Você está na página 1de 2

Argumento teleológico

Será que Deus (concebido segundo a perspetiva teísta) existe?

O problema da existência de Deus é um dos problemas centrais da reflexão filosófica.


Ao procurarem justificar a crença de que Deus existe, os filósofos desenvolveram
argumentos que podem ser agrupados em dois tipos:

• argumento a posteriori que depende de, pelo menos, uma premissa que só pode ser
conhecida através da experiência;

Um exemplo de argumento a posteriori, é o argumento teleológico, que parte do facto


de no mundo existirem ordem e finalidade.
Uma versão deste argumento é apresentada por São Tomás e refere-se à forma como as
coisas são governadas.

As coisas naturais, privadas de conhecimento, inteligência e consciência, encontram-se,


todavia, dirigidas para um fim ou objetivo, comportando-se sempre, ou quase sempre,
da mesma forma e de modo a realizarem o que é melhor para elas. Elas não fazem isso
por acaso, mas em virtude de determinada intenção.

A direção e finalidades das coisas precisa de um Ser dotado de inteligência e


conhecimento, tal como uma flecha não pode dirigir-se ao alvo a não ser por iniciativa e
obra de um arqueiro. Logo, existe um Ser inteligente pelo qual todas as coisas naturais
são ordenadas, dirigidas e orientadas para um fim. Esse Ser é o que chamamos Deus.

Outra versão do argumento teleológica é apresentada por William Paley (1743-1805).


O ponto de partida é a constatação de que tudo, na natureza, se revela adequado
à função que desempenha.

O olho humano, por exemplo, está de tal modo concebido que todas as suas partes
concorrem harmoniosamente para a função deste órgão, que consiste em ver.
A complexidade, a ordem, a harmonia, o engenho e a finalidade patentes em todos os
seres e fenómenos naturais provam que eles tiveram de ser concebidos por um criador
inteligente: Deus. O argumento baseia-se por isso numa analogia entre os objetos
criados pelo ser humano e as coisas da natureza.

Deste modo, à semelhança de um relógio, concebido e fabricado de forma engenhosa


por um relojoeiro humano, também os seres e as coisas da natureza, engendrados de
modo muito mais complexo e engenhoso, foram criados por um relojoeiro divino,
ostentando a sua marca.
William Paley conclui, assim, que é necessário recorrer a Deus para se compreender as
manifestações do desígnio que vemos na natureza. É necessário existir alguém que
projetasse esse desígnio. Esse ser é Deus.

Objeções ao argumento teleológico


Este argumento, em qualquer das versões apresentadas, perde, de certo modo, a sua
força quando é confrontado com as conclusões da teoria evolucionista. Darwin, na sua
obra A Origem das Espécies, mostrou
que a variedade e a complexidade dos seres vivos resultam da seleção natural e da
sobrevivência dos mais aptos, os quais, por sua vez, irão transmitir os seus genes às
gerações seguintes. Sem negar a existência de Deus, a teoria da evolução acaba, no
entanto, por pôr em causa as explicações do argumento teleológico, apresentando uma
explicação alternativa.
Este argumento, ainda que possa demonstrar a existência e a necessidade de um criador,
não prova que ele seja único – pode tratar-se de uma equipa de deuses, tal como só uma
equipa de seres humanos é capaz de construir uma nave espacial –, nem prova que se
trata de um arquiteto omnipotente – poderá argumentar-se que o Universo apresenta
“defeitos de fabrico”, visíveis por exemplo em organismos imperfeitos ou doentes –,
nem sequer prova que o criador seja omnisciente e infinitamente bom – contraria essa
ideia a existência do mal no mundo (as catástrofes, o sofrimento, a doença, a morte, a
crueldade), sendo que, aparentemente, Deus nada faz para o impedir.

Você também pode gostar