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A importância de Eça de Queirós para o Realismo Português.

O Realismo/Naturalismo teve um início bem diferente do Romantismo em Portugal.


Enquanto este surgiu e foi se consolidando com as mudanças que ocorreram na esfera social,
política e cultural na primeira metade do século XIX, influenciadas pelas Revoluções
Francesa e Industrial, aquele teve um aparecimento abrupto, com uma polêmica no meio
literário, na segunda metade do século XIX em Portugal, a “Questão de Coimbra” (1965),
quando jovens escritores, influenciados pelos ideais liberais e democratas, pelo
desenvolvimento das ciências naturais, reivindicavam uma renovação literária que se opunha
ao idealismo romântico e acompanhasse as mudanças que dominavam a Europa na época.
Em 1870 Eça de Queirós, Antero de Quental e Teófilo Braga integram a “Geração de
70”, quando mais tarde, em 1871, são realizadas as Conferências do Cassino Lisbonense,
cujos temas em debate estavam em consonância com pensamento mais moderno da época, e
visavam aproximar Portugal do restante da Europa. Segundo Sales e Furtado (2015) esse
movimento teve um papel decisivo para identificar a nova feição literária portuguesa. Nesse
movimento Eça de Queirós se compromete com a estética do Realismo/Naturalismo, o que
reflete na criação artística de suas obras.
A questão colocada é qual a importância desse literato para o desenvolvimento do
Realismo em Portugal? Para expressar a estética do Realismo o romance e o conto são os
gêneros narrativos considerados mais adequados, pois com eles consegue-se abordar qualquer
temática. Eça de Queirós foi o escritor português que mais soube explorar esses gêneros, nos
quais discorre sobre as mazelas da sociedade portuguesa, conforme a estética do
Realismo/Naturalismo.
A estética realista revela uma sociedade ocultada pelo idealismo romântico, o seu
olhar volta-se para a vida cotidiana, abordando temas como adultério, o ócio, a inveja, o
determinismo social, onde a análise da vida social, através da ação dos personagens, procura
ser a mais objetiva possível. Segundo Rodrigues e Santos (2012):

O primo Basílio procurava atender aos principais objetivos da chamada fase mais
propriamente realista/naturalista de Eça: nesse romance, encontramos o tema do
adultério, as marcas do determinismo social na conduta e trajetória da governanta
Juliana, a crítica à sociedade lisboeta nos personagens que, como Julião Zuzarte, o
Conselheiro Acácio, Ernestinho Ledesma, encarnam, respectivamente, o invejoso, o
falso intelectual, o escritor romântico decadente, entre tantos outros tipos
ironicamente compostos nessa narrativa.
Assim Eça de Queirós compões seus personagens que, dentro do contesto social,
revelam seus lados mais torpes. O autor seleciona a temática que será o alvo de sua análise
crítica, como a vida familiar no romance O Primo Basílio.
No conto José Matias o narrador conta uma história amorosa incomum entre Eliza e
José Matias. No dia do funeral o narrador conversa com um amigo e aproveita para relatar a
história de amor do falecido. O narrador fala-nos de um amor platônico que José Matias sente
por uma mulher chamada Eliza. Embora fosse correspondido esse amor era impossível porque
Eliza era casada.
Após a morte de seu marido ela procura Matias e pede que se case com ela, mas ele
recusa, não se sabe por quê. Então ela casa com outro e José Matias passa a ter uma vida
desregrada, se afoga na bebida e gasta tudo que tem em jogos. O segundo marido de Eliza
morre e ela arranja um amante. Então o protagonista continua a sua contemplação, insólita, da
mulher amada, até morrer de congestão pulmonar.
Ao apresentar Eliza como uma mulher normal, sensual, em oposição ao personagem
de José Matias, um homem espiritual, idealista, que defende um amor exagerado e doentio,
torna-se claro a oposição Realismo/Romantismo.
Por fim, a morte de José Matias simboliza o fim da estética romântica, que não atende
mais os anseios de uma sociedade materialista. Eça de Queirós demonstra, nessas duas obras
citadas, toda sua competência e compromisso em representar a estética realista. Daí a sua
importância para o Realismo português.

REFERÊNCIA
FURTADO, Marli Tereza; SALES, Germana Maria Araújo. Narrativa Portuguesa e
Brasileira I. Belém: editAedi, 2013.

RODRIGUES, Inara de Oliveira; SANTOS, Paulo Roberto Alves dos. Literaturas de língua
portuguesa: história, sociedade e cultura. Ilhéus, BA: Editus, 2012.

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