos da gasolina (antidetonante), mas seu uso está
mais forte que o potássio e é de fácil obtenção, o método diminuindo continuamente à medida que mais e mais carros
moderno consiste na redução de KC1 fundido com vapor de usam gasolina isenta de chumbo. Outra importante aplicação
sódio a 850 °C, numa grande torre de fracionamento. Esse é na redução do TiCl4 e ZrCl4 para a obtenção dos respectivos
processo fornece K com pureza de 99,5 %. metais. Ele também é usado na fabricação de compostos
tais como Na2O2 e NaH, e em lâmpadas de iluminação para
Na + KC1 -» NaCl + K ruas. Sódio metálico líquido é utilizado como elemento
Rb e Cs são produzidos de maneira semelhante, reduzin­ refrigerante num tipo de reator nuclear, transferindo o calor
do seus cloretos com Ca a 750 °C, sob pressão reduzida. do reator às turbinas, onde é gerado o vapor usado para
produzir eletricidade. Um reator desse tipo (“fast breeder”)
continua operando em Grenoble (França), mas o de Dounreay
APLICAÇÕES DOS METAIS DO GRUPO 1 E (Escócia) foi desativado. Eles operam à temperaturas de cerca
DE SEUS COMPOSTOS de 600° C. Por ser um metal, o sódio conduz muito bem o
calor e é perfeito para esse propósito, pois seu ponto de
O estereato de lítio C17H35COOLi é usado na fabricação ebulição é 881 ° C. Pequenas quantidades do metal são usadas
de graxas lubrificantes para automóveis. O Li2CO3 é em síntese orgânica e para secar solventes orgânicos.
adicionado à bauxita na produção eletrolítica de alumínio,
para reduzir o ponto de fusão, e também é utilizado para O potássio é um elemento essencial à vida. Cerca de 95
endurecer o vidro. Também tem usos medicinais, pois afeta % dos compostos de potássio são usados como fertilizante
o equilíbrio entre Na+ e K+ e entre Mg2+ e Ca2+ no para plantas - KC1 90%, K2SO4 9% e KNO3 1%. Sais de
organismo. O metal lítio é usado na fabricação de ligas, por potássio são sempre mais caros que os sais de sódio,
exemplo, com chumbo (“metal branco”) utilizado em geralmente por um fator de 10 ou mais. KOH (fabricado por
mancais de motores e máquinas, com alumínio para a eletrólise de soluções aquosas de KC1) é usado na fabricação
fabricação de peças de aviões leves e resistentes e com de fosfatos de potássio e de sabões moles, por exemplo
magnésio para fabricar chapas para blindagem. Há um estearato de potássio. Ambos são constituintes de detergentes
grande interesse nas aplicações termonucleares do lítio, pois líquidos. O KNO3 é usado em explosivos. O KMnO4 é usado
quando bombardeado com nêutrons ele produz trítio (vide na fabricação de sacarina. Também é usado como agente
a seção sobre Fusão Nuclear no Capítulo 31). O lítio também oxidante e em titulações. K2CO3 é usado na produção de
encontra emprego na fabricação de células eletroquímicas cerâmicas, tubos de TV a cores e lâmpadas fluorescentes. O
(tanto baterias primárias como secundárias). As baterias superóxido de potássio, KO2, é empregado em aparelhos de
primárias produzem eletricidade por meio de uma reação respiração e em submarinos. O KBr encontra uso na
química e são descartadas quando se esgotam. Elas são fotografia. Potássio metálico é produzido em pequenas
constituídas por um ânodo de lítio, um cátodo de carbono e quantidades, principalmente para fabricar KO2.
SOC12 como eletrólito. Há interesse por baterias de Li/S, que
poderíam fornecer a energia para movimentar os carros
elétricos do futuro, e em células secundárias, que poderão
ESTRUTURA ELETRÔNICA
se constituir num meio prático para o armazenamento da Todos os elementos do Grupo 1 têm um elétron de
energia elétrica excedente, nos horários de menor consumo. valência no orbital mais externo — um elétron s, que ocupa
0 LiH é usado para gerar hidrogênio e o LiOH para absorver um orbital esférico. Ignorando-se as camadas eletrônicas
CO2. internas preenchidas, suas configurações eletrônicas podem
A soda cáustica NaOH é o álcali mais importante usado ser escritas como: 2sl, 3sl, 4s‘, 5s’, 6s’ e 7s*. O elétron de
na indústria, sendo empregado para várias finalidades, in­ valência encontra-se bastante afastado do núcleo. Logo, é
clusive a fabricação de muitos compostos inorgânicos e fracamente ligado pelo núcleo e pode ser removido com
orgânicos, na fabricação de papel, em neutralizações de facilidade. Em contraste, os demais elétrons estão mais
ácidos, e na obtenção de alumina, sabões e raiom. A soda próximos do núcleo, são mais firmemente ligados e
(Na2CO3) pode ser empregada no lugar de NaOH em vários removidos com dificuldade. Por serem as configurações
processos, como na fabricação de papel, sabão e detergentes. eletrônicas desses elementos semelhantes, espera-se que seus
Grandes quantidades são utilizadas na fabricação de vidro, comportamentos químicos também o sejam.
fosfatos, silicatos e produtos de limpeza, bem como na
extração de SO2 dos gases liberados por usinas termelétricas TAMANHO DOS ÁTOMOS E ÍONS
alimentadas a carvão. O Na2SO4 é empregado em grandes
quantidades nas indústrias de sabões e detergentes, papel, Os átomos do grupo 1 são os maiores nos seus
fibras têxteis e vidro. O NaOCl é usado como alvejante e respectivos períodos, na tabela periódica. Quando os elétrons
desinfetante, sendo sua produção anual de cerca de 950.000 externos são removidos para formar os correspondentes íons
toneladas (em equivalentes de cloro), em 1990. O NaHCO3 positivos, o tamanho diminui consideravelmente. Há duas
é usado em fermentos químicos. A utilização do sódio razões para tal:
metálico está declinando, mas cerca de 80.000 toneladas 1. A camada eletrônica mais externa foi totalmente
foram produzidas em 1994. Sua principal aplicação é na removida.
14B Grupo 1 — 05 METAIS ALCALINOS

Tabela 93 — Tamanho e densidade Tabela 9A — Energias de ionização


Raio do metal Raio do íon M+ Densidade Primeira energia Segunda energia
(A) (Â) (g cm"1) de ionização de ionização
(kJ mol"1) (kJ mol"1)
Li 1,52 0,76 0,54
Na 1,86 1,02 0,97 Li 520,1 7.296
K 2,27 1,38 0,86 Na 495,7 4.563
Rb 2.48 1,52 1,53 K 418,6 3.069
Cs 2,65 1,67 1,90 Rb 402,9 2.650
Cs 375,6 2.420
2. Com a remoção de um elétron, a carga positiva do
núcleo passa a ser maior que a soma da carga dos eletrônico totalmente preenchido. Em condições normais, c
elétrons remanescentes, de modo que cada um deles é segundo elétron nunca é removido, porque a energia
atraído mais fortemente pelo núcleo. Com isso, o necessária é maior que aquela necessária para ionizar os
tamanho diminui ainda mais. gases nobres. Os elementos desse grupo geralmente formam
Os íons positivos são sempre menores que os átomos íons M + .
correspondentes. Mesmo assim, os íons do Grupo 1 são muito
grandes e seu tamanho aumenta do Li+ até o Fr +, à medida
que camadas adicionais de elétrons são acrescentadas. ELETRONEGATIVIDADE E TIPOS DE
O Li+ é muito menor que os demais íons. Por causa LIGAÇÃO
disso, o lítio só se mistura com o sódio acima de 380 °C e é Os valores das eletronegatividades dos elementos desse
imiscível com os metais K, Rb e Cs, mesmo quando fundidos. grupo são relativamente muito pequenos - de fato são
O lítio também não forma ligas substitucionais com eles. Já menores que de qualquer outro elemento. Assim, quando
os demais metais alcalinos, Na, K, Rb e Cs, são miscíveis eles reagem com outros elementos para formarem compostos,
uns com os outros em todas as proporções. geralmente existe uma grande diferença de eletronegatividade
entre eles, com a conseqüente formação de ligações iônicas.
DENSIDADE Eletronegatividade do Na 0,9
Como os átomos são grandes, os elementos do Grupo 1 Eletronegatividade do Cl 3,0
apresentam densidades muito baixas. A densidade do lítio Diferença de eletronegatividade 2,1
metálico é somente cerca da metade da densidade da água,
enquanto que o sódio e o potássio são um pouco menos Uma diferença de eletronegatividade de 1,7 a 1,8
densos que a água (vide Tab. 9.3). Não é comum metais corresponde a uma ligação com aproximadamente 50% de
terem densidades tão baixas, e a maioria dos metais de caráter iônico. Logo, o valor 2,1 implica que a ligação no
transição apresentam densidades superiores a 5 g cm"3. Por NaCl é predominantemente iônica. Argumentos semelhanies
exemplo, a densidade do ferro é 7,9 g cm"3, do mercúrio se aplicam a outros compostos: por exemplo, a diferença de
13,6 g cm'3, do ósmio e do irídio (os dois metais mais densos) eletronegatividade no LiF é 3,0 e no KBr é 2,0 e ambos são
22,57 e 22,61 g cm"3, respectivamente. compostos iônicos.
A química dos metais alcalinos é dominada pela química
ENERGIA DE IONIZAÇÃO de seus íons.
As primeiras energias de ionização dos átomos desse
grupo são consideravelmente menores que dos elementos O CICLO DE BORN-HABER: VARIAÇÕES DE
de qualquer outro grupo da Tabela Periódica. Os átomos são ENERGIA NA FORMAÇÃO DE COMPOSTOS
muito grandes e os elétrons mais externos são fracamente IÔNICOS
atraídos pelo núcleo. Conseqüentemente, as energias
necessárias para remover estes elétrons externos dos átomos Quando os elementos reagem para formar compostos,
não são muito grandes. O tamanho dos átomos aumenta na o valor de AG (energia livre de formação) deve ser negativo.
seqüência Li, Na, K, Rb e Cs. Assim, os elétrons mais externos
são ligados cada vez mais fracamente, fazendo com que as
energias de ionização diminuam ao se descer pelo grupo. Tabela 9.5 — Valores de eletronegatividade
A segunda energia de ionização — isto é, a energia
necessária para remover o segundo elétron dos átomos — é Eletronegatividade
extremamente elevada. A segunda energia de ionização é de Pauling
sempre maior que a primeira, geralmente por um fator de
dois, porque ela envolve a remoção de um elétron de um Li 1,0
íon positivo menor, e não de um átomo neutro maior. A Na 0,9
diferença entre a primeira e a segunda energias de ionização K 0,8
é mais acentuada no presente caso, porque além dos fatores Rb 0,8
Cs 0,7
citados ela implica na remoção de um elétron de um nível
□ CICLO DE BDRN-HABER: VARIAÇÕES DE ENERGIA NA FORMAÇÃO DE COMPOSTOS IPNICDS 143

Energia Energia
Na*g>+ C1(q) Na(fl) + CI(0) M;fl>+ x(a, M(gl + X(fl)

+ ^Entalpia de + ^Entalpia de
-Afinidade dissociação -Afinidade
dissociação
eletrônica eletrônica
(AHd) (AHd)
Na*g| + |CI2|al (E) M<al + |X2|„| (E)

+ Energia de Na(g)+ Cl?,, + Energia de M(fl)+ X(Q)


ionização ionização
(/) (/)
- Entalpia de
Nalal+ ;CI2lal Ma,al+ ;X2,al hidrataçao
M*
+ Entalpia de + Entalpia de
sublimação sublimação
M*hi>idratado
(AH.) (AH.)
- Energia
reticular
Na(t) + 5CI2(O) (U) M(s) + P<2(g)
- Entalpia de
+ Entalpia de + Entalpia de hidrataçao
formação formação X*
(AH,)
NI hidratado ^hidratado
NaCI{crjsta|)

Figura 9.3 — Ciclo de energia par a hidrataçao de íons


Figura 9.2 — Ciclo de Bom-Habber para a formação do NaCl
variações de energia se relacionam entre si e, se for possível
Para que a reação ocorra espontaneamente, a energia livre determinar todos os valores envolvidos exceto um, este
dos produtos deve ser menor que a dos reagentes. último poderá ser calculado. Não há métodos diretos para
se determinar os valores de afinidade eletrônica, tendo sido
As variações de energia são geralmente medidas como
calculados com o auxílio desse tipo de ciclo de energias.
variações de entalpia AH, e AG se relaciona com AH através
da equação: A lei de Hess estabelece que a variação de energia que
acompanha uma reação depende apenas da energia dos
AG = SH-TAS reagentes iniciais e dos produtos finais, e não do mecanismo
Muitas vezes valores de entalpia são utilizados ao invés da reação ou do caminho da reação. Assim, de acordo com
de valores de energia livre: os dois são aproximadamente a lei de Hess, a variação de energia para a reação do sódio
iguais se o termo TAS for pequeno. À temperatura ambiente, sólido com o gás cloro para formar um cristal de cloreto de
T será igual a cerca de 300 K, de modo que AG e AH serão sódio pela reação direta (medida como entalpia de formação),
semelhantes somente se o valor de ÁS for muito pequeno. deverá ser equivalente à soma de todas as variações de
As variações de entropia são grandes se houver uma energia ao longo do ciclo. Nesse caso, inicialmente são
mudança de estado físico, por exemplo, do estado sólido gerados os átomos gasosos dos elementos, a seguir os íons
para líquido, do líquido para gasoso ou do sólido para gasoso. gasosos, e finalmente estes são aproximados e ordenados
Nas demais circunstâncias as variações de entropia serão para formarem o sólido cristalino. Isso pode ser expresso
geralmente pequenas. como:
Toda uma série de variações de energia estará envolvida AH( = + AHS + I + '/2ÁHd + E + U
nas transformações dos respectivos elementos até a formação
de um cristal iônico. Essas variações podem ser mostradas Detalhes desses termos de energia são mostrados na
no Ciclo de Born-Haber (Fig. 9.2). O ciclo tem duas Tab. 9.6. Uma quantidade considerável de energia (as
finalidades: pode ser usado para explicar como todas essas entalpias de sublimação e dissociação, e a energia de
ionização) é empregada para se obter os íons. Logo, esses
Tabela 9.6 — Valores de entalpia (AH) par MCI (todos os termos são positivos. Os sólidos iônicos são formados porque
valores em kJ mor1) uma quantidade ainda maior de energia será liberada,
principalmente devido à energia reticular e em menor grau
Energia 1/2 da Energia Afinidade Energia Entalpia à afinidade eletrônica. Assim, obteremos um valor negativo
de subli- entalpia de ioniza- eletrônica reticular de forma- para a entalpia de formação, AHf.
mação de disso- ção Cl-Cl" ção
ciação (= soma) Todos os haletos MCI apresentam entalpias de formação
M(s)-Mlg) ‘/jCIz-CI M-M* negativas, indicando que, do ponto de vista termodinâmico
(isto é, de energia), a formação dos compostos MCI a partir
Li 161 121,5 520 -355 -845 -397,5 dos elementos é possível. Os valores correspondentes são
Na 108 121,5 496 -355 -770 -399,5 mostrados na Tab. 9.7 e sugerem diversas tendências:
K 90 121,5 419 -355 -703 -427,5 1. As entalpias mais negativas de formação ocorrem nos
Rb 82 121,5 403 -355 -674 -422,5 fluoretos. Para qualquer um dos metais, os valores
Cs 78 121,5 376 -355 -644 -423,5 decrescem na seqüência fluoreto > cloreto > brometo
144 Bnjpo I — 05 METAIS ALCALINOS

Tabela 9.7 — Entalpias padrão de formação dos haletos dos Tabela 9.9 — Pontos de fusão e pontos de ebulição
metais do Grupo 1 (todos os valores em kJ mor1)
Ponto de fusão Ponto de fusão
MF MCI MBr MI CC) CC)
Li -612 -398 -350 -271 Li 181 1.347
Na -569 ^100 -360 -288 Na 98 881
K -563 -428 -392 -328 K 63 766
Rb -549 -423 -389 -329 Rb 39 688
Cs -531 -424 -395 -337 Cs 28,5 705

> iodeto. Portanto, os fluoretos são os compostos mais necessária para gerar átomos gasosos a partir do sólido). A
estáveis e os iodetos os menos estáveis de todos. energias de coesão dos metais do Grupo 1 são iguais à ceirc<
2. As entalpias de formação para os respectivos cloretos, da metade daquelas dos elementos do Grupo 2, e um terçt
brometos e iodetos se tornam mais negativas de cima das energias de coesão dos elementos do Grupo 13. A mag
para baixo dentro do grupo. Essa tendência é observada nitude das energias de coesão determina a dureza. El:
para a maioria dos sais, exceto para os fluoretos no depende do número de elétrons que podem participar da
qual a tendência oposta é observada. ligações e da força das mesmas. Os metais do Grupo 1
Compostos iônicos também podem ser formados em possuem somente um elétron de valência que pode participa
solução. Nesse caso, um ciclo semelhante de variações de das ligações (comparado com dois ou mais elétrons n;
energia deve ser considerado, mas a energia reticular deve maioria dos outros metais). Esse fato, associado ao grande
ser substituída pelas energias de hidratação dos íons tamanho dos átomos e à natureza difusa do elétron externo
negativos e positivos. é responsável pela baixa energia de coesão, pequena íorç;
de ligação e baixa resistência mecânica dos metais alcalinos
O ciclo de energia mostrado na Fig. 9.3 é muito Os átomos se tornam maiores descendo o grupo do lítio ac
semelhante ao ciclo de Born-Haber. A entalpia de formação césio. Portanto, existe uma tendência das ligações sc
dos íons hidratados, a partir dos elementos em seu estado tornarem mais fracas, as energias de coesão diminuírem t
natural, deve ser igual à soma de todas as outras variações os metais se tornarem mais moles.
de energia ao longo do ciclo.

PONTOS DE FUSÃO E DE EBULIÇÃO


ESTRUTURA CRISTALINA DOS METAIS,
As baixas energias de coesão se refletem nos valore:
DUREZA E ENERGIA DE COESÃO muito baixos das temperaturas de fusão e de ebulição do=
À temperatura ambiente, todos os metais do Grupo 1 elementos do grupo. As energias de coesão decrescem dt
adotam a estrutura cúbica de corpo centrado, com número cima para baixo e os pontos de fusão e de ebuliçãc
de coordenação 8. Contudo, a temperaturas muito baixas, o acompanham essa tendência.
lítio forma uma estrutura hexagonal de empacotamento Os pontos de fusão variam na faixa de 181 °C, para c
compacto com número de coordenação 12. lítio, a 28,5 °C, para o césio. Esses são valores extremamenti
Os metais são muito moles e podem ser cortados baixos para metais, em contraste com os pontos de fusãc
facilmente com uma faca. O lítio é o mais duro de todos, dos metais de transição, que geralmente são superiores <
mas é mais mole que o chumbo. As ligações existentes nos 1.000°C.
metais foram discutidas nos Capítulos 2 e 5, em função de O ponto de fusão do lítio é cerca de duas vezes maiioi
bandas ou orbitais moleculares deslocalizados, que se que a do sódio (em graus Celsius), embora para os dentai:
estendem sobre todo o cristal. metais alcalinos sejam semelhantes entre si. Invariavelmemtí
A energia de coesão é a força que mantém unidos os observa-se que muitas propriedades do primeiro elementc
átomos ou íons no sólido (é igual em magnitude mas de de um grupo difere consideravelmente dos demais (a-
sinal oposto à entalpia de atomização, ou seja a energia diferenças entre o lítio e os demais elementos do Grupo 1
serão discutidas no final deste capítulo).

Tabela 9.8 — Entalpias de coesão

Energia de coesão TESTE DE CHAMA E ESPECTROS


(entalpia de atomização)
(kJ mor1) Como resultado das baixas energias de ionização
quando os elementos do grupo são irradiados com luz, <
Li 161 energia luminosa absorvida pode ser suficientemente elevad.
Na 108 para fazer com que o átomo perca um elétron. Este i
K 90 denominado fotoelétron e explica o uso do césio e do potáss k
Rb 82 como cátodos em células fotoelétricas.
Cs 78 Os elétrons também podem ser facilmente excitado:
PROPRIEDADES DUÍMICAS 145

Tabela 9.10 — Cores da chama e comprimentos de onda que emite luz de um comprimento de onda apropriado para
que ocorra uma determinada transição eletrônica, para
Cor Comprimento Número de irradiar a amostra na chama. Assim, uma lâmpada de sódio
de onda (nm) onda (cm-1) é usada para determinar sódio na amostra: outras lâmpadas
são utilizadas na determinação de outros elementos. A
Li Vermelho-carmim 670,8 14.908 quantidade de luz absorvida pelos átomos no estado funda­
Na Amarelo 589,2 16.972 mental é medida, sendo esta proporcional à quantidade do
K Violeta 766,5 13.046 elemento presente na amostra problema.
Rb Vermelho-violeta 780,0 12.821
Cs Azul 455,5 21.954
COR DOS COMPOSTOS
A cor surge porque a energia absorvida ou emitida nas
para um nível de energia superiores, por exemplo, no teste transições eletrônicas corresponde aos comprimentos de
de chama. Para realizar esse teste, uma amostra do cloreto onda da luz na região do visível. Todos os íons dos metais
do metal, ou de qualquer outro sal mergulhado em HC1 do Grupo 1 apresentam configurações eletrônicas de gás
concentrado, é aquecido na chama de um bico de Bunsen, nobre, no qual todos os elétrons estão emparelhados. Assim,
com o auxílio de um fio de platina ou de níquel-crômio. a promoção de um elétron requer uma certa quantidade de
Nessa situação, o elétron externo é excitado para um nível energia para desemparelhar um elétron, outra para romper
de energia mais alto pelo calor da chama. Quando esse um nível completamente preenchido de elétrons, além da
elétron retorna ao nível energético inicial, ele libera a energia energia para promover o elétron para um nível de maior
absorvida. A relação de Einstein relaciona essa energia E energia. A quantidade total de energia requerida é grande:
com o número de onda v: não há transições eletrônicas na faixa de energia adequada
E = hv (onde h é a constante de Planck) e seus compostos são tipicamente brancos. Qualquer
transição que porventura venha a ocorrer envolverá grandes
No caso dos metais do Grupo 1, a energia é emitida na quantidades de energia e aparecerá na região do ultravioleta
forma de luz visível, provocando o aparecimento de cores e não do espectro visível. Portanto, essa luz será invisível
características na chama. ao olho humano. Compostos dos metais do Grupo 1 são
Na realidade, a cor é decorrente das transições todos brancos, exceto aqueles em que o ânion é colorido,
eletrônicas em espécies de vida curta que se formam por exemplo, cromato de sódio Na2[CrO4] (amarelo),
momentaneamente na chama, que é rica em elétrons. No dicromato de potássio K2[Cr2O7] (alaranjado) e perman-
caso do sódio, os íons são temporariamente reduzidos a seus ganato de potássio K[MnO4] (violeta intenso). Nesses casos
átomos. a cor é devido a presença dos ânions [CrO4]-, [Cr2O7]2- ou
[MnO4]" e não dos íons dos metais do Grupo 1.
Na+ + e Na Quando os elementos do Grupo 1 formam compostos
(geralmente iônicos, mas existem alguns poucos compostos
A linha D do sódio (na realidade é um dubleto com covalentes), todos os elétrons estão emparelhados. Por isso,
máximos em 589,0 nm e 589,6 nm) decorre da transição os compostos do Grupo 1 são diamagnéticos. Há uma exceção
eletrônica 3s' —> 3p’, num átomo de sódio formado na
importante — os superóxidos, que serão discutidos mais
chama. As cores características da chama para os diferentes
adiante.
elementos não se devem todas à mesma transição, ou à
mesma espécie. Assim, a linha vermelha do lítio se deve à
espécie transiente LiOH formada na chama. PROPRIEDADES QUÍMICAS
Essas colorações características da chama correspondem Reação com água
a diferentes espectros de emissão, que possibilita a
determinação analítica destes elementos pela técnica de Todos os metais do Grupo 1 reagem com água, liberando
fotometria de chama. Uma solução de um sal do Grupo 1 é hidrogênio e formando os correspondentes hidróxidos. A
aspirada para o interior da chama resultante da queima de reação se torna cada vez mais vigorosa à medida que se
uma mistura oxigênio-gás, num fotômetro de chama. A desce o grupo. Assim, o lítio reage a uma velocidade
energia da chama excita um elétron para um nível de energia moderada; o sódio funde na superfície da água e o metal
mais alto e quando o elétron retorna ao nível de energia fundido desliza vigorosamente, podendo inflamar-se
mais baixo, a diferença de energia é emitida na forma de (especialmente se ficar parado); e o potássio funde e sempre
luz. A intensidade da coloração da chama é medida com se inflama.
uma célula fotoelétrica e depende da concentração de metal
2Li + 2H2O 2LÍOH + H2
presente. Uma curva de calibração pode ser construída,
2Na + 2H2O 2NaOH + H2
medindo-se tais intensidades para amostras de concentrações
conhecidas. Assim, as concentrações exatas de amostras 2K + 2H,0 2KOH + H2
desconhecidas podem ser determinadas, comparando-se os Os potenciais padrões de eletrodo E° são : Li * | Li =
resultados obtidos com os valores da curva padrão. -3,05 volts, Na + |Na = -2,71, K+|K = -2,93, Rb + |Rb =
As concentrações de metais do Grupo 1 podem ser -2,92 e Cs + |Cs = -2,92 V. O lítio apresenta o potencial padrão
alternativamente determinados, utilizando a espectroscopia de eletrodo mais negativo que qualquer outro elemento da
de absorção atômica. Nesse caso, utiliza-se uma lâmpada, tabela periódica, principalmente por causa da grande energia
146 Grupa 1 — Ü5 METAIS ALCALINOS

Tabela 9.11 — Algumas reações dos metais do Grupo 1 Reaçao com o nitrogênio
O lítio é o único elemento do grupo que reage
Reação Observações diretamente com o nitrogênio, formando o nitreto. 0 nitreto
de lítio, Li3N, é um composto iônico (3Li+ e N3') de cor
M + H,0 -» MOH + H, Os hidróxidos são as bases mais fortes conhecidas vermelho-rubi. Duas de suas reações são importantes: ele
Com excesso de oxigênio se decompõe gerando os elementos constituintes, quando
2Li +'/2O2-> Li2O O monóxido é formado pelo Li e em menor grau aquecido a altas temperaturas, e reage com água formando
pelo Na amônia.
2Na + 02 -» Na2O2 0 peróxido é formado pelo Na e em menor grau
calor
pelo Li 2Li3N — 6Li + N2
K + O2->KO2 O superóxido é formado pelo K, Rb e Cs Lí3N + 3H2O -» 3LÍOH + NH3
m + '/2h,->mh Formação de hidretos iônicos ou salinos
3Li +'/2N2-> LijN Somente o Li forma o nitreto ÓXIDOS, HIDRÓXIDOS, PERÓXIDOS E
3M + P->MjP Todos os metais alcalinos formam fosfetos SUPERÓXIDOS
3M + As -> MjAs Todos os metais alcalinos formam arsenetos Reação com o ar
3M + Sb-»MjSb Todos os metais alcalinos formam antimonetos Todos os metais alcalinos queimam ao ar formando
2M + S-»MjS Todos os metais alcalinos formam sulfetos
óxidos, embora o produto formado varie com o metal. 0
2M + Se-»M,Se Todos os metais alcalinos formam selenetos
2M+Te~»M,Te lítio forma o monóxido Li2O (e uma pequena quantidade do
Todos os metais alcalinos formam teluretos
2M + F2—>2MF Todos os metais alcalinos formam fluoretos peróxido, Li2O2), o sódio forma o peróxido Na2O2 (e uma
2M + Cl2-> 2MCI Todos os metais alcalinos formam cloretos pequena quantidade de monóxido Na2O), e os demais for­
2M + Br,-»2MBr Todos os metais alcalinos formam brometos mam superóxidos do tipo MO2.
2M + I,-»2MI Todos os metais alcalinos formam iodetos Todos os cinco metais alcalinos podem ser induzidos a
M + NHj MNH, + '/,H2 Todos os metais alcalinos formam amidetos formar o óxido normal, o peróxido ou o superóxido,
dissolvendo-os em amônia líquida e borbulhando-se a
quantidade adequada de oxigênio.

de hidratação do íon Li + . O potencial padrão de eletrodo,


Óxidos normais — monóxidos
E°, e a energia livre de Gibbs, AG, se relacionam através da
equação: Os monóxidos são iônicos sendo constituídos, por
exemplo por 2Li+ e O2-. Li2O e Na2O são sólidos brancos
AG - -nFE° como o esperado, mas surpreendentemente o K2O é amarelo
pálido, o Rb2O é amarelo vivo e o Cs2O é laranja. Os óxidos
onde, n é o número de elétrons removidos do metal para
metálicos são geralmente alcalinos. Os óxidos típicos, M2O,
formar o íon e F a constante de Faraday.
são fortemente alcalinos, reagindo com água formando bases
A reação Li’ + e—» Li apresenta o maior valor negativo fortes.
de E°, e portanto o maior valor positivo de AG. Portanto, a
reação direta não ocorre. Mas, a reação inversa Li —» Li+ + e Li2O + H2O -» 2LÍOH
apresenta um AG negativo e elevado, de modo que sua reação Na2O + H2O -> 2NaOH
com água libera mais energia que a mesma reação com os K2O + H2O -> 2K0H
demais metais alcalinos. Por isso, pode parecer surpreendente
o fato do lítio reagir apenas a uma velocidade moderada As estruturas cristalinas do Li2O, Na2O, K2O e Rb2Osão
com a água, enquanto que o potássio, que libera menos do tipo antifluorita, ou seja, semelhante à da fluorita, CaF>,
energia, reaja violentamente e se inflame. A explicação é exceto que as posições dos íons negativos e positivos estão
dada pela cinética (isto é, a velocidade com que a reação se invertidas. O Li+ ocupa as posições reticulares do F“ eoO2‘
processa) e não pela termodinâmica (isto é, pela quantidade ocupa os sítios do Ca2 + . O Cs2O apresenta uma estrutura
de energia liberada). O potássio possui um baixo ponto de lamelar do tipo anti-CdCl2.
fusão e o calor da reação é suficiente para provocar sua
fusão, ou mesmo sua vaporização. O metal fundido se Hidróxidos
espalha e expõe uma maior superfície de contato com a água,
de modo que ele pode reagir mais depressa, elevando ainda O hidróxido de sódio, NaOH, e o hidróxido de potássio,
mais sua temperatura, até eventualmente inflamar-se. KOH, são respectivamente denominados soda cáustica e
potassa cáustica, por causa de suas propriedades corrosivas
(por exemplo, sobre o vidro ou a pele). Esses compostos
Reação com o ar são as bases mais fortes conhecidas em solução aquosa. Os
Os elementos do Grupo 1 são quimicamente muito hidróxidos de Na, K, Rb e Cs são muito solúveis em água,
reativos, e rapidamente perdem o brilho quando expostos mas o LiOH é bem menos solúvel (vide Tab. 9.12). Uma
ao ar seco. Sódio, potássio, rubídio e césio formam óxidos solução saturada de NaOH tem uma concentração de
de vários tipos, mas o lítio forma uma mistura do óxido e do aproximadamente 27 molar, à 25°C, enquanto que uma
nitreto, Li3N. solução saturada de LiOH chega a apenas cerca de 5 molar.
ÓXIDOS. HIDRÓXIDOS. PERÓXIDOS E SUPERÓXIDOS 147

Peróxidos e superóxidos
Tabela 9.12 — Solubilidades dos hidróxidos do Grupo 1
Todos os peróxidos contém o íon [-0-0-]2". Eles são
Elemento Solubilidade diamagnéticos (todos os elétrons estão emparelhados) e são
(g/100 g de H2O) agentes oxidantes. Os peróxidos podem ser considerados
como sendo sais do ácido dibásico H2O2, pois reagem com
Li 13,0 (25'C) água e ácido, formando peróxido de hidrogênio, H2O2.
Na 108,3 (25’C)
K 112,8 (25'C) Na2O2 + 2H2O 2NaOH + H2O2
Rb 197.6 (30"C)
Cs 385.6 (15*C) O Na2O2 é amarelo pálido, sendo usado industrialmente
como alvejamento de polpa de madeira, de papel e de artigos
têxteis, tais como algodão e linho. É um oxidante poderoso
e muitas de suas reações são perigosamente violentas,
As bases reagem com ácidos para formarem sais e água particularmente com materiais redutores tais como alumínio
e são utilizadas em muitas reações de neutralização. em pó, carvão, enxofre e muitos solventes orgânicos. Como
ele reage com o C02 do ar, tem sido empregado para purificar
NaOH + HC1 -> NaCl + H2O o ar em submarinos e recintos confinados, pois além de
absorver o CO2 desprende O2. O superóxido de potássio,
As bases também reagem com CO2, até mesmo com
KO2, é ainda mais adequado para essa finalidade. Algumas
quantidades traço presentes no ar, formando os carbonatos.
reações típicas são mostradas abaixo:
O LiOH é usado para absorver dióxido de carbono em recintos
fechados, tais como em cápsulas espaciais (onde sua baixa Na2O2 + CO -> Na2CO3
densidade é importante para diminuir o peso). 2Na2O2 + 2CO2 —í 2Na2CO3 a- O2
2NaOH + CO2 Na2CO3 + H2O Uma reação em duas etapas, na presença de excesso de
ar, é utilizado na obtenção industrial de Na2O2:
Elas reagem também com os óxidos anfóteros A12O3
formando aluminatos, SiO2 (ou vidro) formando silicatos, 2Na + */2O2 -» Na20
SnO2 formando estanatos, PbO2 formando plumbatos e ZnO Na2O + */2O2 -» Na2O2
formando zincatos.
Os superóxidos contêm o íon [02]~, que possui um
As bases provocam a liberação de gás amônia quando elétron desemparelhado; sendo portanto, paramagnéticos e
reagem com sais de amônio e complexos, onde a amônia coloridos (LiO2 e NaO2 são amarelos, K02 alaranjado, RbO2
está ligada a íons de metais de transição (amin complexos). castanho e CsO2 alaranjado).
NaOH + NH4C1 -> NH3 + NaCl + H20 O NaO2 apresenta três estruturas cristalinas diferentes:
6NaOH + 2[Co(NH3)6]C13 -»12NH3 + Co2O3 + 3NaCl + 3H2O a estrutura da marcassita na temperatura do ar líquido, a
cloreto de estrutura das piritas (FeS2) entre -17° C e -50 °C, e a
hexaamincobalto(III)
estrutura do carbeto de cálcio à temperatura ambiente. Tanto
a estrutura da pirita como a do carbeto de cálcio se
O NaOH reage com H2S para formar sulfetos S2" e
relacionam à estrutura do NaCZ, com os íons metálicos
hidrogenossulfetos HS", sendo usado para remover
ocupando as posições do Na+ e os íons O2", S2" e C2" estão
mercaptanas (tioálcoois) de derivados de petróleo.
nas posições do Cl". Como os íons negativos contêm dois
NaOH + H2S NaSH Na2S átomos, sua forma é cilíndrica ao invés de esférica. Na
estrutura do CaC2 os íons C2" estão todos orientados ao longo
Os hidróxidos reagem com álcoois, formando alcóxidos. de um dos eixos cúbicos, e a célula unitária é alongada nessa
direção. Por isso, a célula unitária do NaCl é cúbica, mas a
NaOH + EtOH -> NaOEt + H2O do CaC2 é tetragonal. A estrutura das piritas é semelhante,
etóxido de sódio
mas os íons C2" não estão todos alinhados, de modo que a
O KOH se assemelha ao NaOH em todas as suas reações, estrutura cúbica é mantida.
mas o KOH é muito mais caro e por isso menos utilizado. Os superóxidos são agentes oxidantes ainda mais fortes
Contudo, o KOH é muito mais solúvel em etanol, que os peróxidos, e reagem com água ou ácidos, despren­
possibilitando a formação de mais íons C2H5O" através do dendo H2O2 e O2.
equilíbrio.
2KO, + 2H,0 2KOH + H,O2 + '/2O2
C2HsOH + OH" C2HsO" + H2O
O K02 é usado em cápsulas espaciais, submarinos e
Esse fato explica o uso de soluções alcoólicas de KOH máscaras de respiro, pois remove o CO2 e produz oxigênio.
em Química Orgânica. Os hidróxidos do Grupo são Ambas as funções são importantes em equipamentos para a
termicamente estáveis, confirmando a natureza fortemente manutenção da vida.
eletropositiva dos metais alcalinos. Muitos hidróxidos se
decompõem, perdendo água e formando os correspondentes 4KO2 + 2CO2 —> 2K2CO3 + 3O2
óxidos, durante o aquecimento. ma,'-CO,
4KO2 + 4CO2 + 2H2O —mais c—-> 4KHCO3 3O2
148 Brupo I — 05 METAIS ALCALINOS

0 superóxido de sódio não pode ser preparado por de sódio, usado em fotografia para dissolver os haletos de
combustão do metal em atmosfera de oxigênio, à pressão prata, e como reagente de laboratório para titulações
atmosférica, mas é preparado industrialmente, com bons iodométricas.
rendimentos, pela reação de peróxido de sódio com oxigênio
a altas temperaturas e pressões (450 °C e 300 atmosferas), 2Na2S + 2O2 + H20 Na2S2O3 + 2NaOH
num reator de aço inoxidável. 2Na2S2O3 + I2 -> Na2S4O6 + 2NaI

Na2O2 + O2 2NaO2
HIDRÓXIDO DE SÓDIO
As ligações que ocorrem nos peróxidos e superóxidos O hidróxido de sódio é o álcali mais importante
foram descritas nos exemplos sobre a teoria de orbitais empregado na indústria. É fabricado em grande escala (38,7
moleculares, no Capítulo 4. O íon peróxido [-O-O-]2- possui milhões de toneladas em 1994) pela eletrólise de uma solução
18 elétrons, que ocupam os orbitais moleculares como se aquosa de NaCl (salmoura), numa célula de diafragma ou
segue: de cátodo de mercúrio. No passado, também foi obtida a
partir do Na2CO3 pelo processo calcário-soda cáustica.
tt2p2, n’2pj,
CT1S2, CT * 1S2, <T2s2, <T * 2S2, CT2p2 , Atualmente, esse processo é pouco usado, pois outros
tt2p2, tt‘2p2, métodos são mais econômicos. Os detalhes sobre o método
industrial de preparação, suas aplicações e produção, serão
energia crescente
apresentados no Cap.10.
Portanto, a ordem de ligação é um, correspondente a
ligação simples.
HIDROGENOCARBONATO DE SÓDIO
O íon superóxido, [02]~, possui apenas 17 elétrons, o
que leva a uma ordem de ligação igual a 1,5. (BICARBONATO DE SÓDIO)
Cerca de 900.000 toneladas de NaHCO3 foram produ­
crls2,<T • ls2,<j2s2,o * 2s2,a2p2
x
jttãp2, tt*2p2, zidos em 1991, dos quais 40 % foram utilizados em fermencos
’ («zpt n’2pj, químicos, 15% na preparação de outros produtos químicos,
12% em produtos farmacêuticos, inclusive antiácidos, e 10'%
Geralmente átomos ou íons grandes formam ligações em extintores de incêndio.
mais fracas que átomos ou íons pequenos. Os íons peróxido
NaHCO3 pode ser usado como “fermento químico" na
e superóxido são grandes, e deve ser frisado que a
estabilidade dos peróxidos e superóxidos aumenta à medida preparação de pães e bolos, pois ele se decompõe entre
que os íons metálicos se tornam maiores. Isso indica que 50 °C e 100 °C, com desprendimento de bolhas de C02.
cátions grandes podem ser estabilizados por ânions grandes, aquec. brando
2NaHCO3 t> Na2CO3 + H20 + C02
pois se os dois íons tiverem tamanhos semelhantes o número
de coordenação será elevado, o que conduz a uma elevada
Geralmente uma mistura de NaHC03, Ca(H2P04)2 e
energia reticular.
amido, é usado para essa finalidade. O Ca(H2PO4)2 é ácido,
e quando umedecido reage com NaHCO3, desprendendo CO>.
SULFETOS O amido é usado como carga. Um fermento composto
melhorado contém cerca de 40% de amido, 30% de NaHCOj,
Todos os metais alcalinos reagem com enxofre formando
20% de NaAl(SO4)2 e 10% de Ca(H2PO„)2. O NaAl(S04),
sulfetos, tais como Na2S, e polissulfetos, Na2Sn, onde n =
reduz a velocidade da reação, de modo que o gás carbônico,
2, 3, 4, 5 ou 6. Os íons polissulfetos têm estruturas com
cadeias de átomos de enxofre em zigue-zague. CO2, é liberado mais lentamente.

A A A A A ,S s"
-sz s- -s
-Sz y -sz \z \z SULFATO DE SÓDIO
Cerca de 4,3 milhões de toneladas de Na2SO4 forarr
O sulfeto de sódio também pode ser obtido aquecendo-
consumidos em 1993. Cerca de 55% desse total foram obtido:
se sulfato de sódio com carbono, ou borbulhando H2S numa
artificialmente, como subproduto da fabricação de HC1. (
solução de NaOH.
também de muitos processos de neutralização que utilizan
Na2SO4 + 4C -» Na2S + 4CO H2SO4. Cerca de 45% são naturais, minerados principalmentt
NaOH + H2S -> NaHS + H2O como sal de Glauber — Na2SO4- 10H2O.
NaOH + NaHS -> Na2S + H2O O principal consumidor de Na2SO4, cerca de 70%, é i
indústria de papel. Cerca de 10 % são usados na indústri;
Os sulfetos do Grupo 1 hidrolisam-se consideravelmente de detergentes e outros 10% na fabricação de vidro. Nt
em água, dando origem a soluções fortemente alcalinas: processo de fabricação de papel Kraft uma solução fortement,
Na2S + H2O NaSH + NaOH alcalina de Na2SO4 é usada para dissolver a lignina, qw
serve de suporte para as fibras de celulose presentes n.a:
0 Na2S é empregado para fabricar corantes orgânicos raspas de madeira. As fibras de celulose são entãt
sulfurados e nos curtumes para remover os pêlos dos couros. transformadas em cartolina ou papelão ondulado e pape
O Na2S é facilmente oxidado pelo ar formando tiossulfato marrom do tipo “Kraft".
HALETOS E POLIHALETO5 149

OXOSSAIS — CARBONATOS, 2NaNO3 SOO'C 2NaNO2 + O2


BICARBONATOS, NITRATOS E NITRITOS 4NaNO3 soo-c. 2Na2O + 5O2 + 2N2
Os metais do Grupo 1 são muito eletropositivos, Os nitratos dos metais alcalinos são muito usados como
formando bases muito fortes e oxossais muito estáveis. solventes na forma fundida, onde são efetuadas reações de
Os carbonatos são extremamente estáveis e fundem oxidação a altas temperaturas e, também, como um meio
antes de eventualmente se decomporem aos respectivos para transferência de calor. Eles podem ser usados até
óxidos e C02, à temperaturas superiores a 1.000 °C. O Li2CO3 temperaturas de cerca de 600 °C, mas temperaturas mais
é bem menos estável e se decompõem mais facilmente. baixas são geralmente usadas nos banhos de sais fundidos.
Por serem tão fortemente básicos, os metais do Grupo Por exemplo, uma mistura 1:1 de LiNO3/KNO3 funde à
1 também formam bicarbonatos (hidrogenocarbonatos) temperatura surpreendentemente baixa de 125 °C.
sólidos. Nenhum outro metal forma bicarbonatos sólidos, Os nitritos são importantes na preparação de compostos
embora o NH4HCO3 também possa ser obtido como um orgânicos nitrogenados, sendo os mais importantes os azo-
sólido. Os bicarbonatos desprendem gás carbônico e se corantes. Pequenas quantidades de NaNO2 são usadas
convertem em carbonatos quando submetidos a um juntamente com NaNO3 em banhos de sais fundidos, e ainda
aquecimento brando. Esse é um dos testes para bicarbonato como conservante de alimentos. Os nitritos podem ser
utilizado em análise qualitativa. As estruturas cristalinas do facilmente determinados em laboratório, pois quando
NaHCO3 e do KHCO3 indicam a existência de ligações de tratados com ácidos diluídos liberam NO2, um gás marrom.
hidrogênio, mas elas são diferentes. No NaHCO3, os íons
HC03“ se ligam formando cadeias infinitas, enquanto que 2NaNO2 + 2HC1 2NaCl + H2O + NO2 + NO
no KHCO3 ocorre a formação de um ânion dimérico. 2N0 + 02 2NO2

,0—H - O, O NaNO2 é preparado absorvendo-se óxidos de


nitrogênio numa solução de Na2CO3.

O • H—O Na2CO3 + NO2 + NO 2NaNO2 + C02

O lítio constitui uma exceção, pois não forma um Os nitritos também podem ser obtidos pela decompo­
bicarbonato sólido, embora o LiHCO3 possa existir em sição térmica de nitratos, e pela redução química de nitratos:
solução. Todos os carbonatos e bicarbonatos dos metais
alcalinos são solúveis em água. 2NaNO3 + C -> 2NaNO2 + CO2
KNO3 + Zn ->■ KNO2 + ZnO
Mais de 50.000 toneladas de Li2CO3 são produzidos
anualmente. A maior parte é adicionada como impureza ao ou pela reação de NO com um hidróxido:
A12O3, para reduzir o ponto de fusão do mesmo no processo
de fabricação de alumínio por eletrólise ígnea. Uma parte é 2K0H + 4N0 2KNO2 + N20 + H20
adicionada aos vidros para torná-los mais duros (o lítio 4KOH + 6NO 4KNO2 + N2 + 2H2O
substitui o sódio na estrutura do vidro).
O Na2CO3 é usado no tratamento de águas duras e o
NaHCO3 é utilizado em “fermentos” químicos.
HALETOS E POLI-HALETOS
Todos os nitratos dos metais alcalinos podem ser Sendo o Li+ o menor íon desse grupo, espera-se que a
preparados pela reação do HNO3 com os respectivos formação de sais hidratados seja facilitada em relação aos
carbonatos ou hidróxidos, sendo todos muito solúveis em demais metais. LiCl, LiBr e o Lil formam tri-hidratos
água. O LiNO3 encontra emprego em fogos de artifícios e LiX-3H2O, mas os demais haletos de metais alcalinos for­
em sinais luminosos avermelhados de socorro. Grandes mam cristais anidros.
depósitos de NaNO3 são encontrados no Chile, sendo usados Todos estes haletos assumem uma estrutura do tipo do
como fertilizante nitrogenado. LiNO3 e NaNO3 sólidos são NaCl, com número de coordenação 6, exceto o CsCl, o CsBr
deliqüescentes. Por isso, o KNO3 é utilizado preferen­ e o Csl. Esses últimos têm uma estrutura do tipo do CsCl,
cialmente ao NaNO3 na fabricação de pólvora (a pólvora é com número de coordenação 8. O número de compostos
uma mistura de KNO3, enxofre e carvão). O KNO3 é que assumem uma estrutura do tipo NaCl é maior do que se
geralmente obtido a partir de ácido nítrico sintético e K2CO3, podería esperar, a partir das relações de raios dos íon,
mas já foi fabricado a partir de NaNO3. r+/r". A razão para isso é a maior energia reticular (vide as
2HNO3 + K2CO3 -> 2KNO3 + CO, + H20 seções sobre Compostos iônicos do tipo AX e Energia re­
NaNO3 + KC1 -^KNO3 + NaCl ticular, no Capítulo 3).
Os haletos dos metais alcalinos reagem com os
Os nitratos do metais do Grupo 1 são sólidos de pontos halogênios e com os compostos inter-halogenados, formando
de fusão relativamente baixos e estão entre os nitratos mais poli-haletos iônicos:
estáveis conhecidos. Contudo, com forte aquecimento eles
Kl + I2 K[I3]
se decompõem aos nitritos e a temperaturas ainda mais
KBr + 1C1 KfBrlCl]
elevadas aos óxidos correspondentes. O LiNO3 se decompõe
KF + BrF3 K[BrF4]
mais facilmente formando o óxido.
150 Empo I — 05 METAIS ALCALINOS

HIDRETOS Tabela 9.13 — Mobilidades iânicas e hidratação


Todos os metais do Grupo 1 reagem com o hidrogênio,
formando hidretos iônicos ou salinos, M*H~. Contudo, a Raio Mobili­ Raio N?de Parâmetros
facilidade com que essa reação ocorre decresce do lítio ao iônico dade aproxim. hidrata- termodinâmicos
iônica à íon hidra- ção apro- da hidratação
césio. Esses hidretos contém o ion H' (o qual não é encon­ tado ximado AS°
diluição
trado muito comumente, pois a tendência do hidrogênio é (Â) infinita (Â) (kJ mol'1)
formar íons H*). Pode-se provar a existência do ion H",
porque na eletrólise o hidrogênio se forma no ânodo. Li* 0,76 33,5 3,40 25,3 -544 -134 -506
Os hidretos reagem com água, liberando hidrogênio. O Na* 1,02 43,5 2,76 16.6 -435 -100 406
hidreto de lítio é usado como fonte de hidrogênio para fins K* 1,38 64,5 2,32 10,5 -352 -67 -330
militares e para o enchimento de balões meteorológicos. Rb* 1,52 67,5 2,28 10,0 -326 -54 -310
Cs* 1,67 68,0 2.28 9,9 -293 -50 -276
LiH + H2O -> LiOH + H2

O lítio forma também um hidreto complexo, Li[AlH4],


denominado hidreto de alumínio e lítio, que é um agente corrente que íons grandes. Contudo, medidas de mobilidade
redutor muito útil. Ele é obtido a partir de hidreto de lítio, ou condutividade iônica em soluções aquosas (Tab. 9.13)
em solução etérea seca. levam à seqüência inversa: Cs* > Rb+ > K* > Na* >
Li*. A causa dessa aparente anomalia é a hidrataçãodos
4LÍH + A1C13 Li[AlH4] + 3LÍC1 íons em solução. Como o Li* é muito pequeno, ele é muito
hidratado. Assim, o raio do ion hidratado será grande e se
O hidreto de alumínio e lítio é iônico, sendo o ion [A1H4]‘ difundirá lentamente. Já o ion Cs * é menos hidratado, de
tetraédrico. O Li[AlH4] é um poderoso agente redutor, modo que o raio do ion Cs * hidratado é menor que 0 raiio
largamente utilizado em Química Orgânica, já que reduz do ion Li* hidratado. Logo, o ion Cs* hidratado se move
compostos carbonílicos a álcoois. Ele reage violentamente mais rapidamente e conduz mais eficientemente a corrente
com água, sendo portanto necessário usar solventes elétrica.
orgânicos absolutamente secos, por exemplo éter dietílico
Algumas das moléculas de água encostam no ion
secado sobre sódio. O Li[AlH4] também reduz diversos
metálico e a ele se ligam formando um complexo. Essas
compostos inorgânicos, como BC13, produzindo B2H6
moléculas de água constituem a primeira camada de
(diborano); PCI3, produzindo PH3 (fosfina ou fosfano) e
hidratação. Assim, o Li* é rodeado tetraedricamente por
SiCl4, produzindo SiH4 (silano).
quatro moléculas de água. Isso pode ser explicado da seguinte
Tetrahidretoborato de sódio (borohidreto de sódio), maneira: os átomos de oxigênio das quatro moléculas de
Na(BH4], é outro hidreto complexo. Ele é iônico, contendo água utilizam um par de elétrons livres para formar ligações
íons tetraédricos [BH4]_. É convenientemente obtido pelo coordenadas com o ion metálico. Com quatro pares
aquecimento de hidreto de sódio com borato de trimetila: eletrônicos no nível de valência, a Teoria da Repulsão dos
230-270'C Pares de Elétrons da Camada de Valência, VSEPR em inglês)
4NaH + B(OCH3)j 4 Na[BH4] + 3NaOCH3 prevê uma estrutura tetraédrica. Por outro lado, usando a
teoria de ligação de valência, pode-se dizer que 0 orbital 2s
Outros tetra-hidretoboratos de metais dos Grupos 1 e e os três orbitais 2p formam quatro orbitais híbridos sp5
2, de alumínio e de alguns metais de transição, podem ser
preenchidos pelos pares eletrônicos dos átomos de oxigênio.
obtidos a partir do sal de sódio. Esses tetra-hidretoboratos
são usados como agentes redutores, sendo que aqueles
Is 2s 2P
contendo metais alcalinos (principalmente sódio e potássio)
Configuração eletrônica
estão sendo cada vez mais usados, pois são muito menos do átomo de lítio U t
sensíveis à água que o Li[AlH4]. Por exemplo, o Na[BH4]


2s 2P
pode ser recristalizado de água fria e K[BH4) de água quente. Configuração eletrônica
Apresentam, pois, a vantagem de poderem ser usados em do ion Li*
solução aquosa. Os demais reagem com água (vide Grupo
13).
[BHJ- + 2H2O —>B02- + 4H2
Configuração eletrônica do ion
Li* com 4 moléculas de água com
ligações coordenadas através
E3 P BI
4 pares eletrônicos
dos pares isolados dos oxigênios
tetaédricos
(hibridização sp*l
SOLUBILIDADE E HIDRATAÇÃO
Todos os sais simples se dissolvem em água, formando No caso dos íons mais pesados, particularmente Rb4 e
íons; e portanto essas soluções conduzem corrente elétrica. Cs + , o número de moléculas de água aumenta para seis. A
Como os íons Li* são pequenos, seria de se esperar que as Teoria da Repulsão dos Pares de Elétrons da Camada de
soluções de sais de lítio conduzissem melhor a corrente Valência prevê uma estrutura octaédrica. A teoria da ligação
elétrica que as soluções de mesma concentração de sais de de valência também sugere um arranjo octraédrico, usanda
sódio, potássio, rubídio ou césio. Os íons pequenos deveríam um orbital s, três orbitais p e dois orbitais d para formar as
migrar mais facilmente para o cátodo e conduzir melhor a ligações.
SOLUBILIDADE E HIDRATAÇÃO 151

Uma segunda camada de moléculas de água aumenta K* + Na[B(C6Hs)4]-» Na* + K[B(C6HS)4]


o grau de hidratação dos íons, embora estas novas moléculas tetrafenilborato de potássio
sejam mantidas somente por forças fracas de atração íon- (precipitação quantitativa)
dipolo. A intensidade dessas forças é inversamente
proporcional à distância, isto é, ao tamanho do íon metálico. Se um sal for insolúvel, sua energia reticular será maior
Portanto, a hidratação secundária diminui do lítio ao césio, que sua energia de hidratação. K[B(C6H5)4] é insolúvel,
e explica porque o Li* é o íon mais fortemente hidratado porque sua energia de hidratação é muito pequena, devido
deste grupo. ao grande tamanho dos seus íons.
A solubilidade em água da maioria dos sais do Grupo 1
3d 4s 4p
Configuração
decresce de cima para baixo no grupo. Para que uma
eletrônica do átomo substância se dissolva, a energia liberada quando os íons se
de potássio camada hidratam (energia de hidratação) deve ser maior que a
interna
cheia
3d 4S 4p energia necessária para romper o retículo cristalino (energia
Configuração reticular). Ao contrário, se o sólido for insolúvel, a energia
eletrônica do íon K‘
de hidratação é menor que a energia reticular.
Rigorosamente, nos dois ciclos mostrados na Fig. 9.4,
3d 4s 4p
Configuração deveríam ser utilizados os valores de energia livre de Gibbs
eletrônica do íon K* AG. Em particular, a energia reticular é um termo de entalpia
ligado a 6 moléculas I____________ I
de água AH°. Mas a energia livre padrão AG°, para converter o sólido
6 orbitais octaédricos cristalino nos íons gasosos a uma distância infinita, deveria
(hibridização d2 sp1)
ser utilizada. Contudo, as duas grandezas diferem somente
Observe que os orbitais d estão desdobrados em dois um pouco, devido a entropia de vaporização dos íons. A
grupos: um grupo contendo três orbitais (denominado t2g) e princípio, deveria ser possível prever as solubilidades a partir
outro com dois orbitais (designado eg). Somente os orbitais das energias reticulares e energias de hidratação. Na prática,
eg participam das ligações. há dificuldades para se prever tal propriedade, porque aqueles
O tamanho dos íons hidratados é um importante fator dados não são conhecidos com muita exatidão e o resultado
que controla a passagem desses íons através das membranas depende de uma pequena diferença entre dois valores
celulares. O tamanho também explica o comportamento grandes.
desses íons em colunas de troca iônica, onde o Li* se liga A energia reticular dos metais do Grupo 1 diminui
mais fracamente, sendo eluído mais rapidamente. ligeiramente, enquanto que a energia de hidratação varia
O decréscimo no grau de hidratação do Li* ao Cs* mais acentuadamente de cima para baixo dentro do grupo.
também é visível nos sais cristalinos, pois quase todos os Por isso a solubilidade da maioria dos sais dos metais do
sais de lítio são hidratados, geralmente são tri-hidratos. Grupo 1 decresce do Li ao Cs. Por exemplo, a diferença en­
Nesses sais hidratados de Li, o íon Li* está coordenado a 6 tre as energias reticulares do NaCl e KC1 é de 67 kJ mol’1,
moléculas de H2O, sendo que os octaedros compartilham enquanto que a diferença no AG(hidratação) dos íons Na*
faces, formando cadeias. Diversos sais de sódio são eK* é de 76 kJ mol"1. Portanto, o KC1 é menos solúvel que
hidratados, por exemplo Na2CO3.10H2O, Na2CO3-7H2O e o NaCl.
Na2CO3 ■ H2O. Somente alguns poucos sais de potássio são Os fluoretos e carbonatos do Grupo 1 são exceções,
hidratados; e rubídio e césio não apresentam sais hidratados. pois suas solubilidades aumentam rapidamente ao se descer
Todos os sais simples dos metais alcalinos são solúveis pelo grupo. O motivo desse comportamento é a maior
em água, de modo que na análise qualitativa esses metais variação de energia reticular em relação à energia de
precisam ser precipitados como sais pouco comuns. Assim, hidratação, ao descer pelo grupo. A energia reticular depende
o Na* é precipitado como NaZn(UO2)(Ac)9-H2O, acetato de das atrações eletrostáticas entre os íons, e é proporcional à
sódio, zinco e uranila utilizando uma solução de acetato de distância entre eles, ou mais precisamente, é proporcional à
uranila e zinco (ou cobre). O K* é precipitado adicionando- l/(r* + r"). Conclui-se que a energia reticular deve variar
se uma solução de cobaltinitrito de sódio, com o que precipita mais quando r’ for pequeno, como no caso do F", e deve
cobaltinitrito de potássio K3[Co(NO2)6], ou por adição de variar menos quando r" for grande (como no I’). As massas
ácido perclórico. Nesse caso precipita o KC1O4, perclorato
de potássio. Os metais do Grupo 1 podem ser determinados Tabela 9.14 — Energias de hidratação e reticulares dos
gravimetricamente: o sódio como acetato de uranila; e haletos do Grupo 1, a 25'C
potássio, rubídio e césio como tetrafenilboratos. Contudo,
os métodos instrumentais modernos, como fotometria de Energia livre de
hidratação AG° Energia reticular
chama e espectrometria de absorção atômica, são mais (kJ mol-1)
rápidos e simples, sendo preferencialmente utilizados em (kJ mol"1)
relação aos métodos gravimétricos nos dias de hoje.
Li* -506 -1035 -845 -800 -740
3K* + Na3[Co(NO2)6}3Na* + K3[Co(NO2)6] Na* —406 -908 -770 -736 -690
cobaltinitrito de potássio K* -330 -803 -703 -674 -636
K* + NaClO4—>Na* + KC1O4 Rb* -310 -770 -674 -653 -515
perclorato de potássio Cs* -276 -720 -644 -623 -590
152 Grupo 1 — 05 METAI5 ALCALINOS

a) Tabela 9.16 — Solubilidade em amônia líquida


m;0, + xjj,
Elemento Solubilidade
Energia
reticular (g de metal/100 g NH3)
Energia de
hidratação -33,4’C 0’C
MX,
Li 10,9 11.3
I ^(hidratado)
+ X( h ídraiado)
Na
K
25,1
47,1
23,0
48,5 |
Note que -33,4°C é o ponto de ebulição da amônia líquida a uma atmosfera
b) de pressão. Os dados a 0°C foram medidos sob pressão.
m;01+xío1

Energia de correspondente. Em concentrações superiores a 3 M, as


Energia hidratação soluções adquirem coloração bronze e um brilho metálico,
reticular
M (hidratado)
por causa da formação de agregados de íons metálicos (“clus-
"*■ Xjhidratado) ters”).

I ^^(crittal) Essas soluções de metais em amônia líquida conduzem


melhor a eletricidade que as soluções de qualquer composto
iônico em qualquer solvente, sendo a condutividade
Figura 9.4 — A solubilidade em relação à energia reticular e à
semelhante a de sólidos metálicos (condutividade específica
energia de hidratação. a) o sólido se dissolve, b) o sólido é insolúvel.
do Hg = 104 ohm-1; Na/NH3 = 0,5 x 104 ohm'1; do K/NHj
Tabela 9.15 — Solubilidades dos haletos do Grupo 1 = 0,45 x 104 ohm-1). A condução se deve essencialmente à
presença de elétrons solvatados.
Solubilidade (valor molar, seguido entre parênteses Os metais também são solúveis em outras aminas, sendo
_______ pela solubilidade em g/lOOg H2O) estas soluções utilizadas em sínteses orgânicas e inorgânicas.
MF MC/ MBr MI Essas soluções de metais em amônia líquida atuam como
poderosos agentes redutores, por exemplo reduzindo os
Li 0,1 (0,27) 19,6 (830) 20,4 (177) 8,8 (165) elementos dos Grupos 14, 15 e 16, muitos compostos e
Na 1,0(4,22) 6,2 (36) 8,8(91) 11,9(179)
complexos de coordenação, e até mesmo compostos
K 15,9 (92,3) 4,8 (34,7) 7,6 (67) 8,7(144)
Rb 12,5(130,6) 7,5 (91)
aromáticos.
6,7(110) 7,2(152)
Cs 24,2 (367,0) 11,0(186) 5,1 (108) 3,0 (79) Essas reduções podem ser efetuadas em amônia líquida,
mas não em água, pois os metais alcalinos são agentes
redutores mais fortes que o hidrogênio, reagindo com águia
dos solutos que se dissolvem num dado volume de solvente, com liberação de hidrogênio. Os metais podem perdurar em
não fornecem uma escala de comparação muito útil das amônia líquida por algum tempo.
solubilidades dos mesmos, pois os pesos moleculares são
diferentes. A maneira mais simples de se comparar a Bi + Na/NH3 Na3Bi
concentração dos íons presentes em solução é comparar as (Bi reduzido do estado de oxidação 0 a -IIIH
solubilidades expressas em quantidades molares. S + Na/NH3 -> Na2S
(S reduzido do estado de oxidação 0 a -11)
SOLUÇÕES DOS METAIS ALCALINOS EM [Ni(CN)„]2- + 2e [Ni(CN)4]4-
(Ni reduzido de + II a 0)
AMÔNIA LÍQUIDA
Na presença de impurezas ou catalisadores como Fe,
os metais alcalinos reagem com amônia líquida, formando
COMPOSTOS COM CARBONO
o sal amideto correspondente e hidrogênio. Se o lítio for aquecido na presença de carbono, um
carbeto iônico, Li2C2, será formado. Os outros metais
M + NH3 -» MNH2 + '/2H2 alcalinos não reagem diretamente com o carbono, mas for­
Na ausência de quaisquer impurezas ou catalisadores, mam carbetos semelhantes quando aquecidos com etino
os metais do Grupo 1, e em menor grau os elementos Ca, Sr (também chamado acetileno), ou quando etino é borbulhado
e Ba do Grupo 2 e os lantanídeos Eu e Yb, dissolvem-se numa solução do metal em amônia líquida.
diretamente em amônia líquida, formando soluções bastante
concentradas. O metal pode ser recuperado por simples 2Li + 2C -> Li2C2
evaporação da amônia. Na + C2H2 -> NaHC2 -> Na2C2
Soluções diluídas de metais alcalinos em amônia líquida Esses compostos contêm o íon carbeto, [OC]2‘, ou o
têm coloração azul escura, sendo os íons metálicos e os íon hidretocarbeto, [C=C—HJ". A reação mais importante
elétrons solvatados as principais espécies presentes em dos carbetos é a reação com água, que gera acetileno. Por
solução. Se essa solução azul for deixada em repouso, isso, são também denominado acetiletos.
lentamente a cor vai se tornando cada vez mais clara até
desaparecer completamente, devido a formação do amideto Na2C2 + 2H2O -» 2NaOH + C2H2
COMPOSTOS ORGÂNICOS E ORSANOMETÂLICOS 153

O composto LiC2H é empregado na síntese industrial A estrutura do agregado ("cluster”) (LiCH3)4 é incomum.
de vitamina A. Os quatro átomos de lítio ocupam os vértices de um tetraedro.
Os metais potássio, rubídio e césio reagem com grafita, Cada átomo de C das metilas se situa acima de uma das
inserindo-se nos espaços entre as camadas de carbono, do faces do tetraedro, formando ligações com os três átomos
seu retículo cristalino. Eles formam carbetos intersticiais de lítio que constituem cada uma das faces do tetraedro. A
altamente coloridos, não-estequiométricos cujas composições distância intramolecular Li-C é de 2,31 A. O átomo de
variam de C60K (cinza) a C36K (azul). A inserção máxima carbono também se liga aos três átomos de hidrogênio do
(saturação) ocorre no composto C8K, de coloração bronze grupo metila. Além disso, o átomo de C se liga ao átomo de
(vide Capítulo 12). Li em outro tetraedro, sendo a distância intermolecular C-
Li igual a 2,36 A. Portanto, o número de coordenação do
átomo de C é igual a 7. Isso não pode ser explicado pelas
COMPOSTOS ORGÂNICOS E teorias de ligação clássicas, pois o átomo de C só dispõe de
ORGANOMETÁLICOS um orbital s e três orbitais p para formar ligações. A
explicação mais simples envolve uma ligação quadricentrada
Os metais alcalinos substituem o H em ácidos orgânicos, com dois elétrons, englobando três átomos de Li nos vértices
formando sais como o acetato de sódio (etanoato de sódio),
de uma face e o átomo de C que se encontra acima deles. De
CH3COONa, e benzoato de potássio, C6H5COOK. O sabão é
um modo semelhante, o número de coordenação do Li
uma mistura dos sais de sódio dos ácidos palmítico, oléico e também é 7, constituído por três átomos de Li no tetraedro,
esteárico (ácido palmítico, C1SH31COOH, ocorre em óleo de três carbonos no centro das faces do tetraedro, e um átomo
coco, ácido oléico, C17H33COOH, ocorre em óleo de oliva e
de Li do tetraedro vizinho.
ácido esteárico, C17H35COOH, ocorre no sebo e gorduras
animais). O sabão é obtido pela saponificação (hidrólise) de O tetraetil-lítio é um tetrâmero no estado sólido (LiEt)4,
óleos e gorduras naturais. Esses óleos e gorduras são ésteres mas é um hexâmero quando dissolvido em hidrocarbonetos
do glicerol, e sua hidrólise com NaOH inicialmente trans­ (LiEt)6. O sólido tem estrutura semelhante a do [LiCH3]4, e
forma os ésteres em glicerol e ácidos graxos. A neutralização supõe-se que o hexâmero consista de um octaedro de átomos
desses ácidos graxos forma os correspondentes sais de sódio, de Li com grupos etila, Et, acima de seis das oito faces,
ou seja, sabão. Em 1991, a produção mundial de sabões foi formando ligações multicentradas.
de 7,4 milhões de toneladas. O n-butil-lítio também é um tetrâmero quando sólido,
(LiBu)4. Esse composto é disponível comercialmente. A sua
CH2O-OC-C15H3I ch2oh produção é de cerca de 1.000 toneladas por ano. É usado
principalmente como catalisador de polimerização e em
CH • 0 ■ OC • C15H3i + 3NaOH- CHOH + 3C15H31COOH alquilações. No laboratório, é um reagente muito versátil na
síntese de derivados aromáticos e insaturados, tais como
CH2OOC-C15H31 CHj-OH compostos vinil- e alil—lítio. Muitas dessas reações são
tripalmitato de glicerila glicerol ácido palmítico semelhantes às que ocorrem com os reagentes de Grignard.
(do óleo de coco) LiBu + Ari —> LiAr + Bul (Bu = butil, Ar - aril)
C15H31—COOH + NaOH^C15H31 • COONa + H2O 4LiAr + Sn(CH = CH)4—> 4LÍCH - CH2 + Sn(Ar)4
O estereato de lítio também é um "sabão” e é obtido a A partir desses compostos, é possível preparar uma
partir de LiOH e de uma gordura natural como o sebo. É grande variedade de compostos organometálicos e orgânicos.
usado em grande escala para tornar mais espessos óleos
minerais usados como lubrificantes (os assim chamados (R alquil ou aril)
"óleos detergentes"), sendo utilizados também na fabricação 3LiR + BCl3 -»BR3 + 3LÍC1 (compostos organoborados)
de graxas para motores. 4LiR + SnCl4 —>SnR4 + 4LÍC1 (compostos orgânicos de Sn)
3LiR + P(OEt)3 ->PR3 + 3LiOEt (compostos organofosforados)
O lítio mostra maior tendência de formar ligações 2LiR + HgI, ->HgR2 + 2LÍ1 (compostos organomercúricos)
covalentes que os demais metais alcalinos. O lítio apresenta LiR + RT —>R-R’ + LÍI (hidrocarbonetos)
propriedades semelhantes ao do magnésio, designadas LiR + H* —>R-H (hidrocarbonetos)
"relações diagonais” na Tabela Periódica. O magnésio forma LiR + Cl2 —>R-C1 + LÍC1 (haletos de alquila e arila)
LiR + HCONMe2—>R • CHO + LiNMe2 (aldeídos)
diversos alquil- e aril-derivados, denominados reagentes LiR + 3CO ->R2CO + 2LÍCO (cetonas)
de Grignard, que são muito importantes na obtenção de LíR + CO2 ►R • COOH + LiOH (ácidos carboxílicos)
compostos organometálicos. O lítio também forma diversos
alquil- e aril-derivados, que são muito importantes na Alquil compostos de Na, K, Rb e Cs são geralmente
preparação de compostos organometálicos. Por exemplo, o preparados a partir dos correspondentes compostos
(LiCH3)4 é o protótipo de uma série de compostos: é organomercúricos.
covalente, solúvel em solventes orgânicos e pode ser
sublimado ou destilado. Esses compostos freqüentemente 2K + HgR2 Hg + 2KR
são tetrâmeros ou hexâmeros. São obtidos a partir de haletos
Esses compostos são iônicos, M + R~, e extremamente
de alquila ou arila, geralmente o cloreto, em solvente como
éter de petróleo, ciclohexano, tolueno ou éter dietílico. reativos. Eles se inflamam ao ar, reagem violentamente com
a maioria dos compostos, exceto nitrogênio e hidrocarbonetos
RCÍ + Li LiR + LiCl saturados. Portanto, são de difícil manuseio.
154 Grupo 1 — 05 METAIS ALCALINOS

COMPLEXOS COM ÉTERES-COROA E

•axz
CRIPTANDOS
Os metais do Grupo 1 diferem dos demais metais pela /\0Hi
sua pequena tendência a formar complexos. Esse fato é ) oh2
previsível, pois os fatores que favorecem a formação de
Aldeído salicílico
complexos são o tamanho pequeno, a carga elevada e orbitais
vazios de baixa energia para formar as ligações. Entretanto,
os íons dos metais do Grupo 1 são muito grandes e tem uma
O choh
carga baixa de + 1. choxkÍÉ^

Diversos aquacomplexos como o [Li(H2O)4] + , são


conhecidos, e em vários sais cristalinos aparecem íons
metálicos com a primeira esfera de hidratação preenchida ch3 CHj
por quatro moléculas de água arranjadas tetraedricamente. ^C-OH ch3
Na’ e K+ também apresentam essa mesma esfera de +LÍ*-
CHj CH
hidratação, mas Rb+ e Cs* coordenam seis moléculas de ^C«O
CH Li
água. Complexos estáveis são formados com fosfinóxidos; 'c=o xc = oz
c'h,
por exemplo, são conhecidos complexos de fórmulas CH3 CH3
[LiX ■ 4Ph3PO], [LiX • 5Ph3PO] e [NaX ■ 5Ph3PO), onde X é um
ânion grande, tais como C104, r, N03 ou SbF^. Existe uma
Acetilacetona
(forma cetònica)
(Forma
enólica) CH3
I
H CH3
pequena tendência de ocorrer a formação de amin
complexos, tais como [Li(NH3)4]I. Em solução são
)-°\ M
CH li CH
xc > o xo = c
conhecidos alguns complexos fracos com sulfatos, peroxos-
sulfatos e tiossulfatos, e também com hexacianoferratos. CH, CH,

Contudo, alguns reagentes orgânicos quelantes


Figura 9.5 — Complexos de aldeído salicílico e acetilacetona
(particularmente aldeído salicílico e ((3-dicetonas) são agentes
complexantes extremamente fortes, e os íons do Grupo 1 exemplo, uma coroa-4 (um poliéter cíclico com 4 átomos d
formam complexos com esses ligantes. Eles são agentes oxigênios) é seletivo para o Li +, o Na + prefere umcoroa-5:
complexantes muito fortes por serem multidentados, isto é, o K+ um coroa-6. É possível chegar a complexos com :
por possuírem mais de um grupo doador, podendo formar número de coordenação incomum de 10, por exemplo n
mais que uma ligação com o metal. Além disso, formam K+ (dibenzo-30-coroa-10). Os éteres coroas formam diverso
quelatos cíclicos quando se ligam ao metal. Podem ser citados complexos cristalinos, mas mais importante é sua evento:
como exemplos o aldeído salicílico, a acetilacetona, a adição a solventes orgânicos para provocar a dissolução d
benzoilacetona, o salicilato de metila e o o-nitrofenol. Os sais inorgânicos, que, sendo iônicos, não se dissolveriiar
metais geralmente alcançam os números de coordenação 4 normalmente nestes solventes. Poliéteres desse tipo atuar
ou 6 (ver Fig. 9.5). como agentes de transporte de íons através das membrana
Um importante avanço na química dos metais alcalinos celulares, assim mantendo o equilíbrio entre os íons Na *
foi a descoberta de complexos com poliéteres e dos K+ dentro e fora da célula.
“criptatos", com moléculas macrocíclicas contendo
nitrogênio e oxigênio. H2 h2 H, H,
Os éteres-coroas formam uma classe interessante de
agentes complexantes, sintetizados pela primeira vez por .0 : Çk
Pedersen em 1967. Um exemplo é o dibenzo-18-coroa-6 (vide
Fig.9.6). O nome indica que há dois anéis benzênicos no
.-I
composto e que seis dos 18 átomos que compõem 0 anel HjC^^CH,

são oxigênios. Esses seis átomos de oxigênio podem h, : h, H, : H,


complexar-se com um íon metálico, mesmo com os íons dibenzo-18 coroa-6 diciclohexil-18 coroa-6
grandes como os dos elementos do Grupo 1, inadequados
para a formação de complexos. A parte orgânica da molécula
é dobrada, lembrando uma coroa, e os átomos de oxigênio
com seus pares de elétrons livres estão praticamente num
mesmo plano formando um anel, tendo o íon metálico no h2 h2
centro. A ligação entre o íon metálico e o poliéter é
essencialmente eletrostática, sendo que o tamanho do íon •? N
metálico deve ser adequado para se ajustar exatamente à
A-Z C QC
cavidade no centro do anel. 0 tamanho dos poliéteres pode
variar: por exemplo, o benzo-12-coroa-4 tem um anel de 12 h2 h2 • Cs)
Complexo RbCNS
átomos, 4 dos quais são átomos de oxigênio. Os poliéteres benzo-12 coroa-4 (dibenzo-18 coroa-6)
formam complexos seletivamente com os íons dos metais
alcalinos. O tamanho da abertura no centro do anel determina
o tamanho do íon metálico que pode ser acomodado. Por Figura 9.6 — Estruturas de alguns éteres coroa
DIFERENÇAS ENTRE O LÍTID E 05 DEMAIS ELEMENTOS DO GRUPO 1 155

Em vista da grande semelhança das propriedades


O
químicas do Na e K, é surpreendente que suas funções
biológicas sejam bem diferentes. O Na + é ativamente expulso
das células, mas o K+ não. Esse transporte de íons é
denominado "bomba de sódio", e envolve tanto a expulsão
-o o- ativa do Na+ como a captura ativa do K + . As análises dos
fluídos internos e externos à célula indicam que o transporte
Figura 9.7 — Ligaçao 2,2,2 cripi de íons realmente ocorre. Nas células animais a concentração
deK’ é igual a cerca de 0,15 M, enquanto que a concentração
Os criptatos são os equivalentes tridimensionais dos de Na+ é de apenas cerca de 0,01 M. Nos fluídos corpóreos
éteres-coroa, mas contém átomos de nitrogênio que permitem (sangue e linfa) as concentrações de K+ e Na+ são
a ramificação e atuam como sítios doadores. Estes competem aproximadamente iguais a 0,003 e 0,15 M, respectivamente.
com os átomos de oxigênio para formar ligações com o íon O transporte de íons requer energia, sendo esta obtida por
metálico. Eles são denominados criptatos, porque o ligante meio da hidrólise do ATP. Estima-se que a hidrólise de uma
envolve e protege o cátion. Um criptando típico é a molécula molécula de ATP a ADP fornece energia suficiente para
N[CH2CH2OCH2CH2OCH2CH2]3N, denominado 2,2,2- expulsar três íons Na + para fora da célula, e forçar a entrada
criptando. Ele forma o complexo [Rb(cript)]CNS • H2O, no de dois íons K+ e um íon H+ para dentro da célula. O meca­
qual seis átomo de oxigênio e dois de nitrogênio estão ligado nismo de transporte de íons envolve poliéteres naturais
ao íon metálico, que passa a ter o número de coordenação presentes nos organismos.
8. O ligante envolve completamente o íon metálico, A diferença de concentração entre Na+ eK* dentro e
ocultando-o: daí o nome criptando. A parte externa do fora da célula produz uma diferença de potencial elétrico
complexo se assemelha a um hidrocarboneto, tornando o através da membrana celular, essencial para o funcionamento
íon solúvel em solventes orgânicos. Tais complexos são de células nervosas e musculares. A entrada de glicose nas
utilizados em processos de extração com solvente, para células está associada com a entrada de íons Na+: eles
estabilizar números de oxidação pouco usuais, além de penetram juntos na célula. Isso é favorecido por um elevado
promover outras reações incomuns. gradiente de concentração. Assim, os íons Na’ que entraram
O composto incomum [Na(2,2,2-cript)j + Na" pode ser na célula desse modo devem a seguir ser expulsos. O
obtido esfriando uma solução de Na em etilamina com 2,2,2- transporte de aminoácidos ocorre por um mecanismo
cript. O complexo forma um sólido amarelo-ouro, semelhante. Os íons K + presentes no interior da célula são
diamagnético, estável apenas a temperaturas inferiores essenciais para o metabolismo da glicose, a síntese de
a -10°C, contendo o íon Na" (íon sodeto). O raio do Na’ foi proteínas e a ativação de algumas enzimas.
determinado por estudos cristalográficos, sendo igual a cerca O Prêmio Nobel de Química de 1987 foi outorgado a C.
de 2,3 Â. Logo, ocorreu uma reação de transferência de J. Pedersen, J. M. Lehn e D. Cram, pela descoberta e o estudo
elétrons envolvendo dois átomos de sódio, gerando os íons das aplicações dos éteres-coroa e criptatos.
Na+ e Na’. O ligante cript é grande e protege completamente
o íon Na+ , evitando sua recombinação com o íon Na". Outros
alcaletos contendo íons K’ (potasseto), Rb’ (rubideto) e Cs’ DIFERENÇAS ENTRE O LÍTIO E OS DEMAIS
(ceseto) foram preparados de maneira semelhante. Todos ELEMENTOS DO GRUPO 1
são marrom amarelados e menos estáveis que o sodeto. As propriedades do lítio e de seus compostos diferem
Se a reações for realizada na presença de excesso de muito mais em relação às propriedades dos demais elementos
criptando, alguns complexos incomuns denominados eletre- e compostos do Grupo 1, que as propriedade destes últimos
tos, podem ser obtidos. Estes são sólidos pretos e paramag- entre si. Exceto pelo fato de ter o mesmo número de oxidação,
néticos; portanto contém elétrons desemparelhados. Um com­ os compostos de lítio se assemelham muito mais aos
posto típico é o [Cs + (2,2,2cript)][(2,2,2-cript) -e’], no qual elementos do Grupo 2 (particularmente o magnésio) que
um elétron está preso numa cavidade de cerca de 2,4 A. aos demais elementos do seu próprio grupo. Algumas dessas
diferenças estão relacionadas abaixo:
IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA 1. O ponto de fusão e de ebulição do lítio é muito mais
elevado que os dos demais elementos do Grupo 1.
Os organismos vivos requerem pelo menos 27 ele­
2. O lítio é bem mais duro que os demais elementos do
mentos, 15 dos quais são metais. Os metais essenciais
grupo.
presentes em maior quantidade são K, Mg, Na e Ca.
Quantidades menores de Mn, Fe, Co, Cu, Zn e Mo, e 3. O lítio reage menos facilmente com o oxigênio,
quantidades traço de V, Cr, Sn, Ni e Al são necessárias, pelo formando o óxido normal. Ele forma o peróxido somente
menos para alguns organismos. com grande dificuldade; e os óxidos superiores são
instáveis.
Quantidades maiores de metais dos Grupos 1 e 2 são
necessárias, principalmente para equilibrar as cargas elétricas 4. O hidróxido de lítio é menos básico que os demais
associadas com macromoléculas orgânicas negativamente hidróxidos do grupo, e em conseqüência muitos de seus
carregadas existentes na célula. Também são necessárias para sais são menos estáveis. Por exemplo, Li2CO3, LiNO3 e
manter a pressão osmótica dentro da célula, de modo a LiOH se decompõem ao óxido quando aquecidos
mantê-la túrgida, impedindo seu colapso. suavemente, mas os correspondentes compostos dos
156 Grupo I — OS METAIS ALCALINOS

demais elementos do grupo são estáveis. Outro elementos, por exemplo Be e Al, B e Si, também são
indicativo de sua natureza menos básica é o fato dele observadas, como mostrado abaixo:
formar o bicarbonato apenas em solução e não no estado
Li Be . B . C
sólido, enquanto que todos os outros metais alcalinos
formam bicarbonatos sólidos estáveis. Na Mg Al Si
5. O lítio forma um nitreto, Li3N. Nenhum outro elemento
As relações diagonais decorrem dos efeitos tanto do
do Grupo 1 forma nitretos, mas os elementos do Grupo
tamanho como da carga sobre as propriedades. Descendo
2 formam.
por um grupo, os átomos e íons aumentam de tamanho.
6. O lítio reage diretamente com o carbono para formar Movendo-se da esquerda para a direita na Tabela Periódica,
um carbeto iônico. Nenhum outro metal alcalino o tamanho diminui. Logo, num movimento diagonal, o
apresenta essa propriedade, mas todos os elementos tamanho das espécies envolvidas permanece aproxima­
do Grupo 2 reagem analogamente com o carbono. damente o mesmo. Por exemplo, o lítio é menor que o sódio,
7. O lítio apresenta uma maior tendência de formar e o magnésio também é menor que o sódio, de modo que o
complexos que os metais alcalinos mais pesados, sendo lítio e o magnésio têm aproximadamente o mesmo tamanho.
possível preparar complexos de amônia sólidos, como O tamanho do Li+ = 0,76 A e do Mg2+ = 0,72 Â, tal que
o [Li(NH3)4)l. em situações em que o tamanho é determinante, o
8. Li2CO3, Lí3PO4 e LiF são todos insolúveis em água, e o comportamento desses íons será semelhante.
LiOH é pouco solúvel. Os demais elementos do Grupo Berílio e alumínio é outro caso onde se observam
1 formam compostos solúveis em água, mas os relações diagonais. Nesse caso os tamanhos não são tão
correspondentes compostos de magnésio são insolúveis similares (Be2+= 0,45ÂeAl3+ = 0,535 A), mas a carga por
ou pouco solúveis. unidade de área é semelhante (Be2+ 2,36 e Al3+ 2,50), porque
9. Os haletos e os compostos alquil—lítios são muito mais as cargas dos íons são, respectivamente, +2 e +3.
covalentes que os correspondentes compostos de sódio, (carga iônica)
e por isso são solúveis em solventes orgânicos. Carga por unidade de área = —
Analogamente, o perclorato de lítio, e em menor grau o ■ (raio iônico)2
— ■ 71
perclorato de sódio, assemelham-se ao perclorato de 3
magnésio no que se refere à elevada solubilidade em Em alguns casos, sugeriu-se que as relações diagonais
acetona (propanona). são decorrentes de semelhanças diagonais nos valores de
10. O íon Li+ e seus compostos são mais fortemente eletronegatividades.
hidratados que os compostos dos demais elementos do Li Be B C
grupo. 1,0 1,5
1,5. 2,0 2,5
Desse comportamento aparentemente anômalo do lítio,
Na Mg
'Mg 'Al 'Si
iodem ser inferidas diversas generalizações.
0,9 1,2
1,2 1,5 1,8
Os primeiros elementos de cada um dos Grupos
representativos (Li, Be, B, C, N, O e F) diferem do restante Visto que há uma relação entre o tamanho dos íons e
dos elementos dos seus respectivos grupos. Em parte isso se suas eletronegatividades, trata-se apenas de uma maneira
deve ao tamanho muito menor dos primeiros elementos em diferente de abordar o mesmo problema.
relação aos demais elementos dos grupos. Conseqüentemente
eles têm uma maior tendência de formar compostos LEITURAS COMPLEMENTARES
covalentes (regras de Fajans) e complexos.
• Addison, C.C.; The Chemistry of the Liquid Alkali Metals,
O primeiro elemento de cada grupo pode formar no John Wiley, Chichester, 1984.
máximo quatro ligações convencionais, pois o nível
• Bach, R.O. {ed.); Lithium: Current Applications in Science,
eletrônico mais externo contém apenas um orbital s e três Medicine and Technology, John Wiley, Chichester and New
orbitais p. Os elementos mais pesados podem utilizar os York, 1985. (Anais de Conferência)
orbitais d para formar ligações. Assim, eles podem ter um
• Dram, D.J. e Cram, J.M.; Container Molecules and their
número de coordenação igual a 6, utilizando um orbital s, 3 Guests, Royal Society of Chemistry, Cambridge, 1995.
orbitais p e 2 orbitais d. Por causa disso, o número de
• Dietrich, B.; Coordination Chemistry of alkali and alkalirte
coordenação de um complexo ou composto covalente dos earth cations with macrocyclic ligands, J. Chem. Ed., 62.
primeiros elementos dos grupos geralmente é 4 e para os 954-964 (1985). (éteres-coroa e criptandos)
elementos subsequentes o número de coordenação
• Gockel, G.W.; Crown Ethers and Cryptands, Royal Society of
geralmente é 6. Essa generalização simples pressupõe que Chemistry, Cambridge. (um de uma série sobre Química
as ligações são formadas por pares de elétrons Supramolecular, Stoddart, J.F. (ed.))
compartilhados por dois átomos. Quando ocorre a formação
• Hanusa, T.P., Re-examining the diagonal relationships, J.
de ligações multicentradas, como no Li4(CH3)4, essa Chem. Ed., 64, 686-687 (1987).
generalização não é aplicável.
• Hart, W.A. eBeumel, O.E; ComprehensiveInorganicChemis­
As relações de similaridade entre o lítio (o primeiro try, vol.l, Pergamon Press, Oxford, 1973. (Cap.7: 0 lido e
elemento do Grupo 1) e o magnésio (o segundo elemento seus compostos)
do Grupo 2) seguem a correlação diagonal na Tabela • Hughes, M.N. e Birch, N.J., IA and I1A cations in biology.
Periódica. Relações diagonais entre outros pares de Chemistry in Britain, 18, 196-198 (1982).
PROBLEMAS 157

• Jolly, W.L.; Metal Ammonia Solutions, Dowden, Hutchinson estrutura eletrônica dos óxidos formados pelo sódio e pelo
and Row, Strodburg, PA, 1972. potássio.
• Lagowski, J. (ed.); The Chemistry of Non-aqueous Solvents, 8. Explique as diferenças de reatividade dos metais do Grupo
Academic Press, New York, 1967. (Cap.6: Soluções de metais 1 com água.
em amônia líquida)
9. As energias de ionização dos elementos do Grupo 1
• Lehn, J.M.; Design of organic complexing agents, Structure sugerem que o césio deve ser o elemento mais reativo,
and Bonding, 16, 1-69 (1973) mas os potenciais padrão de eletrodo sugerem que o lítio
• Lippard, S. (ed.); Progress in Inorganic Chemistry, vol.32, Dye, é o mais reativo. Discuta conciliando essas duas obser­
J.L.; Electides, Negatively Charged Metal íons and Related vações.
Phenomena, Wiley-Interscience, New York, 1984.
10. Descreva como você obteria hidreto de lítio. Escreva as
• March, N.N.; Liquid Metals, Cambridge University Press, 1990. equações que representem duas propriedades importantes
• Parker, D.; Alkali and alkaline earth cryptates, Adv. Inorg. do hidreto de lítio. O composto contém os íons
and Radiochem., 27, 1-26 (1983). isoeletrônicos Li+ e H". Qual deles é maior e por quê?
• Pedersen, C.J.; J. Am. Chem. Soc. 89, 2495, 7017-7036 (1967). 11. Represente através de equações as reações entre sódio e:
(Poli-éteres cíclicos e seus complexos com metais) a) H2O, b) H2, c) grafite, d) N2, e) O2, f) Cl2, g) Pb, h) NH3.
• Pedersen, C.J. e Frensdorf, H.K.; Angew. Chem., 11, 16-25 12. Os elementos do Grupo 1 geralmente formam compostos
(1972). (Poli-éteres cíclicos e seus complexos com metais) muito solúveis. Cite alguns compostos insolúveis ou pouco
• Sargenson, A.M.; Caged metal ions, Chemistry in Britain, 15, solúveis. Como esses elementos podem ser detectados e
23-27 (1979). (Considerações objetivas sobre éteres-coroa, identificados na análise qualitativa?
criptandos, etc)
13. Descreva a cor e a natureza das soluções dos metais do
• The Chemical Society; Alkali Metals, Publicação especial n? Grupo 1 em amônia líquida. Escreva uma equação que
22, London. mostre como essas soluções se decompõem.
• Waddington, T.C. (ed.); Non AqueousSolvent Systems, Nelson, 14. Desenhe as estruturas cristalinas do NaCl e do CsCl. Qual
1969. (Cap.l por Jolly, W.L. e Hallada, C.J.: Soluções de é o número de coordenação do íon metálico em cada caso?
metais em amônia líquida)
Explique por que esses dois sais adotam estruturas
• Wakefield, B.J.; The Chemistry of Organolithium Compounds, cristalinas diferentes.
Pergamon Pres, Oxford, 1976.
15. Os metais alcalinos formam muitos complexos? Qual é o
• Whaley, T.P.; Comprehensive Inorganic Chemistry, vol. 1, íon metálico desse grupo que forma complexos com mais
Pergamon Press, Oxford, 1973. (Cap.8: Sódio, potássio,
facilidade? Quais são os melhores agentes complexantes?
rubídio, césio e frâncio)
16. Desenhe a estrutura dos complexos formados pelo Li + ,
Na+ eK* com acetilacetona e com aldeído salicílico. Por
PROBLEMAS que os números de coordenação são diferentes?
1. Por que os elementos do Grupo 1 são: 17. O que é um éter-coroa e um criptando? Desenhe alguns
exemplos de complexos de elementos do Grupo com esses
a) monovalentes
ligantes. Qual é a importância biológica desse tipo de
b) essencialmente iônicos complexos?
c) agentes redutores fortes 18. Qual dos seguintes métodos você usaria para extinguir um
d) tem pequena tendência de formar complexos incêndio provocado pelo lítio, sódio ou potássio metálico?
e) porque eles tem os menores valores para a primeira Explique porque alguns desse métodos são inadequados e
energia de ionização nos respectivos períodos ? escreva as reações correspondentes.
2. Por que os metais do Grupo 1 são moles, têm baixo ponto a) água
de fusão e baixa densidade? (vide Capítulo 5) b) nitrogênio
3. O lítio é o menor íon do Grupo 1. Seria de esperar que ele c) dióxido de carbono
tivesse a maior mobilidade iônica e, portanto, as soluções d) manta de amianto
de seus sais deveríam ter uma maior condutividade que 19. Os quatro métodos gerais de obtenção de metais são
soluções de sais de césio. Explique porque isso não ocorre. decomposição térmica, deslocamento de um elemento por
4. Por que o lítio tem uma maior tendência de formar com­ outro, redução química e redução eletrolítica. Como são
postos covalentes que os demais elementos do grupo? obtidos os metais do Grupo 1? Por que os demais métodos
5. O raio atômico do lítio é 1,23 Â. Quando o elétron 2s mais não são adequados ?
externo é removido, o raio do Li+ passa a ser 0,76 Â. 20. 0,347 g de um metal (A) foram dissolvidos em HNO3
Supondo-se que a diferença de raios se deva ao espaço diluído. Essa solução provocou o aparecimento de uma
ocupado pelo elétron 2s, calcule a percentagem do vol­ coloração vermelha na chama não-Iuminosa de um bico
ume do átomo de lítio ocupado pelo único elétron de de Bunsen, e por evaporação formou 0,747 do correspon­
valência. Essa hipótese é razoável? (Volume da esfera: dente óxido (B). (A) também reage com nitrogênio, for­
4/37rr3) (Resposta = 76,4%) mando um composto (C), e com hidrogênio, formando
6. Por que e de que maneira o lítio se assemelha ao magnésio? (D). Um gás (E) e um composto pouco solúvel (F) foram
7. Quais são os produtos formados quando cada um dos obtidos quando 0,1590 g de (D) foram reagidos com água.
metais do Grupo 1 são queimados em atmosfera de oxigê­ O sólido (F) é uma base e consumiu 200 ml de HC1 0,1000
nio? O que resulta da reação desses produtos com água? M para a sua neutralização. Identifique as substâncias de
Utilize a teoria dos orbitais moleculares para descrever a (A) a (F) e explique as reações envolvidas.
158

n inoúSTnm
DE CLOna E ÁLC/1LIS
A indústria de cloro e álcalis compreende a fabricação
Tabela 10.1 — Quantidades de produtos químicos mais
de três produtos químicos de base: o hidróxido de sódio
fabricados em 1991,1992,1993 e 1994
(também denominado soda cáustica), o cloro e o carbonato
de sódio (ou simplesmente soda). Todos são obtidos a partir Milhões de toneladas
Produto
do cloreto de sódio. Mundo EUA Reino
O NaOH e o cloro são obtidos simultaneamente pela Unido
eletrólise de uma solução aquosa de NaCl. O NaOH é o álcali
mais importante usado na indústria e o Cl2 também é um D H2SO4 145,5 b 42,3 b l,70b
produto químico industrial de grande importância. O carbo­ 2) CaO 127,9' 18,4' 2,50b
3) NH3 U0,0b 17,3' l,20c
nato de sódio está sendo abordado juntamente com os dois
4) O2 (100)b 23,3c 2,50'
produtos acima citados por dois motivos — primeiro, porque
5) NH4NO3 (75)b 8,40'
ele pode substituir o hidróxido de sódio em muitas de suas
6) N2 (60)b 32,60'
aplicações industriais, como na fabricação de papel, sabões 20,6' 1,80*
7) eteno (etileno) 47,5 a
e detergentes; e em segundo lugar porque o Na2CO3 pode 38,7 d 12,9'
8) NaOH
ser convertido facilmente em NaOH (e vice-versa) pelo pro­ 9) Cl2 35,3 ó 12,0' 0,88*
cesso "cal-soda cáustica”. Nesse processo ocorre uma reação 10) Na2CO3 31,5' 9,9'
reversível. Assim, conforme a demanda e custos relativos 11) propileno 25,9“ 11,2' 0,79*
do carbonato de sódio e do hidróxido de sódio, ela pode ser 12) HNO3 24,7“ 8,5'
deslocada em um ou outro sentido. Antes de 1955, o Na2CO3 13) metanol 20,6' 5,3' 0,40*
era usado em grande escala no amolecimento de águas duras, 14) benzeno 20,4“ 6,2' 0,91*
pois impede a formação de precipitado na presença de 15) H3PO4 20,3“ ll,5b
sabões. Os sabões foram discutidos no item “Compostos 16) etanol 15,8b 0,9 b’ O,24b
Orgânicos e Organometálicos” do Capítulo 9, e a água dura 17) vinil clorídico 14,9“ 6,9''■ 0,16"
será discutida no Capítulo 11. Assim, até 1955, era 18) HC1 12,3“ 3,2': 0,15*
economicamente viável fabricar Na2CO3 a partir de NaOH. • valores de 1991;b valores de 1992;' valores de 1993; valores de 1994
Mais recentemente, com o uso cada vez mais generalizado
dos detergentes, diminuiu o de sabões, reduzindo a demanda 4HC1 + MnO2—»C12 + Mn2+ + 2CU + 2H2O
do Na2CO3. Atualmente a reação inversa é efetuada em escala
Scheele também descreveu as propriedades alvejantei
limitada, convertendo o Na2CO3 em NaOH.
do cloro, o que acabou elevando a demanda de cloro e d<
Na2CO3 + Ca(OH)2 CaCO3 + 2NaOH hidróxido de sódio a uma escala industrial, para uso n;
indústria têxtil. Naquela época não existia uma indústri;
Esses três produtos químicos são classificados como química e as pessoas tinham de fabricar seus próprio:
“produtos químicos inorgânicos pesados", pois são produtos químicos. O primeiro problema se referia à obtençãr
produzidos industrialmente em grandes quantidades. A Tab. do HC1, que passou a ser produzido pelo processo Leblanc
10.1 contém a listagem dos produtos químicos mais Embora o processo seja atualmente obsoleto, merece um:
produzidos na indústria química "pesada”. descrição mais detalhada, pois trata-se do primeiro processr
industrial em grande escala usado na Europa. Foi utilizadi
durante quase todo o século 19 e ilustra muito bem .
PROCESSO LEBLANC necessidade de se considerar a problemática das matérias
C. W. Scheele descobriu o cloro em 1774, por meio da primas a serem utilizadas, como podem ser obtidas e 1
oxidação do ácido clorídrico com dióxido de manganês. mercado para o(s) produto (s). (Nessa época, a Europa era.
O PROCESSO ELETROLlTICO 159

potência industrial do mundo, tal que o processo foi que era um composto derivado de um elemento, mas foi
importado pelos Estados Unidos). posteriormente separado em dois elementos lantanídeos, o
praseodímio e o neodímio. O catalisador é uma mistura
calor
NaCl + H2SO4 concentrado - ■> NaHSO4 + HCI finamente pulverizada de sólidos que fluem como um
NaHSO4 + NaCl —— -> Na2SO4 + HCI líquido. Por isso, o sistema contendo o catalisador é
denominado "leito fluidizado”).
O HCI era a seguir oxidado a Cl2.
4HC1 + MnO2 Cl2 + Mn2++2CC+ 2H2O O PROCESSO ELETROLÍTICO
A eletrólise da salmoura foi descrita pela primeira vez
O Na2SO4 era usado na produção de vidro, ou Na2CO3 por Cruickshank. Mas, somente em 1834 Faraday desen­
e NaOH. volveu as leis da eletrólise. Naquele tempo o uso da eletrólise
era muito restrito, porque as únicas fontes de energia elétrica
Na2SO4 + CaCO3 - Na2CO3 + CaSO4
eram as baterias primárias. Essa situação mudou em 1872,
Na2CO3 + Ca(OH)2 > 2NaOH + CaCO3
quando Gramme inventou o dínamo. A primeira planta ele-
Nesse processo, os produtos químicos consumidos são trolítica comercial foi instalada em 1891 em Frankfurt
H2SO4, NaCl e CaCO3; e os produtos formados são NaOH e (Alemanha): as células eletrolíticas tinham que ser enchidas,
Cl2 (e Na2SO4, em menor quantidade). As matérias-primas eletrolisadas, esvaziadas; a seguir novamente enchida... e
eram obtidas como segue: assim por diante. TYatava-se, portanto, de um processo
descontínuo ou em bateladas. Obviamente, uma célula que
S ou FeS2 + O2 —» SO2 —> SO3 —> H2SO4 pode ser operada continuamente, sem a necessidade de ser
NaCl — minerado ou obtido de salmouras esvaziada, produziria mais e a custos menores. Nos vinte
CaCO3 — extraído como calcário anos seguintes surgiram muitas patentes e avanços
CaCO3 —> CaO ■ H*° > Ca(OH)2 tecnológicos, visando explorar as possibilidades industriais
da eletrólise. A primeira instalação industrial a empregar
Em 1874 ,a produção mundial de NaOH era de 525.000 uma célula contínua de diafragma foi provavel-mente aquela
toneladas, 94% das quais eram produzidas pelo processo idealizada por Le Seur, em Romford (Maine, Estados Unidos),
Leblanc. Em 1902, a produção de NaOH tinha aumentado em 1893; seguida da célula de Castner, em Saltville (Vir-
para 1.800.000 toneladas, mas apenas 8% eram produzidas ginia/EUA), em 1896. A primeira instalação na Inglaterra
pelo processo Leblanc. Esse processo tornou-se obsoleto foi a de Hargreaves e Bird, em 1897, em Runcorn. Todas
porque foram encontrados métodos mais econômicos, sendo essas células (e também em muitas células modernas)
substituído sucessivamente pelos processos Weldon e depois empregavam amianto como um diafragma para separar os
Deacon, e finalmente pela eletrólise. compartimentos anódico e catódico. Com a adição constante
de salmoura, havia uma produção contínua de NaOH e de
Cl2.
OS PROCESSOS WELDON E DEACON Na mesma época, Castner (um americano que trabalha­
O processo Leblanc usava MnO2 para oxidar o HCI, mas va em Birmingham, Inglaterra) e Kellner (um austríaco
o MnCl2, obtido como subproduto, era desprezado. O trabalhando em Viena) desenvolveram e patentearam versões
processo Weldon (1866) reciclava o MnCl2, sendo portanto semelhantes da célula de cátodo de mercúrio, em 1897. Suas
mais econômico. patentes combinadas passaram a ser utilizadas pela “Castner
No processo Deacon (1868), o HCI era oxidado pelo ar Kellner Alkali Company”, também em Runcorn, em 1897.
e não pelo MnO2. Efetuava-se uma reação em fase gasosa Os dois tipos de células, o de diafragma e o de cátodo
entre o HCI e o ar sobre uma superfície de blocos cerâmicos de mercúrio, ainda continuam sendo utilizados. As primeiras
especiais impregnados com uma solução de CuCl2, que instalações produziam cerca de 2 toneladas de cloro por dia,
atuava como catalisador. A reação é reversível, sendo possível mas as instalações modernas produzem 1.000 toneladas por
um grau de conversão de cerca de 65 %. dia.
4HC1 + O2
~ catalizador
catanzaaor de
44O.C
ae CuC/j
cucfj ___ „
2C12 + 2H2O + calor
, Na eletrólise da salmoura, ocorrem reações tanto no
ânodo como no cátodo.
Atualmente, cerca de 90% da demanda mundial de cloro
provém da eletrólise de uma solução aquosa de cloreto de Ânodo: 2Cr Cl2 + 2e
sódio (salmoura). Os 10% restantes praticamente provém
Cátodo: Na+ + e—>Na
da eletrólise do NaCl fundido (produção de sódio metálico);
2Na + 2H2O -> 2NaOH + H;
da eletrólise de soluções aquosas de KC1, (produção de KOH;
e de MgCl2 fundido (obtenção de magnésio metálico). Apenas Se os produtos se misturarem, podem ocorrer reações
uma pequena quantidade ainda é produzida pela oxidação secundárias:
do HCI pelo oxigênio do ar, utilizando um processo Deacon
modificado. Essa modificação surgiu em 1960 e utiliza um 2NaOH + Cl2 NaCl + NaOCl + H2O
catalisador melhorado de didímio, Dm2O3, e CuCl2, a uma ou
temperatura ligeiramente inferior de 400 °C (didímio é um
nome antigo, e significa "gêmeo”. Acreditava-se inicialmente
2OH“ + Cl2 * ocr + h,o + cr
hipoclorito
160 A INDÚSTRIA DE CLORO E ÂLCALIS

Saída de cloro Saída de hidrogênio Saída Entrada da


Entrada de de cloro salmoura
salmoura Remoção do
j|u i Nível de hidrogênio da
salmoura célula, através
Cátodo de de orifício no
carbono compartimento
do cátodo

I
Cátodo
Ânodo de
carbono
de tela
de aço H4 H? H; Nível do líquido
Diafragma
de amianto Saída de _O _o Remoção de
* hidróxilo o o NaOH do com­
Diafragma partimento do
de sódio
de amianto << cátodo
Figura 10.1 — Uma célula de diafragma
& Compartimento
do ânodo
e pode ocorrer uma outra reação secundária, numa pequena
extensão, no ânodo:
Figura 10.2 — Célula de diafragma industrial para produção de Clj
40H" -> 02 + 2H2O + 4e e NaOH

NaCI. É importante lembrar que o NaOH produzido desa


CÉLULAS DE DIAFRAGMA maneira sempre contém uma certa quantidade de NaCI. Isst
Um diafragma poroso de amianto é usado para manter pode ou não ser importante, dependendo do uso a que' s<
separados os gases H2 e Cl2 (produzidos nos eletrodos). Se destina o NaOH. Para a maioria das aplicações industriais, t
eles se misturarem, reagirão explosivamente. Na luz do dia produto é vendido na forma de uma solução, pois os custa
(e ainda mais intensamente com a exposição direta à luz do processo de evaporação para se obter o sólido exceden
solar) ocorre uma reação fotolítica produzindo átomos de os custos adicionais de transporte da solução.
cloro, que provocam uma reação em cadeia explosiva com
o hidrogênio. A CÉLULA DE CÁTODO DE MERCÚRIO
O diafragma também separa os compartimentos anódico
Durante a eletrólise da salmoura, os íons Na+ migrar
e catódico. Isso diminui a possibilidade do NaOH, produzido
em direção ao cátodo e ao chegar são neutralizados.
no compartimento catódico, se misturar com o Cl2, produzido
no compartimento anódico. Dessa forma, reduz-se a Na+ + e N3(melal)
possibilidade de ocorrer uma reação secundária que leva à
formação de hipoclorito de sódio NaOCl. Assim mesmo, uma Se o cátodo for de mercúrio, os átomos de sódio forma
pequena quantidade de hidróxido de sódio ou de OH", dos se dissolvem no mesmo, formando uma amálgama, o.
eventualmente, poderia se difundir para o outro compar­ um tipo de liga. A amálgama é bombeada para um compar
timento. Esse processo é minimizado, mantendo-se o nível timento separado, denominado desnudador, no qual águ.a <
do eletrólito mais alto no compartimento do ânodo que no espargida sobre pedaços de grafite (atuam como sóli.dt
do cátodo, de modo a manter um pequeno fluxo positivo do inerte). A água reage com o sódio dissolvido na amálgama
compartimento anódico para o catódico. Pequeníssimas obtendo-se assim NaOH puro a 50%.
quantidades de oxigênio são formadas numa reação
secundária. Esse oxigênio reage com os eletrodos de carbono Nafamálü.n») + H20 -> NaOH + ‘/2H2 + Hg
formando C02 e destruindo-os gradualmente. 0 mercúrio puro é, então, enviado novamente ao tanqui
Há um considerável interesse em
substituir o amianto do diafragma por
Entrada de Saída Ânodo revestido
finas membranas sintéticas de plástico. salmoura de cloro com titânio
Essas membranas são feitas de um
_ ,1,
polímero denominado náfion, montado
num suporte de teflon (náfion é um
copolímero de tetrafluoretileno e um
perfluorossulfoniletoxi-éter). Membra­
Jl Saída de
hidrogênio

í
<0 Q
■o
to-toa
c ©
nas plásticas possuem uma resistência
menor que o amianto. Cátodo
I LU-U

1
Menos da metade do NaCI é de mercúrio Grafite de
desnudamento
convertido em NaOH, usualmente
obtendo-se uma mistura de 11% de B "jfl —*
NaOH e 16% de NaCI. Essa solução é Mercúrio J D . ~L > -ss
concentrada num evaporador a vapor, Bomba
levando à cristalização de uma grande Mercúrio Ho
quantidade de NaCI e a uma solução
final contendo 50% de NaOH e 1% de Figura 10.3 — Célula de cátodo de mercúrio para produção de Cl2 e NaOH
CARBONATO DE SÓDIO 151

de eletrólise, sendo reciclado. Inicialmente os ânodos eram Tabela 103 — Principais usos do cloro
feitos de grafite, mas eram corroídos pela reação com o
oxigênio formado numa reação paralela (em quantidades Usos Comunidade EUA
traço), com a evolução de CO2. Os ânodos são atualmente européia
fabricados com aço revestido de titânio. O titânio é muito
resistente à corrosão, o que não somente evita o problema Cloreto de vinila (CH2=CHC1) 31% 18%
do desgaste e formação de CO2, mas também abaixa a Intermediários orgânicos 16%
resistência elétrica do sistema. Solventes clorados 14% 22%
(C2H5C1 aprox. 40.000 ton/ano
(CH2C1-CH2C1 etc.)
PRODUÇÃO Óxido de propileno 8% 5%
Nos dois processos eletrolíticos (célula de diafragma, e Alvejamento de polpa e papel 11%
de cátodo de mercúrio), NaOH e Cl2 são produzidos numa Clorometanos (CCI4, CHC13 etc.) 10%
proporção molar de 2:1. Como a massa molecular do Cl2 é Materiais inorgânicos 8%
71 e o do NaOH é 40, deduz-se que a eletrólise fornece 40 (alvejantes, hipoclorito de sódio)
partes em peso de NaOH para 35,5 partes de cloro. Isso Outros usos 31% 26%
corresponde a 1,13 toneladas de NaOH para cada tonelada
de Cl2. Em 1994 a produção mundial de cloro foi de 35,3
milhões de toneladas. pelo processo Solvay (processo amônia-soda). Contudo,
desde os tempos pré-históricos, depósitos naturais de trona,
Até 1965, a demanda de NaOH excedia à de Cl2 e o
Na2CO3 • NaHCO3 • 2H2O, foram formados nos leitos de lagos
cloro era barato. Desde então, a situação se inverteu, princi­
secos, no Egito. Grandes quantidades são atualmente
palmente devido ao consumo de grandes quantidades de
mineradas, principalmente nos Estados Unidos e no Quênia.
cloro na fabricação de plásticos, como o cloreto de polivinila
Nos Estados Unidos foram utilizados 9,9 milhões de
(PVC) (a produção mundial de PVC foi de 14,9 milhões de
toneladas de Na2CO3, em 1993. Cerca de 6 milhões de
toneladas em 1991).
toneladas/ano de Na2CO3 são obtidos a partir da trona. A
trona é também denominada sesquicarbonato (sesqui
CARBONATO DE SÓDIO significa um e meio), sendo convertido em carbonato de
sódio por aquecimento.
A produção mundial de carbonato de sódio, Na2CO3,
em 1993 foi de 31,5 milhões de toneladas, 49% dos quais 2(Na2CO3 ■ NaHCOj ■ 2H2O) calor
-> 3Na2CO3 + CO2 + 5H2O
foram consumidos na obtenção de vidro. Quantidades
menores foram empregadas na preparação de diversos Durante a descrição da indústria de cloro e álcalis, foi
fosfatos e polifosfatos de sódio, que são utilizados no mencionado que o carbonato de sódio (soda) pode substituir
tratamento de águas duras (são adicionados a diversos o NaOH, por exemplo, na fabricação de papel, sabão e
produtos de limpeza), e na obtenção de polpa de madeira e
papel. A crescente conscientização da população sobre os
efeitos da "chuva ácida” sobre plantas e edifícios, levou a Tabela 10.4 — Principais usos do hidróxido de sódio (soda
cáustica)
um novo uso para o Na2CO3, ou seja, no tratamento dos
gases de exaustão de usinas termelétricas alimentadas a EUA
carvão ou óleo, para a remoção de SO2 e H2SO4. Esse nova
aplicação deve demandar uma considerável quantidade do Produtos químicos inorgânicos 21%
Na2CO3 produzido. Produtos químicos orgânicos 17%
Os principais produtores de carbonato de sódio são os Obtenção de polpa de madeira e papel 14%
Estados Unidos (30%), a ex-União Soviética (19%), China Neutralizações 12%
(8%), Alemanha (5%), Japão (4%), Bulgária (4%) e Polônia Produção de alumina 7%
(4%). A maior parte do Na2CO3 é produzida sinteticamente Sabões 4%
Raiom 4%
Outros usos 21%
Tabela 103 — Produção de cloro (em milhões de toneladas)

Produção mundial 35,3 Tabela 103 — Principais usos do carbonato de sódio

EUA 12,0 (34%) EUA


União Soviética (aprox.) 8 (23%)
Alemanha Ocidental 3,5 (10%) Vidro — garrafas 34%
Canadá 1,4 (4%) Fosfatos de sódio 12%
França 1,4 (4%) Vidro — vidro plano e fibra de vidro 11%
Reino Unido 1,0 (3%) Silicato de sódio 5%
Japão 0,93 (2,6%) Agentes de limpeza alcalinos 5%
Itália 0,92 (2,6%) Fabricação de polpa e papel 4%
Espanha 0,51 (1,4%) Outros usos 29%
160 A INDÚSTRIA DE CLORO E ALCALIS

detergentes, e que o carbonato de sódio pode ser utilizado Assim, as matérias-primas utilizadas são NaCl e CaCOj
como matéria-prima para a obtenção de NaOH, pelo processo sendo gerados o produto desejado Na2CO3 e 0 subproduu
calcário-soda cáustica. Contudo, como atualmente o NaOH do processo CaCl2. Há pouca demanda para o CaCl2, de modr
é barato e abundante, muito pouco carbonato de sódio é que só uma pequena parte é recuperada da solução, sendt
utilizado com essa finalidade. Está havendo um declínio no o restante desprezado. O principal uso do Na2CO3 é m
uso da "soda” para limpeza, Na2CO3.10H2O, para o produção de vidro (Tab. 10.5), que requer a “soda pesada"
amolecimento de águas duras, devido ao crescente emprego ou seja Na2CO3 • H2O. Este é obtido recristalizando-se a "sodi
de detergentes. leve” Na2CO3 anidro, produzida pelo processo Solvay, en
água quente.
O PROCESSO SOLVAY (OU PROCESSO
AMÔNIA-SODA) LEITURAS COMPLEMENTARES
• Adam, D.J.; Early industrial electrolysis, Education in Chem
Muitos esforços foram dispendidos na tentativa de se
istry, 17, 13-14, 16 (1980).
encontrar um processo que permitisse produzir Na2CO3 de
forma mais econômica que pelo processo Leblanc, utilizando • Borgstedt, H.U. e Mathews, C.K., Applied Chemistry of tlu
a reação global: Alkali Metals, Plenum, London, 1987.
• Boyton, R.S.; Chemistry and Technology of Lime and Lime
2NaCl + CaCO3 Na2CO3 + CaCl2 stone, 2? ed., John Wiley, Chichester, 1980.
• Buchner, W; Schleibs, R.; Winter, G. e Buchel, K.H.;Indus­
Essa reação foi estudada pela primeira vez por Freshnel,
trial Inorganic Chemistry, V.C.H. Publishers, Weinheim, 1989.
em 1811, e diversas instalações industriais foram construídas.
Contudo, logo foram abandonadas por não darem lucro ou • Grayson, M. e Eckroth, D. (ed.); Kirk-Othmer ConciseEncy
por causa de dificuldades técnicas, como corrosão do equipa­ clopedia of Chemical Technology, John Wiley.
mento, contaminação do produto e obstrução das tubulações. • Kirk-Othmer Concise Encyclopedia of Chemical Technology,
Emest Solvay foi o primeiro a operar com sucesso uma (26 volumes), 3? ed., Wiley-Interscience, 1984.
instalação industrial explorando o método, na Bélgica (1869). • Stephenson, R.M.; Introduction to the Chemical Process In­
O processo é muito mais complicado que o sugerido dustries, Van Nostrand Rienhold, New York, 1966.
pela reação global. Para complicar ainda mais a situação, a • Thompson, R. (ed.); The Modem Inorganic Chemicals In-
reação é reversível e só 75 % do NaCl é convertido no produto. dustry, Publicação Especial n? 31, The Chemical Society, Lon­
O primeiro estágio do processo é a purificação da salmoura don, 1986. (Purcell, R.W., A indústria de cloro e álcalis e
saturada, que então é saturada com amônia gasosa. Em Campbell, A., Cloro e clorinação)
seguida, a salmoura amoniacal é carbonatada com CO2, • Venkatesh, S. e Tilak, S.; Chlor-alkali technology, J. Chem.
formando NaHCO3. Este é insolúvel na salmoura, por causa Ed., 60, 276-278 (1983).
do efeito do íon comum, podendo ser separado por filtração. • Uma compilação dos 50 produtos químicos mais produzidos
Por aquecimento a 150° C, o NaHCO3 se decompõe gerando nos EUA a cada ano é publicado na revista Chemical and Engt-
Na2CO3 anidro (denominado “soda leve”, porque é um sólido neering News, numa das edições de junho (vide Apêndice K).
com uma baixa densidade de empacotamento de 0,5g cm’3).
A seguir o CO2 é removido aquecendo-se a solução, sendo o
gás reciclado. A amônia, NH3, é regenerada pela adição de PROBLEMAS
um álcali (suspensão de cal em água) e também reciclada. 1. Que produtos químicos são obtidos industrialmente a partir
A cal (CaO) é obtida pelo aquecimento do calcário (CaCO3), do cloreto de sódio? Esquematize os respectivos processos
que também fornece o CO2 necessário. Quando a cal (CaO) de produção.
é misturada com água forma-se Ca(OH)2. 2. Descreva em detalhe 0 processo de eletrólise industrial do
cloreto de sódio. Faça comentários sobre a pureza dos
NH3 + H2O + CO2^NH4HCO3 produtos obtidos.
NaCl + NH4 •HCO3—>NaHCO3 + NH4C1 3. Quais são os principais usos do cloro, sódio e hidróxido
1SO'C
2NaHCO3 — Na2CO3 + CO2 + H2O de sódio? Por que a demanda de cloro aumentou
1100'Cem
forno de cal dramaticamente?
Caco3 — > CaO + CO2
4. Quais são os usos do Na2CO3? Por que seu uso diminuiu i
CaO + H2O —» Ca(OH)2 Explique por que, em certas épocas, NaOH era convertidc
2NH4CI + Ca(OH)2 —» 2NH3 + CaCl2 + 2H2O em Na2CO3 e em outras Na2CO3 era convertido em NaOHi
163

ELEÍ.IEMTOS
7nnnosos
INTRODUÇÃO Mg2 + e Ca2+ são elementos essenciais ao ser humano;
e Mg2+ é um importante constituinte da clorofila.
Os elementos do Grupo 2 apresentam as mesmas
tendências nas propriedades que foram observadas no Grupo
1. Contudo, o berílio é uma exceção, diferindo muito mais ESTRUTURA ELETRÔNICA
em relação aos demais elementos do grupo que o lítio no Todos os elementos do Grupo 2 possuem dois elétrons
caso dos elementos do Grupo 1. O principal motivo para s no nível eletrônico mais externo. Ignorando os níveis
isso é o fato do átomo de berílio e o íon Be2+ serem ambos internos preenchidos, as suas estruturas eletrônicas podem
extremamente pequenos, sendo o aumento relativo de ser representadas como 2S2, 3S2, 4S2, Ss2, õs2 e 7S2.
tamanho do Be2 + para o Mg2 + quatro vezes maior que do
Li+ par o Na + . O berílio também apresenta algumas
semelhanças em diagonal com o alumínio, no Grupo 13. OCORRÊNCIA E ABUNDÂNCIA
Todos os compostos de berílio e bário são muito tóxicos. O berílio não é muito comum, em parte porque ele não
Esses elementos formam uma série bem comportada é muito abundante (2 ppm) e em parte por causa de sua
de metais altamente reativos, mas menos reativos que os difícil extração. É encontrado em pequenas quantidades em
metais do Grupo 1. Geralmente, são divalentes e formam minerais do grupo dos silicatos, como berilo Be3Al2Si6O18 e
compostos iônicos incolores. Os óxidos e hidróxidos são fenacita Be2SiO4. Cerca de 6.700 toneladas de berilo foram
menos básicos que os dos elementos do Grupo 1: portanto mineradas em 1993, principalmente nos Estados Unidos
seus oxossais (carbonato, sulfatos, nitratos) são mais (73%), no Casaquistão (13%) e na ex-União Soviética (12%).
susceptíveis ao calor. O magnésio é um importante metal A pedra preciosa esmeralda tem a mesma fórmula mínima
estrutural, sendo usado em grandes quantidades (303.000 do berilo, mas contém pequenas quantidades de cromo,
toneladas em 1993). Diversos compostos são utilizados em responsável por sua coloração verde).
grandes quantidades: calcário (CaCO3) é utilizado para a O magnésio é o sexto elemento mais abundante da
preparação de cal virgem (CaO: 127,9 milhões de toneladas crosta terrestre (27.640 ppm ou 2,76%). Sais de magnésio
em 1993) e cimento (1.396 milhões de toneladas em 1993), estão dissolvidos na água do mar, na proporção de até 0,13%.
além de 14,2 milhões de toneladas de giz. Outros compostos Montanhas inteiras (por exemplo as Dolomitas na Itália)
usados em grande escala incluem o gesso, CaSO4 (88,2 são constituídas pelo mineral dolomita [MgCO3-CaCO3]. A
milhões de toneladas em 1992); fluorita, CaF2 (3,6 milhões dolomita é utilizada na construção de rodovias. Quando
de toneladas em 1992), magnesita; MgCO3 (10,8 milhões de calcinada se transforma num material refratário, usado no
toneladas em 1992) e barita, BaSO4 (4,,9 milhões de revestimento interno de altos fornos. Existem também
toneladas em 1992). grandes depósitos de magnesita, MgCO3: 10,8 milhões de
toneladas foram mineradas em 1992. Os
Tabela 11.1 — Configurações eletrônicas dos elementos do Grupo 2 principais produtores são a China, 24%,
a Coréia do Norte 15%, aTUrquia (11%)
Elemento Símbolo Configuração eletrônica e a ex-União Soviética 10%. Outros
depósitos são os de sulfatos, tais como
Berílio Be 1?2? ou [He] 2s2 as de epsomita, MgSO4-7H2O, e de
Magnésio Mg l?2?2p63? ou [Ne] 3s2 kieserita, MgSO4-H2O. A carnalita,
Cálcio Ca B22522p63?3p64? ou [Ar] 4í2 [KCl-MgCl2-6H2O], é explorada essen­
Estrôncio Sr 1 ?2?2p63?3p63rf104?4p65? ou [Kr] 5s2 cialmente como uma fonte de potássio.
Bário Ba lj22j22p63?3p63d104?4p64<i105s25p66? ou [Xe] 6s2 O Mg também está presente em diversos
Rádio Ra [Rn] 7? minerais do grupo dos silicatos, por
164 Brupo g — PS ELEMENTOS ALCALINP5 TERROSOS

extração. O estrôncio é minerado como celestita, SrSO4.


Tabela 11 2. — Abundância dos elementos na crosta terrestre,
estroncianita, SrCO3. A produção mundial de minerais, d
em peso
estrôncio foi de 283.100 toneladas em 1993. Os principal
produtores foram o México, 30%, Túrquia 25%, Espanh
ppm Lugar em abundância
19%, China 12% e Irã 11%. O Ba é obtido como baritt
relativa
BaSO4. A produção mundial foi de 4,9 milhões de tonelada
Be 2,0 51? em 1992. O bário é encontrado em todo o mundo, sendo o
Mg 27.640 6? principais produtores a China, 21%, a ex-União Soviélic
Ca 46.600 5? 11 %, México 8%, índia 7%, TUrquia 6% e Estados Unido
Sr 384 15? 6%. O rádio é extremamente raro e radiativo. Foi isolad
Ba 390 14? pela primeira vez por Pierre e Marie Curie por meio di
Ra 1,3 x IO-6 processamento de várias toneladas do minério de uráni<
pechblenda. Já foi usado no tratamento radioterápico di
câncer. Atualmente outras fontes de radiação são utilizada
exemplo, olivina (Mg,Fe)2SiO4, talco Mg3(OH)2Si4O10, para essa finalidade (60Co, raios X ou um acelerador linear)
crisotilo Mg3(OH)4Si2Os (asbesto) e micas, tais como Marie Curie recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1911
K + [Mg3(OH)2(AlSi3O10)]-. pela descoberta e estudo do rádio e do polônio.
O cálcio é o quinto elemento mais abundante na crosta
terrestre (46.600 ppm ou 4,66%), sendo um dos constituintes
de diversos minerais bastante comuns, disseminados por OBTENÇÃO DOS METAIS
todo o planeta. Há vastos depósitos sedimentares de CaCO3 Os metais desse grupo não podem ser obtidos facilmentt
formando montanhas inteiras de calcário, mármore e greda por redução química, porque eles próprios são fortes agente
(os penhascos brancos de Dover), e também na forma de redutores, além de reagirem com carbono formando carbetos
corais. Estes se originam do acúmulo de conchas de animais São fortemente eletropositivos e reagem com água. Assim
marinhos. Embora o calcário seja tipicamente branco, em soluções aquosas não podem ser usadas no deslocamenlt
muitos locais ele apresenta coloração amarela, laranja ou dos mesmos por outro metal, ou na obtenção por vii
marrom, devido à presença de quantidades traço de ferro. eletrolítica. A eletrólise de soluções aquosas pode sei
Há duas formas cristalinas de CaCO3, a calcita e a aragonita. efetuada usando um cátodo de mercúrio, mas a separaçãt
A calcita é a forma mais comum: forma cristais romboédricos do metal da amálgama é difícil. Todos os metais podem sei
incolores. A aragonita tem estrutura ortorrômbica e, obtidos por eletrólise de seus cloretos fundidos (cloreto d<
geralmente, de cor amarela ou vermelha acastanhada. Isso sódio é adicionado para baixar o ponto de fusão), emborac
explica a cor da paisagem na região do Mar Vermelho, das estrôncio e o bário tenham a tendência de formar um;
Bahamas e dos rochedos da Flórida. O calcário é importante suspensão coloidal.
comercialmente como fonte de cal, CaO. A cal é produzida Nos processos mais antigos, o BeO era extraído dc
em enormes quantidades (127,9 milhões de toneladas em berilo, Be3Al2Si6O18, por tratamento térmico ou fus ãc
1993), sendo o segundo em volume de produção, abaixo alcalina, seguida de tratamento com ácido sulfúrico, par;
apenas do H2SO4. Fragmentos de calcário também são usados formar BeSO4 solúvel. A adição de NH4OH fornece Be(OH)>
na construção de estradas. que por aquecimento leva à formação de BeO. Este é un
A fluoroapatita, (3(Ca3(PO4)2) ■ CaF2], é industrialmente material cerâmico usado em reatores nucleares. Num
importante como fonte de fosfato. O gesso, CaSO4-2H2O, e processo alternativo, o berílio é extraído dos silicatos po
a anidrita, CaSO4, são minerais muito abundantes. A tratamento com HF, o que leva à formação do complext
produção mundial de gesso foi de 88,2 milhões de toneladas solúvel tetrafluoroberilato de sódio, Na2[BeF4j. Este i
em 1992. Os principais produtores foram os Estados Unidos convertido no hidróxido e, em seguida, no óxido. 0 beríTi:
17%, China 14%, Irã 9 %, Canadá e Tailândia 8% cada um metálico é obtido pela eletrólise de BeCl2 fundido, obtid:
e França e Espanha 6% cada um. Uma quantidade bem pelo tratamento térmico do hidróxido na presença de C i
menor de anidrita foi minerada. O gesso é utilizado na Cl2. O berílio também pode ser obtido reduzindo-se BeF
fabricação de cimento Portland, de divisórias, de argamassas com magnésio. O Be é usado na obtenção de ligas com outro
de estuque de gesso e na fabricação de vidro. Seu uso como metais. A adição de apenas 2% de Be ao cobre metálici
revestimento não é recente, pois no Vale dos Reis, no Egito, aumenta sua resistência por um fator de 5 ou 6. Uma liga d
as paredes das tumbas de Tútancamon e de outros reis fo­ Be e Ni é utilizada na fabricação de molas e contatos elétricos
ram revestidas com CaSO4 e depois gravadas com hieróglifos. O Be apresenta uma seção transversal de captura (seçãi
O Parque Nacional de White Sands (areias brancas) e a "zona eficaz) de nêutrons muito baixa, sendo usado na indústri
de mísseis” no Novo México, EUA (onde foi testada a que explora a energia nuclear. Tanto o Be como o BeO foram
primeira bomba atômica), possui uma área de 100 milhas usados em reatores nucleares. Contudo, devem esta
por 40 milhas de dunas de areia branca, constituída por extremamente puros para que possam ser utilizados pau­
gesso. A fluorita CaF2 é um importante minério, pois é a tai finalidade. Nesse caso, o processo de purificação envolv
principal fonte de flúor. a preparação do acetato básico de berílio e sua destilação
O estrôncio (384 ppm) e o bário (390 ppm) são muito vácuo. Em seguida, o acetato pode ser termicament
menos abundantes, mas bem conhecidos, porque ocorrem decomposto até o óxido ou pode ser transformado no cloret
na forma de minérios concentrados, que permitem fácil e reduzido com Ca ou Mg, para se obter o Be metálico, <
TAMANHO DOS ÁTOMOS E DOS ÍONS 165

absorção de radiação eletromagnética por um sólido depende Processo Dow de extração da salmoura natural
de sua densidade eletrônica. O Be possui uma densidade A dolomita, [MgCO3 • CaCO3], é calcinada (aquecida
eletrônica muito baixa e, conseqüentemente, a menor fortemente) de modo a gerar MgO.CaO (dolomita calcinada).
capacidade de absorção que qualquer outro sólido. Por isso, Esta é tratada com HC1, o que leva a formação de uma solução
é usado para fabricar as "janelas” dos tubos de raios X. de CaCl2 e MgCl2. Depois de tratada com mais dolomita
O magnésio é o único elemento do Grupo 2 a ser calcinada, CO2 é borbulhado através da mesma. O íon Ca2 +
produzido em larga escala na forma metálica. A produção precipita como CaCO3, deixando em solução o MgCl2, que é
mundial foi de 303.000 toneladas em 1993. Os principais posteriormente eletrolisado.
produtores foram os Estados Unidos, 48%, a ex-União
Soviética 12%, o Canadá 9% e a Noruega 8%. O magnésio CaCl2-MgCl2 + CaOMgO + 2CO2 -> 2MgCl2 + 2CaCO3
precipita
é um metal estrutural leve extremamente importante por
causa de sua baixa densidade (1,74 g cm'3, menor que do O metal Ca é usado para a obtenção de ligas com Al,
aço 7,8 g cm'3 ou do alumínio 2,7 g cm'3). O Mg forma utilizado para a confecção de mancais. Ele é usado na
muitas ligas binárias, freqüentemente contendo até 9% de indústria do ferro e do aço para controlar a quantidade de
Al, 3% de Zn e 1% de Mn, além de quantidades traço dos carbono no ferro fundido e na remoção de P, O e S. Também
lantanídeos praseodímio Pr e neodímio Nd, e de tório. O são utilizados como redutores na obtenção de outros metais
metal e suas ligas podem ser moldados, torneados e soldados — Zr, Cr, Th e U — e na remoção de quantidades traço de
com facilidade. Ele é utilizado na fabricação da estrutura de N2 no argônio. Do ponto de vista químico, o CaH2 é às vezes
aeronaves, peças de avião e motores de automóveis. Até usado como fonte de hidrogênio. A produção mundial de
cerca de 5% de Mg são adicionados ao alumínio para Ca é de cerca de 1.000 toneladas/ano. O metal é obtido por
melhorar suas propriedades. Do ponto de vista químico, é eletrólise do CaCl2 fundido, obtido como subproduto do
importante em síntese orgânica, sendo utilizado na processo Solvay ou a partir da reação entre CaCO3 e HC1.
preparação dos reagentes de Grignard, como por exemplo Sr e Ba metálicos são produzidos em quantidades bem
C2H5MgBr. menores, por eletrólise dos cloretos fundidos ou pela redução
O Mg era preparado aquecendo-se MgO com C a 2.000 de seus óxidos com alumínio (reação térmita ou
°C. Nessa temperatura o C é capaz de reduzir o MgO. A aluminotermia).
mistura gasosa de Mg e CO era então resfriada muito
rapidamente para se obter o metal. Esse resfriamento por TAMANHO DOS ÁTOMOS E DOS ÍONS
"choque" era necessário, pois a reação é reversível. Se a
Os átomos dos elementos do Grupo 2 são grandes, mas
mistura fosse resfriada lentamente, a posição do equilíbrio
menores que os correspondentes elementos do Grupo 1, pois
se deslocaria mais para a esquerda:
a carga adicional no núcleo faz com que esta atraia mais
MgO + C Mg + CO fortemente os elétrons. Analogamente, os íons são grandes,
mas são menores que os dos correspondentes elementos do
Atualmente, o magnésio é produzido por redução a altas Grupo 1, principalmente porque a retirada de dois elétrons
temperaturas e por eletrólise. aumenta ainda mais a carga nuclear efetiva. Logo, esses
1. No processo Pidgeon, o Mg é produzido pela redução elementos possuem densidades maiores que os metais do
de dolomita calcinada com liga ferrossilício a 1.150 °C, Grupo 1.
à pressão reduzida. Os metais do Grupo 2 têm cor branca prateada. Eles
possuem dois elétrons de valência que podem participar de
calor + Fe/Si
(CaCOj • MgCOj] ->CaO-MgO Mg + Ca2SiO4 + Fe ligações metálicas, enquanto que os metais do Grupo 1
possuem apenas um elétron. Em conseqüência, os metais
2. A eletrólise pode ser efetuada com MgCl2 fundido ou do Grupo 2 são mais duros, suas energias de ligação são
com MgCl2 parcialmente hidratado. O MgCl2 é produzido maiores e seus pontos de fusão e de ebulição são muito
de duas maneiras. mais elevados que os dos metais do Grupo 1 (vide Tab. 11.4),
mas os metais são relativamente moles. Os pontos de fusão
Processo Dow de extraçao da água do mar
Tabela 113 — Tamanho e densidade
A água do mar contém cerca de 0,13 % de íons Mg2 + ,
e a extração do magnésio depende do fato de ser o Mg(OH)2 Raio Raio iônico Densidade
muito menos solúvel que o Ca(OH)2. Quando cal hidratada, metálico M2+ (Â) (g cm'1)
Ca(OH)2, é adicionada à água do mar, os íons Ca2+ vão (Â) hexacoordenado
para a fase aquosa enquanto o Mg(OH)2 é precipitado. Este
é filtrado, tratado com HC1 para formar o cloreto de magnésio, Be 1,12 0,31* 1,85
e eletrolisado. Mg 1.60 0,72 1.74
Ca 1.97 1.00 1,55
Ca(OH)2 + MgCl2 -> Mg(OH)2 + CaCl2 Sr 2,15 1.18 2.63
cal da água precipita
hidratada do mar Ba 2,22 1.35 3,62
calor
Ra 1,48 5,50
Mg(OH)2 + 2HC1 -> MgCl2 + 2H2O
* Raio do íon tetracoordenado; com coordenação seis = 0.45 Â
IBS Grupo 2 — OS ELEMENTOS ALCALINOS TERROSOS

Tabela 11.4 — Pontos de fusão c pontos de ebulição dos ELETRONEGATIVIDADE


elementos dos Grupos 1 e 2 Os valores de eletronegatividade dos elementos d1
Grupo 2 são baixos, mas maiores que dos correspondente
Pontos Pontos de Pontos Pontos de elementos do Grupo 1. Quando Mg, Ca, Sr e Ba reagemoon
de fusão ebulição de fusão ebulição elementos tais como os halogênios e o oxigênio, situados.
CC) CC) CC) CC) direita da Tabela Periódica, a diferença de eletronegatividade
será grande e os compostos formados serão iônicos.
Be 1.287 (2.500) Li 181 1.347
Mg 649 1.105 Na 98 881 A eletronegatividade do Be é maior que dos dernai
Ca 839 1.494 K 63 766 elementos. O BeF2 exibe a maior diferença de eletrone.ga
Sr 768 1.381 Rb 39 688 tividade de todos os compostos de berílio. Assim, deveri
Ba 727 (1.850) Cs 28.5 705 ser o composto de berílio com o maior caráter iônico
Ra (700) (1.700) Todavia, o BeF2 fundido apresenta uma baixíssim.
condutividade, sendo considerado um composto covalente

não variam de modo regular, principalmente porque os ENERGIAS DE HIDRATAÇÃO


metais assumem diferentes estruturas cristalinas (vide a As energias de hidratação dos íons dos elementos dt
seção sobre Ligações e Estruturas dos Metais no Cap. 2). Grupo 2 são de quatro a cinco vezes maiores que as da
correspondentes íons do Grupo 1. Isso se deve principalmentí
ENERGIA DE IONIZAÇÃO ao seu menor tamanho e sua maior carga, de modo que ot
valores de AHhid decrescem de cima para baixo dentro dc
A terceira energia de ionização é tão elevada que os
grupo, à medida que o tamanho dos íons aumenta. No case
íons M3* nunca são formados. A energia de ionização do
do Be existe um fator adicional que é a formação de um íot
Be2* é alta, sendo seus compostos tipicamente covalentes.
complexo muito estável: o [Be(H2O4]2 + . Os composto-
O Mg também forma alguns compostos covalentes. Contudo,
cristalinos do Grupo 2 contêm mais moléculas de água dt
os compostos formados pelo Mg, Ca, Sr e Ba são
cristalização que os correspondentes compostos do Grupo
predominantemente iônicos e os metais se encontram na
1. Por exemplo, NaCl e KC1 são anidros, mas MgCl2-6H.O.
forma de íons divalentes. Visto que os átomos são menores
CaCl2 • 6H2O e BaCl2 ■ 2H2O possuem águas de cristalização
que os dos correspondentes elementos do Grupo 1, os
Note que o número de moléculas de água de cristalização
elétrons estão mais fortemente ligados, de modo que a
diminui à medida que os íons se tornam maiores.
energia necessária para remover o primeiro elétron (primeira
energia de ionização) é maior que dos elementos do Grupo Dado que os íons divalentes possuem uma estrutura de
1. Depois de removido um elétron, a relação entre as cargas gás nobre, sem elétrons desemparelhados, todos os seus
do núcleo e dos elétrons circundantes aumenta, de modo compostos são diamagnéticos e incolores, a não ser que o
que os elétrons remanescentes estão ainda mais firmemente ânion seja colorido.
ligados. Assim, a energia necessária para remover o segundo
elétron é quase o dobro daquela necessária para remover o COMPORTAMENTO ANÔMALO DO BERÍLIO
primeiro. A energia total requerida para obter os íons
O berílio difere dos demais elementos do grupo poi
divalentes gasosos dos elementos do Grupo 2 (primeira
três motivos.
energia de ionização + segunda energia de ionização) é
mais de quatro vezes maior que a energia necessária para D Ele é extremamente pequeno, e as regras de Fajarnt
formar um íon M* a partir dos correspondentes elementos estabelecem que íons pequenos de carga elevade
do Grupo 1. O fato de se formarem compostos iônicos, sugere tendem a formar compostos covalentes.
que a energia liberada quando se forma o retículo cristalino 2) Be possui uma eletronegatividade relativamente
mais que compensa a energia necessária para produzir os elevada. Assim, quando o Be reage com outros átomos
íons. a diferença de eletronegatividade entre eles raramenite
é grande, o que também favorece a formação dí
compostos covalentes. Até mesmo o BeF2 (diferenç;
Tabela 11.5 — Energias de ionização e eletronegatividade

Energias de ionização (kJ mor') Eletronega­ Tabela 11.6 — Energias de hidrataçao


tividade
1? 2.° 3.° de Pauling Raio iônico l\H dehidrataçao
(A) (kJ moF1)
Be 899 1.757 14.847 1,5
Mg 737 1.450 7.731 1,2 Be2* 0,31* -2.494
Ca 590 1.145 4.910 1,0 Mg2* 0,72 -1.921
Sr 549 1.064 1,0 Ca2* 1,00 -1.577
Ba 503 965 0,9 Sr2* 1,18 -1.443
Ra 509 979 (3.281) Ba2* 1,35 -1.305

Os valores entre parênteses são aproximados * Raio para coordenação 4


50LUS1LIDAOE E ENERGIA RETICULAR 167

de eletronegatividade de 2,5) e o BeO (diferença de Os sais de berilio sofrem extensa hidrólise em água,
eletronegatividade de 2,0) mostram evidências de formando uma série de hidroxo-complexos de estrutura
caráter covalente. desconhecida. Podem ser estruturas poliméricas do tipo:
3) O Be se situa no segundo período da tabela periódica,
de modo que o nível eletrônico mais externo comporta HO OH OH HO OH OH HO
no máximo oito elétrons (os orbitais disponíveis para
\ / \ ,/ \ / \ / \ /
Be Be Be Be Be
ligações são o orbital 2s e os três orbitais 2p). Portanto, / \ / \ / \ / \ / \
o Be pode formar no máximo quatro ligações HO OH OH HO OH OH OH
convencionais, tal que em muitos compostos o número Quando um álcali é adicionado a essas soluções, os
de coordenação do Be é 4. Os elementos mais pesados polímeros se rompem com a formação do íon mononuclear
podem ter mais de oito elétrons na camada de valência, berilato, [Be(OH)4]2-, que é tetraédrico. Muitos sais de berilio
podendo alcançar o número de coordenação 6 por meio contêm o íon hidratado [Be(H2O)4]2+ ao invés do íon Be2*.
da utilização de um orbital s, três orbitais p e dois O íon hidratado também é um íon complexo tetraédrico.
orbitais d para formar as ligações. Compostos com Observe que o número de coordenação é 4. A formação de
ligações multicentradas, por exemplo o acetato básico um complexo hidratado aumenta o tamanho efetivo do íon
de berilio, podem ter números de coordenação mais berilio, sendo a carga distribuída por uma área maior. Por
elevados, e são exceções às regras acima. isso, compostos iônicos estáveis tais como [Be(H2O)4]SO4,
Assim, espera-se que o Be forme principalmente [Be(H2O)4](NO3)2 e [Be(H2O)4]Cl2 podem ser formados.
compostos covalentes, invariavelmente com número de
coordenação 4. Compostos anidros de berilio apresentam 2p
predominantemente duas ligações covalentes, tal que
moléculas do tipo BeX2 deveríam ser lineares.
Estrutura eletrônica do átomo de
berilio no estado fundamental E È
E □
2s 2p
1s 2s 2p Estrutura eletrônica do íon
Be2*
Estrutura eletrônica do átomo de
berilio no estado fundamental E E 2p
Is 2s 2p Estrutura eletrônica do íon Be2"
depois de receber quatro pares È È
Estrutura eletrônica do átomo de
berilio no estado excitado E E eletrônicos de 4 átomos de
oxigênio de moléculas de água Quatro pares de
Dois elétrons desem- elétrons tetaédrico
parelhados podem formar - hibridizaçáo sp3
ligações com dois
átomos X
Os sais de berilio são ácidos quando dissolvidos em
água pura, por causa da hidrólise dos íons hidratados, dando
Na realidade, moléculas lineares só existem na fase origem a íons H3O +. Isso acontece porque a ligação Be-0 é
gasosa, pois esse arranjo eletrônico não preenche o nível muito forte, o que enfraquece a ligação O-H do íon hidratado,
eletrônico mais externo. No estado sólido o Be sempre se fazendo com que tenha uma tendência a perder prótons. A
encontra com um número de coordenação 4. Pode-se chegar reação inicial é
a essa estrutura de diversas maneiras:
1. Dois ligantes que possuem pares de elétrons livres H20 + [Be(H2O)4]2 + [Be(H2O)3(OH)] + + H30*
podem formar ligações coordenadas, usando os dois Mas esta pode ser acompanhada por uma polimeriza-
orbitais vazios do nível eletrônico de valência do Be. ção, formando compostos como. [Be2OH]3 + e [Be3(OH)4]3 + ,
Assim, dois íons F" podem coordenar-se ao BeF2, que possuem grupos hidroxo em ponte. Em soluções alcalinas
formando [BeF4]2'. Analogamente, éter dietílico pode forma-se o íon [Be(OH)4]2-. Os outros sais dos elementos
coordenar-se com o Be( + II) no BeCl2, formando
do Grupo 2 não interagem tão fortemente com a água e não
(BeCl2(OEt2)2).
se hidrolisam significativamente.
2. As moléculas de BeX2 podem polimerizar-se, formando
Sais de berflio raramente tem mais que quatro moléculas
cadeias contendo átomos de halogênios em ponte, por
de água de cristalização associadas ao íon metálico, pois há
exemplo (BeF2)n, (BeCl2)n. Cada átomo de halogênio
apenas quatro orbitais disponíveis no segundo nível
forma uma ligação covalente normal e utiliza um par
eletrônico. Todavia, o Mg pode ter número de coordenação
de elétrons livres para formar uma ligação coordenada
6, pois é capaz de usar, além dos orbitais 3s e 3p, alguns
(Fig.ll.3c).
orbitais 3d para formar ligações.
3. O (BeMe2)n tem essencialmente a mesma estrutura do
(BeCl2)n, mas a ligação no composto metilado deve ser
considerado como sendo uma ligação tricentrada SOLUBILIDADE E ENERGIA RETICULAR
contendo dois elétrons, abrangendo um grupo metila e A solubilidade da maioria dos sais diminui com o
dois átomos de Be. aumento do peso atômico, embora se observe a tendência
4. Um retículo cristalino covalente com a estrutura da inversa no caso dos fluoretos e hidróxidos deste Grupo. A
blenda ou da wurtzita (número de coordenação 4) pode solubilidade depende da energia reticular do sólido e da
jer formado, por exemplo, pelo BeO e BeS. energia de hidratação dos íons, como explicado abaixo.
16B Bnjpo 2 — DS ELEMENTOS ALCALINOS TERROSOS

2NH3 + 2e -> 2NH2- + H2


Tabela 11.7 — Energias reticulares para alguns compostos
(kJ mol1) A evaporação da amônia das soluções dos metais d<
Grupo 1 fornece os metais, mas no caso dos elementos d(
MO MCO3 mf2 mi2 Grupo 2 a evaporação da amônia leva à formação di
hexaamoniatos dos metais correspondentes. Estes si
Mg -3.923 -3.178 -2.906 -2.292
decompõem lentamente, formando amidetos.
Ca -3.517 -2.986 -2.610 -2.058
Sr -3.312 -2.718 -2.459 M(NH3)6->M(NH2)2 + 4NH3 + H2
Ba -3.120 -2.614 -2.367
Soluções concentradas desses metais em amônia ten
cor de bronze, por causa da formação de agregados metálica
Tabela U.8 — Entalpias de hidratação (“clusters”).

AH (kJ mói’1)
PROPRIEDADES QUÍMICAS
Be24 -2.494 Reação com água
Mg24 -1.921 O potencial de redução do berílio é muito menor qut
Ca24 -1.577 aqueles dos demais elementos do Grupo (potencial padrão
Sr24 -1.443 de eletrodo, E°, do Be24 |Be -1,85, Mg24 |Mg -2,37, Ca2’|Ca
Ba24 -1.305 -2,87, Sr24 |Sr -2,89, Ba2+|Ba -2,91, Ra24|Ra -2,92 volts)
Isso indica que o berílio é muito menos eletropositivo (menos
Alguns valores de energias reticulares de compostos de metálico) que os outros elementos do grupo, e não reage
elementos do Grupo 2 podem ser encontrados na Tab. 11.7. com a água. Há dúvidas se ele reage com vapor d'água para
As energias reticulares são muito maiores que as dos formar o óxido BeO, ou se não reage com água nem mesmo
correspondentes compostos do Grupo 1, por causa do efeito nessas condições.
do aumento da carga na equação de Born-Landé (vide
Capítulo 3). Considerando-se um íon negativo qualquer, a
energia reticular decresce à medida que aumenta o tamanho Tabela 11.9 — Algumas reações dos elementos do Grupo 2
do metal.
A energia de hidratação também diminui à medida que Reação Observações
os íons metálicos se tornam maiores (Tab. 11.8). Para uma
M+2H2O -> M(OH)2+H2 Be provavelmente reage com vapor,
substância ser solúvel, a energia de hidratação deve ser maior
Mg com água quente, e Ca, Sr rea­
que a energia reticular. Considere um grupo de compostos gem rapidamente com água fria
correlatos, por exemplo os cloretos de todos os metais do
Grupo 2. Descendo pelo Grupo os íons metálicos se tornam M+2HC1 -> MC12+H2 Todos os metais reagem com ácidos,
maiores, de modo que tanto a energia de hidratação como a liberando hidrogênio
energia reticular se tomam cada vez menores. Um decréscimo Be+2NaOH+2H2O —» Be é anfótero
na energia reticular favorece um aumento de solubilidade, Na2[Be(ÒH)4]+H2
mas o decréscimo de energia de hidratação favorece uma 2M+O2 -» 2MO Todos os membros do grupo formam
diminuição de solubilidade. Os dois fatores portanto variam óxidos normais
em sentidos opostos, e o efeito global depende de qual dos
Com excesso de oxigênio
dois apresenta uma variação relativa maior. Na maioria dos
Ba+O2 -» BaO2 O bário também forma o peróxido
casos, considerando-se os compostos formados pelos
elementos do Grupo, a energia de hidratação decresce mais M+H2->MH2 Ca, Sr e Ba formam, a altas tempera­
rapidamente que a energia reticular: portanto os compostos turas, hidretos iônicos, “salinos"
se tornam menos solúveis à medida que o metal aumenta 3M+N2—>M3N2 Todos os elementos do grupo formam
de tamanho. Contudo, no caso dos fluoretos e dos hidróxidos, nitretos a temperaturas elevadas
a energia reticular diminui mais rapidamente que a energia
de hidratação, de modo que a solubilidade desses compostos 3M+2P-»M3P2 Todos os metais do grupo formam
aumenta de cima para baixo dentro do Grupo. fosfetos a temperaturas elevadas
M+S -> MS Todos os metais formam sulfetos
M+Se -> MSe Todos os metais formam selenetos
SOLUÇÕES DOS METAIS EM AMÔNIA M+Te -t MTe Todos os metais formam teluretos
LÍQUIDA
M+F2 -> MF, Todos os metais formam fluoretos
Todos esses metais se dissolvem em amônia líquida, M+C12 -> MCI2 Todos os metais formam cloretos
tal como ocorria com os metais do Grupo 1. Soluções diluídas M+Br2—> MBr2 Todos os metais formam brometos
são de coloração azul brilhante, devido ao espectro do elétron M+12->M12 Todos os metais formam iodetos
solvatado. Essas soluções se decompõem muito lentamente,
formando amidetos e liberando hidrogênio, mas a reação é 2M+2NH3—»2M(NH2)2+H2 Todos os metais do grupo formam
amidetos a altas temperaturas
catalisada por muitos metais de transição e seus compostos.
REAÇÕES CDM ÁCIDOS E BASES 169

Ca, Sr e Ba tem potenciais de redução semelhantes gerando uma escuma insolúvel de estearato de cálcio, antes
aqueles dos correspondentes metais do Grupo 1, e se situam da formação de qualquer espuma. A água dura também
em posições no topo da série eletroquímica. Reagem forma depósitos insolúveis em tubulações de água e caldeiras.
facilmente com água fria, liberando hidrogênio e formando A "dureza temporária” é decorrente da presença de
os hidróxidos. Mg(HCO3)2 e Ca(HCO3)2. Ela é chamada de temporária
Ca + 2H2O Ca(OH)2 + H2 porque pode ser eliminada pela fervura, o que expulsa o
CO2 e desloca o equilíbrio.
O magnésio apresenta um valor de E° intermediário e
não reage com água fria, mas é capaz de decompor água 2HCO3- CO32- + CO2 + H2O
quente. Assim, os bicarbonatos se decompõem aos carbonatos,
Mg + 2H2O -> Mg(OH)2 + H2 precipitando o carbonato de cálcio. Se este for filtrado ou se
ou for removido por sedimentação, a água estará livre da dureza.
Mg + H2O -> MgO + H2 A dureza temporária também pode ser eliminada
adicionando-se cal hidratada para precipitar o carbonato de
O Mg forma uma camada protetora de óxido. Assim, cálcio. Esse processo é denominado "depuração com cal”.
apesar de seu potencial de redução favorável, não reage Se um pH de 10,5 for utilizado, a dureza temporária devida
facilmente a não ser que a camada de óxido seja removida ao HCO3" pode ser quase que completamente eliminada.
por amalgamação com mercúrio. Nesse aspecto, ou seja,
formação do filme de óxido, ele se assemelha ao alumínio. Ca(HCO3)2 + Ca(OH)2 2CaCO3 + H2O

HIDRÓXIDOS A “dureza permanente” não pode ser eliminada por


fervura. Esta decorre principalmente da presença de MgSO4
O Be(OH)2 é anfótero, mas os hidróxidos de Mg, Ca, Sr
e Ba são básicos. A força da base aumenta do Mg ao Ba, de ou CaSO4 na solução. Pequenas quantidades de água pura
modo que os elementos do Grupo 2 apresentam a tendência podem ser obtidas em laboratório por destilação ou passagem
normal de aumento de suas propriedades básicas, de cima através de uma coluna de resina de troca-iônica, onde os
para baixo dentro do Grupo. íons Ca2+ e Mg2+ são substituídos por Na + . Os íons sódio
não afetam a capacidade dos sabões de produzir espuma.
As soluções aquosas de Ca(OH)2 e de Ba(OH)2 são Os métodos de troca-iônica são largamente empregados na
denominadas água de cal e água de barita, respectivamente,
indústria. A dureza da água também pode ser eliminada,
e são utilizadas para detectar a presença de dióxido de
adicionando-se vários fosfatos, tais como o fosfato de sódio
carbono. Quando o CO2 é borbulhado nessas soluções, elas
Na3PO4, o pirofosfato de sódio Na4P2O7, tripolifosfato de
se tornam "turvas” ou “leitosas” devido à formação de uma
sódio NasP3O10, ou o sal de Graham (Calgon) (NaPO3)n. Eles
suspensão de partículas sólidas de CaCO3 ou BaCO3. Caso
um excesso de CO2 seja borbulhado, a turbidez desaparece, formam um complexo com os íons cálcio e magnésio,
pois nesse caso formam-se os bicarbonatos solúveis. A água “seqüestrando-os", isto é, mantendo-os em solução.
de barita é muito mais sensível ao teste, pois dá um resultado Antigamente grandes quantidades de carbonato de sódio
positivo mesmo quando apenas se expira sobre ela, ao passo eram empregadas no processo calcário-soda para o
que com a água de cal o ar expirado (ou outro gás) deve ser tratamento da dureza da água. O Na2CO3 é adicionado para
borbulhado na mesma. precipitar o CaCO3.

excesso C3SO4 “l- N32CO3 —> CclCOj ■+■ Nâ2SO4


de CO,
Ca2+(OH")2 + CO2 ->CaCO3 + H2O -> Ca2+(HCO3-)2
precipitado solúvel
branco insolúvel
REAÇÕES COM ÁCIDOS E BASES
Os bicarbonatos dos metais do Grupo 2 somente são Todos os metais do Grupo 2 reagem com ácidos
estáveis em solução. As cavernas em regiões de terreno liberando H2, embora o berílio reaja lentamente. O berílio
calcário geralmente possuem estalactites crescendo do teto se torna “passivo" quando na presença de HNO3
e estalagmites crescendo do solo. A água que percola através concentrado, isto é, não reage. Isso ocorre porque o HNO3 é
desse solo contém Ca2+ (HCO3“)2 dissolvido. O bicarbonato um forte agente oxidante, que leva à formação de uma fina
solúvel decompõe-se lentamente ao carbonato insolúvel, o
película de óxido sobre a superfície do metal, protegendo-o
que provoca 0 lento crescimento das estalactites e
de um posterior ataque pelo ácido. O berílio é anfótero, pois
estalagmites.
também reage com NaOH, formando H2 e berilato de sódio.
Ca2 + (HCO3")2 —> CaCO3 + CO2 + H2O Mg, Ca, Sr e Ba não reagem com NaOH, sendo tipicamente
básicos. Essas reações ilustram o caráter básico crescente
DUREZA DA ÁGUA dos elementos, ao se descer pelo Grupo.
A água dura contém carbonatos, bicarbonatos ou Mg + 2HC1 -> MgCl2 + H2
sulfatos de magnésio e de cálcio dissolvidos. A água dura Be + 2NaOH + 2H2O —> Na,[Be(OH)4] + H,
dificulta a formação de espuma ao se utilizar sabões. Os ou NaBeO2 -2H2O + H2
íons Ca2 + e Mg2+ reagem com o íon estearato do sabão, berilato de sódio
170 Bnjpo 2 — 05 ELEMENTOS ALCALINOS TERROSOS

ÓXIDOS E PERÓXIDOS
Tabela 11.10 — Relações de raios e números de coordenação
Todos os elementos desse grupo queimam em atmosfera
de 02 formando óxidos, MO. O metal Be é relativamente Óxido Relação de Número de Número de
inerte quando na forma de um bloco maciço, não reagindo raios coordenação coordenação
a temperaturas abaixo de 600 °C. Entretanto, o Be em pó é m2+/o2- previsto encontrado
muito mais reativo e queima emitindo um forte brilho. Os
BeO 0,32 4 4
elementos também queimam ao ar, formando uma mistura
MgO 0,51 6 6
de óxido e nitreto. O Mg queima ao ar emitindo um brilho
CaO 0,71 6 6
extremamente intenso e liberando uma grande quantidade SrO 0,84 6
8
de calor. Esse fato é aproveitado para dar início a uma reação BaO 0,96 8 6
térmita com alumínio e também como fonte de luz nos
antigos bulbos de "flash” fotográfico.
(wurtzita, coordenação 4:4), mas todos os demais hidróxidos
Mg + ar —> MgO + Mg3N2 são iônicos e cristalizam com a estrutura do cloreto de sódio
(coordenação 6:6).
O BeO geralmente é obtido por combustão do metal,
mas os óxidos dos demais metais do Grupo são obtidos por As tentativas realizadas no sentido de prever a estrutura
decomposição térmica dos carbonatos, MC03. Outros oxo- usando os raios dos íons e a relação de raios apenas tiveratn
sais, como M(NO3)2, MS04, e M(0H)2, também se um êxito parcial (Tab. 11.10). As estruturas corretas foram
decompõem aos óxidos por aquecimento. Os oxossais são previstas para BeO, MgO e CaO. Mas para SrO e BaO o
menos estáveis ao calor que os correspondentes compostos número de coordenação previsto foi 8, embora as estruturas
dos metais do grupo 1, pois os metais e seus hidróxidos são ■ encontradas tenham coordenação 6. Os cristais assumem as
menos básicos que os do Grupo 1. estruturas que levem às energias reticulares mais favoráveis.
As falhas nas previsões utilizando a relação de raios, citado
CaO (cal) é produzido em enormes quantidades (127,9
acima, leva-nos a rever as hipóteses nas quais ele se baseia
milhões de toneladas em 1993) aquecendo-se CaCO3 num
(vide no Capítulo 3, o item "Uma visão mais crítica da relação
forno de cal.
de raios”). Os raios iônicos não são conhecidos com grande
calor exatidão e variam em função do número de coordenação.
C3CO3 -> CaO + CO2
Os íons também não são necessariamente esféricos ou
inelásticos.
O MgO não é muito reativo, principalmente quando
previamente aquecido a altas temperaturas. Por esse motivo À medida que os átomos aumentam de tamanho, a
é utilizado como um material refratário. O BeO também é energia de ionização diminui, e os elementos se tornam mais
usado como refratário. Eles possuem várias propriedades básicos. BeO é insolúvel em água mas dissolve-se em ácidos
que os tornam adequados para o revestimento de altos- formando sais e em álcalis formando berilatos, que
fornos, tais como: precipitam na forma de hidróxido quando deixados em
1. Elevados pontos de fusão (~ 2.500 °C para o BeO e repouso. Portanto, o BeO é anfótero. O MgO reage com água
~ 2.800 °C para o MgO). formando Mg(0H)2, que é fracamente básico. CaO reage
prontamente com água, desprendendo grande quantidade
2. Pressões de vapor extremamente baixas. de calor formando Ca(OH)2, que é uma base moderadamente
3. Elevada condutividade térmica. forte. Sr(OH)2 e Ba(0H)2 são bases ainda mais fortes.
4. Inércia química. Geralmente, os óxidos são preparados pela decomposição
5. Alta resistividade elétrica. térmica dos carbonatos, nitratos ou hidróxidos. 0 aumento
da basicidade é evidenciado pelas temperaturas de
Todos os compostos de berílio devem ser usados com
decomposição dos carbonatos:
cuidado pois são tóxicos, sendo que a inalação de poeiras
ou vapores podem causar beriliose. BeCO3 MgCO3 CaCO3 SrCO3 BaCO3
CaO, SrO e BaO reagem exotermicamente com a água < 100 °C 540 °C 900 °C 1290 °C 1360 °C
formando hidróxidos.
Todos os carbonatos são iônicos, mas o BeC03 é um
CaO + H20 Ca(OH)2 caso à parte, na realidade se apresenta na forma hidratada,
ou seja, contém o íon [Be(H2O)4]2+ e não o íon Be2+.
O Mg(OH)2 é muito pouco solúvel em água (cerca 0 CaC03 pode cristalizar segundo duas estruturas
de 1 x IO'4 g T1 a 20 °C), mas os demais hidróxidos são
diferentes, a da calcita e a da aragonita. Ambas ocorrem
solúveis e a solubilidade aumenta ao se descer pelo Grupo naturalmente como minerais. A calcita é mais estável: cada
(Ca(OH)2 ~ 2gr';Sr(OH)2 ~ 8 g l'1 e Ba(OH)2 ~ 39 g?1). íon Ca2+ é rodeado por seis átomos de oxigênio de íons
O Be(OH)2 é solúvel em soluções contendo um excesso de CO32'. A aragonita é uma forma meta-estável, sendo sua
OH‘, pois é anfótero. O Mg(OH)2 é fracamente básico, sendo entalpia padrão de formação cerca de 5 kJ mo?1 maior que
usado no tratamento de acidez associada à indigestão. Os a da calcita. A princípio a aragonita deveria transformar-se
outros hidróxidos são bases fortes. O Ca(OH)2 é também em calcita, mas a elevada energia de ativação impede essa
conhecido como "cal extinta". transformação. A aragonita pode ser preparada no laboratório
O BeO é covalente e possui estrutura do sulfeto de zinco precipitando-se o composto a partir de uma solução quente.
NITRATOS 171

Sua estrutura cristalina apresenta íons Ca2+ rodeados por na construção civil como "gesso de Paris”. É obtido pela
nove átomos de oxigênio. Esse é um número de coordenação desidratação parcial do gesso.
bastante incomum.
150°C 250°C
O óxido de cálcio (cal) é preparado em larga escala CaSO4-2H2O CaSO4 '/2H2O - CaSO4
gesso gesso calcinado anidríta
(127,9 milhões de toneladas em 1993) por aquecimento do
1100°C
CaCO3 em fornos de cal. CaO + SO3
CaCOg —> CaO + CO2 Quando o pó do gesso de Paris, CaSO4 ■ ’/2H2O, é mistura­
I do com a quantidade correta de água, transforma-se numa
A cal é usada:
massa sólida de gesso, CaSO4 • 2H2O. O gesso de Paris é usado
1. Na fabricação do aço, para remover fosfatos e silicatos no acabamento de paredes e, também, para fabricar moldes
como escória. para uma variedade de fins na indústria, artes plásticas e
2. Misturada com SiO2 e aiumina ou argila para fabricar em medicina, para recobrir mantendo rígidos membros
cimento. fraturados, de modo que os ossos não saiam de suas posições
3. Na fabricação de vidro. corretas. Alabastro é a denominação de uma forma finamente
granulada de CaSO4 • H2O, lustroso como o mármore e usado
4. No processo calcário-soda, que faz parte da indústria
na confecção de ornamentos. CaSO4 é ligeiramente solúvel
de cloro e álcalis, convertendo Na2CO3 em NaOH ou em água (2 g por litro), de modo que objetos de gesso ou
vice-versa.
alabastro não podem ser mantidos expostos à chuva. O BaSO4
5. No tratamento de “águas duras”. é insolúvel e opaco aos raios X, sendo utilizado como meio
6. Na preparação de CaC2. de contraste na radiografia do estômago ou do duodeno,
7. Na obtenção de cal extinta, Ca(OH)2, pela reação com utilizadas para diagnosticar úlceras. Todos os sulfatos desse
água. Grupo se decompõem por aquecimento, formando os óxidos:
Cerca de 150.000 toneladas por ano de alvejante em pó MgSO4 calor
-> MgO + SO3
são preparados pela passagem de Cl2 através de uma solução
de cal extinta. Embora a fórmula desse alvejante seja Analogamente ao comportamento térmico dos
rotineiramente escrita como Ca(OCl)2, trata-se na realidade carbonatos, quanto mais básico for o metal mais estável
de uma mistura: será o sulfato. Isso é evidenciado pelas temperaturas de
3Ca(OH)2 + 2Cl2 -» Ca(OCl)2-Ca(OH)2-CaCl2-2H2O decomposição dos sulfatos:
BeSO4 MgSO4 CâSO4 SrSO4
Cal sodada (“soda lime”) é uma mistura de NaOH e
500 °C 895 °C 1149 °C 1374 °C
Ca(OH)2 obtida a partir da cal viva (CaO) e hidróxido de
sódio aquoso. Seu manuseio é muito mais fácil que do NaOH. O aquecimento dos sulfatos com C os reduzem a
Os peróxidos são formados com facilidade e a estabilida­ sulfetos. A maioria dos compostos de bário é obtida a partir
de cresce à medida que os íons metálicos se tornam maiores. do sulfeto de bário.
0 peróxido de bário, BaO2, é obtido passando-se ar sobre
BaO, a SOO °C. O SrO2 também pode ser obtido por um BaSO4 + 4C -> BaS + 4CO
método análogo, mas requer elevada temperatura e pressão.
Os elementos do Grupo 2 também formam percloratos,
0 CaO2 não pode ser obtido dessa maneira, mas pode ser
MC1O4, com estruturas muito semelhantes às dos sulfatos:
preparado na forma de hidrato, tratando-se Ca(OH)2 com
o íon C1O4~ também é tetraédrico e semelhante em tamanho
H2O2, seguido da desidratação do produto. MgO2 bruto foi
ao íon SO42-. Contudo, eles são quimicamente diferentes,
obtido usando H2O2, mas não se conhece o peróxido de
pois os percloratos são agentes oxidantes fortes. O perclorato
berílio. Os peróxidos são sólidos iônicos brancos contendo
de magnésio é usado como agente secante conhecido como
0 íon [O-O]2', podendo ser considerados como sendo sais
“anidrona”. A anidrona não deve ser usada com materiais
do ácido muito fraco peróxido de hidrogênio. O tratamento
orgânicos, porque é um forte agente oxidante, e um contato
dos peróxidos com ácidos fornece 0 peróxido de hidrogênio.
acidental com materiais orgânicos podería provocar uma
BaO2 + 2HC1 -> BaCl2 + H2O2 explosão.

SULFATOS NITRATOS
A solubilidade dos sulfatos em água diminui ao se descer Todos os nitratos desses metais podem ser preparados
pelo Grupo: Be > Mg > > Ca > Sr > Ba. Assim, BeSO4 e MgSO4 em solução e cristalizados como sais hidratados, pela reação
são solúveis, mas 0 CaSO4 é pouco solúvel, enquanto que de HNOj com os carbonatos, óxidos ou hidróxidos
os sulfatos de Sr, Ba e Ra são praticamente insolúveis. As correspondentes. O aquecimento dos sólidos hidratados não
solubilidades muito maiores do BeSO4 e do MgSO4 são leva à formação dos nitratos anidros, porque o sólido se
decorrentes das elevadas entalpias de solvatação dos íons decompõe ao óxido. Os nitratos anidros podem ser
Be2+ e Mg2+ , bem menores que os demais. O sal de Epsom, preparados usando tetróxido de dinitrogênio líquido e acetato
MgSO4 • 7H2O, é usado como laxante suave. O sulfato de cálcio de etila. O berílio é uma exceção, pois além do sal normal
pode existir como hemihidrato, CaSO4 • ‘/2H2O, importante ele forma um nitrato básico.
17B Grupo 5 — OS ELEMENTOS ALCALINOS TERROSOS

aquec. a 50°C
N-Q, sob vácuo
BeCl2 Be(NO3)2-2N2O4 -»Be(NO3)2
125°C
[Be4O(NO3)6]
nitrato básico
de berílio

O nitrato básico de berílio é covalente e apresenta uma


estrutura não convencional (Fig. 11.1b). Quatro átomos de
Figura 11.2 — Estrutura polimerizada do BeH2 com ligações tricêntriais
berílio estão localizados nos vértices de um tetraedro, tendo
seis íons NO3‘ situados ao longo das seis arestas e um
oxigênio (básico) no centro. Essa estrutura é interessante, íon hidreto, H~. Os hidretos de berílio e de magnésio são
pois o berílio é o único a formar uma série de moléculas covalentes e poliméricos. O (BeH2)n apresenta um problema
covalentes estáveis de fórmula (Be4O(R6)], onde R pode ser estrutural interessante. É provável que diversas espécies,
NOf, HCOO-, CH3COO‘, C2HsCOO-, C6H5COO\ etc. Assim, constituídas por cadeias e ciclos poliméricos, estejam
o nitrato básico de berílio pertence a uma série de moléculas presentes na fase gasosa. O sólido pode existir tanto na forma
semelhantes (compare com o acetato básico de berílio da amorfa como cristalina. Supõe-se que ambos sejam
Fig. 11.5b). Essa estrutura também é interessante porque os poliméricos e tenham átomos de hidrogênio em ponte,
NO3~ atuam como ligantes ponte entre dois átomos de berílio, ligando dois átomos de berílio vizinhos.
sendo portanto bidentados (para uma discussão sobre ligan­ O Be está ligado a quatro átomos de H, que aparen­
tes multidentados, vide o item "Quelatos”, no Capítulo 7). temente formam duas ligações. Dado que o Be possui dois
elétrons de valência e o H somente um, fica evidente que
não há elétrons suficientes para a formação de ligações
HIDRETOS
normais, ou seja, ligações formadas pelo compartilhamento'
Os elementos Mg, Ca, Sr e Ba reagem com hidrogênio de um par de elétrons por dois átomos. Ao invés disso, for­
formando os hidretos, MH2, correspondentes. O hidreto de mam-se ligações tricentradas, nas quais um orbital molecu­
berílio é difícil de se preparar e é menos estável que os lar curvado engloba três átomos, Be ■ ■ • H • • • Be, mas contém
demais. BeH2 impuro (contaminado com quantidades apenas dois elétrons (esta é denominada ligação tricentrada
variáveis de éter) foi preparado pela primeira vez reduzindo- com dois elétrons). Este é um exemplo de um composto do
se BeCl2 com hidreto de alumínio e lítio, Li[AlH4]. Amostras tipo agregado ou “cluster", onde o átomo de berílio na
puras podem ser obtidas reduzindo-se BeCl2 com boro- molécula do monômero, BeH2 (contém ligações normais),
hidreto de lítio, Li[BH4], para formar BeB2H8, seguido do possui apenas quatro elétrons no nível mais externo. Logo,
aquecimento deste produto num tubo fechado com essa molécula é "deficiente em elétrons”. Ao formar
trifenilfosfina, PPh3. agregados, cada átomo compartilha seus elétrons com
diversos vizinhos e recebe uma participação nos elétrons
2BeCl2 + LíA1H4 -> 2BeH2 + LiCl + A1C13
destes. A formação de agregados ou “clusters” é importante
BeB2H8 + 2PPh3 ->BeH2 + 2Ph3PBH3
no caso dos metais (Capítulo 5) e dos hidretos de boro
BeCl2 + 2Li[BH4] —>BeB2H8 + 2LÍC1 (Capítulo 12), bem como nos haletos dos metais da segunda
Ca a- H2 —> CaH2 e terceira séries de transição (Capítulo 18).

Todos os hidretos são agentes redutores e são


hidrolisados por água e ácidos diluídos, com liberação de HALETOS
hidrogênio. Os Haletos, MX2, podem ser obtidos aquecendo-se os
metais com o halogênio, ou reagindo-se os metais ou seus
CaH2 + 2H2O —>Ca(OH)2 + 2H2 carbonatos com um ácido halogenídrico. Os haletos de berílio
são covalentes, higroscópicos e fumegam quando expostos
CaH2, SrH2 e BaH2 são compostos iônicos, contendo o
ao ar, devido à hidrólise. Eles sublimam e não conduzem a
eletricidade. Os haletos anidros de berílio não podem ser
obtidos a partir de suas solução aquosa, pois se forma o íon
hidratado [Be(H2O)4]2 + , gerando compostos tais como
[Be(H2O)4]Cl2 e [Be(H2O)4]F2. Estes hidrolisam quando se
tenta desidratá-los.
calor
[Be(H2O)4)Cl2 Be(OH)2 + 2HCI + 2H2O
Os haletos anidros podem ser preparados por uma das
reações dadas a seguir. A reação com CC14 é o método padrão
para se obter cloretos anidros, que não podem ser
sintetizados pela desidratação de hidratos (vide Capítulo 16).
BeO + 2NH3 + 4HF (NH4)2[BeF4] calor calor > BeF2 + 2NH4F
BeO + C + Cl12 ^70° 'C '■ BeCl2 + CO
2 ^=
Figura 11.1 — a) Um grupo NOf como ponte, b) Nitrato de berílio 2BeO + CC14 - 800°C
800°c > 2BeCl2 + CO2
CARBETOS 173

NITRETOS
a) b) Cl
Todos os elementos alcalino-terrosos queimam em
Cl—Be—Cl Cl —Be Be-CI atmosfera de nitrogênio formando nitretos iônicos, M3N2.
Esse comportamento contrasta com o dos elementos do
Grupo 1, onde apenas o lítio forma o nitreto, Li3N.

3ca + N3 —> ca3N2


Como 3 molécula de N2 é muito estável, uma grande
quantidade de energia é necessária para converter N2 no
íon nitreto, N3’. Essa energia provém da energis reticular
liberada com 3 formação do sólido cristalino. Eis é
Figura 11.3 — Estruturas do BeCl2; a) monômero, b) dímero e c) polímero
particularmente elevada por causa das cargas elevadas dos
íons M2 + e N3’. No Grupo 1 somente o lítio forma um nitreto,
Os haletos anidros são poliméricos. Os vapores de pois o pequeno tamanho do íon Li + conduz 3 uma energis
cloreto de berílio contêm BeCl2 e (BeCl2)2> rnas no sólido reticular relativamente 31t3 (vide equação de Born-Landé,
encontra-se polimerizado. Embora a estrutura do polímero Capítulo 3).
(BeCl2)n seja semelhante a do (BeH2)n> as ligações são
diferentes. Ambos ocorrem na forma de agregados, mas o O Be3N2 é bastante volátil, de acordo com 3 maior
hidreto forma ligações tricentradas enquanto que nos haletos tendência do berílio à covalência, mas os demais nitretos
existem átomos de halogênio em ponte. Estes, além de não são. Todos os nitretos são sólidos cristalinos que se
formarem uma ligação normal, utilizam um par de elétrons decompõem com o aquecimento e reagem com água,
livres para formarem uma ligação coordenada com um liberando 3môni3 e formando o óxido ou o hidróxido do
segundo átomo de berílio. metal; por exemplo
O fluoreto de berílio é muito solúvel em água, devido à Ca3N2 + 6H2O -> 3Ca(OH)2 2NH3
elevada energia de solvatação do íon Be2+ ao formar
lBe{H2O)4]2 + . Os fluoretos dos demais metais do Grupo são
iônicos, possuem elevados pontos de fusão e são CARBETOS (vide também Capítulo 13)
praticamente insolúveis em água. O CaF2 é um sólido branco, Qusndo BeO é 3quecido com C 3 1.900-2.000 °C, forma-
insolúvel, de elevado ponto de fusão. Tem grande se um carbeto de cor vermelho-tijolo, de fórmula Be2C. Ele
importância industrial, sendo a principal fonte tanto de F2 é iônico e o cristal tem uma estrutura do tipo 3nti-fluorit3,
como de HF. isto é, uma estrutura semelhante 3 do C3F2, exceto peta
inversão das posições dos íons metálicos e dos ânions. O
CaF2 + H2SO4 -> 2HF + CaSO4 composto é incomum, pois reage com águs fornrando
HF + KF —> KHF2 eletrólise > F2 metano, sendo por isso conhecido como um metanogênio.

A produção mundial de fluorita, CaF2, foi de 3,6 milhões Be2C + 4H2O 2Be(OH)2 + CH4
de toneladas em 1992. Os principais produtores foram a
China 42%, a ex-União Soviética, o México e a Mongólia Os metais do Grupo 2 fornram carbetos iônicos de
8% cada um, e a África do Sul 7%. O CaF2 também é fórmuta MC2. Mg, C3, Sr e Bs formam carbetos MC2, qusndo
empregado para a confecção de prismas e celas de os metais são aquecidos com C num forno elétrico ou qusndo
espectrofotômetros. seus óxidos são aquecidos com carbono. O C3C2 obtido dess3
maneira é um sólido cinza, mas é incolor quando puro. BeC2
Os cloretos, brometos e iodetos de Mg, Ca, Sr e Ba são
é obtido aquecendo-se Be com etino (acetileno).
iônicos, têm pontos de fusão bem mais baixos que os
fluoretos e se dissolvem prontamente em água. A solubilidade Com o aquecimento, o MgC2 se converte em Mg2C3.
decresce um pouco com o aumento do número atômico. Esse composto contém o íon C34- e reage com água formando
Todos os haletos formam hidratos e são higroscópicos propino, CH3OCH (metilacetileno).
(absorvem vapor d’água do ar). Vários milhões de toneladas 11OO"C
de CaCl2 são produzidos anualmente. Grandes quantidades Cs + 2C —> CaC2
são desprezadas como subproduto do processo Solvay, na 20<xrc
CaO + 3C - CaC2 + CO
forma de soluções aquosas, pois não é economicamente
viável recuperá-lo como sólido e sua demanda é pequena. Todos os carbetos MC2 possuem uma estrutura
0 CaCl2 é muito usado nos países frios para dissolver o gelo semelhante ao do cloreto de sódio, mas distorcida. OM2*
das rodovias, porque uma mistura eutética de CaCl2/H2O substitui o Na+ e o [OC]2* substitui o Cl". Os íons C22~ são
(-55 °C) congela a uma temperatura bem menor que a alongados ao invés de esféricos, como o CF. Assim, o eixo
mistura NaCl/H2O (-18 °C). O CaCl2 também é usado para tendo os íons C22- orientados no mesmo sentido é alongado
acelerar a cura do concreto e aumentar sua resistência, e em relação aos outros dois eixos, e a estrutura apresenta
como "salmoura” em torres de refrigeração. É usado em uma distorção tetragonal. A estrutura é mostrada na Fig.
menor escala como agente dessecante, em laboratório. O 3.12, do Capítulo 3. A temperaturas superiores a 450 °C, os
MgCl2 anidro é importante no método eletrolítico de obtenção íons C22* se orientam aleatoriamente, deixando de se alinhar
do magnésio. como descrito acima. Por isso, a célula unitária muda de
174 Bnjpo 2 — OS ELEMENTOS ALCALINOS TERROSOS

tetragonal para cúbica com o aquecimento. SAIS INSOLÚVEIS


O carbeto de cálcio, CaC2 (carbureto) é o mais bem Os sulfatos de cálcio, estrôncio e bário são insolúveis,
conhecido composto dessa série. Ele reage com a água e os carbonatos, oxalatos, cromatos e fluoretos de todos os
liberando etino (mais conhecido como acetileno). elementos deste Grupo são insolúveis. Essa característica é
CaC2 + 2H2O -» Ca(OH)2 + C2H2 explorada em análise qualitativa.

Durante muito tempo essa reação foi a principal fonte COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS
do acetileno utilizado na solda oxiacetilênica. A produção
de CaC2 atingiu o máximo de 7 milhões de toneladas/ano Tanto o Be como o Mg formam um número apreciável
em 1960, mas diminuiu para 4,9 milhões de toneladas, em de compostos com ligações M-C; mas somente alguns poucos
1991, pois o acetileno é atualmente obtido pelo proces­ destes compostos correlatos de Ca, Sr e Ba foram isolados.
samento do petróleo. Victor Grignard, um químico francês, recebeu o Prêmio
O CaC2 é um intermediário químico importante. Quando Nobel de Química de 1912 por seus trabalhos pioneiros com
o CaC2 é aquecido num forno elétrico na presença de os compostos organometálicos de magnésio, atualmente
nitrogênio atmosférico, a 1.100 °C, forma-se a cianamida de conhecidos como compostos de Grignard. Provavelmente,
cálcio, CaNCN. Essa é uma reação importante, pois se são os reagentes mais versáteis da Química Orgânica,
constitui num dos métodos de fixação do nitrogênio podendo ser usados na síntese de uma grande variedade de
atmosférico (o nitrogênio é fixado principalmente pelo álcoois, aldeídos, cetonas, ácidos carboxílicos, ésteres,
processo Haber de fabricação de NH3). amidas e alcenos. Os dois métodos gerais de obtenção de
compostos organometálicos se baseiam na utilização,
CaC2 + N2 -> CaNCN + C respectivamente, de reagentes de Grignard ou de compostos
do tipo alquil-lítio. Portanto, os compostos de Grignard são
O íon cianamida [N - C = N)2’ é isoeletrônico com o também muito importantes na Química Inorgânica.
CO2 e também é linear. O CaNCN é produzido em larga Os reagentes de Grignard são obtidos pela lenta adição
escala, principalmente em locais onde a energia elétrica é de haletos de alquila ou de arila (Cl, Br, 1) a um solvente
barata. A produção já chegou a cerca de 1,3 milhão de orgânico absolutamente seco, como éter dietílico, contendo
toneladas/ano e está aumentando. Esse composto é raspas de magnésio. É necessária a exclusão total de água e
largamente empregado como fertilizante nitrogenado de ação do ar. Freqüentemente, a reação apresenta um período de
lenta (particularmente no sudeste da Ásia), já que se hidrolisa indução antes de se iniciar. Porém, em alguns casos, é
lentamente, durante um período de alguns meses. O CaNCN necessário a adição de um cristal de iodo (este ajuda a re­
é melhor que outros fertilizantes nitrogenados como o mover o filme de óxjdo que recobre o metal, ativando-o)
NH4NO3 ou a uréia, pois não é arrastado tão facilmente pelas
para que a reação tenha início. Reduzindo-se haletos de
chuvas.
magnésio com potássio, na presença de Kl, pode-se obter
CaNCN + 5H2O CaCO3 + 2NH4OH um Mg muito reativo. Este facilita a preparação de reagentes
de Grignard, popularizando seu uso.
Outros usos industriais importantes do CaNCN são a Mg + RBr ——r sec° > RMgBr (R - alquil ou aril)
fabricação de cianamina, H2NCN, empregado na fabricação reagente de Grignard
de uréia e tiouréia, e de melamina que forma plásticos rígidos
com formaldeído. Todos os reagentes de Grignard são muito reativos. Os
iodetos são os mais reativos e os cloretos os menos reativos.
CaNCN + H2SO4 -» H2NCN + CaSO4 Os reagentes de Grignard contendo grupos alquila são
geralmente mais reativos que aqueles contendo grupos arila.
CaNCN + CO2 + H2O -4 H2NCN + CaCO3
cianamida Todos os reagentes de Grignard são rapidamente
pH <2 ou >12 hidrolisados pela água, gerando os hidrocarbonetos
h2ncn + h2o 4 H2N CO NH2 (uréia) correspondentes.
H2NCN + H2S -> H2N-CS-NH2 (tiouréia) 2RMgBr + 2H2O -> 2RH + Mg(OH)2 + MgBr2

H2N N nh2 Os reagentes de Grignard não podem ser armazenados.


\ // \ / Por isso, são sintetizados e utilizados quando necessários,
cianamida dicianamida
C C sem serem isolados. Em geral, estão solvatados ou
H2NCN
ph r-;
4NCNC(NH2)2
pirólise , II polimerizados, devido a presença de átomos de halogênio
N N
\\ /
c
I Et2O Br Et2O Br Et Br NEt2
NH2 \ / \ / \ / \ /
mela nina Mg Mg Mg Mg
/ \ / \ / \ / \
Et2O Et Et2O Ph Et2N Br Et
É interessante observar que o BaC2 também reage com
o N2, mas forma o cianeto, Ba(CN)2, ao invés da cianamida,
(NCN)2'. Figura 11.4 — Estruturas de alguns compostos de Grignard
COMPLEXOS 175

em ponte. Suas estruturas foram objeto de controvérsias COMPLEXOS


durante muito tempo. Contudo, as estruturas do
Os metais do Grupo 2 não se destacam pela sua
PhMgBr-2Et2O e do EtMgBr-2Et2O sólidos, obtidas por
capacidade de formar complexos. Os fatores que favorecem
difração de raios X, contém átomos de magnésio coordenados
a formação de complexos são: íons metálicos pequenos de
tetraedricamente por um átomo de bromo, um grupo
carga elevada com orbitais vazios de baixa energia,
orgânico e os átomos de oxigênio de duas moléculas de éter.
adequados para a formação de ligações. Todos os elementos
Mas, diversas espécies podem estar presentes em solução.
do Grupo formam íons divalentes, menores que os
Algumas reações típicas desses reagentes são: correspondentes íons dos elementos do Grupo 1. Os
RMgBr + CO2 —+* ácido icia° > R ■ COOH (ácidos carboxilicos) elementos do Grupo 2 apresentam, pois, maior tendência
RMgBr + R2C = O —*+ H
Hp
i°—> R3C • OH (álcoois terciários) de formar complexos que os elementos do Grupo 1. O Be é
bem menor que os demais elementos, sendo capaz de formar
RMgBr + R-CHO —i_ü£—> R2CHOH (álcoois secundários) muitos complexos. Dos demais elementos, somente o Mg e
RMgBr + O2 —+- ácidQ
ácido
—> ROH (álcoois primários) o Ca possuem uma certa tendência de formar complexos
RMgBr + S8 -> RSH e R2S em solução, normalmente com ligantes contendo átomos
RMgBr + HCHO —* ácid° > RCH2OH de oxigênio coordenantes.
RMgBr + 12 -> RI O fluoreto de berílio, BeF2, prontamente se coordena a
mais dois íons F~, formando o complexo [BeF4]2". Os
RMgBr + H+ —> RH tetrafluoroberilatos, M2[BeF4], são complexos bem conhe­
RMgBr + BeCl2 —> BeR2 cidos, com propriedades semelhantes aos dos sulfatos. Na
RMgBr + LiR -> MgR2 maioria dos casos o berílio forma complexos tetraco-
RMgBr + BC13 -> BR3 ordenados e sua estrutura tetraédrica é definida pelos orbitais
disponíveis para formar as ligações.
RMgBr + SiCl4 -> RSiCl3, R2SiCl2, R3SiCl, R4Si
alquil- e arilclorossilanos Is 2s 2p
Estrutura eletrônica não há elétrons
Os alquil- e arilclorossilanos são comercialmente do átomo de berílio T-l desemparelha-
no estado funda­ dos para for­
importantes, pois são utilizados na fabricação de silicones mental mar ligações
(vide Grupo 14). covalentes

BeCl2 reage com compostos de Grignard formando
derivados reativos, contendo grupos alquila ou arila. O
Estrutura eletrônica
do átomo de berílio ÍÉ] [tfn 2 elétrons de-
semparelhados
no estado excitado podem formar
composto Be(Me)2 é um dímero no estado de vapor, e um duas ligações
polímero no estado sólido. Sua estrutura em cadeia lembra covalentes
2s 2p
aquela do BeCl2. Contudo, as ligações são muito diferentes.
A ligação no Be-Me-Be é melhor descrita como uma ligação
tricentrada formada por dois elétrons, envolvendo os dois
Estrutura eletrônica
do átomo de berílio
na molécula gasosa
È É |nj, I I 2 átomos de
flúor comparti­
lham elétrons
dois pares eletrônic
ticos
de BeF2 — molécula linea desempare-
átomos de Be e o grupo CH3, semelhante à ligação no (hibridizac ' spl
içào Ihados
(BeH2)n. É diferente da ligação no (BeCl2)n, com halogênio 1$ 2s 2p
Estrutura eletrônica
em ponte, onde os átomos de cloro formam duas ligações do átomo de berílio [n] [n] |h|ú|hJ1| 2 íons F doam
cada 1 par de
normais, compartilhando pares de elétrons. no íon complexo J elétrons a orbi-
[BeFJ2- quatro pares
. eletrônicos
,. 1 tais vazios, for-
Embora muito menos estudados que os reagentes de formam duas ligaçõ^
!aien«seduas 9itg°çôes mando ligações
COVL------------ 1---- --O-T —
Grignard, os outros metais do Grupo 2 também formam coordenadas — molécula iia coordenadas
tetraédrica (hibridização sp2)
compostos dialquilados e diarilados. Eles podem ser prepa­
rados a partir dos reagentes de Grignard, ou compostos de De uma maneira semelhante são formados os complexos
alquil/aril-lítio ou alquil/aril-mercúrio. do tipo BeCl2 ■ L2 (onde L é um éter, aldeído ou cetona com
um átomo de oxigênio contendo um par de elétrons livres
BeCl2 + 2MeMgCl Etp BeMe2-(Et2O)n + 2MgCl2 em condições de ser doado). Esses complexos são
Et;O tetraédricos, como o [Be(H2O)4]2 + .
BeCl2 + 2LiEt !—> BeEt2 ■ (Et2O)n 2LÍC1
São conhecidos muitos complexos estáveis de Be2 + com
calor
Be + HgMe2 -> BeMe2 + Hg ligantes bidentados, tais como o oxalato formando [Be(ox}2]2~,
as p-dicetonas como a acetilacetona e o catecol. Em todos
Reações semelhantes podem ser empregadas para esses complexos, o íon Be2 + está tetraedricamente coorde­
preparar dialquilas e diarilas de Mg, Ca, Sr e Ba. Os nado (ver Fig. 11.5b).
compostos de Ca, Sr e Ba são muito mais reativos que os Forma-se um complexo com uma estrutura pouco
correspondentes compostos de magnésio. Os compostos comum denominado acetato básico de berílio,
alquilados de berílio reagem com BeCl2 para formar [Be4(CH3COO)6], quando uma solução de Be(OH)2 em ácido
“compostos de Grignard de berílio”. acético é evaporada. A estrutura é constituída por um átomo
BeMe2 + BeCl2 -> 2MeBeCl central de oxigênio, rodeado por quatro átomos de berílio
localizados nos vértices de um tetraedro, e seis grupos acetato
Esses compostos são menos reativos que os cor­ dispostos ao longo das seis arestas (vide Fig. 11.5a). Este é
respondentes de magnésio (Grignard). um de uma série de complexo análogos, no qual o grupo
176 Enjpo 2 — 05 ELEMENTOS ALCALINOS TERROSOS

oxidam uma molécula orgânica, em vez de utilizarem a


reação convencional de oxidação de H2O a O2.
O cálcio e os outros elementos mais pesados do Grupo
somente formam complexos com agentes complexantes
fortes. Dentre eles podem ser citadas a acetilacetona.
CH3C0 • CH2CO • CH3 (tem dois átomos de oxigênio coorde-
nantes) e o ácido etilenodiaminatetracético, EDTA, que possui
quatro átomos de oxigênio e dois átomos de nitrogênio
coordenantes em cada molécula. Por ser o ácido H4EDTA
insolúvel, o sal dissódico, N2H2EDTA, é geralmente
empregado.
Ca2+ + [H2EDTA]2- -> (Ca(EDTA)]2’ + 2H +
O EDTA forma complexos hexacoordenados com a
maioria dos íons metálicos em solução, desde que o pH seja
Figura 11.5 — a) Acetato básico e berílio BejOfCHjCOO)^ b) O corretamente ajustado. Como o berílio invariavelmente forma
complexo oxalato de berílio [Be(ox),]2' complexos tetracoordenados, ele não forma complexos muito
estáveis com o EDTA. Em contraste, o cálcio e o magnésio
acetato é substituído por diferentes ácidos orgânicos. Suas são facilmente complexados pelo EDTA. Essa característica
estruturas são semelhantes àquela do nitrato básico de berílio é explorada para se determinar as quantidades de Ca2+ ou
(Fig. 11.1 b). O acetato básico de berílio é solúvel em solventes Mg2+ presentes numa solução ou para se determinar a
orgânicos. É uma molécula covalente, possuindo portanto "dureza" da água, por meio de titulações complexométricas,
pontos de fusão e de ebulição relativamente baixos (285 e em meio tamponado. Titulações de Ca2 + ou Mg2 + com EDTA
330 °C, respectivamente). A temperatura de ebulição é são realizadas em pH mais alcalino que aquelas para a
maioria dos metais (por exemplo, Zn2 +, Cd2+ e Pb2+), pois
suficientemente baixa para permitir sua destilação, o que
seus complexos são menos estáveis. Assim, em pH's mais .
facilita o processo de purificação do berílio.
baixos o EDTA é protonado em vez de se complexar com o i
Dizem que os compostos de berílio têm gosto adocicado cálcio ou o magnésio. Às vezes o EDTA é adicionado a
mas não faça este teste, pois são extremamente tóxicos. Essa detergentes, para reduzir a "dureza” da água. Vários
toxicidade se deve à sua elevada solubilidade e à sua polifosfatos também formam complexos em solução, sendo
capacidade de formar complexos com enzimas no organismo. também utilizados no tratamento da "dureza” da água.
O Be desloca o Mg de algumas enzimas, já que forma
Complexos estáveis com éteres-coroa e criptandos, no
complexos mais estáveis. Caso fiquem em contato com a
estado sólido, também foram obtidos. Os detalhes dessas
pele provocam dermatites e se o pó ou seus fumos forem reações foram apresentados no item "Complexos com éteres-
inalados, pode se desenvolver uma doença denominada
coroa e criptandos” do Capítulo 9.
beriliose, muito semelhante à silicose.
O magnésio forma alguns poucos complexos com
haletos, como o [NEt4]2[MgCl4]; mas o Ca, Sr e Ba não for­ a) CH=CH'2: CH3
mam esse tipo de complexo. H c
Do ponto de vista biológico, a clorofila é o complexo
Cx
de magnésio mais importante. O magnésio está no centro ch3-c
de um anel heterocíclico orgânico planar denominado N.C---- NI IIN—-c , C-C;H5
porfirina, no qual quatro átomos de nitrogênio estão coor­ \\
denados ao íon magnésio (vide Fig. 11.6). A clorofila é o HC CH
pigmento verde das plantas, que absorve luz solar na região
/
N N----- C-CH3
do vermelho, tornando essa energia disponível para a
realização da fotossíntese. Nesse processo o CO2 é convertido
HjC-C I
C
I
Cx /
H
em carboidratos (açúcares).
clorofila/
H<çh
í 2 HC—C=O
luz solar
6CO2 + 6H2O c6H12o6 6O2 c'o2ch3
glicose ch2

CO2C20H39
Em última análise, quase todos os seres vivos dependem
da clorofila e da fotossíntese. O oxigênio da atmosfera é um b)
subproduto da fotossíntese e os alimentos são provenientes HOOC • CH2 CH2 • COOH
de plantas ou de animais, que se alimentaram de plantas. •N-CH. CH. N-
Embora o processo de fotossíntese seja comumente associado HOOC ■ CHj CH2 ■ COOH
às plantas superiores, cerca da metade é realizado por algas
(• = átomo doador)
e certas bactérias verdes, marrons, vermelhas e púrpuras.
As bactérias fotossintéticas são anaeróbicas e são
envenenadas pelo O2. Essas bactérias oxidam H2S a S ou Figura 11.6 — a) Clorofila a. b) Ácido etilenodiaminotetraédnco, EUTA
PROBLEMAS 177

IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA DO Mg2 + EDOCa2* Observa-se uma clara relação diagonal entre o berílio,
Os íons Mg2 + se concentram dentro das células dos no Grupo 2, e o alumínio, no Grupo 3. Tal como no caso do
animais, enquanto que os íons Ca2+ se concentram nos lítio e do magnésio, esse comportamento decorre
fluídos corpóreos, fora da célula. Essa distribuição é similar principalmente da similaridade entre os tamanhos de seus
ao do K+ e Na + , respectivamente. Os íons Mg2+ formam átomos e íons.
um complexo com ó ATP e estão presentes nas fosfoidrolases
e fosfotransferases, ou seja, enzimas que controlam as LEITURAS COMPLEMENTARES
reações de liberação de energia a partir do ATP. São também
• Bell, N.A.; Adv. Inorg. Radiochem., 14, 225 (1972). (Haletos
essenciais para a transmissão de impulsos nervosos. O Mg2 + de berílio e seus complexos)
está presente na clorofila: as partes verdes das plantas. O
Ca2+ é um dos constituintes dos ossos e dos dentes, na forma • Dietrich, B.; Coordination chemistry of alkali and alkaline
earth cations with macrocyclic ligands, J. Chem. Ed., 62,
de apatita Ca3(PO4)2, e do esmalte dos dentes, como
954-964 (1985). (éteres-coroa e criptandos)
fluorapatita 3(Ca3(PO4)2) CaF2. Os íons Ca2+ são impor­
tantes no processo de coagulação do sangue, e são neces­ • Everest, D.A.; Comprehensive Inorganic Chemistry, vol. 1,
sários para dar início à contração dos músculos e para manter Pergamon Press, Oxford, 1973. (Berílio)
o batimento regular do coração. • Goodenough, R.D. e Stenger, V.A.; ComprehensiveInorganic
Chemistry, vol. 1, Pergamon Press, Oxford, 1973. (Magnésio,
cálcio, estrôncio, bário e rádio)
DIFERENÇAS ENTRE O BERÍLIO E OS • Hanusa, T.P.; Reexamining the diagonal relationships, J.
DEMAIS ELEMENTOS DO GRUPO 2 Chem. Ed., 64, 686-687 (1987).
O berílio apresenta propriedades diferente daquelas dos • Hughes, M.N.; The Inorganic Chemistry of Biological Processes,
demais elementos do Grupo 2 e se assemelha diagonalmente John Wiley, London, 1972. (Cap.8: Metais dos Grupos 1 e 2
com o alumínio, no Grupo 13. Abaixo são listadas suas em biologia)
principais características: • Hughes, M.N. e Birch, N.J.; Chemistry in Britain, 18, 196-
1. Be é muito pequeno e tem uma densidade de carga 198 (1982). (Cátions dos grupos 1 e 2 na biologia)
elevada, apresentando uma grande tendência à • Parker, D.; Adv. Inorg. Radiochem., 27,1-26 (1983). (Criptatos
covalència, como previsto pelas regras de Fajans. Por de metais alcalinos e alcalinos terrosos)
isso, os pontos de fusão de seus compostos são mais • Sargeson, A.M.; Caged metal ions, Chemistry in Britain, 15,
baixos (BeF2 funde a 800 °C, enquanto os fluoretos dos 23-27 (1979). (Discussão objetiva sobre éteres-coroa,
outros metais do Grupo fundem a cerca de 1.300 °C). criptatos, etc)
Todos os haletos de Be são solúveis em solventes • Schubert, J.; Readings from Scientific American in Chemis­
orgânicos e se hidrolisam em água, como os haletos de try of the Enviroment, W.H. Freeman, San Francisco, 1973.
alumínio. Os demais haletos dos elementos do Grupo 2 (Cap.34: Berílio e beriliose)
são iônicos. • Skilleter, D.N.; Chemistry in Britain, 26, 26-30 (1990). (Ser
2. O hidreto de berílio é deficiente em elétrons e poli- ou não ser - a história da toxicidade do berílio)
mérico, e formam ligações multicentradas, tal como o • Spiro, T.G. (ed.); Calcium in Biology, Wiley-Interscience, New
hidreto de alumínio. York, 1983.
3. Os haletos de berílio também são deficientes em elétrons • Waker, W.E.C.; Magnesium and Man, Harvard University
e poliméricos, mas com átomos de halogênio em ponte. Press, London, 1980.
O BeCl2 geralmente forma cadeias, mas pode formar o
dímero. O A1C13 é um dímero. PROBLEMAS
4. O Be forma muitos complexos — o que não é comum Por que os elementos do Grupo 2 são menores que os
no caso dos elementos dos Grupos 1 e 2. correspondentes elementos do Grupo 1?
5. O Be é anfótero, liberando H2 quando reage com NaOH 2. Por que os metais do Grupo 2 são mais duros. Por que tem
formando berilatos. O Al forma aluminatos. pontos de fusão mais elevados que os metais do Grupo 1?
6. O Be(OH)2, como o A1(OH)3, é anfótero. 3. Por que os compostos de Be são muito mais covalentes
7. O Be, como o Al, se torna "passivo" quando tratado que os compostos dos demais elementos do Grupo 2?
com ácido nítrico. 4. Qual é a estrutura do BeCl2 no estado gasoso? E no estado
sólido? Por que o BeCl2 é ácido quando dissolvido em
8. Os potenciais padrão de eletrodo do Be se assemelha água?
mais ao do Al (respectivamente-1,85 e -1,66 volt) que Descreva as diferenças estruturais entre o BeH2 e o CaH2.
5.
aos do Ca, Sr e Ba (-2,87; -2,89 e -2,90 volts,
6. Por que os haletos e os hidretos de Be se polimerizam?
respectivamente).
9. Os sais de berílio sofrem hidrólise acentuada. 7. Quais são as precauções que devem ser tomadas ao se
manusear compostos de berílio?
10. Os sais de Be se incluem entre os mais solúveis que se Quais são os números de coordenação mais comuns dos
8.
conhecem. íons Be2+ e Mg2 + ? Explique o motivo dessa diferença?
11. O berílio forma um carbeto incomum, Be2C, que, como 9. Compare o grau de hidratação dos haletos dos elementos
o A14C3, libera metano ao se hidrolisar. dos Grupo 1 e 2. Por que os sais de berílio raramente
178 Grupo 5 — 05 ELEMENTOS ALCALINOS TERROSOS

contêm mais que quatro moléculas de água de outro, redução química e redução eletrolítica. Como são
cristalização? obtidos os metais do Grupo 2, e por que os demais métodos
10. Escreva as equações que representem as reações entre o não são adequados?
Ca e: a) H2O, b) H2, c) C, d) N2, e) O2, f) Cl2, g) NH3. 18. Um elemento (A) reage quando tratado com água fria,
11. Compare as reações dos metais dos Grupo 1 e 2 com água. formando um gás incolor e inodoro (B), e uma solução
Como a basicidade dos hidróxidos do metais alcalinos (C) . 0 lítio reage com (B) formando um sólido (D), que
terrosos varia dentro do Grupo? Essa tendência é comum reage rapidamente com água, com efervescência, formando
nos demais grupos da tabela periódica? uma solução fortemente básica (F). Quando gás carbônico
foi borbulhado na solução (C) inicialmente observou-se a
12. A "dureza” da água pode ser "temporária" ou "permanente”. formação de um precipitado branco (G), que voltou a se
a) O que provoca a dureza e como pode ser eliminada em dissolver após o borbulhamento de mais C02 .formando
cada caso? b) Explique (consulte outras referências uma solução (H). 0 precipitado (G) efervesce quando
bibliográficas) por que zeólitas naturais, resinas de troca- tratado com HC1 concentrado, e confere uma coloração
iônica sintéticas e polifosfatos podem ser utilizadas no vermelha intensa à chama do bico de Bunsen. Quando
tratamento de águas “duras”. (G) foi aquecido com C a 1.000 °C, formou-se um composto
13. Os íons dos metais alcalinos-terrosos formam complexos? alcalino branco (I), que quando aquecido com C a 1.000
Os elementos do Grupo 2 têm maior ou menor tendência °C resulta num sólido (J) de certa importância comercial.
que os do Grupo 1, a formar complexos? Qual é o motivo Identifique as substâncias de (A) a (J) e escreva as equações
dessa diferença? Qual dos íons metálicos do Grupo 2 forma químicas balanceadas de cada uma das reações.
complexos com maior facilidade? Quais são os melhores 19. Quando uma substância branca (A) foi tratada com ácido
agentes complexantes? Cite um complexo de um elemento clorídrico diluído, houve o desprendimento de um gás
do Grupo 2 que tenha importância biológica. incolor (B), que torna vermelho um papel de tornassol
14. Descreva sucintamente o método de preparação, as úmido. Quando o gás (B) foi borbulhado numa solução
propriedades, a estrutura e as aplicações do acetato básico alcalina observou-se a formação de um precipitado (C),
de berílio. mas a passagem de maior quantidade do gás levou à
15. Em que condições os íons alcalinos terrosos formam redissolução do sólido e formação de uma solução límpida
complexos estáveis com EDTA? Como as quantidades de (D) , A chama de um bico de Bunsen se tornou verde
íons Mg2* e Ca2 + , de uma amostra de água, podem ser quando uma pequena amostra de (A), umedecida com
determinadas por titulação com EDTA? (Consulte um livro ácido clorídrico concentrado, foi introduzida na mesma
texto de Química Analítica, por exemplo Vogei). Esses utilizando-se um fio de platina. Mediante forte aquecimento
complexos de EDTA são mais ou menos estáveis que (A) se decompõe formando um sólido branco (E), que
aqueles dos outros íons metálicos? Por que a titulação é torna azul o papel de tornassol. O aquecimento forte de
efetuada em pH elevado? Qual é o indicador usado? 1,9735 g de (A) forneceu 1,5334 g de (E). A amostra de
(E) foi dissolvida em água num balão volumétrico e o vo­
16. Descreva como se prepara um reagente de Grignard e cite lume completado para 250 ml. 20,30 ml de uma solução
cinco aplicações diferentes em síntese preparativa (consulte de ácido clorídrico 0,0985 M foram necessárias para titu­
também o item sobre Silicones). lar 25 ml dessa solução. Identifique os compostos de (A)
17. Os quatro métodos gerais de obtenção de metais são até (E) e escreva as equações químicas de todas as reações
decomposição térmica, deslocamento de um elemento por mencionadas. Calcule o peso molecular de (A).
173

kMEKiTOS
0® M)(§@ /.
180

OS ELEMENTOS
00 GRUPO 13
PROPRIEDADES GERAIS [Califórnia, EUA) e no Vale da Morte (Utah, EUA). Ambas
são regiões desérticas. Durante um longo período de tempo,
O boro é um não-metal e sempre forma ligações
a chuva arrastou esses sais alcalinos das encostas dos morros
covalentes. Normalmente forma três ligações covalentes com
ângulos de 120° entre si, utilizando orbitais híbridos sp2. O para os lagos nos vales. Muito tempo depois esses lagos
boro não possui nenhuma tendência de formar compostos secaram, deixando depósitos sólidos na superfície, com
monovalentes. Todos os compostos BX3 são deficientes em espessuras de 10 a 50 metros. A quantidade de minerais
elétrons e podem receber mais um par de elétrons de um brutos de boratos extraída em 1993 foi de 5,3 milhões de
outro átomo, formando uma ligação coordenada. O BF3 tem toneladas. Os maiores produtores foram a ex-União Soviética
importância comercial como catalisador. O boro também (53%) e os Estados Unidos e a Turquia (19% cada um).
forma diversos compostos nos quais os átomos se dispõem O alumínio é o metal mais abundante e o terceiro
de forma a gerar uma estrutura semelhante a um “cesto” elemento mais abundante, em peso, (depois do oxigênio e
aberto, bem como algumas estruturas em forma de poliedros do silício) da crosta terrestre. É bem estudado e tem grande
fechados. Este pode conter outros átomos, tais como o importância econômica. O metal alumínio é produzido em
carbono. As ligações multicentradas formadas nesse tipo de grande escala. A produção primária foi de 19,4 milhões de
compostos são de grande interesse teórico. toneladas em 1992, além dos 5 milhões de toneladas de
Os elementos Al, Ga, In e TI formam compostos alumínio obtido por reciclagem. O minério de alumínio mais
trivalentes. Os elementos mais pesados apresentam o “efeito importante é a bauxita. Este é um nome genérico para
do par inerte”, de modo que os compostos monovalentes diversos minerais, com fórmulas que variam entre A12O3 • H20
adquirem importância crescente na seqüência Ga-»In—»T1. e A12O3 ■ 3H2O. Em 1992, a produção mundial de bauxita foi
Esses quatro elementos (Tab. 12.1) são mais metálicos e de 108,6 milhões de toneladas. O alumínio também ocorre
iônicos que o boro. Sâo metais moderadamente reativos. em grandes quantidades em rochas da classe dos
Seus compostos se situam no limite entre aqueles com caráter aluminossilicatos, tais como os feldspatos e as micas. Quando
iônico e covalente. Muitos de seus compostos são covalentes essas rochas se decompõem, formam argilas ou outras rochas
quando anidros, mas formam íons em solução. metamórficas. Não há nenhum método simples ou
econômico de extrair o alumínio de feldspatos, micas e
argilas.
OCORRÊNCIA E ABUNDÂNCIA O gálio é duas vezes mais abundante que o boro, mas
0 boro é um elemento bastante raro, mas é bem conheci­ o índio e o tálio são muito menos abundantes. Os elementos
do, pois ocorre em depósitos concentrados de bórax, Ga, In e Tl, ocorrem na forma de sulfetos e são menos
Na2[B4Os(OH)4] • 8H2O, e de kemita, Na2[B4O5(OH)4] • 2H2O. estudados. Isso decorre do fato deles não serem encontrados
Os maiores depósitos se encontram no deserto de Mojave na forma de minérios concentrados e, também, porque suas
aplicações são restritas. Pequenas
Tabela 12.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação quantidades de Ga são encontradas em
minérios dos elementos adjacentes a ele
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* na Tabela Periódica (Al, Zn e Ge).
Quantidades traço de In e Tl são
Boro B [He] 2?2p' III encontrados em minérios de ZnS e PbS.
Alumínio Al [Ne] 3?3p' (D m Em 1993, a produção de In, Ga e Tl fo­
Gálio Ga [Ar] 3d‘° 4? 4p‘ i ni ram, respectivamente, de 145,28 e 14,5
índio In [Kr] 4d'° 5? 5p' i in toneladas.
Tálio TI [Xe] 4/4 5d10 6? 6p' i m
181

Tabela 122 — Abundância dos elementos na crosta de insetos. O bórax é usado como fundente em solda bronze
terrestre, em peso e prata, pois reage com óxidos (tais como o Cu2O da
superfície de bronze aquecido) formando boratos de baixo
ppm Abundância relativa ponto de fusão. Assim, uma superfície limpa é exposta à
solda, melhorando a adesão. O bórax é também usado na
B 9 38 fabricação de esmaltes cerâmicos e para escurecer o couro.
Al 83.000 03 O ácido ortobórico é obtido tratando minérios contendo
Ga 19 33 borato com ácido sulfúrico. Foram produzidos cerca de
In 0,24 63 211.000 toneladas desse produto, em 1992. A reação do H3BO3
TI 05 60 com H2O2 fornece o ácido monoperoxobórico, cuja
composição provável é ((HO^BfOOH)]. O peroxoborato de
sódio, Na2[B2(O2)2(OH)4]-6H2O, é um dos constituintes de
OBTENÇÃO E USOS DOS ELEMENTOS muitos detergentes e sabões em pó. Isso ocorre
Obtenção do boro principalmente na Europa, onde os sabões em pó podem
Boro amorfo de baixa pureza (conhecido como boro de conter até 20% de peroxoborato de sódio. Esse produto é
Moissan) é obtido pela redução de B2O3 com Mg ou Na, a menos usado com essa finalidade nos Estados Unidos. A
altas temperaturas. Sua pureza é de 95-98 % (é contaminado produção mundial é de cerca de 550.000 toneladas/ano. Os
por boretos metálicos) e é preto. peroxoboratos atuam como avivadores, porque absorvem
ácido bq calor
luz UV e emitem luz visível. Isso faz com que tanto tecidos
Na2[B4O5(OH)4]-8H2O H3BO3 ->B2O3 brancos como coloridos tenham aspecto mais brilhante.
bórax ácido ortobórico
Quando usados a temperaturas superiores a 80 °C, os
—M?°uNa >2B + 3MgO peroxoboratos se decompõem com a formação de peróxido
É difícil obter boro cristalino puro, pois o boro fundido de hidrogênio, H2O2> que atua como alvejante.
é corrosivo e seu ponto de ebulição é muito elevado (2.180 O sesquióxido de boro, B2O3, é usado na fabricação de
DC). Pequenas quantidades de boro cristalino podem ser vidros do tipo borossilicato, resistentes ao calor (por exemplo
obtidas como se segue: Pyrex, que contém 14% de B2O3). O vidro do tipo
D Pela redução de BC13 com H2 (escala de quilogramas). borossilicato possui menor coeficiente de expansão térmica
e pode ser trabalhado mais facilmente que o vidro alcalino
2) Pela pirólise de BI3 (método de Van Arkel).
convencional. H3BO3, B2O3 e borato de cálcio são utilizados
3) Pela decomposição térmica do diborano ou de outros na obtenção de fibras de vidro isentas de sódio, empregadas
hidretos de boro. como isolantes térmicos em casas.
filamento de W ou de Ta ao rubro > + 6HC1
2BC13+3H2
filamento de W ou de Ta ao rubro Obtenção do alumínio
2BI3 •»2B+3I2
método de Van Arkel O alumínio é obtido a partir da bauxita, que pode ser
calor A1O-OH (A12Oj-H2O) ou A1(OH)j (A12O3-3H2O). 108milhões
b2h6 ■*2B + 3H2 de toneladas desse minério foram extraídas em 1992. Os
principais produtores são a Austrália (36%), a Guiné
Aplicações do boro Francesa (17%), Jamaica (10%) e o Brasil (9%).
Uma importante aplicação do boro é na fabricação de A primeira etapa do processo consiste na purificação
barras de controle, de aço-boro ou de carbetos de boro, para do minério. No processo Bayer as impurezas que acom­
reatores nucleares. O boro possui elevada seção transversal panham o minério são removidas (principalmente compostos
de captura de nêutrons. As barras de controle são de ferro e de silício), pois degradariam as propriedades do
introduzidas no reator para absorver parte dos nêutrons e produto. Quando NaOH é adicionado o Al se dissolve, pois
com isso diminuir a velocidade da reação de fissão nuclear. é anfótero, formando aluminato de sódio. O SiO2 também
0 carbeto de boro também é usado como abrasivo. O boro é se dissolve formando silicatos. Todos os rejeitos insolúveis,
usado para fabricar aços resistentes ao impacto, pois aumenta particularmente óxido de ferro, são removidos por filtração.
0 ponto até o qual o aço pode ser temperado. Em seguida, 0 hidróxido de alumínio é precipitado da solução
fortemente alcalina de aluminato. Isso pode ser feito
O bórax (Na2[B4Os(OH)4] - 8H2O), o ácido ortobórico
borbulhando-se CO2 (um óxido ácido que diminui o pH),
(H3BO3), e o sesquióxido de boro (B2O3), encontram diversas
ou então adicionando-se A12O3 à solução. Os silicatos
aplicações. Dentre elas, as mais importantes estão na
produção de fibra de vidro para revestimento e tecidos (50% permanecem em solução. O precipitado de A1(OH)3 é
da produção é usada nos EUA) e de perboratos para calcinado (aquecido fortemente), convertendo-se em A12O3
detergentes (35% na Europa). A produção mundial de bórax purificado.
foi de cerca de 2,2 milhões de toneladas, em 1992 (45% O alumínio é geralmente obtido pelo processo Hall-
Estados Unidos e 42% TUrquia). O bórax é usado como um Héroult. O A12O3 é fundido com criolita, Na3[AlF6], e
retardante de chama para tecidos e madeira. Ele é misturado eletrolisado num tanque de aço revestido de grafite, que
com NaOH e vendido como "Polybor" ou “Timbor", utilizado atua como cátodo. Os ânodos também são de grafite. A célula
no tratamento de madeira e papelão duro contra o ataque opera continuamente, sendo que de tempos em tempos
188 □S ELEMENTOS □□ GRUPO 13

alumínio fundido (ponto de fusão 660 °C) é removido do A1(OH)3 é muito usado como antiácido para o tratamento
fundo da célula e uma nova porção de bauxita é adicionada. de indigestões. A12(SO4)3 é usado no tratamento de água
Parte da criolita consumida é minerada na Groenlândia, mas potável e utensílios de cozinha são fabricados com alumínio.
a quantidade é insuficiente para atender a demanda, de modo Contudo, há indicações de que o alumínio talvez não seja
que a maior parte é produzida sinteticamente. tão inofensivo como se pensava. O alumínio provoca
intoxicações agudas em pessoas com insuficiência renal, que
A1(OH)3 + 3NaOH + 6HF —♦ Na3[AlF6] + 6H2O não conseguem excretar o elemento. Pacientes que sofrem
da doença de Alzheimer (que causa senilidade) possuem
A criolita melhora a condutividade elétrica da célula, depósitos de sais de alumínio no cérebro. Esse elemento,
pois o A12O3 é um mau condutor de eletricidade. Além disso, embora tóxico, é normalmente excretado com facilidade pelo
a criolita é uma impureza que reduz o ponto de fusão da organismo. Qualquer elemento abundante na natureza será
mistura para cerca de 950 °C. Outras impurezas, tais como inevitavelmente absorvido pelas plantas e a seguir pelos
CaF2 e A1F3, também podem ser adicionadas (uma mistura animais. Os organismos vivos ou utilizam os elementos (que
eletrolítica típica é constituída por 85% de Na3[AlF6], 5% nesse caso são classificados como essenciais) ou então os
de CaF2, 5% de A1F3 e 5% de A12O3). Vários produtos, tais rejeita. Raramente os elementos são toxicologicamente
como O2, CO2, F2 e compostos orgânicos fluorados, são inertes.
formados no ânodo. Eles provocam o desgaste do ânodo,
que deve ser substituído periodicamente. As pequenas
quantidades de flúor formadas provocam sérios problemas Gálio, índio e tálio
de corrosão. Atualmente grandes quantidades de Li2CO3 são Pequeníssimas quantidades de gálio são encontradas
utilizados como uma impureza alternativa, pois diminui os na bauxita, sendo a relação do Ga para o Al de cerca de 1/
problemas de corrosão. O consumo de energia é muito 5.000. Durante o processo Bayer de purificação da alumina,
elevado, e o processo só é economicamente viável em regiões a concentração de Ga na solução alcalina gradualmente
com disponibilidade de energia elétrica barata, geralmente aumenta para cerca de 1/250. O Ga é obtido pela eletrólise
produzidas por usinas hidrelétricas. dessa solução. O índio e o tálio ocorrem em quantidades
diminutas nos minérios de ZnS e de PbS. Esses sulfetos são
calcinados ao ar num forno, para convertê-los em ZnO e
Usos do alumínio PbO. O Ga e In são recuperados da poeira de exaustão, sendo
O metal alumínio é relativamente mole e os metais obtidos por eletrólise das soluções aquosas de
mecanicamente pouco resistente quando puro, mas toma- seus sais.
se consideravelmente mais resistente quando forma ligas Os metais desse grupo são moles, de cor prateada e
com outros metais. Sua principal vantagem é sua baixa bastante reativos. Eles se dissolvem em ácidos. Não há muita
densidade (2,73 g cm*3). Algumas ligas são utilizadas para demanda para o Ga, o In e o Tl, mas pequenas quantidades
finalidades específicas: como o duralumínio, que contém de Ga são empregadas para “dopar” cristais para a fabricação
cerca de 4% de Cu, e diversos "bronzes de alumínio” (ligas de transistores. A fabricação de semicondutores requer Ga
de Cu e Al com outros metais, tais como Ni, Sn e Zn). O de altíssima pureza obtido pelo método de refino por zona.
metal produzido em maior quantidade é o ferro/aço (712 O gálio também é usado em outros dispositivos
milhões de toneladas em 1992), sendo o alumínio o segundo semicondutores. O arseneto de gálio, GaAs, é isoeletrônico
mais produzido (a produção total de alumínio foi de 24,4 com o Ge, e é usado em diodos emissores de luz (LEDs = light
milhões de toneladas em 1991: 19,4 milhões de toneladas emitting diodes) e lasers de diodo. Muitas pesquisas estãO'
de produção primária e reciclagem de 5 milhões de sendo realizadas sobre o uso de GaAs na confecção de
toneladas). Os maiores produtores do metal alumínio são os “chips” de memória para computadores, já que eles operam
Estados Unidos (21 %), a ex-União Soviética (17%), o Canadá numa freqüência 5 a 10 vezes maiores que os análogos feitos
(10%) e a Austrália, o Brasil e a China (6% cada um). O de silício. O índio é usado para dopar cristais na fabricação
alumínio e suas ligas têm muitas aplicações: de transistores p-n-p e em termistores (InAs e InSb). O índio
1. Como metais estruturais em aviões, navios, automóveis também é utilizado em soldas de baixo ponto de fusão
e trocadores de calor. (usadas comumente na soldagem de “chips” de
semicondutores) e em outras ligas de baixo ponto de fusão.
2. Na construção civil (portas, janelas, divisórias e “trai-
lers”).
3. Recipientes diversos, tais como embalagens para ESTADOS DE OXIDAÇÃO E TIPOS DE
bebidas, tubos para creme dentais, etc, e papel alumínio. LIGAÇÕES
4. Na fabricação de utensílios de cozinha. O estado de oxidação (+ III)
5. Na fabricação de cabos elétricos (tomando por base o Os elementos desse grupo apresentam três elétrons noi
peso, eles conduzem duas vezes mais que o cobre). nível mais externo. Com exceção do Tl, eles normalmente
6. Na preparação de alumínio finamente dividido, utilizam esses três elétrons para formar três ligações, levando-
denominado “bronze de alumínio”, usado em tintas à os ao estado de oxidação (+ III). As ligações são iônicas ou
base de alumínio. covalentes? Os seguintes fatos sugerem a covalência:
Durante muitos anos supôs-se que o íon Al3+ fosse 1. As regras de Fajans — o tamanho reduzido dos íons e
completamente inofensivo e não tóxico para o homem. sua elevada carga de + 3 favorecem a formação de
ligações covalentes.
PONTOS DE FUSÃO, PQNTDS OE EBULIÇÃO E ESTRUTURAS 183

2. A soma das três primeiras energias de ionização é muito os cloretos é: GaCl3 = 242, InCl3 = 206 e T1C13 = 152 kJ
grande, o que também sugere que as ligações serão mol’1. Assim, no tálio há maior probabilidade dos elétrons s
essencialmente covalentes. permanecerem inertes.
3. Os valores das eletronegatividades são maiores que os O efeito do par inerte não é a explicação das razões que
para os Grupos 1 e 2, de modo que quando reagem levam ao aparecimento de compostos monovalentes dos
com outros elementos as diferenças de elementos do Grupo 13. Ele simplesmente descreve o que
eletronegatividade não deverão ser muito grandes. acontece, ou seja, indica o fato de dois elétrons não
O boro é consideravelmente menor; logo sua energia participarem de ligações. O motivo de não participarem de
de ionização será maior que dos demais elementos do grupo. ligações é de natureza energética. Os íons monovalentes são
A energia de ionização é tão elevada que o B sempre forma muito maiores que os íons trivalentes, tal que os compostos
ligações covalente. no estado de oxidação (+1) são iônicos e, em muitos
aspectos, semelhantes aos compostos dos elementos do
Muitos compostos simples dos demais elementos, tais Grupo 1.
como A1C13 e GaCl3, são covalentes quando anidros. Contudo,
Al, Ga, In e TI formam íons quando em solução. O tipo de O efeito do par inerte não se limita ao Grupo 13, mas
ligação formada depende do que é mais favorável em termos também se manifesta nos elementos mais pesados de outros
de energia. Essa mudança de covalente para iônico ocorre grupos do bloco p. O Sn2+ e o Pb2 + , são os exemplos típicos
do Grupo 14, e no Grupo 15 temos o Sb3 + e o Bi3 +. O estado
porque os íons são hidratados e a quantidade de energia de
de oxidação inferior é mais estabilizado nos elementos mais
hidratação liberada excede a energia de ionização. Considere
pesados do grupo. Assim, o Sn2+ é um agente redutor, mas
o A1C13: 5.137 kJ mol’1 são necessários para converter Al
em Al3 +, mas o AHhidralaçao dos íons Al3 + e Cl" são iguais a
o Pb2+ é estável. Analogamente, o Sb3 + é um agente redutor,
mas o Bi3+ é estável. Quando os elétrons s permanecem
-4.665 kJ mol"1 e -381 kJ mol"1, respectivamente. A energia
emparelhados, o estado de oxidação observado será sempre
de hidratação total será portanto:
duas unidades menor que o estado de oxidação normal para
-4.665 + (3 x -381) = -5.808 kJ mol’1 os elementos do grupo.
Assim, no bloco s, os elementos dos Grupos 1 e 2
Esse valor é superior à energia de ionização e o A1C13 apresentam somente a valência prevista para o grupo. Grupos
se ioniza em solução. do bloco p mostram valências variáveis, diferindo de duas
Os íons metálicos hidratados possuem seis moléculas em duas unidades. Valências variáveis também ocorrem nos
de água ligadas firmemente, segundo uma estrutura elementos do bloco d. Elas se devem ao uso de diferente
octaédrica, [M(H2O)6]3 + . As ligações metal-oxigênio são número de elétrons d para formar ligações, de modo que
muito fortes. Isso enfraquece as ligações O-H e favorece a nesse caso a valência pode variar de uma em uma unidade
dissociação. Os prótons liberados se ligam às moléculas de (por exemplo, Cu+ e Cu2 + , Fe2+ e Fe3 + ).
água na vizinhança, formando íons H3O + (hidrólise).

H20 + [M(H2O)6]3 + [M(H2O)5(OH)]2 + + H3O + O estado de oxidação (+ II)


O gálio é aparentemente divalente em alguns poucos
0 estado de oxidação (+1) — o “efeito do par inerte” compostos, tais como o GaCl2. Contudo, o Ga não é realmente
No bloco s, os elementos do Grupo 1 são monovalentes divalente, pois demonstrou-se que a estrutura do GaCl2 é
e os do Grupo 2 são divalentes. No Grupo 13, seria de se Ga + [GaCl4]“, que contém Ga(I) e Ga(lII).
esperar que os elementos fossem trivalentes. Na maioria de
seus compostos esse é efetivamente o caso, mas alguns dos
elementos também formam compostos com estados de PONTOS DE FUSÃO, PONTOS DE EBULIÇÃO
oxidação inferiores. Descendo pelo grupo, há uma tendência E ESTRUTURAS
crescente de se formarem compostos monovalentes. Os pontos de fusão dos elementos do Grupo 13 não
Conhecem-se compostos com Ga(I), In(l) e T1(I). No caso variam regularmente, como no caso dos metais dos Grupos
do Ga e do In, o estado de oxidação (+1) é menos estável 1 e 2. Os valores para os elementos do Grupo 13 não podem
que o estado de oxidação (+ III). Contudo, a estabilidade do ser comparados entre si com muito rigor, pois o B e o Ga
estado de oxidação mais baixo aumenta de cima para baixo apresentam estruturas cristalinas inusitadas.
dentro de um grupo. Compostos de T!Cl) (compostos talosos)
são mais estáveis que os compostos de Tl(III) (compostos
a) b)
tálicos).
Por quê se formam compostos monovalentes? Os átomos
desse grupo apresentam configuração eletrônica de valência
s2?1. A monovalência pode ser explicada se os elétrons s
permanecerem emparelhados, não participando das ligações.
É o chamado “efeito do par inerte". Se a energia necessária
para desemparelhá-los for maior que a energia liberada
quando formarem ligações, então os elétrons s permanecerão
emparelhados. A energia das ligações MX3 diminui de cima
para baixo dentro do grupo. A energia de ligação média para Figura 12.1 — a) B,, icosaedro. b) Estrutura do boro a-romboédrico
184 □S ELEMENTOS □□ BRUPO 13

Tabela 123 — Pontos de fusão e pontos de ebulição fusão. O ponto de fusão extremamente baixo decorre de sua
estrutura cristalina incomum, mas ela é destruída quando
Ponto de fusão Ponto de ebulição se forma o líquido.
CC) CC)
TAMANHO DOS ÁTOMOS E ÍONS
B 2.180 3.650
Al 660 2.467 Os raios metálicos dos átomos não aumentam
Ga 30 2.403 regularmente, de cima para baixo dentro do grupo (Tab.
In 157 2.080 12.4). Contudo, os valores não são comparáveis, pois o boro
TI 303 1.457 não é um metal e o raio medido é simplesmente a metade
da menor distância de aproximação. No caso do Ga, o valor
tabelado também é igual à metade da menor distância de
O boro apresenta uma estrutura cristalina fora do aproximação, mas sua estrutura cristalina é pouco comum.
comum, que leva a um ponto de fusão muito elevado. Os demais elementos apresentam estruturas metálicas de
Existem pelo menos quatro diferentes formas alotrópicas. O empacotamento denso.
boro possui um número insuficiente de elétrons para Os raios iônicos dos íons M3 + aumentam de cima para
preencher o nível de valência, mesmo após a formação das baixo dentro do grupo, embora não da maneira regular
ligações. A variedade e a complexidade das formas observada nos Grupos 1 e 2. Há duas razões para tanto:
alotrópicas ilustra as várias maneiras pelas quais a natureza 1. Não há evidências para a existência de B3* em
tenta solucionar esse problema. Em outros elementos esse condições normais, e o valor apresentado é uma
problema é solucionado pela formação de ligações metálicas, estimativa.
mas no caso do boro isso é impossível, por causa do seu 2. As estruturas eletrônicas dos elementos são diferentes.
pequeno tamanho e de sua elevada energia de ionização. Ga, In e Tl aparecem imediatamente após uma série de
Todas as quatro formas alotrópicas contêm unidades dez elementos de transição. Eles possuem, portanto,
icosaédricas, nas quais os átomos de boro ocupam todos os 10 elétrons d, que são menos eficientes na blindagem
12 vértices (lembre-se que um icosaedro é um poliedro regu­ da carga nuclear que os elétrons s e p (a capacidade de
lar com 12 vértices e 20 faces). Nessas unidades, 12 átomos blindagem segue a ordem s>p>d>f). A blindagem
de boro se arranjam de modo regular e cada átomo do B ineficiente da carga nuclear leva a elétrons externos
está ligado a cinco vizinhos equivalentes (a uma distância mais firmemente ligados ao núcleo. Portanto, átomos
de 1,77 A). As diferenças entre as formas alotrópicas com um subnível interno d10 são menores e possuem
decorrem da maneira pela qual os icosaedros estão ligados uma energia de ionização maior que o esperado. Essa
entre si. A forma mais simples é o boro romboédrico. Nesse contração de tamanho é denominado contração do
caso, metade dos átomos de um icosaedro se liga a um átomo bloco-d. De uma maneira análoga, o Tl aparece
em outro icosaedro, situados a uma distância de 1,71 A. A imediatamente após uma série de 14 elementos do bloco
outra metade dos átomos se liga aos átomos em dois outros f. O tamanho e a energia de ionização do Tl são afetados
icosaedros (a uma distância de 2,03 Â). Não se trata aqui ainda mais pela presença dos 14 elétrons f, que blindam
nem de uma estrutura regular, nem de uma estrutura ainda menos eficientemente a carga nuclear. A contração
metálica. Somente 37% do espaço está ocupado por átomos, de tamanho provocada por esses elementos do bloco f
bem menos que os 74% num arranjo de empacotamento é denominada contração lantanídica.
denso. Isso mostra que os icosaedros preenchem o espaço
de modo ineficiente. As outras formas alotrópicas apresentam A grande diferença de tamanho entre B e Al provoca
estruturas ainda mais complicadas. muitas diferenças nas suas propriedades. Por exemplo, o B
é um não-metal, tem ponto de fusão extremamente elevado,
Os elementos Al, In e TI apresentam estruturas metálicas sempre forma ligações covalentes e seu óxido é ácido. Em
de empacotamento compacto. O gálio tem uma estrutura contraste, o Al é um metal, tem ponto de fusão muito mais
pouco comum. Cada átomo possui um vizinho próximo, a baixo e seu óxido é anfótero (pode-se fazer generalizações
uma distância de 2,43 A, e seis vizinhos mais distantes, a desse tipo, mas não é recomendável se fazer argumentações
distâncias entre 2,70 e 2,79 A. Essa notável estrutura se
assemelha mais à estrutura das moléculas diatômicas
Tabela 124 — Rais iônicos e covalentes, e valores de
discretas que dos metais. Isso explica o ponto de fusão
eletronegatividade
incrivelmente baixo do gálio, de 30 °C. Além disso, o Ga
líquido se expande quando forma o sólido, isto é, o sólido é Raio do Raio iônico Eletronega­
menos denso que o líquido. Essa propriedade somente é metal M3+ M+ tividade de
observada no Ga, Ge e Bi. (Â) (A) (Â) Pauling
Embora os pontos de fusão decresçam do Al para o In,
conforme esperado quando se desce por um grupo, ele B (0,885) (0,27) 2,0
aumenta novamente no Tl. O ponto de ebulição do B é Al 1,43 0,535 1,5
extraordinariamente elevado, mas os valores para o Ga, In e Ga (1,225) 0,620 1,20 1,6
In 1,67 0,800 1,40 1,7
Tl diminuem de cima para baixo no grupo, como esperado.
TI 1,70 0,885 1,50 1,8
Note que o ponto de ebulição do Ga é coerente com o dos
demais elementos do grupo, em contraste com seu ponto de Para os valores entre parênteses, veja o texto.
ENERSIA DE IONIZAÇÃO 185

Tabela 12.5 — Potenciais padrão de redução (volt) Tabela 12.7 — Energias de ionização
Energias de inonização (kJ moE1)
Estados de oxidação
1? 2f 3? total
Solução ácida Solução básica
+HI +11 +1 0 +in +11 +1 0 B 801 2.427 3.659 6.887
Al 577 1.816 2.744 5.137
-1,66 -2,31 Ga 579 1.979 2.962 5.520
Al3* Al A1(OH)3 Al In 558 1.820 2.704 5.082
Tl 589 1.971 2.877 5.437
-0,44 -0,79 -1,22
Ga3*--------- Ga*------- Ga H2GaO3 Ga para o In; e o potencial se torna positivo para o Tl. Como
AG = -nFE°, conclui-se que AG, a energia livre de formação
-0,56 do metal, por exemplo, Al3* + 3e —» Al, é positiva. Assim,
essa reação dificilmente ocorrerá (a reação inversa, Al —>
-0,44 -0,18 -1,0 Al3* + 3e ocorre espontaneamente). O potencial padrão se
In3* ------ In*------- In In(OH)3 In
torna menos negativo descendo-se pelo grupo, ou seja, a
reação M3* —> M se torna cada vez mais fácil. Assim, um
-0,34
elemento no estado de oxidação (+ III) se torna cada vez
+2,06 -0,34 -0,05 menos estável em solução ao se descer pelo grupo.
Tl3* --------Tl* Tl T1(OH)3--------- Tl(OH) Analogamente, os valores de E° para o par M* |M indicam
que a estabilidade do estado ( + 1) aumenta, no mesmo
+1,26 sentido. O Tl(+1) é mais estável que o Tl( + III).
Deve-se lembrar nesse tipo de argumentação que E° e
AG se referem à reação com o H2:
quantitativas dizendo, por exemplo, que o Al3+ tem o dobro
do tamanho doB3*, ou que os raios metálicos diferem por 2A13* + 3H2 2AI + 6H*
um fator de 1,6, já que o íon B3+ não existe e o B não é um
metal). ENERGIA DE IONIZAÇÃO
As energias de ionização aumentam da forma esperada
CARÁTER ELETROPOSITIVO (primeira energia de ionização < segunda energia de
ionização < terceira energia de ionização). A soma das três
A natureza eletropositiva ou metálica desses elementos
cresce do B para o Al, e a seguir decresce do Al para o Tl. primeiras energias de ionização, para cada um desses
Isso pode ser inferido pelos potenciais padrão de eletrodo elementos, é muito elevada. Por exemplo, o boro não
da reação: apresenta nenhuma tendência de formar íons, sempre
formando ligações covalentes. Os demais elementos
M3* + 3e M normalmente formam ligações covalentes, exceto em
O aumento de caráter metálico do B para o Al solução.
corresponde à tendência normal observada quando se desce Os valores das energias de ionização não decrescem
por um grupo, e está associado ao aumento de tamanho. regularmente dentro do Grupo. O decréscimo do B para o Al
Contudo, Ga, In e Tl não seguem a tendência esperada. Os corresponde ao comportamento esperado descendo-se pelo
referidos elementos têm menor tendência de perder elétrons grupo, associado ao aumento de tamanho. A blindagem
(sendo assim menos eletropositivos), por causa da blindagem ineficiente oferecida pelos elétrons d e a conseqüente
ineficiente proporcionada pelos elétrons d, como descrito contração d, influenciam os valores para os demais
anteriormente. elementos do Grupo.
Os potenciais padrão de eletrodo, E°, para o par redox
M3 + |M se tornam menos negativos do Al para o Ga e deste

Tabela 12.6 — Potenciais padrão de eletrodo, E °

M3*IM M*IM
(volt) (volt)

B (-0,87»)
Al -1,66 +0,55
Ga -0,56 -0,79
In -0,34 -0,18*
Tl +1,26 -0,34
• Para H3BO3 + 3H* + 3e' B + 3H2O f Valor em solução ácida. Figura 12.2 — Estrutura de nitreto de boro
186 □5 ELEMENTOS □□ 5RUPO 13

Tabela 12.8 — Algumas reações do boro amorfo Reações com ácidos e álcalis
O alumínio se dissolve em ácidos minerais diluídos
Reação Comentários liberando hidrogênio.

4B+3O2—» 2B2O3 A altas temperaturas 2A1 + 6HC1 2A13+ + 6C|- + 3H2


2B+3S—»B2S3 A 1.200’C
2B+N2—>2BN A temperaturas muito elevadas Contudo, o HNOj concentrado torna o metal “passivo",
2B+3F2—»2BF3 A altas temperaturas pois produz uma camada protetora de óxido sobre a
2B+3C12—» 2BC13 superfície do metal, por ser um agente oxidante. O alumínio
2B+3Br2—> 2BBr3 também se dissolve numa solução aquosa de NaOH (ele é,
2B+3I2—>2BI3 portanto, anfótero), formando hidrogênio e o aluminato (a
2B+6NaOH—» 2Na3BO3+3H2 Quando fundido com álcali natureza dos aluminatos será discutida mais adiante).
2B+2NH3—» 2BN+3H2 A temperaturas muito elevadas
B+M —» M,By Muitos metais formam boretos 2A1 + 2NaOH + 4H2O -» 2NaAl(OH)„ ou 2NaA102 ■ 2H2O + 3H2
aluminato de sódio
(não os do Grupo 1), freqüente­
mente não-estequimétricos Reações com oxigênio
O alumínio queima prontamente ao ar ou em atmosfera
de oxigênio, liberando uma grande quantidade de calor
REAÇÕES DO BORO (é uma reação fortemente exotérmica). Essa reação é conhe­
O boro cristalino puro é muito pouco reativo. Contudo, cida como reação thermite (aluminotermia).
ele é atacado por agentes oxidantes fortes a temperaturas
elevadas, como por uma mistura de H2SO4 e HNO3 concen­ 4A1(S) + 3O2(g) -> 2A12O3(5) + energia AH° = -3340 kl
trados, a quente, ou por peróxido de sódio. Já o boro amorfo A reação thermite libera tanta energia que ela pode ser
finamente dividido (que contém de 2 a 5% de impurezas) é perigosa. O alumínio se torna incandescente, emitindo luz
mais reativo. Ele queima ao ar ou numa atmosfera de branca, e freqüentemente provoca incêndios. Exatamente
oxigênio, formando o óxido. Também queima em atmosfera por esse motivo, misturas de Al e de um óxido tais como
de nitrogênio, se for aquecido à incandescência (até Fe2O3 ou SiO2 (que atuam como fontes de oxigênio) foram
temperaturas em que ocorre a emissão de luz branca), usadas para a fabricação de bombas incendiárias, durante a
formando o nitreto, BN. Trata-se de um sólido branco de 2? Guerra Mundial. Navios de guerra podem ser construídos
baixo coeficiente de atrito, com uma estrutura lamelar com alumínio, para diminuir seu peso. Se um navio íor
semelhante ao do grafite. Boro também queima na presença atingido por um míssil, pode ter início uma reação thermite-.
de halogênios, formando os trihaletos. Reage diretamente Incêndios desse tipo foram responsáveis por muitas baixas
com muitos elementos formando os boretos, que são duros
e refratários. Reduz lentamente HNO3 e H2SO4 concentrados;
e libera H2 quando reage com NaOH fundido. Tabela 12.9 — Algumas reações dos outros elementos do
Grupo 111
REAÇÕES DOS DEMAIS ELEMENTOS Reação Observações
Reações com a água e o ar
4M+3O2 2M2O3 Todos reagem a temperaturas
Os metais Al, Ga, In e TI apresentam coloração branca- elevadas
prateada. Do ponto de vista termodinâmico, o Al deveria Com Al é fortemente exotérmica
reagir com a água e com o ar, mas na realidade ele é estável Ga só é oxidado na superfície
em ambos os casos. Isso se deve à formação de uma finíssima TI também forma T12O
película de óxido na superfície, que protege o metal de um 2A1+N2 2A1N Só Al reage a altas temperaturas
posterior ataque. Essa película tem uma espessura de apenas
10“4 a 10"6 mm. Por exemplo, removendo-se a camada 2M+3F2—»2MF3 Todos os metais formam triha­
protetora de óxido que recobre o alumínio por amalgamação 2M+3C12 —> 2MC13 letos de F, Cl e Br (formação
2M+3Br2 -> 2MBr3 de TI+)
com mercúrio, o metal rapidamente reage com água,
2M+3I2—>2MI3 Em Al, Ga e In só há formação
formando A12O3 e liberando hidrogênio. T1I+I2-^TF[I3]- de triiodeto de tálio (I)
Artigos de alumínio são freqüentemente “anodizados",
2M+6HC1 —» 2MC13+3H2 Todos reagem com ácidos mi­
para dar um acabamento decorativo. Isso é feito nerais diluídos, Al toma-se
eletrolisando-se H2SO4 diluído, usando a peça de alumínio passivo com HNO3, particu­
como ânodo. Produz-se assim uma camada muito mais larmente quando concentrado
espessa do óxido sobre a superfície (10“2 mm). Essa camada
Al+NaOH+H2O NaA102+H2 Somente Al e Ga
pode absorver pigmentos, colorindo o alumínio.
Na3AlO3+H2
Alumínio queima em nitrogênio a altas temperaturas,
M+3NH3 M(NH2)3+3/2H2 Todos os metais formam
formando A1N. Os demais elementos nâo reagem com o
amidetos
nitrogênio.
ALEUMAS PRDPRIEOAOE5 □□ TÁLIO [I) 187

durante o conflito das Malvinas. A grande afinidade do das quantidades relativas de óxidos. Uma composição típica
alumínio pelo oxigênio é aproveitada na obtenção de outros de um cimento Portland é a seguinte: CaO 70%, SiO2 20%,
metais, a partir de seus óxidos. A12O3 5 %, Fe2O3 3 %, CaSO4 ■ 2H2O 2 %. A produção mundial
total de cimento foi de 1.396 milhões de toneladas em 1993,
8A1 + 3Mn3O4 -> 4A12O3 + 9Mn 70 % dos quais de cimento Portland.
2A1 + Cr2O3 —> A12O3 + 2Cr
Cimentos com elevado teor de alumina são obtidos
fundindo-se calcário e bauxita com pequenas quantidades
Reações com halogênios e sulfatos de SiO2 e TiO2, a 1.400-1.500 °C, numa fornalha aberta ou
O alumínio reage facilmente com os halogênios, mesmo num forno giratório. O cimento com elevado teor de alu­
a frio, formando os tri-haletos. mina é mais caro que o cimento Portland, mas apresenta
uma grande vantagem sobre este — o processo de cura é
O sulfato de alumínio é empregado em grandes mais rápida, adquirindo elevada resistência em apenas um
quantidades (3,7 milhões de toneladas em 1991). É obtido dia. É empregado na confecção de vigas de pontes e edifícios.
tratando-se bauxita com H2SO4 e usado como agente de Cimento de elevado teor de alumina apresenta boa resistência
floculaçâo e de precipitação no tratamento de água potável
à água do mar e a ácidos minerais diluídos. Resiste a
e de água de esgoto. Também é usado na indústria de papel, temperaturas de até 1.500 °C e pode ser empregado com
e na indústria têxtil como mordente para tingimento. tijolos refratários em fornalhas. Uma análise típica de um
cimento de elevado teor de alumina é: CaO 40%, A12O3 40%,
Alúmens SiO2 10%, Fe2O3 10%. Tem havido muitas notícias referentes
Os íons de alumínio podem cristalizar a partir de às falhas estruturais em vigas feitas com esse cimento. Os
soluções aquosas, formando sais duplos. Estes são acidentes se devem a deterioração provocada pela exposição
designados alúmens de alumínio e têm a fórmula geral, prolongada à umidade e ao calor, ou devido ao uso excessivo
[M'(H2O)6] [A1(H2O)6] (SO4)2. M1 é um cátion monovalente, de água na mistura de cimento e areia. Isso resulta numa
como Na + , K+ ou NH4 . Os cristais têm geralmente a forma cura muito rápida do cimento, não dando tempo suficiente
de grandes octaedros, e são extremamente puros. A pureza para que ocorra uma cristalização adequada.
é particularmente importante em algumas de suas aplicações.
0 alúmen de potássio, [K(H2O)6][A1(H2O)6](SO4)2 é usado Reações do Ga, do In e do TI
como mordente para tingimento. Nessa aplicação, o Al3+ é O gálio e o índio são estáveis ao ar e não são atacados
precipitado como A1(OH)3 sobre o tecido, para auxiliar a pela água, a não ser na presença de oxigênio livre. O tálio é
adesão do corante ao mesmo, na forma de complexos de um pouco mais reativo, sendo oxidado superficialmente pelo
alumínio. É essencial a ausência de íons Fe3 + , para se obter ar. Os três metais se dissolvem em ácidos diluídos, liberando
as cores “verdadeiras" dos corantes. Os sais duplos se hidrogênio. O gálio é anfótero como o alumínio, e se dis­
dissociam em solução, gerando seus íons constituintes. Os solve em solução aquosa de NaOH, liberando H2 e formando
cristais são constituídos por [M(H2O)6] +, [A1(H2O)6]3 + e dois gaiatos. Os óxidos e hidróxidos de Al e Ga também são
íons SO4. Os íons possuem as cargas e os tamanhos anfóteros. Já os óxidos e hidróxidos de In e TI são tipicamente
adequados para se cristalizarem juntos. Além do Al3 +, alguns básicos.
outros íons M3+ podem formar alúmens de fórmula
[M1(H2O)6][MII1(H2O)s](SO4)2. Os íons trivalentes mais Os três metais reagem com os halogênios, mediante
comuns são o Fe3+ e o Cr3 + , mas esse tipo de composto aquecimento brando.
também pode ser formado pelo Ti3 +, V3 +, Mn3 +, Co3 +, In3 +,
Rh3 + , Ir3+e Ga3 + .
ALGUMAS PROPRIEDADES DO TÁLIO (I)
Cimento Os compostos de tálio (I) ou talosos são bem conhecidos.
Compostos de alumínio, principalmente o aluminato Geralmente são incolores e todos são extremamente tóxicos.
de tricálcio, Ca3Al2O6, são muito importantes como A ingestão de pequeníssimas quantidades de tálio (I) tornam
constituintes do cimento Portland e cimentos de elevado os cabelos mais escuros, mas doses maiores podem provocar
teor de alumina. A fórmula do aluminato de tricálcio é escrita a perda dos cabelo e a morte. Eles são tóxicos, porque
mais adequadamente como Ca9[Al6OI8], porque contém suprimem a atividade enzimática no organismo.
anéis de 12 membros de Si-O-Si, obtidos pela união de seis
tetraedros de A1O4. O cimento Portland é obtido aquecendo- Em solução aquosa, os íons T1(I) são muito mais estáveis
se a mistura correta de calcário (CaCO3) com areia (SiO2) e que os íons Tl(IIl). O raio iônico do Tl+ (1,50 A) se situa
aluminossilicatos (argila), a uma temperatura de 1.450-1.600 entre odoK* (1,38 Â) e do Rb+ (1,52 A). Por causa disso o
°C, num forno giratório. Quando misturado com areia e água, Tl+ se assemelha aos íons do Grupo 1 em diversos aspectos.
o cimento se solidifica formando o concreto, um sólido duro T1OH e T12O são ambos solúveis em água e fortemente
esbranquiçado e insolúvel, semelhante às pedras de Port­ básicos. Eles absorvem CO2 do ar, formando T12CO3. A
land (calcário extraído em Portland Bill, Dorset/Inglaterra). solubilidade da maioria de seus sais é ligeiramente inferior
Adiciona-se ao cimento de 2 % a 5 % de gesso, CaSO4 • 2H2O, a dos sais de potássio. O Tl" pode substituir oKT em diversas
para diminuir a velocidade de cura do concreto, pois a enzimas, podendo ser usado como um traçador biológico
solidificação mais lenta aumenta a resistência do material. no organismo. Há também algumas diferenças nas suas
A composição dos cimentos geralmente é dada em função propriedades. T1OH é amarelo e quando aquecido a 100 °C
188 □5 ELEMENTOS □□ BRUPO 13

se transforma em T12O, que é preto. O número de 3B(OH)3 — H3O+ + [B3O3(OH)4]- + H2O pK=6,84
coordenação do Tl+ geralmente é igual a 6 ou 8, comparado [3H3BO3]
com 6 para os íons do Grupo 1. O T1F é solúvel em água,
mas os demais haletos são quase insolúveis. Há também HO
algumas semelhanças com o Ag*: por exemplo o T1C1 é \
sensível à luz. Ele escurece quando exposto à luz, como B----- O OH
acontece com o AgCl. Todavia, o T1C1 não é solúvel em / \ /
NH4OH como o AgCl. O B
\ / \
B—O OH
COMPOSTOS DE BORO E OXIGÊNIO /
HO
Sesquióxidos de boro e os boratos
Estes são os compostos mais importantes de boro.
“Sesqui" significa um e meio, de modo que o óxido deve ter
Propriedades ácidas do H3BO3 ou B(OH)3
a fórmula MObS ou M2O3. Todos os elementos desse grupo
formam sesquióxidos quando aquecidos em atmosfera de Como o B(OH)3 só reage parcialmente com água para
oxigênio. O B2O3 é convenientemente obtido pela formar H3O+ e [B(OH)4]“, ele se comporta como um ácido
desidratação do ácido bórico: fraco. Assim, H3BO3 ou B(OH)3 não pode ser titulado
aquecimento
satisfatoriamente com NaOH, pois não se obtém um ponto
H3BO3 100'C
> rubro
HBO2 ----- ao B2O3 de equivalência muito nítido. Entretanto, se certos compostos
ácido ácido sesquióxido orgânicos poliidroxilados como glicerol, manitol ou açúcares
ortobórico metabórico de boro
forem adicionados à mistura a ser titulada, o B(OH)3 se com­
B2O3 é um típico óxido não-metálico, tendo propriedades portará como um ácido monobásico forte. Nessas condições
ácidas. É o anidrido do ácido ortobórico e reage com óxidos ele pode ser titulado com NaOH e o ponto final da reação
básicos (metálicos), formando sais denominados boratos ou pode ser determinado utilizando-se fenolftaleína como
metaboratos. No teste da pérola de bórax aquece-se o B2O3 indicador (este indicador muda de cor em pH de 8,3-10).
ou bórax, Na2[B4O5(OH)4] -8H2O, na chama de um bico de
Bunsen, juntamente com os óxidos metálicos, num aro B(OH)3 + NaOH Na[B(OH)4]
existente na extremidade de um fio de platina. A mistura NaBO2 + 2H2O
metaborato de sódio
funde formando uma pérola de metaborato, de aspecto vítreo.
As pérolas de metaborato contendo diversos metais de Para que se observe um aumento da acidez, é necessário
transição apresentam cores características. Assim, esta reação que o composto adicionado seja um cts-diol (ou seja possui
se constitui num método de identificação dos mesmos. Esse grupos OH em átomos de carbono adjacentes, na
teste simples forneceu a primeira prova de que a vitamina conformação cis). Os cís-dióis formam complexos muito
B12 continha cobalto. estáveis com o [B(OH)4]‘ formado na reação direta acima,
removendo-o da solução. A reação é reversível. Assim, a
CoO + B2O3 -> Co(BO2)2 efetiva remoção de um dos produtos da reação desloca
metaborato de cobalto (cor azul) completamente o equilíbrio para a direita, de modo que todo
Contudo, é possível forçar o B2O3 a comportar-se como reagente é transformado em produto. Por isso, o B(OH)3 se
um óxido básico, reagindo-o com compostos fortemente comporta como um ácido forte na presença de cis-dióis.
ácidos. Assim, na reação com P2O5 ou As2O5, formam-se
respectivamente fosfato de boro e arsenato de boro. I ■ I
—C—HO HO OH —C—O) OH
b203 P2O5 2BPO4 \ ✓ -2H;0
\ /
B B +
O ácido ortobórico, H3BO3, é solúvel em água e se
comporta como um ácido monobásico fraco. Ele não doa
—C—HO HO OH -Ç-0') OH
I
prótons para o solvente como a maioria dos ácidos, mas
I I I
aceita íons OH". Portanto é um ácido de Lewis, sendo HO—C —C—O (O—c—
representado mais corretamente como B(OH)3.
I X '
B(OH)3 + 2H2O H3O+ + [B(OH)4]' pK = 9,25
[H3BO3] OH—C
-2H;O
I A
—c—o <o-ç-
: i
HO OH ' I I
OH
I
B y
/ \ / \ Estruturas dos boratos
HO OH HO OH
trigonal plana íon metaborato tetraédrico Nos boratos simples cada átomo de B está ligado a três
Em concentrações mais elevadas, formam-se átomos de oxigênio, dispostos nos vértices de um triângulo
metaboratos poliméricos, como a espécie do exemplo a equilátero. Essa estrutura pode ser prevista a partir dos
seguir: orbitais utilizados nas ligações.
CDMPOSTD5 DE BORD E OXISÉNIO 189

2p
Estrutura eletrônica do átomo
de boro — estado fundamental È 0
1s 2s _____ 2p
,
Estrutura eletrônica do átomo
de boro — estado excitado 0 0 I* 0| II_______ r— ’
intendo
Três orbitais contar.;
um elétron forman
"nam
ligações com três átor jmos
de
dê oxigênio — form
forma
trigonal plana (hibridização sp2)

Portanto, o ácido ortobórico contém unidades BO3‘ tri­


angulares. No sólido as unidades B(OH)3 formam ligações
de hidrogênio entre si, gerando estruturas lamelares
bidimensionais com simetria quase hexagonal (Fig. 12.3).
As camadas estão bastante afastadas umas das outras (3,18
A) e o cristal se quebra facilmente, formando partículas muito
pequenas. O ácido ortobórico já foi utilizado como um pó
antisséptico (talco) suave para crianças, pois ele forma um
pó muito fino. Não é mais usado, pois às vezes provoca o
surgimento de erupções na pele.
Os ortoboratos são constituídos por íons BO|“ discretos.
Dentre os exemplos podem ser citados o Mg3(BO3)2 e os
ortoboratos de lantamdeos, Ln,HBO3. Nos metaboratos, as
unidades simples (unidades triangulares planas, BO3, ou
tetraédricas, BO4) se unem para formar uma variedade de
estruturas poliméricas em cadeia ou cíclicas (vide Fig. 12.4).
Assim, duas unidades triangulares se juntam
compartilhando um vértice, no Mg2[B2O5] ,e no CoH[B2O5]. Figura 12.4 — Estruturas de alguns boratos. a) Cadeia de metaborato,
Estes são denominados piroboratos, em analogia com os ÍCafBOJzJm constituída por unidades triangulares Bo3. b) Anel de meta­
pirofosfatos. Três unidades triangulares podem compartilhar borato K3(B3O6) constituído por unidades triangulares BO}. c) Metaborato
os vértices e formar um anel, como nos metaboratos de sódio complexo K[B5O60OH)4j, chamado de espiro-ãnion, constituído por quatro
e de potássio, NaBO2 e KBO2 (Fig. 12.4b). Estes são mais unidades triangulares BOS e uma unidade tetraédrica BO4. d) Bórax
(Na2[B-Os(OH)d-8H3O) constituído por duas unidades triangulares e
corretamente representados pelas fórmulas Na3[B3O6] e duas unidades tetraédricas. Esse íon é (B4O.(OH)4]~'; as outras moléculas
K3[B3O6], Várias unidades triangulares podem se polimerizar de água estão associadas aos íon metálicos
formando uma cadeia infinita, como por exemplo no
metaborato de cálcio, [Ca(BO2)2]n (Fig.12.4a). unidades tetraédricas podem se unir compartilhando um dos
Analogamente, Na2[B(OH)4]Cl e TavBO4 são vértices, como no Mg[(HO)3B • O • B(OH)3]. Outros derivados
constituídas por unidades tetraédricas discretas. Mas, duas podem ser constituídos por estruturas cíclicas, em cadeia,
lamelares e poliméricas tridimensionais.
Quando ocorre polimerização, podem se formar
algumas estruturas interessantes, contendo tanto unidades
triangulares como tetraédricas. O espiro-composto,
K[B5O6(OH)4] (Fig.12.4c), contém uma unidade tetraédrica
e quatro unidades triangulares. O bórax geralmente é
representado como Na2B4O7-10H2O, mas é na realidade
constituído pela união de duas unidades tetraédricas e duas
triangulares, como mostrado na figura 12.4d, de modo que
deveria ser representado pela fórmula Na2[B4Os(OH)4] ■ 8H2O.

Bórax
O metaborato mais comum é o bórax,
Na2[B4O5(OH)4]-8H2O. Trata-se de um padrão primário
muito útil para a titulação de ácidos.
(Na2[B4O5(OH)4] • 8H2O) + 2HCl-+2NaCl + 4H3BO3 + 5H2O

O H3BO3, é um ácido fraco. Assim, o indicador usado


para se determinar o ponto final da reação não deve ser
figura 12.3 — Estrutura do ácido ortobórico, com as ligações por afetado pelo H3BO3. Utiliza-se normalmente o alaranjado de
pontes de hidrogênio metila, que muda de cor na faixa de pH entre 3,1-4,4.
190 05 ELEMENTOS DO GRUPO 13

Um mol de bórax reage com dois mols de ácido. Isso triangulares BO3 como unidades tetraédricas B04,
ocorre porque, ao se dissolver em água, o bórax forma tanto ligadas entre si pelo compartilhamento dos vértices.
B(OH)3 como [B(OH)4]", mas somente o [B(OH)4]" reage Essas estruturas não são planares.
com HC1. 3. Os boratos hidratados podem receber prótons. Estes
[B4O5(OH)4]2" + 5H2O — 2B(OH)3 + 2[B(OH)4]- são adicionados na seguinte seqüência: (i) íons O2' são
2(B(OH)4]" +2H3O+ —» 2B(OH)3 + 4H2O convertidos em OH"; (ii) os oxigênios tetraédricos são
protonados; (iii) são protonados os oxigênios das
No ponto de equivalência, o pH da solução dessa última estruturas triangulares; e finalmente (iv) qualquer grupo
reação será igual a 9,2, de modo que o indicador utilizado OH" livre é convertido em H2O.
deve ter um pKa ~ 8. O bórax também é usado na preparação 4. Os boratos hidratados podem polimerizar-se por meio
de soluções tampão, já que contém quantidades iguais de da eliminação de H2O. Isso pode ser acompanhado do
um ácido fraco e de seu sal.
rompimento ou rearranjo das ligações B-O.
5. O H3BO3 freqüentemente está em equilíbrio com
Peroxoborato de sódio poliânions mais complexos. As estruturas poliméricas
Cerca de 550.000 toneladas de peroxoborato de sódio dos boratos tendem a se romper, quando tais compostos
são produzidos anualmente no mundo. Os dois principais são dissolvidos em água.
métodos de preparação são: Por outro lado, as estruturas dos fosfatos e dos silicatos
1) Eletrólise de uma solução de borato de sódio (contendo sempre se baseiam nas unidades tetraédricas P04 e SiO4,
um pouco de Na2CO3). respectivamente. Os tetraedros podem polimerizar-se
2) Oxidação do ácido bórico ou do metaborato de sódio gerando cadeias, ciclos e estruturas tridimensionais. Essas
com peróxido de hidrogênio. estruturas são mais estáveis e permanecem inalteradas
mesmo em solução.
2NaBO2 + 2H2O2 + 6H2O-^Na2[(OH)2B(O-O)2B(OH)2) • 6H2O
metaborato de sódio peroxoborato de sódio
Análise qualitativa de compostos de boro
HO < —0
0 OH 2" Quando os boratos são tratados com HF (ou com H2SO4
\ / \ /
B B e CaF2), forma-se o composto volátil BF3. Se o gás BF3 assim
/ \ / \ produzido for conduzido para uma chama (por exemplo, a
HO 1 —0
0 OH chama de um bico de Bunsen), a chama adquire uma
íon peroxoborato
coloração verde característica.
0 peroxoborato de sódio é usado como avivador em
sabões em pó. Ele é compatível com as enzimas adicionadas H2SO4 conc. + CaF2 —> 2HF + CaSO4
a alguns sabões "biológicos”. Em água muito quente (acima H3BO3 + 3HF -> BF3 + 3H2O
de 80 °C), as ligações com o grupo 0-0 são rompidas,
levando a formação de H2O2. Um teste alternativo consiste na obtenção do éster
borato de metila, B(OCH3)3. À amostra em análise é
adicionado H2SO4 concentrado para formar H3BO3 e, a seguir,
Isopoliácidos de B, Si e P aquecido com metanol num cadinho.
Outros elementos formam compostos poliméricos
semelhantes aos boratos; principalmente o silício, que forma B(OH)3 + 3CHjOH -> B(OCH3)3 + 3H2O
os silicatos, e o fósforo, que forma os fosfatos. Esses O H2SO4 concentrado remove a água formada. A mistura
compostos poliméricos são chamados de isopoliácidos (o é a seguir inflamada. O borato de metila é volátil e confere a
nome isopoliácido significa que íons ácidos estão chama uma cor verde.
polimerizados. Iso significa “o mesmo”, indicando que há
envolvimento de apenas um tipo de íon. Se dois tipos
diferentes de íons se polimerizarem, por exemplo os íons Ácido fluorobórico
fosfato e molibdato formando um fosfomolibdato, este é O H3BO3 se dissolve em HF aquoso formando o ácido
denominado um heteropoliácido). fluorobórico, HBF4.
Os princípios que fundamentam a estrutura dos boratos
foram desenvolvidos por Christ e Clark (vide Leituras H3BO3 + 4HF—>H + + [BF4]' 3H2O
Complementares) e podem ser sumarizados como se segue: O ácido fluorobórico é um ácido forte: soluções
1. Freqüentemente B forma unidades triangulares BO3. Às comerciais contêm cerca de 40% de ácido. O íon [BF4]~ é
vezes elas permanecem como monômeros, mas podem tetraédrico de modo que os fluoroboratos se assemelham
formar íons polinucleares compartilhando os átomos aos percloratos, C1O4, e aos sulfatos, no que se refere a sua
de O dos vértices. Assim, as unidades triangulares se estrutura cristalina e solubilidade (KC1O4 e KBF4 não são
ligam formando cadeias, ciclos e estruturas lamelares muito solúveis em água). Os íons [BF4]" e [C1O4]' possuem
bidimensionais. uma pequeníssima tendência de formar complexos em
2. Às vezes o B forma unidades BO4. Os boratos solução aquosa, embora formem alguns poucos complexos
polinucleares mais complexos contêm tanto unidades em solventes não-aquosos.
OS DEMAIS ÚXIDOS DO GRUPO 13 191

Boretos sendo usado no polimento de vidros (vide Apêndice N).


Existem mais de 200 compostos binários de B com Uma forma impura de corindo, contaminada com óxido de
metais. Existem várias estequiometrias diferentes. As mais ferro e sílica, é conhecida como esmeril. Este é usado para
comuns são M2B, MB, MB2, MB4 e MB6, mas são conhecidas fabricar lixas para polir metais. O corindo não é atacado por
fórmulas tão diferentes como MSB e MB66. Alguns desses ácidos. Tem um ponto de fusão elevado, superior a 2.000
compostos são não-estequiométricos. As fórmulas mínimas °C. É usado como material refratário no revestimento de
de alguns desses compostos não podem ser racionalizadas fornos e na fabricação de recipientes para reações a altas
por meio da aplicação das regras simples de valência, sendo temperaturas. A estrutura cristalina do corindo contém
melhor explicadas através da formação de ligações átomos de oxigênio num arranjo de empacotamento he-
multicêntricas. xagonal denso, com dois terços dos interstícios octaédricos
ocupados por íons Al3 + .
Esses compostos podem ser preparados aquecendo-se
o metal com o boro e por diversos outros métodos. Os boretos O y-Al2O3 é obtido pela desidratação do A1(OH)3 numa
dos metais de transição, em geral, contêm um elevado teor temperatura inferior a 450 °C e, em contraste com o a-Al2O3,
dos metais que os constituem. São duros e têm pontos de dissolve-se em ácidos e absorve água, sendo usado em
fusão muito elevados: ZrB2, HfB2, NbB2 e TaB2 fundem acima cromatografia.
de 3.000 °C. Os pontos de fusão e a condutividade elétrica O A12O3 fibroso é produzido comercialmente pela ICI e
são freqüentemente maiores que as dos metais pela Du Pont. As fibras de A12O3 e (ZrO2) são comercializados
correspondentes. Por exemplo, o TiB2 tem uma como Safftl. Elas apresentam a textura da seda, tem de 2 a 5
condutividade elétrica cinco vezes maior que do metal Ti. cm de comprimento e cerca de 1/20 do diâmetro do cabelo
Invariavelmente, os boretos são quimicamente inertes, tendo humano. São ocas e flexíveis, porém possuem alta resistência
diversas aplicações: à tração. Além disso, são quimicamente inertes e resistem a
1. O carbeto de boro é geralmente representado como B4C. temperaturas de até 1.400 °C por longos períodos. Essas
É produzido na escala de toneladas, reduzindo-se B2O3 fibras podem ser trançadas para a fabricação de cordas ou
com carbono, a 1.600 °C. É uma fonte útil de B e tecidos e, também, são utilizados na fabricação de papéis
também é usado como abrasivo para polimento. É quimicamente inertes e como suporte para catalisadores.
empregado em lonas de freio de carros. Fibras de B4C Essas fibras são também utilizadas para reforçar certos metais
apresentam uma enorme resistência tênsil e são (Mg, Al e Pb). Por exemplo, Al contendo 50% de fibra é
empregadas na fabricação de roupas à prova de balas. cinco vezes mais rígidos que o metal puro. Essas fibras
Essas fibras são fabricadas como se segue: também são excelentes isolantes térmicos e elétricos.
A alumina é branca, mas pode ser colorida pela adição
6H2 +4BC1j + C(fibra) 17°°-18°°-c > B4C(fibras, + 12HC1 de Cr2O3 ou Fe2O3. A safira branca é um cristal de corindon
0 carbeto de boro deveria ser representado por B13C2, de alta qualidade. Rubis sintéticos podem ser preparados
mas sua composição varia, podendo se aproximar de aquecendo-se uma mistura de A12O3 e Cr2O3 a altas
B12C3. Sua estrutura é constituída por uma série de temperaturas, por exemplo, na chama de um maçarico de
icosaedros B12. Cada icosaedro está ligado a seis outros, oxigênio-hidrogênio. Os rubis são muito duros, sendo
ou através de quatro ligações B-C-B e duas B-B, ou utilizados em joalheria e na fabricação de relógios e alguns
então através de seis ligações B-C-B. Sua estrutura é a instrumentos. O rubi é um óxido misto. Outro óxido misto é
de um agregado ou "cluster”, e só pode ser explicada a safira azul, que contém quantidades traço de Fe2 +, Fe3 + e
por meio da formação de ligações multicêntricas. Ti4+. O mineral espinélio, MgAl2O4, é outro óxido misto.
2. Técnicas especiais de manufatura, que utilizam Seu nome é decorrente da estrutura assumida por muitos
materiais na forma de pós, são empregadas para a compostos do tipo M1,M2I1IO4.
fabricação de peças como lâminas de turbinas ou O alumínio apresenta uma afinidade muito grande pelo
válvulas de foguetes. São empregados boretos, tais como oxigênio. A entalpia de formação do A12O3 é de -1.670 kJ
CrB2, TiB2 e ZrB2, finamente divididos. mol"1, maior (mais negativa) que a de praticamente todos
3. os outros óxidos metálicos. Assim, o Al pode ser usado na
O aço-boro é utilizado na indústria nuclear, para a
fabricação de chapas de blindagem ou como barras de reação “térmita" (aluminotermia), para a redução de óxidos
controle em reatores, pois o 10B possui uma elevada metálicos menos estáveis.
seção transversal de absorção de nêutrons térmicos. 3Mn3O4 + 8A1 4A12O3 + 9Mn

OS DEMAIS ÓXIDOS DO GRUPO 13 Análise qualitativa do alumínio


A alumina, A12O3, ocorre principalmente em duas Na análise qualitativa, o A1(OH)3 é precipitado como
formas cristalinas denominadas a-AI2O3, ou corindo, e y- uma substância branca gelatinosa, mediante a adição de
A12O3. Além disso, é preparado numa forma fibrosa para NH4OH à solução (depois da precipitação dos sulfetos
fins comerciais. insolúveis em meio ácido, com H2S). Fe(OH)3, Cr(OH)3 e
O corindo é um mineral, mas a a-Al2O3 também pode Zn(OH)2 também precipitam, mas o Fe(OH)3 é castanho, o
ser preparada aquecendo-se A1(OH)3. Caso o aquecimento Cr(OH)3 é cinza esverdeado ou cinza azulado. O Zn(OH)2 é
seja feito a temperaturas acima de 1.000 °C, forma-se o y- branco como o A1(OH)3, mas não é gelatinoso, e dissolve-se
A12O3.0 corindo é extremamente duro (9 na escala de Mohs), em excesso de NH4OH, enquanto o A1(OH)3 não se dissolve.
192 □S ELEMENTOS DO GRUPO 13

A presença do íon alumínio pode ser confirmada pela hidretoboratos dos metais alcalinos são sólidos iônicos
formação de um precipitado vermelho, na reação do A1(OH)3 brancos e reagem com água com grau variável de facilidade.
com o corante “aluminon". O Li [BH4] reage violentamente com a água; mas o Na[BH4)
pode ser recristalizado em água fria, praticamente sem sofrer
Caráter anfótero — os aluminatos decomposição. O K[BH4] é bastante estável.
O A1(OH)3 é anfótero. Ele reage principalmente como Li[BH4] + 2H2O -» LiBO2 + 4H2
uma base, isto é, reage com ácidos para formar sais que
contêm o íon [A1(H2O)5]3 + . Contudo, o A1(OH)3 mostra Os tetra-hidretoboratos dos metais alcalinos são valiosos
algum caráter ácido quando se dissolve em NaOH, formando agentes redutores, tanto na Química Inorgânica como na
aluminato de sódio (mas o A1(OH)3 é reprecipitado mediante Orgânica. O Na[BH4] é estável em soluções alcoólicas e
adição de dióxido de carbono, indicando que suas aquosas. TYata-se de um reagente útil para reduzir aldeídos
propriedades ácidas são muito fracas). a álcoois primários e cetonas a álcoois secundários. É um
reagente nucleofílico que ataca preferencialmente sítios de
excesso de NaOH
A1(OH)3 •» NaAl(OH)4 aluminato
baixa densidade eletrônica. Outros grupos funcionais, tais
de sódio como C = C, COOH e NO2, normalmente não são atacados
NaAlO, • 2H2O
pelo boro-hidreto.
A fórmula dos aluminatos é freqüentemente
representada como NaAlO2-2H2O (que é equivalente a Na|BH,l
R-CHO RCH2OH álcool primário
(A1(OH)4]‘). Os estudos utilizando espectroscopia Raman
sugerem que a estrutura do íon aluminato é mais complicada
do que parece, variando tanto em função do pH como da
concentração.
R R
1. Entre pH 8 e 12 os íons se polimerizam, por meio da \ Na(BH,|
formação de pontes OH, e cada íon alumínio apresenta C=O CHOH álcool secundário
coordenação octaédrica. /
R' R'
2. Em soluções diluídas e pH’s superiores a 13, predomina
o íon tetraédrico, [A1(OH)4]’. Nem todos os tetra-hidretoboratos são iônicos. Os boro-
3. Em soluções concentradas (acima de 1,5 M) e pH's hidretos de berílio, alumínio e dos metais de transição
superiores a 13, o íon se encontra na forma de dímero: tornam-se mais e mais covalentes e voláteis, na seqüência
[(HO)3A1-O-A1(OH)3]2-. apresentada. Nesses compostos o grupo [BH4]" atua como
O Ga2O3 e o Ga(OH)3 são anfóteros como os um ligante, formando ligações covalentes com os íons
correspondentes compostos de Al. O Ga(OH)3 é branco e metálicos. Um ou mais átomos de H do íon [BH4]“ atuam
gelatinoso, e se dissolve em álcalis formando gaiatos. T12O3 como átomos em ponte e se ligam ao metal, formando ligação
e In2O3 são totalmente básicos e não formam nem hidratos tricêntrica onde dois elétrons são compartilhados
nem hidróxidos. Em contraste, o hidróxido de tálio(I), T10H, simultaneamente por três átomos. O ligante [BH4]~ pode
é uma base forte, solúvel em água. Portanto, o T10H difere formar uma, duas ou três dessas ligações tricêntricas com
dos hidróxidos trivalentes, assemelhando-se aos hidróxidos os íons metálicos. Assim, Be(BH4)2, A1(BH4)3 e Zr(BH4)4 são
do Grupo 1. Quando um elemento puder assumir mais que compostos covalentes e reagem prontamente com a água.
um estado de oxidação, geralmente o hidróxido contendo o Nos compostos de Al e Zr cada grupo [BH4]" utiliza dois de
metal no estado de oxidação inferior tende a ser a base mais seus átomos de hidrogênio para formar duas ligações em
forte. ponte, enquanto que no composto de Be dois dos três grupos
[BH4]~ utilizam três dos seus átomos de hidrogênio para
O acetato e o trifluoroacetato de tálio(III) podem ser
formar ligações em ponte, como mostrado na figura 12.5.
obtidos dissolvendo-se o óxido no ácido apropriado. São
utilizados na síntese de compostos organometálicos de tálio.

TETRA-HIDRETOBORATOS (BORO-HIDRETOS)
Os complexos estáveis contendo o grupo [BH4]‘ são
compostos bem estudados. Eles deveríam ser denominados
tetra-hidretoboratos, embora o antigo nome boro-hidreto
ainda seja muito usado. O íon tetra-hidretoborato, [BH4]’, é
tetraédrico e o sal de sódio, Na[BH4], é o composto mais
importante. É iônico e tem^ estrutura do cloreto de sódio.
Usualmente é preparado a partir do trimetoxiborato,
250‘C, alta pressão
4B(OMe)3 + 4NaH 4Na[BH4] + 3Na[B(OMe)4]
cnmetiloxiboraio lelra-hidroíurano
Figura 12.5 — Estruturas do Al(BH4)3 e do Be(BH4)2 (segundo HJ.
Outros tetra-hidretoboratos podem ser obtidos reagindo- Eneléus e A.G. Sharpe, Modem Aspects of Inorganic Chemistry, 4‘ ed.,
se Na[BH4] com o cloreto do metal apropriado. Os tetra- 1973, Routledge and Kegan Paul)
TRI-HALETOS 193

Os outros elementos do grupo também formam hidretos


deficientes em elétrons. Por exemplo, o hidreto de alumínio,
(AlH3)n, é um sólido branco, não volátil. É um agente redutor
forte, que reage violentamente com a água. Encontra-se
extensivamente polimerizado através de ligações
tricentradas, semelhante àquela encontrada no diborano (a
estrutura do a-AlH3 é conhecida, sendo que cada átomo de
Al participa de seis ligações em ponte). O hidreto de alumínio
é obtido mais convenientemente pela reação de A1C13 e
Li[AIH4]. Também pode ser obtido a partir de LiH e A1C13 Figura 12.6 — Estrutura do BF3
em solução etérea; mas na presença de excesso de LiH forma-
se o hidreto de alumínio e lítio, Li[AlH4J. a elevada energia da ligação são interpretados em função de
uma interação ptt-ptt, isto é, essas ligações possuem algum
el,ces5°de
LiH+ AlClj -> (A1H3)„ —excesso LiH
deLIH - >Li[AlH4] caráter de dupla ligação. O orbital atômico vazio 2pz do
átomo de B, que não está envolvido na hibridização, é per­
O Li[A1H4] é um agente redutor muito útil na química pendicular ao plano contendo os três orbitais híbridos sp2.
orgânica, porque ele reduz grupos funcionais, mas em geral Esse orbital pz pode receber um par de elétrons de um or­
não ataca as duplas ligações. Tem propriedades análogas ao bital pz preenchido de qualquer um dos três átomos de flúor.
dos borohidretos, mas não pode ser usado em meio aquoso. Forma-se assim uma ligação dativa, e o átomo de B atinge o
O gálio forma compostos análogos aos boro-hidretos, octeto de elétrons. Se existisse uma ligação dupla localizada
por exemplo Li[GaH4]. no BF3, tecíamos uma ligação mais curta e duas ligações
mais longas. Contudo, todas as medidas sugerem que as
O índio forma um hidreto polimérico, (InH3)n, mas há
três ligações do BF3 são equivalentes. A explicação tradicional
dúvidas a respeito da existência do hidreto de tálio.
para esse comportamento, utilizando a Teoria da Ligação de
Valência, é a ressonância entre três estruturas com a dupla
TRI-HALETOS ligação em posições diferentes. Atualmente considera-se que
a dupla ligação está deslocalizada. Os quatro orbitais
Todos os elementos desse grupo formam trihaletos. Os
atômicos pz, provenientes do átomo de B e dos três átomos
haletos de boro, são compostos covalentes. O BF3 é sem
de F, formam um orbital molecular tt tetracêntrico
dúvida o derivado mais importante. É um gás incolor, de
envolvendo os quatro átomos. Esse orbital deslocalizado
ponto de ebulição -101 °C, obtido em grandes quantidades:
contém dois elétrons ligantes. A ligação tt deslocalizada foi
calor descrita detalhadamente no Capítulo 4.
B2O3 + 3CaF2 + 3H2SO4conc. — -> 2BF3 + 3CaSO4 + 3H2O
O orbital vazio 2pz do átomo de boro no BF3 também
B2O3+6NH4BF4 calor
->8BF3 + 6NH3+3H2O pode ser preenchido por um par de elétrons livres de
moléculas doadoras como o Et2O, NH3, (CH3)3N ou por íons
Tanto o gás BF3 como o seu complexo com éter dietüico, como o F". Quando isso ocorre, forma-se uma molécula ou
(C2HS)2O->BF3 (um líquido viscoso), são disponíveis um íon tetraédrico.
comercialmente.
F OEt;Í2 F 1NH3 F INMe7 F F
O BF3 é uma molécula trigonal planar, com ângulos de \ / \ /
\ / ^B^
ligação de 120°. Isso é previsto pela Teoria da Repulsão dos B B B
Pares Eletrônicos de Valência, como sendo a maneira / \
F F F F F F F F
energeticamente mais favorável de se dispor três pares
eletrônicos externos em torno de um átomo de B. A Teoria Uma vez formado um complexo tetraédrico, não há mais
da Ligação de Valência também prevê uma estrutura trigo­ a possibilidade de se formar ligações n. No H3N—»BF3 a
nal planar, resultante da hibridização de um orbital s e de distância B-F é igual a 1,38 Â, e no Me3N—>BF3 a distância
dois orbitais p, utilizados para formar as ligações. Contudo, B-F é de 1,39 A, um valor bem maior que o encontrado no
o átomo de B só possui seis elétrons em sua camada mais BF3 (1,30 A). Como os haletos de boro podem receber pares
externa, sendo deficiente em elétrons. de elétrons de diversos átomos e íons, tais como F“, O, N, P
e S, eles atuam como ácidos fortes de Lewis.
1s 2s . 2p _
Os trihaletos são produtos químicos de importância
Estrutura eletrônica do átomo
de boro — estado excitado E3 I0 K I? I I
_____ _____ I
industrial, particularmente o BF3; e num plano secundário
o BC13. Eles são usados na obtenção do boro elementar. São
Três orbitais com um elétron
formam ligações com elétrons também muito úteis para promover certas reações orgânicas.
desemparelhados de três
átomos de halogênio — forma Em alguns casos o BF3 é consumido na reação, em outros
trigonal plana (hibridização sf?)
ele atua como catalisador, formando complexos com um ou
Os comprimentos das ligações no BF3 são de 1,30 A, e ambos os reagentes. A formação do “complexo interme­
são significativamente menores que a soma dos raios diário” diminui a energia de ativação. Podem ser citados
covalentes dos átomos (B = 0,80 A, F = 0,72 A). A energia como exemplos:
de ligação é muito elevada: 646 kJ moF1, muito maior que a 1. Reações de Friedel-Crafts, tais como alquilações e
de qualquer outra ligação simples. O menor comprimento e acilações. Nesses casos o BF3 é consumido na reação,
194 OS ELEMENTOS □□ GRUPO 13

não podendo ser rigorosamente chamado de catalisador. ligações covalentes, o átomo chega a ter somente seis
elétrons. Os compostos são, portanto, deficientes em elétrons.
C6H6 + C2H5F + BF3-»C6HS • C2Hs + H+ + [BF4]- Os haletos BX3 atingem o octeto pela formação de ligações
2. Atua como catalisador em diversas reações: tt. Os demais elementos do grupo são bem maiores, de modo
que nesses casos não é possível haver o recobrimento efetivo
ácido + álcool —» éster + água dos orbitais para que haja a formação de ligação x. Assim,
benzeno + álcool —» alquilbenzeno + água formam polímeros para atenuar a deficiência de elétrons.
O A1C13 é um importante produto da indústria química.
3. Quantidades consideráveis de BF3 também são usadas
como catalisador de polimerização, na produção de Só nos Estados Unidos, a produção anual é de cerca de 25.000
poliisobutenos (usados para fabricar óleos lubrificantes toneladas. O A1C13 anidro (e em menor grau o AlBr3) é usado
"viscotáticos”), resinas cumarona-indeno, e borrachas como "catalisador" em diversas reações de alquilação e
butadieno-estireno. acilação de Friedel-Crafts. Dessa maneira são fabricadas
grandes quantidades de etilbenzeno, que por sua vez é
Nos Estados Unidos são fabricados anualmente cerca
utilizado na preparação de estireno (a produção de
de 4.000 toneladas de BF3, a partir de B2O3 ou de bórax:
poliestireno foi de 8,2 milhões de toneladas em 1991).
B2O3 + 6HF +3H2SO4 —» 2BF3 + 3H2SO4 ■ H2O
C6H5H + CH3CH2C1 + A1C13->C6HS • CH2CH3 + H + + [ AlCIJ'
Na2[B4O5(OH)4) + 12HF —> [Na2O(BF3)4]
+ 2H,SO,
4BF3 + 2NaHSO„ + H2O Não se trata de uma ação "catalítica” verdadeira, visto
que o A1C13 é consumido na reação, pois a formação de
Todos os haletos de boro são hidrolisados pela água. O [A1C14]‘ ou de [AlBr4]‘ é uma parte essencial da reação. As
BF3 se hidrolisa de modo incompleto e forma fluoroboratos. reações de acilação são semelhantes:
Isso ocorre porque o HF formado inicialmente reage com o
H3BO3. C6H5 H + RCOC1 + A1C13 —> RCOC6H5 + H+ + [AlCIJ’

4BF3 + 12H2O —» 4H3BO3 + 12HF O A1C13 também é empregado para catalisar a reação
12HF + 3H3BO3 —>3H + + 3[BF4]' + 9H2O de obtenção de brometo de etila (utilizado na preparação !
do aditivo de gasolina PbEL,).
4BF3 + 3H2O —» H3BO3 + 3H + + 3[BF4]“
CH2 = CH2 + HBr C2H5Br
Os demais haletos hidrolisam-se completamente,
formando ácido bórico. O A1C13 é ainda utilizado na fabricação de antraquinona
(usado na indústria de corantes), e do dodecilbenzeno (usado
BC13 + 3H2O H3BO3 + 3HC1
na fabricação de detergentes), bem como na isomerização
Os fluoretos de Al, Ga, In e TI são iônicos e apresentam de hidrocarbonetos (indústria do petróleo).
elevados pontos de fusão. Os outros haletos são O T1I3 é um composto pouco comum. Tem a mesma
eminentemente covalentes quando anidros. A1C13, AlBr3 e estrutura (isomorfo) do Csl3 e do NH4I3, os quais contém o
GaCl3 são diméricos, alcançando assim o octeto de elétrons. íon linear triiodeto, I3“. Assim, o metal está presente como
O dímero se mantém estável quando os haletos são TI+, ou seja, no estado de oxidação (+1) e não no estado de
dissolvidos em solventes apoiares, como o benzeno. oxidação (+ III).
Contudo, quando são dissolvidos em água, a elevada entalpia
de hidratação é suficiente para decompor o dímero, formando
os íons [M(H2O)6]3 + e 3X“. A baixas temperaturas, o AIC13 DI-HALETOS
forma um retículo densamente empacotado de íons Cl", onde O boro forma haletos do tipo B2X4. Eles se decompõem
os íons Al3 + ocupam os interstícios octaédricos. Com o lentamente à temperatura ambiente. O B2C14 pode ser obtido
aumento da temperatura, forma-se a espécie dimérica A12C16 como se segue:
e ocorre um grande aumento de volume no sólido. Esse
descarga elétrica
comportamento ilustra o quão próximo do limite entre o 2BC13 + 2Hg -> B2C14 + Hg2Cl2
baixa pressão
comportamento covalente ou iônico, se encontra a ligação
nesse composto. Há livre rotação em torno da ligação B-B, sendo que
Os elementos do Grupo 13 só possuem três elétrons de nos estados gasoso e líquido a molécula assume uma
valência. Quando eles são usados na formação de três conformação não eclipsada. No estado sólido, a molécula é
planar, por causa das forças que atuam sobre as moléculas
no cristal e da facilidade de empacotamento. O gálio e o
índio também formam “di-haletos"

Cl Cl Cl
B—B
XC1 B—B
ci' '>>cl
Cl Cl
Figura 12.7 — Estrutu.^ uo-dímero do AlCl3 Não-eclipsado Plano
H10RETDS QE BORO 195

GaClj + Ga -> 2GaCl2


In + 2HC1 -> InCl2 + H2 CH3
gás
Esses compostos são representados de modo mais "CH
corretamente como Ga+[GaCl4j" e In+[InCl4]“, e contêm
/
metais nos estados M(I) e M(III), e não Ga(II) e In(II). \ CH3

Complexo Com. Complexo


acetilacetona oxalato 8-hidroxiquinolina
MONO-HALETOS
O boro forma diversos mono-haletos poliméricos Figura 12.9 — Alguns complexos
estáveis, (BX)n.
conhecidos. Os complexos octaédricos mais importantes são
BzO,
Descarga de mercúrio
B4CI4 aqueles formados com grupos quelantes, tais como p-
dicetonas (por exemplo, acetilacetona), íon oxalato, ácidos
Decomposição lema dicarboxílicos, pirocatecol, e também 8-hidroxiquinolina
I ►BgClg, B9C19, BiqCIio, BnCIn, B12CI12 (vide Fig.12.9). Esse último ligante é utilizado na determi­
nação gravimétrica de alumínio.

Os compostos B4C14, BsC18 e B9C19, são sólidos


cristalinos, e suas estruturas (Fig. 12.8) são constituídas por DIFERENÇAS ENTRE O BORO E OS DEMAIS
uma "gaiola” fechada ou poliedro de átomos de boro, nos ELEMENTOS DO GRUPO
quais cada átomo de B está ligado a três outros átomos de B O boro difere significativamente dos demais elementos
e a um átomo de Cl. Como o B só possui três elétrons de do Grupo 13, principalmente porque seus átomos são muito
valência, não há elétrons suficientes para formar ligações pequenos. Ele é um não-metal e sempre forma compostos
normais pelo compartilhamento de um par de elétrons por covalentes. Além disso, o boro está relacionado diagonal­
dois átomos. É provável que ligações a multicentradas mente com o silício, do Grupo 14.
envolvam todos os átomos de B que constituem o poliedro. 1. B2O3 é um óxido ácido como o SiO2. Já o A12O3 é
Al, Ga e In formam mono-haletos do tipo MX na fase anfótero.
gasosa, a temperaturas elevadas: 2. H3BO3, que pode ser escrito como B(OH)3, é um ácido,
alta temperatura
enquanto que o A1(OH)3 é anfótero.
AlClj + 2A1 > 3Aid
3. íons borato e silicato simples podem polimerizar-se,
Esses compostos não são muito estáveis e são cova- formando isopoliácidos. Ambos se polimerizam
lentes. utilizando princípios estruturais semelhantes,
O tálio forma haletos talosos univalentes, muito mais principalmente no que se refere ao compartilhamento
de átomos de oxigênio. Dessa maneira são formadas
estáveis que os tri-haletos de tálio. Esse fato ilustra 0 efeito
complicadas cadeias, ciclos, lamelas e outras estruturas.
do par inerte. O T1F é iônico.
O alumínio não forma compostos análogos.
4. Os hidretos de B são gasosos, hidrolisam-se prontamente
COMPLEXOS e se inflamam espontaneamente. Em contraste, o hidreto
Os elementos do Grupo 13 formam complexos com de alumínio é um sólido polimérico, (AlH3)n. O SiH4 é
maior facilidade que os elementos do bloco s, por causa de gasoso e se hidrolisa e se inflama facilmente.
seu menor tamanho e sua maior carga. Complexos 5. Com exceção do BF3, os haletos de B e Si se hidrolisam
tetraédricos com hidretos e haletos como Li(AlH4] e H[BF4] rápida e vigorosamente. Os haletos de alumínio apenas
já foram mencionados. Além disso, muitos complexos se hidrolisam parcialmente, quanto tratados com água.
octaédricos, tais como [GaCl6]3", [InCl6]3’,[TlCl6]3', são
HIDRETOS DE BORO
Compostos conhecidos
Nenhum dos elementos do Grupo 13 reage diretamente
com o hidrogênio, mas diversos hidretos interessantes são
conhecidos. Os hidretos de boro são também denominados
boranos, por analogia com os alcanos (hidrocarbonetos).
Eles pertencem a duas séries:
1. BnH(n+4), denominados nído-boranos, e
2. Uma série menos estável, BnH(n + 6), denominados
aracno-boranos.
Figura 12.8 — Estruturas do monocloreto de bom (BCl)n mostrando Nos casos em que a nomenclatura é ambígua, como no
"gaiolas" poliédricas de bom (segundo A.G.Massey, The Typical Elements, caso do pentaborano, geralmente o número de átomos de
Penguin, 1972) hidrogênio é incluído no nome.
196 05 ELEMENTOS 00 GRUPO 13

Diglime é o poliéter CH3OCH2CH2OCH2CH2OCH3.


Tãbela 12.10 — As duas séries de boranos
em solução diglime
Nidoboranos P.F.(°C) P.E.(°C) Aracnoboranos P.E(’C) P.E.CC) 2Na[BH4] + I2 -> B2H6 + H2 + 2NaI
BnHta+s)
3. Redução do BF3 com Na[BH4], em diglime.
BiHí diborano -165 -93 B4H1o tetraborano -120 18
em diglime
B5H, pentaborano-9 -47 60 BsHu pentaborano-11 -122 65 4[Et2OBF3] + 3Na[BH4] -> 2B2H6 + 3Na[BF4]+4Et20
B^Hk, hexaborano-10 -62 108 B6H12 hexaborano-12 -82
BjH|2 octaborano-12 dec BSH„ octaborano-14 dec O método 3 é particularmente útil quando se quer obter
B1OHU decaborano -100 213 (nonaborano ou 3 o diborano como um intermediário de reação. Ele é produzido
eneaborano) in situ, e utilizado diretamente, sem isolá-lo ou purificá-lo.
dec = sofre decomposição 0 diborano é um gás incolor que deve ser manuseado
com muito cuidado, pois é altamente reativo. Ele se inflama
Obtenção espontaneamente quando exposto ao ar e explode em
atmosfera de oxigênio. O calor da reação de combustão é
O diborano é o mais simples e o mais estudado desses muito grande. No laboratório, ele é manuseado num
hidretos. Ele é empregado na obtenção de boranos superiores equipamento sob vácuo. Como ele reage com a graxa usada
e é um reagente importante na química orgânica sintética. na vedação da aparelhagem, equipamentos especiais devem
Para essa última finalidade geralmente é obtido in situ. TYata- ser usados. Ele se hidrolisa instantaneamente quando em
se de um reagente versátil na obtenção de organoboranos,
contato com a água, ou com uma solução alcalina. Quando
que são intermediários úteis em síntese orgânica. O diborano
aquecidos ao-rubro, os boranos se decompõem em boro e
é também usado como um poderoso agente redutor
eletrofílico para certos grupos funcionais. Ele ataca sítios hidrogênio.
com elevada densidade eletrônica, como o N de cianetos e B2H6 + 3O2 -> B2O3 + 3H2O AH = -2165 kJ mol'1
nitritos, e o O de compostos carbonílicos. B2H6 + 6H2O 2H3BO3 + 6H2
R-feN -» RCH2NH2 A maioria das sínteses de boranos superiores envolve
R-NO2 -> RNH2
o aquecimento de B2H6, às vezes na presença de hidrogênio.
R-CHO -> RCH2OH
Quando o B2H6 é aquecido num tubo fechado ocorre uma
O diborano pode ser preparado por diversos métodos. reação complicada. Formam-se vários boranos superiores
O primeiro a preparar boranos foi Alfred Stock, que iniciou (B4H1o, BsHn, B6H12 e B10H14). Provavelmente a molécula
as pesquisas nesse ramo da Química, entre os anos de 1912 de B2Hs se decompõe formando o intermediário
e 1936. Ele aqueceu Mg e B para formar boreto de magnésio, extremamente reativo {BH3} (só tem existência transitória)
Mg3B2, e então tratou-o com ácido ortofosfórico. A reação que reage com B2H6 e forma um outro intermediário, o
leva a uma mistura de produtos. Os pesquisadores {B3H9}. Este perde hidrogênio formando {B3H7}, que reage
enfrentaram enormes dificuldades experimentais nesses com {BH3} dando origem a B4H10. De maneira semelhante,
primeiros trabalhos, pois os compostos eram altamente diversos boranos superiores podem ser formados,
reativos, inflamáveis e hidrolisáveis. Stock desenvolveu dependendo das condições exatas da reação. Por exemplo:
técnicas de manuseio sob vácuo, antes desconhecidas, para
estudar tais compostos. Esse método de obtenção foi (5 h a 80-90 °C, 200 atmosferas)
substituído para a maioria dos derivados, exceto para 0 B2Hg —» B4H10
preparo de B6H10.
(rápida a 200-250 °C)
calor B2H6 + H2 -> B5H9
Mg3B2 + H3PO4 -> mistura de boranos - * B2H6
diborano
SSSSsto principalmente B4H10 (pirólise lenta em tubo fechado a 150 °C)
B2H6 —» B10H|4
Muitos outros métodos tem sido utilizados:
A maioria dos boranos superiores são líquidos, mas
750 atmosferas, 1SO‘C B6H]0 e B10H14 são sólidos. À medida que aumenta a massa
B2O3 + 3H2 + 2A1 >b2h6 + A12O3
molecular, eles se tornam gradativamente mais estáveis ao
2BF3+ 6NaH—1180‘C
í2^-aB2H6+ 6NaF ar e menos sensíveis à ação da água. B10HI4 é estável ao ar
gás gás
e pode ser recuperado de soluções aquosas. Por algum tempo
Há muitos métodos convenientes de síntese em os boranos foram estudados com o intuito de utilizá-los como
laboratório: combustível de foguete, substituindo os hidrocarbonetos em
1. Redução do complexo dos haletos de boro e éter com aviões militares e mísseis. Mais de uma tonelada de B10H|4
Li[AlH„]. foi fabricada com essa finalidade. O interesse por essa
aplicação desapareceu quando se percebeu que a combustão
4[Et2O ■ BF3] + 3U[A1H4]
éter
■» 2B2H6 + 3Li[AlF4] +4Et2O do B2O3 era incompleta. Por causa disso, as válvulas de es­
cape do foguete ficaram parcialmente obstruídas por um
2. Reação de Na(BH4] com iodo no solvente diglime. polímero não volátil de BO.
REAÇ0E5 DOS BORANOS 137

REAÇÕES DOS BORANOS A hidroboração é um processo simples e útil por dois


motivos:
Hidroboração
1. As condições brandas requeridas para a adição inicial
Uma reação muito importante é aquela que ocorre en­
do hidreto.
tre B2H6 (ou BF3 + NaBHJ e alcenos e alcinos.
2. A variedade de produtos que podem ser obtidos, quando
'/2B2H6 + 3RCH = CHR -> B(CH2-CH2R)3 diferentes reagentes são utilizados para romper a ligação
’/2B2H6 + 3RCsR B(RC = CHR)3 B-C.
H.C. Brown recebeu o Prêmio Nobel de Química de
Essas reações são efetuadas em éter seco, sob uma
1979 por seus trabalhos sobre os compostos organoborados.
atmosfera de nitrogênio, pois o B2H6 e seus produtos são
muito reativos. Os alquilboranos, BR3, assim obtidos
geralmente não são isolados. Eles podem ser convertidos Reações com amônia
em outros produtos, tais como: Todos os boranos atuam como ácidos de Lewis e podem
1. hidrocarbonetos, por tratamento com ácidos receber pares de elétrons. Assim sendo, eles reagem com
carboxílicos, aminas, formando adutos simples. Eles também reagem com
2. álcoois, por reação com H2O2 em solução alcalina, ou amônia, mas os produtos formados dependem das condições
3. cetonas ou ácidos carboxílicos, por oxidação com ácido da reação:
crômico. B2H6 + 2(Me)3N —» 2[Me3N • BH3]
0 processo completo é conhecido como hidroboração, excesso de NH,
e leva a uma hidrogenação ou uma hidratação em às. Quando b2h6 + nh3 baixa temperatura
* B2H6 ■ 2NH3
a molécula orgânica não é simétrica, a reação ocorre de excesso de NHt
acordo com um mecanismo do tipo anti-Markovnikov, isto ■» (BN) nitreto de boro
alta temperatura
é, 0 B ataca o átomo de C menos substituído.
relação
B3N3H6 borazeno
BR3 + 3CH3COOH 3RH + B(CH3COO)3 alta temperatura
hidrocarboneto

B(CH2 • CH2R)3 + H2O2 -> 3RCH2CH2OH + H3BO3 O composto B2H6-2NH3 é iônico, sendo constituído
álcool primário pelos íons [H3N->BH2«-NH3]+ e [BH4]'. 0 aquecimento
desse composto leva a formação da borazina.
R R
\h- H2CrO4 \ O nitreto de boro é um sólido branco com baixo
CH=O coeficiente de atrito. Um átomo de B junto com um átomo
/ cetona

r H£rOt
R' de nitrogênio tem o mesmo número de elétrons de valência
de dois átomos de carbono. Assim, o nitreto de boro
(CH3 • CH2)3-B ■» CH3COOH
ácido carboxílico apresenta quase a mesma estrutura da grafita, ou seja, o
(CH3 • CH2)3-B + CO diglime
!-> [(CH3 • CH2)3-CBO]2 sólido é formado por lamelas contendo anéis hexagonais
interligados, constituídos por átomos de B e N alternados.
(CH3 ■ CH243COH
As camadas estão empilhadas umas sobre as outras,
formando uma estrutura lamelar (Fig. 12.10).
») A borazina, B3N3H6 é também conhecido como
1 I •B:
I I I "benzeno inorgânico”, devido a sua semelhança estrutural
^N' com o benzeno, às ligações com elétrons deslocalizados e
I I I ao caráter aromático. Suas propriedades físicas também são
semelhantes.
I I I I I I A borazina e as borazinas substituídas são obtidos como
segue:
I I. I I 3BC13 + 3NH4C1 140 C
•» B3N3H3C13 NaIBHJ
* B3N3H6
Nitreto de boro Grafita'

b)
H H
MeMgBr
I +
H. _H H. B3N3H3(Me)3
N*
I I - I III A borazina forma complexos II como o B3N3H6 ■ Cr(CO)3,
.B^ -B^n<'-b^h
H' n H H' com compostos de metais de transição. A borazina é
I I consideravelmente mais reativa que o benzeno, de modo
H H
Borazina Benzeno que reações de adição podem ser efetuadas com relativa
facilidade:
Figura 12.10 — Semelhança estrutural entre a) nitreto de boto e
grafita; b) borazeno e benzeno B3N3H6 + 3HC1 -> B3N3H9C13
198 OS ELEMENTOS DO BRUPO 13

Cl H H H
\ / \ /
H B— —N H
\ / \ /
N B
/ \
H B— -?< a
/ \
Cl H H H

Quando aquecido com água, a borazina se hidrolisa


lentamente.
B3N3H6 + 9H2O -» 3NH3 + 3H3BO3 + 3H2

Algumas outras reações dos boranos


B2H6 + 6H2O -» 2B(OH)3 + 6H2
2H3BO3 + 6H2
B2H6 + ÓMeOH -» 2B(OMe)3 + 6H2
B2H6 + 2Et2S -» 2[Et2S(BH3)]
B2H6 + 2LÍH -> 2Li(BH4]
2B2H6 + 2Na -> Na[BH„] + Na[B3H8] (lenta)
B2H6 + HC1 -> B2H5C1 + H2
B2H6 + 6C1, -> 2BC13 + 6HC1

ESTRUTURAS DOS BORANOS


Figura 12.12 — Interação de orbitais híbridos, aproximadamente sp2
As ligações e as estruturas dos boranos são de grande do bom com orbitais s do hidrogênio, para formar ligações tricentradas
interesse. Elas são diferentes de todos os outros hidretos. "dobradas" com dois elétrons
Não há elétrons de valência suficientes para formar ligações
covalentes convencionais (dois elétrons formam uma ligação das ligações nos hidrogênios em ponte agora está bem
entre dois átomos) com todos os átomos adjacentes, e por definida. Obviamente não se trata de ligações normais, pois
isso esses compostos são deficientes em elétrons. estão disponíveis para formar essas ligações apenas um
No diborano existem 12 elétrons de valência, três de elétron de cada átomo de boro e um de cada átomo de
cada átomo de boro e seis dos átomos de hidrogênio. O hidrogênio, perfazendo um total de quatro elétrons. Um or­
método de difração de elétrons sugere a estrutura mostrada bital sp3 de cada um dos átomos de boro interage com o
na Fig. 12.11. orbital Is do hidrogênio. Isso leva à formação de um orbital
Os dois átomos de hidrogênio em ponte situam-se num molecular deslocalizado envolvendo os três núcleos, con­
plano perpendicular ao do restante da molécula e impedem tendo um par de elétrons. Isso forma uma das ligações com
a livre rotação no eixo que une os dois átomos de boro. um átomo de hidrogênio em ponte (vide Fig.12.12). Essaé
Medidas de calor específico confirmam que a rotação é uma ligação tricentrada com dois elétrons (3c-2e). Uma
impedida. Quatro dos átomos de H estão num ambiente segunda ligação tricentrada é formada, de maneira análoga.
diferente daquele dos dois outros. Isso é confirmado por Os boranos superiores apresentam uma estrutura de
espectros Raman e pelo fato do diborano poder ser metilado “gaiola” aberta (Fig. 12.13). Para explicar essas estruturas,
somente até formar o Me4B2H2, sem que a molécula se são necessárias tanto ligações normais como ligações
decomponha em BMe3. multicentradas:
Os comprimentos das ligações B-H terminais são 1. Ligações B-H terminais. São ligações covalentes
similares aos das ligações B-H em compostos não deficientes normais, isto é, ligações bicentradas com dois elétrons
em elétrons. Assim, supõe-se que se trata de ligações (2c-2e).
covalentes normais, com dois elétrons compartilhados por 2. Ligações B-B. Também são ligações normais 2c-2e.
dois átomos. Podemos descrever essas ligações como ligações 3. Ligações tricentradas contendo átomo de hidrogênio em
bicentradas com dois elétrons (2c-2e). ponte, B---H-- -B, como no diborano. Trata-se de ligações
Assim, a deficiência de elétrons deve estar associada 3c-2e.
aos grupos que formam as ligações em ponte. A natureza 4. Ligações tricentradas contendo átomos de boro em
ponte, B---B---B, semelhante ao do caso (3). São
H denominadas "ligações abertas contendo boro em
1.19A ponte", e são do tipo 3c-2e.
1.19A 5. Ligações 3c-2e "fechadas” entre três átomos de boro.
H

Figura 12.11 — A estrutura do diborano


COMPOSTOS ORSANOMETÁLICOS 199

O decaborano-14 possui 10 átomos de boro. Faltam,


portanto, dois átomos para permitir ao composto formar um
icosaedro regular. Um icosaedro possui 12 vértices e 20 faces.
É uma estrutura em "gaiola”, fechada, e particularmente
estável. Os dois átomos necessários para completar o poliedro
podem ser adicionados reagindo-se o B10H14 com um etino,
formando um carborano (Fig. 12.14).

B10H14 + RC=CR —> B10C2H10R2 2H2


Por outro lado, dois átomos de boro podem ser
adicionados para completar o poliedro, reagindo-se B|0H]4
com Me3N—>BH3.
Figura 12.14 — Estrutura do ortocarbonato, uma das três formas
B1oH14 + 2Me3N—»BH3 —» 2[Me3NH]+ [B12H12]2“ isómeras do carborano icosaédrico B1OC2HÍOR2 (segundo A.G. Massey,
The Typical Elements, Penguin, 1972)
COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS
Além dos carboranos e dos alquilboranos discutidos tricentradas envolvendo orbitais híbridos sp3 do Al e do C
anteriormente, todos os trihaletos dos elementos do Grupo nas ligações com carbono em ponte, Al-C-Al (Fig. 2.15).
13 reagem com reagentes de Grignard e com reagentes Outra rota importante para a preparação de compostos
organo-lítio, formando os derivados trialquilados e orgânicos de alumínio parte do metal alumínio e H2. Os dois
triarilados: elementos não reagem diretamente para formar A1H3.
Contudo, o alumínio reage com hidrogênio na presença de
BF3 + 3C2H5MgI B(C2H5)3 catalisadores do tipo alquil-alumínio (catalisadores de
A1C13 + 3CH3MgI ► A1(CH3)3 Ziegler).
GaCl3 + 3C2H5Li- Ga(C2H5)3
InBr3 + 3C6H5Li - In(C6H5)3 Al+f H2 + 2Et3Al -> 3Et2AlH
Os compostos de alumínio são interessantes porque suas Alcenos podem ser adicionados às ligações Al-H.
estruturas são diméricas, e parece que apresentam ligações
Et2AlH + H2C = CH2 Et2Al-CH2-CH3 ou seja, Et3Al
eteno

A temperaturas de 90- 120 °C e


100 atmosferas de pressão, as moléculas
de eteno são lentamente inseridas nas
ligações Al-C.

C2H5 CH2CH2-C2H5
/ /
Al—C2H5 —» Al—C2Hs
\ \
c2hs c2h5
(CH2-CH2)n-C2H5
/
-* Al-(CH2CHJnC2Hs
\
(CH2CH2)nC2Hs

Dessa forma, cadeias longas, com


até 200 átomos, podem ser formadas.
A hidrólise desses alquil-alumínio de
cadeias longas fornece hidrocarbonetos
de cadeia normal, conhecidos como
polietileno ou politeno. Os polímeros
obtidos dessa maneira têm baixo peso
Figura 12.13 — Estruturas de alguns boranos. a) Diborano B,H6, com duas ligações tricentradas molecular (são oligômeros) e não têm
b) Tetraborano B4Hl0, com quatro ligações B-H-B tricentradas e uma ligação B-B. c) va]or comercial. Porém, se for Utilizado
Pentaborano-9 BSH9. em que os átomos de boro formam uma pirâmide de base quadrada com qualro um catalisador de metal de transição,
ligações tricentradas B -H- B, e ligações multicentradas do B do topo com os átomos de B da base, d)
Pentaborano-11, BsHn, em que os átomos de B formam uma pirâmide distorcida de base quadrada, como o TiCl4 (catalisador de Natta), a
com três ligações tricentradas B-H-B e três ligações tricentradas B--B--B em c — 'das
duas 1... faces
---- polimerização ocorre mais rapidamente,
triangulares. e) Decaborano-14, BI0HI4 (segundo A.G. Massey, The Typical Elements, Penguin. 1972) Além disso, a reação não requer pres-
eoo □S ELEMENTOS □□ GRUPO 13

• Greenwood, N.N.; Boron, Pergamon Press, Oxford anc


CH3 CH3 ch3 Elmsford, New York, 1975.
Al Al • Greenwood, N.N.; The synthesis, structure and Chemical re-
actions of metalloboranes, Pare Appl. Chem., 49, 791-802
CH3 CH3 CH3 (1977).
• Greenwood. N.N. e Ward, I.M.; Metalloboranes and metal-
Figura 12. IS — Estrutura do dtmero do trimetüalumínio boron bonding, Chem. Soc. Rev., 3, 231-271 (1974).
sões elevadas e obtém-se um polímero de peso molecular • Grimes, R.N.; Carboranes, Academic Press, New York, 1971.
muito maior. Essa rota de preparação de polímeros de • Grimes, R.N. (ed.); Metal Interactions with Boron Clusters
elevados pesos moleculares é muito importante para a (Modern Inorganic Chemistry Series), Plenum Publishing
fabricação de polietileno comercial (vide “Compostos Corp., London, 1982.
Organometálicos", no Capítulo 20). • Grimes, R.N.; Carbon-rich carboranes and their metal de-
Álcoois com cadeias normais de aproximadamente C]4 rivatives, Adv. Inorg. Chem. Radiochem., 26, 55-118 (1983).
podem ser obtidos a partir do eteno, por meio da formação • Haupin, W.E.; Electrochemistry of the Hall-Heroult process
de alquil-alumínios adequados, oxidação ao ar, seguido de for aluminium, J. Chem. Ed., 60, 279-282 (1983).
hidrólise com água. A reação desses álcoois com SO3 fornece • Iversen, S.; The chemistry of dementia, Chemistry in Brü-
os sulfonatos R-SO3H, que são neutralizados para se obter ain, 24, 338-342, 364 (1988). Efeitos do alumínio no
detergentes biodegradáveis CH3—(CH2)n—SOjNa* (os organismo humano)
detergentes serão discutidos com os elementos do Grupo • James, B.D. e Wallbridge, M.G.H.; Metal tetrahydroborates.
16, no item SO3). Prog. Inorg. Chem., 11, 97-231 (1970). (Uma revisão bastante
Compostos de alquil-alumínio catalisam a dimerização abrangente com mais de 600 referências)
do propeno, no processo industrial de obtenção do isopreno: • Johnson, B.G.F.; Transition Metal Clusters, Wiley, New York,
1980. (Capítulos escritos por vários especialistas renomados
2CH3-CH = CH2 R,AI
-> ch3ch2ch2c = ch2 na área)
propeno
• Johnson, B.G.F. e Lewis, J.; Adv. Inorg. Chem. Radiochem.,
I 24, 225 (1981). (Um ótimo artigo de revisão sobre clusters)
CHj
craqueamenio
• Kennedy, J.D.; The polyhedral metalloboranes, Partes I e II,
4 CH2 = CHC = CH2 + CH4 Prog. Inorg. Chem., 32, 529-679 (1986) e 34, 211-434 (1984).
I • Lancashire, R.; Bauxite and aluminium production, Educa-
CH3 tion in Chemistry, 19, 74-77 (1982).
isopreno
• Lee. A.G.; The Chemistry of Tallium, Elsevier, Amsterdarn.
A fabricação de álcoois e de isopreno são dois exemplos 1971.
importantes de aplicação de compostos de alquil-alumínio • Lee, A.G.; Coordination chemistry of tallium(I), Coord. Chem.
em processos industriais. O polietileno disponível no Rev., 8, 289 (1972).
comércio é fabricado de duas maneiras: ou usando • Liebman, J.F.; Greenberg, A. e Williams, R.E. (eds.), Advances
catalisadores de titânio ou pela polimerização induzida por in Boron and the Boranes, VCH, New York, 1988.
peróxidos, via formação de radicais livres, e não empregam • Massey, A.G.; Boron subhalides, Chemistry in Britain, 16,
catalisadores a base de compostos alquil-alumínio. 588-598 (1980).
• Massey, A.G.; The sub-halides of boron, Adv. Inorg. Chem.
LEITURAS COMPLEMENTARES Radiochem., 26, 1-54 (1983).
• Borax Review, Borax Holdings Ltda. (1987). • Massey, RC.; Aluminium in Food and the Enviromeru
(Publicação especial n.° 73), Royal Society of Chemistry, Lon­
• Brown, H.C.; Boranes in Organic Chemistry, Cornell Univer- don, 1989.
sity Press, 1972.
• Muetterties, E.L. (ed.); Boron Hydride Chemistry, Academic
• Brown, H.C.; OrganicSynthesis via Boranes, Wiley, New York, Press, New York, 1975.
1975.
• Sanderson, R.T.; More on complex hydrides, Chem. Eng.
• Brown, H.C.; Hydride reductions: A 40-year revolution in News, 29, 3 (1997). (Li[AlH4] e etc)
organic Chemistry, Chem. Eng. News, 5 de março, 24-29
• Stinson, S.C.; Hydride reduction agents, use expanding,
(1979).
Chem. Eng. News, 3 Novembro, 18-20 (1980).
• Callahan, K.P. e Hawthorn, M.F.; Ten years of • Thompson, R. (ed.); Speciality Inorganic Chemicals (Watfe.
metallocarboranes; Adv. Organometallic Chem., 14, 145-186 K.; Borohidreto de sódios e suas aplicações), Royal Society
(1976). for Chemistry, London, 1981.
• Christ, C.L. e Clark, J.R.; A crystal classification of borate • Thompson, R. (ed.); The Modem Inorganic Chemistry In-
structure with emphasis on hydrated borates, Phys. Chem. dustry (Thompsom, R.; Produção e aplicações de compostos
Minerais, 2, 50 (1977). inorgânicos de boro), Publicação especial n? 31, The Chemi­
• Greenwood, N.N.; The chemistry of gallium, Adv. Inorg. cal Society, London, 1986.
Chem. Radiochem., 5, 91 (1963). • Wade, K. e Bannister, A.J.; Comprehensive Inorganic Chem­
• Greenwood, N.N.; Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol. istry, vol. 1 (Cap. 12; Alumínio, gálio, índio e tálio), Pergamon
1, Cap. 11 (Boro), Pergamon Press, Oxford, 1973. Press, Oxford, 1973.
PROBLEMAS 201

• Wade, K.; Structural and bonding patterns in cluster chem- 14. Qual é o principal minério de alumínio? Como o minério é
istry, Adv. Inorg. Chem. Radiochem., 18, 1-66 (1976). purificado, e como o metal é obtido? Como se chama esse
• Wade, K.; Electron Deficient Compounds, Nelson, London, processo? Qual é a função da criolita nesse processo? Quais
1971. são as aplicações do alumínio?
• Walton, R.A.; Coordination complexes of thallium(III) ha- 15. Com base na posição do alumínio na série eletroquímica,
lides and their behavior in non-aqueous media, Coord. Chem. qual é a sua expectativa em relação à sua estabilidade em
Rev., 6, 1-25 (1971). água? Por que ele é estável ao ar e em água?
• Wiberg, E. e Amberger, E.; Hydrides ofthe Elements ofMain 16. Escreva as equações químicas qúe representam as reações
Groups I-IV, Cap. 5 e 6, Elsevier, Amsterdam, 1971. entre o Al e a) H 4q , b) NaOH, c) N2, d) 02, e) Cl2.
17. Dê dois exemplos de alúmens. Quais são as espécies
presentes em solução, quando esses compostos são
PROBLEMAS dissolvidos em água?
1. 0 primeiro elemento de cada um dos grupos representativos 18. Como é preparado o cloreto de alumínio? Qual é a estrutura
da tabela periódica apresenta propriedades anômalas em do sólido anidro, e da espécie presente em solução aquosa?
relação aos demais elementos do mesmo grupo. Discuta Dê um exemplo de uma reação de Friedel-Crafts onde o
esse fato, focalizando a atenção sobre os elementos Li, Be A1C13 é empregado como catalisador.
eB. Como poderíam ser preparados o LiH4 e o LiAlH4? Para
19.
2. Qual é a principal fonte de boro? Esquematize as etapas que são usados?
de obtenção do boro. 20. Descreva dois métodos diferentes de preparação de Et3Al
3. Desenhe a estrutura da unidade B12 encontrada no sólido e sua aplicação como catalisador na polimerização do
boro. Como se chama essa forma tridimensional? eteno. Compare os produtos formados com aqueles
4. a) Enumere as propriedades que tornam o bórax um padrão descritos no Capítulo 20, na seção sobre o titânio.
primário, e mostre a equação balanceada da reação 21. Compare evidenciando as diferenças entre a química do
utilizado em titulações ácido-base. b) Represente a forma boro e do alumínio.
do íon B03" e explique porque ele apresenta essa estrutura. 22. Discuta os motivos que levam os elementos do Grupo 13 a
5. 0 ácido ortobórico pode ser escrito como H3BO3 ou B(OH)3. formarem compostos trivalentes e monovalentes. Discuta
Como ele se dissocia em água e qual das duas fórmulas é a possibilidade de se formarem compostos divalentes como
a mais útil? Qual é a força desse ácido? Por que o glicerol o GaCl2.
acentua as propriedades ácidas desse composto? Escreva 23. Enumere as principais características sobre a química do
a equação balanceada de uma reação de neutralização com tálio( + I).
ácido bórico.
24. A substância (A) é um sólido deliqüescente, branco
6. Explique sucintamente o que são isopoliácidos, com amarelado, que sublima e nessa forma apresenta uma
referência particular aos boratos. densidade de vapor de 133. (A) reage violentamente com
Apresente um método de preparação do diborano, B2H6. água, formando uma solução (B). A amostra de (B) forma
Por que é denominado composto deficiente em elétrons? um precipitado floculoso branco (C) mediante a adição de
Desenhe a estrutura do diborano, indicando os HNO3 diluído e solução de AgNO3. A adição de uma solução
comprimentos das ligações. O que há de diferente nas diluída de NH4OH provoca a solubilização do sólido (C),
ligações encontradas nesse composto? mas se forma um precipitado gelatinoso, (D), em seu lugar.
8. 0 que ocorre na reação do diborano com a) amônia, b) Este foi filtrado e dissolvido por meio da adição de excesso
tribrometo de boro, e c) trimetilboro? de NaOH, com formação de uma solução límpida (E).
9. Quando CO2 foi borbulhado através de (E), o composto
Descreva a aplicação do diborano em reações de
(D) foi reprecipitado.
hidroboração.
A substância (A) se dissolve em éter seco, sem sofrer
10. Descreva o método de obtenção, a estrutura e os usos do
alterações. A reação dessa solução com LiH pode formar
boro-hidreto de sódio.
os produtos (F) ou (G), respectivamente, dependendo se
11. Compare as estruturas do BF3 gasoso, A1C13 gasoso e A1C13 o LiH se encontra em excesso ou não.
em solução aquosa.
A análise qualitativa da solução (B) forneceu um precipi­
12. Explique os seguintes fatos: tado branco gelatinoso, quando o teste específico para os
a) BF3 não apresenta momento dipolar, mas PF3 possui elementos do Grupo 3 foi aplicado. A reação de 0,1333 g
um momento de dipolo considerável. de (A), dissolvido em água, com 8-hidroxiquinolina levou
b) As moléculas de BF3 e BrF3 têm formas diferentes. a formação de 0,4594 g de precipitado.
13. Descreva o método de preparação e desenhe as estruturas Identifique os compostos de (A) a (G) e escreva as equações
dos di-haletos de boro, gálio e índio. químicas de todas as reações citadas acima.
aoa

OS ELEMENTOS
DO GRUPO f4
INTRODUÇÃO
Tabela 13.2 — Abundância dos elementos na crosta
O carbono está onipresente na natureza. É um terrestre, em peso
constituinte essencial de toda a matéria viva, como proteínas,
carboidratos e gorduras. O dióxido de carbono é fundamen­ Elemento ppm abundância relativa
tal na fotossíntese e é liberado na respiração. A Química
Orgânica se dedica ao estudo da química dos compostos de C 180 17?
carbono. Compostos inorgânicos de carbono produzidos em Si 272.000 2?
larga escala incluem o negro de fumo, coque, grafita, Ge 1,5 54?
Sn 2,1 49?
carbonatos, dióxido de carbono, monóxido de carbono (como 36?
Pb 13
gás combustível), uréia, carbeto de cálcio, cianamida de
cálcio e dissulfeto de carbono. Há um grande interesse em
tomo de compostos organometálicos, carbonilas e complexos OCORRÊNCIA DOS ELEMENTOS
com ligações tt. Com a exceção do germânio, todos os elementos do
A descoberta de que o sílex (S1O2 hidratado) tem uma Grupo 14 são bem conhecidos. O carbono é o 17? e o silício
aresta cortante foi muito importante no desenvolvimento é o 2? elemento mais abundante em peso na crosta terrestre
da tecnologia. Hoje em dia o silício é importante em um (Tab. 13.2). Os minerais de germânio são muito raros,
grande número de produtos fabricados em larga escala. ocorrendo em quantidades ínfimas nos minerais de outros
Podem ser citados o cimento, cerâmicas, argilas, tijolos, vi­ metais e no carvão, não tendo sido muito estudado. Tanto
dros e os silicones (polímeros). O elemento silício extrema­ Si como Ge são importantes na fabricação de semicondutores
mente purificado é importante na indústria microeletrônica e transistores. Embora estanho e chumbo sejam relativa­
mente pouco abundantes, eles ocorrem na forma de minérios
(transistores e "chips” de computadores).
concentrados de fácil extração, de modo que ambos vêm
O germânio é pouco conhecido, mas estanho e chumbo sendo utilizados desde tempos pré-bíblicos.
são bem conhecidos e foram usados como metais desde antes O carbono ocorre em grandes quantidades, combinado
dos tempos bíblicos. Lâminas de chumbo foram usadas nos com outros elementos e compostos, principalmente como
pisos dos Jardins Suspensos da Babilônia (uma das maravi­ carvão, petróleo e rochas calcárias como calcita CaCO3,
lhas do mundo antigo) para impedir o vazamento de água. magnesita MgCO3 e dolomita (MgCO3-CaCO3). O carbono
também é encontrado na forma nativa:
Tabela 13.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação são explorados grandes quantidades de
grafite, e quantidades extremamente
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* pequenas (tomando como referência a
massa) de diamantes também são
Carbono C [He] 2?2p2 IV obtidas por mineração. Tanto o C0>
Silício Si [Ne] 3?3p2 (II) IV como o CO são importantes industrial­
Germânio Ge [Ar] 3d'° 4? 4p2 II IV mente. CO2 ocorre em pequenas quan­
Estanho Sn [Kr] 4d10 5? 5p2 II IV tidades na atmosfera, mas é extre­
Chumbo Pb [Xe] tf* 5d'° 6? 6p2 II IV mamente importante, tendo em vista seu
papel central no ciclo do carbono, como
• Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados
em negrito Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo a fotossíntese e a respiração. 0 CO é um
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são mostrados entre parênteses combustível importante, e forma alguns
203

compostos interessantes do grupo das carbonilas metálicas. Os principais produtores de diamantes são a Austrália
0 silício está onipresente na natureza, como sílica SiO2 (areia 41%, Botsuana 16%, Zaire 14%, a URSS 11% e a África do
e quartzo), e numa grande variedade de silicatos e argilas. Sul 10%. A produção mundial de diamantes naturais foi de
0 germânio só é encontrado em quantidades traço em alguns 98.400.000 quilates ou 19,68 toneladas em 1992. Os
minérios de prata e zinco, e em alguns tipos de carvão. O diamantes maiores são lapidados para jóias e seu tamanho
estanho é obtido como o minério cassiterita SnO2, e o chumbo é medido em quilates (Ig = 5 quilates). Cerca de 30% da
é encontrado no minério galena, PbS. produção é utilizada em joalheria e 70% para fins industriais
diversos, principalmente na fabricação de brocas ou
abrasivos para corte e polimento, pois o diamante é muito
OBTENÇÃO E APLICAÇÕES DOS duro (dureza 10 na escala de Mohs — vide Apêndice N). É
ELEMENTOS economicamente viável produzir sinteticamente pequenos
Carbono diamantes de qualidade industrial, tratando-se a grafita a
altas temperaturas e pressões.
0 negro de fumo (fuligem) é produzido em grandes
quantidades (4,5 milhões de toneladas em 1991). Ele é obtido
pela combustão incompleta de hidrocarbonetos provenientes Silício
do gás natural ou do petróleo. Suas partículas são Mais de um milhão de toneladas de silício são
extremamente pequenas. Cerca de 90% são empregados na produzidos anualmente. A maior parte é adicionada ao aço
indústria da borracha, mais especificamente na fabricação para remoção de oxigênio. Isso é importante na fabricação
de pneus. Outro uso importante é na obtenção de tintas de aços ricos em silício, resistentes à corrosão. Para essa
para impressão. finalidade é conveniente usar ferro-silício, ou seja uma liga
O coque é produzido em enormes quantidades (390 de Fe e Si. Foram produzidos 3,5 milhões de toneladas de
milhões de toneladas em 1991). 339 milhões de toneladas ferro-silício, em 1991. É obtido reduzindo-se SiO2 e raspas
íoram obtidas pela carbonização do carvão a altas de ferro com coque.
temperaturas, na ausência de ar, em grandes fornos. 51
milhões de toneladas foram obtidas pela destilação de óleos SiO2 + Fe + 2C FeSi + 2CO
minerais pesados. O coque é de grande importância na O elemento Si é obtido pela redução do SiO2 com coque
metalurgia do ferro e de muitos outros metais. A destilação de alta pureza. Deve-se utilizar um excesso de SiO2 para
do carvão também constitui uma importante fonte de impedir a formação do carbeto, SiC. O Si tem uma cor azul
compostos orgânicos. acinzentada e um brilho quase metálico, mas é um semi­
Em 1992 foram extraídas por mineração 930.000 condutor e não um metal. Si de elevada pureza (para a
toneladas de grafite natural (China 59%, Coréia do Sul 17%, indústria de semicondutores) é obtido convertendo-se Si em
URSS 7% e índia 5%). Ele geralmente é encontrado SiCl4, purificando-o por destilação, e reduzindo-se o cloreto
misturado com mica, quartzo e silicatos, constituindo cerca com Mg ou Zn.
de 10% a 60%. O grafite é separado da maioria das impurezas
por flotação. A purificação final é realizada aquecendo-se SiO2 + 2C -» Si + 2CO
com HC1 e HF a vácuo, para remover os últimos vestígios de Si + 2C12 -> SÍCI4
compostos de silício, na forma de SiF4. Depósitos sedi­ SÍCI4 + 2Mg—>Si + 2MgCl2
mentares de carbono são minerados no México. Supunha-
se que se tratasse de carbono amorfo, mas atualmente A indústria eletrônica necessita de pequenas
admite-se que se trata de grafite microcristalino (finamente quantidades de silício e de germânio extremamente puros
dividida). Praticamente a mesma quantidade de grafite (com quantidade de impurezas inferiores a 1 por 109). Esses
minerada é também obtida artificialmente. materiais são isolantes quando puros, mas tornam-se
semicondutores do tipo-p ou do tipo-n quando “dopados”
3C + SiO2 aquec.
SÍC + 2C0 2S00'C
^(grafite) + $'(g) com um elemento do Grupo 13 ou do Grupo 15, respecti­
vamente. São usados para a fabricação de transistores e
0 grafite é utilizado na fabricação de eletrodos, na semicondutores. Si de alta pureza é usado para fabricar
indústria do aço, na fundição de metais, na preparação de “chips" de computadores (vide “Dispositivos semicondutores
cadinhos, como lubrificante e ainda em lápis, lonas de freios microminiaturizados", no Capítulo 3). Para se obter Si e Ge
e escovas para motores elétricos. É também usado como extremamente puros, esses materiais são inicialmente
moderador nos reatores nucleares resfriados a gás, onde ele purificados tanto quanto possível, por exemplo por uma
diminui a velocidade dos nêutrons. cuidadosa destilação fracionada do SiCI4 no caso do silício.
0 carvão ativado é fabricado aquecendo-se ou oxidando- O estágio final de purificação é realizado por um processo
se quimicamente a serragem ou a turfa. A produção mundial denominado “ refino por zona" ou “fusão por zona”. TYata-
foi de 864.200 toneladas em 1991. O carvão ativado tem se de um excelente método para a purificação de pequenas
uma enorme área superficial, sendo usado para alvejar o quantidades de material. Uma barra do elemento, já bastante
açúcar e muitos produtos químicos. É também usado como pura, é colocada num longo tubo de quartzo preenchido
absorvedor de gases venenosos em máscaras contra gases, com um gás inerte. Uma espira de aquecimento funde uma
como filtros no tratamento de águas residuais e como estreita faixa dessa barra. O aquecedor se move lentamente
catalisador em algumas reações. de uma extremidade da barra à outra, fazendo com que Si
eo4 □S ELEMENTOS DO BRUPO 14

puro (ou metal puro) cristalize a partir da massa em fusão. pode ser usado como resistor para aquecer e impedir a
As impurezas são mais solúveis no líquido e são arrastadas deposição de gelo sobre o vidro. São usadas grandes
para as extremidades da barra, que são cortadas e despre­ quantidades de compostos orgânicos de estanho (estima-se
zadas. Silício próprio para a fabricação de semicondutores em mais de 40.000 toneladas/ano). Compostos como R2SnX2
também pode ser obtido reduzindo-se com sódio o Na2[SiF6). (onde R é um radical alquil como n-octil, e X um resíduo de
Este é um subproduto do processo de fabricação de ácido carboxílico como o laurato) são usados como estabi-
fertilizantes fosfatados a partir da fluoroapatita. lizantes para polímeros halogenados, como o PVC. Sem o
estabilizante, o polímero é degradado com relativa facilidade
Na2[SiF6] + 4Na -» Si + 6NaF pela luz solar, ar ou aquecimento, tornando-se quebradiço e
descorado. O composto contendo o radical butil, Bu2SnX2. é
Germânio usado para curar borrachas e silicone, a temperatura ambien­
te. Compostos inorgânicos de estanho são empregados com-o
O germânio pode ser recuperado das cinzas do carvão,
retardantes de chama e supressores de fumaça. Derivados
mas atualmente prefere-se recuperá-lo das poeiras liberadas
triorgânicos, como o Bu3SnOH ou Ph3SnOAc são largamente
no processo de obtenção do metal a partir dos minérios de
usados na agricultura como fungicidas, por exemplo no
zinco. Diversas etapas são necessárias para recuperar o Ge
controle da "ferrugem” da batata (Botrytis infestans), videi­
da poeira, concentrá-lo e purificá-lo. Obtém-se GeO2 puro,
ras, arroz e beterraba. Compostos semelhantes matam ácaros
que é reduzido a Ge elementar reagindo-se com H2 a 500
vermelhos que atacam frutas como maçãs e pêras, bem como
°C. Germânio com pureza adequada para a fabricação de
outros insetos e larvas. São também usados no tratamento
transistores é obtido por refino por zona. A produção mundial
da madeira. Foi utilizado na preparação de tintas especiais
foi de cerca de 50 toneladas em 1993 (20% do total dos
para barcos, que dificultam a proliferação de cracas.
Estados Unidos). É utilizado principalmente na confecção
Atualmente estão sendo usados produtos alternativos, pois
de dispositivos a base de semicondutores e transistores. É
há indícios de que o metal pesado Sn já entrou na cadeia
transparente à luz infravermelha e é por isso empregado na
alimentar.
fabricação de prismas, lentes e “janelas” para espectrofo-
tômetros infravermelho e outros equipamentos científicos.
Chumbo
Estanho O principal minério de chumbo é a galena, PbS. Ela é
preta, brilhante e muito densa. Os principais fornecedores
O único minério importante de estanho é a cassiterita,
são URSS 17%, Austrália 14%, Estados Unidos 10%, Canadá
SnO2. Foram minerados 177.000 toneladas (conteúdo de
9% e Peru, México e China 6% cada um. A galena é minerada
metal) em 1992. Os principais fornecedores são atualmente
e depois separada de outros metais por flotação. Há dois
a China 25%, Indonésia 17% e Brasil 15%. O estanho foi
minerado na Comualha, Inglaterra, desde o tempo dos roma­ métodos para a obtenção do elemento:
nos até o presente século, porém atualmente tais minas são 1. Aquecimento na presença de ar para formar PbO,
economicamente inviáveis. seguido da redução com coque ou CO num alto-forno.
O SnO2 é reduzido ao metal usando carbono, num forno
elétrico a 1.200-1.300 °C. O produto freqüentemente contém 2PbS + 3O2 -> 2PbO + 2SO2 > 2Pb(iiquido) + CO2(gás)
pequenas quantidades de ferro, que tornam o metal mais
2. O PbS é parcialmente oxidado pela passagem de ar
duro. O Fe é removido injetando ar na mistura fundida, para
oxidá-lo a FeO, que então flutua. através do material aquecido. Depois de um tempo o
fornecimento de ar é interrompido mantendo-se o
Os principais usos do estanho são na fabricação da folha aquecimento. Nessas condições ocorre uma reação de
de flandres por eletrodeposição sobre chapas de aço e na auto-redução da mistura.
fabricação de ligas. A folha de flandres é muito utilizado na
fabricação de embalagens para alimentos e bebidas. A liga aquecimento na
mais importante de estanho é a solda (Sn/Pb), mas há muitas 3Pbs presença de ar * PbS + 2PbO
outras, incluindo o bronze (Cu/Sn), "bronze duro” (“gun aquecimento na
metal”) (Cu/Sn/Pb/Zn) e pewter (Sn/Sb/Cu). O SnO2 é ausência de ar -> 3Pb(iíquido) + SOzlgls)
usado na vitrificação de cerâmicas e é freqüentemente
misturado com outros óxidos metálicos para ser usado como O chumbo obtido contém diversas impurezas metálicas:
pigmento para utensílios cerâmicos. SnCl4 e Me2SnCl2 são Cu, Ag, Au, Sn, As, Sb, Bi e Zn. Eles são removidos por
utilizados para a preparação de filmes muito finos de SnO2 resfriamento até próximo do ponto de fusão do chumbo,
sobre superfícies de vidro. Com isso o vidro se torna mais quando solidificam primeiro o Cu e depois o Zn contendo a
resistente, permitindo a fabricação de frascos com paredes maior parte do Au e do Ag. As, Sb e Sn são oxidados antes
mais finas, além de vidros resistentes ao risco (úteis na do Pb a As2O3, Sb2O3 e SnO2, que flutuam na superfície do
fabricação de lentes). Películas um pouco mais espessas são metal fundido, podendo assim ser removidos. A produção
depositadas sobre vidros planos para reduzir as perdas de mundial de chumbo foi de 5,3 milhões de toneladas em 1992.
calor. O filme de SnO2 permite a passagem de luz visível 3,1 milhões foram obtidos a partir de PbS como matéria-
mas reflete a radiação infravermelha, impedindo a fuga de prima. Os principais produtores de minérios de chumbo são
calor do interior das casas. Um filme de SnO2 é aplicado a Austrália 19%, Estados Unidos 13%, Canadá 11 % e China
também nas janelas de aviões. Ele conduz eletricidade e 10%. A reciclagem de raspas de chumbo forneceu outras
ESTRUTURA E ALOTROP1A DOS ELEMENTOS 205

2,2 milhões de toneladas. Cerca de 55% do chumbo produ­


zido são utilizados na fabricação de baterias e acumuladores
de chumbo/ácido. Em 1985 foram fabricadas mais de 158
milhões de baterias de carro. Nas baterias as placas de
suporte para os eletrodos são fabricadas com uma liga
constituída de 91 % de Pb e 9% de Sb. O material ativo do
ânodo é o PbO2 e do cátodo Pb esponjoso. Cerca de 80% do
chumbo das baterias é recuperado e reciclado. Cerca de 15 %
da produção de chumbo são empregados na fabricação de
placas, tubulações e soldas. A fabricação de PbEt4 como
aditivo para a gasolina já consumiu de 10 a 20 % da produção
de chumbo, mas vem diminuindo rapidamente. Cerca de
10% são consumidos na fabricação de tintas e pigmentos.
Pb3O4 é usado como pigmento vermelho em tintas anti- Figura 13.1 — Estrutura cristalina do diamante (Wells, A.F.,
ferrugem (zarcâo) e o "branco de chumbo” (PbCO3). Pb(OH)2 Structural Inorganic Chemistry, Clarrendon Pres, Oxford)
era antigamente muito usado para tornar as tintas “opacas”.
Seu uso vem declinando por causa da toxicidade do chumbo, hexagonais de átomos de C, como se fosse uma molécula
sendo o TiO2 uma boa alternativa. Plumbato de cálcio, gigante formada por anéis de benzeno fundidos (Fig. 13.2).
Ca2PbO4, é usado para a proteção anti-ferrugem de chapas Forças fracas de van der Walls mantêm unidas essas camadas.
de aço onduladas e cromato de chumbo, PbCrO4, é o No a-grafite as camadas estão dispostas na sequência
pigmento amarelo intenso usado em tintas para sinalização ABAB..., de modo que a terceira camada encontra-se exata­
de rodovias. Compostos de chumbo também são empregados mente na mesma posição da primeira. Na p-grafite a
na fabricação dos “vidros cristal” e vidros lapidados, bem seqüência das camadas é ABCABC.... As duas formas podem
como para vitrificar materiais cerâmicos. ser convertidas uma na outra. O aquecimento transforma a
forma p na a e a moagem transforma a a-grafite em P-grafite.
Em ambos os comprimentos das ligações C-C numa camada
ESTRUTURA E ALOTROPIA DOS são iguais a 1,41 A (semelhante à distância C-C de 1,40 Â no
ELEMENTOS benzeno). A distância entre as camadas é de 3,35 Â. Esta
0 carbono pode existir em diversas formas alotrópicas, distância interlamelar é grande — bem mais que o dobro do
que incluem o diamante, a e p-grafite, a rara forma hexago- raio covalente do carbono (2x1,54 A = 3,08 A). Logo, a
nal do diamante, e várias moléculas discretas tais como o ligação entre as camadas é fraca. A grafite pode ser facilmente
C60, que na realidade são clusters de carbono denominados clivado separando as camadas, o que explica a baixa dureza
coletivamente de fulerenos. dos seus cristais (> 1 na escala de Mohs, vide Apêndice N).
A grafite é usado como lubrificante, sozinho ou disperso em
Si, Ge e Sn adotam uma estrutura semelhante ao do
óleo. Já o diamante é duro (10 na escala de Mohs) e usado
diamante, mas o Sn também pode ter forma metálica. O Pb
como abrasivo. O grande espaçamento entre as camadas de
só existe na forma metálica. O Ge é incomum porque o
grafite também implica que os átomos não ocupam o espaço
líquido se expande quando forma o sólido. Essa propriedade
de maneira muito efetiva. Assim a densidade da grafite (2,22
única é comum ao Ga, Ge e Bi.
g cm-3) é menor que a do diamante (3,51 g cm-3).
13,2 *C
a-Sn =?= ± p-Sn Na grafite, apenas três dos elétrons de valência de cada
estanho cinza estanho branco átomo de carbono estão envolvidos na formação das ligações
(estrutura de diamante) (metálico)
o (utilizando orbitais híbridos sp2). O quarto elétron forma
0 diamante é extremamente inerte, em contraste com uma ligação it. Os elétrons tt estão deslocalizados por toda a
a grafita que é bastante reativa. Os diamantes são incolores, camada e são móveis. Logo, a grafite pode conduzir a eletri-
embora os diamantes industriais sejam muitas vezes pretos.
A maioria dos diamantes naturais contém pequenas
quantidades de nitrogênio, mas os “diamantes azuis" contém
Al ao invés de N. No diamante, cada átomo de C está ligado
tetraedricamente a 4 outros átomos de carbono, cada um a
uma distância de 1,54 A. Os tetraedros estão ligados uns
aos outros formando uma molécula gigante tridimensional.
A célula unitária é cúbica. Ligações covalentes fortes se
estendem em todas as direções. Por isso o ponto de fusão
do diamante é anormalmente elevado (cerca de 3.930 °C) e
é muito duro (vide Fig. 13.1). Numa forma muito rara do
diamante, os tetraedros estão dispostos de maneira diferente,
gerando uma estrutura semelhante à da wurtzita, com uma
célula unitária hexagonal.
0 grafite é constituído por camadas planas de átomos Figura 13.2 — a) A estrutura de uma camada de grafite, b) Estrutura
de carbono. Cada camada é uma rede constituída por malhas da a-grafite
eoe □5 ELEMENTOS □□ 6RUPO 14

Tabela 13.3 — Alguns compostos de carbono com números


de coordenação mais elevados

Composto Número de coordenação

A12(CH3)6 5
B|oC2HioR2 6
Li4(CH3)4 7
[CO8C(CO)18]2- 8
Figura 13.3 — Estrutura do buckminster fulereno
negatividade. Como resultado desses fatores, o primeiro
cidade dentro de uma mesma camada, mas não de uma elemento do grupo apresenta maior energia de ionização,
camada para outra. sendo mais covalente e menos metálico.
A grafite é termodinamicamente mais estável que o Usando a teoria clássica da ligação, o primeiro elemento
diamante, sendo sua energia livre de formação 1,9 kl mol-1 pode formar no máximo quatro ligações covalentes, pois
menor, à temperatura ambiente e pressão normal. Termodina­ estão disponíveis para formar ligações apenas os orbitais s e
micamente, é favorável a conversão do diamante em grafite. p. Isso limitaria o número de coordenação a 4 nesses
Todavia, isso normalmente não ocorre porque a energia de compostos. A maioria dos compostos de carbono apresenta
ativação do processo é muito grande. Se essa energia de número de coordenação 3 ou 4. Contudo, o conceito de
ativação estiver disponível a transformação ocorre. Por ligações multi-centradas está agora bem fundamentado, e
exemplo, quando brocas contendo diamantes como abrasivo conhecem-se diversos compostos em que o carbono tem
“queimam" forma-se grafite devido ao superaquecimento. números de coordenação maiores, como mostra a Tab. 13.3.
O processo inverso não é termodinamicamente possível,
Além disso, o carbono difere dos outros elementos do
sendo necessárias condições extremas de temperatura e
Grupo 14 em sua capacidade única de formar ligações
pressão para converter grafite em diamante. O grafite pode
múltiplas pn-pn, tais como C = C, C=C, C = O, C = S e ON.
ser convertido em diamantes sintéticos a temperaturas de
Os demais elementos do grupo não formam ligações pit-px,
1.600 °C e pressão de 50.000 a 60.000 atmosferas.
principalmente porque os orbitais atômicos são muito
Quando uma descarga elétrica gera faíscas entre grandes e difusos para permitir uma interação efetiva; mas
eletrodos de grafite é produzido fuligem (uma atmosfera eles podem utilizar orbitais d para formar ligações múltipla s,
inerte de argônio é necessário para evitar a formação de CO particularmente entre Si e N e entre Si e O. Assim, o composto
e CO2). Esta é constituída principalmente por negro de fumo, N(SiH3)3 é plano e contém ligações pn-dn, mas o composto
mas contém quantidades apreciáveis do cluster de carbono N(CH3)3 é piramidal e não contém ligações tt.
Ceo, também denominados buckminster fullereno. Pequenas
O carbono também difere dos demais elementos do
quantidades de outros fullerenos semelhantes, C32, C50, C70,
grupo em sua acentuada capacidade de formar cadeias
C76 e c84 também podem ser produzidas. Os fullerenos são
(catenação). Isso porque as ligações C-C são fortes, e as
extraídos facilmente da mistura de fuligem por dissolução
energias das ligações Si-Si, Ge-Ge e Sn-Sn diminuem
em benzeno ou solventes hidrocarbonetos, produzindo uma
progressivamente. (Tab. 13.4).
solução vermelha de onde é possível obter cristais de colora­
ção mostarda. Os diferentes compostos podem ser separados Carbono e silício só possuem elétrons s e p, mas os
por cromatografia. outros elementos seguem uma série completa de elementos
de transição com dez elétrons d. Esperam-se, pois, algumas
Esse isômero do carbono difere do diamante e da grafita
diferenças, e o carbono e o silício diferem não só entre si,
(que forma redes), pelo fato de formar moléculas. A molécula
mas também dos demais elementos do Grupo, enquanto
de Ceo se parece com uma bola de futebol, consistindo de
que germânio, estanho e chumbo variam de maneira
anéis de 5 e 6 membros interligados como na Figura 13.3.
progressiva.
Os fullerenos são compostos covalentes e por isso são
solúveis em solventes orgânicos. Contudo, podem ser
reduzidos eletro-quimicamente e reagem com os metais do Tabela 13.4 — Energias de ligação
grupo 1, formando sólidos como K3C60. Esse composto se
comporta como um supercondutor abaixo de 18 K, o que Ligação Energia de Observações
ligação
significa que transporta corrente elétrica com resistência zero.
(kJ mol-1)
C60 reage com OsO4, formando uma ligação com uma das
duplas da gaiola, e também forma complexos de platina. C-C 348 Forma muitas cadeias de grande
comprimento
Si-Si 297 Forma poucas cadeias, até SisHu
DIFERENÇAS ENTRE O CARBONO, O
no hidretos, e Si16F34, Si6C)4 e
SILÍCIO E OS DEMAIS ELEMENTOS DO Si4Brl0 com os halogênios
GRUPO Ge-Ge 260 Forma poucas cadeias, até Ge6H14
nos hidretos, e Ge2C|6 com cloro
Em geral, o primeiro elemento difere do restante do Sn-Sn 240 Forma o dímero Sn2H6, nos hidretos
Grupo, por causa de seu menor tamanho e maior eletro-
PROPRIEDADES FÍSICAS 207

DATAÇÃO COM CARBONO RADIOATIVO diferença de tamanho entre Sn e Pb se deve ao preenchimento


do subnível 4f.
A técnica da datação com carbono radioativo pode ser
usada para determinar a idade de objetos arqueológicos. O
carbono ocorre essencialmente como o isótopo 12C, mas há Energias de ionização
uma pequena quantidade do isótopo 13C, o que leva à massa As energias de ionização decrescem do C para o Si, e a
atômica de 12,011. Na atmosfera, o nitrogênio é bombardeado seguir variam de forma irregular por causa dos efeitos do
com nêutrons cósmicos, o que forma o isótopo 14C. preenchimento dos níveis d e f. A quantidade de energia
necessária para formar um íon M4 + é extremamente elevada,
‘«N+Jn ------- > 14C+;h e assim compostos iônicos simples são raros. Os únicos
elementos que mostrarão uma diferença suficiente de
Esse isótopo de carbono reage com oxigênio, formando
eletronegatividades para formar ligações iônicas são F e O.
I4CO2, e acaba sendo utilizado pelas plantas verdes na
Os compostos SnF2, PbF2, SnF4, PbF4, SnO2 e PbO2 são
fotossíntese, que leva à síntese de glicose. A glicose é utilizada
bastante iônicos, mas o único íon metálico significativo é o
pela planta na síntese de amido, proteínas, celulose e outros
Pb2 + .
materiais constituintes de sua estrutura. Assim, todos os
tecidos da planta contêm traços de 14C. Os animais alimen­
tam-se de plantas, e assim também conterão traços de 14C. Pontos de fusão
Esse isótopo é fracamente radioativo. Ele sofre decaimento O C apresenta um ponto de fusão extremamente
beta e tem meia-vida de 5.668 anos. Enquanto a planta ou o elevado. O Si funde a temperaturas consideravelmente
animal estiverem vivos, existe um equilíbrio entre o menores que os do C, mas os valores para o Si e o Ge ainda
radiocarbono assimilado e a quantidade perdida por são bastante elevados. Todos eles têm um retículo do tipo
decaimento. Esse equilíbrio leva a 15,3± 0,1 desintegrações do diamante. A fusão envolve a ruptura das ligações
por minuto por grama de carbono. Quando a planta ou o covalentes fortes existentes nesse retículo, o que requer
animal morre, cessa a assimilação de radiocarbono, mas o bastante energia. Os pontos de fusão decrescem de cima
decaimento beta continua. Portanto, uma amostra muito para baixo no grupo porque as ligações M-M se tornam
antiga de madeira, tecido, papel, couro, etc. será menos mais fracas à medida que os átomos aumentam de tamanho
radioativa do que uma amostra recente. Uma quantidade (Tab. 13.4). Sn e Pb são metálicos e têm pontos de fusão
muito pequena da amostra é queimada com O2 e o CO2 bem mais baixos. Eles não aproveitam todos os quatro
produzido é introduzido num detector de radiação adequado. elétrons externos na ligação metálica.
Medindo-se cuidadosamente a velocidade de decaimento
presente, é possível calcular há quanto tempo a planta ou o
Caráter metálico e não-metálico
animal morreram. Esse método fornece uma escala absoluta
para datar objetos de origem vegetal ou animal, com idades A transição de não-metal para metal com o aumento
entre 1.000 e 10.000 anos. Recentemente essa técnica foi do número atômico é bem ilustrada com os elementos do
usada para determinar a idade do Sudário de Túrim, e de Grupo 14, onde o C e o Si são não-metais, o Ge tem algum
muitos objetos. W.F. Libby recebeu o Prêmio Nobel de caráter metálico, e o Sn e Pb são metais. O aumento de
Química de 1960 pelo desenvolvimento dessa técnica. caráter metálico se manifesta nas estruturas e no aspecto
dos elementos, através de propriedades físicas como
maleabilidade e condutividade elétrica, e através de
PROPRIEDADES FÍSICAS propriedades químicas, como o aumento da tendência de
Raios covalentes formar íons M2 + , ou as propriedades ácidas ou básicas de
óxidos e hidróxidos.
Os raios covalentes aumentam de cima para baixo
dentro do Grupo. A diferença de tamanho entre o Si e o Ge
é menor do que seria de se esperar, porque o Ge possui uma Compostos tetracovalentes
camada 3d preenchida, e a blindagem da carga nuclear é A maioria dos compostos são tetracovalentes. Nesse
menos eficiente. De um modo semelhante a pequena caso todos os quatro elétrons externos
participam da formação de ligações. Na
Tabela 13.5 — Raios covalentes, energias de ionização, pontos de fusão e ebulição e teoria das ligações de valência isso é
eletronegatividades explicado pela promoção de elétrons do
estado fundamental para um estado
Raio Energias de ionização P.F. P.E. Eletrone-
covalente (kJ mol-1) CC) CC) gativida- excitado. A energia necessária para
(A) de desemparelhar e promover um elétron
1? 2? 3? 4? Pauling é mais do que compensada pela energia
liberada na formação de duas ligações
c 0,77 1.086 2.354 4.622 6.223 4.100 2,5 covalentes adicionais, a distribuição dos
Si 1,17 786 1.573 3.232 4.351 1.420 3.280 1.8 quatro orbitais leva a uma estrutura
Ge 1,22 760 1.534 3.300 4.409 945 2.850 1.8 tetraédrica, consistente com a hibri-
Sn 1,40 707 1.409 2.943 3.821 232 2.623 1.8 dização sp3.
Pb 1,46 715 1.447 3.087 4.081 327 1.751 1,8
Configuração eletrônica do átomo
208 □5 ELEMENTOS DO GRUPO 14

de carbono no estado fundamental dois elétrons desem- com F2 e I2 por aquecimento, com formação de SnDQ. 0 Pb
parelhados, possibilidade de formar duas ligações covalentes reage com F2 a frio formando PbF2, e com Cl2 a quente,
apenas formando PbCl2.
Is 2s _____ 2p____
Estrutura eletrônica do átomo
de carbono — estado fundamental EU E3 E El I
Dois elétrons desemparelhados,
EFEITO DO PAR INERTE
podem formar somente duas O efeito do par inerte se mostra em caráter crescente
ligações covalentes
nos elementos mais pesados do Grupo. Há um decréscimo
Átomo de carbono —
estado excitado eu e eee
I_ l_______ I
i na estabilidade do estado de oxidação (+ IV) e um aumento
na estabilidade do estado de oxidação (+ II) ao percorrermos
Quatro elétrons desempa­
relhados, podem formar o grupo de cima para baixo. 0 Ge( + II) é um forte agente
quatro ligações covalen­
tes, resultando uma redutor, enquanto que o Ge( + IV) é estável. 0 Sn( + II) existe
estrutura tetraédrica
na forma de íons simples, que são fortemente redutores,
mas o Sn( + IV) é covalente e estável. O Pb( + II) é iônico,
REATIVIDADE QUÍMICA estável e mais comum do que Pb( + IV), que é oxidante. As
valências menores são mais iônicas porque o raio do íon
Os elementos desse Grupo são relativamente pouco M2+ é maior que o do M4 + , e de acordo com as regras de
reativos, mas a reatividade aumenta de cima para baixo Fajans, quanto menor o íon, maior a tendência à covalência.
dentro do Grupo. O estado de oxidação M11 se torna
sucessivamente mais estável descendo pelo Grupo. O Pb às
vezes parece mais “nobre” (menos reativo) do que seria de POTENCIAIS PADRÃO DE REDUÇÃO
se esperar a partir de seu potencial de eletrodo padrão (VOLT)
de -0,13 volt. A inércia se deve em parte ao revestimento da
superfície por uma camada de óxido, e em parte à elevada Solução ácida Solução básica
sobretensão para a redução de H+ a H2 numa superfície de
Pb. A produção de H2 a partir de H+ num eletrodo de chumbo Estados de oxidação
é cineticamente desfavorável, e requer-se um potencial muito +IV +11______ 0
+IV +11_______ 0
mais elevado que o potencial padrão de redução.
C, Si e Ge não são afetados pela água. Sn reage com Sn4+ *°-15 Sn2+—-0,14
°-14 ■ Sn [Sn(OH))l- =42_ HSnO) =42L Sn
vapor de água para formar SnO2 e H2. O Pb não é afetado PbO2 =tldé_Pb24. ~°-13 Pb PbO2---- ---------- PbO Pb
pela água, provavelmente por causa da formação de uma
camada protetora de óxido.
C, Si e Ge não são afetados por ácidos diluídos. Sn se
dissolve em HN03 diluído, formando Sn(NO3)2. O Pb se dis­
COMPOSTOS DE GRAFITE
solve lentamente em HC1 diluído, formando o PbCl2 pouco Na grafite, é grande a distância entre as diversas
solúvel, e se dissolve mais rapidamente em HN03 diluído, camadas: portanto, as ligações entre as camadas são fracas.
formando Pb(NO3)2 e óxidos de nitrogênio. O Pb também Assim, um grande número de substâncias pode invadir o
se dissolve em ácidos orgânicos (por exemplo, acético, cítrico espaço entre as camadas, formando compostos de interca­
e oxálico). O Pb não se dissolve em H2SO4 diluído, porque lação de composição variada. Quando o espaço entre as
se forma uma película protetora de PbSO4. camadas for ocupado por átomos, moléculas ou íons, eles
O diamante não é afetado por ácidos concentrados, mas provocam aumento da distância entre estas camadas. Desde
o grafite reage com HN03 concentrado à quente, formando que as camadas permaneçam planas, o novo composto
ácido melítico, e com uma mistura de HF e HN03 concen­ mantém um caráter semelhante ao do grafite: os elétrons x
trados a quente, formando óxido de grafite. O Si é oxidado e continuam deslocalizados sobre toda a camada, retendo a
fluoretado por HF/HNO3 concentrados. O Ge se dissolve capacidade de conduzir a corrente elétrica. Se os átomos
lentamente em H2SO4 concentrado e quente e em HN03. 0 invasores adicionarem elétrons ao sistema n, a condutividade
Sn se dissolve em diversos ácidos concentrados. O Pb não elétrica aumentará. Reações desse tipo (ou seja, reações de
se dissolve em HC1 concentrado porque se forma uma intercalação) são freqüentemente reversíveis.
película protetora de PbCl2. Quando a grafite é aquecida a cerca de 300 °C com
C não é afetado por álcalis. Si reage lentamente a frio vapores dos metais mais pesados do Grupo 1, K, Rb eCs,
com soluções aquosas de NaOH, reagindo rapidamente à ela absorve o metal, formando um composto de cor bronze
quente, com formação de soluções de silicatos, [SiO4]4". Sn de fórmula CeM. A cor de bronze se deve à formação de
e Pb são atacados lentamente por álcalis a frio, e rapidamente agregados de átomos metálicos nessas concentrações de
por álcalis a quente, formando estanatos Na2[Sn(OH)6] e metal relativamente elevadas, da mesma maneira como se
plumbatos Na2[Pb(OH)6]. Sn e Pb são, portanto, anfóteros. formam agregados em soluções destes metais em amônia
O diamante não reage com os halogênios, mas o grafite líquida. Se o C8M for aquecido a 350 °C sob pressão reduzida,
reage com F2 a 500 °C, formando compostos de intercalação ocorre a perda de metal, formando-se uma série de compostos
ou fluoreto de grafita (CF)n. Si e Ge reagem facilmente com de intercalação, variando de uma coloração cinza azulada, a
todos os halogênios, formando haletos voláteis SiX4 e GeX4. azul ou preto, dependendo do número de camadas ocupadas
Sn e Pb são menos reativos. Sn reage com Cl2 e Br2 a frio, e pelo metal (verTab. 13.6).
COMPOSTOS OE 6RAFITE 209

O FeCl3 reage com a grafite formando um tipo diferente


Tabela 13.6 — Representação idealizada de compostos de
grafite, mostrando diferentes números de camadas de composto de intercalação. Um comportamento seme­
invadidas pelo metal lhante é encontrado com:
D os halogênios Cl2 e Br2;
C8M C24M C36M C48M CsoM 2) HF;
bronze azul-aço azul preto preto
3) um grande número de haletos, incluindo CdCl2, CuBr2,
cada cada cada cada cada FeCl3, AICI3, CIFj, TiF4, M0CI5, SbFs, UC16 e XeF6;
camada segunda terceira quarta quinta
invadida camada camada camada camada 4) diversos óxidos, como CrO3, MoO3, SO3, N2OS e C12O7;
invadida invadida invadida invadida 5) e alguns sulfetos, como FeS2, PdS, V2S3.
Alguns dos compostos invasores podem atuar como
I -M -M -M -M -M receptores de pares eletrônicos. Com outros, por exemplo
FeC13, forma-se um composto de fórmula C6FeCl3, em que o
-M FeCl3 forma um retículo em camadas dentro das camadas
hospedeiras da grafite. Isso corresponde quase ao retículo
-M -M lamelar formado pelo FeC^. A presença desse tipo de espécie
invasora aumenta a condutividade elétrica da grafite em um
-M -M fator de até dez vezes. Parece haver uma transferência de
elétrons da grafite para os átomos invasores. No caso do Cl2
-M -M -M e do Br2, o halogênio pode remover elétrons ligantes da grafite
(Cl + e“ —» Cl'), deixando um “buraco positivo” na camada
-M -M
de valência. O "buraco positivo" pode migrar, podendo
portanto conduzir corrente. Não se sabe como ocorre a
-M -M -M
condução nos compostos de intercalação de haletos.
-M Uma terceira classe de compostos é formada entre grafite
e O e F. Esses compostos não são condutores. O óxido de
-M -M -M grafite é formado quando o grafite é oxidado com reagentes
fortes, como HN03 concentrado, HC1O4 ou KMnO4. O óxido
-M -M de grafite é instável, amarelo esverdeado, e não-estequio-
métrico. Ele se decompõe lentamente a 70 °C, e se inflama
-M -M -M a 200 °C, com formação de H2O, CO2 e CO. A relação O:C se
aproxima de 1:2, mas freqüentemente há deficiência de
oxigênio, bem como presença de hidrogênio. O espaçamento
C + M-> c8m entre as camadas aumenta para 6-7 Â. O óxido absorve água,
C8M C24M —» C38M —> C48M —> C8qM álcoois, acetona e uma variedade de outras moléculas. Isso
Compostos de intercalação de Li e de Na são mais pode aumentar o espaçamento entre as camadas até 19 A. A
difíceis de se obter, mas conhecem-se vários destes com­ difração de raios X mostra uma estrutura em camadas, com
postos: CgLi, C^Li, C16Li, CleLi e C48Li. camadas “dobradas" de uma rede hexagonal de átomos. As
unidades C6 se encontram geralmente na conformação em
A estrutura cristalina do C8K é conhecida. As camadas “cadeira”, mas permanecem algumas poucas ligações C = C.
de grafite permanecem intactas, mas a distância entre as
Os oxigênios formam "pontes" (ligações tipo éter) C-O-C, e
camadas aumenta, por causa da presença dos átomos do
grupos C-OH, que podem sofrer tautomeria cetoenólica de
metal. Os átomos de C de uma camada se dispõem
sC-OH para >C = O. As camadas estão dobradas, porque
verticalmente sobre os de outra camada, em vez de formarem
todos os quatro elétrons de um átomo de carbono estão agora
0 arranjo ABAB... na a-grafite. Como as camadas permane­
envolvidos em ligações . Isso destrói o sistema deslocalizado
cem planas, elas conservam seu sistema de elétrons 7t deslo-
de elétrons it móveis encontrado nas camadas planas de
calizados. Portanto, o C8K pode conduzir a eletricidade, mas
a resistência elétrica é consideravelmente menor que o da grafite, o que explica a perda de condutividade elétrica.
a-grafite, ou seja, o CSK conduz melhor que a a-grafite (re­ Aquecendo grafite na presença de F2 a 450 °C forma-se
sistência a 285 K: a-grafite, 28,4 ohm cm-1; C8K, 1,02 ohm fluoreto de grafite. Na presença de HF a reação transcorre a
cm"1). A grafite é diamagnética, e C8K é paramagnético. Isso temperaturas mais baixas. Isso pode acontecer em células
sugere que as ligações entre o metal e as camadas de grafite produtoras de F2, o que não só destruirá o eletrodo, mas
envolvem a transferência de um elétron do metal alcalino pode provocar uma explosão. O produto CFn é não-estequio-
para 0 sistema it (isto é, à banda de condução) das camadas métrico, variando de n igual a 0,7 a 0,98. A cor varia de
de grafite (K-»K+ + e"). A presença das espécies invasoras preto a branco, passando por cinza e prateado, dependendo
força as camadas de grafite a se afastarem, passando de do teor crescente de flúor. O espaçamento entre as camadas
uma distância de 3,35 Â a uma distância que chega até a 10 é de cerca de 8 A. Supõe-se que a estrutura seja uma estrutura
A. Estes compostos de grafite com metais alcalinos são muito em camadas, com camadas dobradas, e envolvendo ligações
reativos. Eles podem explodir em água e reagem vigoro­ tetraédricas nos átomos de C. CF não conduz a eletricidade,
samente quando expostos ao ar. e é pouco reativo.
eio □S ELEMENTOS □□ GRUPO 14

CARBETOS CaC2, SrC2 e BaC2 a forma alongada do íon (OC)2" provoca


uma deformação tetragonal da célula unitária, isto é, há um
Compostos de carbono com um elemento menos
alongamento da célula unitária em uma das direções (ver
eletronegativo são chamados de carbetos. A definição exclui
Capítulo 3, Fig. 3.12).
compostos de carbono com N, P, O, S e halogênios. Os
carbetos pertencem a três tipos principais: Outro carbeto de magnésio, Mg2C3, contém uma
unidade C3, e na hidrólise com água fornece propino,
1) iônicos ou salinos CH3-OCH.
2) intersticiais ou metálicos
3) covalentes
As fórmulas de alguns desses compostos não podem Carbetos intersticiais
ser representadas pela simples aplicação das regras de Os carbetos intersticiais são formados principalmente
valência. Os três tipos são preparados aquecendo-se o metal pelos elementos de transição, e por alguns dos lantanídios e
ou seu óxido com carbono ou um hidrocarboneto, a tempe­ actnídios. Os grupos do Cr, Mn, Fe, Co e Ni formam um
raturas de 2.000 °C. grande número de carbetos, com uma variedade de
estequiometrias. São tipicamente infusíveis, ou têm ponto
de fusão extremamente elevado, e são muito duros. Por
Carbetos salinos exemplo, o TaC funde a 3.900 °C (dureza 9 a 10 na escalade
É conveniente classificar esses carbetos em três grupos, Mohs), e também o WC é muito duro. Ambos são empre­
conforme contenham na estrutura "ânions” C4’, C22’ ou C34". gados na confecção de instrumentos de corte para tomos.
O carbeto de berílio Be2C é um sólido vermelho e pode Os carbetos intersticiais conservam muitas das propriedades
ser obtido aquecendo-se C e BeO a 2.000 °C. O carbeto de dos metais. Eles conduzem a eletricidade por condução
alu-mínio A14C3 é um sólido amarelo pálido formado pelo metálica, e possuem brilho semelhante ao dos metais.
aquecimento dos elementos num forno elétrico. Be2C contém Nesses compostos os átomos de C ocupam interstícios
átomos/íons individuais de C, mas a estrutura do A14C3 é octaédricos no retículo metálico de empacotamento denso,
complexa. Não é apropriado representar a estrutura como não afetando assim a condutividade elétrica do metal. Desde
contendo 4A13 + e 3C4-, pois uma separação de cargas tão que o tamanho do metal seja maior que 1,35 Â, os interstícios
elevada é improvável. Tanto o Be2C como o A14C3 são octaédricos são suficientemente grandes para acomodar os
chamados de metanogênios porque reagem com H2O átomos de C sem distorcer o retículo do metal (como estamos
formando metano. tratando de retículos metálicos, deve-se considerar um
Os carbetos com uma unidade C2 são melhor conhe­ número de coordenação 12). Se todos os interstícios
cidos. São formados principalmente pelos elementos do octaédricos forem ocupados, a fórmula será MC. Carbetos
Grupo 1 (M2'C2); pelos elementos do Grupo 2 (MnC2); pelos intersticiais são geralmente inertes. Eles não reagem com
metais Cu, Ag, Au; pelo Zn e Cd; e por alguns dos lantanídeos H2O como os carbetos iônicos. A maioria reage lentamente
(LnC2, e Ln4(C2)3). São todos compostos iônicos incolores com HF e HNO3 concentrados.
que contêm o íon carbeto (-C=C-)2". De longe o mais Alguns metais, incluindo Cr, Mn, Fe, Co e Ni, possuem
importante desses compostos é o CaC2. É obtido raios inferiores a 1,35 Â: portanto, o retículo metálico estará
industrialmente por forte aquecimento de cal com coque: distorcido no carbeto. As estruturas serão mais complicadas
para compostos tais como V2C, Mn5C2, Fe3C, V4C3 e outros.
CaO + 3C -> CaC2 + CO AH = + 466 kd mol"1 A cementita, Fe3C, é um importante constituinte do aço.
A reação é endotérmica, sendo necessária uma tem­ Esses carbetos são mais reativos, sendo hidrolisados por áci­
peratura de 2.200 °C. Esses carbetos apresentam uma reação dos diluídos, e em alguns casos por água, formando misturas
exotérmica com água, liberando o acetileno, ou etino, razão de hidrocarbonetos e H2.
porque são chamados de acetiletos. Alguns carbetos têm estrutura baseada na do NaCl, onde
o C ocupa todas as posições dos Cl". Dentre esses estão os
CaC2 + 2H2O -+ Ca(OH)2 + HCsCH carbetos de alguns dos primeiros metais de transição, como
TiC, ZrC, HfC, VC, NbC, TaC, CrC e MoC, e alguns carbetos
A produção de CaC2 alcançou um máximo de 7 milhões dos actinídios, como ThC, UC e PuC.
de toneladas/ano em 1960, mas desde então declinou para
4,9 milhões de toneladas/ano em 1991. Antigamente tratava-
se da principal fonte de acetileno, necessário para a solda Carbetos covalentes
acetileno/oxigênio, mas atualmente o acetileno é obtido Os mais importantes são o SiC e o B4C. O carbeto de
principalmente a partir de petróleo. O CaC2 é um interme­ silício é duro (9,5 na escala de Mohs), infusível e quimica-
diário químico importante, sendo empregado em escala in­ mente inerte. Ele é largamente empregado como abrasivo, o
dustrial na fabricação de cianamida de cálcio. A cianamida "carborundum". Cerca de 300.000 toneladas são produzidas
é utilizada como fertilizante nitrogenado, e na fabricação de anualmente por aquecimento de quartzo ou areia com
uréia e melamina (ver Capítulo 11, item “Carbetos”). excesso de coque, num forno elétrico a 2.000-2.500 °C.
1100'C
CaC2 + N2 + Ca(NCN) + C SiO2 + 2C -> Si + 2CO
Si + C —» SiC
Os acetiletos apresentam um retículo do tipo do NaCl,
no qual oNa* é substituído por Ca2+ e o Cl" por C2". No 0 SiC é muito pouco reativo. Não é atacado por ácidos
COMPOSTOS CONTENDO OXIGÊNIO Eli

(exceto H3PO4), mas reage com NaOH e ar, e com Cl2 a 3. Gás de iluminação: uma mistura de CO, H2, CH4 e CO2,
100 °C. produzida nos gasômetros por destilação de carvão, e
armazenada em grandes reservatórios. O gás de ilumi­
SiC + 2NaOH + 2O2 -> Na2SiO3 + CO2 + H2O nação era distribuído e utilizado como gás de cozinha
SiC + 2C12 SiCl4 e para aquecimento, nas grandes cidades. Na Inglaterra,
foi substituído pelo gás natural (CH4), mas em alguns
SiC geralmente tem cor púrpura escura, preta ou verde países ainda continua sendo utilizado.
escura, devido a pequenas quantidades de ferro e outras
impurezas, mas amostras puras são amarelo pálidas ou O "gás d’água" é obtido pela passagem de vapor de
incolores. O SiC apresenta uma estrutura tridimensional de água sobre coque aquecido ao rubro.
átomos de Si e C, sendo cada átomo rodeado tetraedricmente
por quatro átomos do outro tipo. Há um grande número de C + H2O aquec. ao njbro > CO + H2 (gás d’água)

formas cristalinas, baseadas nas estruturas do diamante ou AH° = + 131 kJ mol”1


da wurtzita. O carbeto de boro é ainda mais duro que o AS° = +134 kJ mol-1
carbeto de silício, sendo usado como abrasivo e na blindagem
A reação de formação do gás d’água é fortemente endo-
contra a radiação. É fabricado em quantidades da ordem de térmica (AG - AH-TAS) e o carvão-coque esfria. Por isso,
toneladas. A representação mais correta para sua fórmula é periodicamente o fluxo de vapor deve ser interrompido e ar
B13C2 (vide o item “Boretos” no Capítulo 12). deve ser injetado para reaquecer o coque. É um combustível
com um elevado poder calorífico, pois tanto o CO como o
COMPOSTOS CONTENDO OXIGÊNIO H2 queimam com desprendimento de calor.
O carbono forma mais óxidos que os demais elementos O gasogênio é obtido pela passagem de ar sobre coque
do grupo. Tais óxidos diferem daqueles dos demais elementos aquecido ao rubro.
por terem ligações múltiplas pit-ptt entre o C e O. Dois desses
óxidos, CO e CO2, são extremamente estáveis e importantes. C + O2 +4N2 CO2 +4N2
Três são menos estáveis: C3O2, C5O2, e C12O9. Outros são ar
+c
ainda menos estáveis e incluem o óxido de grafite, C2O e
C2O3.
2CO + 4N2 (produção de gás)
Monóxido de carbono CO A reação total é exotérmica, e o coque não esfria como
O CO é um gás incolor, inodoro e tóxico. Forma-se na na produção do "gás d’água”.
combustão de C com uma quantidade limitada de ar. É 2C + O2 —» 2CO AH° = -221 ki mol-1 e AS° = + 179 kJ mol-1
preparado no laboratório pela desidratação do ácido fórmico
O gasogênio é um combustível menos eficiente que o
com H2SO4 concentrado.
“gás d’água”, isto é, seu poder calorífico é menor, porque só
HCOOH CO + H2O parte do gás queima. A composição aproximada do gasogênio
é 70% de N2, 25% CO, 4% CO2, além de pequenas
O CO pode ser detectado pela chama azul que produz quantidades de CH4, H2 e O2.
na combustão. Ele também reduz uma solução aquosa de O CO é um bom agente redutor, e pode reduzir muitos
PdCl2 a Pd metálico, e quando borbulhado numa solução óxidos metálicos aos correspondentes metais (vide, "Ocor­
de 12O5 libera I2, isto é, reduz I2O5 a I2. A segunda reação é rência e obtenção dos elementos” e "Termodinâmica dos
empregada na determinação quantitativa de CO, titulando- processos de redução”, no Capítulo 6).
se o I2 gerado com Na2S2O3.
Fe2O3 + 3CO —alto forno
J1,°'° nl° > 2Fe + 3CO2
PdCl2 + CO + H2O -> Pd + CO2 + 2HC1
CuO + CO —> Cu + CO2
5CO + I2O5 -» 5CO2 + I2
O CO é um importante ligante. Ele pode doar um par
O CO é tóxico porque forma um complexo com a
de elétrons para muitos metais de transição, formando os
hemoglobina do sangue, complexo este mais estável que a
complexos carbonílicos. O número de moléculas de CO
oxihemoglobina. Isso impede a hemoglobina das hemáceas
ligadas ao metal geralmente obedece a regra do número
de transportar o oxigênio pelo corpo. A consequente defi­
atômico efetivo (vide Capítulo 7). Contudo, a ligação é mais
ciência de oxigênio leva à inconsciência e finalmente à morte.
complicada do que esse fato sugere. Pode haver a formação
0 CO é pouco solúvel em água e é um óxido neutro. O CO é
de compostos com diferentes estequiometrias (Tab. 13.7).
um importante combustível, porque libera uma quantidade
considerável de calor quando queima no ar. Os complexos carbonílicos podem ser obtidos por meio
de várias reações:
2C0 + O2 -> 2CO2 AH° = -565 kJ mol'1
28‘C
Ni + 4CO 28C ■■> Ni(CO)4
As seguintes misturas são importantes combustíveis Fe + 5CO —M°~caobpresato > Fe(CO)s
industriais:
1. "Gás d’água": uma mistura equimolar de CO e H2. 2Fe(CO)s —fotólise
1°lálae > Fe2(CO)9 + CO
aquec.
2. Gasogênio: uma mistura de CO e N2. CrCl6 + 3Fe(CO)s — ■> Cr(CO)6 + 3FeCl2 + 9CO
eig 05 ELEMENTOS 00 ERUPO 14

Tabela 13.7 — Carbonilas metálicas binárias formadas pelos um "ligante ponte” entre dois átomos metálicos, por exemple
elementos da primeira serie de transição no nonacarboniidiferro(O), Fe2(CO)9 (Fig. 13.5). OCOpodt
estabilizar agregados metálicos, onde o C forma ligaçõe
Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn multicêntricas com três átomos do metal, e os orbitais n' <fc
CO podem estar formando ligações com outros átomo:
W Ci(CO)6 MnXCO),,, Fe(CO)s Co^CO), Ni(CO)4 metálicos.
fc/CO), Co4(CO)u O monóxido de carbono é bastante reativo, combinan
FqlCOhAlCO)» do-se facilmente com O, S e os halogênios F, Cl e Br.

No processo Mond de purificação do níquel (agora CO + */2O2 ->C02


obsoleto), o complexo carbonílico de níquel Ni(CO)4 era CO + S-s COS
obtido a partir de Ni e CO aquecidos a 50 °C (a fonte de CO (sulfeto de carbonila)
era o "gás d’água”). O Ni(CO)4 é um gás e pode ser separado
CO + Cl2 -> COC12
dos outros metais e impurezas, sendo posteriormente
cloreto de carbonila (fosgênio)
decomposto por aquecimento a 230 °C. Embora o processo
original seja obsoleto, uma modificação desse processo ainda Os haletos de carbonila são hidrolisados facilmente peh
é usada no Canadá. água, e reagem com amônia formando uréia:
As ligações existentes no CO podem ser representadas
por três pares eletrônicos compartilhados pelos dois átomos: COC12 + H20 2HC1 + C02

Cl nh2
fase gasosa
:C:O: ou C=0 C=0 + 2NH3 C=0 + 2HC1
Cl NH2
uréia
A descrição mais precisa é aquela baseada na teoria
dos orbitais moleculares (vide Capítulo 4).
0 cloreto de carbonila (fosgênio) é extremamente tóxico
tt*2p” e foi usado na Primeira Guerra Mundial como gás dt
ols2, cr ' ls2, cr2s2, cr • 2s2, 7l2.P2’a2P2r’a''2P°- combate. Atualmente é fabricado em grandes quantidade:
tt ♦ 2p°
para a obtenção de diisocianato de tolileno, um intermediári:
energia crescente
na fabricação de polímeros do tipo das poliuretanas.
A ligação carbono-metal nos complexos carbonílicos
pode ser considerada como sendo resultante da doação de
Dióxido de carbono, CO2
um par de elétrons do carbono para o metal, M«—0=0. Essa
ligação a original é fraca. Uma segunda ligação, mais forte, O C02 é um gás incolor e inodoro. Trata-se de um do;
é formada por retrodoação (“back bonding"), também principais produtos da indústria química, cuja produção sc
denominada ligação n dativa. Ela decorre da sobreposição nos Estados Unidos ultrapassa 5,3 milhões de toneladas;
lateral de um orbital dxy preenchido do metal com um or­ ano e 10 milhões de toneladas/ano no mundo, em 1993. f
bital antiligante vazio tt* 2py do carbono, formando assim fonte industrial mais importante de CO2 é como subprodut:
uma ligação tt M—>C. Logo, a ligação formada é do tipo do processo de obtenção do hidrogênio, necessário para t
M = C = 0. O preenchimento total ou parcial do orbital síntese de NH3.
antiligante do carbono diminui a ordem de ligação da ligação
tripla no OO para uma ligação dupla. Isso se reflete num
aumento do comprimento da ligação C-0 de 1,128 A no CO
para cerca de 1,15 A em muitas carbonilas metálicas.
O CO é o ligante organometálico mais estudado. Por
causa da retrodoação (“back bonding") ele é às vezes
chamado de ligante receptor tt. O deslocamento de densidade
eletrônica tt de M para C torna o ligante mais negativo, o
que por sua vez reforça o caráter doador a . Por causa disso
c= o C =0 :C=0
o CO forma ligações fracas com ácidos de Lewis (receptores
de pares de elétrons), tais como o BF3, pois nesse caso é
formado apenas uma ligação o. Por outro lado, o CO se liga
fortemente a metais de transição capazes de formar tanto
ligações o como tt. Outros ligantes receptores tt são o CN~,
RNC e NO +. Comparando esses ligantes entre si, a força das
ligações a varia na ordem CN" > RNC > CO > N0 + ,
enquanto que a propriedade n-receptora varia na ordem
inversa.
0 CO é um ligante muito versátil. Ele pode atuar como Figura 13.S — A estrutura do Fe?(CO)9
COMPOSTOS CONTENDO OXIGÊNIO 213

O CO2 também é utilizado em


g>m<D Oc=o: pequena escala. Podem ser citados os
Ligação a
extintores de incêndio, exaustão em
minas de carvão, como propelente de
aerossóis, para inflar botes salva-vidas,
Q 0 M
0.
:C=O: ------- ►
0 Q< M
Ligação n dativa
» 0
de um orbital d
preechido de M
etc.
O CO2 é detectado pela sua reação
Oo 0 0’ para um orbital
p vazio no C com água de cal (solução de Ca(OH)2)
ou água de barita (solução de Ba(OH)2)
que formam precipitados brancos de
Figura 13.4 — Representação esquemática das interações em carbonilas metálicas (segundo N.N. CaCO3 ou BaCO3, respectivamente. Se
Greenwood e A. Eamshaw, Chemistry of the Elements, Pergamon, 1984, p.3Sl
uma quantidade maior de CO2 for
CO + H2O -> CO2 + H2 borbulhado pela mistura, a turvação
CH4 + 2H2O -> CO2 + 4H2 desaparece à medida que se forma o bicarbonato solúvel.
Também pode ser recuperado de processos de fermen­ Ca(OH)2 +CO2 -* CaCO3 +H2O
precipitado
tação em cervejarias, dos gases liberados na calcinação do branco
calcário em fornos de cal, e dos gases efluentes de usinas
termelétricas alimentadas a carvão. O CO2 formado é CaCO3 + CO2 + H2O -> Ca(HCO3)2
solúvel
recuperado, absorvendo-o numa solução aquosa de Na2CO3 O CO2 é um óxido ácido e reage com bases formando
ou etanolamina. sais. Dissolve-se em água mas sofre hidratação apenas
fermentação sob . _ _ ___ parcial, com formação de ácido carbônico, H2CO3. A solução
C6Hi2O6 — —--------
contuçoes 2C2H5OHz. +□ 2CO2
anaerobicas * contém apenas uma pequena quantidade de íons carbonato
CaCO3 —> caO + CO2 e bicarbonato. É possível cristalizar o hidrato, CO2 • 8H2O, a
partir de uma solução a 0 °C e 50 atmosferas de pressão de
É obtido em pequenas quantidades pela ação de ácidos CO2.
diluídos sobre carbonatos. Também pode ser preparado pela
combustão de carbono na presença de excesso de ar. co2 + h2o H2CO3
CaCO3 + 2HC1 -> CaCl2 + CO2 + H2O O ácido carbônico nunca foi isolado, porém dá origem
c + o2 —> co2 a duas séries de sais: os hidrogenocarbonatos (comumente
A recuperação de CO2 se dá pelas reações: chamados de bicarbonatos) e os carbonatos.
frio
Na2CO3 + CO2 + H2O quente 2NaHCO3 bicarbonato de sódio
NaHCOj
/ (sal ácido)
ou (processo Girbotol):
NaOH + (H2CO3)
Na2CO3 carbonato de sódio
2H0CH2NH2 + CO2 + H2O ==* (HOCH2CH2NH3)2CO3 (sal normal)
etanolina

0 C02 gasoso pode ser liquefeito sob pressão a tempe­ O CO2 também pode atuar como ligante, formando
raturas entre -57 °C e +31 °C. Cerca de 80% é comercializa­ alguns poucos complexos, tais como [Rh(CO2)Cl(PR3)3] e
do na forma líquida, e 20% na forma sólida. O sólido é [Co(CO2)(PPh3)3]. No primeiro o átomo de C do CO2 está
obtido como uma neve branca por expansão do gás compri­ ligado ao metal. No segundo complexo o CO2 atua como
mido em cilindros (a expansão provoca resfriamento). Essa ligante bidentado, com um C e um O ligados ao metal, sendo
neve é compactada em blocos e vendida. O CO2 sublima a molécula de CO2 angular.
diretamente para o estado gasoso (sem passar pela fase A estrutura do CO2 é linear, O-C-O. As duas ligações
líquida) à temperatura de -78 °C, à pressão atmosférica. C-O tem o mesmo comprimento. Além das ligações a exis­
Mais da metade do CO2 produzido é usada como refrigerante. tentes entre C e O, há uma ligação tt tricêntrica com quatro
0 C02 sólido é conhecido como “gelo seco” e é usado para elétrons envolvendo os três átomos. Isso equivale a mais
congelar carnes, alimentos e sorvetes, e no laboratório é uti­ duas ligações tt, além das duas ligações a. A ordem de ligação
lizado como agente refrigerante. Mais de um quarto da da ligação C-O é, portanto, dois. Veja uma descrição mais
produção encontra emprego na carbonatação de bebidas detalhada no Capítulo 4.
(refrigerantes, cerveja, etc). Podem ser citados também a
Do ponto de vista biológico, é importante na fotossínte-
fabricação de uréia, o emprego como atmosfera inerte, e a
se, processo pelo qual as plantas verdes sintetizam glicose a
neutralização de álcalis. Mais de 35 milhões de toneladas
partir de CO2. Em última análise, toda a vida animal e vege­
de uréia foram produzidas mundialmente, em 1991 (a uréia
tal depende desse processo.
é o fertilizante nitrogenado mais usado, além de ser usado
na fabricação de resinas uréia-formaldeído). luz solar
6CO2 + 6H,O + C6H]2O6+6O2
glicose
180‘C, pressão
CO2+2NH3 + NH4CO2NH2 -+CO(NH2)2 + H2O A reação inversa ocorre durante o processo da res­
carbamato uréia
de amônio piração, pelo qual os animais e plantas produzem energia.
■314 OS ELEMENTOS DO BRUPO 14

C6H12O6 + 6O2 —» 6CO2 + 6H2O + energia amônio, (NH4)2CO3 e os carbonatos do Grupo 1, exceto o
Li2CO3 (pouco solúvel), são muito solúveis em água. O
Subóxidos de carbono T12CO3 é moderadamente solúvel, mas os demais carbonato»
dos elementos do Grupo 13 são pouco solúveis ou insolúveis-
O subóxido de carbono, C3O2, é um gás de cheiro
Todos os carbonatos reagem com ácido, formando C02.
desagradável, com ponto de ebulição de 6 °C. É preparado
pela desidratação do ácido malônico com P4O10. Na2CO3 + 2HC1 -> 2NaCI + CO2 + H20
HOOC■ CH, ■ COOH —W150'c > O = C = C = C“O + 2H2O
ácido malônico Os carbonatos do Grupo 1 são estáveis ao calor e funderr.
sem sofrer decomposição. Todos os carbonatos dos elemento»
O composto é estável a -78 °C, e a molécula é linear. A
do Grupo 2 se decompõem se o aquecimento for suficien­
temperatura ambiente o gás sofre uma reação de polime-
temente forte, sendo que suas estabilidades aumentam á
rização, formando um sólido amarelo. A temperaturas mais
medida que aumenta o tamanho do íon metálico. A maioria
elevadas, o sólido se torna vermelho e depois púrpura. O
dos demais carbonatos se decompõe facilmente.
óxido reage com água formando ácido malônico, e também
reage com HC1 e NH3, como mostrado abaixo: aquec.
CaCO3 CaO + CO2
C3O2 + 2HC1 —» CH2(COC1)2 (um cloreto de acila)
C3O2 + 2NH3 —» CH2(CONH2)2 (uma diamida) Temperatura de decomposição
BeCO3 MgCO3 CaCO3 SrCO3 BaCOj
Há relatos contraditórios dizendo que o CSO2 é formado
< 100 °C 540 °C 900 °C 1290 °C 1360 °C
na termólise do C3O2. Além dos subóxidos mencionados
acima, o único estável é o C12O9. Este sólido branco é o Os únicos bicarbonatos sólidos conhecidos são os dos
anidrido do ácido melítico, C6(COOH)6. metais do Grupo 1 e o de amônio, NH4’. São sólidos incolores,
um pouco menos solúveis que os correspondentes carbo­
CARBONATOS natos. Eles se decompõem facilmente mediante aqueci­
mento. As estruturas cristalinas desses compostos são
Há duas séries de sais derivados do ácido carbônico, constituídas por cadeias poliméricas de grupos HCOJ,
H2CO3: os carbonatos, CO3’, e os hidrogenocarbonatos ou mantidas por ligações de hidrogênio.
bicarbonatos, HCO3‘. O íon CO3’ é planar. O íon CO^’ não
existe, embora o íon SiO4" seja estável. O motivo deve ser o
pequeno tamanho do C. Essa situação é análoga à da O CICLO DO CARBONO
formação do NO3’ e do PO4_ no Grupo 15. A estrutura Embora o carbono seja o décimo sétimo elemento mais
eletrônica do íon CO3~ pode ser representada como se segue: abundante na crosta terrestre, totalizando cerca de 2xl0k
Um orbital é usado para
toneladas, a maior parte se encontra na forma de carvão,
formar uma ligação k petróleo e diversos carbonatos (calcário e dolomita), ou seja,
1s 2s 2p encontram-se numa forma imobilizada.
Configuração eletrônica do
Carbono após compartilhar [u] |TT| |u|ti(|t;|) Em contraste, há um ciclo rápido na atmosfera
elétrons formando 4 ligações envolvendo CO2, compostos de carbono em organismos vi­
Três orbitais formam ligações vos e CO2 dissolvido nos oceanos, além de um ciclo mais
o: portanto, a molécula é tri-
gonal plana (hibridização sp2) lento envolvendo os minerais carbonatados formados no
As ligações rc nos íons CO3“ podem ser melhor descritas fundo dos oceanos. Existe um equilíbrio entre eles. A pro­
por meio de orbitais moleculares n deslocalizados, envol­ porção de CO2 na atmosfera é de aproximadamente 0,046%
vendo os quatro átomos (vide Capítulo 4). em peso, e 0,031 % em volume. Embora seja uma percen­
tagem relativamente pequena, corresponde a 2.500 bilhões
Muitos carbonatos de fórmula MhCO3 adotam a mesma
de toneladas (2.500xl09 toneladas), e é essencial à vida.
estrutura cristalina da calcita, mas outros apresentam a
estrutura da aragonita. A estrutura assumida depende do A fotossíntese efetuada pelas partes verdes das plantas
tamanho dos íons metálicos. e por algumas algas marrons e azuis remove por ano cerca
de 360 bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera — cerca
Mn2’Mg2’Co2’ Zn2’ Fe2’ Cd2’| Ca2’|Sr2’ Pb2’ Ba2’ de 15%. O produto formado é o carboidrato glicose. Este
0,67 0,72 0,74 0,74 0,78 0,97 I 1,00 11,18 1,21 1,35 pode ser usado pelas plantas na respiração com liberaçãc
■4 — estrutura da calcita----------------------------- ► de energia, ou então incorporado às células das plantas. As
H------- estrutura da aragonita------ ►
plantas são ingeridas pelos animais, e utilizadas para arespi
Alguns carbonatos são produzidos em quantidades ração ou produção das células dos animais. Eventualmente
muito grandes: 31,5 milhões de toneladas/ano de Na2CO3, a mesma quantidade de CO2 fixado é devolvida à atmosfera
900.000 toneladas/ano de NaHCO3, e 50.000 toneladas/ano pela respiração de plantas e animais ou pela putrefação d<
de Li2CO3 (vide Capítulos 9 e 10). restos de animais e plantas.
O íon carbonato é incolor e portanto os carbonatos dos A combustão de combustíveis fósseis, principalmentí
metais dos Grupos 1 e 2 são brancos. Embora os sais de carvão, petróleo e gás natural, e as queimadas em floresta:
Ag’ sejam-tipicamente brancos, Ag2CO3 é amarelo, por causa tropicais, liberam anualmente cerca de 25 bilhões d<
do efeito fortemente polarizante do Ag’. O carbonato de toneladas de CO2 na atmosfera (a produção de carvão eir
SULFETOS 215

1992 foi de 4.545 milhões de toneladas; de petróleo 3.034 da acidez poderá dissolver as conchas dos moluscos e de
milhões de toneladas, de gás natural 2.1X1012 m3). Quan­ outros seres marinhos, levando-os a extinção. Tratam-se de
tidades significativas de CO2 são liberadas pela decomposição hipóteses, já que no caso de ocorrer um aquecimento glo­
térmica de calcário, na fabricação de cal para a indústria do bal, a solubilidade do CO2 na água do mar irá também
cimento. A produção de cal em 1992 foi de 127,9 milhões de diminuir. Contudo, um aumento da concentração de CO2
toneladas, o que corresponde ao desprendimento de cerca nas águas superficiais poderia levar a um aumento da
de 100 milhões de toneladas de CO2. população de plânctons — pequenas plantas marinhas que
usam o CO2 para a fotossíntese.
Caco3 CaO + CO2
coj- + CO2 + H2O 2HCOj
Calcula-se que em 1992 os EUA foram responsáveis pela Os sedimentos de silicato no fundo dos oceanos exercem
emissão de cerca de 1,2 bilhão de toneladas de CO2 na um papel importante na manutenção da composição e do
atmosfera; a ex-URSS por cerca de 1 bilhão de toneladas e a pH da água. Um aumento do pH é compensado pela dis­
Europa Ocidental por 0,8 bilhão de toneladas. Se todo esse solução de certos minerais e a precipitação de outros. Assim
CO2 permanecer na atmosfera, estima-se que sua silicatos podem converter-se em carbonatos e SiO2. Se
concentração duplicará até o ano 2.020. Com o uso crescente subseqüentemente o pH variar no sentido inverso, esses
de combustíveis fósseis, essa concentração poderá ser processos serão revertidos.
alcançada bem antes dessa data. A polêmica criada pelo “efeito estufa” é um indicativo
As moléculas de CO2 absorvem fortemente na região da quantidade insuficiente de evidências, das incertezas e
do infravermelho e sua presença na atmosfera diminui a da longa escala de tempo envolvidas no problema do
perda de calor da Terra por irradiação. Esse aquecimento aquecimento global. Na opinião do autor, é prudente iniciar
global é denominado “efeito estufa” (outros gases como os programas no sentido de conservar energia, melhorar a
óxidos de nitrogênio provenientes dos gases de escape dos eficiência e reduzir desperdícios, já que não há nenhuma
carros, os freons dos aerossóis e refrigeradores e o metano tecnologia alternativa viável que permita substituir os
produzido por bactérias do solo e pelo rúmen dos animais combustíveis fósseis. A única fonte de energia alternativa
ruminantes também contribuem para o efeito estufa.). A em larga escala a considerar é a nuclear, mas no momento
magnitude desse efeito e até mesmo sua existência ou não, muitos consideram essa alternativa inaceitável. Muita pesqui­
são objeto de controvérsias. A concentração do CO2 sa ainda é necessária para tornar o hidrogênio uma fonte de
atmosférico aumentou em 10% desde 1958, e as medidas energia economicamente viável. Além disso, o aproveita­
realizadas em amostras de geleiras indicam que ela é cerca mento da energia solar, dos ventos e das marés podem, na
melhor das hipóteses, suprir necessidades locais de energia,
de 25% maior que antes da Revolução Industrial. Isso
ficando muito aquém das necessidades globais de energia.
corresponde a cerca da metade do CO2 produzido pela
queima de combustíveis fósseis, tendo sido a outra metade
absorvida pelos oceanos. Um estudo das Nações Unidas SULFETOS
sugere que, se nada for feito, a temperatura média da Terra O dissulfeto de carbono, CS2, é o mais importante dos
aumentará em 2,5 °C nos próximos 30 anos. Este é um valor sulfetos de carbono. Trata-se de um líquido incolor e volátil,
médio que pode variar de 2 graus no equador a 4 graus nos P.E. 46 °C, que deve ser manuseado com muito cuidado,
pólos. Esse fato poderia ter conseqüências dramáticas sobre pois é muito inflamável, tem ponto de inflamabilidade muito
0 clima. Algumas áreas férteis, como o "grain belt” (cinturão baixo (“flash-point" = 30 °C) e sofre ignição espontanea­
dos cereais) dos EUA, tornar-se-iam desérticas. O aumento mente a 100 °C. Além disso, é muito venenoso e ataca o
da temperatura provocaria um aumento da velocidade de cérebro e o sistema nervoso central. Amostras puras têm
evaporação da água e, por conseguinte, mais chuva, odor semelhante ao do éter, mas certas impurezas orgânicas
inundações e tempestades tropicais em certas regiões da freqüentemente lhe comunicam um odor extremamente
planeta. Além disso, o degelo de parte das calotas polares desagradável. É um produto químico de interesse industrial,
associado com a expansão térmica da água dos oceanos tendo sido de 280.400 toneladas, a produção mundial em
inundaria vastas áreas de terra. 1991. Era obtido aquecendo-se carvão e vapor de enxofre a
Não se sabe com certeza, contudo, se essas transfor­ cerca de 850 °C. Atualmente é produzido principalmente
mações catastróficas realmente ocorrerão. Deve-se enfatizar por meio de uma reação em fase gasosa entre gás natural e
que 0 esperado aumento de temperatura, em conseqüência enxofre, catalisada por A12O3 ou sílica-gel.
dos gases responsáveis pelo "efeito estufa”, deve se estender CH4 + 4S ■ 6Q0'C
CS2 + 2H2S
por um longo período de tempo. Além disso, na natureza,
uma variação na biosfera é geralmente equilibrada por outra O CS2 é utilizado principalmente:
transformação de efeito contrário. A reação dos sistemas 1. Na fabricação de viscose (seda artificial) e celofane. O
biológicos e de outros sistemas podem influenciar a evolução CS2 reage com a celulose e NaOH formando ditiocarbo-
das concentrações dos gases responsáveis pelo efeito estufa. nato de celulose e sódio (xantato de celulose).
Uma quantidade maior de CO2 na atmosfera pode favorecer
0 crescimento das plantas, que o fixarão. Uma floresta inteira celulose—O
\
pode se desenvolver em 30 anos. O pH das águas dos mares CS2 + celulose—OH + NaOH C=S
deverá diminuir, pois grandes quantidades de CO2 se /
NaS
dissolvem nas mesmas. Num caso extremo, esse aumento xantato de celulose
eis □S ELEMENTOS □□ BRUPO 14

O xantato é então dissolvido numa solução alcalina temperaturas. A mais comum dessas formas é de longe o a-
aquosa para formar uma solução viscosa chamada de quartzo, que é um dos principais componentes do graniioe
"viscose”. Por acidificação, a "viscose” é reconvertida do arenito. O SiO2 puro é incolor, mas pequenas quantidades
em celulose na forma de fibras (raiom ou “lã de de outros metais podem comunicar-lhe cor, produzindo
celulose"), ou de uma película fina (celofane). pedras semipreciosas como a ametista (violeta), o quartzo
2. Na produção de CC14 (vide mais adiante o item rosa (cor de rosa), o quartzo enfumaçado (marrom), o
“Haletos”). quartzo citrino (amarelo), e materiais não preciosos como a
3. Na vulcanização a frio da borracha; são usadas pederneira (às vezes preta por causa da presença de C), a
quantidades menores para dissolver o S. ágata e o ônix (rajado).
CS2 reage com NaOH aquoso, formando uma mistura
formas à baixa temperatura
de carbonato de sódio e tritiocarbonato de sódio:
a-quartzo a—tridimita a—cristobalita
3CS2 + ÓNaOH Na2CO3 + 2Na2CS3 + 3H2O
5Z3’C 2M-2ZS’C

CS2 reage com NH3 com formação de ditiocarbamato


de amônio: |J-quartzo p—tridimita .‘CT [J—cristobalita ™ SiO2 líquido
formas à alta temperatura
CS2 + 2NH3 -> NH4[H2NCS2]

O CS2 é uma molécula linear com estrutura semelhante Em todas essas formas, o silício é rodeado tetraedri-
a do CO2. O CS2 forma complexos com mais facilidade que camente por quatro átomos de O. Cada vértice é compar­
o CO2. O complexo [Pt(CS2)(PPh3)3] é estruturalmente tilhado com outro tetraedro, formando um arranjo infinito.
semelhante ao [Co(CO2)(PPh3)3]. O CS2 atua como ligante A diferença entre elas está nas diferentes maneiras em que
bidentado, ligando-se ao metal através de um átomo de C e as unidades de SiO4 estão ligadas umas nas outras. 0 a-
um átomo de S. Nesse caso a molécula de CS2 passa a ter quartzo é a forma mais estável à temperatura ambiente, onde
estrutura angular. Os átomos de enxofre podem ligar-se a os tetraedros formam cadeias helicoidais ligadas entre si.
outros átomos metálicos, originando complexos mais Como as hélices podem ter rotação para a esquerda ou para
complicados. As ligações não podem ser explicadas a direita, elas não são sobreponíveis, podendo existir na
utilizando as ligações localizadas clássicas. formas dos isòmeros ópticos d e l. Os cristais podem ser
separados manualmente. Na cristobalita os átomos de Si
A radiação solar pode provocar a decomposição do CS2 têm o mesmo arranjo que os átomos de C no diamante,
a CS, por isso deve ser armazenado em frascos escuros. A sendo que os átomos de O se encontram a meio-caminho
passagem de uma descarga elétrica de alta freqüência pelo entre eles. A relação que existe entre tridimita e cristobalita
vapor também pode provocar a decomposição do CS2 a CS. é a mesma que existe entre a wurtzita e a blenda. Aquecendo-
Este é um radical altamente reativo, mesmo à temperatura se qualquer uma das formas sólidas do SiO2 ao seu ponto de
do ar líquido, sendo quimicamente bem diferente do CO. A amolecimento, ou esfriando-se lentamente o SiO2 fundido,
passagem de CS2 por um arco voltaico fornece C3S2, um obtém-se um sólido vítreo. Este é amorfo e contém uma
líquido vermelho que se polimeriza lentamente (como o mistura desordenada de anéis, cadeias e unidades tridimen­
C3O2). Supõe-se que sua estrutura seja S = C = C = C = S. sionais.
A sílica, em qualquer forma, é muito pouco reativa. É
OS ÓXIDOS DE SILÍCIO um óxido ácido e, portanto, não reage com ácidos. Contudo,
Dois óxidos de silício são conhecidos: SiO e SiO2. Supõe- reage com HF formando tetrafluoreto de silício, SiF4. Essa
se que o monóxido de silício se forme na redução de SiO2 reação é usada em análise qualitativa para detectar a presença
com Si, a altas temperaturas, mas há dúvidas sobre sua de silicatos: o SiF4 é hidrolisado a ácido silícico quando entra
existência à temperatura ambiente. em contato com uma gota d’água, formando um sólido
branco que flutua na superfície da mesma.
SiO2 + Si 2SÍ0
+ SiO, + Hp HF+Si(OH)4oa
O dióxido de silício, SiO2, é comumente chamado de H2SO4+CaF2-> HF ->SiF4+H2O
SíO2-2H2O
sílica, e é muito abundante na forma de areia e quartzo. Os
elementos do Grupo 14 geralmente formam quatro ligações. SiO2 é um óxido ácido: dissolve-se lentamente numa
O carbono pode formar ligações prt-ptc, de modo que o CO2 solução aquosa alcalina, e mais rapidamente em álcalis
é um gás constituído por moléculas discretas. O silício não (MOH) ou carbonatos (M2CO3) fundidos, formando silicatos.
pode formar ligações duplas da mesma maneira, usando
orbitais pn-pn (atualmente são conhecidos diversos SiO2 + NaOH -> (Na2SiO3)n e Na4SiO4
compostos de silício que contém ligações pn-pn, nos quais
Essa reação explica porque as tampas de vidro esmeri-
o átomo de silício aparentemente usa orbitais d para formar
Ihado ficam aderidas nos frascos contendo soluções de
as ligações). O SiO2 forma, portanto, uma estrutura tridi­
NaOH. Dentre os halogênios, somente o flúor ataca o SiO».
mensional infinita, sendo o SiO2 um sólido de elevado ponto
de fusão. Existem pelo menos 12 formas diferentes de SiO2. SiO2 + 2F2 -> SiF4 + O2
As principais são o quartzo, a tridimita e a cristobalita, cada
uma das quais tem uma estrutura diferente a altas e baixas O quartzo é um importante material piezoelétrico,
SILICATOS B17

utilizado em agulhas de toca-discos, nos osciladores em Os óxidos inferiores GeO, SnO e PbO apresentam
receptores de rádio e computadores, para fabricar acende­ estruturas lamelares em vez das estruturas iônicas típicas.
dores de cigarros e fogões (do tipo “Magiclik”). Quartzo São ligeiramente mais básicos e iônicos que os corres­
natural de elevada pureza não é encontrado em quantidade pondentes óxidos superiores. GeO é caracteristicamente
suficiente para suprir a demanda. Por isso, uma grande ácido, enquanto que SnO e PbO são anfóteros e se dissolvem
quantidade é sintetizada a partir do crescimento hidrotérmico tanto em ácidos com em bases. O aumento da estabilidade
de cristais semeados em NaOH aquoso ou sílica vítrea a 400 das espécies no estado de oxidação mais baixo, à medida
°C, sob pressão. que se desce no grupo, é ilustrado pelo fato de Ge11 e Sn11
A sílica vítrea tem baixo coeficiente de expansão serem agentes redutores bastante fortes, enquanto que o
térmica, é resistente ao choque e muito transparente à luz Pb" é estável.
visível e ultravioleta. Assim, é utilizada na manufatura de O PbO é comercialmente importante, podendo se
vidrarias de laboratório, em componentes ópticos tais como apresentar na forma de uma variedade vermelha chamada
lentes e prismas, e cubetas para espectrofotômetros UV- litargírio ou amarela conhecida como massicote. O litargírio
visível. é usado em grandes quantidades na fabricação do vidro
A sílica-gel é amorfa e muito porosa. Eia é obtida por “cristal” e para vitrificar objetos cerâmicos. A produção
desidratação do ácido silícico e pode conter até cerca de 4% mundial é de cerca de 250.000 toneladas/ano. O “óxido
de água. É muito usada como agente secante, como negro” de chumbo é uma mistura de PbO e Pb, sendo usado
catalisador e em cromatografia. O mineral opala, que é usado em grande escala na fabricação de placas de chumbo de
como pedra preciosa branca ou perolada, é sílica-gel amorfa. acumuladores e baterias de automóveis. O ânodo é oxidado
0 início da formação de estruturas ordenadas pode ser a PbO2 enquanto o cátodo é reduzido a Pb esponjoso. Cerca
observado em vários minerais, muitos dos quais são cortados de 700.000 toneladas/ano são usadas mundialmente.
e lapidados para uso como pedras semipreciosas: O chumbo também forma o óxido misto Pb3O4. É
ágata (frequentemente rajada) conhecido como “chumbo vermelho" e pode ser representado
como 2PbOPbO2, indicando claramente que contém Pb(II)
ônix (pode conter listras brancas e pretas) e Pb (IV). O Pb3O4 é usado em tintas para prevenir a formação
cornalina (amarelo ou vermelho) de ferrugem no ferro e aço. É usado ainda para colorir e
heliotrópio(verde com manchas vermelhas) vulcanizar plásticos e borracha sintética. Quantidades
jaspe (geralmente vermelho ou marron, mas às menores são utilizadas na fabricação de vidro e cerâmica. A
vezes verde, azul ou amarelo) produção mundial é de cerca de 18.000 toneladas/ano.
pederneira (incolor, ou preto se carbono estiver O PbO2 é usado como agente oxidante forte, sendo pro­
presente) duzido “in situ" nas baterias de chumbo.

Tais compostos são melhor representadas como


Si02-nH20. SILICATOS
As terras infusórias são outra variedade de SiO2. TYata- Ocorrência na crosta terrestre
se de um pó branco fino, sendo que cerca de 2 milhões de Cerca de 95 % da crosta terrestre é constituído por mine­
toneladas por ano são mineradas a céu aberto na Europa e rais do grupo dos silicatos, aluminossilicatos (argilas) ou
Estados Unidos. São usadas em filtros, como abrasivo e como sílica. São os principais constituintes das rochas, areias e
carga inerte (“gelinhita” é uma mistura do explosivo seus produtos de decomposição: as argilas e os solos. Muitos
nitrobenzeno (líquido) e terras infusórias inertes (sólido)). materiais de construção são constituídos por silicatos:
granito, lousa e ardósia, tijolos e cimento. Cerâmica e vidro
ÓXIDOS DE GERMÂNIO, ESTANHO E também são silicatos.
CHUMBO Os três elementos mais abundantes são O, Si e Al. Jun­
tos perfazem cerca de 81 % da crosta terrestre, isto é, quatro
Os dióxidos GeO2, SnO2 e PbO2 normalmente adotam a
estrutura do TiO2 com coordenação 6:3. A basicidade dos dentre cinco átomos são desses elementos. Esta é uma
óxidos aumenta de cima para baixo no grupo: esta é a proporção muito maior que na Terra como um todo ou no
tendência normal. Assim, CO2 e SiO2 são tipicamente ácidos. Universo. Durante o resfriamento da Terra, os silicatos
CeO2 não é tão ácido como o SiO2, e SnO2 e PbO2 são cristalizaram e flutuaram na superfície por serem mais leves,
anfóteros. GeO2, SnO2 e PbO2 dissolvem-se em álcalis for­ concentrando-se na crosta terrestre.
mando germanatos, estanatos e plumbatos, respectivamente. N.L. Bowen resumiu a seqüência em que esses minerais
Os germanatos têm estruturas complicadas semelhantes as cristalinos foram se formando à medida que o magma
dos silicatos, mas os estanatos e plumbatos contêm os íons esfriava. Essa seqüência é conhecida como Série de Reações
complexos [Sn(OH)s]2’ e [Pb(OH)6]2’. Não há evidências de Bowen (Fig. 13.5).
sobre a formação de Ge(OH)4, Sn(OH)4 e Pb(OH)4, sendo Diversos aspectos devem ser salientados:
melhor representados como MO2(H2O)n, onde n é aproxi­
1. Os silicatos mais simples cristalizaram primeiro.
madamente igual a dois. Os três óxidos são insolúveis em
ácidos, exceto na presença de um agente complexante como 2. Grupos hidroxila aparecem nos últimos minerais e o F
F ou Cl’. Nesses casos podem se formar íons complexos pode tê-los substituído.
tais como [GeF6]2’ e [SnCl6]2’. 3. A substituição isomórfica, isto é, a substituição de um
218 OS ELEMENTOS DO 6RUP0 14

2) A estrutura pode, portanto, ser interpretada teorica­


primeiro Olivina m;sío4
mente, tanto considerando-se que as ligações são iônicas
Piroxênios mS(sío3>2
Anfibólios M')(AI,Si)4O11-(OH)2
como covalentes. A relação de raios Si4 + :O2’ é igual a
Micas do tipo biotita (K,H)2(Mg,Fell)2(AI,Fel")2(SiO4)3 0,29, sugerindo que o Si possui quatro átomos de O
Feldspatos tipo ortoclásio KAISi3Oe vizinhos, localizados nos vértices de um tetraedro. Isso
Micas tipo muscovita KAI2(AISi3O,„)-(OH)2 também pode ser previsto utilizando os orbitais 3s e 3p
Quartzo SiO2 do silício para formar as ligações. Portanto, os silicatos
último Zeólitas Na2(AI2Si3O10)2H2O são constituídos por unidades tetraédricas, (SiO4)4'.
Deixando uma pequena quantidade de água, SO2, S, Pb, Cu, Ag, Sn, 3) Os tetraedros de SiO4 podem existir como unidades
As, Sb, Bi e outros metais de transição em solução, a temperatura e discretas, ou podem polimerizar-se formando unidades
pressões muito altas.
maiores compartilhando os vértices, ou seja,
Figura 13.6 — Sequência segundo a qual se supõe que os minerais compartilhando os átomos de oxigênio.
cristalizaram
4) Os átomos de O geralmente se encontram densamente
metal por outro sem alterar a estrutura, ocorre princi­ empacotados, ou quase. O retículo cristalino de empaco­
palmente nos últimos minerais. tamento compacto possui interstícios tetraédricos e
4. Os feldspatos do tipo ortoclásio, micas do tipo muscovita octaédricos. Assim, os íons metálicos podem ocupar
e quartzo são os principais constituintes do granito. tanto os interstícios octaédricos quanto os tetraédricos,
dependendo de seu tamanho. A maioria dos íons
5. Os silicatos "encolhem” e se rompem, esfriam com a metálicos tem um tamanho adequado para se encaixar
posterior diminuição da temperatura. A solução hidro- num ou noutro tipo de interstício, mas o Al3’ pode
térmica (em água quente) fluiu através das "falhas” ocupar ambos. Assim, o Al pode substituir um meta!
próximas a superfície para regiões de temperatura e em um dos dois tipos de interstícios, ou um átomo de
pressão menores, onde os elementos precipitaram e se silício no retículo. Essa característica é particularmente
combinaram com S, formando veios de sulfetos. importante no caso dos aluminossilicatos.
Ocasionalmente o Li pode ocupar sítios com um número
Silicatos solúveis de coordenação 6 em vez de 4, e K e Ca podem ter um
Os silicatos podem ser preparados fundindo-se número de coordenação 8 em vez de 6. O princípio das
carbonatos de metais alcalinos com areia num forno elétrico, relações de raios é um guia útil, mas é estritamente aplicável
a cerca de 1.400 °C. somente a compostos iônicos. Os silicatos são parcialmente
covalentes, não havendo uma completa separação de cargas,
Na2CO3 1400'C CO2 + Na2O *si°; , Na4SiO4, com formação dos íons Si4+ e O2-. Nesses casos os valores
(Na2SiO3)n e outros empíricos dos “raios iônicos efetivos" podem ser utilizados
em vez dos raios iônicos (vide R.D. Shannon, nas leituras
O produto é silicato de sódio ou de potássio ("vidro complementares).
solúvel”). Este é dissolvido em água quente sob pressão e
filtrado para se remover todos os materiais insolúveis. A
composição do produto varia, mas é aproximadamente CLASSIFICAÇÃO DOS SILICATOS
Na2Si2O5-6H2O. Em 1991 foram produzidos 2,6 milhões de A maneira pela qual as unidades tetraédricas (SiO4)4'
toneladas de silicato de sódio solúvel (medida do conteúdo se ligam pode ser utilizado convenientemente para classificar
de SiO2). São utilizados em detergentes líquidos, para manter os diversos silicatos minerais.
o pH elevado, permitindo a dissolução de graxas e gorduras
devido a formação de sabões. Silicatos solúveis não devem
ser usados com "água dura", pois reagirão com o Ca2 + , Ortossilicatos (mesossilicatos)
formando silicato de cálcio insolúvel. O silicato de sódio Uma grande variedade de minerais são constituídas por
também é usado como adesivo (por exemplo em papel ade­ unidades (SiO4)4- discretas, isto é, que não compartilham
sivo, na aglutinação de polpa de papel e papelão ondulado), vértices (vide Fig. 13.7). Eles apresentam a fórmula
em chapas de asbesto, em tintas à prova de fogo, massa de Mll2[SiO4], onde M pode ser Be, Mg, Fe, Mn ou Zn, ou então
vidreiro e na fabricação de sílica-gel. Mlv[SiO4], como no ZrSiO4. Diversas estruturas são formadas,
dependendo do número de coordenação do metal.
Princípios estruturais dos silicatos Na willemita, Zn2[SiO4], e na fenacita, Be2[SiO4], os
A maioria dos silicatos minerais é muito insolúvel, pois átomos de Be e Zn tem número de coordenação 4 e ocupam
tem uma estrutura iônica infinita mantida por fortes ligações interstícios tetraédricos.
Si-O, tornando difícil o estudo de suas estruturas. Por isso, Na forsterita, Mg2[SiO4], o Mg tem número de
inicialmente foram estudados propriedades físicas tais como coordenação 6 e ocupa interstícios octaédricos. Quando sítios
divagem e dureza das rochas. Os princípios que definem as octaédricos são ocupados, é muito comum a ocorrência de
estruturas dos silicatos só se tornaram claros depois que suas substituição isomórfica de um metal divalente por outro de
estruturas foram resolvidas por cristalografia de raios-X. tamanho semelhante, sem alteração da estrutura. O mineral
1) A diferença de eletronegatividades entre O e Si, 3,5- olivina, (Mg,Fe)2[SiO4], possui a mesma estrutura da
1,8 = 1,7, sugere que as ligações são quase 50% iônicas forsterita, mas cerca de um décimo dos íons Mg2+ foram
e 50% covalentes. substituídos por íons Fe2 +. Os íons em questão têm a mesma
CLASSIACAÇAO DOS SILICATOS 219

Tabela 13.8 — Tipos de interstícios ocupados em estruturas


de empacotamento compacto

Óxido Relação Número de Tipo de interstício


de raios coordenação ocupado
Be2*: O2’ 0,25 4 Tetraédrico
Si4*: O2~ 0,29 4 Tetraédrico
Al3*: O2’ 0,42 4 ou 6 Tetraédrico ou
octaédrico Figura 13.8 — Estruturas dos pirossilicatos SiiOf' (segundo T. Moeller)
Mg2*: O2~ 0,59 6 Octaédrico
Fe2*: O2- 0,68 6 Octaédrico
assim denominados porque podem ser obtidos aquecendo-
se os correspondentes ortofosfatos (vide Fig. 13.8).
carga e raios semelhantes (Mg2+ 0,72 Ã, Fe2+ 0,78 Â), e Os pirossilicatos são raros. Um exemplo é a thortveitita,
ocupam o mesmo tipo de interstício. Por isso, a substituição Sc2[Si2O7j. Diversos dissilicatos dos lantanídios tem fórmulas
de um dos metais pelo outro não altera a estrutura. Esse semelhantes, Ln2[Si2O7], mas são bem diferentes. Nesses
mineral também pode conter Mn2* em alguns interstícios compostos o ângulo Si-O-Si não é de 180° como no composto
octaédricos, formando assim o mineral (Mg,Fe,Mn)2[SiO4]. de Sc, e pode variar até 133°. Além disso, o número de
Todas essas estruturas são derivadas do empacotamento coordenação do metal varia de 6 para 7 ou 8, à medida que
hexagonal compacto. aumenta o tamanho do metal. Outro exemplo é a hemimor-
A zirconita, ZrSiO4, pode ser usada como pedra semi­ fita, Zri4(OH)2[Si2O7], mas estudos estruturais não detectaram
preciosa, pois pode ser lapidada de modo a parecer um nenhuma diferenças entre os comprimentos das ligações
diamante, embora seja muito mais barata. A zirconita não é Si-0 terminais e em ponte. Assim, a classificação como um
tão dura quanto o diamante, e as arestas lapidadas, que íon dissilicato deve estar errada, sendo melhor descrita como
tomam a jóia atraente, podem eventualmente desgastar-se, uma estrutura contendo tetraedros [SiO4] e [ZnO3(OH)j
perdendo seu aspecto original. O zircônio tem número de ligados entre si de modo a formar um retículo tridimensional.
coordenação 8 e a zirconita não adota uma estrutura de
empacotamento compacto. Silicatos cíclicos
Outro grupo importante de minerais, constituídas por Se dois átomos de oxigênio de cada unidade tetraédrica
unidades tetraédricas discretas, são as granadas. Cristais forem compartilhados, podem se formar estruturas cíclicas
grandes de granada podem ser lapidados e polidos para serem de fórmula geral (SiO3)n2n“ (Fig. 13.9). São conhecidos anéis
usados como uma pedra semipreciosa de coloração vermelha. contendo três, quatro, seis e oito unidades tetraédricas, sendo
Quantidades bem maiores (106.099 toneladas em 1993) fo­ mais comuns as que contêm três e seis. A wollastonita,
ram empregadas para fabricar lixas. Sua fórmula é Ca3[Si3O9], e a benitoíta, BaTi[Si3O9], contém o íon cíclico
MUjMln2[(SiO4)3]. O metal M11 pode ser Mg, Ca ou Feu, e são Si3O96\ A unidade Si60i812- ocorre no berilo, Be3Al2[Si6O18],
hexacoordenados. O metal M111 pode ser Fe1'1, Cr ou Al, e são onde estão alinhadas umas sobre as outras, formando canais,
octacoordenados. íons Na + , Li+ e Cs+ são comumente encontrados nesses
canais. Além disso, a presença dos canais torna o mineral
Pirossilicatos (sorossilicatos, dissilicatos) permeável a gases formados por átomos e moléculas
pequenas, como por exemplo o hélio. O berilo e a esmeralda
Duas unidades tetraédricas podem juntar-se, compar­
são ambas pedras preciosas. O berilo é encontrado associado
tilhando um 0 de um dos vértices, formando assim a unidade
ao granito, geralmente como cristais em forma de prismas
(Si2O7)6’. Esse é o mais simples dos íons silicato condensa­
dos. 0 nome "piro" provém da semelhança estrutural com
pirofosfatos, tal como o Na4P2O7. Esses compostos foram

SiOj- íon

0=0
• = Si

Figura 13.9 — Estrutura dos silicatos cíclicos Si3O$~ e Si6Ofê (segundo


Figura 13.7 — Estrutura dos ortossilicatos (segundo T.Moeller) T. Moeller)
220 05 ELEMEMT05 □□ BRUPO 14

Figura 13.10 — Estruturas de várias cadeias isoladas Figura 13.12 — Estrutura de várias cadeias duplas

hexagonais verde pálidos. A esmeralda tem a mesma fórmula Os anfibólios mais numerosos e melhor estudados são
do berilo, mas contém de 1 a 2% de Cr, responsável por sua os minerais da família dos asbestos. Eles são constituídos
coloração verde mais intensa. por unidades (Si4O11)nSn'. Nessa estrutura (Fig. 13.12) alguns
tetraedros compartilham dois, enquanto outros compartilltan
três vértices. Podem ser citados a tremolita, Ca2Mgs[(Si4O1|JJ
Silicatos em cadeia
(0H)2, e a crocidolita, Na2Fell3Fe,II2[(SÍ40n)2](OH)2. Os
Silicatos com cadeias simples, os piroxênios, são anfibólios sempre contêm grupos hidroxila, que estão ligados
formados pelo compartilhamento dos átomos de oxigênio aos íons metálicos.
de dois vértices de cada tetraedro com outros tetraedros.
As ligações Si-O nas cadeias são fortes e direcionais.
Isso leva à fórmula (SiO3)n2n’ (vide Fig. 13.10 e 13.11). Diver­
Cadeias adjacentes são mantidas unidas pelos íons metálicos
sos minerais importantes são constituídos por cadeias de
presentes. Por isso, os piroxênios e os anfibólios podem ser
silicatos, com várias estruturas diferentes. Dependendo da
facilmente clivados na direção paralela às cadeias, formando
disposição dos tetraedros no espaço, o tamanho das unidades
fibras. Por esse motivo eles são chamados de minerais
repetitivas ao longo da cadeia pode variar, alterando a
fibrosos. O ângulo de divagem para os piroxênios é de 89',
estrutura do silicato. O arranjo mais comum é aquele no
e para os anfibólios de 56°. Essa característica é usada para
qual as unidades se repetem a cada dois tetraedros, por
identificar esses minerais. Aqueles ângulos estão relacionados
exemplo, no espodumênio, LiAl ((SiO3) 2] (é a principal,
com o tamanho das seções transversais trapezoidais das
matéria-prima para a obtenção do lítio), na enstatita,
cadeias, e à maneira como elas estão empacotarias (vide
Mg2[(SiO3)2] e na diopsita, CaMg[(SiO3)2]. Na wollastonita,
Fig. 13.14).
Ca3((SiO3)3], a unidade repetitiva é constituída por três
tetraedros. Vários outros minerais constituídos por unidades 0 asbesto tem considerável importância econômica,
repetitivas contendo 4, S, 6, 7, 9 e 12 tetraedros são tendo sido minerados 2,8 milhões de toneladas (URSS 36%.
conhecidos. Canadá 19%, Cazaquistão 14%, China e Brasil 9% cada
um), em 1993. Ele é útil por ser forte, barato, resistente ao
Cadeias duplas podem ser formadas quando duas
calor e à chama, e também resistente a ácidos e álcalis. A
cadeias simples se ligam por meio do compartilhamento de
átomos de oxigênio. Esses minerais são conhecidos como
anfibólios e são bastante comuns. Há diversas maneiras de
se formar cadeias duplas, originando compostos que podem
ser representados como (Si2O5)n2"', (Si4On)n6n", (Si6O17)n10'
e outros (vide Fig. 13.12).

Figura 13.11 — Estrutura dos piroxênios (SIOJf~ (segundo T. Moeller) Figura 13.13 — Estrutura de anfibólios (SitOu)^ (segundo T. Moeücrl
CLASSIFICAÇÃO DOS SILICATOS 221

Figura 13.14 — Ângulos de divagem, de piroxênios e anfibólios

maior parte é empregada para fabricar cimento reforçado e


telhas. Quantidades menores encontram emprego em lonas
de freio, revestimento de embreagens, telas de amianto,
Figuira 13.15 — Estrutura de silicatos em camadas (Si2O^^n'
aditivo para coberturas de plásticos vinílicos e como isolante (segundo T. Moeller)
térmico de tubulações. Além disso, as fibras podem ser
tecidas para o fabrico de roupas de proteção contra as
chamas. 3. As micas (muscovita e margarita)
Os minerais do grupo dos asbestos provêm de dois 4. As montmorilonitas (terras de pisoeiro (Fullers earth),
diferentes grupos de silicatos: bentonitas e vermiculitas)
1. Os anfibólios Vejamos como uma estrutura com duas camadas pode
2. Os silicatos lamelares. ser formada. Um dos lados de uma camada de silicato simples
Os anfibólios incluem a crocidolita, Na2Fe"3Feln2[Si8O22] contém os átomos de oxigênio não compartilhados (ligados
(0H)2, conhecido como "asbesto azul”, e seus derivados. a apenas um Si). Os hidróxidos puros, A1(OH)3 e Mg(OH)2,
Estes são obtidos por substituição isomórfica, como a amosita cristalizam formando estruturas lamelares (Al e Mg são
ou “asbesto marrom", (MgFe,I)7[Si8O22](OH)2. Esses dois hexacoordenados e ocupam sítios octaédricos). Os átomos
minerais perfazem cerca de 5 % dos asbestos utilizados. de oxigênios não compartilhados de uma camada de silicato
0 tnineral crisotilo, Mg3(OH)4[Si2O5], é conhecido como estão praticamente nas mesmas posições relativas de dois
“asbesto branco”, sendo derivado da serpentina, um silicato terços dos grupos OH em cada lado dessas camadas de
hidróxido. Se uma camada de Si2Os for colocada lado a lado
lamelar. Ele responde por 95% do asbesto usado.
com uma camada de Y-gibsita, (A1(OH)3), verificaremos que
Embora o asbesto seja quimicamente inerte, constitui muitos dos átomos de O serão coincidentes. Assim, os grupos
um sério risco para a saúde. A inalação de pó de asbesto OH do A1(OH)3 podem ser removidos, para formar uma
provoca asbestose, ou formação de cicatrizes nos pulmões. estrutura de duas camadas eletricamente neutra. O mineral
Causa também câncer de pulmão. O “asbesto azul” parece caolinita, AÍ2(OH)4[Si2O5], é constituído pelo empilhamento
ser o mais perigoso. A doença pode apresentar um período paralelo dessas duplas camadas. É um sólido branco formado
de latência de 20 a 30 anos. A melhor maneira de evitar tal na decomposição do granito. Grandes quantidades são
doença é minimizar a quantidade de poeira de asbesto e, se usadas como carga na indústria de papel e como material
possível, manusear o material umedecido. refratário. A produção mundial de caolinita foi de 22,5
milhões de toneladas em 1992 (EUA 41 %, Reino Unido 11 %
Silicatos lamelares (filossilicatos) e Coréia do Sul 8%). O caolim para a fabricação de porcelana
é minerado, por exemplo, na Cornualha (Inglaterra). É uma
Quando as unidades SiO4 compartilham três vértices, caolinita de elevado grau de pureza. Após a remoção de
forma-se uma estrutura infinita bidimensional de fórmula pequenas quantidades de SiO2 e mica, pode ser misturado
empírica (Si2Os)n2n~ (vide Fig. 13.15). Há ligações Si-0 fortes com água para formar uma massa plástica branca ou quase
dentro da camada, porém ligações muito mais fracas mantém branca. Pequenas quantidades são empregadas na fabricação
as camadas unidas. Por isso, esses minerais tendem a clivar de porcelana, xícaras e pratos, louças sanitárias e outros
com formação de lâminas finas. materiais cerâmicos. Também são utilizados em cromato-
São raras as estruturas com camadas planas simples. grafia, no tratamento de indigestões e na confecção de
Um grande número de silicatos lamelares são conhecidos e emplastos.
importantes. Eles têm estruturas um pouco mais compli­ Os dois lados de uma camada de A1(OH)3 são equiva­
cadas, constituídas por lamelas contendo duas ou três
lentes. Uma camada de Si2Os foi combinada com um dos
camadas interligadas. Podem ser citados: lados para formar a caolinita. Mas, uma segunda camada de
1. As argilas (caolinita, pirofilita, talco) Si2Os pode combinar-se com o outro lado, formando uma
2. 0 asbesto branco (crisolita, biotita) estrutura com três camadas, constituída por silicato, A1(OH)3
aze OS ELEMENTOS DO 6RUP0 14

As argilas formam-se por decomposição (erosão) de


Camada de gibbsita AI(OH)3 Camada de brucita Mg(OH)2 outros silicatos ou por processos hidrotérmicos, isto é, pela
Camada de silicato Camada de silicato ação da água a altas temperaturas e pressões. Elas contêm
camadas eletricamente neutras, como na caolinita e pirofilita.
Camada de silicato Camada de silicato As argilas também compreendem as montmorillonitas, que
Camada de gibbsita AI(OH)3
possuem camadas negativamente carregadas, mas o número
Camada de brucita Mg(OH)3
de cargas é muito menor que nas micas. Parte do Al111 da
Camada de silicato Camada de silicato
pirofilita, Al2(OH)2[(Si2O5)2], em sítios octaédricos, pode ser
substituído por Mg", formando (Mg0,33Alb67)(OH)2
Figura 13.16 — Estruturas de duas e três camadas [(Si2O5) 20-33']. Portanto, as camadas triplas possuem uma
pequena carga negativa, que deve ser neutralizada pela
e silicato. A pirofilita, Al2(OH)2[(Si2O5)2], apresenta esse tipo incorporação del/3M* ou 1/6 M2 * entre as camadas. Esses
de estrutura em três camadas (Fig. 13.16). íons metálicos podem estar hidratados, de modo que esses
Uma camada de brucita, Mg(OH)2, pode ser combinada minerais são muitas vezes denominados “hidromicas".
com uma camada de Si2O5, formando uma estrutura com Quando finamente divididas e suspensas em água
duas camadas. Esse é o mineral crisotilo (asbesto branco), apresentam propriedades tixotrópicas. Suas partículas são
Mg3(OH)4[Si2O5], que tem considerável importância constituídas por pequenas placas com cargas negativas na
comercial. A brucita também pode combinar-se com duas superfície e positivas nas arestas. As partículas podem se
camadas de Si2O5, formando uma estrutura em três camadas mover livremente na água e se orientam de modo a
conhecido como talco ou pedra-sabão, Mg3(OH)2[(Si2Os)2). maximizar as atrações entre as partes + e -, formando uma
Essas estruturas constituídas por três camadas são massa semi-sólida semelhante a um gel. Quando agitadas,
eletricamente neutras, não havendo íons metálicos ligando as interações + /- se rompem e a viscosidade da suspensão
uma camada à outra. Por conseguinte, esse material é muito diminui drasticamente. São usados em emulsões de tintas
mole e pode ser quebrado facilmente. A esteatita ou pedra- tixotrópicas não gotejantes. Esses minerais também podem
sabão é lisa e escorregadia ao tato (daí seu nome), podendo atuar como trocadores de íons. O mineral conhecido como
ser utilizado como um lubrificante seco. A produção mundial “Fullers earth" é uma montmorillonita de cálcio, com elevada
de talco foi de 8,4 milhões de toneladas em 1992. É usado capacidade de absorção. Em 1992 foram produzidas cerca
principalmente na fabricação de cerâmica, papel e tintas. de 4,2 milhões de toneladas, principalmente para descolorir
Pequenas quantidades são usadas em cosméticos, pois o e desodorizar óleos vegetais e minerais, gorduras e ceras. É
talco pode ser triturado até formar um pó muito fino. usada também para absorver óleo derramado e para absorver
Nas estruturas com três camadas do tipo das pirofilitas o odor de detritos de animais domésticos. Pode ser usado
pode haver substituição de átomos. Se o Si for parcialmente como trocador de íons Ca2*, sendo que a substituição de
substituído por Al (nos interstícios tetraédricos), a camada Ca2+ por Na* gera o mineral bentonita. Este tem proprie­
adquire carga elétrica negativa. Tais cargas são neutralizadas dades tixotrópicas marcantes e é usado como pasta de
por íons metálicos positivos, localizados entre as camadas. lubrificação de brocas e em tintas emulsificadas à base de
Isso dá origem aos minerais do grupo das micas. Esses água (9,2 milhões de toneladas de bentonita foram
minerais são caracterizados pelo fato de poderem ser clivados produzidas em 1992).
em lâminas flexíveis transparentes e brilhantes, de cores As vermiculitas são formadas quando ocorre a substi­
variadas. A muscovita tem fórmula KA12(OH)2[A1Sí3O10], tuição do Mg2* na camada de brucita e concomitantemente
sendo conhecida como “mica branca”. A margarita tem a substituição do Si4* por Al3* na camada de silicato no
fórmula CaAl2(OH)2[AlSi3O10]. talco, Mg3(OH)2[(Si2Os)2]. Sua composição típica é
A substituição de átomos também pode ocorrer no talco, Nax(Mg,Al,Fe)3(OH)2[((Si,Al)2O5)2]H2O. Quando as
Mg3(OH)2[Si4O10], A substituição de Si por Al + K dá origem vermiculitas são aquecidas, elas se desidratam de uma
à mica flogopita, KMg3(OH)2[AlSi3O10]. A substituição parcial maneira incomum, com a extrusão de pequenos "vermes"
de Mg por Fe“ dá origem ao mineral biotita, K(Mg,Fe")3(OH)2 (essa é a origem do nome do mineral). Esses materiais são
(AlSi3O]0), ou “mica preta”. As micas são muito mais duras porosos e leves, sendo usados como enchimento de
que o talco e os outros minerais que apareceram nesse tópico, embalagens, como isolante, e como “solo” para o cultivo de
por causa da atração eletrostática entre as camadas triplas plantas utilizando a técnica da cultura hidropónica. Mais de
negativamente carregadas e os íons metálicos positivos. meio milhão de toneladas são produzidas anualmente.
Contudo, esses ainda se constituem nos pontos fracos da
estrutura, e as micas podem ser facilmente clivadas em Silicatos tridimensionais
lâminas. A produção mundial de micas foi de 214.000 O compartilhamento de todos os quatro vértices de um
toneladas em 1992. Os principais fornecedores são os EUA tetraedro de SiO4 leva a um retículo tridimensional de fórmula
40%, URSS 16% e Canadá 8%. Lâminas de mica são usadas SiO2 (quartzo, tridimita, cristobalita, etc.). Esses minerais
como isolante elétrico, e como elemento de suporte para não contêm íons metálicos, mas suas estruturas tridimensio­
resistências (por exemplo, em ferros elétricos de passar nais podem constituir a base de estruturas de certos silicatos,
roupa). Também é usado em capacitores e como “janela” se ocorrer a substituição isomórfica de alguns dos Si4* por
em fornalhas. Mica finamente dividida é usada como carga Al3 *, além da incorporação de um íon metálico. Isso produz
em plásticos e borrachas, em chapas isolantes, e em tintas um retículo tridimensional infinito, onde os cátions adicionais
policromáticas e metálicas (por exemplo, para carros). ocupam os interstícios do retículo. A substituição de um
OS SILICATOS NA TECNOLOGIA 223

quarto do Si4+ no SiO2 por Al3 + , leva a formação do íon cuja cor é produzida pelo íon polissulfeto. Os ultramares
tridimensional AlSi3O8. Os cátions são geralmente íons constituem um grupo de compostos que não contém água,
metálicos grandes, tais como K + , Na + , Ca2+ ou Ba2+. íons mas contém ânions como CF, SO4" e S2". Podem ser citados
menores como Fe3 + , Cr3+ e Mn2*, que eram comuns nos como exemplos de ultramares:
silicatos em cadeia e silicatos lamelares, não ocorrem nos
silicatos tridimensionais, porque os interstícios no retículo Ultramar Na8[(AlSiO4)6]S2
cristalino são muito grandes. A substituição de um quarto sodalita Na8[(AlSiO4)6]Cl2
ou da metade dos átomos de Si são bastante comuns, gerando noselita Na8[(AlSiO4)6]SO4
estruturas do tipo M'[A1Sí3O8] e Mn[Al2SÍ2O8]. Tais Atualmente, os ultramares são produzidos sintetica-
substituições são responsáveis pela formação de três grupos mente. O próprio Ultramar é obtido pelo aquecimento de
de minerais: caolinita, carbonato de sódio e enxofre, na ausência de ar. O
D feldspatos produto pode ser azul, verde ou vermelho, dependendo do
2) zeólitas polissulfeto presente. O composto é usado como pigmento
3) ultramares. azul para tintas a óleo e cerâmicas. Antes de existirem os
Os feldspatos são os minerais formadores de rochas detergentes com avivadores artificiais, o Ultramar sintético
mais importantes e constituem dois terços das rochas ígneas. era usado como corante azul (anil) para mascarar a cor
Por exemplo, o granito é constituído por fedspato, associado amarelada da roupa.
a pequenas quantidades de mica e quartzo. Os feldspatos
são agrupados em duas classes:

Feldspatos ortoclásios Feldspatos plagioclásios OS SILICATOS NA TECNOLOGIA


ortoclásio K[A1Sí3O8] albita Na[AlSi3O8J Muitos silicatos encontram emprego em função apenas
celsiano Ba[Al2Si2O8í anortita Ca[Al2SÍ2O8) de suas propriedades físicas. Por exemplo, as argilas são
usadas para absorver produtos químicos, micas como
Os ortoclásios são mais simétricos que os plagioclásios,
isolantes elétricos, asbestos como isolantes térmicos, ágata
pois o K+ e o Ba2+ têm exatamente o tamanho para se encai­
e pederneira como material duro ou na obtenção de
xarem nos interstícios, enquanto que Na+ e Ca2+ são
superfícies cortantes. Além disso, uma variedade de pedras
menores, permitindo a ocorrência de distorções estruturais.
semi-preciosas são utilizadas como ornamento e em
As zeólitas tem uma estrutura muito mais aberta que joalheria.
os feldspatos. O esqueleto com carga negativa contém canais,
São extremamente importantes porque as indústrias de
íormando uma estrutura semelhante a favos de abelha. Esses
cimento, cerâmica e vidro se baseiam na química dos
canais são suficientemente grandes para permitir a troca de
silicatos. Processos metalúrgicos freqüentemente produzem
certos íons. Eles podem também absorver ou perder água e
silicatos como escória, ou porque os minérios são do grupo
outras moléculas pequenas, sem que ocorra a quebra da dos silicatos, ou porque os minerais contém silicatos como
estrutura. As zeólitas são muito usadas como trocadores impurezas. Algumas das aplicações tecnológicas mais
iônicos e como peneiras moleculares. A natrolita,
importantes são as seguintes:
Na2[A12Si3O10]2H2O é um trocador de íons natural. A
“permutita”, empregada para remover a dureza da água, é
constituída por zeólitas de sódio. As zeólitas removem íons Silicatos alcalinos
Ca2+ e os substituem por Na + , eliminando assim a “dureza” São usados principalmente como adesivos, como
da água. A zeólita de sódio natrolita se converte gradual­ descrito anteriormente.
mente numa zeólita de cálcio. Eventualmente, precisará ser
regenerada tratando-a com uma solução concentrada de
NaCl, onde ocorre o processo inverso. Além dos minerais Cimento
de ocorrência natural, foram preparadas muitas zeólitas Tanto o cimento Portland como o cimento com elevado
sintéticas. As zeólitas também atuam como peneiras teor de alumina foram descritos no Capítulo 12.
moleculares, absorvendo moléculas suficientemente
pequenas para entrarem nas cavidades, mas não aquelas
Cerâmica
grandes demais para tanto. Podem absorver moléculas de
água, CO2, NH3 e EtOH, e são empregados na separação de As cerâmicas são materiais obtidos a partir da “queima”,
hidrocarbonetos de cadeia normal daquelas de cadeia a altas temperaturas, de materiais inorgânicos que podem
ramificada. Algumas outras zeólitas que podem ser mencio­ ser transformados numa pasta e moldados a temperatura
nadas são a heulandita, Ca[A12Si7O18]6H2O, a chabazita, ambiente. O aquecimento comunica resistência ao produto,
Ca[Al2Si4O12]6H2O, e a analcita, Na[AlSi2O6)H2O. Podem ser sinterizando os cristalitos ou fundindo parcialmente a pasta.
preparadas peneiras moleculares com poros de tamanhos Diversos carbetos, óxidos, e em particular argilas, são trata­
apropriados para remover seletivamente moléculas dos dessa maneira. Esse processo é importante para a fabri­
pequenas. cação de tijolos, azulejos e objetos cerâmicos.
O mineral lápis-lazuli tem uma esplêndida coloração azul A caolinita, Al2(OH)4[Si2Os] perde água quando
e era muito apreciado como pigmento para pinturas a óleo, aquecido a 500-600 °C, formando Al2O3-2SiO2. Quando a
na Idade Média. Ele contém o Ultramar, Na8[(AlSiO4)6]S2, temperatura aumenta para aproximadamente 950 °C forma-
BS4 □S ELEMENTOS □□ BRUPO 14

se uma solução sólida de mullita (fórmula aproximada foram produzidos 26,4 milhões de toneladas de vidro para
3Al2O3-2SiO2) e SiO2, que permanece sólida até no mínimo garrafas, e 7 milhões de toneladas de vidro plano. Este foi
1.595 °C. A partir dessa temperatura ocorre o amolecimento usado sobretudo em janelas.
gradativo do material. Como a caolinita é uma argila isenta Na fabricação de vidro podem ser usados aditivos para
de ferro, o produto é branco. refino e para descolorir e colorir. Agentes de refino tais como
A porosidade do produto depende da temperatura NaNO3 ou As2O3 podem ser adicionados para remover
utilizada na "queima". Se a temperatura for alta, o produto bolhas. O agente de refino se decompõe e libera grandes
não absorverá líquidos. A presença de Fe3+ na argila bolhas de gases na massa fundida, que removem as pequenas
comunica ao produto uma cor vermelha ou púrpura, enquan­ bolhas que sempre se formam. Os agentes descolorantes
to argilas com elevado teor de CaO levam a produtos de são adicionados para remover impurezas e para obter vidro
coloração amarela. A maior parte das cerâmicas, exceto os incolor. Fe3+ confere uma coloração amarela castanho,
tijolos e alguns pisos, recebe um revestimento vítreo, ou misturas de Fe3+ e Fe2+ uma cor verde, e Fe2+ uma cor azul
seja, são vitrificados. O processo de vitrificação é realizado clara. Outros agentes colorantes podem ser adicionados —
mergulhando-se o produto numa suspensão aquosa de óxido Co2 + confere uma cor azul intensa e partículas coloidaisde
de metais pesados como SnO2 ou PbO2, antes do tratamento Cu comunicam uma coloração vermelho-rubi. 0 CaF2 é às
térmico. Os pigmentos podem ser aplicados antes ou depois vezes adicionado para provocar uma turvação, na fabricação
do processo de vitrificação. Caso sejam aplicados sobre a do vidro opalina.
camada vítrea já formada, é necessário uma segunda
"queima” para fixá-los.
COMPOSTOS ORGANOSSILÍCICOS E OS
Vidros
SILICONES
Uma pequena quantidade de vidro é fabricada usando Compostos organossüícicos
sílica. Esse vidro tem excelentes propriedades, mas são As ligações Si—C são quase tão fortes quanto as ligações
necessárias temperaturas muito elevadas para a sua C—C. Assim, o carbeto de silício é extremamente duro e
fabricação. O vidro de sílica é muito caro para que possa ser estável. Milhares de compostos organossilícicos contendo
utilizado de forma generalizada, mas é utilizado em ligações Si—C foram preparados, principalmente depois de
instrumentos científicos. 1950. Muitos deles são inertes e termoestáveis (por exemplo,
SiPh4 pode ser destilado ao ar a 428 °C). Contudo, a varieda •
A temperatura de fusão da sílica pode ser diminuída
de de compostos de Si é restrita, se comparada com a grande
adicionando-se diversos óxidos, de modo a preparar os vidros
variedade de compostos orgânicos, por três motivos:
a base de silicatos. Dentre os óxidos podem ser citados o
Na2O, K2O, MgO, CaO, BaO, B2O3, A12O3, PbO e ZnO. O vidro D Os átomos de silício apresentam pequena tendência de
é uma solução sólida e sua composição pode variar. A se ligarem entre si (catenação), enquanto que o carbono
quantidade de óxido adicionada não é muito grande, de modo tem uma grande tendência nesse sentido. As cadeias
que os tetraedros de SiO4 ainda tem um papel importante mais longas de silício são as cadeias formadas no Si16FM
na estrutura do vidro. e Si8H18, mas estes compostos são exceções. Isso se
deve ao fato das ligações Si-Si serem fracas, en
O vidro seria solúvel em água caso fossem utilizados
contraste com as fortes ligações C-C (vide Tabela 13.4).
somente Na2O e K2O. Por exemplo, o vidro comum para uso
em janelas é um vidrossilicato de cálcio e álcali, obtido por 2) O silício não forma ligações duplas prt-prr, enquanto
meio da fusão do carbonato do metal alcalino, CaCO3 e SiO2 que o carbono prontamente forma ligações duplas (foi
(os carbonatos se decompõem aos seus respectivos óxidos isolado um dissileno, Me2Si = SiMeH, mas isso só foi
com o aquecimento). O vidro-de-sódio, usado em equipa­ possível em matriz de argônio sólido. Vários interme­
mentos baratos de laboratório, é obtido quando se utiliza diários de reação com ligações Si = C e Si = N são
Na2CO3. O uso de K2CO3 fomece o vidro-de-potássio. O vidro- conhecidos. Além disso, o composto (Me3Si)2Si =
de-chumbo (vidro cristal) é obtido quando a maior parte do C(OSiMe3)(C10H15) forma cristais estáveis à temperatura
CaO for substituída por PbO. Esse vidro tem um maior índice ambiente e na ausência de ar. Contudo, tratam-se de
de refração e é usado na fabricação de componentes ópticos raras exceções.)
e objetos decorativos ("cristais”). Caso A12O3 seja adicionado, 3) O silício forma vários compostos contendo ligações
o íon Al3 + pode estar presente na estrutura como íon metálico duplas prt-drt. Os átomos de silício utilizam orbitais d
livre, ou substituindo o Si4 + nos tetraedros de SiO4 do retículo para formar tais ligações (vide tópicos abaixo).
cristalino. O íon B3+ substitui parte do Si4+ do retículo
cristalino quando B2O3 é adicionado. Os vidros de Obtenção de compostos organossüícicos
borossilicato são importantes e podem conter Al além do B.
Esses materiais apresentam um baixo coeficiente de expansão Há diversos métodos para se obter compostos com
e podem resistir a grandes variações de temperatura sem ligações Si—C:
quebrar. Eles contêm uma menor quantidade de álcali e são 1) Através de uma reação de Grignard
menos susceptíveis a ataques por agentes químicos. Esses SiCl4 + CHjMgCl -> CH3SiCl3 + MgCl2
vidros são muito usados na manufatura de equipamentos CH3SiCl3 + CH3MgCl -4 (CH3)2SiCl2 + MgCl2
de laboratório, bem como em utensílios de vidro tipo “Pyrex”. (CH3)2SiCl2 + CH3MgCl • ■> (CH3)3SiCl + MgCl2
O vidro é fabricado em grandes quantidades. Em 1991, (CH3)3SiCl + CH3MgCl -> (CH3)4Si + MgCl2
COMPOSTOS ORSANOSSILlCICOS E OS SILICONES 2S5

Essas reações são úteis no laboratório ou para produção R R R


em pequena escala. I I.
HO—Si—OH + HO—Si—O—Si—OH
2) Usando um composto organolítio
I I I
4LÍR + SÍC14 SiR4 + 4LÍC1 R R R

Esse método também é útil em escala de laboratório, R R R


podendo R ser um grupo alquila ou arila. I I. I.
HO—Si—O—Si—O—Si—OH etc.
3) Pelo "processo direto" de Rochow. Haletos de alquila I I I
ou arila reagem diretamente com um leito fluidizado R R R
de silício, na presença de grandes quantidades (10%)
As matérias-primas para a fabricação de silicones são
de um catalisador de cobre.
clorossilanos alquil ou aril substituídos. Geralmente, os
catalisador de Cu, 280—300'C derivados de metila estão sendo utilizados, embora alguns
Si + 2CH3C1 (CH3)2SiCl2
derivados fenílicos também o sejam. A hidrólise do dimetil-
Esse é o principal método industrial para preparar metil- diclorossilano, (CH3)2SiCl2, leva a formação de polímeros
e fenil(cloro)silanos, que são de considerável de cadeia normal. As duas extremidade da cadeia contém
importância comercial, principalmente como matéria- um grupo OH reativo, de modo que a polimerização continua
prima para a fabricação de silicones. O rendimento é e o comprimento da mesma vai aumentando. O (CH3)2SiCl2
de cerca de 70%, gerando quantidades variáveis de é, portanto, uma unidade geradora de cadeias. Normalmente
outros produtos: MeSiCl3 (10%), Me3SiCl (5%) e obtém-se polímeros de elevado peso molecular.
quantidades menores de Me4Si e SiCl4, além de produtos
como o MeSiHCl2. Tanto o método de Grignard como o ch3 ch3 ch3 ch3 ch3 ch3 ch3
"processo direto” levam a uma mistura de produtos, I I I I I I I
HO—Si—O—Si—O—Si—O—Si—O—Si—O—Si—O—Si—OH
sendo importante realizar um fracionamento muito
cuidadoso, pois os pontos de ebulição desses compostos I I I I I I I
ch3 ch3 ch3 ch3 ch3 ch3 ch3
são muito próximos: Me3SiCl (57,7 °C), MeSiCl3 (66,4
°C), e Me2SiCl2 (69,6 °C). A hidrólise, em condições cuidadosamente controladas,
pode produzir estruturas cíclicas, formando anéis contendo
4) Adição catalítica de Si-H a um alceno. Trata-se de um
três, quatro, cinco ou seis átomos de Si.
método geral útil, mas não se presta para a obtenção
do metil- e fenil-silanos, necessários para a indústria
de silicones. Me o Me Me Me
Com exceção do Ph3SiCl, que é sólido, os produtos são II
Si Si Me—Si—O—Si—Me
líquidos voláteis. Eles são altamente reativos e
inflamáveis, e reagem com a água, liberando uma
/I I \ I I
Me O O Me O O
grande quantidade de calor. \ / I I
Si Me—Si—O—Si—Me
Silicones / \ I I
Me Me Me Me
Os silicones constituem um grupo de polímeros tris-ciclo(dimetil) siloxano tetrakis-ciclo (dimetil) siloxano
organossilícicos, utilizados numa grande variedade de aplica­
ções. Por exemplo como fluidos, óleos, elastômeros A hidrólise do trimetil(monocloro)silano, (CH3)3SiCl,
(borrachas) e resinas. A produção anual é estimada em cerca fornece trimetil(silanol), (CH3)3SiOH, um líquido volátil que
de 300.000 toneladas. Atualmente, são os compostos organo- pode se condensar formando hexametil(dissiloxano). Como
tnetálicos produzidos em maior escala. esse composto não possui nenhum grupo OH, ele não pode
continuar reagindo para formar cadeias.
A hidrólise completa do SiCl4 fornece SiO2, que tem
uma estrutura tridimensional muito estável. Os estudos CH3 CH3 CH3 CH3
realizados por F. S. Kipping sobre a hidrólise de alquil(clo-
ro)silanos levaram à obtenção de polímeros de cadeia longa CH3—Si—OH + HO—Si—CH3—» CH3—Si—O—Si—CH3
denominados silicones e não aos compostos de silício
análogos às cetonas, como esperado. CH3 CH3 CH3 CH3
hexametil(dissiloxano)

R Cl R OH R Se 0 (CH3)3SiCl for misturado com (CH3)2SiCl2 e


\ / \ / \
s,X°
+ 2HjO -HjO hidrolisado, o (CH3)3SiCl irá reagir bloqueando uma das
Si -2HC1
Si extremidades da cadeia normal produzida pela polimerização
/ \ / \ / do (CH3)2SiCl2. Nesse caso, a cadeia não terá nenhum grupo
R Cl R OH R
OH reativo numa de suas extremidades, e o crescimento
R R R R nessa extremidade será interrompido. Eventualmente a outra
I - H;O I I extremidade também poderá ser bloqueada da mesma
HO-Si—OH + HO—Si—OH HO—Si—O—Si—OH
I maneira. Assim, o (CH3)3SiCl é uma unidade bloqueadora
k 1 R R do crescimento da cadeia, de modo que a proporção de
OS ELEMENTOS 00 GRUPO 14

(CH3)3SiCl e (CH3)2SiCl2 na mistura inicial determinará o Os compostos cíclicos fornecem as unidades formadoras das
tamanho médio das cadeias poliméricas que serão obtidas. cadeias, enquanto o hexametildissiloxano fornece os grupos
bloqueadores do crescimento das cadeias. O comprimento
ch3 ÇH3 çh3 çh3 CH3 médio das cadeias é determinado pela proporção desses dois
reagentes. O H2SO4 rompe as ligações Si-O-Si, formando
HO—Si—O—Si—O—Si—O—Si—OH + HO—Si—CH3—> ésteres Si-O-SO3H, e Si-OH. Os ésteres sofrem nova hidrólise
I I I I regenerando as ligações Si-O-Si. Esse processo se repete
ch3 CH3 ch3 ch3 CH3
continuamente, e leva à formação de cadeias de tamanhos
ch3 ch3 ÇH3 ÇH3 ch3 semelhantes. O ponto de ebulição e a viscosidade aumentam
com o aumento do comprimento das cadeias, formando
I" - —O
HO—Si - —O—Si—O—Si—O—Si—CH3
- —Si
compostos que se assemelham a líquidos, óleos viscosos e
I I I I I graxas. Os fluidos são usados como repelentes de água no
ch3 ch3 ch3 ch3 ch3
tratamento de alvenaria e construções, vidraria e tecidos.
A hidrólise de metil(tricloro)silano, RSiCl3, fornece um São ainda empregados em ceras para automóveis e graxas
polímero com estrutura bastante complexa, contendo de sapato. Os fluidos de silicone não são tóxicos e apresentam
ligações cruzadas. baixa tensão superficial. A adição de algumas partes por
mjlhão de silicones reduz enormemente a formação de
I espumas nos efluentes domésticos e processos industriais,
O R
I I tais como no fingimento de tecidos, na fabricação de cerveja
O—Si—O—Si—O— (fermentação) e na fritura industrial de alimentos. Óleos de
I I silicone são empregados como materiais dielétricos
O O R (isolantes) em transformadores de alta tensão. São também
I I usados como fluidos hidráulicos. Os metil silicones podem
—O—Si—O—Si—O—Si—O—
I I ser usados como óleos lubrificantes em locais onde não muito
R R 0 solicitados, mas não são adequados para uso pesado, como
I em caixas de engrenagens, pois o filme de óleo se rompe
Assim, algumas ligações cruzadas ou sítios para a quando submetidos a altas pressões. Silicones com alguns
ligação de outras moléculas serão obtidos, caso pequenas grupos fenil são melhores lubrificantes. Esses óleos podem
quantidades de CH3SiCl3 sejam adicionadas à mistura. Logo, ser misturados com estearato de lítio, na produção de graxas.
qualquer tipo de polímero poderá ser obtido misturando-se Borrachas de silicone são constituídas de polímeros de
de forma controlada os reagentes adequados. cadeia normal longas (dimetilpolissiloxanos), com 6.000 a
Os silicones são relativamente caros mas apresentam 600.000 unidades de Si, misturados com uma carga,
muitas propriedades interessantes. Foram inicialmente geralmente SiO2 finamente dividido ou eventualmente grafita.
desenvolvidos para serem utilizados como isolantes elétricos, São produzidos pela hidrólise do dimetilclorossilano em KOH,
porque são mais resistentes ao calor que polímeros orgânicos (correspondem a cerca de 25% da produção mundial)
e, caso venham a se decompor, não formam materiais tomando-se o cuidado de excluir da reação grupos bloquea­
condutores, como acontece com os compostos de carbono. dores do crescimento das cadeias ou formadores de ligações
São resistentes à oxidação e à maioria dos reagentes cruzadas. Os elastômeros de silicone são úteis, porque
químicos. Além disso, repelem fortemente a água, são bons preservam sua elasticidade entre -90 °C e +250 °C, um
isolantes elétricos, têm propriedades não-aderentes e intervalo muito maior que o da borracha natural. São também
propriedades anti-espumantes. Sua resistência e inércia estão bons isolantes elétricos. Podem ser vulcanizados para formar
relacionadas a dois fatores: borrachas duras, por dois métodos:
D À estabilidade da cadeia Si-O-Si-O-Si, contendo D Por oxidação com pequenas quantidades de peróxido
ligações semelhantes às encontradas na sílica. A energia de benzoíla, que produz algumas ligações cruzadas
de dissociação da ligação Si-0 é muito elevada (502 kJ (cerca de 1 % dos átomos de Si formam ligações
mor1). cruzadas).
2) À estabilidade da ligação C-Si. 2) Pela incorporação de unidades formadoras de ligações
Suas propriedades hidrofóbicas decorrem do fato da cruzadas na cadeia.
cadeia de silicone ser rodeada por grupos substituintes Os grupos laterais que comunicam maior resistência
orgânicos, que tornam sua parte exterior muito semelhante ao calor são os grupos fenil, seguidos pelos grupos metil,
aos dos alcanos. Os silicones podem se apresentar na forma etil e propil, em ordem decrescente de estabilidade. Os sili­
de líquidos, óleos, graxas, elastômeros (borrachas) ou resinas. cones são rapidamente oxidados e ligações cruzadas são
Polímeros de cadeias normais constituídas por 20 a 500 formadas, quando aquecidos ao ar a temperaturas de 350-
unidades são utilizados como fluidos de silicone. Eles 400 °C. O polímero se torna quebradiço e se rompe, gerando
correspondem a 63% dos silicones usados. Se forem prepa­ polímeros de baixo peso molecular e estruturas cíclicas. Um
rados pela hidrólise de uma mistura de (CH3)3SiCl e aquecimento intenso, na ausência de ar, provoca a formação
(CH3)2SiCl2, os comprimentos das cadeias variam considera­ de produtos voláteis e torna-os mais moles, mas não ocorrem
velmente. Industrialmente são produzidos tratando-se uma reações de oxidação e a formação de ligações cruzadas.
mistura de tetrakis-ciclo(dimetil)siloxano, (Me2SiO)4, e Resinas de silicone são polímeros rígidos, como a
hexametildissiloxano, (Me)3SiOSi(Me)3, com H2SO4 a 100%. baquelita. São produzidos hidrolisando-se (com água) uma
HIDRETOS 227

mistura de PhSiCl3 e (Ph)2SiCl2, dissolvidos em tolueno. O SiCl4 + Lí[A1H4) -> SiH4 + A1C13 + LiCl
produto parcialmente polimerizado é lavado para remover Si2Cl6 + 6LiH -> Si2H6 + 6LÍC1
o HC1, e em seguida moldado. Finalmente, o produto é Si3Cl8 + 8NaH Si3H8 + 8NaCl
aquecido com sal de amônio quaternário como catalisador,
para condensar quaisquer grupos OH remanescentes na Os silanos também podem ser preparados pela reação
estrutura. O produto final apresenta muitas ligações cruzadas. direta, aquecendo-se Si ou ferro-silício com HX anidro ou
RX, na presença de um catalisador de cobre.
Aproximadamente 12% dos silicones são produzidos na
forma de resinas e usados como isolantes elétricos,
geralmente misturados com fibra de vidro para aumentar Si + 2HC1 SiH2Cl2
sua resistência. São usados na fabricação de placas de Si + 3HC1 -+ SíHC13 + H2
circuitos impressos e para encapsular “chips” de circuitos Si + 2CH3C1 -> CH3SiHCl2 + C + H2
integrados e resistores. São também empregados como
revestimentos não-aderentes de panelas, formas de cozinha Os silanos são muito mais reativos que os alcanos. Os
e moldes para pneumáticos. alcanos são quimicamente pouco reativos, praticamente
reagindo somente com os halogênios e com o oxigênio
(combustão). Já os silanos são fortes agentes redutores,
HIDRETOS entram em combustão em contato com o ar e explodem em
contato com Cl2. Quando puros, os silanos não reagem com
Todos os elementos do grupo formam hidretos
ácidos diluídos nem com água pura em aparelhagens de
covalentes, mas o número de compostos formados e a
sílica, mas hidrolisam rapidamente em solução alcalina, ou
facilidade com que se formam diferem substancialmente. O
mesmo na presença de pequenas quantidades de álcali
carbono forma muitos compostos constituídos por cadeia e
desprendidos pelos equipamentos de vidro.
ciclos:
Os alcanos (parafinas), CnH2n+2 traços de áJcali
1) Si2H6 + (4 + n) H2O 2SÍO2hH2O + 7H2
2) Os alcenos (olefinas), CnH2n
Compostos com ligações Si-H sofrem uma importante
3) Os alcinos (acetilenos), CnH2n_2
reação de hidrosililação com alcenos, na presença de um
4) Os compostos aromáticos. catalisador de platina. A reação é semelhante à hidroboração,
Esses compostos formam a base da Química Orgânica. e os produtos podem ser utilizados na preparação de sili­
Há uma forte tendência à catenação (formação de cadeias), cones.
pois as ligações C-C são muito fortes.
RCH = CH2 + SiHClj RCH2CH2SíC13
O silício forma um número limitado de hidretos
saturados SinH2n + 2, denominados silanos, com cadeias As diferenças de comportamento entre os alcanos e os
normais ou ramificadas, contendo até oito átomos de silício. silanos é atribuída a diversos fatores:
Compostos cíclicos são muito raros. Além disso, não se D As eletronegatividade de Pauling são: C = 2,5, Si = 1,8 e
conhecem compostos de silício análogos aos alcenos e H = 2,l. Assim, os elétrons das ligações C-H e Si-H
alcinos. O monossilano, SiH4, é o único hidreto de silício não estão distribuídos da mesma maneira, deixando
importante. SiH4 e SiHCl3 foram preparados pela primeira uma carga 8‘noCe uma carga 6* no Si. Portanto, o Si
vez, tratando-se uma liga Al/Si com HC1 diluído. Uma mistura é mais vulnerável ao ataque de reagentes nucleofílicos.
de silanos foi obtida hidrolisando-se siliceto de magnésio,
Mg2Si, com ácido sulfúrico ou ácido fosfórico. Esses com­ 8“ 8+ 8 + 8-
postos são gases incolores ou líquidos voláteis. São altamente C—H Si—H
reativos e se inflamam ou explodem ao ar. Com exceção do
2) O Si é maior, facilitando o ataque dos reagentes.
SiH4, são termicamente instáveis. Só foi possível começar a
estudá-los quando A. Stock inventou um método que permite 3) O Si tem orbitais d de baixa energia. Podem ser usados
manusear gases reativos sob vácuo. para formar intermediários de reação que diminuem a
energia de ativação das reações.
2Mg + Si aquec. em ausência de ar ♦ Mg2Si Vários hidretos de germânio (germanos), GenH2n + 2,
com n variando até 5, são conhecidos. São compostos de
Mg2Si + H2SO4 SiH4 (40%) cadeia normal, que se apresentam na forma de gases
Si2H6 (30%) incolores ou líquidos voláteis. São semelhantes aos silanos,
Sí3H8 (15%) mas menos voláteis, menos inflamáveis e não reagem com
Sí4H10 (10%) água ou solução aquosa de ácidos ou álcalis. O GeH4 pode
sí5h12 + Si6H14
ser obtido como segue:
(5%)
éter seco
GeCl4 + Li[AlH4] -> GeH4 + LiCl + A1CI3
Mais recentemente o monossilano foi preparado
reduzindo-se SiCl4 com Li[AlH4], LiH ou NaH, em solução GeO2 + Na[BH4] solução aquOM—) + JÇaBO2
etérea a baixas temperaturas. Esse é um método muito
melhor, pois fornece apenas um único produto e o rendi­ O estanano, SnH4, é muito menos estável. Pode ser
mento é quantitativo. preparado pela reação de SnCU com Li[AlH4] ou Na[BH4]. É
nn — *ãc stezs <zr;a on ácidos e preenchidos para formar íígacóes irr-mr "'back-bonding')
mi-.-v-sr' ;zza estameare tem as corres- aiém da ligação coordenada <y, M-— (CN)'. A ligação e
jcmoentee aunxe t—= Gtnneee-se ramném o semelhante a que ocorre nas carbonilas, e o íon CN' atua
5r.--.=_ zas .- acsa rrescs estavei. Não são como um receptor rt. A carga negativa do CN' faz dele tun
■ate— -streszcres. 3 piumbano. PbH4, é melhor doador o que o CO, mas em contrapartida diminuía
tnraoB “ta-et me- r «tanano e anua mais difícil de ser eficiência do CN como receptor n.
presaraac. Is nesxios m -tnrese tsados para os outros A extrema toxicidade dos cianetos se deve à sua
ruareías rnc -ãc -~r.ms. J Pbrü toi preparado em quanti­ capacidade de formar complexos com os metais das enzimas,
dades muito petraenas e-tantas ccncennacões, peia redução como a citocromo-c oxidase, bloqueando a cadeia
catodca. senão. teseetaao cor especrroscopia de massa. respiratória. Além de formar muitos complexos análogos aos
complexos com os haletos, o íon cianeto frequentemente
CIANETOS leva à formação do complexo com o número de coordenação
máximo do metal. Assim, o Fe3* forma [FeCl4]'cornos íons
Gs cianetos dos metais alcalinos, principalmente o cloreto, mas [Fe(CN)6]3" com o íon cianeto. Muitos íons
cianeto de sodio. NaCN. são preparados em quantidades metálicos instáveis em solução, como os íons Cu+, Ni',
consideráveis cerca de 120.ÜOO toneladas/ano). Até cerca Mn + , Au+ e MnJ*, se tornam bastante estáveis quando
de 1965 o cianeto de sodio foi fabricado peio processo Castrter. complexados com o íon cianeto. A formação de complexos
reação da soaamiua com C. a altas temperaturas. é importante no processo de extração da prata e do ouro,
pois se dissolvem numa solução de NaCN na presença de
Na s- NH, ■ NaNH, + 1/2H, ar, formando argentocianeto ou aurocianeto de sódio. Em
NaNH, 3- C 75°-c > NaCN + H, seguida, os metais são recuperados por redução com zinco.

A partir de então o HCN se tornou disponível 4Ag + 8NaCN + 2H2O + O2 -+ 4Na[Ag(CN)2] + 4NaOH
comerciaimente (atualmente são produzidos cerca de 300.000 4Au + 8NaCN + 2H2O + 02 4Na[Au(CN)z] +4NaOH
toneladas/ano) e passou a ser utilizado na obtenção do
NaCN. Antes disso, o HCN era preparado acidificando-se Os íons cianeto podem atuar como agentes comple-
NaCN ou Ca(CN)2. xantes e como redutores:
+ CN'
2NaCN + H,SO4 -> 2HCN + Na2SO4 2Cu2+ +4CN'—> (CN)2 + 2CuCN [Cu(CN)4]3'
Ca(CN)2 + H2SO4 -> 2HCN + CaSO4 Nessa reação, o íon cianeto é oxidado a cianogênio,
Os modernos processos industriais de preparação de (CN)2, de modo semelhante à oxidação de I* a I2 pelo Cm .
Em meio alcalina, o cianogênio sofre desproporcionamento,
HCN, se valem de uma reação em fase gasosa entre CH4 e
NH3, a temperaturas de aproximadamente 1.200 °C, na gerando os íons cianeto e cianato.
presença de um catalisador. (CN)2 + 20H* H20 + CN' + NCO'
Processo Degussa O íon cianato é isoeletrônico com o dióxido de carbono.
CH4 + NH3 HCN + 3H2 Portanto, devem ter estruturas semelhantes, sendo ambos
(catalisador de Pt) lineares.
Processo Andrussow
0 = 00 “N = C = O
2CH4 + 2NHj + 3O2 2HCN + 6H2O
(catalisador de Pt/Rh)
COMPLEXOS
O HCN é extremamente tóxico. Tem um ponto de A capacidade de formar complexos é favorecida nos
ebulição anormalmente elevado de 26 °C, por causa da cátions metálicos com carga elevada, pequeno tamanho e
formação de ligações de hidrogênio. É um dos ácidos mais disponibilidade de orbitais vazios de energia apropriada. 0
fracos conhecidos, sendo mais fraco que o HF. Mais da carbono se situa no segundo período e pode ter no máximo
metade da produção é usada na fabricação de NaCN, de oito elétrons no nível de valência. Os compostos tetraco-
(C1CN)3 e de vários complexos contendo cianeto, tais como valentes de carbono contêm um máximo de oito elétrons no
K4[Fe(CN)6] e K3[Fe(CN)6], Também é empregado na segundo nível. Esses compostos são estáveis, pois suas
extração de Ag e Au. estruturas eletrônicas são similares a dos gases nobres, e o
carbono não forma complexos. Os compostos tetracovalentes
(C1CN)3 + 3NH3 —» 3HC1 + C3N3(NH2)3 (melamina)
dos elementos subseqiientes podem formar complexos de­
4Au + 8NaCN + 2H2O + 02 -> 4Na[Au(CN)2] + 4NaOH
vido à disponibilidade de orbitais d. Geralmente, esses ele­
O HCN tem sido usado como solvente não-aquoso polar. mentos aumentam seu número de coordenação de 4 para 6.
0 íon cianeto é importante, pois forma complexos está­ SiF4 + 2F‘ -> [SiF6]2-
veis, particularmente com os metais dos grupos do Cr, Mn, GeF4 + 2NMe3 -» [GeF4 ■ (NMe3)2J
Fe, Co, Ni, Cu e Zn. Dois complexos bastante comuns são o SnCl4 + 2Cr [SnCl6]2"
ferrocianeto, [Fe(CN)6]4*, e o ferricianeto, [Fe(CN)6]3'. Os
elementos de transição posteriores formam complexos Segundo a Teoria da Repulsão dos Pares Eletrônicos de
estáveis com o cianeto, porque podem usar seus orbitais d Valência, esses complexos deveriam ser octaédricos, pois
TETRA-HALETOS B29

possuem seis pares de elétrons de valência. De acordo com LIGAÇÕES 7t INTERNAS USANDO ORBITAIS d
a teoria da ligação de valência, quatro ligações covalentes e
Os compostos trimetilamina, (CH3)3N, e trissililamina,
duas ligações coordenadas deveríam ser formadas, levando
(SiH3)3N, têm fórmulas semelhantes, mas possuem estruturas
a formação de compostos com estrutura octaédrica. No caso
do [SiF6]2~: totalmente diferentes (Fig. 13.17). A estrutura eletrônica na
trimetilamina é:

3s 3p 3d Configuração eletrônica do Is 2s 2p
Estrutura eletrônica do Si
no estado fundamental t I? átomo de nitrogênio no
estado fundamental [u] [Ü] |t |t |t I
camada I 1 I
interna
cheia Três elétrons desemparelhados
Átomo de Si
no estado excitado T formam liçjações com os grupos
CH3 — disposição tetraédrica
de três pares lipantes e um par
não-ligante (hibridização sp3)
Átomo de Si após compar­
tilhar 4 elétrons com 4 TYês orbitais sp2 são utilizados para formar ligações a
átomos de F no SiF4 na trissililamina, levando a uma estrutura trigonal planar. O
par isolado de elétrons ocupa um orbital p ortogonal ao plano
Estrutura eletrônica do Si no r do triângulo e interage com os orbitais d vazios em cada um
[SiFsl2-, onde dois F" formam
duas ligações coordenadas P
[
I
Seis pares eletrônicos de valência
I dos três átomos de Si, formando uma ligação rt, Essa ligação
é melhor descrita como uma ligação pn-dn multicentrada,
porque ela envolve um orbital p cheio e orbitais d vazios.
levam a compostos com estrutura
octaédrica (hibridização sp3d2} Isso torna mais curta a ligação N-Si. Além disso, como o N
não tem mais um par de elétrons isolados, a molécula não é
A participação de elétrons d na hibridização foi discutida um doador de elétrons. Uma ligação prt-dn análoga não é
no Capítulo 4. O íon [SiF6]2“ é geralmente obtido a partir de possível no (CH3)3N, pois o C não possui orbitais d de energia
SiO2 e HF aquoso. adequada, tendo, pois, uma estrutura piramidal. Cerca de
SiO2 + 6HF 2H+ + [SiF6]2~ + 2H2O 200 compostos atualmente conhecidos supostamente contêm
ligações pn-dn (Fig. 13.18; vide Raabe e Michl nas Leituras
0 complexo [SiF6]2~ é estável em água e em álcali, mas Complementares).
os complexos análogos com os demais elementos do grupo
são menos estáveis. [GeF6]2' e [SnF6]2- sofrem hidrólise em
solução alcalina, e [PbFs]2- é hidrolisado tanto por álcali TETRA-HALETOS
como por água. Ge, Sn e Pb também formam complexos
Todos os tetra-haletos dos elementos do grupo 14, exceto
com cloreto, tais como [PbCl6]2-, e complexos com oxalato,
o Pbl4, são conhecidos. São compostos tetraédricos, tipica­
como [Pb(ox)3]2-.
mente covalentes, e muito voláteis. As exceções são SnF4 e
O tetra-acetato de chumbo, Pb(CH3COO)4, pode ser PbF4, que possuem estruturas tridimensionais e apresentam
obtido na forma de um sólido incolor, tratando-se Pb3O4 elevados pontos de fusão (SnF4 sublima a 705 °C, PbF4 funde
com ácido acético glacial. É sensível à presença de água e é a 600 °C). Os elementos abaixo do C podem utilizar os
muito usado como um agente oxidante seletivo em química orbitais d para formar ligações, tal que as ligações Si-F,
orgânica. Sua aplicação mais conhecida é na divagem de Si-Cl e Si-O são mais fortes que as correspondentes ligações
1,2-dióis (glicóis), por exemplo, presentes nos carbohidratos. com o C. Supõe-se que isso se deva a formação de ligações
ptt-dtt devido a interação entre os orbitais p preenchidos do
I
-C-OH
I F, Cl e O com os orbitais d vazios do Si.
Pb(CH,COO),
—~C—*O\
I Pb (CH3COO)2
-C-OH —C—o/
I 1 I
—c=o
—► + Pb (CHjCOO),
—c=o
I

h3sí SíH3

SíH3
Figura 13.18 — Ligações prc-dit na trissililamina (de Mackay e Mackay,
Figura 13.17— Himetílamina, N(CH3)3, e trissililamina, NCSiCH^s Introduction to Modem Inorganic Chemistry, 4? ed., Blackie, 1989)
230 05 ELEMENTOS DO 6RUPD 14

mente elevada para poderem ser usados para formar ligações.


Fornecendo-se energia suficiente à reação, por exemplo, por
meio de vapor superaquecido, será possível hidrolisaro CClp
vapor superaquecído
CC14+H2O COC12 + 2HC1
cloreto de carbonlla (fosgênio)

O fosgênio é muito tóxico e foi usado como gás de


combate na I Guerra Mundial. Atualmente é obtido pela
combinação direta de CO e Cl2 na presença de um catalisador
de C e luz solar. É utilizado na preparação dos isocianatos
necessários à produção de poliuretanos.

Figura 13.19 — Recobrimento orbital do tipo pTt-dn no SiF4 Freons


Clorofluorocarbonos (também conhecidos como CFCs)
Carbono mistos, tais como CFC13, CF2C12 e CF3C1, são conhecidos como
freons. São compostos inertes e não-tóxicos, largamente
O tetra-fluorometano (tetra-fluoreto de carbono), CF4,
empregados como fluidos para refrigeração, propelentes em
é um gás excepcionalmente inerte. Ele pode ser preparado aerossóis e para limpar placas de computador. A produção
como segue: anual de freons já foi de 700.000 toneladas, mas a produção
CO2 + SF4 —» CF4 + S02 caiu para 100.000 toneladas, em 1992. Apesar de serem
SiC + 2F2 -> SiF4 + C inertes, verificou-se que são prejudiciais ao meio ambiente.
CF2C12 + F2 —» CF4 + Cl2 (método industrial) O uso de freons em aerossóis foi proibido nos Estados Unidos
em 1980, e na Europa em 1990. Contudo, eles continuam
Outros compostos orgânicos fluorados como o hexafluo- sendo usados em refrigeradores. A Europa está planejando
roetano, C2F6 e o tetra-fluorotileno, C2F4, são também conhe­ abandonar totalmente o uso desses compostos até 0 ano
cidos. O C2F4 se polimeriza a (C2F4) n sob pressão, gerando o 2000.
politetrafluoroetileno ou PTFE ("teflon”). Esse é um sólido
Os freons são muito mais eficientes e provocam um
branco polimérico, que dá uma sensação de algo gorduroso
efeito estufa maior que o CO2, apesar da quantidade desses
ao tato, e que é muito mais denso do que podería se esperar.
compostos na atmosfera ser muito pequena. Além disso, os
É um material quimicamente inerte e um bom dielétrico. É
freons alcançaram a alta atmosfera (8.000 a 32.000 metros)
caro e usado no laboratório por causa de sua baixa
e estão destruindo a camada de ozônio. Os estudos mostra­
reatividade. Tem um coeficiente de fricção muito baixo e é
ram que houve uma perda de cerca de 6% da camada de
usado em utensílios de cozinha anti-aderentes e lâminas de
ozônio de 1980 a 1990. Já foi detectado um buraco sobre 0
barbear. Os fluorocarbonetos são utilizados como Pólo Sul e o mesmo parece estar ocorrendo no Pólo Norte. A
lubrificantes, solventes e isolantes. camada de ozônio tem a importante função de filtrar a
SbFCl4 como catalisador calor radiação do sol, impedindo a chegada dos perigosos raios
CHC13 + HF -> CF2C1H ■* c2f4 ultravioleta à superfície da Terra. A exposição excessiva à
pressão
c2f. ♦ (C2F4)n radiação UV deve ser evitada, pois provoca câncer de pele
(melanoma) nos seres humanos.
O tetra-clorometano (tetracloreto de carbono), CC14, é Na alta atmosfera, os freons sofrem reações de fotode-
obtido principalmente a partir do dissulfeto de carbono. composição, produzindo átomos de cloro livres (radicais
■Çitallsjdor de FeCtj. 3O'C > + cloro). Este reage rapidamente com ozônio, formando radi­
CS2 + 3C12 - cais CIO, que se decompõem lentamente regenerando os
catalisador de FeCl,, 60‘C * Cd | gg
CS2 + 2S2C12 radicais cloro, que por sua vez reagem com o ozônio e assim
por diante. Os radicais cloro não se recombinam formando
O CCI4 é muito usado como solvente e na preparação Cl2, pois é necessário que ocorra a colisão simultâneas de
dos “freons”. Também é usado em extintores de incêndio, três partículas, para dissipar a energia liberada na reação.
nos quais seu vapor muito denso impede o acesso de Todavia, tais colisões são extremamente raras na alta
oxigênio, apagando assim a chama. atmosfera, não existindo nenhum mecanismo efetivo de
eliminação de radicais cloro. Assim, uma vez formado, é
condições anidras , capaz de reagir com um número extremamente grande de
CCI4 + 2HF SbCi, como catalizador* CC12F2 + 2HC1
moléculas de ozônio, até eventualmente ser inativado.
Os haletos de carbono não são hidrolisados em condi­ CFC13‘ fotólise
ções normais, porque não possuem orbitais d e não podem cf2ci2 Cl
formar o intermediário pentacoordenado da reação de CF3CL
hidrólise. Em contraste, os haletos de silício são facilmente rápido
r* ci + o3 02 + CIO
hidrolisados. O silício possui orbitais 3d de energia adequada, I
que podem ser usados para coordenar íons OH" ou água, CIO-------- >- Cl + 0
numa primeira etapa da reação. Todos os átomo possuem CIO + 0 — Cl + o2
orbitais vazios, mas geralmente são de energia demasiada- Reação global: 2O3 —» 3O2
OI-HALETDS S31

Hidrofluorocarbonos (HFCs), tais como CH2FCF3, e tativos são geralmente brancos. A cor está associada com a
hidroclorofluorocarbonos (HCFCs), tais como CHC12CF3, promoção de elétrons de um nível energético para outro, ou
esião sendo atualmente utilizados como propelentes alter­ seja, a absorção ou emissão da diferença de energia entre
nativos de aerossóis, por serem menos nocivos. Esses dois níveis. Isso é comum nos elementos de transição, onde
compostos também provocam o efeito estufa e podem há níveis de energia não preenchidos na camada d,
danificar a camada de ozônio. Mas, seu efeito é bem menor possibilitando a promoção de elétrons de um nível d para
que 0 dos CFCs, pois eles não são tão estáveis para permane­ outro. Nos compostos dos elementos representativos, as
cerem na atmosfera por tanto tempo quanto os freons. Os camadas s e p estão geralmente preenchidas, não sendo
átomos de H podem ser atacados por radicais hidroxila, na possível transições eletrônicas dentro de um mesmo nível.
alta atmosfera, formando ácido trifluoroacético. Este não é A promoção de um elétron de um nível para outro, por
muito tóxico e pode ser decomposto por bactérias do solo. exemplo 2p para 3p, envolve muita energia, de modo que as
0 C02 podería ser usado como propelente alternativo, mas bandas de absorção apareceríam na região do ultravioleta e
sua pressão de vapor é insuficiente. O butano também não na do visível. Portanto, os tetrahaletos devem ser
podería ser usado, mas é inflamável e não pode ser empre­ brancos. A cor laranja do Snl4 é provocada pela absorção de
gado em alimentos. luz azul, de modo que a luz refletida contém uma proporção
maior de vermelho e laranja. A energia absorvida provoca a
transferência de um elétron do I para o Sn (isso corresponde
Silício a uma redução momentânea do Sn(IV) a Sn(III)). A
Os haletos de silício podem ser preparados pelo transferência de um elétron de um átomo para outro implica
aquecimento do Si ou do SiC com o halogênio correspon­ numa transferência de carga, tais transições eletrônicas são
dente. Em contraste com CF4, CC14 e os freons, o SiF4 é denominadas transições de transferência de carga. Esse tipo
rapidamente hidrolisado por soluções alcalinas. de transição ocorre no Snl4 e no Gel4, porque os átomos
apresentam níveis energéticos semelhantes. Isso seria de se
SiF4 + 8OH~ -> SiO44’ + 4F + 4H2O esperar, pois eles estão próximos na tabela periódica e têm
tamanhos semelhantes. Nos demais haletos as transições
Os haletos de silício são hidrolisados rapidamente pela
de transferência de carga não aparecem na região do visível.
água, com formação de ácido silícico.
GeCl4 e GeBr4 são hidrolisados mais lentamente. SnCl4
SiCl4 + 4H2O -> Si(OH)4 + 4HC1 e PbCl4 se hidrolisam em soluções diluídas, mas essas reações
costumam ser incompletas e podem ser reprimidas pela
No caso do tetrafluoreto de silício, ocorre uma reação adição do ácido halogenídrico apropriado.
secundária entre o HF resultante e o SiF4 remanescente,
z —-_■« HC1 , HC1 r , ■«
formando 0 íon hexafluorossilicato, [SiF6]2~. Sn(OH 4 SnCL, n2u
SnCI6 2*

SiF4 + 2HF 2H+ + [SiF6]2~ Na presença de excesso de ácido, os haletos de Si, Ge,
Sn e Pb aumentam seu número de coordenação de 4 para 6,
0 SiCl4 é industrialmente importante. Pequenas formando íons complexos, tais como [SiF6]2", [GeF6]2-,
quantidades são utilizadas na obtenção de Si ultrapuro, [SnCl6]2’ e [SnCy. O Pbl4 não é conhecido, provavelmente
destinado a fabricação de transistores. Grandes quantidades por causa do poder oxidante do Pb( + IV) e do poder redutor
de SiCl4 são hidrolisadas a altas temperaturas (numa chama do r, que levam à formação apenas de Pbl2.
de oxigênio/hidrogênio) para gerar SiO2 finamente dividido,
ao invés de Si(OH)4. O pó de SiO2 ultrafino é usado como Haletos catenados
agente tixotrópico em tintas e resinas a base de poliéster e
epoxi, e como carga para borrachas de silicone. O carbono forma diversos haletos catenados. Provavel­
mente, o mais conhecido deles é o “teflon” ou politetrafluo-
Outros membros da série SinX2n + 2 podem ser obtidos roetileno, descrito anteriormente. Esses polímeros apresen­
porpirólise (aquecimento forte). Estes podem ser líquidos tam cadeias com várias centenas de átomos de carbono.
voláteis ou sólidos. As cadeias mais longas conhecidas são
O silício forma polímeros (SiF2)n e (SiCl2)n. São obtidos
Si]6F34, Si6Cl14 e Si4Br10. Essas cadeias são mais longas que
passando-se o tetra-haleto sobre silício aquecido. Esses
as dos correspondentes hidretos. Isso se deve à formação de
polímeros se decompõem em polímeros de baixo peso mo­
ligações ptt-dn envolvendo os orbitais p preenchidos dos
lecular (ou oligômeros) de fórmula SinX2n+2, quando aque­
halogênios e os d vazios do Si.
cidos. Os compostos com as cadeias mais longas conhecidas
SiCl4 + Si -» Si2Cl6 + membros superiores da série (Si6Cl14) são Si16F34, Si6Cl14 e Si4Br10.
O germânio forma 0 dímero Ge2Cl6, mas Sn e Pb não
Germânio, Estanho e Chumbo formam nenhum haleto catenado.
Ge, Sn e Pb formam duas séries de haletos: MXt e MX2.
No caso do Ge, o estado de oxidação (+ IV) é o mais estável, DI-HALETOS
mas no Pb 0 estado de oxidação (+ II) é o mais estável.
Há um gradativo aumento na estabilidade dos di-haletos
Todos os tetrahaletos são líquidos incolores voláteis, na seguinte ordem:
exceto 0 Gel4 e o Snl4, que são sólidos laranja brilhante. Os
compostos formados pelos elementos dos grupos represen- CX2 « SiX2 < GeX2 < SnX2 < PbX2
232 □5 ELEMENTOS □□ BRUPO 14

0 SiF2 pode ser obtido por reações a altas temperaturas, consiste em um anti- prisma quadrado, isto é, um cubo no
e pode ser coletado em N2 líquido. Quando o produto é qual a face superior sofreu uma rotação de 45° em relaçãoà
aquecido, ele se polimeriza, formando uma série de face inferior. Quando um átomo adicional se projeta acima
compostos com fórmula até Si16F34. de uma das faces, forma-se uma face “piramidal”.
SÍF4 + Si 2SÍF2
MECANISMOS DE REAÇÃO
O GeF2 é um sólido branco, obtido aquecendo-se Ge e
HF anidro, ou então a partir de GeF4 e Ge. O polímero tem Muitas reações inorgânicas, como as reações de dupla-
troca, envolvem apenas íons e são virtualmente instantâneas.
uma estrutura pouco comum com átomos de flúor em ponte,
Já as reações orgânicas são mais lentas, pois envolvem a
baseada numa bipirâmide trigonal. Unidades GeF3 compar­
tilham dois átomos de F, levando à fórmula GeF2. O átomo quebra de ligações covalentes, e ocorrem ou por substituição
de Ge também forma uma ligação mais fraca com outro de um grupo por outro, ou então por meio da formação de
átomo de flúor, utilizando um par isolado de elétrons na um intermediário contendo um grupo adicional, que então
quinta posição. Essas unidades se ligam formando cadeias elimina outro grupo para formar o produto.
espiraladas infinitas. SnF2 e SnCl2 são sólidos brancos, A hidrólise do SiCl4 é rápida, porque o Si pode utilizar
obtidos aquecendo-se Sn ou SnO com HF ou HC1 gasosos. O orbitais d para formar um intermediário pentacoordenado,
fluoreto estanoso, SnF2, era usado junto com o pirofosfato de modo que a reação ocorresse por um mecanismo Ss-2
de estanho, Sn2P2O7, nos primeiros cremes dentais contendo (Fig. 13.20). Um par isolado de elétrons de um oxigênio
flúor. Isso é surpreendente, visto que o Sn é tóxico (atualmen­ interage com um orbital d vazio do Si, formando um
te NaF é usado para essa finalidade). A estrutura cristalina intermediário pentacoordenado, com estrutura de uma
do SnF2 é constituída por unidades tetraméricas Sn4F8. Eles bipirâmide trigonal.
formam anéis dobrados de oito membros -Sn-F-Sn-F-, com
interações mais fracas ligando os anéis entre si. SnCl2 sofre 3s ____ 3p 3d
hidrólise parcial em água, originando o cloreto básico, Estrutura eletrônica do
Silício no estado excitado t t |t It
Sn(OH)Cl. Tanto o SnF2 como o SnCl2 se dissolvem em
camada
soluções contendo íons haleto. interna
cheia
Átomo de silício após com­
SnF2 + F“ -» [SnF3]' pK ~ 1 partilhar quatro elétrons
SnCl2 + CP -» [SnCl3]“ pK ~ 2 formando SiCI4 |H| | | | | I
Oualro orbitais —
íons Sn2+ ocorrem em soluções de perclorato, mas o molécula tetraédrica
(hibridização sp )
íon estanoso é facilmente oxidado a Snlv pelo ar, a não ser SiCL, depois de receber um
que se tomem precauções para evitá-lo. Os íons Sn2+ são
hidrolisados pela água, principalmente a [Sn3(OH)4]2 + , com
par isolado de elétrons do
OH no intermediário [fj] |n|n|u| |n| | II
Cinco orbitais — bipirâmide
formação de pequenas quantidades de [SnOH]+ e trigonal (hibridização sp d)
[Sn2(OH)2]2 +. O íon [Sn3(OH)4]2+ é provavelmente cíclico,
sendo conhecidos os compostos [Sn3(OH)4]SO4 e Caso seja efetuada a hidrólise de um composto de silício
[Sn3(OH)4](NO3)2. Os compostos PbX2 são muito mais com substituição assimétrica (consequentemente opticamen-
estáveis que os compostos PbX4. Pb é o único elemento do te ativo), tal como MeEtPhSi*Cl, ocorrerá a inversão de
Grupo com cátions bem definidos. Todos os sais PbX2 podem Walden, resultando na inversão da estrutura de d para 1 ou
ser obtidos à partir de um sal de Pb2 + solúvel em água e 0 vice-versa (Fig. 13.21). De uma maneira semelhante, a
correspondente íon haleto ou ácido halogenídrico. O íon redução de R^RjS^Cl com Li[A1H4] formando R^RjSPH,
plumboso é parcialmente hidrolisado pela água. também ocorre com inversão de estrutura.
Outros mecanismos são possíveis, pois a conversão de
Pb2+ + 2H2O —» [PbOH]+ + H3O + R]R2R3Si*H a RiR2R3Sí*C1 ocorre com retenção da estrutura.
Se R1R2R3Si*Cl for dissolvido em éter ou CCU, o composto
AGREGADOS (“CLUSTERS”) inalterado será recuperado, mas se for dissolvido em CH3CN
ocorre a racemização.
Há uma clara tendência dos membros mais pesados
dos Grupos 14, 15 e 16 de formarem íons poliatômicos,
constituídos por cadeias, anéis ou agregados ("clusters"). DERIVADOS ORGÂNICOS
A redução de Ge, Sn, e Pb com Na em amônia líquida Os elementos desse Grupo apresentam uma extensa quí­
forma íons contendo diversos átomos do metal. Verificou-se mica organometálica. O estado divalente se torna cada vez
que tais compostos são agregados metálicos ou "clusters”.
Compostos cristalinos contendo tais íons podem ser isolados
por meio da formação de complexos com etilenodiamina, Adição Eliminação
ou com o ligante 2,2,2-criptando. Podem ser citados o de QH~
[Na(2,2,2-cript)]2+ [Sn5]2', [Na(2,2,2-cript)]2+ [Pbs]2-,
[Na4(en)5Ge9] e [Na4(en)5Sn9]. Os agregados M5 têm forma
de uma bipirâ-mide trigonal, e os agregados M9 são anti-
prismas quadrados com uma face “piramidal" (este último Figura 13.20 — Hidrólise de SiCl4
LEITURAS COMPLEMENTARES 233

• Barrer, R.M. (1978) Zeolites and Clay Minerais as Sorbents


and Molecular Sieves, Academic Press, London.
Me Et Eliminação
• Beaton, J.M. (1992) A paper pattern system for the construc-
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612.
Cl
• Bode, H. (1977) Lead-Acid Batteries, Wiley, New York.
• Bolin, B. (1970) The carbon cycle, Scientific American, Sep-
Figura 13.21 — Inversão de Walden da estrutura tember.
• Boo, W.O.J. (1992) An introduction to Fullerene structures,
J. Chem. Ed., 69, 605-609.
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• Breck, D.W. (1973) Molecular Sieves, Wiley, New York.
(efeito do par inerte). Surpreendentemente todos os deri­
vados organometálicos de Sn e Pb contêm MIV e não M11. • Curl, R.F. eSmalley, R.E. (1991) Fullerenes, Scientific Ameri­
can, 265(4), 32-41.
Os cloretos de alquil-silício são importantes matérias-
primas para a fabricação de silicones. Os polímeros do grupo • Cusak, P.A. (1986) Investigations Into Tin-Based Flame Re-
tardants and Smoke Suppressants, International Tin Insti-
dos silicones já foram descritos. Tetraderivados orgânicos
tute, London.
de Si, Ge, Sn e Pb podem ser preparados a partir dos haletos
usando reagentes de Grignard ou compostos organolíticos. • Donovan, R.J. (1978) Chemistry and pollution of the strato-
sphere, Education in Chemistry, 15, 110-113.
SiCl4 + MeMgCl -> MeSiClj, Me2SiCl2, Me3SiCl, Me„Si • Drake, J.E. e Riddle, C. (1970) Volatile compounds of the
PbCl2 + LiEt -> PbEt2 -> Pb + PbEt4 hydrides of Silicon and germanium with the elements of
Group V and VI, Q. Rev. Chem. Soc., 24, 263.
Tetraetilchumbo (chumbo tetraetila) é produzido em • Ebsworth, E.A. V . (1963) Volatile Silicon Compounds,
grandes quantidades para ser usado como agente anti- Pergamon Press, Oxford.
detonante, ou seja um aditivo para aumentar a octanagem • Elliott, S. e Rowland, F.S. (1987) Chlorofluorocarbons and
da gasolina. O método industrial utiliza uma liga sódio/ stratospheric ozone, J. Chem. Ed., 64, 387-390.
chumbo como mostrado abaixo:
• Emeléus H.J. e Sharpe, A.G. (1973) Modem Aspects of Inor­
Na/Pb + 4EtCl -» PbEt4 + 4NaCl ganic Chemistry, 4th ed. (Complexos de Metais deTYansição:
Cap. 20, Carbonilas), Routledge and Kegan Paul.
O chumbo é tóxico para o homem, e a combustão de • Fleming, S. (1976) Dating in Archaeology: a Guide to Scien­
gasolina contendo PbEt4 libera chumbo para a atmosfera. tific Techniques, Dent, London. (Datação utilizando carbono,
Em 1974, foram produzidos nos EUA cerca de 230.000 etc.)
toneladas de PbEt4, 55.000 no Reino Unido, e cerca de • Glasser, L.S.D. (1982) Sodium silicates, Chemistry in Brit-
500.000 no mundo. Naquela época o PbEt4 era o composto ain, 33-39.
organometálico produzido em maior quantidade. A produção • Greniger, D. et alli. (1976) Lead Chemicals, International Lead
em 1994 caiu para 150.000 e continua declinando graças à Zinc Research Organization, New York. (Dados completos
sanção de uma legislação que proíbe a comercialização de sobre o chumbo e seus compostos)
carros novos movidos a gasolina aditivada com tetra­ • Griffith, W.P. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol.
etilchumbo em muitos países. 4 (Cap. 46: Carbonilas, cianetos, isocianetos e nitrosilas),
São ainda utilizados cerca de 40.000 toneladas/ano de Pergamon Press, Oxford.
compostos organoestânicos, R2SnX2 e R3SnX. Cerca de dois • Harrison, P.G. (ed.) (1989) Chemistry of Tin, Blackie,
terços encontram emprego como estabilizantes de plásticos Glasgow.
do tipo PVC, sendo o restante empregado na agricultura no • Harrison, R.M. e Laxen, D.P.H. (1981) Lead Pollution,
controle de fungos, insetos e larvas. Chapman and Hall, London.
• Hawkins, J.M., Meyer, A., Lewis, T.A., Loren, S. e Hollander,
S.R. (1991) Crystal structure of osmylated CM: confirmation
LEITURAS COMPLEMENTARES of the soccer bali framework, Science, 252, 312-313.
• Abel, E.W. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol. • Hedberg, K„ Berg, L., Bethune, D.S., Brown, C.S., Dom, D.R.,
2, (Chapter 17: Estanho; Chapter 18: Chumbo), Pergamon Johnson R.D. e de Vries, M. (1991) Bond lengths in free
Press, Oxford. molecules of Buckminsterfullerene C^, from gas phase elec-
• Abel, E.W. e Stone, F.G. (1969, 1970) The chemistry of tran- tron diffraction, Science, 254, 410-412.
sition metal carbonyls, Q. Rev. Chem. Soc., Part I - • Holliday, A.K., Hughes, G. e Walker, S.M. (1973) Compre­
Considerações estruturais, 23, 325; Part II - Síntese e hensive Inorganic Chemistry, Vol. I (Cap. 13: Carbono),
reatividade, 24, 498. Pergamon Press, Oxford.
• Acc. Chem. Res. (1992) 25, 98-174 (esse volume é dedicado • Hunt, C. (1987) Silicones reinvestigated - 50 years ago, Edu­
a artigos sobre fullerenos). cation in Chemistry, 24.,7-11.
• Ainscough, E.W. e Brodie, A.M. (1984), Asbestos ■ structures, • Johansen, H.H. (1977) Recent developments in the chemis­
uses and bíologica activities, Education in Chemistry, 21,173- try of transition metal carbides and nitrides, Survey Progr.
175. Chem., 8, 57-81.
234 □5 ELEMENTOS □□ BRUPO 14

• Johnson, B F.G. (1976) The structures of simple binary car- PROBLEMAS


bonyls, JCS Chem. Commun., 211-213.
1. Quais são os estados de oxidação mais comuns do carbono
• Kratschmer, W., Larnb, L.D., Fostiropoulos, K. e Huffman, e do estanho? Explique o motivo dessa diferença.
D.R. (1990) Solid CM: a new form of carbon, Nature, 347,
354-358. 2. a) Desenhe as estruturas do diamante e da grafita.
• Kroto, H W., Aliai, A.W. e Balm, S.P. (1991) C60: b) Explique a diferença de densidade encontrada entre
Buckminsterfullerene, Chem. Rev., 91, 1213-1235. o diamante e a grafita.
• Lu, S. Lu, Y„ Kappes, M.M. e Ibers, J.A. (1991) The struc- c) Explique a diferença de condutividade elétrica no
carbono e no diamante.
ture of the CM molecule. X-ray crystal structure determina-
tion of a twin at 110K, Science, 254, 408-410. d) Qual das formas alotrópicas do C apresenta a menor
energia?
• Molina, M.J. e Rowland, F.S. (1974) Stratospheric sink for
chlorofluoromethanes: chlorine catalyzed destruction of e) Por que a forma menos estável pode ser encontrada,
ozone, Nature, 249, 810-812. mesmo sendo a outra forma termodinamicamente
mais favorecida?
• Nicholson, J.W. (1989) The early history of organotin chem­
istry, J. Chem. Ed., 66, 621-622. 3. Apresente o maior número possível de métodos de
obtenção de CO e CO2. Para que são usados e como podem
• Noll, W. com contribuições de Glen, 0. e Hecht, G. (1968) ser detectados?
Chemistry and Technology of Silicones, Academic Press, New
4. Explique as ligações no CO e no CO2.
York.
5. Cite as vantagens e limitações do uso do CO como agente
• Pearce, C.A. (1972) Silicon Chemistry and Applications
redutor na obtenção de metais a partir de seus óxidos.
(Monografia para professores, N? 20), Chemical Society,
London. 6. Apresente equações que expliquem as reações que ocorrem
quando os seguintes compostos são aquecidos: a) CaCOs.
• Pizey, J.S. (ed.) (1977) Synthetic Reagents (Cap. 4 por Butler b) CaCO3 e SiO2, c) CaCO3 e C, d) CaC2 e N2.
R.N., Tetraacetato de chumbo), John Wiley, Chichester.
Explique o que acontece quando CO2 é borbulhado numa
• Raabe, G. and Michl, J. (1985) Multiple bonding to Silicon, solução de Ca(OH)2. O que acontece se um excesso de
Chem. Rev., 85,419 -509. CO2 for borbulhado?
• Rochow, E.G. (1973) Comprehensive Inorganic Chetnistry, Vol. 8. Escreva as equações das reações que ocorrem entre CO e:
I (Cap. 15: Silício), Pergamon Press, Oxford. a) O2, b) S, c) Cl2, d ) Ni, e) Fe, f) Fe2O3.
• Segai, D. (1989) Making advanced ceramics, Chemistry in 9. Escreva as fórmulas das carbonilas mononucleares
Britain, 25, 151, 154-156. formadas pelo V, Cr, Fe e Ni. Explique o que é a regra do
• Selig, H. e Ebert, L.B. (1980) Graphite Intercalation com- número atômico efetivo? Quais desses complexos
pounds, Adv. Inorg. Chem. Radiochem., 23, 281-327. (Um obedecem a essa regra?
artigo de revisão bastante completo com mais de 300 10. Explique, com a ajuda de diagramas adequados, como o
referências) CO forma ligações o e rc no Ni(CO)4.
• Shannon R.D. (1976) Revised effective ionic radii. Acta Cryst., 11. Desenhe as estruturas das carbonilas polinucleares
A32, 751-767. (Os dados mais atuais e aceitos de raios iônicos) Mn2(CO)I0, Fe3(CO)12, Ru3(CO)32 e Rh4(CO)i2.
• Sharpe, A.G. (1976) Chemistry of Cyano Complexes of the 12. Por que o precipitado de CaCO3 se dissolve quando um
Itansition Metals, Academic Press, London. excesso de CO2 é borbulhado numa suspensão aquosa do
• Thompson, R. (ed.) (1986) The Modem Inorganic Chemicals mesmo? Escreva equações que expliquem o efeito da adição
Industry (Farmer, J.B., Compostos inorgânicos cianogênicos; de pequenas quantidades e de um excesso de CO2 sobre a
Barby, D., Silicatos solúveis e seus derivados), Special Pub- água de cal.
lication N.° 31, The Chemical Society, London. 13. Apresente motivos que expliquem porque CO2 é um gás e
• Thrush, B.A. (1977) The chemistry of the stratosphere and SiO2 é um sólido.
its pollution, Endeavour, 1, 3-6. 14. Explique as ligações rt no CO2, CO3, SO2 e SO3.
• Toth, L.E. (1971) TYansition Metal Carbides and Nitrides, Aca­ 15. Por que o CC14 não é atacado pela água, enquanto que o
demic Press, London. SiCl4 é rapidamente hidrolisado? O CC14 reage com vapor
• Túrner D. (1980) Lead in petrol, Chemistry in Britain, 16, superaquecido?
312-314. 16. Compare as formas dos seguintes pares de moléculas ou
• Wells, A.F. (1984) Structural Inorganic Chemistry, 5? ed. (Cap. íons, apresentando motivos que expliquem as diferenças
23: Silício), Oxford University Press, Oxford. observadas em cada par:
• Wiberg, E. e Amberger, E. (1971) Hydrides ofthe Elements of a) CC14 e TeCl4
Main Groups TIV, (Cap. 7: Hidretos de silício; Cap. 10: b) CO2 e NO2
Hidretos de chumbo), Elsevier, Amsterdam. (revisão c) SiF„ e IC14-
abrangente com mais de 700 referências)
17. Explique por que o Snl4 é um sólido alaranjado, enquanto
• Woolf, A.A. (1993) Modelling molecular footballs, Ed. Chem., que CC14 e SiBr4 são líquidos incolores?
30, 76-77.
18. Partindo de BaCO3 marcado (contendo 14C), como
• Zuckerman, J.J. (ed.) (1976) Organotin compounds: New poderíam ser preparados os seguintes compostos marcados:
chemistry and applications, Advances in Chemistry Series, Na2CO3, CaCO3, CaC2, CaNCN, C2H2, CH3OH, CS2 e
N.° 157, American Chemical Society. Ni(CO)4.
PROBLEMAS 235

19. Como o CS2 é obtido e quais são suas aplicações? reação são separados? Como podem ser preparados
20. Como podem ser obtidos o NaCN e o (CN)2? Para que o materiais poliméricos com praticamente qualquer
NaCN é utilizado? propriedade específica desejada utilizando-os como
matérias-primas?
21. Apresente dois métodos de obtenção do monossilano e
29. Como são detectados os silicatos na análise qualitativa?
compare suas propriedades químicas com as do CH4.
Explique as diferenças observadas. 30. Quais são os principais minérios de Sn e de Pb, e como os
metais podem ser obtidos?
22. Dê três exemplos de freons. Como são obtidos, quais são
seus usos, e como prejudicam o meio-ambiente? 31. Escreva as equações que descrevam as reações entre Sn e:
a) H + (aq.J, b) NaOH, c) HNO3, d) O2 e e) Cl2.
23. Compare e cite as diferenças entre as estruturas da
trimetilamina e da trisililamina. 32. Quais são as principais aplicações do chumbo?
24. Desenhe as estruturas de seis tipos diferentes de silicatos, 33. O que é “vermelho de chumbo" e para que é usado?
e dê o nome e a fórmula de um exemplo de cada tipo. 34. Quais são as principais fontes de poluição ambiental por
chumbo, o que pode ser feito para diminuí-las, e quais
25. Descreva as aplicações dos silicatos de sódio solúveis.
são os efeitos do chumbo no organismo humano?
26. Descreva o uso das zeólitas no tratamento de águas duras.
35. Como você prepararia o tetraacetato de chumbo? Quais
27. Como são removidas as impurezas de silicatos nos são suas aplicações, e a sua estrutura?
processos de obtenção de Al e Fe?
36. Descreva as variações das propriedades físicas e químicas
28. Descreva dois métodos industriais de preparação de que podem ser observadas nos elementos C, Si, Ge, Sn e
clorossilanos alquil substituídos. Como os produtos da Pb. Apresente os motivos dessas alterações.
B3B

OS ELEMENTOS
DO GRUPO15
CONFIGURAÇÕES ELETRÔNICAS E algumas regiões desérticas. O maior deles é um cinturão de
ESTADOS DE OXIDAÇÃO cerca de 720 km de extensão ao longo do litoral norte do
Chile, onde NaNO3 (salitre do Chile) é encontrado combinado
Todos os elementos deste Grupo possuem cinco elétrons com pequenas quantidades de KNO3, CaSO4 e NaIO3, debaixo
na camada de valência. O estado de oxidação máxima de de uma fina camada de areia ou solo. Tratava-se da maior
todos os elementos é cinco, situação na qual utilizam os fonte de nitratos até a I Guerra Mundial, quando foram desen­
cinco elétrons para formar ligações, por exemplo com o volvidos processos sintéticos para a produção de nitratos a
oxigênio. A tendência do par de elétrons s de permanecer partir do nitrogênio da atmosfera. Um grande depósito de
inerte (o efeito do par inerte) cresce com o aumento da massa
salitre KNO3 ocorre na índia.
atômica. Nesses casos, somente os elétrons p são utilizados
para formar ligações, sendo a valência igual a três. As valên- O nitrogênio é um constituinte essencial de proteínas e
cias três e cinco se verificam nos compostos com halogênios aminoácidos (a composição média de uma proteína é
e com enxofre. Os hidretos são trivalentes. O nitrogênio exibe C = 50%, 0 = 25%, N=17%, H-7%, S = 0,5%, P-0,5%,
uma grande variedade de estados de oxidação: (—III) na em peso). Nitratos e outros compostos de nitrogênio são
amônia NH3, (-11) na hidrazina N2H4, (-1) na hidroxilamina muito utilizados como fertilizantes e em explosivos. No início
NH2OH, (0) no nitrogênio N2, (+1) no óxido nitroso N2O, deste século, o NaNO3 foi muito importante como fertilizante.
( + 11) no óxido nítrico NO, ( + 111) no ácido nitroso HNO2, Guano de morcego também foi muito importante (trata-se
(+ IV) no dióxido de nitrogênio NO2 e (+ V) no ácido nítrico de excremento de morcegos encontrados em grandes quanti­
HNOj. Os estados de oxidação negativos decorrem do fato dades nas cavernas em rocha calcária, existentes em Ken-
da eletronegatividade do H (2,1) ser menor que do N (3,0). tucky, Tennessee e Carlsbad/New México, EUA). Nos últimos
50 anos essas fontes naturais foram substituídas pelo NH3 e
NH4NO3, obtidos pelas gigantescas indústrias da amônia e
OCORRÊNCIA, OBTENÇÃO E USOS nitratos sintéticos.
Nitrogênio O gás nitrogênio é usado em grandes quantidades como
Embora o nitrogênio constitua 78% da atmosfera atmosfera inerte. Isso ocorre principalmente na indústria do
terrestre, ele não é um elemento abundante na crosta terrestre ferro e do aço e outras indústrias metalúrgicas, e nas refinarias
(é o 33.° em ordem de abundância relativa). Todos os nitratos de petróleo, na limpeza das tubulações e dos reatores de cra-
são muito solúveis em água, de modo que não são comuns queamento catalítico e reforma. O nitrogênio líquido é usado
na crosta terrestre, embora sejam encontrados depósitos em como agente refrigerante. Grandes quantidades de N2 são con­
sumidas na fabricação da amônia e da
cianamida de cálcio. O N2 é obtido em
Tabela 14.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação escala industrial, liquefazendo-se o ar e
então realizando a destilação fracionada
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* do mesmo. O N2 tem ponto de ebulição
menor que o O2, saindo antes que o 02
Nitrogênio N [He] 2?2p3 -III -II -I 0 I H III IV V da coluna de destilação. Seis gases
Fósforo P (Ne) 3s2 3p3 in V industriais são obtidos dessa maneira: N2,
Arsênio As [Ar] 3d'° 4? 4p3 m V O2, Ne, Ar, Kr e Xe. Uma análise típica do
Antimônio Sb [Kr] 4d10 5? 5p3 in V
ar é mostrada na Tab. 14.3.
Bismuto Bi [Xe] 4/4 5d'°6r26p3 ui V
A produção mundial de N2 está cres­
’ Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados cendo rapidamente e ultrapassa 60
em negrito
cu» WUUV9 estados
UUKl ttu Outros bem vuiuvivi
coiauvj wvm caracterizados, menos uimportantes,
icuuvv, mas HÍV.1ÀWJ 1VÍ lainvJ, uuw em tipo
mostrados Clll
são líivouauuo lipu ,
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são mostrados entre parênteses milhões de toneladas/ano (isso se deve
OCORRÊNCIA. OBTENÇÃO E USOS

Tabela 143 — Abundância dos elementos na crosta nh2


terrestre, em peso
N.
Elemento ppm abundância relativa OOO Héf
II ,CH
I
H II
HO —P—O—P —O—P—O—CH2
H \.N"
n N''
N 19 33?
P 1.120 1 I 1 l/^\l
11? O o o c c
As 1,8 52?
Sb 0,2 64? ■ ■■ ~ l\? ?/]
Bi H C-------- C H
0,008 71? I I
OH OH

principalmente ao fato do O2 líquido ser essencial nos Figura 14.1 — Estrutura do adenosina-trífosfato, ATP
modernos processos de obtenção do aço, mas o N2 é
produzido simultaneamente). Cerca de dois terços do N2 é CaFJ. Um indivíduo de peso médio possui em seu organismo
vendido na forma de gás. Este pode ser comprimido em cerca de 3,5 kg de fosfato de cálcio. Os ácidos nucléicos
cilindros de aço, ou conduzido através de gasodutos ao lo­ como DNA e RNA contêm o material genético de cada célula.
cal de consumo. Um terço da produção é vendido como N2 Esses ácidos nucléicos são constituídos por cadeias de
líquido. 0 nitrogênio obtido dessa maneira sempre contém poliésteres de fosfatos e açúcares com certas bases orgânicas
pequenas quantidades de oxigênio e dos gases nobres como (adenina, citosina, timina e guanina). O fósforo, na forma
impurezas. Geralmente, o N2 comercial contém até 20 ppm de adenosina-trifosfato, ATP, e adenosina-difosfato, ADP, é
de 02. 0 nitrogênio “isento de oxigênio" contém até 2 ppm de importância vital no processo de produção de energia
de 02 e o nitrogênio ultrapuro é isento de oxigênio, mas nas células. Quando a água quebra uma das ligações fosfato
pode conter até 10 ppm de argônio. do ATP transformando-o em ADP, ocorre a liberação de 33
Um cilindro de N2 é a fonte usual de nitrogênio nos kJ mol'1 de energia.
laboratórios, mas amostras do gás podem ser obtidas a partir Grandes quantidades de fosfatos são utilizados em
do aquecimento do nitrito de amônio. O N2 também é obtido fertilizantes. A produção mundial de rocha fosfática foi de
na oxidação da amônia, por exemplo com hipoclorito de 145 milhões de toneladas em 1992 (EUA 32%, China 18%,
cálcio, água de bromo ou CuO. Pequenas quantidades de N2 URSS 15% e Marrocos 13%). A maior parte é fluoroapatita,
muito puro podem ser obtidas aquecendo-se cuidadosa­ [3Ca3(PO4)2.CaF2], sendo mineradas quantidades menores
mente o azoteto de sódio, NaN3, a cerca de 300 °C. A de hidroxiapatita, [3Ca3(PO4)2.Ca(OH)2J, e cloroapatita,
decomposição térmica do NaN3 é usada para inflar os [3Ca3(PO4)2.CaCl2), onde o OH' e o Cl' substituem o F~ na
colchões de ar empregados como dispositivos de segurança estrutura cristalina. Cerca de 90% das rochas fosfáticas são
em veículos (air-bags). usados diretamente na fabricação de fertilizantes, e o restante
é usado na fabricação de fósforo e ácido fosfórico.
NH4C1 + NaNO2 -» NaCl + NH4NO2 —aquec.
aquf<:- > N2 + 2H2O
4NH3 + 3Ca(OCl)2 -> 2N2 + 3CaCl2 + 6H2O A produção mundial do elemento é de cerca de um
8NH3 + 3Br2 -» N2 + 6NH4Br milhões t/ano, mas está declinando. O fósforo é obtido pela
2NaN3 —3OO'C > 3N2 + 2Na redução do fosfato de cálcio com C, num forno elétrico a
1.400-1.500 °C. Adiciona-se areia (SiO2) à mistura para re­
mover o cálcio como uma escória fluída (silicato de cálcio),
Fósforo que se separa do fósforo na forma de P4O10. A seguir o C é
0 fósforo é o décimo-primeiro elemento mais abundante utilizado para reduzir P4O10 a fósforo elementar. Nas
na crosta terrestre. O fósforo é essencial para a vida, tanto temperaturas utilizadas para essa reação o fósforo encontra-
como material estrutural em animais superiores, como no se no estado gasoso e destila, principalmente como P4
metabolismo de plantas e animais. Cerca de 60% dos ossos misturado com quantidades menores de P2.0 fósforo branco,
e dos dentes são constituídos por Ca3(PO4)2 ou [3(Ca3(PO4)2. P4, é obtido pela condensação do gás ao passar através da
água.
Tabela 143 — Abundância dos diferentes gases no ar seco
2Ca3(PO4)2 + 6SiO2 -> 6CaSiO3 + P4Ol0
P4O10+10C-»P4+10CO
Gás % em volume P.E. dos gases
(em ’C) Cerca de 85% da produção de fósforo elementar é
empregado na fabricação de ácido fosfórico, H3PO4, muito
N2 78,08 -195,8 puro. Cerca de 10% é usado na fabricação de P4S10
O2 20,95 -183,1 (empregado na fabricação de compostos organofosforados
Ar 0,934 -186,0 com ligações P-S) e P4S3 (usado na fabricação de fósforos
CO2 0,025-0,050 -78,4 (sublima) de segurança).
Ne 0,0015 -246,0
H2 0,0010 -253,0 P4 + 5O2 —» P4Ojo + 6H2O - 4H3PO4
He 0,00052 -269,0 P4 + 10S —> P4S10
Kr 0,00011 -153,6 Também é utilizado na fabricação de POC13 e de bronze
Xe 0,0000087 -108,1 de fósforo.
H3B □S ELEMENTOS OO BRUPO 13

Arsênio, antimônio e bismuto PROPRIEDADES GERAIS E ESTRUTURAS


Os elementos As, Sb e Bi não são muito abundantes. DOS ELEMENTOS
Sua principal fonte são os sulfetos, que ocorrem em pequenas Nitrogênio
quantidades combinados com outros minérios. São contudo O primeiro elemento difere dos demais elementos do
bastante comuns, porque são obtidos como subprodutos da Grupo, como nos Grupos estudados até o momento. Assim,
calcinação de minérios da classe dos sulfetos em altos-fornos. o nitrogênio é um gás incolor, inodoro, insípido e diamag-
Devem ser tomados certos cuidados, pois os compostos de nético, sendo encontrado na forma de moléculas diatômicas,
As e Sb são tóxicos. As cores dos sulfetos são características. N2. Os demais elementos são sólidos e possuem várias formas
O arsênio é obtido na forma de As2O3, a partir das alotrópicas. A molécula N2 contém uma ligação tripla NsN
poeiras de exaustão liberadas na calcinação de CuS, PbS, curta, com comprimento de 1,09 A. Essa ligação é muito
FeS, CoS e NiS na presença de ar. A produção mundial de estável e consequentemente sua energia de dissociação é
As2O3 foi de 47.000 t em 1992. O óxido pode ser reduzido a muito alta (945,4 kJ mor1). Portanto, o N2 é estável à
As com C. Os únicos minérios comuns de arsênio são as temperatura ambiente, embora reaja com lítio formando 0
arsenopiritas, FeAsS (cor branca acinzentada com brilho nitreto, Li3N. Outras espécies isoeletrônicas, tais como C0,
metálico), realgar, As4S4 (coloração vermelho alaranjada) e CN“ e NO + , são muito mais reativas que o N2, pois suas
orpimento, As2S3 (cor amarela). Os dois últimos são ligações são polares, enquanto o N2 é apoiar. A temperaturas
encontrados em áreas vulcânicas. O elemento As é obtido elevadas a reatividade do N2 aumenta gradativamente,
industrialmente, aquecendo-se arsenetos tais como NiAs, reagindo diretamente com elementos dos Grupos 2,13 e 14,
NiAs2, FeAs2, ou arsenopiritas, FeAsS, à cerca de 700 °C na com H2 e com alguns metais de transição.
ausência de ar. Nessa condições o As sublima. O nitrogênio pode ser ativado passando-se uma faísca
elétrica através de N2 gasoso, a baixas pressões. Nessa
4 FeAsS —» As4(g) + 4FeS condição forma-se nitrogênio atômico, estando 0 processo
associado a um brilho amarelo róseo. O nitrogênio atômico
Há poucos usos para o As metálico; mas é empregado
reage com diversos elementos e muitas moléculas normal­
em ligas de chumbo, para torná-lo mais duro. Pequenas
mente estáveis.
quantidades são usadas para "dopar" semicondutores e para
fabricar diodos emissores de luz (LED). Geralmente, os
compostos de arsênio são preparados a partir do As2O3. São O ciclo do nitrogênio
utilizados principalmente como rodenticida, em medicina Há uma troca contínua de nitrogênio entre a atmosfera,
no combate a parasitas, e para evitar o apodrecimento da o solo, os oceanos e os organismos vivos, cuja quantidade é
madeira, devido à natureza tóxica desses compostos. estimada em 108 a 109 t/ano. Esse processo é denominado 0
O antimônio é obtido na forma de Sb2O3 das poeiras de ciclo do nitrogênio. Considere o nitrogênio combinado
exaustão provenientes da calcinação de minérios de ZnS. O existente no solo: ele está presente na forma de nitratos,
óxido é facilmente reduzido ao metal com carbono. O minério nitritos e compostos de amônio. Por diversas razões, ocorrem
de antimônio mais importante é a estibinita, Sb2S3 (agulhas perdas do nitrogênio combinado do solo:
iridescentes de aspecto metálico). O metal é obtido por fusão D As plantas absorvem esses compostos e os utilizam para
com ferro: formar 0 protoplasma para crescer. As plantas podem
servir de alimento aos animais, e os animais podem
Sb2S3 + 3 Fe 2Sb + 3FeS servir de alimento a outros animais. Os animais
excretam compostos nitrogenados, geralmente uréia ou
O metal antimônio é empregado em ligas de Sn e Pb. É
ácido úrico, que são devolvidos ao solo. A morte e
usado também como camada protetora (obtida por
decomposição fazem com que eventualmente todo 0
eletrodeposição) sobre aços para impedir a ferrugem. A
nitrogênio retorne ao solo.
produção mundial de Sb foi de 84.0001 em 1992. Compostos
de antimônio são utilizados como retardantes de chama em 2) Um grupo de bactérias desnitrificantes, denominadas
espumas para colchões e outros móveis. Denitríficans, convertem nitratos nos gases N2 ou NH3,
que escapam para a atmosfera (por causa disso os
O Bi2O3 é obtido a partir das poeiras de exaustão
estábulos exalam odor de amônia). O NH3 é devolvido
provenientes da calcinação de PbS, ZnS e CuS, e pode ser
reduzido ao metal com carbono. Ocorre também na forma
dos minerais bismutinita, Bi2S3, e bismita, Bi2O3. Por causa Tabela 144 — Pontos de fusão e pontos de ebulição
de seu baixo ponto de fusão, o bismuto metálico pode ser
Pontos de fusão Pontos de ebulição
fundido de maneira semelhante ao chumbo. As, Sb e Bi
CC) CC)
metálicos são todos quebradiços demais para serem
trabalhados mecanicamente. O Bi é usado em ligas de baixo N2 -210 -195,8
ponto de fusão, usado na confecção de tampões de baixo P4 44 281
ponto de fusão para equipamentos automáticos contra a-As 816* 615 (sublima)
incêndios (sprinklers). Além disso, é usado em baterias, a-Sb 631 1.587
mancais, soldas e munição. A produção mundial foi de 3.600 a-Bi 271 1.564
t em 1992.
* A 38,6 atmosferas de pressão
PROPRIEDADES GERAIS E ESTRUTURAS DOS ELEMENTOS 239

ao solo pela primeira chuva, mas não o N2. Dentre as 2) Cerca de 20% provém do NH4NO3, usado em grandes
bactérias desnitrificantes podem ser citadas as quantidades como um fertilizante artificial. O processo
Pseudomonas e Achromobacter. Haber-Bosch é empregado para fixar o N2 atmosférico
na forma de NH3, e o processo Ostwald é empregado
nitratos -» nitritos NO2 n2 NH3 para converter NH3 em HNO3. A reação de NH3 com
HNO3 fornece NH4NO3.
3) Ocorre uma perda global de compostos nitrogenados
do solo devido ao arraste dos mesmos pelas águas 3) Quantidades relativamente pequenas provêm de
superficiais em direção aos mares. Esses compostos depósitos minerais como o salitre do Chile, NaNO3, que
nitrogenados sustentam a flora marinha. é usado como fertilizante.
4) Há uma pequena perda de NO e NO2 para a atmosfera 4) Pequenas quantidades de N2 são fixadas pelos relâm­
na combustão de plantas e do carvão; o mesmo pagos e as transformações fotoquímicas. Os relâmpagos
ocorrendo nos gases de escape dos carros. Embora isso provocam a formação de NO e NO2 a partir do N2 e O2
tenha efeitos desagradáveis e produzam “smog” do ar. Essa reação é semelhante ao processo obsoleto
localizado, as quantidades envolvidas são pequenas, e de Birkeland-Eyde. A forte radiação UV na atmosfera
o nitrogênio é devolvido ao solo com a chuva. superior pode provocar transformações fotoquímicas
semelhantes, gerando óxidos de nitrogênio. O NO2
Ocorre aumento da quantidade de nitrogênio combinado no
produzido forma uma solução muito diluída de HNO3
solo:
na água da chuva.
1) Esse aumento provém principalmente como resultado
da fixação de N2 pelas bactérias nitrificantes,
convertendo-o em nitratos ou sais de amônio. Isso Fósforo
corresponde a mais de 60% do ganho de nitrogênio. O fósforo é um sólido à temperatura ambiente. O fósforo
Calcula-se que cerca de 175 milhões de toneladas de branco é mole, de aspecto ceroso, e bastante reativo. Reage
N2 são fixados pelas bactérias anualmente. Essa com ar úmido desprendendo luz (quimioluminescência). Ele
quantidade pode ser comparada com os 110 milhões de se inflama espontaneamente no ar a cerca de 35 °C, sendo
toneladas de NH3 produzida em 1992 pelo homem armazenado sob água para impedir essa reação. É extrema­
(principalmente pelo processo Haber-Bosch, mas mente tóxico, podendo ser encontrado na forma de moléculas
também pela destilação do carvão). O gênero mais P4 tetraédricas. Essa mesma estrutura é mantida nos estados
importante dessas bactérias é o Rhizobium. Elas vivem líquido e gasoso. Acima de 800 °C, as moléculas de P4 gaso­
em simbiose nos nódulos das raízes das plantas da sos começam a se dissociar formando P2, que possuem uma
família das leguminosas, por exemplo, ervilhas, feijão, energia de ligação de 489,6 kJ mol’1 (este corresponde
trevo e amieiro. Outras bactérias nitrificantes vivem somente à metade do valor para o N2, pois os orbitais do
livres no solo, por exemplo as bactérias verde azuladas terceiro nível são muito maiores, sendo a interação prc-ptt
Anabena e Nostoc, as bactérias aeróbias tais como relativamente fraca). Se o fósforo branco for aquecido a cerca
Azobacter e Beijerinckia, e as bactérias anaeróbias como de 250 °C, ou a uma temperatura menor na presença de luz
Clostridium pastorianum. Essas bactérias necessitam solar, forma-se o fósforo vermelho. Trata-se de um sólido
de pequenas quantidades de certos metais de transição polimérico, muito menos reativo que o fósforo branco. É
como Mo, Fe, Co e Cu, e também de B do solo. A enzima estável ao ar e não sofre ignição, a não ser mediante
fixadora de nitrogênio “nitrogenase” foi isolada do aquecimento a 400 °C. Não é necessário armazená-lo sob
Clostridium pastorianum em 1960: o mesmo sistema água. É insolúvel em solventes orgânicos. Uma forma
enzimático é responsável pela fixação de nitrogênio nas altamente polimerizada de fósforo denominada fósforo preto
demais bactérias. pode ser obtido aquecendo-se o fósforo branco, a pressões
A nitrogenase contém dois componentes. Uma delas é elevadas. Essa é a forma alotrópica termodinamicamente
uma proteína de Mo e Fe, de peso molecular 220.000, mais estável. É inerte e apresenta uma estrutura lamelar
contendo 24-32 Fe, dois Mo e um grupo sulfeto lábil. O (Fig. 14.2). Há relatos duvidosos sobre outras variedades
outro é uma ferro-proteína de peso molecular 60.000, alotrópicas.
contendo 4 Fe e 4 S. A nitrogenase reduz N2 a NH3. Supõe-
se que o N2 forma um complexo com a proteína de Fe-Mo. A
coordenação de apenas um dos átomos de nitrogênio ao
metal é favorecida nos complexos de N2. Nesse caso, a doação
do par de elétrons do N ao metal formando uma ligação o é
mais importante que a retrodoação n do metal par o N. A
nitrogenase também é capaz de reduzir N2O, RCN e N3 a
NH3; reduz também etino, C2H2, a eteno, C2H4.
Bactérias verde azuladas também podem fixar N2, sendo
importante no cultivo do arroz.
0 número de quilogramas de nitrogênio fixadas
anualmente por acre de solo fértil por diferentes organismos Figura 14.2 — A estrutura do fósforo preto. No fósforo preto cristalino,
é: Rhizobium, 120; bactérias verde azuladas, 10; Azotobacter, os átomos estão dispostos em planos dobrados (Van Wazer, J.R.
0,1; Clostridium, 0,1. Phosphorus and its compounds, Vol 1, Interscience, N. York - Londres.
B4O □S ELEMENTOS □□ BRUPO 15

Obtém-se um número de coordenação 4 se o par


eletrônico isolado for doado (isto é, usado para formar uma
ligação coordenada) a um outro átomo ou íon. Um exemplo
é o íon amôrúo [H3N—>H] + (Fig. 14.4)
Uma grande quantidade de energia é necessária para
se remover todos os cinco elétrons de valência, de modo os
íons M5 + não são formados. O Sb e o Bi podem perder três
de seus elétrons formando íons M3 +, mas as energias de
ionização são demasiadamente elevadas nos demais
Figura 14.3 — Estruturas de camadas do bismuto elementos para formar os correspondentes íons M3 + . Tanto
Arsênio, antimônio e bismuto o SbF3 como o BiF3 são sólidos iônicos. Os íons M3t não
são muito estáveis em solução. Eles podem existir em
As, Sb e Bi sólidos podem ser encontrados em várias soluções ácidas razoavelmente fortes, mas são rapidamente
formas alotrópicas. O vapor de arsênio contém moléculas hidrolisados em água, formando os íons óxido de antimônio,
tetraédricas de As4. Uma forma reativa amarela do sólido se
SbO + , e óxido de bismuto, BiO*. Essa reação pode ser
assemelha ao fósforo branco, e supõe-se que contenha unida­
des tetraédricas As4. O Sb também possui uma forma amare­ revertida pela adição de HC1 5M.
la. Os três elementos possuem formas metálicas muito menos H;O
reativas chamadas de formas a. Estes têm estruturas lamela- Bi3 + [BiO] *
HC1
res, mas as camadas são dobradas. Outra variedade alotrópica
do Sb, que se forma a pressões elevadas, apresenta uma es­ BiCl3 + H2O BiOCl + 2HC1
trutura hexagonal de empacotamento compacto. Uma varie­
dade de Bi obtida a altas pressões apresenta uma estrutura Os átomos de nitrogênio podem receber três elétrons,
cúbica de corpo centrado. O bismuto é incomum, pois o lí­ atingindo assim uma estrutura de gás nobre, formando os
quido se expande quando forma o sólido. Esse comporta­ nitretos iônicos contendo o íon N3'. A formação do íon NJ‘
mento pouco comum também é observado no Ga e no Ge. requer 2.125 kJ mol’1, de modo que apenas os metais de
baixa energia de ionização, que possam formar nitretos com
TIPOS DE LIGAÇÕES elevadas energias reticulares (Li3N, Be3N2, Mg3N2, Ca3NJ,
formam nitretos iônicos. Embora sejam conhecidos com­
A maioria dos compostos formados pelos elementos postos como Na3P e Na3Bi, estes não são iônicos.
desse Grupo são covalentes.
s p O nitrogênio não pode aumentar seu número de
Distribuição eletrônica
de valência de um [tij |T |t |t I coordenação para além de 4, pois possui apenas quatro
elemento do Grupo 15 orbitais disponíveis na segunda camada de elétrons. Portanto,
Très elétrons dest[emparelhados formam ligações o
com três outros iátomos; quatro pares de eletrons
o nitrogênio não pode formar complexos recebendo pares
levam a uma estn rutura tetaédrica com uma posição
ida por uma par isolado.
ocupao
eletrônicos de outros ligantes; mas os elementos
subseqüentes podem formar tais complexos. Esses elementos
Tabela 14.5 — Raios covalentes, energias de ionização e podem apresentar números de coordenação 5 ou 6, como
eletronegatividade no PC1S e [PC16]“. A formação de complexos pode ser
explicada, supondo-se que um ou dois orbitais d estão
Raio Energias de ionização Eletrone- envolvidos nas ligações. Nesses casos ocorre, respectiva­
covalente (kJ mol -1) gatividade mente, uma hibridização sp3d ou sp3d2. Os orbitais 3d de
(A) 1? 2? 3? de Pauling um átomo isolado de fósforo são muito maiores que os
N 0,74 1.403 2.857 4.578 3,0 orbitais 3s e 3p. A princípio, isso podería sugerir que a
P 1,10 1.012 1.897 2.910 2,1 participação dos orbitais 3 d nas ligações é improvável.
As 1,21 947 1.950 2.732 2,0 Contudo, quando ligantes eletronegativos se ligam no átomo
Sb 1,41 834 1.590 2.440 1,9 de fósforo, os orbitais 3d se contraem, adquirindo pratica­
Bi 1,52 703 1.610 2.467 1,9 mente o tamanho dos orbitais 3s e 3p (o grau de participação
dos orbitais d nas ligações o é objeto de controvérsias, tendo
sido discutido no Capítulo 4).
O nitrogênio também difere dos demais elementos do
Grupo pelo fato de formar ligações múltiplas pn-pn fortes.
Por causa disso, ele forma diversos compostos que não
possuem análogos no caso dos demais elementos. Dentre
eles pode-se citar os nitratos NO3~, os nitritos, N0>, os
azotetos, N3, o nitrogênio, N2, os óxidos N2O, NO, N02, N2O4,
os cianetos, CN~ e os azo e diazocompostos. Os óxidos N>03
e N2O5 são monoméricos porque o nitrogênio pode formar
ligações múltiplas, enquanto que os trióxidos e pentóxidos
dos demais elementos são encontrados na forma de dímeros.
Figura 14.4 — Estrutura da amônia
HIDRETOS B41

CARÁTER METÁLICO E NÃO-METÁLICO 5) Diminui a capacidade dos mesmos de atuar como


doador de elétrons, usando o par de elétrons isolado
Os elementos do Grupo 15 seguem a tendência geral,
para formar ligações coordenadas.
isto é, o caráter metálico aumenta de cima para baixo dentro
do grupo. Assim, N e P são não-metais, As e Sb são
metalóides, que apresentam muitas das propriedades dos Amônia, NH3
metais, e o Bi é um metal verdadeiro. O aumento do caráter O NH3 é um gás incolor de odor pungente. O gás é
metálico fica evidente nos seguintes aspectos: bastante tóxico e se dissolve facilmente em água liberando
1) Na aparência e estrutura dos elementos. calor. A 20 °C e uma atmosfera de pressão, 53,1 g de NH3 se
2) Pela sua tendência de formar íons positivos. dissolvem em 100 g de água. Isso corresponde a 702 vol­
umes de NH3 dissolvendo-se em 1 volume de água. Em
3) Pela natureza de seus óxidos. Os óxidos metálicos são solução, a amônia forma o hidróxido de amônio, NH4OH,
caracteristicamente básicos, enquanto que os óxidos comportando-se como uma base fraca.
dos elementos não-metálicos são ácidos. Logo, os óxidos
normais de N e P são fortemente ácidos, enquanto que NH3 + H2O NH4 + OH" K = 1,8 x 10s mol"1
os óxidos de As e Sb são anfóteros e o de Bi é
essencialmente básico. Tanto o NH3 como o NH4OH reagem com ácidos,
formando sais de amônio. Esses sais se assemelham aos
4) A resistividade elétrica das formas metálicas (a-As 33,
sais de potássio no que se refere à solubilidade e à estrutura
a-Sb 39 e a-Bi 106 pohm cm-1) é muito menor que a do
cristalina. Como os sais dos elementos do Grupo 1, os sais
fósforo branco (IxlO17 pohm cm'1), indicando um de amônio são tipicamente incolores. Há algumas diferenças
aumento do caráter metálico. Contudo, as resistividades entre eles. Os sais de amônio geralmente são fracamente
são maiores que as de um bom condutor como o Cu ácidos se tiverem sido formados a partir de ácidos fortes,
(1,67 pohm cm'1) e maiores que as do Sn e do Pb (11 e como HNO3, HC1 e H2SO4, dado que o NH4OH é uma base
20 |iohm cm'1, respectivamente) nos grupos adjacentes fraca. Os sais de amônio se decompõem facilmente quando
(vide Apêndice J). aquecidos. Se o ânion não for particularmente oxidante (por
exemplo, Cl", CO3‘, ou SO4'), há liberação de amônia:
REATIVIDADE calor
NH4C1 4 NH3 + HC1
0 nitrogênio é bastante inerte e por isso acumulou-se calor
em tão grandes quantidades na atmosfera. (NH4)2SO4 4 2NH3 +H2SO4
O fósforo branco se inflama quando exposto ao ar, Se o ânion for mais oxidante (por exemplo, NO3, NO2,
formando P4O10. Para impedir essa reação, ele é armazenado
CIO;, Cr2O^“), então o NH4+ é oxidado a N2 ou N2O.
sob água. O fósforo vermelho é estável ao ar à temperatura
ambiente, embora reaja quando aquecido. -III 0
0 arsênio é estável em ar seco, mas perde o brilho em calor
NH4NO2 4 N2 + 2H2O
ar úmido, assumindo inicialmente uma cor bronze e depois
preta. Quando aquecido no ar o arsênio sublima a 615 °C, -UI
calor
formando As4O6 e não As4O10. O aquecimento forte do NH4NO3 4 N2O + 2H,0
elementos na presença de oxigênio pode formar um outro
calor
desses óxidos, dependendo da quantidade de oxigênio (NH4)2Cr2O7 N2 + 4H2O + Cr2O3
presente. Essa relutância em atingir o estado de oxidação
máximo é observada nos elementos Ga, As, Se e Br, isto é, O NH3 queima em oxigênio com uma chama amarela
nos elementos que seguem imediatamente após o pálida:
preenchimento da primeira camada d. As4O10 e H3AsO4 são 4NH3 + 3O2 -» 2N2 + 3H2O
usados como agentes oxidantes em análise volumétrica.
0 Sb é menos reativo, sendo estável frente a água e ao A mesma reação ocorre no ar, mas o calor da reação é
ar à temperatura ambiente. Por aquecimento ao ar, forma insuficiente para manter a combustão, a não ser que haja
Sb4O6, Sb4O8 ou Sb4O10. O Bi forma Bi2O3 quando aquecido. fornecimento de calor, por exemplo proveniente de uma
chama de gás de cozinha. Certas misturas de NH3/O2 e NH3/
ar são explosivas.
HIDRETOS O NH3 é preparado no laboratório aquecendo-se um
Todos esses elementos formam hidretos voláteis de sal de amônio com NaOH. Esse é o teste padrão para detectar
fórmula MH3. Todos são gases tóxicos, de cheiro desagra­ compostos de NH4+ no laboratório.
dável. Descendo pelo grupo, do NH3 ao BiH3, observa-se
que: NH4C1 + NaOH -» NaCl + NH3 + H2O
1) A preparação dos hidretos se torna cada vez mais difícil. O NH3 liberado pode ser detectado por:
2) A estabilidade diminui. D seu odor característico.
3) 0 poder redutor aumenta. 2) tomar azul o papel de tornassol umedecido.
4) A substituição dos átomos de hidrogênio por outros 3) formar nuvens brancas e densas de NH4C1 quando um
átomos, como Cl ou CH3, torna-se cada vez mais difícil. frasco de HC1 é aproximado.
B4B □S ELEMENTOS □□ BRUPO 15

4) formar um precipitado amarelo-alaranjado com o ao fogo. O NH4CIO4 é usado como agente oxidante em
reagente de Nessler. combustíveis sólidos para foguetes.
A produção mundial de NH3 foi de 110 milhões de
toneladas em 1992. A maior parte foi sintetizada a partir de Fosfina, PH3
H2 e N2, pelo processo Haber-Bosch (vide adiante), mas uma
parte foi obtida a partir da purificação do gás de carvão e A fosfina, PH3 (ou fosfano), é um gás incolor extrema­
durante a produção de coque a partir do carvão. A amônia mente tóxico e reativo, com odor que se assemelha ao do
alho ou do peixe em decomposição. Pode ser obtido pela
também pode ser obtida pela hidrólise da cianamida de
hidrólise de fosfetos metálicos como Na3P ou Ca3P2 com
cálcio, CaNCN. A cianamida de cálcio é usualmente
água, ou pela hidrólise de fósforo branco numa solução
empregada como fertilizante, sendo que a reação de hidrólise
aquosa de NaOH.
ocorre lentamente no solo.
CaNCN + 3H2O -► 2NH3 + CaCO3 Ca3P2 + 6H2O -» 2PH3 + 3Ca(OH)2
P4 + 3NaOH + 3H2O -» PH3 + 3NaH2PO2
(CaNCN também é empregado na preparação da
melamina, uréia e tiouréia — vide Capítulo 11). No passado, Ao contrário do NH3, o PH3 não é muito solúvel em
quando o gás de iluminação era produzido pela destilação água e suas soluções aquosas são neutras. O PH3 é mais
seca do carvão na ausência de ar e usado como combustível, solúvel em CS2 e em outros solventes orgânicos. Sais de
os compostos nitrogenados do carvão eram transformados fosfônio, como [PH4] + cr, podem ser formados, mas isto
em NH3. Assim, NH3 era obtido como um subproduto do requer a reação de PH3 e HC1 anidros (em contraste com a
gás de iluminaçâ o. rápida formação de NH4X em solução aquosa). O PH3 puro
é estável no ar, mas inflama-se quando aquecido a cerca de
150 °C.
Sais de amônio
PH3 + 2O2 —> H3PO4
Todos os sais de amônio são muito solúveis em água.
Todos reagem com NaOH, liberando NH3. O íon NH4+ é O PH3 freqüentemente contém pequenas quantidades
tetraédrico. Diversos sais de amônio são importantes. de difosfina, P2H6 (difosfano) que provocam sua ignição
O NH4CI é um dos mais conhecidos. Antigamente era espontânea. Essa é a origem das luzes bruxuleantes
obtido aquecendo-se estrume de camelos: 0 NH4C1 pode ser conhecidas como "fogo-fátuo”, às vezes observadas em
facilmente purificado por sublimação! O sal pode ser pântanos e cemitérios.
recuperado como um subproduto do processo Solvay. É
usado em pilhas secas do tipo Leclanché. Também é usado Arsina AsH3, estibina SbH3, e bismutina BiH3
como fundente na solda e estanhação de metais, já que os A energia de ligação (Tab. 14.6) e a estabilidade dos
óxidos de muitos metais reagem com NH4C1 formando hidretos decrescem descendo pelo Grupo. Em conseqüência,
cloretos voláteis, limpando assim a superfície metálica. a arsina AsH3 (arsano), a estibina SbH3 (estibano) e a
O NH4NO3 é um composto deliqüescente usado em bismutina BiH3 (bismutano) são obtidas apenas em pequenas
grandes quantidades como fertilizante nitrogenado. Como quantidades. Tanto o AsH3 como o SbH3 são gases muito
ele pode provocar explosões, é freqüentemente misturado tóxicos. AsH3, SbH3 e BiH3 podem ser preparados pela
com CaCO3 ou (NH4)2SO4 para torná-lo seguro. Também é hidrólise dos seus compostos binários com metais, como
usado como explosivo, pois mediante forte aquecimento Zn3As2, Mg3Sb2 ou Mg3Bi2, com água ou ácidos diluídos.
(acima de 300 °C) ou com o auxílio de um detonador, é AsH3 e SbH3 são formados no teste de Marsh para compostos
possível provocar sua rápida decomposição. O sólido ocupa de As e Sb. Antes do advento da análise instrumental, esse
teste era usado na química forense. Praticamente todos os
um volume irrelevante, mas produz sete volumes de gás.
compostos de As e Sb podem ser reduzidos com Zn e ácido,
Isso provoca a explosão:
formando AsH3 e SbH3. Os hidretos gasosos são passados
2NH4NO3 -» 2N2 + O2 + 4H2O através de um tudo de vidro aquecido por um bico de Bun-
sen. O SbH3 é menos estável que o AsH3, por isso decompõe-
Quantidades menores de (NH4)2SO4 são também usadas se, formando um espelho metálico antes de chegar a região
como fertilizantes. Antigamente o (NH4)2SO4 era obtido como do tubo que está sendo diretamente aquecida pela chama.
subproduto do gás de iluminação. Desde o momento em O AsH3 é mais estável e requer temperaturas maiores para
que o gás natural começou a suprir a demanda nos países se decompor. Assim, o AsH3 forma um espelho metálico
desenvolvidos, o gás de iluminação não foi mais produzido. depois da posição em que se encontra a chama.
O (NH4)2SO4 é obtido passando-se NH3 e CO2 gasosos através
de uma suspensão de CaSO4 em água: Estrutura dos hidretos
2NH3 + CO2 + H2O (NH4)2CO3 A estrutura da amônia pode ser descrita como sendo
(NH4)2CO3 + CaSO4 CaCO3 + (NH4)2SO4 piramidal ou tetraédrica, com uma das posições ocupada
por um par não-ligante (Fig. 14.4). Essa forma é prevista
Pequenas quantidades de hidrogenofosfato de diamônio, pela Teoria da Repulsão dos Pares Eletrônicos de Valência,
(NH4)2HPO4, e de dihidrogenofosfato de amônio, NH4H2PO4, uma vez que há quatro pares de elétrons na camada mais
são empregadas como fertilizantes. Esses compostos são externa. Esses pares constituem três pares ligantes e um
usados para tornar a madeira, o papel e tecidos resistente não-ligante. A repulsão entre um par não-ligante e um ligante
HIDRETOS 243

sempre é maior que a repulsão entre dois pares ligantes. Por Tabela 14.7 — Hidretos do nitrogênio
isso, os ângulos das ligações diminuem de 109°27' para
107°48', e 0 tetraedro é ligeiramente distorcido. Fórmula Nome Estado de oxidação
1s 2s 2p
Configuração eletrônica
do átomo de nitrogênio [w] [u] |t |t |t I NH3 Amônia -III
— estado fundamental n2h4 Hidrazina -II
nh2oh Hidroxilamina
Nitrogênio depois de
compartilhar três elétrons 0 [ü] |n|t;|n| Os demais hidretos do Grupo apresentam nenhuma ou
com três átomos de I
hidrogênio na molécula de NH3 Quatro orbitais no nível mais externo pouca tendência de formar ligações coordenadas, por serem
intes e um par não-
(três pares ligan doadores muito fracos.
_tura tetaédrica com
ligante) — estrut»
um vértice «'«■■oado
ocup< pelo par
não-liga
jante O par não-ligante ocupa um orbital híbrido sp3 no NH3.
No AsH3 e SbH3 os ângulos de ligação se aproximam de
90°, sugerindo que os orbitais usados na formação das três
Os hidretos PH3, AsH3 e SbH3 deveríam ter estruturas
ligações M-H são orbitais p quase puros. Se isso for verdade,
semelhantes. Contudo, os pares de elétrons ligantes estão
então o par não-ligante deve ocupar um orbital esférico s.
mais afastados do átomo central do que no NH3. Assim, o
Esse é maior e não direcional, sendo portanto menos eficiente
par isolado de elétrons provoca uma distorção ainda maior
para formar ligações coordenadas. Isso implica que qualquer
no PH3, AsH3 e SbH3. O ângulo da ligação diminui até 91°18'
ligação o formada por esse orbital será muito fraca. Além
no SbH3 (Tab. 14.6). Esses ângulos de ligação sugerem que
disso, os orbitais 4d e 5d são muito grandes para permitirem
no PH3, AsH3, SbH3 e BiH3 as ligações estão sendo formadas
uma interação n efetiva. Esses dois fatores explicam as
por orbitais p quase puros.
diferenças no poder coordenante observadas nos diferentes
Os pontos de fusão e de ebulição dos hidretos aumentam hidretos.
do PH3 ao AsH3 e SbH3. Os valores para o NH3 não acom­
O nitrogênio forma diversos hidretos (vide Tab. 14.7).
panham essa tendência: espera-se que seu ponto de ebulição
seja da ordem de -110 °C ou -120 °C. O NH3 tem um ponto
de ebulição maior e é muito menos volátil que o esperado, Hidrazina, N2H4
pois forma ligações de hidrogênio no estado líquido, em A hidrazina é um líquido covalente, fumegante quando
contraste com os demais hidretos. exposto ao ar, e com odor semelhante ao do NH3. A hidrazina
Esses hidretos são agentes redutores fortes e reagem pura queima facilmente ao ar, liberando uma grande quanti­
com soluções de íons metálicos formando fosfetos, arsenetos dade de calor.
e estibinetos. São inflamáveis e extremamente tóxicos.
N2(g) + 2H2O
N2H4Q) + O2(gS —* ^2(x) AH = —621 kJ mol
Os derivados metilados MeNHNH2 e Me2NNH2 são
Propriedades doadoras
misturados com N2O4 e usados como combustível de fogue­
0 NH3 pode doar seu par de elétrons não-ligante tes, ônibus espaciais e de mísseis teleguiados. Também foi
formando complexos estáveis. Assim, a amônia forma sais utilizado nos módulos lunares da série Apollo.
deamônio NH4+, e também compostos de coordenação com
íons metálicos dos Grupos do Co, Ni, Cu e Zn, por exemplo, O N2H4 é uma base fraca e reage com ácidos, formando
0 íon [Co(NH3)6]3+ pode ser facilmente obtido. duas séries de sais. Todos são sólidos iônicos cristalinos,
brancos, solúveis em água.
O PH3 também se comporta como um doador de elétrons
e forma numerosos complexos, tais como [F3B«— PH3], N2H4 + HX N2H5+ + X-
[CI3AI*—PH3) e [Cr(CO)3(PH3)3]. Diversos outros compostos N2H4 + 2HX N2HÍ* + 2X‘
de fósforo trivalente, como PF3, PC13, PEt3, P(OR)3 e PPh3 Quando dissolvida em água (em soluções neutras ou
também formam complexos, que de certo modo se alcalinas), a hidrazina ou seus sais são agentes redutores
assemelham aos complexos formados pelo CO. Por exemplo, fortes. São usados para fabricar espelhos de prata e de cobre,
0 par não-ligante do P é utilizado para formar uma ligação e para precipitar os metais do grupo da platina. A hidrazina
coordenada com um orbital vazio do B ou de um metal (uma também reduz I2 e O2.
ligação a). No caso dos metais, essa ligação coordenada
pode ser reforçada por uma ligação tr, formada por um or­ N,H4 + 2I2 -> 4HI + N2
bital d preenchido do metal com um orbital d vazio do P N2H4 + 2O2 -»2H2O2 + N2
(“back-bonding”). N2H4 + 2CuSO4 - Cu + N2 + 2H2SO4
Geralmente a hidrazina se compor­
Tabela 14.6 — Algumas propriedades dos hidretos
ta como um agente redutor moderado
P.F. P.E. Energia de ligação Ângulo de ligação Comprimento em meio ácido, embora redutores mais
cc) CC) (kJ mol de ligação (Â) fortes possam reduzir N2H4 a NH3.

nh3 -77,8 N-H = 389 H-N-H= 107’48’ 1.017 (-II) (-HI)


-34,5
ph3 -133,5 H-P-H= 93’36’ 1.419 N2H, + Zn + 2HC1—>2NH3 + ZnCl2
-87,5 P-H = 318
! AsHj -116,3 -62,4 As-H = 247 H-As—H = 91’48’ 1.519
A hidrazina pode atuar como um
SbH3 -88,0 -18,4 Sb-H = 255 H—Sb-H = 91’18’ 1.707
! doador de elétrons. Os átomos de N
B44 OS ELEMENTOS DO ERUPO 15

possuem um par de elétrons não-ligantes, que podem formar propriedades química bem diferentes da do N2H4.
ligações coordenadas com íons metálicos como Ni2+ e Co2 + . H :
A produção mundial de hidrazina é de aproximada­ \ /
:—N—N—H
mente 20.000 t/ano. A maior parte é usada como combustível
de foguetes. Também são usados na fabricação de
/ \
H H
“propelentes” (para a obtenção de plásticos insuflados),
como produto de uso agrícola, e no tratamento de águas de
caldeira para prevenir a oxidação das caldeiras e tubulações. Hidroxilamina NH2OH
No laboratório, a fenil-hidrazina é empregada para identificar A hidroxilamina forma cristais incolores que fundem a
compostos carbonílicos e açúcares, através da formação de 33 °C. Ela é termicamente instável e se decompõe facilmente
derivados cristalinos denominados osazonas. As osazonas em NH3, N2, HNO2 e N2O. Se aquecida fortemente, explode.
podem ser identificadas pelo exame da forma dos cristais ao Geralmente é manuseada na forma de uma solução aquosa
microscópio, ou pela determinação de seus pontos de fusão. ou um de seus sais, pois são mais estáveis que NH2OH puro.
A hidroxilamina é uma base mais fraca que amônia ou
CHj-OH CH2OH a hidrazina. Os seus sais contêm o íon hidroxilamônio,
(CHOH), (CH-OH), [NH3OH] + .

CHOH CHOH NH2OH + HC1—» [NH3OH]+Cr


I I NH2OH + H2SO4^> [NH3OH] + HSOã
CHO + H2N—NHC6Hs CH=N—NHC6H5 + H2O
glicose fenil-hidrazina glicose-fenil-hidrazina Os potenciais de redução apropriados (vide pág. 247)
(uma osazona) sugerem que a hidroxilamina deveria sofrer desproporcio­
A hidrazina continua sendo fabricada pelo processo namento. De fato, ela lentamente se desproporciona em
Raschig, no qual a amônia é oxidada pelo hipoclorito de soluções ácidas:
sódio, em solução aquosa diluída:
-1 +1 -III
NH3 + NaOCl NH2C1 + NaOH (rápida) 4[NH2OH-H]+ ^>N2O + 2NH4+ + 2H+ + 3H2O
2NH3 + NH2C1 -> NH2NH2 + NH4C1 (lenta)
A reação de desproporcionamento é rápida em soluções
Uma reação secundária entre a cloramina e a hidrazina alcalinas:
pode destruir parte ou todo o produto.
-l o -III
N2H4 + 2NH2C1 -> N2 + 2NH4C1 3NH2OH -> N2 + NH3 + 3H2O

Essa reação é catalisada por íons de metais pesados Tanto o NH2OH como seus sais são muito tóxicos e são
presentes na solução. Por isso, utiliza-se água destilada ao agentes redutores fortes.
invés de água de torneira, e adiciona-se cola ou gelatina A hidroxilamina é obtida pela redução de nitritos ou,
para complexar os íons metálicos remanescentes. O uso de então, a partir de nitrometano:
excesso de amônia reduz a ocorrência da reação entre
cloramina e hidrazina. É necessário a utilização de solução NH4NO2 + NH4HSO3 + SO2 + 2H2O—»[NH3OH]+ HSO4-
diluída dos reagentes para minimizar outra reação + (NH4)2so4
secundária: CH3NO2 + H2SO4 [nh3oh]+hso; + CO

3NH2C1 + 2NH3 —> N2 +3NH4CI A hidroxilamina apresenta propriedades doadoras


(como o NH3 e o N2H4): o átomo de N pode formar ligações
Os processos industriais modernos são contínuos. Uma coordenadas com íons metálicos. Além disso, ela se adiciona
solução aquosa diluída contendo NH4OH e NaOCl na facilmente às ligações duplas de moléculas orgânicas,
proporção de 30:1 e gelatina é passada rapidamente, a altas proporcionando um meio simples para introduzir átomos
pressões, através de um reator a 150 °C. A conversão é de de N em tais moléculas.
cerca de 60 %, obtendo-se uma solução de hidrazina de cerca NH2OH é fabricado em larga escala para a obtenção da
de 0,5 %. O excesso de NH3 é removido e reciclado. A solução oxima de ciclohexanona, que é convertida em caprolactama
de hidrazina é concentrada por destilação de modo a produzir e a seguir polimerizada para formar náilon-6
N2H4 H2O, ou H2SC>4 pode ser adicionado de modo a
precipitar o sulfato de hidrazínio, N2H4-H2SO4.
Dados de difração de elétrons e de infravermelho indi­ O NOH ,-c^0
NH;OH Oleurn
cam que a estrutura da hidrazina é semelhante à do etano.
Cada átomo de N é rodeado tetraedricamente por um N, CH2
dois H e um par eletrônico isolado. As duas metades da ciclohexanona oxima de caprolactama
molécula apresentam uma rotação de 95° em torno da ligação ciclohexanona
N-N, adotando uma conformação gaúche (não eclipsada). -.cO-[NH-(CH2)s-C01„-NH-.
Náilon-6
O comprimento da ligação N-N é de 1,45 A.
O fósforo forma o hidreto instável P2H4, que apresenta Figura 14.5 — O náilon-6
AZÜIb IDS 245

A AMÔNIA LÍQUIDA COMO SOLVENTE necessário destruir o sódio mediante o uso de um ácido, por
exemplo o sal de amônio em amônia líquida.
0 gás amônia pode ser facilmente condensado (ponto
de ebulição -33 °C) à amônia líquida. Ele é o solvente não- 2NH4Br + 2Na —em NHj
,n,NH‘ > 2NaBr + H2 + 2NH3
aquoso mais estudado, assemelhando-se bastante ao sistema
aquoso. A amônia líquida, como a água, é capaz de dis­ A amônia líquida aceita prótons com facilidade, e por
solver uma grande variedade de sais. Além disso, tanto a isso aumenta o grau de dissociação dos assim chamados
água como a amônia sofrem reações de auto-ionização: ácidos fracos, como o ácido acético.
2H2O H3O+ + OH’ CH3 COOH =* CH3COO" + H +
2NH3 — NH4+ + NH2’
O NH3 remove prótons e faz com que a reação se
Substâncias que produzem íons H3O+ em solução processe no sentido direto. Assim, o pKa do ácido acético
aquosa são ácidas, e os sais de amônio são ácidos em amônia em água é igual a 5, mas está quase totalmente dissociado
líquida. Analogamente, substâncias que produzem OH" em em amônia líquida. Portanto, a amônia reduz as diferenças
água ou NH2 em amônia líquida são bases nos respectivos entre as forças dos ácidos. Por isso a amônia é conhecido
solventes. como um solvente nivelador (vide Ácidos e Bases, no
Capítulo 8).
Portanto, reações de neutralização ácido-base ocorrem
em ambos os solventes e a fenolftaleína pode ser usada para
indicar o ponto final: AZOTETOS
O azoteto de hidrogênio, HN3, (ácido azotídrico) é um
HC1 + NaOH—» NaCl + H2O (em água)
ácido base sal solvente líquido incolor com ponto de ebulição igual a 37 °C,
altamente tóxico e odor irritante. Tanto o líquido como o
NH4CI + NaNH2 NaCl + 2NH3 (em amônia) gás explodem quando aquecidos ou sob forte impacto.
De modo semelhante, ocorrem reações de precipitação 2HN3 H2 + 3N2
em ambos os solventes. Contudo, o sentido da reação
O HN3 é um pouco mais estável em solução aquosa,
depende do solvente.
mas deve ser manuseado com cuidado. Dissocia-se pouco
em solução aquosa (ácido fraco, pKa = 5), tendo uma força
(NH4)2S + Cu2+ -> 2NH4 + Cu2S 4- (em água)
semelhante a do ácido acético. Reage com metais eletro-
(NH4)2S + Cu2+ -> 2NH4 + Cu2S 4- (em amônia) positivos, formando compostos iônicos denominados
BaCl2 + 2AgNO3 —> Ba(NO3)2 + 2AgCl 4- (em água) azotetos. Mas, ao contrário de outras reações entre ácidos e
metais, não há liberação de hidrogênio.
Ba(NO3)2 + 2AgCl -> BaCl2 4- + 2AgNO3 4- (em amônia)
6HN3 + 4Li -> 4LiN3 + 2NH3 + 2N2
0 caráter anfótero dos compostos pode ser observado azoteto de lítio
em ambos os solventes. Por exemplo, Zn(OH)2 é anfótero
em água e Zn(NH2)2 é anfótero em amônia: Azotetos covalentes são usados como detonadores e
explosivos. Os azotetos iônicos geralmente são muito mais
Zn2+ + NaOH -> Zn(OH)2+ NaOH -4 Na2[Zn(OH)4] (em água) estáveis, de modo que alguns deles são usados como corantes
insolúvel excesso solúvel e intermediários em síntese orgânica.
Zn2+ + KNH2 -> Zn(NH2)2+KNH2 -> K2[Zn(NH2)4] (em amônia) O método de síntese de azotetos mais importante se
insolúvel excesso baseia no borbulhamento do óxido nitroso gasoso em
A amônia líquida é um solvente muito apropriado para sodamida fundida a 190 °C, em condições anidras. O vapor
os metais alcalinos e os metais mais pesados do Grupo 2, d'água produzido reage com nova quantidade de sodamida.
Ca, Sr e Ba. Os metais são muito solúveis e suas soluções Alternativamente, o óxido nitroso pode ser borbulhado numa
em amônia líquida apresentam uma condutividade solução de sodamida em amônia líquida como solvente.
comparável a dos metais puros. A amônia solvata os íons
metálicos, mas resiste à redução pelos elétrons livres. Essas N2O + NaNH2 -> NaN3 + H2O
soluções de metais em amônia líquida são excelentes agentes H2O + NaNH2 -» NH3 + NaOH
redutores, por causa da presença dos elétrons livres. N2O + 2NaNH2-»NaN3 + NH3 + NaOH

Na amônia líquida
-> [Na(NH3)„] + + e O azoteto de sódio assim obtido pode ser convertido
no azoteto de hidrogênio por tratamento com H2SO4, seguido
Soluções de sais de amônio em amônia líquida são de destilação. O azoteto de chumbo, Pb(N3)2, pode ser
usadas na limpeza do sistema de refrigeração de alguns precipitado de uma solução de azoteto de sódio e um sal
reatores nucleares. O sódio líquido é empregado para solúvel de chumbo, como Pb(NO3)2. O Pb(N3)2 é sensível
arrefecer os reatores do tipo “fast breeder”, como o de ao choque sendo usado como detonador de explosivos de
Dounreay, na Escócia. A amônia líquida é um bom solvente elevada potência. É panicularmente confiável, e funciona
para esse metal, mas as superfícies ficam úmidas com NH3. mesmo quando úmido. Muitos outros azotetos metálicos
Quando este evapora, podem sobrar pequenos depósitos de são conhecidos. O triazoteto cianúrico é um poderoso
sódio finamente divididos, que é pirofórico. Por isso, é explosivo (Fig. 14.6).
246 OS ELEMENTOS DO GRUPO 15

2) Fósforo para o crescimento das raízes, usualmente na


forma de fosfato, tal como "superfosfato" ou "superfos-
fato triplo” pouco solúvel. São obtidos a partir de rochas
fosfáticas tais como a fluorapatita, [3Ca3(PO4)2-CaF2],
extraída de jazidas minerais. A escória básica, um
subproduto da indústria siderúrgica, também é empre­
gada como fosfato para fertilizantes.
3) íons potássio para a floração, geralmente fornecidos
como K2SO4.

Figura 14.6 — Estrutura da triazida ciánúrica


FIXAÇÃO DE NITROGÊNIO
O íon (N3)_ é considerado um pseudo-haleto (vide Há uma grande quantidade de gás N2 na atmosfera,
Capítulo 16). Forma os compostos extremamente instáveis mas as plantas são incapazes de utilizá-lo, pois o N2 é muito
e explosivos fluorazoteto FN3, clorazoteto C1N3, bromazoteto estável e inerte. O solo fértil contém nitrogênio combinado,
BrN3 e iodazoteto IN3, mas o dímero N3-N3 é desconhecido. principalmente na forma de nitratos, nitritos, sais de amônio
ou uréia, CO(NH2)2. Esses compostos são absorvidos da água
A análise do N3 é realizada reduzindo-o com H2S.
do solo pelas raízes das plantas. Isso reduz a fertilidade do
NaNj + H2S + H2O -» NH3 + N2 + S + NaOH solo, embora boa parte do nitrogênio acabe retornando ao
solo, devido a morte e decomposição das plantas. Sabe-se
O íon N3 possui 16 elétrons de valência e é isoeletrônico há muito tempo que o cultivo rotativo de um terreno
com o CO2. O íon N3 é linear (N-N-N) como o CO2. Quatro utilizando diferentes culturas dá melhores safras que o cultivo
elétrons são utilizados para formar duas ligações a. Cada continuado de um mesmo produto. Por exemplo, o cultivo
um dos átomos de N terminais possuem um par de elétrons de trevo num ano melhora a safra de milho do ano seguinte.
não-ligante. Restam, portanto 16-4-(2x2) = 8 elétrons para Algumas poucas espécies de bactérias e cianobactérias
formar as ligações 7t. Supondo-se que os elétrons ligantes e podem "fixar” o nitrogênio atmosférico, ou seja, transformar
antiligantes ocupem os orbitais 2s e 2px, ainda restam seis o N2 gasoso em compostos de nitrogênio. Essas bactérias
orbitais atômicos para as ligações tt: três OAs 2py e três 2pz. podem ter uma grande influência sobre a fertilidade do solo,
Os três orbitais 2py formam três orbitais moleculares n pois produzem "nitrogênio combinado”. O gênero mais
tricentrados. O orbital molecular de menor energia é ligante, importante de bactérias fixadoras de nitrogênio é o Rhizo-
o de maior energia é antiligante e o remanescente é não- bium. Essas bactérias vivem em simbiose nos nódulos das
ligante. Analogamente, os três orbitais atômicos 2pz formam raízes de plantas da família das leguminosas, por exemplo,
OMs ligante, antiligante e não-ligante. Os oito elétrons tt ervilha, feijão, trevo e amieiro. Existem outras bactérias no
preenchem os dois orbitais moleculares ligantes e os dois solo, nas proximidades das raízes, também capazes de fixar
não-ligantes. Portanto, há no total duas ligações o e duas o nitrogênio, mas em menor escala (vide “Ciclo do Nitro­
ligações n e a ordem de ligação é igual a 2. As duas ligações gênio").
N-N têm o mesmo comprimento e são iguais 1,16 A.
Embora as plantas necessitem de nitratos, as bactérias
A molécula do azoteto de hidrogênio é angular. O elétron do solo facilmente transformam outros compostos nitrogena-
adicional proveniente do hidrogênio deve ocupar um orbital dos em nitratos.
antiligante e por isso os comprimentos das duas ligações
N-N são diferentes: Nitrossomonas
e Nitrobactéria Nitrobactéria
nh4+ NOz -> NOj
H.

N N N Os processos químicos capazes de fixar o nitrogênio


1.24 A *’ 1.13 A atmosférico incluem o processo Haber-Bosch (síntese da
O ângulo da ligação H-N-N é igual a 112°, e as duas amônia) e a formação da cianamida de cálcio. Ambos
ligações N-N apresentam comprimentos significativamente envolvem o uso de elevadas temperaturas e pressões. As
diferentes, pois as ordens de ligação são provavelmente 1,5 bactérias fixam o nitrogênio facilmente à temperatura
e 2, respectivamente. ambiente e pressão atmosférica, mas o homem necessita de
dispendiosas instalações e o emprego de altas temperaturas
e pressões para fazer o mesmo.
FERTILIZANTES
Muitos esforços estão sendo dispendidos na pesquisa
Os fertilizantes para fins agrícolas contêm normalmente de catalisadores de metais de transição capazes de absorver
três ingredientes principais: nitrogênio e produzir amônia para fertilizantes por um custo
1) Nitrogênio numa forma combinada (geralmente nitrato menor, sem a necessidade de utilizar altas temperaturas e
de amônio, outros sais de amônio ou nitratos, ou uréia). pressões. O primeiro complexo de dinitrogênio, o cátion
O nitrogênio é essencial para o crescimento das plantas, pentaamin(dinitrogênio)rutênio(II), foi obtido em 1965, por
principalmente das folhas, já que ele é um constituinte meio da redução do tricloreto de rutênio com hidrazina.
dos aminoácidos e das proteínas, necessárias para a Subseqüentemente, outros métodos foram desenvolvidos,
produção de novas células. como por meio da substituição de um ligante lábil de um
FIXAÇAD de nitroeénio B47

POTENCIAIS DE REDUÇÃO PADRÃO (VOLT)

Solução ácida
Estado de oxidação
+V +IV +ni +n +1 0 -n -in
+ 1,03 -0,23
+0,96 ------------------------- ---------- -0,005
I +0.79
+ 1,07 +1,00 + 1,59 +1,77 -1.87 | • +1,41 I +1,28
no3-------- N2O4 ----------- HONO------------ - NO - n2o NHjOH H* -------- N2H; -------- nh;

Estado de oxidação
+0,94 __________ I I_________ +1,29
J -3,09 1----------- +1,35 —-------
I------- HN3 ------------- +0.70---------- —'I
+V +IV +m +n +i 0 -n in
-0,94 » +0,38 -0,50 -0.51 -0.1 o.o
H3PO4—H4P2O6 H3PO2 P PzK, ph3
'------------------- 0,28 ■
0,50 JL -0.065
+0,56 +0,25 -0.60
H3AsO4 — -------- H3AsO3 As AsH3
+0,68 +0,21 -0,51
Sb2O5 Sb2O4 SbO+ Sb SbHj
‘-------------- +0,58 l
+ 1,6 +0,32 -0.8
BiA BiO* Bi BiHj

Solução básica
Estado de oxidação
+V +TV +III +n +1 0 -II III

NOj
-0,86
N2O4
+0,88
no2
-0,46
NO-
+0,76
n2o
+0.94 r
- n2-
-3,04
-1.16

NH2OH
+0,73
1
N2ri,

+0,1
NHj
+0,01 JL +0,15 J L -1,05 I I +0,42
-1.12 -1,57 -2,05 -0,89
POt HPOj’ H2PO) P4 PH3
I____
* Sofre despropoprcionamento
-1.18
ÍJ
complexo por N2. Já foram obtidos complexos de dinitrogênio em larga escala como fertilizante nitrogenado, e como
com quase todos os elementos de transição. matéria-prima para preparação de compostos orgânicos como
a melamina.
[Ru(NH3)5H2O]2++N2 ----- Solução aquosa > [Ru (NH3)5N2)2 +
CaC2 + N2 ----- 1100'C
“°°c > CaNCN + C
A formação desse complexo de nitrogênio estável
CaNCN + 5H2O -> CaCO3 + 2NH4OH
motivou os estudos com outros metais. Os mais promissores
são os complexos de titânio (II): a redução de alcóxidos de
titânio fornece amônia ou hidrazina. Um ciclo completo de O processo Haber-Bosch
reações para fixar o nitrogênio atmosférico gerando NH3 já O processo industrial mais importante é o processo
íoi publicado: Haber-Bosch. Fritz Haber descobriu como combinar direta­
Tilv(OR)4
Na mente, em laboratório, N2 e H2. Ele recebeu o Prêmio Nobel
-Tin(OR)2 + 2NaOR
de Química de 1918. Carl Bosch foi um engenheiro químico
r*Ti(OR)2 [Ti(OR)2N2] que desenvolveu os equipamentos necessários para a
produção industrial de amônia aproveitando essa reação.
reduz Ele também recebeu o Prêmio Nobel de Química, mas em
[Ti(OR)2N2] (TiCOR)^]6-
1931, por suas pesquisas sobre reações a altas pressões.
+ 6H*
[TiíOR^NJ6- •2NH3 + [tí(ÕR)2 |
n N2 + 3H2 2NHj + calor
4 volumes 2 volumes
OU
reduz + 6H* A reação é reversível, e o princípio de Le Chatelier sugere
[Ti(OR)2N2] [Ti(OR)2N2]6- N2R,+ Tí(OR)2
que são necessárias altas pressões e baixas temperaturas
para deslocar o equilíbrio para a direita, formando assim o
0 Processo da Cianamida
NH3. A temperaturas menores a percentagem de conversão
A produção de cianamida de cálcio superou a marca é maior, mas a reação atinge o equilíbrio muito lentamente,
dos 1,3 milhões de t/ano e continua aumentando. Ela é usada sendo necessário um catalisador. Na prática, as condições
B48 05 ELEMENTOS 00 ERUPO 15

empregadas são 200 atmosferas de pressão, uma temperatura como a nitroglicerina, a nitrocelulose e o TNT. 0 HNOj
de 380-450 °C, e um catalisador de “ferro ativado”. É mais tem ainda muitas outras aplicações.
econômico usar uma temperatura mais elevada, mesmo que 2) Obtenção de caprolactama, que pode ser polimerizado
a percentagem de conversão em NH3 seja menor, pois o formando o náilon-6 (vide hidroxilamina).
equilíbrio será atingido mais rapidamente. A temperaturas
3) Preparação de hexametilenodiamina, empregada na
de cerca de 400 °C obtém-se uma conversão de 15%, com fabricação de náilon-66, de poliuretanas e de poliamidas.
apenas uma passagem pelo catalisador. A mistura gasosa é
esfriada para formar NH3 líquida, e a mistura dos gases N2 e 4) Fabricação de hidrazina e hidroxilamina.
H2 é reciclada. As instalações são feitas de uma liga de aço 5) A amônia líquida é muitas vezes usada como um meio
com Ni e Cr. alternativo conveniente e econômico de transportar
O catalisador é obtido fundindo-se Fe3O4 e KOH com “H2”, e, vez de transportá-lo em cilindros de aço com
um material refratário como MgO, SiO2, ou A12O3. O sólido gás H2 comprimido. O H2 é obtido a partir do NHj
assim obtido é quebrado em pequenos fragmentos e aquecendo-o na presença de um catalisador de Ni ou
introduzido no conversor de amônia, onde o Fe3O4 é Fe, finamente dividido.
reduzido, formando pequenos cristais de ferro dentro de uma 6) A amônia tem sido empregada como líquido
matriz refratária. Esse é o catalisador ativado. refrigerante. O líquido tem um calor de vaporização
muito elevado e pontos de ebulição e de fusão
As instalações reais são bem mais complicadas do que
adequados. Devido aos riscos ao meio ambiente
sugerido por essa reação em uma etapa, já que os gases N2
causados pelo uso dos freons em refrigeradores, o uso
e H2 devem ser obtidos antes de serem convertidos em NH3.
O preço do H2 é um dos principais fatores que influenciam o alternativo da NH3 pode aumentar.
custo do processo. Antigamente o H2 necessário era obtido O uso generalizado de nitratos como fertilizantes
pela eletrólise da água. Esse procedimento era caro. Por isso provocou um grande aumento nas colheitas. Como são
foi substituído por um método mais barato que utiliza coque solúveis, as águas que escorrem para os lagos e rios também
e água (gás d’água, gasogênio). Atualmente, o H2 é produzido contêm nitratos. Isso causa diversos problemas:
a partir de hidrocarbonetos (como petróleo ou CH4), D Provoca o crescimento anormal de algas e outras plantas
reagindo-os com vapor a 750 °C, na presença de um aquáticas, que podem obstruir rios e lagos, e tornar
catalisador de Ni. Todos os compostos de S devem ser verdejantes os bancos pantanosos existentes nos
removidos, pois envenenam o catalisador. estuários.
2) Há suspeitas de que a presença de nitratos na água
CH4 + 2H2O •=*=> CO2 + 4H2 potável é prejudicial, pois provocam uma doença nos
CH4 + H2O CO + 3H2 bebês denominado metemoglobinemia, que reduz a
Adiciona-se certa quantidade de ar a mistura de gases quantidade de oxigênio no sangue. Em casos extremos,
obtida. O oxigênio reage com parte do H2 até que a proporção isso provoca a “síndrome da doença azul". Também há
correta dos reagentes N2 e H2 de 1:3 seja alcançada. suspeitas de que os nitratos estejam relacionados ao
câncer de estômago. Por causa disso, alguns países
(4N2 + OJ + 2H2 -> 4N2 + 2H2O fixaram o limite de 25 ppm de nitratos na água potável.
ar
3) É possível que a desnitrificação produzindo óxidos de
0 CO também deve ser removido, pois envenena o nitrogênio, como o N2O, possa prejudicar a camada de
catalisador. ozônio.
CO + H20 == C02 + H2
URÉIA
Finalmente, o CO2 é removido utilizando-se uma solução A uréia é largamente empregada como fertilizante
concentrada de K2CO3 ou de etanolamina.
nitrogenado. Ela é muito solúvel e portanto de ação rápida,
A produção mundial de NH3 aumentou de cerca de 1 mas é também facilmente lixiviada pela água. Tem um
milhão de t/ano em 1950 para 110 milhões em 1992. Mesmo conteúdo muito elevado de nitrogênio (46%). A uréia é
assim não é o produto químico fabricado em maior obtida a partir da amônia, utilizando um processo em dois
quantidade em massa. Contudo, como o NH3 tem uma massa estágios:
molecular muito pequena, ela é a substância produzida em
160-200'C
maior quantidade em número de mol. Os maiores produtores 2NH3 +C02 T NH2COONH4 -> nh2 • CO ■ NH2+H,0
altas pressões carbamato uréia
são a União Soviética (27%), China (21%), EUA (18%), de amônia
Canadá (4%), Romênia (4%), Holanda e México (3% cada No solo, a uréia lentamente sofre hidrólise formando
um), Alemanha Ocidental, Polônia, Itália e Alemanha Ori­ carbonato de amônio.
ental (2% cada um).
NH2CONH2 + 2H2O (NH4)2CO3
Cerca de 75% da amônia são empregados como
fertilizantes (30% por aplicação direta do gás NH3 ou de
NH40H ao solo, 20% como NH4NO3, 15% como uréia, 10% FERTILIZANTES FOSFATADOS
como fosfato de amônio e 3% como (NH4)2SO4). Também é Rochas fosfáticas, como a fluorapatita, [3Ca3(PO4)2-CaF2],
utilizada na: são muito pouco solúveis e, portanto, não estão disponíveis
D Fabricação de HNO3, o qual pode ser usado na para as plantas. O “superfosfato” é preparado, tratando-se
preparação de NH4NO3 (fertilizante), ou explosivos as rochas fosfáticas com H2SO4 concentrado. 0 sal ácido
HALETOS B49

Ca(H2PO4)2 é mais solúvel e o superfosfato se dissolverá na Inúmeros complexos de metais de transição com
água do solo no período de algumas semanas. trifluorofosfina são conhecidos. Muitas das pesquisas a
respeito foram realizadas por J. Chatt e seu grupo na ICI.
[3Ca3 (PO4)2 ■ CaF2] + 7H2SO4-»3Ca(H2PO4)2 + 7CaSO4 + 2HF
superfosfato Embora a maioria dos trihaletos sejam obtidos a partir dos
elementos, o PF3 é obtido pela ação do CaF2 (ou outro
0 CaSO4 é um subproduto insolúvel sem valor para as fluoreto) sobre PC13. O PF3 é um gás incolor, inodoro e muito
plantas, mas não é removido do produto comercializado. tóxico, pois complexa a hemoglobina do sangue, impedindo
0 "superfosfato triplo" é fabricado de maneira seme­ o fornecimento de oxigênio ao organismo.
lhante, usando H3PO4 para evitar a formação do subproduto O NF3 apresenta uma pequena tendência de atuar como
CaSO4. molécula doadora. Essa molécula é tetraédrica, com um dos
(3Ca3(PO4)2-CaF2] + 14H3PO4 10Ca(H2PO4)2 + 2HF vértices ocupado pelo par não-ligante, sendo o ângulo de
superfosfato triplo ligação F-N-F igual a 102°30'. Contudo, o momento dipo-
lar é muito baixo (0,23 Debye) quando comparado com o
do NH3 (1,47 D). Os átomos de flúor altamente eletro-
HALETOS negativos atraem os elétrons, de modo que os momentos de
líihaletos dipolo das ligações N-F cancelam parcialmente o momento
Todos os tribaletos possíveis de N, P, As, Sb e Bi são do par isolado. Isso reduz tanto o momento dipolar como 0
conhecidos. Os compostos de nitrogênio são os menos poder doador do composto.
estáveis. Embora o NF3 seja estável, o NC13 é explosivo. Os trihaletos também possuem propriedades receptoras
Antigamente esse composto era empregado no alvejamento de elétrons e podem aceitar um par de elétrons de outro íon,
do trigo usado na confecção de pães brancos. Esse uso como o F", formando íons complexos como [SbFs]2' e
declinou rapidamente quando surgiram suspeitas de que o [Sb2F7]“. Reagem também com vários reagentes organo-
trigo alvejado dessa maneira era responsável pela insanidade metálicos formando compostos do tipo MR3.
provocada em cães! NBr3 e NI3 só são conhecidos na forma O trihaleto mais importante é o PCI3, do qual se
de seus amoniatos instáveis: NBr3(6NH3 e NI3(6NH3. Este produzem anualmente 250.000 t/ano, a partir dos elementos.
último pode ser preparado dissolvendo I2 em NH4OH 0,880 Parte do PC13 é utilizado para se obter PC1S.
M e explode na ausência de excesso de amônia. Recomenda-
se aos estudantes que não preparem esse composto. Os PCI3 + Cl2 (OU S2C12) PC15
demais 16 trihaletos são estáveis.
O PCI3 é muito usado na química orgânica para con­
Os trihaletos são predominantemente covalentes e têm verter ácidos carboxílicos em cloretos de acila, e álcoois em
uma estrutura tetraédrica com um dos vértices ocupado por haletos de alquila.
um par não-ligante, como o NH3. As exceções são o BiF3,
que é iônico, e os outros haletos de Bi, além do SbF3 que PC13 + 3RCOOH -> 3RCOC1 + H3PO3
apresenta um caráter intermediário. PCI3 + 3ROH —> 3RC1 + H3PO3
Os trihaletos prontamente se hidrolisam em água, mas
O PCI3 pode ser oxidado pelo O2 ou P4O10, formando
os produtos variam conforme o elemento:
oxicloreto de fósforo (cloreto de fosforüa), POC13.
NCI3 + 4H2O - NH4OH + 3H0C1
PCI3 + 3H2O > H3PO4 + 3HC1 2PCI3 + O2 -> 2POC13
AsCIj + 3H2O > H3ASO3 + 3HC1 6PCI3 + P4O10 + 6C12 -> IOPOCI3
SbClj + H2O^SbO+ + 3Cr + 2H +
O POCI3 é consumido em grandes quantidades na
BiClj + H2O->BiO + + 3CF + 2H +
fabricação de fosfatos de trialquila e triarila, (RO)3PO.
Também reagem com NH3. Por exemplo:
/OEt
PCI3 + 6NH3 —> P(NH2)3 + 3NH4C1 (fosfato de trietila)
O=PCl3 + 3EtOH O=P—OEt
NF3 se comporta diferentemente dos demais trihaletos. ^OEt
Ele é inerte, como o CF4, e não sofre hidrólise em água ou /O-CeHrCHj
ácidos e álcalis diluídos. Contudo, reage com vapor d'água O=PC13 + 3HO—C6H4—CHj -» O=P—O • CeH, • CH3
sob a ação de uma centelha. XOC6H,CH3
0 PF3 é bem menos reativo frente à água e seu manuseio (fosfato de tritolufla)
é mais fácil que dos demais trihaletos. Os trihaletos,
particularmente o PF3, podem atuar como moléculas Diversos desses fosfatos têm importância industrial:
doadoras de elétrons, utilizando o par de elétrons isolado D O fosfato de trietila é usado na fabricação de inseticidas
para formar uma ligação coordenada (p. ex. Ni(PF3)4). Além sistêmicos.
dessa ligação o, também são formadas ligações ir pela 2) O fosfato de tritolufla é um aditivo de combustíveis.
interação dos orbitais preenchidos do metal com um orbital 3) Os fosfatos de triarila e de trioctila são usados como
vazio do P, como nos complexos com CO. O Ni(PF3)4 pode plastificantes na obtenção de cloreto de polivinila (PVC).
ser obtido a partir do tetra(carbonil)níquel, Ni(CO)4.
4) O fosfato de tri-n-butila é usado nos processos de ex­
Ni(CO)4 + 4PF3 Ni(PF3)4 + 4CO trações com solventes.
250 □S ELEMENTOS □□ ERUPO 15

Pentahaletos num intervalo de vários milissegundos. Supõe-se que os


O nitrogênio não é capaz de formar pentahaletos, porque átomos de F axiais e equatoriais troquem suas posições num
a segunda camada eletrônica pode conter no máximo oito intervalo de tempo menor que o necessário para registrar 0
elétrons, isto é, quatro ligações. Os elementos subsequentes espectro de RMN. Essa troca entre as posições equatoriais e
têm orbitais d adequados, podendo formar os seguintes axial é denominada “pseudo-rotação”.
pentahaletos: O PF5 permanece covalente e mantém essa estrutura
também no estado sólido. Contudo, o PC15 se aproxima do
PFS PC15 PBrs Pis limite iônico-covalente, sendo covalente nos estados gasoso
AsF5 (AsC15) e líquido, mas iônico no estado sólido. O PC1S sólido é
SbF5 SbCl5
constituído por íons [PC14] + e [PC1S]', que possuem
BiFs
estruturas tetraédrica e octaédrica, respectivamente. 0 PBrs
O AsC15 é muito reativo e instável, subsistindo apenas sólido é formado por unidades [PBr4]+ Br', e 0 PI5 parece
por um breve período. 0 BiFs é muito reativo, e reage que se dissocia em solução formando os íons [PI4]+ e F.
explosivamente com água, formando 03 e F20. É capaz de O pentahaleto mais importante é o PCI5, obtido
oxidar UF4 a UF6, BrF3 a BrFs, e inserir átomos de flúor em borbulhando-se Cl2 numa solução de PC13 em CC14. A
hidrocarbonetos. produção mundial é de cerca de 20.000 t/ano. A hidrólise
Os pentahaletos são preparados como se segue: total dos pentahaletos fornece o ácido -ico correspondente.
Por exemplo, PC15 reage violentamente com água:
3PC1S + 5AsF3 3PFS + 5AsC13
PC13 + Cl2 (em CC14) PCIS PC15 + 4H2O -> H3PO4 - 5HC1
ácido fosfórico
2As2O3 + 10F2->4AsF5 + 3O2
2Sb2O3 + 10F2 —> 4SbFs + 3O2 Se quantidades equimolares forem utilizadas, a reação
2Bi + 5F2 -» 2BiFs é mais branda e gera o oxicloreto de fósforo, POC13:
Suas moléculas no estado gasoso exibem estrutura PC15 + h2o POC13 + 2HC1
bipirâmide trigonal (ver Fig. 14.7), como esperado a partir
da Teoria VSEPR para cinco pares de elétrons. O PC1S é usado na química orgânica para converter
A explicação para a estrutura das moléculas utilizando ácidos carboxílicos em cloretos de acila, e álcoois em cloretos
a teoria da ligação de valência é: de alquila.
3s 3p 3d PC15 + 4RCOOH 4RCOC1 + H3PO4 + HC1
Configuração eletrônica do
átomo de fósforo PC15 + 4ROH -> 4RC1 + H3PO4 + HC1
— estado fundamental
Reage com P4O10, formando POC13, e com S02, formando
cloreto de tionila, SOCI2.
Estado excitado
□ |t |t |t | |t | | | |
I__________ T__________ I
6PCI5 + P4O10 -> 10POC13
Cinco orbitais semipreenchidos
formam ligações a com cinco átomos, PC15 + SO2 -> POCI3 + SOC12
dando uma bipirâmide trigonal
A bipirâmide trigonal não é uma estrutura regular. A O PC15 também reage com NH4C1, gerando diversos
difração de elétrons no PF5 gasoso indica que alguns ângulos cloretos fosfonitrílicos poliméricos (vide adiante).
são de 90° e outros de 120°. Além disso, os comprimentos
das ligações P—F axiais são iguais a 1,58 A, enquanto que nPCls + nNH4Cl -» (NPC12)„ + 4nHCl
(compostos cíclicos: n = 3 a 8)
as equatoriais são iguais a 1,53 Â. Já estudos de ressonância
magnética nuclear sugerem que os cinco átomos de flúor e Cl4P-(NPCl2)n-NPCl3 (compostos em cadeia)
são equivalentes. Esse aparente paradoxo pode ser explicado
de maneira simples. A difração de elétrons fornece uma Apesar da existência dos pentahaletos, não se conhecem
imagem instantânea da molécula, enquanto que a hidretos do tipo MHS. Para se chegar ao estado de valência
espectroscopia RMN fornece uma imagem que é a média cinco, é necessário utilizar orbitais d. O hidrogênio não é
suficientemente eletronegativo para provocar uma contração
suficiente dos orbitais d; contudo, compostos como PHF4 e
PH2F3 já foram isolados.

ÓXIDOS DE NITROGÊNIO
Todos os óxidos e oxo-ácidos de nitrogênio apresentam
ligações múltiplas pn-pn entre os átomos de nitrogênio e
oxigênio. Isso não ocorre com os elementos mais pesados
do grupo. Conseqüentemente, o nitrogênio forma uma série
de compostos que não tem análogos de P, As, Sb ou Bi. O
Figura 14.7 — Estrutura do pentacloreto de fósforo gasoso nitrogênio forma uma enorme variedade de óxidos, nos quais
ÚXIDOS DE NITROGÊNIO 251

Óxido nítrico NO
Tabela 14.8 — Óxidos de nitrogênio
O NO é um gás incolor, sendo um importante
Fórmula Número de Nome intermediário na fabricação do ácido nítrico pela oxidação
oxidação catalítica da amônia (processo Ostwald). Também foi
importante no processo Birkeland-Eyde (atualmente
n2o +1 Óxido nitroso obsoleto), que envolvia a reação entre nitrogênio e oxigênio
NO +n Óxido nítrico sob a ação de uma faísca elétrica. No laboratório, o NO é
N2O3 +iii Sesquióxido de nitrogênio preparado pela redução de HNO3 diluído com Cu, ou pela
no2,n2o4 +rv Dióxido de nitrogênio, redução de HNO2 com I":
tetróxido de dinitrogênio
N2O5 +v Pentóxido de dinitrogênio 3Cu + 8HNO3->2NO + 3Cu(NO3)2 + 4H2O
(NOj, N2O6) +vi Trióxido de nitrogênio 2HNO2 + 2F + 2H+ —> 2NO + I2 + 2H2O
(muito instável) hexóxido de dinitrogênio
NO é um óxido neutro, não sendo o anidrido de nenhum
ácido.
O NO possui 11 elétrons de valência. Logo, é impossível
o estado de oxidação do nitrogênio pode variar de (+1) a que todos estejam emparelhados, pois a molécula possui
(+VI]. Os óxidos inferiores são neutros e os superiores são um número ímpar de elétrons, e esse gás é paramagnético.
ácidos (Tab. 14.8). Nos estados líquido e sólido é diamagnético, porque se
dimeriza formando O-N-N-O. O dímero assimétrico O-N-
Óxido nitroso N2O O-N já foi observado na forma de um sólido vermelho, na
presença de HC1 ou outros ácidos de Lewis.
0 N2O é um gás estável e pouco reativo. É preparado
pela cuidadosa decomposição térmica de nitrato de amônio O comprimento da ligação N-O é de 1,15 A, interme­
fundido, a cerca de 280 °C, pois explode quando aquecido diário entre o de uma ligação dupla e uma tripla. A melhor
fortemente. O N2O também pode ser obtido aquecendo-se maneira de se descrever as ligações é usando a teoria de
uma solução de NH4NO3 acidificada com HC1. orbitais moleculares (vide Capítulo 4). As ligações são
semelhantes àquelas encontradas no N2 e no CO, que
NH4NO3 -> N2O + 2H2O possuem 10 elétrons de valência. O NO possui 11 elétrons
externos, e o elétron adicional desemparelhado ocupa um
N20 é um óxido neutro e não forma ácido hiponitroso, orbital antiligante n*2p. Isso reduz a ordem de ligação de 3
H2N2O2> com água, nem hiponitritos com álcalis. É no N2 para 2,5 no NO. Se esse elétron for removido oxidando-
importante na obtenção de azoteto de sódio, e consequen­ se o NO, forma-se o íon nitrosônio, NO + . No nitrosônio a
temente de outros azotetos: ordem de ligação é 3, e o comprimento da ligação N-O
diminui de 1,15 A no NO para 1,06 Â no NO + .
N2O + 2NaNH2 NaNj + NH3 + NaOH Moléculas com número ímpar de elétrons são geral­
0 principal uso do N2O é como propelente em sorvetes. mente muito reativos e tendem a dimerizar. O NO é
incomumente estável para uma molécula desse tipo. Mesmo
Como é inodoro, insípido e não tóxico, satisfaz as rígidas
assim, reage instantaneamente com oxigênio formando NO2,
exigências da legislação adotada para os alimentos.
e com os halogênios formando haletos de nitrosila, por
0 N2O é usado como anestésico, principalmente por exemplo NOC1.
dentistas. É conhecido como “gás hilariante", porque a
inalação de pequenas quantidades desse composto provoca 2NO + O2 2NO2
euforia. É necessário uma pressão parcial de 760 mm Hg de 2NO + Cl2 2NOC1
N20 para anestesiar completamente um paciente. Logo, caso
O NO prontamente forma compostos de coordenação
oxigênio também seja fornecido, o paciente pode não estar
com íons de metais de transição. Esses complexos são
totalmente inconsciente. Na ausência prolongada de oxigênio
denominados nitrosilas. A reação de Fe2+ e NO forma o
ocorrerá a morte do paciente. O N2O é inadequado para
complexo [Fe(H2O)sNO]2 + , responsável pela cor marron no
intervenções mais prolongadas. Geralmente, emprega-se o
“teste do anel” na análise qualitativa de nitratos. A maioria
N20 para “adormecer" o paciente e O2 é administrado para dos complexos de nitrosila são coloridos. Outro exemplo é o
que recupere a consciência. nitroprussiato de sódio, Na2[Fe(CN)5NO] -2H2O. O NO atua
A molécula é linear, como é de se esperar para uma frequentemente como um doador de três elétrons, em
molécula triatômica com 16 elétrons externos (vide também contraste com a maioria dos ligantes que doam dois elétrons.
oNjeoCOJ. Contudo, o CO2 é simétrico (O-C-O), enquanto Assim, três ligantes CO podem ser substituídos por dois NO's:
que no N2O as energias dos orbitais favorecem a formação
da molécula assimétrica N-N-O, em detrimento da molécula [Fe(CO)s] + 2NO —* [Fe(CO)2(NO)2] + 3CO
simétrica N-O-N. As ligações são curtas, e as ordens das [Cr(CO)6] + 4NO -» [Cr(NO)4] + 6CO
ligações foram calculadas como sendo 2,73 A para a ligação Nesses complexos a ligação M-N-0 é linear, ou quase li­
N-N e 1,61 A para a ligação N-O. near. Contudo, em 1968, verificou-se que o ângulo M-N-0
J.J 1.126 A J.J 1,186 A Q no complexo [Ir(CO)(Cl)(PPh3)(NO)]+ é de 123°, e desde
ese □S ELEMENTOS □□ ERUPD 15

então foram descobertos diversos outros complexos nos quais


2NO2 N2O4
aquele ângulo varia de 120° a 130°. Tais ligações angulares, paramagnético diamagnético
mais fracas que as lineares, são de considerável interesse castanho incolor
teórico. O NO também pode atuar como um ligante ponte O N2O4 é um anidrido misto, porque reage com a água
entre dois ou três átomos de metal, analogamente ao CO. formando uma mistura de ácido nítrico e nitroso:
n2o4 + h2o HNO3 + HNO2
Sesquióxido de nitrogênio N2O3
O N2O3 só é estável a baixas temperaturas. Pode ser 0 HNO2 formado se decompõe, liberando NO.
obtido pela condensação de quantidades eqüimolares de NO 2HNO2 -» NO2 + NO + H2O
e NO2, ou pela reação de NO com uma quantidade apropriada 2NO2 + H2O HNO3 + HNO2
de O2. É um líquido ou sólido azul, instável, que se dissocia
em NO e NO2 a -30 °C. Os gases NO2 e N2O4 são fortemente ácidos quando
úmidos.
NO + NO2 -» N2O3
4NO + O2 -» 2N2O3 A molécula de NO2 é angular, com um ângulo O-N-0
de 132°. O comprimento da ligação N-0 de 1,20 A, é
É um óxido ácido, sendo o anidrido do ácido nitroso, intermediário entre uma ligação simples e uma dupla. Os
HNO2. Forma nitritos quando reage com álcalis. estudos utilizando difração de raios X, de amostras de N20f
sólido, indicam que a molécula é plana.
N2O3 + H2O —» 2HNO2
N2O3 + NaOH -> 2NaNO2 + H2O O O
\ 1,64 A /
O N2O3 reage com ácidos concentrados formando sais N------ N
de nitrosila: / \
O O
N2O3 + 2HC1O4 -> 2NO[C1O4] + H2O A ligação N-N é muito longa (1,64 A), e portanto
N2O3 + 2H2SO4 —> 2NO[HSO4] + H2O bastante fraca. Ela é mais longa que a ligação simples N-N
no N2H4 (1,47 A), mas não há uma explicação satisfatória
O óxido pode ser obtido em duas formas diferentes, para esse fato.
simétrica e assimétrica, as quais podem ser interconvertidas
sob ação de luz de determinados comprimentos de onda. O O N2O4 líquido pode ser utilizado como solvente não-
comprimento da ligação N-N é de 1,864 A na forma aquoso. Ele sofre auto-ionização:
assimétrica. É uma ligação excepcionalmente longa, e N2O4 NO+ + NOJ
portanto muito fraca comparada com a ligação N-N ácido base
encontrada na hidrazina (comprimento = 1,45 A). Em N2O4, substâncias contendo NO+ são ácidos e
O O aqueles contendo NOJ são bases. Uma reação ácido-base
\\ // típica é:
N---- N O=N N=O
w \ / NOC1 + NH4NO3 -> NH4C1 + N2O4
o O ácido base sal solvente
forma assimétrica forma simétrica
(apresenta um eixo de rotação de ordem 2) O N2O4 líquido é particularmente útil como solvente
para preparar nitratos metálicos anidros e, também,
Dióxido de nitrogênio NO2 e tetróxido de complexos com o íon nitrato.
dinitrogênio N2O4
O NO2 é um gás tóxico castanho avermelhado, produ­ ZnCl2 + N2O4 -» Zn(NO3)2 + 2NOC1
zido em larga escala por oxidação do NO no processo Ostwald TiBr„ + N2O4 Ti(NO3)4 + 4NO + 2I2
para obtenção do ácido nítrico. No laboratório, é preparado A mistura NO2-N2O4 se comporta como um agente
aquecendo-se nitrato de chumbo: oxidante forte, sendo capaz de oxidar HC1 a Cl2 e CO a C02.
Além disso, o NO2 reage com flúor e cloro, formando fluoreto
2Pb(NO3)2 2PbO + 4NO2 + O2
e cloreto de nitroíla: NO2F e NO2C1, respectivamente.
Os produtos gasosos 02 e NO2 sâo passados através de
um tubo em U esfriado com gelo. O NO2 (P.E. 21 °C) conden­ 2NO2 + F2 —» 2NO2F
sa. O Pb(NO3)2 deve ser cuidadosamente seco porque o NO2 2NO2 + Cl2 -» 2NO2C1
2NO2 + 4HC1 -> 2NOC1 + Cl2 + 2H2O
reage com a água. O NO2 é obtido na forma de um líquido
castanho, que se torna mais pálido com a diminuição da NO2 + CO —> CO2 + NO
temperatura, transformando-se finalmente num sólido inco­
lor. Isso ocorre porque o NO2 se dimeriza gerando o N2O4 Pentóxido de dinitrogênio N2OS
incolor. NO2 é uma molécula com número ímpar de elétrons, O N2O5 é preparado pela desidratação cuidadosa de
sendo paramagnética e muito reativa. Os elétrons desempare- HNO3 com P2O5, a baixas temperaturas. Trata-se de um sólido
Ihados do monômero são emparelhados quando se forma o incolor deliqüescente, altamente reativo e sensível à luz. É
dímero N2O4. Portanto, esse composto é diamagnético. um forte agente oxidante. É o anidrido do HNO3.
□XIÁC1DO5 DO NtlROSÊNID 253

N2Os + H2O 2HNO3 bactérias, particularmente o Clostridium botulinum,


N2Os + Na NaNO3 + NO2 responsável pelo botulismo (uma forma bastante grave de
N2O5 + NaCl NaNO3 + NO2C1 intoxicação alimentar). A decomposição redutiva do NO2
N2O5 + 3H2SO4—»H3O + 2NO2+ + 3HSOJ libera NO, que forma um complexo vermelho com a
hemoglobina, melhorando o aspecto da carne. Há suspeitas
No estado gasoso, o N2OS se decompõe em NO2, NO e de que durante o cozimento dessas cames os nitritos reajam
02.0 trióxido de nitrogênio, NO3, pode ser formado tratando- com as aminas gerando nitrosaminas, R2N-N = O, tidas como
se N2O5 com O3. cancerígenas. Com certeza, aminas alifáticas secundárias e
Os estudos de difração de raios X indicam que o N2O5 terciárias formam nitrosaminas com os nitritos:
sólido é iônico, sendo constituído por unidades NO2+ NO3:
na realidade deveria chamar-se nitrato de nitrônio. Porém, Et2NH + HNO2 -» Et2NNO + H2O
comporta-se como uma molécula covalente quando em Et3N + HNO2 -> [Et3NH] [NO2] —calor
2^—> Et2NNO + EtOH
solução e estado gasoso. A estrutura mais provável é
mostrada abaixo: O íon nitrito é um bom ligante, formando muitos
compostos de coordenação. Como tanto o N como o O
O O
possuem pares de elétrons não-ligantes, ambos podem
\ / formar a ligação coordenada. Isso leva a formação dos
N—O—N
/ \ isômeros nitro (M(NO2) e nitrito (M(ONO), por exemplo,
O O [Co(NH5)s(NO2)]2'f e (Co(NH3)5(ONO)]2 + . Esse aspecto foi
discutido no Capítulo 7, no item “Isomeria”. Se uma solução
de íons Co2 + for tratada com NO2, inicialmente os íons Co2 +
são oxidados a Co3 + , e em seguida formam o complexo
OXIÁCIDOS DO NITROGÊNIO [Co(NO2)6]3". A precipitação de cobaltinitrito de potássio,
Ácido nitroso HNO2 K3[Co(N02)6], é usada para determinar qualitativamente a
0 ácido nitroso só é estável em soluções diluídas. Pode presença de íons K + . O íon NO2" pode atuar como ligante
ser facilmente obtido acidificando-se a solução de um nitrito. quelante e ligar-se ao mesmo metal por dois átomos, ou
Frequentemente usa-se a reação de nitrito de bário, Ba(NO2)2, atuar como um ligante ponte entre dois átomos metálicos.
com H2SO4, dado que o BaSO4 é insolúvel e pode ser facil­ O NO2 tem uma estrutura trigonal planar. O N se
mente removido por filtração. encontra no centro, dois vértices são ocupados por átomos
de O e o terceiro vértice é ocupado por um par isolado. Uma
Ba(NO2)2 + H2SO4 2HNO2 + BaSO4 ligação tricentrada envolve o átomo de N e os dois de O, e a
ordem das ligações N-O é 1,5. O comprimento da ligação
Os nitritos dos metais do Grupo 1 podem ser obtidos
N-O está entre o de uma ligação simples e uma dupla
aquecendo-se os nitratos correspondentes, diretamente ou
(maiores detalhes foram apresentados no Capítulo 4, no
na presença de Pb.
tópico “Exemplos da aplicação da teoria dos orbitais
calor moleculares no caso de ligações ( deslocalizadas").
2NaNO3 - -> 2NaNO2 + O2
NaNOj + Pb ■2ÍS—» NaNO2 + PbO
Ácido nítrico HNO3
O ácido nitroso e os nitritos são agentes oxidantes fracos, O HNO3 é o oxoácido de nitrogênio mais importante
mas são capazes de oxidar Fe2+ a FeJt el'a I2, sendo (os três ácidos de uso industrial mais importantes, em ordem
reduzidos a N2O ou NO. Contudo, o HNO2 e os nitritos são de tonelagem produzida, são 1) H2SO4, 2) HNO3 e 3) HC1).
oxidados pelo KMnO4 e Cl2 formando nitratos, NO3. O ácido nítrico puro é um líquido incolor, mas quando
Grandes quantidades de nitritos são utilizados na exposto à luz adquire coloração castanha, devido a sua
obtenção de diazocompostos, que por sua vez são conver­ fotodecomposição em NO2 e O2.
tidos em corantes e produtos farmacêuticos.
4HNO3-^4NO2 + O2 + 2H2O
PhNH2 + HNO2 PhN2Cl + 2H2O
cloreto de fenil-diazônio Trata-se de um ácido forte e se encontra totalmente
dissociado nos íons H3O+ e NO3 quando em solução aquosa
Os nitritos são importantes na obtenção de hidroxi- diluída. Forma um grande número de sais muito solúveis
lamina: em água, denominados nitratos.
O íon NO3 é trigonal planar, como o íon CO2". Os ele­
NH4NO2 + NH4HSO3 + SO2 + 2H2O -»
mentos mais pesados de ambos os grupos formam íons te-
[NH3OH]+HSO4" + (NH4)2SO4
traédricos derivados de oxoácidos, tais como PO4‘ e SiO4".
0 nitrito de sódio é usado como aditivo de alimentos, Essa diferença provavelmente se deve ao pequeno tamanho
como carnes industrializadas, salsichas, bacon e congêneres. dos átomos de N e C e o limite de oito elétrons nas respectivas
Embora seja um aditivo legalmente permitido, seu uso é camadas de valência.
discutível. O NaNO2 é ligeiramente tóxico. O limite de O ácido nítrico é um excelente oxidante, principalmente
tolerância para o homem é de 5 a 10 g por dia, dependendo quando concentrado e a quente. Os íons H + são oxidantes,
do peso do indivíduo. O íon NO2 inibe o crescimento de mas os íons NO3 são oxidantes ainda mais fortes quando
B54 05 ELEMENTOS □□ BRUPO 15

em solução ácida. Por isso, metais insolúveis em HC1, como


o cobre e a prata, dissolvem-se em HN03. Alguns metais, -H20
HNO3 no2+
como o ouro, são insolúveis mesmo em HN03, mas se
dissolvem em água régia: uma mistura de 25% de HN03
concentrado e 75% de HC1 concentrado. Sua maior capacida­ redução
NO2+
de de dissolver metais se deve ao poder oxidante do HNO3
associado ao poder do Cl" de complexar os íons metálicos.
O HN03 era obtido a partir de NaN03 ou KNO3 e H2SO4 Benzeno Nitrobenzeno Anilina (uso
na indústria
concentrado. O primeiro método sintético foi o processo de corantes)
Birkeland-Eyde. Nesse processo, a reação entre N2 e O2 ocorre
num forno de arco elétrico, sendo o gás resultante recolhido
em água. O processo foi usado pela primeira vez na Noruega o2n N02
no2+
em 1903, mas atualmente está obsoleto, por causa do elevado
custo da energia elétrica. Tolueno
Trinitrotolueno
centelha + 02 Hp 4 4HNO3 NO2 (usado como explosivo)
n2 + 02 4 NO N02

O processo Ostwald se baseia na oxidação catalítica da Figura 14.8 — Nitração do benzeno e do tolueno
amônia a NO, seguida da oxidação do NO a NO2 e a reação
deste último com água para formar o HN03. A primeira de toneladas em 1991, mas a produção real deve ter sido
unidade industrial a utilizar esse método foi construída na
maior.
Alemanha em 1908, e Ostwald recebeu o Prêmio Nobel de
Química em 1909. O método de Ostwald ainda é empregado O HNO3 é usado para oxidar misturas de cilohexano!/
para produzir cerca de 24.7 milhões de toneladas/ano de ciclohexanona a ácido adípico. Este reage com hexametile-
HN03. A reação global é: nodiamina, gerando o polímero conhecido como náilon-66).
catalizador de Pt/Rh
4NH3(g) + 5O2(g) l.aUnosíeras.SSO-C ) 4NOfe) + OH COOH NH2
I
HNO,
“(ÇH2)„ (ÇH2)6 —
O NO e o ar são resfriados e a mistura de gases é ciclohexanol
absorvida pela água em contracorrente. ou COOH nh2
o ácido adípico hexametilenodiamina
► 2NO(g) + O2(gj 2NO2(g)
2NO2(g) + H2O(d -> HN03 + HNO2 -CO[NH(CH2)6NH • CO(CH2)4 ■ CO]„NH-
ciclohexanona náilon-66
2HNO2 -» H2O + NO2 + NO-i
3NO2 + H2O -» 2HNO3 + NO-------

reação global
NH3 + 2O2 HNO3 + H20 o2n no2

0 processo possibilita a obtenção de uma solução de


HNO3 de concentração 60% em peso. A destilação aumenta
essa concentração somente até 68%, pois se forma uma
mistura de ponto de ebulição constante. O HNO3 “concen­ NO2 NO2
trado" contendo 98% de ácido é obtido por meio da Metil-2,4,6- trinitrobenzeno 2,4,6-trinitrofenol
desidratação com ácido sulfúrico concentrado, ou mistura (trinitrotolueno.TNT) (ácido pícrico)
com uma solução de nitrato de magnésio a 72 %, seguida de
destilação.
Quando o ácido nítrico é misturado com ácido sulfúrico CH2 ■0- NOj
concentrado, ocorre a formação do íon nitrônio, NO2+. Essa CH2ONO2

I
jo
é a espécie ativa nas reações de nitração de compostos
orgânicos aromáticos. Essa é uma etapa importante na
o- CH 0- NO,
fabricação de explosivos. Os nitrocompostos também podem
ser reduzidos, gerando anilinas e serem usados na fabricação
H ONO2 ch2 O- N0:
de corantes [Fig. 14.8).
Os nitratos covalentes são menos estáveis que os nitratos n Propanol-1,2,3-
iônicos (esse comportamento é semelhante ao dos azotetos). Nitrato de celulose tril-trinitrato
Nitroglicerina, nitrocelulose, trinitrotolueno (TNT) e nitrato (nitrocelulose,algodão, pólvora) (nitroglicerina)
de flúor (FNO3) são todos explosivos (Fig. 14.9)..
A produção mundial de explosivos foi de 2,5 milhões Figura 14.9 — Alguns explosivos
ÚXIDOS DE FÓSFORO. ARSÊNIO E BISMUTO 255

O HNO3 também é usado para oxidar o p-xileno a ácido


tereftálico, utilizado na fabricação do tergal.
O íon nitrato tem estrutura trigonal planar. Os três
átomos de oxigênio são equivalentes. Além das ligações o,
orbitais moleculares n quadricentrados envolvem o átomo
de N e os três átomos de O. A ordem de cada uma das ligações
N-0 é l‘/3: 1 da ligação a e 1/3 da ligação rc (essa estrutura
foi descrita mais detalhadamente no Capítulo 4, no item
"Exemplos da aplicação da teoria dos orbitais moleculares
no caso de ligações n deslocalizadas”).
Figura 14.10 — Estrutura do trióxido de fósforo, P„O6
A redução de nitratos em meio ácido fornece NO2 ou
NO, mas a redução com metais, como a liga de Devarda
(Cu/Al/Zn), em meio alcalino leva a formação de NH3. destilação (os óxidos superiores são formados quando se
utiliza um excesso de oxigênio). O P4O6 queima ao ar
ácido diluído, < 1 M
3Cu + 8HNO3 - !—> 2NO + Cu(NO3)2 + 4H2O formando P4O10.
ácido mais forte
Cu+3HNO3 + NO2 + Cu(NO3)2 + H2O P4O6 + 2O2 P4O10
Liga de Devarda (
(Cu/Al/Zn) + NaOH -> H
NO3- + 9H(—>NH3 + 3H2O As4O6 e Sb4O6 são obtidos pela combustão dos metais
NO2- + 7H NH3 + 2H2O ao ar ou em atmosfera de oxigênio, já que esses elementos
no3 no2 NO NH3 apresentam uma menor tendência de formar os óxidos
estados de oxidação do N (+ V) ( + IV) ( + 11) (-III) superiores. O As4O6 também pode ser obtido pelo
aquecimento de minerais como As4S4 (realgar) ou As2S3
ÓXIDOS DE FÓSFORO, ARSÊNIO E (orpimento), na presença de ar. Tanto o As4O6 como o Sb4O6
são muito tóxicos. O Bi2O3 não é um dímero como os demais
BISMUTO óxidos.
Os óxidos dos demais elementos desse Grupo são A basicidade dos óxidos e hidróxidos normalmente
mostrados na Tabela 14.9. Esses elementos formam menos aumenta quando se desce por um grupo. O P4O6 é ácido e
óxidos que 0 nitrogênio, provavelmente devido a sofre hidrólise em água, formando ácido fosforoso (maiores
incapacidade dos mesmos de formar ligações duplas pn-pn. detalhes serão vistos adiante). O óxido arsenioso As4O6 é
pouco solúvel e o Sb4O6 é insolúvel em água. As4O6 e Sb4O6
Tíióxidos são ambos anfóteros, pois reagem com álcalis, formando
arsenitos e anúmonitos, e com HC1 concentrado, formando
0 trióxido de fósforo é dimérico e deveria ser tricloretos de arsênio e de antimônio. No passado, vários
representado como P4O6, e não como P2O3. O P4O6 possui arsenitos de cobre foram usados como pigmentos verdes
quatro átomos de fósforo nos vértices de um tetraedro, com brilhantes. O mais conhecido é o verde de Scheele, Cu2As2O5,
seis átomos de oxigênio situados ao longo das arestas. Logo, e o verde de Paris, [(CH3COO)Cu2(AsO3)]. Atualmente, são
cada 0 está ligado a dois átomos de fósforo. As estruturas raramente usados por serem tóxicos. Além disso, bactérias
do As4O6 e do Sb4O6 são semelhantes. O Bi2O3 é iônico. A e fungos podem produzir substâncias voláteis tóxicas, como
estrutura do P4O6 é mostrada na Fig. 14.10. Como os ângulos AsH3 e As(CH3)3, quando em ambientes úmidos. O Bi2O3 é
P-O-P são iguais a 127°, a rigor, os átomos de O se situam um óxido básico.
acima das arestas, mas é conveniente representá-los como
se estivessem situados nas arestas. P4O6 + 6H2O -> 4H3PO3
Como o fósforo amarelo é mais reativo que o N2, todos As4O6 + 12NaOH -» 4Na3AsO3 + 6H2O
os óxidos de fósforo (ao contrário dos óxidos de nitrogênio) As4O6 + 12HC1 -> 4AsC13 + 6H2O
podem ser obtidos pela combustão do fósforo no ar.
quantidade limitada de ar
Pentóxidos
P4 + 3O2 ■> PA O pentóxido de fósforo é o óxido mais importante desse
elemento. É um dímero, de fórmula P4O10, e não P2O5. Sua
P4O6 é um sólido branco mole (P.F. 24 °C, P.E. 175 °C),
estrutura se assemelha ao do P4O6. Cada átomo de P no
obtido pela reação do fósforo com uma quantidade limitada
P4O6 forma três ligações com átomos de oxigênio. Existem
de ar. Ele é removido da mistura reacional e purificado por
cinco elétrons na camada de valência do fósforo. Três deles
foram utilizados nessas ligações e os outros dois formam
Tabela 14.9 — Óxidos e seus estados de oxidação um par isolado, apontado para fora, em cada um dos vértices
da unidade tetraédrica. No P4O10, o par isolado dos quatro
PA m As4O6 III Sb4O6 III BijOj III átomos de fósforo forma uma ligação coordenada com um
p4o, m V (Sbo2)„ rn v átomo de oxigênio (Fig. 14.11a).
PA m V Os comprimentos das ligações P-0 em ponte nas arestas
PA ni V é de 1,60 A, mas os comprimentos das ligações coordenadas
PAo V As4O]0 V Sb4Ol0 V nos vértices são de 1,43 Â. As ligações em pontes são
B56 OS ELEMENTOS DO GRUPO 15

semelhantes àquelas encontradas no P4O6 (1,65 A) e são p4o10 + 6H2O 4H3PO4


ligações simples normais. As ligações nos vértices são mais
curtas, sendo de fato ligações duplas. A natureza dessas O P4O]Q reage com álcoois e éteres, formando ésteres
ligações duplas é diferente das ligações duplas "normais” do tipo fosfato (a relação destes ésteres com o ácido fosfórico
como do eteno, decorrente da interação pn-pn e o aparece quando se representa o H3PO4 como O = P(OH)3).
compartilhamento de um elétron de cada átomo de carbono.
A segunda ligação P = O é formada por uma interação de P4O10 + 6EtOH -> 20 = P(OEt) (0H)2 + 20 = P(OEt)2(OH)
retrodoação pn-dtt. Um orbital p preenchido do átomo de O P4O10 + 6Et2O -> 40 = P(OEt)3
interage lateralmente com um orbital d vazio do átomo de O As4O10 dissolve-se lentamente em água formando
P. Por isso, essa dupla ligação difere da ligação dupla no ácido arsênico, H3AsO4. Este é um ácido tribásico, muito
eteno em dois aspectos: mais forte que o ácido arsenioso. Sais como o arsenato de
1) Um orbital p interage com um orbital d, e não com um chumbo, PbHAsO4, e arsenato de cálcio, Ca3(AsO4)2, são
outro orbital p. usados como inseticidas contra gafanhotos, gorgulhos de
2) Ambos os elétrons provém do mesmo átomo, e portanto algodão e mariposas de frutas. Sb4O10 é insolúvel em águae
a ligação é “dativa”. não forma o ácido antimônico. Contudo, os antimoniatos
contendo o íon [Sb(OH)6]“ são conhecidos.
Um tipo semelhante de ligação dativa ocorre nas
carbonilas. O Bi não forma o pentóxido, evidenciando que a
estabilidade do estado de oxidação mais elevado decresce
O As4O10 tem estrutura semelhante a do P^io na fase
de cima para baixo dentro do Grupo. A tendência geral, de
gasosa. Contudo, o cristal contém um número equivalente
que os estados de oxidação mais elevados são mais ácidos,
de tetraedros [ AsO4] e octaedros [AsO6], ligados entre si pelo
compartilhamento dos vértices. O As4O10 é um agente também é observada nesse Grupo.
oxidante forte e oxida HC1 a Cl2. É deliqüescente e muito
solúvel em água. Outros óxidos
P4O10 é obtido pela combustão de P com excesso de ar Os óxidos P4O7, P4O8 e P4O9 são muito raros. Esses
ou oxigênio puro, mas o As e o Sb requerem condições de óxidos contêm átomos de P nos estados de oxidação (+ III)
oxidação mais drásticas para formar os respectivos e ( + IV). A melhor maneira de se obter o P4O7, é reagindo
pentóxidos, por exemplo a reação com HN03 concentrado. P4O6 dissolvido em tetrahidrofurano com a quantidade
As4O10 e Sb4O10, liberam oxigênio quando aquecidos, correta de oxigênio. O aquecimento de P4O6 num tubo
formando os trióxidos. fechado, sob vácuo, fornece uma mistura de fósforo vermelho
0 P4O10 absorve a água do ar ou de outros compostos, com os óxidos P4O7, P4O8 e P4O9. Esses óxidos apresentam
tornando-se pegajoso. Por causa dessa grande afinidade por estruturas intermediárias entre as do P4O6 e P4O10, por terem
água, o P4O10 é usado como agente secante. P4O10 finamente um, dois ou três átomos de oxigênio apicais ligados aos
dividido é muitas vezes espalhado sobre lã de vidro e usado átomos de P nos vértices. Assim, a hidrólise desses
como agente secante. Tem-se assim uma superfície ativa compostos em água fornece uma mistura de oxoácidos com
muito grande, que não facilmente é recoberta pelos produtos o fósforo nos dois estados de oxidação, ou seja ácido
sólidos resultantes da hidrólise. O P4O10 reage violentamente fosfóríco, P (+ V), e ácido fosforoso, P (+ III).
com água formando ácido fosfóríco, H3PO4. 0 principal uso
do P4O10 é a fabricação de H3PO4 através dessa reação. Pfi, +Hfl
■> H3PO4 + H3PO3
P4O9 ácido ácido
ortofosfórico ortofosforoso

OXOÁCIDOS DE FÓSFORO
0 fósforo forma duas séries de oxoácidos:
1) A série dos ácidos fosfórícos, nos quais 0 estado de
oxidação do fósforo é ( +V), e cujos componentes têm
propriedades oxidantes.
2) A série dos ácidos fosforosos, nos quais o P apresenta
estado de oxidação (+ III), e cujos componentes são
agentes redutores.
Em todos esses ácidos 0 P é tetracoordenado e
tetraédrico, sempre que possível. Interações de retrodoação
pn-dn dão origem as ligações P = O. Os átomos de hidrogênio
dos grupos OH são ionizáveis e ácidos, mas as ligações P-H
encontradas nos ácidos fosforosos apresentam propriedades
redutoras e não ácidas. Os íons fosfato simples podem
Figura 14.11 — Estrutura do pentóxido de fósforo, P4OJ0. a) formação polimerizar-se, levando à formação de uma vasta gama de
das ligações a, b) orbitais envolvendo as ligações dativas. isopoliácidos e seus respectivos sais.
A SÉRIE DOS ÁCIDOS FOSFÚRICOS B57

A SÉRIE DOS ÁCIDOS FOSFÓRICOS Mg2“ + NH( + POi ^» MgNH4PO4


Ácidos ortofosfóricos 2MgNH4PO4 -> Mg2P2O7 + 2NH3 + H2O
0 ácido ortofosfórico mais simples é o ácido orto­ Grandes quantidades de ácido ortofosfórico de baixa
fosfórico, H3PO4 (Fig. 14.12). Esse ácido contém três átomos pureza são preparados, tratando-se rochas fosfáticas com
de H ionizáveis, sendo tribásico. Sua dissociação ocorre em H2SO4. Esse é o “processo por via úmida". O CaSO4 é
etapas: hidratado formando gesso (CaSO4 • 2H2O), que é separado
H3PO4^H+ + H2POJ Kal = 7,5xl0-3 por filtração, eoFé transformado em Na2[SiF6] eremovido.
H2PC>4 =*= H+ + HPO4" Ka2 = 6,2xl0-8 O H3PO4 obtido é concentrado por evaporação. A maior parte
HPOj- — H+ + PO|’ Ka3 = l.OxlO'1’ do H3PO4 obtido dessa maneira é utilizada na fabricação de
fertilizantes.
Três séries de sais podem ser formadas:
D Dihidrogenofosfatos, por exemplo dihidrogenofosfato Ca3(PO4)2 + 3H2SO4- 2H3PO4 + 3CaSO4
de sódio, NaH2PO4, que formam soluções ligeiramente [3Ca3(PO4)2CaF2] + 10H2SO4 > 6H3PO4 + 10CaSO4 + 2HF
ácidas.
O H3PO4 puro é preparado pelo “processo do forno". P
2) Monohidrogenofosfatos, por exemplo hidrogenofosfato fundido é queimado num forno na presença de ar e vapor. O
de dissódio, Na2HPO4, que formam soluções aquosas P4O10 inicialmente formado pela reação entre P e O2 é
ligeiramente básicas. imediatamente hidrolisado, gerando o ácido.
3) Fosfatos normais, como o fosfato de trissódio, Na3PC>4,
que são bastante básicos. P4 + 5O2- P4O10
NaH2PO4 e Na2HPO4 são obtidos industrialmente pela P4O10 + 6H2O > 4H3PO4
neutralização do H3PO4 com carbonato de sódio (Na2CO3),
mas é preciso reagir com NaOH para se obter o Na3PO4. O ácido fosfóríco forma ligações de hidrogênio em
Todos os três sais anidros, bem como suas diversas formas solução aquosa e por isso o ácido “concentrado” é xaroposo
hidratadas podem ser preparadas e são utilizadas em larga e viscoso. O ácido concentrado é muito usado e contém
escala. cerca de 85% de H3PO4 em peso. O H3PO4 anidro raramente
é usado, mas pode ser preparado na forma de cristais
O ácido fosfórico também forma ésteres com álcoois: incolores deliqüescentes pela evaporação daquela solução,
(HO)3P = O + 3EtOH (EtO)3P = O + 3H2O a baixas pressões. A maior parte do ácido (solução) assim
ácido álcool éster água preparado é utilizado nos laboratórios, e no preparo de
(fosfato de trietila)
aditivos de alimentos e de fármacos.
Os fosfatos são detectados analiticamente, misturando-
O H3PO4 também pode ser obtido pela ação do HNO}
se uma solução do sal com HNO3 diluído e solução de
concentrado sobre P.
molibdato de amônio. Forma-se lentamente um precipitado
amarelo de 12-molibdofosfato de amônio, confirmando a P4 + 20HNO3 -> 4H3PO4 + 20NO2 + 4H2O
presença de fosfatos. Os arsenatos formam um precipitado
semelhante, mas somente quando a mistura é aquecida. O ácido ortofosfórico perde água gradativamente quando
Os ortofosfatos dos metais do Grupo 1 (exceto o Li) e aquecido:
de NH4+ são solúveis em água. A maioria dos ortofosfatos
aquecimento aquecimento
dos demais metais é solúvel em ácido clorídrico ou acético moderado / 220‘C forte / 320 'C
H3PO4 ■» h4p2o7 (HPO3)„
diluído. Os fosfatos de titânio, zircônio e tório são insolúveis ácido ácido ácido
até mesmo em ácidos. Assim, na análise qualitativa, ortofosfórico pirofosfórico tnetafosfórico

emprega-se uma solução de nitrato de zirconila para remover


qualquer vestígio de fosfato presente na solução. Polifosfatos
Os fosfatos podem ser determinados quantitativamente Uma grande variedade de ácidos polifosfóricos e seus
adicionando-se uma solução contendo Mg2+ e NH4OH à sais, os polifosfatos, podem ser obtidos pela polimerização
solução do fosfato em análise. Nesse caso, o fosfato de de unidades ácidas [PO4], formando isopoliácidos. Estes são
magnésio e amônio precipita quantitativamente, e pode ser constituídos por cadeias de tetraedros, cada um deles
filtrado, lavado, aquecido e pesado como pirofosfato de compartilhando os átomos de O de um ou dois vértices do
magnésio, Mg2P2O7. tetraedro. Isso leva à formação de cadeias simples não-
ramificadas, de maneira semelhante à formação dos
piroxenos pelos silicatos.
A hidrólise do P4O10 ocorre em etapas. O estudo dos
diferentes estágios leva à compreensão do porquê da grande
diversidade de ácidos fosfórtcos (Fig. 14.14).

P4O10 + 6H2O 4H3PO4 (reação total)


H3PO4 ácido ortofosfórico Os polifosfatos são compostos de cadeia normal. A
Figura 14.12 — Estrutura do ácido ortofosfórico H3PO4 basicidade dos diferentes ácidos, isto é, o número de H
B58 □5 ELEMENTOS OO BRUPO 15

misturado com amido e aromatizantes no preparo de pós


para pudins "instantâneos”.
Antigamente o pirofosfato de sódio, Na4P2O7, era
adicionado aos sabões em pó e em solução, para remover a
“dureza” da água e prevenir a formação de precipitados.
Grande parte dos sabões foram substituídos por detergentes,
por exemplo, surfactantes aniônicos e não-iônicos. O Na^O?
foi substituído por tripolifosfato de sódio, NasP3O10. Cerca
ácido pirofosfórico H4P2O, de 20% a 45% de Na5P3OI0 são adicionados aos detergentes
em pó e líquidos para uso doméstico e industrial (a menor
proporção é utilizada nos EUA, pois tiveram sérios problemas
de poluição nos rios e lagos). O tripolifosfato de sódio é
considerado como uma “carga”, porque aumenta a
quantidade do produto em questão. Sua maior utilidade,
contudo, é no tratamento de águas “duras". A dureza é
removida devido à formação de complexos de Ca2’ e de
Mg2 + estáveis e solúveis. Ou seja, esses íons são seqüestrados
ácido tripolifosfórico H5P3O,0
pelo tripolifosfato e se tornam indisponíveis, não formam
precipitados com CO3“ ou com sabão. O Na5P3O10 também
Figura 14.13 — Ácido pirofosfórico HíP2O7 e ácido tripolifosfórico HsP3OI0 torna a solução alcalina, ajudando a dissolver graxas e
melhorando a ação do detergente. O NasP3O10 pode ser
ionizáveis, pode ser encontrada esquematizando-se a preparado pelos seguintes métodos:
estrutura e determinando-se o número de grupos OH. Assim,
1) O método de preparação mais comum é por meio da
o ácido ortofosfórtco é tribásico, o ácido pirofosfórico é
fusão de quantidades adequadas de Na2HPO4 e
tetrabásico, o ácido tripolifosfórico é pentabásico, o ácido
tetrapolifosfórico é hexabásico, e o ácido tetrametafosfórico NaH2PO4. A recristalização em água fornece o
é tetrabásico. hexahidrato, Na5P3O10-6H2O:
Muitos polifosfatos são conhecidos. Foram isolados 2Na2HPO4 + NaH2PO4 4S0'C
Na5P3O10 + 2H2O
cadeias de diferentes comprimentos, com até 10 unidades
[PO4], mas os quatro primeiros da série são os mais 2) Na Alemanha o composto é geralmente obtido pela
conhecidos: fusão de Na2O e P4O10. Durante o esfriamento, o
H3PO4 ácido ortofosfórico pirofosfato Na2P2O7 cristaliza primeiro, mas se o
H4P2O7 ácido dipolifosfóríco (ácido pirofosfórico) esfriamento for lento este se transforma em NasP3O10:
H5P3O10 ácido tripolifosfórico
HsPíOia ácido tetrapolifosfórico 1000'C
10Na2O + 3P4O10 4Na5P3O1()
Também são conhecidos alguns sais com cadeias lento

poliméricas muito longas, conhecidos


como sal de Graham, sal de Kurrol e
sal de Maddrell. Os seus nomes derivam P4O10+6H2O 4H3PO4 (reação total)
do nome dos pesquisadores que os
O
obtiveram pela primeira vez. As ca­
racterísticas desses compostos serão
II
p °v OH

A
o

4°A
discutidos mais adiante.
II
O dihidrogenopirofosfato de sódio, O HO—P- -O- -P—OH
Na2H2P2O7, é misturado com NaHCO3 I
/ O I O
e usado para fazer “crescer” a massa H I OH |
do pão, ou seja, como fermento. Quan­ O=P——O
Ap=O -l—P—OH
O. O 'II
do aquecidos juntos, eles reagem libe­ O
rando CO2. TYata-se de uma maneira de
fabricar pão mais simples que utilizan­
I ácido tetrametafosfórico
O OH
do fermento, e por isso é utilizada
industrialmente. não isolado

o
Na2H2P2O7 + 2NaHCO3 -> Na4P2O7 II ? HlOí/jj
+ 2CO2 + 2H2O 4 HO—P—OH * 2 HO—P-0—P—OH >—O-P-OH

O Ca2P2O7 é usado como agente


oh oh cIh oh oh oh oh
ácido ortofosfórico ácido pirofosfórico ácido tetrapolifosfórico
abrasivo e de polimento em cremes
dentais fluoretados; e o Na4P2O7 é Figura 14.14 — Esquema para a hidrólise do P4Ol0
a série dos Ácidos fosfúricos 059

Polifosfatos de cadeia longa —


metafosfatos lineares NaH2PO4 P4O10
dihidrogeno-orto-fosfato
Os polifosfatos de cadeia muito de sódio hidrólise
longa causaram muita confusão no >160°C com
Na2CO3
passado, por terem sido originalmente
chamados de metafosfatos, um nome Na4P4O12
usado para compostos cíclicos. Quando Na2H2P2O7 tetra metafosfato
/ pirofosfato . de sódio
0 número de unidades no polímero, n,
> 240°C (ciclos)
torna-se muito grande, a fórmula de um (sistema aberto) (sistema fechado)
300°C
polifosfato linear (PO3)n-PO4 torna-se 230-300°C
!70°C
praticamente igual ao de um metafosfato
(NaPO3)3 (NaPO 3)„ « >300 °C (NaPO 3)y
verdadeiro, ou seja, de um composto
trimetafosfato sal de Maddrell de sal de Maddrell
cíclico de fórmula (PO3)n. Os compostos de sódio alta temperatura de baixa
de cadeia longa são muitas vezes temperatura
denominados metafosfatos lineares. 350-500°C
resfriamento 380-450°C
0 polifosfato de cadeia longa mais muito
conhecido é o sal de Graham, formado lento , (NaPOah
625°C
375°C sal de Kurrol
pelo resfriamento brusco do NaPO3
(cadeias helicoidais)
fundido. Em vez de cristalizar, ele forma
um sólido de aspecto vítreo. Na 58O-59O°C
>550°C
indústria, é chamado incorretamente de
hexametafosfato de sódio. Isso está (NaPO3)„‘
resfriamento
(NaPO3)n
rápidó
errado, pois 0 composto não contém seis fundido sal de Graham
unidades [PO4], sendo na realidade um (vítreo)
polímero de elevada massa molecular,
(NaPO3)n. Geralmente, suas cadeias
Figura 14.15 — As relações existentes entre os vários polifosfatas
contém até 200 unidades de [PO4], e sua
massa molecular varia de 12.000 a Quando o trimetafosfato de sódio (cíclico) funde a cerca
18.000. Embora seja constituído essencialmente por de 625 °C, são formados polifosfatos de cadeia longa. Se o
moléculas lineares muito longas, contêm até 10% de líquido for esfriado rapidamente, as cadeias se mantêm
metafosfatos cíclicos e compostos com algumas ligações inalteradas (sal de Graham). Se o sal de Graham for aquecido
cruzadas (as massas moleculares dessas espécies poliméricas acima de 550 °C forma-se o sal de Kurrol. Este pode ser
de cadeia longa podem ser determinadas titulando-se os obtido numa forma fibrosa ou lamelar, com densidades
grupos terminais, e medidas de pressão osmótica, difusão, diferentes. As duas formas se assemelham aos asbestos do
viscosidade, eletroforese e ultracentrifugação). O sal de Gra­ grupo dos silicatos, alguns dos quais são constituídos por
ham é solúvel em água. Suas soluções formam precipitados cadeias e outros por lâminas. O aquecimento de uma das
com íons metálicos como Pb2 + e Ag + , mas não com Ca2+ e formas do sal de Kurrol a 400 °C leva à formação do
Mg2+. O sal de Graham é encontrado no comércio com o
trimetafosfato de sódio, enquanto o aquecimento da outra
nome de "Calgon”. É muito empregado no tratamento de
fornece o sal de Maddrell de alta temperatura. Todas as
águas “duras”. Ele "seqüestra” os íons Ca2+ e Mg2+ de modo
formas de polifosfato de sódio se transformam em
semelhante ao Na5P3O10. Muitos desses polifosfatos podem
trimetafosfato de sódio (cíclico) nas proximidades do ponto
ser empregados no tratamento de águas “duras" e na limpeza
de fusão (625 °C), ou quando aquecidos a 400 °C por um
de caldeiras e tubulações.
longo período. Provavelmente, isso se deve ao fato do
0 aquecimento do Na2H2P2O7 leva à desidratação, trimetafosfato ter a estrutura cristalina mais estável.
podendo ocorrer a formação de três produtos diferentes,
dependendo da pressão de vapor da água. Caso seja aquecido
ao ar, num sistema aberto em que a água possa escapar, Metafosfatos — ciclofosfatos
forma-se 0 trimetafosfato de sódio cíclico. Caso seja aquecido Os metafosfatos formam uma família de compostos
num sistema fechado, onde a água não pode escapar, for- cíclicos. O antigo nome de metafosfatos é ainda corrente­
mam-se os sais de Maddrell de alta ou de baixa temperatura. mente usado, embora, de acordo com a IUPAC, a formação
São cristalinos, como o sal de Kurrol, e constituídos por de anéis deva ser indicada pelo prefixo ciclo-. Esses
cadeias de unidades tetraédricas [PO4], diferindo apenas na compostos podem ser preparados pelo aquecimento de
maneira como os tetraedros estão orientados nas cadeias. ortofosfatos:
Por exemplo, o sal de Kurrol é constituído por cadeias
helicoidais de unidades [PO4], e contém o mesmo número aquecimento, 316 'C
nH3PO4 4 (HPO3)n + nH2O
de moléculas com hélices orientadas no sentido horário e
anti-horário. As cadeias podem ter comprimentos e, também, Não há evidências da existência do íon metafosfato livre,
podem ter unidades repetitivas diferentes, como nos silicatos PO3, ou do íon dimetafosfato. Este último deveria ser formado
com estruturas em cadeia. pelo compartilhamento de dois vértices, isto é, de uma aresta
Essas e outras relações são mostradas na Fig. 14.15. entre duas unidades tetraédricas [PO4]. Isso deve gerar uma
B6O □S ELEMENTOS □□ GRUPO 15

vermelho com NaOCl, ou do fósforo amarelo por água e ar.


Não há ligações P-H, de modo que esse ácido não é um
agente redutor. Possui quatro hidrogênios ácidos: o ácido é
tetrabásico e pode formar quatro séries de sais, embora
normalmente apenas dois deles sejam dissociados. Ele é
incomum por possuir uma ligação P-P. Esta é muito mais
'''O----- forte que a ligação P-O-P, de modo que sua hidrólise é lenta.
íon dimetafosfato íon trimetafosfato
(ciclo difosfato) (ciclo trifosfato) OH | OH OH OH
O I h|oh | I
O
O=P — ------ rP=O -> O=P—H + HO—P=0
I I i
OH I Lh OH OH
HjPO,
H3PO3
ácido ácido
ortofosforoso ortoíosíórico

íon tetrametafosfato A SÉRIE DOS ÁCIDOS FOSFOROSOS


(ciclo tetrafosfato)
Os ácidos fosforosos são menos conhecidos. Todos
contêm P no estado de oxidação ( + III). Eles possuem
Figura 14.16 — Alguns íon polifosfato ligações P-H e são, portanto, agentes redutores.
considerável tensão angular na estrutura. Já os tri- e A hidrólise do P4O6, analogamente à hidrólise do P4Olo
tetrametafosfatos são bastante comuns. Alguns anéis maiores previamente descrita, forma os ácidos piro- e ortofosforoso.
com até oito unidades [PO4], isto é, até Nas[P8O24], também Ambos são dibásicos e agentes redutores.
foram isolados. Esses anéis são obtidos como misturas, sendo
convenientemente separados por cromatografia em papel H H H
ou em camada delgada. I I
O trimetafosfato de sódio, Na3P3O9 é obtido pelo HO—P—O—P—OH HO—P—OH
aquecimento do NaH2PO4 a 640 °C e, em seguida, mantendo- II I II
O O O
se o material fundido a 500 °C por um certo tempo, para ácido ácido
permitir a condensação e a liberação de água. A estrutura pirofosforoso onofosforoso
cíclica foi estabelecida por difração de raios X de vários sais.
A hidrólise do composto cíclico trimetafosfato de sódio em
Ácido ortofosforoso H3PO3
meio alcalino fornece o composto tripolifosfato de sódio
linear. O H3PO3 contém dois átomos de H ácidos (os grupos
OH), e um H redutor (o átomo de hidrogênio do grupo
calor P-H). Logo, somente dois dos três H são ionizáveis, e o
3NaH2PO4 Na3P3O9 + 3H2O
Na3P3O9 + 2NaOH > Na5P3Ol0 + H2O ácido é dibásico:

O tetrametafosfato de sódio, Na4P4O12-4H2O é formado H3PO3 — H+ + H2PO3- Kal = 1,6 xlO'2


quando o P4O10 é tratado com uma solução gelada de NaOH h2po3 — H+ + HPO3~ Ka2 - 7,0 x IO-7
ou NaHCO3. O H3PO3 pode, portanto, formar duas séries de sais:
1. Dihidrogenofosfitos, por exemplo, NaH2PO3.
Ácido hipofosfórico H4P2O6 2. Monohidrogenofosfitos, por exemplo, Na2HPO3.
Este ácido contém P no estado de oxidação (+ IV) e Os fosfitos são agentes redutores muito fortes quando
possui um átomo de O a menos que o ácido pirofosfórico, em meio básico. Em meio ácido são convertidos em H3POj,
H4P2O7. É preparado pela hidrólise e oxidação do fósforo que ainda é um agente redutor moderadamente forte.

Ácido metafosforoso (HPO2)n


Este ácido pode ser obtido a partir de fosfina a baixas
pressões.
rH H OH OH
4H,0
U—PI 4O2 ph3 + 02 25 mm Hg
4 h2 + hpo2
L
20 = P---- P=O
-Íh I
OH OH
I Se a fórmula fosse HPO2, o átomo de fósforo formaria
ácido apenas três ligações, ou então deveria formar ligações duplas.
hipofosfórico Na realidade, ele se polimeriza em vez de formar duplas
ligações. Sua estrutura não é conhecida, mas, por analogia
Figura 14.17 — Hidrólise e oxidação do fósforo amarelo com o ácido metafosfórico, podería ser um composto cíclico.
SULFETOS DE FÚSFORO 2B1

são tratadas dessa maneira, e também os blocos


de motores, refrigeradores, etc, antes da pintura.
3
b)I Na limpeza de metais, isto é, na remoção de peque­
nas imperfeições (lascas) e óxidos da superfície
do ferro e aço, mergulhando-os em um banho
ácido.
c) "Polimento por imersão" de peças de alumínio: as
peças são conectadas ao ânodo e eletrolisadas num
banho de H3PO4 contendo pequenas quantidades
de HNO3 e quantidades ainda menores de
H H
Cu(NO3)2. Consegue-se dessa forma uma superfície
de alumínio altamente polida e brilhante, protegida
3 HO----- P—OH ■3H—P—OH por uma camada transparente de AJ2O3.
II 1% para usos industriais, como tratamento de águas duras
O
ácido (principalmente Calgon e fosfato de trissódio Na3PO4),
hipofosforoso soluções tampão (NaH2PO4 e Na2HPO4), removedores
de tinta (Na3PO4) e na remoção de H2S de gases,
Figura 14.18 — Hidrdlise alcalina do fósforo principalmente na indústria do petróleo (K3PO4).
1% na fabricação de sulfetos de fósforo (para fósforos de
Ácido hipofosforoso H3PO2
segurança).
0 H3PO2 contém P no estado de oxidação (+1] e possui 1% na obtenção de compostos organofosforados: plastifi-
um átomo de O a menos que o ácido ortofosforoso. É cantes (fosfato de triarila), inseticidas (fosfato de
preparado pela hidrólise alcalina do fósforo. trietila) e aditivos da gasolina (fosfato de tritoluíla).
P4 + 3OH- + 3H2O PH3 + 3H2PO2 1% é empregado em produtos farmacêuticos, como
cremes dentais contendo flúor (CaHPO4-2H20 ou
0 ácido é monobásico e é um agente redutor muito Ca2P2O7), e em certos "fermentos” químicos
forte. Os sais desse ácido são denominados hipofosfitos. O (Ca(H2PO4)2, que é ligeiramente ácido, misturado com
hipofosfito de sódio, NaH2PO2, é usado industrialmente para NaHCO3).
alvejar madeira e na fabricação de papel. 0,5% em tecidos à prova de fogo (fosfato de amônio e
fosfato de uréia, NH2CONH2H3PO4).
PRINCIPAIS APLICAÇÕES DOS FOSFATOS O uso excessivo de fosfatos no tratamento de águas
“duras" é criticado pelos ambientalistas, pois contribui para
A mineração de rochas fosfáticas é realizada em grande
a poluição das águas. Os fosfatos contidos nos esgotos
escala (145 milhões de toneladas em 1992). Os minerais
variam tanto em pureza como em composição. A indústria domésticos, passam pelos sistemas de tratamento dessas
calcula a produção de fosfatos em termos do conteúdo de águas e desembocam nos rios e lagos. Ali servem de alimento
P2O5. Nessa base, a produção mundial de fosfatos é de cerca para as bactérias, que se multiplicam desmesuradamente,
de 34 milhões de toneladas por ano (isso equivale a 46,9 consumindo o oxigênio dissolvido e matando a fauna
milhões de toneladas de H3PO4). As principais aplicações aquática. Os fosfatos também podem provocar o crescimento
comerciais dos fosfatos são as seguintes: anormal das plantas aquáticas. Quando estas morrerem,
haverá uma enorme quantidade de matéria orgânica em
85% para fertilizantes, tais como superfosfatos,
decomposição, que também comprometerá a fauna aquática.
superfosfato triplo e fosfato de amônio. Eles não
precisam ser muito puros. A tendência dos fosfatos de se condensarem com
5%
conseqüente formação de isopoliácidos é muito grande. Os
aditivos de detergentes ("cargas"), principalmente o
fosfatos e fosfitos são semelhantes aos arsenatos e arsenitos.
tripolifosfato de sódio, utilizado na preparação de
Os ânions gerados pela condensação de oxoácidos de As
detergentes em pó, e pirofosfato de sódio, em deter­
são muito menos estáveis que os correspondentes poliârüons
gentes líquidos.
de P, sendo rapidamente hidrolisados em água. Antimoniatos
3% na indústria de alimentos para dar o gosto ácido e antimonitos também são conhecidos, mas o Sb possui
(pH 2) a bebidas, tais como refrigerantes e certas número de coordenação 6, de modo que esses sais contém
cervejas, e como emulsificante de queijos indus­ o íon octaédrico [Sb(OH)6]~.
trializados, leite em pó, etc.
2,5% no : tratamento de metais.
a)I para protegê-los da corrosão: mergulhando-se o
SULFETOS DE FÓSFORO
metal quente em ácido fosfórico, ou aquecendo- Quando P e S elementares são aquecidos juntos a tempe­
se o ácido a 90-95 °C (às vezes com Zn2 + , Mn2 + , raturas superiores a 100 °C, podem se formar os sulfetos
Cu2 + ou outros íons presentes), em processos tais P4S3, P4S5, P4S7 e P4S10, dependendo das quantidades relativas
como a parkerização e a bonderização. Pequenas dos dois reagentes de partida. Dois outros compostos, P4S4
peças metálicas, como rebites, parafusos e porcas e P4S9, podem ser obtidos, utilizando-se outros métodos.
OS ELEMENTOS 00 5RUPO 15

P‘
A s
p

P
trissulfeto de pentassulfeto de
tetrafósforo P4S3 tetrafósforo P4S5

S S
II

Á s=A. -4P=S
Figura 14.20 — Estruturas de ácidos tiofosfóricos
,S
P4S10 + 8EtOH —» 4(EtO)2P-(S) SH + 2H2S
p
heptassulfeto de \\ Os sais de Zn dos dialquil- e diariltiofosfatos,
tetrafósforo P4S7 s
decassulfeto de [(RO)2-P- (S)]2Zn, são usados como aditivos de lubrificantes
tetrafósforo P4SW que resistem a pressões extremamente elevadas, tais como
os óleos de engrenagem. (Et)2 • P • (S) • Na e (Et)2 • P • (S) - NH4
Figura 14.19 — Estruturas de sulfetos de fósforo são empregados como agentes de flotação, para concentrar
minérios do grupo dos sulfetos, tais como PbS e ZnS, antes
O P4S10 é estruturalmente semelhante ao P4O10, mas a do processo de ustulação. Os metil- e etil- derivados são
ausência do composto P4S6 é intrigante. Os demais sulfetos usados na fabricação de pesticidas, como o melathion e o
não possuem um análogo na série dos óxidos. Contudo, suas parathion.
estruturas apresentam certas com as dos óxidos P4O6 e P4O10,
pois são constituídos por um tetraedro de átomos de P, tendo (EtO)2 • P • (S) • SH + Cl2 -> (EtO)2 • P • (S) • Cl + HC1 + S
alguns átomos de S em ponte entre os átomos de P, e outros (EtO)2 ■ P • (S) • Cl + NaO ■ C6H4 ■ NO2-+(EtO)2 • P • (S) ■ O • QK, ■ NO,
ocupando as posições apicais nos vértices. parathion

Esses ésteres organofosforados são inseticidas muito


P4S3 eficientes, pois impedem o funcionamento normal do sistema
O trissulfeto de fósforo, P4S3, é o mais estável desses nervoso dos insetos, matando-os rapidamente. A acetilcolina
sulfetos, sendo obtido por meio do aquecimento, a 180 °C e é o neurotransmissor responsável pela condução dos
atmosfera inerte, de uma mistura de fósforo vermelho e uma impulsos nervosos através de uma sinapse. Normalmente a
quantidade limitada de enxofre. É solúvel em solventes enzima acetilcolinesterase destrói a acetilcolina depois do
orgânicos, tais como tolueno e dissulfeto de carbono: impulso nervoso ter sido transmitido. Aqueles ésteres
pequenas quantidades de P que não reagiram podem ser organofosforados inibem a atividade da acetilcolinesterase.
removidas por recristalização em tolueno ou por destilação. 0 malathion e o parathion não são tóxicos quando ingeridos
O P4S3 é usado industrialmente na fabricação de fósforos de por mamíferos, pois o sistema digestivo dos mesmos
segurança. Estes contém P4S3, KC1O3, cargas e um decompõe a molécula antes dela penetrar no organismo.
aglutinante. A fricção do "fósforo” com o lado áspero da
caixa provoca a reação enérgica entre 0 P4S3 e 0 KC1O3. Essa
reação libera energia suficiente para inflamar o "fósforo".
FOSFAZENAS E CICLOFOSFAZENAS
(COMPOSTOS FOSFONITRÍLICOS)
0 nitrogênio e o fósforo apresentam apenas uma
P4S10
fraca tendência de formarem cadeias homonucleares. A
O P4S10 é o mais importante desses sulfetos. É obtido cadeia mais longa de nitrogênio contém três átomos, no
pela reação de fósforo branco fundido, a 300 °C, com um íon azoteto N3; e a cadeia mais longa de fósforo contém
pequeno excesso de enxofre. A produção mundial é de cerca dois átomos, em alguns poucos compostos tais como
de 250.000 t/ano. Ele reage com água formando ácido P2H4, e (Me2) (S)P-P(S) (Me2). Foram obtidos somente alguns
fosfórtco, da mesma forma que o P4O10. poucos compostos cíclicos contendo quatro, cinco ou seis
átomos de P ou de As interligados.
P4S10 + 16H2O -» 4H3PO4 + 10H2S
Em contraste, o N e o P podem ligar-se entre si,
A reação mais importante do P4S10 é sua hidrólise por formando um grande número de fosfazenas. Nesses
álcoois e fenóis, levando à formação dos ácidos dialquil- ou compostos, o P está no estado de oxidação (+ V) e o N no
diarilditiofosfóricos. estado ( + 111). Formalmente, são compostos insaturados.
FOSFAZENAS E CICLOFOSFAZENAS [COMPOSTOS FOSFONITRÍLICOS] BB3

como P2NC17, P3N2C19, P4N3Cln, ou extremamente longas,


Cl Cl N com até IO4 unidades [-N = PC12-] ligadas entre si. Esses
Cl Cl
P compostos foram, em princípio, denominados haletos fosfo-
Cl •N
nitrílicos, mas são atualmente denominados sistemati­
NZ SN
Ck | |xci
N — p /•><CI
Cl$. X/' TOI camente poli(clorofosfazenas).
>p p'< Cl N
Os átomos de cloro são reativos, de modo que a maioria
c/ v Y, Cl das reações das clorofosfazenas envolve a substituição do
/-Cl Cl por grupos tais como alquila, arila, OH, OR, NCS ou NR2.
Grupos alquila ou arila podem ser introduzidos usando
reagentes organolítio ou de Grignard. A substituição pode
ser completa ou parcial. No último caso ocorre a formação
de muitos isômeros diferentes.
I Cl
Cl
[NPC12]3 + 6CH3MgI -> [NP(CH3)2]3 + 3MgCl2 + 3MgI2
Figura 14.21 — Alguns compostos da classe das ciclofosfazenas [NPC12]3 + 6C6HsLi -» [NP(C6Hs)2]3 + 6LÍC1
[NPC12]3 + ÓNaOR -> [NP(OR)2]3 + 6NaCl
Assim, as monofosfazenas podem ser obtidas pela reação [NPC12]3 + ÓNaSCN [NP(SCN)2]3 + 6NaCl
de um azoteto com PC13, POR3, ou P(C6H5)3:
Compostos semelhantes são formados com Br e F. Os
PC13 + C6HSN3 C13P = NC6H5 + n2 maiores compostos cíclicos obtidos contêm 34 átomos no
P(C6H5)3 + C6H5N3 (C6H5)3P = NC6Hs + n2 caso dos cloretos e 12 átomos no caso dos brometos. Alguns
dos polímeros de cadeia longa se assemelham à borracha, e
As difosfazenas podem ser obtidas da seguinte maneira:
aqueles contendo grupos substituintes laterais perfluoralcoxi,
3PC1S + 2NH4C1 [C13P = N-PC12 = N-PC13] + cr+ 8HC1 [NP(OCH2CF3)2]n, lembram o polietileno.
Há muitas aplicações possíveis para as fosfazenas de
Além disso, o N e o P se ligam alternadamente um com elevada massa molecular, por exemplo como plásticos
0 outro formando cadeias, levando a uma série interessante rígidos, espumas e fibras, já que esses materiais são à prova
de polímeros. d'água e resistentes ao fogo, além de não serem atacados
por gasolina, óleo ou solventes. Também podem formar
120—150’C
nPCl5 + nNH4Cl -> (NPCl2)n + 4nHCl materiais poliméricos flexíveis, úteis na confecção de
(ciclofosfazenas, compostos cíclicos) mangueiras e vedações, visto que retém sua elasticidade
e mesmo a baixas temperaturas. No momento, as fosfazenas
C14P- (NPCl2)n-NPCl3 são muito caras para serem utilizadas de forma mais
(polifosfazenas, compostos lineares) generalizada. Películas finas de poli(aminofosfazena) são
utilizadas para cobrir regiões do corpo que sofreram
Essa reação produz uma mistura de compostos cíclicos queimaduras graves ou outros ferimentos extensos, pois
(NPClJn, onde n = 3, 4, 5, 6, etc., e cadeias normais relati­
impedem a perda de fluídos corpóreos e a entradas de
vamente curtas. Os compostos cíclicos mais comuns (n = 3 germes.
e 4} contêm seis ou oito átomos. Os primeiros são planos, e
Há dois aspectos importantes na química desses
os últimos podem existir nas conformações “cadeira" ou
compostos com ligações P-N:
“barco”.
1) A natureza da ligação ainda não foi esclarecida. Em
Um grande número de compostos lineares são conhe­
todas as fosfazenas as ligações, supostamente represen­
cidos. Podem ser obtidos derivados com cadeias curtas, tais
tadas como P-N e P = N, são equivalentes. Seus compri­
mentos de ligação se situam entre 1,56 e 1,59 Â, e são
Cl Cl Cl Cl Cl mais curtas que a ligação simples típica de 1,77 A. Logo,
Cl-P = N- pClj I
CI-P = N-P = N-PCI2
I I as ligações nesses compostos não são adequadamente
representadas por uma sequência de ligações simples e
Cl
I I
Cl
I
Cl
I
Cl
I
Cl duplas alternadas, nem podem ser explicadas por
ligações pn-pn deslocalizadas, como no caso do benzeno
ou da grafita. Por isso, foi sugerida a formação de
Cl Cl Cl Cl ligações coordenadas entre um orbital sp2 preenchido
I
CI-P = N-p=N-p= N —pCI2
I I. do N e um orbital 3dx2_y2 vazio do P. Essas ligações
Jl I
Cl
I
Cl
I
Cl
seriam semelhante às ligações prc-dn nos óxidos de
fósforo, mas nos fosfazenos estariam deslocalizadas por
toda a molécula, conferindo um caráter pseudo-
Cl Cl Cl Cl aromático. Todavia, há objeções a essa explicação,
I I
Cl-p = N — p = N-p = N - p = N- PCI2
I I principalmente por causa do tamanho e da energia dos
I I I I orbitais d. Altemativamente, o orbital pz do N, contendo
Cl Jl Cl Cl Cl um elétron, pode formar uma ligação tricentrada
envolvendo os orbitais da e dy2 dos dois átomos de P
Figura 14.22 — Algumas cadeias de polifosfazenas adjacentes.
BE4 OS ELEMENTOS DD 6RUPO 15

2) As polifosfazenas formam uma extensa série de Ésteres de fosfato exercem um papel importante em
polímeros. A série dos polímeros formados pela muitos processos vitais:
catenação de átomos de C é a mais extensa; seguida
pela dos silicones e das fosfazenas.
D A liberação de energia nos organismos vivos, pela
hidrólise da adenosina-trifosfato (ATP -» ADP +
energia) já foi descrita anteriormente. A nicotina-
COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS mida-adenina-dinucleotídio (NAD) é importante na
degradação do ácido cítrico e conseqüente
O nitrogênio forma aminas primárias, secundárias e liberação de energia, no ciclo de Krebs. Outro éster,
terciárias (RNH2, R2NH e R3N) e suas propriedades podem a fosfocreatina, é importante na regeneração do
ser encontradas nos livros-textos de Química Orgânica. ATP, e outros controlam a síntese e o armaze­
Muitos compostos organofosforados são tóxicos. Alguns namento de carboidratos, tais como o glicogénio,
foram usados como pesticidas, herbicidas e gases de em animais.
combate. Outros tem um papel fundamental nos processos 2) Ésteres de fosfato também são importantes na
vitais. síntese de proteínas e de ácidos nucléicos. Os ári­
Os haletos de P, As, Sb e Bi reagem prontamente com dos desoxirribonucléicos, DNA, são responsáveis
compostos organolítio ou com reagentes de Grignard, pelo armazenamento e transferência de
formando alquil ou aril derivados. Os mais conhecidos são informações genéticas. A sequência de bases orgâ­
as fosfinas terciárias, como a trifenilfosíina. nicas é específica para cada ácido nucléico. A
molécula de DNA é constituída por duas cadeias
PC13 + 3LiEt -> PEt3 + 3LÍC1 ligadas entre si por ligações de hidrogênio,
trietilfosflna
formando uma dupla hélice. Os ácidos ribonucléi-
PC13 + 3PhMgCl -> PPh3 + 3MgCl2 cos, RNA, são semelhantes, mas geralmente são
trifenilfosíina
constituídos por somente uma cadeia, formando
Todos os trimetil derivados de P, As, Sb e Bi são atacados uma hélice simples. Atuam como molde para
pelo ar, mas os triaril derivados são estáveis. Não é necessário produzir ácidos nucléicos idênticos, com a mesma
substituir todos os três átomos de halogênio, podendo-se seqüência de bases e a mesma orientação no
obter compostos haloorganos derivados mistos, usando um espaço.
excesso de PC13 ou um agente alquilante ou arilante mais 3) Ésteres de fosfato também são importantes na
fraco. fotossíntese, e na conversão do excesso de açúcar
em amido nas plantas.
PC13 + LiEt EtPCl2 + LiCl
excesso 4) Ésteres de fosfato também participam do processo
PC13 + 2HgR2 R2PC1 + 2RHgCl de fixação do nitrogênio.

Os derivados MR3 tem estrutura piramidal (tetraédrica


com um dos vértices ocupado por um par isolado de
LEITURAS COMPLEMENTARES
elétrons), como o NH3. As trialquilas de P e As são doadoras • Addison, C.C. (1980) Dinitrogen tetroxide, nitric acid, and
fortes e consequentemente formam muitos complexos com their mixtures as media for inorganic reactions, Chem. Rei’..
metais de transição. Nesse caso, uma ligação o é formada 80, 21-39.
usando o par de elétrons isolados e uma ligação n é resultante • Addison, C.C., Logan, N., Wallwork, S.C. e Garner, C.D.
da interação de retrodoação, envolvendo um orbital d (1971) Structural aspects of coordinated nitrate groups, Q.
preenchido do metal de transição e um orbital d vazio dos Rev. Chem. Soc., 25, 289-322.
átomos de P ou As. Essa ligação é semelhante àquela dos • Allcock, H.R. (1972) Phosphorus Nürogen Compounds, Aca-
óxidos de fósforo, mas como envolve dois orbitais d é demic Press, London.
denominada ligação dn-dn. • Allcock, H.R. (1985) Inorganic macromolecules, Chem. Eng.
Alguns derivados MRS podem ser obtidos de maneira News, March 18 issue, 22 - 36.
análoga e suas estruturas são semelhantes a do PC15, ou • Arena, B.J. (1986) Ammonia: confronting a primai trend, J.
seja, uma bipirâmide trigonal. É raro encontrar cinco Chem. Ed„ 63, 1040-1043.
substituintes orgânicos ligados no P. • Aylett, B.J. (1979) Arsenic, antimony and bismuth, Oigano-
metallic Compounds, 4? ed., Vol. I, Part 2, Chapman and
PC1S + C6H5U P(C6H5)C14 + LiCl Hall, London.
PC15 + 2C6H5Li P(C6H5)2C13 + 2LÍC1
• Baudler, M. (1987) Polyphosphorus compounds - new re-
PC15 + 3C6H5Li -» P(C6H5)3C12 + 3LiCl etc.
sults and new perspectives, Angewandte Chemie, Interna­
São conhecidos diversos íons com fórmulas NR4+, PR4+, tional Edition, 26, 419-441.
AsR4+ , e SbR4 , que possuem uma estrutura tetraédrica simi­ • Bergersen, F.J. e Postgate, J.R. (eds.) (1987) A Century of
lar ao do íon amônio, Nürogen Fixatiort Research, Royal Society, London.
Pode-se obter trialquil e triarilfosfinóxidos, tratando-se • Bossard, G.E. et alli. (1983) Reactions of coordinated
POC13 com reagentes organolítio ou de Grignard. dinitrogen, Inorg. Chem., 22, 1968 - 1970.
• Bottomley, F. e Burns, R.C. (1979) Treatise on Dinitrogen
POC13 + 3LiR -a- POR3 + 3LÍC1 Fixaiion, Wiley, New York.
LEITURAS COMPLEMENTARES BB5

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2BB OS ELEMENTOS DO BRUPO 15

PROBLEMAS 14. Apresente um método de obtenção da hidroxilamina,


NH2OH, e descreva uma de suas principais aplicações.
1. Utilize a teoria de orbitais moleculares para descrever as
ligações no N2 e no NO. Qual é a ordem de ligação em 15. Quais são os principais componentes dos fertilizantes!
cada caso? Como eles são obtidos e por que são importantes para as
2. Explique porque as moléculas de nitrogênio apresentam plantas?
fórmula N2, enquanto o fósforo possui a fórmula P4. 16. Compare as propriedades dos óxidos de nitrogênio com
3. Esquematize os métodos de obtenção industrial do os de fósforo.
nitrogênio e do fósforo. 17. A substância (A) é um gás de densidade de vapor igual a
4. Escreva as equações químicas balanceadas que mostrem 8,5. Por oxidação a altas temperaturas, na presença de um
o efeito do calor sobre: a) NaNO3; b) NH4NO3; c) uma catalisador de platina, ele forma um gás incolor (8), que
mistura de NH4C1 e NaNO2; d) Cu(NO3)2.2H2O; rapidamente se torna castanho quando exposto ao ar,
e) Pb(NO3)2; e f) NaN3. formando o gás (C). (B) e (C) podem ser condensados
5. Escreva as reações químicas dos seguintes compostos com formando uma substância (D), que reage com água
a água: a) Li3N; b) CaNCN; c) A1N; d) NO2; e) N2OS; formando o ácido CE). Tratando-se (E) com uma solução
f) NC13. acidificada de Kl, ocorre a liberação do gás (B), mas quando
6. Descreva os métodos industriais de obtenção do NH3 e (E) é tratado com uma solução de NH4C1 ocorre a liberação
HNO3. Como são obtidas as matérias-primas necessárias de um gás incolor e estável (F). (F) não é capaz de sustentar
nesses processos? Quais são as principais aplicações do a combustão, mas o magnésio continua a queimar mesmo
NH3 e do HNO3? Como o HNO3 concentrado é obtido? na sua presença. Contudo, (F) reage com carbeto de cálcio
7. Explique a origem das ligações n no íon NOJ. num forno elétrico formando um sólido (G), que é
lentamente hidrolisado pela água formando uma solução
8. Faça um resumo sobre a química dos óxidos de nitrogênio. da substância (A), que torna amarelo o reagente de Nessler.
Descreva e equacione os métodos de obtenção de cada Identifique as substâncias de (A) a (G) e explique as reações
um deles. Discuta suas propriedades, reatividade, estruturas envolvidas.
e ligações.
18. Compare as estruturas dos óxidos com as dos sulfetos de
9. Descreva as condições nas quais ocorrem as reações abaixo
e indique quais são os produtos obtidos em cada caso: fósforo.
a) cobre e ácido nítrico; 19. Escreva as equações para as reações dos seguintes
compostos com a água: a) P4O6; b) P4Oio; c) PC13; d) PC1S;
b) óxido nitroso e sodamida; e) Na3P.
c) carbeto de cálcio e nitrogênio;
20. Explique as ligações pn-dn que ocorrem nos óxidos e
d) íons cianeto e sulfato de cobre(ll); oxoácidos de fósforo. Dê exemplos que mostrem como
e) amônia e uma solução acidificada de hipoclorito de essas ligações poderíam explicar algumas das diferenças
sódio; observadas na química do nitrogênio e do fósforo.
0 ácido nitroso e íons iodeto. 21. Explique por que o comprimento da ligação P-0 no POCI3
10. Descreva os métodos de obtenção da hidrazina e do sulfato é de 1,45 A, enquanto que a soma dos raios covalentes
de hidrazínio. Quais são as dificuldades de ordem prática dos átomos de fósforo e de oxigênio, em ligações simples
encontradas? Quais são suas aplicações? covalentes, é de 1,83 A.
11. Explique o que acontece e escreva as equações das reações 22. Discuta a utilização dos fosfatos na química analítica e na
de uma solução aquosa de sulfato de hidrazínio com: indústria.
a) uma solução aquosa de I2 em Kl 23. Compare e mostre as diferenças na estrutura e no
b) uma solução alcalina de sulfato de cobre comportamento químico dos fosfatos, dos silicatos e dos
c) uma solução aquosa de ferricianeto de potássio, boratos.
K3[Fe(CN)6] 24. Cite alguns motivos que justifiquem a existência do PF5
d) uma solução amoniacal de nitrato de prata. mas não do NFS.
12. Por que o NF3 é estável, enquanto que o NC13 e o NI3 são 25. Dê alguns exemplos de fosfazenas. Como podem ser
explosivos? obtidos e quais são suas estruturas?
13. Por que o NF3 não tem propriedades doadoras de elétrons, 26. Escreva as equações para as reações dos seguintes
mas o PF3 forma muitos complexos com metais? Dê alguns compostos com a água: a) As4O6; b) As4O10; c) SbCl3;
exemplos de tais complexos. d) Mg3Bi2; e) Na3As.
267

grupo ig
CALCOGEiJIOS
PROPRIEDADES GERAIS elementos. A maioria de seus compostos foi ou será estudada
junto com os outros elementos.
Os quatro primeiros quatro elementos desse grupo são
não-metais. São conhecidos como “calcogênios”, ou S, Se e Te são moderadamente reativos e queimam ao
elementos formadores de minérios, pois inúmeros minérios ar formando dióxidos. Eles se combinam diretamente com a
são óxidos ou sulfetos de metais. maioria dos elementos, tanto metais como não-metais,
Diversos produtos químicos contendo os elementos embora com menor facilidade que o oxigênio. Como esperado
desse grupo têm importância econômica. O H2SO4 é o no caso de elementos não-metálicos, S, Se e Te não são
produto mais importante da indústria química. Em 1992, a atacados por ácidos, exceto por aqueles que são também
impressionante quantidade de 146 milhões de toneladas fo­ agentes oxidantes. O Po tem propriedades metálicas, pois se
ram produzidas. 100 milhões de toneladas de O2 são dissolve em H2SO4, HF, HC1 e HNO3, formando soluções de
produzidas anualmente e consumidas, principalmente, na Po11, de coloração rosa. Contudo, o Po é fortemente
indústria do ferro e do aço. Em 1992 foram produzidas 54 radioativo, e as partículas a emitidas decompõem a água.
milhões de toneladas de S, sendo a maior parte usada para Por isso, as soluções de Po11 são rapidamente oxidadas
fabricar H2SO4. Cerca de um milhão de toneladas de Na2SO3 gerando soluções amarelas de Po17.
são consumidos, principalmente no branqueamento de polpa O oxigênio apresenta diversas diferenças em relação
de madeira e de papel. A produção mundial de H2O2 foi de aos demais elementos do grupo. Essas diferenças estão
1.018.200 toneladas em 1991. relacionadas ao seu menor tamanho, sua maior eletrone-
Os elementos apresentam a tendência normal de gatividade, e à falta de orbitais d adequados para formarem
aumento no caráter metálico, ao se descer pelo Grupo. Isso ligações. O oxigênio pode utilizar orbitais pn para formar
se reflete nas suas reações, nas estruturas dos elementos e duplas ligações fortes. Os demais elementos também podem
na crescente tendência de formar íons M2 + , com formar duplas ligações, mas se tomam cada vez mais fracas
concomitante decréscimo da estabilidade dos íons M2". O e à medida que aumenta o número atômico dos mesmos.
S são totalmente não-metálicos. O caráter não-metálico é Assim, CO2 (O = C = O) é estável, CS2 é menos estável, o
menor no Se e no Te. O Po é caracteristicamente metálico, CSe2 se polimeriza ao invés de formar duplas ligações e o
além de ser um elemento radioativo com tempo de vida CTe2 ainda é desconhecido. O oxigênio também forma
curto. ligações de hidrogênio fortes, que influenciam enormemente
O oxigênio é um elemento muito importante na química as propriedades da água e de outros compostos.
inorgânica, visto que reage com quase todos os demais O enxofre possui uma maior tendência de formar cadeias
e ciclos que os demais elementos do
grupo (vide Variedades alotrópicas). O
Tabela 15J — Configurações eletrônicas e estados de oxidação enxofre forma uma extensa e incomum
variedade de compostos com o nitro­
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação*
gênio, que não encontram correspon­
dentes nos demais elementos.
Oxigênio o [He] 2s22p4 -n (-D
Enxofre s [Ne] 3? 3p4 -n (II) IV VI Enquanto o O e o S possuem
Selênio Se [Ar] 3d10 4? 4p4 (-1D II IV VI somente elétrons s e p, o Se segue logo
Telúrio Te [Kr] 4d'°5?5p4 II IV VI após a primeira série de transição e
Polônio Po [Xe] 4/4 5d'°6?6p4 II IV também possui elétrons d. O preenchi­
' Os estados de oxidação mais imponantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados mento do nível 3d influencia as
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, sao mostrados em tipo propriedades do Ge, As, Se e Br. Os
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são mostrados entre parênteses átomos são menores e os elétrons estão
001 111 I zxxz í zl ** z* X —' > —T-V-» zí Oi- «-An ♦ /-»r-
B68 BRUPO 16 — CALCQBÉNIDS

mais firmemente ligados ao núcleo. Por isso, o Se é oxidado


com maior dificuldade ao estado de oxidação mais elevado Tabela 15.2 — Abundância dos elementos na crosta
(+ VI), em contraste com o S. O HNO3 oxida o S a H2SO4 (S terrestre, em peso
no estado + VI), mas consegue oxidar o Se só até o estado
+ IV, formando o H2SeO3 Elemento ppm abundância relativa
Todos os compostos de Se, Te e Po são potencialmente
O 455.000 1?
tóxicos e devem ser manuseados com cuidado. Os derivados
orgânicos e os compostos voláteis tais como H2Se e H2Te,
s 340 16?
Se 0,05 68?
são 100 vezes mais tóxicos que o HCN. Te 0.001 74?
Po traços
CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA E ESTADOS
DE OXIDAÇÃO atmosferas, onde desempenha um papel muito importante.
Esse aspecto será discutido posteriormente.
Todos os elementos do Grupo 16 tem configuração
eletrônica s2?4. Eles podem atingir a configuração de gás O enxofre é o 16.° elemento mais abundante e constitui
nobre ou recebendo dois elétrons, formando íons binegativos 0,034 % em peso da crosta terrestre. Ocorre principalmente
(2-), ou então compartilhando dois elétrons, formando duas na forma combinada, ou seja, na forma dos diversos minérios
ligações covalentes. O é o segundo elemento mais do grupo dos sulfetos, e como sulfatos (principalmente 0
eletronegativo, perdendo apenas para o F. A diferença de gesso, CaSO4.2H2O). A mineração desses compostos para
eletronegatividade entre O e os metais é grande. Por isso, a obter S não é economicamente viável, embora 0 gesso seja
maioria dos óxidos metálicos são iônicos e contém íons O2', extraído para outras finalidades. Em muitos lugares, 0 enxofre
ou seja, o estado de oxidação do O é (—II). Os sulfetos, elementar pode ser obtido de fontes vulcânicas, mas são
selenetos e teluretos se formam quando combinam com os atualmente pouco exploradas, exceto no Japão e no México.
elementos menos eletronegativos dos Grupos 1 e 2 e dos Dos tempos bíblicos até o presente século, essas fontes
lantanídeos. Esses compostos estão entre os mais estáveis vulcânicas foram as principais fontes de S. Antigamente 0
conhecidos. Geralmente, supõe-se que esses compostos S, na forma de enxofre mineral, era usado em fumigações.
contenham íons S2’, Se2’ e Te2’. Mas, as diferenças de Do século XIII até a metade do século XIX, foi usado na
eletronegatividade entre os elementos sugerem que eles se fabricação da pólvora. Atualmente, o principal uso é na
situam no limite, com 50% de caráter iônico e 50% de caráter fabricação de H2SO4.
covalente. Assim como o PC1S, eles podem se comportar Os demais elementos do Grupo, Se, Te e Po, são muito
como compostos covalentes no estado sólido, mas iônicos raros.
quando em solução aquosa.
Esses elementos também formam compostos contendo OBTENÇÃO E USOS DOS ELEMENTOS
duas ligações covalentes (pares eletrônicos), como no H2O,
F2O, Ci2O, H2S e SC12. Quando o átomo do calcogênio é o Obtenção e extração de oxigênio
menos eletronegativo na molécula (por exemplo no SC12, O oxigênio é obtido industrialmente pela destilação
eletronegatividade do S = 2,5 e a do Cl = 3,5), o S se fracionada do ar líquido (vide "Ocorrência, obtenção e usos
encontra no estado de oxidação ( + 11). do nitrogênio”, no Capítulo 14). A maior parte do 0, é
Além disso, os elementos S, Se e Te podem estar nos utilizada na fabricação do aço. O gás produzido dessa
estados de oxidação ( + 1V) e ( + VI), sendo que estes são maneira geralmente contém pequenas quantidades de N2 e
mais estáveis que o elemento no estado ( + 11). de gases nobres, principalmente argônio. Cilindros de aço
contendo O2 comprimido são usados para muitas finalidades,
inclusive na solda oxiacetilênica e no laboratório. 0 02é
ABUNDÂNCIA DOS ELEMENTOS administrado juntamente com um anestésico em operações
O oxigênio é o mais abundante de todos os elementos. cirúrgicas. Às vezes é preparado, em pequena escala no
Ele existe na forma livre, como moléculas de O2, perfazendo laboratório, pela decomposição térmica do KC1O3 (com Mn02
20,9% em volume e 23% em peso da atmosfera. A maior como catalisador), embora o produto possa conter pequenas
parte do O2 foi produzida pela fotossíntese, o processo pelo quantidades de Cl2 ou C1O2. Pequenas quantidades de 02
qual a clorofila das partes verdes das plantas converte a luz são produzidas pelo aquecimento do NaC103, como fonte
solar em alimentos como a glicose. emergencial de oxigênio em aviões:
15Q‘C. catalisador MnO;
6CO2 + 6H2O + energia solar -+ C6H12O6 + 6O2 2KC1O3 + 2KC1 + 3O2
O oxigênio constitui 46,6% em peso da crosta terrestre, O2 também pode ser obtida pela decomposição catalítica
sendo 0 principal constituinte dos silicatos minerais. O de hipocloritos:
oxigênio também ocorre nos óxidos de metais (minérios) e
em oxo-sais como carbonatos, sulfatos, nitratos e boratos, 2HOC1 Co1,
+ 2HC1 + O2
que formam grandes depósitos. Os oceanos recobrem três
quartos da superfície terrestre, e o oxigênio constitui 89% ou pela eletrólise da água contendo pequenas quantidades
em peso de suas água. O ozônio, O3, está presente nas altas de H2SO4, ou de uma solução de hidróxido de bário.
2B9

Usos do oxigênio Obtenção e extração do enxofre


Praticamente todos os elementos reagem com o A produção mundial de S foi de 57 milhões de toneladas
oxigênio, à temperatura ambiente ou por aquecimento (as em 1992. Os principais produtores são os EUA (20%), ex-
únicas exceções são alguns poucos metais nobres como Pt, União Soviética (15%), Canadá (13%), China (11 %), Japão
Au e W, e os gases nobres). Mesmo sendo elevada a energia e ex-Tchecoslováquia (5% cada um). Há diversos métodos
de ligação do O2 (493 kj mol-1), as reações geralmente são para a obtenção do S:
bastante exotérmicas e, uma vez iniciadas, prosseguem Recuperação a partir do gás natural e do petróleo 48%
espontaneamente. Mineração pelo processo Frasch 19%
0 oxigênio é essencial na respiração (para a liberação A partir de piritas 17%
de energia no organismo) tanto de animais como de plantas. Recuperado dos gases de ustulação de sulfetos 12%
É, portanto, essencial à vida. Mineração como enxofre mineral 4%
Obtido a partir de CaSO4 0,03%
Respiração
C6H12O6 + 6O2 ■» 6CO2 + 6H2O + energia
glicose Grandes quantidades de enxofre são obtidos a partir do
gás natural. No Canadá, essa é a principal fonte de enxofre
0 complexo formado pelo oxigênio e a hemoglobina (o (90%), já que o gás natural canadense contém até 20% de
pigmento vermelho do sangue) é de importância vital, já H2S. É fundamental que todo H2S do gás natural seja
que esse é o método pelo qual os animais superiores removido, por causa do seu mau cheiro. Além disso, a
transportam o oxigênio às células de todo o corpo, onde é queima de compostos de enxofre forma SO2, que tem um
utilizado. cheiro acre e é corrosivo. Analogamente, grandes quantidades
de enxofre são obtidas nas refinarias de petróleo (60% da
A produção mundial de oxigênio líquido e gasoso é de
produção total dos EUA e 37% da ex-URSS). Depois do
cerca de 100 milhões de toneladas/ano. De longe, os maiores
craqueamento dos hidrocarbonetos de cadeia longa, o H2S e
consumidores de oxigênio são as indústrias do ferro e do outros derivados de enxofre são removidos, por causa de
aço (60 a 80%). O oxigênio puro é usado para converter o seu cheiro desagradável. Cerca de um terço do H2S é oxidado
ferro-gusa em aço, no processo básico com oxigênio (BOP, com ar a SO2. A seguir, este reage com o H2S remanescente
"basic oxygen process ’’), que se originou dos processos Kaldo formando S. Esse processo se constitui na segunda maior
e LD. Desde o final da década de 50, estes substituíram o fonte de S nos EUA e no Japão. Devido à enorme expansão
processo Bessemer (que usava ar). Usinas para a produção do consumo de petróleo e de gás natural, a quantidade de
de oxigênio freqüentemente estão instaladas nas vizinhanças, enxofre obtida a partir dessas fontes é atualmente maior
ou até mesmo fazem parte das instalações das modernas que a quantidade obtida pelo processo Frasch (ver adiante).
siderúrgicas. O O2 é conduzido através de tubulações de Grandes depósitos de enxofre nativo são encontrados
uma usina a outra. Os modernos métodos utilizando O2 nos EUA (Golfo do México, Louisiana, Texas e México) e na
apresentam três vantagens: região do Vístula superior na Polônia e Ucrânia. Esses
1) A conversão do ferro-gusa em aço é mais rápida. depósitos foram formados por bactérias anaeróbias que
metabolizam CaSO4 e excretam H2S e S.
2) Lingotes maiores de ferro-gusa podem ser
utilizados (processo Bessemer, 6 toneladas; no BOP, 100 2H2S + 3O2 -> 2SO2 + 2H2O
toneladas). SO2 + 2H2S -> 2H2O + 3S
3) Nitretos não são formados durante o processo. Eles
O enxofre é extraído desses depósitos subterrâneos pelo
podem ser formados se for utilizado o ar.
processo Frasch, fornecendo S de elevado grau de pureza.
Em alguns lugares o oxigênio é introduzido junto com Nesse processo, três tubulações concêntricas são introdu­
o ar nos altos-fomos, usados para a redução de óxidos de zidas no depósito subterrâneo. Vapor superaquecido é
ferro a ferro-gusa impuro, com coque. Esse procedimento é introduzido pela tubulação mais externa, provocando a fusão
adotado principalmente para permitir o emprego de do enxofre. Ar comprimido é introduzido pela tubulação
hidrocarbonetos pesados (nafta) como combustíveis, como central, forçando o enxofre fundido a subir pela tubulação
um substituto parcial do dispendioso coque metalúrgico. O intermediária. Um desses conjuntos de tubulações pode
oxigênio também é usado na solda e no corte de metais com explorar uma área de cerca de 2.000 m2. Essa técnica foi
o maçarico oxiacetilênico. Dentre outras importantes desenvolvida para superar as dificuldades inerentes à
aplicações químicas do oxigênio, estão os seguintes: mineração em regiões pantanosas ou de areias movediças,
ou para permitir a extração de enxofre da plataforma conti­
1) A obtenção de TiO2 a partir de TiCL,. O TiO2 é
nental na Louisiana/EUA. A mineração pelo processo Frasch
usado como pigmento branco em tintas e papéis, e como
começou nos EUA na década de 1890 e na Polônia na década
carga em plásticos.
de 1950.
2) Para oxidar NH} no processo de obtenção do HNO3. O SO2 é obtido como um subproduto da extração de
3) Na preparação de oxirano (óxido de etileno) a partir metais a partir dos minérios do grupo dos sulfetos. O minério
de eteno. mais importante desse grupo é a pirita de ferro, FeS2,
4) Como agente oxidante (comburente) em foguetes. conhecida como “ouro dos tolos". A pirita é extraída em
B7O BRUPO IB — CALC0BÊNI05

gases de combustão. Em 1992, a produção mundial íoi de


Tabela 153 — Alguns minérios importantes do grupo dos cerca de 4.530 milhões de toneladas de carvão, utilizado
sulfetos principalmente em usinas termelétricas. Isso corresponde a
cerca de 90 milhões de toneladas de S, ou seja, 180 milhões
MoSj molibdenita de toneladas de SO2 (85 milhões de toneladas de carvão
FeS2 pirita foram consumidas em usinas termelétricas no Reino Unido,
FeS2 marcassita produzindo cerca de 2.4 milhões de toneladas por ano de S,
FeAsS arsenopirita
ou 6 milhões de toneladas de SO2). Como não é
(Fe, Ni)9S8 pentlandita
Cu2S economicamente viável remover o SO2, somente cerca de
calcocita
CuFeS2 calcopirita 1 % dessa quantidade é recuperada como H2SO4. A maior
Cu5FeS4 bomita parte é desprezada e descarregada na atmosfera, provocando
Ag2S argentita as chuvas ácidas.
ZnS blenda ou esfalerita A química atmosférica da chuva ácida não é inteira­
ZnS wurtzita mente compreendida. O SO2 é oxidada a SO3 pelo ozona ou
HgS cinábrio pelo peróxido de hidrogênio, e reage com água ou com
PbS galena radicais hidroxila para formar H2SO4. Forma-se também
As2s3 orpimento sulfato de amônio; que pode ser visto como um “nevoeiro’
As4s4 realgar atmosférico (este pode ser descrito como sendo um aerossol
Sb2S3 estibinita de partículas muito pequenas). A deposição por via úmida
Bi2S3 bismutinita ocorre depois que as gotas de chuva se nuclearam com
partículas de aerossol de SO3 ou (NH4)2SO4, mas 0 SO2 não
se dissolve apreciavelmente. Na realidade, o SO2 é depositado
grandes quantidades na URSS, Espanha, Portugal, Japão e por via seca, ou seja, é absorvido diretamente tanto por
muitos outros países. Sulfetos de metais não-ferrosos, como sólidos como por líquidos que se encontram na superfície
a wurtzita ZnS, a galena PbS, diversas formas de sulfetos de da Terra. Em 1982, ocorreu a deposição de 50 unidades (kg
cobre e NiS geram SO2 como subproduto, no processo de hectare’1 ano’1) por via seca e somente de 5 unidades por
obtenção do metal correspondente. O SO2 é usado para via úmida, na Inglaterra. Assim, o termo “chuva ácida” não
fabricar H2SO4. Por causa da grande quantidade de metais é estritamente correto, pois ele se refere tanto à deposição
obtidos dessa forma, é produzido uma maior quantidade de por via úmida como por via seca.
S por esse método que pelos outros dois métodos. Contudo, As usinas termelétricas (e assim as fontes de S02)
o S é obtido na forma de SO2 e não de S. Os metais do bloco inevitavelmente se localizam em regiões densamente
p e metade dos metais de transição formam minérios povoadas. A utilização de chaminés muito altas, para facilitar
pertencentes ao grupo dos sulfetos: esses metais são a dispersão dos gases de combustão, só transfere 0 problema
denominados coletivamente de “calcófilos”. Alguns dos para outro lugar. Por exemplo, apenas 10% da poluição com
sulfetos mais importantes (como minérios) estão relacio­ SO2 na Suécia provém realmente da Suécia. 80% provém de
nados na Tab. 15.3. regiões industrializadas da Europa (Alemanha Ocidental e
Oriental, Polônia e ex-Tchecoslováquia) e 10% da Grã-
120Q-Ç
2CaSO4 + c ■> 2SO2 + 2CaO + C02 Bretanha. A chuva ácida provoca danos em árvores, plantas,
peixes e edificações, além de causar doenças respiratórias
Há grandes quantidades de S na forma de sulfatos em homens e animais. Cerca de 60% do SO2 atmosférico
dissolvidos nas águas dos oceanos, e também na forma de provêm de usinas termelétricas alimentadas com carvão. A
depósitos minerais, como por exemplo de CaSO4. Existem maior parte dos 40% restantes provém de refinarias de
depósitos menores de outros sulfatos, como FeSO4 e petróleo, siderúrgicas e usinas termelétricas a óleo.
A12(SO4)3. Na polônia, o SO2 é obtido pelo aquecimento de A eliminação total da poluição por SO2 não é possível,
CaSO4 com coque, num forno giratório. A produção é de tanto por razões econômicas como por razões técnicas.
cerca de 20.000 t/ano. O SO2 é usado para a fabricação de Contudo, dispomos da tecnologia necessária para reduzir
H2SO4, pelo "Processo de Contato”. Métodos de obtenção essa poluição a um mínimo. Os métodos usados incluem a
de S elementar a partir de sulfatos são pouco usados, pois lavagem dos gases de exaustão com uma suspensão de
há outras fontes que são economicamente mais viáveis. Ca(OH)2, ou a redução do SO2 a S usando H2S e um
Antigamente o S elementar era obtido em grandes catalisador de alumina ativada.
quantidades como subproduto da produção de gás de Ca(OH)2 + SO2 -> CaSO3 + H2O
iluminação. Como esse gás foi substituído pelo gás natural 2H2S + SO2 -> 3S + 2H2O
na maioria das regiões desenvolvidas, essa fonte de enxofre
praticamente não é mais explorada. Usos do enxofre
O S é um constituinte essencial, embora menos
Chuva ácida e SO2 freqüente, de certas proteínas. Está presente nos aminoácidos
Geralmente o carvão contém cerca de 2% de S, mas cistina, cisteína e metionina.
esse teor pode chegar a 4%. Isso representa uma grande A produção mundial de enxofre foi de 57 milhões de
fonte potencial de S, que poderia ser extraída como SO2 dos
ESTRUTURA E ALCJTRQRA DOS ELEMENTOS B71

toneladas em 1992. Quase 90% desse total foram convertidos ligas com ferro e metais não-ferrosos, por exemplo para tomar
em S02, depois em SO3 e finalmente em H2SO4. Cerca de o chumbo mais duro.
60% do H2SO4 produzido é empregado na fabricação de Tanto os compostos de Se como os de Te são absorvidos
fertilizantes. O restante é usado na produção de uma pelo organismo humano e são eliminados pela respiração e
variedade de outros produtos químicos. Sulfitos SO32", pelo suor, na forma de compostos orgânicos de mau cheiro.
hidrogenossulfitos HSO3" e SO2 são importantes como
alvejantes.
Descoberta e obtenção de polônio
Os 10% da produção de enxofre que não são
consumidos na produção de H2SO4, são empregados na forma
de S elementar. Parte é usada na fabricação de dissulfeto de O polônio foi descoberto por Marie Curie pelo
carbono, CS2, que por sua vez é empregado na fabricação processamento de grandes quantidades de minerais de tório
de CCLj e de viscose. O enxofre reage com alcenos formando e de urânio, e separação dos produtos de decaimento. O
ligações-cruzadas entre as moléculas. Essa reação é polônio é um desses produtos de decaimento (vide "Séries
importante no processo de vulcanização da borracha. O de decaimentos radioativos”, no Capítulo 31). A separação
enxofre e o selênio desidrogenam hidrocarbonetos saturados. foi monitorada pelo estudo da radioatividade.
0 enxofre também é utilizado na fabricação de fungicidas, -^ a ,
2J?Pb^-» 2J?bí-^ ^pomeia-vida 2£pb
inseticidas e pólvora. A pólvora é uma mistura de salitre 223 anos 5,0 dias 138,4 dias
NaN03 (75%), carvão (15%) e enxofre (10%). Atribui-se
sua descoberta a Roger Bacon em 1245, tendo sido o primeiro Marie Curie compartilhou o Prêmio Nobel de Física de
explosivo capaz de lançar uma bala de canhão. Foi usado 1903 com H.A. Becquerel e Pierre Curie, por seus trabalhos
pela primeira vez com esse propósito na batalha de Crécy, sobre a radioatividade, que era então uma técnica nova. Em
em 1346. Posteriormente foi usado em armamentos terrestres 1911, ela recebeu um segundo Prêmio Nobel, desta vez o de
e marítimos por 500 anos, até a descoberta de explosivos Química, pela descoberta do polônio e do rádio. O nome do
melhores, como o algodão-pólvora, a nitroglicerina e a polônio é uma homenagem à terra natal de Marie Curie, a
cordita. Polônia. Atualmente o polônio é obtido artificialmente pela
irradiação do bismuto com nêutrons, num reator nuclear,
Obtenção e usos do selênio e do telúrio em quantidades da ordem de gramas. O metal é separado
por sublimação.
0 Se e o Te ocorrem associados aos minérios do grupo
dos sulfetos e são obtidos na forma concentrada a partir dos 205Bi +1 n-------- >2g3Bi------- >2*°Po +.° e
depósitos ou sedimentos anódicos do processo de refino
eletrolítico do cobre. Esse depósito também contém metais Todos os isótopos do polônio são altamente radioativos.
do grupo da platina, além de prata e ouro. O Se e o Te também O isótopo mais estável é o ^Po, mas este é um forte emissor
são obtidos das poeiras formadas durante a calcinação de a, tendo um tempo de meia-vida de 138 dias. A radiação a
minérios como PbS, CuS ou FeS2. A poeira é coletada com o decompõe a água, complicando o estudo dos compostos de
auxílio de um precipitador eletrostático. Os dois elementos polônio nesse solvente. Por causa disso, a química do polônio
também ocorrem na forma nativa associados ao S. não é bem conhecida.
A produção mundial de Se metálico foi de 1.670
toneladas, em 1992. A maior parte é usada para descolorir o ESTRUTURA E ALOTROPIA DOS
vidro, embora o Cd(S, Se) seja empregado para obter vidros ELEMENTOS
de coloração rosa ou vermelha. O Se é usado em
fotocopiadoras do tipo xerox, no fotorreceptor destinado a Todos os elementos desse grupo, exceto o Te, são
receber a imagem. O fotorreceptor é uma fina película de Se polimórficos, isto é, podem ser obtidos em mais de uma
num suporte de Al. Ele é sensibilizado eletrostaticamente, variedade alotrópica.
aplicando-se uma alta tensão. Então, a imagem é focalizada
sobre o fotorreceptor, como numa câmera fotográfica. As Oxigênio
áreas expostas à luz perdem sua carga eletrostática, de modo O oxigênio ocorre na forma de dois compostos não-
que o "toner" fica aderido apenas sobre as área ainda metálicos, dioxigênio O2 e ozônio, O3. O dioxigênio O2 é
carregadas. Essa imagem é, então, transferida para uma folha uma molécula diatômica estável, o que explica sua existência
de papel e fixada, fundindo-se o pó ao papel por meio de na forma de um gás (S, Se, Te e Po tem estruturas mais
um tratamento térmico. Obtém-se assim uma cópia da complicadas, por exemplo S8, sendo sólidos à temperatura
imagem original. O fotorreceptor é então limpo mecani­ ambiente). A ligação na molécula de O2 não é tão simples
camente, para ser novamente sensibilizado e utilizado. O como a princípio pode parecer. Se a molécula tivesse duas
selênio é um elemento essencial no organismo, em pequenas ligações covalentes, então todos os elétrons estariam
quantidades, sendo um dos componentes de diversas emparelhados e a molécula seria diamagnética.
enzimas importantes como a glutationa peroxidase, que pro­
tege as células do ataque por peróxidos. Mas em quantidades
maiores o Se é tóxico. 0 O : O ' O ou 0=0
A produção mundial de telúrio metálico foi de 152
toneladas, em 1992. A maior parte é usada na fabricação de Mas o O> é uma molécula paramagnética e, portanto,
R7H BRUPQ 16 — CALCDBÊNID5

deve conter elétrons desemparelhados. A explicação desse tem um par eletrônico isolado, enquanto que os átomos de
fenômeno foi um dos primeiros êxitos da teoria de orbitais O das extremidades têm dois pares isolados. Com isso haverá
moleculares. Sua estrutura eletrônica foi descrita no Capítulo quatro elétrons para formar as ligações n. Os orbitais
4 (vide "Exemplos da teoria de orbitais moleculares"). atômicos pz dos três átomos formam três orbitais moleculares
O oxigênio líquido é azul pálida, assim como o sólido. deslocalizados envolvendo os três átomos. Um dos OMs é
A cor decorre das transições eletrônicas que levam a molécula ligante, um é não-ligante e o outro á antiligante. Os quatro
do estado fundamental (um estado triplete) para um estado elétrons n ocuparão os orbitais ligante e não-ligante. Logo,
excitado singlete. Essa transição é "proibida” no oxigênio além das duas ligações a, forma-se também uma ligação n
gasoso. No oxigênio líquido ou sólido um único fóton pode deslocalizada na molécula. A ordem de ligação é 1,5 e o
colidir simultaneamente com duas moléculas, promovendo sistema rt é constitui uma ligação tricêntrica com quatro
ambas ao estado excitado. É absorvido nesse processo uma elétrons.
luz vermelha-amarela-verde, fazendo com que o O2 adquira
cor azul. A origem dos estados singletes excitados no O2 Enxofre
está na disposição dos elétrons nos orbitais moleculares anti- O enxofre possui mais formas alotrópicas que qualquer
ligantes n’2py e Jt'2pz, mostrada abaixo. outro elemento. Essas formas diferem no grau de
»*p,»‘p, polimerização do S e na estrutura cristalina. As duas formas
Segundo estado
excitado (elétrons
têm spins opostos)
EE singlete Estado Energia/kJ
157
cristalinas comuns são o enxofre-a ou rômbico, que é estável
à temperatura ambiente, e o enxofre-p ou monoclínico, que
é estável acima de 95,5 °C. Essas duas formas se
Primeiro estado
excitado (elétrons
emparelhados)
EO singlete ’A, 92 interconvertem quando aquecidos ou esfriados lentamente.
O enxofre rômbico ocorre naturalmente na forma de grandes
cristais amarelos em áreas vulcânicas. Uma terceira
Estado fundamental
(elétrons com spins
paralelos)
EE triplete %- 0
modificação, conhecida como enxofre y-monoclínico, é
nacarada (se assemelha à madre-pérola). Pode ser obtido
Quando O2 é excitado para o estado singlete, ele se esfriando rapidamente soluções concentradas quentes de S
torna muito mais reativo que o oxigênio triplete normal do em solventes como CS2, tolueno ou EtOH. Todas as três
estado fundamental. O oxigênio singlete pode ser gerado formas contêm anéis S8 não-planos, com uma conformação
fotoquimicamente pela irradiação do oxigênio normal na de coroa (Fig. 15.2), diferindo somente no modo de
presença de um sensibilizador, tais como fluoresceína, azul empacotamento dos anéis no cristal. Isso afeta suas
de metileno ou alguns hidrocarbonetos policíclicos. O densidades:
oxigênio singlete também pode ser obtido por processos a-rômbico 2,069 g cm"3
químicos:
P-monoclínico 1,94-2,01 g cm'
ElOH
h2o2 + ocr o2('Ag) + h2o + cr y-monoclínico 2,19 g cm"3
O enxofre de Engel (enxofre-e) é instável e contém anéis
O oxigênio singlete pode adicionar-se às posições 1,4
S6 dispostos numa conformação em cadeira. É obtido
de um dieno, de modo semelhante a uma reação de Diels-
derramando uma solução de Na2S2O3 em HC1 concentrado e
Alder. Também, pode se inserir nas posições 1,2 de um
extraindo-se o enxofre em tolueno. Também pode ser obtido
alceno, formando um intermediário que pode ser clivado
como se segue:
gerando dois compostos carbonílicos.
O oxigênio singlete também pode estar envolvido em H2S4 + S2C12 -> S6 + 2HC1
reações de oxidação em sistemas biológicos.
Diversos outros anéis (S7, S9, S10, Su, S12, S18 e S20)
O ozônio, O3, é a variedade alotrópica triatômica do
foram obtidos por Schmidt e colaboradores. Geralmente são
oxigênio. Ele é instável e se decompõe a O2. A estrutura do
obtidos através de uma reação 1:1, em éter seco, entre
O3 é angular, com um ângulo de ligação 0-0-0 de 116° 48'.
polissulfetos de hidrogênio e dicloretos de polienxofre com
As duas ligações 0-0 têm um comprimento de 1,28 A,
o número adequado de átomos de S, por exemplo:
intermediário entre uma ligação simples (1,48 A no H2O2) e
uma dupla (1,21 A no 02) (a estrutura do 03 foi descrita no H2S8 + S2C12 -> S10 + 2HC1
final do Capítulo 4). A representação tradicional como um H2S8 + S„C12 -» S12 + 2HC1
híbrido de ressonância entre formas canônicas é atualmente
raramente empregada. A estrutura é descrita como tendo Em todos esses compostos cíclicos, a distância S-S é
um átomo central de O, utilizando orbitais híbridos sp2 para de 2,04 A a 2,06 A, e o ângulo da ligação S-S-S varia de
ligar-se aos átomos de O das extremidades. O átomo central 102° a 108°. Todos são solúveis em CS2.

CH2 CH2 + singlete O2


\\ //
CH—CH

Figura 15.1 Figura 15.2 — Estrutura da molécula Sa


A QUÍMICA □□ OZONIO 073

Enxofre plástico ou enxofre-/ é obtido derramando


enxofre fundido em água. Diversas outras formas podem
ser obtidas resfriando rapidamente S fundido. Elas podem
ser fibrosas, lamelares, ou elásticas, sendo uma variedade
de uso comercial conhecido como “Crystex”. Todas são
metaestáveis e se convertem na forma a (ciclo Ss), após
certo tempo de repouso. Suas estruturas contêm cadeias Quadrado-planar
espiraladas, e às vezes anéis Se ou outras formas cíclicas. S?,SeJ-,Te?
0 enxofre funde formando um líquido móvel, que
escurece à medida que a temperatura aumenta. A 160 °C,
os anéis S8 se rompem e 0 dirradical assim formado se
polimeriza, formando longas cadeias com até um milhão de
átomos. Por isso, todas as propriedades físicas do S variam
de forma descontínua. A viscosidade aumenta rapidamente
e continua a aumentar até 200 °C. Acima dessa temperatura
as cadeias se rompem, formando cadeias mais curtas e
espécies cíclicas, fazendo com que a viscosidade diminua
continuamente até 444 °C, o ponto de ebulição. O vapor a
200 °C é constituído essencialmente por anéis S8, mas contém
de 1 a 2% de moléculas de S2. A 600 °C o gás é formado
quase que exclusivamente por moléculas de S2.
Figura 1S.3 — Vários cálions do grupo do enxofre
O S2 é paramagnético e de cor azul, como o O2; e
provavelmente tem ligações similares. O gás S2 é estável até para baixo no Grupo na seqüência: moléculas diatômicas
cerca de 2.200 °C. A estabilidade do S2 é aproveitada na simples para anéis e cadeias, e por fim para um retículo
análise quantitativa de compostos de S. Eles são queimados metálico simples.
numa chama redutora, e a intensidade da coloração da O enxofre se dissolve em "oleum”, produzindo soluções
chama, devido a presença de moléculas de S2 excitadas, é coloridas e brilhantes. Essas cores podem ser amarelo, azul
medida com um espectrofotômetro. A espécies S3 e S4 intenso ou vermelho claro. Todas essas soluções contém
também são conhecidas. cátions [Sn]2 +. [S4]2 + é amarelo lustroso e, sua estrutura,
determinada por técnicas de raios X, é quadrado-planar. Tal
Selênio, telúrio e polônio forma é isoeletrônica ao S2N2. (S8]2 + é azul intenso e sua
estrutura é cíclica. A cor vermelha era atribuída ao [Sl6]2 + ,
São conhecidas seis variedades alotrópicas do selênio. ms recentemente tem sido demonstrado que, na verdade,
0 interesse por essas variedades se deve ao uso do Se em ela correnponde à forma (S19j24. Selênio e telúrio também
dispositivos eletrônicos, por exemplo nos dispositivos de se dissolvem em oleum, formando [Se4]2 + , [Te4]2*, (Se8]2 +
captura de imagens em fotocopiadoras tipo xerox, em e, também, [Se10]2+ and [Te6]4 + .
retificadores (convertem corrente alternada em contínua) e
em diodos emissores de luz (LEDs). Há quatro formas
vermelhas. TYês formas vermelhas não-metálicas diferentes A QUÍMICA DO OZÔNIO
são conhecidas, todas contendo anéis Se8. Elas diferem no O O3 é um gás instável, diamagnético, de cor azul
modo de empacotamento dos anéis no cristal. Uma forma intensa, com P.E. -112 °C. A cor se deve à intensa absorção
vermelha “amorfa" contém cadeias poliméricas. Além disso, de luz vermelha (X 557 e 602 nm). Também absorve
há duas variedades cinza. A mais estável é a forma metálica fortemente na região do UV (X255 nm). Essa propriedade é
cinza, que contém cadeias espiraladas infinitas de átomos particularmente importante, pois há uma camada de O3 na
de Se com fracas interações metálicas entre cadeias atmosfera superior que absorve a radiação UV prejudicial
adjacentes. É disponível comercialmente uma forma preta proveniente do sol, protegendo assim os organismos vivos
vítrea de Se, constituída por grandes anéis irregulares com da Terra. A utilização de clorofluorocarbonos (CFCs) em
até 1.000 átomos. aerossóis e refrigeradores, e seu subsequente escape para a
O telúrio só possui uma única forma cristalina, de cor atmosfera é considerada como sendo o responsável pelo
branco prateada e semi-metálica. Essa forma se assemelha surgimento dos “buracos" na camada de ozônio sobre a
ao Se cinza, mas exibe propriedades metálicas mais Antártida e o Ártico. Por isso, teme-se que uma quantidade
acentuadas. excessiva de luz UV atinja a Terra, provocando câncer de
0 polônio é um metal verdadeiro. Existe numa forma pele (melanoma) nos seres humanos. Óxidos de nitrogênio
a-cúbica e numa forma p-romboédrica, ambas metálicas. (provenientes dos carros) e os halogênios também podem
Existe, portanto, um decréscimo acentuado do número prejudicar a camada de O3(vide Capítulo 13).
de variedades alotrópicas do S para o Se e deste para o Te. O O3 tem um odor forte característico, que
Há um aumento do caráter metálico de cima para baixo freqüentemente está associado a equipamentos elétricos que
dentro do grupo. As propriedades elétricas também variam, produzem faíscas. O gás é tóxico, e a exposição contínua a
indo de isolantes (O e S) a semicondutores (Se e Te) e concentrações tão baixas quanto 0,1 ppm deve ser evitada.
condutores metálicos (Po). As estruturas variam de cima O ozônio é geralmente preparado pela ação de uma
H74 BRUPO 16 — CALCDEÊNIOS

descarga elétrica silenciosa sobre o Potenciais de redução padrão (volt)


oxigênio, entre os dois tubos concên­
tricos metalizados, num aparelho Solução ácida
denominado ozonizador. Dessa ma­ Estado de oxidação
neira podem ser obtidos misturas com +VI +V +iv +ni +n| +n +i o -n
até 10% de O3. Misturas gasosas mais
concentradas ou O3 puro podem ser
+0,69
obtidos pela liquefação fracionada das
°LÍ -H2b^H2o
mesmas. O líquido puro é muito explo­ —+1.23-------- 1
sivo. Misturas com baixas concen­
trações de O3 podem ser obtidas
sot—s2o|-^l SO2
+0,51
s4or-^s2or- +0,47
JS8.
+0.14
h2s
I— -------- +o. 17--------- J I ---------- +0,45------------
irradiando-se O2 com luz UV. Isso ocorre
+1,15 +0,74 -0,40
na atmosfera quando há formação de SeO,~ H2SeO3------- Se HiSe
"smog” fotoquímico sobre as cidades, +0.92 +0,57 -0,72
por exemplo Los Angeles e Tóquio. A H6TeO6 ---------------- TeO2 Te H2Te
transformação fotoquímica é útil na
| + 1,02 --------- Te4+--------- --------- +0,53 J
--------- +0,72
produção de O3 em baixas concen­
trações para esterilizar alimentos, PoO3
+1,52
PoO2
+0,80
Po2*
+0,65 1Po
-1,00
H2Po
particularmente no caso de congelados. +1,16
O3 também pode ser obtido aquecendo-
se O2 a temperaturas superiores a 2.500 * sofre desproporcionamento
°C e resfriando-o rapidamente. Em
todos esses processos há formação de átomos de oxigênio, lentamente, mesmo quando aquecido moderadamente, desde
que reagem com moléculas de O2 para formar O3. que não esteja na presença de catalisadores ou luz UV. 0 03
O3 é também usado como desinfetante. Por exemplo, é um agente oxidante extremamente forte: só o F2 apresenta
pode ser usado na purificação de água potável, pois elimina poder oxidante maior. Por isso, o ozônio é muito mais reativo
as bactérias e os vírus. Sua vantagem em relação ao cloro é que o oxigênio.
a ausência de cheiro e sabor desagradável na água tratada, 3PbS + 4O3 -> 3PbSO4
pois o excesso de O3 rapidamente se decompõe a O2. Por 2NO2 + O3 -> N2O5 O2
motivos semelhantes, o ozônio é usado para tratar água de S + H2O + O3 -> H2SO4
piscinas. 2KOH + 5O3 -> 2KO3 + 5O2 H2O
A quantidade de O3 existente numa mistura gasosa pode
O ozoneto de potássio KO3 é um sólido laranja, que
ser determinada borbulhando-se o gás numa solução de Kl
contém o íon paramagnético O3~. O O3 se adiciona a
contendo tampão borato (pH 9,2). Em seguida, o iodo
compostos orgânicos insaturados à temperatura ambiente,
formado é titulado com tiossulfato de sódio.
formando ozonetos. Estes normalmente não são isolados,
O3 + 2K+ + 21" + H2O -> I2 + 2K0H + O2 mas hidrolisados (com divagem) a aldeídos e cetonas em
solução, ou então oxidados ao ar para formar ácidos
Alternativamente, a concentração de O3 pode ser medido carboxílicos.
pela variação de volume da mistura gasosa quando o ozônio A diferença de energia livre entre os diferentes estados
é decomposto cataliticamente. de oxidação do S não é muito grande. O PoO3 (Po ( + VI)) é
2O3 AG = -163 kJ mol"1 consideravelmente mais oxidante que os demais elementos
3O2
(2 volumes) (3 volumes) do grupo no estado de oxidação (+ VI). O selenato, SeO42',
e o telurato, TeO42-, têm maior poder oxidante que o S042'.
O O3 é termodinamicamente instável, decompondo-se As diferenças entre os poderes oxidantes dos elementos do
a O2. A reação de decomposição é exotérmica, e é catalisada grupo no estado ( + IV), ou seja, do poloneto, do telureto,
por diversos materiais. O sólido e o líquido geralmente se do seleneto e do sulfeto, são ainda menores. Os potenciais
decompõem de maneira explosiva. O gás se decompõe redox também indicam o decréscimo da estabilidade do H20
para o H2S, deste para o H2Se, deste para o H2Te, e deste
Tabela 15.4 — Propriedades físicas dos elementos para o H2Po: os três últimos são termodinamicamente
instáveis.
Raio Raio 1? energia Eletrone- P.F. P.E.
cova- iônico de ioniza- gativi- CC) CC) ESTADOS DE OXIDAÇÃO ( + II), ( + IV) E
lente M2- ção dade de
(Â) (Â) (kJ mol'1) Pauling ( + VI)
o 0,74 1,40 1.314 3,5 -229 -183 O oxigênio nunca apresenta valência superior a dois,
s 1,04 1,84 999 2,5 114 445 pois depois de formar duas ligações covalentes ele atinge a
Se 1,14 1,98 941 2,4 221 685 configuração eletrônica de um gás nobre, não mais havendo
Te 1,37 2,21 869 2,1 452 1.087 orbitais de baixa energia disponíveis para formar outras
Po 813 2,0 254 962
ligações. Contudo, os elementos S, Se, Te e Po possuem
PROPRIEDADES BERA1S DOS ÚX1DOS B75

orbitais d vazios que podem ser utilizados para formar elétrons sep blindam apenas parcialmente a carga do núcleo,
ligações: esses elementos podem formar quatro ou seis o tamanho dos átomos e portanto dos orbitais d decresce do
ligações ao desemparelhar seus elétrons. Si para o P, deste para o S e deste para o Cl. A diminuição do
tamanho dos orbitais 3d nessa série leva à formação de
ligações pn-dn progressivamente mais fortes. Assim, nos
Átomo de S, Se ouTe
Estado fundamental
É |n|t |t | IIHII silicatos praticamente não há formação de ligações pn-dit.
As unidades SiO4 se polimerizam formando uma enorme
Dois átomos desemparelhados,
possibilitam a formação de duas ligações. variedade de estruturas com ligações o Si-O-Si. Nos fosfatos,
Quatro pares de elétrons, levam a uma estrutura
rutura
tetra éc
idrica com duas posições ocupadas por pare;es isolados. a ligação tt é mais forte, mas ainda um grande número de
fosfatos poliméricos são formados. A ligação rt é ainda mais
Estado excitado |f |f | |t | | | I I forte e se toma dominante nos oxoácidos de enxofre. Por
isso, ocorre apenas um pequeno grau de polimerização,
Quatro elétrons desemparelhados
possibilitam a formação de quatro ligações. sendo conhecidos alguns poucos compostos poliméricos com
par eletrônicos, portanto a estrutura e bipirâmide
Cinco pares
trigonalI com uma posição ocupada por um par isolado. ligações S-O-S. Nos oxoânions de cloro, as ligações pn-dn
são tão fortes que não ocorre polimerização.
Estado mais excitado
E |t |t |t I |t |t I I I I Nos casos em que há mais de uma ligação tt na
Seis elétrons desemparelhados, possibilitam
molécula, é mais explicar tais ligações em termos de orbitais
a formação de seis ligações.
Seis pares eletrônicos, levam a uma estrutura octaédrica.
moleculares deslocalizados envolvendo diversos átomos.

Compostos de S, Se e Te com O são tipicamente


tetravalerítes. Os compostos com os elementos no estado de DIFERENÇAS ENTRE O OXIGÊNIO E OS
oxidação ( + IV) apresentam tanto propriedades oxidantes DEMAIS ELEMENTOS
como redutoras. O flúor gera compostos nos quais eles se O oxigênio difere dos demais elementos do Grupo por
encontram no estado de oxidação máximo (+ VI). Compostos ser mais eletronegativo e portanto mais iônico em seus
com os elementos no estado (+ VI) apresentam propriedades compostos.
oxidantes. Os estados de oxidação mais elevados se tornam
As ligações de hidrogênio são muito importantes nos
menos estáveis a medida que se desce pelo Grupo.
compostos contendo O, mas só recentemente se comprovou
Geralmente esses compostos são voláteis, por serem
covalentes. a existência de ligações de hidrogênio fracas em compostos
de S.
A ausência de estados de oxidação mais elevados e a
COMPRIMENTOS DE LIGAÇÃO E LIGAÇÕES limitação a um número de coordenação 4 são uma
pn-dn consequência da limitação do número de elétrons no segundo
As ligações entre S e O e entre Se e O são muito mais nível a oito. Os demais elementos podem expandir seu
curtas que o esperado para uma ligação simples. Em alguns número de coordenação para 6, utilizando seus orbitais d.
casos, elas podem ser consideradas como sendo ligações O oxigênio pode utilizar orbitais pn para formar ligações
duplas localizadas. Uma ligação a é formada da maneira duplas fortes. Os demais elementos do Grupo também podem
convencional. Além disso, forma-se uma ligação tt pela formar ligações duplas, mas estas se tornam mais fracas à
interação lateral de um orbital p do oxigênio com um orbital medida que aumenta o número atômico.
d do enxofre, ou seja, uma interação pn-dn. Essa ligação
ptr-dtt é semelhante àquela encontrada em óxidos e PROPRIEDADES GERAIS DOS ÓXIDOS
oxoácidos de fósforo, e difere da ligação mais comum pti-
ptido eteno (Fig. 15.4). Praticamente todos os elementos reagem com o oxigênio
formando óxidos. Há diversos critérios que podem ser
Para que ocorra uma interação efetiva do tipo prc-dtt, o
utilizados para classificar os óxidos, em função de sua
tamanho dos orbitais d deve ser semelhante ao tamanho
estrutura ou de suas propriedades químicas. Consideremos
dos orbitais p. Assim, o enxofre forma ligações n mais forte
inicialmente a classificação de acordo com a sua estrutura
que os elementos mais pesados do Grupo. Ao longo de um
geométrica. De acordo com esse critério, os óxidos são
período da Tabela Periódica, a carga nuclear aumenta, à
classificados em normais, peróxidos ou subóxidos.
medida que mais elétrons sep são adicionados. Como esses

Óxidos normais
Nesses casos o número de oxidação de M pode ser
deduzido utilizando a fórmula empírica MxOy> considerando
o número de oxidação do oxigênio como sendo (-II). Esses
óxidos. por exemplo H2O, MgO e A12O3, contêm apenas
ligações M-O.

Peróxidos
Os peróxidos contêm uma quantidade de oxigênio maior
Figura 15.4 — A interação pn-dn que aquele esperado a partir do número de oxidação de M.
B76 6RUP0 1B — CALCOBÊNIDS

Alguns deles são iônicos e contêm o íon peróxido O22-, por A12O3 + 6HC1 -> 2AI3+ + 6cr + 3H2O
exemplo os peróxidos dos metais dos Grupos 1 e 2 (Na2O2 e A12O3 + 2OH“ + 3H2O -» 2[A1(OH)4]-
BaOJ. Outros são covalentes e suas estruturas contêm o PbO + 2HNO3 -» Pb2 + + 2NO3- + H20
grupo -O-O-, por exemplo o H,02 (H-O-O-H), o ácido PbO + OH’ -> (PbO-OHJ-
peroxomonossulfúrico e o ácido peroxodissulfúrico.
Óxidos ácidos
0 O O
Os óxidos dos elementos não-metálicos são geralmente
II II I covalentes. Muitos ocorrem como moléculas discretas (C02,
2H* O—s—O—O 2H + 0—S—O—O—S—O
I II I NO, SO2, C12O) e apresentam baixos pontos de fusão e
. o J o 0 ebulição, embora alguns como B2O3 e SiO2 formem
ácido peroxomonossulfúrico ácido peroxodissulfúrico "moléculas gigantes” infinitas e tenham pontos de fusão
Os peroxo-compostos são agentes oxidantes fortes e são elevados . Todos têm caráter ácido e muitos deles são os
hidrolisados pela água a H2O2. anidridos dos correspondentes ácidos.

H2SO5 + H2O -> H2SO4 + H2O2 B2O3 + 3H2O 2H3BO3


N2O5 + H20 —>2HNO3
Os superóxidos, por exemplo K02, contêm ainda mais P4O10 + 6H2O -> 4H3PO„
oxigênio que os peróxidos (vide Capítulo 9). SO3 + H20 -»H2SO4

Subóxidos Alguns deles que não reagem com água, tal como o
SiO2, reagem com NaOH, evidenciando assim suas
Esses compostos contêm uma quantidade de oxigênio
características ácidas. Nos casos em que o elemento pode
menor que o previsto a partir do número de oxidação de M.
existir em mais de um estado de oxidação, por exemplo N2O3
Além das ligações M-0, eles possuem ligações M-M, como
e N2O5 e SO2 e SO3, aquele no qual o elemento se encontra
por exemplo oO = C = C = C = O.
no estado de oxidação mais elevado é o mais ácido.
Um segundo critério de classificação dos óxidos se
baseia nas suas propriedades ácido-base. Assim, os óxidos N2O3 + H2O —>2HNO2
podem ser ácidos, básicos, anfóteros ou neutros, dependendo N20s + H20 -> 2HNO3
dos produtos formados quando reagem com água.
O N2O3 contém N( + III) e o N20s contém N( + V). 0
Óxidos básicos HNO3 é um ácido mais forte que o HNO2. Esse
comportamento pode ser racionalizado da seguinte maneira:
Os óxidos metálicos são geralmente básicos. A maioria quanto maior o estado de oxidação do átomo central, mais
dos óxidos metálicos são iônicos e contém o íon O2-. Os ele atrairá os elétrons para si, enfraquecendo as ligações
óxidos dos metais mais eletropositivos, ou seja, dos Grupos 0-H e facilitando a liberação de íons H +.
1 e 2 e dos lantanídeos, são caracteristicamente básicos. A
formação de um óxido iônico requer uma grande quantidade Óxidos neutros
de energia, pois a molécula de 02 precisa ser dissociada e a
energia requerida para formar O2- (afinidade eletrônica) Alguns poucos óxidos covalentes não apresentam
também é grande. Assim, os óxidos iônicos são formados características nem básicas nem ácidas (N20, NO, CO).
por compostos em que a elevada energia reticular compensa
esse grande consumo de energia. Por isso, geralmente Reações entre os óxidos
possuem elevados pontos de fusão (Na20 1.275 °C, MgO Mais importante que a reação de um óxido com água,
2.800 °C, La2O3 2.315 °C). Quando reagem com água, o íon são suas reações e a sua relação com outros óxidos. Se os
O2- é convertido em OH". óxidos forem dispostos numa série que vai do mais básico
Na2O + H2O -> 2NaOH ao mais ácido, observa-se que quanto mais afastados
estiverem dois óxidos nessa série, mais estável será o
Contudo, muitos óxidos de metais com fórmulas M2O3 composto formado quando esses óxidos reagirem entre si.
e MO2, mesmo sendo iônicos, não reagem com a água. Dentre Essa constatação pode ser analisada quantitativamente,
eles podem ser citados o T12O3, Bi2O3 e ThO2. Mas, esses considerando as variações de energia livre padrão.
óxidos reagem com ácidos formando sais, sendo portanto
básicos. Quando um metal pode existir em mais de um estado Na2°(s) + H2O0) 2NaOH(s)
AG° -376 -234 2(-376) AG =-142 kl mol’1
de oxidação, formando mais de um óxido, por exemplo CrO,
Cr2O3 e CrO3, PbO e PbO2 e Sb4O6 e Sb4O10, aquele com o CaO(s) H2O(|) —»Ca(OH)2(s)
estado de oxidação mais baixo é o mais iônico e mais básico. AG° -602 -234 -895 AG = -59 klmol'1
Por exemplo, CrO é básico, Cr2O3 é anfótero e CrO3 é ácido.
A12O3(s) + 3H2O(I) ->2A1(OH)3(s)
AG° -1572 3 (-234)
3( —234) 2(-1138) AG = -2 kJ mol'1
Óxidos anfóteros
Muitos metais formam óxidos anfóteros, ou seja, que Dos valores de AG, deduz-se que o Na2O é o mais básico
reagem tanto com ácidos fortes como com bases fortes. Os e o A12O3 o menos básico desses óxidos. Realmente, o Na>0
exemplos incluem BeO, A12O3, Ga2O3, SnO, PbO e ZnO. é fortemente básico e o A12O3 é anfótero. Pode-se inferir
ÓXIDOS OE ENXOFRE. 5ELÊNI0. TELÚRIO E POLÚNIO B77

comparando-se os valores das energias livres dos hidróxidos


Tabela 15.5 — Os óxidos
que, quimicamente, o NaOH é o mais reativo e o A1(OH)3 é o
mais estável. Isso também é verdadeiro nas seguintes reações: MO,
Elemento MO2 Outros óxidos
CaO(S) + CO2(g) CaCO3(sj
AG” AG = -134 kJ mol'1 S SO2 SO3 S2O (S2O2) (SO) (S—O—O)
-602 -393 -1129
(SO4) S6O. S2O, S8O, S9O, Sl0O
CaO(s) + N2O5(g) —»Ca(NO3)2(5) Se SeO2 SeO3
AG” -602 +134 -740 AG = -272 kJ mol'1 Te TeO2 TeO3 TeO
Po PoO2 PoO
CaO(s) + SO3(g) CaSO4(s)
AG” -602 -368 -1317 AG = -347 kJ mol'1

De acordo com os valores de AG, o SO3 é o óxido mais 4) Grandes quantidades são produzidos como subproduto
ácido, seguido pelo N2O5, e o CO2 é o ácido mais fraco. na queima do carvão, e em menores quantidades na
Considerando os valores das energias livres dos sais forma­ queima de combustíveis fósseis, óleo combustível e gás.
dos, veriíica-se que o Ca(NO3)2 é o menos estável e mais reati­ Isso indubitavelmente prejudica o meio ambiente.
vo, enquanto que o CaSO4 é o mais estável e menos reativo. O SO2 é um gás incolor (P.E. -10 °C, P.F. -75,5 °C),
A ordem de acidez de alguns óxidos é mostrado abaixo: com um cheiro asfixiante, muito solúvel em água (39 cm'3
do gás se dissolvem em 1 cm'3 de água). O SO2 em solução
K2O, CaO, MgO, CuO, H2O, SiO2, CO2, N2O5, SO3 se encontra quase que inteiramente na forma de várias
mais básico mais ácido espécies hidratadas, como por exemplo SO2.6H2O. A solução
É possível prever se uma reação é possível ou não. Por contém somente uma pequena quantidade de ácido sulfuroso
H2SO3 • SO2 em concentrações superiores a 5 ppm são tóxicos
exemplo, se CaO for adicionado a uma mistura de H2O e
para o homem, mas as plantas são bem mais sensíveis.
S03 (H2SO4), formar-se-á o composto mais estável CaO • SO3
(CaSO4), ou seja; No laboratório, o SO2 pode ser detectado:
D Pelo seu cheiro.
H2SO4 + CaO —» CaSO4 + H2O
2) Por tornar verde um papel de filtro umedecido com
mas CuSO4 + CO2 —> não reage
solução ácida de dicromato de potássio, devido à
Os valores das energias livres e a acidez estão formação de íons Cr3 +.
relacionados. A termodinâmica nos permite prever se uma K2Cr2O7 + 3SO2 + H2SO4 -> Cr2(SO4)3 + K2SO4 + H2O
reação é possível em termos de energia. Essa aplicação dos
valores de AG não se limita aos óxidos, mas se aplica a todas 3) Por tornar azul um papel com iodato e amido (formação
as reações. Todavia, a termodinâmica não nos permite prever de e I2 na presença de amido)
a velocidade de uma dada reação. Por exemplo, a reação 2KIO3 + 5SO2 + 4H2O -> I2 + 2KHSO4 + 3H2SO4
abaixo é termodinamicamente possível:
Métodos quantitativos de determinação de SO2 na
CaO + SiO2 -> CaSiO3 atmosfera encontram-se bastante desenvolvidos, por causa
das preocupações ambientais relacionadas à “chuva ácida”.
Mas, é muito lenta a temperaturas normais, embora
Dentre eles temos a:
seja mais rápida nas altas temperaturas de um alto-forno.
Na Química Inorgânica é importante lembrar quais são D Oxidação a H2SO4, seguida da determinação quantitativa
de H2SO4 por titulação convencional ou condutimétrica.
os compostos que reagem entre si, saber comparar as
diferentes estabilidades dos hidróxidos, silicatos, carbonatos, so2 + h2o, H2SO4
nitratos, sulfatos, etc. A utilização de uma série como aquela
dada acima minimiza esse esforço de memorização. 1) Reação com KJHgClJ, com formação de um complexo
Tabelas bastante extensas de dados de energias livres de mercúrio que reage com o corante para-rosanilina,
podem ser encontradas nos livros de Bard, A.J., Parsons, R., que posteriormente é determinado colorimetricamente.
e Jordan, J.; e em Latimer, W.M., apresentados nas Leituras
Complementares. K2[HgCl4] + 2SO2 + 2H,0 -> K2[Hg(SO3)2] + 4HC1

3] Medida do espectro do S2 formado na combustão do


ÓXIDOS DE ENXOFRE, SELÊNIO, TELÚRIO SO2 numa chama de hidrogênio, num fotômetro de
E POLÔNIO chama (vide também a discussão sobre oxigênio
Dióxido MO2 singlete).
A maior parte do SO2 produzido é oxidado a SO3 no
0 SO2 é produzido industrialmente em grande escala:
processo de contato, e usado na fabricação de H2SO4.
1) Por combustão do enxofre ao ar.
Quantidades menores de SO2 são usados na obtenção de
2) Por combustão de H2S ao ar. sulfitos SO32' (utilizado em alvejantes) e na preservação de
3) Por calcinação de vários minérios do grupo dos sulfetos, alimentos e vinhos.
na presença de ar, em altos-fornos (principalmente FeS2,
2SO2(gj + O2(gj ——- 2SO3(g; AH — —98 kJ mol-1
e em menores quantidades CuS e ZnS).
B78 6RUPQ 16 — CALC06ÊNID5

A reação direta é exotérmica, sendo favorecida a baixas


temperaturas. Como há um decréscimo no número de mol
de gás, o processo é favorecido por pressões elevadas. Na
prática, a reação é realizada a pressão atmosférica. A
formação de SO3 é favorecida pela presença de um excesso
de O2 e pela remoção de SO3 da mistura. Um catalisador é
utilizado para se obter um fator de conversão razoável, num
tempo razoável. No processo de contato eram utilizados
catalisadores de tela de platina ou amianto platinizado. A Figura 15.6 — A estrutura do SeO2
platina é um excelente catalisador, que pode ser utilizado
mesmo a temperaturas moderadamente baixas. Contudo,
trata-se de um material muito caro e susceptível ao Os dióxidos SeO2, TeO2 e PoO2 são obtidos pela
envenenamento, principalmente por metais como o As. combustão do elemento ao ar. O SeO2 é um sólido à
Atualmente um catalisador de V2O5 ativado com K2O, num temperatura ambiente. O gás apresenta a mesma estrutura
suporte de terras diatomáceas ou sílica, é utilizado. Esse do SO2, mas o sólido é formado por cadeias infinitas não-
catalisador é muito mais barato e resistente ao planares (Fig. 15.6). O TeO2 e o PoO2 cristalizam segundo
envenenamento. É inativo abaixo de 400 °C e se decompõe duas formas iônicas.
a temperaturas entre 600 e 650 °C. Poeira pode obstruir a Os dióxidos também reagem com a água diferentemente.
superfície do catalisador e prejudica sua eficiência. Para O SO2 é muito solúvel, mas forma essencialmente S02
impedir isso, os gases são passados através de um hidratado, e quantidades mínimas de ácido sulfuroso, H2SO3
precipitador eletrostático. O catalisador pode durar mais de (dissolvendo-se o SO2 em soluções alcalinas obtém-se os
20 anos. A maioria das instalações industriais são sulfitos - sais do H2SO3). O H2SO3 puro não pode ser isolado.
constituídas por conversores em quatro estágios. Os gases SeO2 reage com água formando o ácido selenioso, H2SeO3,
são passados sucessivamente por quatro leitos de catalisador, que pode ser obtido num estado cristalino. O TeO2 é quase
sendo resfriados entre a passagem por um e outro leito. O insolúvel em água, mas se dissolve em álcalis para formar
SO3 é removido após a passagem dos gases por três leitos e teluritos. Também se dissolve em ácidos para formar sais
novamente após sua passagem pelo quarto leito. básicos: isso ilustra o caráter anfótero do TeO2. Observa-se
O SO2 é usado para obter outros produtos: assim o aumento do caráter básico ao se percorrer um grupo
de cima para baixo. O SeO2 é usado para oxidar aldeídos e
2SO2 + Na2CO3 + H2O -> 2NaHSO3 + CO2 cetonas.
hidrogenossulfito de sódio
(bissulfito de sódio)
R-CH2-CO-R + SeO2 -> R-CO-CO-R + Se + H20
2NaHSO3 + Na2CO3 -> 2Na2SO3 + H2O + CO2
sulGto de sódio
Trióxidos MO3
calor
Na2SO3 + S -> Na2S2O3 O único trióxido importante é o SO3. É fabricado em
tiossulfato de sódio
larga escala pelo processo de contato, no qual S02 reage
O SO2 também tem sido usado como um solvente não- com O2 na presença de um catalisador (Pt ou V2O5) (vide
aquoso. Uma grande variedade de compostos covalentes, tópico sobre o SO2). Geralmente o SO3 não é isolado, mas
tanto inorgânicos como orgânicos, são solúveis em SO2 convertido diretamente em H2SO4. O SO3 reage
líquido, sendo um meio de reação conveniente. Acreditou- vigorosamente com a água, liberando uma grande
se no passado que o SO2 sofresse uma reação de auto- quantidade de calor e formando H2SO4. No procedimento
ionização, possibilitando a ocorrência de reações “ácido- industrial não é possível simplesmente reagir o S03 com
base”. Porém, atualmente sabe-se que essa hipótese era água, pois ele reage com vapor de água, provocando a
incorreta. formação de uma névoa densa de gotículas de H2SO4, difícil
de condensar, que passa pelo absorvente e escapa para a
2SO2 SO2+ + sof atmosfera. Para impedir isso, verificou-se que é conveniente
dissolver o SO3 em H2SO4 98-99%, em torres empacotadas
O gás SO2 forma moléculas discretas em forma de V, e com material cerâmico, para se obter ácido sulfúrico
essa estrutura é mantida no estado sólido (Fig. 15.5). O fumegante (ou "oleum”). Este é constituído essencialmente
ângulo de ligação é de U9°30'. A ligação no SO2 foi descrita por ácido pirossulfúrico, H2S2O7. A concentração de H2SO4
no Capítulo 4. é mantida constante pela adição de água.

H2S2O7 + H2O —> 2H2SO4

z T
Figura 15.5 — A estrutura do SO2 Figura 15.7 — A estrutura do gás SO3
ÚXIOOS DE ENXOFRE. SELÊNIO. TELÚRIO E POLÚNIO 279

dissolvendo-se as formas cíclicas de S6, S7, S8, S9 e Si0 em


OOO O- ,0 CS2 ou CH2C12, e oxidando-os com ácido trifluoropero-
11 n II
— S—0— S -O- s -o-
II xoacético, a temperaturas entre -10 e -30 °C.
II II II ciclo-S8 + CF3C(O-O)OH -» S8O + CF3COOH
OOO O'
Todos esses compostos são amarelo alaranjados e
Figura 15.8 — Estruturas de cadeias SO3 e do trímero cíclico do SO3 conservam o anel de átomos de S de partida, mas um de
seus átomos de S forma uma dupla ligação com um átomo
de oxigênio. O TeO e o PoO são obtidos pela decomposição
A molécula de SO3 na fase gasosa apresenta uma térmica dos respectivos sulfitos.
estrutura trigonal planar (Fig. 15.7). Tal estrutura pode ser
descrita como sendo devido à formação de três ligações a e TeSOj -> TeO + SO2
três ligações rt deslocalizadas (vide Capítulo 4) entre S e O.
À temperatura ambiente, o SO3 é um sólido que pode Detergentes
ser obtido em três formas cristalinas distintas. O y-SO3 é O protótipo do detergente é o sabão. O sabão é excelente
semelhante ao gelo e é um trímero cíclico (SO3)3, com para limpeza e é 100% biodegradável (isto é, é completa­
P.F. = 16,8 °C. Se o SO3 for armazenado por longo tempo, mente decomposto por bactérias nas estações de tratamento
ou se pequenas quantidades de água estiverem presentes, de esgotos e rios). Um composto típico é o C17H35COO"Na +.
forma-se o P-SO3 ou então o a-SO3. Ambos se assemelham O sabão apresenta duas desvantagens:
ao amianto e são constituídos por féixes de agulhas sedosas.
0 P-SO3 (P.F. 32,5 °C) é constituído por cadeias helicoidais D Forma um precipitado insolúvel quando se usa água
“dura” contendo íons Ca2t ou Mg2’.
infinitas de tetraedros [SO4] compartilhando dois vértices.
Essa estrutura se assemelha àquela de uma cadeia de fosfatos. 2) Não pode ser usado em escala industrial em soluções
Oa-SO3 (P.F. 62,2 °C) é a forma mais estável, e é constituída ácidas, pois precipita o ácido graxo de origem.
por cadeias com ligações cruzadas, formando camadas (Fig.
15.8).
rcocf + h3o+ — rcooh + h2o
O SO3 é um poderoso agente oxidante, especialmente Os detergentes são agentes tensoativos. São constituídos
quando quente. Oxida HBr a Br2 e P a P4O10. por moléculas contendo uma parte orgânica não-polar, e
Na indústria, o SO3 é importante na fabricação de H2SO4, um grupo polar. Se uma substância apoiar for colocado num
e também na sulfonação alquil-benzenos de cadeia longa. solvente iônico contendo um detergente, as moléculas do
Os sais de sódio desses alquil-benzeno-sulfonatos são agentes detergente se orientarão de modo que a parte apoiar das
tensoativos aniônicos, e são os ingredientes ativos dos moléculas esteja em contato com a substância apoiar e o
detergentes. grupo polar aponte em direção ao solvente. Assim, as
partículas de sujeira passam a ser rodeadas pelas moléculas
0 SO3 é empregado na obtenção do ácido sulfâmico,
de detergente, formando micelas, efetivamente “dissolvendo”
NH2SO3H.
a sujeira. Os primeiros detergentes e introduzidos na década
NH2 CO NH2 + SO3 + H2SO4-> 2NH2SO3H + CO2 de 1950, eram alqui-benzeno-sulfonatos com cadeias
uréia ácido sulfâmico ramificadas (ABS = alkylbenzene sulphonates), denomi­
nados "detergentes duros". Uma estrutura típica é apresen­
0 ácido sulfâmico é o único ácido forte que é sólido à tada a seguir:
temperatura ambiente. É utilizado na limpeza das instalações CH3 ch3 ch3
de usinas de refino de açúcar e de cervejarias, de evapora-
dores de dessalinização, e para destruir o excesso de nitritos CH3—CH—CH2—CH—CH2—CH—CH2—CH—CH3
presentes após o tingimento com diazocorantes.
0 SeO3 é obtido pela ação de uma descarga elétrica
silenciosa sobre Se e O2 gasosos. O TeO3 é obtido a partir do
aquecimento forte do ácido telúrico, H6TeO8. Os dois trióxidos
são anidridos de ácidos.
9 SO; Na’
Ttata-se de excelentes detergentes, com boas proprie­
SeO3 + H2O H2SeO4 ácido selênico dades tensoativas e de limpeza. O problema é a permanência
TeO3 + 3H2O -> H6TeO6 ácido telúrico desses detergentes nas águas residuais, pois passam
praticamente inalterados pelos esgotos e estações de
Outros óxidos tratamento de efluentes. As bactérias existentes nessas
O S2O é formado quando S e SO2 são submetidos a estações promovem a decomposição dos detritos e dos
uma descarga elétrica silenciosa. É muito reativo, atacando detergentes. Contudo, esse tipo de detergente só é 50 a 60%
metais e KOH, e sofre polimerização. Pode subsistir por biodegradável. As bactérias não conseguem decompor o anel
alguns dias a baixas pressões. É de interesse espectroscópico, benzênico, e degradam com dificuldade e lentamente com-
por causa de sua semelhança estrutural com o O2. Até pos-tos com cadeias ramificadas. Assim, grande parte dos
recentemente era formulado incorretamente como SO. detergentes é despejada nos rios, onde provocam a formação
Uma série de óxidos que vai de S6O a S10O foi obtida de espumas, especialmente se a água contiver proteínas.
B8O GRUPO 16 — CALC06ÊNI05

Os detergentes "suaves” também contêm um grupo 2. Série do ácido sulfúrico


apoiar e um grupo polar na molécula, mas trata-se agora de O
alquil-benzeno-sulfonatos "lineares” (LAS = linear alkylben- II S(+IV)
zene sulphonates), com uma cadeia alifática não-ramificada. H2SO4 ácido sulfúrico HO—S—OH
Esses detergentes são 90% biodegradáveis. A cadeia alifática I
O
normal é completamente decomposta, mas não o anel
aromático. Portanto, os detergentes "suaves” poluem bem S
menos que os detergentes “duros”. H2S2O3 ácido I S(+V1),
HO—S—OH
Sulfonando-se álcoois com cadeias normais longas,
tiossulfúrico
I s(-n)
como o álcool laurílico (obtido do óleo de coco ou de sebo), O
o produto será um excelente detergente, que será rápida e O 0
completamente biodegradado. Os álcoois de cadeia C]4 H2S2O7 ácido di- ou II I Sí + vi)
podem ser obtidos pelo processo de Ziegler-Natta (vide pirossulfúrico HO—S—O—S—OH
“Compostos organometálicos”, no Capítulo 12,), e são úteis II I
O 0
na fabricação de detergentes biodegradáveis.
À primeira vista, o uso de detergentes biodegradáveis 3. Série do ácido tiônico
parece ser altamente desejável. Contudo, o seu emprego pode O o
provocar outros problemas. As bactérias responsáveis por II I S(+V)
H2S2O6 ácido ditiônico HO—S—S—OH
sua decomposição se multiplicam rapidamente, alimentando- II I
se com esses detergentes. Com isso, eles podem consumir o 0
todo o oxigênio dissolvido na água, matando as demais o 0
formas de vida aquática, como peixes e plantas. Em
H2S„O6 ácido II I
HO—S—(S)n—S—OH
S( + V),
condições anaeróbias extremas, os íons SO42’ podem ser politiônico (n= 1-12) S(O)
reduzidos a H2S, provocando o aparecimento de um odor I II
0 0
desagradável.
4. Série dos peroxoácidos
OXOÁCIDOS DE ENXOFRE O
Os oxoácidos de enxofre são mais numerosos e mais HO—S—O—OH
I S( + VI)
H2SO5 ácido
importantes que os de Se e Te. Muitos dos oxoácidos de peroxomonossulfúrico II
enxofre não existem na forma de ácidos livres, mas seus O
ânions e sais são conhecidos. Os ácidos com terminação 0 0
-oso contêm enxofre no estado de oxidação (+ IV), e for­ H2S2O8 ácido I•S—O—O—IS—OH S( + V1)
mam sais cujos nomes terminam em -ito. Os ácidos HO—£ „ _
peroxodissulfúrico
terminando em -ico contêm enxofre no estado de oxidação
I I
O 0
(+ IV) e formam sais cujos nomes terminam em -ato.
Série dos ácidos sulfurosos
Como discutido anteriormente nos itens comprimentos
de ligação e ligações pn-dn, os oxoânions de S possuem Embora o SO2 seja muito solúvel em água, a maior parte
ligações tt fortes e apresentam apenas uma pequena está presente como SO2 hidratado (SO2.H2O). O ácido
tendência de se polimerizarem, quando comparados com sulfuroso, H2SO3, pode existir em solução em pequeníssimas
os fosfatos e silicatos. Para dar ênfase às semelhanças quantidades ou até inexistir, embora a solução seja ácida.
estruturais, os ácidos foram agrupados em quatro séries: Seus sais, os sulfitos SO32’, formam sólidos cristalinos
estáveis. Muitos sulfitos são insolúveis ou muito pouco
1) série do ácido sulfuroso
solúveis em água, como o CaSO3, BaSO3 ou Ag2SO3. Contudo,
2) série do ácido sulfúrico
os sulfitos dos metais do Grupo 1 e de amônio são solúveis
3) série do ácido tiônico
em água, e em soluções diluídas a espécie predominante é o
4) série dos peroxoácidos
íon hidrogenossulfito (bissulfito), HSO3‘. Cristais de
1. Série do ácido sulfuroso hidrogenossulfitos somente foram obtidos com alguns íons
metálicos grandes, como por exemplo RbHSO3 e CsHSOj. A
HO maioria das tentativas de se isolar hidrogenossulfitos leva a
H2SO3 ácido sulfuroso }s=o S( + IV) uma reação de desidratação com a formação de dissulfitos
HO S2Os2-:

o o 2NaHSO3(aq) — Na2S2O5 + H2O


H2S2O5 ácido di- ou II II S( + V),
pirossulfuroso HO—S—S—OH S( + III) O Na2SO3 é um produto químico de importância indus­
I trial, e a sua produção mundial é superior a 1 milhão de
O toneladas/ano. É obtido passando-se SO2 através de uma
solução aquosa de Na2CO3, o que forma NaHSO3 aquoso.
o o Em seguida, essa solução é tratada com uma nova quantidade
H2S2O4 ácido ditionoso II II S( + III)
de Na2CO3.
HO—S—S—OH
□XOÁDDOS DE ENXOFRE 281

Na2S2O5 + HC1 -> NaHSO3 + NaCl + S02


A oxidação dos sulfitos forma sulfatos. E a reação dos
sulfitos com enxofre forma tiossulfatos.
SO32- + H2O2 -» SO42' + H2O
SO32" + S —> S2O32’ (tiossulfato)
A redução de uma solução de sulfito contendo SO2 com
Zn em pó, ou por processo eletrolítico, fornece ditionitos.
Estes contêm S no estado de oxidação (+ III).
Zn
2HSO3" + so2 S2O42' SO32- + h2o
ditionito
Figura 15.9 — Estruturado íon sulfito SO3 ’
OO
Na2CO3 + 2SO2 + H2O -> 2NaHSO3 + CO2
2Na + II II
O—s—s—0_
2NaHSO3 + Na2CO3 -> 2Na2SO3 + H2O + CO2 ditionito de sódio
O íon ditionito apresenta uma conformação eclipsada,
0 principal uso do Na2SO3 é como alvejante de polpa
com uma ligação S-S muito longa (2,39 Â) e ligações S-O
de madeira na indústria de papel e celulose. Uma parte é
de 1,51 A. O ditionito de sódio, Na2S2O4, precipita quando
usado no tratamento da água de caldeiras (ele remove o O2,
NaCl é adicionado a mistura. O ácido correspondente,
reduzindo a corrosão das caldeiras e das tubulações). Uma
H2S2O4, não existe. O Na2S2O4 é um poderoso agente redutor
pequena quantidade é utilizado nos reveladores fotográficos.
que apresenta várias aplicações industriais, como o
Sulfitos e hidrogenossulfitos liberam SO2, quando alvejamento de polpa de papel e a fabricação de corantes. É
tratados com ácidos diluídos: usado no tratamento de água, pois reduz íons de metais
pesados (Pb2 + , Cu + , Bi3 + ) aos respectivos metais. Soluções
Na2SO3 + 2HC1^2NaCl + SO2 + H2O
de Na2S2O4 contendo NaOH são utilizadas para absorver
Tanto os sulfitos como os hidrogenossulfitos contêm S oxigênio na análise de gases. Também é usado como
no estado de oxidação (+ IV) e são agentes redutores conservante de alimentos e de sucos de frutas.
moderadamente fortes. Os sulfitos são determinados pela
sua reação com I2, e a posterior titulação do excesso de I2 Série do ácido sulfúrico
com tiossulfato de sódio. O ácido sulfúrico H2SO4 é o ácido mais importante usado
na indústria química. A produção mundial foi de 146 milhões
NaHSOj + I2 + H2O -> NaHSO4 + 2HI de toneladas em 1992. Os principais produtores, em milhões
2Na2S2O3 + I2 -> Na2S4O6 + 2Na + + 2I~ de toneladas/ano, são: EUA 42%; China 14%, Marrocos 7%
e Japão 6%. O processo industrial mais importante de
0 íon sulfito pode ser encontrado em cristais e apresenta
estrutura piramidal, isto é, um tetraedro com um dos vértices fabricação do ácido sulfúrico é de longe o processo de
ocupados por um par isolado de elétrons (Fig. 15.9). Os contato, no qual o SO2 é oxidado a SO3 pelo ar, na superfície
ângulos da ligação O-S-O estão ligeiramente distorcidos de um catalisador. Uma tela de platina ou amianto platinizado
(106 °) por causa da presença do par isolado, e os foram usados como catalisadores nesse processo, mas fo­
ram substituídos pelo pentóxido de vanádio, que é um pouco
comprimentos das ligações são iguais a 1,51 Â. A ligação tt
é deslocalizada e a ordem das ligações S-0 é 1,33. menos eficiente mas muito mais barato e menos susceptível
ao “envenenamento". O SO3 poderia ser diretamente
Configuração eletrônica misturado com água, mas a reação é violenta e produz uma
do atomo de enxofre — 3s 3p 3d densa “névoa" do ácido, difícil de condensar. Ao invés disso,
estado excitado |t |t | | | I I I o SO3 é absorvido em H2SO4 98%, formando assim ácido
I________________________ I I_____ I pirossulfúrico H2S2O7, também conhecido como “ácido
Três elétrons desemparelhados formam ligações a
e um forma ligações k com três átomos de oxigênio. sulfúrico fumegante” ou “oleum” (forma-se também uma
Quatro pares eletrônicos, levam a uma estrutura tetraédrica
com um vértice ocupado por um par isolado. pequena quantidade de ácido trissulfúrico, H2S3OI0). A
solução pode ser comercializada concentrada na forma de
Dissulfitos são obtidos pelo aquecimento de hidrogenos­ oleum, ou após diluição com água para formar o ácido
sulfitos sólidos, ou o tratamento de soluções de sulfitos com sulfúrico concentrado a 98% (uma solução 18 M).
S02. Esses compostos contêm uma ligação S-S.
H2S2O7 + H20 —» 2H2SO4
2RbHSO3 ■ calor » Rb2S2Os + H2O HjSjÒio + 2H,0 -> 3H2SO4
Na2SO3(aq) + SO2 —>Na2S20s
O processo mais antigo das câmaras de chumbo está
0 Na2S2O5 é chamado de dissulfito de sódio, mas já foi totalmente obsoleto. Esse processo usava NO2 como
denominado “pirossulfito de sódio” ou “metabissulfito de catalisador homogêneo, para oxidar o SO2 na presença de
sódio”. 0 ácido livre H2S2Os não é conhecido. A adição de água. O NO formado era então reagido com o O2 do ar para
ácidos a dissulfitos leva à formação de SO2. regenerar o NO2.
eae ERUPQ 16 — CALCOEÊNIDS

r*N02 + SÓ, + H2O -> H2SO4 + NO O H2SO4 concentrado absorve água avidamente, sendo
| 2NO + O2 —» 2NO2 um agente dessecante eficiente para gases. É às vezes usado
em dessecadores como agente dessecante. É capaz de
O processo das câmaras de chumbo tinha a desvantagem desidratar HNO3 formando o íon nitrônio NO2+, espécie
de produzir H2SO4 no máximo a 78 %, e menos puro que o muito importante em reações de nitração de compostos
obtido pelo processo de contato. orgânicos.
Os dados comparativos mostrando as principais HNO3 + 2H2SO4 -> NO2+ + H3O+ + 2HSO4‘
aplicações do H2SO4 nos EUA e no Reino Unido são
mostrados na Tabela 15.6. O principal emprego é na O H2SO4 também pode ser usado como agente
conversão de fosfato de cálcio em superfosfato, usado como desidratante, por exemplo na preparação de éteres.
fertilizante. Ácidos graxos são sulfonados na fabricação de
2C2H5OH + H2SO4 -»C2Hs-O-C2Hs + H2S04-H20
detergentes. O TiO2 é 0 pigmento branco mais usado
atualmente, e grandes quantidades de H2SO4 são utilizados Ele pode desidratar alguns compostos orgânicos de
na purificação do mineral ilmenita (FeTiO3). É usado na forma tão eficiente que provoca a sua carbonização. Papel e
remoção de óxidos e imperfeições da superfície de metais. tecido são completamente destruídos .
O H2SO4 é usado como catalisador na fabricação de Em soluções aquosas diluídas, o H2SO4 atua como um
combustíveis de alta octanagem, por meio da alquilação de ácido forte. O primeiro próton se dissocia prontamente,
hidrocarbonetos insaturados. O H2SO4 tem uma importante formando o íon hidrogenossulfato, HSO4“. O segundo próton
aplicação eletroquímica, pois é o eletrólito das baterias de se dissocia com menor facilidade, formando 0 íon sulfato,
chumbo. SO42’. Por causa disso, as soluções dos hidrogenossulfatos
O ácido sulfurico puro funde a 10,5 °C, formando um são ácidas.
líquido viscoso. Apresenta fortes ligações de hidrogênio, e O íon SO42- é tetraédrico. O comprimento de todas as
na ausência de água não reage com metais para produzir ligações são iguais a 1,49 A e são relativamente curtas. A
H2. Muitos metais reduzem o H2SO4 (S + VI) a SO2 (S + IV), ordem das ligações S-0 é de aproximadamente 1,5. A melhor
especialmente a quente. Quando 0 H2SO4 puro é aquecido, maneira de explicar as ligações é considerando a formação
há liberação de pequenas quantidades de SO3, até ocorrer a de quatro ligações a entre o átomo de S e os átomos de 0, e
formação de uma mistura azeotrópica de 98,3% de H2SO4 duas ligações rt deslocalizadas sobre o átomo de S e os quatro
e 1,7% de água. Essa mistura tem P.E. = 338 °C. O H2SO4 átomos de O.
puro é usado como solvente não-aquoso e como agente O ácido tiossulfúrico, H2S2O3, não pode ser obtido
sulfonante. adicionando-se um ácido a um tiossulfato, porque 0 ácido
H2SO4 anidro e H2SO4 concentrado se misturam com livre se decompõe em solução aquosa formando uma mistura
água em todas as proporções, liberando uma grande de S, H2S, H2Sn, SO2 e H2SO4. Ele pode ser obtido na ausência
quantidade de calor (880 kj mol'1). Quando a água é de água (por exemplo em éter), a baixas temperaturas (-78
misturada com o ácido concentrado, o calor liberado provoca °C).
a ebulição das gotas e o violento derramamento do ácido. A
éter
maneira segura de se diluir ácidos concentrados é misturando h2s + so3 H2S2O3-(Et2O)„
cuidadosamente 0 ácido na água, sob agitação.
Já os seus sais, denominados tiossulfatos, são estáveis
O H2SO4 concentrado é um oxidante relativamente forte. e bastante numerosos. Os tiossulfatos podem ser obtidos
Assim, quando NaBr é dissolvido em H2SO4 concentrado aquecendo-se a ebulição soluções alcalinas ou neutras de
ocorre a formação de HBr, mas parte dos íons Br~ são sulfitos com S, ou então oxidando-se polissulfetos com ar.
oxidados a Br2. O cobre não reage com ácidos, porque está
situado abaixo do H na série eletroquímica. Contudo, água fervente
Na2SO3 + S Na2S2O3
diversos metais “nobres” como o Cu se dissolvem em H2SO4 aquecimento em ar
2Na2S3 + 3O2 • 2Na2S2O3 + 2S
concentrado devido a suas propriedades oxidantes. As
propriedades oxidantes do SO42" convertem Cu em Cu2 +. O íon tiossulfato é estruturalmente semelhante ao íon
sulfato (Fig. 15.10).
Tabela 15.6 — Usos do ácido sulfurico nos EUA e na Grã- O tiossulfato de sódio hidratado, Na2S203.5H20, é
Bretanha conhecido comercialmente como "hypo”, e forma grandes
cristais incolores hexagonais, de P.F. = 48 °C. É muito solúvel
EUA Grã- em água e suas soluções são usadas para titular 0 iodo em
Bretanha análise volumétrica. O iodo rapidamente oxida 0 íon
tiossulfato, S2O32~, ao íon tetrationato, S4O62’, sendo 0 I»
Fertilizantes 65% 32% reduzido a íons I".
Fabricação de produtos químicos 5% 16%
Tintas / pigmentos 2% 15% 2Na2S2O3 + I2 -> Na2S4O6 + 2NaI
Detergentes 2% 11% tetrationato de sódio
Fibras / películas de celulose 2% 9% O Na2S2O3 é utilizado no alvejamento industrial para
Limpeza de metais 5% 2,5% eliminar o Cl2 remanescente nos tecidos, depois destes terem
Refino de petróleo 5% 1% sido submetidos a um tratamento com uma solução de
□XCIÁCIOOS OE ENXOFRE 283

efeito sobre os ditionatos, mas são reduzidos a ditionitos e


sulfitos por redutores fortes.
2Na2S2O6 + 2Na/Hg Na2S2O4 + 2Na2SO3 + Hg
O O
II I
HO—S—S—OH
II II
O o
ácido ditiônico

O íon ditionato possui uma estrutura semelhante a do


etano, mas os dois grupos SO3 assumem uma conformação
quase eclipsada. O comprimento da ligação S-S é de 2,15 A
Figura 1S.10 — Estrutura dos tons sulfato e tiossulfato e o das ligações S-0 é de 1,43 Â - ambas as ligações são
hipoclorito. O Na2S2O3 também é usado para remover o gosto relativamente curtas. Os ângulos das ligações S-S-O se
desagradável da água potável fortemente clorada. Como o aproximam daqueles do tetraedro (103°).
Cl2 é um agente oxidante mais forte que o I2, o sulfito é Vários politionatos são conhecidos desde os trabalhos
oxidado gerando o íon hidrogenossulfato ao invés do pioneiros de Wackenroder sobre o efeito do H2S sobre
tetrationato. soluções aquosas de S02. íons tais como o tritionato S3O62-,
tetrationato S4O62', pentationato S5O62" e hexationato S6O62’
Na2S2O3 + 4C12 + 5H2O -> 2NaHSO4 + 8HC1 têm sua nomenclatura baseada no número total de átomos
de enxofre presentes. Só recentemente foi possível preparar
0 “hypo” é usado em fotografia no processo de “fixação"
os ácidos correspondentes.
dos negativos. As emulsões fotográficas são constituídas por
AgNO3, AgCl e AgBr. Nas partes do filme expostas à luz os O O
sais de prata sofrem decomposição a Ag, formando uma II I
HO—S—(S)n—S—OH
imagem negativa. O efeito é acentuado pela solução do
“revelador". Depois de serem revelados, o filme é mergulhado
II I
O o
numa solução de Na2S2O3. Este forma um complexo solúvel ácidos politiônicos
com os sais de prata, removendo-os das partes não expostas
da emulsão fotográfica. Quando nada mais restar da emulsão Série dos peroxoácidos
fotográfica, o filme pode ser expostos à luz com segurança. O nome peroxo indica que o composto contém uma
+ 2Na;S2O} ligação -O-O-. Dois peroxoácidos de enxofre são conhecidos:
Na2S2O3 + AgBr -> Ag2S2O3 -> Na5[Ag(S2O3)3] o ácido peroxomonossulfúrico H2SO5, e o ácido
peroxodissulfúrico H2S2O8. Não são conhecidos os
Os pirossulfatos podem ser obtidos aquecendo-se
peroxoácidos de Se e de Te. O H2S2O8 é um sólido incolor,
fortemente os hidrogenossulfatos, ou então dissolvendo-se
de P.F. 65 °C. É obtido pela eletrólise de sulfatos utilizando
S03 em H2SO4. Nesse caso, pequenas quantidades de ácido
uma elevada densidade de corrente. É solúvel em água,
trissulfúrico, H2S3O1(), também é formado, mas ácidos
constituindo-se num poderoso e útil agente oxidante. Ele
polissulfúricos superiores não são conhecidos .
oxida Mn2* a permanganato eCr3* a cromato. Seus sais
2NaHSO4 -» Na2S2O7 + H2O mais importantes são o (NH4)2S2O8 e o K2S2O8. O (NHJ^Oj
H2SO4 + SO3 -> H2S2O7 é empregado para iniciar a reação de polimerização do
H2SO4 + 2SO3 -> H2S3O10 acetato de vinila (fabricação de raiom sintético), e do
tetrafluoreteno (fabricação de politetrafluoreteno, Teflon).
Série dos ácidos tiônicos O K2S2O8 é o agente iniciador da reação de polimerização
do cloreto de vinila a PVC e de copolímeros estireno-
0 ácido ditiônico H2S2O6 só é conhecido em solução. 0 butadieno, utilizados como elastômeros .
ácido é dibásico, sendo conhecidos os seus sais,
A hidrólise do ácido peroxodissulfúrico fornece o ácido
denominados ditionatos, por exemplo Na2S2O8. A série dos
peroxomonossulfúrico H2SO5, também conhecido como
seus sais ácidos não é conhecida. 0 ácido e seus sais contêm
S no estado de oxidação ( +V). Os ditionatos podem ser ácido de Caro.
obtidos pela oxidação dos respectivos sulfitos, mas em escala O O O o
industrial são obtidos pela oxidação de uma solução aquosa II II II I
fria de S02 com Mn02 ou Fe2O3. HO—S—O—O—S—OH -» HO—S—O—OH + HO—S—OH
II II II II
2MnO2 + 3SO2 -> MnuS2O6 + MnS04 O O O o
0 H,SOs também pode ser produzido a partir do ácido
A maioria dos ditionatos são muito solúveis em água. clorossulfúrico:
Oditionato pode ser isolado como BaS2O6 e convertidos em
outros sais por reações de dupla troca. Os ditionatos são (HO)(C1)SO2 + H2O2 -> (HO)(HOO)SO2 + HC1
estáveis frente a agentes oxidantes fracos, mas são oxidados
o sulfatos por oxidantes fortes como o KMnO4 ou os Ele forma cristais incolores de P.F. 45 °C, mas deve ser
balogênios. Analogamente, agentes redutores fracos não têm manuseado com cuidado, pois é explosivo.
B84 6RUPO 16 — CALCQ6ÊNI0S

OXOÁCIDOS DE SELÊNIO E TELÚRIO O cloreto de sulfurila, SO2C12, é um líquido futnegante


incolor, de P.E. = 69 °C, preparado pela reação direta de S02
O selênio forma dois oxoácidos: o ácido selenioso,
e Cl2, na presença de um catalisador. É usado como um
H2SeO3, e 0 ácido selênico, H2SeO4. O ácido selenioso se
agente de cloração. O fluoreto de sulfurila é um gás e não
forma quando SeO2 é dissolvido em água. É possível isolar
reage com água, mas o cloreto fumega em ar úmido e é
o ácido no estado sólido e duas séries de sais podem ser
hidrolisado pela água. Os haletos de sulfurila têm uma
isoladas: os selenitos normais SeO32' e os ácidos HSeO3‘.
estrutura tetraédrica distorcida. Eles podem ser considerados
Quando o ácido selenioso é refluxado com H2O2 é convertido
como sendo derivados do H2SO4, onde ambos os grupos OH
em ácido selênico. Pirosselenatos, Se2O72-, podem ser
foram substituídos por halogênios. Caso somente um dos
obtidos, aquecendo-se os selenatos, mas o ácido livre não é
grupos OH seja substituído por um halogênio, obtém-se os
conhecido.
ácidos halossulfúricos:
O H2SeO4 é tão forte quanto o H2SO4, e os selenatos
são isomorfos com os sulfatos. Tanto o H2SeO4 como 0 FSO3H CISO3H BrSOjH
H2SeO3 são agentes oxidantes moderadamente fortes.
O ácido fluorossulfúrico forma muitos sais. Todavia, o
O TeO2 é quase insolúvel em água, de modo que ainda
ácido clorossulfúrico não forma sais e é usado como agente
não foi possível caracterizar o ácido teluroso. O dióxido reage
com bases fortes e forma teluritos, teluritos ácidos e diversos de cloração em química orgânica.
politeluritos. O ácido telúrico, H6TeO5, é bem diferente dos
ácidos sulfúrico e selênico, formando moléculas octaédricas HIDRETOS
de Te(OH)6 no estado sólido. É um agente oxidante Todos os elementos desse grupo formam hidretos
razoavelmente forte, mas um ácido dibásico fraco e forma covalentes, ou seja, água H2O, sulfeto de hidrogênio H2S,
duas séries de sais. Podem ser citados como exemplos o seleneto de hidrogênio H2Se, telureto de hidrogênio H2Te, e
NaTeO(OH)5 e o Li2TeO2(OH)4. O ácido pode ser preparado poloneto de hidrogênio H2Po. A água é líquida à temperatura
pela ação de agentes oxidantes fortes, como KMnO4, sobre ambiente, mas todos os demais são gases incolores tóxicos,
Te ou TeO2. de cheiro desagradável. Todos podem ser obtidos a panir
dos elementos, exceto o H2Te. Entretanto, é mais fácil
OXO-HALETOS preparar o H2S, H2Se e H2Te a partir da reação de ácidos
minerais com os sulfetos, selenetos e teluretos de metais,
Compostos de tionila ou então pela sua reação de hidrólise:
Somente o S e 0 Se formam oxo-haletos denominados
haletos de tionila e de selenila. Dentre eles são conhecidos FeS + H2SO4 -> H2S + FeSO4
os seguintes: FeSe + 2HC1 -> H2Se + FeCl2
Al2Se3 + 6H2O -> 3H2Se + 2A1(OH)3
SOF2 SOC12 SOBr2 Al2Te3 + 6H2O -> 3H2Te + 2A1(OH}3
SeOF2 SeOCl2 SeOBr2
O H2Te também pode ser obtido pela eletrólise de uma
O cloreto de tionila, SOC12, é um líquido fumegante solução diluída esfriada de H2SO4 com um cátodo de Te. 0
incolor, de P.E. = 78 °C. Geralmente é preparado como segue: H2Po só foi obtido em pequenas quantidades, a partir de
uma mistura de Mg, Po e ácido diluído.
PC15 + SO2 -> SOC12 + POC13
H2S, H2Se e H2Te são todos solúveis em água e queimam
A maioria dos compostos de tionila é facilmente ao ar com uma chama azul.
hidrolisada pela água, mas o SOF2 reage lentamente.
2H2S + 3O2 -> 2H2O + 2SO2
SOC12 + H2O -» SO2 + 2HC1
O H2S é cerca de duas vezes mais solúvel em água que
O SOC12 é usado pelos químicos orgânicos para con­ 0 CO2: um volume de água absorve 4,6 volumes de H2S a
verter ácidos carboxílicos em cloretos de acila, além de ser 0 °C e 2,6 volumes a 20 °C. Uma solução saturada de H2S é
usado na obtenção de cloretos metálicos anidros. utilizado como reagente de laboratório. Porém, não pode
ser conservado por muito tempo, pois é lentamente oxidado
SOC12 + 2R-C00H -> 2R-C0C1 + SO2 + H2O pelo ar formando depósitos de enxofre. O H2S é um ácido
dibásico muito fraco. A maioria dos sulfetos metálicos pode
O brometo de tionila é preparado a partir do cloreto e ser considerada como sendo sais do H2S. Como é um ácido
HBr, e o fluoreto de tionila é obtido reagindo-se o cloreto dibásico, forma duas séries de sais: os hidrogenossulfetos.
com SbF3. por exemplo NaHS, e os sulfetos normais, por exemplo Na,S.
Esses oxo-haletos possuem estrutura tetraédrica, com
um dos vértices ocupado por um par isolado de elétrons. H2S + NaOH -> NaHS + H2O
H2S + NaHS -> Na2S + H2O
Compostos de sulfurila Os sulfetos dos metais alcalinos são todos solúveis em
Os seguintes haletos de sulfurila são conhecidos: água e sofrem hidrólise acentuada (uma solução 1 M está
cerca de 90 % hidrolisada), sendo portanto bastante alcalinos.
SO2F2 SO2C12 SO2FC1 SO2FBr
SeO2F2 Na2S + H2O -> NaHS + NaOH
HIDRETOS 285

A maior parte dos sulfetos dos metais pesados são Tabela 15.7 — Limites para contaminantes da água potável
insolúveis em água e por isso não sofrem hidrólise. Se uma admitidos na Comunidade Econômica Européia
solução diluída de amônia for saturada com H2S, obtém-se
o hidrogenossulfeto de amônio NH4HS, e não o sulfeto de (pg/litro-1) Fonte contaminante e possíveis
atnônio (NH4)2S. Este só é estável a baixas temperaturas, na problemas por ele provocados
ausência de água. As soluções de NH4HS são incolores e
são usadas como reagente de laboratório misturadas com Al 200 Adição de A12(SO4)3 no processo
uma quantidade equimolar de NH3 . Geralmente utiliza-se o de tratamento da água. O Al po­
de estar relacionado ao mal de
"sulfeto amarelo de amônio" como reagente de laboratório, Alzheimer (demência senil)___
por exemplo, para precipitar sulfetos de metais em análise
Pb 50 Tubulações de água feitas de
qualitativa. O "sulfeto amarelo de amônio” é na realidade chumbo. O Pb pode danificar o
uma mistura de polissulfetos de amônio, obtido dissolvendo- cérebro de crianças__________
se enxofre numa solução incolor de NH4HS/NH3. Nitratos utilizados como fertilizan­
NOj 50
tes chegam ao sistema de abaste­
Água cimento de água. Os nitratos afe­
tam o nível de O2 no sangue de
A água é a substância química mais abundante: os bebês causando a síndrome da
oceanos cobrem praticamente 71 % da superfície da Terra. “doença azul". Nitratos podem
Portanto, não há necessidade de se preparar água. Contudo, estar relacionados ao câncer de
a água do mar contém muitos sais dissolvidos, de modo que estômago_________________
menos de 3% da água existente na Terra é água doce. A Trihalometanos 100 O cloro é usado como bactericida
maior parte dessa água se encontra na forma de gelo nas no tratamento de água. Excesso
regiões polares. A obtenção de água pura potável ou para de cloraçâo pode provocar forma­
uso em laboratório, é uma atividade industrial importante. ção de clorofórmio em reação
0 organismo humano é mais tolerante a algumas das com compostos orgânicos. Possí­
vel causa de câncer do intestino
impurezas que os processos industriais. A Comunidade e da bexiga._______________
Econômica Européia estabeleceu limites para o conteúdo de Para pesticidas considerados isola­
Pesticidas 0,1
impurezas na água potável (vide Tab. 15.7). damente
Na indústria e no laboratório necessita-se de água 0,5 Para o conjunto de pesticidas.
extremamente pura. O único meio de se remover todos os O DDT é agora proibido em mui­
solutos sólidos é por meio da destilação. Esse processo é tos países. Seus efeitos prejudi­
dispendioso, pois a água possui elevado ponto de ebulição ciais decorrem do acúmulo e mo­
dificações biológicas na cadeia
e um elevado calor latente de evaporação. Durante a alimentar; luz UV converte DDT
destilação, a água tende a dissolver quantidades apreciáveis em bifenilos policlorados (PCBY
de C02 da atmosfera, o que a torna ácida. Uma alternativa que são tóxicas.
mais barata é a desionização da água . Isso é feito passando-
se a água por duas colunas de troca iônica, uma após a
sabor muito agradável. A Organização Mundial de Saúde
outra (como alternativa pode-se usar um “leito misto”, isto
recomenda um máximo de 0,5 gramas de sólidos dissolvidos
é, uma única coluna contendo os trocadores catiônico e
por litro, embora o limite máximo permitido seja o triplo
aniônico). As resinas de troca iônica são sólidos poliméricos
desse valor. Se a fonte de água doce contiver sedimentos,
insolúveis contendo um grupo reativo. São fabricadas na
aguarda-se a precipitação dos mesmos. Pequenas partículas
forma de pequenas esferas, permeáveis à água. A primeira
em suspensão e partículas coloidais que dão cor à água, são
coluna contém uma resina na forma de ácido sulfônico, isto
removidas tratando-se com A1(OH)3 ou Fe(OH)3. Eles
é, uma resina orgânica contendo grupos -SO3H. Ela remove
provocam a coagulação do material em suspensão, clareando
todos os íons metálicos da solução, substituindo-os por H +:
a água (o agente coagulante mais empregado é o alúmen).
resina-SO3H + Na+ —> resina-SO3Na + H + Caso seja necessário, a “dureza" da água é removida por
2resina-SO3H + Ca2+ —> (resina-SO3)2Ca + 2H + troca iônica ou misturando-se águas de diferentes origens.
A água é então clorada ou tratada com ozônio para matar as
A segunda coluna contém uma resina com grupos
bactérias. Estas estão presentes por causa da contaminação
básicos -NR4 + OH’, que remove os íons negativos
dos reservatórios pelas águas provenientes dos campos e
substituindo-os por OH":
dos esgotos não tratados ou parcialmente tratados. O
resina-N(CH3)4 OH" + cr -> resina-N(CH3)4 cr + OH' tratamento inadequado da água potável é a principal causa
das enterites. Em alguns países subdesenvolvidos, até metade
A água produzida dessa maneira geralmente contém das crianças menores de cinco anos morrem de enterites ou
silicatos solúveis e CO2. Quando todos os sítios reativos da de outras doenças provocadas pela água indevidamente
resina tiverem sido usados, esta pode ser regenerada, tratada.
tratando a primeira com H2SO4 diluído e a segunda com A água do mar tem um elevado teor de sais. O processo
uma solução de Na2CO3. de produção de água potável ou de água para irrigação a
A água potável é geralmente bem menos pura. Na partir da água do mar é denominado “dessalinização”. Esse
realidade a água sem nenhum sai dissolvido não tem um processo requer uma grande quantidade de energia e é,
BB6 BRUPQ 16 — CALCD6ÈNI0S

responsável pelos pontos de fusão e ebulição anormalmente


Tabela 15.8 — Algumas propriedades de H2O, H2S, H2Se e
H2Te elevados da água.
A formação das ligações de hidrogênio é a principal
Entalpias de Ângulo de Ponto de responsável pela baixa solubilidade de compostos covalentes
formação ligação ebulição em água. Quando duas substâncias são misturadas, há um
(kJ mor1) CC) aumento de entropia, já que a desordem aumenta. Assim, o
processo de mistura é sempre favorecido. Contudo, no caso
H 2O -242 H-O-H = 104'28* 100 da água, dissolver alguma substância significa romper as
h2s -20 H-S-H = 92" -60 ligações de hidrogênio. Assim, a substância não se dissolverá,
H2Se +81 H-Se-H = 91' -42 a não ser que a energia de interação de suas moléculas com
H2Te +154 -2,3 a água seja maior que a energia necessária para romper as
ligações de hidrogênio entre as moléculas de água.
Substâncias covalentes interagem fracamente com a água,
portanto, onerosa. Por isso é um alternativa que somente é
sendo assim insolúveis. As substâncias iônicas são hidratadas
utilizada quando a falta de água doce é severa, e está se
e as polares podem participar das ligações de hidrogênio,
tornando cada vez mais importante em regiões áridas, como
o Golfo Pérsico. Para tal estão sendo utilizados os processos sendo por isso solúveis.
de destilação, troca-iônica, eletrodiálise, osmose reversa e A água possui a propriedade singular de formar um
congelamento. sólido menos denso que o líquido. Por causa disso, os lagos
e os mares congelam de cima para baixo. O gelo na superfície
Exceto pela água, todos os demais hidretos são tóxicos
dificulta o esfriamento da água das camadas mais profundas.
e têm cheiro desagradável. A estabilidade dos hidretos
Assim, mesmo no Pólo Norte há água sob a calota de gelo.
decresce da H2O para o H2S, para o H2Se e para o H2Te (isso
Se isso não ocorresse, os mares próximos aos pólos
pode ser inferido pela diminuição das entalpias de formação
congelariam completamente e as calotas polares seriam mais
— vide Tab. 15.8], Os hidretos se tornam cada vez menos
extensas. A água adquire sua densidade máxima a 4 °C. Na
estáveis porque os orbitais que participam das ligações se
fusão, a rede de ligações de hidrogênio no sólido se rompe
tornam cada vez maiores e mais difusos: a interação com o
parcialmente. O gelo tem uma estrutura mais “aberta" que a
orbital Is do hidrogênio se torna menos efetiva.
água, com grandes cavidades. Na fusão parcial, algumas
O ângulo da ligação H-O-H na água é de 104° 28', em moléculas “livres” de água ocupam algumas dessas
concordância com a Teoria da Repulsão dos Pares Eletrônicos cavidades, aumentando a densidade. Até 4 °C esse efeito
de Valência, ou seja um pouco menor que o valor previsto compensa a expansão térmica, mas acima dessa temperatura
para uma estrutura tetraédrica, por causa da presença dos a expansão passa a ser o efeito dominante e a densidade
pares isolados de elétrons. Assim, os orbitais usados pelo O diminui.
para formar as ligações são praticamente orbitais híbridos A existência de uma forma incomum de água
sp3. Nos hidretos H2S, H2Se e H2Te, os ângulos se aproximam denominada “poliágua” foi relatada e extensivamente
de 90°. Isso significa que Se e Te usam orbitais p quase estudada no período de 1966 a 1973. Segundos esses relatos
puros para formar as ligações com o hidrogênio. a “poliágua” teria o ponto de fusão de -40 °C e a densidade
Numa série de compostos semelhantes, os pontos de incrivelmente elevada de 1,4 g cm’3. Ela se formava quando
ebulição geralmente aumentam à medida que os átomos se a água era obtida em tubos capilares de vidro ou de quartzo.
tornam maiores e mais pesados. Se os pontos de ebulição No início, esses estudos provocaram fascinação, pois se
aumentam, a volatilidade decresce. Essa tendência pode ser supunha que a "poliágua” era constituída por um grande
observada na seqüência H2S, H2Se, H2Te e H2Po, mas a água número de moléculas de água polimerizadas. Atualmente é
tem um comportamento diferenciado. notório que se tratava de uma mistura coloidal de silicatos e
A água apresenta uma volatilidade anormalmente baixa, de íons Na + , K + , Ca2 + , BO33’, NO3", SO42" e Cl", que foram
porque as moléculas estão associadas umas as outras através extraídos do vidro!
de ligações de hidrogênio, tanto no estado sólido como no
líquido. A estrutura da água líquida não é bem conhecida, Outros hidretos
mas provavelmente consiste de duas ou três moléculas Os hidretos se dissociam em grau variável, formando
interligadas por ligações de hidrogênio. Já a estrutura do íons H +. Todos são ácidos muito fracos, mas há um aumento
gelo hexagonal comum é conhecida. A altas pressões outras no caráter ácido da água para o H2Te. A grande diferença de
estruturas mais densamente empacotadas são formadas. No eletronegatividades, juntamente com as regras de Fajans
total, são conhecidas nove estruturas diferentes do gelo. Os (quanto maior o íon negativo, maior será a tendência à
estudos por difração de raios X geralmente não revelam a covalência) sugerem que o H2Te gasoso deve ser o mais
posição dos átomos de hidrogênio. Nesses casos, a posição covalente. A força do ácido em solução será discutido mais
dos H é determinada por difração de nêutrons em óxido de detalhadamente no Capítulo 16, para o caso dos ácidos
deutério, D2O, sólido. A estrutura é semelhante à da wurtzita halogenídricos. Ela depende da entalpia de formação da
ZnS (vide Capítulo 3), com átomos de O ocupando tanto as molécula, da energia de ionização, da afinidade eletrônica e
posições do Zn2+ como as do S2". Os átomos de H se situam das entalpias de hidratação. Nos compostos H2O, H2S, H2Se
acima da linha que liga dois átomos de O, formando um e H2Te o fator mais importante é a entalpia de formação,
ângulo O-H-O de 104°28'. A energia de uma ligação de cujos valores são -120, -10, +43 e +77 kJ mol"1.
hidrogênio é de cerca de 20 kJ mol"1. Essa associação é repectivamente. A estabilidade diminui na série (os dois
HIQRETQS 2B7

de Na2O2 com sais de Fe2 + forma o ferrato de sódio,


Na2[FeO4], que contém Fe( +VI).
O H2O2 é oxidado na presença de agentes oxidantes
mais fortes, isto é, o H2O2 passa a atuar como redutor. Nesses
casos sempre há liberação de O2.
2KMnO4 + 5H2O2 + 3H2SO4 -> 2MnSO4 + K2SO4 + 5O2 + 8H2O
K1O4 + H2O2 -> KIO3 + O2 + H2O
2Ce(SO4)2 + H2O2 -> Ce2(SO4)3 + 2H2SO4 O2
O H2S2 não tem caráter oxidante. O H2O2 é
razoavelmente estável e se decompõe lentamente, na
Figura 15.11 — Estrutura do H2O2 na fase gasosa ausência de catalisadores. O H2S2 é menos estável, e sua
decomposição é catalisada por íons hidroxila.
últimos são de fato termodinamicamente instáveis ), o que
explica a maior dissociação do H2Te: H2O2 -> H20 + 72O2
H2O2 -> H2S + S
^2^(hidratado) H2O - H3O + HTe (hidratado)
Polisselenetos e politeluretos de hidrogênio ainda nao
Quanto mais ácido for o átomo de hidrogênio dos foram obtidos, mas alguns de seus sais são conhecidos.
hidretos, tanto mais estáveis serão os sais formados a partir
dos mesmos, isto é, os óxidos, sulfetos, selenetos e teluretos.
Peróxido de hidrogênio
0 H2O2 puro é um líquido incolor bastante semelhante
Peróxidos e polissulfetos à água. Forma mais ligações de hidrogênio que a água, tendo
0 oxigênio, e em maior grau o enxofre, diferem dos assim um ponto de ebulição mais elevado (P.E. = 152 °C,
demais elementos do Grupo por sua capacidade de formarem P.F. =-0,4 °C). É mais denso que a água (densidade = 1,4 g
cadeias de polióxidos e de polissulfetos, menos estáveis que cm-3). Embora tenha uma elevada constante dielétrica, tem
os sais normais. Derivados constituídos de cadeias não- pouca serventia como solvente ionizante, porque é
ramificadas de polissulfanos contendo até 8 átomos de decomposto pela maioria dos íons metálicos e oxida muitos
enxofre já foram obtidos. compostos.
H2O2 H-O-O-H h2s2 H-S-S-H O H2O2 é um produto químico de importância indus­
h2s3 H-S-S-S-H trial, tendo sido produzidas 1.018.200 t em 1991. É usado
h2s4 H-S-S-S-S-H em grande escala como agente alvejante suave para tecidos,
papel e polpa de madeira. Encontra diversas aplicações
0 H,O2 e o H2S2 possuem estruturas semelhantes, em relacionadas com os aspectos ambientais. Por exemplo, é
diedros. As dimensões da molécula de H2O2 gasoso são utilizado para oxigenar águas de esgotos e oxidar cianetos e
mostradas na Fig. 15.11. O H2O2 é a menor molécula sulfetos. É um importante combustível de foguetes. Também
conhecida que apresenta restrições à livre rotação, no caso, é utilizado na fabricação de outros produtos químicos,
em torno da ligação O-O. Provavelmente isso se deve à principalmente peroxoborato de sódio, Na2[B2(O2)2(OH)4] ■
repulsão entre os grupos OH. A mesma estrutura é mantida • 6H,O (produção anual 700.000 t/ano), que é usado como
no líquido e no sólido, mas os comprimentos e os ângulos avivador em sabões em pó (vide Capítulo 12). Peróxidos
das ligações mudam um pouco, devido a formação das orgânicos são usados como iniciadores de reações de
ligações de hidrogênio. polimerização por adição (PVC e resinas de poliuretanos e
H2O2 e H2S2 podem ser preparados pela adição de um epoxi), e na obtenção de clorito de sódio, NaC102, usado
ácido a um peróxido ou a um perssulfeto. como alvejante. Pequenas quantidades de H2O2 são usadas
para descolorir cabelos, penas, graxas e gorduras. É usado
BaO2 + H2SO4 -> H2O2 + BaSO4 como agente oxidante no laboratório e como antisséptico
Na2S2 + H2SO4 -> H2S2 (também H2S3) + Na2SO4 para ferimentos. É útil para neutralizar o cloro, e nessa reação
o H2O2 se comporta como um agente redutor.
Na maioria de suas reações, o H2O2 atua como um forte
agente oxidante. Em soluções ácidas essas reações são H2O2 + Cl2 -> 2HC1 + O2
geralmente lentas, mas em solução básica são rápidas. O
H2O2 oxida Fe2+ a Fe3 + , [Fen(CN)6]4- (ferrocianeto) a O H2O2 é instável e sua velocidade de decomposição
[Fe,n(CN)6]3- (ferricianeto), NH2OH a HNO3 e SO32~ a SO42’. (desproporcionamento) depende da temperatura e da
Peróxidos iônicos, tais como Na2O2, geram H2O2 quando concentração. Ela pode se tornar violenta, principalmente
tratados com água ou ácidos diluídos. Na2O2 reage com C02 em soluções concentradas, pois muitas impurezas catalisam
gasoso. essa reação. Dentre eles temos os íons metálicos como Fe2 +,
Fe3 + , Cu2+ e Ni2 + , superfícies metálicas como de Pt ou de
2Na2O2 + 2CO2 —> 2Na2CO3 + O2 Ag, MnO2, carvão ou bases — mesmo as pequenas
quantidades lixiviadas do vidro.
0 aquecimento de Na2O2 com diversos compostos
orgânicos leva à oxidação dos mesmos a carbonatos. A fusão 2H,O2 -> 2H2O + O2
288 GRUPO 1B — CALCDBÊNIOS

Tabela 15.9 — Compostos com os halogênios

mx6 mx4 mx2 m2x2 m2x outros


+h2o2
o OF2 O2F2 O3F2, O4F2
C12O C1O2 C12O6, C12O,
Hj/Pd
Br2O BrO2 BrO3
I2O4,14O9,12O5
Figura 15.12 — Obtenção de H2O2 S SF6 SF4 SF2 S2F2 ssf2, s2f4, s2f10
SC14 SC12 SjCLj
S2Br2
Antigamente o H2O2 era obtido por eletrólise do H2SO4 Se SeF6 SeF„
ou (NH4)2SO4, utilizando uma elevada densidade de corrente, SeCl4 Se2Cl2
para formar peroxossulfatos, que eram então hidrolisados. SeBr4 Se2Br2
Te TeF6 TeF„
2SO„2’ —eletrólise
elelrógse > S2Os2" + 2e TeCl4 TeCl2
H2S2O8 + H2O -> H2SO5 + H2SO4 TeBr4 TeBr2
ácido ácido Tel„ Tel2
peroxodissulfúrico peroxomonossulfúrico
Po PoCl4 PoCl2
h2so5 + h2o -> h2so„ + H2O2 PoBr4 PoBr2
Pol4 (Pol2)
Atualmente, o H2O2 é produzido em escala industrial
por meio de um processo cíclico (Fig. 15.12). O 2-etil- Os compostos representados entre paênteses são instáveis
antraquinol é oxidado pelo ar à correspondente quinona e 3s 3p 3d

H2O2. A antraquinona é reduzida novamente a antraquinol Configuração eletrônica


do enxofre — estado [F] |t |t |t | |t |t | | I I
com hidrogênio a temperaturas moderadas, usando platina, excitado
Seis elétrons desemparelhados formam
paládio ou níquel de Raney como catalisador. O ciclo é então ligações com seis átomos de flúor — estrutura octaédrica
repetido. A reação é efetuada numa mistura de solventes O SF6 é um gás incolor, inodoro, não-inflamável,
orgânicos (éster/hidrocarboneto ou octanol/metilnaftaleno). insolúvel em água e extremamente inerte. É usado como
O solvente deve: um dielétrico gasoso (isolante) em transformadores de alta
D dissolver o quinol e a quinona tensão elétrica e em equipamentos de distribuição de
2) ser resistente à oxidação eletricidade. O SeF6 é um pouco mais reativo e 0 TeF6 é
hidrolisado pela água. Provavelmente isso se deve ao maior
3) ser imiscível com a água.
tamanho do Te, que possibilita 0 aumento do número de
O H2O2 é extraído com água na forma de uma solução coordenação necessário na primeira etapa da reação de
a 1%. Em seguida, é concentrada por destilação a pressão hidrólise.
reduzida e comercializada como uma solução a 30% (em
peso), que tem um pH em torno de 4,0 (soluções a 85% TeF6 + 6H2O -> 6HF + H6TeO6
também são produzidas). Soluções de H2O2 são armazenadas
em recipientes de plástico ou de vidro revestidos com uma Números de coordenação maiores que 6 não são
camada de cera. Geralmente, catalisadores negativos como comuns, mas o TeF6 pode se ligar a íons F formando o
uréia ou estanato de sódio, são adicionados como [TeF7]- e o [TeF8]2“.
estabilizantes. Suas soluções se conservam por períodos Muitos tetra-haletos são conhecidos. É difícil preparar
relativamente longos, mas devem ser manuseados com os tetrafluoretos pela combinação direta dos elementos,
cuidado, pois podem explodir na presença de pequenas mesmo utilizando F2 diluído, pois eles prontamente reagem
quantidades de material orgânico ou de poeira. com F2 formando os hexafluoretos. O SF4 é gasoso, o SeF4 é
líquido e o TeF4 é sólido. Eles foram preparados como se
HALETOS segue:
Os compostos formados com os halogênios estão S + F2 (diluído em N2) -> SF„ e SF6
listados na Tab. 15.9. Como o F é mais eletronegativo que o 3SC12 + 4NaF -> SF4 + S2C12 + 4NaCl
O, seus compostos binários são fluoretos de oxigênio, ao S + 4CoF3 -> SF4 + 4CoF2
passo que os compostos análogos formados com o cloro são SeCl4 + 4AgF -» SeF„ + 4AgCl
óxidos de cloro. Assim, alguns desses compostos, incluindo TeO2 + 2SeF4 -» TeF4 + 2SeOF2
os óxidos de iodo, serão descritos no Capítulo 16, no tópico
“Óxidos de halogênios". O SF4 é altamente reativo, mas é mais estável que os
Nos compostos com o flúor os elementos S, Se e Te fluoretos inferiores. Em contraste com os hexafluoretos, que
alcançam a valência máxima de seis. SF6, SeF6 e TeF6 são são relativamente estáveis, os tetrahaletos são muito sensíveis
gases incolores, com estrutura octaédrica (como previsto pela à água:
Teoria VSEPR) e são obtidos pela combinação direta dos SF4 + 2H2O -> SO2 + 4HF
elementos. Seus baixos pontos de ebulição são um indicativo
do elevado grau de covalência de suas ligações. O SF4 é um poderoso agente de fluoração.
HALETOS 289

3SF4 + 4BC13 -> 4BF3 + 3C12 + 3SC12


5SF4 + I2O5 -> 21FS + 5OSF2
Ele é útil como agente de fluoração seletivo, de
compostos orgânicos, por exemplo:
R-COOH ->R-CF3
r2c = o ->r2cf2
R-CHO -> R-CHF2
R-OH -> RF
S, Se, Te e Po formam tetracloretos por reação direta
com o cloro. O SC14 é um líquido bastante instável, mas os
demais tetracloretos são sólidos. A estrutura do TeCl4 é uma Figura 1S.13 — A estrutura do TeCL,
bipirâmide trigonal com um vértice equatorial ocupado por
um par isolado de elétrons (Fig. 15.13). É provável que os que permanece próximo ao solo, sendo arrastado pelas brisas
demais tetra-haletos sejam semelhantes. até as linhas inimigas. Causa severas queimaduras na pele e
a morte. Em contato com células vivas, ele é convertido no
5s 5p 5d
Configuração eletrônica
detelúrio — estado
excitado
Ei] [nm Frrnm divinil-derivados (CH2CH)2S, que reage com as proteínas
das células, destruindo-as.
Quatro elétrons desemparelhados formam Os di-haletos são moléculas angulares baseadas no
ligações com quatro átomos de cloro;
cinco pares eletrônicos levam a uma bipirâmide tetraedro, com dois vértices ocupados por pares isolados de
trigonal, com um vértice ocupado por um par isolado
elétrons. Esses pares de elétrons distorcem o ângulo
0 TeCl4 reage com ácido clorídrico formando o íon com­ tetraédrico de 109°28' para 103° no SC12, 101,5° no F2O e
plexo [TeCl6]2-, que é isomorfo com [SiF6]2* e [SnCl6]2-. 98° no TeBr2.
3s 3p
TeCl4 + 2HC1 -> H2[TeCl6] Estrutura eletrônica do
átomo de enxofre —
n |U|t |t |
0 Po também forma haletos complexos do tipo estado fundamental
Dois elétrons desemparelhados podem
(NH4)2[PoX6], Cs[PoX6] e Cs2[PoX6], onde X pode ser Cl, Br formar ligações com dois átomos de cloro;
quatro pares eletrônicos levam a uma estrutura
ou I. tetraédrica, com dois pares isolados

Os tetrabrometos de Se, Te e Po também são conhecidos, Dímeros de mono-haletos , tais como S2F2, S2C12, Se2Cl2
mas o SeBr4 é instável e se hidrolisa facilmente. e Se2Br2 são obtidos pela combinação direta do S ou Se com
os respectivos halogênios. Esses mono-haletos são
2SeBr4 —» Se2Br2 + 3Br2 lentamente hidrolisados e tendem a sofrer reação de
SeBr„ + 4H2O -> [Se(OH)4] + 4HBr despropor-cionamento.
instável 2S2F2 + 2H2O -> 4HF + SO2 + 3S
4.
H2SeO3 + H2O + 11 + IV 0
2SeCl2 + —» SeCU + Se
0 Te e o Po são os únicos elementos do Grupo 16 que
formam tetraiodetos. O S2C12 é um líquido amarelo tóxico (P.F. = -76 °C,
P.E. = 138 °C), com um cheiro repugnante. É utilizado na
0 di-haleto mais bem estudado é o SC12. É um líquido
vermelho de odor desagradável (P.F. = -122 °C, P.E. = 59 °C). vulcanização da borracha e no preparo de cloridrinas. A
0 aquecimento de S e Cl2 fornece o S2C12, mas saturando-se utilização de S2C12 na obtenção de compostos cíclicos, com
este composto com cloro obtém-se o SC12. A reação de SC12 7 a 20 átomos de enxofre foi descrita anteriormente.
com polissulfetos de hidrogênio, a baixas temperaturas, H2S8 + S2C12 -» S10 + 2HC1
fornece uma série de diclorossulfanos.
Pode ainda ser usado na preparação de diclorossulfanos.
H2S2 + 2SC12 -> S4C12 + 2HC1
H2Sn + 2SC12 -> S(n+2)C12 + 2HC1 H,Sn + 2S2C12 -» S(n+4)C12 + 2HC1
0 SC12 tem importância industrial, pois facilmente se A estrutura do S2C12 e dos demais monohaletos é
adiciona às duplas ligações de alcenos. Foi usado para semelhante à do H2O2, com um ângulo de ligação de 104°,
fabricar o notório “gás mostarda”, um gás de combate usado devido à distorção provocada por dois pares isolados de
pela primeira vez na I Guerra Mundial e mais recentemente elétrons .
na guerra Irã-Iraque (1988). O S2F2 é um composto instável formado através da ação
SC12 + 2CH2 = CH2 -> S(CH2CH2C1)2 de agentes de fluoração brandos como AgF sobre S (a reação
sulfeto de bis(2-cloroetila) direta entre S e F2 gera SF6; e mesmo quando F2 está diluído
ou gás mostarda com N2 ocorre formação de SF4). O S2F2 pode ser obtido na
0 "gás mostarda” não é um gás, mas um líquido volátil forma de dois isômeros diferentes: F-S-S-F (análogo ao Cl-
(P.F. = 13 °C, P.E. = 215 °C). Ele é espalhado como uma névoa S-S-Cl e H-O-O-H) e o fluoreto de tionila, S = SF2.
290 BRUPO 16 — CALCOBÈNIÜS

O compostos S2F10 possui uma estrutura incomum, na diferentes tamanhos de anel, como por exemplo o ciclo-S2N2,
qual dois octaedros se encontram interligados. ciclo-S4N2, ciclo-S4N3Cl e ciclo-S3N3Cl3. Além disso, os
compostos bicíclicos SUN2, S15N2, S16N2, S17N2 e Si9N2
F
F±V-
F
Z N.
F
\ zF
->S<-F
também são conhecidos. Os últimos quatro compostos
podem ser considerados como sendo dois anéis heterocíclicos
F F S7N, com os átomos de N interligados por uma cadeia de 1
a 5 átomos de S.
COMPOSTOS DE ENXOFRE COM O S4N4 é hidrolisado muito lentamente pela água, mas
reage rapidamente com NaOH morno, com a quebra do anel:
NITROGÊNIO
Existe um grande número de compostos cíclicos e em S4N4 + 6NaOH + 3H2O ->Na2S2O3 + 2Na2SO3 + 4NH3
cadeia contendo S e N. Os elementos N e S se relacionam
diagonalmente na Tabela Periódica, e tem densidades S4N4F4 é obtido ao se reagir S4N4 com Ag2F, em CC(|.
eletrônicas semelhantes. Suas eletronegatividades também Esse composto é constituído por um anel S-N de 8 membros,
são semelhantes (N = 3,0; S = 2,5), sendo esperado a com os átomos de F ligados aos de S. O composto resulta da
formação de ligações covalentes. Os compostos formados quebra das ligações S-S do anel. Analogamente, a formação
possuem estruturas incomuns, que não podem ser explicadas de adutos tais como S4N4 BF3 ou S4N4 SbF5 (nos quais o
pelas teorias de ligação clássicas. As tentativas no sentido grupo adicional se liga ao N) leva à quebra das ligações S-S
de se determinar os estados de oxidaçâo levam a erros ou e ao aumento da distância média S-N de 1,62 A para 1,68
são de pouca utilidade. O mais conhecido desses compostos A. Provavelmente, isso se deve a diminuição da densidade
é o tetranitreto de tetraenxofre, S4N4. Ele é o reagente de eletrônica n provocada pela ligação do BF3 e do SbFs, dois
partida para a preparação de muitos outros compostos com receptores de elétrons.
ligações S-N. O S4N4 pode ser obtido como se segue: A redução do S4N4 com SnCl2 em MeOH leva à formação
da tetraimida de tetraenxofre, S4(NH)4. Diversas imidas
6SC12 + 16NH3 -> S4N4 + 2S + 14NH4CI podem ser obtidas pela reação de S4N4 com S, ou de S2C12
6S2C12 + 16NH3 CCI’ > S4N4 + 8S + 12NH4C1 com NH3. Essas imidas são estruturalmente semelhantes aos
6S2C12 + 4NH„CI -» S4N4 + 8S + 16HC1 ciclos Se, onde um ou mais átomos de S foram substituídos
por grupos imida NH, como no S7NH, no S6(NH)2, S5(NH)3
O S4N4 é um sólido de P.F. = 178 °C. TYata-se de um e S4(NH)4.
composto termocrômico, isto é, ele muda de cor em função Se o S4N4 for vaporizado a pressão reduzida e passado
da temperatura. À temperatura do nitrogênio líquido ele é através de “lã de prata”, ocorre a formação de S2N2.
quase incolor, mas à temperatura ambiente é amarelo
alaranjado, e a 100 °C é vermelho. É estável ao ar, mas pode S4N4 + 4Ag -> S2N2 + 2Ag2S + N2
detonar por percussão, na moagem ou aquecimento
repentin.0. É um anel heterocíclico em forma de “berço”, 0 S2N2 é um sólido cristalino insolúvel em água, mas
sendo estruturalmente diferente do anel S8, que tem forma solúvel em muitos solventes orgânicos. Explode por
de coroa. O comprimento médio da ligação S-N é de 1,62 Â, percussão ou aquecimento. A estrutura é cíclica e os quatro
segundo a estrutura (Fig. 15.14) determinada por difração átomos se dispõem no espaço de modo a praticamente gerar
raios X. Como a soma dos raios covalentes do S e do N é uma estrutura quadrado planar.
igual a 1,78 A, as ligações S-N parecem ter algum caráter de A reação mais importante do S2N2 é a lenta
ligação dupla. O fato de todas as ligações terem o mesmo polimerização do sólido ou do vapor para formar politiazila
comprimento sugere que essas ligações duplas estão (SN)x. Este é um sólido cor de bronze e brilhante, de aspecto
deslocalizadas. As distâncias S-S no topo e no fundo do metálico. Conduz a corrente elétrica e a condutividade
"berço" são de 2,58 A. A distância S-S de van der Waals aumenta à medida que diminui a temperatura, como nos
(átomos não ligados) é igual a 3,30 A e o comprimento das metais. E, torna-se um supercondutor a 0,26 K. Os estudos
ligações S-S simples é igual a 2,08 A. Isso indica que as de difração de raios X indicam que o anel S2N2 de quatro
ligações S-S são fracas, mas suficientemente fortes para que membros se abriu e formou longas cadeias poliméricas. Os
o S4N4 tenha uma estrutura de "gaiola". átomos se dispõem em zigue-zague e a cadeia é quase plana.
A condutividade ao longo da cadeia é maior que em outras
São conhecidos compostos cíclicos com os mais
direções. Logo, esse polímero se comporta como um metal
unidimensional. A resistividade à temperatura ambiente é
bastante elevada (cerca de 1 x 109 microohm cm ao longo
da cadeia), mas este valor diminui para cerca de 1 x 10°
microohm cm a 4K (vide a resistividade de outros elementos,
no Apêndice J).

DERIVADOS ORGÂNICOS
0 oxigênio forma muitos derivados orgânicos do tipo
R20, denominados éteres. Compostos análogos de S, Se e
Figura 15.14 — A estrutura do N4S4 Te, podem ser preparados utilizando-se reagentes de Grignard
LEITURAS COMPLEMENTARES 291
I
1 Chemistry and Electrochemistry Series, Vol. 6), Marcei
Dekker. (Contratado pela UJPAC para atualizar os valores no
livro de Latimer).
• Bevan, D.J.M. (1973), Comprehensive Inorganic Chemistry,
Vol. 3, (Cap. 49: Composto não estequiométricos), Pergamon
Press, Oxford. (Uma boa introdução aos compostos não
estequiométricos)
• Bland, WJ. (1984), Sulphuric acid - modem manufacture
and uses, Education in Chemistry, 21, 7-10.
• Campbell, I.M. (1977), Energy and the Atmosphere, Wiley,
London. (Chuva ácida, etc.)
• Clive, D.L.J. (1978), Modem Organo-Selenium Chemistry,
Pergamon Press, New York.
• Cocks, A. e Kallend, T. (1988), The chemistry of atmospheric
Figura 1S.1S — A estrutura do heme pollution, Chemistry in Britain, 24, 884-885.
ou reagentes organo-lítio: • Cooper, W.C. (1972), Tellurium, Van Nostrand-Reinhold, New
York.
SC12 + 2LÍR —éter
*!£—» R2S + 2LÍC1 • Donovan, R.J. (1978), Chemistry and pollution of the strato-
SC14 + 4RMgCl -> R4S + 4MgCl2 sphere, Education in Chemistry, 15, 110-113.
• Dotto, L. e Schiff, H. (1978), The Ozone War, Doubleday,
Sulfetos de dialquila, R2S, têm uma estrutura semelhante New York.
à da água (tetraédrica com dois vértices ocupados por pares • Emeléus, H.J. e Sharpe, A.G. (1973), Modem Aspects of In­
isolados), sendo que a presença dos pares isolados organic Chemistry, 4a ed. (Cap 12: Peróxidos e peroxo-ácidos),
transformam esse tipo de compostos em ligantes úteis. Routledge and Kegan Paul, London.
A hemoglobina é o pigmento vermelho do sangue da • Fogg, P.G.T. e Young, C.L. (eds) (1988), Hydrogen Sulfide,
maioria dos animais. Ela é vermelha na presença e azul na Deuterium Sulfide and Hydrogen Selenide, Pergamon.
ausência de oxigênio. A hemoglobina é essencial para • Greenwood, G. e Hill, H.O.A. (1982), Oxygen and life, Chem­
absorver o oxigênio molecular nos pulmões, formando-se a istry in Britain, 18, 194.
oxihemoglobina. A oxihemoglobina libera o oxigênio nas • Govindgee, R. (1977), Photosynthesis, McGratu Hill Encyclo-
partes do organismo que dele necessitam, regenerando a pedia of Science and Technology, 4th ed., Vol. 10. (Artigo
hemoglobina (reduzida). A hemoglobina tem uma massa introdutório)
molecular de cerca de 65.000. Ela é constituída por quatro
• Heal, H. G. (1980), The Inorganic Heterocyclic Chemistry of
grupos heme, ou seja, anéis heterocíclicos porfirínicos
Sulphur, Nitrogen and Phosphorus, Academic Press, London.
planares contendo ferro e uma proteína globular (Fig. 15.15,
e vide "Química Bioinorgânica do ferro”, no Capítulo 24). A • Heicklen, J. (1976), AtmosphericChemistry, Academic Press,
hemoglobina reage com O2 e forma oxihemoglobina. Nesse New York. (Chuva ácida, etc.)
complexo o eixo 0-0 da molécula de O2 está paralelo ao • Holloway, J.H. e Laycock, D. (1983), Preparations and reac-
plano do anel porfirínico, sendo as duas distâncias Fe ■ • • O tions of inorganic main-group oxide fluorides, Adv. Inorg.
iguais. Supõe-se que o oxigênio molecular se liga ao ferro Chem. Radiochem., 27, 157-195.
por meio de ligações n. • Horvath, M., Bilitzky, L. e Huttner, J. (1985), Ozone (Topics
in Inorganic and General Chemistry Series No. 20), Elsevier.
Alguns poucos complexos de metais de transição
também podem formar complexos com ligações n com o • Hynes, H.B.N. (1973), The Biology of Polluted Waters,
oxigênio molecular. Liverpool University Press (Um bom livro texto sobre poluição
aquática)
L,Pt + O2 -> L2PtO2 (L = P(C6H5)3) • Lagowski, J. (ed.) (1967), The Chemistry of Non-aqueous
Solvents, Vol. III (Cap. por Burow, D.F., Dióxido de enxofre
Cl Cl
o líquido), Academic Press, New York.
L2ír O2 L2Ir"_'.' I • Latimer, W.M. (1959), The Oxidation States ofthe Elements
o and Their Potentials in Aqueous Solution, 2? ed., Prentice
CO CO Hall (Antigo, mas até recentemente foi a principal referência
sobre potenciais redox).
LEITURAS COMPLEMENTARES • Murphy, J.S. e Orr, J.R. (1975), Ozone Chemistry and Tech­
• Bagnall, K.W. (1973), Comprehensive Inorganic Chemistry, nology, Franklin Instite Press, Philadelphia.
Vol. 11 (Cap. 24: Selênio, telúrio e polônio), Pergamon Press, • Nickless, G. (ed.) (1968), InorganicSulfur Chemistry, Elsevier,
Oxford. Amsterdam.
• Bailey, P.S. (1978), Ozonation in. Organic Chemistry, Aca- • Ochiai, E.I. (1975) Bioinorganic chemistry of oxygen, J. Inorg.
demic Press, New York. Nuclear Chem., 37, 1503-1509.
• Bard, A.J., Parsons, R. e Jordan, J. (1985), Standard Poten- • Ogryzlo, E.A. (1965), Why liquid oxygen is blue, J. Chem.
tials In Aqueous Solution (Monographs in Electroanalytical Ed., 42, 647-648.
B92 ERUPO 16 — CALCOBÊNIDS

• Oxygen in the Metal and Gaseous Fuel Industries (1978), em cada caso as ordens de ligação e suas propriedades
Special Publication N.° 32, Royal Society for Chemistry, Lon- magnéticas (paramagnético ou diamagnético): a) O2; b)
don. (Anais da primeira conferência BOC Priestley) íon superóxido, O2“; c) íon peróxido, O22'.
• Oxygen and Life (1981), Special Publication No. 39, Royal 6. Explique os seguintes fatos:
Society for Chemistry, London. (Anais da segunda conferência a) O oxigênio líquido é atraído pelos pólos de um ímã,
BOC Priestley). mas o nitrogênio líquido não.
• Patai, S. (ed.) (1983), The Chemistry ofPeroxides, John Wiley b) O íon N-O+ tem uma ligação mais curta que o N0,
Chichester. embora este último tenha um elétron a mais.
• P hillips, A. (1977), The modern sulphuric acid process, 7. Como pode ser preparado o ozônio, no laboratório? Qual
Chemistry in Britain, 13, 471. é a sua estrutura e quais são suas principais aplicações!
• Roesky, H.W. (1979), Cyclic sulphur-nitrogen compounds, Há uma camada de ozônio na atmosfera superior: qual a
Adv. Inorg. Chem. Radiochem., 22, 240-302. sua importância para o homem?
• Roy, A.B. e Tfudinger, P.A. (1970), The Biochemistry oflnor- 8. Escreva as equações das reações entre O2 e: a) Li; b) Na;
ganic Compounds of Sulphur, Cambridge University Press, c) K; d) C; e) CH4; f) N2; g) S; h) Cl2; i) PbS; j) CuS.
Cambridge. 9. Por que o oxigênio forma moléculas de O2 enquanto o
• Schaap A.P. (ed.) (1976), Singlet Molecular Oxygen, Wiley, enxofre forma moléculas S8?
New York. 10. Descreva um método de preparação do peróxido de
• Schmidt, M. e Siebert, W. (1973), Comprehensive Inorganic hidrogênio. Mostre sua estrutura na fase gasosa. Escreva
Chemistry, Vol. II (Cap. 23: Oxoácidos do enxofre), Pergamon as equações balanceadas para as reações do H2O2 com:
Press, Oxford. a) uma solução ácida de KMnO4
• Thompson, R. (ed.) (1976), The Modem Inorganic Chemi­ b) H1 aquoso
cals Industry (Cap. por Grant, W.J. e Redfearn, S.L., Gases
Industriais; cap. por Arden, T.V., Purificação de água e c) uma solução ácida de hexacianoferrato(II) de potássio.
reciclagem; cap. por Crampton, C.A. et alli., Produção, 11. Quais são as principais fontes de enxofre? Quais são as
propriedades e aplicações do peróxido de hidrogênio e dos duas formas alotrópicas mais comuns ?
peróxidos inorgânicos; cap. por Phillips, A., O processo 12. Descreva o processo Frasch de extração do enxofre.
moderno de produção do ácido sulfúrico), Special publica­ 13. Descreva as transformações que ocorrem quando se aquece
tion No. 31, The Chemical Society, London. o enxofre.
• Thrush, B.A. (1977), The chemistry of the stratosphere and 14. Explique as diferenças nos ângulos de ligação e nos pontos
its pollution, Endeavour, 1, 3-6. de ebulição do H2O e do H2S.
• Vaska, L. (1976), Dioxygen-metal complexes: towards a uni- 15. Explique a formação das ligações rt no O2, O3, S03 e
fied view, Acc. Chem. Res., 9,175- 1 83. SO42’.
• Waddington, T.C. (ed.) (1965), Non Aqueous Solvents (Cap. 16. Descreva o processo industrial de fabricação do ácido
4 por Gillespie, R.J. e Robinson, E.A., Ácido sulfúrico; cap. 6 sulfúrico. Enumere suas principais aplicações.
por Waddington, T.C., Dióxido de enxofre líquido), Nelson.
17. Descreva os métodos de preparação, propriedades e
• Wsserman, H.H. e Murray, R.W. (eds) (1979), Singlet Oxy­ estruturas do SO2, SO3, H2SO5 e H2S2O8.
gen, Academic Press, New York.
18. a) Descreva as diferenças estruturais entre o SO3 gasoso e
• West J. R. (1975), New UseofSulfur, ACS Advances in Chem­ sólido.
istry series, No. 146, American Chemical Society.
b) Que reação ocorre entre SO3 e H2SO4? Mostre a estrutura
• Zure, P.S. (1987), The Antarctic ozone hole, Chem. Eng. News, do produto.
7 agosto, 7-13; 2 novembro, 22-26.
c) Descreva o efeito do calor sobre o NaHSO3.
PROBLEMAS d) Compare as estruturas dos íons SO42- e S2O32'.
e) Qual é a reação que ocorre entre o Na2S2O3 e o I2?
1. Escreva as equações químicas das reações de obtenção de
oxigênio a partir de: a) H2O; b) H2O2; c) Na2O2; d) NaNO3; f) Por que o ácido sulfuroso e os sulfitos são redutores!
e) KC1O3; f) HgO. 19. Compare e assinale as diferenças entre os ácidos sulfúrico,
2. Como o oxigênio é produzido em escala industrial, e quais selênico e telúrico.
são suas principais aplicações? 20. Como se obtém Na2S2O3? Explique sua utilização em
3. Compare os óxidos de Na e Ca com os de S e N. Compare fotografia e na análise volumétrica.
seus pontos de fusão, a natureza da ligação, e suas reações 21. Quais são os principais fluoretos de enxofre? Como são
com água, ácidos e bases. obtidos, quais são suas estruturas e para que são usados!
4. De que maneira e com base em que critérios podem ser 22. Explique porque o SF8 é inerte mas o TeF8 reage com a
classificados os óxidos? água.
5. Utilize a Teoria de Orbitais Moleculares para descrever as 23. Apresente motivos que justifiquem a existência do SF8 mas
ligações em cada um dos seguintes compostos, informando não do OF6.
293

Grupo 17
GG IlGLOGÊllIOG
INTRODUÇÃO lhantes entre si que as dos outros pares de elementos, pois
têm tamanhos similares. O raio iônico do Cl" é 38% maior
0 nome "halogênio” vem do grego e significa "formador que o do F", mas o raio iônico do Br" é apenas 6,5% maior
de sal”. Todos os elementos desse Grupo reagem diretamente
que o do Cl". Essa diferença relativamente pequena no
com os metais formando sais, e também são muito reativos
tamanho se deve aos dez elétrons 3d do Br", que
frente a não-metais. O flúor é o elemento mais reativo
proporcionam uma blindagem pouco eficiente da carga
conhecido.
nuclear. Por causa disso, as eletronegatividades desses
Todos esses elementos possuem sete elétrons no nível elementos também são muito semelhantes. Assim sendo,
eletrônico mais externo. A configuração ^p5 indica que eles há poucas diferenças nas polaridades das ligações formadas
tem um elétron p a menos que o gás nobre mais próximo. pelo Cl e pelo Br com outros elementos.
Assim, os átomos desses elementos completam seu octeto
Os estados de oxidação ( + 1) e (-1) são de longe os
ganhando um elétron (isto é, através da formação dos íons
mais comuns, e depende se o halogênio é o elemento mais
X‘ e de ligações iônicas), ou então compartilhando um elétron
eletronegativo ou não. Todos os elementos, exceto o flúor,
com outro átomo (ou seja, formando uma ligação covalente). podem existir em estados de oxidação mais elevados. A
Seus compostos com metais são iônicos, enquanto que os ausência de orbitais d de baixa energia no segundo nível
compostos com os não-metais são covalentes. impede que o flúor forme mais de uma ligação covalente
Os halogênios apresentam semelhanças muito grandes normal.
dentro do Grupo. O flúor (o primeiro elemento do grupo)
O flúor é um agente oxidante extremamente forte. Essa
difere em diversos aspectos dos demais elementos do grupo. propriedade combinada com seu pequeno tamanho, faz com
0 primeiro elemento de cada um dos grupos dos elementos que os elementos aos quais ele está ligado alcancem seus
representativos difere significativamente dos demais estados de oxidação mais elevados . Os exemplos incluem
pertencentes aos respectivos grupos. Os motivos dessas IFr, PtF6, SF6 e muitos hexafluoretos, BiFs, SFs, TbF4, AgF2 e
diferenças são:
K(AgulF4],
1) O primeiro elemento é menor que os demais, e segura Todos os halogênios existem como moléculas diatômicas
mais firmemente seus elétrons. e são coloridos. O F2 gasoso é amarelo claro, o gás Cl2 é
2) Não possui orbitais d de baixa energia que possam ser amarelo esverdeado, o Br2 gasoso e líquido são castanho
utilizados para formar ligações. avermelhado escuros e o I2 gasoso é violeta. As cores
As propriedades do cloro e do bromo são mais seme­ decorrem da absorção de luz quando um elétron do estado
fundamental é promovido para um
estado de maior energia. Nos elementos
Tabela 16J — Configurações eletrônicas e estados de oxidação mais pesados, os níveis de energia
envolvidos estão mais próximos, de
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* modo que a energia de excitação se toma
cada vez menor, e o comprimento de
Flúor F [He] 2?2p55 onda se toma maior.
Cloro Cl [Ne] 3? 3p5 -I +1 +ni +IV +V +VI+VII
Bromo Br [Ar] 3d10 4s2 4p5 -i +i +ni +iv +v +vi O I2 sólido cristaliza na forma de
Iodo I [Kr] 4d10 5? 5ps -i +i +ni +v +vn escamas pretas e apresenta um ligeiro
Astatínio At [Xe] 4/4 5d'°6?6p5 brilho metálico. Embora a estrutura
determinada por difração de raios X
■ Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados indique a presença de moléculas de I2
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo
normal. discretas, a cor é remanescente de
B94 6RUPQ 17 — OS HALO6ÊNIÜS

compostos de transferência de carga, e suas propriedades


são diferentes daquelas dos outros sólidos moleculares. O Tabela 16.2 — Abundância dos elementos na crosta
sólido conduz eletricidade em pequeno grau e a terrestre, em peso
condutividade aumenta com o aumento da temperatura. Esse
comportamento é semelhante ao de um semicondutor Elemento ppm abundância relativa
intrínseco, e diferente daquele dos metais. Contudo, o I2
líquido conduz muito pouco. Esse fato é atribuído à sua F 544 13?
autoionização: Cl 126 20?
Br 2,5 47?
3I2 I3+ + I3- I 0,46 62?

Todos os isótopos estáveis dos halogênios possuem um


“spin" nuclear diferente de zero. Essa propriedade é secos de alguns lagos e mares contêm grandes depósitos de
aproveitada na espectroscopia de ressonância magnética NaCl, misturados com quantidades menores de CaCl2, KC1 e
nuclear. Os deslocamentos químicos são medidos MgCl2. Em contraste, a quantidade de fluoretos na água do
convenientemente, usando o isótopo 19F. mar é muito baixa (1,2 ppm). Isso ocorre porque a água do
mar contém uma grande concentração de Ca2 + , e 0 CaF2 é
Diversos produtos químicos halogenados são de inte­
insolúvel.
resse econômico e são produzidos em grande escala. Entre
eles estão o Cl2 (35,3 milhões de toneladas em 1994), o HC1 Os brometos ocorrem na água do mar. Os iodetos só
anidro e o ácido clorídrico (12,3 milhões de toneladas em ocorrem na água do mar em pequenas concentrações, mas
1991), o HF anidro e o ácido fluorídrico (1,5 milhão de são absorvidos e concentrados pelas algas. Antigamente, 0
toneladas em 1994), Br2 (370.000 toneladas em 1993) e C1O2 iodo era extraído de algas, mas atualmente há fontes mais
(200.000 toneladas/ano). convenientes. Algumas salmouras naturais contém elevadas
concentrações de 1". O iodato de sódio, NaIO3, e o periodato
de sódio, NaIO4, ocorrem como impurezas nos depósitos de
OCORRÊNCIA E ABUNDÂNCIA NaNO3 (salitre) do Chile.
Todos os halogênios são muito reativos e não ocorrem
no estado livre. Contudo, todos são encontrados na forma OBTENÇÃO E APLICAÇÕES DOS
de compostos na crosta terrestre, exceto o astato (este é
radioativo e tem meia-vida curta). O flúor é o décimo-terceiro ELEMENTOS
elemento mais abundante em peso na crosta terrestre, e o Flúor
cloro é o vigésimo. Esses dois elementos são razoavelmente O flúor é extremamente reativo, dificultando
abundantes, mas o bromo e o iodo são relativamente raros. enormemente a preparação e o manuseio do elemento. 0
A principal fonte de flúor é o mineral CaF2, conhecido flúor foi obtido pela primeira vez por Moissan, em 1886.
como fluorita (o nome alternativo fluorita se deve à Posteriormente, ele recebeu 0 Prêmio Nobel de Química (de
fluorescência do mineral, isto é, ele emite luz quando 1906) por essas pesquisas. O flúor é obtido tratando-se CaF2
aquecido). A produção mundial foi de 3,6 milhões de com H2SO4 concentrado. Desta forma obtém-se uma solução
toneladas em 1992. Os principais produtores são a China aquosa de HF, que é posteriormente destilado para se obter
42%; México, Mongólia e ex-União Soviética 8% cada, e HF anidro líquido. Finalmente, F2 e H2 são obtidos pela
África do Sul 7%. Outro mineral bastante conhecido eletrólise de uma solução esfriada de KHF2 em HF anidro
contendo flúor é a fluorapatita, (3(Ca(PO4)2.CaF2). Ele é (Fig. 16.1).
essencialmente utilizado como matéria-prima para a
obtenção de fósforo. Não é utilizado para produzir HF e F2, CaF2 + H2SO4 -> CaSO4 + 2HF
porque o mineral contém quantidades apreciáveis de SiO2. KF + HF -> K[HF2]
Assim, 0 HF produzido reage com SiO2 formando ácido HF + K[HF2] —del,<>ll5e ■> H2 + F2
fluorossilícico, H2[SiF6]. Uma pequena quantidade de
H2(SiF6] é sintetizada dessa maneira e é usada na fluoretaçâo Há muitas dificuldades no processo de obtenção do
da água potável, no lugar do NaF . O mineral criolita, flúor:
Na3[AlF6], é muito raro. É encontrado somente na
Groenlândia e é usado na obtenção eletrolítica do alumínio. D O HF é corrosivo e ataca o vidro. Também provoca
queimaduras muito dolorosas, quando em contato com
O composto mais abundante de cloro é o NaCl, do qual a pele. Essas queimaduras são provocadas em parte
provém praticamente todo o Cl2 e HC1 produzidos. O pela desidratação do tecido, e em parte pelo caráter
consumo mundial de NaCl foi de 183,5 milhões de toneladas ácido do HF. Os ferimentos se recuperam com
em 1992. Uma parte do NaCl é minerado como sal-gema, e dificuldade, porque os íons F" removem 0 Ca2+ dos
a outra parte é obtida pela evaporação da água do mar ao tecidos.
sol. Os cloretos e brometos são lixiviados do solo pela ação
das chuvas e são arrastados para 0 mar. A água do mar 2) O HF gasoso também é muito tóxico (3 ppm), mais que
contém em média cerca de 15.000 ppm (1,5%) de NaCl. o HCN (10 ppm).
Todavia, a água de alguns lagos interiores contém 3) O HF anidro só se ioniza parcialmente, sendo assim
quantidades bem maiores (o Mar Morto contém 8% e 0 um mau condutor de eletricidade. Por isso, uma mistura
Grande Lago Salgado/Utah, EUA, contém 23%). Os leitos de KF e HF é utilizado para aumentar a condutividade
OBTENÇÃO E APLICAÇÕES DOS ELEMENTOS 295

e facilitar a eletrólise. Moissan utilizou uma mistura de indústria nuclear consome cerca de 75% do flúor produzido.
KF e HF na razão molar de 1:13. Nessa proporção, a O UF6 é obtido como se segue:
pressão de vapor de HF é elevada , acarretando proble­
mas devido à sua toxicidade e propriedades corrosivas, U ou UO2 + HF -> UF4
mesmo quando a mistura é resfriada a -24 °C. Os UF4 + f2 -> uf6
métodos modernos utilizam geradores de flúor de UF4 + C1F3 -> UF6
temperatura média. Esses geradores usam uma mistura Os fluorocarbonetos são um grupo de compostos muito
de KF:HF na proporção molar de 1:2, que tem uma importantes e úteis, derivados dos hidrocarbonetos
pressão de vapor de HF muito menor. Essa mistura funde
substituindo-se H por F. O tetrafluorometano, CF4, é o
a cerca de 72 °C, uma condição mais fácil de se manter. fluorocarboneto correspondente ao metano. Os compostos
Observe que o KF e o HF reagem para formar o sal totalmente fluorados, CnF2n+2, são denominados compostos
K+[F-H-F]-.
perfluorados. Assim, o CF4 é o perfluorometano. Os
4) A água deve ser rigorosamente excluída ou o flúor compostos perfluorados apresentam pontos de ebulição
produzido irá oxidá-la a oxigênio. muito baixos em relação a seu peso molecular: isso se deve
5) 0 hidrogênio liberado no cátodo deve ser separado do a atuação de forças intermoleculares muito fracas. Os
flúor produzido no ãnodo, com a ajuda de um fluorocarbonetos são extremamente inertes. Ao contrário do
diafragma. Caso contrário reagirão de modo explosivo. metano, o CF4 pode ser aquecido ao ar sem que entre em
6) 0 flúor é extremamente reativo. Por exemplo, inflama- combustão. Os fluorocarbonetos não são atacados por HNO3
se quando em contato com pequenas quantidades de ou H2SO4 concentrados, nem por agentes oxidantes fortes
graxa ou silício cristalino. O vidro e a maioria dos metais como KMnO4 ou O3, e também por agentes redutores fortes
são atacados. É difícil encontrar materiais adequados como Lí[A1H4] ou C a 1.000 °C. São atacados por Na fundido.
para se construir os reatores. Moissan utilizou um tubo Quando pirolisados a temperaturas muito elevadas, são
de platina em U, já que este metal é muito inerte (mas rompidas as ligações C-C, mas não as ligações C-F. O
muito caro). Atualmente, o cobre ou o metal-monel tetrafluoroeteno, F2C = CF2 (P.E. -76,6 °C), pode ser obtido
(uma liga de Cu/Ni) são utilizados, por causa de seu como se segue:
menor custo. Uma película protetora de fluoreto se 500-1000'C
forma na superfície do metal, diminuindo a velocidade 2CHC1F2 ■> CF2 = CF2 + 2HC1
da reação com o flúor.
Os fluoroalcenos desse tipo podem ser polimerizados,
7) Os cátodos são feitos de aço e os ânodos de carbono, e
ou por processos térmicos, ou utilizando radicais livres como
teflon é utilizado como isolante elétrico. Não devem iniciadores. Dependendo do grau de polimerização, isto é,
ser usados ânodos de grafita, pois esta reage com o do peso molecular médio, os produtos obtidos podem ser
flúor formando derivados de grafita, CF. Neste caso, os óleos, graxas, ou sólidos constituídos por moléculas de
átomos de flúor invadem progressivamente os espaços elevado peso molecular, denominados politetrafluoroeteno.
interlamelares da grafita, afastando-as e dobrando-as. É semelhante à reação de polimerização do eteno (ou
Esse processo vai diminuindo gradativamente a etileno), com a formação de polietileno (politeno). O
condutividade da grafita e a tensão elétrica necessária politetrafluoroeteno é conhecido comercialmente como PTFE
aumenta. Nesse caso há liberação de maior quantidade ou Teflon. TYata-se de um sólido plástico muito inerte, e útil
de calor e eventualmente pode ocorrer uma explosão. por ser totalmente resistente ao ataque químico e por ser
Para evitar isso, o eletrodo é feito com carbono um isolante elétrico. Embora caro, é utilizado no laboratório.
desgrafitizado, compactando-se coque pulverizado Também, é usado como revestimento em utensílios de
impregnado com cobre. cozinha não aderentes.
Cilindros de F2 podem atualmente ser encontrados no Os freons são clorofluorocarbonetos mistos. Compostos
comércio. Contudo, para muitas de suas finalidades, o F2 é tais como CC1F3, CC12F2 e CC13F são importantes como fluidos
convertido em C1F3 (P.E. 12 °C), que embora muito reativo
é menos desagradável e de transporte mais fácil.
200-300'C HF F2 H2
3F2 + Cl2 2C1F3 (entradaXsaída) (saida)

A produção de flúor só se tornou importante com o


início da fabricação de fluoretos inorgânicos, tais como A1F3
e Na3[AlF6] sintético. Ambos são usados na obtenção do
wfir
i—
alumínio. O mineral natural criolita só é encontrado na *- Camisa de resfriamento
Groenlândia e já está praticamente esgotada. — Ãnodo de carbono
Na década de 1940, descobriu-se que os isótopos de Cátodo de aço
urânio poderíam ser separados por difusão do gás UF6. Isso
foi importante na obtenção do urânio enriquecido necessário Eletrólito
para a produção da primeira bomba atômica. O método da
difusão gasosa ainda é utilizado no enriquecimento do urânio
a ser usado como combustível em reatores nucleares. A Figura 16.1 — Cela de obtenção de flúor
B9B GRUPO 17 — 05 HAL0GÉNI05

refrigerantes não-tóxicos e como propelentes de aerossóis. Capítulo 10). Contudo, um processo Deacon modificado
Também são muito inertes e serão discutidos mais adiante. ainda é usado em pequenas proporções. Ele utiliza o HC1
O CFjCHBrCl é o anestésico conhecido como fluotano. obtido como subproduto da pirólise do 1,2-dicloroetano, no
Além disso, o F2 é usado na fabricação do SF6, um gás processo de obtenção do cloreto de vinila, e um catalisador
muito inerte usado como dielétrico (isolante) em mais eficiente (CuCl2 com óxido de "didímio" como promo­
equipamentos de alta tensão. O F2 é usado ainda na obtenção tor; "didímio” significa "gêmeos” e é o nome da mistura de
de outros agentes de fluoração, como C1F3, BrF3, 1FS e SbFs. praseodímio e neodímio). Esse catalisador torna-se ativo a
O uso de F2 como agente oxidante em motores de foguetes uma temperatura um pouco menor que o do processo origi­
foi abandonado. O HF anidro tem muitas aplicações. nal.
Pequenas quantidades de íons fluoreto, F", na água 400-450‘C
potável (cerca de 1 ppm) reduzem significativamente a CH2C1-CH2C1 4 CH2 = CHC1 + HC1
incidência de cáries nos dentes. Os íons F" tornam mais
duro o esmalte dos dentes, pois reagem com a hidroxia- O gás cloro é tóxico e foi usado como gás de combate
patita, [3(Ca3(PO4)2) Ca(OH)2], formadora do esmalte na na I Guerra Mundial. O gás é detectado pelo olfato humano
superfície dos dentes transformando-o em fluorapatita, a uma concentrações de 3 ppm, e a 15 ppm provoca irritação
[3(Ca3(PO4)2)-CaF2], muito mais dura. Contudo, concen­ na garganta e lacrimejamento. Concentrações maiores
trações de F~ superiores a 2 ppm provocam descoloração e provocam tosse, danos nos pulmões e a morte.
surgimento de manchas nos dentes, e em concentrações A produção mundial de cloro é de cerca de 35,3 milhões
ainda maiores é prejudicial à saúde. Em lugares onde a água de toneladas por ano (ex-Uniâo Soviética 43%, EUA 24%,
contém quantidades insuficientes de íons F" naturais, Alemanha Ocidental 7%, Canadá e França 3% cada um,
adiciona-se NaF e H2[SiF6] à água potável. O NaF também é Japão e Inglaterra 2% cada um). Cerca de dois terços da
usado nos cremes dentais fluoretados (o creme dental produção é usado na fabricação de compostos
fluoretado antigo continha SnF2 e Sn2P2O7). organoclorados, um quinto como alvejante, e o restante na
fabricação de vários compostos inorgânicos. 0 1,2-
Cloro dicloroetano e o monômero do cloreto de vinila são os dois
compostos orgânicos clorados mais importantes. Ambos são
O cloro foi preparado pela primeira vez por Scheele, utilizados na indústria de plásticos. O cloro também é usado
pela oxidação do HC1 com MnO2. Esse foi um dos métodos na fabricação de:
de preparação de cloro no laboratório, mas atualmente o
solventes organoclorados, como cloreto de metila e
cloro é comercializado em cilindros e pode ser facilmente
encontrado. cloreto de etila
percloro e dicloroeteno
H2SO4 + NaCl -4 HC1 + NaHSO4 mono, di e triclorobenzeno
4HC1 + MnO2 -4 MnCl2 + 2H2O + Cl2 hexaclorobenzeno
o inseticida DDT
O gás preparado usando MnO2 deve ser purificado. fenóis clorados
Inicialmente o HC1 é removido borbulhando-se em água e, hormônios de crescimento de vegetais (o ácido 2,4-
em seguida, o gás é desidratado borbulhando-se em H2SO4 diclorofenoxiacético e o ácido 2,4,6-triclorofeno-
concentrado. Caso seja necessário, a umidade pode ser ainda xiacético são usados como herbicidas seletivos).
mais reduzida passando o gás cloro assim obtido sobre CaO
e P4O10. Grandes quantidades de cloro são empregados no
alvejamento de tecidos, madeira, polpa e papel. O cloro é
O cloro é produzido industrialmente em grandes extensivamente empregado na purificação da água potável,
quantidades, por dois métodos principais (cerca de 35,3 por causa de sua capacidade de matar bactérias. Também
milhões de toneladas foram produzidos em 1994): encontra emprego na produção de uma grande variedade de
1) Pela eletrólise de soluções aquosas de NaCl, no processo produtos químicos inorgânicos, tais como:
de fabricação do NaOH. alvejantes
2) Na eletrólise do NaCl fundido, no processo de fabricação hipoclorito de sódio, NaOCl
do sódio (vide Capítulo 10). dióxido de cloro, C1O2
Antes de 1960 o cloro era um subproduto desses clorato de sódio, NaClO3
processos. Desde então houve um grande aumento na diversos cloretos de metais e de não-metais.
demanda de cloro, principalmente na indústria de polímeros
como o cloreto de polivinila (14,9 milhões de toneladas de Bromo
PVC foram fabricados em 1991). Atualmente, o cloro é O bromo é obtido a partir da água do mar e de lagos
considerado o produto principal desses processos. salgados. A água do mar contém cerca de 65 ppm de Br’.
eletrólise Assim, 15 toneladas de água do mar contém cerca de 1 kg
2NaCl + 2H2O 4 2NaOH + Cl2 + H2 de bromo. O bromo é extraído da água do mar, mas é mais
eletrólise
2NaCl 4 2Na + Cl2 econômico utilizar salmouras naturais mais concentradas,
como a do Mar Morto, ou salmouras de fontes em Arkansas
O cloro já foi obtido pela oxidação do HC1 com ar, no e Michigan, nos EUA, e no Japão, que contém de 2.000 a
processo Deacon. Esse processo se tornou obsoleto (vide 5.000 ppm de Br". Inicialmente o pH é ajustado para cerca
HS7

de 3,5 com H2SO4. A seguir, Cl2 gasoso é borbulhado na O salitre do Chile é constituído essencialmente por
solução para oxidar o Br’ a Br2. Esse é um exemplo de NaNO3, mas contém pequenas quantidades de iodato de
deslocamento de um elemento por outro situado mais acima sódio, NaIO3, e periodato de sódio, NaIO4. O NaNO3 puro é
na série eletroquímica. obtido dissolvendo-se o salitre em água e recristalizando-o.
Os resíduos de iodato se acumulam e se concentram na água-
Cl2 + 2Br’ -> 2C1- + Br2 mãe. Eventualmente, esse concentrado é dividido em duas
partes. Uma parte é reduzida com NaHSO3 para formar I".
0 bromo é removido com o auxílio de um fluxo de ar,
Este é misturado com a parte não tratada para formar o I2,
pois é muito volátil, e borbulhado numa solução de Na2CO3.
que é filtrado e purificado por sublimação.
0 Br2 é absorvido por essa solução, pois reage formando
uma mistura de NaBr e NaBrO3. Finalmente, a solução é 2IO3’ + 6HSO3'—> 21’ + 6SO42’ + 6H +
acidificada e destilada para se obter o bromo puro. 51’ + 1O3’ + 6H+ -> 3I2 + 3H2O
3Br2 + 3Na2CO3 -> 5NaBr + NaBrO3 + 3CO2 A água do mar contém apenas 0,05 ppm de I", uma
SNaBr + NaBrO3 + 3H2SO4 -» SHBr + HBrO3 + 3Na2SO4 quantidade muito baixa para permitir uma exploração
5HBr + HBrO3 -> 3Br2 + 3H2O economicamente viável. A salmoura natural, que pode conter
de 50 a 100 ppm, é tratada com Cl2, para oxidar os íons 1“ a
A produção mundial de bromo foi de 370.000 toneladas
12. Este é removido por um fluxo de ar, de modo semelhante
em 1993 (EUA 45%, Israel 36%, Reino Unido 8% e Japão
ao bromo. Ou, após a oxidação com Cl2, a solução pode ser
4%). Em 1955, cerca de 90% do bromo produzido foi
passada através de uma resina de troca-iônica. O I2 fica
utilizado na fabricação de 1,2-dibromoetano, CH2Br-CH2Br,
adsorvido na coluna na forma de íons triiodeto, I3‘, que é
mas atualmente o consumo para essa finalidade é inferior a removido da resina com uma solução alcalina.
50%. 0 1,2-dibromoetano é adicionado à gasolina para re­
mover o chumbo. O tetraetilchumbo é adicionado à gasolina A produção mundial de I2 foi de 17.500 toneladas em
para aumentar o índice de octanas, mas provoca a formação 1992 (Japão 42%, Chile 35%, Estados Unidos 11 % e União
de depósitos de chumbo na combustão. O 1,2-dibromoetano Soviética 9%). Não há uma aplicação predominante para o
é adicionado para impedir a formação de depósitos de iodo . Cerca da metade é usado na obtenção de uma
chumbo nas velas de ignição e no motor. O chumbo é variedade de compostos orgânicos, incluindo o iodofórmio,
eliminado com os gases de escape, principalmente na forma CHI3 (usado como antisséptico), e o iodeto de metila, CH3I.
de PbCIBr. O uso de PbELi como aditivo antidetonante da O Agl é usado em filmes fotográficos e para semear nuvens
gasolina diminuiu consideravelmente. A tendência é diminuir para provocar a precipitação de chuvas artificiais. Pequenas
ainda mais em função das preocupações ambientais, devido quantidades de iodo são necessárias na dieta humana, por
à toxicidade do chumbo e à consequente legislação restritiva isso adiciona-se cerca de 10 ppm de NaI ao sal de cozinha.
em relação ao seu uso. Por isso, a produção do 1,2- O Kl é adicionado à ração de animais (mamíferos e aves). A
dibromoetano também diminuiu. glândula tireóide produz um hormônio de crescimento
chamado tiroxina, que contém iodo. A deficiência de iodo
Cerca de 20% do bromo produzido é empregado na provoca o bócio. O iodo é usado em pequenas quantidades
obtenção de derivados orgânicos, tais como brometo de como antisséptico: a tintura de iodo é uma solução aquosa
metila, brometo de etila e dibromocloropropano. Esses de iodo em Kl ("lugol") e o “iodo francês" é uma solução
compostos são usados na agricultura: o MeBr é um alcóolica de iodo. No laboratório, os iodetos e os iodatos
nematicida e um pesticida utilizado no controle de insetos e são usados em análise volumétrica e na preparação do
fungos. Os outros dois são usados como pesticidas. reagente de Nessler, K2[HgI4], usado para detectar amônia.
Cerca de 10% encontram emprego na fabricação de
retardantes de chamas. Compostos bromados podem ser
Astato
adicionados ao processo de polimerização, na fabricação de
fibras acrílicas e de poliéster. É mais comum tornar os tecidos O astato não ocorre na natureza, mas foram obtidos
"resistentes" à chama, tratando-os com tris(dibromopro- artificialmente mais de vinte isótopos. Todos são radioativos.
pil)fosfato, (Br2C3H5O)3PO. Isso pode ser feito tanto durante Os isótopos mais estáveis são o210At (meia-vida de 8,3 horas)
a fiação com após a manufatura. e o 211 At (meia-vida de 7,5 horas). O último foi obtido pela
primeira vez em 1940, numa reação nuclear em que um
Outras aplicações incluem a fabricação de emulsões
alvo de bismuto foi bombardeado com partículas a de alta
fotográficas e de produtos farmacêuticos. O AgBr é sensível
energia.
à luz e é usado em filmes fotográficos e, também, em filtros
bactericidas para água potável e na fabricação de corantes.
2”Bi+4 He ■»2JsAt + 2ón
0 KBr é usado como sedativo e como anti-convulsivo no
tratamento da epilepsia. Métodos baseados em traçadores radioativos foram
utilizados para estudar a química do 2UAt, usando
Iodo quantidades extremamente pequenas do elemento, ou seja,
Há dois métodos industriais diferentes de obtenção do cerca de 10’14 mol. Esse isótopo sofre decaimento por captura
iodo. O método usado depende da matéria-prima, ou seja, o eletrônica e por emissão de partículas a (vide no Capítulo
salitre do Chile ou uma salmoura natural (por exemplo das 31, "Modos de decaimento"). O astato parece ser muito
fontes de Oklahoma e Michigan, nos EUA, ou do Japão). semelhante ao iodo.
298 BRUPO 17 — OS HALÜBÊNIOS

Tabela 163 — Raios iônicos e covalentes Tabela 16.5 — Eletronegatividade e potencial de eletrodo

Raio covalente Raio iônico X" Eletronegatividade Potencial de


(A) (A) de Pauling eletrodo padrão £°
(volt)
F 0,72 1,33
Cl 0,99 1,84 F 4,0 +2,87
Br 1,14 1,96 Cl 3,0 +1,40
I 1,33 2,20 Br 2,8 + 1,09
I 2,5 +0,62
ENERGIA DE IONIZAÇÃO At 2,2 +0,3
As energias de ionização dos haiogênios mostram a
tendência usual de diminuírem, à medida que os átomos As afinidades eletrônicas de todos os haiogênios são
aumentam de tamanho. Os valores são muito elevados, de negativas. Isso implica que há liberação de energia quando
modo que a tendência dos átomos perderem elétrons para um átomo de halogênio recebe um elétron e X->X‘. Portanto,
formar íons positivos é pequena. todos os haiogênios formam íons haleto.
A energia de ionização para o F é consideravelmente
maior que a dos demais elementos do grupo, por causa de TIPOS DE LIGAÇÃO FORMADOS E ESTADOS DE
seu pequeno tamanho. O F sempre se apresenta no estado OXIDAÇÃO
de oxidação (-1), exceto no F2. Ele forma compostos
adquirindo um elétron e formando o íon F", ou A maioria dos compostos formados pelos halogênio com
compartilhando um elétron para formar uma ligação os metais são iônicos. Contudo, haletos covalentes são
covalente. formados em alguns poucos casos em que o íon metálico é
muito pequeno e tem carga elevada (as estruturas do BeCl2
O hidrogênio tem uma energia de ionização de 1.311 kJ
e do A1C13 são atípicas — vide Capítulos 11 e 12).
mol’1 e forma íons H + . A princípio, pode parecer
surpreendente o fato dos haiogênios Cl, Br e I não formarem Todos os haiogênios são muito eletronegativos (vide
íons simples X+, apesar de terem energias de ionização Tab. 16.5). Quando eles reagem com os metais, a diferença
menores que do H. A energia de ionização é a energia de eletronegatividades entre eles é grande: logo, as ligações
necessária para remover um elétron de um átomo isolado, são iônicas. Os íons haletos são facilmente formados. Isso
formando um íon. Geralmente temos um sólido cristalino pode ser inferido pelos elevados valores das afinidades
ou uma solução, de modo que precisamos considerar eletrônicas (vide Tab. 16.4). Observe que há liberação de
também as energias reticulares e de hidratação. Como o H + energia quando um átomo de halogênio gasoso recebe um
é muito pequeno, cristais contendo esse íon tem uma elevada elétron; isso também pode ser relacionado com o elevado
energia reticular e sua energia de hidratação em solução valor positivo do potencial padrão de eletrodo para a reação
também é muito grande (1.090 kJ mol-1). Os íons negativos X2/2X’ (Tab. 16.5). Os potenciais de eletrodo padrão podem
também possuem uma energia de hidratação. Assim, os íons ser convertidos numa escala de energia, usando a relação
H + são formados, porque a energia reticular ou a energia de AG° = -ztFE°, onde n é o número de elétrons (no caso, 2) e
hidratação é maior que a energia de ionização. Por outro F a constante de Faraday (96.486 kl mol"1). Os valores de f?
lado, os íons X+ seriam grandes e portanto teriam baixas decrescem de cima para baixo no Grupo, e a energia liberada
energias reticulares e de hidratação. Como a energia de na formação dos íons haleto também decresce nesse sentido.
ionização seria maior que a energia de hidratação ou a Muitos iodetos são parcialmente covalentes. Por exemplo,
energia reticular, esses íons normalmente não se formam. Cdl2 é um composto com estrutura lamelar e todos os iodetos
Contudo, são conhecidos alguns poucos compostos em que têm pontos de fusão inferiores aos dos respectivos fluoretos.
o íon I+ é estabilizado por meio da formação de complexos Quando dois átomos de halogênio formam uma
com bases de Lewis, por exemplo [I(piridina)2]+ NO3“. Esses molécula, eles o fazem por meio de uma ligação covalente.
compostos serão discutidos mais adiante no item A maior parte dos compostos de haiogênios com não-metais
“Propriedades básicas dos haiogênios”. também são covalentes. O flúor é sempre univalente e sempre
tem número de oxidação (-1), pois é o elementos mais
Tabela 16.4 — Energias de ionização, de hidratação e eletronegativo. No caso do Cl, Br e 1, uma covalência igual a
afinidade eletrônica um é o caso mais comum. O estado de oxidação pode ser (-
I) ou ( + 1), dependendo de qual dos átomos da molécula
Primeira Afinidade Energia
energia de eletrônica hidratação X~ tem maior eletronegatividade.
ionização (kJ mol"1) (kl mol-1) a) b)
(kJ mol-1)

F 1.681 -333 -515


Cl 1.256 -349 -370
Br 1.143 -325 -339
I 1.009 -296 -274
At -270
Figura 16.2 — Estrutura do a) BeCl2 e do b) AlCl3
PODER OXIDANTE egg

Cl, Br e I podem ter valências mais elevadas, quando Tabela 16.7 — Energias de ligação c comprimentos de
seus números de oxidação são (+ III), (+ V) e (+ VII). Esses ligação de X2
estados de valências superiores levam a formação de ligações
covalentes, que evidentemente decorrem da promoção de Energias de ligação Comprimento da
elétrons de orbitais preenchidos p e s para níveis d vazios. (energia livre de ligação em X2
Assim, os elétrons desemparelhados formam três, cinco e dissociação) (Â)
sete ligações covalentes. Há numerosos exemplos de (kJ mol-1)
compostos interhalogenados e de óxidos de halogênios em
F 126 1.43
que esse elemento se encontra num desses estados de
Cl 210 1,99
valência superiores. 158 2,28
Br
ns _____ np_____ _________ nd_________
I 118 2,66
Estrutura eletrônica
do átomo de halo- camada
gênio — estado interna
È |u|u|t I I I I I I I
fundamental cheia (um só elétron desemparelhado possibilita
a formação de apenas uma ligação covalente) A energia de ligação do F2 é anormalmente baixa (126
kJ mol'1), sendo um dos principais motivos de sua grande
Estrutura eletrônica reatividade (outros elementos do primeiro período da tabela
do átomo de halo- camada
gênio — estado interna
[n] |u|t |t | |t | | | I I periódica também têm energias de ligação inferiores as dos
excitado cheia (três elétrons desemparelhados possibilitam
a formação de três ligações covalentes)
elementos seguintes nos respectivos grupos. Por exemplo,
no Grupo 15, a ligação N-N na hidrazina é mais fraca que a
Estrutura eletrônica camada [H] 1? |t |t I |t |t | I I I
ligação P-P e, no Grupo 16, a ligação 0-0 dos peróxidos é
do átomo de halo- mais fraca que a ligação S-S). Duas explicações diferentes
gênio — estado interna
mais excitado cheia (cinco elétrons desemparelhados possibilitam foram aventadas para explicar essa baixa energia de ligação:
a formação de cinco ligações covalentes)
D Mulliken sugeriu que no Cl2, Br2 e I2 existe um certo
Estrutura eletrônica grau de hibridização pd, fazendo com que as ligações
do átomo de halo- camada
gênio — estado interna
[F] |t |t |t I |? |T |T | 11 tenham um certo caráter de ligação múltipla. Com isso
ainda mais excitado cheia (sete elétrons desemparelhado possibilitam as ligações nesses elementos ficariam mais fortes que a
a formação de sete ligações covalentes)
ligação no F2, no qual não há orbitais d disponíveis.
Os estados de oxidação ( + IV) e ( + VI) ocorrem nos 2) Coulson sugeriu que havería uma repulsão internuclear
óxidos C1O2, BrO2, C12O6 e BrO3. apreciável, visto que os átomos de flúor são pequenos
e a distância F-F também é pequena (1,48 Â). As
PONTOS DE FUSÃO E DE PONTOS DE intensas repulsões elétron-elétron dos pares isolados
EBULIÇÃO nos dois átomos de flúor enfraqueceríam a ligação.
Os pontos de fusão e de ebulição desses elementos Parece desnecessário recorrer às ligações múltiplas para
crescem com o aumento do número atômico. À temperatura explicar esses fatos, de modo que a explicação mais simples
ambiente, o flúor e o cloro são gases, o bromo é líquido e o de Coulson é amplamente aceita.
iodo é um sólido. Em locais de clima temperado, somente
dois elementos são líquidos à temperatura ambiente, o bromo PODER OXIDANTE
e o mercúrio (em locais de clima muito quente, o césio e o A afinidade eletrônica é a medida da tendência dos
tálio também são líquidos). O I2 sólido sublima sem se átomos de receber elétrons. Ela é máxima no cloro (vide
liqüefazer, à pressão atmosférica. Tab. 16.4). A oxidação implica na remoção de elétrons, de
modo que um agente oxidante recebe elétrons. Portanto, os
ENERGIA DE LIGAÇÃO NA MOLÉCULA X2 halogênios atuam como agentes oxidantes. A força de um
Todos esses elementos formam moléculas diatômicas. agente oxidante (isto é, seu potencial redox) depende de
Espera-se um decréscimo da energia de ligação nas moléculas diversos fatores energéticos, que podem ser convenien­
X2, à medida que aumenta o tamanho dos átomos, já que temente representados num ciclo de energia do tipo Born-
esse aumento provoca uma diminuição na eficiência das Haber (Fig. 16.3).
interações entre seus orbitais. Cl2, Br2 e 12 seguem a tendência O potencial de oxidação é a variação de energia entre o
esperada (Tab. 16.7}, mas a energia de ligação do F2 desvia- elemento no seu estado padrão e na forma de seus íons
se desse comportamento. hidratados. No caso do iodo, isso corresponde à diferença
de energia entre l/2I2(sólido) e r(hidratado). O potencial
Tabela 16.6 — Pontos de fusão e pontos de ebulição de oxidação é igual à soma das energias fornecidas como
entalpias de fusão, de vaporização e dissociação, menos a
Pontos de fusão Pontos de ebulição energia liberada como afinidade eletrônica e entalpia de
CC) CC) hidratação.
Utilizando um ciclo semelhante, pode-se calcular o
F2 -219 -188
Cl2 potencial de oxidação do bromo, ou seja para a transformação
-101 -34
Br2 de l/2Br2(líquido) em Br(hidratado) (observe que como o
60
>2 114 185 bromo é líquido em seu estado padrão, e o termo correspon­
dente à energia livre de fusão deve ser omitido. Analoga-
300 BRUPO 17 — DS HAL0BÊNID5

X(o«») REAÇÃO COM ÁGUA


Todos os halogênios são solúveis
t ^Energia livre
de dissociação
Afinidade
eletrônica
em água, mas o grau em que reagem
com a mesma e o mecanismo da reação
i Xz(gas) variam. O flúor é um agente oxidante
X(gas)
Energia
T i
iJ,
’ iEnergia livre
de evaporação
tão forte que oxida a água a oxigênio.
A reação é espontânea e fortemente
í Xz(hquido)
exotérmica (a variação de energia livre

7 ÍEnergia livre
3 Xz(sol)do) de fusão
Potencial de
oxidação
parao cloro Energia livre
de hidratação
é grande e negativa). A oxidação pode
ser considerada como sendo a remoção
de elétrons, de modo que um agente
Potencial
de oxidação oxidante recebe elétrons. Logo, os
para o bromo átomos de flúor são reduzidos a íons
Potencial
de oxidação fluoreto.
para o iodo

X (hidratado)
F2 + 3H2O -> 2H3O+ + 2F- + ’/2O2
AG° = -795 kJ mol'1
Figura 16.3 — Ciclo de energia mostrando os potenciais de oxidação dos halogênios. (Utilizou-se Uma reação semelhante entre o
aqui o potencial de oxidação em vez do potencial de redução para enfatizar que os halogênios são
fortes agentes oxidantes. Lembre que AG'- -nFE) cloro e a água é termodinamicamente
possível, mas a reação é muito lenta,
mente, as entalpias de fusão e de vaporização devem ser por causa da elevada energia de ativação.
omitidas no cálculo do potencial de oxidação do cloro e do
flúor, dado que ambos são gases. Cl2 + 3H2O -> 2H3O+ + 2CT + */2O2
Embora o cloro tenha a maior afinidade eletrônica, e Porém, uma reação alternativa de desproporcionamento
os átomos de cloro aceitem elétrons mais facilmente, ele ocorre rapidamente:
não é o agente oxidante mais forte (vide Tab. 16.8). Isso
ocorre, pois quando todos os termos do ciclo de energia são Cl2 + H2O -> HC1 + HOC1
Estado de oxidação do cloro (0) (-1) ( + 1)
somados o flúor tem o menor valor de AH°. Visto que a
diferença entre AG° e AH° não é significativo, o flúor aceita Uma reação de desproporcionamento análoga ocorre
elétrons mais prontamente que o cloro e é o agente oxidante com o bromo e o iodo, mas em pequeníssima extensão.
mais forte. Há duas razões principais para esse fato: Assim, uma solução aquosa saturada de Cl2, a 25 °C, contém
cerca de dois terços de X2 hidratado e um terço de OCL.
1) O F2 tem baixa entalpia de dissociação (conseqüência
Soluções de Br2 e de I2 contêm somente uma quantidade
da ligação F-F fraca)
muito pequena de OBr" e uma quantidade desprezível de
2) O F2 tem uma elevada energia livre de hidratação OI", respectivamente.
(decorrente do menor tamanho dos íons F"). O iodo é um agente oxidante ainda mais fraco. A
O flúor é um agente oxidante muito forte, e substituirá variação da energia livre é positiva, indicando que é
o Cl" tanto em solução como nos compostos sólidos. necessário fornecer energia para que o iodo oxide a água.
Analogamente, o gás cloro deslocará o Br" de suas soluções
(esta é a base do método industrial de obtenção do bromo a I2 + H2O -> 2H+ + 21' + ‘/2O2 AG°= +105kJmol'1
partir da água do mar). Em geral, qualquer halogênio de Assim, o valor de AG° da reação inversa será igual a
menor número atômico oxidará íons haleto de maior número -105 kJ mol’1, de modo que essa reação deveria ocorrer
atômico. espontaneamente. Esse é efetivamente o caso. 0 oxigênio
da atmosfera oxida os íons iodeto a iodo. No ponto de
equivalência de uma titulação de iodo com tiossulíato de
sódio, o iodo inicialmente presente terá sido totalmente
convertido em íons iodeto. Logo, a cor azul do indicador de
Tabela 16.8 — Valores de entalpia (ATT*) para
1/2 X2 —> X(hidratado) (todos os valores em kJ mol"1)
Tabela 16.9 — Concentrações em soluções aquosas
'/2 entalpia '/2 entalpia ’/2 entalpia Afinidade Entalpia Total de saturadas a 25'C
de de eva-
eva­ de dis- eletrônica de AH°
fusão poração sociação hidra­ Solubilidade Concentração Concentração
tação (mol r1) X2(hidralailo) HOX
(mol l"1) (mol r'i
F2 + 159/2 -333 -513 -836
+243/2 -349 -370 -597,5 Cl2 0,091 0,061 0,030
Cl2
Br2 +30/2 +193/2 -325 -339 -552,5 Br2 0,21 0,21 l.lxlO'1
+15/2 +42/2 +151/2 -296 -274 -466 I2 0,0013 0,0013 6,4x1o-6
h
HF 301

amido na presença do iodo desaparece e a solução se torna Tabela 16.11 — Algumas reações dos halogênios
incolor.
I2 + 2S2O32- -> 2K + S„O62- Reação Comentários

Se o frasco em que foi feita a titulação for deixado em 2F2 + 2H2O —» 4H+ + 4F~ + O2 Reação enérgica com o F
repouso por dois ou três minutos, o indicador se torna 2I2 + 2H2O <— 4H+ + 4F + O2 I reage no sentido inverso
novamente azul . Isso ocorre porque o oxigênio do ar X2 + H2O -» H+ + X" + HOX Cl > Br > I (não com o F)
reoxidou o r a I2, que reage com o amido regenerando a cor X2 + H2 -» 2HX Todos os halogênios
azul. nX2 + 2M -*■ 2MX„ A maioria dos metais formam
haletos
21“ + >/2O2 + 2H+ -> I2 + H20 Com F a reação é a mais
enérgica
Considera-se como sendo o final da titulação o ponto
X2 + CO COX2 Cl e Br formam haletos de
em que a cor desaparece e a solução permanece incolor du­
rante meio minuto. carbonila
3X2 + 2P -» 2PX3 Todos os halogênios formam
trihaletos
REATIVIDADE DOS ELEMENTOS As, Sb e Bi também formam
0 flúor é o mais reativo de todos os elementos da tabela trihaletos
periódica. Ele reage com todos os outros elementos, exceto 5X2 + 2P—>2PX5 F, Cl e Br formam pentahaletos
os gases nobres mais leves He, Ne e Ar. Reage com o xenônio AsFj, SbFj, BiF3, SbCl3
em condições brandas, formando fluoretos de xenônio (vide X2 + 2S -> S2X2 Cl e Br
Capítulo 17). Suas reações com a maioria dos elementos 2C12 + S -» SC14 Somente o Cl
são vigorosas e muitas vezes explosivas. Alguns metais como 3F2 + S —> SF6 Somente o F
Cu, Ni, Fe e Al, numa forma maciça, ficam recobertos por X2 + H2S -» 2HX + S Todos os halogênios oxidam
uma camada protetora de fluoreto. Contudo, se esses metais S2'aS
forem pulverizados (aumento da superfície de contato), ou X2 + SO2 -» SO2X2 Fe Cl
3X2 + 8NH3 -» N2 + 6NH4X F, Cl e Br
se a mistura reacional for aquecida, então a reação será
X2 + X2 -> 2XX' Compostos interhalogenados
vigorosa. A reatividade dos demais halogênios diminui na
X2 + XX' -> X'X3 Formam compostos interhaloge­
ordem Cl > Br > I. O cloro e o bromo reagem com a maioria
nados superiores
dos elementos, embora menos vigorosamente que o flúor. O
iodo é menos reativo e não se combina com elementos tais
como S e Se. Geralmente, o flúor e o cloro oxidam os porque os halogênios formam ligações muitos fortes. Muitas
elementos para estados de oxidação mais elevados que o delas são inclusive mais fortes que a ligação C-C, que é
bromo e o iodo, provocando a obtenção de compostos nos considerada uma ligação muito forte (a energia da ligação
quais esses elementos se encontram nos seus estados de C-C é igual a 347 kJ moI-1).
oxidação mais elevados, como por exemplo no PBr3 e PC15,
e no S2Br2, SC12 e SF6.
HALETOS DE HIDROGÊNIO HX
A grande reatividade do flúor é atribuída a dois fatores:
É comum referir-se aos compostos HX anidros como
1) À pequena energia de dissociação da ligação F-F haletos de hidrogênio, e a suas soluções aquosas como ácidos
(energia de ativação da reação é baixa). halogenídricos.
2) À formação de ligações muito fortes. Todos os halogênios reagem com o hidrogênio formando
Ambos os fatores são decorrentes do pequeno tamanho hidretos, HX, embora esse não seja o método usual de
do átomo de flúor. As ligações F-F são fracas, por causa da obtenção dos mesmos, exceto no caso do HC1. A reatividade
repulsão entre os pares de elétrons isolados nos dois átomos. frente ao hidrogênio decresce de cima para baixo dentro do
Formam-se ligações fortes, por causa do elevado número de grupo. Hidrogênio e flúor reagem violentamente. A reação
coordenação e da elevada energia reticular. com cloro é lenta no escuro, mas rápida à luz e explosiva
São mostradas na Tab. 16.10 as energias de algumas quando exposta a radiação solar. A reação com o iodo é
ligação. Essas energias podem ser utilizadas para explicar lenta à temperatura ambiente.

Tabela 16.10 — Algumas energias de ligação de compostos HF


dos halogênios (todos os valores em kJ mor1) O método industrial de obtenção do HF é pelo
aquecimento de CaF2 com H2SO4. A reação é endotérmica:
HX BX3 A1X3 CX4 nx3 X2 daí a necessidade de aquecimento. É importante a remoção
de todas as impurezas de SiO2 do CaF2, pois essas impurezas
F 566 645 582 439 272 159
Cl podem consumir grande parte do HF produzido.
431 444 427 347 201 243
Br 366 368 360 276 243 193 CaF2 + H2SO4 -> CaSO4 + 2HF
I 299 272 285 238 151 SiO2 + 4HF -» SiF„ + 2H,0
* Instável e explosivo SiF4 + 2HF(aq) -» H2[SiF6]
noa GRUPO 17 — OS HALOGÊNIOS

O HF é purificado por sucessivas lavagens, esfriamento Na segunda etapa, a mistura era aquecida a cerca de
e destilação fracionada, resultando num produto final de 550 °C , quando ocorria nova reação com H2SO4 e a
99,95% de pureza. A produção mundial de HF é de cerca de formação de Na2SO4. Esse subproduto era vendido
1,5 milhão de toneladas por ano em 1994, sendo que mais principalmente para a indústria de papel (é utilizado
de 80.000 t/ano são produzidos no Reino Unido. no processo Kraft).
O HF gasoso é muito tóxico e só deveria ser manuseado
em capelas com boa exaustão. As soluções de HF são NaCl + H2SO4 - iscrc •» HCl(g) + NaHSO„
denominadas ácido fluorídrico, e são muito corrosivas. O NaCI + NaHSO4 5S0*C >, HC1(S)
------------ + Na2SO4
ácido fluorídrico é normalmente utilizado em equipamentos
de cobre ou metal-monel, pois reage com o vidro formando 2) Grandes quantidades de HCI impuro são obtidos como
o íon hexafluorossilicato, [SiF6]2’. subproduto na indústria química orgânica pesada. Por
exemplo, ocorre formação de HCI na conversão de 1,2-
SiO2 + 6HF -> [SiF6]2- + 2H+ + 2H2O dicloroetano, CH2C1-CH2C1, em cloreto de vinila,
CH2 = CHC1, e na fabricação de derivados clorados do
Surpreendentemente, a velocidade de corrosão é menor etano e de fluorocarbonetos clorados. Atualmente essas
quando a concentração do ácido é superior a 80%. As são as maiores fontes de HCI.
principais aplicações do HF são as seguintes:
3] HCI de alta pureza é obtido pela combinação direta dos
D Dois terços da produção são utilizados na obtenção de elementos. Uma mistura gasosa de H2 e Cl2 é explosiva.
clorofluorocarbonetos (freons), também conhecidos Contudo, a reação transcorre de modo controlado se a
como CFC’s. São utilizados como fluidos refrigerantes mistura dos gases for “queimado” numa câmara de
e propelentes de aerossóis. O uso dos CFCs está sendo combustão especial. O processo é fortemente
abandonado, por causa do dano que provocam na exotérmico.
camada de ozônio, da atmosfera superior (vide Capítulo
13, “Tetrahaletos”). 4) No laboratório, o HCI pode ser obtido de maneira
conveniente tratando-se NH4C1 com H2SO4 concentrado.
condições anidras O NH4C1 é mais caro que o NaCl (usado no processo
CC1„ + 2HF ->CC12F2+2HC1 “salt cake”). Contudo, prefere-se o NH4C1, porque o
+SbCls freon
NH4HSO4 é solúvel e a reação não é interrompida na
2) Cerca de 14% são usados na produção de A1F3 e criolita primeira etapa.
sintética, empregados na extração eletrolítica do
alumínio (vide Capítulo 3). 2NH4C1 + H2SO4 -> 2HC1 + (NH4)2SO4
3) Cerca de 2% são empregados no processamento do O gás cloreto de hidrogênio é muito solúvel em água.
urânio (obtenção dos intermediários UF4 e UF6). Soluções aquosas de HCI são comercializadas como ácido
4) Cerca de 4% da produção é utilizada na forma anidra, clorídrico. Uma solução saturada a 20 °C contém 42% de
como catalisador de reações de alquilação na indústria HCI em peso e o ácido “concentrado” normalmente contém
petroquímica, na obtenção de alquilbenzenos de cadeia cerca de 38% de HCI em peso (solução aproximadamente
longa. Estes são a seguir convertidos em alquilbenze- 12 M). O ácido clorídrico puro é incolor, mas soluções de
nossulfonatos e usados como detergentes. grau técnico costumam ser amareladas, por causa da
5) O HF aquoso é usado no tratamento do aço (cerca de contaminação com Fe(lII). É utilizado principalmente na
4%), para gravar o vidro, fabricar herbicidas e diversos limpeza de metais, isto é, na remoção de camadas de óxidos
fluoretos, inclusive o BF3. de sua superfície. Também é usado na obtenção de cloretos
de metais, de corantes e na indústria do açúcar.
B2O3 + 6HF H^conc > 2BF3 + 3H2SO4-H2O O HCI gasoso é convenientemente preparado no
A12O3 + 6HF -> 2A1F3 + 3H2O laboratório, a partir de HCI e H2SO4 concentrados.

HCI HBr e HI
O HCI é produzido industrialmente em grande escala. O HBr e o HI são obtidos por meio da reação de ácido
A produção mundial foi de 12,3 milhões de toneladas em fosfórico concentrado, H3PO4, com brometos e iodetos de
1991 (EUA 24%, China 21%, Alemanha e Japão 7% cada metais, num processo semelhante ao do “salt cake” pata o
um, França e Itália 5% cada e Bélgica 3%). Há diversos HCI. Observa-se que é necessário utilizar um ácido não
métodos de obtenção: oxidante, como o ácido fosfórico. O H2SO4 concentrado é
D Antigamente o HCI era obtido exclusivamente pelo um agente oxidante forte e oxidaria o HBr a Br2 e o HI a I2.
método “salt cake”. Nesse método, o sal-gema (NaCl) é
H3PO4 + NaI -> HI + NaH2PO4
tratado com H2SO4 concentrado. A reação é endotérmica
e realizada em duas etapas, a diferentes temperaturas. A preparação de laboratório convencional, baseia-se na
A primeira dessas reações era efetuada a cerca de 150 redução do bromo ou do iodo com fósforo vermelho em
°C. O NaCl sólido reage com o H2SO4, e fica recoberto água. Obtém-se HBr pela adição de bromo a uma mistura
com uma camada de NaHSO4 insolúvel. Isso impede a de fósforo vermelho e água. No caso do HI, adiciona-se água
continuação da reação e deu origem ao nome "salt cake”. a uma mistura de fósforo e iodo.
HBr e Hl 303

Tabela 16.12 — Algumas propriedades de compostos HX

Ponto de Ponto de Densidade Valores Composição Energia de Afinidade


fusão ebulição (g cm-3) da mistura ionização eletrônica
PKa
CC) CC) azeotrópica
(% em peso) H(qwi * X|a»,l

HF -83,1 19,9 0,99 3,2 35,37 Entalpia de


HCI -114,2 -85,0 20,24 dissociação
1.19 Energia
HBr -86,9 -66,7 2,16 -9 47,00
Hl -50,8 -35,4 2,80 -10 57,00
Entalpia
Entalpia de de
desidratação hidratação
H3PO4 + NaBr -4 HBr + NaH2PO4
2P + 3Br2 -> 2PBr3 —> 6HBr + 2H3PO3 |i HX(hidratado)
vermelho
+ 6H/3
2P + 3I2 -» 2PI3 + 6HI + 2H3PO3
vermelho Força do
ácido
0 HF é um líquido nas proximidades da temperatura I H(hidratado) * Xjhidraiadol
ambiente (P.E. 19,9 °C), e o HCI, HBr e Hl são gases. Os
pontos de ebulição aumentam regularmente do HCI para o
HBr e deste para o Hl, mas o valor para o HF está Figura 16.S — Ciclo de energias mostrando as forças dos ácidos
completamente deslocado dessa correlação. halogenídricos
A temperatura de ebulição, inesperadamente elevado em relação à lei de Raoult. Misturas azeotrópicas são às
do HF, decorre das ligações de hidrogênio que se formam vezes usadas como solução padrão em análise volumétrica,
entre 0 átomo de F de uma molécula e o átomo de H de porque o azeótropo sempre tem a mesma composição.
outra molécula. Isso interliga as moléculas de modo a formar
uma cadeia (HF)n em zigue-zague, tanto no líquido como Embora o HCI, o HBr e o Hl se dissociem completamente
no sólido. No estado gasoso também ocorre a formação de em água, o grau de ionização é muito menor em solventes
ligações de hidrogênio: o gás é constituído por uma mistura menos ionizantes, como o ácido acético anidro. Assim, o
de polímeros cíclicos (HF)S, de dímeros (HF)2 e do HF HCI dissocia-se menos que o Hl em ácido acético glacial.
monomérico. O HCI, o HBr e o Hl não formam ligações de Logo, em ácido acético o Hl é o ácido mais forte, seguido
hidrogênio no estado gasoso e líquido, embora o HCI e o pelo HBr e HCI, sendo o HF o mais fraco.
HBr formem ligações de hidrogênio fracas no estado sólido. É a princípio paradoxal que o HF seja o ácido mais
As ligações de hidrogênio são geralmente fracas (5-35 fraco em água, já que o HF apresenta a maior diferença de
kl mol-1) quando comparadas com ligações covalentes eletronegatividade dentre os hidretos de halogênio e portanto
normais (C-C 347 kJ mol-1), mas seu efeito é muito deva ter o maior caráter iônico. Contudo, a força ácida é a
significativo. Os elementos mais eletronegativos flúor e tendência que tem as moléculas hidratadas de formarem
oxigênio (e em menor grau o cloro) formam as ligações de íons hidrogênio:
hidrogênio mais fortes ( a energia da ligação de hidrogênio
kiX(hidratado) ~* kl (hidratado) + X (hidratado)
F-H—F é igual a 29 kJ mol"1 no HF(g)).
No estado gasoso os hidretos são essencialmente Isso pode ser representado em etapas: dissociação,
covalentes, mas se dissociam em meio aquoso. Não há ionização e hidratação, num ciclo de energias.
formação de íons H + , já que 0 próton é transferido do HCI A força ácida é dada pela soma dos termos energéticos
para 0 H2O, com a formação de [H3O]+. O HCI, HBr e Hl se
dissociam quase completamente e conseqüentemente são no ciclo mostrado na Fig. 16.5.
ácidos fortes. O HF só se dissocia parcialmente e é um ácido força ácida = entalpia de desidratação
fraco. + entalpia de dissociação
hci + h2o -> [h3o] + + cr + energia de ionização do H +
+ afinidade eletrônica do X"
As soluções aquosas formam misturas azeotrópicas com + entalpia de hidratação do H + e X’
pontos de ebulição máximos, por causa do desvio negativo
Os fatores que fazem com que o HF seja o ácido
halogenídrico mais fraco em solução aquosa tornam-se
F
hA'H H"’ \
'H H’ H
evidentes ao examinarmos mais detalhadamente os vários
termos do ciclo termodinâmico. A constante de dissociação
■■■/ K da reação
F F F
HX(hidratado) H (hidratado) + X (hidratado)

Figura 16.4 — Cadeia ligada por pontes de hidrogênio no HF sólido é dada pela equaçao:
304 GRUPO 17 — 05 HALOBÊNIOS

Tabela 16.13 — Ciclo de energias (todos os valores em kJ mor')

Entalpia Entalpia Energia Afinidade Entalpia AH TAS AG =


de de de eletrônica de hidratação total (AH-TAS)
desidratação dissociação ionização deX
H-»H* H+ x*
HF 48 574 1.311 -338 -1.091 -513 -18 51 -69
HC1 18 428 1.311 -355 -1.091 -370 -68 68 -124
HBr 21 363 1.311 -331 -1.091 -339 -75 59 -134
HI 23 295 1.311 -302 -1.091 -394 -167 62 -229

AG° = -RTlnK o próprio solvente apresenta uma forte tendência de doar


prótons. Assim, quando ácidos inorgânicos típicos como
(onde AG° é a energia livre padrão de Gibbs, R a constante
HNO3, H2SO4 e HC1, são dissolvidos no HF, eles são forçados
dos gases e T a temperatura absoluta). Contudo, AG depende
a receber prótons do mesmo. Portanto, os ácidos inorgânicos
da variação de entalpia AH e da variação de entropia, AS.
em questão na realidade se comportam como bases nesse
AG = AH -TAS solvente. A grande capacidade de doar prótons exibida pelo
As variações de entalpia (AH), das várias etapas do HF implica que poucas substâncias podem atuar como ácidos
ciclo termodinâmico da Fig. 16.5, estão compiladas na Tab. nesse solvente. O ácido perclórico é uma exceção e se
16.13. Os valores de AH para os diversos ácidos comporta como ácido. Os únicos compostos diferentes de
halogenídricos são todos negativos, indicando que há HC1O4 que se comportam como ácidos em HF são receptores
liberação de energia nesse processo, sendo, portanto, a de fluoretos, como SbFs, NbFs, AsF5 e BF3. Muitos compostos
conversão termodinamicamente possível. Contudo, o valor reagem com HF, limitando sua utilidade como solvente. 0
para o HF é menor quando comparado com os valores para HF é um meio útil para preparar fluorocomplexos, tais como
HC1, HBr e HI. Assim, a hidratação do HF ocorre com [SbF6]“ e fluoretos.
liberação de uma pequena quantidade de energia em meio
aquoso, enquanto que os demais ácidos liberam uma HALETOS
quantidade considerável de calor. Haletos iônicos
O valor baixo do AH global no caso do HF resulta de A maioria dos haletos iônicos contém 0 íon metálico
diversos fatores: nos estados de oxidação ( + 1), ( + 11) ou ( + 111). Isso inclui
1) As entalpias de dissociação indicam que as ligações H- os haletos do Grupo 1, do Grupo 2 (exceto 0 Be), os
F são muito mais fortes que as ligações H-Cl, H-Br e lantanídeos, e alguns dos metais de transição. A maioria
H-I. A energia de dissociação do HF é quase o dobro dos haletos iônicos é solúvel em água, formando íons haleto
daquela do HI (a força da ligação HF também se reflete e metálicos hidratados. Alguns poucos desses haletos são
no pequeno comprimento dessa ligação: 1,0 Â insolúveis: LiF, CaF2, SrF2, BaF2 e os cloretos, brometos e
comparado com 1,7 Â da ligação no HI). iodetos de Ag( +1), Cu( +1), Hg( +1), e Pb( + II). Geralmente
2) A entalpia de desidratação para a etapa HX(hidralado) -4 a solubilidade aumenta do F~ para o I" (desde que sejam
HX(gâs) é muito maior para o HF que para os demais iônicos), pois a energia reticular diminui à medida que o
ácidos da série. Isso se deve às fortes ligações de raio iônico aumenta.
hidrogênio que ocorrem nas soluções aquosas de HF.
3) O valor inesperadamente baixo da afinidade eletrônica Haletos moleculares (covalentes)
do F” também contribui. Assim, embora a entalpia de No caso de metais com valência variável, geralmente o
hidratação do F" seja muito grande, não é suficiente estado de oxidação mais alto é encontrado com os fluoretos.
para compensar esses outros termos. Por exemplo: o ósmio forma OsF6 com F, mas somente OsCl,,
Se desconsiderarmos o termo TAS, os valores de AH OsBr4 e Osl4 com os demais halogênios. Os elementos etn
podem ser convertidos nos correspondentes valores de AG. estados de oxidação elevados geralmente formam compostos
A partir deles é possível se estimar as constantes de covalentes. Num metal com estados de oxidação variáveis,
dissociação: HF, K = IO'3; HC1, K = 108; HBr, K = IO10; e aqueles mais elevados serão covalentes e os mais baixos
HI, K = 1011. serão iônicos. Por exemplo, o UF6 é covalente e gasoso,
As constantes de dissociação indicam claramente que enquanto que o UF4 é um sólido iônico. Analogamente, o
o HF dissocia-se muito pouco em água, sendo portanto um PbCl4 é covalente e o PbCI2 é iônico. A maioria dos elementos
ácido fraco. Por outro lado, os outros três ácidos estão quase mais eletronegativos também forma haletos covalentes.
que totalmente dissociados, sendo portanto, ácidos fortes. também conhecidos como haletos moleculares. Muitos deles
são rapidamente hidrolisados pela água:
O HF líquido foi usado como solvente não-aquoso. Ele
sofre auto-ionização BC13 + 3H2O -> H3BO3 + 3H+ + 3cr
2HF [H2F]+ + F- SiCl4 + 4H2O -4 Si(OH)4 + 4H+ + 4C1’
PC13 + 3H2O -4 H3PO3 + 3H+ + 3CT
Reações ácido-base ocorrem nesse solvente. Contudo, PC15 + 4H2O -4 H3PO4 + 5H+ + ser
ÚXIOOS OE HALOGÊNIO 305

Às vezes, quando o elemento alcança seu grau de 2A1 + 6HC1 -> 2A1C13 + 3H2
covalência máxima, os haletos não reagem com a água. Por Cr + 2HF -> CrF2 + H2
exemplo, 0 CCL, e o SF6 são estáveis. Isso se deve a fatores Fe + 2HC1 -> FeCI2 + H2
cinéticos e não a fatores termodinâmicos, e o CC14 é
hidrolisado por vapor superaquecido a fosgênio, COC12. Os Reações de óxidos com compostos halogenados
haletos moleculares geralmente são gases ou líquidos Freqüentemente obtém-se os haletos correspondentes
voláteis. Isso decorre da presença de fortes ligações quando se aquece compostos halogenados, tais como NH4CI,
intramoleculares, mas somente de ligações intermoleculares CC14, C1F3, BrF3, S2C12 ou SOCi2, com o óxido de um metal.
fracas do tipo van der Waals. Diversos fluoretos exibem
ligações múltiplas quando o átomo central dispõe de orbitais 30°'‘Cc--> 2ScC13 + 6NH3 + 3H2O
Sc2O3 + 6NH,C1 —3OO
vazios adequados. Esse fato contribui para a grande energia
e pequeno comprimento de muitas das ligações do flúor (B- 2BeO + CCI4 —eo°'c > 2BeCl2 + CO2
F, C-F, N-F e P-F). 3UO2 + 4BrF3 -> 3UF4 + 3BrO2 + ‘/2Br2
3NiO + 2C1F3 -> 3NiF2 + Cl2 + l‘/2O2
Halogênios em ponte
Tboca de halogênios
Às vezes os haletos se ligam simultaneamente a dois
Muitos haletos reagem ou com os halogênios ou com
átomos (é menos comum encontrar haletos se ligando
um excesso de outros haletos, substituindo um átomo de
simultaneamente a três átomos). Por exemplo, 0 A1C13 forma
halogênio por outro. Assim, diversos fluoretos metálicos,
um dímero, enquanto que o BeF2 e o BeCl2 formam cadeias
como AgF2, ZnF2, CoF3, AsF3, SbF3 e SbFs podem ser usados
infinitas. As ligações contendo halogênios em ponte podem
para obter fluoretos, assim como o HF.
ser representadas como sendo constituídas por uma ligação
covalente normal e uma coordenativa, onde um par de PC13 + SbF3 -> PF3 + SbCl3
elétrons isolados do mesmo é doado para formar uma CoCl2 + 2HF -> CoF2 + 2HC1
segunda ligação. As duas ligações são idênticas. A ponte
pode ser descrita usando a teoria de orbitais moleculares Cloretos podem ser convertidos a iodetos pelo
como sendo uma ligação tricentrada com quatro elétrons. tratamento com Kl, em acetona. Analogamente, o KBr pode
As ligações com cloro ou bromo em ponte são tipicamente ser usado no caso dos brometos.
angulares, mas aquelas formadas pelo flúor podem ser
angulares ou lineares. Diversos pentafluoretos, tais como TiCl4 + 4KI -> Til4 + 4KC1
NbFs e TaFs, formam tetrâmeros cíclicos com pontes lineares.
Desidratação de haletos
Obtenção de haletos anidros Haletos hidratados podem ser preparados por diversos
métodos, tais como pela reação de carbonatos, óxidos ou
Há diversos métodos gerais para a preparação de haletos metais com o ácido halogenídrico apropriado. A evaporação
anidros. das soluções obtidas leva aos haletos hidratados. Alguns
deles podem ser desidratados por simples aquecimento, ou
Reação direta entre os elementos. por aquecimento a vácuo, mas freqüentemente esses
A maioria dos metais reage vigorosamente com o F2, procedimentos geram os oxohaletos. Os cloretos podem ser
formando os fluoretos desses elementos nos seus estados desidratados refluxando-se o sal hidratado em cloreto de
de oxidação mais elevados. Alguns não-metais, como P e S tionila. Outros haletos podem ser desidratados por tratamento
explodem. Geralmente, são necessárias temperaturas com 2,2-dimetoxipropano.
elevadas para se obter os cloretos, brometos e iodetos.
VC13-6H2O + 6SOC12 ->VC13 + 12HCI + 6SO2
2Fe + 3F2 -> 2FeF3 CrF3 ■ 6H2O + 6CH3C(OCH3)2CH3 ->CrF3 + 12CH3OH + 6(CH3)2CO
Fe + Br2 —> FeBr2
Fe + I2 —> Fel2 ÓXIDOS DE HALOGÊNIO
As diferenças encontradas nos compostos dos
As reações são facilitadas em solventes como o
halogênios com o oxigênio provavelmente são maiores que
tetrahidrofurano, embora na maioria dos casos os produtos
em qualquer outra classe de compostos. As diferenças entre
sejam solvatados.
o F e os demais halogênios se devem às razões usuais
(pequeno tamanho, ausência de orbitais d e elevada eletrone-
Reação de óxidos com carbono e halogênios gatividade). Além disso, o oxigênio é menos eletronegativo
Supõe-se que o óxido seja inicialmente reduzido pelo que o flúor, mas mais eletronegativo que o Cl, Br e 1. Logo,
carbono ao metal e que, em seguida, este reaja com o os compostos binários de F e O são fluoretos de oxigênio e
halogênio. não óxidos de flúor. Os demais halogênios são menos
eletronegativos que o oxigênio e formam óxidos. A diferença
TiO2 + C + 2C12 -> TÍCI4 + C02 de eletronegatividade entre os halogênios e o oxigênio é
pequena e as ligações são essencialmente covaientes.
Reação do metal com HX anidro Surpreendentemente, I2O4 e I4O9 são estáveis e iônicos.
Muitos metais reagem com HF, HC1, HBr ou HI gasosos. A maioria dos óxidos dos halogênios é instável, e tende
3OB GRUPO 17 — OS HALOGÊNIOS

Tabela 16.14 — Compostos dos halogênios com oxigênio (e


seus estados de oxidação)

Estados de (-1) (+IV) (+V) (+VI) (+VI1I) outros


oxidação (+1)

Fluoretos OF,(-I) O4F2


O2F2(-I) Figura 16.6 — Ângulos de ligação no F2O, Cl2O e Br2O
Óxidos CI2O(+I) CIO2 CIA CI,O7 CIC1O4
C103 O gás C12O é muito solúvel em água (144 g de Cl20 se
Br,O(+I) BrO,
dissolvem em 100 g de H2O a -9 °C), formando 0 ácido
IA I40g h04
hipocloroso, de acordo com o equilíbrio abaixo:
a explodir quando submetidos ao choque, e, às vezes, por
C12O + H2O 2HOC1
exposição à luz. Os óxidos de iodo são os mais estáveis,
seguidos pelos óxidos de cloro. Todavia, todos os óxidos de O CI2O se dissolve numa solução de NaOH, formando
bromo se decompõem abaixo da temperatura ambiente. Os hipoclorito de sódio.
compostos com os halogênios nos estados de oxidação mais
elevados são mais estáveis que aqueles com os halogênios C12O + 2NaOH -> 2NaOCl + H20
nos estados de oxidação mais baixos. Dos compostos
mostrados na Tab. 16.14, os mais importantes são C1O2, C12O, A maior parte do C12O produzido é utilizado na
I2O5 e OF2. fabricação de hipocloritos. O NaOCl é comercializado em
solução aquosa. O Ca(OCl)2 é um sólido. Uma forma impura
contendo Ca(OH)2 e CaCl2 é comercializada como "pó
OF2, difluoreto de oxigênio alvejante”. Este também pode ser obtido passando-se Cl2
O 0F2 é um gás amarelo pálido, que se forma quando através de Ca(OH)2. São usados no branqueamento de polpa
F2 é borbulhado numa solução diluída de NaOH (2%). de madeira e de tecidos, e como desinfetantes. Uma certa
É ainda um agente oxidante forte, tendo sido usado quantidade de C12O é usada na fabricação de solventes
como combustível de foguete. Reage vigorosamente com clorados.
metais, S e P e os halogênios, formando fluoretos e óxidos. As estruturas do OF2, C12O e Br2O são derivadas do
Dissolve-se em água, formando uma solução neutra, não tetraedro, com duas posições ocupadas por pares de elétrons
sendo pois um anidrido de ácido. Reage com NaOH gerando isolados.
íons fluoreto e oxigênio.
1s 2s 1P
Configuração eletrônica do átomo
2F2 + 2NaOH -> 2NaF + H20 + OF2 de oxigênio no estado fundamental 0 |H|t |t I
O2F2, difluoreto de dioxigênio
O O2F2 é um sólido laranja amarelado instável, e é um
Configuração eletrônica do átomo
de oxigênio após compartilhar dois
elétrons, formando ligações com
E3 [n] |u|ti|tí|
poderoso agente oxidante e de fluoração. É obtido pela dois átomos de halogênio Quatro pares de elétrons
passagem de uma descarga elétrica por uma mistura de F2 e estrutura tetraédrica com
dois vértices ocupados
O2 a pressões muito baixas, à temperatura do ar líquido. por pares isolados

Decompõe-se a -95 °C. Sua estrutura é similar ao do H2O2,


A repulsão entre os pares isolados de elétrons diminui
mas a distância 0-0 é muito mais curta (1,22 Â) que no
o ângulo da ligação no F2O de 109°28', no tetraedro, para
H2O2 (1,48 Â). Os comprimentos das ligações 0-F são
103° (Fig. 16.6). No C12O (e provavelmente no Br2O) 0 ângulo
equivalentes (1,58 A) e maiores que no 0F2. O O4F2 é obtido
da ligação aumenta por causa do impedimento estérico
de maneira semelhante e aparentemente contém uma cadeia
provocado pelos átomos de halogênio mais volumosos.
de quatro átomos de oxigênio. Os compostos O5F2 e O6F2 já
foram citados na literatura.
C102, dióxido de cloro
C12O, monóxido de dicloro 0 C102 é um gás amarelo que se condensa formando
um líquido vermelho escuro, de ponto de ebulição igual a
O C12O é um gás amarelo castanho, comercialmente 11 °C. Apesar de sua elevada reatividade (ou talvez por causa
importante. É preparado no laboratório e na indústria pelo
disso) o C102 é comercialmente importante, sendo 0 mais
aquecimento de óxido de mercúrio recém precipitado importante desses óxidos. 0 C102 é um poderoso agente
(amarelo) com o gás halogênio diluído em ar seco. oxidante e de cloração. Grandes quantidades são utilizadas
300'C no branqueamento de papel e de celulose, e na purificação
2CI2 + 2HgO -> HgCl2-HgO + C12O
de água potável. É 30 vezes mais eficiente que 0 cloro no
branqueamento de farinha de trigo (para a preparação de
O C12O explode na presença de agentes redutores, ou
pães brancos).
de NHj, ou por aquecimento.
0 C1O2 líquido explode acima de -40 °C. 0 gás detona
3C12O + 10NH3 -> 6NH4CI + 2N2 + 3H2O facilmente quando concentrado acima de 50 mm Hg de
ÚXIDO5 OE HALDBÊNIO 307

pressão parcial. Ele explode quando misturado com agentes


redutores. Por isso, é sintetizado “in situ", e usado diluído

vv
O O OOO
com ar ou CO2. O método de obtenção mais segura no
laboratório baseia-se na reação do clorato de sódio com ácido
Cl Cl ClOjCIO;
oxálico, pois o gás é gerado diluído em CO2.
2NaC103 + 2(COOH)2 np, 9<rc ; O' O O O
O
2C1O2 + 2CO2 + (COONa)2 + 2H2O
Figura 16.7 — Estruturas possíveis para o Cl£>6
0 gás é obtido industrialmente a partir do NaC103. É
difícil obter dados fidedignos sobre sua produção, pois por
questões de segurança o C1O2 é produzido no local em que sólido. Ambos são diamagnéticos e não devem ter elétrons
é utilizado, e sempre é diluído com CO2 (por questões de desemparelhados. As possíveis estruturas do C12O6 são
segurança). Cerca de 200.000 toneladas são produzidos por mostradas na Fig. 16.7.
ano; metade nos EUA. O produto puro pode ser obtido O C12O6 é um agente oxidante forte e explode quando
utilizando-se SO2. O emprego de HC1 provoca sua em contato com graxa. A hidrólise do C12O6 com água ou
contaminação com Cl2, mas isso pode não ser importante álcalis forma cloratos e percloratos. A reação com HF anidro
ou até mesmo ser útil para alvejar e esterilizar. é reversível.
C12O6 + 2 NaOH -> NaC103 + NaClO4 + H2O
2NaC103 + SO2 + H2SO4 —lrat°s de NaCI , 2ClO2 + 2NaHSO4 clorato perclorato
2HC1O3 + 2HC1 -> 2C1O2 + Cl2 + 2H2O C12O6 + H2O -> HClOj + HC1O4
HOC1O2 + HOClOj
0 C102 se dissolve em água liberando calor e gerando C12O6 + HF — FC102 + HC1O4
uma solução verde escura. Esta se decompõe muito C12O6 + N2O4->C1O2 + [NO2] + [C1O4]-
lentamente na ausência de luz, mas rapidamente quando
irradiada.
CI2O7, heptóxido de dicloro
C1O2 -> CIO + o
O C12O7 é um líquido oleoso incolor. É moderadamente
2C1O + H2O -> HC1 + HClOj
estável e é o único óxido de cloro formado numa reação
0 composto também é empregado na fabricação de exotérmica, sendo contudo sensível ao choque. É obtido pela
clorito de sódio, NaC102, que também é usado como alvejante desidratação cuidadosa do ácido perclórico com pentóxi-
de tecidos e de papel. do de fósforo, ou H3PO4, a -10 °C, seguido de sua desti­
2C1O2 + 2NaOH + H2O2 -> 2NaC102 + O2 + 2H2O lação a -35 °C, à pressão de 1 mm/Hg. Sua estrutura é
O3CI-O-CIO3, com um ângulo de ligação de 118°36’ no oxi­
Algumas outras reações são: gênio central. É menos reativo que os óxidos inferiores e
2C1O2 + 2NaOH -> NaC102 + NaC103 + H2O não provoca a ignição de materiais orgânicos. Reage com a
2C1O2 + 20j -> C12O6 + 2O2 água, formando ácido perclórico.

A molécula de C1O2 é paramagnética e contém um 2HCI0< C12O7


número ímpar de elétrons. Moléculas com número ímpar de
elétrons são geralmente muito reativas, e o C1O2 é um Óxidos de bromo
exemplo típico. Geralmente, as moléculas com número ímpar
de elétrons se dimerizam de modo a emparelhar seus Os óxidos de bromo são muito menos conhecidos e
elétrons, mas isso não ocorre com o C1O2. Supõe-se que esse importantes que os de cloro. O Br2O é um líquido castanho
comportamento se deva ao fato do elétron desemparelhado escuro, preparado pela reação de Br2 gasoso com HgO (o
estar deslocalizado. A molécula é angular, com um ângulo Cl2O é obtido da mesma maneira), ou então pela
0-C1-0 de 118°. O comprimento de ambas as ligações é decomposição cuidadosa do BrO2. Não forma HOBr em
igual a 1,47 A, mais curtas que ligações simples. quantidades apreciáveis pela reação com a água, mas forma
OBr quando reage com NaOH. É um agente oxidante forte
e oxida 12 a I2O5.
Perclorato de cloro, Cl • C104
O dióxido de bromo, BrO2, é um sólido amarelo pálido.
Esse composto pode ser obtido pela seguinte reação, a Pode ser preparado pela passagem de uma descarga elétrica
-45 °C.
sobre uma mistura de Br2 e 02 gasosos, a baixas temperaturas
CsC104 + C10S02F -> Cs(SO3)F + CIOCIO3 e pressões, ou pela reação de bromo com ozônio, a -78 °C.
Ele é menos estável que o C102, e se decompõe em 02, Br2 + 2O3 —> 2BrO2 + O2
Cl2 e C12O6, à temperatura ambiente. O composto só é estável abaixo de -40 °C. É
estruturalmente semelhante ao C1O2, mas é muito menos
C12O6) hexóxido de dicloro importante que este. BrO2 se hidrolisa em soluções alcalinas,
0 C12O6 é um líquido vermelho escuro, que congela gerando brometo e bromato.
a -180 °C, formando um sólido amarelo. 0 C12O6 está em
6BrO2 + 6NaOH -> NaBr + 5NaBrO3 + 3H2O
equilíbrio com o monômero C103, e é obtido a partir de C1O2
e 03. Não se conhece a estrutura nem do líquido nem do Reage com F2, formando FBrO2.
308 6RUPO 17 — ÜS HALOEÉNIQS

Óxidos de iodo Potenciais de redução padrão (volt)


Os óxidos do iodo são muito mais estáveis que os dos
Solução ácida (atividade de H*=l)
outros halogênios. O I2O5 (pentóxido de iodo) forma cristais
brancos higroscópicos. É obtido pelo aquecimento do ácido Estado de oxidação
iódico. HIO3, a 170 °C. +vn +v +m +1 0 -I
+2,87
2HIO3 -> I2O5 + H2O ÍF2- F
+1,39---------
É muito solúvel em água, sendo o anidrido do ácido -------- +1,47
------------- +1,M----------
iódico. Por ser higroscópico, o I2O5 comercial geralmente se
do^Clbs^-ÀciO^HOCl^LjC^ Cl-
encontra hidratado, na forma de I2O5-HIO3. O 12O5 se
decompõe a 12 e O2 quando aquecido a 300 °C. Também é
um agente oxidante, sendo utilizado na detecção e
I________ h-----148—'I
------------------- +1,45
------ +1,50------------------ 1
quantificação de monóxido de carbono. À temperatura ------ HÓBr^i.^Br-
ambiente, o CO é oxidado quantitativamente a CO2, enquanto BrO;— BrOÇ
o I2O5 é reduzido a 12. Este pode ser titulado com tiossulfato
de sódio.
L_ I----------------- +1.33----------1||
------------------- +1,42-------------------- —----- 1
2®r2(»q.) +1.09—*
--------- +1,19----------
I2O5 + 5C0 5CO2 + I2
+ 1,44
--------- HOI
Essa reação é útil na análise quantitativa de CO em I +0,99---------- 1
h5io6^
gases, tais como os gases de escape dos motores de
combustão interna ou de altos-fornos. O I2O5 também oxida
o H2S a SO2 e o NO a NO2. Forma IF5 quando reage com Solução básica (atividade de H =1)
agentes de fluoração, tais como F2, BrF3, ou SF4. Estado de oxidação
+vn +v +ni +i 0 -I
2I2Os + 10F2 -> 4IF5 + S02
+0.33 +0,66
+0’66 OC1
ri*n ----------- +0’40 2CI2
nn------------- 'ri cr
cio;—cio; CIO2 ocr '-I
A estrutura do I2O5 é mostrada na Fig. 16.8. O sólido +0,50------------- 1 1-------------- +0,88------------1
forma um retículo tridimensional, com fortes interações --------- +0,52------------------------ 1
intermoleculares I...O, ligando as moléculas entre si. ------ OBr^k^Br-
BrtV^BrO?
Os óxidos I2O4 e I4O9 são moderadamente estáveis, I----------------- +0,76------------1
------------------- +0,61------------------------------- 1
embora menos estáveis que o I2OS. O I2O9 é um sólido
+0.7 +0,14 • +0,45 . +0,535
amarelo higroscópico, que pode ser obtido como se segue: h3ioj- IO3----------------------------- OI ---------- 2Í2(t)
I---------- +0,49---------- 1
2I2 + 3O3 —> I4O9 ------------------- +0,26-------------------- ----------- 1
PA ou H3PO< (-Hfl) ? ♦ sofre desproporcionamento
hio3

Quando aquecido acima de 75 °C, decompõe-se gerando OXOÁCIDOS


I2O5. Quatro séries de oxoácidos (Tab. 16.15) são conhecidos.
4I4O9 -> 6I2Os + 2I2 + 3O2 As estruturas dos íons formados são mostrados na Fig. 16.9.
Todas essas estruturas são baseadas no tetraedro. Os orbitais
A desidratação do HIO3 com H2SO4 concentrado fomece híbridos sp3 formam ligações fracas, pois há uma diferença
o I2O4. Este se decompõe, formando I2O5 e 12 quando relativamente grande entre as energias dos níveis s e p. Os
aquecido acima de 135 °C. íons são estabilizados pelas ligações fortes pit-dn formadas
entre os orbitais 2p preenchidos do oxigênio e os orbitais d
5I2O4 -> 4I2O5 + I2 vazios dos átomos de halogênio. Mesmo assim, vários
oxoácidos são conhecidos somente em solução ou como sais.
As estruturas desses óxidos não são conhecidas, mas
provavelmente o I204 é na realidade 10+ -103" e 0 I4O9 é O flúoy não possui orbitais d e não pode formar ligações
l3+-(IO3-)3. pit-dit. Por isso, acreditou-se por muito tempo que 0 flúor
não pudesse formar oxoácidos. Atualmente, sabe-se que 0

O O
Tabela 16.15 — Os oxoácidos
HOX HXO2 HXO3 HX04
I----- O ----- 1 Estados de
oxidação (+D (+ffl) (+V) (+VII)

HOF
HOC1 hcio2 HCIO3 HCIO4
HOBr HBrO3 HB1O4
HO1 HIO3 HIO4
Figura 16.8 — A estrutura do I2OS
□xqáciqqs 309

h2o + x".22 —> X2 (hidratado)


1---- » HX + HOX
Numa solução saturada de cloro, cerca de dois terços
o das moléculas se encontram na forma de moléculas
hidratadas e o restante na forma dos ácidos clorídrico e
xo2 hipocloroso. Quantidades muito menores de HOBr e uma
quantidade desprezível de HOI são formados no caso do Br2
Figura 16.9 — Estruturas dos oxodcidos e do I2, respectivamente.
A reação dos halogênios com NaOH a princípio pode
HOF pode ser obtido em condiçoes especiais, mas é muito ser usada para preparar o hipohalito:
instável. Nenhum outro oxoácido de F é conhecido.
X2 + 2NaOH -> NaX + NaOX + H2O
Ácidos hipohalosos, HOX Contudo, o íon hipohalito tende a sofrer reação de
Todos os ácidos hipohalosos possíveis, ou seja HOF, desproporcionamento, principalmente em meio básico. A
H0C1, HOBr e HOI, são conhecidos, e neles o halogênio se velocidade dessa reação aumenta com o aumento da
encontra no estado de oxidação (+1). temperatura. Assim, quando o Cl2 reage com NaOH, à
0 HOF é um gás incolor instável. Foi obtido pela temperatura ambiente ou a temperaturas inferiores, obtém-
primeira vez em 1968, usando a técnica de isolamento em se uma solução razoavelmente pura de NaCl e NaOCl.
matriz: F2 e H20 foram encapsulados numa matriz inerte de Contudo, se a solução estiver quente (80 °C), o hipoclorito
de sódio rapidamente se desproporciona, formando clorato
nitrogênio sólido (isto exige temperaturas muito baixas). Em
de sódio com um bom rendimento.
seguida, os gases foram submetidos à fotólise para se obter
o HOF. Como essa molécula foi formada dentro da matriz (+i) (-1) ( + v)
de nitrogênio sólido, ela não pode sofrer colisões e reagir quente
30C1" + 2X' + XO3"
com outras moléculas, tais como H20, F2 ou 02. Mais
recentemente, o HOF foi obtido pela passagem de F2 sobre Os hipobromitos só podem ser obtidos a 0 °C: a
gelo a 0 °C, recebendo o produto num dedo frio. temperaturas acima de 50 °C, ocorre a formação quantitativa
-40C de BrO3".
F2 + H2O HOF + HF
O'C
0 HOF é instável e se decompõe em HF e 02. É um
Br2 + 20H" + Br" + OBr" + H20
> 50*C
agente oxidante forte e rapidamente oxida H2O a H2O2. O 3Br2 + 60H" - -> 5 Br" + BrO3" + 3H2O
grupo -OF ocorre no F3C-OF, O2N-OF, FsS-OF e O3C1-OF, e
todos eles são agentes oxidantes fortes. O HOF deve ser um Os hipoioditos se desproporcionam rapidamente a
ácido mais forte que o H0C1. qualquer temperatura, de modo que IO3" é produzido
quantitativamente.
H0C1, HOBr e HOI não são muito estáveis e são
conhecidos somente em solução aquosa. São ácidos muito Portanto, todos os hipohalitos tendem a se
fracos, mas são bons agentes oxidantes, principalmente desproporcionar. Pode-se inferir analisando-se os potenciais
quando em meio ácido. Podem ser preparados agitando o de redução do OBr" e OI" que eles são instáveis em relação
halogênio com HgO recém preparado em água. Por exemplo: a reação de desproporcionamento, dado que seus potenciais
de redução não diminuem progressivamente do estado de
2HgO + H20 + 2C12 -> HgOHgCl2 + 2H0CI oxidação (+ V) para ( + 1) para (0). Contudo, os potenciais
de redução padrão sugerem que o OC1" deverá ser estável
0 ácido hipocloroso é o mais estável. O hipoclorito de nas condições padrão.
sódio, NaOCl, é um composto bem conhecido, usado em
grande escala no alvejamento de tecidos de algodão e como estados de oxidação ( + m) (+1) l + V)
alvejante doméstico. Também é usado como agente HC102 + 1,65 V _> HOC1
1,61 v
+ 72ci2
desinfetante e esterilizante. 0 NaOCl é obtido industrialmente
pela eletrólise de uma solução esfriada de NaCl, sob vigorosa Os valores +1,65 volt e +1,61 volt são praticamente
agitação. Na eletrólise, há liberação de hidrogênio no cátodo. iguais. Esses são os potenciais padrão, ou seja medidos nas
isso aumenta a concentração de íons OH" na solução. A condições padrão. Variações na temperatura e nas
agitação mistura o Cl2 formado no ânodo com o OH", concentrações modificam suficientemente os potenciais para
possibilitando a reação entre eles. permitir a ocorrência da reação de desproporcionamento.

no ânodo<
2cr -> ci2 estados de oxidação t+n t-n C* v)
ci2 + 20H" -> ocr + cr + h2o 30C1" 2C1" + C1O3"
hipoclorito cloreto clorato

no cátodo 2H+ -> H2


Todos os halogênios, Cl2, Br2 e I2, se dissolvem em água, Ácidos halosos, HXO2
formando moléculas hidratadas de X2 e os íons X" e OX", O único ácido haloso conhecido é o ácido cloroso,
em diversas proporções. HC1O2, que só existe em solução. É um ácido fraco, mas é
310 6RUPQ 17 — QS HALÜBÊNID5

mais forte que o HOC1. O átomo de cloro se encontra no D O aquecimento de KC1O3 a 400-500 °C se constitui na
estado de oxidação (+ III). O HC1O2 é obtido pela reação de conhecida experiência para obtenção de oxigênio no
clorito de bário com H2SO4, após a remoção do BaSO4 por laboratório. Também se formam pequenas quantidades
filtração. de Cl2 ou C1O2 (embora isso raramente seja mencio­
nado) . A decomposição ocorre a 150 °C na presença de
Ba(C102)2 + H2SO4 -> 2HC1O2 + BaS04 um catalisador como o MnO2 ou vidro em pó, que
Os sais do HC102 são denominados cloritos. 0 clorito fornece uma grande superfície onde o O2 pode ser
de sódio pode ser preparado a partir de C102 e hidróxido de formado .
sódio ou de C1O2 e peróxido de sódio. 2KC1O3 -» 2KC1 + 3O2
2C1O2 + 2NaOH -> NaC102 + NaClO3 + H2O Quando o Zn(C103)2 é aquecido, este se decompõe em
clorito clorato
O2 e Cl2.
2C1O2 + Na2O2 -> 2NaClO2 + O2
2Zn(ClO3)2 -> 2ZnO + 2C12 + 5O2
Os cloritos são utilizados como alvejantes. Eles são
estáveis em meio alcalino, mesmo à temperatura de ebulição, 2) Na ausência de catalisador, especialmente a
mas em meio ácido sofrem reação de desproporcionamento, temperaturas menores, o KC1O3 tende a se
principalmente quando aquecidos. desproporcionar formando perclorato e cloreto.

estados de oxidação ( + 1V) (-1)


4KC1O3 3KC1O4 + KC1
5HC1O2 -> 4C1O2 + NaCl Os cloratos são muito mais solúveis que os bromatos e
os iodatos. Os iodatos de Ce4 + , Zr4 + , Hf4+ e Th4+ podem
Ácidos hálicos, HXO3 ser precipitados a partir de HNO3 6M, o que se constitui
Os três ácidos hálicos conhecidos são: HC1O3, HBrO3 e num método de separação útil para esses metais.
HIO3. O halogênio se encontra no estado de oxidação ( + V). Os cloratos são empregados na fabricação de fogos de
HC1O3 e HBrO3 não são muito estáveis, mas podem ser artifício e de fósforos de segurança. O clorato de sódio é
obtidos em solução e como sais. HC1O3 e HBrO3 explodem, largamente usado como um potente herbicida. Seus efeitos
caso se tente evaporá-los à secura. A reação principal é: permanecem por algum tempo e impedem o crescimento de
ervas daninhas pelo período de uma safra. Cloratos, bromatos
4HC1O3 -> 4C102tgás) + 2H2O(gás) + 02(gis)
e iodatos sólidos devem ser manuseados com cuidado. Os
Em contraste, o ácido iódico, HIO3, é razoavelmente cloratos podem explodir na moagem, com o aquecimento
estável, e pode ser obtido na forma de um sólido branco. ou em contato com substâncias facilmente oxidáveis, como
Todos os ácidos hálicos são agentes oxidantes fortes e ácidos os materiais orgânicos e o enxofre. Essas substâncias são
fortes. muito perigosas no estado sólido, mas são muito mais
seguras quando em solução. O clorato de sódio sólido tem
O HIO3 pode ser obtido oxidando-se 12 com HNO3 sido usado pelos terroristas na confecção de bombas. O sólido
concentrado ou 03. O HC1O3 e o HBrO3 são obtidos tratando- deve ser cuidadosamente triturado até se obter um pó fino
se os halatos de bário com H2SO4 e removendo-se o BaSO4 (um processo perigoso), e misturado com algo que ele possa
por filtração. oxidar, por exemplo açúcar. O procedimento de mistura é
Ba(C103)2 + H2SO4 -> 2HC1O3 + BaSO4 extremamente perigoso. Tais bombas não são confiáveis e
são muito perigosas.
Os cloratos podem ser obtidos de duas maneiras:
1) Borbulhando Cl2 numa solução de NaOH quente. Ácidos perhálicos, HX04
2) Eletrolisando soluções quentes de cloretos, sob vigorosa Os ácidos perclórico e periódico, bem como seus sais,
agitação. são bem conhecidos. Os perbromatos eram desconhecidos
até 1968 e ainda são pouco comuns.
Somente um sexto do cloro é convertido em C1O3~ nessa
reação, o que parece ser um processo pouco eficiente. 0 consumo mundial de percloratos é de cerca de 30.000
Contudo, o NaCl gerado é novamente eletrolisado, portanto t/ano. O NaClO4 é obtido pela eletrólise de uma solução
não havendo perdas. aquosa de NaCIO3, usando ânodos de platina polida num
recipiente de aço, que atua como cátodo. O eletrodo de
80*6
6NaOH + 3C12 — NaC103 + 5NaCl + 3H2O platina apresenta uma elevada sobretensão em relação ao
oxigênio, minimizando assim a eletrólise da água.
2C1- + 2H2O —eleuõll5f > Cl2 + H2 + 2OH-
6NaOH + 3C12 -> NaClO3 + 5NaCl + 3H2O eletrólise
NaC103 + H20 ■> NaC104 + H2

Os cloratos e bromatos se decompõem quando Todos os demais percloratos e o próprio ácido perclórico
aquecidos, mas o mecanismo da reação de decomposição é são obtidos a partir do NaClO4.
complicado e ainda não foi inteiramente esclarecido. O KC103 1) O NH4C1O4 é um sólido branco, que já foi usado como
pode decompor-se de duas maneiras diferentes, dependendo explosivo em mineração . É agora usado nos foguetes
da temperatura. da nave espacial Challenger. O NH4C1O4 oxida o
OXÜÁCIOOS 311

combustível (Al em pó). Cada lançamento da nave uma fraca tendência de formar complexos com íons
consome cerca de 700 toneladas de NH4C1O4, o que metálicos. Por isso, os percloratos são frequentemente usados
corresponde à metade da demanda de percloratos . como íons inertes no estudo de íons metálicos em solução
NH4C1O4 pode absorver uma quantidade suficiente de aquosa. Contudo, na ausência de outros ligantes, o C1O4“
! amônia para liqüefazê-lo. pode atuar como um ligante unidentado ou bidentado. O
2) São utilizados anualmente cerca de 500 toneladas de íon perclorato é tetraédrico.
HC1O4, principalmente na obtenção de outros perclora­ Durante muito tempo as tentativas no sentido de se
tos. O HC1O4 é um líquido incolor, que pode ser obtido obter perbromatos foram infrutíferas. Por isso, supunha-se
pela reação de NH4C1O4 com ácido nítrico diluído, ou que eles não pudessem existir, até que pequeníssimas
de NaClO4 com ácido clorídrico concentrado. quantidades foram obtidas como resultado do decaimento
beta do 83SeO42’. Na realidade, os perbromatos podem ser
NH4C1O4 + HNOj -> hcio4 + NH4NO3 obtidos a partir dos bromatos pela ação de agentes oxidantes
muito fortes como F2 ou XeF2, ou por eletrólise de suas
Em princípio, os percloratos poderíam ser obtidos pela
soluções aquosas.
reação de desproporcionamento dos cloratos, mas essa
reação é lenta e de pouca utilidade. KBrOj + F2 + 2KOH -> KBrO4 + 2KF + H2O
(rende 20%)
4C1O3“ -> 3C1O4- + cr
RbBrOj + XeF2 + H2O RbBrO4 + 2HF + Xe
0 HC1O4 pode ser encontrado comercialmente como (rende 10%)
oxidação eletrolítica
uma solução a 70%, que praticamente corresponde a LiBrOj -> LiBrO4 (rende 1 %)
composição esperada para o dihidrato, HC1O4 -2H2O. É
0 único oxoácido de cloro que pode ser isolado na forma Os perbromatos sólidos são estáveis. O KBrO4 é estável
anidra. É obtido pela desidratação do HC1O4.2H2O com até temperaturas de cerca de 275 °C e é isomórfico com o
ácido sulfúrico fumegante, seguido da remoção do KC1O4. O HBrO4 é estável em solução até uma concentração
HC1O4 por destilação a vácuo. de cerca de 6 M, mas o ácido concentrado é um agente
oxidante forte. Em soluções diluídas os perbromatos são
HC1O4-2H2O + 2H2S2O7 —» HC1O4 + 2H2SO4 oxidantes lentos, e não oxidam o íon Cl".
0 HC1O4 é um dos ácidos mais fortes que se conhece. Os periodatos podem ser obtidos oxidando-se I2 ou I"
Na forma anidra é um poderoso agente oxidante, que em solução aquosa. Industrialmente são obtidos pela
explode quando em contato com material orgânico oxidação de iodatos com Cl2 ou eletroliticamente, em meio
(madeira, papel, tecido, graxa, borracha e outros alcalino.
produtos químicos), e às vezes até espontaneamente.
IO3- + 6OH~ + Cl2 -> IO6' + 3H2O + 2 Cl’
Uma solução concentrada a frio (solução aquosa a 70%)
é um agente oxidante bem mais fraco. Soluções IO3’ + 6OH’ —~2 g'a,°ns IO65- + 3H2O
concentradas a quente tem sido utilizadas no processo
de “carbonização por via úmida”, no qual todos os A forma comum do ácido periódico é HIO4 • 2H2O, ou
materiais orgânicos são oxidados a CO2, permanecendo H5IO6. Este é denominado ácido paraperiódico, e pode ser
para análise apenas os constituintes inorgânicos. Álcoois encontrado na forma de cristais brancos que fundem e se
não devem estar presentes, pois os ésteres de perclorato decompõem a 128,5 °C. Por aquecimento a 100 °C, à pressão
são explosivos. Freqüentemente, uma mistura de HC1O4 reduzida, ocorre a saída de água e a formação do ácido
e HNOj é utilizada nesse processo de "carbonização” , periódico, HIO4. Quando submetido a um aquecimento forte,
pois o HNO3 oxida os álcoois e elimina esse perigo. ele eventualmente se decompõe, liberando O2 e formando
3) O perclorato de magnésio, MgC104, é usado como I2O5.
eletrólito nas “pilhas secas”. Ele é muito higroscópico, 100'C 200'C
2H5IO6 - -4 2HIO4 - :—> I2O5 + O2 + H2O
-4HO
sendo um agente dessecante muito eficiente conhecido ácido paraperiódico ácido periódico pentóxido de iodo
como "anidrona”.
4) 0 KC1O4 é usado em fogos de artifício e avisos Os periodatos podem ser encontrados em duas formas:
luminosos. Os fogos que explodem emitindo um intenso a tetraédrica, IO4’, e a octaédrica, (OH)SIO. Em soluções
brilho são preparados com KC1O4, Al e S, e aqueles que aquosas à temperatura ambiente, o íon predominante é o
apenas brilham contêm KC1O4 e Mg. Uma cor vermelha IO4". A estrutura dos periodatos é muito mais complicada
pode ser obtida adicionando-se SrCO3 ou Li2CO3, en­ do que isso pode sugerir. Existe toda uma série de
quanto o CuCO3 confere uma cor azul. O processo de isopoliácidos com unidades octaédricas (baseadas em um
fabricação de fogos de artifício é muito perigoso — não átomo de I e seis de O) ligadas entre si, compartilhando
corra esse risco! átomos de O em dois vértices (isto é, compartilhando uma
Virtualmente todos os percloratos de metais, exceto dos aresta do octaedro), ou compartilhando três vértices (ou seja,
íons maiores do Grupo 1, como K +, Rb + e Cs +, são solúveis uma face do octaedro).
em água. A pequena solubilidade do KC1O4 é aproveitada Do ponto de vista químico, os periodatos são
em química analítica para identificar o potássio (caso uma importantes como agentes oxidantes: por exemplo oxidam
solução de NaClO4 seja adicionada a uma solução contendo Mn2 + a MnO4’. São também usados para oxidar compostos
íons K + , precipita o KC1O4). O íon C1O4‘ apresenta apenas orgânicos. Soluções de ácido periódico são utilizadas na
312 6RUPO 17 — DS HALOGÊNIOS

determinação da estrutura de compostos orgânicos, por Todos podem ser preparados pela reação direta entre
métodos de degradação. O HIO4 é um conhecido agente de os halogênios, ou pela reação de um halogênio sobre um
divagem de glicóis, uma vez que provoca a divagem composto interhalogenado inferior. O produto formado
(oxidação) de 1,2-glicóis em aldeídos. depende das condições da reação.
IO4 + R—CH—CH—R -» R—CHO + R—CHO + IO) + H2O Em nenhum caso foi observado mais de dois halogênios
diferentes numa mesma molécula. As ligações são
OH OH essencialmente covalentes, por causa das pequenas
diferenças de eletronegatividade. Os pontos de fusão e de
ebulição aumentam à medida que cresce a diferença de
Força dos oxoácidos
eletronegatividade entre os halogênios que os constituem.
O HC104 é um ácido extremamente forte, enquanto que
o HOC1 é um ácido muito fraco. A dissociação de um 200‘C
Cl2 + F2 (volumes iguais) —^2E —> 2C1F
oxoácido envolve dois termos de energia:
Cl2 + 3F2 (excesso de F2) —300'C
3-22^—r 2C1F3
1) A ruptura da ligação O-H, gerando o íon H + e o ânion.
I2 + Cl2 líquido (equimolar) -> 2IC1
2) A hidratação desses dois íons. I2 + 3C12 líquido (excesso de Cl2) (IC13)2
O íon C1O4“ é maior que o íon OCF, de modo que a Br2 + 3F2 (diluído com nitrogênio) -> 2BrF3
energia de hidratação de CIO4“ é menor que a do íon OC1". Br2 + 5F2 (excesso de F2) -» 2BrFs
Isso sugere que o H0C1 deveria se dissociar mais facilmente I2(s) + 5F2 2°'c > 2IFS
que o HC104. Mas, sabemos que o inverso corresponde à
verdade, e o motivo deve ser a maior energia necessária I2(g) + 7F2 —250-300'C
25°~3°°’c > 2IF7
para romper a ligação O-H.
Compostos do tipo AX e AX3 são formados por
O oxigênio é mais eletronegativo que o cloro. Na série elementos em que as diferenças de eletronegatividade não
de oxoácidos HOC1, HC102, HC103 e HC1O4, um número
são muito grandes. Os compostos com as valências maiores,
crescente de átomos de oxigênio estão ligados ao átomo de
AXS e AX7, são formados pelos átomos maiores como o Br e
cloro. Quanto mais átomos de oxigênio estiverem ligados,
o I, ligados a átomos pequenos como o F. Isso ocorre, pois é
maior será a tendência dos elétrons da ligação O-H serem
possível arranjar um número maior de átomos pequenos
atraídos para longe da mesma e mais fraca será essa ligação.
em torno de um átomo grande.
Assim, o HC1O4 requer a menor quantidade de energia para
romper a ligação O-H e formar íons H +. Por isso, o HC1O4 é Geralmente, os compostos interhalogenados são mais
o mais forte desses ácidos. reativos que os halogênios (exceto o F2). Isso se deve ao
fato da ligação A-X nos compostos interhalogenados ser mais
Em geral, para qualquer série de oxoácidos, o ácido
fraca que a ligação X-X nos halogênios. As reações dos
com o maior número de átomos de oxigênio (isto é, com o
maior número de oxidação) é o que mais se dissocia. A compostos interhalogenados são semelhantes as dos
força ácida decresce na ordem HC1O4 > HC1O3 > HC1O2 > respectivos halogênios. A reação de hidrólise fornece íons
HC1O. Exatamente da mesma maneira, o H2SO4 é um ácido haleto e oxohaleto. Note que o íon oxohaleto provém sempre
mais forte que o H2SO3, e o HNO3 é um ácido mais forte que do átomo mais pesado.
o HNO2. IC1 + H2O -> HC1 + HOI (ácido hiporodoso)
BrFs + 3H2O -> 5HF + HBrO3 (ácido brômico)
COMPOSTOS INTERHALOGENADOS
Os compostos interhalogenados de flúor podem ser
Os halogênios reagem entre si formando compostos
utilizados para fluorar muitos óxidos de metais, haletos de
interhalogenados, que são classificados em quatro tipos: AX,
AX3, AX5 e AX7. metais e metais.

3UO2 + 4BrF3 -> 3UF4 + 2Br2 + 3O2


Tabela 16.16 — Compostos interhalogenados e seus estados UF4 + C1F3 UF6 + C1F
físicos a 25"C

AX ax3 AXS ax7 Compostos AX


Todos os seis compostos podem ser obtidos pela reação
ClF(g)
incolor controlada entre os elementos. O C1F é muito reativo. IC1 e
BrF(g) CIFjfe) IBr são os mais estáveis e podem ser obtidos no estado puro,
castanho-pálido incolor à temperatura ambiente. Esses compostos apresentam
BrCl(g) BrF3(l) ClFs(g) propriedades intermediárias entre as dos halogênios que os
vermelho-castanho amarelo-pálido incolor constituem.
ICl(s) (ICl3)2(s) BrF5(l) IF7(g) O C1F pode ser usado na fluoração de muitos metais e
vermelho-mbi amarelo-brilhante inbcolor incolor
não-metais:
IBr(s) (IF3)(s) (instável) IF5(1)
preto amarelo incolor
6C1F + 2A1 2A1F3 + 3CI2
(IF)* 6C1F + U -> UF6 + 3C12
(instável)
6C1F + S SF6 + 3C12
• sofre rápido desproporcionamento em tfj e I3
COMPOSTOS INTERHALOGENADOS 313

Ele pode simultaneamente clorar e fluorar um outro O IF3 só é estável abaixo de -30 °C, e tende a formar o
composto, oxidando-o ou adicionando-se a uma dupla composto mais estável IFS. Também pode ser preparado
ligação. usando XeF2 para fluorar o I2.
C1F + SF4 -> SF5CI 3XeF2 + I2 -> 2IF3 + 3Xe
C1F + CO —» COFC1
C1F + SO2 -> C1SO2F O I2C16 pode ser obtido facilmente, adicionando-se I2
sólido ao Cl2 líquido. Mas dissocia-se quando aquecido à
0 monocloreto de iodo, IC1, é um composto bem temperatura ambiente:
conhecido. Ele é usado como o reagente de Wij, na
determinação do número de iodo de gorduras e óleos. O I2CI6 -> 2IC1 + 2C12
número de iodo é uma medida do número de duplas ligações,
isto é, do grau de insaturação de uma gordura. O IC1 se Tanto o C1F3 como o BrF3 são conhecidos como líquidos
adiciona às duplas ligações da gordura. A solução de IC1 é covalentes. O C1F3 é um dos compostos mais reativos que se
de cor marron. Mas, quando é adicionada a uma solução de conhece e reage violentamente. Inflama-se espontaneamente
gordura insaturada essa cor desaparece, até que todas as quando em contato com madeira e materiais estruturais,
duplas ligações tenham reagido. O número de iodo é inclusive amianto. Foi usado em bombas incendiárias du­
simplesmente o volume (em ml) de uma solução padrão de rante a II Guerra Mundial. Apesar dos riscos inerentes ao
IC1 que reage com uma determinada massa de gordura. composto, a produção em tempos de paz alcança centenas
de toneladas por ano, sendo comercializado em cilindros de
—CH=CH— + IC1 —CH—CH— aço. É usado principalmente na indústria nuclear, na
I I obtenção de UF6 gasoso, utilizado no processo de fabricação
I Cl de combustível nuclear enriquecido com 235U. Também é
Quando o IC1 reage com compostos orgânicos, empregado no processo de separação dos produtos de fissão
freqüentemente provoca a inserção de iodo, embora também das barras de combustível nuclear esgotadas. O Pu e a maior
possa ocorrer a inserção de cloro, dependendo das condições. parte dos produtos de fissão formam tetrafluoretos não
voláteis como o PuF4, enquanto que o urânio forma o UF6
---- ----------------- - cloração volátil.
ácido salicílico------
iodação 2CIF3 + (J UF6 + Cl2
+ IC1 em nltrobenzeno
4C1F3 + 3Pu -> 3PuF4 + 2C12
Supõe-se que a espécie ativa é o I + , já que o iodo se
insere às posições com as maiores densidades eletrônicas. O CIF3 reage explosivamente com água, graxa de
Tanto 0 IC1 como o IBr estão parcialmente ionizados no vedação e muitos compostos orgânicos, inclusive algodão e
estado fundido. Medidas de condutividade indicam que essa papel. TYata-se de um poderoso agente de fluoração para
proporção é de cerca de 1%, no caso do IC1. Em vez de compostos inorgânicos.
serem formados os íons simples I+ e Cl", formam-se os íons
solvatados. 4C1F3 + 6MgO 6MgF2 + 2C1Z + 3O2
4C1F3 + 2A12O3 -> 4A1F3 + 2CI2 + 3O2
3IC1 — [I2C1]+ + [IC12]- 2C1F3 + 2AgCl -> 2AgF2 + Cl2 + 2C1F
2C1F3 + 2NH3 -> 6HF + Cl2 + N2
Tanto 0IC1 como o IBr podem ser usados como solventes C1F3 + BF3 -> [CIFJ+ [bf4f
ionizantes não-aquosos. C1F3 + SbF5-a [ClF2] + [SbF6]'
Os compostos interhalogenados também formam ClFj + PtFs —> [C1F2]+ [PtF6]~
compostos de adição com haletos de metais alcalinos. Esses
compostos são iônicos e denominados polihaletos. O CIF3 pode ser usado para fluorar compostos orgânicos,
quando diluído com nitrogênio para moderar a reação. O
NaBr + IC1 -> Na+[BrICl]' CIF3 tem sido usado como comburente de foguetes de curto
Kl + IC1 -> K + [I2C1J- alcance, em reação com a hidrazina. Isso é tecnicamente
mais fácil que usar O2 ou F2 líquidos, já que os reagentes
Compostos AX3 podem ser armazenados sem refrigeração e sofrem ignição
Os compostos C1F3, BrF3, IF3 e (IC13)2 podem ser obtidos espontânea ao serem misturados.
pela combinação direta dos elementos, em condições
cuidadosamente controladas. O C1F3 é um líquido (P.E. 11,8 4C1F3 + 3N2H4 -> 12HF + 3N2 + 2C12
°C) comercialmente disponível, sendo obtido pela reação
direta entre os elementos: O trifluoreto de bromo, BrF3, é um líquido vermelho,
que pode ser obtido a partir dos elementos a temperaturas
Cl2 + 3F2 —2200-300'c
°°-?(xrc- -> 2CIF3 próximas da temperatura ambiente. Várias toneladas desse
ou C1F + F2 -> C1F3 produto são fabricados anualmente. Reage menos
violentamente que o CIF3, mas de maneira semelhante. A
0 CIF3 reage com excesso de Cl2, formando C1F. O BrF3 ordem de reatividade dos compostos interhalogenados é a
se comporta de maneira semelhante. seguinte:

CIFj + Cl2 -> 3C1F CIFj > BrFs > IF7 > C1F > BrF3 > IF5 > BrF > IF3 > IF
314 ERUPQ 17 — OS HALQBÉNIDS

ao ângulo de 90° se deve à repulsão entre os pares de elétrons


isolados. Observe que duas das ligações têm o mesmo
comprimento, mas diferem do comprimento da terceira
ligação. Isso é esperado, pois a bipirâmide trigonal não é
uma estrutura regular. As ligações equatoriais (aquelas do
triângulo) são diferentes das apicais (que apontam para cima
e para baixo). A estrutura do C1F3 cristalino obtido por
difração de raios X é coerente com uma molécula com forma
Figura 16.10 — As estruturas possíveis para o trifluoreto de cloro CIF3 de um T, com ângulos de ligação de 87°0’ e comprimentos
Como o C1F3, o BrF3 também é utilizado no processa­ de ligação de 1,716 Â e 1,621 Â. A estrutura do BrF3 (por
espectroscopia de microondas) também tem forma de T, com
mento e reprocessamento de compostos na indústria nuclear,
ângulos de ligação de 86° 12' e comprimentos de ligação de
para se obter o UF6. Também é usado na obtenção de muitos
1,810 Â e 1,721 A.
outros fluoretos. Forma oxigênio quantitativamente a partir
de muitos óxidos (B2O3, SiO2, As2Os, I2O5, CuO, TiO2), e OIC13 não existe, mas seu dímero, I2C16, possui estrutura
também de oxossais, tais como carbonatos e fosfatos. A planar (Fig. 16.11) e é um sólido amarelo brilhante. As
medida da quantidade de O2 produzido é usado como método ligações I-Cl terminais são ligações simples normais de 2,38
de análise. Â e 2,39 A de comprimento. As ligações I-Cl em “ponte"
são consideravelmente mais longas (2,68 Â e 2,72 A). Isso
4BrF3 + 3SiO2 -> 3SiF4 + 2Br2 + 3O2 sugere a ocorrência de ligações deslocalizadas em vez de
4BrF3 + 3TiO2 -> 3TiF4 + 2Br2 + 3O2 ligações coordenadas simples entre o Cl e o I. 0 líquido
apresenta uma condutividade elétrica apreciável, devido a
Todos os compostos interhalogenados são solventes não- ocorrência da reação de autoionização:
aquosos ionizantes em potencial. Dentre eles, o BrF3 é aquele
que tem sido mais empregado como solvente. Isso se deve a 12CI6 — [1C12]+ + [IC14]'
três motivos:
Ele tem sido menos estudado como solvente ionizante
D É um líquido numa faixa adequada de temperaturas que os demais análogos, pois o gás se decompõe em IC1 e Cl2.
(P.F. 8,8 °C, P.E. 126 °C).
2) É um agente de fluoração eficiente mas não muito Compostos AXS
reativo.
3) Sofre autoionização numa proporção considerável, TYês compostos desse tipo são conhecidos: C1FS, BrFs e
muito mais que o C1F3. IFS. O C1F5 e o BrF5 reagem vigorosamente, mas a reatividade
do C1F3 é maior (vide a ordem de reatividade apresentada
2BrF3 == [BrF2] + + [BrF4]_
anteriormente). O IFS é um pouco menos reativo e, ao
Assim, substâncias que formam íons [BrF2]+ são ácidos contrário dos outros derivados, pode ser manuseado em
e substâncias que formam íons [BrF4]“ são bases nesse equipamentos de vidro. Sua produção anual corresponde a
solvente. várias centenas de toneladas. Eles podem ser usados para
fluorar muitos compostos; reagem explosivamente com água,
A estrutura dos compostos interhalogenados AX3 é de
atacam os silicatos e formam polihaletos.
interesse. No C1F3, o átomo central é o Cl (Fig. 16.10).
3s 3p 3d C1F5 + 2H2O -> FC1O2 + 4HF
Configuração BrF5 + 3H2O -> HBrO3 + 5HF
eletrônica do
átomo de cloro 2BrFs + SiO2 -» SiF4 + 2BrF3 + O2
estado excitado Três átomos desemparelhados formam ligações BrFs + CsF —> Cs+[BrF6]“
com três átomos de flúor. Há mais dois pares
isolados, totalizando cinco pares de elétrons. IFS + Kl -» K+ [IF6]-
Logo, a estrutura é bipirâmide trigonal com dois
vértices ocupados por pares de elétrons isolados.
O IFS líquido se autoioniza e portanto conduz a
A maneira de se prever qual das três estruturas possíveis eletricidade.
será formada foi descrita no Capítulo 4.
O estudo estrutural do C1F3 utilizando espectroscopia 2IF5^IF4+ + IF6-
de microondas indica que a molécula tem forma de T, com Todos os compostos AXS tem estruturas baseadas numa
ângulos de ligação de 87°40'. Esse valor se aproxima de pirâmide de base quadrada, isto é, um octaedro com um
90°, sendo similar à estrutura (3). A discrepância em relação dos vértices desocupado. O átomo central se situa
ligeiramente abaixo do plano. A estrutura poderá ser
Cl

vv
/\/'\
Cl Cl
entendida examinando o IFS. O átomo central da molécula é
o I (Fig. 16.12).
Configuração
eletrônica do
camada
int<
5s

s» ã iLiLiLl lT lT I I Ü
5p 6d

átomo de iodo prear


Cl Cl Cl estado excitado Hatcinco elétrons desemparelhados formando ligações
com __
n cinco átomos de flúor e um par isolado.Totalizando
seis pareres de elétrons. A estrutura é octraédrica com um
vérticice ocupado por um par isolado (ou seja, uma
Figura 16.11 — A estrutura do l2Cl6 pirâmide de base quadrada).
POU-HALETOS 315

água (0,34 g L’1), mas sua solubilidade é muito aumentada


na presença de íons iodeto na solução. O aumento da
solubilidade se deve à formação de um poli-haleto, no caso
I do íon triiodeto, I3". Essa espécie é estável tanto em solução
aquosa como em cristais iônicos.

h + r -»f3’
As distâncias I-I no [Me4N] + [I3]' são iguais a 2,92 A.
Supondo-se que o comprimento de 2,66 A no I2 seja
correspondente a uma ligação simples normal, pode-se
afirmar que as ligações no I3“ são muito fracas, mas a teoria
VSEPR não oferece nenhuma explicação para esse fato. A
Figura 16.12 — A estrutura do IFS teoria de orbitais moleculares é mais útil. Supondo-se que
Surpreendentemente o IFS reage com haletos de xenônio as ligações no I3" sejam decorrentes da interação dos orbitais
formando os adutos XeF2-2IF5 e XeF4- IF5. 5pz semipreenchidos de dois átomos de I e um orbital 5pz
preenchido de um I", conclui-se que três orbitais atômicos
Compostos AX7 estão envolvidos. Logo, três orbitais moleculares devem ser
formados: um ligante, um antiligante e um não-ligante.
OIF7 é obtido pela combinação direta dos elementos a Porém, existem 4 elétrons, de modo que 2 deles devem
250-300 °C.; ou aquecendo-se IF5 com F2; ou tratando-se ocupar o orbital ligante e 2 o não ligante. Consequentemente
iodetos com F2.
há apenas um par de elétrons ligantes deslocalizado sobre
Kl + 4F2 -> IF7 + KF duas ligações, ou seja, a ordem de cada ligação é 0,5, e
Pdl2 + 8F2 -> 2IF7 + PdF2 explica as ligações muito longas mencionadas acima.
Também foram preparados íons mais complexos como
OIF7 é um poderoso agente de fluoração e reage com a
o pentaiodeto I5", o heptaiodeto I7‘ e o nonaiodeto I9*.
maioria dos elementos. Também reage com água, SiO2 e
CsF. Compostos cristalinos contendo os íons poliiodeto maiores
geralmente contêm como cátions íons metálicos grandes
1F7 + H2O -> IOFS + 2HF como o Cs+ , ou cátions complexos grandes como o f^N*.
2IF7 + SiO2 -> 2IOF5 + SiF4 Isso porque um ânion grande com um cátion grande levam
IF7 + CsF^Cs + [IF8]“ a um elevado número de coordenação, e consequentemente
a uma elevada energia reticular. Poli-haletos como KI3.H2O,
A estrutura do IF7 é incomum — uma bipirâmide pen­ Rbl3, NH4I5, [(C2H5)4N]I7 e Rbl9.2C6H6 podem ser obtidos
tagonal (Fig. 16.13). Trata-se provavelmente do único pela adição direta de I2 a I", na presença ou ausência de um
exemplo de um elemento que não seja de transição que faz solvente.
uso de três orbitais d para formar ligações.
O íon Br3‘ é muito menos estável e menos comum que
Configuração
5s 5p 5d o I3“. Alguns poucos compostos instáveis de Cl3~ são
camada [
eletrônica do interna 0 k |t |t I |T |T |T | | |
átomo de iodo preenchida FI_______________
____
conhecidos, sendo que esse íon somente se forma em
,_______________ I soluções concentradas. Nenhum composto contendo o íon
estado excitado rons desemparelhados formam ligações
Sete elétrc
pares de elétrons
com sete1 átomos de flúor: sete pare
F3‘ é conhecido.
formam uma bipirâmide pent itagonal.
Muitos poli-haletos contendo dois ou três halogênios
diferentes são conhecidos, como por exemplo K[IC12], KIICL,],
POLI-HALETOS Cs[IBrF] e K[IBrCl]. Esses compostos são obtidos reagindo-
Os íons haleto muitas vezes reagem com moléculas de se haletos de metais com compostos inter-halogenados.
halogênios ou de compostos inter-halogenados, formando IC1 + KCl -> K + [IC12]~
íons poli-haleto. O iodo é apenas ligeiramente solúvel em IC13 + KCl —> K+ [ICLJ-
IFS + CsF —> Cs+(IF6]“
IC1 + KBr —> K+[BrICl]~
2C1F + AsFs -» [FC12]+ [AsF6]-

Os poli-haletos são compostos tipicamente iônicos (são


cristalinos, estáveis, solúveis em água e conduzem a
eletricidade quando em solução), embora tendam a se
decompor quando aquecidos. Os produtos da decomposição
(ou seja, qual dos halogênios permanecerá ligado ao metal)
são determinados pela energia reticular dos produtos. A
energia reticular dos haletos dos metais alcalinos é máxima
para os íons haletos menores. Assim, o menor halogênio é
figura 16.13 — A estrutura do IF? aquele que permanecerá ligado ao metal.
316 5RUPO 17 — 05 HAL06ÊNI05

Cl PROPRIEDADES BÁSICAS DOS


HALOGÊNIOS
Geralmente, os elementos se tornam mais básicos ou
metálicos ao se descer por um grupo dos elementos
representativos. Assim, nos Grupos 14,15 e 16, os primeiros
elementos C, N, e O são não-metais, mas os membros mais
pesados Sn, Pb, Bi e Po são metais. As propriedades metálicas
decrescem ao longo de um período, da esquerda para a
direita. Pouco se sabe sobre o astato, embora suponha-se
Cl que forme cátions com maior facilidade que os demais
elementos desse Grupo. Logo, a tendência de aumento do
caráter metálico é menos evidente no Grupo 17. Contudo, a
Figura 16.14 — A estrutura do íon [ICIJ' crescente estabilidade dos íons positivos indica uma
tendência crescente do caráter básico ou metálico. Deve-se
calor frisar que o iodo não é um metal.
Cs[I3] -> Csl + I2
O flúor é o elemento mais eletronegativo e não apresenta
calor
Rb[ICl2] -> RbCl + IC1 propriedades básicas (isto é, não apresenta nenhuma
tendência de formar íons positivos).
As estruturas dos poli-haletos também são conhecidas.
O iodo se dissolve em ácido sulfúrico fumegante e outros
Os trihaletos K[I3], K[IC12] e Cs[IBrF] contêm íons tri-haletos
solventes fortemente oxidantes, formando soluções azul
lineares. Isso pode ser explicado considerando-se os orbitais
brilhante paramagnéticas. Durante muito tempo acreditou-
empregados. Vide, por exemplo, o [IC12]~, na Fig. 16.14.
se que essas soluções continham o íon I + , mas sabe-se
5s 5p Sd_________
atualmente que elas contém o cátion [I2]+ (os elementos do
Configuração
eletrônica do
camada
interna
átomo de iodo preenchida
0 |u|n|t I | I I I I I Grupo 16, S, Se e Te comportam-se de maneira análoga. Por
exemplo, O enxofre dissolve-se formando soluções
estado fundamental paramagnéticas de cor azul contendo diversos cátions (SJ2’,
Estrutura do iodo rrrn tais como [S4]2 + , [S8)2+ e [S19]2 + ). O [Br2]+ também é
depois de formar uma |T*|
formado em ácido sulfúrico fumegante. Esse íon é vermelho
ligação covalente e uma i_____
ligação coordenada ~ brilhante e paramagnético. O [Cl2] + foi observado
nofclj- res de elétrons — bipiràmide
■oi com trés vértices ocupados espectroscopicamente em tubos de descarga, a baixa pressão.
por '“- de elétrons isolados
>r rpares
Foram preparados diversos compostos cristalinos contendo
[I2]+ ou [Br2]+.
Analogamente, as estruturas dos íons penta-haleto
[IC14]“ e [BrF4]“ são quadrado planares (vide Fig. 16.15). SOj solvente
2I2 + 5SbFs 2[I2] + [Sb2Fn]- + SbF3
-80'C
5s 5p 5d_________ 2I2 + S2O6F2 H'S0>F > 2[I2]+ [SO3F|-
Configuração camada [I4]2+2[S03F]~
eletrônica do interna
átomo de iodo preenchida
E3 |tí|t |t I |t I I I | | BrF,
Br2 + SbF5 -> [Br2] + [Sb3F16]-
estado excitado
Estrutura do iodo O comprimento da ligação no cátion [Br2]+ de 2,15 A,
depois de formar três
ligações covalentes e é menor que no Br2 (2,27 Â). No cátion a ligação é mais
uma ligação forte que no elemento, sugerindo que um elétron foi
Seis pares de elétrons —estrutura
coordenada no ÍICIJ" octaédrica com dois vértices
ocupados por pares isolados removido de um orbital antiligante. Analogamente, a ligação
no [I2]+ é mais forte que no I2.
Muitos outros compostos contendo cátions, tais como
[Cl3] + , [Br3] + , [13] + , [Brs]+ , [Is]+, foram preparados.

Cl2 + CIFj + AsFs -> [Cl3]+ [AsF6]‘ + F2


Br2 + BrFj + AsFs —> [Br3]+ [AsF6]' + F2
ci _______ Cl I2 + IC1 + A1C13 -> [I3]+ [A1C14]-
2Iz + IC1 + A1C13 -> [I5] + [A1C14]*

As estruturas de diversos compostos contendo os cátions


halogenados [Br3]+ e [I3]+ foram determinados por difração
Cl Cl de raios X ou espectroscopia Raman. Esses íons são todos
dobrados, em contraste com o íon triiodeto, [I3]‘, que é lin­
ear. As estruturas dos demais íons não são conhecidas com
exatidão. 0 composto I7SO3F já foi descrito (como um
máximo num diagrama de fases). Trata-se de um sólido preto,
Figura 16.15 —A estrutura do íon [1C14]' (a estrutura do íon [Is]~ é
diferente mas não se sabe se ele contém o íon [I7]+.
317

Bromo catiônico também pode ser encontrado em outros eletrólise, são gerados I2 e Cl2 em ambos os eletrodos. Esse
complexos, tais como Br(piridina)2NO3 e BrF3. Eles se fato sugere a seguinte reação de dissociação:
dissociam de acordo com os equilíbrios abaixo:
2IClj — [IC12] * + [IC14]'
Br(piridina)2NO3 — [Br (piridina)2]* + NO3'
2BrF3 [BrF2]* + [BrF4]' O tratamento de I2 com HNO3 fumegante e anidrido
acético fornece o composto iônico I(acetato)3. Se uma solução
Complexos contendo iodo positivo são mais numerosos. saturada de I(acetato)3 em anidrido acético for eletrolisada
Tanto 0 IC1 como o IBr conduzem a eletricidade quando no usando eletrodos de prata, formar-se-á um equivalente de
estado fundido. A eletrólise do IC1 gera I2 e Cl2 nos dois Agí no cátodo para cada três faradays de eletricidade. Isso
eletrodos. Isso é consistente com a seguinte reação de sugere uma reação de dissociação que fornece I3 *:
dissociação:
I(acetato)3 I3 + + 3(acetato')
3IC1 [I2C1]* + [IC12]-
Não existe nenhuma evidência estrutural indicando a
0 ICN fundido se comporta de maneira semelhante ao presença dei3*. Outros compostos iônicos que podem conter
ICI. o cátion I3* são o fosfato de iodo, IPO4, e o fluorossulfonato
de iodo, I(SO3F)3.
3ICN [I2CN] * + [I(CN)2]' no estado fundido
Contudo, a eletrólise do IC1 dissolvido em piridina leva PSEUDO-HALOGÊNIOS E PSEUDO-
à produção de I2 somente no cátodo. Isso sugere um tipo
HALETOS
mais simples de dissociação:
Plrtdma
Alguns poucos íons dessa classe são conhecidos. São
2IC1 [I(piridina)z] * + [ICb]' constituídos por dois ou mais átomos, dos quais pelo menos
um é o N, e apresentam propriedades semelhantes as dos
A adição de A1C13 ao IC1 fundido aumenta em muito a
sua condutividade. Esse fato pode ser explicado através da íons haleto. Por isso, são denominados pseudo-haletos. Os
formação dos íons complexos: pseudo-haletos são monovalentes e formam sais que se
assemelham aos haletos. Por exemplo, os sais de sódio são
A1C13 + 2IC1 -> [I2C1]+ + [AICI4]- solúveis em água, mas os sais de prata são insolúveis. Os
derivados de hidrogênio são ácidos como os ácidos
0 IC1 se comporta como um agente eletrofílico de halogenídricos, HX. Alguns dos íons pseudo-haleto se
iodação. Converte acetanilida em 4-iodo-acetanilida e ácido combinam para formar dímeros análogos as moléculas dos
salicílico em ácido 3,5-diiodo(salicílico). Os sítios atacados halogênios, X2. Podem ser citados o cianogênio, (CN)2, o
apresentam elevadas densidades eletrônicas, por isso o iodo tiocianogênio, (SCN)2, e o selenogênio, (SeCN)2.
deve se encontrar na forma de um cátion.
O pseudo-haleto mais conhecido é o cianeto, CN'. Este
Se uma solução de iodo em um solvente inerte for
se assemelha ao Cl', Br“ e I' nos seguintes aspectos:
passado através de uma coluna de troca catiônica , parte do
iodo ficará retido na coluna. D forma um ácido, HCN.
2) Pode ser oxidado para formar cianogênio, (CN)2.
H* resina' + I2 -> I* resina' + HI
3) Forma sais insolúveis com Ag*, Pb2* e Hg*.
0 íon positivo retido pode ser eluído com Kl, para se 4) Os compostos "inter-pseudo-halogenados", C1CN, BrCN
determinar a quantidade de I*, ou então pode reagir com e ICN, podem ser formados.
diversos reagentes.
5) O AgCN é insolúvel em água mas solúvel em amônia,
I +resina' + Kl —> I2 + K* resina' tal como o AgCl.
I*resina' + H2SO4 anidro -> I2SO4 + H*resina' 6) Forma um grande número de complexos semelhantes
l+resina' + HNO3 alcoólico -» INO3 + H* resina' aos halo-complexos, por exemplo, [Cu(CN)4]2' e
[CuCL,]2', [Co(CN)6]3' e [CuCI6]3'.
0 I+ reage com OH“ em soluções aquosas.

I* + OH' -> HOI


2HOI + OI' -> IO3' + 21' + 2H* Tabela 16.17 — Os pseudo-halogênios mais importantes

Por causa disso, o I* só existe em meio aquoso se ele Ânion Ácido Dímero
for estabilizado por coordenação a uma outra molécula. Um
grande número de compostos contendo I* estabilizado na CN- íon cianeto HCN cianeto de hidrogênio (CN)2 cianogênio
forma de um íon complexo é conhecido. Muitos complexos SCN~ íon tiocianato HSCN ácido dociânico (SCN)2 docianogênio
de piridina são conhecidos, por exemplo [I(piridina)2)NO3, SeCN" íon selenocianato (SeCN)2 selenocianogênio
lí(piridina)2]C1O4, [I(piridina)]acetato e [I(piridina)] OCN“ íon cianato HOCN ácido ciânico
benzoato. NCN2- íon cianamida H2NCN cianamida
ONC" íon fulminato HONC ácido fulmínico
0 1C13 fundido apresenta elevada condutividade HN3 azoteto dc hidrogênio
(8,4 x 10'3 ohm'1 cm'1). Quando o IC13 é submetido à
NJ
318 BRUPO 17 — OS HALDBÊNIQS

LEITURAS COMPLEMENTARES • Thrush, B.A. (1977) The chemistry of the stratosphere and
• Banks, R.E. (ed.) (1982) Preparation, Properties and Indus­ its pollution, Endeavour, 1, 3-6.
trial Applications of Organofluorine Compounds, Ellis • Waddington, T.C. (ed.) (1969) Nonaqueous Solvent Systems
Horwood, Chichester. (Cap. 2 por Hyman, H.H. e Katz, J.J., Fluoreto de hidrogênio
líquido; Cap. 3 por Peach, M.E. e Waddington, T.C, Haletos
• Banks, R.E., Sharp, D.W.A. e Tatlow, J.C. (1987) Fluorine
the First 100 Years (1886-1986), Elsevier. de hidrogênio superiores como solventes ionizantes), Nelson.
• Brown, D. (1968) Halides of the Transition Elements, Vol. I
(Haletos dos lantanídeos e actinídeos), Wiley, London e New PROBLEMAS
York. Descreva o método de obtenção do flúor, os equipamentos
• Brown, I. (1987) Astatine: organonuclear chemistry and bio- utilizados e as precauções necessárias para o bom
medical applications, Adv. Inorg. Chem., 31, 43-88. andamento do processo. O flúor elementar é muito
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1968) Halides of the Second empregado em reações químicas?
and Third Roív Transition Elements, Wiley, London. 2. Por que não é possível obter Fz por eletrólise de NaF
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides of the First Row aquoso, ou HF aquoso ou anidro?
Transition Elements, Wiley , London. 3. Quais são os agentes de fluoração comumente usados no
• Colton, R. e Canterford, J.H. (1968) Halides of the Second lugar do F2? Escreva equações químicas que ilustrem o
and Third Row Transition Elements, Wiley, London. seu uso.
• Colton, R. e Canterford,. J.H. (1969) Halides of the First Row 4. Quais são as principais aplicações do flúor?
TYansition Elements, Wiley, London. 5. Escreva equações balanceadas que mostrem as reações
• Donovan, R.J. (1978) Chemistry and pollution of the strato­ entre HF e a) SiO2, b) CaO, c) KF, d) CC14, e) U, f) grafita.
sphere, Education in Chemistry, 15, 110-113. 6. Quais são as principais fontes de cloro, bromo e iodo?
• Downs, A.J. e Adams, C.J. (1973) Comprehensive Inorganic Onde ocorrem e como os elementos podem ser obtidos a
Chemistry, Vol. II (Capítulo sobre cloro, bromo, iodo e astato), partir dos sais correspondentes?
Pergamon Press, Oxford. Quais são as principais aplicações do Cl2?
• Downs, A.J. e Adams, C.J. (1975) The Chemistry of Chlo- 8. Escreva as equações que mostrem como os ácidos
rine, Bromíne, lodine and Astatine, Pergamon, New York. halogenídricos HF, HCI, HBr e HI podem ser preparados
• Fogg , P.G.T. e Gerrard , W. (eds) (1989) Hydrogen Halides in em solução aquosa. Por que o HF é um ácido fraco quando
Non-aqueous Solvents, Pergamon. comparado com o HI, em meio aquoso?
• Gillespie, R.J. e Morton, M.J. (1971) Halogen and interhalogen 9. O HCl|g) pode ser preparado a partir do NaCl e H2SO4. 0
cations, Q. Rev. Chem. Soc., 25, 553. HBr(-; e o HI(g) não podem ser obtidos de maneira
• Golub, A.M., Kohler, H. e Skopenko, V.V. (eds) (1986) Chem­ semelhante a partir do NaBr e do NaI, respectivamente?
istry of Pseudo-halides (Topics in Inorganic and General Chem­ Explique esse fato.
istry Series No. 21), Elsevier, Oxford. 10. Escreva as equações químicas das reações entre Cl2 e: a)
• Gutman, V. (ed.) (1967) Halogen Chemistry, 3 Volumes, Aca- H2, b) CO, c) P, d) S, e) SO2, f) Br-(aq), g) NaOH.
demic Press, London, (Vol. 1: Halogênios, compostos 11. Explique o que acontece quando uma solução aquosa de
interhalogenados, polihaletos e haletos de gases nobres; Vol. AgNO3 é adicionada as soluções de NaF, NaCl, NaBr e
II: Haletos de não-metais; Vol. 3: Complexos), (Antigo, mas NaI. Que mudança será observada (se houver alguma),
abrangente) caso amônia seja adicionada a cada uma dessas misturas?
• Lagowski.J. (ed.) (1978) The Chemistry ofNon-aqueous Sol­ 12. a) Desenhe as estruturas do OF2, C12O, O2F2 e I2OS.
vents, Vol. II (Cap. 1 por Klanberg, F„ HCI, HBr e HI líquidos; b) Explique porque OF2 é uma molécula angular e porque
Cap. 2 por Kilpatrick, M. e Jones, J.G., Fluoreto de hidrogênio esse ângulo difere daquele encontrado no C12O.
anidro como solvente; Cap. 3 por Martin, D.M., Rousson, R. c) Por que as ligações O-F do O2F2 são mais longas que as
e Weulersse, J.M., Compostos interhalogenados), Academic do OF2, enquanto que as ligações 0-0 do O2F2 são mais
Press, New York. curtas que aquelas do H2O2?
• Langley R.H. e Welch, L. (1983) Fluorine (Chemical of the 13. Descreva o método de preparação e o uso analítico do
month), J. Chem. Ed., 60, 759-761. I2O5.
• O’Donnell, T.A. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, 14. a) Cite quatro tipos diferentes de oxoácidos dos halogênios
Vol. II (Cap. 25: Flúor) Pergamon Press, Oxford. e apresente a fórmula de um ácido ou de um sal derivado
• Price, D., Iddon, B. e Wakefield, B.J. (eds) (1988) Bromíne de cada um deles.
Compounds, Elsevier. b) Descreva os métodos de obtenção e uma aplicação dos
• Sconce, J.S. (1962) Chlorine: Its Manufacture, Properties and compostos a seguir: NaOCl, NaClO2, NaClO3, HI04.
Uses, Reinhold, New York. 15. O iodo é quase insolúvel em água, mas se dissolve
’• Shamir, J, (1979) Polyhalogen cations, Structure and Bond- prontamente numa solução aquosa de KL Explique o
ing, 37, 141-210. motivo desse comportamento.
• Tatlow, J.C. et ali. (eds), Advances in Fluorine Chemistry, 16. a) Explique a estrutura do íon I314.
Butterworths, London. (Série) b) Explique porque o Csl3 sólido é estável, mas o Nal3
• Thompson, R. (ed.) (1986) The Modem Inorganic Chemicals sólido não é.
Industry (Cap. por Fielding H. e Lee, B.E., Fluoreto de 17. a) Apresente as fórmula de 11 compostos interhalogenados.
hidrogênio, fluoretos inorgânicos e flúor; Cap. por Purcell,
R.W., A indústria de cloro e álcalis; Cap. por Campbell, A., b) Desenhe as estruturas das seguintes moléculas e íons,
Cloro e clorinação; Cap. por McDonald, R.B. e Merriman, indicando as posições dos pares de elétrons isolados: C1F,
W.R., Bromo e a indústria química do bromo), Publicação BrF3, IFs, 1F7, If, IC14" e If
especial No. 31, The Chemical Society, London, (reeditado 18. Enumere as diferenças entre a química do flúor em relação
em 1986). a dos demais halogênios, justificando-as.
319

Grupo 18
OS GASESHOSSES
NOME DO GRUPO E CONFIGURAÇÕES removeu o N2 do ar, adicionando um excesso de O2 e
ELETRÔNICAS combinando os gases com o auxílio de descargas elétricas.
O NO2 formado foi absorvido por uma solução de NaOH. O
Os elementos do Grupo 18 têm sido denominados “gases
excesso de O2 foi removido pela sua reação (combustão)
inertes” e “gases raros". Ambos são inadequados, já que a
com S, seguido da absorção do SO2 formado numa solução
descoberta dos fluoretos de xenônio, em 1962, mostrou que
de NaOH. Dessa forma, foi obtido um pequeno volume de
o xenônio não é inerte. Além disso, o argônio constitui 0,9%
um gás não-reativo.
em volume da atmosfera terrestre (vide Tab. 14.3). O nome
“gases nobres” dá a entender que eles tendem a ser não O argônio é relativamente abundante e pode ser obtido
reativos, analogamente aos metais nobres que dificilmente por destilação fracionada do ar líquido (vide "Nitrogênio”,
reagem, e se constituem nos metais menos reativos. no Capítulo 14). O argônio constitui 0,93% em volume do
ar (isto é 9.300 ppm). Origina-se principalmente da reação
0 hélio possui dois elétrons, que completam a camada
de captura de elétrons (decaimento 0 +) pelo potássio:
Is2. Os demais gases nobres possuem um octeto completo
de elétrons, ns2np6, na camada mais externa. Essa «K+.?e------- >18 Ar
configuração eletrônica é muito estável e está relacionada
com a baixa reatividade química desses elementos. Esses A produção mundial de argônio é superior a 700.000
átomos apresentam uma afinidade eletrônica igual a zero toneladas/ano.
(ou ligeiramente negativa), e energias de ionização muito Os demais gases nobres são muito menos abundantes.
elevadas — maiores que as de qualquer outro elemento. Em A abundância do He na atmosfera é de apenas 5 ppm em
condições normais, os átomos dos gases nobres apresentam volume e sua obtenção a partir do ar seria muito dispendiosa.
pouca tendência de perder ou receber elétrons. Por isso Uma fonte mais barata são os depósitos de gases naturais:
apresentam uma pequena tendência de formar ligações e depois de liquefazer os hidrocarbonetos, sobra um resíduo
ocorrem na forma de átomos isolados. de He. O He foi produzido por decaimento radiativo e ficou
retido nesses depósitos subterrâneos. A fonte mais rica são
OCORRÊNCIA E OBTENÇÃO DOS os gases naturais do sudoeste dos EUA, que contêm de 0,5 a
0,8 % de hélio, e satisfaz a maior parte da demanda mundial
ELEMENTOS de hélio. Outros depósitos de gases naturais, contendo
Todos os gases nobres, ou seja He, Ne, Ar, Kr e Xe, quantidades apreciáveis de He, foram encontrados na Argélia,
ocorrem na atmosfera. Uma mistura de gases nobres foi Polônia, ex-URSS e Canadá. A produção mundial foi de
obtida pela primeira vez por Cavendish, em 1784. Cavendish 18.800 toneladas em 1993.
Todos os gases nobres não-radiativos são produzidos
em escala industrial, pela destilação fracionada do ar líquido.
Tabela 17.1 — Configurações eletrônicas
Esse processo fornece grandes quantidades de nitrogênio e
Elemento Símbolo Configuração eletrônica oxigênio, e somente uma pequena quantidade de gases
nobres (o oxigênio é empregado principalmente na indústria
Hélio He 1? siderúrgica). O argônio é o gás nobre produzido em maior
Neònio Ne [He] 2?2p6 quantidade e o mais barato.
Argônio Ar [Ne] 3?3p6 O radônio (Rn) é radiativo, e é formado no decaimento
Criptônio Kr [Ar] 3d'° 4? 4p6 radiativo de minerais de rádio e de tório. Uma fonte
Xenônio Xe [Kr] 4d‘°5?5p6 conveniente é o isótopo 226Ra: 100 g de rádio fornece cerca
Radônio Rn [Xe] 4/4 5d10 6? 6p6 de 2 ml de radônio por dia:
300 BRUPO IB — BS BA5E5 NQBRES

!Ra-------- ♦“Rn+jHe
> Tabela 17.2 — Propriedades físicas dos gases nobres
O isótopo mais estável do radônio, o 222Rn, é um emissor Awira Entalpia de Ponto de Ponto de Raio Abun&cis
a e seu tempo de meia-vida é de somente 3,8 dias. Por isso, inergia de vaporização fusão ebulição atômico na atmosfera
apenas estudos utilizando traçadores de radiação foram ionização (kl mor1) CC) CC) (A) (%«n
possíveis. (kJ mol'1) volume)

He 2.372 0,08 -269,0 1,20 5,2x10-“


APLICAÇÕES DOS ELEMENTOS Ne 2.080 1,7 -248,6 -246,0 1,60 1,5x10"’
O principal uso do argônio é para a obtenção de Ar 1.521 6,5 -189,0 -189,4 1,91 0,93
atmosferas inertes em processos metalúrgicos. Isso inclui a Kr 1.351 9,1 -157,2 -153,6 2,00 1,1x10-*
solda de aço inoxidável, titânio, magnésio e alumínio, e a Xe 1.170 12,7 -108,1 -111,1 2,20 8,7x10^
produção de titânio (processo Kroll e 1MI). Quantidades Rn 1.037 18,1 -62
menores são usadas no crescimento de cristais de silício e
de germânio para transistores, em lâmpadas elétricas der Waals de outros elementos na forma de átomos e não
incandescentes e fluorescentes, válvulas de raios catódicos com os raios covalentes (raios dos elementos na forma
e contadores de radiação do tipo Geiger-Müller. combinada).
O hélio tem o ponto de ebulição mais baixo que qualquer Todos os gases nobres são capazes de se difundir através
outro líquido conhecido, sendo usado em crioscopia para se do vidro, da borracha, de materiais plásticos e de alguns
obter temperaturas extremamente baixas, necessárias para metais. Por causa disso, seu manuseio no laboratório é difícil,
a operação de lasers e dispositivos baseados em materiais principalmente porque frascos de Dewar de vidro não podem
supercondutores. É empregado como gás de refrigeração em ser usados em experimentos a baixas temperaturas.
um dos tipos de reatores nucleares refrigerados a gás, e como
gás de arraste em cromatografia gás-líquido. É ainda usado
em balões meteorológicos e dirigíveis. Embora o H2 seja mais PROPRIEDADES ESPECIAIS DO HÉLIO
barato, mais facilmente encontrado e tenha uma densidade O hélio é um elemento singular. Ele apresenta o ponto
menor, prefere-se o He, pois o H2 é altamente inflamável. de ebulição mais baixo de todas as substâncias conhecidas.
Assim, por motivo de segurança, o He é utilizado preferen­ Todos os demais elementos se solidificam quando esfriados
cialmente ao H2 em dirigíveis. O He é menos denso que o ar. suficientemente, mas no caso do hélio obtém-se o líquido.
Um metro cúbico de He, à pressão atmosférica, pode levantar O hélio forma o sólido somente a altas pressões (cerca de 25
até 1 kg. O hélio é utilizado preferencialmente ao nitrogênio atmosferas). Duas fases líquidas diferentes podem ser
para diluir o oxigênio dos cilindros de ar dos mergulhadores. obtidas. O hélio I é um líquido normal, mas o hélio 11 é um
Isso porque o nitrogênio é bastante solúvel no sangue e uma superfluído. Um superfluído é um estado muito incomum
súbita variação de pressão poderia provocar a formação de da matéria. Normalmente as moléculas podem se mover
bolhas de N2 no sangue. Esse acidente doloroso (ou fatal) é livremente num gás, mas de forma mais restrita no estado
conhecido como “síndrome de descompressão” ou “mal das líquido. No sólido, os átomos apenas podem vibrar em tomo
profundezas". O hélio é muito menos solúvel e o risco de de certas posições. À medida que a temperatura diminui, a
ocorrer esse acidente é bem menor. quantidade de movimento térmico dos átomos diminui e os
Pequenas quantidades de Ne são utilizados nas gases se tornam líquidos; e eventualmente se tornam sólidos.
lâmpadas de neônio dos anúncios luminosos, onde são Quando a temperatura do hélio é abaixada até 4,2 K, ele se
responsáveis pela familiar coloração laranja avermelhada. liquefaz a hélio I. Surpreendentemente o líquido continua
Outros gases também são usados de modo a se obter num estado de ebulição vigoroso. A 2,2 K, repentinamente
lâmpadas de diferentes cores. cessa a ebulição do líquido (o que no caso de materiais
convencionais corresponde à formação do sólido) e se forma
PROPRIEDADES FÍSICAS o hélio II. Ele continua sendo um líquido, pois as forças
intermoleculares não são suficientemente fortes para for­
Todos esses elementos são gases monoatômicos,
mar um sólido, mas o movimento térmico dos átomos
incolores e inodoros. A entalpia de vaporização é uma medida
praticamente cessou. O hélio I é um líquido normal, mas
das forças que mantêm unidos os átomos. Tais valores são
quando se transforma no hélio II, na temperatura do ponto
muito baixos porque as únicas forças entre os átomos são
X, muitas de suas propriedades físicas mudam abruptameme.
as forças de van der Waals, muito fracas. A entalpia de
O calor específico varia de um fator de 10. A condutividade
vaporização aumenta de cima para baixo, à medida que
térmica aumenta por um fator de 106 e se torna 800 vezes
aumenta a polarizabilidade dos átomos.
maior que a do cobre, tornando-se um supercondutor (isto
Devido às pequeníssimas forças interatômicas, os pontos é, tem resistência elétrica nula). A viscosidade se aproxima
de fusão e de ebulição também são muito baixos. A de zero, ou seja, torna-se igual a 1/100 da viscosidade do
temperatura de ebulição do He é a mais baixa de todos os hidrogênio gasoso. Abaixo da temperaturas do ponto À, o
elementos: somente quatro graus acima do zero absoluto. nélio se espalha por toda a superfície. Assim, o líquido pode
Os raios atômicos desses elementos são todos muito fluir para cima, subindo pelas paredes do recipiente,
pequenos e aumentam quando se desce pelo grupo. Deve- transpondo suas bordas até que o nível em ambos os lados
se notar que esses raios são raios atômicos, ou seja de átomos sejam iguais. A tensão superficial e a compressibilidade
não ligados, e devem ser comparados com os raios de van também são anômalas.
□UlMICA □□ XENONIO 321

PROPRIEDADES QUÍMICAS DOS GASES Tabela 173 — Estruturas de alguns compostos de xenônio
NOBRES
Fórmula Nome Estado de P.F. Estrutura
Os gases nobres foram isolados e descobertos graças à
sua falta de reatividade química. Durante muito tempo supôs-
oxidação CC)
se que eram quimicamente inertes. Antes de 1962, a única evi­
XeF2 difluoreto (+n) 129 linear (RnF2 e XeCI2
dência a favor da formação de compostos dos gases nobres era a são semelhantes
de xenônio
formação de alguns íons moleculares em tubos de descarga 117 quadrado-planar
XeF4 tetrafluoreto (+IV)
de gases rarefeitos em alguns compostos do tipo clatratos. de xenônio (XeCL, é semelhante)
XeF6 hexafluoreto (+VI) 49,6 octaedro distorcido
íons moleculares formados no estado excitado de xenônio
Diversos íons moleculares, tais como He2 + , HeH + , XeO3 trióxido (+VI) explode piramidal (tetaédrica
HeH2+ e Ar2+ são formados em condições de alta energia, de xenônio com um vértice
em tubos de descarga de gases rarefeitos. Eles subsistem desocupado)
XeO2F2 (+VI) 30,8 bipirâmide trigonal
momentaneamente e podem ser detectados por métodos
(com um vértice
espectroscópicos. Moléculas neutras como o He2 são
desocupado)
instáveis.
XeOF4 (+V1) -46 pirâmide quadrada
(octaédrica com uma
Clatratos posição desocupada)
Os clatratos formados pelos gases nobres são bem XeO4 tetróxido ovni) -35,9 tetaédrica
conhecidos. Os compostos químicos normais possuem de xenônio
ligações iônicas ou covalentes. Contudo, nos clatratos, XeO3F2 (+VIII) -54,1 bipirâmide trigonal
átomos ou moléculas de tamanho adequado estão presos Ba2(XeO6]4’ perxenato (+VI1I) dec.>300 octaédrica
nas cavidades existentes no retículo cristalino de outros de bário
compostos. Embora os gases estejam retidos, eles não for­
mam ligações. A primeira energia de ionização para a semi-reação O2
—»O2+ é igual a 1.165 kJ mol"1, ou seja praticamente o mes­
Se uma solução aquosa de hidroquinona (1,4-dihidro-
mo da semi-reação Xe —>Xe+ que é igual a 1.170 kJ mol’1.
xibenzeno) for cristalizada sob 10 a 40 atmosferas de Ar, Kr
Assim, foi previsto que o PtF6 deve reagir com o xenônio.
ou Xe, esses gases nobres ficam retidos em cavidades de
cerca de 4 Â de diâmetro existentes na estrutura da hidro­ Foi demonstrado experimentalmente que quando os vapores
quinona. Quando o clatrato é dissolvido, a estrutura cristalina vermelho escuros de PtF6 eram misturados com um volume
mantida pelas ligações de hidrogênio se desfaz e o gás nobre idêntico de Xe, esses gases se combinavam imediatamente à
escapa. Outras moléculas pequenas como O2, SO2, H2S, temperatura ambiente, formando um sólido amarelo. Eles
MeCN e CH3OH também formam clatratos parecidos com propuseram (incorretamente) que o composto obtido era
os do Ar, Kr e Xe. Os gases nobres menores He e Ne não hexafluoroplatinato(V) de xenônio, Xe+ [PtF6]“. Verificou-se
formam clatratos, porque os átomos são pequenos o posteriormente que a reação é bem mais complicada, e o
suficiente para escaparem das cavidades. A composição produto formado é na realidade o [XeF]+ [Pt2Fn]~.
desses clatratos corresponde a 3 hidroquinona:! molécula 2S'C
encapsulada, mas geralmente nem todas as cavidades são Xe[PtF6] + PtF6 4 [XeF]+ [PtF6j- + PtFs
ocupadas. - > [XeF]+ [Pt2F„J-
Analogamente, Ar, Kr e Xe podem ser retidos em
cavidades durante o processo de congelamento da água sob Pouco depois descobriu-se que o Xe e o F2 reagem a
elevadas pressões desses gases. Os compostos obtidos 400 °C, gerando XeF4, um sólido incolor volátil. Este
também são clatratos, embora sejam comumente denomi­ apresenta o mesmo número de elétrons de valência e é
nados "hidratos dos gases nobres”. Suas fórmulas são isoestrutural com o íon polihaleto [IC14]‘. Após essas
aproximadamente 6H2O: 1 átomo do gás. He e Ne não são descobertas, houve uma rápida expansão da química dos
retidos por serem muito pequenos. Os gases nobres mais gases nobres, em particular do xenônio.
pesados também podem ser retidos nas cavidades de zeólitas As energias de ionização do He, Ne e Ar são muito
sintéticas, tendo sido obtidas amostras contendo até 20% maiores que do Xe, sendo demasiadamente elevadas para
em peso de argônio. Os clatratos se constituem num meio permitir a formação de compostos semelhantes aos do
conveniente de armazenar isótopos radiativos de Kr e de xenônio. A energia de ionização do Kr é um pouco menor
Xe, produzidos em reatores nucleares. que a do Xe, e o Kr forma KrF2. A energia de ionização do
Rn é menor que a do Xe, de modo que o Rn deve formar
QUÍMICA DO XENÔNIO compostos semelhantes aos formados pelo Xe. O Rn é
O primeiro composto verdadeiro de um gás nobre foi radiativo, não possui isótopos estáveis e todos eles são de
obtido em 1962. Bartlett e Lohman já haviam usado o meia-vida curta. Isso limitou as pesquisas sobre a química
hexafluoreto de platina, um poderoso agente oxidante, para do radônio, sendo conhecidos somente o RnF2 e alguns
oxidar o oxigênio molecular. complexos.
O Xe reage diretamente apenas com o F2. Contudo,
PtF6 + O2 -> O2+ [PtFJ- compostos com oxigênio podem ser obtidos a partir dos
3HH BRUPO 1B — 05 BASES NBBRES

fluoretos. Há algumas evidências a favor da existência do 3XeF4 + 6H2O -> 2Xe + XeO3 + 12HF + l'/2O2
XeCl2 e XeCl4, e conhece-se um composto com uma ligação
Xe-N. Pode-se notar que o xenônio possui uma química O XeF6 também reage violentamente com a água. A
relativamente extensa. Na Tab. 17.3 estão listados os hidrólise lenta desse fluoreto, devido à umidade existente
principais compostos de xenônio. na atmosfera, forma o sólido altamente explosivo XeO3.
O xenônio reage diretamente com flúor, quando os gases XeF6 + 3H2O -> Xe03 + 6HF
são aquecidos a 400 °C, num recipiente fechado de níquel.
Os produtos obtidos são definidos pela proporção relativa Quando o XeF6 reage com quantidades limitadas de água
de F2 e Xe. ocorre uma hidrólise parcial, com a formação do oxofluoreto
de xenônio, XeOF4, um líquido incolor. 0 mesmo produto
Z 2 : 1 mistura —> XeF2 se forma quando o XeF6 reage com a sílica ou o vidro.
Xe + F2—» 1 : 5 mistura —» XeF4
X 1 : 20 mistura —» XeF6 XeFs + H2O -> XeOF4 + 2HF
2XeF6 + SiO2 -> 2XeOF4 + SiF4
Os compostos XeF2, XeF4 e XeF6 são sólidos brancos.
Sublimam à temperatura ambiente e podem ser armazenados O XeO3 é um sólido branco higroscópico e explosivo,
indefinidamente em recipientes de níquel ou de metal monel. que reage com XeF6 e XeOF4.
Os fluoretos inferiores podem ser convertidos nos fluoretos
superiores por aquecimento com F2 sob pressão. Todos esses XeO3 + 2XeF6 -» 3XeOF4
fluoretos são oxidantes extremamente fortes e também são XeO3 + XeOF4 -> 2XeO2F2
agentes de fluoração. Reagem quantitativamente com
hidrogênio como segue: O XeO3 é solúvel em água, mas não se dissocia.
Contudo, em soluções alcalinas, com pH superiores a 10,5,
XeF2 + H2 -> 2HF + Xe forma-se o íon xenato, [HXeO4]’.
XeF4 + 2H2 -> 4HF + Xe
XeF6 + 3H2 -> 6HF + Xe XeO3 + NaOH -> Na +[HXeO4f
xenato de sódio
Oxidam CF a Cl2,1" a I2 e cério(lll) a cério(IV):
Os xenatos contêm Xe( + VI), que lentamente se
XeF2 + 2HC1 -> 2HF + Xe + Cl2 desproporcionam em solução formando perxenato (que
XeF4 + 4KI -> 4KF + Xe + 2I2 contém Xe( + VIII)) e Xe.
SO42' + XeF2 + Ce2"‘(SO4)3 -> 2CeIV(SO4)2 + Xe + F2
2[HXeO4]- + 2OH- —> [XeO6]4- + Xe + O2 + 2H2O
íon perxenato
Podem ser utilizados na fluoração de outros compostos:
XeF4 + 2SF4 -> Xe + 2SF6 Diversos perxenatos de metais dos Grupos 1 e 2 foram
XeF„ + Pt -> Xe + PtF„ isolados; sendo as estruturas cristalinas do Na4XeO6-6H2O
e do Na4XeO6 ■ 8H2O determinadas por cristalografia de raios
Atualmente, o XeF2 é um produto comercial e está sendo X. A solubilidade do perxenato de sódio em NaOH 0,5 M é
largamente utilizado em síntese orgânica. Ele pode oxidar e de apenas 0,2 grama por litro. Logo, a reação de precipitação
fluorar os heteroátomos em compostos organometálicos, mas do perxenato de sódio poderia ser empregada como método
não reage com os grupos alquila ou arila. gravimétrico de determinação de sódio. Os perxenatos são
agentes oxidantes extremamente poderosos, que oxidam HCI
CH3I + XeF2 -> CH3IF2 + Xe a Cl2, H2O a O2 e Mn2 + a MnO4“. Reage com H2SO4
C6HsI + XeF2 -> C6HsIF2 + Xe concentrado formando tetróxido de xenônio, XeO4, que é
(C6H5)2S + XeF2 -» (C6Hs)2SF2 + Xe volátil e explosivo.
A reatividade do XeF2 aumenta consideravelmente caso
seja misturado com HF anidro, provavelmente devido a Fluorocomplexos de xenônio
formação de XeF+. O XeF2 atua como doador de fluoreto e forma complexos
com pentafluoretos covalentes, como PFS, AsFs, SbFs, e os
Pt + 3XeF2/HF —> PtF6 + 3Xe
fluoretos de metais de transição NbFs, TaFs, RuFs, OsFs, RhFs,
S8 + 24XeF2/HF -> 8SF6 + 24Xe
IrFs e PtFs. Supõe-se que esses complexos tenham a estrutura
CrFe + XeF2/HF CrF3 + Xe -> CrF4 + Xe
MoO3 + 3XeF2/HF -> MoF6 + 3Xe + l'/2O2 XeF2-MF5 [XeF] + [MF6]-
Mo(CO)6 + 3XeF2/HF -> MoF6 + 3Xe + 6CO XeF2-2MF5 [XeF]+ [M2Fn]*
2XeF2-MFs [Xe2F3]+ [MFJ-
Os fluoretos reagem diferentemente com a água. O XeF2
é solúvel em água, mas lentamente hidrolisa-se. Em meio As estruturas de alguns dos complexos de XeF2, no
alcalino essa reação é mais rápida. estado sólido, são conhecidas. No complexo XeF2-2SbFs (Fig.
17.1) as duas distâncias Xe-F são muito diferentes (1,84 A e
2XeF2 + 2H2O 2Xe + 4HF + 02
2,35 A). Isso sugere a formulação [XeF]+ [Sb2Fn]-. Contudo,
0 XeF4 reage violentamente com a água formando a distância Xe-F de 2,35 Â é muito menor que a distância de
trióxido de xenônio, XeO3. van der Waals (não-ligante) de 3,50 A. Isso sugere a existência
ESTRUTURA E LIGAÇÃO NDS COMPOSTOS DE XENPNID 323
5s 5p 5d
Configuração
eletrônica do
átomo de xenônio
[n] |n|n|u|| | | | | |
estado fundamental
Xe no estado
fundamental [ü] |u|u|t I |t I I I I I
I__________ T__________ I
Dois pares desemparelhados de elétrons
formam ligações com dois átomos de flúor
Cinco pares de elétrons formam uma
bipirâmide trigonal

Isso explica a estrutura observada, mas existe uma


objeção: os orbitais 5d do xenônio parecem ser grandes
demais para que haja um recobrimento efetivo entre os
Figura 17.1 — Estrutura do XeF2- 2SbFs (segundo Mackay eMackay, orbitais. O máximo da função de distribuição radial do elétron
Introduction to Modem Inorganic Chemistry, 4? de., Blackie, 1989) Sd ocorre a uma distância de 4,9 Â do núcleo. Foi
mencionado no Capítulo 4, na seção “O grau de participação
dos elétrons d nas ligações moleculares", que átomos muito
de um átomo de flúor em ponte entre o Xe e o Sb. Na eletronegativos como o flúor provocam uma grande
realidade, a estrutura é intermediária entre aquela esperada contração nos orbitais d. Se essa contração for
para uma estrutura iônica e aquela prevista para uma suficientemente grande, a explicação por meio das ligações
estrutura totalmente covalente com átomos de flúor em de valência será adequada.
ponte. Uma segunda objeção se refere à combinação dos
0 XeF4 forma apenas alguns poucos complexos, por orbitais no mesmo átomo (hibridização sp3d~). Essa
exemplo com PFS, AsF5 e SbFs. O XeFs também pode atuar combinação será efetiva somente se os orbitais envolvidos
como um doador de fluoretos, formando complexos tais tiverem energias semelhantes. Os orbitais 5d do Xe parecem
como: ter uma energia elevada demais para contribuir numa
XeF6BF3 hibridização desse tipo (a diferença de energia entre os
XeF6-GeF4 orbitais 5p e 5d é de cerca de 960 kJ mol'1).
XeF6-2GeF4 A explicação por meio da teoria de orbitais moleculares,
XeF6-4SnF4 envolvendo ligações tricentradas, é mais aceitável. As
XeFj-AsF; configurações eletrônicas de valência dos átomos são
XeF6SbF5 5s 5p 2s 2p
p, p
p,r p,
p. p, pr p,
0 XeF6 também pode atuar como receptor de fluoreto,
reagindo com RbF e CsF segundo a reação abaixo:
Xe [ü] |u|u|u| fF Ltli |u|u|t |
XeFs + RbF -4 Rb + [XeF7]“ Considere que a ligação envolva o orbital Spz do Xe e
os orbitais 2pz dos dois átomos de flúor. Para que se forme
0 íon [XeF7] ~ decompõe-se quando aquecido, uma ligação, é necessário a interação de orbitais de mesma
simetria. Esses três orbitais atômicos se combinam para
SO’C formar três orbitais moleculares: um ligante, um não-ligante
2Cs+[XeF7]- + XeF6 + Cs2[XeF8]
e um antiligante. Isso está ilustrado de uma maneira simples
na Fig. 17.3. Os três orbitais atômicos de partida contêm
ESTRUTURA E LIGAÇÃO NOS COMPOSTOS quatro elétrons (dois no orbital 5pz do Xe e um em cada um
DE XENÔNIO dos orbitais 2pz do F). Esses elétrons ocuparão os orbitais
As estruturas dos haletos, óxidos e oxo-íons mais moleculares de energia mais baixa. A ordem de energia é:
comuns do xenônio são mostradas na Tab. 17.4. A natureza
das ligações, bem como dos orbitais utilizados para formar OM ligante < OM não-ligante < OM antiligante
as ligações nesses compostos, são de grande interesse e têm
sido motivo de consideráveis controvérsias.
F

XeF2
0 XeF2 é uma molécula linear com distâncias Xe-F de
2,00 A. As ligações podem ser explicadas de maneira bastante
simples, promovendo-se um elétron de um nível 5p do
xenônio para o nível 5d. Os dois elétrons desemparelhados
formam ligações com os átomos de flúor. Os cinco pares de
elétrons apontam para os vértices de uma bipirâmide trigo-
nal. Ttês desses pares são pares de elétrons isolados e ocupam F
as posições equatoriais. Dois deles são pares ligantes que
ocupam as posições apicais. Assim, a molécula é linear (Fig.
17.2). Figura 17.2 — A molécula de XeF,
324 BRUPO 10 — OS BASES NOBRES

F F

Antiligantefos orbitais apresentam a simetria incorreta


para a combinação,tanto no lado direito como no,
esquerdo,© que é indicado pelos sinais + e - ).

Não-ligante(o orbital 5p do Xe não contribui para a


ligação, pois o efeito ligante do lado direito é cancelado Figura 17.5 — A molécula de XeF4
pelo efeito antiligante do lado esquerdo).
inadequado para permitir uma interação efetiva e as energias
dos orbitais envolvidos parecem ser demasiadamente
diferentes para haver uma hibridização efetiva. A explicação
Ligante(os orbitais dos lados direito e esquerdo apresen­ da estrutura do XeF4 utilizando a teoria de orbitais
tam a simetria correta para a combinação). moleculares é semelhante à daquela para o XeF2. 0 átomo
de Xe se liga a quatro átomos de F. O orbital 5px do Xe forma
Figura 17.3 — Combinações possíveis de orbitais atômicos no XeF2
um OM tricêntrico com os orbitais 2p de dois átomos de F,
Assim, dois elétrons ocupam o orbital molecular ligante, exatamente como no XeF2. O orbital 5py forma outro OM
sendo esse par de elétrons o responsável pela ligação entre tricêntrico envolvendo mais dois átomos de F. Os dois
os três átomos. Os dois elétrons remanescentes ocuparão o orbitais moleculares tricêntricos são ortogonais um ern
orbital molecular não-ligante. Esses elétrons estão localizados relação ao outro, dando origem a uma molécula quadrada
principalmente nos átomos de F, conferindo certo caráter planar.
iônico à ligação. A ligação pode ser descrita como uma
ligação tricentrada com quatro elétrons. A disposição linear XeF6
dos três átomos leva ao recobrimento mais eficiente dos A estrutura do XeF6 é a de um octaedro distorcido. As
orbitais, em concordância com a estrutura observada. Essas ligações no XeF6 provocaram uma considerável controvérsia,
ligações deveríam ser comparadas com as ligações ainda não totalmente esclarecida. A estrutura pode ser
tricêntricas com dois elétrons do B2H6 (vide Capítulo 12). explicada em função da teoria das ligações de valência por
meio da promoção de três elétrons do Xe:
XeF4 5s 5p 5d
A estrutura do XeF4 é quadrado planar, com distâncias
de ligação de 1,95 A. A teoria das ligações de valência explica
Configuração
eletrônica do Xe —
estado excitado
0 lt lt lt I IT IT IT I I I
essa estrutura por meio da promoção de dois elétrons, como Os seis elétrons desemparelhados formam ligações com
se segue: átomos de flúor. O arranjo de sete orbitais no espaço pode
5s 5p 5d
levar a um octaedro com uma face ‘'piramidal” ou a uma
Configuração bipirâmide pentagonal (como no IF7). Um octaedro
eletrônica do Xe —
estado excitado
E3 |TJ-|T |T I |t |t | | I I “piramidal” possui um par isolado de elétrons apontado para
I____________ T____________ I
Quatro elétrons desemparelhados formam
o centro de uma das faces do octaedro. Como há seis ligações
ligações com quatro átomos de flúor: Seis
pares de elétrons levam a uma estrutura
e um par isolado, um octaedro "piramidal" levaria a um
octaédrica com dois vértices ocupados por octaedro distorcido. A teoria dos orbitais moleculares falha
pares de elétrons Isolados
no caso do XeF6, pois três orbitais moleculares tricentrados
Os mesmos problemas levantados no caso do XeF2 são situados ortogonalmente uns em relação aos outros, levaria
válidas, ou seja, o tamanho dos orbitais 5d do Xe parece ser a uma estrutura octaédrica regular.

Energia

Orbitais atômicos de '■ Orbitais : Orbital atômico de


dois átomos da F J m<loleculares ; um atômico de Xe
Antiligante J

5pt
Não ligante,

2Pi 2Pz

Ligante

Figura 17.4 — Os orbitais moleculares no XeF2 Figura 17.6 — Um octaedro "piramidal"


ENCERRAMENTO 325

Tabela 174 — Explicações possíveis para estruturas de


compostos de gases nobres F

Fórmula Estrutura Número Números Explicação para a estrutura F, F


de pares de pares (Teoria da Repulsão dos Pares
de elétrons isolados Eletrônicos de Valência) Xe
XeF, F- 'F O O
linear 5 3 cinco pares de elétrons formam
uma bipirâmide trigonal com
três pares isolados nas posições
F O
equatoriais
Octaedro ligeiramente
XeF, quadrado 6 2 seis pares de elétrons formam um distorcido Piramidal
planar octaedro com duas posições ocu­
padas por pares isolados Hexafluoreto de xenônio Trióxido de xenônio
XeF8 XeO3
XeF( octaédrica 7 I bipirâmide pentagonal, ou octae­
distorcida dro com um par isolado sobre O
uma das faces F
XeO, piramidal 7 1 três ligações n, os quatro pares
eletrônicos restantes formam um F, F O
tetraedro com um vértice ocupa­
Xe
do por um par isolado
XeO,F, bipirâmide 7 1 duas ligações TC, os cinco pares ele­ F F
trigonal trônicos remanescentes formam O
uma bipirâmide trigonal com
uma posição equatorial ocupada F
Pirâmide quadrada
por uma par isolado (octaedro com um
XeOF, piramidal 7 1 uma ligação ít, os seis pares eletrô­ vértice desocupado)
quadrada nicos remanescentes formam um XeOaF2
Oxifluoreto de xenônio
octaedro com um vértice ocupa­ XeOF4
do por um par isolado
XeO, tetraédrica 8 0 quatro ligações tt, os quatro pares
O
eletrônicos remanescentes for­
mam um tetraedro
XeOjF; bipirâmide 8 0 três ligações tt, e os cinco pares O
trigonal eletrônicos remanescentes for­
mam um bipirâmide trigonal O O
BailXeOJ4-octaédrica 8 0 duas ligações rr, e os seis pares O
eletrônicos remanescentes for­ O
mam um octaedro
Tetraédrico
0 espectro vibracional do XeF6 gasoso sugere uma Octaédrico
Tetróxido de
molécula de simetria C3Ui isto é, um octaedro distorcido com íon perxenato xenônio
um par de elétrons isolados situado no centro de uma das [XeO6r XeO4
oito faces triangulares. Na realidade, a posição do par isolado
muda rápida e continuamente, de uma face para outra. O Figura 17.7 — Estruturas de alguns compostos de xenônio
hexafluoreto de xenônio forma o tetrâmero, Xe4F24, em vários
solventes não aquosos. O hexafluoreto de xenônio sólido é reagem, quantas ligações formarão, e a disposição dos
polimórfico. Ele contém tetrâmeros constituídos por quatro elementos na tabela periódica. A descoberta dos compostos
íons piramidais de base quadrada XeF5 + ligados a dois outros dos gases nobres mostrou que embora o "octeto" seja uma
íons semelhantes por meio de dois F~ em ponte. As distâncias estrutura eletrônica muito estável, ele pode ser rompido, e
XeF são de 1,84 Â nas pirâmides de base quadrada e 2,23 e que há outros arranjos eletrônicos estáveis.
2,60 A nos grupos com fluoreto em ponte. Duas conclusões importantes podem ser tiradas:
As estruturas dos compostos de Xe contendo oxigênio D Somente os gases nobres mais pesados (Kr, Xe e Rn)
podem ser previstas corretamente pela teoria das ligações formam esses compostos. Esse fato está relacionado à
de valência (os elétrons das ligações n (duplas ligações) menor energia de ionização dos mesmos.
devem ser subtraídos do cálculo do número de pares de
elétrons que determinam a geometria da molécula). 2) Compostos são formados somente com ligantes eletro-
negativos.
A descoberta dos compostos de gases nobres levou a
OBSERVAÇÕES FINAIS uma torrente de trabalhos experimentais visando a síntese
Durante muitos anos os gases nobres foram tidos como de novos compostos. Houve também muitos trabalhos
sendo completamente inertes, pois supunha-se que o octeto teóricos procurando explicar a estrutura e as ligações
de elétrons era o único arranjo estável. A regra do octeto existentes nesses compostos, por exemplo cálculos em
teve um papel importante para se entender porque os átomos grandes computadores sobre o grau de participação dos
326 GRUPO 1B — OS GASES NOBRES

orbitais d nas ligações formadas pelos elementos dos blocos • Huston, J.L. (1982) Chemical and physical properties of some
s e p. As conclusões desses estudos podem ser resumidas xenon compounds, Inorg. Chem., 21, 685-688.
como se segue: • Moody, G.J. (1974) A decade of xenon chemistry, J. Chem.
D Orbitais d parecem estar envolvidos de maneira Ed., 51, 628.
significativa na formação de ligações o, em compostos • Selig, H. e Holloway, J.H. (1984) Topics in Current Chemis­
com elevado número de coordenação com elementos try, Cationic and anionic complexes of the noble gases, (ed.
de alta eletronegatividade, como PF5, SF6, 1FS e XeF6, by Bosche, EL.), Springer Verlag, 124, 33.
(esses compostos podem ser descritos sem a • Seppelt, K. and Lentz, D. (1982) Novel developments in noble
necessidade do uso de orbitais d se for considerado a gas chemistry, Progr. Inorg. Chem., 29, 167-202.
formação de ligações tricêntricas). • Thompson, R. (ed.) (1986) The Modem Inorganic Chemicals
Industry, (Cap. por Grant W.J. e Redfearn, S.L., Gases
2) Em compostos com elementos de baixa eletronegati­ industriais), Publicação Especial No. 31, The Chemical Soci-
vidade, tais como H2S e PH3, a contribuição dos orbitais ety, London. (reeditado em 1986).
d é muito baixa (1-2%). Mesmo assim melhora
• Wilks, J. e Betts, D.S. (1987) An Introduction to Liquid He-
consideravelmente a concordância entre os valores Hum, 2? ed., Clarendon, Oxford.
calculados e observados para os momentos dipolares e
os níveis de energia.
PROBLEMAS
3) Os orbitais d contribuem de maneira significativa na
1. De onde provém o hélio presente na Terra e em sua
formação de ligações tt, por exemplo ligações pn-dtt
atmosfera? Como o He é obtido em escala industrial, e
nos fosfatos e oxoácidos do enxofre, bem como no PF3. quais são suas aplicações? Qual é a temperatura de ebulição
do He em °C e em K?
LEITURAS COMPLEMENTARES 2. Qual é a quantidade relativa de argônio presente na
atmosfera terrestre? Como ele é obtido industrialmente e
• Bartlett, N. (1962) Xenon hexafluoroplatinate (V), Xe+ [PtF]", para que é usado?
Proc. Chem. Soc., 218. (Artigo original sobre o primeiro
composto verdadeiro de gás nobre). 3. Explique por que se usa argônio no processo Kroll de
extração do titânio, no processo de soldagem e nos bulbos
• Bartlett, N. (1971) The Chemistry ofthe Noble Gases, Elsevier, das lâmpadas elétricas?
Amsterdam.
4. Como Bartlett interpretou a reação entre Xe e PtF6, e como
• Bartlett, N. e Sladky, F.E. (1973) Comprehensive Inorganic esta reação é interpretada atualmente?
Chemistry, Vol. I (Cap. 6: A química do criptônio, xenônio e
radônio), Pergamon Press, Oxford. 5. a) Esquematize as estruturas do XeF2, XeF4 e XeF6. b) Como
esses compostos podem ser preparados a partir do Xe! c)
• Berecz, E. e Balla-Ach, S.M. (1984) Gas Hydrates (Studies in Escreva as equações balanceadas das reações desses três
Inorganic Chemistry, Vol. 4), Elsevier, Oxford. compostos com a água.
• Cockett, A.H. e Smith, K.C. (1973) Comprehensive Inorganic 6. Como podem ser preparados os compostos XeO3, XeOF4 e
Chemistry, Vol. I (Cap. 5: Os gases monoatômicos: produção Ba2XeO6, e quais são suas estruturas?
e propriedades físicas), Pergamon Press, Oxford.
7. "De certo modo a descoberta dos compostos dos gases
• Hawkins, D.T., Falconer, W.E. e Bartlett, N. (1978) Noble nobres criou mais problemas que soluções”. Discuta essa
Gas Compounds, Plenum Press, London. (Contém referências afirmação focalizando principalmente a questão da
de 1962 a 1976) estabilidade dos níveis eletrônicos preenchidos e a
• Holloway, J.H. (1987) Twenty-five years of noble gas chem­ participação de orbitais d nas ligações formadas pelos
istry, Chemistry in Britain, 23, 658-672. elementos dos blocos s e p.
• Holloway, J.H. e Laycock, D. (1983) Preparations and reac- 8. Sugira motivos que expliquem por que os únicos compostos
tions of inorganic main-group oxide fluorides, Adv. Inorg. binários dos gases nobres são fluoretos e óxidos de Kr, Xe
Chem. Radiochem., 27, 157-195. e Rn.
3B7

u r

0® DCo®®®
328 INTRODUÇÃO AOS ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO

0
0

IIJTnODUÇnO DOS
ELEMEimJS
de Tnnnsiçno
INTRODUÇÃO físicas e químicas em comum. Por exemplo, todos os
elementos de transição são metais. São, portanto, bons
Três séries de elementos são formados pelo
condutores de eletricidade e de calor, apresentam brilho
preenchimento dos níveis eletrônicos 3d, 4d e 5d. Em
conjunto eles constituem os elementos do bloco d e são metálico e são duros, resistentes e dúcteis. Também, for­
comumente denominados “elementos de transição”, pois mam ligas com outros metais.
estão entre os elementos do bloco s e do bloco p. Suas
propriedades são intermediárias, constituindo uma transição ESTADO DE OXIDAÇÃO VARIÁVEL
entre os elementos metálicos altamente reativos do bloco s,
Um dos aspectos mais marcantes dos elementos de tran­
que geralmente formam compostos iônicos, e os elementos
sição é o fato deles poderem existir em diversos estados de
do bloco p, que geralmente formam compostos covalentes.
Nos blocos s e p, os elétrons vão sendo adicionados ao nível oxidação. Além disso, os estados de oxidação variam de
eletrônico mais externo do átomo. Já no bloco d, os elétrons uma em uma unidade, por exemplo Fe3 + e Fe2+, Cu2+ e Cu’.
vão sendo adicionados ao penúltimo nível, expandindo-o Os estados de oxidação apresentados pelos elementos
de 8 para 18 elétrons. Assim, os elementos de transição são de transição podem ser relacionados às suas estruturas
caracterizados pelo fato de possuírem um nível d eletrônicas. Cálcio, o elemento do bloco s que precede o
parcialmente preenchido. Os elementos do grupo 12 (grupo primeiro elemento da primeira série de transição, tem a
do zinco) tem configuração d10 e, devido ao fato do nível d configuração eletrônica:
estar preenchido, os compostos desses elementos apresentam
propriedades diferentes dos demais. Os elementos de Ca 1 s22s22p63s23p64s2
transição constituem três séries completas de dez elementos,
e uma quarta série incompleta. Essa quarta série incompleta Logo, os dez elementos de transição que se seguem ao
será discutida juntamente com os elementos do bloco f. cálcio devem ter de um a dez elétrons d adicionados, de
maneira regular, a essa configuração eletrônica: 3d’, 3d2,
3d3, ....3d10. Isso é verdade, exceto para Cr e Cu. Nesses
CARÁTER METÁLICO dois casos, um dos elétrons s vai para o nível d, por causa
O penúltimo nível eletrônico foi expandido nos elemen­ da maior estabilidade dos orbitais d exatamente semipre-
tos do bloco d. Assim, eles possuem muitas propriedades enchidos ou totalmente preenchidos (vide Tab. 18.2).
Assim, o Sc pode ter um número
Tabela 18 J — Os elementos de transição de oxidação de ( + 11), se ambos os
Grupos elétrons s forem utilizados na ligação,
7 8 9 ou (+ III) se os dois elétrons s e o elétron
3 4 5 6 10 11 12
d estiverem envolvidos nas ligações. 0
Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zu Ti apresenta número de oxidação ( + 11)
Escândio Titânio Vanádio Crômio Manganês Ferro Cobalto Níquel Cobre Zinco quando os dois elétrons s estiverem
Y Zr Nb Mo Te Ru Rh Pd Ag Cd participando da ligação, (+ III) quando
dois elétrons s e um elétron d forem
ítrio Zircônio Nióbio Molibdênio Tecnécio Rutênio Ródio Paládio Prata Cádmio
usados e (+ IV) quando os dois elétrons
La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg s e os dois elétrons d forem usados nas
Lantânio Háfnio Tântalo Tungstênic Rênio Ósmio Iridio Platina Ouro Mercúrio ligações. Analoga-mente, o V pode ser
Ac
encontrado nos estados de oxidação
( + 11), ( + 111), ( + IV) e ( +V). No caso
Actínio do Cr, se o elétron s isolado for utilizado
COMPLEXOS 329

terceira séries nem sempre acompanham


Tabela 18.2 — Estados de oxidação
o mesmo padrão dos elementos da
Fe Ni Cu Zn primeira série. As estruturas eletrônicas
Sc Ti V Cr Mn Co
dos elementos do Grupo 10 (grupo do
Estnitura d1? d 2? d3? d5? d6? d7? d8? d'°? níquel) são:
eletrônica d5? d10?
Ni 3ds 4s2
Estados de i I Pd 4d'° 5s°
oxidação n n U ii n n ii n n n Pt 5d9 6s‘
ui in m in ui m ui m m
IV rv IV IV IV IV IV Dado que um nível completo de
IV v v v v elétrons é um arranjo estável, é impor­
vi vi . vi tante conhecer onde isso ocorre.
vn Os níveis d estão completos no
cobre, no paládio e no ouro, em suas
na ligação, o número de oxidação será (+1). Assim, é possível respectivas séries.
obter o Cr nos estados de oxidação ( + 11), ( + 111), ( + IV),
( + V) e (+ VI) dependendo do número de elétrons d Ni Cu 3d‘° 4s* Zn 3d10 4S2
utilizados para formar as ligações. O Mn pode ser encontrado Pd 4d10 5s° Ag Cd 3d'° 4?
nos estados de oxidação ( + 11), ( + III), ( + IV), ( +V), ( + VI) Pt Au 5d10 6s’ Hg 3d10 4?
e ( +VII). Nesses cinco primeiros elementos de transição, a
correlação entre a estrutura eletrônica e os estados de Embora os átomos de Pd e dos metais Cu, Ag e Au,
oxidação mínimo e máximo dos mesmos em compostos apresentem uma configuração d10 no estado fundamental,
simples é perfeita. No estado de oxidação mais elevado desses eles se comportam como se fossem elementos de transição
cinco elementos, todos os elétrons s e d estão sendo utilizados típicos. Isso ocorre porque nos seus estados de oxidação
nas ligações. Assim, suas propriedades dependem apenas mais comuns, a configuração do Cu(Il) é d9, e do Pd(II) e do
do tamanho e da valência, e consequentemente apresentam Au(III) é d8, isto é, eles apresentam um nível d parcialmente
certas semelhanças com os elementos dos grupos preenchido. Já no caso do zinco, cádmio e mercúrio, os íons
representativos em estados de oxidação semelhantes. Por Zn2+, Cd2+ e Hg2+ apresentam a configuração d10. Por isso,
exemplo, SO42’ (grupo 16) e CrO42" (grupo 6) são esses elementos não possuem as propriedades características
isoestruturais, assim como o SiCl4 (grupo 14) e o TiCl4 (grupo dos elementos de transição.
4).
Após a configuração d5, isto é, nos últimos cinco Estabilidade dos elementos nos diversos estados de
elementos da primeira série, diminui a tendência de todos oxidação
os elétrons d participarem das ligações. Por exemplo, o Os compostos são considerados estáveis quando
número de oxidação máximo do Fe é ( + V1). Contudo, o subsistem à temperatura ambiente, não são oxidados pelo
segundo e o terceiro elementos do Grupo do Ferro atingem ar, não são hidrolisados por vapor d’água e não.sofrem reação
o estado de oxidação (+ VIII) no RuO4 e OsO4. Essa diferença de desproporcionamento ou decomposição a temperaturas
de comportamento entre o Fe e os elementos Ru e Os é normais. Em cada um dos grupos (3 a 12) de metais de
atribuída ao aumento de tamanho. transição, há uma diferença na estabilidade dos elementos
Esses fatos podem ser convenientemente memorizados, nos diferentes estados de oxidação possíveis. Em geral, os
pois os estados de oxidação desses elementos formam uma elementos da segunda e da terceira séries de transição exibem
"pirâmide” regular, como mostrado na Tab. 18.2. Somente o números de coordenação maiores; e os compostos com esses
Sc( + II) e o Co( + V) são casos duvidosos. O número de metais em estados de oxidação mais elevados são mais
oxidação de todos eles no estado elementar é igual a zero. estáveis que os correspondentes compostos com elementos
Além disso, vários desses elementos podem ser encontrados da primeira série no mesmo estado de oxidação. Isso pode
no estado de oxidação zero ou outros estados de oxidação ser observado na Tab. 18.3, onde estão listados os óxidos e
inferiores em complexos. Baixos estados de oxidação haletos conhecidos dos elementos da primeira, segunda e
ocorrem principalmente no caso de complexos com terceira séries de elementos de transição. Os elementos nos
ligantes que formam ligações rt, como o monóxido de estados de oxidação estáveis formam óxidos, fluoretos,
carbono e a bipiridina. cloretos, brometos e iodetos. Os elementos nos estados de
Pirâmides de estados de oxidação similares podem ser oxidação fortemente redutores provavelmente não formam
construídas para os elementos da segunda e terceira séries fluoretos e/ou óxidos, mas podem perfeitamente formar
de elementos de transição. As principais diferenças são as compostos com os haletos mais pesados. Por outro lado, os
seguintes: elementos, em estados de oxidação fortemente oxidantes,
formam óxidos e fluoretos, mas não formam iodetos.
1) No Grupo 8 (grupo do ferro) os elementos da segunda
e terceira séries podem alcançar o estado de oxidação
máximo de ( +VIII), comparado com ( +VI) do ferro. COMPLEXOS
2) As estruturas eletrônicas dos átomos da segunda e Os elementos de transição exibem uma tendência
inigualada de formar compostos de coordenação com bases
330 introdução aos elementos de transiçAo

Tabela 183 — a) óxidos e halctos dos elementos da primeira série de transição


Sc Tí V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn

+n O TiO VOm CrO MnO FeO CoO NiO CuO ZnO


F VF2 CrF2 MnF2 FeF2 CoF2 NiF2 CuF2 ZnF2
Cl TíC12 VC12 CrCl2 MnCI2 FeCI2 CoCI2 NíCI2 CuC12 ZnCl2
Br TiBr2 VBr2 CrBr2 MnBr2 FeBr2 CoBr2 NiBr2 CuBr2 ZnBr2
I Til2 VI2 Crl2 Mnl2 Fel2 Col2 Nil2 Znl2
+m O Sc2O3 Ti2O3 V2O3 Cr2O3 Mn2O3 Fc2O3 (CojOj)" (Ni2O3)h
F ScF3 tíf3 VF3 CrF3 MnF3 FeF3 CoF,
a ScCl3 TÍCIj VC13 CrCl3 FeClj
Br ScBr3 TiBr3 VBr3 CrBr3 FeBr3
I Scl3 Til3 VI3 Crl3
+rv O TíO2 vo2 CrO2 MnO2 (CoO2)h NiO2h
F TíF4 vf4 CrF4 MnF4
Cl TiCU VCU CrCI4s
Br TiBr4 VBr4 CrBr4«
I Til4 CrU
+v O V2O5
F vf5 CrF5
Cl
Br
I
+VI O CrO3
F (CrFd
Cl
Br
1
+V1I O Mn2O7
F
Cl
Br
I
outros Mn3O4 FeO4 Co3O4 Cu2O
compostos CuCI
CuBr
Cul

b) óxidos e haletos dos elementos da segunda série de transição


Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag__ Cd

+n O NbO RhO PdO AgO* CdO


F PdF2 AgF2 CdF2
Cl ZiCl2 [Mo6Cls]Ctf PdCI2 CdCI2
Br ZrBr2? [Mo6Br8]Br4 PdBr2 CdBr2
I Zrl2? [MoUdí Pdl2 Cdl2
+ni O Y2O3 Ru205 Rh2O3 (Pd2O3)h? (Ag2O3)
F yf3 (NbF3)c MoF3 RuF3 RhF3 Pd[PdFJ
Cl yci3 ZrCl3 NbCl3 MoCl™ RuCI3 RhCl3
Br YBr3 ZrBr3 NbBr^ MoBr3 RuBr3 RhBr3
I YIj Zrl3 Nbl3 MoI3 Rulj Rhl3
+IV O ZrO2 NbO2 MoO™ TcO? RuO2 RhO2 (PdO2)h
F ZrF4 NbF4 MoF4 RuF4 RhF4 PdF4
Cl ZrCU NbCl? MoCl” TcCU RuC14
Br ZrBr4 NhErJ1 MoBr4
I ZrL, Nblí* MoU?
+V O Nb2O5 Mo2O5
F NbF5 MoFj TcF5 RuF5 (RhF3)
Cl NbCls MoClj
Br NbBrs
I Nbl5
+VI O MoO3 TcO3 (RuO3)h
F MoF4 TcF4 RuF6 RhF6
Cl (MoC16) (TcClé)?
Br
I
+VII O TC2O7
F
Cl
Br
I
outros NbôFf. RuO4 AgiO
compostos Nbôlú AgF
AgCI
AgBr
Agí
TAMANHO DOS ÁTOMOS E ÍONS 331

Iiixla 183 — c) Óxldos e haletos dos elementos da terceira série de transição


La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg
+n O (TaO) (PtO)11 HgO
F HgF2
Cl HfCl2? W6Clf2 (ReCl2) (IrClj)? PtCl2 HgCI2
Br HfBr2? W6Br,c2 (ReBr2) PtBr2 HgBr2
I WUÍ2 (Rel2) P.I2 Hgl2
+UI O La2O3 RejOS Ir2o5 (Pl2Oj,h? Au2O3
F LaF3 (TaF,)' ItF2 AuF3
Cl LaCl3 HfCl3 TaClj W6C1,C8 Re3Cl| IrClj PtClj? AuC13
Br LaBr3 HfBr3 TaBrS Re3Br$ IrBrj PrBr3? AuBr3
I
Lal’ 3

Hfl3 Re3l9 Irl, Ptl3?
♦IV O HfO2 TaO2 wo? ReO? OsO2 IrOj PtO2
F HfF2 wf4 ReF4 OsF4 1tF4 PtF4
Cl HfCI2 TaCl4 WCI4 ReCl“ OsC14 (IrCL.) PtCI4
Br HfBr2 TaBr? WBr4 ReBr4 OsBr4 PtBr4
I HÍI2 Tal? Wu? Rei, Osl4 Píl4
♦V O Ta2O5 (W2O5) (R^Oj)
F TaF5 WF^ ReFs OsF5 (IrF3) (PtF3)4
Cl TaCls WC13 ReClj OsCl3
Br TaBrs WBr3 ReBr3
1 Tals
♦VI O WO3 ReOj (OsOj? (IrOj) (PtOj)"
F wf6 ReF6 OsFé IrFí PlF6
Cl wcu (ReCU)?
Br WBr6
I
♦VII O Re2O7
F ReF7 (OsF7)
Cl
Br
I
outros OsO4 Pt3O4 Au2O Hg2F?
compostos OsCl3>3 AuCl Hg2CI?
Aul Hg2Br?
Hg2I?

Na Tab. 18.3 os compostos mais estáveis estão indicados em negrito, compostos instáveis estão entre parênteses; h indica óxidos hidratados, g indica que o composto
só ocorre na fase gasosa, m indica ligações metal-metal, c indica compostos tipo “cluster”, x indica um óxido misto e d indica que ocorre desproporcionamento.

de Lewis, isto é, com grupos capazes de doar um par de denominados "receptores da classe b", e correspondem aos
elétrons. Esses grupos são denominados ligantes. Um ligante ácidos "moles”. Os demais metais de transição, e os
pode ser uma molécula neutra como o NH3, ou íons tais elementos mais pesados do bloco p, formam complexos com
como CP ou CN~. O cobalto forma mais complexos que os dois tipos de doadores e são assim de natureza
qualquer outro elemento, e forma mais compostos que "intermediária". Esses elementos estão assinalados por (a/
qualquer outro elemento, exceto o carbono. b) na Tab. 18.4.
Co3 + + 6NH3 -> [Co(NH3)6]3 + A natureza dos compostos de coordenação e a importan­
Fez + + 6CN- -> [Fe(CN)6]4- te teoria do campo cristalino já foram discutidas no Cap. 7.

Essa capacidade de formar complexos contrasta muito


com o fato dos elementos dos blocos sep formarem apenas
alguns poucos complexos. Os elementos de transição têm
TAMANHO DOS ÁTOMOS E ÍONS
elevada tendência de formar complexos, pois formam íons Os raios covalentes dos elementos de transição (Tab.
pequenos de carga elevada, com orbitais vazios de baixa 18.5) decrescem da esquerda para a direita ao longo de uma
energia capazes de receber pares isolados de elétrons doados série de transição, até próximo ao final, onde se observa um
por outros grupos ou ligantes. Complexos em que o metal pequeno aumento de tamanho. Da esquerda para a direita,
está no estado de oxidação (+ III) são geralmente mais prótons e um número correspondente de elétrons são
estáveis que aqueles onde o metal está no estado ( + 11). adicionados ao núcleo e à eletrosfera para gerar os elementos
Alguns íons metálicos formam os complexos mais sucessivos da tabela periódica. Os elétrons blindam de forma
estáveis com ligantes tendo átomos de N, O ou F doadores. incompleta a carga nuclear (elétrons d blindam menos
Nesse grupo estão os elementos dos grupos 1 e 2, a primeira eficientemente que elétrons p, e estes menos eficientemente
metade dos metais da primeira série de transição, os que elétrons s). Por causa dessa blindagem ineficiente, a
lantanídios e os actinídios, e os elementos do bloco p, exceto carga nuclear efetiva aumenta e atrai mais fortemente todos
os mais pesados. Esses metais são denominados "receptores os elétrons, provocando a contração no tamanho.
da classe a" e correspondem aos ácidos "duros" (vide Ácidos Os átomos dos elementos de transição são menores que
e Bases, no Capítulo 8). Já os metais Rh, Ir, Pd, Pt, Ag, Au e dos elementos dos Grupos 1 e 2 do mesmo período. Em
Hg formam os complexos mais estáveis com os elementos parte isso decorre da contração de tamanho normal
mais pesados dos Grupos 15, 16 e 17. Esses metais são observada ao longo de um período, como discutido acima;
(a) 332 INTRODUÇÃO APS ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO

Tabela 18.4 — Receptores de classe a e de classe b

Li Be B C N 0
(a) (a) (a) (a) (a)
Na Mg Al Si P S
(a) (a) (a) (a) (a) (a)
K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se
(a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a/b) (a/b) (a/b) (a/b) (a) (a) (a) (a) (a)
Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te
(a) (a) (a) (a) (a) (a) (a/b) (a/b) (b) (b) (b) (a/b) (a) (a) (a) (a)
Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Po
(a) (a) (a) (a) (a) (a) (a/b) (a/b) (b) (b) (b) (b) (a/b) (a/b) (a/b) (a/b)
Fr Ra Ac
(a) (a) (a)
Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb
(a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a)
Th Pa U Np Pu Am Cm Bk Cf Es Fm Md Mo
(a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a) (a)

fenômeno é conhecido como contração


Tabela 18.S — Raios covalentes dos elementos de transição (Â) lantanídica e será discutida no capitulo
29. A contração lantanídica anula
K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn
1,57 1,74 1,44 1,32 1,22 1,17 quase que exatamente o aumento nor­
1,17 1,17 1,16 1,15 1,17 1,25
mal de tamanho que deveria ocorrer
Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd ao se descer por um grupo de
2,16 1,91 1,62 1,45 1,34 1,29 1,24 1,25 1,28 1,34 1,41 elementos de transição. 0 raio
covalente do Hf e o raio iônico do Hf1’
Cs Ba La ' Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg
2,35 1,98 1,69 1,44 1,34 1,30 1,28 1,26 1,26 1,29 1,34 1,44 são na realidade menores que os
correspondentes valores para o Zr. Os
os 14 elementos lantanídios raios covalente e iônico do Nb são
iguais aos do Ta. Assim, os elementos
e em parte porque os elétrons extras são acomodados no da segunda e terceira séries de transição possuem raios
penúltimo nível d e não no nível mais externo do átomo. semelhantes. Conseqüentemente, exibem energias
Os elementos de transição são classificados em grupos reticulares, de solvatação e de ionização semelhantes. Por
verticais de três elementos (tríades), às vezes de quatro isso, as diferenças observadas nas propriedades dos
elementos, que possuem configurações eletrônicas elementos da primeira série e da segunda séries de transição
semelhante. Ao se descer por um dos grupos representativos são muito maiores que as observadas entre os elementos da
de elementos, ou seja dos blocos s e p, o tamanho dos átomos segunda e da terceira séries. Os efeitos da contração
aumenta por causa da presença de camadas adicionais de lantanídica são menos pronunciadas na parte direita do bloco
elétrons. Os elementos do primeiro grupo do bloco d exibem d. Contudo, o efeito ainda se manifesta, embora em menor
o esperado aumento de tamanho do Sc ->Y —>La. Contudo, grau, nos elementos do bloco p, que sucedem os elementos
nos grupos subseqüentes (grupos 3-12) há um aumento de do bloco d da tabela periódica.
raio de 0,1 -»0,2 A entre o primeiro e o segundo membro,
mas praticamente não há nenhum aumento entre o segundo
e o terceiro elemento. Essa tendência é observada tanto nos
DENSIDADE
raios covalentes (Tab. 18.5) como nos raios iônicos (Tab. Os volumes atômicos dos elementos de transição são
18.6). Entre o lantânio e o háfnio estão os 14 elementos da baixos, quando comparados com os elementos dos Grupos
série dos lantanídeos, nos quais o antepenúltimo nível de 1 e 2 vizinhos. Isso decorre da ineficiente blindagem da carga
elétrons 4fé preenchido. nuclear aumentada, que assim atrai todos os elétrons mais
Há um decréscimo gradual de tamanho nos 14 fortemente. Além disso, os elétrons adicionados ocupam
elementos da série dos lantanídeos, do cério ao lutécio. Esse orbitais internos. Conseqüentemente, as densidades dos
elementos de transição são elevadas. Praticamente todos têm
uma densidade superior a 5 g cm’3 (as únicas exceções são
Tabela 18.6 — O efeito da contração lantanídica sobre os o Sc, 3,0 g cm-3, eoYeoTi,4,5g cm’3). As densidades dos
raios iônicos
demais elementos da segunda série de transição são elevadas,
Ca2* 1,00 Sc3* 0,745 Ti4* 0,605 V3* 0,64 e as dos elementos da terceira série são ainda maiores (vide
Sr2* 1,18 Y3* 0,90 Zr4* 0,72 Nb5* 0,72 Apêndice D). Os dois elementos mais densos são o ósmio
Ba2* 1,35 La3* 11,032 Hf* 0,71 Ta3* 0,72 (22,57 g cm’3) e o irídio (22,61 g cm’3). Para se ter uma
os 14 lantanídios idéia do que isso significa na prática, basta lembrar que
COR 333

uma bola de ósmio ou irídio de 30 cm de diâmetro pesaria na região do visível e UV do espectro é causada por variações
320 kg, ou seja, quase um terço de uma tonelada. na energia eletrônica. Por isso os espectros são freqüente-
mente denominados espectros eletrônicos (essas variações
são acompanhadas por variações muito menores nas energias
PONTOS DE FUSÃO E DE EBULIÇÃO vibracionais e rotacionais). É sempre possível promover um
Os pontos de fusão e de ebulição dos elementos de elétron de um nível energético para outro. Contudo, os saltos
transição geralmente são muito elevados (vide Apêndices B de energia geralmente são tão grandes que a absorção ocorre
e C). Geralmente os elementos de transição fundem a na região do UV. Circunstâncias especiais podem tornar
temperaturas superiores a 1.000 °C. Dez desses elementos possíveis saltos menores na energia eletrônica, que aparecem
fundem acima de 2.000 °C, e três acima de 3.000 °C (Ta como uma absorção na região do visível.
3.000 °C, W 3.410 °C e Re 3.180 °C). Contudo, há algumas
exceções. Os pontos de fusão do La e do Ag são um pouco
menores que 1.000 °C (920 °C e 961 °C, respectivamente). Polarização
Outras exceções dignas de menção são o Zn (420 °C), o Cd NaCl, NaBr e NaI são todos compostos iônicos incolores.
(321 °C) e o Hg, que é um líquido à temperatura ambiente e O AgCl também é incolor. Logo, os íons Cl’, Br’ e 1’ e os
funde a -38 °C. Esses três últimos se comportam de modo íons metálicos Na+ e Ag + são tipicamente incolores.
atípico porque os subníveis d estão completos, e esses elé­ Contudo, AgBr é amarelo pálido e Agí é amarelo. A cor
trons não participam da ligação metálica. Esses elevados decorre da polarização dos haletos pelo íon Ag + . Isso
pontos de fusão contrastam marcadamente com as baixas significa que ele distorce a nuvem eletrônica, aumentando a
temperaturas de fusão dos metais do bloco s Li (181 °C) e contribuição covalente na ligação. A polarizabilidade dos
Cs (29 °C). íons aumenta com o tamanho: assim, o 1’ é o mais polarizado
e o mais colorido. Pela mesma razão Ag2CO3 e Ag3PO4 são
REATIVIDADE DOS METAIS amarelos; e Ag2O e Ag2S são pretos.
i Muitos desses metais são suficientemente eletro­
positivos para reagirem com ácidos inorgânicos, liberando Camada d ou f parcialmente preenchida
H2. Alguns poucos apresentam baixos potenciais de eletrodo A cor pode ter uma causa inteiramente diferente em
padrão e são inertes ou “nobres". A inércia é favorecida por íons com camadas d ou /'incompletas. Essa origem da cor é
elevadas entalpias de sublimação, altas energias de ionização muito importante na maioria dos íons dos metais de
e baixas entalpias de solvatação (vide "ciclo de Born-Haber”, transição.
no Capítulo 6). Os elevados pontos de fusão implicam em Num íon gasoso livre isolado, os cinco orbitais d são
elevados calores de sublimação. Os átomos menores possuem degenerados, isto é, eles são idênticos em termos de energia.
energias de ionização maiores, mas isso é compensado pelas Nas situações reais, o íon está rodeado por moléculas de
elevadas energias de solvatação desses íons pequenos. A
solvente se estiver em solução, por outros ligantes se fizer
tendência a um caráter “nobre” é mais pronunciada nos
parte de um complexo, ou por outros íons se fizer parte de
metais do grupo da platina (Ru, Rh, Pd, Os, Ir, Pt) e no ouro.
um retículo cristalino. Os grupos vizinhos alteram a energia
de alguns orbitais d mais que de outros. Assim, os orbitais d
ENERGIAS DE IONIZAÇÃO não serão mais degenerados, e na situação mais simples
A facilidade com que um elétron pode ser removido do formam dois grupos de orbitais com energias diferentes.
átomo de um metal de transição (isto é, sua energia de Portanto, em íons de metais de transição com um nível d
ionização) é intermediária entre aquelas dos blocos s e p. A parcialmente preenchido, é possível promover elétrons de
primeira energia de ionização varia num amplo intervalo de um nível d para outro nível d de maior energia. Isso
valores, de 541 kJ mol’1 para o lantânio até 1.007 kJ mol’1 corresponde a uma diferença de energia relativamente
para o mercúrio, comparáveis com as do lítio e do carbono, pequena, e a absorção ocorre na região do visível. A cor de
respectivamente. Isso sugere que os elementos de transição um complexo de metal de transição depende da magnitude
são menos eletropositivos que os metais dos Grupos 1 e 2, da diferença de energia entre os dois níveis d. Isso, por sua
podendo formar ligações iônicas ou covalentes, dependendo vez, depende da natureza do ligante e do tipo de complexo
das condições. Geralmente, os estados de oxidação mais formado. Por exemplo, o complexo octaédrico [Ni(NH3)6]2 +
baixos são iônicos e os mais elevados são covalentes. Os é azul, [Ni(H2O6)]2+ é verde e o [Ni(NO2)6]4’ é castanho
elementos da primeira série de transição formam um número avermelhado. A cor varia em função do ligante coordenado.
maior de compostos iônicos que os elementos da segunda e A cor também depende do número de ligantes e da geometria
da terceira séries. do complexo formado.
A origem da cor nos lantanídios e nos actinídios é muito
COR semelhante, e decorrem de transições f—>f. No caso dos
Muitos compostos iônicos e covalentes dos elementos lantanídeos, os orbitais 4f situam-se bem no interior do átomo
de transição são coloridos. Em contraste, os compostos dos e são muito bem protegidos pelos elétrons 5s e 5p. Os elétrons
elementos dos blocos s e p são invariavelmente brancos. fpraticamente não são afetados pela formação de complexos:
Quando a luz atravessa um certo material, ela perde aqueles portanto a cor permanece praticamente constante para um
comprimentos de onda que são absorvidos. Se a absorção dado íon, qualquer que seja o ligante. As bandas de absorção
ocorrer na região visível do espectro, a luz transmitida tem também são muito estreitas.
a cor complementar da cor que foi absorvida. A absorção Alguns dos compostos dos metais de transição são
334 INTRODUÇÃO AD5 ELEMENTOS DE TRAN5IÇAD

brancos, por exemplo o ZnSO4 e o TiO2. Nesses compostos aumenta muito quando isso ocorre, quando comparada com
não é possível promover os elétrons de um nível d para a situação em que os momentos magnéticos nâo estão
outro. O Zn2 + possui configuração d10 e o nível d está acoplados. O alinhamento ocorre quando os materiais são
completo. O Ti4 + tem configuração d° e o nível d está vazio. magnetizados, sendo que Fe, Co e Ni podem gerar ímãs
Todos os íons da série Sc( + III), Ti( + IV), V( + V), Cr( + VI) permanentes. Propriedades ferromagnéticas foram
e Mn( + Vll), possuem um nível d vazio. Logo, não há observadas em diversos metais de transição e seus
nenhuma possibilidade de ocorrer transições d-d e os íons compostos. Também é possível se ter propriedades
em questão deveríam ser incolores. Contudo, à medida que antiferromagnéticas, por meio do emparelhamento dos
o número de oxidação aumenta, os íons se tornam cada vez momentos magnéticos de átomos adjacentes em sentidos
mais covalentes. Assim, em vez de formarem íons simples opostos. Isso leva a um momento magnético inferior ao
com carga elevada eles formam os oxo-íons: TiO2 + , VO2 + , esperado para um conjunto de íons independentes. O
VO43’, CrO42’ e MnO4‘. O VO2+ é amarelo pálido, mas o antiferromagnetismo ocorre em diversos sais simples de Fe3’,
CrO42’ é amarelo intenso e o MnO4‘ apresenta uma intensa Mn2* e Gd3 + . Como o ferromagnetismo e o antiferromag-
coloração púrpura em solução, embora o sólido seja quase netismo dependem da orientação, eles desaparecem em
preto. Nesses casos, as cores decorrem de transições de solução.
transferência de carga. No MnO4“ um elétron é transferido Muitos compostos dos elementos de transição são
momentaneamente do O para o metal, convertendo O2- em paramagnéticos, pois contêm níveis eletrônicos parcialmente
O' e diminuindo o estado de oxidação do metal de Mn(VII) preenchidos. O número de elétrons desemparelhados pode
para Mn(VI). A transferência de carga ocorre mais ser calculado medindo-se o momento magnético. A
efetivamente quando os níveis energéticos dos dois átomos magnetoquímica dos elementos de transição fornece
são razoavelmente próximos. A transição de transferência subsídios para se saber se os elétrons d estão ou não
de carga sempre dá origem a cores intensas, visto que as emparelhados. Essas medidas são de grande importância
restrições da regra de Laporte não se aplicam às transições para se distinguir se um dado complexo octaédrico é de spin
entre átomos. alto ou de spin baixo.
Os elementos dos blocos s e p não possuem um nível d Há dois métodos comumente utilizados para se medir
parcialmente preenchido e não podem ter transições d-d. A a susceptibilidade magnética: os métodos de Faraday e de
energia necessária para promover um elétron s ou p para Gouy. O método de Faraday é útil para se fazer medidas
um nível energético mais elevado é muito maior e com monocristais muito pequenos, mas existem dificuldades
corresponde à absorção de luz ultravioleta. Por isso, seus de ordem prática pois as forças envolvidas são muito
compostos nâo são coloridos. pequenas. O método de Gouy é mais freqüentemente
utilizado. Nesse método a amostra pode estar na forma de
PROPRIEDADES MAGNÉTICAS um longo bastão do material, ou em solução, ou o matenal
pulverizado pode estar empacotado dentro de um tubo de
Quando uma substância é colocada num campo
vidro. Uma das extremidades da amostra é colocada num
magnético de intensidade H, a intensidade do campo
campo magnético uniforme e a outra num campo muito fraco
magnético dentro da substância poderá ser maior ou menor
ou nulo. As forças envolvidas são muito maiores e podem
que H.
ser medidas com o auxílio de uma balança analítica
Se o campo dentro da substância for maior que H, a modificada.
substância é paramagnética. É mais fácil para as linhas de
A susceptibilidade por volume de um composto
força magnéticas percorrerem um material paramagnético
pode ser medido utilizando uma balança magnética (balança
que o vácuo. Assim, os materiais paramagnéticos atraem as
de Gouy). & é uma grandeza adimensional, mas pode ser
linhas de força e se tiver liberdade para mover-se, um mate­
convertida facilmente na susceptibilidade molar, Xm, cuja
rial paramagnético se deslocará de uma região de campo
unidade é m3 mol'1.0 momento magnético, p, do composto
mais fraco para uma região de campo mais forte. O
pode ser calculado a partir desse valor, desde que as
paramagnetismo decorre da presença de spins de elétrons
pequenas contribuições diamagnéticas sejam ignoradas:
desemparelhados no átomo.
Se o campo dentro da substância for menor que H, a 3kTZM
substância é diamagnética. Substâncias diamagnéticas
n2 =
N°Po
tendem a repelir as linhas de força. É mais difícil para as onde k é a constante de Boltzman (1,3805 x 10'23 J K'1),
linhas de força magnéticas atravessarem um material
diamagnético que o vácuo, e esses materiais tendem a se p0 é a permeabilidade do vácuo (4tr x 10'7 H m'1) e
deslocar de uma região de campo magnético mais forte para T é a temperatura absoluta e N° o número de Avogra-
uma região de campo mais fraco. Em compostos dro.
diamagnéticos todos os spins eletrônicos estão emparelhados. Assim, a unidade de p no sistema SI é J T’1, e
O efeito paramagnético é muito maior que o efeito
diamagnético. p = 7{3k)/(N°p0)-A&r
Deve-se frisar que Fe, Co e Ni são materiais É conveniente exprimir o momento magnético p em função
ferromagnéticos. O ferromagnetismo pode ser considerado
do magneton de Bohr, pB
um caso particular de paramagnetismo no qual os momentos
magnéticos de átomos individuais se alinham e apontam eh
pB=------- = 9,273 x10‘24JT'‘
todos para uma mesma direção. A susceptibilidade magnética 4ttme
PROPRIEDADES MAGNÉTICAS 335

Medidas de momento magnético

b- Balança analítica
Vejamos como os valores de p são obtidos. Inicialmente,
Xm deve ser determinado experimentalmente. Um tubo da
amostra, que deve ter pequeno diâmetro e um fundo chato,
- com um prato é enchido com a amostra até a marca de calibração. A
removido
amostra pode ser um sólido finamente dividido ou uma
solução. A área da seção transversal do tubo é a. O peso do
...... tubo com a amostra é determinado pelo procedimento usual.
e. ,... ,i Em seguida o peso aparente é determinado, pesando-se o
tubo com a amostra na presença de um campo magnético
forte, de intensidade H. Uma diferença de peso é observada.
Se g for a aceleração da gravidade, então a força F que atua
sobre a amostra é dada por:
F = Amg (18.2)
Tubo contendo a amostra
Se Xi for a susceptibilidade por volume da amostra e a
susceptibilidade por volume do ar, temos que

X — Eletroímã
F = '/aíXi -XzHwH2 (18.3)

Combinando as equações (18.2) e (18.3) temos que

àm g = ‘/ríXi-xJ a-Ho H2
logo
2ámg
Figura 18.1 — Diagrama de uma balança megnética de Gouy Xi = Xi +
apoH2
onde e é a carga do elétron, h a constante de Planck e me a
Queremos calcular, Xi, a susceptibilidade por volume
massa do elétron.
da amostra. A susceptibilidade por volume do ar, Xz. é
Assim, o momento magnético em magnetons de Bohr conhecida (0,364 x 1CF12), mas a intensidade do campo H e
é dado por: a área da seção transversal a não são conhecidas. Por isso,
efetuamos a mesma experiência acima descrita com um
X= constante -^Zm t (18.1) padrão, cuja susceptibilidade magnética é conhecida com
Ub exatidão. Isso nos permite calibrar o aparelho, ou seja,
onde calcular o valor da constante a-H1. O complexo tetratio-
cianocobaltatato(II) de mercúrio(II), Hg[Co(NCS)4], é
constante = ^(3k)/(N°p0) /Bb = 797>5 i3'2 molI/2 K1/2. freqüentemente utilizado como padrão sólido (x.m = 206,6
O momento magnético p de um metal de transição pode x 10-12 m3 mol’1 a 293 K). Após calibrar o aparelho, o mesmo
fornecer informações importantes sobre o número de elétrons tubo preenchido com a amostra desconhecida até a mesma
desemparelhados presentes no átomo e os orbitais que eles marca e o mesmo campo magnético devem ser utilizados
ocupam. Além disso, pode conter informações sobre a para se medir a diferença de peso do composto desconhecido.
estrutura da molécula ou do complexo. Se o momento Pode-se obter assim a susceptibilidade por volume, Xi, desse
magnético for devido exclusivamente ao spin dos elétrons composto. Esse valor pode ser facilmente convertido na
desemparelhados, m, então temos que susceptibilidade molar, Xm. do composto, com a ajuda da
equação:
ps = J4S(S +1) • pB
_ Z, ■ M _ M 2Am -g
onde S é o número quântico de spin total. Essa expressão for­ Zm D ~ D .a-Uo-H2
nece o momento magnético em unidade SI, ou seja, J T"1,
sendo o momento magnético em magnetons de Bohr dado onde M é a massa molecular do composto e D sua densidade.
por 'l(4S(S+1). Essa equação está relacionada ao número
Materiais diamagnéticos não possuem elétrons desem-
de elétrons desemparelhados, n, pela expressão:
parelhados, tendo momento magnético p = 0. O campo
ps = 7n(n + 2) -pB magnético externo induz um pequeno momento magnético
que se opõe ao campo externo. Logo, os materiais
0 objetivo do experimento é determinar a susceptibi­ diamagnéticos repelem as linhas de força e observa-se um
lidade por volume, x, determinando-se a massa da amostra pequeno decréscimo no peso. Em contraste, o
dentro e fora do campo magnético. A partir desse dado pode paramagnetismo decorre da presença de um ou mais elétrons
se calcular a susceptibilidade molar, Xm> 0 momento desemparelhados no composto. Os materiais paramagnéticos
magnético, p, o número quântico de spin total, S, e even­ atraem as linhas de força e sofrem um aumento no peso,
tualmente n, o número de elétrons responsáveis pelo para­ pois a amostra é puxada para baixo, ou seja para o espaço
magnetismo. entre os pólos da balança magnética (vide Fig. 18.1). Para
336 INTRODUÇÃO APS ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO

Tabela 18.7 — Algumas correções diamagnéticas (contantes Tabela 18.9 — Momentos magnéticos de alguns complexos
de Pascal) (todos os valores devem ser multiplicados por da primeira série de transição
10’“. As unidades são m3 mol-1)
íon Número de Momento Momento
elétrons magnético magnético
nh; -167 OH“ -151 H -36 +30 de spin calculado
desemparelhados experimental
Li* -12 o2- -151 C -75 +105 (magnetons) p, (magnetons)
Na* -85 F -114 C (aromático) -79 +81
K* -187 cr -294 N -70 N=N +23 Ti3* 1 1.7- 1,8 1,73
Rb* -269 Br“ -435 N (aromático) -59 N=O +22 2,83
V3* 2 2.8- 3,1
Cs* -422 r -636 P(+V) -331 C=C + 10 Cr3* 3 3.7- 3,9 3,87
Mg2* -63 COj- -370 O éter/ROH -58 C—N +10 4,90
Cr2*, Mn3* 4 4.8- 4,9
Ca2* -131 NO) -126 O, (emCOOH) -42 5,92
Mn2*, Fe3* 5 5,7-6,0
Cr2* -188 NO, -326 S -189 Fe2* 4,90
4 5,0-5,6
Cr3* -138 sot -478 F -79 Co2* 3 4,3-5,2 3,87
Mn2* -176 SO5- -503 Cl -253 2,83
Ni2* 2 2.9- 3,9
Mn3* -126 BFJ -490 Br -395 1,73
Cu2* 1 1.9- 2,1
Fe2* -161 CN‘ -163 I -561
Fe3* -126 CNO- -264 acetato -402
Co2* -161 CNS“ -390 oxalato -427 O elétron desemparelhado dá origem a um campo
Co3* -126 CIO5 -380 etilenodiamina -578 magnético por causa de seu spin, e também por causa de
Ni2* -161 CIO4 -402 NH, -226 seu momento angular orbital. A equação geral para os
Cu2* -161 H2O -163 dipiridina -1.319 momentos magnéticos dos íons dos metais de transição da
Zn2* -189 PPh, -2.098 primeira série é:

um complexo de um metal de transição, a variação de peso p(S + L) = -J4S{S +1) + L(L +1) • gB
medida com a balança de Gouy é a soma dos efeitos do íon
metálico paramagnético e dos ligantes e íons diamagnéticos onde S é a soma dos números quânticos de spin e L é a
presentes. Assim, o valor de %M obtido a partir dessa variação resultante dos momentos angulares orbitais de todos os
de peso é o magnetismo total, ou seja a soma Xparamagnético elétrons da molécula (vide no Capítulo 32, "Acoplamento
+ Xdiamagnético- Dado que desejamos determinar o paramag- dos momentos angulares orbitais e de spin”). Para um
netismo do íon metálico, devemos introduzir uma correção elétron, o número quântico de spin pode ser igual a +1/2
para compensar o diamagnetismo. A maneira mais simples ou -1/2; portanto, S = ms.n, onde n é o número de elétrons
de se calcular o valor da correção diamagnética, Xdiamagnético. desemparelhados.
é somando-se as correções diamagnéticas (denominadas Em muitos compostos dos elementos da primeira série
constantes de Pascal) dos átomos e íons da molécula, e as de transição, a contribuição orbital é "anulada” pelos cam­
contribuições devido as ligações múltiplas. Esses dados são pos elétricos dos átomos vizinhos. Numa aproximação
conhecidos (Tab. 18.7). razoável, as contribuições orbitais podem ser ignoradas e o
Xdiamagnético ~ ^-/(correção dos átomos) + —Xfligações múltiplas) momento magnético observado pode ser considerado como
sendo exclusivamente decorrente dos spins dos elétrons
Assim, pode-se calcular o valor de Xparamagnético como se desemparelhados. Esse momento magnético de “spin-only".
segue: Ps, pode ser escrito como:
Xparamagnético Xmedido ~~ Xdiamagnético
ps = ^45(8 + 1) pB
Finalmente o valor de Xparamagnético pode ser convertido
no momento magnético do íon metálico em magnetons de O momento magnético p (medido em magnetons de
Bohr, usando a equação 18.1: Bohr, BM) está relacionado ao número de "spins” desem­
parelhados, pela equação:
y- = 797,57 ZmT ps = -Jn(n + 2) • pB
P-B
Os resultados de momentos magnéticos de "spin-only”
Tabela 18.8 — Momentos magnéticos de spin para estão mostrados na Tab. 18.8. Os resultados obtidos usando
diferentes números de elétrons desemparelhados a equação dos momentos magnéticos de spin-only estão em
boa concordância com os fatos experimentais, no caso de
Número n de Momento Número muitos complexos de spin alto de metais da primeira série
elétrons magnético quântico total
de spin S de transição, como mostrado na Tab. 18.9.
desemparelhados (magnetons) g,

1 1,73 1/2 Um exemplo


2 2,83 2/2=1
A metodologia descrita acima é melhor explicada por
3 3,87 3/2
um exemplo. Medidas magnéticas de uma amostra de
4 4,90 4/2 = 2
CuSO4 • 5H2O, a 293 K, usando uma balança de Gouy, levaram
5 5,92 5/2
a um valor de = 1,70 x 10-4. A massa molecular é igual a
PROPRIEDADES MAGNÉTICAS 337

250,18g, ou seja, a massa molar M é igual a 0,250 kg mol'1. (tagTíeg)|00 Uag)2^I»0 ('2g)4(eg)|22 (r2g)SCeg)2
A densidade D é igual a 2,29 g cm'3 = 2,29 x 103 kg m'3. O
valor de Xm (sem a correção para compensar os efeitos O Co2* tem configuração (t2g)s(eg)2: portanto o valor
diamagnéticos) é: elevado de p se deve à contribuição orbital. Analogamente
existe uma contribuição no caso de complexos tetraédricos
ZM = L70xl0"x0 250 kgmol--=1858xl(). com as seguintes configurações:
mol-1 m3
2,29 X103 kg m’3
(e)2(tj‘ (e)2(tj2 (e)4(t2)4 (e)4(t2)5
A correção diamagnética pode ser obtida somando-se
Nos elementos da segunda e terceira séries de transição,
as contribuições de cada um dos íons e das moléculas
e particularmente nos lantanídeos (onde os elétrons
constituintes, utilizando os dados da Tab. 18.7:
desemparelhados ocupam orbitais 4f), o movimento orbital
Cu2 + -161 x 10'12 não é impedido ou suprimido. Por isso, as contribuições
soj- -503 x 10'12 orbitais, L, devem ser incluídas nos cálculos. Em alguns casos
5H2O 5 x (-163 x IO’12) = -815 x 10'12 ocorre o acoplamento entre as contribuições de spin, S, e
orbital, L (acoplamento spin-órbita, ou acoplamento de
Xdiamagnético -1479 X 10 Russel-Saunders), dando origem a um novo número
ou -0.148 x 10'8 quântico, J. Nesse caso é necessário usar uma expressão
0 valor corrigido de %M é, portanto: mais complicada, que será descrita no capítulo 29. Assim,
temos que:
(1,856 + 0,148) x IO'8 mol'1 m3 = 2,004 x 10'8 mol'1 m>3;

Utilizando a equação (18.1), podemos calcular o


onde
momento magnético verdadeiro do composto, em magne­
tons de Bohr: a , S(S + 1)-L(L + 1) + J(J + 1)
g = 1+-------- UÜTÜ----------
= 795,572,004 x 10 x 293 Rearranjando, temos que
Pb
S(S +1) - L(L +1)
= 1,93 manetons Bohr
2J(J +1)
Supondo-se que a expressão para o momento magnético de
Usando essa equação, a concordância entre os
spin-only seja válida
momentos magnéticos observado e calculado para os
p = 7n(n + 2)pB lantanídios trivalentes é bastante satisfatória. Veja maiores
Sen = 1 detalhes no capítulo 29.0 acoplamento spin-órbita dá origem
à estrutura fina dos espectros de absorção, pois desdobra os
p = 71(1 + 2) ■ pB = 1,73MB níveis degenerados de menor energia gerando vários níveis
de energia diferentes. Esses níveis podem ser populados
Portanto, 0 Cu2+ no CuSO4.5H2O possui um elétron termicamente, dando origem a um momento magnético
desemparelhado. dependente da temperatura.
A concordância no caso dos complexos dos metais da Pierre Curie verificou que a susceptibilidade magnética,
primeira série de transição, apresentados na Tab. 18.9, %M, medida para materiais paramagnéticos varia com a
geralmente é satisfatória. Mas, em alguns casos, por exemplo temperatura. Ele estabeleceu a lei de Curie, que estabelece
Co2*, 0 valor observado de p é maior que o calculado pela que a susceptibilidade paramagnética, xM> varia inversamen-
fórmula do momento magnético de spin-only. Isso sugere te em função da temperatura absoluta, ou seja
que há uma contribuição magnética orbital significativa. Para
haver um momento angular orbital diferente de zero, deve C
ser possível transformar um orbital em outro orbital equiva­
lente (degenerado) por rotação. É possível transformar os . onde C é a constante característica da substância em questão,
orbitais t2g (dxy, dxz e dyz) um nos outros por meio de uma denominada constante de Curie. Assim, o campo magnético
rotação de 90°. Não é possível transformar os orbitais eg da tende a alinhar os momentos dos átomos e íons
mesma maneira (por exemplo, o orbital dx2_y2 no orbital d2z), paramagnéticos, e a agitação térmica tende a torná-los
dado que eles têm formas diferentes. Se os orbitais í2g aleatoriamente orientados. Aplicando-se um tratamento
estiverem todos ocupados com um elétron, então não será estatístico:
possível transformar o orbital dxy no orbital d^ ou no or­
bital dyz, pois estes já contêm um elétron com o mesmo po(N°p2)/(3k)
spin. De modo semelhante não será possível transformar os XM rj*
orbitais t2g se todos eles tiverem dois elétrons. Desse modo,
com exceção das configurações (t2g)3 e (t2g)6, todas as demais O momento magnético, em magnetons de Bohr, é dado por:
configurações apresentam contribuições orbitais ao momento
magnético. Logo, em complexos octaédricos as seguintes
configurações apresentam contribuição orbital diferente de -^- = 7(3k/N°)/pB JZm -T
zero: Mb
338 INTRODUÇÃO AOS ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO

logo
Tabela 18.10 — Metaloenzimas e metaloproteínas (estas
i = 797,5 J/m-T últimas entre parênteses)
Pb Metal Enzima/metaloproteína Função biológica
A lei de Curie é obedecida com grande exatidão por Mo Xantina-oxidase Metabolismo das purinas
alguns sistemas, como o [FeF6]3’. Contudo, muitos materiais Nilrato-redulase Utilização dos nitratos
paramagnéticos se desviam um pouco desse comportamento Mn" Arginase Formação de uréia
ideal, e obedecem à lei de Curie-Weiss: Fosfotranferase Adição ou remoção de POt
Fe" ou Fe1" Aldeído-oxidase Oxidação de aldeídos
C e |1 = 797,5-7zm'(7' + 0)HB Catalase Decomposição de H2O2
Xm ~ T + e Peroxidase Decomposição de H202
Citocromos Tranferência de elétrons
(0 é a constante de Weiss; um valor empírico). Fotossíntese
Ferrodoxima
(Hemoglobina) Transporte de 02 nos animais
PROPRIEDADES CATALÍTICAS superiores
Desidrogenase succínica Oxidação aeróbica de caibo-
Muitos metais de transição e seus compostos
idratos
apresentam propriedades catalíticas. Algumas das mais
Fe e Mo Nitrogenase Fixação de nitrogênio
importantes estão listadas abaixo:
Co Glutamato mutase Metabolismo de aminoácidos
TiCl3 Usado como catalisador de Ziegler-Natta na Ribonucleotídeo-redulase Biossíntese do DNA
Cu1 e Cu" Amino-oxidases Oxidação de aminas
fabricação de polietileno.
Ascorbato-oxidase Oxidação de ácido ascórbico
V2O5 Converte SO2 em SO3 no processo de fabricação Citocromo-oxidase Principal oxidase terminal
de H2SO4. Galactose-oxidase Oxidação da galactose
MnO2 Usado como catalisador na reação decomposição Lisina-oxidase Elasticidade das paredes da
de KC1O3 a O2. aorta
Dopamina-hidroxilase Produção de noradrenalina
Fe O ferro ativado é usado no processo Haber-Bosch
necessária para gerar im­
de fabricação de NH3.
pulsos nervosos no cérebro
FeCl3 Usado na fabricação de CC14 a partir de CS2 e Cl2. Tirosinase Pigmentação da pele
FeSO4 Ceruloplasmina Utilização do Fe
(Hemocianina) Transporte de 02 em
eH2O2 Usados como reagentes de Fenton para oxidar
invertebrados
álcoois a aldeídos.
Plastocianina Fotossíntese
PdCl2 Processo Wacker para conversão de Zn" Álcool-desidrogenase Metabolismo do álcool
C2H4 + H2O + PdCl2 a CHjCHO + 2HC1 + Pd. Fosfalase alcalina Liberação de POj"
Pd Usado em reações de hidrogenação (por exemplo, Anidrase carbônica Regulação do pH e formação
de fenol a ciclohexanona). deCO2
Carboxipeptidase Digestão de proteínas
Pt/PtO Catalisador de Adams, usado em reduções.
Pt Foi usado na conversão SO2 a SO3 no processo de
compostos intermediários instáveis, devido à sua valência
contato de fabricação de H2SO4.
variável. Em outros casos o metal de transição fornece uma
Pt Encontra uso crescente em conversores de três superfície adequada para que uma dada reação ocorra.
estágios para gases de escape de automóveis.
Enzimas são catalisadores que aumentam as velocidades
Pt/Rh Foi usado no Processo Ostwald de fabricação do de reações específicas. Elas são proteínas e são produzidas
HNO3, para oxidar NH3 a NO. pelas células de organismos vivos, a partir de aminoácidos.
Cu É usado no processo direto de fabricação de Elas atuam em condições amenas e freqüentemente levam
(CH3)2SiCl2, empregado na fabricação de silicones. a rendimentos de 100%, aumentando a velocidade de uma
Cu/V Oxidação de misturas ciclohexanol/ciclohexanona reação de 106 a 1012 vezes. Algumas enzimas requerem a
a ácido adípico, usado na fabricação de náilon. presença de íons metálicos como co-fatores e por isso são
denominadas metaloenzimas. Muitas (mas não todas)
CuCl2 Processo Deacon de fabricação de Cl2 a partir de
metaloenzimas contêm um metal de transição. Algumas das
HC1.
metaloenzimas e suas respectivas funções estão listadas na
Ni Níquel de Raney, usado em vários processos de Tab. 18.10.
redução (por exemplo, fabricação de
hexametilenodiamina, redução da antraquinona a
antraquinol na fabricação de H2O2). NÃO-ESTEQUIOMETRIA
Comple­ Síntese de Reppe (polimerização de alcinos, por Uma outra característica dos elementos de transição é
xos de Ni exemplo na obtenção de benzeno ou a possibilidade de formação de compostos não-
ciclooctatetraeno). estequiométricos. Trata-se de compostos de estrutura e
composição indefinidas. Por exemplo, o composto óxidode
Em alguns casos, os metais de transição podem formar ferro (11), FeO, deve ser escrito com uma barra sobre a fórmula
DIFERENÇAS ENTRE A PRIMEIRA SÉRIE E AS OUTRAS DUAS SÉRIES DE TRANSIÇAD 339

Cr2(CH3COO)4(H20)2, e no dimetilglioximatoníquel(II)
Tabela 18.11 — Abundância dos elementos de transição na
crosta terrestre, em ppm de massa sólido.
Os elementos da segunda e terceira séries formam, mui­
Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn to mais freqüentemente, compostos com ligações M-M i
25 6320 136 122 1060 60000 29 99 68 76 D Eles formam carbonil-complexos com ligações M-M,
Y Zr Nb Mo Tc
Tc Ru Rh Pd Ag Cd semelhantes aos formados pelos elementos da primeira
31 162 20 1,2 - 0,0001 0,0001 0,015 0,08 0,16 série, tais como Ru3(CO)12, Os3(CO)12, Rh4(CO)12,
Ir4(CO)12. Também formam um tipo de carbonil-
La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg complexo não observado no caso dos elementos da
35 2,8 1,7 1,2 0,0007 0,005 0,001 0,01 0,004 0,08
primeira série como o Rh6(CO)16.
FeO, para indicar que a proporção de átomos de Fe e de O 2) Os metais Mo, Ru e Rh formam complexos binucleares
não é exatamente 1:1. Os resultados de análises realizadas com carboxilatos, como o Mo2(CH3COO)4(H2O)2, que
indicaram que a fórmula desse composto varia de Fe0,94O a é similar ao acetato de cromo(Il).
Fe084O. Vanádio e selênio formam uma série de compostos 3) Os complexos [Re2Cla]2" e [Mo2C19]3~ também possuem
cujas composições variam de VSe0,9s a VSe2. A esses ligações M-M.
compostos são atribuídas as fórmulas: 4) Os haletos inferiores de diversos elementos são
constituídos de aglomerados de três ou seis átomos de
VSe (VSe0 98 —» VSe12)
metal ligados entre si, formando compostos denomi­
V2Se, (VSeu -a VSe, 6) nados “clusters" (agregados). Esses elementos são:
(VSeu -> VSe2) Nb Mo
Ta W Re
A não-estequiometria é observada particularmente em
compostos dos metais de transição com elementos do Grupo [Nb6Cl12]2* e [Ta6Cl12]2 + apresentam estruturas pouco
16 (0, S, Se, Te). Essa tendência se deve principalmente à comuns. Ambos contêm seis átomos do metal dispostos nos
valência variável dos elementos de transição. Por exemplo, vértices de um octaedro, com doze átomos de halogênio em
o cobre é precipitado de uma solução contendo Cu2+ pela ponte entre os vértices. Há fortes ligações M-M entre os
passagem de H2S. O sulfeto é completamente insolúvel, mas átomos do metal no octaedro. Os assim chamados “dihaletos”
não é usado como um método gravimétrico de determinação de Mo e W são na realidade Mo6C112 e W6Br12, que contêm
de cobre, pois o precipitado é uma mistura de CuS e Cu2S. o íon [MjXg]4'1’. Este também apresenta uma estrutura
Às vezes, a não-estequiometria é provocada por defeitos na notável. Seis átomos do metal se encontram nos vértices de
estrutura dos sólidos. um octaedro formando um "cluster", enquanto oito átomos
de halogênio, localizados acima de cada uma das oito faces
do octaedro, se ligam a três átomos do metal. O ReCl3 é na
ABUNDÂNCIA verdade o trímero Re3Cl9. Este é constituído por um triângulo
Três dos metais de transição são muito abundantes na de três átomos de Re com três átomos de halogênio em ponte
crosta terrestre. Fe é o quarto elemento mais abundante em entre os três vértices, e seis halogênios em ponte com outras
peso, Ti o nono e o Mn o décimo-segundo. Os elementos da unidades Re3CI9.
primeira série de transição geralmente seguem a regra de
Harkins, ou seja, elementos com números atômicos pares
Estabilidade dos estados de oxidação
são geralmente mais abundantes que seus vizinhos com
números atômicos ímpares. O manganês é uma exceção. Os Os estados de oxidação (+ II) e (+ III) são importantes
elementos da segunda e terceira séries são muito menos para todos os elementos da primeira série de transição. íons
abundantes que os da primeira série. O Tc não existe na simples M2+ e M3 + são comumente formados pelos
natureza. Dos últimos seis elementos da segunda e terceira elementos da primeira série, mas são menos importantes no
séries (Tc, Ru, Rh, Pd, Ag, Cd, Re, Os, Ir, Pt, Au, Hg) nenhum caso dos elementos da segunda e terceira séries, que for­
ocorre em concentrações superiores a 0,16 partes por milhão mam alguns poucos compostos iônicos. Analogamente, os
(ppm) na crosta terrestre. elementos da primeira série formam um grande número de
complexos extremamente estáveis, tais como [Cr^ClJ3- e
[Coln(NH3)6]3 + . Não se conhecem complexos equivalentes
DIFERENÇAS ENTRE A PRIMEIRA SÉRIE E de Mo, W, Rh ou Ir.
AS OUTRAS DUAS SÉRIES DE TRANSIÇÃO No caso dos elementos da segunda e terceira séries, os
Ligação metal-metal e formação de “clusters” estados de oxidação mais elevados são mais importantes e
Ligações metal-metal (M-M) ocorrem não apenas nos muito mais estáveis que na primeira série de elementos de
metais mas também .em alguns dos seus compostos. Os transição. Por exemplo, o íon cromato, [CrO4]2’, é um forte
elementos da primeira série de transição raramente formam agente oxidante, mas o molibdato, [MoO4]2~, e o tungstato,
compostos contendo ligações M-M. Isso ocorre somente no [WO4]2’, são estáveis. Analogamente, o íon permanganato,
caso de alguns poucos carbonil-derivados, como por exemplo [MnO4F, é um forte agente oxidante, mas os íons pertecnato,
Mn2(CO)10, Fe2(CO)9, Co2(CO)8, Fe3(CO)12 e Co4(CO)12, e [TcO4]_, e perrenato, [ReO4)~, são estáveis.
em carboxilato-complexos como o acetato de cromo(II), Em alguns compostos, os elementos se encontram em
340 INTRODUÇÃO AOS ELEMENTOS DE TRAN5IÇÂ0

estados de oxidação elevados, não observados no caso de propriedades paramagnéticas dependentes da temperatura.
elementos da primeira série, como por exemplo nos Isso é explicado pelo acoplamento spin-órbita, que remove
compostos WC16, ReF7, RuO4, OsO4 e PtF6. a degenerescência do nível de menor energia, do estado fun­
damental.
Complexos
O número de coordenação 6 é comum entre os Abundância
elementos de transição, gerando compostos com estrutura Os dez elementos da primeira série de transição são
octaédrica. O número de coordenação 4 é muito menos razoavelmente abundantes e constituem 6,79% da crosta
comum, formando complexos tetraédricos e quadrado- terrestre. Os demais elementos de transição são quase todos
planares. Números de coordenação 7 e 8 são raros no caso muitos raros. Embora a abundância do Zr seja de 162 ppm,
dos elementos da primeira série de transição, mas são muito do La de 31 ppm, do Y de 31 ppm e do Nb de 20 ppm, todos
mais comuns nos primeiros membros da segunda e terceira os 20 elementos da segunda e terceira séries de elementos
séries. Assim, no Na3[ZrF7] o íon [ZrF7]3“ é uma bipirâmide de transição perfazem apenas 0,025 % da crosta terrestre. 0
pentagonal, e no (NH4)3[ZrF7] é um prisma trigonal com Tc não ocorre na natureza.
uma face piramidada. No Cu2[ZrF8], o Zr está no centro de
um antiprisma quadrado.
LEITURAS COMPLEMENTARES
Tamanho • Bevan, D.J.M. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry,
Vol. 3 (Cap. 49: Compostos não estequiométricos), Pergamon
Os elementos da segunda série são todos maiores que Press, Oxford. (Boa introdução aos compostos não
os da primeira série. Contudo, devido a contração lantanídica, estequiométricos)
os raios dos elementos da terceira série são quase iguais aos
• Brown, D. (1968) Halides of the TYansition Elements, Vol. I
dos da segunda série.
(Haletos de lantanídeos e actinídeos), Wiley, London e New
York.
Magnetismo • Canterford, J.H. e Cotton, R. (1968) Halides of lhe Second
Quando os elementos de transição formam complexos and Third Roív Transition Elements, Wiley, London.
octaédricos, os níveis d são desdobrados nos subníveis t2g e • Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides of the First Row
eg. Considere um elemento da primeira série. Se os ligantes Transition Elements, Wiley, London.
forem de campo forte, a diferença de energia entre esses • Corbett, J.D. (1981) Extended metal-metal bonding in ha­
dois subníveis será grande. Assim, os elétrons que ocupam lides of the early TYansition Metals, Acc. Chem. Res. 14,239.
o nível d irão preencher o subnível t2g, mesmo que os elétrons • Cotton, F.A. ( 1983) Multiple metal-metal bonds, J. Chem.
tenham de ser emparelhados. Caso isso ocorra, o complexo Ed., 60, 713-720.
é denominado de spin baixo ou de spins emparelhados. Por
• Crangle, J. (1977) The Magnetic Properties ofSolids, Amold,
outro lado, se o campo dos ligantes for fraco, o
London.
desdobramento do nível d será pequeno e o emparelhamento
de spins só ocorrerá quando cada um dos subníveis t2g e eg • Diatomic metais and metallic clusters (1980) (Conferência
contiver um elétron. Tais complexos são denominados de do Simpósio Faraday do Royal Society of Chemistry, N° 14),
spin alto. Assim, no caso de um elemento da primeira série Royal Society of Chemistry, London.
de transição, a intensidade do campo do ligante determina • Earnshaw, A. (1968) Introduction to Magnetochemistry, Aca-
se o complexo formado será de spin baixo ou de spin alto. demic Press, London.
Os elementos da segunda e terceira séries de transição • Emeléus, H.J. e Sharpe, A.G. (1973) Modem Aspects of Inor­
tendem a formar complexos de spin baixo, isto é, é energe- ganic Chemistry, 4th ed. (Caps. 14 e 15: Complexos de metais
de transição; Cap. 16: Propriedades magnéticas), Routledge
ticamente mais favorável emparelhar os elétrons nos
and Kega Paul, London.
subníveis d de menor energia que ocupar os subníveis mais
altos, qualquer que seja o ligante. • Figgis. B.N. e Lewis, J. (1960) The magnetochemistry ofcom-
plex compounds, Cap. 6 do livro Modem Inorganic Chemis­
Resultados razoavelmente concordantes são obtidos try (ed.: Lewis, J. e Wilkins, R.G.), Interscience, New Yorke
quando se usa a equação do momento magnético de spin- Wiley, London, 1960. (Boa revisão sobre medidas de
only para relacionar o momento magnético de complexos momento magnético).
da primeira série de transição com o número de elétrons
• Greenwood, N.N. (1968) lonic Crystals, Lattice Defeas and
desemparelhados. Porém, no caso de complexos da segunda Non-Stoichiometry, Butterworths, London.
e terceira séries, a contribuição do momento magnético or­
• Griffith, W.P. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol.
bital passa a ser significativa, além de haver um acoplamento
4 (Cap. 46: Carbonilas, cianetos, isocianetos e nitrosilas).
spin-órbita considerável. Nesse caso, a aproximação de spin-
Pergamon Press, Oxford.
only não é mais válida, e equações mais complicadas devem
ser utilizadas. Assim, a interpretação simplificada dos • Johnson, B.F.G. (1976) The structures of simple binary car-
momentos magnéticos, apenas em função do número de bonyls, JCS Chem. Comm., 211-213.
elétrons desemparelhados, não pode ser estendida dos • Johnson, B.F.G. (ed.) (1980) Transition Metal Clusters, lohn
complexos dos elementos da primeira série para os da Wiley, Chichester.
segunda e terceira séries. Além disso, os compostos dos • Lewis, J. (1988) Metal clusters revisited, Chemistry in Brit-
elementos da segunda e terceira séries apresentam ain, 24, 795-800.
PROBLEMAS 341

• Lewis , J. e Green, M.L. (eds) (1983) Metal Clusters in Chem­ a) o óxido com o metal no estado de oxidação mais baixo
istry (Anais da Royal Society Discussion Meeting, Maio 1982), é básico, enquanto que o óxido com o metal no seu estado
The Society, London. de oxidação máximo é geralmente ácido.
• Lever A.B.P. (1984) Inorganic Electronic Spectroscopy, Elsevier, b) um metal de transição geralmente se encontra num
Amsterdam. (Atual e completo, além de ser uma boa fonte estado de oxidação maior nos fluoretos, em comparação
de dados espectrais) aos iodetos.
• Moore, P. (1982) Colour in transition metal chemistry, Edu- c) os haletos se tomam mais covalentes e susceptíveis à
cation in Chemistry, 19, 10-11, 14. hidrólise, à medida que aumenta o estado de oxidação do
metal.
• Muetterties, E.L. (1971) Transition Metal Hydrides, Marcei
Dekker, New York. 4. Explique sucintamente:
• Muetterties, E.L. e Wright, C.M. (1967) High coordination a) A regra do número atômico efetivo
numbers, Q. Rev. Chem. Soc., 21, 109. b) Que tipo de ligantes estabilizam estados de oxidação
• Nyholtn, R.S. (1953) Magnetism and inorganic chemistry, baixos
Q. Rev. Chem. Soc., 7, 377. c) As ligações tt (retrodoação) nas carbonilas metálicas.
• Nyholm, R.S. e Tobe, M.L. (1963) The stabilization of oxida- 5. Descreva os métodos que possibilitam a obtenção de
tion States of the transition metais, Adv. Inorg. Radiochem., amostras extremamente puras dos metais de transição.
5,1. 6. Quais dos íons M2+ e MJ* dos elementos da primeira série
• Shriver, D.H.; Kaesz,, H.D. e Adams, R.D. (eds) (1990) Chem- de transição são estáveis em solução, quais são oxidantes
istry of Metal Cluster Complexes, VCH, New York. e quais são redutores?
• Sharpe, A.G. (1976) Chemistry of Cyano Complexes of the Explique porque certos ligantes, como o F, estabilizam os
Transition Metals, Academic Press, London, 1976. metais em seus estados de oxidação mais elevados,
enquanto que outros, como o CO ou bipiridina, estabilizam
os elementos nos seus estados de oxidação mais baixos.
PROBLEMAS 8. Apresente os motivos pelos quais os carbonil e ciano
1. Como você definiría um elemento de transição? Cite as complexos dos metais de transição Cr, Mn, Fe, Co e Ni são
propriedades associadas a esses elementos. mais estáveis e comuns que complexos semelhantes com
2. Como as seguintes propriedades variam nos elementos de elementos do bloco s ou com os primeiros elementos dessa
transição: série de transição.
a) caráter iônico 9. Por que os elementos da segunda e terceira séries de
transição se assemelham muito mais entre si do que os
b) propriedades básicas
elementos da primeira série de transição?
c) estabilidade dos diferentes estados de oxidação
10. O que se entende por paramagnetismo e diamagnetismo?
d) capacidade de formar complexos. Faça uma previsão sobre o momento magnético de
3. Dê exemplos ou justifique as seguintes propriedades complexos octaédricos de Fe2 + com ligantes de campo forte
química dos metais de transição: e de campo fraco.
342

ogrupo
BO ESCORBIO
INTRODUÇÃO
Esses quatro elementos são às vezes agrupados com os Tabela 19.2 — Abundância dos elementos na crosta
14 lantanídios, e denominados coletivamente de “terras terrestre, em peso
raras”. Essa denominação é incorreta, pois os elementos do Abundância
Elemento ppm
grupo do escândio são elementos do bloco d e os lantanídios relativa
são elementos do bloco f. Além disso, os elementos do grupo
do escândio não são tão raros, exceto pelo actínio que é Sc 25 31?
radiativo. As propriedades do Sc, Y, La e Ac, variam de modo Y 31 29?
bastante regular e se assemelham às variações observadas LA 35 28?
nos elementos dos Grupos 1 e 2. Há poucos usos industriais AC traços
importantes desses elementos ou de seus compostos, exceto
pelo “mischmetar, utilizado na indústria metalúrgica. (entalpia de formação do A12O3 1.675 kJ mor1, entalpiade
formação do La2O3 1.884 kJ mol’1). Esses metais podem ser
OCORRÊNCIA, SEPARAÇÃO, OBTENÇÃO E obtidos por redução de seus cloretos ou fluoretos com cálcio
a 1.000 °C, numa atmosfera de argônio.
APLICAÇÕES
Pequenas quantidades de Y são empregadas na fabrica­
O Sc é o trigésimo-primeiro elemento mais abundante, ção das substância fosforescentes (fósforos) usadas em tubos
em peso, da crosta terrestre. O elemento encontra-se muito de TV. Uma certa quantidade encontra emprego na fabricação
espalhado, sendo encontrado na forma do mineral raro de granadas sintéticas, usadas em radares e como pedras
thortveitita, Sc2[Si2O7J. O escândio é obtido como subproduto preciosas. Em contraste, cerca de 5.000 toneladas de La são
do processo de extração do urânio. O escândio e seus produzidos anualmente, a maior parte como mischmetal. 0
compostos têm pouquíssimas aplicações. mischmetal é uma mistura de La e de metais da série dos
O Y e o La são, respectivamente, o vigésimo-nono e o lantanídeos (50% Ce, 40% La, 7% Fe, 3% outros metais). É
vigésimo-oitavo elementos mais abundantes. São encon­ usado em grandes quantidades para melhorar a resistência
trados associados aos lantanídios na bastnaesita, MlnCO3F, e a trabalhabilidade do aço, e também em ligas de Mg.
na monazita, MnlPO4, e em outros minerais. É extremamente Pequenas quantidades são usadas como "pedras de isqueiro".
difícil separar cada um dos elementos. Esse processo será O La2O3 é usado em vidros ópticos, como por exemplo nas
discutido com algum detalhe no capítulo 29. Também é difícil lentes de Crookes, que protegem contra a radiação ultra­
extrair os metais de seus compostos. Os metais são violeta.
eletropositivos e reagem com a água. Seus óxidos são muito Pequenas quantidades de Ac estão sempre associados
estáveis, o que impede o uso do processo de aluminotermia com o U e o Th, pois é um dos produtos da série de decai­
mentos radiativos tanto do tório como do urânio (vide
Tabela 19.1 — Configuração eletrônicas e estados de oxidação
capítulo 31).
Elemento Símbolo Configuração Estado de 2»Th-^ ^Ra—£
,Th- a 2"'Ra- L422|Ac
eletrônica oxidação a A a
2“ u_£^Th_J_/a[ p a_a_^
Pa- Ac_í—>n^Th
Escândio Sc (Ar) 3d' 4? III O Ac pode ser obtido pelo bombardeamento do Ra com
ítrio Y (Kr) 4d' 5? III
nêutrons, num reator nuclear:
Lantânio La [Xe] 5d' 6? III
Actínio Ac [Rn] 6d' ls2 III 2g3Ra +J n- •2”Ra- £ 42"AC
PROPRIEDADES QUÍMICAS 343

Na melhor das hipóteses, esse método produz quanti­ rapidamente com água quente, liberando hidrogênio e
dades da ordem de miligramas. A separação dos outros ele­ formando o óxido básico ou o hidróxido correspondente.
mentos é efetuada por um método de troca iônica. 2g® Ac e
2La + 6H2O -> 2La(OH)3 + 3H2
2s3Ac são seus únicos isótopos naturais, sendo ambos
La(OH)3 -» LaO(OH) + H2O
fortemente radiativos. A meia-vida do 2g| Ac e do ^Ac é 6 óxido básico
horas e 21,8 anos, respectivamente. Assim, todo o actínio
existente no período da formação da Terra já se desintegrou O Sc(OH)3 parece não ser um composto definido, mas
há muito tempo. Assim, o actínio encontrado atualmente o óxido básico, ScO(OH), é bem conhecido e anfótero como
deve ter sido formado recentemente, como produto do o AI(OH)3. Como o escândio é anfótero, ele se dissolve em
decaimento radiativo de algum outro elemento. Isso explica NaOH liberando H2.
porque 0 Ac natural é tão raro. A elevada radiatividade do
Ac limitou o estudo de suas propriedades químicas. Sc + 3NaOH + 3H2O -> Na3(Sc(OH)6] i72h2
O caráter básico dos óxidos e hidróxidos aumenta
ESTADO DE OXIDAÇÃO quando se desce pelo grupo, de modo que o Y(OH)3 e o
La(OH)3 são básicos. Os óxidos e hidróxidos formam sais
Esses elementos sempre são encontrados no estado de
oxidação ( + 111), na forma de íons M3 + . A formação do íon quando reagem com ácidos. O Y(OH)3 e o La(OH)3 reagem
M3+ requer a remoção de dois elétrons s e de um elétron d. com dióxido de carbono, CO2:
Logo, esses íons apresentam configuração d°, tornando
2Y(OH)3 + 3CO2 -> Y2(CO3)3 + 3H2O
impossível a ocorrência de transições d-d. Conseqüente-
mente, os íons e seus compostos são incolores e diamag- O La(OH)3 é uma base suficientemente forte para
néticos. A soma das três primeiras energias de ionização do deslocar o NH3 de sais de amônio. Como os óxidos (e hidró­
escândio é um pouco menor que a correspondente soma xidos) são anfóteros ou bases fracas, seus oxossais podem
para 0 alumínio. Por isso, as propriedades do escândio são ser decompostos a óxidos por aquecimento. Esse compor­
semelhantes, em alguns aspectos, as do alumínio. tamento é análogo ao observado nos elementos do Grupo 2,
mas a decomposição é mais fácil, isto é, ocorre em
TAMANHO temperaturas menores:
calor
Os raios covalentes e iônicos desses elementos 2Y(OH)3 ——Y2O3 + 3H2O
aumentam regularmente de cima para baixo dentro do Grupo, Y2(CO3)3 -» Y2O3 + 3CO2
como no bloco s. Nos grupos dos elementos de transição, 2Y(NO3)3 -> Y2O3 + 6NO2 + 172O2
mostrados na Tab. 19.3, os elementos da segunda e terceira Y2(SO4)3 —> Y2O3 + 3SO2 + l'/2O2
séries são quase idênticos em tamanho, por causa da
Os metais reagem com os halogênios, formando tri-
contração lantanídica. Contudo, esse fenômeno ocorre
somente após o La. haletos, MX3. Eles lembram os haletos de Ca. Os fluoretos
são insolúveis (como o CaFJ, e os demais haletos são
deliqüescentes e muito solúveis (como o CaCl2). Se os
PROPRIEDADES QUÍMICAS cloretos forem preparados em solução, eles cristalizam na
Os metais desse grupo têm potenciais padrão de eletrodo forma de sais hidratados, mas o aquecimento dos mesmos
moderadamente elevados. São bastante reativos, e a não leva aos haletos anidros. Com o aquecimento, o
reatividade cresce com 0 aumento do tamanho. Eles perdem ScC13(H2O)7 se decompõe ao óxido, ao passo que os demais
0 brilho quando expostos ao ar e queimam na presença de formam oxo-haletos.
oxigênio, formando M2O3. Porém, quando exposto ao ar, calor
uma camada protetora de óxido é formada sobre a superfície 2ScC13 • (H2O)7 -> Sc2O3 + 6HC1 + 4H2O
do Y, tornando-o não-reativo. YCl3 (H2O)7-> YOC1 + 2HC1 + 6H2O
LaCl3-(H,O)7 -> LaOCI + 2HC1 + 6H2O
2L.3 + 3O2 —2L32O3
Cloretos anidros podem ser preparados tratando os
Os metais reagem lentamente com água fria, e mais óxidos com NH4CI:

300'C
Tabela 193 — Algumas propriedades físicas Sc2O3 + 6NH4CI •» 2ScC13 + 6NH3 + 3H2O

Ele- Raio Raio Energias de ionização Potencial P.E Eleiro- O ScCl3 anidro difere do A1C13 pois é um monômero,
men- covalente iônico 1? 2? 3? eletrodo negan- enquanto que o cloreto de alumínio é um dímero, (A1C13)2.
10 M5* padrão vidade Além disso, o ScCl3 não possui atividade como catalisador
de
para reações de Friedel-Crafts.
(Â) (Â) (kl mols) f(V) CO Pauling
Os sais geralmente se assemelham aos sais de cálcio,
Sc 1,44 0,745 631 1,235 2,393 -2,08 1.539 1,3 sendo os fluoretos, carbonatos, fosfatos e oxalatos insolúveis.
Y 1,62 0,900 616 1,187 1,968 -2,37 1.530 12 Todos esses elementos reagem com hidrogênio,
La 1,69 1,032 541 1.100 1.852 -2,52 920 1,1 mediante aquecimento a 300 °C, com formação de compostos
Ac 1,120 -2,60 817 1,1 altamente condutores de fórmula MH2. Esses compostos não
344 O SRUPO OO ESCÂNDIO

contêm o íon M2*, mas provavelmente são constituídos por 8 o mais comum. Assim, o [Sc(acetilacetonato)3] tem número
M3’ e 2H", e um elétron ocupa a banda de condução. Todos, de coordenação 6 e é octaédrico. Já 0 (Yfacetilace-
exceto o Sc, podem absorver mais H2. Mas, nesse caso tonato)3(H2O)J tem número de coordenação 7 e sua estnrtura
perdem seu caráter condutor, formando compostos não é trigonal prismática com uma face “piramidada". No
exatamente estequiométricos, mas que se aproximam da [La(acetilacetonato)3(H2O)2] o número de coordenação é 8
composição MH3. A composição exata depende da e sua estrutura é um antiprisma quadrado distorcido. No
temperatura e da pressão de hidrogênio. Esses hidretos são [La(EDTA)(H2O)4]-3H2O o EDTA forma quatro ligações
iônicos, ou seja, contêm o íon hidreto, H“, e reagem com usando seus átomos de O e duas utilizando os átomos de N.
água liberando hidrogênio. Além disso, as quatro moléculas de água estão ligadas ao La
O escândio forma um carbeto, ScC2, quando o óxido é por meio dos átomos de O. Assim, o número de coordenação
aquecido com carbono, num forno elétrico. O carbeto reage total desse composto é 10. Os íons NO3‘ e SO42' também
com água, liberando acetileno (etino). atuam como ligantes bidentados e formam complexos com
elevado número de coordenação. No [Sc(NO3)s]2‘, quatro
SC2O3 + c
1000'C
2ScC2 HjO
4 C2H2 + ScO OH grupos NO3‘ estão ligados bidentadamente e um está ligado
monodentadamente, gerando um composto com número de
Supunha-se antigamente que o carbeto continha coordenação igual a 9. No [Y(NO3)5]2’, todos os cinco íons
Sc( + II), ou seja, que fosse constituído pelos íons Sc2 + e NO3~ estão ligados bidentadamente, e 0 número de
(C=C)2'. Medidas magnéticas sugerem que ele contêm íons coordenação é 10. No La2(SO4)3-9H2O metade dos átomos
Sc3 + e C22", e que tenha elétrons deslocalizados numa banda de La tem número de coordenação 12.
de condução, provocando o aparecimento de um certo grau Os sais de lantânio tem sido usados como marcadores
de condutividade metálica. biológicos. O La3* parece substituir o Ca2+ no processo de
condução de impulsos nervosos ao longo dos axônios das
células nervosas, e também no estabelecimento de estruturas
COMPLEXOS de membranas celulares. O La3 + é facilmente detectado por
Apesar da carga + 3, os íons metálicos desse grupo não ressonância paramagnética de spin (EPR). A semelhança na
apresentam uma tendência muito forte de formar complexos. atividade biológica pode decorrer do fato deles serem de
Isso se explica pelo tamanho relativamente grande desses tamanhos semelhantes (La3* = 1,032 Â e Ca2+ = 1,00 A).
íons. O Sc3+ é o menor íon do grupo e forma complexos
mais facilmente que os demais elementos. Dentre eles podem LEITURAS COMPLEMENTARES
ser citados o [Sc(OH)6]3- e (ScFJ3’, ambos com número de
coordenação 6 e estrutura octaédrica. • Callow, R.J. (1967) The Industrial Chemistry of the Lanthan-
ons, Yttrium, Thorium and Uranium, Pergamon Press, New
ScF3 + 3NH4F—> 3NH4 + + [ScF6]3’ York.
• Horovitz, C.T. (ed.) (1975) Scandium: Its Occurrence, Chem­
De longe o átomo doador mais importante em istry, Physics, Metallurgy, Biology and Technology, Academic
complexos é o O, principalmente quando os ligantes são Press, London.
agentes quelantes. Assim, complexos são formados com • Melson, G.A. and Stotz, R.W. (1971) The coordination chem­
agentes complexantes fortes tais como ácido oxálico, ácido istry of scandium, Coordination Chem. Rev., 7, 133.
cítrico, acetil-acetona e EDTA. Os complexos dos metais • Vickery, R.C. (1973) Conprehensive Inorganic Chemistry, Vol.
maiores, Y e La, freqüentemente têm números de 3 (Cap. 31: Escândio, ítrio e Lantânio), Pergamon Press.
coordenação maiores que 6, sendo o número de coordenação Oxford.
345

0
Grupo 14
O GHUPG DO TITÂNIO
INTRODUÇÃO
O titânio é um elemento de importância industrial. Tabela 20.2 — Abundância dos elementos na crosta
terrestre, em peso
Grandes quantidades de TiO2 são usadas como pigmento e
como “carga”, e o metal titânio é importante por causa de Elemento ppm Ordem de
sua resistência mecânica, baixa densidade e resistência à abundância relativa
corrosão. O TiCl3 é um importante catalisador de Ziegler-
Natta, utilizado na fabricação de polietileno e de outros Ti 6.320 9?
polímeros. O zircônio é usado para fabricar os revestimentos Zr 162 18?
das barras de combustível de reatores nucleares resfriados a Hf 2,8 45?
água. 0 háfnio é usado para fabricar barras de controle para
certos reatores.
OBTENÇÃO E USOS
O titânio tem sido chamado de o "metal maravilha"
OCORRÊNCIA E ABUNDÂNCIA por causa de suas propriedades singulares e úteis. Ele é muito
O Ti é o nono elemento mais abundante, em peso, na duro, tem elevado ponto de fusão (1.667 °C), é mais forte e
crosta terrestre. Os principais minérios são a ilmerüta, FeTiO3, muito mais leve que o aço (densidades: Ti =-4,4 g cm-3,
e o rutilo, TiO2. Em 1992, a produção mundial foi de 7,8 Fe = 7,87 g cm'3). Contudo, mesmo quantidades muito
milhões de toneladas de ilmenita e de 471.000 toneladas de pequenas de impurezas não-metálicas, como H, C, N ou O,
rutilo, totalizando 4,3 milhões de toneladas em conteúdo de tomam o titânio e os dois outros metais, Zr e Hf, quebradiços.
Ti02. Os principais produtores são o Canadá, 27%, Austrália O Ti tem melhor resistência à corrosão que o aço inoxidável.
24% e Noruega 9%. O zircônio é o décimo oitavo elemento É um melhor condutor de calor e de eletricidade que os
mais abundante na crosta terrestre, sendo encontrado metais do grupo do Sc (Grupo 3). O Ti metálico e as ligas de
principalmente como zirconita, ZrSiO4, e pequenas Ti com Al são utilizadas em grande escala na indústria
quantidades de baddeleyita, ZrO2. A produção mundial de aeronáutica, em turbinas e motores a jato, e na estrutura
minerais de zircônio foi de 808.000 toneladas em 1992. O das aeronaves. Aviões supersônicos, como o Concorde,
háfnio é muito semelhante em tamanho e propriedades ao podem usar o Al como revestimento estrutural (ponto de
zircônio, por causa da contração lantanídica. Por isso, o Hf fusão 660 °C), mas sua velocidade fica limitada a Mach 2,2
éencontrado, na proporção de 1 a 2%, em minérios de Zr. A (2,2 vezes a velocidade do som). Quando aviões supersônicos
separação do Zr do Hf é particularmente difícil — inclusive que operam a três vezes a velocidade do som forem
mais difícil que a separação dos lantanídios. fabricados, é provável que eles sejam fabricados com Ti
(ponto de fusão 1.667 °C). O Ti também
———— é empregado em equipamentos navais
Tabela 20.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação e em instalações para a indústria
química. Pequenas quantidades de Ti
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* são adicionadas ao aço, para formar ligas
mais duras e resistentes. A produção
Titânio Ti (Ar] 3d24? (-D (0) (H)
(-1) m TV
Zircônio Zr [Kr] 4d2 5? (II) (m) TV mundial de Ti metálico é de cerca de
Háfnio Hf [Xe] íf^Sifès2 (II) (III) IV 50.000 toneladas/ano.
É difícil de se obter o metal a partir
* Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo de seus minérios, devido a seu elevado
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são dados entre perênteses. ponto de fusão e elevada reatividade
346 Grupo 14 — GRUPO DO TITÂNIO

atmosférica, o Til4 funde a 150 °C e entra em ebulição a 377


Tabela 203 — Algumas propriedades físicas °C; o Zrl4 funde a 499 °C e entra em ebulição a 600 °C. A
pressão reduzida, contudo, os pontos de ebulição são mais
Elemento Raio Raio Ponto Ponto de Densidade Eletrone- baixos. O MI4 gasoso é, então, decomposto sobre um fila­
covalente iõnico de fusão ebulição gatividade
(A) M4* (Â) CC) CC) (g cm’3) de Pauting mento de tungstênio aquecido à incandescência. Porém, à
medida que mais e mais metal vai se depositando sobre o
Ti 1,32 0,605 1,667 3.285 4,50 1.5 filamento, este conduz melhor a eletricidade. Assim, é
Zr 1,45 0,720 1.857 4.200 6,51 1,4 necessário passar uma corrente (intensidade) cada vez maior
Hf 1,44 0,710 2.222 4.450 13.28 1,3 para manter o filamento incandescente.
S0-2S0'C 1400‘C
Ti(tmpuro) + 212 ■3 TiL, 4 Ti + 2I2
com o ar, oxigênio, nitrogênio e hidrogênio, a temperaturas iento
filamer • - de
>sténio
tungs>ci<><
elevadas. O óxido não pode ser reduzido com C ou CO, pois
forma carbetos. Como o TiO2 é muito estável, a primeira O Zr é produzido em escala bem menor que o Ti. 0 Zr
etapa consiste em sua conversão a TiCl4, por meio de seu é ainda mais resistente à corrosão que o Ti, sendo usado em
aquecimento com C e Cl2, a 900 °C. equipamentos de indústrias químicas. Seu uso mais
importante é na fabricação do revestimento para o
TiO>+ 2C + 2C12 ->TíC14 + 2CO combustível UO2, de reatores nucleares resfriados a água.
2FeTiO3 + 6C + 7C12 -> 2TiCl4 + 6CO + 2FeCL>3
Sua resistência à corrosão, elevado ponto de fusão (1.857
O TiCl4 é um líquido (ponto de ebulição 137 °C) e é °C) e baixa absorção de nêutrons, são propriedades que o
removido do FeCl3 e demais impurezas por destilação. Em tornam muito adequado para tal aplicação (dos elementos
seguida, utiliza-se um dos seguintes métodos para a obtenção metálicos, somente o Be e o Mg apresentam uma seção trans­
do metal. versal de absorção de nêutrons menor que o Zr; mas são
inadequados como material do revestimento protetor, pois
o Be é quebradiço e o Mg facilmente sofre corrosão). 0 Hf
Processo Kroll sempre ocorre junto com o Zr. Suas propriedades químicas
Inicialmente, Wilhelm Kroll produziu Ti reduzindo TiCl4 são quase idênticas, e para a maioria dos seus usos não há
com Ca num forno elétrico. Mais tarde, passou-se a usar o necessidade de separar os dois elementos. Contudo, o Hf
magnésio, e a Imperial Metal Industries (IMI) chegou a usar absorve fortemente os nêutrons, e o Zr usado para fins
o Na. Nas condições de elevadas temperaturas empregadas nucleares deve ser isento de Hf.
nesses processos, o Ti é altamente reativo e reage A semelhança de tamanho dos íons torna essa separação
prontamente com ar ou N2. Por isso, é necessário efetuar a extremamente difícil. O mesmo problema se observa na
reação em atmosfera de argônio. separação dos elementos lantanídios (ver capítulo 29). 0 Zr
1000-11SO'C e o Hf podem ser separados por extração com solvente de
TiCl4 + 2Mg Ti + 2MgCl2 seus nitratos em fosfato de tri-n-butila, ou dos tiocianatos
em metil-isobutil-cetona. Como alternativa, os elementos
O MgCl2 formado pode ser removido com água, ou
podem ser separados por troca iônica de uma solução
melhor com HC1 diluído, pois este também dissolve o excesso
alcoólica dos tetracloretos em colunas de sílica-gel. Eluindo
de Mg. Alternativamente, o MgCl2 pode ser removido por
a coluna com uma mistura de álcool/HCl, o Zr é removido
destilação à vácuo. Após um desses processos, resta titânio
antes.
metálico numa forma esponjosa e não de um sólido compac­
to. O Ti é convertido num bloco compacto por fusão num O Zr também é usado na fabricação de ligas com aço, e
arco elétrico, sob alto vácuo ou atmosfera de argônio. O uma liga Zr/Nb é um importante supercondutor. A absorção
processo IMI é quase idêntico. O TiCl4 é reduzido com Na muito grande de nêutrons térmicos por parte do Hf encontra
numa atmosfera de argônio, e o NaCl é removido com água. um uso prático. O Hf é usado em barras de controle para
O Ti é obtido na forma de pequenos grânulos. É possível regular o nível de nêutrons livres nos reatores nucleares
fabricar peças metálicas a partir desses grânulos, usando usados em submarinos.
técnicas de metalurgia de pó, seguida de sintetização em
atmosfera inerte. As elevadas despesas com combustível, a ESTADOS DE OXIDAÇÃO
necessidade de se empregar atmosfera de argônio, os altos O estado de oxidação (+ IV) é o mais comum e estável
custos do Mg ou Na, e a necessidade de um segundo para todos esses elementos. Compostos anidros como TiCL,
aquecimento, encarecem o titânio. O elevado preço impede são covalentes, e suas moléculas são tetraédricas no estado
seu uso de forma mais generalizada. O zircônio também é gasoso. A maioria dos tetra-haletos mantém essa mesma
produzido pelo processo Kroll. estrutura, também, no estado sólido. O TiF4 apresenta a
maior diferença de eletronegatividade e é o composto desse
O método de van Arkel - de Boer tipo com a maior probabilidade de ser iônico. Data-se de
Esse processo permite a obtenção de pequenas um pó branco volátil, que sublima a 284 °C —um
quantidades de metal muito puro. O Ti ou Zr impuro são comportamento que não é típico de compostos iônicos. Sua
aquecidos com I2, num reator sob vácuo, formando Til4 ou estrutura cristalina é polimérica contendo átomos de F em
Zrl4. Estes são voláteis e se separam das impurezas. À pressão ponte, onde cada Ti é rodeado octaedricamente por seis
átomos de F.
O ESTAOO (+IV) 347

No estado de oxidação (+ IV) esses elementos apresen­ Potenciais padrão de redução (volt)
tam configuração d°, sem elétrons desemparelhados: assim,
seus compostos são tipicamente brancos ou incolores, e Solução ácida
diamagnéticos. Estado de oxidação
íons Ti4+ não existem em solução, pois formam-se oxo-
+iv +m +n +1 o
->0,10 -0,37 -1,63
íons. 0 íon titanila, TiO2+ é encontrado em solução, mas TiO2"- Tr Ti2+ Ti
em sais cristalinos ele geralmente se encontra polimerizado.
0 íon no estado de oxidação (+ III) é redutor, tal que O Zr se dissolve em H2SO4 concentrado a quente e em água-
Ti3" é um redutor mais forte que Sn2 + . São razoavelmente régia. O melhor solvente para todos esses metais é o HF,
estáveis, tanto no estado sólido como em solução. Como os porque formam hexafluoro complexos.
íons M3+ apresentam configuração d1, possuem um elétron
desemparelhado e são paramagnéticos. Os momentos Ti + 6HF -> H2[TiF6] + 2H2
magnéticos de seus compostos se aproximam do momento
magnético de spin-only de 1,73 magnetons de Bohr. Devido A cerca de 450 °C os três metais começam a reagir com
a presença de apenas um elétron d, só há uma transição muitas substâncias. A temperaturas superiores a 600 °C se
eletrônica d-d possível: portanto, só existe uma banda de tornam altamente reativos. Nessas condições formam óxidos
absorção no espectro visível, e quase todos os seus MO2, haletos MX4, nitretos intersticiais MN e carbetos
compostos têm uma cor púrpura avermelhada pálida. intersticiais MC, por combinação direta. Da mesma forma
que os elementos do grupo do escândio, os metais
0 íon no estado de oxidação (+ II) é muito instável. É pulverizados absorvem H2. A quantidade absorvida depende
um redutor forte capaz de reduzir a água. Apenas alguns da temperatura e da pressão, sendo MH2 a composição limite
poucos compostos contendo esse íon são conhecidos, e desses compostos intersticiais. Esses hidretos intersticiais
somente no estado sólido. Os íons nos estados (0), (-1), e (- são estáveis ao ar e não reagem com água. Esse compor­
II) são encontrados nos complexos com bipiridina tamento difere daquele encontrado nos hidretos iônicos do
[Ti°(bipy)3], Li[Ti_|(bipy)3].3,5(tetra-hidrofurano) e Li2[Ti’u grupo do escândio e dos elementos do bloco s.
(bipy)3].5(tetra-hidrofurano). Os íons nos estados de
oxidação mais baixos tendem a sofrer reações de despropor-
cionamento: O ESTADO ( + IV)
Óxidos
2Ti'"Cl3 —■“Ior -> TilvCl4 + TinCl2
A produção mundial de TiO2 foi de 4,1 milhões de
2Ti“Cl2 TilvCl4 + Ti° toneladas em 1992. Mais da metade foi empregada como
pigmento branco em tintas, e como agente opacificante de
TAMANHO tintas coloridas. O TiO2 substitui os pigmentos brancos
0s raios covalentes e iônicos aumentam regularmente usados anteriormente, como o “branco de chumbo”
do Ti ao Zr, mas o Zr e o Hf têm tamanho quase idêntico. O (2PbCO3.Pb(OH)2), BaSO4 e CaSO4, pois apresenta três
Hf não segue a tendência de aumento de tamanho esperado, vantagens sobre o composto de Pb: maior grau de cobertura,
pois entre o La e o Hf ocorre o preenchimento do nível 4f, não é tóxico e não escurece quando em contato com H2S.
nos 14 elementos da série dos lantanídios. Há uma pequena Outras importantes aplicações do TiO2 são no branquea-
diminuição de tamanho de um lantanídeo para o seguinte. mento de papel e como “carga" para plásticos e borrachas.
0 decréscimo global de tamanho ao longo dos 14 elementos Uma pequena quantidade é empregada para alvejar e re­
lantanídios é denominado contração lantanídica (vide mover o brilho do náilon.
capítulo 29). O decréscimo de tamanho causado pela O TiO2 natural é invariavelmente colorido pela presença
contração lantanídica cancela o esperado aumento de de impurezas. Há dois processos industriais de obtenção de
tamanho do Zr para o Hf. Como o tamanho dos átomos de TiO2 puro: o "processo do sulfato”, mais antigo, e o “processo
Hf e La e suas estruturas eletrônicas de valência são do cloreto", mais recente. No processo do cloreto, rutilo
semelhantes, suas propriedades químicas são quase (TiO2) é aquecido com Cl2 e coque a 900 °C, para formar
idênticas. Assim, a separação desses dois elementos é muito TiCl4. Este é volátil, podendo assim ser separado das
difícil, como visto no item “Obtenção e Usos”. impurezas. O TiCI4 é, então, aquecido com O2 a cerca de
1.200 °C, para gerar TiO2 puro e Cl2. O cloro é reciclado e
REATIVIDADE E PASSIVAÇÃO reutilizado.
Os metais maciços são poucos reativos ou passivos, a TiO, + 2C + 2C12 ->TíC14 + 2CO
temperaturas baixas e moderadas. Isso se deve a uma fina TiCL, + O, —> TiO2 + 2C12
película de óxido que se forma sobre sua superfície,
dificultando um posterior ataque. Esse comportamento é No "processo do sulfato”, a ilmenita FeTiO3 é digerida
observado principalmente no Ti (lembre-se, contudo, que com H2SO4 concentrado: FeHSO4, Feln2(SO4)3 e sulfato de
os metais finamente divididos são pirofóricos). À temperatura titanila, TiO • (SO4) são obtidos na forma de uma “pasta de
ambiente, os metais não reagem nem com ácidos nem com sulfato”. Esta é lavada com água, removendo-se todo o ma­
álcalis. Todavia, o Ti se dissolve lentamente em HC1 terial insolúvel. íons Fe111 presentes na solução são reduzidos
concentrado e a quente, formando Ti3+ e H2. O Ti é oxidado a Fe11 usando raspas de ferro e o FeSO4 é cristalizado por
por HNOj a quente, gerando o óxido hidratado TiO2 • (H2O)n. evaporação a vácuo e abaixamento de temperatura. A solução
348 Brupo 14 — 0 BRUPO □□ TITÂNIO

Ti Ti Ti Ti O Ti(OH)4 não é conhecido, pois desidrata-se formando

. O>
/ \o O>/Xo o. /Xt o oxido hidratado.

Ti
V V
Ti
V Óxidos mistos
Ti Ti
Se os óxidos TiO2, ZrO2 e HfO2 forem fundidos (a
Figura 20.1 — Uma cadeia polimérica de (TiO)** temperaturas de 1.000-2.500 °C) com quantidades
adequadas de óxidos de outros metais, haverá a formação
deTiO(SO4) é hidrolisada, então, levando-a à ebulição, sendo de titanatos, zirconatos e hafnatos. São óxidos mistos, que
posteriormente semeada com cristais de rutilo ou anatásio. geralmente não contêm íons discretos. Por exemplo, titanato
As estruturas cristalinas dos óxidos sugerem que são de sódio anidro, Na2TiO3 pode ser obtido por meio da fusão
iônicos. Contudo, a soma das quatro primeiras energias de de TiO2 com Na2O, Na2CO3 ou NaOH. A redução de Na2TiO3
ionização é tão elevada (8.800 kJ mol’1 para o Ti4 + ) que com H2, a altas temperaturas, leva a formação de “bronzes
isso parece ser improvável. O TiO2 ocorre em três formas de titânio", que são materiais não-estequiométricos de
cristalinas diferentes: rutilo, anatásio e brookita. O rutilo é a fórmula Na0,2-o,25Ti02. Esses materiais apresentam elevada
forma mais comum: cada átomo de Ti é rodeado condutividade elétrica, tem um aspecto metálico, cor preto
octaedricamente por seis átomos de O (vide no capítulo 3, azulado e são análogos aos bronzes de tungstênio. 0 titanato
“Compostos iônicos do tipo AX2’). As outras duas formas de cálcio ocorre na natureza como perovsquita, CaTiOj, e
apresentam estruturas octaédricas distorcidas. Os óxidos são ilmenita (titanato de ferro), Fe"TiO3, e são as principais fontes
insolúveis em água. íons M4 + não podem ser encontrados de titânio.
em solução, pois íons MO2+ são formados, dando origem a A estrutura da ilmenita consiste num retículo hexago-
sais básicos como o sulfato de titanila, TiO • S04. Tanto o íon nal de empacotamento denso de átomos de O, onde os
TiO2* como o [Ti(OH)2]2 + podem estar presentes em átomos de Ti ocupam um terço dos interstícios octaédricos,
solução, mas no estado sólido eles se polimerizam, gerando e os átomos de ferro (ou de outro metal) ocupam mais um
cadeias (MO)n2 + , onde os átomos de oxigênio estão ligados terço desses interstícios. Essa estrutura é formada quando o
em ponte. A estrutura de raios X do TiO(SO4) mostra que outro metal tem tamanho semelhante ao do Ti. A estrutura
cada Ti é rodeado octaedricamente por seis átomos de O: é análoga a do coríndon, A12O3, mas este possui dois íons
dois átomos de O da cadeia, três átomos de O de três grupos Al3+ em vez de um íon Ti4+ e um Fe2 + .
SO42- e um átomo de uma molécula de água.
Quando os dois metais possuem tamanhos muito dife­
Analogamente, íons zirconila, ZrO2+, são encontrados rentes, o composto cristaliza com a estrutura da perovsquita
em solução, mas nos sólidos formam espécies poliméricas. (Fig. 20.2). Trata-se de um arranjo cúbico de empacotamento
O nitrato de zirconila, ZrO(NO3)2, forma uma estrutura em compacto de átomos de O e de Ca (de modo que o Ca apre­
cadeia contendo átomos de oxigênio em ponte, semelhante senta número de coordenação 12), onde o Ti ocupa um
a do TiO(SO4). O ZrO(NO3)2 é solúvel em água e HN03 quarto dos interstícios octaédricos. Os interstícios ocupados
diluído, sendo usado para remover fosfato em análise são aqueles completamente rodeados por átomos de 0, man­
qualitativa. Se o fosfato não for removido, irá interferir na tendo assim o Ca e o Ti tão afastados quanto possível um do
análise sistemática dos metais. Os fosfatos de Ti, Zr e Hf são outro.
todos insolúveis.
O BaTiO3 apresenta a estrutura da perovsquita. 0 íon
TiO2, ZrO2 e HfO2 são sólidos brancos muito estáveis, Ba2 + é grande demais para se acomodar no retículo de óxido
não são voláteis e tornam-se refratários quando aquecidos a de empacotamento compacto sem expandi-lo. Isso faz com
altas temperaturas. Nesse caso, o ZrO2 se torna muito duro, que aumente o tamanho dos interstícios octaédricos onde o
além de ter um elevado ponto de fusão (2.700 °C) e ser Ti se encontra, e este tenha um espaço livre disponível para
resistente aos ataques químicos. Por isso é usado na que possa se deslocar de um lado para outro. Num campo
manufatura de cadinhos para altas temperaturas e no elétrico, os átomos de Ti são impelidos para um dos lados
revestimento de fornos. Atualmente, pode ser encontrado do interstício, polarizando o material e tornando o cristal
comercialmente fibras de ZrO2, similares às fibras de A12O3 fortemente ferroelétrico. Ele é também um material piezo-
descritas no capítulo 12. Se os sólidos tiverem sido elétrico (pressão gera uma diferença de potencial e vice-
preparados a seco ou se tiverem sido aquecidos, não reagem
com ácidos. Se tiverem sido preparados em solução, por
exemplo pela hidrólise de TiCl4, o óxido se dissolve em HC1,
HF e H2SO4, formando os complexos [TiCl6]2“, [TiF6]2’ ou
[Ti(SO4)3]2“.
As propriedades básicas dos óxidos são intensificadas
com o aumento do número atômico: TiO2 é anfótero,
enquanto ZrO2 e HfO2 são básicos. TiO2 se dissolve tanto
em ácidos como em bases, formando titanatos e compostos
de titanila:
H/>04 conc.
TiO(SO„) e TiO2(H2O)n
sulfato de titanila NaOH conc.
■> Na2TiOj (H2O)„ Figura 20.2 — A estrutura da perovsquita
O ESTADO (+111] 349

versa). Isso torna-o útil como transdutor de agulhas de toca- Outros números de coordenação também são encontra­
discos e de microfones, como dielétrico de capacitores dos em complexos. São conhecidos alguns poucos complexos
cerâmicos, e outras aplicações em dispositivos eletrônicos. pentacoordenados e raros, tais como Et4N[TilvCls]“ e
Outros titanatos tem a fórmula M"2TiO4, onde M pode [TiCl4- AsH3). Também são conhecidos alguns complexos
ser Mg, Mn, Fe, Co ou Zn. O Mg2TiO4 tem uma estrutura de heptacoordenados: Na3[ZrF7] e Na3(HfF7]. Estes têm
espinélio (como o MgAl2O4). Os íons óxido formam um estrutura bipirâmide pentagonal, como o IF7. Contudo, a
arranjo cúbico de empacotamento compacto, onde os íons estrutura do (NH4)3[ZrF7) é a de um prisma trigonal com
Mg ocupam a metade dos interstícios octaédricos e os íons uma face “piramidal”: o Zr se situa no centro de um prisma
titânio um oitavo dos interstícios tetraédricos. Assim, esses trigonal com seis átomos de F nos vértices e um sétimo
compostos contêm íons discretos [TiO4]4‘. acima e no centro de uma das faces. Outro composto
incomum é o Ti(NO3)4. Os grupos NO3~ atuam como ligantes
Peróxidos bidentados, isto é, dois átomos de O de cada grupo NO3~ se
ligam ao Ti. Logo, o número de coordenação do Ti é igual a
Uma propriedade marcante das soluções de Ti ( +IV) é 8, e sua estrutura é a de um dodecaedro quase regular
0 aparecimento de uma cor amarela alaranjada intensa conhecido como bisdiesfenóide. O Na4[ZrF8] e o Na4[HfF8]
quando se adiciona H2O2. Essa reação pode ser usada para também têm estrutura bisdiesfenóide. Contudo, no
a determinação colorimétrica de Ti(IV) ou de H2O2. Supõe- [Cu(H2O)6]22 +[ZrF8)4~ o Zr tem número de coordenação 8,
se que essa cor seja decorrente da formação de um peroxo- mas sua estrutura é a de um antiprisma quadrado (pode ser
complexo. Abaixo de pH 1, a espécie predominante é imaginado como um cubo no qual a face superior sofreu
(Ti(02) • (OH) ■ (H2O)n]+, na qual 0 ligante peroxo se coordena uma rotação de 45°). As estruturas dos complexos hepta e
bidentadamente. octacoordenados são mostrados na Fig. 20.3.
Haletos
O ESTADO ( + III)
0 haleto mais importante é o TiCl4, obtido
industrialmente passando-se Cl2 sobre TiO2 e C aquecidos. Todos os compostos com os elementos no estado de
Os outros haletos MX4 podem ser preparados de modo oxidação (+ III) são coloridos e paramagnéticos, pois o íon
semelhante. Para evitar o manuseio de F2, os fluoretos são tem configuração d1. O Ti(III) é muito mais básico que o
preparados reagindo-se HF anidro com TiCl4. Ti(IV), de modo que a adição de álcali a uma solução de
Ti3+ provoca sua precipitação na forma de Ti2O3 • (H2O)n,
TiCl4 + 4HF -> TiF4 + 4HC1 um sólido púrpura, insolúvel em excesso de álcali.
Os haletos TiX3 podem ser facilmente obtidos por
Os iodetos também podem ser preparados pelo
redução do TiX4 correspondente. Assim, o TiCl3 anidro pode
aquecimento do halogênio com o metal. Os iodetos são
ser obtido como um pó violeta por redução de TiCl4 com
importantes no processo van Arkel-de Boer, utilizado para
H2, a 600 °C. O TiCl3 é importante como um catalisador de
purificar esses metais.
Ziegler-Natta (vide adiante). A redução de soluções aquosas
0 T1C14 é um líquido incolor fumegante, covalente e
diamagnético. O ZrCl4 é um sólido branco. No estado gasoso,
todos os haletos são tetraédricos, mas no sólido formam a) b)
cadeias de octaedros MX6, em zigue-zague. Todos os haletos
reagem vigorosamente com água formando TiO2, e fumegam
em ar úmido. Caso a hidrólise seja efetuada com solução
aquosa de HC1, o oxocloreto TiOCl2 é obtido.

TiCl4 + 2H2O ->TíO2(H2O)„ + 4HC1


TiCl4 + H2O --HC1- -> TiOCl2 + 2HC1 lonlZrF,]3- no Na3[ZrF7] íon[ZrF7P" no (NH4)3[ZrF7]
bipirâmide pentagonal prisma trigonal com um
átomo extra no centro
Os fluoretos são mais estáveis que os demais haletos. de uma face retangular
Os tetra-haletos atuam como ácidos de Lewis (receptores
de pares eletrônicos) em relação a um grande número de
doadores, formando um grande número de compostos
octaédricos.
HF conc.
TiF4 -> [TiF6]2‘ (estável)
HC1 conc.
TíC14 — ■+ [TiCla]2- (muito instável)

Podem ser incluídos nesse rol de ligantes fosfinas R3P,


arsinas R3As, doadores oxigenados R2O, e doadores íon [ZrF7]**no [Cu(H;O)8]/«(ZrFs]*-
antiprisma quadrado (idêntico a
nitrogenados como piridina, amônia e trimetilamina. Os um cubo, mas com um giro de 45° íon [ZrFal4- no Na4[ZrF8]
complexos formados têm a fórmula [TiX4 L2] e são na face superior). bis-diesfenóide
octaédricos. Na maioria dos casos os ligantes adicionados
se situam em posição eis um em relação ao outro. Figura 20.3 — Estruturas de alguns complexos com fluoreto
350 Bnjpo 14 — BRUPO DO TTTANID

contendo Ti( + IV) com Zn fornece o íon hidratado púrpura polímeros atáticos ou aleatórios. Praticamente qualquer
[Ti(H2O)6]3 + . Este é um poderoso agente redutor, inclusive alceno pode ser polimerizado.
mais forte que o Sn2 + . Ele é oxidado diretamente pelo ar, e Foram realizadas muitas pesquisas para se determinar
deve ser armazenado ao abrigo da luz solar direta. Soluções como esse catalisador atua. A espécie ativa contém Ti111, e o
aquosas de TinlCI3 são constituídas por duas espécies AlEt3 pode reduzir TiCl4 a TiCl3 in situ, ou então, TiClj pode
hidratadas diferentes, com cores distintas. Em um dos ser diretamente adicionado à mistura reacional. Então, um
complexos o Ti111 está ligado a seis moléculas de H20 dos átomos de Cl é substituído por um grupo etil gerando a
([Ti(H2O)6]3 + C13"), enquanto que no outro está coordenado espécie ativa. Um mecanismo de polimerização possível
a cinco moléculas de H2O e um Cl" ([TíC1(H2O)5]2+C12"). O supõe a coordenação de outra molécula de eteno pela dupla
desdobramento dos níveis d pelo campo cristalino, nesses ligação a um sítio desocupado de um átomo de Ti na
dois ambientes, são diferentes. Logo, a quantidade de energia superfície do catalisador. Ocorre então uma reação de
necessária para promover o elétron d também é diferente migração do carbono, e o eteno é inserido entre o Ti e o C
nos dois casos, e por isso eles apresentam cores distintas. da ligação Ti-Et. Esse processo aumenta a cadeia carbônica
O Ti3* é usado em análise volumétrica para a de dois para quatro átomos, deixando novamente um sido
determinação de íons Fe3+ e também de nitrocompostos desocupado no átomo de Ti. À medida que o processo
orgânicos. Na titulação do ferro, o ponto de equivalência descrito acima se repete a cadeia carbônica aumenta de
pode ser detectado com tiocianato de amônio ou com azul tamanho. Uma reação semelhante ocorre com outros alcenos,
de metileno. O primeiro faz com que a solução permaneça como o propeno ou propileno, CH3-CH = CH2. Quando essa
vermelha enquanto íons Fe3+ estiverem presentes, enquanto molécula se coordena ao Ti pela dupla ligação, o grupo CH3
que o segundo é reduzido e descora quando houver um sempre vai estar apontado para uma direção oposta ao da
pequeno excesso de Ti3 + . superfície, simplesmente porque a reação se processa numa
superfície. Assim, quando a molécula migra e é inserida na
[Ti(H2O)6]3+Cl3 TiCl4 ligação Ti-C ela sempre terá a mesma orientação. Esse
violeta desproporciona fenômeno é conhecido como inserção do alceno em cis, o
c/ aquecimento
TíC14 «o^tíCI^ e que explica porque os polímeros obtidos são estéreo-
violeta
[Ti(H2O)5Cl]2+Cl2 TiCl2 regulares.
Ti^ HC1 quente verde
A polimerização do eteno era efetuada no passado em
FeCl3 + TiCl3 + H2O -> FeCl2 + TiO Cl2 + 2HC1 condições de altas temperaturas e pressões. Com o catalisador
RNO2 + 6Ti3+ + 4H2O ->RNH2 + 6TíO2+ + 6H + de Ziegler-Natta, a polimerização pode ser efetuada em
condições relativamente brandas, que vão da temperatura
Uma grande variedade de complexos de Ti,n pode ser ambiente a 93 °C, e da pressão atmosférica a 100 atmosferas.
obtida, por exemplo [Ti,nF6]3-, [TiUICl6]3-, [TinlCl5-H2O]2-, Eventualmente, o produto é hidrolisado com água ou com
[TiBr3(bipiridina)2] e [TiBr2(bipiridina)2]+ [TiBr4(bipiri- álcool e o catalisador é removido. O polímero obtido é o
dina)]". polietileno de alta densidade (densidade = 0,95 - 0,97 g
O Zr(III) e o Hf(III) são instáveis em água e só são cm'3 e P.F. = 135 °C). É constituído por cadeias lineares,
encontrados em compostos no estado sólido. com pouquíssimas ramificações e peso molecular de 20.000
a 30.000. Essa forma de polietileno é relativamente dura e
COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS rígida. Outra forma de polietileno, denominado polietileno
de baixa densidade, é mole e tem densidade e ponto de
Catalisadores de Ziegler-Natta
Soluções de AlEt3 e TiCl4, num Superfície
hidrocarboneto como solvente, reagem
exotermicamente formando um sólido Cl<
castanho. Trata-se do importante
catalisador de Ziegler-Natta para a
polimerização de eteno (etileno) a
polietileno. Ziegler e Natta receberam
XXAIEt3

Cl
o Prêmio Nobel de Química de 1963 por
essa pesquisa (vide também o capítulo CH3 CHj
/ /
12). Atividade catalítica semelhante foi CH2 CH,
z
observada para misturas de alquil-Li, Be CH3 CH3 CH3 /

CH3
’ ‘ C/H'

ou Al com haletos dos grupos 4, 5 e 6,

xxk xjkxâlj«to
ou seja, do Ti, V e Cr.
CH^
CHÍ] ch ^1_ch chí I CHÍ]
O catalisador A1C13/TíC14 é de
grande importância industrial. Ele
> c-i tolCHj

possibilita a produção de polímeros Cl .


ÍX“'Cl’ ‘ 1
~ ■ Cl 1 1

estéreo-regulares (isto é, polímeros em


que todas as cadeias tem a mesma
orientação). Eles são mais fortes e tem
k Cl Cl
b
pontos de fusão mais altos que os Figura 20.4 — Sugestão para a polimerização com um catalisador de Ziegler-Natta
LEITURAS COMPLEMENTARES 351

fusão menores (0,91 - 0,94 g cm’3 e P.F. = 115 °C). São nuamente, e que os anéis q5 e q' também alternam suas
obtidos pela polimerização radicalar do eteno, iniciada por posições. O Hf forma um composto idêntico, mas surpreen­
um promotor, sob condições muito mais drásticas (190 - dentemente o Zr forma um análogo com três anéis q5 e
210 °C e 1.500 atmosferas de pressão), e são constituídos somente um anel q1.
por cadeias bem mais ramificadas. A produção de todas as Somente alguns poucos alquil- e aril-derivados são
formas de polietileno e de polipropileno foi, respectivamente, conhecidos, mas geralmente são instáveis frente ao ar e a
de 24,6 e 12 milhões de toneladas, em 1991. água. C6H5Ti(C3H7O)3, CH3TíC13 e Ti(CH2Ph)4 são estáveis
a 10 °C, e o Ti(CH3)4 é estável abaixo de -20 "C. A maioria
Outros compostos dos compostos com um grupo alquil ligado ao Ti atua como
Não são conhecidos complexos carbonílicos estáveis catalisador da polimerização de alcenos.
dos elementos do grupo 4. O Ti(CO)6 foi obtido empregando- Alguns compostos organometálicos de Ti11 são capazes
se a técnica de isolamento em matriz, por meio da de fixar gás N2 e formar NH3. Um exemplo é o (C10H10Ti)2.
condensação de vapores de Ti e CO numa matriz sólida de Esse ciclo que descreve o processo de fixação pode ser
um gás inerte, a baixíssimas temperaturas. O composto foi semelhante ao processo de fixação de nitrogênio observado
estudado espectroscopicamente. A ausência de compostos na natureza (complexos de dinitrogênio serão discutidos no
carbonílicos, provavelmente, se deve à falta de elétrons d tópico sobre complexos de rutênio(II), no capítulo 24).
para formar ligações de retrodoação.
Já os ciclopentadienil-derivados são bem mais estáveis LEITURAS COMPLEMENTARES
e mais estudados. Na descrição de compostos organome­ • Allen, A.D. (1973) Complexes of dinitrogen, Chem Rev., 73,
tálicos, é conveniente descrever a “hapticidade” ti de um 11.
grupo, como sendo o número de átomos de C coordenados
ao metal. Diversos complexos de bis(ciclopentadienila) • Boor, J. (1979) Ziegler-Natta Catalysts and Polymerizations,
Academic Press, New York.
estáveis, tais como [Ti(q5-C5H5)2(CO)2], [Ti(q5-
CsHs)2(NR2)2], e [Ti(q5-CsHs)2(SCN)2], são conhecidos. Suas • Canterford, J.H. e Cotton, R. (1968) Halides of the Second
estruturas são aproximadamente tetraédricas, mas os ligantes and Third Row Ifansition Elements, Wiley, London.
ciclopentadienila são penta-hápticas, isto é, cinco átomos • Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides ofthe First Row
de carbono de cada anel se ligam ao Ti. A redução desses Transition Elements, Wiley, London.
compostos leva a formação de [Ti(C5H5)2X] ou [Ti(C5H5)2]. • Corbett, J.D. (1981) Extended metal-metal bonding in ha­
Este último lembra o ferroceno, [Fe(C5H5)2], mas o composto lides of the early transition metais, Acc. Chem. Res., 14, 239.
de Ti é dimérico e, portanto, diferente. • Davis, K.A. (1982) Titanium dioxide (Chemical of the month),
Tetraciclopentadienil-derivados, como o [Ti(CsHs)4], J. Chem. Ed„ 59, 158-159.
podem ser obtidos reagindo-se TiCl4 e NaCsHs. Esse • Jones, DJ. (1988) The story of titanium, Chemistry in Brit-
composto é melhor descrito pela fórmula [Ti(qs-CsHs)2(q1- ain, 24, 1135-1138.
CsH5)2], onde dois anéis ciclopentadienila estão ligados por • Kepert, D.L. (1972) The Early Tfansition Metals (Cap. 2),
cinco átomos de C (ligações rt) e dois anéis estão ligados Academic Press, London.
por um átomo de C (ligações o). Estudos de ressonância • Kettle, S. F A. (1969) Coordination Compounds, Nelson, Lon­
magnética nuclear desse tetraciclopentadienil-derivado don. (Espectro do Ti3 + )
sugerem que nos anéis q1 o C ligado ao Ti muda conti-
• Shriver, D.H.; Kaesz, H.D. eAdams, R.D. (eds) (1990) Chem­
istry of Metal Cluster Complexes, VCH, New York.
►Tilv(OR)4+2Na -Ti"(OR)2+2 RO Na • Sinn, H. e Kaminsky, W. (1980) Ziegler-Natta Catalysts, Adv.
: tí"(or)2 + n2 ____ 2-N2]„
-[Ti(OR)
Organometallic Chem., 18, 99-143. (Um bom artigo de
revisão)
i [Ti(OR)2-N2]„+4 Na Ti,v(0R)4 ' +4RO Na + 2NH3
. '----- ,---- - • Thompson, R. (ed.) (1986) The Modem Inorganic Chemis­
try Industry, (Cap. por Darby, R.S. e Leighton, J., Pigmentos
de dióxido de titânio), Publicação especial No. 31, The Chemi­
Figura 20.5 — Ciclo para a fixação do nitrogênio cal Society, London.
35H

Grupo 5
0 GRUPO GO UANÁGIO
INTRODUÇÃO
O vanádio é importante industrialmente como compo­ Tabela 21.2 — Abundância dos elementos na crosta
nente da liga ferro-vanádio, usado na fabricação de aço terrestre, em peso
especiais. O V2OS é um composto bem conhecido, utilizado
Elemento ppm Ordem de
como catalisador; sendo o metal V, também empregado como abundância relativa
catalisador. Os vanadatos apresentam uma extensa química
em solução. O nióbio e o tântalo são usados apenas em V 136 19?
pequenas quantidades. Contudo, há um grande interesse Nb 20 32?
teórico pelos "clusters”, que eles formam quando em estados Ta 1,7 53?
de oxidação baixos.

vermelho ou laranja). Mais de 75% do V2O5 são convertidos


ABUNDÂNCIA, OBTENÇÃO E USOS
numa liga de ferro e vanádio, conhecida como “ferrovaná-
V, Nb e Ta possuem números atômicos ímpares e são dio". Ela contém cerca de 50% de ferro e é obtida aquecendo-
menos abundantes que seus elementos vizinhos. Mesmo se V2O5 com ferro ou com óxido de ferro, na presença de
assim, o V é o décimo-nono elemento mais abundante, em um agente redutor como C, Al ou ferro-silício. O ferrovanádio
peso, da crosta terrestre, e é o quinto elemento de transição é usado industrialmente na preparação de ligas de aço para
mais abundante. Contudo, encontra-se muito disseminado, molas e ferramentas de corte rápido. O metal vanádio rara­
havendo apenas alguns poucos depósitos concentrados. A mente é usado puro. Ele é difícil de ser preparado, porque
maior parte é obtida como subproduto de outros processos. ele reage com O2, N2 e C, nas elevadas temperaturas
Ocorre em minérios de chumbo como a vanadinita, necessárias no processamento metalúrgico. O vanádio puro
PbCl2-3Pb3(VO4)2, em minérios de urânio como carnotita, pode ser obtido pela redução de VCI5 com H ou Mg, pela
K2(UO2)2(VO4)2'3H2O, e em alguns petróleos da Venezuela redução de V2O5 com Ca, ou pela eletrólise de um haleto
e do Canadá. Os resíduos de vanadato são aquecidos com complexo fundido. A produção mundial de vanádio, em ligas
Na2CO3 ou com NaCl a 800 °C. O vanadato de sódio, NaVO3, e como metal puro, foi de 28.400 toneladas em 1992.
formado é então extraído com água. Em seguida, a solução O V2OS é extremamente importante como catalisador
é acidificada com H2SO4 para precipitar o polivanadato de na conversão de SO2 a SO3, no Processo de Contato utilizado
sódio, um sólido de coloração vermelha; que por aqueci­ na fabricação do H2SO4. Ele substituiu a platina como
mento a 700 °C fornece o V2O5 (este é preto, possivelmente catalisador, por ser mais barato e menos susceptível ao
por causa da presença de impurezas: geralmente o V2O5 é envenenamento por impurezas como o arsênio. 0 vanádio
é um importante catalisador em reações
Tabela 21J — Configurações eletrônicas e estados de oxidação de oxidação, como a transformação de
naftaleno em ácido ftálico e de tolueno
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* em benzaldeído. Uma liga Cu/V é usada
como catalisador na oxidação de mistu­
Vanádio V [Ar] 3d34? (-D (0) (D (II) III IV v ras ciclohexanol/ciclohexanona a ácido
Nióbio Nb [Kr] 4d35? (-D (0) (D (II) III (IV) v adípico (o ácido adípico é empregado
Tântalo Ta [Xe] 4/45d36? (-1) (0) (D (0) m (IV) V na fabricação do náilon-66). 0 vanádio
também é usado como catalisador na
• Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados reação de redução (hidrogenação) de
am
em nanritn Outros eSldUÜS
negrito. (Tntrne
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U ’ ’ ' ® . .
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são dados entre perênteses. alcenos e hidrocarbonetos aromáticos.
PROPRIEDADES 6ERAI5 353

0 nióbio e o tântalo ocorrem juntos. O mineral mais associado à participação máxima de elétrons d na ligação
importante é a piroclorita, CaNaNb2O6F. Quantidades bem metálica. Os pontos de fusão do Nb e do Ta são elevados,
menores de columbita, (Fe,Mn)Nb2O6, e de tantalita, mas os pontos de fusão máximos para os elementos da
(Fe,Mn)Ta2O6, também são mineradas. Todavia, 60% do segunda e terceira séries de transição ocorrem no grupo
tântalo é recuperado da escória resultante do processo de seguinte (Grupo 6), com os elementos Mo e W.
extração do Sn. Os minérios são dissolvidos ou por fusão Os metais V, Nb e Ta puros são moderadamente moles
com álcalis ou em ácido. Antigamente, a separação de Nb e dúcteis, mas quantidades traço de impurezas os tomam
do Ta era efetuada tratando-se a mistura com uma solução duros e quebradiços. São extremamente resistentes à
de HF. Nessas condições, o Nb forma o composto solúvel, corrosão, devido à formação de uma película superficial de
K2[NbOF5] enquanto o Ta forma o composto insolúvel oxido. À temperatura ambiente, eles não reagem com o ar,
K>[TaF7). Atualmente, a separação é efetuada por extração água ou ácidos, exceto o HF, com o qual formam complexos.
com solvente a partir de uma solução diluida de HF, V também se dissolve em ácidos oxidantes, tais como H2SO4
utilizando metilisobutilcetona. Os metais são obtidos por concentrado a quente, HNO3 e água-régia. V não reage com
redução dos pentóxidos com Na, ou então por eletrólise dos álcalis, indicando que é tipicamente básico, mas o Nb e o Ta
íluoro-complexos fundidos, como o K2[NbF7). Em 1992, a se dissolvem em álcali fundido.
produção mundial de Nb eTa foi, respectivamente, de 15.200 Os três metais reagem com muitos não-metais à altas
e 600 toneladas. temperaturas. Os produtos freqüentemente são compostos
O Nb é utilizado em vários tipos de aço inoxidável e na intersticiais, não-estequiométricos.
liga Nb/aço usada para encapsular os elementos V forma diversos cátions diferentes, mas o Nb e o Ta
combustíveis de alguns reatores nucleares. Uma liga Nb/Zr praticamente não formam nenhum. Assim, embora o Nb e
é um supercondutor a baixas temperaturas e está sendo o Ta sejam metais, seus compostos no estado (+ V)
empregada para preparar os fios de poderosos eletroímãs. O geralmente são covalentes, voláteis e facilmente hidrolisados
Ta é usado na fabricação de capacitores na indústria — propriedades associadas aos não-metais.
eletrônica. Como ele não é rejeitado pelo organismo humano,
A tendência de formar compostos iônicos simples
é usado na manufatura de próteses para o tratamento de
diminui, à medida que o estado de oxidação aumenta.
fraturas, tais como chapas, pinos, parafusos e fios. O carbeto
Embora os íons V2 + e V3 + sejam redutores, eles são
de tântalo, TaC, é o sólido com um dos mais elevados pontos
encontrados nessas formas tanto no estado sólido como em
de fusão que se conhece (cerca de 3.800 °C).
solução (como íons hexaidratados). Eles possuem uma
extensa química em meio aquoso. O estado de oxidação
ESTADOS DE OXIDAÇÃO (+ IV) é dominado pelo íon VO2 +. Este é muito estável e
O estado de oxidação máximo para os elementos desse pode ser encontrado numa grande variedade de compostos,
Grupo é ( + V). Os três elementos apresentam todos os tanto sólidos como em solução (como íon hidratado). Alguns
estados de oxidação possíveis, de (-1) a (+ V). O íon vanádio compostos covalentes com o metal no estado ( + TV), como
é um redutor nos estados (+ II) e (+ III), é estável no estado o VC14, também são conhecidos. O íon ( + V) pode ser
(+IV) e ligeiramente oxidante no estado (4-V). O estado covalente, como no VFS, ou pode formar os íons hidratados
( + V) é de longe o mais estável e o melhor estudado no caso VO2 + e VO43’. A química do Nb e do Ta se restringem
do Nb e do Ta, embora os íons em estados de oxidação essencialmente ao estado de oxidação (+ V).
inferiores sejam conhecidos. As propriedades básicas dos óxidos M2O5 aumentam
O V( + V) é reduzido a V2+ e o Nb( +V) é reduzido a de cima para baixo dentro do Grupo. V2OS é anfótero, embora
Nb3+ por Zn, em meio ácido, mas o Ta( + V) não é reduzido. seja preponderantemente ácido. Dissolve-se um pouco em
Isso demonstra a estabilidade crescente do estado de água, formando uma solução ácida, de cor amarela pálida.
oxidação ( +V) ao se descer pelo Grupo. Ao mesmo tempo, Dissolve-se prontamente em NaOH formando uma solução
os estados de oxidação inferiores se tornam cada vez menos incolor, que contém diversos íons vanadato. O íon formado
estáveis. Essa tendência é oposta àquela observada nos depende do pH: em valores intermediários de pH coexistem
elementos dos grupos representativos. diversos isopolivanadatos e em pH elevado forma-se o
ortovanadato, VO43-. A química dos polivanadatos em
solução aquosa é bastante complicada. O V2O5 também se
TAMANHO dissolve um pouco em H2SO4 concentrado, formando o íon
Os átomos são menores que os do grupo do titânio, amarelo pálido VO2 +. Nb2O5 e Ta2O5 são relativamente pouco
devido à blindagem ineficiente do núcleo pelos elétrons d.
Os raios covalentes e iônicos do Nb e do Ta são idênticos Tabela 213 — Algumas propriedades físicas
por causa da contração lantanídica (Tab. 21.3). Por
conseguinte, esses dois elementos têm propriedades muito Raio Raio iônico Pomo de Pomo de Densidade Eletrone-
semelhantes, ocorrem juntos e sua separação é muito difícil. covalente M2’ M3* fusão ebulição gaüvi-
(A) (A) (’C) (-C)
CC) (g cm-3) dade de
Pauling
propriedades gerais
V 1,22 0,79 0,640 1.915 3.350 6,11 1,6
V, Nb e Ta são metais de cor prateada, com elevados
Nb 1,34 0,720 2.468 4.758 8.57 1,6
pontos de fusão. V tem o ponto de fusão mais alto dentre os
Ta 1,34 0,720 2.980 5.534 16,65 1,5
elementos da primeira série de metais de transição. Isso está
354 SRUPO 5 — 0 6RUPQ □□ VANÁOIO

reativos, embora sejam anfóteros, com caráter ácido muito


fraco. Os niobatos e tantalatos só se formam por fusão com
NaOH. São decompostos por ácidos fracos ou por C02, e
exibem apenas algumas das propriedades dos isopolivana-
datos.
Enquanto os íons V2 + e V3+ são bem conhecidos, os
íons Nb(ll), Ta(Il), Nb(III) e Ta(HI) não são iônicos, mas
formam "clusters" do tipo M6X12, nos quais existem vários
átomos do metal estão ligados entre si.

COR Figura 21.1 — Estrutura tetrâmera do NbFs e do TaFs


A cor dos compostos dos metais de transição dos. Todos são covalentes, voláteis e são hidrolisados pela
normalmente se deve às transições eletrônicas d-d. Pode água.
decorrer também de defeitos no sólido (vide Capítulo 3) e
de transições de transferência de carga (as transições de
transferência de carga foram discutidos usando o Snl4 como Haletos dos elementos no estado de oxidação (+ V)
exemplo, no Capítulo 13). Os íons em estados de oxidação V forma apenas o pentafluoreto, mas o Nb e o Ta for­
inferiores a (+ V) são coloridos, pois possuem um nível mam toda a série de haletos. Estes podem ser obtidos pela
eletrônico d preenchido de forma incompleta, que possibita reação direta dos elementos, ou através de reações como:
a ocorrência de transições d-d. O íon vanádio possui
configuração d°, no estado de oxidação ( + V), e seus M2O3 + F2 —> MFS NbCls ou TaCls + F2 -> MFS
compostos devem ser incolores. NbFs, TaFs e TaCls são 2VF4 60D'C
60D'c > VF5VF3 NbCls ou TaCls+ HF MFs
brancos, mas o V20s é vermelho ou laranja, o NbCls é desproporciona
amarelo, o NbBrs é laranja e o Nbls é cor de bronze. Tais
cores se devem à ocorrência de transições de transferência VFS é um líquido incolor, mas os demais pentahaletos
de carga. são sólidos, com diversas estruturas cristalinas. Os fluoretos
são constituídos por unidades octaédricas MF6 com dois
átomos de flúor em posições cis em cada octaedro, atuando
COMPOSTOS COM NITROGÊNIO, CARBONO como átomos ponte (ligação V-F-V) para ligar outros
E HIDROGÊNIO octaedros. Dessa maneira, o VFS forma longas cadeias de
Esses metais reagem com N2 formando nitretos octaedros, mas o NbFs e o TaF5 formam tetrâmeros cíclicos
intersticiais MN, e com carbono formando duas séries de com quatro octaedros ligados entre si de maneira análoga
carbetos, MC e MC2, a temperaturas elevadas. Carbetos como (Fig. 21.1). Essa estrutura também é encontrada em outros
NbC e TaC são intersticiais, refratários e muito duros, como penta-haletos, por exemplo, MoFs, RuFs e OsFs. NbCls eTaCls
TiC e HfC no grupo anterior. O TaC exibe o mais elevado sólidos são dímeros nos quais dois octaedros estão ligados
ponto de fusão de todos os compostos conhecidos, ou seja, entre si, por meio do compartilhamento de uma aresta (Fig.
cerca de 3.800 °C. Por outro lado, carbetos como VC2 são 21.2).
iônicos e reagem com água, liberando acetileno. Todos os penta-haletos podem ser sublimados numa
Todos os três elementos reagem com H2 mediante atmosfera do halogênio correspondente. No vapor,
aquecimento, formando hidretos não-estequiométricos. A provavelmente, se encontram na forma de moléculas
quantidade de hidrogênio absorvido depende da temperatura discretas com estrutura bipirâmide trigonal.
e da pressão. Nesse caso, como ocorria no grupo do titânio, Todos os pentafluoretos do grupo reagem com íons F
o retículo metálico se expande, à medida
que o hidrogênio ocupa as posições
Tabela 21.4 — Haletos
intersticiais. Assim, a densidade do
hidreto é menor que a do metal. É difícil
Estados de oxidação
precisar se são compostos verdadeiros
ou soluções sólidas, pois os conteúdos +(D) (+III) (+IV) (+V)
máximos de hidrogênio são VH0>7I, VF2 azul VF3 amarelo esverd. VF4 VF5 incolor (líq)
verde
NbH0.86 e TaH0,76. VCI2 verde pálido VC13 verm. violeta VCI4 marrom averm.
VBr2 laranja-marrom VBr3 marrom VBRj vermelho
HALETOS Vl2 verm. violeta VI3 preto-morrom
Quando V é aquecido com os (NbFj) *azul NbF4 preto NbFs branco
NbClj preto NbCI4 violeta NbCls amarelo
halogênios, formam-se haletos com o
NbBq marrom NbBr4 marrom NbBrs laranja
elemento em diferentes estados de
Nblj Nbl4 cinza Nbls bronze
oxidação: VF5, VC14, VBr3 e VI3. Nb e Ta
(TaFj) *azul TaFs branco
reagem com todos os halogênios TaClj preto TaCl4 preto TaCls branco
formando penta-haletos MXS, quando TaBq TaBr4 azul TaBrs amarelo
aquecidos. Na Tab. 21.4 são mostrados Tal. Tals prelo
os diferentes tipos de haletos conheci-
HALETOS 355

VC14 é tetraédrico no estado gasoso. Por causa da


configuração d1 do V( + IV), esse composto deveria ser menos
estável e sua estrutura deveria ser distorcida. No estado
líquido encontra-se na forma de dímeros. O NbF4 é um sólido
preto, não-volátil, paramagnético, constituído por cadeias
de octaedros regulares, interligados pelas arestas. Os
tetracloretos, tetrabrometos e tetraiodetos de Nb e Ta são
sólidos castanho-escuro diamagnéticos, sugerindo a ocor­
rência de forte interação metal-metal. O Nbl4 é constituído
por cadeias de octaedros ligados pelas arestas. Os átomos
Figura 21.2 — Estrutura dímera do NbCls de Nb estão deslocados do centro do octaedro Nbl6 e ocorrem
aos pares. Isso possibilita a formação de ligações Nb-Nb
formando complexos octaédricos [MF6]". Como ocorria no fracas de 3,20 A e o emparelhamento dos spins eletrônicos
grupo do titânio, os elementos mais pesados podem formar anteriormente desemparelhados (Fig. 21.3). O NbCl4 possui
complexos com um número de coordenação mais elevado. estrutura semelhante, com ligações M-M de 3,06 A.
Assim, complexos [NbOFs]2", [NbF7]2’ e [TaF7]2“ podem ser Os tetra-haletos tendem ao desproporcionamento:
formados na presença de elevadas concentrações de F". As
temperatura
espécies hepta-coordenadas possuem estruturas similares, ambiente
ou seja, prismas trigonais com uma das faces retangulares 2VC14 4 2VC13 + Cl2 (não existe VC15)
piramidada, ou seja, com um átomo adicional acima de seu 2VF4 600 -c—» VF3 + VFS
centro (vide Fig. 20.3b). Se a concentração de F* for ainda 400 ~C
maior, o Ta forma o [TaF8]3~ enquanto o Nb forma [NbOF6]3‘ 2TaCl4 4 TaCl3 + TaCls
. 0primeiro é um antiprisma quadrado (Fig.20.3c), enquanto
Eles também são hidrolisados pela água:
o segundo é um octaedro com um átomo extra em uma de
suas faces. Essa característica do Ta de não formar oxo- VC14 - 4 VOC12 + 2HC1
haletos tem sido usada para separar Nb de Ta. SH/)
0 aquecimento de MFS e MC1S com doadores de O tais
4Ta'vCl4 4 Tav2Os + 2TalnCl3 + 10HC1
como éter dimetílico, (CH3)2O, ou dimetilssulfóxido,
(CH3)2SO, leva à formação dos oxocloretos MOC13, por Haletos dos elementos no estado de oxidação (+ III)
abstração de oxigênio. Oxo-haletos podem ser obtidos Todos os tri-haletos, exceto o Tal3, são conhecidos. Eles
aquecendo-se os penta-haletos correspondentes ao ar. VOC13 são agentes redutores, possuem configuração d2, e têm
também pode ser obtido aquecendo-se V2O5 com Cl2 (ou às coloração marrom ou preta. Os compostos VX3 são todos
vezes com C e Cl2). Os oxo-haletos são todos facilmente poliméricos e o V encontra-se num ambiente octaédrico.
hidrolisados pela água ao pentóxido hidratado. Os oxo- VC13 e VBr3 podem ser obtidos diretamente a partir dos
haletos têm estrutura tetraédrica. elementos, e o VF3 é obtido pela reação de VC13 com HF. O
Os penta-haletos reagem com N2O4 formando nitratos VF3 pode ser cristalizado em água na forma de [VF3.(H2O)3],
solvatados, como NbO2 • (NO3) • 0,67MeCN, e nitratos anidros, mas os demais haletos são instáveis, levando à formação de
como NbO(NO3)3. [V(H2O)6)3 + e três íons X". O VC13 forma complexos tais
Nos haletos dos elementos no estado (+ V), os metais como VC13-(NMe3)2, com estrutura bipirâmide trigonal. O
têm configuração d° e não exibem transições d-d. Os Vl3 se desproporciona segundo a reação:
fluoretos são brancos, mas os demais haletos são coloridos, 2VI3 VI2 + Vl4
devido às transições de transferência de carga.
Espectros
Haletos dos elementos no estado de oxidação (+ IV)
O íon V3 + apresenta configuração d2. Os dois elétrons
Todos os tetra-haletos, exceto o TaF4, são conhecidos e d ocupam dois dos orbitais t2g, isto é, dois dos orbitais dxy,
podem ser preparados com se segue: d^ e õlyz- 0 estado fundamental é triplamente degenerado e
reduz com Ha, o termo espectroscópico correspondente é 3Tlg(F). À primeira
Al, Nb ou Ta
V + 2C12 -> VC14 NbXs ou TaXs 4 MX4 vista, a excitação desses elétrons ao nível eg parece levar ao
aparecimento de duas transições d-d no espectro eletrônico.
V + 4HF -4 VF4 + 2H2
Contudo, em condições adequadas, são observadas três
bandas. Se um dos elétrons for promovido do nível t2g ao
*3.20A, .<-3.83Â->.
nível eg, o arranjo mais estável (isto é, de menor energia)
será aquele em que os elétrons ocupam orbitais os mais
afastados possíveis, ou seja, ortogonais um ao outro. Assim,
se um dos elétrons ocupar o orbital d^, a estrutura eletrônica
mais estável será aquela em que o outro elétron ocupa o
orbital d2> e não o orbital dX2.y2. Há três modos diferentes,
de mesma energia, de dispor esses dois elétrons em orbitais
Figura 21.3 — Estrutura polímera do Nbl4. com ligações metal-metal perpendiculares um ao outro:
356 GRUPO 5 — 0 GRUPO □□ VANÁOIO

(dxy)'(dx2.y2)' (dxz)'(dz2.y2)1 e (dyj^d^)1


Esse é o estado 3T2g. Existe um outro estado triplamente
degenerado, de energia um pouco maior e representado por
3T2g, no qual os orbitais ocupados se situam a 45° um do
outro:
(d^m^)1 (d^m.)1 e (dyji(dz2)1
Se ambos os elétrons forem promovidos ao nível eg e
supondo que eles permaneçam desemparelhados, o único
arranjo possível será:
Figura 21.4 — Estrutura do íon [Nb^Cli;]2*, mostrando o agregadooató
drico de átomos metálicos interligados, e as 12 pontes de átomos de
(dx2_y2)1(dz2)1 cloro
Esse estado é o 3A2g. Portanto, há três transições
possíveis do estado fundamental para estados excitados de V(OH)2, e a adição de H2SO4 e etanol provoca a precipitação
mesma multiplicidade: de cristais violetas de VSO4.6H2O. Esses compostos são
fortemente redutores e higroscópicos. Suas soluções são
3Tlg(F) -+3T2g rapidamente oxidadas pelo ar [V(H2O)6]3 + . Por isso,
3Tlg(F) -> 3Tlg(P) e freqüentemente são usadas para remover o O2 presente nos
3Tlg(F) —> 3A2g gases nobres como impureza. Também, são capazes de
reduzir H2O a H2. O Nb e o Ta se comportam de modo muito
São possíveis, portanto, três transições (vide capítulo diferente. A redução dos penta-haletos NbXs e TaXs com
32, principalmente a Fig. 32.16). Na realidade, são sódio ou alumínio, a altas temperaturas, leva à formação de
observadas apenas duas bandas no espectro do [V(H2O)6]3 +, uma série de haletos inferiores, tais como M6C114, M6Il4,
em torno de 17.000 cm-1 e 24.000 cm-3. A terceira banda, NbgFjg, Ta6Clls, TagBrjg e Ta^Br^. Todos têm estruturas
atribuída à transição para o estado 3A2g, não é observada baseadas na unidade [M6X12]n + . Por exemplo, se Nb6ClI4
experimentalmente. Isso decorre do fato dessa transição for dissolvido em água e álcool e tratado com solução de
envolver dois elétrons e ser muito menos provável de ocorrer AgNO3, apenas dois dos íons cloreto serão precipitados como
que as outras duas, sendo portanto de baixa intensidade. AgCl. Isso indica a presença de íons (Nb6Cl12]2 + e de dois
Além disso, ela tem energia próxima e é encoberta por uma íons Cl“. Essa estrutura foi confirmada por cristalografia de
banda de transferência de carga muito intensa, na região do raios X (Fig. 21.4). Os átomos de Nb estão ligados entre si
UV. Todas as três bandas podem ser observadas quando o formando um cluster octaédrico, com seis átomos do meta).
V3+ é incorporado num retículo de A12O3. Os átomos de cloro estão situados acima de cada aresta do
A discussão acima demonstra que para explicar os octaedro e estão ligados a dois átomos de Nb. Portanto, os
espectros de absorção de um dado composto de metal de halogênios formam ligações em ponte sobre as doze arestas
transição, não basta considerar o desdobramento de campo do octaedro. A estrutura é mantida tanto pelas ligações
cristalino, Ao, pois as repulsões intereletrônicas também multicêntricas envolvendo os seis átomos do metal, como
desempenham um papel importante. Os termos de repulsão pelos átomos de halogênio em ponte.
são descritos pelos parâmetros B e C de Racah (vide capí­ Atualmente, compostos do tipo cluster estão atraindo
tulo 32). cada vez mais a atenção dos pesquisadores. Se um desses
“clusters" estiver ligado a quatro outros por meio de pontes
Haletos de Nb e Ta de halogênio, a composição será [MSX12] (o cluster) + 1/2
Os trihaletos de Nb e Ta são tipicamente não-estequio- X4 (átomos de halogênio em ponte), ou seja, M6X14 ou MX23.
métricos. No NbCl3, os íons Nb( + III) ocupam os interstícios
octaédricos num arranjo hexagonal distorcido, de empaco­ Potenciais padrão de redução (volt)
tamento compacto, de íons Cl'. Assim, os íons nióbio de
três sítios octaédricos adjacentes estão suficientemente Solução ácida
próximos para se ligarem, formando um "cluster” metálico. Estado de oxidação
Clusters (agregados) são compostos nos quais três ou mais
átomos de metais estão unidos por ligações multicentradas. +V IV III +n +1 0
+1.0 +0,34 -0,26 -1.18
V(OH)J----- VO2+- -V3+- V2* ------- V
Haletos dos elementos no estado de oxidação (+ II)
-0,26
I
Todos os dihaletos de vanádio são conhecidos. Os
compostos VX2 são obtidos pela redução dos trihaletos com 0,05 -1.10
Zn/ácido, em solução aquosa. O VF2 cristaliza segundo a Nb2O5 Nb3+ Nb
estrutura do rutilo, TiO2, enquanto os demais tem a estrutura I -0,64 J
em camadas do Cdl2. Eles são solúveis em água e suas
soluções são de cor violeta, devido à presença do íon -0,75
Ta2O5 Ta
[V(H2O)6]2 + . A adição de NaOH provoca a precipitação de
ÚX1DOS 357

Estruturas desse tipo são lamelares e diamagnéticas, por têm configuração d° e devem ser incolores. Nb2O5 e Ta2O5
causa das ligações metal-metal. Por outro lado, um cluster são brancos, mas o V2O5 é laranja ou vermelho, por causa
pode se ligar a seis outros através de pontes de halogênio, das transições de transferência de carga.
formando uma estrutura tridimensional de fórmula [M6X12] O V2O5 é anfótero, mas predominantemente ácido, fons
+ 1/2 X6, isto é, M6X15 ou MX2 S. Esses compostos são ortovanadato, VO43', incolores são formados quando esse
paramagnéticos e têm um momento magnético correspon­ óxido é dissolvido em soluções concentradas de NaOH. Num
dente a um elétron desemparelhado. Clusters desse tipo são pH um pouco menor, ocorrem reações de polimerização e a
formados principalmente pelo Nb e o Ta em estados de formação de toda uma série de isopoliácidos denominados
oxidação baixos. Muitos desses clusters são solúveis em água polivanadatos, que serão descritos adiante. O V2O5 se dis­
e seu núcleo permanece intacto durante as reações. Por solve em ácidos fortes, eventualmente formando o íon
exemplo, os clusters podem ser oxidados: amarelo pálido dioxovanádio(V), VO2 + . Esse íon é angular.
Algumas reações do V2OS são mostradas abaixo:
[M6X12]2+ -> [M6X12]3+ -+ [M6X12]4 +
V2OS + NaOH —> vários vanadatos
0 NbsIn exibe uma estrutura muito pouco comum, onde V2OS + H2O2 —> peroxovanadatos (vermelhos)
seis átomos de Nb formam um cluster octaédrico análogo V2O5 + 3C12 —» 2VOC13 + l‘/2O2
ao descrito acima, mas os oito átomos de iodo se situam V2OS + SO2 -> 2VO2 + SO3
acima das oito faces do octaedro. Cada um desses átomos 3V2O5 + 5H2 -> 2VO2 + 2V2O3 + 5H2O
de I liga-se aos três átomos adjacentes do metal das faces
triangulares do octaedro. Os demais átomos de iodo estão Nb2O5 e Ta2Os são melhor caracterizados como sendo
ligados aos seis vértices do octaedro constituído pelos átomos inertes em vez de anfóteros, embora reajam com HF e com
de Nb. Eles atuam como átomos pontes em relação a outros NaOH fundido formando niobatos e tantalatos.
octaedros. A fórmula do composto é, portanto, [Nb6I8] + A estrutura do V2OS é incomum, sendo constituído por
1/2 16, ou seja, Nb6In. bipirâmides trigonais distorcidas de unidades VOS, compar­
tilhando arestas com outras unidades, para formar cadeias
ÓXIDOS duplas em zigue-zague. Seu uso como catalisador no
Processo de Contato foi mencionado anteriormente. Tal
Todos os metais desse grupo reagem com o oxigênio
atividade catalítica pode estar associada à sua propriedade
gerando pentóxidos, M2O5, a elevadas temperaturas. O V2OS
de ligar e liberar oxigênio reversivelmente, quando aquecido.
é vermelho ou laranja, dependendo do grau de subdivisão,
mas os demais pentóxidos são brancos. VO2 também pode
ser formado durante tal reação. V2O5 puro pode ser obtido Óxidos dos elementos no estado de oxidação (+ IV)
acidificando-se uma solução de metavanadato de amônio, VO2 pode ser obtido pela redução do V2OS com agentes
ou simplesmente aquecendo esse composto: redutores moderados, como Fe2 + , SO2ou ácido oxálico. O
íon V( + IV) tem configuração d1 e o óxido é azul escuro. É
2NH4VO3 + h2so4 -> v2o5(hidratadO) + (NH4)2SO4 + h2o um óxido anfótero, mas seu caráter básico é mais
2NH4VO3 —V2O5 + 2NH3 + H2O pronunciado que o caráter ácido. Em meio ácido, forma
soluções azuis contendo o íon oxovanádio(lV), VO2 + ,
Os principais óxidos conhecidos são mostrados na Tab. também conhecido como íon vanadila. Um grande número
21.5. Os óxidos inferiores geralmente apresentam composi­ de compostos de vanadila são conhecidos: sulfato de
ções que variam numa ampla faixa. vanadila, VOSO4, e haletos de vanadila, VOX2. Vários
complexos de vanadila também são conhecidos: [VOXJ2-,
Óxidos dos elementos no estado de oxidação (+ V) onde X é um halogênio, [VO(oxalato)2]2“, [VO(bipiridi-
Todos os óxidos M2O5 podem ser obtidos aquecendo- na)2Cl] + , [VO(NCS)4]2' e [VO(acetilacetona)2j.
se o metal em atmosfera de oxigênio. Contudo, o melhor A estrutura desses complexos é similar à octaédrica,
método de preparação do V2OS é baseado na decomposição mas com um dos vértices desocupado (Fig. 21.5). A sexta
térmica do metavanadato de amônio, NH4VO3. O Nb2O5 e o posição pode ser facilmente ocupada por um sexto ligante,
Ta2O5 são geralmente obtidos por meio do aquecimento ao por exemplo piridina, C5H5N, no [VO(acetilacetona)2(piri-
ar de outros compostos de Nb e Th. Nos pentóxidos, os metais dina)]. Nesses compostos a ligação V-O tem comprimento

Tabela 21.5 — Óxidos

Estados de oxidação
(+n) (■mi) (+rv) (+V)

VO v 2o 3 VO2 V2O5
Nbo NbO2 Nb2Os
(TaO) TaO2 1h2Os

Os óxidos dos estados de oxidação mais estáveis estão representados em Figura 21. S — Estrutura da vanadil-acetilacetonato,
negrito [VO(acettlacetonatoJJ
358 BRUPO 5 — BRUPO □□ VANÁDIO

de ligação de 1,56-1,59 A, ou seja, mais curta que uma é protonado e se polimeriza, formando um grande número
ligação simples. Assim, essa ligação é representada como de isopoliácidos diferentes em solução. Os oxoíons se
V = O. A ligação rt se forma pela interação de um orbital p polimerizam formando dímeros, trímeros e pentâmeros. E,
preenchido do O com um orbital d vazio do V, analogamente quando a solução se tornar ácida, ocorrerá a precipitação
às ligações P = O nos óxidos e oxoácidos de fósforo. do óxido hidratado, V2Os(H2O)n. Caso a concentração do
ácido seja aumentada progressivamente, este se dissolve
Óxidos dos elementos no estado de oxidaçao (+ III) formando diversos íons complexos, até, finalmente, formar
o íon dioxovanádio, VO2 + . Diversos sólidos foram
O óxido V2O3 é não-estequiométrico (VO13S_li5) e contém cristalizados a partir de soluções de diferentes pH’s, mas
íons simples dispostos numa estrutura do tipo do coríndon, estes não têm necessariamente a mesma estrutura, e é impro­
A12O3. Pode ser obtido pela redução do V2O5 com carbono vável que tenham o mesmo grau de hidratação das espécies
ou hidrogênio, a altas temperaturas, ou pela redução em solução. O esquema abaixo pode ser utilizado para
eletrolítica de um vanadato. O óxido é completamente básico explicar as observações experimentais, embora o grau de
e se dissolve em ácidos formando íons hidratados hidratação das diferentes espécies envolvidas seja
[V(H2O)6)3 + , de cor verde ou azul. Tais soluções são forte­
desconhecido.
mente redutoras. A adição de NaOH provoca a precipitação
de V(OH)3 hidratado, mas este não apresenta nenhuma [vo4]3- pH 12
-> [VO3OH]2~ - PH 10 ?
tendência de se dissolver num excesso dessa base. O íon incolor incolor
( + III) tem configuração d2, sendo o óxido preto e o íon pH 9 pH 7 ?
hidratado azul. Um número considerável de complexos [V2O6OH]3- 4 [V3O9]3-
incolor laranja
octaédricos, tais como [V(H2O)6]3 + , [VF6]3’, [V(CN)6]3’ e
[V(oxalato)3]3', são conhecidos. O vanádio também forma *[VSO14]3- pH 6,5
■» •V2O5-(H2O)n PH2J }

[V“'2 (acetato)6j, um triacetato complexo dimérico que possui vermelho precipitado marrom
uma estrutura pouco comum. Quatro dos seis grupos acetato ^Líl-9 [VOJ ’
[V10o28]6-
atuam como ligantes pontes, ligando dois átomos de V por amarelo páLdo
meio dos átomos de O. Os dois grupos acetato remanescente
atuam como ligantes monodentados e se coordenam a cada (•foram incluídas porque sólidos com essa composição fo­
um dos átomos de V. Essa estrutura é análoga ao do acetato ram precipitados)
de cromo(II), [Cr2(acetato)4(H2O)2], e do acetato de cobre, O Nb2Os e o Ta2O5 são brancos e quimicamente inertes.
[Cu2(acetato)4(H2O)2] (vide Fig.22.2). Ambos são diméricos Dificilmente são atacados por ácidos, exceto o HF, com o
e possuem quatro grupos acetatos pontes, mas os dois grupos qual forma fluoro-complexos. Se os pentóxidos forem
acetato terminais no composto de vanádio são substituídos fundidos com NaOH, niobatos e tantalatos são formados.
por duas moléculas de água. Em solução aquosa, o Os óxidos hidratados precipitam em pH 7 e 10,
[V(H2O)6]3+ hidrolisa-se parcialmente a V(OH)+ e VO + .
respectivamente, e o único isopoli-íon conhecido em solução
é o [M6O19]8-.
Óxidos dos elementos no estado de oxidação (+ II)
Os fosfatos, silicatos e boratos apresentam uma
O óxido V O é não-estequiométrico e tem composição acentuada tendência de se polimerizarem, formando um
VO0>94_1>12. O sólido é iônico e tem estrutura do tipo do NaCl, número muito grande de isopoliácidos. Analogamente, no
mas defeituosa. A configuração do íon (+ II) é d3, e o óxido bloco d, os molibdatos e tungstatos também tendem a se
tem coloração cinza-escuro e brilho metálico. Ele é obtido polimerizar formando um grande número de isopoliácidos.
pela redução do V2O5 com hidrogênio, a 1.700 °C. Apresenta Essa tendência é menos acentuada no (TiO2+)n e no CrO42'
uma condutividade elétrica relativamente alta, —> Cr2O72 .
provavelmente devido à presença de ligações metal-metal
Os íons vanadato também formam complexos com os
na sua estrutura. O óxido é completamente básico e solúvel
íons de outros ácidos. Nesse caso, como há mais de um tipo
em água. A adição de NaOH a essa solução provoca a
de ácido se condensando, os produtos são denominados
precipitação de V(OH)2. O VO se dissolve em ácidos
heteropoliácidos. Eles sempre contêm íons vanadato,
formando uma solução violeta de íons [V(H2O)6]2 + . Essas
molibdato ou tungstato e um ou mais íons ácidos (tais como
soluções são fortemente redutoras e são facilmente oxidadas,
tanto pelo ar como pela água. Assim, a solução violeta fosfato, arsenato ou silicato) de cerca de 40 elementos. A
rapidamente se torna verde, devido à sua oxidação a relação entre o número de diferentes tipos de unidades ácidas
[V(H2O)6]3 + . Alguns poucos complexos octaédricos desse é geralmente de 12:1 ou 6:1, formando os 12-poliácidoseos
íon são conhecidos, como o K4[V(CN)6] • 7H2O e o [Vjetileno- 6-poliácidos. Contudo, outras proporções também foram
diamina)3]Cl2. O complexo K4[V(CN)2] -2H2O, cuja estrutura encontradas. O estudo dos heteropoliácidos é muito difícil,
é bipirâmide pentagonal, também é conhecido. pois:
D 0 peso molecular é elevado, freqüentemente superior
VANADATOS a 3.000.
Embora o V2O5 seja anfótero, ele é predominantemente 2) O conteúdo de água é variável.
ácido. Dissolve-se em NaOH concentrado, formando soluções 3) Os íons mudam em função do pH.
incolores contendo íons ortovanadato, VO43", tetraédricos. 4) As espécies presentes em solução são provavelmente
Ao se adicionar gradualmente um ácido e abaixar o pH, ele diferentes das espécies que cristalizam.
LEITURAS COMPLEMENTARES 359

COMPOSTOS DOS ELEMENTOS EM • Clark, R.J.H. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol.
3 (Cap. 34: Vanádio), Pergamon Press, Oxford.
ESTADOS DE OXIDAÇÃO INFERIORES
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1968) Halides of the Second
Apenas alguns poucos compostos são conhecidos. and Third Row D-ansition Elements, Wiley, London.
0 íon no estado (-1) ocorre nos complexos [M(CO)6]" • Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides ofthe First Row
dos três elementos, e no complexo de bipiridina, Transition Elements, Wiley, London.
Li[V[bipiridina)3] - éter. O elemento no estado de valência • Corbett, J.D. (1981) Extended metal-metal bonding in ha­
zero é encontrado no [V(CO)6], mas este nãoémuito estável. lides of the early trannsition metais, Acc. Chem. Res., 14,
Como o V tem número atômico ímpar, conclui-se que o 239.
[V(CO)6] tem um elétron desemparelhado, ou seja, um nível
• Cotton, F.A. (1975) Compounds with multiple metal to metal
eletrônico incompleto. Outros compostos carbonílicos de bonds, Chem. Soc. Rev. 27, 27-53.
metais da primeira série de transição com um elétron
desemparelhado se dimerizam, formando uma ligação M- • Diatomic metais and metallic clusters (1980) (Conferência
do Faraday Symposia of the Royal Society of Chemistry, No.
Me, assim, emparelhando os elétrons. O V(CO)6 foge à regra,
14), Royal Society of Chemistry, London.
pois permanece na forma monomérica. Outro exemplo de
composto com V(0) é o complexo [V(bipiridina)3]. O • Emeléus, H. J. e Sharpe, A.G. (1973) Modem Aspects of Inor­
ganic Chemistry, 4? ed. (Cap. 14 e 15: Complexos de metais
complexo [V(bipiridina)3]+ contém V no estado ( + 1).
de transição: Cap 20: Carbonilas) Routledge and Kegan Paul,
London.
COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS • Fairbrother, F. (1967) The Chemistry of Niobium and Tanta-
Os elementos desse grupo não formam muitos lum, Elsevier, Amsterdam.
compostos com ligações o M-C. Os principais exemplos são • Hagenmuller, P. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry,
V(CO)6, que embora seja pirofórico e não muito estável, Vol. 4 (Cap. 50:
pode ser preparado em quantidades muito maiores que o • Bronzes de vanádio e tungstênio), Pergamon Press, Oxford.
Ti(CO)6. Um composto digno de nota é o hexakis(dinitro- • Hunt C.B. (1977) Metallocenes - the first 25 years, Education
gênio)vanádio(0), [V(N2)6], que se supõe ser isoeletrônico in Chemistry, 14, 116-113.
e isoestrutural ao complexo carbonil correspondente. • Johnson, B.F.G. (ed.) (1980) Hansition Metal Clusters, John
V forma bis(ciclopentadienil) complexos, tais como Wiley, Chichester.
[V(q5-C5HS)2C12], [V(qs-C5H5)2C1] e [V(q5-CSH5)2]. O último • Kepert D.L. (1972) The Early TYansition Metals (Cap. 3: V,
é um composto sanduíche simples e é conhecido como Nb, Ta), Academic Press, London .
vanadoceno. Este se assemelha ao ferroceno, descrito no • Kepert, D.L. (1973) ComprehensiveInorganicChemistry, Vol.
próximo capítulo, e difere do correspondente composto de 4 (Cap. 51: Isopoliânions e heteropoliânions), Pergamon
titânio. A hapticidade q5 indica que os cinco átomos de Press, Oxford.
carbono de cada anel estão “ligados” ao V. O vanadoceno é • Lewis, J. e Green, M.L. (eds) (1983) Metal Clusters in Chem­
um sólido violeta paramagnético, muito sensível ao ar. Nb e istry (Anais do Royal Society Discussion Meeting, maio de
Ta também formam ciclopentadienil complexos, tais como 1982), The Society, London.
[Nb(q5-CsH5)2(q1-C5H5)2], no qual dois dos anéis ciclopen- • Muetterties, E.L. (1971) Transition Metal Hydrides, Marcei
tadienila se ligam com hapticidade q5 e dois com q1. Também Dekker, New York.
são conhecidos os complexos [Nb(q5-C5HS)2C12] e [Nb(q5- • Ophard, C.E. e Stupgia, S. (1984) Synthesis and spectra of
CsH5)2C13]. vanadium complexes, J. Chem. Ed., 61, 1102-1103.
• Pope, M.T. (1983) Heteropoly and Isopoly-Oxo-Metalates,
LEITURAS COMPLEMENTARES Springer-Verlag. (Boa revisão sobre poliácidos).
• Brown, D. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol. 3 • Shriver, D.H., Kaesz, H.D. e Adams, R.D. (eds) (1990) Chem­
(Cap. 35: Nióbio e tântalo), Pergamon Press, Oxford. istry of Metal Cluster Complexes, VCH, New York, 1990.
3BO

Grupo G
0 GPUPG DD CBGMIG
INTRODUÇÃO semelhante ao do piche, mas com tons castanhos. Ela pode
O metal crômio é produzido em larga escala e extensi­ ter alguma propriedade magnética. A produção mundial de
vamente empregado em ligas com ferro e com metais não- cromita foi de 11,4 milhões de toneladas em 1992, o que
ferrosos, e em revestimentos obtidos por eletrodeposição. corresponde a um conteúdo de Cr igual a 3,3 milhões de
Os metais molibdênio e tungstênio são obtidos em quan­ toneladas. Os principais produtores de cromita são a antiga
tidades apreciáveis. O dicromato de sódio também é usado URSS 32%, África do Sul 30%, Túrquia e índia 9% cada, e
em grandes quantidades. Tanto CrO3 como Cr2Ô3 são usados Albânia e Zimbabue S% cada. Pequenas quantidades de
para fins industriais. crocoíta, PbCrO4, e de óxido de crômio, Cr2O3, também sáo
minerados.
Os íons tungstato e molibdato formam extensas séries
de iso- e heteropoliácidos. O acetato de crômio(II) tem uma O crômio é obtido em duas formas: ferrocrómio e Cr
estrutura pouco comum, contendo uma ligação quádrupla. metálico puro, dependendo do uso a que se destina. 0
Os haletos inferiores MoX2 e WX2 formam interessantes ferrocrómio é uma liga de Fe, Cr e C, obtido pela redução da
compostos do tipo cluster, constituídos por unidades cromita com C. Em 1991, foram produzidos 3,1 milhões de
octaédricos [M6X8]4 + . O Mo é importante na fixação do toneladas de ferrocrómio, o qual foi empregado na
nitrogênio. preparação de diversas ligas de ferro, inclusive o aço
inoxidável e o aço-crômio, muito duro.

ABUNDÂNCIA, OBTENÇÃO E USOS FeCr2O4 + 4C forno elétrico 4 (Fe + 2Cr) + 4C0


O crômio é o vigésimo-primeiro elemento mais abun­ ferrocrómio
dante na crosta terrestre, em peso. Ele é quase tão abundante Diversas etapas são necessárias para a obtenção de
quanto o cloro. O molibdênio e o tungstênio são bastante crômio puro. Inicialmente a cromita é fundida com NaOH,
raros (Tabela 22.2). ao ar. Nesse processo o Cr é oxidado a cromato de sódio.
O único minério de crômio de importância comercial é 1100'C
a cromita, FeCr2O4. Ela é o análogo de crômio da magnetita, 2FeCrln2O4 + 8NaOH + 372O2 — ■>
Fe3O4, que é melhor representada pela fórmula FenFe,n2O4. 4Na2[CrvlO4] + Fe2O3 + 4H2O
Sua estrutura é a do espinélio, onde os átomos de O estão
dispostos num retículo cúbico de empacotamento compacto, O Fe2O3 é insolúvel, mas o cromato de sódio é solúvel.
com Fe11 ocupando um oitavo dos interstícios tetraédricos Assim, o Na2[CrO4] é extraído com água e acidificado para
obter dicromato de sódio. Este é menos solúvel e pode ser
disponíveis e Cr111 ocupando um quarto dos interstícios
precipitado. O dicromato de sódio é aquecido com C e
octaédricos. A cromita apresenta um leve brilho e um aspecto
reduzido a Cr2O3.
Tabela 22.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação Na2[Cr2O7] + 2C -> Cr2O3 +
+ Na2CO3 + CO
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação*
Finalmente, o Cr2O3 é reduzido com
Cromo Cr (Ar] 3^45' (-ID (-i) o (i) n in (iv) (V) vi Al ou Si para produzir o metal.
Molibdênio Mo [Kr] érf5 5? (ii) m
(-ii) (-i) o i1 (II) IV v vi
m iv
Tungstênio W [Xe] 4/4 5<f* 6? (-II) (-1) 0 I GD III iv v
(II) in vi Cr2O3 + 2A1 -> 2Cr + A12O3
• Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados Como o metal é quebradiço, rara­
em
< negrito.
_____ ...... Outros estados
___________ J ‘bem caracterizados,
' ' mas menos 'importantes,
. ' mostrados em tipo
são mente é usado puro, sendo empregado
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são dados entre perênteses.
PROPRIEDADES GERAIS 361

na obtenção de ligas não-ferrosas. Ou altemativamente, Cr2O3 fabricação dos filamentos de lâmpadas elétricas
é dissolvido em H2SO4 e depositado eletroliticamente sobre incandescentes. O dissulfeto de molibdênio, MoS2, é um
a superfície de um metal. Essa película de Cr protege o metal material lamelar com excelente poder lubrificante, quando
contra a corrosão e lhe comunica um aspecto brilhante. misturado a óleos minerais ou mesmo quando puro.
0 tnolibdênio ocorre como o mineral molibdenita, MoS2.
Em 1992, a produção mundial do minério foi de 129.000 ESTADOS DE OXIDAÇÃO
toneladas, em conteúdo de molibdênio. Os principais
A configuração eletrônica do Cr e do Mo no estado fun­
produtores são EUA 38% eChina29%. Uma certa quantidade
de MoS2 também é obtida como subproduto de minérios de damental é dss', com orbitais semipreenchidos estáveis,
cobre. MoS2 é convertido a MoO3 por aquecimento na enquanto que o W apresenta a configuração eletrônica d^s2.
presença de ar. Este pode ser diretamente adicionado ao Analisando a configuração eletrônica do Cr e do Mo
aço, ou então é aquecido com Fe e Al para formar pressupõe-se que formem compostos onde o metal se
íerromolibdênio, que é então adicionado ao aço. Quase 90% encontra nos estados de oxidação entre ( + 1) e ( +VI), e o
do molibdênio é empregado na fabricação de aço para W nos estados (+ II) a (+ VI), inclusive. Esses metais podem
ferramentas de corte ou de aço inoxidável. O molibdênio ser encontrados nesses estados de oxidação, além de
puro é obtido dissolvendo-se MoO3 em NH4OH diluído, de formarem compostos nos quais o metal se encontra em
modo a precipitar molibdato de amônio, dimolibdato ou alguns estados de oxidação inferiores, como no caso de
paramolibdato. Este é então reduzido ao metal com complexos com bipiridina e carbonila.
hidrogênio. Mo metálico é usado como catalisador na No caso do Cr, os íons nos estados ( + !!),( + III) e (+ VI)
indústria petroquímica. são os mais importantes. O Cr( + II) é redutor, o Cr( + III) é o
0 tungstênio ocorre na forma de tungstatos, sendo os mais estável e importante e o Cr( + VI) é fortemente oxidante.
minérios mais importantes a wolframita, FeWO4.MnWO4, e O estado mais estável do Mo e do W é o ( + VI), embora
ascheelita, CaWO4. Em 1992, a produção mundial de minério existam muitos compostos de Mo( + V) e W( + V) estáveis
de tungstênio foi de 39.000 toneladas, em conteúdo do metal. em água. Enquanto o Cr( + VI) é fortemente oxidante,
Os principais produtores são a China 65 % e a ex-URSS 17%. Mo( + VI) e W( + VI) são estáveis. Analogamente, Cr( + III)
Diversos processos são utilizados para extrair o W da é estável, mas Mo( + III) e W( + III) são fortemente redutores.
wolframita e da scheelita. A wolframita é fundida com Isso corresponde à tendência normal, ou seja, ao se descer
Na2CO3, formando tungstato de sódio. Este é separado e por um grupo da tabela periódica os íons nos estados de
acidificado para formar o "ácido túngstico", que é o óxido oxidação mais altos se tornam mais estáveis e os estados
hidratado. A scheelita é acidificada com HC1 de modo a inferiores se tomam menos estáveis. Uma lista dos óxidos e
precipitar o “ácido túngstico”, e dissolver os demais haletos conhecidos é mostrado na Tab. 22.3.
compostos. O “ácido túngstico” é, então, aquecido de modo
a se obter o óxido anidro, que é posteriormente reduzido ao
metal por aquecimento com hidrogênio, a 850 °C. PROPRIEDADES GERAIS
Pós de Mo e de W são obtidos por esse método. Seus Os metais desse grupo são duros e apresentam pontos
pontos de fusão são muito altos, de modo que a fusão dos de fusão muito elevados e baixa volatilidade (Tab. 22.4). O
mesmos para se obter os metais maciços seria muito ponto de fusão do W é inferior apenas ao do carbono.
dispendiosa. Em vez disso, os objetos desses metais são Cr é inerte ou passivo, a baixas temperaturas, por ser
obtidos sinterizando-se (aquecendo, mas sem fundir) o pó
compactado na forma desejada, sob uma atmosfera de Tabela 223 — Óxidos e haletos
hidrogênio. Tanto o Mo como o W formam ligas com o aço,
dando origem a materiais extremamente duros, utilizadas Estados de oxidação
na fabricação de aços para ferramentas de corte e máquinas
operatrizes. O aço para ferramentas de corte conserva o fio, (+D) (+m) (+IV) (+V) (+V1)
mesmo quando aquecido ao rubro. Cerca da metade do W
produzido é usado na obtenção de carbeto de tungstênio, Cr2O3 CrQ, CrO3
WC, um material extremamente duro (dureza 10 na escala MoÓ, Mo,03 MoO3
de Mohs) que pode ser usado para cortar vidro. WC é usado WO2 (W2Ò3) WO3
na fabricação de brocas. O metal W é empregado na CrFj CrF3 CrF4 CrF3 (CrF6)
CrCl2 CrCI3 CrCl4
CrBr2 CrBr3 CrBr„
Tabela 22.2 — Abundância dos elementos na crosta
terrestre, em peso Crl2 Crl3 Crli
MoFj MoF4 MoFj MoF6
MoCU MoCI3 MoCI4 MoClj (MoClé)
Elemento ppm Ordem de
MoBr2 MoBr3 MoBr4
abundância relativa
Mol2 Molj Mol4?
wf4 WFS WF6
Cr 122 21?
WC12 WC13 WC14 WC13 WC16
Mo 1,2 56?
W WBr, WBr3 WBr4 WBr3 WBr6
1,2 56? WI3
WI2 WL,?
3BB GRUPO 6 — 0 GRUPO 00 CRÚMID

4Cr 4- 3O2 —4 2Cr2O3


Tabela 22.4 — Algumas propriedades físicas
2Mo + 3O2 -» 2MoO3
Raio Raio iônico Ponto de Ponto de Densidade Eletrone- 2Cr + 3C12 -4 2CrCl3
covalente M2* M3’ fusão ebulição gativida- Mo + 3C12 -> MoCl6
(A) (Â) (*C) (‘O (g cm’3) de de
Pauling Como resultado da contração lantanídica, os tamanhos
e as propriedades do Mo e W são muito semelhantes. Porém,
Cr 1.17 0,80° 0.615 1.900 2.690 7,14 1.6 a diferença entre esses dois elementos é maior que a
0.73* observada entre Zr e Hf, no Grupo 4, ou entre Nb e Ta, no
Mo 1,29 0,690 2.620 4.650 10,28 1,8 Grupo 5. Assim, Mo e W podem ser facilmente separados
W 1,30 3.380 5.500 19,30 1,7 no esquema tradicional utilizado na análise qualitativa de
a = spin de valor alto b = spin de raio baixo metais: WO3(H2O)n precipita juntamente com os cloretos
insolúveis do Grupo 1 e os molibdatos são reduzidos pelo
revestido por uma camada superficial de óxido, asseme­ H2S no Grupo 2, ocorrendo a precipitação de MoS2 e S.
lhando-se ao Ti e ao V dos grupos anteriores. Por isso, o Cr
é muito usado como material a ser eletrodepositado sobre COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
ferro e outros metais para evitar a corrosão. O Cr se dissolve DE OXIDAÇÃO (+ VI)
em HC1 e H2SO4, mas é passivado por HNO3 ou água-régia.
Um número restrito de compostos de Cr( + VI) é
Mo e W são relativamente inertes e são pouco atacados por
conhecido. Eles são agentes oxidantes muito fortes e
soluções aquosas de ácidos ou álcalis. Mo começa a reagir
compreendem os cromatos, [CrO4]2-, os dicromatos,
com HNO3, mas logo se torna passivo. Tanto Mo como W se
[Cr2O7]2’, trióxido de crômio, CrO3, oxo-haletos, CrO3X‘ e
dissolvem em misturas de HNO3 e HF, bem como em Na2O2
CrO2X2 (X = F, Cl, Br ou I), CrOX4 (X = F ou Cl), e CrF6.
e na mistura KNO3/NaOH em fusão. Cr reage com HC1 gasoso
formando CrCl2 anidro e H2.
Cromato e dicromato
Os três metais não reagem com O2 a temperaturas
O cromato de sódio, Na2CrO4, é um sólido amarelo,
normais (a não ser a reação para formar o filme superficial
que a rigor deveria ser chamado de cromato (VI) de sódio. 0
de óxido). Contudo, Cr é oxidado a a-Cr2O3, um sólido verde
método de preparação, ou seja, a fusão da cromita com NaOH
com a estrutura do coríndon, a elevadas temperaturas. Em
e oxidação com o oxigênio do ar, já foi descrita no item
contraste, Mo e W formam o óxido MO3. Analogamente, o “Abundância, Obtenção e Usos". Ele também pode ser obtido
aquecimento de Cr com halogênios leva à formação de pela fusão com Na2CO3:
haletos trivalentes, CrX3. Em contraste, Mo e W formam
MC16 quando aquecidos em atmosfera de Cl2, enquanto os 4FeCr2O4 + 8Na2CO3 + 7O2 -> 8Na2CrO4 + 2Fe2O3 + 8C0,
fluoretos MF6 podem ser obtidos mesmo à temperatura
ambiente. É um composto muito solúvel em água e um forte agente
oxidante. O dicromato de sódio, Na2Cr2O7, é um sólido cor
laranja, obtido pela acidificação de uma solução de cromato.
Potenciais de redução padrao (volt) O dicromato é menos solúvel em água, sendo largamente
Solução ácida usado como agente oxidante. Em análise volumétrica
Estados de oxidação (titulações), é preferível usar K2Cr2O7 no lugar de Na2Cr2O7,
+VI +V +VI +III +n +i o pois o composto de sódio é higroscópico enquanto o de K
não é. Assim, K2Cr2O7 pode ser usado como padrão primário.
Çr2O?- ■rl.33 ---------------ç^^OAl Cr
-0,74--------- '/2Cr2O72- + 7H+ + 3e=4=Cr3+ + 3‘/2H2O E° = 1,33 V
-------- +0,295------------------
+0,31 -0.20
MoOF—MoO;---- -----------------Mo -------- Mo Peroxo-compostos
-------- +0,08
WO2-^ W3+- -0.11 Uma reação complicada ocorre quando peróxido de
WO3 — W
hidrogênio é adicionado a uma solução ácida de dicromato
-0.12---------
(ou outra espécie qualquer contendo Cr( + VI)). Os produtos
dependem do pH e da concentração de Cr.
Solução básica
Estados de oxidação Cr2O72- + 2H+ + 4H2O -> 2CrO(O2)2 + 5H2O
+VT +V +VI +IH +n +i 0

40,13
Inicialmente, o peroxo-composto azul-violeta intenso
CrO^ Çr(OH)3— Cr(OH)2 ~zL£- Çr CrO(O2)2 é formado, mas é rapidamente hidrolisado a Cr3’
e oxigênio, em meio aquoso. O peroxo-composto pode ser
-0,96 -0,91 extraído com éter. Nesse meio pode reagir com piridina,
MoO^’ MoO2------ Mo
---------- 40,08 formando o aduto piridina • CrO(O2)2 (Fig. 22.1a). Sua
estrutura é aproximadamente uma pirâmide pentagonal: o
wor------------ -1,007
W
Cr se situa no centro do pentágono formado por quatro
* sofre desproporcionamento
átomos de O e pelo átomo de N da piridina, enquanto um 0
Muitos desses potenciais foram calculados a partir de dados termodinâmicos, e a
existência de espécies tais como Mo**, W3* e W2O5 é discutível. se encontra numa das posições apicais.
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIDAÇÃO (+VI) 363

MoO3 e WO3
Os óxidos ácidos MoO3 e WO3 são formados quando se
aquece os correspondentes metais ao ar. Eles não são
atacados por ácidos, exceto HF, mas se dissolvem em NaOH
formando os íons MoO42' e WO42'. MoO3 e WO3 diferem do
CrO3 em diversos aspectos:
D Eles praticamente não apresentam propriedades
oxidantes.
2) São insolúveis em água.
3) Seus pontos de fusão são muito mais elevados (CrO3
P.F. = 197 °C, MoO3 P.F. = 795 °C e WO3 P.F. = 1.473 °C).
Figura 22.1 — Estruturas de: a) piridina, CrO(OJ2: b) (NH3)3CrOt 4) Suas cores e estruturas são diferentes. MoO3 é branco,
(bipirãmide pentagonal) como esperado para um íon de configuração d°, mas
torna-se amarelo quando aquecido, devido ao
Em soluções menos ácidas, K2Cr2O7 e H2O2 reagem aparecimento de defeitos no retículo do sólido. WO3 é
formando sais diamagnéticos de coloração violeta. Supõe- amarelo-Iimão, e tem uma estrutura semelhante ao do
se que contenham o íon [CrO(O2)2(OH)]~, mas suas trióxido de rênio, ReO3, mas um pouco distorcida. É
estruturas não são conhecidas, pois seus compostos são constituído por um retículo tridimensional onde
explosivos. Em soluções alcalinas contendo 30% de H2O2, unidades octaédricas WO6 compartilham todos os seus
forma-se o composto vermelho-castanho K3CrO8, um vértices (vide Fig. 23.5a).
tetraperoxo complexo constituído por unidades [Cr(O2)4]3-,
contendo Cr( + V). Em solução amoniacal, o composto
Óxidos mistos
vermelho-castanho escuro (NH3)3CrO4, contendo Cr( + IV)
(Fig.22.lb), é formado. Diversos óxidos mistos podem ser obtidos pela fusão
de MoO3 ou WOj com óxidos do Grupo 1 ou 2. São
Trióxido de crômio (ácido crômico) constituídos por cadeias ou anéis formados por unidades
CrO3 é um sólido alaranjado brilhante, conhecido como octaédricas MoO6 ou WO6. WO3 úmido se torna levemente
“ácido crômico”. Geralmente, é preparado adicionando-se azul quando exposto à luz UV. A redução parcial de
H2SO4 concentrado a uma solução saturada de dicromato suspensões aquosas de MoO3 e WO3 ou de soluções ácidas
de sódio. de molibdatos e tungstatos também levam à formação de
uma coloração azul. Supõe-se que esses "óxidos azuis"
Na2Cr2O7 + H2SO4 -4 2CrO3 + Na2SO4 + H2O contenham Mo ou W nos estados de oxidação (+1V) e (+ V),
A cor se deve a transições de transferência de carga além de alguns grupos OH’ no lugar de O2’ para equilibrar
(não a transições d-d, pois o Cr( + VI) apresenta configuração as cargas.
d°). CrO3 é tóxico e corrosivo. Sua estrutura cristalina consiste
de cadeias de unidades tetraédricas ligadas pelos vértices. Oxo-haletos
CrO3 se dissolve prontamente em água, gerando um ácido
Oxo-haletos do tipo MO2C12 podem ser formados
forte, que também é um agente oxidante forte. É um óxido
dissolvendo-se o trióxido em ácidos fortes, ou em alguns
ácido e se dissolve em soluções de NaOH, formando o íon
casos pela ação de ácidos fortes sobre sais como os
cromato, CrO42-. Mediante aquecimento acima de 250 °C,
ele perde oxigênio em etapas, até eventualmente levar à dicromatos, ou ainda pela adição direta dos halogênios ao
formação de Cr2O3, um sólido verde. dióxido.
HjSO4 conc.
2CrO3 —> 2CrO2 + O2 CrO3 + 2HC1 CrO2Cl2 + H2O
2CrO2 —> Cr2O3 + */2O2 H,SO4 conc.
K2Cr2O7 + 6HC1 —! 4 2CrO2Cl2 + 2KC1 + 3H2O
CrO3 reage com F2, a pressões atmosféricas, formando
os oxofluoretos CrO2F2 e CrOF4, mas CrF6 é formado a 170 O cloreto de cromila, CrO2Cl2, é um líquido de coloração
°C e 25 atmosferas. vermelha intensa. É obtido na análise qualitativa para
confirmar a presença de íons cloreto. A amostra sólida em
150'C
CrO3 + F2 — CrO2F2 + 3/2O2 que se suspeita a presença do íon cloreto é misturado com
CrO3 + 2F2 22O'C—4 CrOF4 + O2 K2Cr2O7 sólido e H2SO4 concentrado, e aquecido suavemente.
CfO3 + 3F 170'C, 25 atmosferas São desprendidos vapores vermelhos intensos de CrO2Cl2,
4 CrF6 (sólido amarelo) + 3/2O2 que se forem recolhidos numa solução aquosa de NaOH,
CrO3 é largamente usado na preparação de soluções conferem a esta uma cor amarela, por causa da formação de
para cromação. Pode ser usado como oxidante em química Na2CrO4.
orgânica quando dissolvido em ácido acético, embora as Cloretos de cromila e molibdenila são cloretos ácidos
reações possam ser explosivas. Soluções de ácido crômico covalentes, e são facilmente decompostos pela água. O
são usadas na limpeza de vidrarias de laboratório. cloreto de tungstenila se hidrolisa com menor facilidade.
364 BRUPQ 6 — 0 BRUPQ □□ CROMIO

Haletos distorcidas, com fortes ligações metal-metal. 0 oxo-haleto


CrF6 é um sólido amarelo obtido pelo aquecimento dos CrOF2 também é conhecido.
elementos sob pressão, num recipiente fechado, seguido de
um resfriamento rápido. O produto é instável e se decompõe COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
a CrFs e F2. Em contraste, MoF6 e WF6 são muito estáveis.
Ambos possuem baixos pontos de fusão (MoF6 17,4 °C, WF6
DE OXIDAÇÃO ( + III)
1,9 °C), são voláteis e facilmente hidrolisados. São Crômio
diamagnéticos e incolores, como esperado para um complexo Os compostos de Cr3 * (ou compostos crômicos) são os
contendo um íon de configuração d°. Contudo, MoC16 e WC16 mais importantes e estáveis desse elemento. Embora esse
são pretos e o WBr6 é azul escuro. WC16 é obtido aquecendo- íon seja muito estável em soluções ácidas, é facilmente
se o metal na presença de Cl2. Reage com água, formando o oxidado a espécies contendo o íon Cr( + VI) quando em
ácido túngstico. WC16 é solúvel em EtOH, éter e CC14, e é soluções alcalinas.
usado como reagente de partida na síntese de outros Cr2O3 é um sólido verde usado como pigmento. 0
compostos.
método mais conveniente de preparação é por meio do
aquecimento de dicromato de amônio, (NH4)2Cr2O7, no assim
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO chamado "experimento do vulcão”, usado em alguns fogos
DE OXIDAÇÃO ( + V) de artifício (uma vez iniciada a reação, quantidade suficiente
de calor é produzido para que ela continue ocorrendo.
Existem alguns poucos compostos de Cr( + V). Todos Partículas verdes de Cr2O3 são lançados ao ar pelo grande
eles são instáveis e se decompõem a compostos de Cr( + III) volume de N2 e vapor d’água formados na reação, e se
e Cr( + VI). Um exemplo é o K3CrO8, um composto vermelho depositam como a poeira expelida por um vulcão). Cr2O3
castanho formado na reação de NaCrO4 e H2O2, em meio também é produzido na combustão do metal ao ar, ou pelo
alcalino (vide acima), o qual contém a espécie tetraperoxo, aquecimento de CrO3. Possui a estrutura do coríndon, A12O3.
[Cr(O2)4]3". Outro exemplo é o CrF5, que é obtido pelo
aquecimento dos elementos a 500 °C, ou então aquecendo- (NH4)2Cr2O7 -» Cr2O3 + N2 + 4H2O
se CrO3 com F2. É um sólido vermelho, constituído por 4Cr + 3O2 -> 2Cr2O3
octaedros de CrF6 interligados para formar um polímero eis. 4CrO3 —> 2Cr2O3 + 3O2
MoF5 é constituído por quatro octaedros interligados A adição de NaOH a soluções de Cr3+ não precipita o
formando um anel, analogamente ao NbFs e TaFs (vide Fig. hidróxido, mas o óxido hidratado.
21.1). O aquecimento de Mo e Cl2 fornece Mo2C110, um
composto solúvel em benzeno e outros solventes orgânicos. Cr3* + 3OH“ —» Cr(OH)3 -> Cr2O3(H2O)„
Suas soluções contêm o monômero MoCls, mas o sólido é Quando aquecido fortemente, o óxido se torna inerte
constituído pelo dímero Mo2C110. Mo2C110 é usado como frente a ácidos e bases, mas em caso contrário é anfótero,
reagente de partida na obtenção de outros compostos de formando [Cr(H2O)6]3 * em meio ácido e "cromito" em meio
Mo. É rapidamente hidrolisado pela água, e consegue abstrair alcalino concentrado. A espécie presente nas soluções de
O de solventes oxigenados, formando oxocloretos. Mo2C110 "cromito” é provavelmente [Cr,H(OH)6]3’ ou [CrIII(OH)s
é um composto paramagnético (p= 1,6 MB), indicando que (H2O)]2-. Cr2O3 é importante do ponto de vista econômico,
possui um elétron desemparelhado. Logo, pode-se inferir sendo obtido em uma das etapas do processo de extração
que ele não deve possui nenhuma ligação metal-metal. do crômio. É usado como pigmento em tintas, borracha e
cimento, e como catalisador numa grande variedade de
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO reações, inclusive na obtenção de polietileno e de butadieno.
DE OXIDAÇÃO ( + IV) Todos os haletos anidros, CrX3, são conhecidos. CrCI3é
um sólido magenta-violeta que forma escamas ou flocos,
Compostos de Cr( + IV] também são raros. CrF4 é obtido devido à sua estrutura lamelar. Os íons cloreto formam um
mediante o aquecimento dos elementos a 350 °C. MoC14 arranjo cúbico de empacotamento denso. Para manter a
pode ser obtido em duas formas poliméricas: uma estequiometria, um terço dos interstícios octaédricos devem
semelhante ao do NbCl4 (vide Fig. 21.3), constituído por estar ocupado por íons Cr3*. Na realidade dois terços dos
cadeias de octaedros com os átomos metálicos deslocados interstícios presentes numa camada são ocupados, e nenhum
do centro dos octaedros aos pares, formando ligações metal- na camada seguinte. Conseqüentemente, algumas das cama­
metal; e outra forma que não contém ligações metal-metal. das de cloreto são mantidas interligadas apenas por forças
CrO2 é obtido por redução hidrotérmica de CrO3, e tem de van der Waals fracas. Em solução aquosa, os haletos for­
a estrutura do rutilo (TiO2). 0 óxido é preto e apresenta mam o íon hidratado de cor violeta [Cr(H2O)6]3 *, bem como
alguma condutividade metálica. Também é ferromagnético, complexos com os halogênios, tais como [Cr(H2O)sCl]2’,
sendo muito usado na fabricação de fitas magnéticas de alta [Cr(H2O)4Cl2] * e [Cr(H2O)3Cl3], O hexaaqua complexo
qualidade. MoO2 e WO2 são preparados por meio da redução também ocorre em muitos compostos cristalinos, como no
do trióxido correspondente com hidrogênio. Têm cor [Cr(H2O)6]Cl3 e nos alúmens. Estes são sais duplos. Por
castanho-violeta e são solúveis em ácidos não-oxidantes, exemplo, o alúmen de crômio, K2SO4.Cr2(SO4)3.24H20, que
mas se dissolvem em HN03 concentrado, formando MoO3 cristaliza a partir de soluções mistas de Cr2(SO4)3 e K2SO4.
ou WO3. Os dióxidos possuem um brilho semelhante ao do Sua estrutura pode ser melhor compreendida quando sua
cobre e suas estruturas são análogas ao do rutilo, mas fórmula é escrita como [K(H2O)6] [Crni(H2O)6][SO4)2. Os
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIDAÇAD [*IIIJ 365

alúmens se dissociam completamente em íons simples, incomum, [Cr3O(CH3COO)6L3] * (onde L é água ou algum
quando em solução. outro ligante). Sua estrutura consiste de um triângulo de
0 íon hexaaqua é ácido e pode dimerizar por meio da três átomos de Cr com um átomo de O no centro. Os seis
formação de duas ligações hidroxo em ponte grupos acetato atuam como ligantes pontes entre os átomos
de Cr — dois grupos acetato estão ligados ao longo de cada
2[Cr(H2O)6)=^2H + + [Cr(H2O)5OH]2+=^ aresta do triângulo. Cada átomo de Cr é circundado
octaedricamente por seis átomos: 4 átomos de O de quatro
H grupos acetato, o O central e o L na sexta posição. L pode
O ser água ou outro ligante. Cr3 + tem configuração d3 e deveria
/ \ apresentar um momento magnético igual a 3,87 MB. O
(H2O)4Cr Cr(H2O)4 + 2H2O momento magnético do complexo, à temperatura ambiente,
\ / é de apenas 2 MB. Acredita-se que o menor valor se deva ao
O
H emparelhamento parcial dos elétrons d dos três átomos do
metal, devido à formação de ligações dtt-pn com o O cen­
Os íons Cr34 formam inúmero e variados complexos. tral. Esse tipo de complexo é formado pelos íons trivalentes
Têm usualmente coordenação seis e estruturas octaédricas, de Cr, Mn, Fe, Ru, Rh e Ir (o emparelhamento parcial de
e são muito estáveis, tanto no estado sólido como em spins e um momento magnético menor do que o esperado
soluções aquosas. A estabilidade se deve à elevada energia também são encontrados em outros complexos, tais como
de estabilização de campo cristalino decorrente da [(NH3)5Cr-OH-Cr(NH3)5]s + e [(NH3)sCr-O-Cr(NH3)5]4’, nos
configuração d3. Os momentos magnéticos desses complexos quais o momento magnético depende da temperatura. O
são próximos a 3,87 MB, ou seja, o momento magnético de momento magnético é igual a cerca de 1,3 MB à tempe­
spin-only esperado para íons com três elétrons ratura ambiente, mas tende a zero a baixas temperaturas
desemparelhados. Podem ser citados o hexaaqua e o cloro (-200 °C).
complexo, [Cr(H2O)6]3 + e [Cr(H2O)5Cl]2 + , mencionados
acima. Os amin- e oxalato complexos apresentam muitas Espectros
formas diferentes de isomeria. Por exemplo, no caso dos
A configuração eletrônica do íon Cr( + III) é d3. No
amin complexos:
estado fundamental esses elétrons ocupam os orbitais t2g,
(Cr(NH3)6]3 + somente uma forma ou seja, a configuração é (t2g)3. Os dois orbitais eg estão
[Cr(NH3)5Cl]2 + somente uma forma vazios, podendo haver a promoção de elétrons para os
[Cr(NH3)4Cl2] + isômeros cis e trans mesmos. A situação é análoga àquela da configuração d2 no
[Cr(NH3)3Cl3] isômeros mer e fac V3 + , descrito no capítulo 21. Os espectros eletrônicos de
complexos de Cr( + III) exibem três bandas de absorção. No
e nos complexos com oxalato: estado fundamental, cada um dos orbitais dxy, da e dyz
contém um elétron, levando ao estado não-degenerado
(Cr(oxalato)3]3” isômeros d e l 4A2g(F). O primeiro estado excitado corresponde à promoção
de um desses elétrons para um dos orbitais eg, ou seja
Os diferentes tipos de isomeria foram descritos
(t2g)2(eg)’. Essa configuração leva aos termos 4T2g(F) e
detalhadamente no Capítulo 7 (vide Fig. 7.3). Também, são
4Tlg(F). O segundo estado excitado corresponde à promoção
conhecidos muitos complexos com cianeto e tiocianato. O
de dois elétrons, ou seja (t2g)1 (eg)2. Este leva a um único
sal de Reinecke, NH4[Cr(NH3)2(NCS)4] • H2O, é muitas vezes
quarteto triplamente degenerado, cujo termo espectroscópico
usado para precipitar íons positivos grandes. Isso se deve ao
é 4Tlg(P). Assim, as transições possíveis são 4A2g(F) —>4T2g(F),
fato dos cristais formados por ânions e cátions de tamanhos
4A2g(F) —»4Tlg(F) e 4A2g(F) ->4T]g(P). No íon hexaaquo
semelhantes possuírem um elevado número de coordenação,
[Cr(H2O)6]3+ observam-se bandas em 17.400 cm’1 e 24.700
e assim uma elevada energia reticular.
cm’1, além de um "ombro" na banda de transferência de
O íon Cr( + III) forma um acetato básico bastante carga em 37.800 cm'1 (vide também capítulo 32).

Molibdênio e tungstênio
Os óxidos de Mo( + IIl) e W( + II1) não foram
observados, mas todos os haletos, exceto o WF3 (Tab. 22.3),

Figura 22.2 — Estrutura do lCr3O(CH3COO)6(H3O)3C Figura 22.3 — Estrutura do cluster


366 GRUPO 6 — 0 GRUPO 00 CRÔMIO

Haletos de Cr( + II) anidros podem ser obtidos ou


reduzindo-se os tri-haletos com hidrogênio a 500 °C, ou
reagindo o metal com HF, HC1, HBr ou HI a 600 °C. Os
dihaletos são facilmente oxidados ao estado ( + 111), pelo ar,
a não ser que sejam protegidos por uma atmosfera inerte,
como de N2. O mais importante desses haletos é o CrCl2,
que se dissolve em água formando o íon azul celeste
[Cr(H2O)6]2 + .
O crômio forma muitos complexos, principalmente com
Figura 22.4 — Estrutura do cluster [WçBrgl6* ligantes N doadores e com grupos quelantes. São facilmente
oxidados, principalmente quando úmidos. Quase todos os
são conhecidos. Esses compostos não contêm íons simples. complexos são octaédricos, sendo conhecidos tanto
Compostos de Mo( + IIl) são razoavelmente estáveis, mas complexos de spin alto como de spin baixo. Os complexos
se oxidam lentamente ao ar e se hidrolisam lentamente em de spin alto tem configuração eletrônica (t28)3(eg)’. 0
água. Em solução, formam complexos octaédricos com íons preenchimento assimétrico dos orbitais eg provoca uma
haleto. distorção de Jahn-Teller semelhante à encontrada nos
complexos de Cu2 + .
MoC13 + 3CP -> [MoC16]3- O acetato de crômio(II) diidratado, Cr2(CH3COO)4-2H20
São conhecidas duas formas sólidas de MoC13. Uma é um dos compostos mais estáveis de Cr(II). Pode ser
delas é constituída por uma estrutura cúbica de empacota­ facilmente preparado, adicionando-se acetato de sódio a uma
mento compacto de íons cloreto, enquanto a outra é baseada solução de Cr2*, sob uma atmosfera de N2. O acetato de
num arranjo hexagonal de empacotamento compacto. Em crômio(II) hidratado precipita na forma de um sólido
ambas as formas, os átomos de Mo estão deslocados dos vermelho. É um bom reagente de partida para a síntese de
centros de octaedros adjacentes, formando ligações metal- outros sais de Cr( + II). É um dírnero com estrutura pouco
metal de comprimento 2,76 Â. Em contraste, os compostos usual com grupos acetato em ponte (Fig. 22.5). Cada íon
de W( + III) são instáveis. WC13 é na realidade o cluster Cr2+ se encontra num ambiente octaédrico distorcido,
[W6C112]6+, estruturalmente semelhante ao [Nb6Cl12]2+ (vide constituído por quatro átomos de O de quatro grupos acetato
Fig. 22.3). W6Br18 também é um cluster, mas sua estrutura em ponte (cada íon Cr2+ está ligado a um dos átomos de 0
contém unidades [W6Br8]6 + análogas a do [Mo6Br8]4 + (Fig. do grupo carboxilato), um O de uma molécula de H20, e o
22.4). outro íon Cr2 +. A pequena distância de 2,36 Â entre os dois
átomos de Cr é uma evidência da existência de uma ligação
metal-metal forte. O íon Cr2+ tem uma configuração d1 e
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO quatro elétrons desemparelhados, mas o acetato de crômio(II)
DE OXIDAÇÃO ( + II) é diamagnético. Isso implica que todos os quatro elétrons
Os compostos de Cr( + II) (ou crômiosos) são bem desemparelhados participam da ligação M-M.
conhecidos, são iônicos e contêm o íon Cr2*. Soluções Supondo-se que os ligantes se coordenem utilizando o
contendo o íon [Cr(H2O)6]2 + , de coloração azul celeste, orbital s, três orbitais p e o orbital dx2_y2, o orbital dzi pode
podem ser obtidos reduzindo-se eletroliticamente soluções formar uma ligação o com outro Cr2 +. Além disso, os orbi­
contendo Cr3*, ou então reduzindo-se as mesmas com tais dX2 e dyz podem formar ligações tt entre os átomos de
amálgama de zinco. Também, podem ser obtidos a partir de Cr, e o orbital dxy uma ligação & Ligações quádruplas desse
Cr metálico e ácidos. É um dos agentes redutores mais fones tipo são encontrados em outros complexos de metais de
conhecidos, em solução aquosa. transição pesados, como Mo, W, Tc e Re, por exemplo no

Cr3* + e -> Cr2* E° = -0,41 V

Se a solução for ácida, Cr24 lentamente reduz a água a


H2. Compostos de Cr( + II) são oxidados a compostos de
Cr3+ pelo ar. 0 íon Cr2+ é usado para remover os últimos
vestígios de oxigênio do nitrogênio, além de outras aplicações
como agente redutor. O íon Cr( + II) pode ser estabilizado
pela formação de compostos de coordenação, tais como
[Cr(NH3)6]2+ ou [Cr(bipiridina)3]2 +. Embora o Cr2+ seja
estável frente a reação de desproporcionamento, o complexo
com bipiridina desproporciona segundo a reação:

2[Cr(bipiridina)3]2+ —> [Cr(bipiridina)3]+ +


+ [Cr(bipiridina)3]3 +

Sais hidratados, tais como CrSO4 ■ 7H2O, Cr(C104)2'6H2O


e CrCl2-4H2O, podem ser isolados mas não desidratados,
pois se decompõem com o aquecimento. Figura 22.5 — Estrutura do Cr2(CH3COO)22H2O
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NOS ESTADOS OE OXIDAÇÂO ZERO. 1-1) E [-11) BB7

a [Mo6C1!2]3+ (estado de oxidação formal de 2,5), enquanto


[W6C1814+ é oxidado a [W6C112]6+ (Fig. 21.4).
As ligações nesses compostos não foram bem
esclarecidas. Os compostos em questão são diamagnéticos;
portanto, o Mo deve utilizar os seis elétrons externos d5s’ e
o W os seis elétrons d4s2, para formar as ligações. Como há
seis átomos de M, haverá 36 elétrons de valência. É provável
que oito dos elétrons sejam utilizados para formar as ligações
Figura 22.6 — Estrutura do IMo2Cl3]^ e do[Re2ClsJ2~ com os átomos de Cl sobre as faces, e quatro elétrons sejam
transferidos para formar quatro íons X". Logo, restam 24
[Mo2(CH3COO)4] (note que não há ligantes H2O axiais), elétrons para formar ligações M-M ao longo das 12 arestas
[Mo2C18]4-, [W2C14(PR3)4], [W2(CH3)8]4“, [W2(C8H8)3], do octaedro Ms.
(Re2Cl8]2‘ e [Re2Br8]2*. As ligações quádruplas já foram
consideradas como sendo anomalias, mas elas são mais
freqüentes do que se poderia imaginar. Supõe-se que uma
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
vez formada uma ligação múltipla M-M, o metal pode ser DE OXIDAÇÃO ( + 1)
facilmente reduzido, formando uma ligação de ordem supe­ Apesar do íon no estado de oxidação ( + 1) ter
rior. configuração d5sl, ele é raramente observado. Há dúvidas
Mo e W não formam difluoretos, mas os outros seis sobre a existência do íon Cr+, exceto quando estabilizado
haletos dos elementos no estado ( + 11) são conhecidos. num complexo. Por exemplo, o perclorato de tris(bipiri-
Geralmente, são preparados por redução ou decomposição dina)crômio(I), [Cr(bipiridina)3]+ C1O4~, é conhecido. Mo e
térmica de haletos superiores. Não são encontrados na forma W formam compostos do tipo sanduíche, como (C8H6)2Mo +
de ions simples, mas na forma de clusters. MoBr2 é na e C5HsMoC6H6, onde o metal se encontra no estado ( + 1).
realidade [Mo6Br8]Br4-2H2O, e todos os seis "dihaletos”
apresentam a mesma estrutura, baseada num agregado COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NOS
[MgX8]4 + , com mais quatro íons haleto e duas moléculas de ESTADOS DE OXIDAÇÂO ZERO, (-1) E (-II)
H20 atuando como ligantes. Os seis átomos de metal da
unidade [M6X8]4+ se encontram nos vértices de um octaedro. O estado de oxidação zero pode ser encontrado em
Há fortes ligações M-M, e oito átomos de halogênio pontes complexos carbonílicos, tais como M(CO)6. Nesses
que os interligam ocupando as oito faces triangulares do compostos, os elétrons ligantes a são doados pelo CO ao
octaedro (Fig. 22.7). Assim, cada halogênio está ligado a metal, mas ocorre a formação de ligações de retrodoação
três átomos do metal, sendo que cada um deles possui uma drt-pn forte envolvendo os orbitais preenchidos do metal.
posição de coordenação desocupada. Assim, os átomos do Os três metais desse grupo formam complexos carbonílicos
metal na unidade [M6X8]4+ podem se ligar aos quatro íons octaédricos desse tipo. São estáveis e podem ser sublimados
X' remanescentes e duas moléculas de H2O, ou qualquer à pressão reduzida, além de serem solúveis em solventes
outro doador adequado de elétrons, formando mais seis orgânicos. O complexo com bipiridina [Cr(bipiridina)3] tam­
ligações coordenadas nos vértices do octaedro. Os seis bém é octaédrico.
ligantes nos vértices são lábeis e podem ser facilmente Em 1955, E.O. Fischer preparou o complexo (diben-
substituídos. Por exemplo, a adição de Cl“ leva à formação zeno)crômio, [Cr( rf-C6H6)2], que forma cristais castanho
do cluster [Mo6C114]2‘. Por outro lado, os halogênios em ponte escuros. Sua estrutura é análoga à do ferroceno, embora ele
são substituídos muito lentamente. O baixo estado de seja muito mais sensível ao ar que o ferroceno. Nesse
oxidação do metal nesses clusters poderia sugerir que eles complexo, o Cr tem um número de coordenação igual a 12 e
são facilmente oxidáveis. Porém, Mo6Cl8 só pode ser oxidado foi preparado como se segue:

3CrCl3 + 2A1 + A1C13 + 6C6H6 ->


3[Cr(n6-C6H6)2]+ + 3[A1CL,]-
2[Cr(q6-C6H6)2l+ + Na2S2O4 + 4OH" ->
2[Cr(T|6-C6H6)2] + 2Na2SO3 + 2H2O

Pode ser obtido também através de uma reação de Grignard:

CrCl3 + 2C6H5MgBr -> [Cr( t^-CôHJ;,] *cr +


+ MgBr2 + MgCl2

Por suas pesquisas sobre esse e outros compostos


organometálicos, Fischer recebeu o Prêmio Nobel de Química
de 1973, juntamente com G. Wilkinson, que paralelamente
realizou pesquisas sobre complexos com o ligante
ciclopentadienila.
figura 22.7 — Estrutura do (on [Mo6Brs]4t', mostrando o agregado Os compostos t)5-C5H5 incluem complexos contendo
octaédrico M6 somente um anel ciclopentadienil (complexos análogos
368 BRUPO B — BRUPO □□ CRÔMIO

podem ser formados com o anel benzênico). Por exemplo, de uma extensa série de polimolibdatos e de politungstatos.
complexos tricarbonil(benzeno) de Cr, Mo e W, como [Cr(q6- Abaixo de pH 1, ocorre a precipitação dos óxidos hidratados.
C6H6)(CO)3], são sólidos amarelos, onde o metal apresenta MoO3 • 2H2O é amarelo e WO3 • 2H2O é branco. A formação
número de coordenação igual a 9. Os complexos de benzeno de poliácidos é uma característica marcante da química do
são mais reativos e termicamente menos estáveis que os Mo e do W. Outros elementos de transição, como V, Nb, Ta
correspondentes complexos t]5-C5H5. e U, também tendem a formar poliácidos, mas em menor
Os estados de oxidação mais baixos ocorrem em com­ grau. Os poliânions contém unidades octaédricas MoO6ou
plexos carbonílicos tais como [M2(CO)10]2“ e [M(CO)S]2’, WO6, que se ligam uns aos outros de várias maneiras,
onde o metal encontra-se, respectivamente, nos estados de compartilhando vértices e arestas, mas nunca faces. Os
oxidação (-1) e (-11). poliácidos de Mo e W são classificados em dois tipos
principais:
CROMATOS, MOLIBDATOS E TUNGSTATOS I. Isopoliácidos: os ânions que se condensam são todos
do mesmo tipo — por exemplo, todos são grupos MoO6
Os óxidos CrO3, MoO3 e WO3 são fortemente ácidos, e ou WO6.
se dissolvem em solução aquosa de NaOH formando os íons
2. Heteropoliácidos: dois ou mais tipos diferentes de ânions
tetraédricos discretos cromato, CrO42', molibdato, MoO42',
e tungstato, WO42'. se condensam — por exemplo, grupos molibdato ou
tungstato com grupos fosfato, silicato ou borato.
CrO3 + 2NaOH -> 2Na+ + CrO42" + H20 Os isopoliácidos de Mo e de W ainda não são
inteiramente compreendidos. Seu estudo é muito difícil,
Os íons cromato, molibdato e tungstato podem ser porque o grau de hidratação e de protonação das espécies
encontrados tanto em solução como em sólidos. Os cromatos em solução não são conhecidos. O fato de um sólido poder
são agentes oxidantes fortes, mas os molibdatos e tungstatos ser cristalizado a partir de uma solução não implica,
são oxidantes muito fracos. Os molibdatos e tungstatos necessariamente, que tal íon tenha a mesma estrutura ou
podem ser reduzidos para formarem os óxidos azuis. mesmo que esteja-presente em solução. O primeiro passo
A adição de ácido à soluções de cromato CrO42’ leva à no processo de formação de um poliácido, à medida que o
formação do íon HCrO4" e do íon dicromato, Cr2O72" (laranja pH é diminuído, deve ser o aumento do número de
avermelhado), nos quais duas unidades tetraédricas se ligam coordenação do Mo e do W de 4 para 6, mediante adição de
compartilhando o átomo de oxigênio de um dos vértices moléculas de água. As relações entre as espécies estáveis,
(Fig. 22.8). HCrO4' e Cr2O72’ existem em equilíbrio numa identificadas até o momento, são as seguintes:
grande faixa de pH, que vai de 2 a 6.
pH 6 pH 1,5-2,9
CrO3 pode ser precipitado de soluções muito ácidas (pH [MoO4]“- [Mo7O24]6~
molibdato paramolibdato
inferior a 1). normal
pH <1
[Mo8O26]4- ■> Mo03-2H,0
CrO42" Cr2O72’ CrO3 octamolibdato oxido
amarelo laranja hidratado

O composto de crômio mais importante é o Na2Cr2O7, As estruturas dos íons paramolibdato e octamolibdato
que é obtido numa das etapas de extração do crômio. Além foram confirmadas por estudos de cristalografia de raios X
da quantidade de dicromato produzida no processo de de seus sais cristalinos (Fig. 22.9).
obtenção do crômio, em 1991, foram utilizadas 369.300
Os conhecimentos atuais sobre a química dos tungstatos
toneladas no curtimento de couros (obtenção dos chamados
estão sumarizados abaixo:
couros “crômio"), na "anodização” do alumínio e como
agente oxidante. Há algumas evidências sobre a ocorrência
pH6-7 rápido
de um maior grau de polimerização, levando a uma série [WO2]2- [HW6O21]S-^[W12O41] 10-
oh*
tungstato paratungstato A
mais restrita de policromatos. Até o momento, foram isolados normal
OU
e identificados o tricromato, Cr3O102', e o tetracromato,
Cr4O132 . [WI2O36(OH) 10]10-
paratungstato B
Quando soluções de molibdato e de tungstato são
acidificadas, ocorrem reações de condensação e a formação
[H3W6O21]3-
pH - 3,3
I”'
[H^Ao]6"
V-metatungstato metatungstato

pH < 1

WO3-2H2O
Se uma solução de molibdato ou de tungstato for
acidificada na presença de fosfato, silicato ou íons metálicos,
formam-se hetero-poliíons. O segundo ânion fornece um
centro em torno do qual se condensam os octaedros deMoO;
Figura 22.8 — Estrutura dos tons cromato e dicromato ou WO6, compartilhando átomos de oxigênio com outros
BRONZES OE TUN6STÊNIO 3B9

Figura 22.9 — Alguns tons molibdato (de Emeléus, H>J. e Sharpe,


A G., Modem Aspects of inorganic Chemistry, 4a edição, Routledge and
KeganPaul, 1973)

octaedros e com o grupo central. Freqüentemente, os grupos Figura 22.11 — Um 6-poliácido. por exemplo K6[TeMo6024] (de
centrais são oxoânions tais como PO43’, SiO44’ e BO43’, mas Emeléus, H>J> e Sharpe, A.G., Modem Aspects of inorganic
Chemistry, 4,a edição, Routledge and Paul, 1973)
outros elementos como Al, Ge, Sn, As, Sb, Se, Te, I e muitos
dos elementos de transição podem servir como segundo BRONZES DE TUNGSTÊNIO
grupo. A relação entre o número de unidades octaédricas
MoO6 e WO6 e P, Si, B ou outro átomo central é usualmente Os bronzes de tungstênio foram obtidos inicialmente
mediante o forte aquecimento de tungstato de sódio,
de 12:1, 9:1 ou 6:1, embora possam ocorrer em outras
Na2WO4, com WO3 e H2. Atualmente são obtidos por
proporções com menor freqüência. Um exemplo bem
aquecimento do Na2WO4 com W metálico, onde são
conhecido de formação de heteropoliácidos é o teste para
formados bronzes de tungstênio azuis, vermelhos, amarelos
fosfatos. Uma solução de fosfato é aquecida com molib-
e púrpuras. São sólidos semimetáiicos, brilhantes e
dato de amônio e ácido nítrico, formando-se um preci­
condutores de eletricidade. São muito inertes, tanto ao ataque
pitado amarelo de fosfomolibdato de amônio, de ácidos como de bases fortes. São utilizados na obtenção
(NH4)3[PO4-Mo12O36], de tintas "metálicas” e de "bronzes”.
As estruturas de diversos heteropoliácidos já foram Bronzes de tungstênio são compostos não-
determinadas. Nos 12-heteropoliácidos, por exemplo no ácido estequiométricos de fórmula MXWO3, onde M pode ser Na,
12-fosfotungstico, 12 unidades octaédricas WO6 envolvem K, um metal do grupo 2 ou um lantanídeo, e onde x é sempre
um PO4 tetraédrico. Esse íon pode ser considerado como inferior a um. Os íons de Na+ ou de outros metais ocupam
sendo formado por quatro grupos de três unidades WO6 (Fig. posições intersticiais. A cor depende da proporção de M
22.10). presente. No caso dos bronzes de sódio observa-se que:
Os 6-heteropoliácidos abrigam átomos centrais maiores, x ~ 0,9, amarelo ou dourado; x ~ 0,7 laranja; x ~ 0,5 vermelho;
com número de coordenação 6. A disposição das seis 0,3 preto azulado. A quantidade variável de Na 4 produz
unidades MoOs, como mostrado na Fig. 22.11, cria uma um retículo com defeitos, onde alguns dos sítios que
cavidade central suficientemente grande para acomodar a deveríam estar ocupados por metais alcalinos permanecem
unidade octaédrica do heteroátomo, como por exemplo no vazios. Pode-se supor que para cada Na+ removido do
K6[TeMo6O24], NaW03, um tungstênio passa de W( + V) para W{ + VI). As
propriedades dos bronzes de tungstênio são melhor
explicados, supondo-se que todos os átomos de tungstênio
estão no estado de oxidação ( +VI). Os elétrons de valência
dos metais alcalinos têm liberdade para se moverem através
do retículo, levando à condução metálica. A condutividade
diminui com o aumento da temperatura, como nos metais.
Sua estrutura é constituída por unidades octaédricas WO6
interligadas pelo compartilhamento de todos os seus vértices
com outros octaedros. Nas Leituras Complementares podem
ser encontrados mais detalhes sobre os bronzes de
tungstênio.
O molibdênio também forma bronzes semelhantes aos
do W, mas é necessário uma pressão elevada para obtê-los;
e os compostos de Mo são menos estáveis. Isso pode ser
devido à menor estabilidade do Mo( + V) comparado com o
W( +V), ou por causa das diferenças em suas estruturas: é
Figura 22. W — Um 12-poliácido, por exemplo H3[PO4 • WI2O3J (de
constituído por unidades octaédricas MoO6 interligados tanto
Emeléus, HJ e Sharpe, A.C., Modem Aspects of inorganic Chemistrym pelos vértices como pelas arestas. O lítio também forma
4°edição, Routledge and Kegan Paul, 1973 bronzes, mas estes não conduzem a eletricidade.
370 GRUPO 6 — 0 GRUPO □□ CRÚMIO

IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA • Corbett, J.D. (1981) Extended metal-metal bonding in ha­


lides of the early transition metais, Acc. Chem. Res., 14,239.
Quantidades traço de Cr e de Mo são necessários na
dieta dos mamíferos. O Cr( + III) e a insulina estão ambos • Cotton, F.A. (1975) Compounds with multiple metal to metal
envolvidos na manutenção do nível adequado de glicose no bonds, Chem. Soc. Rev., 4, 27-53.
sangue. Em casos de deficiência de Cr, a velocidade de • Cotton, F.A. (1978) Discovering and understanding multiple
remoção da glicose do sangue é a metade da velocidade metal to metal bonds, Acc. Chem. Res., 11, 225-232.
normal. Alguns casos de diabetes podem decorrer de • Cotton, F. A. e Chisholm, M.H. (1978) Chemistry of com­
problemas no metabolismo do Cr. Porém, o aspecto médico pounds containing metal-metal bonds, Acc. Chem. Res., 11,
mais preocupante dos sais de Cr é o caráter cancerígeno dos 356-362.
mesmos, quando ingeridos ou em contato com a pele, em • Coughlin, M. (ed.) (1980) Molybdenum and Molybdenum-
quantidades relativamente grandes. Compostos de Cr(VI), containing Enzymes, Pergamon Press, Oxford.
como os cromatos e dicromatos, são particularmente • Diatomic metais and metallic clusters (Confêrencia do Fara-
perigosos. Assim, devem ser tomadas precauções nas day Symposia of the Royal Society of Chemistry, No. 14),
titulações com K2Cr2O7 ou KCrO4. Royal Society of Chemistry, London.
Mo está presente nas enzimas de bactérias fixadoras • Dilworth, J.R. e Lappert, M.F. (eds) (1983) Some Recent De-
de nitrogênio (a quantidade de nitrogênio fixada velopments in the Chemistry of Chromium, Molybdenum and
biologicamente é calculada em 175 milhões de toneladas TUngsten, Royal Society of Chemistry, Dalton Division. (Anais
por ano; enquanto a quantidade de NH3 obtido pelo processo da conferência na University de Sussex)
Haber-Bosch e a destilação do carvão foi de 110 milhões de
• Emeléus, H. J. e Sharpe, A.G. (1973) Modem AspecisofInor­
toneladas). A bactéria fixadora de nitrogênio mais importante
ganic Chemistry, 49 ed. (Cap. 14 e 15: Complexos de metais
é a Rhizobium, que contém a metaloenzima nitrogenase.
de transição; Cap. 20: Carbonilas) Routledge and Kegan Paul,
A nitrogenase é constituída por duas proteínas, London.
molibdoferredoxina e azoferredoxina. A molibdoferredoxina • Greenwood, N.N. (1968) lonic Crystals, Lattice Defects and
é marrom, sensível ao ar, contém 2 átomos de Mo, 24-36 Non-Stoichiometry, Butterworths, London. (Defeitos
átomos de ferro e 24-36 átomos de S, associados a uma estruturais)
proteína, e sua massa molecular é de aproximadamente
225.000. A azoferredoxina é amarela, sensível ao ar, e é um • Hagenmuller, P. (1973) Comprehensive Inorgani Chemistry
derivado da ferredoxina, Fe4S4(SR)4, com massa molecular Vol. 4 (Cap.50: Bronzes de tungstênio e de vanádio),
na faixa de 50.000 a 70.000. O mecanismo exato do processo Pergamon Press Oxford.
de fixação do nitrogênio ainda não é conhecido. Supõe-se • Hudson, M. (1982) Tmgsten: its sources, extraction and uses,
que o N2 se liga ao Mo da molibdoferredoxina (não se sabe Chemistry in Britain, 18, 438-442.
se lateralmente ou pelas extremidades). Se o Mo estiver num • Hunt, C.B. (1977) Metallocenes - the first 25 years, Educa-
estado de oxidação suficientemente baixo, provavelmente tion in Chemistry, 14, 110-113.
poderá se ligar ao orbital antiligante do N2. Então, o Fe na • Johnson, B.F.G. (ed.) (1980) TYansition Metal Clusters, John
azoferredoxina é reduzido pela ferredoxina livre, Fe4S4(SR)4. Wiley, Chichester.
Um elétron é transferido da azoferredoxina reduzida para a • Kepert, D.L. (1972) The Early TYansition Metals (Cap. 4: Cr,
molibdoferredoxina, possivelmente com a participação do Mo, W), Academic Press, London.
Fe; e finalmente, o elétron é transferido do Mo para o N2.
Ocorre, então, a adição de prótons e mais elétrons ao N2, • Kepert, D.L. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol.
até eventualmente ocorrer a formação de NH3. O 4 (Cap. 51: Isopoliânions e heteropoliânions), Pergamon
Press, Oxford.
adenosinatrifosfato, ATP, é necessário para fornecer a energia
requerida no processo. A nitrogenase não é específica para • Lewis, J. e Green, M.L. (eds) (1983) Metal Clusters in Chem-
a reação N2->NH3, mas também reduz alcinos a alcenos, istry (Anais da Royal Society Discussion Meeting, maio de
bem como os cianetos. 1982), The Society, London.
• Mitchell, P.C.H. (ed.) (1974) Chemistry and uses of molyb­
denum, J. Less Common Metals, 36, 3-11.
LEITURAS COMPLEMENTARES
• Pope, M.T. (1983) Heteropoly and Isopoly Oxo Metalates,
• Abel, E.W. e Stone, F.G. (1969, 1970) The chemistry of tran- Springer-Verlag. (Boa revisão sobre poliácidos)
sition metal carbonyls, Q. Rev. Chem. Soc., Parte I -
Considerações estruturais, 23, 325; Parte II - Síntese e • Richards R.L. (1979) Nitrogen fixation, Education. in Chem­
reatividade, 24, 498. istry, 16, 66-69.
• Bevan, D.J.M. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, • Rollinson, C.L. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry,
Vol. 4 (Cap. 49: Compostos não-estequiométricos), Pergamon Vol. 3 (Cap. 36: Crômio, molibdênio e tungstênio), Pergamon
Press, Oxford. Press, Oxford.
• Burgmayer, S.J.N. e Stiefel, E.I. (1985) Molybdenum enzymes, • Shriver, D.H., Kaesz, H.D. e Adams, R.D. (eds) (1990) Chem­
J. Chem. Ed., 62, 943-953. istry of Metal Cluster Complexes, VCH, New York.
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1968) Halides of the Second • Templeton, J.L. (1979) Metal-metal bonds of order four, Progr.
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• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides of the First Roív • Toth, L.E. (1971) TYansition Metal Carbides and Nitrídes, Aca­
TYansition Elements, Wiley, London. demic Press, London.
371

7
o cj uuníSãnÊs
INTRODUÇÃO MnO2 era particularmente violenta). O metal puro tem
0 manganês é produzido em quantidades muito poucas aplicações. 95% dos minérios de manganês
grandes, e a maior parte encontra emprego na indústria do produzidos são utilizados na indústria siderúrgica, para a
aço. Também são produzidas grandes quantidades de MnO2, produção de ligas. A mais importante delas é o ferro-
usado principalmente em “pilhas secas” e na indústria de manganês, que contém 80% de Mn. A produção mundial
cerâmica. KMnO4 é um importante agente oxidante. de ferro-manganês foi de 3,4 milhões de toneladas em 1991.
Mn( + III) forma um acetato básico com uma estrutura pouco O ferro-manganês é obtido pela redução de uma mistura
comum. 0 manganês tem importância biológica e é apropriada de Fe2O3 e MnO2 com carvão coque, num alto-
necessário na fotossíntese. Os elementos tecnécio e rênio forno, ou num forno de arco elétrico. Certa quantidade de
raramente são encontrados. Eles diferem do manganês por calcário também é adicionada para remover as impurezas
terem uma química de cátions pobre, por seus estados de de silicato como escória de silicato de cálcio. Dentre as ligas
oxidação elevados serem muito mais estáveis, e por formarem com um conteúdo menor de Mn estão o ferro sílico-manganês
agregados e compostos com ligações metal-metal nos estados (aproximadamente 65% Mn, 20% Si, 15% Fe), e o ferro
de oxidação ( + 11), (+ III) e ( + IV). "spiegel" ou de fundição especular, que é semelhante ao
ferro fundido e contém de 5 a 25 % de Mn. O Mn é um
aditivo importante na fabricação do aço. Atua como
ABUNDÂNCIA, OBTENÇÃO E USOS removedor de oxigênio e de enxofre, impedindo assim a
0 manganês é o décimo-segundo elemento mais formação de bolhas e torna-o menos quebradiço. A liga de
abundante, em peso, na crosta terrestre, sendo extraído aço obtida é muito dura (o aço Hadfield contém cerca de
predominantemente como o minério pirolusita, MnO2. É um 13% de Mn e 1,25% de C. É muito resistente ao desgaste e
material secundário que se originou da lixiviação do Mn de ao choque, sendo utilizado em escavadeiras e britadeiras).
rochas ígneas, por águas alcalinas, e sua deposição como Quantidades menores de Mn também são empregadas em
MnO2. A produção mundial de minérios de manganês foi de ligas de metais não-ferrosos. Por exemplo, a “manganina” é
22,7 milhões de toneladas em 1992 (cerca de 9 milhões de uma liga contendo 84% de Cu, 12% de Mn e 4% de Ni. É
toneladas em conteúdo de Mn). Os principais produtores largamente usada em instrumentos elétricos, porque sua
são a ex-URSS 31 %, China 25 %, Brasil e África do Sul 11 % resistência elétrica praticamente não varia com a
cada um, Gabão 7%, índia 6% e Austrália 5%. Atualmente, temperatura.
o Mn puro é obtido por eletrólise de soluções aquosas de O tecnécio não ocorre na natureza, tendo sido o primeiro
MnSO4 (antigamente o Mn era obtido por redução do MnO2 elemento a ser obtido artificialmente. Todos os seus isótopos
ou Mn3O4 com Al, numa reação térmita, mas a reação com são radioativos, e só recentemente suas propriedades quí­
micas foram estudadas. O 99Tc é um dos
——————— produtos de fissão do urânio. É um emis­
Tabela 23.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação sor beta com uma meia-vida de 2,lxlOs
anos. É obtido em quantidades da ordem
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* de quilogramas a partir de barras
esgotadas de combustível de reatores de
Manganês Mn [Ar] 3^4? (-D 0 (D n (ui) iv (V) (vi) vn usinas termonucleares. Essas barras
Tecnécio Tc [Kr] 41/5 5.r2 0 (ii) (iii) iv (V) vi vn
Rênio Re [Xe] 4/4 5cP 6? 0 (D (ii) ni iv (V) vi vn podem conter até 6% de Tc, mas devem
ser armazenadas por vários anos, para
' Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados permitir O decaimento radioativo das
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo espécies de meia-vida curta. O Tc pode
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são dados entre parênteses.
37H GRUPO 7—0 GRUPO 00 MANGANÊS

Tabela 233 — Óxidos e haletos


Tabela 23.2 — Abundância dos elementos na crosta
terrestre, em peso
Estados de oxidação
Elemento ppm Ordem de
(+H) (+IH) (+IV) (+V) (+VI) (+VI1) Outros
abundância relativa
MnO Mn2O3 MnO2 Mn,07 Mn30,
Mn 1.060 12? Tc2Ò,
TcO2 TcO3
Tc 0
Re2O3h ReO2 (RejOj) ReO3 Re2O7
Re 0.0007 76? MnF2 MnF3 MnF4
MnCl2
ser extraído por oxidação a Tc2O2, que é volátil. Alterna- MnBr2
damente, podem ser separadas em soluções por métodos de Mnl2
troca iônica e extração com solvente. O íon pertecnato, TcFj TcF6
TcO4“, é formado quando Tc2O7 é dissolvido em água. Este TcC14 (TcC16?)
pode ser cristalizado como pertecnato de amônio ou potássio.
O pertecnato de amônio, NH4TcO4, pode ser reduzido com
ReF4 ReF5 ReF6 ReF,
H2 ao metal. O Tc metálico não tem utilidade prática. 97Tc e
(ReCl2) ReCl3 ReCI4 ReClj (ReCl6?)
98Tc podem ser obtidos pelo bombardeamento de Mo com (ReBr2) ReBr3 ReBr4 ReBrs
nêutrons. Pequenas quantidades de compostos de tecnécio (Rel2) Rel3 Rel4
são às vezes injetadas em pacientes, para realizar exames
radiográficos do fígado e de outros órgãos. Os estados de oxidação mais importantes são mostrados em negrito e os
instáveis, em parênteses. h= óxido hidratado
O rênio é um elemento muito raro e ocorre em pequenas
quantidades em minérios de sulfeto de molibdênio. É Compostos no estado de oxidação (+ VI) tendem a se
recuperado da poeira resultante da calcinação desses desproporcionar e não são muito conhecidos. Por outro lado,
minérios, na forma de Re2O7. Este é dissolvido em NaOH, muitos compostos de Tc e Re nos estados (+ V) e (+ IV) são
formando uma solução contendo íons perrenato, ReO4“. Esta conhecidos. Re( + III) também é estável e seus haletos for­
mam “clusters" com ligações metal-metal. Compostos de
é concentrada e o rênio é precipitado como perrenato de
rênio com o metal no estado (+ II) ou inferiores são
potássio, KReO4, por meio da adição de KC1. O metal Re é
fortemente redutores e raros.
obtido pela redução de KReO4 ou NH4ReO4 com hidrogênio.
A produção mundial foi de apenas 32 toneladas em 1992, Assim, descendo pelo grupo, há um aumento de
sendo a maior parte usada na fabricação de ligas Pt-Re. estabilidade das espécies nos estado de oxidação mais
Estas são utilizadas como catalisadores na obtenção de elevado e um decréscimo na estabilidade dos estados
combustíveis com baixo teor ou isentos de chumbo. inferiores. A estabilidade relativa dos elementos nos vários
Pequenas quantidades encontram emprego como estados de oxidação é mostrada na Tab. 23.3. A tendência
dos íons se desproporcionarem podem ser inferidas
catalisadores para reações de hidrogenação e desidrogenação.
Por causa de seu ponto de fusão muito elevado (3.180 °C, analisando-se seus potenciais de redução.
vide Tab. 23.4) é usado em pares termoelétricos, espirais de
Potenciais de redução padrão (volt)
fornos elétricos e filamentos de espectrômetros de massa.
Solução ácida
Estados de oxidação
ESTADOS DE OXIDAÇÃO 0
+VII +VI +IV +HI +11
A configuração eletrônica dos elementos desse grupo é
dV. O maior estado de oxidação possível é ( + VII), quando MnO; -iS^Mnbj- ■±^-MnO2;
todos os elétrons são utilizados para formar ligações. 0 Mn |l........ +,.69----------- 1 L------- +1.23 I |
1--------------------------------------- + 1,51-
é o elemento que exibe a maior faixa de estados de oxidação, ---------------- +0.272
indo de (-111) a ( + VII). O estado ( + 11) é o mais estável e ^(TcbajiSiZÉlí^ 0,144 Tc2*—^——Tc
TcO;
mais comum, sendo o íon Mn2* encontrado em sólidos, em ------- 0,737------------ 1
solução e em complexos. Contudo, em meio alcalino, o íon ------------------------------ +0,50-
.--------------------- +0,251 “I
Mn2* é facilmente oxidado a MnO2. O íon no estado de d^Reo3^”Rlo2±l^Re9*----- +0,300
ReOj ■Re
oxidação ( + 1V) é encontrado no principal minério de
I--------- +0.318---------- 1 I
manganês, a pirolusita, MnO2. O elemento no estado (+ VII) ---------------- +0,422 -------------------------- 1
é encontrado no KMnO4, um dos agentes oxidantes mais • sofrc.desproporcionamcnto
fortes em solução, inclusive mais forte que o Cr( + Vl) do Potenciais envolvendo TcOj são valores calculados
grupo anterior. Mn( + III) e Mn( + VI) tendem a se
desproporcionar. Os estados de oxidação inferiores são PROPRIEDADES GERAIS
observados em carbonil-complexos e em carbonil-complexos O Mn é mais reativo que seus vizinhos na tabela
substituídos. periódica. Reage lentamente com H2O, liberando H2, e se
Em contraste com o forte caráter oxidante do Mn( + VII), dissolve prontamente em ácidos diluídos. O metal finamente
o estado ( +VII) é o mais comum e mais estável no caso do dividido é pirofórico quando exposto ao ar, mas o metal
Tc e do Re. Tc( + VII) e Re( + VII) são oxidantes muito fracos. maciço não reage a não ser quando aquecido. Se fortemente
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS EM ESTADOS OE OXIOAÇAO INFERIORES 373

O caráter básico de qualquer elemento muda em função


Tabela 23.4 — Algumas propriedades físicas de seu estado de oxidação. As espécies em estados de
Raio oxidação mais baixos são mais básicos, enquanto que as
Raio iônico Ponto de Ponto de Densidade Eletrone-
covalente M2* M3* fusão ebulição gativida- espécies em estados de oxidação mais elevados são mais
dede ácidos. MnO e Mn2O3 são óxidos básicos e iônicos. MnO2 é
(A) (A) CC) CO (g cm'3) Pauling anfótero, mas íons Mn4* simples não podem ser
encontrados. Mn( + V) é raro. Os compostos de Mn( + VI)
Mn 1,22 0,67a 0,645a 1.244 2.060 7,43 1,5 são representados pelos manganatos, como Na2[MnO4j. Este
0,58b pode ser considerado um sal do oxido ácido instável MnO3,
Tc 1,34 2.200 4.567 11,50 1,9 que não existe no estado livre. O íon Mn( + VII) ocorre no
Re 1,34 3.180 5.650 21,00 1,9 Mn2O7, que é um óxido fortemente ácido. O ácido
a = spin alto b = spin baixo correspondente, o ácido permangânico, HMNO4, é um ácido
muito forte.
aquecido, o metal maciço reage com muitos não-metais,
como O2, N2, Cl2 e F2, formando Mn3O4, Mn3N2, MnCl2 e Quase todos os compostos de manganês são coloridos.
uma mistura de MnF2 e MnF3. O ponto de fusão do metal é O íon Mn2* é rosa pálido e o MnO2 é preto, por causa das
bem menor que dos elementos mais leves da primeira série transições d-d. O íon no estado de oxidação (+ VII) tem
de transição, Ti, V e Cr. Curiosamente, o metal pode ser configuração d° e seus compostos deveríam ser incolores.
encontrado em quatro formas diferentes (a ou cúbico de Todavia, enquanto os perrenatos (ReO4*, contendo Re( + VII))
corpo centrado, cúbico compacto, 0 e %). A forma a é estável são incolores, os permanganatos (MnO4~, contendo
à temperatura ambiente e tem uma estrutura cúbica de corpo Mn( + VII)) são intensamente coloridos. A cor púrpura escura
centrado (vide Capítulo 5). decorre de transições de transferência de carga.
Os metais Tc e Re são menos reativos que o Mn. Eles O manganês se assemelha ao ferro em suas propriedades
não reagem com H2O, nem com ácidos não-oxidantes. Assim, físicas e químicas. O metal é mais duro e mais quebradiço
não se dissolvem em HC1 ou HF, mas reagem com ácidos que o ferro, mas funde a uma temperatura inferior
oxidantes como HNO3 e H2SO4 concentrados, formando, (Mn= 1.244 °C, Fe= 1.535 °C). Geralmente, os três metais
respectivamente, os ácidos pertecnécico, HTcO4, e perrênico, Mn, Tc e Re são obtidos na forma de um pó acinzentado,
HReO4 (não se trata da reação típica entre ácido e metal, mas na forma maciça eles se parecem com a platina. O rênio
com formação de sal e liberação de H2. Por exemplo, no metálico tem o segundo ponto de fusão mais alto de todos
HNO3 concentrado, o íon NO3" é um oxidante mais forte os metais (W = 3.380 °C, Re = 3.180 °C).
que H3O*, e há liberação de NO2). Tc e Re reagem de modo O manganês é bastante eletropositivo e se dissolve em
semelhante com H2O2 e água de bromo. Os metais maciços ácidos não-oxidantes diluídos, a frio. À temperatura
perdem o brilho (oxidam-se) lentamente em ar úmido, mas ambiente, não é muito reativo frente a não-metais, mas reage
os metais pulverizados são mais reativos. O aquecimento mais rapidamente quando aquecido.
desses elementos com O2 leva à formação de Tc2O7 e Re2O7, O Mn é muito mais reativo que o Re. Um comportamento
que possuem pontos de fusão baixos (119,5 °C e 300 °C, semelhante é observado em grupos adjacentes: Cr é mais
respectivamente) e são voláteis. O aquecimento com F2 leva reativo que W, e Fe é mais reativo que Os. Essa tendência de
à formação de TcFs e TcF6, e ReF6 e ReF7. decréscimo no caráter eletropositivo é o oposto da tendência
Muitos compostos iônicos de Mn (por exemplo normal observada nos grupos representativos da tabela
compostos com os íons Mn2*, Mn’*, MnO42’ e MnO4“), são periódica. Além disso, o Re tende a alcançar estados de
conhecidos. Em contraste, a química do Tc e do Re, em meio oxidação mais elevado que o Mn quando reagem com o
aquoso, é dominada pelos oxoíons TcO4” e ReO4". Os mesmo elemento. A Tab. 23.5 apresenta uma comparação
elementos Tc e Re possuem uma tendência acentuada de entre algumas das reações do Mn e do Re.
formarem ligações metal-metal, quando em estados de Os elementos do grupo 7 possuem sete elétrons de
oxidação baixos, ou seja, (+ II), (+111) e (+ IV). valência, mas a semelhança com os elementos do Grupo 17,
Em pequeníssimas quantidades, o manganês é essencial os halogênios, é mínima, exceto nos estado de oxidação mais
para o crescimento de plantas e animais, sendo por isso, elevado. Por exemplo, Mn2O7 e C12O7 podem ser comparados;
adicionado sob a forma de MnSO4, em fertilizantes. MnO/ e C1O4' são isomorfos e têm solubilidades
semelhantes; e IO4" e ReO4* são muito similares. Há
Tabela 23.5 — Algumas reações do manganês e do rênio semelhanças mais nítidas entre o Mn e seus vizinhos Cr e
Fe. Os cromatos, CrO42*, manganatos, MnO42“, e ferratos,
Reagente Mn Re FeO42*, são semelhantes entre si. As solubilidades dos óxidos
inferiores também são semelhantes, o que explica o fato do
N2 Forma-se Mn3N2 a 1.200"C Não reage ferro e do manganês serem encontrados associados.
c Mn3C Não reage
HjO Mn2* + H2 Não reage
ácido diluído Não reage
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS EM
Mn2* + H2
ácido concentrado Mn2* + H2 Dissolução lenta ESTADOS DE OXIDAÇÃO INFERIORES
halogênios MnX2 e MnF3 ReF6 ReCl5, ReBr3 O elemento no estado de oxidação (-1) pode ser
S MnS ReS2 encontrado no composto carbonílico aniônico, [Mn(CO)s]~.
02 Mn3O4 Re2O7 As carbonilas, [Mn2(CO)10} e [Re2(CO)10], e o complexo
374 GRUPO 7 — 0 GRUPO 00 MANGANÊS

K6(Mn(CN)6]-2NH3, que é instável e fortemente redutor, a) b)


contêm o elemento na valência zero.
Mn( + 1) e Re( + I) são obtidos com dificuldade e são
fortemente redutores.

K3[Mn"'(CN)6] K em amônia líquida


■» K5[Mn'(CN)6]
t |t |e°
CL sob pressão
[Re2(CO)I0] ■> 2[Re'(CO)5Cl]

O cianocomplexo NasIMn^CN)^ pode ser obtido


dissolvendo-se Mn em pó numa solução aquosa de NaCN, fWI
na ausência total de ar. Arranjo d5 de spin alto Arranjo d5 de spin baixo
(elétrons desemparelhados) (elétrons emparelhados)
(ligantes de campo fraco) (ligantes de campo forte)
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
DE OXIDAÇÃO (+ II) Figura 23.1 — Arranjos de spin-alto e spin-baixo num campo
Sais de Mn( + ll) (sais manganosos) podem ser cristalino octaédrico
Todos esses complexos têm cores muito pouco intensas,
preparados facilmente a partir de Mn02.
pois as transições d-d, em complexos d? de spin alto,
MnO2 + 4HC1 -> MnCl2 + Cl2 + 2H2O requerem não somente a promoção de um elétron de um
2MnO2 + 2H2SO4 -> 2MnSO4 + 02 + 2H2O nível t2g para um nível eg, mas também a inversão de seu
spin. A regra de seleção de spins estabelece que durante
A maioria dos sais manganosos se dissolve em água, uma transição eletrônica o spin do elétron deve permanecer
formando o íon Mn2 + hidratado, mas Mn3(PO4)2 e MnCO3 inalterado. A regra não é rigorosamente obedecida, mas a
são pouco solúveis. Os íons [Mn(H2O)6]2 + apresentam probabilidade de uma transição com mudança de spin oconer
coloração rosa. Também se formam quando o metal é é baixa. Assim, tais transições são denominadas transições
dissolvido em ácido, ou quando seus compostos, em estados proibidas por spin. Em consequência da baixíssima
de oxidação superiores, são reduzidos. Pequenas quantidades probabilidade de ocorrer uma transição desse tipo, a
de MnSO4 são adicionadas a fertilizantes, pois Mn é um intensidade da cor é de apenas um centésimo daquela
elemento essencial (micronutriente) para as plantas. A adição observada na maioria dos compostos que exibem transições
de NaOH ou NH4OH a uma solução de íons Mn2+ forma um permitidas por spin (deve-se lembrar ainda que todas as
precipitado gelatinoso rosa pálido de Mn(0H)2, que se torna transições d-d são proibidas pela regra de Laporte, que
marrom escuro à medida que se oxida a Mn02. Pode-se inferir estabelece que durante uma transição eletrônica a variação
a partir de uma rápida inspeção dos potenciais padrão de do número quântico secundário l deve ser igual a + 1. Logo,
eletrodo, que essa reação não pode ocorrer em meio ácido, transições s ->p e p —>d são permitidas, mas as transições
mas deve ocorrer facilmente em meio alcalino. d ~^>d são proibidas. Essa regra de seleção é menos restritiva,
já que pode ser relaxada pelo abaixamento de simetria, pela
Estados de oxidação combinação de orbitais, ou pelo movimento térmico dos
+VII +VI +v +IV +III +11 0 ligantes. Esses aspectos serão discutidos no Capítulo 32).
No Capítulo 7, foram apresentados os detalhes sobre o
Solução ácida desdobramento dos orbitais d pelo campo cristalino.
tZ26 Ligantes de campo forte podem forçar o emparelha-
MnOJ-^MnOj- ----- MnOi-^Mn3* Mn2‘^-Mn
mento dos elétrons, formando complexos de spin baixo. 0
Solução básica único complexo de Mn comum, de spin baixo, é o
[Mn(CN)6]4’, que possui apenas um elétron desemparelhado
MnOj -^-MnO?—MnOt — MnO2—Mn3*— Mn(OH)2 —Mn
(Fig. 23.1). K4[Mn(CN)6]-3H2O é azul e tem a mesma
* sofre desproporcionamento estrutura do K4[Fe(CN)6]. Analogamente, os complexos
[Mn(CNR)6]2+ e [Mn(CN)s ■ (NO)]3- também apresentam
O íon Mn2* possui configuração eletrônica 3d5, que uma configuração no qual os elétrons apresentam spins
corresponde a um nível d semipreenchido. Assim, ele é mais emparelhados ou configuração de spin baixo, com apenas
estável que outros íons divalentes de metais de transição, um elétron desemparelhado. A configuração de spin baixo é
sendo mais difícil de oxidar que os íons Cr2* ou Fe2 + . A um pouco mais estável que a configuração de spin alto. No
maioria dos complexos de Mn( + II) é octaédrica, de spin primeiro caso, a energia de estabilização do campo cristalino
alto com cinco elétrons desemparelhados (Fig. 23.1). Esse é cinco vezes Ao, pois cinco elétrons estão ocupando os
arranjo de elétrons leva a uma energia de estabilização de orbitais t2g. Ela é parcialmente cancelada pela energia
campo cristalino igual a zero (vide Capítulo 7). Portanto, necessária para o emparelhamento de dois pares de elétrons.
complexos tais como [Mn(NH3)6]2 + e [MnCl6]4" não são Os complexos de spin baixo são menos reativos. Todavia,
estáveis, exceto em solução. Complexos com ligantes podem ser facilmente oxidados, pois a remoção de um elétron
quelantes são mais estáveis, e [Mn(etilenodiamina)3]2 + , diminui em uma unidade a energia necessária para o
[Mn(oxalato)3]4~ e [Mn(edta)]4" podem ser isolados como emparelhamento dos elétrons, fazendo com que a energia
sólidos. de estabilização do campo cristalino decresça muito pouco.
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO OE OXIOAÇAO t-l-lll] 375

Esses complexos também podem ser facilmente reduzidos, pois a estrutura eletrônica do íon metálico é (t2g)3(eg)1, e o
já que a adição de um elétron preenche completamente nível eg não está preenchido simetricamente. A distorção é
(simetricamente) os orbitais. semelhante à encontrada em complexos de Cr2 + e de Cu2 +.
O complexo com oxalato, [Mnln(oxalato)3]3’, pode formar-
[Mn'(CN)6]s-<—Zn’redllca° [Mn“(CN)6]4- se durante as titulações de oxalato com permanganato. Isso
■ [Mnln(CN)6]3" provocaria erros na determinação analítica, que se baseia
na redução de MnO4‘ a Mn2*. Por isso, as titulações são
Em complexos d.5 de spin baixo, as transições eletrônicas efetuadas a 60 °C, para decompor o complexo com o oxalato,
d-d são permitidas por spin e os compostos tendem a ser que é termicamente instável.
íortemente coloridos. O complexo K3[Mnln(CN)6] é formado quando se
Também são conhecidos alguns poucos exemplos de borbulha ar numa solução contendo Mn2* e KCN. Como o
complexos quadrado-planares, como a ftalocianina de Mn e CN" atua como um ligante de campo forte, provoca o
oMnS04-5H20, que contém unidades [Mn(H2O)4]2 + emparelhamento dos elétrons, e o complexo é de spin baixo,
quadrado-planares. Os complexos com haletos [MnCl4]2', cuja configuração eletrônica é (t2g)4(eg)°. O nível eg está
(MnBr4]2“ e [Mnl4]2’ são tetraédricos e verde amarelados. simetricamente preenchido e o complexo tem estrutura
Em solução, duas moléculas de água ou dois íons haleto são octaédrica regular, como esperado.
adicionados, formando complexos octaédricos, de coloração Quando o Mn2* é oxidado com KMnO4, em ácido acéti-
rosa. Esses octaedros podem se polimerizar através da co glacial, forma-se um acetato básico de manganês bastante
formações de ligações em que íons haleto atuam como incomum. É um sólido castanho avermelhado intenso, de
ligantes pontes. fórmula [Mn3O(CH3COO)6+ [CH3 COO]“, usado industrial­
Re( + II) não é iônico e somente é encontrado em alguns mente na oxidação de tolueno C6H5 CH3 a fenol, C6H5OH.
poucos complexos, tais como [Re(piridina)2Cl2]. Este Também é capaz de oxidar alcenos a lactonas, além de ser
composto foi resolvido nos isômeros eis e trans, provando usado como matéria-prima para a obtenção de muitos
assim que sua estrutura é quadrado-planar e não tetraédrica. compostos de Mn( + III). Sua estrutura é pouco comum e
consiste de um triângulo com três átomos de Mn nos vértices
e um átomo de O no centro. Os seis grupos acetato atuam
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO como pontes entre os átomos de Mn — dois grupos ao longo
DE OXIDAÇÃO (+ III) de cada aresta do triângulo. Assim, cada átomo de Mn está
Mn3O4 é um sólido preto e é o óxido mais estável a ligado a quatro grupos acetato e ao O central, sendo a sexta
altas temperaturas. É formado quando qualquer óxido ou posição do octaedro ocupada por uma molécula de água ou
hidróxido de manganês é aquecido a 1.000 “C. Contém tanto de outro ligante, levando ao composto [Mn3O(CH3COO)6L3] *.
Mn( + II) como Mn(+ III), isto é, sua fórmula é na verdade Esse tipo de complexo com carboxilatos é formado pelos
(MnnMnln2O4), e tem a estrutura do espinélio. Os átomos de íons trivalentes de Cr, Mn, Fe, Ru, Rh e Ir. A mesma reação
O formam uma estrutura de empacotamento compacto, onde descrita acima em ácido sulfúrico leva a formação de uma
íons Mn( + III) ocupam os interstícios octaédricos e íons solução vermelha intensa. Supõe-se que ela contenha um
Mn( + II) ocupam os interstícios tetraédricos. íon complexo análogo, com grupos sulfato, SO42’, atuando
como ligantes pontes. Essa solução é tão fortemente oxidante
0 íon mangânico hidratado, [Mn(H2O)6]3 + , pode ser quanto o KMnO4 e já foi usada como um agente oxidante
obtido em solução por eletrólise, pela oxidação de Mn2* alternativo.
com peroxodissulfato de potássio, K2S2O8, ou pela redução
de MnO4‘. Não pode ser obtido em concentrações elevadas, Complexos de Mn( + lII) e Mn( + IV) participam do
em parte porque a água reduz Mn3* ao íon mais estável processo de formação de O2 durante a fotossíntese.
Mn2+ (cuja estabilidade é aumentada por causa da O íon Tc( + III) é instável, mas Re2O3 • (H2O)n e os haletos
configuração d5). Mn3* se desproporciona em meio ácido mais pesados são conhecidos. Os haletos são na realidade
(vide os potenciais padrão de redução). Um número reduzido trímeros: (ReCl3)3 e (ReBr3)3 são sólidos vermelho escuros,
de sais de Mn3 + , por exemplo, MnF3, Mn2(SO4)3, e o óxido e (Rel3)3 é preto. Sua estrutura consiste de um cluster. no
Mn2O3, são conhecidos. Esses compostos sofrem despro-
porcionamento em meio ácido e hidrólise em água:

2Mn3 + + 2H2O —Mn2* + MnlvO2 + 4H +


Mn3* + 2H2O —>MnOOH + 3H +
Os complexos de Mn( + III) são estáveis em meio aquo-
so. A maioria deles é octaédrica e de spin alto, com mo­
mentos magnéticos próximos ao valor esperado de 4,90 MB,
considerando-se a aproximação de “spin only”, para quatro
elétrons desemparelhados. Podem ser citados o [Mn(H2O)6]3 +,
que ocorre em alúmens como o CslMn,II(SO4)2- 12H2O, e o
complexo com acetilacetona [Mn(acac)3], cuja estrutura
cristalina é um octaedro um pouco distorcido. O teorema de
Jahn-Teller prevê uma pequena distorção da estrutura ideal, Figura 23.2 — Estrutura do lMn3O(CH3COO)6(H,O)3]r
376 GRUPO 7 — 0 GRUPO 00 MANGANÊS

qual três átomos de Re formam um triângulo equilátero


(formalmente, com ligações duplas entre os mesmos). TYês
átomos de halogênio atuam como ligantes pontes ao longo
das arestas do triângulo. Os seis átomos de halogênio
restantes estão coordenados aos átomos de Re (dois para
cada átomo). Uma unidade isolada de Re3X9 é mostrada na
Fig. 23.3a. Porém, ainda há uma posição de coordenação
não ocupada em cada átomo de Re, assinalada por L. No
sólido, essa posição é preenchida por íons haleto ponte, que
ligam as unidades Re3X9 entre si, formando um polímero
(Fig. 23.3b). O trímero é muito estável, com distâncias Re-
Re de 2,48 Â. Essa estrutura é mantida mesmo na fase gasosa,
a 600 °C. Essa estrutura é a base da estrutura de muitos Figura 23.4 — A estrutura do íon [Re2ClsP~
complexos de Re( + III), nos quais grupos L adicionais estão
ligados à unidade Re3X9 (Fig. 23.3c). rodeado por cinco ligantes, restando quatro orbitais para
A explicação mais simples para as duplas ligações en­ formar tais ligações. Supondo-se que esses orbitais não
tre os átomos de Re é a presença, em cada átomo de Re, de utilizados sejam orbitais d puros ou tenham caráter
nove orbitais atômicos disponíveis para formar ligações predominantemente d, existirão no total doze orbitais
(cinco orbitais d, um orbital s e três orbitais p): O metal é atômicos para formar as ligações Re-Re. Se eles estiverem
deslocalizados sobre os três átomos, haverá seis OMs ligantes
e seis OMs antiligantes. O íon Re( + IIl) tem configuração
d4. Logo, os 12 elétrons podem ocupar os seis OMs ligantes,
o que corresponde a três ligações duplas entre os três átomos
de Re no cluster. Como todos os elétrons estão emparelhados,
esses compostos devem ser diamagnéticos. Esse fato foi
comprovado experimentalmente.
Se Re3Cl9 ou Re3Br9 forem dissolvidos em HC1 ou HBr
concentrados, pode haver a adição de um, dois ou três íons
haletos à unidade isolada Re3X9. Assim, complexos tais como
unidade isolada Re3X9
K + [Re3Br10] , K + 2[Re3Brn]2- e K + 3[Re3Br12]3 , podem ser
obtidos a partir dessas soluções. Também é possível obter o
o- cluster [Re3X9-3H2O]. Os ligantes adicionais L são mais
lábeis, isto é, mais reativos que os haletos em ponte.
Um tipo completamente diferente de complexo com
haletos é formado quando os perrenatos são reduzidos com
H2 ou hipofosfito de sódio, NaH2PO2, em solução ácida.
Nesse caso, são obtidas as unidades diméricas [Re2Cl8]2‘ou
[Re2Br8]2“, que são isoestruturais ao [Mo2C18]4'. Elas são
constituídas por duas unidades ReX4, aproximadamente
quadrado-planares, unidas por uma ligação Re-Re de 2,24
A de comprimento (Fig. 23.4).
A ligação metal-metal é muito curta e interpretada como
sendo uma ligação quádrupla. Se a ligação Re-Re estiver
sobre o eixo z, a unidade quadrado planar ReX4 utiliza os
orbitais s, px, py e dx2_y2 para formar as ligações a com os
A Re3X9 Solido, mostrando
pontes de halogênio entre ligantes X. A ligação s entre os dois átomos de Re será
as unidades formada pelos orbitais p2 e dzi, que se situam ao longo desse
eixo. Na conformação eclipsada, os orbitais dxz e dyz nos
dois átomos de Re interagem lateralmente, formando duas
ligações 7t. Finalmente, os orbitais dxy situados nos dois
planos ReX4 se combinam, dando origem a uma ligação 6.

COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO


DEOXIDAÇÃO ( + IV)
São conhecidos pouquíssimos compostos de Mn( + IV).
Re3Xj após adição Contudo, o MnO2 é o óxido mais importante desse grupo,
Ô de três ligantes tendo inclusive importância comercial. Não é o óxido estável,
já que é um agente oxidante, e se decompõe a Mn3O4,
Figura 23.3 — Várias estruturas para o Re^ mediante aquecimento a 530 °C. MnO2 ocorre na natureza
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIOAÇAO [+IV] 377

como o mineral preto pirolusita. Tem a estrutura do rutilo, a C6H5CH3 + 2MnO2 + 2H2SO4 -4
qual é adotada por muitos outros óxidos de fórmula MO2. O «Olueno C6HsCHO + 2MnSO„ + 3H2O
composto pode ser obtido como se segue: benzaldeído

1) Por aquecimento de Mn em atmosfera de O2.


2) Oxidando-se Mn2 + , por exemplo, aquecendo-se
Mn(NO3)z-6H2O ao ar. 2C6H5 ■ NH; + 4MnO2 + 5H2SO4-> + (NHJzSO, + 4MnS0, + 4H2O
anilina
3) MnO2 muito puro pode ser obtido pela oxidação
eletrolítica de Mn"SO4.
benzoquinoiu
4) No laboratório, ocorre precipitação de MnO2 quando
se efetua titulações com permanganato em meio MnO2 é usado como catalisador na preparação de
alcalino. oxigênio pela decomposição térmica de KC1O3. O
aquecimento de KC1O3 puro a 400-500 °C provoca a sua
MnO4- + 2H2O + 3e -> MnO2 + 40H‘ E° = 1,23 V decomposição a O2 e KC1. Na presença de MnO2, a reação
de decomposição ocorre a 150 °C, mas o oxigênio vem
MnO2 hidratado apresenta uma pequena capacidade de contaminado com Cl2 ou C1O2.
troca-iônica, e quando desidratado perde uma parte dos
átomos de oxigênio na forma de O2, formando um produto 2KCIO3 -> 2KC1 + 3O2
não-estequiométrico.
O estado (+ IV) é o segundo mais estável do Tc e do Re.
MnO2 não reage com a maioria dos ácidos, a não ser Os óxidos TcO2 e ReO2 são, respectivamente, preto e marrom,
quando aquecido. Dissolve-se em HC1 concentrado, mas não e podem ser obtidos por diversos métodos:
forma íons Mn4 + em solução. Em vez disso, oxida CD a Cl2,
reduzindo-se a Mn2 +. Esta foi a reação utilizada por Scheele D Queima dos metais com um suprimento limitado de
quando descobriu o cloro. oxigênio.
2) Aquecimento dos heptóxidos, MZO7, com os respectivos
MnO2 + 4H+ + 4Cr -4 Mn2+ + 2Cr + Cl2 + 2H2O metais, M.
Esse foi o método industrial de obtenção de cloro, an­ 3) Decomposição térmica dos sais de amônio, NH4MO4.
tes da eletricidade tornar-se comercialmente disponível. 4) Os óxidos hidratados podem ser obtidos conveniente­
Desde então, a eletrólise passou a ser o método mente pela redução de soluções de TcO4“ ou ReO4’ com
preferencialmente utilizado. A reação acima ainda é usada Zn/HCl. Os óxidos podem ser desidratados por
para se obter Cl2 em laboratório, caso o gás cloro comprimido aquecimento.
em cilindros não seja disponível. De um modo semelhante, TcO2 é insolúvel em álcalis, mas ReO2 reage com álcalis
MnO2 oxida H2SO4 concentrado e quente, liberando O2. fundido formando renitos, ReO32’. Os dois óxidos possuem
a estrutura do rutilo, mas distorcida. Os átomos do metal,
2MnO2 + 2H2SO4 -» 2MnSO4 + 02 + 2H2O de octaedros adjacentes, estão deslocados de seus centros,
permitindo a ocorrência de uma interação metal-metal
A fusão de MnO2 com NaOH leva à formação de
considerável, como nos óxidos MoO2 e WO2.
manganato(Vl) de sódio, Naz[MnO4], o qual é um composto
verde escuro e oxidante. Os sulfetos TcS2 e ReS2 também são conhecidos. Os
sulfetos de rênio são catalisadores eficientes de reações de
MnF4 é um composto azul e instável, formado na reação
hidrogenação, tendo a vantagem de não serem
direta de Mn com Fz. É o haleto de maior número de oxidação
“envenenados” por compostos de enxofre, como a platina.
formado pelo Mn. Também são conhecidos alguns poucos
complexos de Mn( + IV), como K2[MnF6], K2[MnCl6], TcC14 sólido é constituído por unidades octaédricas TcCl6
K2[Mn(CN)6] e Kz[Mn(IO3)6], Esse é o número de oxidação interligadas, formando uma cadeia em zigue-zague
máximo do Mn em complexos. semelhante ao do ZrCLj. É um composto paramagnético, no
qual não se observa a formação de ligações metal-metal.
Mais de meio milhão de toneladas/ano de MnO2 são Todos os quatro haletos de rênio, ReX4, são conhecidos. O
utilizados na produção de “pilhas secas” (células de ReC14 pode ser preparado como se segue:
Leclanché). O MnO2 utilizado com essa finalidade deve ser
muito puro, sendo preparado eletroliticamente (vide acima). 2ReCl5 + SbCl3 ãReCL, + SbCls
Grandes quantidades de MnO2 também são usados como
pigmento vermelho ou marrom, na indústria de cerâmicas; Ele é meta-estável e reativo, e tem uma estrutura
e na fabricação de vidros vermelhos ou púrpuras. Além disso, baseada no empacotamento cúbico compacto de átomos de
MnO2 é empregado na fabricação de permanganato de cloro. Os átomos de Re ocupam um quarto dos interstícios
potássio: octaédricos, mas ocorrem aos pares em interstícios
adjacentes, formando ligações metal-metal com distâncias
NaOH Re-Re de 2,73 A.
MnOz + 2KNOZ 4 K2MnO4 + 2NO
K2MnO4 + H2O--- AKMnO4 + KOH + l/2U2 O rênio forma muitos complexos. Por exemplo, [ReCl6]2~
é octaédrico e é obtido pela redução de KReO4 em HC1:
MnO2 também é usado como agente oxidante na HClconc,, -t-Kl
química orgânica, para oxidar álcoois e outros compostos: ReO4~ ou TcO4“ [M,vC16]2-
378 BRUPO 7 — 0 BRUPO OO MANGANÊS

[ReCl6]2‘ sofre hidrólise em água: vez, os cloretos são obtidos tratando-se o fluoreto corres­
pondente com BC13. A configuração eletrônica dos metais é
[ReClJ2- + H20 —> ReO2-(H20)„ d1, sendo os fluoretos amarelos e os cloretos verde escuros.
0 momento magnético é menor que o valor calculado
Os demais complexos com haletos ([MF6]2~, [MBr6]2~ e
utilizando a aproximação de spin-only, por causa do forte
[MI6]2"), são obtidos a partir do hexacloreto e um ácido
acoplamento spin-órbita. Os pontos de fusão desses
halogenídrico apropriado. [ReF6]2’ é estável em água. Os
compostos são baixos, variando de 18 °C até 33 °C. Todos
ciano complexos podem ser obtidos pela reação de [MI6]2-
com KCN. O tecnécio forma [Tclv(CN)6]2'. O rênio é oxidado reagem com água.
pelo CN‘ e forma [Rev(CN)s]3’. Nesse complexo o rênio se 3ReF6 + 10H2O -> 2HRev"O4 + RelvO2 + 18HF
encontra no estado de oxidação (+ V) e tem um número de
coordenação igual a 8. Provavelmente, esse complexo tem
estrutura dodecaédrica.
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIDAÇÃO ( + VII)
DE OXIDAÇÃO (+ V) O manganês no estado de oxidação ( + V11) não é
comum, embora seja bem familiar no íon permanganato,
0 manganês no estado de oxidação ( + V) é pouco Mn04". O permanganato de potássio é muito usado como
conhecido, exceto como o íon hipomanganato, MnO43‘. Este agente oxidante, tanto na química analítica como para
pode ser obtido na forma de um sal azul brilhante, K3MnO4, sínteses. As titulações são efetuadas normalmente em meio
pela redução de uma solução aquosa de KMnO4 com um ácido, sendo o íon MnO4~ reduzido a Mn2*, numa reação
excesso de «ulfito de sódio. Não é um composto estável e envolvendo a transferência de cinco elétrons.
tende a desproporcionar. O tecnécio dificilmente é oxidado
ao estado ( + V); e compostos de Re( + V) são facilmente Mn04- + 8H+ + 5e —> Mn2 + + 4H2O £° = 1,51 V
hidrolisados por água, e ao mesmo tempo se despropor-
cionam. Em meio alcalino, ocorre a formação de Mnlv02, coma
transferência de três elétrons.
3RevCls + 8H2O -» HRev,lO4 + RelvO2(H2O)„
MnO4- + 2H2O + 3e -> Mn02 + 40H" E° = 1,23 V
ReCls é um dímero, com estrutura semelhante a do
(NbCl5)2 (Fig. 21.2), no qual dois octaedros estão interligados Assim, a reação que ocorre e sua estequiometria
por uma aresta. A distância Re-Re é de 3,74 A, não havendo, depende do pH. A cor púrpura intensa do MnO4“ é, geral­
portanto, formação de ligação metal-metal. 0 óxido Re2O5 mente, usado para indicar o final da titulação.
também é conhecido. Soluções de permanganato são intrinsecamente
instáveis em meio ácido, decompondo-se lentamente com o
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO tempo. Essa reação é catalisada pela luz solar, de modo que
DE OXIDAÇÃO (+ VI) as soluções de KMnO4 devem ser armazenadas em frascos
escuros. Além disso, devem ser padronizados com
Os únicos compostos de Mn( + VI) são os manganatos: frequência.
compostos verde escuros que contêm o íon MnO42~. São
formados nas reações de oxidação do Mn02 em KOH fundido 4MnO4‘ + 4H+ -> 4MnO2 + 3O2 + 2H2O
com ar, KNO3, PbO2, NaBiO3 ou outros agentes oxidantes.
Também podem ser obtidos tratando-se uma solução de Se uma pequena quantidade de KMnO4 for adicionada
KMnO4 com uma base: a H2SO4 concentrado, forma-se uma solução verde contendo
íons MnO3 + .
4MnO4’ + 40H“ -> 4MnO„2’ + 02 + H2O
KMnO4 + 3H2SO4 -> K+ + MnO3 + + 3HSO4’ + H30*
MnO42’ é um oxidante bastante forte e só é estável em
soluções fortemente alcalinas. Em soluções diluídas, água Caso quantidades maiores de KMnO4 sejam adicionadas.
ou soluções ácidas ele se desproporciona:
3MnVIO42- + 4H+ -> 2MnVHO4- + Mn,vO2 + 2H2O
(manganato) (permanganato)

Rênio no estado de oxidação (+ VI) é encontrado no


óxido vermelho ReO3, mas a existência do TcO3 é incerta. A
estrutura do ReO3 é mostrada na Fig. 23.5a. Essa mesma
estrutura é adotada por outros óxidos, como o W03. Cada
átomo do metal é circundado octaedricamente por átomos
de oxigênio. Sua estrutura se assemelha à estrutura da
perovsquita, para compostos ABO3. Esta possui um cátion
grande no centro do cubo, como mostrado na Fig. 23.5b.
Figura 23.5 — Estruturas de a) trióxido de rênio ReO3 e b) petwsquiu
Os haletos TcF6, ReF6 e ReCl6 são conhecidos. Os ABO3, por exemplo CaTiO3 (segundo A.E Wells, Structural Inotgenit
fluoretos podem ser obtidos a partir dos elementos. Por sua Chemistry, Oxford, Clarendon Press, 1950)
IMPORTÂNCIA SIOLttelCA 379

pode-se formar Mn2O7, um óleo explosivo (não faça esse


experimento!).
Em grande escala, KMnO4 é fabricado como segue:

KOH oxidação eletrolítica


MnO2 -> MnO2" MnO4
. manganato
oxida comar em solução alcalina permanganato
ou KNOj

0 permanganato também pode ser obtido tratando-se


uma solução de um sal de Mn2 + com agentes oxidantes
muito fortes, como PbO2 ou bismutato de sódio, NaBiO3. A
presença de manganês pode ser confirmada qualitativamente,
tratando-se a solução problema com bismutato de sódio. Figura 23.6 — Estrutura do íon enea(h.ibrido)rênío(VH), ÍReH9/‘
Caso esse elemento esteja presente, ocorrerá a formação de
MnO4~, que pode ser identificado pela sua cor púrpura. Os amarelo esverdeadas quando concentradas, e HTcO4 foi
permanganatos também podem ser obtidos pela acidificação isolado como um sólido vermelho. Essas cores surgem
de soluções de manganatos, que se desproporcionam a porque o íon ReO4" tetraédrico se torna menos simétrico
MnO4' e MnO2, mas os rendimentos não são bons. quando se forma o ácido não-dissociado HO-ReO3. O
0 íon permanganato tem uma cor púrpura intensa, mas espectro Raman dessas soluções concentradas apresenta li­
Mn( + VII) tem configuração d°. Assim, a cor decorre de tran­ nhas atribuídas ao ácido.
sições de transferência de carga e não de transições d-d. Os elementos desse grupo não formam hidretos binários.
KMnO4 é usado como agente oxidante em muitas Contudo, quando o pertecnecato de potássio, KTcO4, ou o
sínteses orgânicas, incluindo a fabricação de sacarina, ácido perrenato de potássio, KReO4, são tratados com potássio em
ascórbico (vitamina C) e ácido nicotínico (niacina). Também etilenodiamina ou em solução etanólica, formam-se os
é usado no tratamento de água potável (oxida e portanto hidrido complexos, K2[TcH9] e K2[ReH9]. A estrutura é um
mata as bactérias, mas não deixa um gosto desagradável prisma trigonal tri-piramidado, isto é, um prisma trigonal
como o Cl2). com um grupo adicional acima de cada uma de suas faces
Em contraste com a escassez de compostos de retangulares (Fig. 23.6). Surpreendentemente, o espectro de
Mn( + Vil), vários compostos de Tc( + VII) e Re( + VII) são ressonância magnética de prótons desse íon apresenta uma
conhecidos. Podem ser citados os heptóxidos M2O7, os único linha (um singlete). Isso sugere que os átomos de H
heptassulfetos M2S7, os íons MO4‘, os oxo-haletos, o hidreto são equivalentes, ou seja, que os átomos de H da molécula
complexo MH92- e ReF7. Esses compostos são apenas pouco trocam rapidamente suas posições.
oxidantes e relativamente estáveis. ReF7 é formado quando Re é aquecido na presença de
Os óxidos Tc2O7 e Re2O7 são formados quando os metais flúor; e TcF6 é formado no caso do Tc. ReF7 e 1F7 são os
são aquecidos ao ar ou em atmosfera de oxigênio. Ambos únicos heptahaletos conhecidos, e ambos têm estrutura bipi-
são sólidos amarelos estáveis. Tc2O7 funde a 120 °C e Re2O7 râmide pentagonal. Diversos oxo-haletos, como ReO3Cl,
a 220 °C; diferentemente do Mn2O7, que é um óleo explosivo. TcOjF e TcOjCl, podem ser obtidos tratando-se os óxidos
Tc2O7 é mais oxidante que Re2O7. com o halogênio apropriado. Os oxofluoretos de rênio, tais
como ReOFs, ReO2F3 e ReO3F, também podem ser obtidos
Os dois óxidos se dissolvem em água, formando
pela reação de ReF7 com oxigênio ou água. Todos os oxo-
soluções incolores de ácido pertecnécico, HTcO4, e ácido haletos são sólidos de baixo ponto de fusão ou líquidos,
perrênico, HReO4. Existe uma segunda forma de ácido
amarelo pálidos ou incolores.
perrênico, H3ReO5 (compare com o ácido periódico HIO4 e
Hj105). Os perácidos são ácidos fortes, isto é, dissociam-se
completamente quando em solução aquosa. As solubilidades IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA
dos perrenatos se assemelham as dos percloratos. Os íons O íon Mn11 é importante tanto em enzimas de animais
MnO4", TcO4“ e ReO4" são todos tetraédricos. O íon MnO4~ é como de plantas. A enzima arginase é produzida no fígado
um poderoso agente oxidante. TcO4“ e ReO4“ são agentes dos mamíferos. Essa enzima é importante porque, no ciclo
oxidantes moderados. A diferença de comportamento pode omitina-arginina-citrulina (descoberto por Hans Krebs, que
ser ilustrada pela reação dos mesmos com H2S. KMnO4 oxida também descobriu o ciclo do ácido tricarboxílico) converte
H2S a S reduzindo-se a Mn2 + , enquanto que a adição de os produtos nitrogenados dos processos metabólicos em
KTcO4 e KReO4 provocam a precipitação dos sulfetos Tc2S7 uréia. A uréia é transportada pelo sangue até aos rins, e
e Re2S7. excretada na urina.
Enquanto MnO4‘ é instável em meio alcalino, TcO4* e O manganês é um micronutriente essencial (elemento
ReO4‘ são estáveis. essencial, mas em pequeníssimas quantidades) para o
KMnO4 é um sólido púrpura muito escuro. O íon MnO4“ crescimento das plantas. Sais de manganês são adicionados
tem intensa coloração púrpura por causa das transições de aos fertilizantes utilizados em locais onde há deficiência
transferência de carga. Já os íons TcO4‘ e ReO4" são incolores, desse elemento no solo. O Mn é um elemento essencial para
pois a banda de transferência de carga ocorre na região do a atividade de um grupo de enzimas denominadas
W, de maior energia. Contudo, soluções de HReO4 se tornam fosfotransferases.
3BO BRUPO 7 — GRUPO □□ MANBANÊS

LEITURAS COMPLEMENTARES de transição; Cap. 20: Carbonilas), Routledge and Kegan Paul.
London.
• Abel, E.W. e Stone, F.G. (1969, 1970) The chemistry of tran-
sition metal carbonyls, Q. Rev. Chem. Soc., Parte I - • Griffith, W.P. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol.
Considerações Estruturais, 23, 325; Parte II - Síntese e 4 (Cap. 46: Carbonilas, cianetos, isocianetos e nitrosilas),
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• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1968) Halides of the Second • Johnson, B.F.G. (ed.) (1980) Thmsition Metal Clusters, John
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381

Grupo O
0 GRUPO DO FERRO
GRUPO DO FERRO, DO COBALTO E DO
NÍQUEL INTRODUÇÃO AO GRUPO DO FERRO
O ferro é o metal mais utilizado dentre todos os metais,
Ferro Fe Cobalto Co Níquel Ni e a fabricação do aço é de extrema importância em todo o
Rutênio Ru Ródio Rh Paládio Pd mundo. Para as plantas e os animais, o ferro é o elemento
Ósmio Os Irídio Ir Platina Pt mais importante dentre os metais de transição. Sua
0 Grupo 8 da Tabela Periódica clássica de Mendeleev, é importância biológica reside na variedades de funções que
constituído pelos nove elementos acima. Atualmente (e neste seus compostos desempenham, por exemplo, no transporte
livro), são considerados como três grupos verticais (grupos de elétrons em plantas e animais (citocromos e ferredoxinas),
8, 9 e 10), ou tríades, do mesmo modo que os demais no transporte de oxigênio no sangue de mamíferos
elementos de transição: (hemoglobina), no armazenamento de oxigênio (mioglobi-
na), no armazenamento e absorção de ferro (ferritina e
Grupo 8 Grupo 9 Grupo 10 transferrina) e como componente da nitrogenase (a enzima
Fe Ni fixadora de nitrogênio das bactérias). O ferro forma diversos
Co
Ru complexos de estruturas pouco comuns, como o ferroceno.
Rh Pd
Os Ir Pt
ABUNDÂNCIA, OBTENÇÃO E USOS
Contudo, as semelhanças horizontais entre esses
elementos são maiores que em qualquer outro conjunto O ferro é o quarto elemento mais abundante da crosta
de elementos da tabela periódica, exceto os lantanídeos. terrestre, sendo sua quantidade menor apenas que do O, do
Devido à contração lantanídica, os elementos da segunda Si e do Al. Ele constitui 62.000 ppm ou 6,2% em peso da
e terceira séries de transição são muito semelhantes entre crosta terrestre, onde ele é o segundo metal mais abundante
si. Por isso, as semelhanças horizontais eram às vezes (vide Apêndice A). Além disso, o níquel e o ferro constituem
enfatizadas, ao se classificar esses nove elementos em dois a maior parte do núcleo da terra.
grupos horizontais: os três metais ferrosos Fe, Co e Ni; e Os principais minérios de ferro são a hematita, Fe2O3, a
os seis metais do grupo da platina: Ru, Rh, Pd, Os, Ir e Pt. magnetita, Fe3O4, a limonita, FeO(OH) e a siderita, FeCO3
(pequenas quantidades de piritas, FeS2, também são
Fe Co Ni encontradas. A pirita tem cor amarela metálica e é conhecida
Ru Rh Pd como “ouro dos tolos", porque muitas vezes é confundida
Os Ir Pt com esse metal). A produção mundial de minérios de ferro
foi de 959 milhões de toneladas, em 1992. Os principais
produtores foram: China 22%, ex-URSS
Tabela 24.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação 18%, Brasil 16%, Austrália 12%,
Estados Unidos e índia 6% cada. Essa
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* quantidade de minério forneceu 497
milhões de toneladas de ferro gusa em
Ferro Fe [Ar] 3^4? 0 n m (rv) (V) (vi) 1992.
Rutênio Ru [Kr] 4d75? 0 n m rv (V) vi (vidvoi O rutênio e o ósmio são muito ra­
Ósmio Os [Xe] 4/4 ód6 6? 0 O) (in (iii) rv (V) ví (vmvm
ros. São encontrados no estado metálico
‘ Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados associados aos metais do grupo da
em. negrito. uuuu»
— Outros e&iduus bem udidctenz.duub,
estados uem caracterizados, nidb menos uupui
mas menus importantes, são luubiiduus
idílica, sau em 11tipo platina e os metais moeda (Cu, Ag e Au).
mostrados cm
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são dados entre parênteses.
382 Brupo B — GRUPO □□ FERRO

impurezas presentes no feno-gusa baixam o ponto de fusão


Tabela 24J. — Abundância dos elementos na crosta do feno, possivelmente até 1.015 °C (à temperatura eutética),
terrestre, em peso caso 4,3% de C esteja presente. O ferro fundido é coletado
pela base do alto-forno.
Elemento ppm Ordem de
A elevada temperatura do forno decompõe o CaCOj a
abundância relativa
CaO, que então reage com todos os silicatos presentes como
Fe 62.000 4? impurezas (tais como areia e argila), formando siiicato de
Ru 0.0001 77? cálcio ou escória. Este também se encontra no estado fundido
Os 0,005 72? e escoa para o fundo. A escória flutua sobre o feno fundido,
protegendo-o assim da oxidaçâo. A escória fundida e o ferro
fundido são retirados periodicamente através de aberturas
As principais fontes desses metais são os minérios de NiS/ independentes na base do alto-forno. O feno fundido é
CuS extraídos na África do Sul, Canadá (Sudbury/Ontario), derramado em moldes feitos de areia, onde ele se solidifica
e ex-URSS (nas areias dos rios das montanhas Urais), onde em lingotes denominados "porquinhos”. O feno-gusa ou ferro
são encontrados em quantidades traço. A produção mundial fundido é duro, mas é muito quebradiço.
dos seis metais do grupo da platina foi no total de apenas
281 toneladas, em 1992. Os principais produtores foram: Uma pequena quantidade do ferro-gusa é novamente
África do Sul 45%, ex-URSS 44%, Canadá 4%, Estados fundida e colocado em moldes para a produção de peças
Unidos 2% e Japão 0,8%. metálicas. Mas, por serem muito quebradiças, praticamente
não podem ser trabalhadas num torno, embora possam ser
trabalhadas por abrasâo numa máquina retificadora. 0 ferro-
OBTENÇÃO DO FERRO gusa contém até 4,3% de carbono e possivelmente outras
A obtenção do feno exerceu um papel considerável no impurezas como Si, P, S e Mn. Os elementos nâo-metálicos
desenvolvimento da civilização moderna. A Idade do Feno devem ser removidos para deixar o ferro menos quebradiço.
começou quando o homem aprendeu a utilizar o carvão Todas as ligas Fe/C contendo menos de 2% de C são
formado na combustão da madeira para extrair o feno de chamadas de aço. O aço é dúctil e pode ser trefilado ou
seus minérios, e a usar o metal para fabricar fenamentas e moldado em diversas formas. A dureza e a resistência
implementos. A Revolução Industrial começou em 1773, em aumentam com o aumento do conteúdo de carbono. As
Coalbrookdale em Shropshire, Inglaterra, quando Abraham formas mais comuns de aço são o aço doce (um aço de
Derby desenvolveu um processo de obtenção de ferro que baixo conteúdo de carbono) e o aço duro (um aço de elevado
utilizava coque no lugar de carvão vegetal. É muito mais conteúdo de carbono).
barato e fácil de se obter coque a partir de carvão mineral A origem das impurezas no ferro-gusa pode ser assim
que obter carvão vegetal pela combustão incompleta da explicada: o C provém do coque usado no alto-forno. Si, P e
madeira. Além disso, a maior resistência mecânica do coque S são formados pela redução de silicatos, fosfatos ou sulfatos
tomou possível insuflar ar através de uma mistura de coque presentes no minério, provocada pelo coque, ou então do S
e minério de feno num alto-fomo, possibilitando a obtenção presente no coque. Pequenas quantidades de Mn são
de ferro metálico em grande escala. Esses dois fatores
aumentaram a disponibilidade de feno e reduziram em muito
o seu preço. Assim, pela primeira vez tomou-se possível a
construção de pontes, navios, caldeiras e trilhos usando feno.
A quantidade em que se produz o ferro e o aço e suas
múltiplas aplicações justificam um exame detalhado das
condições e reações envolvidas no seu processo de extração.

O alto-fomo
O ferro é obtido a partir de seus óxidos num alto-forno,
um forno quase cilíndrico revestido com tijolos refratários.
É operado continuamente, utilizando o princípio da contra-
corrente. Pelo topo ele é alimentado com minério de feno,
um agente redutor (o coque) e substâncias formadoras de
escória (carbonato de cálcio). A quantidade de CaCO3 varia
em função da quantidade de silicatos presentes nos minérios.
O ar é insuflado pela base do alto-forno. O coque entra em
combustão produzindo calor e CO. A temperatura do forno
é de cerca de 2.000 °C no ponto de entrada do ar, mas é de
cerca de 1.500 °C no fundo e de apenas 200 °C no topo. O
óxido de ferro é reduzido a feno, principalmente pelo CO
(embora talvez ocona alguma redução provocada pelo C).
O feno fundido dissolve de 3 a 4% de C do coque, formando
feno-gusa. O ponto de fusão do feno puro é 1.535 °C. As Figura 24.1 — Diagrama de um alto-fomo
FABRICAÇÃO □□ AÇO 383

ferro-gusa, de modo que tais impurezas possam ser


Tabela 243 — Impurezas típicas que podem estar presentes eliminadas como gases ou como escória.
em ferro-gusa e aço doce

Impureza Aço doce (%) “Pudlagem”


Ferro-gusa (%)
Inicialmente o aço era obtido pelo processo de
C 3—4,3 0,15 "pudlagem", que envolve a mistura de ferro-gusa fundido
Si 1 —2 0,03 com hematita, Fe3O4, e a queima de todo o C e outras
P 0,05 — 2 0,05 impurezas, de modo a se obter um "ferro purificado". Esse
S 0,05 — 1 0,05 ferro não contém carbono, sendo razoavelmente mole e
Mn 0,5—2 0,50 extremamente maleável. Pode ser convertido em aço, adicio­
nando-se a quantidade necessária de C e de outros metais
frequentemente encontradas nos minérios de ferro. Na necessários para a obtenção de um dado tipo de aço, mas
maioria dos casos, porém, a presença de Mn é vantajosa e atualmente esse processo está totalmente obsoleto.
não prejudicial, pois, na realidade, pequenas quantidades
de Mn melhoram as propriedades físicas do metal. Processo Bessetner e Thotnas
Composições típicas de ferro-gusa e de ferro doce são Em 1855, H. Bessemer (um francês residente na
mostradas na Tab. 24.3. Inglaterra) patenteou o processo que leva o seu nome, e que
A escória é usada como material de construção, por utiliza o conversor de Bessemer, ou seja, um grande fomo
exemplo na fabricação de cimento ou de blocos pré- em forma de pêra, revestido intemamente com sílica. O fomo
fabricados. pode ser inclinado, e, quando nessa posição, é carregado
com ferro-gusa fundido. Em seguida, é colocado novamente
Reações envolvidas na posição vertical e um jato de ar comprimido é injetado
através de orifícios na base do conversor, através da massa
As reações globais envolvidas no processo de obtenção fundida. Nesse processo, o Si e o Mn presentes no ferro-
do ferro a partir de seus óxidos são: gusa são transformados em SiO2 (posteriormente, em silicato
3C + Fe2O3 -> 4Fe + 3CO2 de ferro) e escória de óxido de manganês. Essas reações
liberam uma grande quantidade de calor, que leva a uma
CaCO3 + SiO2 —> CaSiO3 + CO2
oxidação mais efetiva de C a CO ou CO2. O andamento da
Tais reações ocorrem em diversas etapas, a diferentes reação pode ser acompanhado queimando os gases residuais
temperaturas. Como o ar passa através do forno em poucos e observando a cor ou o espectro da chama obtida. Quando
segundos, as reações individuais não atingem o equilíbrio. o teor de C estiver suficientemente baixo, o conversor é inclina­
do e o ferro em estado de fusão é vertido em moldes de ferro.
400 °C 3Fe2O3 + CO —> 2Fe3O4 + CO2 Dessa forma são obtidos lingotes de aço, que podem ser
Fe3O4 + CO —> 3FeO + CO2 laminados ou forjados. O processo demora normalmente cerca
500-600 °C 2CO -> C + CO2 de 20 minutos para produzir um lingote de aço de 6 toneladas.
Os minérios de ferro normalmente contêm Si ou P como
O C se deposita como fuligem e reduz o FeO a Fe, mas
também reage com o revestimento refratário dos fornos, o impurezas, que são oxidados a SiO2 e P4O10. Um teor de
que é prejudicial. fósforo superior a 0,05 % leva a um aço de baixa resistência
à tração e bastante quebradiço. O processo Bessemer não
800 °C FeO + CO —> Fe + CO2 remove o fósforo. Assim, pode ser utilizado para a preparação
900 °C CaCO3 —> CaO + CO2 de "ferro purificado” ou aço satisfatórios somente a partir
1000 °C FeO + CO —> Fe + CO2 de ferro-gusa com baixo ou nenhum teor de fósforo. Além
CO2 + C —> 2CO disso, o fósforo danifica o revestimento interno do conversor,
(Essas duas reações parecem correspon­ e este só pode ser substituído desativando temporariamente
der, em conjunto, a FeO + C —> Fe + CO) o conversor.
1800 °C CaO + SiO2 -» CaSiO3 P4O10 + 6Fe + 3O2 2Fe3(PO4)2
FeS + CaO + C -> Fe + CaS + CO Fe3(PO4)2 + 2Fe3C + 3Fe 2Fe3P + 6FeO + 2CO
MnO + C —> Mn(em Fej + CO FeO + SiO2 -> FeSiO3
SiO2 + 2C -> Si(em Fe) + 2CO (revestimento
do (orno)
Um alto-forno moderno pode ter até 40 m de altura e
15 m de diâmetro na base, podendo produzir 10.000 tonela­ Em alguns países, minérios de ferro ricos em fósforo
das de ferro-gusa por dia. são usados como matéria-prima na fabricação do aço. Nesse
caso o “processo Bessemer básico" (também conhecido como
processo Thomas e Gilchrist, patenteado por S.G. Thomas
fabricação do aço em 1879) substitui o processo Bessemer normal. Há duas
O aço é obtido pela remoção da maior parte do C e de diferenças em relação ao processo Bessemer normal:
outras impurezas presentes no ferro-gusa. O processo envolve 1) O conversor de Thomas é revestido com um material
a fusão e posterior oxidação do C, Si, Mn e P presentes no básico, tal como dolomita ou calcário calcinados
384 Grupo B — BRUPO □□ FERRO

(fortemente aquecidos). Esse material é mais resistente


à reação com a escória de fosfato de ferro, fazendo com Tabela 24^4 — Composição de vários tipos de aço
que a vida útil desse revestimento aumente.
% de C Tipo de aço
2) Calcário, CaCOj, ou cal, CaO, são adicionados como
formadores de escória. Esses compostos são básicos e
0,15 — 0,3 aço doce
reagem com o P4O10, formando uma "escória básica” 0,3 — 0,6 aço médio
de Ca3(PO4)2, que remove o P do aço. A escória básica 0,6 — 0.8 aço-carbono (aço duro)
é um sub-produto valioso que, após ser pulverizado, é 0,8 —1,4 aço-ferramenta
comercializado como fertilizante do grupo dos fosfatos.
Assim, o conversor de Bessemer com seu revestimento
de silicato era empregado para minérios de ferro contendo fundido. Concentrações de nitrogênio superiores a 0,01%
silicatos como impurezas, e o conversor de Thomas com tornam o aço quebradiço, e a "nitretação" de sua superfície
revestimento de calcário ou dolomita era utilizado para torna o processo de soldagem mais difícil. A solução é usar
minérios de ferro com elevado teor de P. Uma pequena O2 puro ao invés de ar no processo de oxidação das impurezas
quantidade de Mn era adicionado ao metal fundido para do ferro-gusa. Caso O2 fosse injetado pela base do conversor
remover S e O. Na Inglaterra, o processo Bessemer reduziu de maneira análoga à introdução do jato de ar no processo
o preço do aço por um fator de 5. Foi adotado por Andrew Bessemer, o fundo do conversor iria fundir. Tanto o processo
Carnegie nos EUA, onde o preço diminuiu por çim fator de Kaldo como LD usam O2 puro. No processo LD, fortes
10. Esses processos dominaram a produção mundial de aço correntes de convecção são utilizadas para tornar a reação
até a I Guerra Mundial e foi usado na Inglaterra até a década efetiva, enquanto que no processo Kaldo o conversor se
de 1960. encontra em constante movimento de rotação para garantir
a mistura e a efetiva reação. No processo BOP, o fomo é
Processo Siemens aberto carregado inicialmente com ferro-gusa fundido e cal. Então,
O2 puro em grande velocidade é injetado pela superfície do
Esse processo foi inventado por Sir William Siemens, metal fundido, através de bocais retráteis resfriados a água.
logo após o desenvolvimento do processo Bessemer. O forno O O2 penetra na massa fundida e rapidamente oxida as impu­
requer um aquecimento externo, por combustão de gás ou rezas. O calor liberado na oxidação das impurezas mantém
óleo ao ar. Ferro-gusa fundido era colocado no núcleo raso o conteúdo do conversor em estado de fusão, apesar do
do conversor, onde as impurezas eram oxidadas pelo ar. O aumento do ponto de fusão que ocorre à medida que as
revestimento do conversor era de caráter ácido ou básico, impurezas são removidas. Não há necessidade de se fornecer
conforme a natureza das impurezas presentes no ferro-gusa. calor. Finalmente, o forno é inclinado para que o aço em
Em muitos lugares esse processo substituiu o processo Besse­ estado de fusão seja derramado em moldes, formando objetos
mer. Todavia, o processo Siemens aberto é lento e são de aço fundido, ou em lingotes para posterior laminação.
necessárias cerca de 10 horas para a conversão de 350 As vantagens de se usar O2 ao invés de ar são:
toneladas. Por esse motivo, foi substituído na maioria dos
lugares pelo processo básico de oxigênio. D A conversão é mais rápida, possibilitando um aumento
da produção diária.
Processo Siemens do arco voltaico 2) Podem ser manuseadas quantidades maiores de aço de
cada vez (uma carga de 300 toneladas pode ser
Siemens também patenteou um forno elétrico a arco convertida em apenas 40 minutos pelo processo BOP;
voltaico, em 1879.0 calor é fornecido ou por um arco voltaico enquanto que pelo processo Bessemer, 6 toneladas
logo acima do metal, ou então pela passagem de uma podem ser convertidos em 20 minutos).
corrente elétrica através do metal. Esse processo ainda é
usado para a fabricação de ligas à base de aço e de outros 3) O produto obtido é mais puro e sua superfície é isenta
de nitretos.
aços de alta qualidade. O aço inoxidável típico contém de
12 a 15% de Ni, mas o aço para cutelaria pode conter até
20% de Cr e 10% de Ni. Aço rápido, para ferramentas de Diagrama de fases
corte como tomos, pode conter 18% de W e 5% de Cr. Ligas O diagrama de fases ferro-carbono é muito complicado
com 0,4 a 1,6% de Mn fornecem um aço com grande e foi descrito no item “Ligas intersticiais e compostos
resistência à tração. O aço Hadfield, que é muito resistente correlatos" no Capítulo 5. Ligas de aço contendo pequenas
e usado em britadeiras e escavadeiras, contém cerca de 13 % quantidades de V, Cr, Mo, W, ou Mn têm propriedades espe­
de Mn e 1,25% de C. O aço para molas contém 2,5% de Si. ciais e são destinados a finalidades específicas.

Processo básico de oxigênio Dados sobre a produção e usos


Atualmente, o principal processo para a fabricação de A produção mundial de lingotes e peças fundidas de
aço é o moderno Processo Básico de Oxigênio (BOP - basic aço foi de 717 milhões de toneladas em 1992. Os maiores
oxygen process). Esse processo foi desenvolvido na Áustria produtores de aço foram: ex-URSS 16%, Japão 14%, EUA
em 1952, a partir dos Processos Kaldo e LD. Um dos 12% e China 11%. O principal uso do aço é na forma de
problemas com os processos Bessemer e Thomas é a aço-doce para a construção naval, na fabricação de
dissolução de pequenas quantidades de nitrogênio no metal carrocerias de carros e vigas para a construção civil. 0 aço-
PROPRIEDADES 6ERA1S 385

doce é maleável e pode ser moldado ou trabalhado. Pode essa tendência não se mantém na segunda metade do bloco
ainda ser temperado, por aquecimento ao rubro e rápido d, e o estado de oxidação máximo do ferro é ( + VI).
resfriamento por imersão em água ou óleo. São produzidas Compostos de ferro nesse estado são raros e de pouca
por ano, 14 milhões de toneladas de folhas-de-flandres, isto importância.
é folhas de aço-doce revestidas, por eletrodeposição, com Os principais estados de oxidação do Fe são ( + 11) e
uma fina película de estanho. Elas são usadas em embalagens (+ III). O Fe( + II) é a espécie mais estável, e existe em solução
de alimentos e de outros materiais. Diversas ligas de ferro aquosa. O Fe( + III) é ligeiramente oxidante, mas as
são produzidas em grandes quantidades: ferro-silício, 3,5 estabilidades dos íons Fe( + II) e Fe( + III) são mais
milhões de toneladas/ano, ferro-cromo 3,1 milhões de semelhantes que as estabilidades dos elementos dos grupos
toneladas/ano, ferro-manganês 3,4 milhões de toneladas/ anteriores nos mesmos estados de oxidação. Num contraste
ano e ferro-níquel 569.000 toneladas/ano. marcante, os elementos Ru e Os formam os compostos RuO4
0 "ferro promovido" é usado como catalisador no Pro­ e OsO4, nos quais os elementos se encontram no estado de
cesso Haber-Bosch de fabricação de NH3. oxidação (+ VIII). Os estados mais estáveis desses elementos
são o Ru( + III) e o Os( + IV), embora Ru( + V), Os( + VI) e
Os( + VII) também sejam razoavelmente estáveis. Observa-
OBTENÇÃO DO RUTÊNIO E ÓSMIO se assim a tendência usual de que, descendo-se por um
0 Ru e o Os são obtidos a partir do depósito anódico grupo, os elementos nos estados de oxidação mais elevados
que se acumula no refino eletrolítico de Ni. Esse depósito se tomam mais estáveis. A estabilidade dos compostos nos
contém uma mistura dos metais do grupo da platina, vários estados de oxidação é mostrada pela gama de óxidos
juntamente com Ag e Au. Caso esse material seja tratado e haletos conhecidos (vide Tab. 24.5).
com água-régia, os elementos Pd, Pt, Ag e Au se dissolvem,
restando um resíduo que contém Ru, Os, Rh e Ir. Após um PROPRIEDADES GERAIS
processo de separação complicado, Ru e Os são obtidos na
forma de pó. Estes são transformados nos metais maciços O ferro puro tem cor prateada, não é muito duro, e é
usando técnicas de metalurgia de pó. Esses elementos são bastante reativo (vide Tab. 24.6). O metal finamente dividido
escassos e caros. Ru é usado em ligas com Pd e Pt, e Os é pirofórico. O ar seco tem pouco efeito sobre o ferro maciço,
também é usado para obter ligas duras. Todos os metais do mas o ar úmido facilmente oxida o metal ao óxido férrico
grupo da platina apresentam propriedades catalíticas hidratado (ferrugem). Este é constituído por camadas não-
específicas. aderentes que se soltam, expondo mais metal para posterior
reação. O ferro se dissolve em ácidos não-oxidantes diluídos
a frio, formando Fe2 + e liberando hidrogênio. Se o ácido
ESTADOS DE OXIDAÇÃO estiver momo e houver presença de ar, uma certa quantidade
Nos grupos de metais de transição anteriormente de íons Fe3 + será formada ao lado de íons Fe2 + . Ácidos
estudados (grupos 3 a 7), o número de oxidação máximo de oxidantes geram apenas Fe3 +. Agentes oxidantes fortes, tais
um dado elemento era alcançado quando todos os elétrons como HNO3 concentrado ou K2Cr2O7, tornam o metal
dos níveis des fossem usados para formar ligações. Caso passivo, por causa da formação de uma camada protetora
essa tendência seja mantida, o número de oxidação máximo de óxido. Se essa camada for removida, o metal toma-se
dos elementos do grupo 8 deveria ser (+ VIII). Contudo, novamente vulnerável ao ataque químico. O Fe é levemente
anfótero. Não reage na presença de NaOH diluído, mas é
Tabela 24.5 — Óxidos e haletos atacado por NaOH concentrado.
Em contraste, Ru e Os são metais nobres e muito
Estados de oxidação
resistentes ao ataque por ácidos. Contudo, Os é oxidado a
(+11) (+IID (+IV) (+V) (+VI) (+VTI) (+vm) Outros OsO4 por água-régia.

FeO Fe2O3 — Fe3O4 Tabela 24.6 — Algumas reações do Fe, Ru e Os


Ru3O3h RuO2 (RuO3)h RuO4
— OsO2 (OsO3)h OsO4 Reagente Fe Ru Os
FeFj FeF3
FeClj FeCl3 Oj Fe304a500‘C RuO2a 500‘C OsO4a 200’C
FeBr2 FeBr3 Fe2O3 a temperaturas
Fel2 _ maiores
RuF3 RuF„ RuFs (RuF6) S FeS RuSj OsS2
RuC13 RuC14 FeS2 com excesso
RuBr3 F, FeF, RuF5 OsF6
RuI3 Ô2 FeCl3 RuCl3 OsCl*
- — OsF4 OsF5 OsF( (OsF7) H,0 Enferruja lentamente Não reage Não reage
- — OsCL, OsCl3 OsCl3J Fe3O4 formado quando
- — OsBr4 aquecido ao rubro
- — Osl4 HC1 diluído Fe2+ + H2 Não reage Não reage
HNOj diluído Fe^ + Hj Não reage Não reage
Os compostos com os estados de oxidação mais estáveis estão Água-régia Passivo Não reage OsO4
representados em negrito, os instáveis entre parênteses, h = óxido hidratado
386 Grupo B — GRUPO □□ FERRO

O enferrujamento do ferro é um caso particular de corro­ COMPOSTOS DOS ELEMENTOS EM


são, sendo de grande interesse prático. O processo é muito
complexo, mas uma explicação simplificada é a seguinte: a)
ESTADOS DE OXIDAÇÃO BAIXOS
os átomos de Fe são convertidos em íons Fe2+ e elétrons; b) O elemento no estado (-II) é raro, mas ocorre nos íons
esses elétrons se movem para um metal mais nobre, que complexos [Fe(CO)4]2- e [Ru(CO)4]2“. O elemento no estado
pode estar presente como impureza no ferro ou estar em zero ocorre nos complexos carbonílicos, que podem ser
contato com ele; c) os elétrons reduzem os íons H+ presentes mononucleares (por exemplo, [Fe(CO)3], [Ru(C0)s] e
na água, formando hidrogênio, que reage com o oxigênio [Os(CO)5]), dinucleares (por exemplo, [Fe2(CO)9] e
atmosférico originando água. [Os2(CO)9]), ou trinucleares (como [Fe3(CO)12], [Ru3(CO)iJ
Fe -> Fe2 + + 2e e [Os3(CO)12]). (Figura 24.2).
2H+ + 2e -> 2H — %o, H2O [Fe(CO)s], [Ru(CO)5] e [Os(CO)s] são líquidos à
temperatura ambiente. As outras espécies carbonil são
O ferro se torna positivo e constitui o ânodo, enquanto
sólidos voláteis. [Fe(CO)s] é comercialmente disponível. As
o metal mais nobre serve como cátodo, isto é, pequenas
carbonil di- e trinucleares contêm ligações M-M. [Fe2(CO)9J
células eletroquímicas são formadas sobre a superfície do
possui três CO’s em ponte ligando os dois átomos metálicos,
metal. Subseqüentemente, os íons Fe2+ são oxidados a
Fe( + ill), formando FeO(OH), Fe2O3 ou Fe3O4. Como o óxido mas no [Os2(CO)9], provavelmente, existe apenas uma
não forma uma película protetora aderente, o metal con­ molécula de CO em ponte. [Fe3(CO)12] possui dois CO’s
tinua sendo corroído. ligados em ponte entre dois átomos de Fe, enquanto que
[Os3(CO)12] não possui nenhuma molécula de CO ligados
Para prevenir a corrosão, O2, H2O e as impurezas devem
em ponte. [Fe2Ru(CO)12] possui a mesma estrutura do
ser excluídas. Na prática, o ferro recebe um revestimento
[Fe3(CO)12], mas [FeRu2(CO)12] tem a mesma estrutura do
protetor para impedir o acesso de água. Usa-se em larga
[Os3(CO)12],
escala a eletrodeposição de uma fina camada de Sn sobre o
ferro, tendo sido produzidas, em 1991, 14 milhões de [Fe(CO)s] é facilmente oxidado, e no estado gasoso
toneladas de folhas-de-flandres. Outros procedimentos forma uma mistura explosiva com o ar. Essas carbonilas
incluem: mergulhar o ferro "quente" em zinco fundido, a reagem com soluções alcalinas ou com água, formando
galvanização (eletrodeposição de Zn), a sherardização, e a ânions carbonilato:
pintura com vermelho de chumbo (zarcão). Outro tratamento
Fe(CO)s + 3NaOH -> Na[HFe(CO)4] + Na2CO3 + H20
eficiente é a conversão da camada mais externa dos objetos
de ferro em fosfato de ferro. Isso pode ser efetuado por Elas sofrem reações de substituição na presença de
tratamento com ácido fosfórico ou soluções ácidas de outros ligantes, como PF3, PC13, PPh3, AsPh3, e moléculas
Mn(H2PO4)2 ou Zn(H2PO4)2, nos processos conhecidos como orgânicas insaturadas, como o benzeno. Nas carbonilas
parkerização e bonderização. Alternativamente, pode-se polinucleares a ligação metal-metal e a estrutura do cluster
utilizar um metal como ânodo de sacrifício, que torna o são freqüentemente mantidos.
ferro o cátodo na célula eletrolítica. Ru e Os são nobres e
não reagem com a água. Fe(CO)s + PF3 -> (PF)3Fe(CO)4 + CO
Fe2(CO)9 + 6PPh3 -> Fe2(CO)3(PPh3)6 + 6C0
O efeito da contração lantanídica é menos pronunciado
nessa parte da Tabela Periódica. Logo, as semelhanças entre Esses compostos carbonílicos são usados como
a segunda e a terceira séries de elementos não são tão catalisadores em várias reações:
acentuadas como aquelas encontradas nos grupos de transi­
Fe(CQ),
ção anteriores (Tab. 24.7). As acentuadas similaridades 2HÇsCH + 3CO + H2O -> HO-C6H4-OH + C02
horizontais nos metais ferrosos e nos metais do grupo da etino hidroquinona
platina se devem em grande parte à semelhança de tamanhos C6H5NO2 + 2CO + H2 —Ru,(CO),
RMc01u; -> C6HsNH2 + 2C0,
dos seus átomos e íons (por exemplo, Fe2+ 0,61 A (spin nitrobenzeno anilina
baixo), Co2+ 0,65 A (spin baixo) e Ni2+ 0,69 A). Como o
Compostos de nitrosila são formados na reação de N0
ósmio é apenas um pouco maior que o rutênio, espera-se
que tenha uma densidade maior. E, realmente, o Os é um com carbonilas binucleares:
dos elementos mais densos conhecidos (densidade 22,57 g Fe2(CO)9 + 4NO -> 2Fe(CO)2(NO)2 + 5C0
cm-3), sendo superado por uma pequena margem apenas
pelo Ir (densidade 22,61 g cm-3) (vide Apêndice D). Um derivado pouco comum, [Ru6C(CO)17], é constituído
por um cluster octaédrico distorcido de seis átomos de Ru
Tabela 24.7 — Algumas propriedades físicas com um átomo de C no centro (estrutura semelhante é
encontrado nos carbetos metálicos intersticiais), mas quatro
Raio Raio iônico Ponto de Ponto de Densidade Eletrone- dos átomos de Ru possuem três grupos CO terminais,
covalente M2* M5* fusão ebulição gativida-
enquanto os dois Ru remanescentes tem dois COs terminais
(Â) (A) CC) CC) (gcm-3) de de
Pauling e um ligado em ponte.
O complexo [Fe(H2O)5NO]2 + é formado no "teste do
Fe 1,17 0,78° 0,645° 1.535 2.750 7,87 1,8 anel” para a detecção de nitratos. A cor marrom se deve a
0,61* 0.55b transição de transferência de carga. Formalm“nt'.‘, esse
Ru 1,24 0,68 2.282 (4.050) 12,41 2,2 complexo contém Fe( +1) e NO + . Seu momento magnético
Os 1,26 3.045 (5.025) 22,57 2,2 é de aproximadamente 3,9 MB, confirmando a presença de
a - spin de valor alto b = spin de raio baixo três elétrons desemparelhados.
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIDAÇÃO (+11) 387

a) O FeO se dissolve em ácidos e é totalmente básico.


CO Tem um retículo cristalino semelhante ao do cloreto de sódio,
onde íons O2- formam um arranjo cúbico de empacotamento
oc CO compacto e os íons Fe2+ ocupam todos (ou quase todos) os
interstícios octaédricos. Fe(OH)2 pode ser precipitado como
um sólido branco, a partir de soluções de Fe( + II), mas
CO O c=o rapidamente absorve O2 do ar e se torna verde escuro e, a
CO seguir, castanho. Isso porque é inicialmente oxidado a uma
mistura de Fe(OH)2 e Fe(OH)3, e depois, a Fe2O3 (H2O)n
hidratado. O Fe(OH)2 se dissolve em ácidos. Também se dis­
solve em soluções concentradas de NaOH, formando o
o complexo verde azulado Na4[Fe(OH)6], que pode ser
c) cristalizado.
OC c° CO CO
oe2j,. ÍFe------ CO
Haletos
O ferro se dissolve nos ácidos halogenídricos, na
ausência de ar. A partir dessas soluções, pode-se obter os
C=O
di-haletos hidratados FeF2-8H2O (branco), FeCI2-4H2O
(verde pálido) e FeBr2-4H2O (verde pálido). O cloreto ferroso
hidratado contém a unidade octaédrica [FeCl2-4H2O], na
CO qual dois átomos de cloro ocupam posições trans.
FeF2 e FeCI2 anidros são obtidos aquecendo-se o metal
d)
CO CO com HF ou HC1 gasosos, visto que na reação direta dos
l/CO
CO CO oc\lM- elementos (Fe + Cl2 ou F2, respectivamente), sob
C°\lOs- -Os|/C° -M aquecimento, são gerados os haletos FeCI3 e FeF3. Em

oc/1 | \co °/L\cMi°/c!/0 contraste, FeBr2 e Fel2 são obtidos aquecendo-se os


elementos. Os haletos de Fe( + II) anidros reagem com NH3
CO jj CO co/1 Vo gasoso, formando sais contendo o íon complexo octaédrico
0 CO [Fe(NH3)6]2 + . Fe(OH)2 é gerado quando esse complexo é
dissolvido em água.
Figura 24.2 — 4s estruturas de a) Fe(CO)s. b) Fe2(CO)3. c) Fe3(CO)l2.
d) estrutura sugerida para o Os2(CO)3 e e) Ru3(CO)l2
Complexos
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO Os íons Fe2+ formam muitos complexos. O mais
DE OXIDAÇÃO ( + 11) importante é a hemoglobina (o pigmento vermelho do
sangue), que será discutido mais adiante no item “Química
0 estado de oxidação ( + II) é um dos mais importantes
Bioinorgânica do Ferro”. A maioria de seus complexos são
do ferro, e seus sais são geralmente denominados sais ferro-
octaédricos, embora sejam formados alguns haletos
sos. São compostos cristalinos bem conhecidos. A maioria é
complexos tetraédricos FeX/’.
verde pálida e contém o íon [Fe(H2O)6]2+, por exemplo
FeS04-7H20, FeCl2-6H2O e Fe(C104)2 • 6H2O. O íon O mais conhecido desses complexos é o íon
[Fe(H2O)6]2 + é estável em meio aquoso. Os compostos hexacianoferrato(II) ou ferrocianeto, [FeH(CN)6]4’. O
ferrosos são facilmente oxidados, e difíceis de serem obtidos hexacianoferrato(II) de potássio, fCJFefCNJg]4", é um sólido
puros. Contudo, o sal duplo FeSO4 • (NH4)2SO4 ■ 6H2O é usado de cor amarela clara e pode ser obtido pela reação de CN~
como um composto padrão em análise volumétrica, para com um sal ferroso em solução. Ele é usado para testar a
titulações com agentes oxidantes tais como dicromato, presença de íons ferro em solução. íons Fe2+ reagem
permanganato e soluções de cério(IV). FeSO4 e H2O2 são formando um precipitado branco, K2FeH[Fen(CN)6], mas os
usados para gerar radicais hidroxila (a mistura é conhecida íons Fe3 + formam um precipitado azul escuro,
como reagente de Fenton), por exemplo, é capaz de oxidar KFellI[Fell(CN)6], conhecido como azul da Prússia. Uma
álcoois a aldeídos. intensa coloração azul também é produzida quando Fe2 +
reage com íons hexacianoferrato(lll) (ferricianeto),
Óxidos [Feln(CN)6]3*, devido à formação do azul de Túrnbull
KFeB[Fe,u(CN)6J. Ambos foram usados como pigmentos de
FeO é um óxido não-estequiométrico, deficiente em tintas para pintura e escrever. Estudos recentes de espectros-
metal, cuja composição típica é Fe0i9SO. Pode ser obtido na copia de raios X, infravermelho e Mõssbauer mostraram que
forma de um pó preto, aquecendo-se fortemente oxalato de o azul de Túrnbull é idêntico ao azul da Prússia. A intensa
ferro( + II), Fe“(COO)2, sob vácuo, e, então, resfriando brus­ coloração decorre de transições envolvendo a transferência
camente para evitar seu desproporcionamento. de elétrons entre Fe( + II) e Fe( + III). Comparando-se os
Fe(C2O4) -> FeO + CO2 + CO potenciais padrão de redução verifica-se que é mais fácil
2Fe"O -> Fe3O4 + Fe° oxidar [Fen(CN)6]4‘ a [Fenl(CN)6]3’ do que oxidar
(FenFe'"2O4) [Feu(H2O)6]2+ a [Fenl(H2O)6]3 + , em solução aquosa.
388 Grupo B — O GRUPO □□ FERRO

[Fe"'(H2O)6]3 + + e -> [Fe"(H2O)6)2 + E° = +0,77 V colorimétrica de ferro e, também, como indicador


[Fenl(CN)6]3" + e -> [Fen(CN)6]4" E° - +0,36 V ("ferroína”) em titulações redox: é mais fácil oxidar
[Fe(H2O)6]2+ a [Fe(H2O)6)3 + que [Fe(phen)3]2 + (de cor
Isso significa que o íon Fe( + III) forma um complexo vermelha) a [Fe(phen)3]3 + (de cor azul). Assim, a cor
mais estável com CN" que o Fe( + II). Isso é surpreendente, vermelha persiste até que haja um excesso de agente
visto que o íon CN" forma ligações rt recebendo elétrons dos oxidante. A maior estabilidade do complexo de ferro(II) com
íons metálicos. Como o Fe( + II) tem mais elétrons que o fenantrolina se deve às ligações entre os orbitais dn do metal
Fe( + III), conclui-se que Fe( + II) forma ligações n mais fortes e os orbitais tc* antiligantes de baixa energia do ligante. Uma
que Fe( + III). Os comprimentos das ligações Fe-C no estabilização semelhante ocorre também no complexo com
[Fe",(CN)6]3" e no [Fe"(CN)6]4", de 1,95 A e 1,92 A, bipiridina.
respectivamente, confirmam essa hipótese, mas não A configuração eletrônica do íon Fe2+ é d6, tal que
concordam com os valores de E° observados. Analisando-se complexos octaédricos com ligantes de campo fraco são de
os dados termodinâmicos, verifica-se que o AH° de oxidação spin alto e possuem quatro elétrons desemparelhados (Fig.
do [FeH(CN)6]4" é mais positivo que do (Fen(H2O)6]2 + . Mas, 24.4a). Ligantes de campo forte, como CN" e 1,10-fenantro­
a principal causa da falha da previsão anterior sobre os lina provocam o emparelhamento dos elétrons, tornando
valores relativos de E° é a elevada entropia de hidratação esses complexos mais estáveis, pois têm uma maior energia
negativa, resultante da elevada carga do ferrocianeto. Isso de estabilização de campo cristalino (Fig. 24.4b). 0 empare­
mostra que o solvente tem um papel muito importante, e lhamento dos elétrons também torna os complexos
que o comportamento dos compostos no estado sólido e em diamagnéticos.
solução tendem a ser diferentes.
O “teste do anel” para nitratos e nitritos depende da
A análise gravimétrica de Cu2+ pode ser realizada, preci­ formação do complexo marrom [Fe(H2O)sNO]2+. Nesse
pitando-se o íons como o complexo castanho avermelhado teste, uma solução recém preparada de FeSO4 é misturada
Cu"2[Fe(CN)6]. com a solução contendo os íons NO2" e NO3", num tubo de
Os grupos cianeto no K4[Fe(CN)6] são cineticamente ensaio. Em seguida, H2SO4 concentrado é adicionado
inertes, e não podem ser removidos ou substituídos com lentamente pelas paredes do tubo, de modo que o ácido não
facilidade. Embora se diga que esse sal não é tóxico, convém se misture e forme uma fase independente no fundo do
tomar cuidado, pois ele libera HCN quando tratado com mesmo. H2SO4 reage com NO3" formando NO, que se
ácidos diluídos. É possível obter produtos monossubstituídos, combina com Fe2+ lentamente, formando o complexo de
trocando um CN" por H2O, CO, NO2" ou NO + . O mais cor marrom [Fe(H2O)5-NO]2+ na interface entre os dois
importante deles é o (nitrosil)pentacianoferrato(II) de sódio, líquidos. Se a mistura for aquecida ou agitada, a cor marron
Na2[Fe(CN)5(NO)] ■ 2H2O, também conhecido como do anel desaparece e há liberação de NO, restando uma
nitroprussiato de sódio. Esse complexo possui NO+ como solução amarela de Fe,n2(SO4)3. Caso nitritos estejam
ligante, e se forma na reação de um ferrocianeto com HNO3 presentes na amostra, ocorre o aparecimento da cor marrom
a 30% ou com um nitrito, e cristaliza na forma de um sólido mesmo antes da adição de H2SO4.
castanho avermelhado. Além desses complexos octaédricos, os haletos mais
pesados formam complexos cristalinos do tipo [Fe11^]2". São
[Fe(CN)6]4" + NO3" + 4H + —>[Fe(CN)5(NO)]2" + NH„ + + CO2
complexos tetraédricos que só se cristalizam na presença de
Na4[Fe(CN)6]+NO2" + H2O-»
cátions grandes, pois a presença de um ânion grande e de
Na2[Fe(CN)5(NO)] +2NaOH + CN"
um cátion grande leva a uma alta energia reticular.
O nitroprussiato de sódio reage com íons sulfeto origi­ Há alguns poucos compostos simples de Ru( + II) ede
nando um complexo de cor púrpura, [Fe(CN)s(NOS)]4". Essa Os( + II), embora se conheça o [Run(H2O)6]2 + . Exceto na
reação é usada como teste qualitativo de elevada presença de ânions não complexantes, como BF4" e C104", o
sensibilidade para sulfetos. íon no estado de oxidação (+ II) persiste na forma de aqua-
complexos. Vários complexos são formados com ligantes
2[Fe(CN)5(NO)]2" + S2" -> 2[Fe(CN)s(NOS)]4" retrodoadores como CO e fosfinas, PR3. Outros complexos
são formados com CN", Cl", NH3 e aminas. Todos são
Outros complexos estáveis de Fe2+ são formados com
ligantes bidentados, como etilenodiamina, 2,2'-bipiridina e
a)
1,10-fenantrolina (Fig. 24.3, conhecido como orto-
fenantrolina na literatura mais antiga). O complexo vermelho
brilhante [Fe(phen)3]2+ é usado na determinação
O

UIHF] twi
campo ligante fraco campo ligante forte

Figura 24.3 — a 1,10-fenantrolina Figura 24.4 — Configurações eletrônicas para o íon d6 Fe2*
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO OE OXIDAÇÃO [+111) 389

octaédricos. Esses complexos são formados quando soluções os átomos no N2 gasoso, que é de 1,098 A. O interesse por
contendo M( + III) ou M( + IV) são reduzidos na presença complexos que podem coordenar dinitrogênio se deve à
do ligante. O íon metálico tem configuração d6, e seus possibilidade de utilizá-los para realizar a fixação do
complexos são todos diamagnéticos, ou seja, os elétrons se nitrogênio (vide também o Capítulo 20). Já foram obtidos
encontram emparelhados, indicando a existência de uma complexos de dinitrogênio com todos os metais dos grupos
grande energia de estabilização de campo cristalino. 7, 8 e 9 (grupos do Mn, Fe e Co), além do Mo e do Ni.
0 rutênio forma [Ru2(CH3COO)4(H2O)2], um complexo Geralmente, esses complexos contêm o metal num estado
binuclear contendo quatro grupos carboxilatos, semelhante de oxidação baixo e fosfina ou hidreto como ligantes, como
ao acetato de crômio, e uma ligação M-M. Mo e Rh formam nos complexos [(R3P)2Ni- (N2) - Ni(PR3)2] e [(RjPh-Fe-fNJ-
complexos semelhantes. (HJ ]. Como a molécula de N2 é simétrica e tem um momento
dipolar igual a zero, a ligação o do N ao metal será muito
0 rutênio também forma uma interessante série de
fraca (daí a pequena variação no comprimento da ligação
complexos do tipo [Run(NO)Ls], onde o ligante L pode ser: N-N), e a principal interação é a ligação de retrodoação do
Cl', NH3, H2O, NO3“, OH", CN", etc. O NO se liga fortemente
metal com os orbitais n antiligante do nitrogênio.
ao metal por meio de ligações oe tt, de modo que a ligação
Ru-NO resiste a uma grande variedade de reações de
substituição e de óxido-redução. Estudos de difração de raios COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
X sugerem que em alguns complexos a ligação Ru-N-0 é DE OXIDAÇÃO (+ III)
linear, enquanto que em outros é angular.
O estado de oxidação ( + 111) é muito importante na
química do ferro, sendo os sais férricos obtidos pela oxidação
Ru—N—O Ru—N
dos correspondentes sais de Fe( + II). Soluções de sais férricos
\ são frequentemente castanho amareladas, mas a cor se deve
O
Complexos análogos de ósmio também são conhecidos, à presença de óxido de ferro coloidal, ou FeO(OH). Fe( + III)
embora tenham sido menos estudados. forma sais cristalinos com todos os ânions comuns, exceto
o I", e muitos deles podem ser isolados tanto na forma
Complexos de carbonila com Fe, Ru e Os são conhecidos hidratada como anidra. Esses sais podem ter várias cores:
há muito tempo. CO e N2 são isoeletrônicos, e durante muito FeCl3 -6H2O, FeF3-4’/2H2O e Fe2(SO4)3-9H2O são amarelos:
tempo especulou-se que seria possível formar ligações M- FeBr3-6H2O e FeF3 são verdes; Fe(NO3)3-6H2O é incolor; e
NN, análogas às ligações M-CO. O primeiro exemplo de um Fe(NO3)3 -9H2O é púrpura pálido. Muitos sais contêm o íon
complexo de dinitrogênio, [Ru(NH3)5(N2)]CI2, foi publicado [Fe(H2O)6]3 + . O mais comum é o Fe2(SO4)3, que pode ser
em 1965. Esse complexo pode ser obtido reduzindo-se uma encontrado na forma de seis hidratos diferentes, e é largamen­
solução aquosa de RuCl3 com sulfato de hidrazina ou, então, te usado como coagulante para clarificar água potável e
tratando-se [Ruln(NH3)5(H2O)]3 + com NaN3. A reação em também no tratamento de efluentes e águas industriais. Os
que H2O é diretamente substituído por N2, é de grande in­ alúmens são sais duplos que contêm o íon [Fe(H2O)6]3t e
teresse, pois ela pode ser semelhante a uma das etapas do cristalizam facilmente. Os exemplos mais conhecidos são o
processo de fixação do nitrogênio pelas bactérias. alúmen de ferro e amônio (NH4)[Fenl(H2O)6][SO4]2-6H2O e
o alúmen de ferro e potássio [K(H2O)6][Fenl(H2O)6][SO4]2.
[Ru(NH3)5H2O]2+ + N2 -» [Ru(NH3)5-N2]2 +
Esses alúmens são usados como mordentes na indústria da
Ligantes N2 terminais apresentam uma intensa banda tinturaria, como os alúmens de crômio.
no infravermelho, na faixa de 1.930 a 2.230 cm"1, enquanto
o gás N2 apresenta uma banda em 2.331 cm"1. Essa banda Óxidos e óxidos hidratados
no infravermelho pode ser utilizada para verificar se houve Não há evidências quanto à existência do Fe(OH)3. A
formação de um complexo de dinitrogênio. A diminuição hidrólise de FeCl3 não forma o hidróxido, mas fornece um
da energia da vibração sugere que houve formação de ligação precipitado gelatinoso castanho avermelhado do óxido
n entre Ru e N2, diminuindo a ordem da ligação N-N. Assim, hidratado, Fe2O3(H2O)n. Pelo menos parte desse precipitado
o N2 atua como um ligante receptor de elétrons. N2 é um é constituída por FeO(OH). Quando o óxido hidratado é
doador a mais fraco e um receptor tc mais fraco que o CO, e aquecido a 200 °C obtém-se o a-Fe2O3, de cor vermelho-
por isso os complexos de dinitrogênio não são muito estáveis. castanha. Sua estrutura é constituída por um retículo de
Complexos de outros metais, tais com Mo, Fe e Co, também íons O2", num arranjo hexagonai de empacotamento compac­
podem ligar N2 à pressão atmosférica, particularmente com to, com íons Fe3+ ocupando dois terços dos interstícios
ligantes de fosfinas terciárias: octaédricos. Contudo, a oxidação de Fe3O4 leva à formação
NaBH, de y-Fe2O3, que tem um arranjo cúbico de empacotamento
FeCl2 + N2 + 3PEtPh2 FeH2(NJ(PEtPh2)3 compacto de íons O2", com íons Fe3+ distribuídos
aleatoriamente, tanto nos interstícios octaédricos como nos
N2 também pode atuar como ligante ponte:
tetraédricos.
[Ru(NH3)5-N2]2 + + [Ru(NH3)s-H2O]2 + -> Fe3O4 é um sólido preto formado no aquecimento de
[(NH3)5Ru-N-N-Ru- (NH3)s]4 + Fe2O3 a 1.400 °C. O Fe3O4 é um óxido misto de fórmula
FellFelli2O4 e tem a estrutura do espinélio invertida. Os íons
0 comprimento da ligação N-N no complexo binuclear O2" formam um retículo cúbico de empacotamento compac­
é de 1,24 A, apenas um pouco maior que a distância entre to, com os íons maiores, Fe2 + , ocupando um quarto dos
390 Erupo B — ERUPO □□ FERRO

interstícios octaédricos. Por outro lado, metade dos íons Fe3 * a) b)


ocupam interstícios octaédricos; a outra metade, os interstí­
cios tetraédricos.
Os óxidos Fe2O3 e Fe3O4, tal como o FeO, tendem a
ser não-estequiométricos. Essa tendência à não-estequio-
m
métria se deve à semelhança de suas estruturas. As formas
de empacotamento cúbico compacto diferem somente na
disposição dos íons Fe2 * e Fe3 * nos interstícios octaédricos
e tetraédricos. WTT| twi
ligante de campo fraco, ligante de campo forte,
As propriedades básicas diminuem com o aumento do spin alto spins emparelhados
número de oxidação. O Fenl2O3 é essencialmente básico. O
sólido resultante do tratamento térmico é difícil de ser Figura 24.5 — O arranjo eletrônico d5 para o íon Fe3*
dissolvido em meio ácido. Todavia, a forma hidratada recém-
preparada se dissolve em ácidos, formando o íon violeta
pálido [Fe(H2O)6]3*, e em NaOH concentrado, formando igual a ± 1, mas AZ = 0 no caso de uma transição d-d,). No
[Fe(OH)6]3-. Esse comportamento evidencia que o óxido tem [FeF6)3~, as transições eletrônicas também são proibidas por
um certo caráter anfótero. A fusão com LiOH, NaOH ou spin, pois a promoção de um elétron deve ser acompanhada
Na2CO3 leva à formação de LiFeO2 ou NaFeO2. pela inversão de seu spin. A probabilidade disso ocorrer é
Fe2O3 + Na2CO3 —> 2NaFeO2 + C02 muito pequena, fazendo com que esses compostos sejam
muito pouco coloridos ou incolores. Um efeito semelhante
Esses compostos já foram denominados "ferritos”, mas é observado nos compostos de Mn2+ (vide Capítulo 32).
é mais correto classificá-los como óxidos mistos, pois o Em contraste com o FeF3, o FeCl3 sólido é quase preto.
LiFeO2 tem a estrutura do NaCl, e Li* e Fe3* tem Esse composto sublima a cerca de 300 °C, formando um gás
aproximadamente o mesmo tamanho. A carga média sobre constituído de dímeros. O FeBr3 é castanho avermelhado.
os íons metálicos é + 2, que compensa a carga -2 dos íons As cores nesses compostos se devem às transições de
óxidos. Os ferritos se hidrolisam em água, formando NaOH. transferência de carga. Os sólidos possuem estruturas
Essa reação já foi empregada no processo Lowig, hoje lamelares (em camadas), constituídos por íons haletos num
obsoleto, de fabricação de soda cáustica. arranjo de empacotamento compacto, onde o íon Fe3* ocupa
-► Fe2O3 + Na2CO3 —» 2NaFeO2 + C02 dois terços dos interstícios octaédricos em uma camada e
nenhum na camada seguinte. 0 FeCl3 se dissolve tanto em
2NaFeO2 + H2O -> 2NaOH + Fe2O3 éter como em água, gerando espécies monoméricas
solvatadas (Fig. 24.6). Geralmente, o cloreto de ferro(lll) é
Quando Cl2 é borbulhado numa solução alcalina de obtido na forma de fragmentos amarelo-castanhos de seu
óxido de ferro(III) hidratado, forma-se uma solução hidrato FeCl3 ■ 6H2O. Este é muito solúvel em água, sendo
vermelho-púrpura contendo o íon ferrato, Fev,O42‘. Os usado como agente oxidante e como mordente em tinturaria.
ferratos também podem ser obtidos pela oxidação de Fe( + III) FeCl3 é também usado na fabricação de CC14.
com NaOCl, ou eletroliticamente. Eles contêm Fe( + VI) e
são agentes oxidantes mais fortes que o KMnO4. CS2 + 3C12 - FeClj como catalisador, 3O'C > CCI4 + S2CI2

FeClj como catalisador, 60*C CCI4 + 6S


Haletos CS2 + 2S2C12
Os haletos FeF3, FeCl3 e FeBr3 podem ser obtidos pela A estrutura do FeCl3 • 6H2O é pouco comum. Consiste
reação direta entre o metal e o halogênio correspondente. O normalmente de trans-[Fe(H2O)4Cl2]Cl-2H2O, embora em
iodeto não pode ser obtido no estado puro, pois o Fe3 * oxida HC1 concentrado haja formação de íons tetraédricos [FeCy.
o T. Em solução, essa oxidação é completa, mas no estado
sólido um pouco de Fel3 pode persistir na presença de Fei2.
Os compostos de Fe( +111) são menos ionizados que os de Complexos
Fe( + H). FeF3 é um sólido branco pouco solúvel em água, O Fe3* forma de preferência complexos com ligantes
mas a solução aquosa não dá teste positivo para os íons que se coordenam através de átomos de 0, e não de N.
Fe3* ou F“. Ele se combina com fluoretos de metais alcalinos Complexos com NH3 são instáveis em água. Complexos com
formando complexos, por exemplo, Na3[FeF6). A ligantes quelantes contendo átomos de N coordenantes (co­
configuração do íon Fe3* é d5. Como oFé um ligante de mo bipiridina ou 1,10-fenantrolina) são formados, mas são
campo fraco, cada um dos orbitais d estará parcialmente menos estáveis que os correspondentes complexos de Fe( + II).
ocupado, gerando um complexo octaédrico de spin alto (Fig. Esses ligantes provocam o emparelhamento dos elétrons.
24.5a). Em decorrência do pequeno tamanho do íon Fe3*, 0 complexo mais comum é o íon hidratado
seus complexos são geralmente mais estáveis que os de [Fe(H2O)6]3 *. Tem cor púrpura clara em soluções fortemente
Fe( + II). ácidas, mas tende a se hidrolisar em pH 2-3, formando
Qualquer transição eletrônica d-d é proibida pela regra soluções amarelas.
de seleção de Laporte (esta estabelece que AZ, a variação no
número quântico secundário para uma transição, deve ser [Fe(H2O)6]3* [Fe(H2O)s-OH]2* + H*
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIDAÇÃO [+V] 391

Na faixa de pH entre 4 e 5, o hidroxocomplexo se dimeri- a)


za, levando à formação de um sólido castanho. A polime- Cl Cl
rização de íons hidratados é muito comum, especialmente
se tiverem carga elevada.
Fe Fe

H 4*
ox Cl Cl Cl

. 2(Fe(H2O)sOH]2+ (H2O)4-Fe Fe(H2O)4 dimero do gás (FeCI3)2


'OZ b) c)
H C2H. [Fe(H2O)4CI2]*(H2O)2CI
Quando o pH é superior a 5, forma-se um precipitado FeCI2 hidratado
q------ ► FeCI3 (FeCI3-6H2O)
vermelho castanho do óxido hidratado.
Outros complexos com ligantes doadores de O incluem C2H,
aqueles com íons fosfato (como [Fe(PO4)3]6- e [Fe(HPO4)3]3’,
que são incolores), e com íons oxalato (como o complexo Figura 24.6 — Estruturas do FeCl3
verde escuro [Fe(oxalato)3]3-). Manchas de ferrugem em
Rutênio e ósmio
tecidos podem ser removidas tratando-os com ácido oxálico,
de modo a formar o íon [Fe(oxalato)3]3~, solúvel em água. Os complexos de Ru( + III) são mais numerosos que os
Mas, esse tratamento também pode remover os corantes dos de Os. Os dois elementos formam complexos do tipo
tecidos. [Fe(acetilacetona) 3] e o íon [Fe(CN)6]3’ são [Mln(NH3)6]3*, e o Ru forma uma série de complexos mistos
vermelhos enquanto que [Fe(phen)3]3+ é azul. Os dois com haletos e amônia. Quando RuO4 é adicionado a HC1
últimos podem ser obtidos oxidando-se os correspondentes concentrado e a mistura é evaporada, forma-se um sólido
vermelho escuro cuja composição é RuCI3.3H2O. Este se dis­
complexos de Fe( + II) com KMnO4 ou por eletrólise.
solve prontamente em água e é o reagente de partida para a
Um dos melhores testes de identificação do íon Fe( + III) síntese de muitos compostos. Apesar de sua formulação,
é sua reação com íons SCN'. A cor vermelho sangue é parece que o sólido contém não apenas compostos de Ru1",
resultante da mistura de [Fe(SCN)(H2O)5]2 + , [Fe(SCN)3] e mas também algumas espécies polinucleares de Ruiv.
[Fe(SCN)4]_. A cor pode ser utilizada para a determinação Compostos de Ru( + III) com cloro catalisam a hidratação
quantitativa de ferro(III). Essa coloração desaparece quando de alcinos. Ru( + III) forma um acetato básico semelhante
F- é adicionado em excesso, pois nesse caso [FeFs]3’ é for­ ao [Fe3O(CH3COO)6L3]+ descrito acima.
mado.
A configuração eletrônica do íon Fe3+ é d5. Assim, COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
complexos com ligantes de campo fraco terão uma configu­
DE OXIDAÇÃO (+ IV)
ração de spin-alto, com cinco elétrons desemparelhados.
Logo, as transições d-d serão proibidas por spin e as bandas A reação de combustão de Ru ou Os metálico ao ar
de absorção serão muito fracas. O Mn2* também tem uma fornece RuO2 (um sólido azul escuro tendendo ao preto) e
configuração d5 e apresenta transições eletrônicas muito OsO2 (um sólido cor de cobre). Ambos possuem a estrutura
pouco intensas. Contudo, o íon Fe3+ tem uma carga a mais do rutilo (TiOJ. Os forma um tetrafluoreto e um tetracloreto
e polariza mais fortemente os ligantes, levando a intensas estáveis.
transições de transferência de carga, que estão ausentes nos
complexos de Mn2*. O único complexo que realmente possui COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
somente bandas d-d fracas é o [Fe(H2O)6]3 + . As espécies
DE OXIDAÇÃO ( + V)
hidrolisadas apresentam transições de transferência de carga
que encobrem as transições d-d. Ligantes de campo forte, O elemento no estado de oxidação ( + V) é instável,
tais como CN“, SCN' e oxalato formam complexos em que sendo encontrado apenas nos pentafluoretos. Estes são
os elétrons do Fe3 + se encontram emparelhados (Fig. 24.5b).
Estes deveríam ter cores razoavelmente intensas devido às
transições d-d, mas são também encobertas pelas transições
de transferência de carga.
Fe( + III) e Ru( + III) formam acetatos básicos do tipo
[Fe3Q(CH3COO)6L3]+, cuja estrutura consiste de um triângulo
com os três átomos de Fe nos seus vértices e um átomo de O
no centro (Fig. 24.7). Os seis grupos acetato atuam como
ligantes pontes entre os átomos de ferro, dois ao longo de
cada aresta do triângulo. Assim, cada átomo de Fe está ligado
a quatro grupos acetato e ao O central, e a sexta posição do
octaedro é ocupada por uma molécula de água ou outro
Ügante. Esse tipo de complexo com carboxilato é formado
Pelos íons trivalentes de Cr, Mn, Fe, Ru, Rh e Ir. Figura 24.7 — Estrutura do [Fe3O(CH3COO)6(H2O)3]*
ase Grupo B — GRUPO □□ FERRO

tetrâmeros com átomos de F em ponte, como no NbFs e no NaOH. Em vez disso, grupos OH" se ligam ao metal formando
TaFs (vide Fig. 21.1). Complexos com o fluoreto também o íon octaédrico trans-osmato(VIII).
são conhecidos.
Osv,"O4 + 2OH- -> [Osv"‘O4-(OH)2]2-
RuCl3 + KCI + F, -> K[RuvF6] perosmato ou osmato(Vlll)

O íon osmato(VHI) reage com NH3 formando [OsO3N]',


COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO um nitrido complexo pouco comum, e é reduzido por EtOH
DE OXIDAÇÃO ( + VI) levando à formação de trans-[OsvlO2(OH)4]2".
Os ferratos, Fev,O42*, podem ser obtidos passando-se
uma corrente de Cl2 através de uma solução alcalina de óxido A QUÍMICA BIOINORGÂNICA DO FERRO
férrico hidratado, por meio da oxidação de Fe( + III) com Pequenas quantidades de ferro são essenciais tanto para
NaOCl, ou eletroliticamente. Eles contêm Fe( + VI), têm cor animais como para vegetais. Contudo, como ocorre com o
púrpura e são agentes oxidantes mais fortes que o KMnO4. Cu e o Se, é tóxico em quantidades maiores. Do ponto de
A estabilidade dos elementos no estado (+ VI) decresce ao vista biológico, o ferro é o elemento de transição mais
longo da Tabela Periódica, da esquerda para a direita: importante. O ferro está envolvido em diversos processos
CrO4 > MnO4' > FeO4' » CoO42- diferentes:
D Transporte de oxigênio no sangue de mamíferos, avese
Os ferratos só são estáveis em soluções fortemente peixes (hemoglobina).
alcalinas, e se decompõem em água ou em ácidos, liberando
2) Armazenamento de O2 no tecido muscular (mioglo-
oxigênio.
bina).
2[Fev,O4]2- + 5H2O -> Fe3 + + l'/2O2 + 10(OH)- 3) TYansporte de elétrons em plantas, animais e bactérias
(citocromos), e também em plantas e bactérias (ferre-
Ferratos de sódio e de potássio são muito solúveis, mas doxinas).
o BaFeO4 precipita. O íon ferrato é tetraédrico como o íon
4) Armazenamento e remoção de ferro em animais (ferri-
cromato, CrO42'.
tina e transferrina).
RuF6 é o complexo de Ru com um haleto, no qual o
5) Componente da nitrogenase (enzima das bactérias
metal se encontra no estado de oxidação mais alto. É obtido
fixadoras de N2).
aquecendo-se os elementos e esfriando rapidamente os
produtos. O RuF6 é instável, ao contrário do OsF6 que é 6) Presente em diversas outras enzimas: aldeído-oxidase
estável. (oxidação de aldeídos), catalase e peroxidase (decom­
posição de H2O2), e dehidrogenase succínica (oxidação
aeróbica de carboidratos).
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
DE OXIDAÇÃO ( + VIII) Hemoglobina
RuO4 e OsO4 são sólidos amarelos voláteis, com pontos O corpo humano contém cerca de 4 gramas de ferro,
de fusão de,25 °C e 40 °C, respectivamente. OsO4 é obtido mas cerca de 70% é encontrado na hemoglobina, o pigmento
reagindo-se o metal finamente dividido numa atmosfera de vermelho dos eritrócitos (células vermelhas do sangue). A
O2, ou tratando-se com HNO3 concentrado. RuO4 é menos maior parte do Fe remanescente é armazenada na ferritina.
estável e é obtido pela oxidação do metal com permanganato A função da hemoglobina é ligar o oxigênio nos pulmões.
ou bromato, em H2SO4. Os dois óxidos são tetraédricos, As artérias transportam o sangue àquelas partes do
tóxicos, têm um odor semelhante ao do ozônio e são organismo onde o oxigênio é necessário, por exemplo, os
fortemente oxidantes. Ambos são apenas pouco solúveis em músculos. Ali, o oxigênio é transferido para uma molécula
água, mas muito solúveis em CC14. Soluções aquosas de OsO4 de mioglobina e armazenado até haver necessidade de
são usadas como corantes biológicos, porque a matéria oxigênio para liberar a energia das moléculas de glicose.
orgânica o reduz a OsO2 ou Os, de cor preta. Por isso, vapores Quando o O2 é removido da hemoglobina, é substituído por
de OsO4 são prejudiciais aos olhos. OsO4 é usado na Química uma molécula de água. Em seguida, a parte protéica da
Orgânica, pois reage com duplas ligações formando cis- hemoglobina absorve H + . Indiretamente, isso ajuda a re­
glicóis. Os tetróxidos não apresentam propriedades básicas mover o CO2 dos tecidos, já que o CO2 é convertido em
e o HC1 reduz OsO4 a trans-[OsvlO2Cl4)2’, [OslvCl6]2’ e HCO3~ e H +. O sangue remove os íons HCO3‘ mais solúveis
[Oslv2OClI0]2’. RuO4 se dissolve em soluções de NaOH, e a hemoglobina reduzida remove o H*. O sangue retoma
liberando O2.0 Ru( + VIII) é reduzido formando inicialmente ao coração através das veias. Dali é bombeado aos pulmões,
o íon perrutenato( +VII) e, por fim, o íon rutenato ( +VI): onde os íons HCO3~ são reconvertidos a CO2, que é expelido
com o ar exalado dos pulmões. O sangue é novamente
4Ruv,nO„ + 4OH" -o 4RuviiO4- + 2H2O + O2 oxigenado e o ciclo é repetido.
perrutenato
Um dos fatores importantes na atividade da hemoglo­
4Ruv1iO4" + 4OH“ -> 4Ruv,O4: + 2H2O + O2
rulenalo bina como transportador de oxigênio é a reversibilidade da
reação de oxigenação. Se houvesse a formação de um
O íon rutenato contém Ru( + VI) e é análogo ao íon ■ complexo muito estável, então muita energia seria liberada
ferrato, FeO42". OsO4 é mais estável e não é reduzido pelo nos pulmões e restaria menos energia a ser liberada pelo
A OUlMICA BIOINQREÃNICA DO FERRO 393

oxigênio nos músculos. A forma oxigenada da hemoglobina aumento da afinidade dessas subunidades pelo O2 e é
é denominada oxi-hemoglobina, e a forma reduzida é conhecido como efeito cooperativo. Analogamente, quando
conhecida como desoxi-hemoglobina. Essa transferência de o sangue chega aos músculos e libera uma molécula de O2,
oxigênio é digna de nota, pois envolve somente Fe( + II) e as demais moléculas são liberadas mais facilmente, como
não Fe( + III). Outros ligantes, como CO, CN" e PF3 podem conseqüência do efeito cooperativo no sentido inverso. A
ocupar o sítio do O2. A coordenação destes também é afinidade da hemoglobina pelo O2 diminui à medida que o
reversível, porém, muito mais forte. A coordenação é pH diminui. Mas como o sangue é bem tamponado, esse
irreversível no caso do CN“. Esses ligantes diminuem ou fato tem apenas um efeito discreto sobre a sua capacidade
impedem o transporte de oxigênio e podem levar à morte. transportadora de O2.
Contudo, o CN' também interfere com o sistema enzimático CO2 é o produto final do metabolismo da glicose que
dos citocromos, sendo essa a causa principal de sua extrema libera energia, havendo o acúmulo de quantidades
toxicidade. apreciáveis do mesmo nos músculos. Ele é removido dos
A hemoglobina tem uma massa molecular de cerca de tecidos e convertido nos íons solúveis HCO3“.
65.000, e é constituída por quatro subunidades. Cada
subunidade contém um complexo porfirínico do tipo heme CO2 + H2O —>H+ + HCOj-
(Fig. 24.8), que contém Fe2 + ligado a quatro átomos de N e
Esse processo é facilitado pelos grupos amino terminais
uma proteína globular conhecida como globina. A proteína
da desoxi-hemoglobina, que recebe os prótons produzidos
globular se liga ao Fe2+ do grupo heme através do átomo de e atua como agente tamponante. O processo inverso ocorre
N existente num resíduo de histidina da proteína. A sexta
nos pulmões.
posição do Fe2+ é ocupada por uma molécula de oxigênio
ou de água. O anel porfirínico é conjugado e plano. A cor vermelha
característica se deve a transições de transferência de carga
Na oxi-hemoglobina, o Fe2+ se encontra num estado entre orbitais rt estáveis e orbitais rt* de energia relativamente
de spin baixo e é diamagnético. Ele tem o tamanho exato
baixas no anel e no Fe.
para se encaixar no centro do anel porfirínico. A porfirina é
plana e rígida. Na desoxi-hemoglobina, o Fe2+ está num
estado de spin alto e é paramagnético. O tamanho do íon Mioglobina
Fe2+ aumenta 28% quando ele passa do estado de spin baixo O grupo heme também é biologicamente importante
para o de spin alto, ou seja seu raio passa de 0,61 A para na mioglobina, que é usada para armazenar oxigênio nos
0,78 A (vide Tab. 24.7). Logo, na desoxi-hemoglobina o Fe2 + músculos. A mioglobina é semelhante a uma das
é grande demais para se acomodar na cavidade da porfirina subunidades da hemoglobina. Contém somente um átomo
e se situa de 0,7 a 0,8 A acima do plano do anel, distorcendo de Fe, tem uma massa molecular de aproximadamente 17.000
assim as ligações em torno do Fe. Portanto, a coordenação e liga O2 mais fortemente que a hemoglobina.
do 02 altera a configuração eletrônica do Fe2 + e também
distorce a forma do complexo. A proteína globular parece Citocromos
ser essencial, dado que na sua ausência ocorre a oxidação Existem muitos citocromos, que diferem muito pouco
irreversível do Fe( + II) a Fe( + III). entre si. De um modo geral são classificados em citocromo
A hemoglobina é constituída por quatro subunidades, a, citocromo b e citocromo c. Em todos os citocromos, o
e quando uma delas se liga a uma molécula de O2, o íon grupo prostético se restringe ao grupo heme e possui uma
Fe2+ diminui de tamanho e se desloca para o plano do anel. massa molecular de aproximadamente 12.400. Como na
Com isso, ele desloca a molécula de histidina ao qual está hemoglobina, o ferro está ligado a quatro átomos de N do
ligado e provoca alterações conformacionais na cadeia da anel porfirínico, sendo a quinta posição ocupada por um
globina. Como essa cadeia interage por meio de ligações de átomo de N da proteína ao qual está associado. A grande
hidrogênio com as outras três unidades, elas também têm diferença está na sexta posição, que geralmente está ocupada
suas conformações alteradas. Esse fenômeno provoca o por um átomo de S de um aminoácido como a metionina,
que constitui a proteína.
Os citocromos estão envolvidos no processo de liberação
de energia, por meio da oxidação da glicose pelo O2 mo­
lecular, nas organelas denominadas mitocòndrias existentes
no interior das células vivas. Os citocromos são oxidados
reversivelmente (logo, atuam como transportadores de
elétrons). O Fe está no estado de spin baixo, e se interconverte
reversivelmente entre os estados ( + 11) e ( + III). Os
citocromos a, b e c têm potenciais de redução ligeiramente

Tabela 24.8 — Potenciais de redução E°

Citocromo b 0.04 V
Citocromo c 0,26 V
Citocromo a 0,28 V
Figura 24.8 — A estrutura da heme b
394 Grupo B — O GRUPO □□ FERRO

diferentes uns dos outros, e as reações envolvem todos os As demais ferredoxinas contêm íons ferro ligados a
três, na seqüência b, c, a. Desse modo, a energia que seria sulfetos inorgânicos e átomos de S de resíduos de cisteína,
proveniente da reação de oxidação da glicose é liberada por exemplo, Fe2(S2)(S-cisteína)4. Como elas contêm íons
gradativamente. Ela é armazenada na forma de sulfeto inorgânicos, H2S é liberado quando são tratadas com
adenosinatrifosfato, ATP, e usada quando requerida pela ácidos diluídos.
célula. Algumas ferredoxinas de bactérias formam clusters. 0
mais simples é o Fe4S4(S-cisteína)4. Esse cluster pode ser
Ferritina imaginado como um cubo com dois átomos de Fe situados
Nos animais, inclusive no homem, o ferro dos alimentos em vértices diagonalmente opostos da face superior, mais
é absorvido na forma de Fe( + II), no sistema digestivo. As dois átomos de Fe ocupando os outros vértices diagonalmente
necessidades diárias de ferro são muito pequenas (o homem opostos da face inferior. Os átomos de S ocupam os quatro
requer 1 mg por dia), pois o Fe que existe no organismo é vértices remanescentes. Além disso, cada átomo de Fe está
reciclado. Todo ferro absorvido pelo organismo reage imedia­ ligado a um átomo de S de uma molécula de cisteína.
tamente para formar transferrina. O corpo humano contém
cerca de 4 gramas de Fe, sendo que cerca de 3 gramas se Hemeritrina
encontram na forma de hemoglobina e 1 grama na forma de Apesar do nome, a hemeritrina é uma ferro-proteína
ferritina. A ferritina é encontrada no baço, no fígado e na que não contém grupo heme. Ela é responsável pelo
medula óssea. Quando uma célula vermelha do sangue transporte de oxigênio em alguns animais marinhos. Sua
envelhece, após cerca de 16 semanas, a hemoglobina é massa molecular é de aproximadamente 108.000, e é
decomposta e o ferro é recuperado pela transferrina, uma constituída por oito subunidades. Outros animais marinhos
proteína que não contém grupo heme. TYata-se de uma cadeia têm em seus músculos mio-hemeritrina, que corresponde a
polipeptídica simples de massa molecular entre 76.000 a apenas uma dessas subunidades. Essas moléculas são os
80.000, que contém dois átomos de Fe. Essa proteína análogos da hemoglobina e da mioglobina nos animais
transporta o Fe para a medula óssea, onde ela é convertida superiores. Entretanto, a desoxi-hemeritrina contém dois
em ferritina (é marrom e solúvel em água). A ferritina contém átomos de Fe11 de spin alto, e a oxi-hemeritrina contém dois
cerca de 23 % de ferro. TYata-se de uma camada aproxima­ átomos de Fe111, ligados a uma molécula de oxigênio na forma
damente esférica de proteína denominada apoferritina, com de O22’.
aproximadamente 120 A de diâmetro, que engloba uma
micela de hidróxido, óxido e fosfato de ferro( + III). A micela
é um agregado de partículas cuja superfície é eletricamente COMPLEXOS COM CICLOPENTADIENILA E
carregada. Cada uma dessas micelas contém de 2.000 a 5.000 ANÁLOGOS
átomos de Fe.
O interesse pela química organometálica teve início em
1951, quando G. Wilkinson e colaboradores relataram a
Catalases e peroxidases obtenção de um incrível composto de ferro com um derivado
As catalases são enzimas que promovem o despropor- de hidrocarboneto, chamado di-n-ciclopentadienilfeno.
cionamento do H2O2. Elas também catalisam as reações de Surpreendentemente, dois grupos de pesquisadores traba­
oxidação de outros substratos pelo H2O2. A molécula de lhando independentemente prepararam o mesmo composto
catalase contém quatro complexos de heme b com Fe( + III), quase que simultaneamente.
e tem uma massa molecular de aproximadamente 240.000.
2CsHsMgBr + FeCl2 -> Fe(CsH5)2 MgBf2 + MgCli
2H2O2 -> 2H2O + O2
Esse composto é atualmente conhecido como fenoceno
As peroxidases também catalisam a reação de decom­ e sua fórmula é (7ü-C5H5)2Fe. É diamagnético, estável ao are
posição do H2O2, mas elas estão associadas a uma coenzima forma cristais de cor laranja. O ferroceno é solúvel ein
AH2, que é oxidada na reação. solventes orgânicos (álcool, éter e benzeno) e insolúvel em
água, soluções de NaOH e HC1 concentrado. É termicamente
H2O2 + AH2 -> 2H2O + A estável até cerca de 500 °C. A estrutura determinada por
difração de raios X mostra que o composto é do tipo “sanduí­
Ferredoxinas che", no qual o átomo do metal se situa entre dois anéis
As ferredoxinas, um grupo de ferro-proteínas que não planos e paralelos de ciclopentadienila. Com isso ficou
contém o grupo heme, são responsáveis pelo transporte de evidente que ligantes orgânicos podem usar seu sistema x
elétrons em plantas e bactérias. Elas têm a mesma função para se ligar a metais, dando início ao estudo de compostos
dos citocromos nos animais, mas as ferredoxinas têm massas contendo ligações carbono-metal.
moleculares muito menores (6.000 a 12.000), e podem conter Por questões de simetria dos grupos espaciais, os dois
um, dois, quatro ou oito átomos de Fe. A mais simples é a anéis ciclopentadienila do ferroceno devem ter conformação
rubedoxina, que contém somente um átomo de Fe. Este está estrela. Em contraste, nos correspondentes compostos de
ligado a quatro átomos de S de resíduos de cisteína presentes Ru e Os, o rutenoceno e o osmoceno, os anéis estão na
na cadeia protéica, podendo ser representada por Fe(S- conformação eclipsada (Fig. 24.9). A conformação exata dos
cisteína)4. Os quatro átomos de S formam uma estrutura anéis ciclopentadienila no ferroceno não pode ser
aproximadamente tetraédrica em torno do íon ferro. determinada de maneira simples, pois a barreira rotacional
COMPLEXOS COM CICLOPENTADIENILA E ANÁLOGOS 395

Tabela 24.9 — Alguns compostos sanduíches


di-r|5-ciclopentadienila

[(H5-C5H5)2Vu] Vanadoceno Sólido violeta escuro; sensível


ao ar
[(Tf-CjHjljCr1'] Cromoceno Cristais escarlates, ponto de fu­
são 173°C; muito sensível ao
ar
Figura 24.9 — Ferroceno e rutenoceno [(n5-C3H5)2Fe"] Ferroceno Cristais laranjas, ponto de fu­
são 174°C; estável >500°C
dos anéis é de apenas cerca de 4 kJ mol"1. Contudo, a [(■q5-C5H5)2Coin]+ Cobalticênio Sais amarelos, estável em água,
estrutura obtida por difração de elétrons do gás sugere um estável até cerca de 400°C
arranjo eclipsado. É possível que a energia reticular favoreça [(t|5-C5H5)2Ní11] Niqueloceno Sólido verde claro, ponto de
a conformação estrela. Estudos mais recentes de difração de fusão 173°C; oxida no ar a
raios X e de nêutrons no composto sólido sugerem um arranjo [(n5-C5H5)2Ni]“
desordenado de moléculas em ambas as conformações:
ângulo de 9o entre os anéis em vez de 0o, numa conformação forte para remover um próton do CSH6:
quase eclipsada, e 36° para a conformação estrela.
Como todos os cinco átomos de C do anel são equidis- 2CsH6 + FeCl2 + 2Et2NH -4 Fe(C5H5)2 + 2Et2NH2Cl
tantes do Fe, o anel tem uma hapticidade r| igual a 5, ou Atualmente, um grande número de complexos de rf-CsHs é
seja, rf-CjHj. Todos os elementos da primeira série de conhecido.
transição formam compostos análogos, mas são muito menos
Já se sabe que outros compostos cíclicos, como C6H6,
estáveis que o ferroceno.
C8H8, CjPhj, C4H4 e C7H7, também formam complexos
A distância perpendicular entre os anéis é de 3,25 A análogos do tipo “sanduíche". Podem ser citados [Cr( if-
comparado com 3,35 A no grafite. Todas as ligações C-C C6H6)2]e[U(rf-C8H8)2].
têm 0 mesmo comprimento de 1,39± 0,06 A, ou seja, Alguns compostos de ciclopentadienila possuem dois
exatamente 0 mesmo comprimento da ligação C-C no anéis em ângulo, e não formando um “sanduíche”. Por
benzeno. A ordem da ligação também é semelhante. Os anéis exemplo, [(tf-CjHsjjTiCl,], [Ti(ns-C5HS)2(CO)2], [Ti(q5-
do ciclopentadieno não sofrem reações típicas de dienos, CsH5)2](NR2)2], [TÍ(i15-C5Hs)2(SCN)2] e [V(n5-C5HS)2C12]
como a reação de Diels-Alder ou a hidrogenação catalítica, possuem estruturas aproximadamente tetraédricas. Contudo,
mas exibem caráter aromático. Assim, o ferroceno sofre as moléculas de ciclopentadieno são penta-hápticas, com
reações de acilação de Friedel-Crafts. Por exemplo, a seguinte cinco átomos de C de cada anel ligados ao Ti. A redução
reação ocorre com uma quantidade equimolar de cloreto de desses compostos leva à formação de [Ti(C5H5)2 X] ou
acetila: [Ti(C5Hs)2]2. Note que esse último composto é um dímero,
logo, difere estruturalmente do ferroceno.
(tf-C5Hs)2Fe + CH3COC1 -4 ( T|5-CsH4 • CO • CH3)
Ti(C5H5)4 tem uma estrutura pouco comum, pois dois
(rf-CstyFe + HC1
dos anéis ciclopentadienil são penta-hápticos (ligações rr) e
Com excesso de cloreto de acetila, ocorre a dissubsti- dois são mono-hápticos (ligações a), ou seja, [Ti(q5-C5H5)2(r|1-
tuição (outros compostos de ciclopentadiena se decom­ CsHs)2]. Um comportamento semelhante é observado nos
põem). Isso sugere que o ligante é, na realidade, C5HS". compostos [Nb(T]5-C5H5)2(Ti1-CsH5)2], [Nb(n5-CSH5)2(T]1-
C5H5)2C12] e [Nb(ns-C5H5)2(r11-c5H5)2Cl3].
2C5H6 + 2Et2NH + FeCl2 -> Fe(C5H5)2 + 2Et2NH2Cl Outros compostos possuem apenas um anel, por
exemplo [Cr(ns-C5H5)2(CO)3], [Mn(T|s-CsH5)(CO)3], [Cr(r|6-
O método geral de obtenção de complexos de ciclopenta-
C6H6)(CO)3], [Mo(n7-C7H7)(CO)3]+ e [Fe(q4-C4H4)(CO)3],
dienila utiliza ciclopentadieno em solução de tetra-hidro-
furano: O ferroceno é às vezes considerado como sendo um
composto formado pelos íons Fe2+ e dois C5HS“. As ligações
C5H6 + Na -4 Na+ + C5H5- + '/2H2 nesses complexos aromáticos do tipo sanduíche são melhor
2C5H5- + FeCl2 -4 (tf-CsHshFe + 2CF (ferroceno) interpretadas como sendo ligações tt, envolvendo a
2CSHS- + NiCl2 -4 (tf-C5H5)2Ni + 2Cr (niqueloceno) sobreposição lateral dos orbitais e dyZ do Fe com o or­
bital aromático deslocalizado prc dos anéis ciclopentadienil.
Outro método de preparação utiliza C5H5TI, que é A ligação é muito complicada para ser descrita em detalhes
estável e insolúvel em água: nesse livro.
C5H6 + T1OH Hp—4 CSHST1 + H2O Os compostos do tipo “sanduíche" foram descobertos
THF
e estudados independentemente por E.O. Fischer, em
2CSHST1 + FeCl2 - 4 (n5-C5H5)2Fe + 2T1C1 Munique, e G. Wilkinson no Imperial College de Londres.
Os dois pesquisadores receberam por esses trabalhos 0
Outro método preparativo conveniente usa uma base Prêmio Nobel de Química de 1973.
39B Grupo S — O GRUPO □□ FERRO

LEITURAS COMPLEMENTARES • Johnson, B.F.G. (ed.) (1980) Transition Metal Clusters, John
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reatividade, 24, 498. • Levason W. e McAuliffe, C.A. (1974) Higher oxidation State
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• Lever, P. e Gray, H.B. (eds) (1989) Iron Porphyrins (Physical
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Bioinorganic Chemi try Series), V.C.H. Publishers.
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397

Grupo D
G GBUPO BO COBALTO
OCORRÊNCIA, OBTENÇÃO E APLICAÇÕES Tabela 25.2 — Abundância dos elementos na crosta
Esses elementos têm número atômico ímpar e são pouco terrestre, em peso
abundantes na crosta terrestre. O cobalto ocorre na proporção
de cerca de 23 ppm em peso, enquanto o ródio e o iridio são Elemento ppm Ordem de
extremamente raros. abundância relativa
Existem muitos minérios contendo cobalto. Os minérios
Co 30 29?
economicamente importantes são a cobaltita, CoAsS, a 77?
Rh 0,0001
esmaltita, CoAs2, e a linneíta, Co3S4. Estão sempre associados Ir 0,001 74?
com minérios de Ni, frequentemente com minérios de Cu e
às vezes com minérios de Pb. Co é obtido como subproduto a jato e na obtenção de aços rápidos usados na fabricação
dos processos de extração dos outros metais. Em 1992, a de ferramentas de corte. Altas velocidades podem ser
produção mundial de minérios de Co foi de 30.100 toneladas utilizadas nas operações de corte, pois as ferramentas
de conteúdo em metal. Os principais produtores foram: Za­ conservam sua dureza e fio mesmo quando aquecidas ao
ire 22%, Canadá 17%, Zâmbia e ex-URSS 15% cada e rubro. É possível se obter ligas excepcionalmente duras como
Austrália 9%. a estelita (50% de Co, 27% de Cr, 12% de W, 5% de Fe e
0 minério é calcinado para ser convertido numa mistura 2,5% de C), e o metal vídia (carbeto de tunsgstênio com
de óxidos denominado "speisses”. As4O10 e SO2 são liberados 10% de Co), que podem substituir o diamante em brocas
como gases e são subprodutos valiosos. O sólido é, então, para escavar rochas.
tratado com H2SO4 de modo a dissolver os óxidos de Fe Um terço do cobalto obtido é empregado na fabricação
(freqüentemente presente como impureza), de Co e de Ni, de pigmentos para as indústrias de cerâmica, vidro e tintas.
podendo assim ser separado do Cu ou Pb. Em seguida, cal é Historicamente, o óxido de cobalto tem sido usado como
adicionado à solução para precipitar o íon Fe( + III) como o pigmento azul na indústria de cerâmica, além de ser usado
óxido hidratado, Fe2O3 ■ (H2O)n. A seguir NaOCl é adicionado na fabricação de vidro azul. Atualmente, é muito usado para
de modo a precipitar o Co(OH)3. O hidróxido é calcinado e mascarar a cor amarela do Fe e obter a cor branca.
convertido em Co3O4, que é posteriormente reduzido a Co O cobalto metálico é ferromagnético (isto é, pode ser
metálico por aquecimento com H2 ou carvão. magnetizado de modo permanente) como o Fe e o Ni. Um
O cobalto forma importantes ligas de alta temperatura quinto da produção de Co se destina à obtenção de ligas
com o aço, e cerca de um terço do metal produzido é usado magnéticas, como o “Alnico” (que contém Al, Ni e Co). É
para esse fim. Essas ligas são usadas na confecção de turbinas possível preparar poderosos ímãs permanentes, 20 a 30 vezes
mais fortes que os ímãs de Fe, utilizando
Tabela 25.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidaçao essa liga.
Pequenas quantidades de sais de Co
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* dos ácidos graxos do óleo de linhaça e
do ácido naftênico são usados como
Cobalto Co [Ar] 3d’4? (-1) o (i) n m (rv) "secantes", para acelerar a secagem de
Ródio Rh [Kr] 4^5? (-D o (i) n m iv (vi) tintas a óleo.
Iridio Ir [Xe] 4/4 5J9 H) o (D (n) m rv (V)(vi)
_________________________________________________________________ O elemento Co é um constituinte
’ Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis] são mostrados essencial do solo fértil e está presente
Outros esiauus
negrito. vuiius
em negiiiu. bem caracierizados,
estados bem caracterizados, mas menos impuiiamcs,
mas menus importantes, sãu
são müsuãuüS em tipo
mostrados êiTi tipo em enzimas ee na
algumas enzimas
em algumas na Vitamina
Vliamma D ]2..
B32
nm ir131 t?o•
instáveis, ou de existência duvidosa,
normal. Estados de oxidaçãoír,zl são dados entre parênteses.
, ■«rí ri zsr*ontro norontococ
398 Bnjpo g — BRUPQ □□ COBALTO

O isótopo artificial “Co é radioativo, e sofre decaimento Tabela 253 — Óxidos c haletos
P (meia-vida de 5,2 anos). Ao mesmo tempo, ele libera
grande quantidade de radiação y de alta energia, que é usada Estados de oxidação
no tratamento radioterápico de tumores cancerígenos. O 60Co
é preparado irradiando-se com nêutrons o único isótopo (+11) (+IH) (+IV) (+V) (+VI) Outros
natural do cobalto, o 59Co, num reator nuclear.
CoO (Co2O3)h (CoO2)h Co3O4
Co------ >“Ni +4 e+ v + /
“!Co- RhO Rh2O3 RhO2
Ir2O3 IrO2 (IrO3)
Quantidades traço de ródio e de irídio são encontrados CoF2 CoF3
no estado metálico, associados com os metais do grupo da CoCI2
platina e os metais moeda nos minérios NiS/CuS extraídos CoBr2
na África do Sul, Canadá (Sudbury, Ontario) e na ex-URSS Col2
(nas areias dos rios dos Montes Urais). A produção mundial RhF3 RhF4 (RhF5) RhF6
dos seis metais do grupo da platina foi de apenas 281 RhCl3
toneladas em 1992. Os principais produtores foram: África RhBr3
do Sul 54 %, ex-URSS 37 % e Canadá 4 %. Rh e Ir são obtidos Rhl3
a partir do lodo anódico que se deposita no processo de IrF3 IrF4 (IrF5) IrF6
refino eletrolítico do Ni. Esse lodo contém uma mistura dos (IiC12?) IrCl3
metais do grupo da platina, além de Ag e Au. Os elementos IrBr3
Pd, Pt, Ag e Au se dissolvem em água-régia e o resíduo Irl3__________________
contém Ru, Os, Rh e Ir. Depois de um processo de separação Os compostos com os estados de oxidação mais estáveis estão representados
complicado, Rh e Ir são obtidos na forma de pó. Seus pontos em negrito; os instáveis entre parênteses, h = óxido hidratado
de fusão são muito elevados, de modo que técnicas de meta­
Os estados mais estáveis para os demais elementos do
lurgia de pó (o pó é moldado nas formas desejadas, e depois
grupo são Rh( + III), Ir(+ III) e Ir(+ IV). Compostos iônicos
sinterizado, isto é, aquecido em hidrogênio até coalescer,
simples desses elementos são pouco comuns. Os óxidos e
sem contudo fundir) são utilizadas para fabricar componen­
os haletos conhecidos desses elementos são mostrados na
tes metálicos. Esses elementos são tão raros quanto caros, e
Tab. 25.3.
têm um número limitado de aplicações especializadas.
Todos os metais do grupo da platina apresentam proprie­
dades catalíticas específicas. Uma liga Pt/Rh era usada PROPRIEDADES GERAIS
antigamente no processo Ostwald (de fabricação de HNO3) O Co se assemelha ao Fe e é muito resistente. É mais
para oxidar NH3 a NO. O ródio é um catalisador importante duro e apresenta maior resistência à tração que o aço. 0 Co
no controle dos gases de escape de veículos automotores. tem aspecto branco azulado brilhante. É ferromagnético
Complexos de Rh com fosfina são usados como catalisadores como o Fe, mas quando aquecido acima de 1.000 °C
em reações de hidrogenação. O Ir (como o Os no grupo an­ converte-se numa forma não-magnética.
terior) é utilizado na preparação de ligas muito duras, usadas
na confecção de eixos para certos instrumentos. Uma liga Tabela 25.4 — Algumas propriedades físicas
Pt/Ir é usada como eletrodo das velas de ignição de longa
vida útil. Elas são muito caras, mas têm importantes usos Raio Raio iônico Ponto de Ponto de Densidade Eletrme-
militares, como em helicópteros. Uma grande quantidade covalente M2t M3+ fusão ebulição galivi-
dadede
dessa liga foi usada pelos EUA durante a Guerra do Vietnã.
(A) (A) co CO (g cm"1) Pauling
ESTADOS DE OXIDAÇÃO Co 1,16 0,745a 0,61" 1.495 3.100 8,90 1,8
0,65b 0,545b
A tendência de não utilizar todos os elétrons do nível Rh 1.25 - 0,665 1.960 3.760 12,39 2,2
mais externo nas ligações químicas no estado de oxidação Ir 1.26 - 0,68 2.443 (4.550) 22,61 2,2
máximo do elemento, observada nos elementos da segunda
metade do bloco d, é mantida. Um possível relato sobre a a = valor de spin alto; b = valor de spin baixo
ocorrência de Co( + V) não foi confirmado, e mesmo o
Co( + IV) é instável. O estado de oxidação máximo do Rh e Tabela 25.5 — Algumas reações do Co, Rh e Ir
do Ir é (+ VI). Os estados de oxidação (+ II) e (+ III) são de
longe os mais importantes para o cobalto. Também se verifica Reagente Co Rh Ir
a tendência, observada na primeira série de transição, do
elemento no estado (+ II) ser mais estável que no estado O2 Co3O4 Rh203a 600'C IrO2a 1000'C
( + III). O íon Co2 + e o íon hidratado [Co(H2O)6]2 + podem F2 CoF2 e CoF3 RhF3a 600'C IrF6
ser encontrados em muitos compostos simples, sendo o íon Cl2 CoCI2 RhCl3a 400'C IrCl3 a 600‘C
hidratado estável em água. Em contraste, os compostos mais H2O Não reage Não reage Não reage
HC1 ou HNOj
simples contendo Co( + III) são oxidantes e relativamente
diluídos [Co(H2O)6]2* + H2 Não reage Não reage
instáveis. Contudo, os complexos de Co( + III) são estáveis
HNOj conc. Passivo Não reage Não reage
e muito numerosos.
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE CXtOAÇÃO [+1) 399

compostos de Co e Rh possuem três moléculas de CO em


O O O ponte, mas o composto de Ir não apresenta nenhuma (Fig.
o. \\\ /// O O, III ,0
c c /// 25.2).
Os complexos Na3[Co6(CO)I4], Co6(CO)16 e Rh6(CO)16,
Co
apresentam estruturas pouco comuns. São constituídos por
I
Co
O um cluster octaédrico com seis átomos do metal e uma
molécula de CO atuando como ponte entre três átomos do
metal em cada face triangular do octaedro. Os grupos CO
o O remanescentes são grupos terminais normais.
O

Figura 25.1 — Duas formas isômeras de Co2(CO)B. ambas com COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
ligações metal-metal DE OXIDAÇÃO ( + I)
0 Co é relativamente inerte e não reage com H2O, H2 O íon Co( +1) pode ser encontrado em muitos complexos
ou N2, mas reage com vapor d'água formando CoO. É oxidado com ligantes n receptores. Compostos de Co( +1) foram mais
quando aquecido ao ar e queima emitindo luz branca, bem estudados que qualquer outro elemento de transição
formando Co3O4. Co se dissolve lentamente em ácidos da primeira série nesse estado de oxidação, exceto o Cu.
diluídos, mas como o ferro, torna-se passivo quando tratado Esses compostos são geralmente obtidos pela redução do
com HNO3 concentrado. Co reage facilmente com os CoCl2 com Zn ou N2H4, na presença do ligante desejado.
halogênios, e, a temperaturas elevadas, também reage com Geralmente, os complexos formados têm estrutura bipirâmide
S, C, P, Sb e Sn. trigonal ou, então, tetraédrica.
Rh e Ir também são metais duros. Como acontece com O íon [Co-I(CO)4]- reage com isonitrilas orgânicas, R-
os demais metais do grupo da platina, são muito mais NC, formando [Co'(CNR)s] + , que tem estrutura bipirâmide
“nobres” e inertes. Ir é o mais denso de todos os elementos trigonal. Um complexo de dinitrogênio pode ser formado
(d = 22,61 g cm-3). Rh e Ir são resistentes a ácidos, mas por combinação direta com N2 gasoso, à pressão atmosférica:
reagem com 02 e halogênios a altas temperaturas (Tab. 25.5).
Co(acac)3 + N2 + 3Ph3P -> [Co'(H)(N2)(PPh3)3]
Os três elementos formam um grande número de compostos
de coordenação. O ligante (acac) é a acetilacetona. O complexo
[Co'(H)(N2)(PPh3)3] também tem estrutura bipirâmide trigo-
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NOS nal CFig- 25.3) e o comprimento de ligação NsN é igual a
1,11 Â, um pouco maior que o comprimento da ligação no
ESTADOS DE OXIDAÇÃO INFERIORES N2 gasoso, de 1,098 A. Como o comprimento da ligação
Os elementos nos estados de oxidação (-1) e (0) ocorrem N=N permaneceu praticamente inalterado, pode-se inferir
em alguns poucos compostos com ligantes n receptores, tais que a ligação a entre o N e o Co é muito fraca. Assim, a
como CO, PF3, NO e CN". O elemento no estado (-1) é ligação N-Co é essencialmente uma ligação tt (“back-bond-
encontrado nos complexos tetraédricos [Co(CO)4]“, ing”) do Co para o N, similar àquela existente no
(Rh(CO)4J-, [Co(CO)3NO] e K[Ir(PF3)4], O elemento no [Ru(NH3)sN2]2 + (os complexos de dinitrogênio foram discu­
estado de oxidação zero ocorre no Co2(CO)s, embora haja tidos no Capítulo 24 no item “Complexos dos elementos no
algumas dúvidas sobre a existência do correspondente estado de oxidação +11").
composto de Ru (Fig. 25.1). Outros compostos contendo o Acredita-se que a forma reduzida da vitamina B12 con­
metal de valência zero são K4[Co(CN)4] e [Co(PMe3)4] tenha Co( + I).
Os complexos Co4(CO)12, Rh4(CO)12 e Ir4(CO)12 Conhece-se uma química razoavelmente extensa de
possuem ligações M-M e contêm um cluster constituído por complexos de Rh( +1) e de Ir( +1), com ligantes tt receptores,
quatro átomos do metal. Os grupos CO podem ser apicais
(terminais) ou estarem ligados em ponte. Há pequenas N
diferenças entre os compostos dos diferentes metais. Os III
N
a) b)

V Ph3P- PPh3

O=c—M 4t°0 4-
/# %
O
UI
o

Figura 25.2 — As estruturas de a) Co4(CO)i2 e Rh4(CO)I2 e b) lr4(CO)l2 Figura 25.3 — A estrutura de [Co1 HfNJfPPhjJsJ
400 Grupo 9 — GRUPO □□ COBALTO

tais como CO, fosfinas PR3 e alcenos. Normalmente eles têm ramificada, dependendo da posição da dupla ligação no
estrutura quadrada-planar, como no trans-[IrCl(CO)(PPh3)2] hidrocarboneto de partida. Os álcoois de cadeia normal são
(conhecido como "composto de Vaska") e [RhCl(PPh)3] usados na obtenção de cloreto de polivinila (PVC) e deter­
(catalisador de Wilkinson), ou estrutura bipirâmide trigo- gentes. Tentativas de aumentar o rendimento dos produtos
nal como no [RhH(CO)(PPh3)3], Os compostos quadrado- de cadeia normal foram feitas, utilizando-se complexos de
planares contendo o metal no estado (+I) são susceptíveis cobalto com CO e trifenilfosfinas. 0 complexo trans-
a um tipo pouco comum de reação denominada adição [Rh(CO)(H)(PPh3)3] também tem sido empregado no pro­
oxidativa. Nessa reação, uma molécula neutra é adicionada cesso 0X0, sendo um importante catalisador na reação de
ao complexo (+1), formando um complexo octaédrico com hidrogenação de alcenos. É eficiente à 25 °C e 1 atmosfera
o elemento no estado ( + 111). de pressão e, por motivos estereoquímicos, catalisa espe­
cificamente a hidrogenação de duplas ligações terminais,
[Ir'(Cl)(CO)(PPh3)2] + HC1 [Ir»,(Cl)2(COXPPh3)2H] não afetando as duplas ligações em outros pontos da cadeia.
Reações semelhantes ocorrem com H2, H2S, CH3I e Cl- RCH = CH2 + HCo(CO)4 -> RCH2CH2Co(CO)4
HgCl. Uma reação diferente ocorre quando outras moléculas, RCH2CH2Co(CO)4 + CO -> RCH2CH2CO-Co(CO)4
tais como O2, SO2, CS2, RNCS, RNCO e RCsCR, são RCH2CH2CO ■ Co(CO)4 + H2 -> RCH2CH2CH0 + HCo(CO)i
adicionadas aos compostos quadrado planares ( + 1) (todas
as moléculas adicionadas contêm ligações múltiplas). Nesse 0 ácido acético pode ser obtido sinteticamente a partir
caso, a molécula adicionada atua como um ligante bidentado, de metanol, sendo essa reação catalisada por complexos tais
formando assim uma estrutura cíclica (Fig. 25.4). como [RhCl(CO)(PPh3)2] ou [RhCl(CO)2]2, na presença de
0 composto de Vaska é amarelo, mas rapidamente CH3I, I2 ou HI como ativadores.
absorve 02 e adquire coloração laranja. O oxigênio pode ser
CH3OH + CO CHjCOOH
removido utilizando um fluxo de N2. Essa reação de
oxigenaçâo reversível foi estudada como um modelo da
capacidade transportadora de oxigênio da hemoglobina (vide COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
Capítulo 24). Reações de adição oxidativa foram observadas DE OXIDAÇÃO ( + II)
em complexos nos quais o átomo central é Rh1, Ir1, Ni°, Pd°, O estado de oxidação (+ II) é o mais importante para
Pt°, Pd11 e Pt11 e tem configuração ds ou d10. Para isso, o compostos simples de Co (embora o estado + III seja 0 mais
metal deve ter elétrons d não-ligantes, bem como dois sítios importante em complexos). Rh( + II) e Ir( + II) tem apenas
de coordenação vazios. importância secundária.
O catalisador de Wilkinson, [RhCl(PPh3)3] é vermelho- Uma grande variedade de compostos de Co( + II) é
violeta, tem estrutura quadrado planar e é obtido refluxando- conhecida, inclusive CoO, Co(OH)2, CoS e sais dos ácidos
se RhCl3-3H2O com trifenilfosfina. É muito eficiente na comuns, como CoCl2, CoBr2, CoSO4, Co(NO3)2 e CoCO3.
reação de hidrogenação seletiva de moléculas orgânicas, à Todos os sais hidratados são róseos ou vermelhos, e contêm
pressão e temperatura ambiente. Duplas ligações terminais o íon hexahidratado [Co(H2O)6]2 +. A maioria dos compostos
(1-alcenos) são hidrogenadas, mas duplas ligações em outras de Co( + II) são solúveis em água, exceto o carbonato.
posições da cadeia não são afetadas. Essa reação é importante
na indústria farmacêutica. Se NaOH for adicionado a uma solução contendo Co2*,
obtém-se inicialmente Co(OH)2 como um precipitado azul.
O catalisador de Wilkinson e vários compostos de Co, Este vai se tornando rosa pálido com 0 passar do tempo. 0
como o carbonil(hidreto), HCo'(CO)4, têm sido usados como hidróxido é tipicamente básico, mas tem algum caráter
catalisadores no processo 0X0. Nesse processo, CO e H2 anfótero, visto que se dissolve em soluções concentradas de
são adicionados a um alceno, dando origem a um aldeído, à NaOH formando uma solução azul, contendo 0 íon
150 °C e 200 atmosferas. O processo 0X0 é de considerável [Co(OH)4]2'. Co(OH)2 é lentamente oxidado ao ar a
importância industrial, pois os aldeídos obtidos podem ser ConlO(OH), de coloração marrom.
convertidos em álcoois. Cerca de 3 milhões de toneladas de
álcoois C6- C9 são produzidos anualmente dessa maneira. CoO é verde-oliva e é formado quando Co(OH), ou
Trata-se de misturas de moléculas de cadeia normal ou muitos sais de Co( + II), como CoCO3, são aquecidos na
ausência de ar. Caso CoO seja fundido junto com SiO, e
K2CO3, forma-se um vidro azul de silicato de potássio e
PPhs cobalto(II). Após ser triturado e transformado em pó, esse
vidro é denominado esmalte, e é usado como pigmento azul
para vidros, esmaltes e vitrificações de cerâmicas. Esse
"esmalte" já era conhecido pelos antigos egípcios e romanos.
No laboratório, o “vidro de cobalto" é usado para examinar
a chama do potássio na presença de sódio no teste de chama.
O vidro azul absorve a intensa cor amarela da chama do
sódio, permitindo a visualização da chama violeta do
potássio.
CoCl2 é usado para indicar a presença de água, tanto
no “papel de cloreto de cobalto” como na forma de indicador
Figura 2S.4 — O complexo [^"CKCOifOJÍPPh^J adicionado ao agente dessecante "sílica-ger. CoCl2 hidratado.
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIOAÇAO [-1-11] 401

CoC12 6H20, tem coloração rosa e é constituído por íons 0,27 Ao, por um íon d7, num campo ligante fraco (vide Tab.
octaédricos [Co(H2O)6]2 + . Se o composto for parcialmente 7.15).
desidratado por aquecimento, o íon tetraédrico de cor azul, O complexo azul Hg[Co(NCS)4] é interessante. O íon
(Co(H2O)4]2 + , é formado. A adição de água produz a reação Co2+ está coordenado tetraedricamente por átomos de N, e
inversa. Assim, quando o indicador na sílica-gel tiver o Hg2+ está coordenado tetraedricamente por átomos de S,
coloração azul, o agente dessecante está ativo, mas deve ser dando origem a um sólido polimérico. Esse composto é
substituído quando a coloração for rosa. freqüentemente usado para calibrar balanças magnéticas,
nas medidas de momento magnético.
[Co(H2O)6]2+ — [Co(H2O)4]2+ + 2H2O
rosa azul A maioria dos complexos de Co( + II) é de spin alto,
mas o ligante CN" produz complexos de spin baixo. Se uma
0 íon octaédrico hidratado reage com excesso de Cl" de solução de um sal de Co2+ for tratada com excesso de CN",
modo análogo, formando o íon tetraédrico de cor azul forma-se o complexo verde, [Co(CN)5]3". Este pode ser
[CoCl4]2". isolado na forma do sal de bário e é um bom catalisador
[Co(H2O)6]2 + + 4C1" [Co(Cl)4]2" + 6H2O para a hidrogenação de alcenos. O complexo é paramag-
rosa azul nético, com um elétron desemparelhado, e tem a forma de
uma pirâmide de base quadrada. Pode formar o dímero
OíonCo( + II) tem configuração d7. [Co(H2O)6]2+ bem [Co2(CN)10]6" de cor púrpura. Esse é diamagnético e sua
como a maioria dos complexos octaédricos de Co( + II) são estrutura (CN)sCo-Co(CN)s é semelhante a do complexo
de spin alto. Os complexos tetraédricos também são comuns carbonílico Mn2(CO) 10. É interessante notar que [Con(CN)s]3"
e apresentam cores mais intensas que os complexos é formado em detrimento do complexo octaédrico
octaédricos. Isso ocorre porque o tetraedro não tem um centro [Co“(CN)6]4". Um complexo octaédrico de spin baixo teria a
de simetria e atende facilmente à regra de seleção de Laporte configuração (t2g)6(eg)‘. Como o nível eg não estaria
(que exige A(= 1). Em contraste, os complexos octaédricos simetricamente preenchido, o complexo sofreria uma
dependem de vibrações assimétricas dos ligantes para distorção de Jahn-Teller. O ligante CN" é um receptor tt forte,
eliminar o centro de simetria. Os momentos magnéticos, isto é, recebe elétrons do metal nas ligações de retrodoação.
tanto dos complexos octaédricos como dos tetraédricos, são Isso aumenta o desdobramento do campo cristalino A^,
maiores que os previstos pela equação do momento tornando o orbital eg muito energético e fortemente
magnético de spin-only, ou seja, p = 3,87 MB. No caso dos "antiligante". Se houvesse a formação de um complexo
complexos octaédricos, isso se deve à existência de uma octaédrico, esses orbitais eg de alta energia deveríam conter
contribuição orbital, já que no arranjo (t2g)5(eg)2 é possível um elétron. Por isso, os complexos octaédricos seriam muito
transformar um orbital t2g no outro. Em complexos instáveis (num contraste acentuado, Co( + III) tem
tetraédricos a configuração eletrônica é (eg)4 (t^)3 e a configuração (£2g)6(eg)° e o complexo octaédrico [Conl(CN)6]3"
transformação de orbitais t2 não é possível, sendo a é extremamente estável).
contribuição orbital igual a zero. Contudo, nesse caso, ocorre O complexo [CoH(CN)5]3" é oxidado pelo ar, formando
o acoplamento de spin-órbita. Isso explica o valor de p maior o peroxo-complexo de cor castanha K6[(CN)5Conl-O-O-
que o esperado (vide "Medida dos Momentos Magnéticos", Colll(CN)s], que será discutido juntamente com os complexos
no Capítulo 18).
de Co( + lII).
A dissolução de CoCO3 em ácido acético leva à formação É menos comum a formação de complexos de Co( + II)
do acetato de cobalto(II), Co(CH3COO)2-4H2O. Este pode
quadrado planares com ligantes bidentados, como dimetil-
ser obtido na forma de cristais vermelhos, muito solúveis glioxima, e com ligantes tetradentados como as porfirinas.
em água, e usados como agente secante para vernizes e lacas. Medidas de momento magnético podem ser usadas para
Sais anidros de Co não podem ser obtidos por aqueci­ distinguir os complexos tetraédricos dos quadrado planares.
mento dos sais hidratados, pois estes se decompõem ao Os complexos tetraédricos possuem três elétrons desem-
óxido. Por isso, métodos de preparação em condições anidras parelhados, enquanto que os complexos quadrado-planares
são utilizados. CoF2 anidro (rosa) é obtido pela reação de tem somente um.
HF com CoCl2. CoCl2 anidro (azul) e CoBr2 anidro (verde)
são obtidos aquecendo-se os elementos correspondentes.
Col2 anidro (preto azulado) é obtido aquecendo-se o metal b)
com Hl. Todos têm estruturas cristalinas nas quais o íon
Co2+ se encontra octaedricamente coordenado.
0 íon Co( + II) forma vários complexos, mas estes são
menos estáveis que os correspondentes complexos de
Co( + III). Os complexos de Co( + II) podem ser tetraédricos
ou octaédricos. Como a diferença de estabilidade entre as
duas formas é pequena, elas podem coexistir em equilíbrio.
Geralmente, os ligantes monodentados volumosos Cl", Br",
1", OH" e SCN", formam complexos tetraédricos. 0 íon
iWÜ
d6
w d7
Co( + II) forma mais complexos tetraédricos que qualquer
outro íon de metal de transição. Isso está associado à pequena Figura 25.S — Configurações eletrônicas para íons d6 e d7 num
perda de energia de estabilização de campo cristalino de campo octaédrico forte
402 Grupo — GRUPO □□ COBALTO

ciclopentadieneto de sódio, NaCsH5, com CoCl2 anidro, em


tetrahidrofurano. É um composto púrpura escuro, sensível
ao ar. É facilmente oxidado (isto é, perde elétrons) a [Co1H(ns-
C5H5)2]+ > um complexo amarelo, muito estável. Este último
não é oxidado nem por HNO3 concentrado, mas, como no
caso do ferroceno, os anéis podem ser atacados por reagentes
nucleofílicos. O rodoceno, [R^^n^CjHjjJ, é bem menos
estável e tende a dimerizar.
O ródio( + II) e o irídio (+ II) formam poucos compostos.
A existência do RhO é incerta e IrCl2 é um polímero. Parece
não existir complexos desses íons análogos aos de Co( + II).
Contudo, se RhCl3 • 3H2O for aquecido com uma solução de
acetato de sódio em metanol, obtém-se o diacetato dimérico
de fórmula (HOH3C) • Rh • (RCOO)4 ■ Rh ■ (CH3OH). Os quatro
grupos carboxilato se ligam em ponte entre os dois átomos
de Rh, levando a uma estrutura semelhante a do acetato de
cromo(ll) (Fig. 22.2). Ela apresenta uma ligação M-M de
2,39 A, atribuída a uma ligação quádrupla M-M. Alguns
complexos com fosfinas são conhecidos.

COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO


DE OXIDAÇÃO ( + III)
0 estado de oxidação (+ III) é o mais comum para os
três metais do grupo, particularmente em complexos. 0 íon
Co( + III) ocorre em poucos compostos simples, tais como
Co2(SO4)3 • 18H2O, NH4Co(SO4)2- 12H2O e KCo(SO4)2- 12HZO.
Figura 25.6 — A vitamina BI2. O sistema cíclico da corrina está São compostos azuis, fortemente oxidantes, contendo o íon
representado por linhas mais grossas
hexahidratado [Co(H2O)6]3 +. Co2O3 não é conhecido no
estado puro, mas somente como um óxido hidratado capaz
Os íons Co2t são muito estáveis e dificilmente são de oxidar a água. CoF3 é um sólido castanho claro, obtido
oxidados. Os íons Co3 + são menos estáveis e são reduzidos pela reação de CoF2 e F2. Ele é rapidamente hidrolisado pela
pela água. Por outro lado, muitos complexos de Co( + II) água. É comumente usado como um forte agente de fluoração
são facilmente oxidados a complexos de Co( + III), sendo por ser de manuseio mais fácil e menos reativo que F2.
estes últimos muito estáveis. Coih(NO3)3 anidro pode ser preparado a partir de CoF3, num
[Co"(NH3)6]2 + borbulhamento de ar
[Coln(NH3)6]3 + solvente não-aquoso como N2O4 ou N20s, a baixas
temperaturas. Possui uma estrutura pouco comum, com o
Isso acontece porque a energia de estabilização do Co no centro de um octaedro de átomos de 0 de três grupos
campo cristalino do Co( + III), com uma configuração d6, é N03~ ligados bidentadamente. A química do Co( + III) é
maior que a do Co ( + II), que tem configuração d7 (Fig. 25.5). dominada pela química de seus compostos de coordenação.
Certos complexos porfirínicos de Co( + II) são O óxido Co3O4 é preto e formado pelo aquecimento do
estruturalmente semelhantes à hemoglobina (Fig. 25.6). metal ao ar, a 500 °C. Tem uma estrutura de espinélio, como
O complexo da Fig. 25.7 é uma base de Schiff e é capaz o Fe3O4. Esses dois compostos são mais corretamente
de ligar reversivelmente o oxigênio, numa solução de representados como Fe1IFeII,2O4 e CollCo"l204. Nessas
piridina, à temperatura ambiente. Embora os complexos de estruturas os átomos de O se encontram praticamente num
Co não estejam envolvidos no metabolismo do oxigênio nos arranjo de empacotamento compacto. Os íons Co( +11) de
animais, esses complexos são úteis como modelos para se spin alto, mais volumosos, ocupam metade dos interstícios
estudar as ligações metal-oxigênio em sistemas biológicos. octaédricos, e os íons Co( + III), menores e de spin baixo,
ocupam um oitavo dos interstícios tetraédricos.
Co e Rh formam complexos semelhantes ao ferroceno.
O cobaltoceno [Con(r|s-C5H5)2] é obtido pela reação de Os complexos de Co( + III) podem ser facilmente obti­
dos, contrastando com a dificuldade encontrada no preparo
de compostos simples de Co3 + . 0 íon Co( + III) forma mais
complexos que qualquer outro elemento.
Encontram-se listados abaixo alguns complexos comuns
de Co3 + e suas respectivas cores. Como se vê, o cobalto
pode formar complexos neutros, catiônicos e aniônicos.

ch3 CH3 [Co(NH3)6]3 + amarelo


[Co(NH3)s-(H2O)]3 + rosa
Figura 25.7 — Um complexo de Co( + II) com doadores N e O [Co(NH3)5C1]2 + púrpura
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTAOO DE OXIOAÇAO (+111] 403

[Co(NH3)4(CO3)] + púrpura fornece o sal verde intenso, trans-[Coln(en)2Cl2]2 + . Se uma


[Co(NH3)3(NO2)3] amarelo solução neutra do complexo for cuidadosamente evaporada,
[Co(CN)6]3- violeta obtem-se o isômero cis, de cor púrpura. Ambos os isômeros
[Co(NO2)6]3- laranja sofrem reações de substituição quando aquecidos em água,
formando inicialmente [Co(en)2Cl(H2O)]2+ e depois
Praticamente todos os complexos de Co( + III) possuem [Co(en)2(H2O)2]3 *. Reações de substituição similares
seisligantes dispostos num arranjo octaédrico. O metal tem também ocorrem com outros ligantes como o NCS , com a
configuração d6 e a maioria dos ligantes é suficientemente formação de [Co(en)2(NCS)2] + .
forte para provocar o emparelhamento dos elétrons, levando Complexos com doadores de O são geralmente menos
à configuração eletrônica (t2g)6(eg)°. Essa configuração leva estáveis, mas aqueles com ligantes quelantes, como
a uma energia de estabilização de campo cristalino muito [Co(acetilacetona)3] e [Co(oxalato)3]3’, são estáveis e
grande. Os complexos desse tipo são diamagnéticos. A única opticamente ativos.
exceção é o [CoF6]3", que é um complexo de spin alto e,
portanto, paramagnético. Complexos com ligantes doadores Complexos com haletos são raros e o [CoF6]3‘ é o único
de N (amônia e aminas) são os mais comuns. complexo com seis haletos conhecido. É um complexo azul,
como o [CoF3(H2O)3], e ambos são complexos paramag-
Esses complexos podem ser preparados pela oxidação néticos, de spin alto, com um momento magnético de cerca
de uma solução de Co2+, com ar ou H2O2, na presença dos
de 5,8 MB.
ligantes apropriados, e de um catalisador como o carvão
ativado. Também é possível substituir os ligantes de um A vitamina B12 é um importante complexo de cobalto.
complexo já formado. Os complexos em questão são muito Ela foi isolada do fígado, depois de se descobrir que a ingestão
estáveis, e as reações de troca (substituição) de ligantes de grandes quantidades de fígado cru constitui um tratamento
ocorrem lentamente. Por esse motivo, os complexos de eficiente para a anemia perniciosa. Atualmente, injeções de
Co( + Ill) foram extensivamente estudados por Werner e vitamina B12 são usadas no tratamento (o que é mais
outros pesquisadores, desde a década de 1890. Muito do agradável que comer fígado crul). A vitamina B12 é uma
que sabemos sobre estereoquímica, isomeria e propriedades coenzima, e serve como um grupo prostético que está
gerais de complexos octaédricos são resultados desses firmemente ligado a diversas enzimas, no corpo. O seu papel
estudos. no organismo ainda não foi compreendido plenamente. Dor-
othy Crowfoot Hodgkin recebeu o Prêmio Nobel de Química
0 íon Co3 + tem afinidade por doadores de N, tais como de 1964 pelas suas pesquisas com cristalografia de raios X,
NH3, etilenodiamina, aminas, edta e o íon nitrito, N02‘. 0 que levaram dentre outras coisas, a elucidação da estrutura
cobaltinitrito de sódio, Na3[Co(NO2)6], é um sólido laranja dessa coenzima. O complexo um íon Co( + III) no centro do
usado em análise qualitativa e quantitativa, para precipitar anel de uma corrina (Fig. 25.6). A estrutura é semelhante a
o íon K+ na forma de K3(Co(NO2)6J. O íon complexo do íon Fe2+ no anel porfirínico da hemoglobina, exceto pelo
[Co(CN)6]3~ é extremamente estável, não sendo decomposto fato da corrina ser menos conjugada e os anéis A e D estarem
nem mesmo por álcalis. Os ligantes CN“ se ligam firmemente ligados diretamente. O íon Co( + III) está ligado a quatro
através de ligações ite a energia de estabilização de campo átomos de N do anel. A quinta posição é ocupada por um
cristalino é muito grande. Supõe-se que o complexo não seja átomo de N de uma cadeia lateral (a-5,6-
tóxico. dimetilbenzimidazol) que está ligada ao anel da corrina. A
Uma solução aquosa contendo [Con(CN)5)3‘ e KCN pode sexta posição do octaedro é o sítio ativo e está ocupado por
ser oxidada pelo ar, com a formação do complexo castanho um grupo CN“ na cianocobalamina. O CN“ é introduzido
K6((CN)5Coii1-0-0-Co1,i(CN)s]. 0 comprimento da ligação durante o processo de separação da coenzima, e não está
peroxo 0-0 é de 1,45 Â, sendo comparável ao do H2O2 (1,48 presente na forma ativa da coenzima, presente nos tecidos
A). Esse complexo pode ser oxidado novamente pelo ar ou vivos. Essa posição é ocupada por um OH" na
por Br2 (é mais eficiente), para formar o complexo vermelho hidroxicobalamina, por água ou por um grupo orgânico como
Ks[(CN)sCo-O-O-Co(CN)5]. Este podería conter Co111 e CoIV, CH3 (na metilcobalamina) ou por adenosina. Isso mostra
mas a estrutura obtida por difração de raios X mostra uma que é possível a formação de uma ligação ametal-carbono.
ligação 0-0 de 1,26 A, muito mais curta que antes. Isso As cobalaminas podem ser reduzidas de Co111 a Co11 e Co1,
sugere que um elétron antiligante do íon O-O2" foi removido, em soluções neutras ou alcalinas, tanto no laboratório como
transformando-o num superóxido, que tem ordem de ligação in vivo (no organismo vivo). O complexo de Co1 é fortemente
1,5 (vide capítulo 4). Se a temperatura das soluções dos redutor e pentacoordenado, isto é, o sítio normalmente
peroxo- e superoxo-complexos for elevada à ebulição, ocorre ocupado por CN" ou 0H~ está vazio.
a formação do complexo amarelo K3[Co(CN)6j. A metilcobalamina é importante no metabolismo de
Vários isômeros diferentes podem ser encontrados em certas bactérias produtoras de metano. Essas bactérias
complexos com ligantes bidentados, como etilenodiamina também podem transferir um grupo metila, CH3, para alguns
(en), acetilacetona (acac) ou íons oxalato: poucos metais, como Pt11, Au1 e Hg11. Este último se constitui
num considerável problema ecológico, pois essas bactérias
4Co2+ + 12en + 4H+ + 02 -> 4[Co'"(en)3]3 + + 2H2O
podem converter Hg elementar ou sais inorgânicos de Hg
0 tris(etilenodiamina)cobalto(III) de potássio contém no metilmercúrio, CH3Hg\ ou dimetilmercúrio, (CH3)2Hg,
o íon complexo [Conl(en)3]3 + , que é opticamente ativo, e altamente tóxicos, no fundo dos lagos.
pode ser encontrado nas formas d e l (vide "Isomeria”, no O cobalto também tem importância biológica em
Capítulo 7). Uma reação semelhante, na presença de HC1, algumas enzimas. A mutase glutâmica participa do
404 Brupo 3 — BRUPO □□ COBALTO

metabolismo dos aminoácidos, e a ribonucleotídeo redutase


participa da biossíntese do DNA. Quantidades traço de
cobalto são essenciais na dieta de animais. Rebanhos de
ovelhas na Austrália, Nova Zelândia e Grã-Bretanha
apresentavam uma doença provocada pela deficiência de
cobalto no solo de suas pastagens. Esse problema pode ser
solucionado tratando-se periodicamente o solo, ou forçando
os animais a deglutir uma pastilha de cobalto. Este
permanece no rúmen e lentamente é dissolvido, tornando o
elemento disponível para o animal (às vezes os animais
também são levados a engolir um parafuso metálico. Este
também permanece no rúmen e sua finalidade é remover
qualquer revestimento que se forme sobre a pastilha de
cobalto. A pastilha é recuperada e reaproveitada quando os Figura 25.8 — Estrutura do ÍRh1O(CH3COO)6(H2O)1]*
animais são abatidos). Grandes quantidades de cobalto
Os íons Rh( + III) e Ir( + III) formam acetatos básicos
parecem ser prejudiciais à saúde. Pequenas quantidades de
do tipo [Rh3O(CH3COO)6L3]+ , com estruturas bastante
cobalto (1 a 1,5 ppm) são adicionados à cerveja para
incomuns. Os átomos de Rh formam um triângulo com um
melhorar a formação de espuma. Essa prática tem sido
átomo de O no centro. Os seis grupos acetato atuam como
associada com uma maior taxa de ataques cardíacos, entre
ligantes pontes entre os átomos de Rh — dois grupos acetato
os consumidores de grandes quantidades de cerveja que
ao longo de cada aresta do triângulo. Assim, cada átomo de
apresentam um quadro de deficiência alimentar de proteínas
Rh está ligado a quatro grupos acetato e ao 0 central, sendo
ou de tiamina.
a sexta posição do octaedro ocupada por uma molécula de
Todos os haletos RhX3 e IrX3 (+ III) são conhecidos. água ou de outro ligante. O momento magnético é pequeno
RhF3 é preparado por fluoração do RhCl3, IrF3 por redução por causa do emparelhamento parcial dos elétrons d dos
do IrF6 com Ir, e os demais por reação direta entre os três átomos metálicos, devido à formação de ligações dn-jm
elementos. Todos são insolúveis em água, inertes e, envolvendo o oxigênio central. Esse tipo de carboxilato
provavelmente, são sólidos lamelares. O oxido, Rh2O3, é complexo também é formado pelos íons trivalentes de Cr,
obtido pela queima do metal ao ar. Ir2O3 só é obtido com Mn, Fe, Ru, Rh e Ir.
dificuldade, na forma do óxido hidratado, adicionando um
Diversos complexos com hidreto também são
álcali a uma solução de contendo íons Ir111, em atmosfera
conhecidos: [Rh(R3P)3 • (H) • Cl2]2 + , [Ir(R3P)3• H• Cl2]2*,
inerte, pois esse óxido facilmente se oxida a IrlvO2. Ao
[Ir(R3P)3• (H)2C1]4 + e [Ir(R3P)3 ■ H-3]s + . A redução dos
contrário das propriedades oxidantes do [Cohi(H2O)6]3 + , o
[Rhnl(H2O)6]3 + é um íon amarelo estável. complexos de Rh( + III) e IrC + III) leva à obtenção do metal,
ao passo que a redução dos compostos de Co( + III) fornece
Um número considerável de complexos de Rh( + III) e Co( + II).
Ir( + III) são conhecidos. Analogamente aos complexos de
Co( + III), eles são tipicamente octaédricos, estáveis, de spin
baixo e diamagnéticos. Podem ser citados os complexos COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
[RhCl6]3’, Rh(H2O)6]3+ e [Rh(NH3)6]3 +. Os complexos com DEOXIDAÇÃO ( + IV)
cloreto são obtidos aquecendo-se Rh ou Ir finamente O estado de oxidação (+ IV), normalmente, é o mais
divididos com cloro e um cloreto de um metal do Grupo 1. elevado do Co. A oxidação de soluções alcalinas de Co2’’
2Rh + ÓNaCl + 3C12 -> 2Na3[RhCl6] leva à formação de um produto não muito bem conhecido,
que supostamente é constituído por CoO2 hidratado, mas já
O complexo Na3[RhCl6] • 12H2O é vermelho, sendo 0 foi relatada a presença do complexo Ba2ColvO4.
composto de ródio mais conhecido. [Rh(H2O)5]3+ é obtido, 0 complexo castanho [(NH3)5Co,n-0-0-CoIII(NH3)s]1'
após aquecimento daquele composto em água até a ebulição, pode ser obtido, caso o catalisador de carvão ativado seja
mas Rh2O3H2O é obtido caso esse procedimento seja excluído do método de preparação do [Co(NH3)6]3+, por
realizado com solução de NaOH. O íon hidratado amarelo é meio da oxidação do Co2+ pelo ar. 0 sólido ou suas soluções
reconvertido no cloro complexo pela adição de HC1. Se em NH4OH concentrado são estáveis, mas pode ser oxidado
Rh2O3 ■ H20 for tratado com uma quantidade limitada de HC1, a um peroxo complexo verde, formalmente contendo
forma-se o complexo [RhCl3(H2O)3], mas com excesso de Co( + IV), por agentes oxidantes fortes como 0 persulfato.
ácido forma-se o [RhCl6]3". O composto [RhCl3- (H2O)3] é (S2O8)2'.
octaédrico, e deveria ser encontrado na forma de dois
isômeros diferentes: fac e mer (vide Fig. 7.3). [(NH3)5Col,l-O-O-CoII,(NH3)5)4+ °”da<5° >
Apenas um pequeno número de complexos não [ (NHj) 5Con,-0-0-Colv(NH3)s]s *
octaédricos, por exemplo [RhBrs]2" e [RhBr7]4“, são
conhecidos. Ligações metal-metal foram encontrados em O momento magnético desse complexo verde é da
alguns poucos complexos: ordem de 1,7 magnétons-Bohr, de acordo com a presença
de Co( + III) (configuração d6 de spin baixo, diamagnético)
[(R3As)3Rhln(HgCl)]+Cr contém ligação Rh-Hg e Co( + IV) (configuração d5 de spin baixo, um elétron
[Ir2Cl6(SnCl3)4]4- contém ligações Ir-Sn desemparelhado). Contudo, a ressonância eletrônica de spin
LEITURAS COMPLEMENTARES 405

indica que os dois átomos de Co são idênticos. Assim, o Rh( + VI) e Ir( + VI) somente ocorrem no RhF6 e IrF6,
elétron desemparelhado deve ser capaz de se mover ao longo que são obtidos pela reação direta entre os elementos.
da ponte peroxo e permanecer nos dois átomos do metal Nenhum deles é estável, embora o complexo do metal mais
por tempos iguais. pesado, IrF6, seja mais estável que RhF6.
São conhecidos diversos outros complexos binucleares,
que utilizam [-O-O-]2-, OH", NH2~, ou NH2’ como ligantes LEITURAS COMPLEMENTARES
pontes:
• Abel, E.W. e Stone, F.G. (1969, 1970) The chemistry of tran-
(azul) sition metal carbonyls, Q. Rev. Chem. Soc., Parte 1 -
[(NH3)5Co-nh2—Co(NH3)5]s +
Considerações estruturais, 23, 325; Parte II - Síntese e
nh2 reatividade, 24, 498.
• Allen, A.D. (1973) Complexes of dinitrogen, Chem Rev., 73,
[(NH3)4Co Co(NH3)4]3+ (marrom) 11.
O2 • Canterford, J . H. e Cotton, R. (1968) Halides ofthe Second
and Third Roív TYansition Elements, Wiley, London.
OH
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides of the First Row
l(NH3)4Co Co(NH3)4]' (vermelho) TYansition Elements, Wiley, London.
• Diatomic metais and metallic clusters (1980) (Conferência
OH do Faraday Symposia da Royal Society of Chemistry, Na 14),
0 estado (+ IV) é um dos estados de oxidação mais Royal Society of Chemistry, London.
estáveis do Ir, mas Rh( + lV) é instável e forma poucos • Emeléus, H.J. e Sharpe, A.G. (1973) Modem Aspects oflnor-
compostos. Ambos formam tetrafluoretos. RhF4 pode ser ganic Chemistry, 4a ed. (Cap. 14 e 15: Complexos de metais
obtido a partir de RhCl3 e BrF3. IrCl4 não é muito estável. de transição; Cap. 20: Carbonilas), Routledge and Kegan Paul,
Ir02 é obtido na queima do metal ao ar, mas RhO2 só pode London.
ser obtido pela oxidação enérgica de Rh( + III), em solução • Golding, B.T. (1983) Cobalt and vitamin Bu, Education in
alcalina, por exemplo, com bismutato de sódio. O ródio forma Chemistry, 20, 204-207.
apenas poucos complexos, como K2[RhF6] e K2[RhCl6], mas • Griffith, W. P. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry,
estes reagem com água, gerando O2 e eventualmente RhO2. Vol. 4 (Cap. 46: Carbonilas, cianetos, isocianetos e nitrosilas),
0 indio forma vários complexos com haletos e água, tais co­ Pergatnon Press, Oxford.
mo [lrCl6]2-, [IrCl3(H2O)3]+, [IrCl4(H2O)2] e [IrCl5■ (H2O)]". • Johnson, B.F.G. (1976) The structures of simple binary car­
0 complexo com oxalato, [Ir(oxalato)3]2’, pode ser resolvido bonyls, JCS Chem. Comrnun., 211-213.
nos isômeros ópticos d e l. • Johnson, B.F.G. (ed.) (1980) TYansition Metal Clusters, John
Wiley, Chichester.
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NOS • Levason , W . e McAuliffe, C.A. (1974) Higher oxidation
ESTADOS DE OXIDAÇÃO ( + V) E ( + VI) State chemistry of iron, cobalt and nickel, Coordi.naJ.ion Chem.
Rev., 12, 151-184.
Compostos de Co( + V) não podem ser obtidos, em
condições normais. Rh( +V) e lr( + V) são encontrados nos • Lewis, J. e Green, M.L. (eds) (1983) Metal Clusters in Chem­
pentafluoretos (RhF5)4 e (IrF5)4. São compostos muito istry (Anais do Royal Society Discussion Meeting, maio de
reativos e são facilmente hidrolisados. São constituídos por 1982), The Society, London.
unidades tetraméricas com pontes M-F-M, semelhantes às • Nicholls, D. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol.
que ocorrem nos análogos de Nb, Ta, Mo, Ru e Os (Fig. 3 (Cap. 41: Cobalto), Pergamon Press, Oxford.
21.1). Os únicos complexos conhecidos são Cs[RhF6] e • Phipps, D.A. (1976) Metals and Metabolism, Oxford Univer-
Cs[IrF6]_ sity Press, Oxford.
406

Grupo 10
0 GRUPO DO IJÍGURL
INTRODUÇÃO
O níquel é moderadamente abundante e produzido em Tabela 26.2 — Abundância dos elementos na crosta
grandes quantidades. É utilizado para a preparação de várias terrestre, em peso
ligas, tanto ferrosas como não-ferrosas. Nos compostos Ordem de
Elemento ppm
simples é predominantemente iônico e divalente. Também abundância relativa
é encontrado na forma de Ni( + II) na maioria de seus
complexos, que geralmente são quadrado planares ou Ni 99 22?
octaédricos. Paládio e platina são metais raros e caros. São Pd 0,015 69?
metais nobres e não muito reativos, mas um pouco mais Pt 0,01 70?
reativos que os demais metais do grupo da platina. Ambos
são usados como catalisadores. Os elementos são mais incluem a garnierita, um silicato de magnésio e níquel, de
comumente encontrados na forma de Pd ( + 11), Pt( + II) e composição variável, (Mg,Ni)6 Si4O10(OH)8, e a limonita
Pt( + IV). Eles não formam compostos iônicos simples. niquelífera, (Fe,Ni)O(OH)(H2O)n. Os minérios extraídos em
1992 continham cerca de 850.000 toneladas de níquel. Os
OCORRÊNCIA, OBTENÇÃO E USOS principais produtores de minérios foram: Canadá 23%, ex-
URSS 21% e Nova Caledônia 12%.
Níquel
A obtenção do níquel a partir de seus minérios é
O níquel é o vigésimo-segundo elemento mais
dificultada pela presença de outros metais. Minérios do grupo
abundante em peso na crosta terrestre. Os minérios de níquel dos sulfetos são hoje a principal fonte de níquel. 0 minério
de importância comercial são: sulfetos, que geralmente estão é concentrado por flotação e por métodos magnéticos, e a
misturados com sulfetos de Fe ou Cu, e depósitos aluviais seguir aquecido com SiO2. FeS se decompõe a FeO, que reage
de silicatos e óxidos/hidróxidos. O minério mais importante com SiO2 formando a escória de FeSiOj, que pode ser
é a pentlandita, (Fe,Ni)9S8, que sempre apresenta uma facilmente removida. A mistura de sulfetos é esfriada
proporção de Fe:Ni de 1:1. Geralmente, ocorre associado lentamente, de modo a gerar uma camada prateada supe­
com uma forma de FeS denominada pirrotita — ambos têm rior de Cu2S e uma camada preta inferior de Ni2S3, que pode
cor de bronze e são encontrados na ex-URSS, Canadá e África ser separada mecanicamente (também se forma uma
do Sul. Diversos outros minérios do grupo dos sulfetos e pequena quantidade de uma liga de Cu/Ni. Ela dissolve todos
dos arsenetos, tais como millerita, NiS, nicolita, NiAs, e a os metais do grupo da platina eventualmente presentes,
pirita arsenical de níquel, NiAsS, já foram importantes, mas sendo usada como fonte desses elementos raros e caros).
atualmente são pouco usados. Depósitos aluviais importantes Ni2S3 é, então, aquecido com ar e convertido em NiO. Este
último pode ser utilizado diretamente na
Tabela 26.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação manufatura do aço, ou pode ser
reduzido ao metal pelo carbono, num
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* forno. O metal é fundido, transformado
em placas, e purificado por eletrólise,
Níquel Ni [Ar] 3^4? 0 (I) II (ni) (IV) numa solução aquosa de NiSO4.
Paládio Pd [Kr] 4d'° 0 <i)? li iv
Platina Pt [Xe] tf* Sr^ós 1 0 (D n (in>? iv (V) (vi) O processo Mond é um método
alternativo para produzir Ni de elevada
' Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados pureza. Esse método foi patenteado por
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo L. , Mond
,. ’. utilizado
.... < no sul do País de
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são dados entre parênteses. Mond ee utilizado no sul
OCORRÊNCIA, OBTENÇÃO E USOS 407

Gales de 1899 até 1970. NiO e “gás d’água” (H2 e CO) são de 100 toneladas dos quais era platina. Embora o Pd seja
aquecidos à 50 °C, à pressão atmosférica. O H2 reduz NiO a um pouco mais abundante que a Pt, a produção de Pt é
Ni, que por sua vez reage com CO formando o complexo maior que a de Pd. Os principais produtores foram: África
volátil (tetracarbonil)níquel, Ni(CO)4 (este é muito tóxico e do Sul 54%, ex-URSS 37% e Canadá 4%. As jazidas sul-
inflamável). Todas as impurezas permanecem no estado africanas contêm mais Pt que Pd, mas nas jazidas da ex-
sólido. Quando o gás é aquecido a 230 °C, se decompõe URSS é o contrário.
formando o metal Ni puro e CO, que é reciclado. Uma fábrica Os metais do grupo da platina ocorrem em pequenas
recém construída no Canadá utiliza CO e metal impuro, mas quantidades, associados aos minérios de Cu e Ni, do grupo
opera a 150 °C e 20 atmosferas de pressão, na etapa de dos sulfetos. São obtidos na forma concentrada no lodo
obtenção do Ni(CO)4. anódico, resultante dos processos de refino eletrolítico dos
SO'C 23O'C
principais metais do minério. Os metais do grupo da platina
Ni + 4C0 ■> Ni(C0)4 -> Ni + 4CO também são obtidos a partir da liga Cu/Ni, produzida na
(processo Mond) separação da mistura de Cu2S e Ni2S3 no processo de
extração do níquel descrito acima. A separação dos metais
Minérios de níquel do grupo dos silicatos, como a do grupo da platina é um processo complexo, mas nas
garnierita, são misturados com gesso (CaSO4) e fundidos na últimas etapas os complexos (NH4)2[PtCl6j e [Pd(NH3)2Cl2]
presença de coque. Os silicatos formam uma escória de são submetidos a um tratamento térmico para se obter os
CaSiO3, e o níquel forma uma mistura de sulfetos, que é respectivos metais. Os metais são obtidos na forma de pó
tratado pelo método descrito acima. ou sólidos esponjosos, que são convertidos nos objetos
A maior parte da produção de níquel é utilizada na sólidos por sintetização.
fabricação de ligas ferrosas e não-ferrosas. O níquel melhora Aproximadamente um terço da produção de Pt é usado
a resistência mecânica e química do aço. Em 1991, foram na manufatura de jóias, um terço na indústria automobilística
produzidas 569.000 toneladas de liga ferro-níquel. O aço e um terço em aplicações industriais e financeiras. Pt tem
inoxidável pode conter de 12 a 15% de Ni, e o aço para sido usada em joalheria desde centenas de anos antes de
cutelaria contém 20% de Cr e 10% de Ni. ímãs permanentes Cristo. Os primeiros foram os egípcios e os povos primitivos
muito fortes são fabricadas com a liga de aço “alnico". O do Peru e do Equador. Hoje em dia, ela é freqüêntemente
metal-monel é muito resistente à corrosão e é usado em usada na montagem de anéis de diamantes e outras jóias.
equipamentos que entram em contato com F2 e outros Assemelha-se à prata e já foi denominada “ouro branco".
fluoretos corrosivos. Essa liga contém 68% de Ni, 32% de Atualmente, esse termo é usado para designar uma liga de
Cu, além de pequenas quantidades de Fe e Mn. Diversas Pd/Au, o que cria certa confusão.
ligas não-ferrosas são importantes. As ligas da série Uma aplicação recente e crescente da Pt é na confecção
“nimônica” (75% de Ni, com Cr, Co, Al e Ti) são usadas em dos “conversores catalíticos de três vias”. Esses "catalisado­
turbinas e motores a jato, onde resistem a elevadas tensões res" são usados nos carros modernos para reduzir a poluição
e temperaturas. As aplicações de outras ligas, como o provocada pelos gases de escape. Os catalisadores exigem o
“hastelloy C”, se deve à sua elevada resistência à corrosão. uso de gasolina isenta de chumbo. O principal componente
0 “nicromo” contém 60% de Ni e 40% de Cr e é usado na do catalisador é um peça de cerâmica constituída por peque­
fabricação das resistências de aquecedores elétricos. O cupro- nos tubos (colméia), revestido com Pt, Pd e Rh. Os gases de
níquel (80% de Cu e 20% de Ni) é usado na fabricação de escape do motor passam através da colméia a cerca de 300
moedas de “prata". A liga conhecida como “prata alemã” °C. Durante o trajeto, os metais nobres convertem os hidro-
contém aproximadamente 60% de Cu, 20% de Ni e 20% de carbonetos remanescentes, o CO e os óxidos de nitrogênio
Zn. Ela é usada na fabricação de imitações de artigos de nos compostos inofensivos CO2 e N2 (gasolina contendo
prata, podendo ser eletrodepositada sobre outros metais. Seu Pb(Et)4 não pode ser utilizada, pois o chumbo envenena o
nome (“prata alemã”) confunde, pois essa liga não contém “catalisador”).
prata. Géralmente, o aço recebe um revestimento de níquel, Tanto Rh como Pt são extensivamente empregados na
por eletrodeposição, antes da cromação. O níquel também é química como catalisadores. PdCl2 é usado no Processo
utilizado em acumuladores de Ni/Fe, que têm a vantagem Wacker de conversão de C2H4 (eteno) a CH3CHO (etanal).
de poderem ser carregados rapidamente, sem provocar danos Pd é usado em reações de hidrogenação, como a de fenol a
às placas da bateria. Pequenas quantidades de níquel ciclohexanona, e também em reações de desidrogenação. A
finamente dividido (Ni Raney) são empregadas em muitos platina é muito importante como catalisador na indústria
processos de redução. Pode ser citado como exemplo a petroquímica, na “reforma" de hidrocarbonetos. Pt/PtO é o
fabricação de hexametilenodiamina, a obtenção de H2 a partir catalisador de Adams para reduções. Pt já foi usado como
de NH3 e a redução de antraquinona a antraquinol no catalisador no Processo de Contato, de fabricação de H2SO4
processo de fabricação de H2O2. (para converter SO2 em SO3). Atualmente, V2O5 é usado como
catalisador, porque é mais barato e menos susceptível ao
Paládio e platina envenenamento. No passado, uma liga Pt/Rh foi usada na
Pd e Pt são elementos raros, embora sejam bem mais oxidação de NH3 a NO, no processo Ostwald de fabricação
abundantes que os demais metais do grupo da platina (Ru, de HNO3.
0s, Rh e Ir). Em 1992, a produção mundial de todos os seis No laboratório, cadinhos de platina são às vezes
metais do grupo da platina foi de apenas 281 toneladas, cerca utilizados. Pt também é empregado em equipamentos para
408 BRUPO 10 — 0 BRUPO □□ NlQUEL

o manuseio de HF. Pt pode ser soldada ao vidro de sódio, Tabela 26.4 — Algumas propriedades físicas
para fazer conexões elétricas com esse material. Isso é
importante na fabricação de eletrodos, válvulas termo- Raio Raio iânico Ponto de Ponto de Densidade Eletrone-
iônicas, etc. O vidro de sódio e a platina tem quase o mesmo covalente M2* MJ* fusão ebulição gativkla-
coeficiente de expansão, e ele não quebra ao esfriar. (Â) (A) fC) CC)
CO (gem-3) dei
Panling

ESTADOS DE OXIDAÇÃO Ni 1,15 0,69 0,60" 1.455 2.920 8,91 1.8


O elemento Ni pode ser encontrados nos estados de 0,56b
oxidação de (-1) a (+ IV), mas sua química é dominada pelo Pd 1,28 0,86 0,76 1.552 2.940 11,99 2,2
Pt 1,29 0,80 1.769 4.170 21,41 2,2
Ni( + II). Os íons [Ni(H2O)6]2 + são verdes e estáveis em
solução e em muitos compostos simples. O Ni( + II) também a = valor de spin alto; b = valor de spin baixo
forma muitos complexos, que geralmente são quadrado-
planares ou octaédricos. Os elementos nos estados de metais mais reativos, para formar uma película protetora.
oxidação mais elevados são instáveis. Contudo, ele perde o brilho quando aquecido ao ar. 0 níquel
de Raney é uma forma finamente dividida de Ni, usado como
Para o Pd, o estado de oxidação ( + 11) é o mais impor­ catalisador. É facilmente oxidado pelo ar e pirofórico. Níquel
tante, ocorrendo nos íons hidratados [Pd(H2O)4]2 + e em aquecido ao rubro reage com vapor d’água.
complexos. O elemento Pt não forma íons hidratados. Tanto
Pt( + II) como Pt( + IV) são importantes, mas Hão formam O níquel se dissolve rapidamente em ácidos diluídos, ori­
compostos iônicos simples. Os complexos com Pt( + II) são ginando o íon hidratado [Ni(H2O)6]2 + e H2. Como Fe e o Co,
quadrado-planares e os complexos com Pt( + IV) são torna-se passivo quanto tratado com HNO3 concentrado e
octaédricos. água-régia. Pd e Pt são mais “nobres" (menos reativos) que
Ni, mas são mais reativos que os demais elementos do grupo
Os três elementos, no estado de valência zero, formam da platina. Pd se dissolve lentamente em HC1 concentrado,
complexos com ligantes receptores rt, como o CO. O estado na presença de O2 ou Cl2; e com relativa rapidez em HNO3
de oxidação máximo (+ VI) só é observado no PtF6, e Pt (+ V) concentrado, formando [Pdlv(NO3)2(OH)2]. Pt é mais
ocorre no [PtFs]O estado de oxidação mais alto conhecido resistente frente a ácidos, mas se dissolve em água-régia,
do Ni e do Pd é (+ IV), no NiF4 e no PdF4. O composto PdF3 formando ácido cloroplatínico, H2[PtCl6] (vide Tab. 26.5).
não contém Pd111, mas é na realidade Pd2 + [PdIVF6]2-. Os
óxidos e haletos conhecidos são mostrados na Tab. 26.3. O níquel não reage com soluções alcalinas e por isso é
empregado nos equipamentos destinados à fabricação de
NaOH. Pd e Pt reagem rapidamente com óxidos e peróxidos
PROPRIEDADES GERAIS fundidos de metais alcalinos, por exemplo Na20 e Na2O2.
Ni é um metal branco prateado, enquanto Pd e Pt são Ni reage com os halogênios mediante aquecimento.
cinza esbranquiçados. Os três elementos são inertes na forma Reage apenas lentamente com flúor. Por isso, o níquel e
maciça, não perdem o brilho e não reagem com o ar ou com ligas como o metal-monel são empregados nos equipamentos
a água, à temperatura ambiente. para o manuseio de F2 e de fluoretos corrosivos. Ni também
O níquel é muitas vezes eletrodepositado sobre outros reage com S, P, Si e B, quando aquecido. Pd aquecido ao
rubro reage com F2, Cl2 e O2. Pt é menos reativa, mas reage
com F2 quando aquecida ao rubro. A elevadas temperaturas
Tabela 263 — Óxidos e haletos
e pressões, também reage com O2.
Estados de oxidação Os três metais absorvem H2 gasoso. A quantidade de
gás absorvida depende do estado físico do metal. Mas, Pd é
(+11) (+in) (+IV) (+V) (+VI) Outros capaz de absorver grandes volumes de H2, mais que qualquer
outro metal. Quando Pd aquecido ao rubro é esfriado na
NiO (Ni2O3)h NiO2h presença de H2, ele pode absorver um volume desse gás 935
PdO (PdO2)h
(PtO)h (Pt2O3)h PtO2 (PtO3)h Pt3O4
NiF2 Tabela 26.5 — Algumas reações do Ni, Pd e Pt
NíCI2
NiBr2 Reagente Ni Pd Pt
Nil2
PdF2 Pd[PdF6] PdF4 02 NiO PdO quando aque­ PtO a alta tempera­
PdCl2 cido ao rubro tura e pressão
PdBr2 F2 NíF2 Pd"(Pd,vF6] PtF, quando aqueci­
Pdl2 a500‘C do ao rubro
PtF4 (PtF5)4 PtF6 Cl2 NiCl2 PdCl2 PtCl2
PtCl2 PtCl3? PtCl4 h2o Não reage Não reage Não reage
PtBr2 PtBr3? PtBr4 HCIouHNOj Ni2+ + H2 Dissolve-se muito Não reage
Ptl2 Ptl3? Ptl4 diluídos lentamente
HNO3 conc. Passivo Dissolução Não reage
Os compostos com os estados de oxidação mais estáveis estão representados Água régia Passivo Dissolução HjlPtCU
em negrito; os instáveis entre parênteses, h = óxido hidratado
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIDAÇÃO l-i-lll 409

vezes maior que seu próprio volume. O hidrogênio é móvel a) b)


e se difunde através do retículo cristalino do metal. A
condutividade do metal diminui à medida que H2 é absor­
vido. 0 gás hidrogênio absorvido pode ser novamente libe­
rado mediante aquecimento. Outros gases, inclusive He, não
FTF~le° dX’V

são absorvidos, e esse processo é utilizado para purificar H2.


PtC + II) e Pt( + IV) formam um número extremamente
grande de complexos (Co e Pt são os elementos que formam
o maior número de complexos).

COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NOS


ESTADOS DE OXIDAÇÃO (-1), (0) E ( +1) Figura 26.1 — Arranjo ds em campos octaédricos a) fraco e b) forte
0 íon Ni(-I) é encontrado no ânion complexo
[Ní2(CO)6]2’.
simples de Ni2 + é conhecido. Nessa classe podem ser incluí­
dos todos os haletos, óxidos, sulfetos, selenetos e teluretos;
Os três metais podem ser encontrados no estado de os sais de todos os ácidos comuns e mesmo de alguns menos
valência zero. [Ni°(CO)4] é obtido quando Ni é aquecido na estáveis, como o NiCO3, e sais de íons oxidantes, como o
presença de CO. Sua formação e subseqüente pirólise eram Ni(ClO4)2. O íon hidratado [Ni(H2O)6]2 + dá origem à cor
importantes no Processo Mond de purificação do níquel. verde característica de muitos sais hidratados de níquel.
Embora o processo original tenha se tomado obsoleto na Muitos sais anidros de Ni são amarelos. Sais duplos são
década de 1970, um processo modificado ainda é usado no formados com metais alcalinos e NH4*, por exemplo
Canadá. [Ni(CO)4] é provavelmente o complexo de CO mais NiSO4(NH4)2SO4 ■ 6H2O. Esses sais são isomorfos aos
conhecido, mas sua estabilidade é bem menor que a dos correspondentes sais de Fe2*, Co2+ e de Mg2*.
complexos carbomlicos dos metais de transição dos grupos Embora a química do Ni seja relativamente simples pela
anteriores. A molécula de [Ni(C0)4] é tetraédrica, o composto predominância do elemento no estado de oxidação (+ II), A
é volátil, muito tóxico, facilmente oxidável e inflamável. química do NiC + II) em complexos é bem mais complicada.
Também são conhecidos o derivado de fosfina, [Ni°(PF3)4], Geralmente, seus complexos são octaédricos e quadrado
e compostos mistos, como [Ni(CO)2(PF3)2]. A redução de planares, mas também são conhecidos alguns complexos
[Ni"(CN)4]2- com potássio, em amônia líquida, forma com estruturas tetraédricas, bipirâmides trigonais e pirâmides
K4[Ni°(CN)4], enquanto que a redução com sulfato de de base quadrada. Os complexos de Pd( + II) e PtC + II) são
hidrazina em meio aquoso leva à formação de ^[Ni^tCNjj]. todos quadrado planares.
Pd e Pt não formam complexos carbonílicos simples como Os complexos formados com amônia [Ni(NH3)6]2*,
[Ni(CO)4], mas formam complexos com fosfina, tais como
[Ni(H2O)4(NH3)2]2*, e o complexo com etilenodiamina,
[Pt°(PPh3)4] e [Pt°(PPh3)3]:
[Ni(etilenodiamina)3]2*, são todos octaédricos. Esses com­
ZKjIP^CLi] + N2H4 + 8PPh3 - E— plexos octaédricos geralmente são azuis e paratnagnéticos,
já que os íons d8 apresentam dois elétrons desemparelhados
2[Pt°(PPh3)4] + 4KC1 + 4HC1 + N2 (Fig. 26.1a). Em complexos com ligantes de campo forte,
Os complexos [Pd°(CO)(PPH3)3] e [Pt°(CO)2(PPh3)2] como CN’, os elétrons são forçados a se emparelharem,
também são conhecidos. O ligante CO é um doador a fraco, gerando complexos quadrado planares diamagnéticos, como
mas um receptor rt forte. Comparado com o CO, o PPh3 é [Ni(CN)4]2- (Fig. 26.1b).
um doador a mais forte e um receptor tt mais fraco. O fato O complexo vermelho que precipita na reação entre Ni2 *
de complexos simples de Pd e Pt com CO serem desco­ e dimetilglioxima, a partir de uma solução levemente
nhecidos sugere que esses metais possuem menor tendência amoniacal, também é quadrado-planar. Contudo, no estado
a formar ligações ir que o Ni. A coordenação de ligantes sólido, as moléculas quadrado-planares estão empilhadas
doadores a como os haletos inverte a situação. Assim, umas sobre as outras, ocorrendo uma interação Ni-Ni. A
[Pt"(CO)2Cl2] é estável, [Pdn(CO)2Cl2] não é muito estável, distância Ni-Ni é de 3,25 Â. Esse foi um dos primeiros
e o análogo de níquel é desconhecido. [Ni(C0)4] é reduzido exemplos conhecidos de ligação metal-metal, de modo que
pelo sódio, em amônia líquida, formando o carbonil-hidreto no sólido o Ni deveria ser considerado como tendo
[{Ni(CO)3H}2]-4(NH3). Ele é um composto dimérico coordenação octaédrica, ao invés de quadrado-planar. A
vermelho. A redução também pode levar à formação de clus- formação desse complexo é usada tanto para a detecção como
ters como [Ni5(CO)12]2“ e' [Ni6(CO)I2]2~. Uma série de clus- para a determinação quantitativa de níquel. A molécula de
ters como [Pt3(CO)6]n2~ são formados pela redução de dimetilglioxima perde um próton e forma um complexo
[PtCl6]2- em solução alcalina, sob atmosfera de CO. Até o estável. O complexo é estabilizado pela formação de dois
momento, compostos análogos de Pd não foram obtidos. anéis quelatos de cinco membros, e também pela formação
de ligações de hidrogênio intramoleculares, indicadas na Fig.
26.2 por linhas pontilhadas.
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
Os complexos quadrado-planares são geralmente
DE OXIDAÇÃO ( + II) vermelhos, marrons ou amarelos. Os fatores que levam à
0 estado de oxidação (+ II) é o muito importante para formação de complexos quadrado-planares foram discutidos
os três elementos. Uma grande variedade de compostos com maiores detalhes no Capítulo 7.
410 BRUPQ 10 — 0 BRUPQ □□ NlUUEL

•OH 0—HO

ch3—c=n CH3—C=N N=C-CH3

2 + Ni2* Ni +2H*

CH3—C=N CHj—C=N n=c-ch3


■OH a(PdCI2)„ PtPdCy,
OH—-O

Figura 26.4 — As estruturas de a-PdCl2 e de $-PdCl2


Figura 26.2 — O complexo entre níquel e dimetilglioxima
a-PdCl2 é um sólido vermelho escuro, enquanto quea-
Diversos complexos tetraédricos de Ni( + II) são PtCl2 é verde oliva. O primeiro exibe uma estrutura em
conhecidos. Geralmente, eles contêm haletos como ligantes, cadeia, plana e polimérica (Fig. 26.4a), na qual os átomos
bem como fosfina, fosfinóxido ou arsina. Podem ser citados de Pd estão num arranjo quadrado-planar. É higroscópico e
como exemplos [Ph4As]2 + [NiCl4]2’, [ (Ph3P)2NiCl2] e
solúvel em água. A estrutura do a-PtCl2 não é conhecida, se
[(Ph3AsO)2NiBr2]. Esses complexos têm uma intensa colo­
dissolve em HC1 formando íons [PtCl4]2', mas é insolúvel
ração azul característica e podem ser facilmente distinguidos
em água.
dos complexos quadrado-planares pela cor e pelo fato de
serem paramagnéticos (Fig. 26.3). As formas 0 do PdCl2 e do PtCl2 têm uma estrutura
molecular bastante rara, baseada em unidades Pd6Cl12 ou
Quando cianeto de níquel é cristalizado de uma mistura
Pt6Cl12, respectivamente. Sua estrutura pode ser descrita
contendo amônia e benzeno, o cianeto de (amin)benze-
noníquel é formado. As moléculas de benzeno não estão considerando-se que o metal se encontra num ambiente
ligadas ao metal, mas estão retidas no retículo do cristal. quadrado-planar, ligado a quatro átomos de Cl, mas seis
Tais compostos são denominados clatratos, e outras molé­ dessas unidades estão interligadas por pontes de halogênio
culas de tamanho semelhante podem ser aprisionados de (Fig. 26.4b). É uma estrutura muito similar a do cluster
maneira parecida. [Nb6Cl12]2 +, mostrado na Fig. 21.4. Nesse composto, os seis
átomos de Nb formavam um agregado octaédrico com
Os íons Pd(-t-II) e Pt( + II) formam óxidos, haletos,
átomos de halogênio em ponte, nas doze arestas. 0-PdCl> é
nitratos e sulfatos. Os sólidos anidros geralmente não são
solúvel em benzeno e retém sua estrutura. Apesar da
iônicos. PdO pode ser obtido na forma anidra, mas PtO só é
semelhança estrutural, o 0-PdCl2 parece ser covalente e
conhecido como um óxido hidratado instável. Todos os di-
estabilizado, principalmente, pelos átomos de halogênio em
haletos MX2, exceto o PtF2, são conhecidos. Ao contrário
ponte, e não pelas ligações metal-metal, como no
dos demais haletos, o PdF2 é iônico. O íon Pd2+ tem
[Nb6Cl12]2 + .
configuração dB e é paramagnético. O complexo [Pd(H2O)4]2+
é formado em solução aquosa e é diamagnético. Como nesse Uma reação importante ocorre entre PdCl2 e alcenos,
complexo todos os elétrons estão emparelhados, supõe-se formando, por exemplo com o eteno, complexos como
que tenha uma estrutura quadrado-planar. Todos os [Pd(C2H4)Cl3J-, [Pd(C2H4)2Cl2]2 e [Pd(C2H4)2Cl2].
complexos de Pd( + II) e Pt( + II) são diamagnéticos. O íon
paramagnético [PdCl4]2-é formado em ácido clorídrico. Todos Cl Cl c2h4 Cl Cl C2H4 Cl
os demais dihaletos são moleculares ou poliméricos, e \ ,/ \, / \. / \ /
diamagnéticos. PdCl2 e PtCl2 podem ser obtidos a partir dos Pd Pd Pd Pd
elementos, e ambos podem ser obtido nas formas a e 0, / '\ /
’ \
/ \ / \
Cl c2h4J Cl Cl C2H4 ci c,h4J
dependendo das condições experimentais utilizadas. Os
complexos na forma formas a são os mais comuns. São conhecidos compostos análogos de Pt, como o sal
>S50'C de Zeise, K[Pt(C2H4)Cl3] H20, que forma cristais amarelos
Pd + Cl a-(PdCI2)„ e é conhecido desde 1825. A estrutura desses complexos
lento
com alcenos é pouco comum. No sal de Zeise, o íon
I
0-(PdCl2).
[Pt (C2H4) Cl3] ‘ é essencialmente quadrado planar, com três
vértices ocupados por átomos de cloro e H2C = CH2 no vértice
remanescente. Contudo, a molécula de H2C = CH2 é perpen­
dicular ao plano formado pelo PtCl3, e os dois átomos deC
tlt t estão quase equidistantes do átomo de Pt (as distâncias Pt-

CH-

tltl
Figura 26.3 — Arranjo de num campo tetraédrico Figura 26.5 — Sal de Zeise: [Pt(rf-C2Ht)(Cl)3F
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIDAÇAD [->-11] 411

C são de 2,128 A e 2,135 A). A distância OCno complexo uma estrutura pouco usual, contendo um triângulo de três
é de 1,375 A, enquanto que a distância C = C no eteno é de átomos de Pd, unidos por seis grupos acetato atuando como
1,337 A e a distância C-C no etano é de 1,54 A. Nota-se que ligantes ponte.
a ligação C = C no complexo se tornou um pouco mais longa. PdCl2 catalisa a reação entre H2C - CH2, CO e H2O:
A dupla ligação ocupa um sítio de coordenação e não um
átomo de C isolado, de modo que o C2H4 atua como um CH2 = CH2 + CO + H2 -> CH3CH2COOH
ligante diháptico. Assim, o complexo deveria ser representado No sal de Magnus, [Pt(NH3)4]2+ [PtCl4]2-, de cor verde,
como K[Pt(n2-C2H4)Cl3] ■ H2O. os ânions e cátions quadrado planares estão empilhados uns
A ligação formada nesses complexos com alcenos não sobre os outros. Essa estrutura também ocorre em outros
era perfeitamente entendida até 1951, quando Dewar sugeriu complexos, como [Pd(NH3)4]2+[Pd(SCN)4]2' e
que a ligação rt doa elétrons para um orbital o vazio do [Cu(NH3)4]2+ [PtCl4]2’. Os átomos metálicos de unidades
metal, em vez de se ligar a apenas um dos átomo de C da adjacentes podem interagir uns com os outros, formando
dupla ligação. Essa idéia foi ampliada por Chatt, em 1953. ligações metal-metal fracas. Uma evidência disso é a cor do
Assim, atualmente supõe-se que a ligação pode ser complexo: se o ânion e o cátion contém Pt( + II) eles deveríam
subdividida em duas partes: ser individualmente incolores, amarelo pálido ou vermelho
1) Uma ligação dativa, na qual o par de elétrons do or­ claro, mas quando empilhados apresentam coloração verde
bital rt preenchido do eteno se combina com um orbital iridescente. Exibem também uma maior condutividade
híbrido vazio do metal, formando uma ligação o. elétrica. O complexo [Pt(etilenodiamina)Cl2] tem estrutura
semelhante (Fig. 26.6).
2) Ocorre também uma interação rt entre um orbital d
preenchido do metal e um orbital antiligante vazio do K2[Pt(CN)4]-3H2O é um complexo bem conhecido,
eteno. Essa ligação rt é uma ligação de retrodoação. A incolor e estável. No cristal, as unidades quadrado planares
maioria dos elementos de transição forma complexos [Pt(CN)4]2’ estão empilhadas umas sobre as outras, mas o
com alcenos. As exceções são alguns dos primeiros sólido não conduz a eletricidade. Contudo, a partir desse
elementos, pois os orbitais d não estão suficientemente complexo podem ser obtidos diversos outros compostos, que
preenchidos para permitir a ocorrência de interações conduzem a corrente elétrica em uma dimensão e sâo
de retrodoação. A extensão desse tipo de interação varia dicróicos (materiais dicróicos são materiais que apresentam
de um complexo para outro, mas pode ser avaliado pelo um índice de refração diferente em função da direção, de
comprimento da ligação C = C. modo que quando são observados de direções diferentes
exibem cores diferentes). Se esse composto for oxidado, será
Além do interesse teórico no estudo das ligações nesses possível obter compostos cor de bronze, deficientes em
complexos, alguns deles são importantes em diversos cátions, como K2[Pt(CN)4]Bro,3-3H20 e K2[Pt(CN)4]Cl0.3-
processos industriais. Complexos formados pela adição de 3H2O. Os orbitais dz2 preenchidos dos átomos de Pt interagem
eteno a PdCl2 são decompostos pela água, formando etanal formando uma banda deslocalizada ao longo da cadeia de
(acetaldeído): átomos de Pt. No K2[Pt(CN)4] • 3H2O essa banda está
preenchida; logo, esse material não conduz eletricidade. No
C2H4 + PdCl2 + H20 -» CH3CHO + Pd + 2HC1
K2[Pt(CN)4]Br0,3-3H2O, o bromo atua como receptor de
Essa reação é a base do Processo Wacker de fabricação de elétrons, removendo em média 0,3 elétron de cada unidade
acetaldeído. Pd é reconvertido em PdCI2 “in situ” pelo CuCl2: [Pt(CN)4]2’. Assim, a banda d2 está preenchida com cinco
sextos de sua capacidade, e o sólido conduz a eletricidade
Pd + 2CuC12 -» PdCl2 + 2CuC12 por um mecanismo de condução metálica em uma dimen­
são (Fig. 26.7). No K2[Pt(CN)4] • 3H2O a distância Pt-Pt é de
A solução contém HC1, e o CuCl2 é regenerado pela passagem 3,48 A, mas a forte interação dos orbitais d2 no
de um fluxo de O2: K2[Pt(CN)4]Br0-3-3H2O diminui a distância Pt-Pt para 2,8-
3,0 Â.
2CuCl + 2HC1 + ’/zO2 -> 2CuCI2 + H2O
Logo, a reação global é:

H2C = CH2 + i/2O2 —> CH3CHO


Esse procedimento pode ser utilizado industrialmente,
porque a reação entre Pd e CuCl2 é quantitativa, e o Cl
catalisador pode ser reciclado. Pequenas quantidades de Pd
devem ser adicionadas periodicamente para compensar even­ Cl
tuais perdas.
Caso propeno seja usado no lugar de eteno, o produto
da reação é a acetona. Essa reação também tem importância
industrial. Se a reação for efetuada em ácido acético, o eteno
é convertido em acetato de vinila. Embora esse não seja um
processo industrial por causa dos problemas de corrosão e
dificuldades na recuperação do catalisador, ele levou ao Figura 26.6 — ~Pilhas~ de moléculas quadmdo-planares de
estudo do acetato de paládio(II), [Pd(CH3COO)2]3. Este tem (Pt(etilenodiamina)ClJ
412 GRUPO 10 — 0 GRUPO DO NlOUEL

Uma aplicação muito importante de compostos de NH3


Br
Pt( + II) em medicina é o uso do isòmero cis do [Pt(NH3)2Cl2],
.Pt",
como uma droga anti-cancerígena, no tratamento de diversos
tipos de tumores malignos. O isòmero trans é inativo. O H3N' Br
Br
isòmero cis é conhecido como "cis-platina" e é muito tóxico. Br nh3
Quando injetado na corrente sangüínea, os grupos Cl mais
reativos se dissociam e o metal se liga a um átomo de N da H3N^ I Br
guanosina (parte da molécula de DNA). A molécula de "cis- Br
Br^ ; NH3
platina” pode ligar-se a dois resíduos diferentes de guanosina.
.Pi.
Ao se ligar dessa maneira, ela interrompe o processo de
reprodução normal do DNA. As células que estão prontas H3N' Br
Br
para a divisão celular são atacadas pela "cis-platina”. Os Br NH3
tumores geralmente crescem, mas as células da medula óssea
(que produz os glóbulos vermelhos e brancos do sangue) e H3N' Br
as células dos testículos (que produzem o esperma) também Br
estão se reproduzindo rapidamente e são atacadas pela droga.
Resultados dramáticos já foram obtidos, sendo que um
grande número de pacientes foram completamente curados.
Contudo, a aplicação desse medicamento deve satisfazer um Figura 26.8 — A estrutura do [Pt(NH3)2Br3]
equilíbrio delicado: deve-se administrar quantidade suficiente
são conhecidos. A oxidação de Ni(OH)2 com Br2, em meio
do medicamento para eliminar o tumor, mas não para
alcalino, leva à formação de Ni2O3 • 2H2O, um sólido preto.
inviabilizar a formação de um número suficiente de glóbulos
Este se decompõe a NiO no processo de desidratação. Se Ni
brancos, suficientes para defender o organismo do ataque
for fundido com NaOH, mantendo-se um fluxo de oxigênio
de bactérias e vírus.
através do material fundido, obtém-se niquelato(lll) de sódio,
Na[NiulO2], O elemento no estado de oxidação ( + III) pode
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO ser estabilizado em complexos. K3[NiF6] pode ser preparado
DE OXIDAÇÃO (+ III) por fluoração de NiCl2 e KC1, a altas temperaturas e pressões.
TYata-se de um sólido violeta, fortemente oxidante, que reage
Esse estado não é importante para a química de nenhum
com H2O liberando 02. A sua estrutura é octaédrica, mas
dos três elementos do grupo. Poucos compostos de Ni( + III) um pouco alongada, em decorrência da distorção provocada
pelo efeito Jahn-Teller, pois a configuração eletrônica do
metal é t2g6eg] e os orbitais estão assimetricamente preen­
chidos. 0 complexo [Ni,n(etilenodiamina)2Cl2]Cl também é
octaédrico. A estrutura do complexo [NiIII(PEt3)Br3] ébipi-
râmide trigonal.
Compostos de Pd( + III) são muito raros e há dúvidas
sobre a existência de compostos de Pt( + Ill). Óxidos
hidratados podem ter sido obtidos. Os complexos Na+ [PdF,]'
e NaK2[PdF6] foram descritos na literatura. 0 íon [PdF6]J"
apresenta duas ligações longas e quatro ligações curtas, como
esperado para um complexo octaédrico de spin baixo e
configuração eletrônica d7. Um sólido estável, que por muito
tempo foi tido como sendo PF3, pode ser obtido por meio do
aquecimento de Pd e F2. Todavia, estudos posteriores
mostraram que se trata do composto de valência mista
Pd2+[PdIVF6]2’, contendo Pd( + II) e Pd( + IV). Complexos
que aparentemente contêm Pt( + III), tais como [Ptfetileno-
diamina)Br3] e [Pt(NH3)2Br3], na realidade, são constituídos
por cadeias de unidades quadrado-planares de Pt( + ll)
alternadas com unidades octaédricas de Pt(+ IV) (Fig. 26.8).

COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO


DE OXIDAÇÃO (+ IV)
O íon Ni( + IV) é raro. O óxido hidratado pode ser obtida
reagindo Ni2+ com um oxidante forte, num álcali fundido.
O produto obtido é capaz de oxidar Mn2 + a MnO4 e
decompor a água. O complexo vermelho K2[Ni,vF6] é obtido
pela fluoração de NiCl2 na presença de KC1. É um oxidante
Figura 26.7 — A estrutura do K2lPt(CN)dBro3-3H2O forte que reage com a água liberando 02.
COMPARAÇÕES HORIZONTAIS NOS GRUPOS OO FERRO. COBALTO E NÍQUEL 413

PdO2 só é conhecido na forma hidratada. Em contraste, tetrâmero e tem uma estrutura similar a de muitos pentafluo-
PtO2 é o óxido mais estável da Pt e pode ser obtido tanto na retos de metais de transição (Fig. 21.1). O íon [PtF6]' também
forma anidra como hidratada. O óxido anidro é insolúvel, contém Pt( + V) e foi preparado pela primeira vez por meio
mas o óxido hidratado se dissolve em ácidos e álcalis. da reação entre PtF6 e O2, na qual foi obtido o composto
PdF4 é o único haleto de Pd conhecido, mas todos os O2+ [PtF6]“. Uma reação semelhante entre Xe e PtF6 foi
quatro haletos PtX4 da platina são conhecidos. A reação direta utilizada por Bartlett, em 1962. Este levou à formação de
de Pd com F2 leva à formação de PdF3 (na realidade Xe+ [PtF6]", o primeiro composto de um gás nobre a ser
Pd"[PdlvF6]) e PdF4, ao passo que a reação análoga com Pt sintetizado (verificou-se posteriormente que o composto era
forma PtF4, PtFs e PtF6. O PtCl4 é obtido pela reação direta na realidade [XeFJ * [Pt2Fn]”). Os únicos exemplos
entre os elementos, ou então pelo tratamento térmico de conhecidos de compostos dos elementos desse grupo no
H2[PtCl6], estado (+ VI) são PtO3 e PtF6.
água régia calor
Pt + H2[PtCl6] — PtCl4 + 2HC1 COMPARAÇÕES HORIZONTAIS NOS
Pd( + IV) é encontrado em alguns poucos complexos GRUPOS DO FERRO, COBALTO E NÍQUEL
octaédricos do tipo [PdX6]2”, onde X = F, Cl ou Br, e no Os metais ferrosos Fe, Co e Ni exibem similaridades
[PdX4(NH3)2j. Esses complexos são geralmente reativos. horizontais e diferem dos metais do grupo da platina por
[PdF6]2~ se hidrolisa rapidamente em água, enquanto que serem muito mais reativos. Nos metais ferrosos, a reatividade
os demais complexos com haletos são decompostos por água decresce do ferro para o cobalto, e deste para o níquel.
quente, gerando [PdIlX4]2- e o halogênio correspondente. Embora os estados de oxidação máximos sejam Fe( + VI),
Em contraste, Pt( + IV) é encontrado em inúmeros com­ Co( + IV) e Ni( + IV), estes elementos raramente excedem o
plexos octaédricos muito estáveis, tais como [Pt(NH3)6]4 + , estado de oxidação ( + 111). A tendência de formar íons
[Pt(NH3)5Cl]3 + , [Pt(NH3)4Cl2]2+... até [PtCl6]2”. São trivalentes decresce ao longo do período. Assim, Fe3 * é o
conhecidas outras séries de complexos análogos, com ligantes estado usual do ferro, mas Co3+ é um forte agente oxidante,
como F”, Cl“, Br", I”, OH”, acetilacetona, NO2”, SCN”, SeCN” a não ser quando complexado; e o Ni é divalente em todos
e CN”. Alguns desses complexos foram estudados por Werner, os seus compostos simples. Os elementos, nos estados de
nos primeiros estudos sobre compostos de coordenação (vide valência mais baixos, formam íons simples e são relati­
Capítulo 7). vamente abundantes.
0 composto de Pt comercialmente mais comum é o Os metais do grupo da platina (Ru, Rh, Pd, Os, Ir, e Pt)
ácido cloroplatínico. Ele se forma quando Pt esponjoso é são muito mais "nobres” que os metais ferrosos, e
dissolvido em água-régia, ou em HC1 saturado com Cl2. For­ praticamente não reagem com ácidos. A reatividade desses
mam-se cristais vermelhos de fórmula H2[PtCl6]-2H2O. Os metais aumenta na seqüência Ru < Rh < Pd, e na seqüência
sais de sódio ou potássio desse ácido são freqüentemente Os < Ir < Pt, ou seja, apresenta uma tendência oposta
usados como matéria-prima para a fabricação de outros àquela observada no grupo dos metais ferrosos. Os
compostos de Pt( + IV). O amianto platinizado é usado como halogênios reagem com os metais somente a elevadas
catalisador. É obtido impregnando-se o amianto com uma temperaturas, e geram compostos onde os metais estão nos
solução de ácido cloroplatínico, seguido do aquecimento forte seus estados de oxidação mais elevados, como OsF6, IrF6 e
do material obtido para decompor o complexo ao metal Pt. PtF6. Os elementos nos estados de oxidação mais baixos são
Com isso, uma pequena quantidade de Pt é espalhada por instáveis, exceto em complexos. Somente alguns poucos íons
uma superfície muito grande. simples são conhecidos. Por causa da contração lantanídica,
A “platina platinizada” ou “negro de platina" é freqüen­ os raios da segunda e terceira séries de elementos de transição
temente usada como eletrodo para medidas de condu- são muito semelhantes e seus volumes atômicos são quase
tividade. Ela é preparada pela eletrólise de uma solução iguais. Conseqüentemente, as densidades do Os, Ir, e Pt são
contendo o íon hexacloroplatinato, [PtCl6]2”. praticamente o dobro das densidades do Ru, Rh e Pd. Todos
A platina forma derivados alquilados quando reage com os seis elementos são raros.
um reagente de Grignard, o que não é muito comum: Tanto os metais ferrosos como os metais do grupo da
platina são elementos de transição típicos, e se caracterizam
4PtCL, + 12CH3MgI -> [(CH3)3Ptl]4 + 8MgCl2 + 4MgI2
por:
Há relatos sobre o complexo [(CH3)4Pt]4, mas estes eram
incorretos, e o composto formado é na realidade o D formarem compostos coloridos
[(CH3)3Pt(OH)]4. O sólido é constituído por unidades 2) terem valência variável
tetraméricas nas quais a Pt está hexacoordenada. A ligação 3) terem propriedades catalíticas
Pt-C é muito estável. Esses compostos organometálicos são 4) formarem compostos de coordenação
solúveis em solventes orgânicos.
As diferenças entre os dois grupos são:
1) tendência de aumento da estabilidade dos elementos
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NOS nos estados de oxidação superiores
ESTADOS DE OXIDAÇÃO (+ V) E ( + VI) 2) desaparecimento de formas iônicas simples
Somente Pt forma alguns poucos compostos nos quais 3) caráter “nobre" crescente
o elemento se encontra nesses estados de oxidação. O Essas são as tendências normalmente esperadas num
elemento no estado (+ V) é encontrado no PtFs, que é um grupo vertical.
414 GRUPO IP — O GRUPO 00 NÍQUEL

LEITURAS COMPLEMENTARES • Hartley, F. R. (1973) The Chemistry of Platinum and Palia-


dium, Applied Science Publishers, London.
• Abel, E. (1989) The Mond connection, Chemistry in Britain,
25, 1014-1016. (História do tetracarbonilníquel(O)) • Hunt, C. (1984) Platinum drugs in câncer chetnotherapy,
Education in Chemistry, 21, 111-115, 171.
• Abel, E.W. e Stone, F.G. (1969, 1970) The chemistry of tran-
sition metal carbonyls, Q. Rev. Chem. Soc., Parte I - • Levason, W. e McAuliffe, C.A. (1974) Higher oxidation State
Considerações estruturais, 23, 325; Parte II - Síntese e chemistry of iron, cobalt and nickel, Coordination Chem. Rev.,
reatividade, 24, 498. 12, 151-184.
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1968) Halides of the Second • Nicholls, D. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry,Vol
and Third Roui Thansition Elements, Wiley, London. 3 (Cap. 42: Níquel), Pergamon Press, Oxford.
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides ofthe First Row • Shaw, B.L. e TUcker, N.I. (1973) Comprehensive Inorganic
Transition Elements, Wiley, London. Chemistry, Vol. 4 (Cap. 53: Compostos organometálicos de
• Emeléus H.J. e Sharpe, A.G. (1973) Modem Aspects of Inor­ metais de transição e aspectos relativos a catalise
ganic Chemistry, 4? ed. (Cap. 14 e 15: Complexos de metais homogênea), Pergamon Press, Oxford.
de transição; Cap. 20: Carbonilas), Routledge and Kegan Paul, • Wiltshaw, E. (1979) Cisplatin in the treatment of câncer, Plati­
London. num Metals Rev., 23, 90-98.
415

Grupo fJ
0 GRUPO DO COBRE
INTRODUÇÃO
Todos os elementos do grupo 11 tem um elétron s Tabela 27.2 — Abundância dos elementos na crosta
externo, além de um nível d completo. Apresentam mais terrestre, em peso
diferenças que semelhanças em suas propriedades. Os três ppm Ordem de
Elemento
metais possuem a mesma estrutura cristalina (cúbica de abundância relativa
empacotamento compacto). Conduzem particularmente bem
a eletricidade e o calor, e tendem a ser pouco reativos. Os Cu 68 25?
únicos íons simples que podem ser encontrados em solução Ag 0,08 66?
(além dos íons complexos) são: Cu2+ e Ag + . O estado de Au 0,004 73?
oxidação mais estável varia com o elemento: Cu( + II),
Ag( +1) e Au( + III). O cobre é obtido em larga escala, tendo
sido utilizadas 11 milhões de toneladas em 1992, praticamente esgotada. O minério mais comum é a
principalmente como metal puro e em ligas. O cobre é calcopirita, CuFeS2. Ela tem brilho metálico e aparência
biologicamente importante, sendo encontrado em diversas semelhante à da pirita, FeS, (o “ouro dos tolos”), mas com
enzimas do grupo das oxidases, nos transportadores de uma coloração mais próxima da do cobre. Também podem
oxigênio em certos invertebrados e no sistema fotossintético. ser citados o Cu2S (calcocita; cinza escura), o carbonato
Há um grande interesse em torno de diversos óxidos mistos básico de cobre CuCO3Cu(OH)2 (malaquita, verde), óxido
de cobre, que possuem propriedades supercondutoras. cuproso Cu2O (cuprita, vermelho-rubi) e o Cu5FeS4 ou bomita
(mistura de cores iridescentes azul, vermelho, castanho e
ABUNDÂNCIA, OBTENÇÃO E APLICAÇÕES púrpura, como nas penas do pavão). A turquesa
CuAl6(PO4)4(OH)8-4H2O é uma pedra semipreciosa,
DOS ELEMENTOS apreciada por sua coloração azul e listras delicadas.
0 cobre é moderadamente abundante, sendo o Os minérios do grupo dos sulfetos são muitas vezes
vigésimo-quinto elemento mais abundante, em peso, na pobres, e podem conter apenas 0,4-1 % de Cu. Os minérios
crosta terrestre. Ocorre na proporção de 68 ppm em peso. são moídos e concentrados por dotação a espuma, formando
Prata e ouro são bastante raros (Tab. 27.2). um concentrado com até 15 % de Cu. Ele é a seguir calcinado
ao ar.
Cobre
Pepitas de cobre naturais (isto é, pedaços de metal) 2CuFeSj
1.400—1^SO‘C CU2S
+ Fe2O3 + 3SO2
eram antigamente encontradas, mas essa fonte está agora
Areia é adicionada para remover o
Tabela 27J — Configurações eletrônicas e estados de oxidação ferro, como escória de silicato de ferro,
Fe2(SiO3)3, que flutua na superfície. Ar
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* é passado através da mistura líquida de
Cu2S, contendo um pouco de FeS e sílica;
Cobre Cu [Ar] 3</'°4? I II (UI) provocando sua oxidação parcial:
Prata Ag [Kr] 4d10 5? I n (IID
Ouro Au [Xe] 4/45d106s‘ I ni V 2FeS + 3O2 —> 2FeO + 2SO2
* Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados FeO + SiO2 -> Fe2(SiO3)3
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo Cu2S + O2 —» Cu2O + SO2
normal. Estados de oxidação instáveis, ou de existência duvidosa, são dados entre parênteses.
416 Grupo II — GRUPO □□ COBRE

Após algum tempo, o fornecimento de ar é D Atualmente, a maior parte é obtida como subproduto
interrompido. Nessa etapa ocorre a auto-redução do óxido e do Cu, Pb ou Zn. Pode ser obtida da lama anódica
do sulfeto, formando um cobre com 98 a 99% de pureza. formada no refino eletrolítico de Cu e de Zn.
C112S + 2CU2O —» 6Cu + SO2 2) Zinco é usado para extrair a prata do chumbo em estado
de fusão, por extração com solvente, no processo Parke.
Em seguida, é fundido em blocos (cobre cementado) e 3) Ouro e prata podem ser extraídos de seus minérios na
refinado por eletrólise: os eletrodos são de Cu e a solução forma de ciano complexos solúveis.
(eletrólito) contém H2SO4 diluído e CuSO4. A produção mundial de prata foi de 13.818 toneladas
Não é economicamente viável tratar minérios muito em 1992. Os principais produtores foram: México, 17%,
pobres em cobre, da maneira descrita. Assim, esses minérios Estados Unidos 13%, Peru 11 %, Canadá e Austrália 9 % cada,
são extraídos e deixados ao relento para sofrerem a ação do ex-URSS e Chile 7% cada. A principais aplicações da prata
intemperismo. O CuS se oxida lentamente a CuSO4, que é são: em emulsões fotográficas (AgCl e AgBr), em joalheriae
lixiviado com água ou H2SO4 diluído. O cobre é deslocado ornamentos de prata, em baterias e na fabricação de espelhos.
da solução de sulfato de cobre resultante, adicionando-se à
mesma raspas de ferro. Ouro
Fe + Cu2 + Fe2+ + Cu Historicamente, o ouro tem sido encontrado na forma
nativa, como pepitas. Achados dessa natureza
A produção mundial de cobre minerado’ foi de 9,3 desencadearam as "corridas do ouro”, por exemplo nos EUA
milhões de toneladas em 1992. Os principais produtores de Contudo, o ouro ocorre sobretudo na forma de pequenos
cobre foram: Chile 21 %, Estados Unidos 19%, ex-URSS 9%, grãos de metal disseminados em veios de quartzo. Muitas
Canadá 8 % e Zâmbia 5 %. Além disso, foram reciclados cerca dessas rochas foram erodidas pelo intemperismo. Assim, 0
de 1,7 milhões de toneladas do metal, levando a uma ouro e a areia foram arrastadas pelos cursos d’água e se
produção total de 11 milhões de toneladas. acumularam como sedimentos no leitos dos rios. Os grãos
de ouro podem ser separados da areia com 0 auxílio da bateia,
O metal é utilizado na indústria elétrica, por causa da
ou seja, agitando a mistura com água, em movimentos circu­
sua elevada condutividade, e em tubulações de água, por
lares. O ouro é muito denso (19,3 g cm'3) e sedimenta rapida­
causa de sua inércia química. Existem mais de 1.000 ligas mente, mas a sílica, com uma densidade de 2,5 g cm'3,
diferentes de cobre. Podem ser citados o bronze (Cu/Zn,
precipita mais lentamente e é desprezada com a água. Esse
com 20-50% de Zn), a liga conhecida como "prata alemã"
procedimento é hoje pouco usado, pois os depósitos de ouro
(55-65% de Cu, 10-18% de Ni e 17-27% de Zn), o "bronze
estão quase esgotados.
de fósforo” (Cu com 1,25-10% de Sn e 0,35% de P) e várias
ligas usadas na fabricação de moedas. O sulfato de cobre é Atualmente, as rochas contendo pequenas quantidades
produzido em quantidades apreciáveis (123.956 toneladas de ouro são moídas e o ouro é extraído com mercúrio ou
em 1991). Diversos compostos de cobre são utilizados na cianeto de sódio. A água e a rocha moída são passadas sobre
agricultura. Por exemplo, a "mistura de Bordeaux" é o mercúrio, que dissolve o ouro formando uma amálgama. 0
hidróxido de cobre, obtido a partir de CuSO4 e Ca(OH)2. É ouro é recuperado, aquecendo-se a amálgama num sistema
um importante fungicida pulverizado nas plantações para de destilação. O mercúrio é volátil e se separa do ouro, sendo
protegê-la contra certos fungos, por exemplo, aqueles que novamente condensado e reutilizado. No Brasil, esse
atacam as folhas da batata (responsável pela grande fome procedimento tem sido utilizado com água dos rios e areia
na Irlanda em 1845-46) e também contra fungos da videira. aurífera. Em conseqüência, consideráveis trechos de rios da
Carbonato básico de cobre, acetato de cobre e oxocloreto de Bacia Amazônica foram contaminadas com mercúrio,
cobre também têm sido utilizados para esse fim. O "verde provocando problemas ambientais. No "processo do
de Paris” é um inseticida obtido a partir de acetato básico cianeto", as rochas trituradas são tratadas com solução 0,1-
de cobre, óxido arsenioso e ácido acético. 0,2% de NaCN e aeradas.
Existe um enorme interesse pelos óxidos mistos de cobre 4Au + 8NaCN + 2H2O + O2 -> 4Na[Au(CN)2) + 4NaOH
do tipo La(2.x)BaxCuO(4.y), pois eles apresentam propriedades
supercondutoras, a temperaturas inferiores a 50 K. G. O complexo cianoaurato de sódio é solúvel em água e
Bednorz e A. Müller receberam o Prêmio Nobel de Física de pode ser separado da rocha. O ouro é precipitado dessa
1987, por suas pesquisas com esses compostos. Outros solução adicionando-se Zn em pó. A produção mundial de
materiais que se tornam supercondutores a temperaturas ouro foi de 2.134 toneladas em 1992. Os principais produtores
mais elevadas (até 125 K), são baseados no YBa2Cu3O7.x. foram: África do Sul, 29%, Estados Unidos 14%, Austrália
Esses compostos foram descritos no Capítulo 5, no tópico 11%, ex-URSS 10%, Canadá 7% e China 6%. É usado
"Supercondutividade". principalmente como um (ouro em barras) padrão monetário
internacional e em joalheria. O ouro empregado em joalheria
é geralmente uma liga com Cu e Ag. Essas ligas preservam a
Prata cor dourada, mas são mais duras. A quantidade de ouro
A prata é encontrada na forma de minérios do grupo presente nas ligas é expressa em quilates. O ouro puro tem
dos sulfetos, como Ag2S (argentita), como cloreto AgCl 24 quilates. As ligas geralmente têm 9,18 ou 22 quilates, ou
(cloroarginita) ou como prata nativa. TYês processos de seja, contém 9/24, 18/24 e 22/24 de ouro puro, respecti­
extração estão sendo utilizados: vamente. Pequenas quantidades de ouro são utilizadas para
PROPRIEDADES 6ERAIS 417

fabricar contatos elétricos resistentes à corrosão, por exemplo Potencial de redução padrão (volt)
em placas de computadores. Uma fina película de 1011 m de Solução ácida
espessura é as vezes depositada sobre os vidros das janelas
Estados de oxidação
de edifícios de luxo. Essa fina película metálica reflete o
calor indesejado do sol no verão, mantendo fresco o ambiente +iu +n +1 0
no interior do prédio. No inverno, essa película evita a perda 40,52
-1.8 40.15
de calor. CuO+- Cu2* éu+- Cu
+0.34
ESTADOS DE OXIDAÇÃO AgO*-
42.1
Ag2*-
41.98
Ag+-
40,80
Ag
Os elementos Cu, Ag e Au podem ser encontrados nos
estados de oxidação ( + 1), ( + 11) e ( + III). Contudo, os únicos <413 >41,29 4-1.68
Au3*- Au2*- Âu+- Au
íons hidratados simples estáveis em solução aquosa são os
íons Cu2* e Ag+. Os íons monovalentes Cu+ e Au* se L 41.50

desproporcionam em água e, por isso, só podem existir na • sofre desproporcionamcnto


forma de compostos insolúveis ou complexos. Cu( + HI),
Ag( + III) e Ag( + II) são oxidantes tão fortes que conseguem estequiometria formal dos compostos do elemento no estado
oxidar a água. Assim, só ocorrem quando estabilizados na de oxidação (+1) e da elevada condutividade elétrica exibida
forma de complexos ou como compostos insolúveis. Os pelos dois grupos de metais.
óxidos e haletos formados por esses elementos são mostrados
na Tab. 27.3. Os elementos do grupo 11 diferem dos do Grupo 1 por
terem um penúltimo nível contendo 10 elétrons d. A fraca
blindagem propiciada pelos elétrons d faz com que o
PROPRIEDADES GERAIS tamanho dos átomos dos elementos do Grupo do Cu seja
Os metais do grupo 11 (Cu, Ag e Au) apresentam as bem menor. Em conseqüência, os metais do grupo do Cu
maiores condutividades elétricas e térmicas conhecidas. São são mais densos e duros. Suas energias de ionização são
os mais maleáveis e mais dúcteis dos metais estruturais. maiores (Tab. 27.4), e seus compostos são mais covalentes.
Essas propriedades estão associadas à sua estrutura de No grupo do Cu, os elétrons d participam da ligação
empacotamento cúbico compacto. Quando uma força sufi­ metálica. Portanto, os pontos de fusão e as entaipias de
cientemente grande é aplicada, um plano pode ser forçado sublimação são muito maiores que dos metais do Grupo 1.
a se deslocar sobre outro. A estrutura é muito simples, de As maiores entaipias de sublimação e maiores energias
modo que mesmo quando ocorre esse deslizamento, a de ionização são responsáveis pela baixa reatividade do Cu,
estrutura cúbica regular de empacotamento compacto é da Ag e do Au, isto é, pelo seu caráter "nobre”. Os metais do
preservada. grupo 1 têm potenciais padrão de redução (valores de E°)
Os átomos de Cu, Ag e Au (Tab. 27.1) têm um elétron s muito negativos, e se situam no topo da série eletroquímica.
no seu orbital mais externo. Esse é a mesma configuração Por isso, são os metais mais reativos da Tabela Periódica.
eletrônica de valência encontrada nos metais do Grupo 1. Em contraste, os metais do Grupo do Cu possuem valores
Apesar disso, há poucas semelhanças com eles, além da positivos de E° e se situam abaixo do hidrogênio na série
eletroquímica. Portanto, não reagem com a água nem reagem
Tabela 273 — Óxidos e haletos com ácidos liberando H2. O caráter nobre aumenta do Cu
para a Ag, e deste para o Au, ao passo que no Grupo 1 a
Estados de oxidação reatividade aumenta de cima para baixo. A inércia do Au
lembra a dos metais do grupo da platina. Cu não reage com
(+D (+n> (+ni) (+IV) (+V) Outros ácidos não-oxidantes, mas reage com HNO3 e H2SO4
concentrados.
Cu2O CuO
AfcO AgO (Ag2O3?) 3Cu + 8HNO3 -> 2NO + 3Cu(NO3)2 + 4H2O
diluído
Au20 Au2O3
CuF2 Cu + 4HNO3 -> 2NO2 + Cu(NO3)2 + 2H2O
concentrado
CuCI CuCl2
CuBr CuBr2
Cul Tabela 27.4 — Algumas propriedades físicas
AgF AgF2 Ag2F
AgCl Raio Raio iônico Ponto de Ponto de Densidade Eletrone-
AgBr covalente M* M2* M* fusão ebulição gativi-
Agí dade de
AuF3 (AuFs) (A) (A) CC) CC) (g cm"3) Pauling
AuCl AuC13
AuBr3 Cu 1,17 0,77 0,73 0,54b 1.083 2.570 8,95 1,9
Aul — — — — Ag 1,34 1,15 0,94 0,75 961 2.155 10,49 1,9
Au 1.34 1,37 — 0,85 1.064 2.808 19,32 2,4
Os compostos com os estados de oxidação mais estáveis estão representados
em negrito; os instáveis entre parênteses. b = valor de spin baixo
418 Grupo II — GRUPO □□ COBRE

Contudo, Cu é muito lentamente oxidado superficial­ a ácido adípico, que é empregado na fabricação de náilon-
mente quando exposto ao ar úmido, formando um 66. CuCl2 era usado como catalisador no processo Deacon
revestimento verde de azinhavre. O azinhavre é carbonato de obtenção de Cl2, a partir de HC1.
básico de cobre, CuCO3Cu(OH)2, e é responsável pela
coloração esverdeada dos telhados recobertos com chapas COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
de cobre e das estátuas de cobre.
DE OXIDAÇÃO ( + 1)
Ag se dissolve em HNO3 concentrado e em H2SO4
concentrado, à quente. Au não é atacado por nenhum ácido, Os elementos no estado de oxidação ( + 1) têm
exceto a água-régia (uma mistura 3:1 de HC1 e HNO3 concen­ configuração d10. Por isso, a maioria de seus compostos
trados). O HNO3 atua como um agente oxidante e os íons simples e seus complexos são diamagnéticos e incolores.
cloreto como agentes complexantes. Há poucos compostos coloridos: por exemplo, Cu2O é
amarelo ou vermelho, Cu2CO3 é amarelo e Cul é marrom.
Cu reage com oxigênio, mas Ag e Au são inertes. Nesses casos a cor se deve às transições de transferência de
aquecimento temperaturas carga, e não às transições d-d.
Cu + O2 4CuO ->Cu2O + O2
ao rubro mais elevadas Seria de se esperar que os elementos no estado ( + 1)
fossem mais estável e mais comuns, por causa da estabilidade
Cu e Ag metálicos reagem com H2S e com S, mas o Au resultante da configuração d10, com um nível completamente
não reage. Objetos de prata lentamente perdem o brilho preenchido. Surpreendentemente esse não é o caso. Embora
quando expostos ao ar (ou seja, objetos polidos de prata Ag+ seja estável tanto no estado sólido como em solução,
gradualmente escurecem). Isso se deve a presença de Cu+ e Au+ se desproporcionam em água.
pequenas quantidades de H2S no ar, que reagem com Ag
formando Ag2S, que é preto. v_[Cu2+]
2Cu+ Cu2 + + Cu ix----------- 77 = l,6xl06
2Ag + H2S —>Ag2S + H2 (Cu f
preto
[Au3*]
3Au + =Au3+ + 2Au K= = 1x10'°
Analogamente, a passagem de H2S por soluções [Au+]3
contendo Cu2 + ou Ag+ formam precipitados pretos de CuS
e Ag2S. Os três metais do grupo reagem com os halogênios. A constante de equilíbrio da reação de despropor-
Compostos simples de Au se decompõem rapidamente cionamento de Cu + em solução é elevada, mostrando que o
gerando o metal, os de Ag podem ser reduzidos com razoável equilíbrio está bastante deslocado para a direita. Assim, a
facilidade, e os de Cu menos facilmente. concentração de Cu+ em solução é muito baixa. Um íon
Cu+ persiste em solução aquosa durante uma fração de
Para o metal poder reagir, um átomo dever ser tempo inferior a um segundo. Por motivos semelhantes, o
inicialmente removido do retículo cristalino e ser ionizado. íon Au+ virtualmente inexiste em solução aquosa. Os únicos
Uma elevada entalpia de sublimação e uma alta energia de compostos de Cu+ e Au* estáveis em meio aquoso são
ionização diminuem a reatividade, embora isso possa ser insolúveis ou estão na forma de complexos. CuCl, CuCN e
parcialmente compensado pela energia liberada na reação CuSCN, podem ser citados como exemplos de compostos
de hidratação dos íons. Comparando Cu com K, verifica-se insolúveis de Cu( +1). O tiocianato de cobre( +1), CuSCN, é
que o Cu possui um ponto de fusão muito maior (e, portanto, usado para a determinação gravimétrica do cobre.
uma maior energia de sublimação). Por causa da maior carga
nuclear do Cu, os elétrons estão mais firmemente ligados 2Cu2+ + SO32" + 2SCN“ + H2O -> 2Cu'SCN + H2SO4
(logo, a energia de ionização será maior). A energia de
O íon Cu2 + é reduzido a óxido cuproso, Cu2O, por agente
hidratação não é suficiente para compensar essas
redutores moderados. Essa é a base do teste de Fehling para
"demandas” elevadas de energia. Por isso, o potássio é muito
açúcares redutores (monossacarídeos, como a glicose).
mais reativo que o cobre.
Quantidades iguais de duas soluções diferentes, chamadas
Os óxidos e hidróxidos dos metais do Grupo 1 são de Fehling A e Fehling B, são misturadas imediatamente
fortemente básicos e solúveis em água. Em contraste, os antes de se adicionar o açúcar e aquecer a mistura. A solução
óxidos de cobre são insolúveis e fracamente básicos. Todos de Fehling tem coloração azul intensa, mas na presença de
os compostos dos metais do Grupo 1 contêm íons simples, um agente redutor forma-se um precipitado amarelo ou
monovalentes e incolores; e só formam complexos com vermelho de Cu2O (a solução de Fehling A é uma solução
agentes complexantes muito fortes. Por outro lado, os metais de tartarato de cobre(II), obtido reagindo-se CuSO4 como
do grupo do cobre tem valência variável. Os estados de sal de Rochelle (tartarato de sódio e potássio). A solução de
oxidação mais comuns são Cu( + Il), Ag( +1) e Au( + III), e Fehling B é uma solução aquosa de NaOH).
as propriedades químicas dos três elementos diferem muito Cu2O é um óxido básico e reage com os ácidos
uns dos outros. Os elementos apresentam forte tendência halogenídricos HC1, HBr e HI, formando os haletos insolúveis
de formarem compostos de coordenação e seus compostos CuCl, CuBr e Cul. CuF é desconhecido. CuCl e CuBr são
são geralmente coloridos. geralmente obtidos refluxando-se uma solução ácida de CuCl;
O cobre é importante em diversos catalisadores. Cu é ou CuBr2 com excesso de Cu. Dessa forma obtém-se uma
usado no processo direto de fabricação de alquilclorossilanos solução contendo os íons complexos lineares (CuCl;)' e
como (CH3)2SiCl2, usado na preparação de silicones. Cu e V [CuBr2]". A diluição dessas soluções provoca a precipitação,
catalisam a oxidação de misturas ciclohexanol/ciclohexanona respectivamente, de CuCl (branca) e CuBr (amarelo).
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE OXIDAÇÃO [4-1] 419

A adição de Kl a uma solução contendo Cu2+ provoca ligados da maneira convencional pelo C, mas o terceiro CN’
a redução do Cu2+ a iodeto cuproso, Cul, com concomitante atua como ligante-ponte entre dois átomos de Cu.
oxidação de I’ a I2. Essa reação é usada na determinação O cianeto podem reagir com íons metálicos de duas
volumétrica de Cu2+ em solução. Adiciona-se um excesso maneiras:
de Kl a uma solução acidificada de Cu2 +, e o I2 produzido é
titulado com tiossulfato de sódio. D Como um agente redutor
2) Como um agente complexante.
2Cu2+ + 41“ —> 2CuI + I2 Assim, a adição de KCN a uma solução de CuSO4
2Na2S2O3 + I2 —> Na2S2O6 + 2NaI provoca, inicialmente, a redução e precipitação de cianeto
cuproso. Este reage com excesso de CN”, formando o
Os haletos cuprosos são parcialmente covalentes e têm
complexo tetracoordenado solúvel, [Cu(CN)4]3’, de estrutura
a estrutura da blenda, com íons Cu+ coordenados tetraedri-
tetraédrica.
camente. CuCl e CuBr são poliméricos no vapor, sendo
constituídos principalmente por subunidades contendo um 2Cu2+ + 4CN’—>2Cu+CN’ + (CN)2
anel de seis membros. danogênio

Os haletos cuprosos são insolúveis em água. Contudo, CuCN + 3CN’ -> [Cu(CN)4]3"
eles se dissolvem em soluções contendo um excesso de íons
Cu( + I) forma diversos complexos poliméricos
haleto, devido à formação de íons complexos solúveis tais
diferentes, constituídos por clusters contendo quatro átomos
como [CuCl2]“, [CuCl3]2’ e [CuCl4]3’. Esses e outros
de Cu nos vértices de um tetraedro, mas sem envolver
complexos de Cu1 são tetraédricos no estado sólido (no
ligações metal-metal. Os complexos com fosfina e arsina,
KCuCl2 e no K2CuC13 eles formam cadeias, contendo Cu
Cu4l4(PR3)4 e Cu4I4(AsR3)4, são exemplos de tais clusters.
coordenado tetraedricamente por Cl. Essas subunidades
Os quatro ligantes fosfina ou arsina se ligam aos quatro
tetraédricas estão interligadas por haletos em ponte).
vértices do tetraedro, e os quatro átomos de I se situam
Os haletos cuprosos também se dissolvem em HC1 e acima das quatro faces do tetraedro. Assim, cada I está ligado
HNO3 concentrados e em soluções aquosas de amônia. a três átomos de Cu (forma três ligações). No [Cu4(SPh)6]2"
Soluções de CuCl em HC1 concentrado e de CuCl em NH4OH os átomos de Cu formam um tetraedro e os seis átomos de S
são importantes, pois absorvem monóxido de carbono. TYês formam ligações em ponte, nas seis arestas do tetraedro.
aspectos merecem destaque:
O estado de oxidação (+1) é o mais importante da prata,
D Uma solução de CuCl em NH4OH é freqüentemente sendo conhecidos muitos compostos iônicos simples
usada para medir a quantidade de CO presente em contendo esse íon. Praticamente, todos os sais de Ag1 são
amostras de gases, simplesmente medindo-se a variação insolúveis em água, exceto AgNO3, AgF e AgClO4, que são
de volume da amostra. solúveis. Os sais são geralmente anidros, exceto pelo
2) Embora os metais desse grupo não formem compostos AgF-4H2O. O íon Ag+ forma o dihidrato [Ag(H2O)2] + em
carbonílicos neutros, observa-se a formação de um solução. Geralmente, Ag1 forma complexos dicoordenados
carbonil-haleto, (Cu(CO)Cl), instável quando CO é em vez de tetracoordenados, como o Cu1.
borbulhado através de uma solução de CuCl. Tanto Cu AgNO3 é um de seus sais mais importantes. Ag2O é
como Au formam carbonil-haletos, [M(CO)C1], quando tipicamente básico, dissolvendo-se em ácidos. Ag2O úmido
o haleto é aquecido na presença de CO. absorve dióxido de carbono, formando Ag2CO3. Dado que
3} Diversos complexos com alcenos e alcinos podem ser Ag2O também se dissolve em NaOH, deve apresentar também
obtidos de maneira semelhante, borbulhando-se o um certo caráter ácido.
hidrocarboneto através de uma solução de Cu1 ou de Os haletos de prata são utilizados em fotografia (vide
Ag1. Complexos com alcenos também podem ser obtidos adiante). AgF é solúvel em água, mas os demais haletos de
passando-se o hidrocarboneto sobre o haleto aquecido. prata são insolúveis. Na análise qualitativa, a presença de
A fórmula desses complexos é [MRX], onde R é um íons Cl", Br’ e I" em soluções aquosas é verificada adicio-
hidrocarboneto insaturado e X um halogênio. Esses nando-se uma solução de AgNO3 e HNO3 diluído. Um
complexos são muitos reativos e freqüentemente precipitado branco (AgCl) indica a presença de cloreto, um
poliméricos. As ligações M-C não são simétricas, precipitado amarelo claro (AgBr) indica a presença de
sugerindo a formação de uma ligação o ao invés de brometo, e um precipitado amarelo (Agí) indica a presença
uma ligação rt. Au1 não forma esse tipo de complexos de iodeto. A presença desses íons haleto pode ser confirmada
com tanta facilidade: reage somente com alcenos de pela solubilidade dos haletos de prata em hidróxido de
elevado peso molecular. amônio. AgCl é solúvel em NH4OH diluído. AgBr se dis­
Os complexos com cianeto são bem conhecidos e solve em NH4OH 0,880 M, e Agl é insolúvel, mesmo em
empregados na extração de Ag e Au, na forma de complexos solução de amônia concentrada. AgCl e AgBr se dissolvem
solúveis. Os metais são obtidos a partir do complexo por devido à formação do complexo linear [H3N—»Ag«-NH3]+.
redução com zinco. Alguns poucos compostos de prata com ânions incolores
4Au + 8CN’ + 2H2O + O2 -> 4[Au1(CN)2)’ + 4OH’ são coloridos. Por exemplo, Agl, Ag2CO3 e Ag3PO4 são amare­
los e Ag,S é preto. Isso ocorre porque o íon Ag+ é pequeno
Complexos bicoordenados, como [Au(CN)2]’, são e altamente polarizante, e o ânion, por exemplo F, é grande
lineares. Contudo, no K[Cu’(CN)2] sólido o Cu está ligado a e altamente polarizável. Isso aumenta o caráter covalente
três CN’, num arranjo trigonal planar. Dois grupos CN’ estão das ligações.
4BO Brupo II — BRUPO □□ COBRE

Ag* forma uma variedade de complexos. A maioria niente do objeto a ser fotografado, e focalizado pela lente
dos ligantes simples levam à formação de complexos para produzir uma imagem nítida. A luz dá início a uma
dicoordenados lineares, por exemplo [Ag(NH3)2] + , reação fotoquímica pela excitação de um íon haleto, que
[Ag(CN)2)“ e [Ag(S2O3)2]3". Ligantes bidentados levam à perde um elétron. O elétron se move pela banda de condução
formação de complexos polinucleares. Os complexos de Cu + até a superfície dos grãos, onde reduz um íon Ag* a prata
e Ag* com haletos têm comportamento atípico, pois a ordem metálica. Nos primórdios da fotografia, os tempos de
de estabilidade é I > Br > Cl > F, enquanto que para a maioria exposição eram longos, às vezes de 10 ou 20 minutos, de
dos metais a ordem é inversa. Ligantes capazes de formar modo a produzir uma quantidade de prata suficiente para
ligações n, como os derivados da fosfina, podem formar gerar o “negativo”. Esse termo é um alusão ao fato das partes
complexos tanto dicoordenados como tetracoordenados. mais luminosas do objeto se tornarem escuras após a
Au( + 1) é menos estável, mas seu óxido, Au20, é revelação do filme. Atualmente, os tempos de exposição são
conhecido. Os haletos AuCl e AuBr podem ser obtidos muito curtos, até a ordem de um milésimo de segundo. Nesse
aquecendo-se suavemente o correspondente haleto AuX3. tempo muito curto, somente poucos átomos de prata (talvez
Aul precipita quando I" é adicionado a Aul3. Esses compostos 10 a 50) são produzidos em cada grão exposto à luz. As
partes do filme expostas às partes mais luminosas do objeto
de Au( +1) sofrem desproporcionamento em água, formando
Au metálico e Au( + III). contêm muitos grãos com prata metálica. As partes do filme
expostas às partes mais escuras do objeto contêm poucos
O íon Au( +1) também pode ser encontrado em comple­ grãos com prata, enquanto que as partes não expostas não
xos lineares, tais como [NC—>Au«—CN]“, [Cl—»Au«-Cl]~, têm nenhum átomo de prata metálica. Assim, um filme
[R3P—>Au«—Cl] e [R3P—>Au<—CH3]. O cianocomplexo é contém uma imagem latente do objeto. Contudo, o número
solúvel em água e é formado no processo de extração de de átomos de prata formado é tão pequeno que a imagem
ouro com cianeto, no qual Au é dissolvido numa solução não é visível.
aquosa contendo CN", na presença de ar ou H2O2. O
A seguir o filme é colocado numa solução reveladora.
complexo R3PAuC1 é obtido reagindo-se Au2C16 com R3P, em TYata-se de um solução de um agente redutor moderado,
solução etérea. O cloreto pode ser substituído por outros geralmente contendo hidroquinona. Sua finalidade é reduzir
ligantes, como I, SCN ou Me. A redução do R3PAuC1 com mais haleto de prata a prata metálica. Ag se deposita
um redutor forte, como NaBH4, leva à formação do cluster principalmente onde já existem átomos de prata. Assim, o
AunC13(R3P)7, cuja estrutura está relacionada com a de um processo de revelação intensifica a imagem latente do filme,
icosaedro incompleto. Há um átomo de Au no centro e dez tornando-a visível. A revelação deve ser realizada em
átomos de Au em dez dos 12 vértices do icosaedro. condições adequadas, para se obter uma imagem com o
Compostos de Au( + I) são usados em medicamentos contraste desejado. Os fatores importantes são a
para o tratamento da artrite reumática. Supõe-se que o concentração do revelador, o pH, a temperatura e o tempo
princípio ativo desses medicamentos sejam complexos durante o qual o filme é mantido na solução reveladora.
lineares do tipo RS—>Au«—SR ou R3P—>Au«-PR3. A solubili- Se o filme fosse exposto à luz solar nessa etapa, as
dade desses composto em lipídios pode ser controlada partes não expostas também escureceríam e a imagem seria
variando-se o grupo R. Isso afeta a facilidade com que a destruída. Para impedir isso, todo haleto de prata remanes­
droga se distribui pelo corpo. cente (que permaneceu inalterado) é removido do filme com
Há algumas evidências mostrando que o ouro pode o auxílio de uma solução fixadora. Antigamente usava-se
formar o íon aureto, Au", que tem a configuração eletrônica uma solução de amônia concentrada para remover o AgBr
d10s2, uma configuração estável. O composto CsAu não tem remanescente. Embora a remoção fosse eficiente, o odor de
brilho metálico e o sólido não conduz a eletricidade como amônia no espaço confinado da câmara escura era desagra­
um metal. Ele é iônico, Cs* Au", e não uma liga. A presença dável e perigoso para o fotógrafo. Atualmente, uma solução
do íon Au" foi confirmada, em solução de amônia líquida. É de tiossulfato de sódio é usado como fixador, pois forma um
um íon grande e foi isolado no estado sólido com diversos complexo solúvel com a prata, dissolvendo o haleto.
cátions grandes.
AgBr + 2Na2S2O3 Na3[Ag(S2O3)2] + NaBr

Fotografia Depois da fixação, o filme pode ser exposto à luz, sem


riscos à imagem. As partes escurecidas pela prata represen­
Os haletos de prata são de grande importância na
tam as partes mais luminosas do objeto. Obtém-se, assim, o
fotografia. Um filme fotográfico é constituído por uma
“negativo” da fotografia. Para se obter o positivo, isto é, a
emulsão fotossensível de finas partículas (grãos) de sais de imagem real com seus contrastes de claros e escuros nos
prata em gelatina, aplicada numa tira transparente de
locais adequados, deve-se tirar uma cópia do negativo. Um
celulóide ou numa placa de vidro. O tamanho dos grãos é feixe de luz é passado através do negativo, que se encontra
muito importante para os fotógrafos, pois afeta a qualidade sobre um pedaço de papel ou filme recoberto com a emulsão
das fotografias. AgBr é utilizado principalmente como ma­ de AgBr. Este é, então, revelado e fixado utilizando o mesmo
terial fotossensível. Agí é usado em emulsões “rápidas" (isto procedimento anteriormente descrito.
é, aquelas que são usadas em situações de baixa luminosi­
dade, ou para fotografar objetos em movimento, como carros
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
de corrida, onde o de tempo de exposição é muito curto).
AgCl também pode estar presente nas emulsões. DE OXIDAÇÃO ( + 11)
O filme é colocado numa câmera e exposto à luz prove- (+ II) é o estado de oxidação mais estável e importante
□ ESTADO DE DXIDAÇÃO [4-IIJ 421

do cobre. O íon cúprico, Cu2 + , tem configuração eletrônica CuF2 4 ligações de 1,93 A e 2 ligações de 2,27 A
d’ e, portanto, tem um elétron desemparelhado. Seus CuCl2 4 ligações de 2,30 A e 2 ligações de 2,95 A
compostos são geralmente coloridos, devido às transições CuBr2 4 ligações de 2,40 A e 2 ligações de 3,18 A
d-d, e paramagnéticos. CuSO4 • 5H2O e muitos sais hidratados
de Cu(II) são azuis. Considerações semelhantes às utilizadas para explicar
a distorção de complexos octaédricos de Cu2 + , também se
Mediante aquecimento intenso, os oxo-sais, como
aplicam a complexos octaédricos de qualquer outro íon
Cu(NO3)2, se decompõem a CuO, que é preto. Cu2O é
metálico no qual os orbitais eg não estejam simetricamente
formado quando esse oxoSsal é aquecido a temperaturas
preenchidos, ou seja, quando estes orbitais contiverem um
muito elevadas (acima de 800 °C). A adição de NaOH a
ou três elétrons. Distorções desse tipo são encontradas no:
uma solução contendo Cu2* leva à formação de um preci­
pitado do hidróxido, azul. O íon hidratado, [Cu(H2O)6]2*, é Co2* e Ni3* de spinbaixo
despin baixo Uag)6^)1
formado quando o hidróxido ou o carbonato é dissolvido e Cr2* e Mn3* de spin alto (t2g)3(eg)'
num ácido, ou quando CuSO4 ou Cu(NO3)2 é dissolvido em
água. Esse íon apresenta a cor azul característica dos sais de Soluções aquosas de Cu2* formam muitos complexos
cobre, que tem uma estrutura octaédrica distorcida: duas com amônia e aminas, como por exemplo [Cu(H2O)sNH3]2*,
ligações em trans são mais longas e quatro ligações são mais [Cu(H2O)4 (NH3)2)2*, [Cu(H2O)3(NH3)3]2* e [Cu(H2O)2-
curtas (Fig. 27.1). Essa distorção tetragonal é uma (NH3)4]2 + . É difícil adicionar o quinto e o sexto grupo NH3,
conseqüência da configuração d9. O ambiente octaédrico em mas é possível obter [Cu(NH3)6]2* usando amônia líquida
torno do íon provoca o desdobramento dos orbitais d do Cu como solvente. Esse comportamento pode ser explicado pelo
em níveis de menor energia, t2g, e maior energia, eg, devido efeito Jahn-Teller, que distorce o complexo octaédrico
ao efeito do campo cristalino. Os nove elétrons d se tornando a quinta e a sexta ligações mais longas e fracas.
distribuem da seguinte maneira: (t2g)s(eg)3. Os três elétrons Analogamente, os complexos [Cu(en)(H2O)4]2* e
eg ocupam os orbitais dxZ_y2 e dois num orbital e o terceiro [Cu(en)2(H2O)2]2*, com o ligante bidentado etilenodiamina
no outro. Como o preenchimento do nível eg não é simétrico, (en), formam-se com facilidade; mas um grande excesso do
ocorre a distorção de Jahn-Teller. Este quebra a ligante é necessário para formar o complexo [Cu(en)3]2*.
degenerescência dos orbitais eg e t2g (isto é, os dois orbitais Os complexos com haletos podem ser encontradas em
e8 passam a não ter a mesma energia; o mesmo ocorrendo duas formas estereoquimicamente diferentes. No complexo
com os três orbitais t2g). Assim, o complexo será distorcido. (NH4)2[CuCl4], o íon [CuCl4]2- é quadrado-planar, mas no
0 orbital dx2_y2 está sob a influência dos quatro ligantes que complexo CsJCuCLJ e Cs2[CuBr4], os íons [CuX4l2" têm uma
se aproximam ao longo das direções + x, -x, + y e -y. O estrutura tetraédrica ligeiramente distorcida (comprimida).
orbital dz2 está sob a influência de apenas dois ligantes, que O íon tetraédrico [CuCL,]2' tem coloração laranja, mas o íon
se aproximam segundo as direções + z e -z. Assim, a energia [CuCL,]2- é amarelo
do orbital dX2.y2 aumenta mais que a do orbital dz2. Por isso, A maioria dos complexos e compostos de Cu( + II)
os três elétrons do nível t2g passam a se distribuir como se apresenta uma estrutura octaédrica distorcida, e são azuis
segue: (dZ2)2(dx2.y2)'. Como o orbital dz2 contêm dois elétrons, ou verdes. O íon metálico tem a configuração eletrônica d9,
os ligantes que se aproximam segundo as direções +z e -z restando apenas um orbital para o qual um elétron pode ser
são impedidos de se aproximarem do cobre tanto quanto os promovido. Logo, os espectros deveríam ser semelhantes
ligantes que se aproximam ao longo das direções +x, -x, aos do caso d1 (por exemplo, Ti3*), com uma única banda
+y e -y (vide Capítulo 7). de absorção larga. Isso realmente ocorre, e esses compostos
Esse arranjo octaédrico distorcido é comum em absorvem na região de 11.000 a 16.000 cm'1. Contudo, os
compostos de cobre. Por exemplo, os haletos CuX2 têm a complexos de Cu( + II) são apreciavelmente distorcidos
estru-tura do rutilo (TiO2) distorcida, onde o metal tem (efeito Jahn-Teller), provocando o aparecimento de mais de
número de coordenação igual a 6. Os comprimentos das uma banda de absorção. Essas bandas se sobrepõem
ligações nos haletos CuuX2 são: tornando a banda assimétrica. Não é possível atribuir cada
banda de modo inequívoco. Os sais anidros CuF2 e CuSO4
são brancos, o que de certa forma é surpreendente.
Por muito tempo não se conseguiu obter nitratos anidros
dos metais de transição, pois o aquecimento dos mesmos
simplesmente provoca a sua decomposição. A água é um
ligante mais forte que o nitrato, de modo que um nitrato
hidratado obtido em solução aquosa tende a perder o nitrato
com mais facilidade que a água, durante o aquecimento. O
recurso que resta é preparar os nitratos anidros na ausência
de água, em vez de se tentar remover a água dos sais hidrata­
dos. Muitos nitratos anidros foram preparados recentemente
usando solventes não-aquosos, como N2O4 líquido.
Nitrato de cobre(II) anidro pode ser preparado dissol-
vendo-se Cu metálico numa solução de N2O4 em acetato de
Figura 27.1 — Octaedro tetraedricamente distorcido, com quatro ligações etila. A reação é vigorosa e Cu(NO3)2-N2O4 pode ser
curtas num arranjo quadrado planar, e duas ligações mais longas em
trans. cristalizado da solução resultante. O produto é, na realidade,
4BB Grupo II — O GRUPO □□ COBRE

que formam complexos análogos formam ligações M-M. Os


íons Cu” têm configuração d9 e um elétron desemparelhado.
Se os dois íons Cu formassem uma ligação metal-metal, esses
elétrons estariam emparelhados e o complexo seria
diamagnético. Se não formarem uma ligação, 0 complexo
será paramagnético. Contudo, a 25 °C, o momento magnético
medido é de 1,4 MB por átomo de Cu, menor que 0 momento
magnético de spin-only de 1,73 MB. Isso sugere a existência
de uma interação ou acoplamento fraco entre os elétrons
desemparelhados nos dois átomos de Cu, nesse complexo.
Supõe-se que essa interação se deva à sobreposição lateral
dos orbitais 3dx2_y2 do cobre, formando uma ligação 8.
A prata no estado (+ II) ocorre no fluoreto AgF2. TYata-
se de um sólido marrom, obtido aquecendo-se Ag em atmos­
fera de F2. AgF2 é um agente oxidante forte e um bom agente
de fluoração, como o CoF3, mas termicamente instável:
AgF2 cjlor > AgF + ‘/2F2
O íon Ag" é mais estável em complexos, como
[Ag(piridina)4]2 + , [Ag(bipiridina)2]2 + e (Ag(orro-
fenantrolina)2]2 *, que formam sais estáveis com ânions não-
Figura 27.2 — A estrutura cristalina de uma das formas da Cu(NOJ2,
redutores, como NO3~ e C1O4“. São geralmente preparados
anidro (S.C. Wallwork, Proc. Citem. Soc. (London), 34, 1959. pela oxidação de uma solução contendo Ag* e 0 ligante
com persulfato de potássio. Aqueles complexos são quadrado
NO+ [Cu(NO3)3]~. Este se decompõe a 90 °C, gerando N2O4, planares e paramagnéticos.
que se desprende, e Cu(NO3)2 anidro, de cor azul. Cu(NO3)2 O óxido preto AgO é obtido pela ação de um oxidante
anidro pode ser sublimado a 150-200 °C e tem uma estrutura forte sobre Ag2O, em solução alcalina. O íon Ag” tem configu­
cristalina pouco comum. Há duas formas cristalinas ração d9 e deve ser paramagnético. Porém, AgO é
diferentes. A estrutura de uma das duas formas sólidas é diamagnético, pois é na realidade 0 óxido misto Ag'AgnlO2,
constituída por cadeias infinitas de Cu e de grupos NO3~. e não contém íons Ag( + II).
Cada Cu forma duas ligações curtas Cu-0 (1,9 A) e está O íon Au( + II) é encontrado no [AufB^HnJJ2'e,
coordenado a seis outros átomos de O de outras cadeias, provavelmente, forma complexos com o ligante ditioleno
por meio de ligações mais longas (2,5 A). Portanto, o Cu (figura abaixo). Exceto nesses casos, só é formado como
está octacoordenado (Fig. 27.2). No estado de vapor, o um intermediário de vida curta.
Cu(NO3)2 é monomérico.
R-
O acetato de cobre (II) é de fato o dímero hidratado, c-
Cu2(CH3COO)4-2H2O. Sua estrutura (Fig. 27.3) é semelhante II Au
a dos complexos de Cr11, Mo”, Rh” e Ru” com carboxilatos, R-
mas há uma diferença importante: os dois átomos de Cu
estão em ambientes quase octaédricos. Os quatro grupos
acetato atuam como ligantes-ponte entre os dois átomos de COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
Cu, e seus átomos de O ocupam quatro posições (num arranjo DE OXIDAÇÃO ( + III)
quadrado-planar) em torno de cada átomo de Cu. A quinta Cu e a Ag raramente são encontrados no estado de oxida-
posição é ocupada pelo oxigênio da molécula de água. A ção (+ III). Em solução alcalina, o Cu2 + pode ser oxidado a
sexta das posições do octaedro é ocupada pelo outro átomo KCu'”O2, e K3 [CulnF6] pode ser obtido pela fluoração de uma
de Cu. A estrutura descrita até o momento é idêntica a do mistura fundida de KC1/CuC12. K7Cu'"(IO6)2-7H2O é obtido
acetato cromoso. A diferença está na distância Cu-Cu de pela reação com ácido periódico (HSIO6), um oxidante fone.
2,64 A, consideravelmente mais longa que a distância de M + [Ag”lF4]‘ é formado quando uma mistura de um haleto
2,55 A encontrada no cobre metálico. Assim, o cobre não de metal alcalino e haleto de prata fundida é fluorada. E a
forma uma ligação M-M, ao passo que Cr e os demais metais oxidaçâo eletrolítica de Ag+ pode formar Ag2O3 impuro. A
oxidação de Ag2O com persulfato de sódio, em meio alcalino,
OH2 forma 0 óxido misto AglAg’”O2. A reação de Ag* com
H3CC"0' I -C> persulfato, na presença dos íons periodato ou telurato, leva
CCHa
à formação de compostos como K6H [Ag'”(IO6)2] e

FhCC^O !u:
X CCHa
Na6H3[Ag'”(TeOs)2]. Esses compostos são instáveis e
fortemente oxidantes.
Em contraste, Au( + III) é 0 íon mais comum e estável
do ouro. Poucos compostos simples de Au( +111) são
OH2
conhecidos, mas aparentemente não contêm íons Au3*. A
Figura 27.3 — A estrutura do (Cu(CH3 COO)2 H2O)2 configuração do Au1" é d8 (como da Pt”) e forma complexos
IMPORTÂNCIA BI0LÚ6ICA DO COBRE 423

quadrado-planares, como a Pt. Esses complexos se decom­ vermelho escuro quando O2AuF6 é aquecido e o produto é
põem facilmente ao metal, quando aquecidos. condensado num "dedo “frio”. O composto é instável e se
decompõe a AuF3 e F2, acima de 60 °C.
[Au^CUl’ + OH" -h> Au(OH)3 —desidralaci° -> Au2O3
1SO'C 370*C ,
-> Au + Au2O + O2 Au + 3F2 + O2 O2AuF6 —> AuFg 72f2 + o2
pressão elevada

Todos os haletos AuX3 são conhecidos. AuC13 é obtido


a partir dos elementos, ou então dissolvendo-se o metal em IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA DO COBRE
água-régia e removendo o solvente. O cobre é um elemento essencial à vida e uma pessoa
Au + HNO3 + HC1 —> H3O + [AuClJ" ■ 3H2O —> AuC13 adulta tem no organismo cerca de 100 mg de Cu. É o terceiro
elemento de transição em quantidade, sendo superado
AuBr3 é obtido a partir dos elementos e AuI3 é obtido a apenas pelo Fe (4 g) e pelo Zn (2 g). Embora em pequenas
partir do brometo. AuF3 só pode ser obtido utilizando um quantidades o cobre seja um elemento essencial, em
forte agente de fluoração: quantidades maiores é tóxico. Cerca de 4 a 5 mg de Cu são
necessárias na dieta diária. Em animais, a deficiência desse
Au + BrF3 AuF3 metal resulta na incapacidade de aproveitar o ferro armaze­
nado no fígado, e o animal passa a sofrer de anemia. O Cu
0 fluoreto é constituído por unidades quadrado planares está ligado nas proteínas do organismo, como metalopro-
AuF4 ligados em cadeia, por meio de pontes de fluoreto em teínas, ou como enzimas. Entre os exemplos estão várias
cis. 0 cloreto e 0 brometo formam dímeros, como mostrado oxidases e “proteínas azuis” como:
abaixo.
D Amino oxidases (responsáveis pela oxidação de aminas)
Cl Cl Cl 2) Ascorbato oxidases (oxidação do ácido ascórbico)
\ / \ ,/ 3) Citocromo oxidase (atua juntamente com grupos heme
Au Au
/ \ / \ na etapa final de oxidação)
Cl Cl Cl 4) Galactose oxidase (oxidação de um grupo -OH a -CHO
O “ouro líquido”, usado para pintar molduras, vidros e no monossacarídio galactose).
cerâmica decorativa, é um complexo cloro de Au111, dissolvido O cobre também é importante na:
num solvente orgânico. O complexo, é provavelmente,
polimérico e um composto do tipo cluster. Quando o “ouro
D Lisina oxidase, que controla a elasticidade das paredes
da aorta.
líquido” é aquecido, ele se decompõe, formando uma fina
película de ouro metálico. 2) Dopamina hidroxilase, que atua sobre as funções
cerebrais.
O óxido de ouro hidratado é anfótero. Dissolve-se em
solução alcalina, formando sais como o aurato de sódio, 3) Tirosinase, que influencia a pigmentação da pele.
NaAuO2 • H2O, e em ácidos fortes, formando compostos como 4) Ceruloplasmina, que atua no metabolismo do Fe.
HjAuCL,], H[Au(NO3)4] e H[Au(SO4)2]. Complexos catiônicos A Doença de Wilson é uma deficiência hereditária de
de Au( + !1I), como [Au(NH3)4](NO3)3 (quadrado-planar), ceruloplasmina, que provoca acúmulo de Cu no fígado, rins
também são conhecidos. Os complexos são geralmente e cérebro. Essa doença é tratada administrando ao doente
quadrado-planares e mais estáveis que os compostos simples. um agente quelante como o EDTA. O cobre é excretado na
Os complexos dialquílicos R2AuX, onde X = Cl", Br", CN‘, forma de um complexo. Contudo, muitos outros metais
SO32’, são compostos organometálicos estáveis, com ligações essenciais envolvidos em outros sistemas enzimáticos, tam­
Au-C fortes. Os haletos são diméricos e os cianetos são bém formam complexos com o EDTA e são excretados. Logo,
tetraméricos. esse tratamento interfere em muitos sistemas enzimáticos.
Por isso, todos esses elementos devem ser suplementados
R R na dieta e o tratamento deve ser cuidadosamente monitorado.
R—Au—C=N—Au—R A hemocianina é uma proteína contendo cobre, que
R Cl R I atua como transportador de oxigênio em muitos animais
\ ./ \ /, C invertebrados. Apesar de seu nome, trata-se de uma proteína
Au1 Au ! III que não contém grupos heme. Seu peso molecular é de
/ '\ / \' N
R Cl R I aproximadamente 1 milhão e contém dois íons Cu11. A
R—Au—C=N—Áu—R molécula é diamagnética devido ao forte acoplamento
I IR antiferromagnético entre os íons cobre(II), de configuração
R d9. A hemocianina é encontrada no sangue de caracóis,
caranguejos, lagostas, polvos e escorpiões. A hemocianina
na forma oxigenada é azul (em contraste com o sangue
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO humano) e tem uma molécula de oxigênio ligada aos dois
DEOXIDAÇÃO ( +V) átomos de Cu. A hemocianina desoxigenada contém Cu1 e
0 único composto conhecido contendo um elemento também é azul.
desse grupo no estado de oxidação ( + V), éo AuFs. Ele é São conhecidas diversas “proteínas azuis” contendo Cu.
obtido na forma de um sólido polimérico, diamagnético e Elas atuam como transportadores de elétrons, ao mudar seu
4B4 Bnjpo II — BRLIPO □□ COBRE

estado de oxidação de Cu2+ a Cu+ e vice-versa. Sua cor é • Gernscheim, H. (1977) The history of photography, Endeav-
muito mais intensa do que seria de se esperar, caso as our, 1, 18-22.
transições d-d fossem as únicas envolvidas na absorção de • Hathaway, B.J. e Billing, D.E. (1970) The electronic propet-
luz visível. Supõe-se que a cor seja decorrente das transições ties and stereochemistry of mono-nuclear complexes of the
de transferência de carga entre Cu e S. Entre os exemplos copper(II) ion, Coordination Chem. Rev., 5, 143.
estão a plastocianina e a azurina. A plastocianina ocorre • Jardine, F.H. (1975) Copper(I) complexes, Adv. Inorg. Chem.
nos cloroplastos das plantas verdes, tem um peso molecular Radiochem., 17,115.
de cerca de 10.500 e contém um átomo de Cu. É um • Johnson, B.G.F. e Davis, R. (1973) Comprehensive Inorganic
transportador de elétrons importante na fotossíntese. A Chemistry, Vol. 3 (Cap. 29: Ouro), Pergamon Press, Oxford.
azurina é encontrada em bactérias. Contém um átomo de • Karlin, K.D. e Gultneh, Y. (1985) Bioinorganic Chemical
Cu por molécula e é estruturalmente semelhante à plasto­ modelling of dioxygen-activation copper proteins, J. Chem.
cianina, mas seu peso molecular é da ordem de 16.000. Ed„ 62, 983-987.
• Karlin, K.D. e Zubieta, J. (eds) (1986) Biological and Inor­
ganic Copper Chemistry, Vol. 1, Adenine Press.
LEITURAS COMPLEMENTARES • Knutton, S. (1986) Copper - the enduring metal, Education
• Ainscough, E.W. e Brodie, A.M. (1985) Gold chemistry and in Chemistry, 23, 135-137.
its medicai applications, Education in Chemistry, 22, 6-8. • Massey, A.G. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry, Vol.
• Beinert, H. (1977) Structure and function of copper proteins, 3 (Cap. 27: Cobre), Pergamon Press, Oxford.
Coordination Chem. Rev., 23, 119-129. • Siegl, H. (ed.) (1981) Metal lon in Biological Systems, Vol. 13
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1968) Halides of the Second (Proteínas de cobre), Marcei Dekker, New York.
and Third Row Transition Elements, Wiley, London. • Sorenson, R.J. (1989) Copper complexes as 'radiation recov-
• Canterford, J.H. e Cotton, R. (1969) Halides of the First Row ery’ agents, Chemistry in Britain, 25, 169-170, 172.
Tt-ansition Elements, Wiley, London. • Thompson, N.R. (1973) Comprehensive Inorganic Chemis­
• Dirkse, T.P. (ed.) (1986) Copper, Silver, Gold, Zinc, Cadmium, try, Vol. 3 (Cap. 28: Prata), Pergamon Press, Oxford.
Mercary Oxides and Hydroxides, Pergamon, Oxford. • Valentine, J.S. e de Freitas, D.M. (1985) Copper-zinc
• Gerloch, M. (1981) The sense of Jahn-Teller distortions in dismutase, J. Chem. Ed., 62, 990-996.
octahedral copper(II) and other transition metal complexes, • West E.G. (1969) Developments in copper smelting, Chemis­
Inorg. Chem., 20, 638-640. try in Britain, 5, 199-202.
425

0
0

Grupo 12
O GHUPO DO ZinCO
INTRODUÇÃO O zinco exerce um papel importante em diversas
enzimas. Do ponto de vista biológico, é o segundo elemento
Todos os elementos apresentam uma configuração
de transição mais importante.
eletrônica d^s2, formando geralmente íons M2 + . Contudo,
muitos de seus compostos são covalentes em proporção
elevada. ABUNDÂNCIA E OCORRÊNCIA
Os compostos de Hg( + II) são mais covalentes, e seus O zinco ocorre na crosta terrestre na proporção de 132
complexos são mais estáveis que os correspondentes ppm, em peso. É o vigésimo-quarto elemento mais
compostos de Zn e Cd. Como esses íons têm uma camada d abundante. A produção mundial de Zn foi de 7,3 milhões de
completa, eles não se comportam como se fossem metais de toneladas, em 1992. Os principais produtores foram: Canadá
transição típicos. Embora os íons sejam divalentes, eles têm 19%, Austrália 14%, China 10% e ex-URSS, Peru e Estados
poucas semelhanças com os elementos do Grupo 2. Assim, Unidos 8% cada. A produção de cádmio foi de 20.700
o Zn mostra algumas semelhanças com o Mg. Porém, é mais toneladas e a de mercúrio de 3.200 toneladas, em 1992. Cd
denso e menos reativo, por ter um raio menor e uma carga e Hg são bastante raros. Apesar disso, esses elementos nos
nuclear maior. O Zn também tem uma maior tendência de são bastante familiares, porque sua extração e purificação
formar compostos covalentes. De modo geral, Zn e Cd são simples.
possuem propriedades semelhantes, mas as propriedades Quando a Terra foi formada, o zinco foi depositado na
do Hg diferem significativamente daqueles do Zn e do Cd. forma de sulfetos. ZnS é explorado comercialmente, sendo
Em vários aspectos, o Hg é um elemento singular. À conhecido como esfarelita nos Estados Unidos e como blenda
temperatura ambiente, é um líquido, é pouco reativo (nobre) na Europa. Sua estrutura se assemelha à do diamante, sendo
e, forma compostos "univalentes" de mercúrio(I). O mercúrio a metade dos sítios ocupados por S e a outra metade pelo
é o único elemento do grupo que possui um estado de Zn ou outro metal. A esfarelita quase sempre contém ferro,
oxidação (+1) bem definido. O aumento de estabilidade para e sua fórmula podería ser representada como (ZnFe)S. Isso
os menores estados de oxidação nos elementos mais pesados comumente ocorre também com a galena, PbS. O intempe-
do grupo é mais típico nos elementos do bloco p que nos rismo hidrotermal dos sulfetos levou à formação de depósitos
metais de transição. de carbonatos e de silicatos. ZnCO3 é outro minério impor­
tante. É denominado smithsonita nos Estados Unidos (uma
Zn é produzido em grande escala. Em 1992, foram homenagem a James Smithson, o fundador da Smithsonian
produzidas 7,3 milhões de toneladas do metal. Foi usado Institution, em Washington), e calamina na Europa. A
principalmente como proteção contra a corrosão, na hemimorfita, Zn4(OH)2(Si2O7) • H2O, é menos importante do
fabricação de ligas e em fundição. ZnO também é um produto ponto de vista econômico, mas é um exemplo interessante
comercialmente importante. de pirossilicato. Em 1988, os principais produtores de
minérios foram: Canadá 19%, ex-União
Tabela 28.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação Soviética 13,5%, Austrália 11% e China
e Peru 7% cada. Minérios de cádmio são
Elemento Símbolo Configuração eletrônica Estados de oxidação* muito raros. Pequenas quantidades de
Cd acompanham os minérios de zinco,
Zinco Zn [Ar] 3d'°4? n e o cádmio é extraído dos mesmos. Hg
Cádmio Cd [Kr] 4r/'°5? □ é obtido do cinábrio, HgS, um mineral
Mercúrio Hg [Xe] 4/4 5d ‘°6s2 I n relativamente raro, encontrado sobre­
' Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados tudo na ex-URSS, Espanha, México e
em negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, são mostrados em tipo Argélia.
normal.
426 Grupo 15 — 0 GRUPO □□ ZINCO

Zn está situado acima do Cd na série eletroquímica, e os


Tabela 28.2 — Abundância dos elementos na crosta
terrestre, em peso elementos situados na parte superior deslocam os elementos
situados abaixo deles na série.
Elemento ppm Ordem de Zn<- (sólido) "** Cd (solução) >2" (solução) Cd(sãiido) —0,36V
abundância relativa
O concentrado de Cd assim obtido é dissolvido em
Zn 76 24? H2SO4 e purificado por eletrólise. Zn também é recuperado
Cd 0,16 65? da solução de ZnSO4 por eletrólise.
Hg 0,08 66?

Obtenção do mercúrio
OBTENÇÃO E USOS Hg também é raro. É extraído na forma do minério
Obtenção do zinco cinábrio, vermelho-vivo, de fórmula HgS (podem conter
gotículas de Hg), principalmente na ex-URSS, Espanha,
Os minérios de zinco (principalmente ZnS) são
México e Argélia. O minério é triturado e HgS é separado
concentrados por flotação e aquecidos ao ar, para formarem
ZnO e SO2 (SO2 é usado na fabricação de H2SO4). Zn metálico dos outros minerais e concentrado por sedimentação, pois
é obtido a partir do óxido por dois processos diferentes: tem uma densidade muito alta (8,1 g cm‘!). Se o minério for
pobre em Hg, é aquecido ao ar. O vapor de Hg formado é
1) ZnO pode ser reduzido pelo monóxido de carbono a condensado, e o SO2 é usado na fabricação de H2SO4.
1.200 °C, num forno de fusão. A reação é reversível,
sendo necessária utilização de temperaturas elevadas HgS O2
600'C
-> Hg + S02
para deslocar o equilíbrio para a direita. Nessa
temperatura, o zinco se encontra no estado gasoso. Se Minérios mais ricos em mercúrio são aquecidos com
a mistura de Zn e CO2 fosse simplesmente removida do raspas de ferro, ou com cal:
forno e esfriada, ocorrería a reoxidação de parte do
zinco, e o pó de Zn obtido conteria grandes quantidades HgS + Fe -> Hg + FeS
de ZnO. 4HgS + 4CaO -> 4Hg + CaSO4 + 3CaS

ZnO + CO Zn + CO2 Hg obtido dessa maneira pode conter pequenas


quantidades de outros metais dissolvidos no mesmo,
Os fornos modernos minimizam a reoxidação de duas principalmente Pb, Zn e Cd. Hg muito puro pode ser obtido
maneiras: passando-se ar através do metal aquecido a 250 °C. Nessa
a) usando excesso de carbono, de modo a converter condição, os demais metais presentes são convertidos em
o CO2 formado em CO. óxidos, que flutuam na superfície e podem ser facilmente
b) resfriando bruscamente os gases que saem do removidos por:
forno, de modo que não haja tempo suficiente para D remoção mecânica da superfície.
o sistema atingir o equilíbrio. Esse resfriamento 2) tratamento com HNO3 diluído, que dissolve os óxidos.
rápido é conseguido aspergindo-se o gás quente 3) destilação, o Hg pode ser separado dos demais metais
com gotículas de chumbo fundido. Assim, pode e seus óxidos. Os pontos de ebulição são: Pb 1.751 °C;
ser obtido Zn com 99% de pureza. O cádmio Zn 908 °C; Cd 765 °C e Hg 357 °C.
eventualmente presente pode ser separado por
destilação.
Usos do zinco
2) Alternativamente, ZnS pode ser aquecido ao ar, a uma
temperatura menor, de modo a formar ZnO e ZnSO4. O zinco é usado em grandes quantidades para revestir
Estes são dissolvidos em H2SO4 e a solução é tratada objetos de ferro e evitar a corrosão. Uma fina película de
com Zn em pó para precipitar o Cd. A seguir, Zn puro zinco pode ser aplicada por eletrólise (galvanização).
pode ser obtido pela eletrólise da solução de ZnSO4, Camadas mais espessas podem ser aplicadas mergulhando-
mas o processo eletrolítico é caro. se o objeto em zinco fundido. Este último procedimento é
chamado erroneamente de “galvanização a quente". Alter­
nativamente, o objeto pode ser revestido com Zn em pó e
Obtenção do cádmio aquecido (sherardização), ou pulverizado com Zn fundido.
O cádmio é encontrado em quantidades traço (2 a 3 Grandes quantidades de zinco são utilizadas na fabricação
partes por mil) na maioria dos minérios de zinco, sendo de ligas. A liga mais comum é o bronze, (uma liga de Cu/
extraído dos mesmos. O minério é tratado de modo a formar Zn, com 20 a 50% de Zn). O zinco é o metal mais usado na
uma solução de ZnSO4, contendo uma pequena quantidade fundição de peças metálicas. O zinco também é usado como
de CdSO4. Então, o metal Cd é precipitado adicionando-se o eletrodos negativos nas pilhas secas (células de Ledanché,
um metal mais eletropositivo (isto é, situado acima do Cd células de mercúrio, e células alcalinas de manganês). ZnO
na série eletroquímica), que o desloca da solução. Quando pode ser usado como pigmento branco em tintas. É
Zn em pó é adicionado à solução de ZnSO4/CdSO4, o Zn é particularmente brilhante, pois absorve luz ultravioleta e a
oxidado e se dissolve, enquanto Cd metálico é precipitado. reemite como luz branca.
ENEREIAS DE IDNIZAÇAO 427

Usos do cádmio Tabela 283 — Algumas propriedades físicas


A maior parte do Cd produzido é empregada para
proteger o aço da corrosão: formação de películas de Cd por Raio Raio iônico Ponto de Ponto de Densidade Eletrone-
covalente M2* fusão ebulição gativida-
eletrodeposição. Cd é um ótimo absorvedor de nêutrons, (A) (A) CC) CC) (gem-3) de de
CC)
sendo usado na confecção das barras de controle para Pauling
reatores nucleares. Também é usado em baterias de Ni/Cd,
empregadas em locomotivas a diesel e nas pilhas recar- Zn 1,25 0,740 420 907 7,14 1,6
regáveis de Ni/Cd, usadas em rádios e outros equipamentos Cd 1.41 0,95 321 765 8,65 1,7
eletrônicos. CdS é um pigmento amarelo e importante, mas Hg 1,44 1,02 -39 357 13334 1,9
caro; é usado em tintas.
Hg é muito mais forte que a ligação Cd-Cd. Isso ocorre devido
Usos do mercúrio ao fato da primeira energia de ionização do Hg ser muito
elevada em relação à do Cd (Tab. 28.4). Por isso, o Hg
0 mercúrio é usado em grandes quantidades compartilha elétrons com maior facilidade que o Cd.
principalmente em células eletrolíticas, destinadas à
fabricação de NaOH e Cl2. A indústria elétrica utiliza o Hg Os elementos em estados de oxidação superiores a (+ II)
em lâmpadas de vapor de mercúrio (para a iluminação pú­ não são conhecidos, pois a remoção de mais de dois elétrons
blica), em retificadores e interruptores. Historicamente, Hg destruiría a simetria de uma camada d completamente
foi usado na extração de metais preciosos (particularmente preenchida.
a prata e o ouro), na forma de amálgamas. O acetato de
fenil(mercúrio) e outros compostos organomercúricos têm TAMANHO
propriedades fungicidas e germicidas, e às vezes são usados Os raios iônicos dos íons M2+ do grupo 12 são
no tratamento de sementes. O cloreto de mercúrio(l), [Hg2]Cl2 apreciavelmente menores que os dos correspondentes
é usado no tratamento da potra, uma doença que ocorre em elementos do Grupo 2. Isso ocorre porque o Zn, Cd e Hg
plantas da família da couve (brássica). HgO tem sido usado possuem 10 elétrons d, que blindam ineficientemente a carga
em tintas que evitam o crescimento de microorganismos nos nuclear. A diferença de tamanho explica as diferenças de
cascos de navios e outras embarcações. HgCl2 é o reagente comportamento e de propriedades observadas entre os
de partida para a fabricação de compostos organo­ elementos dos dois grupos.
mercúricos. Todos os compostos de mercúrio são tóxicos.
Mas, os organo-mercúricos são particularmente perigosos, Ca2+ - 1,00 A Zn2 + = 0,74 A
pois seus efeitos ecológicos são de longo prazo. Entre os Sr2 + = 1,18 Â Cd2+ - 0,95Â
usos do mercúrio em pequena escala estão a fabricação de Ba2+ = 1,35 A Hg2+ = 1,02 A
termômetros, barômetros e manômetros, a preparação de Por causa da contração lantanídica, o tamanho dos
amálgamas, de fulminato de mercúrio (usado como elementos da segunda e da terceira séries de transição é
detonador) e em alguns medicamentos. praticamente o mesmo. Nos pares de elementos de transição
anteriores, Zr/Hf e Nb/Ta, os tamanhos eram muito
ESTADOS DE OXIDAÇÃO próximos. O efeito da contração lantanídica ainda pode ser
observado no par Cd/Hg, mas em grau bem menor. O íon
Todos os elementos desse grupo apresentam dois Hg2+ é maior que o íon Cd2 +, mas o aumento de tamanho é
elétrons s externos, além de uma camada d completa. Os menor que o observado entre Zn2+ e Cd2 + . Esse fato é
compostos divalentes característicos do Grupo são consti­ evidenciado quimicamente, pelas diferenças de compor­
tuídos pelo elemento no estado de oxidação (+ II), formado tamento entre Cd e Hg.
pela remoção dos elétrons s.
Compostos de Hg( +1) também são importantes. O íon ENERGIAS DE IONIZAÇÃO
monovalente Hg+ não existe, pois os compostos de
A primeira energia de ionização dos elementos do Grupo
mercúrio(I) se dimerizam. Assim, o cloreto de mercúrio(I),
12 (Tab. 28.4) é consideravelmente maior que a dos
Hg2Cl2, contém o íon [Hg-Hg]2 + , onde os dois íons Hg +
correspondentes elementos do Grupo 2. Isso se deve ao
(configuração 6s’) se ligam utilizando seus elétrons s. Os
menor tamanho dos átomos e à fraca blindagem propiciada
compostos de mercúrio (I) são, pois, diamagnéticos. As
pelos 10 elétrons que preenchem os orbitais d. O
espécies instáveis Zn22+ e Cd22+ foram detectadas em
preenchimento do nível 4f aumenta ainda mais a atração
misturas fundidas como Cd/CdCl2 ou Cd/CdCl2/AlCl3. O
dos elétrons de valência pelo núcleo no Hg, fazendo com
composto amarelo [Cd2] [A1C14] 2 foi isolado de tais misturas,
que sua primeira energia de ionização seja a maior que a de
mas desproporciona-se instantaneamente em água.
qualquer outro metal. As segundas energias de ionização
[Cd2]2+ —> Cd2 + + Cd são elevadas, mas os íons M2 + dos três elementos do grupo
são conhecidos, pois as energias de solvatação ou as energias
A tendência normal é o enfraquecimento dessas liga­ reticulares são suficientemente elevadas para compensar as
ções à medida que se desce pelo grupo, já que os orbitais energias de ionização. O mercúrio tende a formar compostos
envolvidos se tornam maiores e mais difusos, tornando o covalentes. A terceira energia de ionização é tão elevada
recobrimento entre os mesmos menos efetivo. Contudo, que não existem compostos com os elementos no estado de
nesse grupo observa-se a tendência inversa: a ligação Hg- oxidação ( + III).
4B8 Grupo 1E — GRUPO □□ ZINCO

Tabela 28.4 — Energias de promoção e de ionização do grupo do zinco, com configuração de valência d10s2, são
pequenas. Os elementos dos dois grupos formam íons
Energias de promoção Energias de ionização divalentes. Os sulfatos hidratados são isomorfos e os sais
(kJ mor1) duplos como K2SO4 ■ HgSO4 ■6H2O são análogos ao
(kJ mor1) 1? 2.° 3.° K2SO4 ■ MgSO4 ■ 6H2O. Contudo, os elementos do grupo do
zinco são mais "nobres", mais covalentes, têm maior ten­
Zn 433 906 1.733 3.831 dência a formar complexos e são menos básicos.
Cd 408 876 1.631 3.616 A reatividade dos metais decresce na seguinte ordem:
Hg 524 1.007 1.810 3.302
Zn > Cd > Hg. Essa tendência pode ser observada nos seus
potenciais de redução padrão. Zn e Cd são metais eletro-
PROPRIEDADES GERAIS positivos, mas Hg tem um potencial positivo e, portanto, é
Zn, Cd e Hg exibem algumas poucas propriedades relativamente nobre. A grande diferença entre as proprie­
associadas aos elementos de transição típicos. O motivo para dades do Cd e do Hg pode ser parcialmente explicada pelo
tanto é a presença de um nível d completo, não disponível fato do Hg ter a maior energia de ionização dentre os metais,
para a formação de ligações. e pela maior energia de solvatação do íon Cd2*.
1) Zn e Cd não têm valência variável. Zn2* + 2e -» Zn E° = -0,76 V
2) Têm configuração eletrônica d10, não sendo possível a Cd2* + 2e -> Cd E° = -0,40 V
ocorrência de transições d-d. Por isso, muitos dos mas Hg2* + 2e->Hg E° = +0,85 V
compostos desses elementos são brancos. Contudo,
alguns compostos de Hg( + II) e um número menor de Zn e Cd são sólidos prateados que rapidamente perdem
compostos de Cd( + II) são intensamente coloridos, por o brilho quando expostos ao ar úmido. Hg é um liquido
causa da presença de transições de transferência de prateado, que não se torna escuro com a mesma facilidade.
carga dos ligantes para o metal (os metais deste grupo Zn e Cd se dissolvem em ácidos não-oxidantes diluídos
são menores e têm um maior poder polarizante que os liberando H2, mas Hg não reage. Os três metais reagem com
metais do Grupo 2. Isso aumenta o grau de covalência ácidos oxidantes, como HNO3 e H2SO4 concentrados,
das ligações e também possibilita a ocorrência de formando sais e liberando uma mistura de óxidos de
transições de transferência de carga). nitrogênio e de SO2, respectivamente. Nessas condições, Hg
forma sais de mercúrio (II), mas reage lentamente com HNOj
3) Os metais são relativamente moles quando comparados
diluído formando o sal de mercúrio(I), Hg2(NO3)2.
com os demais metais de transição, provavelmente
porque os elétrons d não participam das ligações. Zn é o único elemento do grupo com algumas
propriedades anfóteras: solubiliza-se em álcalis formando
4) Os pontos de fusão e de ebulição são muito baixos.
zincatos como Na2[Zn(OH)4], Na[Zn(OH)3-(H2O)J ou
Isso explica porque esses elementos são mais reativos
Na[Zn(OH)3 • (H2O)3], de modo semelhante aos aluminatos.
que os metais do grupo do cobre, embora as energias
de ionização dos elementos dos dois grupos sugiram o Os três metais formam óxidos MO, sulfetos MS e haletos
contrário (o caráter "nobre" é favorecido por elevados MX2, pela reação sob aquecimento dos elementos envolvidos.
calores de sublimação, elevadas energias de ionização HgO se decompõe a altas temperaturas, e esta reação tem
e baixos calores de hidratação). sido utilizada como método de preparação de O2.
O mercúrio é o único metal que é líquido à temperatura 35O'C 400‘C
Hg O2 + HgO + Hg + 02
ambiente. Isso pode ser explicado pela energia de ionização
muito grande, que dificulta a participação dos elétrons na
Os três elementos formam sulfetos insolúveis. Na análise
formação das ligações metálicas. O líquido tem uma pressão
qualitativa, CdS (amarelo) e HgS (preto) são precipitados,
de vapor apreciável, à temperatura ambiente. Por isso,
borbulhando-se H2S nas soluções previamente acidificadas.
superfícies expostas de mercúrio devem sempre ser cobertas
ZnS (branco) é mais solúvel, e só pode ser precipitado pelo
(por exemplo, com tolueno), para impedir sua evaporação
H2S de soluções alcalinas. ZnCl2 e CdCl2 são iônicos, mas
e, conseqüentemente, o risco de intoxicação. O mercúrio
HgCl2 é covalente. A energia necessária para promover um
gasoso tem um comportamento incomum, pois é constituído
elétron s para um orbital p antes de formar duas ligações
por espécies monoatômicas, como os gases nobres.
covalentes, decresce do Zn para o Cd; mas surpreenden­
As semelhanças entre os elementos do Grupo 2, com temente, aumenta do Cd para o Hg. Zn e Cd reagem com P
uma configuração eletrônica de valência s2, e os elementos formando fosfetos, mas Hg não reage.
Potenciais padrão de redução (volt) Todos os três metais formam ligas com diversos outros
metais. Cu e Zn formam diversas ligas chamadas de bronzes,
Solução ácida
que podem conter de 20% a 50% de Zn. Os bronzes são
Estados de oxidação comercialmente importantes. Ligas de Hg com outros metais
+n +i o +n +1 0 +11 +1 0 são denominadas amálgamas. A amálgama de sódio é
-0.76 0.40 +0,91 +0.79 formada na célula de cátodo de mercúrio, no processo de
Zn2*------- Zn Cd2* Cd Hg2* ------- Hg?*------- Hg fabricação de NaOH. Amálgamas de zinco e de sódio são
------ +0,85--------- 1 usadas no laboratório como fortes agentes redutores. A
maioria dos elementos da primeira série de transição não
□l-HALETOS 409

formam amálgamas, exceto Mn, Cu e Zn. Os elementos de nitrato Hg(NO3)2 são aquecidos. A diferença de cor se deve
transição mais pesados formam amálgamas com facilidade. à diferença no tamanho das partículas.
Num grupo vertical do bloco d, os elementos da segunda Quando Zn(OH)2 e Cd(OH)2 são tratados com H2O2,
e terceira séries tem tamanho e propriedades químicas dão origem a peróxidos de composição variável.
semelhantes, mas diferem consideravelmente dos elementos
da primeira série. Em contraste, nesse grupo, Zn e Cd são DI-HALETOS
muito semelhantes mas diferem consideravelmente do Hg.
Todos os 12 di-haletos MX2 são conhecidos. Os fluoretos
têm pontos de fusão consideravelmente maiores que os dos
ÓXIDOS demais haletos, pois são compostos iônicos. Os pontos de
fusão dos cloretos, brometos e iodetos são relativamente
O único óxido comercialmente importante é o ZnO. Seu baixos, sugerindo que são compostos parcialmente cova-
principal uso está na indústria da borracha, pois diminui o lentes.
tempo necessário para a ocorrência da vulcanização. ZnO ZnF2, CdF2 e HgF2 são sólidos brancos, são considera­
também é usado como pigmento branco em tintas. É muito
velmente mais iônicos e têm pontos de fusão mais elevados
menos usado para essa finalidade que o TiO2, pois este tem que os demais haletos. Não são muito solúveis em água.
um maior índice de refração e, portanto, um maior poder de Em parte, isso se deve à grande energia reticular e, também,
cobertura. ZnO é também a matéria-prima para a obtenção ao fato de não formarem complexos com íons haleto em
de outros compostos de Zn, tais como estearato de zinco e solução.
palmitato de zinco. Esses dois compostos são detergentes
("sabões") e são utilizados para estabilizar plásticos e como ZnF2 tem a estrutura do rutilo (TiOJ, na qual o íon
agentes secantes de tintas. A produção mundial de ZnO foi Zn2 + está rodeado octaedricamente por seis íons F“. Os íons
de 366.500 toneladas em 1991. Cd2 + e Hg2+ são maiores e estão octacoordenados, numa
estrutura análoga à da fluorita (CaF2).
As propriedades básicas aumentam de cima para baixo
dentro do grupo. ZnO é anfótero e se dissolve em ácidos, As estruturas do ZnCl2, ZnBr2 e Znl2 podem ser
consideradas como sendo constituídas por arranjos de empa­
formando sais, e em álcalis, formando zincatos tais como
cotamento compacto de íons haleto, com os íons Zn2’
[Zn(OH)4]2’ e [Zn(OH)3- (H2O)]'. A adição de álcalis a uma
ocupando um quarto dos interstícios tetraédricos. Por outro
solução aquosa de Zn2+ leva inicialmente à formação de
lado, os compostos CdX2 são constituídos por arranjos de
um precipitado branco gelatinoso de Zn(OH)2, que se dis­
empacotamento compacto de íons haleto, com os íons Cd2 +
solve num excesso de álcali formando zincatos. CdO é
ocupando metade dos interstícios octaédricos. O grau de
essencialmente básico, mas em soluções muito concentradas
polarização é considerável, e esses retículos cristalinos não
de base, Na2[Cd(OH)4] é formado. Zn(OH)2 e Cd(OH)2 se
são completamente regulares, como se espera no caso de
dissolvem em excesso de amônia, formando complexos
compostos iônicos. CdCl2 e Cdl2 formam estruturas lamelares
amina. HgO é totalmente básico.
um pouco diferentes, nas quais os íons Cd2" ocupam todos
Os três óxidos são formados pela combinação direta os interstícios octaédricos em uma camada e nenhum na
dos elementos, ou então na decomposição térmica dos camada seguinte. Isso sugere que esses compostos são
nitratos correspondentes. ZnO e CdO sublimam, sugerindo parcialmente covalentes (vide Capitulo 3). Em contraste, os
que são significativamente covalentes. HgO não sublima, compostos HgCl2, HgBr2 e Hgl2 são covalentes e possuem
mas se decompõe quando aquecido. baixos pontos de fusão. HgCl2 sólido é constituído por
aquec. superior a 400‘C moléculas lineares Cl-Hg-Cl, com ligações Hg-Cl de 2,25
2HgO ■» 2Hg + O2
A. Há pouca interação entre os átomos de Hg e Cl, a não ser
Logo, a estabilidade térmica dos óxidos decresce na entre o átomo de Hg e os dois átomos de Cl que formam as
seqüência Zn > Cd > Hg. moléculas (demaisdistâncias interatômicas = 3,34Â).HgBr2
e Hgl2 formam sólidos lamelares.
ZnO é branco quando frio, mas se torna amarelo quando
aquecido. Depois de esfriar, volta a ser branco. CdO pode Os haletos são todos brancos, exceto pelo CdBr2, que é
ser amarelo, verde ou marrom à temperatura ambiente, amarelo pálido, e pelo Hgl2, que pode ser encontrado nas
dependendo do tratamento térmico ao qual foi submetido. formas vermelha e amarela. A cor se deve a transições de
Contudo, é branco na temperatura do ar líquido. Esses transferência de carga.
compostos divalentes possuem uma camada d completa, e Os cloretos, brometos e iodetos de Zn e de Cd são higros-
a cor não é devida a transições d-d. A cor se deve aos defeitos cópicos e muito solúveis em água. As solubilidades são:
existentes na estrutura do sólido (ZnO perde O quando ZnCl2 432 g em 100 g de água a 25 °C
aquecido). O número de defeitos aumenta com o aumento CdCl2 140 g em 100 g de água a 20 °C
da temperatura, e deve tender a zero, no zero absoluto (vide
Capítulo 3). HgO pode ser encontrado nas formas amarela e Tabela 28.5 — Di-haletos e seus pontos de fusão
vermelha.
A adição de uma base às soluções dos sais dos elementos ZnF2 872°C CdF2 l.O49°C HgF, 645°C*
ZnCÍ2 283°C CdCÍ2 568°C HgCl, 276°C
do grupo leva à precipitação de Zn(OH)2, Cd(OH)2 e HgO
(amarelo), e não Hg(OH)2. A forma amarela do HgO tem a ZnBr2 394°C CdBr, 567°C HgBr, 236°C
mesma estrutura cristalina que a forma vermelha mais Znl2 446°C Cdl2 387°C Hgl2 259°C
comum, que se forma quando os elementos (Hg + O2) ou o * Decompõe
430 Grupo 12 — 0 GRUPO 00 ZINCO

A grande solubilidade se deve em parte à baixa energia


reticular (também responsável pelos baixos pontos de fusão).
Outro motivo para a elevada solubilidade decorre do fato
dos íons formarem vários complexos, tais como
[Zn(H2O)6] , ZnCl2(hidratado), ZnCl (hidratado) 6
[ZnCl4(H2O)2]2’, em solução. As soluções de sais de Zn2+ e
de Cd2+ são ácidas, por causa da hidrólise: Zn
H20 + [Zn(H2O)6]2+ -> [Zn(H2O)5OH] + + H30 +
Soluções concentradas de ZnCl2 são corrosivas, e
dissolvem papel. ZnCl2 tem importância econômica e é usado
no tratamento de tecidos. ZnCl2 também é usado como Zn
fundente em solda. É também conhecido como “sal de solda” Figura 28.1 — A estrutura do acetato básico de zinco, (CH3COO)6 Znfi
(killed salts), pois é capaz de dissolver óxidos metálicos,
fazendo com que a solda se ligue a uma superfície limpa do Geralmente, os complexos de Hg" são octaédricos, mas
metal. são apreciavelmente distorcidos, com duas ligações mais
Os sais de Zn são geralmente hidratados. Os sais de Cd curtas e quatro ligações mais longas. No caso extremo, essa
são menos hidratados: os haletos não se ionizam distorção leva à formação de complexos com apenas duas
completamente quando são dissolvidos e podem sofrer uma ligações, ou seja, bicoordenado. Podem ser citados como
reação de auto-complexação. Assim, Cdl2 pode gerar uma exemplos os complexos Hg(CN)2, Hg(SCN)2 e [Hg(NH3)2]Cl2.
mistura de Cd2+ hidratado, Cdl + , [Cdl3]“3 e [Cdl4]2- em solu­ Este último contém o íon linear [H3N-Hg-NH3]2+. 0 íon
ção: a proporção entre essas espécies depende da concen­ Hg" também forma alguns complexos tetraédricos, como
tração. Sais de mercúrio(II) são geralmente anidros e não se [Hg(SCN)4]2‘ e K2 [Hgl4]. Este é o reagente de Nessler usado
ionizam apreciavelmente quando dissolvidos em água. HgCl2 na detecção e determinação quantitativa de amônio em
é conhecido como sublimado corrosivo, sendo obtido pelo . solução. O reagente de Nessler reage com amônia em con­
aqueci-mento de HgSO4 com NaCl e usado como antisséptico centrações tão baixas quanto 1 ppm, provocando o
desde a Idade Média. É um composto muito tóxico. Contudo, aparecimento de uma coloração amarela ou de um precipi­
o calomelano, Hg2Cl2, é usado em medicina como um tado marrom. Esse teste é usado na análise de água potável.
poderoso laxante. A presença de íons NH4+ em água nessa concentração não
é em si prejudicial, mas pode indicar a presença de contami-
COMPLEXOS nantes orgânicos. Cloreto de mercúrio(II) se encontra em
solução essencialmente como HgCl2, mas [HgCl4]2" pode ser
Os íons Zn2 + e Cd2+ formam complexos com ligantes
formado caso haja um excesso de Cl". Nos complexos de
doadores de O, com ligantes doadores de N e S, e também
Hg, dois ligantes estão ligados mais fortemente que os
com haletos. Hg( + II) forma complexos com ligantes
demais, e alguns aminocomplexos, podem liberar amônia
doadores de N, P e S, mas menos facilmente com doadores
do sólido.
de 0. A estabilidade dos complexos com Hg( + II) é muito
maior que a dos complexos dos outros dois elementos. Isso [Hg(NH3)4](NO3)2 -> [Hg(NH3)2](NO3)2 + 2NH3
não corresponde à regra, pois normalmente os íons menores
formam complexos com maior facilidade. Não são Zn e Cd raramente formam complexos bicoordenados.
conhecidos complexos com ligantes formadores de ligações Complexos tricoordenados são raros, sendo um dos
n, como CO, NO ou alcenos. Contudo, Zn e Cd formam exemplos o complexo [Hgl3]“. Complexos pentacoordenados
complexos com CN’, por exemplo, [Zn(CN)4]2~. Os também não são comuns, mas têm-se exemplos como
complexos de Zn são geralmente incolores, mas complexos [CdCls]3~ e [Zn(terpiridina)Cl2], cuja estrutura é bipirâmide
de Hg (e em menor extensão de Cd) são freqüentemente trigonal. Há poucos exemplos de complexos com número
coloridos, por causa das transições de transferência de carga. de coordenação 7 e 8. Exemplos de complexos octacoor-
São conhecidos complexos desses elementos com números denados são [Zn(NO3)4]2~ e [Hg(NO3)4]2". Esses complexos
de coordenação de 2 a 8. Como possuem configuração d10, a possuem ligantes bidentados doadores de 0 com ângulo de
energia de estabi-lização de campo cristalino é igual a zero. coordenação pequeno, tal como o N03‘, no qual dois de
Os complexos de Zn11 e Cd" são geralmente tetraco- seus átomos de O ocupam posições de coordenação.
ordenados e tetraédricos. São conhecidos muitos complexos O zinco forma o acetato básico de zinco
tetraédricos, como [MC14]2", [M(H2O)4]2 + , [M(NH3)4]2 + , (CH3COO)6Zn4O, um complexo muito semelhante ao acetato
[M(NH3)2C12], [Zn(CN)4]2", [Zn(piridina)2Cl2] e básico de berílio, tanto no que se refere à estrutura como às
[Cd(piridina)2Cl2]. No [Zn(SCN)4 ]2+ o ligante está ligado propriedades (vide Fig. 28.1). O complexo de zinco hidrolisa-
pelo N, mas no [Cd(SCN)4]2 + a ligação ocorre pelo S. se mais facilmente que o de berílio, dado que o zinco pode
Zn e Cd formam diversos complexos octaédricos aumentar seu número de coordenação até 6.
hexacoordenados, como [M(H2O)6]2 + , [M(NH3)6]2 + ,
[M(etilenodiamina)3]2 + e [Cd(orto-fenantrolina)3]2 +. Os
complexos octaédricos de Zn não são muito estáveis, mas COMPOSTOS DE MERCÚRIO (+1)
Cd forma complexos octaédricos com maior facilidade. Estes Somente alguns poucos compostos de Hg( + I) são
são mais estáveis que os de Zn, porque o Cd é maior. conhecidos. Eles não contém Hg + , mas o íon (Hg-Hg)2*.
COMPOSTOS OE MERCÚRIOt+l) 431

Os dois átomos de Hg estão ligados por meio dos orbitais completamente para a esquerda. Por outro lado, é possível
6s. 0 mercúrio é um elemento singular por formar íons obter compostos de mercúrio(I) aquecendo-se compostos
metálicos dinucleares estáveis. Dentre os metais, os dois de mercúrio(II), com pelo menos 50% de excesso de Hg.
únicos outros metais que formam íons dinucleares são (Zn-
Zn)2* e (Cd-Cd)2". Mas, esses íons são instáveis e tais HgCl2 + Hg -> ]Hg2]Cl2
espécies só foram detectadas espectroscopicamente em Na análise qualitativa, a presença de Hg2Cl2 em solução
misturas fundidas de Zn/ZnCl2 e Cd/CdCl2.
é confirmada pela formação de um precipitado preto,
Os compostos de mercúrio (I) podem ser obtidos redu­ mediante adição de NH4OH. O resíduo preto pode ser
zindo-se os sais de mercúrio(II) com o metal. Alternativa­ Hg(NH3)2Cl2, HgNH2Cl ou Hg2NCl H2O, ou então uma
mente, o nitrato de mercúrio (I) pode ser obtido dissolvendo- mistura dos três compostos com Hg.
se Hg em HNO3 diluído. Hg2CO3 é, então, precipitado pela
Existem poucos complexos de mercúrio(I), por causa
adição de NaHCO3, e outros sais podem ser obtidos a partir
do grande tamanho do íon binuclear, e porque a maioria
deste composto, por exemplo, reagindo-se com HC1, HF,
dos ligantes provoca o deslocamento da reação de
H2SO4, etc.
desproporcionamento, discutido acima.
Os quatro haletos de mercúrio(I) são conhecidos.
Um aspecto único do mercúrio no estado (+1) é o fato
[Hg2]F2 é hidrolisado pela água e, a seguir, se desproporciona.
dele ser constituído por dois átomos metálicos ligados
[Hg2]F2 + 2H2O —> 2HF + [Hg2](OH)2 diretamente entre si, sendo sua estrutura [Hg-Hg]2". Há
instável diversas evidências experimentais a favor dessa estrutura.
desproporcionamento
(Hg2](OH)2 + Hg"O + Hg° + H2O
Difração de raios X
[Hg2] Cl2, [Hg2]Br2 e [Hg2]I2 são insolúveis em água. O nitrato A estrutura cristalina de diversos compostos de mercú-
[Hg2](NO3)2-2H2O é solúvel em água e a solução contém o rio(I) foi determinada por difração de raios X. Considere por
íon linear [H2O-Hg-Hg-OH2]2 + . Hg2(C104)2-4H20 também exemplo o composto Hg'Q. Se ele fosse constituído por Hg1’
é solúvel. Nenhum óxido, hidróxido ou sulfeto é conhecido. e CF, sua estrutura teria íons Hg" alternados com íons Cl".
Os potenciais de redução padrão são tão próximos que Contudo, em vez desse arranjo, foi observado o arranjo lin­
agentes oxidantes como HNO3 concentrado oxidam Hg a ear Cl-Hg-Hg-Cl. Os demais compostos de Hg’ também
Hg2+ e não a Hg[I) (caso o oxidante esteja presente em apresentam pares Hg-Hg em vez de íons discretos Hg1. O
excesso). comprimento da ligação Hg-Hg varia dependendo do
composto: [Hg2]F2, 2,51 Â; [Hg,]Cl2, 2,53 A; [Hg2]Br2, 2,49
Hg2" -» Hg E° = +0,85 V A; [Hg2]I2,2,69 A; [Hg2](NO3)2 -2H2O, 2,54 Â; [_Hg2]SO4,2,50
e [Hg2]2" - Hg E° = +0,79 V A. Todos são menores que a distância de 3,00 Â no mercúrio
sólido.
Pode-se inferir, analisando-se um diagrama de potenciais
de redução, que o íon [Hg2]2+ é estável por uma pequena Constantes de equilíbrio
margem frente à reação de desproporcionamento, nas condi­ As constantes de equilíbrio podem ser medidas, e
ções padrão, fornecem evidências sobre as espécies presentes. Os
compostos mercúrio(I) podem ser obtidos a partir dos
Hg2 + + Hg — Hg22" E° = +0,13 V correspondentes compostos de mercúrio(ll) e mercúrio
metálico. Se a reação for:
A constante de equilíbrio K da reação pode ser calculada a
partir do potencial E°: Hg(NO3)2 + Hg -> 2HgNO3
Hg2" + Hg—>2Hg"
E° = —InK
nF teremos, pela lei da açao das massas
_ concentração de (Hg2)2" _ [Hg1]2
K 170 = constante
concentração de Hg2" [Hg2"]
Assim, soluções de compostos mercúrio (I) contêm um Os experimentos mostraram que isso não é verdadeiro. Se,
íon Hg2" para cada 170 íons [Hg2]2". O equilíbrio é delicado. porém, tivermos:
Se for adicionado à solução um reagente que remova íons [Hg2f"
Hg2" da mistura (formando um composto insolúvel, ou então Hg2" + Hg —> (Hg,)2" então constante
[Hg2"]
um complexo), o equilíbrio será deslocado para a esquerda.
Nessas condições os íons (Hg2)2" se desproporcionarão Isso foi verificado experimentalmente, comprovando-se assim
completamente em Hg2" e Hg. Por exemplo, a adição de que os íons mercúrio(I) são Hg/", ou seja, (Hg-Hg)2".

0H‘ ou S2" forma um precipitado contendo HgO e Hg, ou
HgS e Hg. A causa da inexistência de diversos compostos de
mercúrio(I), como o hidróxido, o sulfeto e o cianeto, se deve Células de concentração
à precipitação dos respectivos compostos de Hg2", deslo­ A análise das medidas da força eletromotriz de uma
cando o equilíbrio da reação de desproporcionamento acima célula de concentração de nitrato mercuroso indicou que o
432 Brupo 12 — GRUPO □□ ZINCO

íon mercúrio(I) possui duas cargas positivas. O potencial E°


[Hg^Hg^HgffHg^Hg^Hg^Hg]'’
da célula abaixo foi medido, encontrando-se o valor
0,029 V, a 25 °C.
Embora não sejam idênticos, os comprimentos de
Hg nitrato de mercúrio (1) nitrato de mercúrio(I) Hg ligação estão na faixa de comprimentos encontrados na
0,005 M 0,05 M maioria dos compostos de mercúrio (1). A natureza da ligação
em HNO3 M/10 em HNO3 M/10 nesses íons é de interesse. No íon Hg22*, os dois átomos de
(D (2) Hg estão ligados pelos orbitais 6s. Essa estratégia não pode
ser estendida para três ou quatro átomos. Por outro lado, se
2.303RT
E 108 c. o íon mercúrio(I) fosse constituído por um íon Hg2* eum
nF átomo de Hg coordenado a ele, ou seja, Hg2*«-Hg, não
Substituindo-se os valores numéricos nesta equação: havería problemas em se estender essa ligação ao trímero
Hg->Hg2*«—Hg. Mas mesmo assim, é difícil de se imaginar
0,029 = «iogJL21 a formação de um tetrâmero linear. A resposta pode estar
n 0,005 numa ligação multicentrada. É possível se obter
Logo, n = 2,0 [Hg2.ss(AsF6)]n, um sólido incomum, em SO2 líquido:
O número de cargas no íon positivo, n, pode ser 6n(Hg) + 3n(AsFs) -> [Hg2,85(AsF6)]„ + n(AsF3)
calculado, pois R a constante dos gases, T a temperatura
absoluta, F o faraday e c, ec2 as concentrações das soluções, Sua estrutura cristalina é constituída por cadeias de
são valores conhecidos. O valor calculado de n foi 2, átomos de Hg nas direções x e y. Esse composto conduz a
confirmando a estrutura (Hg2)2 + . eletricidade quase tão bem quanto o mercúrio e toma-se
um supercondutor, a baixas temperaturas.
Espectros Raman
COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS
O espectro Raman do nitrato de mercúrio (I) contém as
linhas características do grupo NO3". Linhas semelhantes O primeiro composto organometálico obtido foi o sal
aparecem nos espectros de muitos outros nitratos. Porém, o de Zeise, K[Pt(q2C2H4)Cl3]H2O, em 1825, mas permaneceu
espectro do nitrato de mercúrio apresenta uma linha adicional como uma curiosidade química. Os primeiros compostos
em 171,7 cm"1, que é atribuída à ligação Hg-Hg. Estiramentos organometálicos úteis (encontrou emprego em síntese
homonucleares de espécies diatômicas são ativos no espectro orgânica) foram preparados por Sir Edward Frankland, em
Raman, mas inativos no espectro infravermelho. Esse foi o 1849. Esses compostos eram de dois tipos:
primeiro exemplo do uso do espectro Raman na identificação 1) Compostos de dialquilzinco, ZnR2; e
de uma nova espécie. 2) Haletos de alquilzinco, RZnX.
Foram originalmente obtidos pela reação:
Propriedades magnéticas
Et I + Zn atmosfera inerte. N; ; EtZnl --- CJlor > Et2Zn + ZnI2
Todos os compostos de mercúrio(I) são diamagnéticos,
tanto no estado sólido como em solução. O íon Hg+ deveria A reação dá melhores resultados com iodetos de alquila
ter um elétron desemparelhado e ser paramagnético, mas ou arila, mas é mais econômico usar RBr e uma liga Zn/Cu.
no [Hg-Hg]2* todos os elétrons estão emparelhados e essa CO2 pode ser usado para gerar uma atmosfera inerte. Os
espécie deve ser diamagnética. produtos ZnR2 são líquidos covalentes ou, então, sólidos de
baixos pontos de fusão. Os haletos de alquilzinco aparen­
Medidas crioscópicas temente têm a estrutura:
O abaixamento do ponto de congelamento de um líquido R X
depende do número de partículas dissolvidas no líquido. \ /
No caso do nitrato de mercúrio(I), os valores obtidos são Zn—Zn
coerentes com a ionização do composto nos íons Hg22 + e / \
R X
dois NO3", ao invés dos íons Hg* e NO3". Eles foram usados em sínteses orgânicas antes da
descoberta dos reagentes de Grignard, RMgX. Geralmente,
POLICÁTIONS os reagentes de Grignard são de síntese e manipulação mais
convenientes.
Os compostos Hg3(AlCl4)2 e Hg4(AsF6)2 contêm cátions,
respectivamente, com três e quatro átomos de mercúrio Os compostos orgânicos de Zn e de Cd (e também de Li
ligados, formando cadeias quase lineares. Esses compostos e de Mg) se decompõem rapidamente ao entrar em contato
podem ser obtidos por reações do tipo: com a água ou o ar. Os compostos de alquilzinco e alquilcád-
mio podem ser convenientemente preparados a partir dos
2Hg + HgCl2 + 2A1CI3 —» Hg3(AlCl4)2 reagentes de Grignard ou compostos de (alquil)lítio, ou,
3Hg + 3AsF5 -> Hg3(AsF6)2 + AsF3 então, a partir de compostos de alquilmercúrio.
4Hg + 3AsFs -» Hg4(AsF6)2 + AsF3
CdCl2 + 2RMgCl -> CdR2 + 2MgCl2
Os comprimentos de ligaçao nos cátions, estimados a ZnCl2 + 2RLi -> ZnR2 + 2LÍC1
partir de suas estruturas cristalinas, são: Zn + HgR2 -» ZnR2 + Hg
TOXICIDADE DO CÁDMIO E DO MERCÚRIO 433

Compostos do tipo do de Grignard podem ser obtidos como IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA DO ZINCO
se segue:
O zinco exerce um importante papel nos sistemas
CdR2 + Cdl2 -> 2RCdI enzimáticos de animais e de plantas. O organismo de uma
pessoa adulta contém cerca de 2 g de Zn. T¥ata-se do segundo
R2Zn e R2Cd reagem de maneira semelhante aos elemento de transição mais abundante, perdendo apenas
reagentes de Grignard e aos compostos de (alquil)lítio, mas para o Fe (~ 4 g). Existem cerca de 20 enzimas contendo
são menos reativos e não reagem com CO2. A menor Zn. Algumas das mais conhecidas são:
reatividade desses compostos permite realizar reações de 1) Anidrase carbônica, está presente nas células vermelhas
alquilação seletivas: do sangue e participa do processo de respiração. Ela
acelera a absorção de CO2 pelas células vermelhas do
R2Zn + EtOH RZnOEt + RH
sangue, nos músculos e outros tecidos e, também,
O uso mais importante dos compostos organocádmicos acelera a reação inversa, ou seja, a liberação de CO2
é na obtenção de cetonas. O método explora a menor nos pulmões. Ao mesmo tempo regula o pH.
reatividade dos compostos de alquilcádmio, já que os
CO2 + OH" — HCOj-
reagentes de Grignard reagiríam com as cetonas obtidas.
R 2) Carboxipeptidase, presente no suco pancreático. Está
\ envolvida no processo de digestão de proteínas pelos
R2Cd + 2CH3COC1 2 CO + CdCl2 animais e, também, participa do metabolismo de
/ proteínas em plantas e animais. A enzima catalisa a
CH2 hidrólise da ligação peptídica (amídica) terminal, na
Um grande número de compostos organomercúricos, extremidade que contém a carboxila. A enzima é
do tipo R2Hg e RHgX monoméricos, são conhecidos. Eles seletiva. Ela só atua quando o grupo R do aminoácido
são muito mais estáveis ao ar e à água que os compostos de terminal for aromático ou uma cadeia alifática ramifi­
zinco. São obtidos facilmente reagindo-se HgCl2 com rea­ cada, e tenha a configuração L.
gentes de Grignard, em tetra-hidrofurano, ou pela reação de
HgX2 com um hidrocarboneto: R" O R' O RO
HgCl2 + RMgBr -> RHgCl + '/zMgCI2 + ‘/2MgBr2
I II I II I II
—CH—C—NH—CH—C—NH—CH—C—OH + H2O-»
RHgCl + RMgBr -> R2Hg + 72MgCl2 + 72MgBr2 R" O R' O RO
HgX2 + RH -» RHgX + HX I II I II I II
—CH—C—NH—CH—C—OH + NH2—CH—C—OH
Compostos de arilmercúrio podem ser preparados a partir
de acetato de mercúrio (II): 3) Fosfatase alcalina (liberação de energia).
4) Desidrogenases e aldolases (metabolismo de glicídios).
C6H6 + (CH3COO)2Hg -> C6H5 • HgOOC • CH3
acetato de fenilmercúrio 5) Álcool desidrogenase (metabolismo do álcool).

Compostos organomercúricos são importantes na TOXICIDADE DO CÁDMIO E DO MERCÚRIO


preparação de compostos organometálicos dos Grupos 1 e
2, além dos compostos organometálicos de Al, Ga, Sn, Pb, É estranho que o zinco seja um elemento essencial à
Sb, Bi, Se, Te, Zn e Cd. vida, enquanto que os outros dois elementos desse grupo,
Cd e Hg, são extremamente tóxicos. Os maiores riscos de
R2Hg + 2Na -> 2RNa + Hg intoxicação com cádmio ocorrem nas proximidades de
fundições de zinco, pois o Cd escapa como poeira junto
Compostos do tipo R2Hg são líquidos covalentes ou com os gases produzidos. A fabricação de baterias de Ni/Cd
sólidos de baixo ponto de fusão e são extremamente tóxicos. causaram problemas na Suécia e no Japão. Também, há uma
Os compostos do tipo RHgX são sólidos e, também, são certa preocupação em relação ao conteúdo de Cd na fumaça
extremamente tóxicos. Muitos compostos do tipo RHgX, do cigarro. Quando ingerido, o cádmio se acumula nos rins,
como EtHgCl, PhHgCl e PhHgOOC>CH3, assim como provocando seu mau funcionamento. Além disso, pode
Hg(Me)2, foram extensivamente usados no tratamento de substituir o Zn em algumas enzimas, inativando-as.
sementes, e como pesticidas e fungicidas. O vapor de mercúrio é tóxico e, se inalado, pode provo­
Sais de mercúrio(II) se adicionam às duplas ligações car vertigens, tremores, danos aos pulmões e ao cérebro.
de alcenos. No laboratório, o mercúrio deve ser recoberto com óleo ou
tolueno e derramamentos acidentais desse metal devem ser
HgCl2 + )c=c( Cl-^C—C^-HgCl tratados com enxofre, de modo a formar HgS.
Compostos inorgânicos tais como HgCl2, Hg2Cl2 e HgO,
Sais de mercúrio (II) também atuam como catalisadores também, são tóxicos quando ingeridos. O mercúrio é um
da reação de hidratação de alcinos (acetilenos). A produção veneno cumulativo (como Cd, Sn, Pb e Sb). Como esses
de etanal (acetaldeído) a partir de acetileno é economica­ metais não têm função biológica, não existe nenhum meca­
mente importante. nismo para eliminá-los do organismo. O íon Hg11 inibe enzi­
HjO
CH=CH —■> CH2 = CHOH CH3-CHO mas, particularmente aquelas contendo grupos tióis, -SH.
434 Brupo 12 — GRUPO □□ ZINCO

Esses compostos inorgânicos de mercúrio foram fortes. Atualmente, consideráveis precauções estão sendo
empregados para controlar o crescimento de bolores em tomadas para impedir a descarga de compostos de mercúrio
fábricas de polpa de madeira e de papel. São ainda usados com os efluentes industriais. Os principais problemas são
em tintas protetoras contra o apodrecimento, como fungicidas causados pelas fábricas de acetaldeído e de cloreto de vinila
para o tratamento de sementes e de plantas, e no controle monomérico, que utilizam compostos de mercúrio como
de uma doença conhecida como potra (plasmodiophora catalisadores, e da indústria de cloro-álcalis, em que NaOH
brassicae), que ocorre em couves. Mais recentemente, e Cl2 ainda são obtidos pelo processo eletrolítico utilizando
compostos organomercúricos, tais como dimetilmercúrio, cátodos de mercúrio.
Hg(Me)2, e MeHgX, foram usados para prevenir o ataque de
4) O problema mais recente decorre do uso cada vez mais
fungos em sementes. Compostos alquilmercúricos, como o disseminado de mercúrio na extração de ouro, sobretudo
dimetilmercúrio, são muito mais tóxicos que os compostos no Brasil. A areia e a água dos rios são passados sobre
inorgânicos de mercúrio. Os compostos de arilmercúrio são mercúrio para que o ouro eventualmente presente se
ainda mais perigosos. Eles podem provocar paralisia, perda dissolva no mesmo, formando uma amálgama. 0
de visão, surdez, loucura e morte, devido aos danos provados mercúrio perdido nesse procedimento contaminou
ao cérebro. consideráveis trechos de rios da bacia amazônica.
Foram registrados diversos incidentes alarmantes
envolvendo intoxicação com mercúrio:
1) No início do século, sais de mercúrio eram empregados LEITURAS COMPLEMENTARES
na indústria de chapéus de feltro. A poeira afetava o • Bertini, I., Luchinat, C. eMonnanni, R. (1985) Zincenzymes,
sistema nervoso central dos operários, provocando J. Chem. Ed., 62, 924-927.
tremores musculares, conhecidos na literatura inglesa • Bryce-Smith, D. (1989) Zinc deficiency - the neglected fac-
como "tremores de chapeleiro" (“hatter’s shakes"). Isso tor, Chemistry in Britain, 25, 783-786.
levou à expressão "mad as a hatter”, que significa algo • Coates, G.E. e Wade, K. (1967) Organometallic Compounds,
como "doido varrido”, ou literalmente, "doido como 3a ed., Vol. 1, Zinco, Cádmio e Mercúrio, Methuen, London.
um chapeleiro". • Dirkse, T.P. (ed.) (1986) Copper, Silver, Gold, Zinc, Cadmium,
2) Em 1952, 52 pessoas morreram em Minamata (Japão), Mercury Oxides and Hydroxides, Pergamon, Oxford.
como conseqüência da ingestão de peixe contaminado • Friberg, L.T. e Vostal, J.J. (1972) Mercury in the Environ-
com mercúrio. O Hg provinha dos efluentes de uma ment, CRC Press, Cleveland.
fábrica que usava sais de Hg11 como catalisadores na • Glocking, F. e Craig, P.J. (1988) The Biological Alkylation of
fabricação de etanal (acetaldeído) a partir de acetileno. Heavy Elements, Publicação especial N2 66, Royal Society of
O HgCl2 era convertido no composto organomercúrico, Chemistry, London. (Compostos alquil- e aril-mercúricos no
MeHgSMe, por bactérias anaeróbias existentes no lodo meio ambiente)
do leito da baía. Esse composto era concentrado na • McAuliffe, C. A. (ed.) (1977) The Chemistry of Mercury,
cadeia alimentar. Inicialmente era absorvido pelo Macmillan, New York.
plâncton, que serve de alimento para os peixes e outros • Ochiai, Ei-I. (1988) Uniqueness of zinc as a bioelement, J.
animais marinhos, utilizados na alimentação dos Chem. Ed., 65, 943-946.
habitantes do local. Em 1960 e novamente em 1965, foi
• Prince, R.H. (1979) Some aspects of the biochemistry of zinc,
registrado um aumento repentino no número de casos Adv. Inorg. Chem. Radiochem., 22, 349-440.
de intoxicação por mercúrio no Japão, causados por
consumo de crustáceos contaminados. • Richards, A.W. (1969) Zinc extraction metallurgy in the UK,
Chemistry in Britain, 5,203-206.
3) Em duas ocasiões, (no Iraque, em 1956 e em 1960) se­ • Roberts, H.L. (1968) The chemistry of mercury, Adv. Inorg.
mentes de milho tratados com compostos organo-mer- Chem. Radiochem., 11, 309.
cúricos, (para impedir o crescimento de fungos), foram
• Valentine, J.S. e de Freitas, D.M. (1985) Copper-zinc
consumidas, em vez de serem utilizadas para fins agrí­
dismutase J. Chem. Ed. 62, 990-996.
colas. Isso provocou muitas mortes. Também ocorreram
problemas com resíduos de sais de mercúrio usados
como fungicidas em indústrias de papel, na Suécia. PROBLEMAS (REFERENTES AOS
Os problemas provocados pela contaminação por CAPÍTULOS 19 A 28)
mercúrio são agora melhor compreendidos. Embora os sais
1. Explique por que La2O3 não é reduzido pelo Al.
inorgânicos de mercúrio sejam tóxicos, sua toxicidade é
muito menor que a de compostos alquil ou arilmercúricos. 2. Explique por que TiO2 é branco, enquanto que TiClj é
Contudo, é necessário impedir a contaminação ambiental violeta.
com compostos inorgânicos de mercúrio, como Hg2+ e 3. Desenhe a estrutura do rutilo. Quais são os números de
Hg22 + , pois podem ser metilados por bactérias presentes coordenação dos íons e qual é a relação entre os raios do
nos rios, lagos e mares. Algas, moluscos e peixes podem cátion e do ânion?
concentrar as pequenas quantidades presentes no meio, por 4. Descreva o processo de obtenção do Ti metálico e explique
um fator de 2 a 10 vezes. Esses podem servir de alimento por que ele foi denominado "o metal maravilha".
para outros organismos, onde ocorre um novo processo de 5. Descreva as aplicações dos compostos de titânio em tintas,
concentração. HgMe2 e Hg-Me+ são ambos muito estáveis na polimerização do eteno e na fixação do nitrogênio
e persistem por um longo tempo por terem ligações Hg-C gasoso.
PROBLEMAS (REFERENTES AOS CAPÍTULOS 19 A 28) 435

6. Explique por que as propriedades físicas e químicas dos 23. Faça um comentário crítico sobre as diversas maneiras
compostos de Zr e Hf são muito mais semelhantes que as segundo as quais os nove elementos dos grupos do ferro,
propriedades dos correspondentes compostos de Ti e de do cobalto e do níquel foram agrupados, para fins de
Zr. comparação de suas propriedades.
7. Descreva o que acontece quando se diminui gradualmente 24. Desenhe esquematicamente e denomine os possíveis
o pH de uma solução contendo íons [VO4]3-. isômeros dos complexos: a) (Co(en)3]3 + , b)
8. Quando vanadato de amônio é aquecido com uma solução [Co(en)2(SCN)2] + .
de ácido oxálico, ocorre a formação de um composto (Z). 25. Os resultados da análise elementar de um complexo
Uma amostra de (Z) foi titulada com KMnO4 em meio ácida, monomérico de cobalto são fornecidos abaixo
a quente. A solução resultante foi reduzida com SO2, sendo Co NH3 CF SO42"
o excesso removido por ebulição. Esta foi novamente
titulada com KMnO4. % 21,24 24,77 12,81 34,65
O composto é diamagnético e não contém outros grupos
A relação entre os volumes da solução de KMnO4 usados
ou elementos, exceto eventualmente a água.
nas duas titulações foi de 5:1. Que conclusões podem ser
tiradas a respeito da natureza do composto (Z)? Nota: Determine a fórmula empírica do composto, desenhe as
KMnO, oxida o vanádio em todos os estados de oxidação estruturas de todos os isômeros possíveis, e sugira métodos
a vanádio( +V). SO2 reduz vanádio( +V) a vanádio( + IV). que permitam distinguí-los.
9. Escreva as equações que descrevem as reações de CrO, 26. Dê exemplos de clusters de íons de metais de transição.
Cr2O3 e CrO3 com soluções aquosas de ácidos e de bases. 27. Esquematize as estruturas de seis complexos carbonílicos
10. Descreva as estruturas do acetato de cromo(ll) e do acetato diferentes.
de cobre(II), e faça comentários sobre os aspecto incomum 28. Discuta a origem dos complexos quadrado-planares
que você constatar nas mesmas. formados pelo Ni (II), e explique quais são as outras
11. Como é possível remover todo oxigênio presente no estruturas possíveis para esses complexos.
nitrogênio como impureza? 29. Explique por que os metais "nobres" são pouco reativos.
12. O manganês foi descrito como sendo "o mais versátil dos 30. Dê exemplos de compostos que contenham ligações metal-
elementos”. Explique essa afirmação, e mostre as metal.
semelhanças e diferenças entre o comportamento químico 31. Compare o comportamento químico dos elementos cobre,
do manganês e do rênio. ouro e prata.
13. Explique por que [Mn(HO)6]2+ é rosa pálido, MnO2 é preto, 32. Quais são as configurações eletrônicas do Zn, Cd e Hg
e MnO4‘ tem uma coloração púrpura intensa. metálicos, e de seus íons divalentes? Discuta suas posi­
14. Explique por que uma solução verde de manganato(VI) ções na tabela periódica. Você acha que esses elementos
de potássio, K2MriO4, se torna púrpura e ocorre a deveríam se comportar como se fossem autênticos
precipitação de um sólido castanho, quando dióxido de elementos de transição?
carbono é borbulhado através da mesma. 33. Desenhe a estrutura da blenda de zinco. Quais são os
15. Desenhe a estrutura cristalina do ReO3 e compare-a com a números de coordenação dos íons, e qual é a relação entre
estrutura da perovsquita. os raios do cátion e do ânion?
16. Explique por que metais como o ferro são corroídos e como 34. Explique como o metal Zn é usado no método de obtenção
isso podería ser prevenido. do Cd.
17. Descreva como se obtém o ferro metálico a partir de seus 35. Explique por que um precipitado branco é formado quando
minérios, e como o ferro gusa é transformado em aço. uma solução de sulfato de zinco é adicionada a uma
18. Descreva o que é: ferro fundido, ferro forjado, aço doce, solução aquosa de amônia, mas não há precipitação
aço carbono e aço inoxidável. quando a mesma solução de sulfato de zinco é adicionada
a uma solução aquosa de amônia contendo cloreto de
19. Prever a configuração eletrônica do metal, com base no
amônio.
desdobramento do campo cristalino e da natureza dos
ligantes, nos seguintes complexos: a) [Fe(H2O)6]2 + ; b) 36. Quais são aplicações do cádmio, como é obtido, e quais
[Fe(CN)6l4-; e c) [Fe(CN)6]3“. Quantos elétrons desempa- são os problemas causados pela intoxicação por cádmio
relhados existem em cada um desses complexos? Quais em fundições de zinco?
são os momentos magnéticos de spin-only? 37. Enumere as principais formas de contaminação do meio
20. Pentacarbonil(ferro), Fe(13CO)5, tem uma estrutura ambiente com resíduos de mercúrio. Faça uma discussão
bipirâmide trigonal, mas um único pico é observado no sobre a toxicidade dos compostos inorgânicos e orgânicos
espectro de RMN de 13C, mesmo quando a amostra é de mercúrio.
mantida a baixas temperaturas. Dois picos são esperados 38. Faça uma revisão sobre reações de desproporcionamento.
para um composto com estrutura bipirâmide trigonal (o Por que o íon mercúrio (1) é representado como Hg22 + ,
núcleo de 13C tem um spin nuclear igual a 1/2 e seu enquanto o íon cobre(I) é representado como Cu+?
comportamento é semelhante ao do próton, na espectros- 39. Que evidências experimentais sugerem que a estrutura do
copia RMN). Interprete o espectro obtido. íon mercúrio (I) é Hg>2+ e não Hg + ?
21. Compare e assinale as diferenças entre as estruturas dos 40. Quando o mercúrio é oxidado com uma quantidade
grupos prostéticos da hemoglobina, da Vitamina Bi, e da limitada de agente oxidante (isto é, quando há excesso de
clorofila. Hg) sâo formados compostos de Hg1. Todavia, na presença
22. Descreva as principais características relacionadas com a de um excesso do agente oxidante são formados compostos
ligação da molécula de O2 com a mioglobina. de Hg11. Explique esse fato.
436

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ã SÉRIE
bqs lautaiiídios
INTRODUÇÃO Os elétrons 4f do antepenúltimo nível são muito bem
isolados do ambiente químico no qual se encontra o átomo,
Os catorze elementos do bloco f são conhecidos como pelos elétrons 5s e 5p. Conseqüentemente, os elétrons
lantanídios e se caracterizam pelo preenchimento gradativo não participam das ligações. Eles não são removidos para
do antepenúltimo nível energético, 4f. As propriedades de dar origem a íons, nem participam de modo significativo na
um elemento são extremamente semelhantes aos dos demais, energia de estabilização do campo cristalino, em complexos.
de modo que eles foram considerados como sendo um único A energia de estabilização do campo cristalino é muito
elemento até 1907. Já foram chamados de “terras raras”, importante no caso dos elementos do bloco d. O
mas essa denominação não é adequada, pois muitos deles desdobramento dos orbitais f num campo octaédrico Ao, é
não são particularmente raros. Além disso, o termo não é de somente cerca de 1 kJ mol’1. O fato dos orbitais f estarem
muito preciso, pois as terras raras incluíam, além dos 14 preenchidos ou vazios, influenciam muito pouco as
elementos da série dos lantanídios, o La, ou o grupo formado propriedades químicas desses elementos. Contudo, seus
pelo Sc, Y e La, que são elementos do bloco d. Às vezes. Th espectros eletrônicos e suas propriedades magnéticas são
(um actinídio) e Zr (outro elemento do bloco d) também dependentes da configuração eletrônica.
eram incorporados.

CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA Tabela 29.1 — Configurações eletrônicas e estados de oxidação dos lantanídios
As configurações eletrônicas dos Elemento Símbolo Configuração Configuração Estados de
metais lantanídios são mostrados na Tab. eletrônica do átomo eletrônica de M' oxidação*
29.1.0 lantânio (o elemento do bloco d
que precede a série lantanídica) tem a Lantânio La [Xe] 5d' 6? [Xe] +III
estrutura eletrônica: [xenônio] Sd'632.
Podería se esperar que os 14 elementos, Cério Ce [Xe] 4f1 5d‘ 6? [Xe] 4/1 +ni +iv
do cério ao lutécio, fossem obtidos pela Praseodímio Pr [Xe] 4/3 ór2 [Xe] 4/2 +iu (+rv)
adição sucessiva de 1,2,3...,14 elétrons Neodímio Nd [Xe] 4/^ ós2 [Xe] 4/3 (+ID +in
ao nível 4f. Contudo, exceto no caso do Promécio Pm [Xe] 4/5 ôr [Xe] 4Z4 (+11) +in
Ce, Gd e Lu, o deslocamento do elétron [Xe]4/ 6? [Xe] 4/5 (+H) +ni
Samário Sm
5d para o nível 4f é energeticamente
Európio Eu [Xe]4/7 ós2 [Xe] 4/ +U +m
mais favorável. Gd mantém o arranjo
Gadolínio Gd [Xe]4/75d' ór2 [Xe] 4/’ +iu
Sd1, porque isso deixa o subnível 4f
Tb [Xe] 4/’ 6? [Xe] 4/8 +ni (+IV)
semipreenchido, o que é energetica­ Térbio
mente mais favorável. Lu mantém o Disprósio Dy [Xe] 4/10 6? [Xe] d/9 +in (+IV)
arranjo Sd1, porque o nível 4f já está Hólmio Ho [Xe] 4/" ós2 [Xe] 4/10 +ui
totalmente preenchido. Os lantanídios Érbio Er [Xe] 4/12 ós2 [Xe] 4/" +ni
se caracterizam pela química dos ele­ Túlio Tm [Xe] 4/13 6? [Xe] 4/12 (+n) +ui
mentos no estado de oxidação ( + 111). Itérbio Yb [Xe] 4/14 6? [Xe] 4/13 +u +in
Seus compostos são tipicamente iônicos Lutécio Lu [Xe]4fl45d* &r [Xe] 4/14 +iu
e trivalentes. As configurações eletrô­
nicas dos íons são: Ce3+ f Pr34 f2; ♦ Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e estáveis) são mostrados em
negrito. Outros estados bem caracterizados, mas menos importantes, vêm representados em tipo normal.
Nd3 + f3,... Lu3+ f'4. Estados de oxidação instáveis ou de existência duvidosa estão representados em parênteses.
438 A SÉRIE DOS LANTANÍDIOS

Tabela 29*2 — Energias de ionização e potenciais de redução ABUNDÂNCIA E NÚMERO DE ISÓTOPOS


Os lantanídios não são elementos particularmente raros.
Elemento Símbolo Soma das três £° Raio O cério é quase tão abundante quanto o cobre. Exceto pelo
primeiras Ln3* I Ln de Ln3+
promécio, que não ocorre na natureza, todos os lantanídios
energias de (volt) (Â)
ionização são mais abundantes que o iodo.
(kJ mol’1) A abundância dos elementos e o número de isótopos
naturais varia regularmente (Tab. 29.3). Elementos com um
Lantânio La 3.493 -2,52 1,032 números atômico par (isto é, com um número par de prótons
no núcleo) são mais abundantes que seus vizinhos com
Cério Ce 3.512 -2,48 1,020
Praseodímio Pr 3.623 -2,46 números atômicos ímpares (regra de Harkins). Os elementos
0,990
Neodímio Nd 3.705 -2,43 0,983 com números atômicos pares também possuem um maior
Promécio Pm -2,42 0,970 número de isótopos estáveis. Os elementos com números
Samário Sm 3.898 -2,41 0,958 atômicos ímpares nunca possuem mais de dois isótopos
Európio Eu 4.033 -2,41 0,947 estáveis. A estabilidade de um nuclídio é dependente tanto
Gadolínio Gd 3.744 -2,40 0,938 do número de prótons como do número de nêutrons
Térbio Tb 3.792 -2,39 0,923 existentes no núcleo (Tab. 29.4).
Disprósio Dy 3.898 -2,35 0,912 O elemento 61, o promécio, não ocorre na natureza.
Hólmio Ho 3.937 -2,32 0,901 Foi obtido e estudado pela primeira vez em 1946, em Oak
Érbio Er 3.908 -2,30 0,890 Ridge, no Tennessee, EUA. Sua ausência na natureza pode
Túlio Tm 4.038 -2,28 0,880 ser explicada pela regra de Mattauch. Esta estabelece que se
Itérbio Yb 4.197 -2,27 0,868 dois elementos consecutivos tiverem isótopos de mesma
Lutécio Lu 3.898 -2,26 0,861
massa, um desses isótopos será instável. Como os elementos
Os raios iõnicos correspondem ao número de coordenação seis 60 e 62 têm sete isótopos cada um, não resta ao promécio,
ESTADOS DE OXIDAÇÃO elemento 61, muitas possibilidades de isótopos com massas
atômicas estáveis (Tab. 29.5).
A soma das três primeiras energias de ionização desses
De acordo com a regra de Mattauch, se o promécio
elementos são mostradas na Tab. 29.2. Os valores são baixos.
tivesse um isótopo estável, este deveria ter uma massa
Por isso, os elementos no estado de oxidação (+ III) têm
caráter iônico e o íon Ln3 + domina a química desses Tabela 29-3 — Abundância dos elementos na crosta terrestre,
elementos. Os íons Ln2+ e Ln4 + , que também ocorrem, são em peso, e número de isótopos naturais
sempre menos estáveis que o Ln3 + (neste capítulo o símbolo
Ln será usado para designar qualquer um dos lantanídios). Número Elemento Abundância Ordem de Isótopos de
Como nos demais casos, os elementos nos estados de atômico ocorrência
nacrostra abundância ----- í-~-
oxidação mais altos ocorrem nos fluoretos e nos óxidos, e terrestre realtiva natural
os estados de oxidação mais baixos ocorrem nos demais (ppm)
haletos, principalmente os brometos e os iodetos. Os
58 Ce 66 26.° 4
elementos nos estados de oxidação (+ II) e (+ IV) são
59 Pr 9,1 37? 1
formados quando:
60 Nd 40 27? 7
D resulta numa configuração de gás nobre, por exemplo 61 Pm 0 0
Ce4 + (/°) 62 Sm 7 40? 7
2) resulta numa configuração com um nível f semipre- 63 Eu 2,1 49? 2
enchido, por exemplo, Eu2 + e Tb4* (f7) 64 Gd 6,1 41? 7
65 Tb 1,2 56? 1
3) resulta numa configuração com um nível f completa­ 7
66 Dy 4,5 42?
mente preenchido, por exemplo Yb2+ (f14). 1
67 Ho 1,3 55?
Além disso, os estados de oxidação (+ II) e (+ IV) são 68 Er 3,5 43? 6
encontrados nos elementos cujas configurações eletrônicas 69 Tm 0,5 61? 1
se aproximam daquelas acima citadas. Assim, Sm2+ eTm2 + 70 Yb 3,1 44? 7
têm configurações f6ef'3,e Pr4 * eNd4+ têm configurações 71 Lu 0.8 59? 2
e f2. Os elementos no estado (+ III), porém, são sempre
os mais comuns e os mais estáveis. Os únicos elementos
nos estados (+ IV) e (+ II), que têm uma química em solução Tabela 29.4 — Número de núcleos estáveis com número par
aquosa, são os íons Ce4 + , Sm2*, Eu2* e Yb2*. ou impar de nêutrons e número atômico par e ímpar
Os elementos lantanídios se assemelham muito mais Número atômico Número de nêutrons Núcleos estáveis
uns aos outros do que os elementos de uma série horizontal
de elementos de transição. Isso se deve ao fato dos Par Par 164
lantanídios terem, praticamente, apenas um estado de Par ímpar 55
oxidação estável (+ III). Assim, nessa série de elementos é ímpar Par 50
possível comparar os efeitos de pequenas variações de ímpar ímpar 4
tamanho e de carga nuclear sobre o comportamento químico.
SEPARAÇAO DOS ELEMENTOS LANTANÍDIOS 439

São produzidos anualmente cerca de 5.000 toneladas


Tabela 29.5 de lantânio e 13.000 toneladas dos lantanídios. Os metais
têm poucas aplicações no estado puro. Porém, a mistura de
Elemento 60 142, 143, 144,145, 146 148. 150 La e de lantanídios, denominada "mischmetal" (50% de Ce,
Elemento 62 144, 147, 148, 149,150, 152, 154
40% La, 7% Fe, 3% de outros metais), é adicionada ao aço
para aumentar sua resistência e trabalhabilidade. É ainda
atômica situado fora do intervalo de 142 a 150. Os únicos usado em ligas de magnésio. Pequenas quantidades de
isótopos de promécio obtidos até hoje são radioativos. mischmetal são usados como "pedras de isqueiro". La2O3 é
utilizado nas lentes de Crookes, que protegem contra a
OBTENÇÃO E USOS radiação ultravioleta, absorvendo-a. CeO2 é utilizado para
polir vidro e como revestimento nos fomos “auto-limpantes".
Em 1992, a produção mundial de minerais das terras
Celv(SO4)2 é usado como agente oxidante em análise volu-
raras foi de 80.000 toneladas, totalizando 47.900 toneladas
métrica. As camisas das lâmpadas a gás são tratadas com
em conteúdo de óxidos de lantanídios, Ln2O3. Os principais
uma mistura de 1 % de CeO2 e 99% de ThO2, para aumentar
produtores desses minerais foram: Estados Unidos 27%,
a quantidade de luz emitida pela chama do gás. Outros óxidos
China 20%, Austrália 8% e índia 6%.
de lantanídios são empregados como material fosforescente
1) A areia monazítica é o mineral mais importante e mais (“fósforos") em tubos de aparelhos de TV a cores. O "óxido
disseminado, respondendo por 78% das terras raras pro­ de didímio" (uma mistura de óxidos de praseodímio e de
duzidas. Antes de 1960, a areia monazítica era a única neodímio) é usado juntamente com CuCl2 como catalisador
fonte de lantanídios. TYata-se de uma mistura contendo no novo processo Deacon de obtenção de Cl2 a partir de
principalmente fosfato de lantânio e fosfatos trivalentes HC1. Nd2O3 dissolvido em SeOCl2 é usado como laser líquido
dos lantanídios mais leves (Ce, Pr e Nd). Além disso, (o oxicloreto de selênio é utilizado como solvente, porque
contém quantidades menores de ítrio e dos lantanídios não contém átomos leves que poderíam converter a energia
mais pesados, além de fosfato de tório. O Th é fraca­ fornecida em calor). Elementos lantanídios estão presentes
mente radioativo e por isso quantidades traço de Ra, nos supercondutores quentes, tais como La(2_j)BaxCuO(4_y) e
seu produto de decaimento, também estão presentes. YBa2Cu3O(7_x), e outros (Sm, Eu, Nb, Dy e Yb) já foram
Este é muito mais radioativo. usados no lugar do La e do Y. Esses supercondutores foram
2) A bastnaesita é um fluorocarbonato misto, MU1CO3F, descritos no final do Capítulo 5.
onde M é o La ou os lantanídios. Grandes quantidades
desse mineral são extraídas nos EUA, respondendo por SEPARAÇÃO DOS ELEMENTOS
22% da quantidade total da produção de lantanídios. LANTANÍDIOS
A bastnaesita só é encontrada nos Estados Unidos e em
Madagascar. As propriedades dos íons metálicos são determinadas
pelo seu tamanho e sua carga. Todos os lantanídios são
3) Pequenas quantidades de um outro mineral, a xenotima, geralmente trivalentes e possuem tamanhos quase idênticos.
também são extraídas. Logo, suas propriedades químicas também são muito
A monazita é tratada com H2SO4 concentrado e quente. similares. A separação de um elemento lantamdio dos demais
Th, La e os lantanídios se dissolvem formando sulfatos e se é uma tarefa extremamente difícil, quase tão difícil como
separam da parte insolúvel do mineral. Th é precipitado separar os isótopos de um elemento. Os métodos clássicos
como ThO2 por neutralização parcial com NH4OH. Na2SO4 de separação exploram as pequenas diferenças nas
é usado para precipitar ("salting out") o La e os lantanídios propriedades básicas, na estabilidade ou na solubilidade de
leves na forma de sulfatos, deixando os lantanídios mais seus compostos. Esses métodos são resumidos abaixo.
pesados em solução. Os lantanídios leves são oxidados com Recentemente, contudo, os únicos métodos utilizados tem
Ca(OCl)2. O íon Ce3+ é oxidado a Ce4 + , e precipitado e sido a cromatografia de troca iônica e a variação de valência.
separado como Ce(103)4. O íon La3 + pode ser separado por
extração por solvente, com fosfato de tri-n-butila. Caso Precipitação
necessário, os elementos podem ser obtidos individualmente, Se uma quantidade limitada de um agente precipitante
por cromatografia de troca iônica. O tratamento da bastnae­ for adicionado à mistura, o composto com a menor solubili-
sita é um pouco mais simples, pois ela não contém Th. dade será precipitado preferencialmente e em maior
Uma vez parcial ou completamente separados, os metais quantidade. Suponha que íons hidroxila sejam adicionados
podem ser obtidos como se segue: a uma solução contendo uma mistura de Ln(NO3)3. Nesse
1) Por eletrólise do LnCl3 fundido, na presença de NaCl caso, a base mais fraca Lu(OH)3 será precipitada primeiro, e
ou CaCl2 para abaixar o ponto de fusão. a base mais forte La(OH)3 será precipitada por último. O
2) La e os metais mais leves Ce e Eu podem ser obtidos precipitado contém maior quantidade dos elementos mais
por redução de LnCl3 anidro com Ca, a 1.000-1.100 °C, pesados da série, ou seja, aqueles que se encontram mais à
em atmosfera de argônio. Os elementos mais pesados direita. Assim, a solução conterá uma maior quantidade dos
têm pontos de fusão mais altos e requerem uma elementos mais leves da série. O precipitado pode ser
temperatura de 1.400 °C. Mas, nessa temperatura, CaCl2 separado por filtração. Só se consegue uma separação parcial.
estaria em ebulição. Por isso, LnF3 é usado no lugar do Contudo, o precipitado pode ser redissolvido em HNO3 e o
LnCl3, e em alguns casos Ca é substituído por Li. processo repetido para aumentar o grau de pureza do
produto.
440 A SÉRIE DOS LANTANlOIDS

Reaçao térmica efetuar 10.000 ou 20.000 recristalizações. Alguns quilogramas


Se uma mistura de Ln(NO3)3 for aquecida até a fusão, de Gd, de 95% de pureza, foram obtidos por esse método.
poderá se alcançar uma temperatura na qual o nitrato menos Essa técnica foi originalmente desenvolvida nos primórdios
básico se decompõe ao óxido. Em seguida, a mistura é tratada das pesquisas nucleares, para separar e identificar os
com água: somente os nitratos se dissolvem e podem ser lantanídios produzidos na fissão do urânio.
separados dos óxidos insolúveis por filtração. Os óxidos são
dissolvidos em HNO3 e o processo repetido tantas vezes Variação de valência
quanto necessários. Alguns poucos lantanídios podem formar íons nos
estados de oxidação (+1V) e (+ II). As propriedades desses
Cristalização fracionada íons são bem diferentes das do Ln3 + , permitindo uma
separação razoavelmente fácil desses elementos.
Esse método pode ser utilizado para separar sais de
lantanídios. A solubilidade decresce do La ao Lu. Portanto, O cério pode ser separado com relativa facilidade das
os sais dos elementos próximos da extremidade direita da misturas de lantanídios, pois é o único que forma um íon
série cristalizam primeiro. Foram utilizados para tanto, os Ln4+ estável em solução aquosa. Ce4 + é obtido pela oxidação
nitratos, sulfatos, bromatos, percloratos e oxalatos, bem como de uma solução contendo a mistura de íons Ln3 + com NaOCl,
sais duplos, como Ln(NO3)3 ■ 3Mg(NO3)2 • 24H2O, já que estes em meio alcalino. Por ter uma carga maior, 0 íon Ce4+ é
podem ser facilmente cristalizados. Esse procedimento deve muito menor e menos básico que o Ce3 + ou qualquer outro
ser repetido várias vezes para se chegar a um bom grau de íon Ln3 + . Por isso, pode ser separado por precipitação
separação. Solventes não-aquosos, como éter dietílico, têm cuidadosamente controlada de CeO2 ou de Ce(103)4,
sido usados para separar Nd(NO3)3 e Pr(NO3)3. deixando os íons trivalentes em solução.
Alternativamente, Ce4+ pode ser extraído da mistura
Formação de complexos de íons Ln3 + pelo método de extração por solvente com
A mistura de íons lantanídios é tratada com um agente fosfato de tri-n-butila, a partir de uma solução de HN03.
complexante como o EDTA (ácido etilenodiaminafte- Desse modo, é possível obter Ce com 99% de pureza, numa
traacético)). Todos formam complexos, mas aqueles mais à única etapa, a partir de uma mistura contendo 40% do
direita na série, como o íon Lu3 + , formam os complexos elemento.
mais estáveis, já que seus íons são menores. Os oxalatos Analogamente, as propriedades do Eu2+ são muito dife­
dos lantanídios são insolúveis. Contudo, a adição de oxalato rentes das dos íons Ln3 + . O sulfato de európio, Eu2+SO42‘,
a essa solução não leva à formação de precipitado, pois todos se assemelha aos sulfatos do Grupo 2, e é insolúvel em água.
os íons Ln3+ foram complexados pelo EDTA. Os sulfatos de Ln3+ são solúveis. Eu2+ pode ser obtido pela
Se um ácido for adicionado à solução, o complexo redução eletroquímica de uma solução de íons Ln3+,usando
menos estável será dissociado. Esse procedimento libera os um cátodo de mercúrio ou com amálgama de zinco. Se esse
íons dos elementos como Ce3 + , Pr3 + , Nd3 + , que se encon­ processo for realizado na presença de H2SO4 ocorrerá a
tram mais à esquerda na série dos lantanídios, que, então, precipitação de EuSO4, que poderá ser separado por filtração
precipitam na forma de oxalatos. Estes podem ser removidos (Sm2+ e Yb2+ também podem ser gerados no processo, mas
por filtração, mas a separação não é completa. Assim, os são lentamente oxidados pela água).
oxalatos precisam ser redissolvidos e o procedimento acima A variação de valência continua sendo um método útil
repetido várias vezes. para a purificação de Ce e de Eu, apesar do recente advento
da técnica de cromatografia de troca iônica.
Extração por solvente
Os íons Ln3 + mais pesados são mais solúveis em fosfato Cromatografia de troca iônica
de tri-n-butila que os íons mais leves. Contudo, suas solubi- Este é o método geral mais importante, mais rápido e
lidades em solventes iônicos e em água seguem uma mais eficiente para a separação e purificação dos lantanídios.
tendência inversa. A relação entre os coeficientes de partição Uma solução de íons dos lantanídios é passado por uma
do La(NO3)3 e do Gd(NO3)3 entre uma solução dos íons coluna de resina de troca iônica sintética, como por exemplo
metálicos em HN03 concentrado e em fosfato de tri-n-butila, 0 “Dowex-50”. Tíata-se de um poliestireno sulfonado, que
é de apenas 1:1,06. Essa diferença é muito pequena, mas contém grupos -SO3H. Os íons Ln3 + são retidos pela resina,
um grande número de partições pode ser efetuado onde substituem o hidrogênio ácido dos grupos -SO3H.
automaticamente, num aparelho que usa 0 método de fluxo
contínuo em contra-corrente. Isso é menos tedioso que Ln3(+aq) + 3H(resina)(s) Ln(resina)3(s) + 3H^q)

Os íons H + liberados são arrastados pelo eluente e saem


HOOC-CH2 CH2-COOH
da coluna. A seguir, os íons metálicos são eluídos, isto é,
lixiviados da coluna de maneira seletiva. O eluente contém
:N-CH2-CH2-N' um agente complexante, por exemplo, pode ser uma solução
tamponada de ácido cítrico/citrato de amônio, ou uma
HOQC-CH2 CH2-COOH solução diluída de (NH4)3(H ■ EDTA), a pH = 8. No caso do
citrato, estabelece-se o seguinte equilíbrio:

Figura 29.1 — EDTA Ln(resina)3 + 3H+ + (citrato)3" 3H(resina) + Ln(citrato)


PROPRIEDADES DUÍMICAS DOS COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO DE DXIDAÇAD (+111] 441

À medida que a solução de citrato desce pela coluna, Esses hidróxidos são iônicos e básicos. São menos básicos
os íons Ln3 + formam complexos com o citrato e são que Ca(OH)2, mas mais básicos que A1(OH)3, que é anfótero.
removidos da resina. Um pouco mais abaixo na coluna, os Todos os metais, óxidos e hidróxidos se dissolvem em ácidos
íons Ln3+ voltam a se ligar à resina. Ou seja, à medida que diluídos, formando sais. Os hidróxidos Ln(OH)3 são
a solução de citrato percorre a coluna, os íons metálicos se suficientemente básicos para absorverem CO2 do ar e
ligam ora à resina, ora ao citrato. Esse processo ocorre formarem carbonatos. A basicidade diminui à medida que
inúmeras vezes, à medida que o íon metálico desce decresce o raio iônico, do Ce ao Lu. Assim, Ce(OH)3 é o
gradativamente pela coluna. Eventualmente, será recolhido hidróxido mais básico e Lu(OH)3 é o menos básico. A
na parte inferior da coluna, na forma do complexo com basicidade deste último composto é intermediária entre a
citrato. Os íons lantanídios menores, como o Lu3 + , formam dos hidróxidos de escândio e de ítrio. A diminuição das
complexos mais estáveis com o citrato que os íons maiores, propriedades básicas é ilustrada pela solubilização dos
como o La3 + . Assim, os íons menores e mais pesados hidróxidos dos elementos mais pesados em NaOH
permanecem mais tempo na solução (e menos tempo na concentrado, a quente, formando complexos.
coluna) e são, portanto, os primeiros a serem eluídos da
coluna. Os diferentes íons metálicos presentes se separam Yb(OH)3 + 3NaOH -» 3Na+ + [Yb(OH)6]3-
em bandas que percorrem a coluna. O progresso dessas Lu(OH)3 + 3NaOH —>3Na+ + [Lu(OH)6]3-
bandas pode ser acompanhado espectroscopicamente por
Os metais perdem rapidamente o brilho quando
fluorescência. A solução que sai da coluna é coletada em
expostos ao ar. Quando são aquecidos na presença de O2
recipientes separados por um coletor automático de frações.
formam os óxidos Ln2O3. Yb e Lu formam um filme protetor
Dessa maneira, é possível separar cada um dos elementos.
Os metais podem ser precipitados na forma de seus oxalatos de óxido, que impede que o restante do metal reaja, a não
insolúveis e, a seguir, calcinados para formarem os óxidos ser quando aquecido a 1.000 °C. A única exceção é o Ce,
correspondentes. que forma CeIVO2 ao invés de Ce2O3. Os óxidos são iônicos
e básicos. A força básica diminui à medida que os íons se
0 processo cromatográfico é equivalente à realização tomam menores.
de muitas separações ou recristalizações, mas a separação é
efetuada numa mesma coluna. Caso uma coluna de troca- Os metais do grupo reagem com H2, mas geralmente é
iônica suficientemente longa seja utilizada, os elementos necessário aquecê-los a uma temperatura de 300 - 400 °C
podem ser obtidos com pureza de 99,9%, numa única para dar início à reação. Dessa forma, podem ser obtidos
passagem. sólidos de fórmula LnH2. Eu e Yb têm tendência de formarem
compostos bivalentes; de modo que EuH2 e YbH2 são hidretos
salinos contendo o íon M2 + e dois íons H". Os demais for­
PROPRIEDADES QUÍMICAS DOS mam hidretos LnH2, pretos, metálicos e condutores. Esses
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO compostos seriam melhor descritos como sendo constituídos
DEOXIDAÇÃO ( + III) por Ln3 + , 2H“ e um elétron ocupando uma banda de
condução. Além disso, Yb forma um composto não-
Todos esses metais são moles e de coloração branca estequiométrico, cuja composição se aproxima de YbH2 S.
prateada. São eletropositivos e muito reativos. Os elementos Esses hidretos são surpreendentemente estáveis termica-
mais pesados do grupo são menos reativos que os mais leves, mente; às vezes, até cerca de 900 °C. São decompostos pela
porque formam uma camada protetora de óxido na superfície. água e reagem com oxigênio.
As propriedades químicas dos elementos do grupo, se
restringem praticamente às propriedades dos seus compostos .CeH2 + 2H2O -4 CeO2 + 2H2
trivalentes.
A soma das três primeiras energias de ionização varia Quando aquecidos sob pressão, todos esses “dihidre-
tos”, com exceção do EuH2, absorvem H e formam hidretos
ao longo da série, com mínimos no La3 + , Gd3+ e Lu3 + ,
associados a uma camada f vazia, semipreenchida e comple­ salinos LnH3, constituídos por Ln3+ e três H~. Eles não
tamente preenchida. Os máximos ocorrem no Eu3+ e Yb3 + , possuem um elétron deslocalizado e não são condutores
e estão associados à quebra da configuração de camada metálicos.
semipreenchida ou preenchida, respectivamente. Os haletos anidros MX3 podem ser obtidos aquecendo-
Os potenciais de redução padrão são todos elevados se o metal com o halogênio, ou então aquecendo-se o óxido
(vide os valores de E° na Tab. 29.2), e variam de forma com o haleto de amônio apropriado.
regular no pequeno intervalo de -2,48 a -2,26 volts, 300*C
Ln2O3 + 6NH4C1 + 2LnCl3 + 6NH3 + 3H2O
dependendo do tamanhos dos íons.
Todos os lantanídios são muito mais reativos que o Al Os fluoretos são muito insolúveis, e podem ser preci­
(E° = -1,66 volt), e são um pouco mais reativos que o Mg pitados de soluções de Ln3 + mediante adição de Na + F" ou
(E° “ -2,37 volts). Assim, reagem lentamente com água de HF. Essa reação é usada como teste para os lantanídios,
fria, mas mais rapidamente com água quente. em análise qualitativa. Contudo, os íons lantanídios menores
podem formar complexos solúveis, (LnF(H2O)n]2+, na
2Ln + 6H2O —>2Ln(OH)3 3H2
presença de um excesso de F". Os cloretos são deliqüescentes
Os hidróxidos Ln(OH)3 formam precipitados e solúveis, e cristalizam com seis ou sete moléculas de água
gelatinosos, mediante adição de NH4OH às soluções aquosas. de cristalização. Ao invés de perderem água e formarem os
44e A SÉRIE DOS LANTANÍDIOS

haletos anidros, oxo-haletos são formado quando os haletos O sulfato cérico, Ce(SO4)2, é um composto bem
hidratados são aquecidos. conhecido, amarelo como K2CrO4. CeF4 é obtido a panir da
calor reação entre CeF3 e F2. É um composto branco, que
LnCl3-6H2O —CJ'°r > LnOCl + 5H2O + 2HC1 rapidamente se hidrolisa em água. Tem uma estrutura
CeO2 é obtido ao se aquecer CeX3 • (H2O)n. Os brometos e os cristalina tridimensional, com o metal no centro de um
iodetos se comportam de modo análogo aos cloretos. antiprisma quadrado. Muitos de seus complexos são estáveis,
A temperaturas elevadas, os lantanídios reagem com B como o "nitrato de amônio e cério(IV)”, (NH4)2[Ce(NO3)6].
formando LnB4 e LnB6. Sua estrutura cristalina é pouco comum, envolvendo a
coordenação bidentada dos grupos NO3‘. O número de
A fusão dos metais com C, num arco voltáico sob atmos­
coordenação do átomo de Ce é 12, e a forma é a de um
fera inerte, leva à formação dos carbetos LnC2 e Ln4(C2)3.
icosaedro. O complexo com essa estrutura é estável, mesmo
Esses carbetos também podem ser obtidos reduzindo-se
em solução. Dois dos grupos NO3" podem ser substituídos
Ln2O3 com C, num forno elétrico. LnC2 é mais reativo que
pelo ligante derivado da fosfina Ph3PO, formando o complexo
CaC2. Reagem com água, formando etino (acetileno) e,
neutro decacoordenado, [Celv(NO3)4(Ph3PO)2].
também, uma certa quantidade de hidrogênio, C2H4 e C2H6.
Também são condutores metálicos. Esses compostos não Os compostos dos demais elementos nesse estado de
contêm o íon Ln( + II), sendo melhor descritos como oxidação, por exemplo os compostos de Pr(lV), Nd(lV),
acetiletos, ou seja, compostos constituídos por Ln3 + e C22-, Tb(IV) e Dy(IV), não são estáveis em solução aquosa. Eles
e um elétron numa banda de condução. somente podem ser obtidos como sólidos, ou na forma de
fluoretos, ou de óxidos (podem ser não-estequiométricos)
2LnCl2 + 6H2O -> 2Ln(OH)3 + 2C2H2 + H2 ou alguns poucos fluorocomplexos como PrO2, PrF4,
C2H2 + H2 -> C2H4 > C2H6 Na2[PrF6], TbO2, TbF4, DyF4 e Cs3[DyF7],
A temperaturas elevadas, os metais lantanídios também
reagem com N, P, As, Sb e Bi formando compostos do tipo COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO
LnN, etc. Este é hidrolisado por água, de modo semelhante DE OXIDAÇÃO ( + II)
ao A1N:
Os únicos dos elementos que no estado (+ II) apresen­
LnN + 3H2O -» Ln(OH)3 + NH3 tam uma química em solução aquosa são Sm2+, Eu2’ e
Yb2 + .
Uma grande variedade de oxossais são conhecidos,
dentre os quais podem ser citados os nitratos, carbonatos, O lantanídio bivalente mais estável é o Eu2 +. É estável
sulfatos, fosfatos, bem como sais de íons fortemente oxi- em água, mas suas soluções são fortemente redutoras.
dantes, como os percloratos. EunSO4 pode ser preparado pela eletrólise de soluções de
Euln2(SO4)3, quando ocorre a precipitação do sulfato
bivalente. EunCl2 sólido pode ser obtido reduzindo-se Eu,nCl3
COMPOSTOS DOS ELEMENTOS NO ESTADO com H2.
DE OXIDAÇÃO ( + IV)
2EuCl3 + H2 -> 2EuC12 + 2HC1
O único lantanídio no estado (+ IV), que persiste em
solução e tem uma química'em solução aquosa é o íon Ce4 +. Soluções aquosas de Eu3+ podem ser reduzidas com
É raro encontrar íons com carga 4+ em solução. A carga Mg, Zn, amálgama de zinco ou eletroliticamente, para se
elevada do íon leva a uma intensa hidratação. Assim, exceto obter soluções de Eu2 + . EuH2 é um composto iônico,
em soluções fortemente ácidas, o íon Ce4 + se hidrolisa semelhante ao CaH2. O íon Eu( + II) se assemelha ao Ca em
formando espécies poliméricas e H + . Soluções de Ce( + IV) diversos aspectos:
são largamente usadas como oxidante em análise
1) O sulfato e o carbonato são insolúveis em água.
volumétrica, no lugar de KMnO4 e K2Cr2O7. Na análise
clássica, as buretas devem ser lavadas com ácido, pois caso 2) O dicloreto é insolúvel em HC1 concentrado.
água seja utilizada, corre-se o risco de haver certo grau de 3) O metal é solúvel em NH3 líquida.
hidrólise. Soluções aquosas de Ce(IV) podem ser preparadas A maior diferença entre Ca e Eu está nas suas proprie­
oxidando-se uma solução de Ce3+ com um agente oxidante dades magnéticas. O di-haleto EuX2 tem um momento
muito forte, tal como o peroxodissulfato de amônio, magnético de 7,9 MB, que corresponde à presença de sete
(NH4)2S2O8. O íon Ce( + IV) também é usado em síntese elétrons desemparelhados, enquanto que os compostos de
orgânica, por exemplo, a oxidação do carbono alfa de álcoois, Ca são diamagnéticos.
aldeídos e cetonas. Os compostos mais comuns são CeO2 O par Eu3+/Eu2 + tem um potencial de redução de -
(branco quando puro) e CeO2-(H2O)n (um precipitado 0,41 volt. Esse valor é quase igual ao do par Cr3+/Ct2'’, e
gelatinoso amarelo). CeO2 pode ser obtido aquecendo-se o provavelmente são os agentes redutores mais fortes que não
metal, Ce(OH)3ou Celu2(oxalato)3, ao ar. CeO2 tem uma reduzem a água.
estrutura do tipo da fluorita. É insolúvel em ácidos e álcalis,
mas dissolve-se quando reduzido a Ce3 + .
Yb2 + e Sm2 + podem ser preparados por redução eletro-
lítica das soluções aquosas de seus íons trivalentes. Contudo,
Ce + O2 -> CeO2 os íons Ln2+ são facilmente oxidados pelo ar. Ambos for­
2Ce(OH)3 + ’/2O2 ->2CeO2 + 3H2O mam hidróxidos, carbonatos, haletos, sulfatos e fosfatos.
Ce2(C2O4)3 + 2O2 -> 2CeO2 + 6CO2 Os íons Nd( + II), Pm( + II), Sm( + II) e Gd( + II) somente
COR E ESPECTROS 443

são encontrados nos di-haletos LnCl2 e Lnl2 sólidos. Esses


dihaletos podem ser preparados reduzindo-se o tri-haleto Tabela 29.7 — Cor dos íons Ln4*, Ln2* e dos correspondentes
com hidrogênio, com o metal correspondente, ou com amál­ íons Ln3* isoeletrônicos
gama de sódio. Os di-haletos como Lal2 e Ndl2 tendem a ser
Configuração M3* isoeletrônico
não-estequiométricos. São condutores metálicos e podem eletrônica
ser considerados como sendo constituídos por La3 * + 21"
+ elétron (na banda de condução). Ce4* Laranja avermelhado 4/> La3* Incolor
A partir de uma comparação detalhada das terceiras Sm2* Vermelho vivo V6 Eu3* Rosa pálido
energias de ionização pode-se inferir que subníveis semipre- Eu2* Amarelo esverdeado pálido 4/7 Gd3* Incolor
enchidos ou completamente preenchidos são mais estáveis. Yb2* Amarelo 4/14 Lu3* Incolor
Pode-se inferir também que pode haver uma estabilidade
adicional associada um nível preenchido em três quartos de
sua capacidade. do estado fundamental para um estado de maior energia.
No caso dos compostos dos elementos lantanídios, o
acoplamento spin-órbita é mais importante que a energia
SOLUBILIDADE de estabilização de campo cristalino. Por outro lado, este
Os sais dos lantanídios geralmente contêm água de fator é o mais importante no caso dos metais de transição.
cristalização. A solubilidade depende da pequena diferença Todos os íons lantanídios, exceto um, têm bandas de
entre a energia reticular e a energia de solvatação, e não há absorção na região do visível ou do ultravioleta próximo do
uma tendência clara dentro do grupo. A solubilidade de espectro. A exceção é o Lu3 + , que tem um nível f comple­
muitos de seus sais segue os padrões observados para os tamente preenchido. As cores observadas se devem a transi­
elementos do Grupo 2. Assim, os cloretos e os nitratos são ções f-f. Rigorosamente, tais transições são proibidas pela
solúveis em água, enquanto que os oxalatos, os carbonatos regra de seleção de Laporte, pois a variação no número
e os fluoretos são quase insolúveis. Em contraste com os quântico secundário é igual a zero. Assim, as cores
elementos do Grupo 2, os sulfatos dos lantanídios são observadas são pouco intensas, pois as transições eletrônicas
solúveis. Muitos dos elementos da série dos lantanídios for­ dependem da relaxação dessa regra. Os orbitais /'são orbitais
mam sais duplos com os correspondentes sais dos elementos internos e se situam numa região mais intema do átomo.
do Grupo 1 ou amônia, como Na2SO4Ln2(SO4)3 ■ 8H2O. Como Assim, estão bem protegidos das influências da vizinhança,
esses sais duplos podem ser facilmente cristalizados, eles tais como a natureza e o número de ligantes que formam os
têm sido usados para separar os elementos lantanídios uns complexos, e as vibrações dos ligantes. Portanto, a posição
dos outros. da banda de absorção (isto é, a cor) não varia em função do
tipo de ligantes coordenados. A vibração dos ligantes
modifica bastante a energia do campo cristalino. Contudo,
COR E ESPECTROS o efeito sobre os níveis f é pequeno, provocando o
Muitos íons trivalentes dos lantanídios são coloridos, desdobramento dos diferentes estados espectroscópicos em
tanto no estado sólido como em solução aquosa. Parece que apenas cerca de 100 cm'1. Por isso, as bandas de absorção
a cor depende do número de elétrons f desemparelhados. são geralmente muito finas, e os lantanídios são usados na
Elementos com (n) elétrons f frequentemente têm uma cor calibração do comprimento de onda de instrumentos. O
semelhante a dos elementos com (14 - n) elétrons f (vide número quântico secundário de um elétron f é l = 3, de modo
Tab. 29.6). Contudo, os elementos em outros estados de que m( pode ter os valores 3, 2, 1, 0, -1, -2 e -3. Assim,
oxidação (ou seja, II e IV) nem sempre possuem colorações muitas transições são geralmente possíveis.
semelhantes a das espécies isoeletrônicas no estado (3 +) O comportamento espectroscópico descrito acima difere
(Tab. 29.7). acentuadamente daquele observado em compostos de
A cor decorre da absorção de luz visível, de um determi­ elementos de transição. Nesse caso, as bandas de absorção
nado comprimento de onda. A energia da luz absorvida decorrem das transições d-d e mudam de posição de ligante
corresponde à energia necessária para promover um elétron para ligante. Além disso, as bandas são bastante largas devido
à vibração dos ligantes.
Tabela 29.6 — Cor dos íon Ln3* Transições do nível 4f para o nível 5d também são
possíveis. Tais transições dão origem a bandas largas, cujas
Número Número posições são influenciadas pela natureza dos ligantes.
de elétrons de elétrons
4/ Cor 4/ Cor Os espectros de absorção dos íons lantanídios são úteis
tanto para a determinação qualitativa como para a análise
La3* 0 Incolor Lu3* 14 Incolor quantitativa desses elementos. Eles são às vezes usados como
Ce3* 1 Incolor Yb3* 13 Incolor traçadores biológicos para acompanhar o caminho percorrido
Pr3* 2 Verde Tm3* 12 Verde pálido pelos medicamentos no homem e nos animais. Essa aplicação
Nd3* 3 Lilás Er3* 11 Rosa se deve ao fato dos lantanídios poderem ser facilmente
Pm3* 4 Rosa Ho3* 10 Amarelo pálido localizados no organismo, por meio de técnicas
Sm3* 5 Amarelo Dy3* 9 Amarelo espectroscópicas, pois suas bandas são muito finas e muito
Eu3* 6 Rosa pálido Tb3* 8 Rosa pálido características.
Gd3* 7 Incolor Gd3* 7 Incolor
Ce3 * e Yb3 * são incolores, pois não absorvem na região
444 A SÉRIE DOS LANTANÍQIDS

do visível. Contudo, exibem bandas de absorção excepcio­ Os demais íons do grupo dos lantanídios não obedecem
nalmente intensas na região do ultravioleta, atribuídas a essa relação simples. Os elétrons Hf são bem protegidos dos
transições do nível 4f para o 5d. A absortividade molar é campos externos pelos elétrons Ss e 5p mais externos. Assim,
muito elevada pois Ai = 1 e a transição é permitida, sendo, o efeito magnético causado pelo movimento do elétron em
portanto, mais intensa que as transições f-f proibidas. Além seu orbital não é cancelado. Por isso, o momento magnético
disso, a promoção de elétrons nesses íons pode ser mais deve ser calculado considerando-se tanto o momento
fácil que em outros íons. A configuração eletrônica do Ce3 + magnético dos spins dos elétrons desemparelhados, como
é f', e a do Yb3 + é f8. Logo, a remoção de um elétron leva aquele decorrente do movimento orbital. Isso também ocorre
às configurações particularmente estáveis com subnível f no caso dos elementos da segunda e terceira séries de
vazio ou semipreenchido. As bandas de absorção devido a transição. Contudo, as propriedades magnéticas dos
transições f-d são largas, ao contrário das transições f-f. lantanídios são fundamentalmente diferentes daquelas dos
Também são possíveis transições de transferência de elementos de transição. Nos lantanídios, a contribuição dos
carga, devido à transferência de um elétron do ligante para spins, S, e a contribuição orbital, L, se acoplam, dando origem
o metal. Essa transição é mais provável quando o metal a um novo número quântico, J.
estiver num estado de oxidação elevado, ou quando o ligante J = L-S quando o subnível está preenchido
tiver propriedades redutoras. A transição de transferência menos que a metade
de carga geralmente é responsável por cores muito intensas. e J = L + S quando o subnível está preenchido
A cor amarela forte das soluções de Ce4+ é decorrente de mais que a metade.
uma transição de transferência de carga ao invés de
transições f-f. A coloração vermelho-sangue do Sm2 + O momento magnético p é calculado em magnétons-Bohr
também é devida a uma transição de transferência de (MB), por meio da expressão:
carga. Hs=gy/j(J+l)
onde
PROPRIEDADES MAGNÉTICAS S(S +1) - L(L +1)
Os íons La3+ e Ce4 + têm uma configuração f°, e Lu3 + S = 1X + 2J(J +1)
uma configuração f1A. Esses íons não apresentam elétrons
desemparelhados e são diamagnéticos. Todos os demais Os momentos magnéticos calculados para os lantaní­
estados f apresentam elétrons desemparelhados e são, dios, utilizando tanto a fórmula simplificada do momento
portanto, paramagnéticos. magnético de spin-only, como a fórmula que considera o
acoplamento dos momentos magnéticos de spin e orbital
O momento magnético de elementos de transição pode são mostrados na Fig. 29.2. Observa-se uma excelente
ser calculado pela equação: concordância entre os valores calculados pela última equação
M-ts+i.) = V4S(S +1) + L(L +1) e os valores experimentais, medidos a 300 K, para a maioria
dos elementos. O desvio dos valores experimentais é
Onde, P(s+y é o momento magnético em magnétons- representado pelos pequenos traços verticais (barras de
Bohr, calculado considerando-se tanto a contribuição do erros).
momento magnético de spin como do momento magnético A concordância deixa a desejar no caso do Eu3 + , e não
orbital. S é o número quântico de spin total, e L é o número é muito boa no caso do Sm3 +. Isso ocorre porque no Eu3+ a
quântico de momento angular orbital total. Para os elementos constante de acoplamento spin-órbita é de apenas cerca de
da primeira série de transição, a contribuição orbital é 300 cm'1. Isso significa que a diferença de energia entre o
geralmente suprimida pela interação com os campos elétricos estado fundamental e o estado seguinte é pequena. Por isso,
dos ligantes. Assim, numa primeira aproximação, o momento
magnético pode ser calculado usando a fórmula simplificada,
do momento magnético de spin-only (ps é o momento
11r
10-
magnético de spin, em magnétons-Bohr. S é o número quân­ 9-
tico de spin total, e n o número de elétrons desempare­
lhados). m
8-
i 7-
Ps = ^4S(S + 1) §
*0) 6-
Ps = + 2) & 5-
CO

â
f 4-
Essa relação simples pode ser utilizada no caso do La3 +
3-
(/'“), e de dois outros lantanídios, Gd3+ (f7) e Lu3 + (f14).
La3 + e Lu3 + não possuem elétrons desemparelhados, e 2-
n = 0, com o que ps = Vo(O + 2) = 0. 1-

O íon Gd3 + tem sete elétrons desemparelhados, n = 7, 0 — La Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Oy Ho Er Tm Yb Lu


e
Figura 29.2 — Momentos paramagnéticos dos íons lantanídios, Ln1 •
|ls = -^7(7 + 2) = Vó3 = 7,9 MB à 300 K. Os valores dos momentos magnéticos de spin estão representados
pela linha tracejada e os de spin mais o de orbital como linha cheia
CDNTRAÇAD LANTANÍDICA 445

nuclear adicional. Assim, todos os elétrons são mais atraídos


Tabela 29.8 — Momentos magnéticos do íon La3+ e dos íons
e se aproximam do núcleo. O efeito de blindagem dos elétrons
lantanídios
diminui na sequência s>p>d>f. A contração de tamanho
Elemento Símbolo Configuração Momento magnético de um elemento para outro é relativamente pequena.
eletrônica do calculado medido Contudo, o efeito resultante da adição de 14 elétrons e de 14
íon M34 (magnetons) (magnetons) prótons no núcleo, do Ce ao Lu, leva a uma redução de
cerca de 0,2 A. Esse fenômeno é conhecido como contração
Lantânio La [Xe] 4/° 0 0 lantanídica.
Cério Ce [Xe] 4/1 2,54 2.3- 2,5 A dureza, os pontos de fusão e os pontos de ebulição
Praseodímio Pr [Xe] 4/2 3,58 3,4~3,6 dos elementos aumentam do Ce ao Lu. Isso decorre do
Neodímio Nd [Xe] 4/3 3,62 3.5- 3,6 aumento da atração entre os átomos à medida que seus
Promécio Pm [Xe] 4/4 2,68 2,7 tamanhos diminuem.
Samário Sm [Xe] 4/5 0,84 1.5- 1,6 As propriedades de um íon dependem de seu tamanho
Európio Eu [Xe] 4/6 0 3.4-3,6 e de sua carga. O tamanho dos íons lantanídios Ln3 4 varia
Gadolínio Gd [Xe] 4/7 7,94 7,8-8,0 muito pouco de um elemento para o seguinte (Tab. 29.9), e
Térbio Tb [Xe] 4/8 9,72 9.4-9,6 sua carga é a mesma. Por isso, suas propriedades químicas
Disprósio Dy [Xe] 4/’ 10,63 10,4-10,5 são muito semelhantes. Lu3 4 é o menor dos íons e, conse­
Hdlmio Ho [Xe] 4/10 10,60 10,3-10,5 quentemente, o mais fortemente hidratado.
Érbio Er [Xe]4/“ 9,57 9.4-9,6
Túlio Tm [Xe] 4/12 7,63 7,1-7,4 Embora os lantanídios não formem muitos complexos,
Itérbio Yb [Xe] 4/'3 aqueles formados pelo Lu3 4 são os mais estáveis, devido ao
4,5 4.4- 4,9
Lutécio Lu [Xe] 4/14 seu menor tamanho. Por outro lado, La34 e Ce34 são os
0 0
maiores íons, de modo que estes formam os hidróxidos mais
básicos (La(OH)3 e Ce(OH)3 ) dentre os lantanídios.
a energia térmica é suficiente para promover alguns elétrons
e, assim, povoar parcialmente o estado energético superior. A contração lantanídica faz com que os raios dos últimos
Logo, as propriedades magnéticas não são determinadas quatro elementos da série sejam menores que o raio do ítrio,
somente pela configuração do íon no estado fundamental. na série de transição que antecede a série dos lantanídios.
Esse efeito pode ser minimizado ou suprimido medindo o Como o tamanho dos íons lantanídios mais pesados,
momento magnético numa temperatura baixa, pois assim particularmente Dy34 e Ho34, são muito similares ao do
impede-se a passagem dos elétrons para os níveis de energia Y3 + , suas propriedades químicas também são muito seme­
maior. Como esperado, a baixas temperaturas, o momento lhantes. Conseqüentemente, a separação desses elementos
magnético do Eu34 tende a zero (o método de medida do é muito difícil.
momento magnético foi descrito no Capítulo 17). Os raios iônicos dependem do estado de oxidação em
A forma pouco comum da curva dos momentos magné­ que se encontra o elemento. Por isso, somente os raios dos
ticos em função da configuração eletrônica, se deve à terceira íons de mesma carga são comparados na Tab. 29.9. Contudo,
regra de Hund: as contribuições dos momentos orbital e de uma tendência similar é observada quando se comparam os
spin atuam em sentidos opostos (J = L - S), se o número de raios covalentes (Tab. 29.10).
elétrons for menor que a metade do número máximo de Por causa da diminuição do tamanho dos elementos ao
elétrons no nível f; mas eles atuam no mesmo sentido (J = longo da série dos lantanídios, os elementos que a sucedem,
L + S) se o número de elétrons for maior que a metade do na terceira série de transição, são consideravelmente menores
número máximo de elétrons que podem ser acomodados que o esperado. A tendência normal de aumento de tamanho,
nesse nível. Sc—>Y->La, não é mais observada após a série dos
lantanídios. Assim, pares de elementos como Zr/Hf, Nb/Ta
CONTRAÇÃO LANTANÍDICA e Mo/W têm tamanhos quase iguais. A grande semelhança
entre as propriedades dos elementos nesses pares toma muito
Os raios covalentes e iônicos geralmente aumentam de difícil a separação dos mesmos por meio de processos
cima para baixo dentro de um Grupo, devido à presença de
químicos. O tamanho dos elementos da terceira série de
níveis adicionais de elétrons preenchidos. Num período da
transição é muito semelhantes aos dos correspondentes
Tabela Periódica, os raios covalentes e iônicos decrescem da
elementos da segunda série de transição (vide Tab. 29.10).
esquerda para a direita. Isso ocorre porque os elétrons que
vão sendo acrescidos blindam ineficientemente a carga
Tabela 29.10 — Raios covalentes dos elementos de transição
Tabela 29.9 — Raios iônicos dos íons Sc34, Y34, La34 e Ln34 em (A)
(emÂ)
Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni
1,44 1,32 1,22 1,17 1,17 1,17 1,16 1,15
Sc
W Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd
Y 1,62 1,45 1.34 1,29 1,24 1,25 1,28
0900 La ♦ Hf Ta W Re Os Ir Pt
La Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu 1,69 | 1,44 1,34 1,30 1,28 1,26 1,26 1,29
1012 1,02 0.99 0,983 0,97 0,958 0.947 0,938 0,923 0,912 0,901 0,890 0,880 0,868 0,861
-os 14 elementos lantanídios
446 A SÉRIE DOS LANTANÍOIÜS

Assim, os elementos correspondentes da segunda e terceira


séries de transição são mais parecidos entre si que os Tabela 29.U — Alguns complexos dos lantanídios
correspondentes elementos da primeira e segunda séries de
Número de Complexo Estrutura
transição.
coordenação
COMPLEXOS 4 [Lu(2,6-dimetilfenil)4r Tetraédrico
Os íons Ln3* têm uma carga elevada, que favorece a 6 [Ce,vCl6]2- Octaédrico
formação de complexos. Contudo, os íons são relativamente 6 [Er(NCS)6] Octaédrico
grandes (1,03 A - 0,86 Â) quando comparados com os íons 7 [Y(acetilacetona)3(H2O)l Prisma trigonal mono-
de elementos de transição (Cr3* = 0,615 A, Fe3* = 0,55 A piramidado
(spin baixo)), e consequentemente não tendem a formar 8 [La(acetilacetona)3(H2O)2] Antiprisma quadrado
8 [Celv(acetilacetona)4] Antiprisma quadrado
complexos com facilidade. Em solução aquosa, não formam
8 [Eu(acetilacetona)3 Antiprisma quadrado
complexos com aminas, pois a água é um ligante mais forte
(fenantronila)]
que as aminas. Todavia, complexos com aminas podem ser Dodecaédrico
8 [Ho(tropolonato)4]~
obtidos em solventes não-aquosos. Apenas alguns poucos Prisma trigonal
9 [Nd(H2O)9]3*
complexos estáveis são obtidos com CO, CN' e grupos tripiramidado
organometálicos, em contraste acentuado com os metais de 10 [Ce'v(NO3)4(Ph3PO)2J Estrutura mais complexa
transição. Isso ocorre devido ao fato dos orbitais 4f estarem (cada NO3" é bidentado)
protegidos, "no interior” do átomo. Conseqüentemente, não 12 |Ce[v(NO3)6]2' Icosaédrico
podem ser utilizados para formar ligações tt (retrodoação), (cada NO3" é bidentado
como os orbitais d dos elementos de transição. Os complexos
mais comuns e estáveis são aqueles formados com agentes
quelantes doadores de oxigênio, tais como ácido cítrico, ácido
oxálico, EDTA4- e acetilacetona. Esses complexos apresentam ter no máximo um número de coordenação igual a 9. Os
números de coordenação elevados e variáveis e, frequen­ números de coordenação maiores (10 e 12) representam um
temente, moléculas de água ou de outro solvente também problema. Nesse caso, os orbitais f podem estar participando
estão coordenados ao metal central. Complexos de Eu3+ e das ligações, ou a ordem das ligações deve ser menor que
Pr3* com p-dicetonas, dissolvidos em solventes orgânicos, um.
são usados em espectroscopia de ressonância magnética Existem alguns poucos compostos organo-lantanídicos.
nuclear, como reagentes de deslocamento. Alquil- e aril- derivados podem ser obtidos utilizando
Complexos com números de coordenação inferiores a reagentes organo-líticos, em éter:
seis são raros, e somente ocorrem com ligantes volumosos,
como (2,6-dimetil-fenila)- e [N(SiMe3)2]“. Em contraste com LnCl3 + 3LiR -> LnR3 + 3LÍC1
os metais de transição, complexos hexacoordenados são LnR3 + LiR -> Li[LnR4] e [LnMe6]3’
raros. Os números de coordenação mais comuns são 7, 8 e
9, resultando numa grande variedade estereoquímica. Os complexos com ciclopentadienila [Ln(C5Hs)3),
Complexos com números de coordenação 10 e 12 são Ln(C5H5)2Cl] e [Ln(C5H5)Cl2] são conhecidos, mas reagem
formados pelos lantanídios maiores (mais leves) com agentes com o ar e a água.
quelantes pequenos como NO3‘ e SO42' (vide Tab. 29.11).
Complexos com ligantes monodentados, doadores de LEITURAS COMPLEMENTARES
oxigênio, são muito menos estáveis que os quelatos e tendem • Bagnall, K.W. (ed.) (1975) MTP International Reviewof Sci­
a dissociar, em solução aquosa. Provavelmente, não formam ence, Inorganic Chemistry (Series 2), Vol. 7, Lantanídios e
complexos com ligantes doadores de nitrogênio, exceto com actinídios, Butterworths, London.
etilenodiamina e NCS", mas estes se decompõem em água. • Bevan, D.J.M. (1973) Comprehensive Inorganic Chemistry,
Fluorocomplexos do tipo LnF2(*aq) são formados principal­ Vol. 3 (Cap 49: Compostos não-estequiométricos), Pergamon
mente pelos íons menores, mas clorocomplexos não podem Press, Oxford.
ser obtidos em meio aquoso ou em HC1. Essa é uma
• Brown, D. (1968) Halides of the Transition Elements, Vol. I
importante distinção entre os elementos das séries dos
(Haletos dos lantanídios e actinídios), Wiley, London and
lantanídios e dos actinídios.
New York.
O íon Ce4 * é menor e tem uma carga maior. Assim, o
• Bunzli, J.G. e Wessner, D. (1984) Rare earth complexes with
complexo [Ce(NO3)6]2~, com número de coordenação 12, é
neutral macrocyclic ligands, Coordination Chem. Rev„ 60,
formado no solvente não aquoso N2O4. Cada NO3" utiliza
191.
dois átomos de oxigênio para se coordenar ao metal.
• Burgess, J. (1988) íons in Solution, Ellis Horwood, Chichester.
Os lantanídios não formam complexos com ligantes
receptores rr, pois os orbitais f não estão disponíveis para • Callow, RJ. (1967) The Industrial Chemistry of the Lantha-
formar tais ligações. nons, Yttrium, Thorium and Uranium, Pergamon Press, New
York.
É difícil explicar as ligações que ocorrem em complexos
com elevado número de coordenação. Mesmo que um or­ • Cotton, S.A. e Hart, F.A. (1975) The Heavy Transition Met­
bital s, três orbitais p e os seis orbitais d da camada de als, Macmillan, London. (Vide cap. 10)
valência sejam utilizados para formar as ligações, deveriamos • Emeléus, H. J. e Sharpe, A.G. (1973) Moderm Aspects ofln-
PROBLEMAS 447

organic Chemistry, 4? ed. (Cap. 22: Elementos de transição • Yatsimirskii, K.B. e Davidenko, N.K. (1979) Absorption spec-
interna 1, os lantanídios), Routledge and Kegan Paul, Lon- tra and structure of lanthanide coordination compounds in
don. solution, Coordination Chem. Rev., 27, 223-273.
• Evans, W.J. (1985) Organolanthanide chemistry, Adv. Orga-
nometallic Chem., 24, 131-173. PROBLEMAS
• Evans W.J. (1987) Organolanthanide chemistry, Polyhedron, 1. Ordene os elementos lantanídios na seqüência correta,
6, 803-835. escrevendo seus símbolos químicos e suas configurações
eletrônicas.
• Greenwood, N.N. (1968) lonic Crystals, Lattice Defects and
2. De que modo os estados de oxidação dos lantanídios estão
Non-Stoichiometry (Cap. 6), Butterworths, London. relacionados com suas configurações eletrônicas?
• Gschneidner, K.A. Jr, e LeRoy, K.A. (eds) (1988) Handbook 3. Por que é difícil separar os compostos dos elementos
on the Physics and Chemistry of the Rare Earths, North Hol- lantanídios uns dos outros? Que métodos foram usados
land, Amsterdam. para efetuar tais separações? Quais deles continuam em
• Johnson D.A. (1977) Adv. Inorg. Chem. Radiochem., 20, 1. uso?
(Excelente revisão sobre a química dos lantanídios em estados 4. Explique o que é a contração lantamdica, e quais são suas
de oxidação menos comuns) conseqüências.
5. De que maneira o preenchimento do nível energético 4f
• Johnson D.A. (1980) Principies of lanthanide chemistry, J.
influencia os demais elementos da Tabela Periódica?
Chem. Ed., 57, 475-477.
6. Compare os espectros eletrônicos dos íons dos elementos
• Lanthanide and Actinide Chemistry and Spectroscopy (1980) lantanídios e dos metais de transição. Por que os íons dos
Simpósio da ACS, Série 131, American Chemical Society, lantanídios apresentam bandas de absorção finas e suas
Washington. propriedades magnéticas são pouco influenciadas pela
• Moller, M„ Cerny, P. e Saupe, F. (eds) (1988) Rare Earth natureza dos ligantes?
Elements (Publicação especial da Society for Geology Ap­ Compare os números de coordenação e a estereoquímica
plied to Mineral Deposits, Vol. 7), Springer Verlag, Berlin. comumente encontrados nos complexos dos lantanídios
com aqueles geralmente encontrados nos complexos dos
• Muetterties, E.L. e Wright, C.M. (1967) High coordination metais de transição.
numbers, Q. Rev. Chem. Soc., 21, 109. Determine o número de elétrons desemparelhados, no
8.
• Subbarao, E.C. e Wallace, W.E. (eds) (1980) Science and Tech­ estado fundamental, dos seguintes íons: La3 ", Ce4 +, Lu3 *,
nology of Rare Earth Materials, Academic Press, New York. Yb2 + , Gd3 + , Eu2+, Tb44.
448

OS ACTIHÍB10S

CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA E POSIÇÃO faziam parte do bloco d. Os motivos para tanto eram algumas
semelhanças entre as propriedades químicas desses
NA TABELA PERIÓDICA
elementos com os grupos de metais de transição Ti, Zr, Hf
Pode-se constatar, por uma rápida análise dos elementos ...Th? e Cr, Mo, W....U? O aumento do número de estados
anteriormente estudados, que o frâncio, Fr, e o rádio, Ra, de oxidação assumidos pelos elementos Ac, Th, Pa e U lembra
pertencem aos Grupos 1 e 2, respectivamente, e que seus a pirâmide invertida de estados de oxidação, observada no
elétrons mais externos devem estar no orbital 7s. No elemento caso dos elementos do bloco d (vide Tab.18.2). O aumento
seguinte, o actínio, Ac, começa o preenchimento do da estabilidade dos elementos nos estados de oxidação mais
penúltimo nível d (—6d’7s2). Este possui propriedades altos, também, segue a tendência encontrada nos elementos
características dos elementos do Grupo do Sc, Y e La. Por do bloco d. Isso contrasta com o fato dos lantanídios
analogia com o que acontecia após o La, espera-se que nos formarem, praticamente, apenas o íon no estado de oxidação
14 elementos que sucedem o actínio, os elétrons ocupem o ( + III). O urânio é o elemento natural mais “pesado’’ (número
nível Sf, constituindo a segunda série de transição interna. atômico 92). Como resultado das pesquisas realizadas para
Esses 14 elementos, do número atômico 90, tório, ao número o desenvolvimento da bomba atômica, durante a II Guerra
atômico 103, laurêncio, são denominados actinídios. Mundial, e das pesquisas posteriores sobre energia nuclear,
Contudo, as configurações eletrônicas dos actinídios não pelo menos 12 elementos foram obtidos artificialmente.
seguem o padrão simples encontrado nos lantamdios. Como esses elementos têm números atômicos superiores ao
Logo após o La, os orbitais 4f passam a ter uma energia do 92U, são também denominados elementos transurânicos.
menor que os orbitais 5d. Por isso, nos
lantanídios os orbitais 4f são preen­
chidos de maneira regular (desconside- Tabela 30.1 — Os elementos e seus estados de oxidação
rando-se os pequenos desvios que
Número Elemento Símbolo Estrutura eletrônica Estados de oxidação*
ocorrem no caso de uma camada
semipreenchida). Assim, seria de se 89 Actínio Ac 6J1 7? ni
esperar que, após o Ac, os orbitais 5f se
tornem menos energéticos que os 90 Tório Th 6d2 7? III IV
orbitais 6d. Contudo, a diferença de 91 Protactínio Pa 5/2 6d' Is2 iii rv v
energia entre os orbitais Sf e 6d é 92 Urânio U 5/3 6d' 7? ui rv v vi
pequena, nos primeiros quatro actiní­ 93 Neptúnio Np 5/ 6d1 7? m iv V vi vn
dios, Th, Pa, U e Np. Logo, nesses 94 Plutônio Pu 5/6 7? III iv V vi vn
95 Amerício Am 5f 7? II m iv V vi
elementos e em seus íons, os elétrons
podem ocupar os níveis Sf ou 6d, ou às
96 Cúrio Cm 5f 6d‘ 7S2 in rv
97 Berquélio Bk 5/’ 7? III IV
vezes ambos. Nos actinídios mais
pesados, o nível 5f passa a ter uma
98 Califómio Cf 5/'° 7? n iii
99 Einstênio Es 5/" 7? n iii
energia consideravelmente menor. 100 Férmio Fm 5/'2 7? n in
Assim, a partir do Pu, o nível Sf passa a 101 Mendelévio Md 5/'3 7? n iii
ser preenchido de maneira regular, e 102 Nobélio No 5/14 7? ii iii
esses elementos são muito semelhantes 103 Laurêncio Lr 5/14 6d' 7? ii in
uns aos outros.
104 Rutherfórdio Rf 5/14 6d2 7Í2 III
Até 1940, os actinídios conhecidos
eram O Th, o Pa e O U. Supunha-se * Os estados de oxidação mais importantes (geralmente os mais abundantes e mais estáveis) são mostradas
(erroneamente) que esses elementos em negrito. Outros estados, bem caracterizados mas menos importantes, são mostrados em tipo nornul.
ESTADOS DE PXIDAÇAO 449

leves, em estados de oxidação mais


Tabela 30.2 — Os elementos lantanídios e actmdios
elevados. O maior volume dos orbitais
Elementos Lantanídios 5f, em comparação com os orbitais 4f,
de transição pode ser demonstrada pelas diferenças
observadas nos espectros de ressonância
La Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu paramagnética eletrônica dos íons Nd3 *
Ac Th Pa U Np Pu Am Cm Bk Cf Es Fm Md No Lr e U3*, diluídos em CaF2 ou SrF2. A
configuração eletrônica de ambos os
Actinídios íons no estado fundamental é f3 (termo
espectroscópico 4I9/2 — vide Capítulo
Contudo, à medida que os elementos transurânicos fo­ 29). O sinal do U3 * apresenta estruturas hiperfinas, devido
ram sendo descobertos e estudados, ficou claro que eram á interação dos elétrons desemparelhados com os núcleos
elementos do bloco f. Algumas das evidências nesse sentido de flúor, mas isso não ocorre no espectro do Nd3*.
são:
D as bandas de absorção nos espectros UV-visível são ESTADOS DE OXIDAÇÃO
extremamente finas Os estados de oxidação conhecidos para os actinídios
2) suas propriedades magnéticas são mostrados na Tab. 30.1.
3) a importância crescente do estado de oxidação (+ III). Os elementos no estado (+ II) são bastante raros. O íon
Atualmente, aceita-se a proposição de que os actinídios Am21 tem configuração f7 e é o análogo do Eu2* nos lanta­
constituem uma segunda série de elementos de transição nídios. Porém, só é encontrado no fluoreto, no estado sólido.
interna, que começa no tório e termina no laurêncio. Em contraste, Cf2*, Es2*, Fm2 + , Md2*, e No2* podem se
encontrados na forma de íons em solução. Suas propriedades
As séries dos elementos lantanídios e actinídios são
mostrados na Tab. 30.2. são semelhantes às dos metais do Grupo 2, particularmente
o Ba2*. É o estado de oxidação mais estável do No, e sua
Há muitas semelhanças entre os lantanídios e os configuração é f14.
actinídios posteriores. Cm tem propriedades muito similares
ao do Gd, e ambos têm a configuração eletrônica f7d ’s2. A Todos os actinídios formam o íon no estado de oxidação
ordem de eluiçâo de Am, Cm, Bk e Cf, de uma coluna de ( + III), como os lantanídios. Contudo, nem sempre este é o
troca iônica, é idêntica a dos lantanídios Eu, Gd, Tb e Dy. estado mais estável, no caso dos actinídios. Esse não é o
As temperaturas de fusão e as densidades dos elementos estado de oxidação mais estável dos quatro primeiro elemen­
actinídios não se encontram dentro da faixa prevista para os tos Th, Pa, U e Np. Por exemplo, o íon U3* é facilmente
elementos do bloco d (vide Apêndice B e D). oxidado pelo ar, em solução. Mas, o estado de oxidação
(+ III) é o mais estável no caso dos actinídios posteriores,
Os espectros de absorção dos elementos Pa, U, Np, Pu do 9SAm até 103 Lw (exceto o 102No). Suas propriedades são
e Cm apresentam bandas extremamente finas, características muito semelhantes às dos lantanídios.
de transições f-f. As linhas espectrais dos compostos dos
actinídios são cerca de dez vezes mais intensas que as dos Os estados de oxidação mais estáveis para os primeiros
lantanídios. Se houver apenas um elétron f, haverá apenas quatro elementos são Th( + IV), Pa( + V) e U( + VI). Esses
uma banda no espectro, e será fácil interpretá-lo. Geralmente, estados de oxidação elevados implicam na participação de
porém, os espectros são muito complicados e muito difíceis todos os elétrons mais externos (incluindo os elétrons f) nas
de serem interpretados. As propriedades magnéticas dos ligações. Embora Np( + VII) seja conhecido, o elemento nesse
actinídios, também, são difíceis de serem interpretadas. estado é um agente oxidante, sendo o estado (+ V) o mais
estável do Np. O plutônio pode ser encontrado em todos os
O fato de haver ou não elétrons d na configuração
estados de oxidação de (+ III) a (+ VII), mas o mais estável
eletrônica do elemento no estado fundamental, tem pouca
é o Pu( + IV). O amerício pode ser encontrado nos estados
importância prática: os dois elétrons s e o elétron d (se
houver) serão removidos para formar o íon no estado de de oxidação de ( + II) a (+ VI). Entretanto, para o amerício e
oxidação mais comum, ou seja, ( + III). As energias dos para quase todos os elementos restantes, o estado mais
orbitais 5f e 6d são muito próximas. A energia de ligação é estável é o (+ III).
maior que a energia necessária para promover a transição Todos os elementos compreendidos entre o 90Th e o
5/—>6rí. Os orbitais 7s e 7p também têm energias compará­ 97Bk podem ser encontrados no estado (+ IV), sendo este o
veis. Assim, os níveis ocupados podem variar de acordo com estado de oxidação mais importante para Th e Pu. Os íons
a natureza dos ligantes. Também pode variar do sólido em M4* podem ser obtidos em soluções ácidas, e são
relação ao íon em solução. Geralmente, é impossível dizer precipitados pelos íons F“, PO43" e IO3". Todos esses
quais orbitais estão sendo ocupados. elementos formam dióxidos MO2 e fluoretos MF4 sólidos.
Os orbitais Sfse estendem no espaço além dos orbitais Os elementos do 91Pa até 95Am formam alguns poucos
6s e 6p, e participam das ligações. Esse fato contrasta com o compostos sólidos, onde os metais estão no estado de
comportamento dos lantanídios, onde os orbitais 4f são oxidação (+ V). Este é o estado mais estável do Pa e do Np.
incapazes de participar de ligações, pois estão localizados íons M5* livres não ocorrem em solução, mas entre pH 2 e
na parte mais interna do átomo, e são totalmente blindados 4, são formados os íons MO2*. Esses oxoíons são lineares,
pelos elétrons das camadas mais externas. A participação [O-M-O] *, e rapidamente se desproporcionam em solução,
dos orbitais 5/pode explicar a ocorrência dos actinídios mais mas são encontrados em compostos no estado sólido.
450 □S ACTINlDIOS

( + V) ( + IV) ( + V1) tos. Impede também a determinação exata da estrutura por


2UO2+ + 4H+ -> U4+ + UO22+ + 2H2O difração de raios X, pois os átomos apresentam um grau
anormalmente elevado de movimento térmico. 0 calor
U, Np, Pu e Am, formam fluoretos MF6, nos quais o
gerado dessa forma por alguns actinídios, pode ser
metal se encontra no estado de oxidação ( + VI). Os elementos
aproveitado como fontes de energia compactos e de baixo
no estado (+ VI) são encontrados mais comumente nos íons
peso. Por exemplo, esse calor é convertido em eletricidade
MO22 + , lineares, [O-M-O]2 + , e estáveis. Podem ser encon­
por uma termopilha, em "marca-passos" cardíacos. Foram
trados tanto em solução como em sólidos. A estrutura cristali­
usados nas primeiras missões lunares, na missão espacial
na do nitrato de uranila, UO2(NO3)2(H2O)2, é constituída
Apoio e em satélites. Os isótopos 294 Pu e 298 Cm são usados
por íons [O-U-O]2+ lineares rodeados por dois grupos NO3~
com essa finalidade. São emissores a, bastando uma
e duas moléculas de H2O. Os grupos NO3~ estão bidentados,
blindagem simples, visto que esse tipo de radiação é
tal que dois átomos de O de cada NO3’ estão ligados a cada
prontamente absorvido por qualquer tipo de material,
átomo de U. Os átomos de O de duas moléculas de água
também foi usado com essa finalidade, mas ele emite radia­
também estão coordenados ao U, gerando complexos com ção y além dos raios a, e requer uma blindagem bem mais
número de coordenação 8. Analogamente, no acetato de
eficaz.
uranila e sódio sólido, Na[UO2(CH3COO)3], os grupos acetato
estão bidentados e o U está octacoordenado. A areia monazítica contém até cerca de 10% de Th
misturado com lantanídios, na forma de fosfatos do tipo
Os elementos nos estados de oxidação inferiores tendem (ThLn)PO4. O tório também é encontrado como o minério
a ter um caráter mais iônico, enquanto nos estados de torita, ThSiO4. O urânio é extraído como o minério pech-
oxidação mais elevados tendem a ter um caráter mais blenda, U02. Quantidades muito pequenas de Ac, Pa, Np e
covalente. Os íons M2 + , M3 + e M4 + foram bem caracteri­ Pu foram detectados nesses minérios. Esses quatro elementos
zados. Eles se hidrolisam rapidamente, mas essa reação pode só podem ser obtidos artificialmente. O plutônio pode ser
ser suprimida pela adição de ácidos. O ácido perclórico é obtido em grandes quantidades por meio do bombardea­
geralmente o mais adequado, pois tem apenas uma pequena mento do urânio, em reatores nucleares. A obtenção do
tendência de formar complexos. A hidrólise dos compostos plutônio é importante porque é físsil, pode ser usado para
contendo os elementos em estados de oxidação mais elevados fins militares (em armas nucleares) e também como combus­
leva à formação dos íons: ( + V)^MOj* e ( + VI)->MO2 + . tível em usinas termelétricas nucleares.
O comportamento químico do Th e do U se assemelha
OCORRÊNCIA E OBTENÇÃO DOS ao dos elementos dos grupos do Ti e do Cr, em diversos
ELEMENTOS aspectos. Os elementos com números atômicos superiores
Todos os elementos posteriores ao 82Pb, isto é, do 83Bi ao do urânio são denominados elementos transurãnicos.
em diante, possuem núcleos instáveis e sofrem decaimento Todos foram obtidos artificialmente a partir de 1940. Foram
radioativo. Os elementos até o 92U, inclusive, ocorrem na obtidos por meio do bombardeamento de elementos
natureza, e são conhecidos há muito tempo. Mesmo sendo adequados com nêutrons, em reatores nucleares. Também
radioativos, Th e U não são raros, constituindo 8,1 ppm e podem ser obtidos bombardeando-se uma amostra com
2,3 ppm da crosta terrestre, respectivamente. A ocorrência partículas a (núcleos de He), ou com núcleos de átomos
do Th e doU na Terra se deve ao fato dos isótopos 29oTh, leves como C, B, N, O ou Ne, num acelerador de partículas.
292 U e 292 U terem meias-vidas suficientemente longas, para A maioria dos elementos transurãnicos foi descoberta (ou
garantir sua permanência desde a formação da Terra (o t1/2 melhor obtida) na Universidade da Califórnia.
do 292 U é de 4,5xl09 anos, e o do 292 U é de 7,04xl08 anos).
Os elementos posteriores ao U possuem meias-vidas mais PREPARAÇÃO DOS ACTINÍDIOS
curtas, e mesmo que tenham sido formados nos primórdios Os primeiros membros da série são geralmente obtidos
do planeta Terra já desapareceram por completo.
por reações (n, y), seguidas por emissão p. Foram obtidos
Se os elementos forem apreciavelmente radioativos, pela primeira vez em 1940, em Berkeley, bombardeando-se
devem ser manuseados com cuidado. Os actinídios mais núcleos de U num ciclotron. Atualmente, são extraídos de
pesados têm meias-vidas muito curtas (freqüentemente de barras de U combustível esgotadas. Embora a reação princi­
poucos minutos, ou até menos). Por isso, não é possível pal num reator nuclear seja a fissão do 292U em duas
obtê-los em elevadas concentrações, nem executar outras partículas menores, com a liberação de grande quantidade
experiências a não ser experimentos breves, usando-os como de energia, diversas reações secundárias ocorrem
traçadores. O estudo de alguns desses elementos é difícil, concomitantemente. A barra de U combustível é irradiada
porque a radiação decompõe a água em radicais H e OH. com nêutrons lentos (de 1 MeV de energia). Um nêutron
Esses radicais podem reduzir os elementos em estados de pode ser capturado por um núcleo, numa reação (n, y). 0
oxidação elevados, tais como Pu( +VI), Pu( +V), Am( +VI), nêutron aumenta a massa atômica do núcleo em uma
Am( +V) e Am( + IV). unidade, e parte da energia é liberada como radiação f. Outros
A radioatividade provoca o auto-aquecimento das nêutrons podem ser adicionados de forma análoga. A adição
amostras. Dez gramas de 239Pu produzem 0,02 watt de calor. de nêutrons aumenta a relação entre o número de nêutrons
Essa propriedade não pode ser usada para gerar energia em e de prótons (a relação n/p). Eventualmente, o núcleo torna-
larga escala, pois esse isótopo é físsil e sofre um processo de se instável, por conter nêutrons em demasia. Então, o núcleo
fissão nuclear (a massa crítica do 239Pu é de apenas 1 kg, sofre um processo de decaimento, convertendo um nêutron
aproximadamente). O calor pode decompor alguns compos- em um próton e um elétron (partícula p). Isso diminui a
PREPARAÇÃO DOS ACTINÍDIOS 451

Tabela 303 — Os principais isótopos e suas fontes

Número Elemento Principais Meia-vida Método de obtenção ou fonte


atômico isótopos

89 “|Ra natural °r > 2^Ra —Í-» 227 Ac


°7
Actínio 227Ac 21,7 anos 89
4! min
90 Tório 232Th 1,4x10'° anos Minérios de ocorrência natural
91 Protactínio “'Pa 3,3x1o4 anos Natural (0,1 ppm em minérios de U) e a partir de 235U usado como
combustível nuclear
92 Urânio “5U 7,1x10* anos Natural (abundância de 0,7% em minérios de U)
“8U 4,5x109 anos Natural (abundância de 99,3% em minérios de U)
93 Neptúnio 237Np 2,2x106 anos Obtido a partir de combustíveis nucleares a base de U
«U 256V -ÜL-, “7Np
6.7 a

^U (n, 2n)
94 Plutônio “8Pu 86,4 anos Diversos isótopos formam-se em combustíveis nucleares
«Np-S^Np-^Pu

nr «U
6 ?
“Np 0
^Pu
“9Pu 2,4xl04anos 23 min 2Jd
242pu 3.8X1O5 anos 2£Pu
três(ny)
«Pu
cinco (ny)
244Pu 8,2xl07 anos ™Pu ► «Pu
.2 (nr)
na B ,
95 Amerício 241Am 433 anos 92 u
238 u «Pu «Am
13.2 anos
quatro (ny) 2« Pu 8 > 243 Am
243 Am 7.7X103 anos «Pu-
(ny) ? 242
™Am “Am

na
96 Cúrio 242Cm 162 dias «Pu * «'■Cm
quatro (ny) -» 2«Pu -L> “Am 244 A B
244Cm 17.6 anos «Pu 93 Am------ > «Cm
5.0 horas 26 mim
97 Berquélio 249Bk 314 dias
98 Califómio 249Cf 360 anos
“2Cf 2.6 anos Bombardeio intenso e prolongado com nêutron do 239Pu em
99 Einstênio ““Es 250 dias reatores nucleares
100 Férmio 233Fm 4,5 dias
101 Mendelévio 256Md 1,5 horas Bombardeio de 252Cf com He24 seguido de B
102 Nobélio 254No 3 segundos Bombardeio de 246Cm com C64
103 Lawrêncio 257Lr 8 segundos Bombardeio de 252Cf com B54
104 Rutherfórdio 261Rf - 70 segundos

relação n/p, ao mesmo tempo que aumenta o número 2) e sua capacidade de absorver nêutrons, isto é, sua
atômico em uma unidade. Assim, é formado um novo “seção de choque" de captura de nêutrons.
elemento, que se localiza à direita do elemento original na Isótopos dos elementos posteriores ao Pu podem ser
Tabela Periódica (vide Capítulo 31, Estabilidade e relação obtidos por uma sequência de reações (n, y) num reator
entre nêutrons e prótons). Quando a barra de combustível é nuclear, usando Pu como material de partida.
removida do reator, ela é processada, e os novos elementos (n.y) (n.y)
23’II. -- “Am
podem ser recuperados. Como não há muitas aplicações para *« Put1/2-=13^ anos
o Np, geralmente só o Pu é recuperado (o Pu é útil tanto
A adição gradativa de nêutrons lentos é tediosa. Um
como combustível nuclear como para fins militares).
método mais rápido consiste em submeter a amostra a um
feixe ou densidade muito elevada de nêutrons rápidos, sem
“4u+* n->23*U+Jn->2”üItl/2—a6,7 dias «Np permitir que os produtos intermediários sofram decaimento.
6
Isso ocorre durante a explosão de bombas de hidrogênio, na
't1/2—
=23,3 mim.
2« Npt1Z— *-»
j=2,3 dias
Pu qual os elementos gçEs e 10oFm também foram formados.
Entretanto, esse procedimento não é uma rota de síntese
0 rendimento do processo em relação aos elementos mais conveniente e praticável. Quando 238U é usado como
pesados é controlado por dois fatores: combustível de reatores nucleares, ele pode capturar um
1) a meia-vida dos diferentes isótopos. nêutron rápido e, em seguida, emitir dois nêutrons.
452 □5 ACTINlDIOS

ilu- (n^2n)
•2”U ^295
tI/2=6,7 dias
Am Tabela 30.4 — Disponibilidade de vários isótopos

Um método alternativo é o bombardeamento de uma Toneladas Quilogramas 100 gramas Miligramas Microgramas
amostra com íons pequenos. Tais íons devem ter energia
suficientemente elevada para superar as interações 232Th 237Np 231Pa 244Pu “7Fm
coulômbicas entre os íons e os núcleos pesados. Para tal, 238U 239Pu 238Pu 249Bk
esses íons são acelerados até atingirem grandes velocidades 242Pu 242Cm
(elevada energia cinética), num acelerador linear de 241 Am 252Cf
243 Am 253Es
partículas ou num ciclotron. O íon mais simples usado é a
244Cm 254Es
partícula a (isto é, um núcleo de He). Sua captura por um
núcleo pesado provoca o aumento do número de massa em
quatro unidades e do número atômico em duas unidades. PROPRIEDADES GERAIS
Algumas propriedades desses elementos são mostradas
2"Pu+ 4He------- >24|Cm na Tab. 30.5. Todos são metais prateados, de pontos de fusão
Muitas vezes a adição do núcleo de hélio desequilibra moderadamente elevados, mas consideravelmente inferiores
a relação entre nêutrons e prótons (vide Capítulo 31), de aos dos elementos de transição. O tamanho dos íons decresce
modo que um ou mais nêutrons são subseqüentemente regularmente ao longo da série, pois a carga adicional do
emitidos. As equações que representam as reações nucleares núcleo é ineficientemente blindada pelos elétrons f. Isso
podem ser escritas representando todas as partículas provoca uma "contração actinídica”, semelhante à contração
envolvidas na reação, por exemplo lantanídica. Pode-se concluir, a partir da comparação dos
raios iônicos M3 + dos actinídios com os dos lantanídios (Tab.
“9Pu+ 4He------- >2”Cm+2(Jn) 29.6), que os lantanídios e os actinídios têm tamanhos muito
semelhantes. Portanto, suas propriedades químicas também
ou de uma maneira simplificada, onde as partículas adiciona­ são semelhantes. Contudo, os actinídios são mais densos e
das e emitidas na reação são indicadas entre parênteses: têm uma maior tendência de formar complexos.
Os actinídios são metais reativos, como o lantânio e os
2”Pu_<(o. 2"> )243Cm
«.2n) lantanídios. Reagem com água quente e perdem o brilho
2^Am (o. n)
(°'n) >™Bk quando expostos ao ar, formando um filme de óxido. No
caso do tório, forma-se uma camada protetora, mas isso não
(g, 2n)
242Cm- ^2n) >2«Cf ocorre com os demais metais dessa série. Os metais reagem
facilmente com HC1, mas a reação com outros ácidos é mais
249pf (g,2n)
(g. 2n) 251 r»—,
98 > 100 r m lenta do que se espera. Th, U e Pu são passivados pelo HNOj
(g. n)
concentrado, devido à formação de uma película protetora
2^Es (g n) >2o?Md de óxido. Os metais são básicos e não reagem com NaOH.
Os elementos mais pesados foram obtidos bombardeando- Mas, reagem com oxigênio, com os halogênios e com o
se a amostra com íons Bs + , C6 + , N7+ ou O8+ acelerados. hidrogênio. Os hidretos são não-estequiométricos e têm
fórmulas ideais MH2 ou MH3.
i’U +14 N- ■2"Es + 3(Jn) Geralmente os metais são obtidos por eletrólise dos sais
fundidos, ou por redução dos haletos com Ca, a altas tem­
«u+'to- •^Fm+4(Jn) peraturas.

2“Cm+12C- 102 No + 4(^n) Tabela 30.5 — Algumas propriedades dos actínídios

^Cf^B- •»iojLr + 6(Jn) Elemento Ponto de Ponto de Densidade Raio Raio


fusão ebulição iônico iônico
As matérias-primas, as meias-vidas e os números de massa CC) CC) (g cm-3) de M3+(Â) de M4+(Â)
dos isótopos mais acessíveis são mostrados na Tab. 30.3.
Outros isótopos também são conhecidos, e alguns tem Ac 817 2.470 1,12
meia-vida longa. Por exemplo, 247Bk só pode ser preparado Th 1.750 4.850 11.8 (1,08) 0,94
com dificuldade, pelo método de bombardeamento com íons Pa 1.552 4.227 15,4 1,04 0,90
acelerados, num acelerador de partículas, mas tem uma meia- U 1.130 3.930 19,1 1,025 0,89
vida de cerca de 7.000 anos. Np 640 5.235 20,5 1,01 0,87
As quantidades disponíveis desses elementos são Pu 640 (3.230) 19,9 1,00 0,86
mostradas na Tab. 30.4. Os elementos com número atômico Am 1.170 2.600 13,7 0,975 0,85
superiores a 100 são espécies de vida curta e apenas Cm 1.340 13,5 0,97 0,85
pequeníssimas quantidades (por exemplo, alguns átomos Bk 986 14,8 0,96 0,83
de férmio) foram preparadas. Os isótopos mais estáveis são: Cf (900) 0,95 0,82
io?Md = 53 dias; jofNo = 185 segundos; 2o3Lr ■= 45 segundos; Es (860)
ioiRf - aproximadamente 70 segundos.
PROTACTÍNIO 453

TÓRIO Tabela 30.6 — Alguns números de coordenação elevados


0 tório não é um elemento raro. Ele constitui 8,1 ppm
da crosta terrestre e é o trigésimo-nono elemento mais Complexo Número de Forma
abundante. Sua principal fonte é a areia monazítica, na qual coordenação
ele ocorre em quantidades de até 10%, como fosfato,
misturado aos fosfatos dos lantanídios. O tório também é K4(Th(oxalato)4]-4H2O 8 Antiprisma quadrado
encontrado na uranotorita (um silicato misto de Th e U), (NH4)4[ThF8J 9 Prisma trigonal com três
nos minérios de Sudbury (Canadá). A monazita é tratada faces piramidadas (ThF9),
com NaOH. Os hidróxidos insolúveis são filtrados e dissol­ compartilhando duas ares­
tas para formar cadeias
vidos com HC1. Em seguida, o pH é ajustado para 6, de
infinitas
modo a precipitar apenas os hidróxidos de Th(IV), U(IV) e
Mg[Th(NO3)6] 12 Icosaédrico. Os grupos
Ce(IV), que são separados dos lantanídios trivalentes por NOJ são bidentados
filtração. Os precipitados de hidróxidos são dissolvidos em
HC16M e extraídos em querosene com fosfato de tributila.
Caso necessário, o metal Th pode ser obtido reduzindo-se Anualmente são produzidas cerca de SOO toneladas de
ThO2 com Ca, ou ThCl4 com Ca ou Mg. Essas reações devem compostos de tório. Suas dois principais aplicações indus­
ser efetuadas em atmosfera de argônio, pois Th metálico é triais são as seguintes:
muito reativo quando quente. 1) é largamente empregado na fabricação de “camisas"
0 único estado de oxidaçâo estável do Th é o ( + IV), para lâmpadas incandescentes a gás, pois quando
sendo o íon Th4 + encontrado tanto em solução como em dióxido de tório contendo 1 % de cério é aquecido numa
compostos sólidos. Th(NO3)4-5H2O é o sal mais conhecido chama de gás, ele emite uma luz branca brilhante. Esse
eémuito solúvel em água. Os íons hidratados [Th(H2O)n]4 + tipo de lâmpada foi por muito tempo o principal meio
são a espécie presente em soluções diluídas e a adição de de iluminação artificial (atualmente, esse tipo de
NaOH leva à precipitação de Th(OH)4. O óxido ThO2 pode iluminação foi substituído pelas lâmpadas elétricas
ser obtido aquecendo-se o nitrato, ou então aquecendo o incandescentes e fluorescente, exceto em lâmpada:
metal na presença de ar. O óxido é branco e tem o ponto de portáteis, por exemplo, para expedições). Mesmo assim
fusão mais alto dentre todos os óxidos (3.220 °C). É inerte, metade da produção de tório é utilizado na fabricação
mas se dissolve em misturas de HNO3 e HF. Os outros óxidos dessas camisas.
dos demais actinídios também são refratários. 2) O tório natural é constituído quase que exclusivamente
Os haletos anidros ThX4 formam-se pela reação entre por 232Th. Esse isótopo não é físsil, mas quando
os elementos. Também, podem ser obtidos pelo aquecimento irradiado na parte externa de um reator nuclear
do óxido com o ácido halogenídrico correspondente, a transforma-se em 233U.
elevadas temperaturas; ou aquecendo-se o óxido com CCL,,
232 nr s 423?Pa
a 600 °C. Os haletos são brancos e têm elevados pontos de 90th-
111 90Th-
233 111 —
27 dú;
fusão. Thl4 se decompõe gerando os elementos, mediante
aquecimento forte. Essa reação foi usada para purificar o Esse isótopo do urânio não ocorre naturalmente, e tem
metal, no Processo van Arkel (vide Capítulo 6, “Métodos de uma meia-vida de l,6xl05 anos. Esse nuclídeo é físsil. Como
Obtenção por Decomposição Térmica”). Os haletos se o reator produz mais combustível nuclear do que consome,
hidrolisam em ar úmido, formando os oxo-haletos ThOX2. a reação nuclear acima é a base dos “reatores regeneradores".
A cor branca dos compostos de Th (IV) se deve à ausência
de elétrons d e f. A carga elevada do íon Th4 + favorece a PROTACTÍNIO
formação de complexos, que freqüentemente tem elevados
números de coordenação e estruturas pouco usuais (Tab. Pequenas quantidades de Pa (cerca de 0,1 ppm de 231 Pa)
30.6). são encontradas no minério de urânio pechblenda, UO2. Pa
é formado como um dos produtos do decaimento radioativo
Os compostos de Th(III) são raros e somente são encon­
do 235U, na série de decaimento radioativo do actínio (vide
trados na forma sólido. Thl3 e ThOF já foram preparados,
Capítulo 31). Ocorre também nas séries de decaimentos
mas reagem com água formando Th(lV) e liberando
naturais do neptúnio e do urânio. É difícil isolar o Pa dos
hidrogênio. Thl3 e Thl2 podem ser obtidos como se segue:
minerais em que ocorre. Normalmente, ele é preparado
2ThI4 + Th calor
2ThI3 + Thl2 artificialmente a partir do Th, pela reação dada acima, ou
então como 231 Pa, a partir do processamento de barras
Thl2 é um sólido dourado e um bom condutor de esgotadas de urânio usadas como combustível de reatores
eletricidade. Todos esses compostos dos elementos em nucleares.
estados de oxidaçâo baixos apresentam um certo grau de A história do estudo do protactínio é um exemplo de
condutividade metálica. Thl2 provavelmente pode ser cooperação científica raramente encontrada. O comporta­
considerado como sendo constituído por Th4 + , 21* e 2 mento químico desse elementos era praticamente desco­
elétrons numa banda de condução. Analogamente, Thl3 pode nhecido até 1960, quando A.G. Maddock e uma equipe do
ser considerado como sendo constituído por Th4 +, 3F e um “United Kingdom Atomic Energy Authority" extraíram 130
elétron numa banda de condução. ThS também já foi gramas desse elemento a partir de 50 toneladas de resíduos
sintetizado. de extração de urânio. Amostras foram enviadas aos
454 05 ACTINlOIOS

principais laboratórios em todo o mundo. Assim, rapida­ e L. Szilard me levam a crer que o elemento urânio poderá
mente foram obtidas a maioria das informações que se tem se transformar numa nova e importante fonte de energia
sobre as propriedades do elemento. num futuro próximo". A História mostrou que ele estava
A química do protactínio é de estudo particularmente certo.
difícil, porque seus compostos hidrolisam rapidamente. Além Enrico Fermi (um físico italiano refugiado que trabalha­
disso, os íons se polimerizam, formando precipitados coloi- va na Universidade de Chicago) foi o primeiro cientista a
dais em água e na maioria dos ácidos. Esses precipitados desencadear uma reação em cadeia, usando o processo de
ficam adsorvidos nas paredes do recipiente ou sobre outros fissão nuclear, em 2 de dezembro de 1942. 0 seu reator era
precipitados. Tais precipitados coloidais não são formados constituído por uma pilha de camadas alternadas de
quando Pa é manuseado em soluções contendo fluoreto, combustível (U e UO2) e de um moderador (grafita). Tiras
pois nesse caso forma fluorocomplexos. de Cd serviam para absorver nêutrons e assim controlar a
Pa pode ser extraído de soluções de HC1 ou HNO3 com reação em cadeia. Fermi empregou 400 toneladas de grafita,
fosfato de tributila. É, então, precipitado como PaF4 e 50 toneladas de UO2 e 5 toneladas de U metálico.
reduzido ao metal com Ba, a 1.400 °C. Pa foi obtido em Isso levou à criação do "Projeto Manhattan”, destinado
quantidades da ordem de 100 gramas. TYata-se de um metal à fabricação de bombas atômicas, à descoberta dos elementos
brilhante e maleável, que escurece em contato com o ar. transurânicos (elementos com número atômico superior ao
O elemento no estado de oxidação ( + V) é o mais do urânio) e ao desenvolvimento da energia nuclear. Duas
estável. Pa2O5, um sólido branco, é obtido por calcinação de bombas atômicas foram lançadas contra o Japão, em 1945.
compostos de Pa ao ar. Este óxido é fracamente ácido, pois Atualmente, o urânio tem grande importância comercial
reage com álcalis fundidos. Seu aquecimento numa câmara como combustível nuclear. Em 1989, haviam 120 usinas
sob vácuo, ou sua redução com hidrogênio a 1.500 °C, nucleares geradoras de eletricidade somente nos EUA, além
fornece uma fase não-estequiométrica de cor preta, PaO2i3, de mais de 400 outras distribuídas nos demais países.
e eventualmente, PaO2. PaF5 pode ser obtido pela reação de
F2com PaF4, ou de BrF3 com Pa2Os. É reativo, mas pode ser Ocorrência
sublimado. PaCls e os oxo-haletos PaOX3 e PaO2X, também Os vanadatos de urânio, como a carnotita,
são conhecidos. Complexos de Pa(V) com oxalato, citrato, K2(UO2)2(VO4)2 -3H2O constituem os principais minérios de
tartarato, sulfato e fosfato já foram obtidos. Também, foram urânio. A carnotita ocorre como uma crosta distinta de colora­
estudados alguns complexos incomuns com fluoreto. No ção amarela ou amarelo esverdeada, em arenitos e outros
Rb[PaF6], o átomo de Pa é octacoordenado. O complexo agregados moles. U também é minerado como óxidos, sendo
K2[PaF7] contém grupos PaF9, onde o metal tem número de os mais importantes a uraninita e a pechblenda. Estes têm
coordenação nove. Eles formam ligações com dois grupos coloração castanho-preta, são não-estequiométricos, mas sua
vizinhos por meio de átomos de F em ponte, um de cada estequiometria se aproximam daquela do UO2. São freqüen-
lado, constituindo uma cadeia. No Na3[PaF8], o íon [PaF8]3’ temente oxidados; e a gumita é laranja amarelada, marrom
tem uma estrutura cúbica ligeiramente distorcida. PaO2 e ou preta, sendo constituída por uma mistura de minérios de
todos os haletos PaX^ bem como os oxo-haletos PaOX2, são U e de Th que sofreram a ação do intemperismo. Os óxidos
conhecidos, e contêm o elemento no estado de oxidação estequiométricos UO2, U3O8 e UO3 são, respectivamente,
(h- IV). Esta espécie, ou seja Pa(IV), pode ser obtido por preto-castanho, verde-preto e laranja amarelado. U é o
redução de soluções aquosas de Pa(V) com amálgama de quadragésimo-oitavo elemento mais abundante na crosta
zinco ou com Cr2*, mas é facilmente oxidado pelo ar. Os terrestre (2,3 ppm). É mais abundante que alguns dos
espectros de absorção do PaCl4, em HC1 ou HC1O4, são elementos “mais familiares” como Ag, Hg, Cd e I. Em 1992,
semelhantes aos do Ce3 + (4f'). Isso sugere que o íon Pa(IV) a produção mundial de urânio foi de 34.400 toneladas em
tem uma configuração Sf1 e é um actinídeo. O íon Pa(III) foi conteúdo de metal, o que equivale a 40.600 toneladas de
detectado por polarografia. U3O8. Os principais produtores de minério de urânio foram:
ex-União Soviética 32%, Canadá27%, Nigéria 9%, Austrália
URÂNIO e Namíbia 7% cada, França 6%, e Estados Unidos e África
Antigamente, os minérios de urânio foram empregados do Sul 5% cada.. Metade da produção dos EUA provém da
como matéria-prima do Ra, que foi usado no tratamento região de Grants, no Novo México.
radioterápico do câncer. Pequenas quantidades de U eram
usadas (e ainda o são) para a obtenção de vidros amarelo Obtenção
pálidos ou verdes. Esse vidro fluoresce quando exposto à Os processos de extração são complexos. Os minérios
luz ultravioleta. Pequenas quantidades de óxido de urânio são triturados e concentrados por processos físicos e quími­
são usadas para colorir cerâmicas. cos. 0 minério pode conter 0,2% de U, de modo que 1
A descoberta da fissão nuclear do urânio por Otto Hahn, tonelada de minério fornece menos de 2 kg de U3O8.
em dezembro de 1938, estimulou o estudo detalhado da Inicialmente o minério é concentrado por flotação, valendo-
física nuclear e da química do urânio. A liberação de energia se da elevada densidade dos compostos de U. A seguir, é
durante a fissão de um núcleo era de tamanha importância calcinado ao ar e extraído com H2SO4 (geralmente, na
que, em 2 de agosto de 1939, Albert Einstein escreveu uma presença de um agente oxidante como Mn02, para assegurar
carta ao presidente dos Estados Unidos, Franklin D. a conversão a U( + VI)). Este é precipitado como diuranato
Roosevelt, na qual disse: “Os trabalhos recentes de E. Fermi de sódio, Na2U2O7, um sólido amarelo vivo conhecido como
urAnio 455

“torta amarela”. Esta é dissolvida em HNO3, para formar levantadas para acelerá-lo. Tais barras de controle podem
nitrato de uranila, UO2(NO3)3 • (H2O)n, que é posteriormente ser feitas de aço-boro, cádmio ou háfnio.
purificado. Esse processo de purificação pode ser realizado
precipitando-se UO3 com amônia, ou, então, extraindo-se o 'jB+in------ >12B+Z
nitrato de uranila com fosfato de tributila (diluído com um «Cd+Jn------ >«Cd+Z
hidrocarboneto inerte), a partir da solução aquosa.
Finalmente, os produtos purificados são transformados em Paradoxalmente, essas reações em cadeia dificilmente
UF4, e reduzidos com Ca ou Mg para se obter o metal. podem resultar numa explosão. Para se obter uma explosão,
as condições devem ser tais que o fator de propagação de
nêutrons seja maior que 1. Isso significa que mais de um
Fissão nuclear nêutron resultante de uma fissão efetivamente provoca a
0 urânio que ocorre na natureza contém três isótopos: fissão de outros núcleos. Isso é denominado reação em cadeia
99,3% de 238U, 0,7% de 235U e quantidades traço de 234U. O ramificada. Para se atingir tal condição, o combustível nuclear
isótopo 23SU é físsil e se parte em dois núcleos menores a ser usado (em bombas) deve ser muito enriquecido,
(fissão), quando irradiado com nêutrons térmicos (lentos). podendo conter até 80% de 23SU. É muito difícil se chegar a
0 processo de fissão libera cerca de um milhão de vezes esse grau elevado de enriquecimento e, geralmente, a energia
mais energia que uma reação química. A fissão do núcleo liberada no processo funde o material radioativo, permitindo
pode dar origem a vários produtos (vide “Reações nucleares que ele se espalhe. Assim, devido ao aumento da área su­
induzidas”, Capítulo 31), por exemplo: perficial, um maior número de nêutrons pode escapar e a
reação em cadeia cessa. Uma reação em cadeia poderá
^U+òn------->‘|fl +’3S9y + 3(òn)+ 2xIO10 kl moF1 resultar numa explosão somente se o material físsil for
impedido de se espalhar, por meio da utilização de alguma
Se um dos nêutrons liberados provocar a fissão de outro forma de contenção. As temperaturas atingidas se asseme­
núcleo de 235U, terá início uma reação nuclear em cadeia lham às do Sol, e nenhum tipo de recipiente resistiría a tais
auto-sustentada. Esse processo libera energia a uma temperaturas. A primeira bomba atômica lançada sobre
velocidade constante. Como a fissão de um núcleo libera Hiroshima usava 235U como combustível. Duas massas
três nêutrons, a princípio estes podem provocar a fissão de subcríticas de 23SU, em parte opostas da bomba, foram
três outros núcleos de 23SU. Isso provocaria a liberação de juntadas por uma pequena explosão convencional, por um
um número ainda maior de nêutrons, dando início a uma tempo suficientemente longo para provocar uma explosão
reação em cadeia "ramificada”. Esse tipo de reação é nuclear.
incontrolável, pois liberaria energia a uma velocidade cada
Num reator nuclear, o fator de propagação de nêutrons
vez maior, até gerar uma explosão.
é muito próximo de 1. Isso significa que apenas I nêutron
É muito difícil iniciar e manter uma reação em cadeia. resultante de cada fissão provoca outra fissão. Assim, a
Os nêutrons liberados pela fissão são “nêutrons rápidos”, liberação de energia é controlada e pode ser usada para fins
tendo energias da ordem de 2 x 108 kJ moF*. Eles tendem a pacíficos, como a geração de eletricidade. O excesso de
escapar e não são muito efetivos para provocar novas fissões. nêutrons pode escapar, ser absorvido pelas barras de controle,
São muito menos efetivos que os nêutrons "lentos”, com ou então pelos núcleos de 238U, que também estão presentes
cerca de 2 kl moF1 de energia (são também denominados no combustível.
nêutrons “térmicos”, pois sua energia é comparável à energia A preparação de combustíveis de U enriquecido, conten­
térmica existente a temperatura ambiente). A probabilidade do elevadas concentrações de 235U físsil, é difícil. O material
de se conseguir uma reação em cadeia pode ser aumentada enriquecido, usado em reatores nucleares de usinas de
de duas maneiras: geração de energia, geralmente contém de 2 a 4% de 235U.
1) Os nêutrons rápidos podem ser desacelerados pela Um combustível mais enriquecido (70% a 80%) é utilizado
colisão com átomos de hidrogênio, deutério ou carbono. em bombas e nos motores de submarinos nucleares. Há
Esses materiais são denominados “moderadores". quatro métodos para se separar os isótopos de U: difusão
2) Uma massa suficientemente grande de 2|2U pode ser térmica, difusão gasosa, separação eletromagnética e o uso
usada, para assegurar que um número suficiente de de uma centrífuga para gases. Atualmente, as separações
nêutrons atinja outros núcleos físseis de 235U antes de em grande escala são efetuadas valendo-se das diferentes
escapar. Logo, existe uma “massa crítica”. O valor dessa velocidades de difusão de 23SUF6 e 238UF6 gasosos (vide
massa crítica depende da forma do material e de sua Capítulo 31). O método da centrifuga de gases está crescendo
pureza. Uma esfera tem a menor área superficial, o que em importância.
minimiza a probabilidade de escape dos nêutrons. F,
UO, + HF —> UE, — UF6(gás)
Barras ou lâminas tem uma superfície muito maior e
os nêutrons podem escapar com maior facilidade. A U + 3C1F3 —50~90X > UF6 + 3C1F3
probabilidade dos nêutrons provocarem uma fissão Quando um núcleo de 238U absorve nêutrons, forma-se
aumenta com o aumento da proporção do isótopo físsil. o elemento mais pesado plutônio, que também é físsil e
Assim, o combustível nuclear deve ser "enriquecido”. pode ser usado como combustível nuclear. Como a quanti­
As barras de controle são utilizadas para evitar que a dade de Pu formado pode ser maior que a quantidade de
reação se descontrole. As barras de controle são introduzidas 23SU consumida, este tipo de reator é denominado “reator
no reator para absorver os nêutrons e desacelerá-lo, ou são regenerador rápido” (“fast breeder reactor").
456 □5 ACT1NÍDI05

Propriedades químicas
O urânio e os três elementos seguintes, Np, Pu e Am,
podem ser encontrados nos estados de oxidação ( + III),
(+1V), (+ V) e (+ VI). Eles são semelhantes uns aos outros,
exceto pelo fato do estado de oxidação mais estável desses
elementos decrescer do U(VI) para Np(V) para Pu(IV) para
Am(Ili). Os compostos dos elementos nos estados ( + 111) e
(+ IV) são semelhantes aos dos lantanídios. Os íons formados
nos estados de oxidação (+ III), ( + IV), ( + V) e ( +VI) são,
respectivamente, M3 + , M4 + , MO2+ e MO22 + . As reações
redox entre e M4*, ou entre MO2* e MO22 +, são rápidas,
pois envolvem apenas a transferência de um elétrons. Já as
reações de oxidação de M*( a MO22+ são lentas, pois
envolvem a transferência de elétrons e de átomos de oxigênio.
Figura 30.1 — Estrutura do nitrato de uranila di-hidratado,
O urânio é um metal reativo. O metal finamente dividido UO2(NO3)2-2H2O
reage com água em ebulição, formando uma mistura de UH3
e UO2.0 metal se dissolve em ácidos, e reage com hidrogênio, são mostradas no esquema abaixo:
oxigênio, os halogênios e muitos outros elementos.
UF3
Hidretos
Al 900°C
O urânio reage com hidrogênio mesmo à temperatura
ambiente, embora a reação seja mais rápida a 250 °C, forman­ HF F2 240°C HF
do UH3. Este é obtido na forma de um pó preto pirofórico. O uo2 uf4 UFS [UFJ- e [UFeJ-
hidreto é muito reativo e, freqüentemente, é mais apropriado Fj 400°C \ HBr 65"C
que o metal puro como material de partida para a preparação
de outros compostos: UF6
UF6 e UC16 são complexos octaédricos mas todos os demais
2UH3 + 4H2O —>2UO2 + 7H2 haletos são poliméricos, com números de coordenação
2UHj + 4C12 -> 2UC14 + 3H2 elevados. Todos os haletos são hidrolisados pela água. Os
2UH3 + 8HF -> 2UF4 + 7H2 hexahaletos se dissolvem em ácidos fortes, formando o íon
UH3 + 3HC1 -> UC13 + 3H2 UO22 +. Em pHs mais elevados, este se hidrolisa e se politne-
riza por meio de grupos OH em ponte, formando:
Óxidos
O estudo dos óxidos de urânio é complicado, pois exis­ H
tem diversos estados de oxidação estáveis e, freqüentemente,
esses compostos são não-estequiométricos. UO2 é castanho-
preto e ocorre na pechblenda; U3O8 é verde escuro, enquanto
que UO3 é laranja amarelado. Algumas reações são mostradas
no esquema abaixo:
3S0aC CO 3SO°C
UF6 pode ser obtido na forma de cristais incolores (P.F. = 64
UO2(NO3)2-2H2O -*UO3 UO2 °C). É um poderoso agente de fluoração, que reage rapida­
,700’C
calor mente com água. UFS tende a se desproporcionar em UF4 e
u + o2 ——-—- U3Oe
UF6. Os tetra-haletos são os haletos mais estáveis.
Os três óxidos são básicos e se dissolvem em ácidos.
UO3 se dissolve em HNO3, formando o íon amarelo uranila,
[O = U = O]2 +, que pode ser cristalizado a partir da solução Tabela 30.7 — Os haletos de urânio
como nitrato de uranila, UO2(NO3)2(H2O)n. O número de
moléculas de água de cristalização pode ser dois, três ou Estados de Fluoretos Cloretos Brometos lodetos
seis, dependendo se foi utilizado HN03 fumegante, concen­ oxidação
trado ou diluído, respectivamente. O di-hidrato apresenta
uma curiosa estrutura em que o urânio se encontra octaco- +m UF3 verde UCI3 vermelho UBr3 vermelho UIj preto
ordenado. Ele é constituído por um íon linear [O = U- O]2 + +rv UF4 verde UC14 verde UBr4 castanho UI4 preto
perpendicular a um hexágono formado por seis átomos de
oxigênio (quatro provenientes de dois grupos NO3“ +v UFS branco U2C1 io verme-
bidentados e dois provenientes de moléculas de água, Fig. azulado Iho-marrom
30.1). +VI UF6 branco UCI6 preto
U2F9 preto
Haletos U4F14 preto
Os principais haletos de urânio e suas cores são U5F22 preto
mostrados na Tab. 30.7. Algumas das reações dos fluoretos
05 ELEMENTOS ACTINÍDIOS POSTERIORES 457

NEPTÚNIO, PLUTÔNIO E AMERÍCIO oxidante tão forte quanto KMnO4. Os estados de oxidação
mais estáveis desses elementos são: Np( + V), Puf + IV) e
Com exceção do 294Pu, que é muito importante como
Am( + III). Porém, é possível obtê-los no estado de oxidação
combustível nuclear e para a fabricação de bombas nucleares,
( + VII), pela reação de NpO22 + e de PuO22* com oxidantes
os demais elementos transurânicos possuem pouco uso, a
muito fortes como ozônio ou HIO4, em meio alcalino. Em
não ser para fins de pesquisa.293Np e 2|4Pu podem ser obti­
seguida, podem ser isolados como Li5(NpO6] e Li5[PuO6].
dos em quantidades da ordem de quilogramas, e 24sAm e
Os compostos dos elementos no estado (+ VII) são
2?sAm em quantidades da ordem de centenas de gramas, a
fortemente oxidantes, e quando são acidificados rapidamente
partir de barras de urânio combustível esgotadas, utilizadas
oxidam a água a O2 e se reduzem ao estado (+ VI).
em reatores nucleares. A separação desses elementos é
extremamente difícil e perigosa, pois não somente estão Os óxidos mais importantes são os dióxidos MO2, mas
misturados com produtos de fissão altamente radioativos, os óxidos podem ser não-estequiométricos e conter várias
como também são eles próprios físseis. A massa crítica para soluções sólidas. As estruturas, propriedades e métodos de
uma esfera de Pu metálico é de cerca de 10 kg, mas uma obtenção dos haletos são semelhantes aos de urânio. Uma
solução contendo menos de 1 kg pode ser suficiente. Além lista dos compostos conhecidos é apresentado na Tab. 30.8.
disso, 0 plutônio é extremamente tóxico (uma dose de 10~6 Todos os isótopos do plutônio são importantes como
g pode ser fatal, e doses menores são cancerígenas). Am combustíveis nucleares. 237Np é convertido em 238Pu, por
pode ser obtido a partir de barras de combustível esgotadas. irradiação com nêutrons. Este é usado como fonte de energia
E produzido pela intensa irradiação de Pu puro com nêutrons, em satélites.241 Am é uma fonte valiosa de partículas a em
no Oak Ridge National Laboratories, Tennessee, EUA. laboratório.
0 reprocessamento de barras de combustível nuclear é
uma importante tecnologia recentemente desenvolvida. O OS ELEMENTOS ACTINÍDIOS POSTERIORES
reprocessamento é necessário em reatores regeneradores para
Muito pouco se sabe sobre os actinídios posteriores,
extrair os novos elementos resultantes da fissão, que podem
cúrio, einstênio, férmio, mendelévio, nobélio e laurêncio.
ser usados como combustíveis. O reprocessamento também
Em parte, isso se deve às pequenas quantidades desses
é essencial em reatores térmicos normais, pois alguns dos
elementos disponíveis para estudo, e em parte à sua
produtos da fissão absorvem nêutrons. Desse modo, eles
instabilidade. Somente o Cm está disponível em quantidades
poderíam terminar a reação em cadeia antes que todo 235U
macroscópicas, como mostrado na Tab. 30.4, sendo as
ou 239Pu fosse usado como combustível. São produzidos mais
informações sobre os demais elementos obtidas
de 30 elementos diferentes, incluindo Sr, os elementos da
essencialmente por estudos com traçadores.
segunda série de transição, I, Xe, Cs, Ba, La e os lantanídios
(muitos dos isótopos obtidos são radioativos: os mais O interesse nesses elementos se concentra essencial­
conhecidos são 90Sr e 138I). As barras contêm grandes quanti­ mente em mostrar que as propriedades dos elementos da
dades de U e Pu, e pequenas quantidades dos demais segunda metade da série dos actinídios são muito similares
elementos transurânicos. ao dos lantamdios. Apesar das semelhanças, os actinídios
podem ser separados dos lantanídios com relativa facilidade,
As barras de combustível nuclear removidas de um
pois os actinídios formam complexos com maior facilidade.
reator são imersas em água durante 100 dias. Isso as mantém
Por exemplo, os actinídios formam cloro complexos em HCI
resfriadas, enquanto os isótopos altamente radioativos, de
concentrado. Logo, se os íons dos elementos das duas séries
meia-vida curta, como ’|jl (t1/2 = 8 dias), decaem e perdem
forem adsorvidos em colunas de troca-iônica, os actinídios
a maior parte de sua atividade. podem ser eluídos com HCI concentrado. Os íons actinídios
No Processo Purex, as barras de combustível são podem ser separados uns dos outros por cromatografia de
dissolvidas em HN03 7 M e extraídas com fosfato de tributila.
UO22+ e Pu( + IV) são extraídos da mesma maneira. Os
demais elementos transurânicos (principalmente Np, Am e Tabela 30.8 — Haletos do neptúnio, plutônio e amerício
Cm) junto com outros produtos da fissão (principalmente
elementos da segunda série de transição e lantanídios) Estados de Neptúnio Plutônio Amerício
permanecem na solução aquosa. Pu( + III) é obtido pela
redução cuidadosa da solução de UO22+/Pu( + IV) com SO2,
+m NpF3 púrpura- PuF3 púrpura AmF3rosa
escuro
NH20H ou sulfamato de ferro(II), Fe(NH2SO3)2. Este pode NpCl3 branco PuCl3 verde- AmCl3 rosa
ser facilmente separado do UO22+ e do U4+ por extração esmeralda
com solvente. U é precipitado como nitrato de uranila, e Pu NpBr3 verde PuBr3 verde AmBr3 branco
como oxalato ou fluoreto. Eventualmente, são transformados Npl3 castanho Pul3 castanho Aml3 amarelo
em U02 e PuO2. +IV NpF4 verde PuF4 castanho AmF4 cor de
Np, Pu e Am são metais reativos semelhantes ao U. canela
Eles se dissolvem em ácidos e reagem com hidrogênio, NpCL* castanho-
oxigênio, os halogênios, e muitos outros elementos. Esses vermelho
elementos, nos estados de oxidação ( + III)->( + VI), estão NpBr4 castanho-
vermelho
presentes em solução como M3 + , M4 + , MO2+ e MO22 + . Os
+VI NpF6 castanho PuF6 castanho-
elementos no estado ( + VI) tornam-se cada vez mais vermelho
oxidante na ordem U < Np < Pu < Am. O íon AmO22 + é um
458 □5 ACT1NÍDIÜ5

troca iônica, usando soluções de citrato como eluente. A Rutherford). Esse elemento se assemelha ao háfnio, um
seqüência de eluição dos íons actinídios é muito semelhante elemento do bloco d. Os estudos com traçadores, sugerem
àquela observada no caso dos íons lantanídios. que UnqCl4 se parece com HfCl4. O elemento 105 (Unp),
O estado de oxidação (+ III) é o mais estável para todos provisoriamente denominado hahnium, Ha (homenagem a
os elementos com números atômicos de 96 a 103, exceto Otto Hahn), parece se assemelhar ao tântalo. UnpCls e
um, ou seja, Cm, Bk, Cf, Es, Fm, Md, (No), Lr. A exceção é UnpBrs, também, já foram estudados. O elemento 105, Unp,
o No, que é mais estável no estado ( + 11), pois tem uma tem uma meia-vida de apenas 1,5 segundos, e os estudos
configuração eletrônica f14 favorável. com o composto UnpBrs foi efetuado com apenas 18 átomos.
Tanto o elemento 104 como o 105 foram obtidos
Há evidências sobre a obtenção dos elementos de núme­
ro atômico 98 a 102, isto é, do califórnio ao nobélio, no bombardeando-se actinídios com núcleos acelerados de
átomos leves. Por exemplo, o elemento 105 foi obtido
estado de oxidação (+ II). Todos os elementos nesse estado,
bombardeando-se o califórnio com núcleos de 15N. Os tem­
exceto o nobélio, são redutores ou fortemente redutores. Os
pos de meia-vida dos elementos com números atômicos
elementos em estados de oxidação mais elevados, como
Cm( + IV), foram observados em compostos CmF4 e superiores a 100 são muito curtos. Além disso, o processo
de fissão espontânea se toma um mecanismo de decaimento
Rb[CmF6) no estado sólido, mas não em solução. Compostos
radioativo cada vez mais importante à medida que aumenta
de Bk( + IV) são oxidantes, mas podem ser obtidos tanto em
o número atômico. Tendo em vista tais constatações, parece
sólidos como em solução. BkO2 e Cs2[BkCl6] já foram
isolados. O laurêncio só pode ser obtido no estado (+ III) e muito pouco provável que novos elementos, com números
resiste tanto à oxidação como à redução, novamente atômicos muito maiores que aqueles sintetizados até o
presente, possam ser obtidos, de modo a estender ainda mais
ilustrando a estabilidade de uma espécie com a configuração
eletrônica f14. a Tabela Periódica.
A IUPAC propôs um sistema de nomenclatura para os
Os três primeiros desses elementos, cúrio, berquélio e
califórnio, foram obtidos em quantidades da ordem de elementos com Z > 100.
miligramas. Seu comportamento químico foi estudado por D Os nomes seriam a combinação de raízes, referente aos
métodos normais em microescaia, tendo-se conseguido isolar três dígitos que constituem os números atômicos dos
alguns de seus compostos. Os elementos restantes foram elementos, seguidos do sufixo -io (-ium em inglês). As
estudados por métodos de traçadores radioativos, pois só raízes para os números são:
estão disponíveis em quantidades ínfimas. Nessa técnica, 0 1 2 3 4
as pequeníssimas quantidades desses elementos pesados são nulo uno bi ou di tri tetra
precipitados, ou formam complexos, na presença de
5 6 7 8 9
quantidades maiores de um elemento, que apresenta um
penta hexa hepta octa nona
comportamento químico semelhante ("carrier”). Assim, o
mendelévio é estudado na presença do lantanídeo európio, 2) Em certos casos, os nomes são simplificados. Por
e monitorado pela sua radioatividade. exemplo, bi + io, tri + io e enn + nila seriam trans­
Os elementos até o número atômico 100, férmio, decaem formados em bio, trio e enila, respectivamente.
radioativamente emitindo, principalmente, partículas a ou 3) O símbolo do elemento correspondería às primeiras
p (vide Capítulo 31). Os elementos se tornam cada vez mais letras das três raízes numéricas que constituem seus
instáveis à medida que o número atômico aumenta, de modo nomes. A estranha mistura de raízes gregas e latinas
que o nobélio tem uma meia-vida de apenas três segundos foi escolhida para assegurar que os símbolos seriam
(Tab. 30.3). Nesses elementos muito pesados, a fissão nuclear todos diferentes.
espontânea se transforma numa das principais vias de Embora os nomes devam ser escritos como uma palavra
decaimento. Assim, 252Cf pode vir a ser usado como uma única, nos exemplos abaixo, foram inseridos hífens
valiosa fonte de nêutrons. separando cada parte dos nomes, para torná-los mais
inteligíveis. Normalmente, os hífens deveríam ser omitidos.
NOVOS ELEMENTOS TRANSURÂNICOS Os isótopos e as meias-vidas dos elementos "super-
A série dos actinídios se completa com o elemento 103, pesados”, conhecidos com grau de certeza razoável até 1989,
laurêncio. Recentemente, foi relatada a obtenção dos estão listados na Tab. 30.10.
elementos de números atômicos 104 a 109, que pertencem Elementos contendo um número par de prótons no
ao bloco d. Atualmente, há dois grandes grupos de núcleo (portanto com números atômicos pares) geralmente
pesquisadores que se dedicam à produção de elementos “su- são mais estáveis que seus vizinhos com números atômicos
per-pesados”: um na Califórnia, nos EUA e outro em Dubna, ímpares (regra de Harkins). Isso significa que eles são mais
nas proximidade de Moscou, na Rússia. Por convenção, o abundantes, pois a probabilidade deles decaírem é menor.
pesquisador que descobrir um novo elemento tem o direito Além disso, núcleos com número par de nêutrons e de
de escolher seu nome. A descoberta do elemento 104 (Unq) prótons tendem a ser mais estáveis. Os núcleos também
foi relatada pela primeira vez por pesquisadores russos, que apresentam uma estrutura em camadas, com diferentes níveis
o denominaram kurchatovium, Ku (homenagem a Igor de energia, grosseiramente semelhantes à estrutura
Kurchatov). Porém, seus trabalhos foram repetidos por cien­ eletrônica. Os núcleos com número de nêutrons ou de
tistas norte-americanos, que obtiveram resultados diferentes prótons iguais a 2, 8, 20, 28, 50, 82 ou 126 são mais estáveis
e o denominaram rutherfordium, Rf (homenagem a Ernest que a média. Estes são “números mágicos”, que podem ser
LEITURAS COMPLEMENTARES 459

de isótopos instáveis. Estão sendo dispendidos consideráveis


Tabela 30.9 — Nomenclatura da IUPAC para os elementos esforços no sentido de se obter os elementos 114 e 126, que
Usuper-pesados” parecem ter estruturas nucleares favoráveis. Os elementos
de números atômicos até 105 foram obtidos bombardeando-
N.° atômico Nome Símbolo
se actinídios com núcleos leves tais como He, B, C, N e O.
Mas, atualmente, estão sendo feitas tentativas para se obter
101 Mendelévio Md
elementos com Z=105, bombardeando-se núcleos razoa­
102 Nobélio No
103 velmente pesados, como 82Pb ou 83Bi, com núcleos de
Laurêncio Lr
104 Rutherfórdio* Rf tamanho médio. Isso contraria a tendência vigente de se
105 Dúbnio* Db tentar obter a série de elementos de modo gradual, em
106 Seabórgio* Sg pequenas etapas. Os núcleos a sofrerem fusão são selecio­
107 Bóhrio* Bh nados de modo a gerar um núcleo próximo a um “número
108 Hássio* Hs mágico”. O núcleo recém formado decairá, emitindo várias
109 Meitnério* Mt partículas, mas a energia das mesmas deve ser mantida tão
baixa quanto possível, para diminuir as chances de ocorrer
110 un-un-nilio Uun
fissão. As dificuldades práticas envolvidas são enormes. Além
111 un-un-unio Uuu
112 disso, é extremamente caro construir aceleradores capazes
un-un-bio Uub
113 de imprimir a energia suficiente para o bombardeamento
un-un-trio Uut
114 un-un-quadio Uuq com núcleos de tamanho médio. O elemento 107 foi obtido
115 un-un-pentio Uup bombardeando-se 283Bi com ^Cr acelerado.
116 un-un-hexio Uuh
117 un-un-septio Uus ifBi+UCr- ■»io)Uns + 2jn
118 un-un-octio Uuo
A preparação do elemento 109 foi anunciado por pesqui­
119 un-un-ennio Uue
sadores russos. Alguns poucos átomos do novo elemento,
120 un-bi-nilio Ubn 109Une, foram obtidos pelo bombardeamento de 283Bi com
130 un-tri-nilio Utn i^Fe acelerado. Há "ilhas de estabilidade” em torno de
140 un-quad-nilio Uqn Z= 114, que deverá ser semelhante ao chumbo, e em tomo
150 un-pent-nilio Upn de Z = 126. Este último é particularmente interessante, pois
Para major clareza dos nomes, foram empregados hífens. No nome oficial eles devem deverá pertencer a uma nova série de elementos, com
«r omitidos.*Nota do tradutor: Nomenclatura da IUPAC introduzida em 1997 elétrons g.
explicados pela estrutura em camadas do núcleo. Essa teoria
lambem requer a inclusão dos números 114, 164 e 184 na LEITURAS COMPLEMENTARES
série de “números mágicos”. A estabilidade é particularmente • Abelson, P.H. (1989) Products of nêutron irradiation, J. Chem.
grande se tanto o número de prótons como o de nêutrons Ed., 66, 364-366. (Reflexões sobre a fissão nuclear, nessa
do núcleo, coincidirem com os “números mágicos”. Assim, metade do século.)
2“Pb é muito estável, pois contém 82 prótons e 208-82 = 126
• Bagnall, K.W. (ed.) (1975) MTP International Review of Sci­
nêutrons. Essa teoria sugere que nuclídeos como nJUuq, ence, Inorganic Chemistry (Série 2), Vol. 7, Lantanídios e
tulluq e ilsUbh poderíam ser estáveis o suficiente para serem Actinídios, Butterworths, London.
obtidos.
• Brown, D. (1968) Halides of the Transition Elements, Vol. I
É possível que os isótopos estáveis dos elementos “su­ (Haletos dos lantanídios e actinídios), Wiley, London e New
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Tabela 30.10—Elementos “super-pesados” e suas meias-vidas
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York.
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105 Dúbnio ?$Db 4s
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106 Seabórgio ?§§Sg 180 s Americium and Curium Chemistry and Technology, Dordrecht,
toisg 0,9 s ou 259.264 s Lancaster, Reidel. (Artigos de um simpósio em Honolulu,
107 Bóhrio ?§?Bh 0,12 s em 1984.)
108 Hássio iSÍHs 2X10-6 s ou 263.264 s • Emeléus, HJ. e Sharpe, A.G. (1973) Modem Aspects of Inor­
109 Meitnério íoçMt SxlO^s ganic Chemistry, 4? ed. (Cap. 23: Elementos de transição
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4BO 05 ACTINÍDIOS

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Radiochim. Acta, 37, 113-120. 3. Compare e mostre as diferenças entre a pirâmide de estados
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Prentice Hall, New York. e os estados de oxidação dos lantanídios e dos actinídios.
• Seaborg G.T. (ed.) (1978) The Transuranium Elements: Prod­ 4. Quais são as principais fontes de Th e de U? Como os
ucts of Modem Alchemy, Dowden, Hutchinson and Ross, metais são obtidos?
Stroudsburg. (contém os 120 artigos mais importantes sobre 5. Descreva os métodos que têm sido utilizados para separar
a história dos elementos artificiais) os isótopos do urânio. Explique as dificuldades encon­
• Seaborg, G.T. (1989) Nuclear fission and transuranium ele­ tradas.
ments, J. Chem. Ed., 66, 379-384. (Reflexões sobre a fissão 6. Apresente algumas reações típicas e faça uma discussão
nuclear nessa metade de século) sobre as estruturas dos íons M3+ e M4+ dos actinídios.
• Sime, R.L. (1986) The discovery of protoactinium, J. Chem. 7. A que elementos devem se assemelhar o rutherfórdio
Ed., 63, 653-657 (elemento de número atômico 104) e os elementos de
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of actinide metais, Adv. Inorg. Chem., 31, 1-41. 8. As configurações eletrônicas, bem como a posição dos
• Steinberg, E.P. (1989) Radiochemistry of the fission Prod­ elementos mais pesados na Tabela Periódica, são objeto
ucts, J. Chem. Ed., 66, 367-372. (Reflexões sobre a fissão de controvérsia. Quais são as possibilidades, e quais são
nuclear nessa metade de século) as evidências que suportam cada uma delas?
461

5 0
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4EB

0 UÚCLEO
DOS ÁTOMOS
ESTRUTURA DO NÚCLEO "efeito da tensão superficial" assegura a esfericidade dos
Um átomo é constituído por um núcleo com carga núcleos pequenos. À medida que a massa do núcleo aumen­
positiva, rodeado por uma nuvem de um ou mais elétrons, ta, a repulsão entre os prótons aumenta mais rapidamente
com carga negativa. As cargas se compensam mutuamente que as forças de atração. Para minimizar as forças de
e o átomo é eletricamente neutro. O núcleo é constituído repulsão, o núcleo se deforma, de modo análogo ao
por prótons, de carga positiva, e por nêutrons, que são alongamento observado numa grande gota de um líquido.
eletricamente neutros, ligados entre si por forças muito fortes. Esse modelo foi proposto pelo físico dinamarquês Niels
Essas forças são de curto alcance e diminuem rapidamente, Bohr para explicar a ocorrência da fissão nuclear em núcleos
à medida que aumenta a distância entre as partículas. As pesados. O núcleo do urânio (elemento de número 92), de
partículas que constituem o núcleo são denominados número de massa 235, 2||U, é tão deformado que o forneci­
coletivamente núcleons. mento de uma pequena quantidade adicional de energia,
por exemplo, a absorção de um nêutron, é suficiente para
O raio de um núcleo é incrivelmente pequeno, da ordem provocar a fragmentação do mesmo em dois núcleos
de IO-15 m. As distâncias nucleares são medidas em fentôme- menores. Esse fenômeno é denominado fissão nuclear, e é
tros (1 fm = 10’15 m) (a maioria dos átomos tem um raio de acompanhado da liberação de uma grande quantidade de
1-2 A, ou seja, 1-2 x IO'10 m. O núcleo do oxigênio, por energia. Núcleos com números de massa maiores que o do
exemplo, tem um raio de 2,5 fm). Para se ter uma idéia das urânio, são tão deformados que sofrem fissão espontânea.
ínfimas dimensões do núcleo, imagine um núcleo com um Isso significa que esses núcleos se desintegram (ou seja, se
diâmetro de 1 cm. Nessa mesma escala, o diâmetro do átomo “quebram” espontaneamente), sem necessidade de qualquer
seria de cerca de 1.000 metros. A maior parte da massa de perturbação externa.
um átomo está concentrada no núcleo. Conseqüentemente,
sua densidade é muito grande, da ordem de 2,4 x 1014 g cm’3, A densidade de todos os núcleos, exceto os mais leves,
ou seja, cerca de 1013 vezes maior que a densidade do mais é quase constante. Assim, o volume do núcleo é diretamente
denso dos metais, o irídio (22,61 g cm’3). proporcional ao número de núcleons presentes. Núcleos com
números diferentes de núcleons são considerados como
O número atômico Z de um elemento é igual ao número sendo gotas de diferentes tamanhos. O intervalo em que as
de prótons existentes no núcleo, que, por sua vez, é igual ao forças de atração entre os núcleons atua é muito pequeno,
número de elétrons que estão em volta do núcleo. O número de 2 a 3 fm. Os núcleons podem se mover dentro do núcleo
de massa A é a soma do número de prótons e do número de como se fossem partículas num líquido.
nêutrons existentes no núcleo.
O modelo de camadas
O modelo da “gota” Na nuvem eletrônica que envolve os átomos pode-se
Algumas vezes, o núcleo é descrito, como se fosse a distinguir elétrons em diferentes níveis de energia. Os elétrons
"gota de um líquido". Uma pequena gota de um líquido é se distribuem em diferentes camadas e orbitais, que podem
quase esférica. Essa forma é mantida graças às forças de ser descritos pelos quatro números quânticos. Supõe-se que
curto alcance — a atração entre as moléculas vizinhas. As os núcleons se arranjem no núcleo de uma maneira definida,
moléculas que se encontram na parte externa da gota só em camadas. Estas correspondem aos diferentes níveis de
sentem essa força de atração num lado: é o efeito da tensão energia possíveis. Quando os núcleons ocupam os níveis
superficial. Uma gota maior de um líquido se torna alongada energéticos mais baixos, o núcleo se encontra no estado fun­
e basta uma pequena perturbação para destruí-la. damental. Em condições diferentes, os núcleons podem
De maneira análoga, o núcleo é mantido unido por ocupar níveis energéticos diferentes (excitados, de maior
forças de curto alcance (o intercâmbio de mésons rr). O energia). Geralmente, a população desses níveis energéticos
FORÇAS NO INTERIOR □□ NÚCLEO 463

nucleares de maior energia tem vida tão curta que não pode um grande número de isótopos. Os números acima
ser observada. Assim, as propriedades do núcleo dependem mencionados são chamados de "números mágicos". Os
somente do número de nêutrons e de prótons, e não dos números 114, 164 e 184 também deveríam ser incluídos na
níveis energéticos que eles ocupam. série dos números mágicos. Os núcleos serão muito estáveis,
Em alguns poucos casos, os estados nucleares excitados se tanto o número de prótons como o de nêutrons forem
têm uma vida mensurável, e quando isso ocorre podem números mágicos. Por exemplo, 2™Pbé muito estável e possui
existir isômeros nucleares. Isômeros nucleares são simples­ 82 prótons e 208 - 82 = 126 nêutrons. A emissão de raios y
mente núcleos com o mesmo número de prótons e nêutrons, pelos núcleos pode ser facilmente explicada pelo modelo de
mas cujas energias são diferentes. Nesse caso, as massas camadas. Isso ocorre quando núcleons em estados excitados
dos isômeros não são exatamente iguais, sendo a pequena decaem para estados de menor energia. A diferença de
diferença correspondente à diferença de energia entre eles. energia entre os níveis é emitida na forma de raios y.
Muitos núcleos são instáveis, mesmo quando correspon­ Assim, algumas das propriedades do núcleo sugerem
dem ao estado fundamental. Os núcleos instáveis se decom­ que os núcleons se movimentam livremente dentro do
põem emitindo vários tipos de partículas e radiações núcleo, enquanto outras propriedades sugerem que os
eletromagnéticas. Esse fenômeno que é conhecido como núcleons se arranjam em níveis de energia definidos.
decaimento radioativo. Mais de 1.500 núcleos instáveis são
conhecidos. Caso não seja possível detectar nenhuma FORÇAS NO INTERIOR DO NÚCLEO
decomposição radiativa, o núcleo é dito estável.
Os prótons têm uma carga positiva. Em qualquer núcleo
O modelo da estrutura em camadas é coerente com a contendo dois ou mais prótons, haverá repulsão eletrostática
periodicidade das propriedades nucleares. Por exemplo, entre partículas de mesma carga. Num núcleo estável, as
certas combinações de números de nêutrons e de prótons forças de atração devem ser maiores que as forças de
são particularmente estáveis: repulsão. Num núcleo instável, as forças repulsivas são
D Elementos com números atômicos pares são mais maiores que as forças de atração, e o núcleo pode sofrer um
estáveis e abundantes que os vizinhos com números processo de fissão espontânea. As forças de atração no inte­
atômicos ímpares. Essa regra é conhecida como regra rior do núcleo não podem ser de natureza eletrostática por
de Harkins (essa regra é quase geral, pois o ’H é uma dois motivos:
exceção digna de nota). D Não existem partículas com cargas opostas no interior
2) Elementos com números atômicos pares possuem vários do núcleo.
isótopos e nunca menos que três isótopos estáveis (5,7 2) As forças são de curtíssimo alcance, de 2-3 fm.
em média). Elementos com números atômicos ímpares
Se as partículas intranucleares forem afastadas por uma
freqüentemente possuem apenas um único isótopo
distância maior que essa, a força de atração desaparece. As
estável, e nunca mais que dois.
forças eletrostáticas diminuem lentamente em função da
3) Há uma tendência no sentido de que os números de distância. Essas forças de atração independem da carga, pois
prótons e de nêutrons existentes no núcleo sejam são capazes de ligar prótons com prótons, prótons com
números pares (Tab. 31.1). nêutrons e nêutrons com nêutrons.
Isso sugere que os núcleons podem ser emparelhados Dois átomos podem se ligar compartilhando elétrons,
no núcleo, de modo semelhante ao emparelhamento de pois a interação de forças leva à formação de uma ligação
elétrons nos orbitais atômicos e moleculares. Se dois prótons covalente. Por analogia, duas partículas intranucleares podem
tiverem spins opostos, os campos magnéticos produzidos se ligar compartilhando uma partícula. A partícula
por eles se cancelarão mutuamente. A pequena quantidade compartilhada é denominada méson. tt. Os mésons podem
de energia de ligação nuclear produzida é suficiente para ter carga positiva, n+, carga negativa, rc', ou ser neutra, rt°.
estabilizar o núcleo. Contudo, essa não é a fonte de energia O intercâmbio de mésons tt“ e n+ é responsável pela energia
mais importante do núcleo. de ligação nuclear entre prótons e nêutrons. A transferência
Certos núcleos são particularmente estáveis, e esse fato de uma carga transforma um nêutron num próton, ou vice-
pode ser atribuído a uma configuração de camada versa. As forças de atração resultantes são indicadas por
preenchida. Núcleos contendo 2, 8, 20, 28, 50, 82 e 126 linhas pontilhadas nos exemplos abaixo.
nêutrons ou prótons são especialmente estáveis e possuem
P- n-.
>
Tabela 31.1 — O número de nêutrons e de prótons e núcleos
estáveis >
p-*^ n-‘ n-*^ p-'
Número Números Número Entre dois prótons, ou entre dois nêutrons, ocorre o
de prótons de nêutrons de isótopos intercâmbio de um méson0.
P(=Z) N estáveis
> P-... >
Par Par 164 )
Par ímpar 55 p-*^ p- n-*^ n--
ímpar Par 50
ímpar ímpar 4 As forças de atração entre p-n, n-n e p-p são provavel­
mente de intensidades semelhantes. Os diferentes tipos de
4B4 o núcleo aos Átomos

mésons possuem massas similares. A massa de um méson Emissão beta


rt° é 264 vezes maior que a massa do elétron, e as massas Radiação p (elétrons) pode ser emitido quando um
dos mésons rt“ e r são 273 vezes maior que a massa do nêutron é convertido num próton, num elétron e num neu-
elétron. Todos os mésons são muito instáveis fora do núcleo. trino. Isso diminui o valor da relação N/P. 0 neutrino v é
No núcleo, existem muitas outras partículas elementares uma partícula curiosa. Tem massa e carga iguais a zero, e
menos comuns. Esse tópico pertence na realidade ao campo foi postulado para garantir o equilíbrio de spins. Um neu­
da Física de Partículas, e seu estudo está além do escopo do trino é emitido em quase todas as transformações nucleares.
presente livro. O número de partículas carregadas no inte­ A transformação de um nêutron num próton pode ser repre­
rior do núcleo permanece constante. Contudo, o contínuo sentada como:
intercâmbio de mésons implica que os prótons e os nêutrons
estão se interconvertendo um no outro continuamente. As òn------- > }p+ -?e + v
transformações de nêutrons em prótons e vice-versa são
reações de primeira ordem. As velocidades das reações Os números de massa são representados pelo índice
dependem do número relativo de prótons e nêutrons superior e a soma dos mesmos deve ser igual nos dois lados
presentes. Num núcleo estável, essas duas reações estão em da equação. As cargas nucleares são representadas pelo
equilíbrio. índice inferior. Estes também devem ser balanceados, ou
seja, a soma dos mesmos deve ser igual nos dois lados da
ESTABILIDADE E A RELAÇÃO NÊUTRONS/ equação. Assim, a emissão de um elétron pelo núcleo, da
maneira descrita acima, provoca a diminuição da relação
PRÓTONS N/P. Se o isótopo não estiver muito distante da linha de
A estabilidade de um núcleo depende do número de estabilidade das relações N/P, um processo de decaimento
prótons e de nêutrons presentes. No caso dos elementos de p pode ser suficiente:
baixo número atômico (até Z = 20, ou seja, Ca) os núcleos
mais estáveis são aqueles em que o número de prótons P é ”C------ > ”N+ _"e+v
igual ao número de nêutrons N. Isso significa que a razão “Al----- > i’Si+ _?e+v
N/P = 1. Elementos com números atômicos maiores são
Os isótopos que estão mais longe da linha de estabilidade
mais estáveis se tiverem um pequeno excesso de nêutrons,
podem sofrer uma série de decaimentos p. Os núcleos
pois isso aumenta a força de atração e também diminui a
resultantes são progressivamente mais estáveis e têm tem­
repulsão entre os prótons. Assim, a relação N/P aumenta
pos de meia-vida cada vez maiores. Eventualmente, um
progressivamente até cerca de 1,6, no elemento Z = 92
isótopo estável será formado.
(urânio). Em elementos com números atômicos ainda
maiores, os núcleos são tão grandes que sofrem fissão B ;
»'Ba -7^in "La —- 'séCe »>Pr
espontânea. Essas tendências são mostradas nos gráficos t|/j- 3,7 h tt/2 = 28 dias
do número de nêutrons N em função do número de prótons
P, e da relação N/P em função do número de prótons dos No decaimento p o número de massa permanece
núcleos estáveis (Fig. 31.1). inalterado, mas a carga nuclear aumenta em uma unidade,
ou seja, seu número atômico aumenta em uma unidade.
Portanto, ao ocorrer um decaimento p, o elemento se move
TIPOS DE DECAIMENTO uma posição para a direita na tabela periódica.
Os núcleos estáveis se situam nas proximidades das
curvas mostradas na Fig.31.1. Núcleos com relações N/P
Emissão de nêutrons
muito maiores ou muito menores que o valor correspondente
ao núcleo estável, são radioativos. Quando eles decaem, são Uma maneira óbvia de diminuir a relação N/P seria
formados núcleos cujas relações N/P se aproximam da linha por meio da emissão de um nêutron pelo núcleo. Essa forma
de máxima estabilidade. de decaimento é rara e só ocorre com núcleos altamente
energéticos. Isso ocorre porque a energia de ligação do
Se a relação N/P for alta, o isótopo se situa acima da
nêutron no núcleo é elevada (cerca de 8 MeV). Um dos
curva. Um núcleo nessas condições irá decair de modo a
poucos exemplos é o "Kr, que pode decair tanto emitindo
diminuir o valor da relação N/P e formar um núcleo mais
um nêutron ou um elétron (decaimento p).
estável. Essa relação pode ser diminuída de duas maneiras:
«Kr + in
A "Sr —A
£------ ► >
Se a relação N/P for muito pequena, o isótopo se situa
abaixo da curva de estabilidade máxima. Nesse caso, há
três mecanismos possíveis de decaimento.

Emissão de pósitrons
P Pósitrons, ou radiação p + (elétrons positivos), resultam
da transformação de um próton num nêutron. 0 pósitron é
Figura 31.1 — A relaçao ente nêutrons e prótons emitido pelo núcleo juntamente com um anti-neutrino v.
TEMPO OE MEIA-VIDA 465

formado encontra-se, pois, num estado excitado, tendo uma


ÍP ------- > Jn+ ?e + v
energia maior que a do estado fundamental. Geralmente, os
O anti-neutrino foi postulado para balancear os spins. núcleons se rearranjam rapidamente, abaixando a energia
Quando o pósitron é expelido pelo núcleo, ele rapidamente do núcleo-filho para o estado fundamental. A quantidade
colide com um elétron presente nas vizinhanças. As duas de energia correspondente a essa diferença, que se situa na
partículas se aniquilam mutuamente e sua energia é emitida faixa de 0,1-1 MeV, é emitida como radiação eletromagnética
na forma de dois fótons de raios y. Esses fótons são liberados de comprimento de onda muito curto, denominado raios y.
em sentidos opostos (180° um do outro), de modo a não
haver momento linear ou angular resultantes. Assim, cada TEMPO DE MEIA-VIDA
fóton tem exatamente a metade da energia de aniquilação
de 1,022 MeV, isto é, cada fóton tem uma energia de 0,511 O tempo necessário para que metade dos núcleos
MeV. Essa energia provém do "núcleo-mãe”, ou seja, de radioativos de uma amostra decaiam é denominado período
partida. Logo, a massa do núcleo-mãe é maior que a massa de meia-vida ou tempo de meia-vida. Este é um valor
do núcleo-filho. Esse processo também aumenta a relação característico para cada isótopo.
N/P. A radiação y geralmente provém de outros mecanismos, No caso de um processo de decaimento radioativo
como descrito adiante. Alguns exemplos núcleos que decaem simples, o número de núcleos que se desintegram num certo
com emissão de pósitrons são os seguintes: período de tempo depende somente do número de átomos
radioativos presentes. Assim, o tamanho da amostra não
Ne ------- > *’F+ ?e+v
[„Ne influencia o tempo necessário para que ocorra o decaimento
radioativo de uma certa parcela da amostra. O decaimento
"c -> ’^B+ °e + v
radioativo é, portanto, uma reação de primeira ordem. Se n
for o número de núcleos radioativos elo intervalo de tempo,
Captura de elétrons K
a velocidade de decaimento (isto é, a variação do número
O núcleo pode capturar um elétron das camadas mais de núcleos radioativos em função do tempo) é dada por:
internas da eletrosfera e assim converter um próton num
nêutron, com a emissão de um neutrino: dn ,
— = -An
dt
Jp+ _?e------- > Jn + v onde X é a constante de velocidade de decaimento do
processo, que indica quão rapidamente a amostra irá
Esse processo aumenta a relação N/P. Geralmente o decair (a unidade de X é tempo"1). É mais comum se referir
núcleo captura um elétron do nível mais interno. Esse nível à meia-vida que à constante de velocidade de decaimento.
é a camada K, e o processo é denominado captura de elétron As duas grandezas estão relacionadas. Integrando a
K. Concomitantemente, um elétron de um nível energético equação (31.1) entre os limites tempo = 0 e tempo - t,
mais elevado preenche a lacuna deixada na camada K, temos que:
ocorrendo a emissão de raios X característica. A captura de
elétrons não é um processo comum. Ocorre em núcleos cujas n
—-e
relações N/P são baixas e cujas energias são insuficien­ "o
tes para que haja emissão de pósitrons, isto é, inferior a onde rio é o número inicial de núcleos no tempo 0, e n é o
2 x 0,51 = 1,02 MeV. Alguns exemplos são: número de núcleos remanescentes após o tempo t. O tempo
de meia-vida tI/2 é o tempo necessário para que o número
,Be+ _?e------- > jLi+v de núcleos radioativos diminua à metade do valor inicial,
i,K + _?e ------ > “Ar+v isto é, n = 1/2 rio. Dado que não é possível se determinar o
número de núcleos radioativos presentes num dado momen­
Quando a diferença de massa entre o núcleo-mãe e o to, o valor de X não pode se calcular dessa maneira. Contudo,
núcleo-filho for superior aos 1,02 MeV requeridos para a o número de átomos pode se substituir pela atividade no
emissão de pósitrons, o decaimento ocorre tanto por esse tempo = 0 (Ao) e pela atividade no tempo = t, (A), para
processo quanto pela captura de elétron K. um dado número de átomos. A atividade pode ser medida e
48y p' (58%)
P'(S8%) ,4^ corresponde ao número de fótons detectados num dado
| Captura K (42%) |
intervalo de tempo, utilizando um contador Geiger ou um
cintiloscópio. Assim, toma-se possível calcular o valor de X:

— A =—n =e - —1
Emissão de prótons
Aq n0 2
A emissão de prótons é improvável, exceto no caso de Aplicando-se o logaritmo natural nos dois membros da
núcleos em estados de energia muito elevados, pois a energia
equação, temos que:
necessária para se remover um próton é de cerca de 8 MeV.
-Xí]/2 = ln(‘/J
radiação gama ln(X) 0,693
Imediatamente após uma transformação nuclear, e portanto fl/2 “
X X
freqüentemente os nêutrons e os prótons ainda não se acomo­
daram em suas posições mais estáveis. O núcleo-filho assim As energias nucleares são da ordem de 109 kJ mol"1 de
46B □ NÚCLEO DOS ÁTOMOS

núcleons. As energias envolvidas em reações químicas são


da ordem de 10-102 kJ mol'1. Pode-se inferir por esses valores
«He ------ > òn+ òn+ 2He fLi ------- > [p+ jHe
fLi
que a transmutação de um elemento em outro por meios «He------ > [p+ ?He fLi
|Li ---- > jHe+ ?H
exclusivamente químicos é impossível, pois as energias
envolvidas em reações nucleares são infinitamente maiores. Nas reações acima, a massa do núcleo-mãe é menor
Pelo mesmo motivo, uma variação de temperatura pratica­ que as massas combinadas dos produtos de decaimento.
mente não tem efeito observável sobre a velocidade de decai­ Assim, nenhum desses processos pode ocorrer.
mento. A energia de ligação nuclear total do núcleo aumenta
A radioatividade de uma amostra é medida tradicional­ em função do número de núcleons presentes. Para comparar
mente em curies (Ci). Originalmente o curie era definido as estabilidades dos núcleos de elementos diferentes,
como o número de desintegrações radiativas em 1 g de 2|gRa. calculamos a energia de ligação nuclear média por núcleon:
Atualmente, é definido de maneira mais precisa, como sendo energia de ligação nuclear por núcleons =
a quantidade de um dado radioisótopo que sofre 3,7 x 1010
desintegrações por segundo. Assim, um curie de diferentes energia de ligação total
radioisótopos pode corresponder a números muito diferentes número de núcleons
dos respectivos núcleos. A unidade de atividade no Sistema O gráfico da energia de ligação nuclear por núcleon em
Internacional é o becquerel (Bq). Este é definido como a função do número atômico dos diferentes elementos, mostra
quantidade de um dado radioisótopo que dá origem a uma que os núcleons se ligam cada vez mais fortemente até um
desintegração por segundo. Assim, 1 Bq = 27 x 10'12 Ci. número de massa em torno de 65. Mas, a energia de ligação
nuclear diminui para cada núcleon adicional, à medida que
ENERGIA DE LIGAÇÃO NUCLEAR E os núcleos se tornam maiores (Fig. 31.2). Para a maioria dos
ESTABILIDADE NUCLEAR núcleos, a energia de ligação nuclear média por núcleon é
de cerca de 8 MeV. Logo, são necessários 8 MeV para re­
A massa de um átomo de hidrogênio, , é igual à soma mover um próton ou um nêutron de um núcleo.
da massa de um próton e de um elétron. Em todos os demais
átomos, a massa do átomo é menor que a soma das massas
dos prótons, nêutrons e elétrons que os constituem. A DECAIMENTO ALFA
diferença é conhecida como defeito de massa e está relacio­ À medida que os núcleos se tornam maiores, a força de
nada à energia de ligação nuclear, que mantém unidos os repulsão entre os prótons aumenta. Conseqüentemente, a
prótons e os nêutrons no núcleo. A energia de um núcleo energia do núcleo também aumenta, até se atingir uma
estável deve ser menor que das partículas que o constitui, condição na qual as forças de atração são incapazes de
caso contrário ele não se formaria. manter os núcleons unidos. Nesse caso, parte do núcleo se
Energia e massa estão relacionados pela equação de "solta” e é emitido na forma de uma partícula a. Uma partí­
Einstein AE = Ame2, onde AE é a energia liberada, Am é a cula a é um núcleo de hélio «He. TYata-se de um fragmento
perda de massa (o defeito de massa) e c é a velocidade da nuclear particularmente estável, pois todos os núcleons se
luz (2,998 x 108 m s'1). O defeito de massa pode ser calculado encontram no nível energético mais baixo possível, e tanto
e convertido na energia de ligação nuclear. Quanto maior o número de nêutrons como o número de prótons correspon­
for a perda de massa, maior será a energia de ligação nuclear dem aos números mágicos. Ao mesmo tempo há liberação
e, portanto, mais estável será o núcleo. de energia. No decaimento de 2|fü há liberação de 4,2 MeV
de energia, porque as energias de ligação nuclear médias
Massa do jp= 1,007277 u.m.a.; massa do Jn = por núcleon dos núcleos-filhos 29oTh e «He são menores que
1,008665 u.m.a. a do núcleo-mãe 298U. TYata-se de uma quantidade enorme
931 é o fator de conversão da unidade de massa atômica de energia (1 MeV = 96,48 x 10s kJ mol"1).
(u.m.a.) em MeV.
Massa do núcleo de «He = 4,0028 u.m.a. 2“u 4 23,«0Th + «He + energia
Massa de 2n + 2p = 4,0319 u.m.a.
Defeito de massa = 0,0291 u.m.a. «Po -» 2“Pb + «He + energia
Energia de ligação nuclear = 0,0291 x 931 = 27,1 MeV
ou 2,6 x 109 kJ mol'1 9,00
A-
“Fe
Massa do núcleo de |Li = 6,0170 u.m.a.
ZOO
Massa de 3n + 3p = 6,0478 u.m.a.
Energia de
Perda de massa - 0,0308 u.m.a. ligação
nuclear 5.00
Energia de ligação nuclear - 0,0327 x 931 = 28,7 MeV por núcleon
(MeV)
ou 2,8 x 109 kJ mol"1
3,00
Logo, é muito fácil saber se um núcleo é estável frente
ao decaimento. Abaixo estão listados alguns processos de
1,00 L
decaimento possíveis: 0 50 100 150 200 255
Número de massa
2 He ------- > Jn+ jHe fLi -> Jn+ fLi
Figura 31.2 — Energia de ligação nuclear por núcleon
SÉRIES DE DECAIMENTOS RADIOATIVOS 467

As partículas alfa não possuem nuvem eletrônica e têm SÉRIES DE DECAIMENTOS RADIOATIVOS
carga + 2. Uma vez emitidas, as partículas a rapidamente
Os elementos pesados radioativos podem ser agrupados
removem dois elétrons de quaisquer átomos em sua
em quatro séries de decaimentos. Elementos radioativos
vizinhança, transformando-se em átomos de He neutros.
como tório, urânio e actínio ocorrem na natureza e pertencem
Quando ocorre um decaimento a, pode-se detectar a
às três diferentes séries, que recebem seus nomes. Eles são
formação de He.
os núcleos primordiais das respectivas séries e têm os tem­
A massa do núcleo-mãe deve fornecer tanto a massa pos de meia-vida mais longos. Eles decaem segundo uma
da partícula a como a do núcleo-filho, além da pequena série de emissões a e 0, e dão origem a elementos radioativos
quantidade de massa que é convertida em energia. A partir sucessivamente mais estáveis, até eventualmente chegar a
da massa do núcleo, é possível determinar se o decaimento um isótopo estável. As três séries terminam no elemento
a de um dado radioisótopo é energeticamente possível. O
chumbo (2B2Pb, ^Pb e “fPb). Após a descoberta dos elemen­
decaimento a natural só é possível nos elementos com
tos transurârúcos artificiais, foi adicionada a essas três séries,
número de massa superiores a 209, pois somente esses
a série do neptúnio, que termina no 2§3Bi.
elementos possuem a energia necessária para tal. Por outro
lado, 209 é o maior número possível de núcleons que podem Série do Tório (4n)
formar um núcleo estável. Série do Neptúnio (4n + 1)
Se a emissão de uma partícula a não estabilizar comple­ Série do Urânio (4n + 2)
tamente o núcleo, outras partículas a poderão ser emitidas. Série do Actínio (4rt + 3)
Contudo, o decaimento a aumenta a relação N/P, de modo
que freqüentemente é acompanhado por uma emissão 0. Os números entre parênteses indicam que o isótopo
Núcleos de número de massa superior a 230 podem primordial e todos os membros de uma dada série têm núme­
sofrer fissão espontânea, formando dois núcleos mais leves. ros de massa exatamente divisíveis por quatro, ou então
São formados assim dois elementos de números atômicos divisíveis por quatro mas restando um, dois ou três. Não
menores. Elementos de números atômicos baixos apresentam existem interrelações naturais entre as quatro séries, embora
relações N/P menores, e alguns nêutrons ficarão sobrando seja possível estabelecer tais relações artificialmente.
após a fissão. A maior parte desses nêutrons é emitida, mas
alguns podem converter-se em prótons e ocorrer uma
emissão 0. Os nêutrons emitidos podem ser absorvidos Série do Tório (4n)
(capturados) por outro núcleo. Então, esse núcleo se torna “Th 4 “Ra 4 “ac ± 2£tu 4 ^4 220 „
86Rn~j
instável e sofre fissão, liberando mais nêutrons. Dessa forma,
tem início uma reação em cadeia. 216
;AI a
212
85 ‘ 54 >P°a
O decaimento a ocorre muito raramente com nuclídeos a
PZ PZ 'S
«Po «Pb
com Z < 83 (átomos mais leves que o Bi). Contudo, a grande “\2Tb^
.
\ti4
estabilidade das partículas a faz com que alguns poucos 82'

átomos muito leves e instáveis, cujas composições nucleares


correspondem, ou aproximadamente correspondem a duas
ou três partículas a, sofram decaimento. Quando |Be sofre Série do Neptúnio (4n + 1)
esse tipo de decaimento a, ocorre a liberação de 0,09 MeV.
“,Pu
pu 4“;Am
“Be ----- > 20He)+ energia \?Np 4 “Pa 4 “U 4 “Th 4 -Ra 4 “
>Ac
PZ
|Li -> 2^He) + _°e + energia 213
« Po
PZ 'í209
Fr 4^ ÍBi 82-’Pb4-Bi
LEIS DO DECAIMENTO RADIOATIVO \ti.'S
1) A emissão de uma partícula a gera um elemento com
número de massa quatro unidades menor e número
atômico duas unidades menor que o núcleo-mãe. Logo,
o elemento formado localiza-se duas posições à Série do Urânio (4n + 2)
esquerda na Tabela Periódica. n82u-v«Th4- Pa
2) O número de massa permanece inalterado quando uma X®
partícula 0 é emitida. Contudo, o número atômico «Z
aumenta em uma unidade, e o elemento formado se 2^Np4 «Pu
situa uma posição à direita do elemento original na
Tabela Periódica. Isso pode ser observado na seguinte 21S
SS' At
214
S4 Po
série de transformações: PZ
83 Bi
■-Pb4-Bi4^po
í 2“ Pb
B a'
“ Ra-> 211
821Ph—*>
D—
“B14 2(*T14 2°S271pbu ^Pb’ Í.T1
468 □ NÚCLEO 005 ÁTOMOS

Série do Actínio (4n + 3) ausência de carga impede que os nêutrons sejam acelerados
A ^Np 4 2*Pu 2”u ^Th 4 Pa dessa maneira. Assim, o bombardeamento com nêutrons só
pode ser efetuado usando os nêutrons produzidos em reações
22 .
90|Tha
211 nucleares.
PZ - ... PZ
84 Po« Algumas transformações nucleares são mostradas
\Ra42£Rn4
227 Ac
89 AC ^poA-pbL-Bi «Pb
a\ a\ abaixo:
izFr 2Sti4
*‘N + ‘He ------- >'JO + [H
Nove dos elementos mais leves são naturalmente
13 Al + ‘He ------- »’°P + Jn
radioativos. É possível que, com o aumento da sensibilidade
dos detectores, sejam encontrados outros elementos "Na + JH ------ »"Mg + Jn
radioativos. Dentre eles, os mais importantes são *‘C e ‘°K.
O isótopo ‘gK provavelmente foi formado com o planeta Terra, "|Cd + Jn ------- >“JCd + energia
e existe até os dias atuais em função de seu tempo de meia- No primeiro exemplo, o nitrogênio é bombardeado com
vida de 1,25 x 109 anos. Esse isótopo constitui apenas 0,01 % partículas a, sendo expelido um átomo de hidrogênio. Essa
do potássio natural, mas sua presença torna os tecidos vi­ reação é descrita como uma reação (a, p). Uma maneira
vos bastante radioativo. Esse núcleo pode sofrer decaimento alternativa de escrever essa reação é:
por emissão p ou por captura K.
(«■P)
”N i°f) >i7o
4°,, £ 40 C,
19K 20^-a
Essa reação foi efetuada pela primeira vez por E. Ruth-
captura K
io. erford, em 1919, tendo sido a primeira transformação nuclear
induzida (Rutherford recebeu o Prêmio Nobel de Química
0 isótopo ’£c tem um tempo de meia-vida de 5.720 de 1908). A segunda reação foi realizada por Frederic Joliot
anos, de modo que todos os núcleos formados junto com a
e Irène Joliot-Curie em 1932, sendo esta uma reação (a, n)
Terra já sofreram decaimento. O fato desse isótopo ainda
(eles receberam o Prêmio Nobel de Química de 1935).
ser encontrado indica que ele foi formado em tempos mais
recentes. ’jc é formado continuamente pela ação dos nêu­ (o.n)
27 Al --- <°-n> )|°p
trons presentes nos raios cósmicos sobre o nitrogênio da
atmosfera, segundo a reação nuclear: De maneira semelhante, o terceiro exemplo é uma rea­
ção (p, n). No último exemplo, a energia é emitida na forma
»N + Jn ------- >“C + ]p de raios y, sendo esta uma reação (n, y). Os núcleos obtidos
dessa maneira podem ser estáveis, ou podem sofrer
Esse nuclídeo é importante na “datação radioisotópica” decaimento subseqüente. Todos os elementos transurânicos
de materiais arqueológicos (vide “Datação por carbono foram obtidos bombardeando-se um núcleo pesado com
radioativo", no Capítulo 12). partículas a, com carbono desnudado C6 +, ou com núcleos
de outros átomos leves. Assim, foram obtidos núcleos ainda
REAÇÕES NUCLEARES INDUZIDAS mais pesados.
Muitas reações nucleares podem ser induzidas pela
irradiação de núcleos com raios y ou com vários tipos de FISSÃO NUCLEAR
partículas (elétrons, nêutrons, prótons, partículas a ou o Núcleos muito pesados têm uma energia de ligação
núcleo de outros átomos, como o carbono). Os núcleos de nuclear por núcleon menor que os núcleos de massa
carbono dos quais foram removidos os elétrons são conhe­ intermediária. Assim, os núcleos de massa intermediária são
cidos como “carbono desnudado" (“stripped carbon”). Essa mais estáveis que os núcleos pesados. Quando um nêutron
partícula pode ser capturada pelo núcleo (fusão) ou o núcleo lento penetra num átomo físsil como o urânio (que já é
pode sofrer fissão, dependendo das condições de distorcido), essa energia adicional provoca a fissão do núcleo
bombardeamento. em dois fragmentos e a emissão espontânea de dois ou mais
Fontes de radiação natural podem ser usadas para nêutrons. Esse fenômeno é denominado fissão. 0 processo
induzir reações nucleares, mas isso limita a energia da de fissão resulta na liberação de grandes quantidades de
partícula. Geralmente, as partículas carregadas são aceleradas energia (cerca de 8 x IO9 kj mor1). No caso do 292<J, vários
por um campo elétrico forte, num acelerador linear, ou por produtos primários de fissão diferentes podem ser formados,
campos alternados de atração e de repulsão num ciclotron dependendo da maneira como o núcleo se fragmentou. Três
ou num síncrotron. (Há aceleradores de partículas das reações mais comuns são:
gigantescos no CERN ‘França/Suíça’, em Berkeley 'EUA’ e
na Rússia). Assim, as partículas podem ser aceleradas, de “‘Ba + ’°Kr + 2(jn)
modo a adquirirem energias cinéticas extremamente
elevadas, que podem ser usadas para promover a reação 235,. . 1
92^ + On + 3(Jn)
nuclear. Energias de tais magnitudes são necessárias para
superar a repulsão entre um núcleo-alvo positivo e a partícula ssCs + jyRb + 4^0n J
positiva usada no bombardeamento. Os nêutrons não têm
carga e não são repelidos pelo núcleo, mas justamente a Observe que os núcleos-filhos formados pertencem a
A HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO OA BOMBA ATÔMICA 469

Se mais de um nêutron produzido numa fissão provocar


10 outras fissões, teremos uma reação em cadeia ramificada.
Nesse caso, ocorre um aumento rápido da quantidade de
energia liberada. É o que acontece na bomba atômica. Num
1 reator nuclear, barras de controle são usadas para absorver
parte dos nêutrons, de modo que em média apenas um
nêutron por fissão provoque outra fissão. Uma reação em
Rendimento 101 cadeia desse tipo se auto-sustenta. A energia é liberada numa
da fissão, em
porcentagem velocidade suficientemente baixa para poder ser aproveitada.

102
Massa crítica
Há uma quantidade mínima de matéria físsil necessária
103 para produzir uma reação em cadeia auto-sustentada. Essa
quantidade é chamada de massa crítica. A massa crítica
depende de diversos fatores:
10**
60 80 100 120 140 160 180 D Da pureza da amostra.
Número de massa 2) Da densidade do material.
3) De sua forma geométrica e de suas vizinhanças.
Figura 31.3 — Rendimentos de elementos, em porcentagem, na fissão
de com nêutrons lentos
Todos esses fatores influenciam o fator de propagação
de nêutrons. Se a amostra for impura, muitos nêutrons se
duas classes. O grupo mais pesado tem massas entre 130 a perderão por colisão com átomos não físseis. Quanto mais
160, e o grupo mais leve tem massas entre 80 a 110. É raro denso for o material, maior será a probabilidade de ocorrer
ocorrer a formação de núcleos-filhos com massas semelhan­ colisões entre um nêutron e um outro núcleo. A forma da
tes na fissão (Fig. 31.3). amostra também é importante, já que os nêutrons tem maior
A massa total dos produtos da fissão é 0,22 unidade de probabilidade de escapar de uma longa barra de material
massa menor que a massa do átomo de urânio e a do nêutron. que de uma esfera.
Isso corresponde a uma liberação de mais de 200 MeV de
energia, ou seja, uma energia doze vezes maior que a energia A HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DA
liberada numa reação nuclear normal. A fissão completa de
450 g (1 libra) de urânio libera uma quantidade de energia BOMBA ATÔMICA
equivalente à explosão de 8.000 toneladas de TNT. A fissão de núcleos pesados foi conseguida pela primeira
Os núcleos-filhos formados como produtos primários vez em Berlim, em dezembro de 1939, e Otto Hahn recebeu
da fissão têm uma elevada relação N/P, e sofrem decaimento o Prêmio Nobel de Química por essas pesquisas, em 1944.
por emissão p para diminuir tal relação. Geralmente, diversas Surpreendentemente, o primeiro reator alemão (a pilha
etapas de decaimento desse tipo são necessárias até se chegar subcrítica B-III) estava instalado na “Casa dos Vírus" do
a um núcleo estável. Assim, cada um dos produtos primários Kaiser Wilhelm Institute de Biologia, em Dahlem. Naquele
de decaimento está associado a uma série de decaimentos, tempo os reatores nucleares eram denominados “pilhas
como por exemplo: atômicas". O reator alemão era constituído por camadas
alternadas de urânio metálico e de parafina sobre uma esfera
UST
‘“I 6
->, 138 Xe «Cs '“Ba (estável) de alumínio, imersa em água. Embora a pilha contivesse
£ ->’s7r B 4 ”Nb B 551 kg de urânio, ela era subcrítica, isto é, menos de um
39Y
'40 -> ®Mo (estável)
nêutron proveniente de cada fissão provocava uma nova
fissão. Por isso, uma fonte de nêutrons foi colocada na
Cerca de 90 séries de decaimentos foram identificadas a partir “chaminé”, no centro da esfera, para manter a pilha em
da fissão do “jU, totalizando várias centenas de nuclídeos funcionamento.
diferentes.
Dois anos mais tarde, Enrico Fermi construiu na Univer­
sidade de Chicago, EUA, uma pilha crítica (auto-sustentada)
Reação em cadeia (Fermi era um físico e recebeu o Prêmio Nobel de Física de
Uma reação de fissão pode desencadear outra. Os 1938, pela obtenção de novos elementos radioativos por meio
nêutrons produzidos numa fissão poderão: da irradiação com nêutrons. Durante a Segunda Guerra fugiu
1) Provocar outra reação de fissão nuclear. da Itália fascista para os Estados Unidos). A “pilha” de Chi­
cago era constituída por um enorme bloco de grafita,
2) Escapar do material físsil.
protegido por concreto de alta densidade, de vários metros
3) Participar de uma reação que não seja de fissão. de espessura. Canais horizontais no bloco de grafita eram
Quando os nêutrons produzidos numa reação de fissão usados para introduzir esferas de urânio suficientes para
são usados em novas fissões, temos o que se chama de reação desencadear a reação em cadeia. Um fluxo de ar era usado
em cadeia. Há duas aplicações principais para as reações para esfriar a pilha e remover a energia produzida. Foram
em cadeia — a construção da bomba atômica e os reatores obtidos mil quilowatts de calor. A “pilha” estava instalada
nucleares destinados à geração de energia elétrica. nas quadras de “squash". Pilhas maiores foram depois cons-
470 O NÚCLEO 005 ÁTOMOS

truídas em Clinton, Tennessee, e em Hanford, Washington. método necessita de uma enorme quantidade de energia
Uma base militar secreta foi construída em Oak Ridge, elétrica (as instalações de Oak Ridge apresentavam duas
Tennessee, como parte do "Projeto Manhattan”, criado para vantagens na época da guerra: localizava-se numa área re­
conduzir as pesquisas que levariam ao desenvolvimento da mota e pouco povoada, vantajosas para uma atividade de
bomba atômica. O U natural é constituído essencialmente riscos desconhecidos. Além disso, havia a disponibilidade
por dois isótopos: 99,3 % de 2|8U, que não é físsil, e 0,7 % de de energia elétrica barata, proveniente de diversas hidrelé­
292U, que é físsil. tricas construídas no vale do Tennessee na década de 1930,
para dar ocupação aos desempregados da época da depres­
são). 0 método da difusão gasosa já foi importante, mas
Separaçao dos isótopos atualmente é utilizado apenas num local, nos Estados Unidos.
Enormes esforços foram dispendidos na separação dos
isótopos, para se obter quantidades suficientes de 23SU físsil, Uso de centrífuga de gases para separar 23SUF6 de 23eUF6
para se construir uma bomba. Quatro foram os métodos Posteriormente, este se tornou o método mais usado
empregados: na Inglaterra e na Holanda. Centrífugas girando a 1.700 revo­
luções por segundo concentram 235UF6 no centro e 236UF6
Difusão térmica nas paredes do rotor cilíndrico.
Dois gases de densidades diferentes são colocados num Haviam dificuldades imensas para se conseguir uma
longo tubo vertical, com uma resistência elétrica aquecendo quantidade de 235U suficiente para se construir uma bomba
a parte inferior do tubo. O gás mais leve se difunde mais atômica. A massa crítica depende da pureza, e a bomba
rapidamente em direção ao fio quente, onde é aquecido e deveria ser leve o suficiente para ser transportada num avião.
sobe, devido à corrente de convecção. Assim, o gás mais Durante a realização desses trabalhos, um segundo
leve se acumula no topo do tubo, enquanto o gás mais pesado elemento físsil foi descoberto por Glenn Seaborg (em 1940)
flui para baixo acompanhando as paredes do tubo. na Universidade da Califórnia, em Berkeley: o plutônio. Pu
é obtido irradiando-se com nêutrons o isótopo relativamente
Separação eletromagnética de UCl4 num espectrômetro de abundante 238U, num reator nuclear.
massa 238U + ‘n------ > 239U ÜNp —«->
02 0 92 t,„= 23.5 min " i„,= 2.3 dia.
Inicialmente devem ser produzidos íons, pelo bombar­
deamento da amostra com elétrons, numa câmara à baixa Todos os isótopos do Pu são físseis, e por isso o plutônio se
pressão. Os íons são acelerados por um forte campo elétrico tornou importante como combustível nuclear. Os trabalhos
e tendem a atravessar uma câmara de vácuo. Porém, um com plutônio foram realizados, sobretudo em Hanford.
campo magnético os desvia mais ou menos, de acordo com
suas relações carga/massa. Esse método pode fornecer Fabricando a bomba
isótopos puros. Embora usado inicialmente para se obter Uma terceiro grupo, em Los Alamos (Novo México/
pequenas quantidades do material enriquecido, tem sido EUA), se concentrava principalmente nos problemas de
usado para se obter quantidades da ordem de quilogramas. caráter técnico, envolvidos na construção de bombas. Os
problemas eram: a) como transportar as massas subcríticas
Difusão gasosa de UF6 de Pu ou de U num avião, b) como combiná-las para obter a
UF6 é um gás acima da temperatura de sublimação de massa crítica, quando a bomba estivesse sobre o alvo e c)
56° C. Nesse processo de enriquecimento, esse gás é como conter o material por um tempo suficientemente longo
bombeado através de milhares de barreiras filtrantes. 23SU é para permitir a ocorrência da reação nuclear.
um pouco menor e consegue atravessar os filtros com um No caso da bomba de Pu, foi utilizado um dispositivo
pouco mais de facilidade que o isótopo mais pesado. A de implosão. Diversas massas subcríticas de 239Pu foram
velocidade de difusão de um gás é determinada pela lei de colocadas na superfície de uma esfera e rodeadas com
difusão de Graham: explosivos de alta potência. Assim, quando os explosivos
convencionais fossem detonados, as massas subcríticas de
velocidade de difusão = K^ÍD Pu seriam impelidas para o centro da esfera, onde formariam
uma massa crítica. A força da explosão deveria manter as
onde K é uma constante e D a densidade do gás. A densidade massas de Pu unidas durante o tempo suficiente para
do vapor é igual a massa molecular/2. Portanto, a velocidade provocar uma explosão nuclear. A primeira bomba atômica
de difusão de 235UF6 é apenas ligeiramente maior que a do a ser fabricada empregava esse princípio, e foi testada numa
238UF6, mais exatamente por um fator de V(352/349 = torre de 30 metros de altura em Trinity, no Novo México, às
1,0043. Essa operação é repetida milhares de vezes, bom­ 5 horas e 29 minutos da manhã (logo antes do amanhecer)
beando o gás num processo "em cascata". Após cada estágio, do dia 16 de julho de 1945. A bomba funcionava! Fermi
a fração mais leve é bombeada para o estágio seguinte, calculou a temperatura atingida como sendo quatro vezes
enquanto a fração mais pesada é bombeada para o estágio superior à temperatura no centro do Sol e a pressão como
anterior. As instalações utilizadas por esse método são muito sendo superior a 100 bilhões de atmosferas. A radioatividade
grandes. O edifício K25, em Oak Ridge, abrigava as instala­ emitida foi um milhão de vezes maior que a de todas as
ções originais do processo de difusão gasosa e ocupava uma reservas de rádio do mundo. As partes de uma bomba
área construída de cerca de 90.000 m2. Uma segunda instala­ atômica semelhante foram enviadas ao Extremo Oriente, para
ção foi construída em Hanford, no estado de Washington. O serem montadas e lançadas sobre o Japão.
USINAS NUCLEARES PARA A PRODUÇÃO DE ENER5IA ELÉTRICA 471

Enquanto isso, uma quantidade suficientemente grande D Nêutrons lentos, com uma energia inferior a 0,1 eV
de 23SU para produzir uma bomba atômica, havia sido 2) Nêutrons intermediários, com energias entre 0,1
laboriosamente coletado. A maneira mais simples de se a 2 MeV
montar uma bomba era usar um tubo cilíndrico com duas
massas subcríticas de 235U , nas suas duas extremidades. A 3) Nêutrons rápidos, com energias superiores a 2,0 MeV.
massa crítica poderia ser gerada pela colisão entre as duas Os nêutrons emitidos por um núcleo, geralmente, têm
massas sub-críticas, numa das extremidades. Isso não tinha energias muito elevadas e são chamados "nêutrons rápidos”.
sido testado, pois não havia 235U em quantidade suficiente São tão rápidos que tendem a escapar da reação. Por isso,
para tal. As partes para a montagem da bomba usando esse nêutrons lentos são necessários para provocar a fissão e
princípio foram enviadas para o Extremo Oriente. sustentar uma reação em cadeia.
A bomba de Pu foi chamada de “Fat Man”, e tinha 3,20 Num reator térmico utiliza-se um moderador para
m de comprimento e 1,50 m de diâmetro, com uma massa desacelerar alguns dos nêutrons rápidos. Os nêutrons colidem
de aproximadamente 4.900 kg. Devido às suas dimensões, com os núcleos do moderador e perdem parte de sua energia
modificações tiveram que ser feitas no compartimento de cinética. Os melhores moderadores são átomos leves que
bombas do avião para permitir seu transporte e lançamento. não tendem a capturar os nêutrons, como por exemplo 2H,
A bomba de U foi chamada de “Little Boy”: tinha 3 m de 2He, ’Be e 'lC. Dentre eles, o mais usado é o grafite. A água
comprimento e somente 68 cm de diâmetro, e pesava cerca pesada D2O, que contém 2H, também é bastante usada. Às
de 4.000 kg. Devido ao seu menor diâmetro, coube no vezes, a água comum H2O, também pode ser utilizada. Be e
compartimento de bombas do avião, e por isso foi usada He não são usados, pois Be é tóxico e caro, e He não é
primeiro. suficientemente denso, por ser um gás. Reatores regenera-
dores rápidos ("fast breeders”) não usam moderadores.
A bomba de U "Little Boy” foi lançada sobre Hiroshima,
em 6 de agosto de 1945. A potência correspondia a de 13.000
toneladas de TNT. 10 km2 da cidade foram devastados, Combustível
provocando 70.000 mortes imediatas. Em 9 de agosto de Os reatores mais antigos usavam urânio metálico. A
1945, a bomba de Pu “Fat Man” foi lançada sobre Nagasaki. maioria dos reatores térmicos atuais usa UO2, porque este
Sua potência equivalia a 23.000 toneladas de TNT. Uma área tem ponto de fusão mais elevado e é quimicamente menos
de 5 km2 foi devastada, causando 45.000 mortes imediatas. reativo. O urânio natural (99,3% de 238U e 0,7% de 235U)
poderia ser usado como combustível. Contudo, geralmente
o combustível é enriquecido até conter 2% a 3% de 235U,
USINAS NUCLEARES PARA A PRODUÇÃO para compensar as perdas de alguns nêutrons absorvidos
DE ENERGIA ELÉTRICA pelo recipiente metálico da blindagem da barra de combus­
Uma usina nuclear para a geração de energia elétrica tível ou pelo moderador. O enriquecimento do U diminui a
consiste de um reator nuclear, usando U ou Pu como massa crítica e, portanto, o tamanho do reator. Porém, o
combustível, em que ocorre uma reação em cadeia contro­ processo de enriquecimento é muito dispendioso. Um enri­
lada. O calor liberado pelo reator é usado para produzir va­ quecimento superior a 3 % só é efetuado para fins militares
por, que movimenta uma turbina e gera energia elétrica. Os — para a fabricação de bombas ou para se construir reatores
primeiros reatores nucleares foram construídos com o operando a altas' temperaturas mas pequenos, empregados
propósito de se produzir Pu para bombas pela irradiação de em submarinos. Estes últimos utilizam UC2 enriquecido a
U, e, também, para fins experimentais. A primeira usina mais de 90% como combustível.
nuclear comercial foi construída em 1956, em Calder Hall Reatores regeneradores rápidos (fast breeders) utilizam
(Cumberland/Inglaterra). Em 1989, haviam mais de 120 o oxido de plutônio como combustível. Eles não necessitam
usinas nucleares só nos Estados Unidos, e mais de 400 nos de moderador, pois os nêutrons rápidos produzidos são
demais países. A França produz dois terços de sua demanda utilizados para converter ^U (não-físsil) em Pu (físsil), pelas
de eletricidade a partir das usinas nucleares. reações:

Moderadores 233U + >n------- > “’U + /


Os nêutrons só podem ser obtidos por reações nucleares ilU-------> ^Np + .°e
e são classificados em três grupos, conforme sua energia
cinética: 2*Np ------- >^Pu + _Je
A quantidade de Pu produzida é maior que a quantidade
Tabela 31.2 — Países com sete ou mais usinas nucleares (1989) consumida, sendo esta a origem do nome reator “regenera-
dor”. Às vezes, o tório (que não é físsil) é incorporado ao
Estados Unidos 129 Espanha 18 combustível. Quando este é irradiado com nêutrons rápidos,
França 67 Tchecoslováquia 13 forma-se o isótopo 2j2U, que é ftssionável por nêutrons lentos.
União Soviética 61 Suécia 12
Reino Unido 42 índia 10 “U + Jn ------- > 2UTh + /
Japão 42 Coréia 9 “Th ------- > «3Pa + Çe
Alemanha Ocidental 28 Alemanha Oriental 7
Canadá 22 Pa ----- >
“Pa + _?e
470 □ NÚCLEO DOS ÁTOMOS

TIPOS DE REATORES EM USO processo de enriquecimento não é necessário, pois todos os


isótopos de Pu são físseis. Não utilizam moderadores, de
Reatores térmicos esfriados a gás (todos usam grafite
modo que os nêutrons existentes no reator são nêutrons
como moderador)
rápidos. Alguns reatores empregam Na líquido como
Reatores "Magnox” refrigerante, enquanto que outros empregam He gasoso, a
Estes utilizam como combustível barras de U metálico, altas pressões. Se UO2 esgotado (isto é, UO2 do qual já foi
encerradas num recipiente de Mg/Al (magnox). O combus­ removido todo 23SU físsil) for introduzido num reator desse
tível é natural, isto é, não enriquecido, e CO2 é usado como tipo, o 238U não físsil será convertido em Pu físsil. O nome
gás refrigerante. A maior parte dos reatores ingleses mais “reator regenerador” se deve ao fato de ocorrer a produção
antigos é desse tipo. Esses reatores estão agora chegando ao de uma maior quantidade de material físsil que a consumida
fim de suas vidas úteis. no processo. Potencialmente, um reator desse tipo podería
constituir-se numa fonte ilimitada de energia.
Reatores avançados esfriados a gás (AGR = Advanced gas Na Grã-Bretanha existem três gerações de reatores
cooled reactors) nucleares em usinas:
Estes usam pastilhas de UO2 enriquecidas a 2% como D Os antigos reatores Magnox (projeto britânico).
combustível e CO2 como gás refrigerante.
2) A segunda geração de reatores avançados esfriados a
gás (projeto britânico).
Reatores de alta temperatura (HTR - High temperature re­
actor) 3) Um número reduzido de reatores a água pressurizada
(projeto norte-americano). Estes são tidos como sendo
Estes reatores são usados para fins militares, por os reatores do século 21. Contudo, o alto custo, o tempo
exemplo, em submarinos. O combustível é UC2, enriquecido necessário para a construção e os aspectos referentes à
a mais de 90%. Isso possibilita a construção de reatores segurança (principalmente ligada à alta pressão) desses
pequenos. O gás refrigerante é He e as barras de controle reatores, foram objetos de controvérsias.
são de Cd.

Reatores térmicos esfriados a água (todos usam H2O FUSÃO NUCLEAR


ou D2O como moderador) A fusão nuclear é o processo de liberação de energia a
Reator canadense a deutério e urânio (CANDU = Canadian partir da matéria, que ocorre no sol, nas estrelas e na bomba
deuterium uranium reactor) de hidrogênio. Durante a fusão, átomos de elementos leves
Este reator é um projeto canadense que utiliza UO2 natu­ se combinam para formar elementos mais pesados. A energia
ral (não-enriquecido) como combustível, e água pesada D2O de ligação nuclear por núcleon dos elementos leves é menor
como moderador e refrigerante. que dos elementos de massa intermediária. Assim, a fusão
de dois núcleos leves forma um núcleo mais estável, com a
Reator a água pressurizada (PWR = Pressurized water reac­ liberação de uma grande quantidade de energia. Tanto a
tor) fissão como a fusão são métodos que liberam grandes quan­
Tfata-se de um projeto norte-americano que utiliza tidades de energia. Na fusão, átomos leves são combinados
pastilhas de UO2 enriquecidas a 3%, como combustível. A para formar elementos mais pesados, enquanto que na fissão
água é usada como moderador e refrigerante. A armação átomos radioativos pesados são fragmentados em átomos
deve resistir à enorme pressão exercida pelo vapor produzido, de massa intermediária.
sendo geralmente construída de aço inoxidável de 25 cm de A reação de fusão nuclear mais simples envolve os
espessura, revestida por concreto. isótopos de hidrogênio: deutério e trítio. Uma grande quanti­
dade de energia é necessária para vencer a repulsão entre os
Reator de água em ebulição (BWR = Boiling water reactor) núcleos de carga positiva e aproximá-los o suficiente (de 1 a
Este é semelhante ao anterior (PWR), mas usa UO2 2 fm) para que possam reagir. Uma das maneiras utilizadas
enriquecido a 2,2%. Opera a pressões muito mais baixas, para produzir partículas de alta energia é usando um
de modo que o revestimento do reator não precisa ser tão acelerador, mas esse método não pode ser empregado no
resistente. presente caso. Outra maneira de se obter núcleos de alta
energia é levá-los a uma temperatura extremamente alta (por
Reator gerador de vapor a água pesada (SGHWR = Steam volta de 108 K). Se deutério e trítio forem aquecidos a
generating heavy water reactor) temperaturas superiores a um milhão de graus, forma-se
um plasma gasoso (o plasma é o quarto estado da matéria,
Este reator utiliza pastilhas de UO2 enriquecidas a 2,3 %
composto essencialmente por íons gasosos e uma matriz de
como combustível, D2O como moderador e H2O como
elétrons livres). Como os átomos tiveram seus elétrons
refrigerante.
removidos, as colisões se darão entre seus núcleos. Algumas
dessas colisões nucleares podem ocorrer com energias
Reatores regeneradores rápidos (estes não usam suficientemente altas, para que dois núcleos se aproximem,
moderadores) a ponto deles sentirem a forte atração entre eles e ocorra a
Estes reatores estão muito menos desenvolvidos que reação de fusão. A massa perdida nessa reação é convertida
os reatores térmicos. Usam PuO2como combustível. O em energia, de acordo com a equação de Einstein E - m <r
FUSAD nuclear 473

mas a altíssimas temperaturas. Se o plasma entrar em contato


JH + ,H------- > ‘He + òn + energia
com um sólido (por exemplo, um recipiente de aço), o sólido
Essa reação de fusão tem uma temperatura de ignição seria vaporizado e a temperatura do plasma cairia
relativamente baixa e produz uma enorme quantidade de rapidamente. Os dois principais métodos de confinamento
energia. O deutério ocorre naturalmente, mas o trítio é de são o magnético e o inercial. Como o plasma é constituído
obtenção difícil e extremamente caro. O trítio podería ser por partículas carregadas movimentando-se a altas
obtido num reator de fusão, bombardeando-se um alvo de velocidades, ele pode ser desviado por um campo magnético.
lítio com nêutrons: Assim, o plasma podería ser confinado no interior de um
“frasco magnético” circular (os campos magnéticos extrema­
|Li ------- > ’H + ‘He
Jn + JjLi mente elevados necessários podem ser obtidos utilizando
eletroímãs a base de uma liga supercondutora de nióbio/
Jn + ’Li------- > JH + jHe + ‘n titânio, esfriada com hélio líquido, a cerca de 4 K). O confina­
Reações semelhantes podem ser efetuadas utilizando mento inercial envolve o colapso rápido do recipiente de
apenas deutério, mas requerem uma temperatura de vários combustível, para tornar o combustível suficientemente
milhões de graus. Diversas reações poderíam ocorrer, sendo denso para que a fusão possa ocorrer. Altemativamente, pode
as mais simples: ser usada a fusão a laser. Nesse caso, feixes de raios laser
pulsados de alta potência são utilizados para aquecer e
JH + JH ------- > ,H + }H + 4,0 MeV comprimir pequenas pastilhas do combustível.
É possível que a fusão possa ser conseguida por meio
1H + JH ------- > |He + Jn + 3,3 MeV
de uma técnica totalmente diferente, sem usar o plasma para
A fusão é em princípio uma reação térmica que não atingir as condições de extrema energia. Houve uma grande
difere essencialmente de um fogo comum. Mas esta, em expectativa quando, em março de 1989, Fleischmann e Pons
contraste com a fissão, não requer uma massa crítica. E, afirmaram ter conseguido a “fusão a frio", no laboratório da
uma vez iniciada, a extensão da reação depende apenas da Universidade de Utah, EUA. Eles eletrolisaram água pesada
quantidade de combustível disponível. Contudo, para que D2O, enriquecida a 99,5%, tomada condutora pela adição
possa ocorrer uma reação de fusão, são necessárias condições de LiOD (D é o isótopo). Nessas condições, aparentemente
físicas extremas: houve liberação de calor, que foi atribuída à fusão D-D.
Num experimento semelhante, Jones, da Universidade de
1) Devem ser alcançadas temperaturas muito altas.
Brigham Young, julgou ter observado a emissão de nêutrons.
2) É necessária uma suficiente densidade de plasma. Infelizmente eles estavam errados.
3) O plasma deve ser confinado durante um tempo adequa­ Outra técnica interessante que pode ser promissora, é
do, para permitir a ocorrência da fusão. a substituição de um elétron de uma molécula de D2* por
Estes e outros processos de “queima de hidrogênio” um múon de carga negativa e massa 207 vezes maior que a
ocorrem no centro do sol, e fornecem a enorme quantidade do elétron. Isso deveria diminuir a distância D-D por um
de energia solar irradiada para a Terra e o restante do sistema fator de 200, facilitando a reação de fusão.
solar. A fusão nuclear traz consigo a promessa de ser no fu­
turo uma importante fonte de energia. O consumo mundial
Armas termonucleares de energia é elevado e as fontes de combustíveis disponíveis
Os únicos processos de fusão efetuados com êxito fo­ são finitas e limitadas. As reservas de petróleo e gás natural
ram os das bombas de hidrogênio e outras armas termonu­ poderão estar esgotadas em 50 anos. As reservas de carvão
cleares semelhantes. As temperaturas extremamente altas e talvez durem mais 200 anos. As reservas de urânio são finitas,
elevadas densidades de plasma necessárias para a ocorrência de modo que o uso da energia nuclear para geração de
da fusão nuclear foram conseguidas com o auxílio de uma eletricidade só adia uma eventual falta de recursos
pequena bomba de fissão de urânio. Sua explosão aquece energéticos. Todos esses combustíveis acarretam problemas
uma cobertura de elementos leves a uma temperatura sufi­ ambientais. Os combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão)
cientemente alta para dar início às reações de fusão, nas contribuem para o "efeito estufa" e a chuva ácida. É preciso
bombas de hidrogênio e de nitrogênio. Tais reações são encontrar uma fonte alternativa de energia mais duradoura.
denominadas reações termonucleares. O primeiro dispositivo A segurança das usinas nucleares é questionável. Problemas
termonuclear foi detonado em Eniwetok (Pacífico), em 1952. ainda maiores ocorrem no armazenamento dos resíduos
A energia liberada foi 100 vezes maior que a obtida numa radioativos. Se a reação de fusão pudesse ser usada como
bomba atômica baseada na fissão de U ou de Pu. A fusão fonte de energia:
completa de 450 g (1 libra) de deutério leva à liberação da 1) O combustível (o hidrogênio) seria praticamente ilimi­
mesma quantidade de energia que 26.000 toneladas de TNT. tado.
2) Os processos nucleares de fusão são mais seguros que
Reações de fusão controladas os de fissão.
Foram feitas muitas tentativas com o intuito de se 3) O processo de fusão parece ser bem menos poluente.
construir equipamentos com os quais se pudesse controlar 4) As dificuldades associadas ao descarte das barras de
as reações de fusão. Até hoje nenhum foi bem sucedido. O combustível esgotadas e os subprodutos do processo
problema reside em como se podería trabalhar com plas- são bem menores que no caso da fissão.
474 □ NÚCLEO 005 ÁTOMOS

0 programa que visa o estudo da fusão nuclear está em 0 primeiro processo de síntese dos elementos mais
andamento, mas muitos avanços são ainda necessários para pesados nas estrelas é a "queima" do hidrogênio. As estrelas
que tenha aplicação prática. As condições extremas são extremamente densas (IO8 g cm-3) e existe uma enorme
necessárias para se ter uma fusão controlada, em escala de força gravitacional. Parte dessa força é convertida em calor,
laboratório, ainda não foram conseguidas. Se for possível fazendo com que a temperatura se eleve até 107 K. Foi
construir um reator de fusão, ele seria uma fonte quase mencionado anteriormente (no item "Fusão nuclear”) que
ilimitada de energia. essa temperatura é suficiente para superar a repulsão entre
dois núcleos de H positivamente carregados, de modo que
A ORIGEM DOS ELEMENTOS estes núcleos podem sofrer uma reação de fusão nuclear,
formando deutério.
Como se formou o Universo, como se formaram os
Energia liberada (MeV)
diversos elementos e porque os diferentes elementos e seus
isótopos ocorrem nas proporções em que são observados ;h + ;h - -> |H + /T + v 1,44
na natureza, são interessantes considerações de cunho quase
filosófico.
?h + ;h - -> ^He + y 5,49

0 efeito Doppler fornece uma evidência de que o Univer­ ’He + jHe —> 3He + 2()h) 12,86
so está se expandindo. A luz proveniente das galáxias mais
distâncias tem um comprimento de onda mais longo que o Soma 4(Jh) ------- > ‘He + 2/5” + 2v + 2y
esperado, isto é, mais próximo da extremidade vermelha,
pois elas estão de afastando de nós. Há várias teorias sobre 0 processo é exotérmico. A pequena quantidade de
a origem do universo. massa perdida é liberada como energia. Assim, núcleos mais
estáveis são formados, mas o processo é lento. A idade do
A "teoria do estado estacionário" sugere que o hidrogê­ Sol é calculada em 5 bilhões de anos, mas ele ainda tem
nio é criado continuamente para preencher os vazios no cerca de 90% do hidrogênio primordial.
espaço criados pela expansão do Universo. Os outros
elementos seriam formados a partir do hidrogênio, por meio À medida que o hidrogênio é consumido, o hélio forma­
de reações nucleares. do vai se acumulando no núcleo. A temperatura no núcleo
da estrela diminui, e a estrela se expande para conservar o
A "teoria do big bang" é atualmente a mais aceita. Ela calor. A estrela será mais fria que antes e é chamada de
pressupõe que toda a matéria do Universo, na forma de gigante vermelho. Eventualmente, o núcleo entrará em colap­
partículas elementares, estava reunida num “núcleo" de so sob o efeito da pressão, e a temperatura se elevará acima
densidade, temperatura e pressão imensas. Este explodiu de 108 K. Nesse momento os núcleos começam a se fundir.
(daí o nome da teoria) espalhando a matéria uniformemente
pelo espaço, na forma de nêutrons. Então, os nêutrons sofre­ ‘He + ‘He ------- > ®Be + y
ram decaimento, formando os prótons, os elétrons e os anti-
Os núcleos formados dessa maneira se fundem com nova
neutrinos.
quantidade de He:
Jn ------- > [p + _}e + v jBe + ‘He ------> 12C + y
Durante o “big bang” e a "bola de fogo" que lhe seguiu, 'cC + ‘He ------ > ,80 + y
temperaturas de 106 a 109 K foram alcançadas. Assim, nas
primeiras horas deve ter ocorrido diversas reações nucleares: ‘|O + ‘He ------- > “Ne + y
Essas reações consomem o hélio do núcleo da estrela e
;h + Jn o transformam em C, O e Ne. Quando a maior parte do H e
2H + JH ■> 3He do He tiver sido consumida, as estrelas pequenas se contraem
e se tornam mais quentes. Estas são denominadas anãs
jHe + òn --- > ‘He brancas.
‘He + in--—> 3He Contudo, a contração de estrelas grandes (com 1,4 vezes
a massa do Sol, ou mais) leva a temperaturas ainda mais
O isótopo 3He tem uma meia-vida de apenas 2 x 10’21 s, elevadas (6 x 108 K). Nessas condições mais energéticas,
de modo que a formação de núcleos mais pesados pela adição passa a ocorrer o “ciclo do carbono-nitrogênio”. Este envolve
sucessiva de nêutrons ou prótons foi interrompida. Com a as reações desses elementos com o hidrogênio, desde que
queda da temperatura, todas essas reações cessaram. Assim, um pouco de ‘|C esteja presente como catalisador:
a maior parte do Universo era constituída de H, com uma
pequena quantidade de He; e as galáxias devem ter se — 'Ic + Jh -> I3N + y decaimento 13q + p+ + V
formado pela condensação desse material.
”C + [h -> ‘«N + 7
Qualquer que seja a origem do Universo, é geralmente
aceito que os elementos mais pesados são formados pelas > + Jh -> *’O + y Io decaimento ISkT , q+
---------- > 7N + p + V
<
reações nucleares nas estrelas. 0 hidrogênio ainda responde
por 88,6 % e o He por 11,3 % de todos os átomos do Universo. 12C
Juntos eles constituem 99,9% dos átomos e mais de 99%
da massa do Universo. soma -(!") 3He + 2[3+ + 2v + 2y
A ÜRI6EM DOS ELEMENTOS 475

Além disso, os núcleos formados podem sofrer fusão com cósmicos colidem com núcleos de C, N ou O, provocando
hélio: sua fragmentação em núcleos mais leves. Esse processo é
também denominado processo-x. Diversos elementos, como
“C + «He >|o + / ’|C, ’|O e i°Ne são mais abundantes que seus vizinhos na
tabela periódica, e diferem por um núcleo de «He. Isso é um
'tO + «He * “Ne + r
indicativo de que eles se formaram por meio da fusão de
“Ne + «He -> “Mg + y outros núcleos com hélio. O núcleo “Fe é particularmente
abundante, pois possui a mais elevada energia de ligação
Nessas temperaturas pode ocorrer a “queima” do carbono e nuclear por núcleon. É o núcleo mais estável e é um dos
do oxigênio: produtos das reações de fusão. As abundâncias dos
elementos que precedem o Fe (Sc, Ti, V e Cr) também são
”C + 12C ->“Mg maiores que o esperado. Isso provavelmente se deve a reações
ou “Na + }H de espalação, onde raios cósmicos de alta velocidade colidem
com Fe, formando Sc, Ti, V ou Cr, bem como Li, Be e B (em
ou “Ne + «He menor quantidade).
'|O + “O —> uS + Jn Núcleos mais pesados que “Fe são endotérmicos e só
‘‘O + “o —> “Si + «He podem ser obtidos com o fornecimento de energia. Assim,
toma-se cada vez mais difícil obter esses elementos por fusão.
'5C + «He —> “O + Y Os elementos mais pesados são sintetizados nas estrelas por
*|O + «He —» “Ne + y reações de captura de nêutrons. Há dois processos principais,
denominados processo-s (captura de nêutrons lentos) e
Em alguns casos a estrela pode contrair-se ainda mais processo-r (captura de nêutrons rápidos), pelos quais tais
e a temperatura pode se elevar até 109 K. Nesse ponto, a reações podem ocorrer.
radiação y, produzida por muitas dessas transformações No processo de captura de nêutrons lentos, os nêutrons
nucleares, tem energia suficiente para induzir reações são adicionados ao núcleo um a um. A adição de um nêutron
endotérmicas como: aumenta a relação N/P e, eventualmente, a adição de um
nêutron pode deixar o núcleo instável. Por causa da escala
“Ne + y------- > “O + «He de tempo relativamente longa, o núcleo pode decair, e a
0 He assim formado volta a reagir: proporção N/P desfavorável é corrigida por decaimento 0. A
seguir, o processo acima descrito é repetido e outro nêutron
“Ne + «He * “Mg + Y é adicionado.
“Si + «He ■* “S + y
“Fe+ Jn-> "Fe+ Jn-> “Fe+ Jn-> ”Fe-> 2’Co + _°e
“S + tHe ?sAr + y
Os nêutrons são produzidos em gigantes vermelhos e em
™Ca + «He "Ti + y estrelas de segunda geração, por processos normais em
Essas reações de fusão são exotérmicas até o 26Fe- Pode- estrelas, tais como:
se observar na Fig. 31.2 que a energia de ligação nuclear por
núcleon aumenta do H até o Fe, e volta a diminuir nos »C + jHe ------ > “O + Jn
elementos mais pesados. OU 'JO + “O ------- > ”S + *n
Até aqui a nossa discussão explicou porque H e He
A adição lenta de nêutrons pode produzir núcleos até
constituem uma parcela tão grande do Universo. Os núcleos
2^Bi. Os elementos com números de massa em tomo de 90,
mais abundantes e estáveis até o elemento de número
138 e 208, e os isótopos 39Y e 9oZr, “iBa e 'sgCe, e 2gÍPb e
atômico 20, possuem uma relação de nêutrons para prótons
de 1:1, por exemplo: |He, '«N, 'gO, 2«Mg e «§Ca. A maioria 259Bi, são relativamente abundantes e são encontrados em
deles (exceto o N) tem um número par de nêutrons e um quantidades muito maiores que as esperadas. Na discussão
número par de prótons (número atômico par). Alguns sobre o número de nêutrons e de prótons no núcleo, no
isótopos leves, como '|F, “Na e ^Al, são comuns e abun­ início deste capítulo, foi mencionado que núcleos com 2, 8,
dantes, mas não têm uma relação N/P de 1:1. Esses elementos 20, 28, 50,82 e 126 nêutrons ou prótons são particularmente
têm um número atômico ímpar e, portanto, um número estáveis, e que esses números são denominados "números
ímpar de prótons, mas têm um número par de nêutrons. mágicos". Os três grupos de elementos bastante abundantes
Esses núcleos ímpar-par são mais estáveis que os se situam em torno dos números de nêutrons “mágicos” 50,
correspondentes núcleos ímpar-ímpar, com uma relação N/ 82 e 126. Isso significa que eles apresentam seção transver­
P de 1:1. Os elementos Li, Be e B são muito pouco abun­ sal de absorção de nêutrons muito baixa, ou seja, a probabi­
dantes, quando comparados com os seus vizinhos. O fato lidade desses núcleos capturarem nêutrons é menor e eles
deles serem encontrados na natureza já é surpreendente, se acumulam. O processo-s é responsável pela formação dos
visto que as pequenas quantidades formadas pela “queima” isótopos mais leves ou mais ricos em prótons de um
de H e de He são convertidas em elementos mais pesados. elemento.
As pequenas quantidades encontradas foram formadas Uma fonte diferente de nêutrons ocorre imediatamente
provavelmente por reações de espalação, em que raios antes ou durante o período de supemova de uma estrela.
47G □ NÚCLEO 005 ÁTOMOS

Neste, estrelas grandes se tornam extremamente quentes Por exemplo, uma amostra sólida contendo 3°SrSO4 radioa­
(8 x 109 K),eos núcleos que se encontram no núcleo da tivo e SrSO4 normal pode ser preparada e sua atividade por
estrela se fragmentam em nêutrons, prótons e partículas a, grama medida. Em seguida, a atividade do resíduo de
que sofrem uma variedade de reações. O núcleo da estrela evaporação de um volume conhecido de uma solução
se contrai e, eventualmente implode. Isso resulta na explosão saturada pode ser medida. A comparação dessas atividades
da camada externa, cujo material é lançado no espaço. No permite calcular a solubilidade. Analogamente, o isótopo
processo-r, muitos nêutrons são adicionados rapidamente 3sP foi usado para se determinar a solubilidade do
(em poucos segundos) por um núcleo, antes de ocorrer um MgNH4PO4 ■ 6H2O, e o isótopo 113I foi usado para se determi­
decaimento já. nar a solubilidade de Pbl2. Uma técnica semelhante pode
S6
ser empregada para se medir as pressões de vapor de
Te + 13(in)
26 * “Fe substâncias não-voláteis.
“Fe + 2’Co ------- > _?e A análise de ativação é usada para se determinar a
quantidade de um dado elemento presente numa amostra.
Os elementos muito pesados são formados dessa A amostra a ser analisada e uma amostra contendo uma
maneira, adicionando-se muitos nêutrons de uma só vez: quantidade conhecida do elemento em questão são colocadas
quantidades traço de 29gCf estão presentes em estrelas, e num reator nuclear e bombardeadas (geralmente com
esse isótopo também é formado durante as explosões nêutrons). Depois de irradiadas por um período de tempo
nucleares. Analogamente, observou-se a formação de 99Es adequado (várias vezes a meia-vida do radioisótopo
einstênio e jooFm férmio durante as explosões de bombas esperado) as amostras são retiradas do reator, e a radioati­
de hidrogênio. 0 processo-r forma isótopos ricos em vidade induzida nas duas amostras pode ser medida. A
nêutrons. Assim, os isótopos mais leves ricos em nêutrons, quantidade do elemento presente na amostra desconhecida
como i|S, 2§Ca e 2oCa podem ter sido formados pelo processo- é calculada a partir da relação entre as atividades das
r. Um processo de captura de prótons pode ocorrer durante amostras desconhecida e padrão. Mais de 50 elementos (ou
um curtíssimo espaço de tempo, numa supernova. Este é melhor, isótopos) podem ser determinados dessa maneira.
denominado processo-p e é possível que vários isótopos, O método é o mais usado para se determinar pequeníssimas
como 34Se, "oSn, "oSn e "jjSn até ’soHg, sejam formados quantidades de um dado elemento. A vantagem do método
dessa maneira. é a de preservar a amostra, mas tem a desvantagem de
A ausência do tecnécio e do promécio na Terra pode precisar de um reator nuclear. Nem todos os elementos
ser justificada pelos curtos períodos de meia-vida de todos podem ser determinados dessa maneira; por exemplo, não
os seus isótopos. é possível determinar o carbono, porque 'iC tem uma seção
transversal de absorção de nêutrons muito pequena.
Contudo, a determinação de C pelo método de análise por
I ALGUMAS APLICAÇÕES DOS ISÓTOPOS ativação é possível bombardeando-o com deutério, num
RADIOATIVOS ciclotron.
As aplicações dos radioisótopos são tão numerosas, que Reações de troca isotópica fornecem informações sobre
somente alguns exemplos foram aqui abordados. o mecanismo de certas reações. Assim, a troca do }H por ,D
Medidas de radioatividade são empregadas para se da água pesada D2O ocorre rapidamente se o H estiver ligado
determinar a idade de vários objetos. O isótopo 'Jc ocorre a um N ou O, mas é lenta ou nem ocorre se o H estiver
na natureza e é usado na datação de materiais de origem ligado a um C. Isso está relacionado com a mobilidade dos
vegetal e animal. O procedimento foi descrito no Capítulo prótons e a maior polaridade das ligações N-H e 0-H.
12, e implica na determinação do momento a partir da qual
a amostra deixou de trocar C com o seu ambiente. Esse D20 + RO-H = HDO + RO-D
isótopo é produzido continuamente pela colisão de nêutrons Se *7NH4C1 marcado for dissolvido em NH3 líquida e se
dos raios cósmicos com o nitrogênio presente na atmosfera. o solvente for evaporado, a atividade do ’?N estará igual­
Enquanto a planta ou o animal estiverem vivos, conterão a mente distribuído entre o NH4C1 e o NH3. Como ^NH4C1 se
mesma proporção de 19C que o meio. Quando a planta ou o dissocia em ’?NH4+ e Cl", esse resultado é uma evidência de
animal morre, deixa de absorver, e o conteúdo desse isótopo que a auto-ionização do NH3 líquido ocorre:
começa a decair gradativamente. De uma maneira
semelhante, a datação com hélio radioativo pode ser usada 2NH3 — NH4+ + NHf
para determinar a idade de certos depósitos minerais.
Minerais de urânio sofrem decaimento por emissão de Analogamente, a não ocorrência de trocas entre o 'JC
partículas a, assim produzindo o hélio. Um grama de U forma de uma solução contendo CN" marcado e do complexo
cerca de IO'7 g de He por ano. A idade do mineral pode ser [Fe(CN)6]3“ é uma evidência de que os grupos CN" no com­
calculada se for conhecido seu conteúdo de U e de He. Devem plexo não são lábeis. Uma prova de que os dois átomos de
ser feitas algumas correções, pois um pouco de He escapa. enxofre no íon tiossulfato S2O3‘ não são idênticos, pode ser
Além disso, há a possibilidade de ocorrer a formação de He obtida aquecendo-se 3|S marcado com uma solução aquosa
a partir de outros elementos como o Th, eventualmente de sulfito de sódio, para formar o íon tiossulfato:
presentes no mesmo.
A análise por diluição isotópica poder ser usada para so23- + «S ■* ”sso2-
se determinar a solubilidade de materiais pouco solúveis.
PROBLEMAS 477

Se o tiossulfato assim formado for decomposto pelo • Fergusson, J.E. (1982) Inorganic Chemistry and the Earth
tratamento com um ácido, toda a radioatividade fica no (Cap.l, Origens: os elementos químicos e a Terra), Pergamon,
enxofre e nada é encontrado no SO2 formado: Oxford.
• Grabowski, K.F.M. (1986) The early use of radioactive trac-
2FT + ”SSO2’ SO2 + ”S + h2o ers in chemistry, Education in Chemistry, 23, 174-176.
• Nier, A.O. (1989) Some reminiscences of mass spectrometry
O isótopo 2°Co emite tanto radiação p como radiação y. and the Manhattan Project, J. Chem. Ed., 66,. 385-388.
É utilizado na radiografia com raios-y, na detecção de (Reflexões sobre a fissão nuclear nos primeiros 50 anos).
rachaduras e fissuras em peças metálicas como tubulações, • Peacocke, T.A.H. (1978) Radiochemistry: Theory and Experi-
peças de aviões e juntas soldadas, por exemplo, nas câmaras ment, Wykeham Publications, London. (Um bom livro básico)
de alta pressão dos reatores nucleares. É ainda usado para • Rhodes, R. (1989) The complementarity of the Bomb, J.
irradiar tumores malignos do organismo, na radioterapia do Chem. Ed., 66, 376-379. (Reflexões sobre a fissão nuclear
câncer. nos primeiros 50 anos).
O nuclídio é usado para localizar tumores no cérebro, • Seaborg, G.T. (1989) Nuclear fission and transuranium ele-
e no diagnóstico e tratamento de doenças da glândula ments, J. Chem. Ed., 66, 379-384. (Reflexões sobre a fissão
tireóide. No primeiro caso, o isótopo é incorporado num nuclear nos primeiros 50 anos).
corante e injetado no paciente. Este é absorvido preferencial­ • Selbin, J. (1973) Stellar nucleosynthesis, J. Chem. Ed., 50,
mente por células cancerosas, de modo que a localização 306, 380.
do tumor pode ser determinada com exatidão, mapeando- • Sime, R.L. (1989) Lise Meitner and the discovery of fission,
se os locais de maior atividade radioativa no crânio. No caso J. Chem. Ed., 66, 373-376. (Reflexões sobre a fissão nuclear
da tireóide, o paciente consome uma pequena quantidade nos primeiros 50 anos).
do isótopo, na forma de Nal. O iodo radioativo se concentra
• Steinberg, E.P. (1989) Radiochemistry of the fission Prod­
na glândula tireóide, e pode ser medido através da contagem
ucts, J. Chem. Ed., 66, 367-372. (Reflexões sobre a fissão
da radiação y emitida. nuclear nos primeiros 50 anos).
Soluções de NaCl marcado, contendo o isótopo nNa, • Taylor, R.J. (1972) The Origin of the Chemical Elements,
são injetadas nas veias, para se descobrir a localização e Wykenham Publications, London. (Uma abordagem
extensão de coágulos e outros distúrbios circulatórios. relativamente direta)
• Thompson, R. (ed.) (1986) The Modem Inorganic Chemicals
Industry, Publicação especial N.° 31, The Chemical Society,
ALGUMAS UNIDADES E DEFINIÇÕES London. (vide o cap. “A química inorgânica dos combustíveis
u.m.a. = unidade de massa atômica = 1/12 da massa do nucleares”, por Findlay, J.R. e colaboradores).
átomo de 12C • Vertes, A. e Kiss, I. (1987) Nuclear Chemistry (Série sobre
Número de massa = número de nêutrons + número de Tópicos em Química Geral e Inorgânica: N.° 22), EIsevier.
prótons
Massa do átomo de hidrogênio 'H = 1,007825 u.m.a. PROBLEMAS
Massa do próton jp ou ]H = 1,007277 u.m.a. D Qual é a natureza das forças de ligação nucleares nos
Massa do nêutron Jn = 1,008665 u.m.a. núcleos dos átomos? Como varia a energia de ligação
nuclear média por núcleon, à medida que aumenta o
Massa do elétron _?e = 0,00054859 u.m.a. número atômico do elemento?
Massa do átomo de hélio 2He = 4,00260 u.m.a. 2) Defina os seguintes termos: número atômico, número de
Massa do núcleo de hélio (partícula a, 2He) = 4,00150 u.m.a. massa, isótopo, decaimento a, decaimento p, radiação y,
MeV = milhão de elétron-volts (1 MeV) = 9,648xl07 kJ mol’1 fissão nuclear e fusão nuclear.
3) De que maneira o modo de decaimento de um determinado
1 u.m.a. - 931,4812 MeV = 8,982 x 1010 kJ mol'1.
núcleo está relacionado com a) a relação entre o número
de nêutrons e de prótons; b) o tamanho?
LEITURAS COMPLEMENTARES 4) Explique os termos número de massa, massa isotópica e
energia de ligação nuclear, utilizados na descrição de um
• Abelson, P.H. (1989) Products of nêutron irradiation, J. Chem. isótopo.
Ed., 66, 364-366.
5) Esquematize um diagrama que ilustre como a energia de
• Ahrens, L.H. (ed.) (1979) Origin and Distribution ofthe Ele- ligação nuclear por núcleo varia em função do número de
ments, Pergamon Press, Oxford. (Anais do segundo simpósio massa. Discuta a forma da curva obtida.
da UNESCO.)
6) Como a energia de ligação nuclear por núcleon de um
• Cadman, P. (1986) Energy from the nucleus, Education in dado núcleo atômico podería ser determinada? Explique o
Chemistry, 23, 8-11. que significa esse valor?
• Choppin, G.R. e Rydberg, J. (1980) Nuclear Chemistry - Theory 7) Calcule a energia de ligação nuclear por núcleon (em MeV
and Applications, Pergamon, Oxford. por núcleon) do isótopo 2|Fe, sabendo-se as massas das
• Cunninghame, J. G. (1972) Chemical Aspects ofthe Atomic partículas elementares: 56Fe 55,93494 u.m.a., nêutron
Nucleus, Monografia para professores, N“ 23, Royal Society 1,008665 u.m.a., próton 1,00783 u.m.a. e elétron
for Chemistry, London. 0,00054859 u.m.a. (Resposta: 8,79 MeV por núcleon).
478 □ NÚCLEO 00S ÁTOMOS

8) 2’Na é um isótopo instável do sódio, com meia-vida de 15 16) Na série de decaimentos radioativos naturais do tório, o
horas. Calcule o valor da constante de decaimento nuclídeo sofre decaimentos a, p, p, a, a, a, p sucessivos.
radioativo. Explique como você tentaria prever o modo de Escreva equações que mostrem os números de massa, os
decaimento radioativo do mesmo. números atômicos e os símbolos dos nuclídios formados
9) O que é a lei do deslocamento radioativo? Ilustre a lei dos nesses decaimentos.
deslocamentos radioativos usando as quatro séries de 17) A seguinte reação corresponde a um dos processos que
decaimentos radioativos. ocorre durante a fissão
10) Mostre, por meio de equações, o decaimento a dos seguin­ ilü------ ,»“Ce+«Zr+Jn + 6.?e
tes núcleos:
Dados as massas, U 235,0439 u.m.a., Ce 139,9054 u.m.a.,
(a) 29®U, (b)2|2Th, (c) 'ÜBi, (d)2J26Rn, (e) 2^Po Zr 93,9063 u.m.a. e n 1,008665 u.m.a., calcule a quantidade
11) Mostre, por meio de equações, o decaimento p dos seguin­ de energia liberada, em MeV, por fissão (Resposta: 205
tes núcleos: MeV por fissão).
(a)uMg, (b)2^Pb, (c)fêNe, (d) $Co, (e) 18) Explique as principais diferenças entre as duas bombas
12) Mostre, por meio de equações, o decaimento dos seguintes atômicas que foram lançadas sobre o Japão.
núcleos por captura de elétrons: 19) a) Qual é a diferença entre uma reação em cadeia e uma
(a) 1SK, Cb) jBe, (c) &Ge, (d) 'J?Sb, (e) gSe reação em cadeia ramificada, b) O que é moderador? Dê
exemplos, c) Explique o que é a massa crítica de um ma­
13) Mostre, por meio de equações, o decaimento dos seguintes terial físsil, e por que ela varia.
núcleos por emissão de pósitrons, p*:
20) Compare os processos de fissão e fusão nuclear como fontes
(a) 13N, (b) ԤF, (c) 22Na, (d) >,?Ne, (e) f0Zn de energia.
14) Escreva uma equação que mostre o que aconteceria se um 21) Calcule a energia liberada, em MeV por fusão, no seguinte
nuclídeo sofresse uma fissão espontânea, produzindo dois processo:
nuclídeos-filhos idênticos e quatro nêutrons. Escreva outra
equação supondo que os nuclídios formados difiram em |d+; H------->}H
40 unidades de massa. dadas as seguintes massas atômicas: 2D 2,01410 u.m.a.,
15) Nas séries de decaimentos radioativos naturais do urânio, ‘H 1,007825 u.m.a., 3He 3,01603 u.m.a. (Resposta: 5,5 MeV
o nuclídeo sofre decaimentos a, p, p, a, a, a, a, p suces­ por fusão).
sivos. Escreva equações que mostrem os números de 22) Explique como podem ser preparados os núcleos mais
massa, os números atômicos e os símbolos dos nuclídios pesados que o urânio.
formados nesses decaimentos. 23) Enumere algumas aplicações dos isótopos radioativos.
479

ESPECTROS
I

Os espectros eletrônicos de íons e complexos de metais 1) Geralmente, os elétrons ocupam os orbitais de menor
de transição são observados nas regiões do visível e do energia.
ultravioleta. Os espectros de absorção trazem informações 2) A regra de Hund: se diversos orbitais tiverem a mesma
sobre o comprimento de onda da luz absorvida, isto é, sobre energia, os elétrons tendem a não se emparelharem,
a energia necessária para promover um elétron de um enquanto isso puder ser evitado. Assim, no estado fun­
determinado nível de energia para um nível mais elevado. damental, um átomo contém o maior número possível
Por outro lado, os espectros de emissão trazem informações de elétrons desemparelhados.
sobre a energia emitida quando um elétron retoma do nível
3) O princípio de exclusão de Pauli: não pode haver num
excitado para o estado fundamental. Geralmente, as mesmo átomo dois elétrons com os quatro números
transições envolvendo os elétrons do nível mais externo são
quânticos iguais.
observadas na faixa de números de onda de 100.000 cm’1 a
10.000 cm'1, mas a maioria das transições ocorre na faixa Essas regras podem ser ilustradas representando os
de 50.000 a 10.000 cm’1 (200 a 1.000 nm). A interpretação orbitais como quadrados e elétrons como setas (Fig. 32.1).
dos espectros se constitui numa ferramenta muito útil para Os dois elétrons do orbital Is do He possuem spins opostos.
se descrever e compreender os níveis de energia de átomos Assim, T significa que ms = + 1/2, e 1 significa que
e moléculas. ms = -1/2. O preenchimento dos níveis de energia Is e 2s é
óbvio.
NÍVEIS DE ENERGIA NUM ÁTOMO No boro, o quinto elétron ocupa um dos orbitais 2p. Os
três orbitais 2p têm valores idênticos de n = 2, e de l = 1,
Os níveis de energia num átomo foram descritos no mas valores diferentes de m (+ 1, 0 e -1), que identifica os
Capítulo 1, em função de quatro números quânticos:
D O número quântico principal n, que pode ter valores 1, Número quântico principal n 1 2
2,3,4..., correspondentes ao primeiro, segundo, terceiro
Número quântico secúndário / 0 0 1
e quarto níveis ou camadas de elétrons em torno do
núcleo. Número quântico magnético m 0 0 +1 0
2) O número quântico secundário l que pode ter n valores,
1s 2s 2p
ou seja, 0, 1, 2,. (n-1), e descreve o momento angu-
lar orbital ou a forma do orbital. Assim
H = 1 l = 0 orbital s esférico
H

He

[u]
n = 2 1 = 0 orbital s esférico
l = 1 orbital p em forma de halteres Li in
n 3 Z = 0 orbital s
l = 1 orbital p
Be tl E3 I I I I
l •= 2 orbital d B LLLl O |t I I I
3) O número quântico magnético m, que pode assumir os
valores de + Z, (7-1),..., 0..... -Z.
C E3 0 |t M I
4) O número quântico de spin ms, que pode ser igual a
N 0 0 |t |t |t |
+1/2 ou -1/2.
A distribuição dos elétrons nos átomos obedece a três
O E3 EHEE
regras simples: Figura 32.1 — Arranjos eletrônicos dos elementos
480 ESPECTROS

I = 1
Px Py Pr Px Py Pr
t 1 T 1 >
Resultante
L=3 L=2
l= Resultante
L= 1
L=2
t 1 t 1 i-i .-.estado F

/ Resultante
L= 2
.-. estado P
L-2 .-.estado D
1 t 1 i
1 1 1
J. 1 1 Resultante Resultante Resultante
1 1 1 T > L= 2 L= 1 L- 1
L=0
.-. estado S
.-.estado D .-. estado P
n 1-1
L=1
n
n Resultante
L= 1
.-.estado P

Figura 32.2 — Arranjos eletrônicos dos microestados para a


configuração p2 Figura 32.4 — Resultante de termos 1 para uma configuração p3

orbitais px, py e pz. Supondo-se que cada um desses orbitais Acoplamento dos momentos angulares orbitais
possa conter elétrons com dois valores distintos de haverá Configuração p2
no total seis arranjos possíveis para esse elétron. Os três
0 momento angular é quantizado em "pacotes” de
orbitais p são degenerados, e não importa em qual desses
magnitude h/2n (onde h é a constante de Planck). Para um
arranjos ele se encontra. Quando existe um único elétron
elétron p, o número quântico secundário ou azimutal l - 1,
num nível ou subnível de energia, como 2p, 3p ou 3d, a
e o momento angular orbital é igual a l(/t/2tt), sendo
energia depende apenas de l, o número quântico orbital ou representado por uma seta de comprimento unitário. As
secundário. maneiras como os momentos angulares l de dois elétrons p
No caso do carbono, dois elétrons ocupam o nível 2p e, podem interagir entre si são mostradas esquematicamente,
portanto, há 15 arranjos eletrônicos possíveis (Fig.32.2). Eles utilizando diagramas vetoriais (Fig. 32.3). Como o momento
podem ser divididos em três grupos com energias diferentes, angular é quantizado, as únicas combinações permitidas são
denominados estados de energia. Assim, embora os três aquelas em que a resultante é um número inteiro de quanta.
orbitais p sejam degenerados e tenham a mesma energia, os Logo, existem três estados de energia possíveis,
elétrons neles presentes interagem uns com os outros, correspondentes aos três termos espectroscópicos: D,PeS.
gerando o estado fundamental (de menor energia) e um ou No caso do estado P, o ângulo entre os vetores l deve ser tal
mais estados excitados para o átomo ou íon. Além da que a resultante seja um número inteiro de quanta, mais
repulsão eletrostática entre os elétrons, eles se influenciam especificamente L = 1.
mutualmente, 1) pela interação ou acoplamento dos cam­
pos magnéticos produzidos pelos seus momentos de spin, e Configuração p3
2) pelo acoplamento dos campos produzidos pelo movimento 0 acoplamento dos momentos angulares orbitais, I, de
orbital dos elétrons (momento angular orbital). Quando um três elétrons p pode ser analisado de maneira análoga, por
subnível é ocupado por diversos elétrons, os estados de adição vetorial. Para simplificar, tais acoplamentos podem
energia dependem das resultantes dos números quânticos ser consideradas como sendo resultantes da interação de
orbitais de cada um dos elétrons. A resultante de todos os um terceiro elétron p com os estados eletrônicos obtidos
valores de l forma um novo número quântico, L, que define para o caso p2 (Fig. 32.4). A resultante do acoplamento dos
os estados energéticos do átomo. momentos angulares orbitais resulta num estado F, dois
estados D, três estados P e um estado S.
L - 0 1 2 3 4 5 6 7 8
Resultante Resultante
estado S P D F G H I K L
I Resultante
> L=4
.-.estado G
(A letra J é omitida, pois ela é usada para outro número 1=2
quântico, a ser descrito mais adiante).
1-2 .-.estado F .-.estado D

I - 1
Resultante
> L=2 Resultante
.-.estado D L =1
.-.estado P
I-1 Resultante
l>1
1-1 Resultante
L=0
I-2 I-2 .-.estado S
Resultante
L=0 .-.estado P
.-. estado S

Figura 32.3 — Resultante dos termos l para a configuração p2 Figura 32.5 — Resultante de termos l para uma configuração á‘
NÍVEIS DE ENERGIA NUM ÁTOMO 481

| | | > Resultante | | I \ Resultante


* Resultante
m, = +J m, = + 2
S=1
I I ljs-il I I Ijs-i
Figura 32.7 — Resultante de termos m, para uma configuração p3 ou dJ
* Resultante Acoplamento spin-órbita: caso p2
m, = +ã m, =
S=0
Foi mostrado anteriormente que um átomo com
configuração p2, possui números quânticos orbitais
Figura 32.6 — Resultante de termos ms para uma configuração p2 ou d2 resultantes L - 2, 1 e 0, e números quânticos de spin
resultantes 5 - 1 e 0. Estes podem se acoplar para dar origem
Configuração d2 ao número quântico de momento angular total, J (Fig. 32.8).
O acoplamento dos momentos angulares l de elétrons Cada uma dessas combinações corresponde a um
d segue um esquema semelhante. Porém, nesse caso Z = 2 e arranjo eletrônico denominado estado espectroscópico,
as setas têm o dobro do comprimento (Fig. 32.5). descrito por um termo espectroscópico completo. A letra D
indica que o número quântico L é igual a dois, P indica que
Acoplamento dos momentos angulares de spin L = 1, e S indica que L = 0, como descrito anteriormente.
O índice inferior direito indica o valor do número quântico J
No caso de um único elétron, o número quântico de e o índice superior esquerdo indica a multiplicidade. Este é
spin, m,, pode assumir os valores +1/2 ou -1/2. Se dois ou igual a 2S +1 (onde S é o número quântico de spin resultan­
mais elétrons estiverem presentes num subnível, os campos te). A relação entre o número de elétrons desemparelhados,
magnéticos dos mesmos interagem uns com os outros, isto o número quântico de spin resultante S e a multiplicidade, é
é, eles se acoplam gerando um número quântico de spin mostrada na Tab. 32.1.
resultante, S (infelizmente o símbolo S é usado tanto para o
Assim, o termo 3D2 (lê-se triplete D dois) indica um es­
número quântico de spin resultante, como para o estado
tado D (ou seja, L = 2), multiplicidade igual a três (portanto
espectroscópico referente a L = 0. Mas, na prática, isso
S = 1 e o número de elétrons desemparelhados é igual a
raramente provoca confusões).
dois) e número quântico de momento angular total J = 2.
Todos os termos espectroscópicos derivados acima para
Caso p2 ou d2 um átomo com configuração p2 ocorre para um estado
Usando setas para representar os quanta de energia excitado do carbono: Is2, 2S2, 2p', 3p'. Contudo, no estado
associados com os valores de ms de cada elétron, nota-se fundamental do átomo. Is2, 2S2, ãp2, o número de estados é
que o número quântico de spin resultante, S, deve ser igual limitado pelo princípio de exclusão de Pauli, pois num átomo
a 0 ou 1 (Fig. 32.6). ------------------------

S=1 Resultante S «= 1 Resultante | Resultante Resultante


Caso p3 ou d3
S-1
Nesse caso, S será igual a P/z ou L=2 yj-i
L=2 L-2 S-0 J=2
1/2 (Fig. 32.7). L=2 J=3
J=2

Acoplamento spin-órbita ' 3d2


7 ’d2
Símbolo
espectroscópico
Quando diversos elétrons estive­ completo 3Dj
rem presentes num subnível, o efeito
global dos momentos angulares
individuais, Z, é dado pelo número quân­
tico de momento angular resultante, L, S=1 Resultante Resultante Resultante x Resultante
e o efeito total dos momentos magné­ ►J = 2

ticos de spin individuais, ms, é dado L= 1


s-t f J oO 1.1 S-0 J=1
pelo número quântico de spin resul­ 2’P,
tante, S. Num átomo, os momentos Símbolo '■p.
espectroscópico
magnéticos LeS podem interagir ou se completo 3Pj
acoplar, dando origem a um novo
número quântico, J. Este é denominado
número quântico do momento angular Resultante

total, e resulta da combinação vetorial L-0 S-0


j=o
de L e S. Esse acoplamento dos Símbolo
’So
momentos magnéticos orbital e de spin espectroscópico
completo 'S,
resultantes é conhecido como acopla­
mento de Russell-Saunders ou acopla­ Figura 32.8 — Obtenção dos símbolos para os termos espectroscópicos por combinação dos termos
mento LS. resultantes LeS
4B2 ESPECTROS

Tabela 32.1 Tabela 32.2 — Valores permitidos de m e ms para uma


configuração p5
Elétrons S Multiplicidade Nome do termo
desemparelhados estado m = +1 0 Ms espectroscópico

0
1
0
1/2
1
2
Singlete
Dublete
1 n n 0 2 'D

2 1 3 Triplete
2 n 0 -2 'D

3 l'/2 4 Quarteto 3 n 0 0
4 2 5 Quinteto 4
í £ 0 0 ’P, 'D, 'S

não pode haver dois elétrons com os quatro números


5
1 t 0 0

quânticos iguais. Na configuração do estado fundamental,


6
11 0 1 ’P, 'D.
7 1 1 0 1
os dois elétrons p possuem os mesmos valores de n = 2 e Z
= 1, e devem portanto diferir em pelo menos um dos
8
11 0 3P. 'D,

números quânticos restantes, m ou ms. Essa restrição reduz


o número de termos de 3D, 3P, 3S, ’D, *P e ‘S para *D, 3P e ’S.
9
1 t 0 3P.

Isso pode ser demonstrado enumerando somente aque­


10
1 T 1 1 3P.

les arranjos eletrônicos demems que não violem o princípio


11 t 1 1 0 3P.

de exclusão de Pauli. Para um elétron p, o número quântico


12
1 t 1 'p.

azimutal ou secundário l é igual a 1, e o número quântico


13
1 1 3P.

magnético m pode assumir os valores +1 —> 0 —> -Z, ou, 14 t 1 0 3P.


mais especificamente, m = +1, 0 e -1. Há quinze 15 1 3P.
combinações possíveis (Tab. 32.2). Os valores de Ms e ML
(os números quânticos de spin total e de momento orbital
total na direção z) são obtidos somando-se os valores Se L = 2, então ML pode ser igual a +2, +1,0, -1, -2, e
apropriados de ms e de m: como S = 0, Ms = 0. Isso implica que existem cinco combi­
nações de Ml e Ms. Uma análise da Tab. 32.2 mostra que
Ms — Sms
nove dos valores permitidos foram atribuídos ao termo ‘D.
Ml = Zm
Os estados 3P e ’D correspondem a 9 + 5 = 14
Ml varia de + L... 0... -L (totalizando 2L + 1 valores), e combinações. Assim, a combinação remanescente, ou seja,
Ms varia de +S... 0... -S (totalizando 2S + 1 valores). com ML = 0 e Ms = 0, corresponde a um termo com L = 0
e S = 0, ou seja, um estado singlete S, ’S. Assim, todos os
Os números quânticos L e S associados a cada configu­ 15 arranjos eletrônicos permitidos podem ser atribuídos a
ração eletrônica (e portanto ao termo espectroscópico) estados ‘D, 3P e *S. Nos casos em que dois ou mais dos
podem ser deduzidos a partir dos números quânticos ML e arranjos permitidos tiverem os mesmos valores de ML e Ms
Ms da Tab. 32.2. Primeiro selecione o valor máximo de Ms e (por exemplo, os arranjos 3, 4 e 5, na Tab. 32.2), eles
o valor máximo de ML associado a ele, ou seja Ms =■ 1 e ML pertencerão a mais de um termo. Nesses casos deve-se
= 1 (número 10 na tabela). Essa combinação corresponde a considerar uma combinação linear das funções, sendo
um grupo de termos em que L - 1 eS - 1. Como L = 1, incorreto atribuir qualquer um desses arranjos eletrônicos a
trata-se de um estado P, e como S = 1, a multiplicidade (2S um termo espectroscópico em particular.
+ 1) = 3. Logo, trata-se de um estado triplete P, 3P.
Empregando as equações acima, temos que:
DETERMINAÇÃO DOS TERMOS DO
se L = 1, Ml poderá ter os valores + 1, 0 e -1, ESTADO FUNDAMENTAL
e se S = 1, Ms poderá ter os valores + 1, 0 e -1.
REGRAS DE HUND
Há nove combinações possíveis de L e de S: Uma vez conhecidos os termos espectroscópicos, eles
podem ser dispostos em ordem crescente de energia. 0 estado
Ml= +1 Ms = +1, 0, -1 fundamental pode ser identificado pelas regras de Hund:
ml= o Ms = +1,0,-1
Ml = -1 Ms - +1.0.-1
1) Os termos são ordenados em função de suas multipli-
Examinando-se a Tab. 32.2, verifica-se que 13 dos valores cidades, ou seja, em função de seus valores de S. 0
permitidos podem ser atribuídos ao estado 3P. estado mais estável terá o maior valor de S, e a estabili­
Das combinações restantes escolhemos aquela deMs dade decresce à medida que S diminui. Portanto, o
e Ml máximos. Nesse caso temos que Ms = 0 e ML= 2 e, estado fundamental será aquele com o maior número
portanto, L = 2 e S = 0. Como L - 2 este deve ser um de elétrons desemparelhados, pois isso corresponde à
estado D. Como $ ■= 0 a multiplicidade 2S + 1 é igual a situação de menor repulsão eletrostática.
1, e o estado é singlete. Assim, temos um estado singlete 2) Para um dado valor de S, o estado com o maior valor
D, 'D. de L será o mais estável.
DETERMINAÇÃO DOS TERMOS USANDO AS LACUNAS 4B3

Energia
’S0 Tabela 323 — Termos espectroseópicos para as
•21.648 cm'1(259.0 kj mof’)
configurações ped

10.195cm-’ (122,0 kjmo


Configuração Termo espec- Outros termos espectroseópicos
eletrônica troscópico
3p, do estado
•43,6 cm-' 10,52 kj mor'l fundamental
3P ’p>
-16,4 cm-'W,20 kj moT'1

P'.P5 2P
P2-P* 3P 'D
Figara 32.9 — Desdobramento dos termos no estado fundamental do P3 ‘S 2P,2D
carbono P6 ’5
3) Persistindo ainda a ambigüidade para dados valores de d',<f> 2D
S e L, o estado mais estável corresponderá àquele de d2,<f 3f 3P, 'G, 'D, 'S
menor valor de J, caso o subnível esteja menos que d3, d2 *F 4P, 2h, 2g, 2f, 2d. 2p
semipreenchido, ou corresponderá ao maior valor de J, 5D 3H, 3G, 3F, 3D, 3P, */, ‘G, 'F. 'D. 'S
caso o subnível esteja mais que semipreenchido. <P 6S 4G, *F, *D, *P, 2I,2H, 2G, 2F, 2D, 2P, 2S
(As regras de Hund não devem ser empregadas para se
d'° ’S
determinar a ordem dos termos espectroseópicos de configu­
rações eletrônicas excitadas, como do C na configuração Is2, Contudo, no oxigênio, mais da metade do subnível está
2s2, 2p’, 3p’). preenchido. Portanto, segundo a terceira regra de Hund, as
Aplicando a primeira dessas regras aos termos energias dos estados triplete P do oxigênio crescem na ordem
decorrentes da configuração p2 do carbono, verifica-se que 3P2 < 3Pi < 3P0- Logo, o estado fundamental é 3P2.
o estado 3P deve ser o estado fundamental, pois nesse caso Analogamente, considerando-se as “lacunas”, os termos
há apenas um estado triplete, sendo os demais estados espectroseópicos obtidos para pares de átomos com
singlete, *S e *D. De acordo com a segunda regra, o estado configurações pn e p6-", bem como <f e d10-n, serão idênticos
‘D, correspondente a L = 2, é mais estável que o estado *S, (Tab. 32.3).
no qual L = 0. Finalmente, o estado triplete P apresenta três
termos, 3P2, 3Pj e 3P0, e de acordo com a terceira regra, 3P0 Determinação do termo espectroscópico de um nível
< 3P] < 3P2. Os valores experimentais medidos para os preenchido
termos espectroseópicos do estado fundamental do carbono Se um subnível eletrônico estiver completamente
estão representados na Fig. 32.9. Verifica-se que num átomo preenchido, por exemplo nas configurações p6 ou d10, a
leve como o carbono, o desdobramento do termo 3P, determinação dos termos espectroseópicos é bastante
resultante do acoplamento spin-órbita, é bem menor que o simplificada:
desdobramento resultante do acoplamento dos momentos
magnéticos orbitais 1, gerando os termos *D e 3P. No caso m = +1 0 1 M, Mi
dos elementos leves, com números atômicos menores que
P6 0 0
30, o desdobramento dos diferentes níveis J é pequeno
comparado com o desdobramento dos níveis L (vide Fig. m = + 2+1 0 -1 -2
32.9). Portanto, é possível prever corretamente a seqüência
de níveis energéticos ou termos espectroseópicos, para a
d10 |Ti|ti|u|u|n] 0 0
primeira série de elementos de transição, usando o Em ambos os casos o número quântico de spin total na
acoplamento de Russell-Saunders. No caso dos elementos direção z, Ms, que equivale à soma de todos os spins
mais pesados, o desdobramento dos níveis J torna-se maior eletrônicos individuais m,, é igual a zero. Portanto, S = 0 e
que o desdobramento de L. Assim, o acoplamento de Russell- a multiplicidade 2S + 1 = 1. Do mesmo modo, nos casos p6
Saunders não pode mais ser empregado, sendo necessário e d10 o número quântico de momento angular total na direção
considerar uma forma alternativa de acoplamento j-j. z é ML = Xm - 0, logo L = 0 e o estado é do tipo S. Assim,
uma camada completamente preenchida sempre corresponde
DETERMINAÇÃO DOS TERMOS USANDO a um estado singlete S, ’$0.
AS LACUNAS
Determinação dos termos espectroseópicos para a
Quando um subnível tiver mais da metade de sua
configuração d2
capacidade preenchida, é mais simples e conveniente deter­
minar os termos espectroseópicos considerando as "lacu­ No caso de elétrons ocupando orbitais d, o número
nas” (isto é, as vacâncias existentes nos diversos orbitais) quântico azimutal ou secundário l = 2, e o número quàntico
em vez dos elétrons, que estão presentes num número maior. magnético m. terá valores +1 -> 0 —> -l, ou seja, + 2, +1,0,
Os termos espectroseópicos derivados dessa maneira para a -1, -2. Há 45 maneiras diferentes de se arranjar dois elétrons
configuração eletrônica de menor energia do oxigênio, que d, sem violar o princípio de exclusão de Pauli. Os arranjos
tem configuração p4 e portanto duas "lacunas", são os possíveis são mostrados na Tab. 32.4.
mesmos que os determinados para o estado fundamental Os termos foram atribuídos usando um procedimento
do carbono, que tem configuração p2, isto é, 'D e 3P. semelhante ao adotado no caso p2. O maior valor de ML -
484 ESPECTROS

Tabela 32.4 — Valores permitidos de m e ms para a Tabela 32.5 — Energia dos estados 3F e 3P para íons livres d2
configuração d2
m= 'Lm = Mi Termo Ti2* v3* Cr4*
+2 +1 0 -1 -2 espectroscópico
V 10.600 cm-1 13.250 cm"' 25.700 cm"'
1 _n 0 4 *G 3F 0 0 0
2 t £ 1 3 3F
3 t £ 0 3 4 só pode ser obtido se L = 4, isto é, se o estado for do tipo
'G, 3F
4 t £ 0 3 G. Mas, isso será possível somente se Ms = 0. Logo, S será
5 i I 3 3f igual a zero e o termo será singlete G, ‘G. ML pode ter os
valores + L,..., 0,..., -L, ou neste caso em particular, +4,
6 t í 1 2 3f + 3, +2, +1, 0,-1,-2, -3 e-4. Como há somente um valor
7 t £ 0 2 de Ms possível, teremos nove arranjos associados a esse
8 i t 0 2 'G. 3F, 'D termo espectroscópico.
9 n 0 2 O valor mais elevado de ML ainda não considerado é
+ 3, que corresponde a um estado F. Todavia, nesse caso o
10 £ 1 2 3F
maior valor de S possível é 1. Logo, Ms pode assumir os
11 t t 1 valores + 1,0 e -1, e teremos um estado triplete F, 3F. Como
12 t T 1 :} 3 , 3 f p
Ml pode ser igual a +3, +2, +1, 0, -1, -2, -3, e como há
três valores possíveis de Ms, teremos 21 arranjos associados
13 1 I 1 1
}3F.3P ao termo 3F.
14 1 l 1
Assim, 30 dos 45 arranjos possíveis já foram
15 £ £ 0 1
considerados. Analisando-se os grupos de arranjos com os
16 i t 0 1 mesmos valores de Ms e ML, verifica-se que os 15 arranjos
► 'G, 3F, 'D, 3P
17 £ £ 0 1 remanescentes correspondem aos mesmos da configuração
18 t 0 1 p2, isto é, 'D, 'S e 3P. Portanto, os termos espectroscópicos
associados à configuração d2 são 'G, 3F, lD, 3Pe 'S. De acordo
19 t t 1 0
20 t t 1 0
}3f.3p com as regras de Hund, o estado fundamental será 3F, e a
energia dos diferentes estados varia na seqüência 3F < 3P
21
1 £ 0 0 < *G < 'D < 'S.
22 i t 0 0 Os espectros de diversos íons d2 foram obtidos. Assim,
23 £ £ 0 0 ► 'G, 3F 'D 3P 'S foi verificado experimentalmente que, em todos os caso, a
energia do estado 3P é maior que do estado fundamental SF
24 1 t 0 0
(Tab. 32.5). Os níveis energéticos de íons metálicos livres,
25 tl 0 0 em fase gasosa, foram determinados quantitativamente e se
26 1 0 encontram disponíveis. O próximo passo é desenvolver uma
27 £ l 0
}3f, 3P teoria que permita prever como esses níveis energéticos
variam com a aproximação dos ligantes, para formar os
28 £ £ 0
complexos.
29 I t 0
°G, 3F, 'D, 3P
30 £ £ 0 DETERMINAÇÃO DO NÚMERO DE
31 1 t 0 MICROESTADOS
32 t t 1
> 3P Cada arranjo diferente de elétrons nos orbitais tem uma
33 t t 1 energia ligeiramente diferente uma da outra, e são
34 I denominados microestados. Eles correspondem a cada um
3f, 3p dos arranjos mostrados na Tab. 32.2 para a configuração p2,
35 £ 1
ou na Tab. 32.4 para a configuração d2. O número de
36 1 £ 1 3f microestados pode ser calculado a partir do número de
37 £ £ 0 orbitais e do número de elétrons, usando a equação:
38 1 t 0 'G, 3F, 'D
- n!
39 n 0 J r!(n - r)l
40 1 1 3F onde n é o dobro do número de orbitais e r é o número de
41 £ t 1 3f elétrons (note que n! é n fatorial, er! ér fatorial). Assim, no
42 £ 1 0
'G, 3F
caso de um átomo com configuração p3 há três orbitais e
três elétrons. Portanto, n = 6 e r = 3, tal que:
43 £ T 0
44 1 1 3F 6 6! _ 6! _6x5x4x3x2xl
45 ti 0 'G 3 ~ 31(6-3)1 ~ 31x3! “ 3x2xlx3x2xl
= 20 microestados
ESPECTROS ELETRÔNICOS OE COMPLEXOS DE METAIS DE TRANSIÇÃO 485

A absorptividade molar e é geralmente calculada a partir da


Tabela 32.6 — O número de microestados para diversas absorbância,
configurações eletrônicas A
e =—r
cl
Configuração Número de Configuração Número de
onde, c é a concentração da solução em mol l"1 e l é a
eletrônica microestados eletrônica microestados
espessura da amostra atravessada pelo feixe de luz, em
6 d' centímetros (as celas geralmente são de 1 cm).
p' 10
p2 15 d2 45 Nem todas as transições eletrônicas teoricamente possí­
P3 20 d3 120 veis são realmente observadas. Pode-se prever quais transi­
p4 15 d1 210 ções provavelmente serão observáveis e quais não serão
P5 6 d5 252 observáveis experimentalmente, utilizando um conjunto de
P* 1 210 regras conhecido como “regras de seleção". Assim, é possível
d1 120 distinguir entre as "transições permitidas" e as “transições
d8 45 proibidas". A probabilidade das transições permitidas
d9 10 ocorrerem é elevada. As transições proibidas também ocor­
d10 1 rem, mas com uma probabilidade muito menor. Consequen­
temente, suas intensidades nos espectros serão muito
De modo semelhante, para um caso onde a configuração menores que as das transições permitidas.
do átomo é d2, há cinco orbitais e dois elétrons, tal que n -
10 e r = 2. Portanto: A regra de seleção “orbital” de Laporte
As transições que envolvem uma variação do número
í 10'1 = 10! 10! 10x9x8x7x6x5x4x3x2x1 quântico azimutal ou secundário igual a AZ = ± 1 são “
V2 J 2!(10 —2)! 2!x9! 2xlx8x7x6x5x4x3x2xl permitidas pela regra de Laporte", e tende a ter uma elevada
= 45 microestados absorbância. Assim, a transição s2->s1p' no Ca envolve uma
variação de Z de +1, e a absorptividade molar e é igual a
Assim, o número de microestados para todas as configura­ 5.000-10.000 litros por mol por centímetro. Em contraste,
ções eletrônicas, de p1 - p6 e d1 - d10, pode ser determinado as transições d-d são “proibidas por Laporte” pois l - 0,
da mesma maneira. mas bandas de absorção bem menos intensas (e = 5 a 10
mol'1 1 cm"1) podem ser observadas, devido à existência de
mecanismos de relaxação da regra de Laporte. Quando o
ESPECTROS ELETRÔNICOS DE COMPLEXOS íon do metal de transição forma um complexo, ele está
DE METAIS DE TRANSIÇÃO rodeado por ligantes e, nessa situação, pode ocorrer a mistura
As bandas observadas nos espectros eletrônico são dos orbitais de p em pequeno grau, e as transições deixam
de ser transições d-d puras. Esse tipo de fenômeno ocorre
decorrentes da absorção de luz, associada à promoção de
em complexos que não possuem centro de simetria, por
elétrons de um nível energético para outro de maior energia.
exemplo, complexos tetraédricos, ou complexos octaédricos
Tais transições eletrônicas são de alta energia, de modo que
com substituição assimétrica. Assim, o complexo [MnBr4]2',
outras transições envolvendo energias bem menores, como que é tetraédrico, ou [Co(NH3)sC1]2 + , que é octaédrico mas
as transições vibracionais e rotacionais, ocorrem simulta­ não possui centro de simetria, são ambos bastante coloridos.
neamente. As energias dos níveis vibracionais e rotacionais A mistura dos orbitais p e d não ocorre em complexos
são muito semelhantes, para que possam ser resolvidas em octaédricos que têm centro de simetria, como [Co(NH3)6]3 +
bandas de absorção distintas, mas provocam um considerável ou [Co(H2O)6]2 + . Contudo, as ligações metal—-ligante não
alargamento das bandas de absorção associadas às transições são estáticas, e podem vibrar de tal modo que os ligantes
d-d. As larguras de banda determinadas experimentalmente permaneçam parte do tempo fora de suas posições normais
normalmente variam na faixa de 1.000 a 3.000 cm'1. de equilíbrio centro-simétrico. Assim, um pequeno grau de
O espectro de uma solução colorida pode ser obtida mistura entre os orbitais pode ocorrer, fazendo com que
facilmente com o auxílio de um espectrofotômetro. Um feixe bandas de baixa intensidade possam ser observadas no
de luz monocromática, obtido utilizando um prisma e uma espectro. As transições permitidas por Laporte são intensas,
fenda estreita, é passado através da solução e, depois sua enquanto que as transições proibidas podem ser fracas, em
intensidade é medida com uma célula fotoelétrica. Assim, é complexos sem centro de simetria, ou muito fracas, em
possível se determinar a quantidade de luz absorvida numa complexos centro-simétricos (Tab. 32.7).
determinada freqüência; ou então pode-se determinar a Energia
variação da quantidade relativa de luz absorvida num
intervalo de frequências, e registrar num gráfico a absor-
bância, A, em função do comprimento de onda ou da
tÍTO.
freqüência. A absorbância era antigamente denominada
densidade óptica. Se Io for a intensidade do feixe de luz
incidente e / a intensidade do feixe de luz que passou através
da solução, então:

A
Figura 32.10 — íon Mn2* em um campo fraco octaédrico
4BB ESPECTROS

O nível eg é duplamente degenerado e


Tabela 32.7 — Absorptividades molares para os diversos tipos de transições
se situa a 6Dq acima do baricentro. No
eletrônicas
caso de um íon com uma configuração
Laporte (orbital Spin Tipo de £ Exemplo d 1, o estado fundamental é um estado
transição 2D, e os níveis energéticos t2g e eg cor­
respondem aos estados espectroscópicos
Permitida Permitida Tranferência 10.000 [TiCl6]2- T2g e Eg. Um conjunto de orbitais f é
de carga desdobrado por um campo octaédrico
Parcialmente permitida, Permitida d-d 500 [CoBr4]2-, [CoCI4]2- em três níveis. No caso de um íon com
alguma mistura p-d uma configuração f ', o termo espec­
Proibida Permitida d-d 8-10 [Ti(H2O)6]3‘, [V(H2O)6]3+ troscópico associado ao estado funda­
Parcialmente permitida, Proibida d-d 4 [MnBr4]2“ mental é 3F. Este é desdobrado por um
alguma mistura p-d campo octaédrico gerando um estado
Proibida Proibida d-d 0,02 [Mn(H2O)6]2+ triplamente degenerado (T)g), situado a
6Dq abaixo do baricentro, outro estado
Regra de seleção de spin triplamente degenerado (T2g) situado a 2Dq acima do
Durante as transições eletrônicas, o elétron não pode baricentro, e um estado não degenerado (A2g), situado a
altera o seu spin, ou seja, AS = 0. Nesse caso, existem muito 12Dq acima do baricentro (Fig. 32.11). Veremos mais adiante,
menos mecanismos de relaxação que para a regra de Laporte. que esses estados são equivalentes aqueles obtidos a partir
Assim, no caso do Mn2 + em campos octaédricos fracos, como de um íon com uma configuração d2.
no caso do [Mn(H2O)6]2 + , as transições d-d são "proibidas Nos casos em que há apenas um elétron num dado
por spin”, pois cada um dos orbitais d está semipreenchido. conjunto de orbitais, como s1, p1, d1 e f1, há uma correspon­
Muitos compostos de Mn2* são brancos ou rosa pálidos, dência direta entre o desdobramento dos níveis de energia
mas as absorptividades molares correspondem a apenas um eletrônicos e o desdobramento dos estados espectroscópicos
centésimo das observadas nas transições "permitidas por no campo cristalino. Assim, num campo octaédrico, os
spin” (Tab. 32.7). Como as transições proibidas por spin são estados S e P não são desdobrados, estados D são
muito pouco intensas, a análise dos espectros de complexos desdobrados em dois estados, e estados F são desdobrados
de metais de transição pode ser muito simplificada, em três estados.
ignorando-se completamente todas as transições desse tipo
e considerando-se apenas os estados excitados que tenham
a mesma multiplicidade de spin do estado fundamental.
Assim, no caso de um íon de configuração d2, basta a) Energia
considerar o estado fundamental 3F e o estado excitado 3P.

DESDOBRAMENTO DOS NÍVEIS DE E,


ENERGIA ELETRÔNICOS E ESTADOS t
6D„
ESPECTROSCÓPICOS D I
Um orbital s é esfericamente simétrico e não é afetado 4
por um campo octaédrico (ou por qualquer outro). Os orbitais 4Dq

p são direcionais e suas energias são influenciadas por um T2í


campo octaédrico. Contudo, como todos os três orbitais p
são igualmente afetados, suas energias permanecem iguais
A;,
entre si, ou seja, não são desdobrados. Em contraste, o b)
conjunto de orbitais d é desdobrado por um campo octaédrico
em dois níveis: t2g e eg. A diferença de energia entre eles
pode ser representada por Ao ou lODq. O nível t2g é 12Dq
triplamente degenerado e se situa a 4Dq abaixo do baricentro.

Tabela 32.8 — Transformação dos termos espectroscópicos -T!s


em símbolos de Mulliken f
F 2D,
Termo Símbolos de Molliken
espectroscópico Campo octaédrico Campo tetraédrico
6Dq
t
S
P
A|g A,
l ■T„
D ^g + ^2g E+T2
F A2g + ríg + r2g a2 + t, + t2
G A/g + £g + rig + T2l’-s A | + E + T] + Figura 32.11 — Desdobramento dos termos espectrocópicos provenientes
de um a) arranjo eletrônico d\ e b) arranjo eletrônico d2
ESPECTROS OE ÍONS cf E cP 487

ESPECTROS DE ÍONS d1 E d?
Nos íons livres em fase gasosa, os orbitais d estão
degenerados e não será possível observar bandas de absorção
decorrentes de transições d-d. Quando se forma um
complexo octaédrico, o campo eletrostático dos ligantes
desdobra os orbitais d em dois grupos, t2g e eg (o desdobra­
mento provocado pelo campo cristalino foi descrito no
Capítulo 7). Os exemplos mais simples de complexos d1 são
aqueles formados pelo íon Ti(IIl), tais como [TiCl6]3* e
[Ti(H2O)6]3 + . O desdobramento dos orbitais d é mostrado
na Fig. 32.12a. No estado fundamental, o único elétron d
ocupa o nível t2g, de menor energia, e somente uma transição
é possível para o nível eg. Consequentemente, o espectro de
absorção do [Ti(H2O)6]3 + , mostrado na Fig. 32.12b,
apresenta uma única banda, com máximo em 20.300 cm'1.
A magnitude do desdobramento, ou seja o valor de Ao,
depende da natureza dos ligantes. Este está diretamente
relacionado com a energia da transição e, logo, com a Figura 32.13 — Desdobramento dos níveis de energia para uma
freqüência do máximo da banda de absorção no espectro. configuração d1 num campo oaaédrico
No [TiCl6]3* o máximo ocorre em 13.000 cm-1, no [TiF6]3~
em 18.900 cm*1, no [Ti(H2O)6]3 + em 20.300 cm*1 e no ração d1. No caso d1 há um único elétron no nível inferior
[Ti(CN)6]3" em 22.300 cm*1. A intensidade do desdobramento t2g, e no caso d9 há uma única lacuna no nível eg superior.
provocado pelos diversos ligantes está relacionado com suas No caso do complexo d1, a transição consiste em promover
posições na série espectroquímica (vide Capítulo 7). O efeito um elétron do nível t2g para o nível eg. Já no caso d9, é mais
de um campo ligante octaédrico sobre um íon d1 é mostrado simples considerar a transição como sendo a transferência
na Fig. 32.13. O termo 2D, à esquerda, corresponde ao estado da lacuna do nível eg para o nível t2g. Assim, o diagrama de
fundamental do íon livre (vide Tab. 32.3). Sob a influência energias para o caso d9 é, portanto, o inverso do diagrama
do campo ligante, há um desdobramento desse níveis em para o caso d1 (Fig. 32.14).
dois estados que são descritos pelos símbolos de Mulliken, Se o efeito de um campo ligante tetraédrico for consi­
2Eg e 2T2g (esses símbolos são da Teoria de Grupos e serão derado, veremos que os cinco orbitais d degenerados são
usados sem tentar explicá-los. Algumas referências úteis desdobrados em dois orbitais eg de menor energia e três
estão listadas no final do capítulo). O estado de menor orbitais t2g de maior energia (vide Capítulo 7). O diagrama
energia T2g corresponde ao estado gerado quando o elétron de níveis de energia para complexos d1 num campo
d ocupa um dos orbitais t2g, e o estado 2Eg corresponde ao tetraédrico é o inverso do diagrama num campo octaédrico.
estado em que o elétron ocupa um dos orbitais eg. A Logo, o diagrama é semelhante ao do caso d9 em campo
separação entre esses dois estados aumenta à medida que octaédrico (Fig. 32.13), exceto que a intensidade do
aumenta a força do campo cristalino. desdobramento num campo tetraédrico corresponde à 4/9
Complexos octaédricos de íons de configuração d9, como daquela num campo octaédrico.
por exemplo [Cu(H2O)6]2 + , podem ser descritos de maneira De modo análogo, a configuração d6 de spin alto, num
análoga aos complexos octaédricos do Ti3 + , com configu- campo octaédrico, (Fig. 32.15a) está relacionada ao caso d1,
em campo octaédrico. Como as
transições que envolvem inversão de
spin são proibidas e estão associadas à
bandas extremamente pouco intensas,
a única transição permitida é a transição
do elétron emparelhado do nível t2g, que
apresenta spin inverso ao dos demais
elétrons, para o nível eg. O diagrama de
níveis de energia para complexos
octaédricos de configuração d6 de spin
alto é igual ao diagrama para o caso d1
(Fig. 32.13).
Os complexos octaédricos de spin
alto contendo íons d4 (Fig. 32.15b)
podem ser considerados como tendo
uma única lacuna no nível superior eg.
Logo, pode-se inferir que seus
diagramas de níveis de energia serão
Figura 32.12 — a) Diagrama de energia dos níveis de energia num campo oaaédrico. b) Espeam de análogos aos dos complexos octaédricos
absorção no ultravioleta e visível do Ti(H2O)63t de configuração d9 (Fig. 32.14).
488 ESPECTROS

Figura 32.16 — Diagrama de Orgel de níveis de energia combinados


para d1 (os índices g são omitidos nos casos tetraédricos)
dxy, dzz ou dyz para o orbital dz2 requer menos energia que a
promoção do mesmo elétron para o orbital dx2.y2. Essa
diferença de energia se deve ao arranjo (d^)1^)1, em que
Figura 32.14 — Desdobramento dos níveis de energia para uma os elétrons se distribuem nas três direções, x, y e z, que
configuração d’ num campo octaédrico reduz a interação elétron-elétron, em relação ao arranjo
Além disso, os complexos d6 tetraédricos têm apenas (dxy)1 (dx2_y2) ’, na qual os elétrons estão confinados ao plano
um único elétron, que pode ser promovido sem que haja a xy. Caso os dois elétrons sejam promovidos, teremos outro
necessidade de inverteu seu spin. Logo, seus diagramas de estado excitado de elevada energia. Assim, considerando-se
energia são semelhantes àqueles dos complexos d1 os elétrons, esperaríamos quatro níveis de energia.
tetraédricos, que por sua vez são qualitativamente seme­ Os termos espectroscópicos para um íon livre, de
lhantes aos diagramas de energia dos complexos d9 configuração d2 (Tabela 32.3) são o estado fundamental 3Fe
octaédricos. Finalmente, os complexos tetraédricos d4 e d9 os estados excitados 3P, lG, 'D e ‘S. O estado fundamental
possuem uma lacuna no nível de maior energia e são contém dois elétrons com os spins paralelos, mas nos estados
qualitativamente semelhantes aos complexos d1 octaédricos, ‘G, ‘De ‘S os elétrons estão com os spins emparelhados.
contendo apenas um elétron. Portanto, as transições do estado fundamental para esses
As Figs. 32.13 e 32.14 podem ser combinadas num único três estados excitados são proibidas por spin. Portanto, as
diagrama (Fig. 32.16), conhecido como diagrama de Orgel. bandas associadas a elas serão muito pouco intensas e podem
Este descreve qualitativamente o efeito da força do campo ser ignoradas. Assim, os dois únicos estados com a mesma
cristalino sobre a energia das transições eletrônicas em multiplicidade de spin são 3F e 3P, e podem participar de
complexos de metais de transição em várias configurações transições permitidas por spin. É importante lembrar que os
eletrônicas: com um elétron, com um elétron a mais que o orbitais p não são desdobrados por um campo octaédrico,
nível semipreenchido, com um elétron a menos que o nível
completamente preenchido e com um elétron a menos que
o nível semipreenchido. Tabela 32.9 — Termo espectrocópico do estado fundamen­
tal para as configurações d2 e d10
Configu- Exemplo Termo m, Ml S
ESPECTROS DE ÍONS d2 E ds ração espec. do
estado fun­
No estado fundamental de um íon com configuração damental 2 1 0-1-2
eletrônica d2, os dois elétrons estão em orbitais diferentes.
Num campo octaédrico, os orbitais d são desdobrados em d' Ti3* 2d T 2 ‘/2
três orbitais t2g, de energia mais baixa, e dois orbitais eg, de
energia maior: os elétrons ocuparão dois dos orbitais t2g. d2 V3* 3f T T 3 i
Quando um elétron é promovido, (t2g)2->(eg)1 (t2g)’, há duas
possibilidades. A promoção de um elétron de um orbital d2 Cr34 4F t T t 3 1%

a) b) d4 Cr2* 5D |t |t |T |T | | 2 2

t |t |e° ED tf Mn2* 6S |T |t |T |T ]t~] 0 2’6

d6 Fe2* 5d iTllt |t |T |t I 2 2

tf Co2* 4F |t |t | 3 l'/2

|n|u|u|t |t~|
tíüTN nnn d

tf
Ni2*

Cu2*
3F

2d |u|u|n|n|r |
3

2
1

■/2
Figura 32.1 S — Arranjos octaédricos de spin-alto para a) d6 eb) á4
ESPECTROS OE ÍONS cP E tí" 489

a)
3A2g

H^fP)

3t2s
t

3P

3F

^.(F)

Força do campo ligante


b)

3T,0(F) 3Ti0(P)
10
o
E ’T„(F) —3A2g
.2
I G 3T„(F) — 3T2b(F)
.D
2 5
xj
3T,a(F) 3A2í

40.000 30.000 20.000 10.000


Freqüencia (cm-')

Figura 32.17 — Diagrama de Orgel e espectro para um íon d2, a) Diagra­


ma de energia para uma configuração d2 em campo octaédrico (simplifi­
cado. incluindo apenas os estados triplete), mostrando três transições
possíveis, b) Espectro de abserção ultravioleta visível para o complexo d2
Figura 32.18 — Diagrama de Orgel e espectro para um íon d’, a) Diagra­
ma de energia para uma configuração d3 em campo octaédrico (simplifi­
mas que os orbitais f são desdobrados em três níveis. cado, incluindo apenas os estados triplete), mostrando três transições
Analogamente, os termos P não são desdobrados (mas são permitidas por spin. b) Espectro de absorção ultravioleta visível para o
transformados num estado Tlg), e os termos F se desdobram complexo d" [NKHfiJsJ2^. Observe que o pico central apresenta indícios
de um desdobramento em dois picos por causa de uma distorção de
emA2g + Tlg + T2g (vide Fig. 32.11 e Tab. 32.8), num campo Jahn-Teller.
octaédrico. O diagrama de níveis de energia para esses
estados é mostrado na Fig. 32.17a. estado 3P não é desdobrado e não é invertido, mas o estado
3F é desdobrado em três estados, e a ordem dos níveis de
Assim, são possíveis três transições do estado funda­ energia resultantes é invertida (Fig. 32.18). Assim, o estado
mental 3Tlg(F) para os estados 3T2g, 3Tlg(P) e 3A2g, respec­
fundamental do Ni2+ é o estado 3A2„. Observe que tanto no
tivamente. Logo, três bandas deveriam ser observadas no
caso d2 como no caso d8, o estado 3F é o estado de energia
espectro eletrônico (compare com o fato de ser observado
mais baixa.
uma única transição no caso d1). O espectro de um íon
complexo d2, como [V(H2O)6]3 + , é mostrado na Fig. 32.17. TYês transições permitidas por spin são observadas nos
Somente duas bandas podem ser observadas no espectro, espectros de [Ni(H2O)6]2 + , [Ni(NH3)6]2 + e [Ni(etilenodia-
porque a força do campo ligante da água está próxima ao mina)3]2 + .
cruzamento entre os níveis 3Tlg(P) e 3A2g. Portanto, as duas Usando argumentos semelhantes aos empregados ao
transições envolvendo esses estados não estão resolvidas caso d1, o diagrama de energia do caso d2, num campo
em bandas separadas. As três bandas poderíam eventual­ octaédrico, é semelhante ao dos complexos octaédricos d7
mente ser observadas caso o íon V3+ estivesse coordenado de spin alto, e complexos tetraédricos d3 e d8. O diagrama
a outros ligantes. inverso se aplica aos complexos d3 e d8 octaédricos, bem
Complexos octaédricos de metais como Ni2 + , de confi­ como aos complexos d2 e d7 tetraédricos. O índice “g” é
guração d8, podem ser tratados de maneira semelhante. Há omitido no caso de complexos tetraédricos.
duas “lacunas” no nível eg e, portanto, a promoção de um Analogamente, Cr(III) tem uma configuração d3, e o
elétron equivale à transferência de uma lacuna do nível eg diagrama invertido, do lado esquerdo da Fig. 32.19, pode
para o t2g. Trata-se do inverso do que ocorre no caso d2. O ser utilizado para complexos octaédricos. A situação é
490 ESPECTRD5

Energia Tabela 32.10 — Parâmetros de Racah, B, para os íon de


3Agg
d3 tetraédrico metais de transição, em cm-1
^.(P) d! octaédrico
Metal M2+ m3+
d’ tetraédrico
^.(F) JTiçíP) Ti 695
d7 octaédrico V 755 861
3F Cr 810 918
d3 octaédrico Mn 860 965
d3 tetraédrico
Fe 917 1.015
Co 971 1.065
Ni 1.030 1.115
®Ti0(F)
d8 octaédrico d8 tetraédrico
3A, ___ a posição das bandas no espectro. Os parâmetros B e C são
necessários para explicar a energia de termos de
■o---------------------------------------- •
Campo ligante crescente Campo ligante crescente multiplicidades diferentes. Por exemplo, no íon V2+, de
configuração d3, a separação entre 4Fe 2Cé igual a 4B +
Figura 32.19 — Diagrama de Orgel de níveis de energia para 3C. Para a maioria dos metais de transição, o valor de B
configurações com dois elétrons e com duas “lacunas" (oberve que o varia de 700 a 1.000 cm"1 e C é aproximadamente quatro
índice g é omitido nos casos tetraédricos. O mesmo diagrama se aplica vezes maior que B.
também aos casos d3 e d5, exceto no que se refere aos termos
espectroscópicos m. que 4F e 4P, e com relação à multiplicidade 4 dos Os espectros obtidos experimentalmente podem ser
termos de Mulliken comparados com os espectros teoricamente esperados. Por
exemplo, considere o espectro do Cr(III), um íon de
semelhante ao do diagrama para íons de configuração d2,
configuração d3 (vide também o Capítulo 22). No estado
exceto que as energias dos três estados derivados do termo
fundamental, os orbitais dxy, dxz e dyz contém um elétron
3F estão em ordem inversa. São esperadas três bandas de
cada um, e dois orbitais eg estão vazios. O íon livre com
absorção nos espectros dos complexos de cromo(III), ou seja,
configuração d3 dá origem a dois estados: 4F e 4P. Quando
do estado fundamental 3A2g para os estados 3T2g, 3Tlg(F) e
ele é colocado num campo octaédrico, o estado 4F é
3Tlg(P), respectivamente. Complexos de cromo(III)
desdobrado nos estados 4A2g(F), 47’2g(F), 4Tig(F), e o estado
apresentam pelo menos duas bandas de absorção bem
4P não é desdobrado mas se transforma num estado 4Tlg(P)
definidas, na região do visível. A terceira banda pode ser
(vide Fig. 32.20).
observada em alguns casos, mas freqiientemente ela é
encoberta pela intensa banda de transferência de carga. Nesse caso, são possíveis três transições: 4A2g(F) -»
4T2g(F), 4A2g(F) -» 47’lg(F) e 4A2g -> 4Tlg(P). Os parâmetros
O diagrama de Orgel combinado de níveis de energia
de Racah do íon Cr3+ livre são conhecidos com exatidão:
para íons com dois elétrons ou com duas lacunas, pode ser
B 918 cm-’ e C = 4.133 cm-1.
visto na Fig. 32.19. Observe que há dois estados Tlg, um
proveniente do estado P e outro do estado F. Os gráficos de A transição de energia mais baixa concorda perfeita-
energia em função do campo ligante correspondentes aos mente com os dados experimentais, mas no caso das duas
dois estados são um pouco curvados, pois ambos têm a outras bandas a concordância não é tão boa. Duas correções
mesma simetria e interagem entre si. Essa repulsão podem ser feitas para melhorar a concordância:
intereletrônica diminui a energia do estado de menor energia 1) Se ocorrer um certo grau de “mistura" dos termos P e F
e aumenta a energia do estado de maior energia. O efeito é
bem mais acentuado na parte esquerda do diagrama, pois
os dois níveis de energia estão muito próximos. Se as linhas Energia Com
fossem retas, elas se cruzariam e, no ponto de intersecção, Sem mistura -T^ÍP)
dois elétrons do mesmo átomo teriam a mesma simetria e a mistura
4P
mesma energia. Isso é impossível. Essa proibição é expressa
pela "regra do não-cruzamento", que estabelece que estados
de mesma simetria não podem se cruzar. A "mistura" ou a
repulsão intereletrônica, que provoca a curvatura das retas, 15B
é expressa pelos parâmetros de Racah, B e C. / f »T„(F)
6DQ 8I
Os parâmetros de Racah podem, a princípio, ser calcu­ 4F
lados pelas combinações lineares das integrais de troca e
integrais coulômbicas, mas sâo geralmente obtidas empiri-
%
camente, a partir dos espectros dos íons. No caso de um íon
12Dq 10Dq
d3 como V2 + , a diferença de energia entre os estados de
mesma multiplicidade, por exemplo entre os estados 4F e 4P,
é igual a 15B. Assim, se as três bandas fossem observadas
l 4A;g

no espectro, B podería ser determinado facilmente. Em


muitos casos, apenas o parâmetro B é suficiente para explicar Figura 32.20 — O desdobramento dos estados 4F e 4P do Cr3'
ESPECTROS DE ÍONS d* E d° 491

Tabela 32.11 — Atribuição do espectro do [CrFéj5- (em cm-)

Experimental Previsto 6
o
4A2g —> 47'Ig (F) v3 34.400 30.700 (12Dq+15B) E
.S
4A2g —» 4'iTig (F) v2 22.700 26.800 (!8Dq)
4a2s^4'T: 2t v. 14.900 14.900 (10Dq) i
-O
4

g
(curvatura das linhas no diagrama de Orgel), a energia 2
do estado 4Tlg(F) aumenta de um valor x e a energia do
estado 4Tlg(F) diminui de um valor x. I__________ I__________ I
2) O valor do parâmetro B de Racah é do íon livre. O valor 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000
aparente num complexo, B’, é sempre menor que o valor Frequência (cm1)
no íon livre, pois os elétrons do metal podem ser deslo- Figura 32.21 — Espectro eletrônico do [Co(H2O)&J2'¥
calizados para orbitais moleculares compreendendo
tanto o metal como os ligantes. O uso de valores Portanto:
corrigidos de B’ melhora a concordância. O efeito da
deslocalização é denominada efeito nefelauxético, sendo 15.200 - 7.200 = 10D,
a relação nefelauxética P definida como:
logo Dq = 800 cm"1

P=^ O valor do termo que expressa as interações configuracionais,


B x, pode ser calculado a partir da equação:
P diminui à medida que o grau de deslocalização aumenta e
vt = 8Dq + x
é sempre menor que um. B’ geralmente varia de 0,7B a 0,9B,
e pode ser determinado facilmente se as três transições forem ou a partir de v2 - 18Dq + x
observadas, pois:
O parâmetro de Racah, B, para o íon Co2* livre é igual a 971
15B' = v3 + v2 - 3v! cm"1 (Tab. 32.10), e o valor corrigido, B', pode ser calculado
pela equação:
O uso dessas duas correções fornece uma correlação muito
melhor entre os resultados experimentais e os valores teóricos v3 - 15B' + 6Dq + 2x
previstos (Tab. 32.12) (o ajuste fino dos valores dos termos
B e C são a base dos cálculos de campo ligante). A coloração rosa-pálida de muitos complexos de Co(II)
Como um segundo exemplo, considere o espectro de é de interesse. O espectro do íon [Co(H2O)6]2* é mostrado
cristais de KCoF3. São observadas três bandas de absorção na Fig. 32.21. Esse espectro é mais difícil de ser interpretado.
em 7.150 cm"1, 15.200 cm"1 e 19.200 cm"1. O composto Uma banda de absorção fraca mas bem resolvida pode ser
contém íons Co2* (d7) circundados octaedricamente por seis observado em torno de 8.000 cm"1. Além disso, um enve­
íons F". Esse caso deveria ser semelhante ao caso d2, e as lope constituído por três bandas de absorção sobrepostos,
transições esperadas são: vj4^-» 4T2g), v2(4Tlg —> 4A2g) e pode ser observado em tomo de 20.000 cm"1, com máximos
v3Í47'ig 47'ig(P))- O valor de Dq pode ser calculado a partir em 16.000,19.400 e 21.600 cm"1. A banda de menor energia
do valor de vH dado que: V] em 8.000 cm"1 é atribuída à transição 4TIg —» 4T2g. Dois
dos máximos observados no envelope de bandas correspon­
Vj = 8Dq dem às transições 4TIg —> 4A2g e 4Tlg —»4Tlg(P). Como essas
transições possuem energias próximas, a força do campo
Contudo, essa equação não leva em consideração a interação cristalino do complexo está próximo ao correspondente à
do estado 4Tlg com 0 estado 4T2g (isto é, a curvatura das intersecção dos estados 4A2g e 4Tlg no diagrama de energias.
linhas no diagrama de Orgel). Por isso é melhor calcular Dq Isso implica que a atribuição é tentativa, mas as atribuições
a partir da equação: abaixo são geralmente aceitas:
v2 - V, = 10D, -> 4A2g) 16.000 cm‘
V2
e v3 ( Tlg -» rlg(P)) 19.400 cm'
pois esta não é influenciada pelas interações de configuração.
A terceira banda é atribuída ou aos efeitos de acoplamento
Tabela 32.12 — Atribuição do espectro do [CrFjl4" (em cm ) de spins, ou então à uma transição para um estado dublete.
Complexos tetraédricos de Co2*, como [CoCL,]2", são
Experimental Teóricos corrigidos azul intensas e tem absorptividades molares, e, de cerca de
600 mol"1 L cm"1. Em contraste, os complexos octaédricos
4A2g->4l~/~
Tlg(.P) v3 34.400 34.800 (12Dq+15B’ + x)
4/hg ""* 4Tlg (F) v2 são rosa-pálidos e têm absorptividades molares de cerca de
22.700 22.400 (18Dq- x)
4A2B^4T2g V, 14.900 14.900 (10Dq) 6 mol"1 L cm"1. A configuração eletrônica do íon Co2* é d7.
No [CoCl4]2", a configuração eletrônica do íon Co2* é
492 ESPECTROS

600
aAla
_íõ _cõ
0,03 G
o
E
o
E
% J 4T2 (D) o
.2 .2
i
-O
400
In 0,02

3 8
< 0,01
200

20.000 25.000 30.000

Freqüência (cm-1)
I 1 1 1^-------

25.000 20.000 15.000 10.000 5.000


Figura 32.23 — Espectro eletrônico do [Mn(H2O)6]2*
Freqüência (cm-1)

Figura 32.22 — Espectro eletrônico do [CoCl4]2~ molares, e, variam de 0,02 a 0,03 mol"1 L cm’1, em
comparação com 5 a 10 mol"1 L cm’1 das transições
(ec)4(f2g)3- Essa configuração é semelhante ao do íon Cr34 permitidas por spin.
(d3) octaédrico, pois apenas dois dos elétrons podem ser 2) Algumas das bandas são largas e outras são finas.
promovidos. Há três transições possíveis: 4A2 -> 4T2(F), Bandas permitidas por spin são invariavelmente largas.
4A2(D -» 4T, (F) e 4A2(F) -> 4T,(P), mas apenas uma banda O diagrama de Orgel de níveis de energia para o Mn2+,
(atribuída à transição v,) aparece na região do visível, em num campo octaédrico, é mostrado na Fig. 32.24. Somente
15.000 cm’1 (Fig.32.22). Além disso, há duas bandas na os quartetos foram incluídos, pois as transições para os
região do infravermelho. A primeira, atribuída à transição demais estados são duplamente proibidas.
n2, aparece em 5.800 cm'1, enquanto que a de menor energia, Note que o estado fundamental 6S não é desdobrado e
atribuída à transição v3, é esperada em torno de 3.300 cm’1. se transforma no estado 6Alg, que se encontra ao longo do
4A2—>4T1(P) v3 eixo das abcissas (horizontal). Observe que os termos 4Eg(G),
15.000 cm'1; na região visível
4A2—>4T1(F) 4A]g, 4Eg(D) e 4A2g(F), também são linhas horizontais no
v2 5.800 cm’1; na região visível
4A2-^4T2 diagrama. Logo, suas energias são praticamente indepen­
Vi (3.300 cm’1; na região do
dentes do campo cristalino. Os ligantes de um complexo
infravermelho)
vibram em relação a uma posição média, de modo que a
ESPECTROS DE ÍONS d5
A configuração ds ocorre no Mn(II) e no Fe(III). Em
complexos octaédricos de spin alto, com ligantes fracos, por
exemplo [MnnF6]4’, [Mnn(H2O)6]2 + e [FelnF6]3’. Esses
complexos possuem cinco elétrons desemparelhados.
Qualquer transição eletrônica dentro do nível d só pode ocor­
rer se estiver acoplado a uma inversão de spin. Assim, como
todas as bandas de absorção associadas a transições proibidas
por spin, essas também serão muito pouco intensas. Isso
explica a cor rosa pálida da maioria dos sais de Mn(II), e a
cor violeta pálida do alúmen de Fe(III). O termo para o estado
fundamental é 6S. Nenhum dos 11 estados excitados,
mostrados na Tab. 32.3, pode ser alcançado sem que haja a
inversão do spin de um elétron. Por isso, a probabilidade de
ocorrer uma dessas transições é extremamente baixa. Dos
11 estados excitados, os quatro quartetos 4G, 4F, 4D e 4P,
envolvem a inversão de apenas um dos spin. Os outros sete
estados são estados dubletes. Logo, as transições para os
mesmos são duplamente proibidos por spin e muito
improváveis de serem observados no espectro. Aqueles
quatro estados se desdobram em dez estados, num campo
octaédrico. Portanto, até dez bandas de absorção
extremamente fracas poderíam ser observadas no espectro.
O espectro do [Mn(H2O)6)2 + é mostrado na Fig. 32.23.
Diversos aspectos desse espectro são incomuns:
Figura 32.24 — Diagrama de Orgel de níveis de energia para o Ma2'
1) As bandas são extremamente fracas. As absorptividades (d5) octaédrico
DIAGRAMAS OE TANABE-SUGANO 493

intensidade do campo cristalino 10 Dq também oscila em


torno de um valor médio. Conseqüentemente, a energia de
uma determinada transição também varia em torno de um
valor médio, e as bandas de absorção se tornam largas. A
largura das bandas está relacionada com a inclinação das
linhas no diagrama de Orgel. Como a inclinação da curva
correspondente ao termo 6Alg (estado fundamental) é igual
a zero, e as inclinações das curvas correspondentes aos
estados 4E6(G), 4Âlg, 4Eg(D) e 4A2g(E), também se aproximam
de zero, as transições do estado fundamental para esses
quatro estados dão origem a bandas finas. Pelo mesmo
raciocínio, as transições para estados cujas curvas no
diagrama de Orgel apresentam inclinações apreciáveis, como
4Tlg(G) e 4T2g(G), dão origem a bandas largas.
A atribuição das bandas é dada abaixo:
%g^4r, A 18 18.900 cm'
4r2g(G) 23.100 cm'
4Eg 24.970 cm"
Aig^ Âjg 25.300 cm'
%g -4 4T2g(D) 28.000 cm'
6A,g^ <Eg(D) 29.700 cm"
O mesmo diagrama se aplica a complexos tetraédricos
d5, onde o subescrito "g” é omitido devido à ausência de
centro de simetria. Figura 32.25 — Diagrama de Tanabe-Sugano para um caso á2. por
exemplo, V3*
DIAGRAMAS DE TANABE-SUGANO ração eletrônica, mas apenas dois exemplos serão mostrados.
Os diagramas de Orgel são úteis na interpretação de O diagrama de Tanabe-Sugano para o caso d1, como o íon
espectros, mas sofrem de duas limitações sérias: V3 + , é mostrado na Fig. 32.25. Observe que, nesse caso,
1) São aplicáveis apenas aos complexos de spin alto não há nenhuma diferença marcante entre as regiões
(campo fraco). referentes aos complexos de campo forte e campo fraco.
2) São aplicáveis apenas a transições permitidas por spin, O diagrama de Tanabe-Sugano para íons d6, como o
quando o número de bandas observadas for maior ou Co3 + , é mostrado na Fig. 32.26. Essa é uma versão simplifi­
igual ao número de parâmetros empíricos: o desdobra­ cada, onde são mostrados somente os termos singlete e
mento do campo cristalino Dq, o parâmetro corrigido quinteto. Há uma descontinuidade em 10Dq/B = 2, represen­
de Racah B’ e a constante de curvatura x. tada por uma linha vertical. Nesse ponto ocorre o emparelha-
Embora seja possível acrescentar estados de spin baixo mento dos spins dos elétrons. À esquerda dessa linha situam-
a um diagrama de Orgel, geralmente, os diagramas de Tanabe- se os complexos de spin alto (de campo ligante fraco), e à
Sugano são utilizados para se interpretar os espectros que direita os complexos de spin baixo (de campo ligante forte).
incluem tanto complexos de campo fraco como de campo O estado fundamental do íon livre é 5D. Este é desdobrado,
forte. Os diagramas de Tanabe-Sugano são semelhantes aos por um campo octaédrico, no estado fundamental 5T2g e no
diagramas de Orgel, pois ambos mostram como os níveis de estado excitado sEg. O estado singlete do íon livre, é de
energia variam em função de Dq. Mas, por outro lado diferem alta energia. Ele é desdobrado pelo campo octaédrico em
em vários aspectos: cinco estados diferentes, dos quais o estado ’Alg é o mais
importante. Esse estado é fortemente estabilizado pelos ligan-
D O estado fundamental é tomado sempre como a ab- tes e sua energia diminui rapidamente, à medida que aumen­
scissa (eixo horizontal) e se constitui num ponto de
ta a força do campo ligante. No ponto em que 10Dq/B = 2, a
referência constante. As energias dos demais estados curva para ‘Alg intercepta a curva do estado 5T2g (que é o
são registrados de modo que sejam relativos à abcissa.
estado fundamental). Em campos ainda mais fortes o estado
2) Os termos de baixa multiplicidade de spin, isto é, ’Alg é o de menor energia, tomando-se o estado fundamen­
estados em que as multiplicidades são menores que do tal. Como o estado fundamental é tomado como sendo o
estado fundamental, também foram incluídos. eixo horizontal, a parte direita do diagrama deve ser
3) Para que os diagramas sejam de aplicação geral e pude­ redesenhada.
rem ser utilizados para diferentes íons metálicos com a Como o íon fluoreto é um ligante de campo fraco, o
mesma configuração eletrônica, e para possibilitar seu complexo (CoF6]3~ é de spin alto. O complexo é azul, e uma
uso em complexos com diferentes ligantes (ambos única banda é observada no espectro, em 13.000 cm-1. Ela é
influenciam os valores de Dq e B ou B’), os eixos são atribuída à transição 5T2g-»sEg, indicada por uma seta na
dados em unidades de energia/B e Dq/B. parte inferior esquerda do diagrama. O espectro de um
Um diagrama diferente é necessário para cada configu- complexo de spin baixo, como [Co(etilenodiamina)3]3 + ,
494 ESPECTROS

• Hyde, K.E. (1975) Methods for obtaining Russell-Saunders


term symbols from electronic configurations, J. Citem. Ed.,
52, 87-89.
Complexos Complexos • Jotham, R.W. (1975) Why do energy leveis repel one an-
i« nn u ~.
de spin alto de spin baixo
other? J. Chem. Ed., 52, 377-378.
• Lever, A.B.P. (1964) Inorganic Electronic Spectroscopy,
Elsevier, Amsterdam. (Atualizado e completo; uma boa fonte
70 de dados espectrais)
• McClure, D.S. e Stephens, P.J. (1971) Electronic Spectra of
Coordination Compounds in Coordination Chemistry (ed.
60
Martell, A.E.), Van Nostrand Reinhold.
• Nicholls, D. (1974) Complexes and First Rotu TYansition Ele-
50 ments, Macmillan, London. (Uma boa explicação sobre a
espectroscopia de complexos de metais de transição é dada
Energia/B no Cap.6.)
40 • Orgel, L.E. (1955) J. Chem. Phys., 23, 1004. (Artigo original
’/,’G sobre os diagramas de Orgel)
30 - • Richards, W.G. e Scott, P.R. (1976) Structure and Spectra of
Atoms, John Wiley, London. (Um texto com discussões mais
básico, principalmente nos Caps. 3 e 4.)
20 - • Sutton, D. (1968) Electronic Spectra of TYansition Metal Com­
plexes, McGraw-Hill, London.
• Tanabe, Y. e Sugano. S. (1954) Semiquantitative energy-level
10 diagrams for octahedral symmetry, J. Phys. Soc. Japan, 9,
753-766. (Artigo original sobre os diagramas de Tanabe-
Sugano.)
6D0 ’A„
1 2 * 3 • Urch, D.S. (1970) Orbitais and Symmetry, Penguin,
Dg/B Harmondsworth.
[CoF6]3 ÍColen),)” • Vicente, J (1983) A simple method for obtaining Russell-
Saunders term symbols. J. Chem. Ed., 60, 560-561,
• Um método alternativo para atribuir os espectros é por meio
da Teoria de Grupos. Este é um método matemático, que
Figura 32.26 — Diagrama de Tanabe-Sugano para um caso d6, por alguns podem achar particularmente difícil.
exemplo. Co3* • Atkins, P.W., Child, M.S. e Phillips, C.S.G. (1970) Tablesfor
Group Theory, Oxford University Press, London .
deveria apresentar as transições ’Alg —» *Tlg e ‘Alg —> • Ballhausen, C.J. (1962) Introduction to Ligand Field Theory,
(indicadas por duas setas na parte inferior direita do diagra­ McGraw-Hill.
ma).
• Cotton, F.A. (1970) Chemical Applications of Group Theory,
2? ed., Interscience, New York and Wiley, Chichester (Um
LEITURAS COMPLEMENTARES excelente texto introdutório)
• Emeléus, H.J. e Sharpe, A.G. (1973) Modem Aspects of Inor- • Davidson, G. (1971) Introductory Group Theory for Chem-
ganic Chemistry, 43 ed. (Complexos de metais de transição: ists, Applied Science Publishers Ltd., Barking. (Um excelente
Cap.17, Espectro eletrônico), Routledge and Kegan Paul, texto introdutório e de fácil leitura)
London.
• Figgis, B.N. (1966) Introduction to Ligand Fields, John Wiley, PROBLEMAS
London. (Espectros uv de íons de metais de transição: O As transições eletrônicas do tipo d-d, que aparecem nos
desdobramento dos termos espectroscópicos é discutido no espectros de complexos octaédricos de metais de transição,
Cap.7. Apropriado para leitores em nível mais avançado.) deveríam ser proibidas pela regra de seleção de Laporte.
• Gerloch, M. (1986) Orbitais, Terms and States, John Wiley, Por que essas transições podem ser observadas como
Chichester. (Um livro mais básico.) bandas moderadamente intensas?
• Herzberg, G. (1966) Molecular Spectra and Molecular Struc- 2. Por que as bandas atribuídas a transições d-d de complexos
ture, Vol. III, (Espectro eletrônico e estrutura eletrônica de tetraédricos, de um dado elemento, são muito mais intensas
moléculas poliatômicas), Van Nostrand Reinhold, London. que as bandas nos correspondentes complexos octaédricos?
APÊNDICES 495

Apêndice
ARURRANCIA DOS ELEMENTOS NA
CROSTA TERRESTRE
Elemento Símbolo Abundância* Elemento Símbolo Abundância*
1 Oxigênio O 455.000 40 Samário Sm 7,0
2 Silício Si 272.000 41 Cadolínio Gd 6,1
3 Alumínio Al 83.000 42 Disprósio Dy 4,5
4 Ferro Fe 62.000 43 Érbio Er 3,5
5 Cálcio Ca 46.600 44 Itérbio Yb 3,1
6 Magnésio Mg 27.640 45 Háfnio Hf 2,8
7 Sódio Na 22.700 46 Césio Cs 2,6
8 Potássio K 18.400 47 Bromo Br 2,5
9 Titânio Ti 6.320 48 Urânio U 2,3
10 Hidrogênio H 1.520 49 Estanho Sn 2,1
11 Fósforo P 1.120 49 Európio Eu 2,1
12 Manganês Mn 1.060 51 Berílio Be 2,0
13 Flúor F 544 52 Arsênio As 1,8
14 Bário Ba 390 53 Tântalo Ta 1,7
15 Estrôncio Sr 384 54 Germânio Ge 1,5
16 Enxofre S 340 55 Hólmio Ho 1.3
17 Carbono C 180 56 Molibdênio Mo 1,2
18 Zircônio Zr 162 56 lúngstênio W 1,2
19 Vanádio V 136 56 Térbio Tb 1,2
20 Cloro Cl 126 59 Lutécio Lu 0,8
21 Crômio Cr 122 60 Tálio n 0,7
22 Níquel Ni 99 61 Túlio Tm 0,5
23 Rubídio Rb 78 62 Iodo I 0,46
24 Zinco Zn 76 63 índio In 0,24
25 Cobre Cu 68 64 Antimônio Sb 0,20
26 Cério Ce 66 65 Cádmio Cd 0,16
27 Neodímio Nd 40 66 Prata Ag 0,08
28 Lantânio La 35 66 Mercúrio Hg 0,08
29 ítrio Y 31 68 Selênio Se 0,05
30 Cobalto Co 29 69 Paládio Pd 0,015
31 Escândio Sc 25 70 Platina Pt 0,01
32 Nióbio Nb 20 71 Bismuto Bi 0,008
33 Nitrogênio N 19 72 Ósmio Os 0,005
34 Gálio Ga 19 73 Ouro Au 0,004
35 Lítio Li 18 74 Irídio Ir 0,001
36 Chumbo Pb 13 74 Telúrio Te 0,001
37 Praseodímio Pr 9,1 76 Rênio Re 0,0007
38 Boro B 9,0 77 Rutênio Ru 0,0001
39 Tório Th 8,1 77 Ródio Rh 0,0001
* As unidades para a abundância são ppm da crosta terrestre, o que corresponde a g/tonelada. Os valores foram extraídos
essencialmente de Geochemistry, de W.S. Fyfe, Oxford University Press, 1974, complementados por alguns dados mais
recentes.
49B APÊNDICES

p
Apêndice d.
PONTOS DE FUSÃO
DOS ELEMENTOS
^^^^Grupo
1 2 13 14 15 16 17 18
Período^^^
1 H He

-253 -269

2 Li Be B C N O F Ne

1.347 (2.500) 3.650 -195,8 -183,1 -188 -246

3 Na Mg Al Si P S Cl Ar
Grupo
881 1.105 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 2.467 3.280 281 445 -34 -186

4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr

766 1.494 2.748 3.285 3.350 2.960 2.060 2.750 3.100 2.920 2.570 907 2.403 2.850 615, 685 60 -153,6

5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe

688 1.381 3.264 4.200 4.758 4.650 4567 (4.050) 3.760 2.940 2.155 765 2.080 2.623 1.487 1.087 185 -108,1

6 Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Po At Rn

705 (1.850) 3.420 4450 5.534 5.500 5.650 (5.025) (4.550) 4.170 2.808 357 1.457 1.751 1.564 962 -62

7 Fr Ra Ac
(1700) 2.470
As temperaturas são dadas em graus Celsius. Círculos grandes indicam valores elevados e círculos pequenos indicam valores baixos; s indica sublimação. Dados entre
parênteses representam valores aproximados.
<0‘ • ■ --------•
1-1.500 1.501-3.000 • >3.000 •
APÊNDICES 497

Apêndice
OOT0S OE EBULIÇÃO
DOS ELEMENTOS
Grupo
1 2 13 14 15 16 17 18
Período^-..
1 H H He

-259 -259
2 Li Be B C N O F Ne

181 1.287 2.180 4.100 -210 -229 -219 -249

3 Na Mg
Grupo Al Si P S Cl Ar

98 649 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 660 1.420 44 114 -101 -189

4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr

63 839 1.539 1.667 1.915 1.900 1.244 1535 1.495 1.452 1.083 420 30 945 816 221 -157

5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe

39 768 1.530 1.857 2.468 2.620 2.200 2.282 1.960 1552 961 321 157 232 631 452 114 -112

6 Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Po At Rn

285 727 920 2.222 2.980 3.380 3.180 3.045 2.443 1.769 1.064 -39 303 327 271 254 3O2e -71'

7 Fr Ra Ac
27' (700) 817
As temperaturas são dadas em graus Celsius. Círculos grandes indicam valores elevados e círculos pequenos indicam valores baixos; e indica valor calculado. Dados
entre parênteses representam valores aproximados.
<0 • ■ ----------
1-1.500 1501-3.000 • >3.000 •
498 APÊNDICES

Apêndice
DENSIDADE DOS ELEMENTOS
SÓLIDOS E LÍSOIEOS
^^^Gnipo
1 2 13 14 15 16 17 18
Período^^,
1 H H He

2 Li Be B C N O F Ne

0.54 1,85 2,35 2,26

3 Na Mg Al Si P S Cl Ar
Grupo
0,97 1,74 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 2,70 2,34 1,82 2,1
4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr

0,86 1,55 3,0 4,50 6,11 7,14 7,43 7,87 8,90 8,91 8,95 7,14 5,90 5,32 5,77 4,19 3,19

5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe

153 2,63 45 6,51 8,57 10,28 11,5 12,41 12,39 11,99 10,49 8,65 7,31 7,27 6,70 6,25 4,94

6 Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg TI Pb Bi Po At Rn

1,90 3.62 6,17 13,28 16,65 19,3 21,0 2257 22,61 21,41 19,32 13,53 11,85 11,34 9,81 9,14

7 Fr Ra Ac
5,5
As densidades são dadas em g cm" (o que equivale a 10 3 kg m"3). O valor para o carbono é o do grafite. Círculos grandes indicam valores elevados e círculos
pequenos indicam valores baixos.
<0 • 1-1.500 • 1.501-3.000 • >3.000 •
APÊNDICES 499

Apêndice
CEFJFIEEnAÇÊES ELETRÔNICAS
ESBS ELEMENTOS
z Elemento Símbolo Configuração Z Elemento Símbolo Configuração
1 Hidrogênio H Is1 53 Iodo I [Kr] 4d10 5S2 5p5
2 Hélio He ls2 54 Xenônio Xe [Kr] 4d10 5? 5p6
3 Lítio Li [He] 2s' 55 Césio Cs [Xe] 6s‘
4 Berílio Be [He] 2S2 56 Bário Ba [Xe] 6?
5 Boro B [He] 2S2 2pl 57 Lantânio La [Xe] Sd1 6S2
6 Carbono C [He] 2s2 âp2 58 Cério Ce [Xe] 4f‘ Sd-1 bs2
7 Nitrogênio N [He] 2s2 2p3 59 Praseodímio Pr [Xe] 4f3 5d° bs2
8 Oxigênio O [He] 2s2 2p* 60 Neodímio Nd ..... .,
[Xe] 4f* 5d° bs2
9 Flúor F [He] 2s2 2p5 61 Promécio Pm [Xe] 4f5 5d° bs2
10 Neônio Ne [He] 2? 2p6 62 Samário Sm [Xe] 4f6 5d° bs2
11 Sódio Na [Ne] 3s' 63 Európio Eu [Xe] 4f7 5d° 6S2
12 Magnésio Mg [Ne] 3s2 64 Gadolínio Gd [Xe] 4f7 5d‘ bs2
13 Alumínio Al [Ne] 3S2 3p' 65 Térbio Tb [Xe] 4f* 5d° bs2
14 [Ne] 3S2 3p2 66 Disprósio Dy [Xe] 4f ° Sd? bs2
Silício Si
15 [Ne] 3s2 3p3 67 Hólmio Ho [Xe] 4f“ 5d° bs2
Fósforo P
68 Érbio Er [Xe] 4f 2 5d° bs2
16 Enxofre S [Ne] 3s2 3p4
69 Túlio Tm [Xe] 4f3 5d° bs2
17 Cloro Cl [Ne] 3S2 3ps
70 Itérbio Yb [Xe] 4f 4 5d° bs2
18 Argônio Ar [Ne] 3s2 3p6
71 Lutécio Lu [Xe] 4f14 Sd1 bs2
19 Potássio K [Ar] 4s’
72 Háfnio Hf [Xe] 4f\* Sd2 bs2
20 Cálcio Ca [Ar] 4s2
73 Tântalo Ta [Xe] 4f 4 Sd3 bs2
21 Escândio Sc [Ar] 3d‘ 4S2 [Xe] 4f 4 Sd* bs2
74 Hingstênio W
22 Titânio Ti [Ar] 3d2 4S2 [Xe] 4f 4 Sd5 bs2
75 Rênio Re
23 Vanádio V [Ar] 3d3 4S2 Ósmio Os [Xe] 4f4 Sd6 bs2
76
24 Crômio Cr [Ar] 3d5 4s‘ Ir [Xe] 4f 4 Sd7 bs2
77 Irídio
25 Manganês Mn [Ar] 3d5 4s2 Pt [Xe] 4f 4 Sd? bs‘
78 Platina
26 Ferro Fe [Ar] 3d6 4S2 79 Ouro Au [Xe] 4f 4 5d'° 6s‘
27 Cobalto Co [Ar] 3d7 4S2 80 Mercúrio [Xe] 4f 4 5d'° bs2
Hg
28 Níquel Ni [Ar] 3d8 4S2 81 Tálio TI [Xe] 4f 4 Sd10 bs2 bp'
29 Cobre Cu [Ar] 3d10 4s' 82 Chumbo Pb [Xe] 4f 4 5d‘° 6S2 óp2
30 Zinco Zn [Ar] 3d10 4s2 83 Bismuto Bi [Xe] 4f 4 5d'° 6S2 6p3
31 Gálio Ga [Ar] 3d10 4s2 4p‘ 84 Polônio Po [Xe] 4f. 4 5d10 ôs
.. 2 6p4
32 Germânio Ge [Ar] 3d10 4s2 4p2 85 Astato At [Xe] 4f14 5d'° 6S2 óp5
33 Arsênio As [Ar] 3d10 4S2 4p3 86 Radônio Rn [Xe] 4f14 5d10 6? 6p6
34 Selênio Se [Ar] 3d’° 4S
__ 2 . 4
4p 87 Frâncio Fr [Rn] 7s'
35 Bromo Br [Ar] 3d10 4S2 4p>s; 88 Rádio Ra [Rn] 7?
36 Criptônio Kr [Ar] 3d’° 4s2 4p,6( 89 Actínio Ac [Rn] 6d‘ 7?
37 Rubídio Rb [Kr] 5s‘ 90 Tório Th [Rn] , 6d2 7S2
38 Estrôncio Sr [Kr] 5S2 91 Protactínio Pa [Rn] Sf 2 6d‘ 7S2
39 [trio Y [Kr] 4d' 5s2 92 Urânio U [Rn] Sf3 6d‘ 7S2
40 Zircônio Zr [Kr] 4d2 5s2 93 Neptúnio Np [Rn] Sf4 6d‘ 7S2
41 Nióbio Nb [Kr] 4d4 Ss1 94 Plutônio Pu [Rn] 5f8 bd? 7S2
42 Molibdênio Mo [Kr] 4d5 5s‘ 95 Amerício Am [Rn] 5f7 bd° 7S2
43 Tecnécio f Tc [Kr] 4d5 5? 96 Cúrio Cm [Rn] Sf7 6d‘ 7?
l Tc [Kr] 4d6 5s‘ 97 Berquélio f Bk [Rn] 5f8 6d‘ 7?
44 Rutênio Ru [Kr] 4d7 5s‘ 1 Bk [Rn] 5f’ 6d° 7S2
45 Ródio Rh [Kr] 4d8 5s' 98 Califómio Cf [Rn] Sf » 6d° 7sr
46 Paládio Pd [Kr] 4d:j10 ss°
5s° 99 Einstêinio Es [Rn] 5f" bd° 7S2
47 Prata Ag [Kr] 4d10 5s‘ 100 Férmio Fm [Rn] 5f 2 6d° 7S2
48 Cádmio Cd [Kr] 4d10 Ss2 101 Mendelévio Md [Rn] Sf 3 6d° 7?
49 índio In ■[Kr]’ 4d10 Ss2 Sp1 102 Nobélio No [Rn] Sf 4 6d° 7?
50 Estanho Sn [Kr], 4d'° 5s2 Sp2 103 Laurêncio Lr [Rn] Sf 4 6d’ 7s2
51 Antimônio Sb [Kr] 4d10 5s2 Sp3 104 Rutherfórdio Rf [Rn] 5fl* bd2 7S2
52 Telúrio Te [Kr] 4d10 5s2 5p4 105 Dúbnio Db [Rn] Sf 14 bd3 7?
500 APÊNDICES

Apêndice
VALORES MÉDIOS RE ALGUMAS
ENERGIAS RE LIGAÇÃO
(em kl mor1)

I Br Cl F S O P N Si C H

H 297 368 431 565 339 464 318 389 293 414 435
C 238 276 330 439 259 351 263 293 289 347
Si 213 289 360 539 226 368 213e 176
N 243 201 272 201 209e 159
P 213 272 330 489 230e 351e 213
O 201 205 184 138
S 213 251 284 213
F 255 184 159
Cl 209 217 243
Br 180 193
I 151

e
Indica valores calculados com o auxílio das diferenças de eletronegatividade

Energias de algumas ligações duplas e triplas (kJ mol ’)

C=C 611 C=N 615 OC 836 C=N 891


c=o 740 N=N 418 oo 1.071 N=N 945
APÊNDICES 501

Apêndice
5EEURIMDADE EM ÁGUA
EE COMPOSTOS DOS GRUPOS
REPRESENTATIVOS
F" cr Br‘ r OH“ NOj COj- sof HCOj

NH4+ vs 37 75 172 192 12 75


Li + 0,27e 83 177 165 12,8 70 1,33 35
Na* 4,0 36 91 179 109 87 21 19,4 9,6
K* 95 34,7 67 144 112 31,6 112 11,1 22,4
Rb* 131 91 110 152 177 53 450 48
Cs* 370 186 108 79 330 23 vs 179
Be2* vs vs s dec ss 107 39
Mg2* 0,008 54,2 102 148 0,0009 70 ss 33
Ca2* 0,0016 74,5 142 209 0,156 129 ss 0,21
Sr2* 0,012 53,8 100 178 0,80 71 ss 0,013
Ba2* 0,12 36 104 205 3,9 8,7 ss 0,0024
Al3* 0,55 70 dec dec dec ss 63 38
Ga3* 0,002 vs s dec ss vs
In3* 0,04 vs vs dec ss
Tl* 78,6b 0,33 0,05 0,0006 25,9a 9,55 4,0b s
Tl3* dec vs s s s 4,87
Ge" ss dec dec s
Gelv dec dec dec dec
Sn" s 270 decb s 0,98 ss dec 33d
Sn'v vs dec dec dec
Pb" 0,064 0,99 0,844 0,063 0,016 55 0,0011 ss
Pblv dec
As1" dec dec dec 6,0d
Asv
Sb1" dec dec dec dec dec ss
Sbv dec
Bi"1 ss dec dec ss 0,00014 dec dec

As solubilidades são dadas em gramas de soluto por 100 gramas de água a 20° C, a não ser nos casos especificados de modo
diferente, ms = muito solúvel; s -solúvel; ps = pouco solúvel; dec = decomposição; a = a 0°C; b = a 15°C; c = a 18°C;
d - a 25°C,
503 APÊNDICES

Apêndice £7
MASSAS ATÔMICAS
(com case no isótofo ,sc-io,ccj)
Elemento Massa atômica Elemento Massa atômica
Actínio (227) Lantânio 138,91
Alumínio 26,982 Laurêncio (257)
Amerício (243) Lítio 6,939
Antimônio 121,75 Lutécio 174,97
Argônio 39,948 Magnésio 24,312
Arsênio 74,922 Manganês 54,938
Astato (ou astatínio) (210) Mendelévio (256)
Bário 137,34 Mercúrio 200,59
Berílio 9,102 Molibdênio 95,94
Berquélio (249) Neodímio 144,24
Bismuto 208,98 Neônio 20,183
Boro 10,811 Neptúnio (237)
Bromo 79,909 Nióbio 92,91
Cádmio 112,40 Níquel 58,71
Cálcio 40,08 Nitrogênio 14,0067
Califórnio (251) Nobéiio (254)
Carbono 12,01115 Ósmio 190,2
Cério 140,12 Ouro 196,967
Césio 132,905 Oxigênio 15,9994
Chumbo 207,19 Paládio 106,4
Cloro 35,453 Platina 195,09
Cobalto 58,933 Plutônio (242)
Cobre 63,54 Polônio (210)
Criptônio Potássio 39,102
83,80
Crômio Praseodímio 140,91
51,996
Cúrio Prata 107,870
(247)
Promécio (147)
Disprósio 162,50
Protactínio (231)
Einstêinio (254)
Rádio (226)
Enxofre 32,064
Radônio (222)
Érbio 167,26
Rênio 186,22
Escândio 44,96
Ródio 102,91
Estanho 118,69 85,47
Rubídio
Estrôncio 87,62 Rutênio 101,07
Európio 151,96 Samário 150,35
Férmio (253) Selênio 78,96
Ferro 55,847 Silício 28,086
Flúor 18,993 Sódio 22,9898
Fósforo 30,9738 Tálio 204,37
Frâncio (223) Tântalo 180,95
Gadolínio 157,25 Tecnécio (99)
Gálio 69,72 Telúrio 127,60
Germânio 72,59 Térbio 153,92
Háfnio 178,49 Titânio 47,90
Hélio 4,003 Tório 232,04
Hidrogênio 1,00797 Túlio 168,93
Hólmio 164,93 Túngstênio 183,85
índio 114,82 Urânio 238,03
Iodo 126,904 Vanádio 50,942
Irídio 192,2 Xenônio 131,30
Itérbio 173,04 Zinco 65,37
ítrio 88,91 Zircônio 91,22
APÊNDICES 503

Apêndice
DALODES DE ALGUMAS
CCESTAIJTES FÍSICAS
Constante de Planck, h = 6,6262xl0~34 J s

Massa do elétron, m = 9.1091X10’31 kg

Carga do elétron, e = l,60210xl0’19 C

Permissividade do vácuo, e0 = 8,854185x10' kg-1 m"3 A2

Permeabilidade do vácuo, p0 = 4tcx10'7 kg m s 2 A'

s’1
Velocidade da luz no vácuo, c = 2,997925x10® m

Constante de Avogadro, N° = 6,022045xl023 mol-1

Constante de Boltzmann, k = l,38O5xlO~23 J K’1

Magnéton-Bohr (magnéton de Bohr), pB = 9,2732xl0"24 Am2 = ir1

Unidades para o momento magnético e o momento dipolar p são A m2 = J T“l


504 APÊNDICES

Apêndice 3
RESISTIVIDASE ELÉTRICA
COS ELERSERTOS
(na temperatura indicada)

Elemento Símbolo Temp. Resistividade Elemento Símbolo Temp. Resistividade


(°C) (microohm cm) (°C) (microohm cm)

Prata Ag 20 1,59 Vanádio V 20 25


Cobre Cu 20 1,673 Gálio* Ga 20 27
Ouro Au 20 2,35 Itérbio Yb 25 29
Alumínio Al 20 2,655 Urânio U 20 30
Cálcio Ca 20 3,5 Arsênio a As 20 33,3
Berílio Be 20 4,0 Háfnio Hf 25 35,1
Sódio Na 0 4,2 Zircônio Zr 20 40
Magnésio Mg 20 4,46 Antimônio a Sb 20 41,7
Ródio Rh 20 4,51 Titânio Ti 20 42
Molibdênio Mo 0 5,2 Bário Ba 20 50
Irídio Ir 20 5,3 ítrio Y 25 57
lúngstênio W 27 5,65 Disprósio Dy 25 57
Lantânio La 25 5,7 Escândio Sc 22 61
Zinco Zn 20 5,92 Neodímio Nd 25 64
Potássio K 0 6,15 Praseodímio Pr 25 68
Cobalto Co 20 6,24 Cério Ce 25 75
Cádmio Cd 0 6,83 Túlio Tm 25 79
Níquel Ni 20 6,84 Lutécio Lu 25 79
Rutênio Ru 0 7,6 Hólmio Ho 25 87
índio In 20 8,37 Samário Sm 25 88
Lítio Li 20 8,55 Európio Eu 25 90
Ósmio Os 20 9,5 Mercúrio Hg 20 95,8
Ferro Fe 20 9,71 Érbio Er 25 107
Platina Pt 20 10,6 Bismuto a Bi 20 120
Paládio Pd 20 10,8 Gadolínio Gd 25 140,5
Estanho p Sn 0 11 Plutônio Pu 107 141,4
Tântalo Ta 25 12,45 Manganês a Mn 23 185
Rubídio Rb 20 12,5 Telúrio Te 25 4,5xlOs
Nióbio Nb 0 12,5 Germânio Ge 22 4,7xl07
Crômio Cr 0 12,9 Silício Si 20 4,8xl07
Tório Th 0 13 Boro B 20 6,7x10“
Tálio TI 0 18 Iodo I 20 l,3xl015
Rênio Re 20 19,3 Selênio Se 20 l,2xl016
Césio Cs 20 20 Fósforo # P 11 IxlO17
Chumbo Pb 20 20,648 Carbono C 20 =1x10“
Estrôncio Sr 20 23 Enxofre S 20 2x10“

* Resistividade do Ga é 8,2, 17,5 ou 55,3 microohm com, dependendo da direção. # Fósforo branco.
APÊNDICES 505

Apêndice
eo produtos químicos mais
PRODUZIDOS NOS ESTADOS UEIE3S
(em 1994)

Posição Produto químico milhões de Posição Produto químico milhões de


toneladas/ano toneladas/ano

1 Ácido sulfúrico 44,6 26 Óxido de etileno 3,4


2 Nitrogênio 33,8 27 Tolueno 3,4
3 Oxigênio 24,8 28 Ácido clorídrico 3,4
4 Etileno (eteno) 24,3 29 p-Xileno 3,1
5 Cal 19,2 30 Etileno-glicol 2,8
6 Amônia 19,0 31 Cumeno 2,6
7 Propileno 14,4 32 Sulfato de amõnio 2,5
8 Hidróxido de sódio 12,9 33 Fenol 2,0
9 Ácido fosíórico 12,6 34 Ácido acético 1,9
10 Cloro 12,1 35 Óxido de propileno 1,9
11 Carbonato de sódio 10,3 36 Butadieno 1,7
12 Dicloroetileno 9,4 37 Negro de fumo 1,7
13 Ácido nítrico 9,3 38 Carbonato de potássio 1,6
14 Nitrato de amõnio 8,8 39 Acrilonitrila 1,5
15 Uréia 8,1 40 Acetato de vinila 1,5
16 Cloreto de vinila 7,4 41 Acetona 1,4
17 Benzeno 7,3 42 Dióxido de titânio 1,4
18 Metil(t-butil)éter 6,8 43 Sulfato de alumínio 1,2
19 Etil-benzeno 5,9 44 Silicato de sódio 1,1
20 Estireno 5,6 45 Ciclohexano 1,1
21 Dióxido de carbono 5,5 46 Ácido adípico 0,9
22 Metanol 5,4 47 Caprolactama 0,8
23 Xileno 4,5 48 Bisfenol A 0,7
24 Ácido tereftálico 4,3 49 Álcool n-butílico 0,7
25 Formaldeído 4,0 50 Álcool isopropílico 0,7

Negrito indica compostos inorgânicos. Os dados foram reproduzidos do Chemical & Engineering News, página 39, edição de
26 de junho de 1995. Os dados são atualizados anualmente e publicados em junho/julho sob o título Facts and Figures.
506 APÊNDICES

Apêndice
PSODUTOS QUÍMICOS iccns.zcicos
pncsunicss cri Lcr.c.i escala (no mundo)

Produto 106 toneladas/ano Produto 106 toneladas/ano Produto Toneladas/ano

Cimento 1.396 Ferro-manganês 3,4 Mo 129.000


Ferro fundido e aço 717 Cr 3,3 CuSO4 123.956
Coque 390 Ferro-crômio 3,1 NaCN 120.000
NaCl 183,5 Amianto 2,8 Granadas 106.099
H2SO4 145,5 Silicatos solúveis (conteúdo de SiO2) Freons 100.000
CaO 127,9 2,6 Sb 84.000
NHj 110 Explosivos 2,5 Na 80.000
O2 100 Na2B4O7 2,2 Na2Cr2O7 69.300
CaSO4 88,2 Terras infusórias 2 Li2CO3 50.000
N2 60 HF 1,5 Ti 50.000
s 57 CaNCN 1 A1C13 50.000
Cl2 35,3 P 1 Lantanídios (conteúdo de Ln2O3) 47.900
NaOH 38,7 H2O2 1 As2O3 47.000
CO(NH2)2 35 Si >1 Compostos orgânicos de Sn 40.000
Fosfatos (conteúdo de P2O5) 34 Na2SO3 >1 W 39.000
Vidro 33,4 U 34.400
Compostos orgânicos aparecem entre parênteses
Na2CO3 31,5 Co 30.100
HNO3 24,7 Produto Toneladas/ano V 28.400
(Polietileno) 24,6 Cd 20.700
Sais de potássio (conteúdo de K2O) 24,5 NaOCl 950.000 PC15 20.000
Al 24,4 Grafite natural 930.000 n2h4 20.000
Caolim 22,5 Zircônio/badeleíta 918.000 He 18.800
(Cloreto de polivinila) 14,9 NaHCOj 900.000 Pb3O4 18.000
Giz 14,2 Carvão ativo 864.200 I2 17.500
Chapas galvanizadas 14 Ni 850.000 Nb 15.200
HC1 12,3 Ar 700.000 Ag 13.818
(Polipropileno) 12 PbO/Pb ("óxido negro”) 700.000 Sais de lítio (conteúdo de Li) 8.900
Cu 11 Peroxoborato de sódio 700.000 La 5.000
MgCO3 10,8 Ferro-níquel 596.000 Bi 3.600
CO2 10 Vermiculita 500.000 Hg 3.200
(Poliestireno) 9,9 Br2 370.000 BF3 3.000
Bentonita 9,2 ZnO 366.500 Au 2.134
Mn 9,0 Mg 303.000 Se 1.670
Talco 8,4 SiC 300.000 Ca 1.000
Sabões 7,4 Silicones 300.000 n-Butil-lítio 1.000
Zn 7,3 HCN 300.000 Ta 600
Pb 5,3 Compostos de estrôncio 283.100 Compostos de Th 500
CaC2 4,9 CS2 280.400 Boro 300
BaSO4 4,9 PbO 250.000 Metais do grupo da Pt 281
Negro de fumo 4,5 PC13 250.000 Te 152
Na2SO4 4,3 P4S10 250.000 In 145
Terra de pisoeiro 4,2 Mica 214.000 Ge 50
TiO2 4,1 H5BO3 211.000 Re 32
A12(SO4)j 3,7 Sn 177.000 Ga 28
CaF2 3,6 Ca(OCl)2 150.000 Diamantes 19,68
Ferro-silício 3,5 PbEt4 150.000 TI 14,5
APÊNDICES 507

Apêndice [J
MEJEEAIS USADOS
EM LASSA ESCALA
Mineral 106 ton/ano Usos
Carvão mineral 4.530 Energia, produtos químicos, coque
Petróleo 3.034 Energia, petroquímica
Minérios de ferro 959 Ferro, aço, ferro-ligas
Cloreto de sódio 183,5 Indústria de cloro e álcalis, NaOH, Cl2, Na2CO3 e HC1
Fosfatos minerais 145 Fertilizantes, detergentes, tratamento de águas, fósforo, H3PO4
Calcário 127,9 CaCO3, CaO, Ca(OH)2, CaC2, Ca
Bauxita 108,6 Al, A12O3, A1(OH)3, A12(SO4)3
Gesso 88,2 Usado em moldes e na construção
Enxofre 54,1 Fabricação de ácido sulfúrico
Carbonato de sódio 31,5 Produtos de limpeza
Compostos de K: silvina, 24,5 Fertilizantes, KOH, KO2, K
silvinita, carnalita
Pirolusita 22,7 Ligas de Mn, MnO2, secantes para tintas
Caolim 22,5 Cerâmicas refratárias, tinta, coberturas, plásticos
Giz 14,2 Material de enchimento
Magnesita 10,8 Mg e seus compostos
Minérios de cobre 9,3 Cu
Bentonita 9,2 Em perfurações, tintas tixotrópicas
Talco 8,4 Cerâmicas, tinta, papel, coberturas, plásticos, cosméticos
Ilmenita e rutilo 8,3 Pigmentos de TiO2, Ti
Minérios de zinco 7,3 Ligas de Zn, e proteção contra corrosão
Baritas 4,9 Lubrificante de perfurações, compostos de bário, pigmentos, cargas
Terra de pisoeiro 4,2 Absorvente, descorante e desinfetante de óleo mineral e vegetal
Sulfato de sódio 4,3 Papel, vidro, detergentes
Fluorita 3,6 A1F3, Na3[AlF6], HF, F2, compostos orgânicos fluorados
Cromita 3,2 Cromatos, dicromatos, cerâmica, pigmentos, crômio
Galena 3,1 Baterias de Pb, Pb em lâminas, PbEt,
Amianto 2,8 Cargas, isolante térmico, cimentos, placas para cobertura
SiO2 (terras infusórias) 2,0 Material inerte de enchimento, sistemas de filtração, abrasivos
Boratos 1,0 Bórax, ácido bórico, perboratos, vitrificações de cerâmicas
Grafite 0,93 Refratários, eletrodos, lubrificantes, lápis, moldes
Zirconita/badeleita 0,87 Zr
Minério de níquel 0,66 Ni e ligas
Nitrato de sódio 0,55 Fertilizantes, explosivos
Vermiculita 0,5 Embalagem, solo artificial
Compostos de bromo 0,37 Brometos, produtos químicos de uso agrícola
(da água do mar)
Minérios de cobalto 0,31 Ligas
Mica 0,21 Cimento, tinta, cobertura, isolante elétrico, cargas
Cassiterita 0,18 Sn
Estroncianita 0,17 Compostos de Sr
Molibdenita 0,13 Ligas, MnO2
Granadas 0,106 Lixas, ornamentos, jóias
Monazita/bastnaesita 0,08 Compostos dos lantanídeos e do tório
Minérios de urânio 0,034 Energia nuclear, armamento nuclear
Compostos de iodo 0,017 Fármacos, fotografia, iodatos, iodetos, iodo, suplemento alimentar animal,
catalisadores, tintas
Minerais de Li 0,009 Estearato de lítio, LiiCO3 (produção de Al), LiOH, cerâmica/vidro
(espodumênio, lepidolita)
Berilo 0,005 Be
508 APÊND1CE5

Apêndice
DUREZA E3S MEJEZAIS
ESCALA EE mSS
Muitas vezes rochas são chamadas de "moles", mesmo é arbitrária e não indica valores “exatos” de dureza. Assim,
quando suas partículas constituintes, consideradas um mineral com dureza 6 pode riscar os minerais com dureza
individualmente, sejam bastante duras: elas se unem inferior na escala, mas não se pode concluir que este min­
fracamente em agregados que se desfazem facilmente. A eral seja duas vezes mais duro que um mineral de dureza 3.
dureza de um mineral é uma propriedade totalmente Dois minerais de mesma dureza riscarão um ao outro. Há
diferente, e se refere à resistência que a superfície como um uma grande diferença entre as durezas 9 e 10 nessa escala.
todo oferece ao ato de riscar. Objetos comuns, como uma unha, uma moeda, uma
Há mais de um século um mineralogista chamado lâmina ou uma lima de metal podem ser usados como
Friedrich Mohs desenvolveu uma escala de dureza que “instrumentos” para o teste da dureza. São testes
recebeu o seu nome. Ele atribuiu arbitrariamente ao talco (o convenientes para testar rapidamente a dureza de um mi­
mineral mais mole conhecido) uma dureza de 1, e ao neral em atividades de campo.
diamante (o mineral mais duro), uma dureza de 10. A escala Minerais com dureza inferiores a 6,5 podem ser riscados
com uma lixa de unha de metal, aqueles com dureza infe­
rior a 5,5 podem ser riscados por uma lâmina de canivete;
Tabela 1 — A escala de durezas de Mohs minerais com dureza abaixo de 3,5 são riscados por uma
moeda de cobre, e os com dureza inferior a 2,5 são riscados
Escala de Mohs Mineral pela unha e deixam uma marca sobre o papel. Por outro
lado, minerais com dureza superior a 5,5 riscarão o vidro.
10 Diamante
9 Coríndon
Tabela 2. “Instrumentos” para testar a dureza
8 Topázio
7 Quartzo
6 Microclínio Escala de Mohs “Instrumento”
5 Apatita
4 Fluorita 6,5 Lixa de unha de aço
3 Calcita 5,5 Lâmina de canivete ou caco de vidro
2 Gesso 3,5 Moeda de cobre
1 Talco 2,5 Unha
APÊNDICES 509

Apêndice
LIVROS-TEXTOS
EE REFERÊNCIA
Além das listas contendo "leituras complementares” uma compilação dos produtos químicos usados na
apresentadas ao final de cada capítulo, poderão ser obtidas indústria química, como são obtidos e para que são
maiores informações sobre os vários assuntos ou abordagens utilizados)
alternativas nos seguintes livros-textos:
Outros textos gerais de nível universitário
Textos avançados e obras de referência • Bums, D.T., Carter, A.H. e Townshend, A., Inorganic
• Bailar, J.C., Eméleus, H.J., Nyholm, R.S. e TYotman- Reaction Chemistry: Reactions of the Elements and Their
Dickinson, A.E (eds) Comprehensive Inorganic Chem­ Compounds, (Ellis Horwood Series in Analytical Chem­
istry, (5 volumes), Pergamon, 1973. (Um conjunto de istry), Halsted Press, 1981.
artigos de revisão sobre os elementos, com alguns • Cotton, F.A., Gaus, P.L. e Wilkinson, G., Basic Inor­
tópicos especiais. Um pouco ultrapassado, fornecendo ganic Chemistry, 2.a ed., John Wiley, 1986.
muitos detalhes e referências antigas) • Douglas, B., McDaniel, D.H. e Alexander, J.J., Concepts
• Cotton, F.A. e Wilkinson, G., Advanced Inorganic Chem- and Models of Inorganic Chemistry, 2.a ed., John Wiley
istry, 5? ed., John Wiley, 1988. (Um livro completo, & Sons, 1983.
com informações a nível de pesquisa. Ele contém muitas • Jolly, W.L., Principies of Inorganic Chemistry, McGraw-
referências atualizadas que levam aos artigos originais) Hill, 1985.
• Eméleus, H.J., editor geral, MTP International Revietv • Mackay, K. e Mackay, A., Introduction to Modem Inor­
of Science, (10 volumes), Butterworths, 1975. Os vol­ ganic Chemistry, 4.a ed., Prentice Hall, 1989.
umes individuais foram editados por Lappert, M.F., • Massey, A.G., Main Group Chemistry, Ellis Horwood,
Sowerby, D.B., Gutmann, V., Aylett, B.J., Sharp, D.W.A.,
1990.
Mays, M„ Bagnall, K.W., Maddock, A.G., Tobe M.L. e
Roberts, L.E.J. (Como o livro Comprehensive Inorganic • Mortimer, C.E., Chemistry, 6.a ed., Wadsworth, 1986.
Chemistry, ele reúne sistematicamente artigos de revisão • Sharpe, A.G., Inorganic Chemistry, 2? ed., John Wiley,
sobre os elementos e alguns tópicos especiais. Também, 1987.
está um pouco ultrapassado, mas traz muitos detalhes • Shriver, D.F., Atkins, P.W. e Langford, C.H., Inorganic
e informações, além de muitas referências antigas.) Chemistry, Oxford University Press, 1990.
• Greenwood, N.N. e Earnshaw, A., Chemistry oftheEle-
ments, Pergamon, 1984. (Um livro avançado e completo Química bioinorgânica
para universitários e pós-graduandos. É o melhor de
seu tipo, apresentando um excelente tratamento • Bioinorganic Chemistry, Journal of Chemical Education,
sistemático da química inorgânica, incluindo tanto os 1986. (ISBN 0-910362-25-4).
aspectos teóricos como práticos, além de muitas • Hay, R.W., Bio-Inorganic Chemistry, (Série Ellis
referências atualizadas) Horwood em Ciências Químicas), Halsted Press, 1984.
• Kirk, R.E. e Othmer, D.F. (eds), Encyclopedia of Chemi­ • Hughes, M.N., The Inorganic Chemistry of Biological
cal Technology, 3? ed., (26 volumes), Wiley, 1984 (Traz Processes, 2a ed., John Wiley, 1981.
510 ÍNDICE ALFABÉTICO

Absorbância 485 neptúnio 456 hidreto de alumínio e lítio 153, 195


Abundância dos elementos 91 nitrato de uranila 455 ocorrência e abundância 183
Abundância dos gases no ar seco 237 nomenclatura dos elementos óxido 193
Acelerador linear 450, 457, 467 superpesados 459 ponto de ebulição 181
Acetaldeído, preparação de 411 novos elementos transurânicos 457 ponto de fusão 184
Acetato básico de berílio 175 ocorrência e preparação 449 potenciais padrão de redução 85,
Acetileno, vide Etino óxidos 445 185
Ácido adípico 254 pitchblenda 449, 453 processo Hall-Héroult 184
Ácido de Caro 288 plutônio 455 raio iônico 184
Ácido ditiônico 283 posição na tabela periódica 447 raio metálico 69, 184
Ácido hipofosfórico 260 principais isótopos e suas fontes reação de Friedel-Crafts 194
Ácido hipofosforoso 260 450 sulfato 186
Ácido malônico 214 projeto Manhattan 453, 468 vide também Grupo 13
Ácido metafosforoso 260 propriedades gerais 451 Amerício, vide Actinídios
Ácido nítrico 253 propriedades químicas 454 Amolecimento da água 171, 286
Ácido ortofosfórico 257 protactínio 452 Amônia 241, 248
Ácido peroxossulfúrico 287, 291 série de decaimentos 465 amônia líquida 133, 153, 170, 245
Ácido sulfâmico 282 série de decaimentos 465 detecção 243
Ácido sulfúrico 271, 282 meias-vidas 457 estrutura 37, 39, 41
Ácido sulfuroso, série do 283 nomenclatura 457 ligação 17
Ácido tiônico, série do 286 tório 451 obtenção pelo processo Haber-
Ácidos de halogênios 305-308 torita 449 Bosch 123, 250
Ácidos e bases duros e moles 136 uraninita 453 obtenção pelo processo soda 164
Ácidos e bases, teorias de 137 urânio 453 processo cianamida 250
Arrhenius, teoria de 131 Actínio 348 Amônia líquida 134, 154, 247
Bronsted-Lowry, teoria de 133 série de decaimentos 465 Análise por ativação 475
duros e moles 136 vide também Grupo do Escândio Análise por diluição isotópica 476
em solventes protônicos 132-134 Afinidade eletrônica 79 Andrussov, processo (HCN) 228
escala de pH 133 Água 285-288 Anfibólios 221
Lewis, teoria de 134 estrutura 33, 38, 41 Anilina 255
Lux-Flood, teoria de 135 fluoreto na água potável 294 Antimônio
Usanovich, teoria de 135 ligação na 16 eletronegatividade 238
Ácidos halosos 309 limite de contaminantes definida energia de ionização 238
Ácidos hipohalosos 309 pela CEE 285 estrutura eletrônica 236
Aço 68, 173, 206, 213, 239, 383 Alnico 406 formas alotrópicas 238
diagrama de fase do 384 Alquilclorosilanos 227 haletos 250
Acoplamento Alto-forno 384 hidreto 246
de momentos angulares orbitais Alúmens 98, 187, 368, 392 íon antimonil, SbO* 250
479 Aluminatos 148, 192 ocorrência, extração e aplicações
de momentos de spin 480 Alumínio 238
de spins e momentos angulares alúmens 98, 187, 368, 392 ponto de ebulição 238
480 alumina 191 ponto de fusão 238
Actinídios 448-460 aluminatos 148, 192 potencial padrão de redução 85,
actinídios posteriores 456 aplicações 182 247
amerício 457 bauxita 181 raio covalente 239
areia monazítica 438, 449 carbeto 211 vide também Grupo 15
comparação com os lantanídios cimento 187 Anti-neutrino 463
448 cloreto 197 Aplicações de radioisótopos 474
disponibilidade de isótopos 451 complexos 198 Aragonita 216
elementos superpesados comportamento anfótero 194 Areia monazítica 346, 439, 450, 452
estados de oxidação 448 compostos organometálicos 199 Argilas 223
estrutura eletrônica 447 criolita 182 Argônio - veja grupo 18
extração 453 eletronegatividade 185 Armas termonucleares 472
fissão 453 energia de ionização 76, 185 Arrhenius, teoria dos ácidos de" 131
fissão nuclear 453, 467 estrutura eletrônica 180 Arsênio
fluoretos 467 etil-alumínio 200 energia de ionização 239
haletos 455 extração e aplicações 181 estrutura eletrônica 238
hidretos 454 fluoreto 181, 298, 302 formas alotrópicas 241
ÍNOICE ALFABÉTICO 511

haletos 251 ponto de fusão 238 ácido fluorobórico 190


hidreto 244 potenciais padrão de redução 247 ácido ortobóricol88
ocorrência, extração e aplicações raio covalente 238 análise qualitativa do 191
239 vide também Grupo 15 aplicações do 181
óxidos 258 Bloco d 328-341 boratos 188
ponto de ebulição 240 caráter metálico 333 bórax 181, 194
ponto de fusão 240 caráter nobre 337 borazina 191
potenciais padrão de redução 85, estabilidade dos compostos nos boretos 191
249 vários estados de oxidação 334, borohidreto de sódio 149, 193
raio covalente 241 343 borohidretos (tetrahidridoboratos)
eletronegatividade 241 estado de oxidação variável 333 149, 193
vide também Grupo 15 grupo do escândio 342 carbeto 181, 191, 210
Arsina 242 grupo do ferro 381-396 carboranos 199
Asbestos 162 grupo do manganês 372-383 compostos organometálicos de 199
Astato 293 grupo do níquel 381, 407-415 diagramas de orbitais moleculares
ATP 237 grupo do titânio 345-352 49, 52
Azobacter 239 grupo do vanádio 353-363 diferenças do B em relação aos
Azotetos 59, 247, 254 grupo do zinco 423-436 demais elementos do Grupo 198
Azul da Prússia 388 introdução aos elementos de di-haletos 197
Azul de Túrnbull 388 transição 332-345 eletronegatividade 186
ligações metal-metal e clusters 341, energia de ionização 75
Bactéria nitrificante 239 352, 3564360, 3631 368 estrutura atômica 1
Bactérias desnitrificantes 239 medidas das propriedades estrutura do
Balança magnética de Gouy 335 magnéticas 337 boro 184, 199
Band-gap de semicondutores 32 metaloenzimas e metaloproteínas boratos 189
Bário, vide Grupo 2 341 estrutura eletrônica 180
Bastnaesita 439 momentos magnéticos de alguns extração 180
Bateamento 417 complexos da Ia série 339 hidretos 196
Baterias de Ni/Cd 427 não-estequiometria 340 compostos conhecidos 196
Bauxita 182 nomes dos 328 preparação de 197
Bednorz e Müller 72 potenciais padrão de redução 85, reações dos 197
Benzeno amincianoníquel (clatrato) 88, 345, 350, 357, 363, 373, 416, hidroboração 197
410 427 isopoliácidos 188
Berílio propriedades magnéticas dos 337- molécula de 51
acetato básico de 175 342 monohaletos de 195
aplicações do 167 lei de Curie 335 nitreto de 197
carbeto de 210 de complexos octaédricos 107 ocorrência e abundância 181
estrutura atômica 1 de complexos tetraédricos 113 peroxoborato de sódio 181, 190
estrutura eletrônica do 165 raio iônico, efeito da contração ponto de ebulição 181
estrutura metálica do 63 lantanídica 331 ponto de fusão 184
extração do 164 raio metálico 7 raio metálico 69, 184
fluoreto de 37, 42 relações horizontais nos Grupos do reação de Friedel-Crafts 194
íon tetrafluoroberilato 176 Fe, Co e Ni 413 reações do 186
molécula de 50 Bloco f 436-459 sesquióxido de 182, 188
nitrato básico de 172 Bloco p 179, 327 teste da pérola de bórax 188
ocorrência e abundância do 163 orbitais 7-10 tetrahidridoboratos 193
oxalato complexo de 176 Bloco s 139-181 trifluoreto de 37, 41, 194
propriedades anômalas 165, 167, orbitais 7-10 vidro borossilicato 224
177 Bohr vidro Pirex 224
vide também Grupo 2 teoria de 3 Borohidretos (tetrahidridoboratos) 193
Berquélio, vide Actinídios órbitas de 4 Brilho dos metais 62
Bismuto refinamentos da teoria de 4 Brometo de hidrogênio 303
bismutina 243 órbitas de Sommerfield 5 caráter iônico 82
eletronegatividade 240 Bomba atômica 455 força do ácido 303
energia de ionização 240 Bomba de hidrogênio 472 preparação 304
estrutura eletrônica 236 Bombardeamento com íons 450, 457, Bromo
haletos 248 467 afinidade eletrônica 78, 298
hidreto 242 Boratos 188 bromo positivo 318
íon bismutil 250 Boretos 191 compostos interhalogenados 314
ocorrência, extração e aplicações Born-Haber, tipos de ciclos de 78, 86, cor dos halogênios 296
237 143, 302 eletronegatividade 81, 299
óxidos 256 Bornita 415 energia de hidratação 298
ponto de ebulição 238 Boro energia de ionização 76, 299
512 ÍNDICE ALFABÉTICO

estrutura eletrônica 294 Carbono Célula de Leclanché 427


extração e aplicações 297 carbetos 210 Células de Downs 139
ocorrência e abundância 294 covalentes 211 Células fotovoltaicas 34
óxidos 307 intersticiais 210 Cementita 210
oxoácidos 308 iônicos 210 Centros de cor 31
poder oxidante dos halogênios 298 carbonilas 212, 360, 368, 373, 384, Cerâmica 224
polihaletos 314 388, 400, 409 Cério, vide Lantanídios
ponto de fusão 397 carvão ativado 203 Césio
potenciais padrão de redução 397, catenação 206 estrutura do cloreto de césio 24
308 ciclo do carbono 215 vide também Grupo 1
raio iônico 296 coque 203, 381 Chips de computador, confecção de 35
raios covalentes 296 datação de 206, 466, 474 Chumbo
reação com água 300 diagrama de OM 50 azoteto 245
reatividade 300 diamante 203, 205 baterias de 205
trifluoreto de 314 diferenças do Si dos demais chumbo branco 205
vide também Grupo 17 elementos do Grupo 14 206 chumbo vermelho 205, 218
Bromo e iodo positivos 316 dióxido de carbono 37, 44, 59, 215 cromato 205
Bronsted-Lowry, teoria de ácidos de abundância no ar 237 eletronegatividade 81, 207
133 sólido 213 energia de ionização 207
Bronze 204 dlssulfeto de 217, 233,274 estrutura eletrônica 203
eletronegatividade do 81, 209 extração e aplicações 205
Cádmio, vide Grupo do Zinco energia de ionização do 207 galena 206
Cal (CaO) 162, 164, 171 estrutura atômica do 1 haletos 232
água de 170, 214 estrutura eletrônica do 203 hidreto 229
no processo da soda cáustica 160, extração e aplicações do 203 nitrato 253
162 formas alotrópicas do 205 ocorrência e abundância 203
Calamina 425 gás d'água 211 óxidos 218
Cálcio gás de carvão 211 ponto de ebulição 207
aplicações do 165 gasogênio 211 ponto de fusão 207
carbeto de 26, 174, 210 grafite 203, 205 potencial padrão de redução 208
carbonato de 215 compostos de 208 processo das câmaras de chumbo
cianamida dei74, 210, 248 haletos de 17, 37, 230, 296 283
cloreto del7, 162 haletos de carbonila 212 raio covalente 207
estrutura eletrônica do 163 hidretos de 227 reatividade 208
extração do 165 mistura de clorofluorocarbonos removedor (scavenger) 298
fluoreto de 24, 153, 173 231, 296, 302 sulfeto de 205
fluoroapatita 164 molécula de C2 52 tetraacetato de 230
fosfato de 237 monóxido de 211 tetraetil 234
hidróxido de 158, 162, 169 determinação 309 toxicidade do 234
hipoclorito de 171 estrutura molecular 50 vide também Grupo 14
ocorrência e abundância do 164 negro de fumo 203 Chumbo vermelho 205, 218
papel em sistemas biológicos 178 ocorrência e abundância 203 Chuva ácida 124, 274
sulfato de 164, 171 ponto de fusão do 207 Cianamida 176, 249
vide também Grupo 2 raio covalente do 207 Cianatos 229
Calcita 214 reatividade do 207 Cianeto de hidrogênio 229
Calcocita 413 subóxido de 214 Cianetos 228
Calcopirita 413 tetracloreto de (tetraclorometano) Cianogênio 229
Califórnio, vide Actinídios 17, 37, 230, 390 Ciclohexanol 256, 353
Câncer, tratamento do 412, 475 tetrafluoreto de Ciclohexanona 245, 256, 352
Caolim 222 (tetrafluorometano) 230, 296 Ciclopentadienil complexos 352, 358,
Captura de elétrons-K 463 vide também Grupo 14 367, 394, 404
Caráter eletropositivo 83 Carborundum 210 Ciclotron 450, 467
Caráter metálico 83, 330 Carnalita 99 Cimento 187
Carbetos Carnotita 350, 453 Cimento com alto teor de alumina 187
covalentes 210 Cassiterita 206 Cimento Portland 187
estrutura cristalina do CaC2 26 Castner Kellner, processo (NaOH) 160 Cinnabar 425
intersticiais 210 Castner, processo (NaCN) 226 Circuitos integrados 35
do Grupo 1 152 Catalase e peroxidase 392 cis-Platina 412
do Grupo 2 174 Catalisador de didímio 159, 439 Citocromo 383, 393
Carbonato de cálcio 165 Catalisador de Natta 201 Clatratos 323
Carbonilas 211, 360, 367, 385, 388, Cavendish 320 Cloreto de hidrogênio 295, 303
400, 409 Celofane 215 caráter iônico 82
Carbonização por via úmida 313 Célula de diafragma 160 estrutura molecular 57
ÍNDICE ALFABÉTICO 513

força do ácido 304 configuração eletrônica 112 Coordenadas cartesianas polares 8


preparação 302 fatores que favorecem a formação Cor 333
Cloreto de polivinila 161 de 112 Corindo 192
Cloro momentos magnéticos de 113 Craqueamento de hidrocarbonetos 122
afinidade eletrônica do 78, 297 desdobramento dos níveis de Criolita 182
compostos interhalogenados 313 energia 112 Criptandos 155, 178
cor dos halogênios 293 Complexos Criptônio, vide Grupo 18
dióxido de 296, 307 com alcenos 411 Crisotilo 222
eletronegatividade do 81, 197 condutividade dos 100 P-cristobalita 25, 207
energia de hidratação do haletos de elementos de transição 332,341 Cromatos 361, 364
304 doadores p 116 Cromita 360
energia de ionização do 76, 304 efeito Jahn-Teller 108-111 Cuprita 416
estrutura eletrônica do 296 espectro eletrônico de 101, 104 Cúrio, vide Actinídios
ligações no 17, 298 éteres-coroa e criptatos 155, 178 de Broglie e a natureza dual do
obtenção e aplicações do 294 forma dos orbitais d 101 elétron 6
ocorrência e abundância do 293 isomeria em 100, 117-119
óxidos de 307 ligação em 102-106 Decomposição térmica 91
oxoácidos de 309 medidas crioscópicas de 100 Defeito Schottky 30
percloratos 307 momento de dipolo de 101 Defeitos em sólidos 30
poder oxidante dos halogênios 302 momento magnético de 114 centros de cor 31
polihaletos 316 nomenclatura de 116 condução extrínsica 33
ponto de fusão do 298 número atômico efetivo de 101 deficiência de metal 32
potencial padrão de redução do número de isômeros em 100 estequiometria 30
207, 309 octaédricos 104-108 excesso de metal 31
raio covalente do 297 octaédricos distorcidos 108 não-estequiometria 31
raios iônicos 297 polinucleares 116, 119 número de defeitos 30
reação com água 300 quadrado-planares 110-111 semicondutores do tipo-n 32
reatividade do 300 vide também Grupo do Níquel semicondutores do tipo-p 32
trifluoreto de 297, 314 quelato 112 semicondutores intrínsecos 31
vide também Grupo 17 receptores p 116 tipo Frenkel 30
Clorofila 176 receptores da classe a e b 331 tipo Schottky 30
Clostridium botulinium 254 série espectroquímica 105 Defeitos Frenkel 30
Clostridium pastorianum 239 tetraédricos 111 Deficiências de elétrons 195, 199
Clusters 232, 341, 352, 355, 367, 375 Werner, a contribuição de 99-101 Densidade
Cobaltita 394 Composto de Vaska 401 dos elementos, Apêndice D
Cobre cementado 415 Compostos de Grignard 165, 175, 225 dos núcleos 461
Coloração da chama Compostos de sulfurila 286 Desproporcionamento 89
Grupo 1 142 Compostos de tionila 285 Detergentes 159, 281, 301
Sódio 1, 31 Compostos fosfonitrílicos 251, 265 Detergentes biodegradáveis 280
Columbita 352 Compostos interhalogenados 313-317 Deutério 124
Combinação não-ligante de orbitais 49 Condutividade preparação de compostos 125
Combustível nuclear 470 de compostos iônicos, covalentes e Diagrama de correlação 60
Complexos de bipiridina 331 metais 20 Diagrama de Ellingham 94
Complexos de dimetilglioximato (Ni) de metais 62 Diagrama de energia combinada de
411 medidas em complexos 100 Orgel
Complexos octaédricos 103-109 Condutores unidimensionais 412-413 d‘ e d? 487
configuração eletrônica simétrica Condutores, isolantes e d2 e d? 489
107 semicondutores 63-68 d5 492
configurações eletrônicas Configuração estável, obtenção de uma Diagrama de fase
assimétricas 107 15 cobre/zinco 71
desdobramento de campo Constante de Madelung 28 estanho/chumbo 70
cristalino Construção da bomba atômica 469 ferro/carbono 68
para hexaaquacomplexos 105 Construção dos elementos 11-15, 50 solução sólida cobre/níquel 69
desdobramento de campo Contração lantanídica 445 Diagramas de energia livre (Ellingham)
cristalino Conversor Bessemer-Thomas 385 94
para vários ligantes 106 Conversor catalítico 408 Diamante 204, 205
distorção de 107 Conversor de deslocamento 122 Dibenzeno cromo 367
teoria da ligação de valência 102 Coordenação 1.2- dibromoetano (dibrometo de
teoria de OM 103, 115 compostos de 98-121 etileno) 297
[CoFJ3- 115 isomeria de 118 1.2- dicloroetano (dicloreto de etileno)
Co(NHJ)6]3"’ 116 isomeria de posição 118 301
teoria do campo cristalino 103-107 número de 100 Diferenças entre os elementos da 1*
Complexos tetraédricos 111 Coordenadas cartesianas polares, 8 série de transição e as demais
514 ÍNDICE ALFABÉTICO

séries 339 Empacotamento hexagonal compacto spin-órbita 480-482


Difração de elétrons 6 18 atômico (hidrogênio) 3
Diminuição do ponto de fusão 101 Energia de ionização 76 configuração eletrônica dos
Dióxido de Carbono 213 tabela de 77 elementos 478
Dispositivos termonucleares 125 Energia de ligação 464 d-d 334, 478-494
Disprósio, vide Lantanídios Energia de ligação nuclear 464 de absorção atômica 145
Distâncias nucleares 461 Energia reticular 27-30 de emissão 145
Distorção tetragonal 108 e dureza 30 de íons d' e d? 486-488
Dureza da água 170 e EECC 107 de íons d2 e ds 488
Dureza de minerais 30 equação 27 de íons d5 491
vide Apêndice N, escala de Mohs Enferrujamento 384 de transferência de carga 232, 354,
Dureza, escala de Mohs 30, 204, 206, Enxofre 355, 362, 365, 372, 378, 386,
210, Apêndice N abundância 270 390, 419, 424, 428, 430
alotropia e estrutura 274 desdobramento dos níveis
EDTA 177 aplicações 269 eletrônicos 485
Efeito do par inerte 184 compostos de enxofre e nitrogênio determinação do estado
Efeito estufa 123, 215, 230 292 fundamental 482
Efeito fotoelétrico 6 comprimento de ligação e ligação do [Co(H2O)6]2* 491
Efeito Jahn-Teller 108-111 pn-dn 276 do [CoClJ2- 491
distorção tetragonal de 108 dióxido 45, 279 do [Mn(H2O)6]2* 492
em complexos quadrado planares chuva ácida 125, 272 do [Ni(H2O)6]2* 489
109 detecção e análise 279 do [Ti(H2O)6]3+ 104, 486
teorema de 109 como solvente não-aquoso 279 do [V(H2O)6]3* 488
Einstênio, vide Actimdeos eletronegatividade 81, 275 do Grupo 1 145
Elemento do bloco d 327-330 energia de ionização 76, 275 f-f 443, 448
abundância dos 340 estrutura eletrônica 269 método do número de vacâncias
complexos dos 331, 340 estrutura molecular 273 482
cor dos 333 extração e aplicações 272 microestados
densidade dos, 333 Apêndice D haletos 288 determinação do número de 484
diferenças entre a Ia série e as hexafluoreto de 44, 297 para a configuração d2 483
duas outras séries 339 hidreto 273, 286 para a configuração p2 479, 481
EECC de dihaletos 107 oxoácidos 283-285 níveis de energia nos átomos 478-
eletronegatividade dos 81 oxohaletos 285 482
grupo do cobalto 379, 396-404 polissulfetos 288 Orgel, diagrama de energia
grupo do cobre 415-425 ponto de ebulição 274 combinado de
grupo do cromo 360-370 ponto de fusão 274 de íons d' e d9 487
pontos de ebulição dos, 333 potenciais padrão de redução 274 de íons d2 e d5 489
Apêndice C processo de contato (para SO2) de íons ds 492
propriedades catalíticas dos 339 279, 351,409 Pauli, princípio de exclusão de 11,
raio covalente dos 75, 333, 341 processo Frasch 269 478
e a contração lantanídica 333 raio covalente 274 Racah, parâmetros de 115, 489
receptores de classe a e b 333 raio iônico 274 regra de Hund 11-13, 50, 478
Elementos de transição interna 12, 436- trióxidos 45, 58, 279 para determinação do estado
459 vide também Grupo 16 fundamental 482
Elementos eletronegativos 15 Enxofre de Engel 274 Regras de seleção
Elementos eletropositivos 15 Enxofre monoclínico 272 de Laporte 484
Elementos essenciais 155 Equação de Born-Landé 28 de spin 485
Elementos mais pesados, vide Equação de Nernst (potencial de Tanabe-Sugano, diagrama de 492
Actinídios eletrodo) 85 termos espectroscópicos,
Elementos superpesados Equação de onda 6-11 determinação dos
meias-vidas 458 função global da 10 para a configuração d2 483
nomenclatura 457 parte angular da 9 para a configuração p2 480
Elétron, partícula ou onda 5 parte radial da 8 para subníveis preenchidos 483
Eletronegatividade 80 Érbio, vide Lantanídios transições permitidas e proibidas
Eletronegatividade de Allred e Rochow Esfarelita (blenda de zinco) 24, 426 484
83 Esmaltita 395 Espectro atômico 1-5
Eletronegatividade de Mulliken 82 Espectro 478-494 série de Balmer 1-4
Emissão beta 462 absorbância 484 série de Brackett 1-4
Empacotamento cúbico compacto 18 acoplamento ' série de Humphries 1-4
Empacotamento cúbico de face dos momentos angulares de série de Lyman 1-4
centrada, vide empacotamento spin 480 série de Paschen 1-4
denso dos momentos angulares série de Pfund 1-4
Empacotamento compacto de esferas 18 orbitais 479 Espectro de emissão 145
INOICE ALFABÉTICO 515

Estabilidade do núcleo e relação N/P Estruturas ocorrência e abundância do 205


462 baseadas em retículos de óxidos de 307
Estabilidade dos compostos dos empacotamento compacto 28, 23 poder oxidante dos halogênios 299
elementos do bloco d em vários de compostos covalentes 37-60 ponto de fusão do 299
estados de oxidação 329, 339 de compostos lamelares 25 potencial padrão de redução do
Estados espectroscópicos 479 de metais 18, 64 299
Estanano 228 de sólidos iônicos 24, 26 raio covalente do 298
Estanho Etanal (acetaldeído), preparação de raio iônico 297
bronze 205 406, 408, 430 reação com água 299
cassiterita 204 Etanolamina 132, 215, 248 reatividade do 300
complexos 232 Eteno 18 Fluoreto de hidrogênio 294, 301
compostos organoestanho 205 Éteres-coroa 155, 178 caráter iônico 82
eletronegatividade 81, 207 Etileno, vide Eteno como solvente não-aquoso 304
energia de ionização 207 Etino 18, 175 estrutura 37
estrutura eletrônica 202 Európio, vide Lantanídios força do ácido 304
folha de 205 Explosivos 256 obtenção 301
haletos 231 Expoente de Born 28 Fluoreto em água potável 295
hidretos 227 Extração e isolamento dos elementos Fluorita 24, 174
obtenção e aplicações 204 91- 96 Fluoroapatita 237, 250
ocorrência e abundância 203 métodos gerais Fluoroborato, íon 191
organo compostos 234 decomposição térmica 91 Forças de coesão em metais 62, 143
óxidos 204, 217 método do deslocamento 92 Forças de van der Waals 20, 25, 29, 63,
ponto de ebulição 207 redução a altas temperaturas 92 125
ponto de fusão 207 redução eletrolítica 93 Forma dos orbitais atômicos 7
potenciais padrão de redução 208 separação mecânica 91 Forma dos orbitais d 102
raio covalente 207 termodinâmica dos processos de Formação dos elementos 473
reatividade 208 extração 93 anã-branca 474
solda 70, 205 Fat man (bomba atômica) 469 gigante vermelho 473
vide também Grupo 14 Feldspatos 224 processo-r 474
Estelita 395 Fenacita 219 processo-s 474
Estereoisomeria 118 1,10-Fenantrolina (o-fenantrolina) 388 processo-x 474
Estibina 243 Fentometros 461 supemova 474
Estrôncio, vide Grupo 2 Fermentação 213 Forno Siemens aberto 384
Estrutura atômica 1 Fermento químico 147 Forno Siemens de arco elétrico 383
Estrutura cristalina de sólidos iônicos Férmio, vide Actimdios Forsterita 219
arseneto de níquel 26 Ferredoxina 370, 380, 392 Fosfatos 258-262
baseado em empacotamento Ferretina 392 análise qualitativa de 259
compacto 23 Ferricianeto, íon 386-392 aplicações do 261
blenda de zinco 24 Ferro forjado 382 pirofosfato de sódio 261
carbeto de cálcio 26 Ferro gusa 381 problemas ambientais 260, 263
cloreto de cádmio 26 Ferroceno 394 sal de Graham 258
cloreto de césio 24 Ferrocromo 360 sal de Maddrell 258
cloreto de sódio 24 Ferroína 387 tetrametafosfato de sódio 260
empacotamento denso 23 Ferromanganês 370 trietilfosfato 250, 258, 262
energia reticular 27-30 Ferrosilício 204 trimetafosfato de sódio 260
estrutura em camadas 25 Ferrovanádio 351 tripolifosfato de sódio 259
fluoreto de cálcio 24 Fertilizantes 235, 244, 24 tritolilfosfato 250, 262
iodeto de cádmio 25 Fissão espontânea 465 Fosfazenas 262
perovskita 252, 378 Fissão nuclear 453 Fosfina 242
relação de raios limite 22 Fissão nuclear 461, 467 Fósforo
rutilo 24 Flúor ácido fosfórico 257-261
sílica 25 afinidade eletrônica do 78, 298 ácido fosforoso 260
trióxido de rênio 378 compostos interhalogenados 314- compostos organometálicos 264
wurtzita 24 315 eletronegatividade 239
Estrutura cristalina dos metais 18, 64 cor dos halogênios 296 em fertilizantes 236, 248
Estrutura cúbica de corpo centrado 18 eletronegatividade do 81, 298 energia de ionização do 238
Estrutura eletrônica, diferentes energia de hidratação do fluoreto estrutura eletrônica 234
representações 12 298 formas alotrópicas 241
Estrutura em camadas do núcleo 461 energia de ionização do 76, 298 fosfazenas 250, 263
Estruturas lamelares 25 estrutura eletrônica do 293 haletos de 248-250
Estruturas moleculares e teoria da estrutura molecular do 54 hidretos de 242
repulsão dos pares de elétrons de extração e aplicações do 294 ligação drt-pn 255
valência 38-41 força da ligação F-F 298 ocorrência, obtenção, aplicações 236
516 Inoice alfabético

óxidos 256 carbonatos 141, 159-163 densidade 166


oxoácidos 257-262 ciclo de Born-Haber 143 dureza da água 170
oxocloretos 250 coloração da chama 145 eletronegatividade 81, 167
ponto de ebulição 237 complexos com éteres-coroa e energia de hidratação 167
potenciais padrão de redução 85, criptandos 155 energia de ionizaçâo 76, 167
247 compostos orgânicos e estrutura atômica do Be 1
raio covalente 239 organometálicos 153 estruturas cristalinas dos metais 64
sulfetos 262-263 cor dos compostos 145 haletos 173
superfosfato 249 densidade 142 hidretos 172
vide também Grupo 15 diferenças entre o Li e os demais hidrólise dos sais 168
Fosgênio 230 elementos do grupo 156 hidróxidos 169
Fotocopiadoras 271 dureza dos metais 144 importância biológica 178
Fotografia 283, 297, 417 eletronegatividade 81, 142 métodos de extração 164
Fotossíntese 213 energia de ionizaçâo 76, 142 nitratos 172
Frâncio, vide Grupo 1 energia de ligação 144 nitrato básico de berílio 173
Frankland 430 estrutura atômica do Li 1 nitretos 174
Freons 230, 295, 301 estrutura eletrônica 139 ocorrência e abundância 164
Funções de distribuição radial 9 estruturas cristalinas dos metais óxidos 170
Fusão nuclear 471 64, 144 pontos de ebulição 167
extração 140 pontos de fusão 167
Gadolínio, vide Lantanídios célula de Downs 140 raio covalente 75
Galena 204 fermento químico 149 raio iônico 166
Gálio, vide Grupo 13 fosfatos 260 raios metálicos 70, 166
Galvanização do ferro 385 haletos e polihaletos 150 reação com água 169
Gás d'água 123, 210 hidretos 150 reações com ácidos e bases 170
Gás de carvão 211 hidróxidos 141, 147, 149 reagentes de Grignard 165, 175
Gás mostarda 289 importância biológica 141, 156 relação de raios dos óxidos,
Gases nobres, vide Grupo 18 ocorrência e abundância 139 sulfetos, etc 26, 171
abundância dos gases no ar seco óxidos sais insolúveis 175
236 normal 147 solubilidade dos sais e energia
Estrutura eletrônica dos 15 peróxido 147 reticular 168
Gasogênio 213 superóxido 53, 147 soluções em amônia líquida 169
Gelo-seco 213 raio covalente 75 sulfatos 172
Gemas, pedras preciosas 217 raios metálicos 70 Grupo 13 182-203
Geometria das moléculas covalentes reações dos elementos 146 alúmens 18
38- 41, 57-60 com água 146 aluminatos 148, 195
Germânio com ar 146 análise qualitativa dos 192
como semicondutor 32 com nitrogênio 146 boratos 190
eletronegatividade do 81, 207 relação de raios dos haletos 26 bórax 183, 191
energia de ionizaçâo 207 relação diagonal 157 borazina 197
estrutura eletrônica 202 solubilidade dos sais 151 boretos 191
extração e aplicações 203 solubilidade em amônia líquida Brown, H.C. 198
haletos 232 153 carbeto de boro 182, 192
hidretos 229 sulfetos 148 carboranos 200
ocorrência e abundância 203 tipos de ligação 142 cimento 188
óxidos 216 Grupo 2 163-179 cloreto de alumínio 195
ponto de ebulição do 207 aplicações 165 complexos 196
ponto de fusão 207 bicarbonatos 170 comportamento anfótero 193
raio covalente do 207 cal 158, 162, 171 compostos organometálicos 200
reatividade 208 cianamida 172, 210, 249 corindo 192
ultrapuro 33, 204 complexos 176 criolita 182
vide também. Grupo 14 acetato básico de berílio 176 eletronegaividade 185
Germanos 229 clorofila 177 energia de ionizaçâo 76, 186
Grafite 203, 206 EDTA 177 estrutura atômica do boro 1
compostos de 208 nitrato básico de berílio 173 estrutura eletrônica 185
Granadas 219, 343 oxalato de berílio 176 etilalumínio 200
Grau de participação dos orbitais d nas tetrafluoroberilato, íon 176 extração e aplicações 182
ligações 43 complexos com éteres-coroa e hidreto de alumínio e lítio 150, 193
Grupo 1 140-160 criptandos 178 nitreto de boro 197
alquilas 153 comportamento anômalo do Be ocorrência e abundância 180
aplicações dos 140 163, 167, 178 potenciais padrão de redução 85,
bicarbonatos 149 compostos organometálicos 175 185
carbetos 153 Curie, Marie 164 Processo Hall-Héroult 182
Índice alfabético 517

raio iônico 185 amônia líquida como solvente 245 extração e aplicações 269
raio metálico 70, 185 aplicações dos fosfatos 26 haletos 288
reação de Friedel-Crafts 194 azidas 60, 246, 252 hidretos 286
reações dos elementos do 186 bactéria desnitrificante 239 ligação pn-dn 275
sesquióxido de boro 182, 188 bactéria nitrificante 239 minérios na forma de sulfetos 270
sulfato de alumínio 187 ciclo do nitrogênio 239 organo derivados 291
sulfatos 187 compostos organometálicos 266 óxidos 270, 276
teste da pérola de bórax 188 comprimento de ligação e ligação oxoácidos de S 280-284
trifluoreto de boro 37, 42, 194 prt-dn 276 oxoácidos de Se e Te 275
Grupo 14 203-236 eletronegatividade 81, 240 oxohaletos de Se 284
alotropia 205 energias de ionização 76, 240 peróxidos e polissulfetos 287
bicarbonatos 213 estrutura cristalina dos metais 64 pontos de ebulição 274
caráter metálico e não-metálico estrutura dos elementos 238 pontos de fusão 274
208 estrutura eletrônica 236 potenciais padrão de redução 85,
carbetos 210 estrutura eletrônica do N 1 275
carbonatos 214 fertilizantes 237, 247, 248 processo de contato (para SO2)
carbonilas 212, 359, 367, 373, 384, fixação do nitrogênio 238, 246, 279, 352, 405
386, 397, 406 360, 370 processo Frasch (enxofre) 269
cianetos 228 formas alotrópicas 239 química do ozônio 59, 272, 273
ciclo do carbono 215 fosfazenas (compostos raio covalente 75, 274
clusters 233 fosfonitrílicos) 252, 265 raio iônico 274
complexos 230 haletos 250 raio metálico 70
compostos de grafita 209 hidrazina 244 reações entre óxidos 268
datação por carbono 207, 467 hidretos 241-245 sulfeto de hidrogênio 270
derivados orgânicos 225-228, 234 estruturas dos 243 Grupo 17 293-326
diferenças entre Si e demais propriedades doadoras dos 243 afinidade eletrônica 78, 298
elementos do Grupo 14 206 hidroxilamina 245 bromo e iodo positivos 317
dissulfeto de carbono 216 ligação pit-dn 257 ciclos termodinâmicos para
efeito do par inerte 208 ocorrência, extração e aplicações força dos ácidos HX 304
efeito estufa 121, 215, 231 236-238 potenciais de oxidação de X2
eletronegatividade 82, 207 óxidos 252-254 299
energia de ionização 76, 207 oxoácidos de fósforo 257-263 compostos interhalogenados 313-
estrutura atômica do C 1 oxoácidos de nitrogênio 254-263 316
estrutura cristalina dos metais 64 ponto de fusão 238 cor dos X, 294
estrutura eletrônica 203 pontos de ebulição 238 eletronegatividade 81, 398
extração e aplicações 203-205 potenciais padrão de redução 85, energia de hidratação dos haletos
haletos 231 247 298
haletos de carbonila 213 problemas ambientais com fosfatos energia de ionização 76, 298
hidretos 228 260, 263 energia de ligação dos compostos
ligações p internas usando orbitais problemas com fertilizante de halogênio 301
d 230 nitrogenados 249 energia de ligação dos X, 298
mecanismos de reação 233 propriedades metálicas e não- estrutura atômica do F 1
ocorrência e abundância 203 metálicas 241 estrutura eletrônica 295
óxidos 211-214, 217 raio covalente 75, 240 extração e aplicações 294-296
ponto de fusão 207 raio metálico 70 força dos ácidos HX 304
pontos de ebulição 207 reatividade dos elementos 241 força dos oxoácidos 313
potenciais padrão de redução 85, série do ácido fosfórico 2570-262 haletos 305
209 série do ácido fosforoso 262 haletos de hidrogênio, HX 302-306
raio covalente 75, 207 sulfetos 263 tabela de propriedades 303
raio metálico 70 teste de Marsh 243 ligação no HF 17
reatividade 208 tipo de ligação 240 ocorrência e abundância 294
silicatos 218-225 Grupo 16 267-292 óxidos 306-310
silicones 225-228 abundância 267 oxoácidos 310-313
Grupo 15 236-266 alotropia e estrutura 272 poder oxidante dos X, 299
amônia 242, 247 compostos cíclicos de S e N 290 polihaletos 317
detecção de 242 compostos de enxofre e nitrogênio pontos de fusão 299
estrutura da 37, 39, 41 290 potenciais padrão de redução 298,
ligação na 17 diferença entre O e os demais 309
líquida 131, 153, 168, 244 elementos do grupo 276 preparação de haletos anidros 306
processo cianamida 248 eletronegatividade 81, 273 propriedades básicas 317
processo Solvay 162 energia de ionização 76, 273 propriedades metálicas 317
produção pelo processo Haber- estrutura atômica do O 1 pseudo-halogênios 317
Bosch 121, 248 estrutura eletrônica 267 raio covalente 75, 297
51B Índice alfabético

raio iônico 297 estrutura eletrônica dos elementos carbeto de tungstênio 210
reação com água 300 do 398 carbonilas de 367
reações dos halogênios 301 haletos dos 400 ciclopentadienil complexos 367
reatividade dos elementos 301 Hodgkin, D.C. 405 cluster de 360, 367
tipos de ligações formadas 298 importância biológica do cobalto compostos de Cr( +1) 364
Grupo 18 319-326 405 compostos de Cr( + II) 364
abundância na atmosfera 320 ocorrência, extração e aplicações compostos de Cr( + III) 364
aplicações 320 dos 398 compostos de Cr( + IV) 364
argônio, íon molécula de 321 óxidos 400 compostos de Cr( + V) 364
Bartlett (primeiro composto de Xe) processo OXO 401 compostos de cromo (0), (-1) e
321 propriedades físicas dos 400 (-11) 364
Cavendish 319 propriedades gerais dos 399 cromatos 361, 366
clatratos 321 reação de adição oxidativa 401 cromita 360
energia de ionização 76, 320 vitamina B,,399, 403 dibenzenocrômio 366
estrutura atômica do Ne 1 Grupo do Cobre 415-425 dicromato 360
estrutura e ligação em compostos abundância, extração e aplicações dissulfeto de molibdênio 360
de xenônio 323 415 espectro do Cr(III) (d3) 364
estrutura eletrônica 15, 320 acetato de cobre(II) anidro 422 estados de oxidação dos elementos
hélio complexos com alcenos 420 do 360
estrutura atômica 1 compostos dos elementos no estruturas eletrônicas dos
íon molécula de 54, 321 estado ( + 1) 419 elementos do 360
molécula de 54 compostos dos elementos no Fischer, E.O. 366
ocorrência e descoberta 320 estado ( + 11) 421 fixação de nitrogênio 360, 368
pontos de ebulição 320 compostos dos elementos no haletos dos elementos do 360
pontos de fusão 320 estado ( + IIII) 423 importância biológica do Cr e Mo
propriedades especiais do He 320 condutividade 415, 418 368
química do xenônio 321-323 cor 418, 421 liga ferrocromo 360
radônio, formação do 320 desproporcionamento 418 ligação quádrupla nos 360, 365
raio atômico 320 distorção tetragonal (Jahn-Teller) ligações metal-metal nos
supercondutividade 321 421 elementos do 365
xenônio estados de oxidação dos 416 molibdatos 360
difluoreto de 322, 324 estrutura eletrônica dos elementos molibdenita 360
fluoro complexos de 323 do 415 molibdenoferredoxina 369
hexafluoreto de 326, 328 fotografia 283, 297, 421 óxido de cromo(III)/ácido crômico
hexafluoroplatinato de 321 haletos dos 300, 418 362
oxofluoretos de 322 importância biológica do cobre óxidos dos elementos do 360, 362
química do 321-323 415, 424 oxohaletos dos 348
tetrafluoreto, íon 322, 324 ligas peroxocompostos dos 362
trióxido de 324 latão 71, 416, 427 poliácidos dos 360, 366
xenato, íon 324 níquel/prata 416 potenciais padrão de redução 85,
Grupo do Cobalto 397 mistura Bordeaux 416 361
carbonilas dos elementos do 400 nitrato de cobre(Il) anidro 422 propriedades físicas dos 360
catalisador de Wilkinson 401 óxidos dos 417 propriedades gerais dos elementos
ciclopentadienil complexos dos potenciais padrão de redução dos do 360
403 85, 418 reatividade dos 360
complexos de nitrogênio dos 401 processo cianeto para extração de scheelita 360
composto de Vaska 401 Au 417, 420 tungstatos 360, 366
compostos dos elementos nos processo Parke (prata) 415 Wilkinson, G. 366
estados ( + 1) 401 propriedades catalíticas 418 wolframita 360
compostos dos elementos nos propriedades físicas dos 418 Grupo do Escândio 342-344
estados (+ II) 402 propriedades gerais dos 414-418 areia monazítica 342, 439, 450,
compostos dos elementos nos quilates (ouro) 417 452
estados (+ III) 404 reatividade dos 415, 418 carbetos 344
compostos dos elementos nos separação do ouro com bateia 416 complexos 344
estados (+ IV) 406 turquesa 416 estados de oxidação 342
compostos dos elementos nos verde de Paris 415 estrutura eletrônica 342
estados (+ V) e (+ VI) 406 Grupo do Crômio 360 extração, separação e aplicações
compostos dos elementos nos abundância, extração e aplicações 342
estados (-1) e (0) 400 do 360 haletos 343
espectro acetato de crômio(II) 360, 366 hidretos 343
do [Co(H2O)6]2* 490 aço para ferramenta de corte 361 óxidos e hidróxidos 343
do [CoCIJ2- 491 análise qualitativa dos 364 potenciais padrão de redução 343
estados de oxidação dos 399 bronzes de tungstênio 368 propriedades físicas 343
ÍNDICE ALFABÉTICO 519

propriedades químicas 343 citocromo 380, 392 haletos 409


tamanho 342 ferredoxina 392 ligas
Grupo do ferro 380-394 ferretina 392 aço inox 408)
1,10-fenantrolina (s-fenantrolina) hemeritrina 394 alnico 408
387 hemoglobina 395 cuproníquel fmoedas) 408
abundância, extração e aplicações mioglobina 392 ferroníquel 408
380-384 sais duplos 384 Hastelloy, C 408
alto-forno 380 teste do anel marron 251, 386 metal monel 305, 408
alúmens 99, 188, 364, 388 Grupo do Manganês 371, 379 nimonico 408
Azul da Prússia 386 abundância, extração e aplicações níquel de Raney 408
Azul de TUmbull 386 371 no estado (+ II) 410-413
carbonilas 288, 386 acetato básico de 371, 375 no estado (+ III) 413
ciclopentadienil complexos 350, carbonilas de 372 no estado ( + IV) 414
358, 364, 393 cluster de 375 no estado ( + V) 414
classificação complexos de 374 ocorrência, extração e aplicações
como metais ferrosos e do compostos com os elementos 407
grupo da platina 380 (+ II) 374 óxidos 409
tríade ferro, cobalto e níquel compostos com os elementos processo de contato (para SO2)
380 (+ III) 375 279, 351,409
comparação de vários tipos de compostos com os elementos processo Monday 212, 408
aços 382 ( + IV) 376 processo Wacker (etanal) 409, 412
complexos com ligação p 386, 393 compostos com os elementos ' propriedades físicas 409
complexos de 386-389 ( +V) 378 propriedades gerais 409
compostos dos elementos no compostos com os elementos relações horizontais nos grupos do
estado ( + 11) 385-388 ( + VI) 378 Fe, Co e Ni 414
compostos dos elementos no compostos com os elementos verde de Magnus 412
estado (+ III) 385-388 ( + VII) 378 Grupo do titânio 345-351
compostos dos elementos no compostos com os elementos (-1), complexos com ciclopentadienila
estado (+ IV) 390 (0) e ( + 1) 372 351
compostos dos elementos no cor 372 comportamento reativo/passivo
estado ( +V) 390 dióxido de 376 346
compostos dos elementos no espectro do [MnfH.OJJ2' 489 compostos dos elementos no
estado (+ VI) 390 estados de oxidação 371 estado ( + III) 348
compostos dos elementos no estrutura eletrônica 371 compostos no estado (+ IV) 348
estado ( +VIII) 390 ferromanganês 370 compostos organometálicos 350
compostos dos elementos nos fotossíntese 374 espectro e cor do (Ti(H2O)JJ* 105,
estados (-II) e (0) 384 importância biológica do 370, 378 486
enferrujamento 384 manganina 370 estados de oxidação 346
estados de oxidação 383 permanganato de potássio 140, estrutura eletrônica 346
estrutura eletrônica 380 370, 378 fixação de nitrogênio 248, 350
ferroceno 393 perrenatos 370, 378 fosfato 259
ferroína 386 pertecnato de amônio e 370 ilmenita 346, 347
fixação de nitrogênio por pirolusita 370 ligas supercondutoras 348
complexos de Ru 387 potencial padrão de redução 85, obtenção e aplicações 346
galvanização 384 371 processo IMI (Ti) 346
hexacianoferrato(II) (ferrocianeto) preparação de Tc 371 processo Kroll 346
386 propriedades físicas 372 processo van Arkel de Boer 346
obtenção do aço 270, 381 propriedades gerais 371 ocorrência e abundância 344
conversor Bessemer-Thomas Re3CI,, unidade 374 óxidos (dióxidos 24, 271, 345, 348
381 trióxido de rênio 378 óxidos mistos 347peróxidos 347)
forno Siemens aberto 384 Grupo do Níquel 381, 406 perovskita 348, 377
forno Siemens de arco elétrico 382 carbonilas 410 polietileno 350
processo básico de oxigênio 382 cisplatina (droga anti-câncer) 413 polímeros estereoregulares 350
processo Kaldo e LD 382 clatrato potenciais padrão de redução 347
pudlagem 381 benzeno(amin)(ciano)níquel 411 propriedades físicas 346
óxidos 386, 388, 390 complexo de dimetilglioximato 411 rutilo 24, 344, 347
potenciais padrão de redução 88 complexos com alcenos 411 tamanho 346
produção e aplicações do aço 383 compostos dos elementos nos tetrahaletos de 346
propriedades físicas 385 estados (-1), (0) e ( + 1) 410 Ziegler-Natta, catalisador de 281,
propriedades gerais 384 condutores unidimensionais 412 350
química bioinorgânica do ferro conversor catalítico (carros) 409 Grupo do Vanádio 351-359
391- 394 estados de oxidação 409 abundância, obtenção e aplicações
catalase e peroxidase 392 estrutura eletrônica 407 351
seo Índice alfabético

carbetos 208, 352 sal de Zeise 433 Indústria cloro-álcalis 122, 158
carbonilas 359 smithsonita 426 Interstícios octaédricos 23
carnotita 351 tamanho 427 Interstícios tetraédricos 23
clusters 351, 356 toxicidade do mercúrio e cádmio Inversão de Walden 233
coloração 353 427, 434 lodeto de hidrogênio 302
columbita 352 Háfnio, vide grupo do Titânio caráter iônico 82
como aditivos do aço 351 Hahn, O. 468 força do ácido 304
complexos 356 Haletos de carbonila 212 preparação 303
compostos de ciclopentadienila Haletos de elementos de transição Iodo
358 (tabelas) 331 afinidade eletrônica 78, 298
compostos de vanadila 356 Haletos em ponte 305 compostos interhalogenados 312-
compostos não-estequiométricos Halogênios, vide grupo 17 316
355 Hélio, vide grupo 18 cor dos X2 294
compostos organometálicos 358 Hemeritrina 393 eletronegatividade 81, 298
espectro do VJ* (d1) 354 Hemoglobina 392 energia de hidratação do iodeto
do [V(H2O)6]3* 488 Heteropoliácidos 358, 368 298
estados de oxidàção 352 Hexacianoferrato(II) (ferrocianeto) 396 energia de ionização 76, 298
estados de oxidação inferiores 358 Hibridizaçâo 41-44 estrutura eletrônica 294
estrutura eletrônica 351 Hidrazina 242 extração e aplicações 296
haletos 354-356 processo Raschig 242 haletos de 304
hidretos 354 Hidretos 125, 128 heptafluoreto de 315
liga ferrovanádio 351 covalentes 126 iodo positivo 316
ligações M-M 354 pontos de fusão dos 127 monocianeto de 318
ligas supercondutoras 351 intermediários 127 monocloreto de 314-318
nitretos 352 intersticiais (metálicos) 124, 127 número de 314
óxidos 357 iônicos 127 ocorrência e abundância 294
pentóxidos como catalisadores 352 tabela de 126 óxidos 308
piroclorito 351 Hidroboração 198 oxoácidos de 308-312
potencial padrão de redução 356 Hidrogênio 121-136 pentafluoreto de 315
propriedades físicas 352 abundância 122 poder oxidante dos X2 298
propriedades gerais 352 abundância no ar seco 237 polihaletos 298
reatividade 352 chama hidrogênio/cloro 301 ponto de fusão 298
tamanho 352 espectro atômico 3 potencial padrão de redução 299,
tantalita 352 estrutura atômica 1 308
vanadatos 357 estrutura eletrônica do 121 propriedades características 308
vanadinita 351 íon hidrogênio 121, 127 raio covalente 297
Grupo do zinco 425-435 isótopos do 124, 139 raio iônico 297
abundância, obtenção e usos 425 ligação no 128, 269, 305 reação com água 300
acetato básico de zinco 431 molécula de 50 reatividade 300
barras de controle de cádmio 453 orto e para 125 tricloreto de 314, 317
baterias de Ni/Cd 427 peróxido de 148, 271, 290 triiodeto, íon 317
calamina 426 preparação do 122 vide também Grupo 17
célula de cátodo de mercúrio propriedades do 123 íon amônio 18
(NaOH) 162 série de Balmer 1, 4 dicromato 363
célula de condutividade 432 série de Brackett 1, 4 nitrato 252
célula de Leclanché 427 série de Humphries 1, 4 perclorato 311
complexos 430 série de Lyman 1, 4 pertecnato 370
compostos de mercúrio( +1} 431 série de Paschen 1-4 sais de 242
compostos organometálicos 433 série de Pfund 1-4 íon carbonato 57
estados de oxidação 427 soluções em metais 124 Irídio, vide grupo do Cobalto
estrutura do cloreto de cádmio 26 Hidroxilamina 245 Isolantes 68
estrutura do iodeto de cádmio 25 Hólmio, vide Lantanídios Isomeria 118-120
estrutura eletrônica 425 de coordenação 118
Frankland 433 Ilmenita 345, 347 de hidratação 118
haletos 429 Importância biológica de ionização 118
importância biológica do zinco 433 do cálcio e do magnésio 177 de ligação 119
latão 71, 416, 427 do cobalto 405 de polimerização 118
óxidos 429 do cobre 415, 423 de posição de coordenação 119
policátions 432 do cromo e do molibdênio 368 facial 100, 406
potenciais padrão de redução 429 do manganês 370 geométrica 101, 119
propriedades físicas 428 do sódio e do potássio 378 meridional 100,. 406
propriedades gerais 428 do zinco 433 número de isômeros 101
reagente de Nessler 244, 300, 430 índio, vide Grupo 13 óptica 119
ÍNDICE ALFABÉTICO 521

Isomeria de hidratação 119 Lentes de Crooke 342, 439 tipos de ligação 15


Isomeria de ionização 118 Liga Hastelloy C 408 Ligação tt 44
Isomeria de ligação 119 Liga nimonico 408 Ligação coordenada 17
Isomeria de polimerização 118 Liga níquel/prata eletrodepositada 408 Ligação covalente 15, 17, 37-61
Isomeria geométrica 119 Ligação Ligação dativa, vide Ligação pn-dn
Isomeria óptica 119 coordenada 17 Ligação delta 49, 423
Isômero cis- 100, 119 covalente 15, 36 Ligantes bidentados 112
Isômero facial 100, 406 teoria da ligação de valência 40 Ligantes, força do campo 105
Isômero meridional 100, 406 teoria da Repulsão dos Pares Ligas 67
Isômero trans 100, 119 Eletrônicos da Camada de intersticiais 67
Isopoliácidos Valência (VSEPR) 37) regras de Hume-Rothery 68
boratos 191 teoria de orbitais moleculares 45 substitucionais 68
cromatos 360 exemplos de moléculas supercondutoras 72
fosfatos 260 diatômicas heteronucleares 55 tipos 67
molibdatos 360, 367 exemplos de moléculas Linnaeita 395
silicatos 2180-225 diatômicas homonucleares 50 Litargírio 218
tungstatos 360, 368 exemplos de ligações n Lítio
vanadatos 357 deslocalizadas multicentradas alquil e aril 153
Isopreno 202 57 carbonato de 140, 146, 155
Itérbio, vide Lantanídios teoria de Sidgwick-Powell 37 coloração da chama 142
ítrio, vide grupo do Escândio tabela de estruturas 35 diferenças em relação aos demais
de caráter intermediário 15 elementos do grupo 155
Lantanídios 12, 437-447 de hidrogênio 128, 268 estearato de 140, 153
abundância e número de isótopos delta 49, 422 estrutura atômica do 1
438 dupla 18, 37 estrutura cristalina do 64
areia monazítica 346, 439, 450, em complexos de metais de estrutura eletrônica 139
452 transição haletos 157
bastnaesita 439 teoria da ligação de valência hidreto de alumínio e 150, 195
catalisador de didímio 159, 439 102 hidróxidos 147, 156
complexos 446 teoria de campo cristalino 101- molécula de 51
compostos dos elementos no 106 n-butil 154
estado (+ II) 442 teoria de orbitais moleculares nitrato de 149, 156
compostos dos elementos no 101, 115 nitreto de 147, 158
estado (+ III) 441 extensão da participação de óxido de 147
compostos dos elementos no orbitais d 43 relações diagonais do 157
estado ( + IV) 442 grau de participação de orbitais d vide também Grupo 1
contração de tamanho 445 na 43 Little boy (bomba atômica) 469
cor e espectro 443 iônica 15, 22-34 Lutécio, vide Lantanídios
energias de ionização 438 ligação pn-dn 230, 257
estabilidade do núcleo e número ligação tripla 18 Magnésio
de nêutrons 439, 462 ligações aplicações 166
estados de oxidação 438 ligações tricêntricas 59, 166, 193, estrutura eletrônica 164
estrutura eletrônica 437 199, 211, 244, 255, 273, 304 extração 165
lentes de Crooke 346, 439 metálica 18, 61-73 processo Dow a partir da água
métodos de separação 440 ligação M-M em compostos do mar 167
mischmetal 346, 439 340, 353, 356, 358,363, 365, processo Dow a partir de
número de coordenação 447 375, 376, 384, 306, 405, 412 salmoura 167
pedras de isqueiro 346, 439 teoria da ligação de valência processo Pidgeon 166
posição na tabela periódica 437 65 importância biológica 178
potenciais padrão de redução 438 teoria de orbitais moleculares clorofila 176
processo Deacon 159, 297, 439 ou teoria de bandas 65 ocorrência e abundância 166
propriedades dos elementos no teoria do elétron livre 65 reagentes de Grignard 165, 175
estado (+ III) 441 multicentrada 57, 125, 211 vide também Grupo 2
propriedades magnéticas 444 no CaCl2 17 Malaquita 416
raio iônico 438 noCCl, 17 Maleabilidade e forças coesivas 62, 64
regra de Harkins 438 no Cl2 17 Manganina 370
solubilidade 443 no H,0 17 Massa crítica 464
supercondutores quentes 73, 439 no HF 17 massa do elétron 1
Lantânio, vide grupo do Escândio no NaCl 16 Massa reduzida 4
Latão 70, 416, 426 no NH3 17 Massa reduzida do elétron 4
Laurêncio, vide Actimdios ordem de ligação 53 Mecânica ondulatória 6-11
Lei de Curie (magnetismo) 338 quádrupla 360, 365 Mecanismos de reação 231
Leis do deslocamento radioativo 466 tetracentrada 58, 154, 194, 255 Medidas crioscópicas 100
5ee ÍNDICE ALFABÉTICO

Meia-vida, período de 464 Moissan (obtenção de flúor) 296 Níveis de energia


Melamina 175, 249 Molibdênio, vide grupo do Crômio de moléculas diatômicas
Mendelévio, vide Actinídios Molibdenita 364 heteronucleares 55
Mercúrio, vide grupo do Zinco Multiplicidade 481 de moléculas diatômicas
Méson-rr 461 homonucleares 50-55
Mésons tt 461 Náfion 162 do CO 56
Metais Nâo-estequiometria no bloco d 342,359 do NO 55
brilho dos 62 Natrolita 222 seqüência de 50
clusters, vide clusters Natureza dual do elétron 5 Nobel, ganhadores do Prêmio
comprimento de ligação 65 Natureza ondulatória do elétron 6 Becquerel, H. A., Curie, P. e Curie,
condutividade 62 n-Butilítio 154 Marie (Física 1903) 273
estrutura cristalina dos 18, 64 Neodímio, vide Lantanídios Bednorz, G. e Müller, A. (Física
forças de ligação 61, 144 Neônio, vide Grupo 18 1987) 72
ligações M-M, vide ligações M-M Neptúnio, vide Actinídios Bohr, N. (Física 1922) 3
ligas 67, 71 Neutrino 463 Bosch, C. e Bergius, F. (Química
ligas supercondutoras 72, 346, 351, Nêutron 1, 461 1931) 249
472 emissão de 463 Brown, H. C. e Wittig, G. (Química
maleabilidade e forças de ligação lento 454 1979) 198
62 rápido 454 Curie, Marie (Química 1911) 164
número de coordenação 64 relação nêutron/próton 462 Fermi, E. (Física 1938) 453, 468
propriedades gerais dos 62-65 Nicolita 407 Fischer, E. O. e Wilkinson, G.
raio dos 70 Nióbio, vide grupo do Vanádio (Química 1973) 367, 394
regra de Hume-Rothery 69-71 Níquel de Raney 408 Grignard, V. (Química 1912) 175
soluções em NH3 líquido 131, 153, Nitrato básico de berílio 172 Haber, F. (Química 1918) 249
169 Nitrato de uranila 455 Hahn, O. (Química 1944) 468
teorias da ligação em 65 Nitrito, íon 59 Hodgkin, Dorothy Crowfoot
teoria da ligação de valência 65 Nitrogênio (Química 1964) 405
teoria de OM ou teoria de abundância dos gases em ar seco Joliot, F. e Joliot-Curie, Irene
bandas 65 237 (Química 1935) 467
teoria do elétron livre 65 azotetos 60, 246 Libby, W. F. (Química 1960) 207
Metais alcalinos terrosos, vide Grupo 2 bactéria desnitrificante 237 Moissan, H. (Química 1906) 296
Metais alcalinos, vide Grupo 1 bactéria nitrificante 229, 248 Ostwald, W. (Química 1909) 255
Metais de transição, propriedades ciclo do 239 Pedersen, C. J., Lehn, J. M. e
catalíticas dos 338 compostos de enxofre e nitrogênio Cram, D. (Química 1987) 155
Metais do grupo da platina 380 291 Pauling, L. (Química 1954) 41
Metais ferrosos 380 diferenças do resto do grupo 238 Rutherford, E. (Química 1908) 467
Metais moeda, vide Grupo do Cobre dióxido de 253 Thomson, J. J. (Física 1906) 3
Metal monel 305, 404 eletronegatividade 240 Werner, A. (Química 1913) 92
Metal Widia 396 energia de ionização 240 Ziegler, K. e Natta, G. (Química
Metaloenzimas e metaloproteínas 340 estrutura atômica 1 1963) 350
Metano 41 estrutura eletrônica 236 Nobélio, vide Actinídios
Metanol 123 estrutura molecular 53 Nomenclatura dos complexos 116
Método da Combinação Linear de fertilizantes 237, 247, 249 Nomenclatura dos elementos
Orbitais Atômicos (LCAO) 46 fixação do 239, 247, 352, 360, 369 superpesados 457
regra para combinação de orbitais haletos 250 Núcleo 461-477
49 ocorrência, obtenção e usos do 236 aplicação de radioisótopos 475
Método do átomo unido 60 ordem dos níveis de energia dos bomba atômica 469
Método do bolo de sal (HC1) 303 OMs 53 Fat man 469
Métodos de extração óxidos 252 Little boy 469
e posição na tabela periódica 96 oxoácidos 254 produção 468
e potenciais de redução 94 ponto de ebulição 238 bomba H 472
Métodos de redução a alta temperatura ponto de fusão 238 decaimento natural gerando
92 potenciais de redução padrão 85, elementos mais leves 466
Micas 222 249 densidade do 461
Microprocessadores, fabricação de 35 raio covalente 238 distâncias nucleares 461
Milerita 407 sesquióxido 253 estabilidade e relação N/P 462
Minérios na forma de sulfetos 271 vide também Grupo 15 estrutura do núcleo 461
Mioglobina 394 Nitrogenase 370, 391 modelo da gota 461
Mischmetal 342, 439 Nitrônio, íon 255, 284 modelo das camadas 461
Mistura azeotrópica 284, 303 Nitrosila, complexos de 253 femtometros 461
Mistura Bordeaux 416 Nitroso Fermi, E. 453, 468
Modelo da gota do núcleo 461 ácido 254 fissão 461,467
Moderadores 470 óxido 252 forças no 462
ÍNDICE ALFABÉTICO 523

fusão do 471 secundário 5, 7 alotropia e estrutura 272


gênese dos elementos 473-475 Nylon-6 245 aplicações 269
anã branca 474 Nylon-66 256, 350 comprimentos de ligação e ligação
gigante vermelha 473 dn-pn 275
processo-r 474 Obtenção do aço 270, 381 diferenças em relação aos demais
processo-s 474 forno de Bessemer-Thomas 382 elementos 276
processo-x 474 forno Siemens aberto 382 eletronegatividade 81, 274
reação de espalação 474 forno Siemens de arco-elétrico 382 energia de ionização 76, 274
supernova 475 processo básico de oxigênio 382 estrutura atômica 1
Hahn, O. 468 processo Kaldo e LD 382 estrutura molecular 53
Joliot, F e Joliot-Curie, Irene 467 pudlagem 383 haletos 289
lei do deslocamento radioativo 466 Ocorrência dos elementos, Apêndice A hidretos 286
massa crítica 468 Oleum 283, 317 obtenção e aplicações 270
tnésons-tr 461 Olivina 219 organo derivados 292
moderadores 470 Orbitais atômicos 6-10 peróxidos 288
modos de decaimento 463 Orbitais atômicos e números quânticos ponto de ebulição 275
captura de elétrons K 463 7 ponto de fusão 275
decaimento 0 463 Orbitais d potencial padrão de redução 276
decaimento y464 forma 102 preparação de 270, 311
decaimento a 465 grau de participação em ligações raio covalente do 272
emissão de nêutrons 463 43 raio iônico 274
emissão de pósitron 463 Orbitais híbridos singlete 278
emissão de próton 464 sp 42 vide também Grupo 16
núcleons 461 sp2 42 Oxoácidos de halogênios 30
número atômico 461 sp3 41, 43 Ozônio 59, 273
número de massa 461 sp3d 43 camada de 252, 274, 303
número de núcleos estáveis e sp3d2 44 ozonetos 275
número de nêutrons 439, 462 Orbitais s 7-10
números mágicos 462 Orbitais, forma dos Paládio, vide grupo do Níquel
oscilação 4 d 7-10, 102 Parâmetros de Racah 115, 489
período de meia-vida 464 Í8 Parathion 264
raio do 461 p 7-10 Parquerização 384
reações de fusão controlada 472 s 7-10 Parte angular da função de onda 9
reações em cadeia 468 Órbitas Parte radial da função de onda 8
reações induzidas 467 circulares 1 Participação de orbitais d em ligações
Rutherford 5, 467 de Bohr-Sommerfield 5 43
separação de isótopos 468 elípticas 5 Pashen, série de 1, 4
centrífuga de gases 469 Ordem de energia dos OMs 50 Pauli, princípio de exclusão de 11, 478
difusão de gases 469 Organização dos elementos nos grupos Pauling, eletronegatividade de 80
difusão térmica 469 13 tabelas 81
separação eletromagnética 469 Osazonas 244 Pedra de isqueiro 342, 439
série de decaimentos radioativos Ósmio, vide grupo do Ferro Pentlandita 407
466 Ouro, vide grupo do Cobre Pentóxido de dinitrogênio 254
unidades e definições 476 Oxidação Permissividade do vácuo 3
Número atômico 1, 460 estado de 84 Permutita 224
Número de massa 461 número de 84 Perovskita 379
Número de núcleos estáveis e número Óxido nítrico 55, 252 Peróxido de hidrogênio 147, 269, 288
de nêutrons 439, 462 Óxido, íon 54 Peróxidos 54, 141, 147, 182, 269, 277,
Número quântico magnético 5, 7, 11 Óxidos 271, 277-280 288, 348, 362
Número quântico principal 5, 7, 11 classificação dos 277 Peroxoboratos 182, 191
Número quântico secundário 7, 11 básico, anfótero, ácido, neutro Pfund, série de 1-4
Números mágicos 462 277 pH, escala de 132
Números quânticos 5, 7, 11 normal, peróxido, superóxido Pidgeon, processo 165
acoplamentos espectroscópicos 277 Pirex, vidro 182, 225
J480 dos elementos de transição Piroclorito 351
L479 (tabelas) 330 Pirolusita 370
S480 propriedades gerais 275 Pirossulfatos 284
e forma da tabela periódica 11 reações entre 276 Piroxenos 221
e orbitais atômicos 8 Óxidos de halogênios 305-310 Pitchblenda 450, 454
de spin 5 Óxidos normais 276 Planck, constante de 4-6
magnético 7 Oxigênio teoria quântica 4
n, l, m, ms 5, 7, 11 abundância 270 Platina, vide grupo do Níquel
principal 5, 7 abundância do gás no ar seco 237 Plumbano 229
524 (NOICE ALFABÉTICO

Plutônio, vide Actinídios camada de ozônio 250, 273, 301 PTFE 228
Poder polarizante 79 chuva ácida 124, 272 Pudlagem (aço) 381
Polarizabilidade 79 conversores catalíticos (carros) 409
Polifosfatos 259-261 detergentes 281 Quartzo 217
Polihaletos 149 fertilizantes nitrogenados 249 Quelatos 112
Polímeros estereoregulares 350 fluoreto em água potável 297 Quilates (ouro) 417
Polissulfetos 148 fosfatos 260 Química bioinorgânica do ferro 390
Polônio limites de contaminantes na água
abundância 268 (CEE) 285 Radiação alfa 465
descoberta e produção 271 mercúrio e cádmio 427, 434 Radiação gama 464
estrutura eletrônica 268 smog fotoquímico 275 Radiografia 476
potencial padrão de redução 274 Processo básico com oxigênio (aço) Radioisótopos, aplicações de 475
vide também Grupo 16 270, 384 análise por ativação 475
Pólvora 270 forno aberto Siemens 382 análise por diluição isotópica 475
Ponto de fusão forno Siemens de arco elétrico 382 datação por carbono 475
de compostos iônicos e covalentes processo Bessemer-Thomas 382 radiografia 476
20 processo Kaldo e LD 384 reações de troca isotópica 475
dos elementos Apêndice B pudlagem 382 tratamento de câncer 476
Porfirina 113, 293, 393 Processo Birkeland-Eyde (HN03) 255 Radônio, vide Grupo 18
Pósitron, emissão de 463 Processo cianeto (ouro) 417, 317 Raio
Potássio Processo de Contato (para SO2) 279, covalente 75
alúmen 99 331, 409 iônico 74
bicarbonato 149 Processo Deacon 159, 401, 439 metálico 70
brometo 297 Processo Degussa (HCN) 229 Raio covalente 75
cloreto 139 Processo direto (Rochow) 226 Raio iônico 74
cobaltinitrito 152 Processo direto de Rochow Raio metálico 70
coloração na chama 145 (alquilclorosilanos) 226 Raschig, processo para obtenção de
complexos de 154 Processo Dow a partir da água do mar hidrazina 242
efeito fotoelétrico 6 (Mg) 166 Reação de Friedel-Crafts 196
em fertilizantes 141 Processo Dow a partir da salmoura Reação de fusão controlada 472
estrutura eletrônica 139 (Mg) 166 Reação de troca isotópica 475
hidrogenocarbonato de 149 Processo Ferrite (Lowig) para NaOH Reação de Wackenroder 285
hidróxido de 147 388 Reação em cadeia 467
nitrato de 149 Processo Frash (enxofre) 270 Reação nuclear induzida 467
ozoneto de 276 Processo Haber-Bosch 124, 247 Reação térmita 93
perbromato de 312 Processo Hall-Héroult 182 Reações de fusão 125, 128
perclorato de 152, 312 Processo IMI para obtenção do Ti 346 Reações de fusão nuclear controladas
permanganato de 141, 370, 377 Processo Kaldo (aço) 270, 382 472
perrenato de 370, 378 Processo Kroll 345 Reações de oxidação-redução 87
superóxido de 141, 147 Processo LD 270, 382 Reagente de Nessler 242, 298, 430
tetrafenilborato de 152 Processo Leblanc 160 Reagente de Wij 315
vide também Grupo 1 Processo Lowig (ferrita) para NaOH Reatores nucleares
Potenciais de eletrodo 84-91 388 regenerador rápido 470
Potenciais de redução 84-91 Processo Mond (níquel) 212, 408 térmico refrigerado a água 471
e métodos de extração dos Processo Ostwald (HNO3) 253, 255, térmico refrigerado a gás 470
elementos 94 400 Refino por zona 33, 204
exemplos de aplicações dos Processo OXO (adição de CO a alcenos) Reforma a vapor 121
diagramas 402 Reformador (vapor] 121
Am 89 Processo Parke 416 Refratário, material 192
Cl2 90 Processo Solvay (Na2CO3) 162 Regra de Fajans 79, 183
Cu 89 Processo Weldon 160 Regra de Harkins 341, 438, 458, 461
Fe 88H2O2 89 Produção da bomba atômica 468 Regra de Hund 11, 50, 478
I2 90 Produção dos produtos químicos para determinação do estado
Mn 90 pesados 161, Apêndice K, fundamental 482
Potenciais padrão de redução, tabela Apêndice L Regra de Mattauch 438
de 84 Projeto Manhattan 453, 468 Regra de seleção de Laporte 393, 484
Praseodímio, vide Lantanídios Promécio, vide Lantanídios Regra do número atômico efetivo 102
Prata, vide grupo do Cobre Propriedades gerais dos metais 62-65 Regra do octeto 37
Preparação de haletos anidros 305 Propriedades magnéticas 334, 340 exceções à regra 37
Princípio da construção 10, 50 Protactínio, vide Actinídios Regras de Hume-Rothery 69-71
Princípio da incerteza de Heisenberg 6 Próton 1, 461 Regras de seleção 484
Problemas ambientais Próton, emissão de 464 Regras para LCAO 49
asbestos 221 Pseudohalogênios 318 Relação de raios
Índice alfabético 525

alguns cuidados 26 vide também Grupo 16 ferrosilício 204


cálculo dos valores limites 22 Semicondutores do tipo-n 32 haletos de 232
regra da 22 Semicondutores do tipo-p 32 hidretos de 228
tabela de valores limites 22 Semicondutores em dispositivos mecanismos de reação 232
Relações diagonais 96, 157, 178, 196 eletrônicos obtenção e aplicações 204
Relações horizontais na tabela células fotovoltaicas 34 ocorrência e abundância 203
periódica 96 circuitos integrados 35 organo derivados 225
Relações horizontais nos grupos do Fe, junção p-n 33 óxidos 217
Co e Ni 414 retificadores 33 ponto de ebulição 207
Relações verticais na tabela periódica transistores 34, 184 ponto de fusão do 207
96 Semicondutores intrínsecos 31, 33 raio covalente 207
Rênio, vide grupo do Manganês Semicondutores tipo-p 32 reatividade 208
Reprocessamento de resíduos nucleares Semicondutores silicatos 217-224
315, 456 band-gap em 33 silicones 224-228
Retificador 33 condutividade extrínseca em 33 utrapuro 33, 204
Rhizobium 2391, 247, 270 condutividade intrínseca em 31 vide também Grupo 14
Ródio, vide grupo do Cobalto condutores, isolantes e 67 Silicones 224
Rômbico, enxofre 273 de silício 32 Síndrome do bebê azul
Rubídio, vide Grupo 1 e transistores 32, 184 (metemoglobinemia) 251
Russell-Saunders, acoplamento de 480- germânio 32 Sistemas de solventes de ácidos 134
482 materiais ultrapuros 33 Smithsonita 426
Rutênio, vide grupo do Ferro mecanismo iônico 31 Smog fotoquímico 275
Rutherford 5, 467 tipo-n 32 Sodamida 247, 252
Rutherfórdio, vide Actinídios tipo-p 32 Sódio
Rutilo 24, 344, 351 Separação de isótopos 468 aluminato de 147
Rydberg, constante de 4 por centrífuga de gases 469 argentocianeto de 417
por difusão gasosa 469 azida de 252
Sabão 154, 159, 163 por difusão térmica 469 bicarbonato de 149
Sais duplos 99, 385, 388 separação eletromagnética 469 fermento químico 149
Sal de Graham 260 Seqüência dos níveis de energia bomba de 156
Sal de Kurrol 260 atômicos 12 borohidreto de ISO, 194
Sal de Maddrell 260 Série de Balmer 1-4 carbonato de 143
Sal de Zeise 412, 433 Série de Brackett 1, 4 obtenção e aplicações 159-163
Salitre do Chile 150, 274, 300 Série de Lyman 1, 4 cianeto de 229
Samário, vide Lantanídios Série espectroquímica 105 clorato de 314
Scheele 1590, 296 Séries de decaimento radioativo 466 cloreto de 16, 24, 31
Scheelita 360 do actínio 466 coloração da chama do 1, 145
Schrõdinger, equação de onda de 6-11 do neptúnio 466 complexos de 154
condições para soluções aceitáveis do tório 466 compostos com carbono 153
7 do urânio 466 ditionito de 283
parte angular da 9 Séries dos metais de transição 12 em amônia líquida 153
parte radial da 8 Séries eletroquímicas 84 estearato (sabão) de 149
Seleneto de hidrogênio 285 Sherardização 384 estrutura eletrônica do 139
Selênio Silanos 228 hidrogenocarbonato de 149
abundância 269 alquilcloro-substituídos 226-228 hidrogenossulfeto (bissulfito) de
alotropia e estrutura 273 Sílica 25, 216 279, 281
comprimento de ligação e ligação Sílica-gel 217 hidróxido de 141-150
pn-dtt 273 Silicatos 2218 preparação e usos 160-164
eletronegatividade 81, 273 cíclicos 220 hipoclorito de 312
estrutura eletrônica 269 em cadeia 220 iodato de 298
estrutura molecular 273 em tecnologia 223 liga sódio/chumbo 141
extração e aplicações 270 lamelares 222 nitrato de 149
fotocopiadoras 271 ortossilicatos 219 nitrito de 149
haletos 288 pirossilicatos 219 nitroprussiato de 252
hidretos 285 Série de reações de Bowen 217 obtenção do 140
óxidos 273 solúveis 217 óxido de 147
oxoácidos 280 tridimensionais 217 palmitato (sabão) de 154
oxohaletos 285 Silício peróxido de 141, 147
ponto de ebulição 275 carbeto 211 peroxoborato de 183, 191
ponto de fusão 76, 275 como semicondutor 32 pirofosfato de 260
potencial padrão de redução 275 eletronegatividade 81, 206 sulfato de 141, 149, 160
raio covalente 274 energia de ionização do 207 sulfito de 270, 279, 282
raio iônico 275 estrutura eletrônica 203 tetrametafosfato de 261
5HB ÍNDICE ALFABÉTICO

tiossulfato de 278, 284 alguns exemplos método do átomo unido 60


transporte de íons 155 BeF2 42 ordem de energia dos OMs 50
trimetafosfato de 261 BFj 42 Ordem de ligação 53
tripolifosfato de 260 CH4 41 Princípio da Construção 50
tritiocarbonato de 216 HF41 regras para LCAO 49
vide também Grupo 1 H2O 41 resumo sobre estruturas com
Solda 70, 205 NH3 41 ligações n multicentradas 60
Solubilidade em PC15 43 Teoria de Sidgwick-Powell 38
amônia líquida 153 SF644 tabelas de estruturas 43
solvente polares e não polares 20 aplicado a complexos 103 Teoria de VSEPR 38-41
Solvente nivelador 133 aplicado a metais 65 alguns exemplos
Solventes diferenciadores 133 grau de participação dos orbitais d BF3 39
Solventes não-aquosos 43 BF4P- 39
HF 307 hibridização 41-44 CIFj 40
NH3 133, 245 ligações sigma e pi 44 H2O 39
N2O4 134, 254 tabela de estruturas e número de I3- 40
Sommerfield, órbitas elípticas de 5 orbitais 43 IF741
Spin, número quântico de 5, 11 Teoria de ácidos de Usanovich 135 NH3 39
Spin-órbita, acoplamento 480-482 Teoria de bandas de metais 65 PC1S 40
Subóxidos 275 Teoria de orbitais moleculares 45, 61 SF4 40
Substituição isomórfica 224 Combinações de orbitais SF6 41
Sulfeto de hidrogênio 270, 285 d-d 49 efeito da eletronegatividade 39
Supercondutores 71 p-d 49 efeito do par isolado 38
aplicações atuais dos 72 p-p 48 Teoria de Werner para ligação nos
Bednorz e Müller 72 s-p 47 complexos 99
estrutura do 1-2-3 72 S-S 46 isômeros 100
hélio 321 combinações não-ligantes 49 valência primária 99
ligas 72, 348, 352, 472 de complexos 103, 116 valência secundária 99
possíveis aplicações futuras 73 de compostos dos gases inertes , Teoria do campo cristalino 103-107
quentes 73, 439 324 complexos octaédricos 104-107
Superfosfatos 250 de metais 65 complexos quadrado planares 110
Superóxidos 53, 146 em complexos de metais de complexos tetraédricos 111
transição desdobramento em função da
Tabela periódica (prefácio) xxxv 13 [CoFJ3- 115 carga 105
Talco 224 [Co(NH3)6]3 + 115 desdobramento num grupo 106
Tálio, vide Grupo 13 exemplos envolvendo ligações p tt desdobramentos pelos diferentes
Tamanho dos átomos 74 deslocalizadas ligantes 105
Tamanhos dos átomos 460 CO2 59 energia de estabilização reticular
Tanabe-Sugano, diagrama de 492 CO/ 57 107
Tantalita 352 N3- 60 grandeza de Do 104
Tântalo, vide grupo do Vanádio NO2- 59 hipóteses 103
Tecnécio, vide grupo do Manganês NO3- 58 série espectroquímica 105
Teflon 231 O3 59 Teoria do elétron livre de Drude
Telúrio SO3 58 (metais) 65
abundância 270 exemplos Teoria do octeto de Lewis 37
alotropia e estrutura 274 B2 51 Teoria planetária do átomo 1, 5
eletronegatividade 81, 273 Be2 51 Teoria quântica 4
energia de ionização 76, 274 C2 52 Teorias de ligação em compostos
estrutura eletrônica 269 CO 56 covalentes
haletos 289 F2 54 ligações rt deslocalizadas
hidretos 285 H/ 50 multicentradas 57-60
obtenção e usos 271 H2 50 teoria de orbitais moleculares 45-61
oxiácidos 285 HC1 57 teoria de Sidgwick-Powell 38
óxidos 279 He/ 50 teoria de VSEPR 38, 41
ponto de fusão 274 He2 50 Teorias de ligação em metais
pontos de ebulição 274 Li2 51 teoria da ligação de valência 65
potenciais padrão de redução 275 N2 53 teoria de OM ou de bandas 65-67
raio covalente 275 NO 55 teoria do elétron livre 65
raio iônico 275 O2 53 Térbio, vide Lantanídios
vide também Grupo 16 O2- 53 Terileno 255
Teoria ácido-base de Lewis 134 0/ 54 Termodinâmica dos processos de
Teoria ácido-base de Lux-Flood 134 método da Combinação Linear de redução 93
Teoria da ligação de valência 41 Orbitais Atômicos (LCAO) 46 Termos espectroscópicos 481
ÍNDICE ALFABÉTICO 527

Terras de pisoeiro 208 TYansistores 34, 184 Vidro 160, 162, 182, 224
Terras infusórias 224 TYiazida cianúrica 245 Vidro borossilicato 224
Terras raras, vide Lantanídios TYidimita 216 Viscose e rayon 218
Teste de Marsh 243 TYietilfosfato 251, 258, 262 Vitamina B12 396, 400
Teste do anel marron 252, 385 TYiiodeto, íon 316 Vulcanizaçâo da borracha 271
Tetraclorometano (tetracloreto de TYisililamina 228
carbono) 17, 37, 231, 390 TYítio 124, 141 Wilkinson, catalisador de 397
Tetraetilchumbo 234 Trttolilfosfato 252, 263 Willemita 219
Tetróxido de dinitrogênio 135, 252 Túlio, vide Lantanídios
Tetróxido de dinitrogênio líquido 132, Túngstênio Xenônio
254 bronzes de 270 aplicações do 320
Thompson, JJ. 3 carbeto de 210, 360 complexos de flúor do 323
Tipos de decaimento tungstatos 360, 367 difluoreto de 323, 325
captura de elétrons K 463 vide também grupo do Cromo hexafluoreto de 325
decaimento p 463 Turquesa 416 hexafluoroplatinato de 321
decaimento y 464 ligação 324
decaimento a 465 Ultramarinos 224 oxofluoreto de 322
emissão de nêutrons 463 Ultrapuras, substâncias 33, 204 perxenato, íon 322
emissão de pósitron 463 Uraninita 454 química do 321
emissão de próton 464 Urânio, vide Actinídios tetrafluoreto de 322
fissão espontânea 465 Uréia 213, 250, 279 trióxido de 324
Tipos de reatores nucleares Usinas nucleares 470 vide também Grupo 18
regenerador rápido 470 xenato, íon 322
térmico esfriado a água 471 Valência variável 84
térmico esfriado a gás 470 no bloco d 178 Zeeman 5
TNT 258 van Arkel de Boer, processo de 345 Zeólitas 222
Tório, vide Actinídios Vanadatos 358 Ziegler, catalisador de 200
Torita 450 Vanadinita 351 Ziegler-Natta, catalisador de 281, 350
Transição de transferência de carga Velocidade das reações 20 Zircónia 219, 345
232, 354, 364, 371, 377, 386, 388, Verde de Magnus 412 Zircônio, vide grupo do Titânio
418, 427 Verde de Paris 416
i

Nesta tradução brasileira da última edição do Livro de Química Inorgânica do


Prof. John D. Lee, o leitor encontrará uma obra completamente revisada e atu­
alizada, mas que continua fiel aos mesmos princípios que a colocaram entre os
textos didáticos mais recomendados e utilizados por professores e estudantes.
0 livro aborda de forma clara e concisa os tópicos mais relevantes da química
inorgânica, apresentando conceitos teóricos e aspectos descritivos dos vários
blocos de elementos da tabela periódica. É bem estruturado, com ampla biblio­
grafia, fornecendo ainda informações importantes sobre a química nuclear e os
aspectos eletrônicos. Uma qualidade a ser destacada, é a ênfase dada às aplica­
ções comerciais dos produtos inorgânicos e à questão ambiental.

! Sem dúvida, pela riqueza de conceitos e informações, o livro pode ser utilizado
com segurança por alunos e profissionais,de todas as áreas, proporcionando
uma fundamentação geral bastante sólida. E um convite para conhecer a impor­
tância da Química Inorgânica no mundo moderno.

John D. Lee é Prof. Titular do Departamento de Química da Universidade de


Loughborough, Inglaterra, sendo autor de vários livros e artigos científicos.

www.blucher.com.br

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